CAPA
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Índice
08
16
20
Capa
Páginas Verdes
5. Editorial
58. GERAL A saga de um vaqueiro
15. Cidadeverde.com Yala Sena
64. CIDADE O projeto que deu nome ao bairro Memorare
36. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa
Câncer: uma doença em expansão
8. Páginas Verdes Maristela Gruber concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 12. Palavra do leitor 28. CIDADE Saneamento = Saúde 32. CIDADE Um prédio em ruínas
Mulheres no comando
Maristela Gruber
68. ARTE Viagem ao mundo pelas lentes de Wolf
38. POLÍTICA Uma janela como saída
74. ESPORTE Homenagem nacional ao Magro de Aço
42. ECONOMIA Como não cair na malha fina
90. POESIA SEMPRE Por Cineas Santos
A vida com microcefalia
40. Economia e Negócios Por Jordana Cury 63. Tecnologia Marcos Sávio 82. Elas por Elas Eli e Élida 84. Passeio Cultural Eneas Barros 86. Perfil Péricles Mendel
Articulistas
13
Jeane Melo
73
COLUNAS
48
Cecília Mendes
55
Zózimo Tavares
foto Manuel Soares
Mudança de hábito para uma vida mais saudável O cancer é uma das doenças mais temidas pela maioria da população. Os números que revelam o avanço acelerado da doença em todo o mundo justificam a preocupação. De acordo com o INCA - Instituto Nacional do Câncer, o Piauí deve registrar somente neste ano 6.500 novos casos da doença. Esta já é a terceira causa de morte no Brasil e está intimamente relacionada ao estilo de vida adotado nos tempos atuais, com o excesso de consumo de produtos industrializados, processados artificialmente com corantes e conservantes, assim como poluição, álcool, cigarro e vida sedentária. A reportagem de capa desta edição ouviu vários especialistas sobre o assunto para tentar desmitificar muitos tabus ainda existentes sobre a doença. A boa notícia é que, hoje, câncer não é mais, necessariamente, uma sentença de morte como no passado. O diagnóstico precoce e a descoberta de novos tratamentos mais eficientes e menos invasivos têm contribuído para que, em muitos casos, a doença torne-se crônica e o paciente possa levar uma vida relativamente saudável. Isso, sem falar nos casos de cura, como mostram algumas personagens ouvidas na reportagem. A preocupação com saúde, sem dúvida, é sempre um assunto que desperta muito interesse. E saúde, como já se disse, está relacionada a uma série de fatores ligados ao meio externo. É o caso do saneamento básico, indispensável para uma boa qualidade de vida da população. Cidades sem tratamento de esgoto ou coleta de lixo adequados são mais propícias ao surgimento de enfermidades e, até mesmo, de epidemias, como a da zika. Por isso mesmo, a Campanha da Fraternidade adotou esse problema como tema para o ano de 2016.
E a Revista Cidade Verde mostra a seus leitores qual a situação do Piauí e de Teresina quando o assunto é saneamento, ou a falta dele. Março é o mês das mulheres e, aqui na redação, nós resolvemos prestar uma homenagem às mulheres que tornaram-se mãe e pai para os seus filhos. Abandonadas pelo marido, elas reuniram forças e assumiram sozinhas o comando da família, mostrando coragem e disposição de fazer inveja a muitos homens. As estatísticas oficiais apontam que o número de mulheres que são chefes de família cresce significativamente e já há até políticas públicas criadas para assegurar-lhes o mínimo de segurança, como a concessão de casas em programas de moradia popular. Em outra reportagem de destaque desta edição, a saga dos vaqueiros, uma das figuras mais simbólicas no processo de colonização do Piauí, é apresentada de forma bem realista. Apesar do trabalho árduo na lida com o gado no campo, a maioria não dispõe de benefícios trabalhistas e sequer tem conhecimento sobre seus direitos. E, nas Páginas Verdes, a história de uma mulher que adotou o Piauí como seu estado, encantou a todos com sua voz de soprano e, agora, apresenta-se nos mais exigentes palcos europeus como cantora lírica. Maristela Gruber conta várias histórias reveladoras e surpreendentes, que nós fazemos questão de compartilhar com os nossos leitores. Cláudia Brandão Editora-chefe
REVISTA CIDADE VERDE | 6 DE MARÇO, 2016 | 5
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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Maristela Gruber
claudiabrandao@cidadeverde.com
A voz lírica que conquistou o mundo Foto: Thiago Amaral
A soprano Maristela Gruber nasceu em Minas Gerais, mas, hoje, considera-se piauiense. Atualmente, mora na Espanha e se apresenta para as plateias mais exigentes da Europa.
