Revista Cidade Verde 185

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CIDADE


Índice Capa

É prata! E da casa. 05. Editorial 08. Páginas Verdes Mário Rosa concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 14. Palavra do leitor

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Páginas Verdes Mário Rosa

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Sem identidade

22. Política Os 100 anos de Alberto Silva, um tocador de obras

13. Cidadeverde.com Yala Sena

42. Indústria Feira da Cidadania beneficia municípios da região de Picos

26. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

66. Esporte Na Trajetória dos Noventa

Cineas Santos

44. Economia e Negócios Jordana Cury 81. Tecnologia Marcos Sávio 82. Playlist Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 21

Na academia, não!

38. Meio Ambiente Das nuvens para os canos

58. Economia Um pe$o a mais para os passageiros

16. Geral Corrida legal!

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Fonseca Neto

COLUNAS

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Tony Batista


foto Manuel Soares

Patrimônio Musical A cultura expressa a alma de um povo, por isso é tão importante cultivá-la e preservá-la. Em Teresina, um dos maiores patrimônios culturais da cidade está completando 25 anos de atividade intensa, inovadora e sofisticada. É a Orquestra Sinfônica de Teresina, quem homenageamos nesta edição da Revista Cidade Verde. Neste um quarto de século, a Orquestra soube cativar o público do Piauí e do Brasil, levando música da melhor qualidade aos ouvidos mais exigentes e, também, aos que ainda estão se iniciando na audição erudita. Para manter-se sempre atual e conquistar novos públicos, a OST soube se renovar, sob a batuta do inspirado e dedicado maestro Aurélio Melo.

Teresina, levando o privilégio de assistir a um concerto sinfônico, antes restrito às salas refinadas das classes sociais abastadas, ao cidadão comum da periferia, que fica igualmente extasiado ao ouvir as notas emitidas pelos instrumentos da orquestra.

Aos acordes dos clássicos, como Mozart, Beethoven e Chopin, o maestro incorporou arranjos bem modernos e populares, dando origem a concertos memoráveis, como a Cantata Gonzaguiana - com a interpretação de canções de Luiz Gonzaga na voz de João Cláudio Moreno – ou o Rock Sinfônico, em que apresenta uma releitura de canções que ficaram marcadas na memória dos apaixonados por esse estilo musical.

E, para inspirar, a emocionante história da empresária Ana Gorete Lustosa que, periodicamente, suspende a produção da sua indústria de confecções para produzir próteses mamárias para as pacientes vítimas de câncer que foram submetidas à mastectomia – a cirurgia de retirada da mama. Um ato de solidariedade que ajuda a recuperar a autoestima das mulheres que sofreram a dor do câncer de mama.

Em todos os gêneros, o preciosismo de quem busca sempre a perfeição. Com uma rotina disciplinada de ensaios, os músicos circulam por diferentes bairros de

Cláudia Brandão Editora-chefe

Esta edição traz também uma denúncia sobre o atraso e estado de abandono em que se encontra o prédio onde funciona o Instituto de Identificação do Piauí, local onde são expedidos os documentos de identidade dos piauienses. Em plena era da tecnologia, todo o serviço lá é feito manualmente, o que compromete não só a agilidade, como o arquivo dos documentos.

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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Mário Rosa

claudiabrandao@cidadeverde.com

O homem que administra crises

O jornalista Mário Rosa trocou as redações por uma atividade exercida em campos opostos ao da antiga profissão. Como consultor de crises e gestor de imagens, ele passou a defender quem, antes, atacava.

