carlos peres feio - estudo - 2010
Pieter Brueghel, sĂŠc. XVI
A IMAGEM
Imagens a partir do pp: daqui
• Apresente, num texto bem estruturado, com cerca de vinte linhas, uma reflexão sobre as fotos que acabou de apreciar. • Elabore o itinerário ideal para uma visita a uma salina.
A importância de um dicionário de símbolos
• em Aveiro • na Figueira da Foz • no Tejo • no Sado • no Algarve
eli
Lenda da Deusa do Sal Conta uma lenda que em uma ilha longínqua vivia uma solitária deusa de sal. Ela era apaixonada pelo mar.
Passava dias, noites, horas na praia observando o balanço de suas ondas, sua beleza, seu mistério, sua magnitude. Um desejo enorme começou a apossar-se do seu coração: experimentar toda aquela beleza. Esse desejo ia aumentando até que um dia a deusa resolveu entrar no mar. Logo que ela colocou os pés no mar, eles sumiram, derreteram-se. Encantada com o mar, ela seguiu em frente e logo após suas pernas e coxas não mais existiam.
A deusa, entretanto, seguiu adiante, sentindo partes do seu corpo derretendo-se, até ficar apenas com o rosto do lado de fora. Uma estrela que observava tudo falou: -Linda deusa, você vai desaparecer por completo. Daqui a pouco você não mais existirá. -A
água
do
mar
desfazia
o
rosto
da
deusa,
mas
ela
respondeu
fazendo
um
esforço:
- Continuarei existindo, porque agora eu sou o mar também.
COMENTAR ~ DAR OPINIÃO: “Para conhecer e experimentar é preciso permitir-se, ir em frente. Quando isto acontece, a mudança se dá, mudamos. A deusa mudou, transformando-se em mar, fazendo parte dele, passou a ser o mar que ela tanto admirava da praia. O mar por sua vez, também transformou-se, porque foi salgado pela deusa. Ambos experimentaram a mudança: a deusa e o mar.” (de amigo brasileiro - por email)
Presente em rituais religiosos de diversas épocas e civilizações, o sal foi adquirindo fama de ingrediente poderoso na luta
contra entidades do mal e interesses mesquinhos, passando a alimentar inúmeras crendices e superstições que o imaginário popular veio mantendo vivas através dos anos. Entre as muitas que existem estão as seguintes: • tomar banho com sal grosso protege contra o mau-olhado. • para afastar os maus espíritos deve-se jogar sal por cima do ombro esquerdo. • derrubar sal traz má sorte; para evitá-la, jogue sal por cima do ombro direito. • em muitos países espalha-se sal no umbral da porta de uma casa nova para impedir a entrada de maus espíritos. • a mistura de sal com água ou álcool além de absorver tudo de ruim que está no ar, ajuda a purificar a casa e impede a entrada da inveja, do mau-olhado e de outros sentimentos inferiores. • depois de uma festa é sempre conveniente lavar com sal grosso os pratos e copos usados, para neutralizar a energia negativa de qualquer dos convidados. • banho de sal grosso e o antigo escalda-pés (mergulhar os pés em salmoura bem quente), neutralizam a electricidade do corpo e renova as energias. •
uma pitada de sal jogada sobre os ombros afasta a inveja.
• sal marinho seco colocado atrás da porta, em um pires branco, puxa a energia negativa de quem entra em sua casa. • em alguns lugares ainda se conserva o costume do noivo ir para a igreja com sal no bolso esquerdo, porque essa simpatia protege contra a impotência. • se você colocar sal grosso em um ambiente, ele deverá ser trocado a cada quinze dias, pois decorrido esse prazo ele ficará saturado. • traz má sorte o saleiro passado da mão de uma pessoa para outra. • emprestar, ou pedir sal emprestado, destrói a amizade. O melhor é oferecê-lo ou aceitá-lo com presente. •
SUPERSTIÇÕES
Expressar opinião.
texto integral aqui
O SAL E A ÁGUA Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu: – Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio: – Gosto mais de meu pai do que de mim mesma. A mais moça respondeu: – Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal. O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava tanto como
as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel.
Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi
chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que assistia
ao casamento da filha: – É porque a comida não tem sal. O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida
quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
Teófilo Braga, In Contos Tradicionais Portugueses
Conto tradicional . Pesquisar. Elaborar.
