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PERGUNTAS
Básica
Texto Marcelo Dias
Ilustração Thiago Lobo
A crença no retorno de Cristo à Terra é o centro da mensagem adventista
MISSÃO ADVENTISTA
O surgimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia é entendido por seus adeptos como providencial e profético. Isso significa que eles se sentem vocacionados a pregar a “verdade presente” (Ap 14:6-12) para este tempo, a fim de ajudar os demais cristãos e toda a humanidade a se prepararem para a volta de Jesus. Essa autopercepção dos adventistas se desenvolveu logo nas primeiras décadas do movimento, por meio do estudo da Bíblia e da orientação profética de Ellen White, cofundadora da igreja. Na compreensão de missão do movimento adventista, Jesus ocupa papel central. Além de ser o único Salvador (Jo 14:6), o ministério de Cristo é o modelo de engajamento de Seus discípulos modernos. Guiados pelo Espírito Santo, os adventistas entendem que devem servir a humanidade e pregar o evangelho a todo o mundo (Mc 16:15, 16; Ap 10:11).
E o objetivo maior dessa tarefa missionária é colaborar com Deus na restauração da imagem Dele no ser humano, condição que foi perdida depois da queda moral no Éden (Gn 3:9). Nesse contexto, a guarda do sábado é uma experiência semanal dessa reconciliação entre Criador e criatura e uma antecipação da restauração plena e futura.
Para tanto, os adventistas se esforçam para comunicar sua mensagem de modo culturalmente inteligível, a fim de que o evangelho gere transformação nas pessoas e no contexto em que vivem. Por considerar o ser humano indivisível, sem a clássica separação entre alma e corpo (Gn 2:7), durante mais de 150 anos de organização, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem empregado uma abordagem missionária integral, formada por quatro principais frentes de ação: educação, saúde, publicações/comunicação e o estabelecimento de sedes administrativas.
Confiantes de que a missão é primariamente de Deus (Mt 24:14), e que a salvação e o juízo da humanidade dependem de Sua soberania, os adventistas acreditam na possibilidade real de verem Jesus voltando à Terra em breve. Oportunidade em que poderão dar seu testemunho de fé diante do Universo que aguarda pelo desfecho do conflito milenar entre Deus e Satanás (Fp 2:10, 11).
Fontes: Declarações da Igreja (CPB, 2012) e Nisto Cremos (CPB, 2018).
Curiosa
Texto Julie Grüdtner
COMER PARA VIVER
Se você acha que relacionar alimentação saudável com doenças crônicas é apenas papo furado de mãe e avó, está enganado. Pesquisas têm mostrado que os hábitos alimentares de muitos jovens são bastante nocivos. No ano passado, por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou um estudo com universitários do Centro-Oeste brasileiro. Mais da metade deles informou que consumia álcool regularmente e que não praticava exercícios físicos na quantidade adequada. Além disso, uma boa parcela deles comia carne com excesso de gordura. Detalhe: os entrevistados eram estudantes da área de saúde.
O padrão se repetiu numa universidade pública do Nordeste do Brasil. A dieta dos universitários era marcada por alta ingestão de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal. De acordo com os protocolos do Ministério da Saúde, esses dados são preocupantes e devem levar os jovens a repensar seu estilo de vida. Mas, por quê?
Diabetes, câncer, doenças respiratórias e cardiovasculares são as principais causas de morte ao redor do mundo. Em 2015, 71% dos brasileiros perderam a batalha pela vida contra uma dessas enfermidades. E como elas podem ser evitadas? De acordo com os especialistas, adotando hábitos saudáveis, o que inclui mudanças no cardápio.
O ponto é que se a mera informação resolvesse o problema, muita gente não estaria acima do peso, comendo mal, vivendo de modo sedentário ou flertando com drogas lícitas, como o álcool.
Quando se trata de saúde, temos que reconhecer que nosso corpo é uma máquina complexa e cheia de regrinhas. Por isso, não levar essa questão a sério, é se expor a consequências negativas de curto, médio e longo prazos.
Um dos princípios da boa nutrição pode ser resumido naquele conhecido ditado: “comer para viver e não viver para comer.” É claro que mudar hábitos alimentares não é fácil, mas vale a pena.
