Pasta e Papel Magazine N° 79

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Ponto de vista Alterações Climáticas: Todos somos responsáveis As mudanças climáticas são a maior ameaça ambiental do século XXI, com consequências profundas e transversais a várias áreas da sociedade: económica, social e ambiental. Todos nós, sem exceção, estamos a ser afetados por esta questão: cidadãos comuns, empresas, governos, economias e, mais importante de todos, a natureza. No cerne destas mudanças estão os chamados gases de efeito estufa, cujas emissões têm sofrido um aumento acentuado. É, por isso, imprescindível reduzir as suas emissões, eliminando, progressivamente, o uso massivo dos combustíveis fósseis, substituindo-os pelas energias renováveis, fomentando a poupança de energia e a eficiência energética. Ao mantermos uma atitude inerte e apática perante esta questão, corremos o risco de sermos expostos a eventos climáticos extremos e imprevisíveis (como os que temos vivido nos últimos tempos) e com efeitos nefastos para todo o mundo! Os efeitos das mudanças do clima são evidentes em zonas como o Ártico, a Antártida ou África, mas também já há muita coisa que mudou em Portugal. As ondas de calor tornaram-se mais frequentes e existem maiores períodos de seca. Com temperaturas mais altas e humidade mais reduzida, o risco de incêndio florestal aumentou, estando a floresta de Portugal a diminuir, consumida pelos incêndios. Os Invernos estão mais curtos. Os rios tão depressa diminuem os seus caudais, como estes aumentam repentinamente. O padrão da chuva mudou e, quando realmente chove, chove muito e durante um curto espaço de tempo, originando, tantas vezes, cheias nos campos e nas próprias cidades. Embora devagar, verifica-se uma subida do nível do mar. Estes são apenas alguns dos efeitos das mudanças climáticas em Portugal. E as consequências das alterações climáticas tornaram não só o dia-a-dia como o futuro das empresas do setor da pasta e papel muito preocupantes: • Os incêndios rurais potenciados pelo aumento das temperaturas, pela falta de chuva e pelas secas e, muitas vezes, agravados por condições meteorológicas com ventos muito fortes, que favorecem a sua propagação, • acrescido da dificuldade, ou impossibilidade, de repovoamentos florestais devido a uma precipitada legislação que não corresponde ás reais necessidades, potenciando o abandono da floresta e agravando a desertificação, originarão, a curto prazo, a falta de matéria prima; • a diminuição periódica do caudal dos rios onde são lançados os efluentes industriais, motivando pontuais concentrações elevadas dos seus parâmetros com consequências nocivas para o meio, e dando origem a um alarido fortemente orquestrado e mediatizado, traduzem-se em avultadas e forçadas perdas de produção e na eventual necessidade de novos, complexos e elevados investimentos, agravando as margens de exploração. • Questões que levantam sérios problemas na operacionalidade presente e na sustentabilidade futura do setor, a que temos de adicionar um impacto muito negativo para a sua reputação e para a sua imagem… Um problema para o nosso país, para o nosso setor industrial, para todos que estão ligados ao mesmo! As alterações climáticas um problema de todos e para todos nós. Caberá a cada um, na esfera de ação da sua atividade, ter um papel importante na minimização dos riscos e otimização da utilização dos recursos. Mudar radicalmente uma cultura, um modelo económico, um estilo de vida, poderá levar gerações. Mas todos somos responsáveis, agora, por contribuirmos para o início dessa mudança!

João de Sá Nogueira Editor

pasta e papel – Primavera 2018

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Indice Kadant Lamort..................................................................... 19 Emtec Electronic................................................................... 73 MIAC 2018................................................................. Capa 2 PaperCon 2018.................................................................. 67 Pulpaper 2018............................................................. Capa 3

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pasta e papel – Primavera 2017

SchäferRolls........................................................................... 7 Sertec-20............................................................................ 69 Tissue World Miami.............................................................. 61 Tissue World Sao Paulo................................................. Capa 4


Sumário

REVISTA PORTUGUESA PARA A INDÚSTRIA PAPELEIRA

N° 79 - Primavera 2018

REDAÇÃO em Portugal

João José de Sá Nogueira Rua Dr. Leonel Sotto Mayor, 50-3° A 2500-227 Caldas da Rainha - PORTUGAL Tél.: + (351) 918 432 627 Fax: + (351) 262 838 569 E-mail : joao.sa.nogueira@groupenp.com

REDACÇÃO & PUBLICIDADE no Brasil : Roberto T. Sebok R. Bela Cintra, 221 apt. 111 01415-000 S. Paulo - SP, BRASIL Tel +5511 9964 2775 / +5511 5587 5750 Cel +55 11 9999 10 76 Email : roberto.sebok@groupenp.com

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Editor de La Papeterie, l’Annuaire de la Papeterie, La Carte Papetière France, El Mapa Ibérica de la Industria Papelera, El Papel, Anuário Ibérico da Industria Papelera, Turkiye Kagit Sanayii, Paper Middleast, Guia Latinoamericano Official Media Partner 2017

PONTO DE VISTA por João de Sá Nogueira

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EM DESTAQUE

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Ainda os Incêndios rurais ► Tiago Oliveira chefia a Estrutura de Missão para a Gestão Integrada de Fogos Rurais ► CELPA revê-se no diagnóstico e conclusões do relatório independente sobre incêndios de Pedrógão e Góis Atividade empresarial ► Altri mantém Portugal na liderança mundial de produção de pasta para papel Gestão florestal ► Projeto Melhor Eucalipto ► The Navigator Company reuniu produtores florestais para promover a gestão florestal certificada Novos investimentos ► Andritz proporciona a vanguarda de sinergias socio-ecológicas ► Voith e Suzano Papel e Celulose consolidam parceria tecnológica de sucesso com start up de duas máquinas tissue ► Primeiro fornecimento de pilha de aparas de grande volume GentleStore da - Valmet em Portugal

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REPORTAGEM Papeleira Coreboard

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► PrimeLineTIAC: o berço de novos produtos e processos para a indústria de tissue Andritz ► Aumento do rendimento nas máquinas de tissue mediante a tecnologia tisQ.X para revestimentos de rolos SchäferRolls

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TECNOLOGIAS >> Tissue

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Entre as paginas 27 a 58 encontra o Boletim da Tecnicelpa 54 (Março 2018)

TECNOLOGIAS >> Tissue

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TECNOLOGIAS >> Papel

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Desintegração enzimática na produção de papel tissue Sertec20 ► Sistema integrado de lubrificação da caixa de vácuo para um condicionamento uniforme do feltro Voith ► Medição de cargas para melhoria da qualidade dos produtos acabados e economia de recursos Emtec electronic

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TECNOLOGIAS >> Pasta

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TECNOLOGIAS >> Deteção e Supressão de Incêndios

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Novo processo de deteção de fugas nas caldeiras de recuperação Valmet Firefly apresenta o primeiro Sistema de Supressão Rápida aprovado por Terceiros Firefly

PAPER CLASSIFIED WEBZINE 74 2017

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Em destaque Ainda os Incêndios rurais Tiago Oliveira chefia a Estrutura de Missão para a Gestão Integrada de Fogos Rurais

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iago Martins Oliveira, engenheiro florestal e responsável pela área da proteção florestal do grupo Navigator, é o nome escolhido pelo Governo para chefiar a Estrutura de Missão para a Gestão Integrada de Fogos Rurais que vai criar a Agência proposta pela Comissão Técnica independente. É licenciado em Engenharia Florestal (1994), detém um mestrado em Gestão de Recursos Naturais no Instituto Superior de Agronomia (1998), onde, em 2017, também concluiu o doutoramento em Engenharia Florestal e Recursos Naturais. O engenheiro florestal de 48 anos, conta com 20 anos de experiência em atividades nacionais e internacionais ligadas à gestão e governança de risco do fogo e gestão de recursos naturais. Foi um dos coordenadores da proposta técnica do Plano Nacional de Incêndios Florestais, apresentada em 2005 e que acabou por ser metida na gaveta. No currículo conta com a participação no projeto Fire-Engine do MIT e no painel de peritos em incêndios florestais da organização para a Alimentação e Agricultura (FAO). Faz parte do conselho técnico da Afocelca e entre 2003 e 2006 foi adjunto no ministério da Agricultura. Na sua tomada de posse, Tiago Martins Oliveira

CELPA revê-se no diagnóstico e conclusões do relatório independente sobre incêndios de Pedrógão e Góis

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Celpa realça a qualidade técnica e o rigor apresentado pelo Relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) sobre os trágicos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis, em junho de 2017. A Celpa revê-se na generalidade do diagnóstico apresentado e, mais importante, na grande maioria das recomendações apresentadas, considerando que o relatório da CTI dá um importante contributo para a reforma profunda que é necessária realizar em Portugal

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invocou a sua experiência como sapador florestal, além de engenheiro florestal, para afirmar que acredita ser «possível fazer melhor», ser «mais eficiente» e, com uma estratégia colaborativa, «envolver as partes interessadas contra um inimigo comum». «Durante os próximos meses estaremos focados em contribuir em que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) e a GNR construam este sistema, assegurando que daqui a um ano ele seja avaliado, dotado de mecanismos de aprendizagem e capaz de melhorar sucessivamente», afirmou. No entanto, para o especialista, «as causas do problema são antigas e, portanto, vai levar tempo a corrigir». «A urgência de reduzir as ocorrências passa pela mudança de comportamentos em relação à floresta e às práticas de risco, o que exigirá educar a população estudantil através de um programa dedicado, mas também chegar a outros públicos menos jovens, como a população rural, envelhecida», sublinhou.

na prevenção e combate a incêndios rurais, isto sem prejuízo de algumas melhorias de carácter técnico que possam vir a ser introduzidas no trabalho e da melhor ponderação de algumas das suas recomendações. O relatório da CTI refere questões como o desordenamento do território, a ausência de uma gestão ativa da floresta, o excesso de biomassa nos matos e na floresta em Portugal, o não cumprimento das distâncias de segurança em redor das estradas e das casas, o elevado número de ignições em Portugal, a meteorologia, a falta de liderança, a má gestão de meios e a ausência de coordenação eficaz no combate a incêndios como as principais causas para o ocorrido.


As conclusões deste relatório vão ao encontro do que a Celpa – Associação da Indústria Papeleira tem defendido desde sempre, com especial ênfase no passado recente em que teve a oportunidade de contribuir para a discussão da chamada reforma da floresta e de disponibilizar os conhecimentos e a vasta experiência da Indústria na prevenção e combate aos fogos florestais. Não constitui surpresa para a Celpa que a maioria das conclusões e recomendações seja coincidente com os argumentos defendidos e repetidamente referidos por quem gere cerca de 200.000 hectares de floresta diversa, cuja gestão sustentável e em linha com as melhores práticas é certificada pelos dois esquemas internacionais relevantes (FSC e PEFC). Algumas das conclusões do relatório da CTI merecem especial destaque, até porque são argumentos que convictamente a Celpa tem defendido ao longo do tempo: 1) A referência à falta de Ordenamento do Território, que é bem mais do que desordenamento florestal: deficiente planeamento do território a nível da interação dos espaços agrícolas, silvícolas e sociais. 2) O problema dos incêndios não é um problema de espécie. É referido no relatório que “o incêndio de Pedrogão Grande deflagrou no vale da ribeira de Frades em galeria ripícola dominada por Carvalhos” e “um eucaliptal jovem em Escalos Fundeiros que não ardeu e um outro [eucaliptal] onde predominou o fogo de superfície de intensidade moderada, com autoextinção numa plantação recentemente gradada [i.e., adequadamente gerida]” (pg. 61-64). Refere ainda que “a mera substituição do eucalipto, e o mesmo seria válido para o pinheiro bravo, por espécies tidas como mais resistentes à propagação do fogo, como o sobreiro, medronheiro e carvalhos, traria resultados modestos de diminuição da área ardida em caso de existência de um estrato arbustivo relevante nos povoamentos” (pg. 149). “A redução de acumulação do combustível em metade da área de eucaliptal diminuiria a área ardida em 40%. Tal é corroborado pela observação de ilhas não ardidas ou de fogo de baixa severidade no seio do eucaliptal ardido pelo incêndio de Góis em propriedades submetidas a


Em destaque

[boa] gestão florestal e cujo combustível é tratado à taxa anual aproximada de 20%”, ou ainda, “para estas duas espécies – pinheiro e eucalipto – a regra [adequada] é a da gestão do combustível no sub-bosque. Sem combustível no seu interior estas florestas, em vez de um problema sério, podem fazer parte da solução” (pg. 20). 3) A gestão ativa das áreas das associadas da Celpa, The Navigator Company e Altri, são referidas como um bom exemplo. “A The Navigator Company, por ano, procede à gestão de combustíveis em 19,7% da área total gerida pela empresa, enquanto a Altri, por ano, em média, gere 25,1% do espaço florestal sob sua gestão. Estes valores são substancialmente superiores aos 2% referidos acima...” e “44% da superfície das unidades de gestão [destas empresas] inseridas no perímetro do incêndio não arderam; 20% da área ardida de eucalipto foi classificada como não tendo dano” (pg. 112). 4) Prevenção e Combate aos fogos florestais integrados numa estrutura única. O Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (SNDFCI) tem a sua operacionalidade limitada ao depender de vários Ministérios e entidades, e necessita de uma estrutura supraministerial única que enderece a prevenção, a deteção e o combate. Tem sido favorecida uma economia de combate em detrimento de uma economia de prevenção. É necessário desfazer o equívoco: defender a floresta contra fogos rurais é uma coisa; proteger pessoas e bens é outra. O relatório defende o ajustamento do sistema em duas componentes (tal como advogado pela Celpa): (i) Gestão de Fogos Rurais, orientado para os espaços rurais; e (ii) Proteção contra Incêndios Rurais, abrangendo as pessoas e bens. 5) Integrar Conhecimento da Gestão da Floresta e da Prevenção e Combate aos Fogos Florestais. A Celpa tem vindo insistentemente a preconizar a necessidade de utilizar o profundo conhecimento acumulado durante décadas de séria investigação sobre silvicultura e sobre gestão de fogos florestais que as suas associadas acima referidas possuem e estão disponíveis para partilhar. A Afocelca, a organização privada de prevenção e combate a fogos florestais das duas Empresas acima citadas,

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é um exemplo de integração nas suas práticas operacionais do conhecimento do comportamento do fogo e da previsibilidade da sua evolução. A Celpa pensa que neste momento deve sobretudo imperar uma convergência de interesses e um alinhamento entre todos os agentes políticos, empresariais, públicos e privados, para que se possa levar a cabo com êxito o muito difícil trabalho de reforma na temática dos incêndios. A Celpa está totalmente disponível, como sempre tem estado, para colaborar e participar neste importante desafio. Acima de tudo, temos essa obrigação.

Atividade empresarial Altri mantém Portugal na liderança mundial de produção de pasta para papel

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Grupo assinou com o Estado português um contrato de investimento de 125 milhões de euros para introduzir processos inovadores de produção na Celbi e na Celtejo.

Alcançar ganhos de eficiência energética e ambiental, aumentar a capacidade de produção da Celulose Beira Industrial SA (Celbi) e da Empresa de Celulose do Tejo SA (Celtejo), e criar emprego qualificado. Estes são os principais objectivos do investimento de 125 milhões de euros que a Altri se comprometeu a realizar com o Estado português. O acordo de investimento foi selado com um contrato de investimento realizado no passado mês de janeiro, e que contou com a presença do primeiro-ministro, António Costa, e dos ministros da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e da Agricultura e Florestas, Luís Capoulas Santos. Dos 125 milhões de euros de investimento contratualizado com o Estado português, 85 milhões são relativos a melhorias a introduzir na Celtejo, em Vila Velha de Ródão, e os restantes 40 milhões são relativos à Celbi, na Figueira da Foz.


Em destaque

Em Números 85 milhões de euros de investimento na Celtejo 40 milhões de euros de investimento na Celbi 82 mil hectares de floresta são geridos em Portugal pela Altri 1 milhão de toneladas de capacidade de produção anual 959 mil toneladas de pasta foram exportadas em 2016 93% da produção é exportada Celtejo aumenta capacidade em mais 49 mil toneladas/ano O investimento que está a ser realizado na Celtejo vai possibilitar a introdução de processos inovadores na produção de pasta de papel tissue, com uma nova abordagem mais eficiente e produtiva. Uma nova caldeira de recuperação, instalação de redução de vapor e uma estação de tratamento de águas residuais industriais de última geração vão permitir que a fábrica de Vila Velha de Ródão aumente a sua capacidade de produção em 49 mil toneladas/ano, passando em 2020, no ano pós-projeto, para uma capacidade total de produção de 267 mil toneladas/ano. O montante de investimento na Celtejo ascende a 85 milhões de euros. O resultado prático nos próximos três anos é um aumento de 140 milhões de euros na atividade industrial e um valor global de exportações de 96 milhões de euros, cerca de 70% do volume de negócios total da Celtejo. Um importante contributo para o aumento das exportações da Altri e para o dinamismo, a competitividade e a internacionalização da economia portuguesa.

As melhorias a introduzir na unidade fabril contribuem para a criação de emprego altamente qualificado, bem como para a criação de cerca de 400 postos de trabalho indiretos no decorrer do projeto. Uma vez concluído, em 2020, vai possibilitar a criação de 11 postos de

trabalho permanentes altamente qualificados e a manutenção de um número total de 197 postos de trabalho permanentes na empresa. Com o projeto finalizado, a Celtejo integrará o ranking mundial dos cinco equipamentos de topo relacionados com a eficiência energética e o impacto da produção de pasta de papel nas emissões de CO2, NOx e SO2. A eficiência da unidade fabril também passa pela incorporação de uma tecnologia que possibilita maximizar a utilização de matéria-prima na produção da pasta de papel, ao permitir incorporar cepos de eucalipto e não apenas os troncos de madeira. É a única empresa detentora desta tecnologia. Está ainda previsto que o aumento da capacidade de produção da Celtejo tenha um efeito proporcional e de arrastamento num conjunto de empresas nacionais. A estimativa é que a Celtejo efetue compras e subcontrate serviços em Portugal na ordem dos 90 milhões de euros no ano pósprojeto. Um valor que correspondente a 91% do total das compras, fornecimentos e serviços externos da empresa. Maior unidade do mundo de descasque de rolaria de eucalipto Os 40 milhões de euros a investir na segunda maior unidade de produção de pasta de papel da Europa vão permitir prover a Celbi com novo equipamento que visa a intervenção nas etapas de descasque e destroçamento de madeira e na lavagem e branqueamento de pasta. As novas tecnologias adotadas fazem da Celbi a maior unidade do mundo para descasque de rolaria de eucalipto e contribuem para ganhos operacionais importantes. Com este investimento, a Celbi torna-se a única empresa europeia detentora deste processo industrial, de elevada capacidade e complexidade, integrando-se no restrito grupo de empresas, ao nível mundial, possuidoras destas tecnologias e desta dimensão de processo. Altri exporta 93% da produção de pasta de papel A Altri é um produtor europeu de referência de pasta de eucalipto, com uma capacidade instalada de produção superior a um milhão de toneladas por ano, nas suas três unidades localizadas na Figueira da Foz, Vila Velha de Ródão e Constância. As receitas totais da Altri atingiram 612,5 milhões de euros em 2016,

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Em destaque

tendo exportado 959,2 mil toneladas, valor que representa uma subida de 2,2% face ao ano anterior e que corresponde a 93% do total das suas vendas. Os principais mercados internacionais foram o europeu e o chinês.

Fazemos Floresta”, na Biblioteca Municipal de Cantanhede. A Expofacic – Feira Agrícola, Industrial e Comercial de Cantanhede decorreu entre 27 de julho a 6 de agosto, no que foi a sua 27ª edição.

Os recentes investimentos da Altri vão servir para reforçar a posição competitiva de Portugal enquanto produtor de pasta de papel, que hoje lidera logo depois da Suécia e da Finlândia. Além da produção de pasta de eucalipto, a Altri gere 82 mil hectares de floresta em Portugal e está ainda presente no sector de energias renováveis de base florestal, nomeadamente na cogeração industrial através de licor negro e biomassa. A estratégia florestal assenta no aproveitamento integral de todos os componentes disponibilizados pela floresta: pasta, licor negro e resíduos florestais.

Em Ferreira do Zêzere O Projeto Melhor Eucalipto esteve em Ferreira do Zêzere a 6 de setembro, com uma ação de informação destinada a proprietários. A sessão, que contou com o apoio da Associação de Desenvolvimento Florestal do Concelho de Ferreira do Zêzere (FlorZêzere), na Sala de Sessões do Município de Ferreira do Zêzere e contou com uma parte teórica e outra prática, que incluiu visita a uma propriedade. Os temas em destaque foram a instalação e manutenção de povoamentos e ficaram a cargo de oradores provenientes da CELPA – Associação da Indústria Papeleira e seus associados Grupo Altri e The Navigator Company. Segundo as contas feitas pela CELPA, o potencial de melhoria de produtividade do território que compõe a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, onde se inclui Ferreira do Zêzere, seria de 50% se fossem aplicadas as melhores práticas de gestão florestal.

Gestão florestal Projeto Melhor Eucalipto

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Projecto Melhor Eucalipto foi lançado no final de 2015 e tem como objetivo melhorar a qualidade dos povoamentos de eucalipto em Portugal e comunicar boas práticas de gestão florestal, tendo, desde então, corrido o País através das suas sessões de informação destinadas a produtores florestais e através de sessões certificadas para técnicos. Apresenta-se, de seguida, uma súmula das iniciativas levadas a cabo no 2º semestre de 2017: Na Expofacic, em Cantanhede A CELPA – Associação da Indústria Papeleira marcou presença na Expofacic – Feira Agrícola, Industrial e Comercial de Cantanhede. No dia 29 de julho, José Rafael abordou o tema da Reflorestação Sustentada no Auditório do Centro Paroquial de S. Pedro. A 2 de agosto foi a vez da equipa do Projeto Melhor Eucalipto participar no seminário “Juntos

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Em Fafe e Arouca 21 e 22 de setembro o Projeto Melhor Eucalipto esteve em Fafe (distrito de Braga) e em Arouca (distrito de Aveiro). Ambas as sessões de informação destinaramse a proprietários ou produtores florestais que pretendiam saber mais sobre boas práticas de gestão florestal. A estrutura foi semelhante às anteriores, com uma vertente teórica e outra prática, centrada em temas como a certificação de gestão florestal e a instalação e gestão de povoamentos. Os oradores foram técnicos da CELPA – Associação da Indústria Papeleira, das suas associadas Altri e The Navigator Company e do RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e do Papel. 21 de setembro foi a data reservada para a ação de Fafe. A sessão decorreu na sede da COFAFE (Cooperativa dos Produtores Agrícolas de Fafe). 22 de setembro foi o dia marcado para Arouca receber a sessão de informação na Biblioteca Municipal. A sessão teve o apoio da Associação Florestal Entre Douro e Vouga.


