Revista Agro DBO - Ed 57 - Julho/2014

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Sumário

34 Entrevista 38 Girassol

Consorciamento com braquiária faz sucesso em Mato Grosso do Sul. A oleaginosa ganha espaço como opção para a segunda safra.

46 Citricultura

Crise no setor afeta a produção e derruba a rentabilidade. Nos últimos anos, milhares de produtores de laranja desistiram da atividade.

52 Soja

Gaúchos migram para o Uruguai em busca de terras baratas e menor custo de produção. O país já é o sexto maior exportador do mundo.

20

Matéria de capa Agricultores se reúnem em condomínio para armazenar a safra, formar estoque próprio e negociar a produção de grãos em condições mais vantajosas. Organizados há pouco tempo, eles conseguiram preços bem acima da média do mercado.

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Artigos 8 – Rogério Arioli examina o porque dos gargalos do Brasil em transporte 18 – Marcos Jank defende a internacionalização das empresas do agro 28 – Evaristo de Miranda discute a política de demarcação de terras 30 – Fábio Lamonica analisa a legislação brasileira sobre trabalho escravo 50 - Amilcar Centeno descreve as principais causas da compactação do solo 56 – Daniel Glat avalia o impacto da Abrass no mercado de sementes 66 – Décio Gazzoni alerta: o Brasil precisa melhorar a Defesa Agropecuária

Seções Do leitor.............................................................. 6 Ponto de Vista................................................... 8 Notícias da terra.............................................10 Política................................................................32

Marketing da terra.........................................44 Análise de mercado......................................58 Novidades no campo...................................60 Biblioteca da terra..........................................62 Calendário de eventos.................................64

Arquivo Fundação Chapadão

O ministro Neri Geller admite que o agronegócio brasileiro é subsidiado. Em sua opinião, o governo atende bem as demandas do produtor rural.


Carta ao leitor

D

esde o início da Agro DBO, há 11 anos, noticiamos e debatemos as críticas situações da logística e do transporte das safras de grãos no Brasil. Voltamos ao tema na matéria de capa desta edição, focando em armazenagem, na matéria “Estocagem solidária”, do jornalista Ariosto Mesquita, onde um sonho que acalentávamos foi nossa sugestão desde o início, ou seja, o estabelecimento de sistema de armazenagens construído pelos próprios produtores rurais, fruto de sociedades ou condomínios privados. Pois o esquema é relatado na matéria de capa da presente edição, o que tornou nossa sugestão inicial uma realidade, e não uma utopia como chegou a parecer naqueles tempos. A edição deste mês traz ainda assuntos atualíssimos e relevantes, tendo em vista que a agricultura brasileira avança de forma muito rápida, tanto no aumento da produtividade, como no plantio de grãos alternativos, assim como no uso de novas áreas. É o caso de duas matérias, a primeira, do jornalista Gustavo Paes, que relata a migração de agricultores gaúchos para pradarias uruguaias, onde plantam soja em terras mais baratas e com menor custo de produção, pois os insumos são mais baratos. A outra matéria, da jornalista Marianna Peres, “Dobradinha produtiva”, mostra a significativa expansão no plantio do girassol no Brasil-Central, como alternativa de rotação de culturas na segunda safra, com a enorme vantagem desses novos plantios estarem garantidos por mercado consumidor. Lamentavelmente, é bom que se afirme, não conseguimos evitar notícias ruins, e esse é o tema da matéria sobre “Quem responde pela crise?” na citricultura, autoria do jornalista José Maria Tomazela, e que mostra o abandono gradativo de citricultores na atividade, além de propostas de solução para o problema de estoques elevados. Como a criação do Consecitrus. Nossos colunistas e colaboradores, como sempre, abordam temas de capital importância para os leitores, e nesta edição destacamos ainda o artigo “O Brasil acabou?”. Nele, o pesquisador da Embrapa, engenheiro agrônomo Evaristo de Miranda, demonstra que o avanço das demarcações de terras para grupos indígenas e quilombolas parecem ter ultrapassado os limites suportáveis e possíveis para um País que tem pretensões de ser o celeiro do mundo. Por fim, desejamos que a data de 28 de julho próximo, dia do Agricultor, transcorra com muita paz, saúde e alegria em família e com amigos, renovando esperanças de boas safras. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Evaristo Eduardo de Miranda, Fernando Gomes da Motta, Gustavo Paes, José Maria Tomazela, Marcos Sawaya Jank, Marianna Peres e Rogério Arioli Silva Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: foto de Delfim Martins/Pulsar Imagens

Richard Jakubaszko

DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor sadias e, ao mesmo tempo, deixar de fazer tantas coisas erradas. Neste ano, estamos promovendo a campanha “Ajude-nos a aumentar o acervo da nossa Biblioteca”. Somos leitores assíduos da revista Agro DBO, muita requisitada pelos leitores para consulta, por ser uma publicação com um excelente projeto editorial e gráfico, que aborda o cotidiano rural nos mais diferentes aspectos. Porém, está faltando um número no nosso acervo; portanto, solicitamos para que nos enviem a edição nº. 54, de abril de 2014. Romaldo Bittencourt Ipiranga ESPÍRITO SANTO Ótima revista, a Agro DBO. Já assino há mais de um ano. Tiago Emerick Pancine Pancas MINAS GERAIS A revista Agro DBO é a melhor do segmento do agronegócio. Hélio Simão Ferreira Ipatinga PARANÁ Sou Técnico em Agropecuária e atualmente coordeno um grupo de aproximadamente 90 (noventa) adolescentes e jovens de uma região rural carente de informações e lazer e sem acesso à Internet. Devido a isso, resolvemos montar uma Biblioteca Rural Comunitária para que possamos “ocupar a cabeça” com coisas

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RIO GRANDE DO SUL A Agro DBO é uma revista interessante, profissional, com assuntos atuais. Claudiomar Fischer Pelotas SÃO PAULO Solicito correção no nome da foto de abertura da reportagem. Não sou o Alexandre Pedroso e, sim, o Lúcio. Lúcio André de Castro Jorge São Carlos (SP)

NR: Obrigado pelos elogios, Sr. Romaldo. Já providenciamos o envio de exemplares da edição de abril. Interessante a seção “Tecnologia” sobre dicas caipiras. Peço, por gentileza, um complemento de informação referente ao uso do Indumel para controle de ácaros, conforme citado na revista de junho, na página 56. Qual seria a dosagem recomendada? Sidnei Aparecido Baroni Maringá NR: Prezado Sr. Sidnei. Segue resposta ao seu questionamento, encaminhada pelo nosso colaborador – membro do Conselho Ediorial da Agro DBO - Hélio Casale, autor da referida seção sobre dicas: “Normalmente se emprega o Indumel na base de 2% da calda, o que corresponde à cerca de 8 quilos por hectare

NR: O leitor, pesquisador da Embrapa Instrumentação e Articulador de Cooperação Internacional da instituição, refere-se à reportagem “Tecnologias embarcadas se consolidam”, sobre novidades exposta na Agrishow. Na foto de abertura da matéria (acima) o identificamos erradamente, induzidos pela semelhança fisionômica entre ambos, como Alexandre Pedroso. Pedimos desculpas pelo engano. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Ponto de vista

Conceito esquecido O aparato burocrático-ambientalista atrasa os projetos de intermodalidade, por isso não temos ferrovias e nem hidrovias. Rogério Arioli Silva *

Ponte Aquática de Magdeburg sobre o rio Elba

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no Mato Grosso

O

Brasil paga um preço muito alto ao negligenciar o conceito da intermodalidade no transporte, principalmente pelo fato das distâncias continentais que caracterizam o país. A intermodalidade nada mais é do que a utilização de uma combinação dos diversos modais de transporte de maneira flexível, de modo a aperfeiçoá-los, melhorando ainda mais sua eficiência, através da redução de custos e agilidade nas operações. Não se observa por aqui uma preocupação de maior sinergia entre o transporte rodoviário, hidroviário e ferroviário nem mesmo nos casos em que os mesmos recebem investimentos de ampliação. Em recente visita a alguns países da Europa, integrantes do

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Movimento Pró-Logística e da Aprosoja tiveram a oportunidade de observar as imensas diferenças existentes entre nosso país e aquela parte do mundo. O porto de Rotterdam na Holanda comunica-se com o restante da Europa através da Hidrovia do Reno-Rhur que é a principal via de escoamento de matérias-primas e produtos industriais da Alemanha. Outros sistemas alimentam este porto que movimenta anualmente em torno de 300 milhões de toneladas de produtos distribuídos em 30 mil navios e mais de 11 milhões de contêineres. Na Alemanha encontra-se também o porto de Hamburgo, terceiro mais movimentado da Europa (140 milhões de toneladas anuais) além da ponte aquática de Magdeburg, um es-

petacular aqueduto navegável que, atravessando o Rio Elba, conecta dois grandes canais, facilitando o deslocamento de grandes barcos no interior do país. No interior da Europa existe um sistema muito bem planejado de eclusas, canais e aquedutos que se ramificam em várias direções permitindo a integração econômica entre diversos países. Exemplo disso é o canal Main-Danúbio que conecta o Mar do Norte e o Oceano Atlântico ao Mar Negro num percurso de 171 km atingindo 406 m acima do nível do mar e possuindo na sua extensão 16 eclusas com alturas de levante de até 25 m. Países com a extensão territorial semelhante ao Brasil, como os Estados Unidos, por exemplo, buscam cada vez mais ganhar eficiência na in-


Fotos Ricardo Arioli

termodalidade reduzindo entraves burocráticos e viabilizando as PPPs (Parcerias-Público-Privadas). Para isso, aquele país possui uma lei específica, a chamada ISTEA que, em português, significa lei da Eficiência do Transporte Intermodal de Superfície. A intermodalidade também é utilizada no transporte das pessoas com vantagens evidentes, dentre as quais: diminuição das emissões de carbono, amenização dos engarrafamentos e consequente redução de acidentes nas estradas, rapidez e facilidade no deslocamento de grande número de passageiros, além da redução dos custos desses deslocamentos. Nas cidades bem planejadas as linhas de trens e metrôs abastecem umas às outras, resultando num transporte inteligente e digno para a maioria dos usuários, realidade esta que não encontramos em nosso país. A opção pelo transporte rodoviário em longas distâncias tem sido uma escolha que compromete sobremaneira a competitividade brasileira. Grãos provenientes do interior de Mato Grosso percorrem mais de dois mil quilômetros de distância para atingir os portos do Sul e Sudeste, perdendo parte dessas cargas por conta da baixa qualidade das rodovias e comprometendo a rentabilidade de toda a atividade. Nos últimos trinta anos enquanto a malha rodoviária cresceu 180% a ferroviária reduziu-se em 14,5%, o que de-

Ferrovia no Porto de Hamburgo

monstra o descaso com os meios mais competitivos de transporte, principalmente de produtos com baixo valor agregado como commodities e matérias-primas em geral. Uma das exceções de intermodalidade no Brasil é o Terminal Intermodal de Pederneiras,

Existem inúmeros gargalos que dificultam a implantação da intermodalidade no Brasil, entre os principais destacam-se a própria questão tributária, tratada de maneira diferente pelos estados da federação. Além disso, muitas estradas de ferro ainda possuem bitola

A intermodalidade pode ser usada no transporte pessoal, com vantagens evidentes. em São Paulo, que recebe grãos de Goiás e Mato Grosso transportando–os até o porto de Santos, através da Hidrovia Tietê-Paraná, num trajeto de aproximadamente 650 km. Atualmente, a utilização deste modal está sendo realizada com menos carga nas barcaças em função da seca que afeta o estado de São Paulo, diminuindo o calado da hidrovia.

estreita o que dificulta a competitividade deste modal. Com relação ao uso das hidrovias são imensos os entraves que o aparato burocrático-ambientalista criou no país. Os projetos não saem do papel e ficam adormecidos nas gavetas ministeriais, enredados em discussões tolas, que favorecem apenas os nossos concorrentes nos mercados internacionais.

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Notícias da Terra Safra I

Safra II

Conab eleva estimativa

IBGE prevê 192,3 milhões de toneladas

A

quinta estimativa do IBGE sobre a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, baseada em levantamento efetuado em maio e divulgado em junho, indica produção de 192,3 milhões de toneladas, 2,2% maior em relação à temporada passada (188,2 milhões t) e 0,7% acima do previsto em abril. A safra de soja deve crescer 5,8% e a de arroz, 4,8%. No caso do milho, o IBGE prevê queda de 5,4%. Os três produtos respondem por 91% da estimativa de produção e 85% da área plantada, que deve chegar este ano a 56,1 milhões de hectares, 5,9% superior à de 2013 (53 milhões ha) e 0,6% acima do projetado anteriormente. Houve incremento de 8,1% na área de soja e 4,8% na de arroz, com decréscimo de 1,5% na de milho.

A

produção brasileira de grãos deve alcançar 193,6 milhões de toneladas este ano, 4,9 milhões t a mais em relação à safra passada (188,7 milhões t), de acordo com o 9º levantamento da Conab, divulgado em junho. Comparativamente ao 8º levantamento, divulgado em maio, representa incremento de 2,3 milhões t, devido à recuperação das lavouras de milho 1ª e 2ª safras, feijão 3ª safra e trigo. Em termos percentuais, o trigo foi a cultura de crescimento mais expressivo, com produção 33,4% maior (1,8 milhão t a mais), atingindo 7,4 milhões t. Logo abaixo vem o feijão, com 32,3% (907,4 mil t a mais), chegando a 3,71 milhões t. A área total destinada ao plantio de grãos foi estimada em 56,9 milhões de hectares, 6,2% maior que a do ciclo anterior (53,6 milhões ha). O 9º levantamento foi feito no período de 18 a 24 de maio.

Safra III

Divisão por regiões

A

produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, segundo o IBGE: Centro-Oeste, 80,2 milhões de toneladas; Sul, 72,4; Sudeste, 17,2; Nordeste, 17,2 e Norte, 5,3. Em relação à safra passada, houve alta de 2,1% no Centro-Oeste, 44,1% no Nordeste e 7,1% no Norte. As regiões Sul e Sudeste diminuíram a produção em 0,8% e 12,9%, respectivamente, em relação a 2013. Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, tem participação de 24,1% na produção nacional, seguido pelo Paraná (18,4%) e pelo Rio Grande do Sul (16%). Somados, os três estados representam 58,5% do total.

Safra IV

Resultados por produto

E

ntre os 26 produtos pesquisados pelo IBGE, 17 apresentaram variação positiva em relação à temporada passada, com destaque para a mamona, cuja produção cresceu 355,8% da safra 2012/13 para a safra em curso. Depois da mamona vem, por ordem: feijão 1ª safra (50,5%), trigo (36,5%), algodão (27,6%), café conilon (14,5%), cebola (14%), feijão 2ª safra (11,2%), mandioca (10,1%), batata-inglesa 1ª safra (7,7%), aveia (6,9%), soja (5,8%), arroz (4,8%), cacau (3,9%), cevada (2,5%), batata-inglesa 2ª safra (0,9%), batata-inglesa 3ª safra (0,7%) e laranja (0,8%). Com variação negativa, foram nove produtos: amendoim 1ª safra (- 19,3%), amendoim 2ª safra (13,2%), café arábica (- 12,8%), feijão 3ª safra (- 11,6%), sorgo (- 10,6%), milho 1ª safra (- 9,2%), triticale (- 3,1%), milho 2ª safra (- 2,6%) e.cana-de-açúcar (- 0,1%).

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Notícias da Terra Safra V

USDA joga milho brasileiro para cima

O

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em ingês) revisou para cima sua estimativa para a produção brasileira de milho nesta temporada. De acordo com o último relatório de oferta e demanda da instituição, o Brasil deverá produzir 76 milhões de toneledas, um milhão a mais em relação à estimativa anterior. As projeções relacionadas às safras brasileira e argentina de soja não sofreram alterações: colheremos 87,5 milhões t e “los hermanos”, 54. No ciclo 2014/15, o Brasil produzirá 91 milhões t da oleaginosa e a Argentina, os mesmos 54. Segundo o USDA, os Estados Unidos vão colher 98,9 milhões t de soja e 353,9 milhões t de milho na temporada 2014/15.

Safra VI

Negócios

R

D

O sobe e desce da safrinha

R$ 4,1 trilhões em investimentos

esponsável pelo Rally da Safra, uma das principais expedições de avaliação das lavouras de soja e milho do Brasil, a Agroconsult revisou para cima a produção de milho segunda safra. Antes, previra 42,1 milhões de toneledas, 10% a menos em relação à safra passada. Em junho, após vistoria das equipes 7 e 8, elevou a estimativa para 46,8 milhões t, resultado próximo do obtido no ciclo anterior (46,9 milhões t). Conforme os pesquisadores, Mato Grosso e Paraná reduziram a produção em 14% e 6%, respectivamente. Em compensação, Goiás e Mato Grosso do Sul aumentaram em 16% e 6%. Ao mesmo tempo, o clima ajudou na fase de desenvolvimento das lavouras em várias regiões, especialmente, no Paraná, justificando assim a revisão a maior.

e acordo com estudo do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, os investimentos na economia brasileira deverão somar R$ 4,1 trilhões no período 2014-2017. O mapeamento abrange projetos e planos estratégicos das empresas, não apenas os apoiados pela instituição. Os setores com maior incremento nos investimentos são o de petróleo e gás, com R$ 30 bilhões a mais (total previsto de R$ 488 bilhões); o de energia elétrica, com R$ 16 bilhões (total: R$ 192 bilhões); e o de papel e celulose, com R$ 7 bilhões (total: R$ 26 bilhões). O cenário é de crescimento real de 28% nos investimentos em 20142017 (taxa anualizada de 5,1%) em relação ao período 2009-2012, quando foram investidos R$ 3,17 trilhões). A infraestrutura terá R$ 575 bilhões, com incremento de 35%, puxado, sobretudo, por dois setores ligados à logística: portos e ferrovias.

VBP

Produção desvalorizada

O

Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2014 foi rebaixado no mês passado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, passando de R$ 450,5 bilhões – número previsto em maio – para R$ 448,9 bilhões. O montante representa queda de 0,3% em relação à estimativa anterior e aumento de 2,5% sobre os R$ 438,1 bilhões registrados no ano passado. O VBP é atualizado mensalmente pela AGE-Mapa com base nos levantamentos de safra da Conab e do IBGE e avaliações de desempenho da pecuária. julho 2014 – Agro DBO | 11


Notícias da Terra Soja I

Lavoura em combustão

C

álculo elaborado pelo Agronegócio Gazeta do Povo, braço do jornal Gazeta do Povo, sediado em Curitiba (PR), mostra que o aumento de dois pontos percentuais (de 5% para 7%) na mistura de biodiesel ao diesel a partir de novembro, conforme decisão do governo, representa demanda adicional de 4,5 milhões de toneladas de soja anuais a partir de 2015. No ano passado, as usinas brasileiras produziram 2,9 bilhões de litros de biodiesel, 37% da capacidade instalada (7,8 bilhões de litros), de acordo com relatório da ANP – Agência Nacional de Petróleo. Além de ajudar a sustentar os preços da soja no mercado internacional, a medida deve estimular o cultivo de canola, mamona, óleo de palma e outros produtos agrícolas também usados na produção de biodiesel.

Soja II

O grão supera o minério de ferro

D

ados da Secex – Secretaria de Comércio Exterior mostram que a receita com vendas de soja no exterior alcançou US$ 12,6 bilhões de janeiro a maio deste ano, superando o obtido com embarques de minério de ferro, líder há anos da pauta de exportações brasileiras. As remessas de soja cresceram 22,1%, comparativamente ao mesmo período do ano passado. A receita com minério de ferro atingiu US$ 11,7 bilhões, 4,3% a menos. A commodity mineral pode, no entanto, retomar a liderança da soja ainda em 2014, porque o Brasil exportou em cinco meses mais da metade do total previsto para a oleaginosa no ano. O minério de ferro não depende da sazonalidade.

Soja III

Campeão com 117 sacas/ha

O

vencedor do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja na safra 2013/14 – um agricultor do Sul do Brasil, não identificado (seu nome só será revelado no mês que vem, durante a cerimônia de entrega do prêmio) – colheu 117 sacas por hectares de soja não irrigada, superando a meta estipulada pelo Cesb – Comitê Executivo Soja Brasil, de 115 sacas/ha. A marca ultrapassa, portanto, a de Hans Jan Groenwold, de Castro (PR), vencedor do concurso relativo à temporada passada com 110,55 sacas/ha (leia “Pecuarista campeão”, na edição de agosto de 2013 da Agro DBO) e fica 134% acima da média nacional de 50 sacas/ha. O campeão do Norte-Nordeste (ainda em soja não irrigada) produziu pouco mais de 92 sacas/ha; o do Centro-Oeste, 109; o do Sudeste, 100; e o do Sul (o campeão nacional), 117. O vencedor na na categoria “soja irrigada” colheu pouco mais de 102 sacas por hectare. Os campeões regionais e nacionais receberão como prêmio uma viagem técnica aos Estados Unidos, de 2 a 10 de agosto deste ano, além de certificados, admiração, congratulações e aplausos.

