As doutrinas da graça - Depravação Total 1

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As doutrinas da Graça Depravação Total Parte 1

ELVIS KELVIN Série de estudos sobre os Cinco Pontos Calvinistas ministradas na escola bíblica da Igreja Presbiteriana Memorial de Currais Novos/RN


Vamos começar agora uma série estudos sobre os cinco pontos calvinistas ou as Doutrinas da Graça. Estes não serão estudos longos, mas tentaremos explicar todos os assuntos de maneira bíblica. Minha esperança é que esta série de estudos te ajude de alguma forma a crescer na graça e no conhecimento da Palavra do Senhor.

O estudo sobre a depravação total está contido em toda a Bíblia a partir da queda do homem em Gênesis 3. Eu vou dar uma introdução histórica a respeito do assunto pra só então começar o estudo em si sobre a depravação total. Estudaremos muitos assuntos nesta matéria, mas vai ser necessário para o nosso entendimento.

Esses estudos são frutos das minhas aulas ministradas na escola bíblica da igreja onde congrego. Comecei estas aulas no mês de setembro de 2016.


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Parte 1 Contexto e introdução ao assunto


02 Sobre as Doutrinas da Graça As doutrinas da graça são fruto do debate na cidade de Dort (Dordrecht), Holanda, entre os anos de 1618 e 1619, devido a “Remonstrância” ou “Protesto” dos alunos de Jacó Armínio. “A primeira reunião do sínodo foi tida a 13 de novembro de 1618 e a última, a 154ª foi a 9 de maio de 1619. Foram também convidados representantes com direito de voto vindos de oito países estrangeiros” – Wikipédia.

Os Remonstrantes ou arminianos, alunos de Jacó Armínio, escreveram um documento em 1610 chamado “Remonstrância” para combater as doutrinas do calvinismo clássico. “Com o reinício dos tumultos, o Parlamento convocou um sínodo para resolver a controvérsia. O Sínodo de Dort teve 180 sessões que se estenderam de 13 de novembro de 1618 a 29 de maio de 1619” (Alderi Souza de Matos).

A partir deste debate foi que surgiram os famosos cinco pontos calvinistas e a Remostrância dos arminianos. Estes arminianos, assim chamados porque eram discípulos de Jacó Armínio, não aceitavam a cosmovisão calvinista a respeito da ordem de salvação (Soteriologia) e dos decretos de Deus. Eles abriram um debate para tentar combater a visão calvinista dos assuntos concernentes à salvação do homem. Então nos anos de 1618 e 1619 foi que aconteceu esta batalha pra saber se os calvinistas estavam de fato certos. Foi aí então que os arminianos, não conformados com o sistema calvinista, escrevam a sua Remonstrância ou Protesto, que era um sistema de pensamento contrário ao calvinismo. E neste documento continham cinco pontos a respeito daquilo que se dizia ser o que realmente a Bíblia ensinava. Com isso, os arminianos queriam que fosse mudada a maneira de pensar acerca dos assuntos sobre a salvação do homem.

Os cinco pontos arminianos ou remonstrância

Feito livre pela graça Artigo I – Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça humana que tinha caído no pecado – em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo – aqueles que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os contumazes e descrentes, condenando-os como alheios a Cristo, segundo a palavra do Evangelho de Jo 3:36 e outras passagens da Escritura.

A todos a expiação Artigo II – Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que obteve para todos, por sua morte na cruz, reconciliação e remissão dos pecados; contudo, de tal modo que ninguém é participante desta remissão senão os crentes.


03 Condicional eleição Artigo III – Que o homem não possui por si mesmo graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de modo que, em seu estado de apostasia e pecado para si mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada que seja bom – nada, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal como a fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu Santo Espírito, seja gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e vontade e em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender, pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a Palavra de Deus [Jo 15:5].

Total depravação Artigo IV – Que esta graça de Deus é o começo, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De modo que todas as obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em pensamento, devem ser atribuídos à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que eles resistiram ao Espírito Santo.

Segurança em Cristo Artigo V – Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e que assim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotados de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e de ganhar a vitória; sempre – bem entendido – com o auxílio da graça do Espírito Santo, com a assistência de Jesus Cristo em todas as suas tentações, através de seu Espírito; o qual estende para eles suas mãos e (tão somente sob a condição de que eles estejam preparados para a luta, que peçam seu auxílio e não deixar de ajudar-se a si mesmos) os impele e sustenta, de modo que, por nenhum engano ou violência de Satã, sejam transviados ou tirados das mãos de Cristo [Jo 10:28]. Mas quanto à questão se eles não são capazes de, por preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes foi entregue, de perder a sua boa consciência e de negligenciar a graça – isto deve ser assunto de uma pesquisa mais acurada nas Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo com inteira segurança.

Em ordem os pontos se destacam assim de acordo com a sequência FACTS:

1. Feito livre pela graça 2. A todos a expiação 3. Condicional eleição 4. Total depravação 5. Segurança em Cristo

“Segundo Brian Abasciano, PhD em Divindade pela Universidade de Aberdeen e pastor da Faith Community Church em Hampton, New Hampshire, EUA, um dos principais estudiosos em arminianismo, os cinco pontos do arminianismo devem ser, por questões


04 lógicas, ensinados por uma ordem diferente da ordem do acrônimo FACTS. A ordem lógica para ensino é, portanto, essa: (1) Total depravação, (2) A todos a expiação, (3) Feito livre pela graça para crer, (4) Condicional eleição e (5) Segurança em Cristo […]”.

Tirado do livro “O que é teologia arminiana?” do pastor e teólogo da Assembleia de Deus, Wellingtons Mariano.

Os cinco pontos calvinistas Em resposta aos arminianos também foram escritos os cinco pontos calvinistas que ficaram conhecidos como os cânones de Dort. Durante a série vamos estudar todos os pontos, por isso não colocarei em detalhe esta parte dos cinco pontos calvinistas abaixo,

como fiz acima com os cinco pontos arminianos ou Remonstrância. Os cinco pontos do calvinismo são:

1. Depravação total (Inabilidade total) 2. Eleição incondicional 3. Expiação limitada (ou Redenção Particular) 4. Graça irresistível 5. Perseverança dos santos

São esses os ensinos das duas posições. Ao longo do estudo veremos todos os pontos. Não ficarei abordando muitos contrastes entre o calvinismo e o arminianismo, abordarei os pontos, obviamente, de acordo com o sistema calvinista, pois sou calvinista, o que a Bíblia ensina a cerca de cada ponto. Vez em quando farei contrastes entre uma visão e outra, mas não perderei muito tempo com este método, pois pode ser que o estudo se torne muito cansativo.

O que é depravação total? Nosso primeiro estudo é sobre a depravação total. Mas, o que queremos dizer com Depravação Total? Este título também pode ser melhor entendido quando dizemos “Inabilidade Total”. Primeiro, isso não significa que o homem não possa fazer um bem natural, por exemplo, obras de caridade, nem que ele seja um demônio. Às vezes as pessoas leem o termo “total” e entendem errado. Este termo significa que a depravação atingiu todas as áreas da vida da criatura. Todos nós estamos totalmente manchados pelo pecado. Poderíamos, se Deus não colocasse limites, nos tornarmos, praticamente, uns demônios, por causa do pecado. Mas, como não é da vontade do Senhor que sejamos tão maus quanto poderíamos ser, somos limitados até nisso. Somos maus, de fato (Mc 10:18; Lc 11:13). Temos pensamos terríveis! Mas não somos um demônio, embora que uma pessoa que está morta em delitos e pecados (Ef 2:1) seja um filho da ira e do diabo, esteja sob o domínio de Satanás (Ef 2:2,3), até certo ponto, ela, mesmo assim, não é um demônio.


05 O que a Bíblia ensina sobre depravação total 1. (Gn 1:31) - Deus fez o homem bom, sem nenhum pecado, mas este se tornou pecador, mau/mal (Gn 3:22-24; Ec 7:29).

2. (Gn 6:5) O homem embora possa fazer, exteriormente, algo aparentemente bom, se tornou mau (Lc 11:13). Ele caiu de seu estado original.

