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Rede2020 VOLUME 4 NÚMERO 6
NOVEMBRO-DEZEMBRO 2008
José Figueiredo
Grandes empresas e países pequenos
O homem com coração de pássaro João de Mancelos
Empresas fora da rede
António F. Tavares
Tindersticks Ana Paula Faria
Redes de conhecimento e inovação Vanda Lima
Andreia Fernandes Silva
Retirada Vasco Eiriz
Processos organizacionais Natália Barbosa
O poder do local Maria José Madeira Silva
Barreiras à inovação João de Mancelos
O poder da alma Miguel Gonçalves
Formação profissional Comunidades
Danish Research for Industrial Dynamics Revistas
História económica
Rede2020 e m p r e e n d e r . b l o g s p o t . c o m
Rede2020
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Edição
Vasco Eiriz vasco.eiriz@gmail.com vasco.eiriz.googlepages.com
Empreender
www.empreender.blogspot.com Empreender Rede2020.
é
um
blogue
associado
à
Interior of a Room with Balcon, Adolph von Menzel, 1845
Abertura Mais um número da Rede2020, o último de 2008, o vigésimo no seu actual formato. Com conteúdos diversificados. João de Mancelos brinda-nos com duas recensões. António F. Tavares escreve sobre mais uma obra musical marcante. Andreia Fernandes Silva e Maria José Madeira Silva reflectem, em diferentes artigos, sobre alguns resultados de estudos que conduziram separadamente nas suas instituições. Cinco artigos de análise, passando, no caso de Natália Barbosa, pelas questões de localização e, no caso de José Figueiredo, por uma reflexão sobre o potencial dos países pequenos. Miguel Gonçalves e Ana Paula Faria escrevem outros dois artigos com um denominador comum: a aprendizagem e o conhecimento. Vanda Lima dedica-se aos processos organizacionais. Por fim, um artigo sobre retirada, um tipo de estratégia pouco conhecido mas muito praticado.
Vasco Eiriz
EM REDE2020 ESTUDO
9 Empresas fora da rede Andreia Fernandes Silva Em termos de objectivos gerais na realização deste estudo, a prioridade foi a promoção de uma maior consciência da realidade regional.
15 Barreiras à inovação Maria José Madeira Silva Numa investigação efectuada no Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior, constatou-se que as principais barreiras à inovação das empresas portuguesas, devem-se essencialmente a factores de natureza económica.
ANÁLISE
6 O poder do local Natália Barbosa 7 Grandes empresas em países pequenos José Figueiredo 11 Formação profissional Miguel Gonçalves 14 Redes de conhecimento e inovação Ana Paula Faria 16 Processos organizacionais Vanda Lima VINIL
12 Tindersticks António F. Tavares RECENSÃO
4 O homem com coração de pássaro João de Mancelos 13 Quanto pesa a alma? João de Mancelos SOCIEDADE ANÓNIMA
18 Retirada Vasco Eiriz RECURSOS
5 Comunidades 8 Revistas
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RECENSÃO
O homem com coração de pássaro
João de Mancelos Universidade Católica Portuguesa
Há obras onde o pó jamais assentará. A poesia de Eugénio de Andrade (1923-2005) é intemporal, pelas grandes temáticas que aborda: o amor, o trabalho de escrita e, sobretudo, o afecto à terra, seja ela uma paisagem da Beira Baixa ou o próprio planeta. Para a perenidade da sua escrita contribui ainda o estilo musical, resultante de um ouvido atento a compositores como Wolfgang Amadeus Mozart ou Franz Schubert, ao som dos quais tantas vezes escreveu. Fruto dessa prodigiosa combinação entre conteúdo ecuménico e forma melodiosa, é impossível folhear uma antologia de literatura portuguesa que não inclua alguns textos de Eugénio, como “As Palavras”, “Urgentemente” ou “Poema à Mãe”. Talvez não sejam as composições mais conseguidas do autor, mas popularizaram-no junto dos amantes da poesia e cativaram até um leitorado pouco receptivo à lírica. Mais profundos são “Green God”, “As Palavras Interditas”, ou a lapidar sexta parte de “Cristalizações”, que resume uma filosofia de vida de inspiração horaciana: “Estou de passagem: / amo o efémero” (Poesia, 2005: 118). Eugénio é, pois, um poeta da transitoriedade feita permanência, atento aos milagres de cada dia, que se descobrem nos olhos da pessoa amada, na graciosidade de um gato, ou num Verão glorioso. Frequentemente citado na blogosfera, em cartas de amor, em ensaios académicos e, imagine-se, em discursos políticos, a obra eugeniana é evocativa num duplo sentido. Por um lado, suscita na mente do leitor múltiplas associações com experiências pessoais; por outro, nos seus versos rumorejam as vozes de escritores maiores, que Eugénio leu atentamente e homenageou. A lista é extensa e ainda assim incompleta: os poetas da antiguidade clássica, os trovadores galaico-portugueses, São João da Cruz, os românticos ingleses, Reiner Maria Rilke, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, ou o bardo Walt Whitman, que tanto influenciou Eugénio na escrita como na vida. O volume Poesia (2005) recolhe, numa edição extensa e graficamente cuidada, os versos e Rede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
poemas em prosa do autor, de 1945 a 2001. Inclui ainda um posfácio acessível de Arnaldo Saraiva, uma secção de notas introdutórias e um retrato do poeta, pelo pintor Jorge Pinheiro. Trata-se de uma segunda edição do livro publicado pela primeira vez cinco anos antes, que agora se enriquece com os textos de Os Sulcos da Sede (2001), o derradeiro livro, já a acusar o cansaço da mão do poeta. Poesia não inclui, naturalmente, o conto infantil História da Égua Branca (recenseado no número de Julho-Agosto de 2008), e três volumes em prosa: Os Afluentes do Silêncio (1968), Rosto Precário (1979), e À Sombra da Memória (1993). Quanto a mim, também eles merecem uma antologia própria, por conterem apontamentos biográficos, entrevistas e meditações metapoéticas, onde se enaltece menos a inspiração epífana e mais o trabalho composicional aturado, em busca do rigor da palavra. Em À Sombra da Memória (1993: 44), Eugénio compara o labor do poeta ao do artesão, que “com trabalho e paciência, furta as palavras à usura do tempo e lhes instaura uma nova ordem, lhes comunica uma energia capaz de as fazer resistir ao confronto com o mundo”. Tanto para quem desejar descobrir a obra de Eugénio, como para os seguidores, Poesia é um livro imprescindível. Como afirmou o poeta na dedicatória ao posfaciador: “Você tem nas mãos a minha vida toda” (Poesia, 2005: 617). Faz sentido, pois Eugénio transformou as experiências do amor pela terra, e a sexualidade despida de pecado, em poesia. São textos na sua maioria breves, ora eufóricos, ora melancólicos, e quase sempre avessos à morte. Porque certos poetas não morrem — simplesmente migram, como as aves ou o pólen das palavras.
