Revista Agro DBO - Ed 40 - Dez//2012 - Jan/2013

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Sumário

32 Sorgo sacarino

A cultura ganha espaço graças às novas tecnologias e torna-se opção para a produção de etanol na entressafra da cana.

40 Arroz

Software gratuito desenvolvido pelo Irga e novos aplicativos ajudam produtores, agrônomos e técnicos no monitoramento das lavouras.

42 Tecnologia

Nova vertente das ciências agrícolas prioriza a nutrição das plantas como meio de reduzir deficiências nutricionais

48 Entrevista

Alysson Paolinelli alerta: se não houver investimento em tecnologia, em

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cinco anos a agricultura brasileira terá que rediscutir o Código Florestal.

Café Matéria 52 Capixabas encerram as comemorações de capa do centenário de introdução do conilon Demanda crescente e boa rentabilidade das principais commodities favorecem a expansão da agricultura, multiplicando o preço da terra. Sem cacife para comprar, muitos produtores rurais optam pelo arrendamento de áreas de pastagem.

no estado do Espírito Santo

Artigos 20 – Daniel Glat cita dez razões ao explicar porque o mundo deve respeitar o Brasil 22 – Decio Gazzoni defende a cana-de-açúcar como cultura ambientalmente limpa 38 – Rogério Arioli clama pela gratidão do consumidor urbano ao homem do campo 56 – Marcelo Balerini analisa a Instrução Normativa, marco da bataticultura nacional. 66 – Fábio Lamonica alerta contra os riscos não cobertos nas apólices de seguro.

Seções Do leitor............................................................. 4 Ponto de vista.................................................. 8 Notícias da terra............................................10 Política...............................................................18 Marketing da terra........................................30

Deu na imprensa..........................................54 Análise de mercado.....................................58 Novidade no campo....................................60 Biblioteca da terra.........................................62 Agenda.............................................................64 dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 3


Do Leitor teresse, posso eu mesmo fornecer indicações dos trabalhos realizados no Centro Oeste, em especial em Goiás. Aproveito para parabenizar esta revista pelo importante trabalho de divulgar as ações dos impulsionadores do PIB nacional para toda a população. Marcos Corrêa Mamprim, Mineiros A revista Agro DBO vem completar o leque de informações que faltava à família DBO. Oscar Fernandes de Lima Quirinópolis

ALAGOAS Recebi um exemplar da edição de novembro da revista Agro DBO, cuja excelência está mais evidente do que antes. Tenho a destacar importantes matérias, como aquela sobre tecnologia (Kip Cullers), na página 36; sobre doenças do milho, na página 40; e sobre o plantio cruzado de soja, na página 46. São informações muito relevantes, valiosas, o que só tenho a agradecer. Também gostei muito da matéria sobre gestão (“Como descobrir onde erramos”), da edição de setembro. Carlos José Pedrosa, Maceió GOIÁS Fiquei agradavelmente surpreso ao iniciar a leitura da revista Agro DBO nº 38 (outubro/2012), que incluiu reportagens sobre grandes feitos e exemplos de engenheiros agrônomos, no mês em que se comemora o Dia do Agrônomo (12/10). Porém, um comentário da seção “Do Leitor”, do Dr. Odo Primavesi, deixou-me preocupado ao inquirir sobre a disponibilidade de cursos de capacitação para produtores e operadores de equipamentos e tecnologias que surgem nesta fase da agricultura. Talvez seja hora desta publicação realizar uma reportagem a respeito do Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que com recursos dos próprios produtores, realiza em todo o país eventos de treinamento e capacitação em todas as necessidades dos trabalhadores rurais, através do trabalho das federações de agricultura e pecuária dos estados. Havendo in-

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MARANHÃO Não somos apoiados pelo governo. O código florestal é um fiasco. João Henrique Borgmann Balsas MATO GROSSO Gosto muito das publicações DBO, sempre atualizadas em seus assuntos e de muito bom gosto. Franciely Tiemi Mizukami Sinop Acho muito boa a revista, com artigos técnicos, artigos relacionados à administração e artigos jurídicos muito bons. Danilo Gagliardi Basso Nova Xavantina MATO GROSSO DO SUL Essa revista tem sido um curso permanente para nós, produtores rurais que temos pouco estudo, e agora ainda está melhor. Continuem assim. Rubin Norberto Schneider Costa Rica A revista está ótima, atualizada, com muitas técnicas para a agropecuária. Parabéns à revista Agro DBO. Heriberto Mariscal Filho Batayporã MINAS GERAIS A Agro DBO tem sido uma ferramenta muito importante para nós, produtores e técnicos que buscamos novas tecnologias para aumento da produtividade com qualidade. Adenilson Alves de Oliveira São Gotardo

É uma revista informativa e, ao mesmo tempo, técnica. A Agro DBO orienta e explica vários assuntos importantes ao produtor, comenta sobre o mercado e orienta de forma clara e atual. É uma publicação indispensável ao atual setor agrícola brasileiro. Parabéns! Rodrigo Mário Corradini São João Del Rei PARÁ Gostaria de ver reportagem feita na nossa região amazônica. Carlos Henrique Lima Chaves. Santarém PARAIBA Sou engenheiro agrônomo, zootecnista e atualmente atuo, com muito orgulho, como extensionista rural da Emater da Paraíba. A cada edição da Agro DBO me surpreendo com a qualidade editorial das reportagens, notas e artigos apresentados, o que tem me dado vários subsídios e informações atualizadas, tanto no dia a dia profissional como no nosso mestrado em Ciências Agrárias aqui em Campina Grande-PB pela UEPB/ Embrapa Algodão. Parabéns a toda a equipe. Ewerton Bronzeado Campina Grande PARANÁ Parabéns, revista Agro DBO. É, para mim, um auxílio no trabalho, assim como em minhas aulas, no curso de Técnico Agrícola. É um prazer tê-la como referência. Clóvis Antônio Azambuja Ponta Grossa Obrigado pela revista mais atual e informativa da agricultura brasileira. Edgar Elio Pott Pato Branco A revista Agro DBO é nota 10, me ajuda a ficar por dentro das novidades do meio agrícola. Como sugestão, gostaria de ver mais novidades em máquinas, implementos e equipamentos agrícolas. Wiston de Gregório Leite Joaquim Távora


Sem dúvidas a Agro DBO é a melhor Revista do setor que já li. Cito isso, por ser específica, apresentar matérias atuais, pontuais e extremamente relevantes para o agronegócio Higo Jardel Beltramim (C.Vale) São João do Ivaí Sou assinante da Agro DBO e gostaria de saber se vocês tem algum material referente ao mofo-branco. Estou fazendo um trabalho sobre a doença e gostaria de algumas informações. Como a revista de vocês possui alto nível de conteúdo, pensei que vocês pudessem me ajudar. Eliezer Stroparo Irati NR: Pois não, Eliezer. Publicamos matéria de capa sobre o mofo branco na edição nº 4, de maio/junho de 2005 (na época, a revista era bimestral e se chamava DBO Agrotecnologia). Vamos lhe encaminhar por e-mail o PDF da referida reportagem.

RIO GRANDE DO SUL Ótima revista. Parabéns a todos os envolvidos pelo empenho e dedicação, pelos assuntos interessantes e atuais. Evandro Luciano Besnow Passo do Sobrado Tenho aprendido muito com a DBO Agrotecnologia (a revista que antecedeu a Agro DBO) e tenho certeza que agregarei mais conhecimentos agora, com a Agro DBO. Rita Helena de Souza Lima Panambi Acho a Agro DBO uma fonte muito útil de informações para o produtor rural, pois para produzir com eficiência nós, agricultores, temos de estar bem informados sobre as tendências de mercado e as novas tecnologias. Charles Daneberg Camaquã SÃO PAULO A revista tem um conteúdo muito bom, é prática e fácil de ler. Eduardo M.C. Nogueira Caieiras

É uma revista que contêm muitas informações para os agricultores. Tenho circulado com ela, para todos lerem. Sugiro uma reportagem sobre georreferenciamento. João Renato Bennini Campinas NR: Sugestão anotada, Sr João Renato. Parabéns pela matéria da capa da edição de outubro. Algumas das pessoas (Haroldo Cunha) e empresas (Círculo Verde) citadas na reportagem são meus amigos e os conheço bem. Lembro-me também da reportagem anterior – julho/agosto 2010 (DBO Agrotecnologia). Sou produtor e fornecedor de cana de açúcar na região de Ribeirão Preto (Ituverava/SP) e gostaria de saber se nesta reportagem, o autor Luiz Silveira não coletou alguma informação de produtos e/ou fabricante de produtos destinados para a cultura da cana. Tenho contato da Syngenta, Basf, FMC, citados na reportagem, mas não tenho nenhum da Trade Corp. Não foi apresentado na matéria da revista, mas caso possa, gostaria de conhecer os resultados da experiência do Sr. Adelar Cappellesso com Stimulate/Stoller e Biozyme/Arysta. No aguardo. Kenjiro Mine Ituverava NR: Encaminhamos, via e-mail, os contatos de que dispomos, Sr. Kenjiro. Esperamos que lhe sejam úteis. Acredito na força do homem do campo. Gostaria que a revista publicasse mais reportagens para o pequeno produtor, explicando como aplicar as novas tecnologias, como fazer os tratos culturais, etc. Flavio José Sabion Giacheto Fernandópolis Tenho duas assinaturas da revista DBO. Gostaria muito de receber exemplares da Agro DBO, pois embora há 40 anos na pecuária, iniciei plantio direto na safra 2011/2012, com soja. Nelson de Souza Paiva São Paulo AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Carta ao leitor

A

produção de grãos da safra 20122013 será de 180,2 milhões de t conforme estimativa divulgada pela Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, na primeira semana de dezembro. O volume mostra aumento de 8,4% ou 14 milhões de t a mais do que a safra anterior, de 166,17 milhões. O destaque se mantém para a soja, que teve aumento de 16,24 milhões de t em comparação com o período anterior. O milho primeira safra teve elevação de 607,4 mil toneladas e o feijão primeira safra, aumento de 66,6 mil toneladas. Já a área cultivada é de 51,94 milhões de hectares, com aumento de 2,1% ou 1,05 milhão de ha se comparada à área da última safra. A área de soja foi a que mais se expandiu. O grão apresentou um crescimento de 8,8% ou 2,2 milhões de ha a mais que na safra 2011/2012, quando foram cultivados 25,04 milhões de ha. O que os números acima não revelam é que a maior parte do aumento da área plantada se deve ao plantio de grãos em áreas arrendadas, em terras que nos últimos anos exibiam pastagens. Na matéria de capa desta edição, assinada pelo jornalista José Maria Tomazela, Agro DBO faz uma radiografia detalhada do que acontece nas negociações entre arrendatários e pecuaristas, os preços da terra Brasil adentro, e de como essa prática deve trazer profundas alterações no futuro da agricultura brasileira, eis que a mudança cultural que se percebe é de investir em tecnologias para aumentar a produtividade, em detrimento de imobilizar capital na compra de terras próprias para o plantio. Desde alguns anos atrás, na DBO Agrotecnologia, já havíamos mostrado essa tendência inovadora do agro brasileiro, agora incentivada pela alterações legais que o novo Código Florestal provoca, inclusive o aumento do preço da terra para venda. A Agro DBO de dezembro 2012/janeiro 2013, traz ainda informações e opiniões relevantes ao leitor, seja através de nossos colunistas especializados, seja de entrevistas como a do quase eterno ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, que aponta os caminhos da agricultura para manter o Brasil como celeiro do mundo. “Já chegamos lá, em volume de produção, mas ainda temos uma longa caminhada pela frente, se desejamos nos manter nesse patamar”, diz ele. Há, ainda, nesta edição, um interessante texto do agrônomo Odo Primavesi, sobre produção com uso e olhar agroecológico sustentável. Outro destaque da presente edição está na matéria sobre sorgo, escrita pelo jornalista Ariosto Mesquita, que mostra os caminhos perseguidos pelo sorgo sacarino para se tornar uma alternativa complementar na produção de etanol no período de entressafra da cana de açúcar. Tomara que dê certo. Aos que desejarem manifestar suas opiniões ou sugerir assuntos a serem abordados pela Agro DBO solicitamos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, Luiz Fernando Coelho de Souza e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Alfredo Scheid Lopes, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Decio Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, José Maria Tomazela, Luiz Roberto Guimarães Guilherme, Marcelo Balerini, Odo Primavesi, Rogério Arioli Silva, Romário Gava Ferrão, Sílvio Junio Ramos. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Sergio Escudeiro Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Gerente: José Geraldo S. Caetano Vendas: Andrea Canal, Heliete Zanirato, Marlene Orlovas, Naira Barelli e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Ademir Almeida DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Ponto de vista

Raio X do campeão Decidido a destrinchar os segredos de Kip Cullers, Odo Primavesi resolveu pesquisar na internet, tirando conclusões interessantes.

F

Odo Primavesi é engenheiro agrônomo e escritor

iquei impressionado com o teor da reportagem sobre Kip Cullers, publicada em novembro pela Agro DBO (“Receita de campeão”, como mostra a foto ao lado). Procurei cotejar as informações da revista com aquelas encontradas na internet, e pude resumir tudo como segue. Queria ver o que ele fazia a mais do que aquilo que sugiro em meu livro “Manejo ambiental agrícola” (veja pg 63 desta edição). A maior parte não é mistério. A reportagem sobre Kip Cullers na produção de soja resume bem como deveria ser o manejo agrícola em geral: um trabalho de jardineiro cuidadoso. O certo é que se o solo estiver bom de matéria orgânica e as raízes vigorosas, e não faltar água, todo o resto funciona que é uma beleza. Digo pro pessoal das biodinâmicas que o São Jorge (efeito da lua) só funciona se São Pedro deixar (chuva; ou irrigação). Agora está havendo um movimento para trabalhar mais os compostos e resíduos com micro-

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organismos. Mas se fizermos bom manejo de solo e rotação de culturas, vai haver atividade diversificada de microorganismos, sem ter que aplicar. Vejam, teve aquele movimento do pessoal da minhoca, “aplique minhoca”. Mas em terra bem manejada a minhoca aparece, e em terra dura não adianta inocular, morre tudo. Fica claro que todas as práticas de manejo de solo beneficiam as raízes (vigor, sanidade, aeração, umidade) e fazem com que os insumos, como os adubos foliares, permitam que a planta absorva muitos nutrientes do solo (desde que lá estejam).

Solo compactado, anaeróbico, seco e quente certamente não favorece as raízes superficiais e o vigor e sanidade das plantas. Tudo isso que os artigos da Agro DBO vem martelando constituem o segredo do Kip. Com base no que encontrei na internet, pude ver o seguinte: a começar pelo solo em que Kip Cullers procura manter um bom teor de matéria orgânica, aplicando cama de frango e humatos (acho que deve ser alguma fonte de turfeira), além da eventual rotação de culturas (que deveria ser rotina, ou como está sendo feito aqui, com pastagem, a exemplo da integração lavoura pecuária). Kip escolhe cultivares produtivos, e realiza plantio precoce, controle fitossanitário, irrigação adequada, e fertilidade do solo e nutrição vegetal adequada. Procura evitar adensamento de plantas (em lugar de 300 mil usa perto de 250 mil plantas/ha), pois deseja plantas mais baixas, talo mais grosso, além de ramificadas. Kip Cullers procura criar um sistema radicular vigoroso e sadio. Usa Optimize 400, que é um inoculante de rizóbios, mais substâncias promotoras de enraizamento e desenvolvimento de gemas apicais. Além do tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas, compatíveis com os rizóbios. E o uso de boro. Ele procura realizar tratamento para manter plantas baixas e mais ramificadas, com o uso de herbicidas (Cobra) ou reguladores de crescimento, no início da fase vegetativa. Procura evitar plantas altas que acamam fácil. Utiliza irrigação suficiente em maior frequência. Aproveita para aplicar sulfato de amônio para manter o nível de N nas plantas, mesmo em soja inoculada, quando houver necessidade. As


adubações foliares frequentes procuram levar todos os nutrientes essenciais (N, S, Mn, Zn, B, Cu, Fe, Mn, Mo), na proporção requerida em função do estádio vegetativo, além de conterem estimulantes de crescimento. Procura evitar o aparecimento de deficiências nutricionais. Antes

da florada, Cullers aplica solução de vinagre, pois parece que a acidez estimula o florescimento e o pegamento de vagens. No caso do vinagre, acidificação antes do florescimento, me lembro que eu estava testando uma formulação foliar rica em P, e que por pro-

Aspectos relacionados em (Kip Cullers productivity):

cornandsoybeandigest.com/optimize-400-lco-promoter-technology-helps-kip-cullers-achieve-new-world-record-soybean-yield www.sipcamadvan.com/news/25-product-news/361-kip-cullers-uses-contans www.arkansas-crops.com/2012/02/10/student-researches-recipe-for-record-setting-soybean-yields/ www.no-tillfarmer.com/pages/News-Researchers-Take-CloserLook-At-Kip-Cullers-System.php

Veja também:

Uso de B e humato

www.pioneer.com/home/site/us/template. CONTENT/products/soybean/high-yield-growers/guid. EF9A8862-AD02-392F-61C6-3274ACF49066 Adubo foliar com K: http://aes.missouri.edu/pfcs/research/prop408.pdf mosoy.org/wp-content/uploads/news/WEB%20PDF-%20DEC%2010.pdf www.plantmanagementnetwork.org/pub/php/news/2010/Invate2/ www.stollerusa.com/kipcullers/

blemas de estabilidade, com pH da solução mais ácido (acho que pH 3 ou 4), e essa deu 5 scs a mais/ha que a formulação com pH 7. Eu achava que era maior eficiência do P em pH baixo (que realmente ocorre), mas não sabia do efeito ácido sobre a fisiologia da planta. Só que Kip Cullers não usa P e K no foliar (que vai no esterco de galinha). O tratamento fitossanitário é realizado duas vezes, o primeiro no estadio R2-R3, e outro, quando necessário. Ele faz rotação de princípios ativos. Procura evitar o aparecimento de doenças nas raízes, caules e folhas. E – para finalizar este texto – diz que as altas produtividades sinalizam para o que deve fazer de manejo adequado, só que elas lhe trazem fama, mas as áreas comerciais lhe dão a renda. Nas áreas de produtividade máxima, não está preocupado com a lucratividade e o impacto ambiental ou a sustentabilidade.

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Notícias da Terra Negócios

Yara adquire área de fertilizantes da Bunge

A

Yara International ASA assinou acordo para adquirir o negócio de fertilizantes da Bunge no Brasil. A transação envolve US$ 750 milhões e estará sujeita à aprovação do Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica. “Este significativo investimento da Yara no Brasil mostra que estamos aqui para ficar, que acreditamos e queremos crescer com o país. A escala que esta aquisição traz, aliada à qualidade da equipe, marcas e demais ativos da Bunge, combina muito bem com a tradição inovadora da Yara e sua liderança em nutrição de plantas. Isto se traduzirá em soluções competitivas e sustentáveis para a agricultura brasileira”, disse Lair Vianei Hanzen, presidente da Yara Brasil. No Brasil, a Yara Fertilizantes adquiriu a Adubos Trevo, em 2000, e a Fertibrás em 2006. Com a nova aquisição a Yara passaria a deter 25% de

Soma de forças

Fonte: Yara

participação de mercado no segmento de fertilizantes. A Bunge operava 22 unidades misturadoras no Brasil e entregou 4,8 milhões de toneladas de fertilizantes em 2011, com faturamento de US$ 2,6 bilhões. Fundada em 1905 na Noruega, a Yara tem presença física em 50

países e distribuição comercial para 150 países, utilizando sua plataforma de produção e sistema de abastecimento global para criar benefícios locais e oferecer aos clientes a combinação de produtos de qualidade e conhecimento especializado.

Safra I

Colheita de 180,2 milhões de toneladas

A

safra 2012/13 de grãos deve ser de 180,2 milhões de toneladas, conforme a Conab. Esse número indica crescimento de 8,4%, ou, em volume, 14 milhões de toneladas a mais,

em relação à safra passada (166,17 milhões de toneladas). Os dados são do terceiro levantamento de safra, divulgado no início de dezembro. Os produtores rurais devem colher 16,24 milhões de toneladas a mais de soja e 607,4 mil toneladas a mais de milho, comparativamente aos resultados do ciclo anterior. Segundo a Conab, a área cultivada deve alcançar 51,94 milhões de hectares, o que significa aumen-

to de 2,1% (ou 1,05 milhão de hectares a mais), no comparativo com a área plantada no ano passado. O destaque, mais uma vez, ficou com a soja: o grão apresentou crescimento de 8,8% (ou 2,2 milhões de hectares) em relação à safra 2011/2012, quando foram cultivados 25,04 milhões de hectares. O levantamento de campo foi realizado entre os dias 19 e 23 de novembro nas principais regiões produtoras do país.

Safra II

Estimativas modestas

A

produção de cereais, leguminosas e oleaginosas para 2013 foi estimada pelo IBGE em 170,9 milhões de toneladas, 5,1% superior ao total obtido na safra passada. Entre os dez produtos analisados, seis apresentam variações positivas na produção: o feijão 10 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

1ª safra (22,7%), a soja (21,5%), o fumo (6,8%), o milho 1ª safra (4,7%), a mandioca (2,3%) e o arroz (0,4). Quatro produtos mostram variações negativas: o amendoim 1ª safra (7,8%), o algodão (7,8%), a cebola (3,6%) e a batata-inglesa 1ª safra (1,1%).


Notícias da Terra Energia I

Canaviais em expansão

O

PDE – Plano Decenal de Expansão de Energia, do governo federal, não deixa por menos: a cana-de-açúcar é uma das fontes de energia que mais crescerá no Brasil na próxima década, ficando atrás apenas do gás natural. As projeções mostram que os derivados da cultura representarão quase metade da energia renovável total utilizada no país daqui a dez anos. As fontes renováveis, que respondem hoje por 43,1% do consumo, crescerão para 45% em 2021. O etanol e a biomassa de cana cres-

cerão mais rápido do que a média das fontes renováveis na próxima década: em média 8,1% ao ano, contra 5,1% anuais, respectivamente. Os principais derivados da cana considerados na conta são o etanol e a eletricidade gerada a partir da queima do bagaço de cana-de-açúcar. Mas o PDE considera que, até 2021, o Brasil já poderá ter produções “modestas” de biocombustíveis avançados, como o diesel de cana, o etanol celulósico e o bioquerosene de aviação.

Energia II

Plataforma internacional

A

Copersucar, maior trading de açúcar e etanol no Brasil, assumiu o controle da norte-americana Eco-Energy para criar a maior companhia do biocombustível do mundo e fincar os pés de vez nos Estados Unidos, maior produtor global de etanol. O anúncio foi feito no início de novembro por executivos da empresa brasileira. “A Copersucar passa a ser a única no mundo com portfólio completo de etanol e terá participação ativa no comércio de etanol no mundo”, disse o diretor-presidente da Copersucar, Paulo Roberto de Souza. A Eco-Energy tem 9 por cento de participação no mercado norte-americano de etanol. É a terceira maior negociante do combustível nos Estados Unidos e movimenta perto de 5 bilhões de litros de etanol por ano. Segundo estimativas do setor, as companhias terão 12% de participação no mercado global de etanol. Juntas, terão capacidade de ofertar 10 bilhões de litros do biocombustível ao ano.

PIB

Mais uma vez, o campo salva o Brasil

D

ados divulgados pelo IBGE no final de novembro indicam que o PIB – Produto Interno Bruto do Brasil será de 1% em 2012, abaixo das estimativas anteriores. O PIB nacional cresceu apenas 0,6% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o segundo trimestre, e 0,9% sobre igual período em 2011. Antes, o governo e consultorias nacionais e internacionais previam algo entre 1,5%.e 1,8% para 2012.

Mais uma vez, o destaque positivo foi a agropecuária, com 2,5% (no comparativo com o terceiro trimestre de 2011, cresceu 3,6%). O setor de serviços teve variação nula (quando cotejado com o terceiro trimestre do ano passado, cresceu 1,4%) e a indústria, 1,1%.(0,9%). Obviamente, a economia brasileira pode reagir no quarto trimestre de 2012, mas dificilmente vai chegar a 1,8% no ano, segundo analistas. O minis-

tro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo esperava mais. Apesar disso, Mantega reiterou que a economia está em trajetória de aquecimento e recuperação, com destaque para a indústria da transformação. Ele projeta uma expansão de 1% do PIB no quarto trimestre. O IBGE também revisou o crescimento do PIB do segundo trimestre deste ano. Segundo o instituto, foi de 0,4%. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 11


Notícias da Terra Foto: Caju

Celulose

Maior fábrica do mundo

T

rês Lagoas (MS) inaugurou no dia 12 de dezembro – com direito a show do tenor italiano Andrea Bocelli – a fábrica da Eldorado Brasil (Grupo JBS), considerada a maior unidade industrial de celulose em linha única do mundo. Com capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas/ano de celulose branqueada, foi construída às margens do rio Paraná a um custo de R$ 6,2 bilhões, segundo informações da empresa.

