A LIBERDADE CRISTÃ
um estudo sobre a relação do cristão com o consumo de bebida alcoólica e o uso de tatuagens
ELVIS KELVIN
A LIBERDADE CRISTÃ um estudo sobre a relação do cristão com o consumo de bebida alcoólica e o uso de tatuagens
ELVIS KELVIN
Introdução Nossos dias são difíceis (2 Tm 3:1), são dias maus (Ef 5:16) e as pessoas não têm tanto discernimento bíblico, pois não buscam o conhecimento do Senhor. A palavra de Deus diz “se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus. Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade, guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos seus santos. Então, entenderás justiça, juízo e equidade, todas as boas veredas” (Pv 2:4-9). Como entenderemos a maneira como devemos nos portar diante dos incrédulos? Buscando o conhecimento do Senhor. A palavra do Senhor também nos diz “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4:6).
Em nosso estudo vamos tratar sobre a liberdade do cristão em relação a bebidas alcoólicas e tatuagens, embora este assunto possa ser usado para abranger outros temas. Pode um cristão ingerir bebida alcoólica e até mesmo fazer tatuagem? Até aonde devemos usar nossa liberdade como cristãos? Tudo me lícito, mas tudo me convém fazer? O propósito desse estudo é ajudá-lo a entender o que é agradável a Deus e o que não é. É possível que você estranhe algumas afirmações que faremos. Apesar disso não quero instruí-lo a fazer o que é errado, pois neste estudo tentaremos ser o mais claro possível pra que você possa compreender aquilo que a Palavra de Deus ensina. Antes de tratarmos dos temas propostos, vamos analisar, rapidamente, o que a Bíblia diz sobre liberdade cristã. É importante tratarmos disso agora antes de entrarmos na questão da bebida alcoólicas e das tatuagens.
Vou dividir este estudo em três e-books. No primeiro e-book vamos estudar sobre o que é liberdade cristã. O segundo tratará do cristão e o consumo de bebida alcoólica. No terceiro e último, falaremos sobre o uso de tatuagens. Em todos os estudos pesquisaremos na Bíblia a respeito do limite da liberdade cristã. Que Deus nos ajude a termos uma mente e cosmovisão centrada na Palavra de Deus.
O QUE É LIBERDADE CRISTÃ?
Paulo, escrevendo aos crentes da cidade de Corinto, disse: Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam (1 Co 10:23). O cristão é livre para viver de acordo com a vontade de Deus. É importante que entendamos isto, pois nossa cultura é hedonista, ela vive para os prazeres da carne. Infelizmente, há muitos crentes hedonistas dentro da igreja, querendo fazer a vontade da carne e dos pensamentos (2 Tm 3:4). Essas pessoas são como aquelas que Paulo descreve em Efésios 4:17-19: “Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza”.
Moderação e exageros A Palavra de Deus nos ensina a sermos moderados em tudo. Isso significa que não devemos pensar que podemos agir de acordo com as nossas vontades corrompidas, mas de acordo com a vontade de Deus, pois não somos mais de nós mesmo, mas pertencemos ao Senhor (1 Co 6:19, 20). As nossas vontades devem estar em acordo com a vontade de Deus uma vez que somos dele (Fp 4:8; 1 Jo 3:7-10). Veja o que a Bíblia em relação a isto:
1. Comer muito mel não é bom; assim, procurar a própria honra não é honra. Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio (Pv 25:27,28).
2. Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um (Rm 12:3).
3. Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação (2 Tm 1:7).
4. Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor (Fp 4:5).
Ao observar essas passagens entendemos que devemos ser pessoas que devem dar um bom testemunho na igreja e na sociedade (3 Jo 1:9-12). O cristão tem que ser uma pessoa moderada. O exagero, como é ensinado em Provérbios 25:27, não é bom, pois uma pessoa que não tem domínio próprio é como uma cidade sem muros, derribada, não serve para segurança de um povo. O domínio próprio é um dos frutos do Espírito Santo e deve ser usado sempre (Gl 5:22).
