1 DARCY RIBEIRO Lúcia Velloso Maurício
Darcy Ribeiro nasceu a 26 de outubro de 1922 em Montes Claros, Minas Gerais, filho de Reginaldo Ribeiro dos Santos e Josephina Augusta da Silveira Ribeiro. Órfão de pai aos 3 anos, fez o curso primário e secundário em sua cidade natal. Segundo ele, a precariedade de sua formação escolar teve como conseqüência livrá-lo de qualquer reverência pela erudição. Em 1939, foi para Belo Horizonte preparar-se para o ingresso na Faculdade de Medicina. Seu desejo era encarnar o papel social e desfrutar o prestígio de seu tio: médico, político, fazendeiro e poeta. A boemia, a queda de Paris em mãos nazistas, o contato com os comunistas, as conferências na Igreja Positivista e os cursos que freqüentou na Faculdade de Filosofia transtornaram a cabeça de Darcy Ribeiro. Reprovado duas vezes na Faculdade de Medicina e recusado como raquítico pelo Exército, decidiu abandonar a medicina. Seu tio e tutor deserdou-o, pois recusou-se a assumir o papel de fazendeiro que lhe foi oferecido num dos maiores latifúndios de Minas Gerais. Em 1944, matriculou-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a convite do professor norte-americano Donald Pierson. Lá, passou a ter uma vida dupla: de um lado, o ativismo político com os comunistas, convivendo com Caio Prado Júnior, Jorge Amado, Oswald de Andrade entre outros; de outro, o funcionalismo operativo próprio da Escola de Sociologia, convivendo com Emílio Willems, Sérgio Buarque de Hollanda e, sobretudo, com Herbert Baldus, que o orientou para a vida de etnólogo de campo. Graduado em Sociologia com especialização em Etnologia em 1946, foi trabalhar com o Marechal Rondon como naturalista, na Seção de Estudos do Serviço de Proteção aos Índios em 1947, onde permaneceu até 1957. Nesse período, viveu, estudou e publicou diversos ensaios sobre os índios do Pantanal, da Amazônia e do Xingu. Em 1950, editou seu primeiro livro: Religião e Mitologia Kadiwéu, com o qual ganhou o Prêmio Fábio Prado de Ensaios. Em 1952, organizou, no Rio de Janeiro, o Museu do Índio, com grande repercussão internacional. Em 1954, elaborou o plano de criação do Parque Indígena do Xingu, aprovado pelo Presidente Getúlio Vargas. Com o suicídio de Vargas, Darcy
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2 Ribeiro tomou consciência de que as lutas reais se travavam no Brasil pelo trabalhismo, do qual se aproximou e a ele se manteve vinculado até o fim da vida. Em 1955, organizou, no Museu do Índio, com financiamento da CAPES, o primeiro Curso de PósGraduação em Antropologia Cultural. Nesse mesmo ano, assumiu a cadeira de Etnografia Brasileira e Língua Tupi da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Contratado por Anísio Teixeira, assumiu a direção da Divisão de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) do Ministério de Educação e Cultura, em 1957. Lá organizou um curso para formação de pesquisadores sociais, em nível de pós-graduação, abrangendo Antropologia e também Sociologia. Já como vicediretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e principal colaborador de Anísio Teixeira, dirigiu, no CBPE, um amplo Programa de Pesquisas Socioantropológicas, mobilizando os melhores cientistas sociais brasileiro e lançando a Revista Educação e Ciências Sociais. Participou ativamente, junto com Anísio Teixeira, da luta pela escola pública, procurando influir na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que tramitava na Câmara dos Deputados. Em 1959, foi eleito Presidente da Associação Brasileira de Antropologia. No mesmo ano, encarregado pelo Presidente Jucelino Kubitschek de planejar a Universidade de Brasília, organizou uma equipe de uma centena de cientistas, pesquisadores e pensadores, basicamente, entre os quadros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Escreveu uma paródia, a Segunda Carta de Pero Vaz de Caminha, em que pedia ao Presidente a criação desta Universidade. O pedido foi atendido em forma de mensagem presidencial enviada ao Congresso Nacional no dia da inauguração da cidade de Brasília. Confirmado na direção da Comissão de Estudos da Universidade de Brasília pelo Presidente Jânio Quadros, assumiu sua reitoria em 1961, quando essa Universidade (UnB) foi implantada pelo Presidente João Goulart. Em 1962, tornou-se Ministro da Educação e Cultura a convite de Hermes Lima, primeiro-ministro do Governo João Goulart. Como Ministro, pôs em execução o primeiro Plano Nacional de Educação, elaborado por Anísio Teixeira, com colaboração do próprio Darcy Ribeiro. Em 1963, foi nomeado Chefe da Casa Civil de João Goulart, com o incumbência de coordenar o Ministério e promover a mobilização nacional pelas Reformas de Base, especialmente a Reforma Agrária.