A produção será transportada por hidrovia e ferrovia para exportação para países da América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia. A obra obrigou o plantio de 81 mil hectares de eucalipto. Quando a fábrica estiver operando a todo vapor, a empresa passará a ser a quinta maior produtora do mundo. O município de Três Lagoas, que já abriga a maior fábrica da Fíbria, passa agora a ser o maior polo de celulose do Brasil.

Soja

Desafio municipal de máxima produtividade

O

Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil decidiu premiar também os campeões municipais de produtividade da soja, dentro do Desafio Nacional de Máxima Produtividade. As inscrições para o concurso, referente à safra 2012/13, estão abertas até o dia 15 de janeiro de 2013 e devem ser feitas através

do site www.desafiosoja.com.br “Queremos ampliar o reconhecimento aos produtores e consultores técnicos, que terão a chance de competir também a nível municipal, tornando-se referências em suas regiões”, diz Orlando Martins, presidente do Cesb. Os campeões municipais serão conhecidos em maio, após o térmi-

Sanidade I

Sanidade II

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Q

o final de novembro, cerca de 80% das lavouras de soja em Mato Grosso estavam contaminadas com nematoides. A constatação foi feita pela Aprosoja/MT, com base nos dados obtidos pelos pesquisadores que percorreram as principais regiões produtoras do estado, dentro do Circuito Tecnológico da Soja. Responsáveis por perdas graves de produtividade nas lavouras, os nematoides são vermes que parasitam as raízes e comprometem a absorção de água e nutrientes pelas plantas. Além dos nematoides, os pesquisadores constataram cinco focos de ferrugem asiática no estado, o último dos quais em Primavera do Leste. Além de Mato Grosso, foram descobertos dois focos de ferrugem em São Paulo e um em Santa Catarina.

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Cuidados com lagartas e percevejos uem não quer ter perdas com invasão de pragas deve ficar atento com as lagartas, principalmente a da maçã (Heliothis virescens) e a falsa-medideira (Pseudoplusia includens). O alerta vem sendo feito pela entomologista Lúcia Vivan durante palestras da turnê “Fundação MT em Campo: É Hora de Cuidar”, evento que difunde para a classe produtora recomendações técnicas sobre doenças, clima, aplicação de defensivos agrícolas e pragas

Além do controle das lagartas nas lavouras de soja, Lúcia Vivan recomenda atenção aos percevejos, que também podem causar danos severos. “Importante é fazer o monitoramento de toda a área. O acompanhamento diário

possibilita a identificação da praga, qual espécie, o tamanho da população e a forma de controle mais eficiente para a espécie da lagarta ou do percevejo”, esclarece. A turnê deve terminar no começo deste mês, depois de passar por 16 municípios de Mato Grosso e dois de Goiás.. Foto: Fundação MT

Lavoura em risco

no da colheita em todo o país. Eles ganharão diploma individual de reconhecimento e divulgação em jornais, TVs, revistas, publicações de cooperativas e sindicatos e informativos de associações de produtores, além do site do Cesb. Poderão concorrer apenas municípios que tiverem pelo menos cinco áreas inscritas.


Notícias da Terra Café I

Indicação Geográfica

A

lém das questões agronômicas, econômicas ou mercadológicas, a quinta edição da Ficafé – Feira Internacional de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná destacou-se por uma razão especial: o reconhecimento oficial, por parte do governo federal, de que a região produz um café especial e que somente os cafeicultores que o cultivam nas normas estabelecidas poderão usar a marca ‘’Norte Pioneiro’’. A entrega da certificação de Indicação Geográfica (a primeira a um produto do estado) foi feita pela Coordenadora de Indicações Geográficas e Registros do Inpi – Instituto Nacional de Propriedade Industrial, Susana Serrão Guimarães’. A IG, como se sabe, garante a origem, os processos de produção e características culturais e sensoriais dos produtos de uma determinada região, conferindo-lhes destaque nos mercados brasileiro e internacional. A certificação beneficiará cerca de 7.500 cafeicultores e suas famílias, responsáveis pela produção de 1,1 milhão a 1,3 milhão de sacas/ano, que correspondem a 50% da produção paranaense de café. No total, o Brasil possui 29 produtos detentores de IG, 17 deles obtidos em 2012.

Café II

Café III

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O

Leilão internacional Grãos com ágio s 24 lotes vencedores do 13º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil serão negociados, por intermédio da internet, no leilão do Cup of Excellence, marcado para o dia 10 de janeiro de 2013. O lote campeão do concurso realizado no ano passado teve cada uma de suas 22 sacas negociada a US$ 3,055.58, o que resultou em um total de US$ 67,222.66 (R$ 118.782,44, conforme a cotação do dólar à época). Caso interesse, a lista dos vencedores está no site da Associação Brasileira de Café Especiais (BSCA, da sigla em inglês): www.bsca.com.br

governo do Paraná anunciou duas medidas para incentivar a produção de café de qualidade no estado: comprar, com ágio de 25%, todos os lotes de café especial premiados no Concurso Café Qualidade Paraná, realizado no final de outubro em Siqueira Campos, e investir R$ 2,5 milhões para implantar 330 unidades demonstrativas de tecnologia cafeeira em propriedades rurais. O café premiado será remunerado conforme a cotação do café da Bolsa de Mercadorias e Futuro do dia 30 de outubro, que fechou em US$ 202,90 (a R$ 412,05). Com o ágio de 25%, o cafeicultor premiado irá receber R$ 515,00 por saca.

Café IV

O melhor cereja descascado do Brasil

O

café cultivado por Vinícius José Carneiro Pereira na Fazenda do Moinho, em Olímpio Noronha (MG), foi eleito o melhor cereja descascado/despolpado do Brasil na safra 2012. O lote recebeu 91,97 do júri internacional reunido para o 13º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil

‘Cup of Excellence Early Havest’ (edição 2012) e ainda foi considerado “café presidencial” pelos juízes. A. cerimônia de premiação foi realizada em 9/11 em Jacarezinho (PR), durante a Ficafé 2012. Além do campeão, os lotes classificados em segundo e ter-

ceiro lugares, produzidos, respectivamente, por Dimas Mendes Bastos na fazenda Serra do São Bento, em Araponga (MG), e pelo grupo Café Orfeu na fazenda Sertãozinho, em Botelhos (MG), também ganharam mais de 90 pontos – ou seja, também são cafés presidenciais. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Seguro I

Contratação de recursos

Meio ambiente

Desmatamento cai

D

e janeiro a outubro, as culturas de uva, trigo, soja e milho foram as que mais contrataram operações do programa de subvenção ao prêmio do Seguro Rural em 2012, segundo levantamento do Mapa. Somadas, totalizam 15,8 mil contratos, o que representa 81% dos 19,5 mil realizados no período. Os viticultores foram os que mais contrataram (8,1 mil ao todo), com área segurada de 29,3 mil hectares e R$ 555,5 milhões em valor.. O prêmio arrecadado foi de R$ 35,8 milhões e subvenção total, R$ 21,2 milhões. Os contratos de operação de trigo totalizaram 3,2 mil, com área assegurada de 228,5 mil hectares. Depois vêm a soja (2,2 mil contratos e 160,8 mil/ha) e o milho safrinha (2,1 mil e 210,7 mil;/há). Somadas, as demais culturas (cebola, tomate, arroz, etc) atingiram 3,7 mil contratos e área assegurada de 100,3 mil hectares.

Seguro II

Plano trienal

O

Diário Oficial da União publicou em 29/11 o PTSR – Plano Trienal do Seguro Rural, do Mapa, que define as diretrizes da política de subvenção ao prêmio do seguro agrícola entre os anos de 2013 e 2015. Os valores escalonados da subvenção são de R$ 400 milhões para 2013, R$ 459 milhões para 2014 e R$ 505 milhões em 2015. As empresas seguradoras só receberão os repasses quando comprovarem a realização das operações. Aos agricultores, o limite ao ano foi definido em R$ 96 mil. Eles poderão fazer contratos para mais de uma cultura, desde que a soma não ultrapasse R$ 192 mil

14 | Agro DBO –dez/2012-jan/2013

“O

uso dizer que esta é a única boa notícia ambiental que o planeta teve este ano, do ponto de vista de mudanças do clima”. A notícia a que a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, se refere, é a redução do nível de desmatamento na Amazônia Legal. Segundo ela, a derrubada ilegal de árvores atingiu a menor taxa anual desde que a região começou a ser monitorada pelo governo, em 1988, caindo de 6,4 mil quilômetros quadrados para 4,6 mil quilômetros quadra-

dos por ano. Os resultados se referem ao período de agosto de 2011 a julho deste ano, comparado aos 12 meses anteriores. “É a menor taxa de desmatamento da história”, comemorou. A meta voluntária definida pelo governo brasileiro é reduzir a expansão anual da área de desmatamento ilegal da Amazônia para 3,9 mil quilômetros quadrados até 2020. Com o novo índice, fica faltando apenas redução de 14% para que a área ambiental atinja a meta, oito anos antes do prazo.

Safra de inverno

Definição de preços mínimos

A

nalistas de mercado da Conab estabeleceram a data de 14 de dezembro para fechamento e envio à Secretaria de Política Agrícola do Mapa, para aprovação, das propostas para os pre-

ços mínimos dos produtos da safra de inverno 2013/14. Como de praxe, as cotações vão servir de base para os programas que integram a política brasileira de abastecimento alimentar. Integram a safra de inverno os cereais trigo, aveia, cevada, centeio e triticale, além da canola, uva, leite, café, castanha de caju, guaraná, sisal e juta/ malva. No caso da uva, o preço mínimo entra em vigor a partir de 1º de fevereiro; o café, em 1º de abril; e os demais produtos em 1º de julho, encerrando cada período após um ano.


Notícias da Terra Fotos: Patícia Gordano

Fenagro:

Alaor, o Agricultor

“E

le é a cara de um Brasil que produz muito e bem. Que gera empregos e renda, não apenas na zona rural, mas na indústria e no comércio das cidades. De um Brasil que, com tecnologia de ponta, competência, profissionalismo e respeito ao planeta, se consolida como o grande fornecedor de alimentos do mundo, para uma população que cresce exponencialmente”, diz a jornalista Catarina Guedes, referindo-se ao agricultor brasileiro, homenageado durante a 25ª edição da Fenagro – Feira Nacional da Agropecuária, realizada em Salvador, e ao personagem “Alaor, o Agricultor”. Extraído de uma cartilha homônima, lançada pela Aiba – Associação de Produtores e Irrigantes da Bahia, “Alaor” explica de forma didática (para crianças, principalmente) o percurso do milho, desde o plantio até chegar ao consumidor final. Com coordenação e texto de Catarina, ilustrações de Cristian Jungwirth e apresentação do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, a cartilha Alaor o Agricul-

tor integra projeto de valorização do homem do campo, desenvolvido pela associação. “É importante que os habitantes da cidade entendam quanto é complexo o `jogo` da produção, e este projeto mostra isso de uma maneira clara, bonita e divertida”, afirma o presidente da Aiba, Walter Horita. O personagem extrapola a cartilha. É a representação do produtor rural brasileiro.

Homenagem

Museu do plantio direto

V

ocê já ouviu falar da semeadora Allis Chalmers, usada pelo produtor Herbert Bartz, pioneiro do plantio direto no Brasil? O equipamento foi trazido dos EUA em 1971, por Bartz. Já ouviu falar do protótipo da FNI que deu origem à Rotacaster 80, a primeira semeadora feita no país com a finalidade de servir ao sistema? Pois as duas máquinas – peças históricas – integram agora o acervo do Museu do Plantio Direto, inaugurado no mês passado na

cidade de Mauá da Serra (PR). Idealizado pela Cooperativa Integrada, com apoio da Acem – Associação Cultural e Esportiva de Mauá, o museu abriga as primeiras máquinas e implementos agrícolas, peças e produtos agrícolas diversos, fotos e documentos, contando a história dos pioneiros, as dificuldades iniciais dos agricultores, tudo, enfim, relativo ao sistema que, transformando o município, acabou revolucionando a agricultura no Brasil.

Genética

Relógio molecular

O

CIB – Conselho de Informações sobre Biotecnologia divulgou nota sobre um estudo conduzido pelo Laboratório Cold Spring Harbor, dos Estados Unidos, segundo o qual o “relógio de maturação” das plantas pode influenciar no aumento da produção de frutas. De acordo com a nota, a equipe do professor Zach Lippman descobriu que um atraso no relógio de maturação, mecanismo natural responsável pelo número de galhos da planta, pode dar origem a ainda mais flores que, um dia, se tornarão frutos. Eles chegaram a essa conclusão depois de analisar e comparar as células-tronco de três variedades de tomate que possuem diferentes estruturas de galhos. No Peru, uma variedade conhecida como “tomate selvagem”, que teve seu relógio de maturação modificado geneticamente, produziu duas vezes mais flores se comparado a outras variedades da fruta.

dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Biofortificação

Tese vencedora

O

Prêmio Capes de Tese 2012, da área de Ciências Agrárias 1, será concedido ao pesquisador Sílvio Junio Ramos, do Instituto Vale, que defendeu a tese “Biofortificação, variação genotípica e metabolismo envolvendo selênio em alface e brócolis”, sob orientação do professor Valdemar Faquin, do Programa de Pós-Graduação de Ciência do Solo da Ufla – Universidade Federal de Lavras (a propósito, leia a matéria sobre biofortificantes na página 44 desta edição). O prêmio é outorgado para a melhor tese de doutorado, defendida em 2011, em cada uma das áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes, agência governamental vinculada ao MEC – Ministério da Educação e Cultura. Constitui-se de certificado, medalha e bolsa de pós-doutorado, além de distinção aos respectivos orientadores, coorientadores e programas de pós-graduação nos quais as teses foram defendidas. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 13 deste mês de dezembro, na sede da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, em Brasília.

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Exportações

Recorde histórico

A

s exportações brasileiras do agronegócio atingiram a cifra recorde de US$ 9,64 bilhões em outubro, 11,8% a mais em relação ao mesmo mês, no ano passado. No acumulado, o Brasil faturou 80,88 bilhões de dólares de janeiro a outubro de 2012, com incremento de 1,8% sobre igual período de 2011, de acordo com números divulgados em novembro pelo Mapa. As

maiores remessas em outubro foram feitas pelo setor sucroalcooleiro, que embarcou 3,93 milhões de toneladas de açúcar, equivalentes a US$ 2,34 bilhões – aumento de 56,5% em comparação a outubro de 2011. No acumulado do ano, o destaque é o complexo soja, com vendas no valor de US$ 24,65 bilhões, que equivalem à expansão de 15,1% no período.

Fertilizantes

Posição reconquistada

O

Rio Grande do Sul reassumiu a terceira posição no ranking nacional de consumo de fertilizantes, atrás apenas de Mato Grosso e de São Paulo – até então estava em quinto, superado pelo Paraná e Minas Gerais. De janeiro a outubro deste ano, as indústrias do setor entregaram aos agricultores do estado 3,025 milhões de toneladas, 6,3% acima do volume relativo ao mesmo período em 2011 (2,878 milhões de toneladas). Segundo Torvaldo Marzolla Filho, presidente do Siargs – Sindicato da

Indústria de Aubos do Rio Grande do Sul, tal número “evidencia a crescente aposta dos produtores gaúchos na aplicação de insumos modernos para a obtenção de crescentes índices de produtividade”. O volume de entregas de fertilizantes em nível nacional ficou em 24,8 milhões de toneladas, 4,4% acima do entregue nos dez primeiros meses de 2011. A expectativa de consumo para 2012 é de 29,5 milhões de toneladas no país, 4,14% a mais do que no ano passado.

Carga

Compra de animais

O

CMN – Conselho Monetário Nacional incluiu o financiamento de animais de serviço (carga) no programa Mais Alimentos, do Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. O limite de crédito é de R$ 130 mil por ano agrícola, limitado a R$ 200 mil no total. O empréstimo pode ser pago em até dez anos, com três anos carência e juros de 2% ao ano. No caso de projetos coletivos, o limite disponibilizado é de R$ 500 mil. Antes da mudança, a linha de crédito financiava apenas a aquisição isolada de matrizes e repro-

dutores. A aprovação era condicionada à garantia de suficiência dos demais fatores necessários ao bom desempenho da exploração, como alimentação, instalação, mão de obra e equipamentos.


Notícias da Terra Parceria

Visita da realeza

Economia

IEA completa 70 anos

O

príncipe Willem-Alexander e a Princesa Máxima, da família real holandesa, visitaram o Brasil em novembro. O foco da comitiva foi a ampliação das parcerias comerciais na área agrícola, uma vez que o Brasil vem aumentando sua produção, com o incremento da produtividade, por meio do uso da tecnologia e da pesquisa. Sexto principal parceiro comercial do Brasil, a Holanda quer estreitar essas relações bilaterais. Dados da balança comercial entre os países mostram que o Brasil exportou aproximadamente US$ 13,6 bilhões e importou US$ 2,2 bilhões de produtos agríco-

S

las da Holanda, em 2011. Entre os principais itens exportados, o farelo de soja, soja em grãos e suco de laranja.

Crédito

Fundo de garantia

O

CMN – Conselho Monetário Nacional aprovou um fundo garantidor de crédito, que deverá ser constituído na forma de entidade privada sem fins lucrativos. Os associados serão as cooperativas de crédito que captam recursos de seus associados e os bancos cooperativos. O objetivo, segundo fontes do CMN, é garantir créditos de clientes das entidades do sistema cooperativista e realizar operações de assistência e su-

porte financeiro com estas instituições. Segundo dados da OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras, existem 1,2 mil cooperativas no país, nos mais diversos ramos, das quais 550 já têm fundos garantidores. Desde 1995, o setor bancário administra mecanismos de proteção aos depositantes e investidores em caso de intervenção ou liquidação de instituições financeiras.

ão Paulo fez festa em 7/11 para comemorar o aniversário do Instituto de Economia Agrícola. Fundado em 1942, o IEA, “braço” econômico da Apta – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, foi a primeira instituição a sistematizar os estudos sobre economia agrícola no Brasil. Tem como missão produzir, adaptar e transferir conhecimentos científicos e informações na área da economia aplicada à agricultura. O IEA realiza pesquisas sobre estatísticas de preço, área e produção, mercados florestais, salários, entre outras, que se constituem fontes de informações para gestão pública e privada. Os levantamentos estatísticos serviram de modelo para outras instituições e os preços agrícolas são referência para atacadistas, varejistas e produtores. Desde 2004, possui o certificado ISSO 9001 2008, pela adoção do sistema de gestão da qualidade de seus produtos e serviços.

Tecnologia

Aproveitamento de resíduos

O

aproveitamento de resíduos orgânicos em extrusão termoplástica pode contribuir para a produção de alimentos de qualidade, e mais baratos. É o que mostra estudo da Embrapa, em parceria com a Faperj – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. “A extrusão termoplástica é uma tecnologia de processamento que utiliza

uma máquina de tratamento térmico e mecânico capaz de alterar as matérias primas, dando-lhe novas formas, estruturas e características nutricionais desejadas”, explica o engenheiro agrônomo Carlos Wanderlei Piler de Carvalho, coordenado do estudo. Traduzindo, coloca-se farinha de arroz (preparada separadamente) na máquina, juntamente

com os resíduos disponíveis (por exemplo, bagaço de cana-de-açúcar, de cevada ou casca do maracujá). Submetidos a altas temperaturas na hora do cozimento, os resíduos são moldados em forma de salgadinhos, cereais matinais e outros tipos de alimentos, imitando os que são encontrados regularmente em mercearias e supermercados. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 17


Política Querem privatizar a Embrapa

O

senador Delcídio Amaral é do PT do Mato Grosso do Sul. Autor do Projeto de Lei nº 222/08, que propõe transformar a Embrapa em empresa de economia mista com ações negociadas na bolsa. O projeto de lei tem como relator o senador Gim Argello (PTB/ DF), que assumiu, em 2007, a vaga no Senado depois que o titular do mandato, o ex-governador do

DF, Joaquim Roriz, renunciou para não ser cassado. A Embrapa é uma empresa de excelência, pertencente ao patrimônio público nacional. É uma empresa estatal de porte, de ponta, de pesquisa e experimentação, e que contribuiu de forma notável com o desenvolvimento da agropecuária brasileira, e tornou-a competitiva internacionalmente.

O andamento do projeto, até o momento, não teve divulgação na mídia, e sua tramitação no Senado vem sendo feita de forma silenciosa. Uma das justificativas de Delcídio é de que privatizar a Embrapa vai fazer com que a empresa tenha maior capacidade para captar recursos e, por conseguinte, fazer frente aos seus gastos operacionais e de pessoal.

Cade suspende a criação do Consecitrus

O

Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica congelou a criação do Consecitrus – Conselho dos Produtores de Laranja e das Indústrias de Suco de Laranja. A decisão foi unânime. O órgão antitruste atendeu a um pedido da Faesp – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de

São Paulo. A entidade alegou que representantes do Consecitrus têm atuado de forma enganosa ao afirmarem a citricultores que o Conselho já existe, sendo que este ainda está em análise pelo Cade. www.associtrus.com.br/index.php?xvar=mostra-noticia&id=3169&idtipo=1

Fiscalização de armazéns

A

Conab – Companhia Nacional de Abastecimento deu início em 19/11 à realização da nona etapa de fiscalização dos estoques governamentais deste ano. Ao todo, 2,7 milhões de toneladas de produtos serão vistoriados por 64 fiscais. A operação será dividida em duas fases. A primeira vai até o dia 8/12 e abrange os

18 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

armazéns localizados nos estados de Bahia/Sergipe, Espírito Santo, Goiás/Brasília, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Tocantis e Roraima. A segunda fase ocorre entre 10 e 20 de dezembro, no Acre, Rondônia, Paraíba, Pernambuco, Ala-

goas, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí. Entre os principais alimentos depositados hoje nessas unidades estão arroz, milho e trigo. Eles são oriundos de operações como AGF – Aquisições do Governo Federal, Contrato de Opção, da agricultura familiar e das ações voltadas ao programa Fome Zero (estoque estratégico).


Parlamentares contra a demarcação

C

om o intuito de esclarecer conflitos envolvendo a demarcação e desocupação de áreas indígenas e a aplicabilidade da Portaria 303/12, da AGU – Advocacia Geral da União, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e o Advogado-Geral da União Luís Inácio Adams, participaram de uma audiência pública na CAPADR – Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, dia 20 novembro, em Brasília. Conforme o deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC), a Portaria 303, publicada há quatro meses, está suspensa até a decisão do STF – Supremo Tribunal Federal sobre as 19 condicionantes da aldeia Raposa Serra do Sol, em Roraima. Com a suspensão não existem parâmetros para as demarcações indígenas no país. Um dos pontos mais debatidos pelos deputados foi a atuação da Funai no processo demarcatório. “Qualquer antropólogo terceirizado tira a terra de um brasileiro com escritura”, afirmou Colatto.

O ministro da Justiça disse que a questão indígena consome cerca de 60% do trabalho que realiza e que o ministério busca prudência para evitar conflitos acentuados. Cardozo enfatiza que, das demandas da pasta, a demarcação de terras indígenas é um dos assuntos mais tensos e difíceis. “Acredito que a prudência e a acomodação de interesses são a melhor forma de equacionar a questão”, afirmou. Adams afirmou que a implementação da Portaria 303 ainda não seria suficiente para resolver os problemas. “Entendo que a Portaria 303 tem que ser implementada, mas ela, por si, não é suficiente. Ela cria algumas regulações, mas não resolve o cerne do problema, que é o que fazer para compatibilizar direitos de sucessivas gerações de produtores rurais com os dos índios”, disse o advogado, acrescentando que para avançar nesta questão é necessário que haja uma regulamentação do texto constitucional. Os parlamentares solicitaram ao ministro que sejam suspensas as demarcações em andamento pela

Funai. “Até as terras que estão sob judice não estão sendo respeitadas pela Funai. Em Santa Catarina, temos quatro áreas nessa situação e mesmo assim estão licitadas para análise topográfica pela Funai”, justificou Colatto, solicitando ao ministro que seja “respeitada a Lei e a Constituição Brasileira.” Segundo a Funai, o Brasil tem uma população de cerca de 818 mil indígenas, são 688 áreas demarcadas com a superfície de 110 milhões de hectares equivalendo 13% do território, com meta da Funai de atingir 20% da área nacional ou 170 milhões de hectares, o equivalente a vinte estados de Santa Catarina. Com isso, cada indígena ocuparia 300 hectares. Dados do IBGE apontam que no Brasil são 315 mil índios que residem em áreas urbanas e 503 mil em área rural. Desse número, 40% estão nas cidades. “Prova de que embora tenham quantidade de terras eles estão preferindo às cidades por falta de política de apoio e acompanhamento”, afirmou Colatto.

Audiência pública com o ministro José Eduardo Cardozo e o advogado geral da União, Luís Inácio Adams.

dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 19


Artigo

Dez razões para nos respeitarem Nosso colunista, Daniel Glat, explica porque o Brasil detém hoje o mais dinâmico e sustentável agronegócio do planeta.

