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elevare Revista técnica de elevadores e movimentação de cargas
Número 1 . 2.o Trimestre de 2013 . www.elevare.pt
Ascensores com história «O Elevador de Santa Justa»
Notas técnicas
«Protetores de motor DSP – fiabilidade e confiança na proteção e automação de motores»
DOSSIER
Acessibilidade
Normalização
«Normas, leis e regulamentos»
Figuras
«Resumo biográfico de Agostinho Almeida Cardoso»
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Ficha técnica
Sumário
elevare
DIRETOR Fernando Maurício Dias fmd@isep.ipp.pt
Revista técnica de elevadores e movimentação de cargas
COLABORAÇÃO REDATORIAL Fernando Maurício Dias, Reis Campos, José Pirralha, Fernando J. T. E. Ferreira, Eduardo Jorge, Margarida Torres, Ana Margarida Ferreira da Silva, Carlos Pereira,
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Editorial
E. Miguel de Brito Nogueira, Francisco Craveiro Duarte,
1.o número da ELEVARE
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Espaço Opinião
Portugal sem investimento é um país sem futuro
Ricardo Sá e Silva, Tel.: +351 225 899 628
8
Normalização
r.silva@elevare.pt
Normas, leis e regulamentos
DIRETOR COMERCIAL
10
Investigação e Desenvolvimento
Júlio Almeida, Tel.: +351 225 899 626
Impacto dos Variadores Eletrónicos de Velocidade nos Motores e na Rede Elétrica
j.almeida@elevare.pt
(2.a Parte)
CHEFE DE REDAÇÃO
20
Notícias e Produtos
22
Dossier: Acessibilidades
[22]
Acessibilidade
ASSESSORIA
[24]
Acessibilidades, um direito de todos
João Miranda
[26]
“Viana Para Todos”: um exemplo de boas práticas de acessibilidade
j.miranda@elevare.pt
[29]
Acessibilidade: vamos indo, como deus quer…
[32]
Acessos verticais e mobilidade
[34]
Mobilidade das pessoas portadoras de deficiência
36
Nota Técnica
Protetores de motor DSP – fiabilidade e confiança na proteção
e automação de motores
m.magalhaes@elevare.pt
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Bibliografia
PROPRIEDADE, REDAÇÃO, EDIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
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Ascensores com História
CIE - Comunicação e Imprensa Especializada, Lda.®
O Elevador de Santa Justa
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Consultório técnico
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Figuras
Resumo biográfico de Agostinho Almeida Cardoso
Ricardo Jesus, António Vasconcelos, Eduardo Restivo, Ricardo Sá e Silva e Helena Paulino
COORDENADOR EDITORIAL
Helena Paulino h.paulino@elevare.pt
DESIGN Luciano Carvalho l.carvalho@publindustria.pt
webdesign Martino Magalhães
Grupo Publindústria Tel.: +351 225 899 626/8 · Fax: +351 225 899 629 geral@cie-comunicacao.pt · www.cie-comunicacao.pt
Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.
elevare
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Editorial
1.o número da ELEVARE Cada vez mais a Internet faz parte da vida das pessoas, e da sua forma de consumir e de inter-relacionamento, o que implica conhecer muito mais sobre esse universo. É fundamental saber como comunicar com esse enorme público e não perder a oportunidade que nos oferecem as inovações digitais de que dispomos.
Este 1.o número da ELEVARE, enquanto revista independente e não como separata de uma outra revista, marca uma nova etapa deste projeto em que a revista se torna completamente autónoma, passando para formato digital. Esta nova forma de apresentação da revista, permite contrariar as dificuldades económicas associadas a projetos deste tipo mas, e mais importante, permite chegar ao seu público de uma forma mais direta. Os princípios e os
Fernando Maurício Dias
objetivos mantêm-se.
Diretor
Neste número o destaque é atribuído a um tema caro ao setor - As acessibilidades a pes-
Para concluir, prevê-se que, em breve, seja
soas com mobilidade condicionada - destaco “pessoas com mobilidade condicionada" e não
publicada a legislação que altera o dispos-
deficientes como habitualmente se denomina. Alguns deficientes enquadram-se no grupo
to no Decreto-Lei n.o 320/2002 de 28 de
de pessoas com mobilidade reduzida mas esta pertença é muito mais abrangente, no limite,
dezembro. É um trabalho que envolveu di-
falamos em toda a população. Todos somos potenciais indivíduos com mobilidade condicio-
versas pessoas e muita dedicação mas que,
nada, facto que muitas das vezes é ignorado pelos responsáveis por projetos ou decisores,
infelizmente, esbarra na mais profunda bu-
a mobilidade condicionada pode resultar de factos temporários ou permanentes dos quais
rocracia o que não contribui para a evolu-
não estamos a salvo. Partindo deste princípio porque não pensar em equipamentos e solu-
ção do setor.
ções que tenham por base o cumprimento dos requisitos básicos para atenuar as dificulda-
Estatuto Editorial
des associadas às pessoas com mobilidade condicionada?
TÍTULO “ELEVARE – Revista Técnica de Elevadores e Movimentação de Cargas” OBJETO Tenologias inerentes ao projeto, conceção, montagem, manutenção de elevadores e plataformas de movimentação de cargas. OBJETIVO Difundir informação, tecnologia, produtos e serviços para a valorização profissional de profissionais eletrotécnicos e mecânicos. ENQUADRAMENTO FORMAL A revista “ELEVARE – Revista Técnica de Elevadores e Movimentação de Cargas” respeita os princípios deontológicos da imprensa e a ética profissional, de modo a não poder prosseguir apenas fins comerciais, nem abusar da boa-fé dos leitores, encobrindo ou deturpando informação. CARATERIZAÇÃO Publicação periódica especializada. ESTRUTURA REDATORIAL Diretor – Profissional com experiência na área da formação. Coordenador Editorial – Formação académica em ramo de engenharia afim ao objeto da revista. Colaboradores - Engenheiros e técnicos profissionais que
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elevare
Boa leitura.
exerçam a sua atividade no âmbito do objeto editorial, instituições de formação e organismos profissionais. SELEÇÃO DE CONTEÚDOS A seleção de conteúdos tecnológicos é da exclusiva responsabilidade do Diretor. O noticiário técnico-informativo é proposto pelo Coordenador Editorial. A revista poderá publicar peças noticiosas com caráter publicitário nas seguintes condições: › Com o título de Publi-Reportagem; › Formato de notícia com a aposição no texto do termo Publicidade. ORGANIZAÇÃO EDITORIAL Sem prejuízo de novas áreas temáticas que venham a ser consideradas, a estrutura de base da organização editorial da revista compreende: › Sumário › Editorial › Artigo Técnico › Espaço Qualidade › Normalização › Legislação › Qualidade, Segurança e Ambiente › Coluna da ANIEER › Coluna dos Condóminos › Nota Técnica › Investigação e Desenvolvimento › Notícias › Dossier Temático
› Informação Técnico-Comercial › Reportagem › Publi-Reportagem › Entrevista › Case-Study › Figuras › Ascensores com História › Produtos e Tecnologias › Bibliografia › Eventos e Formação › Consultório Técnico › Links › Publicidade ESPAÇO PUBLICITÁRIO A Publicidade organiza-se por espaços de páginas e frações, encartes e Publi-Reportagens. A Tabela de Publicidade é válida para o espaço económico europeu. A percentagem de Espaço Publicitário não poderá exceder 1/3 da paginação. A direção da revista poderá recusar Publicidade cuja mensagem não se coadune com o seu objeto editorial. Não será aceite Publicidade que não esteja em conformidade com a lei geral do exercício da atividade. PROTOCOLOS Os acordos protocolares com estruturas profissionais, empresariais e sindicais, visam exclusivamente o aprofundamento de conteúdos e de divulgação da revista junto dos seus associados.
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Espaço Opinião
Portugal sem investimento é um país sem futuro Reis Campos, Presidente da CPCI – Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário
O compromisso entre o governo e a confederação portuguesa da construção
são a realidade diária de um setor à beira do colapso.
e do imobiliário é essencial para a retoma do crescimento.
O processo de destruição do tecido empresarial encerra consequências dramáticas, que não se esgotam em números como a perda de 394 mil postos de trabalho desde
Mais de 11 anos volvidos desde a última vez
2002, ou o encerramento de 13 mil empre-
que, em Portugal, se registou um acrés-
sas e os mais de 6 mil milhões de euros de
cimo da produção da Construção e Imobi-
crédito malparado. Está em causa a sus-
liário, e após se ter atingido um valor do
tentabilidade económica do País e, tal como
investimento em construção que é o mais
temos repetidamente afirmado, não pode-
reduzido dos últimos 32 anos, é consensu-
mos ficar à margem de uma Europa que
almente reconhecido que o setor foi o mais
vê, nesta atividade, a chave para combater
atingido pela situação que o país atraves-
a crise instalada, promover o emprego e
destaca a importância da construção e do
sa. Os nossos empresários enfrentam um
atingir as metas que estabeleceu em ma-
imobiliário, responsável por 10% do PIB eu-
cenário de rutura e as falências, o crédito
téria de competitividade e desenvolvimento
ropeu e 20 milhões de empregos, enquanto
malparado, o desemprego, as dificuldades
sustentável. Veja-se, a esse propósito, a Es-
instrumento propulsor da manutenção e
de tesouraria, a falta de trabalho, o desin-
tratégia Europeia para o Setor, apresentada
criação de postos de trabalho e do cresci-
vestimento e os atrasos nos pagamentos,
há um ano pela Comissão Europeia e que
mento sustentável da economia em geral. Em Portugal, e após um período de excessivo enfoque em políticas de austeridade, que ignoraram a necessidade de promover o crescimento económico e, em particular, de inverter o défice de investimento que se verifica, existe, finalmente, um reconhecimento consensual que é necessário encontrar soluções efetivas para recolocar a economia numa trajetória de sustentabilidade. Iniciativas como a Resolução da Assembleia da República n.º 58/2013, pela qual todos os partidos com assento parlamentar vieram recomendar a adoção de medidas para o relançamento do setor, revelam a unanimidade quanto à necessidade de salvaguardar o tecido empresarial da construção e do imobiliário e de dinamizar o investimento, tanto público, como privado. Foi nesse contexto que o Governo formalizou, no passado dia 8 de março, com a
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elevare
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CPCI – Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, o “Compromisso para a Competitividade Sustentável do Setor da Construção e Imobiliário”. Esta é a resposta nacional às linhas orientadoras, resultantes da Estratégia Europeia e encerra uma agenda transversal a todo o tecido empresarial do setor, com 52 medidas objetivas, repartidas por 7 domínios estratégicos, essenciais para a sobrevivência das empresas e para a competitividade e sustentabilidade nacionais. O acordo conseguido, não só materializou uma inversão na atitude de um Executivo totalmente focado no cumprimento de um Memorando de Entendimento que asfixia o tecido empresarial nacional, como abriu caminho a algumas medidas importantes, já implementadas, como é o caso da taxa liberatória para os rendimentos do Arrendamento, o regime de caixa do IVA ou o denominado “supercrédito fiscal”, anunciado pelo Ministro das Finanças, ao mesmo tempo que afirmava que é chegado o tão esperado momento do investimento. Porém, tão ou mais importante que as medidas em causa é essencial restaurar a confiança de todos os agentes económicos e, em especial, dos investidores. O País tem de saber demonstrar que o “momento do investimento” não é mais um anúncio perdido, mas sim o caminho certo para que o País possa finalmente encontrar a estabilidade e o rumo perdidos. Ao crédito fiscal atrativo, que é complementado por um País com excelentes oportunidades de investimento em domínios tão diversos como o turismo, a indústria ou a reabilitação urbana, temos de somar outros fatores como a estabilidade e regulação do mercado imobiliário, o acesso ao financiamento, o fim dos atrasos nos pagamentos do Estado ou a alavancagem da economia através da concretização dos quase 10 mil milhões de euros de fundos comunitários que não podem ser desperdiçados, dos quais 3,7 mil milhões se destinam a infraestruturas e investimentos de proximidade. E, se muitos indicadores apontam para uma contínua recessão, a verdade é que, nos últimos meses, começam a surgir, pela primeira vez em muitos anos, os primeiros elementos positivos, como é o caso do consumo de cimento, dos indicadores de confiança dos empresários, das promoções de concursos públicos ou, mesmo, do número de insolvências que, mantendo-se muito elevado, é significativamente inferior ao registado no ano passado. São sinais ténues, que significam que ainda há esperança e que vale a pena apostar no nosso setor. Às medidas do Compromisso que se encontram implementadas ou em fase de concretização, devem-se juntar as restantes, que se encontram assumidas no documento assinado conjuntamente com o Governo. Uma nova atitude é essencial e compete ao Executivo imprimir a velocidade necessária para que estas soluções se materializem no terreno, em tempo útil, dando um impulso efetivo à retoma do investimento, consensualmente reconhecido como imprescindível e urgente.
Normalização
Normas, leis e regulamentos José Pirralha Diretor Técnico da Thyssenkrupp Elevadores, S.A. Presidente da Comissão Técnica CT63
O Regulamento dos Produtos de Construção ( RPC) e suas potenciais
O que é o Regulamento dos Produtos de
2. Declaração de desempenho:
Construção (RPC)?
›
Obrigatória sempre que o produto
implicações no mercado de elevadores,
Publicado no JO de 4/04/2011 com a designa-
esteja ao abrigo de uma norma har-
escadas mecânicas e tapetes rolantes.
ção Regulamento 305/2011, o RPC estabelece
monizada ou conforme Avaliação
exatamente condições harmonizadas para a
Técnica Europeia;
comercialização dos produtos de construção, O transporte de pessoas e/ou mercadorias
revogando a Diretiva 89/106/CEE, a qual fora
em elevadores, bem como o transporte de
transposta pelo Decreto-Lei 004/2007 de 8
pessoas em escadas mecânicas e tapetes
de janeiro.
›
Realizado por referência a um modelo (Anexo III);
› Deverá conter pelo menos uma caraterística essencial do produto;
rolantes, está sujeito a um conjunto de con-
› Existem
todavia
derrogações
à
dições, que, se organizam em diferentes
obrigação da sua elaboração (pro-
níveis e formas consoante os objetivos e o
duto fabricado de forma tradicional,
alcance que se pretende atingir, mas, visan-
fabricado individualmente ou por
do sempre a segurança dos utilizadores.
medida, entre outros).
Como já tivemos oportunidade de refe-
3. Marcação CE:
rir em artigo anterior as Normas da série
O diagrama temporal para a aplicação do
EN 81 – Normas de Segurança para o fabri-
RPC é o seguinte:
›
técnicas nacionais, como presunção
co, instalação de ascensores ou EN 115 para escadas e tapetes, constituem-se como instrumentos essenciais para a segurança dos
de conformidade; 4.4.2011
24.4.2011
›
1.7.2013
Só pode ser aposta após a emissão da Declaração de Desempenho;
utilizadores, ao mesmo tempo que são ga-
›
rante da regulação do mercado. Refira-se que está neste momento em marcha, ca-
É eliminada a via das especificações
Deve obedecer aos requisitos gerais da marcação CE, previstos no regu-
Publicação
Entrada em vigor
minhando a passos largos para a publicação a prEN 81-20/50, projetos que dentro
Aplicação diferida de várias disposições
em breve serão submetidos a voto formal,
lamento 765/2008. Que impacto poderá ter o RPC na nossa atividade?
antevendo-se para o último trimestre do
O RPC é de aplicação obrigatória para a maio-
Como dissemos, o RCP é de aplicação obri-
corrente ano a sua publicação. Esta será,
ria dos seus requisitos a partir do dia 1 de
gatória a partir do dia 1 de julho.
sem dúvida, a mais profunda alteração nor-
julho de 2013, tornando-se de aplicação obri-
›
mativa dos últimos 20 anos, o que por si só
gatória de modo pleno em 1 de julho de 2014.
recomenda especial atenção de todos os intervenientes.
A partir dessa data os produtos metálicos de construção devem ter marcação CE e Declaração de Desempenho;
Ao revogar a Directiva dos Produtos de
› De acordo com o RPC, tal é obrigatório
Construção ( DPC) o regulamento introduz
para os produtos cobertos por Normas
Para lá das normas e das leis, sejam elas
alterações significativas a vários níveis:
Europeias harmonizadas (hEN).
nacionais como, por exemplo, na acessibi-
1. Requisitos básicos das obras ( Anexo I ):
lidade, ou resultantes da transposição de
›
Diretivas Europeias, existem outros instrumentos legais porventura menos conheci-
durante todo o ciclo de vida; ›
dos – Regulamentos Europeus. É a propósito deste último instrumento que vos queria
Aptas para o fim a que se destinam Preocupações com a libertação de substâncias perigosas;
›
falar hoje, mais exatamente sobre o Regu-
A introdução de requisitos de acessibilidade ( deficientes);
lamento dos Produtos de Construção (RPC)
›
A exigência de eficiencia energética;
e dos possíveis impactos deste regulamen-
›
Utilização sustentável dos recursos
to na nossa atividade.
8
elevare
naturais.
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Dito isto surge um conjunto de perguntas a que nem sempre será fácil responder tais como: ›
No caso de ascensores em Caixa comum, estão as fixações centrais obrigadas a cumprir os requisitos do RPC?
›
A instalação de um ascensor numa Caixa metálica (com ou sem vidro) deve estar ao abrigo do RPC?
› E que dizer das escadas/tapetes e da estrutura das mesmas? A resposta a estas perguntas não é linear, sendo todavia entendimento comum ao nível do CEN (Comité Europeu de Normalização) que os produtos mesmo de interface, que são colocados no mercado ao abrigo de uma Diretiva harmonizada, não estão sujeitos ao RPC. Assim, quer para os ascensores (a coberto da Diretiva 95/16/CE), quer para as escadas e tapetes (ao abrigo da Diretiva 2006/42/EU) não é aplicável o RPC. Tal significa que, no caso dos ascensores os elementos de interface tais como as fixações de guias, ou outros, estão fora do alcance do RCP, o mesmo se podendo afirmar para a estrutura das escadas ou os elementos de interligação com o edifício. Ou seja : 1. O projeto e os procedimentos de avaliação de conformidade, isto é, a marcação CE de ascensores está a coberto da Diretiva 95/16/CE. Em consequência todos os componentes do ascensor, mesmo os de interface estão fora do RPC; 2. O projeto e os procedimentos de avaliação de conformidade, ou seja, a marcação CE de escadas e tapetes está a coberto da Diretiva 2006/42/CE. Em consequência todos os componentes das escadas e tapetes, mesmo os de interface estão fora do RPC. Em jeito de conclusão e espero que não seja para aumentar a confusão que esta matéria pode suscitar, podemos dizer o seguinte: Se o instalador de ascensores assume a instalação de um ascensor em caixa panorâmica e se encarrega da construção da mesma, fá-lo-á ao abrigo da Diretiva Ascensores. Todavia, se o proprietário contrata uma outra empresa para a construção da Caixa, esta deve cumprir os requisitos do RPC. Estas questões estarão certamente em discussão nos próximos meses, sendo objetivo deste artigo apenas e só antecipar o que por aí poderá vir. Para quem possa especialmente estar interessado nesta matéria, ou que deseje aprofundar a mesma, recomenda-se para lá da leitura do Regulamento, publicado no JO, a consulta do guia elaborado sob a responsabilidade da Construction Products Association (UK), que poderá aceder através dos seguintes links: ›
w w w.co n s t r u c t i o n prod u c t s .o r g.u k / ? eID = d a m _ fro n ten d _
›
www.constructionproducts.org.uk/publications/industry-affairs/
push&docID=1443&filename=CPR_Version_2_draft_13.pdf display/view/construction-products-regulation
Investigação e Desenvolvimento
Impacto dos Variadores Eletrónicos de Velocidade nos Motores e na Rede Elétrica (2.a Parte) (Continuação na edição anterior) Fernando J. T. E. Ferreira Departamento de Engenharia Eletrotécnica, Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), Coimbra, Portugal Instituto de Sistemas e Robótica, Universidade de Coimbra (ISR-UC), Coimbra, Portugal , fernandoferreira@ieee.org
Resumo – Os Variadores Eletrónicos de Velocidade, devido às suas vantagens técnico-económicas, são cada vez mais utilizados para controlar a velocidade e o binário dos motores de indução trifásicos. Porém, têm também associados alguns aspetos negativos. Neste artigo, de uma forma breve, discute-se o seu impacto nos motores de indução trifásicos e na rede elétrica.
