"O Homem do País Azul", Manuel Alegre

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O HOMEM DO PAÍS AZUL

MANUEL ALEGRE

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Escola Secundária Artística António Arroio - Prof.ª eli


Ninguém sabia ao certo quem ele era nem de onde tinha vindo. É de Aqui, diziam uns. De Acolá, diziam outros. Por vezes alguém insinuava: talvez tenha vindo do Além. Ele, porém, sorria. Em certas noites de festa, dizia displicente: – Sou de um país azul. Podia ser italiano, argentino, eslavo, magrebino, era difícil dizer, tinha um rosto moreno e uns olhos cinzentos. Apareceu em meados de Setembro, nesse ano de Verão prolongado. Frequentava os cafés do Quartier Latin onde costumavam juntar-se os exilados portugueses, espanhóis e latino-americanos. Às vezes vinha

só,

outras

acompanhado

por

mulheres

esplendorosas, quase sempre muito loiras, alemãs ou suecas, sempre diferentes, nunca ninguém o viu dois dias seguidos com a mesma mulher. Chegou mesmo a suspeitar-se que estivesse envolvido no tráfico de brancas. Fosse como fosse, ninguém resistia à sedução do seu mistério. Havia, é certo, sobretudo da parte dos espanhóis, alguma prevenção, senão mesmo desconfiança. Eu creio que era ciúme. Eles suportavam mal a superioridade masculina e conquistadora de Vladimir. Assim dizia ele chamar-se, sem que ninguém pudesse garantir que era esse o seu nome. Verdade seja dita que isso não era importante. Ninguém sabia ao certo quem era quem, quase todos usavam pseudónimos, alguns até sem necessidade. Era uma espécie de snobismo revolucionário e romântico, naquele tempo em que tudo se misturava, a revolução, o amor, o mistério, a aventura, por vezes a morte. De modo que Vladimir foi fazendo parte daquele povo de muitos povos feito. Sentava-se connosco debaixo das pontes, junto ao Sena, naquelas noites em que por vezes se ouvia a guitarra flamenca, uma flauta dos Andes, mais raramente uma balada portuguesa nostálgica e triste.

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VOCABULÁRIO: insinuar: v.tr. 1. Fazer entrar (alguma coisa) no ânimo de outrem. 2. Advertir indirectamente. 3. Induzir, aconselhar indirectamente. displicente: adj. 2 gén. s. 2 gén. 1. Que ou o que causa desagrado, descontentamento ou insatisfação. 2. Que ou o que não se empenha ou demonstra falta de interesse. exilado: adj. s. m. 1. Que ou aquele que sofre a pena do exílio. 2. Expatriado; degredado; desterrado. sedução: s. f. 1. Acto pelo qual se seduz ou é seduzido. 2. Atractivo irresistível; tentação. 3. Condão de seduzir. pseudónimo: s. m. 1. Nome suposto sob o qual alguns autores publicam os seus escritos.2. Obra assim publicada. adj. Que publica obras com um nome que não é o seu. snobe: (inglês snob) - adj. 2 gén. s. 2 gén. 1. Que ou quem mostra superioridade, arrogância e afectação 2. Que ou quem que mostra admiração servil por tudo que está em voga ou é considerado distinto. 3. Que ou quem é excêntrico. nostálgico: adj. 1. Relativo a nostalgia. 2. Que padece de nostalgia. s. m. 3. Aquele que sofre de nostalgia.

Linhas de leitura

1. A caracterização de Vladimir. 2. Clarificar o sentido das frases: 2.1. “Sou de um país azul.” 2.2. “Fosse como fosse, ninguém resistia à sedução do seu mistério.” 2.3. “Vladimir foi fazendo parte daquele povo de muitos povos feito” 3. Os ciúmes dos espanhóis. 4. Uso de pseudónimos. 5. Dividir o texto em partes. 6. Dar um título ao excerto.

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Em meados de Outubro, já as folhas tinham começado a cair, enchendo os boulevards de uma suave melancolia, o nosso homem deixou de aparecer. A princípio ninguém falou muito nisso. Depois

começaram

as

perguntas,

as

inquietações, as diferentes teorias sobre o seu desaparecimento. Creio que foi então que a sua lenda começou. Não passa de um chulo, diziam alguns, sem grande convicção. Talvez um espião, sugeriam outros. Era tão bonito, diziam as mulheres, sobretudo as portuguesas, que, mais do que as espanholas, precisavam de afirmar a sua recente emancipação. Curiosamente, foram os espanhóis, principalmente os bascos, que tomaram a defesa de Vladimir. Estavam agora em condições de garantir, embora não explicassem porquê, que ele era alguém de grandes responsabilidades no movimento revolucionário mundial. E fechavam-se em copas. Não precisavam, aliás, de acrescentar mais nada. Aquele era um tempo em que se acreditava pela necessidade e pelo gosto de acreditar. Precisávamos de atitudes exemplares, de grandes mistérios, de heróis, de mitos, às vezes de mártires. Por vezes um dos nossos desaparecia, era preso na fronteira, ferido em combate, torturado em Espanha, morto no Brasil. Sentíamos então uma grande revolta e ao mesmo tempo um íntimo orgulho, era um pouco de nós que estava algures a fazer História, éramos parte de, em África, na Ásia, na América Latina, mesmo na Europa, onde só alguns bascos e portugueses pensavam então que a revolução ainda era possível.

VOCABULÁRIO: chulo: adj. Reles. 2. Baixo. 3. Grosseiro. 4. Próprio da ralé. s. m. Infrm. Indivíduo que vive à custa de mulher que se prostitui. = proxeneta emancipação: s. f. 1. Acto ou efeito de emancipar. 2. Estado daquele que, livre de toda e qualquer tutela, pode administrar os seus bens livremente. 3. Libertação. fechar-se em copas: amuar, acautelar-se, calar-se. 4


mártir: s. 2 gén. Pessoa que sofre tormentos ou a morte por uma crença, uma ideia ou uma causa.

Linhas de leitura

1. Dividir o texto em partes e atribuir um título a cada uma delas. 2. O aparecimento da lenda. 3. Reflectir nas reacções do grupo quando “o nosso homem deixou de aparecer”. 4. Explicar a atitude dos espanhóis perante este desaparecimento. 5. Compreender o sentido das frases: 5.1. «Precisávamos de atitudes exemplares, de grandes mistérios, de heróis, de mitos, às vezes de mártires.» 5.2. «Sentíamos então uma grande revolta e ao mesmo tempo um íntimo orgulho, […]» 4. Quem acreditava ainda “que a revolução era possível”? 5. Dar um título ao excerto, justificando a sua proposta.

