Revista Cidade Verde 139

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REVISTA CIDADE VERDE | 12 DE JUNHO, 2016 | 3


Índice Cartórios: a vida passa por eles

5. Editorial

8. Páginas Verdes Erivan Lopes concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 12. Palavra do Leitor 16. POLÍCIA Quatro menores e uma sentença 18. GERAL Acolhimento depois do trauma

Articulistas 13

Jeane Melo

08

Páginas Verdes Erivan Lopes

21

70

A dança das cadeiras

O Encanto das Festas Juninas

28. EDUCAÇÃO 30 anos de UESPI

15. Cidadeverde.com Yala Sena

36. ECONOMIA Piauí rumo a 2022

24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

43. ESPECIAL É ouro Brasil!

34. Economia e Negócios Jordana Cury

58. SAÚDE Prazer que mata

42. Chão Batido Cineas Santos

64. GENTE ESPECIAL AMH: dias de luta e de esperança

79. Tecnologia Marcos Sávio

74. COMPORTAMENTO “Caro pra cachorro”

62

Fonseca Neto

80. Play List Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

90

Tony Batista

COLUNAS

52


foto Manuel Soares

Sou registrado, logo existo. Pensando bem, os cartórios são quase uma extensão da nossa vida, já que, para existir oficialmente, é preciso estar registrado de “papel passado”, o mesmo valendo para deixar de existir, no doloroso momento que entra em cena o atestado de óbito. Do contrário, nem mesmo a sua presença física é capaz de atestar que você existe de fato. Só com o documento na mão, você passa a ter direito a matricular-se numa escola e a tornar-se um cidadão de verdade.

cessidade, bem como os custos dos principais serviços oferecidos.

Ainda que essencial, o sistema cartorário é pouco conhecido pela população. Quase ninguém sabe como os cartórios funcionam até precisar de um deles. E aí surge a dúvida: para onde se dirigir? Qual o custo do documento pretendido? Quanto tempo leva para obter o que preciso?

Ainda no clima de perplexidade que tomou conta do Brasil depois dos casos de estupros coletivos praticados contra meninas do Piauí e do Rio de Janeiro, nossas equipes acompanharam o julgamento do caso de Castelo, um crime que chocou pela crueldade e que resultou no estupro de quatro meninas e na morte de uma delas. Os casos de violência sexual praticada contra mulheres se repetem com uma frequência assustadora. No Brasil, registra-se um estupro a cada onze minutos. Aqui no Piauí, existe um serviço especializado só para o atendimento a essas mulheres, muitas delas ainda meninas. É o Samvis, tema de outra reportagem desta edição.

Depois da interdição de um dos cartórios mais conhecidos de Teresina, a população voltou a olhar com interesse para esse tema. Até hoje, eles são mantidos como uma concessão de pai para filho, embora já tenha ocorrido a realização de um concurso público para preenchimento do cargo de tabelião, ainda não homologado.

E nas Páginas Verdes, o novo presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, desembargador Erivan Lopes, fala detalhadamente sobre os planos para conseguir dar mais agilidade ao julgamento dos processos no Estado e diminuir o número de presos provisórios que estão superlotando os presídios.

Na reportagem de capa desta edição, a Revista Cidade Verde mostra como funcionam os cartórios e para qual deles você deve se dirigir, de acordo com a sua ne-

Cláudia Brandão Editora-chefe

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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Erivan Lopes

claudiabrandao@cidadeverde.com

A meta do novo presidente é acabar com a tramitação de processos em papel.

O novo presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, Erivan Lopes, é natural de Santo Antônio de Lisboa (PI) e tornou-se desembargador há sete anos, oriundo do quinto constitucional destinado ao Ministério Público. Nem ele mesmo imaginava chegar ao posto mais alto da justiça piauiense em tão pouco tempo de carreira. O desembargador Erivan Lopes assumiu o cargo com o compromisso de dar mais celeridade ao andamento dos processos no Estado. E, para isso, já tem algumas metas traçadas, que ele revelou nesta entrevista à Revista Cidade Verde, logo após a sua posse, ocorrida no dia primeiro de junho.

