ENTREVISTA
Alexandra Melo Coordenadora do Serviço de Psicologia e Orientação
Pandemia e Escola: Alexandra Melo mostra os contornos da nova “normalidade” Os pais estariam preparados para esta situação? Para esta mudança súbita? Falando a partir daquilo que tem sido a nossa escuta, temos os opostos. Temos pais que estão desejosos que os filhos voltem à escola – e isto tem muitas justificações, mas uma delas é associada ao confinamento provocado pela COVID-19. Muitos viveram longos períodos de ansiedade e stress, porque, de repente, viram-se a ter de fazer tudo acontecer dentro de casa, numa mesa: um pai a trabalhar e os filhos em aulas, ambos online. Portanto, houve aqui uma sobrecarga no espaço doméstico, no lar doce lar, que em muitas casas já se chamava lar amargo devido ao stress. Percebemos que crescem tensões em famílias por tudo estar a acontecer no mesmo espaço. E nada é de forma tranquila. Muitas famílias veem o regresso à escola, primeiro, como alívio do confinamento e, segundo, pela esperança de que possamos todos entrar na normalidade que, embora não seja a mesma, nos adaptaremos muito bem a ela. Mas esta é só uma franja da população. A outra ainda 36
está preocupada e, se calhar, não deixará os seus filhos voltarem tão cedo à escola. De todas as formas, uma das questões importantes, mesmo para os que voltam contentes, é o cumprimento das medidas de prevenção dentro e fora da escola. Mencionou a expetativa de normalidade… Chamo “normalidade”, mas chamaria “uma outra normalidade” porque agora, durante muito tempo, teremos todos de usar máscaras, desinfetantes, evitar levar as mãos à mesa, à cara. A nova normalidade exige-nos uma atenção maior, indiscutível, mas que vai passar a ser o nosso dia-a-dia. Acho que todos, particularmente os pais, depois de perceberem que estamos a ter a atitude adequada para proteger os seus filhos vão acabar por aceitar com mais tranquilidade esta condição. Porém, a nova realidade desafia a resiliência: aceitar que uma enorme percentagem será infetada. E, se aceitarmos com alguma tranquilidade, os resultados podem ser melhores porque a ansiedade é
o medo do futuro e aqui o nosso é incerto. E esta incerteza cria algumas angústias que não são agradáveis para os pais e encarregados de educação e nem para ninguém. As escolas, como podem elas fazer uma integração…. Para já, uma coisa é fundamental no dia-a-dia dos professores e alunos, cabendo aos primeiros a missão de juntar duas coisas: a importância do cumprimento de todas as normas e, por outro lado, ser forte, não mostrar as suas angústias, por mais que as tenham. Não podem. Não vão ajudar, tanto na relação como no processo de ensino-aprendizagem. A terapia deve começar pelo professor. E porquê? Apenas porque o professor é quem está no dia-a-dia com os alunos. É quem tem mais horas com os alunos. O mesmo se passa com os pais, mas isso é fora da escola. O adulto e o modo como ele se comporta dentro de situações adversas é modelo fundamental para os mais novos. Eles olham para nós e observam como está a nossa tranquilidade.