“Há obras onde o pó jamais assentará”
Andrade, Eugénio de. Poesia. 2.ª ed. revista e acrescentada. Posfácio de Arnaldo Saraiva. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005
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COMUNIDADES
Danish Research Unit for Industrial Dynamics «The mission of DRUID is to establish itself as a leading European centre for research and doctoral education in industrial dynamics, based on theories of innovation, economic organization, competitive advantage, organizational competencies, economic evolution and growth. The objective is to contribute to a better understanding of the dynamics of technical, structural and institutional change at the level of the single firm as well as at the inter-firm level and the level of the economy as a whole. Special attention is given to fundamental trends such as the growing importance of knowledge for competitiveness, the information technology revolution, and the internationalization of the economy . DRUID was established in 1995, based on a generous funding from the Danish Social Science Research Council (SSF) and the Danish Ministry of Industry. During first phase of operation (DRUID I: 1996-2001) the essential infrastructure and cocoordinated research program was put in place, based on research groups from Copenhagen Business School (CBS) and Aalborg University (AAU). Individual researchers from the University of Southern Denmark (SDU) and Aarhus School of Business (ASB) also joined. Gradually DRUID evolved into a "hub" of a large international network in industrial dynamics supported by two annual conferences and an internationally well-recognized electronic working paper series. The DRUID Winter Conference was designed to provide an opportunity for DRUID PhD students, as well as for PhD students from the international network, to present their work to peers, DRUID senior faculty and invited international merited scholars, who are invited to present their work in plenary sessions. The DRUID Summer conference became devoted to a specific theme of interest to DRUID. One example of such a conference was the 2001 DRUID Nelson & Winter Conference. This basic structure was consolidated, the doctoral training program developed and the international network extended during DRUID II (2002-2004). A targeted program was put in place to attract internationally recognized female scholars to help provide role models for the increasing number of female PhD scholars now entering the previously almost exclusively male research field of industrial dynamics. DRUID became part of the board and faculty of ESSID: The European Summer School of Industrial Dynamics on Corse (France), and started to be invited to send faculty and doctoral students in their final years to present their work at CCC: The US Consortium for Cooperation and Competition, which include Berkeley, Carnegie-Mellon, Columbia, Harvard, MIT, Michigan, NYU, Stanford, Northwester, Wharton, Duke, among others. More efforts were also placed in encouraging and supporting junior faculty in the DRUID network when attempting to publish internationally. The activities were financially assisted by donations from the current Danish Ministry of Economic and Business Affairs, the Danish Social Science Research Council (SSF) and by the Danish Research Training Council (FUR) but it became increasingly clear that the continued expansion of DRUID's activities and the ongoing increase in their quality and depth would be severely curtailed if continuously relying on such ad-hoc funding. Consequentially, negotiations were initiated and successfully completed with AAU and CBS Rede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
who agreed to co-finance DRUID's infrastructure as a crossuniversity and cross-departmental research unit. DRUID III (2005-2007) was thus well equipped to celebrate its 10th anniversary in June 2005 with its largest and most ambitious conference so far. DRUID's international exposure and research visibility increased by the subsequent publication of several special issues of high-end journals and books from recognized scientific publishers. The introduction of a double blind review process for all unsolicited conference submissions - based on DRUID's corps of more than 75 dedicated external reviewers - helped further maintain and further improve the overall quality of the sessions. The annual DRUID prizes and plaudits for best papers were well accepted and the effort of the DRUID advisory board during the selection process has helped augment their status in the community. The Danish Ministry of Research assisted financially by annual donations to DRUID's basic activities. The founding editor of the journal Industry and innovation, suggested that DRUID took over the editorship and the hand-over was completed and a new DRUID editor appointed with Routledge as publisher. DRUID was from the very beginning part of establishing the European network on the Dynamics of Institutions and Markets in Europe (DIME), which was recognized and sponsored by the European Union's 6th Framework Program for research as a network of excellence. DIME now consist of more than 150 scholars from over 50 universities throughout Europe, working on the economic and social consequences of increasing globalization and the rise of the knowledge economy. Beyond being part of the research program, DRUIDs are serving on the executive committee and chairing the Governing Board of DIME. During DRUID IV (2008-2010) a number of new initiatives are planned to support and enhance the research program, including biannual highly targeted workshops co-organized by DRUID and Stanford University (SCANCOR) - the first to be held during the spring of 2008 at Stanford and the second during the autumn at VIU - Venice International University. DRUID has offered to host the CCC annual colloquium in 2009 and a prominent member of DRUID is the local organizer of the upcoming International Joseph Alois Schumpeter Society's meeting to be held back-toback with the DRUID Summer Conference 2010. Much effort is presently put into the planning and organization of DRUID's 25th Celebration Conference to be held at Copenhagen Business School June 17-20, 2008. Internally, the research program is strengthened, as the research group on Strategic Organization Design from SDU will become part of DRUID IV.»
