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TEXTO E CONTEXTO: Três conselhos de Salomão para você curtir a vida P. 20
Abr-Jun 2021 – Ano 14 no 58
Exemplar: 9,99 – Assinatura: 31,80
ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE
MONTANHA-RUSSA DAS EMOÇÕES
Como lidar com o sobe e desce dos sentimentos? P. 10 ARTIGO: AMEAÇAS PARA A SAÚDE MENTAL DOS JOVENS P. 16
IMAGINE O MUNDO SEM OS PADRÕES DAS MÍDIAS SOCIAIS P. 26
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LIÇÃO DE VIDA: RAFAELA PINHO FALA SOBRE AUTOMUTILAÇÃO E SUPERAÇÃO P. 30
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Da redação
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Editor Wendel Lima
4 CONECTADO
OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A REVISTA
VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO
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SÉRIES, LIVROS, NÚMEROS E FRASES PARA REFLETIR
8 ENTENDA
OS MITOS E AS VERDADES SOBRE PSICOTERAPIA
24 PERGUNTAS
SONHOS, CONFISSÃO, SUICÍDIO, VÍCIOS E VIRTUDES
32 APRENDA
A CONTROLAR SUA ANSIEDADE
33 NA CABECEIRA
PSIQ SAÚD
1
LIVRO REFLETE ACERCA DO QUE É VIVER BEM
34 GUIA DE PROFISSÕES O PROFISSIONAL QUE TRABALHA COM OS VALORES, AS CRENÇAS E A PSIQUÊ DOS SERES HUMANOS
16 ARTIGO
CONHEÇA OS PRINCIPAIS INIMIGOS DA SUA MENTE
Foto: Daniel Oliveira
UMA CRIANÇA INTROVERTIDA e emocionalmente sensível levou uma pedrada que lhe quebrou o nariz, comprometeu seu equilíbrio, tirou-a da escola e lhe deixou cicatrizes no corpo e na alma. Essa mesma garota também desenvolveu uma doença pulmonar crônica. Não bastassem esses problemas físicos e emocionais, ela teve sua espiritualidade moldada por uma visão muito distorcida de Deus. Por influência de sua formação religiosa, ela imaginava Deus como um tirano que obrigava a humanidade a obedecê-Lo cegamente. Ao ouvir os pregadores descreverem os horrores do inferno, ela chegava a transpirar e a conter o grito de angústia. Sua insegurança quanto à própria salvação fez com que passasse algumas noites ajoelhada ao lado da cama, orando em silêncio e agonia. Devido à timidez, ela guardou calada esses conflitos até os 15 anos de idade, quando conversou com alguém que lhe ajudou a entender o amor divino. O pastor metodista Levi Stockman foi sensível à dor emocional dessa menina e até chorou com ela. Os conselhos desse líder religioso lhe ensinaram mais a respeito do caráter do Pai do que todos os sermões que tinha ouvido até então. Numa experiência de libertação, ela descobriu o que o apóstolo João afirmou: o amor lança fora o medo (1Jo 4:18). Estou falando de Ellen Gold White, cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Quem a descreveu assim foi o teólogo Merlin Burt, num artigo da terceira edição de 2008 da revista Diálogo Universitário (dialogue.adventist.org/pt). Aos 17 anos de idade, em meados do século 19, Ellen acreditou que havia sido chamada por Deus para ser uma mensageira Dele, e os adventistas creem que ela realmente tenha recebido o dom profético. A certeza do amor de Deus, aquela lição aprendida na adolescência, mudou a vida da pioneira adventista e fez com que ela tivesse força emocional e espiritual para enfrentar inúmeros desafios. Seu segundo filho, James Edson, por exemplo, apresentou sinais de déficit de atenção e hiperatividade. Sua sobrinha, Louisa Walling, chegou a ser internada num manicômio, levando a tia a criar as duas filhas dela. O esposo de Ellen, James White, teve vários acidentes vasculares cerebrais durante os anos 1860 e 1870, o que alterou muito o estado de humor dele e causou sérias tensões no casamento. Ellen ainda enterrou precocemente dois filhos e viveu como viúva por 34 anos. Não sem razão, o amor de Deus foi o tema preferido de Ellen nas milhares de páginas que escreveu. Foi refletindo sobre esse atributo inigualável de Deus que ela começou e terminou sua série de livros mais famosa (Conflito), na qual descreve a guerra entre o bem e o mal ao longo da história. Foi falando também sobre o cuidado de Deus que ela iniciou seu livro mais traduzido e distribuído ao redor do mundo (Caminho a Cristo). Fiz esse recorte da biografia de Ellen G. White para lembrar você que passar por conflitos emocionais faz parte da vida, quer sejamos crentes ou descrentes em Deus. A diferença é que, ao experimentar a convicção de que Ele nos ama, percebemos que nunca estamos sozinhos(as). Nossa revista também se propõe a ser uma companheira na sua jornada. É por isso que, nesta edição, a gente traz orientações importantes sobre como identificar problemas de saúde mental e onde buscar ajuda se a carga ficar pesada demais. Vamos juntos!
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... O MUNDO SEM OS PADRÕES DAS MÍDIAS SOCIAIS
5 AO PONTO
PSIQUIATRA FALA A RESPEITO DE SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE CRISE
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CAPA
Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Abr-Jun 2021 Ano 14, no 58
SAIBA LIDAR COM SUAS EMOÇÕES
Ilustração da capa: Gabriel Nadai
CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
A
Casa Publicadora Brasileira Rodovia SP 127, km 106 Caixa Postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP Fone: (15) 3205-8800 / WhatsApp: (15) 98100-5073 Site: cpb.com.br
SÕES
LORES, Ê DOS
AIS TE
Serviço de Atendimento ao Cliente Segunda a quinta, das 8h às 20h / sexta, das 8h às 15h45 / domingo, das 8h30 às 14h Contato: (15) 3205-8888 Ligação grátis para pedidos: 0800 979-0606 E-mails: sac@cpb.com.br / conexao20@cpb.com.br
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TEXTO E CONTEXTO
O QUE SALOMÃO ESCREVEU SOBRE CURTIR A VIDA?
28 MUDE SEU MUNDO O GRUPO DE APOIO QUE AJUDA QUEM BUSCA CURA PARA A ALMA
Editor: Wendel Lima Editores Associados: André Vasconcelos e Márcio Tonetti Projeto Gráfico: Éfeso Granieri e Marcos Santos Designer Gráfico: Renan Martin Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Conselho Consultivo: Ágatha Lemos, Alexander Dutra, Doris Lima, Eder Fernandes Leal, Edgard Luz, Henilson Erthal de Albuquerque, Ivan Góes, Luiz Carlos Penteado Jr., Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques, Rubens Paulo Silva, Samuel Bruno do Nascimento e Vanderson Amaro da Costa Assinatura: R$ 31,80 Avulso: R$ 9,99 www.conexao20.com.br
30 LIÇÃO DE VIDA
A CANTORA QUE VENCEU UM TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADO
9115/42893 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sejam impressos, eletrônicos, fotográficos ou sonoros, entre outros, sem prévia autorização por escrito da editora.
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Informação Conectado & Opinião Ao ponto
Globosfera Entenda
CONTEÚDO RICO, MAS APRESENTADO NO FORMATO ERRADO Sou professor de Ciências e Biologia e acompanho a revista Conexão 2.0 há algum tempo. Como não trabalho com ela diretamente, eu não a recebia; porém, lia esse periódico na escola. Pelo fato de a revista estar também disponível no formato folheável na internet (bit.ly/2YmSDY1), consigo aproveitar melhor seu conteúdo e compartilhar o link dela para meus alunos. Contudo, o infográfico “Por que alguns alimentos ‘viciam’” (p. 8 e 9) está num formato impossível de ser lido na tela do computador. Sendo assim, faço essa crítica e um apelo aos editores: deixem todos os conteúdos num formato que seja de fácil leitura ou coloquem no site um comando para virar a página de posição. Francisco de Souza São Paulo (SP)
Professor Francisco, obrigado por acompanhar a Conexão 2.0! O acervo folheável da revista foi pensado para uma pesquisa histórica ou checagem rápida. Isso porque a ideia é que a revista seja utilizada em sua versão impressa, conforme número de exemplares encomendados pelas sedes administrativas regionais da rede educacional adventista. Essa é a segunda vez que fazemos um infográfico seguindo outra orientação da página, o que é perfeitamente legível no impresso, mas não na versão folheável. Por isso, nas proximas edições, vamos levar em conta sua observação. Pensando em facilitar o uso da revista em suas aulas, sugiro que converse com a diretoria de seu colégio, a fim de pedirem mais exemplares ou pensarem em como a cota atual de revistas que recebem pode ser melhor distribuída entre os professores. MAIS DICAS PARA MINHA IDADE A cada edição que chega, vou logo procurar as dicas da seção Globosfera (p. 6 e 7). Vou direto na parte “Para assistir”, pois sempre tem sugestões bem legais. As dicas da revista até me ajudaram em algumas pesquisas escolares no período em que não tive aulas presenciais. Só acho que as demais informações dessa seção poderiam ser mais adequadas para minha idade, 16 anos. Isso porque algumas dicas do “Para ler” e “Para pensar” são mais 4 |
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recomendadas para minha mãe! Eu já teria mais interesse em dicas sobre beleza, vestibular e resenha de livros.
Carolina Santos Recife (PE)
Oi Carolina, bom saber que pelo menos parte da seção Globosfera tem atentido às suas expectativas. Desde 2019, a revista tem sido temática, com base nos valores escolhidos pela rede educacional adventista para cada ano. Por isso, a seção Globosfera também segue o assunto geral do periódico. Nem sempre é fácil achar conteúdos alinhados com o tema, a partir de uma perspectiva adventista e focado nos adolescentes. É por essa razão que a gente às vezes tem que recorrer aos materias voltados para universitários e/ou adultos. Lamento! Sobre as resenhas, sugerimos que acompanhe a seção “Na cabeceira”, no fim da revista. MUDANÇA DE HÁBITO A temática da matéria de capa (p. 10-15) não poderia ter sido melhor para o tempo de quarentena que estamos vivendo. Todo mundo em casa, com comida disponível a qualquer hora, estado emocional desequilibrado, academias fechadas ou com horários reduzidos, várias webséries a um clique, um menu de aplicativos gratuitos e falta de perspectiva quanto ao término da pandemia. Diante de tudo isso, eu me pergunto: Como mudar os hábitos construídos em 2020? Essa edição mostrou que é possível mudar os hábitos; que é preciso força de vontade, ajuda dos familiares, estabelecimento de metas, autoconhecimento e cuidado com a saúde emocional para que isso aconteça. Atentar para a imunidade do organismo, escolher os melhores alimentos, ser grato a Deus por estar vivo e usar a criatividade também faz parte desse processo. Parabéns por escolherem essas matérias que nos trazem ânimo e motivação! José Almeida Crecíollo Cuiabá (MT)
A matéria de capa chamou minha atenção também. Percebo que a razão para muitos dos nossos alunos levarem uma vida desregrada não é falta de informação. Eles têm conhecimento, compreendem
a necessidade de mudança, mas não criaram hábitos saudáveis. Muitos ignoram, por exemplo, os malefícios de uma noite de sono maldormida ou de uma dieta pobre em nutrientes. Imaginam que isso trará apenas consequências futuras, mas se esquecem de que esse comportamento pode afetar a vida deles agora, incluindo o desempenho acadêmico, como mostrou a reportagem.
Paulo César Martins Betim Cachoeirinha (RS)
SAÚDE E APRENDIZAGEM Entre tantas coisas que aprendi na leitura da última edição, destaco que a adoção de hábitos saudáveis favorece a aprendizagem, além de desenvolver vigor, resistência e saúde por longos anos. A Conexão 2.0 (itálico) é realmente uma publicação de qualidade, que tem como objetivo não apenas divulgar informação de qualidade, mas gerar transformação de vida. Miquéas Carvalho Ferreira Florianópolis (SC)
AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ON-LINE Todos tivemos que nos adaptar a este novo normal, principalmente alunos e professores. Por isso, gostei da reportagem “Mudança sem sair de casa” (p. 28 e 29). Presenciei o que estava por trás da pequena câmera do celular da professora Juliana Lima e acompanhei toda a dificuldade dela em se reinventar para dar aula de educação física remotamente. Planejamento das aulas, novas estratégias de ensino e modos de avaliar tiveram que ser pensados. Cada cômodo da minha casa virou fundo de tela para uma aula da minha filha; móveis e tapetes foram sendo ajustados e trocados de lugar a cada atividade, tudo para atender às especificidades das aulas. Não foi fácil! Contudo, é gratificante ver que todo esse esforço não foi em vão. Digo isso não apenas porque uma família perdeu peso e mudou seus hábitos, mas porque essa família aprendeu a valorizar o que realmente importa: tempo de qualidade juntos. Isso é educação integral! Doris Lima Tatuí (SP)
É e d p S o a q g p p P à É q v o m d p p a b n v n p fu e e
Ao ponto
Texto Thamires Mattos Ilustração Alexandre Gabriel
NÃO DEIXE PARA DEPOIS
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O JOVEM PSIQUIATRA norueguês Torben Bergland tem doutorado em Medicina pela Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, e uma grande responsabilidade. Ele coordena os programas na área de saúde mental da sede mundial da Igreja Adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA). Acostumado a lidar com casos de depressão, ansiedade e transtornos de personalidade, seus estudos e prática profissional integram perspectivas relacionais, religiosas e existenciais na psicoterapia. Nesta entrevista, ele fala sobre os desafios da adolescência e a importância de pedir ajuda quando o assunto é saúde mental.