Em destaque

Em 12 Estações de Rádio Locais As boas práticas de gestão florestal estão a ser comunicadas agora também via rádio. Temas como os cuidados a ter na preparação de terreno, a plantação ou o controlo de vegetação infestante estão em destaque. No dia em que decorreu a sessão de informação do Projeto Melhor Eucalipto em Arouca assinalouse o final de uma semana de spots radiofónicos emitidos em 12 estações de rádio locais no Norte e Centro do País. Os spots, que divulgam as boas práticas silvícolas segundo o Projeto Melhor Eucalipto, começaram a ser difundidos em 18 de setembro e decorreram até 13 de outubro. Também disponíveis em www.celpa.pt/ melhoreucalipto, os spots centram-se nos seguintes temas: - Certificação da Gestão Florestal - Cuidados na Preparação de Terreno - Plantação - Controlo da Vegetação Infestante - Controlo do Gorgulho - Adubação de Manutenção Na UTAD O Projeto Melhor Eucalipto esteve na Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro no dia 27 de setembro. O local onde decorreu a sessão de informação foi o Auditório de Ciências Florestais, no Polo II, em Vila Real. No Congresso Florestal Nacional O Projeto Melhor participou no 8º Congresso Florestal Nacional, que decorreu em Viana do Castelo entre os dias 11 e 14 de outubro. Em Pataias No dia 16 de novembro, decorreu mais uma sessão de informação para produtores florestais integrada no Projeto Melhor Eucalipto, desta vez em Pataias, no concelho de Alcobaça. A sessão decorreu nos Bombeiros Voluntários de Pataias, tendo o apoio da Associação Produtores Florestais dos Concelhos Alcobaça e Nazaré (APFCAN) e contou com uma vertente teórica, em sala, e outra prática, no campo. O Projeto Melhor Eucalipto já realizou sessões de informação para praticamente 900 pessoas – entre proprietários, produtores e técnicos florestais – sobre as melhores práticas de gestão florestal.

The Navigator Company reuniu produtores florestais para promover a gestão florestal certificada

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The Navigator Company, líder europeia na produção de papéis finos de impressão não revestidos, promoveu no passado dia 30 de janeiro, no Instituto Raiz - Instituto de Investigação da Floresta e Papel, um evento dedicado aos Grupos de Certificação, intitulado “Olhar 2017 e Realizar 2020”. Esta iniciativa visou abordar com os Grupos de Certificação as principais questões relacionadas com o desenvolvimento do projeto de fomento da certificação florestal que a Companhia se encontra a desenvolver, reforçando a importância dada ao abastecimento de madeira proveniente de propriedades sob gestão florestal responsável e sustentável, com um certificado de gestão reconhecido por entidades independentes. Recorde-se que a Navigator promove desde 2017 um Programa Nacional de apoio à certificação da gestão florestal dos proprietários privados, sendo que, no primeiro ano do projeto, foram conseguidos mais 21 mil hectares de nova área certificada, dos quais cerca de 10 mil de eucalipto e 11 mil de outras espécies (sobreiro, medronheiro, pinheiro, etc.). Pela primeira vez na sua história, a Companhia consumiu em 2017 maioritariamente fibra certificada, sendo que 100% da madeira utilizada provém de origens certificadas ou controladas. No desenvolvimento do projeto, o grande esforço de atuação tem sido realizado junto de três pilares essenciais para o sucesso da implementação da iniciativa, nomeadamente os proprietários, os fornecedores de madeira e os Grupos de Certificação Florestal. Atualmente, em todo o mundo, os consumidores exigem cada vez mais que os produtos de origem florestal tenham um selo de certificação que lhes dê garantias de que estes provêm de florestas com uma gestão sustentável e que cumprem as exigências da legislação. Recorde-se que a gestão florestal sustentável se centra na manutenção dos serviços do ecossistema, na proteção dos valores históricos e na herança cultural, no relacionamento com a comunidade vizinha e, naturalmente, com o assegurar da produtividade e valorização económica que permite a continuidade de uma floresta sustentável.

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Em destaque

Os fornecedores de madeira estão gradual e rapidamente a aderir à certificação da sua Cadeia de Responsabilidade (CoC), um passo essencial para permitir a avaliação da rastreabilidade da matéria-prima proveniente da floresta em todas as etapas de transformação do produto, até ao consumidor final. Um fornecedor que possui um certificado CoC está apto a comercializar madeira certificada, oferecendo garantias ao produtor florestal quanto ao respeito das regras do negócio. O compromisso da The Navigator Company Desde há muito que a The Navigator Company exerce uma gestão florestal sustentável nas suas propriedades com eucalipto, pinho e sobreiro, e divulga as suas práticas junto dos produtores florestais portugueses. O modelo de gestão sustentável das florestas sob responsabilidade da Navigator é certificado pelos sistemas FSC® e PEFCTM. A empresa assumiu o compromisso de abastecer todas as unidades fabris apenas com madeira certificada. Em 2018, espera-se a continuidade do crescimento da gestão florestal certificada na área florestal nacional e é expectável que, com o envolvimento dos agentes da fileira florestal - prestadores de serviços, fornecedores, grupos de certificação, proprietários e indústria - se consiga que mais floresta portuguesa venha a estar sob gestão florestal responsável.

Novos investimentos Andritz proporciona a vanguarda de sinergias socio-ecológicas

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Andritz orgulha-se de ter sido escolhida para fornecer grande parte do equipamento electromecânico para uma das fábricas de pasta mais avançadas, a nível mundial, contribuindo para a criação de empregos e produção de electricidade e pasta. A divisão de Bombas da Andritz forneceu todas as bombas para a Klabin – a fábrica brasileira produtora de papel, que não só produz três diferentes tipos de pasta, como também produz electricidade suficiente para fornecer energia a uma cidade com meio milhão

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de habitantes. As Bombas começaram a funcionar há alguns meses na “Puma” – a fábrica de pasta da Klabin em Ortigueira, no estado brasileiro do Paraná. O âmbito de fornecimento consistia em 406 bombas, fornecidas pela ANDRITZ HYDRO SA, do Brasil, assim como 19 bombas de média consistência fornecidas pela ANDRITZ PULP & PAPER, da Finlândia. Como é um dos maiores projectos de investimento efectuados na indústria de pasta e papel nos últimos anos, esta encomenda teve uma importância particular para a ANDRITZ. O projecto recebeu o nome de “Puma”, tal como o enorme felino que habita na região. O investimento é o maior investimento alguma vez feito pela Klabin. O projecto, que anuncia uma nova era na história da empresa Klabin, e que se traduz numa mudança na sua estratégia, teve um custo de cerca de 2.3 biliões de Euros. Antes da abertura da nova fábrica, a empresa produzia essencialmente cartão canelado e papéis para embalagem. Hoje em dia, tem capacidade para produzir, simultaneamente, pasta de fibra curta (a partir de eucalipto), pasta de fibra longa (a partir de pinho) e a chamada “pasta Fluff”. Esta última é uma pasta hidrofílica utilizada para fazer, por exemplo, fraldas. Deste modo, a Klabin é, não só a única empresa no Brasil que produz estes três tipos de pasta, como também a maior empresa produtora de pasta e papel em todo o país. A capacidade anual de produção ronda os 1.5 milhões de toneladas, com praticamente 75% de pasta de fibra curta. Além disso, foi construída, nas instalações da fábrica, uma central de biomassa de 255-MW, em que 56% da energia produzida é superior às necessidades da fábrica e pode assim ser injectada na rede local de energia. A electricidade produzida é suficiente para fornecer as necessidades de uma cidade com meio milhão de habitantes. Francisco Razzolini, o diretor de projecto e tecnologia, explica que as árvores são descascadas na fábrica, em vez de na floresta, como acontece normalmente. A casca é utilizada como combustível da central de biomassa, fornecendo energia renovável a partir de um produto normalmente considerado desperdício. Outro aspecto importante da nova fábrica tem a ver com a curta distância até à floresta, que na média é de 72kms. A curta distância para obtenção de matéria-prima e o facto de que 80% da madeira necessária anualmente provem de


Em destaque

recursos da própria empresa, contribuiu para que os custos de produção de pasta na fábrica Puma sejam dos mais baixos a nível mundial. A área cultivada é equivalente a cerca de 200 campos de futebol, e 1.400 empregos são gerados directamente pela empresa. As bombas Andritz fornecidas vão desde bombas de veio vertical, que asseguram o fornecimento de água à fábrica, e que estão montadas numa plataforma flutuante no rio Tibagi, às bombas de média consistência, que transferem as suspensões de pasta até 15% bd. sem qualquer dificuldade. A maior parte das bombas são necessárias na linha de fibra. Aqui, 99 bombas asseguram um transporte suave de todos os líquidos. 97 das bombas neste processo são bombas centrífugas de estágio simples de várias configurações, sendo estas bombas assistidas por duas bombas de altapressão. De forma a poder responder rapidamente a qualquer avaria no sistema de bombeamento, a Klabin construiu na fábrica um armazém de peças sobresselentes e está a desenvolver um inovativo conceito “shop-in-company” em colaboração com a ANDRITZ. Além das Bombas, a ANDRITZ também forneceu outro equipamento para a fábrica. A ANDRITZ PULP & PAPPER, um dos mais importantes produtores de equipamento para a indústria da pasta e papel a nível mundial, forneceu o equipamento para o parque de madeiras, para a linha de fibra e para a fábrica de licor branco.

Foto 2: Bomba centrífuga monocelular.

Estas bombas centrífugas monocelulares são utilizadas como bombas processuais em várias áreas das fábricas de pasta. Com uma eficiência até 90% e com capacidade para bombar suspensões até 6% b.d.

Foto 3: Bomba de média consistência.

A bomba MC da Andritz foi especialmente desenvolvida para conduzir fluidos viscosos. Pode transportar suspensões de pasta até 16% b.d. sem qualquer dificuldade.

Voith e Suzano Papel e Celulose consolidam parceria tecnológica de sucesso com start up de duas máquinas tissue

Foto 1: Bomba bipartida de voluta dupla.

Estas bombas de pouca manutenção foram optimizadas para serem utilizadas na indústria de pasta e papel, onde operam na caixa de chegada ou como bombas de limpeza com uma eficiência superior a 90%.

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Voith Paper, referência mundial em inovação para a indústria papeleira, foi uma das parceiras tecnológicas da Suzano Papel e Celulose, segunda maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, na estratégia da empresa de entrar no mercado tissue, com o fornecimento das máquinas completas para a fabricação de papel para fins sanitários. A multinacional alemã concluiu com sucesso o

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start up de duas máquinas completas XcelLine VTM4 de dupla largura, instaladas nas unidades de Imperatriz (MA) e Mucuri (BA). Cada uma delas tem capacidade para produzir cerca de 220 toneladas de papel por dia, a uma velocidade de 2000 metros por minuto. As máquinas XcelLine da Voith apresentam componentes, tecnologias e serviços perfeitamente coordenados e integrados que possibilitam rápido start up, excelente performance e alto valor acrescentado para o investimento dos clientes. O fornecimento Voith inclui tecnologias, que possibilitam maior produtividade com menor consumo energético e de recursos naturais, tais como a caixa de entrada MasterJet Pro T, Crescent Former, a moderna prensa de sapata NipcoFlex T, cilindro Yankee de chapa de aço EvoDry Y, hote de alta eficiência EcoHood T, enrolador com sistema automático de troca de bobinas EcoChange T e automação completa. Os projetos foram realizados na modalidade PLP (Process Line Package), nos quais a Voith também forneceu todos os equipamentos auxiliares e serviços para o funcionamento completo das máquinas. A nova VTM4 de Mucuri (BA) iniciou a operação em setembro de 2017. Já a instalada na unidade de Imperatriz (MA) teve seu start up no final de novembro. Para Fabio Prado, Diretor Executivo de Bens de Consumo da Suzano Papel e Celulose, a parceria com a Voith é estratégica para os objetivos operacionais e comerciais da empresa. “A Voith é parceira da Suzano há décadas e temos total convicção de que as máquinas de alto desempenho adquiridas para nossas fábricas de papéis sanitários no Nordeste e o serviço de gestão do fornecimento de equipamentos auxiliares prestado pela Voith permitirão com que tenhamos ótimos índices de produtividade e possamos oferecer o melhor papel do mercado brasileiro”, afirma Prado.

Primeiro fornecimento de pilha de aparas de grande volume GentleStore da Valmet em Portugal

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m novo sistema de pilha de aparas de grande volume, fornecido pela Valmet, melhorou a alimentação de aparas ao sistema de cozimento da fábrica da The Navigator Company localizada na

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O novo sistema de armazenamento de aparas GentleStore da Valmet.

Figueira da Foz. Uma alimentação de aparas mais homogéneo contribuiu também para condições processuais estáveis a seguir ao cozimento. Este é o primeiro sistema de pilha de aparas do tipo GentleStore que a Valmet fornece em Portugal e substituiu uma instalação de transporte pneumático de elevados custos energéticos. A capacidade de armazenamento é de cerca de 180.000 m³s. O novo e robusto sistema de armazenamento de aparas está desenhado para enfrentar as condições de vento da costa Atlântica. Opera com o princípio first-in first-out permitindo um raio de ação de 360º. As aparas são recolhidas “gentilmente” ao longo de todo o raio da pilha, o que assegura uma excelente mistura e homogeneização das aparas. Está dotado de várias caraterísticas técnicas que permitem baixos custos de operação e manutenção. O sistema de armazenagem é completamente automatizado e está integrado com a linha de descasque e destroçamento existentes. Sendo uma instalação automática, melhora a qualidade das aparas e a segurança já que não é necessária a utilização de bulldozers. Menos tráfego destas máquinas, minimizando danos nas aparas, poeiras e ruído, modernizará a operação do parque de madeiras. A instalação tem operado muito bem desde o arranque em maio de 2017. “A nova instalação GentleStore é fácil de operar e apresenta elevados padrões a nível de segurança. É uma referência importante e um importante objetivo atingido juntamente com o nosso cliente,” diz Juha Vepsä, Project Manager da Valmet. Pedro Matos Silva, Diretor Fabril da The Navigator Company na Figueira da Foz sublinha que “a implementação deste GentleStore representa um importante esforço para reduzir o impacto ambiental da nossa fábrica, e faz parte do ciclo contínuo da Navigator como empresa moderna, preocupada com a sustentabilidade e reconhecida pela sua cultura de excelência através das suas operações e produtos de qualidade”.


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Papeleira Coreboard Vários produtos para vários mercados por um produtor bicentenário, com o lema “Procuramos fazer o nosso melhor”

0. Papeleira Coreboard S.A. A Papeleira Coreboard S.A., sediada no concelho de Santa Maria da Feira e especializada na produção de papel Coreboard para a indústria de tubos e cantoneiras de cartão produz anualmente 70.000 t de cartão 100% reciclado de origem nacional.

1. Breve História Situada na proximidade das duas mais antigas fábricas de papel do concelho de Santa Maria da Feira (Fábrica do Engenho Velho/1708 e Fábrica do Engenho Novo/1795), a atual Papeleira Coreboard S.A., conhecida no século XIX como Fábrica do Pego (nome que perdura ainda no imaginário local), foi fundada em 1815, por Francisco Alves da Cruz, com um capital inicial de dois contos e duzentos mil reis. Servida pelo rio de Rio Maior, possuía duas rodas hidráulicas, com um diâmetro de 3m e 85, que alimentavam as pilas holandesas: dois primeiros “cilindros derepistar” e um “cilindro apurador”. Entre as restantes máquinas instaladas aquando da sua fundação, destacam-se duas prensas (produção e embalagem) e uma calandra para os acabamentos de papéis finos. Ao longo de todo o século XIX, a produção era assegurada por duas tinas, num processo de fabrico manual “folha a folha”, e por 18 operários (5 homens e 10 mulheres e 3 jovens aprendizes) com um horário de trabalho de “sol a sol” e

Vista Geral da Papeleira.

somente oito meses no ano. Nos meses de verão, a falta de água obrigava à paragem da fábrica. No ano de 1865 a Produção era de 32.500 kg distribuído por uma gama alargada de qualidades entre elas: Papel de escrita Almaço, Papel de escrita Florete, Papel Mortalha e Papel branco para embrulho. Com uma produção orientada para papéis finos de escrita e papel para cigarros, dezanove das cerca de trinta e três toneladas produzidas neste ano de 1865, eram vendidas nas cidades de Lisboa e do Porto, sendo a restante produção destinada a satisfazer encomendas locais de todo o distrito de Aveiro. O papel era transportado em carros de bois para os locais de venda, pagando o fabricante, por cada carreto, dois reis por Kg para o Porto e quatro reis por Kg para Lisboa, preço que já incluía os despachos da alfândega do Porto. Tendo entrado em decadência na década de oitenta, em finais do século XIX, conhece uma nova fase da sua história, com a instalação de uma pequena máquina de madeira de forma redonda, passando a produzir, unicamente,

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papel de embalagem, “seco ao ar” nos antigos espandes. É na década de trinta do século passado, com José Albino de Paiva Cruz, que a antiga Fábrica do Pego conhece nova e significativa reestruturação, com a instalação de uma nova máquina de forma redonda de 1,5 m de largura (500 kg/8horas), de um cilindro secador e de novos equipamentos de acabamento, entre os quais uma guilhotina, uma máquina de riscar e uma cortadeira circular. Noa anos 40, era explorada por José Gonçalves Esteves, produzindo papel costaneira, papéis friccionados e alguns papéis fino. Com as obras então realizadas, foram apagadas as marcas de um tempo em que o papel era, serenamente, produzido “folha a folha”. A capacidade inicialmente instalada foi aumentada, já com a “Matos & Rodrigues, Lda.” para 7 toneladas por dia, com duas máquinas de formas redondas, situação que se manteve até ao ano de 1973. No ano de 1973, foi instalada uma máquina “Er-we-pa” que permitiu aumentar a capacidade produtiva para 11 toneladas por dia, melhorando significativamente a qualidade do produto final. Em 1992, liderada pelo Dr. Manuel Magalhães, é alterada a estrutura jurídica de sociedade por quotas para sociedade anónima, e a designação social para “Papeleira Portuguesa, SA”. Em simultâneo é estabelecida uma parceria com uma empresa de cartonagem, através da estrutura acionista, assegurando-se um escoamento importante de parte da sua produção. Entre 1995 e 1997 a empresa realizou um ambicioso projeto de investimento, que permitiu alargar de 2,10 para 2,5 metros a largura útil do papel produzido, aumentar a velocidade da máquina, melhorar a qualidade dos produtos e aumentar a capacidade produtiva para cerca de 30.000 toneladas ano. Neste tempo a Papeleira produzia, essencialmente cartão duplex e “fluting” para a indústria de Embalagem. A evolução tecnológica destas empresas a jusante e as exigências de maior qualidade na oferta justificaram o investimento. Cedo se sentiu a necessidade de inovar, de procurar novos produtos e novos mercados. O papel reciclado para a indústria da cartonagem evidenciava uma tendência forte para baixar gramagens e a competitividade da Papeleira começou a reduzir-se face á concorrência.

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Neste contexto de procura de competitividade, inicia um percurso de inovação e começa a produzir papel para tubos “mandris” e cantoneiras de cartão, com características técnicas de gramagens bastante mais elevadas e de maior valor acrescentado. É já em 2016 que a designação da empresa é mudada para Papeleira Coreboard SA, dando ênfase ao mercado em que se posiciona e com uma abrangência mais globalizada.

2. O Processo Produtivo

A produção de papel envolve uma série de operações e técnicas específicas de transformação da fibra, com as seguintes fases principais: • • • • •

Receção e armazenagem da matéria-prima; Preparação de pastas; Fabrico do papel em máquina; Acabamentos; Armazenagem de produto acabado expedição.

Diagrama do processo de fabrico.

e


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O processo produtivo inicia-se com a receção da matéria-prima na forma de fardos (Papel Velho). Existem diversos tipos de matéria-prima utilizados, sendo estes classificados consoante os tipos de papel e contaminantes que incorporam. A utilização dos diferentes tipos de matéria-prima é feita em função dos produtos fabricados.

Os fardos de papel são enviados para a preparação de pastas onde o papel é desintegrado nos pulpers através da adição de água e agitação mecânica. Após a desintegração do papel a pasta é sujeita a diversos processos de remoção de resíduos, seja por diferenças de densidade/peso (depuração) ou por diferença de tamanho dos contaminantes (crivagem com turbo separadores). Terminado o processo de preparação da pasta esta é encaminhada para a máquina de papel onde é sujeita a um novo processo de depuração e crivagem a consistências mais elevadas. Para aumentar as consistências de trabalho a pasta é diluída com a água drenada da própria máquina de Papel. Estando concluídos todos os processos de tratamento da pasta esta é alimentada à caixa de chegada da máquina de papel; neste equipamento controla-se as condições com que a pasta é colocada na mesa de formação o que irá influenciar a posição das fibras, a ligação entre elas e consequentemente as propriedades finais do papel.

A Máquina de Papel é constituída por três grupos de equipamentos que promovem uma remoção de água através de três fenómenos físicos distintos, sendo estes a mesa de formação, as prensas e a secaria. A mesa de formação é composta por uma mesa plana, diversas caixas de drenagem e vácuo, um formador superior (Top-Former) e um cilindro aspirante. O formador superior faz uma remoção de água no sentido contrário ao da gravidade; este processo melhora a eficiência de remoção de água e a disposição das fibras na folha.

A água remanescente é removida na secção de prensagem e secaria. A prensagem é composta por 3 prensas, sendo a última delas uma prensa jumbo. As prensas pressionam a folha contra um feltro absorvente promovendo a migração da água da folha para o feltro. Na secaria a água é removida por ação térmica através do contacto direto da folha com secadores a temperaturas elevadas. A secaria da Papeleira possui 34 secadores. Após a formação da folha o papel é cortado em bobines nas bobinadoras com formatos que vão desde os 57 mm aos 1250 mm.

3. Gama de Produtos A produção é direcionada para especialidades na área da embalagem compreendendo gramagens de 180 a 700 gr/m2, para produtos com acabamento offset ou calandrado, podendo variar em termos de especificações ao nível do índice de mão, colagem, coesão interna, rebentamento, tração e rigidez. Coreboard – consiste em papéis essencialmente

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de altas gramagens para a produção de tubos, cantoneiras e aplicações similares. CoreTissue – papéis direcionados para os fabricantes e transformadores de tissue com características para o aumento da produtividade. Mandril.