3. (Rm 3:12) As Escrituras dizem que o homem não faz o bem por natureza (Sl 14:3; 36:1-4; Rm 7:18).

4. (Sl 53:1-3) O homem se tornou depravado em sua pessoa e não tem disposição para buscar a Deus (Jr 17:9; Is 64:6,7; Mc 7:20-23).

A Bíblia ensina que o homem, por causa da sua queda, se tornou mau e não tem poder de ascender às coisas espirituais para a sua salvação (Ef 2:1-3; Ef 4:17-19). As Escrituras deixam claro que o homem é incapaz de crer em Deus por sua própria vontade (Jo 3:3,5). Quando falamos de depravação total, queremos reafirmar o ensino bíblico de que o homem não é capaz de fazer algo que agrade a Deus por sua própria vontade (Rm 3:10-18; Rm 7:18; Rm 8:5-8), pois ela está escravizada ao pecado (Rm 6:16-23). O homem está destituído da glória de Deus (Rm 1:18-23,25; 3:23).

Quando compreendemos quem somos fica mais fácil compreender quem é Deus. Somos depravados, pecadores indignos da graça e do amor do nosso bendito Criador. Todos os dias pecamos contra o Senhor, quebramos a sua lei, fazemos o que mal diante dos seus olhos. Gênesis 6:5 diz: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração”. Esta conclusão do SENHOR acerca do homem foi feita antes do dilúvio, mas é interessante observar que logo após o dilúvio o pecado continuou presente na vida do ser humano. Ele continuou sendo depravado. Veja o que diz Gênesis 8:21 “E o SENHOR aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde sua mocidade […]”. O próprio filho de Noé, Cam, cometeu pecado ao ver seu pai nu dentro de sua tenda (Gn 9:20-25).

Esta introdução foi necessário para entender melhor o nosso tema. Passaremos agora a tratar de assuntos mais profundos sobre a depravação total. Eu escolhi praticamente Gênesis 3 para estudarmos este tema.


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Parte 2 A Queda


07 Quando estudamos sobre depravação total estamos tratando sobre os efeitos da queda do homem. Há basicamente quatro coisas que é necessário sabermos:

1. No que consiste a Queda? 2. O que a Queda produziu na vida do ser humano? 3. Qual é o estado do homem agora diante de Deus? 4. E: O que é necessário fazer diante dessa situação?

Essas perguntas são importantes, pois nos leva até as Escrituras para sabermos qual é a resposta para todas elas. Este assunto não é matéria de debate somente do século XVI, mas, desde o século IV, quando um homem chamado Pelágio debateu com Agostinho de Hipona sobre a queda e os seus efeitos. No debate Agostinho saiu ganhando, pois provou, pelas Escrituras, que o ensino de Pelágio era herético. Vamos então tentar responder as perguntas que foram citadas a cima. Eu creio que o estudo deste assunto é de extrema importância.

NO QUE CONSISTE A QUEDA?

Quando nós falamos de Queda, queremos dizer que o homem perdeu o seu estado original, ou seja, ele que era bom, perfeito, santo, mas agora é mau, imperfeito e impuro. É importante salientar que naquele estado em que o homem estava ele era santo, mas de maneira diferente da que ele pode ser agora. Como assim?

A santidade de Adão e Eva antes da queda Ele era separado para Deus, mas não tinha pecado. Ele era santo, mas não estava sendo santificado, pois uma pessoa só está sendo santificada quando é necessário que haja necessidade de pureza nela. Mas nossos pais, Adão e Eva, antes da queda, não necessitavam de estarem se purificando, pois, em si, eles já eram isso. Deus não os fez com impurezas, mas plenamente santos (Gn 1:31; Ec 7:29). Entendemos, então, por isso que, quando o homem foi feito ele estava em uma esfera diferente da nossa. Nós que já fomos redimidos e salvos, somos santos, separados para Deus, para sua glória, mas, note isso, estamos em estado de santificação (Hb 9:13,14; 10:22). Não fomos chamados por que éramos santos, mas para sermos santos e irrepreensíveis (Ef 1:4). Diferentemente, nossos pais não precisavam disso antes de caírem do seu estado original. O Senhor os fez sem nenhum pecado, puramente santos e obedientes, mas lhes deixou livres para tomarem a decisão de comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal ou não.

Quando digo que Deus deixou-os livres para comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, não estou anulando a ordem que o SENHOR deu de não comerem do fruto. Existia um mandamento de Deus dizendo que no dia em que eles comecem, certamente morreriam (Gn 2:16,17).

O pacto das obras Vemos que desde o início existia um pacto entre Deus e o homem. Este pacto consistia na


08 obediência de nossos pais. Por isso o chamamos de “pacto das obras”. Uma vez que eles desobedecessem a Deus, quebrassem este pacto, viriam a sofrer as consequências, pois todo pacto consiste em benefícios, se a pessoa permanecer fiel e não quebrá-lo, e em punição, se ele for transgredido. Adão e Eva tinham escutado a ordem de não comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Eva mesmo avisou à serpente sobre isso (Gn 3:2,3). E como era um pacto, e um pacto consiste de benefícios e punições, eles deveriam permanecer obedientes até o fim.

O objeto em que estava firmado este pacto era a árvore do conhecimento do bem e do mal. Aquela árvore foi posta com outro propósito, além daquele de testá-los, ela era uma espécie de prova da parte de Deus para testá-los em sua obediência. Se eles permanecem em seu estado reto, a sua posteridade nasceria sem pecado, mas, como caíram, ou seja, quebraram a Lei do SENHOR, toda a sua posteridade nasceu no pecado e condenada ao inferno eterno, pois Adão era o cabeça federal da raça humana. Ele tomava o nome de toda a família humana, pois era o pai de todos, assim como Cristo toma o nome de toda a família [Igreja], pois é o Senhor da igreja (Ef 3:15). Por isso, quando olhamos para Cristo vemos que ele é o nosso irmão mais velho, que é o cabeça da sua igreja (Ef 5:23), pois toda pessoa que foi pela graça, mediante a fé, e justificada, transferida para a igreja de Jesus Cristo, e se torna membro do corpo de Cristo, não pertence mais a Adão, mas a Cristo (2 Co 5:17; 1 Co 15:22). Ele é da mesma matéria que Adão, mas não é mais do mesmo sistema dele, mas de Cristo (1 Jo 3:2).

Este pacto das obras foi quebrado pela desobediência de nossos pais no Éden, por isso somos todos pecadores e totalmente depravados. É verdade que nada disso aconteceu sem o consentimento de Deus, mas é bem verdade que tudo isto foi culpa do ser humano que pecou – se rebelou – contra o seu Criador.

A causa da Queda A queda significa que o homem perdeu seu estado de retidão espiritual e moral diante de Deus. Ele se tornou um ser mau/mal. O pecado tirou-lhe a pureza. Ele se envolveu com uma sujeira que a água natural não pode limpá-lo. É necessário mais do que água natural para purificá-lo. A queda consiste na desobediência do homem. Mas, o que ele desobedeceu? Veja Gn 2:15-17. Deus disse para o homem que de todos os frutos das árvores do jardim ele poderia comer, menos do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que ele fizesse isso, certamente, ele morreria.

A sagacidade da serpente Agora vamos para o próximo capítulo, para Gênesis 3. Veja as palavras da serpente ao falar com Eva. O que foi que ela disse à mulher? A serpente usou de uma meia verdade pra dizer que Deus estava errado e que eles poderiam ser como Deus, conhecedores do bem e do mal. O versículo um diz que a serpente era mais sagaz do que todos os animais selváticos do jardim. É importante que não pensemos que serpentes falavam, pois Deus não as fez assim. Aqui há uma personificação do diabo numa serpente, ou seja, ele se apoderou de uma serpente para que pudesse falar com Eva. Há muitas controvérsias quanto a esta


09 conversando com uma mulher, mas que o autor de Gênesis usou dessa linguagem para mostrar que o diabo é descrito na Escritura como uma serpente, um ser maligno. Embora isso seja verdade, que o diabo é descrito como uma serpente maligna (Ap 12:9), não devemos pensar dessa forma como alguns pensam sobre esta passagem, pois, isso compromete as Escrituras. Com certeza esta cena foi real, e que o diabo realmente se apossou de uma serpente e conversou com a mulher. Se isso não é real, então não foi possível que a jumenta de Balaão tenha repreendido ele (Nm 22:27-30).