V. Variadores Eletrónicos de Velocidade Os VEVs convertem a tensão alternada da rede numa tensão contínua e, em seguida, sintetizam uma tensão alternada de frequência e
Figura 12-B. Topologia básica de um VEV constituído por um retificador trifásico
amplitude variáveis, sob controlo externo do utilizador. Tipicamen-
de 6 impulsos com díodos e um inversor de fonte de tensão de 2 níveis. Formas
te, a frequência fundamental da tensão produzida à saída pode va-
de onda típicas da corrente à entrada do retificador e da tensão e corrente à
riar entre 0 e 150 Hz.
saída do inversor.
Os VEVs mais comuns (Figura 12-A e 12-B), na sua forma mais sim-
Tipicamente, o retificador dos VEVs é trifásico10, de ponte comple-
ples, integram um conversor unidirecional AC-DC (retificador), um
ta (6 impulsos) e com díodos (não controlado). Porém, podem ser
barramento DC e um conversor bidirecional8 DC-AC/AC-DC (inver-
usados outros tipos de retificadores, sendo este tópico abordado
sor). Tal como referido anteriormente (ver 1.a parte do artigo), na
na Secção VIII.
7
maioria dos modelos comerciais, o inversor é do tipo VSI-PWM. Os VSIs mais usados são de 2 níveis, estando também disponíveis no
À entrada do retificador pode instalar-se um filtro indutivo (input/
mercado VSIs de 3 níveis para aplicações especiais. Os dispositivos
line reactor), por forma a reduzir a distorção harmónica da corrente
semicondutores mais utilizados nos inversores de Baixa Tensão são
à entrada do VEV.
os IGBTs . A frequência de comutação utilizada na modulação da 9
tensão varia tipicamente entre 2 e 16 kHz (na maioria dos modelos
O barramento DC incorpora uma capacidade (constituída por um ou
este parâmetro pode ser definido pelo utilizador).
vários condensadores) e, opcionalmente, uma indutância (DC-link/ bus choque/reactor) que, à semelhança do filtro indutivo à entrada do VEV, tem por objetivo atenuar a distorção harmónica da corrente absorvida. No barramento DC, existe ainda um “chopper” (IGBT) com uma resistência em série (Td e Rd na Figura 12-B) que serve para dissipar a
Figura 12-A. Topologia não regenerativa (a energia gerada pelo motor é dissipada
energia devolvida pelo motor em regime de frenagem (frenagem
numa resistência instalada no barramento DC).
dissipativa), atuando sempre que a tensão do barramento DC excede um valor pré-definido.
7
Fluxo de potência num único sentido, da rede para o barramento DC.
Fluxo de potência nos dois sentidos, do barramento DC para o motor e
8
9
10
10
Refira-se que nos VEVs de saída trifásica, o retificador pode ser mono-
vice-versa.
fásico, permitindo alimentar motores trifásicos (mais eficientes do que
Insulated-Gate Bipolar Transistor.
os monofásicos) a partir de uma rede monofásica.
elevare
Investigação e Desenvolvimento derão ser muito vantajosos para motores com operação fre-
Na topologia regenerativa (back-to-back; Figura 13), o retificador de
quente e/ou prolongada em modo de frenagem;
díodos é substituído por uma ponte de IGBTs, que pode funcionar como retificador e inversor (à semelhança do conversor DC-AC/AC-DC
›
Potencial diminuição do ruído acústico e melhoria do controlo dos processos, da produtividade e da qualidade dos produtos.
de saída), consoante absorve ou injeta energia na rede, permitindo assim realizar frenagens regenerativas, em aplicações que funcionem nos 2.o e 4.o quadrantes. Para além disso, o fator de potência pode ser praticamente unitário neste tipo de topologia.
VI. Rendimento dos VEVs À semelhança do que acontece com os motores, o rendimento dos VEVs varia em função do seu tipo, potência nominal e nível de carga, conforme se pode observar na Figura 14. Nos VEVs, o decréscimo do rendimento com a carga é tanto mais acentuado quanto menor for a sua potência nominal.
Figura 13. Topologia regenerativa (com capacidade de injeção de energia na rede).
Os VEVs têm diferentes tipos de perdas12, nomeadamente, as perExistem outros tipos de VEVs comerciais integrando, por exemplo,
das associadas ao consumo dos sistemas eletrónicos de controlo e
inversores de fonte de corrente (current-source inverters – CSI) ou
da ventilação forçada e as perdas nos dispositivos semicondutores
conversores AC-AC matriciais (matrix converters), mas não serão
de potência (perdas por comutação e condução). Estas últimas de-
abordados neste artigo.
pendem da frequência de comutação e do nível de carga do VEV.
Resumidamente, as principais vantagens dos VEVs são:
Assim, o rendimento dos VEVs tende a decrescer com o aumento
›
Rendimento e fiabilidade elevados;
da frequência de comutação, apesar de ter, na maioria dos casos,
›
Fator de potência elevado (particularmente se forem utilizados
um impacto positivo no rendimento do motor (reduz as perdas har-
filtros e/ou retificadores controlados);
mónicas) e, simultaneamente, conduzir à redução das vibrações e
› Dimensão e volume relativamente reduzidos; ›
do ruído acústico.
Facilidade de parametrização/programação;
› Integração de módulos para controlo de processos eletrónicos
Esta é a razão pela qual a frequência de comutação deve ser bem
(por exemplo, do tipo PID) com entradas/saídas digitais/analógicas;
selecionada, não devendo ser nem demasiado elevada nem dema-
›
Possibilidade de controlo de vários tipos de motores;
siado baixa (no mínimo, 2 kHz). Com efeito, nos acionamentos com
›
Possibilidade de imprimir nos MIs uma resposta dinâmica com-
MI e VEV, para cada nível de carga, há uma frequência de comutação
parável à dos motores DC com escovas;
ótima, que permite minimizar as suas perdas totais.
›
Adaptação do motor à carga (em termos de binário e velocidade), permitindo aumentar o rendimento do sistema;
›
Arranques/acelerações suaves e paragens/desacelerações controladas, permitindo poupar energia e reduzir o desgaste dos componentes mecânicos do sistema (como por exemplo, das correias), prolongando o seu tempo de vida;
›
Proteção do motor contra curto-circuitos, sobrecargas, sobretensões, falta de fase, entre outros;
›
Possibilidade de poupança substancial de energia e tempo de retorno do investimento reduzido, particularmente quando aplicados ao controlo de caudais de bombas e ventiladores centrífugos;
›
Possibilidade de integrarem módulos de regeneração11, que po-
Os módulos de regeneração, que permitem injetar energia na rede pro-
Figura 14. Rendimento mínimo dos VEVs comerciais com retificador de díodos
veniente de um barramento DC, podem ser individuais (integrados ou
e inversor de fonte de tensão, em função da potência nominal (em kW), para
não de série no próprio VEV) ou comuns a vários inversores. Neste úl-
diferentes níveis de carga (pontos de funcionamento típicos em bombas, ventila-
timo caso, são ligados a um barramento DC comum ao qual estão liga-
dores e compressores).
11
dos diversos inversores. Este tipo de solução é muito interessante para instalações com diversas cargas/aplicações a funcionar nos quatro quadrantes, como por exemplo os sistemas industriais de armazena-
vendo injeção de energia na rede apenas quando neste último há excesso
mento automático com múltiplos sistemas de elevação de cargas ou os
de energia. De notar que a regeneração só é possível se a transmissão
edifícios de serviços/comerciais com múltiplos elevadores e/ou escadas
mecânica for bidirecional/reversível em termos de fluxo de potência (o
rolantes, nos quais a probabilidade de existirem, em simultâneo, motores a operar em modo de frenagem e de motorização é muito elevada, podendo haver transferência de energia através do barramento DC, ha-
que não acontece com os acoplamentos com sem-fim). 12
As perdas correspondem à parte da potência absorvida que não se converte em potência útil.
elevare
11
Investigação e Desenvolvimento VII. Impacto dos VEVs nos MIs Os VEVs com inversores do tipo VSI-PWM têm um impacto significativo no desempenho dos MIs, ao nível do rendimento, da fiabilidade e dos limites de binário. Estes aspetos são abordados nas secções seguintes. A. Rendimento do VEV, do MI e do Sistema As tensões PWM produzidas à saída dos VEVs têm um um conteúdo harmónico de elevada ordem (> 20.ª ordem, depende da frequência de comutação) para o funcionamento em regime de modulação linear, e, adicionalmente, de baixa ordem (5.ª, 7.ª, 11.ª, … ordem), para o funcionamento em regime de sobremodulação, gerando perdas harmónicas adicionais nos enrolamentos estatóricos, no núcleo ferromagnético e no rotor dos MIs. Assim, o rendimento de um MI para uma determinada frequência fundamental (igual ou diferente da nominal) é inferior com alimentação PWM. Na Figura 15, mostra-se o rendimento experimental de um acionamento de 37 kW constituído por um VEV e um MI. O rendimento do MI, tal como esperado, decresce com o nível de carga (particularmente abaixo dos 50% de carga) e com a frequência fundamental da sua alimentação. Em relação à alimentação sinusoidal (sem VEV), quando o motor é alimentado/controlado através do VEV, há ainda um decréscimo significativo do seu rendimento, à velocidade nominal (cerca de 1,5 pontos percentuais). Na Figura 16 mostra-se a variação do rendimento de um MI de 7,5 kW alimentado diretamente da rede e através de um VEV.
Figura 15. Rendimento do MI, do VEV e do sistema (VEV+MI), para um acionamento de 37 kW, em função do binário desenvolvido, para diferentes velocidades.
Tanto as perdas do VEV como as perdas harmónicas adicionais no motor contribuem para o decréscimo do rendimento total do sistema de acionamento. Note-se que o facto de o VEV permitir regular de forma ótima o fluxo magnetizante do motor, na maioria dos casos, para cargas baixas, o ganho no rendimento do MI que isso permite obter sobrepõe-se ao efeito negativo das perdas harmónicas adicionais. Mais ainda, se se tiver em conta o acentuado decréscimo da potência mecânica com a redução da velocidade nalgumas aplicações (por exemplo: bombas e ventiladores centrífugos), as perdas harmónicas adicionais no motor e as perdas do VEV tornam-se pouco significativas. B. Limites de Binário em Regime Permanente O tempo de vida de um MI (até à primeira avaria ou entre avarias) depende essencialmente da degradação dos rolamentos e do sis-
Figura 16. Rendimento experimental de um MI de 7,5 kW alimentado diretamente
tema de isolamento dos enrolamentos estatóricos. De uma forma
da rede e através de um VEV.
aproximada, o tempo de vida dos materiais isolantes diminui 50% por cada aumento de 10º C na sua temperatura. Assim, por forma
A resistência térmica equivalente dos MIs blindados (índice de pro-
a garantir o tempo de vida original dos MIs, deve-se garantir que,
teção IP55 ou superior) aumenta com o aumento da sujidade na
no seu funcionamento em regime permanente, a temperatura dos
carcaça e com a redução da velocidade angular do ventilador (ou
seus enrolamentos estatóricos não excede o valor nominal.
redução do caudal de ar de arrefecimento).
Há três fatores que contribuem para o aumento da temperatura
Assim, assumindo que a temperatura ambiente se mantém cons-
interna dos MIs:
tante, se ocorrer um aumento das perdas e/ou uma diminuição da
1) aumento da temperatura ambiente do espaço envolvente;
capacidade de dissipação térmica, a temperatura dos enrolamentos
2) redução da sua capacidade de dissipação térmica devido ao au-
estatóricos aumenta.
mento da resistência térmica equivalente entre o seu interior e o espaço envolvente; 3) aumento das suas perdas internas (que se convertem em calor).
12
elevare
Note-se ainda que nos MIs o binário desenvolvido e as perdas por efeito de Joule nos circuitos estatórico e rotórico dependem da corrente absorvida.
Investigação e Desenvolvimento Quando se varia a velocidade dos MIs auto-ventilados, a resistência
a 20 m, e a sua conjugação com a degradação natural ao longo do
térmica equivalente aumenta devido à redução do caudal do venti-
tempo da rigidez dielétrica do sistema de isolamento dos enrola-
lador externo montado no seu próprio veio e da movimentação do
mentos estatóricos, representada (Figura 19), leva a que muitos
ar interno (no entreferro e na zona das testas das bobinas). Assim,
motores com os isolamentos envelhecidos possam avariar de
para uma velocidade inferior à nominal, por forma a garantir que a
forma quase imediata quando são alimentados pela primeira vez
temperatura dos enrolamentos permanece constante, as perdas
por um VEV. Tal deve-se ao facto de a rigidez dielétrica do sistema
devem ser menores, o que obriga à redução da corrente absorvida
de isolamento do motor já ter um valor inferior ao dos picos que
e, consequentemente, do binário desenvolvido, conforme se pode
ocorrem aos seus terminais.
observar na Figura 17. É neste pressuposto que se definem as curvas de limite de binário para os MIs de velocidade variável. Devido às perdas harmónicas adicionais no motor quando este é alimentado por VEV, os limites de binário são inferiores em cerca de 10 pontos percentuais em relação aos limites com alimentação sinusoidal. Note-se ainda na Figura 17 que os limites de binário para os motores com ventilação forçada/separada (independente da velocidade angular do motor) são obviamente superiores para velocidades inferiores à nominal. Para velocidades superiores à nominal, na zona de potência constante, o limite do binário é inversamente proporcional à velocidade
Figura 18. Reflexão dos impulsos da tensão PWM nos condutores entre o MI e
(o deslizamento vai aumentando por forma a compensar o decrés-
o VEV.
cimo do fluxo magnetizante, devido à tensão de amplitude constante e frequência crescente aplicada ao motor). Após a zona de
Aliás, os picos de tensão resultantes do fenómeno de reflexão nos
potência constante, o limite do binário é inversamente proporcional
condutores entre o VEV e o MI contribuem para a aceleração da
ao quadrado da velocidade (o deslizamento é constante).
degradação do sistema de isolamento devido ao facto de promoverem a ocorrência de descargas parciais nas pequenas cavidades de
Se os referidos limites de binário forem excedidos em regime per-
ar que nele existem. A ocorrência de descargas parciais depende da
manente, o MI sobreaquecerá e, por conseguinte, o seu sistema de
amplitude da tensão e da sua variação em ordem ao tempo (dv/dt).
isolamento terá um tempo de vida encurtado.
Existem várias formas de atenuar o impacto dos picos de tensão, nomeadamente: (a) utilizar filtros à saída do inversor e/ou à entrada do motor; (b) reduzir a frequência de comutação do inversor; (c) reforçar o sistema de isolamento do motor e melhorar a sua impregnação por forma a mitigar a presença de cavidades de ar; (d) encurtar o comprimento do cabo entre o VEV e o MI. A maioria dos fabricantes de motores oferece modelos devidamente preparados para a alimentação PWM (denominados Inverter Duty Motors). Uma boa solução comercial para reduzir os picos de tensão aos terminais do motor são as unidades integradas (VEV integrado na estrutura do motor, Figura 20). Porém, esta solução só está comercialmente disponível para potências baixas (<22 kW). Por forma a reduzir o dv/dt, também se podem utilizar VEVs com inversor de 3 níveis que, apesar de mais caros, podem compensar em aplicações
Figura 17. Limites de binário em regime permanente para um MI de
com cabos muito longos (> 50 m).
4 polos. C. Degradação do Sistema de Isolamento Como a impedância do MI é diferente da do cabo que o liga ao VEV e, em muitos casos, o comprimento do cabo é longo (>10 m), quando na extremidade ligada ao VEV se injetam os impulsos de tensão PWM, ocorre um fenómeno de reflexão dos mesmos junto ao motor, que conduz à sobreposição parcial entre os impulsos gerados e os refletidos. Este fenómeno conduz ao aparecimento de picos de tensão muito elevados nos terminais do MI que, no limite, podem atingir o dobro da amplitude dos impulsos à saída do VEV, conforme se pode observar na Figura 18. Este fenómeno
Figura 19. Decréscimo típico do valor da rigidez dielétrica do sistema de isola-
é particularmente crítico para cabos com comprimento superior
mento do motor ao longo do tempo.
elevare 13
Investigação e Desenvolvimento
Figura 20. MIs com o VEV integrado na sua própria estrutura/carcaça.
D. Correntes de Modo Comum nos Rolamentos Como as tensões entre as fases e a massa/terra produzidas à saída dos VEVs não são instantaneamente equilibradas (ao contrário do que acontece com as tensões trifásicas equilibradas sinusoidais,
Figura 22. Tensão de modo comum entre o veio e a carcaça num motor de
cuja soma, em qualquer instante, é zero), existe uma tensão de
5,5 kW em vazio.
modo comum (homopolar), de elevada frequência. Esta tensão de modo comum excita as capacidades parasitas nos motores, conduzindo à circulação de correntes de modo comum (de alta frequência) dos enrolamentos para a carcaça, seja através das capacidades parasitas entre os enrolamentos e a carcaça, seja através das capacidades parasitas entre os enrolamentos e o rotor e entre o rotor e a carcaça, passando parte destas através dos rolamentos, conforme se ilustra na Figura 21. Com efeito, devido ao sistema de capacidades parasitas, surge uma tensão de modo comum entre o veio/rotor e a carcaça (Figura 22), que está na origem das correntes
Figura 23. Desgaste nos rolamentos provocados pela atividade de correntes
de modo comum que circulam através dos rolamentos. Nos piores
de modo comum.
casos, estas correntes decorrem de descargas elétricas, formando pequenas cavidades nas pistas dos rolamentos.
Sempre que possível, os utilizadores devem solicitar aos fabricantes informações sobre as medidas mais adequadas para cada caso.
Com vista à atenuação da passagem de correntes elétricas nos rolamentos dos MIs alimentados por VEVs, existem diversas técnicas que o utilizador pode adotar, em alternativa ou complementarmen-
VIII. Impacto dos VEVs na Rede
te, como por exemplo:
Da perspetiva das redes de distribuição de energia elétrica, os VEVs,
› Seleção da frequência de comutação adequada (quanto mais
por terem retificadores à entrada são cargas não lineares com ca-
›
baixa, menor a taxa de degradação);
raterísticas tais que requerem especial atenção sob diversos aspe-
Utilização de cabos apropriados (por exemplo, blindados);
tos, principalmente quando têm uma potência elevada e/ ou são em
› Implementação de um sistema de massas/terra bem projetado;
grande número. Com efeito, este tipo de cargas absorvem corren-
›
Aplicação de filtros entre o inversor e o motor (por exemplo,
tes deformadas/distorcidas (com forma de onda diferente de uma
filtros para redução do dv/dt e filtros para atenuação das cor-
sinusoide) que constituem a chamada poluição harmónica, com
rentes de modo comum);
consequências a vários níveis na rede/instalação elétrica.
›
Utilização de rolamentos isolados;
› Ligação do veio à massa com uma escova;
A. Distorção Harmónica da Corrente
› Instalação de um escudo eletrostático parcial no motor . 13
As formas de onda da corrente podem ser sinusoidais (cargas lineares) ou não sinusoidais (cargas não lineares). As ondas periódicas não sinusoidais podem ser decompostas em diversas ondas/ componentes sinusoidais com frequência e amplitude diferentes, conforme se ilustra na Figura 24. Nas cargas não lineares, tais como os VEVs, o fator de potência (FP ou λ; em inglês, Power Factor – PF ou True Power Factor – TPF), têm uma componente dependente do desfasamento entre as componentes fundamentais da tensão e da corrente (cosφ1; em inglês, Displacement Power Factor – DPF ou Displacement Factor – DF) e
Figura 21. Capacidades parasitas nos MIs.
uma componente dependente da distorção harmónica total (em inglês, Total Harmonic Distortion – THD). De uma forma geral, o fator de potência é dado pelo quociente entre a potência ativa e a potência
Este técnica foi desenvolvida pelo autor deste artigo, estando regista-
aparente. Assumindo que a tensão de alimentação é sinusoidal, se a
do o respetivo Modelo de Utilidade em Portugal. Pode ser aplicada, por
corrente absorvida por uma determinada carga for distorcida, o seu
exemplo, aquando da rebobinagem do motor.
fator de potência é dado por:
13
14
elevare
Investigação e Desenvolvimento λ=
1 P l = cos φ1 . = cos φ1 . 1 s 1 + THDi2 l
(1)
Na Figura 26 apresentam-se as componentes harmónicas da tensão e da corrente à entrada e à saída de um VEV comercial de 11 kW com retificador de díodos de 6 impulsos (ou de ponte completa),
onde I1 é o valor eficaz da componente fundamental eIou valor efi-
para uma carga inferior a 50%.
caz total da corrente absorvida. Este último, é dado por: Se a impedância do transformador do sistema de alimentação a I=
montante do VEV for muito elevada (Soft System), a distorção da
1 T 2 ∫ i dt = T 0
∞
∑h =1 I 2 = h
∞
I + ∑h =2 Ih2 2 1
(2)
corrente será relativamente baixa. Se a impedância do transformador for muito baixa (Stiff System), a distorção da corrente será relativamente elevada. Por exemplo, se para um sistema com uma im-
onde Ih é o valor eficaz da componente harmónica da corrente de
pedância moderadamente elevada o THD da corrente for de 107%,
ordem h. O THD da corrente é definido por:
para um sistema com uma impedância mais baixa o THD poderá atingir os 175%.