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É possível crescer emocionalmente em tempos de crises disruptivas e sem precedentes como a atual? Sim. Uma crise é sempre uma oportunidade de crescimento, ainda que difícil. Isso porque habilidades e estratégias que usamos no passado podem não ser suficientes para administrar o presente. Portanto, é preciso aprender à medida que avançamos. É importante reconhecer que todos nós podemos vivenciar a atual pandemia ou qualquer outra crise de modo muito distinto. A crise de solidão e isolamento, por exemplo, é diferente da perda de um emprego ou de alguém querido. Há também quem aparentemente não foi afetado, mas que, na verdade, está fugindo emocionalmente da situação. Essas pessoas acabam procurando fuga nos estudos, trabalho, entretenimento, uso de drogas e até na religião. Tudo para
não refletir sobre a própria vida e o momento que estamos passando. Porém, essa é uma estratégia perigosa, pois não podemos fugir de nós mesmos e da realidade por muito tempo sem que isso tenha um impacto negativo. Os adolescentes já costumam normalmente caminhar em terrenos incertos. Como lidar com isso? Acho que um dos grandes desafios de um adolescente é assumir o controle total da própria vida. Quando crianças, somos dependentes de nossos pais ou de quem cuida de nós. Contudo, na adolescência, aumenta nossa capacidade de pensar por nós mesmos, de entender as consequências de nossas escolhas e ações, de tomar decisões e cuidar de nós mesmos. Essa realidade é, simultaneamente, empolgante e assustadora. Deixamos nosso lar, que na maior parte das
vezes é um lugar seguro e conhecido, para navegar pelo desconhecido mundo agora expandido. Por isso, é bom contar nesse processo com o apoio e os conselhos de um adulto sábio e confiável. O que fazer para manter a fé e a saúde mental quando enfrentamos algo que está fora de nosso controle? Curiosamente, nesta pandemia, enquanto os idosos correm mais risco de morrer de Covid-19, são os jovens que parecem estar lutando mais com os efeitos psicológicos e sociais da crise. Em contextos assim, do ponto de vista da fé, precisamos nos agarrar a algo e alguém maior do que nós. E, do ponto de vista da saúde mental, não podemos abrir mão de desenvolver conexão, significado, propósito e esperança. Isso inclui aprofundar relacionamentos; não deixar de fazer planos, ainda que eles tenham que
ser ajustados; e procurar servir alguém. Quais serão as consequências do estresse causado pela atual pandemia nesta geração de adolescentes? Ela pode impactar os jovens de várias maneiras. Espero que, ao reconhecerem que o futuro é incerto, muitos adolescentes levem a vida mais a sério, percebam que a existência é frágil e que cada dia é importante para se tornar alguém melhor. Quanto àqueles que precisam se preocupar em sobreviver antes de crescer, espero que encontrem apoio extra. Isso poderá salvar a vida deles. Por fim, recomendo ajuda profissional para quem sente que o apoio de amigos e familiares não é suficiente ou que, mesmo após muita luta, as coisas não melhoram. A terapia é um investimento em si mesmo e para toda a vida. Ela pode fazer grande diferença. E, se for necessária, é melhor não adiá-la. abr-jun
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PARA ASSISTIR & OUVIR TV Conexão Jovem: programa que discutia temas relacionados ao comportamento e às crises existenciais dos jovens cristãos. Depois de ficar anos no ar, o Conexão Jovem saiu da grade da TV Novo Tempo em 2019, mas as duas últimas temporadas estão disponíveis na plataforma ntplay.com/conexaojovem. Séries Doutor Responde (2020, 14 episódios, 13 min.): série desenvolvida pela TV Novo Tempo para sua plataforma digital (ntplay.com/doutorresponde), na qual o psiquiatra Cesar Vasconcelos esclarece dúvidas enviadas pelo público, como questões ligadas à timidez, raiva, depressão e transtornos.
Música Rafaela Pinho ao Vivo na Cidade das Artes (Sony, 2019): em seu primeiro DVD, gravado após a cantora adventista superar a pior fase de um transtorno de ansiedade generalizado e uma depressão (leia p. 30 e 31), traz desabafos como as músicas “Juro Que Tentei” e “Superação” (disponível no canal dela no YouTube).
Comportamento (2019/2020, 90 episódios, 4 min.): dezenas de entrevistas curtas com psicólogos e pastores sobre as mais diversas questões: de dívidas à virgindade, de drogas à quarentena (ntplay.com/ comportamento).
Podcast Entre Nós (2020, 38 episódios, 18 min.): podcast das missionárias Liz Hermann e Isabella França sobre os nós da vida das mulheres. As duas amigas conversam descontraidamente sobre solidão, ousadia, empatia, culpa e fé (7cast.com).
Incertezas (2020, cinco episódios, 23 min.): conta a história de pessoas comuns que lidam com as imprevisibilidades do dia a dia, como o pescador do rio Amazonas que trabalha para garantir a sobrevivência da família e a jovem mãe epiléptica no Reino Unido que não sabe se vai acordar na manhã seguinte (feliz7play.com).
Filme Incertezas (2020, 24 min., legendado): curta-metragem que faz parte de um projeto internacional da Igreja Adventista. Baseado em fatos reais, conta a história de uma estudante que está com os dias contados e procura o capelão de sua universidade pedindo ajuda para se reconciliar com Deus e conseguir a cura (feliz7play.com).
PARA LER
Ira Sob Controle (CPB, 2008, 128 p.), de Larry Yeagley 6 |
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Como Sair da Depressão (CPB, 2009, 272 p.), de Neil Nedley
Saúde Total (CPB, 2014, 102 p.), de Cesar Vasconcellos de Souza
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PARA SABER
Wikipédia
Biografar a depressão significa que aqui ela será retratada como uma entidade real, sujeita a documentos e arquivos que comprovam sua existência, que testemunham seus feitos e que elaboram suas razões de ser, mas também como uma ficção, uma hipótese ou um mito. Esse procedimento é uma maneira de contornar um problema clássico da psicopatologia: será que as doenças mentais são verdadeiras doenças?”
Desde março de 2020, quando começou a quarentena por causa da pandemia, a Igreja Adventista tem disponibilizado um serviço de acolhimento psicológico para quem não tem conseguido lidar com os efeitos diretos e indiretos da crise sanitária. O projeto Ouvido Amigo (ouvidoamigo.com.br) se tornou realidade graças ao comprometimento de muitos profissionais voluntários. Veja abaixo alguns números que mostram o alcance da iniciativa no Brasil, até meados de fevereiro.
512
psicólogos voluntários
Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP e duas vezes vencedor do prêmio Jabuti, na introdução do seu livro Uma Biografia da Depressão (Planeta, 2021).
82.466
atendimentos realizados
O que chamamos de infantilização dos jovens é essa impossibilidade deles enfrentarem os desafios que a vida naturalmente oferece e oferece das formas mais banais possíveis, como a morte dos pais, acidentes, dificuldades amorosas ou não conseguir um emprego.”
Divulgação Youtube/cpfl
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PARA PENSAR
De abril a novembro, o número de atendimentos foi crescente, mas a procura diminuiu a partir de dezembro.
Danit Pondé, psicóloga e doutora em Filosofia pela Unicamp, na palestra “A agonia do amadurecimento”, veiculada no canal do Café Filosófico no YouTube, em 20 de outubro de 2019.
Eu Perdoo, Mas... (CPB, 2010, 156 p.), de Lourdes E. Morales
50 minutos
foi a média de duração das ligações
Fonte: Ministério da Mulher da sede sul-americana da Igreja Adventista.
Lágrimas (CPB, 2018, 271 p.), de Roberto Badenas
Do Fundo do Poço (CPB, 2003, 99 p.), de Donald Berry
Um Passo a Mais (CPB, 2010, 113 p.), de Fernanda Lima abr-jun
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Entenda
Texto Guilherme Cavalcante Ilustração Adobe Stock
OS MITOS E AS VERDADES SOBRE PSICOTERAPIA
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SE HÁ ALGO que a pandemia de Covid-19 nos mostrou é a importância da manutenção da saúde mental. Apenas duas semanas após o início da quarentena, em março de 2020, a procura por atendimento psicológico nos serviços de busca aumentou 88%, segundo dados do Google Trend. E com medidas de regulamentação e legalização da telessaúde, os atendimentos on-line disparam desde então. Embora a procura por terapia tenha aumentado, ainda há um enorme desconhecimento e certo preconceito em relação à psicoterapia, seus benefícios e abordagens. Pensando nisso, fizemos um resumo do assunto, que pode ser útil para você desfazer mitos, escolher um profissional da área e aproveitar melhor sua psicoterapia. PRINCIPAIS ABORDAGENS
A lista de abordagens na psicoterapia é extensa, e cada um desses métodos reúne explicações diferentes para os sintomas e propõe maneiras distintas de superá-los. Vamos então conhecer seis importantes opções de tratamento.
PSICODINÂMICAS
A principal abordagem deste grupo é a psicanálise. Fundada a partir das reflexões de Sigmund Freud, esse método procura trazer à tona conteúdos do inconsciente, do passado do paciente, como principal meio de superação de conflitos emocionais. Nas sessões semanais, o paciente é convidado a expressar sem impedimentos seus pensamentos, sentimentos e sonhos. Cabe ao terapeuta ajudá-lo a estabelecer conexões entre o que foi dito e a refletir sobre o signifcado da própria fala. Na psicanálise ainda existem outras correntes, como a analítica (Carl Jung), que pode ser associada com o esoterismo, mas isso vai depender de como o terapeuta faz uso dessa abordagem.
DESFAZENDO MITOS Psicoterapia é coisa para “louco”? Serei manipulado? Só precisa de psicoterapia quem tem depressão ou falta de fé? Isso é sigiloso? São muitos os mitos associados à psicoterapia. Mas, afinal...
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O QUE É PSICOTERAPIA?
É um método de tratamento que utiliza meios como a comunicação verbal, mediante os quais um profissional treinado busca auxiliar um paciente, que o procura a fim de obter alívio para um sofrimento ou conflito psíquico.
QUAL É A MELHOR ABORDAGEM?
É aquela com a qual você se identifica e se alinha com seus valores. Cada abordagem enxerga aspectos distintos do ser humano e de seus processos mentais. Portanto, dependendo do seu tipo de problema, personalidade e relação com o terapeuta, uma ou mais abordagens podem ser recomendadas. Tão importante quanto o método, é a relação de confiança que se estabelece com seu terapeuta.
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Q c d b ta c m c e
TCC
COMPORTAMENTAL
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) incorpora algumas das contribuições dos behavioristas, mas vai além da mera observação do comportamento. Para essa abordagem, que tem o psiquiatra Aaron Beck como seu principal nome, o problema está nos pensamentos distorcidos do paciente. O trabalho do terapeuta é colaborar para que o paciente identifique e transforme seus pensamentos disfuncionais, crenças falsas e tendências de “catastrofização” da realidade, mediante o uso de testes, autoavaliações e planilha de atividades. A TCC é a abordagem com o maior volume de evidências empíricas atualmente e costuma ser indicada por psiquiatras.
É uma das abordagens mais antigas e influentes. Surgiu como desdobramento dos experimentos realizados por Burrhus Frederic Skinner e Ivan Pavlov na virada do século 19 para o 20. Esses experimentos comprovaram a conexão entre certos estímulos e mudanças comportamentais. Cabe ao terapeuta ajudar o paciente a reconhecer a relação entre seus comportamentos e o meio em que vive, propondo técnicas que o auxiliem a mudar suas ações.
HUMANISTAS
Grupo de métodos que inclui a terapia gestalt (Fritz Perls), o psicodrama e a abordagem centrada na pessoa (Carl Rogers). São tratamentos voltados para a situação atual do paciente, especialmente para o que se passa no momento da sessão. A relação entre terapeuta e paciente é bastante acentuada nessas abordagens, já que o foco não está na resolução de problemas pontuais, mas na construção de um ambiente adequado para o desenvolvimento integral do paciente. Bastante indicada em casos de depressão, as técnicas utilizadas aqui envolvem desde sessões regulares até o uso de encenações.
TERAPIA FAMILIAR E DE CASAL
LOGOTERAPIA E NEUROPSICOLOGIA
São duas linhas que começam a ganhar mais espaço no Brasil. A logoterapia é uma abordagem que conversa bem com a espiritualidade. Tem como seu precursor o austríaco Viktor Frankl, que sobreviveu aos campos de concentração nazistas. Enfatiza a busca de sentido para a vida como um recurso para a superação de traumas. As abordagens que dialogam com as neurociências são outro grupo que ganha força. Destaque para a EMDR, uma intervenção breve, também com foco em traumas e cujo principal nome é da norte-americana Francine Shapiro. A EMDR tem sido usada, por exemplo, para ajudar adolescentes que temem competir no vestibular e em atividades esportivas.
Surgiu do reconhecimento de que a recuperação de certos transtornos era muito mais lenta e ineficaz quando realizada individualmente. Os transtornos são tratados como “problema de família” e resolvidos em grupo. Parte do princípio de que cada pessoa se encontra inserida num sistema familiar, que ajuda a moldar suas crenças, valores, pensamentos e hábitos. Com foco na melhora da comunicação no lar, as sessões são feitas com o casal ou com toda a família.
Fontes: Livro Psicoterapias: Abordagens Atuais (Artmed, 2019), de Aristides V. Cordioli e Eugenio H. Grevet (orgs.); sites e noticiários jornalísticos: Jornal do Campus – USP (bit.ly/jcuspterapia); UOL (bit.ly/uolterapia); Cognitivo (bit.ly/cognitivoterapia); Ensinapsy (bit.ly/ensinapsy); Sensis – Desenvolvimento Humano (bit.ly/sensisdh); Conselho Federal de Psicologia (cfp.org.br); artigos científicos:“História e Panorama Atual das Terapias Cognitivas no Brasil”, em Revista Brasileira de Terapias Cognitivas (bit.ly/rbtcterapias), e “Desafios e Oportunidades Para Telessaúde em Tempos da Pandemia Pela Covid-19: Uma Reflexão Sobre os Espaços e Iniciativas no Contexto Brasileiro”, em Cadernos de Saúde Pública (doi.org/10.1590/0102-311X00088920); psicóloga Caroline Mudinutti Leveghin e Talita Castelão, psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências pela USP.
DEVO FAZER PSICOTERAPIA?
Qualquer pessoa pode fazer psicoterapia, pois ela fornece auxílio para quem sente dificuldade na administração do seu cotidiano e que passa por situações de vulnerabilidade, estresse ou ansiedade, por exemplo. A terapia também é uma importante ferramenta de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal. E ela se mostra mais necessária ainda quando a pessoa precisa lidar com eventos inesperados, perdas, mudanças drásticas e transtornos psicológicos.
COMO ESCOLHER UM PROFISSIONAL?
