Conexão 2.0 - REDE DO BEM

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TEXTO E CONTEXTO: A providência de Deus e a missão de José P. 20

Jul-Set 2020 – Ano 13 no 55

Exemplar: 9,50 – Assinatura: 30,20

ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE

REDE DO BEM

Conheça pessoas que estão fazendo a diferença por meio do voluntariado, do empreendedorismo, da filantropia e da política P. 10 ARTIGO: SAIBA QUANDO AJUDAR ATRAPALHA P. 16

IMAGINE O MUNDO SEM RELIGIÃO P. 26

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APRENDA A LIDERAR VOLUNTÁRIOS P. 32

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Da redação

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Editor Wendel Lima

4 CONECTADO

OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A REVISTA

ÍDOLOS E SERVOS

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SÉRIES, LIVROS, NÚMEROS E FRASES PARA REFLETIR

8 ENTENDA

O VOLUNTARIADO NO BRASIL

24 PERGUNTAS

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, MISSÃO ADVENTISTA, ÉTICA NO PROSELITISMO E COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO

32 APRENDA

PAS DE S NO

1

A LIDERAR PROJETOS DE VOLUNTARIADO

33 NA CABECEIRA

CONHEÇA O LIVRO QUE VOCÊ DEVE LER ANTES DE CARIMBAR SEU PASSAPORTE

34 GUIA DE PROFISSÕES A CARREIRA PARA QUEM NÃO SE CONTENTA EM APENAS CUIDAR DOS BICHINHOS

16 ARTIGO

É PRECISO MAIS DO QUE BOA INTENÇÃO PARA GERAR DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Foto: Daniel Oliveira

NO SEU PREMIADO livro O Jesus Que Eu Nunca Conheci (Vida, 2004), o jornalista cristão Philip Yancey fez um interessante contraste entre “ídolos” e “servos”. Ele escreveu que já havia entrevistado pessoas importantes, como atores, atletas, músicos de renome e dois presidentes dos Estados Unidos. Gente que costuma render manchete na imprensa e atrair milhões de seguidores nas mídias sociais. Pessoas sobre as quais o público em geral deseja saber tudo, desde o posicionamento político até as marcas que consome. O que Yancey disse ter observado na biografia dessas celebridades, bem como na de vários intelectuais da história, foi um padrão de insatisfação e desequilíbrio. Porém, Yancey disse também ter passado tempo com médicos e enfermeiras que atendiam as castas mais baixas da Índia; com assistentes sociais que atuavam em “depósitos do sofrimento humano” na Somália, Sudão, Etiópia e Bangladesh; e com PhDs em línguas bíblicas que estavam se preparando para viver entre tribos indígenas da América Latina, a fim de traduzir o livro sagrado para os idiomas desses povos. De acordo com o jornalista, ao “desperdiçar” a vida com esses mais vulneráveis, de alguma forma, esse segundo grupo havia encontrado o sentido da existência. O escritor relacionou esses casos ao refletir sobre a primeira parte do Sermão do Monte de Jesus: as famosas bem-aventuranças. Na visão de Yancey, os que levam o maior discurso de Cristo a sério precisam repensar seu conceito de felicidade e seu “direito” ao sucesso. O jornalista argumenta que a transformação proposta por Jesus começa silenciosa e internamente, mas que seus efeitos podem ser observados em pequenos gestos e nos grandes feitos. E como ilustração, Yancey citou a influência que o Sermão do Monte teve, por exemplo, no escritor russo Leon Tolstói, cujo pensamento exposto em um de seus livros impressionou o advogado hindu e pacifista Mohandas Gandhi que, por sua vez, inspirou o ativismo político do pastor batista norte-americano Martin Luther King Jr. Aliás, Philip Yancey cresceu em Atlanta, na mesma cidade de Luther King, um dos principais líderes do movimento pelos direitos civis dos negros, assassinado em 1968. Naquela época, quando era um adolescente, o jornalista confessa que prestava mais atenção às falhas morais do pastor batista, do que na disposição dele de oferecer seu corpo como alvo, e não como arma, por uma causa. Essa postura do líder negro fez com que racistas brancos e cristãos, como o próprio Yancey, se arrependessem de seu preconceito (p. 116). O objetivo desta edição é inspirar você a assumir a atitude de Cristo, Aquele que veio não para ser servido, mas para servir (Mt 20:28). E pretendemos fazer isso por meio de histórias, argumentos, dados e dicas, mostrando que nem sempre notoriedade e espírito de serviço são incoerentes, mas que fazer o certo e o melhor não pode ser motivado por meros aplausos, ainda que eles ocorram. Quando pautamos esta edição, a pandemia era ainda algo distante. Hoje, vivendo no olho do furacão dessa crise sanitária e ainda não visualizando todas as suas implicações, cremos que o tema do voluntariado é muito oportuno. Talvez não para se aventurar agora além-mar, mas para você fazer a diferença onde está. Boa leitura!

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GLOBOSFERA

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26 IMAGINE

... O MUNDO SEM RELIGIÃO

5 AO PONTO

PASTOR FALA SOBRE VAGAS DE SERVIÇO HUMANITÁRIO NO EXTERIOR

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CAPA

QUATRO HISTÓRIAS DE PESSOAS QUE FAZEM A DIFERENÇA

Capa: Fábio Fernandes

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br

DE PORTE

SÕES

M NÃO NAS S

E ERAR CIAL

Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Jul-Set 2020 Ano 13, no 55

Serviço de Atendimento ao Cliente Ligue grátis: 0800-9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 Domingo, das 8h30 às 14h

20 TEXTO E CONTEXTO O REENCONTRO DE JOSÉ COM SEUS IRMÃOS DEPOIS DE 22 ANOS

28 MUDE SEU MUNDO

DOAÇÕES EM DINHEIRO PODEM AJUDAR OS MAIS VULNERÁVEIS À PANDEMIA

Editor: Wendel Lima Editores Associados: André Vasconcelos e Márcio Tonetti Projeto Gráfico: Éfeso Granieri e Marcos Santos Designers Gráficos: Renan Martin e Fábio Fernandes Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Conselho consultivo: Alexander Dutra, Almir Augusto de Oliveira, Eder Fernandes Leal, Edgard Luz, Henilson Erthal de Albuquerque, Ivan Góes, Luiz Carlos Penteado Jr., Nádia Teixeira, Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques, Rubens Paulo Silva, Samuel Bruno do Nascimento, Thiago Basílio e Vanderson Amaro da Costa Assinatura: R$ 30,20 Avulso: R$ 9,50 www.conexao20.com.br

30 LIÇÃO DE VIDA

UM PERFIL DO MAIOR TEÓLOGO E MISSIONÁRIO DA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

9116/41605 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sejam impressos, eletrônicos, fotográficos ou sonoros, entre outros, sem prévia autorização por escrito da editora.

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Informação Conectado & Opinião Globosfera Ao ponto Entenda

DE OLHO NO PRIMEIRO EMPREGO (P. 5) A primeira experiência de trabalho não é só importante, mas gratificante e determinante para o futuro da carreira. Imagino que o entrevistado, Eduardo Lopes, que começou a trabalhar aos 19 anos, deve ter aproveitado muito bem as oportunidades que teve. Mirela Meireles Bonassi Rio Branco (AC)

MEU TRABALHO, MEU MINISTÉRIO (P. 10-15) Viver em missão inclui o trabalho profissional também, e isso pode ser um diferencial no mercado, pois o exemplo que um cristão dá, mesmo que nas pequenas ações, é o perfil ético que muitas empresas buscam. Larissa Fernanda Guarulhos (SP)

ENTRADA PROIBIDA (P. 16-19) Quando entendemos o real sentido do amor e de tudo que Jesus fez por nós, não medimos esforços para ajudar nosso próximo, independentemente de onde ele esteja. Uma prova disso é Natanael e Keila, Liz e Lukas, Pascale e Virgínia e Arnaud, que optaram por participar da missão como “valdenses” e “tentmakers”, evangelizando em lugares de difícil acesso ao cristianismo. Enxerguei nessa matéria um convite de Deus para a evangelização de toda língua, tribo e nação. Débora Naiara Cordeiro Caxeta Manaus (AM)

MÃOS À OBRA (P. 20-24) Mais do que uma narrativa sagrada, da qual tiramos lições sobre a fidelidade e os propósitos de Deus, a história de José nos ensina que, mesmo os que vivem hoje neste tempo difícil e de grandes mudanças, devem manter uma postura de preservação da própria dignidade, de aproveitamento das oportunidades e de não vitimismo. Timóteo Rodovalho Brasília (DF)

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IMAGINE AS MISSÕES CRISTÃS SEM A COLONIZAÇÃO (P. 26, 27) Infelizmente, a forma como o cristianismo chegou ao Brasil vai contra tudo o que o evangelho tem como base. Ir para lugares que têm culturas distintas da nossa para testemunhar de Jesus é válido, desde que não empurremos nossa convicção “goela abaixo” de determinado povo. O evangelho é leve e toca as pessoas de diferentes maneiras. Precisamos apenas mostrar a beleza do amor de Cristo, sem querer “colonizar” a experiência espiritual de ninguém. Lia Castro Curitiba (PR)

DO INTERIOR PARA O MUNDO (P. 30, 31) Fantástica a história do casal Kuhn! Realmente podemos perceber nesse relato todo um caminho que foi trilhado. Cada etapa funcionou como uma fase preparatória para o passo seguinte. Uma vida agitada e que faz diferença na missão por ter o compromisso de entrega total, sem reservas. Muito bonito tudo isso. Guilherme Zehetmeyr Campinas (SP)

FERRAMENTA ÚTIL A Conexão 2.0 é o tipo de material que faz jus ao nome. Como um pastor que trabalha em escola, tenho utilizado esse material com meus alunos do ensino médio e percebido que é uma revista que está conectada com o mundo de hoje. É uma ótima ferramenta para promover reflexões profundas a respeito do propósito da vida. Miquéas Carvalho Ferreira Florianópolis (SC)

RELATOS QUE ANIMAM A edição de janeiro-março me colocou em contato com histórias de pessoas que cresceram em Cristo e se tornaram mais úteis na vida. Isso me reanimou. Acho que se todos tivessem a oportunidade de conhecer relatos como esses, teríamos menos casos de depressão e menor risco de suicídio. O amor de Deus salva, ainda mais quando dedicamos a vida para Ele. Anna Beatriz Vieira Florianópolis (SC)

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C N d te ig o d s v e te fa s

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Ao ponto

Texto Márcio Nastrini e Márcio Tonetti Ilustração Gabriel Nadai

TEMOS VAGAS HÁ MAIS DE 20 anos, o Serviço Voluntário Adventista (SVA) tem feito a ponte entre as necessidades missionárias mundiais e aqueles que desejam ter uma experiência transcultural. Desde que foi estabelecido na América do Sul, em setembro de 1999, o SVA já enviou mais de 2 mil voluntários para missões dentro e fora do subcontinente. No contexto sul-americano, quem coordena esse trabalho é o pastor brasileiro Joni Oliveira, entrevistado desta edição.

Como funciona o SVA? Nós promovemos as oportunidades que são ativadas no sistema global de voluntariado da igreja, orientamos e aprovamos o processo de cadastramento do interessado, realizamos seu seguro, acompanhamos o voluntário a distância e agora estamos implantando um sistema de atendimento que irá facilitar o retorno dessas pessoas para sua própria cultura. Quais são as principais áreas nas quais os voluntários podem participar? Hoje existem mais de 200 oportunidades à espera de candidatos, em áreas como saúde, educação, serviços gerais, técnicos, administrativos e sociais. Para participar, é preciso seguir basicamente quatro etapas: (1) escolher por meio do site sva.adventistas.org um projeto que mais se encaixa com seu perfil e interesse; (2) cadastrar- se no site global de

voluntariado da igreja (adventistvolunteers.org) e aguardar as aprovações; (3) passar pelo curso preparatório para a missão; e (4) se for selecionado, comprar a passagem, inserila em seu cadastro (a fim de contratarmos o seguro), fazer as malas e seguir viagem [Por causa da pandemia, muitos projetos estão temporariamente suspensos]. Como se dá o preparo desses missionários? Primeiro, o candidato precisa ler o livro Passaporte Para a Missão [que resenhamos na p. 33]. Depois, ele participa de um treinamento on-line ou presencial em uma das Escolas de Missão Transcultural Send Me, que existem em sedes administrativas e centros universitários adventistas. Qual é o perfil dos voluntários sul-americanos? De acordo com nossos regis-

tros, no período de 2015 a 2019, 90% dos voluntários eram jovens de 18 a 35 anos; a maioria era mulher (52%); 81% dos candidatos eram solteiros; 52% já estavam graduados e 42% eram universitários. Já a média de tempo de serviço pelo SVA foi de um ano. De que maneira essa experiência tem impactado a vida deles? Um dos benefícios que tenho percebido é que a experiência na missão confirma a fé pessoal. Isso porque frequentemente o missionário transcultural se encontra em situações em que depende única e exclusivamente da intervenção divina. Em segundo lugar, o trabalho no campo amplia a consciência missionária, levando a pessoa a adotar a missão como um estilo de vida. E finalmente, esses voluntários ampliam sua visão de mundo.