O que devemos aprender com isso é que nós não podemos sair por aí fazendo o que bem entendemos, segundo a nossa carnalidade, e dizer que somos livres para cometer tais atos. A palavra de Deus não dá liberdade para a libertinagem, que é condenada por Deus. Uma coisa é ser livre no Senhor, outra, bem diferente, é viver pela carne. Pois a Bíblia nos ensina: “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8:7).
Considerando os limites da liberdade cristã para com o nosso próximo Tendo entendido o que a Bíblia fala sobre liberdade cristã e moderação, quais são os limites da nossa liberdade para com o nosso próximo? Precisamos compreender que quando nossa liberdade faz com que o nosso irmão tropece devemos considerar se nossa atitude para com ele está certa ou errada. Entenda isso: se a minha liberdade faz com que meu próximo se sinta escandalizado ou que ele compreenda errado minha posição e venha a imitar minha posição e viver inquieto com aquilo, por causa do que me viu fazendo, eu estou agindo de forma errada. Veja, por exemplo, o que Paulo disse aos coríntios em 1 Coríntios 10:23-33:
“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem. Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a terra e a sua plenitude. Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos
advertiu e por causa da consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro. Pois por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência alheia? Se eu participo com ações de graças, por que hei de ser vituperado por causa daquilo por que dou graças? Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos”.
Analisando 1 Coríntios 8, 9 e 10
Essa explicação de Paulo começa no capítulo 8 e só termina no 10. Voltaremos para o texto citado, mas antes vamos analisar os outros capítulos. Nestes capítulos Paulo está querendo mostrar quais são os limites da liberdade cristã e para isso ele responde as dúvidas que estavam entre os crentes de Corinto. Pois, alguns, que eram mais instruídos, entendiam que os ídolos não é nada e que tudo pertence a Deus e, portanto, criam que se comessem alguma coisa que estivesse num templo pagão ou viesse de lá, não teria nenhum problema, pois para estes o ídolo não é nada, mas todas as coisas são do Senhor. A questão era que os menos entendidos, os fracos, não tinham a mesma compreensão que os mais fortes tinham e, portanto, ficavam confusos ao verem os mais fortes comendo carne que vinha do templo, embora eles, constrangidos, também comessem da mesma carne em casa.
A questão que gira em torno desses capítulos era se os crentes de Corinto podiam ou não comer da carne que era vendida no mercado, mas que ao mesmo tempo poderia ter vindo de um templo pagão e, portanto, era sacrificada a ídolos; e também se os mais fortes estavam corretos em comer dessa carne no templo junto com seus os amigos.
Os fortes e os fracos Existiam dois grupos de pessoas na igreja de Corinto que era o grupo dos fortes, os que tinham mais conhecimento da Palavra de Deus, portanto, os estudiosos. E os fracos, os que eram menos instruídos, mas estavam ali aprendendo e buscando viver de acordo com os mandamentos de Deus. Entre esses dois grupos estava havendo erros teológicos e de conduta. Os mais fortes achavam que tinham toda razão em certos assuntos e os mais fracos eram confusos e entravam em confusões mentais devido a maneira dos mais fortes agirem em certas ocasiões. Isso ainda existe hoje, por isso estamos estudando este assunto.