O Brasil tem quase 400 mil profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia (CFP), órgão que regulamenta essa atividade junto aos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP). Isso inclui zelar pelo cumprimento de um código de ética, que prevê, entre outras coisas, o sigilo das informações do paciente e que seus valores sejam respeitados, como os religiosos. Portanto, procure sempre profissionais registrados nas entidades competentes. E, para o contexto da pandemia, a boa notícia é que os atendimentos on-line foram regulamentados recentemente no país (ver p. 7). abr-jun
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Interpretação Capa & Reflexão Artigo
Texto Thiago Basílio Ilustração Gabriel Nadai
Texto e contexto Perguntas Imagine
O SOBE E DESCE DAS EMOÇÕES A vida é uma aventura. Mas para que você experimente boas doses de adrenalina, é preciso ter autoconhecimento e autocontrole
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VOCÊ CONSEGUE SE lembrar da primeira vez que andou numa montanha-russa? Se foi parecido com a minha, provavelmente você se sentou no carrinho, prendeu o cinto de segurança e fechou a trava. Depois disso, só expectativa. As máquinas foram ligadas, e o carrinho começou a se deslocar devagar, subindo uma ladeira imensa e levando você a uma vista privilegiada do parque de diversões, mas que raramente é apreciada pelos mais medrosos. E, a partir desse ponto, ainda que tentasse, você não conseguiu controlar mais nada. O frio na barriga é proporcional à inclinação da subida. E, quando se chega ali em cima, só há uma alternativa: despencar num carrinho que corre preso aos trilhos e que balança ao gosto de inclinações “antigravitacionais”. No início do percurso, é só ansiedade e adrenalina; no meio do caminho, o medo predomina; mas no fim de tudo, junto com o retorno da sensação de segurança vem a euforia e a vontade de repetir a experiência intensa. Viver a adolescência, fase de transição entre a infância e a vida adulta, é mais ou menos como passar por uma montanha-russa emocional. E, quando a tarefa é controlar as próprias emoções, a estudante Ludmila (pseudônimo) confessa que isso não é nada fácil. “Nossas emoções são muito inconstantes e variam conforme cada situação”, explica a adolescente de 14 anos. ABR-JUN
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Eneida Pereira Torres, que é doutora em Psicologia Educacional e professora do mestrado em Promoção da Saúde do Unasp, pesquisa tópicos relacionados à saúde emocional dos adolescentes. É ela quem nos ajuda a compreender os motivos que levam a adolescência a figurar como uma fase de tanta instabilidade emocional. Segundo a pesquisadora, essa etapa da vida é influenciada por fatores internos, mudança hormonal, por exemplo; e também externos, como a visão que boa parte da sociedade tem a respeito da duração da adolescência. Eneida explica que é difícil cravar quando essa fase começa e termina. Os juvenis de 10 a 13 anos, por exemplo, não são adolescentes ainda, nem devem ser vistos como crianças. Trata-se de um período de indefinições. “Não são mais ‘tão crianças’, considerando que suas emoções não correspondem a quem é mais novo que eles; porém, é óbvio que também não fazem parte do grupo dos adolescentes”, compara. Quanto ao término da adolescência, a professora diz que essa fase se estende não somente até os 18 anos, mas que pode chegar aos 25. Nessa idade, o indivíduo “não pode mais ser tratado como um adolescente ‘irresponsável’, mas também não tem estrutura financeira e social para ser considerado um adulto. Esse meio-termo acaba gerando nele certa insegurança”, completa. ONDE TUDO COMEÇA Mas se a dificuldade de lidar com o sobe e desce da montanha-russa da vida causa sofrimento emocional, o que torna mais fácil o controle dos próprios sentimentos é entender o funcionamento da montanharussa, ou seja, como e por quais motivos nossas emoções são produzidas. Apesar de a Bíblia e a poesia se referirem ao coração, não é novidade para ninguém que é o cérebro que comanda nosso organismo. A neurocientista Quézia Anders, doutora pela Universidade Federal do Espírito Santo e professora
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universitária, esclarece do que esse órgão é feito e como ele funciona: “Nosso cérebro é formado por um conjunto de células. Esses neurônios funcionam por meio de estímulos, gerando as emoções que, por sua vez, são responsáveis pelo comportamento humano.” Quézia complementa que o modo pelo qual esses estímulos serão gerados vai depender de muitos fatores, como do ambiente no qual cada pessoa vive, bem como da história, das crenças e das expectativas de cada um. Para ficar ainda mais claro, imagine agora você no lugar de Ludmila, que passou por uma situação muito delicada no colégio: bullying. Um tipo de violência que infelizmente tem se tornado comum entre crianças e adolescentes, principalmente na escola. A situação para ela ficou insustentável, a ponto de a garota e sua família decidirem que a estudante deveria mudar de turma e de turno na escola. “Me sentia muito humilhada, muito desprezada, constrangida. Tinha vontade de sumir da escola”, relembra. A causa de todas essas emoções era a situação na qual Ludmila estava envolvida. Ela era completamente excluída por seus colegas de classe. Esses sentimentos negativos, como era esperado, tiveram impacto no seu comportamento. A menina alegre e extrovertida que amava cantar e andar de skate viu, pouco a pouco, a vida perder a graça. Era o início de uma depressão. “Ficava sentada num cantinho, sozinha. Chegava em casa e chorava muito. Eram sentimentos horríveis. Ninguém merece passar por isso!” De acordo com informações permanentes disponíveis no site da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a depressão é a principal causa de doenças e incapacidade na adolescência. Isso nos faz pensar sobre a intensidade das emoções nessa fase, bem como a respeito da importância de aprender sobre saúde emocional e como lidar melhor com os próprios sentimentos (veja o box ao lado).
CHECK-LIST DOS SENTIMENTOS
Fazer essa autoavaliação é importante, e a psicóloga Eneida Pereira Torres oferece algumas dicas para tornar seu trajeto na montanha-russa das emoções mais seguro, ainda que não menos intenso. Vamos à lista:
Autoconhecimento. Avalie o que você gosta e o que não gosta. Pense a respeito de seus princípios e crenças. Quanto a isso, um bom começo é refletir acerca dos valores transmitidos a você por seus pais e família, seja por meio de discurso ou de atitudes. Na medida do possível, procure se manter fiel àquilo que você já interiorizou deles. Isso pode diminuir seu nível de estresse e prevenir tristezas e angústias desnecessárias. E, para desenvolver o autoconhecimento, você pode manter um diário ou até fazer terapia. Combinar os dois pode ser uma boa receita.
Reconheça suas emoções e dê nome para elas. Você sabia que crianças de dois aninhos sabem nomear emoções como alegria, tristeza, medo e raiva? Isso significa que um dia você já soube fazer isso. Recuperar essa habilidade vai ser útil no processo de identificação dos sentimentos, porque não conseguimos lidar com algo que não nomeamos.
Entenda a razão do seu sentimento. Antes de reagir ao que está sentindo, pare e pense no estímulo que está gerando essa emoção. Concentre-se nos fatos e se esforce ao máximo para não culpar pessoas. Você é o grande responsável pela maneira como reage às situações.
Não fuja, converse. As emoções intensas fazem parte da vida, principalmente da adolescência; por isso, é preciso estar o tempo todo atento ao que está acontecendo ao seu redor. Converse muito, leia, troque experiências. No caso da Ludmila, o caminho foi o diálogo com a família, os amigos e a confiança em Deus. Participar de fóruns na internet e acompanhar canais e podcasts que tratam sobre saúde emocional também são alternativas, mas é preciso cuidar para não se expor nas mídias sociais.
O CÉREBRO E AS EMOÇÕES Se você é adolescente ou já passou por essa fase, com certeza se lembra do quanto seu corpo mudou nesse período. As transformações físicas, porém, são apenas a ponta do iceberg do turbilhão de mudanças que estão acontecendo na nossa central de comando: o cérebro. A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, em seu livro O Cérebro em Transformação (Objetiva, 2005), pontua que o corpo que vinha crescendo de quatro a seis centímetros por ano durante a infância, na puberdade, vai praticamente dobrar a velocidade, fazendo com que meninos e meninas estiquem de nove a dez centímetros em apenas dois anos. Trata-se do estirão de crescimento. Enquanto o corpo se desenvolve nessa velocidade, o cérebro passa por um processo muito intenso de reorganização física e química, o que impacta diretamente na maneira como você se sente, pois é lá que nascem as emoções. No entanto, para compreender melhor, é preciso voltar ao começo. A doutora Quézia explica que um local específico do cérebro é responsável por produzir nossos sentimentos. “As emoções são ativadas numa área mais inferior do órgão, a região límbica, e são controladas pelo córtex pré-frontal, localizado na testa”, esclarece a neurocientista. O córtex pré-frontal, de acordo com a especialista, é o centro da nossa inteligência, pensamentos complexos e cognição. É por meio dele que o equilíbrio entre razão e emoção acontece. Imagine que você está sentindo muita raiva. Essa emoção é resultado de um estímulo recebido, como alguém ter gritado com você, por exemplo. É aí que entra o córtex pré-frontal. É ele que vai determinar como reagimos e que nos faz pensar sobre o que sentimos. O detalhe é que, na adolescência, essa região do cérebro ainda não está completamente ativada, o que torna mais difícil para o adolescente responder com equilíbrio. É por ABR-JUN
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isso que os jovens tendem a ser mais impulsivos e a sentir com maior intensidade suas emoções. Durante um período da primeira infância (até os 4 anos de idade), o crescimento do cérebro e a produção de neurônios ocorrem de modo muito acelerado. Depois, há uma diminuição nesse ritmo e, quando chega a adolescência, acontece o fenômeno da poda. E, assim como se dá na jardinagem, quando ramos e galhos inúteis são cortados para que a árvore cresça saudavelmente, nosso cérebro faz um processo semelhante. “No fenômeno da poda, alguns neurônios que não são utilizados vão morrer. O que vai permanecer são as conexões neuronais de comportamentos que já são praticados”, detalha a doutora Quézia. E por que os adolescentes sentem tanto tédio? Aquela sensação de que nada está bom. Pois bem, esse estado de espírito pode ser entendido como resultado de uma espécie de colapso que ocorre no chamado sistema de recompensa do cérebro. Ele é o responsável por nos fazer sentir bem e satisfeitos quando algo dá certo. No entanto, todas as mudanças que tomam lugar no nosso cérebro acabam embolando esse sistema. Por isso, a complexidade do que acontece num cérebro adolescente explica como e por que essa fase costuma ser tão desafiadora. Quando se tem consciência disso, fica mais fácil entender que o diálogo e a busca por informações sobre essa fase da vida é um dos segredos para tornar a experiência da montanha-russa menos estressante. Afinal, conhecer o percurso evita surpresas e diminui a ansiedade. É o que pontua a psicóloga Karin Knoener de Oliveira, especialista em Terapia Cognitiva e mestranda em Desenvolvimento Humano e Psicologia Escolar pela USP. “Quando o adolescente sabe dessas questões, a sensação de incapacidade, o senso de inutilidade, de frustração por não entregar aquilo que não é esperado dele, fica muito diferente”, explica. A montanha-russa deixa de ser um “bicho de sete cabeças” e pode se tornar um brinquedo radical e divertido. Ter o hábito de praticar exercícios físicos durante esse período é de grande valia também, porque manter seu corpo em movimento faz com que seu cérebro libere a serotonina, hormônio responsável pela sensação de bem-estar. Esse é apenas um exemplo de hábito saudável que mostra a profunda conexão entre corpo e mente. Aliás, saúde física foi o tema da primeira edição deste ano da revista (disponível em conexao.cpb.com.br/arquivos). E se você quiser assistir a entrevistas descontraídas com especialistas a respeito dos chamados oito remédios naturais ensinados pela igreja e a rede educacional adventistas, basta escanear o código QR ao lado.
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Gestão das emoções VOCÊ É O QUE COME Como é possível administrar o que muitas vezes Como está sua relação com seu corpo? Na maioria parece sair do nosso controle? Para a psicóloga das vezes nós até nos preocupamos com a saúde física, Karin Knoener de Oliveira, é preciso “aprender, mas deixamos de lado nossa mente. Você já parou para conhecer e identificar aquilo que a gente sente. pensar que seus hábitos alimentares, de maneira geral, Quais são as emoções vivenciadas? Quais são afetam seu cérebro? A nutricionista Michele Fernandes, os sentimentos decorrentes dessas situações? especialista em nutrição clínica ambulatorial, explica que O que elas querem nos dizer?” São perguntas importantes capazes de revelar algo bastante as emoções podem estar diretamente relacionadas com óbvio: as emoções dizem alguma coisa. a dieta. “O fator emocional e a alimentação caminham O problema é que nem sempre estamos prontos muito juntos, pois nosso cérebro é um órgão que precisa para identificá-las. O primeiro passo, portanto, é ser nutrido como todos os outros”, afirma. entender como funciona o ciclo dos conflitos que Sendo esse órgão o principal do nosso corpo, ele enfrentamos. É mais ou menos assim: é responsável por inúmeras funções, além de produzir nossas emoções. Por isso, na falta de nutrição, o funcionamento do cérebro fica comprometido, e sentimos os efeitos no corpo. “Quando não temos uma nutrição e hidratação adequadas, não estamos alimentando o cérebro e, portanto, estamos impedinCompreensão da do que ele desempenhe suas funções com toda a situação. O que potencialidade”, destaca a especialista. aconteceu? A doutora Quézia complementa explicando que alguns alimentos são responsáveis por ajudar nosso cérebro a liberar determinados hormônios que produzem sensações. “Alguns alimentos fazem com que nosso cérebro liPensamento sobre bere neurotransmissores, como serotonina, o que se passou. dopamina, ocitocina, que vão gerar os estíComo tal situação Desencadeamento mulos do bem-estar”, esclarece a neurocienme afetou? de comportamentos tista, ao comentar a importância de formar derivados das o hábito de uma alimentação balanceada. emoções produzidas. A neurocientista acrescenta que há conComo eu reagi? senso no meio científico de que a alimentação saudável tem relação com a liberação de serotonina, pois 60% da produção desse hormônio e da dopamina acontecem no intestino, órgão responsável pela absorção dos nutrientes no processo da Geração de um digestão dos alimentos. “Há uma conexão entre o que sentimento sobre a questão. O que comemos e as emoções que sentimos”, conclui Quézia. eu senti? Por que então uma alimentação inadequada pode gerar doenças emocionais? Isso também se relaciona com as substâncias produzidas. “Quando você não se alimenta de maneira correta ou passa muito tempo em jejum, seu cérebro entra em estado de alerta, estresse. Assim, ele libera cortisol, o hormônio do estresse”, expõe Toda vez que enfrentamos situações similares, tena nutricionista Michele Fernandes, ao lembrar que a indemos a seguir do mesmo modo, sentindo a mesma gestão suficiente de água também é de suma importância. emoção, nos comportando de forma parecida”, eluciPortanto, o autoconhecimento a respeito do seu da Karin. Isso quer dizer que, se a gente passa a encorpo e da sua mente junto com o autocontrole sotender o mecanismo “situação > pensamento > emobre seus hábitos são os grandes segredos para tornar ção > comportamento”, temos mais chance de mudar a experiência da montanha-russa da adolescência, a estrutura de condutas inconstantes e inadequadas em decorrência de uma má gestão das emoções. ainda que maluca, memorável.
