Revista Cidade Verde 191

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Índice CAPA: A bomba da vez

05. Editorial 08. Páginas Verdes Eugênio Fortes concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 14. Meio Ambiente “O mar não está para plástico” 32. Saúde O calcanhar de Aquiles 51. Esporte O sonho do hexacampeonato

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Páginas Verdes Eugênio Fortes

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Velocidade sobre trilhos

60. Comportamento 10 dicas para economizar gasolina 66. Política Eleição une no Piauí dois arqui-inimigos da política 72. Educação Ler é o melhor remédio 76. Cultura 25 Anos de dança contemporânea

26

Novas tecnologias velhos negócios

24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

58. Economia e Negócios Jordana Cury 75. Tecnologia Marcos Sávio 82. Playlist Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 71

Cineas Santos

81

Fonseca Neto

COLUNAS

36

90

Tony Batista


Basta! Cansada de pagar impostos abusivos em uma economia de inflação baixa e alto índice de desemprego, a população brasileira não pensou duas vezes antes de apoiar a greve deflagrada pelos caminhoneiros, que levou o país quase à paralisia no final do mês de maio. Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha constatou que 87% dos brasileiros apoiavam o movimento. Com poucos dias de paralisação, o caos começou a se instalar por conta do desabastecimento nos postos de combustíveis, nas prateleiras dos supermercados e nas bancas das feiras. O prejuízo foi astronômico. As estimativas apontam para uma cifra de R$ 60 bilhões. Mas por que a classe média, normalmente acomodada em seus próprios interesses, resolveu abraçar o movimento de uma categoria específica? A explicação mais plausível está na exaustão em que se encontra a sociedade, diante da pior recessão registrada na história recente do país, iniciada ainda em 2014, com graves consequências para o bolso e para a mesa de milhares de brasileiros. Some-se a esse cenário uma cascata de denúncias de corrupção apresentadas pela Operação Lava Jato e o resultado é uma indignação generalizada em um tecido social já bastante esgarçado. Com os seguidos aumentos nos preços dos combustíveis determinados pela Petrobras, acendeu-se uma faísca explosiva nas bombas, com efeito altamente perigoso. O resultado foi visto no caos instalado no país, que deixou o governo tão atônito quanto lento para tomar as decisões necessárias a fim de acabar com o movimento. Enfraquecido politicamente desde as denúncias apresentadas no

primeiro semestre do ano passado pelos irmãos da JBS, o Presidente Michel Temer titubeou, demorou e acabou cedendo a todas as reivindicações apresentadas pelos motoristas que carregam a economia do país sobre quatro rodas. Mas aí já era tarde demais. Além da falta de produtos essenciais na vida da população, como o gás de cozinha, insumos hospitalares e alimentos, o movimento dos caminhoneiros trouxe como efeito colateral a lacuna aberta para que manifestantes políticos pegassem carona no protesto da categoria para disseminar ideias tão esdrúxulas quanto a de uma intervenção militar. Com faixa e pichações nas rodovias brasileiras, o pedido da volta dos militares ao poder foi ganhando corpo até que representantes do Legislativo, Judiciário, e até mesmo das Forças Armadas, viessem a público repudiar essa insinuação. Falar em intervenção militar em meio a uma greve na qual seus manifestantes tiveram ampla liberdade de expressão é, no mínimo, incoerente. Não precisa ter vivido os anos de chumbo da ditadura para saber que, sob o comando dos militares, não havia espaço para greves, tampouco para que as pessoas fossem às ruas ou aos canais de comunicação dizer livremente o que pensam. De qualquer maneira, a greve dos caminhoneiros deixou uma lição: a de que a sociedade brasileira chegou ao limite e já não suporta mais arcar com a conta dos desmandos praticados em Brasília, que acabam sempre sobrando para o consumidor. Cláudia Brandão Editora-chefe

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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Eugênio Fortes

claudiabrandao@cidadeverde.com

O mito do corpo perfeito foto Gabriel Paulino

Em busca de um padrão de beleza ideal, muitas pessoas estão recorrendo ao perigoso uso dos anabolizantes nas academias, com sérios prejuízos para a saúde do organismo.