Geralmente, essa vivência desperta no jovem sonhos e aspirações maiores em relação à carreira, aos relacionamentos e a si mesmo. Quais são as principais metas do SVA sul-americano? Além de tornar esse trabalho mais conhecido, sonhamos em estabelecer escolas de missão transcultural nos oito países que formam a região administrativa sul-americana da Igreja Adventista. Também queremos fortalecer o movimento já existente de missões transculturais de curto prazo para grupos. Entendemos que muitos não podem se dedicar ao voluntariado por seis meses ou um ano, mas sonham com a oportunidade de viver essa experiência por 15 dias ou um pouco mais. Esse tipo de vivência tem se mostrado eficiente para despertar o interesse e a paixão pela missão de longo prazo. jul-set

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Texto Wendel Lima Imagens Adobe Stock

PARA ASSISTIR

Tudo disponível nas plataformas feliz7play.com e 7cast.com

Filme Incertezas (44min.) – O média-metragem conta a história de Alice, que luta contra a depressão, as pressões e expectativas quanto ao seu futuro. Mas numa antiga cabana dos seus pais, ela vai encontrar refúgio e um modo de deixar a vida mais leve. Websérie 23:59 Até o Último Minuto (8 episódios, 15 min.) – Alguns adolescentes precisam tomar grandes decisões na vida; porém, quando dão conta da importância dessas escolhas, percebem que têm pouco tempo.

Podcasts Convocados (15 episódios, 10min.) – Nesse podcast você confere entrevistas com missionários brasileiros que se aventuraram em nosso país e no exterior.

Itinerante (4 episódios, 34min.) – Série em áudio que discute como identificar suas habilidades e usar esses talentos para estabelecer um ministério. Entenda (13 episódios, 35min.) – O podcast da Revista Adventista tem debatido temas importantes, como desigualdade social e de gênero, racismo, fake news e negação da ciência, em diálogo com a religião.

Música A Começar em Mim (7min.) – Este videoclipe reinterpreta uma das músicas mais conhecidas do grupo Vocal Livre e faz uma homenagem a Samuel Melquíades, de 16 anos, que foi um dos estudantes mortos no massacre ocorrido em Suzano (SP), em março de 2019. A produção serve de reflexão para pensar se alguma mudança para melhor não pode começar com pequenas ou grandes atitudes individuais (youtube.com/grupovocallivre).

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PARA LER

Quando Ajudar Machuca: Como Enfrentar a Pobreza sem Machucar o Pobre e a Si Mesmo (Editora 371, 2019, 380 p.), de Steve Corbett e Brian Fikkert

s e d o c o p p

O Evangelho e a Diversidade das Culturas (Vida Nova, 2008, 312 p.), de Paul G. Hiebert

Serving with Eyes Wide Open: Doing Short-Term Missions with Cultural Intelligence (Baker, 2012, 194 p.), de David A. Livermore


PARA PENSAR “Uma vida fácil, que a si mesma não se negue, nunca será poderosa. Produzir frutos exige suportar cruzes. Não há dois Cristos – um acomodado para os cristãos acomodados, que luta e sofre para os cristãos acomodados, e um que luta e sofre para os cristãos superiores. Há um só Cristo. Você está pronto, está disposto a permanecer Nele, e assim produzir muitos frutos?”

Wikipedia

PARA SABER Apesar de a maioria dos protestantes norteamericanos reconhecer que as missões transculturais são importantes, uma pesquisa do instituto Barna e da International Mission Board, feita com base em 3.606 entrevistas on-line, mostrou que a percepção negativa em relação ao trabalho dos missionários no passado é um dos fatores que limitam o engajamento das novas gerações. Veja por quê:

34%

dos jovens entre 18 e 34 anos carregam uma imagem negativa dos missionários por considerarem que muitos deles agiram de maneira antiética.

Hudson Taylor (1832-1905), missionário protestante britânico, que dedicou 51 anos de sua vida para a evangelização da China. Foi o fundador da atual OMF International, agência missionária sediada e com foco na Ásia. Essa citação dele está registrada no livro Hudson Taylor’s Spiritual Secret (Moody Publishers, 2009), de Howard Taylor, p. 240.

Wikipedia

“Ouvi a observação impaciente: ‘Por que ir para um campo estrangeiro? Há muito o que fazer aqui mesmo!’ Certamente há! E há muitos cristãos em casa – eles estão fazendo isso?” Isobel Kuhn (1901-1957), missionária canadense que serviu por mais de 20 anos a etnia lisu, na China e na Tailândia. Essa citação foi registrada no livro By Searching (Authentic Media, 2005), p. 133.

Short-Term Missions Workbook: From Mission Tourists to Global Citizens (IVP, 2018, 173 p.), de Tim Dearborn

Walking With The Poor: Principles and Practices of Transformational Development (Orbis, 2011, 300 p.), de Bryant L. Myers

42%

acreditam que a missão cristã ainda é influenciada pela visão colonialista, percepção que é mais forte entre os jovens afro-americanos.

Fonte: Barna, “Young Christians Value Missions, but Question Its Ethics”, 16 de julho de 2020 (barna.com)

Discípulos Modernos (CPB, 2006, 112 p.), de Russell Burrill

Igreja em Missão (CPB, 2016, 176 p.), de Jair Júnio Miranda JUL-SET

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Entenda

Cavalcante Texto Guilherme Cavalcante Design Renan Martin Ilustração Nonono Nononon

O VOLUNTARIADO NO

BRASIL O IMAGINÁRIO CLÁSSICO daquele voluntário que cruza o oceano para enfrentar cenários de guerra, pandemias e desastres naturais, servindo aos que mais necessitam, pode não ser a regra, mas a exceção. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 7,2 milhões de brasileiros fazem trabalho voluntário com frequência. Por sua vez, o World Giving Index 2018, um ranking que avalia diferentes aspectos da prática da generosidade no mundo, coloca o Brasil na sétima posição do índice e nos retrata como um país solidário, com cerca de 21 milhões de voluntários. Consultora e assessora de projetos sociais, a argentina Mónica Corullón, define voluntário como “o jovem ou o adulto que, devido seu interesse pessoal e espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou de outros campos”. No Brasil, os voluntários podem ser encontrados em asilos, abrigos, ONGs, orfanatos e diversas outras instituições. E se engana quem pensa que essa é uma atividade só para quem já se aposentou e não precisa de renda. Existem diferentes tipos de engajamento. Conheça a seguir o panorama do voluntariado no país.

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12% Número alto, porcentagem baixa

Apesar de ter um número absoluto alto de pessoas que se engajaram emem atividades voluntárias, a porcentagem de se engajaram atividades voluntárias, a porcentagem brasileiros queque “arregaçaram 2018 de brasileiros “arregaçou as mangas” mãos” emem 2018 foifoi dede apenas 12% da população. Com esse índice, não estamos nem na lista dos top 100 do mundo. Os países que lideram esse ranking elaborado pela Charities Aid Foundation (CAF), em 2018, são a Indonésia e a Austrália, onde 59% dos pesquisados disseram manifestar solidariedade por meio de trabalho voluntário, doação financeira ou auxílio a um desconhecido.

Maiores mobilizadores

O levantamento do IBGE mostrou que 79,9% dos voluntários atuavam em projetos de instituições religiosas, sindicatos, condomínios, partidos políticos, escolas, hospitais ou asilos. E a minoria participava em projetos de ONGs ou individuais.

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COMOme ME ENVOLVER? Como envolver?

Tem interesse em se voluntariar e não sabe sabe como? Na seção Ao pontoe(p. como? Nas seções Globosfera Ao5), ponto, você pode conferir algumas oportunidades no contexto adventista. Mas separamos também alguns sites de agências e projetos de voluntariado que não têm relação com instituições religiosas.

Idade mais solidária

Quanto à faixa etária dos voluntários, o Brasil está na contramão da tendência mundial. Os levantamentos internacionais da CAF têm apontado para a queda de participação dos mais idosos e aumento entre os jovens de 15 a 29 anos e adultos de 30 a 49, que hoje é a faixa etária mais representativa. Porém, aqui no Brasil, segundo o IBGE, o cenário é o oposto, o número de voluntários acima de 50 anos é o dobro do número de jovens de 14 a 24 anos.

Workaway (workaway.info)

É uma plataforma que provê intercâmbio entre potenciais voluntários e projetos de voluntariado ao redor do mundo. Os anfitriões que se inscrevem no portal detalham informações sobre o local, projeto, tempo de realização da atividade e o perfil desejado para o candidato à vaga. Os interessados podem contatar os anfitriões e acertar os detalhes para o voluntariado. O site abriga mais de 40 mil projetos de 170 países. A experiência pode auxiliar inclusive no aprendizado de uma língua estrangeira.

Por que ser voluntário?

Bem-estar pessoal e senso de utilidade para a comunidade estão entre as principais motivações citadas por 2 mil jovens voluntários entrevistados no Reino Unido pelo instituto Ipsos Mori. Quase a totalidade deles (93%) mencionou esse duplo benefício do engajamento.

Pátria Voluntária (patriavoluntaria.org)

O programa Pátria Voluntária foi criado em 2019, a partir de uma parceria entre o Governo Federal e o Programa das Nações Unidas para o o Desenvolvimento (PNUD). No siteé é Desenvolvimento (PNUD). No site possível pesquisar projetos por área (com base nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU), modalidade (presencial ou virtual) e geografia (cidade). Para participar, basta se cadastrar no portal e selecionar um projeto ou uma instituição de sua preferência.

Desconhecimento e falta de tempo

O levantamento da Ipsos Mori citado anteriormente mostrou também que o desconhecimento sobre projetos de voluntariado, e de como participar deles, tem sido a principal razão para dois em cada cinco jovens no Reino Unido não se envolverem nessas causas. Um terço dos entrevistados apontou a falta de tempo como outro impedimento importante.

ONU (onlinevolunteering.org)

A Organização das Nações Unidas (ONU) oferece a possibilidade de exercer o voluntariado remotamente, sem qualquer custo para os voluntários e com a certificação da ONU. As oportunidades envolvem tarefas como edição de texto, tradução, design, legendagem de vídeos, pesquisa, ensino e treinamento. As vagas são oferecidas por entidades da ONU, governos e ONGs de atuação internacional.

Frequência pequena

Fontes: sites CAF World Giving Index 2018 (https://bit.ly/cafwgi2018); IBGE (https://bit.ly/ibgevoluntariado); Fontes: sites CAF World Giving Index 2018 (https://bit.ly/cafwgi2018); IBGE (https://bit.ly/ibgevoluntariaentrevista da Mónica Corullón para opara site do SESC-SP (https://bit.ly/sescspcollujon); UnitedUnited Nations do); entrevista da Mónica Corullón o site do SESC-SP (https://bit.ly/sescspcollujon); Nations Volunteers (UNV) (https://www.unv.org/volunteerism); jornal The Guardian Volunteers (UNV) (https://www.unv.org/volunteerism); jornal The Guardian (https://bit.ly/theguardianvol(https://bit.ly/theguardianvoluntariado); Ipsos Mori (https://bit.ly/ipsosmoriysa). untariado); Ipsos Mori (https://bit.ly/ipsosmoriysa)

Horyou (horyou.com)

© Adiyatma | Adobe Stock

Voltando ao Brasil, a pesquisa de 2018 do IBGE indica que menos da metade dos voluntários brasileiros participa quatro dos voluntários brasileiros participa vezes ou maisoupor mês demês um projeto quatro vezes mais por de um de voluntariado. E 15% deles projeto de voluntariado. E 15%disseram deles que não mantêm disseram que nãoqualquer mantêm regularidade qualquer na participação. regularidade na participação.

Essa mídia social é interessante para quem deseja conhecer projetos de impacto e que aceitam voluntários. O cadastro pode ser feito tanto por candidatos ao voluntariado como por organizações que oferecem vagas. Anualmente, a Horyou premia os projetos sociais mais inovadores do mundo. JUL-SET

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Interpretação Capa & Reflexão Artigo

Texto Thiago Basílio Ilustração © drawlab19 | Adobe Stock

Texto e contexto Perguntas Imagine

INFLUENCIADORES

SOCIAIS Da filantropia à política, do voluntariado ao empreendedorismo, o cuidado com o semelhante gera boas ações em cadeia. Conheça quatro histórias de impacto social

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VOCÊ JÁ DEVE ter percebido que todas as edições da Conexão 2.0 deste ano estão focadas em ajudar você a descobrir um propósito nobre e a viver por ele. Além de ser um valor muito importante do cristianismo, o cuidado com o próximo se mostrou ainda mais necessário no contexto da pandemia pela qual estamos passando. A crise de saúde, econômica e política que enfrentamos no Brasil de hoje tem despertado, ao mesmo tempo, o que há de pior e melhor em nós.

O ponto é que, numa sociedade que funciona em rede, a solidariedade e o trabalho colaborativo são fundamentais para a superação dos problemas. Fazer compras para os idosos, arrecadar alimentos para os mais vulneráveis, distribuir gratuitamente máscaras e álcool em gel a quem mais precisa. Essas atitudes só demonstram o quão importante é a consciência de que precisamos uns dos outros e de que juntos somos mais fortes para transformar realidades. O que ficou bem claro também até aqui nas pautas da revista é que há espaço para todo mundo fazer a diferença, perto ou longe de casa, seja com pequenos gestos ou por meio de grandes mobilizações. O texto que você lê a seguir vai nessa direção. Vamos contar quatro histórias de pessoas que têm gerado transformação ao redor de si e contribuído para a formação de ondas de solidariedade.