A

pesar das muitas criticas e rejeições que o setor rural sofre dentro do Brasil, tanto nos meios políticos como nos meios urbanos e nas redes sociais, todos nós que trabalhamos nessa área no Brasil devemos ter muito orgulho, e deveríamos saber vender melhor o agronegócio brasileiro. Aqui seguem 10 fortes razões para isso:

1ª- – Estamos entre os 3 maiores produtores e exportadores agropecuários mundiais O quadro da página seguinte mostra a posição do Brasil no ranking global de produção e exportação de diversos produtos agropecuários... Estamos a ponto de nos tornarmos o 1º produtor de soja e o 2º maior exportador de milho. 2ª- – O Agronegócio é o pilar fundamental da economia brasileira O Agronegócio é o principal responsável pelo superávit brasileiro – Na safra 2010/11 exportamos próximo de R$ 90 bilhões gerando um superávit de mais de R$ 70 bilhões! O superávit total brasileiro em 2011 foi por volta de R$ 30 bilhões, ou seja, o saldo das contas externas do Brasil vem basicamente do setor agropecuario. Além disso, o Agronegócio representa por volta de 25% do PIB e 1/3 dos empregos do pais. Daniel Glat é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

3ª- – Aumento da produção e da produtividade Nos últimos 40 anos a área plantada aumentou pouco mais de 25%, enquanto a produção total do Bra-

20 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

sil aumentou mais de 200%...! Triplicamos a produtividade do arroz e do milho e dobramos a da soja e do feijão. A produção da cana aumentou quase 8 vezes. Há 15 anos atrás produtores de alta tecnologia colhiam por volta de 130-140 sc/ha de milho e não mais que 50 sc/ha na soja. Hoje os melhores produtores brasileiros estão colhendo acima de 220 sc/ha no milho e mais de 65 sc/ ha na soja. Isso é igual aos melhores produtores americanos e argentinos que plantam em terras muito mais fertéis que as nossas.

4ª- – Somos campeões no

desenvolvimento de técnicas agronômicas sustentáveis O sistema de plantio direto na palha em condições subtropicais foi basicamente desenvolvido no Brasil; em 40 anos chegamos a quase 30 milhões de hectares neste sistema altamente sustentável. Aprendemos a fazer agricultura em solos de baixa fertilidade química e biológica como são os solos do Cerrados. Não há no mundo outro exemplo de tanta produção em terras de tão alta acidez e baixa fertilidade natural! Não há pais no mundo onde o produtor tenha que fazer calagem, gessagem, fosfatagem, e depois usar altas doses de fósforo, potassio e micronutrientes.... via de regra, agricultura é praticada mundo afora em terras de alta fertilidade natural, com maiores teores de matéria orgânica, e muito raramente com ph baixo. O que alcançamos no Cerrado, agronomicamente falando, é inédito no planeta. Além disso, usamos as tortas de filtro e de vinhaça das usinas para adubação das áreas de plantio

de cana; temos inúmeros modelos de sucesso de integração lavoura-pecuária; estamos desenvolvendo o sistema ILPF integrando áreas de lavoura, pecuaria e reflorestamento; e além disso, por estarmos em condições subtropicais temos que manejar um complexo de pragas e doenças muito mais agressivo que em outros países produtores, como EUA, Argentina ou China. Ou seja, não há no mundo agronomia mais dinâmica, complexa e técnica que a brasileira.

5ª- – Lider mundial de produção agrícola com conservação ambiental O Brasil é o país que mais conservou suas florestas originais. Há 30 anos atrás possuíamos 10% das florestas originais do planeta; hoje quase 30% das florestas do mundo estão no Brasil, por conta da velocidade do desflorestamento nos outros países comparados conosco. Além disso, o Brasil é o único país do mundo que exige reservas legais em terras agrícolas produtivas – 20, 35 ou 80% dependendo da região. Vale a pena lembrar que nem no Canadá, onde nasceu o Greenpeace, nem no Reino Unido, base da WWF, os produtores são obrigados a deixar reservas florestais em áreas produtivas. Produzir com reservas florestais na propriedade é outra diferenciação da agricultura brasileira, e mais uma prova da sustentabilidade de nossa agricultura. Hoje estamos entre os três maiores produtores agrícolas do mundo com a agricultura ocupando menos de 10% do território nacional e mantendo a maior reserva natural do planeta.


6ª- – Líder mundial no uso de energia renovável De toda a energia usada no país, 47% vem de fontes renováveis (cana, lenha, carvão, hidroelétrica). A média mundial é de 18%. A média dos países da OCDE é de 7,2%. Quase 1/3 da energia do Brasil vem da agricultura! 18% da cana e 12% das florestas (lenha e carvão). A agricultura consome apenas 4,5% de petróleo para produzir esta energia. Só a técnica do plantio direto reduziu o consumo de diesel em mais de 40%. Em 2010 já usamos mais etanol do que gasolina. Em 2011 o Brasil foi o campeão mundial no uso do biodíesel. 7ª- – Líder mundial em Agricultura de Baixo Carbono Apesar de estarmos entre os maiores produtores agrícolas e entre as maiores economias do mundo, somos o 86º país em termos de emissão líquida de CO2 por habitante/ ano. Isto significa 2,1 t/hab/ano contra 20 t/hab/ano dos Estados Unidos e da Austrália, por exemplo; e somos o 104º colocado na emissão de CO2/ PIB do país. O programa ABC lançado pela Embrapa manterá o Brasil ainda mais na liderança em agricultura sustentável e de baixa emissão de carbono. 8ª- – Lider mundial na reciclagem de embalagem de defensivos agrícolas

O Brasil recolhe mais de 80% das embalagens de defensivos agrícolas e recicla mais de 90% do recolhido. Não existe país no mundo que chegue perto desses índices, incluindo o EUA e os países da comunidade europeia. O trabalho desenvolvido pelo INPEV e por todo setor é exemplo de agricultura ambientalmente consciente.

9ª- – Somos os agricultores mais versáteis do planeta O salto que o agronegócio brasileiro deu nos últimos 30 anos veio praticamente sem nenhuma ajuda governamental, até pelo contrário... Muito diferente do maior produtor mundial, os EUA, onde há décadas o setor conta com fortes políticas públicas protecionistas, ou a Europa onde agricultura sobrevive a base de enormes subsídios governamentais. O produtor brasileiro sobrevi-

Ranking do Brasil na produção e exportação mundial Cultura

Produtor

Exportador

Açúcar

Primeiro

Primeiro

Café

Primeiro

Primeiro

Laranja

Primeiro

Primeiro

Carne de gado

Primeiro

Primeiro

Tabaco

Segundo

Primeiro

Soja

Segundo

Segundo

Carne de frango

Segundo

Primeiro

Milho

Primeiro

Terceiro

veu a inúmeros pacotes econômicos, trocas de moedas, sobe e queda do dólar... Alem disso, praticamos uma agricultura de alto investimento por hectare, praticamente sem seguro agrícola. Nos tornamos um dos principais celeiros do mundo sem o necessário aporte do governo em estradas, ferrovias, hidrovias, portos, pontes, silos, etc.

Podemos dobrar a produção de alimentos sem mexer nas florestas.

10ª- – O maior potencial de

crescimento na produção de alimentos e bioenergia O Brasil pode, facilmente, dobrar a área agriculturável sem mexer nas florestas, ocupando apenas áreas de pastagem e de cerrado. Temos mais de 100 milhões de hectares de pastagens degradadas facilmente transformáveis em agricultura. Ainda temos bastante áreas de cerrados para serem exploradas pela agropecuária, cumprindo com todas as reservas legais e APPs. Nossos produtores, como dito acima, são os melhores do planeta. O dia em que o governo fizer sua parte em termos de infraestrutura e verdadeira politica agrícola, aí, com certeza, nos tornaremos o maior e mais sustentável celeiro do planeta. De acordo com os estudos da FAO, nos próximos 10 anos o Brasil será responsável por 40% do aumento da produção de alimentos, para um planeta faminto, que quer comer cada vez mais, e melhor. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 21


Artigo

Cana e emissões Estudo científico comprova que a cana-de-açúcar é, de fato, uma cultura ambientalmente limpa, de baixa emissão de gases de efeito estufa. Decio Luiz Gazzoni *

A

cana-de-açúcar vive o dilema da mulher de César: não basta ser sustentável, é necessário demonstrá-lo recorrentemente. Não basta produzir bioetanol, um biocombustível amigável ao ambiente, é necessário demonstrar sua sustentabilidade. Um dos critérios de sustentabilidade de uma cultura exige que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sejam baixas, comparativamente a outros cultivos ou outras fontes de emissão. No vácuo de estudos de campo, modelos matemáticos têm sido usados para estimar as emis-

combustíveis nega mitigação do aquecimento global pela substituição de combustíveis fósseis). A pesquisa liderada pela Dra. Janaína do Carmo, da UFSCar, encontrou emissões de 6,9 kg/ha/ ano de CO2 e 7,5 kg/ha/ano de N2O. Como o potencial de aquecimento global do NO2 é 310 vezes superior ao CO2, as emissões medidas em CO2 equivalente (o padrão universal de medida de emissões de GEE) ascendem a 2.330 kg/ha/ano. Mas, como afirmar que o bioetanol de cana emite menos GEE que a gasolina, ou o bioetanol de milho? Os cientistas utilizam um

As emissões efetivas nos canaviais são menores do que as estimadas nos modelos matemáticos.

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

sões de GEE da cana. Um trabalho pioneiro, liderado pela UFSCar – Universidade Federal de São Carlos (SP), e que envolveu outras universidades, a Embrapa, o IAC e o CTC, investigou a relação entre as emissões de GEE, a adubação e o acúmulo de palhada no canavial. O estudo completo pode ser acessado em http://onlinelibrary. wiley.com/doi/10.1111/j.17571707.2012.01199.x/pdf. A principal conclusão do estudo é que as emissões efetivas são menores que aquelas estimadas pelos modelos, como no trabalho de Paul Crutzen (Premio Nobel de Química), realizado em 2008, cujo título muito taxativo (Liberaçãoo de óxido nitroso na produção de agrobio-

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índice, chamado fator de emissões, para poder comparar as emissões. O fator é calculado dividindo-se a emissão de óxido nitroso (N2O) pela energia produzida pela fonte de emissão, expressa em megajoules. Nas medições, realizadas em canaviais de Jaú e Piracicaba, os cientistas encontraram fatores de emissão de 0,68%. Na média final do estudo, o fator calculado foi inferior a 1%, contrastando fortemente com o valor de 3%, usado pelo Dr. Crutzen em seu modelo matemático. O fator de emissão de uma fonte é fundamental para o estabelecimento de políticas públicas, como a definição de “biocombustível avançado”, que exige baixas emissões para seu enqua-

dramento nesta categoria, o que lhe confere melhores condições de acesso ao mercado. Portanto, o estabelecimento dos valores reais de GEE nos ciclos de produção de biocombustíveis é fundamental para o planejamento energético dos países, que se desdobra na definição dos investimentos no sistema industrial e na produção da matéria prima. Como as emissões de óxido nitroso estão fortemente associadas com a fertilização e com a presença de resíduos da cultura no campo, estes aspectos foram estudados pelos cientistas. Por tratar-se de um estudo experimental, os pesquisadores procuraram avaliar a interação entre diferentes situações, mesmo extrapolando as doses de fertilizantes. Foi, então, observado que as emissões aumentavam quando a cana foi fertilizada com vinhaça e torta de filtro (resíduos da produção de etanol, ricos em fertilizantes, especialmente em nitrogênio) e havia grande quantidade de palha de cana no solo, que também é rica em nitrogênio, e cuja decomposição libera óxido nitroso. Assim mesmo, os fatores de emissão situavam-se abaixo do calculado pelo Dr. Crutzen. Com o aprendizado obtido neste estudo, os autores já planejam investigar o balanço das emissões e captações de gases do efeito estufa na produção de etanol, para estabelecer, em definitivo, as emissões reais durante todo o ciclo da cultura, em condições de campo. n



Foto: Ademir Almeida

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Troca-se boi por soja Amarrada por restrições ambientais, a agricultura brasileira vem se expandindo rapidamente sobre áreas arrendadas à pecuária. José Maria Tomazela

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Lavoura de soja “cerca” o gado na região de Naviraí (MS)

Valorização da terra O Brasil, fiel à vocação de celeiro mundial, vai plantar cada vez mais e a demanda por terras continuará aquecida nos próximos anos, segundo ele. Pesquisa realizada pela Economics FNP no bimestre setembro/ outubro de 2012 mostrou que o preço médio da terra no Brasil subiu 3% em relação ao bimestre anterior. São Paulo continua sendo o estado com o hectare mais caro – média de R$ 17,5 mil –, enquanto as terras mais baratas estão no Amazonas – um hectare custa R$ 360, em média. As terras do Mapitoba, como é conhecida a área de Cerrado na confluência entre os estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, valorizaram quase o dobro da média. A alta puxou para cima também o valor do aluguel, segundo Ferraz. “O arrendamento costuma ter lógica com o preço da terra, mas também pode ser influenciado pelo uso que se vai fazer dela.” De acordo com empresas de corretagem que atuam nacionalmente, os arrendamentos respondem por 70% dos negócios com terra no país e são responsáveis pela forte expansão da agricultura nos últimos dez anos. Jovem e

Foto: Ademir Almeida

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áquinas do agricultor Victor Kodama, de 30 anos, tombam o pasto de braquiária que as últimas chuvas tingiram de verde claro nos arredores de Naviraí, sudoeste do Mato Grosso do Sul. Com o acréscimo dessa gleba, vai chegar a 270 hectares a área cultivada com soja pelo produtor, com um detalhe: ele é dono de apenas 5% das terras. Como a maioria dos agricultores da região, Kodama (ao lado, na foto) expande sua produção de grãos sobre áreas arrendadas. Embora o Brasil possua o maior estoque de solo cultivável do mundo, o encarecimento do hectare, alavancado pela alta cotação das commodities agrícolas, e o entrave à abertura de novas áreas pela legislação ambiental, dificultam o acesso à terra própria, favorecendo o arrendamento. A expansão da agricultura brasileira nos próximos dez anos vai ocorrer principalmente em terras arrendadas. Projeção do Mapa e da Embrapa prevê que a produção de grãos do país aumentará 21% nos próximos dez anos, enquanto a área plantada vai crescer 16%. O Brasil, que hoje tem 65,3 milhões de hectares cultivados, chegará a 75,7 milhões. Novas fronteiras agrícolas estão se abrindo, principalmente em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí. Estudos apontam que os preços agrícolas em todo o mundo vão permanecer altos nos próximos anos, influenciados pelos baixos estoques mundiais de milho, arroz, trigo e soja, pela pressão dos biocombustíveis e pelo aumento da população e da renda. “Os estratos sociais de renda mais baixa estão ganhando poder de compra e, quando isso ocorre, o primeiro investimento é comer melhor”, analisa José Vicente Ferraz, diretor-técnico da Informa Economics FNP, consultoria especializada em agronegócio.

ousado, Kodama segue rumo oposto ao trilhado pelo avô, o desbravador Sakae Kamitami, de 82 anos, fundador e presidente da Copasul – Cooperativa Agrícola Sul Matogrossense, com sede em Naviraí. O pioneiro sempre teve como lema trabalhar em terras próprias, embora sem abrir mão das melhores tecnologias. O próprio Kamitami, agora, estimula o aproveitamento de pastagens degradadas para expandir a agricultura. Dos 700 associados da Copasul, 80% cultivam terras arrendadas principalmente de pecuaristas que não se interessam em fazer plantios próprios. No arrendamento mais comum, o arrendatário paga ao dono da terra – o arrendador – em espécie, ou seja, com a própria produção. Conforme Kodama, o valor médio do arrendamento na região é de 12,3 sacas de soja por hectare, cerca de R$ 861 por ano, segundo a cotação no final de outubro. “É compensador, desde que o produtor tenha condições de investir em tecnologia para ter uma produtividade alta’, diz ele”. Kodama tem conseguido média de 51,6 sacas por hectare com o uso de sementes de ponta e sem economizar na adubação e nos tratos culturais. Além disso, usa a mesma terra para plantar a segunda safra do milho – a chamada safrinha – sem ter de pagar pela produção. “Nesta região, a safrinha do milho ainda sai de graça, mas não sei por quanto tempo, explica.” De acordo com o produtor, as terras estão ficando escassas. “O que nos salva é que a cana-de-açúcar, que anos atrás vinha entrando muito forte por aqui, agora deu uma retraída, justifica.” O pecuarista Luiz Antonio Nabhan Garcia, superintendente da Fenapec – Frente Nacional da Pecuária, está do outro lado do balcão. Depois de ter investido na reforma e modernização de sua fazenda de cria, de três mil hectares, na região de Sorriso (MT), ele recebeu uma proposta de arrendamento para o cultivo de soja. Tradicional dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 25


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criador de gado, relutou, mas acabou cedendo. “Pus na ponta do lápis e não tive como recusar. O valor das dez sacas de soja e três de milho que recebo por hectare/ano é muito mais do que eu poderia faturar com o boi”, compara. No final de outubro, a soja em Sorriso estava cotada a R$ 65,00 a saca de 60 kg e o milho, a 34,00, garantindo ao dono da terra R$ 752 por hectare/ano. Garcia diz sentir “um aperto no coração” quando vê a estrutura nova que montou para a pecuária – curral, tronco, balança e guilhotina – cercada por um mar de soja. As cercas internas, usadas no sistema de rotação de pastagem, foram arrancadas e estão amontoadas num canto. A família também cedeu em arrendamento uma fazenda em Sandovalina, na região de Presidente Prudente, oeste paulista, para o plantio de cana-de-açúcar. Luiz Antônio Garcia, que tem parte na propriedade, disse que o negócio é para lá de bom. “Para a cana, o arrendatário paga 18 toneladas por hectare. Dá quatro vezes mais do que a pecuária. Não tem carência, o produtor entra na área e já começa a pagar.” Pecuarista de quatro gerações, desde o bisavô até os filhos, ele fica preocupado com o futuro da atividade. “As fazendas de cria, que usam o regime extensivo, estão acabando. Se não tem vaca, como vamos ter bezerros para transformar em bois e carne?” José Fernandez Lopez Neto, da Agropecuária São Lourenço, criador de gado bovino da na raça pardo-suiço em Itapeva, sudoeste paulista, também foi seduzido pelo arrendamento. O rebanho de ponta que mantinha em duas fazendas com pastagem tratada como lavoura, hoje se resume a 10% do que era há dez anos. Quase toda a área

Foto: Ariosto Mesquita

Para o dono do imóvel, o arrendamento é duplamente vantajoso: ele ganha na valorização da terra e no rendimento do aluguel.

Área à venda no município de Trairão, sul do Pará: Preço da terra subiu muito, favorecendo o arrendamento.

está nas mãos de terceiros. “No começo, a ideia era ceder parte da fazenda para o plantio de grãos para recuperar o pasto. Houve, de fato, uma melhora colossal no solo e a terra de campo virou solo de alta produtividade. O problema é que o arrendamento foi ficando cada vez mais atraente”, conta. A terra melhorou tanto que não compensava mais voltar para a pecuária. “Virou tudo plantio direto e o fluxo de caixa passou a ser constante.” Médico e ex-dirigente da Associação Paulista de Criadores de Pardo-Suiço, Neto fez as contas e chegou à conclusão que, na região de Itapeva, como em boa parte do estado de São Paulo, arrendar para agricultura rende R$ 800 por hectare ao ano. Para cana-de-açúcar, o valor pode chegar a R$ 1.240 por hectare e, para plantar eucalipto, que tem contrato mais longo, dá média anual de R$ 620 ha/ano, tudo isso sem o dono da terra investir um centavo. Já a pecuária, bem tocada, dá no máximo R$ 330 por hectare/ano. Ele conta que só deixou um pouco

Como arrendar terra para lavoura A cessão onerosa de imóvel rural com a finalidade de exploração agrícola, pecuária, extrativa, agroindustrial ou mista é regulada pelo Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964), regulamentado pelo Decreto 59.666/66. O arrendador é aquele que cede a terra, enquanto o arrendatário é quem recebe a terra por um determinado período e paga aluguel ou retribuição pelo uso. O subarrendamento é a transferência dos direitos e obrigações previstos no contrato para terceiro e não deve exceder os limites do original. A parceria rural é um contrato pelo qual o dono cede a área ao parceiro com o intuito de exploração, partilhando igualmente os lucros e os riscos. A lei estabelece um prazo mínimo de três anos para o arrendamento de terras para lavoura, de cinco para projetos pecuários de grande porte, e de sete para exploração florestal, mas as partes podem contratar por um período menor ou maior, se for de interesse comum. O arrendador corre menos

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risco na operação, cabendo a ele tão somente o direito de receber o aluguel. O risco da atividade é do arrendatário. Em caso de frustração de safra, ele arca com o valor estipulado no contrato, mesmo que tenha colhido menos. O arrendatário, porém, pode usar o contrato para a obtenção de crédito destinado a financiar o uso do imóvel. Para o estrangeiro que arrenda terras no Brasil, valem as mesmas restrições da compra de imóvel rural. De acordo com a legislação em vigor, o arrendamento de terras agrícolas para pessoa física estrangeira não pode ultrapassar os 50 módulos de exploração, e para pessoa jurídica estrangeira, o limite é de 100 módulos. O tamanho de cada módulo varia de 5 a 100 hectares, conforme a região do país. A soma das áreas rurais arrendadas para estrangeiros não pode passar de um quarto do território do município, que também não pode ter mais do que 10% de suas terras arrendadas a estrangeiros de um mesmo país.


de gado na fazenda para coleta de material genético e, ainda assim, porque é um apaixonado pelo pardo-suiço. O criador vê o desmonte da pecuária pelo avanço da agricultura ocorrendo nas principais regiões produtoras do país, como o Centro-Oeste, o Cerrado goiano e as novas fronteiras da região norte. “Com o uso do grão para produzir energia nos Estados Unidos, a agricultura passou a pressionar de maneira firme a pecuária”, disse. Negócio vantajoso Metade dos cinco mil hectares cultivados anualmente pela Lagoa Bonita, empresa produtora de grãos e sementes em Itaberá, no sudoeste paulista, é arrendada. O produtor e dono, Ariovaldo Fellet, conta que a disputa pela terra ficou tão acirrada que está difícil permanecer com as áreas quando vence o contrato. “Grãos como soja, milho e feijão estão com preços num patamar muito alto e puxam o valor da terra.” Áreas que há três anos eram oferecidas por R$ 30 mil o hectare, hoje custam o dobro, diz Fellet. A concorrência levou o produtor a tentar contratos mais longos, de até cinco anos, para “segurar” as áreas. Os preços pagos pelo arrendamento, que chegam a R$ 800 por hectare/ano, são reajustados anualmente. Para enfrentar o custo da produção mais elevado pelo aluguel da terra, ele investe em tecnologia. A fazenda é referência em produtividade na região. Para o corretor Atílio Benedini Neto, de Ribeirão Preto, ao norte do estado de São Paulo, especializado em imóveis rurais, o arrendamento tem menos impacto que o preço alto dos insumos na formação do custo da lavoura. “Plantar em terra própria dá mais retorno, mas se o produtor tem capital disponível, ele prefere investir na ampliação da lavoura para aproveitar o momento de bons preços”, analisa. Para o dono do imóvel rural, arrendar tornou-se negócio duplamente vantajoso, segundo Benedini. “Ele ganha na valorização da terra, em torno de 5% ao ano, e no rendimento do aluguel, média de 4% ao ano.” O negócio é tão atraente que a compra de terras para arrendar passou a merecer a atenção de investidores

As fotos acima mostram a mesma área da fazenda de Luiz Antônio Nabhan Garcia, em Sorriso (MT), antes ocupada pelo gado e agora, pela soja.

