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Psicologia e justiça: interfaces
o Estado acusando pessoas. Aí são pessoas se referindo ao processo, é a atividade policial, mas são pessoas, são indivíduos, é individual, é acusação individual”. Que, aliás, nessa questão eu acho que um processo como esse releva muito bem uma coisa, nós escolhemos os policiais, os policiais são transformados em réus, os policiais são transformados com toda a acusação como se eles fossem pessoas más, pessoas que vão lá e matam, e na verdade o problema é sistêmico, é muito maior que simplesmente uma atuação policial. Quer dizer, todo o organismo policial é ótimo, mas esses caras, os acusados, é que são malvados, que são os criminosos, que são os bandidos. Tem uma parcela da sociedade que legitima essa atuação forte do policial e da polícia. O problema é muito mais institucional, a fala está muito mais na instituição do que na moral: “Ai, esse mundo está perdido, nós estamos sem valores”. Não é verdade. São as instituições que estão falhando na proteção dos interesses livres, dos interesses maiores, da sociedade. Quer dizer, no abuso policial têm dois aspectos: tem o policial que abusa, mas existe todo um sistema que permite esse abuso e muitas vezes até incentiva o abuso, instiga o abuso, induz o abuso. O cenário que eu tenho, então, pra construção subjetiva desse policial, dessa policial, ela pode ser analisado em primeiro plano em relação... numa relação mais gerais da nossa organização civilizatória, né? O Nobert Elias, o sociólogo que trabalha bastante com essa questão do ethos, conceitua o ethos de uma maneira muito específica, o ethos guerreiro, né, que o Adilson faz referência também na fala dele, traz que em função da especialização das funções na sociedade, conforme elas foram se tornando cada vez mais complexas, as pessoas, isso é evidente pra todos, vão se especializando em determinadas atividades e nesse pacto social contando que outros indivíduos estão dando conta de outras funções, pode pensar na cadeia, nos alimentos que chegam na nossa mesa, né, que a gente não sabe como plantar, não sabe como cultivar e ainda assim se alimenta muito bem, pode passar uma vida assim. No caso da violência e no caso da nossa segurança, da nossa paz social, a gente tem, num contexto civilizatório de Estado democrático e de direito, uma formal aversão pro uso da força física pra resolução dos nossos conflitos, a preconização de que isso deve ser resolvido de maneira dialogada ou em última instância por força da lei, utilizando-se das instituições, mas pra que tudo isso opere, a gente tem um grupo de pessoas que têm no seio desse Estado, são treinadas e instigadas a serem violentas formalmente, há investimento pra isso, que são os agentes de segurança pública e aqueles que integram as forças armadas, no caso de violência entre Estados, apesar disso se confundir um pouco aqui no Brasil. E aí esse indivíduo, que também recebe toda a carga de cultura geral de que ele deve ser pacífico e respeitar as leis e não usar das violências pra resolver os seus conflitos, ele é posto com essa... com esses comandos ambivalentes e forma a sua personalidade, sem nenhuma esquizofrenia individual, dentro de códigos que não se comunicam, ele ao tirar a farda deve seguir o código anterior à entrada dele na polícia e ao colocar a farda passar a utilizar do código policial, somando-se aí a cultura formal e a subcultura, que o Adilson se referiu. Esse impasse, ele se soma mais do que uma
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