Revista Cidade Verde 128

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Índice Capa

A Escolha de Sofia 5. Editorial 14. Palavra do leitor 20. GERAL Atraso em obras prejudica a mobilidade urbana 34. ADMINISTRAÇÃO O déficit da previdência 37. GERAL Vítimas indefesas 42. CIÊNCIA As mil e uma utilidades do babaçu

Articulistas

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Páginas Verdes

Propriedade questionada

Benjamim Pessoa Vale 58. SAÚDE Guillain-Barré: a nova ameaça do zika vírus 62. CULTURA Encantos de Oeiras

Joia ou Jóia: como fica a partir de agora?

15. Cidadeverde.com Fábio Lima (Interino) 32. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

40. Economia e Negócios Por Jordana Cury

68. CULTURA O velho vinil está de volta 72. Indústria

61. Tecnologia Marcos Sávio

80. ESPORTE Falta de quadra prejudica esporte

78. Elas por Elas Eli e Élida 84. Passeio Cultural Eneas Barros

90. POESIA SEMPRE Por Martins Napoleão

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Jeane Melo

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COLUNAS

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86. Perfil Péricles Mendel

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Zózimo Tavares

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Cecília Mendes


foto Manuel Soares

Mais saúde no ano que se inicia! Chegamos a 2016 com energia renovada e disposição para fazermos deste um ano melhor que 2015, apesar das previsões pessimistas na política e na economia. Aqui na Revista Cidade Verde, temos o firme compromisso de trabalhar para construir um Piauí melhor, seja dando visibilidade às boas ideias e projetos que contribuem para o desenvolvimento do Estado ou para a discussão crítica sobre os problemas que nos afetam. Começamos o ano mostrando a dificuldade enfrentada pela Maternidade Dona Evangelina Rosa, a maior maternidade pública do Piauí e a única de referência para atendimento de alta complexidade. A maternidade idealizada pelo então governador Alberto Silva já serviu de modelo no passado. Hoje, encontra-se sufocada pela quantidade de partos realizados acima da sua capacidade, fruto da baixa resolutividade das maternidades do interior do Estado, que encaminham para Teresina mesmo os casos mais simples que poderiam ser resolvidos nas cidades de origem das gestantes. Com a superlotação, faltam leitos e macas para as parturientes e o risco de infecção aumenta. Os médicos trabalham sob um regime extenuante e, não raro, têm que decidir qual mãe irão atender, em detrimento de uma outra que, igualmente, necessita de atenção. Esse quadro levou a um número assustador de mortes de mães e recém-nascidos em 2015. A solução apontada pela Secretaria de Saúde do Estado é a construção de uma nova e maior maternidade, que deve iniciar ainda neste ano.

Desde o dia 1° de janeiro, as novas regras do acordo ortográfico, definido para os sete países que falam a língua portuguesa, passaram a valer definitivamente. Acabou o período de transição e, agora, não há mais desculpa para errar a grafia das palavras. Para ajudar a esclarecer as dúvidas mais frequentes, nós listamos algumas dicas elaboradas pelos professores de português, que também comentam as implicações da mudança na língua. A Revista traz ainda uma reportagem sobre os riscos a que os pedestres são submetidos diariamente no trânsito, fruto da imprudência dos motoristas, associada a calçadas mal feitas que se tornam verdadeiros obstáculos para quem precisa caminhar pelas ruas da cidade. Um perigo que vai parar nas estatísticas dos acidentados atendidos pelo Hospital de Urgência de Teresina. E, nas Páginas Verdes, as recomendações do médico Benjamim Pessoa Vale para a prevenção do Acidente Vascular Cerebral, a segunda doença que mais mata no Brasil. O neurocirurgião esclarece que, acima de tudo, é necessária uma mudança de postura, que aponte para hábitos mais saudáveis, como reeducação alimentar e atividade física regular. Uma boa prática para começar o ano mais saudável e mais feliz. Cláudia Brandão Editora-chefe