Danish Research Unit for Industrial Dynamics www.druid.dk
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ANÁLISE
O poder do local
Natália Barbosa Universidade do Minho
A escolha do local onde instalar uma nova unidade produtiva ou desenvolver uma actividade económica é sempre uma importante decisão. Do ponto de vista de uma empresa, a localização geográfica pode revelar-se um factor determinante no retorno dos investimentos efectuados. A proximidade geográfica dos principais concorrentes pode proporcionar benefícios económicos, nomeadamente a redução dos custos de produção decorrente da existência de infra-estruturas, qualificações e competências específicas à actividade económica desenvolvida. Desta forma, a resposta à questão onde produzir é cada vez mais condicionada por factores do lado da oferta, perdendo relevância a localização geográfica dos potenciais clientes. Neste contexto, é compreensível a escolha da IKEA em localizar uma nova unidade produtiva em Paços de Ferreira. O entusiasmo dos autarcas com a escolha dos seus concelhos para a instalação de novas unidade produtivas também é compreensível e legítimo mas deverá ser moderado. Na verdade, o aumento directo ou indirecto do número de empregos na região é apenas parte da história. É o impacto imediato e mediático de uma história que pode ter vários episódios. Todos, de uma forma geral, se preocupam em quantificar qual o número adicional de empregos. Esquecem-se que nem tudo são rosas e que mesmo as rosas têm espinhos. Des-
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ta forma, será prudente equacionar o que acontecerá após o aumento inicial do número de empregos na região. Na verdade, o passar do tempo pode revelar-nos trajectórias no número de empregos numa região bem diferentes. Se a nova empresa/unidade produtiva for capaz de induzir o aparecimento de novas empresas e novas actividades é possível registar uma trajectória ascendente no número de empregos. Mas isso requer que existam na região recursos e competências capazes de aproveitar as oportunidades de negócio geradas pela nova empresa. Mais, requer que as empresas existentes sejam suficientemente eficientes e competitivas para poderem lidar com a concorrência acrescida trazida pela nova empresa. Note-se, contudo, que a concorrência acrescida não se revela necessariamente nos mercados de produtos finais, mas no mercado dos factores produtivos como seja o de trabalhadores qualificados. Se ano após ano os melhores e mais qualificados trabalhadores se concentrarem num número reduzidos de empresas é bem provável que as outras empresas tenham que encarar de frente a possibilidade de saírem do mercado ou da região. Neste caso, a diminuição ou estagnação do número de empregos na região é um cenário mais do que previsível.
“A localização geográfica pode revelar-se um factor determinante no retorno dos investimentos”
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ANÁLISE
Grandes empresas em países pequenos
José Figueiredo Universidade Fernando Pessoa
O professor Ernest Friedrich Schumacher editou em 1973 um livro intitulado Small is beautiful. Livro que veio a influenciar muito o pensamento económico desde então. Não queremos analisar o livro de Schumacher, mas antes tentar avaliar a ideia subjacente ao facto de que nem sempre o que é grande poderá servir de exemplo. A Finlândia, a Irlanda, a Suíça, a Noruega, Singapura, o Qatar ou a Nova Zelândia são países de pequena dimensão geográfica e com populações exíguas. Portugal também. Mas, será Portugal um exemplo? Pelo menos um bom exemplo não será com toda a certeza, ao contrário dos outros países citados. Escrito isto, porque será que nós portugueses achamos sempre que estamos mal por sermos um país pequeno ou com uma população diminuta? A Espanha está bem melhor porque tem quatro vezes a nossa população, é o pensamento comum em Portugal. Peguemos no caso da Noruega, que é um país muito frio, com uma parte significativa do seu território inóspito e com uma população inferior a cinco milhões de habitantes. A Noruega é um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo e tem por isso uma das maiores riquezas do mundo per capita. Mas, a Noruega não produz só petróleo. Vejamos Rede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
alguns exemplos de empresas norueguesas bem sucedidas: 1) a Norsk Hydro é uma das maiores empresas do mundo a actuar no sector dos alumínios; 2) a Royal Caribbean é uma das maiores empresas de cruzeiros do mundo; 3) a Aker Solutions é uma das mais relevantes empresas do mundo no domínio dos serviços de engenharia. Se começarmos a pensar em algumas "global companies", verificamos que muitas delas são originárias de pequenos países, tais como: a Nestlé e a ABB, que são Suíças; o ING Bank e a Aegon Insurance, que são Holandesas; a Ericsson e a Scania são Suecas; a Red Bull é Austríaca; e a Nokia é Finlandesa. Portugal tem a maior parte do seu território habitável e tem simultaneamente uma das maiores áreas marítimas do mundo face ao seu território. Portugal não tem divisões étnicas, religiosas ou políticas que causem evidentes fricções. Portugal tem um regime democrático consensual. O que falta a Portugal, então? A dimensão geográfica e populacional não é um ponto fraco. A localização geopolítica não é um ponto fraco (está entre os dois maiores blocos económicos do mundo). Será que Portugal quer ser a excepção à regra de que Small is beautiful?
“Porque será que nós portugueses achamos sempre que estamos mal por sermos um país pequeno ou com uma população diminuta?”
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REVISTAS ENTERPRISE AND SOCIETY
ECONOMIC HISTORY REVIEW
BUSINESS HISTORY REVIEW
Enterprise & Society seeks original, imaginative research on the historical relations between businesses and their larger political, cultural, institutional, social, and economic contexts. A truly international publication, Enterprise & Society welcomes articles focused on individual firms and industries grounded in a broad historical framework, as well as innovative applications of economic or management theories to business and its context. Quantitative works couched in terms accessible to non-cliometricians are also suitable. Enterprise & Society encourages submission of studies of business that arise from collateral social scientific and humanities disciplines (for example, historical sociology, anthropology, political economy, geography, and cultural studies) and which present fresh, interesting, and rigorous research from a variety of national and comparative perspectives. Established in 2000, Enterprise & Society: The International Journal of Business History is published through Oxford University Press and is the official publication of the Business History Conference. Enterprise & Society appears quarterly; all issues are fully refereed, with the fourth issue containing the address of the Business History Conference President and summaries of selected dissertations in the field.
The Economic History Review is published quarterly and each volume contains over 800 pages. It is an invaluable source of information and is available free to members of the Economic History Society. Publishing reviews of books, periodicals and information technology, The Review will keep anyone interested in economic and social history abreast of current developments in the subject. It aims at broad coverage of themes of economic and social change, including the intellectual, political and cultural implications of these changes.
