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Ano XVII • Nº 207 • Novembro 2016 • R$ 15,00
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luxo Dez tendências para embalagens em 2017
Entrevista Liana Baggio, diretora da Baggio Café, fala sobre o papel decisivo da embalagem na decisão da empresa de industrializar seus produtos
Melhorar para crescer Explosão de lançamentos de cachaças de qualidade estimula vidrarias e engarrafadoras a melhorar as embalagens
Editorial UMA CONVERSA COM O LEITOR
O que temos a oferecer Nesta edição, temos a satisfação de mostrar aos leitores aspectos da cerimônia, do coquetel e do jantar com que comemoramos a 10ª edição do Prêmio Grandes Cases de Embalagem. A apresentação dos vencedoras, não só como homenagem a eles e aos demais agentes que participaram dos desenvolvimentos, mas também como estudo dos trabalhos, numa abordagem abrangente, será feita na próxima edição de EmbalagemMarca, a de dezembro. Essa divisão da cobertura do evento em duas partes se deve a dois motivos. Primeiro, não pretendemos dedicar a ele espaço por demais extenso, sob pena de tomar tempo demais dos leitores, o que geralmente resulta em desinteressá-los de continuar a leitura. Por outro lado, dada a antecipação da data da revelação dos ganhadores de troféus em relação aos anos anteriores, não haveria tempo suficiente para a redação elaborar adequadamente o relato analítico de cada um dos trinta cases selecionados pelo júri da premiação. É nossa intenção aprimorar cada vez mais esse tipo de cobertura, que atende a nosso propósito de, com nosso trabalho jornalístico, ir além do mero relato de fatos. Nossa missão consiste em transformar informação em conhecimento, a qual em parte acreditamos estar cumprindo com a própria realização do Prêmio Grandes Cases de
Embalagem. Mais do que uma festa com entrega de trofeus, o evento oferece a quem o acompanha a oportunidade de ver exemplos de projetos de embalagem levados adiante com alto profissionalismo, trabalho integrado e criatividade que colocam o Brasil, nessa cadeia de valor, em patamares de nível internacional. A propósito, a reportagem de capa abrange indiretamente esse tema ao retratar mais uma oportunidade que o País vem perdendo de fortalecer um segmento produtivo em que é único e vem ganhando qualidade suficiente para competir com outros destilados comercialmente consagrados, como o uísque, a vodca, o conhaque e até a tequila. Esse campo é o da cachaça de qualidade, considerada por especialistas como a única bebida no mundo com potencial de protagonizar um boom. Vários fatores impedem ou retardam essa possibilidade, sendo que produtores se queixam sobretudo de altas taxações como redutoras de recursos para investir em melhoras. Entre estas está o aperfeiçoamento das embalagens. Mas, como pode ser visto na parte complementar da reportagem, há marcas que superam com brilho essa barreira. Até dezembro.
Wilson Palhares
“Mais do que uma festa com entrega de trofeus, o Prêmio Grandes Cases de Embalagem oferece a quem o acompanha uma oportunidade de ver exemplos de projetos de embalagem levados adiante com alto profissionalismo, trabalho integrado e criatividade”
Edição 207 • Novembro 2016
Sumário 3 Editorial Mais do que uma festa com entrega de troféus, o Prêmio Grandes Cases de Embalagem oferece a quem o acompanha a oportunidade de ver exemplos de projetos de embalagem levados adiante com alto profissionalismo, trabalho integrado e criatividade
Reportagem de capa Produção e consumo de cachaças de qualidade colocam a vidreiros e a engarrafadores o desafio de melhorar as embalagens
6 Painel Lançamentos de resinas prometem aprimorar processos e criar novas possibilidades em acondicionamento • Pesquisa mostra horizonte positivo no mercado de embalagens • Parceria impulsiona reciclagem de cápsulas de cafés • Negócio de latas de alumínio para bebidas tem novo cenário no Brasil
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18 Entrevista Liana Baggio, diretora da Baggio Café, conta como a embalagem foi decisiva na decisão da empresa de industrializar seus produtos 24 Solução Com redução de itens de embalagem, Viapol diminui custos e ganha em produtividade
26 Prêmio Em sua 10ª edição, cerimônia de entrega de
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troféus do Prêmio Grandes Cases de Embalagem adota formato mais dinâmico para estimular o contato entre os presentes
30 Artigo Embalagem experiencial é o novo mantra Por Marc Rosen, de Mônaco
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33 Luxo Dez tendências para embalagens em 2017 36 Display Azeite brasileiro tem garrafa pintada de branco • Santa Monica lança “café de bolso” • Cup Noodles agora vai ao micro-ondas • L’Occitane au Brésil tem embalagens inspiradas em água • Mercado de cervejas tem lançamentos e redesenho de embalagens
42 Almanaque O padre que não fazia milagre • Embalagem salva-vida • Gases medicinais na Idade Média
Empresas que anunciam nesta edição Aoki.............................................. 11
Designful.....................................37
Arclad.......................................... 39
Indexlabel.........................2ª capa
Baumgarten..................... 22 e 23
Optima........................................19
CT Pack......................................... 7
Plastipak...............................5 e 27
Redação: Wilson Palhares | palhares@embalagemmarca.com.br • Guilherme Kamio | guma@embalagemmarca.com.br Flávio Palhares | flavio@embalagemmarca.com.br • Comercial: comercial@embalagemmarca.com.br Diretor de comercial: Marcos Palhares | marcos@embalagemmarca.com.br • Gerente comercial: Roberto Inson | roberto@embalagemmarca.com.br Arte: Carlos Gustavo Curado | carlos@embalagemmarca.com.br • Administração: Eunice Fruet | eunice@embalagemmarca.com.br Eventos: Marcella Freitas | marcella@embalagemmarca.com.br • Circulação e assinaturas: assinaturas@embalagemmarca.com.br
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Painel MOVIMENTAÇÃO NO MUNDO DAS EMBALAGENS E DAS MARCAS
Edição: Guilherme Kamio guma@embalagemmarca.com.br
resinas
Para aplicações variadas Lançamentos em resinas prometem aprimorar processos e criar novas possibilidades em acondicionamento Ocorrida
indicar as opções mais ecoeficientes do leque de produtos, capazes de proporcionar redução do consumo de energia, maior produtividade ou redução de peso do produto final, implicando ganhos ambientais. A resina FT 120WV, desenvolvida para injeção de tampas e peças técnicas, abreviaria o ciclo de produção em 7,5% e reduziria o índice de perdas em 3,5%. A resina PG 480, por sua vez, passou por testes que registraram melhora de 15% na produção de fitas de ráfia, com manutenção de propriedades mecânicas e redução na variação de espessura. Também da seara dos polipropilenos, a resina Amppleo tem como finalidade a produção de espumas de alto desempenho. O material seria capaz de suportar temperaturas de até 100º C sem deformar e permitiria originar produtos dentro de uma grande escala de densidade (de 35 kg/m3 a 300 kg/ m3) apresentando redução de peso frente a outros insumos. A Braskem pretende estabelecer parcerias para aplicações da novidade no setor de embalagens e nos mercados automotivo, industrial, de construção civil e de eletrodomésticos.
em outubro em Düsseldorf, na Alemanha, a edição de 2016 da K, maior feira de negócios da indústria de plásticos e borrachas, foi utilizada pela Braskem como palco para o anúncio de uma série de novas resinas. Entre os lançamentos estão um polietileno que garantiria mais brilho e melhor acabamento a embalagens sopradas. O novo polietileno promete conferir às embalagens uma película de brilho e aparência mais atraente, gerando destaque frente aos recipientes opacos. A resina tem como principais aplicações embalagens de cosméticos, higiene e limpeza e alimentos. “Com esse lançamento, oferecemos um portfólio ainda mais completo para a moldagem de recipientes por coextrusão e sopro, agregando mais valor para o produto final”, afirma Zolder Stekhardt, gerente de conta responsável pelo mercado de sopro para embalagens de consumo na Braskem. A empresa oferece outros quinze tipos de polietileno para sopro.
A petroquímica brasileira também apresentou na K dois novos polipropilenos certificados pelo selo Maxio – criado para Novo polietileno garantiria maior brilho e melhor acabamento no sopro de frascos
INOVAÇÃO
Mais próxima dos europeus Em seu ciclo de internacionalização, a Braskem inaugurou um centro de pesquisa e desenvolvimento em sua fábrica em Wesseling, na Alemanha. Fruto de um investimento de cerca de 5 milhões de euros, o Núcleo Técnico da Europa
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permitirá à fabricante de resinas termoplásticas desenvolver produtos sob medida para clientes do Velho Continente. “A nova unidade chega para complementar a nossa estrutura de inovação, permitindo uma valiosa troca
de experiências, práticas e conhecimento entre equipes ao redor do mundo, bem como o aumento na capilaridade de nossas parcerias tecnológicas”, afirma Patrick Teyssonneyre, diretor de Inovação da Braskem.
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CELULÓSICAS
CARTONADAS ASSÉPTICAS
Previsão de retomada
Novidade emplacada
Enquanto surgem projeções de melhora geral da economia brasileira, vem da Pöyry uma previsão positiva para o negócio de embalagens, em particular. Um estudo da multinacional finlandesa de consultoria e serviços de engenharia, intitulado Papéis e Embalagens Corrugadas, mostra que a cadeia de produção de recipientes e envoltórios deverá de beneficiar da retomada gradual da atividade industrial e das exportações. “Apesar de ter sido fortemente prejudicado pela crise, o setor de embalagens será o primeiro a se recuperar, pois tradicionalmente é o que reage mais rápido”, afirma Manoel Neves,
gerente de estudos econômicos da Pöyry. No segmento de embalagens de papelão ondulado, foco do estudo, a Pöyry acredita que a retomada pode favorecer pequenos fornecedores. Existiriam cerca de 1 000 dessas empresas no País, responsáveis por 23% da produção local de caixas. A Pöyry observa que o mercado nacional de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado tem baixa concentração, uma vez que os cinco principais fabricantes representam apenas 40% do volume total. Em países da Europa e nos Estados Unidos, esse índice chega a 80%.