THDi =
∑
∞ 2 h =2 h
I
l1
(3)
Tipicamente, para efeito de cálculo prático do THD, apenas se consideram as componentes harmónicas14 até à 21ª ordem. Para um determinado valor fundamental, quanto maior for o THD, maior será o valor eficaz da corrente. Em sistemas trifásicos sem neutro, podem-se excluir as componentes harmónicas de ordem múltipla de 3 (Triplen Harmonics) das grandezas de linha. Havendo simetria de meia-onda, os harmónicos de ordem par são nulos, o mais comum na grande maioria das instalações industriais.
Figura 25. Relação entre o fator de potência à entrada dos VEVs com retificadores trifásicos de díodos e a sua carga.
Figura 24. Componentes harmónicas de uma onda de corrente distorcida (exemplo para um retificador trifásico).
Os VEVs com retificador trifásico de díodos têm um fator de po-
Figura 26. Componentes harmónicas à entrada e à saída de um VEV comercial
tência que depende do seu nível de carga, conforme se mostra na
de 11 kW com retificador de díodos de 6 impulsos, com uma carga inferior a
Figura 25. É, pois, importante garantir que o VEV está bem dimen-
50%.
sionado para o motor, assumindo que este último está bem dimensionado para a carga que aciona. Este aspeto é reforçado pelo de-
B. Impacto da Distorção Harmónica da Corrente na Rede
créscimo do rendimento do VEV com a sua carga (Figura 14).
A redução do THD da corrente absorvida por cargas não lineares é importante para evitar os efeitos negativos na rede elétrica (como por exemplo, distorção harmónica da tensão e possibilidade de ocorrência de sobretensões por ressonância entre indutâncias e ca-
14
As componentes harmónicas podem ser de sequência positiva (4.ª, 7.ª,
pacidades) e nos equipamentos a ela ligados (por exemplo, perdas
10.ª, 13.ª, … ordem), negativa (2.ª, 5.ª, 8.ª, 11.ª, … ordem) ou homopolar (3.ª,
adicionais e aumento da temperatura de funcionamento).
6.ª, 9.ª, 12.ª, … ordem). As componentes de sequência negativa podem ser muito prejudiciais aos motores porque criam binários parasitas de
Na Figura 27 mostra-se o impacto que a distorção harmónica
sentido contrário ao fundamental.
da corrente absorvida por um determinado equipamento tem na
elevare 15
Investigação e Desenvolvimento distorção harmónica da tensão na rede elétrica a montante, consi-
CISPR 11/14-1/2217, IEC 6014618 e IEEE 51919), relacionadas com a te-
derando dois valores diferentes para a impedância do sistema de
mática da qualidade da alimentação/energia elétrica e com a com-
alimentação, evidenciando que este efeito é tanto mais acentuado
patibilidade eletromagnética (Electromagnetic Compatibility – EMC),
quanto maior for a impedância do sistema de alimentação. Refira-se
que, por exemplo, estipulam os limites máximos admissíveis para
que, na maioria das instalações industriais, na prática, não é neces-
as perturbações causadas por conversores estáticos de potência
sário corrigir a distorção harmónica da tensão decorrente da dis-
e para os conteúdos harmónicos admissíveis nas tensões e nas
torção harmónica da corrente absorvida pelas cargas não lineares.
correntes.
Devido ao decréscimo do fator de potência total, e consequente au-
C. Técnicas de Redução da Distorção Harmónica
mento do consumo de energia reativa, a distorção harmónica da
Conforme se representa na Figura 28, os métodos mais comuns para
corrente também contribui para o aumento da fatura de energia
reduzir a distorção harmónica da corrente à entrada dos VEVs com
elétrica dos consumidores que a causam.
retificador trifásico de 6 impulsos, são a instalação de um filtro de harmónicos passa-baixo à entrada20 (input/line reactor; AC inductor) e/ou à saída do retificador21 (DC-link/bus choque/reactor; DC inductor), podendo-se ainda utilizar retificadores de 12 impulsos (Figura 29) em VEVs de potência mais elevada, requerendo esta solução um transformador de duplo secundário22. Para VEVs de potência muito elevada, podem-se ainda utilizar retificadores de 18 e de 24 impulsos (para potências média/baixa não são economicamente viáveis). Na Figura 30 mostra-se o efeito de um filtro à saída do retificador na forma de onda da corrente. Nas Figuras 31-38 apresenta-se uma simulação23 das componentes harmónicas da corrente à entrada para um VEV com retificadores de díodos de 6 impulsos (com e sem filtros) e de 12 impulsos (sem filtros). Nos retificadores de 6 impulsos, podem-se ainda utilizar filtros passa-banda à entrada do retificador (Input Tuned Trap Filters) para atenuar harmónicos específicos (tipicamente o de 5.ª ordem). No caso da topologia back-to-back (Figura 13), como já foi referido anteriormente, no lugar do retificador coloca-se uma ponte de
Figura 27. Impacto da impedância da fonte/instalação na distorção harmónica
Este conjunto de normas diz respeito às perturbações de alta frequência
17
por condução e radiação (HF Conducted and Radiated Disturbances).
da tensão resultante da distorção harmónica da corrente absorvida por uma carga não linear.
IEC 60146-1-1, Edição 4 (2009), Semiconductor Converters - General re-
18
quirements and line commutated converters - Part 1-1: Specification of basic requirements.
Refira-se que as componentes harmónicas da corrente podem pre-
IEEE Std 519 (1992), IEEE Recommended Practices and Requirements for
19
judicar a exploração da instalação elétrica e/ou conduzir à necessi-
Harmonic Control in Electrical Power Systems. Esta norma é norte-ame-
dade de sobredimensionar todos os seus equipamentos/dispositi-
ricana, estipulando, por exemplo, um limite para o THD da tensão de 5%
vos, nomeadamente, os cabos, os contactores, os disjuntores e os
em instalações do setor terciário (edifícios de escritório, escolas, entre outros) e de 10% em instalações industriais com sistemas dedicados.
transformadores15, podendo traduzir-se num aumento significativo do investimento.
20
Este tipo de filtro aumenta a impedância do sistema reduzindo o di/dt da corrente absorvida pelo(s) condensador(es) do barramento DC. O re-
Existem diversas normas e recomendações de âmbito nacional e
sultado é a redução significativa da distorção harmónica da corrente.
internacional (como por exemplo, IEC 61000-3-2/3/4/5/6/7/8/1216,
Tem um efeito semelhante à existência de um transformador de elevada impedância. Importa notar que a partir de um determinado valor de impedância de entrada (tipicamente a partir de 7%), deixam de existir
15
benefícios em termos de redução do THD da corrente.
Por exemplo, nalguns casos, o transformador pode ficar limitado a 44% da sua potência nominal (fundamental) se não existirem filtros de har-
Consiste numa indutância colocada antes da capacidade do barramento
21
mónicos, o que significa que o tranformador terá de ter cerca de duas
DC e reduz significativamente a distorção harmónica da corrente. Nalguns
vezes o seu tamanho para conseguir alimentar o VEV a 100% da carga. Com um filtro no barramento DC pode-se reduzir o THD da corrente
inversores é uma caraterística de série, noutros poderá ser opcional. Denominados em inglês de Phase Shifting Transformers, estando os seus
22
para valores inferiores a 45%, sendo que o mesmo transformador poderia operar a 71% da sua potência nominal (fundamental). Este conjunto de normas diz respeito às perturbações de baixa frequên-
16
cia por condução (LF Conducted Disturbances).
16
elevare
dois enrolamentos trifásicos do secundário desfasamento de 30º. 23
Simulações realizadas com o software Yaskawa Harmonics Estimator. Considerou-se uma impedância de 8% a montante da instalação do consumidor e de 5,75% nesta última.
Investigação e Desenvolvimento IGBTs (Ative Front-End), que permite minimizar a distorção harmóni-
dução da tensão à saída. Nestas situações, o rendimento do VEV
ca da corrente. Para além disso, permite a regeneração energética
decresce e há geração de calor adicional que tem de ser dissipado.
(injeção de energia na rede) e controlar o nível de tensão DC e o fator de potência fundamental de forma separada, independentemente da direção do fluxo de potência (de ou para a rede). A principal desvantagem desta solução é o seu elevado custo. Relativamente às pontes de tirístores (phase controlled rectifiers), pode ser colocada em antiparalelo com a ponte de díodos para permitir a injeção de energia na rede (modo de regeneração). Este tipo de retificadores não podem ser usados diretamente nos VSIs para
Figura 28. Diferentes tipos de retificadores (6 e 12 impulsos) de díodos e de
fins regenerativos porque tal implica uma inversão da polaridade
filtros de harmónicos (à entrada e/ou à saída do retificador) para VEVs.
da tensão no barramento DC. Os filtros à saída do retificador reduzem a ondulação (ripple) da tenNa Figura 39 comparam-se as formas de onda típicas da corrente à
são no barramento DC e têm um impacto mínimo (redução inferior
entrada dos retificadores de 6 e 12 impulsos e das pontes de IGBTs.
a 1%) no valor médio da tensão do barramento DC, que constitui
Na Figuras 40 e 41 mostram-se os valores típicos do THD da cor-
uma vantagem.
rente e do fator de potência (assumindo que as componentes fundamentais da corrente e da tensão estão em fase).
Refira-se ainda que os filtros à entrada atuam ainda como um amortecedor (buffer) entre as perturbações na rede e o VEV, po-
A utilização de retificadores de 12 impulsos e do respetivo trans-
dendo ser um aspeto vantajoso nalgumas aplicações.
formador reduz significativamente a distorção harmónica da corrente, atenuando (ou cancelando) particularmente as componentes harmónicas de 5.ª e 7.ª ordem (que contribuem para cerca de 90% da distorção harmónica), e produz uma tensão DC à saída mais estável (com menos ondulação). Refira-se que o THD da corrente em retificadores de 12 impulsos aumenta com o decréscimo do nível de carga e com o aumento do desequilíbrio da tensão, sendo este último fenómeno tanto mais acentuado quanto menor a carga24. Figura 29. Topologia dos retificadores de 12 impulsos.
Comparando os filtros à entrada e à saída do retificador, ambos conseguem reduzir a distorção harmónica da corrente significativamente, mas, para terem o mesmo desempenho, os filtros à entrada do retificador são cerca de 50% maiores que os filtros à saída, sendo que os primeiros são instalados separadamente (invólucro separado). Ambos os filtros têm perdas que devem ser tidas em conta, não só no rendimento total do acionamento, como também para efeito de dissipação térmica do calor adicional produzido no caso de estarem integrados no próprio VEV. Para além disso, provocam uma queda
Figura 30. Efeito da indutância no barramento DC (DC-Link Reator) na corrente
do valor médio da tensão no barramento DC do VEV, limitando a
absorvida pelo retificador.
tensão à sua saída, sendo este efeito particularmente crítico nos filtros à entrada do retificador (Figura 42). Este efeito pode piorar as situações em que já existem problemas de subtensão na instalação, uma vez que reduz a tolerância do VEV à flutuação da tensão de alimentação. A potência máxima que o VEV pode fornecer ao motor também decresce porque é limitada ao valor nominal da corrente e não pode ser devidamente compensado quando ocorre uma re-
24
Por exemplo, para 90% de carga, um desequilíbrio das tensões de 3% pode conduzir a um aumento do THD da corrente de 10 pontos percentuais. Os retificadores de 6 impulsos, com filtro à saída, apesar de terem um THD de corrente superior, este apresenta uma menor dependência
Figura 31. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de um
do desequilíbrio das tensões.
retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, sem filtros (THDi = 130,5%).
elevare 17
Investigação e Desenvolvimento
Figura 32. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de
Figura 35. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de
um retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, considerando um filtro à sua
um retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, considerando um filtro à sua
saída de 3% (THDi = 34,4%).
entrada de 5% (THDi = 27,7%).
Figura 33. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de
Figura 36. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de
um retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, considerando um filtro à sua
um retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, considerando filtros à sua saída
saída de 5% (THDi = 31,3%).
e entrada de 3% (THDi = 27,7%).
Figura 34. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de
Figura 37. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de
um retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, considerando um filtro à sua
um retificador trifásico de díodos de 6 impulsos, considerando filtros de 5% à
entrada de 3% (THDi = 34,2%).
sua entrada e saída (THDi = 24,2%).
18
elevare
Investigação e Desenvolvimento
Figura 42. Impacto dos filtros de harmónicos (com um valor a variar entre 1 a 10%) à entrada e à saída do retificador na tensão do barramento DC25. Figura 38. Simulação das componentes harmónicas da corrente à entrada de um retificador de díodos de 12 impulsos sem filtros (THDi = 5,8%).
E. Interferência Eletromagnética de Alta Frequência Devido à presença de componentes harmónicas de tensão e corrente de elevada ordem/frequência, tanto à saída como à entrada do VEV, pode ocorrer interferência eletromagnética por radiação e por condução à saída e à entrada dos VEVs, mesmo quando se (a)
(b)
(c)
usam filtros. A interferência eletromagnética por radiação (ou
Figura 39. Formas de onda da corrente à entrada de diferentes tipos de reti-
radio-interferência) é particularmente crítica no cabo entre o VEV
ficadores: (a) retificador de díodos de 6 impulsos; (b) transformador de duplo
e o MI, que funciona como uma antena, devido ao elevado dv/dt
secundário e retificador de díodos de 12 impulsos; (c) ponte de IGBTs e díodos
dos impulsos das tensões PWM. A radiação eletromagnética pode
(inversor).
interferir com equipamentos informáticos, de medida e de controlo nas proximidades. Uma forma de evitar este tipo de problemas passa pela utilização de cabos blindados, implementação de um sistema de massas/terra bem projetado e/ou instalação de filtros de alta frequência.
Biografia Fernando J. T. E. Ferreira nasceu em Coimbra em 1975. É licenciado em Engenharia Eletrotécnica, Mestre em Sistemas e Automação e Doutorado em Engenharia Eletrotécnica, pela Universidade de Coimbra. Desde 1998 é investigador no Instituto de Sistemas e Robótica da Universidade de Coimbra, tendo desde então particiFigura 40. Distorção harmónica total à entrada dos VEVs, para diferentes tipos
pado em diversos projetos nacionais e europeus. É autor de mais
de retificadores e filtros.
de uma centena de artigos publicados em revistas e conferências internacionais. Desde 2001, é docente no Departamento de Engenharia Eletrotécnica do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, onde, atualmente, exerce funções de Professor Adjunto e de Vice-Presidente.
25
As curvas apresentadas foram obtidas experimentalmente. Caraterísticas do transformador utilizado: tensão no primário e no secundário de 11 kV e de 400V, respetivamente; potência nominal de 1,5 MVA; impedância de 6.1%; potência de curto-circuito no primário e no secundário de
Figura 41. Fator de potência expectável à entrada dos VEVs, para diferentes tipos
350 MVA e 25 MVA, respetivamente. Ausência de desequilíbrios e de dis-
de retificadores e filtros, considerando que as componentes fundamentais da
torção harmónica nas tensões do sistema de alimentação antes de se
tensão e corrente estão em fase (DPF=1.0).
ligar o VEV.
elevare 19
Notícias e Produtos Ascensor movido a energia solar em Barcelona
Datalogger MSR165: um aliado no controlo de qualidade de um elevador
Interlift 2013 na Alemanha
Zeben Sistemas Electrónicos, Lda. Tel.: +351 253 818 850/2 · Fax: +351 253 818 851 info@zeben.pt · www.zeben.pt
Vai decorrer de 15 a 18 de outubro em AugsA empresa suíça Schindler instalou na cida-
burgo, na Alemanha, a Feira Interlift 2013.
de de Barcelona o primeiro ascensor mo-
A AFAG, entidade organizadora da Interlift,
vido a energia solar na Europa. Com esta
acredita que a edição de 2013 registará um
solução espera-se uma poupança de cerca
aumento da área de exposição uma vez
de 50% da energia consumida por um mo-
que neste momento já há uma maior área
delo convencional em um ano. O elevador
ocupada pelos participantes. Contribuíram
pode funcionar apenas com energia solar,
A MSR lançou um novo datalogger que ele-
para esta tendência positiva, a intensa pro-
energia da rede elétrica ou a combinação
va o controlo da qualidade de um elevador
cura por parte dos países mais relevantes
de ambas, respondendo assim sempre com
ao máximo. MSR 165 é um equipamento
em termos de elevadores, como a Itália e
uma solução no caso de ocorrerem quebras
modular e completo para análise de to-
a Espanha de onde são oriundas mais de
de energia. A energia solar pode ser, depois
dos os fatores que afetam a qualidade e o
100 empresas de um total de cerca de 500
de transformada, utilizada diretamente ou
conforto de um elevador. O novo datalog-
já inscritas no certame. É de destacar esta
armazenada em baterias. Na versão solar,
ger permite a monitorização e registo de
presença massiva de expositores oriundos
os painéis de teto são dimensionados de
choques e vibrações até 15G em 3 eixos.
de 33 países, considerando o clima de crise
acordo com o nível de tráfego do edifício,
Com capacidade para registar 1600 medi-
generalizado.
tendo energia suficiente para alimentar o
ções por segundo, este equipamento em
equipamento durante longos períodos de
standby (repouso) regista até 32 medições
tempo mesmo em situações com uma luz
imediatamente antes do choque/vibração
solar mais reduzida.
acontecer. Graças à sua bateria recarregável de lítio,
...
... Especialistas defendem reativação de elevadores na Ponte da Arrábida
o MSR165 pode registar os valores por um período até 6 meses, permitindo um maior
Reformulação da Diretiva Europeia de Ascensores
controlo da qualidade do elevador através de medições de parâmetros como temperatura, humidade, luminosidade e pressão absoluta, tornando-se um importante aliado para técnicos e empresas de desenvolvimento, instalação e manutenção. Das suas caraterísticas gerais destacam-se a capacidade de memória para 2 milhões de registos, que com a opção de cartão microSD ascende a 1 bilião, e a bateria de lítio de 900 mAh, indicado para medições a longo prazo. É um equipamento à prova de água, com invólucro
A reativação dos elevadores da Ponte da
A Diretiva Ascensores passou por um pro-
em alumínio anodizado, e tem um consumo
Arrábida para dinamizar as ciclovias das
cesso de reformulação e será, em breve,
extremamente reduzido devido ao seu ace-
duas margens do Douro e oferecer à região
publicada com algumas alterações. As
lerómetro de 3 eixos de alto desempenho.
um novo ponto de atratividade turística é
mudanças são relativamente limitadas e
Este robusto datalogger permite, de forma
defendida por alguns especialistas.
incidem principalmente na vigilância do
simples e eficaz, monitorizar o nível de vibra-
“Penso que faz muito sentido os elevadores
mercado e na alteração da numeração dos
ções e também as suavidades do arranque e
serem reativados com a classificação que
anexos. Após publicação, os Estados-mem-
paragem dos elevadores, sendo uma ótima
a ponte tem, a paisagem que permite des-
bros têm um prazo de 2 anos para efetuar a
ferramenta para o controlo da qualidade e
frutar e o grande incremento do número de
transposição para a Lei nacional.
bom funcionamento de um elevador.
visitantes que o Porto tem tido. Há todo um
... 20
elevare
...
conjunto de possibilidades do ponto de vista de percursos na cidade que os elevadores
Notícias e Produtos iriam potenciar”, defendeu José Alberto Rio
res devem obedecer (v > 0,15 m/s => diretiva
e funções especiais como Power Through,
Fernandes. O geógrafo destaca a importân-
ascensores; v ≤ 0,15 m/s => diretiva máqui-
que garante o funcionamento do sistema
cia da criação de trajetos para bicicletas,
nas). Para os equipamentos com v ≤ 0,15 m/s
mesmo com o controlo de uma fase dani-
que atualmente atravessam a ponte pelo
(home lift) a frequência da manutenção e
ficado. A Aucom dedica-se de corpo e alma
passeio pedonal de um tabuleiro que está
das inspeções periódicas são de 4 meses e
ao desenvolvimento, fabrico e comércio de
sempre a estremecer, mas a Estradas de
6 anos, respetivamente.
arrancadores suaves de Baixa e Média Ten-
Portugal não tem planos para a reativação.