Business History is an international journal concerned with the long-run evolution and contemporary operation of business systems and enterprises. Its primary purpose is to make available the findings of advanced research, empirical and conceptual, into matters of global significance, such as corporate organization and growth, multinational enterprise, business efficiency, entrepreneurship, technological change, finance, marketing, human resource management, professionalization and business culture. The journal has won a reputation for academic excellence and has a wide readership amongst management specialists, economists and other social scientists and economic, social, labour and business historians. All research articles in this journal are rigorously peer reviewed, based on initial editor screening and anonymized reviewing by at least two referees.
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ESTUDO
Empresas fora da rede Andreia Fernandes Silva Instituto Superior de Entre Douro e Vouga
Será o correio electrónico uma forma privilegiada de comunicação entre as instituições e os diferentes públicos? Esta foi a pergunta base que inspirou a realização de um estudo no âmbito da disciplina de Relações Públicas, por alunos do Instituto Superior de Entre Douro e Vouga, em 2007. Sem muitos rodeios ou margem para dúvidas, a maior regularidade encontrada foi o não aproveitamento do correio electrónico como meio de comunicação nas empresas e instituições da região de entre Douro e Vouga (municípios de Arouca, Vale de Cambra, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira e S. João da Madeira). Poder-se-á perguntar se, na origem desta lacuna, estará a falta de conhecimento das potencialidades do factor comunicação como elemento de distinção num mercado global. Ou será que não existem na região profissionais capazes de colmatar essa lacuna? Será que a omnipresença dos meios tecnológicos na sociedade ainda não se incorporou de facto nas instituições? O estudo teve como enquadramento o recurso a instituições que estivessem presentes "on-line" (com endereço de correio electrónico), procurando aferir a importância que as instituições inquiridas atribuíam às novas tecnologias da comunicação. O
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elevado número de situações de erro ou de devoluções indicam que um estudo do género deverá incluir outros meios de contacto e métodos. Numa altura em que a região parece apostar nas novas tecnologias, após o surgimento de projectos digitais, uma análise apressada apontaria para resultados bem diferentes dos apurados. Não só porque o recurso às novas tecnologias possibilita a redução dos custos de comunicação, mas também porque permite a acessibilidade 24 horas por dia, uma maior e melhor divulgação de produtos para além da cada vez mais explorada possibilidade de venda através da rede. A recepção de sugestões e reclamações via Internet permitem ainda evitar o confronto directo e presencial entre as pessoas ao mesmo tempo que se vai de encontro a novas práticas e modos de vida da sociedade contemporânea. Em termos de objectivos gerais na realização deste estudo, a prioridade foi a promoção de uma maior consciência da realidade regional, um intercâmbio nem sempre fácil de estabelecer mas que se revela profícuo na medida em os discentes são obrigados a “sair” do casulo académico e a enfrentar algumas realidades bem diferentes do que lhes é leccionado.
“Será
o correio
electrónico uma forma privilegiada de comunicação entre as instituições e os diferentes públicos?”
(Continua na página 10)
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ESTUDO
(Continuação da página 9)
A existência de um tecido empresarial em municípios como Santa Maria da Feira, S. João da Madeira ou Oliveira de Azeméis contrasta com a realidade mais afastada do litoral e com menos densidade populacional e empresarial de Vale de Cambra e de Arouca. Desta forma, assistimos a dificuldades acentuadas junto dos municípios localizados no interior, nomeadamente, a escassez de instituições com presença "on-line". Todavia a discrepância está longe de ser tão díspar, como até era esperado na fase exploratória em que se obtiveram longas listas de instituições nos municípios mais centrais. Na verdade, apesar de existirem mais empresas com presença na Internet nos três primeiros concelhos acima referidos, as dificuldades de obtenção de respostas foram idênticas em todos os concelhos estudados, sendo recorrentes: a não resposta ou a falha na entrega das mensagens. Apesar das limitações do estudo, seguem-se as principais ilações retiradas dos inquéritos respondidos. A comunicação é assegurada por profissionais de diversas proveniências e formações, sendo que o recurso a pessoas com formação em Marketing,
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Publicidade ou Relações Públicas é muito residual. Não há uma prática generalizada e sistemática de encaminhamento e resposta de correio electrónico para outros departamentos. Por outro lado, nas instituições estudadas há alguma preocupação com a circulação da informação internamente através de instrumentos como cartas, comunicados, circulares ou placares. No que diz respeito à comunicação com os meios de comunicação social o contacto ainda está numa fase embrionária: comunica-se quando é oportuno ou quando se é solicitado por parte dos órgãos de comunicação social, nomeadamente através do contacto comercial, isto é, pela publicidade, não se verificando o contacto continuado – excepção no caso de instituições autárquicas e/ou culturais. Em termos de ferramentas de trabalho usadas no contacto com este público verifica-se a pouca diversidade: convite, comunicado, boletim informativo ou visita às instalações, esquecendo-se outras formas mais dinâmicas de promover a notoriedade da instituição, a começar pela manutenção da página "on-line".
“O recurso às novas tecnologias possibilita a redução dos custos de comunicação, mas também permite a acessibilidade 24 horas por dia, uma maior e melhor divulgação de produtos para além da cada vez mais explorada possibilidade de venda através da rede”
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ANÁLISE
Formação profissional Miguel Gonçalves Instituto do Emprego e Formação Profissional
Entre outros, a formação profissional assume-se, cada vez mais, como um vector relevante na aquisição e transferência de conhecimento. A formação destina-se em captar um conjunto de orientações, regras, indicações e aprendizagens, quer numa vertente social, quer na componente técnica. A formação profissional além de ser um vector de criação de conhecimento, prima pelo facto de ser, entre outras, uma das vias que permite a transferência de conhecimento. Esta transferência não passa apenas pela interacção formando – formador, mas também por um triângulo disseminador, associado a fontes externas (por exemplo: empresas). A criação e transferência de conhecimento além de se realizar formando – formador, também é manifestada pelo relacionamento formando – formando e formando – empresa. Um caso típico desta interacção é a modalidade de formação denominada aprendizagem – formação profissional em alternância. Este sistema, além da articulação da formação teórica e prática simulada, a qual é minis-
trada em sala, outra, não menos importante, é realizada com empresas externas, em regime de alternância. Um dos objectivos é a aquisição de saberes. Os saberes teóricos quando articulados entre si; integrados, disseminados e relacionados com a valência prática, o conhecimento surge não pelo seu somatório, mas sim pela mais valia que a interacção permite produzir. Este sistema, quando devidamente articulado, permite uma colaboração positiva, um contacto próximo formal e informal, possibilitando um associar dinâmico de vários saberes, experiências e habilidades, em torno de uma actividade, fomentando a criação e a disseminação de conhecimento. Toda esta dinâmica relacional desenvolvida nesta modalidade de formação promove e potencia a geração e a transferência de conhecimento. É uma forma que possibilita a transposição de fronteiras e é um instrumento fundamental na criação e na partilha de valor acrescentado.
