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Rede2020 GESTÃO ▪ ESTRATÉGIA ▪ MARKETING GESTÃO • ESTRATÉGIA • MARKETING empreender.blogspot.com

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N O V E M B R O - D E Z E M B R O

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UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA Pedro Neves

GOVERNAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sílvia Fernandes

Auto-Retrato num Grupo Almada Negreiros 1925

PORQUE FALHAM AS POLÍTICAS PÚBLICAS? E AINDA ESCRITA CRIATIVA João de Mancelos DEMOGRAFIA ORGANIZACIONAL Vasco Eiriz A PROBLEMÁTICA DO CHULÉ Pedro Chagas Freitas THE VELVET UNDERGROUND António F. Tavares COMUNICAÇÕES IMÓVEIS Vasco Eiriz

João Leitão


Rede2020 GESTÃO ▪ ESTRATÉGIA ▪ MARKETING e m p r e e n d e r . b l o g s p o t . c o m

Rede2020

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Soldier of the First Division, Kasimir Malevich, 1914

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em

Edição

Vasco Eiriz vasco.eiriz@gmail.com vasco.eiriz.googlepages.com Empreender

www.empreender.blogspot.com Empreender é um projecto editorial associado à Rede2020.

Contribuíram para este número

António F. Tavares Professor

da

Universidade

do

Minho.

Email:

Portuguesa.

Email:

umpianonafloresta@gmail.com

João de Mancelos Docente

da

Universidade

Católica

mancelos@gmail.com

João Leitão Professor da Universidade da Beira Interior. Email: jleitao@ubi.pt

Sílvia Fernandes Professora da Universidade do Algarve. Email: sfernan@ualg.pt

Pedro Chagas Freitas Escritor, linguista, jornalista. Email: criativa.escrita@gmail.com

Pedro Neves Docente

na

Universidade

pedro.neves@ordemdospsicologos.org

do

Algarve.

Email:

Com este número, a Rede2020 encerra o seu terceiro volume e prepara-se para um novo ano, o quarto da sua existência. A abrir, em diferentes artigos, João Leitão e Sílvia Fernandes colocam duas questões pertinentes: Porque falham as políticas públicas? Que governação para um desenvolvimento sustentável? A confiança — em certa medida um ingrediente necessário para o sucesso da governação e das políticas públicas — requer a atenção de Pedro Neves no contexto do comportamento organizacional. As organizações e as indústrias podem ser estudadas numa abordagem demográfica, como o faz um livro revisto algures nestas páginas, enquanto a coluna Sociedade Anónima assinala o não aumento da população organizacional no sector das comunicações móveis em Portugal. João de Mancelos faz o elogio da escrita criativa. Por sua vez, Pedro Chagas Freitas debruça-se sobre a flatulência dos pés, vulgo chulé, em mais um texto non sense saído da sua Fábrica. Finalmente, António F. Tavares, regista uma obra musical marcante das últimas décadas. No próximo ano voltaremos com mais novidades. Até lá. Vasco Eiriz


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EM REDE2020 ENSAIO

13 Uma questão de confiança Pedro Neves

Confiar implica estarmos dispostos a colocarmo-nos numa posição de vulnerabilidade face às acções de outra pessoa, sobre as quais não temos qualquer controlo.

ANÁLISE

4 Porque falham as políticas públicas? João Leitão 5 Que governação para um desenvolvimento sustentável? Sílvia Fernandes ESCRITA

7 Um pórtico para a escrita criativa João de Mancelos LIVROS

9 Demografia organizacional Vasco Eiriz FÁBRICA

10 A problemática do chulé Pedro Chagas Freitas VINIL

12 The Velvet Underground António F. Tavares SOCIEDADE ANÓNIMA

15 Comunicações imóveis Vasco Eiriz REGULARES

6 Comunidades 8 Livros 11 Revistas

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ANÁLISE

Porque falham as políticas públicas? Na União Europeia têm sido implementadas acções de regulação para reforçar os níveis de empreendedorismo e, deste modo, assegurar o crescimento do número de empresas localizadas na Europa, bem como do número de novos empresários. A capacidade nacional para o empreendedorismo é considerada como um factor-chave para a explicação do sucesso das economias nacionais e das performances superiores atingidas por algumas economias. Mais recentemente, os governos nacionais têm também orientado os seus apoios para a criação e desenvolvimento de pequenas e médias empresas (PME), através do lançamento de conjuntos de medidas, as quais incluem bolsas, isenções de impostos e novos programas de educação e formação. Um dos factores mais importantes que está associado a este tipo de apoios é o desenvolvimento tecnológico, o qual tem sido, estrategicamente, prosseguido pelos governos nacionais, através da atracção de investimento directo estrangeiro (IDE), e também por intermédio do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC). O reforço do empreendedorismo através da atracção de fluxos de entrada de IDE é, habitualmente, considerado como um meio privilegiado para a promoção de benefícios substanciais para as restantes unidades empresariais que estão relacionadas com a empresa multinacional. Ao nível económico, o efeito de "spillover" contribui para a intensificação da competição, da inovação e da intensidade de investigação e desenvolvimento. Ao nível social, o referido efeito reforça os "spillovers" de conhecimento, e também contribui para a redução da exclusão social. A utilização de incentivos focada,