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FILANTROPIA LUCROS COMPARTILHADOS Parece que a solidariedade faz parte da “alma” de algumas pessoas. Tem gente que desde sempre apresenta um perfil generoso. É exatamente essa a virtude pública mais evidente deste empresário e filantropo. Nascido em família muito pobre, aos sete anos de idade vendia doces nas ruas para complementar a renda familiar. Sua mãe preparava as cocadas, paçocas, pés de moleque e sempre o orientava a não comer os quitutes destinados à venda. Ainda assim, vez ou outra ele se deparava com crianças carentes e oferecia a elas alguns docinhos de presente. A situação em casa era muito difícil, agravada pelo vício do pai no álcool. A comida costumava faltar e os recursos eram limitados, mas a esperança acalentava o coração daquela criança. Os anos passaram e, por meio de um panfleto, a família conheceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia. E graças a uma oportunidade concedida pelo então Colégio Adventista Brasileiro (CAB), hoje Unasp, campus São Paulo, de que os alunos carentes pagassem parte dos estudos trabalhando na instituição, Milton Soldani Afonso, com a ajuda da mãe, conseguiu se matricular no CAB. Ali ele encontrou muitas obras para alimentar seu gosto pela leitura. Milton andava pelo campus sempre acompanhado por um livro diferente, além, claro, da Bíblia, sua leitura favorita. Os dias passavam até que ele recebeu uma carta da mãe dizendo que, por causa de dificuldades financeiras, não mais poderia ajudá-lo a pagar o colégio. Milton não ficou parado. Passou a colportar nas férias, ou seja, a vender livros sobre saúde, família e religião da CPB, editora adventista. Sua habilidade em vendas fez com que conseguisse o dinheiro para os estudos e ainda pudesse ajudar os colegas que não iam tão bem como ele. E foi dessa forma que ele pagou os custos de sua formação básica e depois superior em Direito. Ao concluir a graduação, já tinha recursos para montar uma pequena gráfica. Nesse meio

tempo, casou-­­se e formou família. Naquela época, quando não havia ainda feito fortuna, sempre contribuiu para que outros estudassem, principalmente no Instituto Petropolitano Adventista de Ensino (Ipae), internato da região serrana do Rio de Janeiro. Morando na capital fluminense, Milton conseguiu, com sua veia empreendedora, expandir sua rede de contatos e o próprio negócio, criando um plano de saúde junto ao Hospital Adventista Silvestre. O negócio vingou e o empresário construiu uma base financeira para criar a Golden Cross na década de 1970, empresa pioneira no ramo de saúde suplementar no país e que se caracterizaria pelo seu caráter filantrópico. Com muita luta e bênçãos, a empresa cresceu, adquirindo hospitais por todo o Brasil e formando então o maior grupo de seguros de saúde da América do Sul e o quarto do mundo. O propósito inicial da criação do negócio tem sido mantido. Mais de 65 mil estudantes já receberam bolsas de estudos da empresa, entre eles, a Jéssica e a Roseane. Esse grande investimento em educação já gerou a transformação de muita gente e uma rede de oportunidades. Numa declaração ao documentário O Menino que Vendia Doces e Entregava Sonhos (2014), o empresário, que hoje tem 98 anos, afirmou que: “a experiência da vida mostra que quando eu faço outras pessoas felizes me torno mais feliz ainda. Nunca deixei de ter alguma coisa, nunca me privei de nada por ajudar os outros.” O documentário está disponível na plataforma feliz7play.com.

Jéssica Westphal, orientadora educacional no Colégio Adventista do Arruda (PE) “O doutor Milton Afonso começou a me ajudar quando eu estava no primeiro ano do ensino médio no Edessa (internato adventista no Espírito Santo), e, em seguida, me auxiliou por dois anos no curso de Pedagogia no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), com uma bolsa de 50% da Golden Cross. Louvo a Deus pela vida dele. Meu sonho é agradecê-lo pessoalmente. Hoje quero ser bênção na vida de outros também. Por isso, dediquei alguns anos da minha vida em trabalho voluntário na Argentina, no Uruguai e nos Estados Unidos.” Roseane Meireles, professora no Colégio Adventista de Belo Horizonte (MG) “Aos 12 anos fui para o internato com a bolsa da Golden Cross. No ano seguinte, minha irmã também foi beneficiada pelo programa. Dois anos depois, foi meu irmão que também recebeu o auxílio estudantil. Hoje sou formada em Letras, pós-graduada em pedagogia organizacional e recursos humanos e trabalho como professora no Colégio Adventista de Belo Horizonte (CABH). Minha família não tem palavras para agradecer a Deus por tudo que Ele nos possibilitou por meio da generosidade do doutor Milton Afonso. Que existam mais pessoas como ele, para que mais estudantes tenham a vida transformada por um ato de amor.”

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VOLUNTARIADO OPORTUNIDADES PARA A COMUNIDADE Não é segredo para ninguém que o Rio de Janeiro figura entre as metrópoles mais desiguais do país. Os problemas vêm desde o início da colonização, passando pelos inúmeros percalços históricos de povoamento desordenado e exclusão social na cidade que, até 60 anos atrás, era a capital do Brasil. Esse abismo social é evidenciado, por exemplo, nas contradições de bairros cariocas que concentram coberturas luxuosas em condomínios verticais que valem dois dígitos de milhões de reais e barracos de dois cômodos que não têm sequer rede de esgoto. E essa é uma realidade para uma parcela muito grande da população. Segundo o Censo 2010 do IBGE, mais de 20% dos cariocas viviam em favelas. Talvez a mais conhecida dessas comunidades seja a Rocinha, na zona sul da cidade, região que concentra praias de fama internacional e o metro quadrado imobiliário mais caro da América do Sul. Nesse misto de realidades antagônicas, muitas dificuldades são enfrentadas pelos mais de 100 mil moradores da favela. Falta presença do poder público; faltam escolas; falta saneamento básico; falta acesso à rede de saúde; falta segurança e faltam oportunidades. Nesse contexto de ausências, a presença da tia Gabriela é fundamental.

Depois de atuar nove anos como voluntária em projetos sociais na comunidade, Gabriela Alves conheceu o esposo, Rérison Marques, que também abraçou a causa. Eles se casaram inclusive numa cerimônia que envolveu as crianças da comunidade. Do compromisso deles nasceu a ONG Comunitá-Rio, que leva cultura, lazer, esporte, assistência social e formação profissional para jovens e crianças da Rocinha. Em uma dessas ações solidárias, Gabriela e outros voluntários visitaram um lar onde uma senhora com semblante muito preocupado os atendeu. Eles oraram com ela e ofereceram a cesta básica. “Ela nos abraçou e começou a chorar, pois disse que não tinha mais nada para comer nem para oferecer aos filhos. Chamou-nos de anjos e agradeceu muito. Isso sensibilizou toda a equipe e nunca mais deixamos de atender a região”, conta emocionada Gabriela, que acredita no ato de ajudar como um segredo da felicidade. Conhecida em boa parte da comunidade, tia Gabriela tem um respeito muito privilegiado na região. O trabalho da ONG, que completa dez anos em 2020, contribuiu para tornar a vida de muitas pessoas mais humana, como é o caso da família da Naiara e da Andréa, mães de alunos do projeto. Para nós, Gabriela deixa um recado: “Comece hoje mesmo. A vida não espera. Ela passa. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje. Ajude e seja feliz!” Naiara Cristina Sousa Alves, moradora da Rocinha e mãe de crianças que participam das atividades da ONG “O projeto me ajudou na educação dos meus filhos: na forma de eles se comportarem, de respeitar as pessoas, de aprender a ouvir e aceitar as coisas como elas são. A atuação do ComunitáRio pra minha família foi e sempre será muito gratificante em todos os sentidos.” Andréa Leda de Sá, moradora da Rocinha e mãe de crianças que participam das atividades da ONG “O projeto me ajuda de uma forma incrível, pois minha filha apresenta um quadro de herpes oftalmológica, desde os quatro anos de idade, que a deixa agitada. O médico recomendou que ela fizesse várias atividades e, nesse meio tempo, o Comunitá-Rio entrou na minha vida como uma salvação, um projeto de Deus. Hoje minha filha estuda flauta, Libras, inglês e participa do coral. E isso pra mim é muito importante!”

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EMPREENDEDORISMO CONHECIMENTO ACADÊMICO, PRÁTICA SOLIDÁRIA O bairro do Capão Redondo, na zona sul paulistana, é conhecido por já ter revelado vários artistas em nível nacional, que tinham como mote da sua música a denúncia das mazelas da região, especialmente a violência. Mas ali também há pobreza e falta de oportunidades, como em muitas cidades do Brasil. Foi nesse contexto social que alguns estudantes do Unasp, centro universitário adventista que começou nesse bairro há 105 anos, passaram a se reunir semanalmente para discutir diferentes temas, entre eles o papel do cristão na sociedade. O problema é que, com o passar do tempo, eles perceberam que os encontros se limitavam à troca de ideias, mas faltava ação. Foi quando mudaram a postura. Denilson Shikako fazia parte desse grupo e ajudou a dar o start num movimento inicial que reuniu as habilidades desses amigos em favor de outros. Por ter afinidade com música, Denilson empregou seu talento no Jardim Amália, comunidade próxima ao Unasp. Com o tempo, a proposta foi tomando corpo e novas pessoas passaram a colaborar,

muitas delas recém-formadas na instituição adventista do bairro. Dessa forma, surgiu o projeto Vida Nova, que posteriormente se tornou ONG e tem ajudado, ao longo dos últimos anos, muitas crianças. Uma dessas histórias, que Denilson guarda na memória, é a do Júnior. Jovem de uma família com 21 irmãos, ele viu vários da sua casa serem presos ou enterrados por causa do envolvimento com o crime. Tudo indicava que seu destino seria o mesmo, mas no projeto Vida Nova ele conheceu o lado da vida que vale a pena. O que fez diferença para ele e outros garotos, como Jorge, foi ter participado das oficinas de música e do grupo Tuc Boys. Júnior sobreviveu, estudou, tornou- se gerente de banco, foi cursar Teologia, trabalha como pastor e comprou o próprio carro e casa. Enfim, reescreveu sua trajetória. “Acho que a coisa que mais conta para a felicidade aqui na Terra é você perceber que, de alguma forma, fez a diferença na vida das pessoas. Isso muda sua vida também!”, acredita Denilson, que hoje é CEO da Fábrica de Criatividade, uma consultoria na área de inovação e empreendedorismo social.

Júnior Alves da Silva, estudante do 4o ano de Teologia do Unasp “Iniciei no projeto com apenas 12 anos de idade. Tive a oportunidade de conhecer diversos voluntários de inúmeras áreas profissionais, muitos ainda universitários. Foi aí que enxerguei um caminho diferente. O projeto me mostrou que tudo é possível para quem sonha. Principalmente a oficina de música mudou as coisas para mim. Como não tínhamos condições de comprar instrumentos, fomos incentivados a produzir os nossos com sucata e a usar o próprio corpo para produzir os sons. Fomos convidados para nos apresentar em diversos lugares e programas de TV, o que nos tornou uma referência positiva para as crianças do bairro. Sou profundamente grato a todos os voluntários do projeto Vida Nova e meu desejo é compartilhar com outros tudo o que recebi ali.” Jorge Maia, professor de História “Entrei no Vida Nova por causa dos Tuc Boys. Alguns dos integrantes desse grupo de percussão corporal eram da minha escola. Eu estava no ensino fundamental quando comecei a frequentar o projeto. Os projetos sociais são capazes de abrir algumas janelas que podem fazer diferença. Sem eles, as coisas poderiam ser ainda piores. Por exemplo, por meio do projeto também passei a fazer parte da Fábrica de Criatividade, que é uma outra frente que tem ações maiores e, com os Tuc Boys, passei a viajar para várias regiões do Brasil. Os membros desse grupo são meus melhores amigos. Acabei ajudando como monitor no projeto e apresentando novos caminhos para outros jovens também.”

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POLÍTICA DIREITOS FUNDAMENTAIS É muito mais fácil a gente entender as necessidades dos outros quando já enfrentamos contextos parecidos aos deles. É justamente isso que norteia a luta de Damaris Moura. Na faculdade de Direito, pelo fato de observar o sábado como dia sagrado, ela sofreu vários casos de intolerância religiosa. Essas situações fizeram com que ela estudasse mais profundamente a legislação sobre liberdade religiosa. E, após muitas batalhas, conseguiu ter seu direito respeitado. Porém, ela entendeu que sua luta não tinha terminado, mas apenas começado. Pouco depois da sua formatura, mudou-se de Minas Gerais para São Paulo, cidade em que encontrou muitas oportunidades. Logo que chegou à capital paulista, foi nomeada diretora do departamento de liberdade religiosa da sua igreja local, na qual conheceu vários jovens sabatistas que enfrentavam o mesmo problema que ela havia vencido em relação aos estudos. Isso tudo só fez com que Damaris “mergulhasse” mais ainda no tema. Com o tempo, sua atuação na área de liberdade religiosa foi ficando cada vez mais conhecida e muitos procuraram sua ajuda. O reconhecimento veio também quando ela se tornou membro-­fundadora da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB de São Paulo. Foi na presidência dessa comissão, função que ela exerceu por dez anos com destaque, que a advogada passou a atender pessoas dos mais diversos credos, como judeus, umbandistas, muçulmanos e cristãos de outras denominações que não a Igreja Adventista. Nesse ínterim, o contato com o público a engajou também em outras frentes de atuação, como o combate à violência doméstica. Foi por meio do projeto Quebrando o Silêncio, da Igreja Adventista, que Damaris passou a fazer palestras de conscientização e a prestar assessoria jurídica em casos de abuso sexual, violência contra mulheres e idosos e bullying. A visibilidade do seu trabalho gerou um convite para disputar as eleições de 2014 como deputada estadual. Como não era algo que fazia parte das suas ambições de vida, refletiu com cuidado sobre a questão, mas entendeu que a entrada na política institucional seria um modo de ampliar a defesa das causas nas quais acredita. Topou o desafio, mas não alcançou vitória no pleito.