“Esta dinâmica relacional desenvolvida nesta modalidade de formação promove e potencia a geração e a transferência de conhecimento”
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VINIL Por António F. Tavares Tindersticks Tindersticks II This Way Up, 1995
A minha relação com esta obra é especial. Foi de coração apaixonado que os conheci em 1996 e de coração partido que os vi ao vivo pela primeira vez no Coliseu do Porto, em 1997, num dos concertos mais memoráveis da minha vida. Stuart Staples gingava, abraçado ao suporte do microfone. Sofria por ele e por nós, sofria por amor. Para uma alma torturada, os Tindersticks eram tudo o que eu precisava ouvir na altura, com o cd a tocar em reprodução automática, uma após outra. Quando saiu Tindersticks II, o segundo disco de originais da banda, não conhecia Tindersticks I, mas a música encantou-me desde o priRede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
ca perfeita, letras de um sarcasmo romântico inigualável e um alinhamento memorável, incluindo Tiny Tears, She's Gone, Another Night In, e o fabuloso My Sister, com uma prosa trágico-cómica de primeira apanha. A introdução pontual de instrumentos pouco vulgares no horizonte rock, como sejam o trombone, o violoncelo e o serrote (!) proporcionam momentos musicais surpreendentes que constituem uma delícia sonora para os ouvidos mais sensíveis. Outro dos momentos intensos de Tindersticks II é Travelling Light, um dueto com Carla Togerson, meiro acorde. A voz sedutora de vocalista dos Walkabouts. Stuart Staples, a mistura dos instrumentos tradicionais do rock tocados de forma gentil e uma secção de cordas quase sempre arrebatada transformou a face da música alternativa. Quase arrisco que, pelo menos em Portugal, o conceito de música “alternativa” se tornou uma moda com os Tindersticks, em particular quando o álbum “Curtains” chegou aos primeiros lugares do top nacional e a banda encheu os Coliseus. Apesar da sedução comercial exercida por Curtains, é com Tindersticks II que a banda atinge o Leia a crítica de "Nighthawks at the Diner” de Tom Waits no número de Setembro-Outubro seu zénite. São 70 minutos de músi- de 2008 da Rede2020
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RECENSÃO
Quanto pesa a alma? João de Mancelos Universidade Católica Portuguesa E se os paquetes de luxo que cruzam majestosamente os oceanos, com centenas de turistas a bordo, encerrassem nos porões um segredo sinistro? E se algumas figuras públicas portuguesas — políticos, homens de negócio, etc. — estivessem envolvidos nesse crime? E se apenas uma pessoa, um cidadão comum, decidisse fazer-lhes frente? Na sua nona obra, Combateremos a Sombra, a escritora algarvia Lídia Jorge aposta numa história inovadora, que conjuga traços do género policial, com o romance psicológico mais profundo. A figura central do enredo é o psicanalista lisboeta Osvaldo Campos, descrito como “um decifrador de histórias”, que auxilia os pacientes, por vezes de graça, num messianismo nem sempre compreendido. Numa entrevista ao Portal de Literatura, a autora classifica-o como “o meu Dom Quixote de estimação, com quem ando há muito tempo a conviver”. Embora para os padrões materialistas da sociedade actual Osvaldo seja um insucesso — por não ser rico ou célebre —, a sua coragem e altruísmo fazem dele um herói anónimo, que não pactua com a prepotência dos senhores do mundo. O início do milénio não trouxe nem prosperidade nem alegria a esta personagem: a esposa, Cristina Folgado, pede o divórcio, na sequência da relação com outro psicanalista, o Dr. Navarra, bem conhecido na esfera profissional. Sem mulher nem casa na cidade, Osvaldo passa a residir sozinho no pequeno consultório, onde acorrem as mais estranhas personagens, com obsessões e manias específicas. Lázaro Catembe, por exemplo, recusa-se a entrar em autocarros conduzidos por negros, pois não vislumbra ninguém ao volante; já a última paciente da noite, Maria, é uma jovem de consciência inquieta, obrigada a colaborar com a vida dupla do pai, o conhecido arquitecto London Loureiro. Maria revela a Osvaldo, através dos sonhos, o tráfico humano e de estupefacientes, a bordo de uma frota de paquetes de luxo. Por mero acaso, o psicanalista descobre que as divagações oníricas de Maria têm um fundo verídico: existe uma rede de crimes, e várias personalidades da vida pública portuguesa estão profundamente envolvidas. Osvaldo investiga pistas, dentro e fora da mente perturbada de Maria, e, pouco a pouco, desvenda uma realidade complexa, a denunciar. Mas alguém o escutará, nesta saga em busca da justiça? O amigo político, Junô de Almeida, prefere abafar o caso, por temer as repercussões; o inspector da Polícia Judiciária, João Toscano, mostra-se pouco diligente; a imprensa, Rede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
ora arquiva, ora adia a revelação. No fundo, são figuras e instituições típicas de Portugal — um país que, no dizer de Lídia Jorge, continua a marcar passo, melancolicamente. Neste contexto, Combateremos a Sombra é um romance oportuno e interventivo, onde a arte se alia à responsabilidade social de denunciar. Será preciso o amor de uma mulher enigmática, Rossiana, para Osvaldo fazer frente não apenas os prevaricadores, mas também a passividade dos inúmeros que sabem, calam e consentem. Afirmar que Lídia Jorge é uma das mais talentosas romancistas portuguesas contemporâneas é dizer pouco. A mestria do seu trabalho projecta-se internacionalmente, como confirmam os diversos prémios de prestígio que obteve, entre os quais o Jean Monet de Literatura Europeia (2000), e o da Fundação Günter Grass (2006). No entanto, dizer que Combateremos a Sombra é um romance sem mácula será conceder demasiado. Em termos de género, o desafio principal desta obra reside em conciliar as características inerentes a um livro de acção, catalítico e de cadência célere, com a profundidade de uma história onde se esmiúça pausadamente a alma de personagens evolutivas e em tensão. Ambas as facetas do livro geram interesse, é certo, mas conjugar ritmos assim distintos, ao longo de meio milhar de páginas, não é fácil e nem sempre é conseguido. Aqui e além, há monólogos interiores que se espreguiçam, bocejantes, por páginas e páginas, e atrasam o desenvolvimento da diegese. Falta a Combateremos a Sombra o toque de Midas que uma revisão e alguma poda poderiam resolver. Pela positiva, destaco o estilo cuidado; a originalidade da história; o realismo da maioria das personagens; a coragem de retratar um país corrupto. No início do romance, Osvaldo encontra-se a trabalhar num artigo para uma revista da especialidade, sob o tema “quanto pesa uma alma?”. Nunca o termina; contudo, o psicanalista prova que a alma tem o peso da coragem e da ética que tivemos em vida — qualidades iridescentes num Portugal de sombra e estagnação.