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Com o golpe militar de 1º de abril de 1964, após uma tentativa de resistência inútil, Darcy Ribeiro exilou-se em Montevidéu junto com Waldir Pires e João Goulart. Lá foi contratado como professor de Antropologia da Faculdade de Humanidades e Ciências da Universidade da República Oriental do Uruguai. A pressão da ditadura brasileira e a deterioração da democracia uruguaia tornaram o exílio dos brasileiros no Uruguai um confinamento e, a partir de 1966, Darcy Ribeiro foi impedido de sair de Montevidéu. Nesse período, dedicou-se integralmente à elaboração teórica de uma antropologia da civilização que explicasse o processo de formação e desenvolvimento desigual dos povos americanos. De longe assistiu à maior diáspora da vida acadêmica brasileira: 214 professores da equipe que contratara preferiram abandonar a UnB a conciliar com as propostas dos militares. Em 1968, logo após receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade da República Oriental do Uruguai, retornou ao Rio de Janeiro, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal anulara diversos processos que lhe haviam sido impostos pela ditadura militar. Com a promulgação do Ato Institucional nº 5, foi preso, passando nove meses no cárcere, metade na Fortaleza de Santa Cruz, do Exército, e metade na Ilha das Cobras, da Marinha. Durante sua prisão, foi publicado O Processo Civilizatório, esboço de uma teoria da história de uma perspectiva latino-americana, escrito no exílio no Uruguai. Em 1969, Darcy Ribeiro foi solto após ter sido absolvido por um tribunal militar. Pressionado pelo Exército, exilou-se novamente, dessa vez na Venezuela, onde foi contratado como professor pela Universidad Central de La República. Publicou, na Argentina, As Américas e a Civilização. Em 1970, coordenou o Seminário sobre Formação e Processo das Sociedades Americanas do 39º Congresso Internacional de Americanistas, realizado em Lima, no Peru. Nesse ano, lançou Os Índios e a Civilização. A convite de Salvador Allende, eleito presidente em 1971, Darcy Ribeiro foi para o Chile assessorá-lo nos seus esforços de realizar a transição para o socialismo, em democracia e liberdade. Assumiu, em Santiago, o cargo de professor pesquisador do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile. Publicou, em primeiramente na Itália, O Dilema Latino-Americano. No ano seguinte, mudou-se para Lima, a convite de Carlos Delgado, atraído pela oportunidade de ajudar o Presidente Velasco Alvarado do Peru a pensar uma revolução
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4 social conduzida por militares. Publicou, no Brasil, Os Brasileiros - Teoria do Brasil. Estava em Lima, trabalhando com Oscar Varsavsky e a equipe do Centro de Estudos da Participação Popular para construir um modelo cibernético de desenvolvimento social para a revolução peruana que atendesse as necessidades básicas da população dentro de prazos previstos, quando ocorreu o golpe militar no Chile em que Allende foi assassinado. Em 1974, após articulações junto aos militares, retornou ao Brasil para operar um câncer de pulmão. Curado, foi compelido a deixar o Brasil para um terceiro exílio, agora com um passaporte que lhe permitia voltar para exames médicos. Em 1976, ano de seu retorno definitivo ao Rio de Janeiro, publicou Maíra, seu primeiro romance. Nos anos seguintes, vieram a público UnB - Invenção e Descaminho e Ensaios Insólitos. Este último foi posteriormente reeditado, com cortes e acréscimos, sob o título de Sobre o Óbvio. Em 1979, ano em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Paris, no salão nobre da Sorbonne, foi anistiado e retornou ao cargo de professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ainda esse ano, associou-se a Leonel Brizola, para reorganizar o velho Partido Trabalhista Brasileiro. No ano seguinte, integrou a Comissão