A sedução pela beleza física vem desde a Grécia antiga, como relatado na trágica história de Narciso, que acaba se jogando na água, fascinado por sua própria beleza. Hoje, essa procura por um padrão estético imposto pela publicidade está levando a comportamentos extremados, como o uso indiscriminado de anabolizantes para garantir um corpo definido. O alerta é do educador físico e empresário 8 |10 DE JUNHO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

Eugênio Fortes, que chama a atenção para um problema que está virando ‘moda’, segundo ele, nas academias. Os riscos produzidos pelo consumo dos anabolizantes são enormes e atingem vários órgãos do corpo, por isso, devem ser discutidos e combatidos por toda a sociedade.

atividades praticadas por meio de orientações recebidas via internet, sem o contato direto com o profissional de educação física. Como cada indivíduo tem suas peculiaridades e hábitos próprios, seguir um modelo padronizado, formulado por computador, pode prejudicar mais do que ajudar.

Outro problema para o qual o professor chama a atenção são as

Estas e outras informações preciosas para quem não abre mão de


uma vida saudável podem ser conferidas na entrevista a seguir.

RCV – Em ano de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo, a procura pela prática de esportes costuma aumentar? EF – Todo evento esportivo traz

aquela admiração pelos atletas. A alegria e a beleza dos atletas inspiram as pessoas, principalmente os pais, que veem nos filhos a possibilidade de virem a praticar esportes. Nos adultos, nem tanto, mas, nas crianças, sim. Os pais projetam nos filhos a vontade de ver neles um atleta, mesmo que não seja de grandes competições. Isso é bem verdadeiro. Por outro lado, eu digo que esses eventos também atrapalham um pouquinho por causa das comemorações. E, também, as pessoas acabam deixando tudo para depois da Copa.

RCV – A prática de esporte substitui a musculação? EF – Não, porque a musculação, na

verdade, é uma atividade meio, ela não é um fim. Ela lhe traz condicionamento físico e condições para você praticar um esporte. A gente tenta, na academia, mostrar isso. Se você pratica ciclismo, natação, futebol ou luta, e se fizer uma musculação, um treinamento de base, esse treinamento que nós chamamos de meio, você não vai parar nunca, porque, gostando de um esporte, ele vai querer ter condições a vida toda para ter uma melhor performance. A musculação não substitui, mas combina, agrega e ajuda muito no esporte.

Vigorexia é a doença da moda nas academias, ou seja, o corpo que nunca chega à perfeição. Daí, as pessoas começam a usar recursos que não são os naturais e que produzem danos irreversíveis. RCV – Existe uma idade mínima para a pessoa começar a fazer musculação? EF – Não. Hoje, o conceito de mus-

culação abrange todas as idades. Antigamente, o nosso público era formado por jovens, fortes, hipertrofiados. Agora, a chamada musculação inteligente, funcional, atende também as crianças, de forma recreativa, lúdica, mas que tem um objetivo de trabalhar os músculos e de estimular os hormônios para que a criança se desenvolva no seu potencial máximo genético. Assim, também, como na terceira idade. Nós estamos chamando muito a atenção, é um discurso comum aos professores, que, quanto mais idade, maior a importância da musculação. Quanto mais músculos, melhor a mobilidade, a condição de estar no dia a dia se movimentando, trabalhando. A longevidade, a saúde, o bem-estar vêm com isso. E para você manter músculo, você tem que usar músculo. É bom lembrar que a caminhada talvez não seja o mais recomendado. As pessoas gostam de fazer porque

é mais natural. Mas tem horas que caminhar, somente, pode não fazer tão bem quanto a musculação.

RCV – Pessoas que suspenderam a prática de atividade física por determinado período conseguem recuperar o condicionamento físico depois que retornam à academia? EF – Quando você treina, você me-

lhora seu condicionamento. Quando você para, destreina. Mas não existe esse mito de que fica pior do que antes. Isso não existe. O que faz pensar isso é que, quando você está treinado, o tônus muscular deixa a musculatura durinha, bem tensionada, bem colocada. Quando você para de treinar, você volta a uma hipotonia, diminui o tônus muscular. Como você estava se notando mais durinho e, de repente, se vê um pouco mais flácido, pensa que está pior do que antes. Mas não é verdade. Outra coisa: se você parou por um período, mas durante toda sua vida você fez uma atividade física, existe uma memória muscular. Muito rapidamente, você recupera a sua condição física.