Como eu tinha falado, a serpente ao falar com a mulher usou de uma meia verdade para dizer que Deus estava errado. O que quer dizer isso, que ela usou de uma meia verdade? Quando o diabo disse que eles seriam como Deus, conhecedores do bem e do mal, ele não estava de todo errado, pois o que nossos pais passariam a conhecer era, realmente, aquilo mesmo. Mas, qual foi a ideia sagaz do diabo? Foi mostrar que eles poderiam ser como Deus. A astúcia do diabo estava em apresentar para eles uma coisa que aparentemente parecia ser verdade, mas na realidade comprometeria a comunhão deles com Deus. As Escrituras dizem que o diabo é homicida desde o princípio, que ele é o pai da mentira, um ser astuto (Jo 8:44). O diabo um dia quis ser maior e melhor do que Deus (Ez 28:1-19). Embora esta profecia no livro do profeta Ezequiel seja contra Tiro, rei daquela cidade descrita no texto, ele, Tiro, não era este querubim descrito na profecia. Esta profecia tem dois sentidos: a) mostrar a queda do rei Tiro; e: b) mostrar o orgulho de Satanás no princípio, quando ele quis ser como Deus.

O diabo é irado contra Deus, por isso mesmo ele distorceu as palavras de Deus no Éden. Ele quis mostrar que Adão e Eva poderiam ser como Deus, que eles poderiam dominar este mundo. Isso não deixa de ser uma realidade ainda em nossos dias. O diabo tem iludido muitas pessoas com esta ideia de que elas podem dominar o mundo, serem como Deus, poderosos e senhores do destino.

Note a astúcia do diabo no versículo 1 de Gênesis 3: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do Jardim?”. Note como ele soube se achegar à mulher com uma falácia sagaz. Qual foi o objetivo da sua pergunta? Ele não começou perguntando pelo fruto proibido, mas de todos os frutos do Jardim. Obviamente ele queria com isso um motivo para poder introduzir sua artimanha. A resposta da mulher teve uma adição nas palavras de Deus. Ela disse: “Dele não comereis, nem tocareis”. Deus não disse: “tocareis”. Ela, possivelmente, adicionou isto para mostrar a seriedade das palavras de Deus ou porque já tinha algum tipo de desejo pela árvore. Outra pergunta deve ser feita: Por que o diabo procurou a mulher e não o homem? As Escrituras não dão a resposta, mas pode ser que isso tenha acontecido devido a mulher não ser o cabeça no Jardim. Alguns dizem que é devido à fragilidade da mulher, mas não há tanto respaldo para isso. É possível que pela astúcia do diabo ele procurou-a, pois ela não sendo aquele que é o segundo cabeça sobre a criação, o líder, ele achou ser mais fácil enganar a partir deste ponto vista, pelo menos por este lado da questão. O problema que vemos aqui é que, possivelmente, o homem, no dia em que o diabo enganou a mulher, estivesse ali perto deles e não fez nada com relação àquilo. Isso mostra que ele também já tinha o desejo de conhecer o que poderia acontecer se comecem do fruto da árvore proibida.


10 O que levou nossos pais a pecarem? Quando lemos Tiago 1:14-15, vemos que a cobiça é aquilo que faz com que desobedeçamos a Deus. A cobiça é o último mandamento da Lei, os dez mandamentos, mas eu creio que, em termos de quebrar a Lei, é o mandamento que mais tem força operante, pois todo pecado parte da cobiça. Por que a cobiça é pecado? Como pode ser pecado uma coisa que não foi concretizada? Por exemplo: Adão e Eva, se olharmos do ponto de vista natural, ainda não tinham pecado, pois não tinham comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se só olharmos por este ângulo, sim, não há pecado algum. Mas, e se for visto por outro ângulo? Por qual? Pelas lentes de Deus.

Quando olhamos para Gênesis 3:6, só a primeira parte que diz que Eva “viu que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos”, vemos que ela ainda não tinha comido do fruto. Ela só tinha desejado o fruto. Ter desejos é pecado? Em si, não. Mas como então pode o desejo de Eva ter sido pecado? Ainda não expliquei a questão do pecado de Eva em si. Faremos isso agora e então voltaremos à questão dos desejos.

O desejo de Eva e amplitude do pecado Eva, por mais que ainda não tivesse tocado no fruto, cometeu pecado? Muitos vão dizer que não, pois o pecado não estava em desejar, mas em comer do fruto. Quando penso nesta visão vejo que as pessoas têm uma visão muito rasa do pecado. Elas pensam, como os fariseus, que o pecado é algo que é somente exterior. Mas quando lemos as palavras do Senhor Jesus explicando sobre amplitude do pecado na vida do homem entendemos que isso é mais do que algo que deve ser visto exteriormente, por atos que todos devem ver. Quando o Senhor fala da gravidade do pecado na vida do homem ele mostra que o que nos contamina não é o que é exteriormente, mas o que está interiormente, no coração do homem (Mc 7:19-23).

Por que muitas pessoas têm uma visão rasa do pecado? Porque o pecado faz que as pessoas só vejam malignidade exterior. As pessoas não enxergam a gravidade do pecado, elas pensam que pecado é só aquilo que fazemos e todos veem, mas nunca aquilo que já está no coração do homem. Por exemplo: uma pessoa pode pensar que adultério é somente quando alguém que é casado trai o seu cônjuge. Ou que matar é só o ato de matar. Quando o Senhor fala da potencialidade da Lei e da sua abrangência sobre o pecado, ele cita estas duas questões para mostrar que antes mesmo de o adultério e a morte se tornarem algo visível, eles já haviam sido concretizados no coração do homem. Portanto, antes mesmo de uma pessoa cometer explicitamente o adultério ou o assassinato, ela já cometeu isso no seu coração e a Lei de Deus o culpa disso. A Lei mostra o quão maligno é o coração do homem (Rm 3:20). E que pecado é tudo o que vai contra a Lei de Deus (1 Jo 3:4). Jesus mostrou para os fariseus que a Lei prova que os desejos maus do coração já é pecado. Ele estava mostrando a hipocrisia daqueles homens e também a nossa. Nesta questão ele também mostra que o pecado é mais grave do que pensamos.

Voltando à questão de Eva, o que ela sentiu foi pecado ou só um desejo comum? É importante que entendamos que nem todo desejo é cobiça. Sentimos desejos por santidade e isso é bom, pois o Espírito Santo opera em nós este desejo. O desejo de Eva foi um desejo


11 pecaminoso?

Volte para Gênesis 3:6. O versículo diz que Eva viu aquele fruto e ele parecia ser agradável. A árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, possivelmente um fruto bonito, realmente desejável. Se esta fosse a questão, de o fruto ser um fruto bonito, tudo bem, mas não era. O diabo não atraiu Eva para tão somente observar a beleza de um fruto, mas para o que podia acontecer se ela comece daquele fruto. Note o que o versículo ainda diz que era uma “árvore desejável para dar entendimento”. Que entendimento é este? Volte ao versículo 5. O diabo disse àquela mulher e ao homem que eles seriam “conhecedores”. Ele lhes disse no versículo 4 que Deus era mentiroso, pois distorceu as palavras do Senhor, quando disse: “certamente não morrereis”. É óbvio que o que Eva queria não era só comer o fruto, mas sim ter este entendimento que o diabo disse que tanto ela quanto Adão teriam. A questão não está concentrada no fruto, na sua beleza, no seu gosto, mas em ter algum tipo de entendimento que eles ainda não tinham. O desejo que parecia bom, não era mais.

