Especial del aniversario 90 de O Globo

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QUARTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2015

Nove décadas olhando para o futuro Cybelle de Ipanema

Liúba Frankenthal

Armando Garcia

José Ribeiro Rocha

Aloysio Vasconcellos

Wanda Senra Anachoreta

Alcir Chácar

Lysette Raimundo

Edna de Brito

Raul Passos Madeira de Ley

Wilson das Neves

Oscar Lemi

Paulo Roberto Campagnac

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José Cardoso

Jairo Salles

Sônia Alencastro

Branca Cohen

Ademir Pereira

Raquel Valença

Rosa Maria Araújo

Nara Keiserman

Perfeito Fortuna

Maria do Carmo Terzi

Paulo Girão

César Vieira

Alice Akamatsu

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Paulo Gomes

Paulo Franco

José León

Clara Litsek

Zeca Pagodinho

Beatriz Milhazes

Regina Coutinho

Renato Gomes

Liane Gouvea

Márcia Figueiredo

Kléber dos Santos

Helder Oliveira

Marcelo do Amaral

Marcelo Fonseca

Marcelo Faria

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Eduardo Paes

Fábio Cardoso

Anna Barros

Fernando da Costa

Geisa Araújo

Fernanda Miranda

Aílton de Jesus

Márcio Gualberto dos Santos

Lílian Ewald

Felipe Pereira

Rachel Costa

Danilo Parmera

Leonardo Tavares de Oliveira

Raphael Garcez

Lívia Santa Clara

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Alessandra Gualberto

Gabriel Alcântara

Higor Batista

Nathalia Curvello

Monalisa Marques

Igor Novello

Felipe Pinto

Bianca Lorent

Rene Silva

Fernando Loureiro

Alan Cogan Grossman

Mariana Netto

Victor Pereira Bueno

Lucas Nogueira Monteiro

Alice Melo

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Bruna Pinheiro de Andrade

Paulo Cordeiro de Mello Martins

Theo Alvim

Tomas Corrêa

Fernanda e Maria Clara Matta

Nicole Lessa

Rodrigo Oliveira da Rocha

Valentina Barros Carvalho

Manuela Nogueira Bueno

Alice Victorino

Miguel Francellino

Arthur Reis

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Nathália de Souza Ricardo

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João Paulo Alencar Pedro Henrique Serpa Francisco

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Áurea Gomes Coelho Adelaide de Andrade

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Maria Aparecida da Elisabete de Andrade Costa

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As páginas de um jornal refletem a História, mudam vidas, ajudam a construir o futuro. O GLOBO nasceu em 29 de julho de 1925, uma quarta-feira, como hoje. O Brasil e o Rio viviam, como agora, intensas transformações. Ao fundar seu diário, Irineu Marinho apostou num jornal plural, inovador, comprometido com a liberdade de expressão, com o Brasil e o Rio. Ao completar 90 anos, O GLOBO renova esse compromisso, com a certeza de que muitas páginas virão, multiplicadas pelos bilhões de cliques no seu conteúdo na internet. Por isso, a capa deste caderno — reunindo 90 leitores cujas vidas se cruzaram com a do jornal — é uma homenagem a todos os leitores, que motivam O GLOBO a se renovar, ontem, hoje e sempre.

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Quarta-feira 29.7.2015

TECNOLOGIA NA COMUNICAÇÃO INSTALAÇÕES O LUGAR ONDE TUDO COMEÇOU

A primeira sede do GLOBO ficava no número 15 da Rua Bettencourt da Silva, no Largo da Carioca, Centro do Rio. O edifício, que não existe mais, não tinha sido construído para ser um jornal. Por isso, os espaços tiveram de ser adaptados para essa finalidade. Naquele tempo, as notícias chegavam à Redação pelos repórteres — que saíam a campo munidos de seus bloquinhos de apuração — ou ainda por cartas, telefone ou telégrafo. O prédio tinha entrada tam-

bém pela Avenida Almirante Barroso, onde hoje funciona a Caixa Econômica Federal. Era o acesso das oficinas, mais próximo às rotativas, de onde os jornaleiros saíam com pilhas de jornais às costas. Por ser um ponto central, o endereço proporcionava agilidade à produção e à distribuição. Mas, com a consolidação do diário e o aumento de tiragem, o lugar se tornaria pequeno. Em 15 de outubro de 1954, O GLOBO seria transferido para a Rua Irineu Marinho.

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Largo da Carioca. Primeira sede

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Redação. Equipe trabalha no antigo prédio

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No alto. Ao fundo, a telefonista

• MEMÓRIA GLOBO

Começo. Irineu Marinho (de terno branco e gravata borboleta) com a primeira equipe do GLOBO, na Redação original do jornal: desde o início, compromisso com o “cidadão comum das ruas”, sem atrelamento a grupos políticos ou empresas BIBLIOTECA NACIONAL

Um vespertino com destino de protagonista Surgido do sonho de Irineu Marinho, O GLOBO cresceu valorizando a importância social da imprensa O cotidiano à frente de “A Noite” andava puxado (como se diria 90 anos depois), até para alguém, como Irineu Marinho, acostumado ao estresse que, desde sempre, emoldura o ofício jornalístico. Diretor e acionista do vespertino, ele ainda escrevia diariamente o editorial “Ecos” — e o fazia à mão, desprezando a novidade tecnológica das máquinas de escrever. Exausto, com a saúde abalada, decidiu viajar à Europa, para descansar e se submeter a um check-up. Não sabia, mas a aventura de sua vida estava reservada para a volta. Quando regressou, Irineu Marinho foi comunicado de que “A Noite” tinha novos donos — para piorar, hostis a ele. O jornalista engoliu a ingratidão e o desprezo às informações sobre novos equipamentos gráficos, que fizera questão de trazer. Concentrou-se em virar a página, por entender que chegara a hora de partir. Incentivado por Herbert Moses, decidiu fundar um novo jornal — e convocou o amigo para integrar a futura diretoria, como responsável pela estrutura comercial e logística. Não havia mesmo espaço para angústias nem lamúrias, porque questões mais urgentes e objetivas estavam à espreita. A maior delas: a falta de uma rotativa para imprimir o novo produto. Uma velha máquina francesa, da marca Marinoni, foi instalada