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Não admira que desde então passássemos a ver o dedo mágico de Vladimir em cada novo foco guerrilheiro. Um dia apareceu numa revista francesa uma reportagem sobre as guerrilhas da América Latina. E logo alguns juraram que aquele tipo (os espanhóis diziam tío) de barba muito negra, que se via ao lado do chefe da guerrilha venezuelana Ruben Bravo, não era outro senão Vladimir, o do país azul. Outros (ou os mesmos) julgaram apercebê-lo num documentário sobre uma sublevação de camponeses no Nordeste brasileiro. Mas foi com as primeiras acções dos Tupamaros que os bascos começaram a sorrir de modo significativamente enigmático. Tempos depois vieram com uma revista mexicana que trazia a primeira grande reportagem sobre os Tupamaros. – Mira – disse um dos bascos – que te parece? Era de facto impressionante. Aquele olhar, aquele sorriso. Só a barba parecia demasiado clara, embora a fotografia estivesse pouco nítida. Era o retrato de um dos guerrilheiros urbanos capturados em Montevideu depois do rapto de um embaixador ocidental. Não trazia nome, a legenda dizia apenas: «Uno de los principales jefes terroristas». Sim, é ele, diziam todos. – Por isso é que ele dançava tão bem o tango – lembrou uma portuguesa especialmente nostálgica. Foi assim que Vladimir passou de herói a santo e mártir. Chegou a pensar-se em organizar um movimento de solidariedade, talvez um comício na Mutualité. Passados os primeiros entusiasmos, começaram a surgir as dificuldades. Solidariedade com quem, eis a questão. Ninguém sabia como se chamava Vladimir e era mais que certo que ele devia usar agora outro nome de guerra. Vladimir, o do país azul, podia ser um título de novela ou de poema, mas era talvez inadequado para um movimento de solidariedade. Surgiram depois dúvidas sobre se seria ele. Era grande a parecença, mas talvez fosse coincidência, nada mais. A fotografia estava um pouco tremida, não era possível ter a certeza. Vieram por fim as divergências ideológicas. Os latino-americanos queriam um movimento de solidariedade com todo o continente em luta, não apenas com um preso que, ao fim e ao cabo, nem se sabia ao certo quem era.

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– Porquê só com a América Latina? – contestou um português recentemente chegado a Paris. – Então e a luta dos povos de Angola, Guiné e Moçambique? – A frente principal é o Vietname – recordou um velho catalão, que de quando em quando não resistia à tentação de vir contar mais uma vez a extraordinária aventura da comuna anarquista da Catalunha.

VOCABULÁRIO: sublevação: s. f. 1. Acto ou efeito de sublevar. 2. Revolta; rebelião. nostalgia: s. f. 1. Tristeza profunda causada por saudades do afastamento da pátria ou da terra natal. 2. Estado melancólico causado pela falta de algo. nome de guerra: pseudónimo. contestar: opor-se. Contradizer. discutir

Linhas de leitura 1.

Dividir o excerto em partes e atribuir um título a cada uma delas.

2.

Reflectir sobre as consequências da leitura das revistas francesa e mexicana.

3.

Interpretar o facto que impressionou o narrador.

4.

Perceber que Vladimir tivesse passado de “herói” a “santo” e a “mártir”?

5.

Importância da organização de “um movimento de solidariedade, talvez um comício na Mutualité”.

6.

Entender a primeira dificuldade surgida para a concretização desse movimento.

7.

Apreender a razão das dúvidas que também se colocaram àquele grupo tão heterogéneo.

8.

Propor um título a este excerto, explicando a razão da escolha.

7


De dissidência em dissidência chegou-se a novas fracturas e a novos cismas, com as inevitáveis excomunhões e os consequentes reagrupamentos. Vladimir não foi esquecido, mas era evidente que a polémica ideológica o tinha relegado para segundo plano. Ideologia antes de tudo. Aquele era um tempo de ser tanto mais quanto menos se era. Como nas religiões orientais, o ser individual devia despir-se da sua substância própria para se dissolver na grande substância alheia: o partido, a classe, a revolução. Esta tendência agravou-se consideravelmente com o advento dos maoístas. Ainda tentei remar contra a maré, apoiado sobretudo pelos bascos e catalães, incapazes, como eu, de se despojarem da individualidade própria e do impulso libertário. Já o mesmo não posso dizer de alguns compatriotas, talvez demasiado marcados pelo espírito do Concílio de Trento e da Contra-Reforma. Inútil lembrar-lhes o aviso de Antero contra o jesuíta, o fanático e o beato que trazemos dentro de nós, mesmo quando nos julgamos progressistas. Inútil citar Hegel e a sua afirmação de que a liberdade começa na consciência de que cada homem é um ser único e insubstituível. Eles disparavam-me mil citações para me provarem que é o ser social que determina a consciência e não o contrário. Tentei ainda uma outra interpretação das teses de Marx sobre Feuerbach. Respondi-lhes com os Manuscritos de 1844, que

nenhum

deles

tinha

lido.

Em

vão.

Eles

crucificavam-me com um marxismo de sotaina e de sebenta. Ainda por cima eu tinha sido apanhado a ler Camilo, Rilke, Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Camus, sobretudo Camões. Comecei a ser suspeito de heresias irreparáveis. Senti uma grande saudade daquele Setembro de folhas levadas pela morna brisa, enquanto cantávamos canções nostálgicas junto ao Sena. A harmonia tinha-se quebrado. Algo tomava agora o lugar da despreocupação, da aventura e do mistério de que Vladimir tinha sido um símbolo, quando chegava com as suas companheiras muito louras, secretamente cobiçadas pelos espanhóis.

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Durante algum tempo continuei a aparecer no Select Latin. Mas a cisão tinha-se instalado irremediavelmente. Com alguns bascos e catalães, passei então a frequentar o Dôme, em Montparnasse. Falávamos de Antonio Machado, Lorca, Oliveira Martins de quem eles gostavam. Quando bebíamos demais, acabávamos invariavelmente em Lope de Veja. Quien mato al Gobernador? Fuenteovejuna. E quien es Fuenteovejuna? Todos a la una. Por vezes recordávamos Vladimir. Quem era ele, afinal? Estaria mesmo preso em Montevideu? Pouco a pouco cada um foi indo à sua vida. O grande cisma cresceu, houve novas fracturas e novas excomunhões, fizeram-se, desfizeram-se e refizeram-se grupos, mesas, cafés. Alguns partiram, outros chegaram, agora sobretudo de Portugal, que fornecia o contingente mais numeroso, com os seus desertores das guerras africanas. Também eu acabei por partir.

