Revista Cidade Verde 138

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Índice

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Capa

Ansiedade: o mal do século 5. Editorial

Páginas Verdes Gustavo Borges

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Soja em Baixa

Driblando a crise

43. ESPECIAL É Ouro Brasil!

17. Cidadeverde.com Yala Sena

60. CULTURA Oeiras Divinal

26. Economia e Negócios Por Jordana Cury

64. CIDADE Sem água nas torneiras

32. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

70. CULTURA “Caverna artística”

79. Tecnologia Marcos Sávio

36. GENTE ESPECIAL As sutilezas do autismo

74. CADERNO ESPECIAL Um presente apaixonado

86. Perfil Péricles Mendel

40. GERAL Geração inovadora

90. POESIA SEMPRE Por Willian Melo Soares

8. Páginas Verdes Gustavo Borges concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 11. Palavra do leitor 28. ECONOMIA Como economizar na conta de luz

Articulistas 51

Zózimo Tavares

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Cecília Mendes

82

COLUNAS

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Eneas Barros


foto Manuel Soares

A ansiedade de todos nós Estamos vivendo em um mundo mais acelerado, no qual a vida parece correr a uma velocidade tão alta que nem conseguimos acompanhá-la como deveríamos ou gostaríamos. Some-se a isso, o excesso de compromissos profissionais e sociais, contas a pagar, tarefas domésticas, a cobrança por um determinado padrão de vida, e tem-se o coquetel perfeito para desencadear uma crise de ansiedade. De tão comum, a ansiedade tornou-se um dos problemas de saúde mais presentes na vida moderna. Ela pode atingir pessoas de diferentes idades e níveis sociais, mas concentra-se, principalmente, em mulheres jovens. E pode comprometer, em diferentes graus, as atividades profissionais e até mesmo os relacionamentos pessoais. Aprender a reconhecer quando a ansiedade deixa de ser uma reação natural do indivíduo diante de uma situação nova ou desafiadora e passa a afetar a sua saúde é o primeiro passo. Depois, é preciso buscar a ajuda de um médico para iniciar o tratamento. Mas, acima de tudo, é necessário mudar o estilo de vida, impondo-se menos cobranças, passando menos tempo sendo bombardeado com informações e dedicando-se mais ao lazer e à família. Visto assim, pode até parecer fácil, mas a roda-vida costuma envolver as pessoas de tal forma que muita gente já nem sabe mais como é viver sem estar “plugado” durante 24h por dia. E, com isso, acabam sendo prejudicados os horários de alimentação, de sono e o convívio social. Por ser uma síndrome tão comum em nossos dias, a Revista Cidade Verde foi ouvir o que dizem os especialistas sobre o assunto e revela todos os

detalhes na reportagem de capa desta edição, assinada pela jornalista Jordana Cury. Em outra matéria, a Revista mostra a situação delicada dos produtores de grãos dos cerrados piauienses. Afetada pela irregularidade das chuvas, em consequência do fenômeno El Niño, a produção de soja e de milho deve sofrer uma queda estimada de 70% na safra deste ano. Como costumam pagar os custos de produção da safra seguinte com os lucros da anterior, os produtores não sabem como conseguirão financiar o plantio para o próximo ano. A notícia torna-se mais preocupante porque o agronegócio é justamente o setor mais produtivo da economia piauiense, responsável pela maior fatia da nossa pauta de exportações. A previsão inicial de 700 mil hectares de área plantada foi reduzida para 564 mil hectares. Como resultado, as demissões no campo já começaram a acontecer e o preço dos alimentos que dependem desses insumos deve aumentar nas prateleiras dos supermercados. A poucos meses do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, as atenções se voltam naturalmente para o esporte. E é este o tema das nossas Páginas Verdes, na entrevista feita com o ex-atleta olímpico, Gustavo Borges. O nadador que conquistou várias medalhas para o Brasil em competições internacionais fala sobre os desafios na vida de um atleta e as chances brasileiras de medalha na natação para a Rio 2016. Cláudia Brandão Editora-chefe

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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Gustavo Borges

claudiabrandao@cidadeverde.com

O senhor das águas

Foto: Thiago Amaral

Com a experiência de ex-atleta olímpico, o nadador Gustavo Borges avalia como boas as chances de medalha brasileira nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.

O campeão olímpico Gustavo Borges deixou seu nome marcado na história do esporte brasileiro. Ele ganhou quatro medalhas olímpicas, dezenove medalhas nos Jogos Pan-americanos e foi recordista mundial por quatro vezes. 8 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

O paulista de Ribeirão Preto é um gigante dentro e fora da piscina. Com 2,03 metros de altura, logo se destaca quando entra em cena para ministrar uma das suas muitas palestras, atividade que passou a realizar depois que se despediu das competições aquáticas, nas Olimpíadas de

Atenas, em 2004. Para não se afastar totalmente do esporte que o consagrou campeão, com direito a entrada para o Hall da Fama, Gustavo Borges desenvolveu a metodologia que leva o seu nome e que é aplicada hoje em 350 escolas e academias de natação. Realizou ainda alguns pro-


RCV – Você teve dificuldades para obter patrocínio no início da sua carreira? GB – No início, eu tive uma busca,

jetos sociais, como o “Troféu Gustavo Borges”, que premiava os melhores atletas de natação, e o “Nadando com Gustavo Borges”. É também autor dos livros Tchibum e Lições de Água. Depois de disputar muitas medalhas pelo Brasil, ele agora acompanha, na condição de expectador, os preparativos para as Olimpíadas que serão realizadas no Rio de Janeiro em agosto deste ano. E vê com otimismo a participação de nadadores brasileiros, chegando a sugerir alguns nomes que podem conquistar medalhas para o nosso quadro. A entrevista com Gustavo Borges, que esteve recentemente em Teresina na condição de palestrante, você confere a seguir.

RCV – De quais ingredientes é feito um campeão olímpico? GB – Acho que os ingredientes são praticamente os mesmos para todas as pessoas; talvez varie apenas a quantidade de um para outro. Mas se você falar de disciplina, dedicação, força de vontade, motivação, tudo isso são itens fundamentais para que você tenha sucesso.

RCV – Qual a melhor recordação que você guarda da sua carreira olímpica? GB – As quatro medalhas olímpicas,

com certeza, foram muito importantes, especialmente a de 92, que teve um fato interessante e curioso, que foi o placar eletrônico que não funcionou. Então, quando tem uma coisa inusitada assim, a gente conta a história de uma forma diferente, mas guardada no coração.

Disciplina, dedicação, força de vontade, motivação, são itens fundamentais para o sucesso. RCV – Na sua opinião, há estímulo suficiente no Brasil para o jovem que quer se tornar um atleta profissional? GB – Acho que sim. É lógico que o

Brasil é um país muito grande. Nós estamos falando de Teresina e, de repente, essas possibilidades aqui, dentro de alguns esportes, talvez sejam mais difíceis que em outros lugares. Eu moro em São Paulo, ao lado do Clube Pinheiros, que é um clube formador, um clube grande no cenário esportivo do país, com muitos representantes no Brasil para as Olimpíadas. Quando você pensa no Brasil como um todo, a política de esporte é necessária para que você tenha, não só no estado de São Paulo ou nos outros estados do Sudeste, mas também no Brasil inteiro, a possibilidade para o jovem e para as pessoas que queiram praticar o esporte de alto rendimento.

mas meus pais tinham condições financeiras para me ajudar. Eu tive apoio também de patrocinadores no início da minha carreira no Clube Pinheiros, mas eu concordo que é uma dificuldade muito grande. Hoje em dia, com o Bolsa Atleta, há uma ótima ajuda para os atletas que precisam de apoio, para que eles possam continuar e ter um trabalho mais direcionado nessa vida competitiva.

RCV – Que mudanças o esporte trouxe para sua vida? GB – Mudou tudo. Ajudou na formação do meu caráter, na minha vida profissional, ajudou na construção do que eu tenho de patrimônio, de pessoas, de amizade. Interferiu de uma maneira gigantesca em todas as áreas. E com uma influência tão grande assim do esporte, eu só tenho a agradecer à natação.

RCV – Em que momento você decidiu que era chegada a hora de parar de competir? GB – No momento que os jovens

começam a te “dar pau”, né? (risos). Normalmente, é assim que funciona. É o momento também que você sente que quer fazer outra coisa. Então, o treino diário e a dedicação já começam a judiar um pouco do físico e do mental.

RCV – Você ficou com algum tipo de sequela física por conta do excesso de treino? GB – Não, não tenho nenhuma seREVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 9


quela, embora isso seja comum em atletas de alto rendimento. Mas, felizmente, eu não tive nenhum tipo de problema.

RCV – Gustavo Borges virou uma grife na natação. Como funciona a metodologia Gustavo Borges, presente hoje em 350 escolas e academias de natação? GB – É uma forma de trabalhar não

só a gestão aquática, mas também a parte de desenvolvimento dos jovens e das crianças nas academias, escolas e clubes. Aqui em Teresina, o Eugênio Fortes é um cliente da metodologia, assim como a Fundação Bradesco, e a gente está espalhado aí pelo Brasil inteiro em quase todos os estados. É uma forma de você ensinar a nadar, ensinar a prática da saúde. A água, realmente, é a nossa vida, é a nossa forma de trabalho e a gente entende muito disso. Então, a gente ajuda os gestores aquáticos a trabalhar com pedagogia e com educação aquática.

RCV – Nesse trabalho, você aproveita para passar também valores pessoais e morais para os garotos? GB – Claro. Tudo que a gente faz

RCV – Por que o troféu Gustavo Borges deixou de existir? GB – Depois de onze anos, a gen-

te deixou para outros fazerem. Era algo com que meus pais se envolviam muito e que também envolvia um volume muito alto de recursos financeiros; a busca de patrocínios era difícil e, aí, a gente decidiu focar em outras coisas. Hoje, com a metodologia, a gente abrange um número bem maior de nadadores, só que na formação, na base, antes do competitivo, que era o caso do troféu Gustavo Borges.

RCV – Há alguma coisa que você gostaria de ter feito na sua carreira que não foi possível? GB – Acho que eu conquistei tudo. Eu treinei forte, eu fiz bons planejamentos, conheci pessoas interessantíssimas ao longo da minha carreira, consegui construir negócios relacionados à água e as conquistas que eu tive foram dentro dessa dedicação. Não faltou nada. Não faltou recorde, não faltou medalha, nada.

RCV –Você conseguiu chegar ao Hall da Fama. Conquistar essa posição é a consagração máxima para um atleta? GB – Sem dúvida. O Hall da Fama é

dentro da metodologia, nas nossas conversas, a gente insere os valores do esporte.

um momento mágico para quem já foi um atleta e, também, o auge do reconhecimento.

RCV – Há ideia de expandir esse projeto também para o exterior? GB – Sim. A gente já teve uma incur-

RCV – Como é a convivência dentro de uma equipe olímpica? Pesa mais o companheirismo ou a competitividade? GB – Os dois. Um atleta de alto ren-

são na África do Sul, em determinada situação, e agora a gente está desenvolvendo um produto que vai ser mais fácil de replicar em outros países. 10 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

dimento é muito competitivo. Você tem alguns valores que são impor-

tantíssimos na formação da equipe, que têm a ver com companheirismo, união, cooperação e respeito, que não podem faltar. Por outro lado, você precisa também da competitividade e do equilíbrio desse egoísmo da competição com a cooperação da equipe. Uma combinação muito boa disso é que leva os atletas e o time a um bom resultado.

RCV – Qual a sua expectativa com relação às Olimpíadas do Rio de Janeiro? GB – Expectativa boa. A gente tem

uma equipe forte, uma equipe unida. É uma pena não ter o César Cielo. O César não teve uma competição boa, a fase dele nesse último ano não foi tão boa quanto poderia ser, mas a gente vai ter grandes representantes. Hoje, a gente teria chances de medalha com o João Gomes, nos 100 m peito; e com o Bruno Fratus, nos 50 m livre. Se for mais otimista, a gente coloca o Felipe França também nessa briga e coloca o revezamento 4 x 100 m livre com o Thiago Pereira. Então, a gente tem essa possibilidade de final que pode render alguma medalha.

RCV – As Olimpíadas realizadas no Brasil devem despertar em muitos jovens o desejo de se tornarem atletas profissionais. O que você diria para essas pessoas? GB – Primeiro, criar o hábito de

praticar atividade física. Não adianta querer ser atleta de alto rendimento se você nem pratica exercício físico. Começa com objetivos que são alcançáveis e que te deem prazer. Aí, o próximo passo é um caminho longo... (risos)


Palavra do leitor @rcidadeverde

revista@cidadeverde.com

/cidadeverde

Capa Ano 06 Edição 137

Temer no comando Parabéns à editora-chefe da Revista Cidade Verde pela qualidade e agilidade da informação que vem conquistando o reconhecimento dos leitores. Anete Marques da Silva

O padrão e o nível da Revista Cidade Verde orgulham nosso Estado e aumentam a autoestima do piauiense. Sou leitor e fã. Washington Raulino

Gostei viu? Matéria tá maravilhosa!!! Isabel Almeida Venancio

Meninas que viram mães, edição 136 Li a matéria “Meninas que viram mães”, publicada na Revista Cidade Verde, edição 136, e parabenizo a repórter Caroline Oliveira pelo seu artigo, escrito com competência e muita sensibilidade! Parabenizo também a todos da Casa Maria Menina e à irmã Socorro pelo maravilhoso trabalho social e humanitário! Izabel Paiva

Mais criatividade, menos recursos Obrigado Revista Cida de Verde pela oportunidade da entrevista. Muito gratificante participar desse importante veículo de comunicação do Piauí, em uma matéria sobre marketing político, ao lado do meu eterno professor e grande publicitário George Mendes. Vale a pena a leitura da matéria escrita pelo nobre jornalista, Ubiracy Sabóia. Paulo Solano

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A Revista Cidade Verde é um periódico quinzenal da Editora Cidade Verde Ltda. A Cidade Verde, não necessariamente, se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra através de qualquer meio, seja ele eletrônico, mecânico, fotografado ou gravado sem a permissão da Editora Cidade Verde.

PRESIDENTE Jesus Tajra Filho Conselho Editorial: Jesus Tajra (presidente) José Tajra Sobrinho (vice-presidente) Diretoria da Editora Cidade Verde: Elisa Tajra Diretoria de Assinaturas e Circulação: Clayton Nobre Riedel Filho e Valdinar Lima Júnior Diretoria Comercial: Cristina Melo Medeiros e Marina Lima Diretoria de Publicidade e Marketing: Jeane Melo, Caroline Silveira, Rafael Solano, Itallo Holanda e Airlon Pereira Editora-Chefe: Cláudia Brandão - DRT/PI 914 Chefe de redação: Arlinda Monteiro Repórteres: Caroline Oliveira, Jordana Cury, Marta Alencar, Severino Filho e Ubiracy Sabóia Repórteres fotográficos: Thiago Amaral e Wilson Filho Redação (articulistas): Cecília Mendes, Cineas Santos, Eneas Barros, Elivaldo Barbosa, Fonseca Neto, Jeane Melo, Marcos Sávio, Péricles Mendel, Pe. Tony Batista, Rayldo Pereira e Zózimo Tavares Colaboradores desta edição: Ascom Fiepi, Ascom OAB-PI Editores de Arte/Diagramadores: Cicero Willison e Magnaldo Júnior Ilustrador: Izânio Façanha Revisão: Keula Araújo Impressão: Halley S.A. Gráfica e Editora

Revista Cidade Verde e Editora Cidade Verde Ltda Rua Godofredo Freire, nº 1642 / sala 35 / Monte Castelo Teresina, Piauí CEP: 64.016-830 CNPJ - 13284727/0001-90 email: revista@cidadeverde.com fone: (86) 3131.1750

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YalaSena

yalasena@cidadeverde.com

#SOSUESPI O Piauí foi destaque no Trending Topic do Twitter — assuntos mais comentados no país — por duas vezes em menos de uma semana. O tuitaço da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) foi para o ranking dos mais lidos e comentados. Com as tags #LutoPelaUespi e #SOSUESPI, estudantes, professores, técnicos e internautas aderiram ao chamado dos grevistas, que alertaram para a falta de estrutura na universidade. Governo e professores tentam acordo sobre reivindicações da categoria.

Foto: Yala Sena

Piauí conectado O governador Wellington Dias (PT) informou que pretende informatizar — até o fim do ano — 90% dos serviços prestados à população de forma presencial. O objetivo é dar mais agilidade e eficiência aos órgãos do governo, além de garantir mais rapidez e comodidade à população. Wellington anunciou a ideia durante lançamento do Portal Digital, que vai informatizar o processo de abertura de empresas no Piauí.

Estupro coletivo Mais uma vez, o Piauí é palco de um crime bárbaro de repercussão nacional. Uma jovem de 17 anos foi atacada por cinco adolescentes e sofreu abuso sexual no município de Bom Jesus (a 635 km de Teresina). O crime lembrou a crueldade sofrida pelas quatro adolescentes de Castelo do Piauí. Novamente, a solução para punir os agressores depende de provas que são feitas fora do Estado. Os estupradores são filhos de classe média, que estudavam e que tinham a possibilidade de um belo futuro, mas optaram por um dos mais perversos crimes: o estupro coletivo.