no prédio 15 da Rua Bettencourt da Silva (onde hoje está o Largo da Carioca), o mesmo da Redação, garantindo a publicação do diário. O segundo obstáculo estava no mercado: a concorrência ferrenha de “A Noite” pelos leitores que preferiam se informar após o dia de trabalho, na volta para casa. Aqui, foi decisivo o aguçado domínio que Irineu Marinho tinha do trabalho jornalístico, cevado desde os tempos da “Gazeta de Notícias”, quando formava uma espécie de dream team, ao lado de colegas como Olavo Bilac e Paulo Barreto. Naquele tempo de constantes acirramentos políticos, a maioria dos diários nascia e prosperava atrelada a campanhas e partidos, o que fragilizava sua credibilidade. Jamais por acaso, o novo vespertino publicou logo na edição de estreia um editorial-compromisso, de autoria do seu proprietário: “Este jornal não tem afinidades com governos, não encerra interesses conjugados com os de qualquer empresa, não está ligado a grupos capitalistas ou a plutocratas isolados”. Uma abertura contundente, para O GLOBO dizer a que veio. CONCURSO PARA ESCOLHA DO NOME Tamanha convicção serviu de alicerce para o projeto de Irineu Marinho — aumentar “a crescente penetração da imprensa no homem da rua”, nas palavras de Herbert Moses para a ambição de acentuar a importância social do jornal, preocupação inovadora à época. O compromisso determinou desde sempre o tom de artigos e reportagens, com foco nos cidadãos, suas necessidades e angústias, na relação com empresas e poder público. Tudo muito bom, tudo muito bem — mas e o nome? Meio século antes da invenção da internet, a saída se deu pela interatividade. Numa quinta-feira, 28 de maio, “O Jornal” publicou à página 2 anúncio sob o título (em português da época) “O Baptismo da Sympathia Popular”, comunicando à praça o con-

Origem. A primeira página de “A Noite”, vespertino carioca do qual Irineu Marinho, um dos donos, saiu com alguns companheiros para fundar O GLOBO ARQUIVO

Tributo. Edição especial sobre a morte de Irineu Marinho, 23 dias após a fundação do GLOBO: enfarte fulminante em casa aos 49 anos, em 21 de agosto de 1925

curso “Que nome dar ao novo jornal de Irineu Marinho?”. As respostas deveriam ser enviadas até 1º de junho, por carta, à sede da futura publicação. O prêmio, aos que acertassem o nome vencedor, seria uma assinatura de um mês do diário nascente. No dia 2, a cidade conheceu o resultado em reportagens publicadas por vários jornais. As opções eram variadas e algumas exóticas: “Vesper”, “Sombra”, “Último Correio”, “O Muque”, “Pharol da Noite”, “O Morcego" e “A Piteira”, entre impressionantes 399 títulos sugeridos por 26.520 votantes. O mais citado foi “Correio da Noite”, que tinha dono. Optou-se, então, pelo segundo colocado: O GLOBO (o prêmio da assinatura foi dado às pessoas que cravaram as duas opções). Na quarta-feira, 29 de julho de 1925, o novo jornal ganhava as ruas, com manchete da área de Economia: “Voltam-se as vistas para a nossa borracha!” Cativou exatos 33.435 leitores, que levaram o número 1 para casa. Com uma ativa equipe de repórteres e um tarimbado grupo de redatores, o diário ganhou rapidamente forma editorial consistente. Todos trabalhavam na direção de um objetivo: buscar notícias em todos os setores e regiões da cidade (traço mantido pelas décadas afora). O projeto de Irineu Marinho estava materializado. Vinte e três dias depois, a 21 de agosto, o criador do GLOBO caiu morto no banheiro de casa, vítima de um enfarte fulminante. Tinha 49 anos. A sucessão natural levaria o primogênito do jornalista, Roberto, a ser empossado no comando, mas os 20 anos de idade do herdeiro recomendaram a prudência de uma transição. Coube ao baiano Eurycles de Mattos assumir o posto, que ocupou até morrer, no outono de 1931. No dia 6 de maio daquele ano, Roberto Marinho tornou-se o diretorredator-chefe, iniciando o crescimento do jornal, gênese do maior grupo de comunicação do Brasil. Uma odisseia audaciosa, pontilhada de apostas em inovação. Em outubro de 1954, O GLOBO mudou-se para a nova sede, na rua que ganhou o nome de seu criador. O prédio — o primeiro da América Latina projetado para um jornal — abrigou, além dos funcionários, as rotativas Hoe Super Production, a última palavra de então, fabricadas sob medida. Eram seis máquinas, capazes de imprimir, de uma só vez, até 96 páginas, com a possibilidade para quatro cores em várias delas. O diário criado por Irineu Marinho cruzou o século XX em permanente crescimento, consolidando-se como um dos emblemas de qualidade do jornalismo brasileiro. Em janeiro de 1999, passou a ser impresso num parque gráfico às margens da Rodovia Washington Luís. Nessa época já reunia alguns dos principais nomes de nossa imprensa, além de conquistar, com reportagens de excelência, importantes prêmios nacionais e internacionais. A aventura de Irineu Marinho foi longe — e continuará, na direção do futuro. l

“Este jornal não tem afinidades com governos, não encerra interesses conjugados com os de qualquer empresa, não está ligado a grupos capitalistas ou a plutocratas” Frase do editorial-compromisso publicado no lançamento do GLOBO