exclusivamente, nas empresas multinacionais estrangeiras não é uma via eficiente para aumentar o bem-estar nacional, na medida em que os potenciais benefícios decorrentes do efeito de "spillover" apenas se concretizam, caso os empresários locais estejam motivados para incorporarem tanto as tecnologias estrangeiras, como as competências. No que concerne às TIC, as acções de regulação que estão orientadas para o investimento em redes de comunicação têm surtido impactos substanciais sobre a performance económica e o sucesso das empresas individuais. Apesar de o investimento e os fluxos de serviços de capitais associados às TIC terem sido objecto de um aumento a taxas similares, tanto na Europa, como nos Estados Unidos da América, as contribuições do investimento em TIC para a produtividade do trabalho e a produtividade total, têm sido mais baixas na Europa. É portanto tempo para rever as prioridades das políticas públicas de desenvolvimento, designadamente, as que se pautam, recentemente, pelo desinvestimento no sector da educação, porque sem qualificação não há empreendedorismo, nem tão pouco regulação que se traduza por crescimento. É caso para afirmar que não necessitamos de mais uma tripla falhada num esquema de apostas que está moribundo na base, ou seja, no sistema de educação proposto às gerações presentes e vindouras, as quais devem ser encaradas e tratadas como o verdadeiro motor de desenvolvimento das nações.

João Leitão é Professor Auxiliar da Universidade da Beira Interior. É doutor em Economia e Licenciado em Gestão de Empresas e investigador do Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais.

João Leitão Universidade da Beira Interior

“É tempo para rever as prioridades das políticas públicas de desenvolvimento, designadamente, as que se pautam, recentemente, pelo desinvestimento no sector da educação, porque sem qualificação não há empreendedorismo , nem tão pouco regulação que se traduza por crescimento”


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ANÁLISE

Que governação para um desenvolvimento sustentável? A política de desenvolvimento local não consiste apenas em localizar uma dada actividade económica numa área territorial, mas também actuar no desenvolvimento de sistemas económicos locais. Tais sistemas são conjuntos de actores e respectivas inter-relações no espaço. As políticas de desenvolvimento local devem adoptar uma visão sistémica a fim de estarem direccionadas para os sistemas locais e não para os actores em si. Devem centrar-se nos processos económicos e formular um sistema estratégico de intervenções. O grande desafio é a ‘coordenação’: 1) como coordenar as escolhas e comportamentos da multiplicidade de agentes e 2) como coordenar a multiplicidade de actuações e seus impactos no sistema local. O objectivo é alcançar resultados colectivos eficazes e duradouros. Que dizer dos mecanismos tradicionais (hierarquias e mercados)? São inadequados pelas suas assimetrias e especificidades. Foram ultrapassados pelo carácter policêntrico dos sistemas socioeconómicos modernos. As redes e interdependências entre agentes económicos colocam novos desafios. Então a forma mais adequada de governação é a que responde a tais desafios, pela coordenação da interacção dinâmica dos agentes. Isso envolve formas de cooperação para alcançar alvos. Que dimensões a governação em rede deve cobrir? Vertical, onde todos os níveis estão envolvidos no design e implementação das políticas, qualquer que seja o alcance e dimensão territorial.

Para tal, nas instituições: 1) os objectivos gerais a níveis mais altos devem ser definidos com a participação de níveis mais baixos, 2) objectivos específicos locais devem ser definidos no contexto dos objectivos gerais, 3) indicadores para controlo e avaliação devem ser incluídos, 4) sanções devem ser aplicadas no caso de falha sistemática. A dimensão horizontal envolve todos os actores do sistema local no processo de decisão e implementação. As administrações públicas locais devem promover a coordenação dos diferentes programas do mesmo sistema local. As parcerias socioeconómicas devem estabelecer critérios de selecção dos actores, definir o papel e peso de cada actor e resolver o dilema entre a estrutura institucional standard e a flexível. Que problemas surgem? 1) o número de actores e interesses conflitantes podem paralisar o processo de decisão, 2) as assimetrias de informação podem levar agentes a retirar-se, 3) a falta de controlo pode reduzir a confiança, 4) a distribuição enviesada de benefícios/custos pode minar a cooperação. As soluções passam pela negociação, compensações, visão partilhada, planeamento, melhoria da circulação de informação, redes institucionais, quantificação pública de resultados e convergência de interesses.

Sílvia Fernandes é Professora Auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve onde lecciona Tecnologias de Informação na Empresa e Sistemas de Informação Empresariais.

Sílvia Fernandes Universidade do Algarve

“Sistemas económicos locais são conjuntos de actores e respectivas inter-relações no espaço”


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COMUNIDADES

Associação Portuguesa de Ciência Política

«A Associação Portuguesa de Ciência Política foi fundada em escritura constituinte a 25 de Setembro de 1998. A 9 e 10 de Dezembro de 1999, teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o I Encontro Nacional de Ciência Política. A apresentação do Encontro esteve a cargo do então Presidente da Direcção, Professor Doutor Manuel Braga da Cruz, seguindo-se a conferência inaugural, proferida pelo Presidente da Assembleia Geral, Professor Doutor Adriano Moreira. Em seguida, o então Presidente da Assembleia da República, Dr. António Almeida Santos dirigiu uma saudação ao Encontro. A II Assembleia Geral da APCP realizou-se a 14 de Janeiro de 2002. No dia 24 de Outubro 2002, a APCP conjuntamente com a Assembleia da República, a Editora Principia e o Instituto de Ciências Sociais, organizou uma conferência pelo Prof. Doutor Gianfranco Pasquino (Universidade de Bolonha), intitulada a “A Reforma do Estado Democrático e a Reforma do Parlamento”, que