O trabalho continuou e, em 2018, ela voltou a se candidatar, quando foi então eleita deputada estadual de São Paulo. Para ocupar o cargo que Damaris exercia na OAB foi eleito o advogado Samuel Gomes de Lima, amigo da deputada e outro defensor de longa data da liberdade religiosa. Entre os trabalhos de rotina de Damaris estão a discussão de propostas de novas leis, a participação em comissões temáticas e reuniões de frentes parlamentares, e audiências para receber pessoas em seu gabinete. “Estamos lá para ouvir a sociedade”, resume. Damaris costuma ouvir pessoas como uma senhora que lhe procurou para falar sobre o abuso sexual que a própria filha de nove anos havia sofrido. Muito abalada, aquela mãe encontrou no gabinete da parlamentar não apenas um abraço, mas o direcionamento para um atendimento multidisciplinar, que envolvia tanto o suporte emocional quanto a denúncia contra o agressor. “Já a reencontrei algumas vezes e hoje ela tem outro semblante e esperança no olhar. Com confiança no futuro. É recompensador ver isso”, conta a deputada, que também é uma forte incentivadora do voluntariado. “As pessoas que se dispõem a servir sem esperar nada em troca são, talvez, as mais beneficiadas no serviço ao próximo. O voluntariado cura os males do corpo e da alma”, justifica. Em quase um ano e meio de mandato, a atuação da deputada tem resultado na discussão de uma lei estatual de liberdade religiosa (projeto 854/2019), algo inédito no Brasil; e na aprovação de leis relacionadas à violência doméstica (17.186/2019), além do debate sobre uma legislação em relação aos direitos de portadores do autismo e de doenças raras (projeto 1.327/2019). Para acompanhar o trabalho da parlamentar adventista, acesse al.sp.gov.br.

Samuel Gomes de Lima, presidente da Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania (Ablirc) e presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-SP “A Ablirc começou em 2004, organizando o primeiro fórum de liberdade religiosa do Estado de São Paulo, na Câmara Municipal de Diadema. Atualmente, nossos principais projetos estão relacionados à realização de eventos. Tivemos mais de 200 encontros com representantes de entidades religiosas e cerca de 170 eventos em organizações da sociedade civil, como a OAB e as assembleias legislativas. Nosso principal objetivo no momento é estender essas ações para outras regiões do Brasil.”

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Ajuda de verdade Na área de desenvolvimento social não basta ter boa intenção, é necessário planejar e pensar a longo prazo

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VOCÊ JÁ TENTOU fazer um bolo de aniversário para alguém que ama e, no fim, deu tudo errado? Ou quem sabe teve certeza de que tinha acertado na escolha do presente de Natal, até descobrir que o presenteado já tinha algo idêntico? Quando tentamos demonstrar amor e cuidado pelos outros e as coisas não saem como planejado, é comum dizermos: “mas o que importa é a intenção”. Porém, o que fazer quando as melhores motivações causam dano? TEM AJUDA QUE ATRAPALHA Na tarde de 12 de janeiro de 2010, um terremoto de sete pontos na escala Richter abalou o país mais pobre do Ocidente, o Haiti. Estima-se que 250 mil pessoas morreram e mais de 300 mil ficaram feridas. Esse desastre natural ainda fez com que 5 milhões de pessoas ficassem desalojadas, num contexto em que, segundo a ONG Visão Mundial, 70% dos haitianos já viviam abaixo da linha de pobreza antes do terremoto. Por causa da falta de água potável, a situação piorou dia após dia, provocando a morte de milhares de sobreviventes do terremoto nos meses seguintes à catástrofe. Esse drama humanitário levou centenas de países e ONGs a oferecer uma resposta ao desastre. A ajuda internacional foi imediata: toneladas de alimentos e de material médico, além de um exército de voluntários, foram enviados para a capital, Porto Príncipe. Uma resposta de tamanha magnitude, que mobilizou tantos recursos e pessoas bem-intencionadas, parecia ser o caminho ideal para reerguer o país o mais rápido possível. Contudo, infelizmente, o resultado foi bem diferente do que se esperava. Com milhares de voluntários (nem todos devidamente preparados), sem coordenação adequada e envolvimento das organizações e autoridades locais, a situação virou um caos. Esse caso, posteriormente, até se tornou objeto de estudo na Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA). Posteriormente também, Chris Marlow, fundador da organização Help One Now e autor do livro Doing Good is Simple (Zondervan, 2016), mostrou que, mesmo depois de cinco anos, a ajuda humanitária enviada após o terremoto continuava causando problemas para a recuperação do Haiti. Isso ocorreu, por exemplo, porque toneladas de alimentos foram doadas sem que jul-set

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QUANDO O MELHOR NÃO É BOM O caso emblemático do terremoto do Haiti pode parecer muito distante da sua realidade, e talvez seja mesmo (para saber como funciona a logística de resposta a um desastre, acesse: bit.ly/2A6cVMH). Mas é verdade também que é comum procurarmos “fazer o bem” sem pensar nas consequências de nossa “ajuda”. E problemas ocorrem não somente quando as coisas não saem como planejamos, mas também quando tudo é realizado como idealizamos. Tá confuso? Explico. Quando vemos necessidades perto de nós ou do outro lado do mundo, nos sentimos tocados e somos movidos a ajudar. Esse desejo vem de um sentimento bom e muitas vezes genuíno, mas que geralmente resulta em ações desconectadas da realidade local e que não respondem às reais necessidades de quem pretendemos servir. Isso ocorre porque conhecemos pouco a respeito do outro e porque oferecemos ajuda com base no que consideramos ser o melhor. Mas o nosso “melhor” pode não ser “bom” para outros, especialmente de culturas e classes sociais diferentes da nossa. Um exemplo comum é quando vemos fotos ou vídeos de crianças pobres em algum vilarejo remoto da África e pensamos: “eu poderia levar brinquedos, roupas e material escolar para essas crianças.” Se esse pensamento se materializar em ação, uma viagem missionária pode ser organizada com um grupo de 10 a 15 voluntários que pretendem doar um pouco do muito que têm. Contudo, quando isso é feito sem levar em conta o estudo da realidade local, podem ser doadas roupas, brinquedos, material escolar e itens de consumo “necessários” em nosso contexto sociocultural, mas “dispensáveis” nesse outro contexto. Além de o conceito de “necessidade básica” variar de local para local, tentar responder a uma demanda aparente sem entender as questões estruturais que a envolvem acaba gerando uma intervenção que não traz mudança duradoura. Seria como ir ao médico repetidas vezes se queixando de dor de cabeça e receber dele a recomendação para tomar analgésicos sem, contudo, ser submetido a exames para descobrir a causa daquele desconforto. É isso que acontece quando se oferece ajuda humanitária sem “diagnóstico” prévio. A gente acaba tratando os sintomas sem chegar à causa da doença. 18 |

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PRINCÍPIOS IMPORTANTES Não há dúvida de que esse tema é um pouco incômodo, mas necessário se você deseja realizar ações de impacto. Porque quanto mais profunda for a análise do problema, mais ferramentas você terá para intervir nele. Por isso, sugiro aqui alguns princípios importantes que você deve levar em conta:

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1. Nunca cause dano. Essa é uma questão básica no desenvolvimento social. Sempre analise cuidadosamente cada projeto. E o critério de avaliação não pode ser simplesmente “se isso faz as pessoas ou os voluntários felizes, estamos no caminho certo”. Considere o que vai ocorrer com aquelas pessoas depois que você e seu grupo forem embora.

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2. Não planeje sem orar. Nunca prepare ou implemente alguma ação sem buscar genuinamente entender a vontade de Deus. O coração humano é traiçoeiro e facilmente podemos fazer o que é certo com as motivações erradas.

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3. Aproveite para aprender. A oportunidade de estar numa outra cultura pode ser enriquecedora. Por isso, em vez de pensar no que pode fazer ou ensinar, aprenda com os nativos se envolvendo com eles em seu cotidiano.

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4. Não faça o que eles podem fazer. Podemos dizer que em todos os contextos culturais existem pessoas que sabem construir e reformar edifícios. Portanto, evite ir para um local para fazer o que os nativos sabem ou podem fazer, a não ser que você esteja disposto a trabalhar em parceria com eles. 5. Não decida nada sem consultar os nativos. A melhor atitude é deixar os moradores locais decidirem como você e os voluntários podem ajudar. 6. Não leve o que não existe naquele país. Se certo produto, medicamento ou material não é produzido ou não está disponível naquela comunidade, é preciso cuidar para não gerar disputa interna por esse item ou dependência em relação a ele. 7. Não leve o que existe naquele país. Por outro lado, se certo produto, medicamento ou material já existe naquela comunidade, levar esses itens e doá-los pode prejudicar a economia local. Uma alternativa seria comprar esses itens de produtores nativos e avaliar se entregar isso gratuitamente é uma boa opção ou não.

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houvesse um planejamento de como ajudar aquelas pessoas a sair da pobreza. Os milhares de sacos de arroz que continuaram a ser distribuídos durante os meses seguintes à tragédia, enfraqueceram o cultivo local de arroz. Afinal de contas, por que alguém compraria a produção nativa se receberia doações internacionais?


FAZENDO O BEM, DE VERDADE Não há dúvidas de que a ajuda humanitária faz bem para quem a recebe e para quem a oferece. Vários estudos apontam nessa direção; porém, o outro lado da moeda é que existem igualmente inúmeras pesquisas mostrando os danos causados por projetos executados com base simplesmente na emoção, que não consideram dados concretos e a análise de efetividade. Em seu livro Doing Good Better (Guardian Books e Faber & Faber, 2015), William MacAskill, professor de filosofia e pesquisador da Universidade de Oxford, na Inglaterra, explica o conceito de “altruísmo efetivo”. A ideia é que aqueles que desejam tornar o mundo melhor devem fazer isso com base num compromisso de longa duração. Isso porque mesmo as boas intenções podem levar a resultados desastrosos. Segundo o próprio MacAskill, muita gente abre mão de usar análise de dados e de impacto, porque acredita que essa racionalização da ajuda humanitária acaba comprometendo a virtude e beleza da ação. Quando, na verdade, é a racionalidade da ação que trará resultados duradouros e transformadores. Se neste ponto do texto você está se questionando sobre como pode ser mais eficaz no cuidado do próximo, ao lado vão algumas ideias práticas que podem até soar um pouco ousadas. Acredito que, com sabedoria e sensibilidade espiritual, é possível fazer a diferença para melhor.

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Não sirva no exterior antes de trabalhar na sua comunidade

Quanto mais você se envolver no desenvolvimento social de onde vive, melhor entenderá a complexidade de servir de modo contínuo em nível internacional. Penso que igrejas e agências missionárias poderiam incluir esse critério na seleção de voluntários.

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Curta duração, longo alcance

Caso você deseje participar de um projeto de curta duração (10 a 30 dias), certifique-se de que sua participação fará parte de um processo de longo prazo, ou seja, de que você será peça de um quebra-cabeça.

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Autorização local

Tenha certeza de que o trabalho que for realizado foi realmente solicitado pelos moradores locais e que será feito em parceria com eles.

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Priorize a troca de experiências

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Evite ao máximo doar produtos. Em vez disso, invista em troca de conhecimento e experiências. O aprendizado mútuo é algo que ambos os lados podem levar para toda a vida.

Para saber mais

Episódios 43 a 51 do podcast Papo Missionário, disponível no Spotify JUL-SET

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Texto e contexto

Texto André Vasconcelos Ilustração Vandir Dorta Jr.

MISSÃO CUMPRIDA “José era o governador do Egito e era ele que vendia trigo a todo o povo da terra. Por isso, quando os irmãos de José chegaram, curvaram-se diante dele com o rosto em terra” (Gn 42:6, NVI).