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TECNOLOGIA NA COMUNICAÇÃO INSTALAÇÕES A NOVA SEDE NA RUA IRINEU MARINHO 35

O rápido crescimento do GLOBO criou a necessidade de um projeto de ampliação física do jornal, com a instalação de uma sede própria, que é usada até hoje. O novo edifício, projetado por Cesar de Mello Cunha, foi construído para abrigar todos os serviços: Redação, oficina, salas de recepção, clicheria e salas de radiofotos e de teletipos. O prédio foi concebido com linhas simples e austeras, com janelas largas e pé direito alto. E um “tchã” em termos de moderni-

dade: ar-condicionado nos cinco pavimentos e no subsolo. A mudança para a nova casa, na Rua Irineu Marinho 35, aconteceu em 15 de outubro de 1954. Nesse dia, O GLOBO publicou na primeira página o editorial “Despedida”, de Roberto Marinho. À tarde, as equipes do jornal fizeram uma caminhada simbólica da antiga até a nova sede, onde já estava instalada a nova e moderna rotativa Hoe, fabricada sob medida para o diário.

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Sede. Prédio à época da inauguração, com a fachada original

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Atual. Passarela metálica ligando a sede ao número 70

que muitos acontecimentos só venham a se tornar históricos quando olhados em retrospectiva, o relato deles é vivo, imediato; outros, já se desenrolam explicitamente com a dimensão do que de fato representam. Uns e outros são a matéria-prima de veículos — dos quais os meios da imprensa são, de longe, os de maior alcance — que os contam no dia

a dia. Jornais, revistas, mídias audiovisuais e digitais os auscultam e os relatam, contando para o leitor a História em tempo real. Nestes 90 anos, ao abraçar uma inequívoca opção pela competência, pelo profissionalismo e pela preocupação de estar antenado com as demandas locais, nacionais e internacionais, O GLOBO fez história no jornalismo brasileiro. E o fez, a par do bom jornalismo, ao mesmo tempo em que registrava instantaneamente a História da Humanidade, para repassá-la ao leitor, por meio de reportagens, imagens e opiniões contempladas em suas páginas. Exercício definitivo, tanto quanto saboroso, é cotejar as primeiras páginas do GLOBO ao longo destas nove décadas. Desse precioso material é possível extrair, sem grande esforço, um roteiro exato para a crônica do que, neste período, de substancial aconteceu no país e no mundo. As capas mostram — não fosse o jornal testemunha atenta e cronista de fatos que, para o

13-08-1945

24-08-1954

A História na primeira página A História contada nos livros e textos acadêmicos relata fatos passados, filtrados pelo crivo do distanciamento. Esse é um ângulo, por assim dizer, mais estático da crônica da trajetória da Humanidade. Por esse viés, episódios passados estão cimentados, são mero objeto de estudo. Mas fatos da História também têm uma abordagem mais dinâmica. Por esse prisma, ainda REPRODUÇÕES/3-09-1939

Fim da paz. Inglaterra e França declaram guerra a Hitler, e o mundo mergulha no caos

Cogumelo nuclear. Bomba atômica no Japão inaugura nova era — a da destruição em massa 22-06-1970

Conquista do mundo. A seleção de 70 entrou para a crônica do futebol como um mito 27-12-2004

Catástrofe. Terremoto e tsunamis espalham morte na Ásia, e mudam até o eixo da Terra

Desfecho dramático. Suicídio de Getulio está entre os episódios mais marcantes do país

22-04-1985

Tragédia nacional. A morte de Tancredo Neves causou comoção em todo o país 29-11-2012

Mensalão. Escândalo leva a condenação e prisão de membros de “organização criminosa”

30-09-1992

Prova de fogo. Afastamento de Collor, primeiro teste para democracia restaurada 14-03-2013

Mudança no Vaticano. O argentino Jorge Bergoglio vira Francisco, Papa do fim do mundo

bem e para o mal, se juntam para contar a aventura do homem na Terra — tragédias que abalaram o mundo, acidentes naturais, histórias comoventes, ações no âmbito da cultura, da política, da economia, desafios vencidos no esporte, na medicina etc. Reproduzidas algumas delas aqui, são fruto de todos esses elementos citados: curiosidade que leva à investigação, compromisso com a missão de informar, rigor com a apuração e com o estilo, preocupação com a qualidade editorial. As imagens de primeiras páginas aqui selecionadas são um convite para se embarcar nessa saborosa viagem pelo tempo e pela História. Por último, e não menos importante, a confrontação (entre elas, das primeiras páginas) também é o testemunho de uma história particular do GLOBO: o aprimoramento gráfico do jornal no decorrer de seus 90 anos, ao mesmo tempo em que dá fé da preservação do DNA editorial desde o seu primeiro número. l 20-07-1969

Última fronteira. O homem pisa na Lua: conquista do espaço torna-se realidade 11-09-2001

Terrorismo ao vivo. Ataques da al-Qaeda a alvos dentro dos EUA assustaram o mundo 8-01-2015

Infâmia. Terrorismo ataca “Charlie Hebdo’’, mata e atinge a liberdade de expressão


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TECNOLOGIA NA COMUNICAÇÃO IMPRESSÃO AS PODEROSAS E MODERNAS ROTATIVAS HOE

A rotativa Hoe Streamline Superproduction — a mais moderna do mundo na época — ainda trabalhava no tradicional sistema “letterpress” a chumbo. Cada chapa de impressão em alto-relevo pesava em torno de 12kg. A Hoe contava com seis unidades, podendo imprimir, em uma só rodada, até 96 páginas usando quatro cores em várias páginas. Era composta por uma estufa para secar as gravuras a infravermelho, e tinha também um tanque-gabinete tríplice para