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Notícias da Terra Pesquisa

Do que reclamam os agricultores Condições climáticas adversas, alta incidência de pragas e doenças e falta de mão-de-obra qualificada. Estes são, pela ordem, os problemas que mais preocupam o produtor rural brasileiro, de acordo com o IC Agro – Índice de Confiança do Agronegócio, referente ao primeiro trimestre de 2014. Para chegar a tais conclusões, os pesquisadores realizaram 50 entrevistas com fornecedores de insumos e serviços, cooperativas, tradings, indústrias produtoras de alimentos e 1.500 produtores rurais de várias regiões do país. Em um questionário onde puderam escolher mais de uma alternativa, 82,2% dos produtores elegeram “clima” como sua maior preocupação - na última aferição, realizada há três meses, a opção ficou em 46,8%. Na sondagem atual, as alternativas “alta incidência de pragas e doenças” e “falta de trabalhador qualificado” aparecerem como a segunda e a terceira maior preocupação para 30,4% e 22,5%, respectivamente, contribuindo, em contrapartida, para o aumento de 10,3 pontos percentuais na expectativa de investimentos em tecnologia ligada ao custeio – 63% dos agricultores anunciaram investimentos adicionais nesta área,contra 52,7% na pesquisa anterior. O IC Agro é uma realização da Fiesp e OCB, com o apoio da Andef e Anfavea. Os dados que o compõem são atualizados trimestralmente – a próxima divulgação está prevista para agosto. O estudo completo está disponivel no site www.icagro.com.br.

Café I

Inscrições abertas

Q

uem quiser participar do 24º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso tem até o dia 23 de setembro próximo para fazer a inscrição. Os interessados devem enviar uma amostra de 1,6 quilo, acompanhada da ficha de inscrição devidamente preenchida e assinada, para o seguinte endereço: Experimental Agrícola do Brasil Ltda - Rua Dr. Nicolau de Souza Queiroz, 518 - Vila Mariana - CEP 04105-001 - São Paulo (SP). Os finalistas serão conhecidos em novembro deste ano e os vencedores, em março do ano que vem. Caso queira mais informações sobre o concurso, acesse www.clubeilly. com.br. O regulamento está em www.clubeilly.com.br/site/ premio-regulamento.html.

Café II

Divergências sobre a quebra

O

CNC – Conselho Nacional do Café insiste: as chuvas de abril e maio sobre as regiões produtoras não foram suficientes para recuperar o potencial produtivo das lavouras e, em muitos casos, chegaram tarde demais, após a fase de granação. Assim sendo, a safra em curso deve ficar mesmo entre 40,1 milhões a 43,3 milhões de sacas, conforme previsão anterior da entidade. “O máximo que essas precipitações poderiam ocasionar seria fortalecer as plantas para a safra seguinte. No entanto, o volume de água foi muito baixo, portanto insatisfatório para suprir o solo e os pés de café”, disse o CNC em nota distribuida à imprensa. Segundo estimativa da Conab, a produção chegará este ano a 44,6 milhões de sacas. No final do mês passado, a Safras & Mercado previu 48,9 milhões de sacas. Na avaliação da consultoria, o longo período de estiagem e calor excessivo no início do ano não impactaram tão fortemente as lavouras como se temia. No início da safra – a colheita começa em maio e se estende até setembro, dependendo da latitude –, algumas regiões apresentaram resultados acima do esperado. julho 2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Energia

Biomassa sem peso

D

Plano Safra

Normas e recursos

O

CMN – Conselho Monetário Nacional aprovou em 20/6 normas para regulamentar o Plano Safra 2014/15, em vigor a partir do primeiro dia deste mês de julho. A instituição fez ajustes nas regras de financiamento com recursos do crédito rural, nas modalidades custeio, investimento e comercialização. O limite de crédito por beneficiário em cada safra para operações de custeio passou de R$ 1 milhão para R$ 1,1 milhão; para operações de investimento, subiu de R$ 350 mil para R$ 385 mil. Foi definida taxa de juros de 6,5% ao ano para as operações contratadas com recursos obrigatórios. No Pronamp – Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural, o limite de crédito de custeio agora é de R$ 660 mil (antes, era de R$ 600 mil) e o limite para investimento passou de R$ 350 mil para R$ 385 mil, com taxa de juros de 5,5% ao ano. O CMN elevou de R$ 10 mil para R$ 12 mil o limite de crédito individual para custeio no âmbito do Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e de R$ 50 mil para R$ 70 mil o teto de financiamento para aquisição de colheitadeira automotriz. O prazo para pagar o financiamento de caminhonetes de carga e motocicletas foi reduzido de dez para seis anos, com até um ano de carência.

ados da Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica mostram que, em 2013, o Brasil produziu 39.679 GWh de energia através do processamento de biomassa, o suficiente para abastecer 33% do consumo residencial no SIN – Sistema Interligado Nacional ou 100% das residências no estado de São Paulo. A bioeletricidade representa atualmente 8,4% da matriz elétrica brasileira. De acordo com a Única – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, do total produzido no ano passado por biomassa, o que inclui bagaço de cana-de-açúcar, lenha e lixívia, 17.1748 GWh foram destinados para o SIN (43% do total) e 22.531 GWh (57%) para o autoconsumo das unidades industriais associadas – existem 480 termelétricas a biomassa em atividade no país.

Bahia Farm Show

Feira movimenta R$ 1,019 bilhão

M

aior evento de tecnologia agrícola do Nordeste do Brasil - e o segundo do país em vendas por visitantes, segundo os organizadores –, a Bahia Farm Show movimentou R$ 1,019 bilhão em negócios. A estimativa foi feita junto às instituições financeiras e aos expositores, uma semana após o encerramento da feira, realizada no município de Luis Eduardo Magalhães, no oeste do estado. No total, as vendas cresceram 25% em relação ao ano passado. Os setores que mais contribuíram para este resultado foram os de irrigação, drenagem, aviação e automotivo. O número de visitantes também aumentou, passando de 63,1 mil pessoas em 2013 para 71,1 mil. No ano que vem, a Bahia Farm Show será realizada de 2 a 6 de junho.

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Notícias da Terra Pesquisa

Investimento em espécies nativas

A

Logística

Navegação parada

N

ão bastassem as dificuldades locais, os produtores de Mato Grosso tiveram prejuízos com a interrupção do tráfego na hidrovia Tietê-Paraná, provocado pela estiagem em São Paulo e pela crise no setor energético nacional – parte da agua foi desviada para geração de energia. A paralisação ocorreu em 30 de maio, quando o calado foi reduzido para um metro no canal de Nova Avanhandava. Diante disso, a produção de grãos antes transportada pelo rio teve que ser escoada por rodovia. “Os custos com logística aumentam de 10% a 12% com o uso de caminhões até o porto de Santos”, declarou na ocasião o diretor executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira.

Rede de Sementes do Cerrado, uma associação sem fins lucrativos em atividade há 13 anos, implantou, em parceria com a Embrapa Agrossilvipastoril, projeto de fomento das práticas de coleta de sementes e produção de mudas de espécies nativas. “O Cerrado possui uma diversidade muito alta de espécies florestais naturais e um histórico relevante de desmatamento. Por isso é tão importante essa parceria com a Embrapa”, argumenta o engenheiro florestal Felipe Casella, da Rede de Sementes do Cerrado. O propósito é oferecer suporte técnico e material aos produtores, tanto para a implantação de sistemas iLPF quanto promover rendas em áreas de reserva legal.

Na sua missão de produzir e prover alimento e energia às pessoas, você não está sozinho. A Ourofino está ao seu lado levando soluções para garantir produtividade com segurança e qualidade à sua lavoura. Parabéns, amigo Agricultor! 28 de julho - Dia do Agricultor

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julho 2014 – Agro27/06/14 DBO 13:29 | 15


Notícias da Terra Fitossanidade I

Alerta contra o greening

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mais destrutiva das doenças da citricultura brasileira, o greening, também conhecido como HLB (da expressão Huanglongbing) deve atingir 14% dos laranjais do estado de São Paulo este ano e, se não for controlado a tempo, pode infectar 19% das plantas em 2015, conforme estimativa do Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura. Segundo o pesquisador Renato Beozzo Bassanezi, para brecar o avanço da doença é preciso que o produtor remova as plantas doentes e faça o monitoramento e o controle do inseto vetor de maneira conjunta com as propriedades vizinhas. “É importante que o citricultor atue dentro e fora do seu pomar, de maneira coletiva e regional”, diz. Levantamento da CDA – Coordenadoria de Defesa Agropecuária revela que 34 milhões de plantas com HLB foram eliminadas no estado de São Paulo desde 2004, agravando a crise pela qual passa o setor (OBS: Leia matéria a respeito na página 46).

Fitossanidade II

Vazio sanitário no feijão

I

nstrução Normativa publicada no Diário Oficial da União de 17/6 formaliza o período de vazio sanitário para a cultura do feijoeiro comum (Phaeseolus vulgaris L.) em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. O vazio sanitário é importante para combater a mosca branca (Bemisia spp), praga capaz de causar grandes estragos na lavoura. Além de sugar a seiva das plantas, o inseto transmite doenças de difícil controle, principalmente o mosaico dourado, no caso do feijoeiro. O vazio sanitário em Minas Gerais vai de15/9 a 25/10. No Distrito Federal, de 1/10 a 20/10. Em Goiás, foi dividido em dois períodos. O primeiro, entre 5/9 e 5/10, abarcando as regiões sudoeste, sul e sudeste. O segundo vai de 20/9 a 20/10 e abrange as regiões norte e nordeste. Durante a vigência do vazio sanitário, todos os feijoeiros, cultivados ou voluntários, deverão ser eliminados por meio de controle químico ou mecânico. A responsabilidade da eliminação é do agricultor, arrendatário ou ocupante das áreas produtora

Fitossanidade IV

Guerra ao bicudo

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o caso do algodão, o objetivo do vazio sanitário é evitar a ocorrência do bicudo (Anthonomus grandis), considerado a principal praga da cultura. Além de grande capacidade destrutiva, o bicudo possui habilidade para permanecer nas lavouras durante a entressafra. O período de duração varia de acordo com a região. Em Minas Gerais, vai de 20/8 a 20/10. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, de 1/10 a 30/11. Em Goiás, o vazio inicia-se em datas distintas: em Cristalina, por exemplo, começa em 10/8 e vai até 30/10. Nas regiões de Rio Verde e Itumbiara, começa em 1/9. Em Chapadão do Céu, em 10/9, e em Jussara, 1/11.

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Fitossanidade III

Prevenção contra a ferrugem

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m relação à soja, o período de vazio sanitário varia de 60 a 90 dias. O objetivo primordial é reduzir a quantidade de uredosporos (esporos que aparecem na fase epidêmica da doença) no ambiente durante a entressafra e, dessa forma, diminuir a possibilidade de incidência precoce da ferrugem asiática, doença provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi (a duração do vazio sanitário na soja considera o tempo máximo de viabilidade dos uredosporos, de 55 dias). Em alguns estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná, o período de vazio sanitário na soja começa em 15/6 e se estende até 15/9. Em outros, como Minas Gerais, Tocantins, Goiás e Distrito Federal, vale a partir de 1/7. Na Bahia, a partir de 15/8. No Pará e no Maranhão, subdivide-se em dois períodos, de acordo com especificidades locais. No total, 12 estados adotam o vazio sanitário na cultura de soja.


Notícias da Terra

Fitossanidade V

O que mais veio para a Copa, além dos torcedores?

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Copa do Mundo termina neste 13 de julho com uma disputa, digamos, apoteótica no Maracanã. Quando fechávamos esta edição, o Brasil e outros 15 países preparavam-se para os confrontos eliminatórios que antecedem a finalíssima. Ao término da fase de grupos, holandeses e alemães impunham-se como principais favoritos ao titulo. O Brasil não convenceu, mas ainda assim classificou-se, mantendo aberta a possibilidade do hexa – a prova de fogo seria o jogo de 28/6 contra o Chile, verdugo da Espanha, a atual campeã. Se derrotasse os chilenos, enfrentaria outro mata-mata em 4/7, antes da semi-final, também eliminatória, já neste 8 de julho Apesar do desempenho irregular da seleção nacional e de alguns entreveros extra-campo, boa parte da população brasileira viveu dias de festa e confraternização. Segundo estimativas divulgadas no início da competição, cerca de 3,6 bilhões de pessoas – quase metade da população do planeta – , acompanhou a Copa pela televisão, internet, celular e outros meios e 600 mil turistas

de 186 países visitaram o Brasil na ocasião, 62% dos quais pela primeira vez. Esse imenso fluxo de estrangeiros injetou R$ 6,7 bilhões nas 12 cidades-sede, conforme cálculos do Ministério do Turismo. Entretanto, eles podem ter trazido algo mais na bagagem, além dos dólares. Podem ter trazido pragas e doenças, deixando como legado estragos significativos no campo (sem trocadilho). A confirmar. O deslocamento de milhares de torcedores estrangeiros pelo território brasileiro (várias das cidades-sede da Copa ficam próximas de grandes polos de produção agrícola) aumenta muito a prossibilidade de introdução de doenças exóticas. Um levantamento encomendado pela Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal mostra que os 31 países que disputaram a Copa do Mundo abrigam, juntos, mais de 350 pragas ainda inexistentes no Brasil. “Apenas como referência, no período da Olimpíada de Pequim, em 2008, foram introduzidas 44 novas pragas na China”, diz o Gerente de Regulamentação

da Andef, Luis Ribeiro. Elas podem entrar através de diversas formas: em alimentos, mudas de plantas, fixadas na roupa ou na sola do sapato, em presentes, lembranças, produtos de uso pessoal, etc. “Nós temos mais de 100 pragas na América Latina, muito próximas a nós, que ainda não ultrapassaram nossas fronteiras. São fungos, nematoides, bactérias e outros parasitas capazes de fazer grandes estragos na lavoura, como no caso da Helicoverpa armigera” (abaixo, comendo a bola). Os Estados Unidos, com 225 pragas, lideram o ranking das nações mais “perigosas” para o agronegócio brasileiro. Coincidentemente, os norte-americanos foram os que mais compraram ingressos para os jogos da Copa: cerca de 187 mil entradas. E eles continuavam por aí ao final da primeira fase. julho 2014 – Agro DBO | 17


Logística

Sofisticar produto e driblar gargalos são desafios Berço da revolução agropecuária, o Centro-Oeste precisa enfrentar entraves logísticos para internacionalizar produção. Marcos Sawaya Jank *

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região Centro-Oeste foi o berço da maior revolução agropecuária do planeta nos últimos 50 anos. Graças ao desenvolvimento de tecnologias adaptadas às condições tropicais dos cerrados, o Brasil ocupou o primeiro lugar mundial em ganhos de produtividade total da agricultura: 3,4% ao ano nas duas últimas décadas. Exemplos de tecnologias que floresce-

nergia reconhecidamente eficiente tanto na produção primária como no processamento agroindustrial. Há, porém, pelo menos dois desafios a serem vencidos pelo agronegócio do Centro-Oeste. O primeiro deles tem recebido bastante atenção, mas os resultados ainda demoram a aparecer. Desde 2000, a safra brasileira de grãos dobrou de tamanho, mas a logística praticamente nada mudou. O custo de

Com o milho de 2ª safra, o Brasil se torna o maior “player” global da ração animal.

* o autor é diretor-executivo global de Assuntos Corporativos da BRF, ex-presidente da Unica, e doutor em administração pela USP com tese sobre competitividade do agribusiness do país.

ram neste período são as novas variedades de soja, o plantio direto – que teve extraordinário impacto conservacionista ao eliminar a aração dos solos –, a introdução da segunda safra no mesmo ano agrícola sem irrigação e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPf). Inicialmente, o desenvolvimento do agronegócio no Centro-Oeste se deu em cima do binômio soja-boi, com destaque para a melhoria do gado zebu e do capim braquiária. Com o tempo, a valorização das terras incentivou a intensificação e a diversificação agrícola, com o crescimento da produção de milho, arroz, algodão, café, cana-de-açúcar e eucalipto. Na pecuária, vieram o leite, os suínos e as aves. Hoje são mais de dez atividades disputando o uso da terra, formando um sistema integrado de produção de alimentos, rações, fibras e bioe-

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transporte de grãos, que representa de 10% a 15% do valor do produto dos nossos concorrentes, pode ultrapassar aqui 40% do valor. O outro desafio é a adição de valor nas cadeias agroindustriais. O principal produto exportado pelos Estados da região é a soja, que roda 2.000 km de caminhão em estradas precárias para chegar aos portos congestionados no Sul, ser embarcada em navios pequenos, atravessar o mundo e virar farelo de soja para alimentar suínos e aves na China. Com o sucesso recente do milho de segunda safra, não há dúvida de que o Brasil vai se firmando como o maior “player” global da ração animal. Porém, essas duas commodities valem menos de US$ 500 por tonelada. Esse valor poderá ser de quatro a dez vezes maior se exportarmos carnes ou lácteos, o que inclusive mitigaria o

problema do custo do frete terrestre. Ocorre que nossas commodities agropecuárias chegam a mais de 200 países, mas pouco sabemos sobre o que ocorre entre os portos e o consumidor final no exterior. Nossa experiência de adição de valor nas cadeias globais do agronegócio é extremamente limitada. Restringe-se a poucas marcas internacionais e não temos quase nenhum domínio dos canais de distribuição e consumo fora do Brasil. Há um jogo muito mais sofisticado a ser enfrentado. Em vez de apenas entregar commodities nos portos brasileiros, temos hoje oportunidades fantásticas para, de um lado, agregar valor aos produtos exportados e, do outro, internacionalizar nossas empresas, dominando canais de logística e posicionando marcas brasileiras no exterior. Na área de suínos e aves, dominamos um sofisticado sistema de produção que começa na genética dos animais, passa por milhares de produtores integrados às indústrias de processamento e avança no exterior com o domínio de canais de distribuição e marcas que chegam a milhões de consumidores. É hora de usar a experiência e a competitividade do Brasil para avançar nas grandes cadeias globais de valor do agronegócio mundial. A região Centro-Oeste tem as melhores credenciais para se posicionar no centro deste tabuleiro novo e desafiador.



Capa

Estocagem solidária

Associação de produtores garante espaço para armazenamento da safra e remuneração pelos grãos até 7% superior à média de mercado Ariosto Mesquita

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Setor ainda ocupado com milho da safra 2012/13 no condomìnio Produtores Armazéns Gerais, em Chapadão do Sul (MS).

Fotos Ariosto Mesquita

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magine você depositar o equivalente a R$ 10 milhões em soja dentro de um armazém e um belo dia descobrir que toda a carga simplesmente sumiu. Foi isso o que aconteceu em 2004 com 37 agricultores de Mato Grosso do Sul e Goiás, na região de Chapadão do Sul (MS). O susto deu lugar à oportunidade. Os produtores se uniram, assumiram o armazém no dia 2 de janeiro de 2005 e hoje conseguem comercializar grãos a valores superiores ao estipulado pelo mercado. Quem conta a história é o agricultor e pecuarista Jorge Michelc, sócio administrador da antiga Cerealista Irmãos Gasparetto, hoje uma sociedade empresária limitada batizada como Produtores Armazéns Gerais. “Alguém fez dinheiro com a nossa soja. Com a cerealista quebrada, não havia qualquer expectativa nossa em receber o dinheiro. Também não existia outro espaço para que pudéssemos guardar a produção e a única alternativa foi comprar tudo. O problema é que a dívida era duas vezes maior do que realmente valia o armazém. Ao todo, assumimos um passivo de R$ 13 milhões, incluindo débitos da antiga empresa com outros credores e até com a Conab, uma vez que até soja do governo, armazenada na cerealista particular, também desapareceu”, relata. Estes encargos tornaram pesada a empreitada. Até 2011, muito trabalho foi concentrado para quitar as dívidas e readquirir pelo menos parte do que havia sido perdido. Nos últimos três anos, com a possibilidade de renegociação da dívida com a Conab, o armazém dos produtores finalmente decolou. O recebimento de soja subiu de 99,7 mil sacas (safra 2010/11) para 429,8 mil sacas (2013/14). Neste mesmo período, o armazenamento de milho safrinha pulou de 160.720 sacas para 556.774 sacas. A capacidade estática é para um milhão de sacas. Em 2013, entre giro de entrada e saída, o armazém recebeu aproximadamente 1,4 milhão de sacas, fundamentalmente de soja, milho e sorgo. O complexo reúne três unidades armazenadoras: duas com capacidade estática para até 400 mil toneladas e uma para 200 mil toneladas. Quando Michelc assumiu a administração havia, segundo ele, algo em torno de R$ 300 mil em caixa. “Hoje temos R$ 2,4 milhões”, revela. Esta receita vem da taxa de recepção. “Cerca de 4% do valor em grãos ficam retidos como remuneração pelo serviço do armazém. Dessa forma, evitamos a inadimplência, pagamos as contas e garantimos oxigênio financeiro para a sociedade”, explica. Cada produtor tem direito a um espaço proporcional ao investido, quase sempre referente ao que havia depositado na época em que a soja “sumiu”. Michelc tem um pouco mais de 0,5%, o que lhe dá direito a uma área de estocagem para aproximadamente 5.000.sacas. O modelo de gestão também parece ter contribuído. Para evitar eventuais desconfianças que uma sociedade pode gerar entre sócios, a palavra de ordem passou a ser ‘transparência’. “Sempre quando fecha o mês apresentajulho 2014 – Agro DBO | 21


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O condomínio Produtores Armazéns Gerais, com 37 associados, recebeu 1,4 milhão de sacas de soja, milho e sorgo no ano passado.

mos um relatório do dinheiro em caixa e do produto armazenado. Todos os 37 agricultores recebem este documento”, garante. A estrutura presta apenas o serviço de armazenagem. A comercialização fica por conta do produtor associado. Paralelamente ao bom momento financeiro, Michelc conseguiu definir em Brasília uma pauta de renegociação da dívida com a Conab. “A última notícia que recebi foi de que está tudo pronto para esticarmos este débito para mais 10 anos. São perto de R$ 2,5 milhões que serão pagos em 120 meses a uma taxa de 3,5% de juros anuais mais o INPC”, conta. É inegável que as três últimas boas safras brasileiras garantiram combustível financeiro e ajudaram na capitalização de produtores, mas o caso da sociedade dos agricultores em Chapadão do Sul se mostrou uma aposta estratégica. “Temos o único armazém da região que recebe sorgo. Só no ano passado foram mais de 78 mil sacas.