TOP FIVE Áudio: Novo Cangaço faz ameaças a policiais do Piauí e diz que vai voltar a Curimatá: bit.ly/AudioCurimata Jovem é estuprada e morta; mãe é ferida ao tentar proteger a filha: bit.ly/TimonEstupro Morte de policial é um troféu para quadrilha do ‘Novo Cangaço’, revela delegado: bit.ly/TrofeuCurimata Líder da explosão de banco é 5° morto em confronto com polícia em Curimatá: bit.ly/MortoCurimata Três são mortos a tiros dentro de casa na zona Leste de Teresina: bit.ly/AssassinatoTeresina

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Economia

Soja em baixa

A irregularidade nas chuvas provocou uma quebra na produção de grãos dos cerrados que pode levar a uma perda de 70%. Os agricultores não sabem como vão conseguir bancar a próxima safra. POR UBIRACY SABÓIA

Foto: Raoni Barbosa

Acostumado com safras recorde a cada ano, o setor agrícola do Piauí enfrenta agora uma das piores crises dos últimos tempos. A má distribuição das chuvas durante o período do plantio afetou a produção e pode levar a uma quebra de 70% na safra 2015/2016. O sinal vermelho foi aceso na atividade econômi-

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ca que é a mais importante do Estado na atualidade, e os produtores pedem socorro ao governo. Os efeitos climáticos do fenômeno El Niño, que altera a intensidade e a regularidade das chuvas, provocaram uma consequência desastrosa para as atividades dos produtores da região dos cerrados, com a quebra na produção de soja e milho, que resultou em prejuízo financeiro e demissões de trabalhadores nas

fazendas. Os produtores dizem que a situação é grave e que eles correm o risco de não ter como financiar a produção da próxima safra, prevista para o período de 2016/2017. A produção de grãos aparece como um dos principais indicadores econômicos do Estado. Por isso mesmo, os produtores estão procurando os governos estadual e federal para uma solução que permita a continuidade de suas atividades.


Foto: Thiago Amaral

O produtor Altair Fianco, que planta soja desde 1988 em Uruçuí, nos cerrados piauienses, classifica a situação como “crítica”. “Os números reais começam a aparecer e, infelizmente, vamos ter um safra muito reduzida. Tínhamos uma previsão para a soja de 700 mil hectares de área plantada, que foi reduzida para 564 mil hectares, e uma quebra de 70% na produtividade”, enfatizou. E vai além: “Tinha uma previsão inicial de 3 mil quilos de soja por hectare, vamos colher 1,2 mil quilos por hectare”, uma diferença de 1,8 mil quilos por hectare. Esta previsão de safra deve ser anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (lBGE) e pela Conab no dia 10 de junho. Durante o fechamento desta reportagem, os técnicos estavam terminando o levantamento do relatório de produtividade.

“É a primeira vez que o setor de soja pode parar de produzir.”

O produtor Cledson Evangelista, da fazenda Nova Zelândia, também localizada em Uruçuí, afirmou que contabilizou uma perda da produtividade na faixa de 70%. “Este ano só dá para pagar os custos. Plantei para tirar 150 sacas de milho

por hectare e colhi 40; no caso da soja, foram plantadas 50 sacas por hectare e vou colher apenas 20. Ele explicou que a situação foi causada pela chuva : “Não teve chuva de qualidade, a chuva ocorreu no local errado e no momento errado”.

PRODUÇÃO EM QUEDA

1,183

milhão de toneladas de grãos de soja em 2014/2015 Fonte: Conab

676,8

mil toneladas de soja colhidas em 2015/2016

2,1

milhões de toneladas de soja (previstas para colheita 2015/2016)

Fonte: estimativa produtores

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Prejuízo financeiro De acordo com a expectativa do produtor Altair Fianco, a produção para esta safra é estimada em 676,8 mil toneladas de soja, quantidade bem abaixo dos 2,1 milhões de toneladas previstos para a colheita da safra 2015/2016. Se a produção fosse de 2,1 milhões toneladas, como estimado inicialmente, renderia uma quantia de R$ 2,45 bilhões. No cenário de hoje, a produção reduzida renderá R$ 792 milhões aos produtores, ocasionando uma queda de R$ 1,658 bilhão no faturamento deste ano.

Foto: Thiago Amaral

Altair Fianco cita o exemplo da própria fazenda: para produzir soja, o custo por hectare é de R$ 2,5 mil. Mas, com a queda na produção, segundo ele, a situação se complica: “A previsão era tirar R$ 3,5 mil reais por hectare, mas a produção

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Foto: Thiago Amaral

Economia

Superintendente da Conab: dados preliminares confirmam queda na produção.

vai render R$ 1,4 mil, o que não cobre nem os custos da produção”. Nesta conjuntura, foram demitidos 20 dos 29 empregados. “Tive que demitir gente que trabalhava conosco há 8 anos, e isto está acontecendo em todo o cerrado.”

Outra coisa que está assustando os produtores é o fato de que eles não têm como pagar os empréstimos contraídos junto aos bancos, porque eles são pagos com a produção. “Tenho uma carta custeio de R$ 3 milhões no Banco do Nordeste.


Eu informo que não colhi nada, levo os laudos técnicos que comprovam o fato. Queremos renegociar o que estamos devendo ao banco em termos de custeio, que hoje o banco negocia para pagarmos em cinco anos. Aí eu faço a proposta: negociando para te pagar em cinco anos, você me dá um novo custeio? Hoje, a resposta é não. Aí inviabiliza o cerrado.” O milho só vai compensar por causa do preço de mercado, já que a produtividade caiu muito. “A estimativa era produzir 150 sacas de milho por hectare, vamos fechar em 70 a 74 sacas”, prevê Fianco. Para produzir um hectare de milho, o produtor gasta R$ 3 mil e deve conseguir faturar R$ 3,1 mil por hectare.

Em busca de uma saída

ESTIMATIVA DE QUEDA Em 2015, a soja foi o principal produto na pauta de exportações do Estado, responsável por 72,63% do total, com um faturamento de R$ 292 milhões. No ano passado, a colheita foi de 1.772.812 toneladas de soja, segundo dados da CEPRO/IBGE. A previsão do IBGE no início do ano de 2016 era de uma safra de 1.790.010 toneladas de soja. Mas ao contrário da estimativa, os produtores estão colhendo 678,8 mil toneladas.

Para chegar a uma saída, os produtores tiveram reuniões com representantes do Governo do Estado, das secretarias de Defesa Civil e de Desenvolvimento Rural. Os produtores de 12 municípios dos cerrados propõem que seja decretada “situação de emergência”. Com esse reconhecimento dos governos, seria possível abrir um canal de negociação e prorrogar as dívidas.

pode ajudar estes produtores, que são heróis, porque conseguem produzir em uma das logísticas mais caras do país”, afirmou.

A queda na produção de grãos dos cerrados, de acordo com Alysson Silva Pêgo, superintendente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no Piauí, exige atenção por parte do Governo do Estado: “Temos de ver de que forma o governo

A Conab no Piauí trabalha com a estimativa de que a soja tenha uma queda de produção de 50%. “Isso é uma estimativa, porque ainda estamos concluindo os dados do relatório, que deverá ser entregue no dia 10 de junho.” Segundo Pêgo, a

queda na produção traz queda na receita, nos impostos arrecadados pelo Estado e gera desemprego na região: “Existem fazendas que têm de 50 a 100 trabalhadores contratados e a atual situação pode levar a uma perda de emprego na região. Mas só podemos levantar os prejuízos para a economia quando terminar a colheita da safra e tivermos todos os dados precisos”, disse o superintendente. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 21


Economia

Driblando a crise Teresinenses usam a criatividade para apertar o cinto e enfrentar a crise econômica sem “grandes sofrimentos”. POR JORDANA CURY

Basta andar um pouco pela cidade para perceber que as palavras “promoção”, “desconto” e “liquidação” gritam nas vitrines, nos restaurantes e em qualquer outro ponto comercial. Vale de tudo para atrair o consumidor, que, por sua vez, tem preferido evitar os gastos diante do cenário — um tanto quanto confuso — da economia brasileira. Não é

para menos. Os R$ 100 tão valorosos no início do Plano Real, há 22 anos, hoje valem apenas R$ 18,59. Se o brasileiro precisa de mais dinheiro para comprar as mesmas coisas, o jeito é ser criativo para sofrer menos com os cortes no orçamento.

“É preciso ter inteligência para enfrentar a crise”, acredita a aposentada Zilda Melo, de 69 anos. Ela trocou as saídas para o cinema pelos encontros com as amigas em casa. “Diminuí os passeios e, quando saio, combino com as amigas para dividir o táxi, porque a corrida encareceu. Por isso, também, junto as pendências do mês para resolver em um único dia. Saio cedo e só volto depois que resolvo tudo”, explica a aposentada. O valor do táxi foi, de fato, um dos itens que encareceram o custo de vida em Teresina neste ano. Em janeiro, as tarifas das bandeiras 1 e 2 tiveram reajuste superior a 7%. Outra alternativa encontrada por Zilda foi evitar as refeições fora de casa. “Quando me reúno com as amigas na casa de alguém, cada uma leva uma coisa para o café. Antes, eu saía muito para comer fora, mas agora estou inventando outras atividades, como passear de bicicleta com minha filha. É assim que faço para sentir menos os efeitos da crise”, afirma.

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É exatamente por isso que a criatividade tem sido a palavra de ordem também em bares e restaurantes — pratos em dobro, refeições pela metade do preço ou a bebida como “brinde” são algumas das formas de garantir a preferência do consumidor, especialmente durante a semana, quando o movimento, geralmente, é menor. “Como moro sozinho e não gosto de cozinhar, saio para jantar pelo menos três vezes por semana, mas sempre procuro as promoções. Já existe até uma tabela circulando na internet que mostra promoções em todos os dias da semana em vários locais. É como um manual para quem está ‘liso’ e não pode gastar muito”, brinca o estudante Bruno Soares. E não é só nos restaurantes que a comida está mais cara. A inflação chegou também aos supermercados e os consumidores estão agora mais “abertos” à ideia de testar marcas diferentes das que tinham costume de comprar. A fisioterapeuta Walniza Rocha Lima, 42 anos, está nesse time, e, dentro dessa pesquisa por preços mais baixos, ela percebeu também que comprar em feiras pode ser mais vantajoso que nos grandes supermercados. “Comprei o quilo de tomate por R$ 4,50 na feira do bairro Mafuá (zona norte). No mesmo dia, o tomate estava R$ 6 no supermercado”, exemplifica. A fisioterapeuta decidiu adaptar outros gastos, especialmente relacionados à estética, e conseguiu uma economia de cerca de R$ 350

Foto: Thiago Amaral

Promoções em alta

A aposentada Zilda Melo agora prefere assistir a filme com as amigas em casa.

mensais. “Deixei de ir à academia, onde eu pagava uma mensalidade de R$ 130, para correr na Avenida Raul Lopes. Fiz o download de um aplicativo gratuito que controla tudo que eu preciso, como respiração e tempo, e assim faço meus exercícios sem pagar nada. Também deixei de fazer as unhas semanalmente para fazer a cada 15 dias, e as hidratações de cabelo, que custavam cerca de R$ 70 por quinzena, eu agora estou fazendo em

casa, com produtos comprados na internet, com frete grátis”, destaca.

Arrumando o usado As reformas e os consertos são dois “queridinhos” dos brasileiros em momentos de crise, atingindo todos os setores, desde os aparelhos eletrônicos até as confecções. “A demanda pelo conserto de peças tem aumentado muito, assim como

R$ 100 por

R$ 18,59 A inflação “comeu” o poder de compra do Real. Segundo estudo do Instituto Assaf, uma nota de R$ 100 lançada na implantação do Plano Real vale hoje o equivalente a R$ 18,59 — uma perda de 81,41% do poder de compra no período de 22 anos.

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a procura por transformações das roupas, como calças em shorts, vestidos em blusa. Também querem fazer aplicações nas peças, para que elas fiquem diferentes. Tenho até uma cliente que pediu para eu fazer uma saia com o tecido do forro do vestido”, conta a costureira Alaíde Rocha. O celular do técnico-eletricista Salvador Oliveira, que trabalha como autônomo, também não para. “Todo dia alguém liga perguntando se eu posso dar uma olhada em um ventilador quebrado, uma televisão, uma geladeira. Tem gente querendo consertar até liquidificador queimado. Às vezes, a diferença entre consertar e comprar um novo compensa, principalmente quando o produto é muito caro, como um ar-condicionado, mas outras vezes, não chega a R$ 100 e mesmo assim o cliente insiste”, conta.

Foto: Wilson Filho

Economia

Pedidos de consertos e reformas em roupas têm aumentado significativamente, diz costureira.

Como se adequar? Levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) revelou que um milhão de famílias da classe média diminuíram o padrão de vida no ano passado. Os pesquisadores descobriram que as famílias que mais sofreram com a crise se concentram nas classes B1, B2 e C1 — o meio da pirâmide. Como reflexo, houve o aumento do número de brasileiros nas classes mais pobres. O total de 914 mil famílias passou a fazer parte das classes mais baixas, que são C2, D e E. Nessas faixas, a renda média varia de R$ 768 a R$ 1.625.

Para o custo de vida diminuir, a inflação — que fechou 2015 em 10,67% — precisa ser aliviada, mas nada garante que a situação vai melhorar nos próximos meses. “O custo de vida cresce à medida que aumentam os preços dos produtos que compõem a cesta básica e dos bens e serviços utilizados pelas famílias, como moradia, vestuário, transporte, saúde e entretenimento. Se a renda real não aumentar Para economizar o dinheiro da academia, a fisioterapeuta na mesma magnitude do baixou um aplicativo e corre agora por conta própria. aumento dos preços, a 24 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Foto: Wilson Filho

Cortando gastos O economista da UFPI Marco Aurélio Medeiros dá 8 dicas para reforçar a economia em casa:

1. Adquirir produtos em sites de compras

coletivas — os descontos chegam a 90%; 2. Pegar carona para ir ao trabalho ou à faculdade; 3. Regular a temperatura do ar-condicionado em torno de 23°C, o que reduz o consumo de energia; 4. Comprar produtos da cesta básica no atacado — reunir amigos e parentes para compras em grandes quantidades traz descontos significativos; 5. No supermercado, procurar produtos substitutos com preços mais baixos; 6. Comprar medicamentos genéricos; 7. Usar milhas para viajar e não gastar tanto com as passagens; 8. Levar lanche de casa, assim você gasta menos do que se fosse comprar fora.

qualidade de vida das pessoas tende a piorar”, observa o economista da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Marco Aurélio Medeiros. “Por isso, é fundamental que as pessoas continuem poupando e usando o dinheiro com cautela. Nada de exageros”, alerta Medeiros.


REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 25


Economia & Negócios POR JORDANA CURY

Homenagem à Jelta Veículos A Secretaria da Fazenda do Piauí (Sefaz) homenageou, no dia 20 de maio, as 100 empresas que mais contribuem com o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no Estado. A Jelta Veículos — concessionária Fiat, líder no mercado piauiense há 19 anos — foi a primeira colocada no setor automotivo. “Esse é o reconhecimento pelo nosso esforço do dia a dia”, declarou o diretor-presidente do Grupo Jelta, José Sobrinho. A concessionária ficou em 22º lugar dentre todos os contribuintes piauienses.

Jesus Elias Tajra e José Sobrinho receberam a homenagem das mãos do governador Wellington Dias (PT).

Desconto nas dívidas Bom para o turismo A Azul Linhas Aéreas retomará os voos para Parnaíba, litoral do Piauí, saindo de Recife (PE), no próximo dia 2 de julho. O trecho já está sendo comercializado no valor de R$ 99 e também pode ser negociado através do sistema de pontos da empresa aérea. A aeronave que fará as viagens tem 118 assentos. É possível fazer conexões partindo de São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e outras das 40 cidades onde a Azul opera, passando pela capital pernambucana.

O Programa de Recuperação de Crédito Tributário foi sancionado pelo Governo do Estado e já está em vigor desde o último dia 19. Com isso, os contribuintes que têm débitos com ICMS, IPVA e ITCMD referentes a 2015 devem procurar a Secretaria da Fazenda para renegociar a dívida. O prazo vai até 30 de junho e também inclui o refinanciamento das taxas relativas ao registro e licenciamento de veículos no Detran. As negociações incluem isenção de até 100% de juros e multas no caso de pagamento em parcela única.

Luzeiros em Teresina A rede de hotéis Luzeiros instalará uma sede em Teresina, cujo investimento previsto é de R$ 50 milhões. A expectativa é que a construção do novo hotel gere 95 empregos diretos na capital. No Nordeste, a rede Luzeiros já tem unidades em Fortaleza (CE) e São Luís (MA) e está concluindo uma em Recife (PE). 26 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE


Cortes e mais cortes Após revogar, alegando cautela, a ampliação do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida”, o Governo Federal anunciou também um “pente fino” no maior programa social do país — o Bolsa Família. A ideia é cortar até 30% dos beneficiários, que não se enquadrariam mais nos pré-requisitos exigidos. O Pronatec, o Prouni e o Fies — de incentivo à educação e profissionalização — também não devem abrir novas vagas em 2016. E o “Mais Médicos” sofrerá redução no número de estrangeiros contratados.