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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Benjamim Pessoa Vale

claudiabrandao@cidadeverde.com

Precisamos de educação para prevenir o AVC Foto: Wilson Filho

A falta de acesso à educação dificulta a eficácia de campanhas de prevenção à doenças graves, como o Acidente Vascular Cerebral. O médico neurocirurgião Benjamim Pessoa Vale trava uma luta diária e incansável na prevenção contra o Acidente Vascular Cerebral. De origem sertaneja e acostumado a vencer muitas batalhas, Dr. Benjamim não costuma se acomodar diante das adversidades da vida. Sua própria história é um exemplo de superação. Filho de lavradores analfabetos, nascido em uma família de 15 irmãos, no interior do Maranhão, ele só teve oportunidade de começar a estudar aos 13 anos de idade. Talvez, por isso mesmo, seja um dos maiores defensores da educação como instrumento de transformação social. Seu primeiro emprego em Teresina foi como ajudante de pedreiro; depois, trabalhou como vendedor de tecidos para pagar os estudos. E foi assim que ele formou-se em Química e Medicina pela Universidade Federal do Piauí, com especialização em Neurocirurgia pelo hospital de Heliópolis, em São Paulo, e Neuroradiologia pelo INCOR, também em São Paulo. 8 | 10 DE JANEIRO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

A opção pela Medicina surgiu depois de uma conversa com o médico Jesuíto Dantas, que estava tratando da sua mãe. O atendimento atencioso e diferenciado do médico

para com ele fez com que Benjamim desejasse ser também um profissional da Medicina para cuidar das pessoas, no sentido mais amplo da palavra.


RCV – Por que o AVC (Acidente Vascular Cerebral) continua sendo a segunda causa de morte no Brasil, apesar de ser uma doença que pode ser prevenida? BPV – Por falta de educação. Para

prevenir o acidente vascular cerebral você precisa fazer um gerenciamento de vida, de mudança de hábitos, mas falta educação para as pessoas compreenderem isso. O AVC é basicamente uma doença de pobres, registrada em lugares pobres, onde a falta de conhecimento prejudica a prevenção.

RCV – O senhor coordena o projeto “Pense Bem AVC”, que tem como objetivo, exatamente, orientar as pessoas sobre a melhor maneira de se prevenir contra a doença. Por que o projeto não está alcançando os resultados desejados? BPV – Justamente porque quando

as pessoas não possuem educação elas não conseguem entender as orientações que você repassa, mesmo que isso seja feito de forma simplificada. A educação é a base de tudo, sem ela não chegaremos a lugar nenhum.

RCV – E o que as pessoas podem fazer para se prevenir contra o AVC? BPV – Do ponto de vista do geren-

ciamento pessoal, é preciso mudar alguns hábitos. Tratar o diabetes, por exemplo, que é uma das grandes causas do acidente vascular cerebral e da hipertensão, não é só tomar medicamentos. É uma mudança do estilo de vida. Você tem que fazer educação alimentar, ativi-

Para prevenir o acidente vascular cerebral você precisa fazer um gerenciamento de vida, de mudança de hábitos, mas falta educação para as pessoas compreenderem isso. dade física, abstinência de fumo e diminuir a quantidade de álcool. Só que tudo isso exige sacrifício pessoal e todas as atividades da vida ou decisões que vamos tomar que exigem sacrifício são difíceis de serem realizadas. É muito mais fácil você estar em um final de semana batendo papo e tomando cerveja do que ver 4 ou 5 pessoas numa mesa, bebendo, e você ficar só olhando. É um sacrifício, mas você precisa fazer. Então, o gerenciamento de vida dessas pessoas diminui o risco do AVC. No dia que o poder público descobrir (eu acho até que ele já sabe) que o gasto com sequelados de AVC, o prejuízo que causa às famílias, à saúde do indivíduo e o gasto do INSS com a aposentadoria dessas pessoas é muito maior do que o financiamento de um programa de prevenção, pode ser que as coisas mudem.

RCV – O AVC é uma doença silenciosa ou ela emite sinais que possam ajudar o paciente a detectá-la? BPV – Quando ocorre um AVC

isquêmico, que é por oclusão dos vasos que vão para a cabeça (a carótida vertebral), às vezes, ele faz uma coisa que nós chamamos acidente isquêmico transitório, que é um acidente semelhante a um AVC, mas do qual você se recupera dentro de 24 horas.

RCV – E quais são os sinais visíveis desse acidente? BPV – Os sinais visíveis do aci-

dente isquêmico podem ser detectados por um teste que nós chamamos SAMU. S de sorriso - para ver se você está com a boca torta; A de abraço, porque fica um déficit motor do lado contrário da lesão do cérebro; dificuldade da fala, identificada pelo M de música, porque você tem dificuldade de cantar uma música; e U de urgência, porque se você tiver uma pessoa com a boca torta, com um lado do corpo morto e sem fala, é sinal de AVC e você precisa chamar uma urgência médica.