4. O Plano de Investimentos Desde 2016 que a Papeleira tem estado num processo contínuo de modernização e desenvolvimento; é atualmente o maior reciclador de Portugal, sendo um player fundamental no cumprimento dos standards de reciclagem para Portugal estabelecidos pela União Europeia. O projeto de investimentos visa promover a otimização do processo de fabrico, com aumento do volume de produção bruta de papel para 220 t/dia, potenciando também a melhoria da qualidade do produto e o desempenho ambiental da instalação. Para a concretização destes objetivos foram previstas diversas modificações no circuito de preparação das pastas e na máquina de papel existentes, a instalação de uma nova bobinadora de papel e de uma nova caldeira de produção de vapor. Foi também instalada uma ETARI (tratamento primário das águas residuais industriais), tendo em vista o cumprimento das normas de descarga em coletor municipal. 4.1. A Implementação O projeto de otimização da Papeleira Coreboard foi implementado em paragens de curta duração, minimizando o impacte no fornecimento de produto aos seus clientes tendo sido feito em duas fases. Fase 1 – agosto/2016 • Remodelação da secaria da máquina de papel; • Reposicionamento de equipamentos para otimização de fluxos de produto e layout fabril. • Instalação de novo acionamento da máquina de papel;

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• I nstalação de novo sistema de controlo da qualidade do papel; • Instalação de nova bobinadora; • Alterações nos edifícios da máquina de papel, preparação de pastas e produto acabado; • Início da construção da estação de tratamento de águas residuais industriais. Fase 2 – agosto/2017 • na preparação da pasta, foi efetuada a recuperação de alguns equipamentos existentes e reordenados os respetivos circuitos processuais; • na parte húmida da máquina de papel, alcançando todo o circuito de cabeça de máquina (APF), sistema de vácuo, órgãos de drenagem e mudança do conceito de formação da folha de uma máquina de papel de embalagem para cartão da gama de coreboard (gramagens 180 - 700 gsm). • Instalação de nova caldeira de produção de vapor. • sistema de aproveitamento das águas pluviais para o processo. • redefinição dos circuitos de águas do processo. • conclusão da construção da estação de tratamento das águas residuais industriais. As alterações processuais foram concretizadas no interior dos edifícios existentes, com o aumento da altura dos edifícios da máquina de papel e de preparação de pastas, tendo ocorrido melhorias no armazém de produto acabado e na área de expedição, com alterações dos cais de carga. Todos os investimentos efetuados foram feitos aplicando as melhores técnicas disponíveis com fornecedores conceituados e preparados para a certificação energética de toda a unidade fabril. 4.2. Investimentos Futuros No seguimento do Plano Estratégico definido, a Empresa seguirá com investimentos destacando-se: • Requalificação de edifícios e áreas sociais da empresa. • Continuar com o plano de restruturação de RH em curso apostando na sua formação, valorização pessoal e coletiva. • Instalação de uma central fotovoltaica para autoconsumo com uma capacidade de 1 MW, estando o projeto já em estado de conclusão para sua implementação. • Instalação de uma cogeração a gaz para autoconsumo reduzindo a sua dependência de


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Privilegia a formação e sensibilização dos seus colaboradores para o conhecimento das normas e métodos de gestão que cada um deve desempenhar. Tem o seu Sistema de Gestão Integrado implementado com a certificação em Qualidade, Ambiente e Segurança.

fornecedores externos e visando a otimização energética. • Preparação de Pastas, visando a sua automatização e eficiência no processamento de pastas. • Certificação energética • Continuação na implementação de ferramentas no âmbito da Indústria 4.0 Atualmente a unidade industrial comporta 75 colaboradores assegurando a laboração contínua 24 horas dia e 7 dias por semana recorrendo a 5 equipas de turnos.


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PrimeLineTIAC: o berço de novos produtos e processos para a indústria de tissue A ANDRITZ solicitou a contribuição de vários dos principais produtores mundiais de tissue antes de projectar e construir, na Áustria, seu novo PrimeLineTIAC — Centro de Inovação e Aplicação em Tissue. O centro é o único no mundo a oferecer oito configurações distintas de máquinas para a produção de tissue convencional, estruturado e premium. Fizemos um tour pelo novo centro para termos uma ideia dos objetivos do projeto, que representa um investimento considerável por parte da ANDRITZ.

Um espaço sofisticado comunidade tissue

para

a

Thomas Scherb, director de vendas da InstalaçãoPiloto de Tissue, junta-se a Gissing no tour. “O PrimeLineTIAC começou com um sonho”, diz Scherb. “O de ser não apenas a mais moderna instalação-piloto do mundo, mas também de se tornar um espaço sofisticado para a comunidade tissue — clientes, fornecedores, institutos de I&D e universidades — de modo a proporcionar colaboração e implementação das soluções tissue do futuro”. PrimeLineTIAC — Centro de Inovação e Aplicação em Tissue, na cidade de Graz, Áustria. Vista do exterior.

A

o chegarmos à entrada principal do novo PrimeLineTIAC — Centro de Inovação e Aplicação em Tissue, na Áustria, a primeira impressão é de que não se trata de uma instalaçãopiloto comum. Lá dentro, isso confirma-se. “O PrimeLineTIAC é, sem dúvida, único em todo o mundo”, afirma Klaus Gissing, director do Centro de Inovação e Aplicação em Tissue, ao cumprimentar-nos.

Dr. Klaus Gissing, Diretor do Centro de Inovação e Aplicação de Tissue da ANDRITZ.

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“Nós tentamos incorporar o máximo número possível dos dos sonhos de nossos clientes mais exigentes e inovadores, tornando estes sonhos realidade. Entrem, por favor, será um prazer mostrar-lhes as instalações”.

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Thomas Scherb, Diretor de Vendas da Planta-Piloto de Tissue da ANDRITZ.

A ANDRITZ esforçou-se ao máximo para oferecer um espaço eficaz em criar soluções para o que talvez não tenha sequer sido sonhado ainda. Isso requer um extraordinário grau de flexibilidade “Embora haja limites práticos, tentámos ir além, sem nos restringirmos”, diz Scherb. “Primeiro, embutimos flexibilidade, desde a preparação da massa até ao tissue na bobina. Depois, projetámos


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a máquina-piloto mais flexível do mundo, com oito configurações possíveis – cinco delas totalmente novas na indústria de tissue. Em seguida, assegurámos que houvesse um alto grau de automação, que nos permite preparar as válvulas, os fluxos de processos e as máquinas sem ter de fazer interrupções. A automação permite-nos ser flexíveis com as nossas configurações”. Essa flexibilidade significa que os testes dos clientes podem ser configurados conforme desejarem: explorando novas tecnologias, melhorando a qualidade do produto, baixando os custos de fabricação, economizando energia ou, até mesmo, treinando operadores ou a equipa de manutenção num contexto especifico.

Fazendo um tour pelo PrimeLineTIAC Segundo Gissing, prevê-se que o PrimeLineTIAC seja “o berço de novos produtos e processos de valor único”. Ele diz que “ser capaz de demonstrar efetivamente uma nova ideia ou novo produto em escala-piloto dará ao produtor de tissue confiança para passar para a escala comercial”.

A área do escritório do PrimeLineTIAC oferece aos colaboradores da comunidade tissue (produtores, fornecedores, institutos de I&D e universidades) espaço para o trabalho quotidiano, reuniões, apresentações e, até mesmo, atividades sociais.

“O PrimeLineTIAC permite aos clientes e promotores optimizar, por exemplo, fibras e a mistura de pasta e aditivos para um produto específico, aumentar a secagem e reduzir o consumo de energia”, diz Scherb. “O impacto de variáveis como a preparação da massa, produtos químicos, vácuo, vestimentas, prensa, ar quente e vapor, podem ser medidos e avaliados”. Esses recursos abrangentes são de grande ajuda para garantir aos produtores de tissue que os processos de produção e a configuração da máquina sejam compatíveis com as matériasprimas utilizadas, e que o produto final vá ao encontro das expectativas dos clientes. Os especialistas dos departamentos de I&D, preparação da pasta, projecto de máquina, engenharia, automação e bombas da ANDRITZ estão disponíveis para colaboração e discussão — ou os clientes, se assim desejarem, podem trazer sua própria equipe de especialistas.

Totalmente equipado da pasta à bobina Preparação de pasta e circuito de alimentação. Vários tipos de celulose podem ser testados e processados no Centro de Inovação e Aplicação em Tissue, tornando-o ideal não apenas para os produtores de tissue, mas também para fabricantes de celulose e fornecedores de produtos químicos para os produtores de tissue. A linha de preparação de pasta processa fibras curtas e longas separadamente, tornando mais fácil fazer ensaios com o desenvolvimento de fibras e, até mesmo misturar fibras de acordo com as necessidades individuais de cada cliente ou projecto. Os equipamentos são em escala industrial, não são equipamentos laboratoriais em escala reduzida: um desintegrador FibreSolve FSV, um refinador Papillon com zona de refinação cilíndrica, um despastilhadorr e dois sistemas de mistura ShortFlow separados. O sistema do circuito de aproximação inclui crivos da caixa de chegada ModuScreen HBE. A água excedente da máquina-piloto de tissue é clarificada numa unidade de microflotação e utilizada nos chuveiros de limpeza. Todos os resíduos da linha de preparação de pasta são tratados pelo compactador de rejeitos ReCo-L para se alcançar a secagem adequada para a eliminação.

Os laboratórios possibilitam amplas actividades de I&D.

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Uma máquina, oito configurações. A máquina-piloto do Centro de Inovação e Aplicação de Tissue é diferente de todas as outras do mundo, oferecendo a máxima flexibilidade possível em oito configurações. Cada uma das oito configurações está disponível como uma máquina individual da ANDRITZ.

As bobinas jumbo, produzidas em condições ou com matérias-primas diferentes, podem ser convertidas para permitir que um produtor de tissue realize testes com seus clientes finais.

A máquina-piloto de tissue no Centro de Inovação e Aplicação Técnica é a mais flexível do mundo, apresentando oito configurações diferentes para a produção de tissue convencional, texturizado e estruturado.

Pode-se produzir tissue crepado num CrescentFormer vertical com rolo de sucção ou prensa de sapata (PrimePress XT Evo — a mais moderna tecnologia de prensa de sapata disponível). Tissue texturizado pode ser produzido por um novo tipo de prensa patenteado. O tissue estruturado, a moldagem húmida cria um arranjo em 3D das fibras que é preservado por meio de TAD (Through-Air Drying: Secagem a ar) e TAD avançada. A máquina pode ser configurada com modos diferentes de TAD para averiguar impactos sobre o consumo de energia. Alguns dados da máquina: • • • • • • • • • • • •

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Velocidade de projecto de 2.500 m/min. Largura de trabalho de 600 mm Caixa de chegada com 1-, 2- ou 3- camadas CrescentFormer Formador TwinWire CrescentFormer vertical Prensa de sucção Prensa de sapata Yankee de aço de 16 pés (4,88 m) Dois secadores TAD de 14 pés (4,27 m) Campânula de alta temperatura Enroladora linear Centerwind

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Instalação de um dos cilindrosTAD na máquina de tissue.

PrimeControl E. O nível de automação no Centro de Inovação e Aplicação Tissue é altíssimo. O software e o hardware do PrimeControl da ANDRITZ oferecem máxima flexibilidade para monitorar e controlar as oito configurações da máquina, assim como os sistemas de preparação de pasta, incluindo: • Gestão de alarmes • Alto desempenho de HMI (Human Machine Interface: Interface homem-máquina) • Relatórios avançados • Documentação on-line • Sistema integrado de acionamento e controle de qualidade • M onitoramento ecológico

Refinador Papillon com zona de refinação cilíndrica: peça central da linha de preparação de pasta.


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Uma função especial de monitoramento ajuda a identificar problemas de qualidade, utilizando detecção inteligente de falhas ou avarias iminentes em peças da máquina. Para ajudar na optimização do consumo de energia, a eficiência de recursos e de energia é integrada no sistema de controlo permitindo a detecção e comunicação de exigências de energia imediatas. O sistema PrimeControl E faz parte do Metris — Soluções em Internet das Coisas Industriais da ANDRITZ. O Metris é uma nova marca de tecnologia ANDRITZ, com três pilares principais: realidade aumentada, sensores inteligentes e análise de Big Data.

Os laboratórios descobertas

confirmam

as

O Centro de Inovação e Aplicação de Tissue abriga dois laboratórios para analisar processos químicos e físicos em uso. O teste de preparação de pasta inclui análise de resistência, de qualidades ópticas e das características físicas da fibra.

Parceiros fortes Para um projeto desta magnitude, a ANDRITZ contou com a colaboração de vários parceiros importantes — tais como a Albany International Corp., Danfoss Drives, IBS Paper Performance Group, Nash e Solenis — que contribuíram para a instalação-piloto. Além disso, o Centro de Inovação e Aplicação de Tissue é patrocinado pela FFG como parte da promoção de infraestrutura de I&D.

Investimento significativo, retorno antecipado

A automação da instalaçãopiloto é equipada com o Metris — a nova tecnologia ANDRITZ no campo de aplicações da “Internet das Coisas Industriais” (em inglês, IoT).

O PrimeLineTIAC representa um investimento significativo para a ANDRITZ, “um investimento no futuro”, como gosta de dizer Scherb. Como é que a ANDRITZ calcula o retorno desse investimento? Scherb aponta que os tipos de tissue, contrariamente a outros tipos de papel, demonstram crescimento contínuo num mercado saudavel. Cada vez mais pessoas em todo o mundo usam produtos de tissue para sua higiene, conveniência e necessidades estéticas.

Os sistemas de bombagem da ANDRITZ são altamente automatizados e monitorizados não apenas para controlar as operações, mas também para recolher e relatar informações importantes sobre o processo, em diferentes condições operacionais.

O teste de máquina de tissue inclui gramagem, espessura, tracção, formação e suavidade (método do painel). Para análises mais completas, os clientes terão acesso aos laboratórios da Universidade de Tecnologia de Papel (University of Paper Technology) em Graz, na Áustria. Com a conclusão dos testes, a ANDRITZ prepara um relatório completo dos resultados. Esse relatório inclui todos os dados do teste e uma avaliação dos resultados, juntamente com uma recomendação da ANDRITZ para os procedimentos seguintes, se assim for desejado. E, claro, nós asseguramos total confidencialidade no tratamento dos nomes dos clientes, de todos os testes e seus resultados.

Tornando um sonho realidade: parte da equipa do PrimeLineTIAC na cerimónia de lançamento da primeira pedra.

“Esse aumento da procura será preenchida por alguém”, diz Scherb. “Os clientes que nos conhecem, e os recém-chegados que ainda não conhecemos, querem uma parceria com um fornecedor que seja mais eficaz em ajudá-los a satisfazer as necessidades do mercado, ao mesmo tempo que optimizam a eficiência da produção interna. Quando vamos além de nossos produtos e serviços tradicionais, criando este espaço de nível internacional, onde as pessoas podem testar e desenvolver as suas soluções com o nosso suporte, demonstramos o nosso compromisso de ser um parceiro eficiente”.

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Aumento do rendimento nas máquinas de tissue mediante a tecnologia tisQ.X para revestimentos de rolos* *Dipl. - Ing. (FH) Torsten Bellaire Application Engineering SchäferRolls

A secagem da folha de papel mediante o cilindro Yankee e a campana de ar quente, é um processo que supõe um elevado consumo de energia. A SchäferRolls desenvolveu um revestimento para rolos de prensa aspirante especialmente desenvolvido para a máquinas que trabalham a grande velocidade. Esta tecnologia permite obter um rendimento máximo do processo de secagem.

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erante o constante aumento dos custos de energia, todos os esforços estão orientados para a redução do consumo energético mediante a otimização da secagem mecânica. Os fabricantes de papel tissue podem reduzir diretamente os custos energéticos aumentando o nível de secura após as prensas, melhorando assim a eficiência global do Yankee. Os rolos de pressão e os rolos de prensa aspirante são desenhados para secar a folha de papel da forma mais eficiente e suave possível. No entanto, os revestimentos dos rolos são utilizados em condições de funcionamento muito exigentes, o que coloca alguns problemas no momento de definir a melhor geometria para os referidos revestimentos, principalmente devido à extrema relação diâmetro / cumprimento do cilindro Yankee, a correspondente deformação dinâmica do cilindro devido ao efeito da pressão interna de vapor, da temperatura e das pressões lineares. O reduzido diâmetro e elevada velocidade de trabalho dos rolos nas máquinas de tissue modernas criam elevadas cargas lineares e frequência no nip. Em consequência disso, os revestimentos dos rolos ficam expostos a cargas termodinâmicas externas. Por essa razão, os revestimentos utilizados no fabrico de produtos

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pasta e papel – Primavera 2018

tissue devem ser concebidos de forma a garantir a máxima vida útil, estabilidade e qualidade constante, levando em conta a elasticidade, a resiliência e o perfil CMD (sentido transversal da máquina) uniforme. Os rolos de prensa aspirante dos Yankee realizam a maior parte do trabalho de secagem mecânica da folha de papel tissue. Por consequência são fundamentais para a poupança de energia, a qual se repercuta diretamente sobre o rendimento do sistema de produção global. É importante destacar algumas características chaves quando se trata de selecionar um revestimento de rolo. Em primeiro lugar, uma elevada capacidade de armazenamento de água, a qual se consegue mediante desenhos de superfície otimizados com grandes áreas abertas e com grande volume de vácuo. Em segundo lugar, uma largura de nip suficiente para uma secagem suave. Em terceiro lugar, uma boa resistência à abrasão para um tempo de vida mais longo e condições de trabalho estáveis. A SchäferRolls desenvolveu o revestimento tisQ.X para rolos de prensas aspirantes especialmente para máquinas de tissue que


Tecnologia >> Tissue

trabalham a alta velocidade com o objetivo de conseguir um ótimo rendimento no processo de secagem, assim como uma excelente eficiência energética. O revestimento tisQ.X oferece uma resistência máxima à humidade, à temperatura e ao desgaste. Também são adequados para velocidades de trabalho e de pressão linear extremas. O componente de poliuretano desenvolvido para as prensas aspirantes tisQ.X permite uma estabilidade mecânica, dinâmica e química sem igual. Graças à excelente resiliência da camada superior de trabalho, o revestimento do rolo é adequado para todo tipo de configuração (furos cegos e de aspiração, ranhuras), sem que a estabilidade da superfície do revestimento seja afetada. Tudo isto permite utilizar várias configurações de superfície que atingem o seu potencial máximo quando se tratam de grandes volumes de vácuo juntamente com zonas de desaguamento curtas. Por último, estas características permitem uma secagem muito eficiente, o qual se traduz em mais capacidade para atingir velocidades mais altas com uma secura superior melhorando assim a eficiência global da máquina.

cozinha (30%) a uma velocidade de 1.800 a 1.950 m/min e tem uma largura de 5.500 mm. As gramagens situam-se entre 15,4 e 18 g/m2. Na WEPA Leuna pretendia-se obter um aumento da secura mediante a secagem mecânica com o rolo da prensa aspirante de forma a conseguir uma maior redução dos custos de energia. Dado que os revestimentos standard de borracha usados anteriormente com furos cegos e furos de aspiração não apresentavam irregularidades de perfil transversal ou de tempo de vida, deveria ser possível obter uma maior eficiência de secagem otimizando o desenho superficial do revestimento substituindo os furos cegos por um ranhurado. A excelente estabilidade superficial do revestimento tisQ.X fabricado com poliuretano permite obter as melhores características para chegar a este objetivo.

Figura 3. Impressão da superfície de um rolo de prensa aspirante com borracha.

Figura 1. Revestimento tisQ.X para rolos de prensas aspirantes.

Figura 2. Características e construção do revestimento tisQ.X.

O uso do revestimento tisQ.X para rolos de prensa aspirante, com um desenho de superfície otimizado, permitiu aumentar significativamente o rendimento e da secagem da máquina de tissue MP10 da WEPA Leuna Gmb. A MP10 de Leuna produz papel higiénico (70%) e papel de

Para determinar o desenho final da superfície do revestimento, o departamento de engenharia de aplicação da SchäferRolls fez uma análise completa da máquina de papel na própria fábrica, que incluiu uma impressão da superfície do revestimento de borracha utilizado (Figura 3). Tendo como base os resultados da análise do departamento de engenheira e com a ajuda de um software da SchäferRolls chamado SurfaceOptimizer, que configura e otimiza a configuração do revestimento para aumentar o seu rendimento, desenvolveu-se uma nova configuração da camada de superfície. Comparando o revestimento de borracha utilizado até agora com furos cegos e furos de sucção, demonstrou-se ao cliente que o revestimento tisQ.X poderia, numa primeira fase com um desenho conservador da geometria das ranhuras, apresentar um aumento de 29,8 a 39,3% da sua

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Tecnologia >> Tissue

superfície aberta. Com esta medida, o volume livre de vácuo aumenta em aproximadamente 15%, ou seja, de 1.063 ml/m2 para a 1.223 ml/m2 (Figura 4). O cliente percebeu claramente que tinha uma oportunidade para aumentar sem grande esforço o rendimento da secagem com o rolo de prensa aspirante, reduzindo assim custos de energia, alterando apenas o revestimento do rolo para o tisQ.X.

Figura 4. Superfície do revestimento tisQ.X da prensa aspirante após 413 dias em máquina.

Após a instalação do rolo com o novo revestimento tisQ.X na MP10 da WEPA Leuna, registou-se um aumento de secura de 1% passando este de 42 para 43% em relação ao revestimento de borracha anteriormente utilizado. O rolo foi retirado da máquina quando de uma paragem programada após 413 dias e será de novo instalado na máquina, devido ao seu excelente estado, sem retificação, quando de uma próxima paragem programada (Figura 5). Atualmente está outro rolo igual em máquina, já que após o êxito obtido com o primeiro revestimento tisQ.X, também se optou pelo tisQ.X para o segundo rolo. O responsável da fábrica da WEPA Leuna, indicou: “Dado que se superaram as expectativas em termos de tempo de vida que estava inicialmente previsto para 365 dias, agora esperamos conseguir chegar a um intervalo de 18 meses”. Em conclusão: o revestimento tisQ.X para rolos de prensa aspirante, contribuem de uma forma muito valiosa para uma redução dos custos energéticos e de operação, melhorando significativamente a eficiência nas máquinas de papel tissue.

Standard rubber cover

Surface design suction pressure roll cover

tisQ.X cover

Blind drilling Æ:

2.0 mm

Blind drilling Æ:

-

Suction drilling Æ:

4.0 mm

Suction drilling Æ:

4.0 mm

Grooving:

-

Grooving:

groove width: 0.8 mm groove depth: 2.8 mm land width: 2.5 mm

Open surface

Void volume

Open surface

Void volume

Blind drilling

9.95%

383 ml/m²

-

-

Suction drilling

19.9%

680 ml/m²

19.9%

680 ml/m²

-

-

24.2%

679 ml/m²

29.8%

1063 ml/m²

39.3%

1223 ml/m²

Grooving Total

Figura 5. Comparativo da área aberta e volume disponível de um revestimento de borracha e de um revestimento tisQ.X.

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info Março’18

tecnicelpa.54 Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel

FLORESTA SUSTENTÁVEL Um compromisso de Todos

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índice : 03

EDITORIAL NOTÍCIAS DA TECNICELPA

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› O Natal da Família TECNICELPA

05

› Recordações de um papeleiro “exilado”!!!

07

› Exposição Itinerante 35 ANOS Tecnicelpa (encerramento)

08

› Memorial José Luís Amaral

11

› PRÓXIMOS EVENTOS - Tecnicelpa e Internacionais

11

› MOVIMENTO ASSOCIATIVO HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

12

› Galeria da Indústria Papeleira Portuguesa - ERNESTO GOES - Manuel Gil Mata

ARTIGOS DE OPINIÃO 22

› Dilemas ao eucalipto para produção de celulose e papel: perspectivas para o futuro - Celso Foelkel

24

› Melhoria do entrosamento entre operação e manutenção - Joaquim Belfo

25

› Os Stakeholders na comunicação pela impressão - Vitor Crespo

27

› A Personal view of Troubleshooting Paper Machines (part 2) - Michael Odell ARTIGOS TÉCNICOS

29

› Combater mitos e equívocos “O Eucalipto e a Água” - CELPA

30

› Reciclabilidade de fibras curtas - RAIZ

FICHA TÉCNICA Os artigos aqui presentes são da responsabilidade dos respectivos autores. A reprodução integral ou parcial do conteúdo desta info@tecnicelpa não poderá ser efectuada sem a autorização da TECNICELPA. As opiniões de terceiros não reflectem a opinião da TECNICELPA. Responsável pela edição e contactos - Secretariado da TECNICELPA - info@tecnicelpa.com A decisão final da utilização dos materias é da responsabilidade da TECNICELPA Design e Paginação - Luís Campos (HOMEWORK - design : : comunicação : : gestão de eventos) Distribuição gratuita aos Associados da TECNICELPA.