Malha fina O contribuinte que entregou o Imposto de Renda dentro do prazo (até 29 de abril) já pode saber se caiu na malha fina. Mais de 716 mil brasileiros tiveram a declaração retida, segundo o Fisco. Para saber se a declaração foi aceita sem problemas, o contribuinte deve acessar o extrato do Imposto de Renda, disponível no site da Receita Federal, no chamado e-CAC (Centro Virtual de Atendimento). Para visualizar o extrato é necessário usar o código de acesso, gerado na página da RF, ou o certificado digital.

Má notícia O Piauí é o segundo estado brasileiro com menor percentual (53,3%) de empregados com carteira assinada pelo setor privado, perdendo apenas para o Maranhão (52,5%). A média no Brasil foi de 78,1% e a do Nordeste, 63,1%. Santa Catarina (89,1%), Rio de Janeiro (86,3%) e São Paulo (85,5%) apresentaram os maiores percentuais. Os dados foram divulgados pelo IBGE e revelam também o rendimento médio habitual do empregado piauiense que tem a carteira assinada: R$ 1.348.

Pacote de metas Menos de 15 dias após assumir o cargo, o presidente interino Michel Temer (PMDB) apresentou, pessoalmente, ao Congresso Nacional um pacote de medidas fiscais para tentar conter o crescimento dos gastos do governo. Ele não falou em aumento dos impostos, mas a possibilidade não está descartada. Dentre os pontos apresentados, destacam-se:

1

2

Devolução, pelo BNDES, de pelo menos R$ 100 bilhões em recursos repassados pelo Tesouro Nacional nos últimos anos;

Adoção de um teto (limite) para os gastos públicos, inclusive na Saúde e na Educação;

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Suspensão de novos subsídios nos ministérios; Extinção do fundo soberano e, com isso, retorno de R$ 2 bilhões aos cofres públicos; Mudanças nas regras de exploração do petróleo no pré-sal, que retira da Petrobras a exclusividade das operações. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 27


Economia

Como economizar na conta de luz

Com a elevação das temperaturas no Piauí, o consumo de energia elétrica também aumentou nas residências e, para a conta não pesar no fim do mês, o jeito é economizar. POR MARTA ALENCAR

Com a redução das chuvas no mês de maio, as temperaturas no Piauí estão mais elevadas. E com a sensa28 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

ção térmica acima da média neste período, o consumo de energia nas residências, apartamentos e empresas também subiu, fazendo com que a conta no final do mês pese no bolso do consumidor. Mas é possível fazer economia sem abrir mão

do conforto proporcionado pelos aparelhos eletrônicos domésticos, desde que eles sejam usados racionalmente. O engenheiro eletricista Marcos Lira orienta os consumidores a usar


Foto: Wilson Filho

a energia de forma mais econômica, para que não precisem gastar tanto no fim do mês. “Do ponto de vista das boas práticas que ajudam a reduzir o consumo, os piauienses têm duas possibilidades nesse período. A primeira é para quem vai comprar um imóvel novo e pode instalar um sistema de automação, que corresponde à aplicação de controle para todas as funções encontradas no ambiente. Esse tipo de sistema ajuda o proprietário a controlar a iluminação de todos cômodos e, assim, diminuir o dispêndio. A segunda seria adotar práticas mais simples, como pintar as paredes e o teto da residência com cores mais claras”, aconselha. Ainda segundo o engenheiro, a maioria dos consumidores desperdiça energia ao deixar os equipamentos em stand by (modo de espera). “Por exemplo, quando você desliga a televisão e ainda fica aquela luzinha vermelha, significa que o aparelho está consumindo energia. Outra coisa para a qual as pessoas não atentam muito é a questão do direcionamento correto da iluminação. O ideal é que elas usem as lâmpadas de LED. Elas são mais caras, mas, em compensação, são mais eficientes do que as fluorescentes e sua vida útil é 3 a 4% maior que as convencionais”, recomenda.

Elétrica (Procel). No apartamento dele há uma geladeira com 36% de eficiência energética e em todos os cômodos foram instaladas lâmpadas de LED.

Preocupado com o meio ambiente e com o reajuste nas tarifas, o administrador Landerson Carvalho afirma que sempre pesquisa a eficiência energética dos aparelhos e que tem preferência por eletrônicos com o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia

“Vale muito a pena fazer tudo isso. Mesmo com as lâmpadas de LED sendo mais caras que as convencionais, notamos que conseguimos diminuir os gastos. Além disso, evitamos manter os aparelhos sem uso conectados às tomadas e ligar as luzes com frequência. E agora iremos

O engenheiro eletricista Marcos Lira fornece dicas para um consumo de energia mais consciente.

comprar uma máquina de lavar que é instalada na parede e tem baixo consumo de energia”, conta o administrador. Landerson esclarece que, apesar desses aparelhos terem o custo mais elevado, ele paga em média R$ 150 por mês com a conta de energia. A atitude de Landerson é elogiada pelo engenheiro eletricista, que orienta a compra e o uso de aparelhos com o selo da Procel. “O selo Procel é um indicador de REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 29


Foto: Wilson Filho

Economia

Economize energia

Landerson Carvalho só usa aparelhos com o selo da Procel.

eficiência energética. Ele tem categorias do A ao E, sendo que o A representa os aparelhos mais eficientes. A questão é que, às vezes, as pessoas preferem adquirir os aparelhos mais baratos, e a maioria tem selo C. Então, muitas vezes elas pagam por um equipamento mais barato, mas que consome mais energia. Sempre que possível, procure os aparelhos com o selo A”, destacou Lira. O engenheiro advertiu ainda quanto ao uso de aparelhos que produzem calor ou frio. Segundo ele, esses tipos de aparelho são 30 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

os grandes vilões do consumo de energia elétrica. “Os aparelhos de ar-condicionado, de micro-ondas, máquina de lavar, secador e chuveiro elétrico desperdiçam bastante energia. O ideal, no caso do ar-condicionado, é programar o seu desligamento. Mas vale ressaltar que existe uma linha de arcondicionado split no mercado chamada Inverter, que é capaz de atingir a temperatura desejada rapidamente e mantê-la constante. A economia de energia dos aparelhos Inverter pode chegar a 60%, dependendo da marca e do modelo”, completou.

1 – Instale lâmpadas de LED: são mais eficientes e têm vida útil maior que as lâmpadas convencionais; 2 – Desconecte os aparelhos sem uso da tomada; 3 – Deixe o chuveiro elétrico ligado somente o tempo necessário para o banho; 4 – Mantenha o ar-condicionado desligado quando você estiver fora do ambiente por muito tempo; 5 – Apague as lâmpadas dos ambientes desocupados; 6 – Degele e limpe a geladeira com frequência; 7 – Guarde ou retire alimentos e bebidas de uma só vez da geladeira. Assim, você não ficará abrindo a porta do aparelho sem necessidade; 8 – Procure ligar a máquina de lavar só quando ela estiver com a capacidade máxima de roupas indicada pelo fabricante. Isso vai ajudar você a economizar energia e água; 9 – Acumule o maior número de peças de roupa para ligar o ferro o mínimo de vezes. O aquecimento de ferro consome muita energia; 10 – Na hora de comprar um equipamento, verifique se ele possui o selo de eficiência INMETRO/PROCEL. É este selo que certifica que o aparelho consome menos energia.


É a lei

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO PIAUÍ

OAB-PI lança

Portal da Transparência Os advogados piauienses poderão, a partir de agora, acompanhar todas as informações financeiras e contábeis da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Piauí. Está disponível no site da Instituição o Portal da Transparência, que traz dados acerca das receitas e despesas da entidade de maneira clara e objetiva. O serviço pode ser acessado pelo: oabpi.org.br/oabpiaui/ index/transparencia. O tesoureiro da OAB-PI, Lucimar Santos, explica que antes eram disponibilizados apenas os balancetes contábeis da instituição, com informações complexas que exigiam algum tipo de conhecimento na área. “Com o Portal da Transparência, os profissionais piauienses e a sociedade em geral poderão ter acesso a informações como saldo bancário, arrecadações e despesas. Buscamos disponibilizar os dados necessários para que o advogado possa acompanhar a gestão financeira da entidade”, explicou.

ceitas, despesas, saldos bancários, repasses para as Subseções, relação de servidores, além dos balancetes contábeis. Inicialmente, serão divulgados os dados referentes ao período de 1º de janeiro a 31 de março deste ano. A Comissão de Controle da Atividade Pública da OAB-PI solicitou à Controladoria Geral do Estado (CGE) a disponibilização do sistema do Portal da Transparência utilizado pelo Estado do Piauí, considerado um dos mais avançados do país, por seguir os critérios legais e de acessibilidade. O controlador geral, Nuno Bernar-

des, se colocou à disposição para firmar o termo de parceria entre as instituições, ainda no primeiro semestre deste ano. Segundo o presidente da Comissão, Luiz Arthur Serra Lula, com a parceria, a OAB-PI disponibilizará um Portal da Transparência eficaz e completo, e servirá de exemplo também para diversos municípios do Estado que descumprem a Lei da Transparência. “Os técnicos da OAB-PI e da CGE trabalharão em conjunto para disponibilizar um modelo pioneiro entre as OABs do país, a fim de chegar a uma prestação de contas ideal”, frisou.

O Portal será atualizado trimestralmente pelo Setor de Contabilidade da OAB-PI e incluirá re-

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Ponto de vista!

pontodevista@cidadeverde.com

Fotos: Arquivo RCV

POR ELIVALDO BARBOSA

Eles disputarão o poder na capital Só as convenções de julho poderão mudar o quadro pré-eleitoral que se desenha em Teresina. Mesmo com quase uma dezena de pré-candidatos a prefeito, só três projetos demonstram viabilidade política: o que busca a reeleição do atual gestor, Firmino Filho (PSDB), e dois oposicionistas, com Dr. Pessoa (PSD) e Amadeu Campos (PTB). Salvo alteração motivadas por alianças, esse será o perfil da campanha eleitoral na principal cidade do Estado.

Desistência O deputado estadual Evaldo Gomes (PTC) desistiu de concorrer na eleição para prefeito em Teresina. Mas o partido dirigido pelo parlamentar promete ser importante na disputa. Hoje, Evaldo Gomes está mais perto do jornalista Amadeu Campos do que do pessedista Dr. Pessoa.

Candidatura própria O PV bateu o martelo: pra evitar racha no partido, o melhor é ter candidato próprio em Teresina. O engenheiro e sindicalista Florentino Filho é quase unanimidade no PV teresinense para ser o postulante ao cargo de prefeito.

Firme na aliança com o prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), o PMDB, agora no Palácio do Planalto e em avançado entendimento para uma composição política com o governador Wellington Dias, deixa de lado a marca da divisão.

Formação política

Engajado O senador Elmano Férrer voltou a descartar uma virada de mesa no PTB. “Não serei candidato a prefeito em hipótese nenhuma; temos um candidato que já revelou que é viável e o nosso compromisso é fortalecer o palanque do Amadeu Campos”, enfatiza Elmano, ao considerar tentativa de sabotagem as notícias sobre possível mudança de candidato no partido. Foto: Raoni Barbosa

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Unido e governista

O PSDB, através da Fundação Teotônio Vilela, inicia em junho uma maratona de eventos em todo o país sobre legislação eleitoral. O esforço do braço intelectual dos tucanos é preparar os pré-candidatos da sigla para as regras da campanha eleitoral. Qualquer deslize, mesmo involuntário, pode custar diplomas e mandatos. O seminário em Teresina está previsto para o dia 20 de junho.


Dívida Segundo o governador Wellington Dias, a dívida do Piauí representa metade da receita corrente líquida. É uma relação favorável, considerando a realidade de outros estados nordestinos, que chegam a comprometer o dobro da receita com dívidas. Essa realidade foi decisiva na aprovação da recente operação de crédito com o Banco Mundial, que resultou na liberação de R$ 1,2 bilhão para o governo do Piauí.

Picos A eleição para prefeito no município divide aliados da base governista. De um lado, o prefeito Walmir Lima (PT) trabalha na consolidação de palanque com PTB, PMDB, PC do B e outras legendas ligadas ao governo do Estado. Na oposição, a principal referência é o ex-prefeito Gil Paraibano (PP), que atraiu até um setor do PMDB.

Os 12 mandamentos do PDT Com carta branca para decidir os rumos do PDT na eleição de Teresina, o presidente do diretório estadual, Flávio Nogueira, iniciou série de sabatinas com pré-candidatos, com 12 questionamentos. O número é o registro do PDT na Justiça Eleitoral. Flávio Nogueira prefere não revelar os pontos abordados nos encontros com os précandidatos, mas há propostas administrativas e políticas. O partido anuncia no final de junho quem apoiará na eleição de prefeito na capital. Foto: Raoni Barbosa

Oeiras Na primeira capital, o prefeito Lukano Sá (PP) faz consultas jurídicas, mas dificilmente concorrerá à reeleição. Uma das opções do grupo conhecido como Boca Preta é o empresário José Raimundo, sobrinho do ex-deputado B. Sá. Se for o escolhido, José Raimundo promete reunificar os Bocas Pretas da Primeira Capital, com divisões desde a década de 1990.

Aconteceu

Tupamaros O outro lado em Oeiras é liderado pela família Freitas Tapety, o núcleo conhecido no município como Tupamaros, histórico adversário dos Bocas Pretas. Mesmo na oposição e fora do governo estadual, o grupo promete equilíbrio na disputa e aposta na divisão das forças que sustentam a atual gestão.

Transmissão de cargo

Era início de 1995 no Palácio do Karnak. O governador da época, Guilherme Melo (PPB), transmite o cargo para o sucessor, Mão Santa, que conduz o PMDB ao poder após quatro anos na oposição. O registro é do fotógrafo Francisco Amaral, já falecido, que durante quase 30 anos acompanhou o dia a dia dos governantes piauienses.

Foto: Francisco Amaral

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Gente Especial

As sutilezas do autismo

O diagnóstico inicial é um choque para muitos pais. Mas as crianças identificadas como portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem alcançar um bom nível de desenvolvimento, desde que iniciem o tratamento precocemente.

POR ARLINDA MONTEIRO FOTOS WILSON FILHO

A ex-cabeleireira Maria Elizabeth de Sousa é mãe de Adriano Gabriel, de sete anos, diagnosticado aos cinco como portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela achava que eram normais determinados comportamentos do garoto, mesmo que amigos e familiares a houvessem alertado por diversas vezes. “Quando a neuropediatra disse que meu filho era autista, fui para casa achando que era alguma doença tipo gripe. Depois que minha irmã me contou o que isso significava, entendi que tudo ia ser diferente a partir dali.”

Maria Elizabeth, mãe do Adriano Gabriel: “Dá para ser feliz!” 36 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

De causa ainda desconhecida, e sem cura, o autismo está presente em cerca de 1% da população mundial, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), prevalecendo entre pessoas do sexo masculino, na proporção de 4x1. Os sintomas aparecem nos primeiros anos de vida, variando conforme a gravidade. Entre os principais, estão o atraso

no desenvolvimento da linguagem, padrões incomuns de brincadeiras e de comunicação, tendência à repetição, dificuldade em manter contato visual e prejuízo na interação social.


“Os estudos realizados no intuito de identificar a causa do autismo evidenciam que esta condição é decorrente da ação de múltiplos genes, mas ainda desconhecidos. Por

isso, o diagnóstico é essencialmente clínico, feito a partir da observação do comportamento e do desenvolvimento da criança”, explica a neuropediatra Náira Julieta Fonseca. A médica conta ainda que o tratamento é feito de forma contínua e com uma equipe multidisciplinar composta por psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo, fisioterapeuta, entre outros. “Mesmo quando adultos e com certa independência, eles vão precisar de supervisão e acompanhamento. Em relação aos medicamentos, eles são receitados para tratar os sintomas, como os casos de agressividade”, diz.

ram a contar com a Associação de Amigos dos Autistas (AMA), uma entidade filantrópica sem fins lucrativos que oferece atividades na área de educação, saúde e assistência social. Atualmente são atendidas 153 pessoas, entre crianças, jovens e adultos, e outras 60 esperam na fila.

Amigos dos Autistas

“Nós contamos com um grupo de profissionais cedidos pelas Secretarias Municipais de Educação; Saúde; do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social, além de voluntários e estagiários, mas ainda não é suficiente para atender a demanda. Recebemos doações de alimentos do Mesa Brasil a cada quinze dias e algumas merendas da Semec, mas não temos uma renda mensal fixa, o que nos obriga a realizar bazares, cursos e jornadas para arrecadar dinheiro”, conta a coordenadora pedagógica, Fátima Soares.

