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PalavradeManoel deOliveira no encontro deBento XVI comomundodacultura

Religiãoe arte: Palavrade Manoel deOliveira no encontro deBentoXVI comomundoda cultura

Antesdemais quero agradecer este muito honroso convite parapronunciar, neste encontro, umas simples ebrevespalavras.Principiareipordizer-vos ter pensadoqueaséticas,senão também mesmoas artes, seriamderivadasdasreligiõesque procuram daruma explicação da existência doserhumanoface àsua inserção concreta nocosmos.Universoehomem,criaçõesdumser transcendente, colocam-nos problemas inquietantes paracuja solução "oVerbo,quesefezcarne"emCristo, nostrouxe insuperáveis graçasdivinas.

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AsArtes desdeosprimórdiossempreestiveram estreitamente ligadasàs religiões eo cristianismo foi pródigo em expressões artísticas depois da passagem deCristopela terra eatéaos diasdehoje.

Souum homem docinema,docinemaqueéa sétima das artes, logoamais recente de todas as expressões artísticas, poisnãotemmaisqueumséculo, enquanto outras terão milénios. Emdoisdosmeus filmes, figuravaumAnjo. No"Acto daPrimavera", baseado emumautopopular,da família dos chamados Mistérios aindano século XVI.Este figurava aPaixão deCristo, projeto querealizeiem1962,e ondea figura deumAnjofazia parte do próprio contexto religioso desseAuto. No outro filme, "Cristóvão Colombo -OEnigma,realizadojáem2007,oAnjo não constava do contexto da história dolivroemquemebaseei.No entanto, pareceu-me bem introduzir oAnjodaGuarda,aquiodanação portuguesa, comoprévia configuração do Destino, tantas vezes adverso e tantas outras favorável às ações humanas, como aconteceu nessafeliz viagemdo navegador que,pela primeira vez, encontrou asilhas americanas de Antilhas. Isto levou-me a repensar as figuras dosAnjosforae dentro dasIgrejas, parecendo-me conotadas com prefigurações dos espíritos. Oraseos espíritos sãoumsó, então temos nelea natureza deDeus.

Considerando, porém,areligiãoeaarte,ambasseme afiguram, aindaquedeum modo distinto é certo, intimamente voltadas paraohomemeo universo, paraa condição humanaea natureza Divina.E nisto não residirá a memória ea saudade doParaíso perdido, dequenosfalaaBíblia, tesouro inesgotável danossa cultura europeia? Acossados pelas especulações darazão, sempre se levantam terríveis dúvidas e descrenças, aquese procura opor afédoEvangelhoqueremove montanhas. Eosseres humanos caminham na esperança, apesar de todos os negativismos. Como dizopadre António Vieira:«Terrível palavraéo"Non",por qualquer ladoqueo tomeis é sempre Non...», terminando por lembrar queo"Non"tiraa Esperança queéa última coisaquea natureza deixouaohomem.

Seas artes nadamais aspiram aserque umreflexo dascoisaseações vivas dos procedimentos esentimentos humanos douniverso real ouem fantasias imaginadas, pode aceitar-se oqueum realizador mexicano, Artur Ripstein,classificoudummodo magnífico e surpreendente ocinema como sendooespelho davida.Eé-ode facto.

Não querendo alongar-me mais, aproveito a circunstância para, como pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, equesãoas raízesdanação portuguesa eade toda aEuropa, quer queiramos ounão, saudar com profunda veneração sua Santidade, oPapaBentoXVIem visita ao nosso País erogar filialmente quenosdeixe aSua bênção.

Manoel de Oliveira, CentroCultural de Belém, Lisboa,12.5.2010, na fotocumprimenta o Papa BentoXVI, na presençade Tolenti nodeMendonça.

ObradePedroCalapez, baseadanodesenhoquedecoraa PortadaBasílicadaSantíssimaTrindade,Fátimaequefoiocenário do Encontro doPapa Bento XVIcomos Artistas,Centro CulturaldeBelém,12demaiode2010.

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