Revista Cidade Verde 130

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foto Manuel Soares

Índice

Uma dor que não se apaga

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Capa

Páginas Verdes

A dor que fica 5. Editorial 8. Páginas Verdes Cel. Carlos Augusto concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 12. Palavra do leitor 16. POLÍTICA A função do vereador

Casas inteligentes

Cel. Carlos Augusto 36. GERAL Insegurança no trabalho, empregados em perigo 56. SAÚDE Santos remédios

62. SAÚDE A doença da má alimentação 66. Indústria

26. GERAL Roubaram meu carro. O que fazer?

80. ESPORTE Rumo ao bicampeonato

32. ECONOMIA As vagas estão sumindo

90. POESIA SEMPRE Por Paulo Machado

Articulistas

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13

Jeane Melo

70

A maior festa popular de Teresina

15. Cidadeverde.com Yala Sena 30. Economia e Negócios Por Jordana Cury 40. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa 61. Tecnologia Marcos Sávio 82. Elas por Elas Eli e Élida 84. Passeio Cultural Eneas Barros 86. Perfil Péricles Mendel

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Cecília Mendes

54

COLUNAS

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Zózimo Tavares

“A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”. O compositor Chico Buarque de Holanda expressou, com perfeição poética e precisa, a maior dor que um ser humano pode sentir: a perda de um filho. Esta dor torna-se maior ainda quando a vida deste filho é tirada de forma covarde pela violência que não escolhe vítimas. Nesta edição, a Revista Cidade Verde traz uma reportagem que relata os depoimentos de famílias que foram atingidas pela brutalidade do crime, e viram seus parentes partirem, deixando para trás sonhos, projetos e planos para o futuro. Um futuro que nunca chegará porque foi interrompido barbaramente. As emoções se misturam em um turbilhão que reúne dor, desespero e revolta. Pais, irmãos, tios não se conformam com a impunidade sustentada por leis que colocam os assassinos em liberdade poucos anos depois do crime cometido, enquanto eles terão que conviver com a ausência sentida pelo resto da vida. A mesma indignação provocada pelo sentimento de impunidade é compartilhada pelo Comandante da Polícia Militar, Coronel Carlos Augusto, entrevistado nas Páginas Verdes. O Comandante diz que é desestimulante prender o mesmo bandido várias vezes e que,

em alguns casos, ele deixa a audiência de custódia antes mesmo de o policial assinar o termo. A Polícia Militar, apesar de possuir um efetivo pequeno e bem abaixo da necessidade do Estado, está se esforçando para se fazer presente nas ruas e prender os marginais que estão praticando crimes, de forma pulverizada, em todos os bairros da capital. Mas o sistema não está funcionando no seu conjunto. Só a completa integração de forças da Polícia Militar, Polícia Civil, Poder Judiciário, Sistema Penitenciário e Polícias Federal e Rodoviária Federal pode ajudar a debelar a insegurança que, hoje, assombra os piauienses. Mas nem tudo é dor ou sofrimento. O carnaval chegou e a alegria já começa a se espalhar pelas ruas, com todas as cores e sons que a festa requer. A nossa equipe fez uma cobertura completa do Corso 2016 e traz para você os melhores ângulos da maior manifestação de carnaval de rua do Piauí, mostrando em detalhes as fantasias e caminhões que chamaram a atenção na avenida. Boa leitura a todos! Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 7 DE FEVEREIRO, 2016 | 5



Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Cel. Carlos Augusto

claudiabrandao@cidadeverde.com

A impunidade fomenta o crime

RCV - O ano de 2016 começou com uma sucessão de assaltos e rebeliões em presídios do Estado. A que a polícia atribui essa escalada da violência? CA - A escalada da violência no país

é de responsabilidade do sistema de segurança. À Polícia Militar compete, constitucionalmente, o policiamento ostensivo preventivo fardado. Nós fazemos também a segurança externa dos presídios. E o que a gente pode perceber nitidamente, todos os dias nas ruas, é a prisão reiterada de pessoas que cometem assaltos em série. Você prende ou apreende, quando se trata de menor de idade, e eles rapidamente voltam ao convívio do crime.

