Revista Cidade Verde 188

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HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Índice CAPA: Sempre cabe mais um

05. Editorial 08. Páginas Verdes Toninho Horta concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 14. Palavra do leitor 16. GERAL Proibido seguir adiante 30. ESPECIAL MÃES Tem pai que é uma mãe 51. SAÚDE A saúde passa pela boca

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Páginas Verdes Toninho Horta

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Oh parto difícil!

Surto de olhos vermelhos

56. ESPECIAL MÃES Filho? Não, obrigada!

24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

62. CULTURA Monteiro Lobato, um homem movido a paixão

54. Economia e Negócios Jordana Cury

68. SAÚDE Preservar para não faltar 72. ENSAIO FOTOGRÁFICO O Espetáculo das águas 78. CULTURA Arte em Madeira

76. Passeio Cultural Eneas Barros 81. Tecnologia Marcos Sávio 82. Playlist Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 15

Cecília Mendes

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COLUNAS

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Zózimo Tavares


foto Manuel Soares

Novos modelos de mãe A proximidade do dia das mães já movimenta escolas, comércio, famílias, igreja e instituições para celebrar uma figura que é essencial na sociedade. A mulher carrega em si o dom de gerar vidas e garantir a perpetuação da espécie. Um dom divino, sem dúvida, mas também acompanhado de muito sacrifício, especialmente quando, em vez de um, seu ventre abriga dois ou mais bebês. Este é o tema da reportagem de capa desta edição. Nossa equipe ouviu histórias comoventes, carregadas de surpresas, sustos, ternura e infinito amor. Se criar um filho nos tempos modernos já é tarefa difícil, imagine, então, dois ou até três! Só quem já viveu a experiência sabe o que é a dificuldade de preparar até vinte mamadeiras por dia. Parece loucura, não? Pois é o que relata uma das mães de trigêmeos ouvidas nessa reportagem. A Revista Cidade Verde se une às homenagens prestadas às mães e também publica uma edição especial, que relata vários temas ligados à maternidade, como o projeto da construção da nova maternidade pública do estado, que deverá substituir a atual maternidade Dona Evangelina Rosa, que já se encontra com sua capacidade de atendimento esgotada e sem condições de continuar funcionando como a única maternidade pública de alta complexidade do Piauí.

Em outra reportagem desta edição, mostramos o caso de pais que, por algum motivo, tiveram que assumir também o papel de mães e se desdobram para desempenhar a difícil missão de criar os filhos sozinhos, sem a figura materna. É um desafio com o qual eles tiveram que aprender a conviver, provando que, quando há amor, qualquer obstáculo pode ser superado. Em contrapartida a esse sentimento natural da maternidade, há também casos de mulheres que optaram por outro estilo de vida, no qual não há espaço para filhos. E elas falam sobre isso tranquilamente, fugindo de qualquer cobrança imposta pela sociedade. Para elas, outros interesses, como carreira, viagens ou, simplesmente, um estilo de vida diferente as fizeram escolher um caminho diverso, sem que, com isso, haja espaço para culpas ou julgamentos. O importante é respeitar a opinião de cada pessoa, porque, no final das contas, a vida não é igual para todos e cada um é livre para viver à sua maneira. E a Revista Cidade Verde faz questão de acompanhar as mudanças de comportamento e as novas ondas que movem a sociedade, repercutindo em suas páginas tudo que acontece em nosso meio. Cláudia Brandão Editora-chefe

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HOUS PUBLIC


SE D2 CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Toninho Horta

claudiabrandao@cidadeverde.com

Eterno Cigano Musical

Depois de viajar o mundo inteiro com sua música, o compositor mineiro Toninho Horta se autodefine como um cigano musical. Aos cinquenta anos de carreira, ele mantém o mesmo entusiasmo e paixão pela guitarra. foto Wilson Filho

Toninho Horta é um músico refinado, com formação eclética iniciada na infância, influenciada pela família. Compôs a primeira música aos treze anos, quando os colegas da sua idade ainda ocupavam o tempo jogando bola na esquina. Com um ouvido sensível à harmonia das notas, ele cresceu no cenário musical e logo começou a tocar ao lado de grandes nomes da Música Popular Brasileira, como Elis Regina, Gal Costa e Milton Nascimento. Com este último, integrou o famoso Clube da Esquina, grupo mineiro de grande sucesso na década de 1960, do qual também faziam parte Wagner Tiso, Beto Guedes, Lô Borges, Fernando Brant, entre outros. Com o fim do grupo, Toninho Horta buscou novos horizontes, estendendo sua carreira para os palcos internacionais. Passou uma temporada em Nova York, nos Estados Unidos, e, depois, no Japão. Nome consagrado na música instrumental, com uma forte pegada de jazz, o músico esteve em Teresina recentemente, quando concedeu a seguinte entrevista à Revista Cidade Verde.