... Instalação de elevadores diminui na Europa
são. Fundada em 1978, na Nova Zelândia,
...
afirmou-se como pioneira em tecnologia nos arrancadores suaves. A Aucom oferece
Nova responsável na Comissão Europeia
aos seus clientes tecnologias, know-how e experiências únicas no controlo de motores a respeito de arrancadores suaves. Em Por-
A responsável pelos assuntos relacionados
tugal a Aucom é representada em exclusivo
com a Diretiva Ascensores na Comissão
pela Zeben.
Europeia em Bruxelas é a Engenheira Civil
...
Raimonda Sneigiené de nacionalidade lituana. É responsável pela orientação sobre a Diretiva Ascensores, a marcação CE, o guia
Nova proposta de lei
para a aplicação da Diretiva e outros temas relacionados.
O Conselho de Ministros aprovou a 19 de junho uma proposta de lei sobre os requi-
...
Nos últimos anos o setor dos elevadores,
sitos de acesso e exercício da atividade das Empresas de Manutenção de Instalações de
na Europa, tem vindo a sofrer um decrés-
Elevação e os requisitos de acesso e exercí-
dos seus efeitos no setor da construção ci-
Aucom EMX3: um avançado arrancador suave agora com mais funções
vil. Esta diminuição tem sido feita a um rit-
Zeben Sistemas Electrónicos, Lda.
sionais. Este documento terá de ser aprova-
mo de cerca de 11% em 2012, passando de
Tel.: +351 253 818 850/2 · Fax: +351 253 818 851
do na Assembleia da República.
127 880 unidades instaladas em 2008 para
info@zeben.pt · www.zeben.pt
cimo do número de elevadores instalados, um efeito negativo da crise e em particular
cio da atividade das Entidades Inspetoras de Instalações de Elevação e dos seus profis-
...
98 620 unidades instaladas no ano de 2010. Espanha é a recordista na descida, pas-
Diretiva Comunitária sobre Desempenho Energético dos Edifícios
sando de 33 836 unidades em 2008 para 12 070 e 2010. Do lado inverso encontra-se a Alemanha com um crescimento nesse período, registando 12 202 unidades em 2008 para 13 406 unidades instaladas em 2010.
A transposição da Diretiva Comunitária re-
Fonte: European Lift Association (ELA).
lativa ao desempenho energético dos edifícios já foi aprovada pelo Governo, aguar-
... Velocidade do ascensor identifica Diretiva
A Aucom, empresa especialista e dedicada
dando publicação em Diário da República
ao fabrico de arrancadores suaves, anun-
(21-06-2013). Este processo já se encontra
ciou a chegada de mais funcionalidades ao
atrasado, pelo que a Comissão Europeia
arrancador suave EMX3. Um dos mais avan-
anunciou que vai avançar com uma ação no
çados arrancadores suaves adiciona assim
Tribunal de Justiça da União Europeia contra
às suas inúmeras funções e capacidades,
Portugal, devido à não transposição para a
mais idiomas para o display – incluindo por-
legislação nacional da diretiva relativa ao
tuguês – e a capacidade de monitorização
desempenho energético dos edifícios. Des-
dos estados das suas entradas/saídas e
ta forma, o Ministério da Economia "está
respetivo funcionamento remotamente via
confiante" que o atraso não origine multas
bus de campo.
a Portugal.
O arrancador progressivo EMX3 reforça as-
A Comissão Europeia, em comunicado, in-
sim o seu lugar como referência de merca-
formou que propõe uma sanção pecuniária
Em Espanha, desde 23 de maio, entrou em
do garantidos pelo seu controlo adaptativo
diária de 25 273,60 euros, "tendo em con-
vigor a ITC (Instrucción Técnica Complemen-
que automaticamente se ajusta às necessi-
sideração a duração e a gravidade da infra-
taria) em que um dos aspetos inovadores é
dades da aplicação, pela sua fácil instalação
ção", e adianta que a diretiva devia ter sido
o estabelecimento do critério da velocidade
e comissionamento e pela sua alta eficiên-
transposta para o direito nacional até ao dia
para identificar a diretiva a que os ascenso-
cia e fiabilidade devido ao bypass integrado
09 de julho de 2012.
elevare 21
Dossier: acessibilidade
Acessibilidade
F. Maurício Dias Professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto Especialista em transportes e vias de comunicação da Ordem dos Engenheiros
As questões associadas à mobilidade con-
Ascensores para Pessoas, Incluindo Pesso-
dicionada é um assunto debatido há vários
as com Deficiência que aborda esse assun-
anos, quer a nível internacional quer a nível
to de uma forma mais direcionada e com-
nacional, logo não pode ser considerado
pleta e que deveria ser tomada como um
um assunto novo, no entanto não deixa de
meio de harmonização a nível europeu. Por
ser um assunto atual. Porque será? Certa-
exemplo, o Decreto-Lei 163/2006 poderia,
mente porque o que foi realizado até hoje é
simplesmente, remeter para o cumprimen-
manifestamente insuficiente.
to da Norma NP EN 81-70 e ficaríamos mais bem servidos, dado que seria garantida a
A nível nacional é evidente a preocupação
atualização da legislação através da atua-
legislativa sobre esta matéria: em 1982 foi
lização da Norma que é um processo mui-
publicado o Decreto-Lei n.º 43/82 com as
to mais dinâmico do que a atualização da
suas consequentes prorrogações e revo-
legislação em Portugal. É de notar que o
gações em 1986, revisões ao RGEU em que
setor dos ascensores encontra-se muito
Se esta atribuição às entidades menciona-
este tema foi contemplado, publicação do
familiarizado com estas situações de obri-
das fará sentido para os aspetos relacio-
Decreto-Lei n.º 123/97 e, por último, o De-
gatoriedade de cumprimento de Normas
nados essencialmente com as áreas envol-
creto-lei n.º 163/2006. É de salientar que
Europeias, pelo que, não haveria problema
ventes aos ascensores e à existência ou não
a Constituição da República Portuguesa
de maior.
de equipamentos que permitam as acessi-
atribui ao Estado a obrigação de promover
bilidades, não me parece que sejam as enti-
o bem-estar e qualidade de vida do povo
Um outro aspeto relevante do Decreto-Lei
dades com mais competência para analisar
e a igualdade real e jurídico-formal entre
n.º 163/2006 é a sua fiscalização, no seu Ar-
tecnicamente a correta instalação e manu-
todos os portugueses [alínea d) do artigo
tigo 12.º - Fiscalização é dito:
tenção dos equipamentos. Para tal existem
9º e artigo 13º], bem como a realização de
as Entidades Inspetoras cuja competên-
“uma política nacional de prevenção e de
A fiscalização do cumprimento das nor-
cia técnica é reconhecida pela DGEG e que
tratamento, reabilitação e integração dos ci-
mas aprovadas pelo presente Decreto-Lei
desenvolvem a sua atividade no setor dos
dadãos portadores de deficiência e de apoio
compete:
equipamentos de elevação. Hoje, é clara a
às suas famílias, a desenvolver uma peda-
"confusão" com a fiscalização dos requisitos
gogia que sensibilize a sociedade quanto aos
a) À Direcção-Geral dos Edifícios e Monu-
do Decreto-Lei 163/2006 no que respeita
deveres de respeito e solidariedade para
mentos Nacionais quanto aos deveres
aos ascensores o que leva, na prática, em
com eles e a assumir o encargo da efetiva
impostos às entidades da administra-
muitos dos casos, a não existir qualquer fis-
realização dos seus direitos, sem prejuízo
ção pública central e dos institutos
calização. Desta forma, concentravam-se
dos direitos e deveres dos pais e tutores”
públicos que revistam a natureza de
todas as fiscalizações num só momento e
(n.º 2 do Artigo 71º).
serviços personalizados e de fundos
com a particularidade de haver um acom-
públicos;
panhamento periódico das condições técni-
No entanto, e no que diz respeito ao setor
b) À Inspeção-Geral da Administração do
dos ascensores houve cuidado em legis-
Território quanto aos deveres impostos
com as periodicidades definidas no Decre-
lar sobre condições técnicas a que devem
às entidades da administração pública
to-Lei n.º 320/2002.
obedecer estes equipamentos mas, aparentemente, esquecendo-se da existência da Norma NP EN 81-70 – Acessibilidade aos
22
elevare
cas do Decreto-Lei n.o 163/2006 de acordo
local; c) Às câmaras municipais quanto aos deveres impostos aos particulares.
É de salientar que, com a atual legislação, e com a exceção dos ascensores a maior
Dossier: acessibilidade nível das inspeções periódicas quer ao nível dos contratos de manutenção com uma entidade acreditada para o efeito. Na próxima alteração à legislação está prevista a obrigatoriedade de inspeções periódicas e manutenções para os denominados "home lift" que, fruto do vazio legal, em muitos casos foram alterados relativamente à sua conceção inicial e hoje funcionam como um ascensor mas sem cumprir os requisitos de segurança destes. Este assunto é claramente de interesse geral e deve ser tratado de uma forma séria. A legislação (boa ou má) existe e peca pela falta de aplicação fruto do pouco empenho das entidades que têm a competência para fiscalizar criando uma situação que penaliza a sociedade em geral e, em particular, as parte dos equipamentos existentes para
ça. Para agravar a situação, a esmagadora
pessoas com mobilidade condicionada que
apoio a pessoas com mobilidade condicio-
maioria dos equipamentos funciona sem
se vêm, muitas vezes, privadas dos seus
nada são instalados e mantidos em funcio-
que exista qualquer contrato de manu-
direitos. Há que despertar consciências, se
namento sem que haja qualquer inspeção
tenção periódica. Esta situação, também,
não for pelo respeito aos outros, pelo me-
inicial ou periódica que avalie o seu correto
resulta do facto da legislação atual não
nos, devemos pensar que um dia pode ser
funcionamento e as condições de seguran-
contemplar qualquer obrigatoriedade ao
útil para nós.
PUB
Dossier: acessibilidade
Acessibilidades, um direito de todos Eduardo Jorge
A acessibilidade ao espaço físico é uma das necessidades básicas para que a discriminação e a exclusão das pessoas com mobilidade reduzida sejam conceitos ultrapassados. Antes de mais convém definir aquilo que entendemos por “acessibilidade”. Para o arquiteto Pedro Homem de Gouveia e admi-
Figura 1. Mau exemplo de acessibilidades uma vez que as rampas não podem ultrapassar os 6% de inclinação
nistrador do blog “Acessibilidade-Portugal”,
e não serem antiderrapantes.
“Acessibilidade pode ser definida como a capacidade do meio de proporcionar a to-
com deficiência nos edifícios. Ultimamente
respeita a diversidade humana e promove a
dos uma igual oportunidade de uso, de uma
tem-se destacado o conceito de Design Uni-
inclusão de todas as pessoas em todas as ati-
forma direta, imediata, permanente e o mais
versal nascido “pela mão” de Ron Mace, um
vidades da vida. Obedece a 7 princípios básicos:
autónoma possível.” Por sua vez para a Or-
arquiteto norte-americano que sofreu pólio
›
Utilização equitativa;
ganização das Nações Unidas (ONU), “acessi-
em criança tendo por isso utilizado cadeira
›
Flexibilidade de utilização;
bilidade” é a “possibilidade de acesso, a que se
de rodas durante toda a sua vida, e se dedi-
›
Utilização simples e intuitiva;
pode chegar facilmente; que fica ao alcance,
cado durante boa parte da sua carreira às
› Informação percetível;
o processo de conseguir a igualdade de opor-
questões da acessibilidade, e deixado uma
›
tunidades em todas as esferas da sociedade.”
obra muito interessante. O conceito de De-
› Esforço físico mínimo;
Já para Gould, “acessibilidade é... uma noção
sign Universal (Desenho Universal) tem
› Dimensão e espaço de abordagem e de
fugidia... Um desses termos muito comuns
vindo a suscitar em todo o mundo cada vez
que todos usam até se confrontarem com o
mais interesse entre arquitetos, designers,
problema de defini-lo e avaliá-lo.”
paisagistas, engenheiros, e não só. Tem
O Desenho para Todos assume-se, neste
sido aplicado (com sucesso) ao projeto de
momento, como instrumento privilegiado
No meu caso, visto ser uma pessoa com
espaços públicos, edifícios, equipamentos,
para a concretização da acessibilidade e,
mobilidade reduzida (tetraplégico com 95%
produtos, entre outros. Tanto acessibilida-
por extensão, de promoção da inclusão so-
de incapacidade), acrescentaria que quanto
de como o Design Universal são dois meios
cial. A sua importância está, de resto, con-
a mim, acessibilidade significa que um local
para atingir um mesmo fim: edificações,
signada na Resolução ResAP (2001) 1, do
é organizado de modo a possibilitar que
produtos e serviços bem concebidos. Já a
Comité de Ministros do Conselho da Europa
todas as pessoas possam nele penetrar e
acessibilidade é um conceito mais antigo,
(Resolução de Tomar), que recomenda aos
circular sem obstáculos e que os equipa-
que nasceu ligado à luta pelos direitos das
seus Estados membros, entre outras me-
mentos permitam ser usados, com ou sem
pessoas com deficiência, e costuma ser
didas, que “tomem em consideração, na ela-
adaptações, sem o apoio de terceiros.
traduzido em normas técnicas que muitas
boração das políticas nacionais, os princípios
vezes são tornadas obrigatórias por força
de desenho universal e as medidas visando
Desde a década de 50 que os conceitos de
de lei. Já o Design Universal, por seu lado, foi
melhorar a acessibilidade no sentido mais
acessibilidade ao meio edificada, são utili-
desde o início expresso em princípios. Estes
lato possível...”. O Instituto Nacional para a Reabilitação é o Centro Nacional de Contac-
Tolerância ao erro;
utilização.
zados nos países do norte da Europa, mas
princípios são uma excelente filosofia de
somente a partir dos anos 70 esse tema
projeto, e uma boa matriz de avaliação, mas
to da Rede Europeia de Desenho para Todos
começou a fazer parte das preocupações
não têm sido traduzidos em normas técni-
e Acessibilidade Eletrónica - EDeAN (Euro-
dos restantes países europeus, assim como
cas, nem lhes tem sido dada força legal.
pean Design for All e-Accessibility Network) - e coordena a Rede Nacional dos Centros de
de alguns países desenvolvidos de outros continentes. Foi também nos anos 70 que
Podemos definir Desenho Universal como o
a ONU promove o conceito de Design Livre
design de produtos e de ambientes utilizáveis
de Barreiras, e a ISO publica as primeiras di-
no maior grau possível por pessoas de todas
É um grande erro pensar que só as pessoas
retrizes sobre as necessidades de pessoas
as idades e capacidades. O Design Universal
com deficiência beneficiam da eliminação
24
elevare
Excelência em Desenho para Todos…).
Dossier: acessibilidade bitacionais, decreto esse que foi revogado e
No caso da acessibilidade a edifícios de-
substituído por um novo diploma, substitui-
vemos referir que, hoje em dia, já existem
ção que se prendeu em primeiro lugar, com
inúmeros equipamentos e alternativas para
a constatação da insuficiência das soluções
os adaptar, inclusive tornar residências par-
propostas por esse diploma. O certo é que
ticulares acessíveis e equipamentos subsi-
na prática essa revogação pouco acrescen-
diados na totalidade pelo Estado ou segura-
tou de positivo a nível das acessibilidades.
dora no caso de a deficiência ser adquirida
bilidade tem de ser assegurada ao nível das
Certo é que para a adaptação das infraes-
pública ou privada admitir nos seus quadros
caraterísticas do espaço físico e da pres-
truturas e dos serviços terá de ser efetua-
um trabalhador com deficiência o IEFP apoia
tação do serviço. Traduz, por regra, maior
do. É fundamental a adequação do espaço
na adaptação do local de trabalho. Para tor-
segurança, conforto e funcionalidade para
urbano e dos edifícios às necessidades de
nar os edifícios acessíveis e ultrapassar as
todos e não somente um segmento da po-
inclusão de toda a população, visando eli-
barreiras arquitetónicas, deixamos a seguir
pulação. Fica claro que é possível conceber
minar os obstáculos existentes ao acesso.
exemplos dos sistemas de elevação de mo-
um produto ou um ambiente capaz de ser-
Não se pode impedir as pessoas ao convívio
bilidade que permitem uma maior indepen-
vir um amplo leque de utilizadores, incluin-
social, ao ir e vir. Há que tornar os espaços
dência e liberdade para aqueles que dela
do crianças, adultos mais velhos e pessoas
acessíveis a todos para que as pessoas com
mais necessitam. Existe no mercado uma
com mobilidade reduzida, com tamanho
necessidades especiais e não só, não sejam
abundante variedade de sistemas de eleva-
ou forma atípicas, doentes ou feridas ou,
descriminadas e possam participar sem
ção que podem ser adaptadas para atender
simplesmente, colocadas em desvanta-
barreiras na sociedade. Atualmente existem
às necessidades individuais de cada utiliza-
gem pelas circunstâncias. Mas convém não
alguns programas como é o caso do RAMPA
dor, tanto podem ser usados em casa como
esquecer que a deficiência é uma condição
- Regime de Apoio aos Municípios para Pla-
em espaços públicos.
bastante comum e mais frequente do que
nos de Promoção de Acessibilidades apoia-
bastantes pessoas pensam. Muito prova-
dos pelo POPH que permitem apoio aos mu-
Entre outros destacamos: Cadeiras eleva-
velmente, todos a sentirão durante a vida,
nicípios portugueses. No caso das pessoas
tórias, Elevadores, Plataformas elevatórias
mesmo que apenas temporariamente. A
com mobilidade reduzida que necessitem de
verticais e de escada, cadeiras de rodas com
deficiência aumenta com a idade por razões
adaptar as suas habitações ou local de tra-
função de subir escadas, e inclusive trepado-
naturais e como resultado de causas exter-
balho, existe o programa SAPA - Sistema de
res para subir escadas em cadeira de rodas
nas. Muitas pessoas, especialmente adultos
Atribuição de Produtos de Apoio, criado pelo
que não requerem eletricidade, e obviamen-
mais velhos, negarão possuí-la devido ao
Decreto-Lei n.º 93/2009, de 16 de abril: “Pro-
te os variados modelos de rampas.
estigma social que lhe está associado. A de-
dutos de apoio a qualquer produto, instrumen-
ficiência, contudo, é comum e constitui uma
to, equipamento ou sistema técnico usado por
parte normal da vida.
uma pessoa com deficiência, especialmente
Observações
produzido ou disponível que previne, compen-
›
Figura 2. Bom exemplo.
por acidente de trabalho. Se uma entidade
de barreiras arquitetónicas. Hoje, a acessi-
Muito há a fazer no nosso país quanto a
sa, atenua ou neutraliza a limitação funcional
acessibilidades (este humilhante exem-
volvidos, em Portugal o pleno acesso e
ou de participação.” “Pessoa com deficiência”,
plo aconteceu comigo): http://tetraple-
usufruto de espaços físicos, bens e serviços
aquela que por motivos de perda ou anoma-
gicos.blogspot.pt/2013/04/ajude-me-
são obrigatórios por lei. As normas técnicas
lia, congénita ou adquirida, de funções ou de
apresentar-uma-queixa-contra-o.html
de acessibilidade aplicáveis ao espaço físico
estruturas do corpo, incluindo as funções
em Portugal são definidas pelo Decreto-
psicológicas, apresente dificuldades espe-
-Lei n.º 163/2006 e por outro lado a Lei n.º
cíficas suscetíveis de, em conjugação com
BIOGRAFIA
46/2006 de 28 de agosto, que abrange a
os fatores do meio, lhe limitar ou dificultar
Eduardo Jorge, 51 anos, com lesão medular C5, C6
discriminação, quer direta, quer indireta, ou-
a atividade e participação em condições de
e C7 traumática e completa desde 1991 devido a aci-
tro fator que obriga o nosso país a respei-
igualdade com as demais pessoas.