GENTE
Nova direção comercial Fernando Pirutti é o novo diretor comercial da Grif Rótulos e Etiquetas Adesivas desde setembro. No mercado de etiquetas e rótulos há 44 anos, Pirutti já exerceu funções técnicas, comercias, de desenvolvimento e de gestão. O executivo é formado em engenharia com pós-graducao em economia. A capacidade instalada da Grif permite que o volume atual de produção seja dobrado a curto prazo e a empresa planeja a construção de uma nova fábrica em Itaquaquecetuba (SP). “Nosso objetivo, em conjunto com a direção, é preparar a estrutura comercial para este crescimento, consolidando nossa presença nesse mercado, sendo referência em serviços, na qualidade e no compromisso com nossos clientes e parceiros comerciais”, diz Pirutti.
Um novo modelo de embalagem da Tetra Pak surge já contando com aplicação comercial. Derivação do conceito Tetra Top de cartonadas com topo plástico, a Tetra Top 330 Mini Nallo é uma garrafinha que traz um pequeno painel em formato de V num dos cantos do painel frontal. O recipiente será adotado a partir do início de 2017 pela sueca Skånemejerier, numa linha de iogurtes para beber refrigerados. Armina Nilsson, gerente de sustentabilidade da empresa usuária, diz que a troca de garrafinhas plásticas pelo novo recipiente trará benefícios importantes. “A Tetra Top Nallo é feita predominantemente de papel cartão certificado pelo FSC e de fontes controladas. Com a substituição, reduziremos o uso de plásticos em mais de 45 toneladas ao ano”.
BIOPLÁSTICOS
Avanço em proteção O Itene (Instituto Tecnológico de Embalagem, Transporte e Logística da Espanha), afirma ter desenvolvido um bioplástico de características inovadoras. O novo material seria um tipo avançado de PLA (ácido polilático, obtido de fonte vegetal), com propriedades de barreira superiores ao das versões convencionais. Se-
gundo o Itene, um frasco feito do composto garantiria vida de prateleira de até um ano e meio a cosméticos delicados, enquanto o PLA comum daria aos mesmos produtos shelf life médio de seis meses. Embalagens feitas do material se desintegrariam em até três meses sob compostagem industrial, virando adubo.
Tetra Top Mini Nallo, com recesso em formato de V numa quina, estreará na Suécia
PLÁSTICAS
CORES
Rígidas no radar
Acertos mais rápidos e baratos
A australiana Amcor, peso-pesado do mercado mundial de embalagens, anunciou ter chegado a um acordo para adquirir as operações de sopro da americana Sonoco na América do Norte. A transação, da ordem de 280 milhões de dólares, envolve seis fábricas nos Estados Unidos e uma no Canadá, voltadas especialmente à produção de recipientes para artigos de cuidados pessoais e alimentos processados. O negócio depende de aprovação de autoridades americanas.
Uma cooperação promete facilitar a reprodução e a harmonização de cores em objetos plásticos, como embalagens, beneficiando designers, fornecedores e proprietários de marcas. A Clariant estabeleceu um banco de dados de calibração de duas de suas prestigiadas linhas de pigmentos para plásticos, PV Fast e Graphtol. Os dados podem ser integrados ao software Colibri, da matchmycolor, e também com os espectrofotômetros portáteis e
de bancada da Konica Minolta, permitindo a identificação de concentrações de pigmentos aplicadas em transformados de polietileno de alta densidade (PEAD). “Com esse conjunto de informações, produtores de masterbatches e seus clientes podem reduzir expressivamente o número de testes normalmente exigidos para replicar uma cor, obtendo economias de tempo e dinheiro e maior precisão”, diz nota sobre a aliança.
DECORAÇÃO
Foco no invisível Aposta da UPM Raflatac, a linha Vanish de materiais ultrafinos para a confecção de rótulos autoadesivos de alta transparência (no-label look) foi ampliada. A nova série Vanish 120 tem como material de face um filme de PET de 30 micra que ofereceria todos os benefícios dos materiais Vanish 92, inicialmente lançados, porém com maior rigidez para melhorar a aplicação em rotuladoras padrão. Segundo a fabricante, o substrato aprimora o visual de recipientes plásticos e de vidro ao mesmo tempo em que reduz custos e espaços de armazenagem de insumos de rotulagem.
União entre dados de calibração, software e equipamento prometem facilitar reprodução de cores
RECICLAGEM
Cápsulas a circular A Nestlé e o Pão de Açúcar anunciaram uma parceria para a implantação da coleta de cápsulas de Nescafé Dolce Gusto. Na fase inicial do projeto, cinco unidades da rede de supermercados receberão urnas para que consumidores depositem embalagens usadas do produto. Serão uma loja em Curitiba, três em São Paulo e uma no Rio de Janeiro. As cápsulas recolhidas serão destinadas à reciclagem, com o resíduo orgânico enviado para composta-
Filme de alta transparência tem nova opção, com maior rigidez
gem e o material de embalagem direcionado para extrusão e moldagem de novos produtos, seguindo-se o conceito de economia circular. O primeiro artigo derivado da reciclagem das embalagens foi o porta-cápsulas Renove, à venda na internet. O acordo com o Pão de Açúcar é o primeiro voltado à arrecadação de cápsulas da marca no varejo de alimentos brasileiro. Iniciativa similar é mantida com as lojas de artigos para o lar Home&Cook.
Coleta no Pão de Açúcar deve ampliar uso de cápsulas em reciclados como o porta-cápsulas Renove
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METÁLICAS
Mexida no cenário Consolidados, movimentos importantes no negócio mundial de latas de alumínio implicam algumas mudanças desse setor no Brasil. Uma delas é a chegada da Ardagh. A companhia, sediada em Luxemburgo, adquiriu 20% das fábricas de latas e tampas da americana Ball Corporation em todo o mundo, passando a deter dois
númeroS complexos no País, com capacidade total anual de 4,5 bilhões de embalagens. Com a compra da Rexam, a Ball ascende ao posto de líder do mercado brasileiro, com dez fábricas de latas e três de tampa. A Crown ocupa a vice-liderança. Veja a nova configuração da atividade no território nacional:
3,8%
Será a taxa média anual de crescimento do mercado mundial de embalagem nos próximos dez anos, de acordo com o instituto de pesquisas Smithers Pira. Caso a previsão se confirme, o valor da atividade ultrapassará a marca de 1 trilhão de dólares em 2026 (1,162 trilhão de dólares). A expectativa é que a evolução seja influenciada especialmente por projetos focados em fracionamento, conveniência e sustentabilidade na indústria de alimentos.
31,1 bilhões
de dólares Será o valor movimentado em 2016 pelo mercado mundial de embalagens “inteligentes” – aquelas que, além dos papéis primordiais de veicular e promover produtos, desempenham funções especiais para conservação do conteúdo (embalagens com componentes ativos ou com atmosfera modificada, por exemplo). A estimativa consta de um estudo recém-lançado pela consultoria Visiongain.
SOFTWARES
Solução de integração A Dassault Systèmes, referência em software de modelagem e Product Lifecycle Management (PLM), e a SmartTech, empresa brasileira especializada em tecnologia e serviços de apoio a projetos de engenharia, se uniram para lançar no Brasil o Perfect Package. Trata-se de um pacote de softwares que promete ace-
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lerar o design de embalagens, ao dinamizar a colaboração entre integrantes dos projetos de apresentações de produtos, e reduzir custos com materiais. Oscar Siqueira, diretor de vendas da Dassault Systèmes, diz que a solução pode diminuir pela metade os tempos de desen-
volvimento e gerar economias com insumos entre 30% e 50%. No exterior, o produto seria utilizado por empresas como P&G, Barilla e WestRock. A SmartTech é a primeira empresa certificada em nível mundial pela Dassault Systèmes e distribuidora exclusiva do Perfect Package no Brasil.
reportagem de capa
Vai bem, mas menos do que poderia Produção e consumo de cachaças de qualidade colocam a vidreiros e a engarrafadores o desafio de melhorar as embalagens
O interesse pelo tema cachaça e o crescimento do consumo da bebida engarrafada de boa qualidade ganharam em anos recentes expressiva visibilidade no Brasil, com aumento da ocupação de espaços na imprensa regular e nas mídias sociais, proliferação de eventos como feiras, festivais e congressos, bem como de casas especializadas (cachaçarias) em servir o produto, puro e na forma de coquetéis.