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Editorial PEDRO MATOS SILVA Presidente do Conselho Diretivo

A arte de apostar no “copo meio cheio” A Tecnicelpa aproxima-se do início de um novo ciclo diretivo. Fecha-se o biénio de 2016-17 e projeta-se o de 2018-19, o que significa apelar mais uma vez à nossa capacidade de reinvenção e inovação da associação, para lhe assegurar um futuro que responda aos valores e missão que a caracterizam. Como fazer mais e melhor num contexto mais adverso, é o exercício que se coloca a todos. Uma palavra para o ciclo a fechar. Conseguimos aumentar o número de atividades e muito substancialmente o número de participantes médio por atividade, o que era um dos objectivos. Realizamos um Congresso Tecnicelpa com reconhecido sucesso em termos de conteúdo e de intercâmbios. Organizamos uma exposição itinerante que levou a história da Tecnicelpa a todas as Fábricas de Pasta e Papel do País, e alguns outros parceiros do sector. Preparamos o futuro da equipa executiva e ainda não conseguimos rever os estatutos na sua totalidade. Sendo a nossa atividade iminentemente relacionada com a oferta de formação aos nossos associados, permitindo desta forma contribuir para o seu desenvolvimento e do sector em geral, a maior aposta que algumas das principais empresas estão a desencadear em oferta de formação interna, obriga a que repensemos a nossa estratégia. A complementaridade dos nossos planos de atividades em relação aos programas das empresas passou a ser vital para garantir o nosso serviço à comunidade dos técnicos desta indústria. Temas alternativos, parcerias com outras entidades, como a Celpa, ou com as congéneres de outros países produtores, aproximação a outras realidades associativas relacionadas são, entre muitas, algumas das iniciativas que agora, mais do que no passado, faz sentido priorizar. É necessário reinventarmo-nos, o que sendo difícil é também extremamente desafiante. Lembra-me este tema de um recente seminário a que assisti e que me marcou. Tratava-se da apresentação de um jovem Presidente de Câmara, sobre a forma como pegou num Município do interior, com uma divida avultada e a perder continuamente população pelo êxodo para o Litoral. info tecnicelpa 54

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Até aqui nada de particularmente diferente ao que acontece em tantos outros Concelhos, até pela primeira medida que se viu forçado a tomar: um plano de recuperação económica que colocou em causa todas as iniciativas de investimento que pudesse ter em mente. Perante o contexto parecia que pouco havia a fazer. Não se conformou. Lançou uma 2ª medida estratégica para o seu mandato: apostar num programa de Inovação, tirando partido das mesmas infraestruturas rodoviárias que lhe levavam pessoas da terra, para atrair outras. Fez um levantamento dos recursos que tinha disponíveis e percebeu que tinha um stock imobiliário público elevado, que necessitava de rentabilizar. Confirmou ainda que o Concelho era rico em paisagem, em recursos naturais, em história e cultura e sobretudo num aspecto absolutamente inovador: em Qualidade de Vida! Decidiu vender este conceito ao mundo e atrair gente de sectores altamente qualificados e com grande mobilidade profissional. Ofereceu espaço de trabalho atrativo reconvertendo os edifícios que tinha disponíveis. Conseguiu atrair investimento empresarial e tem hoje no mesmo Concelho deprimido um centro de Programação e Código de Software com mais de 800 profissionais residentes e a crescer, que conta inclusivamente com uma Academia de Código. Para tornar a descrição mais curta deixo-vos o nome do Concelho – Fundão - e convido-vos a procurarem mais informação. O reforço da competitividade do nosso sector, e da Tecnicelpa em particular, faz-se também pela sua capacidade de inovar nas metodologias e processos utilizados e no desenvolvimento de novas soluções e produtos partindo da “matéria-prima base”. Neste novo ciclo temos de fazer o nosso exercício de identificação de recursos e vantagens competitivas existentes e projetar a Associação para o seu futuro sustentável. Saudações e boa leitura. EDITORIAL

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O Natal da Família TECNICELPA

Momentos de boa disposoção com Luís Bonina, Augusto Góis, João Martins e sua esposa

Almoço de Natal no antigo Palácio Alverca - Casa do Alentejo

JOÃO MARTINS Sócio n.º 822

NATAL, evento maior na nossa história. Para uns, data simbólica do nascimento Daquele que em nome de Deus veio restaurar a Aliança como os homens. Para outros, profeta do Livro que nasceu para nos orientar no caminho da esperança. Para todos, personagem histórica que com a sua palavra, mas sobretudo com as suas ações se tornou imagem duma Humanidade que ainda hoje continuamos empenhados em construir. Mas como Natal é sobretudo renovação, a Tecnicelpa desafiou todos a renovar relações de sempre, a criar novas relações, mas também e mais importante que tudo, a juntar à família que já são os seus associados a família desses associados. E foi na Casa do Alentejo, ali no coração da Lisboa e na velhinha

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rua das Portas de Santo Antão, com quase 70 participantes, que o convívio começou. A casa que nos acolheu, antigo Palácio Alverca, já foi residência de aristocratas (família Paes do Amaral), Liceu e casino (Majestic Club) e é desde 1932 a casa, que se diz do Alentejo, mas onde cabe Portugal inteiro. Transposta a escadaria de entrada, arrancada a ferro e fogo aos 5 metros de muralha fernandina que aí existiam, extasiamo-nos com o pátio que o arquiteto Guilherme Alves Coelho, estudioso do palácio descreve da seguinte forma: - Transposta uma “porta árabe com vitrais, aberta por um criado irrepreensivelmente fardado, vêm-nos à mente as visões fantásticas das info tecnicelpa 54

mil e uma noites e entra-se no pátio central, com tal profusão de elementos decorativos, que logo o classificamos no estilo árabe puro Hispânico”. Subimos depois ao primeiro andar onde, no salão dos espelhos, a lembrar os salões de Versailles sonhados por Luis XIV e decorado por pinturas do mestre Benvindo Ceia, decorreu o almoço convívio. Durante o almoço e para alguns de nós, foi um privilégio privar de perto com alguém que, com a sabedoria da experiência se deu conhecer e nos brindou com as histórias de quem viveu muitas vidas nesta linha contínua de tempo que é a nossa existência. Quase a terminar aquele momento de convívio em que o tempo

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O balanço de trabalho da Tecnicelpa por Vitor Lucas - Vice-presidente da Tecnicelpa

passou sem darmos por isso, o nosso vice-presidente Vitor Lucas, em jeito de balanço, passou em revista todo o trabalho realizado pela associação ao longo do ano. E do pátio das mil e uma noites da Casa do Alentejo, seguimos, nem a propósito, rumo a uma das mais famosas histórias contada por Xerazade ao sultão seu amo e senhor, a história de Aladino e da Lâmpada Maravilhosa. O palco da história foi o teatro Politeama, ali bem perto também na rua das Portas de Santo Antão.

A história de Aladino e da Lâmpada Maravilhosa de Filipe La Féria

Para deleite de crianças de todas as idades, até aos 90, assistimos ao resultado do génio criativo de Filipe La Féria. Com cenários de encantamento e reunindo um leque de cantores e bailarinos bastante interessante, fomos transportados das profundezas da caverna do génio aos céus da Pérsia. Detestamos o malandro do Vizir, a quem no mundo atual certamente poderíamos dar outros nomes e fizemos toda a força do mundo para o sucesso do romance entre Aladino e Jasmine.

E porque Natal também é milagre, aliança e sobretudo família, fomos sem sombra de dúvida verdadeira família Tecnicelpa. E para terminar este breve texto permitam-me voltar ao fim do almoço, para evocar alguém que, felizmente ainda muito vivo e ativo, é sem dúvida símbolo maior da nossa associação e que em jeito de hino final nos fez “gritar” a todos, com o entusiasmo que o carateriza,

“VIVA A TECNICELPA”.

Recordações de um papeleiro “exilado”!!!

LUÍS BONINA Sócio n.º 246

Um dos meus companheiros de mesa no almoço de Natal da Tecnicelpa, o João Martins, que eu não conhecia e tive muito gosto em conhecer, disse quase tudo o que tinha de ser dito sobre a iniciativa da Tecnicelpa para o Natal de 2017. Resta-me confirmar tudo o que de positivo foi dito, acrescentando apenas que o bacalhau servido no almoço estava esplêndido e dar conta da minha própria felicidade por ter sido chamado a participar, com a minha mulher e dois dos meus info tecnicelpa 54

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netos, nesta reunião da “Família TECNICELPA”. Trabalhei no sector do Papel entre 1982 e 1989. Até 1986 na Matrena, junto ao Rio Nabão, perto de Tomar. Depois passei para a Sepema, empresa que se dedicava a vender produtos e equipamentos para os sectores do Papel e da Pasta. De então para cá, atuando em áreas muito diferentes, nunca me senti totalmente afastado da indústria Papeleira e em particular da Tecnicelpa de cuja Direção fiz

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parte entre 1986 e 1988 e da qual fiz questão de me manter sócio até hoje. Digamos que me senti como estando num exílio, de certo modo saudoso ainda que feliz e realizado, como aquele a que se refere o Rui Veloso numa das canções que interpreta: “Querida mãe, querido pai. Então que tal? Nós andamos do jeito que Deus quer Entre dias que passam menos mal Lá vem um que nos dá mais que fazer … Já não tenho mais assunto pra escrever Cumprimentos ao nosso pessoal

Um abraço deste que tanto vos quer Sou capaz de ir aí pelo Natal.”

E pronto! Presumo que por iniciativa do meu querido amigo Augusto Góis, sempre presente e ativo, recebi o convite para esta festa de família e cá estou eu! No decurso do almoço recordei um jantar de gala, organizado num Encontro da Tecnicelpa, nos anos oitenta, que decorreu no “Refeitório dos Frades”, uma das magníficas

Almoço de Natal no antigo Palácio Alverca - Casa do Alentejo

salas do Convento de Cristo em Tomar, iluminada por centenas de velas de cera colocadas no rebordo das paredes, junto ao teto. Perto do final do jantar começou a ouvir-se ao longe um canto de tonalidade medieval que se foi aproximando da sala onde estávamos, até que foi possível identificar o conjunto do Pedro Caldeira Cabral, acompanhado de uma jovem de que não

Jantar de gala Tecnicelpa no “Refeitório dos Frades” - 1985

Mas não só de festas e refeições vive a Tecnicelpa, ainda que estas sejam de vital importância para criar e desenvolver o clima de amizade e confiança entre os Quadros da fileira

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Conjunto de música de tonalidade Medieval

industrial da Celulose, independentemente da sua idade, antiguidade no setor, qualificação profissional e até das unidades industriais onde exercem a sua atividade. info tecnicelpa 54

recordo o nome, que ao som dos instrumentos metálicos e de uma guitarra entoaram, durante algum tempo cantares magníficos. Se bem recordo, vinham vestidos com trajes medievais. Creio que todos os “jovens” da minha idade, que ao tempo trabalhavam na fileira celulose-papel, se recordarão desta iniciativa da Tecnicelpa, de cuja Comissão Organizadora também fiz parte.

Não conheci ao longo da minha vida profissional nenhum outro setor onde me tivesse atrevido a contactar telefonicamente um outro associado, que conhecera pouco

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tempo antes, trabalhando numa fábrica de papel concorrente da minha, para lhe pedir um conselho técnico para resolver um comportamento anómalo, mas caprichosamente repetitivo, do papel que estávamos produzindo. Permitamme que desabafe tantos anos depois:

Mas, dizia eu, o papel da Tecnicelpa, não se esgota aqui. Relembro, designadamente, que, naquele tempo, iniciamos os contactos com a Universidade da Beira Interior no sentido de se lançar o curso de Engenharia do Papel, o que veio a concretizar-se algum tempo depois.

“Maldito curling, malditas pintas, maldita variação de espessura, malditas flutuações da cor branca!!!”

Atualmente, pelo que acompanho através da revista info@tecnicelpa, multiplicam-se as iniciativas formativas sob a forma de visitas a unidades fabris (antigas e modernas), colóquios, conferências e

cursos de formação sobre temas especializados. Por tudo isto aceitem a sugestão de um exilado saudoso: Apoiem a Tecnicelpa, participem nas suas iniciativas, acolham os Quadros jovens e, em última análise, como dizia o outro:

“façam o favor de ser felizes na área profissional “que escolheram!”

Exposição Itinerante 35 ANOS Tecnicelpa (encerramento)

que nos abriram as portas e acolheram este movimento de divulgação, nos seus espaços, permitindo-nos chegar mais longe.

Esta foi a reta final do programa de divulgação da Tecnicelpa 2017. Concluímos o nosso circuito de Exposição pelo “Portugal Papeleiro”, num complexo fabril de pasta e de papel e terminamos na casa onde residem as memórias da história do papel, que tão bem nos acolhe: o Museu do Papel.

Também uma palavra de apreço aos designers e simultaneamente técnicos, Rúben e Luis, que após a conceção e construção, sempre acompanharam e acarinharam esta estrutura, também para eles igualmente querida. Foi uma grande maratona de viagens, fins de semana e contactos com outras realidades.

Neste período, de 16 de dezembro até ao dia 3 de fevereiro 2018, a estrutura esteve exposta na The Navigator Company na Figueira da Foz, e finalmente concluiu este circuito nacional de exibição, no Museu de Papel em Terras de Santa Maria.

Deixamos igualmente o nosso sincero agradecimento a todas as Empresas nossas Associadas e Instituições e aos seus corpos dirigente,

Dulce Faria Assessora Direção Tecnicelpa

The Navigator Company

Museu de Papel

FIGUEIRA DA FOZ

SANTA MARIA DA FEIRA

Agradecemos a todo os nossos sócios e outros visitantes, que acolheram este expositor, ao longo de todo o ano de 2017 e início de 2018, em especial aos que deixaram o seu testemunho no livro de visita que acompanhou sempre esta estrutura, onde ficará a recordação de cumprimentos, votos, elogios, declarações, pensamentos e tudo o que adicionaram à nossa história. É destes pequenos contributos e colaborações que se constrói e se fortalece a coesão e o espírito associativo que nos move.

info tecnicelpa 54

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Todos são importantes e o nosso bem hajam a todos os papeleiros e técnicos relacionados com a fileira da floresta, pasta e papel. O futuro está à nossa espera.

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Memorial José Luís Amaral 04/05/1945 - 13/02/2018 A 13 de Janeiro de 2018 faleceu o José Luís Sampaio de Castro Amaral. Muitos de nós perderam um bom amigo. A nossa comunidade perdeu um homem e um engenheiro superiores. É por isso oportuno relembrar muito do que recentemente foi dito na cerimónia de atribuição da qualidade de membro honorário da Tecnicelpa, sobre o Zé Luís. Os seus traços mais relevantes, enquanto pessoa e enquanto profissional, foram então caracterizados nos termos que aqui se reproduzem. Incluem-se ainda 4 testemunhos que pretendem ajudar a ilustrar a personalidade e o legado do Zé Luís.

A PESSOA O Amaral é um homem do Norte, com raízes familiares em Fafe, onde se mantém desde há mais de 4 gerações a casa de família, na margem do rio Vizela. A sua juventude é vivida no Porto, na casa dos pais, até que de forma permanente passa a trabalhar na Celnorte, em Viana do Castelo, tendo adquirido uma casa na Foz do Neiva, que passou a ser a sua residência habitual. Passa a residir no Porto. quando vem trabalhar para o Raiz, mantendo a casa na Foz do Neiva, da qual desfrutava aos fins-de-semana e nas férias. O ambiente em que se movia, veio a condicionar a sua personalidade. Sob este aspecto merecem referência: A sua ligação às origens rurais da família e a sua formação, eminentemente urbana, na cidade do Porto. A cultura cosmopolita a que acedeu com o exercício da Direcção Comercial da Portucel Viana. No domínio das suas características pessoais, importa realçar a extrema

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O PROFISSIONAL sociabilidade que evidenciava, apesar do seu carácter introvertido, procurando integrar-se em grupos com quem tinha afinidade ou que defendiam causas semelhantes às suas, participando na acção cívica correspondente. Participou em movimentos associativos e estudantis, associações culturais, iniciativas da Ordem dos Engenheiros, iniciativas da Tecnicelpa, candidaturas a gestão de órgãos municipais. Em termos gerais, deve ser referido que detém uma inteligência e lucidez raras, e manifesta uma integridade que se revela intransigente com a violação dos valores e de princípios, ao mesmo tempo que está sempre disponível para encontrar compromissos com todos aqueles em que reconhece recta intenção. Deve ser realçado que no âmbito profissional mantém um relacionamento interpessoal exemplar, construído sobre uma atitude de serviço desinteressado e incondicional para com os outros. Sempre pronto para ajudar, mesmo que isso signifique um excesso da sua carga pessoal. info tecnicelpa 54

Irei referir-me ao seu percurso e aos valores que o informavam.

O Percurso: Licencia-se em Engenharia Química pela FEUP, foi professor no Instituto Superior de Engenharia do Porto e no Instituto Politécnico de Viana. Fez o MBA no Porto e ingressa na Celnorte, depois Portucel Viana onde desempenha sucessivamente as funções de responsável de laboratório, pelos serviços de estudo e controlo do processo, adjunto da Direcção e Director Comercial. Ingressa no Raiz, onde exerceu as funções de Director de Investigação Tecnológica. No caso particular da Tecnicelpa, relembro a sua participação no movimento de constituição da associação, da qual foi sócio fundador, a participação na organização de vários congressos, a participação na condução das mesas das sessões científicas dos congressos, a apresentação de comunicações científicas, a participação em seminários e workshops, a assinatura de comunicações variadas no jornal da Tecnicelpa e finalmente

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desde 2013, a sua actividade como membro da Comissão Científica.

O exercício realizado e os valores que o informaram

Comissão Científica da Tecnicelpa

Há três traços principais que se evidenciam em todo o seu percurso profissional, sendo o primeiro o reconhecimento generalizado da sua elevada competência, que assegurava um desempenho da função centrado no rigor e no conhecimento técnico e científico aprofundado.

O segundo era a forma íntegra como pautava as relações com terceiros e a sua intolerância com a violação desse princípio. O terceiro era a atitude de serviço e a sua extrema disponibilidade. Termino felicitando a Tecnicelpa pela decisão que tomou, e nos aponta o Amaral como uma fonte de inspiração para todos nós. Serafim Tavares

Testemunho de Isolete Torres Matos Trinta anos de percurso profissional, lado a lado, na fábrica de Viana, seguidos de quinze cultivando e gozando uma sólida amizade, permitir-me-iam contar variados episódios, episódios interessantes, episódios divertidos, episódios intelectualmente desafiantes. Na homenagem que tão oportunamente lhe dedicámos, no último encontro TECNICELPA, o colega Serafim encarregou-se de nos recordar muitos deles.

Prefiro, hoje, dar testemunho de uma conversa recente que tivemos na sua casa de Forjães, o Amaral, fisicamente já muito debilitado, mas mantendo a lucidez intelectual de sempre. Falávamos dos trágicos incêndios que tão profundamente nos marcaram como cidadãos e como profissionais desde sempre ligados à floresta e ao seu valor. Ambos comungávamos o desejo de ver a floresta portuguesa encetar um caminho diferente, mais organizada,

mais ambientalmente saudável, mais socialmente amiga, mais compreendida por todos como um bem a cuidar. O Amaral reflectia sobre a importância de trazer à discussão alargada, o valor deste recurso na mitigação das consequências das alterações climáticas. Ver mais longe, deixar de nos centrarmos sempre nos legítimos interesses imediatos e unirmos esforços, com a sociedade ao nosso lado, na construção da floresta do futuro. Estou e continúo consigo, Amaral!

Testemunho do Serafim Tavares A 29 de Dezembro visitei o Amaral na sua casa de Foz do Neiva. Pareceu-me relativamente bem, embora mostrasse alguma dificuldade respiratória. Falámos sobre a sua saúde, assegurou-me que estava a ser acompanhado por especialista que ajudaria a resolver a dificuldade respiratória; do convívio de fim-de-ano, com amigos comuns, donde eu vinha, tendo ele dito que no próximo ano não faltaria e de outras coisas, sendo inevitável abordar as dificuldades e as oportunidades, com que a nossa

indústria se depara. Registo o essencial do que, na opinião do Zé Luís, deveria ser feito: - Crescer no Tissue. Melhorar propriedades de superfície do impressão e escrita. Assegurar abastecimento competitivo às fábricas de pasta e Apostar na bio-economia. A 1 de Janeiro foi internado no Hospital de Santo António e não sobreviveu. Será por mim recordado sempre com saudade. info tecnicelpa 54

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Testemunho de Leonor Guedes Do contacto de muitos anos com o Eng. Amaral (foi assim que o comecei a tratar e não consegui mudar nunca) gostava de salientar o seu carácter, o respeito e educação no trato com todos qualquer que fosse a sua categoria social. Também a humanidade na protecção a quem precisava de uma forma reservada, quase anónima era outra das características da sua personalidade. Das suas qualidades intelectuais a humildade na divulgação dos seus muitos conhecimentos técnicos e a capacidade da abordagem dos problemas com clareza e o poder de síntese surpreendia-nos muitas vezes. Não posso deixar de referir uma conversa na última visita que eu e o meu marido fizemos em Novembro

passado. Estávamos a admirar um quadro, quando os nossos olhos repararam num relógio pendurado na parede do escritório onde estávamos. O Eng. Amaral reparou e perguntou: “sabem quem mo ofereceu?” Dissemos que não e ele prontamente, com aquela sua simplicidade desarmante disse: “Foi um emigrante de leste que foi sem abrigo durante anos e a quem tinha dado uma ajuda e reorganizou a sua vida. Quando conseguiu visitar o seu país trouxe-me este relógio (poucos e feitos de propósito para homenagear ex-combatentes) que tinha sido oferecido ao seu avô pelo seu papel durante a guerra.” É difícil concentrar na mesma pessoa estas qualidades e por isso é com reconhecimento e admiração que vou recordar o Eng. Amaral.

Testemunho de Manuel Gil Mata Os grandes homens merecem um memorial pequeno, que a sua grandeza amplie e que não ofusque a sua grande dimensão humana: é o caso de José Luís Amaral, a cuja memória dedico, muito comovida e saudosamente, este modesto testemunho, tão pequeno e breve quão grande e perene é a sua memória.

O Eng.º Von Hafe, que havia sido responsável pelo Laboratório de Cacia, onde se haviam feito as investigações que levaram ao desenvolvimento da pasta ao sulfato de eucalipto, era especialmente exigente em relação a este lugar e as tentativas de recrutamento já feitas não tinham revelado nenhum sério candidato.

A vida deu-me o privilégio de o ter trazido para a actividade do papel, um dos poucos favores que a Indústria Papeleira me fica a dever.

Logo pensei no José Amaral, que me parecia ter o perfil adequado: muito inteligente e determinado, espírito analítico, fortes convicções e grande seriedade intelectual, ao mesmo tempo que simples e modesto, mas de forte carácter.

No recrutamento de quadros para a Celnorte, o Director Fabril, Eng.º Joaquim Von Hafe, solicitou a minha intervenção e o meu empenhamento para encontrar o responsável pelo Laboratório de Investigação e Controlo, que fazia parte da minha área de responsabilidade.