de Educadores, convocada pela UNESCO, para definir as linhas de desenvolvimento da cultura e da educação do mundo. Foi eleito membro do Conselho Diretor da Faculdade LatinoAmericana de Ciências Sociais - FLACSO. Publicou seu segundo romance, O Mulo. Em 1982, vitorioso, na chapa de Leonel Brizola, tornou-se Vice-Governador do Estado do Rio de Janeiro. No ano seguinte, já empossado, assumiu os encargos de Secretário de Estado de Cultura e de coordenador do Programa Especial de Educação. Nessas funções, construiu o Sambódromo, que, além de Palácio do Carnaval, abriga um complexo escolar público com capacidade para 5.000 alunos; erigiu o Monumento a Zumbi dos Palmares; implantou, sob a direção de João Filgueiras de Lima, Lelé, a Fábrica de Escolas, com o objetivo de construir prédios públicos, utilizando a técnica de argamassa armada, mais barata e mais rápida. Assim foram feitas 80 Casas da Criança, atendimento a pré-escolar em áreas carentes, efetivado pela integração de educadores do Estado e comunidade; e três Casas Comunitárias, cada uma delas, com assistência médica e alimentar a gestantes como também a crianças de 0 a 6 anos, para atender cerca de 500 famílias.
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Empreendeu um ambicioso programa de educação, implantando 117 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), destinados a dar educação de dia completo a cerca de 600 crianças e a receber 400 alunos à noite em programa de educação juvenil. Este projeto estava assentado na compreensão de que a escola deve oferecer à criança as condições de cidadania que nossa sociedade letrada de hoje requer, sob pena de exclusão: o domínio da leitura, escrita e aritmética; a integração da cultura local à cultura universal; a consciência de que a saúde é um direito; a convicção de que cultura e saúde são inerentes à vida do ser humano. Estes pressupostos levaram à formulação de uma proposta pedagógica que tinha no seu centro a integração de todos os fatores que participam da formação da criança: educação / saúde / cultura. Para executar essa proposta, concomitante à construção dos prédios projetados por Oscar Niemeyer, foi desenvolvido um grande esforço para a recapacitação do magistério. Esse programa foi deslanchado com a discussão de 45 teses publicadas no Jornal Escola Viva - Viva a Escola, ocorrida em cada escola do Estado do Rio de Janeiro, culminando com o Encontro de Mendes, onde representantes de todo o professorado do Estado apresentaram sugestões e críticas ao projeto constante das 45 teses. Darcy Ribeiro revelou sua preocupação com a ecologia tombando trinta quilômetros de praias do litoral do Estado do Rio de Janeiro. Construiu, ainda, a Biblioteca Pública Estadual do Rio de Janeiro, que coordenava o trabalho das bibliotecas dos CIEPs. Durante esses anos de intensa atividade, teve tempo para publicar seu terceiro romance - Utopia Selvagem. Publicou também Nossa Escola é uma Calamidade, Aos Trancos e Barrancos - Como o Brasil deu no que deu, O Livro dos CIEPs. Em 1986, foi candidato a governador pelo Estado do Rio de Janeiro. Derrotado, reintegrou-se ao corpo de pesquisadores do CNPq para concluir seus Estudos de Antropologia da Civilização. No ano seguinte, assumiu o cargo de Secretário de Desenvolvimento Social do Estado de Minas Gerais, na expectativa de lá implantar o programa de escolas de tempo integral. Frustrado, exonerou-se. Elaborou para o Governo do Estado de São Paulo a programação cultural do Memorial da América Latina, prédio cuja arquitetura é assinada por Oscar Niemeyer. Publicou um novo romance - Migo. Em 1989, participou da campanha eleitoral de Brizola para a Presidência da República, como candidato do PDT ao Senado,