teve lugar na Sala do Senado da Assembleia da República. O II Encontro Nacional de Ciência Política decorreu nos dias 19 e 20 de Janeiro de 2004 na Fundação Calouste Gulbenkian. A III Assembleia Geral da APCP realizou-se a 20 de Janeiro de 2004. O III Encontro Nacional de Ciência Política decorreu nos dias 30 e 31 de Março de 2006 na Fundação Calouste Gulbenkian. A IV Assembleia Geral da APCP realizou-se a 31 de Março de 2006. Contribuir para a autonomia e o desenvolvimento da Ciência Política em Portugal é o objectivo estatutário da APCP. Para a prossecução deste objectivo, a Associação propõe-se promover a investigação, divulgar resultados e proporcionar contactos entre centros e investigadores, nacionais e estrangeiros.»

Associação Portuguesa de Ciência Política www.apcp.pt

As suas férias em

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almansil.blogspot.com Apartamento localizado no Algarve em aldeamento turístico de referência. Trata-se de T1 espaçoso com 2 casas de banho, 1 “kitchenete”, 1 quarto com vestuário, 1 sala e 2 varandas. O apartamento é servido por uma arrecadação e terraço individual. Está equipado com máquina de lavar roupa, frigorífico, fogão e forno eléctrico, e termoacumulador. O apartamento é ainda servido por piscina colectiva e encontra-se à distância de 15 minutos a pé da praia. Mais detalhes em www.almansil.blogspot.com.


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ESCRITA

Um pórtico para a escrita criativa Há doze anos, de regresso de uma viagem aos EUA, uma colega ofereceu-me o meu primeiro manual de Escrita Criativa. Abri o livro, desconfiado, pensando que se trataria de algum receituário para aprendizes de escritores, desejosos de êxito rápido. Li a obra numa única noite e aprendi, fundamentalmente, duas verdades: primeira, estava errado no meu juízo preconceituoso; segunda, gostaria de ter consultado aquele manual muitos anos antes. No meu percurso de escritor, teria evitado certas falhas e experimentado mais com as palavras. A Escrita Criativa (EC) constitui uma área de saber relativamente nova. Surgiu, em primeiro lugar, nos Estados Unidos e logo a seguir na Europa (Inglaterra, França e Alemanha), nas décadas de vinte e trinta, e estabeleceu-se nos currículos académicos nos anos quarenta. Porém, na realidade, a EC sempre existiu: ao longo da História, os escritores comunicaram entre si e partilharam experiências e opiniões através de cartas ou em tertúlias. Em termos simples, a EC visa o estudo crítico e a transmissão das técnicas utilizadas por escritores e ensaístas de diversas épocas, culturas e correntes, para a elaboração de textos.

mudanças tanto no mundo como na estética. João de Mancelos Enquanto a Literatura como uma área de estuUniversidade Católica Portuguesa do se debruça sobre o texto acabado, a EC analisa e critica o texto em construção. O futuro escritor aprende a descrever pessoas e lugares; a pesquisar sobre o tempo da acção; a criar suspense; a estruturar um enredo; a elaborar diálogos naturais; a escolher e a aplicar da voz do narrador; a experimentar, sem receio. A EC assume visibilidade sobretudo através da sua componente didáctica: as oficinas de escrita, “A Escrita constituídas em cursos de carácter geral ou específico (sobre conto ou guionismo, por exemplo), levados a cabo em escolas, bibliotecas ou livrarias. Criativa visa o Num ambiente de ensino/aprendizagem mútuos, encoraja-se a experimentação, a exigência, e o estudo crítico sentido crítico. Ao mesmo tempo, repudiam-se as receitas e fórmulas, ou o êxito comercial como ea motivação. Quando alguém me diz que não acredita nos transmissão cursos de EC, pergunto-lhe se também não acredita em conservatórios de música, escolas de belasartes ou de cinema. A ideia de que o escritor nasce das técnicas ensinado e que lhe basta apenas ler o que os outros autores fizeram é uma falácia acalentada por utilizadas por alguns aspirantes às letras. Em qualquer arte, o talento não basta: é fundamental aprender. E se escritores e Ernest Hemingway, William Faulkner, Raymond Carver ou Toni Morrison, entre tantos outros, ensaístas de frequentaram oficinas de EC, com proveito para os leitores de todo o mundo, também nós podemos aprender técnicas que nos ajudem a explorar o diversas nosso potencial e a utilizar com mais imaginação as palavras.

épocas,

culturas e Embora a EC se ocupe principalmente do texto literário (conto, novela, romance; poesia; texto dramático; guião), há uma nítida tendência, sobretudo a partir da década de noventa, para se debruçar também sobre as estratégias retóricas usadas em textos não literários (artigo jornalístico; ensaio; discurso político; anúncio publicitário), em que ao desejo de transmitir informação e/ou de convencer se alia a vontade de cativar o interesse do leitor. Metodologicamente, a EC recorre à interdisciplinaridade com diversas áreas, entre as quais relevaria a Teoria da Literatura, a História da Literatura e a Linguística, apelando também a disciplinas que ajudem a posicionar o texto no contexto (História, Sociologia, etc.). Neste sentido, a EC privilegia uma abordagem inclusiva e atenta às

correntes, para a elaboração João de Mancelos nasceu em Coimbra, em 1968. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Aveiro; mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Universidade de Coimbra; doutorado em Literatura NorteAmericana pela Universidade Católica Portuguesa; tem duas especializações em Escrita Criativa e Estudos Fílmicos pela Universidade de Luton, em Inglaterra. Presentemente, encontra-se a elaborar pós-doutoramento na Universidade de Aveiro. Escreveu diversas obras de poesia e de contos, entre os quais se destacam: O Labor das Marés (Estante, 1995), Foi Amanhã (Vega, 1998), Línguas de Fogo (Minerva, 2001), As Fadas Não Usam Batom (1ª ed. A Mar Arte, 1998; 2ª ed. Vega, 2004), O que sentes quando a Chuva cai? (Vega, 2006). Publicou dezenas de recensões e ensaios sobre Literatura e Escrita Criativa, a maioria dos quais estão disponíveis em mancelos.googlepages.com.