Aqui em Teresina, desde 2000, familiares e pacientes passa-

A AMA nasceu da necessidade dos pais de encontrar apoio e suporte técnico para a educação e trata-

ESTEREOTIPIA É O TERMO USADO PARA DEFINIR OS MOVIMENTOS REPETITIVOS, COMO BALANÇAR O CORPO E BATER AS MÃOS, POR EXEMPLO, MUITO COMUNS ENTRE OS AUTISTAS. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 37


Gente Especial

mento de seus filhos autistas, além de ajudar a superar a desinformação e o preconceito que possam existir nas famílias. “Cheguei aqui desnorteada, sem saber o que fazer com meu filho. Mas fui bem acolhida e, hoje, dois anos depois, sinto que aqui é minha segunda casa”, diz Idália Maria, mãe do Natanael, de cinco anos. As atividades são divididas em três núcleos: educacional (atividades em prol do desenvolvimento cognitivo e pedagógico); de saúde (intervenções psicossociais) e de serviço social (ações de apoio às famílias).

A psicóloga Érica Castelo Branco conta que, ao chegar à AMA, o primeiro passo é a avaliação do estágio de déficit da criança e das suas habilidades e potencialidades. O programa é feito de forma individualizada e requer o apoio da família. “Existem diferentes graus, mas todos relacionados à tríade do autismo, que afeta a questão social, linguagem e comunicação, pensamento e comportamento. Nós trabalhamos a reabilitação para que eles consigam chegar o mais próximo possível do que seria uma vida com qualidade.”

SINTOMAS DA CONDUTA DE UM AUTISTA (variáveis conforme a gravidade)

- Não mantém contato visual - Resiste a métodos normais de ensino - Ausência de medo de perigos reais - Resiste a mudanças de rotina - Hiper ou hipossensibilidade ao toque - Apego inadequado a objetos - Dificuldade de interação social - Risos e gargalhadas inadequadas - Aparente insensibilidade à dor - Repete palavras sem sentido aparente - Forma de brincar incomum e intermitente - Gira objetos - Tem dificuldade em se comunicar por gestos - Crises de choro e extrema angústia - Hiperatividade física marcante - Conduta distante e retraída - Age como se fosse surdo - Habilidades motoras desniveladas Fonte: AMA

Idália Maria e Natanael, de cinco anos. 38 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE


A FAMÍLIA RECEBEU O DIAGNÓSTICO DE UMA FORMA TRANQUILA, POIS A RIANA ERA UMA CRIANÇA DESEJADA. A PARTIR DO DIAGNÓSTICO, BUSCAMOS MANEIRAS DE DESENVOLVÊ-LA. TANTO QUE VENHO DE SANTA CRUZ PARA TERESINA TODA SEMANA. Ana Cleide

Para a educadora física Ana Cleide Moura, de Santa Cruz dos Milagres (distante 125 km da capital), os três anos que sua filha Riana Cibele está na AMA foram fundamentais para seu desenvolvimento. Aos sete anos, a menina já consegue ter certa independência, ficando até na com-

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panhia de outros parentes próximos. “Depois de tanto tempo, estou voltando a ter vida social e posso pensar até em trabalhar”, diz a mãe. As atividades oferecidas pela AMA são gratuitas e beneficiam pessoas da capital e de municípios

vizinhos. Toda ajuda e doação é bem vinda para a instituição, que funciona na Rua Heitor Castelo Branco, 1113 – Ilhotas. Telefone para contato: 3216-3385.

DADOS DO AUTISMO Prevalência: 1% da população;

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2 milhões de casos no Brasil e 70 milhões no mundo;

Gênero: 4 homens para cada mulher;

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Sexo feminino mais propenso a ter déficit de inteligência;

Início dos sintomas: por volta do segundo ano de vida (12 - 24meses), variando conforme a gravidade.

A neuropediatra Náira Fonseca explica que o diagnóstico é feito a partir da observação do comportamento e desenvolvimento da criança. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 39


Foto: Raoni Barbosa

Geral

Geração inovadora Conectados à tecnologia e ávidos por cargos de liderança, os profissionais da Geração Y oxigenam as organizações e impõem novas formas de trabalho. POR MARTA ALENCAR

A década de 80 foi marcada por várias revoluções históricas, políticas, sociais e tecnológicas. A última foi a que consagrou uma geração que até hoje repercute e agita o mundo: a geração “Y”. Dentre as inovações que essa geração acompanhou, estão o lançamento do computador doméstico e da impressora a laser; e o surgimento das fitas cassete e do walkman. Foram acontecimentos 40 | 6 DE MARÇO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

importantes e que impactaram na relação com as gerações mais tradicionais e conservadoras, principalmente no mercado de trabalho. No Piauí, os profissionais dessa era assumem cada vez mais cargos de liderança e levam mais inovação e mudanças às organizações. Com estilo despojado, o publicitário Renato Dias, 23 anos, é movido a novidades e inovações tecnológicas. “Passo quase 24 horas conectado, principalmente porque a ati-

vidade que desenvolvo está diretamente ligada à tecnologia. Não sou um refém dela, mas ela é uma aliada importantíssima em tudo que faço”, disse. Ele, que já trabalhou em várias empresas do segmento de comunicação, atualmente trabalha como diretor de arte. “Acredito que a realização depende muito da visão de cada profissional e de como ele consegue planejar suas ações para o futuro. E, hoje, consigo realizar alguns sonhos por causa do trabalho. Isso me deixa muito


Geração Y no Brasil

satisfeito e mais motivado a continuar na área”, conta. Mais reservado, Estevão Negreiros, 24, é advogado com especialização em Direito Empresarial. Para ele, as inovações tecnológicas aprimoram seu trabalho e fornecem excelentes resultados. “A tecnologia é um pilar de extrema importância para a efetivação e a celeridade em todos os processos dentro da empresa. Com ela, é possível ganharmos tempo. E, como já diziam nossos antepassados: ‘tempo é ouro’.” Estevão acrescenta que os profissionais da Geração Y, assim como ele, estão sempre abertos a mudanças. “A facilidade de fazer mudanças radicais e de se adequar a elas são peculiares nessa geração”, pontua.

“multitarefa”, pois fazem diversas coisas ao mesmo tempo. Além disso, eles valorizam o nível de atualização das informações, principalmente aquelas focadas na área tecnológica. Mas existem duas características predominantes nos Y: a insatisfação e o anseio por ascender profissionalmente. De acordo com Renata Lourdes, eles buscam desempenhar as funções que os satisfazem, por isso sempre estão em busca de novas oportunidades

no mercado de trabalho. “Quando a empresa não contenta as expectativas do profissional, ele vai em busca de novos desafios”, disse. A coordenadora de Recursos Humanos Djane Maria de Lima, 29 anos, é um exemplo disso. Ela trabalhou em várias organizações, mas os cargos que desempenhava não supriam suas expectativas. Foi então que decidiu procurar novas oportunidades. Em menos de um

Foto: Thiago Amaral

A partir dos exemplos de Renato e Estevão, a especialista em Recursos Humanos e coach Renata Lourdes explica que a Geração Y tem muita afinidade com a tecnologia. “São profissionais que buscam a satisfação naquilo que se propõem a fazer. Nas gerações anteriores, a estabilidade era um ponto alto no exercício profissional, enquanto na Geração Y é notável o resultado agregado a esse nível de inspiração, de novidade e desafios do dia a dia, tanto em competências técnicas como no desenvolvimento das competências comportamentais”, caracterizou.

A geração Y se constitui por jovens que nasceram imersos num ambiente digital. No Brasil, estão representados por aqueles que nasceram durante os anos 80 e 90, em frente ao videogame, e conviveram com a internet, o computador doméstico, o celular e um vasto conjunto de aparatos tecnológicos. No país, a geração é representada por mais de 15 milhões de pessoas, segundo o Ibope Media.

Insatisfeitos e criativos Os profissionais da Geração Y também são conhecidos por serem

Renata Lourdes: “A geração Y tem muita afinidade com a tecnologia”.

REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 41


ano, Djane ascendeu de recepcionista para coordenadora na nova empresa. Segundo ela, a promoção foi-lhe dada devido ao empenho, à dedicação e ao compromisso com que exercia as atividades. “Não tinha muito experiência, mas fui procurar ter conhecimentos, falar com profissionais da área, comprar livros para aprender sobre todas as leis trabalhistas, entre outras coisas, pois esta é uma área que amo e sempre procuro fazer o melhor”, confessa. Outra questão bastante citada dentro das organizações é a relação dos Y com as outras gerações. Marcelo Portela, de 29 anos, possui sua própria empresa e lida com essa situação diariamente. Tendo colaboradores da Geração X (nascidos entre as décadas de 60 e 80) na empresa, Marcelo afirma que ouve os funcionários mais experientes e troca ideias com eles. “Tento estabelecer uma relação de respeito. Sempre que tenho a oportunidade, converso com eles, mas não só de trabalho. Também tento conversar sobre assuntos relacionados à vida pessoal”, disse. Para a coach Renata Lourdes, o tempo tem que ser um ponto de convergência na busca dos melhores talentos dentro das organizações e não um tema de conflito entre as gerações. “O nosso alerta é para que líderes e gestores possam enxergar esse nível de equilíbrio e de alinhamento entre as gerações, porque os conflitos fazem parte da condição humana. Então é importante que profissionais da Ge42 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Foto: Thiago Amaral

Geral

Djane Maria de Lima assumiu o cargo de coordenadora em menos de um ano na nova empresa.

ração Y saibam conviver com os mais experientes, trocando ideias e informações. Até porque isso irá proporcionar melhores resultados tanto para eles como para as empresas”, concluiu. Esta é também a opinião da diretora administrativa do Hospital de Olhos Francisco Vilar, Raquel Vilar, que aposta na contratação

de empregados da geração Y por considerar que eles são mais ágeis e têm espírito de liderança. “Aqui temos vários exemplos. Ainda durante o estágio, a gente já consegue vislumbrar naquele colaborador da geração Y um futuro líder. Além disso, eles têm a facilidade de lidar com a tecnologia e de utilizá-la a favor de resultados para o Hospital”, reconhece.

Profissões dos Y

Segundo a especialista em Recursos Humanos Renata Lourdes, as cinco profissões e áreas que mais combinam com os Y são:

1

Área de Atendimento e Relacionamento com o Cliente

2

Área Comercial

3

Analistas de sistemas

4

Fisioterapeuta

5

Gestor de Mídias Sociais


47

Foto: CBF/Divulgação

45

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Terra do mel e de craques

Rômulo é o principal expoente de Picos, a cidade que mais revela jogadores de futebol no Piauí. POR FÁBIO LIMA

O mel produzido em Picos deve ter algo mágico para jogadores de futebol. Não pode ser coincidência que os melhores nomes já revelados no Piauí para o esporte tenham surgido justamente na cidade, distante 303 quilômetros de Teresina. Foi na “Cidade Modelo”, como também é conhecida, que começou a história da quarta medalha olímpica piauiense: a prata de Rômulo com a seleção masculina. Rômulo é hoje o nome de maior sucesso entre todos os picoenses que brilham no futebol. O maior expoente da cidade, até seu surgimento, era o atacante Leonardo, primeiro piauiense convocado para a seleção brasileira, nos anos 1990, ex-jogador de Vasco

e Palmeiras e ídolo do Sport Recife. Quando Leonardo fazia sua fama, Rômulo era garoto e ajudava o avô em um comércio na cidade. Começou a jogar aos 11 anos, no time amador Palmeirinha. Após testes em 2004, acabou indo embora para o Porto, de Caruaru (PE), clube que depois o revelou. Em 2009, o Vasco contratou o jogador. No ano seguinte, o técnico Paulo César Gusmão levou o volante para o time profissional. Sua carreira deslanchou em 2011. Rômulo conquistou a Copa do Brasil e foi vice-campeão brasileiro. Em setembro do mesmo ano, o técnico Mano Menezes convocou o piauiense para defender a seleção brasileira pela primeira vez, no Super Clássico das Américas, contra a Argentina, seu primeiro título pelo Brasil.

Mano Menezes buscava nomes para a equipe olímpica. Aos 21 anos, o piauiense estava abaixo da idade limite do torneio, que é de 23 anos. O volante voltou a ser convocado para amistosos com a Dinamarca, Estados Unidos, México e Argentina. Foi titular em todas as partidas, disputadas entre maio e junho de 2012. Na última, justo no clássico, Rômulo se posicionou bem na cobrança de falta de Neymar e ficou sozinho para marcar seu primeiro gol com a camisa amarela. A comemoração só não foi maior porque o Brasil viria a perder a partida por 4 a 3, com três gols do argentino Lionel Messi. Os olhos do futebol europeu cresceram e o Vasco não conseguiu segurar Rômulo, que virou Ромуло, seu nome em russo. A apresentação ao Spartak REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 ESPECIAL OLIMPÍADAS | 43 | 43


Especial Olimpíadas

Campeão de tudo no futebol, o Brasil jamais conquistou o ouro olímpico. Depois de duas tentativas frustradas em 1984 e 1988, a seleção voltava a decidir o torneio. A geração de Neymar, Alexandre Pato e Paulo Henrique Ganso encontrou pela frente Peralta, que marcou dois gols para o México. Derrota por 2 a 1, e a conquista da qual muitos deveriam se orgulhar virou motivo de decepção. Hoje, uma foto de Rômulo em lance da partida

decisiva ilustra a capa do livro de regras do torneio olímpico de 2016. O jogador ainda disputou três amistosos pela seleção principal, entre agosto e setembro de 2012: Suécia, África do Sul e China. De volta à Rússia, teve os ligamentos do joelho direito rompidos em jogo pelo Spartak. Em maio de 2013, quando se preparava para voltar a jogar, o piauiense sentiu dores e descobriu que precisava de uma nova cirurgia. Recuperado após um ano, não conseguiu vaga para disputar a Copa do Mundo no Brasil. Menos mal: ficou de fora do 7 a 1. Mas o desejo de defender a seleção brasileira permaneceu no volante picoense. E depois da espera, uma chance surgiu. Fernandinho, do Manchester City, se lesionou e abriu vaga para os amistosos contra Argentina e Japão, em outubro de 2014. O técnico dessa vez era

Dunga. O piauiense ficou no banco de reservas. Sua última convocação foi para os amistosos contra Turquia e Áustria, no mês seguinte. Faltando cinco dias para a primeira partida, o volante foi cortado por conta de uma nova lesão, dessa vez menos grave, mas suficiente para frustrar o desejo de recuperar seu lugar na seleção. Pai de um casal de crianças, Rômulo continua no Spartak Moscou. Hoje com 25 anos e sem ser lembrado nas últimas listas de Dunga, o piauiense deve acompanhar os Jogos de 2016 apenas como torcedor. Mas sua carreira certamente ainda reserva muitas vitórias pela frente, nos clubes e na seleção principal. E outros destaques de Picos, como os laterais Renê, do Sport, e Roberto Heuchayer, do Santa Cruz (PE), podem comprovar o poder do mel da cidade, dourado como a próxima medalha a ser conquistada por mais um jogador picoense. Foto: Ricardo Stuckert / CBF

Moscou ocorreu dias antes da convocação para os Jogos Olímpicos de 2012. Em Londres, a seleção tratou de tentar confirmar seu favoritismo. O time de Mano Menezes venceu todos os jogos até a final: 3 a 2 no Egito, 3 a 1 na Bielorrússia, 3 a 0 na Nova Zelândia, 3 a 2 contra Honduras e 3 a 0 na Coreia do Sul, na semifinal. Neste jogo, Rômulo abriu o placar e marcou seu segundo gol pela seleção.

FICHA TÉCNICA RÔMULO BORGES MONTEIRO Nascimento: 19/09/1990 - 25 anos Cidade: Teresina (PI) Esporte: Futebol (volante) Olimpíadas Londres 2012 – Prata Carreira Copa do Brasil – 2011 (Vasco) Super clássico das Américas – 2011 e 2014 (seleção brasileira) Clubes Porto (PE) – 2004 a 2009 Vasco (RJ) – 2009 a 2010 Spartak Moscou (Rússia) – 2012 até agora 44 | ESPECIAL OLIMPÍADAS

Na semifinal das Olimpídas de Londres, Rômulo comemora com Neymar seu segundo gol com a camisa da seleção.