A religião dos pagãos Naquele tempo existia um tipo de religião que era dedicada aos deuses pagãos, e animais eram oferecidos a esses deuses. Eram cultos com rituais ligados a sacrifícios e ao sexo. Em Corinto existia um templo dedicado à deusa Afrodite, que era a deusa do amor e da fertilidade. As sacerdotisas do templo eram prostitutas que se deitavam com os adoradores para encenar o ciclo de fertilização da terra e também tinham relações sexuais como parte do culto. Como parte do culto existia um certo tipo de banquete oferecido aos deuses pagãos em que o adorador doava um animal para sacrifício. Por exemplo: uma pessoa poderia dar quatro bois ou mais - para sacrifício a Afrodite. O sacerdote tirava uma parte daquela carne e a outra voltava para o ofertante que, após o culto à deusa, tinha de dar um jeito de dar um fim àquela carne. Ele podia comer no templo com os seus familiares e amigos, pois ali havia um certo tipo churrasqueira; ou levaria para casa. O sacerdote, que oferecia o sacrifício, tinha de consumir toda aquela carne ou dar um jeito de ela não se perder. Como naquele tempo não existia refrigerador, então a carne se perderia facilmente. Se, por exemplo, tivesse muita carne, e ele não desse conta de tudo, o jeito mais prático de dar fim àquela carne de boa qualidade era vender no mercado público onde qualquer pessoa a compraria por um bom preço e, então, a carne não se perderia.
A questão da carne do templo e no templo Os mais novos na fé, sabendo que a carne que era comprado no mercado poderia ter vindo do templo da deusa Afrodite, e tendo entendido que não deviam mais ser idolatras, ficavam confusos quando viam os que eram mais entendidos (fortes) comendo daquela carne e então se escandalizavam com aquela cena. Apesar de eles (os fracos) ainda comerem da carne, ficavam tristes porque em sua mente tinham a ideia de que aquilo era errado, mas como os que sabiam mais faziam a mesma coisa sem nenhum problema, eles comiam a carne, mesmo constrangidos dentro de si. Obviamente estas pessoas, que são chamadas de fracas ouviram pregações a respeito do pecado da idolatria e que existe uma influência demoníaca nos rituais dos cultos pagãos e ficavam confusas quanto a comerem carne que vinha do mercado. É como muitos de nós que não comeríamos uma galinha que viesse de um terreiro de macumba, pois sabemos que aquilo foi oferecido a um demônio. Numa situação dessa nos perguntamos: “posso comer ou não? Isso veio de um lugar onde existem práticas diabólicas”.
Os mais fortes, porém, entendiam que não tinha nenhum problema se comprassem a carne no mercado ou comesse no templo, pois diziam que não tinham nenhum problema com os ídolos, pois eles eram obra da imaginação humana. Paulo concorda com eles de que os ídolos não são coisa alguma (1 Co 8:4-6). Porém, os menos instruídos não entendiam essas coisas e ficavam confusos e até mesmo tristes com isso, pois ainda comiam dessas carnes, mas ficavam se perguntando: posso ou não posso? (1 Co 8:7). Mesmo constrangidos eles comiam. Muitos desses crentes fracos decidiram ser vegetarianos para que não usufruíssem da carne que vem do mercado, pois era uma carne que 50% de certeza tinha vindo do templo e acabara de ser sacrificada a um ídolo. O problema era que os mais fracos eram pessoas, como já vimos, novas na fé. Elas tinham vindo de uma religião pagã e quando viam os fortes comendo carne no templo não aceitavam aquilo, pois para eles aquilo era errado. Comer carne no templo? Que atitude feia! Essa poderia ser a reação de um dos novos na fé. Porém, apesar de Paulo concordar com os mais fortes até certo ponto, ele diz: “No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu
ainda como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele. […] Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos” (1 Co 8:1, 2, 3, 9). Ele diz que a questão em si não é o comer a carne sacrificada, pois ninguém será recomendado a Deus se comer ou não da carne (vss. 7, 8). Ninguém ganharia alguma coisa ou perderia se comesse ou deixasse de comer uma carne que tivesse vindo de um templo pagão e foi vendida no mercado, onde todos poderiam comprar. Mas, se minha atitude vem a ser motivo de tropeço para o meu irmão, então estou pecando contra Cristo (vss. 11-13).