Fontes:Dietary Guidelines for the Brazilian Population (2015) , p. 7-9 (bvsms. saude.gov.br); Monteiro LZ e outros, “Weight status, physical activity and eating habits of young adults in Midwest Brazil”, em Public Health Nutrition de outubro de 2019, nº 22, p. 2.609-2.616 (cambridge. org/core/journals/public-health-nutrition); e Silva e outros, “Frequency of healthy eating habits among students of a public university in Northeastern Brazil”, em Revista Brasileira em Promoção da Saúde de abril-junho de 2016, p. 227-234 (periodicos.unifor.br/rbps).
PROSELITISMO
Definido como o esforço contínuo para converter alguém a determinada religião ou doutrina, o proselitismo evangélico voltou a ser objeto de debate após a publicação de uma reportagem de capa da revista IstoÉ, em março. O assunto também é recorrente nos tribunais brasileiros, pois está essencialmente ligado à liberdade religiosa – direito humano básico.
Para alguns, estabelecer limites ao proselitismo fere a liberdade de expressão. Porém, outros entendem que a abordagem evangelística utilizada por muitas igrejas, especialmente neopentecostais, ofende a fé alheia. Longe de haver um consenso, grupos religiosos adotam diferentes posturas em relação à sua expansão. Confira abaixo.
Sim Algumas igrejas cristãs adotam métodos mais coercitivos, com pouca ou nenhuma preocupação em refutar nominalmente outras religiões. É o caso especialmente das denominações neopentecostais. Alguns de seus líderes já ficaram conhecidos por desrespeitarem símbolos católicos em programas televisivos e por publicarem livros em que desqualificam as religiões de matriz africana.
Não Desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja Católica Apostólica Romana tem priorizado ações missionárias de natureza mais ecumênica, que promovam a unidade do cristianismo e a justiça social. Essa postura é bem diferente da adotada pela instituição durante os tempos sombrios de intolerância e perseguição da Idade Média. Por sua vez, a doutrina espírita também não coaduna com a prática do proselitismo. Seus adeptos enfatizam que toda crença é respeitável, quando é vivida de modo sincero e conduz à prática do bem.
Depende Há grupos que aderem a um proselitismo moderado, sustentando que a proclamação de sua mensagem deve evitar qualquer incitação ao preconceito, ao ódio e à discriminação de outros credos. A Igreja Metodista, por exemplo, assume essa postura, ao defender uma evangelização menos coercitiva, voltada mais para projetos educacionais e beneficentes. Outro exemplo é a Igreja Adventista do Sétimo Dia que, apesar de manter uma forte ênfase na pregação bíblica, se opõe a qualquer declaração que ridicularize outras religiões e ao oferecimento de vantagens financeiras e materiais para induzir pessoas vulneráveis à conversão. Para os adventistas, o testemunho cristão é um mandamento (Mt 28:18-20) que deve ser exercido de maneira responsável e com respeito à dignidade humana.
Fontes: revista IstoÉ, edição nº 2.617, de 6 de março de 2020 (istoe.com.br/afronta-ao-estado-laico); site da Igreja Metodista no Brasil (metodista.org.br/posts/projetos-expansao-missionaria); Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo, p. 99 e 100 (https://bit.ly/3axgZSo) e o Documento Critérios de Colaboração Ecumênica e Interreligiosa nas Comunicações Sociais (https://bit.ly/3eGNu4d); livros Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios? (Unipro, 2008), p. 50, de Edir Macedo; Espiritismo: A Magia do Engano (Graça, 2ª edição, 2002), de R. R. Soares; Declarações da Igreja (CPB, 2012), p. 137; O Livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita (FEB, 2013), p. 374, de Allan Kardec; e exemplos de ações coletivas que tratam sobre os limites do proselitismo religioso: ACP nº 2004.61.00.034549-6 e nº 2005.33.00022891-3.