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REALIZAR UM SONHO é uma experiência única. Idealizamos um projeto, fazemos planos, criamos expectativas, estabelecemos metas e nos preparamos para cumpri-las. Fazer aquela “viagem dos sonhos”, por exemplo, certamente trará alegria e satisfação, mesmo que seja necessário enfrentar privações para concretizá-la. Porém, na história de José, a realização de seus sonhos foi uma experiência dolorosa e conflitante. Ao se tornar governador do Egito, o hebreu teve que lidar com uma tensão entre passado e presente para cumprir sua missão, reabrindo feridas antigas, a fim de preservar a descendência de Abraão e garantir a sobrevivência dos povos da sua região. Vamos recapitular Gênesis 41 a 45 para ver como o sonho de José se concretizou. DE ESCRAVO A GOVERNADOR Depois de 13 anos no Egito, José foi liberto da escravidão e promovido a governador de toda a terra (Gn 37:2; 41:46). Aquele era o momento para o qual a providência divina o havia preparado. O fiel hebreu, com 30 anos de idade, deveria usar seu discernimento, diligência e habilidades para salvar parte do mundo antigo. Faraó reconheceu seu dom de interpretar sonhos e o chamou de Zafenate-Paneia, que, segundo o teólogo Nahum Sarna, pode significar “revelador das coisas escondidas” (Genesis, p. 287). Também lhe ofereceu, em sinal de gratidão e respeito, a mão de Asenate em casamento, a filha de um sacerdote egípcio chamado Potífera (41:45). Os sete anos seguintes foram marcados pela prosperidade das colheitas (v. 47-49). Durante esse período, Asenate deu à luz dois filhos (v. 50). O primogênito foi chamado de Manassés porque, conforme José afirmou, “Deus me fez esquecer de todos os meus trabalhos e de toda a casa de meu pai” (v. 51). Esse nome tem origem no verbo hebraico nashah, que significa “esquecer”. Embora tivesse sofrido na casa de Potifar e na casa de detenção, as lembranças que mais causavam dor ao hebreu eram as da casa do pai. Não há dúvida de que José queria se esquecer da família. É importante lembrar que ele era o governador da nação mais poderosa daquela época. Revestido de autoridade imperial, poderia ter enviado espiões a Canaã para investigar seus irmãos ou até um exército para exterminá-los. Mas ele não fez nada disso. O segundo filho foi chamado de Efraim. Afinal, “Deus me fez próspero na terra da minha aflição” (v. 52), justificou José. O texto faz um trocadilho entre o nome Efraim e o verbo farah, que pode ser traduzido como “frutificar” ou “prosperar” (Gn 1:22, 28). Esses nomes são significativos porque eles nos ajudam a captar a emoção do momento e entender melhor o que se passava na mente de José. Se Manassés representava as lutas do passado, Efraim simbolizava as conquistas do presente. Assim, eles marcam a virada na narrativa, indicando que o escravo hebreu finalmente havia se tornado o governador do Egito. A CONCRETIZAÇÃO DO SONHO Após sete anos de fartura, vieram sete anos de fome sobre o Egito e região, o que incluía Canaã (41:54; 42:5). Foi nesse contexto que Jacó, o pai de José, orientou seus filhos a ir até a terra de Faraó para comprar comida. Gênesis 42:3 relata que dez deles partiram para essa

jornada. Apenas Benjamim, o filho mais novo de Raquel, mãe de José, ficou com o pai (v. 4). Como José era o responsável por vender os mantimentos no Egito, seus irmãos foram levados à sua presença e se prostraram diante dele (v. 6). José os reconheceu imediatamente, mas não revelou sua identidade. O verso 9 informa que essa cena o fez recordar de seus sonhos, registrados em Gênesis 37:7 a 9. Embora tenha acusado os irmãos de serem espiões (42:9), seu objetivo não era se vingar deles, mas submetê-los a uma prova, a fim de verificar se de fato eram “homens honestos” (v. 11, 19, 31, 33, 34). Eles se defenderam com a alegação de serem apenas 12 filhos de um mesmo homem (v. 10, 11). Disseram também que o mais novo estava com o pai e que o outro “já não existia”. Contudo, José estava ansioso para saber se Benjamin, seu irmão mais novo, havia tido um destino melhor do que o dele (v. 20). Por isso decidiu continuar testando os irmãos. O verso 17 revela que José prendeu os irmãos por três dias. Sua atitude aparentemente hostil parece ser um tipo de retribuição pelo que ele mesmo havia sofrido na cadeia. O texto bíblico reforça essa ideia ao utilizar o termo mishmar no verso 17, a mesma palavra usada para “prisão” em Gênesis 40:4. Por outro lado, a expressão “três dias” conecta essa passagem aos sonhos do padeiro e do copeiro-chefe (40:12, 19). Ambos os sonhos retratavam o destino dos oficiais de Faraó. É como se o narrador quisesse dizer que, assim como a vida daqueles homens esteve nas mãos do rei do Egito, o destino dos irmãos de José estava nas mãos do agora governador do Egito. Na sequência, o relato bíblico diz que ao terceiro dia José lhes propôs uma condição para que vivessem (v. 18). A proposta foi feita em estilo pactual e lembra muito a estrutura empregada em Deuteronômio 30:19. Os irmãos de José deveriam voltar a Canaã e buscar seu irmão mais novo; no entanto, havia uma condição: um deles deveria continuar preso como garantia (Gn 42:19, 20). A cena é emotiva. José os escutou conversarem entre si sobre a culpa que tinham em relação ao “irmão sonhador” (42:21, 22). Abalado com essas palavras, José se retirou para chorar (v. 24), como fez em outros momentos (43:30; 45:2, 14, 15; 46:29; 50:1, 17). Após se recompor, ele retornou à presença dos irmãos e algemou Simeão. Talvez José tenha escolhido esse irmão por causa da crueldade dele. O espírito violento de Simeão ficou evidenciado em dois momentos: no assassinato dos siquemitas, por terem estuprado sua irmã Diná (34:25), e no teor da bênção proferida por seu pai, Jacó (49:5-7). RETORNO AO EGITO Depois desse episódio, os outros irmãos retornaram a Canaã. O detalhe é que José ordenou que o dinheiro deles fosse devolvido nos sacos de cereais (42:25). Numa alusão ao fato de ter sido vendido por apenas 20 siclos de prata, a atitude de José foi, no mínimo, irônica (37:28). A palavra hebraica para a expressão “siclos de prata” é kesef, a mesma usada para se referir ao “dinheiro” que foi devolvido nos sacos (42:25-28). Quando pararam para alimentar seus animais, um dos irmãos percebeu que seu dinheiro havia sido devolvido, o que os deixou JUL-SET

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atemorizados (v. 28). Mas a grande surpresa foi quando chegaram à casa de seu pai e se deram conta de que o dinheiro de todos estava nos sacos de cereais (v. 35). Isso inibiu Jacó de enviá-los de volta por um tempo. No entanto, a fome persistiu em Canaã, e Jacó teve que mudar de ideia depois que a comida acabou (43:1, 2). Judá, contudo, deixou claro que era necessário levar Benjamin e se comprometeu a cuidar do irmão caçula (v. 3, 9). Mesmo contrariado, o patriarca acabou cedendo. Jacó orientou Judá a levar o dobro de dinheiro bem como bálsamo, arômatas, mirra e outros produtos (v. 11-14). O leitor atento logo perceberá que esses eram os mesmos elementos comercializados pela caravana de ismaelitas/midianitas que levou José ao Egito (37:25). Mais uma vez, o texto ironiza a história por meio da repetição, um recurso muito usado nessa narrativa. Quando retornaram ao Egito, José convidou seus irmãos para um banquete e trouxe Simeão à presença deles. Depois de 22 anos, os irmãos estavam novamente reunidos (37:2; 41:46, 47; 45:6). Ele lhes perguntou sobre o pai; estava ansioso para receber notícias dele (43:27; 45:3). Mas foi quando encontrou Benjamim que José não pôde mais conter a emoção e teve que se retirar novamente para chorar (43:29-31). Em seguida, seus irmãos foram servidos num lugar separado, pois havia um costume no Egito que os impedia de comer com os homens de lá (v. 32). Os hebreus foram então conduzidos à mesa e organizados por idade (v. 33), para a surpresa deles. Benjamim recebeu uma porção cinco vezes maior do que a dos demais. Apesar disso, nenhuma demonstração de ciúmes por parte dos irmãos foi registrada no texto bíblico. Ao contrário, o verso 34 menciona que eles beberam e se alegraram com Benjamim, um indicativo de que o caráter deles havia mudado. A PROVA FINAL No dia seguinte, José ordenou a seu mordomo que colocasse o dinheiro dos hebreus nos pertences deles e escondesse seu copo de prata na bolsa de Benjamim (44:1, 2). Mas por que um copo? O que havia de especial nele? Como o teólogo Jacques Doukhan observou em seu comentário sobre Gênesis, na página 468, o termo hebraico gevia’, traduzido como “copo” nessa passagem, não se referia a um recipiente comum, mas a um objeto usado em ocasiões especiais, como os “cálices” do santuário (Êx 25:31-34; 37:17-20). É possível que esse copo tenha sido usado no banquete do dia anterior e que, como convidado de honra, Benjamim tenha bebido nele. Essa inferência ganha força ao compararmos a passagem do Gênesis com o texto de Jeremias 35:5, no qual o termo gevia’ se refere claramente a taças de vinho. Em outras palavras, tudo havia sido planejado para incriminar Benjamim. Por meio dessa prova, José esperava que o verdadeiro caráter de seus irmãos fosse revelado. É importante ter em mente que o desejo dele era se esquecer da casa do pai. Logo, o objetivo dessa prova não era apenas testar os irmãos, mas também ver se ele mesmo era capaz de perdoá-los. Conforme a instrução de José, seu mordomo foi atrás do grupo que partia para Canaã. Ao serem interrogados pelo oficial egípcio, 22 |

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os hebreus protestaram e reafirmaram sua inocência dizendo que, se o copo do governador fosse encontrado, a pessoa culpada pagaria com a própria vida e os demais se tornariam escravos do senhor daquela terra (Gn 44:3-10). O narrador nos diz que o mordomo de José revistou os pertences de cada um dos hebreus, começando por Rúben, o mais velho, até Benjamim, o caçula. Quando o oficial encontrou o copo nas coisas de Benjamim, eles rasgaram as vestes e retornaram à cidade (v. 11-13). Essa demonstração de empatia lembra a reação de Jacó ao ver a túnica de José manchada de sangue (37:34). IDENTIDADE REVELADA O clímax da história é o discurso de Judá. Quando os hebreus voltaram à casa do governador, Judá tomou a palavra, em defesa de Benjamim (Gn 44:18). O discurso completo pode ser dividido da seguinte forma: (1) recapitulação dos fatos (v. 18-29); (2) as consequências de Benjamim não retornar ao lar (v. 30-32); e (3) a proposta de assumir o lugar do irmão (v. 33, 34). Embora o gran finale seja a proposta de Judá, é perceptível sua ênfase na palavra “pai”, que é usada 14 vezes nessa seção (v. 19, 20, 22, 24, 25, 27, 30, 31, 32, 34). A preocupação de Judá era principalmente com o pai, como ele mesmo afirmou (v. 33, 34). A inversão da narrativa é impressionante e comovente. Isso porque tinha sido Judá quem havia sugerido a venda de José como escravo (37:25-28). De certa forma, podemos dizer que Judá articulou a mentira que levou seu pai, Jacó, a acreditar que o filho favorito dele havia sido despedaçado por um animal (v. 35). A mudança de Judá e sua preocupação com o pai romperam o coração de José, que já não mais podia suportar tanta emoção. “Eu sou José; vive ainda meu pai?” (45:3), exclamou. Obviamente, todos os irmãos ficaram aterrorizados com a notícia. José, porém, os acalmou e disse: “Não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós” (v. 5). DO SONHO À MISSÃO José deixou claro que o objetivo de sua amarga experiência até aquele momento havia sido a preservação da descendência de Abraão. Desde o capítulo 37, que narra seus sonhos, José estava sendo preparado para cumprir essa missão. Deus o havia chamado e “enviado” ao Egito como um profeta para preservar a “vida” de sua família e a sucessão dela “na terra” da promessa (Gn 45:7). Essa história nos mostra que realizar um sonho pode ser uma experiência única e ao mesmo tempo difícil, principalmente quando se trata do cumprimento de nossa missão. No entanto, a exemplo de José, não devemos permitir que as feridas e mágoas do passado nos impeçam de viver os planos de Deus para o presente. Reconhecer isso nos dará forças para superar os desafios de nossa tarefa e nos ajudará a enxergar a providência divina. José entendeu essa verdade, por isso permaneceu firme em sua missão e foi capaz de dizer aos irmãos: “Deus foi fiel / não há o que lamentar / voltem e chamem meu pai, o Senhor preparou o lugar” (trecho da música “Terra Estranha”, da dupla Os Arrais).


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Para saber mais

Genesis, de Jacques B. Doukhan (Pacific Press, 2016). Genesis, de Nahum Sarna (The JPS Torah Commentary, 1989). JUL-SET

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Básica

MISSÃO ADVENTISTA

Texto Marcelo Dias Ilustração Thiago Lobo

A crença no retorno de Cristo à Terra é o centro da mensagem adventista

O surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia é entendido por seus adeptos como providencial e profético. Isso significa que eles se sentem vocacionados a pregar a “verdade presente” (Ap 14:6-12) para este tempo, a fim de ajudar os demais cristãos e toda a humanidade a se prepararem para a volta de Jesus. Essa autopercepção dos adventistas se desenvolveu logo nas primeiras décadas do movimento, por meio do estudo da Bíblia e da orientação profética de Ellen White, cofundadora da igreja. Na compreensão de missão do movimento adventista, Jesus ocupa papel central. Além de ser o único Salvador (Jo 14:6), o ministério de Cristo é o modelo de engajamento de Seus discípulos modernos. Guiados pelo Espírito Santo, os adventistas entendem que devem servir a humanidade e pregar o evangelho a todo o mundo (Mc 16:15, 16; Ap 10:11). E o objetivo maior dessa tarefa missionária é colaborar com Deus na restauração da imagem Dele no ser humano, condição que foi perdida depois da queda moral no Éden (Gn 3:9). Nesse contexto, a guarda do sábado é uma experiência semanal dessa reconciliação entre Criador e criatura e uma antecipação da restauração plena e futura. Para tanto, os adventistas se esforçam para comunicar sua mensagem de modo culturalmente inteligível, a fim de que o evangelho gere transformação nas pessoas e no contexto em que vivem. Por considerar o ser humano indivisível, sem a clássica separação entre alma e corpo (Gn 2:7), durante mais de 150 anos de organização, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem empregado uma abordagem missionária integral, formada por quatro principais frentes de ação: educação, saúde, publicações/comunicação e o estabelecimento de sedes administrativas. Confiantes de que a missão é primariamente de Deus (Mt 24:14), e que a salvação e o juízo da humanidade dependem de Sua soberania, os adventistas acreditam na possibilidade real de verem Jesus voltando à Terra em breve. Oportunidade em que poderão dar seu testemunho de fé diante do Universo que aguarda pelo desfecho do conflito milenar entre Deus e Satanás (Fp 2:10, 11). Fontes: Declarações da Igreja (CPB, 2012) e Nisto Cremos (CPB, 2018).