O que vem a ser o escândalo O que vem a ser escândalo ou tropeço aqui? Seria você fazer algo que induz o seu próximo a fazer alguma coisa que ele não compreende, mas que ele, por ter a consciência fraca, fará aquilo, embora que depois se sentirá triste, arrependido, confuso quanto a atitude que tomou. Essa pessoa fez algo que foi contra a sua consciência por causa que foi induzida a fazer aquilo pela dúvida. Na mente dela, ela acha que pecou contra o Senhor, portanto, se arrepende do que fez e sente vergonha. Por isso Paulo diz que elas são fracas ainda. Não por que são inferiores ou piores do que os mais dotados de conhecimento, mas porque sua consciência ainda não tem bases firmes quanto ao que é lícito e ao que não é. Por exemplo: tem muitas pessoas na igreja que não fazem isso ou aquilo, ou não tomam isso ou aquilo, pois sua mente ainda não tem solidez a cerca do que deve ser feito ou não. Por isso há tanta gente confusa na igreja. A questão é que os mais fortes devem entender que os mais fracos caem no erro devido o abuso da liberdade deles em fazer coisas que os mais fracos ainda não compreendem o por que daquilo.
O escândalo não significa divergência de opinião, pois todos divergimos em muitas coisas, mas sim levar o meu próximo ao erro. É fazer com que uma pessoa fique com peso na consciência por ter cometido um ato praticado pela dúvida. Mesmo que para os mais fortes em Corinto o comer a carne que saia do templo e ia para o mercado não tivesse nenhum problema, eles poderiam induzir os mais fracos a cometerem algo que depois sua consciência entraria em confusão e então eles viram a tropeçar. Por isso Paulo fala em Romanos 14:21-23 ao tratar do mesmo assunto:
“É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bemaventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado”. Se meu irmão pode vir a tropeçar por causa da minha atitude é melhor me guardar de cometer tal pecado contra ele e contra Cristo (1 Co 8:12).
Adiáfora Existem certas coisas como a do nosso assunto, que é sobre bebidas alcoólicas e tatuagens, que a Bíblia não diz nem que pode nem que não pode. São questões de consciência. Adiáfora significa que há coisas que não são nem obrigatórias nem proibidas, por exemplo o nosso assunto. Muitas pessoas dizem que é pecado fazer certas coisas, mas na realidade a Bíblia não diz nem que sim nem que não. Isso é uma adiáfora.
Paulo e o uso da sua liberdade Em 1 Coríntios 9 Paulo vai mostrar que ele era apóstolos e tinha os mesmos direitos que os outros apóstolos tinham. Ele mostra suas credencias (vss. 1, 2) e diz que tinha todo o direito de receber daquela igreja que ele mesmo foi o fundador. Entretanto, diz ele, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo (vs. 12). Neste capítulo Paulo quer mostrar que ele sendo apóstolo poderia usar de todos os seus direitos que tem, porém, ele diz que prefere se abster de muitos desses diretos, em certo ponto, para que o evangelho não se torne escândalo ou tropeço para a igreja. Este exemplo foi usado para dizer que ele pregava não por dinheiro, mas porque aquela era sua obrigação para com Deus, e adiciona uma cláusula importa: “ai de mim se não pregar o evangelho!” (vs. 16). Este exemplo serviu para mostrar que ele sendo apóstolo não fazia tudo o que queria, nem se aproveitava do seu conhecimento como desculpa para fazer o que quisesse, mesmo que estive certo.
O mau exemplo do povo de Israel No capítulo 10:1-13 Paulo mostra exemplos a partir do povo de Israel, mostrando que eles abusaram da liberdade que tinham e, portanto, foram
humilhados pelo Senhor. Esses exemplos, diz Paulo, nos serve para advertência para que não venhamos a tropeçar e vir a se entristecer. Por isso ele diz: “aquele, pois, que pensa estar de pé veja que não caia. Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (vss. 12, 13).