Jorge Michelc: “No passado, o produtor era endividado; o que colhia era secado e embarcado em seguida. Hoje, somos balizadores de preço”.

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Além disso, não há mais espaço disponível na região para armazenar soja e milho para que o agricultor possa se planejar e vender para quem ele desejar”, explica. E tudo isso mesmo diante de uma safra (2013/14) não muito bem sucedida. “Tivemos uma quebra na soja entre 10% a 12% em função de veranicos”, conta. Em uma de suas propriedades (Fazenda Tafa, com 400 hectares de agricultura) Michelc colheu 61 sacas/ha em 2013 e 33 sacas/ ha em 2014. Em outra propriedade sua, com 420 hectares, a quebra foi menor: de 68 sacas /ha (2013) para 58 sacas/ha (2014). No passado, segundo o sócio administrador, o produtor era endividado e não tinha o produto disponível, ou seja, o que ele colhia já secava e embarcava em seguida. “Hoje o armazém permite que ele tenha produto o ano inteiro para comercializar e logo logo vai faltar espaço”. De acordo com contas feitas por Michelc e pelo gerente Administrativo e de Vendas da sociedade, Jecé Martins Silva, a capacidade estática do Produtores Armazéns Gerais Ltda. (um milhão de sacas) equivale a mais de 20% de todo o espaço de armazenagem agrícola do município, estimado hoje em 4,8 milhões de sacas. “A demanda é muito grande, pois a disponibilidade para guardar grãos não chega a 50% de toda a produção de Chapadão do Sul, que é de aproximadamente 12 milhões de sacas anuais”, afirma Jecé. Mas tanto Jecé quanto Michelc sabem que se todos os sócios resolverem guardar suas produções no armazém vai faltar muito espaço. “O que temos hoje é um quadro de investimentos em unidades armazenadoras em fazendas. Alguns agricultores já têm seu próprio armazém. Mesmo sendo sócio do Produtores Armazéns Gerais, usam este espaço apenas esporadicamente, quando os silos, nas propriedades, já estão lotados”, conta o sócio administrador. Estratégia de vendas Mais do que significativo dentro do contexto da região, o Produtores Armazéns Gerais vem ajudando a elevar os valores médios de comercialização de grãos nos Chapadões (norte do MS e sul de GO). “Hoje somos balizadores de preço”, garante o gerente. “No início de junho, a gente conseguia comercializar a saca de soja a R$ 62,00, enquanto algumas tradings pagavam R$ 57,70. Esta diferença era de 7,4% e a tendência é aumentar nos próximos meses. Com relação ao milho a cotação média em julho ficava em torno de R$ 19,00 a saca na região, mas chegamos a vender a R$ 23,50. É a vantagem de ter produto para pronta entrega e poder escolher a quem entregar”, explica Michelc. O escoamento é feito fundamentalmente por rodovia (a partir da BR-158, que corta o município) e por ferrovia (através da Ferronorte). Ter produto para pronta entrega faz a diferença diante do chamado preço balcão, que é o valor pago pela venda feita por encomenda e entregue dentro de um prazo solicitado. “Ao depositar em armazéns posso olhar o


“Ao depositar em armazéns, posso olhar o mercado e vender a quem oferecer melhor preço. Com isso, você maximiza seu grão”

Lavoura de sorgo em Chapadão do Sul: o condomínio Produtores Armazéns Gerais recebeu 78,6 mil sacas rem 2013.

mercado de forma geral e vender para quem me oferecer o melhor preço. Com isso, você maximiza seu grão. Conseguindo segurar a soja para vender mais para o final do ano, a diferença para o preço balcão pode ser até 15% superior. Isso acontece bastante”, afirma. Ao gerir o próprio armazém, os produtores encaram de perto um dos maiores gargalos do pós-colheita: a secagem de grãos. “O agricultor está encurtando cada vez mais o período de plantio da soja para garantir a safrinha. Ao plantar rápido, concentra a colheita também em um período curto, geralmente em dias chuvosos. Portanto, geralmente o grão se apresenta com grande umidade. Enquanto isso o dono da terra quer colher, entregar e secar na mesma hora. Temos dois secadores, cada um com capacidade para 60 toneladas/hora e não estão dando conta. Surgem as filas de caminhões e começam a aparecer problemas de soja ardida”, admite Michelc. Com este gargalo, tornou-se inevitável uma taxação diferenciada para quem deposita grãos com níveis ele-

vados de umidade. A taxa de recebimento de 4% é cobrada apenas para quem apresenta grãos com umidade até 14%. Passando disso, o percentual retido respeita uma tabela e vai aumentando gradualmente. Diante deste quadro é praticamente certa a ampliação do negócio. A ideia dos produtores é comprar mais três hectares de área, ao fundo do armazém para ampliar a estrutura. O projeto prevê a construção de pelo menos mais três silos, cada um com capacidade estática para 100 mil sacas e um novo secador para atendimento de até 250 toneladas/hora. “Mesmo com dinheiro em caixa vamos tentar utilizar recursos do Plano Safra”, garante Michelc. Anunciado em maio pelo governo federal, o Plano Agrícola e Pecuário 2014/15 prevê juros de 4% para armazenagem, irrigação e inovação tecnológica e de 5% no crédito de armazenagem para cerealistas. Na safra 2013/14 foram disponibilizados R$ 4,5 bilhões para o agricultor construir e reformar armazéns e, segundo o Ministério da Agricultura, cerca de 80% destes recursos

O escoamento da produção agrícola na região de Chapadão do Sul é feito por ferrovia, através dos trilhos da Ferronorte, ou por rodovia, a partir da BR-158.

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Espaço reservado para a safrinha de milho deste ano no depósito do Produtores Armazéns Gerais

Emacs, antiga unidade da Conab, hoje gerida por um grupo de agricultores de Chapadão do Sul.

foram contratados. Estes recursos públicos, no entanto, ainda são encarados com reserva pelos produtores. “O grande pecado do Brasil em armazenagem é o custo alto das estruturas e a falta de linhas de financiamento. Hoje, existe crédito do governo, mas aqui nos Chapadões não conheço ninguém que tenha conseguido este dinheiro”. Viabilizando os recursos, outros gargalos ainda incomodam. De acordo com a CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o principal deles seria a demora dos estados em conceder licenciamento ambiental para a implantação de novas estruturas. Estas concessões, em algumas circunstâncias, demoram até um ano para sair. Os produtores associados também estão de olho em um armazém da Conab com capacidade estática para 800 mil sacas, instalado bem em frente ao Produtores Armazéns Gerais. “A estrutura está praticamente abandonada. O governo mantém ali apenas três funcionários, mas nada ali funciona. Estamos negociando a compra”, admite Michelc. Viabilizando o negócio, não será a primeira vez que agricultores da região investirão em estruturas de armazéns públicos. Nos anos 80 do século passado uma par-

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ceria público privada incentivada pelo governo do estado constituiu a Emacs – Empresa Armazenadora de Chapadão do Sul, um armazém com capacidade estática para 450 mil sacas. Metade da Emacs ficou pertencendo à Conab e a outra parte a 13 agricultores com terras nos municípios de Chapadão do Sul, Costa Rica e Chapadão do Céu, os dois primeiros no Mato Grosso do Sul e o último em Goiás. “Ao final daquela década o governo federal propôs a privatização e nós acabamos comprando e transformando a estrutura em uma sociedade anônima com 13 cotas iguais”, conta o agricultor e sócio fundador, Geraldo Loeff. Segundo ele, a região vem assistindo um número cada vez maior de investimentos privados em armazenagem: “Eu calculo que pelo menos 40% dos agricultores por aqui já possuem silos nas fazendas”. Estimativa não oficial é de que os Chapadões tenham hoje perto de 130 mil hectares de lavoura. Realidade brasileira A aquisição de estruturas armazenadoras próprias ou em associação com outros produtores pode ser uma boa alternativa à contração de espaço em unidades privadas ou utilização de armazéns públicos. No entanto, este percentual de 40% em Chapadão do Sul está longe de refletir a realidade nacional de armazéns e silos nas fazendas. Apresentado há menos de dois anos, durante seminário da Abrapós - Associação Brasileira de Pós-Colheita, estudo da professora Lêda Rita D´Antonino Faroni, do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV - Universidade Federal de Viçosa, indicava que a capacidade de armazenagem dentro das propriedades rurais ficava, na época, entre 17% e 18%. Segundo ela, índices bem distantes aos de outros países produtores de grãos, como o Canadá (85%) e Estados Unidos (65%). Além dos espaços estarem muito aquém da necessidade brasileira, Faroni lembra que existem “problemas históricos” de posicionamento e de adequação das estruturas de armazenagem no país. “A localização das unidades nem sempre acompanha a migração da agricultura; além disso, em diversos estados o sistema de armazenagem é constituído por estruturas antigas, sucateadas e em condições precárias de operação”. A pesquisadora considera como principais vantagens do armazenamento de grãos na propriedade a possibilidade de comercialização em períodos de melhor preço e a fuga de entraves de mercado como congestionamentos no transporte e filas no embarque e desembarque. De acordo com levantamento do IBGE, o Brasil reunia no final de 2013 um total de 9.185 unidades armazenadoras, somando uma capacidade instalada de 161,1 milhões de toneladas. Deste total, 4.145 estão localizadas na região Sul, 2.029 no Centro-Oeste, 1.979 no Sudeste, 722 no Nordeste e 310 no Norte. O mesmo levantamento indica que os armazéns tipo graneleiros totalizam 58,1


Um dos gargalos em armazenagem é a demora na concessão de licenciamento ambiental para instalação de novas estruturas milhões de toneladas de capacidade (49,8% no Centro-Oeste e 32,5% no Sul). Já os chamados silos para grãos somavam uma capacidade útil de 61,4 milhões de toneladas (56,5% no Sul e 25% no Centro-Oeste). No início de 2014, a Farsul – Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul divulgou estudo considerando a capacidade da rede de armazéns no Brasil em torno de 140 milhões de toneladas. Diante de uma previsão de safra (2013/14) da Conab feita em junho, para uma colheita de 193,6 milhões de toneladas, o deficit de armazenamento brasileiro seria, portanto, de 53 milhões de toneladas. Ao se considerar o sucateamento de várias unidades, pesquisadores avisam que este deficit pode ser esticado para algo em torno de 70 milhões de toneladas. Em 23 de junho de 2014, a Conab contabilizava capacidade total de 146,9 milhões de toneladas nos armazéns brasileiros. Um dos quadros mais preocupantes está justamente no estado que mais produz grãos no Brasil: o Mato Grosso. Lá a capacidade estática para armazenagem é de pouco mais de 29 milhões de toneladas

diante de uma projeção (Conab, junho/2014) de uma safra de 47,1 milhões de toneladas. Nos últimos cinco anos, os agricultores localizados no Centro-Oeste brasileiro tiveram um deságio médio de 15% no preço da soja em relação às cotações na Bolsa de Chicago. Para o milho este índice chegou a 25%. Os números fazem parte do relatório Agri Focus sobre armazenagem, divulgado no dia 11 de junho pelo Rabobank Brasil, instituição de serviços financeiros de origem holandesa especializada no setor de alimentos e agronegócio. Este desconto médio de preços é um indicador conhecido como basis ou base. O quadro apresentado é explicado, em parte, pelas longas distâncias de um país de dimensões continentais, mas é substancialmente agravado pela carência de infraestrutura. “Enquanto produtores próximos à zona central do Mato Grosso arcam com um custo médio de US$ 120 a tonelada para deslocar a produção aos terminais portuários da região sudeste do país, agricultores operando no cinturão de grãos dos Estados Uni-

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Capa Nos últimos 10 anos, a produção brasileira cresceu 7,4% ao ano, ante um avanço de 1,8% nos investimentos em armazéns e silos.

dos arcam com um custo aproximado de US$ 55 por toneladas para percorrer a mesma distância – cerca de 1.500 km”, aponta o documento. Dos estados brasileiros, apenas o Rio Grande do Sul tem folga em armazenagem. O estudo mostra que a capacidade estática supera em 155% a produção média de grãos no estado. O banco traçou um quadro da proporção entre o volume produzido de soja e milho (safra e safrinha) e a capacidade estática de armazenagem nos principais estados produtores. No Mato Grosso até 70% da produção de grãos pode ser armazenada. A situação se agrava nas áreas consideradas como fronteiras agrícolas. O índice é de 52% no Maranhão, 49% no Tocantins e de apenas 32% no Piauí. Preocupação e otimismo O estudo do Rabobank também evidencia que o padrão de exportações de um determinado estado funciona como um termômetro de sua qualidade armazenadora: “No Mato Grosso, por exemplo, a comercialização anual da soja acontece predominantemente no primeiro trimestre de cada ano, já que grande parte dos produtores é forçada a escoar a produção logo após a colheita. No Paraná, estado com maior capacidade de estocagem de grãos, as exportações são distribuídas de maneira mais uniforme ao longo do ano”, aponta o relatório. Com base nas cotações de 2013, o Agri Focus observa que o agricultor da região de Sorriso (MT), que teve condições de carregar sua produção para comercialização no terceiro semestre do ano, obteve rentabilidade 41% superior à época de pico da colheita, quando os descontos no preço da soja em relação às cotações de Chicago chegaram a até R$ 308/t. Na entressafra, este número caiu para R$ 33/t. O Rabobank revela preocupação com a relação entre produção de grãos e capacidade de armazenagem. “Nos últimos 10 anos se estima que a produ26 | Agro DBO – julho 2014

ção brasileira registrou uma taxa ponderada de crescimento de 7,4% ao ano, ante um avanço de 1,8% nos investimentos em armazéns e silos. A expectativa refletida no relatório é de que o PCA - Programa para Construção e Ampliação de Armazéns possa surtir efeito em médio prazo. Lançado em 2013 pelo governo brasileiro, ele estabelece uma linha de crédito de R$ 25 bilhões ao longo de cinco anos com baixo encargo financeiro “Segundo estimativas do próprio governo, o programa deverá possibilitar uma expansão da armazenagem nacional entre 60 a 70 milhões de toneladas, levando o Brasil a alcançar de 205 a 215 milhões de toneladas em capacidade estática até 2018”, aponta o documento. O tom final do Agri Focus revela uma mescla de otimismo, cautela e apreensão: “Estimativas privadas já apontam para um crescimento do mercado de silos e equipamentos para armazenagem. Apenas em 2014 o aumento projetado é de um estrondoso crescimento de 25% do setor. Assim, diversas entidades públicas e privadas vêm levantando questionamentos a respeito da disponibilidade de capital humano para a condução de tantos projetos”. O Rabobank considera que, mesmo com a concretização das projeções do Governo, os novos investimentos podem ser incapazes de dar o resultado esperado: “ao longo dos próximos 10 anos o volume de soja e de milho deve crescer 27% partindo de 160 milhões de toneladas em 2014 para 210 milhões de toneladas em 2023. Dessa forma, caso o ritmo de investimento não se mantenha após 2018, os novos incrementos na produção de grãos já seriam suficientes para saturar novamente os armazéns brasileiros. Mesmo com o aumento de 40% na capacidade estática brasileira até 2018, a proporção projetada entre produção e capacidade de armazenagem ainda seria significativamente inferior aos 120% apontados como ideal”.

Armazém da Conab, com capacidade para 800 mil sacas, ainda desativado. Os produtores estão em negociações para assumir a estrutura.



Questão fundiária

O Brasil acabou? A política de demarcação de terras no país embute o perigo de engessar nossa capacidade futura de produzir alimentos. Evaristo Eduardo de Miranda *

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* O autor * é engenheiro agrônomo, doutor em ecologia, coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

m 25 anos, o Governo federalizou quase 35% do território nacional destinando-o a unidades de conservação, terras indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos de reforma agrária. Sem planejamento estratégico adequado, esse conjunto de territórios resultou essencialmente da lógica e da pressão de diversos grupos sociais e políticos, nacionais e internacionais. Agora, o país está diante de um desafio de gestão territorial, gerador de conflitos cada vez mais agudos. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até outubro de 2013, 1091 unidades de conservação ocupavam 17% do Brasil. Aqui, na maioria dos casos, as unidades de conservação excluem a presença humana, enquanto na Europa, Ásia e Estados Unidos pode haver agricultura, aldeias e diversas atividades nos parques nacionais, sem evocar a ampla visitação turística. Nas unidades de conservação, a legislação ambiental brasileira ainda define no seu entorno externo uma zona de amortecimento onde as atividades agrícolas (e outras) são limitadas por determinações da gestão da unidade de conservação (proibição de transgênicos, de pulverizar com aviação agrícola etc.). A largura dessa zona é variável. Estimativas avaliam o seu alcance entre 10 a 80 milhões de hectares adicionais (1 a 9% do Brasil). Segundo a Funai, 584 terras indígenas ocupam aproximada-

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• 1.098 unidades de conservação • 584 terras indígenas • 9.128 assentamentos • 268 quilombolas • 11.078 áreas • 291.535.000 ha a gerenciar 34% do Brasil

Áreas Legalmente Atribuídas TIs (FUNAI, 2013), UCs (MMA, 2013), Quilombolas (INCRA, 2013 e SEPIR, 2013) Assentamentos (INCRA, 2013)

Fonte:Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) - EMBRAPA

mente 14% do território nacional. Reunidas, essas duas categorias de áreas protegidas, eliminando-se as sobreposições, ocupam 247 milhões de hectares ou 29% do país. Segundo a International Union for Conservation of Nature (IUCN), os 11 países com mais de dois milhões de quilômetros quadrados existentes no mundo (China, EUA, Rússia etc.) dedicam 9% em média de seus territórios às áreas protegidas. Com quase 30%,

o Brasil é o campeão mundial da preservação. A atribuição de terras pelo Governo Federal não acaba por aí. Sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) existem 9.128 assentamentos, de diversas naturezas e estágios de implantação. Eles ocupam 88,1 milhões de hectares, ou seja, 10,2% do Brasil ou 14,4% do que resta quando descontado o território já atri-


buído às áreas protegidas. Essa área equivale a quase o dobro da cultivada atualmente em grãos no Brasil, responsável por cerca de 190 milhões de toneladas na última safra. Pelos dados do Incra e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, as 268 áreas quilombolas decretadas ocupam cerca de 2,6 milhões de hectares. No conjunto mais de 290 milhões de hectares, 34% do território nacional, estão atribuídos. O mapa do Brasil com mais de 11.000 áreas atribuídas, essencialmente pelo Governo Federal, impressiona e permite visualizar a complexidade da situação atual. Esse mapa ilustra o tamanho do desafio de gestão territorial e fundiária. Cada uma dessas unidades pede um tipo de gestão, avaliação e monitoramento específicos e transparentes. O Governo Federal continuará atribuindo-se mais e mais extensões de terra que, na maioria dos casos, sairão do controle dos estados e municípios. Há Estados em que boa parte de seu território já foi “federalizada” por decretos federais de atribuição de áreas que estarão por muito

tempo sob o controle de órgãos e instituições federais. Além das áreas já atribuídas, existem milhares de solicitações adicionais para criar ou ampliar mais unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos agrários e quilombolas. Cada vez mais, as novas áreas reivindicadas já estão ocupadas pela agricultura e até por núcleos

dos sistemas de abastecimento, armazenagem e mineração. O país campeão da preservação territorial exige que os agricultores assumam o ônus de preservar porções significativas no interior de seus imóveis rurais, como reserva legal ou áreas de preservação permanente, num crescendo que pode começar com 20% e chegar a 80% da área da propriedade na Amazô-

Segundo a Funai, 584 terras indígenas ocupam cerca de 14% do território nacional. urbanos. Esse quadro complexo de ocupação e uso territorial representa um enorme desafio de governança fundiária e envolve conflitos graves, processos judiciais, impactos sociais e implicações econômicas significativas. Além das demandas adicionais desses grupos, minorias e movimentos sociais, todos com sua lógica e legitimidade, há ainda a necessidade de compatibilizar essa realidade territorial com crescimento das cidades, com a destinação de locais para geração de energia, para implantação, passagem e ampliação da logística, dos meios de transportes,

nia. A repercussão do crescimento do preço da terra no custo dos alimentos é apenas um dos reflexos dessa situação. Como disse Maurício Lopes, presidente da Embrapa, em artigo no Correio Brasiliense (8/6/2014), os pesquisadores brasileiros estão cientes de que somente sistemas de gestão territorial estratégicos poderão garantir a compreensão do potencial e dos limites da base de recursos naturais e dos processos de uso e ocupação das terras. E ajudar a superar esse grande e inédito desafio de inteligência territorial. Mas, só pesquisador não basta.