Los Angeles 1932: americanos se redimem de Saint Louis

Ao contrário de Saint Louis, desta vez os norte-americanos gastaram muito dinheiro e fizeram uma grande Olimpíada. POR SEVERINO FILHO

Quando o Comitê Olímpico Internacional resolveu que a sede dos X Jogos Olímpicos seria Los Angeles, o governo norte-americano apostou todas as fichas na possibilidade de promover os jogos mais organizados até então. Abriu os cofres e o resultado foi um grande sucesso. Em todas as pistas, campos e piscinas, a estrutura montada em Los Angeles nunca fora vista antes. Nas provas, o reflexo veio com a quebra de vários recordes nas mais diversas modalidades. Neste panorama, uma atleta norte-americana chamou atenção: Mildred “Babe” Didrikson. Com apenas 21 anos de idade, Babe Didrikson ganhou duas medalhas de ouro, com novos recordes mundiais nos 80 metros com barreiras e no arremesso de disco. E só não

ganhou o terceiro ouro porque, no salto em altura, os juízes alegaram que sua cabeça passou pelo sarrafo antes do corpo, regra da época que mais tarde foi alterada. Era o início de uma carreira vitoriosa, pois, logo depois de Los Angeles, ela se tornaria uma excelente jogadora de basquete, golfe e tênis, ganhando também vários títulos nesses esportes. Mas, além de seu desempenho, outros fatos também foram destaque nos noticiários. A foto do húngaro Imre Petnehazy tropeçando com seu cavalo, na prova de pentatlo, correu mundo. Bem como o vexame das delegações do Brasil e da Argentina. Os brasileiros, sem dinheiro, tiveram que viajar em um cargueiro, de carona, com a missão de vender pacotes de café nos portos em que o navio atracava para angariar a quantia que os manteria em Los Angeles. Comparecemos com representação no atletismo, natação, remo, tiro, saltos ornamentais e water-polo. E os argentinos? Se rebelaram contra o chefe da delegação, que foi substituído. Mas as discussões e desentendimentos prosseguiram e deram lugar a socos e pontapés, em plena Vila Olímpica. A indisciplina custou-lhes a prisão no retorno a Buenos Aires, por ordem do governo. Nem Juan Carlos Zaballa, ouro na maratona, escapou do castigo.

O húngaro e seu cavalo: tropeço e queda no pentatlo.

QUADRO DE MEDALHAS

1º 2º 3º 4º 5º 28º

Estados Unidos Itália França Suécia Japão Brasil

41 12 10 9 7 0

32 12 5 5 7 0

31 12 4 9 4 0

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Especial Olimpíadas

Berlim 1936: Owens derrota a raça ariana

Sob os olhos do ditador nazista Adolf Hitler, os negros norte-americanos superam a filosofia nazista. POR SEVERINO FILHO

Três anos antes da eclosão da II Guerra Mundial, Berlim foi palco dos XI Jogos Olímpicos da Era Moderna. Pela segunda vez, a capital da Alemanha era escolhida como cidade-sede. Desta feita, porém, o governo do Führer não mediu esforços para que o evento tivesse organização e brilho ímpares. Nas entrelinhas, todavia, não estava o amor pelo esporte, mas o desejo de provar ao mundo a superioridade da raça ariana, a ser representada pelos jovens atletas brancos alemães. Mas o primeiro fato a merecer destaque ocorreu antes mesmo das competições.

Jesse Owens larga para mais uma medalha de ouro. 46 DE 46 | 29 MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE | ESPECIAL OLIMPÍADAS

Havelange, atleta olímpico em 36.

À meia-noite de 21 de julho de 1936, uma tocha de magnésio foi acesa por um atleta grego nas ruínas do templo de Zeus, em Olímpia, dando início a um desfile que mobilizaria 3 mil atletas, num percurso de 3 mil quilômetros, com a chama olímpica passando por Grécia, Bulgária, Iugoslávia, Hungria, Áustria, Tchecoslováquia e Alemanha. Inaugurava-se uma tradição que se repete até hoje, e da qual o Piauí também será palco nos próximos dias. Na delegação do Brasil, entre os 72 atletas, um jovem de 20 anos, atleta do Fluminense, integrava a equipe de natação: João Havelange, anos mais tarde presidente da CBD (hoje CBF) e da FIFA. Assim como em 1932, não ganhamos qualquer me-

dalha. O melhor desempenho ficou com os alemães, com 89 medalhas (33 delas de ouro). Mas nem a organização modelar e a liderança no quadro de medalhas foram suficientes para deixar Hitler satisfeito. Nas provas de atletismo predominaram os negros norte-americanos, liderados por Jesse Owens, o grande nome daquela Olimpíada. No último dia de jogos, o ditador alemão depositava todas as suas fichas no compatriota Lutz Long, então o maior de todos os saltadores em distância da Europa. Mas Owens superou também Long. Restou a Hitler retirar-se do estádio, enquanto Owens recebia sua quarta medalha de ouro — a nona conquistada pelos negros norte-americanos.

QUADRO DE MEDALHAS

1º 2º 3º 4º 5º 33º

Alemanha 33 Estados Unidos 24 Hungria 10 Itália 8 Finlândia e França 7 Brasil 0

26 20 1 9 6 0

30 12 5 5 6 0


Londres 1948: a primeira Olimpíada do pós-guerra Depois dos Jogos de Berlim, duas Olimpíadas foram canceladas em face da II Grande Guerra. Em 1948, a festa do esporte retoma sua trajetória. POR SEVERINO FILHO

A Europa ainda estava em ruínas quando Londres sediou a primeira Olimpíada do pós-guerra, em 1948. Os XII Jogos Olímpicos — os primeiros depois de Berlim —, deveriam ter-se efetuado em Tóquio, mas a guerra entre o Japão e a China, em 1937, levou o COI a transferi-los para Helsinque, em 1940. Os XIII Jogos Olímpicos já estavam programados para Londres, em 1944. Com a II Guerra Mundial, ambos foram cancelados. Mas o COI manteve o mesmo procedimento de 1916, numerando aqueles que a guerra interrompeu e considerando os de 1948 como XIV Jogos Olímpicos. Como Londres não abriu mão, a Inglaterra também foi mantida como país-sede, tal qual seria em 1944. Nas competições, dois nomes brilharam intensamente. O do jovem Bob Mathias, um garoto norte-americano de apenas 17 anos, medalha de ouro no decatlo, e o da holandesa Fanny Blankers-Koen, a primeira mulher a ganhar quatro medalhas de ouro em uma Olimpíada. No seu caso, o que mais surpreendeu foi o fato de

já estar, à época, com 30 anos — figurando entre os atletas mais velhos da competição — e ainda ser casada e ter dois filhos, portanto, sem o ritmo de treino ideal. Ouro nos 200 e nos 800 metros rasos, além dos 80 metros com barreira, ela foi a última atleta da sua equipe a receber o bastão no revezamento 4x100 metros. Era a quarta colocada e chegou em primeiro, garantindo a quarta medalha de ouro. O Brasil compareceu com uma delegação de 74 atletas, distribuídos nas modalidades de atletismo, basquete,

Aos 30 anos, Fanny sagra-se a primeira mulher a conquistar quatro ouros numa Olimpíada.

boxe, esgrima, hipismo, natação, pentatlo moderno, remo, saltos ornamentais e vela. O melhor resultado foi o bronze no basquetebol masculino, conquista que representou nossa quarta medalha na história dos Jogos até aquela oportunidade.

QUADRO DE MEDALHAS

1º 2º 3º 4º 5º 34º

Estados Unidos Suécia França Hungria Itália Brasil

38 16 10 10 8 0

27 11 6 5 12 0

19 17 13 12 9 1

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Especial Olimpíadas

Helsinque 1952: é ouro, Brasil, com direito a recorde! A Locomotiva Humana, como foi batizado Emil Zatopek, foi o maior destaque dos Jogos. Mas o Brasil fez bonito com Adhemar Ferreira da Silva. POR SEVERINO FILHO

Helsinque sediou os XV Jogos Olímpicos, os primeiros com a participação da União Soviética. Este fato gerou, no período pré-jogo, uma intensa expectativa, que misturava o esporte com a política. Quem levaria a melhor, o capitalismo norte-americano ou o comunismo soviético? Em que pesem terem sido os dois primei-

No pódio, Adhemar comemora o ouro e o recorde mundial.

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Zatopek lidera os 5 mil metros.

ros no quadro geral de medalhas, os atletas que mais chamaram atenção representavam outros países. Entre eles, estava o brasileiro Adhemar Ferreira da Silva, que, em quatro tentativas no salto triplo, superou o recorde mundial e estabeleceu a marca de 16 metros e 22 centímetros. Mas foi o tcheco Emil Zatopek o atleta símbolo dos XV Jogos Olímpicos da Era Moderna. Numa façanha inédita, Zatopek teve uma tríplice vitória nas provas de fundo, ganhando a medalha de ouro nos 5.000 metros, nos 10.000 metros e na maratona. Um feito inédito, que lhe valeu o histórico apelido de Locomotiva Humana. Era a sexta medalha da família, que já tinha comemorado um ouro (10.000 metros) e uma prata (5.000 metros) do mesmo Zatopek, quatro anos antes. E agora, em Helsinque, também festejaria o ouro de Dana, esposa de Emil, campeã no arremesso de dardo, com novo recorde mundial. Além do destaque com Adhemar Ferreira da Silva, o Brasil também trouxe duas medalhas de bronze, conquistadas por Tetsuo Okamoto (natação) e José Teles da Conceição (salto em distância). No futebol, a Hungria

mostrou a encantadora seleção de Puskas. Dos norte-americanos, além da liderança no quadro de medalhas, é importante mencionar o bicampeão do decatlo, Bob Mathias, também com recorde mundial, e o salto com vara do reverendo Bob Richards. Ele foi tão alto que mereceu o seguinte comentário de um jornal francês: “Mais um pouco e o reverendo acabaria chegando ao céu!”.

QUADRO DE MEDALHAS

1º Estados Unidos 2º União Soviética 3º Hungria 4º Suécia 5º Itália 24º Brasil

40 22 16 12 8 1

19 30 10 13 9 0

17 19 16 10 4 2


Foto: Rio 2016 / Divulgação

Sob o sol do Equador Tocha olímpica chega ao Piauí em junho, em ação guardada a sete chaves. POR FÁBIO LIMA

Os Jogos Olímpicos acontecerão no Rio de Janeiro, mas o ineditismo do evento no país fez a chama olímpica abraçar o Brasil. Na saga para visitar mais de 300 municípios por terra, água e ar, o revezamento da tocha chega ao Piauí nos dias 9 e 10 de junho, em uma ação que vai envolver o norte do Estado. A caravana esportiva é maior que as anteriores. O revezamento da tocha dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, e o tour da taça da Copa do Mundo, em 2014, foram restritos a Teresina. Já a tocha dos Jogos Olímpicos cruzará mais de 300 quilômetros em solo piauiense, visitando pontos turísticos como o Delta do Parnaíba e o Parque Nacional de Sete Cidades. A organização do revezamento tem promovido surpresas e tenta fazer mistério sobre como será a passagem da tocha em cada cidade. Mas estima-se que cerca de 200 pessoas irão conduzir a chama olímpica nos

municípios piauienses: Parnaíba, Piracuruca, Piripiri, Campo Maior, Altos e Teresina. Só na capital, serão 70 condutores em um percurso de 17 quilômetros. O Palácio de Karnak, o Theatro 4 de Setembro, o Palácio da Cidade, o Parque Lagoas do Norte e a Ponte Estaiada João Isidoro França serão visitados. Cerca de 700 pessoas trabalham na operação, que irá durar 4 horas e terá ainda a participação de várias atrações artísticas. Entre os convidados ilustres do revezamento no Piauí que já tiveram

seus nomes divulgados, estão Abdias Queiroz, patriarca do judô no Piauí, o mestre de capoeira Albino de Brito Veras, o ex-jogador Simão Teles Bacelar, o Sima, maior goleador da história do futebol nordestino, o técnico de handebol Giuliano Ramos, do Caic Balduíno/GHC, e a judoca campeã olímpica Sarah Menezes. Fora do meio esportivo, algumas personalidades também serão homenageadas. É o caso do radialista Joel Silva, da cantora Patrícia Mellodi e da ativista do movimento LGBT Marinalva Santana.

Sarah Menezes, Abdias Queiroz, Giuliano Ramos (técnico do Caic Balduíno), Marinalva Santana e Joel Silva serão alguns dos condutores da tocha em Teresina. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 ESPECIAL OLIMPÍADAS | 49 | 49


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Ouro em Helsinque (1952) Ouro em Melbourne (1956)

ADHEMAR FERREIRA DA SILVA ATLETISMO - SALTO TRIPLO


ZózimoTavares

revista@cidadeverde.com

Educar é viver!

C

omo na canção popular, “assim se passaram dez anos”. Dez anos sem a presença física, entre nós, do professor Marcílio Flávio Rangel Farias. “Quem foi o professor Marcílio?”, indagam os que chegaram depois. O professor Cineas Santos, outro que se bate incansavelmente pela qualidade do ensino, lhe traçou um perfil irretocável: “Para os mercenários, perdão, empresários do ensino, não passava de um ‘louco perdulário’, capaz de queimar dinheiro investindo em ‘atividades inúteis’ como qualificar professores, equipar bibliotecas, montar laboratórios ou incluir xadrez, filosofia e latim na grade curricular do IDB (Instituto Dom Barreto). Para a maioria dos professores, mesmo os formados por ele, era um ‘patrão explorador’, sempre exigindo muito, pagando pouco e cobrando tudo. Para os publicitários, ‘um ranzinza conservador’ que não investia um centavo em publicidade. Para alguns pais de alunos, ‘o carrasco que roubava a infância’ dos alunos, sobrecarregando-os com um mundo de tarefas e atividades. Para os alunos do IDB, salvo os relapsos, era o ‘paizão exigente’ que não tinha medo de afirmar com todas as letras: ‘Educar é estabelecer limites’. Já os artistas do Piauí o consideravam ‘o parceiro de fé’ com quem podiam contar sempre.”

Marcílio era, a um só tempo, um educador radical e uma pessoa que esbanjava ternura. Dois em um com a maior naturalidade. Acreditava na educação pelo exemplo. Não seria uma ousadia afirmar que, como existe o “Método Paulo Freire” de alfabetização de adultos, há também o “Método Marcílio Rangel de Ensino”. No início dos anos 80, abraçou a missão de cuidar do Instituto Dom Barreto. A escola avançou na busca da excelência. E puxou para cima a qualidade de outras tantas. “Paz e bem” era o seu lema. E semeava paz e bondade, cuidando de crianças carentes, de velhos abandonados, de adultos analfabetos. Sofria de um monte de enfermidades. Algumas delas lhe acompanhavam desde a infância. Driblou a morte muitas vezes, porém na madrugada daquela sexta-feira, 10 de maio de 2006, dava por cumprida a sua missão na terra. Tinha 49 anos de idade quando seu coração cansado de guerra parou. O Dom Barreto perdia seu guia e a Igreja Católica, um diácono. Na missa em intenção de sua alma, o padre Tony Batista recorria à sabedoria bíblica para buscar preencher a ausência do professor Marcílio: “Deus proverá!”.

Não viveu para festejar, no final do ano, com o Piauí, a classificação do Instituto Dom Barreto como a melhor escola do Brasil, de acordo com o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). Mas se foi deixando a escola preparada, a partir da direção, para seguir firme a sua caminhada. Em homenagem póstuma que lhe prestou na Câmara Federal, o deputado piauiense Paes Landim (PTB) dizia do professor Marcílio: “Era um gênio”. Embora amasse o IDB mais que a própria vida, confessava: “O meu sonho, como educador, é que um dia não existam escolas como o Dom Barreto, ou seja, que as escolas públicas possam oferecer aos alunos um ensino de qualidade, que não haja necessidade de escolas particulares no país”. Anísio Teixeira, o grande educador brasileiro, traçou em 1935 o perfil do professor ideal: “A pessoa a quem vamos confiar as nossas crianças e a quem vamos pedir, não que as guarde somente, mas que as eduque, deve possuir um coração e uma inteligência superiormente formados, o conhecimento aperfeiçoado do seu mister e uma visão social larga e harmoniosa”. Um perfil sob medida para o professor Marcílio! REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 51


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ANSIEDADE:

o mal do século

O bombardeio de informações, a rotina frenética e a busca pelo perfeccionismo, tão comuns no cotidiano, levam as pessoas a elevados níveis de ansiedade, a ponto de prejudicar as relações interpessoais.

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O especialista acrescenta que as mulheres jovens estão expostas a mais fatores ambientais que promovem o transtorno. “Primeiro, elas têm a questão hormonal, que é muito forte. Além disso, elas sofrem com a alta pressão do mercado de trabalho, principalmente as mães que trabalham fora e têm dupla jornada”, pontua.

POR JORDANA CURY

Perder o sono na semana do casamento, comer demais no dia da prova ou sentir que o coração vai “sair pela boca” quando se leva um susto são reações normais do ser humano diante de situações de medo, dúvida ou expectativa. É o que chamamos de ansiedade. O problema é quando esse sentimento persiste por longos períodos e acaba interferindo nas atividades do dia a dia. Hoje, a rotina frenética somada às poucas horas de sono têm feito o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) tornar-se uma das doenças mais comuns, e as mulheres jovens são as principais vítimas.

