Revista Agro DBO - Ed 58 - Agosto/2014

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Sumário

34 Entrevista

Agro DBO homenageia um dos expoentes do agronegócio nacional, Fernando Penteado Cardoso, prestes a completar 100 anos.

42 Desafio Cesb

Agricultor em Guarapuava (PR), Alexandre Seitz vence o concurso deste ano ao conseguir produtividade de 117,3 sacas de soja por hectare.

48 Soja

Depois de cinco anos de bons resultados, os sojicultores temem que a rentabilidade na temporada 2014/15 não seja lá grande coisa.

52 Nutrição

Gaúchos investem em adubação biológica. A tecnologia recompõe a variabilidade microbiana no solo e melhora a absorção de nutrientes.

20

Matéria de capa O produtor de milho enfrenta um dilema: o que fazer diante do quadro previsto de safras cheias, ampla oferta global, incerteza quanto às exportações e preços baixos? Uma das soluções pode vir da agregação de valor ao cereal. Vários empresas estrangeiras estão implantando usinas no país para produzir etanol. 4 | Agro DBO – agosto 2014

Artigos 9 – Daniel Glat analisa o impacto dos custos de produção na safra 2014/15 28 – Décio Gazzoni descreve uma conquista da ciência: a fotossíntese artificial 32 – Ronaldo Cabrera diz que solo bom tem que atender a regra dos “5 efes” 40 - Amilcar Centeno discorrre sobre a importância do tráfego controlado 46 – Rogério Arioli prega adequação das despesas à realidade dos preços 66 – Fábio Lamonica avalia casos de liquidação de dívidass junto à União

Seções Do leitor.............................................................. 6 Ponto de Vista................................................... 8 Notícias da terra.............................................10 Almanaque.......................................................18 Política................................................................30

Marketing da terra.........................................56 Análise de mercado......................................58 Novidades no campo...................................60 Biblioteca da terra..........................................62 Calendário de eventos.................................63


Carta ao leitor

N

a reportagem de capa desta edição, “A reinvenção do milho”, autoria do jornalista Ariosto Mesquita, Agro DBO traz boas notícias aos produtores de milho: a partir de agora, vamos aproveitar os excedentes da ampla oferta, com demanda fraca e preços baixos, e uma das saídas é usar o cereal para produzir etanol em usinas “flex”, que trabalham com cana-de-açúcar e milho como matérias primas. Entretanto, os cenários para as próximas safras de verão e safrinha, seguem ameaçadores, conforme mostram reportagem da jornalista Marianna Peres, e os artigos de nossos colunistas Daniel Glat e Rogério Arioli, ambos engenheiros agrônomos e produtores rurais. Os produtores entrevistados por Marianna já exercitam criatividade exacerbada em suas estratégias para fazer frente aos preços em baixa das commodities; Glat, por exemplo, faz uma análise abrangente do mercado mundial, no artigo “No azul ou no vermelho”, onde questiona o que pode vir a acontecer nos próximos meses, enquanto Arioli, no “Hora de fechar as torneiras”, diz que o aumento dos custos de produção da safra e a redução dos preços das commodities, clamam por gestão para não ter prejuízo. Agro DBO traz ainda artigos técnicos e uma reportagem sobre compactação de solos, cuja leitura é obrigatória aos que praticam o plantio direto. Na entrevista do mês, “100 anos de paixões”, com o engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, que completará 100 anos de idade no próximo dia 19 de setembro, o leitor encontrará razões para refletir, reler e aprender com as opiniões de um dos mais apaixonados profissionais do agronegócio, ainda na ativa como produtor rural, e cuja sabedoria transborda ensinamentos nas entrelinhas do texto. Aos que conhecem de perto o Dr. Cardoso, como é conhecido, provavelmente poucas surpresas. Aos que o conhecem pouco, ou só de ouvir falar, os exemplos e as sabedorias são transcendentais. Evidentemente que faltou falar na entrevista de outras paixões desse lúcido e incansável personagem centenário, como “a santa braquiária” (a Rusiensis) que ele tanto aprecia, e ainda do Nelore Lemgruber, eis que são temas mais apropriados para a revista DBO, publicação irmã aqui na DBO Editores, dedicada à pecuária de corte. Outras paixões Cardoso deve ter, mas não as confessou, pelo acanhamento cultural de não falar de coisas pessoais. Cardoso é dado a ler poesias, o que mostra elevada sensibilidade humana, mas é um realista de mão cheia, com memória computadorizada. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Élcio A. Bento, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, Gustavo Paes, Hélio Casale, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva e Ronaldo Cabrera Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: foto de Delfim Martins/Pulsar Imagens

Richard Jakubaszko

DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor

GOIÀS Trabalho na STA – Soluções Tecnológicas Agrícolas, revendedor e distribuidor de máquinas da Grimme (alemã), Stanhay (Inglesa), Simon (francesa), Ferrari (italiana), Class ( alemã), Bourgoin (francesa) e a Soucy Track (canadense). Estamos com nossa sede em Goiânia e com cinco filiais nos estados de Goíás e Minas Gerais. Hoje, sou supervisor comercial especifico para a Soucy Track; somos exclusivos no mercado brasileiro para distribuição das esteiras de borracha aplicadas em pequenos, médios e grandes tratores de todas as marcas e modelos, assim como em colheitadeiras de todos as

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marcas e modelos e em outras aplicações como transbordos, caminhões agrícolas, etc. Ao ler a matéria da Agro DBO de título “Compactação é inimigo oculto”, escrita por Amílcar Centeno, chamou minha atenção o que ali foi exposto. Trata-se de um problema que aflige a todos os produtores, tanto no seco como no molhado. Sendo que nossas esteiras de borracha, há um ano no mercado brasileiro (mas em outros países, há mais de 10 anos), ainda não são tão conhecidas pelos nossos produtores agrícolas. Queria ter uma oportunidade de apresentar e comentar sobre as esteiras de borracha para o Sr. Amilcar e pra vocês também. Elas vieram para revolucionar e solucionar, justamente, o “problema compactação”, com grandes vantagens e benefícios sobre os pneus e esteiras metálicas. Aproveito para enviar fotos e alguns vídeos das esteiras, que já estão trabalhando no mercado brasileiro. Desde já, agradeço a atenção de vocês. Marcelo Santos Goiânia MATO GROSSO DO SUL A Agro DBO é realmente uma revista muito boa, com assuntos muito importantes a cada edição. Adão Ramos Moraes Camapuã

PARANÁ Parabenizo a equipe da Agro DBO, que a cada edição surpreende com matérias que abordam o cotidiano e as tecnologias presentes no campo. Nei Zorzo Toledo É (a Agro DBO) uma revista muito interessante. Quero assinar. Ronaldo Mauri Moh Filho Itaipulândia ERRATA Fiquei confuso com a legenda da foto da página 53 da Agro DBO de junho, de um pneu Titan, onde se afirma que é “radial de baixa flutuação”, enquanto no texto da página está colocado que é “modelo de alta flutuação”. O que é que vale? Sou confuso, mas atento... Ricardo Ambrósio, técnico agrícola Cuiabá (MT) NR: Obrigado por apontar a contradição, Ricardo. Lamentavelmente, erramos. O correto é: pneu radial Titan de alta flutuação, e compacta menos. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Ponto de vista

No azul ou no vermelho? A próxima safra de grãos antecipa instabilidades no horizonte econômico, e ter prejuízo ou lucro depende de muita coisa. Daniel Glat *

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

C

onfesso que ando preocupado com as perspectivas da safra 2014/15. Nesta 3ª semana de julho, quando escrevo esse artigo, os sinais não são nada favoráveis. Os EUA, confirmando todas as expectativas, plantaram a maior área de soja de sua história, acima dos 34 milhões de ha; e, com as condições climáticas amplamente favoráveis até esse momento, os EUA caminham para uma produção recorde acima de 100 milhões de toneladas; comparadas com as 89 milhões de t na safra passada e 82 em 2012, quando houve a grande seca. Na América do Sul a produção cresceu quase 20% nas últimas 3 safras. Para piorar, acredito que a área de soja deve crescer no Brasil em 2014 devido às aberturas de novas áreas, contratos de arrendamentos, planejamentos plurianuais, e até pela provável queda da área de milho verão. É verdade que o apetite chinês por soja continua grande, com importações crescendo na faixa de 5 milhões de t por ano e induzindo o crescimento da demanda global. Por outro lado, a produção mundial de soja prevista para 2014/15, de mais de 300 milhões de t, se confirmada, será 15 milhões de t acima de 2013/14. Em consequência, os preços futuros de Chicago para 2015 apontam para menos de US$ 11/bushel, podendo chegar a US$ 10/bu, ou menos. E aí a coisa começa a complicar para nós no Brasil. Fazendo “conta de padeiro”, câmbio e prêmio no período de fechamento da safra 13/14, um

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preço médio CBOT de US$ 10 /bu em 2015, por exemplo, corresponderia aproximadamente a R$ 15 por saco a menos, comparado com essa safra. Com o custo de produção total estimado pelo IMEA (Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária), por volta de R$ 2.430/ha, teremos um “break even” entre 52 e 57 sc/ha dependendo de onde estiver o produtor. Sem espaços para nenhum tipo de derrapagem de clima ou operacional. Fica a esperança da valorização do dólar em relação ao Real: o Rabobank prevê dólar na faixa de 2,30 a 2,40 no final de 2014; a média das previsões 2015 aponta para perto de 2,50. E o milho? Nos EUA, apesar da redução de 35,4 para 34,2 milhões de hectares na área plantada, a condição excepcional de clima, considerada no último relatório do USDA como a 2ª melhor safra dos últimos 25 anos até esta data,

indica uma produção similar do ano passado, acima das 350 milhões de t. Com as boas safras da China, Europa e da América do Sul nos últimos 2 anos, a produção global deverá chegar perto de 980 milhões t pelo segundo ano consecutivo, superando com folga a demanda mundial, e aumentando os estoques de passagem. Com isso, Chicago já aponta preços futuros de milho abaixo de US$ 4/bu. Aqui no Brasil, nos últimos 3 anos, saímos de um patamar de 55 milhões de t de milho para um novo patamar acima de 70 milhões de t; coincidentemente, a safra 2012 foi a grande seca americana com quebra de mais de 80 milhões de t de milho; isso nos permitiu elevar sobremaneira nossas exportações, que andavam na faixa de 10 milhões de t, para 20 milhões de t em 2012, e 26 milhões de t em 2013. A pergunta que fica é: e agora, com os estoques americanos recompostos, quanto seremos capazes de exportar? A Conab fala em 20 milhões de t para 2014; entretanto, tenho minhas dúvidas. A outra pergunta é: com Chicago abaixo de US$ 4/bu, qual será o preço de liquidação no interior do Brasil para o milho exportado? É nessa hora, quando as altas cotações da soja e do milho parecem em retração, que notamos como a nova Lei Agrícola Americana, desiguala nossa competitividade com eles; enquanto aqui fazemos contas e táticas para sobreviver a um ano de preços ruins, vejam a situação do produtor americano: segundo trabalho do economista Gary Schnitkey, da Uni-


versidade do Illinois – publicado no site www.agriculture.com –, se os preços caírem a US$ 3,55/bu um produtor de milho do Illinois que produzir nessa safra 197 bu/acre (+ ou – 200 sc/ha), receberá entre seguro rural de renda e do ARC ou PLC – mecanismos de proteção de renda ao produtor, oferecido gratuitamente pelo governo americano – algo equivalente a R$ 700/ hectare (US$ 130/acre). Se o preço colheita for US$ 3,9/bu o seguro de renda não é acionado, mas de ARC ele receberá ainda R$ 300/ha (US$ 62/acre). Caindo as produtividades ou os preços, aumentam os valores do seguro e do ARC. Ou seja, através do seguro rural e da rede de proteção governamental, o produtor americano tem assegurado uma renda mínima no milho por volta de US$ 850/acre (R$ 4500/ ha), independentemente de quan-

to caia o preço, mas pode melhorar sob altas produtividades ou preços melhores. E aqui no Brasil, sem seguro de renda e sem proteções governamentais, como lidar com perspectivas de preços mais baixos? Conversando com produtores e colegas agrônomos, as principais recomendações são as mesmas de

custos que não traga perdas diretas de produtividade; acompanhar o mercado futuro de perto nos próximos meses, atrás de algum possível pico pontual de preço por conta do clima americano; mas, principalmente, continuar a busca incessante pela excelência técnica, operacional e gerencial, talhão a talhão, para maximizar a produti-

Especialistas têm expectativa de valorização do dólar frente ao Real, ainda em 2014. sempre: pensar duas vezes antes de plantar áreas marginais ou de potencial baixo, ou de arrendamento muito alto (apesar dos insumos já estarem em boa parte comprados); tentar usar a fertilidade residual das áreas mais produtivas fazendo reduções localizadas de fertilizantes; buscar todo tipo de redução de

vidade média, limpa e seca. Em safras boas, como foram os últimos 4 ou 5 anos, a diferença de um manejo muito bom para um manejo médio, era uma margem maior ou menor, mas sempre no positivo. Em anos como o atual, essa diferença pode significar fechar no azul ou fechar no vermelho.

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Notícias da Terra Safra I

Produção sobe mais um pouco

A

s estimativas da Conab sobre a safra 2013/14 de grãos vêm crescendo mês a mês. De acordo com o 10o levantamento, anunciado em julho, a produção brasileira chegará a 193,8 milhões de toneladas, 2,8% acima do obtido na safra passada (188,7 milhões t) e 0,15% acima (304,2 mil t a mais) do previsto no 9o levantamento, divulgado em junho (193,6 milhões t). Em maio, a Conab apontou 191,2 milhões t; em abril, 190,6; e em março, 188,7. A seca no começo do ano sobre algumas das principais regiões produtoras afetou plantações e derrubou as projeções, antes próximas do patamar atual – em janeiro, a expectativa era de 193 milhões de toneladas. No decorrer do primeiro semestre, as lavouras se recuperaram e a produtividade cresceu graças ao pacote tecnológico empregado. No que diz respeito à área plantada, a estimativa da Conab é de 56,82 milhões de hectares, 6,1% maior (3,3 milhões de hectares a mais) em relação à da safra 2012/13. A pesquisa foi feita entre os dias 22 e 28 de junho.

Safra III

Safra II

Distribuição por regiões

IBGE também eleva previsão

O

volume da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, conforme o IBGE: Centro-Oeste, 80,1 milhões de toneladas; Sul, 72,7; Sudeste, 17,2; Nordeste, 17,4; e Norte, 5,1. Comparativamente à safra passada, o levantamento aponta crescimento de 45,6% no Nordeste; 3,7% no Norte e 2,1% no Centro-Oeste. As regiões Sudeste e Sul apresentaram, respectivamente, queda de 13% e 0,5%. O estado de Mato Grosso segue na liderança entre os maiores produtores de grãos do Brasil, com 24,1% de participação, à frente do Paraná (18,5%) e do Rio Grande do Sul (16%). Juntos, os três estados respondem por 58,6% da produção nacional.

A

sexta estimativa do IBGE sobre a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 192,5 milhões de toneladas, quantidade 2,3% superior à da safra passada (188,2 milhões t) e 0,1% maior do que a prevista anteriormente (192,3 milhões t). A produção de soja aumentará 6%; a de arroz, 4,3%; e a de milho diminuirá 5,3%. As três culturas respondem por 91% da estimativa de produção e 85,1% da área plantada, que deverá chegar a 56,3 milhões/ha. A lavoura de soja crescerá 8,6%; a de arroz, 0,3%; e a de milho ficará do mesmo tamanho.

Safra IV

Variação produto a produto

E

ntre as 26 culturas analisadas pelo IBGE, 18 apresentaram crescimento de produção, em relação à safra passada: mamona (196,9%), feijão 1ª safra (48,7%), trigo (37,7%), algodão herbáceo (26,5%), café conilon (16,9%), cebola (14%), feijão 2ª safra (10,6%), mandioca (9,5%), batata-inglesa 1ª safra (8%), aveia (6,8%), soja (6%), arroz (4,3%), cacau (4,3%), cevada (2,7%), laranja (0,9%), batata-inglesa 2ª safra (0,9%), batata-inglesa 3ª safra (0,7%) e cana-de-açúcar (0,3%). Com variação negativa foram oito produtos: amendoim em casca 1ª safra (- 19,2%), amendoim 2ª safra (-15,9%), café arábica (- 12,9%), feijão 3ª safra (- 10,3%), milho 1ª safra (- 8,7%), sorgo (- 8,6%), triticale (- 3,2%) e milho 2ª safra (- 2,9%).

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Notícias da Terra Exportações I

Liderança ameaçada

S

e a produção recorde de soja no ciclo 2014/15 se confirmar (103,4 milhões de toneladas, ante previsão anterior de 98,9 milhões t), os Estados Unidos reconquistarão o posto de maior exportador da oleaginosa no mundo, título pertencente ao Brasil nas duas últimas temporadas. Segundo estimativas, os EUA devem negociar no mercado externo 45,6 milhões de toneladas no novo ano comercial (ante 44,2 milhões t projetados em junho), contra 45 milhões t previstas para o Brasil. A produção brasileira de soja no ciclo 2014/15 foi estimada pelo USDA em 91 milhões de toneladas – o plantio começa no final do mês que vem.