RCV – As grávidas precisam interromper a musculação? EF – Não. É claro que cada gravidez é única, mas, de um modo geral, se você faz atividade física regularmente e sua gravidez é sem risco, você deve continuar. É até bom que faça. Os médicos, hoje, pedem que a gente diminua a intensidade, porque é claro que a atividade muda, até porque o corpo está em mudança. Mas nós temos mulheres que fazem musculação até o dia de ir para a maternidade. E até facilita o parREVISTA CIDADE VERDE | 10 DE JUNHO, 2018 | 9


to. Agora, com uma recomendação: sempre acompanhada pelo médico.

RCV – A musculação tende a ficar cada vez mais personalizada, com um programa específico para cada pessoa? EF – Se você pegar os princípios do

treinamento, o primeiro princípio é a individualidade. Então, devemos sempre ter um treinamento e uma ficha únicos. Você não pode produzir uma ficha de treinamento em série. É claro que existem alguns princípios em todas elas, mas, se você observar, em cada uma tem chamada para a individualidade. Isso é muito necessário. Cada vez mais, a gente se preocupa com o que a pessoa quer, qual o objetivo dela, do que ela gosta.

RCV – Quais são os riscos da prática de exercício por conta própria, sem o acompanhamento de um profissional? EF – As pessoas tendem a fazer os

exercícios que mais gostam e podem, com isso, sobrecarregar um grupo muscular, achando que vai dar certo, no final. O acompanhamento é altamente necessário para mostrar que tem de haver uma harmonia, um contraponto, um antagonismo. Por exemplo, se você treina bem o peitoral, você tem de trabalhar bem os dorsais, senão você vai desequilibrar. E a correção dessa rota é bem mais difícil. É tanto que tem gente que chega a academia, depois de treinar sozinha, apenas com um grupo muscular treinado. Às vezes, só a cadeia anterior, que corresponde aos músculos que você vê no espelho. Aí você fica treinando só aqueles músculos, e os

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As mulheres, hoje, estão tomando anabolizantes como se fosse uma brincadeira. E a gente sabe que eles masculinizam e, além disso, trazem outros efeitos mais danosos. outros que não aparecem no espelho, mas que são responsáveis pela sinergia e pelo equilíbrio muscular, não são treinados. Um bom professor é aquele que acompanha, que insiste no cumprimento do programa inteiro, na correção da postura, e que busca a harmonia necessária.

RCV – Que tipos de exames médicos devem ser feitos antes de iniciar uma prática esportiva? EF – Há uma grande polêmica nesse momento. Há leis que querem obrigar os alunos a passarem por uma bateria de exames antes de entrar na academia. Quanto mais avaliação médica eu possa fazer, melhor. Hoje, com a quantidade de exames que identificam tudo que a gente, por acaso, possa vir a ter é fantástico. O check-up deve ser feito sempre, independente de a gente ir ou não para a academia. Seria importante uma avaliação nutricional. De tempos em tempos, até uma avaliação psicológica, porque atividade física mal direcionada ou feita sem orientação pode gerar vigorexia, que é a doença da moda nas academias, ou

seja, o corpo que nunca chega à perfeição. E, a partir daí, as pessoas começam a usar recursos que não são os naturais e que produzem danos irreversíveis.

RCV – O senhor está falando dos anabolizantes? EF – Sim. As mulheres, hoje, estão

tomando como se fosse uma brincadeira. E a gente sabe que eles masculinizam e, além disso, trazem outros efeitos mais danosos. Os órgãos internos sofrem com a sobrecarga do uso dos anabolizantes. E está todo mundo fazendo, só que ninguém confessa. Não se consegue os músculos que as mulheres apresentam, hoje, na mídia sem o uso desses esteróides, não tem como. Existe uma Lei Municipal que obriga todas as academias a afixarem cartazes falando sobre os efeitos nocivos dos anabolizantes, mas não consegue barrar, e é crescente essa onda.

RCV – E quais são os efeitos futuros que o uso desses anabolizantes pode provocar no organismo humano? EF – Os danos são terríveis, desde le-

sões musculares, porque os músculos crescem muito e os tendões não suportam a carga do desenvolvimento muito rápido da musculatura. O coração fica sobrecarregado; os rins ficam com dificuldade de trabalhar; fígado, todos os órgãos internos sofrem. A irritabilidade também aumenta muito. Aí, criam-se tribos que se isolam e fica difícil a comunicação. Eu acho que a sociedade enxerga isso, mas não dá importância. A gente chama bem a atenção dos profissionais de educação física para que seja comunicado, prin-


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