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O destilado de cana-de-açúcar parece estar finalmente deixando de ser apenas uma bebida de botequim e da população mais pobre, passando a ser consumido também por pessoas bem posicionadas socialmente e em locais mais sofisticados, inclusive em outros países. Estariam enfim se consolidando previsões feitas há cerca de duas décadas de que “a cachaça vai conquistar o mundo” (embora o Brasil ainda exporte
menos de 1% do que produz e os brasileiros entornem aqui mesmo os restantes 99%, em volume apenas inferior ao de cerveja). Mas, nessa tendência, ainda que haja certo avanço na regularização do setor e na qualidade intrínseca da bebida, sobretudo das artesanais, ou “de alambique”, ou ainda “especiais”, mas também nas industriais, ou “de usina”, em termos de embalagem parece haver
acentuado desinteresse (ou impossibilidade) quanto à melhora de nível. Superar as causas disso é um desafio que vidreiros e engarrafadores há tempos enfrentam sem chegar a uma solução que efetivamente estimule o aumento da produção e da exportação de cachaças com maior valor agregado. É principalmente destas, as chamadas artesanais, que trata esta reportagem, sem deter-se na análise do mercado das industriais, que respondem por uma fatia de 70% do total produzido e comercializado, majoritariamente em garrafas de vidro de 1 litro. (*)
constata-se indiferença (que vem caindo muito lentamente) à necessidade de investir em aprimoramentos. Uns dizem que “as pessoas não bebem a garrafa, bebem o que está dentro” – esquecendo da contrapartida da expressão popular de que “a primeira impressão é a que fica”. Nessa toada, incontável número deles persiste no uso de garrafas de cerveja de 600 mililitros com tampa tipo coroa (crown). E parecem acreditar que suas marcas acabarão por se impor apenas graças a sua qualidade superior e a atributos únicos perante
Um princípio de resposta parece ser cultural. Haveria certo consenso por parte dos engarrafadores, tanto dos situados no segmento popular quanto no premium, em não fazer upgrades significativos nas apresentações de seus produtos. Indiferentemente à elevação da imagem da cachaça de bebida inferior à de destilado hoje apreciado em todas as camadas sociais, prevalece entre os fabricantes de bons produtos a crença de que “as aparências enganam”. Quando perguntados sobre sua resistência em incrementar a qualidade e a beleza das garrafas, de seus sistemas de fechamento e de rotulagem, * A presença de embalagens diferenciadas, das quais alguns exemplos são apresentados nesta reportagem, é praticamente pontual e aparece em marcas apresentadas como superpremium e de preços geralmente bem altos. No filão das industriais, ou mainstream, vendidas a preços populares e que respondem por 70% da produção, predominam as garrafas standard de vidro com capacidade de volume de 1 litro. No campo das artesanais o que se vê é uma profusão de garrafas de cor âmbar com tampas tipo crown, destinadas originalmente a cervejas, usadas indiscriminadamente por produtos de qualidade discutível e mais raramente por alguns excelentes. As cônicas e cilíndricas incolores, de 700 mililitros, com tampa de alumínio rosqueável, se firmaram como uma espécie de padrão para as classificadas como premium.
Tradicionalíssima Anísio Santiago continua utilizando garrafa âmbar com tampa crown
outros tipos de destilados. À parte essa adesão tão firme ao que já é tradição, por serem em sua maioria pequenos produtores (dos 40 mil que se estima existir no Brasil, 99% são micro e pequenos), não reservam ou não têm recursos para investir em vasilhame mais caro, por pouco que seja. Muito menos dispõem de verbas de marketing e de propaganda, que acaba se restringindo ao boca-a-boca. Como ocorre com aproximadamente 90% dos produtos comercializados no País, o único instrumento de comunicação desses empresários é praticamente o contato direto do consumidor com produto – mais exatamente, com a embalagem – no ponto de venda. Assim, torna-se difícil consolidar uma ou outra marca dentre as cerca de 5 mil produzidas no País por estimados 40 mil fabricantes, entre legalizados e clandestinos (que no total fabricam cerca de 1,2 bilhão de litros da bebida por ano, segundo o IBRAC – Instituto Brasileiro da Cachaça). A saída, convém insistir, parece ser ao mesmo tempo manter a qualidade e os diferenciais (como aroma, sabor etc.) do produto e aprimorar suas embalagens. Consumidores, sobretudo os supostamente mais exigentes do mercado externo, que os produtores de cachaças ambicionam conquistar para o que consideram ser “a melhor bebida destilada do mundo”, fazem comparações. E não são necessárias enquetes para entender que esses potenciais compradores sentem menos atração por embalagens modestas como as de cachaça do que pelas de sofisticados recipientes de produtos concorrentes, como uísque, vodca, conhaque e até mesmo tequila. Desperdiça-se assim a chance de conquistar bebedores que poderiam experimentar e conhecer vantagens competitivas da bebida brasileira frente àquelas, como variedade de sabores e aromas, graças aos variadíssimos tipos de cana-de-açúcar usados como matéNovembro 2016 |
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Cambraia é uma das marcas que utiliza a embalagem standard com a inscrição “Cachaça do Brasil”, com tampa de rosca de alumínio
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rafas de cerveja com tampa tipo coroa (crown) migraram para as novas, sem dúvida superiores dos pontos de vista visual e de fechamento. Ocorreu visível transferência de cachaças artesanais consideradas de boa qualidade do vasilhame âmbar para o incolor. Tanto quanto o número das que adotaram as novas garrafas quanto seu desempenho em pontos de venda ou mesmo em exportações são difíceis de mensurar, mas é visível a presença maior desses produtos nas gôndolas de supermercados de uns tempos para cá. Ainda assim, o consumo de bebida premium não consegue ultrapassar a barreira do 1%.
Talvez os produtores precisem ser convencidos de que incrementar as embalagens de seus produtos possa ajudar a superar o entrave. Nesse sentido poderia ser útil uma consulta a interessante e ainda oportuno estudo realizado há pouco mais de seis anos por um grupo de pesquisadores das Universidades Federais de Lavras e de Viçosa (MG) sobre Opiniões e atitudes dos consumidores em relação a embalagens e rótulos de cachaça (emb.bz/207cachaca). Em resumo, o estudo verificou que a marca, selos de qualidade, premiações recebidas e as informações a respeito do local onde a cachaça foi produzida, do tempo de envelhecimento e do tipo de madeira do tonel no qual a cachaça foi envelhecida estejam claros nos rótulos, pois tudo isso influencia a decisão de compra. Quanto às embalagens em si, os participantes não aprovam a garrafa de vidro de cor âmbar com tampa metálica tipo coroa. Preferem a garrafa de vidro transparente com capacidade de 700 mililitros, com tampa metálica rosqueável. Cabe ressaltar que os participantes do estudo foram consultados a respeito de apenas quatro tipos de embalagens, já existentes no mercado. Supõe-se que o resultado poderia ser outro se lhes fosse apresentada uma alternativa superior, sem necessariamente ter custo maior. Fica a sugestão à indústria vidreira e ao setor de cachaça.
Números e fatos • 40 mil produtores no Brasil • 98% de pequenos e micro-empresários • 600 mil empregos diretos e indiretos • 11,5 litros de consumo de cachaça por ano por habitante • 7 bilhões de reais de movimento anual em sua cadeia produtiva • 4 mil marcas de cachaça disputam mercado no Brasil • Exporta cerca de 1% de sua produção anual • 50% das Exportações é de cachaça a granel • 70% da produção brasileira é de cachaça de coluna ou industrial e 30% de cachaça de alambique • Mercado informal: ainda alto em algumas regiões, o que elevaria a produção para algo em torno de 2 bilhões de litros/ ano • Terceiro destilado mais consumido no mundo • 87% do market share dos mercado de destilados no Brasil • Bebida nacional do Brasil por Decreto Federal • Patrimônio Cultural de Minas Gerais por Lei Estadual • Patrimônio Histórico e Cultural do Rio de Janeiro por Lei • 70% do consumo de cachaça ocorre em bares e restaurantes e 30% nos demais pontos de vendas • Produto que mais tem “a cara brasileira”, segundo pesquisa do Centro de Indústrias de São Paulo • Única bebida, na atualidade, capaz de ter um boom no mercado internacional
Fonte: CBRC- Centro Brasileiro de Referência da Cachaça. Dados 2012
ria-prima e do amplo leque de madeiras nacionais com que são construídos tonéis de envelhecimento, além dos importados, feitos de carvalho. Convém reiterar: aí a embalagem pode fazer toda a diferença, como pode ser visto nos exemplos das próximas páginas. Nesse quadro, em que prevalece a atomização de incontáveis potenciais compradores de lotes diminutos de garrafas, a indústria vidreira se depara com o impasse de não poder atendê-los por falta de escala. Por isso, há cerca de dez anos o setor criou, como alternativa para viabilizar compras, através de intermediários, dois modelos específicos de garrafas. Ambos são de vidro incolor transparente (flint), com 700 mililitros de capacidade de conteúdo e fechamento com tampa de rosca de alumínio. O formato de um é cônico, de outro, cilíndrico, e os dois trazem grafada em alto relevo a expressão “Cachaça do Brasil”, uma espécie de marca registrada no mercado externo. Foi um progresso razoável. Boa parte de produtores que utilizavam gar-
reportagem de capa
De igual para igual (e até mais) Cachaças brasileiras podem concorrer em qualidade e em embalagens com destilados consagrados
Extremamente
tradicional em termos de produção e comercialização da bebida que é quase tão sinônimo do País quanto o samba e o futebol, o mercado de cachaças abre excelentes oportunidades para engarrafadores que, além de se esmerar na qualidade de produtos superpremium, investem em apresentações à altura. Buscam não só conquistar consumidores locais crescentemente conscientes de que cachaças com essa classificação, segundo especialistas, podem concorrer em pé de igualdade com os melhores uísques, conhaques e vodcas de renome (e até
superá-los no que diz respeito a aromas e paladares). São de certa forma exceção. Almejam também ganhar bebedores no exterior, em faixas que exigem mais do que aguardentes industriais, aliás, já expressivamente exportadas e consumidas em dezenas de países, como ingrediente de drinques e coquetéis, a começar pela caipirinha. Sem intenção de elegê-las como “as melhores”, EmbalagemMarca selecionou para esta reportagem algumas artesanais acondicionadas em embalagens primorosas, que ombreiam com as de renomados destilados internacionais.