dente de viação, ativista dos direitos das pessoas
Assim, como na maioria dos países desen-
tar os direitos das pessoas com deficiência,
com deficiência, administrador do blog sobre tet-
nomeadamente o direito de acesso a bens
Assim como “Pessoa com incapacidade tem-
raplegia: http://tetraplegicos.blogspot.pt , frequenta
e serviços. Portugal subscreveu recente-
porária”, aquela pessoa que por motivo de
2.o ano de Serviço Social e é responsável por um
mente e integralmente a abordagem dos
doença ou acidente encontre, por um perí-
espaço de apoio à comunidade na Junta de Fregue-
direitos humanos das pessoas com defici-
odo limitado e específico no tempo, dificul-
sia de Concavada/Abrantes, onde reside. Faz parte
ência defendida pela Convenção sobre os
dades específicas suscetíveis de, em conju-
da direção do Movimento (d)Eficientes Indignados,
Direitos das Pessoas com Deficiência, mas
gação com os fatores do meio, lhe limitar
moderador do único fórum sobre deficiência em
desde há alguns anos que se fala em aces-
ou dificultar a sua atividade e participação
Portugal: www.deficiente-forum.com/index.php. Per-
sibilidades, o Decreto-Lei n.º 123/97, de 22
diária em condições de igualdade com as
tence à direção da Associação UDF, colunista residen-
de maio, aprovava o regime da acessibilida-
demais pessoas. Ou seja, de acordo com a
te do Portal sobre deficiência Vida Mais Livre: http://
de aos edifícios e estabelecimentos que re-
lei, estão ao dispôr do cidadão, Produtos de
vidamaislivre.com.br/colunas/coluna.php?id=156&/
cebessem público, via pública e edifícios ha-
Apoio totalmente gratuitos.
eduardo_jorge e do Jornal regional ABarca.
elevare 25
Dossier: acessibilidade
“Viana Para Todos”: um exemplo de boas práticas de acessibilidade Margarida Torres Coordenadora do gabinete Cidade Saudável Ana Margarida Ferreira da Silva Mestre em Direito e Vereadora do Pelouro da Ação Social e da Saúde
Resumo
são conferidos a qualquer membro de uma
Pretendemos com este artigo, ainda que de
sociedade democrática, contribuindo decisi-
uma forma sucinta, apresentar uma pequena
vamente para um maior reforço dos laços
reflexão sobre o trabalho que tem vindo a ser
sociais, para uma maior participação cívica de
desenvolvido na cidade de Viana do castelo,
todos aqueles que a integram e, consequen-
ao nível das acessibilidade e mobilidade, no
temente, para um crescente aprofundamen-
sentido de a tornar uma cidade para todos.
to da solidariedade no Estado social de direito. Com este artigo pretende-se, por um lado,
1. Introdução
traçar o quadro de evolução legal em maté-
O meio determina, em grande parte, o efei-
ria de normas técnicas de acessibilidade e,
to de uma incapacidade sobre a vida diária
por outro lado, demonstrar o trabalho que,
canismo absolutamente fundamental para
de uma pessoa, quando lhe são negadas as
em consonância com este quadro normati-
que todos aqueles com mobilidade condi-
oportunidades de que dispõe a comunidade
vo, tem vindo a ser desenvolvido pelo Muni-
cionada, transitória ou permanente, pos-
em geral, e que são necessárias para os
cípio de Viana do castelo, enquanto mem-
sam exercer plenamente os seus direitos,
aspetos fundamentais da vida, incluindo a
bro do movimento das Cidades saudáveis
em condições de igualdade com os restan-
vida familiar, a educação, o emprego, a ha-
da Organização Mundial da saúde (OMS).
tes cidadãos e no estrito cumprimento do referido princípio da universalidade.
bitação, a segurança económica e pessoal, a participação em grupos sociais e políticos, as atividades religiosas, o acesso a equipa-
2. A acessibilidade na ordem jurídica
É, pois, nesta esteira, que deve entender-se
mentos públicos, a liberdade de movimen-
portuguesa
o Artigo 71 da CRP ao sublinhar que “os ci-
tos e o estilo geral da vida diária.
Como se sabe é à Constituição da República
dadãos portadores de deficiência … gozam
Portuguesa (CRP), enquanto Lei Fundamen-
plenamente dos direitos …” e, mais ainda, ao
As barreiras físicas são as que mais direta-
tal do Estado, que cabe a fixação dos prin-
obrigar o Estado “… a realizar uma política
mente excluem da vida ativa da sociedade as
cípios da organização política e da ordem
nacional de … integração dos cidadãos porta-
pessoas com incapacidade. Portas demasia-
jurídica, bem como dos direitos e deveres
dores de deficiência … e a assumir o encargo
do estreitas, edifícios inacessíveis, escadas
fundamentais dos cidadãos.
da efetiva realização dos seus direitos…”.
públicos não adaptados, telefones e caixas
Assim, o capítulo que a CRP consagra aos
Assumindo a Lei Fundamental o lugar ci-
multibanco fora de alcance, entre outros,
direitos e deveres fundamentais, começa
meiro em matéria de hierarquia das leis,
são dificuldades com que muitos cidadãos
desde logo por estabelecer dois princípios
tal significa que nenhuma outra lei se pode
com deficiência se defrontam diariamente
gerais: o princípio da universalidade, segun-
opor a ela – sob pena de enfermar do vício
no nosso país. Estas barreiras resultam, por
do o qual “Todos os cidadãos gozam dos di-
da inconstitucionalidade -, devendo, mais do
um lado, do não cumprimento da lei por par-
reitos e estão sujeitos aos deveres consagra-
que isso, estar conforme ao seu conteúdo.
te dos atores sociais que têm essa respon-
dos na Constituição” (Artigo 11) e o princípio
Assim se entende que a Lei de Bases da
sabilidade e, por outro lado, por falta de sen-
da igualdade na medida em que “Todos os
Prevenção, Habilitação, Reabilitação e Par-
sibilidade no tratamento destas questões.
cidadãos têm a mesma dignidade social e
ticipação das Pessoas com Deficiência (Lei
são iguais perante a lei” (Artigo 12).
n.º 38/2004, de 18 de agosto), estipule “a
e passadeiras sem sinalização, transportes
promoção de uma sociedade para todos
A promoção da acessibilidade constitui-se como um elemento fundamental na qualida-
Adotando como ponto de partida estes dois
através da eliminação de barreiras e da ado-
de de vida das pessoas, sendo um meio im-
princípios, facilmente percebemos que a
ção de medidas que visem a plena participa-
prescindível para o exercício dos direitos que
acessibilidade se apresenta como um me-
ção da pessoa com deficiência.”
26
elevare
Dossier: acessibilidade Depois de uma primeira tentativa fracassa-
sões e jardins. Em todos os casos,
mero de pessoas com deficiência, o Municí-
da com o Decreto-Lei 42/82 de 8 de feve-
nota-se, pois, uma preocupação do
pio de Viana do Castelo assumiu a promo-
reiro, foi através do Decreto-Lei 123/97 de
legislador em aprimorar a redação
ção da acessibilidade como uma prioridade
22 de maio que foram efetiva e legalmente
de 1997, mostrando-se exaustivo na
de intervenção ao nível do planeamento
consagradas as primeiras exigências técni-
descrição, dentro de cada área, do
urbano e da mobilidade.
cas mínimas em matéria de acessibilidades.
tipo de edifícios, estabelecimentos e
Oito anos depois, é aprovado o Decreto-Lei
equipamentos existentes;
Com a constituição, em 2001, de uma equipa
163/2006, de 8 de agosto, o qual visou, des-
› São completamente novas as alíneas
de trabalho, onde estão representadas as
de logo, suprir as insuficiências detetadas
a), b) e s), passando assim a aplicar-se
diferentes Instituições1 do concelho ligadas
no primeiro já referido diploma.
as normas técnicas de acessibilidade
à deficiência ficou, desde logo, assegurado o
também aos passeios e outros per-
direito à informação, uma vez que esta Equipa
Num breve estudo comparativo destes
cursos pedonais pavimentados, aos
participa do acompanhamento dos projetos
dois Decretos-Lei ressaltam os seguintes
espaços de estacionamento marginal
de edifícios públicos e de intervenções na rede
aspetos:
à via pública e parques de estaciona-
viária, de forma a assegurar o cumprimento
1. O objeto, em 1997 limitado aos edifícios
mento público e ainda aos edifícios e
das normas técnicas estipuladas na lei.
públicos, equipamentos coletivos e via
centros de escritórios;
pública, é em 2006 igualmente esten-
Sob o lema “Acessibilidade para Todos e em
dido aos edifícios habitacionais, alar-
3. Uma das grandes preocupações sub-
Todas as Situações”, para além do acompa-
gando-se, assim, a aplicabilidade das
jacentes ao novo diploma passava por
nhamento de projetos, o trabalho da Equipa
normas técnicas de acessibilidade aos
conferir-lhe uma maior eficácia sancio-
tem-se centrado, sobretudo, na apresenta-
espaços privados;
natória, o que se conseguiu por duas
ção de propostas de melhoria e de interven-
diferentes vias:
ção em situações pontuais, tendo por base
2. Relativamente ao âmbito de aplicação,
› Aumentando o valor das coimas a
um diagnóstico efetuado ao nível do centro
que em ambos os diplomas vem defi-
aplicar quer às pessoas singulares,
da cidade, onde foram identificadas as situ-
nido, no Artigo 2 são contempladas vá-
quer às pessoas coletivas;
ações não conformes com a lei, passíveis
Acrescentando novas sanções aces-
de correção. Os resultados deste diagnós-
nos profundas:
sórias, na medida em que, para além
tico foram enviados para o Departamento
›
As alíneas c), e), f), g), h), i), j), l) e m)
da privação do direito a subsídios,
de Urbanismo do Município, no sentido de
na redação de 2007 mantêm exata-
surgem também agora as possibili-
se considerarem em intervenções futuras.
mente a mesma formulação, em-
dades de interdição do exercício de
A par destas ações, uma vez verificado que
bora correspondessem, em 1997,
atividade, encerramento de estabe-
um dos fatores do não cumprimento da lei
às alíneas a), c), e), f), g), n), o) e m),
lecimento e suspensão de autoriza-
se prendia com dificuldades na sua aplicabili-
respetivamente;
ções, licenças e alvarás.
dade quer pela difícil leitura e compreensão
rias alterações, umas mais outras me-
›
›
Mantêm praticamente a mesma redação: a alínea d), anteriormen-
da mesma, quer pelas caraterísticas do edi4. Saliente-se, por último, uma outra ino-
ficado, a Equipa procedeu à criação de um
te b), dedicada a estabelecimentos
vação introduzida pelo Decreto-Lei de
documento, a que chamou de “Consensos”,
ligados à saúde, a qual vê serem
2006 ao atribuir às organizações não-
onde constam os principais procedimentos
acrescentados os centros de rea-
-governamentais das pessoas com de-
legais em matéria de acessibilidades, tendo
bilitação e os consultórios médicos;
ficiência e das pessoas com mobilidade
procedido à sua distribuição pelas Juntas de
na alínea n) surgem de novo, ao lado
condicionada, quer o direito à informa-
Freguesia, Gabinetes de Engenharia e Arqui-
dos estabelecimentos de reinser-
ção no que concerne ao estado e anda-
tetura e pelas empresas de construção civil,
ção social, já previstos na anterior
mento dos processos de licenciamento
já que são estes atores sociais que mais dire-
alínea d), os estabelecimentos pri-
e afins, quer o direito de ação podendo
tamente intervêm no espaço público.
sionais; a alínea o), anterior alínea
intentar ações, nos termos da lei da
i), vem acrescentar, em sede de
ação popular, com o objetivo de garantir
Refira-se, também, todo um conjunto de
equipamentos desportivos, aos es-
o cumprimento das normas técnicas de
ações desenvolvidas desde o início da criação
tádios, pavilhões gimnodesportivos
acessibilidade.
da Equipa, no sentido de se fomentar a articu-
e piscinas, agora também os cam-
lação e o envolvimento dos diferentes inter-
pos de jogos e pistas de atletismo,
locutores locais, nomeadamente a realização
pavilhões e salas de desporto e
Promoção da acessibilidade numa
centros de condição física, incluindo
cidade saudável
ginásios e clubes de saúde; por últi-
Consciente da responsabilidade que o poder
gação de Viana do Castelo da ACAPO, IRIS In-
mo, a atual alínea p), anteriormente
local tem sobre esta matéria, e tendo em
clusiva, Agrupamento de Escolas do Atlântico,
alínea j), acrescenta aos parques in-
conta que no concelho de Viana do Castelo,
Associação Portugueses de Pais e Amigos do
fantis, praias e discotecas já previs-
além de 18,2% da população ter idade igual
Deficiente Mental, Associação de Paralisia Ce-
tos, também os parques de diver-
ou superior a 65 anos, existe um grande nú-
rebral de Viana do Castelo e Voluntários.
1
Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Dele-
elevare 27
Dossier: acessibilidade que se conseguiu conjugar a funcionalidade e a estética do edifício de forma harmoniosa sem criar elementos visuais discriminatórios3. É de realçar aqui o trabalho da Equipa na sensibilização dos técnicos, já que os autores do projeto – como, aliás, se pode verificar da respetiva Memória Descritiva – tiveram em conta não só a legislação em vigor sobre as normas técnicas de acessibilidades como também se suportaram do documento de “Consensos”, criado pela própria Equipa. Refira-se, ainda, que este é um exemplo demonstrativo de que, com vontade, criatividade e engenho, se podem contornar os constrangimentos e tornar mais fácil a vida de alguns, ao mesmo tempo que se cumprem os normativos legais. de ações de formação e sensibilização dirigi-
Este imóvel, com a cércea de dois pisos, uma
da a todos os técnicos da autarquia ligados a
planta retangular com 7 x 17 metros, apro-
esta problemática (arquitetos, engenheiros,
ximadamente, e uma área útil de 85,5 m2
Em jeito de conclusão, e sem deixar de re-
designers, fiscais de obra), aos comerciantes
por piso, foi restaurado e reabilitado com o
ferir os constrangimentos que ainda se co-
do concelho e aos estudantes do ensino su-
objetivo de dotar o Museu Municipal de uma
locam, sobretudo, ao nível da adaptação de
perior dos cursos de engenharia, arquitetura
extensão educativa, sendo os alvos princi-
edifícios públicos de cariz histórico-arquite-
e design e, ainda a organização de workshops,
pais desta ação a comunidade em idade es-
tónico diríamos que, apesar de haver ainda
seminários e conferências sobre esta temáti-
colar e o turismo.
muito trabalho a fazer em matéria de aces-
ca, dirigidos à população em geral.
3. Conclusão
sibilidade nos edifícios públicos e privados, Apesar das limitações impostas pelo valor
percebe-se que, de uma forma geral, há uma
Alguns exemplos práticos que demonstram
arquitetónico do edifício e pela sua exiguida-
maior sensibilização face a este problema
a aplicação, no edificado urbano, do concei-
de espacial, houve a preocupação de garan-
que tem resultado numa melhoria substan-
to de “Design for all” defendido pela Equipa,
tir as imposições legais ao nível da acessi-
cial da acessibilidade na cidade de Viana do
para além dos novos edifícios públicos como
bilidade, possibilitando a sua utilização por
Castelo. Destaca-se como positivo, o facto
a Biblioteca Municipal, o Tribunal do Trabalho
todos os utentes. Neste sentido, manteve-
de a autarquia ter seguido os princípios do
e o Centro Cultural de Viana do Castelo, en-
-se a escada de acesso ao primeiro piso e,
planeamento urbano saudável e ter centra-
tre outros, apontamos a adaptação de edifí-
dada a dificuldade na colocação de um ele-
do as suas intervenções no conceito de uma
cios já existentes como os antigos Paços do
vador, devido à falta de espaço suficiente
cidade para todos.
Concelho, o Teatro Municipal Sá de Miranda,
para a construção do fosso e da casa das
o Tribunal Judicial, a estação dos CTT, que
máquinas, optou-se pela colocação de uma
vinculam a vontade política e técnica no es-
plataforma elevatória, dentro de uma caixa
Bibiografia
forço de criar condições para tornar a cidade
metálica desenhada pelo autor do projeto2,
› CANOTILHO, J. J. Gomes (1991), Direito Consti-
de Viana do Castelo, numa cidade para todos.
conforme se pode ver na imagem anexa.
tucional, 5.ª Ed., Coimbra, Almedina; › EIRÓ, Pedro (2002), Noções Elementares de
Apesar dos constrangimentos na aplicação
Em termos de resultado, e tendo em conta
da lei em edifícios integrados no patrimó-
a necessidade de se limitar a intervenção ao
nio histórico municipal, apontamos aqui
mínimo indispensável, é possível verificar
Direito, 3.ª Ed., Lisboa, Editorial Verbo; ›
MENDES, João Castro (1997), Introdução ao Estudo do Direito, Lisboa.
um exemplo demonstrativo deste esforço e que apresentamos como um exemplo de
2
José Loureiro, Técnico Superior do Quadro de
3
Não raras vezes, as soluções de acessibilida-
boas práticas: trata-se do restauro e reabi-
Pessoal do Município de Viana do Castelo, foi
de passam pela colocação de rampas junto
litação de um edifício localizado no núcleo
o autor do projeto de arquitetura deste imó-
de escadas, ou outros elementos para uso
medieval do Centro Histórico de Viana do
vel, designado por “Casa dos Nicos”. Os pro-
específico de pessoas com deficiência, o que
Castelo, de construção datada do século XV,
jetos de especialidades ficaram a cargo da
torna estes elementos inclusivos mas ao
com relevante valor histórico e arquitetóni-
Eng. a Ana Magalhães, do mesmo Quadro de
mesmo tempo discriminatórios por aquilo
co, caraterizado pela existência, ao nível da
Pessoal e à empresa PROMIM foram entre-
que simbolizam. A filosofia e os princípios
fachada principal, de duas interessantes es-
gues os trabalhos de instalação da platafor-
adjacentes ao conceito de “design for all” é a
culturas góticas encimadas por dosseletes.
ma elevatória.
inclusão de todos, da mesma forma.
28
elevare
Dossier: acessibilidade
Acessibilidade: vamos indo, como deus quer… Carlos Pereira Especialista em acessibilidade
Nota Introdutória
elaborados do que é a deficiência e a incapacida-
Torna-se particularmente difícil elaborar
de, e enfim, a um novo olhar sobre a realidade
um texto para uma revista científica que
humana e a sua diversidade.
nos permita transmitir um mínimo de inovação, leia-se novidade, quando na prática
Estas alterações foram acompanhadas
se alcançaram já no nosso país os pressu-
de uma progressão simultânea na ideia do
Decreto-Lei n.º 43 de fevereiro de 1982, que
postos legais e técnicos suficientes para
direito à vida autónoma, digna e livre para
tentou, infrutiferamente, introduzir algu-
que a acessibilidade, através da utilização
todos, refletindo-se por sua vez no apa-
mas alterações no Regulamento Geral das
dos ascensores e de outros meios de eleva-
recimento de novas formas de encarar o
Edificações Urbanas.
ção, seja uma realidade. Mas pode entender-
desenho dos objetos, das casas, do meio
se existir algum interesse em comparar os
construído em geral.
Pode dizer-se que este diploma é de facto o precursor na fixação de normas de aces-
principais diplomas aprovados pelo Estado português nos últimos dezasseis anos e ve-
Fala-se hoje com alguma certeza das no-
sibilidade nos ascensores, mas, ainda que
rificar-se a evolução que se deu neste espa-
vas conceções do design, classificando-o de
tivesse demorado quatro anos a chegar à
ço de tempo, como terá também interesse,
universal, se a designação radica nos Esta-
data da sua revogação, a verdade é que no
suponho eu, antever a possível e previsível
dos Unidos da América, ou de design para
período da sua vigência não teve qualquer
evolução legislativa nestas matérias.
todos, se a raiz se encontrar na Europa.
aplicação concreta.