Exportações II

Garantia de renda

A

o participar da cerimônia de lançamento do portal BrasilExport, realizada em Brasília (DF), o ministro Mauro Borges, do MDIC, declarou que, “em um contexto econômico internacional adverso como o atual, é um privilégio ter uma base de produtos primários – especialmente agrícolas – tão competitivos”. Borges explicou que, como a variação da demanda por produtos básicos (especialmente alimentos) é menor do que a de industrializados (em muitos casos, supérflu-

Safra V

Celeiros abarrotados

E

m relatório divulgado em 14/7, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) confirmou as expectativas de mercado sobre a oferta de soja e milho na próxima temporada, pressionando ainda mais as cotações dos dois produtos no mercado futuro. Os norte-americanos devem colher 103,4 milhões de toneladas de soja na safra 2014/15, ainda em andamento, e 352 milhões de milho, não muito abaixo do recorde de 353,7 milhões t do último ano, inflando seu próprio estoque e os estoques globais. A instituição anunciou que não voltará a campo para novos levantamentos na soja e no milho até agosto, admitindo, porém, produção maior do que o esperado, se as condições climáticas ajudarem. “As condições favoráveis nas lavouras no início de julho e o clima sustentam uma previsão de produtividades recordes em boa parte do cinturão de grãos do país”, disse o porta-voz do USDA na ocasião.

os), o mercado brasileiro fica menos suscetível. “Em um momento de vacas magras no comércio internacional, ter produtos de baixa elasticidade (cuja demanda varia menos) e que vão ser consumidos a qualquer custo, é uma vantagem. A China, por exemplo, não vai reduzir a compra de alimentos em razão de uma baixa conjuntural da economia mundial, mas pode fazer isso em relação às manufaturas. Essa é uma posição que poucos países (como o Brasil) podem ter”.

Exportações III

Superavit de US$ 8,4 bilhões

A

balança comercial do agronegócio brasileiro fechou o mês de junho com saldo de US$ 8,4 bilhões, 6,3% acima do registrado em junho passado – foram US$ 9,6 bilhões em vendas contra US$ 1,2 bilhão em compras. O complexo soja (grãos, farelo e óleo) exportou o equivalente a US$ 4,6 bilhões, 10,5% a mais em relação ao mesmo período de 2o13. O segundo setor exportador foi o de carnes, com US$ 1,4 bilhão, e o terceiro, o complexo sucroalcooleiro, com US$ 867 milhões. Nos últimos doze meses, as vendas externas alcançaram US$ 99,5 bilhões. O complexo soja manteve a liderança, com US$ 33,8 bi, o setor de carnes ficou em segundo lugar no pódio, com US$ 16,8 bi, e o complexo sucroalcooleiro em terceiro, com US$ 11,9 bi. agosto 2014 – Agro DBO | 11


Notícias da Terra Fertilizantes

Perspectiva de recorde este ano

N Agroquímicos

Combate acirrado no campo

D

e acordo com o Sindiveg – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, a comercialização de defensivos agrícolas no Brasil cresceu 18% em 2013. O setor movimentou US$ 11,5 bilhões no ano passado, contra US$ 9,7 bilhões em 2012. Na opinião do presidente da entidade, Valdemar Fischer, o incremento nas vendas deve-se à expansão da área cultivada, à necessidade de combater pragas novas como a Helicoverpa armigera e controlar as recorrentes, mas cada vez mais

resistentes. Entre os agroquímicos mais comercializados, os inseticidas abocanharam 39,8% no mercado em 2013, com vendas 26,5% maiores em relação a 2012. Nos anos anteriores, os inseticidas dividiam a “liderança” nas vendas com fungicidas e herbicidas. Agora, estão à frente. Para 2014, o Sindiveg projeta crescimento de 6% a 9% no mercado nacional de agroquímicos, baseado no aumento previsto de 3% a 5% de área plantada no Brasil e do uso intensivo de tecnologias de ponta nas lavouras.

o ano passado, as vendas de fertilizantes atingiram 31,1 milhões de toneladas, segundo dados da Anda – Associação Nacional para a Difusão de Adubos. Para a consultoria INTL FC Stone, o consumo deve superar 32 milhões de toneladas neste ano, mesmo diante de um cenário de baixa nos preços internacionais de grãos, o que poderia limitar a demanda. Conforme avaliação feita no mês passado, o mercado de grãos, sobretudo os de milho e soja, enfrentava forte pressão baixista, com preços internacionais de referência em queda diante das projeções de grandes safras nos Estados Unidos. Porém um número expressivo de agricultores antecipou suas compras para a safra 2014/15, aproveitando relação favorável entre os preços do insumo e o dos produtos agrícolas.

VBP

Renda menor

O

Máquinas agrícolas

Vendas caem 19% no semestre

O

s fabricantes de máquinas e implementos agrícolas fecharam 2013 com champagne francês, brindando o setor pelos ótimos resultados em vendas e faturamento. No primeiro semestre deste ano, porém, preferiram o cafezinho. De acordo com a Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, entre janeiro e junho de 2014 venderam 30,6 mil maquinas agrícolas, 19,8% a menos em relação aos 38,3 mil vendidos no mesmo período do ano passado. As vendas de veículos leves fecharam o semestre com retração de 7,3%, segundo levantamento da entidade.

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Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira foi rebaixado pelo segundo mês consecutivo pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A estimativa da renda a ser gerada em 2014 pelas principais lavouras e rebanhos é de R$ 447,7 bilhões, 2,8% acima do VBP de 2013 e 0,26% abaixo do previsto anteriormente – em julho, as projeções indicavam R$ 448,9 bi e, em maio, R$ 450,5 bi. A receita proveniente das lavouras representa R$ 293,6 bilhões, ou 65% do total, e a da pecuária, R$ 154,3 bi, ou 35% do total. O VBP das lavouras deve crescer 3,7% na comparação com o ano passado e o da pecuária, 1,1%.


Notícias da Terra Café I

Café II

D

O

Exportações crescem e receita cai e acordo com levantamento do Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café, o Brasil fechou o ano-safra 2013/14 (de julho a junho) com exportações de 30,5 milhões de sacas de café verde, alta de 12,2 por cento ante a temporada 2012/13. Considerando o produto verde e o industrializado (torrado, moído e solúvel), o país embarcou o equivalente a 33,9 milhões de sacas, 9,9% a mais em relação ao período anterior. Apesar do bom resultado em volume, a receita da safra 2013/14 caiu. O país faturou R$ 5,3 bilhões de dólares com vendas externas, recuo de 11,6% no comparativo com o ganho referente à temporada 2012/13 e menor valor desde a safra 2009/10. A queda na receita reflete o quadro de preços baixos no mercado internacional até janeiro de 2014.

Combate à broca governo autorizou o uso de inseticida à base de Ciantraniliprole para combater a broca-de-café (Hypothenemus hampeii), inseto que, em sua fase larval, se aloja no grão, destruindo-o. A expectativa é que o produto seja registrado no Brasil até o final deste ano. De baixa toxicidade, já foi registrado nos Estados Unidos, Canadá, Japão e Comunidade Européia. A Portaria no 711, publicada no Diário Oficial da União em 18/7, define o manejo da praga e as medidas de defesa sanitária vegetal para emergência fitossanitária. Para mais informações, acesse www.pesquisa. in.gov.br/imprensa/jsp/vusualiza/ index.jsp?data=18/07/2014&jornal =1&pagina=6&totalArquivos=124

Citricultura

Leilões de laranja

O Café III

Produção pós-ferrugem

D

oença provocada pelo fungo Hemileia vastatrix, a ferrugem do café desvastou plantações inteiras no México e na América Central, causando prejuízos de US$ 243 milhões nos dois últimos anos, de acordo com estimativas da Organização Centro-americana de Exportadores de Café. Na safra 2012/13, as perdas chegaram a 20% da produção, com maior impacto na Nicarágua, seguida pela Guatemala, Honduras, El Salvador, Costa Rica e Panamá. Na safra passada, as maiores perdas foram registradas na Gua-

temala, Costa Rica e Honduras. Cerca 71 mil hectares, o equivalente a 25% da área plantada em Honduras, maior produtor da América Central, foram afetados pela doença. Agora, o país anuncia uma safra de cinco milhões de sacas, 8,7% maior do que a do ano passado. Aos poucos, a cafeicultura vem se recuperando na região. Em maio, o governo dos Estados Unidos anunciou um acodo com a Universidade de Agricultura e Mecânica do Texas, ao custo de US$ 5 milhões, para erradicar a ferrugem do café.

governo federal liberou R$ 50 milhões para leilões públicos de venda de laranja (in natura) na safra 2014/15, a serem realizados pela Conab. O objetivo, segundo o Mapa. é garantir ao produtor o preço mínimo de R$11,45 por caixa com 40,8 kg, sendo subsidiada a diferença entre o valor real de mercado e o preço mínimo de garantia. Publicada no mês passado, a portaria fixou as regras para a venda da fruta por meio dos instrumentos de apoio à comercialização do Pepro – Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural e/ou sua Cooperativa e do PEP – Prêmio de Escoamento de Produto. No primeiro leilão, foram negociadas 1,4 milhão de caixas, 45,04% do total ofertado.

agosto 2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Queimadas

Mato Grosso enfumaçado

D

e acordo com dados do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entre primeiro de janeiro e 6 de julho deste ano foram registrados 5.314 focos de queimadas em Mato Grosso, 26,1% dos casos registrados no país. O estado liderou o ranking nacional no período, à frente do Tocantins, com 2.670 focos, e do Maranhão, com 1.522 o menor número coube ao Amapá, com apenas 13. Para reverter este quadro, o governo mato-grossense proibiu as queimadas entre 15 de julho e 15 de setembro, exceto com autorização da Sema – Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Esta época do ano é caracterizada por altas temperaturas, poucas chuvas e baixa umidade do ar, condições favoráveis à ocorrência de incêndios. Para preveni-los, o produtor rural deve tomar alguns cuidados, como construir e conservar aceiros, anotar os telefones de contato de emergência na região e manter

Fitossanidade I

Plantas guaxas se espalham

L

evantamento da CDSV/Mapa – Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso mostra que as plantas guaxas ou tigueras – aquelas que brotam de sementes largadas no campo ou à margem de rodovias, servindo de abrigo e alimento para a ferrugem asiática, a Helicoverpa armigera, a mosca-branca, o bicudo e outras doenças e pragas – vêm aumentando no estado, em plena entressafra. Elas servem de “ponte verde” de um ano para o outro, ameaçando a produtividade no ciclo seguinte. Na safra 2014/15, devido ao aumento dos custos de sementes e

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um carro-pipa ou um pulverizador abastecido com água. Caso o fogo se alastre, é recomendável tirar fotos, se possível com data e coordenadas geográficas do local e registrar um Boletim de Ocorrência. Quem for flagrado ateando fogo no período de proibição será multado e pode responde criminalmente pelo dano. O valor da multa depende da área atingida: de R$ 1 mil por hectare em locais abertos até R$ 5 mil por hectare em unidades de conservação.

outros insumos, a questão sanitária terá peso maior na rentabilidade do agricultor ao final da colheita. Durante o período de vazio sanitário no estado – de 15 de junho a 15 de setembro – os produtores são obrigados a eliminar as plantas guaxas em suas propriedades. As que se multiplicam à beira das estradas são particularmente preocupantes porque ninguém se responsabiliza por sua eliminação. O coordenador do CDSV/Mapa, Wanderlei Dias Guerra, tem procurado envolver prefeituras, secretarias municipais de agricultura, empresas e associações de produtores na solução do problema, mas, até o fechamento desta edição, as pragas continuavam engordando, esperando o início do plantio de grãos, no mês que vem.

Fitossanidade II

Emergência no Maranhão

D

epois da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Piauí, Minas Gerais e Alagoas, chegou a vez do Maranhão. No mês passado, o Ministério da Agricultura declarou estado de emergência fitossanitária nas regiões leste e sul do Maranhão. O status foi conferido em função do surto da praga Helicoverpa armigera em locais como Chapadinha e Balsas. A medida, válida por um ano, permite a adoção de um plano de supressão da praga e de medidas emergenciais de combate às lagartas, entre as quais o uso de inseticidas à base de benzoato de emamectina.


Notícias da Terra Alimentos

Mudança de hábitos à mesa

R

elatórios de duas organizações internacionais, divulgados em julho, mostram que o aumento do rendimento per capita nos países em desenvolvimento, a urbanização crescente e a alteração dos hábitos alimentares na esteira da globalização modificarão substancialmente a base alimentar nas próximas décadas, favorecendo determinados produtos, em detrimento de outros. Segundo a OCDE – Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica e da FAO – Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a melhoria na renda familiar e nas condições de vida de milhões de pessoas no Brasil, China, Índia, Turquia, África do Sul, Indonésia,

México e outros países já vem contribuindo para esta mudança – a população egressa das classes menos favorecidas busca dietas ricas em proteínas, gorduras e açúcares. Assim, a tendência é de aumento maior nos preços das carnes, aves e peixes, comparativamente ao dos grãos, especialmente cereais primários como arroz e trigo – grãos também usados como matéria-prima para ração animal ou produção de biocombustíveis, como milho e soja, não serão tão afetados. Ainda segundo a OCDE e a FAO, o incremento na produção de alimentos vai ser garantido sobretudo pelos países em desenvolvimento na Ásia e na América Latina. “O continente americano vai

reforçar a posição como região exportadora, tanto em valor quanto em volume, enquanto a África e a Ásia deverão aumentar as importações para responder à procura”.

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Notícias da Terra Agricultura familiar I

Setor usa R$ 22,2 bilhões na safra em curso

O

valor aplicado pelos agricultores familiares na safra 2013/14 superou em 6,11% o montante colocado à disposição do setor através do Plano Safra e alcançou R$ 22,2 bilhões entre 1/7/2013 e 30/6/2014, correspondente a 1,9 milhão de contratos via Pronaf. Do total de recursos utilizados, R$ 3,3 bilhões foram financiados por mulheres, um recorde em comparação a safras anteriores. Elas assinaram mais de 500 mil contratos, o que equivale a 27% das operações financiadas. Dados do Banco Central mostram que os agricultores aplicaram R$ 12,7 bilhões (57%) em investimentos e R$ 9,5 bilhões (43%) em operações de custeio. O estado com maior volume contratado foi o Rio Grande do Sul, com R$ 5,1 bilhões, seguido pelo Paraná (R$ 3,2 bi) e por Minas Gerais (R$ 2,6 bi).

Agricultura familiar III

Primeiro, as mulheres

A

Lei 13.014/14, que dá preferência a mulheres chefes de família no recebimento dos benefícios dos programas de Apoio à Conservação Ambiental e de Fomento às Atividades Rurais, foi sancionada em 21/7 Tais programas, instituídos em 2011, destinam recursos a famílias em situação de extrema pobreza que atuem em atividades de preservação do meio ambiente ou agricultura familiar. A mulher receberá preferencialmente, pela família, valores referentes a benefícios eventuais relacionados ao Peti – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e a projetos de enfrentamento da pobreza, previstos na Loas – Lei Orgânica de Assistência Social. A lei entrará em vigor em 21 de outubro próximo.

Agricultura familiar II

Normas agroecológicas

O

s agricultores familiares interessados em financiar projetos agroecológicos agora precisam seguir regras, conforme texto publicado no mês passado no Diário Oficial da União. A portaria também traz normas para aqueles que ainda não produzem sem agroquímicos, mas desejam fazer a transição. Os interessados não podem usar fertilizantes sintéticos de alta solubilidade, reguladores de crescimento e aditivos sintéticos na alimentação animal. Obviamente, não são permitidos agrotóxicos, exceto os biológicos e produtos fitossanitários registrados com uso aprovado para agricultura orgânica. Para se habilitar ao financiamento, o produtor precisa de um plano simplificado ou projeto técnico de crédito fornecido por instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural credenciadas.

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Notícias da Terra Tecnologia

Reconhecimento automático de mosquitos

P

esquisadores do ICMC – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo, campus de São Carlos, desenvolveram um sensor a laser acoplado a uma armadilha capaz de quantificar, identificar, prender ou soltar mosquitos. O inseto é atraído por dióxido de carbono até a entrada do dispositivo, onde é sugado pelo fluxo de ar de um ventilador integrado à engenhoca. Ao atravessar o facho de laser, já no interior da armadilha, o movimento das asas impede parcialmente a passagem da luz, criando uma variação (um sinal) captada por fototransistores, automaticamente gravada numa minuscula placa eletrônica. Os dados obtidos não são originários da oscilação nas ondas sonoras provocadas pelo bater das asas, mas, sim, pela variação

da luz no momento em que o inseto atravessa o laser. Cada espécie produz um sinal diferente da outra, o que permite distingui-las e identificá-las. Segundo o pesquisador Diego Furtado Silva, “é o sensor que vai decidir se prende ou solta o inseto. No primeiro caso, o ar o empurra para uma segunda câmara, onde é retido pelo papel adesivo”, diz ele. Assim, ficam grudados no papel apenas os insetos desejados, o que possibilita estimar com facilidade

OGM

Tecnologia

D

C

Banana transgênica e acordo com o CIB – Conselho de Informações sobre Biotecnologia, pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Queensland em Brisbane (Austrália) desenvolveram uma banana geneticamente modificada com alto nível de betacaroteno (precursor da Vitamina A), com potencial para reduzir drasticamente a mortalidade e a cegueira infantil. Dados da OMS – Organização Mundial da Saúde mostram que doenças decorrentes da falta desta vitamina são responsáveis pela morte de mais de dois milhões de pessoas anualmente em todo o planeta.

Zoneamento climático

Indicações de plantio

sua densidade populacional. No entanto, é preciso desenvolver algoritmos (sequências de comandos em um computador) com informações sobre cada espécie para que o sensor as reconheça, classifique e decida qual prender ou soltar, diferentemente do que acontece na armadilhas tradicionais adesivas, que aprisonam todos os insetos capturados, inclusive os benéficos. Os pesquisadores do ICMC coletaram dados e criaram sistemas de reconhecimento automático para os mosquitos da denque e da malária, para a mosca-de-banheiro, mosca-da-fruta, mosca doméstica, joaninha, besouro e abelha, com percentual de acerto acima de 90%. Ainda não fizeram testes com pragas agrícolas, mas o dia delas chegará.

