PARA PUBLIC
AÍBA CIDADE
Índice
08
Capa
Pista de alto risco
Páginas Verdes Dom Sérgio da Rocha
16
32
O novo alvo dos bandidos
05. Editorial
38. A volta de Prestes ao Piauí
08. Páginas Verdes Cardeal Dom Sérgio da Rocha concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão
56. HPV: a preocupação agora é com os meninos
14. Palavra do leitor
66. Brincadeira de gente grande
24. Como funciona a delação premiada
72. Piauí se consolida como referência no badminton
30. Indústria
78. Adeus ao mestre das telas
36. Comércio Piauí
A legislatura dos suplentes
22. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa 44. Chão Batido Cineas Santos 55. Tecnologia Marcos Sávio
64. Economia e Negócios Jordana Cury 82. Playlist Rayldo Pereira 84. Perfil Péricles Mendel
Articulistas 15
Jeane Melo
81
Fonseca Neto
COLUNAS
48
90
Tony Batista
foto Manuel Soares
União pelo Piauí Em 1928, a frase dita pelo então presidente Washington Luís ao inaugurar a estrada Rio – Petrópolis, a primeira rodovia asfaltada do país, entraria para a história: “Governar é abrir estradas”. De fato, já àquela época, Washington Luís tinha a noção de que as estradas são essenciais para o desenvolvimento do país, porque permitem o tráfego de pessoas e mercadorias, além de facilitar a comunicação entre as diversas regiões. Quase noventa anos depois, o Piauí ainda sofre com a precariedade de estradas imprescindíveis para o escoamento da sua produção. É o caso da BR-135, que recebeu o macabro apelido de “rodovia da morte”, em razão das 35 vidas perdidas em sua pista só este ano de 2017. A estrada que leva ao sul do estado, onde estão localizados os cerrados piauienses e toda a sua riqueza de grãos, é uma das mais críticas do Piauí. Além de comprometer a economia da região, próspera na produção de soja, milho e algodão, ainda dificulta o transporte de passageiros para lá. Há anos, a rodovia, que inicialmente era estadual e só depois foi federalizada, pede socorro. Em alguns trechos, a pista é extremamente estreita, dificultando a passagem de duas carretas em sentidos opostos. Para completar, há ainda desníveis de até 30 cm entre a pista de rolamento e o acostamento, o que contribui para causar muitos acidentes graves. Foram necessárias mais de trinta mortes para que a bancada piauiense se unisse e resolvesse cobrar uma ação do governo federal. Feito isso, o Ministério do Pla-
nejamento liberou recursos para a realização de uma ação emergencial na rodovia. A execução do projeto já existente para a recuperação total da obra custa R$ 350 milhões. O Ministério do Planejamento autorizou a liberação de R$ 30 milhões para uma ação emergencial. Já é um começo e serve para provar que, quando há o interesse comum, com a mobilização de todos os parlamentares pelo bem do Piauí, as coisas começam a funcionar. Que sirva como exemplo para outras necessidades do estado. Esta edição traz ainda a reportagem sobre um fenômeno na área de entretenimento que está proporcionando geração de renda e movimentando uma boa quantia em dinheiro: o e-esporte. Os apaixonados por jogos eletrônicos são capazes de viajar vários quilômetros para participarem dos campeonatos, como o que aconteceu no mês passado em Teresina. É um novo segmento da economia que vem despertando cada vez mais interesse e negócios lucrativos. O mês de junho foi marcado por uma triste despedida no mundo das artes plásticas, com a partida do pintor Afrânio Pessoa Castelo Branco, um dos maiores expoentes da nossa pintura, com reconhecimento nacional e até internacional das suas obras. Afrânio deixou um legado valioso de telas, expostas hoje em vários órgãos públicos do estado. Um talento raro que marcou para sempre a história da arte piauiense. Cláudia Brandão Editora-chefe
REVISTA CIDADE VERDE | 9 DE JULHO, 2017 | 5
HOUS PUBLIC
SE D1 CIDADE
Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Dom Sérgio da Rocha
claudiabrandao@cidadeverde.com
De Teresina para o Vaticano Dom Sérgio da Rocha é o terceiro cardeal que já serviu à Arquidiocese de Teresina. Os outros dois foram Dom Avelar Brandão Vilela e Dom José Freire Falcão. Atualmente, ele divide as funções de cardeal com a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Arquidiocese de Brasília. No dia 5 de julho, ele esteve na capital piauiense pela primeira vez depois de ser criado cardeal pelo Papa Francisco, quando concedeu a seguinte entrevista à Revista Cidade Verde. Embora muito cauteloso com as palavras, ele não esconde a preocupação com o atual momento político do país e clama por uma solução dentro da ordem constitucional e do estado democrático de direito. Para ele, as vozes das ruas precisam ser ouvidas com mais atenção.