“Afirmar que Lídia Jorge é uma das mais talentosas romancistas portuguesas contemporâneas é dizer pouco”
Jorge, Lídia. Combateremos a Sombra. Lisboa: Dom Quixote, 2007.
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ANÁLISE
Redes de conhecimento e inovação A comercialização do conhecimento tem vindo a assumir maior importância no crescimento económico. Uma consequência directa deste facto é o aumento da colaboração nas actividades de investigação e desenvolvimento (I&D) nas últimas duas décadas entre diferentes entidades, quer entre empresas e universidades ou laboratórios públicos, quer entre empresas concorrentes. Estas colaborações são importantes redes de conhecimento e trazem vários benefícios, nomeadamente difusão de informação, partilha de recursos, acesso a activos especializados e aprendizagem interorganizacional. As redes de conhecimento permitem, assim, um desenvolvimento mais rápido da ciência e da tecnologia. A actual complexidade tecnológica necessária ao desenvolvimento de inovações faz com que seja muito difícil para as empresas dominarem todas as áreas de saber de que necessitam. Neste contexto, as redes tornaramse o locus da inovação, uma vez que a criação de conhecimento é essencial para conseguir e manter uma posição competitiva no mercado Há duas características principais que distinguem os vários tipos de redes: o grau de formalidade da relação, podendo ir desde uma relação informal até à relação contratual, e o grau de envolvimento, o qual pode ir desde um nível de grande fluidez até um nível estreito de relacionamento. As redes classificadas de estratégicas são as que se caracterizam pela existência de relações contratuais, assentes na divisão do trabalho e que resultam da criação activa de ligações. Exemplos mais comuns são as colaborações através do capital de risco nos sec-
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Ana Paula Faria Universidade do Minho
tores da biotecnologia e farmacêutica. No outro extremo temos as redes invisíveis que se caracterizam pela informalidade contratual e elevada fluidez em termos de envolvimento. Neste caso, a função da rede é sobretudo o acesso rápido à informação e às novas descobertas, onde os exemplos são a colaboração na investigação e partilha de informação entre universidades, empresas, laboratórios de investigação e governo. Nas redes formais, os aspectos centrais são a incerteza tecnológica, o tipo de ligações que são estabelecidas entre os elementos da rede, a forma como condicionam os benefícios da colaboração, e a própria evolução da rede. Em geral, as empresas obtêm fortes benefícios em termos de recursos e conhecimento, diminuindo a incerteza tecnológica e contribuindo de forma positiva para a sua sobrevivência, particularmente no caso de novas empresas de base tecnológica. Quanto ao tipo de ligação, as redes do tipo consórcio em I&D são caracterizadas por ligações fortes e parecem ser mais úteis na transferência do conhecimento tácito do que as redes baseadas em acordos de licenciamento e de patentes, consideradas redes com ligações fluidas. A existência de redes externas parece também potenciar o desenvolvimento de novas redes. Os estudos sobre as redes assentes em relações informais numa perspectiva económica são ainda escassos e sugerem que estas estão presentes e são importantes mesmo quando a rede assenta em relações formais.
“A função da rede é sobretudo o acesso rápido à informação e às novas descobertas, onde os exemplos são a colaboração na investigação e partilha de informação entre universidades, empresas, laboratórios de investigação e governo”
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ESTUDO
Barreiras à inovação Maria José Madeira Silva Universidade da Beira Interior
Face à crescente globalização da actividade económica e à integração dos mercados, a melhoria contínua da competitividade das empresas torna-se fundamental para assegurar a sua sobrevivência e desenvolvimento em meios envolventes caracterizados pela complexidade e incerteza. O contexto actual em que a empresa se insere é fortemente orientado por um novo tipo de competição, não baseado unicamente no preço, mas principalmente na construção de competências específicas para a aquisição de conhecimento e de inovação. Assim, a inovação assume-se cada vez mais como um factor chave da competitividade. A capacidade inovadora varia de empresa para empresa e é determinada por um vasto e complexo número de factores, tanto impulsionadores como limitadores do processo de inovação empresarial. Os factores explicativos da inovação não se esgotam nos factores aqui referidos. Contudo, para efeitos de análise das barreiras à inovação através dos dados obtidos pelo 4.º Inquérito Comunitário à Inovação – Community Innovation Survey (CIS 4), consideram-se os seguintes factores que impedem as actividades ou projectos de inovação ao nível empresarial: (1) Factores económicos; (2) Factores de Conhecimento; (3) Factores de Mercado; e (4) Razões para não inovar. Estes factores abarcam 11 barreiras à inovação. Face ao exposto, as questões que se colocam são as seguintes: Quais são as principais barreiras à inovação que restringem a capacidade inovadora das empresas portuguesas? Como superar os factores condicionantes à inovação? Numa investigação efectuada no Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior, constatou-se que as principais barreiras à inovação das empresas portuguesas, devem-se essencialmente a factores de natureza económica, nomeadaRede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
mente, a falta de fontes de financiamento de fontes externas apropriadas para financiar actividades de inovação. No plano dos factores de mercado destaca-se como principal barreira à inovação - a percepção, por parte dos empresários, que o mercado está dominado por empresas estabelecidas. É de salientar que surge como principal razão para não inovar, a inexistência de mercado e da procura pelas inovações. Estas são as principais barreiras que dificultam ou impedem o desenvolvimento de actividades de inovação das empresas portuguesas e, consequentemente, levam a que as empresas tenham uma menor propensão para inovar. Coloca-se a questão como superar estas barreiras? Neste âmbito, propõe-se o desenho de políticas públicas orientadas para o reforço da inovação e que permitam superar as barreiras à inovação. Estas medidas são particularmente importantes, dado que o tecido empresarial português é composto, maioritariamente, por micro, pequenas e médias empresas, com escassos recursos e com falta de conhecimentos e informação, o que limita, profundamente, a capacidade inovadora empresarial. Estas medidas devem comportar a oferta de um conjunto de instrumentos e incentivos para financiar e premiar, respectivamente, as actividades de inovação e a aquisição de novas competências empreendedoras e de inovação. Sendo fundamental a criação de redes com outros parceiros de inovação (instituições de ensino superior, unidades de investigação e outras instituições públicas e privadas), que permitem o acesso à informação, aos conhecimentos e aos serviços/programas de apoio, de que as empresas necessitam para estimular a sua capacidade inovadora.