A VERSATILIDADE DO SAL
é uma das principais causas de mortes que poderiam ser evitadas com a simples redução do consumo de sal a
Substância imprescindível ao equilíbrio das funções
valores diários entre o mínimo necessário de 0,1 a 0,5
orgânicas pode produzir efeitos danosos se consumida
grama até um máximo de 5 gramas. Talvez o sal seja o
em excesso. Demanda natural fez com que superasse o
mais antigo e comum aditivo alimentar. Praticamente
ouro como valor estratégico e fosse base para
todas as culturas antigas temperavam seus alimentos
remunerar o trabalho.
usando sal, tanto para suprir eventuais deficiências deles como para melhorar o sabor. Há registos do uso
André de Souza Mecawi , Luis Carlos Reis, José
do sal para conservar alimentos em antigas culturas às
Antunes Rodrigues
margens do Nilo, no Egipto, há 8 mil anos. Guerras foram travadas pelo controle de minas de sal que, em
O sal (cloreto de sódio ou NaCl), encontrado em grande
determinados momentos da história, foi mais valioso
quantidade na Natureza, integra a dieta diária de quase
que o ouro. Em virtude da necessidade do organismo
toda a população mundial, principalmente por melhorar
por sódio, a maioria dos animais vertebrados procura
o sabor dos alimentos. Mas desde o início do século
esse elemento no ambiente onde vivem. Os seres
passado a quantidade de sal ingerida é vista como um
humanos não sentem necessidade explícita de outros
componente importante pela saúde pública, uma vez que
minerais como magnésio, iodo ou potássio, da mesma
seu
ao
forma como ocorre com o sódio. A necessidade tanto de
Segundo
sódio quanto de água são os dois únicos mecanismos de
consumo
desenvolvimento
excessivo da
está
hipertensão
relacionado arterial.
estimativas da Organização Mundial da Saúde, essa
busca e ingestão de moléculas específicas inatas. Esses
doença, que afecta aproximadamente 1 bilhão de pessoas,
processos são regulados mutuamente para manter os níveis correctos de água e sal no organismo. […]
O Sal na Dieta Ocidental
O sal foi muito consumido na conservação de alimentos, principalmente carnes, na ausência das geladeiras modernas. Posteriormente o seu consumo foi significativamente reduzido. Mas ainda hoje continuamos a apreciar alimentos salgados, como embutidos, carnes curadas e conservas, de modo que carregamos a herança de quase 8 mil anos de consumo de altos teores de sal, e
Imagem (desconheço autoria): da net
seu sabor é requisitado da mesma forma que a cafeína, doces, gordura, carnes e outros alimentos consumidos em quantidades acima de nossas necessidades diárias. A maioria das pessoas aprecia muito o sal, o que as leva a consumos elevados. Texto com supressões.
Fumeiro tradicional: aqui
Sal e Hipertensão Dados
experimentais
mostram
que
ratos
alimentados com uma dieta mínima de sal vivem significativamente mais que outros que ingerem quantidades maiores. Em estudo realizado com uma colónia de chimpanzés, animais geneticamente próximos do homem, observaram-se aumentos progressivos na pressão arterial à medida que quantidades crescentes de sal foram adicionadas à dieta ao longo de 20 meses – a quantidade máxima de sal administrada aos chimpanzés foi similar à da dieta ocidental típica. Curiosamente, a hipertensão reverteu completamente seis meses depois de os animais retornarem à dieta natural. Em humanos, vários estudos confirmam que o consumo excessivo de sal é uma das principais causas de hipertensão arterial.
Texto com supressões e adaptações
CONCEITOS FUNDAMENTAIS.
SINTETIZAR.
RESUMIR
SAL NA HISTÓRIA, ARTE E RELIGIÃO • O poeta Homero referiu-se ao sal como “uma substância divina”. Platão reverenciou a importância do sal dizendo que ele é “particularmente caro aos deuses”.