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revelar, fixar e lavar negativos; uma máquina de composição Cometa quase três vezes mais eficiente que o linotipo; uma prensa pneumática; uma máquina de produção de matrizes de onde saíam as “telhas” estereotipadas; e uma terminadora de “telhas”. Media 20m de comprimento por 7m de altura e pesava 500t. A rotativa automatizava várias fases da rodagem do jornal e trocava as bobinas de papel em alta velocidade, sem diminuição do ritmo de impressão. História. Roberto Marinho

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Manutenção. Funcionários lubrificando rotativa

ARQUIVO/1956

Visão geral. Conjunto de impressão

• REPRODUÇÕES/29-07-1925

Primeira edição. Já no lançamento, O GLOBO mostrava elementos do seu DNA: charge na capa, foco na cidade e novas formas gráficas

09-11-1925

Fla-Flu em destaque. Uma das primeiras ousadias do GLOBO: a capa destinada ao clássico, identidade com uma paixão popular 24-10-1930

Valorização de um furo. Inovação: mais de meia página para a foto exclusiva do deposto presidente Washington Luís deixando o Palácio

11-02-1929

Carnaval na primeira página. Em 1929, inovação gráfica e consolidação da importância dada à cobertura de eventos populares 31-10-1930

De corpo inteiro. A foto de Getulio Vargas, o líder da Revolução de 30, ocupa a capa de alto a baixo: a dimensão de um fato histórico

07-06-1936

Mônaco tropical. Carros de corrida e torcedores nas ruas do Rio, numa proposta gráfica que incluía até vinhetas no alto da capa

Pioneirismo e compromisso Em 90 anos, O GLOBO inovou e renovou seu visual gráfico, modernizou permanentemente sua produção, mas manteve a identidade com o leitor Desde 1925, a primeira página do GLOBO reflete não só suas opções editoriais, mas também o compromisso de publicá-las à luz dos avanços da tecnologia de impressão e no formato de padrões gráficos inovadores. O jornal que hoje chega aos leitores é, por óbvio, graficamente distinto das edições de há 20 anos, que, por sua vez, se diferem visualmente do diário que chegava às bancas três, quatro, sete décadas atrás.

Esse é um movimento inescapável, ditado por circunstâncias como mudanças culturais e de hábitos de leitura, aperfeiçoamento tecnológico da maquinaria e identidade com a modernização — imperativos ditados também pelo mercado, em razão da competição entre os meios. Mas, do ponto de vista editorial, O GLOBO preserva sua identidade desde o primeiro número. Caso, por exemplo, da publicação de

charges na primeira página. É uma marca registrada que começou com Raul Pederneiras, a seu tempo um pioneiro multimídia (descontadas as limitações gráficas da época) e se mantém com Chico Caruso, que assina a ilustração da capa desde 5 de fevereiro de 1984 — quando o jornal ainda era quase todo impresso em preto e branco. Outra característica, presente desde a gênese

do GLOBO: a preocupação de prestar serviços aos cariocas e dispensar atenção especial a demandas da cidade. A trajetória do jornal consolidaria essa linha, das coberturas de problemas locais ao lançamento de campanhas de interesse da população. Por sua vez, a publicação de fotos grandes, a sinalizar a importância de determinadas coberturas, ou mesmo a decisão de dedicar toda a primeira página a um único assunto são recursos gráficos e editoriais que também estão no DNA do jornal. A consulta às capas é boa pista para comparar as mudanças na fisionomia do jornal. A mudança mais radical no rosto do GLOBO deu-se na edição de 20 de dezembro de 1995, quando o jornal adotou um novo projeto gráfico. Nesse caso, foi preciso vencer a resistência do jornalista Roberto Marinho: ele não queria surpreender o leitor de um dia para outro. Como se veria, foi uma preocupação infundada: o novo projeto, que em 2012 passaria por um redesenho, foi um sucesso absoluto. l

“Mesmo uma rápida consulta às capas das edições nestes 90 anos de existência mostra como a evolução gráfica não altera o DNA do jornal. Ao contrário, reforça-o” Aluizio Maranhão, editor de Opinião do GLOBO


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TECNOLOGIA NA COMUNICAÇÃO APURAÇÃO TELEFONES E CÂMERA

O telefone, desde sempre, foi uma ferramenta essencial na apuração dos fatos. Na primeira foto à direita, o jornalista Alves Pinheiro fala num Standard Electric, modelo AS-82824-AIX, da antiga CTB (Companhia Telefônica Brasileira). É igual ao aparelho mais à direita na mesma foto. Com design clássico e elegante, era um dos mais resistentes e comuns terminais telefônicos em residências e escritórios. Entre os dois da CTB, aparece um Ericsson 138, da Cetel

(Companhia Estadual de Telefones da Guanabara), bojudo, com linhas mais duras e menos rebuscadas. É o que também aparece na terceira imagem. Na foto do meio, o chefe discute uma pauta com a equipe. O repórter só levaria caneta e bloquinho. Já o fotógrafo teria que carregar uma câmera monstruosa — o flash era aquela lâmpada atarraxada. Em tempo: o fotógrafo era Ibrahim Sued, que se dedicou a cobrir a “high society’’ carioca.