Milho resistente ientistas da Suíça vêm pesquisando o genoma do teosinto (abaixo, ao lado de uma espiga de milho comum), um ancestral do milho, na expectativa de encontrar e recuperar características capazes de repor as defesas originais do cereal contra insetos e patógenos. O milho moderno perdeu a habilidade de produzir um composto químico chamado E-βcariofileno, liberado naturalmente por ancestrais da planta quando as raízes estavam sob ataques de lagartas. Essa substância atrai nematoides “amigáveis” que, por sua vez, matam as larvas da lagarta-da-raiz (Diabrotica virgifera) em poucos dias. Os cientistas querem saber se a restauração do E-β-cariofileno protegeria o milho moderno contra esta lagarta e outras pragas agrícolas.

O

Diário Oficial da União de 24/7 traz portarias do Ministério da Agricultura sobre zoneamento agrícola de risco climático do algodão herbáceo, amendoim, arroz irrigado, arroz de sequeiro, feijão 1º safra, feijão caupi, girassol, mamona, milho 1º safra, soja e sorgo granífero – todas referentes à safra 2014/15. O objetivo do zoneamento é identificar os municípios aptos e os períodos de semeadura com menor risco climático para o cultivo das lavouras. agosto 2014 – Agro DBO | 17


Almanaque

Você sabia? Saber um pouco mais é sempre interessante e útil. A regra serve para todos, independentemente da idade e da profissão. Hélio Casale *

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

• O emprego de fertilizantes varia conforme a região do mundo. Na Ásia oriental, utiliza-se uma média de 194 kg/ha, nos países industrializados 117 kg/ha, enquanto nos países da África subsaariana aplicam apenas 5 kg por ha. Quem não dá de comer às plantas acaba passando fome. • Em cerca de 63% das terras agricultáveis do Brasil o alumínio tóxico está presente causando redução do sistema radicular das principais culturas. Para neutralizá-lo é que se emprega o calcário associado ao gesso agrícola. • Cidade x campo - estima-se que até o ano de 2100 o crescimento das áreas urbanas vai subtrair cem milhões de hectares da agricultura. Somente na China, desde 1995, a área rural perdeu dois milhões de hectares para as cidades. • A produção comercial de tratores começou com o famoso modelo Fordson, desenvolvido por Henry Ford e anunciado em 1917.

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• O ciclo do café se implantou logo após a Independência (1822) com plantações tomando os morros fluminenses e se deslocando rumo ao Vale do Paraíba (SP). Em 1850, São Paulo assumiu a liderança da produção, gerando extraordinária riqueza que durou até a grande crise econômica de 1929/1930. Atualmente, a liderança na produção cabe ao estado de Minas Gerais. • A mão de obra para tocar o café é problema antigo. No ciclo do café, até 1889, com o aumento rápido das lavouras, começou a faltar mão de obra. Nessa época todos os tratos culturais eram feitos à mão pelos escravos. Com a Abolição da Escravatura, chegaram os italianos para trabalhar, fugindo de suas brigas internas, decorrentes da unificação da Itália. Entre 1884 a 1904 entraram no país mais de um milhão de imigrantes italianos. • Em 1929 ocorreu uma revolução política no Brasil que levou Getúlio Vargas ao poder. Começou então, de fato, a indus-

trialização brasileira, fortalecendo a política dos interesses urbanos e das classes operárias. Foi o fim da política chamada de “café com leite”, período no qual São Paulo e Minas Gerais dividiram o poder nacional. • A população rural em 1960 era maioria, quando 54,9% das pessoas moravam no campo. Houve um êxodo rural impressionante nos últimos tempos. Já em 1970 moravam no campo apenas 44,1% dos brasileiros. A queda continuou, em 1980 baixou para 32,4%, em 1990 para 24,4%, em 2000 para 18,8% e atualmente a estimativa é de 17%. Cada vez mais bocas para serem alimentadas. •O Brasil é campeão mundial no recolhimento de embalagens vazias de agroquímicos, com 90% do volume distribuído no campo. Existem 264 postos de recolhimento, administrados pelo Inpev - Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, entidade constituída pelas 76 empresas do setor. Somos exemplo para o mundo!


UM PLANETA MAIS LIMPO. NÃO EXISTE PRESENTE MELHOR PARA COMEMORAR ESTE ANIVERSÁRIO. Dia Nacional do Campo Limpo 10 anos. Parabéns a todos que fazem parte dessa iniciativa.

O Dia Nacional do Campo Limpo é comemorado desde 2005 no dia 18 de agosto. Uma data feita para o campo e pelo campo, reconhecendo a importância da conservação do meio ambiente. Essa iniciativa contribuiu muito para o sucesso do Sistema Campo Limpo que, com o esforço de agricultores, canais de distribuição, fabricantes e poder público, já retirou do campo, desde 2002, 300 mil toneladas de embalagens de defensivos agrícolas. Com a participação cada vez maior das comunidades e da cadeia produtiva, mais de 700 mil pessoas já se envolveram com a questão da sustentabilidade, refletindo sobre o futuro do planeta. Saiba mais: www.inpev.org.br

Apoio:*

Abag, Aenda, Andav, Andef, Aprosoja, CNA, OCB, Sindiveg

Realização:

Centrais de recebimento de embalagens vazias.

*Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas (Aenda), Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).


Capa

A reinvenção do Investidores estrangeiros implantam usinas no Brasil para produzir etanol, aproveitando o excesso de oferta e os baixos preços do cereal. Ariosto Mesquita

O

bserve bem o seguinte cenário: multinacional francesa inaugura fábrica de amido e xarope de milho no interior de São Paulo; no Mato Grosso do Sul, chineses estão implantando duas plantas para industrializar 1,25 milhão de toneladas/ano do cereal; no oeste da Bahia, empresa norte-americana ativa fábrica de beneficiamento de sementes de milho; no Mato Grosso, duas usinas de etanol já funcionam como ‘flex’ (produzem o biocombustível a partir de cana-de-açúcar e de cereais) e mais duas se estruturam com o mesmo objetivo; Goiás inaugura em breve sua primeira usina flex; e a região dos Chapadões, entre Mato Grosso do Sul e Goiás, se prepara para receber a primeira indústria ‘full’ de etanol de milho do Brasil. Começa a se desenhar claramente uma nova e estra-

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tégica demanda para a segunda maior cultura brasileira (perde apenas para a soja), idealizada e conduzida pelo próprio setor – sobretudo por agroindústrias e investidores nacionais e estrangeiros – para reduzir os efeitos da volatilidade nos preços, da logística deficiente e do excedente de produção. Na safra 2013/14. o Brasil cultivou 15,7 milhões de hectares com o cereal e produziu 78,2 milhões de toneladas (números da Conab), 4,1% a menos em relação ao obtido no ciclo 2012/13. Mesmo assim, é um volume significativo – o mercado interno consome 2/3 da produção (66% em 2013), a maior parte absorvida pela indústria de ração animal. No Mato Grosso, maior produtor de milho do país, a relação é ainda mais expressiva: das 17 milhões de toneladas previstas para o ciclo 2013/214, apenas 3,5 milhões devem


gum tempo ? Uma das apostas do pessoal do Centro-Oeste, onde se colhe 33 milhões de toneladas (42% da produção brasileira), é agregar valor, o que envolve processamento industrial na própria região, na maioria dos casos. Foi o que os mato-grossenses fizeram. O estado é pioneiro na produção de etanol de milho no país. Duas usinas (Usimat, em Campos de Júlio, e Libra, em São José do Rio Claro) já operam no modelo ‘flex’, ou seja, conseguem processar tanto cana-de-açúcar quanto milho. A Usimat compra o cereal em plena safra, quando os preços estão pressionados, e estoca para esmagamento durante a entressafra da cana, entre novembro e abril. Em julho deste ano, pagava em torno de R$ 15,00 a saca (frete incluso). A Libra Etanol, que começou a processar milho no final do ano passado, opera com cana e cereais o ano todo.

milho ser destinadas ao mercado interno. segundo estimativas do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. O restante ou é exportado ou perdido – a infraestrutura logística precária, o deficit em armazenagem e o alto custo do frete (do médio-norte de Mato Grosso, principal região produtora, até o porto de Santos (SP) são 2 mil quilômetros de estradas), impactam fortemente os custos, reduzindo a rentabilidade. Na temporada atual, a ampla oferta global do produto e a queda de cinco milhões de toneladas nas exportações ano aumentaram o tamanho da “sobra” no mercado interno, derrubando ainda mais as cotações. Em Sorriso (MT), a saca de 60 kg valia mais de R$ 20,00 em abril. Em 15 de julho, três meses depois, o valor já havia despencado para R$ 9,80. A fragilidade nos preços, a incerteza sobre volumes a serem exportados pelo país e as projeções de safra recorde nos Estados Unidos, maior produtor e exportador mundial, reacenderam o debate sobre o futuro. Afinal, o que fazer com tanto milho? Quais os caminhos para o setor, além da produção de ração para bovinos, suínos e aves, já adotada há al-

Vantagem competitiva Mais duas indústrias estão se adaptando para o funcionamento como ‘flex’: uma em Jaciara e outra em Campo Novo do Parecis, ambas em Mato Grosso. “Acredito que, em três anos, todas as usinas do estadoserão neste modelo”, prevê o produtor rural, agrônomo, ex-presidente e atual membro do Conselho Consultivo da Aprosoja, Glauber Silveira – ele próprio um fornecedor de milho da Usimat. Em sua opinião, a vantagem competitiva do etanol de milho vem do enorme potencial de produção, sobretudo no Mato Grosso. “Temos o milho mais barato do mundo. Podemos dobrar a nossa produção em três anos sem abrir nenhuma área a mais do que temos disponível hoje, apenas fazendo segunda safra onde for possível”, garante. Os principais problemas do etanol de milho, segundo ele, são preço e mercado. “As pessoas abastecem mais com gasolina, pois a diferença de preço não cobre a relação de desempenho entre os dois combustíveis. Levantamento da Aprosoja indica que o custo de distribuição do etanol está alto demais e pode ser reduzido em 30%, viabilizando novos investimentos”. Uma questão crucial é a viabilidade econômica do etanol de milho. Segundo consenso no setor, além da comercialização do combustível é necessário levar em conta o desembolso na adequação da planta industrial projetada originariamente para o processamento de cana. De acordo com Jorge dos Santos, presidente do Sindalcool/MT – Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso, esta transformação pode custar entre R$ 25 a R$ 250 milhões, dependendo do tamanho do empreendimento. “Este ano, as duas usinas flex do Mato Grosso devem processar juntas até 100 mil toneladas de milho, gerando 36 milhões de litros de etanol”, calcula. Estes números ainda são tímidos diante da produção da região – equivalem a menos de 1% da safra anual do cereal no estado e a 3,6% da produção de etanol do estado, estimada pelo Sindalcool/MT em um bilhão de agosto 2014 – Agro DBO | 21


Roberto Machado

Ascom Aprosoja - MT

Capa

Visão geral e detalhe da Usimat, em Campos de Júlio (MT): a usina opera no modelo “flex” produzindo etanol de milho ou de cana-de-açúcar.

litros por ano. A aquisição de milho para esmagamento obedece a uma estratégia por parte das usinas ‘flex’. Geralmente a indústria adquire o cereal durante a safra, pagando ao produtor um pouco mais do que as tradings. “As plantas podem remunerar em até R$ 20,00 a saca para viablizar a produção, estocando parte do adquirido para processamento posterior. Quando a cotação de mercado estiver acima deste nível, o produtor que ainda tiver o cereal, contará, certamente, com maior demanda e melhor remuneração”, explica Santos. O custo estimado de produção industrial em julho para o litro de etanol era de R$ 1,20 (cana-de-açúcar) e R$ 1,08 (milho).

Um sinal inequívo da viabilidade econômica do mlho como matéria-prima para a produção de etanol no Brasil é o interesse da indústria norte-americana em investir aqui – pioneiros no setor, os Estados Unidos destinam aproximadamente 50% de sua gigantesca safra (cerca de 350 milhões de toneladas) para a produção de etanol. Até o final deste ano, as empresas estadunidenses POET e BioUrja Trading LLC devem começar as obras de implantação da primeira usina “full”, ou seja, exclusivamente com cereais (milho e, eventualmente, sorgo) para a produção de etanol na região de Chapadão do Sul, a 333 km de, Campo Grande (MS). O secre-

Gargalos para o etanol de milho No trabalho “Oportunidades na cadeia de processamento de cereais para produção de proteínas e biocombustível – Uma avaliação das oportunidades do Centro-Oeste”, a Céleres Consultoria mapeou as regiões onde o etanol de milho seria competitivo: grandes áreas dos estados do Centro-Oeste, além de Rondônia e pequenas parcelas do Tocantins, Amazonas, Pará e Acre. No estudo, desenvolvido a pedido da Aprosoja/MT, a consultoria constatou a viabilidade da produção de etanol de cereais (principalmente milho), mas também destacou gargalos que hoje dificultam a comercialização do produto, como as dificuldades de comercialização e os altos tributos. A Céleres cita o exemplo da implantação de uma usina “full” de etanol a partir de cereais. Com mil toneladas de milho seriam produzidos 130 mil m3 de etanol/ano e 80 mil m3 de DDG/DDGS. Levando em conta a legislação tributária atual, o investimento na construção da planta, de US$ 69

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milhões, obteria retorno em 66 meses, incluindo o período da construção. Pelos cálculos, o lucro seria de 10%, com a taxa de retorno em aproximadamente 25%. Dentro deste quadro, o estudo indica como uma das dificuldades a disponibilidade de recursos para financiamento. Sem uma política específica do governo para o incentivo deste tipo de indústria, os investidores teriam de bancar uma taxa de juros por volta de 10% ao ano e ainda indexada ao dólar. O trabalho da Céleres também indica obstáculos na comercialização e na distribuição do combustível. No entanto, alguns números são animadores. A consultoria estima que a construção de uma usina para processamento de um milhão de toneladas/ano geraria 150 empregos diretos, exigiria 220 mil hectares de cultivo e produziria etanol suficiente para substituir (dependendo da relação preço-consumo) 290 milhões de litros de gasolina/ano. Como esta gasolina é trazida de outros estados para o Mato Grosso, evitaria longas viagens de aproximadamente 5.800


tário de Desenvolvimento Econômico e de Meio Ambiente do município, Tiago Maia, adianta que a indústria – um investimento de aproximadamente US$ 300 milhões – consumirá 350 mil toneladas de milho/ano. O volume é equivalente a mais da metade da produção do município, atualmente ao redor de 540 mil toneladas/ano, e aproximadamente 25% do que é colhido em toda a região dos Chapadões (parcela do norte do Mato Grosso do Sul e do sul de Goiás), calculado em 1,38 milhão de toneladas/ano. A planta, em fase de licenciamento ambiental, será instalada em uma área de 40 hectares, às margens da Ferronorte, ferrovia que liga as regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, próxima à BR-158, que atravessa o país de Norte a Sul e pela qual bastará percorrer 246 km para acessar a hidrovia Tietê-Paraná, na divisa do Mato Grosso do Sul com São Paulo. Maia ainda avisa que o investimento norte-americano não deve parar por ai: “Parece que a ideia deles é instalar pelo menos 10 indústrias de etanol de milho no Brasil”. O consultor da BioUrja no Brasil, João Luis Bortolussi Rodrigues, não confirma tal informação, mas admite que sua empresa, a JBR, sediada em Santa Bárbara do Oeste (SP), trabalha na construção de uma usina em Rio Verde (GO) e desenvolve estudos para implantação de outra unidade no sul do Mato Grosso do Sul, ambas ‘flex’. A primeira caminhões tanque e o consumo de sete milhões de litros de diesel. O faturamento da unidade seria superior a R$ 700 milhões/ano com a geração de R$ 180 milhões/ano em impostos. Tomando como base a produção de 387 mil m3 de etanol ano, o estudo aponta os seguintes números para os modelos de negócios de produção de etanol de cana de açúcar e de milho:

Etanol de milho 1. Necessidade de um milhão t/ano 2. Rendimento de 5,3 a 6 t/ha 3. Área plantada entre 166,7 e 189,7 mil hectares 4. Oferta a partir de produtores independentes Etanol de cana 1. Necessidade de 4,9 milhões t/ano 2. Rendimento médio de 74,7 t/ha 3. Área plantada de 80,2 mil hectares 4. O ferta a partir de áreas próprias e produtores parcialmente integrados

Ariosto Mesquita

O milho não é competitivo em relação à cana-de-açúcar. O pulo do gato é o aproveitamento dos resíduos para nutrição de animais.

unidade ‘full’ no Brasil será erguida em duas etapas em Chapadão do Sul. “O cronograma prevê que a primeira parte das obras se inicie até janeiro de 2015, com aptidão para processamento de 20 toneladas/hora de milho. Provavelmente em dezembro de 2015 iniciaremos a outra fase, que dobrará a capacidade inicial de esmagamento”, conta.

Composição da ALL na Ferronorte, em Chapadão do Sul (MS): usina norte-americana” usará o modal para transportar etanol de cereais.