Curiosa

Texto Julie Grüdtner

COMER PARA VIVER Se você acha que relacionar alimentação saudável com doenças crônicas é apenas papo furado de mãe e avó, está enganado. Pesquisas têm mostrado que os hábitos alimentares de muitos jovens são bastante nocivos. No ano passado, por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou um estudo com universitários do Centro-Oeste brasileiro. Mais da metade deles informou que consumia álcool regularmente e que não praticava exercícios físicos na quantidade adequada. Além disso, uma boa parcela deles comia carne com excesso de gordura. Detalhe: os entrevistados eram estudantes da área de saúde. O padrão se repetiu numa universidade pública do Nordeste do Brasil. A dieta dos universitários era marcada por alta ingestão de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal. De acordo com os protocolos do Ministério da Saúde, esses dados são preocupantes e devem levar os jovens a repensar seu estilo de vida. Mas, por quê? Diabetes, câncer, doenças respiratórias e cardiovasculares são as principais causas de morte ao redor do mundo. Em 24 |

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2015, 71% dos brasileiros perderam a batalha pela vida contra uma dessas enfermidades. E como elas podem ser evitadas? De acordo com os especialistas, adotando hábitos saudáveis, o que inclui mudanças no cardápio. O ponto é que se a mera informação resolvesse o problema, muita gente não estaria acima do peso, comendo mal, vivendo de modo sedentário ou flertando com drogas lícitas, como o álcool. Quando se trata de saúde, temos que reconhecer que nosso corpo é uma máquina complexa e cheia de regrinhas. Por isso, não levar essa

questão a sério, é se expor a consequências negativas de curto, médio e longo prazos. Um dos princípios da boa nutrição pode ser resumido naquele conhecido ditado: “comer para viver e não viver para comer.” É claro que mudar hábitos alimentares não é fácil, mas vale a pena. Fontes: Dietary Guidelines for the Brazilian Population (2015), p. 7-9 (bvsms. saude.gov.br); Monteiro LZ e outros, “Weight status, physical activity and eating habits of young adults in Midwest Brazil”, em Public Health Nutrition de outubro de 2019, nº 22, p. 2.609-2.616 (cambridge. org/core/journals/public-health-nutrition); e Silva e outros, “Frequency of healthy eating habits among students of a public university in Northeastern Brazil”, em Revista Brasileira em Promoção da Saúde de abril-junho de 2016, p. 227-234 (periodicos.unifor.br/rbps).

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Ponto de vista

Sedentário

PROSELITISMO

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Texto Márcio Tonetti

DE SEDENTÁRIO A VOLUNTÁRIO

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Tudo ligado

Texto Alex Machado Imagem © studiostoks | Adobe Stock

Definido como o esforço contínuo para converter alguém a determinada religião ou doutrina, o proselitismo evangélico voltou a ser objeto de debate após a publicação de uma reportagem de capa da revista IstoÉ, em março. O assunto também é recorrente nos tribunais brasileiros, pois está essencialmente ligado à liberdade religiosa – direito humano básico. Para alguns, estabelecer limites ao proselitismo fere a liberdade de expressão. Porém, outros entendem que a abordagem evangelística utilizada por muitas igrejas, especialmente neopentecostais, ofende a fé alheia. Longe de haver um consenso, grupos religiosos adotam diferentes posturas em relação à sua expansão. Confira abaixo.

Sim

Algumas igrejas cristãs adotam métodos mais coercitivos, com pouca ou nenhuma preocupação em refutar nominalmente outras religiões. É o caso especialmente das denominações neopentecostais. Alguns de seus líderes já ficaram conhecidos por desrespeitarem símbolos católicos em programas televisivos e por publicarem livros em que desqualificam as religiões de matriz africana.

Não

Desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja Católica Apostólica Romana tem priorizado ações missionárias de natureza mais ecumênica, que promovam a unidade do cristianismo e a justiça social. Essa postura é bem diferente da adotada pela instituição durante os tempos sombrios de intolerância e perseguição da Idade Média. Por sua vez, a doutrina espírita também não coaduna com a prática do proselitismo. Seus adeptos enfatizam que toda crença é respeitável, quando é vivida de modo sincero e conduz à prática do bem.

Depende

Há grupos que aderem a um proselitismo moderado, sustentando que a proclamação de sua mensagem deve evitar qualquer incitação ao preconceito, ao ódio e à discriminação de outros credos. A Igreja Metodista, por exemplo, assume essa postura, ao defender uma evangelização menos coercitiva, voltada mais para projetos educacionais e beneficentes. Outro exemplo é a Igreja Adventista do Sétimo Dia que, apesar de manter uma forte ênfase na pregação bíblica, se opõe a qualquer declaração que ridicularize outras religiões e ao oferecimento de vantagens financeiras e materiais para induzir pessoas vulneráveis à conversão. Para os adventistas, o testemunho cristão é um mandamento (Mt 28:18-20) que deve ser exercido de maneira responsável e com respeito à dignidade humana.

Do latim sedentarius, aquele que passa a maior parte do tempo sentado, inativo. Segundo estudo feito pela OMS em 146 países e publicado em 2019 na revista The Lancet Child & Adolescent Health, quatro em cada cinco adolescentes no mundo são sedentários, a maioria meninas. O quadro é ainda pior no Brasil, onde 84% das pessoas na faixa etária dos 11 aos 17 anos não praticam ao menos uma hora de atividade física por dia. A pesquisa indicou que uma das causas dessa tendência é a revolução

Digital Pode se referir às marcas identitárias que você carrega na ponta dos dedos, isto é, suas impressões digitais; ou ainda as novas tecnologias. O fato é que o mundo digital provocou uma verdadeira revolução na cultura, impactando profundamente nosso

Mindset Termo inglês que se popularizou especialmente no mundo empresarial. Deriva das palavras mind (mente) e set (que pode ser traduzida, entre outras formas, como “configurar”, “ajustar”, “programar”). Em outras palavras, tem que ver com nossa mentalidade e nosso modo de pensar e agir. O que também determina, em grande medida, a disposição ou não de alguém para ser um

Voluntário Nesse quesito, as mulheres saem na frente. Elas representam a maioria dos 7,2 milhões de voluntários que atuam no Brasil e também a maior parte dos candidatos que se inscrevem no Serviço Voluntário Adventista sulamericano (conforme mostra a entrevista da página 5). Para sair do sedentarismo, ir além do engajamento digital e mudar seu mindset, nossa sugestão é que você busque se envolver no voluntariado. Fontes: Pesquisa “Outras Formas de Trabalho 2018 – IBGE” (https://bit.ly/34ZBzK2); “O que é o sistema binário?” (super. abril.com.br); “84% dos jovens entre 11 e 17 anos no Brasil são sedentários, diz OMS” (correiobraziliense.com.br); dictionary.cambridge.org; e dicionário Houaiss.

Fontes: revista IstoÉ, edição nº 2.617, de 6 de março de 2020 (istoe.com.br/afronta-ao-estado-laico); site da Igreja Metodista no Brasil (metodista.org.br/posts/projetos-expansao-missionaria); Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo, p. 99 e 100 (https://bit.ly/3axgZSo) e o Documento Critérios de Colaboração Ecumênica e Interreligiosa nas Comunicações Sociais (https://bit.ly/3eGNu4d); livros Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios? (Unipro, 2008), p. 50, de Edir Macedo; Espiritismo: A Magia do Engano (Graça, 2ª edição, 2002), de R. R. Soares; Declarações da Igreja (CPB, 2012), p. 137; O Livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita (FEB, 2013), p. 374, de Allan Kardec; e exemplos de ações coletivas que tratam sobre os limites do proselitismo religioso: ACP nº 2004.61.00.034549-6 e nº 2005.33.00022891-3. JUL-SET

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... o mundo s

Imagine

Texto Jessica Manfrim Imagem © Happypictures | Adobe Stock

REVISTA BILLBOARD, outubro de 1971. “Imagine”, música tema do álbum Imagine, escrita pelo ex-Beatle John Lennon, alcançava a terceira posição entre as cem músicas mais tocadas nos Estados Unidos e, em novembro do mesmo ano, chegaria ao primeiro lugar no Reino Unido. A letra de Lennon incentiva as pessoas a imaginar um mundo sem paraíso ou inferno, em que todos vivam o presente; um planeta sem países, sem religião, sem nada pelo que matar ou morrer, com todos vivendo em paz; sem propriedades, sem ganância ou fome. Um mundo unido e fraternal. Lennon propôs a seus ouvintes que, ao imaginar um mundo assim, eles poderiam se unir a sonhadores como ele. “Imagine” foi considerada um “hino à paz”, pois Lennon a gravou no contexto da Guerra Fria, do movimento hippie e da Guerra do Vietnã (1965-1975). A primeira estrofe da música diz que é fácil tentar imaginar um mundo sem paraíso e inferno, vamos ver se o mesmo se aplicaria a um mundo sem religião. Convido você a pensar nisso comigo.

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FRAGMENTAÇÃO SOCIAL

Para o historiador Leandro Karnal, professor da Unicamp, as pessoas sempre questionam se a religião é conservadora, reacionária, revolucionária, violenta ou pacifista, assumindo uma variedade de significados individuais e coletivos. Porém, o principal questionamento a se fazer é que função cumpre a religião numa sociedade racional e científica, como a moderna. Nessa direção, o historiador israelense Yuval Harari argumenta que as hierarquias, instituições e ordens sociais são fruto de imaginação coletiva, ou seja, é preciso que as pessoas acreditem na mesma coisa para que existam regimes políticos, como a democracia, e até a ideia de nação. Harari identificou três grandes elementos unificadores da humanidade: dinheiro, impérios e religião. A religião tem essa função agregadora porque oferece a crença numa ordem sobre-humana, que serve de base para o estabelecimento de valores e normas que regulam o comportamento de grupos sociais. Contudo, para a religião exercer esse papel ela precisa ter duas características: assumir um discurso de universalidade e incentivar sua expansão por meio do proselitismo. O cristianismo parece manifestar bem essas marcas (veja o texto da p. 25).

SEM CONSENSO

Se no passado as pessoas tinham a religião como base de sua ética, princípios e valores, hoje essa associação é cada vez menor. É o que argumenta o professor Luciano Floridi, da Universidade de Oxford (Inglaterra), especialista em filosofia e ética da informação. Para ele, ao mesmo tempo em que a religião tem perdido espaço na sociedade, tem aumentado a necessidade de se discutir a respeito da moralidade em tempos de revolução digital. É só ver, por exemplo, o debate em torno do uso da Inteligência Artificial (IA). Essa nova demanda por refletir acerca da ética ocorre porque a globalização colocou em choque várias percepções a respeito do que é certo ou errado. E como chegar a um consenso? Sem o papel unificador das religiões, Floridi entende que isso se daria por meio de instituições globais que representariam a opinião pública. Logo seria a própria sociedade que determinaria o que é aceitável ou não para um projeto de futuro coletivo da humanidade. No entanto, existem dois desafios bem práticos para esse processo: ter mecanismos que realmente garantam representatividade e fundamentar o consenso em algo tão frágil e instável como a opinião pública.

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BUSCA POR SENTIDO

“Deus está morto.” Essa é a frase mais conhecida do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que questionou a cultura e a religiosidade do seu tempo. O ponto é que, ao nos livrarmos do Deus cristão, nos livraríamos também dos valores estabelecidos por Ele e da moral religiosa. E, a partir daí, surgiria um problema: o que colocar no lugar Dele? Para Nietzsche, a solução seria criar um novo sentido para a vida ou deduzir que a existência não tem propósito algum. Se Deus sai de cena, algo toma Seu lugar: seja o individualismo, a pátria, as instituições, o trabalho, a propriedade, a ciência, a razão e até a própria sociedade.

OUTRO TIPO DE PROSELITISMO

Crer em algo e compartilhar o que acreditamos é inerente à humanidade. E não apenas os religiosos fazem isso. É só ler ou ouvir algum militante ateísta titulado por alguma grande universidade. É o caso de Sam Harris, filósofo e neurocientista norte-americano, que decidiu escrever o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras, 2009) depois de descobrir que o atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos havia tido motivação religiosa. Na obra, ele acusa as religiões de causarem o sofrimento de milhões de pessoas. Harris também defende que a ciência pode responder a questões morais, propondo uma “ciência da moralidade”, cujo objetivo seria moldar os valores humanos. Militância semelhante assume Richard Dawkins, biólogo britânico e autor de Deus, um Delírio (Companhia das Letras, 2007). O que há de comum nesses discursos que tiram a religião da jogada é que todo conjunto de valores (ética) que promove um modo de vida ou uma prática, acaba sendo proselitista, ou seja, almejando adesão e novos adeptos.