Os fortes, o cálice do Senhor e o cálice dos demônios Dos versículos 14 a 22 Paulo está mostrando que não podemos misturar o que é aceitável a Deus com o que não é. Ele cita o exemplo da ceia (vs. 16). Ele diz que não se pode tomar do cálice da comunhão com Cristo e o cálice dos demônios (vs. 21). Não é louvável participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Por que ele está falando isso? Os mais entendidos, como já vimos, compreendiam que não tinha problema comer da carne que vinha do mercado ou até mesmo comer no templo, pois os ídolos não passam da invenção da mente do ser humano. Neste ponto eles estavam certos, pois de fato os ídolos são apenas invenção, mas erravam noutro. E este ponto era participar da mesma mesa em que era oferecido sacrifícios a demônios. Por isso Paulo diz que eles não poderiam beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; nem serem participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. O que o apóstolo está querendo dizer é que não se pode usar da liberdade cristã para fazer tudo quanto se quer fazer. O problema, segundo Paulo, não estava na carne em si, mas pra quem ela era oferecida. Estar no meio dos idolatras e participar da mesa deles que é oferecida a demônios, era errado. Por isso ele diz nos versículos de 18 a 21:
“Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”. O que o apóstolo está querendo dizer é que por mais que os mais fortes tenham certa razão em considerar os ídolos como nada,
eles estavam errados em pensar que poderiam ser participantes da mesma mesa deles. A atitude deles fazia que os mais fracos tropeçassem, ou seja, se escandalizassem, ficassem confusos, por causa daquilo. Portanto, não adianta ter uma teologia correta, mas, na prática, viver no erro. Era isso que Paulo estava mostrando aos mais fortes na fé, que eles estavam errando quando iam ao templo e, sentados à mesa com os idolatras, comiam com os idolatras. Se por um lado os fracos estavam errados em não compreender que tudo é do Senhor, e que não tinha problema nenhum comer da carne que vinha do mercado, por outro os mais fortes estavam abusando da sua liberdade para agir de maneira errada, indo ao templo fazer-se participante da mesa dos demônios. A mesa dos demônios, entenda, era o banquete dos idolatras após o culto pagão. Entenda também, não é que eles participassem do ato de culto dos idolatras, mas sim que depois do culto eles participavam do banquete que acabara de ser oferecido a Afrodite. Eles estavam em um ambiente não apropriado para o cristão, participando de algo que era errado, embora soubessem que o comer a carne em si não tinha nenhum problema, pois o que contamina o ser humano não é o que entra, mas o que sai dele (Mc 7:14-23).
A questão aqui não é se o crente pode ou não pode comer carne, mas a liberdade do cristão em fazer certos tipos coisas. Paulo não está em nenhum momento dizendo que não se pode comer carne, como os adventistas presumem que não é bom comer carne, mas está tratando do contexto em que os crentes de Corinto vivam um dilema que estavam enfrentando que era questão do comer ou não a carne que sai do templo, que foi sacrificada a ídolos, e depois vai para o mercado.
Tudo é lícito, mas nem tudo convém Voltemos agora aos versículos 23 a 33 onde Paulo mostra que a liberdade cristã deve ser usada de maneira coerente. Ele ensina que tudo é lícito, mas nem tudo convém (vs. 24). Por que ele está dizendo isso? Por que os mais fortes compreendiam que não tinha problema nenhum em comer carne no templo com as pessoas que estivessem por lá. Ora, não tendo culto, não havia problema para eles. Paulo diz isso para mostrar que nem tudo convém. Se aquilo escandalizava irmãos mais fracos, porque agir daquela maneira? Isso serve para nós também! Então ele diz que ninguém deve buscar o seu próprio interesse, mas o de seu próximo (vs. 24).
Quanto aos fracos ele diz que eles deveriam comer de tudo que se vende no mercado sem perguntar nada a ninguém, pois tudo é do Senhor (vss. 25, 26). O que ele está querendo explicar para os mais fracos é que aquela carne não tinha nada em si, era apenas carne, não estava contaminada, não ia fazer nenhum mal a eles se comessem. Apesar disso não seria louvável se eles fossem ao templo e participassem da mesa dos demônios, pois, “não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios”.