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Texto Cláudia Bruscagin Ilusração © melita | Adobe Stock
DOENÇAS SILENCIOSAS
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Saiba como identificar e lidar com os principais problemas que ameaçam a saúde mental da sua geração
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Falar sobre saúde mental não é muito fácil. Sabe por quê? Nem a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma definição exata para saúde mental! Porém, de modo geral, quando pensamos nisso, temos em mente qualidade de vida cognitiva ou emocional, ou seja, a capacidade de apreciar a existência e tentar equilibrar todas as áreas da vida, a fim de desenvolver resiliência, nossa força psicológica. O ponto é: Quem consegue viver sempre em equilíbrio, ainda mais em tempos de pandemia? Aqui a gente começa por um erro comum: de associar saúde mental com ausência de doença. Uma enfermidade física geralmente tem uma causa reconhecida, sintomas específicos e alterações visíveis no organismo, ainda que só detectadas por exames. Já uma doença mental é mais difícil de identificar. Ela se apresenta por desordens que afetam o humor, o pensamento e o comportamento e são diagnosticadas muitas vezes com base na descrição de sensações e sentimentos que não “aparecem” em exames de sangue ou numa ressonância magnética, por exemplo. Além disso, questões culturais, julgamentos subjetivos e teorias concorrentes afetam o modo pelo qual a saúde ou doença mental é definida. Por isso, os conflitos e distúrbios mentais são ainda cercados de tabus e crendices. Muitas pessoas com transtornos emocionais são taxadas de preguiçosas, descrentes em Deus ou simplesmente “malucas”. É lógico que isso acaba inibindo muita gente que precisa buscar ajuda, inclusive adolescentes que podem se sentir envergonhados ou inferiorizados. Resultado? Em vez de procurar auxílio profissional, vários decidem sofrer calados e adoecem mais, porque essas emoções incompreendidas os machucam por dentro. TABUS HISTÓRICOS Na Antiguidade, os transtornos mentais eram associados à ação direta dos espíritos, deuses ou demônios. Depois, eles foram entendidos como tendo uma causa exclusivamente orgânica ou de desarmonia do ser humano com seu ambiente. Por essa razão, os tratamentos variaram de orações
e oferendas aos desuses ao uso de sanguessugas, choque térmico e perfurações do crânio. Sem compreender corretamente o que se passava na mente das pessoas, coisas bizarras já foram feitas para dar um jeito em quem sofria com conflitos emocionais. Por muito tempo, os “loucos” foram excluídos da convivência social, jogados em manicômios e perderam sua autonomia financeira, bem como seus direitos civis e políticos. E bastava ter dinheiro, poder ou influência para internar compulsoriamente alguém próximo ou inimigo sem mesmo ter um diagnóstico preciso sobre a condição dessa pessoa. Foi somente na primeira metade do século 20, com o advento da psicofarmacologia, que essa situação começou efetivamente a mudar. Medicamentos específicos associados com a psicoterapia revolucionaram os tratamentos mentais e humanizaram as abordagens, fazendo com que muitos manicômios fossem fechados. Hoje é um consenso de que tanto a saúde quanto a doença mental são multifatoriais, pois elas têm que ver com experiências positivas e negativas, padrões de comportamento aprendidos com a família, condições gerais de vida e sobrevivência, carga genética, além de disfunções neuroquímicas ou hormonais. Em outras palavras, todos esses fatores podem desencadear um quadro de transtorno mental. Afinal, somos seres integrais, e nossos problemas, bem como a solução deles, devem levar em conta essa integralidade. DOENTIO OU “NORMAL”? Um transtorno mental pode fazer você se sentir horrível e trazer muitos problemas para seu dia a dia na escola, no trabalho ou nos relacionamentos. A questão é que esses desafios são, em geral, resultado da própria dinâmica da vida, do nosso movimento no mundo. Logo, esse tipo de sofrimento pode ser experimentado por qualquer pessoa. É importante destacar que, quanto mais tempo levamos para tomar consciência desses problemas e agir para resolvê-los, maior será a chance de eles se agravarem, e a intervenção se torna mais demorada e difícil (ver o box “Sinais de alerta”).
Sinais de alerta
O alerta de que algo não está bem com você pode variar, dependendo do tipo de transtorno, do momento da vida em que ele se manifesta, além do tempo e da intensidade do sintoma. Esses sinais podem aparecer na forma de emoções, pensamentos e comportamentos. Os principais sintomas de problemas de saúde mental são: 1. Sentir-se triste, “pra baixo”. Ideação suicida. 2. Pensamento confuso e dificuldade de concentração. 3. Medos e preocupações excessivas, forte sentimento de culpa. 4. Mudanças bruscas de humor e oscilação entre extrema alegria e tristeza. Raiva, hostilidade ou violência. 5. Isolamento dos amigos e desinteresse por atividades antes prazerosas. 6. Cansaço constante e dificuldade para dormir. 7. Perda de contato com a realidade (delírios), paranoia ou alucinações. 8. Dificuldade de lidar com pressão, estresse, situações e relacionamentos do dia a dia. 9. Mudanças drásticas nos hábitos alimentares, no desejo sexual e abuso de álcool e drogas. 10. Dor de estômago, de cabeça, nas costas ou outros desconfortos físicos sem explicação.
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Outro ponto a ressaltar é que os transtornos emocionais e psicológicos não são necessariamente crônicos. Eles podem ser tratados e quase sempre resolvidos. Percebo também que a linguagem psiquiátrica está na boca dos adolescentes quando vão descrever sentimentos e experiências. Não é incomum eu escutar as seguintes expressões: “esse cara é bipolar”, “tô deprimido”, “fico ótima depois de uma semana anoréxica” ou “tive uma baita crise de pânico”. Graças à internet e à maior quantidade de documentários, filmes e depoimentos sobre saúde mental, nunca se falou tanto para os jovens a respeito desse tema. É por isso que, quando eles chegam ao meu consultório, muitos já se autodiagnosticaram. Com um detalhe: o diagnóstico deles tende a ser mais negativo do que a realidade. As doenças mentais E aqui vai um recado. Muitas vezes passão mais difíceis de samos a sentir de verdiagnosticar do que as físicas, dade aquilo sobre o pois elas são identificadas com que pensamos ou acerca do que tanto base no relato de sentimentos e falamos. Por isso, é pensamentos, algo que não pode bom usar um númeser comprovado num exame de ro maior de adjetivos para definir nossangue ou numa ressonância sas emoções do que o magnética vocabulário restrito aos quadros patológicos. Por exemplo, veja quantas nuances tem a palavra tristeza: infelicidade, desânimo, descontentamento, abatimento, melancolia, entristecimento, desalento, insatisfação, prostração, depressão e desesperança. Ou a palavra alegria: contentamento, júbilo, prazer, satisfação, agrado, deleite, ânimo, gosto, regozijo, exuberância, divertimento, enlevo e graça. ANSIEDADE OU TRANSTORNO? Ansiedade é uma reação normal para muitos acontecimentos da vida. É uma emoção que funciona como sinal de alerta interno sobre perigos e que prepara nosso corpo para reagir à uma situação ameaçadora. De tempos em tempos, uma dose gerenciável de ansiedade pode ser útil, porque funciona como impulso para revisar os conteúdos de uma prova ou terminar aquela tarefa que está sendo postergada no trabalho. Até eventos alegres podem nos deixar ansiosos, como encontrar alguém especial, mudar de casa e viajar para um lugar novo. Tudo isso é normal! 18 |
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A ansiedade se torna um problema quando fica opressiva ou incontrolável e surge inesperadamente. Transtornos de ansiedade são doenças que têm um enorme impacto na vida (leia p. 30 e 31). Quem sofre disso pode se isolar em casa para evitar a ansiedade, lavar as mãos constante e desnecessariamente ou desenvolver outras compulsões, como usar drogas ou comer sem controle. As pessoas com esse tipo de problema experimentam muitas sensações e sintomas físicos desconfortáveis. Muitos até dizem saber que sua ansiedade é irreal, mas sentem-se “presos” aos próprios pensamentos. Em resumo, a ansiedade normal está relacionada a uma situação específica, estende-se pelo tempo que o problema durar, é proporcional à circunstância vivida, além de ser uma resposta realista a um desafio real. Por outro lado, a ansiedade patológica toma conta inesperada e descontroladamente da pessoa; é uma resposta desproporcional ao problema; costuma ser irrealista, pelo fato de estar associada ao medo de algo muito improvável acontecer; pode durar longo tempo, mesmo depois de a situação ter sido resolvida; e leva quem a vivencia a evitar pessoas e circunstâncias que servem de “gatilho” para a ansiedade. Um exemplo comum que ajuda a entender a diferença entre esses dois tipos de ansiedade é voar de avião. Muitas pessoas têm um pouco de medo de voar, o que é normal. Porém, quando precisam pegar um avião para a viagem de férias, encaram isso com tranquilidade. Por sua vez, quem tem transtorno de ansiedade, pode não conseguir chegar ao aeroporto, por mais que a viagem tenha sido desejada. Nesses casos, o medo não é vencido por argumentos ou pela racionalização da situação. TRISTEZA OU DEPRESSÃO? A tristeza é um sentimento ou emoção absolutamente comum. Ela tem por característica a falta de ânimo para a realização das tarefas diversas. É o sentimento de esgotamento decorrente de mágoa ou perda. Gera perguntas como: “O que perdi ou o que me magoou?” E para essas perguntas encontramos respostas. Além disso, o tempo que se vive uma tristeza é proporcional ao que se perde ou ao que o machuca. Por exemplo, a perda do celular, o término do namoro, a mudança do melhor amigo para outra cidade, a morte do seu bichinho de estimação ou o divórcio dos pais. Por sua vez, a depressão é um transtorno de humor crônico e recorrente, que leva o depressivo a sentir-se impossibilitado de realizar suas
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COMO MANTER A SAÚDE MENTAL? Não se isole. Somos seres sociáveis. 1 Precisamos uns dos outros, sempre. Precisamos conversar, trocar nossas experiências, falar sobre o que sentimos e pensamos. Sem exercitar a troca, nossa mente pode nos levar a muitas armadilhas que nos afundam mais ainda no isolamento.
“Buscar ajuda é sinal de saúde mental”
Converse com pessoas que entendam você. Muitas pessoas passam ou já passaram por situações parecidas com as suas. Não tenha vergonha de compartilhar, isso vai tornar seu fardo mais leve.
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atividades, pelo fato de experimentar profunda tristeza e desesperança. Nesses casos, a pessoa fica triste por muito tempo e sem compreender a razão de tanta tristeza. Perde-se o contato com o fato gerador daquele sentimento. A tristeza é profunda e não passa. O indivíduo gasta todas as suas energias lutando para conter essas sensações e pensamentos negativos, mas não chega a lugar nenhum. É um desespero só. Alteração do peso, perda de energia e cansaço, forte e constante sentimento de culpa, dificuldade de concentração, alteração do desejo sexual, ideias suicidas e pensamentos distorcidos a respeito de si mesmo (baixa autoestima) são alguns dos sintomas comuns de quadros depressivos. Entre os jovens, a depressão pode ser um dos fatores a levar ao suicídio, que já é a segunda principal causa de morte de pessoas de 15 a 29 anos, segundo a OMS. O Brasil figura como o oitavo país em número de suicídios, e a expectativa era que essas estatísticas dobrassem em 2020. É verdade também que o suicídio é um problema multifatorial. Além da depressão, outros transtornos mentais podem levar alguém a atentar contra a própria vida: o afastamento ou o divórcio dos pais biológicos, o suicídio de amigos ou parentes próximos, a dependência química, a gravidez precoce e o aborto (no caso das adolescentes), a morte de alguém querido, o abuso sexual, maus-tratos, um acidente traumatizante ou uma doença limitadora ou degenerativa, incertezas quanto ao futuro, alta cobrança por desempenho na escola ou no trabalho, além de bullying. O suicídio é uma questão muito séria, e falar sobre ele tem que ver com prevenção. Fatores protetivos em relação ao suicídio também envolvem ser um amigo presente, participar de uma comunidade religiosa, fazer trabalhos voluntários, ter uma vida social satisfatória e realizar atividades de lazer em grupo.
Faça atividades que lhe dão satisfação. Escrever o que sente, assistir a um filme que lhe faça chorar ou rir muito, ler um bom livro ou ouvir boa música também ajudam.
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Pratique atividades f ísicas, coma 4 e durma bem. Suar a camisa libera endorfina e regula os níveis de serotonina e dopamina no organismo, dois neurotransmissores importantes para o funcionamento da mente e a sensação de bem-estar. O efeito é melhor ainda se o exercício for acompanhado de alimentação saudável e sono adequado. Atividades prazerosas ajudam a manter a cabeça ativa e livre de preocupações exageradas ou pensamentos negativos. Procure ajuda profissional. Cuidar da saúde mental ainda é um grande tabu em nossa sociedade. Por isso, você já deve ter ouvido que “fazer terapia é frescura” ou que “procurar um psiquiatra é coisa pra louco”. Na verdade, buscar ajuda profissional é um sinal de saúde mental!
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Você pode apoiar alguém também. Se você é próximo de alguém que tem dado sinais de alerta de algum conflito emocional, procure conversar abertamente com essa pessoa. Fale das suas preocupações e do que tem observado em relação a ela. Você não pode forçar alguém a buscar auxílio profissional, mas pode oferecer apoio e encorajamento, acompanhá-lo na terapia ou procurar socorro imediato se essa pessoa se machucou ou está pensando em fazer isso.
Onde encontrar ajuda
O Centro de Valorização da Vida (CVV) atende por meio de ligação telefônica gratuita (188) ou pelo chat no site cvv.org.br.
O portal mapasaudemental.com.br lista serviços públicos disponíveis em todo território nacional, além de iniciativas de acolhimento e atendimento gratuitos realizadas por ONGs, instituições filantrópicas e clínicas-escola.
O Centro de Promoção de Esperança e Prevenção do Suicídio da Unifesp mantém um site (conversasdevida. com) e um prontosocorro psiquiátrico.
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Várias instituições, incluindo o Unicef, mantêm um serviço confidencial de acolhimento psicológico para jovens de 13 a 24 anos (podefalar.org.br).
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Texto e contexto
Texto André Vasconcelos Ilustração Vandir Dorta Jr.