de textos”


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LIVROS

The Strategy Pathfinder: Micro-Cases and Concepts Duncan Angwin, Stephen Cummings, Chris Smith Blackwell Publishing, Malden, MA, 2007 ISBN: 9781405126137

to the global nature of today's business, by exposing students to current examples of business strategy in practice across every continent. The original design of the book makes this an essential companion for both the businessschool classroom and the executive briefcase. "The Strategy Pathfinder" brings experienced and potential executives alike an instant guide to the ideas and techniques they need to know.»

Managing Innovation: Integrating Technological, Market and Organizational Change, 3/e Joe Tidd, John Bessant, Keith Pavitt John Wiley & Sons, Chichester, 2005 ISBN: 9780470093269

«"The Strategy Pathfinder" provides today's hard-pressed business students with a new, effective way to learn about business strategy. Built around micro-cases of real-life problems faced by companies and executives, this 'strategy ipod' helps business students to engage with the kinds of situation they will encounter in their working lives while provoking discussions about key theoretical themes. These cases are drawn from Africa, the Americas, Asia, Europe and Oceania. Designed for use as a stand-alone resource, or with any main textbook, the book's fresh approach provides essential pathways through the 'jungles' of strategic management approaches in a clear and concise format. Pathways discussed include: competitive positioning, corporate character, maverick strategies, crossing borders, and more. "The Strategy Pathfinder" meets course needs by: synthesizing the concepts and applications students need to cover in a concise, lively format, the Pathfinder can comfortably be covered in a module or short course; providing extensive references and links for those who wish to explore particular topics in more depth; using micro-cases to introduce students instantly to a range of real-world problems and applications and show them how to set about solving them; making readers active "producers" of strategy, rather than passive recipients of received wisdom: readers are encouraged to form a view themselves, and then test it against the views of others, before offering recommendations about how best to proceed; responding

«This book is designed for MBA and Masters courses in the management of technology and innovation, but is relevant to a much wider audience. The scope of this book is unique as it seeks to provide a framework which integrates the management of technological, market and organizational innovation. The integrating themes are the identification and development of core competencies, the constraints imposed by different technologies and markets, and the structures and processes for organizational learning. It draws on the very latest management research and international best practice in strategy, marketing, organizational behavior and technology management to provide managers with the knowledge to understand and the skills to exploit innovation at all levels »

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LIVROS

Demografia organizacional Sem surpresa, "The Demography of Corporations and Industries" da autoria de Glenn R. Carroll e Michael T. Hannan (Princeton University Press, Princeton, NJ, 2000), trata da demografia de empresas e indústrias. A demografia é, de acordo com o dicionário, a “ciência que estuda a estatística das populações humanas”. Para Carroll e Hannan, as sociedades são basicamente constituídas por “pessoas naturais” e organizações. Constatam que a demografia se iniciou em meados do Século XVII com as pesquisas de John Graunt sobre as taxas de mortalidade em Londres. Com o tempo, a demografia tornou-se uma ciência com contributos relevantes mas, estranhamente, nunca se debruçou de forma contínua e sistemática sobre as populações organizacionais, entidades também relevantes para compreender a dinâmica e estrutura da sociedade. Este é o ponto de partida dos autores. Pretendem, desta forma, aplicar as bases, princípios e modelos da demografia às populações de organizações. E o que são organizações? Para Carroll e Hannan interessa estudar as populações de empresas e sectores de actividade económica. É isto que permite compreender a estrutura e sobretudo a dinâmica dessas populações em termos da sua fundação, crescimento, declínio, transformação e mortalidade. Ora, para que não haja confusões, os autores tratam de distinguir a demografia organizacional da ecologia organizacional. Imagina-se que seja uma clarificação de partida importante, desde logo porque Hannan é co-autor, em conjunto com Freeman, de Organizational Ecology, obra que sedimenta uma importante área de estudo no domínio dos estudos sobre a organização.

A distinção entre demografia e ecologia é feita com base nos diferentes níveis de análise de cada uma delas. Isto é, de acordo com os autores, enquanto a demografia se aplica a populações organizacionais, a ecologia refere-se aos processos de interacção entre populações de um determinado sistema ou, para ser mais rigoroso, de um determinado ecossistema organizacional. Nesta tentativa de distinguir fronteiras disciplinares, Carroll e Hannam não conseguem de todo afirmar campos distintos de pesquisa e construção teórica de forma tão afirmada como a demografia e ecologia nas suas vertentes tradicionais. Mas, evidentemente, isso não retira o manifesto interesse do livro.

Vasco Eiriz Universidade do Minho

“A demografia

tornou-se uma ciência com contributos relevantes mas, estranhamente, nunca se debruçou de forma contínua e sistemática sobre as populações organizacionais, entidades também relevantes para compreender a dinâmica e estrutura da sociedade”

Vasco Eiriz é professor de gestão estratégica e empreendedorismo. Edita a Rede2020.