Cada vez que um bandido preso pela polícia é posto em liberdade logo em seguida, a sensação dos policiais é de estar remando contra a maré. O Comandante da Polícia Militar do Piauí, Coronel Carlos Augusto, está travando uma luta quase inglória contra o crime no estado. Enquanto se esforça para colocar mais homens e viaturas nas ruas, ele bate de frente com uma série de obstáculos que favorecem a ação dos bandidos. O maior e mais preocupante deles é a impunidade. O coronel queixa-se de prender a mesma pessoa até oito vezes. Como não são julgados dentro do tempo legal, os criminosos acabam sendo soltos e voltando às ruas para praticar os mesmos delitos. Ou todo o sistema de segurança pública funciona a contento, ou não vai adiantar nada a polícia prender os bandidos que estão cometendo assaltos e assassinatos de norte a sul no estado. Muitos assaltantes são presos quando ainda estão usando a tornozeleira eletrônica, em uma demonstração de total descrédito com o aparelho policial. 8 | 7 DE FEVEREIRO, 2016 | REVISTA CIDADE VERDE

Especificamente em Teresina, nós temos experiências que eu acho exitosas. Por exemplo: a região do Promorar, na zona sul, composta por mais de 26 vilas e mais de 100 mil pessoas, foi marcada em 2014 pela grande quantidade de homicídios. Em 2015, aumentamos substancialmente o efetivo da Polícia Militar e a quantidade de viaturas, com um olhar diferenciado para aquela região, e percebemos que fechamos o ano com uma redução em mais de 50% do número de homicídios.

RCV - E por que essas pessoas que estão sendo presas pela polícia não estão permanecendo na cadeia? CA - Porque a segurança pública Foto: Wilson Filho

O uso e tráfico de drogas é outro problema que agrava a situação. Na avaliação do comando da Polícia Militar, mais de 70% dos crimes praticados têm origem nas

drogas. E a participação de menores nessa estatística só aumenta a cada ano. Estas e outras revelações chocantes estão contidas na entrevista a seguir.

não se faz só com a Polícia Militar. É um sistema que está junto conosco e que envolve a Polícia Civil, o Ministério Público, o Poder Judiciário, o sistema penitenciário e, em paralelo, a Polícia Federal e a Polícia Rodovi-

Nós temos um sistema penitenciário superlotado, um Poder Judiciário no qual 62% dos presos estão em caráter provisório, são presos da justiça. ária Federal. Nós temos um sistema penitenciário superlotado, um Poder Judiciário no qual 62% dos presos estão em caráter provisório, são presos da justiça. Eu acredito que isso tem trazido uma coisa chamada impunidade, que é o que fomenta o crime. Se eu cometo um crime e não sou punido, não sou julgado, nem condenado, eu volto às ruas. Nós prendemos pessoas acusadas de oito homicídios e isso não é possível em uma sociedade como a nossa. Eu vou dar só um exemplo: nós tivemos em março do ano passado a perda de um dos nossos policiais, um bom policial, que deixou viúva e três filhos e, poucos meses depois, eu recebo a notícia de que o assassino estava solto nas ruas. No ano de 2015 nós reduzimos o número de homicídios na cidade de Teresina em relação a 2014. Mas os pequenos assaltos persistiram porque nós temos hoje em Teresina

algo que tem que ser resolvido de forma conjunta entre todos os Poderes. São cerca de 3 mil usuários de drogas na capital, segundo estudo da Cedrogas (Coordenadoria de Enfrentamento às Drogas). Desses, cerca de 300 estão praticando assaltos, o que corresponde a aproximadamente 10%. Isso traz esse volume de pequenos delitos que provocam a sensação de insegurança quase generalizada em todos os bairros. Por isso, um dos compromissos que assumi aqui na polícia foi de retornar a segurança para os bairros, colocando mais viaturas nas periferias.