SEBASTIANA DUAS BARRICAS Lançada em fevereiro deste ano, é descrita pelo fabricante, a Santa Rufina Indústria e Comércio de Derivados de Cana de Açucar, de Américo Brasiliense (SP), como “sem comparação no mercado brasileiro em qualidade de produção, envelhecimento e apresentação”. A bebida passa alguns anos em barris de castanheira brasileira e depois, pelo mesmo período, em barris de carvalho americano. É o mesmo estilo de maturação utilizado em destilarias de uísques.Inscrita nos principais concursos internacionais de destilados, em curto espaço de tempo conquistou quatro medalhas de ouro. Como diz a empresa produtora, “um produto como este merece uma roupagem à sua altura”. Depois de
estudar dez modelos de garrafas, importadas e nacionais, e de realizar pesquisas junto a consumidores, a Santa Rufina decidiu acondicionar a Sebastiana Duas Barricas no modelo Empire Basse, da francesa Saverglass. Trata-se de uma garrafa quadrada, pesada, de fundo grosso, vidro límpido e de alta transparência. O rótulo, impresso pela Gráfica Plac, de Ribeirão Preto, aborda os itens de qualidade da bebida e é complementado por necklabel com informações regulamentares, além de número de série e da assinatura do master blender, Carlos Alberto B. Mattos. A rolha mista de madeira e corpo sintético, fornecida pela Brentacork, é recoberta com lacre de cera, distinguindo-a das de lacre de plástico usuais na categoria.
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MAGNÍFICA Desde sua criação, em 1997, a marca Magnífica, que homenageia a esposa, do fundador da JLF Agropecuária Cachaçaria Magnífica, João Luiz de Faria, então magnífica reitora de uma universidade fluminense, adotou uma garrafa de vidro de 1 litro, na época diferente de concorrentes. Em 2015, dois eventos forçaram uma mudança de embalagem: 1) o Ministério da Agricultura proibiu a empresa de usar nos rótulos, impressos em silk screen numa cor única, a imagem do Pão de Açúcar, símbolo do Rio de Janeiro; 2) o fornedor descontinuou a fabricação do modelo de garrafa. Em conjunto com o designer francês Laurent Bouclier, a Magnífica desenvolveu então novos rótulos para as três variedades que compõem a
linha de frente (Safra do Ano, Tradicional e Envelhecida), a primeira é acondicionada em garrafa de 1 litro, e as outras duas num recipiente cilíndrico de 700 mililitros, todas com tampa de alumínio rosqueável e rótulos de papel impressos em offset com acabamentos combinados de verniz relevo, impressos em serigrafia. E deu especial destaque para a marca com a superpremium Reserva Soleira, que usa garrafa de 700 mililitros da francesa Saverglass, com rolha de acabamento metálico. Foi desenvolvido também um necklabel com aba lateral para numeração sequencial, evidenciando a produção limitada da edição. A garrafa vai acondicionada num requintado tubo cilíndrico multifoliado.
YAGUARA Segundo o fabricante, Yaguara é a primeira cachaça branca, blended, e orgânica do mundo, fruto da tradição da quinta geração de uma produção familiar “e da ambição de criar a melhor cachaça branca do mundo”.Concebido na fazenda da família no Paraná, o produto final é artesanal, destilado em pequenos lotes e blended sob supervisão de Erwin Weimann, o master blender brasileiro da empresa, em Ivoti, no Rio Grande do Sul. A Yaguara diz querer expandir as fronteiras da cachaça, colocá-la no mesmo
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patamar dos melhores destilados brancos do mundo, com sabor único e garrafa impactante. Nesta se traduz o casamento entre a tradição e a modernidade. Foi desenhada para se destacar em bares em todo o mundo, por Brian Clarke, o principal artista de vidro no mundo. Inspira-se no ornamento romano mais tarde redesenhado por Roberto Burle Marx no calçadão de Copacabana, um dos ícones brasileiros mais conhecidos no exterior. Mais alta que a média das garrafas de bebidas quentes, a embalagem de
Yaguara, fornecida pela Owens-Illinois, se destaca nas prateleiras dos pontos de dose sofisticados, que são o foco principal da marca, isto é, casas noturnas, bares e restaurantes da moda e do mercado externo. Entre outras premiações, a garrafa de Yaguara conquistou um troféu na edição de 2014 do Prêmio Grandes Cases de Embalagem. Além da blended, cuja garrafa alterna ondas azuis e incolores, a marca tem a versão Branca, com embalagem no mesmo formato, porém sem cores.
MIDDAS Ao lançar seu produto premium, em 2015, a Middas Cachaça, de Dracena (SP), escolheu como forma de transmitir a ideia de alto valor do produto não só a a garrafa Premium Tam Tam de 700 mililitros fornecida pela vidraria francesa Saverglass, mas também a marca da bebida. Esta remete ao rei Midas da mitologia grega, que transformava em ouro tudo o que tocava e cuja história é contada no rótulo em espiral. Para reforçar a mensagem, o gargalo da embalagem, que é fechada com rolha de cortiça com acabamento metálico, leva acoplados flocos de
ouro comestível de 23 quilates. Estes são importados da Alemanha e têm certificado de qualidade da União Européia. O objetivo deste item é produzir impacto visual e mexer com o emocional do consumidor quando adiciona os flocos à bebida. Segundo o fabricante, a bebida tem blend exclusivo, composto por uma cachaça de dois anos, armazenada em tonel de madeira de amendoim e outra cachaça armazenada em aço inoxidável. A bebida tem duas versões: Middas Cachaça e Middas Cachaça Reserva, ambas de baixa acidez e intensa sensação olfativa.
WEBER HAUS Além de vinhos, o Rio Grade do Sul tem forte tradição na produção de cachaça artesanal, cujos registros históricos remontam ao século 18. Hoje, marcas de altíssima qualidade são feitas na região Serra Gaúcha. Com uma linha de mais de vinte tipos de cachaça, a marca Weber Haus, de Ivoti, é uma das que mais contribuiu com a divulgação do produto gaúcho no Brasil e da bebida brasileira no mundo. Está presente nos Estados Unidos – seu principal mercado no exterior –, Alemanha, China, Dinamarca, França, Holanda, Itália, Japão, Noruega e Suécia. Em território nacional, destaque para São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná. A tradição da família Weber na produção de cachaça vem desde 1848, e além da reconhecida qualidade de
seus produtos ela se caracteriza pela excelência das embalagens. Destas, o destaque fica para o que a empresa define com ícone de sua marca, a Lote 48 – 12 anos. Trata-se de uma cachaça com 12 anos de envelhecimento, vendida em escala de raridade, com preço diferenciado, e destinada a colecionadores e amantes da bebida símbolo do Brasil. Seu blend foi escolhido por vinte especialistas em destilados, a partir de uma cachaça guardada em dezoito pipas durante doze anos – seis em madeira de bálsamo e seis em carvalho francês. São apenas 2 mil garrafas e todas as peças que ornamentam a embalagem são banhadas a ouro 18 quilates. Não é informado o nome do fornecedor da garrafa, que é apresentada como uma joia em requintado estojo almofadado internamente.