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Três lições de um sábio rei que somente na velhice aprendeu a valorizar a vida
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TODOS NÓS QUEREMOS curtir a vida e ser felizes, não é mesmo? Gostamos de viajar, experimentar novos sabores, conhecer pessoas diferentes e desfrutar dos diversos prazeres que a breve existência humana proporciona. Diferentemente do que muita gente acredita, a Bíblia não é contrária a nada disso. Deus criou os seres humanos para apreciar a vida e as inúmeras possibilidades que ela oferece. É óbvio que, após a queda moral e o pecado, essa realidade sofreu muitas alterações. A existência perfeita e harmônica se tornou imperfeita e injusta; deixou de proporcionar exclusivamente felicidade e bem-estar para produzir medo e angústia. A eternidade foi substituída pela fugacidade (ver Ec 9:9). É por isso que o rei Davi, no Salmo 144:4, comparou nossa vida ao sopro e à sombra que passam. Salomão, o maior bon vivant das Escrituras, entendeu bem essa mensagem. É verdade que ele cometeu muitos erros (cf. 1Rs 11:1-11) e levou algum tempo para se tornar realmente sábio aos olhos de Deus. À semelhança de nós hoje, o rei dissipador tentou encontrar a felicidade nas conquistas pessoais (Ec 2:4-7), nos relacionamentos (v. 8) e na realização de todos os seus desejos (v. 3, 10). Depois de Salomão mencionar seus grandes feitos e sua busca hedonista pelo prazer, concluiu: “E eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (Ec 2:11). Nesse verso, ele resumiu o conceito de fugacidade existencial na palavra “vaidade”. O trocadilho é evidente, considerando o fato de que o termo hebraico hevel, traduzido como “vaidade”, significa literalmente “sopro”, “vapor”. Tudo é vaidade porque tudo é transitório, uma concepção materializada na breve existência de Abel, cujo nome hebraico também é hevel (ver Gn 4:1-11). Em Eclesiastes 9:1 a 6, a ideia da brevidade da vida é reforçada diante do destino inevitável de todos os seres humanos: a morte. O teólogo Jacques Doukhan, no livro Todo Es Vanidad (Aces, 2006), na página 93, sintetizou muito bem essa passagem: “A perspectiva de Eclesiastes é universal. […] ‘Todas’ as categorias humanas são consideradas: o justo e o ímpio, o puro e o impuro, a pessoa religiosa e a secular, o bom e o pecador, o que jura e o que teme fazê-lo (9:2). Todos temos a mesma sorte: não sabemos para onde vamos; não sabemos o que está diante de nós (9:1); não sabemos quais serão nossos amores e ódios, nossas dores e alegrias. Porém, sabemos de uma coisa com certeza: nós morreremos.” É por causa dessa realidade que Salomão nos aconselha a desfrutar da vida, pois para os vivos sempre “há esperança” (Ec 9:4). Nos versos 7 a 9, após refletir sobre a existência e o destino de todos os seres humanos (v. 1-3), Salomão nos deixou três conselhos para que aproveitemos a existência. Essas sábias orientações podem ser facilmente identificadas por meio de três verbos na forma imperativa: “vá”, “aproveite” e “faça”. 1o VÁ E APRECIE COM MODERAÇÃO (Ec 9:7) O primeiro conselho de Salomão inicia-se com o imperativo “vá”, do hebraico lekh. Essa expressão nos lembra da ordenança divina dada ao patriarca Abraão para “sair” (heb. lekh-lekha) de sua terra e do convívio de sua família (Gn 12:1). Em outras
palavras, trata-se de um convite à ação. É necessário deixar a zona de conforto para “ir” e apreciar os presentes de Deus para nós. De fato, uma tradução mais literal de Eclesiastes 9:4 reforça esse pensamento. Se levarmos em consideração o Ketiv, a forma pela qual o verbo hebraico bachar (omitido em português) está escrito, e ignorarmos o Qere, a anotação rabínica de como ele deve ser lido, poderíamos traduzir o verso 4 desta forma: “Pois, para quem pode escolher estar com todos os viventes, há confiança.” Isso quer dizer que o primeiro passo apresentado por Salomão para que desfrutemos da existência é ter atitude. Precisamos escolher a vida! Existem, porém, algumas diferenças entre o chamado de Abraão e a ordem de Eclesiastes 9:7. O primeiro envolveu sacrífico, fé e resignação; enquanto o segundo é na verdade um convite generoso para apreciar o “pão” e o “vinho”. Esses alimentos, junto ao “óleo” ou “azeite” mencionado no verso 8, o qual poderia servir como perfume e remédio, mas também como comida, compunham a dieta básica do povo de Israel em Canaã (ver Sl 104:14, 15). É importante destacar que Salomão não recomendou a bebida alcoólica em Eclesiastes 9:7. O próprio rei condenou esse tipo de bebida em Provérbios 20:1 e 23:30 a 32. Essa confusão acontece porque o termo hebraico yayin, traduzido como vinho, é ambíguo e pode se referir tanto à bebida fermentada quanto ao suco de uva recém-preparado, mais conhecido como mosto. Nesse caso, uma expressão análoga pode ajudar a esclarecer essa confusão. Vários textos do Antigo Testamento, como 2 Reis 18:32, empregam as palavras “cereal” e “vinho” como um sinônimo de “pão” e “vinho”. O detalhe de 2 Reis 18:32 é que, além de a palavra “cereal” estar em paralelo com “pão”, o termo hebraico para vinho é tirosh, que significa literalmente “mosto”. À luz desse paralelismo, podemos inferir que Eclesiastes 9:7 se refere ao vinho novo, o suco da uva, e não ao vinho velho já fermentado. Tudo isso nos mostra que Deus não apenas permite que desfrutemos dos produtos da terra, mas que Ele “Se agrada” de nós quando agimos assim (v. 7). O verbo “agradar”, do hebraico ratsah, geralmente é usado na Bíblia para se referir às ofertas “aceitas” por Deus (ver Lv 1:4; 7:18). Em Eclesiastes 9:7, contudo, nós é que devemos “aceitar” os presentes que o Senhor nos oferece. Honramos a Deus quando comemos o pão com alegria e bebemos o vinho com prazer (ver Ec 2:24; 3:13; 5:18-20). Gratidão e reconhecimento são os conceitos-chave aqui. Não é bíblica a ideia de que a religião deve ser rigorosa, apenas contemplativa e de que as pessoas não podem comer nem se alegrar. Eclesiastes 9:8 deixa isso ainda mais claro ao afirmar que devemos ter as vestes sempre brancas e nunca deixar faltar o óleo sobre nossa cabeça. As “vestes brancas” e o “óleo” formam uma imagem de um banquete festivo (Sl 23:5; Ap 3:4, 5; 19:7-9; ver Et 8:15-17). A verdade é que Deus gosta de festas! (ver Lv 23:4-44; Dt 14:24-29; Ne 8:10; Mt 22:1-14; 26:26-29; Lc 14:15-24; etc.). Jesus ilustrou muito bem o conceito apresentado em Eclesiastes 9:7 e 8. Seu primeiro milagre foi multiplicar o vinho em uma festa de casamento. Ele também multiplicou o pão para alimentar multidões em duas circunstâncias. Alguns críticos chegaram até mesmo a chamá-Lo de “glutão e bebedor de vinho”, por comer e beber com os pecadores (Mt 11:19). Além disso, o Mestre incentivou abr-jun
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Seus discípulos a ungir a cabeça, a fim de não agirem como os religiosos da época que desfiguravam o rosto para aparentar piedade e religiosidade (Mt 6:16, 17). Portanto, a primeira dica de Salomão para curtir a vida, conforme exemplificado por Jesus, é ter atitude e apreciar com moderação e sabedoria as bênçãos materiais que Deus nos dá. 2o APROVEITE A VIDA COM QUEM VOCÊ AMA (Ec 9:9) O segundo conselho de Salomão começa com o imperativo “aproveite”, do hebraico ra’ah. O curioso desse verbo é que o significado básico de sua raiz é “ver”. Salomão nos incentiva a “contemplar” a vida com a pessoa que amamos, isto é, com aquela que decidimos nos unir por meio de uma aliança eterna. Podemos dizer que Salomão entendia algo sobre esse assunto. De acordo com 1 Reis 11:3, ele havia se casado com aproximadamente mil mulheres! No entanto, embora tivesse se unido matrimonialmente a 700 princesas e 300 concubinas, seu coração parecia pertencer a uma mulher chamada Sulamita, a respeito de quem ele escreveu no livro bíblico de Cântico dos Cânticos. O próprio rei confessou que, no período mais sombrio da vida, tinha procurado encontrar a felicidade nas “delícias dos filhos dos homens: mulheres e mais mulheres” (Ec 2:8). A exemplo de Salomão, muitos hoje trilham o mesmo caminho promíscuo de destruição. A essas pessoas, o experiente monarca adverte: “Achei coisa mais amarga do que a morte: a mulher cujo coração é rede e armadilha e cujas mãos são correntes. Quem agrada a Deus fugirá dela, mas o pecador virá a ser seu prisioneiro” (Ec 7:26). A dica do sábio poeta é: “Alegre-se com a mulher da sua mocidade. […] Que os seios dela saciem você em todo o tempo; embriague-se sempre com as suas carícias” (Pv 5:18, 19). Como você pode ver, a Bíblia não é contra o sexo nem contra o prazer sexual. Mas calma aí! Isso é só para o contexto do casamento! A expressão pura da sexualidade humana também é um dos presentes de Deus para nossa felicidade. O amor compartilhado é uma das “porções” ou “recompensas” que o Senhor nos oferece para que suportemos a angústia e a fadiga que experimentamos “debaixo do sol” (Ec 9:9; ver 3:22; 5:18, 19). Jacques Doukhan faz o seguinte comentário sobre Eclesiastes 9:9: “Este é um convite para abrir nossos olhos e reconhecer o valor e a beleza que existe nesse verso, como sugere a tradução literal: ‘veja a vida’. A vida está aqui, contudo, não a vemos. Nossos olhos podem estar em outro lugar. Isso significa estar atento ao que nos é dado, em vez de olhar para outros horizontes; implica gratidão e fidelidade, a condição fundamental para a felicidade no casamento” (Todo Es Vanidad, p. 98). Portanto, a segunda dica de Salomão para curtir a vida é compartilhá-la com quem você ama. Nem tudo na vida precisa de test drive! Preserve-se até encontrar a pessoa certa, no momento adequado. Se seguir esse conselho, você certamente verá a vida com outros olhos! 22 |
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3o FAÇA TUDO CONFORME SUA CAPACIDADE (Ec 9:10) O terceiro e último conselho de Salomão é marcado pelo imperativo “faça”. Em Eclesiastes 9:10, encontramos a orientação para fazer, conforme nossas forças, tudo o que vier à nossa mão. A justificativa do texto é que, na sepultura (heb. she’ol), “não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”. A expressão “conforme as suas forças”, do hebraico bekhochakha, significa “conforme as suas habilidades”. Como destacou Michael Fox, no livro Ecclesiastes (Jewish Publication Society, 2004), na página 64, Salomão não ensinou que precisamos empregar toda a nossa energia naquilo que fazemos. Isso seria ‘amal, o trabalho que nos causa fadiga debaixo do sol (Ec 9:9; comparar com 1:3; 2:10, 11; 2:18-22; 3:9; 4:6-8; 5:18; 8:15; etc.). Salomão nos diz que devemos trabalhar conforme as nossas forças (Ec 9:10), nem mais nem menos! Ele defende o trabalho moderado. Mais do que isso é vaidade e correr atrás do vento; menos do que isso é preguiça e passividade. Assim, cabe a nós buscar esse equilíbrio. Não há justificativa para trabalhar ou estudar excessivamente nem para ser descomprometido com os próprios deveres. A linguagem de Eclesiastes 9:10 faz alusão a Gênesis 2:1 a 3 e Êxodo 20:9 a 11, na medida em que são usadas as palavras “todo” (heb. kol) e “fazer” (heb. ‘asah). O texto de Êxodo 20:9 a 11, por exemplo, prescreve: “Seis dias você trabalhará e fará toda a sua obra, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao SENHOR, seu Deus. Não faça nenhum trabalho nesse dia. […] Porque em seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou” (itálico acrescentado). A relação entre Eclesiastes 9:10 e o mandamento do sábado nos ajuda a desenvolver uma visão correta acerca do trabalho. É um lembrete de que devemos “fazer tudo” com diligência sem perder de vista o “descanso”. Doukhan comenta: “As lições dessa conexão […] são múltiplas. Em primeiro lugar, o trabalho é uma expressão humana da imagem divina. Criamos a semelhança de como Ele criou. A partir dessa perspectiva, o trabalho corresponde ao domínio sagrado. É interessante notar o fato de que a palavra hebraica para ‘trabalho’, ‘avodah, também significa ‘adorar’. O trabalho, então, deve ser realizado com a mesma concepção de sagrado que temos para com um culto de adoração. […] Ao mesmo tempo, o trabalho deveria ficar dentro das proporções humanas; na proporção de nossas ‘forças’. O trabalho nunca deveria nos esmagar; ele está em nossa ‘mão’” (Todo Es Vanidad, p. 99). Portanto, a terceira dica de Salomão para curtir a vida é fazer tudo que vier à nossa mão conforme a nossa capacidade. Não trabalhe demais nem de menos! Para desfrutar da existência, o que deixamos de fazer é tão importante quanto o que fazemos. PEGA A IDEIA! Depois de apontar o caminho para uma existência mais significativa e feliz por meio dessas três dicas, que na verdade são ordens, Salomão, ao fim do livro de Eclesiastes, resumiu seus ensinos em apenas um conselho. Então, pega a ideia: “De tudo o que se ouviu, a conclusão é esta: tema a Deus e guarde os Seus mandamentos, porque isto é o dever de cada pessoa. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec 12:13, 14).
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Para aquele que está entre os vivos há esperança, porque mais vale um cão vivo do que um leão morto” (Ec 9:4)
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Para saber mais
Ecclesiastes, de Michael V. Fox (Jewish Publication Society, 2004). Todo Es Vanidad, de Jacques B. Doukhan (Aces, 2006).