• No Império Romano, a Via Salaria, era a principal estrada que levava a Roma e por onde passavam os soldados com cargas desse produto. Para o senador romano Cassiodoro, o sal era mais importante que o ouro, porque “alguns precisam de ouro, mas todos precisam de sal”. • A palavra “salário” deriva do latim salarium, e este de sal, salis (em grego), porque era costume entre os romanos pagar-se aos soldados em quantidade de sal. Hoje, se uma pessoa é produtiva em seu trabalho, diz-se
que ela “vale seu salário” ou “vale seu sal”. • A palavra “sal” aparece mais de 50 vezes na Bíblia em versículos como “Vós sois o sal da terra”. (Mateus 5: 13). • O papel do sal na reprodução e fertilidade é reflectido no mito antigo da Vénus, que na tela de Sandro Botticelli nasce do mar. • “O sábio coloca uma pitada de açúcar em tudo o que diz ao próximo, e ouve com um grão de sal o que o outro
diz.” (Provérbio tibetano) • No filme Vicky, Cristina, e Barcelona, de Woody Allen (2008), uma das personagens descreve da seguinte forma seu fracassado relacionamento amoroso: “O amor requer um equilíbrio perfeito. É como o corpo humano. Pode ter todas as vitaminas e minerais, mas se houver um pequeno e único ingrediente em falta, como o sal, por exemplo, a gente morre”. Com supressões e adaptações minhas, texto colhido aqui
Reflectir. Discutir. Dar opinião.
• sinopse
Imagem: ver aqui
Lenda medieval
O Sermão de Santo António aos Peixes tem por base a lenda medieval segundo a qual Santo António, numa das suas pregações em que não consegue ser ouvido pelos homens, lança a sua palavra na praia deserta para os peixes, que levantam a cabeça à superfície das águas como sinal da força da sua palavra.
SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES • O Sermão de Santo António aos Peixes do P. António Vieira foi pregado em S. Luís do Maranhão, no dia da festa de Santo António. • Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens. • A frase bíblica que serviu de base ao Sermão foi: “Vós sois o sal da terra”. • As duas propriedade do sal são: conservar o são e preservar da corrupção. Com base nessas propriedades, Padre António Vieira dividiu o Sermão em duas partes: os louvores dos peixes e os defeitos dos peixes. • Os peixes ouvem, mas não falam; os homens falam muito e ouvem pouco. Os peixes foram as primeiras criaturas que Deus criou e entre todos os animais da terra são as maiores e as mais numerosas. • Os homens recusaram ouvir a palavra de Deus e os peixes acorreram todos. Todos os animais se podem domesticar, os peixes vivem em liberdade. O pregador tirou uma conclusão que repete várias vezes: quanto mais longe dos homens, melhor. E dá o exemplo de Santo António que deixou Lisboa, Coimbra, Portugal e retirou-se para um ermo. • O peixe de Tobias serviu para curar o seu pai da cegueira e afastar de sua casa os demónios; a rémora tem tanta força que pode parar o leme de uma nau; o torpedo faz tremer tanto o pescador que este deixa de pescar. O peixe “quatroolhos” defende-se dos que o atacam do fundo do mar e da superfície do mar. • Padre António Vieira compara o peixe de Tobias e a rémora a Santo António porque curava, isto é, convertia as almas e tinha tanta força que fazia tremer os pescadores, afastando-os de pecar. • Padre António Vieira faz duas repreensões aos peixes: 1ª – os peixes comem-se uns aos outros; 2ª – os peixes são ignorantes e cegos.
• O pregador selecciona quatro peixes e põe em destaque os seus defeitos. Assim, os roncadores personificam a arrogância; os pegadores, a servidão ou o parasitismo; os voadores, a ambição; o polvo, a traição. • O polvo é comparado ao camaleão porque muda de cor, mas distingue-se dele porque ataca covardemente. • Judas é comparado ao polvo porque traiu o Mestre, mas é considerado menos culpado do que este peixe porque realizou a traição à luz. • O último capítulo é chamado a peroração porque é a conclusão. • O Sermão é uma sátira social visto que o Padre António Vieira tem como principal objectivo criticar a exploração dos homens, sobretudo exercida pelos brancos; visa também criticar os holandeses que pretendiam apoderar-se da Baía. • O Sermão ainda é actual porque ainda se mantêm alguns dos graves defeitos na nossa sociedade como por exemplo: a ambição, a exploração, a traição, o servilismo.
•
Os recursos expressivos mais utilizados para convencer os ouvintes são: apóstrofes, interrogações, exclamações, comparações, metáforas, antíteses, repetições, ….
ALEGORIA Figura que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades, isto é, temas abstractos, por termos que designam realidades físicas ou animadas (animais ou humanas), através de uma sequência organizada de metáforas contínuas e de modo que os elementos do plano das ideias e do plano figurado se correspondem um a um. Qualquer discurso alegórico pode ser lido de modo não alegórico, permanecendo inteiramente aceitável e coerente.
