Zzine #0

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UMA PUBLICAÇÃO DE ZEZINHOS ABRIL/MAIO 2009 ANO 1

saindo da bolha PESSOAS QUE TEM TALENTO SAINDO DA PERIFERIA PARA O MUNDO

mamãe é um caso sério HISTÓRINHAS ENGRAÇADAS

inspire-se ENTREVISTA COM NENÊ

histórias de a e namorados migosnamorados amigos 1

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333 55 7


Sobre surpresas

epossibilidades por Amanda Rahra

Como repórter da revista Sorria, fui pautada para entrevistar a Tia Dag, em agosto de 2008. Com 50 perguntas no caderninho, cheguei à Casa do Zezinho onde conheci o Saulo, e fui surpreendida por uma criança que me conduziu pelos corredores e contou a história daquele lugar repleto de zezinhos sorridentes, agitados e carinhosos. Depois de três horas, duas novas questões: como transformar a incrível conversa numa matéria de duas páginas e também fazer parte desta história também? Na redação, resumi o texto e jornalismo, as sonhadoras mais realistas e queridas do mundo: a repórter Nina e a produtorafotógrafa Laura, que estiveram ao meu lado desde a elaboração do projeto até o fechamento desta primeira edição do Z´zine - passando pelo processo de aprendizado coletivo e troca de experiências. Sábado de sol, 18 de janeiro de 2009. Nina, Laura e eu saímos da zona oeste de São Paulo para cruzar a ponte. Chegamos ao Capão Redondo e, para a nossa surpresa, dos

FES MA THI

que fazer. E logo estávamos falando sobre comunicação, jornalismo, família, amores, escola, cultura. Na volta pra casa, o silêncio foi interrompido: vai da Casa querendo saber quem eram as meninas que atraíam cada vez mais alunos. Discussões acaloradas sobre pauta, apuração, edição, diagramação, que a cada encontro nossa relação se fortalecia: as meninas foram soltando os cabelos, cada um foi contando sua história de vida e mostrando suas habilidades. O verão terminou e o resultado mais uma vez superou as expectativas: os cinco alunos e sábados (previstos no projeto) se tornaram quinze. Uma experiência que contagiou outros amigos, fundamentais para que esta publicação Tia Dag. “Também comecei com cinco. Hoje são 2 mil zezinhos construindo essa história”, dizia sempre que nos via na correria. Obrigada a todos que acreditarame tornaram isso possível!

Equipe Z’zine

NO

KLE JUN FAN LES


DIVERSÃO

INSPIRE-SE

todo mundo tem algo para mostrar

histórias de pessoas incríveis

AQUI TEM TALENTO

GRACINHAS

o que temos e queremos

pra morrer de rir

FESTO MA XWELL THIAGO

TEM QUE SABER

você pode fazer para ajudar

CAPA amizade colorida

SAINDO DA BOLHA da periferia para o mundo

ÍNDICE NOME DE TODOS KLEBER JUNIOR FANIA LESTER

BEATRIZ ANILHA BEBETO SOUXZA

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CO

A ETO R DIR

HO E NSEL

SD

D ITO R IA

L TIA DAG E SAULO GARROUX

NINA WEINGRILL E LAURA SOBEN ES ANDA RAHRA, ÇÃO AM A D E ER


INSPIRE-SE HISTÓRIAS DE PESSOAS INCRÍVEIS

Volta por

cima

Após uma infância pobre e violenta, ele foi engolido pelo mundo do crime. Hoje, é professor e escritor. Conheça a história da revolução pessoal de Marcos Lopes dos Santos, o Nenê T E X TO D e b o r a C o s t a

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F O TO Le v i M e n d e s J r .


HISTÓRIAS DE PESSOAS INCRÍVEIS” INSPIRE-SE

Vaidoso, ele chega para a entrevista de boné, Zz: O que aconteceu nesse meio tempo? e a cada cinco minutos ajeita a lateral do - gos pra roubar um carro. Todos toparam sem pensar temente inseguro com sua imagem, Nenê se nas consequências. Também formamos uma boca no mostra senhor da sua própria vida. Fala com morreu e ainda morre.

