©Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ
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Páginas Verdes Deusdeth Nunes
Começa a corrida eleitoral
5. Editorial
8. Páginas Verdes Deusdeth Nunes concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão
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Um golpe de dor
Articulistas
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Teresina de todos os bairros
17. Cidadeverde.com Yala Sena 24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa
14. Palavra do Leitor
28. Economia e Negócios Jordana Cury
36. ESPORTE Aimagem de ouro do Piauí
40. Tecnologia Marcos Sávio
42. CULTURA Homenagem ao Rei do Baião
108. Chão Batido Cineas Santos
46. COMPORTAMENTO Não basta ser pai...
114. Perfil Péricles Mendel
106
Fonseca Neto
COLUNAS
Índice
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Tony Batista
foto Manuel Soares
A dor de quem acredita O sonho da segunda medalha olímpica para a judoca piauiense Sarah Menezes foi interrompido por um golpe duro. Ao aplicar uma chave de braço em Sarah, a mongol não só tirou a nossa atleta do pódio, como a lesionou fisicamente. Sarah sentiu o cotovelo direito se deslocar e, ainda assim, suportou a dor até o fim. Uma dor só suportável por aqueles que acreditam na força do espírito olímpico e que lutam até o ultimo segundo, tentando superar os próprios limites.
princípio chamado Barra do Poti, depois elevado à condição de Vila. Foi o primeiro dos 123 bairros existentes hoje.
Depois de uma temporada difícil no ano passado, quando acumulou sucessivas derrotas no tatame, Sarah Menezes deu a volta por cima, provou que podia disputar o bicampeonato olímpico e partiu para o Rio de Janeiro com garra e determinação. A judoca piauiense lutou bravamente. E mostrou para o mundo que a vitória de um atleta vai muito além da medalha que carrega no peito.
É lá na ponta, nos bairros, que a vida da cidade acontece, por meio do trabalho e dedicação dos moradores anônimos ou famosos. Há muitas coisas a serem descobertas em Teresina: paisagens bonitas, parques naturais, oficinas de arte, manifestações culturais, atividades comerciais, enfim, o que faz pulsar as veias de uma quase metrópole que nasceu a partir do encontro dos rios Parnaíba e Poti.
O Piauí chorou com Sarah, mas não perdeu o orgulho por sua campeã. Ao contrário, todos reconheceram o seu esforço e dedicação ao esporte que trouxe tantas glórias ao nosso Estado. Mesmo sendo eliminada no Rio de Janeiro, o mundo inteiro conhece, hoje, o nome e a história de Sarah, uma menina tímida que saiu do Piauí e alcançou o feito inédito de conquistar para o Brasil a primeira medalha de ouro no judô feminino.
A Revista Cidade Verde foi em busca das particularidades existentes nos bairros de Teresina e apresenta aos leitores o resultado do trabalho feito pela nossa equipe, com um olhar diferenciado e sensível. É um mosaico diversificado da vida teresinense.
E porque agosto chegou, mais uma vez, a cidade se veste com as melhores cores para festejar o seu aniversário no próximo dia 16. Aqui, na Revista Cidade Verde, nós também preparamos uma edição especial para comemorar os 164 anos da cidade fundada por Saraiva para ser a capital do Piauí. A origem dessa história começa no bairro Poti, a
A cidade cresceu e se espalhou de forma acelerada, agregando novos bairros aos mais antigos. E, em muitos deles, há fatos e talentos que merecem ser revelados aos nossos leitores. É a uma contribuição para que os teresinenses, de coração ou adoção, passem a conhecer melhor a cidade onde vivem.