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FÁBRICA Por Pedro Chagas Freitas

A problemática do chulé Gostava de conhecer o homem que

dos por personalidades como o Eduardo

vida): “quando Dom Afonso Henriques

inventou a palavra chulé. Chamem-me

Prado Coelho, o José Saramago e a pró-

se viu diante da sua mãe, a traidora, mais

louco, chamem-me doente – chamem-

pria Simara nos seus textos – andam pela

não fez que virar costas, e a rainha caiu

me, até, sportinguista. Mas gostava, de

hora da morte acabei por me decidir por

redonda no chão.” Ora, é mais do que

facto, de conversar com a mente brilhan-

um preâmbulo. A vida, como os vigilantes

evidente que a causa da queda da mãe do

te, diria mesmo genial, que inventou uma

leitores com certeza saberão, não está

primeiro rei de Portugal mais não foi do

palavra tão grandiosa e opulenta. Tenho

para grandes aventuras.

que o resultado – adivinharam – de uma

dois bons motivos para o desejar: a) seria

Retomando: depois deste preâmbulo,

feroz flatulência de Dom Afonso Henri-

a maneira de conversar com alguém do

e voltando ao chulé, há uma questão

ques. Daí o seu virar de costas. Não me

meu calibre intelectual; b) pela primeira

fulcral que me inquieta: como é que,

recordo, jamais, de ter ouvido ou lido

vez em muitos anos de vida (desde que

antes de a palavra chulé ter sido inventa-

algo como “depois de o rei se descalçar a

tive um debate aceso com o avô Canti-

da, os portugueses se referiam a tal pro-

rainha caiu redonda no chão”. O que só

gas, há saudosos vinte anos) iria ter a

blemática? Seria “cheiro intenso e nau-

vem provar duas coisas: primeiro, que a

oportunidade de estar com alguém capaz

seabundo a carne estragada proveniente

expressão cair redonda é recente, haven-

de dizer algo de cariz ainda mais aparva-

dos

porventura,

do historiadores que apontam o nasci-

lhado do que as coisas que eu digo.

“flatulência dos pés”? Perguntar-me-ão os

mento de tal conjunto de palavras para a

Obviamente que, como perceberam,

atentos leitores se faz algum sentido pen-

exacta data do nascimento do Jô Soares

estava a brincar. Está-se mesmo a ver

sar que a palavra flatulência é, dentro das

– o que faz, bem vistas as coisas, algum

que era impossível eu ter tido um debate

fronteiras da nossa nobre língua, anterior

sentido; segundo: o chulé é, efectivamen-

aceso com o avô Cantigas há cerca de

à palavra chulé. Para lhes responder,

te, posterior à flatulência.

vinte anos. Toda a gente sabe que, já

deverei, antes de mais nada, perder a

Sei que 80% dos leitores (dois, segun-

nessa altura, o avôzinho estava apagado.

cabeça e fazer uso, agora sim, de um

do as minhas mais recentes estimativas)

Depois deste preâmbulo, que resolvi

ponto prévio: essa pergunta é estúpida.

que me lêem estarão, nesta altura, de pé

escrever, antes de mais, porque desde

Mas não deixa de ter a pertinência que

atrás em relação a esta constatação. Para

criança que sonhava um dia escrever um

todas as perguntas estúpidas tendem a

esses, uma frase: estou-me a flatular para

preâmbulo; e, depois, porque o número

ter. Respondendo, agora sim, à questão,

vocês.

de caracteres que me obrigam a escrever

é evidente que a flatulência é anterior ao

é grande e um preâmbulo é sempre uma

chulé. Para o comprovar de forma inexo-

forma bonita de preencher os espaços

rável, recorrerei à credenciada obra

em branco – embora, e isto é importante

“História do Nosso País”, mais propria-

que se diga, tenha pensado, em primeira

mente à página 56 ou 57 do volume três

instância, recorrer a um ponto prévio.

ou quatro, não me recordo bem (esta

No entanto, depois de constatar que os

minha incerteza é estranha, tanto mais

pontos prévios – sobretudo depois de

que vou citar um livro que inventei agora

muitos milhões os terem visto a ser usa-

mesmo, o que me facilitaria, à partida, a

pés”?

Ou

seria,

Pedro Chagas Freitas acredita reunir características que lhe permitam, um dia, vir a ser chamado de humano. Entretanto, vai exercendo actividades perfeitamente irrelevantes, todas elas relacionadas com a escrita. Há quem diga que estudou Linguística durante quatro anos. Há quem jure a pés juntos que um dia o viu ser jornalista. Há, ainda, boatos que o dão como capaz de exercer funções criativas e redactoriais em agências de publicidade. Até ao momento, contudo, nenhuma das possibilidades foi devidamente comprovada. Fontes próximas dão como certo somente um facto: não gosta de conduzir.