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6 coordenando o Fórum Nacional de Debate dos Problemas Brasileiros, com o objetivo de formular o plano de governo. Foi reincorporado ao corpo docente da Universidade de Brasília, por ato ministerial, proposto pela universidade. Recebeu o título de Professor Emérito do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por deliberação unânime do Conselho Universitário. Em 1990, foi eleito Senador da República pelo Estado do Rio de Janeiro. No Senado, elaborou projetos de lei, emendas e pareceres, confirmando sua profunda preocupação com o povo brasileiro, sobre educação, reforma agrária, trânsito nas cidades, doação de órgãos entre outros. O projeto de lei do qual foi relator, sancionado como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, passou a ser conhecido como Lei Darcy Ribeiro. Este anteprojeto gerou grande discussão porque foi aprovado em oposição a outro - fruto de debates em diversos encontros acadêmicos - que tramitava na Câmara dos Deputados. Segundo Darcy Ribeiro, o projeto da Câmara “era mais a expressão de pensamentos desejosos do que um corpo de normas para estruturar o sistema nacional de educação”. Aproveitando a infra-estrutura do Senado, publicou 16
números temáticos da revista „ Carta ‟ , com objetivo de oferecer informação bem fundamentada sobre as correntes de idéias que circulam no mundo sobre temas específicos de interesse nacional. Durante seu mandato como Senador, colaborou com Leonel Brizola no seu 2º Governo do Estado do Rio de Janeiro, coordenando o 2º Programa Especial de Educação. A Secretaria Extraordinária criada para tal finalidade completou o programa de 500 CIEPs,
escolas de tempo integral, “condição indispensável
para que as
crianças
oriundas de famílias pobres, que não tiveram escolaridade prévia, completem o curso fundamental”.
Nessa
segunda
etapa,
a
preparação
do
professor
concentrou-se no Curso de Atualização de Professores de Escola de Horário Integral, para candidatos selecionados entre professores recém-formados ainda não pertencentes à rede pública. O aluno-professor permanecia 8 horas por dia no CIEP, metade em prática docente e metade em formação, alimentada por programas de televisão, textos teóricos e material didático. Em 1994, a implantação dos Ginásios Públicos (GP), partiu da convicção de que os cursos de Primeiro e Segundo Graus deveriam ser reformulados e estruturados em duas etapas de ensino, cada uma prevendo a terminalidade. A primeira, do 1º ao 5º ano de escolaridade, e a segunda, denominada Ginásio, do 6º ao 10º ano de escolaridade,
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esta com opção para horário integral ou meio turno. Seu término possibilitava ao jovem o ingresso no mercado de trabalho. Ao fim do Segundo Programa, estavam funcionando 68 Ginásios Públicos. Por fim, Darcy Ribeiro implementou, em Campos, a Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), que chamava de Universidade do Terceiro Milênio, tendo em vista seu objetivo de “dominar todo o saber e tecnologia mais avançada para habilitar o Brasil a realizar suas potencialidades no próximo século”. Esse segundo governo também mereceu seu olhar ecológico, colocando em andamento o projeto de recuperação de extensa área da Mata Atlântica, com o replantio da Floreta de Pedra Branca. Durante o ano de 1994, Darcy Ribeiro recebeu um diagnóstico de câncer de próstata, já com várias metástases ósseas. O tratamento de quimioterapia debilitou-o tanto que terminou o ano numa UTI para livrá-lo de uma pneumonia que quase o matou. Sabendo que tinha pouco tempo de vida, Darcy Ribeiro praticamente impôs a saída da UTI tal sua gana para terminar o livro que escreveu e reescreveu durante 30 anos: seu último trabalho de antropologia - O Povo Brasileiro. A série completa de seus estudos de antropologia reúne mais de 2 mil páginas, com mais de noventa edições, publicadas em seis línguas. Desincumbido da primeira tarefa, Darcy Ribeiro reassumiu a cadeira no Senado com o intuito específico de fazer tramitar, ver aprovar e