Há quem fale também em design inclusivo, expressão que se afigura de algum modo
Pela primeira vez se determinava que os as-
mos um pouco o fenómeno da criação de um
redutora na medida em que parece contra-
censores de edifícios de habitação coletiva
novo direito da humanidade, em construção
por-se a um outro design, o exclusivo. Como
com mais de três pisos deviam ter 1,10 m
sistemática – a acessibilidade, e façamos
europeus, fiquemos pelo design para todos.
de largura por 1,30 m de profundidade, fi-
De igual modo parece aceitável que analise-
xando-se a largura das portas em 0,75 m
uma necessariamente breve referência aos principais aspetos que sempre surgem a di-
As preocupações ao nível universitário já se
e a altura dos botões de comando até 1,20 m.
ficultar a normal aplicação das leis e a tentar
sentem aqui ou acolá, se bem que ainda se
Curiosamente
justificar, quase sempre por omissão, a ne-
não possa falar de uma corrente de pensa-
que era obrigatório um segundo ascen-
gligência na sua implementação e a resistên-
mento que tudo irá alterar muito em breve.
sor para edifícios com mais de 14,50 m
cia na interpretação da letra da lei, causado-
Professores de Design, de Arquitetura, de
de cércea, mas neste caso podia ter uma
ras de tantos prejuízos para tantas pessoas.
Engenharia começam agora a debruçar-se
capacidade mínima para quatro pessoas,
sobre estes temas e a influenciar os seus
não vingando assim a preocupação com
Algumas considerações
alunos, podendo esperar-se para breve a fi-
medidas e assumindo-se a tradicional di-
sobre a acessibilidade
xação do design para todos nos curricula das
mensão em função do número de pessoas
Este tema da acessibilidade ganhou definitiva-
escolas superiores que se dedicam a estas
transportadas.
mente a importância que merecia e é hoje recor-
áreas do saber, correspondendo assim ao
rente em todas as sociedades, mesmo naquelas
que uma Resolução da União Europeia apro-
Retomando os dois diplomas que podemos
mais afastadas dos caminhos do progresso.
vada em Tomar, em 2001, preconizava.
considerar como chaves neste (lento) pro-
O ganho de notoriedade e de preocupação cor-
Aspetos mais relevantes em 16 anos
rença entre ambos está no âmbito de aplica-
responde à evolução verificada no entendimen-
de legislação nacional
ção – no Decreto-Lei n.º 123 aprovavam-se
to das responsabilidades dos Estados para com
Mas antes de uma breve comparação entre
Normas Técnicas destinadas a permitir a
todos os seus membros, à nova abordagem
os Decretos-Lei nº 123 de maio de 1997 e
acessibilidade das pessoas com mobilida-
dos direitos humanos, recentemente consagra-
o n.º 163 de agosto de 2006, que o subs-
de condicionada apenas a edifícios de aces-
dos na Convenção da ONU sobre os Direitos das
tituiu e que se encontra atualmente em
so público, equipamentos coletivos e vias
Pessoas com Deficiência, aos conceitos mais
vigor, achei pertinente uma referência ao
públicas, enquanto no Decreto-Lei nº 163
estabelecia-se
também
cesso evolutivo, temos que a principal dife-
elevare 29
Dossier: acessibilidade o objeto era “a definição das condições de
uma colocação entre 0,90 m e 1,30 m,
ciência de que grande parte da população
acessibilidade a satisfazer no projeto e na cons-
agora sem especificação do lado;
europeia é constituída por pessoas com
trução de espaços públicos, equipamentos coletivos e edifícios públicos e habitacionais.”
› Com o Decreto-Lei n.º 163 surgem ainda
deficiência e pessoas idosas e que estas
outras exigências não preconizadas no
últimas, ainda que saudáveis, à medida que
anterior diploma, tais como o botão de
vão envelhecendo tendem a enfrentar difi-
Na perspetiva da legislação especialmente di-
alarme, sinais visuais de registo do co-
culdades de mobilidade e agilidade.
rigida aos ascensores, tínhamos de imediato
mando e espessura de decorações no
o alargamento às habitações, passando-se
interior das cabinas.
naturalmente a considerar também as plata-
Os dados da EU dizem-nos que mais de 32% da população europeia com idade compre-
formas elevatórias como uma nova área de
No que se refere às Plataformas Elevató-
endida entre os 55 e 65 anos apresentam
interesse, pois obviamente a sua referência
rias, cabe assinalar a sua inclusão nas Nor-
uma deficiência. A percentagem aumenta
em 1997 era muito diminuta, aparecendo, a
mas Técnicas aprovadas pelo Decreto-Lei
obviamente em função da idade das pes-
par dos elevadores ou de outro equipamento
n.º 163. De uma forma geral dá-se relevo
soas. A Lei Europeia para a Acessibilidade
adequado, apenas como solução alternativa
às dimensões da plataforma, à precisão da
começa a ser necessária pois no mercado
às rampas nas passagens desniveladas.
paragem, aos espaços de manobra para en-
europeu não existe oferta suficiente de
trada e saída, aos aspetos mais evidentes
bens e serviços acessíveis e as respostas
O Decreto-Lei n.º 123 vem fixar algumas me-
da necessidade de segurança e à garantia
às necessidades nas áreas do meio edifica-
didas e exigências que são integralmente se-
da livre circulação nas escadas em que se-
do, transportes, tecnologias de informação
guidas no Decreto-Lei n.º 163. Assim temos
jam instaladas, sem esquecer a autonomia
e comunicação são insuficientes. Por outro
disposição idêntica para as passagens des-
na utilização dos comandos.
lado, os mercados estão fragmentados,
assinalam-se algumas pequenas diferenças,
O que será possível (exigível)
a um nível regional.
com omissão dos pontos em que os dois di-
muito em breve
plomas coincidem, como se pode ver:
A legislação sobre elevadores e platafor-
›
A plataforma de 1,50 m x 1,50 m diante
mas elevatórias carece hoje de algumas
resulta do reconhecimento de que as pes-
da porta do ascensor passa à obrigação
melhorias, que poderão ser rapidamente
soas com deficiência/incapacidade enfren-
de os patamares terem dimensões que
alcançadas, para benefício dos utilizado-
tam diversas barreiras físicas nos seus pa-
permitam inscrever zonas de manobra
res e para maior segurança no fabrico e na
íses e quando se movimentam para outros
para rotação de 360º;
comercialização. Deverá ser considerada a
países da UE. A Lei Europeia para a Acessi-
Torna-se imperativo, com o novo diploma,
possibilidade do acesso fácil a elevadores
bilidade pretende ser uma iniciativa que visa
que o intervalo entre os patamares e o piso
com entrada e saída em paredes perpendi-
alcançar os objetivos da Estratégia Europa
das cabinas não seja superior a 0,035 m:
culares das cabinas, o que vai exigir espa-
2020 em matéria de política industrial, na
As barras de apoio no interior das ca-
ços acrescidos para as cabinas com entra-
implementação da agenda digital e na pro-
binas eram colocadas a uma altura de
da e saída pela mesma porta, ou por porta
cura de soluções que reduzam as situações
0,90 m da superfície do pavimento e
existente em posição fronteira à da entrada.
de exclusão de pessoas com deficiência e
niveladas. Já no que respeita aos ascensores
›
›
situando-se ao nível do Estado-membro ou
a uma distância de 0,06 m da parede,
›
pessoas idosas. No plano comercial preten-
passando a redação do Decreto-Lei
A informação sonora sobre o piso de pa-
de ser um contributo para o aprofundamen-
nº 163 a prever a necessidade de pelo
ragem passou também a ser exigível, bem
to do mercado único, dinamizando o comér-
menos uma barra de apoio colocada
como o mais perfeito design dos botões do
cio de bens e serviços acessíveis e podendo
numa parede livre da cabine, a uma
sistema de comando, incluindo os das pla-
ser uma oportunidade de negócio, passível
altura do piso compreendida entre
taformas, por forma a serem indicados por
de ser explorada por produtores e pres-
0,875 m e 0,925 m e a uma distância da
dispositivo luminoso, cores contrastantes e
tadores de serviços. Em consequência, os
parede da cabina compreendida entre
fácil identificação tátil. O acesso aos parques
consumidores beneficiarão de um mercado
0,035 m e 0,05 m;
de estacionamento subterrâneos e aos silos
com maior oferta e preços mais acessíveis.
A necessidade de instalação de dete-
deverá ser sempre garantido por ascensor.
Esta Lei irá harmonizar os requisitos sobre
tores volumétricos para imobilizar as
›
30
A adoção de um documento desta natureza
acessibilidade com padrões europeus, uni-
portas e/ou o andamento das cabinas, é
E da Europa?
formizando-os, bem como os regulamen-
substituída pela instalação de uma cor-
No âmbito da Europa (EU) parece útil sa-
tos praticados pelos Estados-membros. A
tina de luz standard com feixe plano;
lientar a Lei Europeia da Acessibilidade, em
área dos equipamentos de elevação, natu-
Os botões de comando no interior
elaboração, com previsão de aprovação du-
ralmente, será abrangida.
das cabinas, cuja altura oscilava entre
rante 2013, pois os seus objetivos, a serem
0,90 m e 1,30 m, passam a ser instala-
alcançados, poderão interferir de algum
Mas, mesmo assim a acessibilidade
dos a uma altura compreendida entre
modo com os elevadores. Quando aprova-
vai indo
0,90 m e 1,20 m, enquanto os botões
da e passar a integrar o atual quadro jurídi-
Porque podem as pessoas com deficiência/
de chamada passam de uma colocação
co, poderá ter grande impacto num futuro
incapacidade e as pessoas idosas conside-
a 1,20 m e “sempre do lado direito” para
muito próximo. Há hoje uma perfeita cons-
rar que a acessibilidade ainda está longe de
elevare
Dossier: acessibilidade soluções fáceis, eficazes e verdadeiramen-
a inveja apenas se manifesta nos outros,
ção de diplomas nem sempre perfeitamen-
te inclusivas na fruição de todos os espa-
tem conduzido à necessidade da tomada de
te claros, temos uma acessibilidade pouco
ços, serviços e no uso de todos os objetos?
posição sobre os direitos a nível universal
afirmada e passível de ser menosprezada
Por um conjunto de situações e realidades
como aconteceu com a Convenção da ONU
à mínima oportunidade. Daí que a acessibi-
que mereceriam um artigo específico para
que, curiosamente, não traz novos direitos,
lidade vá indo, como Deus quer, mas para
ganharem a visibilidade e eventualmente
mas que nos demonstra como aqueles que
todas as pessoas com deficiência deveria ir
ajudassem, se resolvidas, a modificar as ati-
foram consignados na Declaração Univer-
quando os homens quisessem.
tudes e os comportamentos da sociedade,
sal de 1948 carecem de especial cuidado de
que, em grande número de ocasiões, reve-
aplicação quando tratam das pessoas com
Conclusão
lam a existência de preconceitos.
deficiência. Aliás tal necessidade já se havia
Não obstante todos os avanços, legisla-
manifestado relativamente às crianças, às
tivos e técnicos, há um trabalho imenso a
O preconceito, mesmo que impercetível,
mulheres, aos emigrantes e a outras situ-
desenvolver, nomeadamente no campo das
gera barreiras latitudinais e podem as enti-
ações discriminatórias socialmente rele-
atitudes e da informação. As escolas serão
dades todas, incluindo os indivíduos, afirma-
vantes. Na Convenção temos que realçar a
certamente um meio de evolução e de alte-
rem solenemente que o proscrevem, que
forma como a acessibilidade, de uma forma
ração deste estado de coisas. As novas ge-
ele não desaparece de um momento para
sustentada, se vai constituindo como um
rações terão um novo comportamento (?)
o outro, manifestando-se em pequenas coi-
direito, podendo em breve ser considerada
e poderão mesmo eliminar o preconceito, já
sas, em negligências, na menorização de
como um novo direito do homem.
que a ignorância, presumivelmente afasta-
medidas que se julgam de pouco interesse,
da de vez, não pode nem deve ser esgrimida
em pequenas ou grandes discriminações. E
Mas a nível interno também cumpre refe-
como qualquer desculpa, absolutamente
onde houver discriminação há, com certe-
rir a legislação contra todas as formas de
descabida nesta nossa era de informação
za absoluta, injustiça social. O preconceito,
discriminação, o que vem reforçar a neces-
e comunicação a todos os níveis. É nessa
aliado com a ignorância, é o grande desa-
sidade da sua eliminação (Lei n.º 46/2006,
convicção que colaboro nesta revista, espe-
fio que temos de vencer. O reconhecimento
de 28 de agosto). Por todo este fluir, lento
rando que alguns resquícios da mensagem
destas realidades ancestrais, que tal como
certamente, com recuos e com a publica-
possam passar.
PUB
Dossier: acessibilidade
Acessos verticais e mobilidade E. Miguel de Brito Nogueira Arquiteto
Quase 9% da população portuguesa é defi-
ço público e o acesso principal aos espaços
ciente ou tem alguma incapacidade ou des-
interiores e exteriores que os constituem.
vantagem. Esta situação tende a agravar-se
Os desníveis nos pavimentos devem ser
com o crescimento da esperança média de
vencidos por rampas com inclinação de-
vida.
sejável de 6%, ascensores ou plataformas elevatórias.
Atentos a esta realidade o governo promoveu uma legislação que visa melhorar as condições de acessibilidade a indivíduos de
Soluções técnicas existentes
mobilidade condicionada no espaço público
no mercado
e no interior dos edifícios. As normas técni-
Em edifícios novos, e sempre que possível
0,925 m e a uma distância da parede da
cas, articuladas no Decreto-Lei n.º 163/06
nos edifícios existentes a adequar à legisla-
cabina compreendida entre 0,035 m e
de 8 de agosto regulamentam a mobilida-
ção em vigor, deveremos privilegiar a solu-
0,05 m. Esta solução servirá para que
de nos espaços públicos e no interior dos
ção dos ascensores. A rampa permite ven-
as pessoas com mobilidade condiciona-
edifícios, nomeadamente as relações mé-
cer pequenos desníveis mas compromete
da se possam apoiar durante a viagem;
tricas de corredores, portas, instalações
o espaço e a solução arquitetónica em si-
› Deve ser garantida uma precisão de pa-
sanitárias, cozinhas e também nos acessos
tuações em que temos que vencer grandes
ragem relativamente ao nível do piso
verticais mecânicos, temática que iremos
desníveis. A plataforma elevatória resolve
dos patamares não superior a ± 0,02 m.
abordar:
muitas situações em que por razões físicas
Desta forma garantir-se-á uma para-
ou por interesse histórico ou patrimonial
gem nivelada com o piso de patamar,
do edifício, seja impossível a montagem de
evitando-se a formação de degraus que
Acessos verticais versus Mobilidade:
um elevador. O trepador de escadas apa-
possam originar quedas. Terá de ser
Para além das escadas e das rampas que
rece com uma solução transportável com
considerado um ascensor elétrico com
devem respeitar soluções métricas preco-
autonomia elétrica, mas depende a sua uti-
velocidade variável por variação de fre-
nizadas na legislação referida, os elevado-
lização do apoio de terceiros, não dando a
res surgem como a solução mais utilizada
autonomia desejável ao seu utilizador.
quência ou um ascensor hidráulico; ›
As portas dos ascensores devem ter uma largura útil não inferior a 0,80 m,
na mobilidade vertical em edifícios, asseO ascensor
devem ser de correr horizontalmente
Existem, no entanto, outras soluções que
Se se optar pela instalação de um ascensor
e ter um movimento automático. Reco-
completam a mobilidade vertical como as
num edifício novo ou num edifício já existen-
menda-se a instalação de portas com
plataformas elevatórias e os trepadores de
te, então terá de ser previsto um equipa-
escadas.
mento que cumpra no mínimo os seguintes
gurando comodidade, rapidez e segurança.
uma largura útil de 0,90 m; ›
Os dispositivos de comando dos as-
requisitos:
censores devem ser instalados a uma
› Instalação de um ascensor com uma
altura, entre 0,9 e 1,2 m quando loca-
O que diz a Lei?
cabina com dimensões interiores não
lizados nos patamares e entre 0,9 m e
O Decreto-Lei n.º 163/2006 de 8 de agosto
inferiores a 1,1 m na largura por 1,4 m de
1,3 m quando localizados no interior das
definiu as condições de acessibilidade a sa-
profundidade. Tal obrigatoriedade cor-
cabinas. Devem ainda existir sinais visu-
tisfazer no projeto e na construção de edifí-
responde a um ascensor com capacida-
ais para indicarem que o comando foi
cios públicos e habitacionais, bem como as
de para 630 kg/8 pessoas. Garante-se
registado. Pretende-se que os botões
normas técnicas a aplicar nesses edifícios.
dessa forma que uma cadeira de rodas
de chamada sejam facilmente acessí-
pode facilmente entrar e sair da cabina;
veis por pessoas em cadeiras de rodas.
A cabina deve ter pelo menos uma barra
Os botões de campainha, os comuta-
pelo menos um percurso que proporcione
de apoio colocada numa parede livre do
dores de luz e os botões do sistema de
o acesso seguro e confortável, das pessoas
interior da mesma situada a uma altura
comando devem ser indicados por um
com mobilidade condicionada entre o espa-
do piso compreendida entre 0,875 m e
dispositivo luminoso de presença e pos-
Esta norma legal determina que os edifícios ou estabelecimentos devem ser dotados de
32
elevare
›
Dossier: acessibilidade suir identificação tátil (exemplos: em
devem existir portas ou barras de pro-
fica para a sua utilização no espaço público
alto-relevo ou em braille). Idealmente
teção no acesso à plataforma. Estas
ou doméstico.
deverá ser previsto um sistema sonoro
portas ou barras de proteção devem
(sintetizador de voz) que indique o piso a
poder ser acionadas manualmente pelo
Estes equipamentos estão descritos na lis-
que o ascensor chegou, se a porta está
utente;
tagem de produtos para pessoas com defi-
Todos os lados da plataforma elevató-
ciência – Despacho n.º 894/2012 – pelo que
bir ou descer;
ria, com exceção dos que permitem o
se depreende da sua aceitação como equi-
Os sistemas de comando não devem
acesso, devem possuir anteparos com
pamento de transporte vertical em todos
estar trancados nem dependentes de
uma altura não inferior a 0,1 m;
os tipos de edifícios.
a abrir ou a fechar, se o ascensor vai su›
qualquer tipo de chave ou cartão, ou ›
›
› Caso as plataformas elevatórias sejam
seja devem estar sempre acessíveis;
instaladas sobre escadas, devem ser
Os patamares diante das portas dos
rebatíveis de modo a permitir o uso de
Critérios de seleção da solução
ascensores devem ter dimensões que
toda a largura da escada quando a pla-
técnica
permitam inscrever zonas de manobra
taforma não está em uso. Instalando a
Qual das duas soluções apresentadas devo
para rotação de 360.º numa cadeira de
plataforma elevatória sobre a escada
escolher?
rodas, para que o acesso à cabina e a
existente permitirá um melhor aprovei-
saída desta se possa processar sem qualquer esforço adicional por parte do
›
utente. A plataforma elevatória Se não for tecnicamente possível e/ou economicamente viável a instalação de um
tamento do espaço existente;
A resposta dependerá de vários critérios.
O controlo do movimento da platafor-
Devemos por isso avaliar pelo menos os
ma elevatória deve estar colocado de
seguintes fatores:
modo a ser visível e poder ser utilizado
›
por um utente sentado na plataforma e
› Espaço disponível para a instalação do equipamento;
sem a assistência de terceiros; ›
Os botões de campainha, os comuta-
Número de pisos a servir;
›
Tráfego previsto, isto é, quantidade de
ascensor, então poder-se-á optar por uma
dores de luz e os botões do sistema de
plataforma elevatória.
comando devem ser indicados por dis-
As plataformas elevatórias devem cumprir
positivo luminoso de presença e possuir
›
os seguintes requisitos mínimos:
identificação tátil (exemplos: em alto-
› Condições físicas do edifício;
-relevo ou em braille);
›
›
A base da plataforma deverá possuir dimensões que permitam a sua utilização
›
›
pessoas que se pretende transportar num dado período de tempo; Autonomia do utilizador; Orçamento disponível.