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Apuração. Telefone era essencial

ARQUIVO/2-03-1948

Pauta. Chefe discute matéria com equipe

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Ericsson. O segundo mais usado

• 17-08-1936

Revolução. A nadadora Piedade Coutinho na final dos 400m rasos dos Jogos de 1936: primeira telefoto recebida numa Redação do país

13-05-1937

Titanic voador. A tragédia do Hindenburg, em 1937: imagens do acidente chegaram à Redação do GLOBO por meio revolucionário, a telefoto

Festa histórica. A Copa de 1958, a primeira vencida pelo Brasil, mereceu tratamento editorial e gráfico especial

27-06-1959

Pioneirismo. No alto à esquerda, a rainha Elizabeth no Canadá, na primeira radiofoto em cor transmitida para a América do Sul

30-06-1958

02-07-1972

20-11-1969

Para a História. Solução gráfica perfeita para destacar na capa dois feitos históricos: o homem na Lua e o milésimo gol de Pelé

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05-02-1984

Tecnologia. Em 79, primeira telefoto em cor

Charge. Em 1984, a estreia de Chico na capa

Domingo. Em 1972, O GLOBO entra em nova fase, com o lançamento da edição dominical. A mudança editorial também se refletiu na capa 05-05-1988

Novidade. Em 88, cor fica de vez na capa

20-12-1995

Cara nova. Projeto gráfico muda em 1995

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2012. Redesenho: jornal mais arejado

“Desde que eu aprendi a ler, a única coisa que mudou na minha relação com O GLOBO é a ordem da seção pela qual começo a olhar o jornal” Sérgio Besserman, economista e ambientalista


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TECNOLOGIA NA COMUNICAÇÃO TRANSMISSÃO DE TEXTO E FOTO TELEX E COBERTURA EM VIAGEM

A rede de telex se ampliou e, consequentemente, O GLOBO adquiriu mais terminais. Na primeira foto à direita, vê-se parte da sala de telex do jornal. Pelo tamanho das engenhocas, pode-se imaginar a dificuldade das coberturas em viagem. Era quase impossível enviar com a equipe um aparelho desse tamanho. A saída do repórter era apelar para hotéis e bancos: com simpatia e boa lábia, ele conseguia “alugar” o telex e enviar seu texto à Redação. Mas,

com fotos, a história era outra. Em viagens, a dupla repórter-fotógrafo perdia logo o banheiro e o telefone do quarto de hotel. O primeiro virava laboratório fotográfico, e o segundo tinha o bocal removido para, utilizando-se conectores do tipo jacaré, ligar o cabo telefônico à máquina de telefoto. Na última foto à direita, um aparelho de telefoto modelo 16-S da United Press International. Cada foto demorava até 9 minutos para ser enviada ao jornal.

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Anos 70. Telex moderno

REPRODUÇÃO/PHOTOGRAPHY BLOG

Jeitinho. Telefone desmontado para envio de foto

ANTÔNIO NERY/20-02-1973

Anos 70. Sistema de apoio ao Telex

• OMAR VELIZ/EL NACIONAL/20-08-2009

Liberdade de expressão é base da democracia Para especialistas, imprensa livre exerce papel fundamental, por informar e, ao mesmo tempo, fiscalizar “Às armas, cidadãos!”. Quando o grito de guerra dos revolucionários franceses ecoou pela primeira vez, em 1792, era literal o apelo dos versos da “Marselhesa” para garantir os direitos de cidadania e derrubar a tirania, naquele fim de século XVIII. Passados mais de 220 anos, neste início de século XXI, o cidadão dispõe agora de outras armas — que não sabres, espingardas e baionetas — para fazer valer seus direitos e defender a democracia conquistada a duras penas desde então. E uma delas tem tido lugar de destaque: a liberdade de expressão. Consagrada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e na Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, a liberdade de expressão — um dos compromissos assumidos pelo GLOBO desde sua fundação, em 1925 — é tida como uma das colunas de sustentação das modernas sociedades democráticas. E os jornais, de suas antigas plataformas de papel, agora cada vez mais estendidas para a internet e o mundo virtual, são peças cruciais nessa engrenagem. — Não existe democracia sem liberdade de expressão e imprensa — resume Rosental Calmon Alves, diretor do Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, em Austin. — O exercício da cidadania está intimamente ligado a um clima de liberdade, não só de imprensa, mas de direito de acesso à informação pública. Viemos de uma tradição ibérica em que governos eram baseados na proteção da autoridade, sem raízes muito fortes de liberdade de imprensa e expressão. Por isso, é importante desenvolver a cultura da cidadania, e os jornais e a mídia têm papel fundamental nisso, devendo atuar com a mesma transparência que eles reivindicam para outros atores políticos e sociais. No Brasil, a construção desse caminho foi repleta de obstáculos, com altos e baixos desde que o príncipe regente dom Pedro deu o

pontapé inicial, em 1821, com a abolição da censura, garantindo a liberdade de imprensa ainda antes da Independência. Após um Segundo Reinado em que os cartunistas faziam gato e sapato do imperador, e os jornais eram livres para criticar o governo e a monarquia, sobrevieram períodos intercalados de maior ou menor — ou mesmo nenhuma — liberdade de expressão na República. Depois do último período de fechamento, com a revogação do AI-5, em 1978, e o fim da censura reinstituída pela ditadura militar de 1964, novamente a imprensa pôde desempenhar seu papel sem restrições impostas pelo poder político. — A melhor maneira de entender esse fundamento da democracia é pensar que, no estado de direito, o poder resulta da vontade de cada um dos cidadãos. Somos nós que votamos em quem nos governa. Para que esse mecanismo funcione direito, os cidadãos precisam estar informados sobre o que se passa no governo — afirma Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e colunista da revista “Época” e do “Estado de S.Paulo". — Por ser independente do Estado e estar ancorada diretamente na sociedade, a imprensa livre tem condições institucionais de fiscalizar o exercício do poder com olhos independentes. AMEAÇAS ESTÃO SEMPRE À ESPREITA Mas, apesar de o país viver um período de democracia consolidada, especialistas advertem que não se pode baixar a guarda, quando se trata de garantir à população o direito de informação. Os perigos são muitos e estão sempre à espreita. Vindos da esfera pública ou da privada. Além de agressões físicas e assassinatos de jornalistas, o cerceamento pode vir de outras formas mais sutis, como a compra de espaços publicitários em veículos comerciais de informação — promovendo um quadro de dependência de redações médias — ou mesmo por ação do Judiciário, alerta Bucci. — São pequenas frentes de ameaça — diz. Calmon Alves indica, também, que há outros problemas no horizonte. Ele lembra que, mesmo nos Estados Unidos, um país com forte tradição de liberdades individuais e de expressão, ainda há muita gente que desconhece o valor delas para o funcionamento pleno de uma sociedade democrática. — Se em democracias avançadas ainda há confusão sobre isso, numa em construção, como a nossa, deve estar presente entre nossas preocupações o desenvolvimento dessa cultura