RCV - Voltando à questão da reincidência no crime. O senhor credita esse problema às leis brasileiras ou existe algum outro fator que está permitindo que os criminosos voltem às ruas? CA - Eu credito isso a duas verten-

tes: a primeira é a questão da nossa legislação mesmo, que tem muitas ‘brechas’. Quem mata, estupra ou trafica não pode ter uma lei que conceda progressão de regime. Ele tem que cumprir mesmo os 30 anos de prisão. A segunda questão é o não julgamento, a falta de condenação, que acaba levando à prescrição do crime. Quem é preso tem um prazo de 81 dias para ser julgado. Se isso não acontece, o advogado vai lá e solta ele com um habeas corpus, sem que ele seja ao menos julgado ou tenha seu processo instruído. Isso é o que mais desmotiva o trabalho de um policial.

RCV - Na sua opinião, as audiências de custódia vieram para ajudar ou estão colaboREVISTA CIDADE VERDE | 7 DE FEVEREIRO, 2016 | 9


rando para colocar mais criminosos na rua? CA - A audiência de custódia está

em fase experimental, na verdade. O Piauí foi um dos primeiros estados do Brasil a implantar esse sistema. Eu vejo a audiência de custódia como um instrumento que poderia muito contribuir com o sistema penitenciário, desde que as pessoas que merecessem estar presas estivessem realmente na cadeia. Os encaminhamentos da audiência de custódia não podem ser só para conduzir os presos para a cadeia. Em alguns casos, eles têm que ser levados para tratamento, no caso dos usuários de drogas, que são doentes. Mas há casos em que nós levamos o preso para a audiência de custódia e ele sai antes do policial, que fica para assinar o termo. Logo depois, a gente chega aos bairros e ele tá lá assaltando de novo. Outra questão é a tornozeleira eletrônica. Há poucos dias, nós prendemos três pessoas assaltando com tornozeleira. No outro final de semana, mataram um, também usando tornozeleira. Então, nós estamos fazendo o nosso trabalho, estamos nos bairros, na zona rural, mas o que nós detectamos mesmo é a questão da impunidade.

RCV - Diante dessa realidade, como motivar o policial militar a ir pra rua, arriscando a própria vida, sabendo que os criminosos serão soltos logo em seguida? CA - É em nome da sociedade, e das nossas famílias, que nós vamos às ruas todos os dias combater o crime. Nós temos uma missão a cumprir. Nosso fundamento é baseado na legalidade. O que compete à PM?

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Há casos em que nós levamos o preso para a audiência de custódia e ele sai antes do policial, que fica para assinar o termo.

Prender. Certamente que essa questão nos desmotiva, mas o sentimento do dever cumprido do verdadeiro policial é quando ele prende alguém que está infringindo as normas.

RCV - A presença cada vez maior de menores praticando crimes também está associada à impunidade? CA - Eu, que estou nas ruas diaria-

mente, sou a favor da redução da maioridade penal. Veja o caso do menor que matou o policial: ele tinha 17 anos e 6 meses e era muito mais forte do que eu. Se ele tem o discernimento para escolher os representantes que fazem as nossas leis, então ele tem que ter também o discernimento para cumprir essas leis feitas por quem ele votou. Grande parte das pessoas que cometem crimes em Teresina tem entre 15 e 25 anos. E eles também morrem muito. São vítimas frequentes de homicídio, por conta do uso e do tráfico de

drogas. Por isso, eu defendo o tratamento para que essas pessoas sejam tratadas de forma compulsória. O Estado precisa tirar essas pessoas de circulação e colocá-las em uma clínica própria ou conveniada para serem tratadas. Traria uma tranquilidade enorme para a sociedade e para as famílias desses jovens.

RCV - O tráfico de drogas é, de fato, um dos maiores responsáveis pela criminalidade no Piauí? CA - Eu posso falar, sem medo de

errar, que o tráfico de drogas fomenta mais de 70% dos crimes em nosso país. Em Teresina, nós percebemos de forma clara as pessoas serem vitimadas pelo uso da droga. Eles não são só usuários. Eles também matam e cometem assaltos, por crise de abstinência, porque o corpo está pedindo a droga e eles não têm mais como comprar. Depois que ele vende tudo que tem em casa, ele vai pras ruas assaltar.