O desejo de Eva era mais do que comer daquele fruto, era pecaminoso. À primeira vista não vemos isso no texto, mas, uma análise mais profunda nos revelará coisas que jamais pensamos que existiam neste capítulo. A cobiça é um desejo maligno. Não é tratado nas Escrituras como um desejo santo. Davi cobiçou a mulher de Urias. Ele poderia não ter cometido o que cometeu, mas sua cobiça o levou a fazer aquilo, tomar posse de uma mulher que não era sua. A cobiça é que faz que deixemos Deus em último plano para cumprirmos o que está proposto em nosso coração. Como a cobiça surgiu no coração de Eva? Isso é um mistério, pois Deus fez nossos primeiros pais sem pecado, mas eles pecaram mesmo antes de terem comido o fruto.

Entendendo a cobiça de nossos pais Como nós podemos entender que o que nossos pais sentiram foi pecado? A Bíblia diz que o pecado é a transgressão da Lei (1 Jo 3:4). Nós transgredimos a Lei quando pecamos por pensamentos (Mt 5:27-28). Qual foi o pecado por pensamento de nossos pais? Foi querer possuir algo que era proibido e então deixaram ser levados por seu desejo maldoso. O desejo maldoso foi querer ser como Deus. Foi querer se igualar ao Criador (Gn 3:5-6). Ser alguma coisa no mundo. Foi isto a corrupção do homem e a deturpação da mente humana: “querer ser como Deus”. O pecado do diabo foi a mesma coisa. Ele quis ser como Deus. E quando quis isso, se rebelou contra o Senhor. A mesma coisa aconteceu com nossos pais, eles também se rebelaram contra Deus. Não se sentiram satisfeitos com o que tinham; quiseram ser alguma coisa poderosa no mundo. Eles foram seduzidos pela serpente assim como uma terça parte das estrelas foi seduzida pelo dragão, ou seja, aqueles anjos que caíram com o diabo foram seduzidos por ele (Ap 12:4).

A ideia de pecado é a mesma coisa de errar o alvo. Nossos pais erraram o alvo quando quiseram ser iguais a Deus. Qual é o problema de querer ser igual a Deus? Este problema é grave, pois Deus sabe o que é o mal/mau, mas Ele não é mal/mau. Ele sabe o que é mal/mau, mas não no mesmo sentido que sabemos o de sermos maus, pois ele não é isso. Adão e Eva não sabiam o que era o mal/mau. A tentativa de querer ser como Deus é um fracasso. É um


12 entendimento errado de como as coisas devem ser. Deus conhece todas as coisas e não fez o homem para ser igual a ele (Sl 8). O fato de sermos criaturas prova o quão frágeis e limitados somos. Nossos pais por um momento quiserem ser independentes e isso os levou ao fracasso. Eles pensaram que tinha chegado a ser alguma coisa superpoderosa no mundo. A queda se dá pelo fato de o ser humano ter uma mente deturpada de si mesmo. Ele corrompeu o sentido para o qual foi criado. Ele quis a glória para si (Jo 8:).

O mal O mal é uma contradição do bem. Quando o homem pensou em ser como Deus, ele deturpou o sentido de sua vida. Pensar que podemos ser como Deus é também pensar que podemos ter o controle de todas as coisas, ser o senhor do universo e poder fazer coisas incríveis. Por que o diabo induziu nossos pais a quererem ser como Deus? Ele teve a mesma tese quando pensou que poderia ser o senhor de todas as coisas. Ele se encheu de arrogância e quis ser mais elevado do que Deus. Não é à toa que usou ele desta falácia para induzir Adão e Eva ao erro e pecar contra o Senhor. O mal está em se rebelar contra o bem. Eu imagino algumas coisas na tática de Satanás para enganar aquelas duas criaturas únicas no mundo, pois:

1. Eles eram seres perfeitos. Adão e Eva podiam dizer que gozavam de perfeição, que eram verdadeiramente bons por natureza. O diabo também já foi perfeito.

2. Eram ricos em comunhão com Deus; não havia inimizade entre nossos pais e Deus. O inimigo de nossas almas também já gozou de comunhão com Deus.

3. Nossos pais eram livres. Eles sim gozavam de livre arbítrio. O diabo também já foi livre e gozou de livre arbítrio.

4. Adão e Eva eram felizes de verdade no Jardim do Éden. Satanás também já foi isso um dia.

5. Não havia demência em nossos primeiros pais assim como não havia no diabo quando foi criado, pois ambos foram criados perfeitos.

O diabo foi sagaz ao levar o homem a pecar contra Deus. Ele os fez distorcer todo o sentido da vida deles, o propósito para o qual foram criados. Ele também já gozou de todos os bens que Adão e Eva provaram. Ele já foi tudo o que eles já foram e teve os mesmos prazeres que eles tiveram. Agora, o que leva alguém entrar em crise com Deus? Não será o fato de uma pessoa querer ser como Ele ou até mesmo tomar o trono do Altíssimo? As Escrituras dizem que Deus não divide a sua glória com ninguém (Is 42:8). Esta glória é o que é intrínseco de Deus, é o que Ele é por natureza, Senhor e Soberano sobre todas as coisas e cheio poder, força, glória e honra e isso Ele não divide com pecadores, Ele não dá às criaturas o direito de ser Deus também, pois Ele é único. Foi isso que o diabo quis e tentou fazer com que aquelas pessoas no Jardim do Éden fizessem também. Ele os induziu a serem como Deus, pois o que o diabo sempre quis foi ser como Deus. Nesta tentativa foi que nossos pais caíram de seu estado original. Eles se rebelaram contra Aquele que os fizera para dar ouvidos e cumprir os


13 caprichos do demônio. Eles deturparam o sentido da vida. E isso os levou a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nossos pais trocaram a verdade pela injustiça (Rm 1:18). A ira de Deus também se revelou pelo fato de eles terem feito isso.

O que a cobiça gerou Tiago escreveu: “Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz ao pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera morte” (Tg 1:15). Quando olho para estas palavras lembro bem do que já falamos até aqui sobre o pecado no Éden. Como já vimos, as pessoas estão acostumadas a pensarem no pecado original como sendo apenas o de Adão e Eva terem pegado o fruto e comido dele. Nunca veem a parte mais profunda do que foi o pecado deles. Veja bem o que Tiago está enfatizando. Ele está tomando a ideia de uma mulher grávida que dá a luz a um filho. A cobiça é a mulher e o pecado é o seu fruto, mas ambos são maus, são pecado. A cobiça é o desejo mal de querer ter o que não é permitido. Podemos entender a questão desse jeito: Adão e Eva desejaram (cobiçaram) o fruto pecaminosamente e, logo em seguida, comeram. A cobiça deles deu a luz ao pecado, ou seja, tornou-o evidente aos olhos de todos. Lembre-se que a cobiça em si já é o pecado em ação. Como que este pecado poderia se tornar visível aos olhos do diabo? Se aquelas pessoas comecem dele. Dar a luz ao pecado é a mesma coisa que torná-lo visível aos nossos olhos. Aos olhos de Deus, que conhece o coração do homem, tudo já estava claro às suas vistas. Eles tornaram a queda um ato real (exteriormente) quando comeram o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deixe-me tentar esclarecer este ponto de outro jeito.

Tornando o pecado visível aos nossos olhos Quando nós queremos cometer algum pecado pensamos em como vamos fazer aquilo. Maquinamos em nossa mente como aquilo poderá ser proveitoso para nós. Isso é o que está concebido em nosso coração. Isso já é pecado. Mas eu posso tornar este pecado mais evidente para mim, pois só o desejo não basta, é necessário que eu cometa o que estou desejando fazer. Isso é o que vem a ser luz, ou seja, gerado. Minha cobiça ou desejo maldoso gerou o que eu tanto desejei. É isso que Tiago está dizendo. Ele usa a metáfora que ilustra como o pecado entrou no mundo e se tornou visível para todos. Disso aprendemos, também, que quando pensamos em querer, cobiçosamente, o que não podemos ter, é pecado, e que este pecado se torna evidente quando o tornamos visível, quando fazemos que o nosso pecado se torne mais grave do que já está em nosso coração.