Ataques à liberdade. Em Caracas, na Venezula, jornalistas e estudantes protestam contra agressões a colegas de liberdade de expressão na sociedade civil. Os jornais têm um papel importante a desempenhar nesse processo. Segundo Eugênio Bucci, autor de dez obras sobre a imprensa e presidente da Radiobrás no primeiro governo Lula, entre 2003 e 2007, tal papel deve ser exercido com uma postura combativa: — Para os órgãos de imprensa e os jornalistas, a liberdade é um dever, não é meramente um direito. Os profissionais de imprensa têm de exercer a liberdade como um dever. Isso significa que eles não têm o direito de abrir mão de exercer a liberdade. É dever criticar o poder, por melhor, mais honesto e mais competente que seja. CRIME EM MINAS GERAIS No último dia 18 de maio, um corpo decapitado foi encontrado na zona rural do município de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha (MG). Era do jornalista Evany José Metzker, de 67 anos, que fora à cidade investigar casos de prostituição infantil e desaparecera cinco dias antes. O inquérito ainda não confirmou se o crime tem ligação com a reportagem que

o titular do blog “Coruja do Vale" estava produzindo, mas só a suspeita já foi suficiente para mobilizar as entidades de imprensa, o governo federal e até a Unesco. 38 JORNALISTAS ASSASSINADOS EM 14 ANOS Não sem motivo. Entre 2000 e o fim de 2014, 38 jornalistas foram assassinados no Brasil por razões relacionadas ao exercício da profissão, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), baseada na França. Esse número — que não contabiliza os dois (ou três, se incluído Metzker) mortos este ano — torna o país o terceiro mais perigoso das Américas para se exercer o jornalismo, atrás apenas de México e Honduras. A maioria investigava temas como crime organizado, violações de direitos humanos, corrupção ou tráfico, indica a organização. — É importante para a sociedade como um todo que os responsáveis por tentativas violentas de amordaçar a liberdade de imprensa não escapem de punição por seus crimes — exortou a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, em reação à morte violenta do jornalista em Minas Gerais. l


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Quarta-feira 29 .7.2015

ENTREVISTA Martin Sorrell REUTERS/MAL LANGSDON/14-06-2012

O papel da mídia na democracia é ser fiel da balança Um dos executivos mais respeitados do mundo, o inglês Martin Sorrell virou uma espécie de comentarista da vida moderna, sobretudo no que diz respeito a economia, publicidade e mídia em geral. Presidente do WPP, grupo que reúne mais de 350 empresas, entre elas agências como Ogilvy e Young & Rubicam, ele vem investindo cada vez mais em mercados emergentes – no Brasil, adquiriu o controle do Ibope no fim de 2014. Aos 70 anos, Sorrell destaca o engajamento do leitor de jornais impressos, questiona a qualidade do conteúdo digital e reitera: “A imprensa livre é um cheque que garante o saldo positivo dentro de qualquer democracia.”

-NOVA YORK-

No festival Cannes Lions, em junho, o senhor falou da importância dos jornais junto a formadores

l

l Qual o papel da mídia na democracia, da formação de opinião crítica à investigação dos poderes? É uma voz independente. Seu papel é segurar um espelho que reflete a política, a sociedade, encorajando abertura e transparência. É um fiel da balança, que garante o saldo positivo em qualquer democracia. Isso é fundamental.

Como vê o cenário dos jornais? Algumas pessoas acham que jornais e revistas estão morrendo. Eu discordo. Não acho que vão morrer, mas, como vimos com livros, pode ser mais conveniente ler um jornal ou revista on-line. Pessoalmente, fico um pouco desconfortável com versões on-line porque frequentemente você não sabe se leu tudo. Ao menos sei quando começo e l

l Qual seria, historicamente, a maior contribuição da imprensa? Sem dúvida, a transparência. É ser o fiel da balança, que joga luz sobre abusos de poder e excessos. l E hoje? Qual a maior importância da imprensa? Pode-se dizer que o sol é o melhor desinfetante e acho que a imprensa age como desinfetante também. A imprensa entretém, conta histórias, engaja, entristece, traz à vida velhas histórias que deveríamos saber. Mas o mais importante é mesmo jogar um espelho em tudo que fazemos.

Martin Sorrell. Presidente do WPP: as mídias digitais representam novos desafios

“A geração que está se formando numa universidade americana este ano é a primeira nos Estados Unidos que viveu com a internet desde o dia em que nasceu’’

Squadro Olisur

Para o presidente do maior grupo publicitário do mundo, é preciso avaliar não só o tempo de leitura, mas o engajamento do leitor em diferentes mídias

de opinião. Poderia desenvolver? Além do tempo de leitura, é preciso levar em conta o engajamento do consumidor. Estou falando em qualidade de envolvimento. Na Inglaterra, por exemplo, geralmente o leitor do “Times” em papel pode passar 40 minutos por dia com o jornal, então o envolvimento desse indivíduo é bem grande. Mas no caso de vídeos on-line, não sabemos por quanto tempo são realmente assistidos. É preciso melhorar os padrões de medição, seja dos meios tradicionais ou digitais, para avaliar o engajamento.

rapidamente, você está ligado praticamente 24 horas por dia, sete dias por semana. As demandas são muito diferentes das de alguns anos atrás.