protagoniza uma história de superação: passou por problemas familiares, se envolveu com o crime e perdeu amigos queridos. Hoje é professor de Português na mesma escola em que foi expulso quando adolescente e acaba de lançar o livro “Zona de Guerra”, pela Editora Trip. Conheça a vida deste garoto que cresceu na adversidade buscou se transformar. Z´zine: Como foi a sua infância? rinho de rolimã no Horto do Ipê, jogava futebol e bolinha de gude, soltava pipa e, aos oito anos, já pegava Voltava na rabeira do caminhão de gás. E gastava todo Zz: Seus pais não brigavam com você? N: (suspiro profundo) Eu apanhava muito, mas isso, às vezes, acontecia até sem motivo – principalmente quando meu pai chegava em casa meio alterado porque tinha bebido. Tinha dia em que eu faltava na escola porque estava doente, mas ele não entendia e me batia mesmo assim. Zz: E como era na escola? N: Comecei a desbandar aos 11 anos, quando meus pais cantina e mandei uma professora tomar... Fui expulso. Zz: Mas antes da expulsão você começou a frequentar a Casa do Zezinho, né? casa com um uniforme do Kichute dizendo que a Tia Dag tinha dado a roupa para que eles formassem um time de pra Tia deixar eu participar dos treinos e fazer parte do time e eu fui com eles até a Casa do Zezinho. De repente, ela tirou um pirulito do bolso e arremessou na minha direção - talvez para ver se eu era mesmo um aquela era a melhor oportunidade da minha vida.

Zz: E quando você decidiu que era a hora de mudar de vida? velório, porque estava passando por ali. No mesmo dia, ela havia me dito que se morresse não queria ser enterrada no cemitério São Luiz (aquele com mais jovens por metro quadrado do mundo!). Vendo que o pesadelo dela se tornaria realidade, lembrei da Tia Dag. Fui até a Casa do Zezinho e ela me deu dinheiro para enterrála em outro lugar e disse: “Quero ver qual dos seus amigos vai fazer isso por você. Quem vai te enterrar? Pois nessa vida em que você está, logo, logo morre”. E Zz: E depois disso? N: Fui trabalhar como faxineiro e me tornei voluntário da biblioteca da Casa do Zezinho, onde li meu primeiro livro, aos 16 anos: “Capão Pecado,” do Ferréz. Foi ali que minha paixão pela leitura e pela escrita nasceu. Na mesma época, alguns amigos passaram no vestibular. tras na Faculdade UNICID. Zz: Foi fácil? N: Quando prestei o vestibular, ainda trabalhava como auxiliar de limpeza. Quase não sobrava tempo para estudar. Saía do trabalho às 16h, passava no shopping -

Zz: E durante o curso, quais foram suas maiores diN: Quase sempre faltava grana para a condução, e eu dependia da ajuda de amigos. Saía de casa às 16h para chegar na faculdade, na Zona Leste, às 19h e só voltava pra casa à meia-noite. Zz: O que você diria para os jovens da periferia? N: Tenho meu carro, meu apartamento, e depois de cara feliz, porque aprendi que quando te tiram tudo, todas as pessoas que você ama, seus amigos, sua famí-

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GRACINHAS PARA MORRER DE RIR

Minhamãe éumcasosério!

I LUSTRAÇÕE S Debora Costa

Dizem que toda mãe é igual. Só muda nome e endereço. A gente não sabe bem se isso é mesmo verdade, mas que elas são bem parecidas, são. Você não acha? Antes de responder, leia o que descobrimos abaixo.

MÃE ENC ICLOPÉD IA

É aquela que sabe tudo.

MÃE CO TONETE

É aquela que quando a gente não tem, faz muita falta.

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MÃE CE LURAR

É aquela que, quando a gente mais precisa dela, não consegue falar.

MÃE BIC AMA MÃE PAP AI

NOEL

É aquela que enche o saco.

MÃE PAN ELA DE P RESSÃO

É aquela que quando explode todo mundo sai de perto.

MÃE CE BOLA

É aquela que faz gente chorar sem necessidade.

É aquela que em caso de necessidade se desdobra em duas.

MÃE FED ERAL

É aquela que não gosta de ser enganada.

MÃE OV ELHA

É aquela que só encobre e não fala nada.