A resposta Começamos este estudo com uma pergunta que foi: “No que consiste a Queda?”. Já achamos a resposta bem lá no início e fomos, durante todo o estudo, analisando essa questão, mostrando o que foi o pecado de nossos primeiros pais. Podemos, novamente, dar esta resposta para enfatizar. O pecado de Adão e Eva consistiu na desobediência. Eles desobedeceram à ordem de Deus que disse que eles não comecem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O que levaram eles a comer daquele fruto? Em primeiro lugar, houve a indução do diabo e depois, em segundo lugar, a sua cobiça, para, então cometerem o ato de comerem o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.


14 O que aprendemos do estudo? Podemos aprender neste primeiro estudo que a cobiça é um desejo pecaminoso, e que quando Deus coloca o mandamento de não cobiçarmos Ele está querendo nos livrar de males ainda maiores. A cobiça levou o primeiro homem e a primeira mulher a quererem ser como Deus assim como nos leva a querermos ser como Deus. A cobiça é a mãe de todos os outros pecados. Pela cobiça podemos querer ser um deus, matar uma pessoa, desejar a mulher ou o homem do próximo, roubar, etc. A cobiça nos levará a lugares que parecem ser bom, pois na ida passamos por paisagens maravilhosas, mas o seu fim é a condenação, é um lugar tenebroso, escuro, cheio de demônios ao redor nos agonizando. Podemos pensar em ter muitas coisas pela cobiça. A primeira vista nossos pensamentos podem parecer serem bons, pois estamos sentindo prazer em pensar em coisas que estão nos trazendo uma sensação do alívio e de bem-estar, mas isso vai dar em coisas erradas, coisas que não podem jamais agradar a Deus. A cobiça é um pecado horrível, por isso devemos fugir dela. O desejo, em si, não é uma coisa ruim, mas a cobiça é.

A partir de agora vamos tratar dos nossos desejos e vontades e ver no que homem se tornou por causa do seu pecado. Fuja da cobiça. Peça a Deus desejos por coisas santas.


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Parte 3 Os frutos da Queda


16 Até aqui estudamos sobre como aconteceu a queda do ser humano. Vimos então o que levou nossos primeiros pais, Adão e Eva, a desobedecerem e pecarem contra o Senhor, preferindo seguir sua cobiça a permanecer obedientes a Deus (Gn 3:1-6). Respondemos a primeira pergunta de nosso estudo que foi: “No que consiste a Queda?”. Agora responderemos o que dizem as perguntas 2 e 3, que são: “Quais são os frutos da Queda na vida do ser humano?” e “Qual é o estado do homem agora diante de Deus?”.

No estudo anterior vimos que devido o desejo pelo fruto proibido, Adão e Eva desobedeceram a Deus e caíram de seu estado original, de sua retidão moral e espiritual. Se eles caíram daquele estado de retidão, qual é a situação deles agora diante de Deus? Quais são os resultados da Queda do ser humano? Nós só estudamos o que consiste a queda, mas não vimos os seus resultados, os frutos da desobediência de nossos pais. É necessário, se quisermos entender o que está acontecendo no mundo, estudarmos sobre este assunto. As pessoas deixam de lado esta parte importante da história, mas ela é de total importância em nossas vidas, pois trata da nossa história, que é desde sempre a história de Deus.

Nossa segunda pergunta então é: Quais são os frutos da Queda na vida do ser humano?

Quanto ao ser humano: a morte e a perda da comunhão com Deus; escravidão ao pecado e perda da sua liberdade; alienação [debilidade e decadência mental]; perda do paraíso e do acesso à Árvore da Vida.

As consequências da Queda atingiu também a Criação, e são: a morte; corrupção do mundo pelo pecado; maldição: nasceram-lhe espinhos e abrolhos; os animais se tornaram agressivos e mudaram o seu modo original de agir; a natureza sofre e geme aflições. Toda a Criação sofreu o impacto da Queda, por isso está também escravizada ao pecado e aguarda a sua redenção na vinda do Senhor Jesus (Rm 8:19-22).

1. A MORTE E A PERDA DA COMUNHÃO COM DEUS

A morte é em si a perda comunhão com Deus, é a separação do homem de Deus, e foi a primeira das consequências do pecado de Adão. Deus disse a Adão que no dia em que ele comece do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele morreria (Gn 2:16,17). Nós podemos notar nas Escrituras que a morte se apresenta de três formas.

1. A morte espiritual: quando Adão e Eva pecaram contra o Senhor, eles não morreram fisicamente de imediato. As Escrituras mostram que o homem sem Cristo está morto espiritualmente (Ef 2:1; Mt 8:22). A morte espiritual é aquela que diz que o homem perdeu sua comunhão com Deus, ela é a quebra da amizade do homem com Deus. Todos nascemos em pecado e mortos em delitos e pecados (Sl 51:5; Cl 2:13), separados de Deus (Is 59:2), sem comunhão com o Criador. Embora sejamos criaturas de Deus, não nascemos como seus filhos (Jo 8:39-44; 1 Jo 3:2,7-10). Na morte espiritual vemos que o homem é, por natureza, inimigo de Deus, ele odeia a santidade de Deus e por isso vive uma vida de orgulho e devassidão (Rm 3:10-18; 5:10; Ef 2:2,3).


17 2. A morte física: é outro fato revelado na queda do homem. A morte física se tornou algo de todo ser humano (Rm 5:12). Todos somos passíveis de morte, iremos para o pó, pois de lá viemos e para lá voltaremos (Sl 49:12-14; Ec 3:19; Rm 1:32; Hb 9:27).

3. A morte eterna: é a punição do pecado. A morte eterna é vista no julgamento de Deus sobre os incrédulos. Ela é o castigo do pecado e imediatamente do pecador que permanece em seus pecados. O salário do pecado é a morte (Rm 6:23) e o que o pecador receberá, justamente, será a punição eterna pelos seus pecados, por sua vida de desonra a Deus (Mt 24:51; 25:30, 46).

Estes são os três tipos de morte apresentados na Bíblia. O castigo para o pecado é punido na pessoa do pecador, que é quem vive na prática do mal e merece ser punido de morte eterna. Esta foi a causa primária do pecado de Adão. Ele passou a ser um morto espiritual no mundo e perdeu sua comunhão com Deus, o seu Criador.

2. A ESCRAVIDÃO AO PECADO E A PERDA DA LIBERDADE

Por causa do pecado, o homem se tornou escravo do mal e perdeu sua liberdade. O que muitos chamam de livre arbítrio, somente Adão já teve um dia. No século IV teve uma discussão sobre este assunto. Agostinho de Hipona, mais conhecido como Santo Agostinho, foi quem debateu contra o ensino de que o homem tem livre arbítrio. O debate continuou e continua até os nossos dias. Durante o período da Reforma Protestante, o debate foi reacendido e Martinho Lutero escreveu um tratado refutando os pontos de vista levantados por Erasmo de Roterdã. Lutero defendia o mesmo ponto de vista de Agostinho e que dizia que o homem não tem liberdade de escolher o bem espiritual, pois este era mal por natureza e morto em seus delitos e pecados.

O que gira em torno do debate é se o homem pode ou não escolher ser salvo e se ele tem livre arbítrio para o escolher fazer o bem e o mal. Segundos os semipelagianos e arminianos, todo homem nasce com livre arbítrio, ele pode escolhe se quer ou não ser salvo. Embora este assunto seja longo, vamos estudar apenas algumas coisas. Nosso estudo será muito resumido.

O QUE É O LIVRE ARBÍTRIO

Existem várias respostas, mas vamos ver o que diz o arminianismo e o calvinismo. Os textos que usarei foram extraídos da revista Fé para Hoje, Editora Fiel, ano 2003, n° 20, pag. 19-20.

Arminianismo: “Embora a natureza humana tenha sido gravemente afetada pela Queda, não foi deixada em um estado de total incapacidade espiritual. Deus graciosamente capacita cada pecador a se arrepender e crer, mas Ele não interfere na liberdade do homem. Cada pecador possui uma vontade livre e seu eterno destino depende de como ele a utiliza. A liberdade do homem consiste em sua habilidade de escolher o bem, em lugar do mal, nos assuntos espirituais. A vontade do homem não está escravizada à sua natureza pecaminosa. O pecador tem o poder de cooperar [aqui está o ensino da graça preveniente – grifo meu]


18 com o Espírito de Deus e ser regenerado ou de resistir a graça de Deus e perecer eternamente. O perdido necessita da assistência do Espírito Santo de Deus; todavia, ele não tem de ser regenerado pelo Espírito Santo, antes que seja capaz de crer, pois a fé é um ato humano e precede o novo nascimento. A fé é um dom do homem para Deus; é a contribuição do homem para a sua salvação”.