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entrevista
Tradição, superação e senso de oportunidade Depois de mais de um século voltados para a produção de café, os proprietários da marca Baggio decidiram industrializar os grãos. Nessa trajetória, triunfante em pouco tempo, além da qualidade do produto as embalagens tiveram papel decisivo, como conta Liana Baggio, diretora da Baggio Café © Foto: Daniel Leite
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A torrefadora Baggio Café, de Araras (SP), expressa uma bem sucedida história familiar com fortes características de tradição, superação e senso de oportunidade. Desde 1886 a família Baggio se dedica ao cultivo de café, por iniciativa do patriarca Salvatore, que aqui desembarcou vindo da Itália e se deu bem. Ao longo do tempo a família não se aplicou a outra atividade, na região da Mogiana Paulista, interior de São Paulo, e no Paraná – até que, em 1975, uma grande geada no noroeste paranaense devastou todas as lavouras cafeeiras. Foi então que a família decidiu ir buscar outro lugar para continuar o cultivo de café, escolhendo o Sul de Minas Gerais. Hoje as fazendas ficam estrategicamente localizadas na região da Alta Mogiana Paulista e no sul de Minas Gerais, que oferecem condições ideais para a produção dos mais saborosos e equilibrados cafés gourmet do Brasil. Com clima apropriado e altitudes superiores a 800 metros acima do nível do mar, ambas as localidades são reconhecidas nacionalmente entre as melhores do país para o cultivo. Com o passar dos anos e a experiência adquirida no cuidado de cada etapa do processo, os Baggio constataram que produziam café de alta qualidade, reconhecida no País e no exterior. “Em 2002 começamos a exportar para os Estados Unidos e para a Itália cafés finíssimos, para um distribuidor instalado em Atlanta e para outro em Genova”, conta Liana Baggio, diretora da Baggio Café. “Foi assim que conhecemos os cafés aromatizados, muito apreciados principalmente nos Estados Unidos.” A pesada desvalorização cambial de 2006 impediu a continuidade daquela parceria, e os fazendeiros passaram a repensar seu negócio. “Por que não torrar este excelente café no Brasil e aproveitar para exportá-lo, moído e embalado, além do fato de que os brasileiros começavam a valorizar a bebida de qualidade”, recorda a diretora da empresa. Daí à montagem de uma pequena torrefação, em Araras (SP), foi um passo para o que viria em poucos anos transformar-se numa marca que é hoje referência de qualidade e ino-
vação em café e na qual a embalagem teve papel decisivo, como ela conta na entrevista a seguir. Desde o início de suas atividades no Brasil, durante 120 anos, os Baggio viveram no mundo do café, sempre focados no cultivo, quando veio o impacto da desvalorização cambial, em 2006. Por que a família persistiu em permanecer nesse mundo, industrializando os grãos, quando poderia ter enveredado para campos mais seguros? Nasci numa fazenda de café no interior de São Paulo, a Fazenda Palmeiras, em Araras, e cresci no meio do café, acompanhando o plantio, a colheita, todo o processo de lavar, secar e beneficiar os grãos. Como para mim, para a família seria difícil sair desse mundo. Entendemos que valeria a pena dar um passo à frente. Vimos ali uma oportunidade de tirar vantagem do momento. Assim foi feito, montamos nossa pequena torrefação, começando com um excelente café gourmet, ao qual agregamos uma linha de cafés aromatizados . Muitos nos consideraram meio loucos, mas acreditávamos que fazendo um café de qualidade, com aroma superior e pesquisando as preferências aromáticas dos brasileiros, poderia ser um sucesso. No âmbito da crescente tendência de consumo de cafés gourmet, quais as principais características que diferenciam os produtos da marca Baggio de suas concorrentes? Acredito que seja a qualidade da bebida que mantemos. Outros grandes diferenciais são os cafés aromatizados moídos e agora em cápsulas. Lançamos recentemente o chocolate trufado em cápsulas . Procuramos sempre inovar. Em breve lançaremos outros aromas. Qual a produção total das fazendas por ano, quanto é torrado e que tipos de cafés compõem hoje as linhas da marca direcionadas ao consumidor final? Nossa produção de café verde é de aproximadamente 15 mil sacas por ano. A de café torrado é de aproximadamente 72 mil quilos anuais. São diversas variedades de gourmets de diferentes regiões, alguns blends, alguns aromatizados
e também diferentes perfis de torra. Apresentamos os produtos em embalagens flexíveis e também em cápsulas, compatíveis com máquinas Nespresso. O produto acondicionado em cápsulas responde por 10% do total dirigido ao mercado consumidor, mas a meta e duplicar este percentual. Fale um pouco sobre a importância das embalagens no desempenho do produto.
Desde o princípio procuramos fazer uma embalagem bacana, diferenciada. Já no lançamento o produto e suas embalagens ficaram perfeitos. e as embalagens traduziam fielmente a alta qualidade do café que acondicionavam. Assim surgiu a marca Baggio, um nome de família quese transformou em uma marca hoje respeitada e premiada no Brasil e no exterior. CONTINUA
Resumidamente, quais são as características técnicas das diferentes embalagens? As flexíveis são produzidas com filmes de polietileno laminados, sendo que a lâmina interna é de alumínio, para melhor conservação do café. Isso é fundamental no caso dos aromatizados. A impressão é feita pelo sistema de rotogravura. Ainda no caso das flexíveis, as válvulas “de respiro” têm a função de eliminar os gases gerados após o processo de torra e impedir a entrada de oxigênio, evitando assim a oxidação do produto. São importadas da Suíça e aplicadas em cada pacote na gráfica, com máquina apropriada. No caso das cápsulas plásticas, elas são armazenadas em box com doze unidades. O shelf-life dos cafés é de doze meses, e o de cápsulas, de dezoito. A empresa oferece ao consumidor final,
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ou projeta oferecer, café em grão? Sim, oferecemos os cafés em grãos, para moagem pelo consumidor no momento de preparo da bebida, pois constatamos que no Brasil já existem muitos consumidores, apaixonados por café , que têm seu próprio moinho e gostam de moer os grãos na hora de consumir. Nosso produto é oferecido em embalagens de 250 gramas e de 500 gramas. Também oferecemos grãos para cafeterias e máquinas automáticas. A senhora diria que no Brasil está crescendo, ou já está consolidada, uma cultura expressiva de consumidores ligados ao fato de que há diferentes tipos de cafés, torras, aromas, origens, assim como – para ficar num só exemplo – os há para vinhos? Eu diria que ainda há muito a crescer e aprender quanto à cultura de conhecer diferentes tipos de cafés , diferentes
características, origens e intensidades. Nas embalagens dos cafés da marca Baggio nota-se a intenção de fornecer esse tipo de informações ao consumidor. É possível medir o retorno a essa iniciativa? Qual a resposta dos consumidores a ela, isto é, essas informações influenciam o desempenho nos pontos de venda? Acredito que ajudam, pois hoje os consumidores querem saber mais sobre os produtos que consomem. Cabe a nós informar. Outro diferencial das embalagens da marca é o do sistema de refechamento das embalagens flexíveis por lâmina metálica dobrável, chamada Tin Tie, acoplada aos pacotes. No País marcas concorrentes também o utilizam? Alguns cafés de outras marcas também utilizam este sistema , mas no Brasil foi
uma inovação da Baggio. A Baggio Café tem retorno de opinião de consumidores sobre esse atributo? Sim , muitas pessoas elogiam e dizem ser muito prático para fechar o pacote depois de aberto. A propósito, há retorno sobre os demais atributos relativos às informações contidas nas embalagens (tipos de cafés, bebida, torração, moagem etc.)? O consumidor valoriza essas informações? Acredito que hoje os consumidores estão mais atentos à qualidade das bebidas e dos alimentos, de modo que, a meu ver, devem considerar que essas informações são importantes. No que se refere a café, elas possibilitam a eles ter novas experiências, conhecer como novas regiões de cultivo, diferentes perfis de torra etc.
Qual a importância e a eficácia das embalagens na divulgação e na consolidação da marca? Acho que a embalagem é de suma importância para valorizar o produto. Como se costuma dizer, “a primeira impressão é a que fica”. O apelo visual é o começo da compra. Em que países além do Brasil a Baggio Café comercializa seus produtos? Já exportamos para vários países, entre eles a Rússia, os Estados Unidos e o Reino Unido. Atualmente estamos negociando com alguns paises da America do Sul. Qual a porcentagem das exportações no volume comercializado? Ainda é muito baixa. Representa aproximadamente 5% de nosso faturamento.
CORREÇÃO Na reportagem de capa da edição anterior, sobre produtos exportados, informou-se erroneamente que as embalagens dos cafés Baggio foram reformuladas pela agência Pipa Design, de Leme (SP). A informação correta é que essa empresa desenvolveu as embalagens da marca para seu lançamento, em 2006. Em 2014 a empresa iniciou um trabalho de reestruturação de todas as embalagens e pelo posicionamento da marca, contratando para isso a agência Mídia 13, de Araras (SP), que é responsável também por toda a comunicação visual.
solução
Menos é menos Com redução de itens de embalagem, Viapol consegue diminuir custos e tempo de produção
Para otimizar
foto: carlos curado
o processo produtivo da Viaflex Fita – uma membrana asfáltica, recoberta com alumínio flexível, o que possibilita sua utilização de forma abrangente, de fácil aplicação e proporcionando solução imediata de reparos em goteiras e infiltrações – a
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Viapol procurou uma nova solução de embalagem. Outro ponto foi a busca por uma solução em embalagem com menor custo. A antiga embalagem era composta por três componentes: rótulo, shrink e caixa de papel cartão, o que demandava
Novas embalagens têm áreas transparentes que deixam produto à mostra, simulando a aplicação
muito tempo no processo produtivo destinado a acondicionar o produto. Além disso, a empresa sentia a necessidade de renovação da marca e, com isso, de uma embalagem mais atraente e apresentável, que se destacasse no ponto de venda. Para atender a demanda, foi desenvolvido, em conjunto com a CCL Label, um rótulo termoencolhível que eliminou a necessidade do uso das embalagens secundária (shrink) e terciária (caixa). Foi inserido um picote nas laterais dos rótulos, o que otimizou o processo de abertura do invólucro. Na embalagem antiga, pelo fato de o shrink não possuir nenhum tipo de picote, era necessário o uso de ferramentas como tesoura ou estilete para abertura da embalagem. Por ser uma fita adesiva de alta aderência, a Viaflex Fita apresenta resíduos de adesivo nas extremidades (topo e
base do rolo). Logo no início do desenvolvimento da nova embalagem, foi detectado um problema que o shrink apresentava: o adesivo das extremidades dos rolos do produto grudava no rótulo. A CCL Label desenvolveu uma solução através da impressão total azul no topo e na base do rótulo, criando uma barreira entre o produto e o filme de PET, o que resolveu o problema: os resíduos passaram a não aderir aos rótulos.
Por envolver todo o produto, o termoencolhível, impresso em offset, possibilitou a inserção de informações e imagens que transmitissem de maneira eficaz a utilização do produto. Foram inseridas janelas sem impressão, que possibilitam que o consumidor veja a simulação do produto aplicado em diversas situações. A embalagem traz ainda um QR Code que leva a um vídeo
com explicações sobre a aplicação do produto. Com a implementação da nova embalagem, as linhas produtivas tiveram excelentes ganhos, otimizando o processo de acondicionamento da fita, o que ocasionou em ganho no processo produtivo. Além disso, o custo de embalagem foi diretamente impactado, tendo redução de 59%, segundo a empresa usuária. O resultado foi um produto mais atraente no ponto de venda, com menor custo e menor tempo de produção em linha, além de ter manuseio mais ágil e fácil. Com uma única solução em embalagem, o antigo problema de alto volume de embalagens no estoque também foi resolvido. Segundo a Viapol, o retorno nos pontos de venda tem sido positivo. As vendas aumentaram e o produto foi elogiado pela nova apresentação.