Concentrado proteico O início da implantação de estruturas de processamento de milho para a fabricação de etanol no Brasil acontece justamente dentro de um período em que o segmento sucroenergético reclama da falta de políticas públicas específicas para o setor. Pressionado pelo achatamento do preço da gasolina, o etanol não consegue concorrer com o combustível fóssil na maioria dos estados brasileiros. Em junho deste ano, de acordo com a ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, abastecer o automóvel com etanol só era mais vantajoso para o bolso do consumidor em São Paulo, Goíás e Paraná. Salvo as altas demandas de milho no centro do país, como explicar esta aposta em novas plantas ‘flex’ ou mesmo ‘full’? A resposta pode estar nos dividendos que o resíduo do cereal consegue trazer para as indústrias. O consultor da BioUrja explica: “O milho é composto por 66% de amido, que se transforma em etanol; os 34% restantes são ricos em óleo e fibra, formando um concentrado proteico-energético ideal para alimentação de bovinos, suínos e aves”. O produto resultante, segundo Rodrigues, é substituto ideal para o farelo de soja na dieta animal. As usinas produzem este concentrado proteico justamente onde está o maior rebanho bovino do Brasil. De acordo com o IBGE, das 212,8 milhões de cabeças agosto 2014 – Agro DBO | 23


Guilherme Ferreira Viana

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Sidney Parentoni (acima, à dir.) crê em grandes transformações na produção de milho nos próximos anos (leia box abaixo).

contabilizadas no Brasil em dezembro de 2011, cerca de 72 milhões (34%) pastavam ou comiam em cochos de confinamentos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. “O etanol de milho só se viabiliza hoje pela produção deste resíduo”, garante Jorge dos Santos, do Sindalcool/MT. “Este concentrado é produzido pelas usinas na forma seca, insolúvel ou mesclando líquido e sólido”, conta o consultor. O primeiro é conhecido como DDG (do inglês Dried Distillers Grains, traduzido como Grãos Secos de Destilaria) e o segundo, como DDGS (do inglês Dried Distillers Grains with Solubles ou Grãos Secos de Destilaria com Solúveis). Com uma tonelada de milho é possível a obtenção de 370 litros de etanol e 200 quilos deste concentrado.

Além da produção de etanol, outras ações estão agregando valor ao grão através de processamento industrial. Um dos principais agentes condutores destas iniciativas no Brasil vem da Ásia. Sem espaço e tecnologia adequados para aumentar sua produção de grãos, a China depende de outros países para obter milho em grandes quantidades para alimentar uma população de 1,36 bilhão de pessoas (em 2013) e convertê-lo em proteína animal para seu gigantesco rebanho de animais, sobretudo suinos. Em abril desde ano, o país acenou com a possibilidade de priorizar compra de milho brasileiro, diminuindo sua dependência da oferta norte-americana. Mas os chineses não estão de olho apenas no grão. Diante do limite de compras de terras por es-

À espera do Big data Paralelamente às novas demandas de mercado, o milho tende a sofrer um impacto tecnológico muito grande nos próximos anos, tanto na genética quanto na prática do cultivo a campo. A previsão é do chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Milho e Sorgo, Sidney Netto Parentoni. Ele considera a cultura como a de maior amplitude de adoção de conhecimento científico no país e espera evoluções ainda maiores com o chamado Big Data. Este conjunto de soluções tecnológicas permite que os dados coletados por tratores e outras máquinas em campo sejam processados por computadores, que, por sua vez, fornecerão aos agricultores todas as informações necessárias para incrementar a produção e a produtividade. “Isto inclui, por exemplo, o uso de cultivares mais adaptadas para cada parte do talhão onde, numa mesma linha de plantio, a máquina pode vir a

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semear diferentes variedades de acordo com as características e fertilidade da área”, explica Parentoni. No setor de genética, o pesquisador espera uma busca cada vez maior por materiais que assimilem com maior eficácia o fornecimento de nutrientes, reduzam os riscos decorrentes de altas temperaturas, veranicos, pragas e doenças e aumentem a produtividade. Perentoni vê “extrema necessidade” na adoção de tecnologias que controlem com eficiência a ação de fungos e outros organismos maléficos à cultura. “Um exemplo disso seriam variedades com resistência às micotoxinas produzidas por fungos que atacam o grão e podem causar graves problemas às cadeias de aves e suínos”, sugere. Em sua opinião, a contaminação por micotoxinas pode vir a ser a principal alegação utilizado em barreiras fitossanitárias para a exportação do milho brasileiro.


Os chineses querem produzir no Brasil óleo, gérmen, fibra, ração, glúten e outros subprodutos do milho para exportação. trangeiros imposto pelo Brasil nos últimos anos, os asiáticos reduziram a aquisição de propriedades para cultivo e estão agora investindo em plantas de processamento. Um dos exemplos está em Maracaju (MS), onde a empresa chinesa BBCA Group está para iniciar a construção de duas fábricas de processamento de milho, financiadas pelo Banco da China, com investimentos de US$ 320 milhões. A capacidade total de processamento será de 1,25 milhão de toneladas/ano, o equivalente a 17% de todo o milho produzido em Mato Grosso do Sul (7,33 milhões de toneladas) no ciclo 2013/14, segundo o último levantamento de safra da Conab, divulgado no mês passado. “As duas indústrias vão consumir mais milho do que é produzido em Maracaju (um milhão de toneladas/ano)”, comemora a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Renata Azambuja Silva Miranda. “A licença ambiental já foi concedida e as obras devem começar assim que chegarem as primeiras grandes peças, quase todas vindas da China”, informa Mi-

randa. De acordo com ela, a primeira planta produzirá ácido cítrico e lisina para a indústria farmacêutica e, como subprodutos, óleo, gérmen de milho, ração, fibra e glúten, 60% dos quais para exportação, segundo ela. Na outra unidade, o foco será a produção de amido, glicose e xarope de milho, além de óleo, proteína, ração e gérmen de milho. Mais investimento estrangeiro A Bahia, que, segundo a Conab, deve colher 3,18 milhões de toneladas de milho na safra 2013/14, também abrigará investimentos estrangeiros. A norte-americana Dow AgroSciences ativou em março deste ano uma unidade de beneficiamento de sementes de milho – um investimento de R$ 70 milhões. A planta, localizada em Luis Eduardo Magalhães, no oeste do estado, tem capacidade para produzir 700 mil sacas de sementes/ano. Segundo a empresa, a região foi escolhida em função das condições climáticas favoráveis, pela alta concentração de tecnologia e áreas de cultivo irrigado.

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Capa O ex-ministro Allysson Paolinelli, também produtor de milho, cobra subsídios oficiais para proteger o setor e garantir mercados.

Milho “estocado” a céu aberto em Mato Grosso, por falta de espaço nos armazéns: cena comum do ano passado para cá.

Um pouco antes, ao final de fevereiro, a também norte-americana Cargill inaugurou uma unidade de processamento de milho para a produção de amido e adoçantes em Castro, a 159 km de Curitiba (PR), para atender o mercado sul-americano. A produção será voltada para compor itens de nutrição animal, produtos lácteos, pães, bebidas, papel e papelão. O investimento foi de R$ 500 milhões. A mais recente novidade no setor foi a inauguração em Palmital (SP) de uma unidade industrial da Tereos, multinacional de origem francesa. A planta, com capacidade de processamento de 150 mil toneladas/ano, foi ativada no último dia 23 de julho e vai produzir amido e xarope de milho. O local escolhido é estratégico: a fábrica na divisa de São Paulo com o Paraná, segundo maior produtor de milho do país, e relativamente perto de regiões produtoras de Mato Grosso do Sul. A Tereos é um grupo cooperativista do setor açucareiro especializado na transformação de beterraba, cana, cereais e tubérculos em açúcar, etanol e amido. Em todo o mundo, reúne 41 indústrias e mais de 12 mil associados. Mais apoio à produção Uma das mais influentes figuras ligadas ao setor, o ex-ministro da Agricultora, Alysson Paolinelli, presidente-executivo da Abramilho – Associação Brasileira dos Produtores de Milho, vê este novo quadro de demanda para o cereal como essencial para a cadeia produtiva, mas faz uma observação de ordem contextual: “As novas alternativas de utilização do milho em processamento industrial nas regiões produtoras são viáveis e necessárias pela incompetência do país, que 26 | Agro DBO – agosto 2014

não soube oferecer ou permitir que a infraestrutura logística crescesse de forma compatível com a produção agrícola brasileira. Neste quesito, estamos pelo menos 35 anos atrasados”. Para conter de forma mais imediata efeitos nocivos provocados pela volatilidade do mercado brasileiro de milho, o ex-ministro propõe uma saída: “Ao invés de cobrar impostos excessivos, o governo deve subsidiar a produção, protegendo essa nossa riqueza e garantindo o atendimento a mercados cada vez maiores”. Sobre a demanda internacional pelo cereal, Paolinelli não tem dúvidas que se manterá aquecida: “Estive recentemente na China e lá me confessaram que, em função dos limites de espaço, disponibilidade de água e tecnologia agrícola, irão demandar ao longo dos próximos 10 anos pelo menos mais 42 milhões de toneladas de milho/ano”. O ex-ministro é produtor rural no município mineiro de Baldim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Lá, ele cultiva milho e cria gado. A transformação industrial do milho é a melhor alternativa aos gargalos da cadeia também a longo prazo, na opinião do superintendente do Imea, Otávio Celidonio. Ele antevê em 10 anos um aumento de 50% na produção do cereal no estado, passando das atuais 22 milhões de toneladas para 33 milhões. Supondo que o consumo interno cresça 200% neste período, isso equivaleria a 10 milhões de toneladas. Sendo assim, ainda sobrariam nada menos do que 22 milhões de toneladas de milho”, calcula. Em sua opinião, estas novas demandas vão, ao longo do tempo, ajudar na equalização do preço do milho no mercado do Centro-Oeste. “Não tenho dúvidas disso”, afirma.



Tecnologia

Vem aí a fotossíntese artificial Um dos maiores segredos da natureza é investigado pela ciência, que está a um passo de repetir a proeza artificialmente. Décio Luiz Gazzoni *

A

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

té recentemente, eu con­ siderava a fotossínte­ se sem plantas uma das grandes ameaças ao nos­ so agronegócio, vinda dos paí­ ses muito frios, que passam 6 me­ ses do ano sob neve ou gelo, com dias curtos e céu nublado. Já pen­ saste a Finlândia, Noruega ou Sué­ cia, competindo conosco na oferta de produtos agrícolas? Não seria a primeira vez que um avanço da ciência viraria de ponta cabeça um paradigma soli­ damente estabelecido, no caso as vantagens competitivas do Brasil no agronegócio. Alvíssaras, pois os cientistas da Unicamp em­ pataram o jogo: Yes, nós temos fotossíntese artificial! Usando técnicas químicas e ferramentas nanométricas – aquelas que uti­

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lizam como escala o milionésimo do milímetro – pesquisadores do Instituto de Química desenvol­ veram materiais capazes de gerar energia, por meio de fotossínte­ se artificial. Os resultados foram apresentados em pleno inverno de um país frio, a Inglaterra, no UK­ -Brazil-Chile Frontiers of Science, organizado pela Royal Society. Bueno, ao menos neste jogo não levamos de goleada! A fotossíntese natural usa o gás carbônico e a água para ob­ ter átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio como “tijolos” para construir substâncias quími­ cas (os chamados fotossintatos), usando a luz solar como fonte de energia, e a clorofila como catali­ zador. A clorofila é uma espécie de “mestre-de-obras” que coor­

dena todas as reações para obter os fotossintatos primários. A par­ tir deles, uma planta produz mi­ lhares de outras substâncias, das quais necessita para crescer, de­ senvolver, reproduzir e defender­ -se das pragas. Há mais de um século a ciência persegue a ideia de fazer a mesma coisa fora das células das plantas – a fotossíntese artificial. Recen­ temente os cientistas conseguiram sintetizar materiais capazes de usar energia solar e água para ge­ rar hidrogênio e oxigênio. A chave para o sucesso são os catalizadores que decompõem a água em hidro­ gênio e oxigênio, usando a radia­ ção solar como fonte de energia. Esta reação é difícil de ser com­ pletada, em razão da forte ligação entre os átomos da molécula de


água, tornando muito difícil sepa­ rar o hidrogênio do oxigênio. Nas plantas, a clorofila consegue fazer este trabalho. Mas, fora das plan­ tas, a quebra da molécula de água é efetuada com grande demanda de energia elétrica (eletrólise), com custos que inviabilizam o processo industrial. Outro entrave eram os catalizadores que, pela grande di­ ficuldade de separação dos átomos que compõem a água, degradam­ -se em pouco tempo, não podendo ser reutilizados, o que também au­ menta o custo industrial. Um avanço recente foi o desen­ volvimento de painéis solares de silício, que permitem a separação da água em seus componentes (hi­ drogênio e oxigênio), usando a luz solar como fonte de energia, tal e qual ocorre nas plantas. O hidrogê­ nio molecular (H2) é a substância com maior densidade energética. Por exemplo, um quilograma de gasolina contém 10.620 quilocalo­ rias, e um quilograma de hidrogê­ nio contém 33.651 quilocalorias, ou seja, três vezes mais. Logo, pre­ cisaríamos de um terço do volume de hidrogênio para rodar a mesma quilometragem que um carro per­ corre, quando movido a gasolina. Obtido o hidrogênio pela fo­ tossíntese artificial, ele poderia abastecer carros equipados com células de combustível convencio­ nais, que já estão disponíveis no mercado. Elas são células eletro­ químicas que convertem energia química em elétrica, um processo parecido com o que ocorre nas baterias dos carros. Desta forma, seria possível combinar novamen­ te o hidrogênio com o oxigênio (formando água), e liberando a mesma energia que foi capturada do sol, na reação de decomposição da água. Será a energia gerada nas células de combustível que move­ rá o carro, ou permitirá utilizar qualquer outro equipamento que necessite de eletricidade. O conceito está provado, mas ainda não dá para comemorar,

pois será necessário um desenvol­ vimento tecnológico adicional. Os materiais utilizados nos painéis solares de silício ainda são caros e difíceis de serem purificados até o grau exigido pela reação. Para re­ solver o problema, usando a cria­ tividade típica do brasileiro, os cientistas da Unicamp foram bus­ car inspiração na molécula que a natureza usa para a fotossíntese: a clorofila. A síntese artificial da clo­ rofila é um processo complexo e custoso. Para contornar o obstácu­ lo, os pesquisadores examinaram moléculas semelhantes à clorofila, as porfirinas, que possuem as mes­ mas propriedades, porém são mais simples e mais fáceis de serem

tossintético é muito ineficiente: em geral, as plantas mais comuns con­ seguem uma eficiência de conver­ são de 1%. Algumas plantas con­ seguem eficiência maior. Elas são conhecidas como C4, porque as primeiras substâncias produzidas pela fotossíntese (os tais fotossin­ tatos) possuem quatro átomos de carbono, ao invés dos três carbo­ nos da maioria das outras plantas, chamadas de C3. Ainda assim não atingem a eficiência de algumas algas (5%), e ainda longe do limite teórico de 10%. A cana-de-açúcar, milho, sorgo e capim elefante são alguns exemplos de plantas C4, e a sua alta capacidade de produ­ ção de biomassa é decorrência da

Há mais de um século a ciência persegue a ideia de copiar a natureza. trabalhadas quimicamente que a clorofila. As porfirinas também são mais estáveis que a clorofila, e permitem utilizar as ferramentas da nanotecnologia. A fase laboratorial do proces­ so mostrou-se promissora, de­ mostrando ser possível quebrar as moléculas de água em hidrogênio e oxigênio, usando as porfirinas como catalizadores. O desafio agora é partir para o seu escalo­ namento, gerando uma tecnologia comercial factível. A aposta dos cientistas da Unicamp é o desen­ volvimento de um polímero, que possa ser utilizado para produzir um filme fotoativo, aplicado em placas metálicas semicondutoras, as quais atuariam como eletrodos, à semelhança de uma célula solar, que são aquelas placas fotovoltai­ cas utilizadas sobre os telhados das casas, para gerar energia elétrica. Uma vez superada esta etapa, o próximo desafio será ampliar, pro­ gressivamente, a eficiência do con­ junto, na transformação da ener­ gia incidente em energia utilizável. Apesar de ser um dos grandes mi­ lagres da natureza, o processo fo­

maior eficiência de conversão da energia solar. Os cientistas já demonstraram que as plantas C4, que apresen­ tam maior eficiência relativa em temperaturas mais altas, também suportam intensidades luminosas muito maiores, logo se adaptam melhor ao clima tropical. É esta particularidade de país tropical que servirá de inspiração para os cientistas da Unicamp, pois nas plantas dos trópicos poderemos encontrar catalizadores que me­ lhorem a eficiência da conversão energética, e que possam ser usa­ dos na fotossíntese artificial. Não apenas os consumidores de energia serão beneficiados com os estudos de fotossíntese artificial, mas também os produtores agrí­ colas. As descobertas científicas que tornarão viável a fotossíntese artificial também servirão de ins­ piração para cientistas que buscam melhorar a eficiência fotossintética de plantas, sejam elas C3 ou C4. Com isto teremos plantas mais bem adaptadas ao nosso ambien­ te tropical, mais eficientes, e com maior potencial de produção. agosto 2014 – Agro DBO | 29


Política Café: vai faltar pra exportação? Divulgado em 24 de Julho, o Levantamento de Estoques Privados de Café realizados pela CONAB, referentes a março do corrente ano. Nossos estoques de passagem (safras anteriores) são muito baixos, apontando em fim de junho apenas

2,87 milhões de sacas, incluindo os estoques governamentais. Como a safra de café que está sendo colhida é muito pequena, em função da seca no último verão, é lógico o raciocínio de que a nossa disponibilidade de exportação será diminuída

em muito, por isso talvez venhamos a exportar nos próximos 12 meses abaixo de 25 milhões de sacas, enquanto nos 12 meses anteriores exportamos próximo de 34 milhões de sacas, portanto, uma diferença significativa de 9 milhões de sacas.