Ariovaldo Fellet (abaixo):”com a valorização da terra, o contratos de arrendamento passaram a ser reajustados anualmente”.

do mercado financeiro. “Eles formam grupos, escolhem e compram áreas exclusivamente para isso.” No estado de São Paulo, conforme o corretor, as terras são mais requisitadas para a cana-de-açúcar. Como a região de Ribeirão Preto está densamente ocupada, os negócios estão acontecendo na região noroeste, entre Bauru e Araçatuba. O valor do arrendamento acompanha o preço da terra, mas se curva, às vezes, às demandas locais. “Aqui em Ribeirão, por exemplo, áreas que valem R$ 50 mil o hectare pagam entre 25 e 33 toneladas de cana por hectare. Na região noroeste, o dono recebe 20 toneladas por terras que custam menos da metade.” Com a tonelada de cana cotada a R$ 52 no final de outubro, a renda anual varia de R$ 1.040,00 a R$ 1.716,00 para o arrendador, conforme a região. Benedini conta que o arrendamento salvou muitos fazendeiros que, há 20 ou 30 anos, corriam o risco de perder os imóveis. “Agricultores, pecuaristas, produtores de laranja que sofreram reveses, conseguiram se segurar arrendando as áreas para cana ou lavoura. Eles passaram

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Foto: Ariosto Mesquita

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a ter uma boa renda mensal e viram a terra triplicar de preço.” A escassez de áreas em São Paulo empurra os negócios para os estados vizinhos, especialmente Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. O próprio Atílio Benedini tem arrendados 150 hectares para cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro. “Assinei o contrato há 14 anos e nunca mais fui à fazenda. O que sei é que o dinheiro cai no banco duas vezes por ano e a terra valorizou 1.000% nesse tempo.” O estado de Mato Grosso deve ampliar para 7,9 milhões de hectares a área plantada com soja na safra 2012/13, quase um milhão a mais do que na safra anterior. Esse avanço só vai ocorrer graças ao arrendamento, segundo o presidente da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro. Produtor rural em Lucas do Rio Verde, ele estima que atualmente 26% do cultivo no estado ocorrem em terras arrendadas, ou seja, de cada quatro hectares cultivados,

Eucaliptal da Fibria em Três Lagoas (MS): na região, o gado foi afastado pela silvicultura e não pela soja.

pelo menos um está em terras de terceiros Ele acredita que a proporção de áreas arrendadas tende a crescer. “Pude constatar in loco estas projeções, pois, recentemente percorri o Vale do Araguaia, que é onde ocorrerá uma grande expansão no cultivo de soja nesta safra, majoritariamente sobre pastagens”, disse. O grupo argentino El Tejar, controlador da empresa brasileira O Telhar, tornou-se o maior produtor de soja em terras nacionais, plantando em terras arrendadas. A área cultivada com grãos chegou a 250 mil hectares nesta safra. O grupo centrou sua base em Primavera do Leste, sudeste do Mato Grosso, mas avança em várias regiões do estado. Na pequena Nova Maringá, no meio-norte, só se fala nos argentinos. “Está uma loucura, eles querem chegar a 300 mil hectares de arrendamento”, diz o corretor de imóveis Coaraci de Jesus Leite, que atua há 25 anos na região. Ele conta que as terras de pecuária no entorno da cidade e no distrito de Brianorte, já viraram lavoura de soja. “Estão pagando oito sacas de soja (R$ 520) por hectare, mas a tendência é aumentar o valor.” A empresa O Telhar exige que as terras sejam aptas à dupla safra – soja e milho – e os prazos de arrendamento variam de um a seis anos, com correção anual. “Desde 1992, temos avançado no nosso negócio agrícola, usando o plantio direto sobre campos de terceiros e, desde 2006, também em campos próprios”, informa a empresa. Outros grupos agrícolas tradicionais, como o Bom Futuro, de Eraí Maggi, crescem produzindo também em terras alugadas. Filho de pequenos agricultores, Eraí começou a trabalhar com os irmãos numa área de 65 hectares, em São Miguel do Iguaçu (PR). Quando o pai morreu, em 1976, assumiu os negócios e, sem dinheiro para comprar mais terras, passou a arrendar. No início da década de

O avanço do eucalipto No leste de Mato Grosso do Sul não é a soja e, sim, o eucalipto que avança, via arrendamento, sobre as áreas de pastagem. Desde que dois grandes grupos de papel e celulose instalaram fábricas em Três Lagoas, os pastos vão sendo rapidamente transformados em florestas plantadas. A Fibria já opera desde 2009, com capacidade para 1,3 milhão de toneladas/ano de celulose branqueada, enquanto a fábrica da Eldorado Brasil, feita para produzir 1,5 milhão de toneladas/ano, iniciou a produção no final de outubro e corre atrás de parceiros para ampliar o eucaliptal. O município, que já foi terra do boi, com rebanho de um milhão de cabeças na década de 90, virou a “capital do eucalipto”. Juntas, as empresas vão plantar cerca de 300 mil hectares em terras próprias e, principalmente, arrendadas. O pecuarista Marcos Moura, tesoureiro do Sindicato Rural de Três Lagoas, já cedeu mil hectares ao eucalipto. Criador tradicional, ele reduziu a 40% a área de pastagem. “Nasci no boi, minha família toda é do boi, mas quando a renda do eucalipto cai no banco, o sen-

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timentalismo vai embora”, diz. Segundo Moura, como regra as empresas dão preferência a áreas acima de 300 hectares e fazem contrato de arrendamento por 14 anos, período equivalente a dois cortes. Não há carência, mas o aluguel passa a correr quando as mudas são plantadas. O valor oscila entre R$ 370 e R$ 495 por hectare, conforme a distância da fábrica. O negócio do momento na pecuária, diz Moura, é integrar com a agricultura ou ceder parte da fazenda para o eucalipto. No final de outubro, entre o leste e a região central de Mato Grosso do Sul, trinta áreas de pecuária tinham sido arrendadas total ou parcialmente para a formação de floresta. Uma delas, a fazenda Formosa, em Ribas do Rio Pardo, no meio-leste do estado, teve parte da área de 16 mil hectares de pastagens tomada pelo eucaliptal. A fazenda do empresário Samir Jubran, falecido em outubro último em São Paulo, tem projeto pecuário desde 1979 e ganhou destaque pela produção de bezerros de alta linhagem a partir de um plantel 25 mil reses da raça nelore.


80, após vender o sítio no Paraná, migrou com os irmãos para Mato Grosso e começou a produzir soja em dois mil hectares arrendados. Em 1993, comprou a primeira fazenda. Hoje, o grupo tem terras espalhadas pelo estado, mas mantém a parceria com terceiros. Na região de Canarana, no nordeste mato-grossense, área de influência do Parque Nacional do Xingu, a mata foi aberta sob a pata do boi e os sojicultores pegam os pastos mais degradados para transformar em lavoura. “Eles plantam dois ou três anos e, se o agricultor quiser, entregam de volta com o pasto formado”, conta o pecuarista Odair Sangeles, diretor do sindicato rural. Ele cedeu 1.400 hectares para um sojicultor e recebe de aluguel sete sacas (R$ 480,00) por hectare. “Ainda tenho gado em 30% da área e, se a lavoura ficar em baixa, posso voltar para a pecuária.” Em Mato Grosso, a soja ocupa apenas 8% do território do estado, enquanto as pastagens cobrem 28% e as áreas nativas ainda representam 64%. Terra em falta Em regiões de cultivo tradicional, como o norte do Paraná, toda a terra disponível está cultivada e o arrendamento tornou-se muito caro, obrigando agricultores a migrarem para locais com áreas de pasto. O engenheiro agrônomo Antonio Claudemir Rodrigues, da Cocamar – Cooperativa Agroindustrial de Maringá, conta que o valor do hectare arrendado na região de Floresta, onde ele atua, chegou a 20,6 sacas (R$ 1,5 mil) nesta safra. “Não tem áreas disponíveis e o pessoal está indo plantar nas Preço médio do arrendamento em regiões brasileiras/outubro 2012 SOJA

Preço por hectare/ano

Maringá PR

R$ 1.500,00

Naviraí MS

R$ 861,00

Itapeva SP

R$ 800,00

Sorriso MT

R$ 752,00

Canarana MT

R$ 480,00

Balsas MA

R$ 406,00

CANA-DE-AÇÚCAR Ribeirão Preto SP

R$ 1.716,00

Itapeva SP

R$ 1.240,00

Bauru SP

R$ 1.040,00

Presidente Prudente

R$ 936,00

EUCALIPTO Itapeva SP

R$ 620,00

Três Lagoas MS

R$ 495,00

Valores médios baseados em informações de produtores, associações de produtores e corretores.

Foto: Ariosto Mesquita

O grupo argentino El Tejar tornou-se o maior produtor de grãos em território brasileiro, plantando em terras arrendadas.

Área em reforma em São Felix do Araguaia (MT): em Mato Grosso, a soja cobre apenas 8% do estado e as pastagens, 28%.

terras de arenito na região de Umuarama.” Na zona de atuação da cooperativa, dos 17,2 mil hectares plantados com soja, apenas 3,5 mil, ou 20,7%, estão em terras arrendadas. O cooperado Alexandre França queixa-se do alto custo do arrendamento. “Ficou arriscado, pois se der um problema na lavoura, não há como pagar o aluguel.” As terras de Maringá estão entre as mais caras do Brasil, atrás apenas de algumas regiões paulistas, como Ribeirão Preto, segundo levantamento da Economics FNP feito no bimestre julho/agosto deste ano (veja quadro ao lado). Na média, as terras paranaenses valem R$ 15.512,00, e as de Santa Catarina, R$ 16.082,00. Em Santa Catarina, o cultivo de grãos ocorre na região oeste, mas as terras mais caras estão próximas do litoral. Um hectare para uva em Itajaí pode custar R$ 43 mil o hectare. No Nordeste do Brasil, as terras mais caras eram as de Sergipe (R$ 5.916,00 o hectare), seguidas pelas de Pernambuco (R$ 5.646,00) e da Bahia (R$ 3.632,00). O Ceará tinha preço médio de R$ 2.092,00 e o Piauí, R$ 1.167,00 o hectare. A entrada da soja no Maranhão empurra o preço da terra para cima: em Balsas, no sul do estado, a terra bruta está cotada a R$ 3 mil o hectare, mas áreas prontas para plantar podem custar até R$ 10 mil. O arrendamento já custa sete sacas por hectare (R$ 406). O maior movimento de áreas arrendadas é feito pela soja. A Conab prevê que o próximo plantio da oleaginosa deve ultrapassar 27 milhões de hectares, 9% a mais que a atual. No Rio Grande do Sul, a soja deve ocupar espaço do milho e do feijão de primeira safra, do arroz e do algodão, avançando ainda sobre as pastagens. Mais da metade da safra que será colhida a partir de janeiro de 2013 estava vendida no final de outubro. Dos 300 mil hectares que o estado vai plantar com soja na próxima safra, em comparação com a de 2011/12, mais de 100 mil serão arrendados, conforme a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 29


Marketing da terra

O marketing do desperdício Richard Jakubaszko

Vergonha nacional: toneladas de milho nos acostamentos das estradas.

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e nada adianta fazer mar-keting para agregar valor aos alimentos produzidos na fazenda se acontecer o antimarketing, ou melhor, o marketing do desperdício. De um lado se investe em marketing e em tecnologias de produção, mas de outro lado há omissão, e o descuido trata de corroer os ganhos obtidos. Noticiamos aqui na Agro DBO, na edição anterior, que estimativas da Aprosoja apontam que o Brasil perde aproximadamente 12,5% da soja produzida durante os processos de pré-colheita, colheita, transporte curto, padronização, armazenagem e transporte longo. Considerando as previsões para a safra brasileira, isto representaria cerca de 10 milhões de toneladas de soja. O que se percebe, entretanto, é que essas perdas não são exclusivas da soja, elas também

30 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

acontecem no milho, feijão, arroz, café, enfim, em todos os grãos. Desse total que o país perde, cerca de 4% ficam na própria lavoura, segundo informações coletadas pelo Rally da Safra, da empresa Agroconsult. O diretor executivo da Aprosoja, Marcelo Duarte Monteiro, considera a perda significativa. “Se usarmos uma média de 50 sacas de produtividade por hectare este percentual de 4% equivale a mais de duas sacas que o produtor perde no processo da colheita”, destacou Duarte Monteiro. As outras perdas são de 1% no processo de pré-colheita e mais 1% somando o transporte curto, a armazenagem e o transporte longo. Os outros 6% não são perdas físicas, mas econômicas, decorrentes do atual modelo de classificação de grãos e descontos praticados pelas empresas compradoras de so-

ja. Nas perdas nas fazendas foram observados diversos aspectos, entre eles má regulagem das máquinas, idade da máquina, velocidade no deslocamento durante a colheita, as perdas que ocorrem na plataforma de corte, os sistemas internos da máquina. “Perda zero a gente sabe que é difícil, mas com certeza é possível minimizar estes números”, afirmou Marcelo Duarte Monteiro. Muitos produtores não conseguem quantificar quanto se perde nos processos de colheita, armazenagem e transporte. “Na minha propriedade eu sabia que tinha perda, descobri que estavam ocorrendo na plataforma de corte da máquina. A máquina não conseguia colher direito porque houve erros no processo de plantio”, declarou um produtor. Já no quesito armazenagem, o trabalho da professora Roberta Nogueira, do campus da UFMT em Sinop, avaliou a utilização de sensores para medir temperatura, umidade e fluxo de ar. “Nos sistemas atuais a gente só consegue obter dados de temperatura. Para fazer a predição de perdas e qualidade do produto, no mínimo, umidade relativa e temperatura devem ser aferidas. O desenvolvimento destes sensores é um passo importante para que possamos saber como de fato ocorre o armazenamento de grãos”, destacou Roberta Nogueira. O armazenamento em silo bag também foi outro item do trabalho. A capacidade estática atual de Mato Grosso não suporta a produção de grãos do estado e quem sofre com isto são os produtores. “Nosso trabalho avaliou a viabilidade econômica deste sistema, muito utilizado em outros países, para


dutor. Planejamento da operação, regulagem da colheitadeira e a utilização de um método prático, rápido e eficiente, de quantificação das perdas de grãos, são fundamentais para que o lucro do produtor rural aumente. Para conferir os grãos que ficam no chão, durante a colheita, a Embrapa Soja recomenda o uso do copo medidor de perdas, que estabelece o nível de 60 kg/ha (1 saco) como tolerável. A empresa desenvolveu um copo medidor específico para a cultura da soja, que pode ser adquirido na Embrapa Soja, em Londrina (PR), ou por meio do kit caixa com dois copos, pelo reembolso postal (informações fone 43 3371-6119 ou e-mail vendas@cnpso.embrapa.br A verdade é uma só: não adianta fazer tudo certinho apenas em algumas etapas, há que se ter uma vi-

Foto: Marisa Yuri Horikawa/Embrapa Soja

o armazenamento de milho, comparando os custos em relação ao armazenamento convencional”, explicou Roberta Nogueira. Os pesquisadores armazenaram o milho durante três meses no silo bag, em condições reais, ou seja, no campo, e a cada 20 dias eram coletadas amostras, analisadas em laboratório. “A conclusão do trabalho foi que a qualidade do material armazenado foi mantida e os custos em comparação com o sistema tradicional também compensaram”, destacou a professora. Perdas nas colheitas “Quem perde menos, ganha mais”, diz a sabedoria popular. Na colheita é o momento de garantir que as tecnologias utilizadas durante o desenvolvimento da lavoura sejam maximizadas, o que irá conferir um maior ganho ao pro-

Copo medidor de perdas, da Embrapa Soja

são completa de todo o processo, e esse deve ser o marketing do produtor, evitar o desperdício. O que fica por ser feito, e bem feito, é o marketing de agregar valor, conforme temos abordado nesta coluna desde que fazemos esta revista.

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Sorgo sacarino

De volta para o futuro Três décadas depois, a cultura começa a deslanchar no Brasil e vira alternativa para a produção de etanol na entressafra da cana de açúcar. Ariosto Mesquita

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Divulgação Monsanto

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os anos 80, ele fazia parte do Proálcool, programa lançado pelo governo para substituir parte do consumo de derivados de petróleo por combustível renovavel. No entanto, a ausência de variedades e de tecnologia adequadas fez com que seu cultivo comercial não vingasse. Agora, mais de 30 anos depois, ele está de volta e com fôlego renovado. O sorgo sacarino tornou-se a melhor opção para, em curto e médio prazos, diminuir a ociosidade das usinas sucroenergéticas na entressafra da cana, reduzir a volatilidade nos preços do combustível e, de quebra, elevar a produção brasileira de etanol, praticamente estagnada há cinco anos. Resta apenas combinar com as indústrias A crise no setor fez com que pesquisas e estudos fossem retomados ao final da década passada com o objetivo de, efetivamente, tornar o sorgo sacarino uma alternativa complementar à cana. De ciclo curto – perto de 120 dias – esta gramínea tropical originária da África pode ser cultivada durante o período de entressafra da cana, entre dezembro e abril, no Centro Sul brasileiro. Dessa forma, a produção industrial ganha condições de se prolongar entre 30 a 60 dias ao ano, a partir da colheita e moagem do sorgo nos meses de fevereiro e março. Também é possível seu plantio em área de reforma em pousio e se vislumbra, para até três ou quatro anos, a viabilidade de seu cultivo como segunda safra nas propriedades rurais agrícolas. Dai vem a pergunta: por que seu cultivo daria certo agora? Especialistas garantem que o principal impulso é dado pela evolução da tecnologia agronômica e genética. “Nos anos 80, estavam disponíveis apenas variedades específicas para regiões temperadas que só conseguiam vingar na região sul do país, em micros e pequenas destilarias e sem colheita mecanizada. Hoje, a

indústria de etanol abriu fronteiras no Sudeste e Centro-Oeste, há mecanização e começam a chegar ao mercado novas sementes convencionais e híbridas adaptadas ao clima tropical”, explica Antonio Kaupert, gerente de marketing da Ceres, empresa norte-americana que se instalou em 2009 no Brasil exclusivamente para oferecer cultivares de sorgo sacarino Ao contrário da cana, cujo cultivo é feito a partir de mudas, o sorgo sacarino é plantado através de sementes. Pesquisadores e técnicos garantem que as indústrias podem utilizar as mesmas estruturas usadas para cana, com poucas adaptações. Seu semeio é realizado como semeadoras para grãos. A colheita pode ser feita com a mesma colhedora de cana. De uma maneira geral, o sorgo teria capacidade, hoje, de elevar entre 8% a 10% a oferta de etanol em uma usina sem grandes investimentos extras. O sorgo sacarino pode atingir uma altura entre três a quatro metros. Aproveita-se o colmo, moendo, extraindo o caldo e produzindo o etanol através da fermentação. É diferente do sorgo forrageiro, de porte inferior e voltado para a alimentação de animais por perfilhar bem e produzir muitas folhas. Outro sorgo – o granífero – é uma planta ainda mais baixa e cultivada em algumas regiões brasileiras na segunda safra e que produz grãos de onde se pode produzir álcool semelhante ao processo de etanol de milho. Recursos para a lavoura Diante do novo quadro de disponibilidade tecnológica e mercado, o governo federal decidiu incentivar o cultivo. Incluiu pela primeira o sorgo sacarino no seu Plano Agrícola e Pecuário (para o ciclo 2012/13), destinando R$ 276 milhões para financiar a cultura. A linha de crédito é de R$ 1,6 milhão por produtor. Quando do lançamento do plano – 28 de junho de 2012 – o objetivo anunciado era de dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 33


Sorgo sacarino Quando do lançamento do Plano Agrícola, o objetivo anunciado era quintuplicar a área destinada à cultura em apenas uma safra. elevar a área cultivada de 20 mil hectares (estimativa de plantio no ciclo 2011/12) para 100 mil hectares a serem colhidos já em 2013. No entanto, o segmento garante que esta meta não será atingida. “O dinheiro chegou um pouco tarde, mas para a safra 2013/14 será fundamental”, explica Kaupert. Na verdade, tanto o gerente da Ceres quanto executivos de outras multinacionais e pesquisadores não esperam uma explosão de cultivo neste ciclo, mas, sim, daqui a dois ou três anos. No primeiro semestre deste ano, a Unica – União da Indústria de Cana-de-açúcar via a possibilidade de se chegar a 60 mil hectares já na próxima safra. Em novembro, a nova diretoria da entidade informou, através de sua assessoria, que não está acompanhando “as experiências” com sorgo sacarino de seus associados. O CTC – Centro de Tecnologia Canavieira, sediado em Piracicaba (SP), alegou não possuir dados, números e levantamentos sobre o cultivo de sorgo sacarino para produção de etanol no Brasil. Por parte das empresas públicas e privadas geradoras de tecnologia, os números existem e. mesmo não sendo confluentes, conseguem dar uma ideia do panorama da cultura no país. A CanaVialis – marca da multinacional Monsanto, de melhoramento e tecnologia em cana – estima que a última safra contou com o cultivo comercial de 15 mil hectares no Centro-Sul brasileiro. A produtividade média foi de 35 toneladas/ha com um rendimento industrial de aproximadamente 45 l/t, gerando cerca de 1.500 l/ha de etanol. De acordo com o gerente de marketing de cana-de-açúcar da Monsanto, Vagner Kogikoski, os números ainda estão longe das possibilidades de rendimento do sorgo, 34 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

mas se encontram em evolução. Segundo ele, ainda existe um caminho a ser percorrido para que as usinas atinjam os mesmos volumes obtidos em áreas experimentais – entre 3.000 e 3.500 l/ha. “A produtividade da safra 2011/12, porém, já superou em cerca de 50% os resultados do ciclo 2010/11”. Kogikoski aposta em salto maior para a safra semeada em novembro e dezembro de 2012. “No Centro-Sul, deve ocupar cerca de 30 mil hectares e a meta de produtividade da maioria das usinas está em torno de 2.500 l/ha”, diz. Resposta nos próximos anos A Raizen – joint venture entre Shell e Cosan – está no segundo ciclo de cultivo experimental de sorgo sacarino. Responsável pela produção anual de mais de 2,2 bilhões de litros de etanol e quatro milhões de toneladas de açúcar, a empresa plantou 1.000 hectares em 2011, com variedades oferecidas pela Ceres e Monsanto e, segundo seu diretor de produção agrícola, Cássio Manin Paggiaro, os resultados não foram bons. Na colheita, obteve uma média de 35 toneladas/ ha e uma produção final de etanol

de mil litros/ha. “Esperávamos pelo menos três mil litros por hectare”, lamenta. Esses primeiros números, entretanto, não desanimaram a empresa. Em 2012 estão sendo semeados 800 hectares com variedades disponibilizadas este ano no mercado. “Vamos trabalhar para tentar atingir 50 toneladas/ha de sorgo uma produtividade de etanol de três mil litros/ ha”, projeta Paggiaro. Os testes em 2011 foram concentrados na usina de Bom Retiro, em Capivari (SP). O processamento industrial levou pouco mais de 20 dias. “Agora vamos trabalhar com uma unidade de maior potencial e queremos reduzir este tempo para 10 dias”, disse, se referindo à usina do grupo em Rafard (SP). O plantio é concentrado em dezembro para uma colheita prevista entre final de março e início de abril. Paggiaro acredita no potencial do sorgo sacarino para a produção de etanol (veja quadro abaixo) e torce para que o mercado disponibilize variedades que proporcionem mais ganho produtivo. Os cultivos e processamentos experimentais vão continuar. “Um trabalho mais

Potencialidade do sorgo sacarino Potencial de rendimento de etanol do cultivar de sorgo sacarino BRS506, considerando 3 niveis tecnológicos de manejo da cultura. Níveis

Massa verde (t.ha–1)

Litros de etanol por ton. de massa verde (t.ha–1)

Litros de etanol por ha (L.ha–1)

Ciclo (meses)

Produtividade etanol/ha/mês

Baixo

40

50

2000

4

500

Médio

60

60

3600

4

900

Alto

80

70

5600

4

1400

Cana

85

80

6800

12

566

Fonte: Embrapa Milho e Sorgo

“O quadro acima não tem por objetivo comparar sorgo com cana, pois o sorgo é complementar à cana e não substituto. Ele afirma que o sorgo sacarino tem alto potencial produtivo, quando bem conduzido. A produção mensal de etanol, considerando o ciclo das duas culturas, proporciona um valor maior para o sorgo, mas esse raciocínio não é saudável, uma vez que não há a recomendação de cultivo de sorgo o ano todo no Centro-Sul brasileiro. O quadro mostra apenas o potencial do negócio sorgo” – André May, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.


Divulgação Ceres

amplo vai depender dos resultados em médio prazo; acredito que em um máximo de três anos poderemos utilizar o sorgo sacarino na produção comercial de etanol”, prevê o diretor. O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, André May, é menos otimista. Pelas suas previsões, a área comercial cultivada com sorgo sacarino pode ficar no mesmo patamar da safra passada – 20 mil hectares – ou até mesmo apresentar uma ligeira redução – 18 mil hectares. Segundo ele, vários fatores colaboram para isso. Dentre eles, o curto período de entressafra de cana para este ciclo. “Existem indústrias fechando safra em meados de dezembro, muitos grupos abrindo safra já em fevereiro e este pequeno espaço no calendário inviabiliza o cultivo do sorgo sacarino”, explica. O alto preço da soja no mercado internacional também pode ter atrapalhado o avanço da área cultivada com sorgo sacarino junto a fornecedores de matéria prima para as indústrias ou dentro das próprias lavouras dos grandes

grupos. “A semeadura da soja e do sorgo acontece na mesma época”, ressalta. Na opinião de May, um dos entraves à expansão da lavoura de sorgo sacarino no Brasil tem caráter cultural. “Afinal, são 400 anos de cana no Brasil e a diversificação com um cultivo anual, como o sorgo, junto a um mais perene, como a cana, fica difícil de ser aceita; além disso, é preciso romper paradigmas de alguns gerentes de usina”, diz. Como superação a este gargalo, ele sugere que as usinas profissionais invistam na formação de um novo grupo de cultura anual: “as gerências agrícolas devem ser diferenciadas com uma nova equipe exclusiva para o sorgo com domínio sobre manejo, estratégia de cultura, semeio e maquinário”. Confiança no futuro Para o presidente da Biosul – Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul, Roberto Hollanda Filho, o sorgo sacarino ainda é uma “promessa”. Ele alega que se trata de uma cultura diferente, com uma área de pes-

quisa “muito pequena” e que exige uma nova compreensão agrícola e comercial. “Acredito que somente em cinco anos teremos resposta do sorgo no Brasil”, prevê. O presidente da Monsanto no Brasil, André Dias, é otimista, mas também enxerga algumas dificuldades no envolvimento das indústrias: “Não sei se existe intenção de se manter só a cana para a produção de etanol; entendo que o novo demanda tempo para ser aceito. Antes disso, temos que demonstrar que vale a pena, que gera valor e dá retorno ao investimento”. Dias traça um comparativo com a evolução da soja brasileira. “Hoje, se o sojicultor produzir menos de 60 sacas por hectare vai ficar triste; e isso é mais do que o dobro do que era produzido há 30 anos. Por isso os resultados com o sorgo sacarino ainda vão melhorar muito”, observa. Bastante cauteloso nas afirmações e evitando tocar em números, o dirigente da multinacional norte-americana no Brasil prefere não esboçar um quadro futuro. “É difícil fazer projeções comerciais

A semeadura, o manejo, a estratégia, e o maquinário usados no sorgo, uma cultura anual, são os mesmos da cana, cultura perene. Falta gerenciamento diferenciado.

dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 35


Sorgo sacarino “O sorgo sacarino tem potencial para ocupar até um milhão de hectares durante o período de entressafra da cana no Brasil”

Divulgação Ceres

para os próximos 10 ou 15 anos. No entanto, é uma realidade que as indústrias precisam ocupar suas máquinas durante o período em que não há cana; por isso, o sorgo sacarino é a melhor alternativa para a entressafra. Estou muito confiante quanto ao futuro”, avalia. De olho nesta perspectiva, a Ceres do Brasil iniciou em 2011 a disponibilização de variedades híbridas para cultivo comercial e garante que na atual safra está ampliando em 100% a adesão de novos clientes e também em 100% a área a ser plantada com suas cultivares – que no ciclo 2011/12 ficou em aproximadamente cinco mil hectares. No final do mês passado, a Ceres anunciou parceria com a Syngenta para introduzir o sorgo sacarino como fonte de açúcares fermentáveis em 400 usinas de etanol do

Comprodutividade média de 35 t/ha de sorgo sacarino, as usinas conseguem rendimentoindustrial de 45 litros/t, gerando 1.500 litros/ha de etanol.