Shrink e caixas de papel cartão não são mais necessários, o que trouxe redução de custo e ganho em linha de produção
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grandes cases de embalagem
Uma festa para estreitar relacionamentos Em sua 10ª edição, cerimônia de entrega de troféus do Prêmio Grandes Cases de Embalagem adota formato mais dinâmico para estimular o contato entre os presentes ATENÇÃO: Nesta edição estão publicados apenas os aspectos relativos à cerimônia de entrega dos troféus. A análise dos projetos vencedores será realizada na Edição Especial de dezembro (caso queira exemplares adicionais, entre em contato através do e-mail premio@grandescases.com.br). Veja aqui os trinta ganhadores do Prêmio Grandes Cases de Embalagem deste ano: emb.bz/vencedores2016
Em 27 de outubro, mais de 400 pro-
© fotos: andré godoy
fissionais de embalagem dirigiram-se ao Centro Universitário Senac - Santo Amaro, em São Paulo, para a cerimônia de entrega dos troféus da 10ª edição do Prêmio Grandes Cases de Embalagem. Como nos anos anteriores, um coquetel de relacionamento precedeu
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a divulgação dos ganhadores, realizada no auditório a fim de demonstrar, por meio de vídeos, o porquê de os projetos premiados terem sido escolhidos pelos jurados. Ao retornar para o foyer, contudo, os convidados foram surpreendidos por um novo formato de jantar, sem a formalidade das mesas. A mudança
atendeu a inúmeras solicitações feitas aos organizadores para que se ampliasse o tempo de networking. Para tanto, foi firmada uma parceria com o Senac (ver abaixo) para que o espaço fosse caracterizado como um lounge adequado a uma festa mais dinâmica. CONTINUA
grandes cases de embalagem
Destaque aos patrocinadores Série de ações ajudaram a valorizar empresas que apoiaram o evento
Importantes agentes para a realização do Prêmio Grandes Cases de Embalagem, os patrocinadores deste ano (Braskem, Avery Dennison, HP, UPM Raflatac, Clariant, Du Pont e PE Latina Labellers) tiveram, no evento, espaço privilegiado. Além da ampla divulgação usual, em mídia impressa e online, que antecede o evento, e da projeção das marcas em toda a comunicação visual no dia da festa, este ano foram criados espaços específicos para que cada empresa apoiadora pudesse mostrar seus produtos e serviços, e assim estreitar o contato com seus clientes. À Braskem, principal patrocinadora do Prêmio, foi dada a oportunidade de apresentar aos presentes a plataforma Let’s Talk Packaging, iniciativa da empresa que visa a apoiar brand owners em projetos de inovação com
Homenagem aos patrocinadores: a partir da esquerda, Albertoni Bloisi (Braskem), Janine Carvalho (Du Pont), Flávio Marques (Avery Dennison), André Rezende Costa (HP), Bruno Gomes (UPM Raflatac), Esperanza Laserna (Clariant) e Wilton Paixão (PE Latina)
embalagens plásticas. Aos participantes da premiação foi entregue um pen drive com cópias de materiais já publicados sob a chancela dessa plataforma. Os presentes puderam levar fotos impressas com momentos do evento graças a uma ação da Avery Dennison, que capturava os cliques compartilhados nas mídias sociais com uma hashtag específica. Na saída, cada participante recebeu uma amostra de café, como cortesia da HP. Para a ação, foram impressas cinco artes diferentes, com embalagens numeradas, totalizando 500 embalagens únicas. Foi a forma encontrada pela empresa para mostrar uma das inúmeras possibilidades da impressão digital. Os convidados receberam também uma garrafa de vinho, oferecida pela UPM Raflatac. O destaque, aqui, estava no substrato do rótulo autoadesivo, produto que integra o portfólio da empresa. Entre os brindes distribuídos havia ainda uma caneca da Clariant, usada para destacar a linha de masterbatches líquidos da companhia. Também merecem destaque duas ações de marketing realizadas pelos organizadores, com apoio de empresas importantes. Durante o processo de cadastramento, eram entregues laços de fita cor de rosa, como apoio à campanha de prevenção do câncer de mama. Na festa, foi servida aos convidados a cerveja Heineken, nas charmosas garrafas long neck de 250ml.
Apoiadores receberam espaço para divulgar seus produtos e serviços. Na foto, estante da Avery Dennison
Perto da universidade
Vinhos distriubídos pela UPM Raflatac, com rótulo feito em substrato produzido pela empresa
Albertoni Bloisi, da Braskem, apresentou a plataforma de apoio à inovação da empresa, Let’s Talk Packaging
A escolha do Centro Universitário Senac - Santo Amaro como local para a realização das edições mais recentes do Prêmio Grandes Cases de Embalagem baseia-se em muito mais do que em suas excelentes instalações para a realização do Prêmio. É, antes de tudo, resultado de uma aproximação educacional que os organizadores do Prêmio vêm realizando, desde 2010, com a universidade. Essa parceria se traduz de múltiplas formas, que vão da organização de palestras para os alunos a visitas guiadas dos estudantes a indústrias de embalagem. Neste ano, o escopo desse relacionamento se ampliou. Um Desafio Cultural foi proposto aos estudantes de arquitetura e design para que desenvolvessem um projeto de ambientação para o foyer onde se realizariam o coquetel e o jantar. O grupo vencedor, composto pelos estudantes Beatriz Ribeiro, Gabriella Neri, Guilherme Ribeiro, Luiz Garcia e Mariana Ruiz, sob orientação dos professores Robinson Salata e Valéria Fialho, trabalhou com interferências na luz e no mobiliário, e criou detalhes charmosos para o local, como a parede feita com tubos plásticos flexíveis, as luminárias de acrílico e as estantes destinadas aos patrocinadores.
Nas canecas oferecidas pela Clariant, referência à tecnologia de masterbatches líquidos da empresa
HP usou cinco artes diferentes para 500 embalagens únicas de café, numeradas, para promover a impressão digital
Campanha do Outubro Rosa foi se fez presente em ação apoiada pela PH Fit, representada na festa por Isabelle Ribeiro (esq.) e Gabriela Schultze
Os alunos do Senac Luís Garcia, Guilherme Ribeiro, Gabriella Neri e Mariana Ruiz
artigo
Embalagem experiencial é o novo mantra Luxe Pack Mônaco explicita importância da exploração de diferentes sentidos para encantar e atrair o consumidor Por Marc Rosen
A mais recente edição da Luxe Pack em Mônaco (ocorrida entre 24 e 26 de setembro) não decepcionou os aficionados por luxo. Na realidade, foi um dos melhores eventos que visitei nos últimos anos. Talvez porque os negócios precisem de um empurrãozinho, ou simplesmente porque os fornecedores da ponta mais sofisticada da cadeia de embalagens perceberam que focar as vendas apenas onde há volume não é suficiente. Os negócios precisam ser conduzidos pela inovação, com novas ideias para despertar o interesse de designers e profissionais de marketing responsáveis por dar vida, através de embalagens, a fragrâncias, itens de maquiagem e cosméticos. A Luxe Pack trouxe uma infinidade de inspirações. Para mim, no entanto, como designer e profissional de marketing, o tema predominante do evento, embutido em muitos dos produtos lá apresentados, pode ser resumido em uma frase: “desenhando a experiência de consumo na embalagem”. Embalagem experiencial é o novo mantra. Se você acredita em “Amor à Primeira Vista”, certamente se deleitaria com o que a indústria oferece para trazer ao consumidor, através da visão, a sensação tátil antes mesmo de tocar a embalagem. Produzir essa experiência subliminar é o resultado da rendição dos fornecedores ao design de embalagens. Segurar uma garrafa, tocar a textura de um cartucho, ouvir o estalar de uma embalagem de pó compacto são todas 30 | Novembro 2016
sensações experienciais que podem impactar, positiva ou negativamente, as pessoas antes mesmo de o produto ser usado. Essa experiência pode dar a conotação de luxo, modernidade, praticidade ou status. Hoje, mais do que nunca, quando os fabricantes de cosméticos lutam para alcançar o consumidor em múltiplos níveis, desenhar a experiência de consumo na embalagem pode elevar a régua no lançamento de um novo produto. Na Luxe Pack, a indústria do vidro foi quem trouxe as experiências mais relevantes nos aspectos visuais e táteis. A começar pela antiga SGD, recente-
mente rebatizada de Verescence. A nova coleção “Fine Art” da empresa dá aos designers a liberdade de usarem a criatividade sem limites para gravar no vidro padrões em relevo, com o uso de um molde de seis partes capaz de produzir ombros retos, com cantos vivos. A possibilidade de pintura dos frascos gera infinitas alternativas visuais para os designers. (foto 1) Na Bormioli Luigi, a nova embalagem para L’Envol, de Cartier, combina duas das especialidades da companhia: taças de vinho e frascos. O bojo do copo, sem a haste envolve um frasco pesado, criando a aparência de um sino.