RCV – Pra começar, o senhor poderia explicar quais são todas as atribuições de um cardeal? SR – O cardeal, acima de tudo, deve
ser um servidor da Igreja. O Papa Francisco sempre tem insistido nisso. Não se pode entender os cardeais como uma espécie de “honraria”, ou então como pessoas que têm acesso a uma série de privilégios. Nossa função maior é estar a serviço da Igreja, colaborando, primeiramente, com o Papa naquilo que ele julgar necessário. Por exemplo: eu participo do Conselho da 8 | 9 DE JULHO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE
foto Wilson Filho
O Cardeal Dom Sérgio da Rocha diz que a CNBB, presidida por ele, está preocupada com a crise de ética pública vivida pelo país, mas ressalta que não há saída fora da Constituição.
Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos e também da Pontifícia Comissão para a América Latina. Tenho pedido ao Papa que não aumente minhas tarefas em Roma porque já tenho bastante no Brasil, uma vez que além da Arquidiocese de Brasília, que é bem exigente, há também a presidência da CNBB ( Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). E, claro, é função dos cardeais eleger o Papa quando ocorre a vacância da sede de Pedro.
RCV – A nomeação de cardeais fora do continente europeu tem ajudado a Igreja a ter um olhar mais atento para os problemas sociais dos países em desenvolvimento? SR – Com certeza, o Papa quer, cada
vez mais, que a Igreja esteja toda representada no colégio dos cardeais. Essa espécie de universalização do colégio cardinalício, com cardeais de países que às vezes até não são conhecidos no cenário internacional, expressa o desejo do Papa de ter representantes de várias regiões, com diferentes situações, especialmente de países mais pobres. Sempre houve cardeais de várias partes do mundo, a diferença hoje é a proporção, que tem crescido bastante, e também a representação de países que não têm maior importância no cenário internacional. Isso, sem dúvida, permite ao Papa dar uma atenção maior a várias situações de desigualdade, de pobreza, de conflitos, às quais ele já está sempre muito atento. Mas o cardeal se torna um interlocutor. Nós não somos oficialmente representantes dos países de onde viemos, mas nos sentimos as-
O Papa tem um amor muito grande pelo Brasil. Ele acompanha a situação do país como pai, irmão e amigo da Igreja brasileira.
sim. Eu mesmo me sinto representando o Brasil e sua Igreja quando estou em Roma, nas reuniões com o Papa.
RCV – Como o Papa Francisco vem acompanhando a crise no Brasil? Ele demonstra interesse pela nossa situação? SR – O Papa Francisco, primeiramen-
te, tem um amor e um carinho muito grande pelo Brasil, ele dá uma atenção especial a nós, sobre a Conferência Episcopal, que é a CNBB. O fato de ele ter me escolhido como cardeal já mostra que ele valoriza e dá atenção à Igreja no Brasil. E é claro que isso permite que o Papa acompanhe ainda mais de perto o que se passa no Brasil. Agora, quem representa a Santa Sé não são os cardeais, é o Núncio Apostólico. O Núncio Apostólico é, efetivamente, o embaixador, o representante da Santa Sé junto ao governo brasileiro. Mas, nós, da Conferência Episcopal, temos a ocasião, de, pelo menos uma vez por ano, nos reunirmos com o Papa durante uma hora, uma hora e meia, para conversarmos a respeito da situação do Brasil, nos aspectos econômicos, políticos, culturais, e ele
sempre demonstra muito interesse sobre tudo que se passa no Brasil.
RCV – Ele externou algum tipo de preocupação pelo momento atual que o país está vivendo? SR – Ele mesmo já expressou isso, por
ocasião da inauguração daquele monumento a Nossa Senhora Aparecida no jardim do Vaticano. Ali, ele já se referia ao momento difícil, triste, que nós temos vivido, de crise econômica, política e ética. O Papa tem presente essa realidade; ele não se pronuncia sobre governos, nem sobre situações político-partidárias de um país, mas acompanha, sim, com a atenção de um pai, de um pastor universal da Igreja, e, principalmente, como pai, irmão e amigo da Igreja brasileira.