O que se pode observar ao longo da história é que a religião e o desenvolvimento das culturas e sociedades caminham juntos. Por isso, a religiosidade é um dos primeiros traços estudados por antropólogos ao tentarem entender como pensa determinado povo. Portanto, imaginar um mundo sem religião parece impossível, ou pelo menos teríamos que dar outro nome para esse elemento que cumpriria a função que ela desempenha na vida humana. É verdade que o esforço humano, por meio da ciência, também tem procurado meios de transcender a morte, por exemplo, fazendo com que a Inteligência Artificial sirva para prolongar a vida, seja tornando nosso corpo imune às doenças ou transferindo nossa mente para uma máquina. Porém, a religião, no sentido de religare, serve de mediação entre a humanidade e Alguém maior do que nós mesmos. E se pensarmos nessa religião centrada no Deus que Se revela na Bíblia, e que se tornou palpável em Cristo, o sentido da existência humana acaba sendo voltado para o outro. Isso pode promover paz, respeito, amor fraternal, cooperação, ética nas ações, senso de pertencimento e propósito para a vida. Fontes: Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari (L&PM, 2018), p. 37-63; 282-319; “Ética cresce em importância no mundo com menos religião, diz Luciano Floridi”, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 19 de fevereiro de 2020 (folha.uol. com.br); “Em que acreditam os ateus?”, artigo de Juan Arnau Navarro no jornal El País, de 27 de abril de 2019 (brasil.elpais.com); “Nietzsche: ‘Deus está morto’”, artigo da revista Superinteressante,v de 29 de outubro de 2015 (super.abril.com.br); “Não acreditar em Deus é um atalho para a felicidade”, entrevista de Sam Harris para a revista Veja, de 31 de dezembro de 2010 (veja. abril.com.br); “A ética é proselitista, sim…”, artigo do pastor e jornalista Carlos Nunes no Portal Adventista, em 22 de abril de 2014 (noticias.adventistas.org).

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Ação Mude seu mundo

Texto Silvia Tapia Imagem © MicroOne | Adobe Stock

Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões

lh c r d h c r C e a

Sua doação faz

diferença Seja em dinheiro ou com mão de obra, sua solidariedade potencializa o trabalho da ADRA Brasil “CANSEI DE FICAR trancado em casa enquanto o mundo parece estar se destruindo ao meu redor. Sinto impotência ao ver os números de vítimas daquela doença e saber que há grandes heróis lutando para que sobrevivam, e eu, aqui, sentado no meu sofá. Quero fazer a diferença, ser relevante em momentos como este. Mas apenas posso doar o pouco que tenho e torcer para que tudo dê certo. Parece não ser suficiente”, desabafou um dos seguidores da ADRA Brasil nas mídias sociais, durante uma programação realizada ao vivo no YouTube, com o objetivo de arrecadar fundos para os projetos da ONG. A maioria das doações recebidas pela agência humanitária adventista durante esse programa solidário veio de contas bancárias de dependentes e não superou, em média, o valor de dez reais por pessoa. Esses dados nos indicam que, naquela oportunidade, boa parte de nossos doadores era composta de jovens que ainda não tinham autonomia 28 |

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financeira. Provavelmente, esse também seja o perfil dos leitores da Conexão 2.0: jovens financeiramente dependentes dos pais, que gostariam de fazer a diferença no combate à pandemia, mas que se sentem impotentes diante de tantas necessidades e poucos recursos. EMPATIA COLETIVA É perceptível que há um mal-estar compartilhado por muitos. Isso ocorre porque nosso mundo é complexo e injusto e nossa realidade é marcada por guerras, fome, economias fragilizadas, desemprego, desigualdade social, insegurança e constantes catástrofes naturais. Tudo isso gera sofrimento humano. Sofrimento que parece

ter sido intensificado nos últimos meses, em função da atual pandemia que paralisou e trouxe medo para boa parte do planeta. Nesse contexto de incerteza e de questionamento de como será o mundo pós-Covid-19, algumas empresas têm incorporado o valor da empatia à sua comunicação estratégica. Um caso emblemático é o da Nike, marca de artigos esportivos que lançou, no início de abril, o vídeo da campanha “You can’t stop us” (“nada pode nos parar”, em tradução livre do inglês). Estrelado por alguns de seus atletas patrocinados e por pessoas comuns, a peça publicitária da campanha #playfortheworld (jogue pelo mundo) incentivou a prática de esportes dentro de casa.

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Estrategistas de mercado têm aconselhado a liderança das empresas a pensar em comunicar empatia em vez de mero interesse comercial no momento mais agudo da pandemia. No Brasil, até o fim de julho, 464 mil pessoas, instituições e empresas haviam feito doações generosas para conter a Covid-19. Segundo a Associação Brasileira de Captadores de Recursos, cerca de 6 bilhões de reais foram arrecadados no período (monitordasdoacoes.org.br). De fato, a pandemia de 2020 tem conseguido juntar esforços de muita gente. A ponto de alguns analistas projetarem que a humanidade vai se tornar mais generosa daqui para frente. Visão que é desacreditada por aqueles que entendem que as epidemais anteriores, algumas mais letais do que a atual, não nos tornaram seres mais empáticos. GERAÇÃO SOLIDÁRIA Outros sugerem ainda que a empatia é uma habilidade e virtude desenvolvida com mais facilidade por algumas gerações específicas. Esse seria o caso dos nascidos entre 1995 e 2010, a chamada Geração Z, que seria mais sensível à diversidade humana e preocupada com a inclusão. Agências especializadas em comportamento e tendências, como a Box 1824 e McKinsey & Company, estudaram jovens de 14 a 22 anos das classes A, B e C de todo o Brasil, e identificaram que eles se consideram mais inclusivos e solidários do que as gerações anteriores. Pelos menos 73% dos entrevistados acreditam que têm a capacidade de escutar e respeitar opiniões diferentes. E muitos deles disseram que se identificam mais com causas do que com marcas. Esses dados nos ajudam a entender o depoimento daquele jovem com o qual nós abrimos esta matéria. E a boa notícia para ele e outros é que, em vez de se sentir impotente diante da pandemia, doar para agências humanitárias sérias como a ADRA Brasil pode ser o melhor a fazer neste momento. Sejam pequenas ou grandes, as doações apoiam nossos projetos que, por sua vez, atendem as pessoas mais vulneráveis e que estão na linha de frente dessa guerra sanitária.

se consolidou como braço humanitário da Igreja Adventista na década de 1980, mas seu trabalho remete a meados dos anos 1950. Hoje, a ADRA atua em 130 países. No Brasil, ela está presente em 15 estados, onde desenvolve 100 projetos que beneficiam 280 mil pessoas em situação de pobreza. Nosso objetivo principal é ajudar a melhorar as condições de vida daqueles que não têm condições de prover a própria subsistência. Para tanto, os projetos que desenvolvemos estão distribuídos em nove áreas (veja o box a seguir). Na prática, nosso trabalho começa com a avaliação das comunidades mais carentes dos estados brasileiros nos quais atuamos, procurando identificar suas principais necessidades. Por exemplo, na comunidade de Felipe Camarão, em Natal (RN), os voluntários e funcionários da ADRA detectaram que existia um ÁREAS DE ATUAÇÃO DA ADRA

Água, saneamento e higiene Saúde comunitária Nutrição e redução da fome Geração de emprego e renda Promoção da ação judicial Garantia de direitos e de igualdade entre os sexos Valorização da mulher Atenção a crianças em situação de vulnerabilidade

BRAÇO HUMANITÁRIO A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA)

Resposta a desastres e gestão de emergências

grupo numeroso de adolescentes grávidas. Por falta de educação sexual e de valorização, aquelas meninas corriam dois riscos: engravidar precocemente e contrair uma infecção sexualmente transmissível (IST). Em resposta a esse problema, a equipe da ADRA Brasil desenvolveu o projeto AMA (Apoio às Mães Adolescentes), oferecendo atenção básica de saúde e oportunidade de estudo às adolescentes gestantes. Em conjunto com essa grande ação, foi realizado um trabalho de educação sexual entre os moradores da comunidade, com atenção especial aos pré-adolescentes. O resultado foi a diminuição de casos de gravidez precoce e o aumento de garotas que passaram a concluir o ensino médio e a participar de cursos profissionalizantes oferecidos pela ADRA. Outro exemplo de resposta da ADRA Brasil foi a campanha de arrecadação de cestas de alimentos com o slogan “Um like não alimenta, uma doação, sim”. Essa iniciativa foi potencializada com uma live solidária (youtube.com/gravadoraNT) transmitida no dia 2 de maio, em parceria com a gravadora Novo Tempo. Somando esforços à campanha, o programa de música religiosa conseguiu arrecadar um valor equivalente a 8 mil cestas básicas. A doação foi direcionada para as vítimas socialmente mais vulneráveis da Covid-19. Projetos como os mencionados mostram que a solidariedade ainda existe num mundo que pode se mostrar tão cruel e competitivo como o nosso. E principalmente em períodos de exceção, como o contexto de uma pandemia, o melhor do ser humano (que ainda reflete um resquício de sua semelhança com Deus), pode se manifestar. Entre as previsões para o mundo póspandemia está a de que as pessoas serão mais solidárias. Enquanto esse “novo tempo” não chega, saiba que suas doações podem fazer diferença. E, quando tudo isso passar, sua mão de obra como voluntário será muito bem-vinda.

Para saber mais

Site: adra.org.br | Mídias sociais: @adrabrasil JUL-SET

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Lição de vida

Texto Lucas Schultz Ilustração Leblu

PAULO,

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Saiba por que ele é considerado por muitos o maior pensador e divulgador da fé cristã

o missionário

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H M NA BÍBLIA, AO LONGO da mais nobre história já lida pelo ser humano, Deus usou gente diversa, vários timbres, para repercutir Sua voz. Talvez querendo mandar uma mensagem à posteridade, jovens e idosos, homens e mulheres, ricos e pobres e pessoas de diferentes etnias e culturas foram as cores utilizadas por Ele para pintar o quadro da verdade imutável. Porém, nessa prestigiada galeria de heróis, de imortais escritores da Academia Bíblica de Letras, um nome se destaca pelo volume de material produzido: Paulo, autor de pelo menos 13 dos 66 livros que formam o texto sagrado. Não é sem razão que o maior escritor da Bíblia, em termos de quantidade, também seja considerado por muitos o maior intelectual do cristianismo. Deus honra os estudiosos e há espaço para os nerds no reino Dele. Paulo foi o sabichão ninja dos textos? Foi. Uma enciclopédia ambulante que remixou a antiga teologia hebraica com os mais avançados conceitos filosóficos de seu tempo? Foi. Um apaixonado por crossovers inusitados, que funde num só combo poesia e termos técnicos do juridiquês vigente em sua época? Yep. Mas ele foi além disso: o cara vivia no dia a dia os conceitos que pregava. Teoria e prática. Assim era Paulo. Por isso, ele também é considerado o modelo de missionário ideal, pois fez uma teologia que respondia aos desafios da sua missão e uma missão que era coerente com sua teologia. Perito na arte de causar, rompeu com a tradição exclusivista da elite farisaica, e abriu as comportas do evangelho, derramando conforto e salvação também sobre os não judeus. Por sinal, o foco do ministério de Paulo foi falar especialmente para aqueles que não eram da sua bolha. Assim como seus pais, e talvez os pais de seus pais, o então Saulo pertenceu à panelinha religiosa da época que observava mais meticulosamente todas as regras: os fariseus (At 26:3), expressão que em hebraico significa “separados”. Ainda moleque, foi pra Jerusalém a fim de estudar com o mais badalado professor de teologia judaica daquele 30 |

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tempo: Gamaliel (At 22:3). Ambicioso, fez valer cada segundo em sala de aula (Gl 1:14). Contaminado pelo meio competitivo e raivoso em que vivia, logo se tornou um hater dos cristãos. Fanático, ainda jovem, Saulo assistiu de camarote ao apedrejamento de Estêvão, o primeiro mártir cristão (At 7:58; 8:1). Mais tarde, amadurecido em seu extremismo, tornou-se um perseguidor ativo da igreja. Em sua campanha contra os cristãos, Saulo conseguiu prender muitos dissidentes do judaísmo. Com a chancela do sumo sacerdote, rapidamente acumulou prestígio junto à cúpula do povo de Israel, tornando-se uma lenda viva da censura religiosa (At 22:4, 5; 26:9-11). HAVIA UMA LUZ NO MEIO DO CAMINHO Foi num acidente de percurso, desses que dividem a timeline da vida em “antes” e “depois”, que Saulo acordou para a realidade em que vivia. A rajada de luz que o cegou, enfim, abriu seus olhos. Ele vinha perseguindo o próprio Deus, que fez questão de reclamar pessoalmente (At 9:1-9)! Dali em diante, Saulo foi um homem diferente. Até adotou outro nome (ok, só mudou uma letra, mas isso significava muita coisa no contexto daquela época). Assim, Paulo começou sua nova vida. Agora, ele queria ser pregador e sabia muito bem que de perseguidor passaria a ser perseguido (Gl 1:13, 22, 23). Se odiando ele já era odiado, imagine amando… E somente para provar que estava convertido mesmo (e como é que se prova uma coisa dessas?), Paulo enfrentou uma verdadeira cruzada. Com razão, os cristãos contemporâneos dele sentiam um mix de raiva e medo de Paulo (At 9). Se não fosse um tal de Barnabé – um cristão respeitado – interceder por ele e escancarar as portas do cristianismo para sua entrada, certamente o recém-converso teria sido linchado. Assim nasceu uma bela amizade entre os dois, cheia de complexidade e atritos, dessas que não se vê na ficção, e que por isso mesmo amadureceu e rendeu bons frutos e expedições missionárias, cujas histórias até hoje encantam (At 13; 14; 15:36–18:22). Usando seu arsenal intelectual, Paulo se tornou um dos grandes teólogos do cristianismo, talvez o primeiro e maior deles.