DE SEDENTÁRIO A VOLUNTÁRIO
Sedentário Do latim sedentarius, aquele que passa a maior parte do tempo sentado, inativo. Segundo estudo feito pela OMS em 146 países e publicado em 2019 na revista The Lancet Child & Adolescent Health , quatro em cada cinco adolescentes no mundo são sedentários, a maioria meninas. O quadro é ainda pior no Brasil, onde 84% das pessoas na faixa etária dos 11 aos 17 anos não praticam ao menos uma hora de atividade física por dia. A pesquisa indicou que uma das causas dessa tendência é a revolução
Digital Pode se referir às marcas identitárias que você carrega na ponta dos dedos, isto é, suas impressões digitais; ou ainda as novas tecnologias. O fato é que o mundo digital provocou uma verdadeira revolução na cultura, impactando profundamente nosso
Mindset Termo inglês que se popularizou especialmente no mundo empresarial. Deriva das palavras mind (mente) e set (que pode ser traduzida, entre outras formas, como “configurar”, “ajustar”, “programar”). Em outras palavras, tem que ver com nossa mentalidade e nosso modo de pensar e agir. O que também determina, em grande medida, a disposição ou não de alguém para ser um
Voluntário Nesse quesito, as mulheres saem na frente. Elas representam a maioria dos 7,2 milhões de voluntários que atuam no Brasil e também a maior parte dos candidatos que se inscrevem no Serviço Voluntário Adventista sulamericano (conforme mostra a entrevista da página 5). Para sair do sedentarismo, ir além do engajamento digital e mudar seu mindset, nossa sugestão é que você busque se envolver no voluntariado.
Fontes: Pesquisa “Outras Formas de Trabalho 2018 – IBGE” (https://bit.ly/34ZBzK2); “O que é o sistema binário?” (super. abril.com.br); “84% dos jovens entre 11 e 17 anos no Brasil são sedentários, diz OMS” (correiobraziliense.com.br); dictionary.cambridge.org; e dicionário Houaiss.
... o mundo Imagine Texto Jessica Manfrim Imagem © Happypictures | Adobe Stock
REVISTA BILLBOARD, outubrode 1971. “Imagine”, música tema do álbum Imagine, escrita pelo ex-Beatle John Lennon, alcançava a terceira posição entre as cem músicas mais tocadas nos Estados Unidos e, em novembro do mesmo ano, chegaria ao primeiro lugar no Reino Unido.
A letra de Lennon incentiva as pessoas a imaginar um mundo sem paraíso ou inferno, em que todos vivam o presente; um planeta sem países, sem religião, sem nada pelo que matar ou morrer, com todos vivendo em paz; sem propriedades, sem ganância ou fome. Um mundo unido e fraternal. Lennon propôs a seus ouvintes que, ao imaginar um mundo assim, eles poderiam se unir a sonhadores como ele.
“Imagine” foi considerada um “hino à paz”, pois Lennon a gravou no contexto da Guerra Fria, do movimento hippie e da Guerra do Vietnã (1965-1975). A primeira estrofe da música diz que é fácil tentar imaginar um mundo sem paraíso e inferno, vamos ver se o mesmo se aplicaria a um mundo sem religião. Convido você a pensar nisso comigo.
FRAGMENTAÇÃO SOCIAL Para o historiador Leandro Karnal, professor da Unicamp, as pessoas sempre questionam se a religião é conservadora, reacionária, revolucionária, violenta ou pacifista, assumindo uma variedade de significados individuais e coletivos. Porém, o principal questionamento a se fazer é que função cumpre a religião numa sociedade racional e científica, como a moderna. Nessa direção, o historiador israelense Yuval Harari argumenta que as hierarquias, instituições e ordens sociais são fruto de imaginação coletiva, ou seja, é preciso que as pessoas acreditem na mesma coisa para que existam regimes políticos, como a democracia, e até a ideia de nação. Harari identificou três grandes elementos unificadores da humanidade: dinheiro, impérios e religião. A religião tem essa função agregadora porque oferece a crença numa ordem sobre-humana, que serve de base para o estabelecimento de valores e normas que regulam o comportamento de grupos sociais. Contudo, para a religião exercer esse papel ela precisa ter duas características: assumir um discurso de universalidade e incentivar sua expansão por meio do proselitismo. O cristianismo parece manifestar bem essas marcas (veja o texto da p. 25). SEM CONSENSO Se no passado as pessoas tinham a religião como base de sua ética, princípios e valores, hoje essa associação é cada vez menor. É o que argumenta o professor Luciano Floridi, da Universidade de Oxford (Inglaterra), especialista em filosofia e ética da informação. Para ele, ao mesmo tempo em que a religião tem perdido espaço na sociedade, tem aumentado a necessidade de se discutir a respeito da moralidade em tempos de revolução digital. É só ver, por exemplo, o debate em torno do uso da Inteligência Artificial (IA). Essa nova demanda por refletir acerca da ética ocorre porque a globalização colocou em choque várias percepções a respeito do que é certo ou errado. E como chegar a um consenso? Sem o papel unificador das religiões, Floridi entende que isso se daria por meio de instituições globais que representariam a opinião pública. Logo seria a própria sociedade que determinaria o que é aceitável ou não para um projeto de futuro coletivo da humanidade. No entanto, existem dois desafios bem práticos para esse processo: ter mecanismos que realmente garantam representatividade e fundamentar o consenso em algo tão frágil e instável como a opinião pública.
