CLAU PUBLIC
UDINO CIDADE
Índice Páginas Verdes Paulo Vasconcelos
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58
Arte que gera renda
05. Editorial
Sabores de Teresina
34. Talento que brilha dos palcos às redes digitais
06. Páginas Verdes Paulo Vasconcelos concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão
48. O pensamento criativo em design
14. Palavra do leitor
54. Festas são espaço para lazer e negócios
18. A força criativa de Teresina 24. Arquitetura renovada 30. Artesanato é marca cultural da cidade
62. Comércio Piauí 68. Talentos musicais
64 Vestindo arte
74. Onde nascem as ideias 78. Teresina tecnológica 82. Turismo além do lazer 12. Chão Batido Cineas Santos 38. Economia e Negócios Jordana Cury 86. Perfil Péricles Mendel
72. Indústria
Articulistas 11
Jeane Melo
88
Fonseca Neto
90
Tony Batista
COLUNAS
06
foto Manuel Soares
Uma cidade criada para sonhar Teresina foi criada a partir do sonho de um homem que viu na Chapada do Corisco a oportunidade para uma cidade prosperar economicamente, aproveitando o curso do Rio Parnaíba como importante veia de transporte para pessoas e mercadorias. Conselheiro Saraiva idealizou a capital que agora completa 165 anos. Uma cidade ainda jovem, portanto, mas já cheia de histórias para contar.
Para celebrar mais um aniversário de Teresina, a Revista Cidade Verde apresenta nesta edição especial uma síntese de todos esses setores criativos, mostrando os expoentes de cada uma das atividades que surgem do sonho inicial do seu idealizador e materializam-se em empreendimentos que geram emprego, renda e muito orgulho para a cidade.
Aqui, o talento humano costuma se destacar nos mais diversos campos. Nos rankings das melhores escolas do país, Teresina sempre aparece nas primeiras posições. E se há concursos nacionais, pode apostar que os teresinenses conquistarão uma ou mais vagas. O brilho do nosso capital humano, sem dúvida, é um dos maiores patrimônios da cidade e o responsável por fazer com que novas ideias brotem nos diferentes segmentos da economia.
A luz intensa que incide sobre a capital piauiense, com a presença do sol praticamente durante o ano inteiro, inspira e ilumina novas ideias de pequenos, médios e grandes negócios que movimentam a economia, mesmo em épocas de crise, como agora. A matéria-prima dessas atividades é o talento natural dos habitantes que herdaram de Saraiva a capacidade de ousar e de empreender.
A união da criatividade com os negócios fez surgir o que chamamos hoje de economia criativa, um setor em franca ascensão no mundo inteiro e que, no Brasil, ganhou uma secretaria especial do Ministério da Cultura, que listou dezoito atividades, dentro deste conceito, indo da arquitetura, das artes visuais, à música, ao entretenimento, ao turismo, à moda, à gastronomia e a tudo mais que nasça da força inventiva das pessoas.
Nas páginas seguintes, você conhecerá uma Teresina criativa, inovadora e vibrante, formada por gente que traz no sangue a vontade de superar obstáculos e brilhar com o resultado de um trabalho original e cheio de personalidade. Cláudia Brandão Editora-chefe
REVISTA CIDADE VERDE | 6 DE AGOSTO, 2017 | 5
Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO
Paulo Vasconcellos
claudiabrandao@cidadeverde.com
Um olhar apaixonado por Teresina foto Wilson Filho
O arquiteto Paulo Vasconcellos vê um grande potencial criativo na cidade e destaca que seu maior patrimônio, sem dúvida, está no capital humano.
Paulo Vasconcellos é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, cidade onde nasceu. Mas, desde adolescente, já visitava Teresina, por conta das raízes familiares. Em 1981, decidiu ficar de vez na terra de Conselheiro Saraiva e desenvolveu pela cidade uma paixão que só cresce a cada ano. Professor de Artes e 6 | 6 DE AGOSTO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE
Arquitetura,foi também Secretário Municipal de Planejamento no final da década de 1980, quando adquiriu o hábito de visitar todos os bairros da cidade, uma atividade que se tornou rotineira e que continua a fazer até hoje. Nesta entrevista concedida à Revista Cidade Verde, ele revela sua visão sobre Teresina e a preocupação acerca da preservação
da identidade cultural desta jovem senhora de 165 anos.