O jornalista Mário Rosa já vivenciou os dois lados de um escândalo. Como jornalista, ajudou a derrubar muitas reputações, como ele mesmo faz questão de dizer. Depois, mudou de profissão e passou a trabalhar como consultor de crises e gestor de imagens. Foi aí que acompanhou de perto grandes conflitos enfrentados por empresas e políticos.

foto Wilson Filho

Depois de uma carreira de sucesso nos principais veículos de comunicação do país, como Revista Veja, Jornal o Globo e GloboNews, quando recebeu dois Prêmio Esso de Jornalismo ( 1991, 1992),o carioca Mário Rosa passou a cuidar da imagem de grandes grupos, entre eles o Cassino, a Ambev e o Iguatemi. Também prestou consultoria gratuita, como faz questão de enfatizar, para Fernando Henrique Cardoso, Lula e Renan Calheiros. Em 2015, viu-se, ele próprio, no centro do furacão, ao ser investigado pela Operação Acrônimo, da Polícia Federal. Foi uma reviravolta em sua vida. Mário Rosa é autor de quatro livros e conta parte de sua experiência na entrevista a seguir.

RCV – Como foi a migração de uma carreira bem-sucedida como jornalista para a de consultor de crises e gestão de imagem? MR – Eu costumo dizer que eu

não saí do jornalismo, foi o jor8 | 18 DE MARÇO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE


nalismo que saiu de mim. Acho que o jornalismo significa uma forma de exercer uma atividade profissional tendo o interesse público como um olhar principal. Depois de uma década fazendo isso, eu fui perdendo essa chama. Eu já não sentia mais tanto prazer em produzir matérias que representavam muitas vezes dores de cabeça e prejuízos para as pessoas, mesmo que essas pessoas tivessem, eventualmente, cometido ações que eram contra o interesse público. Eu fui me humanizando, no sentido, talvez, contrário ao do interesse público. Quando eu fui deixando de ver as pessoas apenas como objetos frios e impessoais, o jornalismo foi saindo de mim, porque o jornalismo exige um distanciamento e uma objetividade que, muitas vezes, é uma desumanização em nome desse suposto interesse público. Eu fui fazer uma outra coisa porque aquele ciclo tinha se esgotado, aí eu fui procurar algo para fazer, foi quando surgiu essa nova encarnação de consultor de crises.

RCV – O que mudou no gerenciamento de crises depois das Redes Sociais? MR – Mudou, principalmente,

não por causa das Redes Sociais, mas depois da revolução tecnológica. Primeiro, a captação e a difusão de uma falha ficaram muito maiores. Então, a escala do erro mudou, o pequeno erro se transformou em uma grande contradição porque, na medida em que

De vez em quando, nós vamos precisar trocar e renovar nossos líderes. Talvez, nós estejamos vivendo um momento de renovação de ciclo. todos nós estamos muito mais próximos uns dos outros, graças a todo esse aparato de observação que nos circunda,tudo fica maior. Em paralelo a isso, a revolução tecnológica permitiu – e a Lava Jato é o maior exemplo disso – a produção de uma linha industrial de escândalos, uma fábrica de escândalos. Os escândalos aconteciam antigamente, digamos assim, quase que de maneira artesanal. Eles brotavam como um filho. Acontecia um escândalo, depois ele se esgotava, e assim por diante. Hoje, não. Você tem uma central de produção de escândalos que é, inclusive, como uma espécie de uma produtora de conteúdos. Cada operação tem um nome, como se fosse um capítulo novo, muito parecido com uma produção cinematográfica. Às vezes, você fica em dúvida se está vendo um seriado da TV a cabo ou um novo capítulo de uma operação policial, porque as coisas são mui-

to parecidas. É a ficção da vida real, muito mais atraente, com áudios, vídeos, cenas incríveis de dinheiro, gravações, confissões, choro, tudo isso no noticiário.

RCV – Por outro lado, toda essa exposição não contribui para dar uma visibilidade maior aos crimes de corrupção e ao seu necessário combate, ajudando a conscientizar o eleitor? MR – Eu acho que é o contrário.

Nós temos um risco muito sério nesse tipo de produção industrial de conteúdos investigativos porque o papel do jornalismo não é reproduzir o discurso do Estado ou do poder, mas desconfiar e questionar esse discurso. Sempre foi o de afligir os poderosos e dar poder aos aflitos. Por exemplo, na ditadura militar havia uma desconfiança permanente sobre o discurso oficial. Hoje em dia, cada release eletrônico desse, cada pendrive é, nada mais, nada menos, que um conteúdo oficial.