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Legislação

Trabalho escravo e a perda de terras Mudanças na Constituição Federal sobre as relações de trabalho na área rural podem gerar problemas aos produtores rurais. Fábio Lamonica Pereira *

D

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

esde o mês de junho de 2014 nossa Constituição Federal sofreu alteração na redação de seu art. 243, por meio da emenda no 81, passando a dispor: “As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º”. A definição de trabalho escravo pode ser encontrada na redação do Código Penal brasileiro em seu art. 149: “Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (...)” Juntando-se a definição de trabalho escravo com as novas disposições constitucionais, a fragilidade e o risco das relações de trabalho no campo passam a tomar proporções preocupantes. Primeiro, porque o empregador rural, submetido a rigorosa fiscalização, corre o risco de responder a processo na esfera penal em decorrência de manutenção

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de empregados em condições consideradas como análogas a de escravos, o que pode culminar em penas de até oito anos de reclusão, além de multa. O Código Penal ainda prevê as mesmas penas para aquele que “I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho”. A pena ainda pode ser aumentada da metade caso o crime seja cometido “I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem”. Em segundo lugar, caso haja a constatação de exploração de trabalho escravo por parte do empregador rural, a área poderá ser objeto de expropriação sem qualquer tipo de indenização, a exemplo do que já era previsto para áreas em que se identificasse a exploração de culturas ilegais de plantas psicotrópicas, como a maconha, por exemplo. As disposições do Código Penal que caracterizam o trabalho escravo servem de base para a atual re-

gulamentação, por meio da Instrução Normativa no 91 de outubro de 2011 do Ministério do Trabalho e Emprego, em que há a definição pormenorizada do que caracteriza o trabalho escravo, justamente para nortear o trabalho do profissional responsável pela fiscalização e respectiva autuação administrativa. A título de exemplo, vale citar a definição da referida instrução acerca de “jornada exaustiva”: “toda jornada de trabalho de natureza física ou mental que, por sua extensão ou intensidade, cause esgotamento das capacidades corpóreas e produtivas da pessoa do trabalhador, ainda que transitória e temporalmente, acarretando, em


consequência, riscos à sua segurança e/ou à sua saúde”. Nota-se, porém, que as definições favorecem interpretações subjetivas, o que pode, facilmente, levar o proprietário a ser penalizado civilmente, além de sofrer processo penal e chegar até a expropriação de suas terras. O trabalho nas áreas rurais tem características próprias. As exigências quanto a horários, forma de trabalho e descanso são muito diferentes das atividades urbanas. São períodos de trabalhos concentrados em determinadas épocas, como quando do plantio e da colheita das safras, por exemplo. Por isso, é necessária a alteração também da legislação trabalhista a fim de abordar especificamente as diferenças entre o trabalho rural e o urbano, evitando interpretações absurdas e a processos injustos.

É essencial ressaltar que a Constituição não prevê que o produtor seja penalmente condenado para que haja a expropriação de terras. Prevê, tão somente, a constatação de trabalho escravo, o que, atualmente, se dá por meio de processo administrativo previsto em normas

acontece em suas terras. Desta forma, se terceiriza essas operações, ou se determina um responsável por subcontratar ou gerir as relações trabalhistas, deve, no mínimo, assegurar-se, regularmente, de que as normas estejam sendo rigorosamente observadas.

Lei prevê expropriação das terras, sem qualquer tipo de indenização ao proprietário. do Ministério do Trabalho e Emprego, como citado. Obviamente será necessária a regulamentação do referido artigo de forma a prever processo judicial de expropriação, a exemplo do que ocorre em casos de cultivo ilegal de plantas psicotrópicas. Assim, o proprietário da área é quem responde perante as autoridades fiscalizadoras quanto ao que

Ainda que a Constituição Federal assegure o direito ao devido processo legal e todos os meios de defesa permitidos em lei, bem como assegure a presunção de inocência, os mecanismos ora vigentes tornam, sem dúvida, as relações de trabalho no campo mais frágeis e inseguras, o que demanda cuidado redobrado por parte dos proprietários rurais.

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Política Caça aos votos junho último vários líderes Equemdoexerciam agro deixaram a presidência em associações ou

entidades, para “projetos pessoais”. Entre eles, Rui Prado, o presidente da Famato (Federação da Agricultura do Mato Grosso), e Carlos Fávaro, presidente da Apro-

soja (Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso). Kátia Abreu (PMDB/TO) também se licenciou da presidência da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), mas avisou, como política militante e profissional, que tentará a reeleição para o Senado.

Contencioso do algodão discurso no Senado, a senaKátia Abreu pediu atituEde mdora definitiva do governo brasileiro sobre o contencioso entre Brasil e EUA, referente a subsídios americanos aos cotonicultores. O Brasil ganhou na OMC (Organização Mundial do Comércio), os EUA fizeram um acordo, pelo qual pagariam determinado valor por mês. Pagaram alguns meses,

depois suspenderam e aprovaram lei ainda mais danosa à cotonicultura brasileira. Frases emblemáticas do discurso: – Não precisamos ser rudes, mas não podemos ter excesso de diplomacia. – Os europeus abandonaram os subsídios para produtos específicos. Os americanos continuaram, de forma mais agressiva e

Unifito compõe diretoria União dos FabricanA tes Nacionais de Produtos Fitossanitários é

uma nova associação na área de defensivos, que reúne Adama, Nortox, Nufarm, Sipcam e UPL. O propósito é fomentar a produção nacional dos Defensivos Agrícolas Genéricos.

O seu site www.unifito.com. br apresenta a 1ª Diretoria: Presidente: Rodrigo Gutierrez (Adama) Diretores: Humberto Amaral (Nortox), Valdemar Fischer (Nufarm), Luiz Traldi (Sipcam) e Carlos Pellicer (Upl) Diretor Executivo: Ênio Antônio Marques Pereira.

França proíbe o milho OGM em definitivo m nov/2012 a revista Food and Chemical Toxicology publicou artigo Ementados científico sobre a tendência de ratos desenvolverem câncer quando alicom o milho resistente a insetos sensíveis a Bacillus thuringien-

sis da Monsanto, o MON 810. Apesar de a revista ter apresentado uma retratação posterior, contemporizando sobre a metodologia da pesquisa, as autoridades francesas levaram adiante um processo contra o produto e no dia 5/maio o produto foi definitivamente proibido de ter seu plantio em terras da França, pois esta é a decisão do Senado e da Alta Corte francesa.

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desonesta, com nome, endereço e CPF. OBS.: Os governos dos dois países negociam um acordo para evitar um novo painel na OMC. Comenta-se que os EUA pagariam US$ 400 milhões ao Brasil além da inclusão de diversos produtos no Sistema Geral de Preferências para redução de tarifas americanas.

13º Congresso da Abag ai ter forte conotação políV tica o Congresso de Agribusiness da Abag, a se realizar em São Paulo, dia 4 de agosto próximo. Os pré-candidatos à presidência da República, os 3 melhores situados nas pesquisas de intenção de votos (a saber, Dilma Rousseff/PT, Aécio Neves/PSDB e Eduardo Campos/ PSDB), terão 15 minutos cada um, em vídeo, para apresentarem suas propostas de governo que contemplam o agronegócio.



Entrevista

O agro voltou a ser subsidiado

N

Agro DBO – Considerando que o Senhor deve ficar até o final deste ano como ministro da Agricultura, haveria tempo de implantar alguma coisa até lá, em prol dos produtores rurais? Neri Geller – Estou há 3 meses como ministro da Agricultura, e seu eu ficasse apenas 30 dias eu já teria feito o meu trabalho, portanto, eu estou muito satisfeito com os avanços que nós temos tido no agronegócio. Se a gente olhar os últimos meses, desde que assumi a Secretaria de Política Agrícola do Mapa (Ministério da Agricultura), o que avançou em termos de crédito, em termos de aumento do orçamento do seguro agrícola, e ainda programas específicos, como o de armazenagem, o de avanço tecnológico, com certe34 | Agro DBO – julho 2014

Fotos: Carlos Santos/Mapa

a opinião do gaúcho, produtor rural no Mato Grosso, e atual ministro da Agricultura Neri Geller, que conversou com o editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko, o agronegócio está bem atendido pelo Governo Federal em todas as suas demandas. Especialmente em relação ao atual Plano Agropecuário, que contempla baixos juros do crédito agrícola, Geller admite que a agropecuária voltou a ser subsidiada através de juros zero, abaixo da inflação, com percentuais que são a metade da taxa Selic.

za a gente já deixaria um legado positivo. O avanço da produção agrícola aconteceu, foi de 96 a 200 milhões de toneladas nesses 12 anos, primeiro, pela capacidade do produtor rural de incorporar tecnologia, e também por uma política agrícola bem definida e consistente. Essa política agrícola se intensificou principalmente nos 2 e 3 últimos anos. Agro DBO – Como produtor rural, como o Senhor se sente como ministro? Neri Geller – Como produtor rural, como líder classista e até como deputado federal, me sinto privilegiado por ocupar o espaço que estou ocupando. Cheguei em 1984 no Mato Grosso, fui para um assentamento de reforma

agrária, tinha 15 anos de idade, meu pai tinha uma pequena propriedade no município de Selbach (RS), e depois no oeste catarinense, então, acompanhei toda a transformação da produção rural nacional, principalmente a agroindústria no oeste catarinense, e depois a transformação do Cerrado brasileiro, inóspito, sem nenhuma produção. Acabei acompanhando essas transformações e fazendo parte dessas mudanças. Rio Verde ou Sorriso era uma terra que ninguém queria saber, o IDH era zero. Hoje são municípios grandes produtores, celeiros do país, ajudam na economia, nas exportações e na segurança alimentar dos brasileiros. Isso me projetou como pequeno/médio produtor até hoje.


Agro DBO – Qual a sua área como produtor? Neri Geller – Planto em pouco mais de 1.100 hectares, sendo 600 ha de área própria, 200 arrendados de um irmão, e mais 300 e poucos ha de uma vizinha. Para os padrões do Mato Grosso sou um pequeno-médio agricultor. Agro DBO - Qual a sua percepção das dificuldades políticas e econômicas, ou elas são contornáveis? Neri Geller – O setor não pode reclamar. Sinto-me realizado nas conquistas já obtidas. Se a gente pegar as taxas de juros de 10 ou 12 anos atrás, que eram de 8,75% até 16%, elas estão todas equalizadas pelo Tesouro Nacional, pelo menos 90% estão abaixo da inflação, os recursos do Plano Safra de 2013/14 foram de R$ 136 bilhões de reais, os produtores aceitaram, cacifaram R$ 128 milhões nos primeiros 10 meses. Na comercialização, se a gente olhar para a uva, no Rio Grande do Sul, que estava abaixo do preço mínimo, o Governo Federal fez uma intervenção na hora certa. No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul o milho estava também abaixo do preço mínimo, e o Governo também fez uma intervenção no momento certo. Lógico que há dificuldades, isso é natural, agora, graças a Deus, me sinto realizado pelo trabalho que estamos fazendo pelo produtor rural. Todas as demandas que foram encaminhadas pelo setor foram contempladas pela presidente Dilma Rousseff, porque a equipe do Mapa se articulou, teve apoio político, e conseguimos implementar uma política que, eu acredito, se não ótima, no mínimo satisfatória. Agro DBO – O Plano Agropecuário recebeu críticas de algumas lideranças do agro. São procedentes essas críticas? Neri Geller – As críticas vieram de muito poucas pessoas, que são

líderes políticos de oposição. A taxa de juros do custeio aumentou 1%, isto numa taxa Selic que passou de 7,5% para 11% do ano passado para hoje. Portanto, o juro de custeio deste ano é melhor do que o do ano passado. Quando converso com a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e líderes classistas, recebo só manifestações positivas, inclusive de programas importantes que foram reativados, que foram conquistas do setor, como o Moderfrota, por exemplo, que teve taxas de juros reduzidas de 5,5% para 4,5% e inclusão de novos itens financiáveis, conforme as demandas feitas pelo setor. Esse foi um avanço extraordinário, as críticas não procedem e não são de setores representativos. Agro DBO – Voltamos a ter agricultura subsidiada no Brasil. Neri Geller – Exatamente. Agro DBO – O que impede de implantarmos um Plano Agrícola com maior prazo, quinquenal, por exemplo? As altas taxas de juros vigentes no país? Neri Geller – Não, não são as taxas de juros. Os programas de investimento estão com taxas de 8% a 10%, isso é abaixo da Selic. Os programas de correção de solo, de recuperação de áreas, de investimentos em equipamentos agrícolas, de estruturação das propriedades, como armazéns e eletrificação, todos são programas de 6 a 8 anos. Só o Plano Safra é anual, mas todo ano fazemos ajustes. Isso é conforme a inflação, que orienta os limites de créditos, porque o sistema financeiro no Brasil é assim, é ajustado todo ano, conforme as necessidades, porque todo ano se compra adubo, semente, agroquímico e combustível, não há como ser diferente. Há gente que pleiteia planos de 5 ou 6 anos, mas eu não sei como seria isso para uma safra que é anual. Soluções ninguém julho 2014 – Agro DBO | 35


Entrevista Estamos planejando um crédito rotativo para o custeio, isso poderia vir a ser implantado para vigorar por 5 ou 6 anos. lhorar, por exemplo, o modelo do seguro, e hoje pensamos em fazer leilões através da Conab, para que o produtor acesse o recurso e vá comprar onde ele quiser, na seguradora da preferência dele. Estamos amadurecendo essas ideias. Agora, as prorrogações de dívidas, quando ocorrem, podem ter custos ao governo, mas o governo não perdoa os juros e as correções dos produtores, é importante que se diga isso.

apresentou. Agora, o que estamos trabalhando e planejando é um crédito rotativo para o custeio, isso poderia vir a ser implantado para vigorar por 5 ou 6 anos. Agro DBO – O seguro agrícola agora está previsto para ser obrigatório a partir de 1º de julho 2016. Vai valer essa data ou será novamente prorrogada? Neri Geller – Exatamente, vale essa data, mas o seguro agrícola não será obrigatório. O Mapa se posicionou de forma muito positiva nesse sentido, o seguro não pode ser obrigatório, ele tem de ser um benefício e não uma obrigação. Agro DBO – O que impede a plena implantação do seguro agrícola? A falta do Fundo de Catástrofe? Por que não sai essa decisão por parte do Governo Federal? Não seria mais rentável ao Gover36 | Agro DBO – julho 2014

no Federal não ter de prorrogar dívidas em casos de problemas climáticos? Neri Geller – Falta entrar no orçamento do Governo Federal para termos o Fundo de Catástrofe, o Congresso aprovou, mas não se consegue viabilizar isso, são bilhões e bilhões de reais nessa conta, e existem muitas outras prioridades do governo para serem atendidas. Mesmo assim, avançamos. O seguro agrícola, por exemplo, começou tímido, com R$ 100 milhões em 2007, foi para R$ 400 milhões em 2013 e neste ano já foi para R$ 700 milhões, um aumento de 75% de um ano para o outro. Hoje já são 10 milhões de hectares no seguro, sendo 80 mil produtores segurados, com taxa de juro equalizada, afora o Proagro para a Agricultura Familiar. Estamos avançando, e precisamos avançar mais ainda, é claro. Precisa me-

Agro DBO – Quando o ministro precisa falar com lideranças do agro brasileiro quem são os seus interlocutores que sejam representativos do setor? Neri Geller – A OCB, todas as federações de agricultura do país, todas elas, as associações, entre elas a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho, do Mato Grosso e a do Brasil), com agroindústrias, afora a Frente Parlamentar da Agropecuária. Agro DBO – Como produtor rural no MT, o Senhor e seus parceiros na região, quase todos migrantes do Sul e Sudeste, vocês saíram de suas regiões de origem onde eram filiados a cooperativas e estas no Brasil-Central quase inexistem, por isso vocês são filiados a uma associação, a Aprosoja, de ação político-institucional e técnica. O ideal não seria a existência de cooperativas também? O que difere os produtores do Brasil-Central dos sulistas? O tamanho e o poder de compra e venda? Neri Geller – Há que se reconhecer que o Sul e Sudeste têm um avançado sistema cooperativista, que está consolidado há meio século, ou seja, existe uma tradição nisso, e são pequenas


propriedades. Agora, existe o cooperativismo no Brasil-Central, sim. Temos a Comigo, uma das maiores do país, e o Sicredi na região financia tanto quanto o Banco do Brasil. Temos um bom sistema de cooperativismo no Brasil-Central, e, de outro lado, temos a característica de propriedades maiores, algumas de grande porte. E os sindicatos municipais estão muito fortes e atuantes. Agro DBO – E a logística/transporte do Brasil Central? Quando começarão a reduzir os custos dos produtores para esses problemas? Neri Geller – As coisas estão acontecendo. Pelo eixo da BR 163, este ano, vão ser exportados de 3 a 4 milhões de toneladas de milho e soja. A Medida Provisória dos Portos foi muito importante para a produção nacional, porque traz

a oportunidade da iniciativa privada entrar forte nessa área. Lá em Miritituba o terminal já está instalado, fazendo escoamento de boa parte da produção agrícola. A presidente Dilma inaugurou em maio último 1.400 km da Ferrovia Norte-Sul, temos privatizações de grandes eixos ferroviários, o que é muito importante também, tem o terminal ferroviário de Alto Taquari até Rondonópolis, agora com 5 pontos de carregamento, o que dá um fluxo muito grande. Agora, tem de fazer mais, veja que só do ano passado para cá passamos de 18 para 27 milhões de toneladas de milho exportadas, se não se estivesse fazendo nada teríamos problemas sérios de escoamento. É evidente que o investimento não está acompanhando a dinâmica do setor, que atualmente incorpora muita tecnologia,

devido à demanda internacional, mas a logística vai avançando. Agro DBO – E os agroquímicos para cuidar da sanidade das lavouras, cujos registros demoram até mesmo anos para serem liberados, o que se está fazendo nessa área? Neri Geller – Estamos agilizando isso, muita coisa já foi liberada para fabricação, importação e venda, inclusive através do uso do Decreto Emergencial para a liberação da abamectina. Estamos finalizando com uma discussão interna no governo, inclusive com a participação da Casa Civil, vamos constituir um grupo de trabalho altamente técnico e competente para mudar a legislação e tornar mais rápida as aprovações de moléculas que são importantes para a produção agrícola.

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Girassol

Dobradinha produtiva

O consorciamento com braquiária proporciona boa cobertura do solo e resultados concretos na luta contra o mofo branco Marianna Peres

E

m Chapadão do Sul, município a nordeste do estado de Mato Grosso do Sul, o consorciamento de girassol com braquiária vem sendo conduzido com sucesso pelos técnicos e agrônomos da Fundação Chapadão. Como explica o gerente executivo da entidade, Edson Pereira Borges, as braquiárias em geral entram no consórcio como parceiras, produzindo cobertura do solo e raízes, criando ambiente favorável ao plantio direto, produzindo matéria orgânica, formando um colchão para retenção de água, proporcionan-

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do, enfim, melhores condições para o estabelecimento da cultura. “Além de tudo isso, a braquiária cria uma barreira protetora para que os esporos do fungo do mofo branco não cheguem até as plantas de girassol. Mesmo se ocorrer incidência, ela será de baixa infecção, ou seja, teremos menos doença na lavoura”, explica Borges. “Outro fato interessante é que, após a colheita do girassol, a área está liberada para pecuária, pois o pasto está formado pela braquiária, favorecendo uma boa engorda do rebanho da fazenda antes de plantar a sa-

fra verão. Portanto, é possível gerar renda na propriedade o ano todo. Uma vez colhido o girassol, há tempo na entressafra da soja, por exemplo, para por gado na braquiária e depois retirar os animais, dessecar a forrageira que se transforma em palhada para o plantio direto da nova safra de soja”, completa. O produtor Beto Andrade, também de Chapadão do Sul, valida na prática os resultados do consórcio, mesmo estando no primeiro ano do projeto, e comprova o que Borges diz. Todos os 800 hectares que dispõe para a cultura estão semeados em forma de consórcio com a bra-


quiária. Como é o primeiro ano, Andrade ainda não sabe quanto a dobradinha vai lhe proporcionar, em termos de produção e produtividade. O consorciamento não altera o sistema de plantio em relação ao convencional. “Jogamos a braquiária (no caso, Brachiaria ruzizienses) na frente e, quando vem o plantio do girassol, a plantadeira vem incorporando o capim. Jogamos de quatro a cinco quilos de sementes por hectare e quando a braquiária está com dois ou três perfilhos, usamos 60 ml/ha de herbicida de folha estreita para que ela não concorra com girassol. Depois,

Resultados promissores Conforme o pesquisador Jefferson Luis Anselmo, do setor de fitotecnia da Fundação Chapadão, o programa de consorciamento girassol-braquiária no nordeste de Mato Grosso do Sul teve início na safra 2011/12 e foi motivado pela alta incidência do mofo branco, doença mais nefasta quando a cultura em solo coincide com condições climáticas que fomentam a disseminação do fungo – temperatura inferior a 18 graus e alta umidade. “É um projeto valioso por seu potencial produtivo maior, quando comparado ao cultivo de girassol sem o consórcio. Nesta safra estamos avaliando 10 híbridos de girassol, com e sem braquiária”. O girassol vai se mostrando cada vez mais importante dentro do leque de

Beto Andrade examina as plantas e condições do solo em sua propriedade: neste ano, 100% da braquiária vai virar palhada; no ano que vem, pastagem.