Suas 13 cartas, de Romanos a Filemom, o status quo. Sofreu com preconceito, têm ecoado em tratados, sermões, músicas falsas acusações, violência, perseguição e e peças, e figurado entre os textos bíbli- censura (2Co 11:23-33). Sentiu na pele as cos preferidos de muita gente. Algumas dores que no passado havia proporcionado dessas cartas foram enviadas a localidades a inocentes. específicas, mas outras foram corresponJamais quis trabalhar sozinho, sempre dências escritas para circular por diversas acompanhado por algum grupo missionácongregações. O conteúdo, convenhamos, rio itinerante. E mesmo recebendo doações, já era naturalmente transcultural e o DNA trabalhou com suas próprias mãos para se paulino o tornou ainda mais inclusivo. sustentar (At 18:3). Foi o maior dos misSolidário, abriu os armários teológicos da sionários urbanos, focando seus esforços elite e dividiu o Pão com os famintos. estrategicamente nos grandes centros, para Defensor ferrenho da inclusão (Gl 3:28), facilitar o anúncio do evangelho a partir Paulo atraía os gentios (não judeus) para si das comunidades judaicas ali presentes (At mesmo, para que pudesse atraí-los para 13; 14, 16–18). Se tornou um com todos Cristo (Gl 1:16), mais ou menos como o para, de alguma forma, salvar alguns (1Co próprio Jesus faz conosco, atraindo-nos ao 9:19-22). Pai. E aqui fica o lembrete sempre válido: Ele pregou a Palavra até o fim de sua quem deseja experimentar a companhia vida, contente em toda circunstância de Deus deve andar perto de gente que (Fp 4:11-13; 2Tm 4:7, 8). Segundo a traanda com Ele. As pessoas índição, Paulo acabou sendo timas de Deus nos ajudam a decapitado em Roma, na décolocá-Lo como prioridade. cada de 60 do 1º século, deiOutrora Funciona assim. Primeixando para trás um legado ramente, a gente segue os do qual bebemos ainda hoje. exclusivista, passos de quem tem intimiPaulo traz em si a figura Paulo tomou dade com Deus, até que, aos carismática de um intelectupoucos, acabamos seguindo al que sabe falar com o popara si o os passos do próprio Deus. vo e que vive com o povo desafio de Inclusive, esse parece ser o e pelo povo (1Ts 2:8). Um lifestyle proposto pelo apósdescomplicador, embora universalizar tolo: sejam meus imitadoseu raciocínio nem sempre a salvação res, como também eu sou fosse fácil de acompanhar. de Cristo (1Co 11:1); sejam Seus ensinamentos – todos imitadores de Deus, como eles ancorados na Palavra e filhos amados (Ef 5:1). A ideia aqui é: eu embalados na sua intrepidez e entusiasmo imito Paulo, que imita Cristo, que imita – facilitam o entendimento da salvação em Deus. Mais tarde, eu imito Cristo, que Cristo e de como deve ser a vida cristã. imita Deus. Até chegar o ponto em que Ele é destaque por seu testemunho de eu estarei face a face com Ele (1Co 13:12). completa transformação, sua obediência É tudo uma questão de progressão. ao chamado divino, seu ímpeto missionário incansável (1Co 9:16) e o uso irrestrito O PREÇO DA VOCAÇÃO de seu intelecto para viralizar o evangelho. O autoproclamado apóstolo, que não Outrora exclusivista, ele tomou para si o fez parte do grupo dos 12 discípulos que desafio de universalizar a salvação e uniseguiu Jesus (1Co 15:9, 10), defendia a le- ficar a igreja (1Co 1:10). Ousou ser gentil gitimidade do seu chamado com base no com os gentios e comprou inúmeras brigas encontro transformador que teve com o com seu próprio povo (a carta aos Gálatas Cristo ressurreto na estrada de Damasco. inteirinha é prova disso). A convicção gerada por essa experiência Por seguir o exemplo de Cristo, fazendodeu a Paulo um santo atrevimento. se sacrifício em favor de quem era menor Contudo, isso não impediu que ele ti- do que ele, 2 mil anos depois de sua morte, vesse que pagar o preço por conduzir o o apóstolo Paulo continua sendo um moensino de modo diferente do que previa delo de fé, ousadia, serviço e resiliência. jul-set

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Aprenda

Texto Wallyson Santos Design Renan Martin

A liderar voluntários QUANDO LECIONEI para universitários, ouvi vários alunos contarem para mim, com brilho nos olhos, que desejavam servir a Deus num campo missionário distante ou criar um projeto de voluntariado em sua comunidade. Porém, quando eu perguntava para eles por que não tinham ainda realizado esse sonho, respondiam: “Eu não consigo fazer isso sozinho.” Para mim, esse problema tem que ver com a falta de liderança.

E quando se trata de projetos de voluntariado, essa questão é mais delicada ainda, pois voluntários não seguem alguém que manda, mas alguém que inspira. Sem me atrever a colocar um ponto final no debate se liderança é uma capacidade com a qual nascemos ou que pode ser desenvolvida, sugiro a você que atente para quatro dicas que podem ajudar a tirar seus projetos do papel e compartilhá-los com mais pessoas que podem acabar abraçando a mesma causa.

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COMO FORMAR SUA EQUIPE?

Procure pessoas que gostem de servir, e que já sirvam os de perto, na família, escola, igreja ou bairro. Se alguém está disposto a cuidar daquele que está longe e fecha os olhos para o que está perto, não entendeu o valor do serviço. Ter a motivação correta é mais importante do que ter as habilidades certas. O envolvimento no voluntariado pode mudar o sentido da vida para quem ajuda; porém, na maior parte do tempo, apenas confronta os hábitos que a pessoa já tem. Egoístas também se alistam e quase sempre atrapalham. Por isso, é papel do líder construir uma visão correta com seu grupo.

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T

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O QUE VOCÊ DEVE FAZER?

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E SE VOCÊ ESTIVER INSEGURO?

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E SE NINGUÉM SEGUIR VOCÊ?

É necessário ensinar a sonhar antes de servir. Cabe ao líder inspirar seu grupo, ao ajudá-lo a visualizar o resultado do projeto. O trabalho mais exaustivo da liderança é lembrar constantemente os voluntários da razão de eles estarem ali e como podem ser úteis para aquele projeto. Incentive sua equipe a descobrir como pode colaborar para que chegue aos seus objetivos. Certamente você será surpreendido por possibilidades criativas, nas quais nem tinha pensado.

Escaneie o código para assistir à videoaula no celular

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É necessário se organizar antes de colocar as pessoas para trabalhar, porque líderes acabam desistindo de seus sonhos quando se sentem sozinhos. Isso ocorre porque a ideia pode ser incrível, mas precisa ser comunicada aos liderados. Conhecer o plano gera segurança nos voluntários e possibilita que eles avaliem se estão na direção certa. Por isso, por meio do QR code ao lado, disponibilizo uma videoaula em que explico um modelo de elaboração e gestão de projeto conhecido como “trevo”. Com ele, numa única folha de papel, você conseguirá contemplar as seguintes informações: (1) direcionamento do projeto; (2) atividades e objetivos; (3) recursos e orçamento; e (4) equipe e habilidades. Então, mãos à obra!

© SQS | Adobe Stock

Saiba que a incerteza é o caminho pedagógico da fé e da dependência de Deus. Dificilmente alguém que assume a liderança de algo tem certeza plena que dará conta do recado. A única convicção que você precisa ter é de que foi chamado para fazer o que está fazendo. O restante do plano e sua execução são passíveis de incertezas e mudanças. Por isso, desenvolva paciência e flexibilidade.


Na cabeceira

Texto Mateus Teixeira Design Renan Martin

Pegue seu passaporte

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Trechos

“A grande maioria dessas pessoas [não cristãs] poderá ser alcançada pelo evangelho unicamente se alguém de cultura diferente se esforçar para alcançá-las” (p. 14).

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“Por Seus próprios motivos, Deus escolheu nos usar. Poderia haver empregado anjos, sonhos ou outros meios sobrenaturais, mas escolheu enviarnos para pregar aos membros perdidos da Sua família” (p. 28).

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© SQS | Adobe Stock

“Portanto, essas são as boas-novas: Aquele que o chamou, viverá em você e o capacitará a viver de forma a construir pontes, não barreiras” (p. 129).

VOCÊ JÁ DEVE ter ouvido histórias de grandes missionários do passado que renunciaram o próprio conforto para viver situações extremas em favor da pregação do evangelho. Nomes como Hudson Taylor, Adoniram e Ann Judson e William Carey já inspiraram milhares de jovens a deixar a segurança de casa para atender a grande comissão dada por Jesus (Mt 28:18-20). Vale lembrar que ser um missionário não requer somente disponibilidade de tempo, talentos e dinheiro, mas preparação completa, o que envolve saúde física, conhecimento teológico, equilíbrio emocional e sensibilidade espiritual. Por isso, se você deseja colaborar com o que Deus está fazendo ao redor do globo, independentemente do lugar ou da duração do projeto, o livro Passaporte Para a Missão (SVA, 2011, 2ª edição, 259 p.) deve ser sua leitura de cabeceira. as culturas e motiva o candidato a missionário a Por mais de 50 anos, o Instituto de Missão se preparar para um desafio além-mar. Sua utiliMundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia dade não é somente para voluntários que pretentem treinado missionários transculturais. E essa dem servir a longo prazo, mas especialmente para experiência, somada à contribuição de acadêmi- aqueles que começaram sua jornada transcultural cos da Universidade Andrews (EUA), resultou participando de projetos de curta duração, como na publicação de Passport to Mission, em 1999, o período de férias, por exemplo. como um manual para estudantes que se inscrePorém, os autores dessa coletânea de artigos, viam para projetos missionários de curta duração. organizada pela missióloga Cheryl Doss, nos lemO material se divide em seis seções curtas, bram de que o engajamento na missão transculque tratam de tópicos como por que é necessário tural não é participar de colônia de férias nem de evangelizar, comunicação transcultural, espiritua- mero intercâmbio cultural e linguístico, mas uma lidade do missionário e como viver numa cultura resposta ao chamado de Cristo para cuidar dos diferente da sua. Como se espera de um manual, filhos Dele que não O conhecem. o livro apresenta conceitos, mas também oferece Espero que, ao terminar a leitura desse livro, dicas práticas. E cada capítulo oferece recursos você esteja pronto para carimbar seu passaporte e fontes adicionais que podem ser consultados, para a missão. além de perguntas que levam o leitor a interiorizar o conteúdo e incorporá-lo à vida. Para saber mais Passaporte Para a Missão cumpre seu Baixe o PDF do livro em downloads.adventistas.org/pt objetivo de introduzir o leitor aos importantes dilemas do encontro da missão com jul-set

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Guia de profissões

Texto Mairon Hothon Ilustração © muchmania | Adobe Stock

Medicina veterinária Para ser veterinário, é preciso mais do que amar os bichinhos

ESTRUTURA DO CAMPUS

Na rede educacional adventista no Brasil, apenas o Unasp oferece esse curso, cuja primeira turma foi aberta neste ano no campus Engenheiro Coelho (SP). Nessa antiga fazenda de laranjas, a 160 km de São Paulo, os alunos contam com 300 hectares de área para a prática profissional, o que inclui uma vacaria, o manejo e tratamento de abelhas e mel, além do contato com 25 espécies domésticas e selvagens.

MATRIZ CURRICULAR

O bacharelado dura cinco anos e exige do estudante um conhecimento que vai além das ciências da saúde. Nos dois primeiros anos são ministradas disciplinas mais gerais, como anatomia dos animais, biologia, estatística, biotecnologia da reprodução, nutrição básica, microbiologia e genética. E do terceiro ano em diante, os alunos têm contato com áreas mais específicas, como o estudo de doenças e técnicas clínicas e cirúrgicas.

PERFIL PROFISSIONAL

O egresso de Medicina Veterinária precisa ser capaz de trabalhar com tudo o que envolve a saúde dos animais, além de poder realizar atividades de inspeção em produtos e dirigir estabelecimentos de ensino e pesquisa na área. Também estará apto para oferecer assistência clínica e cirúrgica para animais domésticos e silvestres, bem como cuidar da alimentação e reprodução de rebanhos. Além de gostar de animais, o veterinário precisa estudar continuamente, manter-se atualizado, desenvolver boa comunicação e ter controle emocional diante de algumas situações.

ÁREAS DE ATUAÇÃO E SALÁRIO

PARA QUEM GOSTA de animais, ao menos uma vez na vida já deve ter pensado em ser veterinário, só para poder cuidar do seu bichinho de estimação, não é verdade? A afinidade com os animais e o desejo de cuidar deles é fundamental para quem deseja seguir a carreira de medicina veterinária, mas essa profissão exige mais do que isso. Saiba o quê. ONDE ESTUDAR

Depois de graduado e habilitado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), o profissional poderá atuar em clínicas de pet shops, lojas especializadas em produtos para animais e no setor de agronegócio, além da área industrial e de medicamentos específicos. Também poderá trabalhar no controle de zoonoses em nível municipal e estadual, em zoológicos ou seguir carreira pública nas Secretarias ou Ministério da Agricultura. O salário médio de um médico veterinário iniciante é R$ 3.500,00.

Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) Engenheiro Coelho (SP) Nota 4 R$ 1.815,00 Manhã e noite, dez semestres unasp.br

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Fontes: Paulo Garcez de Oliveira, doutor em Zootecnia pela USP e coordenador do curso de Medicina Veterinária do Unasp, campus Engenheiro Coelho; sites querobolsa. com.br, guiadacarreira.com. br, educamaisbrasil.com.br e mundovestibular.com.br.


PROVA PDF 41605/9116 – Revista Conexão 2.0 - 3º trimestre – PMDS Redação

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