A D O T E O QU ! ÍZO, Z I D E A M JU ): TOMA

PARA MORRER DE RIR GRACINHAS

.MEI PNRINOAC(UORAR UM E A

VA ANQU R,NÃO R ,T O G E E SAI E M PR D S E T N TARA É A T T A R O A P NA R U TADOR, R A C I F VAI OM PU U NC O D I BAG DE, SA A U S A A S AR R U M E OS VI Z I N HO U ÇA, O Q AR, CH EGA NO . L VÃO FA , VAI ESTU DAR O HORÁR I e

r p m e s s a el o tem raza

MORRENDO DE CURIOSIDADE

APRENDI COM MINHA MÃE por Thaís dos Prazeres

Um dia, minha mãe estava lavando roupa Como fazia toda semana. Era apenas mais um dia em que eu tinha que passar a agonia

O que você acha que eu faria se não estivesse “trancada”? E fuçar nas coisas que pareciam engraçadas.

Tudo o que sei aprendi com a minha mãe. Ela me ensinou a apreciar um trabalho bem feito: “Se você e seu irmão querem se matar, vão pra fora. Eu acabei de limpar a casa!”. E também me ensinou a ter fé: “É melhor você rezar para essa mancha lógica: “Porque eu estou dizendo que

Não lembro como, mas venci a muralha que me prendia Sai da sala e fui direito para o quintal

motivação: “Continua chorando que eu vou te dar uma razão verdadeira

Quando mamãe foi por a roupa no varal Rebelei-me.. Uhuuu agora descobrirei o mundo! Olhei para os lados. Só tinham baldes E num deles mergulhei, mas foi profundo.

minha mãe sabe: “Você é igualzinho

Quando minha mãe desceu da laje Viu minhas perninhas para cima E minha cabeça estava dentro da balde

me ensinou sobre minhas raízes: “Tá pensando que nasceu de família rica é?”. Sobre a contradição: “Fecha a boca e come!”. Com ela, soube o que é a força de vontade: “Você vai

- Ô bebida sem graça! Estava prestes a morrer de curiosidade Pelo menos senti que gostoso é quando a água molha meu corpo Por muito tempo tomei banho na balde... Era gostoso de verdade.

iguais a você... aí você vai ver o que é bom.” E, principalmente, a ter retidão: “Eu te ajeito nem que seja na pancada!”. Obrigada, mami!

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CAPA

amizade colorida?

Namorados que viram amigos, amigos que viram namorados, ou outros sem segundas intenções. Os muitos caminhos das relações entre meninos e meninas

T E XT O Deb ora Cost a, Zaira Coimbra, Camila Mariga, Beatriz Mendes e Priscila Mendes F OT O S M i c a e l J a c k s o n e d i v u l g a ç ã o

Quando uma amiga fala com muito carinho de um amigo, a gente logo desatividades em conjunto contribuem para estreitar laços de companheirismo. Com o tempo, isso se torna paixão, amor ou uma verdadeira amizade”, com o passar do tempo, então descobrimos se realmente virou amor. Ou amizade. Já a amizade verdadeira se fortalece com o tempo”, diz. Debora e Cláudio, depois da paixão, descobriram que são verdadeiros amigos. O casal Rosemeire e Pedro começou a construção desse amor na escola primária. Já no relacionamento de Patrícia e Carlos não existem fronteiras. E para quem acha impossível que haja amizade entre homens e mulheres, Jhonny e Natália estão aí para provar o contrário.

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AMIGOS DE FÉ Natália, 15 anos, e Johnatan, 16, se aproximaram sem querer e não se desgrudaram mais. Eles estudavam na mesma escola, moravam no mesmo bairro, mas só tiveram contato após entrarem no curso de fotogranamorada de um amigo meu. Quando eu a cumprimentava ela respondia de forma seca, o que me fazia pensar que era chata”, brinca. “Eu achava ele tosco, mas depois que nos conhecemos melhor percebi que era legal”, diz. Nunca houve segundas intenções. “Ele é bonito, inteligente, mas eu de verdadeira”, diz Natália. “Eu não

pensar nos amigos”, diz ele. do as qualidades e defeitos do outro, sem julgamentos ou cobranças, e em menos de um ano se tornaram amigos inseparáveis. Hoje conversam sobre tudo e nunca se separam. E querem que seja sempre assim.