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A convivência de uma dúzia de difíceis anos, na Celnorte, com um castigado arranque industrial e uma revolução pelo caminho, veio confirmar todas as suas qualidades info tecnicelpa 54

como homem, como engenheiro e como amigo. Anos mais tarde, quando o Eng.º Serafim Tavares procurou a minha opinião e solidariedade para nomear o José Luís Amaral como responsável pela Investigação Tecnológica no Raiz, não tive a menor dúvida de que era a escolha certa, como ficou provado pelo seu notável desempenho e pelo prestígio que grangeou na empresa, nas instituições de investigação e nas universidades. Ao testemunho da minha admiração pelo engenheiro e pelo investigador, junto o testemunho da minha saudade pelo colaborador, pelo amigo e pelo homem bom, José Luís Amaral, a quem a Indústria Papeleira Portuguesa muito fica a dever.

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Próximos Eventos EVENTOS TECNICELPA › Assembleia Geral + Palestra temática – Tomar; 24 de Março 2018 › Curso “Introdução à produção de pasta” – Universidade da Beira Interior, Covilhã Maio 2018 › XXIV Conferência Internacional TECNICELPA 2018 – Castelo Branco, 11 e 12 de outubro 2018 › Seminário “Manutenção fabril - Fiabilidade de instalações / equipamentos” – Novembro 2018 › Seminário “Novas aplicações para produtos de uma fábrica de pasta” – Dezembro 2018

EVENTOS INTERNACIONAIS › RISI European Conference - 5-7 March 2018; Barcelona - Spain › The 21st international Recovered Paper Conference - 12 April 2018; Dusseldorf - Germany › Zellcheming Tech. Com. “Pant Engineering & Energy” - 19-20 April 2018; Schwedt - Germany › 49th Annual Congress of The Italian Paper Industry - 17-18 May 2018; Villalta do Gazzo - Italy › 31st International Mechanical Pulping Conference - 27-30 May 2018; Trondheim - Norway › PAPERmatters! Conference - 19-20 June 2018; Lancaster University – United Kingdom › 113th Zellcheming Annual Meeting and Exhibition - 26-28 June 2018; Frankfurt – Germany

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NOTÍCIAS DA TECNICELPA

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HISTÓRIAS E MEMÓRIAS Galeria da Indústria Papeleira Portuguesa

Galeria da indústria papeleira portuguesa

MANUEL GIL MATA Sócio n.º 101

1. Introdução No ato inaugural desta iniciativa editorial, tive oportunidade de referir que no Salão Nobre da Galeria da Indústria Papeleira Portuguesa havia lugar para três retratos, que seriam identificados, aos visitantes, como dos principais vultos históricos que, na nossa opinião, permitiram descobrir, consolidar e desenvolver o caminho que levou a Indústria Papeleira Portuguesa ao lugar de destaque mundial que hoje lhe pertence. Retratados o investigador da descoberta e o engenheiro da industrialização, esta homenagem estaria incompleta e a história ficaria mutilada se nesse Salão Nobre não fosse emoldurado o vulto que dedicou grande parte da sua vida, do seu saber e do seu apaixonado entusiasmo a estudar, a conhecer, a dominar, a apurar e a multiplicar a

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dádiva da natureza que se transformou no grande sucesso da pasta de papel portuguesa, o eucalipto. Esse vulto é o do Engenheiro Silvicultor Ernesto da Silva Reis Goes, a quem o país deve os pioneiros trabalhos que permitiram o desenvolvimento das plantações florestais que garantiram a consolidação e o desenvolvimento da indústria da pasta de eucalipto, em Portugal. Numa altura em que, tão injustificada e despudoradamente, o eucalipto é alvo do mais violento, ignorante e lesivo ataque dos seus quase dois séculos de presença no nosso País, mais se justifica trazer a palco e iluminar com os focos da ribalta o retrato de quem tanto contribuiu para dele fazer uma das poucas grandes riquezas desta terra e o fiel e confiado suporte económico de milhares de famílias info tecnicelpa 54

portuguesas que teimam em não abandonar as suas terras e delas retiram, suada e honradamente, o seu quotidiano sustento. Conheci o Eng.º Ernesto Goes nas reuniões trimestrais da Direção da Empresa da Portucel E.P., nos inícios dos anos 80, sendo ele um sénior responsável pela Direção Florestal e eu um jovem diretor do mais recente Centro Fabril. A par da sua reconhecida competência técnica e do seu prestígio como investigador, muito me impressionavam a sua simplicidade, a sua seriedade e o seu desprendimento em relação ao estatuto de membro da Alta Direção da Empresa, que era o seu, e um aparente menor interesse pelas preocupações de gestão: era, de facto um grande técnico e um notável investigador, com pouca paciência para as questões de administração,

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o que lhe dava um particular e distinto encanto no meio daquele colégio de altos gestores. Na altura, estando eu nos papeis de embalagem e preocupado especialmente com o pinho, contrariamente ao que acontecia com a Direção Florestal da Portucel e com o Eng.º Ernesto Goes, para quem o eucalipto era, efetivamente, uma “monocultura”, não privei tão de perto e tão

intensamente com o nosso biografado como gostaria de ter feito, lacuna que mais tarde preenchi, quando ingressei na Soporcel e mergulhei no mundo das pastas e dos papeis branqueados e, inevitavelmente, do eucalipto. Para alinhavar os avaros parágrafos deste incompleto esboço biográfico, socorri-me de várias fontes e documentos e do testemunho de pessoas

que mais diretamente privaram com o Eng.º Ernesto Goes, às quais estou muito agradecido. Não posso deixar de destacar a inestimável ajuda do seu filho, Eng.º Armando Goes, que tem o condão de aliar à sua louvável estima filial o seu notável conhecimento sobre a espécie que apaixonou o seu distinto progenitor e a obra que o notabilizou.

ERNESTO GOES

2. A Paixão pelo Eucalipto Filho de pais orgulhosamente alentejanos, de quem herdou o gosto pela terra e pela agricultura, que mais tarde o levaria ao Instituto Superior de Agronomia, mercê da atividade de seu pai, cujos interesses numa fábrica de moagem de trigo obrigaram a família a domiciliar-se no Algarve, Ernesto Goes nasceu em Faro, em 1917, e lá residiu até 1934. Na capital do Algarve, frequentou o liceu e teve significativa atividade desportiva, tendo-se iniciado no futebol e no atletismo, que praticou com mérito nas equipes do Belenenses e do ISA, quando se fixou em Lisboa, em 1934.

A sua paixão pela terra e pelas árvores levou-o a inscrever-se no Curso de Silvicultura do Instituto Superior de Agronomia, que concluiu em 1942 e lhe abriu as portas da Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, onde teve o seu batismo de campo, com um tirocínio de topografia e levantamento de áreas da Serra da Lousã. Após defender tese, em 1945, iniciou-se a sua fase de dedicação à entomologia, tendo ingressado no Laboratório de Biologia Florestal dos Serviços Florestais, onde trabalhou até 1949, em frutuosa atividade de investigação, da qual resultou uma dúzia de trabalhos publicados. info tecnicelpa 54

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Nessa altura, o país confrontava-se com uma séria praga conhecida como “lagarta desfolhadora do sobreiro”, grande preocupação para os proprietários e as autoridades agrícolas. Com o suporte do Laboratório de Biologia Florestal, foi preparada uma campanha de combate à praga, que culminou com a produção de um filme chamado “A Lagarta do Sobreiro”. Ernesto Goes, o principal especialista e investigador da campanha, foi designado para Diretor Técnico do filme, onde a protagonista era a coleante Lymanta Dispar, cognome latino da famosa lagarta. O filme teve tanto sucesso que foi premiado pelo famoso SNI-Serviço Nacional de Informação e escolhido

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eucalipto em Portugal, chefiou a delegação portuguesa aos congressos da Subcomissão do Eucalipto, realizados em Marrocos, França, Espanha, Portugal e Itália, entre 1954 e 1963. Estes encontros foram fundamentais para o aprofundamento e internacionalização do conhecimento sobre a cultura desta árvore, particularmente atrativa para Portugal e Espanha, mas também de muito interesse para França, dada a influência francesa em Marrocos.

Levantamento do Território - Anos 40

para representar Portugal na Bienal de Veneza. A tentativa de tirar dos gabinetes os técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura não é uma invenção do atual Regime Democrático: já em 1949, a grande maioria dos técnicos de então foi deslocada para o campo, no âmbito de uma iniciativa chamada Plano de Fomento Agrário, cujo objetivo era a elaboração de uma proposta de ordenamento agrário do país, com a indicação das culturas a privilegiar nas diferentes regiões. Ernesto Goes foi integrado nessa missão, cabendo-lhe trabalhar em diversos concelhos do sul do país, onde ele constatou haver imensas áreas sem nenhum interesse agrícola efetivo. Na procura, cuidadosa e bem suportada, como ele sempre fazia, de alternativas técnica e economicamente válidas, para ocupação dessas áreas, Ernesto Goes chegou ao eucalipto e começou a visitar todos os arboretos conhecidos e a devorar toda a literatura relacionada com a espécie, na altura episodicamente presente em Portugal e muito pouco conhecida do ponto de vista técnico e científico.

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Quanto mais trabalhava esta ideia, mais se convencia dos méritos da espécie e mais vontade sentia de aprofundar os seus conhecimentos sobre as suas caraterísticas, a sua silvicultura e o seu potencial económico. Assim, nasceu nele, para benefício do país, uma verdadeira paixão pelo eucalipto, que levou Ernesto Goes a dedicar grande parte da sua atividade a esta espécie florestal que havia chegado a Portugal mais de100 anos antes, sem se saber bem porquê nem para quê, e que, na altura, não ocupava mais de 50 000 hectares da nossa área florestal.

Em Portugal, o interesse pelo eucalipto, liderado pelo nosso biografado, começava a crescer, quer ao nível da iniciativa privada quer no seio dos serviços florestais. Em 1952, esteve em Portugal, a convite dos Serviços Florestais, um reputado técnico silvicultor francês, o Prof André Metró, que trabalhava para o Governo Francês e para a FAO e era considerado um grande especialista internacional em eucalipto. Guiado por Ernesto Goes, o Prof Metró percorreu os principais arboretos portugueses de eucalipto, que Goes havia já estudado e classificado, tendo ficado tão impressionado com o trabalho realizado pelo

Mas o interesse pelo eucalipto, nessa era, não se esgotava no Eng.º Goes. Na década de 50, nos Congressos da Silva Mediterrânea, promovidos pela FAO, as principais espécies em destaque eram o sobreiro e o eucalipto, credores de duas subcomissões distintas, cada uma delas promovendo a realização bienal de congressos internacionais, destinados ao aprofundamento e divulgação das caraterísticas da respetiva espécie. Ernesto Goes, que já se perfilava como o grande investigador do info tecnicelpa 54

Visão da Florestação do País - Anos 50

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seu colega português, que o relatou encomiasticamente ao Diretor Geral das Florestas, o que muito contribuiu para elevar a cotação da espécie e do nosso investigador junto das autoridades responsáveis pela silvicultura, em Portugal. Mercê da sua competência, do seu entusiasmo e do apreço com que era visto na subcomissão do eucalipto, Ernesto Goes começara a ganhar um prestígio internacional que muito o ajudava a concretizar as suas ideias no País. Data dessa altura a plantação do Arboreto de Eucaliptos do Escaroupim, realizado por sua iniciativa e sob sua orientação, entre 1953 e 1958, onde 120 diferentes espécies foram plantadas, numa área de 50 hectares, considerado um caso notável e ímpar, a nível mundial. Em 1955, Ernesto Goes é nomeado para chefiar o Departamento de Estudos e Projetos de Melhoramentos, criado, dentro da Direção Geral dos Serviços Florestais, para apoio à arborização da propriedade privada, onde se manteve até 1964 e desenvolveu um notável trabalho. Além de ter estudado novas técnicas de plantação e ter promovido a instalação de viveiros, criou matas-piloto e elaborou planos de arborização em diversas bacias

Afetos dos Serviços Florestais - Anos 50

hidrográficas, em mais de 100 grandes projetos de arborização que, no total, ultrapassaram a notável área de 1 000 000 de hectares. Complementarmente, para apoio concreto ao fomento florestal da propriedade privada, foi criada uma rede de viveiros florestais estrategicamente colocados, como foram os de Mora, Alcácer do Sal e Odemira. Mas o seu apoio à arborização não se limitou ao âmbito dos Serviços Florestais, tendo-se alargado à iniciativa privada, com exemplos tão importantes como as plantações de 1000 hectares nas Minas de S. Domingos, em Mértola, 1000 hectares na Herdade da Comporta, em Grândola, 1000 hectares na Mata do Duque, em Benavente, e 300 hectares na Herdade de Rio Frio, no Montijo, atividades realizadas na década de 50.

O contacto formal entre Ernesto Goes e a Indústria da Pasta iniciouse em 1957, quando a Administração da Socel, após ter obtido licença para a instalação de uma nova fábrica de pasta de eucalipto, adquiriu terrenos na Mitrena, tendo destinado cerca de 50% a serem ocupados pelas instalações fabris, com o restante reservado para ser florestado com eucalipto. Ernesto Goes, a reconhecida competência florestal da nova e promissora espécie, foi convidado para Consultor da Socel. Era a primeira iniciativa florestal séria da então nascente indústria da pasta de eucalipto, com mudança de paradigma do abastecimento fabril e decisiva importância no futuro da indústria, em Portugal.

3. O Fomento das Plantações de Eucalipto As preocupações dos utilizadores do eucalipto, como matéria-prima da indústria papeleira, não são de agora, tendo iniciado a sua carreira, como principal razão de insónia dos responsáveis da indústria, no início da década de sessenta do século passado. O sucesso da pasta branqueada de Cacia no mercado internacional

levou a que chovessem na Secretaria de Estado da Indústria, de 1963 a 1965, mais de uma dúzia de pedidos de licenciamento de novas instalações de fabrico de pasta. Embora, algumas das vezes, a utilização de eucalipto e a produção da sua pasta papeleira branqueada não estivessem claramente expressas, fácil era perceber, nas entrelinhas, que esse seria de desiderato final da pretensão. info tecnicelpa 54

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Casos havia em que a madeira de pinho era expressamente mencionada, especialmente no que se referia a papéis de embalagem ou de pasta mecânica, áreas em que a experiência nacional, na altura, era diminuta e que não ilustram a preocupação que queremos sublinhar. A Administração da Companhia Portuguesa de Celulose teve, então,

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que se desmultiplicar em empenhos, influências e recursos, para tentar impedir que tais iniciativas vingassem e lhe fizessem concorrência na matéria-prima e no mercado, fazendo apelo ao famoso regime do Condicionamento Industrial, um dos ícones do Regime e dos interesses instalados. Iniciou-se, então, uma excitante refrega nos bastidores da política, pois cada grupo promotor tinha as suas armas, municiadas pelos seus conhecimentos, empenhos e influências. Coube ao Secretário de Estado da Indústria de então, Manuel Amaro da Costa, o papel disciplinador deste latente tumulto, através de um famoso despacho orientador sobre a indústria de celulose que, entre outras orientações, impunha a distribuição das novas iniciativas por diferentes zonas geográficas, com necessidade de apresentação de um plano de florestação da zona pretendida, a garantia da sua efetiva execução e obtenção da matéria-prima e o acesso ao capital da empresa por parte dos proprietários florestais da região selecionada. Aparecia assim, pela primeira vez institucionalizada, a necessidade de dar suporte florestal às iniciativas industriais do setor. Para além desta assinalável influência da crescente procura de eucalipto no mercado interno, outros fatores relevantes influenciaram, na época, o fomento da cultura do eucalipto. Um dos mais importantes foi, a nosso ver, a inevitável adesão de Portugal aos movimentos de integração europeia, nos quais o País se estreou, através da adesão à EFTA, exatamente no início da década de sessenta. A EFTA, iniciativa integracionista liderada pelo Reino Unido, pretendia ser fundamentalmente destinada aos produtos industriais. Mercê

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Congresso e Trabalho de Campo - Anos 50

da constatação da debilidade da indústria de Portugal, na altura, face à dos outros Estados Membros, o Regime pretendeu impor, nas negociações, um regime de alargamento da integração aos nossos produtos agrícolas, embora em condições de aparente favorecimento do país. A verdade é que o conseguiu, por mérito negocial do Ministro Correia de Oliveira, tendo isso sido anunciado como uma conquista de Portugal e do seu Governo. A integração veio, no entanto, evidenciar a dramática falta de competitividade da nossa agricultura, com particular impacto nas culturas cerealíferas, com aumentos expressivos de importações e a colocação de significativas áreas de território, particularmente no sul, em situação de desocupação agrícola. O potencial de exportação de um produto industrial competitivo, a pasta de eucalipto, e a disponibilidade de terras para florestar, foram o caldo de cultura adequado às iniciativas de fomento da florestação com eucalipto. Ernesto Goes, que conhecia como ninguém o eucalipto, as suas potencialidades para a indústria e as especificidades da sua plantação e cultivo, estando conhecedor e convicto das suas grandes e inevitáveis vantagens para o país, emergiu, info tecnicelpa 54

então, como grande pioneiro do fomento da espécie, em Portugal. Nessa altura, início dos anos sessenta, já o Projeto Socel estava em marcha e havia acabado a aguerrida fase concorrencial com a CPC, tendo o Eng.º Quevedo assumido já grande influência no projeto de Setúbal que, mais adiantado no tempo do que os novos projetos atrás referidos, conseguira ter luz verde para avançar. No Conselho de Administração da Socel, destacavase, nesta matéria do abastecimento florestal, o Eng.º Sampaio e Melo que, para além de contestar as novas iniciativas concorrentes, teve o discernimento de iniciar medidas de fomento florestal, antecipandose às outras empresas concorrentes e tendo inspirado até as orientações definidas no posterior despacho orientador de Amaro da Costa. Sampaio e Melo não era um especialista em eucalipto, mas teve a visão e o mérito de recrutar, para Consultor Florestal da Socel, o Eng.º Ernesto Goes, que ele reconhecia como autoridade na matéria e que manteve ao leme da atividade florestal da nova empresa, ao mesmo tempo que continuava a trabalhar nos Serviços Florestais, até 1965. Nesta fase da sua carreira é impressionante o número de trabalhos e publicações da autoria de Ernesto

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O Sonho do Fomento Florestal - Anos 60

Goes, nem todos relacionados com o eucalipto, mas onde dominava a espécie que havia germinado no seu coração de técnico e investigador: Óleos Essenciaias de Eucaliptos (1955), Viveiros e Plantações de Eucaliptos (1957), Rapport des Traveaux sur les Eucalyptus au Portugal (1958), Os Eucaliptos em Portugal, Monografia, Volume I (1960), Evolution du Development de l’Eucalyptus au Portugal (1960), Les Regions les Plus Favorables a la Culture du E. Cameldulensis et du E.Globulus en Portugal (1960), Relatórios das Atividades Nacionais do Eucalipto (1960/1961), Os Eucaliptos em Portugal, Vol II, Ecologia, Cultura e Produção (1962) e 1ª Jornada Italiana do Eucalipto (1964), para só referir os mais importantes. Arrancada a Fábrica de Setúbal, em 1964, a Socel decidiu finalmente criar os seus Serviços Florestais, com o objetivo de definir uma política própria para o abastecimento de matéria-prima, procurando pesquisar a disponibilidade de madeira nas

zonas mais próximas e favoráveis, assinar contratos com entidades habilitadas a fazer fornecimentos avultados e desenvolver ações de florestação em terrenos do Estado ou de grandes casas agrícolas.

com uma pequena camada arável assente diretamente na rocha-mãe que era forçoso romper, o que exigia técnicas inovadoras e equipamentos cada vês mais pesados e potentes.

Sob a direção de Ernesto Goes, foi, pela primeira vez, elaborada uma Carta Florestal integralmente feita pela iniciativa privada, focando a região a Sul do Tejo, primeira publicação do Gabinete Técnico Florestal da Socel, em 1966. Este trabalho suportou a primeira Estimativa de Disponibilidade, a 10 anos, de Matéria-Prima Lenhosa ao Sul do Tejo e o primeiro levantamento de Áreas de Eucaliptal, nos distritos do sul, onde elaboravam estatísticas de cortes e se apuravam produções médias.

As técnicas silvícolas sempre estiveram na primeira linha da investigação do nosso distinto silvicultor, que desempenhou um papel fundamental na evolução das técnicas de plantação dos eucaliptais em Portugal, inicialmente feita em “vala e cômoro”, segundo as curvas de nível, para passar a ser feita em “terraça”, prática implementada no país pelo Gabinete Técnico Florestal da Socel e inspirada nos ensinamentos recolhidos no sul de Espanha, por Goes, cuja curiosidade e atividade se alargavam para além de Portugal.

Foi nessa altura que Goes desenvolveu o primeiro núcleo florestal da Socel e estabeleceu os primeiros contratos de florestação em parceria em 2400 ha, seguidos por outras importantes iniciativas na Serra de Ossa, na zona de Odemira e em Monchique. Em 1970, a Socel tinha 9 300 ha plantados e, passados seis anos, quando se deu a nacionalização e a criação da Portucel EP, num total de 19 250 ha da área florestal da nova empresa estatal, 16 400 ha, mais de 80%, eram oriundos da Socel. Mérito de Ernesto Goes!... Para concretizar a política definida pela célebre Lei 2069, o Estado Português, reconhecendo a importância de fomentar a florestação da propriedade privada, constituiu, em 1966, o Fundo de Fomento Florestal, que foi uma oportunidade para o desenvolvimento da plantação de eucaliptais e um grande incentivo à inovação das técnicas de preparação do solo, fator fundamental para o sucesso das novas arborizações, uma vez que a larga maioria dos solos disponíveis eram esqueléticos, info tecnicelpa 54

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Em 1969 e 1970, em representação das Administrações da CPC e da Socel, esteve em Angola, a estudar a possibilidade de plantar 100 000 hectares de eucaliptal na zona de Malange, para alimentar uma fábrica de pasta a construir na região. Sei que foi também um grande suporte e inspiração para Luís Rolo, quando ele equacionava as plantações, em Angola, destinadas à Celangol. Como tive oportunidade de referir, a EFTA foi o primeiro movimento integracionista europeu que criou condições para o extraordinário desenvolvimento do eucaliptal, em Portugal, tendo dado um grande apoio à instalação da Celbi e ao importante papel que os suecos da Billerud tiveram no fomento das plantações de eucalipto neste país e que é de toda a justiça reconhecer. Também aí, Ernesto Goes desempenhou um papel importante, na medida em que dirigiu as análises florestais feitas para averiguar da potencialidade de instalação de novas fábricas de pasta no nosso território, trabalho promovido pelo

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terá passado a fase mais aguda do período revolucionário, que foi particularmente agitado na Socel.