RCV – Mas quando a imprensa apresenta os crimes cometidos por agentes públicos, como o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ou o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não é o discurso oficial do poder que está sendo desmontado? MR – Sim, mas por um outro discurso oficial, por um outro ente do Estado, chamado Ministério Público ou Polícia Federal. REVISTA CIDADE VERDE | 18 DE MARÇO, 2018 | 9


RCV – Que têm, justamente, o papel de investigar. MR – Mas não é uma investigação

da imprensa, essa é que é a questão. A imprensa está reproduzindo fielmente um conteúdo do Estado, como já reproduziu em casos como o da Escola Base, que é um dos maiores escândalos de imagem. Quando a imprensa não produz um conteúdo por si mesma, através do seu próprio critério de apuração, e apenas reproduz um conteúdo que lhe foi passado, ela está reproduzindo um conteúdo oficial, por mais relevante que seja. Então, nós temos uma armadilha muito perigosa aí, que é: em nome do interesse público, e claro que há muito interesse público em todas as investigações, como é claro que a Lava Jato representa uma grande contribuição para o interesse público brasileiro, bem como todos os investigadores, procuradores, o juiz Moro representam uma esperança de um país melhor, nós estamos fazendo a discussão no campo do jornalismo. Será que, ao haver a criação de uma linha de montagem de produções de conteúdos oficiais de um lado, e de outro lado, uma linha de montagem de reprodução desses conteúdos por conta da mídia, de forma acrítica, a imprensa está exercendo seu papel?

RCV – E por falar em Lava Jato, ainda dá para cultivar uma boa imagem dos políticos depois dessa operação? MR – Não é a primeira nem a

última vez que os políticos, his-

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mente, nós nunca fomos um país de rupturas profundas.

A minha profissão é fazer fofoca, intriga e frase de efeito.

toricamente, são massacrados. A profissão deles é essa. Luís XVI foi decapitado na França, mas, depois, De Gaulle salvou a França na 2ª Guerra Mundial e era um político. São momentos históricos. Nós sempre vamos precisar de líderes e, de vez em quando, nós vamos precisar trocar e renovar nossos líderes. Talvez, nós estejamos vivendo um momento de renovação de ciclo. O poder não tem vácuo. Como aconteceu com os dinossauros, quando houve a era glacial, eles desapareceram e começou uma nova etapa da humanidade.

RCV – O senhor acredita que é o momento da ascensão dos outsiders? MR – Eu não sei se dos outsiders,

mas acho que nós estamos mudando de era. As coisas são lentas, veja que os dinossauros não desapareceram assim de uma hora para outra. Como tudo na natureza, há uma transição. Historica-

RCV – O senhor já trabalhou de graça para figuras emblemáticas da política brasileira, como o ex-presidente Lula e o senador Renan Calheiros. Faria isso novamente, hoje, diante das atuais circunstâncias? MR – Faria. Eu estive com o se-

nador Renan ontem, conversamos muito sobre a realidade política, vi as pesquisas eleitorais do estado dele. Ele é meu amigo. Eu sou chamado ainda, graças a Deus, o tempo todo, para comentar e palpitar sobre diferentes situações. A deputada Cristiane Brasil, quando teve a dificuldade de nomeação no ministério, me consultou. Ali havia muito preconceito contra a mulher, porque o fato de ela aparecer em um vídeo ao lado de homens de peitoral aberto, chamou atenção. Se fosse uma mulher dona de casa, lavando roupa ou louça, e falando com algumas amigas, talvez não tivesse provocado tanta indignação. Em 2018, uma mulher não pode aparecer ao lado de homens de família em uma lancha? Há também o preconceito ideológico pelo fato de o pai dela ter sido um dos algozes do petismo. Nessas horas, eu costumo ser chamado para falar sobre linha de argumentação. A minha profissão é fazer fofoca, intriga e frase de efeito. Então, é muito cômodo para mim esse território.

RCV – Geralmente, as empresas só costumam se preocu-


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