“O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão.” Padre António Vieira, Sermão de Stº António aos Peixes Polvo
traição, hipocrisia
Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente A figura de olhos vendados e balança na mão que representa a Justiça.
Sermão de Santo António aos Peixes
Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654. Este sermão (que todo é alegórico) pregou o autor três dias antes de se embarcar ocultamente para o reino, a procurar o remédio da salvação dos índios. Vos estis sal terrae (S. Mateus, 5)
Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes,
em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.
• conjunção coordenativa disjuntiva – discurso disjuntivo – alternativo • adjectivação • interrogativa • adversativa • conjunção subordinativa causal – discurso causal • inventariação das causas que impedem a terra de se deixar salgar.
Padre António Vieira
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga […] Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria quer dizer Domina maris: Senhora do mar. e posto que o assunto seja desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria. Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes
O POLVO
Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas,
e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no
camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque nem fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor! Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes
e o polvo é…
J. Vermeer The Art of Painting -- The Artists Studio - 1665/66
eli
eli
eli
O sal da língua Escuta, escuta: tenho ainda uma coisa a dizer. Não é importante, eu sei, não vai salvar o mundo, não mudará a vida de ninguém - mas quem é hoje capaz de salvar o mundo ou apenas mudar o sentido da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro. É coisa pouca, como a chuvinha que vem vindo devagar. São três, quatro palavras, pouco mais. Palavras que te quero confiar, para que não se extinga o seu lume, o seu lume breve. Palavras que muito amei, que talvez ame ainda. Elas são a casa, o sal da língua.
Eugénio de Andrade
Às tardes, de volta das aulas, neste meu estreito quarto atravancado de livros, olho em redor as paredes brancas, onde se destaca o colorido de uma ventarola chinesa, e depois o meu próprio rosto no espelho. Então, como a madrasta da Branca de Neve diante do cristal mágico, pergunto: «Haverá alguém mais triste do que eu?»
Maria Ondina Braga
Maria Ondina Braga , em Estátua de Sal
Partir é bom, mas, pensar em partir, melhor ainda. Quanto a mim, acho que tenho sempre chegado. Partir é esperança. Chegar, desencanto.
Maria Ondina Braga , em Estátua de Sal
Maria Ondina Braga, autora de Estátua de Sal, em entrevista dada a Maria Teresa Horta e publicada em 1992 no «Diário de Notícias»,
cinco
anos
de
fala nos vinte
escrita
literária.
Surpreende uma resposta sua sobre esse tempo de dor: «Foi o mais importante sim. O que mais vivi».
Foto e texto (adaptado:) aqui
Carlos de Oliveira, óleo de Mário Dionísio
Imagem: da net
Que você não me faça jus a gente até releva mas você bem que tem um plus isso ninguém pode negar e são tantos momentos bons apesar dos senões você sabe a hora certa de trocar a pele da vilã por alguém de mente aberta de quem quase sempre sou fã você tem uma coisa boa que às vezes soa estranho e um esplendor encontrado em cada nota do soul, soul ou no mar quando o sol ascender deusa do amor ou estátua de sal qual será você que vai dizer quem sou pra que eu não vá errar e me perder?
Estátua de Sal
La Mujer de Lot Nadie nos ha aclarado todavía
si la mujer de Lot fue convertida en estatua de sal como castigo a la curiosidad irrefrenable y a la desobediencia solamente, o si se dio la vuelta porque en medio
de todo aquel incendio pavoroso ardía el corazón que más amaba.
amalia bautista
Amalia Bautista, de La mujer de Lot y otros poemas A mulher de Lot Ninguém nos esclareceu ainda se a mulher de Lot foi transformada em estátua de sal como castigo
biografia
pela curiosidade incontrolável e pela desobediência, unicamente, ou se ela se voltou porque no meio de todo aquele incêndio pavoroso ardia o coração que mais amava.