CAPA

Planejam até morar juntos e no futuro montar um coletivo de foto-

tivo, escuta o som exageradamente dio inteiro!”, relembra ela. Eles pretendem se encontrar em

SEM FRONTEIRAS Carlos, 19, na Bolívia. Os milhares de quilômetros foram vencidos graguém, tanto faz se a relação é ao Desde 2007 eles conversam todo dia. divertido”, conta Patrícia. trado, eles se conhecem bem. “Ela é minha melhor amiga. É divertida, criativa, inteligente e, às vezes, um pouco insegura” conta Carlos. “Ele é quem mais me faz rir. O defeito é juntos, por uma divertida situação. “Uma vez cantei pro Carlos no PC, e como ele tem um problema audi-

imaginei como vai ser: vou correr de!’”, ele brinca. “Estou ansiosa. Vou levá-lo pra praia, pra lagoa e pro forró”, planeja Patrícia. A QUÍMICA DA AMIZADE Cláudio, 16 anos, achava Debora, 15, bonita. Ela o tachava de arrogante. Eram apenas colegas, daqueles que só dizem “oi”. O primeiro contato verdadeiro foi quando dividiram um chiclete que deixava a língua – e o xixi – azul por 24h. Certo dia, uma amiga de Debora comentou que achava Cláudio um gato. Ela concordou e só então viu quanta coisa eles tinham em comum, como gostar de capoeira e sonhar em conhecer a Bahia. Cláudio passou a ver Debora com outros olhos. Um dia, ela recebeu uma mensagem dele pelo Orkut. Resultado: namoraram cerca de um mês. “Tínhamos uma química muito for-

te, mas não era para namorar”, ele diz. “Cláudio fala que se eu fosse garoto, seria seu irmão!”, conta Debomesmo virado amizade, ela decidiu cebeu que foi melhor assim. Hoje Debora diz que Cláudio é seu melhor amigo. E vice-versa [Oun*-*]. Eles sabem que aquilo que viveram foi muito especial para terminar junto com o namoro. “Não foi exatamente amor, mas também não deixou de ser”, diz Debora. O AMOR PODE ESTAR AO LADO Pedro, 27, começou na 4ª série. No início, companheirismo e admiração ber, eles construíram o cenário ideal para o casamento. que inesperadamente se reencontraram e perceberam o quanto tinham crescido. “Naquele dia ela estava va bagunçada”, brinca ele. “Quando ele falou o meu nome, levei um susto: a voz estava muito grossa!”, lembra Rosemeire. Ela só foi perceber que gostava dele quando o viu com outra garota. “Tive medo de perdê-lo”. Então Rosemeire tomou coragem e deu o primeiro passo, e juntos resolveram enfrentar o temor da amizade terminar. “O medo que a gente sentia era insegurança, porque até hoje somos amigos e é isso que nos une”, diz Pedro. Casados há um ano escolha certa. “Se me pedirem um conselho, direi: case com o seu melhor amigo, porque ele te faz bem sem exigências, te compreende, te respeita e gosta de você sem pedir nada em troca”, diz Rosemeire.

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SAINDO DA BOLHA DO CAPÃO PARA O MUNDO

Do gueto para o mundo

Slim Rimografia: estúdio caseiro e apresentações no exterior

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Jovens da periferia de São Paulo pulam o muro em busca do sonho: viver da música T E XT O P r i s c i l l a M e n d e s , B e a t r i z M e n d e s , F e r n a n d a A l v e s d e M o u r a e L e c a B e r n a rd o

F O TO N a t á l i a B a r b o s a

Nascer na favela famoso ou pagar as contas fazendo o que gosta. Os exemplos surgem aos montes, ainda mais em um ramo tam nas garagens da periferia, bandas independentes que fazem serviços em troca de divulgação e outras, que apesar da falta de grana e do preconceito, sonharam, romperam bolhas, e saíram do país. trocínio, de cultura e informação. Tudo isso vira tema tidiano em protesto. E os problemas não param por aí. Bandas que nascem nos guetos se tornam prisioneiras até mesmo de uma estética musical imposta pela grandor do quadro “Buzão: Circular Periférico”, do Prograe eles acabam por se enquadrar no estilo musical da

criado em Guarapiranga e com apresentações até em Cannes, na França. e Orkut ou em blogs), outros fazem parcerias com as rádios. “Temos que acreditar na gente antes de todo mundo, temos que sonhar alto e correr atrás, sair da mas seres humanos e por que não escritores, poetas, Por meio da arte, a periferia pula o muro e mostra que na favela também existem pontos positivos. E não são poucos. Conheça quem, de um jeito ou de outro, já começa a trilhar esse caminho.