Ministro Geller não fala de política O ministro da Agricultura Neri Geller, que é produtor rural, líder associativista, além de político, não fala de política, pelo menos a jornalistas, mas não deixa de ressaltar a seus interlocutores que “os produtores rurais não têm do que queixar deste governo. Os juros são os mais baixos da história do agronegócio, e todas as demandas têm sido atendidas”.

Café e broca Com a autorização da utilização do inseticida à base de Ciantraniliprole para combater a broca em Minas Gerais, o CNC – Conselho Nacional do Café – recomenda que demais estados declarem emergência sanitária para também fazer uso do produto. Em 18 de julho, foi publicada, no Diário Oficial da União a Portaria nº 711, que define o manejo da praga Hypothenemus hampei (broca do café) e as medidas de defesa sanitária vegetal que deverão ser adotadas para a emergência fitossanitária em Minas Gerais. Essa medida atende a um pleito que o setor produtor de café no Brasil solicitava desde 2012, quando o Endosulfan, único produto com princípio ativo efetivo no combate à

broca do café existente no mercado, teve sua comercialização proibida. Com a publicação, o Governo Federal autoriza o uso de inseticidas à base de Ciantraniliprole, de baixa toxicidade, princípio ativo já registrado nos EUA, União Europeia, Canadá e Japão. A expectativa é que o inseticida seja registrado no Brasil até o final do ano. O CNC recorda que a medida emergencial foi direcionada apenas para Minas Gerais, conforme a Portaria nº 188. Por saber que a broca é uma realidade que afeta as lavouras de café em todas as áreas produtoras no Brasil, sugere que os demais Estados produtores façam estudos para declararem emergência sanitária para a broca, o que

permitirá que consigam a mesma autorização emergencial obtida por Minas Gerais. A medida se faz necessária por outros três fatores: 1 - não há estudos específicos que comprovem a eficácia do inseticida à base de Ciantraniliprole; 2 – não haverá produto concorrente no mercado, lembrando que duas empresas haviam solicitado registro ao Mapa para seus ingredientes ativos: a Dupont, com o Ciantraniliprole, e a Syngenta, com o Chlorantraniliprole/Abamectin ; 3 – com a demora para a aprovação da medida, as indústrias não terão tempo hábil para fabricar o inseticida e colocá-lo à venda, visto que a broca ataca nos meses de janeiro e fevereiro.

FMC é “Orgulhosamente Citricultor”

Produtores foram homenageados durante o evento Citros de Mesa, em Cordeirópolis (SP). 30 | Agro DBO – agosto 2014

A FMC Agricultural Solutions criou a campanha “Orgulhosamente Citricultor”, de incentivo aos citricultores. Produtores mais tradicionais do Brasil foram homenageados durante o evento promovido pelo Cen-

tro de Citricultura, “Citros de Mesa: da produção à comercialização”, em 18 de julho último, em Cordeirópolis (SP). O encontro contou com a parceria do IAC e da Associação Brasileira dos Citros de Mesa.


Kátia Abreu quer isenção de frete para fertilizantes A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) apresentou emenda à Lei nº 10.893/2004 que dispõe sobre Adicional ao Frete, taxa que é cobrada sobre o valor das mercadorias que chegam aos portos brasileiros, para a AFRMM - Renovação da Marinha Mercante, e o FMM Fundo da Marinha Mercante.

O AFRMM tem três alíquotas, cobradas sobre o frete de mercadorias que chegam aos portos: 25% para navegações de longa distância (realizada entre portos brasileiros e estrangeiros), 10% para cabotagem (entre portos marítimos e interiores) e 40% na navegação fluvial e lacustre

para transporte de granéis líquidos nas regiões Norte e Nordeste. Se aprovada, a proposta isenta dessa cobrança adubos ou fertilizantes e suas matérias-primas. O objetivo é reduzir o preço final destes insumos que estão entre os itens que mais elevam os custos da produção rural.

Brics preparam seu quintal na América do Sul Os líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), colocaram em marcha um sistema financeiro alternativo ao de Bretton Woods (EUA), com a instalação do Banco dos Brics. Materializam com isso a vontade desses países

em adequar os instrumentos internacionais de governança a uma realidade na qual os EUA já não são o poder hegemônico mundial. Nesse cenário, o Banco dos Brics, com seus novos instrumentos financeiros, desafia a região a encontrar

outros perfis econômicos. A expectativa de alguns líderes do agro brasileiro é de que o Banco dos Brics, que vai funcionar como o Banco Mundial, financie grandes obras de infraestrutura e logística, o grande gargalo brasileiro.

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Artigo

A importância da subsolagem Plantar em solos não compactados pode fazer a diferença na produtividade, mas a forma de descompactar o solo é fundamental. Ronaldo Cabrera *

A

busca da eficiência econômica na agricultura leva ao alto rendimento operacional e melhor uso dos recursos naturais. A mecanização tem papel fundamental, mas também tem seu efeito colateral, pois os solos estão sendo compactados cada vez mais. O solo ideal para altas produtividades teria que ter 25% de ar, 20% de água, 5% de fração orgânica e 50% de fração mineral; um solo bom tem que ter os 5 efes, Fofo, Friável, Fértil, Fresco e Fundo.

to, introdução de um vergalhão na vertical, entre outros métodos práticos de campo. O grande problema é que estas avaliações podem ser influenciadas pelo teor de umidade e argila do solo. A metodologia mais indicada é identificar a zona compactada pelos métodos anteriores, e depois, com um anel volumétrico, coletar uma amostra indeformada dentro desta zona, secar até peso constante para achar a densidade do solo (g/cm3), o dado de densidade correlacionado com o teor de argila dá a faixa de

O solo bom e descompactado tem os 5 efes: Fofo, Friável, Fértil, Fresco e Fundo.

* O autor é doutor em engenharia agronômica e consultor em fertilidade de solo e nutrição mineral de plantas.

Porém, com a compactação o solo vai perdendo alguns “Fs”, o crescimento e aprofundamento radicular das plantas diminuem, a absorção de água e nutriente é reduzida e, óbvio, a produtividade cai proporcionalmente. A compactação é influenciada pelas características das máquinas (peso, quantidade de passagens, tipo de pneus), teor de matéria orgânica, teor de argila e umidade do solo no momento do trafego. Então, o manejo deve ser trabalhado no sentido de reduzir estes impactos físicos durante o cultivo. O primeiro passo é o de diagnosticar o problema. Existem alguns métodos utilizados como, por exemplo, a abertura de pequenas trincheiras e com um objeto pontiagudo identifica-se a zona compactada no perfil do solo, com o uso de penetrômetro de impac-

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compactação. A densidade de 1,5 g/dm3 em um solo de 35% a 60% de argila indica compactação severa enquanto num solo de 15% a 24% de argila indica ausência de compactação. A descompactação pode ser feita pelo método físico e biológico. • Método físico, através de aração profunda, com arado de aiveca, atravessando a camada compactada, ou com o uso de um subsolador. O primeiro destrói totalmente a estrutura do solo, e isso vai contra os princípios do plantio direto, é agronômica e economicamente inviável, exceto em áreas novas, de abertura; o segundo é um método menos agressivo e permite o uso como cultivo mínimo, pode ser usado em área de abertura ou em áreas já consolidadas com plantio direto. • Método biológico, o melhor descompactador é a raiz de planta,

e “derrubam casas”, pois além quebrar a camada compactada introduz matéria orgânica em profundidade, que atua como amortecedor da compactação. Os melhores resultados acontecem quando os dois métodos são associados, físico e biológico. A prática de subsolagem por vezes entra no descrédito, por ser uma operação onerosa e seu efeito residual muito baixo, pois a recompactação é rápida. Isso acontece por que está ocorrendo apenas o efeito físico da haste subsoladora, e seria preciso associar ao efeito biológico, pois num segundo momento haverá o efeito natural e biológico das raízes das plantas que, de fato, darão maior residual dessa prática. Nossa proposta de trabalho, conforme publicado na Agro DBO de nº 52, de Fevereiro de 2014, é fazer a subsolagem corretiva, descompactando e, simultaneamente, corrigindo quimicamente, em profundidade, aumentando o cálcio; isto tem efeito floculante, melhora o pH e reduz a presença do alumínio tóxico, permitindo assim o crescimento vigoroso das raízes e potencializa o melhor descompactador de solo, que são as raízes de plantas. É preciso ter uma visão global do sistema de produção, na natureza tudo é interação, nenhum fato acontece isoladamente, tudo está interligado. Então, o manejo da fertilidade do solo é químico, físico e biológico, a sinergia dessas três fertilidades dará a produção máxima econômica, gerando sustentabilidade ao processo.


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Entrevista

100 anos de paixões O sucesso profissional geralmente acontece para quem está com a camisa molhada e com foco nos interesses da sociedade.

Cardoso agregou ao nome a expressão R100, desde o ano passado, quando completou 99. Significa “Rumo aos 100”. E questionava: chegarei lá? Dizia que a bisneta Luíza (a continuidade do seu DNA), também estava curiosa por saber.

O

engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso completa seu centenário em 19 de setembro próximo e se encontra na expectativa da rara efeméride. O que mais impressiona a todos que o conhecem não é a conquista dos 100, mas a sua lucidez, de um lado, e, especialmente, o entusiasmo pela vida, que se poderia definir como uma juvenil paixão pelo futuro, pela construção de paradigmas para melhorar o desempenho da agricultura e da produção de alimentos. Cardoso pertence à elite paulista, há várias gerações ligada ao agronegócio. Formou-se em 1936, pela gloriosa Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/SP), sendo hoje o “uspiano mais antigo”. Fundou a Manah em 1947, a qual presidiu por mais de 50 anos, e tem obsessão pela fertilidade dos solos. Na entrevista para Agro DBO, conduzida por Richard Jakubaszko, editor-executivo, Cardoso confessou

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acanhamento em tratar de assuntos pessoais. Revelou que procura evitá-los, “deixando que terceiros falem sobre mim se assim lhes aprouver”. Abriu exceção para Agro DBO, da qual é leitor e articulista esporádico desde as primeiras edições, enfatizando que “lembro o presente em função do passado, pois essa é a regra: o jovem cuida do futuro, o idoso do passado”. Entretanto, Cardoso não deixou de falar sobre o futuro, assim como da agronomia, da agricultura, do plantio direto, da Manah e da Fundação Agrisus-Agricultura Sustentável, iniciativa da família de Cardoso para incentivar pesquisas e estudos sobre fertilidade dos solos, e ainda do ambientalismo, algumas das muitas paixões visionárias que pontuam sua longeva e produtiva vida. A presente entrevista foi feita passo a passo, ao longo de quase seis meses, onde o mestre apresenta suas linhas de pensamento e conduta, de forma objetiva e apaixonada.


Agro DBO – De qual água milagrosa o Senhor bebeu para, às vésperas de completar 100 anos, estar tão lúcido, atualizado, e pensando na humanidade, no proveito coletivo? Qual o seu “leit motiv”. Cardoso – Anos atrás meu médico brincou que eu chegaria aos 100 pela boa genética: sem diabete, sem pressão alta e sem colesterol. É pura sorte, não mérito. Acho que o “leit motiv” deve-se à paixão pela agronomia e a filosofia que adoto sobre o trabalho e a vida. Em meu discurso com 22 anos, ao plantar um Pau Mulato como a árvore da turma de 1936 da Esalq, eu disse: “O indivíduo que trabalha, que é útil, que produz, está agindo dentro da sua própria natureza, está cumprindo os predicados supremos comuns a todas as espécies vivas. Magníficas as palavras de Alberto Torres neste sentido: “É o homem antes de tudo um animal ativo, um produtor de coisas e ideias, um procriador de seres e de energias. A necessidade que o impele é de gerar e produzir; o estimulo que o conduz: o imperativo do movimento, da ação, da novidade, da conquista. O objeto da vida é a produção, não a conquista; seu fim a conquista, não o gozo da conquista. O imperativo do trabalho e da produção é o móvel da vida psíquica, a fonte verdadeira da alegria. O trabalho, a produção, a atividade, dignificam o homem e são mesmo os atos que garantem a felicidade na terra”. Agro DBO – Segundo o dito popular, devemos nos arrepender não do que fizemos errado, mas daquilo que não fizemos. O que o Senhor se arrepende de não ter feito? Cardoso – Nunca pensei sobre isso. Sempre agarrei as oportunidades que se apresentaram e me

empenhei por elas dando tudo de mim, dentro dos princípios em que acreditava. É certo que muitas vezes, de tanto me concentrar, eu também criava oportunidades... Agro DBO – Na sua ótica, qual é o seu legado para as gerações mais jovens? Cardoso – Em minhas palavras como paraninfo da turma de 2005 na Esalq, eu recomendei: “Arregacem as mangas e vão em frente. Não se intimidem, nem se sintam diminuídos, se tiverem que começar pelo começo. Estudem sempre, a vida toda, para manterem-se em dia com a ciência, com a tecnologia e com a economia. Tenham sempre disposição para mudar. Não se deixem fossilizar. Os vários patamares do sucesso se condicionam sempre à dedicação ao trabalho, ao esforço, à honestidade de propósito, ao estudo, e especialmente à pertinácia. A perseverança deve prevalecer em todas as iniciativas, por mais modestas e primárias que sejam. A sorte na vida, fator que não pode ser relegado, acontece geralmente para quem está com a camisa molhada. Raramente ocorre em ambiente de sombra e água fresca”. Essas recomendações podem traduzir um exemplo de vida que seria meu legado. Agro DBO – O Senhor é um homem de fé? Cardoso – Fui educado sob forte influência católica da família de minha mãe. Tornei-me um praticante até os 18 anos. Depois, pelas aulas de ciências exatas, a concepção de Deus foi se distanciando cada vez mais até se situar no evento do big-bang e aí se identificar com o ato da criação. As práticas religiosas se diluíram com o tempo, mas a ética e a moral do cristianismo perduraram. Porque o homem, um ser consciente e pensante, é

parte da criação, sempre foi para mim um mistério, uma parte do ato divino da criação. Meus pais eram muito firmes quanto aos preceitos da ética e da moral cristã, as quais passaram a fazer parte do meu ser, de minha fé. Eram severos e consistentes. Passaram aos filhos normas de comportamento em que acreditavam: dever, força de vontade, aceitar contrariedades, ser honrado, respeitar a palavra dada, respeitar os mais velhos, respeitar a propriedade alheia, cumprir as obrigações, ser perseverante, ter disposição para mudar, não gastar mais do que se ganha. Certa vez simulei doença após cometer falta que eu mesmo julgava grave. Meu pai me bateu de cinta para não ser mentiroso nem fingido. Nunca me esqueci do fundamento da sova, o qual esteve presente durante toda a vida. Agro DBO – E no que acredita? Cardoso – Minha fé está no homem como um ente superior preso à coletividade de seus pares. Meu pequeno discurso ao plantar a árvore da formatura manifestou minha crença no trabalho como uma das finalidades da vida. Aceito que me definam como um “sujeito esforçado”. Fui crescendo, aprendendo e observando. Notei que a criatividade e a expressão da genialidade se condicionavam à liberdade de iniciativa. Convenci-me de que os esforços e sonhos humanos estavam ligados ao direito de serem donos. Enxerguei que a liderança se consolidava quando acompanhada do respeito ao ser humano, não havendo espaço para os déspotas. Aprendi que a lida com outras pessoas exigia a delegação de poderes. Então passei a seguir os princípios da liberal democracia representativa. A experiência da vida mostrou ser impossível viver isoagosto 2014 – Agro DBO | 35


Entrevista “Admiro a plenitude da força e da grandeza humana de Antônio da Silva Prado, Hugh Bennett, Churchill e de Norman Borlaug”. ladamente, pois dependemos uns dos outros. Assim, passei a aceitar as obrigações para com a coletividade que nos envolve, ou seja, a sociedade. No campo da organização econômica, passei a respeitar e a conciliar os direitos do acionista proprietário, do consumidor, do empregado e da sociedade, chegando à conclusão de que é preferível um capitalismo equilibrado ao socialismo igualitário, que pretere o mérito, desperdiça valores e convive com a mediocridade.

Agro DBO – Quais foram seus heróis na vida, pessoal ou profissional? Cardoso – Não me lembro de ter ídolos durante a vida. Sempre admirei, e admiti como modelos, as pessoas que tiveram sucesso na atividade que exerciam. É certo que a poesia “IF” de Kipling sempre me ajudou nos momentos de dúvida e de desânimo. Bem tarde, já na terceira idade, passei a reconhecer a plenitude da força e da grandeza humana nas pessoas de Antônio da Silva Prado, Hugh

Bennett, Winston Churchill e de Norman Borlaug. Agro DBO – O que o levou a dedicar-se pela conservação de solos? Cardoso – Desde menino ouvia a conversa de meu tio com o administrador da fazenda de minha avó. Falavam dos talhões de café com baixa produtividade, porque a terra estava vidrada e lavada pelas enxurradas. Ao mesmo tempo, nos fundos da casa dos empregados, os cafeeiros estavam frondosos pelo lixo e dejetos que eles depo-

Bom humor, a fonte da juventude. Fernando Penteado Cardoso expressa sua juventude no bom humor. Em 2012, ano pródigo em lhe provocar contratempos e tristezas, demonstrou essa aptidão: primeiro, uma cirurgia na cabeça, para retirada de um coágulo, “fruto de uma cabeçada em local inadequado”. Dois meses adiante, perdeu Mag-

Pilotando uma provisória cadeira de rodas, e com a tíbia parafusada, Cardoso recebeu homenagens pessoalmente da diretoria da ala jovem da SRB – Sociedade Rural Brasileira, em 2012.