sem religião
BUSCA POR SENTIDO “Deus está morto.” Essa é a frase mais conhecida do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que questionou a cultura e a religiosidade do seu tempo. O ponto é que, ao nos livrarmos do Deus cristão, nos livraríamos também dos valores estabelecidos por Ele e da moral religiosa. E, a partir daí, surgiria um problema: o que colocar no lugar Dele? Para Nietzsche, a solução seria criar um novo sentido para a vida ou deduzir que a existência não tem propósito algum. Se Deus sai de cena, algo toma Seu lugar: seja o individualismo, a pátria, as instituições, o trabalho, a propriedade, a ciência, a razão e até a própria sociedade.
OUTRO TIPO DE PROSELITISMO Crer em algo e compartilhar o que acreditamos é inerente à humanidade. E não apenas os religiosos fazem isso. É só ler ou ouvir algum militante ateísta titulado por alguma grande universidade. É o caso de Sam Harris, filósofo e neurocientista norte-americano, que decidiu escrever o livro A Morte da Fé (Companhia das Letras, 2009) depois de descobrir que o atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos havia tido motivação religiosa. Na obra, ele acusa as religiões de causarem o sofrimento de milhões de pessoas. Harris também defende que a ciência pode responder a questões morais, propondo uma “ciência da moralidade”, cujo objetivo seria moldar os valores humanos. Militância semelhante assume Richard Dawkins, biólogo britânico e autor de Deus, um Delírio (Companhia das Letras, 2007). O que há de comum nesses discursos que tiram a religião da jogada é que todo conjunto de valores (ética) que promove um modo de vida ou uma prática, acaba sendo proselitista, ou seja, almejando adesão e novos adeptos. O que se pode observar ao longo da história é que a religião e o desenvolvimento das culturas e sociedades caminham juntos. Por isso, a religiosidade é um dos primeiros traços estudados por antropólogos ao tentarem entender como pensa determinado povo. Portanto, imaginar um mundo sem religião parece impossível, ou pelo menos teríamos que dar outro nome para esse elemento que cumpriria a função que ela desempenha na vida humana.
É verdade que o esforço humano, por meio da ciência, também tem procurado meios de transcender a morte, por exemplo, fazendo com que a Inteligência Artificial sirva para prolongar a vida, seja tornando nosso corpo imune às doenças ou transferindo nossa mente para uma máquina. Porém, a religião, no sentido de religare, serve de mediação entre a humanidade e Alguém maior do que nós mesmos. E se pensarmos nessa religião centrada no Deus que Se revela na Bíblia, e que se tornou palpável em Cristo, o sentido da existência humana acaba sendo voltado para o outro. Isso pode promover paz, respeito, amor fraternal, cooperação, ética nas ações, senso de pertencimento e propósito para a vida.
Fontes: Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, de Yuval Noah Harari (L&PM, 2018), p. 37-63; 282-319; “Ética cresce em importância no mundo com menos religião, diz Luciano Floridi”, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 19 de fevereiro de 2020 (folha.uol. com.br); “Em que acreditam os ateus?”, artigo de Juan Arnau Navarro no jornal El País, de 27 de abril de 2019 (brasil.elpais.com); “Nietzsche: ‘Deus está morto’”, artigo da revista Superinteressante,v de 29 de outubro de 2015 (super.abril.com.br); “Não acreditar em Deus é um atalho para a felicidade”, entrevista de Sam Harris para a revista Veja, de 31 de dezembro de 2010 (veja. abril.com.br); “A ética é proselitista, sim…”, artigo do pastor e jornalista Carlos Nunes no Portal Adventista, em 22 de abril de 2014 (noticias.adventistas.org).