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REVISTAS INTERNATIONAL JOURNAL OF RESEARCH IN MARKETING

The purpose of the International Journal of Research in Marketing (IJRM) is to provide a high-quality medium, through which both developments in marketing theory and thought and results of empirical research can be communicated to those active in marketing research as well as those wishing to be informed about progress in the field. IJRM aims to contribute to the body of knowledge about research in marketing by performing an integrative function, publishing theoretical and empirical articles from all countries and with different disciplinary approaches. IJRM covers the entire area of marketing: profit as well as non-profit marketing, consumer behaviour, product decisions, pricing marketing communication, marketing channels, strategic marketing planning, industrial marketing, international marketing etc. Methodological subject areas to be covered are, for example, the philosophical basis of marketing theory and research, the confrontation of different research traditions, and theoretical reflections on the nature, scope, and boundaries of marketing. Special attention will be paid to topics such as comparative marketing, crosscultural aspects of marketing, the relationship between government and marketing, and marketing and society.

JOURNAL OF MARKETING

For more than six decades, Journal of Marketing, established in 1936, has been the recognized leader in its field. Journal of Marketing is positioned as the premier, broad-based, scholarly journal of the marketing discipline that focuses on substantive issues in marketing and marketing management. Articles in Journal of Marketing are peer reviewed by an experienced and highly respected editorial review board, guaranteeing thoughtprovoking, in-depth articles that cover the marketing arena. The journal is designed to bridge the gap between theory and application. The journal is widely circulated with a diverse readership that includes both practitioners and academics, including leading scholars who work in universities, profit and non-profit organizations, and government institutions. It is read internationally by marketers in education, manufacturing, finance, health care, and other industries. By design, Journal of Marketing publishes articles on a variety of topics contributing to the advancement of the science and/or practice of marketing. As a literature-based scholarly journal, Journal of Marketing is committed to publishing a broad spectrum of conceptual and empirical articles that make a new theoretical and/or substantive contribution to the field. Articles in Journal of Marketing furnish information on marketing needs and trends that: demonstrate new techniques for solutions to marketing problems; review those trends and developments by reporting research; contribute generalizable, validated findings; present new ideas, theories, and illustrations of marketing thought and practice.

JOURNAL OF THE ACADEMY OF MARKETING SCIENCE

The Journal of the Academy of Marketing Science is an international journal for the study and improvement of marketing. Founded and sponsored by the Academy of Marketing Science, the journal serves as a vital link between research and practice. It provides readers with the most accomplished and authoritative scholarship in the field, advancing knowledge of the major substantive issues that affect the practice and theory of marketing. The ongoing mission of JAMS is to publish high-quality, stimulating scholarship that extends the boundaries of the marketing discipline. The journal comprehensively covers such areas as: advertising channels - ethics and social responsibility – macromarketing - legal and public policy issues marketing research - marketing strategy sales management - product planning sales promotion - organizational buying behavior - marketing theory and philosophy of marketing science - buyer-seller relationships - consumer behavior - business-to-business marketing - international marketing - market definition, analysis and market segmentation – pricing nonprofit marketing - research methodology - marketing management - services marketing - retailing and wholesaling.

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VINIL Por António F. Tavares The Velvet Underground The Velvet Underground & Nico Verve/MGM Records,1967

Os anos 60 marcam um dos períodos mais marcantes e experimentais da história da música rock. É nesta altura que aparecem as obras-primas dos Beatles (Sgt. Pepper's e White Album), Rolling Stones (Aftermath e Their Satanic Majesties Request) e Beach Boys (Pet Sounds), que influenciaram milhares de músicos e bandas que surgiram posteriormente. Contudo, quando nos referimos à “produtividade musical” (influência de uma banda por número de discos vendidos), é para os Velvet Underground de Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Maureen Tucker que temos de olhar. A mitologia musical diz-nos que o primeiro disco da banda, The Velvet Underground & Nico, vendeu apenas 1000 exemplares, mas cada pessoa que o comprou formou uma banda. De entre os nomes que reclamam a herança dos Velvet contamse David Bowie, Joy Division, Laurie

Anderson, Talking Heads, Bauhaus e, mais recentemente, Yo La Tengo, Antony & The Johnsons e Interpol, entre muitos outros. A Nova York dos anos 60 era aberta à experimentação. Um grupo alargado de jovens músicos, artistas plásticos, realizadores e diletantes reuniam-se nas instalações da Factory, sob a direcção de Andy Warhol, para testar os limites da produção artística. Deste movimento desordenado e de base experimental nasceram os Velvet Undergound. O seu primeiro disco é revolucionário. Uma sugestão para gozo pleno da experiência auditiva: Ouçam-no do início ao final dos seus 48 minutos e 24 segundos tendo em mente que é contemporâneo de coisas como All you need is love ou San Francisco. Está tão para lá das velhas fórmulas da música popular que é demasiado rico para se apreender todo o seu conteúdo e valor

numa única audição. Nico, vocalista alemã apresentada pomposamente como “chanteuse”, canta o doce I’ll be your mirror, o inebriante All tomorrow’s parties e o conhecidíssimo Femme Fatale. Uma voz profunda, grave, quase intemporal, interpreta os temas mais calmos do disco, mas nem por isso menos imprevisíveis. Lou Reed é o responsável pelos restantes temas cantados. No domínio dos estupefacientes destacam-se I’m waiting for the man, sobre a ansiedade de um drogado à espera do passador, e Heroin, um relato musicalmente hipnótico sobre a utilização da droga. A infame Venus in furs é sobre cabedal e sado-masoquismo e Black angel’s death song sobre ocultismo. A obra termina com o estranhíssimo European Son, uma hino psicadélico com um registo próximo dos 8 minutos. A banda quebra todas as barreiras temáticas (drogas, homossexualidade, travestismo, sado-masoquismo) e faz com os instrumentos coisas que nunca ninguém se tinha atrevido a fazer. A viola-d’arco de John Cale é tocada de forma distorcida, hipnótica e, por vezes, a aproximar-se da cacofonia. A utilização sistemática de drones constitui uma novidade no domínio da música rock. A capa é da autoria de Andy Warhol, que acumula a responsabilidade da produção do disco.