Calvinismo: “Por causa da Queda, o homem é, por si mesmo, incapaz de crer de maneira salvífica no evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus; seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, está em escravidão à sua natureza pecaminosa; por isso, ele não escolhe – e realmente não pode escolher – o bem, ao invés do mal. Consequentemente, é necessário muito mais assistência do Espírito Santo, para trazer o pecado a Cristo; é necessário acontecer a regeneração por meio da qual o Espírito Santo vivífica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem contribui para salvação; pelo contrário, é uma parte do divino dom da salvação. A fé é um dom de Deus outorgado ao pecador, não é um dom do pecador para Deus”.

Segundo o dicionário: o livre arbítrio é a “possibilidade de decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante”.

O que as Escrituras dizem a respeito do homem:

1. Que todo ser humano nasce no pecado e já é pecador (Gn 8:2; Jó 14:4; Sl 51:5; 58:3);

2. Não há quem faça o bem, quem busque a Deus; que não há temor de Deus diante dos olhos dos homens (Rm 3:10-18; Sl 14:1);

3. O ser humano é escravo do pecado (Gn 6:5; 8:21; Jo 8:34; Rm 6:17-22; Ef 2:2,3; Ef 4:1719);

4. O homem natural está morto em seus delitos e pecados – mortos não tem liberdade de escolha (Ef 2:1);

5. O ser humano não pode ser salvo por fé humana ou por obras (Jo 3:3-8; Jo 5:39-40; Jo 6:44; Rm 3:20,21; Gl 2:16);

6. O homem sem Cristo é inimigo de Deus e está sob a tutela do diabo (Rm 5:10-11; Jo 8:44; 2 Co 4:4; Ef 2:2; 1 Jo 5:19);

7. As Escrituras dizem que o homem natural não compreende as coisas de Deus (1 Co 2:14).

8. Existe uma cegueira espiritual no homem que está morto em seus pecados (2 Co 4:4).

Pela Bíblia, vemos que todos os homens sem Cristo estão destituídos da glória de Deus


19 (Rm 3:23). Todos estão sem entendimento correto do Senhor, pois estão mortos em delitos e pecados (Cl 2:13). O homem natural odeia a santidade de Deus, pois pra ele o que vale é viver do seu jeito e não da maneira que o Senhor estabeleceu. Ele não pode dizer que é livre, pois vive escravizado ao pecado. Ele só pode pensar de acordo com a sua natureza pecaminosa e sem Deus (Ef 3:2,3; 4:17-19). O homem natural não é livre, é um escravo do pecado e do diabo.

Como podemos dizer que temos livre arbítrio se não podemos agir contrário à nossa natureza corrupta? Como alguém tem livre arbítrio se não consegue deixar de pecar? Esse é o problema daqueles que dizem que o homem possue em si uma vontade competente para buscar a Deus. Ora, é verdade que os homens são religiosos, mas isso não pode ser um meio para dizer que eles têm liberdade de escolher se estão com Deus ou não, pois eles mesmos repudiam a Deus (Rm 1:20-23). Os sistemas de ensino arminiano e semipelagiano são muito débeis quanto a isso, pois querem fazer da vontade humano algum tipo coisa valiosa que o homem tem e que isto é um meio pelo qual ele pode se achegar a Deus. O deus deles é o Livre Arbítrio que mostra o quão débeis são suas ideias. Este ponto de vista é inteiramente humanista e não tem conteúdo bíblico para que se sustente. Os arminianos enaltecem no homem algum tipo de glória. Eles são bem semelhantes àqueles fariseus que gostavam da glória que vinha dos homens (Jo 12:43). Embora os arminianos sejam nossos irmãos, estão muito errados quanto a este ensino fútil.

Algumas perguntas podem ser feitas àqueles que aderem a crença no livre arbítrio: o ser humano pode fazer alguma coisa fora de sua natureza corrupta, ou seja, ele pode agir sem ela se quiser? Se ele é livre para decidir fazer o mal ou não, ele consegue agir sem sua natureza má já que tem livre arbítrio? Se ele tem livre arbítrio ele pode deixar de ser mal? Como o homem pode decidir ser ou não mal se ele já é em si mau/mal?

Esta foi uma das causas da queda do homem: ele perdeu sua liberdade em Deus e se tornou escravo do pecado e do diabo. Ele não pode ter comunhão com Deus no estado em que se encontra. É necessário um substituto. Pra quê? Pra que possa pagar o preço pelos seus pecados. E não há remissão de pecados sem derramamento de sangue (Hb 9:22). Deus não tem comunhão com pecadores sem um mediador puro que os limpe de seus pecados e por meio de quem eles sejam aceitos diante de Deus. Pelas Escrituras aprendemos que o homem é mal por natureza e não aceita as coisas de Deus (Jo 5:39-40).

Os homens não têm livre arbítrio. Eles têm arbítrio, ou seja, vontades, mas não uma vontade livre para praticar o bem, pois sua vontade está escravizada ao pecado, a serviço dos caprichos do diabo. Mesmo os que já nasceram de novo não possuem livre arbítrio, pois sua vontade ainda está contaminada pelo pecado.

O que quer dizer que ele não tem vontade livre para fazer o bem? O homem não tem poder para fazer o bem em sua totalidade, ou seja, na sua mera bondade, há malignidade, portanto, isso é mal quando apresentado diante de Deus em termo de capacidade de justificação e salvação. Espiritualmente, ele não pode fazer o bem, pois suas


20 obras não justificam que ele merece ser salvo ou que é digno da graça de Deus. As “boas obras” dos homens não regenerados em certo ponto são boas e consideradas diante de Deus como algo bom, mas não são suficiente para agradar a Lei de Deus. Elas são boas do ponto de vista natural, pois é uma obra considerada boa. Por exemplo: quando alguém ajuda outra pessoa. Este é um ato de misericórdia, mas este mesmo ato não é suficiente para agradar em termos de salvação, pois é insuficiente para isso. Deus não pode aceitar isso como um meio de salvação. Embora as obras dos homens não regenerados às vezes sejam, do ponto de vista natural, boas, elas não agradam às exigências da Lei de Deus, pois estão sem ação santificadora do Espírito Santo, portanto, são boas para certa finalidade, mas não para salvação do homem. Ainda que tem a questão de que a finalidade daquela obra não é para glória de Deus, mas autoglorificação do ser humano caída em pecados.

As obras dos homens não regenerados embora sejam em termos naturais boas, não podem agradar a Deus no sentido para sua salvação. Vemos que Paulo disse que os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8:7-8). O homem está destituído da glória de Deus (Rm 3:23), ou seja, do entendimento correto de Deus e de sua graça especial, embora seja mantido pela graça comum. Concluindo este ponto: ele não pode fazer nenhum bem espiritual, pois está morto em seus delitos e pecados (Ef 2:1; Cl 2:13), ele é inimigo de Deus (Rm 5:10) e não pode fazer nada quanto a sua salvação, pois sua vontade está escravizada ao pecado (Rm 6:20).

Livre agência Por último, existe uma distinção pregada no meio reformado que diz que o homem não tem livre arbítrio, mas sim livre agência. Isso significa que ele, o homem, age livremente de acordo com a sua vontade. Seus desejos e afetos estão ligados à sua natureza má, por isso, ele só age de acordo com sua natureza corrompida pelo pecado. Ele é livre, neste sentido, para agir, mas só de acordo com a sua natureza. O homem pode agir, mas não é livre do seu pecado. Ele age sempre como pecador. Mesmo sendo regenerado, continua com a natureza pecaminosa e agindo de acordo com ela, mesmo que agora ele tenha uma disposição santa e vontades santificadas pelo Espírito Santo.


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Parte 4 A culpa é de quem?