O pescoço da garrafa e o atuador são encaixados em um buraco cortado na taça, onde são afixados com um anel plástico. (foto 2) Já a Heinz-Glas inovou com sua técnica “Hole in One”, que cria um buraco no meio do frasco durante o processo de moldagem do vidro, do mesmo diâmetro da tampa, que pode ser encaixada pelo consumidor nesse espaço. A linha “Evolution”, por sua vez, Permite que se altere a volumetria do frasco sem mexer em suas dimensões externas, graças à quantidade de vidro liberada no processo de sopro. (foto 3) Na mesma linha, a Zignago Vetro, divisão mais sofisticada da Verreries Brosse, apresentou a coleção “Up and Down” de formatos standard de vidro. Com a mesma estrutura de frasco onde se acondicionam 100ml podem ser colocados conteúdos de 50ml, graças ao reforço da base e das paredes. Uma embalagem perfeita para novas marcas de nicho. (foto 4) Na Pochet, os lançamentos foram variados e impressionantes. “The Perfume Collection”, da Louis Vuiton, trouxe charmosos frascos no estilo das antigas farmácias, com tampas de zinco simples, douradas e pretas. Já “Good Girl”, de Carolina Herrera, ganhou uma embalagem em formato de sapato de salto. Meu favorito, contudo, foi “Wonderlust”, de Michael Kors, um clássico frasco ovalado elegantemente fechado com tampa dourada. (fotos 5, 6, 7) A nova fragrância “Xinu”, acondicionada num frasco em formato de
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domo, com uma tampa de madeira espelhando a morfologia do vidro, cria o efeito visual de uma ampulheta. É um outro exemplo de como o estímulo visual pode antecipar a sensação tátil. A embalagem é da mexicana Pavisa. (foto 8) No estande da Albéa, as experiências possíveis de incorporação nas embalagens de maquiagem eram abundantes. A começar pela aplicação de textura em frascos standard com a tecnologia “Ceramic Shibo”, complementada pelo acabamento prateado que dá aspecto de glitter. Os flaconetes são adequados aos pincéis Panther e Lynx, disponibilizados pela empresa. Outro conceito interessante ali mostrado foi a válvula “Panache”, que cria o efeito de nuvem quando a fragrância é aspergida, dando uma sensação agradável no processo de uso. (fotos 9, 10) Também merece ser destacada a experiência tátil dos estojos de silicone para pó compacto da Cosme. Disponíveis em diferentes cores, os macios objetos formam uma alternativa jovem e atual para a categoria. (foto 11)
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Marc Rosen, presidente da Marc Rosen Associates, é um dos mais reconhecidos designers de embalagem do mundo. Sete vezes premiado no Fragrance Foundation Awards, é professor no Pratt Institute, de Nova York, onde recebeu o título honorário de doutor e serve como Trustee Emeritus. Seu trabalho pode ser visto em marcrosenassociates.com e mra-studio.com
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LUXO
Dez tendências para embalagens em 2017 A experiência como parte da embalagem Emocionais,
maravilhosas e altamente interativas: essas são as três palavras que melhor qualificam as tendências em embalagem para 2017. Laetitia Faure, fundadora da Urban Sublime, uma boutique de análise de tendências sediada na França, listou dez aspectos experienciais vistos na Luxe Pack em Mônaco*, realizada entre 24 e 26 de setembro deste ano.
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1 - Novo poder O consumidor está se tornando o ator principal no que diz respeito às embalagens, que possuem papel essencial no processo de revelar a beleza do produto. Ao abrir um estojo da Kenzo, ou o calendário de advento da Jo Malone, é possível sentir “a mágica acontecer”. Sem a participação do consumidor, a experiência não ocorre. Por isso, as embalagens devem estimular, cada vez mais, essa interação entre o cliente e o produto. A embalagem é o meio natural para isso.
2 - De volta às origens Na maravilhosa garrafa de conhaque desenhada pela Linea, o rótulo é todo feito de madeira. Com isso, faz-se uma referência imediata ao processo de fabricação da bebida, envelhecida em barris de carvalho. Aqui a embalagem revela a história por trás do produto e dá vida à narrativa da marca. Mais incrível ainda é o rótulo parcialmente feito de lava desenvolvido pela Rotas, numa referência explícita à região do vulcão Etna, onde o vinho é produzido. Isso dá ao consumidor um sentimento de segurança, por compreender de onde vem o produto, e por ter total conhecimento do que está comprando.
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3 - Marcas de longo prazo O poder do marketing olfativo não precisa mais ser provado. É preciso, contudo, buscar formas inovadoras para usar esse recurso e criar conexões com o consumidor. Hoje há inúmeras experiências possíveis de serem alavancadas pela embalagem, graças a materiais inovadores no segmento do luxo. A cerâmica usada pela Les Perfumables, por exemplo, permite que se encapsule nela o perfume, recuperando-se a fragrância e suas múltiplas nuances como se estivesse na pele. O perfume permanece intacto por até seis meses. Um sentimento emocional muito forte é destravado por essa embalagem que apela para sentidos como o tato, o olfato e a visão. Trata-se de uma maneira perfeita para potencializar a experiência de consumo.
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4 – Poesia A embalagem é um espelho de nossa sociedade. Ela combina sentimentos suaves e duros. Mas é também um abrigo, um lindo parênteses que podemos acessar a qualquer tempo. O cartucho de “Objets de Convoitise”, da Clarins, induz a sentimentos de leveza. O design manuscrito traduz um profundo sentimento de humanidade e de liberdade num mundo todo formatado. Assim como a luxuosa embalagem de Rissman reflete um certo romantismo e sobriedade graças ao seu papel fosco.
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5 – O inusitado como força de atração A surpresa tem um importante papel na embalagem. O que é incomum tem o poder de atrair imediatamente o olhar do consumidor. Moschino (apoio da Dapy) e Veuve Clicquot (com embalagem da Virojanglor) conseguiram usar essa técnica com toques de frescor e de bom humor. As duas marcas de luxo, conhecidas por seus elevados padrões de qualidade, aproximaram-se do imaginário do cotidiano para encantar o consumidor e transmitir a ele atributos intangíveis. Moschino trouxe a fragrância Fresh Couture para o mundo da limpeza doméstica. Veuve Clicquot usou setas que sinalizam a posição (a leste ou a oeste) de 29 destinos importantes em relação a Reims, onde a bebida é produzida, reforçando com isso atributos de origem.
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6 – Mensagens pessoais O que é a embalagem senão uma mensagem dirigida a um público específico? Com a tecnologia viabilizando embalagens cada vez mais personalizadas, a mensagem precisa seguir o mesmo caminho. Observe as garrafas dirigidas a bartenders, com a sugestão de receitas de drinques especiais. A percepção de que um produto foi feito especialmente para você cria uma incrível experiência de consumo. No caso da bebida em questão, a caligrafia manual e os desenhos reforçam o caráter de mensagem customizada e personalizada.
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7 – Imersão profunda
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Depois da tendência das embalagens minimalistas, despontam iniciativas que valorizam experiências de imersão mais profunda do consumidor em um universo emocional, como é o caso da série limitada do Rum J.M. A embalagem traz grafismos que remetem à tradição da histórica destilaria vermelha escondida no meio da natureza no norte da Martinica. Com isso, atributos que transcendem o produto em si fazem com que a embalagem seja tão valorizada quanto o seu conteúdo.
8 – Neoprazer Conhecida por suas inovações no mundo dos cosméticos, a Albéa trouxe uma charmosa novidade para melhorar a experiência de consumo. Trata-se de uma esponja esférica que traz novas sensações no momento da aplicação. Suave, o contato com a pele é diferente do já conhecido pelo consumidor. Essa embalagem traz uma experiência memorável no dia a dia do consumidor, e simboliza bem a busca dos fornecedores por sensações que explorem os sentidos.
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9 – Obra de arte O uso excepcional dos materiais só pode resultar em experiências excepcionais para o consumidor. A L’Imprimerie du Marais mostrou um trabalho incrível com papéis, em forma de livro – mas que pode tranquilamente ser incorporado às embalagens. O livro, que conta a história da empresa, foi desenvolvido em conjunto com a agência britânica Made Thought, e é uma chef d’oeuvre feita de detalhes. O resultado, para quem manuseia a peça, é uma total imersão na vida do fundador da empresa, de forma humana e sensível. Ao mesmo tempo, o trabalho é um portfólio magistral de técnicas de uso do papel.
10 – O futuro sendo desembalado Tecnologia e emoções são, definitivamente, uma grande combinação para as embalagens nos próximos anos. Se os avanços da NFC (Near Field Communication) e da realidade aumentada seguirem no atual (e promissor) ritmo, seu uso tende a rapidamente se tornar corriqueiro. É preciso, entretanto, que haja um maior período de maturação, para que essas tecnologias se tornem mais acessíveis e intuitivas para o consumidor. Mas o uso da tecnologia não precisa se restringir ao corriqueiro, quando o assunto é luxo. Na Luxe Pack deste ano, a Obérion integrou uma tela interativa a caixa. Revelado quando a embalagem era aberta, o dispositivo traz informações e demonstrações de uso, além de vídeos aspiracionais. Mais importante, a tela interativa permite ao cliente que solicite contato da empresa, que receba e-mails privados e também dá acesso a um serviço de atendimento especial. Seria a embalagem uma nova mídia?
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* Material enviado pelo designer Marc Rosen
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Display O QUE HÁ DE NOVO NOS PONTOS DE VENDA
Informações adicionais sobre fornecedores das embalagens estão nos links em vermelho no final dos textos.