termino um jornal. Gosto de ter um conteúdo com curadoria composto de começo, meio e fim. Mas certamente as gerações depois de mim não vão pensar assim. Temos que lembrar que a geração que está se formando numa universidade americana este ano é a primeira nos Estados Unidos que viveu com a internet desde o dia em que nasceu, então essas pessoas têm visões muito diferentes da vida. l Como pensar credibilidade da informação diante da proliferação de todo tipo de notícia nas redes sociais? Alguém já disse que só quem lê um blog é a mãe do blogueiro. Com jornais, por causa da circulação auditada, você sabe que centenas de milhares de pessoas, ou milhões, leem e você não sabe isso on-line, então é preciso pensar numa forma de medição. Mas, dito isso, essas são formas muito poderosas de mídia que mudam opiniões muito rapidamente, e você precisa de respostas instantâneas, então, a vida mudou. Hoje, gerir uma empresa ou uma marca, corporativa ou de serviços, é quase como estar numa campanha política: você tem que estar preparado para reagir

l Quais são, na sua opinião, as experiências mais interessantes na imprensa hoje? Tem alguém explorando o que pode vir a se tornar a vanguarda do jornalismo? É difícil dizer. Acho o Twitter extremamente poderoso como mídia de relações-públicas. O Facebook é uma mídia de branding, e há várias boas mídias de busca, então há diferentes qualidades. Mas acho que 142 caracteres é algo um pouco superficial. E acho o Buzzfeed uma excelente plataforma, mas às vezes questiono parte do conteúdo. Mas pode ser só um homem velho falando. l O senhor mencionou em Cannes que hoje os mais jovens confiam em diferentes fontes de notícia. Parece claro que centennials (pessoas nascidas após 1997), ou os millennials (após 1985), têm diferente visão das fontes em que confiam e do estilo das notícias. Um exemplo é a “Vice”. Frequentemente, quem consome canais mais tradicionais de notícias, sejam eles a BBC ou o “New York Times”, tende a pensar em notícias de uma forma diferente, mas grupos mais jovens podem apreciar mais esse estilo. l


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Quarta-feira 29.7.2015

TECNOLOGIA NA COMUNICAÇÃO INTERATIVIDADE INFORMAÇÃO EM MÃO DUPLA

De todas as revoluções trazidas pela internet, uma das mais impactantes foi trazer o público cada vez mais para dentro da produção da notícia, dando a ele ferramentas de comunicação com os veículos bem mais ágeis que a tradicional — e ainda muito relevante — página de cartas dos leitores. Desde aplicativos pioneiros, como o Orkut, ficou claro o potencial das redes sociais como ferramentas de apuração para os jornalistas e interatividade para o público.

O GLOBO entrou oficialmente nesse mundo interativo em julho de 2009, com a primeira postagem em seu perfil no Twitter, seguido de perfis para as diversas editorias e colunistas. Em março de 2010, o jornal aprofundou essa participação criando a editoria de Mídias Sociais e Interatividade e, em junho daquele ano, montando o perfil O GLOBO no Facebook. Além da ação nas redes sociais, a equipe de Interatividade produziu debates e hangouts, botando o leitor em

REPRODUÇÃO

Na rede. A página do GLOBO no Facebook

DOMINGOS PEIXOTO

WhatsApp. Colaboração direta do leitor

contato direto com jornalistas, artistas, atletas e autoridades — uma versão com áudio e vídeo para os tradicionais chats, feitos desde os anos 90 pelos jornalistas do site do GLOBO. Em abril de 2015, o jornal deu mais um passo para aproximar o leitor da Redação, com a criação do WhatsApp O GLOBO RIO, um canal para envio de fotos, vídeos, denúncias e sugestões que servem de base para reportagens feitas pela equipe do jornal.

Jornais e as novas plataformas digitais Estudiosos apontam possíveis caminhos para a produção e o consumo de informação O debate acalorado sobre o futuro dos jornais coloca em pauta o caminho da mídia impressa e leva a uma reflexão sobre a rapidez das mudanças tecnológicas, que apontam para novos formatos e plataformas. Adriana Barsotti, autora do livro “Jornalista em mutação” e primeira editora da revista eletrônica Globo a Mais, compara as mudanças na produção e distribuição de notícias a um turbilhão: — Se a gente olhar para a história, nunca uma mídia deixou de existir. O que acontece é que passamos a consumir outras. Ao relembrar os “antepassados” do jornal, Adria-

na afirma: “Existe jornalismo antes de existirem os jornais". Exemplo são as folhas volantes que circulavam no século XVI com informações sérias, mas também com histórias sobre celebridades locais. E se hoje é difícil imaginar um mundo em que a internet não tenha tanta importância, isso não era verdade nos anos 90. Até Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft, em algum momento menosprezou o advento da rede. Gates só iria admitir o real poder da internet num memorando de maio de 1995, conhecido como The Internet Tidal Wave: “Tenho passado por diversos estágios para expan-

dir meus pontos de vista (...) Agora atribuo à internet o mais alto nível de importância”. No momento em que perceberam a importância do meio digital, os jornais passaram, aos poucos, a utilizar novas plataformas na veiculação de notícias, sem perder suas características originais. Atualmente, o formato de produção e consumo já é bem diferente do que era há duas décadas. Nesse contexto, o professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando Ewerton percebe que os jornais ajudaram a criar uma noção de comunidade em escala urbana e nacional. O pesquisador acredita que, nos dias atuais, essa relação migrou para as mídias sociais: — A passagem para as novas plataformas não é automática, e a maioria dos veículos ainda está engatinhando nos processos de engajamento do público com o conteúdo — comenta o professor. “TODOS COM ACESSO À INTERNET ESTÃO AO VIVO’’ Marcio Gonçalves, especialista em mídias digitais e professor da UFRJ, resume o atual cenário. Para ele, a produção e a distribuição de notícias estão na ponta dos dedos de qualquer indivíduo que tenha capacidade de registro e de compartilhamento: — A notícia não está mais ao vivo na TV. Todos com acesso à internet estão ao vivo e percebem que podem registrar e imediatamente divulgar fatos. Mas, se ferramentas como as redes sociais colaboram na apuração de temas e funcionam como fontes e produtoras de conteúdo, Fernando Ewerton diz que as novas plataformas digitais também