22 Até aqui falamos sobre o livre arbítrio e que devido queda, o homem perdeu isso. Ou seja, não existe mais liberdade para o homem, ele está escravizado ao pecado e morto espiritualmente. Vimos o que o pecado fez na sua vida do ser humano: tirou sua liberdade, trouxe morte, destruição, inimizade entre ele e Deus, etc. Agora vamos estudar sobre a alienação que o pecado trouxe ao homem. É importante ressaltar mais uma vez que Deus fez o homem perfeito, livre, sem pecado, com vida abundante, o homem era amigo de Deus antes da Queda. Isso deve ser deixado claro toda vez que estudamos sobre a doutrina da Depravação Total. Esta é a penúltima parte sobre esta doutrina, e é importante que agora vejamos o pecado se alastrando na vida do ser humano pra entendermos o porquê de somente Cristo poder salvá-lo.

Quando lemos Gênesis 3 notamos as consequências do pecado de Adão e Eva sendo mostradas de um modo às vezes imperceptível por muita gente. Nós, na maioria das vezes estamos acostumados a ler este capítulo muito rapidamente porque queremos em um ano ler a Bíblia toda, então não paramos pra analisar o que está acontecendo mesmo no capítulo. Digo que esta é uma das partes mais chocantes das Escrituras, e mais empolgantes para estudar. É uma parte das Escrituras, assim como muitas outras, que merece que façamos um pit stop para analisarmos os detalhes desta obra fantástica. Gênesis 3 é, sem dúvida, um capítulo rico em conteúdo. Daqui podemos aprender basicamente tudo o que há na Bíblia, pois é por aqui que começa a questão do pecado e da salvação do ser humano. É realmente fantástico.

Durante os estudos fiz algumas perguntas e foram tais, como:

1. No que consiste a Queda? 2. Quais são os frutos da Queda na vida do ser humano? 3. Qual é o estado do homem agora diante de Deus? 4. E: O que é necessário fazer diante dessa situação?

Respondemos duas perguntas até agora e estudamos sobre “Quais são os frutos da Queda na vida do ser humano?”, que dividimos em algumas partes tratando do que aconteceu, mas faltou tratarmos de algumas questões. Agora trataremos dos assuntos: “Alienação [debilidade e decadência mental]; perda do paraíso e do acesso à Árvore da Vida”. São dois temas difíceis. Na realidade, este capítulo envolve muitos temas difíceis e é preciso bastante tempo para estudarmos todos eles. Não me ocuparei, por enquanto, em fazer isto, mas só em mostrar algumas coisas referentes à Queda do ser humano. Vamos em frente.

ALIENAÇÃO: DEBILIDADE E DECADÊNCIA MENTAL E a perda do paraíso e do acesso à Árvore da Vida

O tema que escolhi pra esta aula se encaixa muito bem agora, mesmo sabendo que vamos falar sobre a debilidade da mente do homem e da sua expulsão do Éden. Parece um tema engraçado, mas espero que nos ajude a entender o porquê escolhi. Isso é devido ao que aconteceu depois que nossos pais pecaram.


23 A cena que vamos ver neste capítulo é muito interessante e, porque não dizer, engraçada. É interessante notar que Deus, que é onisciente, pergunta onde estava Adão. Deus sabia onde ele estava, mas, mesmo assim, as Escrituras usa uma linguagem muito próxima da nossa para nos ensinar que Deus usa linguagens próximas a nós. Mas vamos começar pelo versículo 7.

Olhos abertos: nudez e vergonha (vs.7) Neste versículo Adão e Eva começam a sentir exteriormente os efeitos do pecado na vida deles. É aqui que começa a queda mental do ser humano. Deus fez o homem perfeito, e o sentimento de vergonha que ele teve demonstrou que ele descompreendeu o sentido para o qual foi criado. A sua nudez mostrou a vergonha que o pecado traz à vida do ser humano. Deus não os fez para sentirem vergonha um do outro, mas para serem felizes como eles estavam (Gn 2:25). É interessante que sentimos vergonhas de estarmos nus diante de uma pessoa e às vezes achamos que seria uma ofensa estar nus aos olhos de Deus. Muitas pessoas pensam que Deus pode sentir algum desejo estranho ou sentir-se envergonhado se ele ver alguma pessoa nua. É importante ressaltar que Deus não é como nós. Ele não é santo porque está se santificando, Ele é santo porque é em si mesmo por natureza (Is 6:1-3). Outras pessoas pensam que Deus não está conosco quando estamos em momento de banho ou necessidade no banheiro, pois ele não pode fazer isso devido estarmos nus. Este pensamento alienado sobre Deus é justamente devido à queda do homem. Deus não sente prazer pecaminoso em nos ver nus. Não é próprio da sua natureza este tipo de coisa. A vergonha de Adão e Eva se dá justamente pelo fato de eles acharem que Deus não poderia vê-los nus, pois seria uma vergonha e desrespeito. A alienação humana começa nisso, pelo fato de eles pensarem que Deus sentiria algum pavor de vê-los daquele jeito. E isso resultou em eles estarem atentos para duas coisas.

1. O versículo começa dizendo que “abriram-se os olhos de ambos”. Esta ênfase mostra que eles perceberam o que tinham feito. Eles chegaram à conclusão de que desobedeceram a Deus e por isso sentiram vergonha um do outro e medo de Deus.

2. O pecado de ambos fez com que sentissem vergonha um do outro, isto é, aconteceu uma deturpação no modo do ser humano pensar a respeito um do outro. No Antigo Testamento nudez está ligada a necessidade, vergonha e humilhação (Gn 9:23; Êx 20:26; Dt 28:48; Is 47:3; Naum 3:5). Sentir vergonha um do outro mostrou que eles já não entendiam o porquê e pra quê foram criados. Foi isso que os levou a cozerem folhas de figueira e fazerem cintas para si.

Aprendemos que o pecado deturpou a mente do ser humano levando-o sentir vergonha de si mesmo e do seu próximo. Isso prova que o pecado estava fazendo efeito na vida de Adão e Eva, assim como faz na vida dos seus descendentes. Foi aqui que começou o mundo da moda, pois a partir surgiram as roupas. Isso que digo é só pra descontrair.

Se escondendo de Deus (vss.8-10) Outra coisa que aconteceu devido eles perceberem o seu pecado, foi se esconderem de Deus. Com isso aprendemos que o pecado afastou a criatura do Criador. A maneira como Adão e


24 Eva pensaram em resolver o problema que haviam causado foi vergonhoso. Você conhece uma pessoa que quando erra não sabe como admitir o seu erro, mas ao invés disso fica se escondendo da pessoa a quem cometeu o erro? Há pessoas que erram com as outras e quando sabem que erraram ficam com vergonha de ver a outra contra quem cometeu o erro. Isso se dá devido desde o Éden o ser humano ter aprendido a fugir dos outros quando erra. É alguém que está devendo uma dívida e não quer ver o sujeito a quem está devendo. Pessoas assim se sentem envergonhadas e se escondem porque sabem que estão erradas e não sabem como resolver o problema, pois são velhacas. É uma vergonha quando temos de fugir das pessoas por causa dos nossos erros. Ficamos pensando o que dizer àquelas pessoas, mas não sabemos como resolver isso.