Os sistemas de comando não devem
por um indivíduo adulto em cadeira de
estar trancados nem dependentes de
rodas, e que nunca deverão ser inferio-
qualquer tipo de chave ou cartão, ou
QUADRO COMPARATIVO
res a 0,75 m por 1 m;
seja, devem estar sempre acessíveis.
As soluções apresentadas permitem a
A precisão de paragem das platafor-
acessibilidade vertical aos edifícios a todos
mas elevatórias relativamente ao nível
Trepadores de escadas
os indivíduos, numa arquitetura sem barrei-
do piso do patamar não deve ser supe-
Esta solução está regulada pela Diretiva
ras, assegurando assim a justa igualdade de
rior a ± 0,02 m, por forma a garantir
Máquinas, não existindo legislação especí-
direitos a todos os cidadãos.
uma paragem nivelada com o piso de patamar e assim evitar a formação de degraus que possam originar quedas ou barreiras à deslocação; › Se o desnível entre a plataforma elevatória e o piso for superior a 0,75 m
elevare 33
Dossier: acessibilidade
Mobilidade das pessoas portadoras de deficiência Francisco Craveiro Duarte
Tópicos ›
Atitude social, obrigações nacionais e europeias;
›
Responsabilidade social da indústria;
› Exigência no cumprimento da legislação; › Iniciativa para a sensibilização e fiscalização; › Impactos económicos e financeiros; › Conclusão; › Documentos de referência. Como introdução vou falar-vos de uma cur-
entre o hotel e o local da conferência? Que
que poderia ter tido o mesmo serviço sem
ta experiencia pessoal quando acompanhei
tempo prever para o transporte e acesso
qualquer necessidade da minha presença.
numa deslocação de avião a Bruxelas, uma
ao local do evento? Todas estas questões
pessoa portadora de deficiência motora,
que me assaltaram eram para mim novas
Aprendi de facto muito com o acompanha-
viagem precisamente destinada a assistir
e praticamente não se põem à generalidade
mento do nosso convidado e principalmen-
a um evento sensibilizador das responsa-
das pessoas… exceto se temporariamente
te apercebi-me da necessidade e obrigação
bilidades que a sociedade tem para com
não foram remetidos à condição de menor
da sociedade (e naturalmente os agentes
os seus membros que, por motivos tran-
mobilidade, por exemplo por qualquer pe-
que fornecem bens e serviços) de ter estas
sitórios ou definitivos, têm limitações físi-
queno acidente desportivo ou convalescen-
questões bem presentes e soluções obriga-
cas que dificultam as suas relações com a
ça de cirurgia!
toriamente disponíveis e planeadas.
Abrevio aqui a perceção que me ficou desta
Por exemplo, o adquirente de um aparta-
experiência de há alguns anos atrás.
mento, aonde possivelmente vai residir
sociedade. Tratava-se de um convidado da ANIEER en-
durante umas dezenas de anos, durante os
quanto representante de uma instituição No nosso País a simpatia era sempre evi-
quais muitas coisas acontecem, algumas
dente e inexcedível mas o tempo corria
delas por ventura menos felizes, ser dra-
Desde logo me apercebi, para uma pessoa
interminável até que surgissem soluções
maticamente surpreendido anos depois da
portadora de deficiência, da importante ne-
para os obstáculos que, em série, surpre-
aquisição com a existência de obstáculos
cessidade de preparação de qualquer deslo-
endiam, pelo menos aparentemente, quem
que não imaginara, nem legalmente deviam
cação por mais simples que seja. Como fiquei
tinha de os resolver.
existir. Mais, por vezes desconhecendo os
pública.
seus direitos, sujeita-se aos custos e às
com a responsabilidade de acompanhar o nosso convidado, a ansiedade apoderou-se
Pelo contrário em Bruxelas as soluções
consequências da sua resolução tardia sem
de mim quando antecipei diversos momen-
pareciam aparecer antes que as questões
ser ressarcido.
tos: como preparar o embarque no avião?
surgissem, desde o desembarque prioritá-
Pré-aviso? Para que serviço? Quando? Aon-
rio com os meios adequados, uma coleta
A atitude social tem vindo a revelar-se
de nos apresentamos para o “check-in”?
de bagagem, em que se incluía a cadeira
sensível mas com timidez ou inércia e isso
A chegada ao destino deveria ser preparada
de rodas, imediata, a um caminho de saída
é muito claro com a constatação perma-
antecipadamente? Na marcação de hotel as
alternativo e direto ao transporte especial
nente, como exemplo, do estacionamento
condições a solicitar, em particular do quar-
cujo condutor nos acompanhou até ao piso
irregular que obstaculiza a mobilidade dos
to a reservar, estariam preenchidas por
dos quartos do hotel, tudo isto sem qual-
peões que muitas vezes optam pela troca
princípio, ou exigiam uma procura cuidado-
quer planeamento prévio mas resultante
de posições ao deslocarem-se nas faixas de
sa? Como garantir o transporte adequado
de estar identificada a condição do cliente,
rodagem.
34
elevare
Dossier: acessibilidade Não esqueçamos que os passeios não são apenas bloqueados pelas viaturas mas por sinalização ou equipamento urbano “cuidadosamente dispostos” para impossibilitar a passagem por exemplo de um idoso ou uma criança que transporte um trolley a caminho da escola. Inclua-se a qualidade do piso, a existência, localização e inclinação de rampas. Peço-vos que observem! Os cidadãos devem exigir soluções para um grande conjunto de questões como as exemplificadas mas muitas outras, mas não esqueçamos que os cidadãos também são os que têm de agir enquanto legisladores, governantes, funcionários públicos e autárquicos, fiscais, inspetores, projetistas,
ralmente os mais interessados na sensibiliza-
ções, menos relatórios, menos processos
industriais, prestadores de serviços, técni-
ção para a aplicação dos preceitos exigíveis.
na Justiça.
cos, inquilinos, dirigentes de associações
Mas todos os outros agentes do mercado
de defesa do consumidor ou de pessoas
quererão, estou convicto, estão envolvidos.
A valorização dos empreendimentos melhora
portadoras de deficiência, promotores imo-
Por vezes faltar-lhes-á conhecimento técni-
acima do valor despendido na disponibilização
biliários, todos eles têm responsabilidades
co, legislativo, normativo, processual.
dos requisitos exigíveis (tendo presente que a
sociais. Todos nós as temos.
situação atual vivida, não será para sempre): Estou certo que, Organismos Notificados,
a procura de bens e serviços dirigir-se-á para
Todos têm papéis muito relevantes e é im-
Entidades Inspetoras, Indústria e Serviços,
os equipamentos mais eficazes e amigáveis
portante que compreendam a necessidade
estes últimos através das suas associações
assim esteja sensibilizada para os avaliar.
de resolver responsavelmente a sua parte.
setoriais, estarão dispostos ao debate e a
Mas que plano? Que há a fazer? Esta é a par-
apoiar o enquadramento das questões e a
A atividade da Indústria e dos Serviços au-
te simples! A resposta numa frase: cumprir
providenciar o know-how para as soluções.
menta: com reflexo imediato na faturação
escrupulosamente as diretivas europeias e
Isto é a sua responsabilidade social!
e no emprego.
a legislação relevante aplicável. É preciso que os diferentes agentes se en-
O volume dos impostos e de outras pres-
Não nos escudemos na interpretação não
contrem, que se troquem pontos de vista,
tações ao Estado aumenta em função das
clara disto ou daquilo!
que priorizem o essencial e que, o mais im-
atividades industriais e de serviços e redu-
portante, façam acontecer.
zem-se as prestações sociais.
Deixo o repto para que se organize um encon-
A componente nacional das atividades em
tro nacional para discussão aberta destes te-
questão é muito forte pelo que a influen-
mas e sem exclusões de quaisquer agentes.
cia na balança de pagamentos externos é
Nem que esta ou aquela determinação é contraditória daqueloutra! O espírito, na minha opinião deve ser, mais do que executar, por que a lei manda, o de
negligenciável.
fazer todo o possível para encontrar boas
Nesta fase gostaria de vos propor refletir
soluções para a mobilidade dos portadores
sobre os impactos económicos e financeiros
Finalmente pelas ideias alinhadas atrás não
de deficiência, que no final facilita a mobi-
da aplicação das exigências aplicáveis neste
parece razoável evocar argumentos finan-
lidade de todos. Aplicar todas as soluções
âmbito, de um ponto de vista qualitativo .
ceiros para não priorizar o dever de consci-
*
que são possíveis e na impossibilidade procurar ativamente alternativas razoáveis.
ência de garantir neste âmbito a igualdade A segurança das pessoas melhora: menos
de todos os cidadãos e particularmente de
horas perdidas, menos custos para as pes-
facilitar aos portadores de deficiência a sua
soas, para as seguradoras e para o Estado.
própria contribuição à sociedade.
mente aos setores da habitação e das infra
A produtividade (a famosa…) aumenta:
Como conclusão proponho-vos a ideia de que
estruturas de transporte e lazer. Em parti-
maior velocidade e facilidade de desloca-
todos ganhamos com uma abordagem deci-
cular no transporte vertical e seus acessos.
ção de todos, menos horas de trabalho e
dida da resolução destas questões e embora
tempos mortos perdidos, menos reclama-
já muito se tenha feito (por exemplo todo o
Naturalmente que estas reflexões de aplicação geral, me ocorre aplicarem-se natural-
As associações das pessoas portadoras de deficiência, tal como as associações de consumidores e de inquilinos representam natu-
pacote legislativo e normativo normalmente *
A estimativa quantificada pode ser uma ini-
lento de estabelecer) para o que falta, não
ciativa dos agentes envolvidos.
pode haver justificação para o adiamento!
elevare 35
Nota técnica
Protetores de motor DSP – fiabilidade e confiança na proteção e automação de motores Eng.o Ricardo Jesus Diretor Técnico Zeben - Sistemas Eletrónicos
Desde o seu desenvolvimento há várias décadas, o Térmico Bimetálico continua a ser o equipamento mais utilizado para proteção de motores elétricos. Infelizmente, o Térmico Bimetálico e o seu sistema de medição
está o seu elemento mais importante: o
tálicos, que é a medição direta da corrente,
indireta de carga de um motor através de
processador digital. O processamento di-
ao contrário da estimativa da corrente de
aquecimento sempre foram mais conheci-
gital da informação torna o sistema mais
acordo com o aumento de temperatura,
dos pelas suas limitações e problemas do
fiável, não é afetado por condições exter-
que é o princípio base de funcionamento de
que propriamente pela sua eficácia. Nome-
nas como condições ambientais e é acima
um Térmico Bimetálico. A medição direta
adamente em sistemas de cargas elevadas,
de tudo programável, para poder ajustar às
da corrente garante que fatores externos
como sistemas de transporte de carga (cin-
necessidades da aplicação.
como a temperatura ambiente não afetam
tas transportadoras, elevadores, gruas, en-
o sistema, tornando-o mais fiável. O se-
tre outros), em que as contínuas flutuações
gundo componente é o seu processador
na carga e consumo do motor tornam muito
digital. Este analisa os valores medidos e
fácil o disparo acidental de um Térmico Bi-
juntamente com os valores definidos pelo
metálico, esta tecnologia não é de facto uma
utilizador e verifica se alguma condição de
solução viável. É natural assim que surja
alarme é atingida. A principal vantagem
uma questão: na era digital em que nos en-
deste sistema é a capacidade do utilizador
contramos, em que praticamente todos os
definir o que são as condições de alarme ou
sistemas são controlados e monitorizados
proteção (disparo), de acordo com as suas
por sistemas e processadores digitais, e sendo o Térmico Bimetálico claramente uma so-
necessidades e as necessidades de aplicaFigura 1. Protetor de motor DSP-SS.
lução meramente analógica, não será possí-
ção. Finalmente, o último componente são as saídas, que permitem controlar e sinali-
vel resolver este problema digitalmente?
zar a operação, proteção e estado do sisteComo funciona
ma. As saídas são controladas diretamente
O funcionamento dos protetores de motor
pelo processador e podem ser utilizadas
O que é DSP
DSP é genialmente simples, como se pode
para operar o sistema diretamente ou indi-
DSP (de Digital Superior Protection ou Prote-
ver na seguinte figura:
retamente por meio de um controlador ex-
ção Digital Superior) é uma potente gama
terno, autómato, e outros, que poderá agir
de módulos digitais exclusivamente dese-
em conformidade.
nhados para proteção de motores elétricos contra as causas mais comuns de proble-
Modelos mais avançados da gama podem
mas ou avarias, sendo a mais comum a sobrecarga/sobrecorrente. A gama varia des-
ter obviamente mais componentes, como Figura 2. Funcionamento DSP.
de simples protetores de sobrecarga com
por exemplo entrada para análise da tensão das fases, saídas auxiliares de alarme, saí-
ajuste de intensidade de tempo de disparo
O primeiro componente é o sistema de me-
da analógica, Bus de Campo para integração
até módulos avançados com indicação digi-
dição de corrente, composto pelos trans-
em sistemas de automação ou até mesmo
tal, controlo do motor e capacidade de li-
formadores de Intensidade (TIs). Este com-
módulos datalogger, mas a base do sistema
gação a sistemas de automação existentes.
ponente traz imediatamente uma enorme
é sempre composta pelos três componen-
No coração de todos os protetores da gama
vantagem em relação aos Térmicos Bime-
tes principais descritos.
36
elevare
Nota técnica
Figura 3. DSP-POL com análise de corrente+tensão.
Sendo o sistema baseado num processador
Figura 5. Relação do consumo Máquina em função da carga aplicada.
digital, o utilizador pode livremente programar o protetor DSP para se ajustar à Básica – Protetores mais simples, com-
simples Térmico Bimetálico. Dentro de todas
te os valores de Corrente de Sobrecarga,
pactos, económicos. Muito eficazes na
estas, as de maior destaque são as seguintes:
Tempo de Sobrecarga (tempo após o qual o
proteção contra sobrecarga, falta de
·
Alta fiabilidade;
protetor dispara por sobrecarga, caso este
fase, rotor bloqueado em arranque e
·
Insensível ao ambiente;
consuma acima do valor de sobrecarga) e
inversão de fase;
·
Valores programáveis;
Digital – Gama intermédia, com indica-
·
Amplos calibres de potências;
valor de Sobrecarga no arranque do motor)
ção digital e teclas para programação.
·
Simples instalação e utilização;
define-se a chamada Curva Definida (tem-
Possui funções avançadas como histó-
·
Custo reduzido.
pos definidos), que ao contrário da Curva In-
rico de falhas e um leque completo de
versa utilizada pelos térmicos bimetálicos é
proteções que incluem subcarga, stall,
muito mais eficaz e consistente.
sobre/subtensão, fuga à terra e curto-
DSP na automação de máquinas e
-circuito no motor;
processos
Avançada – Topo da gama, com fun-
E uma vez que o consumo de um motor elé-
cesso de corrente, por mais pequeno que
ções de controlador além de protetor e
trico está diretamente relacionado com a
seja, seja detetado e o sistema parado rapi-
módulo de saída ModBus RTU para fácil
sua carga, os protetores de motor DSP po-
damente, ao mesmo tempo que flutuações
integração em sistemas de automação
dem também ser utilizados para automati-
pontuais na corrente são ignoradas, crian-
existentes. Versão especial disponível
zar processos utilizando o próprio motor e
do, assim, o sistema de proteção mais efi-
para monitorização de resistência de
o seu consumo como sensor.
caz do mercado.
isolamento.
aplicação desejada. Ajustando simplesmen-
Tempo de Arranque (tempo de inibição do
A Curva Definida garante que qualquer ex-
·
·
·
No seguimento vamos ver algumas vantagens na aplicação dos protetores de motor Gama DSP
Principais vantagens
DSP em motores e máquinas de elevação e
A Gama DSP pode ser separada em três
Existem inúmeras vantagens na utilização
transporte:
categorias:
de um protetor de motor DSP em vez de um Aplicações em transporte de cargas Sistemas de transporte de carga, sejam estes horizontais (cintas transportadoras) ou verticais (elevadores e gruas), sempre foram um ramo muito exigente ao nível da proteção de motores, devido às grandes flutuações de carga associadas a estas aplicações. Proteger um motor elétrico nestas aplicações utilizando um Térmico Bimetálico não é tarefa fácil: utilizando um Térmico Bimetálico muito sensível, este pode disparar desnecessariamente cada vez que houver um pequeno pico de carga, ir aquecendo com cada pequena flutuação até disparar acidentalmente ou mesmo disparar no arranque; ou então pode-se utilizar um térmico Bimetálico menos sensível
Figura 4. Curva inversa versus curva definida programável DSP.
que não dispara acidentalmente, mas quan-
elevare 37
Nota técnica
Figura 6. “Aquecimento” de um térmico bimetálico.
Figura 7. Aplicação DSP como limitador de carga.
do houver um problema sério demora tanto
Cintas transportadoras
uma fração de tempo que evitará qualquer
tempo a responder que já é tarde demais.
Ao nível do controlo de cargas, poucas apli-
dano físico no motor, na máquina e inclusive
cações são mais exigentes do que cintas
nos bens. Apesar de só os protetores DSP
Para estes sistemas, a possibilidade de
transportadoras. Não só a carga nominal
Digitais disponibilizarem proteção de Stall,
ajuste do tempo de disparo e tempo de
do sistema (e respetivo consumo do motor)
até os mais simples protetores da gama
arranque tornam os protetores de motor
varia fortemente, como a constante adição e
DSP podem proteger qualquer máquina con-
DSP ideais para a aplicação. O sistema não
subtração de carga em pleno funcionamen-
tra este tipo de danos. Calibrando o protetor
irá disparar acidentalmente por flutuações
to do sistema tornam o consumo instável.
para disparar imediatamente (0,5s) a cargas
de carga de curta duração nem durante o
Para esta aplicação, a regulação do tempo
muito altas (200-400%), este desativa o sis-
arranque mas continua protegido para pro-
de disparo torna-se muito importante, de
tema com a rapidez e precisão necessárias
blemas mais graves como excesso de car-
forma a garantir que não existem disparos
para este tipo de proteção contra o atola-
ga ou bloqueamento do sistema. Por esta
acidentais por adição de carga ao sistema.
mento (Stall).
razão, os protetores DSP são também de-
Assim, os protetores DSP são perfeitos para
signados como limitadores de carga.
a aplicação, ignorando as fortes flutuações
Aplicação em Gruas e Elevadores
Para este tipo de aplicação, os protetores
do sistema para se concentrar no importan-
mais avançados da gama permitem a con-
te: a carga total do sistema que não deve ex-
figuração de vários tipos de proteção e res-
ceder um valor de segurança pré-definido.
petivos tempos garantido assim uma total
Gruas e elevadores são uma aplicação mui-
proteção do sistema: Sobre/subcarga (com
to exigente ao nível de controlo de cargas,
No entanto, existe um problema muito mais
base na corrente e/ou potência), sobre/sub-
principalmente pelo facto de a carga do
grave neste tipo de aplicações: quando
tensão, bloqueio do motor, falta de fase, in-
sistema não ser constante. Uma vez que a
algo bloqueia o sistema bruscamente. Isto
versão de fase e fuga à terra.
corrente consumida pelo motor elétrico é
pode ser originado por um excesso de car-
proporcional a essa carga, a corrente nomi-
ga momentâneo (atolamento) ou a algum
nal do motor vai variando constantemente.
problema mecânico que terá bloqueado a
Conclusão
Assim sendo, a utilização de um Térmico Bi-
cinta transportadora. Para uma cinta trans-
Neste artigo apenas abordamos as apli-
metálico torna-se praticamente impossível.
portadora, o facto de o motor continuar a
cações de transporte de carga, sendo que
Para estes casos, a utilização de um relé
funcionar nestas condições (bloqueada/ato-
os protetores DSP têm inúmeras aplicabi-
de proteção DSP é simples e eficaz para a
lada) poderá traduzir-se no rebentamento
lidades em outros tipos de maquinaria tais
deteção dos problemas mais graves no sis-
da cinta e, por consequência, paragem total
como bombas, ventiladores, compresso-
tema. Analisando o consumo do motor em
do sistema por um longo período de tempo
res, mexedores, entre outros… Mas o im-
carga máxima, pode-se programar o prote-
para respetiva reparação. Este tipo de pro-
portante é que com base nos exemplos e
tor DSP para disparar imediatamente caso
blemas é designado como choque mecânico,
explicações mencionadas, facilmente con-
o valor da corrente passe esse valor, de for-
atolamento ou Stall, e os protetores de mo-
cluímos que os protetores de motor DSP
ma a garantir que o sistema nunca funciona
tor DSP Digitais estão preparados para diag-
são um excelente aliado e investimento à
em casos de carga excessiva. Ajustando de-
nosticarem-nos e atuarem (proteger) em
proteção e automação de motores elétri-
vidamente o tempo de arranque, podem-se
somente 50 milésimas de segundo. Ou seja
cos, máquinas e processos.
também detetar casos em que o sistema não seja capaz de arrancar devidamente, estando preso ou simplesmente com carga extrema. Utilizando um protetor mais avançado com detetor de baixa carga (subcorrente) pode-se também detetar facilmente a ausência de carga mínima: cabo rebentado ou folga no guincho, por exemplo.