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dalena, fiel e doce companheira de 70 anos de vida em comum, que lhe deu 6 filhos, e gerou uma prole de 20 netos e 34 e meio bisnetos, “pois mais um está a caminho”, ainda para este ano. Depois, já no final de 2012, quebrou a tíbia em uma queda, “atividade inapropriada a nonagenários”, o que exigiu nova cirurgia e colocação de uma placa e parafusos de titânio, além de se submeter a uma cadeira de rodas por semanas. Por e-mail, depois do incidente, questionado se estava livre da cadeira, respondeu: “tenho apenas a enorme curiosidade de poder ver a cara dos amigos e parentes durante a futura cerimônia de cremação, eis que essa deve se prolongar além do normal, por culpa do indestrutível titânio”. Noutro momento, quando uma gripe renitente o acometia, recebeu por e-mail “receitas infalíveis” para minimizar seus efeitos. Respondeu: “agradeço as dicas, mas notei falta da recomendação de uma boa dose de scotch Black Label todas as noites antes do jantar. Garanto-lhe que ou cura, ou dá prazer, ou ambos”. A memória de Cardoso continua intacta. Nascido em 1914, Cardoso recorda de dois fatos importantes quando tinha 4 anos, ao final da I Grande Guerra, em 1918: a espantosa invasão de gafanhotos que assolou a capital paulista, e jamais se repetiu. E ainda da gripe espanhola, que levou sua mãe a queimar folhas de eucalipto no portão da rua e a pendurar no pescoço dos filhos um saquinho de alho moído que cheirava muito.


sitavam por lá. Era preciso estercar com adubo dos currais onde o gado era trazido para dormir sobre forragem de capim. Mas o esterco não dava para todo o cafezal e o assunto era interminável e muito me impressionava. Já na juventude, a mesma discussão ocorria na fazenda herdada por minha mãe e prolongou-se por anos seguidos, quando cursava a Esalq. Eu lia uma revista dos EUA chamada Country Gentleman e lá estava a discussão do mesmo problema, então confiado ao Serviço de Conservação de Solo dos EUA, dirigido pelo grande Hugh Bennett. Nas férias, eu acompanhava os serviços na fazenda da família. Lutava-se para restaurar a terra dos cafezais pouco produtivos com sulcos em nível para cortar as águas, com forragem de capim gordura. Logo depois de formado, organizamos pequena firma de serviços rurais e construímos terrações de base larga em Campinas, seguindo as normas dos ianques. Demarquei em Bragança (SP) pomar de citros em curva de nível, uma novidade na época. Essa luta, essa preocupação, o problema em seu todo, ficaram gravados em meu inconsciente e a conservação do solo passou a ser uma constante em meu comportamento profissional, evoluindo para se tornar uma profissão de fé e um ideal de ajudar a agricultura do país. Agro DBO – A Manah tem história na agricultura brasileira, é inegável, e como fundador da empresa, o que o Senhor acha que deveria ser lembrado no futuro sobre a história da empresa? Cardoso – O slogan “Com Manah adubando dá!” e a marca Manah, registrada como notória pela ampla difusão, seguramente estão vinculados ao conceito de produto confiável, de recomendações adequadas, de empresa honesta e de gente séria e responsável. Passaram-se já 14 anos da venda

Na sede da Agrisus, em sua sala de trabalho, Cardoso concorda com o aforismo de Voltaire: “O trabalho nos livra de 3 coisas: o tédio, a pobreza e os vícios.”

da Manah, mas a imagem persiste. Confio que no futuro esse exemplo estimule outros empresários a segui-lo, a fim de consolidar os princípios da liberdade de iniciativa. Ademais, poderá ser também um exemplo de sucesso pelo caminho trilhado de começar pelo começo, de perseverar e de lutar sempre para conciliar os interesses dos acionistas, dos empregados e dos consumidores, confiando sem cessar no futuro do país. Agro DBO – Qual a razão de o Senhor ter vendido a Manah para a Bunge? Impossibilidade de concorrer com as multinacionais? Cardoso – No decorrer da década de 1990 constatamos uma tendência crescente de vinculação da venda financiada do fertilizante com a compra antecipada da produção a ele vinculada. Havia uma espécie de troca de adubo por soja, por milho ou outro. Vimos que as grandes exportadoras (traders) de grãos tinham uma vantagem real e crescente nas vendas de adubo ao consumidor final. Adicionalmente, em janeiro de 1999,

ocorreu uma dramática desvalorização do real perante o dólar que veio a elevar muito nossos compromissos de moeda estrangeira. Esses dois fatores nos levaram a procurar uma associação acionária com firma exportadora de grãos. Relatórios completos e realistas foram apresentados e discutidos, mas para grande surpresa apareceu uma interessada na aquisição do controle acionário e não em uma associação através de aumento de capital. As negociações foram condicionadas à igualdade de condições na transferência das ações com direito a voto, entre os acionistas fundadores e outros por eles influenciados. Todos receberam por suas ações idêntico valor unitário. Agro DBO – A Agrisus surgiu depois da venda da Manah, para coroar o sonho da conservação dos solos? Através do plantio direto, ou com ele também? Cardoso – A Manah sempre promoveu e financiou pesquisas nos campos da conservação do solo e da nutrição mineral das plantas. agosto 2014 – Agro DBO | 37


Entrevista Na situação futura do planeta Terra, com 9 a 10 bilhões de habitantes, as restrições ambientais atuais serão repensadas.

Cardoso conviveu com o Nobel da Paz, Norman Borlaug, de quem foi amigo, e juntos plantaram árvores e exemplos.

Entre os projetos destacaram-se as pesquisas sobre a movimentação dos íons em solo indeformado (IAC, 1953) e a movimentação do cálcio do gesso na mesma condição (UFL–Lavras, anos 1980). Foram pesquisas objetivando conhecer o melhor aproveitamento dos adubos e dos corretivos. Sempre nos preocupou evitar o desperdício do adubo pela erosão. Por anos seguidos pensamos em criar uma fundação paralela à Manah para gerenciar esses trabalhos. A Agrisus foi uma iniciativa que deu continuidade a esse esforço. Vem se dedicando à educação agrícola, a pesquisas variadas e à difusão do plantio direto como procedimento inigualável para conservação do solo. Até o final do ano de 2013 recebeu 1.271 consultas, das quais 640 foram aprovadas como

auxílios, bolsas de estudo, participação e organização de eventos e projetos de pesquisa agronômica, dos quais 50% são relacionados a instituições públicas. Deve-se à Agrisus as avaliações anuais desde 2006 do Estado da Arte do Plantio Direto, analisado em 4 regiões climáticas diferentes. Além destas, foi realizado o mais importante levantamento até hoje feito no país sobre o estado da fertilidade do solo protegido pelo plantio direto. Por iniciativa e financiamento da fundação foram coletadas 2.342 amostras de terra, de 1.171 locais distribuídos pelas regiões das grandes culturas. A interpretação das análises das terras, agrupada em 4 regiões climáticas e em 3 classes de textura, resultou em dois relatórios inéditos na história da agronomia do país, um tratando da situação do fósforo, outro das bases trocáveis, sejam potássio, cálcio e magnésio, O estudo se baseou em um banco de dados com 63 mil informações que estão disponíveis para estudos adicionais pelos especialistas (ver em www.agrisus.org.br ). Agro DBO – Como cético das questões ambientais, diante do propalado aquecimento e mudanças climáticas, como o Senhor vê a humanidade em termos de se prover de alimentos no futuro breve (10/20 anos)? Cardoso – Meu ceticismo decorre dos exageros e demagogia que por vezes maculam as questões ambientais que possam prejudicar a segurança e o bem-estar do homem, dentre eles a floresta Amazônica como condicionante do clima, por exemplo. Na história da agricultura como produtora de alimentos, a cobertura vegetal

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sempre foi alterada pelo homem em benefício próprio. Não se tem notícia de algum desastre climático decorrente dessa alteração. Ganhou a produção agropecuária e, consequentemente, ganhou a espécie humana ao sobreviver pela abundância alimentar. A prevalecer o sistema climático atual, disporemos de áreas agricultáveis em situação de clima favorável. As condições apontadas propiciam uma vegetação alta que chamamos de floresta, a qual inibe a produção vegetal por vedar a incidência de luz responsável pela fotossíntese. A alimentação de uma população crescente, tanto em número como em anseios, vai exigir um acréscimo de área a plantar, a qual está localizada na região equatorial. Agro DBO – Até quando a humanidade terá resistências ao uso do solo amazônico para a prática da agricultura? Quando a fome apertar? Cardoso – A produção de alimento vai requerer a eliminação da sombra onde chove, tem luz e faz calor, além de altitude conveniente. Quando houver risco da falta de alimentos nos países ditos desenvolvidos, então, as exigências da sobrevivência vão superar a atual regra deles de “fazendas aqui, floresta lá”, uma concepção acanhada de produtores do hemisfério Norte com vistas aos interesses da produção de hoje. Na situação futura do planeta Terra com 9 a 10 bilhões de habitantes, as restrições ambientais atuais serão repensadas. Agro DBO – O que o produtor rural faz de errado em termos coletivos? Falta de associativismo, com representatividade no setor? Cardoso – A expansão da nos-


sa produção nos revela que os produtores vêm fazendo mais coisas certas do que erradas. Lamentavelmente, o associativismo padece da dispersão geográfica e também da multiplicidade de atividades na mesma unidade produtiva, as quais dificultam a solução de problemas comuns. Acrescente-se a essa desvantagem nossa teimosa tendência em achar que o governo deve tudo fazer, sem que os interessados se mobilizem para cuidar de parte de seus anseios. Esse comportamento levou a um centralismo excessivo dos poderes da nação, vindo a desestimular a ação direta para solucionar problemas locais. Herdamos esse sistema, essa maneira de agir, do absolutismo dos reis de Portugal e do exemplo conceitual da Igreja católica. Agro DBO – Por que um jovem deveria pensar em cursar faculdade de agronomia? Cardoso – Pelas perspectivas futuras oferecidas pelo país no médio e no longo prazo. O acréscimo de produção mundial de alimentos vai requerer o aumento da área cultivada no Brasil, pela razão básica de que aqui temos condições para essa expansão: chuva, calor, sol, topografia e vias fluviais, além de recursos humanos. Agro DBO – Aos que já cursaram agronomia, o que devem fazer em prol da profissão? Cardoso – Repito aqui a receita enunciada em discurso como paraninfo na Esalq, em 2005: “exercer uma profissão é praticá-la conforme nossa preferência, mas sempre com interesse, dedicação, garra e responsabilidade. Ser profissional é também ter o foco voltado para os interesses da sociedade como um todo, em todos os seus níveis, e, ao mesmo tempo, zelar para que o ambien-

Ao lado do Diploma de Honra ao Mérito da Esalq, um de seus grandes orgulhos na vida. Apenas 12 esalquianos receberam essa honraria em quase um século de história.

te que nos cerca seja favorável à vida, praticando a cidadania em sua plenitude. Vale lembrar que o sucesso nem sempre é representado por números e cifrões. Não que os números não tenham valor. São importantes para reforçar argumentos, evitando a tentação de se apoiar somente no raciocínio, por vezes de lógica ilusória, prática costumeira tachada de “achismo”. Alguns dotes genéticos ou adquiridos – como a criatividade, a liderança sobre pessoas e o tino comercial – ensejam voos mais altos. Daí os exemplos de presidentes, ministros, banqueiros e homens de negócio renomados, que tiveram formação técnica, por vezes agronômica. Mas fiquem certos de uma coisa: os vários patamares do sucesso se condicionam sempre à dedicação ao trabalho, ao esforço, à honestidade de propósito, ao estudo, e especialmente à pertinácia. Dificilmente acontece também quando é desprezado o conselho dado pelo lembrado professor Piza, como paraninfo da turma de 1955: cuidem mais das questões de honra, do que dos problemas técnicos de sua profissão. Portanto, arregacem as mangas e vão em

frente. Não se intimidem, nem se sintam diminuídos se tiverem que começar pelo começo. Estudem sempre, a vida toda, para manterem-se em dia com a ciência, com a tecnologia e com a economia. Tenham sempre disposição para mudar. Não se deixem fossilizar!” Agro DBO – Afinal, paixão pelo que se faz é fundamental, ou só gostar um pouco já é suficiente? Cardoso – Nada melhor do que as palavras de Steve Jobs, criador da Apple, como paraninfo em Stanford: “Seu trabalho irá preencher uma grande parte de sua vida, e a única maneira de você sentir-se verdadeiramente satisfeito é fazer o que você acredita ser um trabalho relevante. E a única maneira de executar um trabalho relevante é amar o que se faz. Se você ainda não encontrou esse trabalho, continue procurando. Não desanime. Como acontece com todos os assuntos sentimentais, você perceberá quando o encontrar. E, como qualquer relacionamento importante, ele se torna cada vez melhor com o passar dos anos. Assim, continue procurando até que o encontre. Não desanime”! agosto 2014 – Agro DBO | 39


Mecanização

Controlando o tráfego! Manejo evita a compactação do solo, especialmente em áreas de plantio direto, onde o problema fica escondido sob a palha. Amílcar Centeno *

E

m artigo da edição anterior discorremos sobre a compactação dos solos de lavoura e alguns métodos para evitar este problema, que afeta a muitas das lavouras, principalmente aquelas sob plantio direto e em solos mais pesados. Neste artigo vamos discutir sobre um dos métodos mais eficazes para controlar este processo de degradação dos solos: o Tráfego Controlado. O Tráfego Controlado parte do princípio de que as condições ideais do solo para o desenvolvimento das plantas é o oposto da condição ideal para o tráfego de máquinas. As plantas demandam um solo sol-

na década de 80. Na época as soluções eram muito complicadas. Utilizavam arames e cabos para garantir que os rodados sempre trafegassem pelos mesmos trilhos. Nos dias de hoje, com o uso do GPS, este controle se tornou muito mais simples e preciso e o Tráfego Controlado está se expandindo em muitos países, como a Austrália, o Canadá, e vários países da Europa, onde, inclusive, já existem associações de técnicos e produtores discutindo o assunto. Quando bem planejado e executado, o Tráfego Controlado permite limitar a área pisoteada pelos rodados a cerca de 10% a 20% da área plantada. Em condições nor-

80% do adensamento e compactação do solo é provocado pela primeira passada dos pneus to, úmido e profundo, que permita a troca de umidade e calor necessários à germinação das sementes, a infiltração de água e nutrientes e o desenvolvimento das raízes. No lado oposto, as condições ideais para o tráfego de máquinas é um solo seco, bem drenado e compactado o suficiente para dar suporte e aderência aos rodados. Em outras palavras: uma estrada! A única forma de obter estas duas condições ideais é separando a zona de cultivo da zona de tráfego. É isto que chamamos de Tráfego Controlado. Esta técnica não é uma novidade. Recordo-me de estudos feitos por alguns de meus professores do Silsoe College, na Inglaterra, tentando viabilizar esta técnica já 40 | Agro DBO – agosto 2014

mais de tráfego aleatório e não controlado esta porcentagem chega a ser de 80% a 90%. Como 80% do adensamento e compactação do solo é provocado pela primeira passada dos rodados, a solução é manter estas trilhas permanentemente, safra após safra, deixando as áreas de cultivo intocadas ao longo dos anos. No Brasil ainda são poucas as iniciativas em torno do Tráfego Controlado, limitando-se a alguns trabalhos de pesquisa e pouco agricultores pioneiros. Muitas destas iniciativas estão associadas à evolução do Plantio Direto e da Agricultura de Precisão, uma vez que o Tráfego Controlado é uma excelente complementação a estes sistemas, contribuindo para a

recuperação, evolução e melhoria da estrutura dos solos ao longo dos anos. Nos países em que o Tráfego Controlado é praticado há mais tempo, como na Austrália, onde as condições operacionais se aproximam mais das condições do Brasil, estes são os principais benefícios apontados pelos técnicos e agricultores, afora a redução da compactação: • Melhoria da estrutura do solo ao longo dos anos, com a formação e preservação de agregados; • Aumento da produtividade das lavouras (de 10% a 15%) • Aumento na infiltração da água no solo (até +15%) • Maior capacidade de armazenamento de água nos solos; • Maior eficiência no uso da água de irrigação (até +50%) • Maior eficiência no uso de fertilizantes (até +15%) • Redução no uso de agroquímicos (aplicação em área parcial e redução nas falhas e sobrepasses) • Redução no consumo de combustível (até -10%) • Menor investimento em máquinas. Para aqueles que quiserem introduzir o Tráfego Controlado em suas lavouras, é recomendável começar com um planejamento cuidadoso, seguindo dois princípios básicos: ajustar a largura de trabalho e a bitola de todos os equipamentos, de modo que possam utilizar as mesmas trilhas permanentes. Este pode ser um bom roteiro para iniciar com o Tráfego Controlado:


Defina uma largura de trabalho padrão: normalmente esta largura é definida pela plataforma da colheitadeira, pois esta é a máquina mais difícil de alterar a largura de trabalho. Por este motivo, na Austrália, os agricultores com tráfego controlado geralmente escolhem padrões de 9 m (30 pés), 11 m (36 pés) e 12 m (40 pés), as larguras mais comuns para as plataformas de corte. Ajuste a largura de trabalho dos diversos equipamentos: O ideal é escolher uma relação de 3:1 entre os equipamentos mais largos e os mais estreitos, pois isto permite um melhor ajuste nas bordas dos talhões. Assim, uma colheitadeira com plataforma de 30 pés (9,14 m), poderia encaixar com uma plantadeira de 20 linhas a 45 cm (9 m) e um pulverizador com 27 m de barra. Ou, então, uma colheitadeira com plataforma de corte de 20 pés poderia fazer par com uma plantadeira de 13 linhas e um pulverizador com barra de 18 m (veja figura). Não deixe de usar sua fita métrica para medir a exata largura de trabalho de suas máquinas, pois as especificações dos fabricantes podem trazer pequenas diferenças em relação às dimensões reais. Defina uma bitola padrão de trabalho: todos os equipamentos a serem utilizados no sistema precisam ter a mesma bitola (distância de centro a centro dos pneus), de modo que possam utilizar as mesmas trilhas na lavoura. Mais uma vez, a bitola das colheitadeiras é que normalmente define a bitola padrão, pois também é a máquina mais difícil de ajustar. Deste modo, um dos espaçamentos mais utilizados é o de 3 m, pois acomoda bem as bitolas usuais de colheitadeiras, tratores e pulverizadores autopropelidos. De uma maneira geral, as máquinas não são projetadas prevendo o uso do Tráfego Controlado, de modo que algumas vezes é preciso lançar mão de espaçadores