África - Anos 70

Governo Português, por solicitação da EFTA, cujas conclusões foram fundamentais para dar credibilidade às potencialidades de Portugal junto dos investidores externos. O insuspeito e perspicaz Administrador Delegado da Celbi, Nils Paues, no seu livro “Stora Celbi”, diz desassombradamente que “o grande mestre do eucalipto, em Portugal, o Eng.º Ernesto Goes, colaborou com o responsável sueco da Celbi, que muito apreciou essa colaboração”. Apesar de toda este entusiasmo e toda esta atividade de fomento do eucalipto durante a década de sessenta, os responsáveis pelos quatro grandes operadores industriais então instalados, CPC, Socel, Celbi e Caima, não deixaram de ter grandes preocupações com o abastecimento de madeira às suas fábricas, receando a escassez de matéria-prima e vendo o seu preço subir aceleradamente, mercê da aguerrida competição entre eles instalada e o sucesso conseguido no desenvolvimento da capacidade de produção das suas unidades industriais. Com o dealbar da década de setenta, a situação extremou-se de tal modo que as administrações das empresas instaladas resolveram entender-se

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para, com o beneplácito do Regime, criarem uma organização monopolista de compra de madeira, que se apresentava como comprador único, face à multiplicidade dos fornecedores, com preço concertado e garantindo a aquisição de toda a madeira oferecida no mercado, a qual era depois rateada pelas quatro empresas do consórcio. Os esforços de fomento da florestação, sonhados e concretizados por Ernesto Goes, não foram suficientes para travar a tentação monopolista da indústria, facilitada pelo ambiente político da época, a que até os liberais empresários escandinavos e britânicos cá instalados aderiram e que a Revolução de 74 veio óbvia, rápida e iradamente desmantelar. Apesar do seu grande envolvimento e entusiasmo na atividade florestal da Socel, Ernesto Goes nunca quis deixar os Serviços Florestais do Estado, onde tinha começado a sua atividade e a que tanto se afeiçoara e que, em reconhecimento do seu grande saber e dedicação ao eucalipto, o nomearam para dirigir o Departamento de Cultura e Exploração Económica do Eucalipto, da Direção Geral dos Serviços Florestais, onde a Revolução de Abril o veio encontrar, em 1974. Por lá info tecnicelpa 54

Neste período conturbado, teve, no entanto, um papel importante na elaboração do documento sobre o Abastecimento de Matérias-Primas Lenhosas à Indústria de Celulose, que serviu de suporte à CRICEL – Comissão de Reestruturação da Indústria de Celulose, que esteve na base da criação da empresa estatal Portucel, EP, em 1976, resultante da nacionalização e fusão das empresas de celulose de capital nacional. Até as novas entidades emergentes da Revolução reconheciam a indispensabilidade da sua contribuição no domínio atividade florestal a montante da indústria. Após a nacionalização, a promiscuidade instalada entre o Estado e as empresas estatizadas criou condições para que Ernesto Goes fosse requisitado, em 1976, ao Ministério da Agricultura e Pescas, para prestar serviço, a tempo integral, como Diretor do Departamento Florestal da Socel, então a ser gerida por uma Comissão Administrativa. Veio depois a ser-lhe concedida, em 1977, uma licença ilimitada para ingressar na Portucel EP, como Diretor do Centro de Produção Florestal, na primeira solução organizativa da nova empresa desenhada pelo seu primeiro Presidente, Virgílio Teixeira Lopo. Para Ernesto Goes, esta solução terá sido certamente interessante, pois passava a ter responsabilidade pela atividade florestal de uma empresa que abrangia todo o território nacional, e onde o eucalipto era a estrela, sem cortar o cordão umbilical aos “seus” Serviços Florestais. Apesar de, na Europa, Portugal ser o país do sucesso do eucalipto, dominando o mercado e a tecnologia da nova pasta entusiasticamente

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apoiava a nova espécie e a sua adaptação às condições locais. Goes veio encantado e entusiasmado, principalmente com o grande avanço que constatara no melhoramento do eucalipto e da sua propagação vegetativa. A partir dessa data, tentou iniciar a exploração da clonagem do nosso globulus, que se revelou muito mais difícil de clonar do que o grandis e o urograndis dominantes no Brasil. Só mais tarde, no Instituto Raíz da Soporcel, na Torre Bela, sob o comando de Rogério Freire, se obtiveram resultados com expressão e dimensão para a propagação vegetativa passar a ser uma técnica de aplicação corrente na produção de plantas de globulus para as plantações da indústria. O Abastecimento da Indústria - Anos 80

devorada pelo mercado internacional, durante os anos 70 começaram a nascer e a consolidar-se no Brasil novas empresas dedicadas à pasta da nova espécie, suportadas por plantações de eucaliptos que a dimensão territorial e o clima tropical do país-irmão prometiam catapultar para o estrelato mundial. Penso hoje, que os portugueses da indústria de celulose de eucalipto (nos quais modesta mas culposamente, neste caso, me incluo), tão inebriados estavam, na altura, com o seu novo sucesso na indústria papeleira e tão distraídos andavam com os seus problemas de abastecimento e de alteração da matriz económica e social do país emergente da revolução, que não se aperceberam verdadeiramente da enorme ameaça que daí adviria, no futuro, para o seu novo negócio. Também se não davam conta da oportunidade que perdiam, por não aproveitarem o tempo próprio, em que eram inovadores e dominadores da tecnologia e do mercado, para se lançarem em espaços alargados,

onde a pequenez e a complexidade do seu território europeu não fossem uma intransponível barreira à sustentabilidade e desenvolvimento do seu novo maná industrial. Verdade seja, que alguns o fizeram, tendo dirigido os seus olhares para África e esquecendo a América Latina, como foi o caso de Luís Rolo e Quevedo, tendo o seu sonho, no entanto, esbarrado com o trauma e as sequelas da Revolução e o desmantelar da epopeia ultramarina. Outro tanto não aconteceu com americanos, japoneses e escandinavos, que lançaram as suas sementes industriais para o Brasil, onde frutificaram os casos da Champion, da Cenibra, da Riocel e da Aracruz. Ernesto Goes estava atento e, em 1979, foi contactar com essa nova e promissora realidade, visitando as atividades das novas empresas brasileiras e o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais da Universida de de S. Paulo, onde a investigação florestal do Brasil desenvolvia e info tecnicelpa 54

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Os novos clones nacionais da espécie não poderiam, porém, deixar de prestar homenagem ao Silvicultor português nacional que tanto fez pela espécie. Como adiante veremos, em sua homenagem foi dado o seu nome a um dos clones que mais se distinguiram na primeira fase da investigação e utilização da propagação vegetativa ao Eucalyptus globulus, clone que é hoje uma presença viva de Goes em milhares de hectares de eucaliptais de Portugal.

Viveiro da Floresta do Futuro - Anos 90

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Com a reestruturação da Portucel EP realizada pelo seu segundo Presidente, Luís Deslandes, em 1980, o Eng.º Goes foi obviamente escolhido para ser o Diretor Geral da Direção Florestal, então criada, reportando ao Administrador Lopes Serra, responsável pelo pelouro da floresta, que por ele nutria grande respeito e admiração. Foi nessa fase que tive o gosto de o conhecer de perto, particularmente nas animadas Reuniões Trimestrais realizadas fora de Lisboa, em regime de internato, onde as intervenções do Eng.º Goes eram sempre uma interessante surpresa. A sua paixão pelas questões técnicas e o seu visível enfado pelas preocupações administrativas e de gestão depressa o levaram a pedir para deixar a Direção Florestal, para a qual foi nomeado Monteiro Diniz, e a passar para Assessor do Conselho de Administração, onde apoiava diretamente Lopes Serra. Apesar de toda a sua paixão em relação ao eucalipto, a bagagem silvícola de Ernesto Goes albergava também outras importantes espécies, particularmente o sobreiro e o pinheiro. Quando o conheci, estando eu no Centro Fabril Viana da Portucel, que fabricava kraftliner e só usava pinheiro bravo, ele não deixava de ser o meu mais privilegiado interlocutor florestal.

No princípio dos anos 80, para melhor se documentar sobre o pinho e bem responder às nossas questões, Goes empreendeu uma viagem às Landes, para estudar o pinheiro bravo desse extenso pinhal do sudoeste de França, que alimentava a Cellulose du Pin, o nosso grande concorrente não escandinavo, utilizador de matéria-prima idêntica à nossa. Empreendeu igualmente uma viagem ao Norte de Itália, para se documentar sobre a aplicação da casca e dos resíduos do pinheiro para a fabricação de húmus, para aplicações na agricultura. O Projeto Florestal do Banco Mundial, por essa instituição financiado e previsto para o período de 1981 a 1986, foi o último grande projeto florestal que mobilizou o nosso biografado. Previa a arborização de 150 000 hectares, sendo 90 000 da responsabilidade da Direção Geral das Florestas e 60 000 a cargo da Portucel, bem como a criação de um Serviço de Extensão Florestal e uma linha de crédito específica para a produção florestal.

Ernesto Goes participado, com a colaboração da FAO, na preparação de diversos Relatórios sobre importantes temas florestais, incluindo recomendações ao Governo e às Autoridades Florestais do País. Quando António Celeste sucedeu a Luís Deslandes e Lopes Serra deixou também a Administração da Portucel, em 1984, Ernesto Goes sentiu que era a hora de deixar a empresa e a indústria e voltar novamente aos “seus” Serviços Florestais, para poder dedicar-se, a tempo inteiro, à investigação e ao trabalho no campo, que era onde a floresta verdadeiramente o encantava. Reformou-se da empresa, no princípio de 1984, tendo regressado à função pública, a que nunca tinha verdadeiramente deixado de pertencer, pelo menos de coração, ingressando na Estação Florestal Nacional, onde foi nomeado Chefe do Departamento de Silvicultura.

Para além da parte efetivamente plantada pela Portucel, em grande parte concretizada sob o comando de Goes, e da fração realizada pelos Serviços Florestais, que não atingiram a meta inicialmente prevista, o projeto teve a virtude de contribuir para vários estudos colaterais, tendo

Não tive o privilégio nem o gosto de ter assistido à sua última presença numa Reunião de Alta Direção da Portucel EP, onde foi alvo de um louvor exarado na ata e lido em voz alta perante o Conselho de Administração e o colégio dos Diretores da Empresa, a que eu já não pertencia, por ter deixado o Centro Fabril Viana, na semana anterior, para me juntar ao nascente Projeto Soporcel, na Figueira da Foz.

Acabado de sair da indústria, em 1984, foi indicado para integrar a Comissão Organizadora dos Encontros Técnicos e Científicos de 1984 / 1985 dos Serviços Florestais, tendo inaugurado um Ciclo de Conferências com um trabalho denominado “ Os Eucaliptos e o seu Enquadramento no Setor Florestal”.

Já na sua nova atividade, na Estação Florestal, promoveu a celebração, com a ACEL (Associação da Indústria de Celulose), um Contrato-programa, ao abrigo do qual realizou um estudo sobre o importante tema “Novos Aproveitamentos em Terrenos de Antigos Eucaliptais”, publicado em 1987.

4. O Regresso às Origens Os últimos anos da carreira ativa de Ernesto Goes constituíram um verdadeiro regresso às origens e foram passados no ambiente que ele mais apreciava: a investigação, as conferências e a elaboração dos seus livros e artigos científicos e técnicos.

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Em Abril desse mesmo ano, por ter atingido a idade-limite de 70 anos, foi aposentado da função pública, prosseguindo, no entanto, a sua obra literária que conta com mais de 80 publicações de artigos e livros sobre temas técnicos e científicos. De entre eles, gostaria de referir alguns que foram publicados pela Portucel, ou por ela patrocinados, sendo marcos importantes da literatura técnica sobre o eucalipto e a floresta portuguesa: • Os Eucaliptos Ecologia, Cultura, Produções e Rentabilidade Portucel, Lisboa, 1977 • Os Eucaliptos Gigantes em Portugal Portucel, Lisboa, 1979 • Árvores Monumentais de Portugal Portucel, Lisboa, 1984 • Os Eucaliptos Identificação e Monografia de 121 Espécies Existentes em Portugal Portucel, Lisboa, 1985

Eucalipto Monumental e Monumento do Eucalipto

Muitas foram as homenagens prestadas, felizmente em vida, ao nosso ilustre biografado. A duas delas atribuo especial significado, por terem nascido e vingado no seio dos seus colegas mais novos, que reconheceram a sua fibra, na extraordinária aventura da fibra de eucalipto na Indústria Papeleira Portuguesa.

pela Tecnicelpa, tendo o seu Curriculum Vitae sido lido, em voz alta, por Rui Ribeiro em Assembleia Geral e sendo-lhe atribuída a distinção de Sócio Honorário, a ele que nunca tinha sido sócio ordinário, como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Indústria e pelos importantes trabalhos desenvolvidos nos domínios da investigação e do fomento do eucalipto em Portugal.

A 21 de abril de 1990, Ernesto Goes foi, muito justamente, homenageado

Passados 10 anos, em outubro de 2000, foi a vez do Instituto de Inves-

• A Floresta Portuguesa Portucel, Lisboa, 1991

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tigação Raiz, ainda na Torre Bela, mas já sob a direção de Serafim Tavares, lhe ter prestado uma homenagem, a que tive o gosto de assistir, com a atribuição do seu nome ao clone do Eucalyptus globulus mais distinto até à data desenvolvido no Instituto, que passou a ser designado por Goes. O clone Goes ainda hoje é um dos mais produtivos e utilizados em milhares de hectares de eucaliptais deste país, onde, para bem dos portugueses, garbosamente se ergue do solo pátrio para o céu de Portugal.

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ARTIGOS DE OPINIÃO

CELSO FOELKEL Sócio n.º 842

Dilemas ao eucalipto para produção de celulose e papel: perspectivas para o futuro Todos nós temos ouvido muitos debates cheios de ansiedade sobre o futuro do setor de celulose e papel. Fala-se muito sobre automação generalizada nas fábricas e florestas; sobre mudanças nos hábitos de consumo da sociedade; na integração com biorrefinarias para produção de nanoceluloses e lignina, etc., etc. Ao mesmo tempo em que muitos visualizam oportunidades, a maioria antevê problemas a vencer e novos riscos a enfrentar. O grande dilema é que o futuro que se comenta hoje “acontecerá amanhã ou no máximo na semana que vem” e não mais daqui a décadas ou séculos. Então, como poderemos compatibilizar as grandes alterações que estão sendo previstas acontecerem no nosso mundo com a necessidade de suprir matéria -prima florestal nas qualidades e quantidades requeridas no futuro para atendimento das demandas dessa nova sociedade global? Existem claras evidências que nosso setor será impactado fortemente no futuro: “algumas vezes para o bem e outras para o mal”. Observam-se rápidas alterações na forma de serem produzidos os produtos celulósico -papeleiros e os seus próprios tipos; ocorrem mudanças nos mercados com perda da importância do papel

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em alguns deles (gráfico e jornais) e aumento em outros (fraldas e higiênicos); há intensa competição entre os fabricantes na busca de clientes; cresce o uso de biomassa energética competindo pela mesma matéria-prima florestal; encolhemse as margens de contribuição unitária dos produtos e se reduzem os preços de venda a valor real no médio prazo. Por outro lado, as florestas plantadas também passaram a encontrar novos desafios, seja na busca da requerida sustentabilidade, ou na necessidade de ocupar novas áreas agrícolas, sempre em situações conflitivas com outras utilizações de terras e de recursos hídricos. Além disso, as alterações climáticas batem nas nossas portas e podem impactar as futuras florestas, seja com situações de estresse hídrico ou climático ou pela incidência de novas pragas e doenças. Isso em adição ao fato de que as florestas plantadas não apenas cumprem o papel de fornecer matéria-prima para fins industriais e energéticos, mas também oferecem bens e serviços sociais e ambientais. Como pode o setor de base florestal se ajustar com sucesso a esse mundo de rápidas mudanças? E o eucalipto do futuro? Como nos info tecnicelpa 54

antecipar às mudanças e desenvolvê-lo para continuar cumprindo relevantes papéis sociais, ambientais e econômicos? Talvez a maior dificuldade para o eucalipto possa ser a dificuldade de prever cenários viáveis e factíveis para, a partir deles, se estabelecerem estratégias de negócios e planejamentos das plantações nas quantidades e qualidade requisitadas nesses futuros. Por essas razões, sempre existirão questionamentos tais como: • Quais os papéis reservados para as florestas plantadas de eucalipto em momentos por nós definidos no futuro? • Que tipos de espécies ou clones estarão sendo plantados? • Como serão estabelecidas as plantações? Quais os níveis de produtividade das mesmas? Quais partes das árvores estarão sendo destinadas a uso industrial ou energético? E quais irão abastecer as biorrefinarias? • Quais as necessidades em qualidade desses diferentes produtos das florestas de eucalipto? • Quão flexíveis serão as estratégias para a base florestal de forma a permitirem ajustes nas utilizações, produções e qualidades?

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• Como chegar lá? Afinal, “onde e o que é o lá”? Todas essas ansiedades definitivamente impactarão os rumos dos programas de melhoramento florestal do eucalipto, que até recentemente dispunham de um tempo de espera para a introdução de novos e mais eficientes clones. Esse tempo de espera pode hoje tomar mais de uma década, mas os novos e competitivos negócios podem não suportarem mais essa longa espera. Com a chegada desses novos tempos, o melhoramento florestal do eucalipto precisará se adequar a eles. Como então ajustar o melhoramento florestal do eucalipto a essas mudanças? Seguem algumas sugestões: 1. O melhoramento florestal precisará ser mais amplo, rápido, eficaz, eficiente e responsivo. Também deve minorar seus erros (na amostragem, no intervalo de acerto, nas decisões, nas previsões) e reduzir riscos. As avaliações de riscos técnicos e econômicos precisam fazer parte do melhoramento florestal

desde o planejamento inicial do mesmo. Isso para cada um dos critérios (qualitativos e quantitativos) que se pretenda melhorar. 2. Há necessidade urgente de se acelerar o processo de melhoramento com novas ferramentas de seleção, de “screening”, de avaliações em larga escala e de tecnologias que possam reduzir o tempo de espera para introdução de clones, raças ou espécies melhoradas (por exemplo: genômica, transformações genéticas, etc.). 3. O desenvolvimento de melhoramento florestal baseado em múltiplos critérios de seleção precisa ser mais focado na capacidade de oferecer resultados. Existe uma tendência atual de serem introduzidos tantos critérios para melhoramento da floresta e das madeiras, que mesmo se partindo de inúmeras árvores ou clones, dificilmente se consegue chegar ao final do ciclo com o desenvolvimento de um único clone que seja capaz de atender simultaneamente a todos esses critérios. Em resumo, a sofisticação extrema pode ser o caminho para não se selecionar nada, como já acontece info tecnicelpa 54

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atualmente em muitas empresas. Por essa razão, é fundamental serem identificados muito bem quais os critérios que realmente precisam ser inseridos no programa, a partir de “longas listas de critérios”, tais como: produção em madeira; enraizamento da estaca; resistência a pragas; tolerância à seca; densidade da madeira; teor de extrativos; teor de lignina; etc., etc. Para cada critério a introduzir, deve-se avaliar muito bem o impacto econômico que trará e a expectativa de ser bem sucedido no atingimento do mesmo ao final do ciclo de melhoramento. 4. Entender melhor os efeitos de alterações ambientais e as interações entre genótipos e ambientes de cada material desenvolvido e disponibilizado para plantio. Avaliar muito bem a plasticidade de cada material do programa de plantio. 5. Acompanhar as demandas de mercado em termos de qualidade de produto e antecipar-se a essas mudanças de maneira a oferecer flexibilidade na seleção de novos materiais florestais no programa de melhoramento.

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6. Dispor de bancos de germoplasma amplos e diversificados para permitir ajustes rápidos nos programas de seleção e melhoramento florestal.

com responsabilidade socioambiental e que seja economicamente viável, ou seja, com adequados níveis de sustentabilidade.

7. Criar estratégias de melhoramento levando em conta que outros compartimentos da floresta plantada (raízes, cepas, folhas, resíduos da colheita) além da madeira de tronco poderão atender às novas demandas de matéria-prima no uso futuro da floresta.

Por mais que façamos e estudemos o assunto para o estabelecimento de programas viáveis de melhoramento florestal para o eucalipto, deve ficar claro que qualquer que seja o caminho a percorrer, que ele será árduo, difícil e arriscado. Já se foram os tempos em que os ganhos eram fáceis e muito mais devido às substituições de plantações

8. Ter clara visão e entendimento de que só interessa a produção florestal

seminais por plantações clonais. Essa época já passou. Ela foi boa para o setor, porém isso acabou por restringir demais os nossos bancos de germoplasma. Está definitivamente na hora de se repensar tudo e passar a agir com visão de helicóptero e não apenas focado em critérios específicos de melhoria. Só assim poderemos ver, entender e tentar agir para melhorar o eucalipto para os futuros ainda incertos que nos aguardam.

JOAQUIM BELFO Sócio n.º 606

Melhoria do entrosamento entre operação e manutenção Nas organizações industriais as equipas de operação e manutenção são as que se encontram mais próximas. Costumo dizer que estão no sítio onde “se fazem as coisas que se vendem”. Devem por isso trabalhar de forma coordenada e solidária para assegurarem o máximo sucesso produtivo. A responsabilidade primária das equipas de operação é a manufatura do produto através da gestão dos processos e equipamentos necessários para tal. Por outro lado as equipas de manutenção devem assegurar que os equipamentos cumpram com as especificações, incluindo eficiência, qualidade e segurança. Tenho ouvido dizer algumas vezes que a relação entre a Operação e

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Manutenção deve ser de cliente e fornecedor, respetivamente. Outras vezes diz-se que devem ser parceiros nas operações. Defendo a segunda abordagem. É claro que existe uma forte interdependência entre estas duas equipas. Isso não significa que a equipa de manutenção não seja um fornecedor de serviços para as operações industriais. Mas também não significa que haja uma relação de subserviência das equipas da manutenção para com as equipas de operação. Ambas as equipas devem estar perfeitamente sintonizadas para os melhores “timings” das intervenções, através de necessidades previamente identificadas e priorizadas. Esta lógica é válida tanto para as atividades típicas de operação info tecnicelpa 54

como de manutenção, quer para intervenções com perfil planeado como de oportunidade. A comunicação fluída e cordial são pois fundamentais para se maximizar o entrosamento. A proximidade ajuda a potenciar a comunicação. É desejável por exemplo que os locais de trabalho dos supervisores das equipas de manutenção estejam próximos dos supervisores das equipas de operação. Potencia ainda alguma informalidade que é sempre salutar. Muitas tensões podem ser atenuadas durante a tomada de um café e algumas temáticas extra trabalho. Algumas atividades extra laborais de “team building” poderão ser altamente remuneradoras. Também os modelos de reuniões

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podem ser revistos, integrando-se mais as equipas, evitando-se a multiplicação das mesmas sem criação efetivo de valor. Uma das questões que cria sistematicamente mau estar é a imputação das ineficiências dos equipamentos. Evidentemente que os registos necessitam ser feitos. Por vezes a

questão é que não se tenta aprofundar as causas das ineficiências mas sim apontar “o culpado”. Neste particular é desejável maior afinação entre as equipas a fim de procurarem em conjunto soluções para os problemas que afetam a eficiência das operações. Também a partilha de mais objetivos comuns entre estas equipas pode ajudar a desenvolver

mais sinergias na procura dos melhores resultados. É necessário restaurar e incrementar a confiança mútua onde necessário. Ajudará muito na melhoria da eficiência das operações e faz com que as pessoas se sintam mais felizes no trabalho e portanto capazes de alcançar melhor produtividade.

VITOR CRESPO Sócio n.º 353

Os Stakeholders na comunicação pela impressão Participei recentemente num evento organizado pela revista Intergráficas, Printalks, tendo como tema “Repensar o negócio da impressão e comunicação”, envolvendo participantes de toda a cadeia de valor, desde os fabricantes de pasta e papel, marketeers e neuromarkeeters, empreendedores, editores, gráficos e professores universitários.

