pais & filhos
Para não esquecer Máquinas digitais, com filme analógico ou até mesmo iPhones. Tudo é válido para registrar momentos do cotidiano junto com os filhos. Três pais fotógrafos profissionais dão as dicas Por Érica Rodrigues
Retrato em branco e preto
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ara quem ainda tem uma câmara analógica em casa, vale gastar alguns rolos de filme clicando o filho. Pode parecer uma sugestão estranha nos tempos da fotografia di-gital, mas haverá pelo menos um registro físico resistente ao tempo. Eu, particularmente, gosto muito das fotos em preto-e-branco, mas é cada dia mais difícil encontrar filme P&B. E ainda mais difícil e caro é a revelação e ampliação pelo processo manual. As lojas comuns de fotografia, felizmente, têm scanner de negativo, o que permite fazer cópias digitais das fotos feitas com suporte analógico. É simples e não custa mais do que qualquer outra cópia feita a partir de arquivo digital. Possivelmente o estabelecimento vai cobrar uma taxa para escanear as imagens, mas não será nada absurdo para o bolso, pois o processo é todo automatizado. Outra possibilidade é ampliar cópias de filme preto-e-branco no processo tradicional das fotos coloridas feito naquelas máquinas de mini-labs. A qualidade não é tão boa, mas serve para o dia a dia. Cópias artesanais são caríssimas e devem ser feitas somente se você pretende dar um ar de obra de arte à sua foto.”
Não queime o filme!
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Diferentemente da foto digital, que pode ser feita aos montes e sempre tem um “jeitinho” de consertar os erros depois, a foto analógica precisa ser pensada previamente para não queimar literalmente o filme. Para isso, a escolha da sensibilidade da película é importante. Os filmes com ISO 100 são adequados para ambientes abertos e exposição direta à luz do sol. Para obter mais versatilidade em todos os aspectos – movimentos rápidos, ambientes externos de luz baixa e fotografia em ambientes fechados –, o ideal é comprar filmes com ISO 400.
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O flash também melhora bastante as condições de luz. Mas se você quer dar um aspecto mais natural às fotos, evite usá-lo. Além de deixar a foto clara demais, em muitos casos o flash deixa a cena “chapada”, sem profundidade.
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Para não perder o enquadramento, principalmente se estiver fotografando com uma Lomo, marca de máquina analógica amadora que virou febre de uns anos para cá, a dica é usar a famosa “regra dos terços”. Aponte a câmera para a cena e divida-a mentalmente em nove partes iguais, como se fizesse um jogo-da-vel-
ha sobre a imagem que você vê no visor. Coloque o objeto a ser fotografado em um dos quatro pontos onde as linhas se cruzam.
Christian Cravo, pai de sophia, 7 anos
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Para evitar o efeito “borrão” no filme, tente não mexer a câmera durante o disparo. Apóie firmemente os cotovelos no peito e só clique quando a câmera estiver totalmente firme em suas mãos.
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Os melhores retratos, principalmente de crianças, são feitos quando elas não estão posando. Aproveite os momentos de espontaneidade do seu filho e faça fotos
Simoninha, Camilla e os dois filhos jogam boliche no parque do Povo, em São Paulo
A arte, definitivamente, está em seu sangue. Filho do fotógrafo Mario Cravo Neto e neto do escultor Mario Cravo Filho, Christian Cravo é conhecido por suas primorosas imagens em preto-e-branco. Aos 36 anos, já expôs em galerias e museus importantes no Brasil e no exterior. Especialista em retratos de pessoas, seu projeto atual é fotografar animais selvagens em lugares ermos da África, como Namíbia e Botsuana.
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Na ponta do dedo
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Uma das principais inovações da câmera do iPhone4 é o controle manual do foco. Enquanto fotografa, você pode dar um toque na tela e colocar qualquer parte da imagem em foco, como um rosto ou um prédio ao fundo, por exemplo. O foco também ajusta a exposição e o equilíbrio de branco automaticamente. da imagem não é o *forteAdoresolução Iphone. Mas há vários aplica-
E ainda dá para falar ao telefone
tivos que compensam na hora de tirar e incrementar suas fotos. O Pocket Light Meter, por exemplo, funciona como um fotômetro. É só apontar o celular para a cena e examinar, por exemplo, as condições de luminosidade. Quando o objetivo é fotografar criança em movimento ou em ambientes com pouca luz, é só aumentar o número do ISO até o efeito desejado.
“A
idéia de ter uma snapshot no bolso sempre me agradou. Com a chegada do telefone que faz foto, tudo ficou mais fácil para registrar o cotidiano em família. Para melhorar, o mercado vem desenvolvendo cada vez mais aplicativos de lentes e filmes para imagens digitais, muitos deles inspirados nas fotos analógicas dos anos 1970. Dentre esses aplicativos, destaco o Hipstmatic, o Leme Cam, o Pudding Camera e o Camera Plus. Todos eles têm uma variedade praticamente infinita de combinações. Para os aficionados por esses aplicativos, existe ainda o Insta. gram, uma espécie de facebook de imagens no qual os usuários postam fotos, curtem e comentam. O ponto negativo de fazer fotos com Iphone é que as imagens não podem ser impressas com qualidade em grandes formatos. Mas nada que em poucos anos (ou quem sabe meses) alguma mente criativa já não tenha resolvido. E duas dicas importantes para quem quiser se aventurar no universo dos aplicativos para fotos de celular: 1) comece a prestar atenção nos momentos mais singelos dentro de casa; e 2) brinque com seu aparelho sem medo de errar. Todo instante com seu filho pode render uma foto bonita.”