Problema comum Para os artistas, por exemplo, que dependem da aceitação do público, a ansiedade é quase uma regra. A rotina de ensaios, as apresentações frequentes, as cobranças, a pressão do mercado de trabalho, as incertezas e a instabilidade da profissão têm deixado a cantora Dandinha ansiosa, a ponto de prejudicar o seu bem-estar. “Eu faço acompanhamento com uma psicóloga, porque não é fácil aguentar a pressão. Já tive contrações musculares terríveis e noites sem dormir. Tive que tomar remédio para insônia.” Na tentativa de amenizar esses efeitos, já que não pretende deixar a vida de artista, ela resolveu tirar a

Foto: Arquivo pessoal

No mundo globalizado, em que as informações se multiplicam milhares de vezes por segundo e a agilidade é palavra de ordem, as pessoas tendem a ficar mais tempo “conectadas”. Consequentemente, dorme-se menos do que o necessário, segundo o médico psiquiatra e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Leonardo Luz. Ele alerta que este é um dos principais desencadeadores da ansiedade. “Desde a Revolução Industrial, as pessoas têm dormido cada vez menos. Na última década, com a popularização da internet e das redes sociais, estamos dormindo menos ainda. O ideal é ter entre sete e oito horas de sono por noite, mas muita gente vem dormindo cerca de cinco horas. O prejuízo que isso causa é terrível”, explica.

O médico da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), Francisco Luís Oliveira, destaca que os profissionais que têm contato direto com o problema de outras pessoas, como na área da Saúde, da Educação, dos Recursos Humanos, além dos policiais e jornalistas, são os que tendem a desenvolver maior nível de ansiedade. “Mas qualquer profissional pode sofrer desse mal, porque hoje em dia as pessoas estão 24 horas plugadas, elas não se desligam do trabalho nem quando

termina o expediente. Estão o tempo inteiro checando o celular”, argumenta.

A falta de sono é um dos principais desencadeadores da ansiedade. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 55


segunda-feira só para relaxar. “É o meu domingo”, brinca. Ela também decidiu contratar um personal trainer para iniciar uma atividade física e diminuir as dores musculares provocadas pela tensão.

Foto: Thiago Amaral

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Leonardo Luz ressalta que, no mundo profissional, a busca pelo perfeccionismo e pelo “desempenho 100%” são dois dos fatores que mais geram ansiedade. “Esses padrões idealizados são, muitas vezes, inalcançáveis e irreais. Isso gera um estado de angústia constante na pessoa”, esclarece. É exatamente essa busca pela perfeição que tem tirado o sono também do humorista Vinícius Karcam. Ele alega que sofre muita pressão, especialmente de si mesmo. “Eu fico ansioso, principalmente na véspera de alguma apresentação. Eu fico tenso, perco o sono, as unhas vão embora, porque eu roo tudo. Eu sinto dificuldade para dormir, porque a cabeça não para de trabalhar, eu fico pensando se vai ser bom ou ruim, em como melhorar. É a ansiedade de não saber como vai ser”, descreve. O humorista confirma que a necessidade de feedback do público é o que deixa a profissão mais tensa. “É o compromisso com o público, com a carreira. Se você fracassar numa apresentação, pode colocar tudo a perder, você caminha três passos para trás. É a pressão da gente sobre a gente mesmo”, enfatiza. Karcam conta que já fez tratamento com especialistas e tomou medicamentos que o deixavam 56 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

As incertezas e as cobranças do mercado de trabalho têm tirado o sono da cantora Dandinha.

“mais tranquilo”, mas não chegou a finalizar as sessões. “Hoje eu tento a autoanálise e a reflexão. Também tomo chás de erva-cidreira e, quando estou muito tenso, converso com amigos. Uma conversa descontraída já melhora a situação, porque me tranqüiliza.” O judoca Stânley Torres, 24 anos, lembra que já chegou a perder competições por causa da ansiedade. “Toda competição importante me tira o sono no dia anterior. Eu fico rolando na cama, pensando em como vai ser. Tento focar

Humorista Vinícius Karcam rói as unhas de ansiedade antes das apresentações. Foto: Thiago Amaral


Foto: Arquivo pessoal

Judoca conta que venceu seu ídolo Benito Mussoline porque a competição não era “muito importante” e não o deixou ansioso.

curiosidade “à flor da pele”, mas foi na adolescência que isso passou a prejudicar o seu dia a dia. “Já passei noites em claro porque o cérebro não para de pensar. Eu fico planejando o dia seguinte, os projetos, me questionando se vai dar tudo certo. Isso me atrapalhava muito, especialmente na vida amorosa. Sou perfeccionista ao extremo e fico impressionada muito fácil com tudo. E, se algo dá errado, eu fico muito frustrada”, conta. Thalita acrescenta, entretanto, que há quatro anos decidiu dar um rumo diferente às suas emoções. em outra coisa, mas quando me dou conta, já estou pensando na luta de novo. A pressão é grande, porque nenhum atleta quer perder, mas às vezes a ansiedade me faz perder na semifinal”, lamenta ele, ressaltando que sempre luta melhor nas competições menos importantes. “Porque a ansiedade é menor”, completa. A publicitária Thalita Paz se considera “ligada na tomada”. É do tipo que passa 24 horas planejando projetos mentalmente e se questionando sobre o resultado. Ela afirma que desde a infância tinha a

“Hoje faço terapia chinesa, sessões de acupuntura, pratico ioga, tomo medicamentos florais e evito usar muito as redes sociais. Estou bem mais centrada, mais ‘zen’. Até a mania de comprar compulsivamente pela internet eu tenho deixado de lado. Antes, todo dia tinha que chegar uma caixa pelos correios. Era uma forma de eu me presentear, de compensar a pressão que eu sentia”, recorda.

Sinais de alerta Segundo o psiquiatra Leonardo Luz, a variedade de informações

Os tipos de ansiedade 1 2 3 4 5 6 7

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) Síndrome do Pânico Agorafobia Estresse Pós-Traumático Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Fobias Específicas Ansiedade Orgânica

REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 57


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que temos hoje, além de ser um conforto, é também um fator que gera ansiedade. “A forma como as pessoas lidam com o tempo faz com que elas sofram uma sobrecarga cognitiva. A gente é bombardeado de informações, de possibilidades variadas, desde escolher uma roupa ou um filme, até optar por um relacionamento. Isso, por incrível que pareça, ao invés de gerar conforto, gera ansiedade, porque o ser humano tem uma tendência inata de estratificar as alternativas”, explica o especialista. Ele alerta que, além da privação do sono e da oferta exacerbada de opções, a vida corrida leva a outro aspecto que também desencadeia o transtorno: o sedentarismo. “Por uma questão de tempo e estilo de vida, as pessoas estão cada vez mais sedentárias”, lamenta. Mas quais os sinais de que a ansiedade deixou de ser “normal” e virou doença? O psiquiatra ressalta que quando os sintomas como falta de ar, sono ruim, irritabilidade e taquicardia começam a ficar frequentes, a ponto de influenciar diretamente nas atividades do cotidiano, é hora de procurar ajuda. “A pessoa começa a ficar disfuncional. A ansiedade passa a interferir nos relacionamentos, no trabalho, e a pessoa não consegue terminar as tarefas que se propõe a fazer. Ela começa a sair do ritmo de funcionalidade, que era a regra que tinha antes. Esse é o primeiro sinal de alerta.” Outros sintomas, segundo o especialista, são a ingestão de 58 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

álcool com mais frequência, o vício pelo jogo, as compras compulsivas e o ganho ou a perda de peso.

Síndrome de Burnout A bancária de iniciais T.A.B. é uma das vítimas da obesidade causada pelo transtorno de ansiedade. Aos 33 anos, ela teve uma crise de pânico no meio do expediente de trabalho, após perceber que não conseguiria cumprir a meta do mês. ”Eu senti uma agonia terrível, uma falta de ar. Achei que fosse morrer. No hospital, me deram um remédio forte, uma injeção para dormir. Quando eu acordei, o médico me disse que tive uma espécie de surto e orientou que eu procurasse um psiquiatra”, conta.

Ansiedade

pode ser genética Você sabia que existe uma predisposição genética para ansiedade? Pessoas que têm transtorno de ansiedade na família podem estar até duas vezes mais predispostas a um transtorno de ansiedade quando o parente é de primeiro grau, como filho.

Durante o tratamento com um psiquiatra, T.A.B. revelou as pressões que vivia no ambiente de trabalho. “As coisas tinham virado uma bola de neve. Eu não consegui bater uma meta e isso influenciou na outra e assim eu não conseguia mais seguir o ritmo e a empresa não parava de cobrar. Eu não tinha mais vida social. Levava o trabalho para casa e não saía mais com ninguém. Eu tinha medo de perder o emprego, porque tenho compromissos financeiros a cumprir, mas eu também não conseguia mais continuar ali”, justifica. A funcionária sofreu o que os psiquiatras chamam de Síndrome de Burnout. “Acontece muito quando a pessoa era satisfeita com o trabalho, mas, por algum motivo, começa a se sentir ultrajada, deixada de lado, desvalorizada. A pessoa começa a ter a sensação de que não serve mais para a empresa”, esclarece o médico da DRT, Francisco Luís. O médico acrescenta que o número de casos da síndrome tem aumentado nos últimos anos e as maiores vítimas também são as mulheres. “O mercado de trabalho está muito competitivo. As pessoas não têm mais tempo para o almoço, para o sono, para o lazer. Hoje ninguém desliga mais o celular e as empresas acabam exigindo esse compromisso também”, observa. Francisco Luís afirma que, na maioria dos casos da Síndrome de Burnout, o funcionário é orientado


Foto: Thiago Amaral

a mudar de ambiente de trabalho. “Se não puder ou não quiser sair da empresa, tem que mudar pelo menos de setor”, reitera.

Tratamentos Tratar a ansiedade ainda é um tabu para várias pessoas. Isso porque era comum o uso de medicamentos ansiolíticos “tarja preta”, que muitas vezes causam lentidão e sono excessivo. Entretanto, o psiquiatra Leonardo Luz destaca formas alternativas de enfrentar o problema, desde a ansiedade normal, até o transtorno. Segundo ele, para evitar que a ansiedade chegue a níveis mais elevados é fundamental: 1) manter uma alimentação saudável; 2) ter um horário de sono regular; 3) praticar atividade física; 4) ter uma rotina de trabalho de, no máximo, 44 horas semanais; 5) evitar o uso excessivo das redes sociais; 6) ter consciência do padrão de vida. “É importante não levar trabalho para casa, não ficar nas redes sociais até tarde, ter uma expectativa de padrão de vida mais real, especialmente da condição financeira. O endividamento financeiro é um dos maiores geradores da ansiedade”, pontua. Para o médico, os exercícios físicos, especial-

Médico do Trabalho Francisco Luís alerta: as pessoas têm que entender que a vida não é só trabalho.

mente os aeróbicos, como caminhadas ao ar livre e a prática de ioga, são ótimas formas de relaxar e controlar a ansiedade. “Além disso, estudos já mostraram que a ingestão de ômega 3 também ajuda”, acrescenta. Quando a ansiedade está interferindo nas atividades do dia a dia, a terapia é o primeiro passo para resolver o problema. “Antes de usar a medicação, a gente tem algumas estratégias. A terapia cognitiva comportamental trabalha, dentre outras coisas, com o que a gente chama de ‘pensamentos antecipatórios’ e o ‘catastrofismo’. As pessoas acreditam que as coisas vão dar muito errado. A terapia dá base para ter um controle sobre esses pensamentos”, argumenta. A medicação usada atualmente, de acordo com o especialista, são os Inibidores Seletivos de Recaptação

de Serotonina (ISRS). “São medicações diferentes do Lexotan, do Diazepan ou do Rivotril, que não tratam a ansiedade, apenas mascaram os sintomas. Esses inibidores não causam dependência e, ao contrário do que muitos pensam, o tratamento com eles dura cerca de um ano. A pessoa não vai tomar remédio a vida toda”, enfatiza Leonardo. Ambos os especialistas ouvidos nessa reportagem destacam a rotina vivida nos dias de hoje como o fator primordial da ansiedade: falta tempo para cuidar de si. A sociedade tem que reaprender a se “desconectar” das obrigações cotidianas e valorizar os momentos de lazer, que longe de serem perda de tempo, proporcionam mais qualidade de vida e bem-estar. “É preciso entender que a vida não é só trabalho”, alerta Francisco Luís. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 59


Cultura

Oeiras

Divinal

Foto: Thomson Esmeraldo

Em Oeiras, a Festa do Divino é realizada há mais de 200 anos. O festejo que atrai centenas de fiéis e turistas consagra a cidade como uma das mais religiosas do Piauí.

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Foto: Thomson Esmeraldo

POR MARTA ALENCAR

Pelas principais ruas de Oeiras, bandeiras hasteadas anunciam a procissão do Divino Espírito Santo. Emocionados, centenas de fiéis trajados de vermelho e branco seguem a divindade e entoam o cântico: “Espírito, Espírito! / Que desce como fogo / Vem como em Pentecostes / E enche-me de novo”. A tradicional Festa do Divino em Oeiras é considerada uma das solenidades religiosas mais marcantes do Piauí, comemorada há mais de 200 anos. Os fiéis se reúnem na Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, 50 dias após o período da Páscoa, para celebrar uma figura marcante do catolicismo: o Divino Espírito Santo. Segundo o padre, João Francisco dos Santos, a festividade é um dos maiores eventos religiosos do município e atrai, todos os anos, centenas de fiéis, inclusive turistas de outros estados. “Esses são momentos marcantes para a cidade, principalmente no período da Semana Santa. A Festa do Divino é religiosa, mas, por outro lado, também tem um valor cultural para os oeirenses”, afirma o sacerdote. De acordo com o historiador Júnior Viana, a Festa do Divino é a única, dentre as outras festividades, que modifica anualmente o roteiro de sua procissão, em virtude de cada festa ser realizada por

Devotos trajados nas cores vermelho e branco celebram o Divino Espírito Santo.

uma família diferente. “Durante um ano, período que a imagem da pomba do Divino permanece na residência de uma família, a casa se torna um santuário e fica aberta para visitação dos devotos”, explicou. A devota Luzemir Lima Alves Teixeira, que já recebeu o Divino em sua casa, afirmou que a presença da imagem traz grande satisfação para qualquer família oeirense.

“Foi uma imensa satisfação receber o Divino na nossa família, pois é uma imagem muito querida em nossa cidade”. Segundo ela, a família foi agraciada com várias bênçãos do Divino. “Lembro-me muito bem que foram imensas as graças que recebemos. Entre elas, a mais importante foi o ingresso da nossa família na Igreja. E a conversão de muitos membros que atenderam ao chamado do Divino”, relembra emocionada. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 61


Religiosidade e história No ano passado, a família do historiador Júnior Viana foi escolhida para receber a imagem, por meio de um sorteio realizado na paróquia. E foi considerada o primeiro clã afrodescendente de Oeiras a receber o Divino. “Ainda não sabemos mensurar a nossa alegria, temos toda uma história de devoção ao Divino Espírito Santo. Ele bem sabe de nossas vidas. O Divino escolheu a nossa morada, dando-nos a oportunidade de sermos mais Igreja e mais fraternos. Em Oeiras, terra onde tudo vira história, estamos aqui fazendo história, a tradicional festa do Divino Espírito Santo de Oeiras, de origem lusitana, teve a partir de agora a marca afrodescendente da família do velho Leônidas Viana”, declarou o neto, cheio de orgulho.

Durante um ano, a família do historiador Júnior Viana recebeu a imagem do Divino.

distribuíram a carne do “boi do divino” para as famílias carentes. De acordo com Júnior, a distribuição de carne faz parte da tradição da festa. Além da carne, há a escolha do “imperador”, denominação dada ao patrocinador do evento, já que o fesFoto: Adleuza Pacheco

Durante um ano, os Viana receberam a visita de centenas de fiéis e

Foto: Adleuza Pacheco

Cultura

Devotos lotam o adro da Igreja para celebrar Pentecostes. 62 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

tejo remonta ao período colonial do Brasil. “Foi um sonho realizado ter a presença do Divino em nossa casa. Eu não digo que fui sorteada, fui escolhida para ter a imagem dele. Além disso, levamos o Divino para vários bairros de Oeiras e também para as pessoas carentes”, contou a imperatriz do Divino, Sandra Viana. Neste ano, a Festa, que iniciou no dia 28 de abril, contou com vários eventos, incluindo novenas, missas e procissões. Uma das mais memoráveis é a Procissão da Coroação do Divino, que antecede ao domingo de Pentecostes. Segundo o proprietário da Galeria do Divino em Oeiras, Olavo Braz, a procissão é realizada somente lá. “É a única cidade no Brasil que faz a Procissão da Coroação, mas com uma grande importância simbólica. Em suma, a estrutura do ritual da Festa do Divino não muda. A família pode mudar o lema e o tema, pode dar mais


No domingo de Pentecostes, Oeiras ficou repleta de devotos em frente à Igreja Matriz. No início da manhã, a imagem do Divino Espírito Santo partiu, em cortejo, da residência da atual imperatriz rumo à Igreja de Nossa Senhora da Vitória, onde foi celebrada uma missa. Já no período da noite, foi realizada mais uma missa na mesma igreja, quando a imagem foi entregue à família Freitas Sá, que passará a ser a guardiã do Divino até o próximo ano. Para o advogado e professor Sheldonn Frederike de Freitas Reis, quando uma família recebe a imagem do Divino em casa, há um senso de partilha. “É curioso quando alguém da família re-

Foto: Thomson Esmeraldo

ou menos brilho, selecionar outros cânticos, mas a estrutura da procissão nunca pode mudar”, revelou.