Leia a crítica de "Thunder Perfect Mind" de Current 93 no número de Setembro-Outubro de 2007 da Rede2020

António F. Tavares é Professor Auxiliar do Departamento de Relações Internacionais e Administração Pública da Universidade do Minho. Ocupa os tempos livres com uma extensa colecção de CDs e as suas críticas musicais aparecem no blogue Um Piano na Floresta, acessível através do endereço umpianonafloresta.blogspot.com.


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Uma questão de confiança Cada vez mais as atenções dos gestores e das organizações estão viradas para a compreensão do comportamento organizacional. Desde os famosos trabalhos de Elton Mayo em Hawthorne que se tem colocado em evidência a relevância do factor humano para o desempenho das organizações. As questões relacionadas com as relações interpessoais acabaram por surgir como consequência natural do desenvolvimento sustentado na investigação centrada no comportamento organizacional. Assim, durante a última década, a confiança tornou-se numa das mais discutidas temáticas em comportamento organizacional. Os trabalhos pioneiros de Deutsch (1958) e Blau (1964) contribuíram largamente para o destaque assumido pela confiança nas relações interpessoais, tanto no contexto organizacional como noutros contextos. Mas a que nos referimos quando falamos de confiança? Actualmente existe algum consenso acerca do significado de confiança. Confiar implica estarmos dispostos a colocarmonos numa posição de vulnerabilidade face às acções de outra pessoa, sobre as quais não temos qualquer controlo (Mayer, Davis & Schoorman, 1995). Ou seja, falamos de confiança quando o colaborador espera que a sua chefia aja sem o prejudicar intencionalmente ou quando a chefia espera que o colaborador realize uma tarefa importante que lhe tenha sido pedida, isto sem recorrer a mecanismos de controlo que permitam monitorizar a acção do outro. Uma investigação recente sobre processos de mudança organizacional verificou precisamente que a confiança se tornava particularmente importante

para a promoção da satisfação dos colaboradores em situações em que estes sentiam ter pouco controlo sobre o resultado da mudança (Neves & Caetano, 2006). De facto, inúmeras investigações centradas no impacto da confiança nas organizações têm demonstrado que esta promove não só atitudes positivas tais como a satisfação com o trabalho, a implicação dos colaboradores com a organização, ou os comportamentos de cidadania organizacional, mas acima de tudo resultados organizacionais importantes para o sucesso da organização, tais como o desempenho (tanto individual como colectivo) ou a intenção dos colaboradores permanecerem na organização (para mais informação consultar Dirks & Ferrin, 2002). No entanto, diversas questões continuam ainda por responder. Os gestores estão agora particularmente interessados em saber como se pode fomentar a confiança no seio das suas organizações. Dois aspectos parecem ser centrais para a criação de confiança: as características da pessoa em quem se confia e as características da relação entre ambas as partes. Por um lado, os gestores têm de demonstrar aos seus colaboradores que possuem algumas características particularmente importantes, tais como: a) competência, pois é esperado que os gestores saibam cumprir as suas tarefas; benevolência, ou seja o gestor deve ter uma opinião positiva acerca da outra pessoa e; c) integridade, que indica que ambas as pessoas seguem o mesmo código moral. Destas (Continua na página 14)

Pedro Neves Universidade do Algarve

“Falamos de confiança quando o colaborador espera que a sua chefia aja sem o prejudicar intencionalment e ou quando a chefia espera que o colaborador realize uma tarefa importante que lhe tenha sido pedida”


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(Continuação da página 13)

características, normalmente as atenções dirigem-se acima de tudo para a primeira, a competência, o que é compreensível pois caso contrário as suas funções não são desempenhadas com sucesso. No entanto, as outras são igualmente importantes para a criação de confiança. Por outro lado, os aspectos relacionados com a natureza da relação entre colaboradores e chefias são também fortes motores para a criação e manutenção da confiança. Por exemplo, se os colabores não avaliarem a sua relação com as chefias como sendo apoiante (ou seja, que as chefias valorizam as suas contribuições para a organização e que estão preocupadas com o seu bem-estar), muito dificilmente se conseguirá criar relações de confiança dentro da organização. Um estudo envolvendo funcionários de uma Câmara Municipal verificou precisamente que embora a competência dos supervisores seja importante para a relação de confiança entre os colaboradores e esses mesmos supervisores, o suporte recebido pelos colaboradores é também central para a confiança (Neves & Caetano, 2007). Assim, a tarefa de criar confiança dentro das organizações é bastante complexa, em particular se tivermos em conta que depois de destruída, o tempo necessário para se reconstituir esses laços é extenso (ou, dependendo da gravidade da situação poderá nunca mais se recuperar), causando prejuízo não só às pessoas envolvidas mas também, e esta é a parte que mais preocupa aos gestores, à própria organização. Da mesma forma, outro problema verificado muitas vezes é que as pessoas julgam que simular que se é de confiança, manipulando as impressões que se cria nos outros, permite criar uma relação positiva e de confiança. Naturalmente, o preço a pagar quando as pessoas perce-

bem que foram enganadas é elevado, uma vez mais acabando por prejudicar a própria organização. Em suma, a confiança é importante para as organizações e deve existir uma preocupação por parte dos gestores em fomentar relações interpessoais de qualidade. Não devemos guardar este tema na gaveta e dar-lhe atenção apenas quando a situação já chegou a um ponto demasiado grave, pois nessa altura os custos para tentar reverte-la são já demasiado elevados para a organização.