Estes simples fatos nos ensinam que os nossos pais não sabiam o que fazer a não se esconder de Deus. Eles ficaram tão envergonhados de si mesmos e com Deus, que se esconderam atrás das árvores do jardim. O que levariam eles a pensarem em fazer isso? Talvez o pensamento deles já não fosse mais: “Deus é nosso pai, Ele nos ama e nós o amamos”, mas sim: “pecamos contra o Senhor, e agora, o que vamos fazer?”. Nossos pais decidiram fazer isso devido se sentirem culpados diante de Deus. Pra que eles pudessem sentir isto eles deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A maneira do ser humano querer se resolver diante de Deus é se escondendo dele, assim como aconteceu no Éden. Esta deve ser uma maneira dos homens sem Cristo quererem resolver o seu problema diante de Deus. Eles não querem saber de Deus, mas se escondem dele como se Ele tivessem alguma culpa do estado em que estão. No Jardim do Éden o ser humano aprendeu que para resolver o seu problema diante de Deus ele não precisa de um mediador, mas viver a sua vida do seu jeito, fugindo da Santidade de Deus, pensando que a sua vida desregrada agrada a Deus. O que é mais incrível é que Adão e Eva só perceberam que estavam errados depois que comeram do fruto, depois que, prazerosamente, comerem e se saciaram daquele alimento que parecia ser mágico. Eles não tiveram os olhos abertos e perceberam que tinham errado quando estavam se deliciando em seu pecado. Assim acontece com todos. Quando estamos cometendo um ato pecaminoso, não queremos saber da sua consequência, mas sim de provar até o fim o gosto delicioso do pecado. Aprendemos duas coisas aqui:

1. A maneira dos homens se esconderem de Deus é vivendo sua vida do jeito que querem viver. Eles odeiam e sentem pavor da Santidade de Deus, por isso se escondem dele em sua vida devassa (Ef 4:17-19).

2. Os homens não gostam da ideia de Deus julgá-los, por isso se escondem dele em sua vida de pecado. Muitas pessoas acham que sendo boas, Deus vai perdoá-las de seus pecados. Esta é outra maneira de tentar fugir de Deus: sendo avesso ou alheio à vida de Deus e pensar que Ele no fim das contas vai demonstrar um ato de salvação para com o pecador.

O versículo 8 nos revela que aquelas pessoas estavam totalmente destituídas da glória de Deus (Rm 3:23). Os seres humanos já não demonstravam que amavam a Deus como Ele deve ser amado, mas suas atitudes demonstravam que eles estavam totalmente iludidos pelo pecado. Quando falamos de alienação, estamos querendo dizer que o ser humano não


25 consegue mais raciocinar perfeitamente. A mente do ser humano está corrompida pelo pecado e isso faz com que ele tenha uma visão errada de Deus. Por exemplo: as pessoas pensam que Deus tem de aceitar a vida devassa delas e quando Deus se apresenta para elas e diz quem é Ele, elas, as pessoas, não gostam que Deus seja quem Ele é, mas bem gostariam que o Senhor fosse do jeito que elas pensam que devesse ser (Ml 3:13-15).

Quando Adão e Eva se esconderam de Deus, quando Ele andava no Jardim pela viração do dia, o possível pensamento deles foi que Deus iria exterminá-los, castigá-los. É esta visão que muitos de nós também temos a respeito de Deus. Pensamos que Ele vai nos castigar e nos exterminar, pois embora o ser humano pense que Deus aceita seu modo de viver, ele vive entre duas maneiras de enxergar a Deus. Ele vê Deus como um liberal e o vê como um homem velho, de barba branco que vai punir a todos por tudo de errado que as pessoas fizerem. Este pensamento não está tão errado, pois Deus um dia vai julgar o mundo. Mas ela tem um lado errado, pois as pessoas só veem Deus como alguém carrancudo, irado, que castiga e castigo. Muitas vezes as pessoas o veem como uma pessoa boa, mas até esta visão é deturpada, pois elas não podem enxergar Deus sendo bom sendo quem Ele é, mas como o ser humano acha que Ele deve ser.

Depois que eles se esconderam, Deus chamou Adão e perguntou: “Onde estás?” Ele apareceu, e veja como foi a resposta dele: “Ouvi a tua voz no Jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi”. Por que eles se esconderiam de Deus? Qual o motivo de ele sentir medo de Deus? O que Deus tinha feito para eles? Por acaso o SENHOR tratou-os como seres ruins quando criou-os? Não. Deus fez o homem e o amou e lhe abençoou com toda sorte de benção. Não havia, antes, necessidade de eles sentirem medo de Deus. O medo faz com que não confiemos em Deus, mas nos afastemos dele (1 Jo 4:18). O pecado se mostrou até aqui de seis maneiras:

1. Levando nossos pais a abandonarem a Deus; 2. Fazendo com que eles perdessem a comunhão com o Senhor; 3. Tirando a liberdade deles e escravizando-os ao mal e ao diabo; 4. Levando nossos pais a sentirem vergonha de si mesmos e medo de Deus; 5. Ensinando a Adão e Eva fugirem e detestarem e terem medo a Santidade de Deus; 6. Fazendo com que eles tenham visões erradas sobre Deus.

A culpa é de quem? Quando Deus procurou Adão, ele, o homem, estava escondido. Aqui começamos a entender que o pecado arruinou a vida do ser humano. A partir daqui há uma confusão guiada pelo medo para saber quem tinha cometido o erro de pegar o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e comido. Adão logo culpou sua mulher, dizendo que tinha sido ela que tinha dado o fruto para ele comer. Em seguida, Eva culpa a serpente por ter enganado ela. A serpente não tinha a quem culpa, mas o seu plano deu certo. Eu imagino nesta cena que o diabo sorria por dentro ao ver Adão e Eva se borrando de medo e jogando a culpa um no outro. A maneira que Deus acaba com a confusão é ditando quais são as consequências do pecado de ambos.


26 As consequências 1. Da serpente: “Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:14, 15).

2. Da mulher: “E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3:16).

3. Do homem: “E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3:16-19).

4. A quarta consequência foi a expulsão do paraíso e a perda ao acesso da Árvore da Vida. Quando houver novos céus e nova terra o homem terá acesso, novamente, à Árvore da Vida que servirá para a cura dos povos (Ap 22:2,3). Vemos assim em Gênesis 3:22-24: “Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida”.

As consequências do pecado de nossos pais foram árduas, pois de Deus não se zomba (Gl 6:7). Ainda não tratamos sobre a redenção do homem e a promessa vista no versículo 15 deste mesmo capítulo. Isso fazeremos brevemente quando falarmos sobre a solução para o homem. Noutro estudo (sobre a Expiação Limitada) vamos falar sobre este assunto da redenção mais amplamente.

A Bíblia não aborda em um capítulo de uma vez por todas todos os males que o pecado trouxe ao ser humano, nós vemos isto enquanto vamos lendo ela. A Bíblia também não foi escrita para mostrar e dizer o nome das doenças, das catástrofes, das fraquezas do nosso corpo, etc., ela mostra que o pecado trouxe várias consequências. Deus deixou algumas coisas para o homem estudar e diagnosticar, embora seja ele mesmo quem dê o entendimento de cada coisa ao homem. Isso eu digo no sentido de que a Bíblia não é um livro de ciências, medicina, matemática, mas um livro divino que mostra Deus falando conosco o que o pecado fez na vida do ser humano e como ele pode ser salvo, embora fé e ciência andem juntas. Enquanto vamos lendo às Escrituras vamos aprendendo que o pecado tirou o sossego de cada ser vivo. O homem e a mulher, assim como os animais e a natureza sofrem de várias doenças, envelhecem e morrem.


27 O pecado acabou com boa parte do intelecto humano, tornando o homem num tolo, débil e inútil. Todos os pensamentos dos seres humanos sem Cristo são tolos, pois eles pensam que são os deuses deste mundo. O diabo conseguiu alienar o homem levando a pensar de modo contrário ao que ele pensava antes da queda. Adão não tinha uma mente quase perfeita, ele não lutava para usar 10% do seu cérebro, ele usava 100%, pois não tinha defeitos nele. Isso não quer dizer que ele não estudasse tudo ao seu redor. Ele com certeza estudava todas as coisas (Gn 2:15). Deus fez o homem perfeito, mas o pecado arruinou-o por completo. É isto que significa depravação total.


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SOBRE O AUTOR: ELVIS KELVIN É UM ESTUDANTE APAIXONADO DA PALAVRA DE DEUS. CRISTÃO REFORMADO/CALVINISTA. ATUALMENTE CONGREGA NA IGREJA PRESBITERIANA MEMORIAL DE CURRAIS NOVOS/RN, BRASIL, ONDE É LÍDER DE MOCIDADE (UMP); NAMORA COM BRUNA. É BRASILEIRO, ATUALMENTE MORA EM CURRAIS NOVOS, INTERIOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

"Ecclesia Reformata Et Semper reformanda Est" Gisbertus Voetius (1589-1676)


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