Mude seu mundo Texto Silvia Tapia Imagem © MicroOne | Adobe Stock Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões
Sua doação faz diferença
Seja em dinheiro ou com mão de obra, sua solidariedade potencializa o trabalho da ADRA Brasil
“CANSEI DE FICAR trancado em casa enquanto o mundo parece estar se destruindo ao meu redor. Sinto impotência ao ver os números de vítimas daquela doença e saber que há grandes heróis lutando para que sobrevivam, e eu, aqui, sentado no meu sofá. Quero fazer a diferença, ser relevante em momentos como este. Mas apenas posso doar o pouco que tenho e torcer para que tudo dê certo. Parece não ser suficiente”, desabafou um dos seguidores da ADRA Brasil nas mídias sociais, durante uma programação realizada ao vivo no YouTube, com o objetivo de arrecadar fundos para os projetos da ONG.
A maioria das doações recebidas pela agência humanitária adventista durante esse programa solidário veio de contas bancárias de dependentes e não superou, em média, o valor de dez reais por pessoa. Esses dados nos indicam que, naquela oportunidade, boa parte de nossos doadores era composta de jovens que ainda não tinham autonomia
financeira. Provavelmente, esse também seja o perfil dos leitores da Conexão 2.0: jovens financeiramente dependentes dos pais, que gostariam de fazer a diferença no combate à pandemia, mas que se sentem impotentes diante de tantas necessidades e poucos recursos.
EMPATIA COLETIVA
É perceptível que há um mal-estar compartilhado por muitos. Isso ocorre porque nosso mundo é complexo e injusto e nossa realidade é marcada por guerras, fome, economias fragilizadas, desemprego, desigualdade social, insegurança e constantes catástrofes naturais. Tudo isso gera sofrimento humano. Sofrimento que parece ter sido intensificado nos últimos meses, em função da atual pandemia que paralisou e trouxe medo para boa parte do planeta.
Nesse contexto de incerteza e de questionamento de como será o mundo pós-Covid-19, algumas empresas têm incorporado o valor da empatia à sua comunicação estratégica. Um caso emblemático é o da Nike, marca de artigos esportivos que lançou, no início de abril, o vídeo da campanha “You can’t stop us” (“nada pode nos parar”, em tradução livre do inglês). Estrelado por alguns de seus atletas patrocinados e por pessoas comuns, a peça publicitária da campanha #playfortheworld (jogue pelo mundo) incentivou a prática de esportes dentro de casa.
Estrategistas de mercado têm aconselhado a liderança das empresas a pensar em comunicar empatia em vez de mero interesse comercial no momento mais agudo da pandemia. No Brasil, até o fim de julho, 464 mil pessoas, instituições e empresas haviam feito doações generosas para conter a Covid-19. Segundo a Associação Brasileira de Captadores de Recursos, cerca de 6 bilhões de reais foram arrecadados no período (monitordasdoacoes.org.br).
De fato, a pandemia de 2020 tem conseguido juntar esforços de muita gente. A ponto de alguns analistas projetarem que a humanidade vai se tornar mais generosa daqui para frente. Visão que é desacreditada por aqueles que entendem que as epidemais anteriores, algumas mais letais do que a atual, não nos tornaram seres mais empáticos.
GERAÇÃO SOLIDÁRIA
Outros sugerem ainda que a empatia é uma habilidade e virtude desenvolvida com mais facilidade por algumas gerações específicas. Esse seria o caso dos nascidos entre 1995 e 2010, a chamada Geração Z, que seria mais sensível à diversidade humana e preocupada com a inclusão.
Agências especializadas em comportamento e tendências, como a Box 1824 e McKin sey & Company, estudaram jovens de 14 a 22 anos das classes A, B e C de todo o Brasil, e identificaram que eles se consideram mais inclusivos e solidários do que as gerações anteriores. Pelos menos 73% dos entrevistados acreditam que têm a capacidade de escutar e respeitar opiniões diferentes. E muitos deles disseram que se identificam mais com causas do que com marcas.