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Básica
CONFISSÃO
Texto Alberto Nery Imagem ©jovannig | Adobestock
Sobre o diálogo de Jó com seus amigos, o rabino Joseph Soloveitchik chama a atenção para algumas palavras ditas por Eliú, que têm uma profunda aplicação psicológica e espiritual até os dias de hoje. Eliú começa seu discurso assim: “Tenho que falar. Isso me aliviará. Tenho que abrir os lábios e responder” (Jó 32:20, NVI). A partir dessa declaração, Soloveitchik conclui que: “Para a mente agitada há uma qualidade redentora na palavra emitida, e a alma atormentada encontra paz na confissão.” O texto bíblico nos indica que, desde a antiguidade, se reconhece a relação entre falar e encontrar alívio. Mas foi com o advento da psicologia, que o ato de falar sobre si mesmo ganhou contornos terapêuticos mais objetivos. Sigmund Freud, pai da psicanálise, ensinou que o ato de falar traz não apenas alívio à alma, mas é uma ferramenta indispensável para que o indivíduo conheça melhor a si mesmo e se ajuste mais adequadamente às circunstâncias da vida. Hoje, todas as abordagens psicológicas consideram o diálogo terapêutico como fundamental no tratamento. Do ponto de vista religioso, a confissão também tem papel essencial na fé cristã, seja essa uma admissão de culpa diante de Deus, de si mesmo ou do próximo. Isso fica claro, por exemplo, na parábola do filho pródigo (Lc 15:21), quando, ao voltar para casa, o caçula rebelde se confessa para o pai e pede seu perdão. Contudo, vale notar que a confissão dele foi precedida pela tomada de consciência (v. 17). Isso porque, para admitir algo, é necessário primeiro conscientizar-se daquilo. Desse modo, podese dizer que a confissão é a última etapa de um processo de autoconhecimento, que começa com profunda reflexão sobre as próprias escolhas, atitudes e suas consequências. E o alívio que a confissão traz tem que ver com o descanso de encontrar a si mesmo, de situar-se no mundo, conhecer-se melhor e se responsabilizar pelas próprias decisões. Embora confessar geralmente envolva falar, nem sempre é assim. Muitas confissões são feitas pelo indivíduo em seus diálogos interiores, o que tem o mesmo efeito prático de verbalizar isso para alguém. O que torna a confissão efetiva é sua autenticidade, ou seja, precisa partir do eu; caso contrário, não é uma confissão, mas acusação. No romance Crime e Castigo, Dostoievski exemplifica a importância da autenticidade da confissão na experiência do jovem Raskolnikov, que confessa seu crime prostrado diante de Sônia. Raskolnikov é retratado como um indivíduo em processo de reconhecimento dos seus erros, disposto a aceitar as consequências e, mais do que isso, pronto para iniciar uma renovação de si mesmo. Esse é o sentido mais profundo e transformador da confissão, que faz dela, mais do que uma possibilidade, uma necessidade humana.
Confessar alivia a alma, além de ser um sinal de amadurecimento
Fontes: A Solidão do Homem de Fé (Exodus, 1995), de Joseph Soloveitchik; e Crime e Castigo (34, 2001), de Fiódor Dostoievski.
Curiosa
Texto Julie Grüdtner
SONHAR FAZ BEM Falar sobre sonhos pode parecer mera subjetividade ou flerte com a mitologia, quando não compreendemos o papel psicológico do que se passa em nossa mente enquanto dormimos. De fato, nossas emoções impactam diretamente nossos sonhos, mas todos eles significam algo, mesmo quando são esquecidos completamente. Durante a noite, nosso cérebro se dedica à execução de algumas tarefas. Uma das mais importantes é a 24 |
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organização de informações, sentimentos e ideias, como aquela situação que estressou você ou a informação mal “digerida” durante o dia. Um estudo do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte investigou como a pandemia estava afetando os sonhos das pessoas. A pesquisa revelou que os sonhos dos pesquisados estavam associados a termos como “raiva”,
“tristeza”, “limpeza” e “contágio”. Não era para menos, né? Afinal, o processo de sonhar tem relação com as lembranças e o aprendizado cotidianos. O que muda no sonho é que as emoções geralmente são sentidas de forma extrema, fazendo com que a gente reviva certo momento, mas sem sofrer com isso. É um recurso que nosso cérebro tem de superar situações traumáticas. É por essa razão que buscar se interpretar a partir dos próprios sonhos pode ser uma atividade positiva para sua saúde
mental, ou seja, um modo de tornar conscientes os sentimentos ainda não bem compreendidos. Portanto, da próxima vez que sonhar algo estranho, lembre-se de que seu cérebro está fazendo um processo restaurador. Agradeça-o por isso. Fontes: Agência Bori (abori.com. br); “Why Do We Dream? A Sleep Expert Answers 5 Questions”, em setembro de 2019, no site health. clevelandclinic.org; Mota, Natália Bezerra e outros, no artigo “Dreaming during the Covid-19 pandemic: Computational assessment of dream reports reveals mental suffering related to fear of contagion”, em 30 de novembro de 2020, em Plos One (doi.org/10.1371/journal.pone.0242903); e o artigo “Dopamine and Dreams”, de Patrick McNamara, no site psychologytoday.com, em 8 de janeiro de 2016.
A O s 8 d
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A p q c P r p
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P fe a c p ta
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Ponto de vista
Tudo ligado
Texto Alex Machado Imagem © pixels_of_life | Adobe Stock
Texto Márcio Tonetti
DO VICIOSO AO VIRTUOSO
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Vicioso
SUICÍDIO
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Ainda um tabu social, o suicídio é também um grave problema de saúde pública. O último levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que, no Brasil, as taxas de suicídio aumentaram 7% entre 2010 e 2016. De acordo com a OMS, 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos ao redor do mundo, numa média de uma morte a cada 40 segundos. Distúrbios emocionais, como depressão, traumas e ansiedade, estão entre os principais fatores de risco para o suicídio. Porém, como forma de prevenção, a religião tem sido uma importante ferramenta. A questão é que a compreensão acerca da morte voluntária varia de acordo com a tradição religiosa. Enquanto alguns enxergam o suicídio como um pecado imperdoável, outros o veem como um “processo natural” da existência humana. Afinal, há salvação para quem se suicida?
Não
Alguns grupos religiosos reprovam qualquer ato suicida, estigmatizando-o como pecado imperdoável. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), por exemplo, afirma que o indivíduo que tem vontade de morrer não está salvo, pois não desenvolveu confiança em Deus. Para a IURD, o suicídio conduz a tormentos dolorosos e eternos. Por sua vez, a doutrina espírita explica que o desgosto pela vida e o desejo de suicídio resultam da ociosidade e da falta de fé. Segundo seus adeptos, o suicídio atrapalha o processo evolutivo da alma.
Sinônimo de deformação, falsificação, degradação moral e vício. Mas essa palavra se popularizou mesmo na expressão círculo vicioso (e não “ciclo vicioso”, como alguns falam), isso é, quando um problema leva a outro, entrando numa cadeia repetitiva de eventos. O filósofo e matemático francês Henri Poincaré teria sido um dos primeiros a estudar esse processo circular de causa e consequência, cujo resultado é bastante
Nocivo Adjetivo que define aquilo que causa dano. Entra nessa lista todo tipo de substância, conteúdo e atitude prejudicial ao corpo e à mente, como o consumo abusivo de internet. Aliás, uma pesquisa recente da Universidade Federal do Espírito Santo realizada com 2,2 mil adolescentes de escolas públicas e privadas da capital capixaba mostrou que 25% deles eram dependentes moderados ou graves em internet, o que também foi associado a transtornos como ansiedade. Por isso, a atenção dos cientistas têm se voltado cada vez mais para esse
Fenômeno
Sim
Para o xintoísmo, religião originária no Japão, não existe a ideia de queimar no inferno, pois a vida continua além do mundo físico. Os xintoístas creem que a morte é apenas o começo de uma nova fase. Por essa razão, essa tradição religiosa é bastante condescendente com os suicidas e defende que a morte voluntária pode ser parte do processo evolutivo natural. O alto índice de suicídios entre os japoneses parece ter também relação com essa crença.
Fato ou evento que pode ser descrito e explicado cientificamente, mas também é a gíria utilizada para se referir a alguém que tem uma habilidade fora do comum. O problema é que nem todo mundo transforma essas capacidades extraordinárias em algo
Virtuoso
Depende
No passado, a Igreja Católica negava o funeral religioso e a missa de sétimo dia para os suicidas. Hoje, porém, há a compreensão de que nem sempre o suicídio está relacionado à descrença. Isso porque, quando essa decisão extrema é tomada sob a influência de perturbações psíquicas, a responsabilidade do suicida diminui perante Deus. A Igreja Metodista tem uma postura semelhante. O mesmo defende a Igreja Adventista, que reconhece também o desequilíbrio químico e psicológico como fator que pode levar alguém a tirar a própria vida. Para os adventistas, embora não seja uma solução moralmente aceitável, pelo fato de transgredir o sexto mandamento (Êx 20:13), o suicídio não determina o destino eterno do indivíduo. Os adventistas entendem que esse julgamento compete unicamente a Deus. As igrejas devem trabalhar na prevenção, oferecer acolhimento para quem tem ideação suicida e consolo para as famílias que passam por essa tragédia. Fontes: Artigos “Suicídio”, de Edir Macedo (bit.ly/3jZCbqN), site da OMS (bit.ly/3dwcKfn); “Esperança à beira do abismo”, de André L. C. Nunes (bit.ly/2NC0yyL); “Suicídio”, de Wendel Lima, em Conexão 2.0, de janeiro-março de 2017, p. 22 (conexao.cpb.com.br/arquivos); reportagem “Sem saída”, na Revista Adventista de março de 2017, p. 12-17; capítulo “O suicídio na cultura japonesa”, de Hirano, H., no livro Morte, Suicídio e Luto, organizado por Hugo Oddone e Karina Fukumitsu, p. 77-92; “Suicídio”, publicado no Portal Adventista, em 25/10/2019 (bit.ly/2Nlmgan); O Livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita (FEB, 2013), de Allan Kardec, p. 424; Declarações da Igreja (CPB, 2012), p. 87-89; Catecismo da Igreja Católica, §§ 2280 a 2283 (bit.ly/3bdE530).
Palavra derivada do latim, virtus (virtude). Popularizou-se na Itália dos séculos 16 e 17, quando o termo passou a ser atribuído a figuras que se distinguiam no mundo artístico. Mais tarde, também começou a ser usado para identificar músicos que seguiam carreira solo. Já mais recentemente se consagrou na linguagem coloquial por meio da expressão “círculo virtuoso”. Que você rompa com os “círculos viciosos”, substitua o que é nocivo pelo que é virtuoso e experimente o fenômeno da mudança. Fontes: Dicionário Houaiss; revista Veja Rio, de 12 de março de 2020 (bit.ly/362XB0d); pt.wikipedia.org/wiki/ Virtuoso; dados da pesquisa da Ufes, “Vigilância de fatores de risco para doenças e agravos em adolescentes de 15 a 19 anos na Região Metropolitana da Grande Vitória/ES” (bit.ly/395rEq4). abr-jun
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... o mundo sem os padrões das mídias sociais
Im d s s d r tu r d a a v a g n r p fi p
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C ta fo e fo p p r r te d m m
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PADRÕES. ESTAMOS CERCADOS por eles, sejam econômicos, sociais, éticos, estéticos, religiosos ou métricos. Um padrão é “aquilo que serve de base ou norma para a avaliação de qualidade ou quantidade”. Bela definição do Aurélio, o dicionário. O fato é que toda sociedade tem seus padrões. E como eles são interiorizados? A cultura cumpre esse papel, pois é “o conjunto de práticas, de técnicas, de símbolos e de valores que devem ser transmitidos às novas gerações 26 |
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para garantir a convivência social”, como diria Alfredo Bosi, professor de literatura na USP e membro da Academia Brasileira de Letras. Sendo assim, é no contato com o outro que construímos nossa individualidade e identidade social. Nas sociedades modernas, temos pelo menos três principais agentes socializadores: a família, a escola e os meios de comunicação. É aí que entram as mídias sociais e a poderosa cultura digital, com sua métrica de sucesso baseada em curtidas. Se você tem um perfil em uma dessas plataformas globais ou em várias delas, sabe do que estou falando. Por isso, convido você a refletir se essa lógica fosse questionada e repensada.
U é p d E é d a c jo n s s fo s c C p é d v s p
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CIDADANIA DIGITAL
Imagine-se nestas situações: você achou a casa dos sonhos num condomínio, mas sua pontuação social não é suficiente para alugá-la; você esbarra sem querer numa pessoa popular da internet e derruba uma bebida na roupa dela e, como represália, ela tira estrelas da sua pontuação; você termina com seu namorado/namorada, mas seus colegas de trabalho não gostam disso e, além de deixarem de falar com você, abaixam sua pontuação. Resultado: você fica sem pontos suficientes para alugar um carro ou comprar uma passagem de avião. Essas cenas já ganharam vida na série Black Mirror, mas a lógica por trás desse roteiro é cada vez mais real. Veja, por exemplo, a prática do “cancelamento”. Se uma empresa ou figura pública erram, outros usuários replicam a postagem de quem denunciou até que a empresa
MENOS POLARIZAÇÃO
Com o advento das mídias sociais, havia a expectativa de que os relacionamentos seriam formados de maneira mais horizontal e sem hierarquia. Infelizmente, não foi o que ocorreu. Isso porque essas plataformas não foram pensadas para que seus usuários se sentissem realizados com a própria vida. Via de regra, o engajamento nesses ambientes é motivado por vício, consumismo, distração, indignação, polarização e desinformação. Nos últimos anos, tem vindo ao conhecimento do grande público como os dados pessoais
SOCIABILIDADE MAIS SAUDÁVEL
Um dos grandes problemas desse fenômeno é que os padrões que estão sendo construídos pelas mídias sociais são irreais, inalcançáveis e desnecessários para a maior parte das pessoas. E como isso é feito? Para essas plataformas é muito mais interessante você passar horas deslizando seu dedo pela tela, acompanhando as atualizações do seu feed, do que acampar com os amigos no fim de semana ou jogar bola a tarde toda. O modelo de negócios que sustenta as mídias sociais é o anúncio de produtos e serviços. E a venda de ferramentas focadas no público-alvo que interessam para os anunciantes é construída com base na análise dos seus likes. Contudo, não é preciso ter muitas curtidas para saber se você anda deprimido ou feliz, qual é seu posicionamento político e quais são alguns de seus traços de personalidade. Mesmo que você não esteja em nenhuma mídia social, mas se seus familiares e amigos próximos estão, é possível estabelecer modelos de previsão do
demita o funcionário ou pare de patrocinar alguma iniciativa ou pessoa. Essa ideia inicial de denunciar injustiças, que ganhou visibilidade em 2017 com o movimento #MeToo, em relação aos assédios e abusos sexuais até então silenciados em Hollywood, parecia legítima. Porém, a busca por justiça tem feito com que o “tribunal da internet” geralmente não dê espaço para a defesa. É inegável os benefícios da web, mas também saltam aos olhos os novos/ velhos problemas que ela nos tem acarretado, como as fake news, a perda da privacidade e a pornografia da vingança. Por isso, ganha força a discussão em torno da cidadania digital, um esforço de promover a ética e a segurança na internet, a fim de incentivar o uso responsável das mídias sociais e a construção de uma sociabilidade mais saudável. A ideia seria substituir padrões negativos por princípios que promovam a inclusão e proteção das pessoas.
dos usuários são usados para obter lucro e manipular, contrariando assim a ideia de que a internet promoveria a liberdade e o “empoderamento” de seus usuários. Ganha força a percepção de que a web é uma “tecnologia de controle”, que pode influenciar nossa maneira de agir e pensar, ao restringir o que acessamos ou quem podemos conhecer, com base em nossas “pegadas” digitais. Com isso, os algoritmos de personalização delimitam nossa “bolha”, na qual certos padrões são reforçados. Uma alternativa a isso é fazer exatamente o oposto: conviver com as diferenças e tentar entendê-las, no mundo real e no virtual.
seu padrão de comportamento. Essas plataformas também são feitas para você distorcer a percepção que tem de si mesmo e dos outros. Isso serve para gerar desejo de consumo, pois acabamos acreditando que as demais pessoas são mais bem-sucedidas, ricas, magras e bonitas do que nós. Resultado: os usuários costumam seguir perfis que têm mais seguidores do que o deles, porque querem superar certa sensação de fracasso; tiram as fotos com o mesmo enquadramento e nos mesmos lugares visitados pelos influenciadores mais populares; e desejam fazer mudanças na própria aparência, a fim de ficarem mais parecidos com as celebridades ou para saírem melhor na selfie. Não é sem razão que pesquisas recentes apontam para a relação entre o tempo de navegação nessas plataformas e o desenvolvimento de ansiedade, depressão, sentimento de inferioridade, sensação de exclusão social e solidão. A solução? Preocupe-se com o outro não por inveja, mas por empatia. Inspire-se em alguém ou algo, mas não se compare com nada nem ninguém.