Lavoura de girassol consorciada com braquiária no município de Chapadão do Sul

opções para rotação de culturas. Em Mato Grosso do Sul, as lavouras estavam em pleno florescimento e enchimento de grãos em meados de junho – a colheita começa em julho e se estende até agosto no sul e no nordeste, principais regiões produtoras do estado. Para Anselmo, é uma cultura excelente para cultivos em safrinha, semeada após o milho segunda safra, pois tolera mais o estresse hídrico, o que permite concentrar o plantio em março. ”Quando semeada após a soja precoce, deve-se atentar para o uso maior de fungicidas no controle de doenças fúngicas de solo

Arquivo Fundação Chapadão

Aprosoja/Divulgação

mesmo que ela cresça, não acompanha mais o girassol”. Assim como os outros produtores, Andrade vai começar a colheita neste mês de julho. Quanto chegar a hora de plantar soja, vai dessecar a braquiária, que se transformará então em palhada para plantio direto. “Esse ano não vou soltar a boiada após a colheita de girassol; 100% da braquiária vai virar palhada. No ano que vem, vou aproveitar a forrageira como pasto, antes de plantar a soja verão”. Questionado sobre os impactos da colheita de girassol sobre o capim e do pisoteio do gado no solo antes do plantio da soja verão, ele explica que a colheita é feita no alto, já que a inflorescência fica a boa distância do solo (o caule da oleaginosa chega a três metros de altura) e não causa nenhum dano ao capim. “Não tem nada que atrapalhe eu colocar gado em cima do capim e plantar soja em outubro. Eu apenas tiraria o gado uns vinte dias antes da semeadura da soja para que o capim dê uma recuperada para em seguida ser dessecado e então receber as sementes de soja”.

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Fotos Arquivo Fundação Chapadão

Girassol

Incidência de mofo branco no caule (acima) e no capítulo do girassol (no alto, à direita).

e foliares, utilizando um menor estande de plantas”, recomenda. O pesquisador defende o girassol como opção de rotação em sucessão à soja e por oferecer nutrientes para a cultura posterior devido à decomposição rápida da matéria orgânica como potássio e fósforo. “É uma planta redutora de nematoide Pratylenchus; permite maior potencial produtivo das culturas após o girassol, com baixo custo de produção. Além disso, pode ser utilizado na alimentação humana; o seu farelo vira ração para bois e aves e a co-

tação tem preços semelhantes aos da soja”, compara. Entre as desvantagens, Anselmo relaciona certa competição com o milho e sorgo, a falta de um mercado consumidor consolidado e de defensivos específicos para o combate às plantas daninhas, por exemplo. “O cultivo do girassol varia ano a ano, pois tem problema de comercialização, necessariamente tem que estar próximo a uma indústria de processamento devido ao volume que é produzido e isto desfavorece a logística. É necessário que se façam con-

tratos de parceria entre indústria e produtor”. Como apontam os pesquisadores Regina Villas Bôas e Cesar de Castro, da Embrapa Soja, o girassol tem despertado grande interesse dos agricultores devido às suas características agronômicas e possibilidades crescentes de mercado. A planta tem ampla capacidade de adaptação às diversas condições de latitude, longitude e fotoperíodo. Ensaios conduzidos pela Embrapa em conjunto com outras instituições de pesquisa e de ensino demonstram que a cultura se de-

Detalhes sobre o inimigo A podridão branca, ou mofo branco, provocada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é, disparada, a maior ameaça fitossanitária à cultura. Este fungo, de difícil controle, é considerado um dos patógenos mais invasivos do mundo e está distribuído em todos os continentes. No Brasil, ocorre com mais frequência em regiões que apresentam condições climáticas amenas na safra de verão, principalmente durante a noite, como nas chapadas do Cerrado e em áreas acima de 800 metros de altitude.

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O Sclerorotinia sclerotiorum é um fungo polífago, que ataca diversas culturas agrícolas, como soja, girassol, canola, ervilha, feijão, alfafa, fumo, nabo forrageiro, tomate e batata. Por ser um hospedeiro suscetível à doença, o girassol não deve ser cultivado em áreas com histórico de infestação. A rotação com culturas resistentes a ele, como as gramíneas (milho, aveia branca, trigo, sorgo ou milheto), possibilita um período para a degradação natural dos escleródios (que são as estruturas de

resistência do fungo) por meio de seus inimigos naturais. Além disso, é importante o uso de semeadura direta sobre palhada, já que esta proporciona barreira física à dispersão dos ascósporos e um ambiente favorável aos antagonistas. Uma medida fundamental para prevenir a ocorrência da doença é reduzir ao máximo os períodos de alta umidade e baixa temperatura na cultura. Para isso, a escolha da época de semeadura é fundamental e deve ser orientada pelo zoneamento agroclimático.


Antes marginalizado em agricultura de escala, o girassol vem se destacando pela lucratividade e como alternativa viável na safrinha.

Investimento tecnológico O Centro-Oeste é o maior produtor de girassol do país. Da safra passada para a atual, a área plantada na região aumentou 135,5% - passou de 55,2 mil hectares para 130 mil. Segundo levantamento da Conab, a produção estimada deve atingir 225 mil toneladas, 145,4% superior à de 2013 (91,9 mil toneladas). No Mato Grosso, a lavoura cresceu 148%, passando de 50,7 mil hectares para 125 mil. A produção estimada deve ultrapassar 218 mil toneladas, expansão anual de 158,2% ante as 84,7 mil t do ano passado. Para a pesquisadora, o desenvolvimento da cultura vai colocando por terra um antigo e pesado dilema: “Antes, não se cultivava girassol porque não existia indústria e não existia indústria porque não se plantava girassol. Hoje, esta realidade é bem diferente. O agricultor tem para quem vender, a preços compatíveis com os do mercado, operando, inclusive, no mercado futuro”, exclama. Em sua opinião, outro fator interessante é a viabilização de pacotes tecnológicos para dar sustentação ao manejo da cultura e a maior disponibilidade de cultivares, au-

mentando o leque de opções para os agricultores. “Tudo isso explica os números atuais. Na safra atual, o Brasil dobrou a área de cultivo, alcançando 145 mil hectares. Esta expansão está alicerçada em dois fatores: tecnologia e mercado”. A microrregião do Parecis, em Mato Grosso, concentra as principais áreas de cultivo do país. “No município de Campo Novo do Parecis ((396 quilômetros ao noroeste de Cuiabá), existe uma indústria de girassol produzindo óleo de excelente qualidade, inclusive óleo de girassol alto oleico. Também produz farelo, largamente utilizado no arraçoamento de animais. Neste mesmo município, a ADM Brasil está instalando outra indústria processadora, aumentando a demanda por grãos de girassol e, consequentemente, fomentado a expansão da cultura na região, o que deve explicar esse incremento

Antes, ninguém plantava girassol em Mato Grosso porque não havia indústria e não se instalava indústria porque ninguém plantava girassol. Agora, o dilema acabou.

anual da produção do girassol no município”, diz Regina. Mais de 80% da produção ofertada pelo estado está semeada em Campo Novo do Parecis, cidade que está para o girassol como Sorriso está para a soja. Lá, a Parecis S.A., uma usina formada por 46 agricultores da região, garante a viabilidade da produção e do produtor. Conforme o sindicato rural local, a área plantada nesta safra dobrou de 50 mil hectares para 100 mil. Como diz um dos sócios, o produtor Vitório Herklotz, a usina não está sendo ampliada; estão fazendo uma nova unidade, pois a capacidade de prensagem passa de 90 t/dia para 600 t/ dia e em setembro começa a operar. Um investimento de R$ 70 milhões. Ele frisa que na região não há concorrência com o milho, mas a queda no preço do cereal no ano passado, quando a decisão do que plantar em 2014 foi tomada, fez

Sérgio Luiz Gonçalves

senvolve bem desde o Rio Grande do Sul até Roraima, e de Rondônia até o Rio Grande do Norte. Nos últimos anos, vem se apresentando como opção de rotação e sucessão de culturas, principalmente após a soja, embora em algumas regiões, como acontece em Goiás, a incidência de mofo branco ainda limite a expansão. “A alta sensibilidade à doença e o descontrole têm influenciado diretamente na ampliação da área”, destaca o assessor técnico do Sindicato Rural de Rio Verde (GO), Alexandre Câmara Bernardes.

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Girassol Em Campo Novo do Parecis, o girassol tem cotação próxima a da soja e maior liquidez que o milho, por causa da indústria.

com que houvesse essa migração de área, já que os dois são culturas de segunda época. Em Campo Novo, porém, o girassol leva vantagem pela liquidez permanente em função da planta industrial instalada no município. “Essa demanda local faz com que haja preço e mercado ao girassol, pois o óleo vai para o consumo humano e para indústrias de alimentos, como a Pepsico, e o farelo vira ração animal”. Em relação ao mercado, há contratos futuros com tradings como Bunge, Cargill e a Pepsico. Ouro amarelo Em Campo Novo do Parecis, o girassol tem cotação quase equivalente à da soja, em cerca de R$ 52,00 a R$ 55,00. Com um custo de produção cerca de 30% menor que a soja, preços atraentes e demanda local crescente, é a cultura mais importante depois da soja. Se hoje o girassol é uma espé42 | Agro DBO – julho 2014

Sérgio Stefanelo, o pioneiro na produção de girassol em Mato Grosso.

cie de ouro amarelo para Campo Novo do Parecis, essa realidade se deve ao produtor Sérgio Stefanelo, que introduziu o cultivo na região há 20 anos, interessado no mercado de ração para passarinho. Naquela época, não existia semente e a aquisição muitas vezes era feita por baixo dos panos, via importações irregulares da Argentina. Como relembra, “o girassol era desafio, não tinha tecnologia, manejo difícil, mas há cerca de seis anos, quando a Parecis S.A foi criada – ele também é um dos sócios – a cultura ganhou força”. Stefanelo cultiva toda a área disponível: 3,5 mil hectares anuais com girassol. Ele não planta milho safrinha. Depois da soja verão, entra sempre com girassol. Na segunda quinzena de junho, ele já estava com 60% da sua produção colhidos, com rendimento médio de 30 sacas por hectare – a média na região é de 27 sacas por hectare. “Aqui, o girassol é uma

commodity”, exclama, orgulhoso. Assim como qualquer outra cultura, ele destaca que existem desafios anuais a serem superados, como a redução de custos e a busca por maior produtividade, mas o girassol ainda tem suas sementes importadas da Argentina, necessita de novas variedades, de estratégias para combate e controle de pragas e doenças, bem como defensivos mais específicos. “Especialmente no caso do girassol, a logística é vital porque 85% do valor do produto estão em 40% do peso, que é o óleo. O farelo representa 15% do valor, mas está presente em 60% do produto e por isso ele só é viável com indústria muito próxima”. Em Campo Novo do Parecis, o dilema levantado por Regina (não tem produção porque não tem indústria e vice e versa) não existe. Há muito o girassol deixou de ser cultura voltada 100% aos passarinhos.


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Este evento tem o apoio da Revista Agro DBO


Marketing da terra

28 de julho devia ser feriado A data é de homenagens, e nesse texto resume-se a evolução do produtor rural por seu trabalho na história da humanidade. Richard Jakubaszko

Cereais chamam-se assim por causa da deusa Ceres

A

homenagem no dia 28 de julho, quando é comemorado o dia do agricultor, foi instituída com pompa e circunstância em 1960, a partir do centenário da criação do Ministério da Agricultura. O então presidente Juscelino Ku-

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bitschek sancionou o decreto que aprovou a data, pois atribuía o trabalho do agricultor como responsável pelo crescimento econômico do País. O presidente deveria ter decretado também que seria feriado, para os urbanos refletirem sobre a benção do alimento que recebem diariamente, nem imaginam de onde vem tanta coisa boa, talvez detrás da gôndola do supermercado. Na verdade, a homenagem, assim nos parece, chegou atrasada. Talvez com uns 5 mil anos de atraso, e há quem arrisque dizer quase 10 mil anos, quando a agricultura neolítica atingia apenas o Atlântico, o mar do Norte, o Báltico, o vale do Ganges e a grande floresta equatorial africana, as regiões mais próximas já estavam há algum tempo cultivadas e percorridas pelos rebanhos. O rio Nilo transbordava após o solstício, a cada ano isso se repetia entre julho e outubro. Os cultivos na vazante eram feitos após o recuo das águas, quando os solos estavam úmidos e enriquecidos pelos depósitos de aluviões, fertilizando os solos e permitindo colheitas fartas para os egípcios, região onde a própria Bíblia registra os primeiros sinais da humanidade na prática de uma agricultura empresarial, através da armazenagem de grãos e fertilização dos solos. Mudanças no clima e desenvolvimentos da tecnologia podem ter sido as razões iniciais que impulsionaram a agricultura. Mas a agricultura de então já permitia a existência de aglome-

rados humanos com muito maior densidade populacional que os que podiam ser suportados pela caça e coleta. Houve uma transição gradual na qual a economia de caça e coleta coexistiu com a economia agrícola: algumas culturas eram deliberadamente plantadas e outros alimentos eram obtidos da natureza. O grupo que se fixou na terra tinha mais tempo dedicado a atividades com objetivos diferentes de produzir alimentos, que resultaram em novas tecnologias e a acumulação de bens de capital, daí o aculturamento e o melhoramento do padrão de vida. No Império Romano nasceu a organização rural, base da agricultura, desenvolvido depois na Idade Média. A Deusa Ceres da mitologia romana, a deusa das plantas que brotam (dos grãos) e do amor maternal, era o símbolo da época. A força empregada no trabalho com a terra era, essencialmente, humana. Depois, a domesticação de animais permitiu a utilização de bois e cavalos para o trabalho de aração da terra. Interessante é que o primeiro tipo de agricultura foi a itinerante, praticada pelos nômades, povos que não tinham moradia fixa, através do plantio, colheita, queima do terreno e novas plantações, até que o solo não produzisse mais, período após o qual se mudavam para novas plagas. A partir das técnicas que controlavam as plantações, evitando que as mesmas fossem destruídas pelos fenômenos da natureza,


o homem passou a ter moradia fixa, constituindo assim as primeiras cidades, como no caso do Egito Antigo, e suas plantações ao longo das margens do rio Nilo. Nas Américas, os Maias (que viveram nos séculos 4 a 9 a.C., nas atuais Guatemala e Honduras) praticavam notável agricultura, com alta tecnologia, baseada no milho, feijão e na batata. Muito tempo depois, os Astecas (séculos 14 a 16, no México) implantaram um original sistema de irrigação, cultivando milho, pimenta, tomate e cacau. O milho era o alimento sagrado daquele povo, que domesticou lhamas, vicunhas e as alpacas, que também lhes forneciam lã, carne e leite. A agricultura antiga se caracterizava como atividade de subsistência, ou seja, produzia-se a comida da própria família ou da tribo. Não existiam trocas ou vendas de produtos. Conforme nos relata o engenheiro agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Embrapa, doutor em ecologia, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO, a transição da evolução humana entre o período de ser caçador e coletor, que eram itinerantes, para a fase de agricultores, que se fixavam à terra, só foi possível quando se instituiu o direito de propriedade, e, consequentemente, o respeito à posse dos bens produzidos como fruto do trabalho. Não se sabe quando e alhures, se no Egito ou na antiga Roma, festas passaram a ser realizadas após as colheitas, em celebração à fartura propiciada pelos deuses. Até hoje fazemos assim. No Brasil há inúmeros registros dessas manifestações. A mais antiga foi trazida pelos Jesuítas, há mais de 4 séculos, e que são as festas Juninas, comemoradas em todo o Brasil, especialmente no Nordeste, como manifestação de alegria pela abundância de ali-

mentos. Já no Rio Grande do Sul a história da uva na Serra Gaúcha começa em 1875, ano em que chegaram as primeiras levas de imigrantes, vindas de inúmeras províncias italianas. As mudas de videiras trazidas pelos italianos cobriram os vales e encostas da região. Em poucas décadas a viticultura tornou-se a principal atividade econômica. Com o grande desenvolvimento do setor vinícola, surgiu a ideia de se realizar em Caxias do Sul uma exposição de uvas, de caráter festivo. Em 7 de março de 1931 se realizou a primeira Festa da Uva, com duração de apenas um dia, no centro de Caxias do Sul. A Festa da Uva começou antes mesmo da emancipação do município, quando os agricultores se reuniam para celebrar a colheita ao som de música e alegria. Era um momento mágico, em que os produtores comemoravam

uma nova situação deste trabalhador, fundamental para o desenvolvimento do País. Temos a convicção de que, para ser agricultor, é preciso gostar, ter a vocação, e isso, para muitos, vem desde a tenra infância. Mais do que qualquer outra profissão ou atividade, é preciso ter amor pela terra, para poder produzir o que há de mais sagrado para a humanidade: o alimento que garante a vida. Dedicados a essa atividade, os agricultores observam e respeitam o clima, ora amigo, ora inimigo, e ainda enfrentam os cíclicos cenários de mercado e consumo, ou seja, a cada safra e a cada ano surgem novos desafios. No mundo contemporâneo os desafios tornam-se cada vez maiores, e em breve haverá necessidade de se alimentar mais de 9 bilhões de bocas insaciáveis. Será o maior desafio da huma-

A agricultura antiga era de subsistência. Não existiam trocas ou vendas de produtos. com a comunidade o fruto de seu trabalho. Hoje, a Festa da Uva é o maior evento turístico e cultural da cidade. A partir dos anos 1960 a agricultura conheceu a “revolução verde”, tendo aumentado a produção mundial de cereais em cerca de 70%. Foi a primeira vitória dos agricultores diante dos vaticínios apocalípticos de Thomas Maltus. As tecnologias trouxeram novos modelos de agricultura, que permitiram o aumento da produção através da melhoria da produtividade. O agricultor já foi chamado de camponês, lavrador, agricultor de subsistência, pequeno produtor, campesino, agricultor familiar. A evolução social e as transformações sofridas por esta categoria são consequências de

nidade, e dos agricultores, comparando-se este objetivo com os desafios do passado, recentes e remotos, registrados de forma épica e dramática nos livros da história universal. A homenagem ao dia do Agricultor, como vemos, é um “marketing” de boa vontade dos políticos e dos urbanos, e com certeza chegou com enorme atraso, um imperdoável e milenar atraso. Entretanto, com a data da homenagem se manifesta o respeito que o produtor rural merece por seu trabalho, sendo ele ainda credor de outras manifestações de agradecimento pelos trabalhadores urbanos, pois o dia do Agricultor deveria ser feriado nacional, mesmo que esse dia fosse, para os agricultores, um feriado facultativo, pois o trabalho nunca para. julho 2014 – Agro DBO | 45


Citricultura

Quem responde pela crise? Produtores de laranja responsabilizam a indústria de suco, que, por sua vez, acusa o mercado. Enquanto isso, os frutos vão ficando pelo chão.

José Maria Tomazela

C

olhedores percorrem os laranjais da Fazenda Agropecuária São Paulo, em Taquarivaí, sudoeste paulista e, ao invés de apanhar a fruta madura que pende nos galhos, recolhe a laranja que se espalha pelo chão. As frutas, graúdas e suculentas, não seguem para o packing house, mas para valas abertas por tratores onde são enterradas aos montes. A cena, repetida diariamente no mês passado, comovia os experientes trabalhadores rurais, mas era considerada inevitável pelo administrador da fazenda, João Jacinto Dias. Com 90 mil laranjeiras carregados, ele não sabia o que fazer com as frutas. “Ofereci de graça para possíveis compradores, com a condição de que viessem colher, mas ninguém quis. A laran-

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ja cai de madura e não posso deixar que apodreça no solo, pois vai atrair insetos e causar doenças”, justificou. Um mês depois do início da safra paulista, produtores independentes ainda não sabiam qual seria o destino de suas frutas. A boa carga dos laranjais encontrou o mercado abarrotado de suco, com estoque para pelo menos cinco meses de consumo. A indústria alegava falta de condições para absorver a produção. Até o dia 17 de junho, as vendas se restringiam ao mercado interno, fortemente abastecido por laranjas de mesa. “Estamos sem ação. Temos a fruta parada no pé e a próxima florada está para se formar. Não sabemos se vale a pena investir para garantir a safra do ano que vem”, disse Dias.