“A tarefa de criar confiança

Referências

dentro das

Blau, P. (1964). Exchange and power in social life. New York: Wiley. Deutsch, M. (1958). Trust and suspicion. Journal of Conflict Resolution, 2, 265279. Dirks, K.T. & Ferrin, D.L. (2002). Trust in leadership: meta-analytic findings and implications for research and practice. Journal of Applied Psychology, 87, 611– 628. Mayer, R.C., Davis, J.H. & Schoorman, F.D. (1995). And integrative model of organizational trust. The Academy of Management Review, 20, 709-734. Neves, P. & Caetano, A. (2006). Social Exchange Processes in Organizational Change: The Roles of Trust and Control. Journal of Change Management, 6 (4), 351-364. Neves, P. & Caetano, A. (2007). How is Trust Built? Character-Based and Relationship-Based Antecedents of Trust in the Supervisor. (manuscrito não publicado).

organizações é

Pedro Neves é Doutor na especialidade de Comportamento Organizacional pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e licenciado em Psicologia Aplicada pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada. É actualmente Assistente Convidado na Universidade do Algarve (UALG) e investigador na Unidade de Psicologia Social e das Organizações, UPSO-UALG.

bastante complexa, em particular se tivermos em conta que depois de destruída, o tempo necessário para se reconstituir esses laços é extenso”

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SOCIEDADE ANÓNIMA Por Vasco Eiriz

Comunicações imóveis Vale a pena analisar a dinâmica competitiva em curso no mercado de comunicações móveis em Espanha e extrair ilações. Vale a pena porque, salvaguardando a diferença de dimensão entre Portugal e Espanha, havia há aproximadamente um ano, em termos relativos, indicadores muito semelhantes entre os dois países. O que se tem passado entretanto em Espanha poderia ser o pronúncio da evolução da paisagem competitiva nas comunicações móveis em Portugal. Mas, se por um lado, Espanha exibe movimentos empresariais relevantes no mercado em causa, neste lado da fronteira, não só esses movimentos não existem como a quase interminável OPA lançada pela Sonaecom sobre a PT manteve o mercado em indefinição por mais de um ano e adiou outros potenciais movimentos empresariais. Há pouco mais de um ano, a estrutura do mercado espanhol comportava três operadores com as seguintes quotas: Movistar, pertencente à Telefónica (45 por cento de quota de mercado); Vodafone (34 por cento); e Amena (pertencente à Orange, com 21 por cento). Tratava-se, portanto, duma paisagem estruturalmente muito semelhante à portuguesa, tanto em quotas de mercado como na natureza e propriedade dos operadores. Isto é, existia um claro líder, integrado no principal grupo de comunicações do país; o segundo classificado era propriedade do maior operador mundial do sector; e o terceiro operador, ligado à francesa Orange, possuía sérias dificuldades de crescimento. Se até aqui havia semelhanças evidentes, vejamos de que forma o mercado espanhol tem evoluído desde a segunda metade de 2006. Há precisamente um ano, em Outubro de 2006, começou a operar o primeiro operador virtual (um operador diz-se virtual quando recorre ao aluguer da rede de comunicações de um outro operador instalado no mercado). É nada mais,

nada menos, do que o Carrefour, o maior retalhista europeu e segundo no mundo. O Carrefour faz uso da rede da Amena/Orange. O Carrefour está também presente em Portugal, mas no Verão de 2007 chegou a acordo para vender toda a sua operação de retalho ao maior retalhista português. Em Dezembro de 2006 entrou no mercado espanhol a nórdica TeliaSonera com a marca Yoigo. Trata-se de um operador que não é virtual mas sim o quarto operador no mercado "real". Neste sentido, a entrada de um quarto operador "real" representa uma evolução significativa da estrutura do mercado que o faz mover-se para um estádio mais avançado do que o português (movimento este acentuado, aliás, pela entrada de operadores virtuais). Também em Dezembro passado entrou um outro operador móvel, de seu nome Happy Móvil, propriedade do retalhista especializado The Phone House, retalhista de origem britânica também instalado em Portugal. Mas se pensa que o mercado espanhol andava agitado por estas entradas, então fique-se sabendo que também o

El Corte Inglês está a entrar no mercado em causa (com a rede da Telefónica), o mesmo devendo suceder com a Ya.com e Jazztel. Em termos regionais – uma diferença notável em relação a Portugal – também deverão haver movimentos, sendo exemplo disso a entrada da Euskatel (rede Vodafone). Dito isto, é importante notar que em Espanha, à semelhança de Portugal, existem já mais telemóveis do que pessoas. Ou seja, o mercado começa a dar sinais de maturidade, algo que inevitavelmente obriga a conquistar clientes à concorrência. Significa isto que, na prática, as guerras de preço estão aí à porta … do outro lado da fronteira. Em Portugal também há operadores a querer instalar-se com redes virtuais, mas tudo parece demasiado lento. Lentidão essa parcialmente justificada pela demorada OPA da Sonaecom sobre a PT e provavelmente devido a outras características estruturais do mercado. Por isso, ao contrário do que se passa em Espanha, a dinâmica competitiva no mercado das comunicações móveis em Portugal dá sinais de ser demasiado estática, imóvel.


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