DO CAPÃO PARA O MUNDO SAINDO DA BOLHA

CONEXÃO FIGUEIRA-FRANÇA tão tímido que era. Para extravasar, escrevia letras para feito pelos alunos da escola onde estudava, Walter subiu ao palco. Tímido, inspirou-se nas anotações de seu caderninho de bolso e lançou suas rimas pelo microfone. O retorno foi

andar de skate”, conta ele, hoje com 30 anos. dor de Jundiaí, ouvia house e eletrônica e tentava imitar o aos 14, numa festa, conheceu o DJ Kurts, que por interméThiago e pediu uma amostra grátis. Kurts ouviu, aprovou e pediu ao garoto que subisse ao palco. “Eu tava com vergonha, mas depois a sensação foi de satisfação, de missão cumprida”, conta Thiago. Nos anos seguintes, foi aperfeiçoando seus beats e aos 17, já conhecido como Thiago Beat Box, passou a se apresentar. “Hip-hop, baile, samba. Em qualquer lugar que tivesse microfone eu ia e pedia pra lançar uns beats”, diz. conheceram. Em pouco tempo de conversa perceberam

de som”, diz Slim. Recentemente a dupla ganhou mais um integrante: Filiph Neo, de 19 anos, cantor e multi-instrumentista. “Convidei Filiph pra gravar com a gente. Ele topou, chegou atrasadão. Quase matamos ele, mas acabamos decidindo trabalhar juntos, buscar o sonho”, conta Slim. diferente, são sobre sentimento. “Conheço muito criminoso, mas nunca fui. Não sei falar disso”, diz Slim. Em 2008, essas mesmas letras o levaram para fora do país. Slim Rinistério da Cultura. Pisar em solo estrangeiro rendeu muitas surpresas. “Eles têm mente aberta. Há também uma jão, nem suco natural de frutas. mangas e trabalhar. “Fama é bom, mas só o trabalho traz dia ser exemplo, a vontade que têm é sair numa turnê, tocando pelo mundo e espalhando sua poesia. “Eu quero mostrar pros moleques que não é preciso roubar pra ter as paradas, você pode correr atrás do seu sonho e fazer o que de 200 mil visitas no Youtube. O trio está se preparando para lançar ainda este ano seu terceiro CD.

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Da labuta ao batuque: a Usina Reagge não para


SAINDO DA BOLHA DO CAPÃO PARA O MUNDO

dão duro durante a semana – Leandro e Francisco no telepo, se você não tiver história e talento, não sobrevive no começou em 2001 com a união de amigos de longa data. ca, tiveram a idéia de se juntar sob o nome de Usina Reggae, palavras escolhidas para relacionar o que eram: uma fábrica de ritmos ambulante dentro de uma vida operária. vira produtor e o tecladista ajudante de palco. Há menos tempo no cenário musical, os reggaereios ainda rista Edson Reghetti, 38 anos. O que não os desanima, pois sabem que a recompensa aparece cedo ou tarde. Usina dividiu o palco com grandes nomes do reggae como Groudation, Cidade Negra, Tribo de Jah e Natiruts. “É muito louco você gostar e admirar o trabalho de alguém e do nada se ver ali no palco, do lado dele, cantando de igual para igual.

gunça, apoio não falta. “Eles têm futuro. Querem mostrar muito boa’’, diz Dona Bia, mãe de Leandro. te gosta de idiotice, quer tirar um barato das coisas, das

periferia não é fácil, pois quase sempre o dinheiro é o maior Veloso, com certeza não estaria aqui. Estaria gravando dis“Queremos juntar uma grana, procurar uma gravadora boa e deixar nosso som com qualidade gringa. Não queremos

para levar a cultura do reggae para sua comunidade. No ano passado, criaram uma banda de maracatu composta por jovens da ONG Serviço Social Bom Jesus e do projeto na favela Paranapanema. “Toda primeira sexta-feira do e tocamos de graça. O espaço é aberto e as bandas podem

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reconhecimento, dizem eles, vem aos poucos. “O que rola é uma troca, as rádios divulgam o nosso trabalho e quando

apenas começou. Leandro Álvaro, de 22 anos, sempre sonhou em ter uma guitarra. Trabalhou durante meses e economizou dinheiro para comprá-la, mesmo sem saber tocar. Fez algumas aulas quando dava, pediu ajuda e dicas para um amigo que manclaro. Ketilly Pereira, 17 anos, - a namorada - comprou a ideia e resolveu economizar também para ter sua bateria (no meio tempo foi aprendendo a tocá-la). Chamou o iro amigo Francisco Fernandes, também de 18 anos, e assim

Mundanos-09: cáries nos dentes, inspiração na comédia, Mamonas e Ultraje. Ah, e sim, no rock clássico também.