A laranja que se perde nos pomares da Fazenda São Paulo parece mostrar que a crise no setor, iniciada há cinco anos, está longe de acabar. Para o presidente da Associtrus – Associação Brasileira de Citricultores, Flávio Viegas, produzir laranja no Brasil virou um jogo com cartas marcadas. “Desde que a indústria passou a formar pomares próprios e concorrer com o produtor, é ela que impõe as regras e controla o mercado. Nesse momento, as esmagadoras estão a todo vapor, mas com laranja dos seus pomares. Enquanto isso, o citricultor vê seus frutos amadurecendo e se desespera, acaba dando de graça.” Viegas usa dados de um estudo feito pelo Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Apli-


cada, órgão da Universidade de São Paulo, para mostrar que a indústria controla 54% da produção em São Paulo. “O produtor sempre fez contratos plurianuais e havia uma certa segurança para os dois lados, mas à medida que a indústria foi plantando os próprios pomares, houve a exclusão dos pequenos citricultores”, diz. Segundo ele, a indústria alega que o produtor pode vender no mercado interno, mas interfere também nesse mercado. “Quando percebem que está faltando fruta, eles vendem laranja a preço muito baixo e derrubam o preço.” A indústria concorre com o citricultor independente também na disputa pela mão de obra. Este, precisa registrar o empregado, como exige a legislação. Se não fizer, corre o risco de ficar sem colhedor porque muitos deles, especialmente os mais experientes, preferem ficar livres para trabalhar também nos pomares das empresas. Se contratar legalmente, pode ficar com mão-de-obra ociosa, como aconteceu na Fazenda São Paulo. “Estamos com trinta empregados fixos ociosos. Era para estarem colhendo 1.500 caixas por dia. Para não ficarem parados, estão recolhendo e enterrando as laranjas que caem”, contou Dias. São 50 mil caixas de 40,8 quilos de laranja precoce que, em meados de junho, amarelavam nas plantas e iam caindo. “Estamos num dilema, não sabemos o que fazer. No ano passado, apostamos na melhora do preço e investimos, mas veja no que deu”. Mercado Viegas explica que o suco de laranja tem dois grandes mercados: o norte-americano, abastecido pela Flórida, e o do resto do mundo, atendido pelo Brasil. Os produtores americanos, mais sujeitos a revezes climáticos, se organizaram e mantêm uma relação de equilíbrio com a indústria. “Nesse momento, a indústria dos Estados Unidos está comprando laranja a US$ 14 (R$ 31,00), enquanto aqui eles sinalizam o preço entre

R$ 8,00 e R$ 9,00 a caixa padrão (40,8 quilos). Como os custos de produção aqui e lá são semelhantes, é difícil a situação do produtor brasileiro.” Para o dirigente da Associtrus, a posição do produtor na cadeia produtiva da laranja vem se precarizando há quase vinte anos. “A relação com a indústria vinha equilibrada até 1995 quando, sem qualquer negociação, eles decidiram transferir para o produtor o custo da colheita.” De lá para cá, segundo ele, pelo menos 20 mil produtores desistiram da citricultura, muitos dos quais migraram para a cana-de-açúcar. A concentração da atividade aumentou com o plantio de grandes pomares próprios ou bancados pela indústria. “É preciso que se discuta até que ponto a verticalização interessa ao setor, à própria indústria e ao país”, disse. O dirigente acredita que a saída para o setor é a criação de um “Consecitrus real”, um fórum com regras

João Jacinto Dias, com algumas frutas estragadas: “Ofereci laranja de graça, com a condição que viessem colher, mas ninguém quis”.

Segundo cálculo da Associtrus, pelo menos 20 mil produtores desistiram da citricultura de 1995 para cá..

justas para todos os elos da cadeia, com um número equivalente de votos para os representantes de cada setor. “Desde 2000 estamos propondo a criação do Consecitrus – Conselho dos Produtores de Laranja e da Indústria de Sucos. O Cade, ao aprovar a fusão da Citrovita e Citrosuco, deu aval para o conselho. O problema é que a indústria se reuniu e nos tentou fazer engolir o Consecitrus deles”, diz Viegas. Segundo ele, a Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo não concordou com a entrada da SRB – Sociedade Rural Brasileira no conselho e entrou com recurso. “Estamos à espera do julgamento”, disse. Embora dirija uma das principais entidades de citricultores, Viegas não é mais um produtor. Depois de dedicar grande parte da vida aos laranjais – chegou a ter 60 mil pés em produção no início da década de 1990 –, há dois anos erradicou o último pomar. “Parei, não consegui mais trabalhar. Aguentei os prejuízos, os ristos, mas os custos trabalhistas tornaram-se insuportáveis.” O citricultor Roberto Dragone, da Fazenda Garibaldi, em Buri, no sudoeste paulista, deixou de produzir laranja industrial, mas se manteve na atividade. Ele passou a se dedicar exclusivamente aos citros de mesa. Os dois mercados, segundo ele, hoje estão bem definidos. “A laranja de indústria tem o padrão voltado para a quantidade, enquanto a de mesa tem a ver com qualidade e variedade.” A família é pioneira nesse segmento, com tradição iniciada em 1930 pelo avô italiano de Dragone. “Ele vendeu frutas na rua até 1933, quando adquiriu um box no Mercado da Cantareira, em São Paulo, que mantemos até hoje.” O produtor deslocou-se para o sudoeste há trinta anos em busca de terras mais baratas e já cultiva 140 mil pés de citros, incluindo tangerinas. “A safra começou com pouca oferta de fruta boa e estamos com o preço alto.” Ele conta que a média de preço da laranja de mesa, que recebe tratamento especial antes de ser julho 2014 – Agro DBO | 47


Citricultura

posta à venda, é 200% maior que a industrial. “Graças a Deus, nós não dependemos da indústria de suco”. Como ele, muitos citricultores migraram para o sudoeste paulista para fugir das áreas com maior incidência de doenças como o cancro cítrico e o greening. O pesquisador Renato Beozzo Bassanezi, do Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura, alerta para a expansão do greening nos pomares do estado. O controle da doença, conhecida pela sigla HBL e causada por uma bactéria, tem grande impacto sobre o custo da produção. Uma projeção baseada na difusão da bactéria prevê que a doença pode atingir 14% das plantas nos laranjais paulistas este ano. Em 2012, a moléstia afetava 6,9% das plantas. Nos últimos dez anos, 34 milhões de plantas com greening foram erradicadas. Esse número, no entanto, é pequeno diante da erradicação de laranjais causada pelo abandono da

atividade por citricultores descontentes. Dados da CDA – Coordenadoria de Defesa Agropecuária de São Paulo, mostram que, entre as 17.229 propriedades rurais produtoras de citros no estado, 4.214 erradicaram seus pomares, eliminando 46 milhões de plantas entre 2012 e 2013, de um total de 212,6 milhões. Ainda segundo a CDA, 80% da erradicação ocorreu em pomares com menos de 10 mil árvores. Por outro lado, as grandes plantações aumentaram: são 149 propriedades com mais de 200 mil plantas e que detêm 33% de toda lavoura de citros e mais de 40% da produção. A geografia da fruta também mudou: no início de 2014, o sudoeste paulista, de pouca tradição em citros, já tinha 46 propriedades com mais de 200 mil plantas. Numa delas, em Iaras, estão sendo plantados três milhões de pés de laranja. Relatório produzido pelo Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica em processo que

Além das questões de mercado, as doenças assustam os produtores. Nos últimos 10 anos, 34 milhões de plantas com greening foram erradicadas.

Para a CitrusBR, a crise no setor foi provocada pela queda do consumo de suco, principalmente nos Estados Unidos.

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julga denúncia de cartelização pela indústria do suco aponta efeitos negativos da alta concentração do setor. Segundo o documento, no caso da citricultura, o baixo preço pago pela laranja, a porcentagem da produção adquirida e o retardamento de compra da safra geram perdas de produtividade e aumento de custos, que vão se agravando ao longo do tempo, levando à exclusão de citricultores tradicionais do setor. O relatório ressalta as compras discriminadas pela indústria, que favorecem os grandes citricultores parceiros, em detrimento dos menores e independentes. Citricultores que recebem preços mais baixos tornam-se incapazes de investir em eficiência e, dessa forma, são injustamente excluídos do mercado. O documento defende a criação do Consecitrus que, segundo o Cade, teria como objetivo adicional mitigar a discriminação dos industriais junto aos produtores agrícolas. Sem consumo A CitrusBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos, entidade que reúne as grandes indústrias de suco, nega o controle sobre a produção de laranja e a influência no mercado alegada pelos citricultores. O diretor-executivo José Ibiapaba Netto diz que a culpa da crise é a queda no consumo de suco, principalmente nos Estados Unidos. Por dia, são lançados 800 tipos diferentes de bebidas no mundo, incluindo as águas saborizadas, e muitas substituem o suco de laranja. Todos os sucos integrais, especialmente o de laranja, sofrem ataques por sua quantidade de açúcar e calorias, o que gera um efeito no consumo. Uma campanha do Idec – Instituto de Defesa do Consumidor, disponível nas redes sociais, mostra que grande parte dos sucos embalados disponíveis no mercado contém quase nada de suco ou polpa da fruta e grande quantidade de água com açúcar, além de sódio, acidifi-


Para muitos, o Consecitrus pode ser a saída para a crise, desde que atenda os interesses de todos os elos da cadeia produtiva. cantes, conservantes e outros componentes químicos. A revogação da chamada Lei dos Sucos, de 1974, que obrigava a indústria de refrigerantes a adicionar suco natural da fruta nas bebidas, contribuiu para reduzir a demanda, embora a adição não fosse significativa. O diretor da CitrusBR não vê interesse da indústria em concentrar a produção de laranja em pomares próprios. Segundo ele, nos últimos dez anos, a produção própria variou de 25% a 38% da laranja esmagada, tendo o percentual mais alto ocorrido na safra passada. De acordo com Ibiapaba Netto, nesta safra o mercado abriu a compra de laranja em meados de junho oferecendo entre R$ 8,00 e R$ 9,00 pela caixa. “O que acontece é que o setor está em crise e isso vale para a cadeia como um todo. Quem manda no mercado é o consumidor e não temos poder de barganha com o mercado externo.” De um ano para o outro, afirma, 64 milhões de caixas de laranja deixaram de ser consumidas na forma de suco. “Entre 2003 e 2012, o mundo deixou de consumir toda a laranja que o Brasil produz em um ano. Se esse volume de laranja deixa de ser consumido lá fora, sobra fruta aqui.”

Segundo Ibiapaba, a indústria tem feito acordos com o governo para fazer compras adicionais da fruta, por isso os estoques estão elevados. “Em junho de 2013, tínhamos suco para atender oito meses e meio de consumo. Só para comparar, os estoques de soja dos Estados Unidos dão para 40 dias.” No final de junho deste ano, ele estimava um estoque de 517 mil toneladas, suficiente para cinco meses e meio de consumo. “O que nos ajuda é que a safra não é das maiores e vamos exportar mais que a produção. Achamos que no próximo ano a situação estará melhor.” A previsão é de se colher no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro, 314,4 milhões de caixas. Para Ibiapaba Netto, o Consecitrus é a única saída para a citricultura brasileira. “Temos trabalhado para aprovar o conselho há quatro anos. Hoje, o problema está entre as entidades de produtores, que não estão se entendendo”, afirma. Segundo ele, o modelo defendido pela CitrusBR estabelece o equilíbrio no setor. “São nove votos para a indústria e nove para os produtores, mas o equilíbrio também depende da união do setor primário.” A Faesp e a SRB

disputam assento no conselho, juntamente com a Associtrus e a Unicitrus. “É preciso que o Cade julgue os recursos dessas entidades para que a conversação seja retomada. O ambiente, hoje, está tão degradado que fica até difícil conversar com os produtores, Enquanto isso, lá fora, a concorrência nada de braçada. É premente que o setor se organize num processo parecido com o da Flórida, com muita transparência”, defendeu.

Os paulistas estão abandonando aos poucos suas lavouras e migrando para outros estados, como Mato Grosso do Sul e Paraná.

Migração O estado de São Paulo tem o maior parque citrícola do mundo e abastece 80% do consumo mundial de suco de laranja. A venda dos produtos à base de citros representa 1,87% das exportações brasileiras e 4,47% das vendas do agronegócio no exterior, segundo a Secretaria de Agricultura. Com a crise em São Paulo, a citricultura tenta se firmar em estados vizinhos. O produtor Waldomiro Sgobi, citricultor na paulista Catanduva, escolheu o município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, para expandir os pomares com 50 mil plantas novas. No Paraná, os produtores que se organizaram em cooperativas estão conseguindo resultados melhores no início da safra. De acordo com o engenheiro agrônomo Paulo Andrade, do Deral – Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura, o modelo permite a compra de insumos mais baratos e algumas vantagens na comercialização da fruta. Segundo ele, como a safra havia sido vendida antecipadamente, na média de maio, o preço pago ao produtor paranaense foi de R$ 10,00 a caixa de 40,8 kg. A título de comparação, em São Paulo, embora a comercialização tenha sido pequena, a média de preço no mesmo mês ficou em R$ 6,50 a caixa. É pouco. Assim não dá. julho 2014 – Agro DBO | 49


Mecanização

Compactação é inimigo oculto As principais causas da compactação dos solos estão no tráfego intenso das máquinas, mesmo em lavouras com plantio direto.

Fotos: Michelin/Divulgação

Amílcar Centeno *

Tecnologia: pneus flutuam, compactando menos.

A

compactação dos solos é citada por muitos produtores como um dos seus principais problemas, tanto sob o sistema de plantio direto como em preparo convencional. As plantas necessitam de uma rede de poros nos solos para que se estabeleça uma adequada troca de gases (principalmente oxigênio e dióxido de carbono), bem como o movimento e a absorção de água e nutrientes. O grau de compactação dos solos depende muito do tipo, das técnicas de manejo e da rotação de culturas ao longo do processo produtivo. De qualquer forma, mesmo em condições favoráveis, é preciso entender como este processo de degradação ocorre, para que se possa evitá-lo ou minimizar os seus impactos. Antes de tudo, é preciso ter em mente que a melhor solução é evi-

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tar a compactação, pois as técnicas de correção são muito caras e muitas vezes seus efeitos são inexpressivos ou pouco duradouros. Também é preciso entender que existem dois tipos básicos de compactação dos solos, que têm causas e efeitos distintos, exigindo diferentes medidas de controle: a compactação superficial, que atinge aproximadamente os primeiros 25 a 30 cm do perfil, e a compactação em profundidade, que pode afetar camadas tão profundas quanto 40 a 50 cm. Compactação superficial A compactação superficial muitas vezes pode ser controlada com um correto manejo do solo, utilizando-se técnicas de cultivo mínimo ou plantio direto, associadas a uma cuidadosa rotação de culturas, com o estabelecimento de uma boa cobertura e o aumento

dos níveis de matéria orgânica, de modo a promover e manter a formação de agregados do solo. Embora em muitas condições este manejo correto seja suficiente para manter o solo com uma boa estrutura, sabe-se que em outras condições é preciso tomar medidas alternativas e preventivas para evitar a compactação superficial. A principal causa da compactação dos solos é sem dúvida o tráfego de máquinas. Este fator vem se agravando com o aumento da capacidade e do tamanho das máquinas. Nas últimas décadas o peso dos tratores cresceu de menos de 5 toneladas para mais de 18 t e o peso das colhedoras de grãos, com plataforma e graneleiro cheio, cresceu de menos de 15 para mais de 30 t. O impacto do tráfego de máquinas pesadas aumenta significativamente em solos com excesso de umidade, o que é típico em nossas regiões de agricultura tropical, em que o plantio precisa ser feito no início da estação das chuvas. Mais recentemente, a prática da segunda safra tornou este problema ainda mais grave, pois é necessário trafegar com colhedoras, carretas graneleiras, tratores e plantadeiras durante o pico da estação chuvosa, sendo praticamente impossível aguardar as condições ideais de umidade do solo na estreita janela operacional entre a colheita da primeira e o plantio da segunda safra. De forma prática, a umidade ideal para trabalhar o solo com o mínimo de compactação pode ser determinada tomando-se uma


pequena quantidade de solo e apertando-a na mão. Caso o solo se desmanche em farelos, está muito seco, caso crie uma bola uniforme e lisa, está muito úmido. Na umidade correta, o solo deve ser plástico o suficiente para não se desmanchar, mas abrir rachaduras quando pressionado. Para minimizar o impacto do tráfego, uma das alternativas mais comuns é reduzir a pressão sobre a superfície do solo com o uso de rodados radiais de baixa pressão ou de esteiras. De fato, uma esteira exerce uma pressão de 6 a 8 psi (libras por polegada quadrada, na sigla em inglês), dependendo de sua largura e comprimento. Já os pneus radiais, com seus flancos mais flexíveis, exercem uma pressão sobre o solo de 1 a 2 psi a mais do que sua pressão de inflação. Assim, um pneu radial de baixa pressão inflado a 6 psi, exerce uma pressão sobre o solo de 7 a 8 psi. Em contraste, um pneu diagonal (pneu convencional, com câmara) precisaria ser inflado a no mínimo 20 a 25 psi. Além de reduzir a pressão sobre o solo, a maior eficiência de tração das esteiras e dos rodados radiais permite trabalhar com os mesmos implementos com menor necessidade de lastros no trator. Compactação em profundidade Vários estudos têm demonstrado que a aplicação de grandes cargas na superfície do solo pode causar a compactação em camadas mais profundas do solo. Esta compactação pode ser ainda mais difícil de corrigir do que a compactação superficial, pois está abaixo da profundidade de trabalho de muitos dos implementos de preparo do solo e por exigir elevado esforço de tração. Além disso, a compactação em profundidade não pode ser controlada apenas pela redução da pressão de contato sobre o solo, pois é proporcional à carga total

sobre o eixo das máquinas, independentemente de como esta carga é aplicada na superfície. O impacto da carga sobre o eixo em profundidade é aumentado de forma exacerbada com o aumento na umidade do solo. Deste modo, cargas sobre o eixo superiores a 10 t em solos úmidos podem causar compactação em camadas de solo a mais de 40 cm de profundidade. Em solos secos, esta compactação fica limitada às camadas mais superficiais. Com o aumento no tamanho das máquinas, é frequente observarmos pesos por eixo muito superiores a 10 t. As colhedoras de grão alcançam facilmente mais de 18 t/eixo, enquanto as carretas graneleiras podem alcançar mais de 30 t/eixo. Os tratores dificilmente passam das 10 t/eixo. A resposta das plantas à compactação em profundidade depende da cultura, das condições do solo e das condições climáticas ao longo de cada safra. Estas camadas compactadas em profundidade podem limitar o acesso das raízes à água em períodos de seca ou impedir a drenagem das camadas superficiais em períodos de excesso de chuva. Caso não seja controlada, a compactação em profundidade pode trazer consequências por vários anos seguidos, pois são pouco

Detalhes de um comparativo de pneus radiais versus convencionais e seus efeitos sobre o solo. O radial preserva mais as características dos solos.

afetadas pelas técnicas de cultivo e pela ação da matéria orgânica nas camadas mais superficiais. Estudos de longa duração realizados em outros países demonstraram que a compactação em profundidade causada pela primeira passagem de um veículo pesado sobre solo úmido pode reduzir a produtividade das plantas por períodos tão longos quanto 10 a 12 anos. Considerando que esse tráfego acontece praticamente todos os anos, podemos imaginar que em algumas condições a compactação em profundidade pode ser um problema permanente. Como se pode ver, em meio a tantas causas e efeitos, torna-se extremamente difícil e complexa a prevenção e o controle da compactação dos solos cultivados, principalmente quando se observa o aumento do tamanho das propriedades, a intensificação do uso dos solos e o maior porte dos equipamentos. Talvez uma das melhores alternativas à disposição dos agricultores é controlar e minimizar o tráfego dos veículos sobre as áreas de lavoura. Esta técnica é denominada de Tráfego Controlado, e será o tema de nosso artigo no próximo mês. * O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

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Soja

Grãos doble chapa Gaúchos ajudam a multiplicar por quatro a área cultivada no Uruguai Gustavo Paes

Lavoura de soja em Melo, Departamento de Cerro Largo, no Uruguai.