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Brasil. Segundo informações da empresa, usinas brasileiras plantaram sorgo sacarino da Ceres em mais de 3 mil hectares. “O sorgo sacarino tem potencial para ocupar até um milhão de hectares durante o período de entressafra no Brasil”, garante o executivo de marketing da Ceres, Antonio Kaupert. A empresa, segundo ele, também está trabalhando com novas alternativas para o cultivo do sorgo sacarino, como o seu plantio no período da chamada segunda safra, hoje ainda inviável em função da alta sensibilidade ao fotoperíodo das variedades existentes. “Na medida em que os dias vão reduzindo o período de luminosidade, o potencial de biomassa destas plantas também vai diminuindo. Portanto, estamos trabalhando com genética para disponibilizar futuramente

híbridos com menor sensibilidade ao fotoperíodo. Dessa forma, o sorgo sacarino poderá ocupar áreas da chamada safrinha, assim como ocorre hoje com o milho e os sorgos granífero e forrageiro”, explica. A Ceres trabalha com a perspectiva de que estas variedades venham a ser cultivadas com ótimos resultados em áreas tradicionais de grãos e até de pastagens pelo Brasil. “Essa é a grande sacada”, vibra Kaupert, que projeta a chegada destas sementes no mercado para um prazo entre três a cinco anos. Ótimo negócio André May, da Embrapa, explica que a utilização do sorgo sacarino deve ser complementar e não substitutiva à cana-de-açúcar. Além de possibilitar a manutenção de uma reserva de cana para colheita em março, permite a amortização do custo da entressafra para a indústria. “Uma usina que cultiva 100 mil hectares de cana custa entre R$ 4 milhões à R$ 9 milhões em 60 dias parados. O sorgo pode amortizar em sua totalidade e até proporcionar lucro. Não existem dúvidas de que é um ótimo negócio para a indústria”, avalia. May também exemplifica as vantagens da entrada do sorgo sacarino como agente que permita maior reserva e qualidade da cana em março/ abril: “para cada ponto percentual de ART (Açúcares Redutores Totais) elevado em cana, pela manutenção do canavial em reserva na abertura da safra com sorgo, tem-se o ganho líquido, sem necessidades de maiores investimentos, de R$ 15,6 milhões para uma usina com capacidade de moagem de 12 mil toneladas”. O pesquisador da Embrapa trabalha com um custo total (agrícola, industrial e administrativo) de produção de álcool a partir de sorgo sacarino em R$ 3 mil/ha, em média. “A cana fica


Sorgo toma por base o desempenho médio das variedades de cana disponíveis no mercado. Seriam 6.800 litros de etanol por hectare em um ciclo de 12 meses, o que equivaleria a uma produção de 566 litros/ha/

Entrevista com Marcos Jank

Marcos Jank

ex-presidente da Unica no período de 2007/2012 e livre-docente em economia aplicada pela Esalq-USP.

Agro DBO – Qual sua expectativa quanto à utilização do sorgo sacarino para a produção de etanol? Marcos Jank – O sorgo permite estender mais a safra com uma compatibilidade muito grande com a cana e o etanol. A ideia é ter o sorgo antes do começo da safra de cana, tanto em áreas de renovação do canavial quanto em áreas com agricultura, em que a pessoa queira, eventualmente, experimentar o sorgo. Agro DBO – O que ainda impede que isso ocorra em escala? Marcos Jank – Acredito que falta maior conhecimento por parte das indústrias sobre esta tecnologia. Faltam também variedades diversificadas. Existe um problema grave, que são as chuvas. Você não faz a colheita em época seca, como a cana. O pico da cana é julho, agosto e setembro. Já no caso do sorgo sacarino, isso acontece do meio para o final do verão. Agro DBO – Você acredita em precipitação da indústria e projeções iniciais exageradas, indicando resultados rápidos que, afinal, ainda não se concretizaram? Marcos Jank – Várias empresas disseram e apontaram que o sorgo sacarino iria dar certo rapidamente. Estou vendo isso acontecer, mas ainda de forma muito localizada. Existem dificuldades tecnológicas. Na medida em que houver um sistema mais bem estabelecido, a coisa começa a acontecer. Não há como criar um sistema novo de bioenergia do dia para a noite. Há três anos, por exemplo, todo mundo falava que o

pinhão manso iria dominar o biodiesel. Até hoje isso não aconteceu. O sorgo sacarino, na verdade, é uma experiência antiga. No começo do Proálcool se falava em fazer etanol a partir de sorgo sacarino. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma experiência sólida. Agro DBO – No Brasil, a retomada do sorgo como opção para se produzir etanol aconteceu de quatro anos pra cá, não é? Marcos Jank – Sim, mas repare: em nenhum lugar ele virou uma coisa de larga escala, ainda. Mas o que é muito importante é o fato dele entrar antes da safra de cana começar. Dessa forma, o etanol do sorgo sacarino pode se aproveitar de um pico de preço melhor. Quando se está no auge da entressafra, os preços são mais altos. É preciso ver é se a operacionalidade industrial permite que as empresas façam isso acontecer. Agro DBO – É uma questão de impedimento industrial ou cultural? Marcos Jank – As indústrias, na verdade, têm uma cultura muito forte de cana. Não há uma cultura agrícola no sentido de diversificação. Algum tempo atrás se falava em intercalar soja ou amendoim com cana na hora da renovação. Isso acabou acontecendo, mas de forma muito pontual, nada generalizado. É o caso do sorgo. Mas está longe de ser uma coisa em escala. Agro DBO – Diante disso, qual sua expectativa para o sorgo sacarino?

mês. Já a média de desempenho da variedade de sorgo BRS506 (já colocada no mercado pela Embrapa) indica 3.600 litros/ha, em um ciclo de quatro meses, o que representaria 900 litros/ha/mês. Ariosto Mesquita

entre R$ 3,5 mil e R$ 4,9 mil”, afirma. Entretanto, o rendimento da cana (por tonelada de massa verde) para a produção de etanol ainda é maior. Uma avaliação de desempenho feita pela Embrapa Milho e

Marcos Jank – Ano passado, à frente da Unica, acompanhamos várias usinas experimentando o cultivo. Sei, hoje, que muitos continuaram, alguns entraram e outros pararam. Quando eu deixei a Unica, no primeiro semestre deste ano, falávamos em um potencial de 60 mil hectares para o ciclo 2012/2013. Agro DBO – A Embrapa reduziu isso para algo entre 18 a 20 mil /ha. Marcos Jank – Significa que a coisa está difícil ou o setor está muito descapitalizado. O que o empresário pensa? Vou investir em outra estrutura ou vou renovar meu canavial? E o que se projeta não é renovar área de cana com sorgo. Não é substituir um pelo outro. Agro DBO – Seria utilizar o sorgo em outra área exclusivamente na entressafra, correto? Marcos Jank – Sim. Introduzir um cultivo de sorgo sacarino para produção antes do início da industrialização da cana. O segredo é o sorgo não substituir a cana na íntegra. Hoje, por exemplo, se começa a moer cana em abril. Mas se você tem sorgo produzindo a partir de fevereiro, você pode ganhar até dois meses de atividade da indústria. Você faz mais etanol sem ter de mexer na usina. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 37


Artigo

Indústria a céu aberto O reconhecimento pelo árduo e, por vezes, desanimador trabalho no campo, clama pelo respeito e gratidão dos consumidores urbanos. Rogério Arioli Silva *

A

apreensão, o desânimo e o sentimento de incapacidade são inquietações corriqueiras daqueles que trabalham no campo. É da natureza da atividade agropecuária torcer para que os fenômenos climáticos estejam condizentes com a necessidade de plantas e animais, de modo à obtenção dos resultados esperados na exploração. Tem sido assim desde os primórdios da civilização, quando o homem deixou de lado a vida nômade para sedentarizar-se, ou seja, criar raízes. Duas reportagens apresentadas recentemente em canais de televisão distintos, demonstraram claramente esta infinita agonia que permeia a vida dos que labutam no campo. Numa delas, um produtor de grãos do Centro-Oeste, atingido pela escassez de chuvas e com sua lavoura deteriorando-se,

da vida por um simples revés climático. Empresários das cidades também possuem enormes desafios, como aquecimento da demanda, alta dos juros, carga tributária, qualificação da mão de obra, etc. Ao produtor rural, todavia, além de todos estes desafios, é imperioso que receba a colaboração das forças da natureza, nem sempre em harmonia com suas necessidades. Por isso a angústia do produtor no seu desabafo: produzir alimentos não é tarefa simples. Em outra reportagem extremamente chocante e capaz de provocar prantos até aos corações mais petrificados, produtores do nordeste do Brasil tentam, em vão, levantar seus famélicos animais afetados pela debilidade nutricional que certamente os levará à morte pela inanição. Enquanto a burocracia federal zombeteia incessantemente desta situação-limite, centenas de

Cada vez menos agricultores produzirão alimentos para um número crescente de consumidores

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

simplifica dizendo que: “as pessoas da cidade deveriam valorizar um pouco mais aqueles que produzem alimentos, pois trabalham em uma indústria a céu aberto”. Nada mais justo! O reconhecimento pelo árduo e, por vezes, desanimador trabalho no campo, clama pelo respeito e gratidão dos consumidores urbanos. Estes, além de desconhecerem as peculiaridades da atividade rural, muitas vezes a observam através de uma visão distorcida, forjada por décadas de exposições negativas por parte da mídia nacional, geralmente vinculando o “ruralismo” ao atraso. Quem trabalha como assalariado nem sempre tem seu trabalho reconhecido devidamente, porém não arrisca perder tudo o que construiu ao longo

38 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

produtores esperam em média 60 dias nos portões dos armazéns da Conab, aguardando os grãos oriundos do Centro-Oeste que poderão mudar seu futuro incerto e, provavelmente, penoso. Cemitérios de animais são mostrados num misto de miserabilidade e conformismo capazes de causar angústia e, ao mesmo tempo. indignação. Poderia esta situação ter sido evitada? Em parte, sim, disponibilizando crédito, informação e assistência técnica para que os pequenos produtores pudessem preparar-se melhor para as longas estiagens que, ciclicamente, acometem o sertão nordestino. Esta realidade secular é fomentadora da migração interna que dispersou retirantes nordestinos por todo o interior do

país numa fuga indômita da penúria que continua afetando aqueles brasileiros. Mas também não há como prever grandes problemas climáticos. Estes são cíclicos e sempre afetarão o resultado das safras e de todos os outros produtos oriundos do campo. É graças a esta insegurança que cada vez mais pessoas abandonam a zona rural migrando para as cidades. Tornam-se assim consumidores, ao invés de continuarem arriscando-se na produção de alimentos. Este processo já ocorreu em outros países e continua ocorrendo no Brasil, de maneira sistemática e irrefreável. A partir da década de 60 a população urbana superou a rural e, atualmente, mais de 80% dos brasileiros vivem nas cidades, o que ainda é pouco se considerarmos que nos Estados Unidos apenas 2% da população ainda reside no campo, produzindo para os 98% que se tornaram urbanos. Na China, ocorre processo idêntico, onde mais de 300 milhões de chineses trocaram o campo pela cidade nas últimas décadas, havendo estimativa indicando que outros 400 milhões seguirão o mesmo caminho nos próximos anos. Enfim, parece que cada vez menos produtores produzirão alimentos para um número crescente de consumidores. Esta situação predispõe a dois questionamentos básicos e inquietantes: Quanto tempo será necessário esperar até que as políticas públicas ofereçam aos produtores rurais um seguro efetivo de safras e uma garantia de preços remuneradores? E, por último, quando de fato haverá o reconhecimento do cidadão urbano ao esforço daqueles abnegados que insistirem em produzir alimentos para um mundo cada vez mais urbanizado e exigente? n



Arroz

Agricultura 2.0 Sotfware gratuito e aplicativo ajudam produtores, agrônomos e técnicos agrícolas a monitorar as plantações no Rio Grande do Sul. Glauco Menegheti

A

cultura do arroz irrigado experimentou aumento de produtividade respeitável na última década. O incremento na adubação, que passou de 150 quilos para 350 quilos por hectare, em média, possibilitou um choque de rendimento, de 5,3 mil quilos para 7,3 mil quilos no Rio Grande do Sul – ganho de 38%. Agora, na safra 2012/2013, chegou a vez do ajuste fino, possível graças à tecnologia. Uma safra de inovação, que inclui um software e um aplicativo, ambos desenvolvidos no Rio Grande do Sul, permite que os agricultores, agrônomos e técnicos agrícolas levem para a lavoura tablets e smartphones, que passam a ser ferramentas de trabalho com muita informação técnica. O Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz, que lançou a campanha fomentando o aumento de produti-

Arrozal no Rio Grande do Sul: o software do Irga é o primeiro do gênero para arroz irrigado.

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vidade em 2003 e que, graças às suas pesquisas, recomendou o aditivo na adubação, dá mais um passo em favor da otimização no uso de insumos com o lançamento do Adubarroz, um software gratuito com recomendação de adubação e calagem. Com lançamento em novembro, ele é o primeiro software do gênero para o arroz irrigado, segundo Ibanor Anghinoni, consultor técnico do Irga e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do programa. A base de dados, atualizada até a safra 2012/2013, provém do boletim técnico “Arroz Irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil”, publicado pela Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado. O público-alvo é bem definido: técnicos do Irga alocados no interior do Rio Grande do Sul, que trabalham como extensionistas, produ-

tores com conhecimentos técnicos suficientes para saber interpretar os dados, agrônomos e técnicos agrícolas. O sistema considera as diferentes expectativas de resposta à adubação de cada talhão da lavoura, em função de uma série de informações prestadas pelo produtor, em especial os resultados de análise de solo, variedade a ser utilizada, com o respectivo ciclo, e época de semeadura. Dessa forma, as recomendações prestadas são flexíveis e ajustadas para diferentes condições edafoclimáticas, nível de manejo e de recursos financeiros por parte do produtor. Levando em conta a variedade escolhida e o período de semeadura, o programa faz cálculos que respondem à expectativa de resposta à adubação em produtividade muito alta, alta, média ou baixa. “Se o produtor fugir da data ideal, por exemplo, será


estimulado a mudar a estratégia”, diz o pesquisador do Irga, também um dos desenvolvedores, Felipe de Campos Carmona. O software considera outras variáveis cruciais para a cultura do arroz, tais como a infestação do arroz vermelho, se a invasora é resistente e a densidade de plantio. Caso a resposta seja positiva para a invasora, com resistência a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas, a expectativa de resposta à adubação diminui um patamar. À medida que o usuário vai avançando nas respostas, todas elas relacionadas a situações reais dos arrozeiros gaúchos, a expectativa de rendimento pode ser mantida ou cair. O usuário também tem à disposição a recomendação de correção da acidez dosolo e de adubação. Ele informa os dados mencionados anteriormente, mais o fertilizante que vai usar e, com isso, tem a possibilidade de obter o custo de produção calculado pelo gerenciador financeiro, também disponibilizado gratuitamente. “O programa faz o cálculo de produção por hectare e por talhão”, explica Carmona. O produtor ou técnico pode então obter o relatório final e imprimir. Para que se consiga o orçamento de custo o mais fiel possível, será tema de casa constante de Carmona atualizar o preço do adubo e do calcário. O pesquisador do Irga alerta que o Adubarroz também deverá mexer com a eficiência da análise da lavoura, serviço que o instituto presta aos produtores no interior. “Hoje, a análise dos técnicos é passível de erro, porque conta apenas com a capacidade deles de interpretar os dados que vêm do laboratório e do campo. Com o Adubarroz, então, é possível suprimir o risco de erro de laudo e interferir na estratégia de adubação e época de plantio visando o máximo rendimento”, diz Carmona. Uma das opções que o Adubarroz oferece é o período de plantio em associação à variedade determinada. Caso a expectativa de resposta seja inferior ao máximo potencial da variedade,

Técnicos esperam que o Adubarroz ajude a aumentar a eficiência na análise da lavoura.

é sugerida a troca do período da semeadura. O programa está disponível apenas para desktops e laptops, mas a intenção, já no ano que vem, é ampliar a sua presença para smartphones e tablets. Quem já saiu na frente, desenvolvendo um aplicativo especificamente para gadgets, neste caso, focado nas doenças da cultura do arroz, foi o Instituto Phytus, de Santa Maria, para ajudar na identificação das principais fontes de prejuízos do grão. Disponível nas plataformas Android e iOS, o Diagnoses Phytus (abaixo, uma tela em smatphone) permite ao usuário ter acesso a fotos em alta resolução e ampliá-las com o movimento de pinça, primeiramente encontrado nos gadgets da Apple, e assim compará-las com os problemas no campo. A versão completa, que custa 4,99 dólares na Apple Store (para iOS) e 8,44 no Google Play (Android), traz 17 doenças (tomba-

mento, brusone, mancha parda, mancha estreita, escaldadura, mancha das bainhas, mancha circular, podridão do colmo, podridão da bainha, mal do colmo, mal do pé, mancha das glumas, cárie, falso carvão, vírus do enrolamento do arroz, ponta branca e nematoide de galhas), com explicação detalhada sobre os seus sintomas e desenvolvimento. A tecnologia, cujo projeto para ser transformada em aplicativo começou há apenas seis meses, também oferece orientações para o manejo adequado dessas doenças de forma sucinta. Segundo a diretora do Instituto Phytus, Clarice Balardin, também está disponível uma versão gratuita do aplicativo, mas com oito doenças (tombamento, brusone, marcha parda, mancha estreita, escaldadura, mancha circular, mancha das glumas e a cárie). O usuário precisa apenas buscar o nome Diagnoses Phytus pela Apple e Google Store. Para baixar a APP, o sistema requer um cadastro prévio, no qual o interessado deve registrar o nome, sobrenome, seu e-mail e criar uma senha de acesso. A versão gratuita do aplicativo não permite o acesso às fotos em alta resolução. Tanto uma quanto a outra tampouco oferecem recursos mais sofisticados, como o da geolocalização para, por exemplo, marcar onde estão os principais pontos de infestação da lavoura, por talhão. Mesmo assim, o recurso inova pela portabilidade, por disponibilizar informações e imagens que podem ser levadas até a lavoura e avaliadas facilmente. Estão nos planos do Instituto Phytus lançar um aplicativo para as doenças da soja em janeiro de 2013, segundo Clarice. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 41


Tecnologia

Lavoura biofortificada

Plantas bem nutridas podem garantir a oferta mundial de alimentos e dividendos ao Brasil, que, ao invés de commodities, exportará specialties.

Luiz Roberto Guimarães Guilherme1, Sílvio Junio Ramos2 e Alfredo Scheid Lopes3 *

A

produção de alimentos com altos teores de nutrientes é uma nova vertente da agricultura mundial e deve ser tratada como uma questão fundamental nos dias de hoje para que tenhamos segurança alimentar. Esta estratégia de produção agrícola consiste na obtenção de alimentos com teores mais elevados dos nutrientes deficientes nas dietas das populações. Para isso, podemos lançar mão tanto de técnicas de melhoramento genético, quanto agronômicas. As primeiras procuram descobrir, dentre diversos materiais genéticos existentes no mercado, aqueles que possuem maior capacidade de acumular nutrientes (biofortifica42 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

ção genética). As últimas procuram aumentar o teor de nutrientes nas plantas através do aumento do seu teor nas áreas agrícolas, ou seja, através da adubação das culturas – via solo ou através da adubação foliar – com uma quantidade adequada do nutriente de interesse (biofortificação agronômica). Independentemente da técnica usada, a biofortificação agronômica deve ser encarada sempre como uma abordagem complementar à estratégia de melhoramento genético. Assim, poderemos ter produtos agrícolas diferenciados no mercado pelo seu alto valor nutricional. Vejamos mais sobre este assunto a seguir.


Segurança alimentar é um tema recorrente que tem sido discutido em grandes fóruns mundiais, especialmente após o conturbado período da crise de alimentos de 2007-2008, a qual, de certo modo, ainda persiste nos dias atuais. Mas, o que vem a ser, na verdade, segurança alimentar? Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, em uma declaração emanada na Cúpula Mundial sobre Alimentação da FAO, ocorrida em 1996, em Roma, “Segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico e econômico a alimentos seguros e nutritivos suficientes para satisfazer as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida saudável e ativa.” Hábitos lamentáveis Da definição anterior, nota-se que tanto a quantidade quanto a qualidade dos alimentos são aspectos fundamentais para que os brasileiros e as demais pessoas do mundo tenham a tão sonhada segurança alimentar. É bem verdade que no mundo, e também no Brasil, muitas pessoas ainda não conseguem alimentos em quantidades suficientes no seu dia-a-dia, o que é um grande problema humanitário. Porém, mesmo em países aonde o suprimento de quantidades ideais de alimentos já não é mais um problema, a segurança alimentar pode não estar assegurada, pois muitos destes alimentos não são nutritivos o suficiente para satisfazer as necessidades dietéticas das pessoas. Reportagens recentes publicadas a partir de dados da Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, feita pela primeira vez pelo IBGE em domicílios visitados na última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009) re-

Dieta Nacional Porcentual da população que consome nutriente fora dos limites recomendados 10 a 13 anos

14 a 18 anos

19 a 59 anos

60 anos ou mais

M

F

M

F

M

F

M

F

Cálcio

96,4

97,2

95,1

97,3

83,8

90,7

85,9

95,8

Fósforo

65,9

70,5

53,8

71,0

6,7

15,9

11,5

19,7

Ferro

8,0

7,4

11,5

24,2

5,3

31,2

Zinco

18,2

19,4

19,9

21,7

24,4

21,6

38,4

31,4

Vitamina A

66,5

63,3

82,0

72,4

79,1

70,1

80,6

68,0

Vitamina C

35,1

33,0

52,7

42,1

75,0

41,5

53,0

99,4

81,5

77,7

88,9

72,9

88,7

69,7

80,4

62,2

Menos que a quantidade recomendada (leite e derivados) (abóbora, aveia, feijão preto, milho) (carnes vermelhas, agrião, couve, castanhas) (carnes, cereais integrais, sementes, ervilha)

(cenoura, folhas verdes, melão) (laranja, acerola, morango, melância)

Mais que a quantidade recomendadas

Sódio

(sal e produtos industrializados)

Fonte: “Brasileiro come muito e mal, diz IBGE”. O Estado de São Paulo – 29/07/2011

velam que os hábitos alimentares dos brasileiros deixam a desejar, especialmente no tocante à deficiência de nutrientes recomendados e ao excesso de sal na dieta. O suprimento adequado dos nutrientes citados na tabela acima requer que os alimentos consumidos os tenham em quantidades adequadas. Isto, infelizmente, nem sempre é possível, especialmente no caso do Brasil, onde nutrientes como cálcio, fósforo, e zinco, dentre outros, estão presentes em pequenas quantidades nos solos. A maioria dos nossos solos não é fértil naturalmente. Por isto, temos que adubar a terra para produzir quantidades adequadas de alimentos e alimentos

de boa qualidade nutritiva. Os produtos agrícolas são fonte primária de nutrientes para os animais e seres humanos. A população mundial vem crescendo a uma taxa anual de 1,4%, e deve chegar a 9,4 bilhões de pessoas em 2050, segundo projeções da ONU. Para o Brasil, estima-se uma população de 260 milhões de pessoas. Embora a produção de alimentos tenha, de uma maneira geral, acompanhado o crescimento populacional nas quatro últimas décadas, os problemas de deficiência de nutrientes e vitaminas têm aumentado, afetando quase metade da população mundial, especialmente mulheres grávidas, adolescentes e crianças

A população mundial deve chegar a 9,4 bilhões de pessoas em 2050. Como alimentar tanta gente?