publicar a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o que ocorreu a 24 de dezembro de 1996, 55 dias antes de sua morte. Nesses dois anos que se seguiram à saída da UTI, além de lutar pela aprovação da Lei Darcy Ribeiro (nº 9.394/96), concentrou-se em formular e abrir caminhos para a criação da primeira universidade aberta do Brasil, com cursos à distância através de canais de televisão via satélite e através da internet. Outro esforço seu foi deixar implantada a Fundação Darcy Ribeiro (FUNDAR), detentora de toda a sua biblioteca bem como a de Berta Ribeiro, e de seus direitos autorais, com sede prevista e já autorizada a ser construída no Campus da Universidade de Brasília. Dedicou-se também à articulação do Projeto Caboclo, plano alternativo de ocupação da Amazônia que prevê a instalação experimental de comunidades caboclas em áreas de mata, com o objetivo de preservar e explorar a floresta, “salvando seus povos, únicos capazes de viver dentro dela, vivificando-a”. Durante esse tempo, o lazer de Darcy foi escrever poesias. Nessa sua fase final de vida, Darcy Ribeiro foi muito prestigiado pela mídia e por várias instituições acadêmicas. Recebeu, com muita pompa, o título de Doutor
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8 Honoris Causa da Universidade de Copenhague. Com a emoção do reconhecimento, recebeu o mesmo título da Universidade de Brasília, na oportunidade em que lá esteve para batizar o Campus Universitário Darcy Ribeiro. Entre outras homenagens a que se refere que lhe deram grande alegria , estão a de ter recebido a medalha Haydée Santamaria de Fidel Castro, concedida a vinte intelectuais amigos de Cuba; a de ter se tornado imortal ao eleger-se para a Academia Brasileira de Letras, apesar de considerar que grandes intelectuais brasileiros não fizeram parte dela; receber o Prêmio Andrés Bello da Organização dos Estados Americanos, atribuído a eminentes educadores das Américas; finalmente, a Comenda Anísio Teixeira, concedida pela CAPES a cada cinco anos, além de reconhecê-lo como educador, perpetuou a vinculação de seu nome ao do seu mestre, Anísio Teixeira. Darcy Ribeiro foi uma personalidade pública polêmica. Nunca se enquadrou, no sentido estrito, ao papel atribuído ao intelectual no Brasil, sendo criticado e visto com reservas pela academia, que o considerava um político; entretanto, também não se amoldou à expectativa que se tem do político, tratado com descaso e desconfiança neste meio. Em suas palavras “(...) Pele que encarnei e encarno ainda, com orgulho é a de educador, função que exerço há quatro décadas. Essa, de fato, foi minha ocupação principal desde que deixei a etnologia de campo. (...)Outra pele que ostentei e ostento ainda é a de político. Sempre fui em toda a minha vida adulta um cidadão ciente de mim mesmo como um ser dotado de direitos e investido de deveres. Sobretudo o dever de intervir nesse mundo para melhorá-lo. (...) O Brasil não deu certo. Ainda não deu. Nossos intelectuais, por isso mesmo, são urgidos a tomar posição política. A miséria é grande demais para que possam ficar alheios.(...) É para lutar contra isso que faço política, movido por uma motivação essencialmente ética. Nunca fui um indiferente, ao contrário, meu pendor é para a indignação ante toda injustiça”. O texto denominado Loa, publicado em 1979 na Argentina, além de ser um exemplo da irreverência de Darcy Ribeiro, resume o que ele próprio considerou mais importante em sua vida pública até aquele momento. “Lendo-o, ninguém duvida de que o texto, embora escrito em terceira pessoa, seja meu. A prosápia e o estilo são inconfundíveis.” “Darcy Ribeiro, escorpião, gosta de dizer que é mineiro de Montes Claros, a melhor cidade do mundo (a avenida principal tem o nome da mãe dele: Mestra Fininha). Depois de nascer de parto natural (dizem que foi fundado, mas não é verdade), cresceu e fez as bobagens habituais.