RCV – Você compôs a sua primeira canção aos 13 anos. Essa iniciação precoce é fruto da influência musical da família? 8 | 29 DE ABRIL, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE


TH – Com certeza. Minha mãe tocava bandolim; meu pai, violão; e o pai da minha mãe, meu avô materno, João Horta, era compositor de músicas sacras e populares na época do barroco mineiro. Ele tinha uma orquestrinha na qual minha mãe tocava, assim como as irmãs dela. E eu nasci ouvindo música erudita, a música da minha família e, depois, mais adiante, eu comecei a ouvir música clássica com minha mãe. Meu irmão mais velho, já falecido, o Paulinho, foi o primeiro músico profissional da família e ele comprava muito disco de jazz. Então, eu nasci nesse berço musical, ouvindo música da família, música erudita e o jazz americano.

RCV – Uma formação bem eclética… TH – Sim, e bem aberta. Eu pude

ouvir de tudo e, aos nove anos, eu comecei a dedilhar o violão, aos 13 eu fiz a primeira música e, aos 14, fiz a terceira música com a minha irmã, Gilda, que hoje é minha produtora e viaja comigo pelo mundo inteiro. Essa música foi gravada pelo conjunto no qual meu irmão tocava na época. Era o conjunto do Aécio Flávio, um maestro importante, com o qual eu viria a tocar anos depois, no final da década de 1960. Poder ouvir minha música gravada em um disco, aos 14 anos, foi muito importante para mim, foi realmente inesquecível. A partir daí, nunca mais parei de compor.

RCV – Os festivais de canção tiveram muita importância na sua carreira?

Tem de fazer uma campanha e pedir a volta (do Clube da Esquina), porque a gente é considerado por muitas pessoas como os Beatles brasileiros. TH – Foram importantes, sim, por-

que eu pude conhecer na época os compositores atuantes no cenário do Rio e São Paulo e as pessoas começaram a gravar minhas músicas, quando descobriram que eu era compositor. Mas, pela influência do meu irmão, que me chamou também para fazer bailes com ele, no final dos anos 1960, eu comprei minha primeira guitarra. E aí, a guitarra já me deu uma outra abertura e comecei a gravar nos anos 1970, quando fui chamado para tocar com a Elis Regina, no Rio de Janeiro, depois com o Milton Nascimento, Gal Costa. Mas eu me virava também nos estúdios, quando eu não estava excursionando. E o festival de 1967, no Rio de Janeiro, foi fundamental. Foi o II Festival Internacional da Canção, na mesma época em que o Milton Nascimento ficou em segundo lugar com a música Travessia. Ele tinha três músicas classificadas no festival e eu tinha duas. O resto dos compositores do Brasil só tinha uma. O Vinícius de Moraes ti-

nha duas letras. Então, todo mundo queria saber: quem é o Toninho? Foi uma época muito boa.

RCV – Minas Gerais tem uma força muito grande na música brasileira. Você considera o Clube da Esquina um divisor de águas na sua carreira? TH – O Clube da Esquina, acho, foi

um divisor de águas na música brasileira porque, na verdade, eu já vinha tocando com músicos mais ligados à música instrumental, tanto que eu ouvia muito erudito e jazz. Em se tratando de música brasileira, pela contribuição melódica, harmônica – eu costumo falar que a música de Minas tem o contorno das montanhas, vai subindo e descendo - o Clube da Esquina tem uma importância enorme. O Clube da Esquina foi legal porque era um grupo aberto, de músicos de talento e, quando faltava um, alguém supria com outro instrumento.E, na ficha técnica dos vinte músicos do Clube da Esquina, você não vê nenhuma coincidência de formação instrumental. Cada música tem uma identidade diferente, então, isso dá um colorido especial para o disco, misturando as influências do rock para o Beto Guedes e o Lô Borges, a influência da música progressiva para o Wagner Tiso, que era filho de uma professora de piano clássico, com o Milton Nascimento. Já eu e o Nivaldo Ornelas tínhamos uma influência mais do jazz. Essa mistura toda, com os letristas Fernando Brant e Márcio Borges, deu a linha da poética mineira daquela época, de liberdade, emoção, um pouco social e um pouco política, também. REVISTA CIDADE VERDE | 29 DE ABRIL, 2018 | 9