38
elevare
Figura 8. Deteção de atolamento (Stall)
Bibliografia
Operadores de aparatos elevadores Sinopse: A utilização de aparelhos elevadores para a movimentação mecânica de cargas encontra-se amplamente alargada a todas as atividades industriais e, em particular, nas obras de construção, onde representam equipamentos de trabalho imprescindíveis. Estes aparelhos, que facilitam significativamente o trabalho e diminuem de forma considerável a possibilidade de lesões do trabalhador (ao reduzirem ao manuseamento de cargas) apresentam, contudo, outros riscos associados à sua manipulação. 24,49 € Autor: Agustin y Gonzalez Maestre, Diego Gonzalez Ruiz ISBN: 9788492735105 Editora: FC EDITORIAL Número de Páginas: 367 Idioma: Espanhol Data de Edição: 2009 Venda online em www.engebook.com
No livro é feita uma análise a este tipo de equipamentos do ponto de vista do risco envolvido no seu manuseamento, sendo dadas recomendações oportunas para o seu controlo por parte do trabalhador. Nesta análise estão incluídos os guindastes de torre e as gruas móveis que, embora possuam regulamentação específica, por serem amplamente usados nas obras, partilham a sua atividade com a de muitos coletivos, transmitindo riscos importantes. Os conteúdos do livro abrangem o programa de formação de segundo ciclo, que estabelece o Acordo Estatal do Setor Metalomecânico para os operadores de aparelhos elevadores que intervêm nas obras e estaleiros de construção. Índice: Riesgos específicos en el sector de la construcción y su prevención. Operador de aparatos elevadores. Gestión de la prevención en obra. Coordinación de actividades empresariales. Derechos y obligaciones del trabajador. Primeros auxilios y medidas de emergencia. Evaluación. Soluciones.
Elevadores: Principios e Innovaciones Sinopse: Hoje em dia, todas as edificações estão condicionadas pelo elevador, o monta-cargas, as escadas rolantes e a plataforma, pelo que o transporte vertical é, atualmente e sem dúvida, um tema de vital importância. Embora existam livros clássicos sobre o tema, alguns centram-se no funcionamento do dispositivo mas apenas citam os seus componentes mecânicos, enquanto outros se especializam no cálculo mas revelam-se incompletos relativamente ao desenho e às normativas. 43,91€ Autor: Antonio Miravete de Marco, Emilio Larrodé Pellicer ISBN: 9788429180121 Editora: REVERTÉ Número de Páginas: 480 Idioma: Espanhol Edição: 2008 Venda online em www.engebook.com
Nesta obra, os autores mostram os aspetos relacionados com o cálculo e desenho dos elementos que compõem cada elevador e explicam o funcionamento dos mecanismos, dando ênfase à normativa vigente desde o ponto da vista da segurança, do funcionamento e das dimensões. São incorporados inúmeros problemas e exemplos práticos que mostram, de forma simples, o desenvolvimento numérico associado a cada um dos aspetos de projeto e funcionamentos dos elevadores. Índice: Prólogo. Introducción. Ascensores y montacargas: Definiciones; Tipologías básicas; Composición y funcionamiento; Ascensores especiales; Sistemas de gestión del tráfico; Innovaciones en elevadores. Escaleras mecánicas y andenes móviles: Introducción; Composición y funcionamiento; Carteles y señales; Instrucciones de uso; Innovaciones en escaleras mecánicas; Introducción al tráfico vertical; Diagramas de tráfico por sectores; Ascensores y montacargas; Escaleras mecánicas y rampas móviles; Los sistemas de inteligencia artificial aplicados al tráfico vertical. Bibliografía.
Transportadores y Elevadores Sinopse: Visando complementar o livro "Gruas", escrito pelos mesmos autores, esta obra tem como objeto de estudo todos os aparelhos de transporte e elevação que não se enquadram na denominação geral de "grua". Um engenheiro mecânico que estuda os aparelhos de elevação e transporte precisa de um texto de apoio que sirva tanto na base teórica como na de documentação, sendo para ele que 55,44€ Autor: Antonio Miravete, Emilio Larrodé ISBN: 8429134917 Editora: REVERTÉ Número de Páginas: 448 Idioma: Espanhol Data de Edição: 2001 Venda online em www.engebook.com
foi desenvolvido e apresentado este livro cujo objetivo é meramente educativo. Dada a falta de textos instrutivos acerca deste tema em castelhano, considerou-se uma necessidade a edição de um livro com estas caraterísticas que servisse de apoio ao estudante. Tendo em conta que os elementos que compõem os transportadores e elevadores são semelhantes aos de uma grua (cabos, roldanas, tambores, acionamento elétrico, estrutura resistente, entre outros), os autores optaram por não dedicar nenhum capítulo a estes elementos – que têm uma referência completa no primeiro livro –, passando-se diretamente ao estudo de cada tipo de aparelho. Índice: Introducción: Elevadores simples; Carretillas elevadoras; Plataformas elevadoras; Bandas transportadoras; Transporte por cable: teleféricos, funiculares, bondines. Bibliografía.
w w w. e n g e b o o k . c o m a sua livraria técnica!
Ascensores com história
O Elevador de Santa Justa António Vasconcelos Engenheiro Especialista em Transportes e Vias de Comunicação (OE)
O Elevador de Santa Justa é um dos
perior ligado por um passadiço metálico
ex libris de Lisboa e uma das atrações
horizontal e coberto, ao Largo do Carmo.
mais visitadas da capital. Foi inaugurado
Este passadiço é sustentado por um pilar
em 1902, com tração a vapor e mais
intermédio, situado na Rua do Carmo, que
tarde em 1907 foi renovado com tração
foi revestido em betão em 1946, em virtu-
elétrica. Desde 2002 está classificado
de do seu mau estado de conservação. É
como Monumento Nacional.
de notar que este passadiço passa mesmo ao lado das ruínas do antigo Convento do Carmo, destruído pelo terramoto de 1755.
O elevador de Santa Justa é um dos ex li-
Felizmente este elevador não foi afetado
bris de Lisboa e uma das atrações mais vi-
pelo Incêndio do Chiado, em 1998, apesar da
O elevador de Santa Justa foi a sua última
sitadas da capital, com mais de um milhão
sua proximidade com os imóveis afetados.
obra e, sem dúvida, a sua obra-prima. Mais
de passageiros por ano, a maioria turistas
Dado o seu grande interesse patrimonial,
tarde seguiu para as ex-colónias portugue-
estrangeiros. Foi inaugurado a 10 de julho
como obra-prima da Arquitetura do Ferro,
sas de África, tendo estado em S. Tomé e
de 1902, com tração a vapor e mais tarde
foi classificado como Monumento Nacional
Príncipe (1907), Guiné (1908 a 1911) e Mo-
a 6 de novembro 1907 foi renovado com
em fevereiro de 2002.
çambique (1911 a 1914), onde realizou outro
de Santa Justa é constituído por dois ele-
A sua construção deve-se a Raoul Mesnier
em 1914, com 66 anos de idade.
vadores totalmente independentes, cada
de Ponsard, ilustre engenheiro e inventor
um dos quais com a sua própria máquina
portuense de origem francesa, nascido em
O elevador de Santa Justa, inicialmente de-
que movimenta a correspondente cabina
1849, que para esse efeito fundou em 1899
nominado Elevador do Carmo, é uma obra
de madeira envernizada com capacidade
a Companhia do Elevador do Carmo e que
monumental, não só pelo sistema mecâ-
para 25 pessoas na subida e 20 na desci-
tomou posse definitiva da Companhia Car-
nico que o torna particularmente interes-
da.1 Cada um dos elevadores move-se no
ris em 1973. Raoul Mesnier tinha iniciado a
sante do ponto de vista da engenharia, mas
interior de duas torres metálicas justapos-
sua carreira de construtor de funiculares e
também pelo desenho da estrutura metá-
tas com 45 m de altura. A sua estrutura
elevadores em todo o nosso país, em 1882
lica, com ornamentação neogótica, cons-
desenvolve-se em sete andares no interior
com o Elevador do Bom Jesus do Monte em
truída pela empresa portuguesa Cardoso e
das quais circulam as duas cabinas e res-
Braga, em Lisboa com os da Lavra (1884),
D´Argent.
petivos contrapesos.
Gloria (1885) e Bica (1892), o da Nazaré (1889) e outros que entretanto foram de-
A solução de acionamento adotada, bem
Atualmente o elevador de Santa Justa é o
molidos ou desativados.
como o sistema de cabos de tração de cada
tração elétrica. Na realidade o elevador
único sistema público de transporte vertical coletivo da cidade de Lisboa. Liga as escadinhas de Santa Justa, (junto à Rua do Ouro) ao largo do Carmo, sendo o piso su Esta diferença de carga útil deve-se ao facto de com o sistema de tração existente ser mais fácil controlar o sistema na subida do que na descida. O sistema é mais estável na subida e é mais fácil controlar a velocidade assim como a frenagem. Na subida o peso dos passageiros está a contrapor-se ao sentido do movimento e na descida esse mesmo peso está a ajudar ao movimento. O peso a ajudar no sentido descendente confere mais instabilidade ao sistema, razão pela qual o peso permitido na descida seja inferior ao da subida. Com os sistemas modernos de controlo não existem estas preocupações.
1
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elevare
tipo de obras, tendo falecido em Inhanbane
Ascensores com história elevador são tecnicamente evoluídos e
de corrente contínua, tipo compound de
permanecem intactos desde então, sendo
25 CV a 275 Volt, alimentados em série pela
assim sem dúvida o elevador vertical mais
rede elétrica da Companhia Carris de Ferro
antigo em serviço do nosso país, com a pro-
de Lisboa (550 V cc). Cada um dos motores
veta idade de 106 anos. A sua conservação
está ligado a um redutor do tipo parafuso
é efetuada por uma equipa especializada da
sem-fim/roda de coroa, cujos veios de saí-
Companhia Carris, que o trata com muito
da atacam diretamente as extremidades do
carinho. Refira-se que no piso da casa das
veio de um tambor de enrolamento dos 4
máquinas existe um pequeno comparti-
cabos de tração da cabina e outros 4 cabos
mento de apoio à manutenção, com arma-
de tração do contrapeso. Cada motor tem
rista, que manobra um peculiar sistema de
zém de peças de reserva e de ferramentas
acoplado um travão elétrico e outro me-
manivela rotativa (para a direita - movimen-
específicas.
cânico de emergência. Os cabos da cabina
to de subida e para a esquerda - movimento
e contrapeso tem o diâmetro de 15 mm e
de descida). Também as cabinas são dota-
Cada uma das duas unidades de acionamen-
os de compensação 19 mm de diâmetro. O
das de paraquedas, constituídos por 4 gar-
to é constituída por dois motores elétricos
sistema de comando, do tipo reostático, é
ras que se encontram debaixo do elevador.
notável pela sua antiguidade, com contac-
Numa eventualidade de rutura de um cabo
tores e resistências de controlo de veloci-
de tração, o pára-quedas é acionado e as
dade bastante primitivas, mas funcionais.
garras saem da posição de repouso e vão “agarrar” as colunas de madeiras (são duas)
Cada cabine em madeira, dotada de arcada
que existem na torre do elevador a fim de
metálica, dispõe de amplas janelas envidra-
imobilizarem a cabina com segurança. É um
çadas e duas portas: a de entrada do lado
sistema engenhoso e eficaz de segurança.
direito e de saída do lado contrário. O curso é de 32 m, percorrido em cerca de meio
Todo este sistema eletromecânico referido
minuto. O comando é manual, por ascenso-
anteriormente foi encomendado à empre-
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Ascensores com história sa inglesa R. Waygood & CO Ltd of London. Refira-se a grande novidade deste sistema, pois somente 18 anos antes tinha entrado em serviço, em Nova Iorque, o primeiro elevador de tração elétrica. Para além do piso superior, que dá acesso ao passadiço metálico, este elevador tem ainda um miradouro no topo da estrutura, a 45 m de altura, com acesso por duas estreitas escadas de caracol, (uma para subir e outra para descer), de onde se avista um deslumbrante panorama sobre Lisboa, nomeadamente a Praça do Rossio, a Baixa Pombalina, o Castelo de S. Jorge e o estuário do Tejo. Outrora existiu neste lugar uma esplanada com um Café, mas foi abandonada dados os problemas de logística que esta esplanada apresentava (alimentação de água, esgotos, transporte de alimentos, entre outros). Horários de funcionamento do elevador: ›
inverno: 7:00 – 22:00
›
verão: 7:00 – 23:00
Horário de acesso ao miradouro: ›
8:30 – 20:30
Sugestões de leitura ›
“Livro da Carris” editado pela Companhia Carris de Ferro de Lisboa em 1993, José Lagrange e António Alçada Baptista;
›
"Pequena história dos elevadores", documento da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, 1994, Eng.o António Sande e Castro;
›
"The Tramways of Portugal", editado pela Light Rail Transit Association em 1995, B. R. King and J. H. Price;
›
"A decoração do elevador de Santa Justa na obra do Engenheiro Raul Mesnier de Ponsard". Tese de Mestrado em História de Arte da Universidade Lusíada, 1997, Maria Helena Delgado;
›
"O Homem dos Elevadores", Jornal Público 2 de maio 1999, José Lopes Cordeiro;
›
"Elevadores, Ascensores e Funiculares de Portugal", editado pelos CTT em 2010, Jaime Fragoso de Almeida.
O autor agradece as informações cedidas pelo Eng.o António Martins Marques, Diretor da Companhia Carris de Ferro de Lisboa. As fotos são do autor, devidamente autorizadas pela mesma empresa.
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Consultório técnico
Consultório Técnico Eng.o Eduardo Restivo Diretor Técnico da Entidade Inspetora do GATECI – Gabinete Técnico de Certificação e Inspeção, Lda.
O condomínio que represento possui um
elevador, deve estar afeta exclusiva-
elevador que não está certificado devido
mente ao elevador;
ao facto de o construtor ter entrado num
›
a bomba deve ser alimentada através do
processo de falência. Estamos interessados
quadro elétrico da casa das máquinas
em proceder à certificação, quais os passos
com a devida proteção. Considera-se
a seguir?
assim que esta canalização não é estra-
Quem pode iniciar o processo para a certi-
nha ao elevador pois a bomba está, em
ficação é o instalador, que deve formalizar
exclusivo, ao serviço do elevador.
o pedido de certificação a um Organismo
clínicas. Se permitir deve ser a administração do condomínio (todos os condóminos)
Notificado (ON) para a Diretiva Ascensores.
Tenho um apartamento num edifício
a responsabilizar-se pela situação e conse-
Para tal deverá constituir o processo téc-
residencial em que num dos apartamentos
quentemente a pagar. Se não permitir, então
nico da instalação que enviará a este orga-
funciona uma clínica médica. O edifício tem
a questão não se coloca.
nismo juntamente com o pedido. O ON irá
30 anos. É obrigatório dotar o ascensor de
proceder à avaliação da conformidade da
cabina com porta? Se for não deve ser a
É obrigatório legalmente ter uma linha
instalação e emitirá o respetivo certificado.
clinica a pagar os trabalhos?
telefónica no elevador? Essa linha deverá
Com base neste certificado deverá o insta-
Se o edifício for exclusivamente residen-
ser da PoRtugal Telecom ou poderei
lador emitir a declaração CE de conformi-
cial não é obrigatório, pois o Decreto-Lei
escolher outros serviços mais baratos?
dade da instalação. A partir de 1 de janeiro
n.º 320/2002 de 28 de dezembro no Ponto
Em elevadores instalados ao abrigo da Direti-
de 2012 entrou em vigor em Portugal a apli-
2 do Artigo 17 diz que esta obrigatorieda-
va Ascensores (aqueles que na cabina osten-
cação da EN 81-1:1998+A3 pelo que a certifi-
de não é aplicável a ascensores instalados
tam a marcação CE) é obrigatório um sistema
cação estará dependente do cumprimento
em edifícios exclusivamente habitacionais.
de comunicação bidirecional com o exterior.
dos novos requisitos desta norma.
Como num dos apartamentos funciona
Mas esse sistema pode ser assegurado por
uma clínica médica, o edifício já não é ex-
uma linha telefónica ou por um sistema GSM
O poço do elevador acumula água, é permitido
clusivamente habitacional pelo que passa a
de qualquer operadora. Em elevadores mais
colocar uma bomba para retirar a água?
ser obrigatório dotar o ascensor de cabina
antigos não abrangidos pela Diretiva Ascen-
Sim, no entanto, devem ser cumpridos al-
com porta. Relativamente aos pagamentos
sores, a opção de colocar um sistema de co-
guns requisitos, a saber:
deve ser verificado se o licenciamento do
municação bidirecional é facultativa, sendo
›
edifício permite a utilização de frações para
uma mais-valia para a instalação.
a bomba, que pode estar no poço do
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Figuras
Resumo Biográfico de Agostinho Almeida Cardoso
Agostinho Almeida Cardoso nasce em Mondim da Beira, Tarouca a 27 de janeiro
Infante Dom Henrique no Curso de montador eletricista, terminando em 1968.
de 1941. Oriundo de uma família humilde, aos 11
O seu primeiro contacto com os elevadores
anos deixa a sua terra natal para rumar
surgiu em 1965 quando ingressa na Alcodi,
para a cidade do Porto, local onde com
como eletricista. Em 1967 passa a exercer a
maior facilidade poderia encontrar
função de assistente de elevadores. É aqui
trabalho.
que começa a sua ligação quase umbilical com o mundo dos elevadores.
Trabalha no comércio como marçano até
Em 1972, é convidado a participar na cria-
aos seus 17 anos, posteriormente ingressa
ção da DSR – Ascensores por Diamantino
na indústria até aos seus os 20 anos. Cum-
Soares Ribeiro. Nesta empresa permanece
pre o serviço militar durante 30 meses, 25
14 anos passando por diversas funções, das
dos quais no Ultramar, em Angola.
quais se destacam desenhador, prepara-
Em 1967, casa-se com Maria do Ceú Ferrei-
Agostinho Almeida Cardoso
ção e controlo do fabrico e montagem de
Pode-se afirmar que a Caroldi é uma Em-
elevadores.
presa à sua imagem.
ra Panzina Cardoso com quem tem quatro Desde 1986 que Agostinho Cardoso, atra-
filhos, que trabalham com ele. A Caroldi
vés da Caroldi – Elevadores, Lda, aposta
Retoma a sua atividade profissional em
Em 1986, funda a sua própria empresa de
claramente numa postura de seriedade e
1965. Não satisfeito com a sua baixa esco-
elevadores juntamente com Mário Ferreira
confiança, estabelecendo fortes laços com
laridade, inscreve-se na Escola Industrial
de Oliveira e Fernando Martins Dias.
Clientes mas também com Fornecedores. Consciente do primordial papel dos trabalhadores no sucesso da Empresa alimenta a estabilidade do emprego. Estes são, de facto, os fatores críticos de sucesso. Em 2006 reforma-se sem deixar contudo a sua ligação diária e íntima com a Empresa de que é fundador, dedicando-se inteiramente a esta. Nos seus tempos livres dedica-se à sua quintinha, sonho antigo entretanto realizado, dando azo à sua imaginação e ao seu dom de trabalhar com as mãos. Garante que a experiência de vida o move. Tem por hábito dizer em amena cavaqueira – “o que te estimo é o que te desejo.”
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