RCV – No seu discurso de posse, o senhor disse que estamos vivendo uma “verdadeira Babel”. A que o senhor se referia exatamente com essa expressão? EL – Quando eu disse isso, eu estava me referindo ao Estado brasileiro ser um Estado constitucional, que elegeu o regime democrático inspirado no modelo norte-americano, onde há uma reciprocidade de con-

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Foto: Wilson Filho

Justiça a passos largos


troles. Mas essa reciprocidade exige uma delimitação de competências do Parlamento, do Executivo (políticas) e do Judiciário(jurídica). Acontece que, diante dessa omissão, negligência, e às vezes até desvio de conduta dessas atribuições políticas, nós estamos vendo o Poder Judiciário compelido a tomar decisões que, constitucionalmente, não são típicas da sua competência. Quando eu falei na Babel, foi exatamente nesse sentido, porque não está havendo um respeito a essas delimitações constitucionais quanto à competência. Ou seja, hoje, o Poder Judiciário está sendo compelido a tomar decisões que, em tese, são de competência dos poderes políticos.

RCV – E o senhor vê isso aqui também no Piauí? EL – Não. Aqui no estado do Piauí

a questão não chega a esse nível. O nosso Judiciário é levado a tomar decisões sobre políticas públicas, como o excesso de demanda em busca de medicamentos, uma vez que todos são assegurados constitucionalmente, pois saúde é direito de todos. Os poderes, tanto municipal quanto estadual, por vezes se omitem nessas políticas públicas e o Judiciário é obrigado a se imiscuir, algumas vezes sendo questionado até se não estaria violando a separação dos poderes ou tomando decisões que contrariam o princípio da reserva do possível, ou seja, da existência, ou não, de recursos orçamentários.

RCV – A estrutura do Poder Judiciário, hoje, é suficiente para atender toda a demanda do Estado?

Até o meio do próximo ano, queremos que pelo menos 60% dos novos processos passem a tramitar apenas eletronicamente. EL – O nosso problema no Judici-

ário, hoje, não é tanto a deficiência de recursos humanos. O que a gente não fez até agora foi utilizar ferramentas de tecnologia de informação. Nós precisamos investir maciçamente em TI. Agora mesmo, nós estamos inaugurando em Teresina o processo de execução penal eletrônico, e o PJE (Processo Judicial Eletrônico) vai ajudar nisso. Mas isso demanda investimento em informática e, principalmente, no treinamento dos nossos magistrados e servidores, que estão mais adaptados a uma rotina que eu chamaria de “trabalho artesanal”.

RCV – E o Poder Judiciário tem receita para implantar esse programa de modernização em todo o Estado? EL – A receita própria do Poder Judi-

ciário não é suficiente, mas nós estamos recebendo um apoio substancial do Conselho Nacional de Justiça, que nos fornece as ferramentas e, também, o treinamento. E estamos esperando

um compromisso que o governador assumiu de suplementação do orçamento para que nós façamos os outros investimentos complementares.

RCV – Qual o custo para a manutenção do Poder Judiciário, hoje, no Piauí? EL – Nosso custo está em torno de

R$ 480 milhões por ano.

RCV – Quando o processo eletrônico será uma realidade presente em todas as comarcas do Estado? EL – Hoje, em torno de 35% dos

nossos processos já são eletrônicos, que são os chamados processos do PROJURI, dos Juizados Especiais. Nós queremos expandir isso para a Justiça Comum. Inauguramos com um projeto piloto, na Vara da Fazenda Pública da Comarca de Campo Maior, e estamos estendendo para a Vara de Execuções de Teresina. Será ampliado e interiorizado para as Varas de Execuções. Onde houver um presídio, nós teremos o processo de execução eletrônico e também temos programada a instalação na Vara de Família da Capital. Até o meio do próximo ano, nós queremos que pelo menos 60% dos nossos processos novos deixem de existir no mundo físico e passem a tramitar apenas eletronicamente. Para você ter uma ideia, nós conseguimos, da data da distribuição do primeiro processo eletrônico, da Comarca de Campo Maior, até a data do julgamento, um período inferior a setenta dias.