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Tecnologia

Alimentos biofortificados podem agregar valor à renda dos agricultores.

em países em desenvolvimento. Nesse sentido, as deficiências ocasionadas pela falta de ferro (Fe), zinco (Zn), iodo (I), selênio (Se) e vitaminas (como a vitamina A) são, atualmente, as que causam maior preocupação em relação à saúde humana. A agricultura brasileira já demonstrou ao longo dos últimos 50 anos e, em especial, nas duas últimas décadas, que é capaz de produzir alimentos, com sustentabilidade e produtividades cada vez maiores, usando tecnologias adequadas e desenvolvidas por nossas instituições de pesquisa e ensino agrícola. O nosso próximo desafio agora é assegurar que estes alimentos sejam seguros e nutritivos. Só assim, teremos a verdadeira segurança alimentar. Para isso, surge uma nova vertente na agricultura mundial, e também brasileira, que se baseia no tema biofortificação alimentar. Esta

ver­tente é relativamente recente e programas e projetos como o HarvestPlus (www.harvestplus. org/), o AgroSalud (www.agrosalud.org/) e o BioFORT (www.biofort.com.br), este último coordenado pela Embrapa, têm encontrado um número cada vez maior de parceiros, bem como revelado importantes conquistas. A crescente demanda por produtos agrícolas de melhor qualidade nutricional tem gerado esforços mundiais para combater as deficiências de nutrientes, muitos dos quais têm como foco o fornecimento de suplementos vitamínicos e minerais através do processamento pós-colheita. A introdução de cultivares biofortificadas – selecionadas para maiores teores de nutrientes e vitaminas – visa complementar as intervenções nutricionais existentes, oferecendo uma forma sustentável e de baixo custo para combater a desnutrição.

Solução (ordem de prioridade) 1. Suplementação de crianças (vitamina A e zinco) 2. O acordo de Doha 3. Fortificação com micronutrientes (ferro e sal iodado) 4. Biofortificação 5. Combate à verminose e outros programas 6. Redução de preço e mensalidades escolares 7. Aumento e melhoria da educação de meninas 8. Programas comunitários de promoção da nutrição 9. Prover suporte a mulheres durante a gestação

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Desafio Desnutrição Comércio Desnutrição Desnutrição Desnutrição e Educação Educação Mulheres Desnutrição Mulheres

Conforme mencionado antes, milhões de pessoas em países subdesenvolvimentos e desenvolvidos apresentam desnutrição por vitamina A, Fe, Zn, I e Se , como consequência de teores insuficientes em produtos agrícolas que são usados diretamente na alimentação. Estes baixos teores são resultado do empobrecimento de nutrientes no solo, de práticas de fertilização inadequadas e do melhoramento vegetal com ênfase para ganho de produção e não na qualidade dos produtos. É neste contexto que o tema biofortificação tem merecido grande destaque no cenário global. Isto ocorreu particularmente após um grupo de oito renomados economistas – incluindo cinco vencedores de Prêmio Nobel – terem se reunido em Copenhague para fixar, em consenso, diversas prioridades dentre uma série de propostas para confrontar dez grandes desafios globais. O encontro foi chamado de Consenso de Copenhague e teve como ponto de partida as metas do milênio da ONU, visando encontrar soluções eficazes e viáveis economicamente para os mais graves problemas mundiais (www.copenhagenconsensus.com). Na reunião de 2008 do Consenso de Copenhague, a biofortificação foi listada como umas das prioridades para combater a desnutrição humana mundial, conforme pode ser visto na tabela abaixo,


Vários países estão começando a utilizar a biofortificação agronômica com selênio em seus sistemas de produção agrícola que lista as dez ações consideradas prioritárias pelo consenso, dentre uma lista de trinta. Um dos passos iniciais dos programas de biofortificação é a identificação de espécies e novas cultivares que apresentam potencial para acumular maior quantidade de nutrientes e vitaminas. Isto é a biofortificação genética. Além disso, é necessário desenvolver práticas de adubação das lavouras que sejam capazes, ao mesmo tempo, de aumentar a produção agrícola e de garantir teores suficientes de nutrientes e vitaminas essenciais nos alimentos produzidos, técnica denominada de biofortificação agronômica. Isso requer a busca de uma nova geração de fertilizantes que sejam capazes de garantir a produção, por exemplo, de grãos em quantidade e com qualidade adequada à dieta humana e animal, bem como de forragens e pastagens com melhor qualidade para a nutrição animal. Concomitantemente, os novos programas de investigação devem focar no desenvolvimento de métodos de aplicação mais eficientes de nutrientes para promover a maximização de absorção e o acúmulo de vitaminas e nutrientes nos alimentos. No mundo, as iniciativas pioneiras envolvendo a biofortificação alimentar foram lançadas pelo HarvestPlus (que conta com o apoio da Fundação Bill e Melinda Gates e Banco Mundial, dentre outros) e pelo AgroSalud (que tem o apoio da Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional), programas estes que focam no melhoramento genético de batata doce, feijão, milheto, mandioca, arroz, milho e trigo, a fim de lançar cultivares agrícolas biofortificadas. Para a África e Sul da Ásia, os projetos do HarvestPlus visam elevar os teores de provitamina A

em mandioca e em milho para 15 mg/kg. Dentre os micronutrientes, objetiva-se aumentar o teor de ferro em feijão de 50 para 94 mg/kg e, em milheto, de 47 para 77 mg/kg. Para o zinco, a meta é aumentar o seu teor no arroz de 16 para 24 mg/ kg e no trigo de 25 para 33 mg/kg. As metas para provitamina A e Fe deverão ser implementadas até o final de 2012, enquanto que para Zn o prazo final é 2013. Projetos pioneiros No Brasil tem-se a Iniciativa Nutriente Zinco (ZNI), que busca abordar as questões críticas correlacionadas à deficiência de zinco nos solos, cultivos e em seres humanos, através de uma solução de longo prazo e sustentável, além da promoção do uso de fertilizantes enriquecidos com zinco para melhorar a produtividade e a qualidade nutricional dos alimentos, garantindo segurança alimentar e saúde humana. Ainda no Brasil, e de maneira pioneira, destaca-se a atuação do programa BioFORT, que é coordenado pela Embrapa e que tem diversas instituições como colaboradoras. Esse programa objetiva diminuir a desnutrição e garantir maior segurança alimentar através do aumento dos teores de

Fe, Zn e vitamina A na dieta da população brasileira, principalmente na mais carente, por meio do cruzamento de plantas da mesma espécie (melhoramento genético convencional), gerando cultivares mais produtivas e nutritivas. Mais recentemente, o programa BioFORT está iniciando estudos para criar critérios para aplicação de nutrientes nas culturas ou práticas de manejo que promovam o aumento dos teores de micronutrientes e, ou, vitaminas na parte comestível dos produtos agrícolas alimentares. Dentro desta filosofia vale destacar também a atuação da Rede de Pesquisa AgroMetais, que trata do assunto “Elementos-Traço e Sustentabilidade Agrícola no Brasil”, a qual é financiada por CNPq e FAPEMIG, e que vem desenvolvendo importantes trabalhos envolvendo a biofortificação de plantas com selênio e zinco, dois elementos reconhecidamente deficientes nos solos nativos do Cerrado brasileiro, com vistas a aumentar o aporte diário destes dois importantes nutrientes na dieta dos brasileiros. Na Europa, dois bons exemplos do uso da biofortificação agronômica são os praticados pela Turquia, com zinco, e pela Fin-

Programas como o HarvestPlus focam no melhoramento de alimentos como a mandioca, cruciais para a humanidade.

dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 45


No Brasil, já se pratica a adição de zinco na lavoura, porém de modo ainda muito tímido e com foco voltado para a nutrição vegetal. lândia, com selênio. No primeiro país, a adição de zinco em fertilizantes do tipo NPK iniciou-se na década de 90, à taxa de 1% (base em peso), sendo o zinco incorporado no processo de granulação do fertilizante. A quantidade total de zinco aplicado nos fertilizantes na Turquia partiu de valores bem próximos de zero, no início dos anos 90 para cerca de 400.000 toneladas por ano, em 2010. Nesse país, o aumento no teor de zinco nos alimentos pela adubação com Zn tem proporcionado inúmeras contribuições para a saúde humana. No Brasil, já se pratica a adição de zinco nos cultivos agrícolas, porém, de modo ainda muito tímido e com foco apenas para a nutrição vegetal. É necessário aperfeiçoarmos esse processo, expandindo-o para além da nutrição das plantas. Outro exemplo bem sucedido da biofortificação agronômica é o praticado pela Finlândia, que iniciou, na década de 80, a inclusão de 16 mg selênio por kg de fertilizante, a fim de elevar o teor desse elemento nos cereais, carnes e leite. Atualmente, a quantidade de selênio sendo incorporada nos fertilizantes na Finlândia situa-se entre 10 e 15 mg kg-1 e, com quase 30 anos de adição de selênio nos fertilizantes, verificou-se que a ingestão dietética por esse elemento triplicou, tendo sido observado decréscimo na taxa de doenças cardio-

vasculares e de certos tipos de câncer na população nesse país. Não é a toa que países como a Inglaterra, China, Canadá, EUA, Nova Zelândia, Austrália e Índia estão em processos para adotar a biofortificação agronômica com selênio em seus respectivos sistemas de produção agrícola. De commodities a specialties A busca da produtividade é importante para satisfazer economicamente os componentes da cadeia produtiva e a demanda por alimentos. No entanto, a exigência do mercado consumidor tem mudado e, cada vez mais, torna-se necessário atender setores globalizados mais exigentes e que almejam mais qualidade. Assim, pensar na biofortificação será imprescindível para garantir não somente a quantidade, mas tam-

Mais informações sobre este assunto podem ser vistas na publicação Fertilizing Crops to Improve Human Health: a Scientific Review, cujos volumes estão disponíveis nos endereços listados a seguir: 1. Volume 1: Food and Nutrition Security (www.fertilizer.org/ifacontent/download/80396/1179080/version/2/file/2012_ ipni_ifa_fchh_vol1.pdf) 2. Volume 2: Functional Foods (www.fertilizer.org/ifacontent/download/83906/1230271/version/2/file/2012_ ipni_ifa_fchh_vol2.pdf) 3. Volume 3: Risk Reduction (www.fertilizer.org/ifacontent/download/85670/1256499/version/1/file/2012_ ipni_ifa_fchh_vol3.pdf)

46 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

bém a qualidade dos alimentos, ou seja, a segurança alimentar a todos. Diante disso, e com foco mais específico na biofortificação agronômica, um novo desafio está se configurando para a indústria de fertilizantes, qual seja, um maior investimento em pesquisa básica, tecnologia e inovação, visando a melhoria nos processos de produção, granulação, revestimentos e nucleação, para que os produtores tenham produtos de melhor qualidade, maior eficiência agronômica e econômica e maior segurança à saúde e ao meio ambiente. Neste contexto, o desenvolvimento de novos fertilizantes com a inclusão de selênio, zinco e outros micronutrientes, como já é explorado por algumas empresas no mundo, pode ser uma oportunidade para elevar a produção agrícola nacional e melhorar nutricionalmente os produtos destinados ao consumo humano e animal. Assim, deixaremos de exportar commodities e passaremos a exportar specialties. Esta agregação de valor certamente representa um diferencial na busca de um maior retorno econômico ao país. *Os autores são: 1Professor associado da UFLA, pesquisador bolsista do CNPQ e coordenador da Rede de Pesquisa AgroMetais. 2Pesquisador assistente do Instituto Tecnológico Vale (ITV-Mi). 3Professor emérito da UFLA e pes­ qui­sador emérito do CNPq.

Ainda incipiente, a aplicação de fertilizantes com selênio, zinco e outros micronutrientes vem crescendo em vários países.



Entrevista

Vai faltar terra em cinco anos Alysson Paolinelli defende estudos profundos no Pantanal, na Caatinga e na Amazônia para não travar a expansão da agricultura brasileira.

M

inistro da Agricultura no governo do general Ernesto Geisel (de 1974 a 79), deputado federal constituinte (de 1986 a 90), professor da Universidade Federal de Lavras (MG), ex-presidente da CNA e atual presidente executivo da Abramilho, o engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, mineiro de 75 anos, 5 filhos e 14 netos, concedeu entrevista à Agro DBO, conduzida pelo nosso editor executivo, Richard Jakubaszko. Paolinelli acredita, como produtor rural, que o Brasil tem de tomar juízo e conhecer melhor nossos biomas, e faz diversas sugestões e críticas ao governo federal, aos produtores e pesquisadores, com a mística de ter sido um dos melhores ministros da agricultura de nossa história recente. Agro DBO – O Brasil do agro já chegou ao futuro? Já somos o país do futuro? O celeiro do mundo? Paolinelli – Sob o aspecto de produção eu diria que sim, mas pra chegar lá nós temos muito que caminhar. Acho que nós já fizemos o principal, pois desenvolvemos uma tecnologia que é a primeira do mundo para a região tropical do planeta. Por sorte nossa, essa tecnologia é muito mais avançada do que a desenvolvida na quadrimilenar agricultura temperada. A agricultura temperada tem problemas seríssimos com relação à sustentabilidade, sistema produtivo, degradação, recomposição da fertilidade, e nós estamos fazendo tudo isso quase que sozinhos, e vamos avançar muito nessas áreas. Agro DBO – E como nos manteremos nesse patamar? Paolinelli – O primeiro ponto é que nós não conhecemos os nossos biomas. Nós sabemos sobre o Cerrado, a Mata Atlântica, e sobre o Pampa, mas nada sabemos sobre Amazônia, o Pantanal e a Caatinga, estranhamente, e que têm sido relegados. Então, eu acho que temos ainda muita coisa pra fazer, temos muito que caminhar.

48 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

Agro DBO – Na Amazônia vai ser difícil trabalhar com o novo Código Florestal, pelo menos em termos de agricultura de escala... Paolinelli – Não sei, eu também tinha essa dúvida... Veja, quando o Geisel me chamou para ser ministro da Agricultura, eu comecei a ler os documentos e trabalhos, e fiquei apavorado, só se falava em Transamazônica, Perimetral Norte, etc. Eu fui a ele, com muita franqueza e disse: olha, eu não sei se vou ser um bom ministro, eu não conheço nada de Amazônia, já fui lá várias vezes, mas não conheço aquilo em profundidade. Ele me disse, naquele jeito explosivo dele, até que enfim alguém aqui diz alguma coisa lógica. Pediu-me pra procurar quem entendia e disse “aí veremos como é que nós vamos resolver isso”. Eu tinha um amigo, Paulo de Tarso Alvim lá no sul da Bahia. Ele era um dos homens de maior clarividência do Brasil, um cientista com cursos de pós-graduação nos EUA e Inglaterra. Procurei o Paulo e disse pra ele dos problemas do governo, da Transamazônica, tinha aquela história do Médici de “integrar a Amazônia pra não entregar”, e con-

tei pra ele que estava preocupado, e que achava perigoso, por não saber mexer naquele gigante que é a Amazônia. Paulo me disse que achava que eu era um sujeito sincero, mas não tanto. E me disse ainda que ele também não conhecia, apesar de estar por lá há 21 anos. E emendou ainda que ninguém conhece aquilo lá. Também me disse que a única coisa que conhecia era uma tese sobre energia, de 1974, por causa do choque do petróleo. A Amazônia produz das 6 da manhã até às 6 da tarde toda a energia que o mundo precisa. E nós não sabemos tirar um quilowatt de lá. Fiquei espantado, perguntei se ele falava isso ao presidente, ele confirmou, e eu o levei lá. O presidente Geisel entendeu tudo. Aí nós criamos 6 centros de pesquisa da Embrapa por lá. Depois que saímos do governo deu tudo pra trás. Por quê? É que não havia prioridade. Dos que eu levei pra lá, a maioria saiu também, foram para empresas privadas. E até hoje nós não botamos um sistema para pesquisar aquilo lá, não sabemos como buscar o conhecimento sobre a região e nem de fazer o manejo dos recursos naturais. E o que é isso? É o conhecimento do solo, da água, das plantas e dos animais. A gente tem que aprender a manejar isso. Agro DBO – E o Código Florestal? Vai limitar isso no futuro? Paolinelli – Acho esse código uma insanidade, isso aí é um absurdo! É um negócio de malucos! Agora, para nos mantermos no patamar de celeiro do mundo, vamos ter de trabalhar muito, muito mesmo, vamos precisar de todas as regiões, do Nordeste, do Pantanal e da Amazônia. E temos


de buscar soluções e conhecimentos, e de todas as tecnologias possíveis. Sinto isso no Cerrado, o Cerrado eu classifico como uma caixa de segredos. Você abre a primeira e tem uma porção de presentes, mas tem uma segunda caixa fechada. Você abre a segunda e tem novos presentes, mas tem uma terceira caixa fechada, e assim vai... Nós abrimos só a primeira caixa, até agora. O Cerrado, agora é que está sendo explorado no segundo estágio. Nós precisamos estudar muito isso tudo. Se alguém quiser ver os caminhos possíveis tem de ir ao Padap - Programa de Assentamento do Alto Paranaíba (MG), implantado pela antiga Cooperativa de Cotia. Era um programa para plantar soja, milho, um pouco de frutas. Hoje no Padap se produz tudo isso e ainda hortaliças e frutas, e até café, batata, cenoura, alho. Tá entrando trigo e outras coisas mais. É aí que nós vamos ganhar a batalha. Precisamos ter o conhecimento sobre os nossos biomas, e isso é infindável. Por exemplo, por que nós não produzi-

mos algumas sementes aqui no Brasil? É porque não temos a vernalização. É aquele efeito do frio, que faz a semente entrar em dormência e desenvolver alguns aminoácidos, e depois esses aminoácidos, no momento oportuno, circulam pela planta. Isso faz a planta florescer com maior vigor. Pois nós estamos fazendo isso não pelo frio, mas pela secura, pela falta de umidade do ar. Quer dizer, são inovações, são tecnologias que a gente vai desenvolvendo. Nós ainda não criamos plantas adequadas para muitas das nossas regiões, adaptadas para cada bioma. Isso é ciência, que não podemos deixar em segundo plano. Agora, falta estrutura, especialmente na área de logística e de organização rural, nisso estamos fracos. E o Código Florestal trouxe novos limites. Agro DBO – Com o confisco de 20% de terras para reserva legal (estatuto legal inexistente em outros países), é viável, em termos práticos, cumprir as exigências da lei? Ou será mais uma lei que não vai

“pegar”, como foi o próprio código anterior, desde 1965? Paolinelli – É uma lei feita na base de “achismos”. Ela não prospera. Por quê? Porque ela cria ficções e quer transformar essas ficções em ação fiscalista. Fazer uma ação fiscalista em cima de uma verdade é difícil, mas em cima de uma ficção é impossível. Tenho uma figura de linguagem que expressa bem isso, quando se coloca um fiscal, ou soldado, debaixo de cada árvore pra fiscalizar. Mas vai chegar um momento em que esse fiscal vai ter de fazer suas necessidades fisiológicas, e se ele sair vão lá e cortam a árvore. Quer dizer, precisamos demonstrar que a árvore vale mais em pé do que abatida. Ou seja, a gente precisa achar a economicidade disso. Agro DBO – Foi justo esse confisco da Reserva Legal? Paolinelli – Aí eu vou chegar à conclusão de que poderia ser até mais. Eu brigava muito, quando ministro, porque na Amazônia era de 50% naquela época. Por que 50%? A gente podia errar, e autorizar a desmatar em 50% dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 49


Entrevista “Nós desenvolvemos tecnologia agrícola para os trópicos, muito mais avançada do que a quadrimilenar agricultura temperada”.

uma área que nunca deveria ser mexida, ao mesmo tempo em que poderia proibir uma área que podia e precisava ser integralmente manejada, porque tem um zoneamento, tem um estudo que recomenda isso. Agro DBO – Essas ilhas de reserva legal, elas resolvem o problema da manutenção da biodiversidade? Paolinelli – Não, não resolvem. Aí é que está o erro. Porque o governo está transferindo a terceiros essa responsabilidade de tomar conta. O governo, com o poder de polícia que tem, com o poder econômico que dispõe, não dá conta, e está transferindo a outros essa responsabilidade, e em muitos casos a quem não é capaz. Também sou um produtor rural, produzo água, e em mais de 20% da minha propriedade (de 1.236 50 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

hectares) tem reservas naturais preservadas, mas só mantenho aquilo porque eu tenho uma segunda gaveta (outras fontes de recursos) de onde eu tiro dinheiro pra manter aquilo, mas o meu vizinho não tem isso, e a maioria dos produtores não tem essa possibilidade. Agro DBO – Conforme estudo revelado pela Abramilho, não restam mais do que 7 a 8 milhões de hectares de Cerrado num total de 192 milhões, dos quais 88 milhões estão ocupados por pastagens e lavouras e mais de 100 milhões de hectares com reservas florestais, indígenas e áreas urbanas. Qual é o caminho para se produzir mais alimentos? Só nos resta fé nas tecnologias? Paolinelli – Eu acho fundamental a tecnologia pra gente manter essas

áreas produtivas, sem criar nenhuma briga com os ambientalistas. Fizemos esse estudo, abaixo do Paralelo 12, não mexemos acima disso. Trabalhamos em 450 dos 562 núcleos existentes, não são municípios. Nós estudamos essas regiões e vimos que não há muita área pra expandir. Então, a gente tem a seguinte solução: se expandir, nós temos só 5 anos pra trabalhar, se considerarmos a média de expansão em 1,5 milhão de hectares ao ano. Não dá mais, chega-se nos 7,5 milhões de hectares que nós achamos na Abramilho. Nós vamos ter que investir muito em tecnologias pra não perder a chance em pecuária de corte, em cultivos diferenciados, pra se obter num espaço menor uma renda maior. É o que estamos tentando fazer com a ILPf, com o programa ABC, se não fizermos isso nós não temos saída, vamos ficar limitados, ou então vai começar a briga antes da hora, dentro de 5 anos, que é a minha previsão. Agro DBO – E aí teríamos que atualizar a legislação do código florestal? Paolinelli – É claro! E até alerto pra mais: ou o Brasil toma juízo, e investe com a Embrapa, com as universidades, com as instituições de pesquisa estaduais e privadas, maciçamente, na busca do conhecimento sobre o manejo dos nossos biomas, ou vai ser terrível. A intocabilidade é um negócio perigosíssimo quando o mundo está começando a sentir a falta de recursos naturais. Intocabilidade é sinal de incompetência. Se você não toca, não conhece. Se você conhece, você pode tocar, porque você não vai degradar. Veja, o mundo que está crescendo, os especialistas falam que teremos 9 bilhões de pessoas em 2050, ou antes disso, o mundo não vai começar a gritar “ei, vocês aí, vocês têm reservas naturais, e não sabem mexer? Nós vamos precisar


delas, e então nós vamos usar”. É esse o risco que nós corremos. Agora, corremos porque não tomamos a decisão política. O Brasil, hoje, tem condições pra isso. Quando nós fizemos a Embrapa, tivemos dificuldades, não havia profissionais. Quando eu abri o primeiro concurso da Embrapa, foi para 1.000 profissionais, e só apareceram 52 profissionais pós graduados, e 3 eram estrangeiros e 1 naturalizado. Hoje, você abre concurso para uma vaga na Embrapa, para 1 profissional qualificado, e aparecem 150 doutores. E só se passaram 40 anos. É outro país. Agora, esses doutores, de vez quando eu encontro por aí, um é motorista, outro é vendedor. Tá errado! Então, eu insisto, precisamos investir, em primeiro lugar, para conhecer os nossos biomas. Agro DBO – O que o Governo Federal pode fazer para estimular o crescimento da produção de alimentos? Pesquisa? Seguro agrícola? Políticas agrícolas? Subsídios? Paolinelli – Tudo isso, essa é uma fórmula que não foge à regra em nenhum lugar do mundo. Já chamei a atenção disso em outras oportunidades. No mundo inteiro só se produz milho em grande quantidade onde o governo assumiu a posição dele. Qual é essa posição? Sustentar a safra. Com crédito, seguro, comercialização e infraestrutura. Os EUA chegam a carregar até 4 anos uma safra, e ainda subsidiam. Então, o Brasil precisa fazer algo. E nós já estamos trabalhando, porque aqui vai ser diferente, a iniciativa privada está vendo o que pode fazer, vai levar isso ao governo, vamos somar o trabalho, será mais racional do que aquilo que se fez na Europa, na China ou nos EUA. Agro DBO – Quais tecnologias devem ser adotadas para que se melhorem as médias de produtividade da agricultura brasileira? Sementes? Fertilização dos solos? ILPF? Máquinas? Manejo? Paolinelli – Todas elas, mas para aumento de imediato chama-se as-

sistência técnica e crédito. Acabaram com o nosso sistema de transferência de conhecimento. Eu soube que a nossa presidente está querendo voltar a implantar a assistência técnica, parabéns pra ela, porque isso é fundamental. Se a gente pegar o nível de tecnologia que nós já temos, e transferir, digamos pra 900 mil produtores pequenos, mesmo que se transfira a metade do conhecimento, a gente já duplica essa média de produtividade. Agro DBO – O que é que tem de melhorar no seguro rural para a agricultura? O governo não deveria também subsidiar o “seguro de renda” dos produtores? Paolinelli – Temos que fazer o seguro rural, nós ainda não temos o seguro rural. Tem um Proagro, que nem é seguro de crédito mais, e que fui eu que implantei em 1974. Nós temos que fazer o seguro, o de custeio e o de renda, e temos de fazer os dois. No seguro de renda nós podemos incorporar o de custeio, mesmo que pagando um pouco mais, pra ter segurança. Agro DBO – O que o agro tem de fazer para influenciar os sucessivos governos federais a nomearem ministros da Agricultura do ramo, e não gente de fora, oriunda da área política? Paolinelli – Isso é difícil, infelizmente. Nós estamos numa fase muito complicada, a política deteriorou, a gente sabe disso. Há enorme insatisfação com os políticos e os partidos, isso atrapalha muito. Hoje temos uma proliferação de partidos, são mais de 30 partidos, e onde se faz um condomínio da base do governo, tem direito a participar do governo. Por isso, a maioria dos ministérios virou moeda de troca. O ministério da Agricultura que eu administrei foi dividido em quatro. Infelizmente, dos quatro ele é o mais fraco hoje. Veja que no ministério do Meio Ambiente, os presidentes procuram um ministro fora dos partidos, o da Pesca e o do Desenvolvimento Agrário

também, mas o Mapa é do PMDB, e o partido dispõe do ministério da Agricultura. Ah!, mas o ministro é fraco! É a melhor pessoa que eu já vi, mas não é do ramo. Imagino que ele esteja constrangido, mas ele representa o PMDB, e ele tem que cumprir o seu papel. Precisamos de alguém que recoloque isso em base mais racional. O que eu acho um absurdo é um país agrícola como o Brasil ter um ministério da Agricultura à deriva. Agro DBO – Sem um associativismo forte não há poder político: assim, como se pode convencer o produtor a ter mentalidade associativa, e não apenas cooperativista? Paolinelli – Eu digo até mais, falta mentalidade participativa. O agricultor brasileiro está muito tranquilo, porque ele vence a batalha dentro da porteira. Isso é horrível pra nós. Ele acha que está resolvendo os problemas dentro da fazenda e de que isso tudo está bem, mas fora da fazenda ele é um fracasso, ele não se organiza. Aí começam os nossos grandes erros. O agricultor não se organiza, e a nossa atividade já é dispersa por natureza, as nossas instituições são prolíficas, nós temos mais de 90 instituições representativas, e nenhuma funciona ou tem representatividade. Tenho grande respeito pela CNA, pelas rurais, pelas cooperativas, no Paraná e no Sul do país o cooperativismo funciona, mas o agricultor acha que o associativismo não funciona, que ele tá fazendo papel de palhaço, que o governo tá embrulhando. Não é assim, o produtor tem que valorizar o associativismo, a cooperativa e o sindicato, mas sinto ainda que nós não temos uma capacidade de representação política como deveríamos ter. Nós, como agricultores, temos que tomar posição política, sem isso a gente perde todas as votações no Congresso, como perdemos na votação do Código Florestal, por exemplo. dez/2012-jan/2013 – Agro DBO | 51


Café

Cem anos de história Festas, eventos, homenagens, o Espírito Santo encerra 2012 comemorando o centenário de introdução do conilon no estado.

