Revista Cidade Verde 137

Page 1



REVISTA CIDADE VERDE | 15 DE MAIO, 2016 | 3


Índice 08

Temer no comando

Páginas Verdes José Itamar Abreu Costa

5. Editorial 12. Palavra do Leitor 22. POLÍTICA Mais criatividade, menos recursos 26. SAÚDE Em defesa das crianças 30. ECONOMIA Na ponta dos dedos

38. CULTURA Esperança bordada em fios de algodão 43. ESPECIAL É ouro Brasil! 58. POLÍTICA Uma Ponte para o Futuro 70. GERAL Gente Especial

Jeane Melo

O que há de novo no Enem

62

69

Fonseca Neto

A fila vai diminuir

15. Cidadeverde.com Yala Sena 24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa 34. Economia e Negócios Jordana Cury 19. Chão Batido Cineas Santos 61. Tecnologia Marcos Sávio

80. Play List Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 13

16

90

Tony Batista

COLUNAS

52


foto Manuel Soares

Os desafios do novo presidente O Brasil tem um novo presidente da República. A histórica sessão do dia 11 de maio registrou um final já esperado. Afinal, até mesmo os governistas já contavam com o afastamento de Dilma Rousseff, que, a princípio, deve durar 180 dias, tempo determinado legalmente para que ela prepare sua defesa para o julgamento do mérito. Nesses próximos seis meses, Michel Temer terá que provar ao país que tem condições de retomar as rédeas do crescimento econômico, promovendo a queda nos índices de inflação e de desemprego, hoje os maiores fantasmas para os brasileiros. Não será tarefa fácil. Os investidores precisam recuperar a confiança no Brasil, abalada por sucessivas crises políticas e financeiras. Para conseguir fazer tudo isso, será necessário muito mais que boa vontade do atual presidente. Ele terá que contar com o indispensável apoio do Congresso Nacional para aprovar as medidas que deverão ser implementadas em seu governo. Algumas delas devem ser bastante duras e de dífícil aceitação popular, mas imprescindíveis para o equilíbrio fiscal. Por outro lado, imagina-se uma forte pressão, não só por parte de quem perdeu o emprego e espera voltar a ter a carteira assinada, como pelos movimentos sociais liderados pelo PT, que prometem não dar trégua ao novo presidente. Mas Michel Temer é um homem ponderado

e experiente, que se preparou a vida toda para exercer a vida política, como mostra a reportagem de capa desta edição. A Revista Cidade Verde vem acompanhando todos os movimentos que sacudiram a vida política brasileira na última semana e, tão logo a votação no Senado foi encerrada, correu contra o tempo para trazer aos seus leitores, nesta edição, uma informação quente e atual. Em outra reportagem, mostramos o drama da falta de leitos de UTI no Estado, que faz com que pacientes de alta complexidade entrem em uma longa fila à espera de uma vaga em uma das unidades de terapia intensiva. Comumente, os médicos são obrigados a decidir quem terá mais chances de viver. A solução, pelo menos parcial, foi anunciada com a construção de 158 novos leitos de UTI na rede pública. É uma notícia alentadora, tanto para os profissionais de saúde quanto para os pacientes e suas famílias que, muitas vezes, recorrem à justiça para garantir uma vaga. Quando isso acontece, é uma decisão judicial, e não médica, que estabelece quem tem direito ao atendimento prioritário, o que muitas vezes faz com que pacientes mais necessitados sejam prejudicados.

Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 15 DE MAIO, 2016 | 5


PUBLICIDADE

D


D1

PUBLICIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

José Itamar Abreu Costa

claudiabrandao@cidadeverde.com

O coração não perdoa

O órgão mais lembrado pelos artistas e pelos apaixonados é também o responsável pelo maior número de mortes no Brasil. Mas com cuidados preventivos é possível manter o coração sadio e batendo firme por muito tempo.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil. Os dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia revelam que 350 mil pessoas morrem todos os anos no país por problemas do coração. Entre os mais frequentes, e mais graves também, está a hipertensão ou pressão alta, que pode ser controlada facilmente pelo uso contínuo de medicamentos.