RCV – O Piauí foi apontado como o segundo estado braREVISTA CIDADE VERDE | 12 DE JUNHO, 2016 | 9


sileiro com o maior número de presos provisórios. A implantação definitiva do processo eletrônico será capaz de reverter essa posição? EL – Os processos criminais serão

os últimos a sofrer essa migração do processo físico para o virtual, porque dependem também da atuação virtual da polícia judiciária, ou seja, os inquéritos terão de vir de forma digitalizada. E eu não vejo ainda a possibilidade concreta da Secretaria de Segurança Pública implementar isso a curto prazo. Mas nós temos outras políticas que ajudarão na redução desse número de presos provisórios.

RCV – E quais são? EL – A primeira coisa é que es-

ses números que mostram o Piauí como o segundo estado com o maior número de presos provisórios não têm consistência porque eles não são extraídos a partir do próprio sistema processual do Tribunal. São dados que vêm da Secretaria de Justiça. E, às vezes, o juiz julga, condena, e lá o preso continua como provisório. Além disso, nós criamos mais duas varas criminais na capital e estamos criando mais três juízes auxiliares só para varas criminais na capital. E estamos adotando o redesenho do quadro da organização judiciária, com agregação de comarcas que venham ocupando mão de obra de juízes e servidores sem demanda. Isso proporciona a prestação jurisdicional mais rápida, tanto na área cível como na criminal, o que vai possibilitar a redução do número de presos provisórios. 10 | 12 DE JUNHO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Nós temos algo em torno de 4.500 internos no sistema penal e não disponibilizamos nem metade dessas vagas RCV – As audiências de custódia vêm cumprindo o seu papel como deveriam? EL – As audiências de custódia são,

talvez, nos últimos anos, o projeto que melhor funcionou no estado do Piauí. Tanto assim, que nós estamos agora ampliando para os finais de semana, dentro de um ou dois meses, em Teresina. E vamos interiorizar a audiência de custódia, inclusive em Parnaíba. Nós temos, hoje, algo em torno de 4.500 internos no sistema penal e não disponibilizamos nem metade dessas vagas. Se não fosse a audiência de custódia, nós estaríamos com o sistema em situação de caos, pior do que já estamos. Algumas unidades judiciárias como a Casa de Custódia, a Penitenciária de Picos e a de Parnaíba contam com um número de presos duas vezes maior que a sua capacidade. Eu costumo comparar a audiência de custódia com o médico intensivista, que trabalha

na UTI. Na audiência de custódia, o juiz olha para dentro do sistema e diz: “quem desses não pode permanecer em liberdade?” E nos demais casos, em que a pessoa possa aguardar em liberdade o julgamento do processo, o juiz permite que isso aconteça com outras medidas cautelares, menos restritivas, como a tornozeleira eletrônica, a prisão domiciliar, o comparecimento periódico, etc. Isso tem evitado um caos maior no sistema penitenciário. Sem falar que é uma garantia constitucional, assegurada em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário e tem de cumprir. A culpa da explosão da criminalidade não está na audiência de custódia, mas em outros fatores, com a disseminação das drogas, principalmente do crack, que virou um fator econômico para as famílias, por causa do desemprego e de várias outras questões sociais. Hoje 50% ou mais dos processos criminais são por tráfico de entorpecentes ou roubos para bancar o tráfico.

RCV – O aparelho policial costuma repetir que prende o mesmo bandido várias vezes porque a polícia prende e a Justiça solta logo em seguida. EL – A polícia prende e a Justiça

solta porque, constitucionalmente, a competência de prender é da polícia; e a de soltar, é da Justiça. Então, não se pode esperar que o delegado esteja soltando. Quem tem de soltar é o juiz mesmo. Essa frase de que a polícia prende e a Justiça solta é chover no molhado. Nós estamos apenas cumprindo a Constituição. A tornozeleira é um instrumento


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