RCV - A Polícia Militar reagiu com a Operação Presença, colocando homens e viaturas em lugares estratégicos. Mas esses homens são em quantidade suficiente? Qual o número real e o número ideal de policiais para o Piauí? CA - Nós não temos o efetivo ideal, mas eu também não tenho tempo para esperar trabalhar com o ideal. Eu trabalho com o possível, com o que o Estado pode dispor nesse momento para combater o crime. Nós precisaríamos de 5 mil policiais a mais do que o que temos, inclusive previsto em lei, mas nós estamos procurando suprir essa necessi-

dade. Nós procuramos comprar a folga dos policiais, pegamos parte dos policiais que servem em outros poderes, como a Assembleia, para cumprir escalas no quartel, e temos operações planejadas, nas quais nós deslocamos policiais de determinadas unidades para outros locais. E trabalhamos muito com a informação, com o serviço de inteligência. Toda quarta-feira, nos reunimos com os comandantes de áreas da cidade de Teresina, fazendo a análise criminal para saber onde o crime está acontecendo com mais frequência e qual o horário de maior incidência. Nós trabalhamos com nosso pessoal baseado na análise crítica que nós fazemos semanalmente.

RCV - E qual a área de Teresina com maior incidência de crimes? CA - Em Teresina o crime é bem

pulverizado. Em 2014, a maior incidência foi na região do Promorar, mas nós temos também a região norte, a Santa Maria da Codipi, com grande quantidade de homicídios, assim também como o entorno do Dirceu Arcoverde. Só que os criminosos migram de um lugar para outro. Por isso, temos que trabalhar com inteligência e ter esse poder de mobilidade do nosso policiamento. Com a Operação Presença, nós vamos estar nos principais pontos de Teresina, mas não vamos nos afastar dos bairros porque a vida é importante da mesma forma em qualquer área da cidade.

Em 2015, nós tivemos um grande avanço no interior do Estado. A Polícia Militar formou 400 policiais, iniciamos o curso de formação com 45

comunicação de Teresina com imagens de todos os bairros.

Quem mata, estupra ou trafica não pode ter uma lei que conceda progressão de regime.

homens, que vão se formar neste ano, e estamos iniciando agora a formação de mais 342 soldados, que vão para o interior. Temos feito um plano de atuação em todo o estado do Piauí.

RCV - Uma iniciativa que deu resultados positivos nas grandes cidades do mundo foi o monitoramento eletrônico por câmeras de vigilância. Como está esse projeto no Piauí? CA - Nós tínhamos 30 câmeras no

início do ano passado. Ampliamos agora para mais 26 câmeras no Lagoas do Norte e 26 na Vila Jerusalém. Neste ano, será instalado em Teresina o Centro Integrado de Comando e Controle pelo Ministério da Justiça. É um investimento altíssimo, que foi feito nas cidades sede onde aconteceu a Copa do Mundo. O Centro vai ser construído até o final do ano em um terreno localizado na altura da curva do CFAP e vai permitir integrar nosso rádio de

RCV - O policial militar exerce uma atividade de alto risco. Qual o salário desses profissionais que estão arriscando a própria vida nas ruas? CA - Nós temos um salário básico

na Polícia Militar em torno de R$ 3,5 mil para o soldado. Este valor é escalonado até o posto de coronel. Na verdade, nós merecemos ganhar mais. Eu acredito que todo mundo que vê a importância do policial reconhece que ele ganha pouco. Hoje, nós estamos na média nacional. Mas merecemos uma atenção do poder público para, de forma programada, trabalhar melhores salários para os policiais, até para evitar que eles tenham necessidade de fazer bicos em postos de gasolina e outros lugares. A gente detecta essa situação, embora seja proibido pelo nosso regulamento. Eu solicitei ao governador que fosse aumentada a nossa verba de operações planejadas, que é a compra da folga do policial, para que ele não precise fazer ‘bico’ fora da Polícia Militar.

RCV - Como vem funcionando a parceria entre a PM e a Força de Segurança Nacional? CA - A Força Nacional chegou ao

Piauí há um ano e a atuação dela é programada aqui por nós. Nós temos colocado os homens da Força nos bairros e eles têm feito uma quantidade significativa de prisões. Teve, inclusive, uma atuação importante na Casa de Custódia no início do ano e esperamos que ela continue conosco por mais um tempo.

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