O cardiologista Itamar Costa, recém-empossado presidente da Academia Piauiense de Medicina, 8 | 15 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Foto: Wilson Filho

No entanto, o percentual de pacientes que se descuidam e deixam de tomar o remédio é altíssimo (80,4%). Essas pessoas são candidatas a sofrerem um infarto ou acidente vascular cerebral, doenças que, quando não matam, podem deixar sequelas irreversíveis.


aproveita a campanha lançada pela FUNCOR (Fundação do Coração) para estabelecer o padrão de pressão arterial em 12 x 8 e faz um alerta: as pessoas precisam mudar os hábitos de vida e cuidar melhor do coração, porque um dia ele vai cobrar a conta. O próprio cardiologista já foi operado do coração, ao diagnosticar um tumor benigno no órgão, e conta que, depois da cirurgia, entendeu que Deus havia concedido uma segunda chance a ele. Por isso, tratou de redobrar os cuidados com a saúde e convida os nossos leitores a fazer o mesmo, seguindo as orientações que ele dá na entrevista a seguir.

RCV – Quais são os principais fatores que levam às doenças cardíacas? IC – A hipertensão, o diabetes, a

dislipidemia (aumento de gordura no sangue), o estresse, a hereditariedade, a obesidade e o sedentarismo. Esses são os fatores determinantes, assim como o fumo e o excesso de álcool, embora o álcool já entre como fator adjuvante para outro tipo de doença do coração. Por isso, a prevenção deve começar desde cedo. Se você tem na sua família um grau de hereditariedade, você já tem de ver como é que vai se comportar. Se você for bem criterioso na aferição da pressão arterial, vai ver que 30% da população adulta é hipertensa. Se, junto com isso, vier mais a obesidade e o diabetes, você forma uma tríade

A cocaína é fator determinante para provocar doença coronariana, tanto aguda quanto crônica. complicadíssima para desenvolver a doença principal que afeta o coração, que é a doença coronariana. Então, é combatendo todos esses fatores que a gente vai se prevenir contra as doenças cardíacas. É necessário educar a criança para a prática de esportes, para consumir uma alimentação saudável, fugindo dos sanduíches, e para manter-se afastada do cigarro.

RCV – Entre todos esses fatores que o senhor citou, a hipertensão é o mais grave? IC – Sim. A hipertensão é o pior,

inclusive porque ela é insidiosa, silenciosa, ela avança devagarinho. Se bem que, com todas essas campanhas educativas, há uma preocupação maior em checar a pressão. Há até esses aparelhinhos vendidos em farmácias, através dos quais as pessoas podem ver a sua pressão mais frequentemente. O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcos Malaquias, idealizou

a campanha 12 x 8 e agora todo mundo quer ficar nesse patamar, que é a pressão ideal. Essas campanhas temáticas são uma maneira de alertar a população e orientá-la para que se mantenha saudável.

RCV – Quais são as doenças coronarianas que podem ser desencadeadas a partir da hipertensão? IC – Todas elas, mas principalmen-

te a doença aterosclerótica, que vai formando placas junto com o colesterol alto, o cigarro e o diabetes. A doença coronariana pode ser aguda ou crônica. Na aguda, você vê, por exemplo, pessoas jovens que, de repente, têm um infarto. Na crônica, a placa vai se formando lentamente e a pessoa vai cansando, ou apresentando dor no peito quando faz um esforço relativo ou de média intensidade, até sentir uma dor no peito de pequena intensidade ao subir uma escada. Há, inclusive, uma doença muito frequente, que é a Takotsubo – a síndrome do coração partido. Este é o nome de uma região lá do Japão, onde jovens agricultores começaram a ter morte súbita ou infarto. Quando fizeram a necropsia em jovens de 19 a 20 anos, viram que o coração deles estava bem danificado, mas a coronária era normal. O estresse crônico daqueles jovens, que trabalhavam até 20 horas, não tiravam férias e não possuíam qualidade de vida, provocava espasmos e fechava a coronária temporariamente. Depois que a coronária abria, o estrago já estava feito, porque onde a REVISTA CIDADE VERDE | 15 DE MAIO, 2016 | 9


coronária fecha, você perde tecido, comprometendo o músculo do coração.