RCV – Na sua opinião, o que melhor caracteriza a identidade de Teresina? PV – O item que eu considero
mais importante é o acolhimento das pessoas. É uma característica de identidade da cidade, que vem se perdendo em função do mundo
contemporâneo, das novas mídias, do distanciamento digital.
RCV – A cidade sabe explorar de forma positiva as suas vocações? PV – Não. Verdadeiramente, não! Por uma série de fatores, a cidade não tem um processo de identidade cultural consolidado, ela busca outros parâmetros de identidades exteriores. Eu creio que a questão da autoestima esteja muito relacionada com isso. Por sermos uma sociedade pobre, há certo estereótipo com relação ao Piauí e a Teresina no contexto nacional. Isso faz com que nossa sociedade, muitas vezes, busque ter uma imagem emprestada de outras realidades, renegando a sua própria imagem e identidade cultural. Esse é um problema muito sério que nós temos e está exteriorizado na parte física da nossa cidade, por exemplo. O patrimônio cultural de Teresina, certamente, entre todas as cidades do Brasil, é um dos menos zelados, menos cuidados. Muitas vezes, as pessoas entendem que Teresina não é uma cidade histórica e que, portanto, não precisa ter uma preocupação mais vigilante nesse sentido, mas não é bem assim. Uma cidade vai sendo construída ano após ano. Se ela não zelar com dez, cinquenta, cem anos, não vai chegar com um patrimônio estabilizado nos quinhentos anos. De tal forma, que identidade cultural é um fator fundamental e entendo que isso esteja muito relacionado com essa questão da baixa autoestima.
RCV – E de que forma é possível reverter isso?
O capital humano é um fator muito importante no caso de Teresina. Nesse sentido, nós temos uma potencialidade fantástica.
PV – Existem duas forças muito
importantes nesse processo. Uma, naturalmente, é a iniciativa governamental, nas instâncias estadual, municipal e federal. Essas iniciativas são fundamentais e aí nós vamos depender da sensibilidade dos governantes nesse aspecto. Outras iniciativas são as que vêm da comunidade , e que podem ser as mais diversas, vindas de pequenos grupos organizados, às vezes até individuais. Nós temos assistido, recentemente, a muitas iniciativas dessas no nosso meio.
RCV – Mas as soluções para se alcançar uma cidade inteligente passam, necessariamente, pelo poder público? PV – Também. As principais expe-
riências que nós temos no Brasil, ou mesmo fora do país, mostram que a ação governamental foi fundamental, mas há também necessidade de que no seio da comunidade, por meio das escolas ou de outros grupos organizados, existam ações de fomento a esse processo criativo. No caso de Berlim ou de Nova York,
que são ícones desse processo de cidade criativa, a ação governamental foi de fundamental importância. Muitas vezes ela leva a um processo de descontinuidade, porque um determinado governo apoia essas iniciativas e outro apoia menos, gerando ciclos de descontinuidade. Quando uma cidade tem a sorte de ter um processo mais contínuo, essas transformações são mais rápidas e positivas e vão influir na qualidade de vida dos seus moradores.
RCV – O fato de Teresina ser a única capital do Nordeste que não possui praia é um fator limitador ou estimulante para desenvolver novos atrativos? PV – Absolutamente estimulante.
Nós temos diferenciais em relação a outras capitais por conta desse geoposicionamento da cidade. Nós convivemos com um sítio fisiográfico bem distinto, bem próprio. E isso faz com que possamos tirar partido dessa condição. O fator geográfico, assim como o fator histórico, são fundamentais no processo de identificação cultural de uma comunidade, de tal forma que esse é um fator muito positivo.