Esses dados nos ajudam a entender o depoimento daquele jovem com o qual nós abrimos esta matéria. E a boa notícia para ele e outros é que, em vez de se sentir impotente diante da pandemia, doar para agências humanitárias sérias como a ADRA Brasil pode ser o melhor a fazer neste momento. Sejam pequenas ou grandes, as doações apoiam nossos projetos que, por sua vez, atendem as pessoas mais vulneráveis e que estão na linha de frente dessa guerra sanitária.
BRAÇO HUMANITÁRIO
A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) se consolidou como braço humanitário da Igreja Adventista na década de 1980, mas seu trabalho remete a meados dos anos 1950. Hoje, a ADRA atua em 130 países. No Brasil, ela está presente em 15 estados, onde desenvolve 100 projetos que beneficiam 280 mil pessoas em situação de pobreza. Nosso objetivo principal é ajudar a melhorar as condições de vida daqueles que não têm condições de prover a própria subsistência. Para tanto, os projetos que desenvolvemos estão distribuídos em nove áreas (veja o box a seguir). Na prática, nosso trabalho começa com a avaliação das comunidades mais carentes dos estados brasileiros nos quais atuamos, procurando identificar suas principais necessidades. Por exemplo, na comunidade de Felipe Camarão, em Natal (RN), os voluntários e funcionários da ADRA detectaram que existia um
ÁREAS DE ATUAÇÃO DA ADRA
Água, saneamento e higiene
Saúde comunitária
Nutrição e redução da fome
Geração de emprego e renda
Promoção da ação judicial
Garantia de direitos e de igualdade entre os sexos
Valorização da mulher
Atenção a crianças em situação de vulnerabilidade
Resposta a desastres e gestão de emergências
grupo numeroso de adolescentes grávidas. Por falta de educação sexual e de valorização, aquelas meninas corriam dois riscos: engravidar precocemente e contrair uma infecção sexualmente transmissível (IST).
Em resposta a esse problema, a equipe da ADRA Brasil desenvolveu o projeto AMA (Apoio às Mães Adolescentes), oferecendo atenção básica de saúde e oportunidade de estudo às adolescentes gestantes. Em conjunto com essa grande ação, foi realizado um trabalho de educação sexual entre os moradores da comunidade, com atenção especial aos pré-adolescentes. O resultado foi a diminuição de casos de gravidez precoce e o aumento de garotas que passaram a concluir o ensino médio e a participar de cursos profissionalizantes oferecidos pela ADRA.
Outro exemplo de resposta da ADRA Brasil foi a campanha de arrecadação de cestas de alimentos com o slogan “Um like não alimenta, uma doação, sim”. Essa iniciativa foi potencializada com uma live solidária (youtube.com/gravadoraNT) transmitida no dia 2 de maio, em parceria com a gravadora Novo Tempo. Somando esforços à campanha, o programa de música religiosa conseguiu arrecadar um valor equivalente a 8 mil cestas básicas. A doação foi direcionada para as vítimas socialmente mais vulneráveis da Covid-19.
Projetos como os mencionados mostram que a solidariedade ainda existe num mundo que pode se mostrar tão cruel e competitivo como o nosso. E principalmente em períodos de exceção, como o contexto de uma pandemia, o melhor do ser humano (que ainda reflete um resquício de sua semelhança com Deus), pode se manifestar.
Entre as previsões para o mundo póspandemia está a de que as pessoas serão mais solidárias. Enquanto esse “novo tempo” não chega, saiba que suas doações podem fazer diferença. E, quando tudo isso passar, sua mão de obra como voluntário será muito bem-vinda.
Para saber mais Site: adra.org.br | Mídias sociais: @adrabrasil
PAULO, Saiba por que ele é considerado por muitos o maior pensador e divulgador da fé cristã o missionário
NA BÍBLIA, AO LONGO da mais nobre história já lida pelo ser humano, Deus usou gente diversa, vários timbres, para repercutir Sua voz. Talvez querendo mandar uma mensagem à posteridade, jovens e idosos, homens e mulheres, ricos e pobres e pessoas de diferentes etnias e culturas foram as cores utilizadas por Ele para pintar o quadro da verdade imutável.
