CAPA
Índice Capa
Lampião do Youtube 5. Editorial 8. Páginas Verdes Gilberto Castro Júnior concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 14. Palavra do leitor 16. POLÍTICA O que esperar do futuro prefeito 24. POLÍTICA De olho na prestação de contas 32. ECONOMIA O Piauí reclama acordo mais justo
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Páginas Verdes Gilberto Castro
O que esperar do futuro prefeito
36. ECONOMIA Um salto no escuro 40. POLÍTICA Vai haver isenção? 44. ESPECIAL Programa Especial homenageia os bairros de Teresina 54. COMPORTAMENTO A invasão dos monstrinhos amarelos
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A invasão dos monstrinhos amarelos
13. Cidadeverde.com Yala Sena 22. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa
28. Economia e Negócios Por Jordana Cury 71. Tecnologia Marcos Sávio
58. SAÚDE Potencial inimigo
84. Passeio Cultural Eneas Barros
62. COMPORTAMENTO Em busca da felicidade
86. Perfil Péricles Mendel
Articulistas 35
Zózimo Tavares
COLUNAS
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Cecília Mendes
foto Manuel Soares
Os fenômenos da Terceira Onda A “Terceira Onda”, descrita no livro de mesmo nome pelo autor norte-americano Alvin Toffler, em 1980, nunca esteve tão em evidência quanto agora. Já naquela época, o autor escrevia que, após as revoluções agrícola e industrial, aconteceria o movimento revolucionário da informação, simbolizada pelo computador. É exatamente a esse fenômeno que estamos assistindo hoje. As redes sociais fizeram nascer um novo tipo de celebridade, fabricado a partir do número de seguidores e de curtidas, ou likes, obtidos em suas postagens. A internet é capaz desse milagre de transformar anônimos em famosos, desde que, obviamente, haja uma boa dose de talento por parte de quem a utiliza. Foi o que aconteceu com o piauiense de Bom Jesus, Whindersson Nunes. Garoto simples, de origem humilde, começou a publicar vídeos amadores no canal Youtube e, hoje, já é considerado o segundo youtuber mais influente do mundo, com dez milhões de seguidores. Whindersson faz piadas e paródias sobre situações cotidianas e, com isso, vem conquistando um público impressionante, capaz de lotar auditórios e casas de espetáculos, como aconteceu recentemente em Teresina. A Revista Cidade Verde foi conhecer um pouco mais sobre o jovem que, graças à internet, transformou-se em um encantador das multidões.
Ainda no mundo dos computadores, outro fenômeno virtual vem chamando a atenção do mundo inteiro. É o game Pokémon Go, lançado agora em agosto no Brasil e já campeão em número de downloads. Pessoas de todas as idades se lançaram numa espécie de caça ao tesouro, no caso, os monstrinhos amarelos que se espalham pela cidade com a ajuda da tecnologia da informação. Esses são dois exemplos de como os computadores vieram para fazer parte definitivamente das nossas vidas, seja no campo profissional ou no do entretenimento, gerando sorrisos e dinheiro. Nas Páginas Verdes desta edição, a entrevista com um dos maiores especialistas em oncologia do Brasil, o médico Gilberto de Castro Júnior, da equipe do Hospital Sírio Libanês. Ele esclarece dúvidas e mitos sobre o câncer e dá orientações preciosas sobre como prevenir a doença que, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), deve atingir seiscentas mil pessoas no biênio 2016/2017.
Cláudia Brandão Editora-chefe
REVISTA CIDADE VERDE | 21 DE AGOSTO, 2016 | 5
Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Gilberto Castro Júnior
claudiabrandao@cidadeverde.com
O combate ao câncer começa pela dieta
A simples menção à palavra “câncer” costuma assustar os pacientes. E não é para menos. A doença sempre esteve associada à dor e à morte. Mas, aos poucos, essa realidade vem mudando, graças aos avanços nas pesquisas realizadas na área. A incidência de novos casos, no entanto, não para de crescer. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o biênio 2016/2017 é de seiscentos mil novos casos de câncer no Brasil. Um número que deve ser analisado a partir de vários fatores, como explica o médico Gilberto Castro Júnior, da equipe de oncologia do Hospital Sírio-Libanês, e também professor da Universidade de São Paulo. Na sua recente visita a Teresina para proferir palestra, o médico concedeu a seguinte entrevista à Revista Cidade Verde.
Foto: Thiago Amaral
Apesar do medo que o diagnóstico do câncer provoca até hoje, os tratamentos modernos avançam para que a doença se torne crônica, proporcionando vida longa e com qualidade para os pacientes.
RCV – A que devemos esse aumento considerável no número de casos de câncer? A vida moderna está adoecendo as pessoas? GC – Quanto à mudança da in-
cidência de câncer, eu acho que nós temos que levar em consideração, pelo menos, dois fatores. 8 | 21 DE AGOSTO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE
O primeiro é um aumento do número de casos que são diagnosticados por avanços em métodos diagnósticos, que já existiam, mas antes não eram feitos e, agora, são realizados. Número dois: observa-se um aumento de certos tumores que podem ser explicados por exposição a alguns fatores que antes não existiam, como alguns vírus, a exemplo do papilomavírus humano (HPV), que é relacionado sabidamente aos tumores do colo do útero. Atualmente, a gente observa um aumento no número de casos de carcinomas da orofaringe relacionados ao HPV. Está aumentando isso. Ao mesmo tempo em que, por exemplo, tumores relacionados ao cigarro, nós já sabemos que estão diminuindo. Então, eu acho que atribuir somente a fatores externos, fatores ambientais, é simplificar muito uma epidemiologia que é uma interação entre fatores genéticos, fatores ambientais e a questão do diagnóstico.