A MULHER DE LOT A mulher de Lot, que o seguia, olhou para trás e transformou-se numa estátua de sal. Gênesis
E o homem justo seguiu o enviado de Deus, alto e brilhante, pelas negras montanhas. Mas a angústia falava bem alto à sua mulher: "Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar as rubras torres da tua Sodoma natal, a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas, as janelas vazias da casa elevada onde destes filhos ao homem amado". Ela olhou e - paralisada pela dor mortal -, seus olhos nada mais puderam ver. E converte-se o corpo em transparente sal e os ágeis pés no chão enraizaram-se. Quem há de chorar por essa mulher? Não é insignificante demais para que a lamentem? E, no entanto, meu coração nunca esquecerá Anna Akhmátova por Nathan Altman
quem deu a própria vida por um único olhar. Anna Akhmátova tradução de Lauro Machado Coelho
JORGE DE SENA
Conheço o Sal Conheço o sal da tua pele seca depois que o estio se volveu inverno da carne repousando em suor nocturno. Conheço o sal do leite que bebemos quando das bocas se estreitavam lábios e o coração no sexo palpitava. Conheço o sal dos teus cabelos negros ou louros ou cinzentos que se enrolam neste dormir de brilhos azulados. Conheço o sal que resta em minha mãos como nas praias o perfume fica quando a maré desceu e se retrai. Conheço o sal da tua boca, o sal da tua língua, o sal de teus mamilos, e o da cintura se encurvando de ancas.
Jorge de Sena por Pedro Vieira
A todo o sal conheço que é só teu, ou é de mim em ti, ou é de ti em mim, um cristalino pó de amantes enlaçados.
A flor do sal de FARIA, Rosa Lobato de recenseador: António Couto Viana, 2005 Apreciação:
Rosa Lobato de Faria começou a ser conhecida através da televisão, como declamadora. Rapidamente foi mais longe: publica poesia, romance, literatura infanto-juvenil. E apresenta-se, ainda, como actriz de telenovela. Confesso que em todas estas actividades literárias e artísticas lhe vou admirando o talento de escritora e o talento de intérprete teatral. Traz-nos, agora, o seu nono romance, A flor do sal, com uma capa pouco feliz e enganosa, a sugerir, pelo estilo da ilustração, uma obra destinada à primeira adolescência. O livro descreve, com habilidade, a biografia de um pescador
baleeiro, de Cascais, chamado Afonso Sanches que, em 1480, chega por acaso às costas da América ( como se verifica, doze anos antes de Colombo), participando o facto ao rei D. João III, na sua corte de Évora, que lhe pede sigilo, já que se encontrava negociando com Castela o Tratado de Tordesilhas. Isto, que é rigorosamente histórico, é-nos apresentado por Rosa Lobato de Faria através de uma escritora actual que convive com o fantasma do navegador, recebendo dele a sua biografia, naturalmente, muito romanceada. A autora confabula bem, escreve bem, com beleza, ductilidade e fluência, sabendo distinguir a linguagem dos nossos dias e a quinhentista. Saboroso o relato da refeição renascentista que a personagem escritora oferece ao seu editor, com graça e erudição. Em leitur@ Gulbenkian
Cristina Norton em entrevista ao Portal da Literatura Mais sobre Cristina Norton
Sinopse Mário, um algarvio de Tavira a quem os reveses económicos da família levaram a trabalhar numa salina, vigia, durante dois dias, o céu e os sinais de uma chuva próxima enquanto espera pelo regresso da mulher. A ironia da vida surpreende-o e, ao procurar autenticar uma fantasia, descobre que o segredo é outro, bem mais doloroso, que o leva a pôr em causa o seu casamento com a mulher que sempre amou. Totalmente alheia aos tormentos inventados e reais pelos quais passou o seu marido, Irene chega no preciso momento em que começa a chover e urge colher a flor do sal antes que se estrague. A ternura de um abraço e a confirmação do amor que sentem um pelo outro, põem um ponto final numa história que não é mais do que isso mesmo, uma história.
Sinopse O americano Richard Ford, autor de Independência, publicado pela Editora Record, retoma a saga do personagem Frank Bascombe, um corretor de imóveis de Nova Jersey. Durante o outono de 2000, ano da virada do milênio e de eleições presidenciais, Frank sente ter atingido um estado de tranquilidade e aceitação que denomina de Período Permanente. Às voltas com os preparativos do feriado de Ação de Graças, ele perceberá que suas expectativas de paz serão frustradas quando a família surge diante dele com diversas crises e problemas.
A Estátua de Sal ALBERT MEMMI
Esse livro, prefaciado pelo romancista Albert Camus, é considerado um clássico da literatura em língua francesa. Um fascinante romance autobiográfico, em que o herói, judeu tunisiano pobre, define pouco a pouco sua própria identidade por meio de descobertas sobre religião, sexualidade, medo e solidariedade em meio aos conflitos que assolam a Tunísia, sob domínio francês, antes e durante a Segunda Guerra Mundial.