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Índice As sutilezas do envelhecer
5. Editorial
8. Páginas Verdes Dr. Lima Júnior concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 12. Palavra do Leitor 21. POLÍTICA Municípios em aperto 26. POLÍTICA As novas regras eleitorais 30. TECNOLOGIA Os cuidados com o comércio eletrônico 34. GERAL Ligações clandestinas
Articulistas
08
Páginas Verdes Dr. Lima Júnior
16
Mentes que brilham
56
O maior Santuário do Piauí
40. SAÚDE À espera de um doador
15. Cidadeverde.com Fábio Lima (Interino)
62. ECONOMIA Sabores que geram lucro
24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa 28. Economia e Negócios Jordana Cury
68. CADERNO DE CARNAVAL A festa vai começar! 74. Indústria
38. Chão Batido Cineas Santos
76. CIDADE Memória preservada
71. Tecnologia Marcos Sávio
80. ESPORTE 100 anos de Campeonato Piauiense
84. Play List Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel
13
Jeane Melo
83
Fonseca Neto
COLUNAS
48
90
Tony Batista
foto Manuel Soares
Vamos cuidar melhor dos nossos idosos Os brasileiros estão envelhecendo. De acordo com a última pesquisa do IBGE, a expectativa de vida no país passou para 74,9 anos e, daqui a alguns anos, teremos uma parcela significativa da população vivendo na terceira idade. É uma conquista a ser comemorada, sem dúvida. No entanto, mais que viver muito, queremos viver melhor, com disposição e energia suficientes para continuar a realizar atividades que nos dão prazer, bem como manter uma vida social ativa. Não é tarefa fácil. Se a tecnologia na área da Medicina evoluiu para permitir o aumento da longevidade, o comportamento da sociedade não avançou com a mesma intensidade. Em muitos lugares públicos, e até mesmo dentro de algumas famílias, o idoso não é tratado com o devido respeito. Já fragilizadas pela perda gradativa de alguns sentidos e movimentos, as pessoas que alcançam a graça de chegar à terceira idade precisam ser compreendidas em suas limitações e confortadas com o carinho de parentes e amigos. O isolamento social é uma das piores coisas que podem acontecer a quem subiu o degrau da velhice. A boa notícia é que, hoje, o idoso não precisa mais vestir o pijama e ficar em casa contando as horas ou relembrando o passado. Cada vez mais, encontramos pessoas que já ultrapassaram a faixa dos 70, e até dos 80 anos, em plena forma, frequentando academia, passeando e trabalhando, com o mesmo entusiasmo do início da
carreira. Vários desses exemplos podem ser conferidos na nossa reportagem de capa. Em outra reportagem, as jornalistas Jordana Cury e Marta Alencar mostram que Teresina vem se destacando, a cada ano, como um celeiro de talentos que ganham notoriedade na área da Educação e que atingem os primeiros lugares nos concursos nacionais e até internacionais. Os teresinenses, hoje, chegam a ser temidos pelos concorrentes que disputam vagas nas universidades ou nos postos de trabalho Brasil afora. São pessoas que fazem dos livros o passaporte para uma vida melhor, enchendo-nos de orgulho, e ajudando a derrubar o preconceito ainda existente dos sulistas em relação aos nordestinos. Ainda nesta edição, a Revista Cidade Verde aborda um tema de crucial importância para a Medicina e para muitas pessoas à espera da doação de um órgão para continuarem a viver. O transplante de órgãos no país possui uma rede bem estruturada de centrais, mas o número de doadores ainda está longe de atender à demanda das milhares de pessoas que estão na fila para conseguir um órgão compatível. Nas Páginas Verdes, o coordenador da comissão de remoção de órgãos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, José Lima Oliveira Júnior, esclarece as principais dúvidas de quem ainda resiste em se cadastrar como um doador. É ler e conferir. Cláudia Brandão Editora-chefe
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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Dr. Lima Júnior
claudiabrandao@cidadeverde.com
Precisamos de mais doadores
O Brasil possui 32 mil pacientes ativos em lista de espera por um transplante de órgão. Uma realidade angustiante para quem depende dessa cirurgia para continuar vivendo. No Piauí, o número de pacientes na fila por um transplante é de 529, sendo 350 para córnea; e 179, para rim. O transplante de rim, aliás, é o mais realizado em todo o país. Mas, mesmo com uma lista tão extensa de pacientes aguardando por uma cirurgia dessa natureza, os transplantes de órgãos no país ainda são feitos em pequena quantidade, apesar de existir uma rede bem distribuída de centrais pelos estados. O problema está no pequeno número de doadores e no número menor ainda de doadores efetivos. Para melhorar essa estatística, o Dr Lima, coordenador da comissão de remoção de órgãos da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) lançou a campanha “Setembro Verde”.