RCV – O que pesa mais na predisposição para o surgimento do câncer: hereditariedade, alimentação ou meio ambiente? GC – Existem estudos que mostram que a hereditariedade é responsável por, no máximo, 10% dos casos de câncer. A dieta tem um papel muito importante. Esse número é em torno de 20 a 25%. Cerca de 1/3 dos tumores, por exemplo, está relacionado a fatores externos, entre os quais
Se o mundo, hoje, parasse de fumar, daqui a 20, 25 anos, iríamos observar uma diminuição de mortalidade de cerca de 1/3 dos casos de câncer. eu gostaria de destacar o tabaco. Se o mundo, hoje, parasse de fumar, daqui a 20, 25 anos, iríamos observar uma diminuição de mortalidade de cerca de 1/3 dos casos de câncer. Então, eu ainda acho que a gente tem de insistir na prevenção dos tumores que são relacionados ao tabagismo, porque representam uma quantidade enorme de mortes por câncer, cerca de 30%.
RCV – Qual o grau de comprometimento para o fumante passivo? GC – Em termos de câncer de
pulmão, isso é conhecido, quem é fumante passivo, isto é, aquele que convive com alguém que fuma, tem um risco aumentado
com relação a quem não fuma. Só que o risco de ele ter câncer de pulmão não é tão alto quanto o daquele que fuma. Acredita-se que ele tem um risco aumentado em torno de 10% com relação à população não fumante.
RCV – O que leva à multiplicação desordenada das células no organismo humano? GC – O câncer, na verdade, é o
resultado do acúmulo de mutações que ocorrem no DNA. Seja por agressões ambientais; seja por microorganismos; seja por exposição a raios ultravioleta, que é a radiação do sol; seja por alimentação; ou seja por herdar alguma mutação que predisponha ao câncer, você vai acumulando uma série de alterações no DNA que comprometem a regulação que a célula tem na sua proliferação. Basicamente, o que é o tumor? São células normais que perderam o autocontrole de proliferar. Elas esquecem de morrer na hora certa e continuam a proliferar. São vários mecanismos que estão envolvidos. Além das questões genéticas, de alteração no DNA, hoje em dia a gente sabe que o tumor também é causado pelas chamadas alterações epigenéticas, nas quais não há mudança na sequência de letrinhas do DNA, mas muda o modo pelo qual os genes são transcritos. E uma terceira coisa que é importante é que, além da ativação de alguns genes que são responsáveis por fazer a célula proliferar, criar vasos sanguíneos, ganhar REVISTA CIDADE VERDE | 21 DE AGOSTO, 2016 | 9
capacidade de gerar metástase, também ocorre o silenciamento dos genes que são responsáveis por frear esse processo. É uma coisa bastante complicada e é por isso que o tratamento dessa doença também é muito complicado, porque não adianta você desligar um mecanismo. Provavelmente, na hora em que você desligar um mecanismo, essas células conseguem, de alguma maneira, continuar proliferando por outras vias.
RCV – Quais são, hoje, os avanços mais significativos no tratamento do câncer? GC – Basicamente, o câncer vai
ser tratado com cirurgia, com radioterapia e com tratamentos sistêmicos. E dentre os tratamentos sistêmicos, se considera a quimioterapia clássica, as chamadas drogas de alvo molecular, e a imunoterapia. Os avanços que a gente tem observado mais recentemente são relacionados justamente ao desenvolvimento daquelas drogas que são direcionadas às alterações moleculares que se observa no câncer. É o tratamento molecular e a imunoterapia, que é a administração de medicamentos, anticorpos, na grande maioria das vezes, em que você bloqueia a tolerância que o sistema imune criou para o tumor. Ou seja, faz acordar o sistema imune que, de alguma forma, a célula tumoral hipnotizou para que ele não funcione. Esses tratamentos conseguem reativá-lo.
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Eu acredito que a tendência não vai ser curar, poder falar que a pessoa está livre daquela doença para sempre. A minha impressão é que a gente vai conseguir, cada vez mais, tornar o câncer uma doença crônica.
RCV – A imunoterapia seria o tratamento mais promissor no futuro para debelar o câncer? GC - Eu acho muito importante a gente deixar claro, especialmente para os tumores mais comuns, que nunca vai ser suficiente apenas uma modalidade de tratamento. É fundamental no tratamento do câncer o uso de várias ferramentas, como cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e, além disso, todo aquele apoio da equipe multidisciplinar: enfermagem, fisioterapia, nutrição, odontologia. O paciente precisa ser cuidado como um todo.
RCV – Nas últimas décadas, o avanço na qualidade desses tratamentos permitiu uma sobrevida bem maior aos pacientes. Há esperança para a cura do câncer no futuro? GC – Já existem alguns tumores
que, mesmo quando há metástase, podem ser curados. Quando isso vai ocorrer, a gente ainda não sabe. Eu acredito que a tendência não vai ser curar, poder falar que a pessoa está livre daquela doença para sempre. A minha impressão é que a gente vai conseguir, cada vez mais, tornar o câncer uma doença crônica. À hora que o paciente escapa de um tratamento, à hora que a doença progride, a gente consegue fazer uso de uma segunda ferramenta, de maneira que o paciente volta a responder e a gente mantém a doença sob controle.
RCV – E com qualidade de vida? GC – Sempre. O objetivo sempre
é ganhar quantidade de vida com qualidade. Eu gosto muito de uma frase que é a seguinte: além de trazer dias para a vida, é preciso trazer vida para os dias. Nós temos que ganhar na quantidade de vida e ganhar na qualidade, também.
RCV – Diante das informações sobre a doença, já há uma preocupação maior dos brasileiros com os alimentos que consomem. Quais os alimentos mais perigosos, que mais contribuem para o surgimento do câncer?