VOCABULÁRIO: dissidência: s. f. 1. Dissentimento de opiniões. 2. Separação ou cisão em matéria religiosa ou política. 3. Grupo ou partido de dissidentes. cisma: s. m 1. Acto pelo qual os sectários de uma religião cessam de reconhecer a autoridade do seu chefe espiritual. polémica: s. f. 1. Debate oral. 2. Discussão na imprensa. 3. Controvérsia. 4. Disputa amigável mas acalorada. relegar: 1. Afastar dum lugar para outro. 2. Banir; expatriar, exilar; desterrar. 3. Repelir, desprezar. 4. Esquecer. 5. Fig. Afastar com desdém. excomunhão: s. f. Pena eclesiástica que priva do uso dos sacramentos e exercícios, e até da comunicação com os fiéis. advento: s. m. 1. Chegada, vinda; exaltação; princípio. 2. Período das quatro semanas que precedem o Natal. fanático: adj. s. m. 1. Diz-se da pessoa animada por um zelo excessivo por uma religião ou uma opinião. 2. Que se julga inspirado. 3. Fig. Loucamente apaixonado; desvairado. beato: adj. s. m.1. Relig. Que ou quem é bem-aventurado. 2. Relig. Que ou quem foi beatificado pela Igreja católica. 3. Que ou quem denota grande devoção religiosa, real ou aparente.

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progressista: adj. 2 gén. 1. Que professa ideias de progresso. 2. Diz-se dos partidos políticos que dizem professar ideias de progresso. heresia: s. f. 1. Divergência em ponto de fé ou de doutrina religiosa. 2. Por ext. Blasfémia. 3. Fig. Opinião

ou

doutrina

diferente

às

ideias

recebidas.

4. Infrm. Disparate;

absurdo; contra-senso. contingente: Quantidade máxima de pessoas ou de objectos. desertor: adj. s. m. 1. Diz-se de ou militar que deserta. 2. Que ou quem abandona um partido para se filiar noutro. 3. Que ou quem deixa de ser assíduo.

Linhas de leitura

1.

Dividir o excerto em partes. Propor um título para cada uma delas.

2.

Pensar sobre:

3.

2.1.

a coesão destes exilados.

2.2.

o principal assunto de conversa

2.3.

Vladimir

Perceber a razão da 3.1.

partida de tantos exilados

3.2.

chegada de muitos portugueses.

3.3.

partida do próprio narrador

4.

Identificar os nomes referidos.

5.

Atribuir um título ao excerto.

.

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Dois anos mais tarde estava no Cairo, para participar numa conferência sobre o movimento de libertação de África. Passeei à beira do Nilo pensando no infante D. Pedro das Sete Partidas. Também ele por ali andara. Como ele, eu era um português errante, culpado, como ele, de não querer que o meu país trocasse a boa capa por mau capelo. Aí estava uma boa ideia: porque não fundamentar, na conferência, a crítica às guerras coloniais nessa portuguesíssima política de fixação (oposta à do transporte e da conquista), de que o infante D. Pedro foi o primeiro defensor?

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Visitei as Pirâmides e deixei-me fascinar pela Esfinge. Das suas órbitas vazias o tempo sorria ironicamente para mim, pobre mortal condenado a ser como a areia do deserto, poeira, nada mais do que poeira. Creio que nunca me senti tão frágil, tão transitório, tão de passagem, como nesse momento em que vi o tempo e a eternidade nas órbitas vazias da Esfinge. Por isso ainda hoje estremeço ao recordar o sorriso com que, ao voltar à conferência, alguém me fitava, duas filas adiante da minha. Era o mesmo sorriso da Esfinge. Voltava-se para trás e olhava para mim. Senti um baque, não quis acreditar, mas não havia dúvida, já ele se levantava e me fazia sinal. Abraçámo-nos no corredor. – Vladimir. – Abdul – corrigiu ele. Perguntei-lhe por onde tinha andado. Ele respondeu-me em inglês, sempre com um sorriso: – Para lá das montanhas, num país azul. Contei-lhe a história da sua própria lenda e pedi-lhe para me dizer se era ele ou não o guerrilheiro preso em Montevideu. – Quem sabe. Montevideu é uma cidade azul. E mais não consegui. Fazia parte da delegação palestiniana e, à noite, na recepção oferecida por Nasser (que tinha uns olhos grandes, de águia real), apareceu ao lado de Arafat. Recordámos Paris e os amigos comuns, rimo-nos com o ciúme machista dos espanhóis. – As tuas mulheres? – perguntei-lhe. – Agora, que és Abdul, deves ter um harém. – Sou como os índios – disse ele, em tempo de guerra pratico a castidade.

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– Não acredito nesta história, tu não és palestiniano. – Quem sabe – respondeu -, já te disse que sou de um país azul. Pode ser a palestina. A Palestina é um país azul. À noite entregou-me um poema intitulado Palestina. Estava escrito em português. Há um nome para escrever Entre uma ferida e outra ferida Um nome como não haver Outro lugar para a vida

Há um nome para dizer Onde só morte se diz Um nome como não haver Outro nome de país

Há um nome para morrer Entre uma esquina e outra esquina Um nome para nascer Sobre o cerco e a ruína Um nome como não haver Outro sonho e outra sina Senão a força de ser Palestina. Fiquei perturbado. Só um português podia ter escrito aquele poema. Não era uma tradução. Era um original em português. Foi o que lhe disse. – Não me digas que sabes português ou que és português. Ele riu-se. 13


– Quem sabe. Portugal também é um país azul. E mais não disse. Confesso que me irritei. Só o respeito pelas regras conspirativas me impediu de fazer uma cena. Teria sido uma indelicadeza qualquer tentativa para o forçar a desvendar um pouco do seu mistério. E assim nos separámos. Hasta siempre, disse ele. Até sempre, respondi eu.

VOCABULÁRIO: errante: adj. 2 gén. 1. Que anda vagueando. 2. Que anda sem destino certo. capelo: s.m. Chapéu cardinalício. baque: s. m. 1. Estrondo que faz o corpo que cai ou embate. 2. Queda. 3. Desastre súbito. 4. Pressentimento. 5. Palpitação sentida por quem pressente algo. desvendar: v. tr. 1. Tirar a venda dos olhos de. 2. Fig. Fazer ver claramente a verdade. v. tr. e intr. 3. Conhecer o engano.

Linhas de leitura

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14.