Missa é celebrada durante a Festa do Divino.

cebe a imagem do Divino em sua casa, pois não é algo personalizado, é um senso familiar muito grande. E, como

tudo na cidade de Oeiras, as principais festas religiosas têm esse condão de reunir as famílias”, afirmou.

Festa Secular A Festa do Divino foi instituída em Portugal pela rainha Isabel, no século XIII. Mas com a migração da Corte Portuguesa para o Brasil, na primeira metade do século XIX, a devoção ao Divino Espírito Santo foi propagada no país. Porém, a cada lugar que chegava, a celebração ganhava características diferenciadas, como é o caso de Alcântara (MA) ou da cidade de Goiás Velho (GO), onde a devoção é conhecida como Folia do Divino e Calhada. Em Oeiras, a imagem, como nos demais lugares, é representada por uma pomba, porém com as asas fechadas. A cor é outra peculiaridade: em vez de branca, ela é dourada. Os oeirenses celebram a Coroação do Divino no Domingo da Ascensão ao Senhor, mas em tempos anteriores não era realizada no domingo, mas na quinta-feira, dez dias antes do Domingo de Pentecostes. Foto: Adleuza Pacheco

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Fotos: Raoni Barbosa

Cidade

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Sem água nas torneiras Mesmo com uma nova estação de tratamento construída na zona norte da capital, os moradores daquela região continuam sofrendo com a falta de água.

POR CAROLINE OLIVEIRA

O simples ato de tomar banho ao acordar, antes de dormir ou no meio da tarde, não é uma tarefa facilmente cumprida pelos moradores do Residencial Jacinta Andrade, na zona norte de Teresina. Apesar da construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) na região da Santa Maria da Codipi, a área ainda sofre com a inconstância da água nas torneiras.

Irisnete deixa os baldes cheios, pois não sabe quando terá água nas torneiras.

A dona de casa Irisnete Rodrigues da Silva mora no local há sete meses e disse que nunca pode contar com água em casa. “Deixo os baldes cheios e quando chega água aproveito para lavar roupas, mas fico com medo de faltar a qualquer momento”, afirma a senhora, que mora com o marido e duas filhas na quadra 58 do Residencial.

“Como sempre vem fininha, dificilmente sobe para a caixa antes da madrugada. Coloquei uma torneira na porta de casa para ver se consigo água mais cedo, porque senão tenho que ficar acordada até mais tarde, esperando”, conta a dona de casa, que mora no conjunto há cinco anos, desde que foi inaugurado.

Já Socorro Leonardo, que reside na quadra 102, sabe que só pode contar com água à noite e, por isso, dorme tarde para encher a caixa d’água, a manilha e vários baldes.

De acordo com o presidente da ETA da Santa Maria da Codipi, Simon Bolivar, a estação trata 250 mil litros de água por segundo, o suficiente para abastecer a re-

gião, porém faltam mecanismos que ajudem a distribuir a água. “Os moradores da região alta do Jacinta Andrade passam por este desconforto porque o reservatório elevado de distribuição, com capacidade para 800 mil litros, ainda está em construção. A previsão é que esta obra seja concluída em junho deste ano e, assim, será resolvido totalmente o problema naquela região”, destaca. Segundo ele, o que está acontecendo é que a água chega primeiro aos consumidores da área REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 65


Cidade

Socorro Leonardo colocou uma torneira na porta de casa para conseguir água mais forte e mais rápido.

mais baixa do conjunto e o que sobra não consegue subir para as demais residências. “Como o reservatório estará na parte mais alta do Residencial, isso não será mais um problema”, argumentou Bolivar.

Outros bairros Mas essa irregularidade de abastecimento não é um problema apenas do maior conjunto de casas do Estado. Alguns bairros antigos e tradicionais também não recebem água 66 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

o dia todo. Isabel Moura é sócia de um salão de beleza no bairro Morada do Sol, zona leste da cidade, e diz que, no local, falta água diariamente durante um período da tarde.

Além dela, moradores dos bairros Piçarreira e Planalto Ininga também reclamam da falta de água, sem nenhum aviso prévio por parte da Agespisa.

“Já passamos três dias direto sem água, mas a falta toda tarde é diária. Às vezes, são duas horas, só que tem dia que dura a tarde inteira. Aí, é uma confusão enorme porque a gente tem que trazer baldes para lavar o cabelo das clientes de uma torneira que vem de uma caixa d’água”, conta a administradora do salão.

O gerente metropolitano da empresa, Orlando Aires, disse que o problema dessas regiões é a topografia, pois são bairros com áreas altas que ficam no mesmo patamar dos reservatórios. Ele explica que na região dos bairros Morada do Sol e Planalto Uruguai, por exemplo, quando o reservatório está cheio no horário


Fotos: Thiago Amaral

ETA funciona com metade da sua capacidade A capacidade da Estação de Tratamento de Água da Santa Maria da Codipi é de 500 litros por segundo, feita em dois módulos de 250 l/s. Atualmente, a produção de água é de 250 l/s, capaz de atender uma população de 140 mil habitantes, a uma taxa por pessoa de 150 l/dia. Portanto, o total da ETA (500 l/s) permite abastecer uma população de 280 mil pessoas a uma taxa “per capita” de 150 l/dia. O problema é que apenas a ETA está pronta. Ainda é preciso ampliar o sistema adutor, bem como implantar reservatórios que possam oferecer condições de atendimento aos bairros Pedra Mole, Vale Quem Tem, Vale do Gavião e outros bairros adjacentes. 500 litros por segundo equivalem a 43,2 milhões de litros de água por dia. de menor consumo, consegue bombear água para todas as casas, mas no horário de pico, quando todos estão consumindo, os reservatórios esvaziam e não há água suficiente para ser bombeada. Por conta disso, o abastecimento fica comprometido e, só depois, quando os reservatórios enchem novamente é que a água volta. “Funciona assim: são bombeados 100 metros cúbicos por hora das estações para um reservatório, e dele saem 110 metros cúbicos para as REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 67


Fotos: Thiago Amaral

Cidade

Gerente Metropolitano da Agespisa afirma que a topografia de alguns bairros dificulta a chegada de água às torneiras.

casas, porque uma bomba menor não iria conseguir abastecer todo mundo. Por chegar uma quantidade menor do que a que sai, uma hora esse reservatório seca e vai passar de uma hora e meia a duas horas parado para encher novamente. Quando enche, ele continua recebendo água,

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mas com o grande consumo, vai secar novamente. Por isso que no Planalto Uruguai tem três horas seguidas com água e duas sem”, exemplifica o gerente metropolitano. Ele acrescenta que as bombas são diferentes porque a chegada é de acor-

do com a capacidade da adutora e a bomba que leva água para as residências tem de ser maior para abastecer todo mundo. Aires destaca que a solução são novas adutoras, novas estações de tratamento e o aumento da oferta de água. No entanto, a Agespisa não está tendo capacidade para realizar novos investimentos. Outro problema que ele citou foi o crescimento da cidade, com demanda para novas ligações, que a empresa não consegue acompanhar. “Estamos solicitando a quem faz conjuntos residenciais, que perfure poços e os equipem, que a Agespisa opera. A água tratada é para complementar, porque não conseguimos acompanhar esse ritmo de crescimento. Isso acontece no Vale do Gavião e no Vale Quem Tem”, ressalta Orlando Aires. Enquanto isso, as torneiras, mesmo ligadas, não derramam uma só gota d’água.


CecíliaMendes

ceciliamendes@cidadeverde.com

Arte cerâmica a quatro mãos

C

onheci Francisco Stênio Barbosa no atelier da artista Fátima Campos, para quem trabalhou durante treze anos no preparo da argila para esculturas, no final dos anos 80, século XX. Fátima o estimulou a criar também e foi logo premiado no primeiro evento de que participou — o I Salão de Arte Santeira. Encantada com a beleza da peça, eu a adquiri: uma cena da Anunciação, em que o Anjo parece sussurrar a Maria sua escolha para ser a mãe de Jesus. De lá até hoje, a peça permanece sobre uma mesinha de minha sala, onde a contemplo todos os dias. A partir daí, Stênio se licenciou em Educação Artística na UFPI e, mais tarde, pós-graduou-se em Design Estratégico, no Instituto Camillo Filho. Em 1994, casou-se com Reisinha (Reis de Maria), artista plástica que fizera curso de pintura, orientada pela inesquecível Liz Medeiros, no Itaperu. Stênio e Reisinha formam um casal inseparável na vida e na arte. Sempre trabalham a quatro mãos, seja nas esculturas, de preferência dele, seja nas peças utilitárias, como pratos, vasos, castiçais e panelas, mais apreciadas por ela.

Ambos percorrem juntos o processo de produção da arte cerâmica, desde a coleta da argila na mina, à lavagem e tratamento da barbotina (argila líquida), até esculpirem peças usando as mãos, formas ou torno. Depois da secagem e queima, em forno a gás, em baixa temperatura, a esmaltação e queima em alta temperatura. Ainda ficam

Stênio e Reisinha formam um casal inseparável na vida e na arte. fascinados com o efeito do fogo sobre a peça. Por vezes uma deformação que a torna original e diferente do planejado. O primeiro passo de todo o processo é o desenho, em que enfrentam o desafio da originalidade. Hoje, obras do casal de artistas da cerâmica estão presentes em várias

lojas de decoração de Teresina, em cerca de cinco espaços públicos e sessenta residências particulares. O casal participou de mais de trinta exposições em Teresina, Brasília, São Paulo, Recife, Itália e Chile. Conquistou o primeiro lugar na Casa Piauí Design por cinco vezes e ganhou prêmio de viagem a Milão, Itália. Além da arte cerâmica, o casal cria em ferro e na pintura em telas. Stênio e Reisinha participam da União dos Artistas Plásticos do Piauí, entidade da qual ele é o atual presidente, benquisto pelos associados e incansável na busca de parcerias pelo bem das Artes Plásticas do Estado. Stênio crê ter herdado o talento do pai, marceneiro que também esculpia brinquedos em madeira para os filhos. O próprio Stênio, antes da cerâmica, esculpia com cera de abelha. Sua irmã Célia é pintora, graduada pela UFPI, e a filha Maria Clara, estudante de Arquitetura, surpreende os pais com os desenhos que produz. É uma família de artistas, na qual se ressalta a harmonia do casal que cria a quatro mãos, numa admirável troca de aprendizagens e afeto.

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Cultura

“Caverna artística”

Na caverna de Rogério Albino, peças produzidas com tinta, ferro, argila e madeira criam um espaço de arte que revelam a versatilidade do autor.

A arte de Rogério Albino tem influências do expressionismo e do impressionismo.

POR MARTA ALENCAR

O artista plástico Rogério Albino precisou deixar a timidez de lado para abrir o portão do seu ateliê e receber a equipe da Revista Cidade Verde. No espaço que intitula de “caverna”, o artista apresentou 70 | 15 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

inúmeras peças feitas a partir de tinta, argila, ferro e madeira. E são essas peças que certificam que a arte de Rogério é múltipla, singular e repleta de intertextualidades. Albino nasceu em Teresina, no ano de 1962, em uma década

marcada por revoluções sociais, políticas e artísticas no Brasil. Na infância, Rogério fez os primeiros desenhos ao lado de seu irmão mais velho. “Desde criança, sempre gostei de desenho. Inclusive, eu e meu irmão desenhávamos muito. Mas ele desistiu e foi para a área da Eletrônica, en-


Já na juventude, Rogério ingressou no curso de Educação Artística da Universidade Federal do Piauí (UFPI). “Iniciei na UFPI por volta de 1983, mas não concluí o curso. Paguei todas as disciplinas e decidi largar de vez quando finalizei o que queria. Além disso, o propósito do curso era formar professores e eu não tinha aptidão ou vocação para isso”.

Fotos: Roberta Aline

quanto eu nunca perdi a paixão pela arte”, conta.

O ateliê de Rogério Albino fica localizado na Av. João XXIII, 1091, bairro Jóquei, em Teresina.

Em 1985, Rogério estreou em agências de propaganda, mesmo não tendo formação em Publicidade. “Era da geração que trabalhava em agência, no setor de criação, porque tinha talento para o desenho”, confessa. No entanto, 15 anos depois, abdicou da profissão para se dedicar totalmente à arte. “Quando trabalhava com propaganda também produzia peças artísticas. Mas foi quando larguei o último emprego que realmente entrei de cabeça no mundo da arte. Embora a propaganda seja uma arte, ela não é tão prazerosa quanto tudo isso”, conclui, contemplando as obras em seu ateliê.

Pescaria artística Com o passar dos anos, Albino foi aperfeiçoando e expandido as suas obras.

Na pintura, ele produz diversas telas com tons terrosos e figuras bem marcantes, principalmente mulheres voluptuosas. De acordo com o artista, a figura da mulher em suas peças é influenciada pelo pintor francês Toulouse-Lautrec (1864-1901). Mas o trabalho de Rogério também recebeu influências de Van Gogh, Claude Monet e Afrânio Castelo Branco, além do impressionismo e do expressionismo (movimentos artísticos). Rogério considera que, de todas as artes, a pintura seja a mais difícil. “Cada pintura é um desafio e cada pincelada é um aprendizado”, argumentou. Ele também começou a trabalhar com cerâmica, criando peças feitas com argila do Poty Velho. Dentre os trabalhos, destacam-se imagens religiosas e personagens nordestinos. “Apesar de não entender de santos, o São FrancisREVISTA CIDADE VERDE | 15 DE MAIO, 2016 | 71


Fotos: Roberta Aline

Cultura

co é o que mais vende dentre os artefatos que produzo”, afirma. Ele conta que, para as obras terem mais resistência, utiliza a técnica chamada Paper Clay. “A mistura de papel com argila faz com que a peça em cerâmica fique mais leve e queime melhor. Sobretudo, a técnica evita rachaduras na hora da secagem”. Nas esculturas, o artista também utiliza o ferro para moldar anjos, animais e outros personagens. Um exemplo dessa arte é a de um anjo de quase três metros de altura que fica bem na entrada do ateliê.

Quando questionado se é em seu ateliê que as ideias nascem, Rogério revela que é durante a pescaria que a maior parte de suas criações surge. “Na pescaria, é quando penso o que vou fazer amanhã. E é onde também pesco (tenho) novas ideias”, confidencia. Ao longo de todos esses anos dedicados à arte, Rogério tem pescado também vários prêmios, além da participação em diversas exposições. Dentre elas, destaca uma menção honrosa que recebeu durante uma premiação de desenho com bico de pena realizada em Teresina, em 1982. “Já ganhei vários prêmios e expus trabalhos em eventos nacionais, como no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília.


Recentemente, recebi um convite para participar da Fenearte (Feira Nacional de Negócios do Artesanato) em Recife.” Atualmente, Rogério tem se dedicado à marcenaria. Segundo ele, era uma paixão antiga que só se concretizou agora. E mesmo com os riscos de se machucar com o artifício, por causa da serra utilizada (a circular de bancada), ele declara que o mais importante é sempre aprender. “Acho que tudo na vida é um aprendizado, principalmente quando há paixão e vontade”, finaliza. Paixão, sem dúvida, é o que move o artista na criação de peças que exalam beleza e criatividade, com um estilo próprio que identifica a sua obra. REVISTA CIDADE VERDE | 15 DE MAIO, 2016 | 73


Caderno Especial

Um presente

Apaixonado A Revista Cidade Verde preparou um guia com dicas para esquentar ainda mais seu Dia dos Namorados. POR ARLINDA MONTEIRO

Como diria o pensador francês François La Rochefoucauld: “O amor é como fogo, para que dure é preciso alimentá-lo”. O Dia dos

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Namorados é uma ótima oportunidade para que isso aconteça. A troca de carinhos é fundamental em um relacionamento, e mudar a rotina tem efeito surpreendente. Então, se você quer fazer diferente este ano, confira as dicas que a Revista Cidade Verde preparou.

Surpreenda Para quem não quer deixar a data passar em branco, a dica é proporcionar um dia romântico, desde o despertar. A empresária Liliana Soares, da Lilly Cherry, sugere deixar recados românticos na geladei-


ra, levar café da manhã na cama, preparar um almoço bacana e guardar muitas surpresas para a noite. “A programação pode ser um jantar em casa ou até uma balada, desde que a lingerie dê o toque especial. Se a ideia é oferecer uma massagem, o ideal é usar uma camisola e muitos óleos de massagem, mousse e até vela comestível. Quem quer ousar e, quem sabe, fazer até um striptease, pode optar pelos espartilhos, bodys sensuais e meias 7/8. Há também uma infinidade de cosméticos e jogos sensuais que podem apimentar ainda mais o momento”, explica. Se a intenção for presentear seu amor com lingeries, estão em alta os sutiãs strappys, aqueles com várias alças posicionadas na área do colo e/ou costas.