S

e quando falam em Uruguai você lembra logo de doce de leite, vinho da variedade Tannat, das tentadoras parrillas ou daquela infinidade de carnes, é melhor acrescentar um novo item à sua lista. Com produção de 3,2 milhões de toneladas na safra 2013/14, das quais 3 milhões disponíveis para o comércio exterior, o país com pouco mais de 3 milhões de habitantes já ocupa a sexta posição entre os maiores fornecedores de soja do mundo – os líderes em exportação são, pela ordem, Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Canadá. O volume colhido no Uruguai, seis vezes maior do que há uma década, é resultado de produtividade

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50% superior nas lavouras, com a média de 2,5 toneladas por hectare na última safra, de acordo com dados do governo uruguaio. Este ano foi o terceiro consecutivo com marcas acima de 2,5 t/ha. No Brasil, segundo maior produtor mundial, atrás dos EUA, na safra 2012/13 a produtividade média foi de 2,9 toneladas/ha, conforme dados da Conab. O Uruguai seguiu o exemplo de Brasil e Argentina e, com recorde sobre recorde, passou de 500 mil para 3,2 milhões de toneladas de soja em dez anos. E vai continuar aumentando a produção, mesmo que algumas terras sejam consideradas inaptas para a agricultura. Especialistas asseguram, no entanto, que o crescimento contínuo será menos explosivo que o

verificado nos últimos anos e a projeção é de que cheguem a 5 milhões de toneladas em 10 anos. O aumento da produtividade na lavoura de soja uruguaia também está associado aos avanços tecnológicos, ao manejo e à eficiência dos produtores brasileiros que, nos últimos 30 anos, compraram ou arrendaram terras do lado de lá da fronteira. Especializados a cultivar arroz irrigado e a criar gado, eles passaram a plantar soja nos campos de várzea e nas coxilhas (áreas com declive) da fronteira entre o Brasil e o Uruguai. É a soja doble chapa (dupla nacionalidade). A proximidade com o Rio Grande do Sul facilitou a entrada dos agricultores pelos municípios de Rivera e Aceguá –


Fernando Gomes/Agência RBS

onde a área cultivada com soja também aumentou significativamente nos últimos anos. Um dos que se aventuraram no Uruguai é Ivanor Carlos Pozzebon Jann, de 52 anos. Há duas décadas e meia, trocou o município de Faxinal do Soturno, na região central do Rio Grande do Sul pela cidade de Melo, capital do Departamento (o equivalente a estado no Brasil) de Cerro Largo, no nordeste do país vizinho. Jann conta que migrou para o Uruguai na década de 1980 para trabalhar como tratorista de um arrozeiro gaúcho, numa propriedade situada a 40 quilômetros do município de Aceguá, que faz divisa com a brasileira Aceguá (as duas cidades fronteiriças têm o mesmo nome).

Em 1999, ele começou a arrendar áreas para plantar arroz irrigado e criar gado. Há três anos, abandonou a lavoura de arroz, cultura com que trabalhava desde pequeno. “O grão não está valendo muito e o custo de produção é bastante alto”, sublinha. Jann passou então a cultivar soja e criar gado “Pampa”, como ele denomina os bovinos da raça hereford, para diversificar a atividade da Agroganadera Jann, onde vive com a família, a 40 km de Melo. “A nossa propriedade é pequena, mas quero seguir plantando soja e criando gado (atualmente, tem 300 cabeças). Não dá para desistir de uma coisa e ficar dependendo unicamente da soja ou do gado”, argumenta. Enquanto ele fala

ao telefone celular, dá para ouvir ao fundo a algazarra feita pelos netos. “A minha filha é brasileira, mas os meus netos nasceram aqui, são uruguaios”, diz, com orgulho e já com um acentuado sotaque. Atualmente, a oleaginosa ocupa 350 hectares, boa parte das quais sobre campos de pastagens e áreas baixas de arroz que, até pouco tempo, eram consideradas inaptas para o cultivo de soja. “Estamos aproveitando o bom momento da soja, o que não quer dizer que um dia não volte a plantar arroz”, afirma o agricultor gaúcho, hoje cidadão uruguaio. A opção de Jann é justificada pelo maior valor de venda. Na safra 2013/14, concluída no começo de maio, ele colheu uma média de 3 toneladas/ha, marca considerada boa para a região. “A produtividade da lavoura tem ficado entre 2 mil e 3 mil t/ha, mas o rendimento depende muito do ano, do clima”, admite. A maior parte dos grãos foi encaminhada ao porto de Montevidéu e o restante da produção seria comercializado com tradings locais. “Aqui, no Uruguai, a exemplo do arroz e da carne, quase toda a produção de soja é exportada”, diz. Enquanto a tonelada de arroz é vendida no Uruguai por US$ 260 (ou US$ 13 a saca), a de soja fica em US$ 450 (US$ 25 a saca). Outra vantagem que tem atraído os brasileiros para o lado de lá da fronteira é o menor custo de produção. “Os insumos, como fertilizantes e agroquímicos, saem bem mais em conta do que no Brasil”, testemunha. “O grande vilão é o óleo diesel. É muito caro e influencia no custo de produção.” Quando chegou ao Uruguai, Jann encontrou terras bem mais baratas do que no Brasil. “O hectare custava cerca de USS 150. Na década de 1990, houve uma alta muito grande no preço da terra, que passou a valer entre US$ 500 e U$$ 600. Hoje, não se compra mais nada com esse dinheiro. Qualquer pedaço de terra no Departamento julho 2014 – Agro DBO | 53


Fernando Gomes/Agência RBS

Soja

de Cerro Largo custa mais de US$ 4 mil”. O produtor acrescenta que as terras no sul do Uruguai custam menos do que as supervalorizadas e férteis terras do norte do país, disputadas também por investidores argentinos. “Um hectare de terra perto da fronteira com a Argentina está avaliado em US$ 7 mil: em 2005, custava US$ 3 mil. Na Argentina, pode chegar a valer US$ 10,7 mil”. Para efeito de comparação, estes preços são maiores que os do estado de Iowa, nos Estados Unidos, onde alcança a cifra dos US$ 9.657. Várzea e coxilhas O convite de amigos que já plantavam arroz no Uruguai foi o que convenceu o engenheiro florestal Aquiles Stefanello, de 52 anos, a mudar-se com a família e trabalhar com agricultura no Uruguai, há quase três décadas. Ele cultiva soja em áreas arrendadas com seu filho Henrique Stefanello, de 24 anos, nos departamentos de Treinta y Tres e Cerro Largo, no nordeste do Uruguai. Os Stefanello plantaram nesta temporada 800 hectares de soja em coxilhas, que renderam 3,2 mil quilos por hectare, e outros 300 hectares em várzea, onde o potencial foi um pouco menor, 2,4 mil quilos por hectare. “Neste ano choveu muito, ficou úmido demais e a colheita não apresentou o resultado 54 | Agro DBO – julho 2014

que a gente esperava”, diz Henrique, que ajuda o pai na condução das lavouras desde que se formou engenheiro agrônomo na Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, há três anos. Os Stefanello chegaram ao Uruguai para plantar arroz em 1984 e começaram a testar soja 18 anos mais tarde, na temporada 2001/2. A intenção era cultivar a oleaginosa para fazer rotação de cultura e controlar as plantas daninhas. A experiência foi aprovada e a soja começou a dividir espaço com o arroz e o gado leiteiro. “Tínhamos muitos problemas com o arroz-vermelho – também conhecido como arroz-preto ou arroz-daninho –, que é a principal invasora da lavoura de arroz, mas conseguimos controlar

Ivanor Carlos Jann trocou Faxinal do Soturno, no Rio Grande do Sul, por Melo, no Uruguai, onde planta soja em 350 hectares e cria gado hereford.

O Uruguai passou de 500 mil para 3,2 milhões de toneladas em 10 anos e já é o sexto maior exportador de soja do mundo

a infestação usando sementes resistentes à erva daninha”, diz Henrique. Cada safra tem servido como aprendizado para o cultivo de soja nas áreas inundadas e nas coxilhas, frisa Henrique. Os primeiros anos foram muito difíceis, segundo ele. “Um ano o rendimento era bom e no outro, não. Mas fomos, aos poucos, pegando o jeito, dominando o manejo e descobrindo as vantagens de utilizar soja em rotação com arroz aqui no Uruguai”, destaca. As várzeas, que se tornam campos alagados com uso de elevadores de água dos rios, são drenadas para o cultivo da soja por meio de canais. O sistema é parcialmente acionado para irrigação da oleaginosa. Se toda a área fosse alagada, a planta não teria apenas um “banho” e parte das lavouras não resistiria. A experiência dos Stefanello com soja em coxilhas de La Querência está apenas no segundo ano. “Na várzea, o cultivo de soja é um negócio para se fazer junto com o arroz. Para ganhar dinheiro, é na coxilha”, ensina Henrique. Os produtores, contudo, seguem cultivando arroz. Na última safra, a área plantada com arroz na propriedade foi de 500 hectares. Apesar de terem cruzado a fronteira há 29 anos, os Stefanello não compraram terras no Uruguai. O arrendamento, no entanto, permitiu que eles ultrapassassem a marca de 1 mil hectares cultivados com soja. O valor do hectare está em US$ 5 mil, cerca de 20% acima do preço médio no lado brasileiro. “É quase o mesmo preço praticado no Brasil, mas o valor depende muito do tipo de solo. Existem áreas menos aptas para agricultura, muito rasas e com pedras, que custam menos, mas são mais indicadas para criação de gado e ovinos”, ressalta Henrique. A família prefere usar o capital disponível para se equipar com modernos tratores e colheitadeiras. Para a próxima safra, devem arrendar mais 300 hectares de propriedades vizinhas. “Queremos cultivar


Terra barata, custo de produção mais baixo e tributação zero para exportação atraíram argentinos e paraguaios, além dos brasileiros. 1,5 mil hectares na safra 2014/2015”, adianta Henrique. Após fazer as contas, os Stefanello garantem que o custo de produção da soja no Uruguai é um pouco menor do que no Brasil. O jovem, porém, reclama da rigorosa política trabalhista do governo uruguaio. “A situação piorou com esse novo presidente (José Alberto Mujica Cordano, o “Pepe Mujica”). É uma legislação muito complicada, muito rigorosa, que encarece a contratação de um funcionário. Hoje, um empregado no Uruguai ganha muito mais do que um no Brasil”, critica, acrescentando que outro problema, não menos grave, é a falta de mão de obra qualificada. “Essa é uma grande carência no Uruguai. Quem tem um bom empregado não larga por nada”, completa. Logística deficiente O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, entende que os produtores brasileiros estão buscando terras no país vizinho para produzir soja em função do bom momento da oleaginosa. “Todos estão produzindo em razão da cotação da soja. É a oportunidade de produzir.” O economista reconhece que os produtores brasileiros encontram insumos mais

baratos do outro lado da fronteira, especialmente os agroquímicos genéricos, importados principalmente da Argentina, que tem uma indústria bem desenvolvida. “No Brasil, esses agroquímicos são bem mais caros em função da tributação que os produtos sofrem no país. O Brasil é uma ilha, o único que bota impostos sobre insumos”, critica. O economista-chefe do Sistema Farsul cita o exemplo do glifosato. “O mesmo produto é vendido no Brasil, Argentina e no Uruguai, até com a mesma embalagem, mas aqui é mais caro”, aponta. O Uruguai exporta tudo, mas sofre com uma logística deficiente.A empresa Fadisol, aliada a um consórcio de empresas, pretende instalar nas margens do rio Tacuari, em uma área de sua propriedade, no Departamento de Cerro Largo (a 20 quilômetros ao sul do município do Rio Branco), um porto lacustre com um cais de 200 metros para receber barcaças. A ideia é escoar as cargas da região, que é produtora de grãos, principalmente arroz, e agora também de soja e trigo. Com o novo porto, os Departamentos uruguaios de Treinta y Tres e de Cerro Largo, às margens da Lagoa Mirim, assim como os departamentos vizinhos, de Rivera e de Ta-

Aquiles Stefanello plantou 800 ha de soja em coxilhas e outros 300 em área de várzea nos Departamentos de Melo e Treinta y Tres

cuarembó, têm todas as condições para se beneficiarem desse modal de transporte. Além de mais barato do que seu concorrente rodoviário, a hidrovia da Lagoa Mirim oferece a esses departamentos a alternativa de utilizar o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, para suas ligações com o comércio mundial e também através do sistema Lagoa Mirim-Lagoa dos Patos-Bacia do Jacuí, atender ao mercado brasileiro, através dos portos de Estrela e Porto Algre. O economista Carlos Cogo, da Cogo Consultoria, de Porto Alegre (RS), acredita que a reduzida extensão territorial do Uruguai não vai permitir uma grande expansão da lavoura de soja. Mas, caso confirme a previsão de uma boa safra neste ano, o país vizinho poderá aparecer na próxima temporada como o oitavo maior produtor da oleaginosa. “O Uruguai já cravou o seu nome no mapa mundial da soja”, afirma. Cogo frisa que os brasileiros não estão sozinhos na disputa pelas melhores terras no Uruguai. Eles têm a concorrência acirrada de argentinos, que estão em maior número por lá, dado a proximidade fisica e cultural, e de paraguaios, também grandes produtores de grãos, principalmente soja. “O alto custo da terra na Argentina fez com que muitos produtores de lá se mudassem para o Uruguai”, afirma. A inexistência de tributação para exportação da soja também teria contribuído para a migração dos produtores. “Enquanto a Argentina cobra 35% sobre a exportação, o Uruguai não cobra nada. Esse já é um bom motivo para trocar de país”, argumenta Cogo. A demanda por terras fez com que os valores subissem muito nos últimos anos, especialmente na região de Mercedes. “Lá, o custo do hectare já ultrapassa US$ 12 mil”, completa o consultor. julho 2014 – Agro DBO | 55


Artigo

Sementeiros se associam Com o crescimento do mercado de sementes, surge a Abrass para dar maior representatividade ao setor, junto com a Abrasem. Daniel Glat *

A

Abrass – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja – é a nova entidade do agronegócio nacional que surgiu há menos de 2 anos para cuidar dos interesses específicos dos produtores de sementes de soja do Brasil. Esse mercado tem um valor atual de mais de R$ 3 bilhões, movimenta mais de 30 milhões de sacas de 40 kg e emprega direta e indiretamente quase 200 mil pessoas. Esse valor cresce exponencialmente na medida em que surgem novos eventos biotec-

produção, comercialização, financiam o processo produtivo, e dão assistência técnica. Foi esse grupo, pela posição central que ocupa no processo, que sentiu necessidade de cuidar de seus interesses específicos e formou a Abrass. Temos ainda: • “Cooperados de campo”, milhares de produtores de soja que são contratados anualmente pelos produtores de sementes para plantarem os campos de produção de sementes. • “Revendas e cooperativas“, partes importantes, pois a maioria das se-

Os produtores nacionais de sementes de soja sentiram a urgência de se organizarem

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

nológicos e aumenta o uso e a oferta de produtos para tratamento industrial de sementes. Além disso, esse mercado é bastante heterogêneo em sua composição, pois é formado por: • “Obtentores de genética”, empresas que desenvolvem as variedades, e têm propriedade legal sobre elas, como Brasmax, Nidera, Monsoy, TMG, Pioneer, Syngenta e Embrapa. • “Desenvolvedores de biotecnologia”, empresas que desenvolvem os eventos biotecnológicos e licenciam, ou não, para os obtentores de genética incorporarem em suas variedades; os eventos biotecnológicos que estão no mercado hoje, a soja RR e a soja Intacta, são ambos da Monsanto; no futuro deverá haver eventos biotecnológicos de outras empresas para soja. • “Produtores de sementes”, são os produtores, mais de 500 no Brasil, que detêm as UBS e fazem

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mentes de soja no Brasil é vendida ao produtor pelos distribuidores. Apesar de a Abrasem ser a grande entidade de sementes do Brasil, ela tem uma agenda ampla e importante, e precisa contemplar os temas nacionais mais relevantes para toda indústria de sementes e mudas e os interesses dos mais diversos setores que fazem parte da entidade. Assim, os produtores nacionais de sementes de soja sentiram a urgência de se organizarem em uma identidade que tratasse exclusivamente de seus assuntos específicos, e fundaram a Abrass, que visa ter atuação complementar e aditiva ao trabalho da Abrasem. A Abrass foi formada inicialmente por produtores de sementes do Brasil Central, mas rapidamente ganhou adesão de todos os estados, e seus sócios hoje já respondem por quase 70% da semente de soja produzida no Brasil. Importante lembrar que quem se

associa na Abrass é o produtor de sementes que deve ser obrigatoriamente filiado a sua entidade estadual de sementes, que por sua vez é membro da Abrasem. Alguns dos principais objetivos da Abrass: • Promover normas e sistemas legais que sejam de interesse dos produtores de sementes de soja. • Captação e programação de incentivos nacionais, internacionais e linhas especiais de crédito destinados ao setor. • Promoção de intercâmbio cultural e científico com entidades nacionais e internacionais do setor. • Discutir e influenciar temas sociais, políticos, legais, fiscais e ambientais que impactam a atividade. • Intermediar negociações com desenvolvedores de genética em relação a valor de royalties e formato de contratos. • Interagir com fornecedores de produtos e equipamentos para qualificar cada vez mais o processo de tratamento industrial de sementes de soja. • Interagir com Desenvolvedores de eventos biotecnológicos para divulgar práticas corretas para uso e preservação da funcionalidade dos eventos. Apesar de jovem, a Abrass atua de forma contundente em diversas áreas técnicas, legais e políticas, tem sede própria em Brasília, no mesmo conjunto da Aprosoja Brasil e do Instituto Pensar Agro, onde se reúne semanalmente grande parte da frente parlamentar para agricultura. Se você é produtor de sementes de soja, e tem interesse em se filiar a Abrass, entre em contato pelo e-mail abrass@abrass.com.br.



Análise de mercado

O que será do algodão? Os cotonicultores ao redor do planeta se mostram cada vez mais apreensivos em relação ao futuro. Paciência. Dias melhores virão.

M

ais da metade dos estoques mundiais sob o controle de um único país (a China), produção global superior ao consumo e crescente substituição do fio de algodão por fios de origem sintética compõem um cenário que suscita incertezas nos produtores. Além de suas qualidades como matéria-prima para vários setores, o algodão é um produto gerador de divisas. O Brasil exportou 445 mil toneladas da pluma de agosto/2013 a maio/2014 e faturou US$ 857 milhões no período, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A variação e as projeções futuras das cotações têm se

tornado o objeto principal de estudo tanto de analistas de mercado, que fomentam o desenvolvimento desse setor, quanto de especuladores em busca de lucros em mercados voláteis. Assim, é comum que a divulgação de boletins conjunturais sobre a cadeia produtiva afete os preços nas mais diversas bolsas que negociam títulos que precificam a pluma. Um dos motivos de preocupação do cotonicultor brasileiro são as últimas projeções do USDA, cujas perspectivas e números exercem impactos negativos sobre os preços mundiais, produção e estoque, influindo nas taxas de crescimento do consumo ou na queda na demanda mundial. Além disso, o poder de

manipulação das cotações exercido pela China, detentora de grande parcela do estoque mundial de algodão, reforça esses impactos. Segundo o ICAC- Comitê Consultivo Internacional do Algodão, aquele país retém 57,6% do estoque mundial de pluma, o que equivale a 11,8 milhões de toneladas. Assim, é nítido que qualquer expectativa de mudança de comportamento chinês em relação ao seu consumo e do uso dado a esse estoque gigantesco fomenta as flutuações dos preços da pluma ao redor do globo. Destaque-se que o Brasil atua como um grande fornecedor de matéria prima para a indústria têxtil mundial. A ampla demanda criada pela China a partir de 2010 estimu-

SOJA – Os preços internos da soja em grão caíram em junho, pressionados pela desvalorização do dólar frente ao real. queda no mercado internacional e perspectiva de safra cheia nos Estados Unidos, maior produtor e exportador mundial. Segundo dados divulgados pelo USDA no final do mês, 95% da safra 2014/15 norte-americana foram plantados até 22/6. Do total, 72% das lavouras estavam em boas ou excelentes condições, 23% em condições regulares e 5%, ruins ou muito ruins.

* Em 16/6, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 70,14 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – As cotações continuaram em queda no mercado brasileiro em junho, principalmente no Rio Grande do Sul. Segundo pesquisadores do Cepea, os vendedores aumentaram a oferta, tentando liquidar os estoques remanescentes. Além disso, a perspectiva de safra recorde no Brasil (33,4% maior que a anterior, conforme estimativa da Conab), a queda do preço nos Estados Unidos e o aumento dos estoques globais também serviram como fatores baixistas.

* Em 16/6, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 775,54 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ARROZ –

As cotações seguiram em relativa estabilidade nas três primeiras semanas de junho. Entre 17 e 24, o Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa (Rio Grande do Sul, 58% grãos inteiros) manteve-se praticamente inalterado (-0,02% no período), fechando a R$ 36,53 no dia 24. Com liquidez baixa, as exportações acabaram sustentando os preços. De acordo com o Irga, as vendas externas cresceram 35% de janeiro a maio, em relação ao mesmo período de 2013.