A passagem do tempo. O Egipto. D. Pedro das Sete Partidas. O motivo da presença do narrador no Cairo. Monumentos visitados. Recordar ensinamentos de História: Pirâmides e Esfinge. Prestar atenção ao inesperado encontro e observar bem o conhecido do narrador. Os «país azul». Os idiomas usados na comunicação. O poema. A separação. Hasta siempre. As divisão do texto em partes. Um título para o excerto. 14


Meses mais tarde, em Argel, passeava pela Rua Didouche Mourade, depois de ter visto o filme de Francesco Rossi, em que aparece a figura daquele pioneiro da revolução argelina, assassinado na sua cela. Pensava na fragilidade da vida humana e na efemeridade de todos os poderes e de todas as coisas e lembrava-me da história contada por um dos meus amigos argelinos sobre o seu encontro com Didouche Mourade. Tinha sido no princípio dos princípios, ainda o Front de Libération Nationale era quase desconhecido da opinião pública, mas já Didouche era um dos homens mais procurados pela polícia. Nesse tempo ainda o povo não estava directamente envolvido na luta de libertação, os revolucionários não viviam como peixes na água e a vida de um clandestino era extremamente dura. Um dia, o meu amigo, que viria a ser oficial da A.L.N. (Armée de Libération Nationale), encontrou Didouche Mourade e dormitar no banco de um jardim público, na praça que hoje se chama dos Mártires. «Parecia um mendigo», disse-me ele, «a barba por fazer, a camisa esfarrapada, ali sentado cheio de sono e de fome. Senti uma grande compaixão, mas de repente compreendi: assim mesmo, tal como estava, Didouche Mourade, era já a Argélia.» Nunca esqueci esta história e era nela que meditava, subindo a rua Didouche Mourade, depois de ter visto A Batalha de Argel, quando, subitamente, dou de caras com Vladimir, aliás Abdul, agora trajando uma sahariana e acompanhado por um poeta angolano meu amigo. Saudou-me fraternalmente, falando em francês. O angolano estava espantado. – Vocês conhecem-se? – De ginjeira – respondi-lhe em português. – Então ele não havia de conhecer o Albuquerque? – disse, em francês, piscando-me o olho, Vladimir, ex-Abdul e, agora, pelos vistos, Albuquerque. Encolhi os ombros e ri-me. Já nada me podia espantar, nem sequer se ele me dissesse que se chamava o meu próprio nome e não era ele mas eu. Combinámos encontrar-nos num dos restaurantes da Pêcherie, junto do porto, quase às portas da Casbah. 15


Quando ele chegou cerca das oito (estávamos, se não me engano, em Abril), já as luzes tremulavam nos barcos ancorados e no Almirantado, ao fundo, à esquerda. Os homens passeavam no largo, em frente da mesquita, ou sentavam-se nas esplanadas dos cafés, jogando dominó e bebendo chá de menta. Cheirava a Mediterrâneo e peixe frito. Por vezes vinha na brisa um perfume de jasmim dos jardins interiores da Casbah. Era um daqueles fins de tarde de Argel que me traziam sempre um misto de serenidade e nostalgia. Por ali andara Cervantes, durante catorze anos de cativeiro. Talvez em tardes assim ele pensasse no pôr-do-sol em lugar da Mancha. Era o que me consolava em horas de crepúsculo e saudade. Tinha já bebido meia garrafa de Medea, rosé, bastante fresco, quando finalmente Vladimir se sentou. – Com que então Albuquerque? – disparei-lhe logo, depois de termos escolhido uma espetada de camarão. –

É a minha homenagem ao império português.

Albuquerque foi o maior – disse -, o único que teve um sonho e uma estratégia. Confesso que me fascina: a sua paixão por Goa, a obsessão de Ormuz, o projecto de mudar o curso do Nilo e levar a Caaba para Lisboa. Se o tivessem deixado fazer o que queria, o mundo não seria o mesmo. Cabe-me agora realizar o seu sonho ao contrário – concluiu, levantando o copo, não sei se à minha saúde, se à nossa amizade, se em memória de Albuquerque. – Andaste a estudar as nossas coisas. A história do Império, sim, um pouco. Aliás, sabes tão bem como eu que não é possível mudar o mundo sem conhecer e até certo ponto refazer a história do passado. – Como assim? – Por exemplo, quando visitaste as Pirâmides, sentiste, segundo me contaste, a extrema transitoriedade da vida. – Sim – reconheci. – E daí?

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É uma atitude típica de um ocidental.

Contém

em

si

mesma

uma

gravíssima

deformação da História. – Essa agora – indignei-me eu. Mas ele não se alterou. – Sim, pensaste no homem, na vida e na morte

em

abstractos.

termos Como

individuais, se

aqueles

metafísicos, monumentos

tivessem sido construídos para dar forma à tua própria ideia de eternidade. Eu, quando lá fui, vi a História, os escravos, o chicote, a opressão, a servidão do homem pelo homem. – Bravo, Fanon não diria melhor. Mas ele fez um sinal de paz. Trocámos de novo os copos, pedimos outra garrafa, a noite prometia. – Há uma coisa que não cola – disse-lhe. – O quê? – Tu também és ocidental. – Mas eu sou Albuquerque. E soltou uma gargalhada. Bebemos mais um copo. – Tenho um presente para ti – disse ele. E tirou do bolso um pequeno livro de um poeta para mim então desconhecido: Wallace Stevens. – É um poeta americano, escreveu um dos mais belos poemas da poesia moderna – disse ele, enquanto folheava o livro, à procura. – Olha, The Man with the Blue Guitar, é um poema em vários cantos, magnífico. 17


E leu alguns versos.

They said «You have a blue guitar You do not play things as they are.»

The man replied «Things as they are Are changed upon the blue guitar.»