A música está presente no DNA da cantora lírica Maristela Gruber, uma mineira que adotou o Piauí como sua terra. Filha e neta de músicos, ela canta desde pequena. Aos 18 anos de idade, veio ao Piauí para 8 | 6 DE MARÇO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE
passar férias, apaixonou-se pelo verde que havia à época em Teresina e não voltou mais para seu estado natal. Aqui, fez teste para lecionar piano na Escola de Música de Teresina, foi aprovada e trabalhou
três anos como professora até ser descoberta como cantora pelo barítono Raimundo Pereira, que imediatamente a apresentou ao músico Ramsés Ramos e ao pianista Frederíco Marroquim. Maristela conta
que, literalmente, bebeu da água do Rio Parnaíba e por aqui ficou durante 14 anos. Foi quando conheceu o marido, um espanhol, por meio de um chat de conversas na internet, casou e foi morar na Espanha. Mas seu coração continua batendo forte pelo Piauí e, sempre que pode, volta para cá para rever os amigos ou desenvolver algum trabalho, como agora. Atualmente, Maristela Gruber se apresenta nos palcos da Espanha, França, Áustria e Portugal e, de vez em quando no Brasil, como agora, em Teresina, quando concedeu a seguinte entrevista à Revista Cidade Verde.
RCV - Como e quando você se descobriu uma cantora lírica? MG - Minha mãe foi uma grande
cantora lírica, Marília Mauler. Minha família é toda de músicos: pianistas, violinistas, flautistas, além de outros 4 ou 5 cantores. Então, eu os imitava com 3,4 anos. E, aos 4 anos, pegaram-me no quintal de casa, imitando a mamãe cantando Casta Diva. Aí, começaram a me treinar, me disciplinar e a treinar minha voz para que eu evoluísse como cantora.
RCV - E a primeira apresentação oficial, aconteceu quando? MG - Com 5 anos. Minha mãe to-
cava piano e eu cantava em um auditório pequeno, para 300 pessoas, em Belo Horizonte-MG. Daí, então, comecei a cantar na igreja, em festinhas particulares, no colégio, até que fui estudar piano porque,
O ensino de música tem que começar na escola fundamental. O negócio é que o nível cultural, não só do Brasil, mas do mundo inteiro, está caindo demais.
a princípio, eu queria ser pianista. Eu fiz o conservatório inteiro de piano e passei a acompanhar flautistas, violinistas, já aqui em Teresina. Tanto que, quando eu cheguei ao Piauí, eu era professora de piano da Escola de Música de Teresina. Mas eu não parava de cantar. Antes, quando eu ainda tinha cerca de 14 anos, eu entrei no coral da Pró-Música, em Juiz de Fora (MG). Aí surgiu o professor Marcos Louzada, que me descobriu como cantora lírica. Ele confiou em mim e me colocou no coro da “Ópera de Dido and Aeneas”, de Henry Purcell. E aconteceu que a cantora que fazia o papel de Dido, poucos dias antes da pré-estreia, sofreu um acidente de carro, quebrou a perna e ele ficou desesperado porque todas as “mezzos” (voz feminina entre a contralto-grave e a soprano-aguda) já esta-
vam com compromisso. Eu sempre chegava muito cedo aos ensaios e ficava passando as peças de Belinda e de Dido (duas das personagens principais na ópera). Aí o maestro me chamou na frente de todos e pediu que eu fizesse uma prova. E me colocou uma ária da “Dido”, que eu já havia ensaiado. Cantei a ária toda para ele e, então, ele me disse que eu iria fazer o papel da “Dido”. E, assim, fiz meu primeiro papel na ópera com 17 anos, em Minas Gerais. No ano seguinte, o maestro fez novamente a apresentação de “Dido and Aeneas”, mas em formato de concerto, com orquestra de câmara antiga e sem cenário. Aí eu já fiz o papel de Belinda, como soprano (voz mais aguda feminina). Depois disso, começamos a ensaiar “O Guarani”, de Carlos Gomes e, também, “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini. Foi quando aconteceu um pequeno revés na minha vida. Eu sofri um stress intenso, fui acometida de estafa, e minha tia Marilene me convidou para passar férias no Piauí. Eu vim e fiquei apaixonada pelo Piauí. Não quis mais voltar.