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* Em 16/6, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 36,49 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado lou o aumento da produção brasileira e abriu as portas para novos mercados asiáticos, como Indonésia e Coreia do Sul, abastecidos tradicionalmente pela Austrália. Nesse panorama, a qualidade superior da pluma nacional é um importante diferencial nos mercados com grandes perspectivas de crescimento econômico e consumo. É importante lembrar que a posição atual do Brasil como quarto maior exportador mundial e o segundo maior no hemisfério sul, perdendo apenas para a Austrália, coloca nossos cotonicultores como os mais bem capacitados para manter o fornecimento mundial de algodão. Isso se deve à ótima adaptabilidade de nossas lavouras à demanda mais imediata com uma produtividade superior à dos maiores produtores mundiais – o Brasil sustenta a segunda posição no ranking mundial de produção de algodão por hectare. É natural que se leia análises enxergando o atual momento do mercado mundial como muito volátil e arris-

* Em 16/6, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 26,24 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

cado. Contudo, é necessário destacar as vantagens que o Brasil possui diante do restante do mundo e lembrar aos produtores que o país deve ser analisado de maneira distinta das perspectivas pessimistas que rondam os jornais e revistas agrícolas. O Brasil, ao longo de dez anos, se posicionou como um dos maiores fornecedores mundiais dessa commodity; a qualidade superior da pluma doméstica é exaltada pelos compradores; o clima favorável e a posição geográfica trazem vantagens para as lavouras nacionais permitindo o abastecimento mundial em período de entressafra do hemisfério norte. Além disso, a grande capacidade do produtor brasileiro de superar as dificuldades evidencia que a cultura de algodão no Brasil caminha para um futuro promissor, na contramão das expectativas negativas dos demais players mundiais do mercado. Fernando Gomes da Motta Mestre em Economia e analista de mercado na Conab

algodão – As cotações cairam ligeiramente na primeira quinzena de junho, pressionadas pela proximidade da colheita, expectativa de quedas internacionais no valor da pluma e falta de liquidez no mercado interno – as indústrias optaram por adiar as compras, na expectativa de baixa maior à frente. O aumento das importações da China, maior consumidor mundial, ajudou, no entanto, a sustentar os preços. A trajetória das cotações dependerá do crescimento exponencial da demanda externa.

* Em 16/6, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 191,21 centavos de real por libra-peso.

milho – As cotações cairam na primeira quinzena de junho, empurradas pelo avanço da colheita de segunda safra no Brasil e pela boas condições das lavouras nos Estados Unidos. No final do mês, o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) elevou sua previsão para a safra global de milho em 2014/15, devido às perspectivas de aumento de produção global, principalmente na China, pressionando ainda mais os preços. CAFÉ –

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

* Em 16/6, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 398,10 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

As cotações do arábica caíram na primeira quinzena de junho no mercado inteno em relação ao fechamento de maio, recuperando-se, porém, em seguida, para então ultrapassar o patamar de R$ 400,00 pela saca de 60 quilos. Conforme avaliação do Cepea, a incerteza do mercado internacional quanto ao tamanho real da safra brasileira induziu os preços para cima. Com avanço da colheita, a perspectiva é de baixa.

AÇÚCAR –

* Em 16/6, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 49,13 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

O aumento da oferta de açúcar bruto no mercado interno, com o avanço da moagem da cana da safra 2014/15, pressionou os preços do produto, favorecendo as exportações. Nas três primeiras semanas do mês, as vendas externas cresceram 26% em relação ao mesmo período de maio, segundo levantamento do MDIC. A queda, porém, foi pequena. De qualquer forma, a tendência no curto prazo é baixista, devido ao aumento previsto na oferta.

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Novidades no campo Variedades IMA para safra 2014/15

O IMAmt – Instituto Mato-grossense do Algodão aproveitou o dia de campo realizado no final do mês passado na fazenda Lagoa Dourada, em Campo Verde (MT), para fazer o lançamento comercial das variedades IMA 5672BG2RF e IMA 5675BG2RF, ambas com tecnologia Bollgard II/Roundup Ready Flex. Segundo o pesquisador Jean Belot, as duas novas variedades estão posicionadas para uso em sistema de segunda safra (após soja precoce),– usado em mais de 70% da área algodoeira de Mato Grosso, principal produtor do país. “Além de apresentar bom potencial produtivo, são resistentes à bacteriose e à doença azul”.

Lançamento de Hortaliças em série

A Sakata não deixou por menos na Hortitec, considerada a maior feira de horticultira da América Latina. realizada em Holambra (SP). Lançou de uma tacada oito variedades de hortaliças: duas de tomate (Valerin e Santy, resistentes ao vira-cabeça e ao geminivírus ), três de pimentão (Marli R, Beti R e Cida R, todos com alto nível de resistência às principais doenças da cultura), uma de abobrinha (Alanis) e duas de pepino (Compadre e Campeiro). O tomate Valerin possui bom desempenho de colheita em períodos chuvosos. O Santy é indicado para cultivo em estação de seca. Entre os novos pimentões, o Marli R inova, segundo a empresa, ao dispor de resistência ao CMV (Cucumber Mosaic Virus) e ao fungo Phytophthora capsici, causador da murcha ou requeima.

Cupuaçu resistente

Biflex Treebags

A Embrapa Amazônia Ocidental apresenta cinco cultivares de cupuaçuzeiro (BRS 297, BRS 298, BRS 299, BRS 311 e BRS 312) de alta produtividade e resistência acima de 85% à vassoura-de-bruxa, a principal doença da cultura, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa. Conforme a pesquisadora Aparecida Claret, as novas cultivares produzem de 7 a 10 mil frutos por hectare, considerando densidade de 235 plantas por hectare – a média na Amazônia, segundo o IBGE, é de dois mil frutos/ha. Os interessados podem reservar hastes para formação de mudas através dos telefones (92) 3303-7882/7886 e do e-mail spm.emao@embrapa.br.

A FMC aproveitou a Hortitec para apresentar o Biflex Treebags para a cultura da banana. Trata-se de um saco impregnado com bifentrina para proteger o cacho da bananeira do ataque de pragas e doenças e de queimaduras solares. A empresa expôs vários produtos de sua linha HF, entre os quais os fungicidas Galben M, para controle da requeima, e Rovral, destinado ao manejo de doenças foliares e de solo nos cultivos de alface, cenoura, cebola, alho, melão, maçã, pimentão, morango, pêssego, tomate, batata e crisântemo.

Nutrição no setor hortifruti

Também com estande na Hortitec, a Aminoagro apresentou diversas soluções para nutrição de hortaliças, frutas e flores, entre as quais o Aminoagro Raiz, utilizado no tratamento de sementes ou no sulco de plantio. Conforme a empresa, o produto é capaz de melhorar a ação de micro-organismos no solo, favorecendo a absorção de nutrientes, e pode ser usado em todas as culturas. Outros lançamentos: Aminoagro Folha TOP, utilizado na fase vegetativa; Alga, para indução do florescimento; Flor, para o período de florescimento até a florada plena; e Fruto Plus, para melhorar o enchimento de grãos, frutos e tubérculos.

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Novidades no campo Escavadeiras florestais

Pressurizador automático

A TMO Forest, braço da Companhia Olsen de Tratores Agro Industrial, sediada em Caçador (SC), apresentou na Expoforest 2014, realizada em Mogi Guaçu (SP), novidades para o mercado de máquinas florestais, entre as quais sua nova linha de cabeçotes Harvester 500C e 500H, produzidas em parceria com a empresa finlandesa Nisula, e uma escavadeira Sany adaptada para o setor. A Companhia Olsen dispõe de equipe especializada, capaz de transformar escavadeiras comuns destinadas a outras áreas em escavadeiras florestais, com plena capacidade de corte, desgalhe e processamento de árvores.

A Lorenzetti apresenta seu novo pressurizador, o modelo PL 280P, com acionamento automático por pressostato – funciona quando o ponto de consumo é aberto; a força da água mantém a rede pressurizada. De baixo consumo de energia elétrica, é indicado para pressurização de redes hidráulicas em geral, drenagem de reservatórios subterrâneos ou poços com lâmina d´água até oito metros abaixo do nível de instalação. Com chave seletora bivolt – para voltagens de 127V ou 220V – o PL 280P é resistente à corrosão e pode de ser fixado no mesmo nível ou acima da caixa d’água ou reservatório.

Basf entra na área de fertilizantes

A Basf anunciou no mês passado sua entrada no mercado brasileiro de fertilizantes com o lançamento dos produtos da linha Librel, formulados a partir de microgrânulos dispersíveis em água para aplicação foliar ou fertirrigação e 100% quelatizados com EDTA. Segundo a empresa, os novos fertilizantes melhoram o equilíbrio nutricional da planta, proporcionam maior eficiência energética e resistência ao estresse, aumentando assim a produtividade e a qualidade do produto final. Voltada ao segmento hortifruti, a linha Librel é dirigida às culturas de tomate, batata, uva, maçã, melão, cebola, alho e folhosas como alface, escarola, rúcula, agrião, entre outras.

Milho orgânico paulista

A Secretária de Agricultura de São Paulo mostrou na Biofach América Latina, realizada no mês passado, a primeira semente orgânica de milho do Brasil: a “Al Avaré”, produzida pelo DSMM – Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral e multiplicada pelo produtor Luiz Fernando D`All Evedove, de Marília. No ano passado, a variedade foi escolhida para ser multiplicada no sistema orgânico, por suas qualidades, resistência natural às pragas e doenças e fácil adaptação às diversas condições climáticas.

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Biblioteca da Terra Meio ambiente legal

Primeiro dos quatro volumes que integram a coleção Direito Ambiental, o livro Princípios Gerais do Direito Ambiental é o ponto de partida para a interpretação das normas que compõem o sistema jurídico ambiental. Tais princípios desempenham papel relevante, segundo seus autores, uma vez que a evolução da sociedade e o contínuo aparecimento de tecnologias fazem surgir novas situações a cada dia, muitas das quais ainda não regulamentadas juridicamente. Com 940 páginas, a publicação custa R$ 180,00. Para adquirí-la, basta acessar o link www.vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/consulta

Atenção ao mofo branco

Crédito para cafeicultores

O livro Ensaios Cooperativos de Controle Químico de Mofo Branco na Cultura de Soja: Safras 2009 a 2012 apresenta resultados individuais e sumarizados de ensaios a campo em vários estados, capazes, segundo o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja, de auxiliar no manejo da doença, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum. O mofo branco é conhecido há tempos. No entanto, sua população vem crescendo, ameaçando economicamente a cultura. A obra está disponível para download (arquivo em PDF) no link www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/985018. Para adquirir a publicação impressa, é preciso consultar a Embrapa Soja pelo telefone (43) 3371-6119 ou pelo e-mail cnpso.vendas@embrapa.br

Lançamento do Programa Café Sustentável, o Guia Prático de Linhas de Crédito para Sustentabilidade dos Cafeicultores, produzido pela P&A Marketing, apresenta uma seleção das principais linhas disponíveis no Brasil, muitas das quais deixam de ser acessadas por falta de conhecimento do produtor e dos agentes de promoção. As linhas de crédito descritas no guia foram divididas segundo o foco ambiental, social, econômico ou regional. Para estocagem, por exemplo, o prazo para pagamento é de 360 dias, com 180 dias de carência, juros de 5,5% ao ano e limite de R$ 2 milhões. São apresentadas, ainda, as instituições que podem ser contatadas para obtenção de recursos. Adequar a propriedade demanda investimentos e exige crédito disponível para isto. Diversos programas federais e estaduais disponibilizam recursos em condições atrativas (juros baixos, pagamento facilitado etc.). Existem ótimas oportunidades que são apresentadas neste guia. Caso tenha interesse em receber a versão impressa ou o arquivo em PDF envie e-mail para: peamarketing@ peamarketing.com.br

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Sobre adubação verde

O livro Adubação Verde e Plantas de Cobertura no Brasil – Volume 1 atualiza o conhecimento científico sobre a tecnologia. Seus autores, Oscar Fontão de Lima Filho, Edmilson Jose Ambrosano, Fabrício Rossi, José Aparecido Donizete Carlos, discorrem sobre a evolução do conceito de adubação verde e apresentam informações técnicas e práticas sobre semeadura, manejo de biomassa, rotação de culturas, melhoramento genético, aspectos ecofisiológlcos, nutrição e fitossanidade, entre outros temas. Com 507 páginas, custa R$ 70,00 e pode ser adquirido através do fone (31) 3899-3490 ou do site www.editoraufv.com.br.

Consorciamento em miudos

O livro Consórcio Milho-Braquiária foi dividido em oito capítulos. O primeiro apresenta um histórico do consorciamento; o segundo, modalidades e métodos de implantação; no terceiro, os autores discorrem sobre identificação e características de forrageiras; o quarto capítulo aborda o manejo de plantas daninhas; o quinto, o risco climático; o sexto trata da adubação do milho safrinha em consórcio e o sétimo, dos cuidados em áreas com nematoides. O último capítulo mostra a viabilidade econômica do consórcio milho-braquiária/soja/milho safrinha. Parceria entre 23 pesquisadores de várias instituições, a obra pode ser adquirida através do telefone (67) 3416-9701 ou do e-mail cpao.chttp@embrapa.br



Calendário de eventos

JULHO

10

– Expo Azeite 2014/8º Festival do Azeite, Exposição e Encontro Internacional da Cadeia Produtiva da Olivicultura – De 10 a 11 – Palácio das Convenções

do Anhembi – São Paulo (SP) – Site: www.expoazeite.com.br – E-mail: info@expoazeite.com.br

16

– EnerSolar + Brasil/ III Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar, Ecoenergy/IV Congresso de Tecnologias Limpas e Renováveis para a Geração de Energia – de 16 a 18 – Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo (SP) – Fone: (11) 5585.4355 – Site: www.enersolarbrasil. com.br

16

– Simpósio Desafios da Fertilidade do Solo na Região do Cerrado – De 16 a 18 – Goiânia (GO) – Fone: (19) 3417-2138 – Site: www.simposiocerrado.com – E-mail: smposiocerrado@gmail.com

27

– Conbea/43º Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – De 27 a 31 – Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo – Campo Grande (MS) – Fone: (16) 3203-3341 – Site: org.br – E-mail: sbea@sbea.org.br

AGOSTO

3

– 30º CNMS/Congresso Nacional de Milho e Sorgo

– De 3 a 7 – Hotel Pestana – Salvador (BA) – Sitel: www.esa-comunicacao. com.br/abms/cnms2014/

4

– 13º Congresso Brasileiro do Agronegócio – Dia 4 – Sheraton

São Paulo WCT Hotel – São Paulo (SP) – Site: www.abag.com.br

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5

– 8ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale – De 5 a 7 – Hotel Continental – Canela (RS) – Fone: (43) 3025.5223 – Site: www. reuniaodetrigo2014.com.br

12

– 14º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha –

De 12 a 14 – Centro de Convenções – Bonito (MS) – Site: www.febrapdp. org.br/14enpdp

12

– 6º Congresso Brasileiro de Mamona – De 12 a 15 –

Universidade do Parlamento Cearense – Fortaleza (CE) – Fone: (83) 31824380 – Site: www.cbmamona.com.br – E-mail: cnpa.cbm@embrapa.br

17

– 47º Congresso Brasileiro de Fitopatologia – De 17 a

22 – Centro de Eventos – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: cbfito2014@fbeventos.com

18

– 4º Congresso Andav/ Fórum & Exposição – De 18 a

20 – Transamérica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3893-1352 – E-mail: inscricao@congressoandav. com.br

19

– SLAC 2014/Simpósio Latino Americano de Canola

– De 19 a 21 – Embrapa Trigo – Passo Fundo (RS) – E-mail: falecom@ abrascanola.com.br

24

– XXIII Congresso Brasileiro de Fruticultura

– De 24 a 29 – Cuiabá (MT) – Fone: (65) 3621-1314 – E-mail: fruticultura2014@industriadeeventos. com.br

30

– Expointer 2014/37ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários – De

26/8 – 22ª Fenasucro/Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética – De 26 a 29 – Centro de Eventos Zanini – Sertãozinho (SP) – Site: www. fenasucro.com. br – E-mail: fenasucro@ reedmultiplus. com.br

Considerada o maior evento mundial em tecnologia e intercâmbio comercial do setor sucroenergético, a Fenasucro agrega este ano em seus 75 mil metros quadrados um novo setor, dedicado a transporte e logística, e sub-setores: armazenagem, equipamentos de proteção Individual e segurança eletrônica. Tradicionalmente, é dividida em Agrocana (a parte agrícola, voltada à lavoura), Forind (aos fornecedores Industriais) e Indústria. Em sua 22ª edição, a feira espera reunir 33 mil visitantes, boa parte dos quais do exterior.

30 a 7/9 – Parque de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) – Fones: (51) 3288.6225 ou (51) 3288.6223 – Site: www.expointer.rs.gov.be – E-mail: expointer@agricultura.rs.gov.br

SETEMBRO

1

– XXIX CBCPD/Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas – De 1 a 4 – Centro

de Convenções do Serrano Resort Convenções & Spa – Gramado (RS) – Site: www.congressosbcpd.com.br

10

– 3º Simpósio sobre Tecnologias no Cultivo do Cafeeiro – De 10 a 11 – Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da Esalq – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3429-4079 – E-mail: cdt@fealq.org.br

14

– Conbap 2014/Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão – De 14 a 17 – Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) – Fone: (16) 3203-3341 – E-mail: sbea@ sbea.org.

14

– 26º Congresso Brasileiro de Entomologia – De 14 a 18 –

Centro de Convenções – Goiânia (GO) – Fone: (62) 3241-3939 – E-mail: eventos. go4@wineventos.com.br

15

– Fertbio 2014/XXXI Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas – De

15 a 19 – Tauá Grande Hotel Termas & Convention – Araxá (MG) – Fone: (43) 3015-5223 – Site:www.eventosolos.org. br/fertbio2014

23

– Frutal 2014 – 21ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria – De 23 a 25 – Centro

de Eventos do Ceará – Fortaleza (CE) – Fone: (85) 3246-8126


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Opinião

Nada menos que a melhor! Defesa Agropecuária pode conquistar o mercado consumidor mundial sendo a melhor no controle sanitário da produção do agro. Décio Luiz Gazzoni *

A

té 2050, estima-se que a demanda global por alimentos possa crescer até 80%, devendo o Brasil contribuir com mais de um terço da oferta adicional. Para tanto dispomos de múltiplas vantagens comparativas, enquanto nossos concorrentes enfrentam dificuldades em expandir a sua produção, seja por acréscimo de área, intensificação da agricultura ou incremento de produtividade. Considere-se também que o crescimento da produção agrícola brasileira somente será possível por aumento das exporta-

será excluído do mercado mais nobre, aquele que paga mais. Portanto, precisamos considerar que o elevado status sanitário de nosso país representa um patrimônio inestimável, uma grande vantagem competitiva, que precisa ser construído, consolidado e protegido continuamente. A lógica da Defesa Agropecuária, inicia com o trabalho de inteligência estratégica, identificando com precisão os perigos sanitários e seus riscos de ingresso e estabelecimento no país, sendo uma parceria entre Defesa e Pesquisa Agropecuária.

Quem não atender as exigências será excluído do mercado mais nobre, o que paga mais

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

ções, pois nosso mercado doméstico está adequadamente abastecido há cerca de duas décadas. Aspectos como deficiências de infraestrutura, a tributação, a legislação trabalhista ou a taxa de câmbio, têm reprimido o agronegócio. Todos são solucionáveis no médio prazo, posta a determinação política de resolvê-los. Equacionados estes entraves, ganha importância a Defesa Agropecuária, que assegura o “visto bom” dos nossos produtos agropecuários no mercado internacional. Os consumidores tornam-se progressivamente muito mais exigentes em relação à qualidade e à inocuidade dos alimentos, e processos como certificação e rastreabilidade serão imposição incontornável do comércio internacional nas próximas décadas: quem não atender essas exigências

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A pesquisa precisa avaliar riscos e desenvolver técnicas de inspeção, diagnóstico, identificação, monitoramento, erradicação e controle de pragas exóticas. Os órgãos de defesa devem atualizar constantemente as normativas, seus manuais de procedimento e as ações e atividades de campo, para evitar o ingresso de novas pragas, detectar precocemente eventuais ingressos, promover campanhas de erradicação ou confinamento de pragas, acompanhando o controle das mesmas, uma vez estabelecidas em nosso território. Além disso, existe ainda grande demanda por erradicação de pragas de notificação obrigatória, especialmente na pecuária, cujo exemplo didático é a febre aftosa que, via de regra, exige a integração das ações com os países vizi-

nhos. Assim, é importante otimizar as operações de inspeção de importações, vigilância sanitária e controle de insumos, dispondo de efetiva capacidade laboratorial para suporte a estes serviços. Os processos de defesa devem ser ágeis, e baseados na melhor ciência. Emoldurando este conjunto deve estar o preparo para eventualidades, configurado em planos de contingência para serem prontamente acionados em caso de detecção de uma praga quarentenária; e a capacidade de defender integralmente os interesses do Brasil em todos os fóruns multilaterais ou internacionais. Um grupo de especialistas, liderado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, está propondo ações envolvendo os maiores desafios do agronegócio brasileiro que, após discutidas com produtores e suas lideranças, possam ser sugeridas aos candidatos a Presidente da República. A nós coube elaborar as propostas para a Defesa Agropecuária, e nossa tese é: o Brasil, como principal protagonista do mercado internacional de produtos agrícolas já no médio prazo, deve dispor do melhor sistema de Defesa Agropecuária do mundo. Se assim não for, perderemos o trem da história e uma enorme oportunidade de ocupar parcela significativa do mercado internacional de produtos agrícolas. Portanto, quem consolidar-se como fornecedor agora, reunirá condições de continuar liderando o mercado, quando muitos ocupantes serão dele alijados.




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