Agradeci-lhe, comovido, não sei se pelos versos, se pelo gesto. – O homem da guitarra azul – murmurei quase só para mim. – Esse homem sou eu – disse ele num português impecável. E estava sério. Eu já tinha aprendido a tratar com ele. Por isso não mostrei nenhuma surpresa, convencido de que era essa a melhor forma de eventualmente o levar a abrir-se um pouco. – É um livro que tem andado comigo – acrescentou. – Quero que fiques com ele. Fez uma pausa, olhando o mar. – Devemos dar aos amigos aquilo de que mais gostamos – disse. Tive o pressentimento de que ele estava com vontade de falar e por isso calei-me. Deixei-o saborear a espetado e o Medea. Durante uns minutos comemos e bebemos em silêncio. Mas não me enganei. Daí a pouco ele retomou, de novo em francês. – Andei por Angola. – Ah sim – disse eu, no tom mais neutro possível. Sim, Angola é um país azul. E sorriu. Olhou outra vez o mar, depois prosseguiu: – Está difícil. Angola é muito grande, o acesso ao Norte é muito complicado para o MPLA, por causa da posição dos congoleses. Mas é aí que está o povo combatente. 18


Bebeu um gole de café e acendeu um cigarro. – Vou dizer-te um segredo: vai haver uma revolução em Portugal. Mais tarde ou mais cedo uma parte do exército vai revoltar-se. O Amílcar Cabral tem razão: a luta de libertação é um acto de cultura. Eu creio que num duplo sentido. Libertando-se, o povo oprimido conduz o opressor a libertar-se também. No caso português isso é muito nítido, dada a natureza do sistema. O processo de emancipação nacional dos povos das colónias vai provocar a queda do regime em Portugal. Acredita no que te digo, vai haver uma revolução no teu país e essa revolução vai abalar a Europa e a África. Havia na sua voz uma grande convicção. Senti um arrepio, e não sei porquê, acreditei. Era quase uma profecia, algo que tinha a força de um destino. Confidenciou-me que partia no dia seguinte, mas não disse para onde. Passeámos ainda um bocado, aventurámo-nos até pelas ruas da Casbah, evocando amigos comuns, os velhos tempos de Paris e aqueles pequenos nadas que constituem a arte de uma amizade exigente, que nunca deve forçar o equilíbrio entre a intimidade e a reserva.

VOCABULÁRIO: • pioneiro: adj. s. m. 1. Que ou quem primeiro desbrava regiões incultas.= desbravador 2. Que ou quem vai à frente. = dianteiro, precursor 3. Fig. Que ou quem prepara os resultados futuros. efémero: adj. 1. Que dura só um dia. 2. Fig. De curta duração. = breve, passageiro, temporário, transitório ≠ duradouro, permanente conhecer de ginjeira: conhecer muito bem metafísico: adj. 1. Relativo à metafísica. 2. Fig. Transcendente; subtil; abstracto; obscuro. pressentimento: s. m. Sentimento vago ou instintivo do que há-de suceder. v. tr.1. Ter o pressentimento de. convicção: s. f.1. Certeza dum facto de que apenas temos provas morais. profecia: s. f. 1. Predição do futuro 2. Vaticínio, oráculo. 3. Fig. Presságio, conjectura.

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Linhas de leitura

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13.

Argel. Didouche Mourade Reflexões do narrador. «Dar de caras com Vladimir, aliás Abdul» A língua falada. Albuquerque – Afonso de Albuquerque. As Pirâmides – de novo. Diferenças de perspectivas. Poesia. Wallace Stevens. The Man with the Blue Guitar O homem da guitarra azul – esse homem sou eu. A oferta do livro. A amizade. “Angola é um país azul” Proposta de divisão do excerto em partes. Atribuir um título ao texto.

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Tempos depois, começou a falar-se da presença de Che Guevara na Bolívia. Eu tinha-o conhecido durante a sua passagem por Argel e lembrava-me por vezes do que então me dissera: No te vayas en Europa, Chico, Europa es una puta vieja. Havia nessa altura um grande fascínio pelas guerrilhas latino-americanas. Alguns sonhavam fazer da serra da Estrela a Sierra Maestra portuguesa. Não era só uma opção revolucionária, era sobretudo um desejo de festa e de aventura. Não admira por isso que as notícias sobre a presença do Che na Bolívia tenham provocado uma grande exaltação. Um pouco de nós estava algures no meio da selva. Por vezes alguém declamava: A grande humanidade disse basta e pôs-se a caminhar. Andava-se de boina e cabelos compridos e acreditava-se que cada foco guerrilheiro estava condenado a transformar-se em revolução vitoriosa. Havia quem avisasse que Cuba tinha sido a excepção e não a regra. Mas aquela era uma geração que vivia embalada ao ritmo do seu próprio entusiasmo. – Para lá das montanhas há um país azul, dizia por vezes Vladimir. Quem sabe se não estaria agora num acampamento guerrilheiro, no alto de uma montanha, algures na Bolívia? Em Outubro de 1968, eu estava de novo em Paris. Foi aí que recebi a notícia da morte do Che. Apareceu então nos jornais o seu retrato de Cristo Guerrilheiro, como mais tarde o poeta o cantaria. Olhando bem aquele rosto de olhos semiabertos, confesso que por vezes via Vladimir e não o Che. Não ousei confessá-lo a ninguém, mas um dia encontrei uma amiga que tinha conhecido bem o homem do país azul e não resisti. – Que achas? – perguntei, mostrando-lhe o retrato. – Sei o que queres dizer, também tive as mesmas dúvidas. Mas não. Já o vi depois. Ele não estava na Bolívia. Ela não me quis dizer mais nada e eu não insisti. Mas nunca consegui olhar a fatídica fotografia sem um arrepio. Sim, agora eu sabia que era o Che, mas podia jurar que era também o Vladimir. 21


Não me perguntem porquê. São coisas que não se explicam. Na Primavera de 1974, eu estava de novo em Argel. Muita coisa tinha mudado: Amílcar Cabral estava morto, Allende também. Com eles algo morrera dentro de nós. Nem canções de vitória, nem marchas triunfais nas Áfricas e Américas da nossa imaginação. Exílio, prisões, guerra. E o tempo que passava e não passava. Em certas tardes melancólicas, passeando em Bab-El-Oued, junto ao mar, eu recordava por vezes o último encontro com Vladimir. Como se tivesse sido ontem, como se nunca tivesse sido. A minha própria vida parecia-me uma história fantástica e eu perguntava-me se não seríamos todos personagens de ficção. Mas ali estava o Mediterrâneo, com o seu cheiro de fritos e de menta, seus barcos, sua gente e seu azul, aquele azul que talvez tenha sido a última pátria de Teixeira Gomes, no seu retiro em Bejaia. Quanto tempo ainda? Catorze anos tinha durado o cativeiro de Cervantes, treze, até à morte, o exílio do ex-Presidente português. E eu? Na manhã do dia 25 de Abril, acordei estremunhado, com o telefone a tocar. – Lisboa está tomada – dizia uma voz muito ao longe. Perguntei quem era. – A revolução está na rua – dizia a voz -, a revolução está na rua e tu a dormir. – Quem fala? – Não importa quem fala, o que importa é o que está a acontecer. Aquela voz: belisquei-me com força para ter a certeza de que não estava a sonhar. – Vladimir? – Lisboa está tomada – repetiu a voz -, a vitória é certa, eu tinha-te avisado. – Deixa-te de brincadeiras, onde é que tu estás? 22


– nunca

Qual falei

brincadeira, tão

a

sério,

Lisboa é uma cidade azul. Já não havia dúvidas, só podia ser ele. – Onde é que tu estás? – perguntei quase aos berros. –

Algures, sob outros

céus. Ainda hoje não sei se a ligação foi cortada ou se foi ele que desligou. Nunca mais tive notícias de Vladimir, o do país azul.