Sistemas de Tráfego Controlado

Sistema de tráfego controlado com relação de 3:1, módulo de 6m e bitola de 3m. relação 3:1

largura padrão

plataforma

plantadeira

pulverizador

6m

20 pés

13 linhas x 45 cm

18 m

9m

30 pés

20 linhas x 45 cm

27 m

e prolongadores de eixos para unificar as bitolas de todas as máquinas, e que já existem no mercado brasileiro. Selecione rodados adequados: no tráfego não controlado normalmente são escolhidos rodados largos e de baixa pressão ou mesmo rodados duplos, com o objetivo de reduzir a compactação dos solos. No Tráfego Controlado o critério é oposto: é melhor utilizar rodados estreitos, de modo a manter as trilhas com o mínimo de largura e a sua superfície compactada e seca. Também é recomendável que os pneus tenham grande diâmetro, pois isto aumenta a eficiência de tração e o vão-livre sob os eixos. Adote um sistema automático de direção: é fundamental dispor de um sistema de direcionamento por GPS que funcione com todas as máquinas do sistema, de modo que todas possam sempre trafegar pelas mesmas trilhas permanentes. O ideal é adotar os sistemas de direção automática (piloto automático),

que não depende da habilidade do operador, e utilizar um sinal RTK, com precisão no solo de 2 a 2,5 cm. Uma vez implementado o sistema de Tráfego Controlado, deve-se manter um trabalho de planejamento constante. O ideal é integrá-lo aos sistemas de Plantio Direto e Agricultura de Precisão, otimizando os investimentos e potencializando os benefícios. Medidas complementares podem melhorar ainda mais a eficiência do sistema, como posicionar as estradas para que as máquinas sejam abastecidas ou descarregadas fora dos talhões e com a maior rapidez possível, ou revisar o sistema de drenagem e conservação do solo para que trabalhe bem em conjunto com as trilhas permanentes. E, acima de tudo, é preciso repensar todo o sistema de produção, de modo a tirar o maior proveito possível das melhores condições dos solos não compactados. * o autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

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Desafio Cesb

Plantação de soja da família Seitz em Guarapuava (PR)

Produtividade nas alturas Alexandre Seitz, de Guarapuava (PR), conseguiu 117,3 sacas de soja por hecare em área não irrigada e conquistou o prêmio máximo. Glauco Menegheti

M

ais uma vez, um produtor rural da região sul do Brasil venceu a sexta edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja, promovido pelo Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil, criado para incentivar produtores de grãos em todo o país a buscarem maiores índices de produtividade. O campeão deste ano é o engenheiro agrônomo Alexandre Seitz, da fazenda São Bento, de Guarapuava, município situado na região centro-sul do estado do Paraná, a 256 quilômetros da capital, Curitiba. Ele superou 1.054 inscritos de 16 estados e 339 municípios., Seitz alcançou produtivida-

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de de 117,3 sacas por hectare em área não irrigada na safra de verão 2013/14 e abocanhou o prêmio máximo dado pelo Cesb, além de conquistar, por tabela, o título de campeão da região Sul. Com 7.038 quilos por hectare, o agricultor paranaense ultrapassou a média nacional (50 sacas de soja por hectare) em 134%. É a melhor produtividade desde que o concurso foi lançado, em 2008, batendo a excelente marca do vencedor no ano passado (110,55 sacas), alcançada pela dupla formada pelo agricultor-pecuarista Hans Jan Groenwold e pelo consultor técnico Lucas Simão Hubert, do município de Castro, também do Paraná – em 2013, o

Desafio Cesb teve 1.198 inscrições de 15 estados. “Mais uma vez, o resultado do Campeão Nacional do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja ultrapassou a média da colheita do Brasil e ainda superou a meta da competição, que este ano era de 115 sacas por hectare. Isto comprova que o agricultor brasileiro tem um grande potencial na produtividade da soja e que está investindo cada vez mais em novos métodos e tecnologias”, ressalta o presidente do Comitê, Orlando Martins. Ele destaca que o desafio tem como objetivos criar um ambiente que estimule os sojicultores e consultores técnicos a desafiarem seus conhecimentos, e incentivar o


desenvolvimento de boas práticas de cultivo, que possibilitem extrair o potencial máximo da cultura, com sustentabilidade e rentabilidade. Além disso, lembra que a área-teste destinada ao Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja acaba virando referência de produção, em termos de tecnologia aplicada à lavoura. Todo o aprendizado ali adquirido será transferido para os cultivos comerciais, se comprovada a sua viabilidade, sustentabilidade e rentabilidade. “Nos fóruns regionais que o Comitê promove nos principais polos produtores de soja do país, procuramos disseminar essas técnicas bem-sucedidas dos ganhadores e ainda apresentamos outros temas relevantes para o desenvolvimento da cultura em território nacional”, acrescenta o dirigente. O Cesb é uma entidade formada por 17 profissionais e pesquisadores de diversas áreas e oito entidades patrocinadoras (Agrichem, Basf, Instituto Phytus, Monsanto, Pioneer, Sementes Adriana, Syngenta e TMG). Receita de sucesso A cerimônia de premiação ocorreu no dia 24 de julho, no auditório do Ministério da Agricultura, em Brasília (DF), e contou com a presença do ministro Neri Geller, que entregou troféus para os vencedores. O ministro destacou que a proeza de Seitz e dos campeões regionais se deve ao domínio das tecnologias de alta performance pelos produtores, que, em resposta, estão obtendo maior produtividade. No primeiro ano do desafio – 2008/2009 – não teve agricultor com produção superior a 90 sacas por hectare. O resultado de Seitz (e do consultor técnico José Carlos Sandrini Júnior, que o assessorou) foi alcançado em um talhão de 20 hectares, dentro do qual eles escolheram uma pequena área de 5 hectares, com um histórico de alta produti-

vidade. “Ali, os mapas de colheita sempre indicavam manchas de 100, 120 sacas de soja por hectare”, explica o agricultor, de 31 anos. A média geral da propriedade ficou em 70 sacas de soja por hectare. A fazenda São Bento, no distrito de Palmeirinha, a aproximadamente 10 quilômetros do centro de Guarapuava, possui área de 1.500 hectares. No verão, o agricultor cultiva milho e soja. Somadas, as duas culturas ocupam 1,1 mil hectares. Já durante o inverno, ele planta 800 hectares com trigo, aveia e cevada cervejeira. “Fizemos a rotação com o milho, cevada e soja”, diz Seitz, que se formou em Agronomia na UFPR – Universidade Federal do Paraná. “A rotação de culturas ajuda a preservar ou melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo, além de auxiliar no controle de plantas daninhas, doenças e pragas”, acrescenta. Há quatro anos, Seitz vem utilizando técnicas de AP – Agricultura de Precisão em suas lavouras, buscando uma aplicação otimizada de insumos e a redução de custos e impactos ambientais negativos. E, é claro, o aumento do retorno econômico. Ele utilizou 400 quilos por hectare de adubo, 200 quilos de

Alexandre Seitz superou 1.054 produtores de 16 estados e 339 municípios no concurso deste ano

KFL (cloreto de potássio) em cobertura e fez três aplicações de produtos hormonais, para dar maior resistência e potencializar a produtividade das plantas. O produtor ainda fez outras sete aplicações de fungicidas na pequena área escolhida para o experimento. “Foram feitas cinco aplicações normais de fungicidas para pragas e doenças de final de ciclo e mais duas para a podridão de esclerotínia”, adianta. Ele também utilizou na lavoura de soja um programa completo de suplementação foliar de macro e micronutrientes e adubação nitrogenada na base, com espaçamento reduzido (22,5) para a soja e uma população alta. “A população passou de 450 mil plantas”, assegura. O clima quase impediu que a marca recorde fosse alcançada. Uma rara estiagem castigou os campos de Guarapuava, que tem chuvas bem distribuídas, com média entre 1,8 mil milímetros e 2 mil milímetros anuais. “A falta de chuva durou 25 dias e pegou a lavoura de soja bem na época vegetativa, na fase inicial de cultivo”. A seca cobrou seu preço, reduzindo a produtividade da lavoura de soja. “Colhemos uma média de 70 sacas por hectare. No ano passado,

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Desafio Cesb

Helmuth Seitz brinca com o neto Samuel na carreta carregada de milho: segundo consenso na família, o garoto leva jeito.

quando não faltou chuva, a nossa produtividade foi de 75 sacas”. A produção da fazenda São Bento é entregue à Agrária Cooperativa Agroindustrial, de Guarapuava, com 550 agricultores associados – produtores de soja, milho, trigo e cevada cervejeira – e 1,2 mil funcionários. A instituição possui um centro de pesquisa, a Fapa – Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, que assiste os associados em todas as etapas do processo produtivo, desde o preparo do solo até o pós-colheita, passando

pela aplicação de defensivos, manejo de pragas e doenças da lavoura. A instituição também avalia novos híbridos e cultivares e testa máquinas e implementos recém-lançados. “A cooperativa é o nosso braço direito. As pesquisas realizadas pela Fapa têm nos ajudado muito”, reconhece. A cooperativa, que completou 62 anos em 2014, tem sua história intimamente ligada aos Seitz. Eles chegaram ao Brasil durante a Segunda Guerra Mundial (19411945) e se instalaram em Guara-

puava. “O meu avô, Johann, foi um dos fundadores da Agrária”, revela o produtor. Johann foi um dos 2.446 suábios (povo germânico originário do Sudoeste e do Oeste do território que hoje corresponde à Alemanha) que, com ajuda da instituição humanitária Ajuda Suíça para a Europa (Schweizer Europahilfe), trocaram o campo de refugiados na Áustria, onde viviam, por outros países. Já que muitos suábios eram agricultores em sua terra natal, a ideia era fundar uma cooperativa agrícola em outro lugar. O engenheiro agrônomo Michael Moor liderou a comissão que executou o programs de imigração de seus conterrâneos e eles, depois de muito sofrimento e dificudades, aportaram no Brasil. Dedicação e orgulho A Agrária foi fundada no dia 5 de maio de 1951, no Hotel Central, em Guarapuava. Com apoio financeiro da instituição Ajuda Suíça para a Europa, os pioneiros adquiiram uma área de 22 mil hectares no distrito de Entre Rios. Os suábios que participaram do projeto de imigração se tornavam cooperados

Oportunidade de aprendizado Este é o segundo ano em que Alexandre Seitz participa do Desafio Cesb. No ano passado, também com consultoria técnica de José Carlos Sandrini Júnior e Josef Pertschy, conseguiu 83,91 sacas/ha. Foi então que estabeleceu como meta produzir entre

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120 e 125 sacas de soja. “Acho que não é uma marca difícil de ser alcançada. Vamos fazer a nossa parte e torcer para que São Pedro faça a dele”. Assim como os campeões regionais, Seitz recebeu como prêmio uma viagem técnica aos Estados Unidos. Ele e os demais agricultores visitarão lavouras de soja de alta produtividade, centros de pesquisas e universidades e participarão de outras atividades. Interessado em novas tecnologias, ele já visitou os Estados Unidos três vezes. “Essas viagens são ótimas oportunidades para aprender mais e depois implantar os novos conhecimentos na propriedade”, ressalta. Ele também é um assíduo participante de palestras técnicas, seminários e dias de campo. “Participei de atividades na fazenda Mutuca em Arapoti (PR], na Fundação Chapadão, em Chapadão do Sul (MS], e na Fundação ABC de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário em Castro (PR], entre outras”.


A trajetória dos Seitz é um exemplo de superação das dificuldades, solidariedade e crença no valor da agricultura. e, com o fruto de seu trabalho, pagavam à Cooperativa pelas terras recebidas. “Eles enfrentaram muitas dificuldades de adaptação, inclusive de comunicação, já que ninguém falava português. Também tiveram problemas para produzir porque naquela época era tudo campo bruto e o solo, muito ácido e muito pobre”, lembra o pai de Seitz, Helmuth, de 55 anos. “Para fazer a correção, os pioneiros usavam esterco bovino e moíam conchas que pegavam na praia. Primeiro, eles plantaram arroz, trigo, milho e, por último, veio a soja”, acrescenta. Alexandre Seitz conta que muito do que hoje sabe aprendeu com o pai. “Desde pequeno eu o ajudo na lavoura. Aprendi muita coisa

com ele, é meu braço direito”, ressalta. Orgulhoso com a vitóroa do filho no Desafio Cesb, Helmuth lembra que, mesmo quando estava na faculdade, Alexandre se oferecia para ajudar nos trabalhos na fazenda. “Ele sempre gostou e me dava uma mão na época do plantio e da colheita. Helmuth é um entusiasta de novas tecnologias e foi quem, em 2010, decidiu adotar procedimentos de Agricultura de Precisão. “O meu pai é uma pessoa muito aberta a novas tecnologias, que são sempre bem-vindas, desde que a gente não se esqueça dos princípios básicos da agricultura, como o plantio bem executado, cobertura do solo, manejo da palhada para evitar erosão e histórico

AF-Deville_AgroDBO_edicao agosto_2014_184x266.pdf

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de talhão”, observa. Seitz é casado com a cirurgia dentista Silvana Illich Seitz e pai de Samuel, de um ano e meio de idade. Ele diz que se orgulha de ser agricultor e se enxerga no futuro trabalhando ao lado do filho, assim como fez com seu pai. “A agricultura é uma atividade muito digna. É muito gratificante produzir alimentos para o mundo de forma sustentável, sem agredir a natureza”, declara. “Estou dando duro para que meu filho também possa fazer o mesmo., para que um dia ele siga os meus passos”, completa. Considerando o interesse demonstrado por Samuel, a tradição de trabalhar com agricultura terá continuidade com a nova geração dos Seitz. “

11:57 AM

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Artigo

Hora de fechar as torneiras Aumento dos custos de produção da safra e redução dos preços das commodities, clamam por gestão para não ter prejuízo. Rogério Arioli Silva *

A

perspectiva de uma grande safra norte-americana aliada à possibilidade de estabilidade climática na América do Sul derrubaram as cotações de algumas commodities por vários pregões consecutivos, sinalizando novas referências de preços para os grãos. A próxima safra de verão terá custos maiores, resultando em expressiva queda das margens de lucro dos grãos. É inegável a necessidade de boas cotações de preços, notadamente na soja e no milho, para que as safras brasileiras se viabilizem economicamente, principalmente aquelas

ficativo, estará abaixo da média alcançada na última década (chegou a 14,7% em 2007), o que suscita preocupações uma vez que 80% da soja brasileira tem a China como destino final. O baixo crescimento brasileiro não tem sido suficiente para gerar significativo aumento do consumo interno. Desse modo, há um descompasso entre o incremento nesse consumo e a robustez no crescimento das safras, gerando significativos excedentes. Enredado na burocracia ambientaloide o Brasil rema e não sai do lugar, graças aos entraves impeditivos ao investimento em infraestrutura

A lição de casa é buscar uma adequação dos custos à nova realidade de preços

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

produzidas na região Centro-Oeste, onde a logística reduz a competitividade. Nos últimos três anos, em decorrência de quebras de safras, tanto na Argentina, Paraguai e, principalmente nos EUA, houve suporte aos preços dos grãos, promovendo significativa receita aos brasileiros. Se forem confirmadas as estimativas de uma safra de soja norte-americana acima de 95 milhões de t e de milho acima de 350 milhões de t haverá confortável recomposição de estoques, gerando tranquilidade aos consumidores e, em consequência, preços menores aos recentemente praticados. Pelo lado da demanda observa-se a locomotiva chinesa reduzindo a velocidade de crescimento. O número divulgado de 7,5% no crescimento deles, apesar de signi-

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que colocou a si próprio, no que é aplaudido efusivamente pelos concorrentes internacionais. O componente especulativo que estava presente em parte da cotação das commodities agrícolas parece migrar para outras possibilidades de lucros mais imediatos. A perspectiva de redução dos estímulos à economia americana, anunciado pelo FED (Banco Central Americano), consoante aos primeiros sinais de recuperação daquele país, devem fortalecer o dólar nos próximos meses. Esse ajuste cambial pode gerar algum ganho econômico aos produtores, contudo, é bom lembrar que boa parte dos custos agrícolas está atrelada ao dólar o que requer cuidado no momento da aquisição dos insumos.

Embora os custos de produção não tenham crescido para todas as culturas de maneira generalizada, em alguns casos os mesmos foram significativos. Dados do IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) demostram aumento de 14% nos custos de produção do milho na região Oeste de Mato Grosso entre Junho de 2013 e Junho de 2014, passando de R$ 1.590,00 para R$ 1.814,00 por hectare. Saliente-se que existem grandes diferenças nos custos de produção de acordo com o pacote tecnológico aplicado e também com a situação de capitalização do produtor. Os aptos a adquirir insumos com recursos próprios conseguem baixar significativamente esses custos, embora ainda sejam uma minoria no universo brasileiro de produtores. Entretanto, também não se deve esquecer que milhares de produtores aproveitaram as linhas de crédito oferecidas para renovar suas máquinas e equipamentos, necessitando, portanto, de rentabilidade bem acima dos custos de produção para fazer frente a esses compromissos assumidos. A lição de casa a ser feita nos próximos meses é buscar uma adequação dos custos à nova realidade de preços que se apresenta. A tarefa nem sempre é fácil, todavia precisa ser feita imediatamente, evitando futuros dissabores. Receitas prontas não existem e geralmente demandam boa dose de criatividade. Cabe a cada produtor avaliar sua propriedade com olhos críticos, fechando as torneiras por onde se perdem as preciosas gotas d’água que poderão prover a tranquilidade futura.