RCV – A necessidade de momentos de relaxamento para aliviar o estresse, o contato com amigos e familiares ou a prática de um hobby também podem ajudar a aliviar os danos causados ao coração? IC – Sim. Tem o bom estresse e

o mau estresse. O bom estresse é o que mantém você ativo. E o mau estresse é aquele crônico. Há exemplos de pessoas que são mantidas reféns com uma arma branca na região cervical e que podem chegar a um infarto porque a adrenalina foi tanta que é como se imprensasse a coronária.

RCV – Há algum sintoma que identifique que o paciente sofre de hipertensão? IC – Sim. O zumbido no ouvido,

cefaleia repentina, um pouco de obnubilação (perturbação da consciência, caracterizada por ofuscação da vista) são indicadores. Sentindo isso, a pessoa deve procurar medir a pressão porque, quanto mais cedo você tratar, melhor. É bom lembrar que na rede pública de saúde existem bons medicamentos para o tratamento da hipertensão, drogas que são “top” de linha para corrigir o problema.

RCV – Qual o percentual do componente hereditário e dos fatores externos na formação do quadro de hipertensão? IC – Muito igual, porque a here-

ditariedade na hipertensão é real

10 | 15 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

O HGV e o HU seriam as instituições ideais para realizarem o transplante cardíaco.

e os maus hábitos na alimentação (como excesso de sal, embutidos, calabresa, etc.) levam à retenção de líquido, uma vez que o sal puxa o líquido em função da sua propriedade higroscópica (capacidade de absorver água), formando uma hipertensão volume-dependente. Eu diria que a proporção é meio a meio.

RCV – Qual a frequência ideal para aferição da pressão arterial? IC – Uma vez diagnosticada a hi-

pertensão, a pessoa tem que estar sempre vigilante e medir a pressão constantemente. Um percentual muito pequeno de hipertensos tem uma causa definida. A maior parte, cerca de 97%, tem causa desconhecida. Você pode estar fazendo uso de drogas, como corticóide (usado em reumatismo e em asma), e ter uma hipertensão secundária. Aí, você tira o corticóide e vai corri-

gir a hipertensão. A mesma coisa acontece se o paciente tem um tumor em uma glândula suprarrenal. Ao ser submetido à operação para retirada do tumor, ele corrige a hipertensão. Ou seja, nessas causas específicas, você tem como resolver o problema. O restante da população tem de se conscientizar de que, uma vez hipertensa, sempre hipertensa, portanto, tem de adotar as medidas preventivas já citadas.

RCV – As doenças coronarianas podem acometer pacientes de todas as idades? IC – Podem. Eu tenho um pacien-

te de Codó, no Maranhão, que foi operado aos três anos de idade, de coronariopatia. Ele tinha uma doença chamada de Arterite de Takayasu, que é uma doença sem pulso, e a manifestação dele foi doença coronariana. As artérias dele eram completamente obstruídas e ele teve de ser operado. Então, você tem desde a tenra idade até a terceira idade. Eu tive outro paciente que fazia uso de drogas (cocaína) e, aos 30 anos de idade, tinha um padrão de artéria coronária de uma pessoa de 60 anos.

RCV – A droga é outro fator que causa problema coronariano? IC – Exatamente. A cocaína é fa-

tor determinante para provocar doença coronariana, tanto aguda quanto crônica. Durante uma noitada de cocaína, a pessoa pode ter um infarto, porque o uso da droga pode causar um espasmo. E, cronicamente, cria a mesma placa que se forma na pessoa que tem obe-


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.