VOCABULÁRIO: fascínio: s. m. 1. O mesmo que fascinado. 2. encantamento. exaltação: s. f. 1. Acto ou efeito de exaltar. 2. Elevação. 3. Engrandecimento. 5. Louvor, encómio excessivo. 6. Entusiasmo. 7. Grande excitação de ânimo, perturbação mental. foco: s. m. 1. Ponto onde se concentram os raios luminosos que passam por uma superfície transparente. 2. Ponto de convergência ou donde saem emanações; centro. fatídico: adj. 1. Sinistro. 2. Funesto, trágico.

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• Linhas de leitura

1. Che Guevara. 2. O aviso de alguns. 3. Um país azul – para lá das montanhas. 4. A morte de Che. O Cristo Guerrilheiro. 5. Argel – Primavera de 1974 6. Teixeira Gomes 7. Cervantes 8. Manhã de 25 de Abril. 9. O telefonema. 10. «Lisboa é uma cidade azul». 11. E Vladimir? 12. Divisão do trecho em partes. 13. Título para o excerto.

Colagem de imagens sobre o 25 de Abril de 2004 – colhidas na net.

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Maria Keil imagem: net

Maria Helena Vieira da Silva, A Poesia estรก na rua, cartaz, 25 de Abril de 1974

โ ข

25 de Abril

http://www.25abril.org/a25abril/

25


A Batalha de Argel

http://www.imdb.com/title/tt0058946/

Afonso de Albuquerque

http://www.vidaslusofonas.pt/afonso_de_albuquerque.htm http://historia-portugal.blogspot.com/2008/02/figura-de-afonso-dealbuquerque-o.html

Allende – Salvador Allende

http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Allende

América Latina

http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_Latina

Amílcar Cabral

http://www.vidaslusofonas.pt/amilcar_cabral.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%ADlcar_Cabral

Anarquista

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquismo

Antonio Machado

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Machado http://ocanto.esenviseu.net/destaque/machado.htm

Arafat – Yasser Arafat

http://pt.wikipedia.org/wiki/Yasser_Arafat

Armée de Libération Nationale – Exército de Libertação Nacional

http://en.wikipedia.org/wiki/Arm%C3%A9e_de_Lib%C3%A9ration_Nation ale

26


Basco – País Basco

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADs_Basco

Boulevards

http://pt.wikipedia.org/wiki/Boulevard

Caaba

http://pt.wikipedia.org/wiki/Caaba

Camilo – Camilo Castelo Branco

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/camilo.htm

Camus – Albert Camus

http://www.vidaslusofonas.pt/albert_camus.htm

Casbah

http://en.wikipedia.org/wiki/Casbah

Catalão

http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_catal%C3%A3

Cervantes – Miguel de Cervantes

http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_de_Cervantes

Che Guevara

http://www.e-cheguevara.com/PORTUGUES.htm

Concílio de Trento

http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento

Contra-Reforma

http://pt.wikipedia.org/wiki/Contrarreforma

27


D. Pedro das Sete Partida http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro,_Infante_de_Portugal

Esfinge

http://www.infopedia.pt/$esfinge

Fanon

http://pt.wikipedia.org/wiki/Frantz_Fanon

Feuerbach

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Feuerbach

Front de Libération Nationale – Frente de Libertação Nacional

http://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_de_Liberta%C3%A7%C3%A3o_Nacion al_(Arg%C3%A9lia)

Fuenteovejuna – (1610) - Lope de Vega

http://oquefazfaltamusical.blogspot.com/

Goa http://pt.wikipedia.org/wiki/Goa •

Guerra colonial

http://www.guerracolonial.org/intro

Hasta siempre

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hasta_siempre

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Aprendimos a quererte

Vienes quemando la brisa

desde la histórica altura

con soles de primavera

donde el sol de tu bravura

para plantar la bandera

le puso cerco a la muerte.

con la luz de tu sonrisa.

Aquí se queda la clara,

Tu amor revolucionario

la entrañable transparencia,

te conduce a nueva empresa

de tu querida presencia

donde esperan la firmeza

Comandante Che Guevara.

de tu brazo libertario.

Tu mano gloriosa y fuerte

Seguiremos adelante

sobre la historia dispara

como junto a ti seguimos

cuando todo Santa Clara

y con Fidel te decimos:

se despierta para verte.

!Hasta siempre, Comandante! Hasta siempre, Carlos Puebla

Império português

http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs

Jesuíta

http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus

Lope de Veja

http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9lix_Lope_de_Vega

Lorca – Federico Garcia Lorca

http://pt.wikipedia.org/wiki/Federico_Garc%C3%ADa_Lorca

Manuscritos de 1844 – de Karl Marx

http://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/index.htm

29


Mário de Sá-Carneiro

http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/sacarneiro.htm http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/carneiro.htm

Marx – Karl Marx

http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx •

Montevideu

http://pt.wikipedia.org/wiki/Montevid%C3%A9u

Montparnasse http://pt.wikipedia.org/wiki/Montparnasse

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Popular_de_Liberta%C3%A7%C3 %A3o_de_Angola

Nasser – Gamal Abdel Nasser

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gamal_Abdel_Nasser

Mao – Mao Tse-tung

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mao_Tse-tung

Oliveira Martins – Joaquim Pedro de Oliveira Martins

http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/omartins.html

Ormuz

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ormuz

Palestina http://pt.wikipedia.org/wiki/Palestina •

Pirâmides

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pir%C3%A2mides_do_Egito

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Quartier Latin

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quartier_Latin

«Retrato de Cristo Guerrilheiro, […]» - “GUEVARA”

Não choro, que não quero Manchar de pranto Um sudário de força combativa. Reteso a dor, e canto A tua morte viva.

A tua morte morta Pelo próprio terror em que ficaram À sua frente Aqueles que te mataram Sem poderem matar o combatente.