DIVERSÃO O QUE TEMOS E O QUE QUEREMOS

Jogo de

menina

Garotas mostram que molecagem, maquiagem e jogo de cintura são essenciais para uma roda de capoeira T E XTO D e b o r a C o s t a

F OTO C o l e t i v o Z ’ Z i n e

Quando eu tinha quatro anos, só os meninos podiam fazer aula de capoeira na minha escola. Para as meninas, las do meu irmão da arquibancada da quadra e vivia coloquei em prática minha paixão. No meu grupo, os professores e a maioria dos alunos falta de companhia, até porque os meninos não colaboravam. Ficavam zoando, dizendo que eu não sabia jogar, tirar muito tempo – suor e bolhas – depois. Em 2007, após cinco anos praticando capoeira, agora pés estavam sangrando, em “carne viva”. Cheguei até a

13 o que estava acontecendo. Quando soube que era con-

Sábado à tarde meninos e meninas jogam capoeira

Naquela época, o grupo já tinha 20 meninas super animadas, e eu, por ser a mais velha, comecei a servir de exemplo para elas. Tanto que hoje elas me chamam de “mãe”, porque sempre defendo, protejo e ajudo. estão sempre bem arrumadas, levam maquiagem, andam em grupinhos, discutem, fazem bico, jogam charme, paqueram... O Gigio (ex-Zezinho que há seis anos se tornou educador) diz que a capoeira na Casa do Zenômeno raro: desde o início, a maioria dos praticantes já eram garotas”, conta. reserva um tempo para conversar com meninas, prin-

sequência do atrito com o chão de madeira da sala de capoeira, disse que ia me tirar do grupo. Chegou até a ir falar com o professor Gigio, para tentar convencê-lo a

[brigaram-com-o-namorado] ou, simplesmente, quando estão com preguiça! Nós, meninas, comandamos a capoeira na Casa do Zezi-

para proteger meus pés, e resolvi a questão. Eu não podia abandonar a capoeira de jeito nenhum! Era eu quem “puxava” a aula, e essa sensação era tão boa que me fazia esquecer qualquer tipo de dor que viesse me perturbar. Era como se eu saísse do meu corpo.

[tadinhos!]. Não quero dizer pra nós, mulheres, invadirmos o universo dos homens: temos que respeitá-los assim fragilizar muito. Temos que nos integrar, participar, mos-

Maquiagem e ginga: elas metem medo nos meninos

no passado. Hoje, a frase “por trás de um grande homem existe uma grande mulher” deveria ser substituída por mulher”. Digo isso por que sou uma delas também. * Debora de Jesus Costa, 15 anos, é aluna do professor Gigio há três anos e está há três meses afastada das aulas de capoeira, para que você, leitor, possa se deliciar com as suas matérias no nosso primeiro Z´zine. Mas ela avisa: “Gente, logo mais eu volto, se preocupa não!” ;D

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AQUI TEM TALENTO TODO MUNDO TEM ALGO PRA MOSTRAR

Aqui nãofalta

Todo mundo tem algo de bom pra mostrar. Até você. Na primeira edição, o que de melhor nossa equipe sabe fazer.

diversos tip os de senti mentos com rancor, raiv o, amor, tr a, saudade.. isteza, . Ela se torn pressão, o a uma arte que as pess de exoas poderia através de m usar a se sons, dança u favor, s, instrume tras coisas. ntos musica Ela transmit is e oue sentimen por conter to. E exata essa vibraçã m ente o natural, p ção pelas “ or essa com entrelinhas” unica, ela faz co encontrem m que as p algo em com essoas um umas na mando tribo s outras, ass s, assim se im u fornindo.” CA M IL A M AR IG A, 16 AN O S

“Pode me chamar de Binho (ou de Ernesto, como pr eanos de idade. So u melhor no espo rte do que no fu bol e não vou la tergar o handebol tão fácil assim. é meu talento”. E esse RU BE NS SA NTAN A, 17 AN OS