Dos melhores eventos em que já participei por terem sido abordados temas desde a gestão de cor à diversidade dos substratos para comunicação e novos modelos de negócio. Mas, destacaria “o mundo da inovação, impressão digital, área gráfica e realidade virtual. Não falo do futuro, algo sonhado e que ainda não existe, “virtual”, mas uma info tecnicelpa 54

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realidade presente e cujas técnicas, tecnologias e aplicações são reais. Uma das aplicações mais interessantes que vi recentemente foi a associação de um livro de história infantil a uma aplicação “app” de smartphone e tablet, que permite visualizar a história em écran, representação 3D, através de um

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reconhecimento da imagem impressa pela app. Esta “maravilha”, a realidade aumentada (AR), inventada há bastantes anos, começa agora a ter a sua expressão pela enorme potencialidade em qualquer área do conhecimento, uma vez que permite através da leitura de um livro infantil, de engenharia, de arquitetura ou medicina, recorrer a elementos de aprendizagem ou de diversão com animação, em visualização 3D. Este é apenas um exemplo das fantásticas possibilidades a que temos acesso e que podem ser ainda mais exploradas. Do evento Printalks também tirei uma outra conclusão: nem sempre a cadeia de valor se encontra em sintonia, sendo que alguns dos vectores seguem sentidos diferentes e não de forma coordenada, para que exista um conceito de “win-win”. Por exemplo, nem sempre um editor tem a percepção do valor acrescentado que uma gráfica pode

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contribuir para a qualidade final da peça de comunicação. Explorar através da qualidade do papel, pela sua brancura, lisura, opacidade, formação ou espessura, é algo que merece atenção e uma maior e sensibilidade por parte dos “partners” que compõe a parte final da cadeia, antes de chegar ao consumidor final. Algo que se consegue através de uma maior e melhor divulgação dos factores diferenciadores dos produtos. Curiosamente, num dos debates em que participei e que foi dos mais animados, “A impressão comercial – tendências e vantagens. A impressão comercial em papel não revestido”, foi interessante perceber como representantes das editoras têm uma perspectiva diferente dos gráficos, menos sensíveis às qualidades dos substratos, privilegiando os papéis couchés, quase apenas focados na qualidade de impressão. info tecnicelpa 54

Doutra forma, os gráficos evidenciaram não só características como as que refiro acima, mas também outras relacionadas com a performance e factores económicos. Por exemplo, para a mesma gramagem, os papéis não revestidos (uncoated) têm uma maior rigidez, com impacto da “runnability” da gráfica. Económicas, porque para produzir uma obra com a mesma espessura, o uncoated terá invariavelmente menos gramagem. É um conhecimento que devemos, nós papeleiros, partilhar muito mais e aproveitar as oportunidades que nos surgem para que sejam divulgadas. São eventos destes que contribuem para melhorar a partilha de conhecimento e colocar “á mesma mesa” todos os stakeholders do mundo da impressão, permitindo um debate abrangente em que cada um tem a possibilidade de “defender” os seus interesses, mas que no global é toda a cadeia de valor que ganha.

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MICHAEL ODELL Sócio n.º 951

A Personal view of Troubleshooting Paper Machines - Part 2 Machine D was a roll and blade gap former, i.e. the headbox jet is dewatered directly by a forming roll. The machine was started up satisfactorily and then ran “well enough”. The quality while “OK” was not superb. It met market requirements. Although an adequate result was achieved, the machine was always sensitive to operate, particularly for “crushing” defects if the furnish varied and this meant the operating conditions had to be run rather conservatively compared to other similar machines. The machine limped along like this for many years in fact. A fresh look at it by persons who were not involved in the original project brought one abnormal observation to light. On this type of former when increasing the forming roll’s vacuum, crushing should always disappear. In the case of machine D however, it reacted in the opposite manner to expectation. No matter where the forming roll’s vacuum box was positioned, increasing the forming roll’s vacuum actually created crushing! This observation was repeatable and sufficiently abnormal to prompt a retrospective check on the forming roll’s design parameters. This review of the history of the design was also a painful process but it eventually transpired that due to an internal communication failure the forming roll’s vacuum box size had

been incorrectly dimensioned relative to the forming roll’s wrap angle. There was no way to have the fabrics’ separation point from the roll positioned outside the vacuum zone. This certainly explained why crushing occurred every time the vacuum was increased. Understanding the problem enabled it to be easily resolved by a simple modification to the vacuum box to return it to the correct dimensions. This design defect was internal to the roll and so being out of sight it was impossible to see by direct observation. It took someone to make the indirect observation that the vacuum response really was abnormal, sufficient intellectual curiosity to hypothesize possible causes on this “cold case’ machine and finally enough dogged determination in the face of internal resistance to “let sleeping dogs lie” to investigate it to a conclusion. The underlying pattern of behaviour from the cases of machines C and D are the same. Paper machines are a series of components operating in sequence with each component having its own design limits. If a machine is moved to operate outside its design range there is always going to be one component that hits its limit before the others and this will then govern the whole operation – the process bottleneck. If there is one component that was info tecnicelpa 54

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never in the design range in the first place – caveat emptor! A common thread in these four cases described above is that the faults originated from peoples’ failure to be aware of a problem rather than an equipment failure creating a more obvious problem. The last case in this study is of machine E and is concerned with the issue of communication failures between different trades in the mill environment more than the trivial technical problem involved. Machine E had been modified on a routine shutdown to rearrange the forming section flatbox configuration. Fewer flatboxes operated at higher and increasingly graduated vacuums should give better dryness and lower power consumption. On start up the sheet could not be picked up into the press but just shattered into confetti at the pick-up roll. After checking all the usual suspects, there was nothing for it but to admit defeat and reset the flatboxes to their original configuration. The short-term production imperative to get the sheet on was such that I had no option but to reverse this “improvement” even though it ran counter to everything I knew about how to set up flatboxes. Sadly on restart with the original flatbox configuration back in place the problem of the sheet shattering at the pick-up roll was absolutely

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the same - an outcome sufficiently disappointing as to cause the utterance of a very bad word! During the initial start up the machine tender had pointed out that the “Fourdrinier doesn’t look right”. It was not a very specific comment and since I was concentrating on the “real” problem of the flatboxes I had not reacted to his observation. The second pick up failure however gave me cause to take his comment more seriously – and sure enough, “it didn’t look right!” The surface of the jet over the forming board was abnormally turbulent. An educated guess said the jet/wire ratio was completely incorrect even though the controls indicated the right value. The clock was ticking and I used the “Class One” approach of troubleshooting quickly by experience. Judging the headbox pressure calibration to be wrong as more likely than a wire speed error, I organized for this to be independently verified. The headbox pressure proved however to be correct. The next suspect was that the wire speed was incorrect and I asked the shift electrician to check that too. He just pointed to the gauge and said, “Everything is OK”. I asked him again for an independent speed check. However, he took affront to this request and walked off without doing it. After spending more time but finding nothing else amiss, I resorted to tracking down a hand tachometer and making an independent speed check by myself. I found to my own surprise that there was a big error between the measured and indicated wire speed values. Time to tackle the electrician again and faced with the evidence he dug into problem more seriously. It transpired that the toothed belt on the drive motor’s tachometer had been routinely changed out during the previous day’s shutdown. However, an incorrect belt had been installed. A belt with 19 teeth had been installed in place of the correct 18 teeth. Unfortunately, the error was small enough for the belt to run but sufficiently large that the speed

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calibration was incorrect by 18/19 or 5%. The jet/wire ratio was so far out that we would never pick the sheet up. The lessons I learned from this exercise are that no matter that I “knew’ the problem was the flatboxes, I should have listened to what the machine tender was telling me about the Fourdrinier not “looking right”. I had too narrow vision of the cause of the problem and did not take him seriously. The second failure was where in turn I was not taken seriously. I failed to convince the electrician of the need for an independent speed check – just as the machine tender had failed to convince me that the Fourdrinier did not look right. With the benefit of hindsight, I should have done a much better job of explaining to the electrician why I needed an independent check on the wire speed. Tact is the art of getting a result with aggravating someone – I had not handled that one tactfully enough it seems. Two communication failures and 24 hours later we had the sheet on. The incorrect belt installation was obviously the root cause but my poor communication with two different individuals when I had been under pressure had extended the whole exercise by 23 hours. In summary, some issues I have learned to be aware of are… • Think carefully about the nature of the problem you are trying to solve. It is a bit like reading an examination question carefully so you answer the question the examiner wants, unclouded by your own or others’ assumptions. • While simple problems can be diagnosed by experience and educated guesses, problems that are more complex do require a systematic approach. You need to remain very aware of when to control a situation by swapping from one approach to the other. • Paper machines, like any other device, have limits on their design. info tecnicelpa 54

When you are operating a machine day to day, are familiar with all its details and are often swamped by those details, it is easy to lose sight of the operational limits. The wakeup call is to recognize if the problem in hand is so intractable and impervious to change that is in the third class of problems I have defined above. • Design flaws are fortunately very rare. Unless they also have machine design experience, mill personnel are probably not going to find them. Remember that you need your machine supplier’s help as much as he needs you. Keep a good relationship with them. An antagonistic relationship when things go wrong is sometimes tempting and very human but actually, it is not a good option. • Experience is a good filter for respecting operators’ opinions and comments. They may not always pin point the issue or describe things in precise technical terms. Nevertheless, they can point you in the right direction such as happened to me in the great wire speed crisis of machine E. • The only solution for better communication is to be more aware of the need for it. Sometimes that will only come about by having the bravery to look back into cases where it failed and try to do better. • Lastly, when the only tool in your hand is a hammer – every problem starts to look like a nail. I.e. thinking out of the box is sometimes needed even for the most rigorous and disciplined student of systematic troubleshooting. Ultimately, there is no substitute for the insight that comes from experience. The author has spent a working lifetime in the paper industry and having made almost every mistake possible, I am finally in a good position to give advice intended to prevent others making the same mistakes. New mistakes beckon however and provide us all with an endless source of entertainment!

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ARTIGOS TÉCNICOS

Combater mitos e equívocos O Eucalipto e a Água

• O problema da água deve ser visto em duas vertentes: i) a água do solo como fator limitante da produtividade das plantas e ii) os efeitos das florestas e das alterações na vegetação (por exemplo, substituição de espécies) em termos de balanço hidrológico e não à escala da árvore (Alves, 2012). • As plantas e os ecossistemas diferem na quantidade de biomassa produzida por cada unidade de volume de água absorvida. A produção de biomassa de E. globulus é conseguida através de uma alta eficiência de uso de água (transpirada) e da grande eficiência fotossintética e não apenas do maior consumo. • Com o crescimento das árvores e respetivo aumento da evapotranspiração, dá-se uma diminuição do escoamento até à idade de corte. Se existirem na bacia hidrográfica parcelas com diferentes idades e estrutura este efeito é minimizado. Neste sentido a paisagem portuguesa, constituída predominantemente de mosaicos agrícolas-florestais diversificados, pode contribuir para uma menor variação da produção de água “líquida” nas bacias hidrográficas. • Havendo competição para o uso da água, é na gestão das bacias hidrográficas que se pode regular a repartição dos recursos hídricos (Alves, 2012).

As florestas plantadas, principalmente de eucalipto, têm sido conotadas com consumos excessivos dos recusos hídricos. Desde a década de 80 foi desenvolvida investigação científica, permitindo uma abordagem fundamentada sobre a relação entre o eucalipto e a água (David et al. 2007). A interação do eucalipto com os recursos hídricos deve ser analisada tendo em conta fatores como a precipitação média anual da região, outras utilizações de água, a localização das plantações e a área plantada no contexto da bacia hidrográfica, a quantidade de água consumida pela floresta (evapotranspiração), a distribuição do sistema radicular e o índice de área foliar (Lima 2015).

A elevada produção de biomassa depende do consumo de água e da eficiência de transpiração associados a cada espécie. De um modo geral a água é o fator limitante para a produtividade de biomassa. Em consequência, para aumentar a produtividade é necessário utilizar mais água, independentemente da espécie ou cultura. Mas o “custo” em metros cúbicos de água gasta, ou seja, a eficiência de uso da água, é variável de acordo com a biologia das plantas e com o ambiente. Os eucaliptos de um modo geral são muito eficientes, consumindo menos água por unidade de biomassa produzida relativamente a outras produções. info tecnicelpa 54

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ARTIGOS TÉCNICOS

Em Portugal, em quatro locais do Centro e Norte, mediu-se em eucaliptal uma eficiência do uso da água de 1,7 kg/m3 e 2,1 kg/m3 respetivamente para a biomassa do tronco e a biomassa total acima do solo (Matos-Moreira 2012). Por exemplo, na Austrália, obteve-se para o eucalipto consumos de 785 litros/kg biomassa, isto é uma eficiência de uso da água de 1,3 kg/m3 em comparação com a soja (0,7 kg/m3) e o girassol (0,4 kg/m3) (Dvorak 2012). Na Galiza, os valores em eucaliptal foram idênticos aos pinheiros e menores que os carvalhos (Jimenez 2007). A alta produtividade de E. globulus é conseguida através da maior eficiência de uso de água

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transpirada e da maior eficiência fotossintética (processos metabólicos mais eficientes) e não do consumo excessivo de água (Lima 2015). O consumo de água nas florestas é, modo geral, mais elevado que em cobertos vegetais com menor crescimento ou de espécies agrícolas não regadas (Calder 2007), uma vez que a evapotranspiração das florestas é superior a outros cobertos vegetais (David et al. 1985; Lima 2015). Quando falamos de uso da água, referimo-nos à água evapotranspirada para a atmosfera, não ficando por isso retida na biomassa. No fim de uma rotação, a água que fica efetivamente retida na madeira é muito

pequena, menos de 0,3% do total da água utilizada (FIBRIA 2016). Ao longo de uma rotação de eucaliptal o balanço hídrico varia com a idade da floresta. Com o crescimento das árvores e respetivo aumento da evapotranspiração, dá-se uma diminuição do escoamento até à idade de corte. Se existirem na bacia hidrográfica parcelas com diferentes idades e estrutura este efeito é minimizado. Neste sentido a paisagem portuguesa, constituída predominantemente de mosaicos agrícolas-florestais diversificados, pode contribuir para uma menor variação da produção de água “líquida” nas bacias hidrográficas.

Com a floresta, o escoamento da água superficial diminui, contrariando a erosão (Ferraz et al 2012, David et al 2007). Mas esta diminuição do escoamento é uma das componentes do balanço hídrico local que é suscetível de conflitos com outros utilizadores. No entanto, também importa distinguir o conceito de escassez física de um recurso (insuficiência física de água para as necessidades existentes) do conceito da sua escassez económica. A este respeito, é importante clarificar que em Portugal não existe escassez física de água - anualmente utilizamos apenas 20% dos recursos hídricos disponíveis no país (Silva, 2012).

É na gestão das bacias hidrográficas que se pode regular a repartição dos recursos hídricos pelos vários usos alternativos (Alves 2012). Em Portugal existe regulamentação apropriada, que deriva da Lei de Bases da Água que estabelece as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas.

Reciclabilidade de fibras curtas A.P. Mendes de Sousa, Cátia A.A. Almeida, Jorge F.S. Pedrosa, Paula O. R. Pinto RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, Quinta de S. Francisco, Eixo, 3801-501 Portugal mendes.sousa@thenavigatorcompany.com

A reciclagem de fibres papeleiras é uma realidade industrial bem estabelecida, especialmente na Europa. De acordo com o “Monitoring Report” publicado pela “European Recovered Paper Council de 2014, “ Em 2014, 71,7% de todo o papel consumido na Europa foi reciclado, totalizando 58 milhões de toneladas. A Europa continua a ser o líder mundial na reciclagem de papel, seguida pela América do Norte. Na Europa as fibras papeleiras sofrem em média 3,5 ciclos de reciclagem, bem acima da média global de 2,4. Os ciclos de reciclagem da fibra papeleira, oferecem nas correntes discussões a nível da União Europeia sobre a Economia Circular, um modelo claro e funcional a ser seguido. A reciclagem de papel é uma indústria “made in Europe”. Têm sido publicados alguns trabalhos sobre a reciclabilidade das fibras papeleiras e o impacto do número de ciclos nas propriedades finais. Contudo, estes trabalhos não apresentam um estudo consistente a nível laboratorial ou são baseados em condições severas, muito longe das condições aplicadas nos processos de reciclagem industrial. Por exemplo para a reciclagem de fibras kraft de eucalipto foi publicado um estudo1 com refinação de 7500 rotações PFI e secagem a 80ºC durante 24 horas.

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Para uma análise comparativa de fibras de diferentes origens, foi conduzido recentemente no RAIZ, a nível laboratorial, um estudo sobre o potencial de reciclabilidade de diferentes fibres curtas, a maior componente no fabrico corrente de papéis office e gráficos, simulando os processos papeleiros com maior impacto, a refinação da fibra e as condições de secagem, usando condições mais realistas. Para a simulação do uso original das fibras virgens (R0) nos ciclos de reciclagem, as fibras foram refinadas (refinador PFI) de modo a obter uma resistência mecânica da estrutura com cerca de 70 N.m/g de índice de tração. As condições de secagem das estruturas fibrosas foram ajustadas a 120ºC durante 1 hora, mantendo-se estas condições nos ciclos seguintes. Nos 10 ciclos de reciclagem as fibras foram refinadas com um pequeno e constante input de energia (500 rotações PFI), de modo a realçar o potencial da capacidade de reforço das fibras recicladas para a resistência mecânica das estruturas folhosas. O estudo envolveu 3 das mais típicas fibras curtas, usadas a nível mundial na produção de papéis office e gráficos; pasta kraft branqueada de Eucalyptus globulus, fibra curta mediana com espessura de parede mediana e um alto quociente de Runkel; pasta kraft branqueada de bétula Nórdica, com o maior comprimento de fibra (das 3 analisadas), maior espessura de parede e um baixo quociente de Runkel e finalmente uma pasta kraft branqueada de Acacia mangium com o menor comprimento de fibra, menor espessura de fibra e o menor quociente de Runkel. Os 10 ciclos de reciclagem tiveram impacto nos parâmetros bio morfológicos das fibras: redução do diâmetro externo das fibras, redução da espessura das paredes, uma redução menor do coarseness (massa linear), com impacto na redução dos quocientes de Runkel (Figura 1), um aumento significante no número de fibras por grama, devido à redução dos comprimentos das fibras e aumento dos finos gerados.

Os efeitos da secagem e a hornificação da celulose e consequente perda da flexibilidade das fibras, contribuíram para os efeitos de corte da refinação, gerando finos e um aumento da rigidez das fibras.

Figura 1 - Evolução do “Runkel ratio” das fibras

de Eucalyptus globulus, bétula nórdica e Acácia mangium ao longo dos 10 ciclos de reciclagem.

Os finos gerados contribuíram para o aumento da resistência à drenagem de água (ºSR) atingindo níveis impraticáveis para a produção industrial de papel para as 2 espécies com menor quociente de Runkel. A maior rigidez das fibras tiveram um impacto positivo no volume específico (índice de mão – Figura 2) das estruturas fibrosas durante os primeiros 4 ciclos de reciclagem, antes da influência do aumento de teor de finos gerados.

Contudo a resistência à passagem de ar (ensaio Gurley) começou a aumentar nos últimos 6 ciclos, atingindo também níveis impraticáveis para a produção industrial de papel no caso das 2 fibras com menor quociente de Runkel. Notou-se um impacto positivo na opacidade das estruturas fibrosas. Para a generalidade das propriedades de resistência mecânica (rebentamento, tração, rasgamento e energia de ligação interfibras) observaram-se impactos negativos e em especial na resistência intrínseca das fibras (zero span a húmido).

Figura 2 - Evolução do bulk da estrutura fibrosa,

para as pastas de Eucalyptus globulus, bétula nórdica e Acácia mangium ao longo dos 10 ciclos de reciclagem.

O potencial de reciclabilidade das fibras curtas testadas deverá ser dependente do impacto das propriedades afetadas no processo de produção industrial de papel. O aumento da resistência à drenagem de água (ºSR) e o aumento da resistência à passagem de ar (Gurley) foram as propriedades selecionadas para se estabelecer o ranking de reciclabilidade das fibras curtas.

Referências: 1. Okayama, Takayuki & Kawana, J.-S & Ishikura, Y & Kojima, Yasuo & Ona, Toshihiro. (2001). Effect of recycling on handsheet properties of Eucalyptus globulus kraft pulps. APPITA Annual General Conference. 1. 481-486.

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TECNICELPA

International Forest, Pulp and Paper Conference

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Tecnologia >> Tissue

Desintegração enzimática na produção de papel tissue* * Albert Beltran Sertec20 Brasil

A empresa Sertec20, especialista em produtos químicos para a indústria de papel, propõe o uso de enzimas para melhorar o desempenho da desintegração do papel recuperado, partindo do princípio de que a ação mecânica não é suficiente e que os produtos químicos tradicionais resultam muito agressivos. Por outro lado, o processo defendido pela Sertec20 é mais amigo do ambiente e fornece benefícios substanciais no processo de produção do papel de tissue.

O

uso de aparas de produção ou de papel reciclado como matéria prima para a preparação de pasta aumentou no decorrer das últimas décadas, chegando até ao ponto de algumas fábricas de papel dependerem exclusivamente do papel velho. A utilização de adesivos, agentes de colagem, resinas de resistência em húmido, impermeabilizantes, tintas, papéis revestidos, etc., dificultam o processo de desintegração na recuperação da fibra reciclada ou de aparas próprias, podendo originar pastilhas no desperdício sem estarem desintegradas, devido aos contaminantes insolúveis, para além de introduzir lixo aniónico, matéria coloidal dissolvida e stickies secundários e white pitch. O processo de desintegração tem um comportamento mecânico, que, por meio da energia mecânica do desintegrador, consegue romper as uniões entre as fibras de celulose. O desintegrador pode ser de baixa (4-8%) ou de alta (12-20%) consistência. A desintegração a alta consistência permite melhorar a capacidade geral da desintegração, trazendo economias substanciais em produtos químicos, no consumo elétrico e nos tempos de desintegração, facilitando a separação dos contaminantes da fibra. Por outro lado, o processo de desintegração em contínuo ou em batch (por ciclos descontínuos), permitindo este modo descontínuo um melhor controlo dos produtos químicos utilizados e, por consequência, um menor custo e uma melhor adaptabilidade do sistema de materiais fibrosos a recuperar.