O combatente eterno que ficaste, Ressuscitado Na voluntária crucificação. Herói a conquistar o inconquistado, Já sem armas na mão

Quem te abateu, perdeu a guerra santa Da liberdade. Fez brilhar na manhã do mundo inteiro Um sol de redentora claridade: O teu rosto de Cristo guerrilheiro.

Miguel Torga , 11/Out/1967, in Diário VIII

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Rilke – Rainer Maria Rilke

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rainer_Maria_Rilke

Sierra Maestra

http://en.wikipedia.org/wiki/Sierra_Maestra

Teixeira Gomes – Manuel Teixeira Gomes

http://www.presidencia.pt/?idc=13&idi=31

Tupamaros

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tupamaros

Vietname

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vietname

Wallace Stevens

http://pt.wikipedia.org/wiki/Wallace_Stevens

WALLACE STEVENS “(1879-1955) – só publicou o seu primeiro livro de poemas depois dos quarenta, e manteve-se a escrever, embora a um ritmo cuidado, até aos setenta e cinco anos. […] Em cerca trinta anos de escrita – no caminho para o emprego, ou aos fins de semana – deixou-nos perto de 320 poemas na sua Obra Completa, para não falar das cerca de 200 páginas da Obra Póstuma (onde aparecem também peças de teatro) e ainda um pequeno livro de ensaios – The Necessary Angel - Essays on Reality and the Imagination - em que nos dá a «sua» definição de poesia.”, em Helena Barbas,” Wallace Stevens - Ficção Suprema” – Texto integral: aqui

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The Man With the Blue Guitar I The man bent over his guitar, A shearsman of sorts. The day was green. They said, "You have a blue guitar, You do not play things as they are." The man replied, "Things as they are Are changed upon the blue guitar." And they said then, "But play, you must, A tune beyond us, yet ourselves, A tune upon the blue guitar Of things exactly as they are."

Poema de 1937, integral – aqui: http://www.geegaw.com/stories/the_man_with_the_blue_guitar.shtml

Pablo Picasso, o velho guitarrista, 1930 Imagem em: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Old_Guitarist

http://www.supercoloring.com/image_print.php?img_src=htt p://www.supercoloring.com/wpcontent/original/2009_10/Blue-guitar-by-Pablo-Picassocoloring-page.jpg

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CANTAR A LIBERDADE «Trova do Vento que Passa» Manuel Alegre

Vi minha pátria na margem dos rios que vão pró mar como quem ama a viagem mas tem sempre de ficar. Vi navios a partir

Pergunto ao vento que passa

(minha pátria à flor das águas)

notícias do meu país

vi minha pátria florir

e o vento cala a desgraça

(verdes folhas verdes mágoas).

o vento nada me diz. Há quem te queira ignorada Pergunto aos rios que levam

e fale pátria em teu nome.

tanto sonho à flor das águas

Eu vi-te crucificada

e os rios não me sossegam

nos braços negros da fome.

levam sonhos deixam mágoas. E o vento não me diz nada Levam sonhos deixam mágoas

só o silêncio persiste.

ai rios do meu país

Vi minha pátria parada

minha pátria à flor das águas

à beira de um rio triste.

para onde vais? Ninguém diz. Ninguém diz nada de novo Se o verde trevo desfolhas

se notícias vou pedindo

pede notícias e diz

nas mãos vazias do povo

ao trevo de quatro folhas

vi minha pátria florindo.

que morro por meu país. E a noite cresce por dentro Pergunto à gente que passa

dos homens do meu país.

por que vai de olhos no chão.

Peço notícias ao vento

Silêncio -- é tudo o que tem

e o vento nada me diz.

quem vive na servidão. Mas há sempre uma candeia Vi florir os verdes ramos

dentro da própria desgraça

direitos e ao céu voltados.

há sempre alguém que semeia

E a quem gosta de ter amos

canções no vento que passa.

vi sempre os ombros curvados. Mesmo na noite mais triste E o vento não me diz nada

em tempo de servidão

ninguém diz nada de novo.

há sempre alguém que resiste

Vi minha pátria pregada

há sempre alguém que diz não.

nos braços em cruz do povo.

Textos colhidos AQUI . http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/05/01.html

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As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos tudo se faz e se desfaz. Com mãos se faz o poema – e são de terra. Com mãos se faz a guerra – e são a paz. Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedras estas casas mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas. E cravam-se no Tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas. De mãos é cada flor cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade. Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967

Manuel Alegre nasceu em 1936 e estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde participou activamente nas lutas académicas. Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra a guerra. Após o regresso exilou-se no norte de África, em Argel, onde desenvolveu actividades contra o regime de Salazar. Em 1974 regressou definitivamente a Portugal, demonstrando, nos vários cargos governamentais que tem desempenhado ao longo dos anos, uma intervenção fiel aos ideais da Liberdade. A sua poesia foi e é um hino à Liberdade e, talvez seja por isso que é lembrada por muitos resistentes que lutaram contra a ditadura. É considerado o poeta mais cantado pelos músicos portugueses, designadamente Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, António Portugal, José Niza, António Bernardino, Alain Oulman, Amália Rodrigues, Janita Salomé e João Braga.

Sobre a vida e obra de Manuel Alegre : http://www.editorial-caminho.pt/lista_autores.asp?autor=135

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LIBERDADE Liberdade, onde estás? Quem te demora? Quem faz que o teu influxo em nós não caia? Porque (triste de mim!) porque não raia Já na esfera de Lísia a tua aurora? Da santa redenção é vinda a hora A esta parte do mundo, que desmaia: Oh! Venha... Oh, Venha, e trémulo descaia Despotismo feroz, que nos devora! Eia! Acode ao moral, que frio e mudo Oculta o pátrio amor, torce a vontade, E em fingir, por temor, empenha estudo; Movam nossos grilhões tua piedade; Nosso númen tu és e glória e tudo, Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

Bocage Aqui: http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/iluminismo.htm

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

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REVOLUÇÃO

Como casa limpa Como chão varrido Como porta aberta

Como página em branco Onde o poema emerge

Como puro início Como tempo novo

Como arquitectura

Sem mancha nem vício

Do homem que ergue Sua habitação

Como a voz do mar Interior de um povo

Sophia de Mello Breyner Andresen

Aqui - http://appoetas.blogs.sapo.pt/31544.html

LIBERDADE Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Liberdade

Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não fazer ! Ler é maçada, Estudar é nada. Sol doira

Livros são papéis pintados com tinta.

Sem literatura

Estudar é uma coisa em que está indistinta

O rio corre, bem ou mal,

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Sem edição original.