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Na atual onda nostálgica da câmera analógica, há um aplicativo (app, na linguagem técnica) que pode dar a sua foto um ar “antiguinho” em folha. É o Classictoy, que permite fotografar como se fosse uma snapshot. São 12 tipos de efeito numa interface que simula a parte de trás de uma camerazinha analógica.
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Marcelo Naddeo pai de juliano, 3 anos
Simoninha, Camilla e os dois filhos jogam boliche no parque do Povo, em São Paulo
Marcelo Naddeo começou a fotografar nos anos 1990, quando morou em Barcelona. Colaborador de revistas e agências de publicidade, desde que descobriu o iPhone Naddeo faz registros com o aparelho em casa ou então no estúdio, onde tem aproveitado as seções de foto para realizar um projeto pessoal de retratos feitos com o iPhone. Outro projeto seu é o “Deixe Seu Retrato” www. deixeseuretrato.com.br Naddeo monta mini-estúdios em eventos para que as próprias pessoas se fotografem.
Outro app interessante é o Photoforge, um editor de imagens simples e completo. Além das opções tradicionais de cor, brilho, contraste e saturação, há recursos mais avançados. É possível criar várias camadas da imagem, alterar a sua ordem e visibilidade e até pintá-las com o dedo. Um dos mais completos apps para *iPhone é o Qbro. Além das ferramentas básicas de girar e inverter a imagem, é possível escolher vários tipos de efeito, salvar a foto em alta resolução no seu aparelho ou ainda postá-las diretamente nas redes sociais.
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Intimidade digital
“P
ara registrar o dia a dia em família, é fundamental desmistificar a câmera digital. Ela precisa ser um objeto do seu cotidiano. Na minha casa, a câmera fica sempre em cima da mesa, das prateleiras, na pia do banheiro. As câmeras digitais armazenam a imagem em mais de um formato de arquivo. O JPEG, por exemplo, descarta algumas informações na hora de compactar as imagens, o que gera ruídos, principalmente quando mexemos nelas depois. O ideal, neste caso, é já programar sua câmera para o resultado final desejado, usando ajustes de cores e préconfigurações, como modo paisagem, retrato etc. Caso tenha um conhecimento maior de softwares de edição de imagem, sugiro fazer fotos em formato RAW (cru). Ao contrário do JPEG, este formato preserva todas as informações da foto, o que ajuda muito na hora de tratar a imagem no computador. Dirigir o próprio filho num ensaio fotográfico é muito gostoso. Uma dica é sempre fazer uma foto seguida da outra. O segundo clique, feito ao fim da pose, pode sempre trazer o inesperado, o casual. Depois de descarregar a imagem no computador, faça sempre uma cópia e preserve a original. De preferência em lugares diferentes. Organização é muito importante com fotos digitais.”
Megadiversão Uma câmera de 12 megapixels *é mais que suficiente para regis-
Para reproduzir com maior fi*delidade as cores da cena fotogra-
trar cenas caseiras. É possível imprimir com qualidade foto com até 40 x 30 cm.
fada, use o controle balanço do branco. As câmeras compactas oferecem seleções pré-programadas, como automático, ensolarado, nublado etc. Se você quer obter um resultado mais “quente”, por exemplo, como captar o dourado de uma luz mais tênue do começo ou fim do dia, regule a câmera para nublado. Para aprender todas as funções e efeitos, nada como brincar com a câmera.
de megapix*els deA quantidade uma câmera, no entanto, não deve ser o único fator a ser considerado na hora da compra. Avalie itens como quantidade de “ajustes manuais possíveis. E sempre dê preferência para câmeras com zoom óptico (isto é, físico, feito pela lente), e não digital.
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Procure fotografar sempre com o máximo da resolução oferecida pela câmera e salve no computador o arquivo original, sem modificações. No futuro, você pode explorar diferentes na foto.
Existem muitos recursos inter*essantes de pós-produção que podem ser feitos em casa. O mais conhecido editor de foto, o Photoshop, disponibiliza em seu site uma ferramenta gratuita para amadores que permite remover olhos vermelhos, ajustar o nível de saturação, remover falhas e ainda inserir dezenas de objetos divertidos. Basta acessar www.photoshop.com/tools e criar uma conta. O Photoshop Express Online também conta com várias dicas e tutoriais para você conseguir aquele efeito incrível. Simoninha, Camilla e os dois filhos jogam bolicahe no parque do Povo
Rafael Jacinto pai de teodoro, 8 anos Junto com os amigos Pio Figueiroa e João Kehl, Rafael Jacinto, 35, é um dos nomes por trás da Cia de Foto, misto de agência de fotografia e coletivo de arte. Um dos trabalhos mais conhecidos do grupo é o projeto Caixa de Sapato (www.flickr.com/ciadefoto), momentos do cotidiano dos três fotógrafos reunidos num diário coletivo. “É uma invenção de como queremos que nossas vidas sejam mostradas”, diz Rafael. Teodoro, claro, é figurinha constante. 72