Arquivo Cooabriel

Romário Gava Ferrão *

A

espécie Coffea canephora, conhecida genericamente no mercado internacional como café robusta, é designada no Brasil, notadamente no estado do Espírito Santo, como café conilon. Essa espécie representa 38% do café robusta mundial, o que equivale à produção de cerca de 50 milhões de sacas por ano. É especialmente utilizada nas misturas (blends) com arábica e na fabricação de café solúvel e espressos. O conilon é diferente do arábica (Coffea arábica) em vários aspectos: floração, reprodução e propagação, número de cromossomos, base genética, origem, época de maturação dos frutos, arquitetura e porte da planta, tamanho e coloração das folhas, tipo e tamanho das cerejas e dos grãos, exigência nutricional, tolerância à seca, resistências as pragas, doen52 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

ças e nematóides, constituição bioquímica e sensoriais dos grãos, condições climáticas para o plantios e potencial de produção. O cultivo do arábica é recomendadoo para regiões de altitudes superiores a 500 metros e clima mais frio. Ele representa em torno de 62% do café produzido no mundo, origina cafés mais apreciados para o consumo nas formas tradicionais de preparo, porém apresenta elevada suscetibilidade à pragas, doenças e nematóides. O conilon/robusta é recomendado para cultivo em regiões de altitudes inferiores a 500 metros, em locais de temperatura mais elevada. Ele tem sido especialmente utilizado na produção de cafés solúveis, em misturas para espressos e participação (40%) nos blends com arábica Praticamente todo o café consumido no mundo (em torno de 134 milhões de sacas/ano) é arábica

e/ou conilon. As demais espécies são usadas, sobretudo, em programas de melhoramento genético. O conilon foi introduzido no Espírito Santo em 1912 (no município de Cachoeiro de Itapemirim), pelo governador Jerônimo Monteiro. Seu cultivo foi iniciado como alternativa para a renovação de lavouras no norte do estado, promovida pelo governo brasileiro em 1969, após o incentivo à erradicação do café no país. O Espírito Santo responde por 78 % de todo o conilon que se produz no Brasil. Uma liderança inquestionável, tanto em volume como no domínio tecnológico, fatores importantíssimos para a inovação e renovação do parque cafeeiro nacional. Só para se ter uma dimensão da importância dessa participação no cenário brasileiro e mundial, se o Espírito Santo fosse um país, seria o segundo maior produtor mun-


Fotos: Arquivo Cooabriel

dial, superado apenas pelo Vietnã. A espécie é plantada em 64 dos 78 municípios capixabas. Os maiores produtores, com colheita anual de 300 a 800 mil sacas/ano, são Vila Valério, Jaguaré, Nova Venécia, Sooretama, Linhares, Rio Bananal, São Mateus, Colatina, Pinheiros, São Gabriel da Palha e Marilândia. O parque cafeeiro de conilon possui atualmente 655 milhões de covas distribuídas em 280 mil/ha de lavouras, conduzidas por 78 mil famílias em 40 mil propriedades agrícolas, gerando cerca de 250 mil empregos. A produção estimada para 2012, de 9,7 milhões de sacas beneficiadas, proporcionará receita na ordem de 2,6 bilhões de reais por ano, levando em consideração os preços atuais. Essa produção representa cerca 20% do café robusta do mundo, performance que pode ser explicada por pelo menos cinco fatores. O primeiro se refere ao talento, a vocação e o perfil empreendedor dos cafeicultores capixabas. O segundo fator explicativo diz respeito à base tecnológica construída no estado, especialmente pelo Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural. O terceiro trata-se do esforço de transferência de conhecimentos via capacitação, pelo conjunto de instituições parceiras que compõem a cadeia produtiva do conilon. O quarto diz respeito ao arranjo institucional articulado e atuante que formou uma grande rede de orientação para o conhecimento e para a inovação tecnológica. . O último, mas não menos importante, está relacionados às ações de planejamento implementado a partir de Incaper/Divulgação

2003 e revisado em 2007, sob a coordenação da Seag – Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca.. Toda essa rede institucional tem como sustentáculo o Programa de Pesquisas e Transferência de Tecnologias para o Café Conilon, coordenado e executado pelo Incaper. Iniciado em 1985 e já com resultados concretos em 1993, têm sido a referência mais importante de geração de aporte tecnológico aos cafeicultores capixabas. Socialização da informação A base tecnológica acumulada ao longo desses anos, o acesso facilitado a essa fonte de conhecimento e a presença marcante das empresas do setor, resultaram num ambiente institucional de socialização de informações que explica a rápida evolução dos índices de produtividade da cafeicultura de conilon. Estima-se que cerca de 50% das lavouras (150 mil hectares) foram renovados sobre novas bases tecnológicas. Só para balizar a dimensão e a importância desse programa, nos últimos 19 anos, a área colhida cresceu apenas 7,50 %, enquanto a produção cresceu 305 %, passando de 2,40 milhões de sacas para 9,71 milhões de sacas no período. A produtividade média de conilon, que era de 9,20 sacas beneficiadas por hectare, atualmente encontra-se em 34,68, apresentando um incremento de 277%. Uma verdadeira revolução tecnológica sem precedentes na cafeicultura mundial. Com tudo isso, outros desafios precisam ser enfrentados, tais como: a melho-

ria da qualidade para alcançar mercados especializados, a colheita mecânica para equacionar problemas de mão de obra, o desenvolvimento de novas variedades ajustadas às demandas da indústria e do consumidor. Não menos importantes são os estudos relativos ao manejo da irrigação visando o uso mais eficiente da água, tendo em vista que metade da área de café conilon no estado já é irrigada, bem como aqueles envolvendo a associação de café com árvores buscando conferir maior sustentabilidade à atividade. No ano em que completa 100 anos em terras capixabas, o café conilon dá os primeiros passos na direção de um novo momento, após uma fase fantástica de ampliação da produção e da produtividade. A etapa que estamos priorizando é a da qualidade, que remunera melhor os cafeicultores e garante novos mercados e usos para o produto. A capacidade empreendedora dos produtores e o uso de tecnologias oriundas de um programa de pesquisa coordenado e executado pelo Incaper proporcionaram à grande evolução com a cultura em produtividade e qualidade. Os conhecimentos e as tecnologias desenvolvidas pelo citado Instituto e parceiros coloca o estado na vanguarda tecnológica do conilon nos âmbitos nacional e internacional. * O autor é doutor em genética e melhoramento de plantas, pesquisador do Incaper e coordenador do Programa Estadual Cafeicultura do Estado do Espírito Santo

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Deu na imprensa

Campo preserva mais que a cidade

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uem está mais próximo das fontes de água preserva mais esse recurso do que quem está longe das nascentes. A avaliação é da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que participou de um seminário sobre a água em São Paulo dia 7 de novembro último. ‘É por isso que o campo preserva mais do que a cidade’, disse ela. Embora a água cubra dois terços da superfície do planeta, apenas 0,007%

do total é ‘suprimento sustentável disponível’ para uso, segundo o vice-presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). O aumento da população, da renda e da poluição são desafios na gestão da água, segundo ele, sobretudo nos países em desenvolvimento. Por isso, Izabella fez questão de frisar o papel dos produtores rurais brasileiros na

preservação da água. ‘O Brasil é o único país com obrigação de manter áreas de preservação permanente (APPs) para preservar a água’, disse, em referência às exigências do Código Florestal. Em seguida, a ministra completou que ‘os produtores estão recuperando as fontes de água, independentemente do Código Florestal’. O próximo passo, defendeu a ministra, é que os agricultores brasileiros sejam reconhecidos por esse diferencial em relação a seus concorrentes internacionais. ‘Qual é o fator de competitividade que o produtor brasileiro vai ganhar nos próximos 20 anos? A ‘adicionalidade positiva’ do produtor brasileiro precisará ser reconhecida’, avalia. Mas mesmo dentro da sociedade brasileira, essa externalidade positiva da agropecuária não é reconhecida, segundo a chefe da pasta do Meio Ambiente deu a entender. ‘A água não vem do duto da Sabesp ou da Cedae [concessionárias do serviço em São Paulo e Rio de Janeiro], assim como a galinha não é um frango congelado no supermercado, o que surpreende muitas crianças hoje’, afirmou. Fonte: Sou Agro (www.souagro.com.br)

Preços de terras na África e na América Latina atraem investidores

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compra de terras em países em desenvolvimento na África e na América Latina tem como principal razão a tentativa de grandes mercados consumidores garantirem matéria-prima agrícola para o seu consumo 54 | Agro DBO – dez/2012-jan/2013

doméstico. Mas os preços de terras nesses continentes é o que possibilita as grandes aquisições. Nos Estados Unidos, onde não há restrições para aquisições de estrangeiros, os preços por hectare arável oscilam entre US$ 10 mil e US$ 20

mil, dependendo da região agrícola. O mesmo acontece na Europa. A esse patamar de preços, os retornos do investimento em terras para agricultura diminuem muito, levando o foco dos investidores inevitavelmente para países


mais baratos, explicou Jonathan Lassers, presidente do Ariel Investment Management, do Uruguai, em um recente seminário sobre o assunto realizado em Cingapura. De acordo com Lassers, o arrendamento de terras de qualidade na Ucrânia, por exemplo, chega a sair

por US$ 100 por hectare. Na Polônia e na Romênia, US$ 200. No Brasil, existem restrições à compra de terras por estrangeiros - a Advocacia Geral da União determina que eles devem ter participação inferior a 50% em propriedades rurais. O limite tira liquidez

do mercado, mas os preços estão em alta. Segundo José Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics FNP, o hectare chega a R$ 16,3 mil em Santa Catarina, R$ 3 mil na Bahia e R$ 4 mil em Mato Grosso. Fonte: Valor Econômico - 20/11/2012

Proteção à indústria não pode prejudicar o agronegócio Cláudia Trevisan *

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presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Kátia Abreu, atacou em Pequim o suposto protecionismo a setores da indústria nacional e afirmou que o agronegócio não pode ser prejudicado pelo temor do segmento em relação à concorrência internacional, especialmente a chinesa. “Nós não podemos mais ficar cerceados no acesso a mercados para proteger parte da indústria brasileira que não tem competitividade, que não investe em inovação”, afirmou a senadora do Tocantins em Pequim, durante inauguração, em novembro, do escritório de representação da CNA. Segundo ela, o agronegócio é muitas vezes prejudicado em negociações comerciais internacionais pela resistência de setores da indústria em reduzir barreiras às importações em troca da abertura de mercados a exportações brasileiras do setor. A China é um dos principais alvos das medidas protecionistas, mas o país investiu em inovação e tecnologia e deixou de ser um fabricante de produtos de baixa qualidade e preço, disse. “Como é que o governo brasileiro vai proteger a indústria disso? A única forma é também investir em inovação.” Na opinião dela, não se justifica o protecionis-

mo a certas indústrias, entre as quais mencionou fabricantes de máquinas e equipamentos, autopeças e têxteis. “No Brasil nós moramos no mesmo território, o agronegócio e as outras indústrias, sob o mesmo juro, com as mesmas estradas, com os mesmos impostos”, observou. A senadora disse que a CNA pressiona o governo para rever a interpretação legislativa que restringiu a compra de terras no Brasil por estrangeiros. “Já estamos perdendo investimentos importantes de vários países por conta da nova interpretação.” A posição restritiva foi adotada em 2010, depois que estatais chinesas manifestaram a intenção de comprar grandes extensões de terra no Brasil para a produção de soja. O objetivo da CNA com o escritório em Pequim é ampliar e diversificar as exportações de produtos agropecuários à China, com ênfase em carnes, suco de laranja, café e produtos florestais, como celulose. Atualmente, as vendas são extremamente concentradas em soja - que respondeu por US$ 12 bilhões dos US$ 16 bilhões de exportações do agronegócio para a China no ano passado. Segunda maior economia do mundo, o país vive um processo de elevação da renda de sua população de 1,3 bilhão de pessoas, que

deve se traduzir no aumento do consumo de alimentos nas próximas décadas. Além de pretender conquistar parte desse mercado, a CNA também quer atrair investidores chineses para obras de infraestrutura no Brasil que possam ajudar a resolver os problemas logísticos de escoamento da produção do setor. Cláudia Trevisan é correspondente em Pequim (China) do jornal O Estado de S.Paulo. Veja a íntegra em www.estadao.com.br/ noticias/impresso,protecao-a-industria-nao-pode-prejudicar-o-agronegocio-diz-cna-,962018,0.htm

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Artigo

A Lei Áurea da batata

As novas normas de sementes trazem inovações importantes, como a certificação de material propagativo através de brotos. Marcelo Balerini *

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esde a instrução da Lei de Sementes e Mudas (Lei 10.711/03) – baixada pelo Mapa – tínhamos um vazio normativo na produção de batatas sementes no Brasil, e a falta de implementação da norma desnorteou todo o segmento. O processo de certificação, que antes era feito pelas secretarias de agricultura dos estados produtores, deixou de existir e criou-se um vazio que em muito prejudicou a bataticultura nacional. A falta de controle no processo produtivo nos levou ao maior índice de informalidade no trânsito, produção e comercialização de “sementes” que já ocorrera em nosso país, fruto disto foi a disseminação de doenças e a quase aniquilação do setor sementeiro brasileiro. A ABBA – Associação Brasileira de Batata, junto as câmaras setoriais estaduais, associações regionais, secretarias de agricultura dos estados envolvidos e o Ministério da Agri-

da no Diário Oficial da União dia 1º/12/2012) que desta feita atenderá os anseios de todos e temos convicção que este marco na bataticultura nacional deve-se muito à postura do Mapa que, dando um exemplo de maturidade, permitiu que fizéssemos uma perfeita PPP - parceria pú-

A nova Instrução Normativa torna o Brasil pioneiro no uso da técnica de propagação por broto

* O autor é engenheiro agrônomo e presidente da ABBA.

cultura, iniciou há mais de quatro anos um processo de discussão intenso com pesquisadores, produtores, responsáveis técnicos, representantes dos importadores, no intuito de chegarmos em uma norma que atendesse toda a cadeia envolvida, preservando a qualidade, competitividade do setor e, principalmente, nos levando a um patamar de confiança e transparência nos processos. Depois de muito, muito trabalho mesmo, fomos brindados com a publicação da nova Instrução normativa (IN 3221/11 2012, publica-

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blica privada, na constituição desta norma. Não há vencidos nem vencedores, o largo período de estudos e debates permitiu que todos os segmentos envolvidos se pronunciassem, e a aos poucos ajustamos as demandas, sempre prevalecendo o bom senso e o compromisso técnico na defesa do parque produtor nacional. Temas inovadores, como a possibilidade de certificação de material propagativo através de brotos de batatas foram incluídos, com isso a norma torna o Brasil pioneiro na normatização e uso desta técnica

desenvolvida e aprimorada no Brasil, com atribuições claras das responsabilidades de cada um dos atores envolvidos nos processos, incluindo os poderes públicos, como demonstra claramente a dimensão desta norma. Merece destaque especial o engenheiro agrônomo José Alberto Caram de Souza Dias, pesquisador do IAC - Instituto Agronômico de Campinas, da Secretaria da Agricultura de São Paulo, pelo incansável trabalho, diríamos mesmo missionário, além de pioneiro e criativo, no desenvolvimento da tecnologia do broto de semente, que tem patente requerida pelo IAC faz seis anos. Os grandes players mundiais em sementes certamente terão outro olhar sobre o mercado brasileiro uma vez que se sentirão mais seguros quanto às regras de investimento e proteção de seus materiais por aqui, em síntese demos um grande passo em direção ao futuro, passo este que deveria ser seguido por vários segmentos no esforço de criar fortes parcerias entre o setor privado e público.



Análise de mercado

Renda boa em 2013 Se o clima ajudar e não houver quebra de safra por doenças e pragas, os produtores de soja vão esticar as comemorações de Natal até a colheita.

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ovembro começou em refluxo, com queda nas cotações do complexo soja na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT na sigla em inglês). Após fortes desvalorizações nas duas primeiras semanas do mês, o mercado de futuros reagiu, acumulando ganhos de 1,8% no grão, 0,8% no farelo e 3,1% no óleo na semana seguinte. Na opinião do analista Flávio Roberto de França Júnior, da consultoria Safras &Mercado – CMA, o mercado passou boa parte do mês pressionado, repercutindo as estimativas do USDA de aumento da produção norte-americana (em relação às projeções feitas em outubro) e às condições climá-

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ticas no Brasil e na Argentina, favoráveis até então ao bom desenvolvimento das lavouras. Segundo ele, o anúncio de novas vendas de soja para exportação pelos EUA e a cobertura de posições vendidas por parte dos investidores deram suporte para a recuperação parcial das cotações. “Tais fatores ajudaram a impulsionar o mercado, o que mantém a ideia de uma demanda aquecida pela soja norte-americana e escassez de oferta mundial até a entrada da safra sul-americana”, afirma França Jr. Conforme estimativas, os estoques mundiais de soja estão muito abaixo do volume de passagem no ano passado e não deixam quase ne-

nhum amortecedor para possíveis quebras de produção até o começo de 2013, quando as safras sul-americanas começarão a rodar. Neste mês de dezembro (e em janeiro, quando começa a colheita no Brasil), as atenções estarão focadas, segundo o analista, na evolução do clima na América do Sul, no comportamento do mercado financeiro internacional e no andamento da demanda pelo produto norte-americano. A combinação dessas três variáveis deve provocar alguma volatilidade nos preços, mas, no geral, deve prevalecer certa estabilidade, derivada do aquecimento do mercado físico e das exportação dos EUA. “Na verdade, o mercado

MILHO – Os preços seguiram em alta no início de novembro, empurrados pela demanda. O volume exportado em outubro foi recorde, assim como no acumulado do ano. Nem os feriados no Brasil (2 e 15/11) e o de ação de graças nos EUA (20) conseguiram derrubar a tendência altista. De 19 a 26/11, o Indicador Esalq/BM&FBovespa, que representa negócios no segmento de lotes na região de Campinas (SP), subiu 0,94%, fechando a R$ 34,42/saca de 60 kg.

* Em 19/11, o Indicador de preços de milho Esalq/ BM&FBovespa registrou R$ 34,10, à vista, por saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – A redução na área plantada e a queda na qualidade do produto, provocada por problemas climáticos, contribuíram para que a demanda superasse a disponibilidade do grão, mantendo as cotações em patamares firmes. Preocupados com possível alta nos preços, alguns moinhos anteciparam as compras de 2013, ajudando a sustentar os preços. A tendência altista deriva também do aumento da desvalorização do real frente ao dólar e das estimativas de queda na produção mundial.

* Em 19/11, o preço médio do trigo Cepea/Esalq (Paraná) registrou R$ 640,76 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR)

ARROZ – Os negócios com arroz em casca no Rio Grande do Sul refluíram em novembro. Parte das beneficiadoras ofertou preço somente para compra do produto já depositado em seus armazéns. Poucas compraram do estoque dos orizicultores – o chamado “arroz livre”. Do lado externo do balcão, os produtores se retraíram, voltando as atenções para o plantio da safra 2012/13. Só os que precisavam fazer caixa para pagar os compromissos de safra ofertaram o produto.

* Em 19/11, o Indicador Arroz em casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa registrou 38,49 por saca de 50 kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul, à vista.


Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

Análise de mercado busca seu novo ponto de equilíbrio e não deve ficar muito distante das bases atuais”. Tomando como base o quadro geral até o final de novembro, França Jr vê um quadro auspicioso pela frente, apesar das pequenas oscilações nas cotações: “A revisão para a projeção do perfil esperado para a renda dos produtores brasileiros de soja na safra 2012/13 segue indicando ganhos predominantes nesta nova temporada, com chances de até se aproximar (e em alguns casos, superar) do alto padrão que está sendo contabilizado na safra atual. O que temos é a indicação de que a combinação das variáveis que determinam a lucratividade bruta, entendida como a relação entre receita obtida e custo de produção, deve ser novamente positiva para a grande maioria dos produtores. Se isso se confirmar, estaremos falando de sete anos seguidos de avanço da renda dos produtores de soja”, diz ele, considerando como hipóteses para essa projeção de resultado

financeiro o bom nível tecnológico utilizado nas lavouras e o comportamento regular do clima, o que deve se traduzir em ganhos de produtividade. “Além disso, temos a sinalização de preços médios positivos, que embora devam ficar aquém das espetaculares médias de 2012, provavelmente ficarão acima das boas médias de 2011. Como contraponto, limitante para esse cenário positivo, temos as indicações de aumentos não desprezíveis nos custos de produção”, finaliza.

* Em 19/11, o Indicador de preços do algodão Cepea/Esalq registrou R$ 155,05 centavos de real por libra peso.

ALGODÃO – A liquidez no mercado seguiu baixa até o final de novembro. Muitos cotonicultores, capitalizados com as vendas de milho e soja, preferiram segurar a produção até o período de entressafra, na expectativa de melhores preços. Os estoques mundiais da safra 2012/13 devem bater recordes, segundo estimativas do USDA. Com armazéns lotados, a China deve reduzir bastante suas compras externas, desvalorizando o produto em oferta no mercado .

* Em 19/11, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 354,19 por saca de 60 kg do arábica, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, valor descontado o prazo de pagamento pela taxa NPR.