Porém, nessa prestigiada galeria de heróis, de imortais escritores da Academia Bíblica de Letras, um nome se destaca pelo volume de material produzido: Paulo, autor de pelo menos 13 dos 66 livros que formam o texto sagrado. Não é sem razão que o maior escritor da Bíblia, em termos de quantidade, também seja considerado por muitos o maior intelectual do cristianismo. Deus honra os estudiosos e há espaço para os nerds no reino Dele.
Paulo foi o sabichão ninja dos textos? Foi. Uma enciclopédia ambulante que remixou a antiga teologia hebraica com os mais avançados conceitos filosóficos de seu tempo? Foi. Um apaixonado por crossovers inusitados, que funde num só combo poesia e termos técnicos do juridiquês vigente em sua época? Yep. Mas ele foi além disso: o cara vivia no dia a dia os conceitos que pregava. Teoria e prática. Assim era Paulo. Por isso, ele também é considerado o modelo de missionário ideal, pois fez uma teologia que respondia aos desafios da sua missão e uma missão que era coerente com sua teologia.
Perito na arte de causar, rompeu com a tradição exclusivista da elite farisaica, e abriu as comportas do evangelho, derramando conforto e salvação também sobre os não judeus. Por sinal, o foco do ministério de Paulo foi falar especialmente para aqueles que não eram da sua bolha.
Assim como seus pais, e talvez os pais de seus pais, o então Saulo pertenceu à panelinha religiosa da época que observava mais meticulosamente todas as regras: os fariseus (At 26:3), expressão que em hebraico significa “separados”. Ainda moleque, foi pra Jerusalém a fim de estudar com o mais badalado professor de teologia judaica daquele
tempo: Gamaliel (At 22:3). Ambicioso, fez valer cada segundo em sala de aula (Gl 1:14).
Contaminado pelo meio competitivo e raivoso em que vivia, logo se tornou um hater dos cristãos. Fanático, ainda jovem, Saulo assistiu de camarote ao apedrejamento de Estêvão, o primeiro mártir cristão (At 7:58; 8:1). Mais tarde, amadurecido em seu extremismo, tornou-se um perseguidor ativo da igreja. Em sua campanha contra os cristãos, Saulo conseguiu prender muitos dissidentes do judaísmo. Com a chancela do sumo sacerdote, rapidamente acumulou prestígio junto à cúpula do povo de Israel, tornando-se uma lenda viva da censura religiosa (At 22:4, 5; 26:9-11).
HAVIA UMA LUZ NO MEIO DO CAMINHO
Foi num acidente de percurso, desses que dividem a timeline da vida em “antes” e “depois”, que Saulo acordou para a realidade em que vivia. A rajada de luz que o cegou, enfim, abriu seus olhos. Ele vinha perseguindo o próprio Deus, que fez questão de reclamar pessoalmente (At 9:1-9)! Dali em diante, Saulo foi um homem diferente. Até adotou outro nome (ok, só mudou uma letra, mas isso significava muita coisa no contexto daquela época).
Assim, Paulo começou sua nova vida. Agora, ele queria ser pregador e sabia muito bem que de perseguidor passaria a ser perseguido (Gl 1:13, 22, 23). Se odiando ele já era odiado, imagine amando… E somente para provar que estava convertido mesmo (e como é que se prova uma coisa dessas?), Paulo enfrentou uma verdadeira cruzada.
Com razão, os cristãos contemporâneos dele sentiam um mix de raiva e medo de Paulo (At 9). Se não fosse um tal de Barnabé – um cristão respeitado – interceder por ele e escancarar as portas do cristianismo para sua entrada, certamente o recém-converso teria sido linchado. Assim nasceu uma bela amizade entre os dois, cheia de complexidade e atritos, dessas que não se vê na ficção, e que por isso mesmo amadureceu e rendeu bons frutos e expedições missionárias, cujas histórias até hoje encantam (At 13; 14; 15:36–18:22).