Santo Antônio abençoe Os apaixonados pelas festas juninas podem aproveitar a véspera do dia de Santo Antônio para preparar uma mesa rica em itens decorativos e guloseimas que remetam ao tema. A Shoppingráfica oferece balões, chapéus, caixinhas, bandeirolas, fogueiras e muito mais. Uma ótima sugestão também para quem ainda não encontrou seu par. Reúna os amigos e peça a Santo Antônio para dar aquele empurrãozinho. Quem já encontrou e quer presentear com algo personalizado, como louças, camisas e almofadas, por exemplo, pode encomendar tudo na gráfica da Shoppingráfica.

REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 75


Caderno Especial

Um carinho a mais Dar flores a quem se ama é uma das formas mais bonitas de se demonstrar carinho. E elas podem ser oferecidas tanto a mulheres quanto a homens. “Flor não tem sexo. A escolha deve ser feita pela história do casal, pelo significado que tem para

Almoço ou jantar especial O Dia dos Namorados, este ano, será comemorado em um domingo. Uma boa oportunidade para levar seu “love” para saborear uma 76 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

das mais famosas carnes de sol do Piauí, no restaurante São João, que conta com três unidades (Rua João Cabral, Av. Centenário, Av. Nossa Senhora de Fátima). Outro prato que merece ser apreciado por lá é a picanha, que é de dar água na boca...


eles. Caso não exista, elas podem ser escolhidas pela cor, pelo amor e pela vontade de querer fazer o outro feliz”, diz a empresária Alcênia Ribeiro, da Floricultura Li. Para incrementar, bichos de pelúcia e chocolate e muitos detalhes em vermelho. Os pedidos dos arranjos na Li podem ser feitos também pelo telefone e pelo site. (www.floriculturali.com.br)

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Conforto e segurança Saia da rotina mesmo no Dia dos Namorados! E nem precisa se preocupar em dirigir, porque a Teletaxi vai estar a postos para te levar onde quiser, com a comodidade de apenas uma ligação. Não importa se é balada, pousada ou restaurante. Faça a programação e deixe o resto com a Teletaxi.

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Tecnologia POR MARCOS SÁVIO

twitter: @masavio

Telegram na Educação O aplicativo Telegram foi apontado pelas professoras Naisis Castelo Branco Andrade e Rosineide Brito como uma ferramenta diferenciada e apta para uso em ambiente virtual de aprendizagem. A conclusão é resultado de estudo prático realizado para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da pós-graduação de Gestão Educacional em Redes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Acompanhe a matéria na coluna INFO do Cidadeverde.com em: bit.ly/1WPImi0

Cybercrime O panorama do cybercrime está ficando cada vez pior. Segundo estudo divulgado pela CYLK Solutions, mais de 317 milhões de malwares foram criados no último ano. Em 2015, houve 38% mais incidentes de segurança detectados em relação a 2014. Os dados revelam ainda que a média de tempo pra que as empresas detectem uma violação na rede é de até 86 dias, o que já compromete toda a segurança. É bom ficar de olho!

Além dos 140 toques O Twitter anunciou mudanças na forma como conta o limite de texto que pode caber em uma única mensagem publicada na rede social. Previstas para começar a partir de julho, as alterações deixarão de considerar imagens, vídeos, GIFs, enquetes e menções a outros usuários (as chamadas “arrobas”, ou “replies”, no termo em inglês) como parte dos 140 caracteres que limitam os tuítes.

Apps mais competitivos O Brasil lidera a lista de países que têm os mercados mais competitivos do mundo para aplicativos mobile, de acordo com uma pesquisa chamada de “2016 App Olympics”, feita pela empresa Cheetah Ad Platform. Foram analisados dados de 52 milhões de usuários Android, para verificar como essas pessoas interagiam com seus apps e dispositivos móveis ao redor do mundo. A App Store, da Apple, já conta com 52 milhões de aplicativos em sua biblioteca, enquanto o Google Play tem 2,3 milhões — e milhares de novos programas são lançados todos os dias. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 79


Indústria POR ASCOM FIEPI

Presidente Zé Filho ladeado por diretores do Sistema FIEPI na noite de homenagens.

FIEPI homenageia colaboradores com medalha Mérito Industrial A Federação das Indústrias do Estado do Piauí (FIEPI) homenageou os colaboradores do Sistema FIEPI durante solenidade comemorativa do mês da Indústria, realizada no hall da instituição, em Teresina, nesta quinta-feira (19). Na cerimônia, o presidente da FIEPI, Zé Filho, condecorou quatorze colaboradores com a Medalha do Mérito Industrial Simplício Dias, o patrono da indústria piauiense. “Além de promover outras ações comemorativas do mês da Indústria, como, por exemplo, a festa dedicada ao trabalhador e a inauguração da modernização e ampliação da Escola Integrada Deputado Moraes Souza, do SESI de Parnaíba, resolvemos homenagear alguns profissionais do Sistema FIEPI, responsáveis pelo atendimento à classe industrial do nosso Estado. Esse é um reconhecimento de toda a diretoria e de todos que fazem o Sistema FIEPI”, explicou Zé Filho. O Presidente do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (SESI), João Henrique de Almeida Sousa, prestigiou o evento e parabenizou a iniciativa da FIEPI de homenagear os seus funcionários. Além disso, agradeceu o apoio do presidente Zé Filho por sua indicação no SESI Nacional. “Quero parabenizar a FIEPI por ter feito essa grande festa para aqueles que fazem diariamente o Sistema Indústria do Piauí. E dizer que a minha indicação foi motivada pelo presidente Zé Filho, que levou uma comitiva com todos os presidentes de Federação do Nordeste e sugeriu o meu nome ao presidente Michel Temer para assumir o Conselho Nacional do SESI. Espero colaborar com o Brasil, e especialmente com o meu Estado e a nossa FIEPI”, garantiu. 80 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Colaborador Agostinho recebendo a honraria das mãos do presidente Zé Filho.

João Henrique fala sobre sua indicação à presidência do Conselho Nacional do SESI.


Homenageados Agostinho Pereira de Sousa -SESI Antônio Nunes de Oliveira - SENAI Conceição de Maria Monteiro Machado - SENAI Agostinho Pereira de Sousa Antônio Nunes de Sousa Oliveira Iacira Rosângela G. de - SESI Conceição de Maria Jeová Vasconcelos de BritoMonteiro - SENAI Machado Iacira Rosângela G. de Sousa José da Silva Oliveira - SENAI Jeová Vasconcelos de Brito JoséJosé Miranda de Oliveira Sousa - SENAI da Silva Mauro Nunes de Araújo -SESI José Sérgio Miranda de Sousa Mauro Sérgio Nunes- SENAI de Araújo Moaci Araújo Barradas Moaci Araújo Barradas Raimundo Oliveira Portela Sobrinho - SESI Raimundo Oliveira Portela Sobrinho Sandra Maria Araújo Luz Feitosa - SESI Sandra Maria Araújo Luz Feitosa Valdenice Fernandes Fontenele - SENAI Valdenice Fernandes Fontenele Wilma Catão Araújo - SESI Wilma Catão Araújo Yeda Fontenele de Freitas Yeda Fontenele de Freitas - SESI Fotos: Ascom FIEPI

HOMENAGEADOS:

Presidente Zé Filho enaltece em discurso a importância do trabalho dos colaboradores.

Familiares dos colaboradores prestigiaram a solenidade.

Presidente Zé Filho com homenageados. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE MAIO, 2016 | 81


Passeio

Cultural Foto: Eneas Barros

Na estante

VIVA SÃO JOÃO! Oficialmente, o verão no Hemisfério Norte inicia no dia 21 de junho e prossegue até 23 de setembro. Durante a Idade Média, por toda a Europa se cultivava o hábito da queima noturna de fogueiras, para cultuar a chegada do verão em rituais pagãos e festejar a vitória da luz e do calor sobre a escuridão e o frio. Para dar um significado a essas festas, comumente vinculadas à vida agrícola, a Igreja aproveitou o dia 24 de junho, do nascimento de São João, e o associou às comemorações pela chegada do verão. “A Igreja Católica adotou esses marcos cósmicos, atribuindo

TERREIRO DE FAZENDA

de Fontes Ibiapina Folclore lúdico, ricamente ilustrado pela inesquecível Liz Medeiros, apresenta as peripécias, brincadeiras e cantigas que enriqueciam os terreiros das fazendas, com desafios e emboladas, brincadeiras de roda e muitas cantigas

Preço: R$ 30,00

Curiosidade Piauiense

BAIRRO SÃO JOÃO, TERESINA De acordo com a professora Socorro Veras, em entrevista com o primeiro presidente da Associação de Moradores, Luís Gomes da Silva, o nome do bairro São João se originou de um sítio existente no local, de propriedade da família Adolfo Alencar, à época do governo de Helvídio Nunes.

aos primos João e Jesus dois momentos de honra para seus nascimentos: o primeiro, perto do solstício de verão; o segundo, perto do solstício de inverno”, explica Luciana Chianca, professora de Antropologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mas as raízes das festas juninas antecedem ao cristianismo, quando os romanos celebravam a deusa Juno, esposa de Júpiter, originando o nome do mês no calendário. O hábito de cultuar deuses era associado ao temor pelo inexplicável, notadamente os fenômenos da natureza. As festas juninas, de Juno, passaram a joaninas, de João. Herdamos dos portugueses o legado de acender fogueiras, dançar à sua volta e saltar sobre as suas chamas. E viva São João! 82 | 29 DE MAIO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Postal

FURO SOLSTICIAL O Parque Nacional de Sete Cidades abriga muitos mistérios. Um deles está em uma imensa rocha na “terceira cidade”. Trata-se de um furo que servia para orientar os povos antigos sobre os solstícios, projetando os raios de sol sobre um paredão, cujo movimento indicava as épocas para colheita.


Eneas Barros

eneas@piaui.com.br

ENTREVISTA ESPECIAL Foto: Wilson Filho

PADRE NILTON SANTOS

HISTÓRIA DE CATIRINA “Catirina que só quer / comer da língua do boi” (Papete)

“Acho melhor não chamar ‘profano’, mas ‘tradições’. Seria complicado entender a Igreja como divinizadora da profanidade”, adverte o padre que comanda a Missa da Misericórdia há 6 anos.

EB – O seu sobrenome é uma prova de que o senhor é da Bahia de Todos os Santos? NS – Sim! Dos Santos, herdei dos

senhores de engenho. Minha bisavó passou para sua descendência, trazendo toda ancestralidade e energia que misturam santos e orixás na mesma harmonia.

EB – Como se deu sua opção pela Igreja Católica, em uma terra de orixás? NS – Minha bisavó africana tinha a

tradição dos orixás, algo muito sério e de profunda devoção. Desde cedo, ela dizia: “meu filho, estou dentro do candomblé e não saio, mas você, que está fora, não entre”. Cresci ouvindo isso. Ela me mostrou o caminho do cristianismo.

EB – A Missa da Misericórdia reúne milhares de fiéis. O segre-

do está no seu discurso ou na fragilidade humana? NS – O discurso que uso não é meu,

mas de um Deus apaixonado. Através de um amor incompreendido pela humanidade, faz tudo para nos salvar. É um Deus que cria laços afetivos com a fragilidade humana.

EB – O senhor também é escritor. É difícil conciliar tantas ideias? NS – Não sou escritor. Apenas coloco

no papel algumas ideias e as transcrevo; moções e emoções que vivo.

EB – Como a Igreja conseguiu transformar eventos pagãos em festas religiosas, como o São João? NS – Algumas festas nasceram na

Igreja e foram apresentadas ao povo, mas muitas nasceram das experiências

Essa frase é a essência de uma das mais interessantes histórias do folclore brasileiro. Nascida na época da expansão das fazendas de gado no Piauí, cruzou fronteiras e se estabeleceu com vigor no Maranhão. Certo dia, Catirina teve um desejo de grávida: queria comer a língua do boi mais bonito da fazenda. O vaqueiro Francisco, para atender ao desejo da mulher, mata o boi de seu patrão. Começa uma busca, até que o boi é encontrado e ressuscitado, com muita festa. A expressão “bumba” é identificada com “chifrar”. E “bumba-meu-boi” significaria “chifra, meu boi”.

do cotidiano. A Igreja, vendo o potencial de fé mesmo naquilo que se chama profano, acabou divinizando não o evento em si, mas a intenção e a pureza daquilo em que se acredita.

EB – Essas tradições populares conseguirão manter-se vivas? NS – Trazemos na alma uma atra-

ção natural pelas tradições populares. Quem não se encanta com a dança do cavalo Piancó? Quem consegue parar ao som das músicas juninas? As tradições mexem com o nosso emocional, com o lúdico, com a sensibilidade humana. É isso que faz a gente se sentir “Gente”!

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84 | 17 DE ABRIL, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE



Gente

Gente por Péricles Mendel

Perfil Anamelka Formiga Delegada

O que te faz feliz? Ajudar o pró-

ximo e ter sido abençoada por poder fazer isso naturalmente, cumprindo minhas obrigações institucionais.

Um momento que definiu sua vida? O nascimento do meu filho.

Qual a sua maior qualidade? A determinação.

E seu maior defeito? Ser perfec-

O que lhe tira do sério? Violência de qualquer natureza.

O que não entra em sua casa?

Desonestidade.

Quem te inspira? Sou inspirada por todas as mulheres combatentes que lutam, diuturnamente, pela elaboração de instrumentos necessários à proteção e ao combate à violência de gênero.

Segredo para o sucesso profissional? Foco, determinação, afin-

Melhor conselho que já deu?

Gasta muito com: Livros, cursos

Do que você tem orgulho? Do meu filho.

Tipo de gente que você tem dificuldade de conviver? Gente falsa e nega-

tiva, aquele tipo que vampiriza suas boas energias e tem uma visão escatológica sobre tudo.

Foto: Wilson Filho

Maior conquista como delegada? A maior ainda está por vir.

cionista e ansiosa.

Seja independente e se valorize, ame primeiramente a si mesmo, pois é impossível externar aquilo que não se vive internamente.

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O que mais aprecia em seus amigos? A lealdade.

Um sonho? Sonho com um mundo em que homens e mulheres realmente vivam em plenitude e igualdade de direitos e, principalmente, em que não exista mais violência e morte de mulheres pela simples razão de serem mulheres.

co e compreensão da família.

Qual é o defeito mais fácil de perdoar? A imaturidade. e tecnologia.

Um sonho de consumo não realizado? Fazer o Caminho de Santiago de Compostela.

O que é sagrado para você?

Minha família.

Se não fosse delegada, seria:

Uma estudante determinada em passar no concurso para ser Delegada, pois simplesmente amo o que eu faço. Costumo citar Confúcio com relação ao meu trabalho, quando ele diz: “Escolhe um trabalho que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. É exatamente assim que me sinto.

Com quem você adoraria conversar por horas? Com o filósofo Mario Sergio Cortella.


periclesmendel@cidadeverde.com

Meu Cantinho Ravena Pinheiro

Foto: Wilson Filho

Fotos: Wilson Filho

Escolhi este cantinho de minha casa, principalmente, por ter a pintura da minha filha Nayana, feita pela artista plástica Naza. Também pelo lustre, uma peça de família, e pela coleção de muranos, que tem um colorido do qual gosto. Daqui, vejo quase toda a área social e posso viajar nas possibilidades de mudanças da decoração, que adoro fazer. Penso que nossa casa tem que ter a nossa cara e a nossa alma. Nesse cantinho também costumo ler, me divertir ao celular e brincar com os netinhos no tapete.

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Por Aí Por Aí

1 - Maria Neiva Tajra e Félix Fernando Raposo Filho trocaram juras de amor eterno em emocionante cerimônia na Igreja Nossa Senhora de Fátima, seguida de recepção na Casa Favorito. Cristiane Fonseca assinou a belíssima decoração da noite, que teve cerimonial da Dreams Eventos e animação de Double Deck, Xé Pop e Anderson Rodrigues. A noiva é filha de Jesus Filho e Gláucia Machado Neiva Tajra e o noivo é filho de Félix Fernando Raposo e Teresinha de Jesus Rebêlo Basílio Raposo..

por Péricles Mendel periclesmendel@cidadeverde.com

2 - A servidora pública Ellis Costa e o juiz Filipe Bacelar trocaram juras

Foto: Rossana Sulzer

de amor eterno na Igreja de Fátima, com recepção no Finess Buffet. Lilly Araújo foi uma das atrações da grande noite.

3 - A ginecologista e obstetra Manuela Gonçalves e o advogado baiano Rodolpho Guimarães subiram ao altar na Igreja São Benedito. Em seguida, recepcionaram os convidados na Cookies Platinum.

Foto: Benonias Cardoso

Foto: Darci Bastos

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4 - T창nia Miranda e Valmir Miranda. 5 - Juliana Rosado e Ana Paula Lacerda. 6 - Jo찾o Henrique Souza e Michelle Alves. 7 - Jorge Batista Filho e Philippe Salha. 8 - Laio Dantas e Cibelly Dantas

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RUA DOS MENINOS Ventos de maio pipas no ar cerol na linha da emoção deixe o menino correr o risco de ser feliz William Melo Soares - Alto Longá

Ilustração: Genivaldo Costa 90 | 1 29DE DEMAIO, MAIO,2016 2016| |REVISTA REVISTACIDADE CIDADEVERDE VERDE




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