POR JOHN ATAN GOND IM, 16 ANOS

lento é apenas aquele que sabe tocar um instrumento uma expressão do que voc ê é, ao ser comunicativo ou até mesmo quando divulga suas idéias escrevendo. Foi assim que descobri o meu. Foi através do gosto pela a orgulho Sou Jornalista.” PRI SCI LA ME NDE S, 23 ANO S

14 14 Nunca trabalhei em salão, mas como não saio

de casa

“Sufocada por medos e inseguranças, a ponto de enlouquecer com o que se deve, pode e gosta de fazer. ou indiretamente em minha direção. Já há algum tempo ouço essas palavras e me calo, me tranco em meu quarto e escrevo. Caneta em mãos, deparei-me com Não sei se isso é um talento, talvez um veículo. Porque vicção de ser escritora, mas é isso que amo e que vou amar para o resto deste primeiro momento.” ZAIRA COIMBRA, 15 ANOS

sair.” Todas minhas amigas me procuram antes de BRUN A RODR IGUES, 15 ANOS

tempo foi passando e eu abro a boca não paro mais. O soas diferentes - ou a minha vontade de conhecer pes que eu me comunido mesmo estilo que eu - fez com r era meu negócio. fala que casse mais. Percebi então unicativa indepenE acho isso um ponto forte. Ser com seu dia hoje, o que dentemente do assunto: como foi meu melhor talento.” FER NAN DA ALVE S DE MOU RA, 16 ANO S

POR DÉBORA COSTA, 16 ANOS


TODO MUNDO TEM ALGO PRA MOSTRAR AQUI TEM TALENTO

“Não me interessava mu

ito pela palavra comunica

ção. rias formas de me comun icar. Hoje vivo a palavra, por meio das fotos e dos víd eos que produzo. Tudo o que melhor, e sim fazer o me lhor naquilo que você gos ta. Sempre existirá alguém melhor do que você em alguma escolha e faça de tudo para fazer a diferença... ” MIC AEL FRE ITA S, 19 ANO S

a vontade de dia. Surgiu então do to os m ía ev cr a: não sabíanoite es pequeno problem um e a nd ba a um render algo. montar . Pensamos em ap to en m ru st in um “Quero arremos nenh r o baixo”, já eu se ou “V a ad in rm ! Uma guitarEla dete rte chata: dinheiro Pa . !” rra ita gu na ra a cabeça, bentar baixo, idem. Queb o e s ai re 0 40 a lão (pela da ra custav bas compramos vio am : do lta su Re . as incríveis estresse os professores eram ss No . o) eç pr do metade am e a guitarra Os anos se passar a. nc ba de s ha o de ter ecorevistin Nunca gostei tant . ça be ca da do in foi sum E . ão ix o, virou pa símbolo de um sonh lão deixou de ser o o minha calma.” que as cordinhas sã AN OS BE ATRIZ ME ND ES, 17

presentes adoraram. Desde então, peguei amor pela

. Fiquei s olhos brilharam

zinho meu

MÜLLER SILVA FREITAS, 17 ANOS

“Não chega a ser um talento É apenas uma brincadeira que faço De rimar com as letras Sem que elas se percam no espaço

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“Quando eu era pequena, fazia aulas de cant o na igreja. Diziam que eu tinha a voz muito boni ta. Um dia,

LECA BERN ARDO, 16 ANOS, (QUE DE ZEN TEM BEM

, fotomon“Como vocês podem ver na foto, quer dizer tas de um tagem, adoro conhecer todas as ferramen

POUC O)

xo doida e me apai

E elas narram meus pensamentos E quando menos espero Elas narram até meus sentimentos Os versos moram nas estrofes Tenho muito sorte Conheci a arte das palavras e seus esquemas.” NIÑA MALTA, 17 ANOS

“Viola é um instrumento um pouco maior que o violino. é a mesma.” THAIS DOS PRAZER ES, 17 ANOS

veu. Hoje já ágica e me inscre em ag Im G ON Zezinho e pessoal da inuo na Casa do nt co , to fo em a estou formad

do. Hoje faço as unhas das minhas amigas e as minhas também. Gosto muito de conhec er pessoas e conversar

ação.” ligado à comunic AN OS 15 A, OS NATÁLIA BA RB

CAR OLIN E PIAS SA, 18 ANO S


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