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CIDADE
Índice 05. Editorial 08. Páginas Verdes Nouga Cardoso concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 32. Política Sem Lula, uma eleição aberta 51. Economia Sem luz no fim do túnel 58. Indústria
Páginas Verdes Nouga Cardoso
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Enxurrada de problemas
Diagnóstico ultraprecoce
60. Geral Sonho dourado
13. Cidadeverde.com Yala Sena
66. Geral Instituto nada legal
22. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa
70. Saúde Mais um reforço no combate à catapora
56. Economia e Negócios Jordana Cury
76. Saúde Suco: beba com moderação
73. Tecnologia Marcos Sávio 86. Perfil Péricles Mendel
Articulistas 21
Cineas Santos
COLUNAS
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Risco anunciado
08
63
Fonseca Neto
90
Tony Batista
foto Manuel Soares
A Força das Águas As águas de abril vieram com mais intensidade este ano e mostraram o quanto nós estamos despreparados para lidar com as adversidades do tempo. Na capital e no interior, os efeitos da chuva foram desastrosos, menos por culpa da natureza e mais pela falta de planejamento. Estradas cortadas, casas inundadas e açudes em colapso foram as demonstrações mais evidentes da fragilidade das obras e da ausência de preocupação em promover o desenvolvimento sustentável, que respeite o curso natural das águas.
A omissão do poder público também deixou suas digitais na fissura da parede da barragem do açude do Bezerro, em José de Freitas. Ainda em março do ano passado, um ofício assinado pelo prefeito do município, Roger Linhares, solicitava ao governo do estado a manutenção da obra. O documento foi solenemente ignorado e o resultado apareceu agora, em forma de uma ameaça de grandes proporções. Um transtorno perfeitamente evitável, se o problema tivesse sido tratado preventivamente.
Na primeira semana de abril, uma chuva forte provocou o rompimento da BR 343, na altura do Km 32, em Teresina. Na mesma semana, as ruas e avenidas da capital ficaram completamente alagadas, trazendo prejuízos e aborrecimentos para motoristas e proprietários de imóveis. Antes que jogassem a culpa nas costas de São Pedro, a Revista Cidade Verde saiu em busca das explicações para os desastres ocorridos após a chuva e ouviu de especialistas que a origem do problema está na construção em áreas de córregos e riachos, por onde a água deveria escoar. Sem encontrar o seu curso natural, a água sai abrindo espaço a todo custo, cobrando a conta da falta de uma legislação que impeça a construção em áreas que deveriam ser preservadas.
Mas, felizmente, há também boas notícias que trazem esperança renovada aos nossos leitores. Uma pesquisa realizada pelo departamento de Física da Universidade Federal do Piauí, na área de biofotônica, aponta para resultados animadores no diagnóstico precoce do câncer. Com o uso do laser, pesquisadores desenvolveram uma nova maneira de detectar anomalias nas células que podem indicar indícios da doença antes mesmo do tumor vir a se formar no organismo.
O progresso da cidade trouxe junto grandes áreas impermeabilizadas e a expansão da malha asfáltica, impedindo que haja a infiltração necessária da precipitação pluviométrica que cai sobre o solo urbano. Como se não bastasse, a população também contribui para o desastre, quando joga lixo nas ruas e, com isso, entope as galerias e bueiros.
Trata-se de uma pesquisa de relevante valor na área da medicina, que vai facilitar a vida tanto dos médicos quanto dos pacientes. A academia sai engrandecida quando consegue colocar o conhecimento científico a serviço da melhoria da qualidade de vida da população. Um trabalho que merece os aplausos da sociedade e reforça a necessidade de um investimento crescente na área da pesquisa. Cláudia Brandão Editora-chefe
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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Nouga Cardoso Batista
claudiabrandao@cidadeverde.com
A UESPI foi construída dentro de um improviso Ao completar 30 anos, a Uespi ainda sofre com a falta de estrutura nos campi espalhados de norte a sul do estado. Mas está trabalhando para elevar a nota de avaliação da instituição, com a melhoria dos cursos e a ampliação na oferta de pós-graduação.