Duas dúvidas, duas perguntas Dos versículos 27 a 30 Paulo responde a duas questões que haviam entre os crentes de Corinto.
Primeira questão (1 Co 10:27): se alguém que é idolatra me convidar para ir a um banquete em sua casa, e lá vai ter carne que veio do templo, que foi vendida no mercado, e eu quiser ir, devo comer da carne ou me abster daquilo? A resposta de Paulo é: vá e coma sem perguntar nada por motivo de consciência, ou seja, se ela veio do templo.
A segunda questão era (1 Co 10:28-30): e se eu for com um amigo e ele me disser “isto é coisa sacrificada a ídolo!” eu devo comer carne ou não por causa dele? Paulo responde: “não comais, por causa daquele vos advertiu e por causa da consciência”. Mas Paulo diz que não era por causa da consciência do que não podia comer (o forte), mas da do seu amigo (o fraco) que o advertiu que aquilo era coisa sacrificada a ídolo. Por isso ele diz “Pois por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência alheia?” (vs. 29). Ele pergunta porque alguém que participa de algo com ações de graças deveria ser condenado por aquilo que aprova (vs. 30). O que o apóstolo está mostrando é o mesmo que ele fala em Romanos 14:22, 23 “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bemaventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado”. Ora, se aquela pessoa ficasse na dúvida e viesse a comer da carne, mesmo depois da advertência do seu
irmão, ela agiria errado, mesmo que não tivesse, em si, nenhum problema na carne, e em outro ambiente, que não era no templo, mas o seu irmão tanto se escandalizaria e poderia vir a comer da carne e depois ficar se lamentando, quanto ele depois ficaria com um peso na consciência por ter cometido aquele erro, sendo ele mais instruído do que o seu amigo que era menos instruído na fé. Isso nos ensina que podemos tomar certas atitudes e depois nos arrependermos. Por isso é bom pensarmos bem antes de tomarmos algumas decisões em nossa vida.
O resumo de Paulo sobre o assunto No versículo 31 Paulo diz que tudo deve ser feito para glória de Deus. Mas já no 32 ele diz que não é bom ser causa de tropeço para o seu próximo, nem tampouco para a igreja de Deus. E termina no 33 dando um exemplo dele mesmo dizendo que, assim como ele, não podemos buscar interesses próprios, egoístas, que firam a consciência do nosso próximo, mas devemos ser agradáveis a todos em tudo, para que possamos alcançar outras pessoas para Cristo.
Resumo e aplicações Essa questão envolvia ações de culto aos ídolos e é por isso que Paulo diz que eles não deveriam sentar-se a mesma mesa para comer com os idolatras no templo, pois os mais fracos viriam a se escandalizar e ficar confusos com aquela atitude. A carne estando no ato de culto era dedicada a demônios, por isso não era certo comer dela ali. Depois que ela saia daquele ambiente não tinha nenhum problema, pois era vendida no mercado e servida para consumo do povo. É como na ceia, o pão passa a ser consagrado ao Senhor para aquele momento, portanto, só pode comer dele os que são batizados. Depois que ele é tirado daquilo momento, pode ser consumido por qualquer pessoa, pois não está sendo usado como elemento consagrada ao Senhor para um fim espiritual. Paulo estava explicando que não se podia comer carne num templo pagão, pois seria o mesmo que se associar aos demônios.
Compreendido isso, até aonde devemos usar nossa liberdade para com o nosso próximo? Vejamos que aplicações a Bíblia nos dá nestes capítulos 8, 9 e 10 de 1 Coríntios. Tendo explicado estas coisas, Paulo agora termina sua palavra mostrando o seguinte:
1. O crente não deve se constranger ao comprar algo que está no mercado e que venha de um idolatra. Por exemplo: não há problema em comprarmos algum produto de um idolatra, pois se pensarmos que não podemos fazer isso, não teremos nada, pois a maior parte dos comerciantes são de uma religião diferente da nossa. Por isso ele diz (1 Co 10:25,26): Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a terra e a sua plenitude.