“A capacidade inovadora varia de empresa para empresa e é determinada por um vasto e complexo número de factores, tanto impulsionadores como limitadores do processo de inovação empresarial”
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ANÁLISE
Processos organizacionais Vanda Lima Instituto Politécnico do Porto
Actualmente, podemos definir organização como sendo um conjunto de processos, que se interligam com o objectivo de produzir e oferecer bens e/ou serviços que satisfaçam alguma necessidade humana. Assim, as actividades que se desenvolvem no seu interior não devem ser vistas como tarefas avulsas mas antes como partes de processos que no seu conjunto constituem o todo. De um modo simples, um processo é entendido como um conjunto de actividades ou tarefas que acrescentam valor aos inputs, obtendo produtos tangíveis ou intangíveis como outputs. Então, como identificar os processos duma organização? A estratégia para identificação de processos deve seguir uma metodologia do tipo top-down. Cada colaborador consegue identificar um reduzido número de processos, aproximadamente entre 3 a 8 processos, porque são aqueles onde intervém. Desta forma, o gestor de topo encontra-se na melhor posição para reconhecer todos os processos existentes. A identificação dos processos não é uma tarefa fácil pois é necessário efectuar o exercício de escolher entre a intrincada rede de actividades, subconjuntos destas, em que esteja perfeitamente identificada uma entrada e uma saída e, principalmente, que estes subconjuntos tenham especial relevância para a gestão da organização. Assim, um bom ponto de partida passa pela utilização dos macro-processos definidos na Cadeia de Valor identificada por Michael Porter. Segundo este autor, qualquer que seja a área de negócio da organização, ela possuiu cinco macro-processos - logística interna, operações, logística externa, marRede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
keting e vendas, e serviço – suportados por quatro processos transversais – gestão geral, gestão dos recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia, e compra/ aquisição. Com base nestas cinco categorias genéricas, cada organização consegue, de um modo mais fácil, definir os processos internos. Por exemplo, numa empresa de transportes de passageiros, as categorias logística interna e logística externa serão certamente as que assumem uma maior importância e, consequentemente, serão subdivididas num maior número de processos. Por outro lado, se pensarmos num banco, o macro-processo marketing e vendas, com certeza, destacar-se-á no cômputo geral. Para finalizar, é importante realçar que uma organização deve identificar os processos através de critérios de relevância e impacto na sua área de negócio. Assim, os processos, mediante a importância para acrescentar valor ao cliente, poderão ser classificados em: processos operacionais ou de realização, quando estão directamente relacionados com os produtos oferecidos e/ou serviços prestados e os seus resultados são perfeitamente percebidos pelos clientes; processos de gestão, quando estabelecem a estrutura de gestão da organização e fazem convergir toda a organização para o cliente; ou processos de suporte, quando apoiam os outros processos e, embora menos percebidos pelos clientes, são essenciais ao funcionamento da organização.