RCV - É difícil estabelecer-se como cantora lírica no Brasil, com um mercado que valoriza músicas de consumo fácil, que são descartadas após cada estação? MG - É horroroso. Mas não pense
que isso está acontecendo só aqui. Na Espanha, também. Inclusive, é uma coisa assustadora. Você está vendo noticiário lá na Espanha e
REVISTA CIDADE VERDE | 6 DE MARÇO, 2016 | 9
eles só falam de política e futebol. Há grandes teatros, como o Real Teatro de La Ópera e o Teatro de La Zarzuela, e quase não sai nada sobre a programação de lá na imprensa. Quando Plácido Domingo foi lá, no ano passado, saiu uma reportagem de menos de 1 minuto. Não existe divulgação da arte e as músicas enlatadas que se escutam ali são as que se escutam aqui também.
RCV - E o que fazer para manter vivo esse estilo musical mais clássico? MG - É difícil porque esse é um
problema de raiz. Antes, você tinha o primeiro contato com a música no colégio. O ensino de música tem que começar na escola fundamental. E não só de música, como da história da música, bem como da arte em geral: pintura, escultura, etc. Os alunos têm que ter contato com isso desde os primeiros anos e passar a conhecer nomes como Chopin, Beethoven, Mozart, Villa-Lobos. O negócio é que o nível cultural, não só do Brasil, mas do mundo inteiro, está caindo demais. Inclusive, o respeito às artes clássicas está caindo. Por exemplo: você vai a Viena, capital da Áustria, e tem lá o palácio maravilhoso do império austro-húngaro, com um conjunto arquitetônico espetacular e, de repente, bem na frente, você encontra uma placa de trânsito enorme, de 5X5 m, fechando uma das fachadas, quebrando completamente a visão do palácio. É como se tivessem atacando a arte clássica. Eu amo a arte moderna, amo o artesanato, mas cada coisa 10 | 6 DE MARÇO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE
É como se estivessem atacando a arte clássica. Hoje, em nome da liberdade de expressão, tudo é permitido, pode pichar paredes, pode tudo.
no seu sítio. Hoje, em nome da liberdade de expressão, tudo é permitido, pode pichar paredes, pode tudo.
RCV - O que você costuma escutar quando está em casa? MG - Quase nada (risos). Eu traba-
lho com música o dia inteiro, dou aulas de canto, aulas de piano, trabalho em grupo de ópera, em um grupo dedicado a Brahms, trabalho com um quinteto de bossa nova e jazz, com um violonista de boleros famoso, Don Lucho Baigo, com concertos de câmara; então eu passo o dia inteiro cantando, ensaiando, tocando. Às vezes, chego em casa e meu marido está escutando Beatles, porque ele ama, aí eu escuto com ele até a quarta ou quinta música. Depois, eu peço para parar. Mas quando eu faço festa lá em casa coloco muito samba, dos
antigos, dos Originais do Samba, e, também, chorinho e essas valsas antigas brasileiras da época do meu avô, que foi um grande violonista, Martín Mauler.
RCV - Além da sua família, em quem você se inspirou e teve como referência na sua carreira? MG - Nossa! Tantas vozes mara-
vilhosas: Renata Tebaldi, Cecilia Bartolli, Helena Obrastsova, Elina Garanka e minha tia, Marta Dalila Mauler. Das vozes masculinas, Plácido Domingo, Luciano Pavarotti, Mário Lanza, Enrico Caruso, entre outros. E ainda o grande maestro Don Constantino Juri, argentino, que foi, durante muitos anos, diretor de cena lírica do Teatro de Colón, em Buenos Aires .
RCV - O que você faz para manter sua voz? Quais são os cuidados indispensáveis? MG - Olha, tem muita besteira sol-
ta no mundo do canto, muito misticismo. O que você tem que fazer é beber água, hidratar bem, fazer técnica vocal todo santo dia. Você já viu um atleta sem treinar? Não. Pois o cantor também tem que treinar e fazer técnica vocal diariamente. A cada nove meses, eu vou ao otorrinolaringologista. E também faço exercícios respiratórios diafragmáticos todos os dias. Eu cultivo, ainda, duas horas de silêncio vocal absoluto, fora a noite de sono. Como na Espanha a gente tem a “siesta” depois do almoço, eu aproveito para repousar a minha voz.