2. Os mais fracos precisam compreender que nem tudo é pecado. Eles precisam de entendimento quanto a certos assuntos, pois ainda são fracos na fé. Necessitam de estudo e da compreensão da adiáfora. Por isso Paulo diz: “[…] porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se” (1 Co 8:7).
3. Os mais fortes devem aprender que não podem fazer tudo o que querem, porque entendem que não é pecado. Paulo nos ensina duas coisas quanto a isso: a) os fracos não compreendem todas as coisas como os fortes, por isso o apóstolo diz: “Entretanto, não há esse conhecimento em todos”. b) os mais fortes devem aprender a se abster de certas coisas na frente dos mais fracos e devem suportá-los em amor para que não venham a tropeçar e o evangelho também não venha a ser motivo de tropeço para os fracos. Veja o que Paulo fala em 1 Co 9:11-15: “Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo. Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho; eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória”.
Aprendemos com isso que não podemos fazer tudo o que queremos. O exemplo de Paulo é para nos ensinar que não precisamos agir em prol do
nosso egoísmo.
4. O cristão não deve pensar com interesses próprios, mas deve compreender que não deve ser motivo de escândalo para o seu próximo. Portanto, devemos pensar no nosso próximo antes de praticarmos certos atos, estar em certos lugares, querer fazer certas coisas, etc. O princípio da liberdade cristã está ligado ao amor ao próximo. Tem coisas que devemos abrir mão por amor a Jesus e ao nosso próximo.
5. Minha liberdade deve ir até aonde meu próximo é respeitado. Por isso é importante que embora nem tudo seja pecado, devemos ser pacientes com os que tem menos entendimento a respeito de certas práticas nossas. É necessário que os mais fortes não só pensem nos mais fracos e ajam corretamente, mas que pela Palavra de Deus ensinem aos mais fracos que há coisas que em si não são pecado, mas podem ser feitas dentro dos parâmetros da moderação cristã.
6. Deus nos deu liberdade, mas, mesmo que tudo me seja lícito, nem tudo me convém. Em 1 Coríntios 6:12: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. Quem acha que é forte não deve abusar da liberdade que tem como pretexto para fazer tudo o que quer. Por isso Paulo cita o exemplo de Israel para mostrar que Deus é bom e fiel em te livrar das tentações, mas se você busca a tentação, está usando sua liberdade para pecar. O cristão não pode viver da presunção, pois ela é pecado. “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1 Co 10:12).
Era necessário que compreendêssemos este assunto da liberdade cristã antes de entrarmos na questão das bebidas e tatuagens. Esta foi uma introdução ao assunto, portanto, mais que necessária. Alguns jovens cristãos querem agir sem o consentimento bíblico e esta é a pior forma de pensar como um cristão, como alguém que diz que crer em Deus e o ama. Devemos tomar cuidado com o nosso coração, pois ele é enganoso e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jr 17:9).
Esta foi a primeira parte desse estudo. No próximo e-book vamos estudar sobre a questão da bebida alcoólica.
Você é livre para fazer o download deste e-book e compartilhar com outras pessoas, desde que não o use para fins lucrativos.
Minha esperança é que este e-book tenha lhe ajudado de alguma forma. Meu desejo é que possamos juntos aprender a Palavra de Deus e ajudarmos uns aos outros na compreensão da vontade do Senhor para nossa vida.
Sobre o autor: Elvis Kelvin é um estudante apaixonado da Palavra de Deus. Cristão reformado/calvinista. Atualmente congrega na Igreja Presbiteriana Memorial de Currais Novos/RN, Brasil, onde é líder de mocidade (UMP); namora com Bruna. É brasileiro, atualmente mora em Currais Novos, interior do estado do Rio Grande do Norte.
Soli Deo Gloria!