RCV – E, nesse caso, qualquer minuto a mais pode fazer a diferença entre a vida e a morte ou a possibilidade de adquirir uma sequela irreversível? BPV – O tempo, no caso do AVC, é

essencial. Quanto mais tempo você perde, mais células são lesadas. O cérebro é o órgão mais elaborado do organismo. Ele não suporta injúrias. A falta de sangue para o cérebro é morte celular, na certa. REVISTA CIDADE VERDE | 10 DE JANEIRO, 2016 | 9


Então, essas injúrias cerebrais causam lesão irreversível. Por exemplo, recentemente nós atendemos uma paciente de 80 anos, e como o socorro foi rápido, nós pudemos salvá-la. Hoje, em Teresina, nós temos tecnologia para fazermos medicamento venoso, caso o paciente chegue dentro da janela de tempo esperada, ou intra-arterial, se a janela de tempo for dentro de 6 horas.

RCV – Essa tecnologia está disponível apenas na rede privada ou também na rede pública de saúde? BPV – Apenas na rede privada e

em pouquíssimos locais. É uma das dificuldades que nós temos na condução do acidente vascular cerebral. Hoje, a população de Teresina até conhece o AVC, por causa do Projeto Pense Bem, mas não tem para onde recorrer. Se você chegar em tempo hábil em um hospital da rede pública, por exemplo, ou na maioria dos hospitais de Teresina, nós não temos como resolver. Não tem medicamento intravenoso e nem tecnologia para fazer intra-arterial na rede pública. Acho que no HUT (Hospital de Urgência de Teresina) daria para montarmos um serviço desse, ou então no HGV (Hospital Getúlio Vargas). Aliás, o HGV seria o hospital ideal para montarmos um serviço de emergência para atender cardio-neuro. E, talvez, também desse certo no HU (Hospital Universitário).

RCV – E o que está faltando para que isso aconteça, já que, a exemplo do que ocorre no 10 | 10 DE JANEIRO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

O essencial da vida de qualquer ser humano, depois de um certo tempo, é devolver à sociedade o pouco do muito que ela lhe emprestou.

Brasil, o AVC é a segunda doença que mais mata no Piauí? BPV – O que falta, hoje, é política

pública para isso. Quando as políticas públicas se preocupam com a saúde do cidadão, infelizmente, são precárias. Todos nós somos conhecedores disso. Por incrível que pareça, nós estamos no século XXI e faltam políticas públicas para coisas básicas, como educação e saúde. E o que nós observamos na saúde? Falta de profissionais capacitados para exercer o serviço com qualidade, médicos trabalhando em instituições sucateadas e sendo cobrados como se estivessem em um país de primeiro mundo.

RCV – O AVC é uma doença hereditária? Quais são as pessoas mais suscetíveis? BPV – Existem alguns casos em

que ela apresenta componentes he-

reditários. São doenças familiares como a anemia falciforme, que passa de pai para filho. As pessoas que têm anemia falciforme são mais predisponentes a ter AVC. A raça negra também tem mais predisponência para a doença. Os afrodescendentes são mais propensos a ter hipertensão e aí vêm juntos os fatores sociais, já que, normalmente, são pessoas que tiveram menos acesso à educação, seja aqui, seja na África, e menos acesso ao poder econômico e ao sistema de saúde.

RCV – Nossa tradição culinária no Piauí é de alimentos bem condimentados, com bastante sal. Isso pode ser uma das causas que contribuem para índices tão altos da doença no Estado? BPV – O hábito alimentar, sem

dúvida, é um dos fatores que explicam essa estatística. O Nordeste brasileiro tem uma alimentação saborosíssima, mas muito pouco saudável. É como se diz: “ tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda”. O hábito nutricional, de fato, é uma das causas que levam ao acidente vascular cerebral. Você desenvolve a dislipidemia, que é o aumento do colesterol, desenvolve o aumento do perímetro abdominal, acúmulo de gordura, faz resistência periférica à insulina, torna-se diabético e desenvolve um ciclo. O diabetes é uma doença eminentemente vascular, que vai silenciosamente destruindo os vasos do organismo. Ela destrói a carótida vertebral que vai para o cérebro, você tem o AVC; destrói as artérias do coração, você tem infarto agudo do miocárdio; destrói a artéria do rim, você tem


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