foto Wilson Filho
O professor Nouga Cardoso Batista, 47 anos, foi reconduzido para mais um mandato de quatro anos à frente da Universidade Estadual do Piauí. Doutor em Química pela Universidade de São Paulo – USP, ele iniciou a vida acadêmica na Uespi, ainda como professor substituto, e ocupou diversos postos até chegar à reitoria. Empenhado em ampliar a oferta de cursos e expandir a pesquisa na universidade, o reitor ainda teve que encontrar tempo para responder às denúncias que chegaram à Polícia Federal sobre a concessão irregular de bolsas pagas pelo governo federal na instituição. Nesta entrevista concedida à Revista Cidade Verde, o professor Nouga Cardoso esclarece essas e outras questões levantadas sobre a Universidade Estadual do Piauí, que possui 30 anos de existência, e administra um orçamento de R$ 280 milhões em doze campi espalhados pelo estado.
RCV – Depois de administrar a UESPI por quatro anos, o senhor acaba de ser reconduzido para um novo mandato. Quais 8 | 15 DE ABRIL, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE
os seus planos para o próximo quadriênio na universidade? NC – Eu entrei na Universidade Esta-
dual como professor visitante, já com doutorado, e, logo depois, encerrou meu contrato e eu virei professor substituto até que, em 2003, me tornei efetivo. A experiência que eu trouxe até chegar à reitoria permitiu que eu pudesse identificar e consolidar as demandas mais urgentes da universidade. Por isso mesmo, os últimos anos da gestão anterior foram destinados a elaborar, junto à comunidade acadêmica, um plano de desenvolvimento institucional, dialogado com todos os entes que estão dentro da universidade. Percorremos todos os campi da universidade para perceber o que nós somos hoje e o que devemos fazer para chegar aonde nós pretendemos. Aí, inclui investimento em infraestrutura física, contratação de pessoal e todas as necessidades de investimento para que a UESPI, daqui a cinco anos, seja uma universidade com conceito 3. Hoje, nós já temos um conceito 3, mas ainda temos cursos que se distanciam muito dessa realidade. Queremos que muitos cursos cheguem aos níveis 4 e 5, para que o conceito geral de toda a universidade seja elevado.
RCV – Quantos cursos a Universidade Estadual do Piauí oferece hoje, tanto na capital quanto no interior? NC – Nós temos cerca de 133 cursos
ofertados na capital e no interior, sendo 106 na forma presencial regular, sete no NEAD ( Núcleo de Ensino a Distância). Como o NEAD é ofertado em rede, nós temos vários municípios que repli-
NC – Não. Nós até reconhecemos
Em 2004, o equipamento que nós usávamos para aquecer as substâncias nas reações químicas eram lamparinas compradas no Mercado Central. Meu professor levou as lamparinas para mostrar na USP. cam o mesmo curso. É o caso de Administração de Empresas, por exemplo. Temos também cursos do ensino a distância financiados pelo governo federal. E, ainda, a UAPI (Universidade Aberta do Piauí), além do PARFOR (Programa de Formação de Professores), também financiado pelo governo federal. Temos também o PRONERA (Programa Nacional de Reforma Agrária), com cursos voltados exclusivamente para famílias assentadas ou para comunidades quilombolas.
RCV – E com relação à área de pós-graduação, qual é a situação da UESPI? NC – Nós ofertamos recentemente
trinta cursos de pós-graduação em diferentes áreas, com seis turmas de mestrado; e uma, de doutorado, ofertado em rede.
RCV – O número de professores existentes na universidade é suficiente para atender a toda essa demanda ?
o grande esforço que foi feito, mas ainda é insuficiente. No ano 2000, quando eu cheguei aqui, nós tínhamos 213 professores efetivos e a grande maioria deles era oriunda da Secretaria de Educação. Naquela época, havia apenas seis professores doutores. De lá para cá, o movimento docente, a comunidade estudantil e a própria administração superior passaram a reivindicar melhor estrutura e contratação de pessoal. Hoje, nós temos 827 professores efetivos em todo o estado.
RCV – E quantos seriam necessários para atender plenamente a necessidade da instituição? NC – Se nós trabalharmos com um to-
tal de professores efetivos, seriam necessários 1.400 professores. Nós temos um concurso para 197 professores em andamento, com perspectiva de contratação para o segundo semestre.