CAFÉ – As exportações do arábica e do conilon continuaram abaixo do registrado no ano passado. Os preços caíam em novembro, na comparação com outubro. Parte dos cafeicultores passou o período negociando o pagamento das parcelas do financiamento dos estoques, que começam e vencer agora. A proposta é pagar apenas quando a saca chegar a 400 reais. Tal condição, se aprovada, ajudaria a diminuir a necessidade de vendas imediatas, favorecendo a sustentação das cotações.

* Em 19/11, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq – São Paulo registrou R$ 50,75 por saca de 50 kg, com impostos, sem frete.

AÇÚCAR – Os preços do açúcar cristal caíram no início de novembro no mercado spot paulista. Na segunda quinzena, a demanda pelo produto manteve-se estável, com compradores adquirindo apenas quantidades necessárias para cumprir compromissos. Na segunda-feira, 26, o Indicador de Açúcar Cristal Cepea/Esalq (mercado paulista), cor (ICUMSA) entre 130 a 180, fechou a R$ 50,36/saca de 50 kg, o que representa queda de 0,8% sobre a segunda-feira anterior.

* Em 19/11, o Indicador Cepea/ Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 75,73 pela saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa NPR.

SOJA – Os preços caíram no início de novembro no mercado brasileiro, confirmando a tendência de baixa constatada no final de outubro. As cotações do grão, no entanto, ainda estão longe dos níveis de junho, quando começou a arrancada em direção aos recordes registrados nos meses seguintes. A pressão para baixo em novembro foi provocada pelas estimativas do USDA de aumento da produção norte-americana, em relação às projeções de outubro, e pelas condições climáticas no Brasil, favoráveis ao bom desenvolvimento das lavouras. No entanto, os preços reagiram no final do mês. Se não houver problemas na lavoura, a tendência é de preços compensadores na colheita.

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Novidades no campo Foto: José Francisco Pereira

Salada de frutas

O XXII Congresso Brasileiro de Fruticultura, realizado em Bento Gonçalves (RS), foi pródigo em lançamentos da Embrapa: a unidade de Pelotas (Embrapa Clima Temperado) apresentou, entre outras novidades, o pêssego BRS Regalo, cultivar de polpa firme, doce, de pouca acidez, formato redondo cônico, diâmetro de 5 a 7 cm e peso médio de 90 a 130 g. A película é branco creme, podendo ter algum esverdeado na cor de fundo e mais de 80% da cobertura em vermelho. Com rendimento médio de 40 kg por planta, a BRS Regalo floresce no final de julho e meados de agosto. A colheita é feita no começo de dezembro. Conforme a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, a produtividade é constante ao longo dos anos, tornando-a uma alternativa interessante para o agricultor. Segundo ela, a fruta adapta-se melhor às áreas com acúmulo de frio em torno de 300 horas. Em regiões com menos de 300 horas/frio, foi necessário quebrar a dormência com produtos químicos.

Foto: Edson Perito Amorim

Lançamentos simultâneos

A Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) lançou uma variedade de bananeira – a BRS Platina (ao lado, na foto) – e quatro de laranjeiras (leia nota abaixo à direita). Do tipo Prata, a BRS Platina apresenta bom perfilhamento, porte médio e características, tanto de desenvolvimento quanto de rendimento, idênticas às da ‘prata-anã’. Os frutos também parecem com os dessa cultivar em forma, tamanho e sabor, porém devem ser consumidos com a casca ainda verde, à semelhança das variedades do subgrupo cavendish, alerta o pesquisador Edson Amorim. A BRS Platina foi desenvolvida em parceria com a Unidade Regional Norte de Minas (Nova Porteirinha, MG), da Epamig, e com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, sediado em Guanambi (BA).

Maracujazeiro resistente

Foto: Viviane Zanella

A Embrapa Cerrados, sediada em Planaltina (DF), lançou um híbrido de maracujazeiro – o BRS Rubi do Cerrado -, de polpa amarelo forte (o que representa maior quantidade de vitamina C), maior tempo de prateleira, bom rendimento e resistência às principais doenças da planta (virose, bacteriose, antracnose e verrugose). “O diferencial do BRS Rubi do Cerrado é ter níveis de resistência às doenças superiores às atuais cultivares disponíveis no mercado”, diz o pesquisador Fábio Faleiro. Segundo ele, a produtividade chega a 50 toneladas/ha, dependendo das condições de manejo. O plantio, se irrigado, pode ocorrer em qualquer época do ano em diferentes tipos de solo. A BRS Rubi não se adapta, porém, à regiões sujeitas a geadas e solos encharcados. A comercialização das sementes será feita pela Embrapa Produtos e Mercado, escritório de Campinas (SP). Os produtores e viveiristas interessados podem fazer contato por telefone (19-3749-8888), fax (193749-8890), email (sac@campinas.spm.embrapa. br) ou site (www.campinas.spm.embrapa.br).

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Laranjais 2013

Apresentadas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura no XXII Congresso Brasileiro de Fruticultura, as cultivares BRS Precoz (foto abaixo), Majorca, Kawatta e Olivelands serão lançadas em 2013. As três primeiras têm em comum a maturação precoce (são colhidas entre maio e julho) e a produtividade similar à da hamlin, referência no mercado. “O diferencial está na cor e no sabor, melhores que o da hamlin, e na qualidade superior, tanto para produção de suco pasteurizado quanto de suco concentrado congelado”, afirma o pesquisador Eduardo Sanches Stuchi, responsável pela geração e avaliação das variedades. Segundo ele, a BRS Precoz também tem aptidão para o mercado de fruta fresca. No caso da ‘Olivelands’, o que a diferencia das demais cultivares é a alta produtividade. Foto: Eduardo Sanches Stuchi


Novidades no campo Foto: Rrasmo Reis

Soja para alimentação humana

Quem provou, gostou: a Seapa – Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais promoveu degustação de pratos à base de novas variedades de soja, resultantes de pesquisas de melhoramento genético voltadas para a alimentação humana. Registradas com o selo “Soja de Minas”, as cultivares BRSMG 790A (Fit soy) e BRSMG 800A (Nutri Soy) foram desenvolvidas por pesquisadores da Epamig e Embrapa, em parceria com a Fundação Triângulo. Na degustação, serviram salada e tropeiro preparados com o grão; soja cozida com feijão carioquinha, além do extrato de soja (suco) com maracujá. Segundo a pesquisadora da Epamig, Ana Cristina Juhász, as cultivares não são transgênicas, têm sabor suave e agradável.

Embalagens novas Aplicativos de identificação

▶ ▶

A Isla decidiu inovar. Desta vez, não no produto em si, mas na apresentação do adubo líquido FertiGarden. A nova embalagem traz mais informações para o cultivo de diferentes tipos de plantas. Os novos produtos disponíveis são específicos para determinado conjunto de plantas: flores; horta e pomar; gramados e folhagens; e orquídeas. Conforme a empresa, “FertiGarden é um alimento completo e equilibrado, com base orgânica para todos os tipos de plantas em suas diversas fases de desenvolvimento. É rapidamente absorvido por folhas e raízes, regula o metabolismo vegetal, protege contra deficiências nutricionais, melhora o desenvolvimento vegetativo, a floração e a frutificação”. A Isla comercializa a linha FertiGarden na loja virtual (www. isla.com.br), pelo televendas 0800 709 5050, diretamente com os representantes e distribuidores Isla, ou nas melhores casas agropecuárias e supermercados, em todos os estados do Brasil.

A Stoller lançou um aplicativo para tablets e celulares, através dos quais os produtores de soja, citros e café podem acessar os guias de fases de desenvolvimento e de identificação de deficiências desenvolvidos pela empresa. O primeiro descreve as mudanças morfológicas das plantas, buscando facilitar o manejo e estudos relativos à cultura. O segundo mostra sintomas das plantas em diversas condições de cultivo – em caso de deficiência de micronutrientes (zinco, ferro, manganês, cobre etc), por exemplo. Também aponta a influência dos macronutrientes e problemas com fixação do nitrogênio, fósforo e cálcio, dentre outros. A empresa pretende oferecer em breve aplicativos semelhantes para outras culturas.

Bomba movida a água

Técnico agrícola e produtor rural, Walter Bezerra da Silva, de Campo Verde, MT, teve muitos problemas com motores. “Queimei oito a diesel e 10 elétricos quando plantava arroz irrigado e soja. A peãozada não fazia manutenção e quando eu ligava, bum!”, lembra. Irritado com os prejuízos, ele se uniu ao engenheiro civil Délcio José Belzam e criou a “bomba de água auto propulsora conjugada”, com recalque de coluna d’água de 1,20 metro, destinada à irrigação. A engenhoca (um dos muitos inventos de Walter) não exige força motriz de espécie alguma – é movida pela força da água em movimento (corredeiras, saltos, cachoeiras, etc.). Uma tubulação fixada junto à roda capta água com força suficiente para mover a mini-turbina, girando a correia e impulsionando polias que movimentam as pás do rotor que, por sua vez, proporciona a energia cinética necessária para fechar o ciclo. Além da economia em combustíveis e energia elétrica, a bomba evita gastos com equipamentos de sucção e com funcionários para a manutenção. Walter e Décio estão avaliando propostas para industrialização do invento. Os interessados podem ligar para (66) 3419-3096 ou entrar em contato com eles através do e-mail walter-topografo@bol.com.br

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Biblioteca da Terra Batatas produtivas

Nova classe média no campo

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A

Fepaf – Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais lançou, em parceria com a Associação Brasileira da Batata o livro “Nutrição mineral, calagem e adubação da batateira”, escrito pelo professor Rogério Peres Soratto, da FCA – Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, e por Adalton Mazetti Fernandes, aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Agricultura da FCA. “A bibliografia brasileira sobre a cultura da batata é escassa. A maior parte das publicações trata de cultivares das décadas de 1970 e 80, de baixa produtividade”, argumenta o professor. “O principal diferencial que trazemos nessa obra são as exigências nutricionais dos cinco principais cultivares utilizados atualmente no país”. Com 121 páginas, o livro custa R$ 30,00. Pode ser encomendado através do e-mail publicacoes@fepaf.org.br ou adquirido na sede da Fepaf, localizada na Fazenda Lageado, em Botucatu (SP).

ançado no final de novembro, o livro “Superação da Pobreza

e a Nova Classe Média no Campo” analisa as mudanças ocorridas nos últimos anos no meio rural. O autor é Marcelo Neri, presidente do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Produzido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o livro mostra que políticas públicas de desenvolvimento rural e direcionadas à agricultura familiar têm papel fundamental na redução da pobreza no meio rural e na geração e qualificação das ocupações produtivas. “Minha experiência é a melhor que um pesquisador empírico pode ter, que é se surpreender com a realidade descoberta. Observamos a parte pobre dos moradores do campo saindo com velocidade impressionante do atraso e alcançando mais qualidade de vida”, disse Neri.

Heveicultura em capítulos

N

ovidade da Embrapa, o livro “Doenças da seringueira no Brasil” foi escrito pelos pesquisadores Álvaro Figueiredo dos Santos, Edson Luiz Furtado, Francisco Alves Ferreira, José Clério Rezende Pereira e Luadir Gasparotto. Em sua segunda edição, revista e atualizada, traz conhecimentos fundamentais sobre as principais doenças da seringueira (Hevea spp.), desde sua identificação até estratégias de controle. O livro é destinado a produtores, pesquisadores, professores, estudantes e extensionistas. Com 256 páginas, custa R$ 24,00 e pode ser adquirido na Livraria da Embrapa através do e-mail vendas@ embrapa.livbr/liv ou do site www.embrapa.br/liv ou, ainda, do telefone (61) 3448-4236.

Os interessados na publicação podem baixar o texto completo na internet. Basta acessar o site www.nead.gov.br

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Citros em duas etapas

R

esultado de pesquisas da Embrapa Mandioca e Fruticultura, o livro “Cultura dos citros” foi dividido em dois volumes. O primeiro, apresentado ao público no mês passado, contém aspectos básicos da cultura, que vão da origem, classificação botânica e distribuição geográfica e aqueles relacionados a melhoramentos, biotecnologia, fisiologia, propagação, processamento e mercado. O segundo, a ser publicado em breve, vai abordar temas de natureza prática, como planejamento do pomar, manejo de solos e de pragas, nutrição e adubação, irrigação e produção integrada. Os dois volumes deverão custar R$ 90,00. Os interessados poderão adquiri-los na sede da instituição, em Cruz das Almas (BA), ou encomendálos à Livraria Embrapa: www.embrapa.br/liv


Biblioteca da Terra Agricultura preservacionista

O

livro ao lado é organicamente caudaloso, tão extenso (840 páginas) quanto o nome do autor, fartamente ilustrado e detalhista. “Manejo ambiental agrícola: para agricultura tropical agronômica e sociedade” é obra da lavra de Odo Maria Artur Siegmund Pedro Rudolfo Barão Primavesi, ou, simplesmente, Odo Primavesi, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste nos últimos 30 anos, aposentado em 2010. Odo tem origem em família de agrônomos. Seu pai, Artur, foi professor da Universidade Federal de Santa Maria (RS). A mãe, Ana Maria Primavesi, também agrônoma, nascida em 1920, na Áustria, é uma legenda na agropecuária brasileira. Adepta da agricultura orgânica desde os anos 1940, Ana é autora do livro “Manejo Ecológico do Solo”, obra de referência sobre o tema em diversas universidades latino-americanas e européias -- hoje, além de pequena agricultora em Itaí, no interior de São Paulo, é pesquisadora da Fundação Mokiti Okada e realiza palestras em diversos países. Odo, além de especialista em alimentação de ruminantes, da qual tem doutorado, é um ambientalista responsável, o que o tornou signatário do IPCC – International Panel Climatic Changes, em 2007: é um dos 17 brasileiros que representaram o país naquele conclave. Foi uma voz dissonante entre os 2.500 cientistas e técnicos. O IPCC, como se recorda, anunciou em fevereiro de 2007 que o planeta estava em processo de acelerado aquecimento, tendo por causa as atividades antropogênicas, e colocou a responsabilidade na emissão dos GEEs, os gases de efeito estufa. Odo Primavesi acredita que, se há aquecimento, a causa antropogênica é responsável por no máximo 20%, sendo que os solos aridizados, desérticos e degradados são responsáveis por mais de 50% desse polêmico aquecimento, pela geração de calor. No livro “Manejo ambiental agrícola: para agricultura tropical agronômica e sociedade”, Odo Primavesi mostra que é possível fazer-se agricultura com ecologia, dando especial atenção ao manejo dos solos e da água. Publicado pela Editora Agronômica Ceres, sediada em Ouro Fino (MG), custa R$ 168,00 – para compra em quantidades maiores e em alguns casos específicos, pode ser concedido desconto de até 15%. Para adquiri-lo, os interessados devem fazer contato com a Editora Ceres através do telefone (35) 3441-1200 ou num dos seguintes endereços eletrônicos: ceresromero@uol.com.br ou jpromero@uol.com.br ou, ainda, romero1@uol.com.br

Aveia: um caso de paixão

D

e Elmar Luiz Floss, engenheiro-agrônomo, licenciado em Ciências e doutor em agronomia, a obra relata as atividades desenvolvidas pelo autor de 1977 a 2009 como coordenador do Programa de Pesquisa de Aveia na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (RS). Esse programa desenvolveu, no período, 23 cultivares de aveia-branca, uma de aveia-preta e inúmeras tecnologias de manejo. Ilustrado com fotos coloridas, o livro descreve as formas de utilização da aveia na alimentação humana e animal, apresenta um histórico do programa e resultados de pesquisas, além das 14 receitas preferidas do autor, doces e salgadas, contendo derivados de aveia, como farinha, flocos e farelo. Publicado pela Editora Passografic, tem 120 páginas e custa R$36,00. Os exemplares podem ser adquiridos através do e-mail: divulgacao@grupofloss.com ou elmar@grupofloss.com e, também, pelo site www.incia.com.br.

Hortaliças modernas

A

Embrapa Hortaliças, sediada em Brasília (DF), apresenta o site “Hortaliças na Web” (www.cnph.embrapa.br/hortalicasnaweb/index.html), com 150 receitas e dicas de compra, conservação e consumo. O objetivo, segundo a pesquisadora Milza M. Lana, é contribuir para o aumento do consumo, orientar a população brasileira sobre os atributos de qualidade a serem considerados na hora da compra, o correto manuseio e acondicionamento no mercado e na residência, para evitar desperdícios. A seção “50 hortaliças” relaciona informações específicas de cada hortaliça, como origem e valor nutritivo, além de receitas e dicas de como comprar, conservar e consumir cada uma delas. O site permite ao usuário filtrar as receitas de acordo com as hortaliças de sua preferência e excluir da busca as que não gosta ou não tem em casa.

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Calendário de eventos

DEZEMBRO

12 – 5º SBQA/ Simpósio Brasileiro de Qualidade de Arroz – De 12 a 14/12 – Campus da UFPel – Universidade Federal de Pelotas – Capão do Leão (RS) – E-mail: simposioarroz@ labgraos.com.br

Pelotas – Pelotas (RS) E-mail: simposioarroz@labgraos. com.br

4

VIII Feira do Semiárido

Em sua quinta edição, o 5ª CBQA – JANEIRO Congresso Brasileiro de Qualidade do Arroz Dia de Campo C.Vale reúne produtores De 15 a 17 – Centro rurais, agrônomos, Experimental da C.Vale – Cooperativa pesquisadores, cientistas, fabricantes de máquinas Agroindustrial – Palotina (PR) e equipamentos, Site: www.cvale.com.br empresários, profissionais das áreas Rural Show 2013 de armazenagem e De 23 a 26 – Centro de nutrição, todo mundo, enfim, que integra a Treinamento e Difusão de Tecnologia cadeia produtiva do da Cooperitaipu – Cooperativa cereal. Regional Itaipu – BR 282, km 580 O evento, parte Pinhalzinho (SC) das comemorações Fone: (49) 3366-6500 dos 200 anos do E-mail: itaipu@cooperitaipu.com.br município de Pelotas, abre a programação em comemorações dos Showtec 2013 130 anos da Faem – De 23 a 25 - .Sede da Faculdade de Agronomia Fundação MS - Maracaju (MS) Eliseu Maciel, da UFPel.

De 4 a 7 – Universidade Estadual de Feira de Santana Feira de Santana (BA) Fones: (75) 3224-8026 e (75) 3224-8154

6

7ª Cajumel/Feira do Agronegócio do Caju e do Mel De 6 a 8 - Praça da Matriz - Ocara (CE) - Site: www.ce.sebrae.com.br E-mails: erbaturite@ce.sebrae.com.br e fna@centrocape.org.br

10

XX Jornada de Atualização em Agricultura de Precisão

De 10 a 14 - Departamento de Engenharia Rural da Esalq Piracicaba (SP) – www.fealq.org.br

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5º Simpósio Brasileiro de Qualidade de Arroz

4

Show Rural Coopavel

De 4 a 8 – BR 277, km 577 Cascavel (PR) Site: www.showrural.com.br

15

19

23

21

23

25

Fone: (67) 3454-2631 – E-mail: fundacaoms@fundacaoms.org.br

De 12 a 14 - Universidade Federal de

FEVEREIRO

XXXVI Congresso Paulista de Fitopatologia

De 19 a 21 – Instituto Biológico São Paulo (SP) Site: www.infobibos.com/cpfito.

23ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz

De 21 a 23 – Centro de Eventos de Restinga Seca – Restinga Seca (RS) Fone: (55) 3261-1078 Site: www.colheitadoarroz.com.br E-mail: abertura@colheitadoarroz. com.br

Tropical Fusarium Workshop Lavras 2013

De 25 a 1/3/2013 – Universidade Federal de Lavras – Lavras (MG) Site: www.dpf.ufla.br

Principais feiras internacionais em 2013 Janeiro l

Internationale Grüne Woche Berlin - Agricultura, alimentos, bebidas, horticultura - Berlim (Alemanha)

l´Agriculture – Agricultura, alimentos, máquinas agrícolas - Paris (França)

Março Agrosud – Agricultura, máquinas agrícolas - Napoli (Itália) l Expo Agro Argentina – Agricultura, sementes, máquinas agrícolas, tecnologia – Baradero (Argentina)

China International Organic Food & Green Food Expo – Agricultura, alimentos, meio ambiente, tecnologia, alimentos orgânicos - Pequim (China)

l

Fevereiro Fruyver/3º Salón Internacional de Técnicas para el Sector de Frutas y Verduras – Saragoça (Espanha) l BioFach – Agricultura, alimentos, bebidas, biotecnologia, comida orgânica - Nuremberg (Alemanha) l Salon International de l

Abril Alberta Farm & Ranch Show – Agricultura, alimentos, máquinas agrícolas - Edmonton (Canadá)

l

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alimentos, horticultura, tecnologia, logística, indústria alimentícia - Bangalore (Índia)

l

Maio l

Ifia Japan – Agricultura, alimentos, processamento de alimentos - Tóquio (Japão)

Agosto Farm Progress Show – Agricultura, sementes, máquinas agrícolas, tecnologia – Tulare (Estados Unidos) l Agritech India – Agricultura, l

Outubro Salon de l´Agriculture Aquitaine – Agricultura, frutas, verduras e legumes - Bordéus (França) l Agromashov – Sementes, agricultura, máquinas agrícolas, equipamentos e tecnologia - Tel Aviv (Israel) l

Novembro l Agritechnica - Agricultura, máquinas agrícolas – Hannover (Alemanha)


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Legislação

Custeio e seguro agrícola As apólices geralmente oferecem garantias contra as intempéries da natureza, mas o rol de riscos não cobertos é extenso e aumenta a cada ano. Fábio Lamonica Pereira *

A

cada ano tem sido mais comum a contratação de seguro agrícola por parte dos produtores rurais. A cobertura, apesar de não ser ideal, ajuda a minimizar os riscos da atividade agropecuária, ainda mais com o benefício concedido pelo governo federal e por alguns estados quanto ao pagamento do prêmio do seguro. Curiosamente, quando do financiamento de custeio, além da contratação securitária, os credores exigem a constituição de garantias tais como penhor de safra, aval e hipoteca, podendo e devendo ser objeto de contestação, uma vez que onera

guradoras ainda estipulam condições especiais para determinadas culturas como soja, milho, milho safrinha, trigo, etc. Todas as regras que regem os seguros agrícolas devem ser previamente aprovadas pela Susep - Superintendência de Seguros Privados. A regulação e fiscalização da atividade trazem maior segurança aos segurados, o que não impede a prática de abusos por parte das seguradoras. Ainda que as normas sejam aprovadas pelo citado órgão regulador, é comum que as seguradoras estipulem condições e exigências consideradas abusivas. Neste caso, por tratar-se de típica rela-

Na maioria das vezes, o segurado não conhece os detalhes que regem o seguro contratado.

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

demasiadamente os produtores. De toda sorte, as apólices geralmente oferecem garantias contra “incêndio, raio, tromba d’água, ventos fortes, ventos frios, granizo, chuva excessiva, seca, geada e variação excessiva de temperatura”. Contudo, o rol de riscos não cobertos é extenso e aumenta a cada ano, o que deve ser observado pelos produtores quando da referida contratação, uma vez que há variação entre as seguradoras. Fica aqui o lembrete de que o produtor pode escolher entre sete seguradoras atuantes no mercado (www.agricultura.gov.br/politica-agricola/seguro-rural/agentes-vinculados). Além das condições gerais que estipulam as normas para os seguros agrícoas em geral, algumas se-

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ção de consumo, aplicam-se as normas estabelecidas no CDC Código de Defesa do Consumidor, que protegem o segurado. O judiciário poderá, então, declarar a nulidade das cláusulas consideradas ilegais e restabelecer o equilíbrio da relação entre seguradora e segurado. Apesar de parecer óbvio, a seguradora é obrigada a indenizar de acordo com a garantia estipulada na apólice de seguro. No entanto, as seguradoras passam a negar o pagamento de indenização quando não cumpridas à risca todas as exigências impostas unilateralmente nos termos contratuais. Ocorre que o segurado, na maioria das vezes, sequer tem conhecimento dos detalhes que regem o segu-

ro, sendo praticamente obrigado a assinar um termo afirmando que leu e compreendeu todas as condições do seguro contratado. Aliás, muitas companhias sequer encaminham, previamente, as condições gerais e especiais que regem o contrato de seguro, o que já é suficiente para não obrigar o segurado com as condições que restringem os seus direitos. Além dos laudos elaborados pelos técnicos da seguradora quanto a eventual sinistro, o judiciário tem considerado de suma importância as informações contidas nos laudos elaborados pelo técnico responsável por acompanhar a lavoura desde a implantação, uma vez que há o registro de todo o histórico da lavoura. É importante ressaltar a necessidade de que toda e qualquer comunicação junto à seguradora seja formalizada por escrito, devidamente protocolada, para segurança do próprio segurado. O pedido administrativo de reconsideração sobre a decisão da seguradora em negar o pagamento devido é usual, mas dificilmente surte o efeito esperado, sendo que tal prática não tem o poder de suspender o prazo de que o produtor dispõe para eventual ação judicial. Diante de tal situação, em caso de negativa por parte da seguradora quanto ao pagamento devido, o segurado poderá propor ação judicial com o objetivo de que seja determinado o pagamento da indenização de acordo com que se estipula na apólice, desde que o faça dentro do prazo exíguo de um ano. n




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