RCV – Nesse caso específico, de que forma a cidade de Teresina poderia aproveitar o fator geográfico? PV – Existem várias situações: uma
delas é o capital humano, que são as pessoas. Nesse sentido, nós temos uma potencialidade fantástica. Muitas escolas da nossa cidade têm tido destaque no âmbito nacional, inclusive. A própria educação púREVISTA CIDADE VERDE | 6 DE AGOSTO, 2017 | 7
blica tem melhorado consideravelmente. Então, o capital humano é um fator muito importante no caso de Teresina. Mas nós também temos recursos naturais próprios que podem e devem ser explorados. Por exemplo, as nossas palmáceas. O sítio fisiográfico do Piauí, e de Teresina mais especificamente, é um sítio de transição entre a região da caatinga e a mata amazônica. Isso faz com que a gente tenha uma ocorrência muito grande de palmácea. Este é apenas um aspecto que poderia ser melhor explorado. Os rios Parnaíba e Poti são outro exemplo. Poucas capitais, eu diria até no mundo, têm a possibilidade de conviver com dois grandes e importantes rios. Eles poderiam e deveriam ser melhor apropriados na nossa paisagem. Isso já falando mais em um contexto de paisagem urbana. A questão da nossa argila é outro ponto, o artesanato em cerâmica tem tido um crescimento expressivo. Eu lembro que quando cheguei a Teresina, o núcleo dos oleiros do Poti Velho produzia um tijolo de péssima qualidade, assim como a telha. Aos poucos, começou a fabricar filtros e outros objetos utilitários e hoje tem uma explosão de produtos. Poderia se viabilizar esse mercado e explorar novos produtos. Este é um exemplo bem típico de uma matéria-prima que poderia ser melhor explorada. Existem potencialidades de diversos tipos e muitas que devem ser até pesquisadas, que muitas vezes nós nem percebemos, mas que têm um potencial escondido e que podem eventualmente surgir e dar a sua contribuição para a cidade. 8 | 6 DE AGOSTO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE
Poucas capitais têm a possibilidade de conviver com dois grandes e importantes rios. Eles poderiam e deveriam ser melhor apropriados na nossa paisagem.
RCV – Do ponto de vista do turismo, os rios, e o encontro deles no Poti Velho, poderiam ser mais bem aproveitados, como acontece com outras cidades? PV – Com certeza, embora o seg-
mento do turismo não tenha potencialidade econômica muito forte no caso de Teresina. Mas os rios, e o encontro deles em particular, a exemplo de Manaus, poderiam, sim, ser um fator diferencial e importante para atrair um fluxo de turistas para a capital.
RCV – Em que setores a criatividade se manifesta de forma mais intensa em Teresina? PV – Eu poderia citar o exemplo
do Salve Rainha, bem como outros exemplos de grupos novos e emergentes que têm buscado trazer contribuições criativas para a cidade, como o Plantar, que tem uma preocupação ambiental. Mas eu devo dizer que, de um modo geral, no conjunto das iniciativas ainda temos muita passividade. Eu não vejo em Teresina uma impulsividade na direção de uma cidade tão criativa. Nosso caminho ainda é longo e árduo, no sentido de buscarmos a es-
sência de uma cidade mais criativa, que é uma cidade mais conectada, onde exista menos discriminação, mais inclusão social, que valorize mais sua cultura, sua produção artística, artesanal. Precisamos buscar a inovação no passado, mas também buscar inovação no que acontece no presente e nas novas perspectivas que estão por vir para nossa cidade.
RCV – E com relação ao talento individual das pessoas? Você percebe a inspiração criativa nos nossos profissionais? PV – Como eu falei anteriormen-
te, o capital humano é o potencial maior da nossa cidade. Eu sou professor dos cursos de Arquitetura e de Artes e convivo muito com esses artistas, o que é muito estimulante e, ao mesmo tempo, frustrante, porque esses jovens, por falta de espaço, terminam não tendo esses impulsos criativos expressos nas suas carreiras, nos seus trabalhos e a cidade perde muito desse capital. Muita gente vai pra fora. A gente ouve falar de muita gente daqui que passa no ITA ( Instituto Tecnológico de Aeronáutica) ou mesmo em outras faculdades e não retorna e, assim, não tem oportunidade de contribuir com nossa cidade. É preciso encontrar uma forma de fazer com que essas potencialidades, que você tão bem destacou, possam emergir, porque elas, de fato, existem. Eu acho que isso é fruto de uma condição social que a cidade nos impõe, com poucas oportunidades.