“A estratégia para identificação de processos deve seguir uma metodologia do tipo top-down”
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Rede2020
argumento arte ensaio boa vida
SOCIEDADE ANÓNIMA Por Vasco Eiriz
Retirada Os processos e formas de gestão da saída de um negócio ou de um mercado são menos conhecidos. Porque é que isto acontece? Ao contrário de outras estratégias empresariais, a retirada é uma opção pouco conhecida. Hoje sabemos como penetrar em mercados, desenvolver novos produtos, desenvolver novos mercados ou diversificar um negócio. Contudo, os processos e formas de gestão da saída de um negócio ou de um mercado são menos conhecidos. Porque é que isto acontece? Uma das razões reside no facto de, frequentemente, a opção duma empresa pela retirada ser motivada pelo seu fracasso. Caso a empresa estivesse a ser bem sucedida nesse mercado ou negócio, haveria razões para o abandonar? Em princípio não. Quando uma empresa persegue uma estratégia de retirada, ela não a publicita como, por exemplo, o faria se a sua opção fosse lançar novos produtos. Isto acontece, precisamente, pelo facto da saída poder ser a manifestação de um fracasso que, evidentemente, não faz sentido publicitar. Noutras circunstâncias, quando existem fortes barreira à saída, talvez a melhor forma de as ultrapassar seja gerir o processo de saída com descrição. Esta descrição é necessária por exemplo quando a empresa necessita alienar activos especializados, pagar indemnizações a trabalhadores ou terminar contratos com clientes, fornecedores e financiadores. Mas será que é importante gerir adequadamente a retirada? Vejamos o caso das empresas de têxteis e vestuário. Hoje são frequentes as notícias de encerramento de empresas deste sector. São empresas que não se encontram preparadas para a liberalização em curso. Esta liberalização começou a sentir-se fortemente em várias categorias de produtos com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001. Com o fim do Acordo Multifibras ocorrido em 1 de Janeiro de 2005, terminaram outras restrições que durante décadas protegeram os produtores de países como Portugal. Os produtores portugueses estão actualmente a sofrer uma pressão competiRede2020 Volume 4 Número 6 Novembro-Dezembro 2008
tiva de tal forma intensa que tem levado ao encerramento de muitas empresas. Neste contexto de grande mortalidade empresarial, é inegável que a estratégia de saída é uma opção incontornável. Num estudo que realizei sobre o sector foi para mim claro que a saída deve ser seriamente ponderada e gerida a par de outras opções de reestruturação empresarial como fusões e aquisições. Daí que lhe tenha conferido tanta ou mais importância do que a outras estratégias mais convencionais para alcançar o sucesso. Num sector cada vez mais global como o têxtil e vestuário, é impensável que os maiores operadores portugueses que actuam em mercados com baixos níveis de diferenciação não ganhem escala internacional. Naturalmente, uma das formas de o fazer é através de fusões e aquisições, criando assim as condições para a saída de operadores menos predispostos a actuar globalmente. A alienação de empresas é assim uma opção de saída que deve ser contemplada
pelos empresários do sector. Muitos empresários compreenderão que não são mais capazes de actuar no novo contexto de negócios do têxtil e vestuário e poderão procurar posições noutros negócios que, muitos deles, entretanto, criaram. Ao fazêlo estão a contribuir para o sucesso dos mais capazes. No caso das muitas empresas que continuarão a operar no sector, algumas delas, as melhor preparadas e posicionadas em segmentos diferenciados, beneficiarão duma liberalização que lhes traz não só novos concorrentes, mas também lhes abriu a porta de novos mercados. No caso das empresas de maior dimensão e posicionadas em segmentos de mercado menos diferenciados, deverão equacionar a deslocalização da produção. A deslocalização não é mais do que uma estratégia de retirada parcial em que uma empresa continuará a operar no seu sector, mas com a sua base produtiva localizada noutra paragem que não Portugal.
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EM REDE2020 Natália Barbosa é professora no Departamento de Economia da Universidade do Minho. É Ph.D. in Economics pela Universidade de Manchester, Reino Unido; Mestre em Comércio Internacional pela Universidade do Minho; e Licenciada em Economia pela Faculdade de Economia do Porto. As suas áreas de interesse são a dinâmica empresarial e investimento directo estrangeiro. Para além de artigos de divulgação que versam estes tópicos, tem trabalhos publicados em revistas científicas internacionais. Email: natbar@eeg.uminho.pt
José Figueiredo é professor na Universidade Fernando Pessoa. É doutorado em Ciências Empresariais pela Universidade do Minho, MBA pela Universidade Católica Portuguesa e licenciado em Gestão de Empresas pelo ISCTE. Possui vasta experiência profissional em empresas como a Siemens, Mundial Confiança, Knorr Portuguesa (actual Unilever), e Crédito Agrícola Seguros. Foi director de formação de executivos no Instituto Superior de Gestão. Actualmente, é ainda consultor de empresas e gestor de projectos de formação. Email: silvio.brito@ipt.pt
Vasco Eiriz edita a Rede2020 e o blogue Empreender. É Ph.D in Management pela Universidade de Manchester, Reino Unido; Mestre em Gestão de Empresas pela Universidade do Minho; e Licenciado em Gestão pelo Instituto Superior de Gestão. É professor de gestão estratégica e empreendedorismo na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. Email: vasco.eiriz@gmail.com
Ana Paula Faria é professora da Universidade do Minho. Possui o Ph.D. em economia pela University of Nottinghan (Reino Unido) e as suas áreas de interesse académico incluem temas como a inovação e mudança tecnológica, produtividade e eficiência, e capital intelectual. Email: apfaria@eeg.uminho.pt
Andreia Fernandes Silva é docente no Instituto Superior de Entre Douro e Vouga, em Santa Maria da Feira, desde 2004. Actualmente frequenta o Doutoramento em Sociologia, linha de investigação Desigualdades, Cultura e Território, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Licenciatura em Ciências da Comunicação e com uma especialização em Sociologia Portuguesa Contemporânea. Email: asilva@isvouga.com
Maria José Silva é Professora Auxiliar da Universidade da Beira Interior. É doutora em Gestão e investigadora do Núcleo de Estudos em Ciências Empresariais. As suas áreas de investigação são a inovação e o empreendedorismo. Email: msilva@ubi.pt
Vanda Lima é professora da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras, Instituto Politécnico do Porto. Licenciada em Economia, Mestre em Gestão e Doutoranda em Ciências Empresariais na Universidade do Minho. Email: vlima@estgf.ipp.pt
Miguel Gonçalves, licenciado em Gestão de Empresas, pelo Instituto Superior de Línguas e Administração de Santarém; é Técnico Superior no Instituto do Emprego e Formação Profissional; possui uma pós graduação e um mestrado em Contabilidade e Administração promovido pela Universidade do Minho, onde apresentou a dissertação intitulada “Redes Institucionais de Conhecimento: Estudo de uma Rede na Indústria Têxtil e do Vestuário” E-mail: miguel.goncalves@iefp.pt
João de Mancelos nasceu em Coimbra, em 1968. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Aveiro; mestre em Estudos AngloAmericanos pela Universidade de Coimbra; doutorado em Literatura Norte-Americana pela Universidade Católica Portuguesa; tem duas especializações em Escrita Criativa e Estudos Fílmicos pela Universidade de Luton, em Inglaterra. Escreveu diversas obras de poesia e de contos e publicou dezenas de recensões e ensaios. Email: mancelos@gmail.com
António F. Tavares é Professor Auxiliar do Departamento de Relações Internacionais e Administração Pública da Universidade do Minho. Ocupa os tempos livres com uma extensa colecção de CDs e as suas críticas musicais aparecem no blogue Um Piano na Floresta, acessível através do endereço umpianonafloresta.blogspot.com. Email: umpianonafloresta@gmail.com
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«A carruagem do passado não nos leva longe» Máximo Gorky
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