É verdade que a vida real é repetitiva e “chata” na maior parte do tempo, mas é nela que as coisas de fato ocorrem: os relacionamentos olho no olho, a realização do trabalho e estudo, o prazer dos exercícios f ísicos, os aromas, gostos e paisagens das viagens, além do crescimento emocional de lidar com os diferentes. A realidade pode ser entediante, mas liberta. Por isso, que tal repensar seu consumo de mídias sociais? A solução pode ser experimentar um tempo longe delas, sair definitivamente ou mesmo limitar seu uso a meia hora por dia. Sugiro que busque novas perspectivas e converse com pessoas que pensem diferente. Você não precisa da aprovação de 10 mil likes ou se adequar a padrões destrutivos. Sua saúde emocional agradece. Fontes: livros Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, de Jaron Lanier (Intrínseca, 2018); A Grande Mudança, de Nicholas Carr (Landscape, 2008), p. 148-156, 171-177; verbete “Cultura”, Dicionário de Conceitos Históricos, de Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva (Contexto, 2009), p. 85-88; “Tristan Harris, ex-Google: ‘Se você puder sair das redes, saia’”, entrevista para Marcelo Marthe, na revista Veja de 25/9/2020; “O que é essa tal de cidadania digital?”, artigo de Débora Garofalo para a Revista Nova Escola, em 25/9/2018; “O ‘Tribunal da Internet’ e os efeitos da cultura do cancelamento”, artigo de Thays Bertoncini da Silva e Erica Marie Viterito Honda para o UOL, em 30/7/2020; “Rede social e comunicação ubíqua: o que podemos aprender com Black Mirror?”, artigo de Dilton Ribeiro Couto Junior e outros para a revista acadêmica Diálogo Educacional de julho-setembro de 2019; “Saúde emocional e redes sociais: como o limite ao uso pode diminuir a solidão”, artigo de Ana Carolina C. D’Agostini para a revista Nova Escola, em 31/7/2019; “Redes sociais podem afetar o bem-estar e a saúde mental”, artigo de Roseli Andrion para o site Olhar Digital, em 20/9/2019. abr-jun
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Ação Mude seu mundo
Texto Mairon Hothon Imagem © alswart | Adobe Stock
Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões
Cura para a alma Grupo de apoio ajuda dezenas de pessoas a desenvolver fé e autoconhecimento
OS PROBLEMAS COM a saúde emocional têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo, e o assunto ganha espaço tanto em debates presenciais quanto virtuais. Com a pandemia do novo coronavírus, além das mortes pela infecção, o impacto social e econômico da crise tem gerado uma onda secundária de problemas de saúde. Uma pesquisa realizada em maio de 2020 pela Associação Brasileira de Psiquiatria revelou que 89% dos 400 psiquiatras pesquisados disseram que o quadro mental de seus pacientes havia se 28 |
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agravado devido à pandemia. E metade deles disse que o número de novos pacientes havia aumentado 25% desde o início da crise sanitária. “O primeiro passo é aceitar que você necessita de ajuda, porque sem isso o tratamento será inútil. Quanto mais demorado é a busca pelo tratamento, maiores poderão ser os prejuízos psicológicos e os traumas, pois o quadro pode evoluir para doenças emocionais, como crise de ansiedade, pânico e depressão”, explica a psicóloga Deise da Costa Marques, sobre a importância de procurar ajuda profissional cedo.
O que ocorre é que muitas pessoas podem carregar traumas ao longo de anos. Foi assim com Jaqueliny Giovana Silva, que tinha depressão desde a infância, fruto de abusos sexuais e morais. Aos 14 anos, ela engravidou do primeiro filho e decidiu sair de casa para tentar a vida como dançarina de uma banda. Depois se casou, conseguiu outro emprego e até foi batizada na Igreja Adventista. Porém, seu passado ainda a aprisionava. “Quando a gente tem um trauma não curado, aquilo te sufoca, te aprisiona no silêncio e não te deixa ver o brilho da vida
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nem entender o outro; por isso, eu não conseguia me libertar e feria as pessoas próximas a mim. Até que um dia conheci o ministério Corações Restaurados e entendi o que Deus pode fazer por meio da meditação em Sua Palavra, do autoexame de consciência e do perdão”, compartilha Jaqueliny.
“Aprendi que o equilíbrio é resultado do crescimento emocional e que, a cada passo avançado, podemos amar mais e melhor as pessoas. Quem muda nosso coração, mesmo em meio à dor, é o Espírito Santo. Quando experimentei isso, decidi abrir um grupo de apoio que ajudasse pessoas a superar seus traumas”, explica.
O INÍCIO E A MOTIVAÇÃO O ministério Corações Restaurados é um grupo de apoio que tem o objetivo de promover a saúde emocional dos participantes. Dirigido por voluntários adventistas desde 2015, a iniciativa começou de forma simultânea na capital Cuiabá e em Cáceres, no interior mato-grossense, e já atendeu cerca de 100 pessoas. A iniciativa foi de Rebeca Caitano Moreira, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat). Ela conta que o sonho de ter em sua congregação, a Igreja Adventista Central de Cuiabá, grupos de apoio focados no crescimento emocional e espiritual, é fruto da sua experiência de superação pessoal. Casada havia mais de duas décadas, ela entendia que seu relacionamento não era mais saudável. Rebeca se sentia infeliz por ver seu lar desestruturado e sua personalidade fragilizada. Durante muitos anos sofreu calada, o que a destruía por dentro. “Pessoas feridas ferem pessoas; por isso, eu não conseguia ver o mal que também estava fazendo para meus filhos e para mim mesma. Eu era especialista em lutar pelos outros, mas em casa vivia emocionalmente presa. Não via minhas feridas. Foi então que procurei uma psicóloga, apesar do meu preconceito. Mas fiz isso porque meus filhos estavam precisando desesperadamente de ajuda e eu não sabia o que fazer”, relembra. Por meio do acompanhamento profissional e lendo alguma literatura sobre saúde emocional, Rebeca passou a compartilhar o que estava fazendo bem para ela. Teve contato também com o ministério evangélico REVER (Restaurando Vidas e Equipando Restauradores), no qual encontrou materiais, treinamento e metodologia que usa em seu trabalho voluntário.
O CUIDADO E A DINÂMICA Junto com a professora Rebeca, outros sonharam com esse ministério: a psicóloga Deise Marques, citada no começo da matéria, e os voluntários José Ferreira da Silva e Glopércio de Oliveira. O primeiro grupo formado atendeu 25 pessoas. Mas simultaneamente foi iniciado também um grupo com apenas cinco pessoas em Cáceres, a 220 km de Cuiabá, cidade onde Rebeca leciona durante a semana. A dinâmica dos encontros se dá com a leitura do capítulo de um livro, seguida de posterior debate a respeito das percepções de cada um e de compartilhamento das lutas pessoais, em subgrupos menores. E é assim, por meio da escuta, do acolhimento, do aconselhamento e do testemunho, que os voluntários vão se ajudando. A participação no projeto é gratuita e aberta. Porém, quem entra no grupo de apoio deve assumir o compromisso de manter sigilo em relação às histórias dos demais membros e precisa concluir os ciclos, a fim de avançar no processo. O projeto tem duração mínima de dois anos, podendo ser estendido para um terceiro ciclo: de formação de líderes. Na primeira parte do curso, a pessoa aprende muito sobre si e a como lidar com as próprias emoções. Na segunda etapa, o foco está no desenvolvimento de uma jornada com Deus. Na última fase, por sua vez, participam os que desejam se tornar facilitadores para novos integrantes, trabalhando assim para a expansão do ministério. “Ao ajudarmos os outros, continuamos a crescer emocionalmente, e isso é maravilhoso. Aceitamos todo tipo de pessoa que queira receber ajuda, e vemos milagres naqueles que encaram o desafio de crescer com o Senhor”, garante Rebeca. Um dos participantes que experimentou mudanças foi o universitário Gerson
Riquelme, de 27 anos. Ele foi convidado por Rebeca para participar do grupo, num período em que estava se reaproximando da igreja. “Sempre fui tímido; porém, nos momentos de debate e interação do grupo, eu consegui me soltar e fazer amizades. Num primeiro momento, achava que aquilo não era pra mim, mas percebi o quanto precisava de apoio. Aprendi a lidar melhor com o próximo e a ajudar quem precisa”, relembra Gerson, que fez o curso em 2016 e 2017 e agora pretende voltar para auxiliar novas turmas. A CONSCIÊNCIA E OS PASSOS Um dos assuntos iniciais do curso é a tomada de consciência, no qual se estuda, com base na metáfora bíblica do fruto do Espírito Santo (Gl 5:22, 23), a origem das dificuldades espirituais humanas e o caminho para resolvê-las. Inspirado na conhecida metodologia dos 12 passos, adotada por inúmeros grupos de apoio, como os Alcoólicos Anônimos (AA), os participantes procuram desenvolver humildade, fé, esperança, honestidade e perdão. “Hoje eu me sinto mais leve, de bem com a vida, tenho um relacionamento saudável com meus filhos. Consegui perdoar aqueles que me feriram e me permito viver minha feminilidade. Por décadas, vivi com máscaras protetivas, mas nunca é tarde para iniciar a mudança; e ela sempre vale a pena”, avalia Rebeca. Quem também vive uma vida mais leve é a Jaqueliny Silva, também mencionada anteriormente. Hoje ela é a líder do ministério Corações Restaurados em Cáceres, que funcionou ao longo de 2020 no formato on-line. “Consegui perdoar meu pai e meu marido. Sou mais calma e paciente. Agora, consigo me olhar no espelho e me achar bonita. Sinto-me uma mulher de verdade, que não precisa se esconder atrás de nada. Se fui curada com a ajuda desse grupo, quero agora ajudar outros a também encontrar a paz que sinto”, enfatiza Jaqueliny. Para saber mais
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Lição de vida
Texto Alessandra Guimarães Ilustração Alexandre Gabriel
A cantora Rafaela Pinho conta o que a levou à automutilação e como ela venceu o transtorno de ansiedade generalizado “CANTA AQUELA MÚSICA da Rafaela Pinho.” Essa era a resposta da minha mãe quando eu dizia que precisava escolher uma música para cantar no culto da minha igreja. Ela estava se referindo à jovem adventista, na época com 15 anos, que tinha acabado de lançar seu primeiro álbum: Tu És o Meu Viver. Com voz suave, músicas reflexivas e carisma, a cada apresentação, Rafaela conquistava um público que se ampliava. Contudo, ter um ministério musical rodando o país não era a vontade da garota. “Eu queria gravar o CD, mas não queria sair para cantar”, assume. Mesmo assim, aceitou o incentivo dos pais para se apresentar em diversas partes do Brasil. “Eu me apresentava de graça, não cobrava nada, minha família arcava com todos os custos”, revela. Com a carreira, a adolescência da gaúcha, que mora no Rio de Janeiro desde os dois anos de idade, foi ditada por viagens, compromissos e fins de semana em hotéis. “O que mais me marcou dessa época foi a solidão que eu sentia nos quartos em que me hospedava”, relembra. A cantora trocou a rotina normal de uma adolescente para assumir uma postura de figura pública, o que exigiu dela grande responsabilidade. “Lembro-me de aconselhar pessoas de 60 anos, enquanto eu tinha apenas 16. Eu não tinha bagagem para isso”, desabafa, hoje com 32 anos. Jovem demais para gerenciar a voz, a carreira e o público exigente, Rafaela colocou sobre si uma pressão pela perfeição, pois entendia que as pessoas esperavam isso dela. “Minha necessidade patológica de tentar agradar as pessoas me fez adoecer”, confessa. 30 |
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INTERNET, HATERS E ANSIEDADE Rafaela comenta que, após as apresentações presenciais, sempre recebia amor e carinho. Entretanto, no ambiente virtual, o clima era diferente. Quanto mais suas mídias sociais ganhavam seguidores, mais haters – os que odeiam, em tradução literal – manifestavam ódio e falta de empatia. “Foi quando, pela primeira vez, eu comecei a ser xingada, ofendida e humilhada”, conta. Foi nesse período que Rafaela passou a sentir raiva, muita raiva, o que serviu de gatilho para o desenvolvimento de uma doença psíquica. Paralelamente, outra mudança no ministério de Rafaela também impactou sua saúde emocional. Durante uma década, a cantora doou seu tempo, talento e recursos para testemunhar sobre o amor de Deus por meio da música. Porém, em 2014, ao ficar noiva, viu-se na necessidade de contribuir para a renda da futura família, o que pesou em seus ombros. Sobre os discursos de ódio cada vez mais propagados no ambiente digital, Umberto Eco, falecido escritor e filósofo italiano, disse em junho de 2015, num discurso na Universidade de Turim, na Itália, que a internet havia dado voz aos tolos. Essas vozes que se levantaram digitalmente contra o ministério de Rafaela Pinho, somadas à responsabilidade de encarar a música como uma profissão, impactaram fortemente a jovem cantora. Por isso, já em 2014, Rafaela Pinho começou a apresentar comportamentos que causaram estranhesa nos que estavam próximos dela. Irritação, cansaço, palpitação e crises de choro antes de viajar para cumprir a agenda lotada se tornaram frequentes, mas poucos perceberam que a moça estava doente. “Um psiquiatra me disse que meu cansaço era porque eu não gostava de trabalhar”, lamenta. Dois anos se passaram até que a “bomba estourasse” em 2016, quando os sintomas que indicavam níveis elevados de ansiedade, e que não haviam sido tratados, se manifestaram em transtorno de ansiedade generalizado (TAG). Para o diagnóstico de TAG, a pessoa precisa apresentar certos indicadores por, no mínimo, seis meses. Além disso,
o problema geralmente vem atrelado com alguma outra doença psiquiátrica. No caso da cantora, foi um quadro de depressão grave.