Muitas vezes não é possível completar a desintegração unicamente mediante a ação mecânica do desintegrador, sendo necessária a adição de produtos químicos ou, inclusive, o aumento de temperatura no desintegrador. A reutilização de papel reciclado com tratamentos de resistência em húmido pode apresentar sérias dificuldades na sua reutilização, e, em função do tipo da resina utilizada, necessitar de maiores tempos de desintegração, de um aumento de pH mediante a adição de soda cáustica e do uso de agentes oxidantes para uma desagregação efetiva. As resinas de resistência em húmido baseadas em poliaminoamida-epiclorhidrina (PAE) são as predominantes na indústria papeleira. Como consequência da sua estrutura, uma cadeia principal de poliaminoamida - obtida por condensação do ácido adípico com dietilentriamina reticulada como consequência da reação de adição com epiclorhidrina - proporciona uma estrutura polimérica com uma quantidade significativa de grupos funcionais, entre os quais os derivados de acetidina, que conferem à resina PAE uma alta carga catiónica - necessária para a retenção do polímero nas fibras de celulose e para a capacidade de auto reticulação - formando uma barreira à agua em redor dos pontos de contato fibra a fibra, o que evita que a água hidrolise as ligações de iões de hidrogénio. Precisamente pela sua estabilidade estrutural, os materiais fibrosos, que contém agentes de resistência em húmido de base poliamida, são muito difíceis de reprocessar

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Tecnologia >> Tissue

e os papéis muitas vezes não se reciclam. Portanto, em caso de necessidade, terá de haver um método que permita a sua desintegração. Nestes casos, o processo de desagregação mecânica requer a presença de agentes químicos para que esta combinação permita uma desagregação efetiva. O uso de pH’s alcalinos superiores a 11 e agentes oxidantes permitem romper a resina de PAE reticulada. Entre os oxidantes mais habituais encontram-se o hipoclorito de sódio, cada vez mais limitado na sua utilização, peróxidos, persulfatos e/ou percarbonatos. Não obstante, a utilização de agentes químicos oxidantes em condições mais agressivas (pH e temperatura elevados) podem provocar uma deterioração da fibra desintegrada, o que afetará negativamente as propriedades do papel finalmente produzido. Para além disso, as altas temperaturas são indesejáveis porque habitualmente aumentam os custos de energia do processo. A necessidade de poder trabalhar com aparas cada vez mais críticas e em condições mais suaves - que permitam garantir a qualidade do material fibroso assim recuperado, assim como a necessidade de evitar a formação de subprodutos indesejados (AOX) ou de condições operacionais com efeitos negativos, como a corrosão ou a condutividade muito elevada - tornam necessário haver uma tecnologia alternativa aos processos tradicionais de desintegração química. A introdução das enzimas no processo de desintegração ou biopulping (bio desintegração) é uma tecnologia alternativa que respeita o meio

Desintegração enzimática.

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Desintegração oxidante em meio alcalino.

ambiente e que permite trabalhar com condições mais suaves, conferindo uma série de vantagens no processo papeleiro global, entre as quais: • Redução de produtos químicos oxidantes – menor custo e menor degradação da fibra recuperada. • Trabalho a temperaturas ambientes – redução de custos. • Redução do tempo de desintegração – redução de custos e possibilidade de aumento de produção. • Redução do consumo de soda cáustica – redução de custos por necessidades de ajustamento do pH, diminuição de problemas associados ao trabalho com um pH alcalino (condutividade elevada, colmatação de feltros, maiores tempos de drenagem…) • Maior hidratação da fibra – redução do alcali. • Aumento da fibrilação – melhoria da drenagem, menor consumo de vapor, redução da potência específica dos refinadores, aumento de características…

As enzimas utilizadas para hidrolisar a resina de resistência em húmido podem introduzir-se no processo de desintegração convencional utilizando o mesmo equipamento, numa operação contínua ou descontínua, e podem ser utilizadas ou de forma individual ou em combinação com agentes químicos tradicionais de desintegração, sempre e quando a mistura não afete negativamente a ação hidrolisante das enzimas. As condições de desintegração deverão adaptarse à natureza da enzima, â resina de resistência em húmido a hidrolisar e ao papel ou cartão que volta a ser processado normalmente. Neste sentido, pH, temperatura, força iónica ou a presença de fatores enzimáticos específicos (por exemplo, iões de cálcio) que permitem uma maior eficácia, serão fatores decisivos para o rendimento otimizado da enzima, podendo inclusive, em alguns casos, ser desejável uma combinação enzimática, cujo efeito sinérgico permita uma operação de desintegração mais eficiente. Desintegração oxidante.



Tecnologia >> Papel Sistema integrado de lubrificação da caixa de vácuo para um condicionamento uniforme do feltro

FilmLube O condicionamento uniforme dos feltros é crucial para a qualidade do papel. Nos sistemas convencionais, as caixas de vácuo são lubrificadas por um chuveiro leque de baixa pressão que frequentemente se entopem, resultando numa lubrificação deficiente. Graças ao seu conceito inovador, o FilmLube da Voith garante uma lubrificação uniforme em todo momento.

•R eduz no consumo de água pela maior efetividade de aplicação da água • Menor esforço de manutenção • Maior segurança por manter seca a zona envolvente (passadeiras)

A ranhura de lubrificação integrada acondiciona o feltro uniformemente ao longo de toda largura da máquina e, ao mesmo tempo, reduz o consumo de água fresca devido ao seu eficiente sistema de alimentação. FilmLube necessita de baixa manutenção e aumenta a segurança operacional.

Bicos tapados do chuveiro convencional geram um condicionamento irregular provocando marcas no feltro. Este problema não tem impacto apenas na sua durabilidade, mas causa também desprendimento das fibras do feltro para o papel causando problemas de qualidade quando o papel é impresso. O condicionamento irregular tem influência direta nas irregularidades do perfil transversal de humidade e consequentemente na qualidade final do papel.

Benefícios com o FilmLube • Melhoria na qualidade do papel • Condicionamento suave e uniforme durante todo tempo de operação do feltro

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Melhoria na qualidade do papel e redução do desgaste

A constante lubrificação pela película de água


Tecnologia >> Papel

do FilmLube garante um condicionamento homogéneo do feltro a todo momento e por toda largura da máquina. Com o FilmLube, numa máquina Tissue, obteve-se uma performance do feltro mais estável ao longo da vida propiciando maior flexibilidade nos intervalos entre paragens programadas.

Lubrificação da Caixa de Vácuo

Conserve os recursos e economize tempo O conceito de lubrificação integrada utiliza uma película de água que evita o seu desperdício por perdas de névoa de pulverização característica do chuveiro tradicional. O uso direcionado da água elimina problemas de sobreposição do leque ou mesmo a ausência da cobertura de lubrificação. Graças ao conceito de economia de água do FilmLube, o consumo médio do equipamento é inferior à 0,5m³/h por metro de máquina. O design inteligente que não utiliza bicos (que tendem a entupir) reduz o tempo e custos de manutenção.

Esquerda: Lubrificação irregular com chuveiro convencional Direita: Lubrificação integrada com FilmLube 1 Perdas laterais devidos a ajustes incorretos dos bicos 2 Perda de eficiência devido a formação de névoas 3 Bicos parcialmente tapados com leque de água irregular 4 Bicos completamente tapados 5 Filme uniforme de água ! Áreas com risco potencial de dano ao feltro

Perfil de Humidade Transversal [g/m2]

Aumente a segurança Os chuveiros convencionais de leque, de baixa pressão, frequentemente deixam os passadiços e áreas da prensa molhados, resultando em maior insegurança devido ao risco de escorregamento. Usando FilmLube, a água de lubrificação não se dispersa para fora da máquina, o que torna o ambiente de trabalho na seção das prensas muito mais seguro para o trabalhador.

Máxima eficiência na Seção de Prensas com AdvancedPRODUCTS AdvancedPRODUCTS é a combinação ideal de produtos que atuam perfeitamente em conjunto para melhorar o processo de produção do papel e maximizar a redução de custos operacionais. Através da interação dos produtos da Voith – como por exemplo FilmLube, feltros com tecnologia Infinity e sistema ProTect de medição de feltros – os fabricantes de papel estão preparados para aumentar a eficiência, produtividade e segurança na sua seção de prensas.

Esquerda: Variações de perfil com chuveiro de lubrificação convencional Direita: Perfil mais uniforme com o FilmLube

Princípio Operacional

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Tecnologia >> Papel

Medição de cargas para melhoria da qualidade dos produtos acabados e economia de recursos* *emtec Electronic GmbH Leipzig, Germany www.emtec-electronic.de

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roblemas com a máquina de papel, mau funcionamento de máquina ou muitas quebras? Um controle não otimizado do wet-end da máquina de papel e cartão pode influenciar negativamente a qualidade do produto final e toda a eficiência do processo. A otimização da dosagem de agentes químicos é essencial.

1 Fundamentos do processo Na polpa em suspensão utilizada no processo de fabricação de papel e cartão há fibras, cargas, finos, lixo iônico (partículas carregadas positivamente ou negativamente). As fibras e o lixo iônico são, normalmente, aniônicos (possuem cargas negativas) enquanto a maioria dos aditivos químicos são catiônicos (possuem cargas positivas). Neste meio as cargas opostas se atraem enquanto as de mesma carga se repelem. Uma particularidade do processo é que quando utilizamos fibras recicladas a quantidade de lixo iônico aumenta consideravelmente. A adição de produtos químicos é feita em vários pontos do processo. Aditivos como agentes de colagem, de resistência a seco e a úmido, cargas, pigmentos, alvejantes e matizantes são adicionados na parte final do processo. Aditivos como agentes de fixação, retenção e drenagem, floculantes, biocidas e etc. tem outros pontos de dosagem mais ao final do processo. Estes aditivos são necessários para controlar e otimizar o processo, bem como melhorar a qualidade da água para o tratamento de efluentes.

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2 Problemas que geram um enorme desperdício de recursos ou qualidade ruim do produto final Para se produzir um papel de qualidade é necessário atingir o melhor grau de colagem, resistência, tração, baixa sujidade, etc. Contudo, isso só será possível se os aditivos químicos se fixarem às fibras. Essa reação é baseada na atração das cargas opostas dos aditivos e das fibras. 2.1 Problemas decorrentes de sistemas com desequilíbrio de cargas Aditivos catiônicos devem fixar nas fibras aniônicas, mas também podem se fixar no lixo aniônico conforme ilustração (figura 1). Se os aditivos não se fixarem nas fibras, a qualidade do produto final não será a desejada ou somente será atingida com a adição de mais produtos químicos. Como resultado, pelo menos uma parte dos agentes adicionados é desperdiçada, neutralizando o lixo iônico. O lixo neutralizado passa pela tela e vai para água branca, continua reagindo e demanda uma grande quantidade de agentes de floculação.

Figura 1: Atração dos aditivos químicos pela fibra e pelo lixo aniônico.


Tecnologia >> Papel

2.2 Problemas causados pela falta de otimização do potencial zeta Para que os produtos químicos se aderem às fibras, é necessário ter uma quantidade de pontos de ligação (cargas superficiais da fibra) suficiente. Estas cargas superficiais, ou potencial zeta, serão os responsáveis pela atração e ancoragem dos produtos químicos (veja ilustração na figura 2).

de demanda iônica (figura 3) irá determinar a quantidade necessária de ATC (capturador de lixo iônico) para neutralizar o lixo aniônico antes da adição dos produtos químicos. Com este equipamento, é possível saber qual

Figura 2: Como ocorre a adição de químicos na fibra?

Se não houver pontos de ligação suficientes, especialmente quando os produtos químicos são adicionados no final do processo, a qualidade do papel não poderá ser garantida. Se os aditivos químicos não ficam ancorados na fibra, eles passam pela tela e vão para a água branca. Lá, reagem com outras partículas do meio e, consequentemente, aumenta a dosagem de agentes de floculação no tratamento de efluentes. Um potencial zeta ou uma demanda iônica não otimizada levam a um processo com grandes desperdícios de recursos e problemas de qualidade. 2.3 A necessidade da medição das cargas para otimização da dosagem Para um processo otimizado, é necessário o controle e determinação de todas cargas iônicas no wet-end. Isso significa que se fará necessário medir a demanda iônica do sistema e o potencial zeta das fibras. Sem as medições, é impossível otimizar o consumo de aditivos químicos no processo e somente a superdosagem levaria às propriedades desejadas no produto acabado.

3 A solução de medição mais moderna: CAS touch!, FPA touch! e FPO Online 3.1 Determinação da carga das partículas com o CAS touch! Analisador de demanda iônica Para resolver o problema com a atração dos aditivos (preferências de adsorção) é necessário neutralizar o lixo iônico. O CAS touch! Analisador

Figura 3: CAS touch! Analisador de demanda iônica (modelo com dois tituladores integrados).

a densidade da carga do lixo iônico presente na polpa, ou seja, a demanda iônica, e dosar a quantidade correta de produto químico para a neutralização destas cargas (dentro da celula de medição do CAS). Esta informação lhe dará subsídios para dosar a quantidade correta de ATC (capturadores de lixo iônico) em seu sistema. Recomenda-se o uso de ATCs, pois, devido à alta densidade de carga, seria necessário uma dosagem pequena de produto para neutralização das partículas, reduzindo os custos com o tratamento do lixo. Como a neutralização total das partículas é difícil, após a adição do ATC, a demanda deverá reduzir em pelo menos 10% (quando comparado com o ponto de medição anterior). É importante, para otimização e controle, a medição em todos os pontos antes de depois da adição dos produtos químicos. Em um processo onde o lixo iônico está neutralizado, a demanda iônica medida antes e após a adição dos químicos deve ser similar. Isso porque quando a adição dos produtos é realizada em um meio livre de lixo iônico, a ancoragem dos produtos na fibra é perfeita e quase não altera valor da demanda iônica. O CAS touch! está disponível em três modelos sem titulador (que possibilita o uso de um titulador externo ou titulação manual), com um ou dois tituladores integrados, dependendo da necessidade do cliente. Algoritmos dinâmicos podem ser selecionados para diminuir o tempo

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Tecnologia >> Papel

de titulação (é possível que você crie seus próprios métodos). 3.2 Determinação do potencial zeta das fibras com o FPA touch! Analisador Potencial Zeta e FPO Analisador Potencial Zeta Online Para saber quantos pontos de ligação estarão disponíveis na superfície da fibra, você pode utilizar o FPA touch! (Analisador do potencial zeta - figura 4) ou o FPO (Analisador do potencial zeta Online - figura 5) para medição das suas fibras do processo. O potencial zeta deverá ser determinado antes a após cada ponto de dosagem. Como você mensurou a capacidade de adsorção das suas fibras, poderá buscar soluções em cooperação com seus fornecedores. Por exemplo: é possível adicionar CMC (carboximetilcelulose) antes da adição de um agente de resistência a úmido. O CMC aumenta a capacidade de adsorção das fibras (o valor do potencial zeta aumenta) favorecendo a ancoragem do agente de resistência. Com uma melhor adesão as fibras, o papel formado apresenta uma melhor resistência a úmido com menos agente químico (economia de custo, já que passa a dosar menos produto).

Figura 4: FPA touch! Analisador do potencial das fibras (equipamento de laboratório)

3.3 Condutividade é o parâmetro chave a ser verificado durante a medição do potencial zeta A condutividade da amostra pode influenciar a diferença de potencial medido e, por isso, é necessário garantir que a condutividade não

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Figura 5: FPO Analisador do potencial das fibras Online (equipamento Online).

esteja muito alta (caso contrário, o produto não terá a performance desejada).

4 Conclusão Em resumo, o CAS touch! é necessário para determinar a dosagem correta dos agentes de fixação e o FPA touch!, assim como o FPO, são cruciais para a quantificação de ancoragem das fibras. Ambos equipamentos são necessários para determinar a eficiência dos produtos químicos adicionados no wet-end, garantindo os padrões de qualidade do produto final, estabilidade no processo e redução dos custos. O controle com estes equipamentos pode ser feito desde a preparação de massa até a caixa de entrada da máquina de papel. Os equipamentos de laboratório CAS touch! and FPA touch! são pequenos (ocupando pouco espaço no laboratório) e fáceis de utilizar. Eles são convenientemente transportados individualmente ou em uma única maleta, podendo ser levados como bagagem de mão em aviões (possuem peso inferior a 10 kg).



Tecnologia >> Pasta

Novo processo de deteção de fugas nas caldeiras de recuperação A Valmet introduziu uma ferramenta preditiva para detectar fugas nas caldeiras de recuperação - Valmet Recovery Boiler Leak Detector. Esta aplicação de diagnóstico inovadora com análises avançadas permite que os proprietários de caldeiras detectem até mesmo as menores fugas de uma forma inovadora e sem precedentes, resultando em uma melhoria significativa da segurança da caldeira e riscos de danos reduzidos.

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ipicamente, os sistemas de controlo distribuídos (DCS) têm apenas ferramentas relativamente primitivas para a detecção de fugas da caldeira de recuperação. Estes incluem diferenciais simples entre a água de alimentação e o vapor, ou alarmes para baixo nível no ebulidor e pressão alta na fornalha que são ativados apenas no caso de fugas muito grandes e repentinas. Com essas ferramentas tradicionais, é praticamente impossível notar uma fuga menor na fornalha da caldeira. Um pequena fuga não detectada pode crescer, romper um tubo e levar a danos graves ou mesmo a uma grande explosão.

em seus estágios iniciais», diz Timo Laurila, Business Manager, Recovery Analyzers and Advanced Process Controls, Valmet. Atualmente, a solução de detecção de fugas é usada por várias fábricas de celulose, e os resultados obtidos com ela foram muito positivos.

Informações técnicas sobre o Valmet Recovery Boiler Leak Detector: O Valmet Recovery Boiler Leak Detector geralmente reconhece uma diferença de 0,25-0,50% entre a água de alimentação e o vapor no fluxo de água de alimentação. Além disso, o aplicativo possui um cálculo avançado do equilíbrio químico, que permite uma maior precisão e identificação de fugas críticas e separação de fugas não críticas. O saldo é tipicamente calculado usando fosfato como um marcador. Os níveis de alarme podem ser ajustados baixos o suficiente para que uma fuga possa ser diagnosticada antes de um tubo ser rompido. Como os balanços de carga da caldeira são levados em consideração, não há alarmes desnecessários devido a mudanças na carga.

«O Valmet Recovery Boiler Leak Detector agora leva a detecção de fuga um grande passo em frente ao combinar cálculos avançados de massa e equilíbrio químico. Isso torna uma ferramenta de diagnóstico inestimável para detectar fugas

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A monitorização da taxa de fugas e os alarmes podem ser testados com segurança durante a operação normal, usando uma linha de ruptura para a simulação de fuga. As instruções do operador e a formação para detecção e gestão


Tecnologia >> Pasta

de fugas de caldeiras estão incluídos no âmbito do projecto. O Valmet Recovery Boiler Leak Detector faz parte

do portfólio de produtos do Valmet Recovery Boiler Optimizer e pode ser implementado em qualquer DCS.

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Tecnologia >> Deteção e Supressão de Incêndios Firefly apresenta o primeiro Sistema de Supressão Rápida aprovado por Terceiros Segurança mais elevada tempo rápido de resposta

com

Ao proteger máquinas críticas ou áreas de alto risco contra incêndios, o tempo de resposta de um sistema de proteção contra incêndio é essencial. Quanto mais rápido o fogo puder ser detetado e extinto, menor será o dano causado, as perdas de produção podem ser reduzidas e a segurança dos funcionários será grandemente melhorada. Ao usar um sistema apropriado de proteção contra incêndio com um tempo de resposta rápido, o risco de o fogo se espalhar para outras áreas também pode ser minimizado. Os sistemas de aspersão convencionais ou de névoa de água proporcionam uma boa proteção geral de uma instalação ou um prédio, mas não são ideais para proteção de áreas de alto risco ou máquinas críticas. No momento em que um sistema de sprinklers é ativado, o fogo provavelmente já causou danos e possivelmente espalhou-se para outras áreas. O objetivo de um Sistema de Supressão Rápida é atuar com rapidez suficiente para evitar ou reduzir significativamente os danos e o tempo de inatividade da produção, além de evitar que o incêndio cresça e se espalhe para outras áreas e aumentar a segurança pessoal.

rápidos do sistema e desempenho extinguidor rápido. O sistema foi projetado para deteção e supressão rápida de incêndios / chamas em torno de máquinas críticas ou áreas de alto risco. No projeto, o sistema de supressão rápida é semelhante a um sistema de deteção de faísca, que combina deteção, extinção e um painel de controlo. O sistema de deteção de faísca, no entanto, é projetado para detetar e extinguir fontes de ignição que previnem um incêndio, enquanto que o Sistema de Supressão Rápida foi projetado para detetar e extinguir incêndios / chamas numa fase muito precoce.

Sistema de supressão rápida Firefly O sistema de supressão rápida da Firefly é baseado nos próprios detetores de chama de alto desempenho da Firefly e sistemas eficientes de névoa de água. A Firefly tem vários detetores de chama diferentes com características diferentes, para corresponder às condições de cada aplicação.

O que é um sistema de supressão rápida? Um Sistema de Supressão Rápida é um Sistema de Supressão de Incêndio de Descarga Automática Fixa, incluindo deteção de chama, supressão por névoa de água e sistema de controlo, com exigências rigorosas sobre tempos de resposta

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Desintegradores Transportadores Áreas de carga e descarga Transformadores Turbinas Proteção de máquinas de papel Etc.

Protocolo de Teste para Sistemas de Supressão Rápida

Os sistemas de supressão de névoa de água da Firefly possuem capacidades notáveis de supressão de chamas, utilizando uma quantidade muito pequena de água. O design exclusivo do sistema hidráulico permite um tempo de resposta do sistema muito rápido. O tempo completo de resposta do sistema para um Sistema de Supressão Rápida da Firefly é normalmente tão curto quanto 1-3 segundos. Até mesmo tempos de resposta mais curtos podem ser alcançados para aplicações especiais. O sistema de supressão rápida Firefly usa o mesmo painel de controlo que o sistema de deteção de faísca, de modo que os dois sistemas podem ser facilmente integrados, combinando prevenção e proteção, para conseguir uma funcionalidade otimizada do sistema.

Exemplos de aplicações onde são usados Firefly Quick Suppression Systems • Máquinas de tissue • Máquinas de transformação • Proteção de secadores por infra vermelhos nas máquinas de papel • Plainas e moldadores • Prensas de painel de madeira • Compartimentos de bomba de óleo

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O protocolo de teste para sistemas de supressão rápida é o chamado “DFL TM170307-1261 – Sistemas de Supressão Rápida para determinadas áreas de alto risco normalmente encontradas em aplicações industriais”. Foi desenvolvido pelo DFL, um laboratório de teste certificado ISO / IEC 17025, credenciado para realizar testes de fogo em escala total. Este protocolo de teste é baseado no CEN / TS 14972: 2011, Apêndice B, com testes de fogo completos para combustíveis sólidos e combustíveis líquidos. Tem requisitos muito rigorosos nos tempos de extinção máximos aceites e abrange o sistema completo com sistema de deteção, extinção e controlo. O protocolo de teste também especifica o tempo de resposta máximo permitido (“Tempo completo de resposta do sistema”), no máximo 5 segundos na maioria dos testes. O protocolo de teste especifica um tempo de pré-queima de 1 minuto, com heptano, para ser usado para todos os testes de fogo. Isto é para testar o sistema em «cenários do pior caso» e certificar-se de que o fogo está profundamente desenvolvido antes que a ação de extinção seja


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iniciada. Na realidade, a ação de extinção é ativada em apenas alguns segundos com um sistema de supressão rápida, o que tornará mais fácil extinguir um incêndio. Tudo isso faz do DFL TM170307-1261 um protocolo de teste muito conservador e altamente exigente. O protocolo de teste inclui 9 diferentes séries de teste para diferentes aplicações, bem como testes de comparação com outros combustíveis e testes de resposta do sistema, para verificar o tempo completo de resposta do sistema. O protocolo de teste também exige que a montagem de um Sistema de Supressão Rápida

seja precedida por uma Avaliação de Risco da instalação.

Firefly - o primeiro Sistema de Supressão Rápida do mundo aprovado por terceiros Em abril de 2017 - a Firefly realizou testes de acordo com o método de teste DFL nº. DFL TM170307-1261. Os testes foram realizados na DFL, uma instalação de teste certificada ISO / IEC 17025 e testemunhada por várias companhias de seguros. Durante os ensaios em abril, a Firefly executou as séries de teste 1,2,4,5,8 e 9, sendo todos os testes realizados e aprovados com sucesso.

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