Foto: arquivo pessoal
Apesar de o Brasil possuir o maior sistema público de transplantes do mundo, o número de cirurgias realizadas no país ainda é pequeno. A resistência dos familiares é um dos principais motivos.
O cirurgião Lima Júnior é especialista em cirurgia cardiovascular pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (INCOR). Em meio a uma agenda atribulada, dividida entre as cirurgias e o trabalho em prol da doação de órgãos, ele concedeu a entrevista a seguir para a Revista Cidade Verde, direto de São Paulo. 8 | 24 DE JANEIRO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE
RCV - Qual a estrutura do Brasil, hoje, para realizar transplantes de órgãos? LJ - Atualmente, a rede brasileira
de doação de órgãos conta com 27 Centrais Estaduais de Transplantes, 510 Centros de Transplantes, 1113 Equipes de Transplantes e 70 Organizações de Procura de Órgãos. É o maior sistema público de transplantes do mundo.
RCV - Apesar de uma rede bem montada, o número de doadores ainda é muito baixo. Por quê? LJ - Neste ponto é preciso diferen-
ciar potencial doador de doador efetivo de órgãos. Por exemplo: no Brasil, de janeiro a setembro de 2015, tivemos 7.269 potenciais doadores e apenas 2.121 doadores efetivos, o que mostra que nosso aproveitamento de potenciais doadores ainda é baixo, comparado aos países com maior aproveitamento (EUA e Espanha). Este é um ponto a ser melhorado, o que depende de melhorias na infraestrutura, o que reduziria também a subnotificação de potenciais doadores. Atualmente, a taxa de recusa familiar é de cerca de 41% no Brasil, o que, para melhorar, depende de mecanismos mais efetivos de informação da sociedade. Ou seja, precisamos melhorar na infraestrutura e na comunicação com a sociedade.
RCV - O senhor criou o movimento “Setembro Verde” para esclarecer às famílias sobre a importância da doação. Quais são os resultados do projeto nesses três primeiros anos de existência?
Nosso aproveitamento de potenciais doadores ainda é baixo, comparado aos países com maior aproveitamento (EUA e Espanha). Este é um ponto a ser melhorado. LJ - O Setembro Verde é um projeto ambicioso que tem o propósito de atuar sobre todo o sistema de doação de órgãos e transplantes. O objetivo é o de criar campanhas contínuas de doação de órgãos (para colocar este tema na pauta de discussão de rotina de toda a sociedade), buscar direitos tributários, fiscais e previdenciários para os pacientes em fila de espera de órgãos e para os já transplantados. Nós nos baseamos no projeto “Outubro Rosa”, que mudou a história do câncer de mama no mundo todo. Nosso objetivo é o de esclarecer para toda a sociedade o tamanho desta necessidade da saúde pública brasileira, da péssima qualidade e da baixa expectativa de vida do paciente em fila de espera de órgãos. Com isso, esperamos reduzir a recusa familiar, que atualmente é muito alta. Outro ponto é o de garantir aos pacientes em fila, e aos já transplantados, todos os direitos que os portadores de deficiência física já con-
seguiram. O projeto foi criado em 2012. Em 2015 tomou proporção nacional. Tivemos monumentos iluminados de verde em referência ao projeto em 20 estados, o que é importante para fazer com que as pessoas associem o projeto ao tema e o debatam. O passo seguinte é o de ir colocando todos os pontos que defendemos, partindo do princípio de que as pessoas sabem a que se refere o Setembro Verde. Os números do início do ano de 2015 foram muito ruins, com queda do número de doadores e de transplantes realizados. No terceiro trimestre, tivemos uma pequena melhora, obviamente que o fato de o Setembro Verde ter se tornado nacional chamou a atenção da sociedade para o tema e pode ter contribuído, visto que toda vez que o tema é abordado em uma telenovela, todos os números nacionais melhoram. Temos a consciência de que o Projeto Setembro Verde pode agregar a ajudar em vários pontos dessa longa cadeia necessária para a realização de um transplante de órgão sólido.