Ainda como presente de aniversário, apresentamos um ensaio fotográfico que mostra as paisagens mais marcantes da cidade, captadas pela lente do nosso repórter fotográfico Thiago Amaral. São imagens para guardar na retina e no coração. Cláudia Brandão Editora-chefe
REVISTA CIDADE VERDE | 10 DE AGOSTO, 2016 | 5
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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Deusdeth Nunes
claudiabrandao@cidadeverde.com
Amor e humor por Teresina
Foto: Wilson Filho
O cearense mais teresinense da cidade recorda com saudade dos tempos em que podia conversar tranquilamente nas praças e calçadas, e admite que não sabe mais viver em outro lugar.
Deusdeth Nunes, o Garrincha, nasceu em Aracati, no Ceará. Mudou-se para Teresina ainda no início da década de 60 e logo criou um caso de amor com a cidade onde vive até hoje e na 8 | 10 DE AGOSTO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE
qual constituiu família e carreira. Bacharel em Direito, bancário, jornalista, escritor, humorista, ex-vereador e ex-secretário municipal de esportes e lazer, Garrincha coleciona muitas histó-
rias engraçadas sobre a capital piauiense e seus personagens, boa parte delas relatadas no livro Teresina, seus amores. No momento, está finalizando o livro Os cearenses em Teresina.
RCV – Vamos começar, então, pelo cearense Garrincha. O que o trouxe a Teresina? Garrincha – O que me trouxe foi o concurso público que eu fiz para o Banco do Brasil na cidade de Baturité, no Ceará. Havia várias opções de cidades, mas a única que possuía faculdade de Direito era Teresina, e como eu já fazia o segundo ano do curso, vim para cá para dar continuidade aos estudos.
RCV – Como era a Teresina do início da década de 60? Garrincha – Muito melhor do que agora.
RCV – Por quê? Garrincha – Porque havia
tranquilidade, você podia andar na rua sem medo de ser assaltado. Você chegava na Paissandu e era uma festa danada, uma grande alegria. Não havia perigo algum de você sofrer uma violência. Teresina era uma grande família, as pessoas se reuniam na Praça Pedro II, davam-se as mãos e saíam andando, passeando. O Theatro 4 de Setembro e o Cine Rex eram os locais dos grandes encontros da mocidade. Havia as tertúlias, onde você se encontrava com os amigos e arranjava namoro. Todo mundo era amigo. Você não tinha medo de sair de casa à noite. Então, era uma cidade modelo para você morar e criar seus filhos. O único problema era o calor que sempre existiu.
Garrincha – Teresina tem gran-
Teresina era uma grande família, as pessoas se reuniam na Praça Pedro II, davam-se as mãos e saíam andando, passeando.
RCV – Você acha que o progresso trouxe mais prejuízos que benefícios, é isso? Garrincha – Tudo tem vantagens
e desvantagens. Por um lado, você passa a ter melhores condições de saúde, maiores chances de ganhar dinheiro. Mas, por outro, tem o problema da falta de segurança. Antes você almoçava e saía de casa “palitando” os dentes na praça. Hoje, você não pode mais fazer isso porque, se você botar o pé na calçada, corre o risco de ser assaltado. Aparece um menor e faz o que quer.
RCV – Na sua opinião, qual é a maior conquista da Teresina atual?
des conquistas, como na área das comunicações, com grandes empresas de televisão. É verdade que estamos tendo perdas com os jornais. Hoje, ninguém tá lendo jornais, tá todo mundo no “zap-zap”. E hoje, também, dificilmente você lê livros. Os livros já não são mais procurados como antigamente. O negócio tá diferente. A vantagem é que Teresina tá sendo muito visitada por gente de fora. O Piauí hoje não é mais motivo de deboche, agora o Piauí é respeitado.
RCV – No livro “Teresina, seus amores”, você conta muitas estórias engraçadas sobre a cidade. Quais os fatos mais pitorescos da Teresina daquela época? Garrincha – Naquela época, você
tinha o Zé Doidinho, por exemplo, que era uma figura que subia no Cine Rex e ficava ameaçando pular, fazendo as marmotas dele. Tinha também o Pai Sarim, que se fazia de macumbeiro, mas era só um número, não havia nada de macumba. E, ainda, a Teresa Fogoió, os pastéis da Maria Divina (“comeu, caiu na esquina”). Imagina que na Praça Pedro II havia até um lago com jacaré dentro. Agora, tudo mudou.