RCV – A área de pesquisa também acompanhou a mesma expansão do ensino? NC – No ano passado, a UESPI com-
pletou 30 anos, provavelmente uma das instituições de ensino superior mais novas do Brasil. Se nós lembrarmos, como eu já disse antes, que no ano 2000, nós só possuíamos seis professores doutores, e que pós-graduação só se faz com professor qualificado, nós ainda estamos no início desse processo. Hoje, nós temos um total aproximado de trezentos alunos voltados para projetos de iniciação científica. Há 197 projetos de pesquisas cadastrados. Com o número de professores mestres e doutores REVISTA CIDADE VERDE | 15 DE ABRIL, 2018 | 9
que nós temos, daria para haver mais projetos, sem dúvida.
RCV – Mas há laboratórios montados e equipados para que eles possam desenvolver essas pesquisas? NC – Essa é uma boa justificativa
usada pelos professores, e que não é fantasiosa, ela é real. Em 2004, quando meu professor de doutorado visitou a UESPI, eu o levei ao laboratório de Química e, lá, eu mostrei para ele que o que nós usávamos para aquecer as substâncias nas reações químicas eram lamparinas, compradas no Mercado Central, enquanto que em outras universidades nós usamos um aparelho chamado bico de bunssen. O professor levou as lamparinas para mostrar na USP porque, mesmo com essa dificuldade, nosso conceito naquele ano foi B, enquanto a USP tinha ficado com conceito C. Portanto, eu acho que a falta da infraestrutura física vai ser sempre uma justificativa plausível, real, mas você tem de elaborar o projeto. Você tem de dizer aonde quer chegar para que a universidade possa, na sua interlocução junto à esfera de governo, ir atrás daquela infraestrutura.
RCV – Mas o senhor reconhece que há deficiência na área de laboratórios. NC – Exatamente. Muita deficiên-
cia na área de laboratório. Mas parte dessa deficiência vai ser suprida com a disposição desses professores, apostando em uma expectativa de possibilidade de contemplação futura, elaborar os projetos, porque, efetivamente, sem projeto, não
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A Universidade Estadual do Piauí foi construída dentro de um grande improviso. Nós só temos um prédio que foi concebido desde a sua fundação para ser universidade, que é o campus de Picos. tem como a administração superior convencer o Estado a fazer financiamento.
RCV – E qual é a realidade salarial dos professores que trabalham na UESPI? NC – Nós temos várias situações. Em
início de carreira, só existe o professorauxiliar, que pode ter carga horária de 20h ou 40h. No caso do regime de 20h, o salário está em torno de R$ 2, 9 mil; sendo 40h, esse valor dobra. Já o professor doutor, em início de carreira, ganha R$ 7 mil. Seguramente, eu posso dizer que, há nove anos, um professor com dedicação exclusiva na UESPI, com título de mestre ou de doutor, ganha mais que o equivalente na UFPI. Mas a reivindicação de aumentos é legítima, até porque os aumentos concedidos pelo governo, ao longo dos últimos anos, não têm acompanhado sequer a reposição da inflação.
RCV – Muitos campi da UESPI funcionam em prédios inadequados. Isso não compromete
o desempenho final de alunos e professores? NC – A Universidade Estadual do
Piauí foi construída dentro de um grande improviso. Nós só temos um único prédio que foi concebido desde a sua fundação para ser universidade, que é o campus de Picos. Agora, estamos construindo um segundo em Oeiras. Todos os outros foram implantados em prédios adaptados. Quando o governo conseguiu dinheiro junto ao Banco Mundial para investir nesses prédios, nós descobrimos que os espaços que a universidade ocupa não são registrados no nome dela. Não têm regularização fundiária. Enquanto íamos atrás da regularização fundiária, o dinheiro do Banco Mundial foi destinado para outro fim. Nós contratamos e já recebemos todos os projetos arquitetônicos, mas agora falta o dinheiro, que está bloqueado no empréstimo da Caixa Econômica. A construção dessa infraestrutura é um passo fundamental para que a universidade desponte também no campo da pesquisa.
RCV – A comunidade acadêmica, especialmente os alunos, se queixa muito da falta de segurança no campus de Teresina. O que já foi feito para melhorar essa situação? NC – A impressão que se tem é que o
campus da Universidade Estadual do Piauí nunca será um espaço bastante seguro enquanto o entorno do mesmo também não o for. Nós até elogiamos o Estado por ter uma universidade fincada dentro de uma região de grande vulnerabilidade social, porque entendemos que é a educação que vai