Quanto é melhor, quanto há bruma,

E a brisa, essa,

Esperar por D.Sebastião,

De tão naturalmente matinal,

Quer venha ou não!

Como o tempo não tem pressa...

Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca. Mais que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

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LIBERDADE

Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se têm levantado estátuas e monumentos, por ela se tem até morrido com alegria e felicidade. Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam "Liberdade, Igualdade e Fraternidade! "; nossos avós cantaram: "Ou ficar a Pátria livre/ ou morrer pelo Brasil!"; nossos pais pediam: "Liberdade! Liberdade!/ abre as asas sobre nós", e nós recordamos todos os dias que "o sol da liberdade em raios fúlgidos/ brilhou no céu da Pátria..." em certo instante. Somos, pois, criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela. Ser livre como diria o famoso conselheiro... é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo de partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho... Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autômato e de teleguiado é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Suponho que seja isso.) Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes. Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir (As vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso...) Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!...) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento! Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida. E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com omapa da Liberdade nas mãos! ... 39


São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato. Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos, que falam de asas, de raios fúlgidos linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel... Texto extraído do livro "Escolha o seu sonho", Editora Record Rio de Janeiro, 2002, pág. 07.

Cecília Meireles – aqui: http://br.monografias.com/trabalhos/cecilia-meireles-cronica-educacao-liberdade/cecilia-meireles-cronicaeducacao-liberdade2.shtml

...Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda..." (Romanceiro da Inconfidência) Cecília Meireles aqui: http://www.releituras.com/cmeireles_bio.asp

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Declaração Universal dos Direitos Humanos

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos humanos conduziram a actos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do ser humano; Considerando que é essencial a protecção dos direitos humanos através de um regime de direito, para que os seres humanos não sejam compelidos, em supremo recurso, à revolta contra a tirania e a opressão; Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações; Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais dos seres humanos, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declararam resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla; Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efectivo dos direitos humano e das liberdades fundamentais; Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso: A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1.º Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2.º Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.

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Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3.º Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4.º Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5.º Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6.º Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7.º Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8.º Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9.º Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10.º Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11.º 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

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Artigo 12.º Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13.º 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14.º 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15.º 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16.º 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17.º 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18.º Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

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Artigo 19.º Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão. Artigo 20.º 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21.º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22.º Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23.º 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24.º Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25.º 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na

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invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26.º 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27.º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28.º Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29.º 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

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Artigo 30.º Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

Gabinete de Documentação e Direito Comparado - DIREITOS HUMANOS -

http://www.gddc.pt/direitos-humanos/index-dh.html

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA Proclamada pela Resolução da Assembleia Geral 1386 (XIV), de 20 de Novembro de 1959

Princípio 10º

A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universal, e com plena consciência de que deve devotar as suas energias e aptidões ao serviço dos seus semelhantes.

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Constituição da República Portuguesa -

http://www.portugal.gov.pt/pt/GC17/Portugal/SistemaPolitico/Constituicao/Pag es/default.aspx

Constituição da República Portuguesa

(Sexta revisão constitucional - 2004)

Preâmbulo

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista. Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa. A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país. A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno. A Assembleia Constituinte, reunida na sessão plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta a seguinte Constituição da República Portuguesa:

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PARTE I - Direitos e deveres fundamentais

TÍTULO II - Direitos, liberdades e garantias

CAPÍTULO II

Direitos, liberdades e garantias de participação política

Artigo 48.º (Participação na vida pública) 1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direcção dos assuntos públicos do país, directamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos. 2. Todos os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos objectivamente sobre actos do Estado e demais entidades públicas e de ser informados pelo Governo e outras autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos.

Artigo 49.º (Direito de sufrágio) 1. Têm direito de sufrágio todos os cidadãos maiores de dezoito anos, ressalvadas as incapacidades previstas na lei geral. 2. O exercício do direito de sufrágio é pessoal e constitui um dever cívico.

Artigo 50.º (Direito de acesso a cargos públicos) 1. Todos os cidadãos têm o direito de acesso, em condições de igualdade e liberdade, aos cargos públicos. 2. Ninguém pode ser prejudicado na sua colocação, no seu emprego, na sua carreira profissional ou nos benefícios sociais a que tenha direito, em virtude do exercício de direitos políticos ou do desempenho de cargos públicos. 3. No acesso a cargos electivos a lei só pode estabelecer as inelegibilidades necessárias para garantir a liberdade de escolha dos eleitores e a isenção e independência do exercício dos respectivos cargos.

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Artigo 51.º (Associações e partidos políticos) 1. A liberdade de associação compreende o direito de constituir ou participar em associações e partidos políticos e de através deles concorrer democraticamente para a formação da vontade popular e a organização do poder político. 2. Ninguém pode estar inscrito simultaneamente em mais de um partido político nem ser privado do exercício de qualquer direito por estar ou deixar de estar inscrito em algum partido legalmente constituído. 3. Os partidos políticos não podem, sem prejuízo da filosofia ou ideologia inspiradora do seu programa, usar denominação que contenha expressões directamente relacionadas com quaisquer religiões ou igrejas, bem como emblemas confundíveis com símbolos nacionais ou religiosos. 4. Não podem constituir-se partidos que, pela sua designação ou pelos seus objectivos programáticos, tenham índole ou âmbito regional. 5. Os partidos políticos devem reger-se pelos princípios da transparência, da organização e da gestão democráticas e da participação de todos os seus membros. 6. A lei estabelece as regras de financiamento dos partidos políticos, nomeadamente quanto aos requisitos e limites do financiamento público, bem como às exigências de publicidade do seu património e das suas contas. Artigo 52.º (Direito de petição e direito de acção popular) 1. Todos os cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou colectivamente, aos órgãos de soberania, aos órgãos de governo próprio das regiões autónomas ou a quaisquer autoridades petições, representações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da Constituição, das leis ou do interesse geral e, bem assim, o direito de serem informados, em prazo razoável, sobre o resultado da respectiva apreciação. 2. A lei fixa as condições em que as petições apresentadas colectivamente à Assembleia da República e às Assembleias Legislativas das regiões autónomas são apreciadas em reunião plenária. 3. É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos interesses em causa, o direito de acção popular nos casos e termos previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemnização, nomeadamente para: a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracções contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida e a preservação do ambiente e do património cultural; b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais.

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 Manuel Alegre

 biobibliografia

 Instituto Camões ~ cantar a liberdade

 quase um auto-retrato

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 A carlos peres feio  estudos para uma ilustração agrademos a compreensiva permissão para a edição das suas ilustrações

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MANUEL ALEGRE

Escola Secundária Artística António Arroio - Prof.ª eli

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