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9 Moço já, quis muito ser médico, mas acabou antropólogo. Como tal, passou os dez melhores anos de sua vida (1946-1955) dormindo em rede nas aldeias indígenas da Amazônia e do Brasil Central e assessorando Rondon no Rio de Janeiro. Fundou o então Museu do Índio e o dirigiu alguns anos. Esforçou-se muito, nesta quadra, sem nenhum êxito, para formar antropólogos melhores. Criou para tanto o primeiro curso brasileiro de pós-graduação para antropólogos; o qual, aliás, frutificou prodigiosamente. Depois, seduzido por Anísio Teixeira, virou educador e fez carreira como educador, reitor e, afinal, ministro (1955-1964). Topou aí com Jango, que o desencaminhou para as tentativas de promover a reforma agrária e conter a ganância das multinacionais. Foi um desastre. Exilado, virou latino-americano e passou muitos anos (1964-1975) remendando universidades no Uruguai, na Venezuela, no Peru e até na Argélia. Nesses anos escreveu demasiados livros, que andam sendo editados mundo afora. (...) Estava Darcy nestes trabalhos, quando caiu do cavalo e deixaram que tornasse ao Brasil. Retornou, sempre disposto a cheirar ou feder, conforme o nariz.”
Bibliografia Básica ANTROPOLOGIA: Kadiwéu - Ensaios Etnológicos sobre o Saber, o Azar e a Beleza. Rio de Janeiro, CNPI, 1ª ed. 1950. O Processo Civilizatório - Etapas da Evolução Sócio-Cultural. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1ª ed. 1968. As Américas e a Civilização - Processo de Formação e Causas do Desenvolvimento Cultural Desigual dos Povos Americanos. Rio, Edit. Civilização Brasileira, 1ª ed. 1970. O Dilema da América Latina - Estruturas de Poder e Forças Insurgentes. Cidade do México, Siglo XXI, 1ª ed. 1971. Os Brasileiros - 1. Teoria do Brasil. Montevideo, Arca, 1ª ed. 1969. Os Índios e a Civilização - a Integração das Populações Indígenas no Brasil Moderno. Rio, Editora Civilização Brasileira, 1ª ed. 1970. Configurações Histórico-Culturais dos Povos Americanos. Havana, Pensamiento Crítico, 1ª ed. 1971. O Povo Brasileiro - A Formação e o Sentido do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. O Brasil como Problema - Rio de Janeiro, Editora Francisco Alves, 1995. Diários Índios. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. EDUCAÇÃO: Plano Orientador da Universidade de Brasília. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1962. A Universidade Necessária. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1ª ed. 1969.
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Propuestas - Acerca de la Renovación. Caracas, Editora da Universidade Central da Venezuela, 1970. La Universidad Peruana. Lima, Editora del Centro, 1974. UnB - Invenção e Descaminho. Rio de Janeiro, Editora Avenir, 1978. Nossa Escola é uma Calamidade. Rio de Janeiro, Editora Salamandra, 1984. O Livro dos CIEPs. Rio de Janeiro, Bloch Editores, 1986. Universidade do Terceiro Milênio - Plano Orientador da Universidade Estadual Norte Fluminense. Rio de Janeiro, Revista Universidade do Terceiro Milênio, 1993. ROMANCES: Maíra. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1ª ed. 1976. O Mulo. Rio de Janeiro, Editora Record, 1ª ed. 1981. Utopia Selvagem. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1ª ed. 1982. Migo. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1ª ed. 1988. BIOGRÁFICOS: Testemunho. São Paulo, Editora Siciliano, 1ª ed. 1990. Confissões (Póstumo).São Paulo, Companhia das Letras, 1997.
Fontes Consultadas RIBEIRO, Darcy. O Livro dos CIEPs. Rio de Janeiro, Bloch Editores, 1986. ______________. Testemunho. São Paulo, Editora Siciliano, 2ª ed., 1991. ______________. O Brasil como Problema. Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves, 1995. ______________. Confissões. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. ______________. Carta 15. Brasília, Senado Federal, 1995. ______________. Separata Carta 18. Brasília, Senado Federal, 1997.
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11 Redatora Lúcia Velloso Maurício Doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mestre em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação (IESAE) da Fundação Getúlio Vargas (1990) Assessora do Professor Darcy Ribeiro no Primeiro (1983-1986) e no Segundo (19911994) Programas Especial de Educação. Professora do Colégio Pedro II - desde 1992. Professora da Rede Estadual de Ensino - desde 1983.
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