RCV - Quais os requisitos para ser um doador? Qualquer pessoa pode doar órgãos? LJ - Conversar com a família, ex-
plicar seu desejo. As pessoas ainda pensam que ter isso discriminado no RG ou nas redes sociais expressam algo. Já sobre possíveis doadores, classificamos o potencial para ser doador quando temos a confirmação da morte encefálica e, a partir desse laudo, averiguamos o que pode ser doado ou não.
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RCV - Existe alguma doença pré-existente que inviabilize a doação de órgãos após a morte? LJ - A partir do momento que uma pessoa morre por alguma doença e a mesma danificou o órgão, entendemos que ela não está apta para a doação do mesmo. Caso tenha danificado outras partes do corpo, outros órgãos, tecidos e pele, fazemos o mesmo entendimento.
Pacientes portadores de insuficiência orgânica, com órgãos e tecidos comprometidos devido a insuficiência renal, pancreática, cardíaca, pulmonar, entre outros, tornam-se inviáveis para a doação. Doenças infecciosas também inviabilizam, portadores de doenças contagiosas transmissíveis por transplante, como soropositivos para HIV, doença de chagas, hepatite B e C Tumores malignos, com exceção dos restritos ao sistema nervoso central, carcinoma basocelular, câncer de útero e doenças degenerativas crônicas, também inviabilizam a doação.
RCV - Ainda que haja um documento expressando a vontade da pessoa em doar órgãos, os médicos precisam do consentimento da família? LJ - Sim! No Brasil, trabalhamos com
a doação consentida e não presumida. A decisão final é da família. Sempre.
RCV - As equipes médicas estão suficientemente preparadas para abordar a família em um momento naturalmente marcado pela dor da morte? LJ - Sim! As equipes, que são mul-
tidisciplinares, são treinadas e atu-
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A taxa de recusa familiar é de cerca de 41% no Brasil, o que, para melhorar, depende de mecanismos mais efetivos de informação da sociedade.
alizadas exaustivamente. O preparo é adequado e serve de referência mundial. O que precisamos é aumentar o número de profissionais nestas equipes e melhorar as condições de trabalho.
RCV - Quais os tipos de mortes mais comuns que podem tornar os órgãos disponíveis para a doação? LJ - O primeiro ponto a ser esclarecido é que para se tornar doador após a morte é necessário a confirmação diagnóstica da morte encefálica. As causas mais comuns de morte encefálica são: traumas automobilísticos, motociclísticos, domésticos e violência.
RCV - O que caracteriza a morte encefálica? Há chance de erro neste diagnóstico? LJ - Morte encefálica é a constata-
ção legal do que é morte. É a parada irreversível de todas as funções do cérebro, ocasionada por uma severa agressão ou ferimento grave no cérebro. Quando ocorre a morte encefálica, o sangue que vem do corpo e supre o cérebro deixa de circular, ocasionando sua morte. Certos remédios podem mascarar a função cerebral, assim como relaxantes musculares e sedativos. Para fechar o diagnóstico de morte encefálica há uma rigorosa e sistemática série de exames clínicos, laboratoriais e de imagem a serem realizados, por pelo menos dois médicos diferentes, com intervalo mínimo de 6 horas entre o primeiro e o segundo. Exames são baseados em sólidas e reconhecidas normas médicas. Entre outras coisas, os testes incluem um exame clínico para mostrar que seu ente querido não tem mais reflexos cerebrais e não pode mais respirar por si próprio. Em muitos casos, os testes são duas vezes realizados, com intervalo de diversas horas, para assegurar um resultado exato. Há também alguns testes que podem incluir o exame do fluxo sanguíneo (angiograma cerebral) ou um eletroencefalograma. Com estes dois exames, confirmamos a falta de fluxo sanguíneo ou atividade cerebral.
RCV - Qual a diferença do coma para a morte encefálica? LJ - O Coma é uma situação poten-
cialmente reversível, sempre! Não há uma paralisia completa das funções cerebrais. Já na morte encefálica, há uma paralisia completa e irrever-