afetam o conteúdo jornalístico nas diferentes mídias, tornando-o mais imediato e menos profundo. Manuela Barem, editora do site Buzzfeed Brasil — portal de origem americana que ganhou fama por investir em jornalismo e entretenimento — também destaca as redes sociais como um caminho a ser explorado pelos jornais. — É difícil a gente falar que tem o futuro nas mãos ou uma fórmula para outros jornais. A gente precisa, como jornalista, entender que existe um mar de conversas acontecendo nas redes sociais. Para Adriana Barsotti, os jornais se encontram numa transição de modelos de negócios e existe uma confusão ao se debater a “crise dos jornais” e a “crise do jornalismo”. — A profissão vai continuar existindo porque ela vai ser necessária. Agora, não nesse modelo de negócios calcado em audiência e publicidade massiva, que foi o que sustentou os meios de comunicação de massa até aqui. Eu vejo um cenário mais fragmentado no futuro, publicações mais especializadas, mais de nicho. Esta também é a visão do jornalista Leandro Beguoci, mestre pela Escola de Economia e Ciência Política de Londres e fellow no Centro Tow-Knight para o Jornalismo Empreendedor, na Universidade de Nova York, que, além disso, enxerga a marca de um jornal acima de qualquer formato: — A marca dos jornais foi construída usando o papel durante muito tempo, mas não significa que vá depender desta mídia para sempre. l GUITO MORETO/29-04-2014

Tecnologia. Passageiros do metrô do Rio usam smartphones: comportamento exige novas estratégias da mídia

Desafio inclui conquistar novo público Mestrando em Jornalismo Social na Universidade de Nova York e ex-editor do portal de tecnologia Gizmodo, o jornalista Pedro Burgos é reticente ao prever mecanismos de divulgação que guiarão o caminho da informação nos próximos anos. Para ele, é difícil dizer o que dará certo. Burgos acredita que a grande questão está relacionada ao consumo de notícias: o desafio é como chegar a novos públicos, consumidores de novos formatos, sem, no entanto, perder o antigo. Talvez a resposta esteja na internet móvel. É nisso, por exemplo, que aposta Cora Rónai, colunista do GLOBO : — Não tenho dúvida de que a ferramenta do futuro é o smartphone. Todas as iniciativas têm que ser voltadas para o consumo móvel, para o consumo na rua. Ao longo dos últimos anos, novas ferramentas para compartilhamento de notícias nas redes sociais têm ganhado destaque. O Facebook anunciou recentemente a implementação do “Instant Articles", que permite ao usuário da rede social acessar um conteúdo sem precisar migrar para um link externo, hospedado em outro site. Veículos de comunicação como o jornal americano “The New York Times” já estão testando o recurso em suas páginas oficiais. REDES SOCIAIS: DE OLHO NAS TENDÊNCIAS Nos últimos anos, as redes sociais passaram a reunir pessoas que conversam, buscam informações, comentam, compartilham textos, fotos, vídeos, áudios. Com essas mudanças e a imposição do imediatismo, a equipe responsável pelas mídias sociais no GLOBO é parte essencial da produção jornalística, acompanhando em tempo real os acontecimentos que se desenrolam on-line e

alertando o restante da Redação sobre as notícias que começam e se desenvolvem nesses espaços. Além disso, a equipe é responsável pela interatividade com os leitores, monitorando o comportamento dos usuários e as tendências das redes. A presença do jornal nas redes sociais é de fundamental importância para atrair um novo público. Por isso, em março de 2010, O GLOBO criou a editoria de Mídias Sociais, responsável por incentivar o melhor uso das redes sociais entre os profissionais da Redação e coordenar a presença do veículo nas diversas plataformas que já existem ou possam aparecer. A ideia é ampliar a cultura de publicação descentralizada e a troca com os leitores. E, com isso, alcançar novas audiências. — As redes são plataformas de difusão e conversação. A pessoa não quer apenas consumir a informação: quer participar, debater — diz o editor de Mídias Sociais, Sérgio Maggi. No Twitter, onde O GLOBO já tem vários perfis, é possível encontrar personagens e fontes, agilizando a apuração com quem está mais próximo dos fatos. Na rede social, com atualizações em tempo real, também é possível rastrear tendências e acompanhar a repercussão de material publicado. DO TWITTER PARA A MANCHETE Um exemplo disso foi a notícia da aposentadoria do então presidente do STF Joaquim Barbosa. Publicada no Twitter do senador Renan Calheiros, foi imediatamente detectada pela editoria de Mídias Sociais e repassada aos jornalistas da Editoria País para ser apurada. Minutos depois, a história era a manchete do site. Atualmente com quase 4 milhões de fãs no Facebook e mais de 6 milhões de seguidores no Twitter — entre a conta principal, de editorias e colunistas — as redes sociais são responsáveis por cerca de 15% da audiência do site do GLOBO na versão desktop e quase 60%, na versão mobile. — Mostramos aos nossos seguidores a diversidade da produção de qualidade que publicamos todos os dias na internet, e, com isso, conseguimos atingir pessoas que, normalmente, não acessariam o site — afirma Sérgio Maggi. O editor acrescenta que erros devem ser evitados ao máximo: — Qualquer erro nas redes sociais ganha dimensão grande. Claro que erros devem ser evitados em qualquer lugar sempre. Mas, nas redes, um pequeno deslize tende a ganhar dimensão bem maior. l


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