Azeites
Roupa de gala Chega ao mercado brasileiro a safra 2016 do azeite de oliva extra virgem Prosperato em suas duas linhas: Exclusivo (monovarietais) e Premium (blends). A linha Premium traz uma novidade: a garrafa pintada de branco. Os azeites Prosperato, produzidos integralmente com frutas cultivadas no Rio Grande do Sul, são extraídos
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na unidade de Caçapava do Sul. “A cada ano agregamos mais qualidade ao nosso produto”, explica Rafael Marchetti, sócio da empresa. “Ao pintar a garrafa, além de diferenciar e salientar a presença do produto na prateleira, aumentamos a barreira contra a luz, protegendo ainda mais o azeite engarrafado”, resume. O Prosperato Premium é um blend
elaborado a partir das variedades Arbequina e Arbosana, de aroma agradável de frutas verdes. O azeite Exclusivo, monovarietal da variedade Koroneiki – único brasileiro premiado no Domina International Olive Oil Contest, que se realiza na Itália – é acondicionada em garrafas de vidro preto. emb.bz/207prosperato
Edição: flavio palhares flavio@embalagemmarca.com.br
Display O QUE HÁ DE NOVO NOS PONTOS DE VENDA
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Adoçantes
Cafés
Refrescos
Chocolates
Massas
Medicamentos
Novos rótulos
Direto na xícara 2
Visual modernizado
Cacau black 4
Instantâneo no micro 5
Versão ampliada
A Nestlé apresenta aos consumidores uma nova edição de seu chocolate em barra Alpino. Alpino BlackTop tem o tradicional chocolate Alpino combinado com chocolate meio amargo. A embalagem especial do tablete de 125 gramas combina o dourado de Alpino e a cor preta, que reforça a presença de maior teor de cacau no chocolate. emb.bz/207alpino
A Nissin Foods do Brasil relança a linha Cup Noodles. A embalagem teve o visual renovado e ficou mais prática: térmica, não esquenta as mãos, e pode ir ao micro-ondas. A linha tem os sabores Galinha Caipira, Carne, Costela com Molho de Churrasco, Frango com Requeijão, Legumes, e o novo sabor Tomate. emb.bz/207cupnoodles
Bepantol Derma Creme acaba de lançar uma nova embalagem: bisnaga de 40 gramas. Duas vezes maior que a versão tradicional, a novidade complementa a linha de produtos para hidratação da marca. emb.bz/207bepantol
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Zero-Cal, marca de adoçantes da Hypermarcas, apresenta novas embalagens para sua versão sucralose. O novo Zero-Cal Sucralose agora traz elementos mais modernos no frasco e no rótulo. Com maior destaque para a substância do produto, o adoçante está disponível em cartucho com visor que permite a visão do frasco. emb.bz/207zerocal
O Café Gourmet Santa Monica lança seu Drip Coffee. Considerada um “café de bolso”, a novidade é composta por um sachê de café em pó com hastes flexíveis que se encaixam nas bordas de copos ou xícaras, para permitir que a pessoa prepare um café coado na hora. Por ser embalado individualmente, o consumidor pode levar sua dose de café para onde quiser. É só acrescentar água quente e preparar a bebida direto na xícara. emb.bz/207dripcoffee
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A Coco do Vale renova as embalagens da água de coco. Além da aparência mais moderna, as novas embalagens trazem o QR Code que direciona para o site da Coco do Vale. O produto está disponível em embalagens cartonadas assépticas de 200 mililitros, 330 mililitros e 1 litro. emb.bz/207coco
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Bricolagem
Fragrâncias
Para pequenos espaços 7
Águas inspiradoras
Lácteos
A Nexans, especialista em cabos e sistemas de cabeamento, lança um novo formato de embalagem para comercializar o cabo de dados Essential CAT 5e, que até então era disponibilizado apenas em caixas de 305 metros e bobinas de 1000 metros. O produto, que faz parte da solução da Nexans para cabeamento estruturado, agora poderá ser encontrado também em caixas de 100 metros, a quantidade ideal para uso residencial, small office e home office, instalações que demandam menos pontos. emb.bz/207nexans
A L’Occitane au Brésil, marca do Grupo L’Occitane, lança Águas do Brasil, linha inspirada nas águas doces brasileiras. São duas fragrâncias: Gotas de Chuva e Balanço do Rio. Completam a linha o Sabonete Perfumado Águas do Brasil Gotas de Chuva e o Sabonete Perfumado Águas do Brasil Balanço do Rio. As ilustrações e as embalagens foram criadas pela artista gráfica pernambucana Joana Lira. emb.bz/207aguas
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Polenguinho sem lactose 9 A Polenghi desenvolveu sua nova linha Zero Lactose, cujo carro-chefe é o Polenguinho. O produto é feito a partir da fórmula original de Polenguinho, mantendo seu sabor tradicional, sendo isento de lactose. Nas embalagens, a tarja “zero lactose” aparece em destaque. emb.bz/207polenghi
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Display O QUE HÁ DE NOVO NOS PONTOS DE VENDA
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cervejas
Estreia em grande estilo Nasce mais uma cervejaria artesanal em Minas Gerais: a Verace, cujo nome é uma junção das palavras em latim Vera Cervisiam (algo como a verdadeira cerveja). A fábrica, na cidade de Nova Lima, tem capacidade de produção de até 120 mil litros por mês.
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Os primeiros seis rótulos produzidos são River Flow (American Premium Lager), 1516 (German Pils), Rheingold (Weizen Bier), Surena (American Pale Ale), Coração de Leão (Extra Special Bitter) e Django (American Brown Ale). emb.bz/207verace
Histórias nos rótulos 2
Gordinha intensa 3
Além do picles 4
Mais redonda
A Holy Sheep, produzida pela Holy Sheep Craft Brewery, é a mais nova cerveja artesanal do Sul do Brasil. Nascida para ser irreverente e fugir do lugar comum, apresenta nas embalagens histórias de confrontos entre uma ovelha dissimulada e um lobo-mau “old school”, formando uma “saga etílica”. emb.bz/207holysheep
A Cervejaria Urbana acaba de lançar a Gordelícia Aramis. A bebida carro-chefe da Urbana ganhou uma receita com adição de Aramis – a mais importante variedade de lúpulo aromático da região da Alsácia, na França –, que conferiu à bebida características herbais intensas, como toques cítricos e mentolados. O rótulo é ilustrado por Joe Bennett, que já produziu para a Marvel e atualmente desenha para a DC Comics. emb.bz/207gordelicia
A Hemmer Alimentos, tradicional fabricante de alimentos em conserva, molhos e condimentos, lança sua linha de cervejas artesanais. São seis cervejas que homenageiam a família Hemmer e outros aspectos históricos da marca: 1915 (Pilsen), 100 Anos (Pilsen Extra), Angela (Witbier), Blumenau (IPA), Emma (Weizen) e Heinrich (Strong Golden Ale). emb.bz/207hemmer
A partir desse mês, todas as embalagens de Skol pilsen ganham um novo layout: o amarelo fica mais aparente e a seta ganha destaque, deixando o nome Skol em segundo plano. A ideia é exaltar o slogan “a cerveja que desce redondo”, que vira protagonista da embalagem, com cores fortes e contrastantes. emb.bz/207skol
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APOIO
Almanaque Pum medicinal Durante a Idade Média, o conhecimento humano na área da medicina era rudimentar. Na época, tentava-se de tudo contra as doenças. Diz-se que quando a Peste Negra (pandemia de peste bubônica que assolou a Europa durante o século XIV e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas, cerca de um terço da população europeia) estava em seu ápice, muitos “médicos” acreditavam que a doença era causada por “vapores ruins”. Por isso, pediam que as pessoas guardassem seus gases e cheirassem, pois os vapores do corpo teriam o poder de combater os vapores da doença. Os recipientes mais indicados pelos doutores para guardar os “bons fluidos” eram redomas de vidro.
Embalagem salva-vida Em 1942, a menina Valderez Cavalcante, de quatro anos de idade, foi salva de um naufrágio na costa da Bahia graças a uma caixa de madeira usada para transportar latas de Leite Moça, que lhe serviu de salva-vidas. No dia 13 de agosto daquele ano, o vapor Itagiba partiu do Rio de Janeiro em direção a Salvador. Foi sua última viagem. No dia 17, duas horas antes da chegada à capital baiana, o navio foi alvejado pelo submarino alemão U-507. Anos depois do naufrágio, Valderez contou como foi resgatada: o pessoal do navio a colocou em uma caixa de leite condensado da Nestlé. Os marinheiros disseram para ela segurar e não se soltar. Foi assim que chegou à terra firme. Depois do resgate, Valderez ganhou da Nestlé uma boneca e um conto de réis. O submarino U-507 torpedeou outros quatro navios brasileiros entre 15 e 17 de agosto, provocando a morte de mais de 600 pessoas. Foi o estopim para o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial. Valderez (acima) com a boneca que ganhou da nestlé e o vapor itagiba
O Padre que não fazia milagre Acondicionada em lata de aço, a pomada do Padre Cícero, vendida por mais de 100 anos em Juazeiro do Norte (CE), está fora do mercado desde 2011. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização desses produtos, que prometiam curas para dores de cabeça, no corpo e nas juntas, reumatismo, frieira, ferida aberta e inchaço, entre diversos outros males. A receita do “santo remédio” foi supostamente criada pelo Padre Cícero, ou o Padim Ciço (24 de março de 1844 – 20 de julho de 1934), considerado um santo no Nordeste, principalmente no Ceará. Mas os efeitos colaterais do “milagre enlatado” podiam ser mais graves que a própria enfermidade que o fiel queria combater. Apesar de propagar que só utilizavam ervas e produtos naturais nas embalagens, a Anvisa encontrou nas latinhas a presença de amoníaco e de essências de canfora de hortelã, ingredientes prejudiciais à saúde.
nem reza brava fazia a pomada do padre cícero fazer os efeitos prometidos