O tratamento envolveu algumas trocas de profissionais, uso de medicamentos, terapia, afastamento de situações tóxicas, leitura de livros e uma rede de apoio com familiares e amigos. DuranOS CORTES E O SILÊNCIO te um ano e meio, Rafaela se dedicou A cantora recorda que o estopim para inteiramente à sua recuperação física e a manifestação mais severa da sua doença emocional. “Aceitar o tratamento e ter aconteceu após uma briga com o irmão. convicção da sua recuperação é impres“Nesse dia, eu peguei todas as facas de cindível para ela acontecer”, afirma. casa e comecei a cortar meu braço.” ReFoi somente em julho de 2018 que ela correr a essa situação extrema, de se au- retomou a carreira, gravando seu primeiro tomutilar, virou rotina na vida de Rafaela, DVD: Rafaela Pinho Ao Vivo na Cidade a ponto de um dia seu esposo, o médico das Artes. Duas músicas do álbum, “Eu Juro Leandro Moreno, chegar à sua Que Tentei” e “Resolução”, concasa e encontrá-la sangrando tam sobre os dias difíceis que ela atravessou. E, como Rafaela no chão da cozinha. Como diz canta em uma das faixas, todo o Por causa disso, sua famía letra de mal que a lançou no pranto “dalia tirou do seu apartamento todos os objetos cortantes: fa- uma das rá lugar ao bem que há de vir”. cas, grampos, porta-retratos, músicas de VIDA EM DOBRO etc. Mas Rafaela sempre enseu último controu uma forma de se maNo auge da doença, a canchucar. Os episódios de auto- álbum, tora idealizou a morte como mutilação, comportamento Rafaela uma saída para a dor. Porém, que hoje é considerado um poucos dias depois da gravação acredita que problema de saúde pública, que marcou o recomeço de seu se repetiram por outras tantas todo o mal ministério, uma surpresa aconvezes. Junto com eles, o dese- que a lançou teceu em sua vida. “Quando eu jo de morrer. “Eu acreditava começaria a fazer a turnê do nono pranto que a dor f ísica dos cortes tivo DVD, descobri que estava raria minha dor emocional”, “dará lugar grávida de gêmeos”, se alegra. assume. Rafaela tinha inúmeras compliao bem que Rafaela Pinho até pucações para engravidar, entre há de vir” elas, um problema de endomeblicou em seu Instagram (@rafaela_pinho), na forma triose. Mas o impossível acontede desabafo durante o tratamento, uma ceu. Deus me mostrou que eu era capaz de sequência de vídeos, afirmando que cada ser mãe não apenas de uma criança, mas pessoa que havia postado mensagens de de duas”, enfatiza. ódio e outros xingamentos nas mídias Ela comenta que sua doença está consociais dela tinha sido a ponta da faca trolada e que agora está vivendo uma fase com a qual ela havia se mutilado. “Es- incrível da sua vida, mas entende que é te sangue está em suas mãos”, afirmou fundamental continuar com a terapia e em vídeo. A cantora deu o recado com a medicação. Sobre a carreira, a cantora o objetivo de conscientizar quem age está aguardando o momento certo pacom falta de civilidade e até crueldade ra viajar pelo Brasil divulgando o DVD, no ambiente digital. pois a pandemia veio poucos meses Rafaela pausou sua carreira para tra- depois que seus bebês nasceram. tar o TAG e a depressão. “Não é uma Os braços que hoje carregam o Berdoença de cura rápida”, afirma. E, nesse nardo e a Luísa, de dois anos, ainda posperíodo, a música não cessou apenas na suem muitas marcas; porém, revelam a vida profissional de Rafaela. “Foi uma misericórdia de Deus na vida da cantora. fase em que a casa ficou quieta, eu não “Deus me reergueu, me levantou. Todos os dias eu agradeço a Ele por isso." cantava mais.” abr-jun
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Aprenda
Texto Ágatha Lemos Design Renan Martin
A controlar a ansiedade PODE FALAR a verdade, você é do tipo ansioso? E o que faz para controlar esse problema? Rói as unhas, masca chiclete, balança a perna sem parar ou come desesperadamente? Aliás, se você é brasileiro já tem grande chance de ser ansioso. Em 2017, segundo a OMS, o Brasil era o país com a maior taxa de pessoas que apresentavam transtorno de ansiedade: 9,3% da população.
Mas é importante você saber que até certo ponto a ansiedade é normal. O problema começa quando ela passa a atrapalhar sua vida. Como? Gerando alteração no seu estado emocional e afetando você física, social e até cognitivamente. Se isso já ocorre com você, é muito importante procurar ajuda profissional. Porém, as dicas a seguir podem servir para todos.
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SUE A CAMISA
O exercício é um remédio natural para a saúde física e emocional. Ele pode prevenir, segundo um estudo da Universidade de Buffalo (EUA), até mesmo recaídas de dependentes de cocaína. E, de acordo com uma pesquisa do Departamento de Psiquiatria da USP, a atividade aeróbica ajuda a tratar pessoas com vício em jogos de azar. Isso porque a ansiedade e a depressão têm relação direta com hábitos viciantes.
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RESPIRE FUNDO
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NÃO SE COMPARE
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COMA BEM
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O controle da respiração pode parecer algo simples demais para oferecer algum resultado significativo. Porém, funciona mesmo! Se a ansiedade pode causar falta de ar, respirar controladamente pode ajustar esse descompasso. Existem técnicas para melhorar a respiração, como a quadrada, alongada, alternada, de contração abdominal, de relaxamento e de sete segundos. Vale a pena pesquisar sobre elas (bit.ly/2YgkM2Y) e experimentá-las.
T
Vivemos em sociedade,e a comparação com o outro é inevitável, pois é constantemente incentivada. E isso gera uma baita ansiedade. Mas você não precisa ser escravo disso. Lembre-se de que, ao se comparar, você deixa de valorizar o que tem de melhor, deixa de ajustar o que deve ser corrigido e acaba se excluindo por sentir-se inferior aos demais. Portanto, que tal se desafiar a ser a melhor versão de si mesmo?
Fontes: Relatório da ONU de 2017 “Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates” (bit. ly/3qVBWPB); resultado da pesquisa da Universidade de Buffalo (EUA), divulgado em 13 de agosto de 2018 (bit. ly/3t0dwX0); nota de divulgação da pesquisa “O impacto do exercício físico aeróbico sobre comorbidade psiquiátrica, impulsividade e comportamento de jogo, em portadores de transtorno do jogo: um estudo randomizado e controlado”, disponível no site do Departamento de Psiquiatria da USP (bit.ly/3iSWTIs); e revista Vida e Saúde, novembro de 2020, p. 16.
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A ansiedade faz alguns perderem a fome, mas a maioria parece mesmo é descontar seu nervosismo no levantamento de garfo. O ponto é que perder ou aumentar demais o apetite também gera danos à saúde. Logo, você passa a ter dois problemas. Algo que pode ajudar é fazer do cardápio um aliado. Certos alimentos, como a banana, têm triptofano, aminoácido precursor da serotonina (hormônio do bem-estar). Por outro lado, alimentos com gordura saturada, como carnes gordas e produtos ultraprocessados, podem lançar no seu corpo o hormônio do estresse: o cortisol. Por isso, escolha bem seu prato.
Na cabeceira
Texto Rebbeca Ricarte Design Renan Martin
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A vida é uma só
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Trechos
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“Chega um momento na vida que se faz necessário olhar para si e entrar em contato consigo mesmo. Nem sempre esse encontro é muito agradável: quanto mais se conhece, melhor se enxerga e mais se vê a realidade. Uma realidade às vezes dolorosa, quando descobrimos nossa capacidade para mentir, enganar, errar, falar a verdade, ser honesto, acertar. A realidade que você reconhece, se for aceita, pode ser mudada para melhor ou pior” (p. 31).
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“Em uma relação sadia, reina o gostar e o amar; o querer perto e o querer bem; o sentimento e a razão. Um corrige o outro. Por isso, exige coragem para correr o risco de ser ferido e, mesmo assim, permanecer determinado a continuar na aventura do cultivo da felicidade” (p. 210).
UMA GAROTA DE 15 anos que gasta em média 4 horas por dia no Instagram, posta fotos produzidas com frequência, tem muitos seguidores e recebe várias curtidas, mas frequentemente tem crises de ansiedade e pânico. Um rapaz de 17 anos que se vê na encruzilhada de seguir uma carreira diferente da sonhada pelos pais, mas que teme decepcioná-los. Um jovem casal de namorados que está junto há três anos, mas que não consegue avançar para um noivado ou tampouco tomar a difícil decisão de terminar o relacionamento. O que essas situações têm em comum? Todas dizem respeito à saúde emocional. É fácil identificar quando estamos acima do peso, pois a balança nos mostra isso. Mas, quando se trata de nossa mente, quais são os indícios de que as coisas não estão indo bem? No livro A Vida é Uma Arte (CPB, 2019, 255 p.), o experiente psicólogo Belisário Marques apresenta uma coletânea de textos escritos ao longo de sua carreira, na qual trata sobre como identificar e modificar emoções, crenças e comportamentos típicos das várias estações da existência. Nessa obra, ele nos convida a uma imersão de autoconhecimento, para descobrirmos a beleza de cada fase da vida. A princípio, essas reflexões podem parecer adequadas para quem já viveu muito, mas sábio é quem percebe ainda no começo da jornada o que pode aprender para não apenas ser uma pessoa melhor lá na frente, mas feliz e realizada hoje. Afinal, a vida é uma só, e ela precisa ser bem vivida. E, diferentemente do que qualquer outro tipo de estudo nos proporciona na juventude, o preparo para lidar com as emoções não nos faz conquistar nada novo ou
grandioso, ele apenas nos ensina a compreender melhor a nós mesmos – e esse é um gatilho essencial para despertar uma construção mais saudável da própria vida, dos relacionamentos e das emoções. Nesse compilado de reflexões e abordagens experimentais trazidas pelo doutor em Psicologia pela Universidade de Maryland (EUA), você irá se deparar, por exemplo, com a importância da infância e como as bases lançadas nesse período ecoam por toda a vida; com as questões da intimidade e flexibilidade e com o papel dos valores na formação do indivíduo. Quem escolhe cuidar da saúde mental, toma uma decisão de desconstruir para reconstruir. Isto é, sem dúvida, um passo dif ícil, mas assertivo. E o livro A Vida é uma Arte pode ajudar o leitor a encarar essa jornada de maneira objetiva, sabendo o que irá encontrar pela frente. Uma leitura recomendada para quem decide hoje ser feliz para sempre. abr-jun
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Guia de profissões
Texto Rebbeca Ricarte e Wendel Lima Ilustração © Good Studio | Adobe Stock
PSICOLOGIA A profissão que lida com as emoções, o desenvolvimento e as doenças psíquicas do ser humano
PERFIL DO ALUNO
Muitos alunos se preocupam se serão capazes de desenvolver a habilidade de tratar o sofrimento alheio. O ponto é que isso é possível por meio do entendimento de teorias e o aprendizado de técnicas. Para tanto, é preciso que cada aluno primeiramente aprenda a lidar com seus próprios conflitos e frustrações, para que a partir daí ajude os demais. Por isso, é importante que ele também faça terapia.
MATRIZ CURRICULAR
Ela vai variar conforme a modalidade (bacharelado ou licenciatura) e a instituição. Os cursos geralmente oferecem uma formação generalista, um núcleo comum, e cada faculdade opta por ofertar algumas ênfases. No caso do Unasp, são oferecidas três ênfases: saúde, clínica e educacional.
ÁREAS DE ATUAÇÃO
APESAR DE FILÓSOFOS gregos terem se aventurado a entender a mente humana, foi somente nos séculos 18 e 19 que surgiram condições para o desenvolvimento de uma ciência psicológica. No Brasil, os primeiros cursos específicos foram abertos na década de 1950, e a profissão foi regulamentada em 1962. O dia a dia de um psicólogo é marcado pelo estudo das emoções, do desenvolvimento saudável e das doenças psíquicas do ser humano. Logo, trabalho não falta e tende a aumentar num contexto em que a vida já vinha num ritmo insano, a autoestima e os relacionamentos estavam fragilizados e, agora, estamos encarando os efeitos psíquicos da pandemia.
São várias, como psicologia escolar, social, organizacional, clínica, hospitalar, jurídica, de trânsito e do esporte. Além disso, é possível prestar serviços nas áreas de marketing, educação, pesquisa, docência, recursos humanos e assistência social, seja no setor público ou privado. Sem falar na possibilidade de ter o próprio consultório.
REMUNERAÇÃO
A média nacional é R$ 2.371,00, mas o piso salarial vai variar conforme a função e a região do Brasil. Em São Paulo, o salário inicial é R$ 2.861,00, enquanto em Santa Catarina o valor é de seis salários mínimos (R$ 6.600,00) para uma jornada semanal de 30 horas de trabalho. Desde 2013, quando os planos de saúde decidiram remunerar as consultas psicológicas, a carreira está em alta e com expectativa de aumento de remuneração.
ONDE ESTUDAR Faculdade Adventista da Bahia Cachoeira (BA) Conceito 4 no MEC R$ 1.299,00 (bacharelado) Diurno e noturno, dez semestres adventista.edu.br/ psicologia Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) São Paulo Conceito 3 no MEC R$ 999,00 (bacharelado) Diurno e noturno, dez semestres unasp.br Hortolândia R$ 989,00 (bacharelado) Diurno e noturno, dez semestres unasp.br Engenheiro Coelho R$ 1.065,00 (bacharelado) Diurno e noturno, dez semestres unasp.br Instituto Adventista Paranaense (IAP) Ivatuba (PR) Conceito 4 no MEC R$ 1.140,00 (bacharelado) Diurno e noturno, dez semestres iap.org.br/psicologia
Fontes: Sideli Biazzi, doutora em Psicologia pela PUC-SP e coordenadora do curso de Psicologia do Unasp; Vivian Andrade Araújo, mestre em Psicologia pela PUC-SP e professora do Unasp; e sites guiadacarreira.com.br; catho.com.br e infoescola.com.
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