RCV – As posições mais liberais que o Papa Francisco tem assumido, desde a sua posse, têm ajudado a aproximar os fiéis da Igreja Católica? SR – Sem dúvida que as atitudes do
Papa Francisco têm ajudado muito a pessoas que não participam normalmente da vida da Igreja, ou até mesmo que não tenham claramente opção religiosa, a participar mais e a conhecer melhor o Evangelho, conhecer Jesus Cristo. Agora, eu não utilizaria o adjetivo “liberal”. Eu creio que o Papa tem acentuado alguns aspectos do Evangelho e da vida da Igreja desde o início, como, por exemplo, a misericórdia, o acolhimento fraterno, a simplicidade, a espontaneidade, são todos aspectos que acompanham a vivência da fé. O Papa tem ajudado a Igreja a avançar nestes aspectos. Eu REVISTA CIDADE VERDE | 9 DE JULHO, 2017 | 9
diria que o adjetivo “liberal” ou “progressista” pode não expressar muito bem a fidelidade dele ao Evangelho. Ele está trazendo para nosso tempo valores do Evangelho que precisam de maior atenção, como esse da acolhida misericordiosa de todos. A imagem da Igreja como a de uma casa de portas abertas, de mãe misericordiosa, é imagem que favorece a acolhida e que vêm da Bíblia.
RCV – E aí entra a inclusão de homossexuais ou de casais de segundas núpcias. SR - O Papa Francisco não deixa de
propor para todos os grandes ideais do Evangelho, que estão na doutrina da Igreja, mas ele procura fazer isso sempre com esse olhar misericordioso, acolhedor. A Igreja, desde o início, acolheu as pessoas que estavam na situação de sofrimento, seja pela condição social em que viviam, seja por outros aspectos de pessoas consideradas pecadoras públicas, mas que acreditam em Jesus e o buscam no Evangelho. Mas não é porque o mundo vai mudando, ou porque o contexto cultural de hoje exige, que nós vamos fazer assim. Nós vamos considerar o mundo de hoje para anunciar o Evangelho da maneira mais fiel possível e mais eficaz. Não significa que nós estamos nos acomodando à época, senão o Evangelho perderia sua força e a Igreja deixaria sua missão profética. A palavra de Deus é a instância crítica maior. A Igreja procura viver a simplicidade, o que não é algo tão simples em uma época em que se procura tanto acumular e consumir bens. Um cristão de verdade é chamado a viver na simplicidade evangélica para servir aos mais pobres e mais sofredores. 10 | 9 DE JULHO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE
Eu trago com muita saudade a participação que tive na Caminhada da Fraternidade e a experiência em Santa Cruz dos Milagres.
RCV – Com essa visão de simplicidade, o Papa quebrou muitos paradigmas no Vaticano, até mesmo com relação à casa onde mora. Ele ainda enfrenta muita resistência da ala mais conservadora? SR – Na verdade, o Papa ensina não
só pelas suas palavras, mas também através de gestos concretos de muito significado e simbolismo. Ele é muito coerente com aquilo que ensina. É claro que, ao insistir nesses aspectos, ao buscar que a Igreja seja mais santa, mais fiel possível ao Evangelho, desagrada muita gente, porque desinstala. O Papa fala de uma igreja em saída, de uma Igreja que não se acomoda, mas que sai e vai ao encontro das pessoas para levar uma vida nova. Mas, ao fazer isso, o Papa incomoda certos grupos e provoca reação de algumas pessoas ou grupos. Isso sempre houve. Jesus, quando anunciava o Evangelho, também encontrou pessoas que não eram capazes de entendê-lo. Só que o Papa Francisco não se deixa abater por nada disso, ele é um exemplo de sempre olhar para frente. Ele não enfrenta nada com polêmica ofensiva, ao contrário, tem dado respostas na linha da caridade,
da firmeza nos seus ensinamentos e, muitas vezes, no silêncio.
RCV – Como evitar que denúncias de pedofilia abalem a imagem da Igreja junto aos seus fiéis? SR - A Igreja tem procurado trabalhar
o máximo possível a formação dos seus presbíteros, dando uma atenção especial à dimensão humana e afetiva. É muito importante preparar bem os futuros padres e, naturalmente, dar a devida atenção a essa dimensão, porque padre é pessoa humana e precisa ser trabalhado e bem cuidado. Anteriormente, o Papa Bento e, mais recentemente, o Papa Francisco têm combatido as situações que aparecem de denúncia de abuso e insistido para que se apure e se encaminhe isso. Quando se trata desse tema de pedofilia, não se pode também ficar apenas olhando para situações que ocorrem ou possam ocorrer no interior da Igreja. Nós sabemos que esse é um problema que, lamentavelmente, ocorre na vida das famílias, independente da presença de padre. É uma situação que exige uma atenção maior, um cuidado maior. Não é só cuidar para que os padres possam ser pessoas humanas íntegras, maduras, capazes de vivenciar os seus compromissos, mas também, nas famílias, a gente tem que ajudar as pessoas a superarem determinadas dificuldades de caráter psicológico ou emocional, para que elas possam vivenciar de forma madura a sua vida familiar.
RCV – A CNBB chegou a publicar uma nota sobre ética pública. É intenção da CNBB