RCV – As pessoas reclamam muito do clima e do sol forte que incide sobre Teresina. De que forma é possível tirar pro-
veito disso, revertendo essa impressão negativa? PV – Nós temos que conviver de
forma mais inteligente com esse calor. Nossa arquitetura tem de se adequar bioclimaticamente e nós temos feito muito pouco nesse sentido. A nossa cidade tem de se proteger melhor dessas condicionantes, por exemplo, com uma cobertura vegetal mais intensa. Por outro lado, que eu acho que seja a essência da sua pergunta, o sol, a luz, podem ser muito bem canalizados em outros aspectos de natureza positiva. Eu conheço poucas cidades no Brasil onde a vegetação tenha a capacidade de revigoramento tão intensa quanto a nossa. Uma árvore se torna frondosa aqui em Teresina dentro de muito pouco tempo. Então, podemos tirar proveito dessa condição climática para ter uma cidade mais bela, buscar a sua luz para nossa arte, nossa expressão cultural, e assim por diante. Eu acredito que haja um potencial criativo muito grande em torno dessa questão do sol nas nossas vidas.
RCV – Como as intervenções urbanas podem tornar a cidade mais interessante para os seus moradores? PV – A esse respeito, existem na
literatura três componentes fundamentais. Primeiro: conexão. A cidade tem que buscar alternativas de mobilidade urbana que conecte as pessoas. Nós temos na periferia muitas crianças que nunca foram ao centro da cidade porque o preço da passagem é inviável. Utilizam-se transportes alternativos muito intensamente, como a motocicleta,
Criatividade não é algo próprio de um cidadão iluminado, de um artista. A criatividade está na nossa vida.
que se transformou em um problema na vida da cidade, porque a mobilidade é inibida pelo fator econômico e, também, pela qualidade. Tem também a conexão digital. Existe muita gente na cidade que ainda não está conectada digitalmente e isso faz com que elas sejam excluídas de uma série de oportunidades e possibilidades que poderiam mudar a qualidade das suas vidas. Outro fator importante, que eu já mencionei antes, é a questão cultural. É preciso que a cidade se volte para o seu passado, para suas tradições e raízes porque isso vai fazer com que haja autoestima e que a gente tenha elementos de uma identidade própria, que a gente não venha a se tornar uma “outra cidade”. E, por fim, o estímulo de busca de soluções criativas. Se nós temos o orçamento limitado, e de fato nós o temos, no âmbito do estado, do município e até do governo federal, é preciso mais ainda que esse orçamento possa partir para soluções mais criativas e não se reproduzir aqui soluções de outras cidades, que têm outros parâmetros de orçamentos e, muitas vezes, Teresina
incorre nesse erro, quando deveríamos buscar alternativas próprias, locais. Então, para isso, é preciso dar espaço de propositura, gerar espaço para o processo criativo. É preciso que os jovens sejam, de alguma forma, inseridos no processo de construção da nossa cidade.
RCV – Criatividade é um talento nato ou ela pode ser cultivada? PV – Pode e deve ser cultivada.
Criatividade não é algo próprio de um cidadão iluminado, de um artista. A criatividade está na nossa vida. Em outros países, se busca muito fortemente o desenvolvimento criativo das pessoas, porque este é um fator que vai possibilitar a melhoria da qualidade de vida e uma alternativa de trabalho, também. Eu fico triste que uma cidade como Teresina fique voltada muito fortemente para a opção do concurso público, por exemplo, e que não se busque as alternativas do processo criativo. Quando uma cidade estimula a visitação de museus, a oferta de disciplinas de arte nas escolas, ou reverencia a sua própria cultura, ela está fomentando esse processo. Não existe criatividade se você não tiver um fundamento de autoconhecimento da sua própria identidade cultural. Nós não seremos criativos em função dos fundamentos culturais de outra comunidade à distância, mas em cima da nossa própria realidade. Não vamos inventar Teresina pelo que as outras cidades inventaram, mas pela capacidade que nós tivermos de ler e aprender a nossa cidade e seus aspectos culturais.
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