RCV – Mas você continua fazendo humor até hoje. Você ainda vê graça em Teresina? Garrincha – Vejo graça e vejo
desgraça, porque as coisas estão muito diferentes. Antes, formava-se
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um grupo de homens de bem para conversar no Sagaró e lá se falava da vida de todo mundo na cidade. Mas a falta de segurança não permite mais que a gente faça isso. Você não vê mais as rodinhas na praça. Ainda restam alguns idosos na Praça Rio Branco, são os saudosistas. Mas a Teresina romântica e alegre de outros tempos você não tem mais hoje, porque as condições de vida não mais permitem.
RCV – E sem frequentar mais as praças, como é o seu lazer hoje? Garrincha – Meu lazer agora é o
mal do século: o “zap-zap” e o computador. Eu não sou muito bom em computador, mas mando e recebo mensagens o tempo todo, posto umas fotos antigas que eu tenho. Também gosto de ir aos mercados e supermercados. Tem uns grupos de aposentados que se reúnem para falar da vida alheia nesses espaços e sempre estou por lá.
RCV – Falar da vida alheia ainda rende? Garrincha – Rende, porque as
pessoas ainda fazem coisas boas e más. Isso ainda existe. O falatório, o disse-me-disse nunca vai deixar de existir.
RCV – Como humorista, você sempre mexeu e brincou com pessoas, inclusive autoridades. Você arrumou desafetos por conta disso? Garrincha – Poucos se zangaram com minhas conversas. Na maior
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Poucos se zangaram com minhas conversas. Na maior parte, as pessoas relevam e dizem: Ah! É coisa do Garrincha, deixa pra lá. parte, as pessoas relevam e dizem: Ah! É coisa do Garrincha, deixa pra lá! Não levam nem a sério. Eu posso até contar nos dedos os que se zangaram comigo.
RCV – Você está finalizando o livro Os cearenses em Teresina. A colônia cearense é mesmo tão grande como se diz? Garrincha – Os cearenses repre-
sentam muito a história dessa cidade. Como o nordestino que vai pra todo lugar em busca de melhores condições de vida, os cearenses vieram para cá também em busca de melhores condições. Dezenas de cearenses vieram para a Polícia Militar do Piauí; outros vieram para o Banco do Brasil, como eu.
O Alberto Silva trouxe uma carrada de gente. Aqui era o local onde os cearenses vinham fazer a vida, aventurar. De forma que o cearense, hoje, tem uma participação muito importante no progresso de Teresina.
RCV – Isso ajudou a diminuir aquela rixa histórica que havia entre piauienses e cearenses? Garrincha – Não. Eu faço é incentivar. Na realidade, essa rixa não é séria, é coisa de brincadeira. Os cearenses trazidos pelo Alberto Silva se casaram e acabaram melhorando a raça dos piauienses (risos). De forma que há essa amizade entre piauiense e cearense, que vai é aumentando. Há, inclusive, uma coisa curiosa no romance Iracema, de José de Alencar, que me deixa encucado até hoje. Ele começa o romance dizendo: “Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema”. E aí, eu pergunto: além daquela serra do Ceará, o que existe? O Piauí. Iracema nasceu aqui. A minha teoria é que Iracema é piauiense, ela deve ter nascido naquelas bandas de Piripiri.
RCV – Você nunca pensou em fazer o caminho de volta e retornar ao Ceará? Garrincha - Fiz, mas não deu cer-
to. Quando minha primeira esposa, a saudosa Virgínia, faleceu no Rio de Janeiro, eu fiquei realmente muito triste e tudo aqui em Teresina me fazia lembrar ela. Eu passei três meses no Rio de Janeiro e pedi