Usando seu arsenal intelectual, Paulo se tornou um dos grandes teólogos do cristianismo, talvez o primeiro e maior deles. Suas 13 cartas, de Romanos a Filemom, o status quo. Sofreu com preconceito, têm ecoado em tratados, sermões, músicas falsas acusações, violência, perseguição e e peças, e figurado entre os textos bíblicensura (2Co 11:23-33). Sentiu na pele as cos preferidos de muita gente. Algumas dores que no passado havia proporcionado dessas cartas foram enviadas a localidades a inocentes. específicas, mas outras foram corresponJamais quis trabalhar sozinho, sempre dências escritas para circular por diversas acompanhado por algum grupo missionácongregações. O conteúdo, convenhamos, rio itinerante. E mesmo recebendo doações, já era naturalmente transcultural e o DNA trabalhou com suas próprias mãos para se paulino o tornou ainda mais inclusivo. sustentar (At 18:3). Foi o maior dos misSolidário, abriu os armários teológicos da sionários urbanos, focando seus esforços elite e dividiu o Pão com os famintos. estrategicamente nos grandes centros, para
Defensor ferrenho da inclusão (Gl 3:28), facilitar o anúncio do evangelho a partir Paulo atraía os gentios (não judeus) para si das comunidades judaicas ali presentes (At mesmo, para que pudesse atraí-los para 13; 14, 16–18). Se tornou um com todos Cristo (Gl 1:16), mais ou menos como o para, de alguma forma, salvar alguns (1Co próprio Jesus faz conosco, atraindo-nos ao 9:19-22). Pai. E aqui fica o lembrete sempre válido: Ele pregou a Palavra até o fim de sua quem deseja experimentar a companhia vida, contente em toda circunstância de Deus deve andar perto de gente que (Fp 4:11-13; 2Tm 4:7, 8). Segundo a traanda com Ele. As pessoas índição, Paulo acabou sendo timas de Deus nos ajudam a decapitado em Roma, na décolocá-Lo como prioridade. Funciona assim. Primeiramente, a gente segue os Outrora exclusivista, cada de 60 do 1º século, deixando para trás um legado do qual bebemos ainda hoje. passos de quem tem intimidade com Deus, até que, aos Paulo tomou Paulo traz em si a figura carismática de um intelectupoucos, acabamos seguindo para si o al que sabe falar com o poos passos do próprio Deus. Inclusive, esse parece ser o desafio de vo e que vive com o povo e pelo povo (1Ts 2:8). Um lifestyle proposto pelo apósuniversalizar descomplicador, embora tolo: sejam meus imitadores, como também eu sou a salvação seu raciocínio nem sempre fosse fácil de acompanhar. de Cristo (1Co 11:1); sejam Seus ensinamentos – todos imitadores de Deus, como eles ancorados na Palavra e filhos amados (Ef 5:1). A ideia aqui é: eu embalados na sua intrepidez e entusiasmo imito Paulo, que imita Cristo, que imita – facilitam o entendimento da salvação em Deus. Mais tarde, eu imito Cristo, que Cristo e de como deve ser a vida cristã. imita Deus. Até chegar o ponto em que Ele é destaque por seu testemunho de eu estarei face a face com Ele (1Co 13:12). completa transformação, sua obediência É tudo uma questão de progressão. ao chamado divino, seu ímpeto missionário incansável (1Co 9:16) e o uso irrestrito O PREÇO DA VOCAÇÃO de seu intelecto para viralizar o evangelho.
O autoproclamado apóstolo, que não Outrora exclusivista, ele tomou para si o fez parte do grupo dos 12 discípulos que desafio de universalizar a salvação e uniseguiu Jesus (1Co 15:9, 10), defendia a leficar a igreja (1Co 1:10). Ousou ser gentil gitimidade do seu chamado com base no com os gentios e comprou inúmeras brigas encontro transformador que teve com o com seu próprio povo (a carta aos Gálatas Cristo ressurreto na estrada de Damasco. inteirinha é prova disso). A convicção gerada por essa experiência Por seguir o exemplo de Cristo, fazendodeu a Paulo um santo atrevimento. se sacrifício em favor de quem era menor
Contudo, isso não impediu que ele tido que ele, 2 mil anos depois de sua morte, vesse que pagar o preço por conduzir o o apóstolo Paulo continua sendo um moensino de modo diferente do que previa delo de fé, ousadia, serviço e resiliência.