RCV – E por que, apesar de tamanha riqueza musical, o Clube da Esquina deixou de existir? TH – Eu acho que foi uma pena

porque eu sempre torci pela união do grupo. No final dos anos 1970, o Milton se desfez do grupo para pegar um outro produtor e montar uma outra banda. Com isso, o som já ficou diferente. Ele já era um cara muito conhecido e os produtores já estavam pensando em colocar ele como cantor nacional de mercado e, aí, tem que distorcer um pouco a música porque tem que visualizar o público e tal. Então, mudou um pouco a música dele nessa época. Mas em 1989, dez anos depois dessa mudança, a gente ainda tentou resgatar o Bituca (apelido de Milton Nascimento) em um festival chamado Minas em Concerto, que, agora, alguns produtores antigos daquela época querem reativar. Nós fizemos um show com Wagner Tiso, o principal maestro do Milton, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini e dois músicos daquela época. Nós fizemos vários concertos pelo Brasil e terminamos a turnê com um show em São Paulo, no dia do aniversário do Bituca, para ver se a gente influenciava ele para chegar lá e subir no palco. Ele foi ao show, foi ao camarim, mas não conseguimos colocá-lo no palco. Os empresários daquela época retiraram o Milton do Clube da Esquina porque disseram que ele era um artista único, diferenciado dos outros. Aí, cada um começou a desenvolver seu trabalho. Em 2022, vamos fazer cinquenta anos de Clube da Esquina. 10 | 29 DE ABRIL, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

Na internet tem muita coisa que é descartável, que não é legal, mas tem muita coisa maravilhosa, que só a internet pode divulgar. RCV – Será se nos cinquenta anos do Clube da Esquina o público vai poder ver o grupo reunido outra vez? TH – Tem de fazer uma campanha,

viu? Ir pras ruas e pedir essa volta (risos), porque a gente é considerado por muitas pessoas como os Beatles brasileiros, porque a gente criou um som diferente e poderia fazer turnês internacionais com esse som, apresentando uma sonoridade que misturava tudo: o pop, o jazz, a música religiosa, regional, progressiva, mas, infelizmente, a gente não conseguiu manter. Mas a gente mantém a amizade com o Bituca, só que tem dez, quinze anos, que registraram a patente do Clube da Esquina, então você não pode utilizar esse nome em nenhum projeto. Da mesma forma que eles desassociaram a imagem do Milton do Clube da Esquina, eles quiseram reter esse nome porque era uma coisa só deles. Então, tem um antagonismo aí, porque seria legal se a gente ao menos pudesse usar o nome. Mas nem isso. De qualquer

forma, a gente sonha ainda poder, um dia, estar juntos em um evento.

RCV – Você passou um tempo em Nova York e Japão. O que você trouxe dessa experiência para a sua bagagem musical? TH – Minha carreira virou mais internacional. Eu fui um dos caras que mais tiveram vontade de sair. Eu sempre fui meio cigano, como meu avô, que fazia músicas em igreja e viajava por Itaverava, Mariana, Ouro Preto, Catas Altas, Diamantina. Eu segui um pouco a trilha do meu avô, que era partir com a minha música pelo mundo para, também, aprender. Todo o convívio que eu tive com músicos coreanos, austríacos, africanos, de Nova York, japoneses aumentou muito a minha bagagem de conhecimento e a abertura para outras músicas. Isso tudo me valeu demais.

RCV – Você falou do poder exercido pelos empresários e gravadoras sobre o artista, que acabava impondo certos limites. Com as plataformas de streaming que permitem baixar músicas, o artista ganhou mais liberdade? TH – Liberdade, por um lado, e li-

mitação, por outro. Antigamente, as gravadoras pegavam os artistas e produziam, com uma exposição muito maior na mídia. É claro que, de repente, o cara faz uma coisa tão exótica hoje, que ele coloca na internet e pode alcançar milhões de acessos. Mas a qualidade é duvidosa. Então, quanto mais popular e mais bem-feito comercialmente, mais você atinge o público. Ago-


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