INFORME TÉCNICO

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Soja

Tempo de vacas magras Após cinco anos de boa (em muitos casos, ótima) rentabilidade, o mercado vira do avesso e põe em xeque o lucro do produtor. Marianna Peres

O

sojicultor brasileiro está numa encruzilhada. Para qualquer lado que olhe, vê o sinal amarelo piscando, prestes a passar para o vermelho – o verde da temporada 2013/14 já ficou para trás. Considerando a precariedade da estrada à sua frente, ele sabe que terá que dirigir com cuidado, fazer milagres para extrair o máximo de produtividade na safra 2014/15 e assim tentar amenizar a incerteza quanto aos preços, pressionados pelo anúncio de safras recordes nos Estados Unidos e no Brasil, e quanto à margem de lucro, impactada pela alta no custo dos insumos. Projeções do Imea – Instituto Mato-

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-grossense de Economia Agropecuária mostram que, para fechar a conta no ano que vem, o sojicultor terá que colher 61 sacas por hectare, bem acima da média histórica (52 sacas/ ha) para não ter prejuízo. Em Mato Grosso, maior produtor nacional do grão – e primeiro estado a plantar soja, já no mês que vem – o momento é de apreensão. Chegou a hora de reavaliar estratégias. Desafio aceito No mês passado, ainda em plena colheita de milho safrinha em sua propriedade, a fazenda Ramada, em Campo Novo do Parecis (396 quilômetros ao noroeste de Cuia-

bá), o produtor Bruno Giacomet pensava e agia de olho na nova safra de soja, cujo plantio, no seu caso, começará nos primeiros dias de outubro. Assumindo os negócios da família aos 25 anos – até então gerenciados pelo avô Ricardinho Anthero Giacomet –, ele encarou o desafio de superar o cenário pessimista logo na sua segunda safra à frente da propriedade. Diante da iminência de um ano de vacas magras, adotou novas táticas na guerra pela rentabilidade. Pela primeira vez vai adotar variedades transgênicas de soja, aboliu a velha prática das trocas, onde comprometia parte da produção a ser plantada em


“escambo” com insumos e vai plantar mais cedo. Neste ano, ele pegou dinheiro no banco, na modalidade custeio, e comprou tudo o que precisava à vista, dentro de um pool via cooperativa. “Espero que, com essas mudanças tão profundas dentro da minha forma de gestão, eu consiga amenizar o impacto de um ano que tende a ser ruim”, justifica. Se fosse adquirir os insumos na base da troca – geralmente com grandes tradings, como ainda é usual no campo – ele receberia cerca de US$ 16 por saca, ao invés de US$ 22, preço fechado no ano passado durante os preparativos para o plantio na temporada recém-encerrada. Segundo seus cálculos, este valor (US$ 16/sc) inviabilizaria a safra 2014/15. Outra das medidas “anti-altas” de Giacomet foi reduzir os níveis de adubação. Ao comprar fertilizantes, levou em conta apenas o suficiente para manutenção do solo, sem exageros. “Sei que no ano que vem, com mercado bom ou ruim, terei de repor o que estou

deixando de aplicar nesse ano, mas essa foi a minha opção”. A redução é de 20 pontos de potássio por hectare e 10 de fósforo. “Faço isso ciente de que posso manter, junto com outros cuidados e manejo correto, a média de 61 sacas que tive na safra anterior”, argumenta. A decisão de não fazer a correção de solo foi analisada exaustivamente pelo produtor, que também é engenheiro agrônomo. “O único fator que foge ao nosso controle e empenho é a pressão das pragas e doenças; não sabemos como será”. Bruno Giacomet lembra que, na safra anterior, cada hectare plantado lhe custou de 45 a 48 sacas. Assim, com produtividade média de 61 sacas/ha, garantiu margem de 15 sacas/ha. “Para essa nova safra, uma coisa é certa: “Vou gastar menos com insumos, correndo o risco de colher menos. O diferencial positivo terá que vir como consequência da gestão no decorrer da safra e dos preços de comercialização”, calcula. Como modificou seu padrão de aquisição de insumos, ele não tem na ponta do lápis o percentual de aumento no custo de produção referente ao ciclo 2014/15. Porém, com 90% dos defensivos, 100% do adubo e 100% das sementes comprados até meados de julho, prevê um desembolso de 30% a mais. “Eu prorroguei o pagamento do adubo (até o final deste mês de agosto) na

esperança de que o dólar caia mais e reduza a conta. Afinal, não vendi nada no futuro porque as ofertas ficaram entre US$ 18 e US$ 19, muito pouco”.

Bruno Giacomet, diante de sua lavoura de milho safrinha: “O ganho terá de vir como consequência da gestão e dos preços de comercialização”.

Largada antecipada Por ter migrado para os cultivos transgênicos, Giacomet se deparou automaticamente com custos maiores para as sementes – em seu caso, a alta foi de 15%. “Aqui na região, recebíamos R$ 10 a mais por saca convencional, mas na safra 2013/14 esse plus desapareceu. Então vamos manter 50% da área coberta com soja convencional como forma de controle de nematoides. A outra metade será ocupada por variedades precoces e produtivas de soja GM. A aquisição de sementes, mesmo realizada entre janeiro e fevereiro, sete meses antes do início do plantio, foi complicada. Muitas estavam esgotadas e ele acabou aceitando negociar com entrega para a primeira quinzena de setembro. Ele, que sempre semeava na primeira quinzena de outubro, após as primeiras chuvas, agora vai dar a largada no dia 1º de outubro, para assegurar espaço e tempo para o cultivo de segunda safra, dividida entre milho branco ou milho pipoca e girassol. “Acredito que as chuvas vão chegar mais cedo este ano em razão do El Niño. Em 2013, ainda estava seco quando plantamos”.

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Soja Os produtores ainda estão confiantes. Se não houver recuperação do preço médio até janeiro ou fevereiro, aí, sim, a coisa vai pegar.

Bruno com o avô, Ricardinho Anthero Giacomet: neste ano, ele mudou radicalmente sua estratégia em busca de resultados.

A Aprosoja/MT acredita que, apesar do cenário pessimista para o ano que vem, os produtores vão ampliar a área dedicada à soja.

Como muitos produtores brasileiros, Giacomet é um otimista: mesmo com tantos percalços pela frente, vai ampliar sua lavoura. De 1,17 mil hectares plantados na safra 2013/14, vai para 1,4 mil agora. Pretende, inclusive, aumentar a área destinada ao cultivo da safrinha em 2015, passando de 1,05 mil hectares para 1,2 mil, boa parte dos quais com girassol, a cultura de maior liquidez na região de Campo Novo do Parecis, depois da soja. “Aqui, podemos apostar na safrinha com girassol e milho branco que é lucro certo”. Ou seja, ele tem um caminho alternativo, caso a soja emagreça ainda mais do que o esperado. Na opinião do diretor administrativo da Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho

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de Mato Grosso, Nelson Piccoli, a preocupação de Giacomet reflete o sentimento do segmento em buscar estratégias para amenizar os impactos do atual cenário ruim desenhado para a nova safra. “Essa queda brusca do preço da soja no mercado internacional, como reflexo da reposição dos estoques suprimidos pela demanda mundial firme e perspectivas de safras recordes em 2015, vai pesar no bolso e todo mundo tenta enconrar uma fórmula para que ela pese o menos possível, já que boa parte da rentabilidade do produtor mato-grossense é comida pelo frete”. Mais soja em 2015 Segundo avaliação da Aprosoja/ MT, mesmo sob as condições adversas previstas para o novo ciclo, a área e a produção serão recordes no estado no ano que vem. “O produtor mato-grossense já adquiriu quase tudo que precisava para plantar, negociando com recursos próprios e aproveitando os momentos favoráveis. É um erro achar que, por causa do alto custo de produção, vamos reduzir o emprego de tecnologia. Mais do que nunca precisamos de resultados, de produtividade e de gerir a questão sanitária na hora certa e com produtos preventivos”.

Em sua opinião, apenas o fator climático pode colocar por terra o empenho do produtor. Piccoli afirma que “agora não é o momento para desesperar, porque o produtor vem de safras muito boas e não está com a corda no pescoço; tem margem, gordura para queimar, mas precisa saber o que fazer e fazer bem feito. Por isso, acredito que a comercialização pode esperar até janeiro ou fevereiro. Se até lá não houver recuperação dos preços, ai, sim, teremos um cenário muito perigoso”. Como explica, com um custo médio de R$ 2,43 mil por hectare – conforme estimativa do Imea – e produtividade de 52 sacas/ha, é preciso que a saca esteja acima de R$ 46,00 apenas para cobrir os custos. Com preços entre R$ 50,00 e R$ 54,00, como vinha ocorrendo até meados de julho, há margem de 10% a 15%. “Agora, com a saca abaixo de R$ 50,00, a margem fica pressionada”. A sensação em Mato Grosso é a de que se sai do céu ao inferno, quando se avalia a safra 2013/14, comparativamente ao que se vislumbra para o novo ciclo. “Na temporada passada, nós provavelmente obtivemos a melhor média de preços da história. Isto dificilmente se repetirá sem que tenha-


mos algum problema climático reduzindo a oferta do produto. Se formos analisar os fundamentos em cima dos números divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o quadro realmente é preocupante”, observa João Birkjan, analista de mercado do Centro Grãos, em Cuiabá. Como explica, a pressão sobre as cotações futuras da soja vem, sobretudo, dos Estados Unidos, maior produtor e exportador mundial do grão e, como tal, protagonista do chamado “mercado de clima”, capaz de induzir os preços para cima ou para baixo, aos sabor dos interesses, bastando superdimensionar ou subdimensionar o impacto de alagamentos, estiagem prolongada, geadas, etc. Jogo de mercado O relatório do USDA mostra que a nova safra norte-americana, recém plantada, pode ser a maior de todos os tempos. “O USDA divulgou números que refletem o melhor cenário possível. Porém, acreditamos que tal quadro não será confirmado, pois os dados anunciados correspondem ao plantio até primeiro de junho. Acontece que, no decorrer do mês de julho, muitas áreas foram ala-

gadas e não deverão ser replantadas. Além disso, uma safra de mais de 100 milhões de toneladas depende de uma produtividade excelente, de pelo menos 50,7 sacas por hectare, o que só vingará se tudo correr às mil maravilhas até a colheita”, insiste Birkjan, apontando outra questão relevante: “Eles (os responsáveis pelo relatório do USDA) não consideraram que da safra 2012/13 para a 2013/14 os chineses aumentaram em 9 milhões de toneladas as im-

Para a FCStone, a rentabilidade em 2015 em Mato Grosso deverá ser a menor nas últimas cinco safras.

Milho branco, uma das opções de Bruno Giacomet para garantir a renda da família.

portações de soja, passando de 60 para 69 milhões de toneladas”. Segundo o analista, nesta época do ano, quando se projeta a produção mundial no ciclo que se avizinha, é normal o mercado chegar aos patamares mais baixos do ano – em agosto de 2013, a bolsa de Chicago cotava o bushel (27,2 quilos) a US$ 11,80 e no transcorrer da comercialização daquela safra chegou a passar de US$ 15. “Diante deste quadro, o produtor corre risco pequeno de ter prejuízos na próxima safra, mas provavelmente terá que se contentar com resultados mais singelos”, diz Birkjan. Até junho, cerca de 1,9% da safra 2014/15 estava comercializada em Mato Grosso ao preço médio de R$ 46,29 a saca. Para a época da colheita, o único preço projetado até então era o de paridade de exportação para março de 2015, baseado nas cotações de Chicago. Na primeira semana de julho, a média era de R$ 39,76/sc no estado”. Para a consultoria INTL FCStone, a rentabilidade em 2015 em Mato Grosso será a menor das últimas cinco safras. Se na safra 2010/11 o lucro direto correspondeu a 36% do valor de mercado da tonelada comercializada, no novo ciclo a relação deve cair para 23%. agosto 2014 – Agro DBO | 51


Nutrição

Adubação biológica A tecnologia descompacta o solo, repovoando-o com microorganismos benéficos à lavoura, e reduz o custo de produção. Gustavo Paes

Solo afofado, com fertilização adequada e manejo correto, facilita a brotação e favorece o desenvolvimento das plantas.

O

solo compactado faz com que as plantas tenham dificuldade para obter melhor enraizamento, impedindo que os nutrientes cheguem às folhas e a toda planta. Como resultado, o agricultor tem constatado perda de eficiência produtiva nas culturas anuais e perenes. A adubação biológica, cada vez mais usada no Brasil, Paraguai, Uruguai e outros países da América Latina em diversas culturas agrícolas, é uma alternativa para reverter este quadro, ao melhorar a qualidade do solo e, consequentemente, a nutrição das plantas, embora não apresente resultados imediatos. Segundo estimativas, o número de usuários no Brasil passa de 3,5 mil produtores atualmente, boa parte dos

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quais em atividade nas regiões norte e noroeste do Rio Grande do Sul, polos de produção de grãos como soja, milho e trigo e de pecuária leiteira. O agricultor Romeu Kohlrausch, estabelecido no município de Victor Graeff, está utilizando a técnica da adubação biológica pelo segundo ano consecutivo. Em 2013, aplicou biofertilizantes em 85 hectares de trigo e em pequena área de soja e aveia, preocupado com a compactação do solo e com a nutrição adequada das plantas. Usando 200 litros de adubo biológico por hectare e 100 de ureia, ele colheu três sacas a mais de trigo por hectare. “Colhemos o trigo com resultado razoável e baixo custo de produção com a adubação biológica,

pois usamos os recursos da fazenda para fazer a compostagem”. Neste ano, ele aumentou a área com o cereal de inverno, que passou a ser cultivado em 140 hectares. O custo de aplicação do produto ficou entre R$ 150,00 e R$ 160,00 por hectare, segundo ele. “Estou fazendo de novo para ver quais são os resultados”, afirma Kohlrausch, considerado pioneiro no plantio direto no estado. O agricultor e pecuarista Loivo Schossler, também de Victor Graeff, já utiliza a adubação biológica em sua fazenda há três anos e comemora os resultados. “A diferença de uma terra (sem adubação biológica) para outra (com adubação) é muito grande. O solo ficou mais


solto”, diz Schossler, que cria 40 vacas leiteiras da raça holandesa em sua propriedade e sofria com a compactação do solo, muito pisoteado pelos animais. O agricultor também usa adubação biológica em cinco hectares de pastagens de sorgo, azevém e aveia e numa pequena área onde cultiva milho para silagem. “A qualidade das pastagens melhorou muito. E consegui aumentar a produtividade da lavoura de milho de 50 toneladas por hectare para 60 toneladas. Só quem usa a adubação sabe das suas vantagens”, destaca Schossler. Os dois produtores gaúchos usam em suas lavouras o microgeo – produzido pela Microbiol, de Limeira (SP) –, que promove a multiplicação dos micro-organismos desejáveis e os estabiliza para serem levados ao campo. O produto, certificado pelo IBD – Instituto Biodinâmico, sediado em Botucatu (SP), como insumo para agricultura orgânica, estimula o desenvolvimento de aproximaamente 200 espécies de micro-organismos presentes no esterco bovino. “Hoje, há necessidade de reestruturação do solo em geral. Com uma adubação biológica podemos reestabelecer ganhos para a agricultura brasileira em geral, seja orgânica ou convencional”, afirma o diretor comercial da Microbiol, o administrador de empresas Leandro Suppia, Variabilidade microbiana A Microbiol começou a desenvolver os adubos biológicos em 1994 e patenteou em 2000 seu processo de compostagem, mas só passou a vender o produto em escala comercial a partir de 2006. A produção de grãos como soja, milho e trigo representa cerca de 60% das vendas da companhia. Porém, culturas como cana-de-açúcar e café também são grandes clientes. “A recomendação é feita para todos os tipos de plantas, basta ter raiz. O efeito da adubação biológica é progressivo; neste caso, independe

diretamente das culturas utilizadas, mas quando se pensa em maiores resultados em curto prazo, nas plantas que têm maior potencial de enraizamento o efeito do adubo biológico é mais rápido”, explica Suppia, salientando que é possível adotá-lo em larga escala, pois o microgeo pode ser aplicado com qualquer equipamento convencional. O executivo frisa que, segundo trabalho conjunto realizado pela Embrapa Cerrado e pela UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso, a monocultura favorece a redução da variabilidade microbiana, alterando a estrutura física do solo e gerando a compactação, até mesmo em culturas de plantio direto. “Para se ter ideia do impacto, a cada cinco anos, no sistema convencional de plantio direto, se perde 70% da biodiversidade microbiana do solo. Isso precisa ser renovado com a adubação biológica. É um alerta que fazemos aos agricultores”, observa.

Kohlrausch colheu três sacas a mais de trigo por hectare e ainda usou compostagem produzida na fazenda para reduzir seus custos

Romeu Kohlrausch é um dos pioneiros no plantio direto no Rio Grande do Sul e, agora, na adubação biológica.

Suppia ressalta, porém, que a aplicação do adubo biológico não substitui o fertilizante tradicional. São duas ferramentas distintas, segundo ele. A adubação química tem o objetivo de fornecer macro e micronutrientes para as plantas. Já a adubação biológica, visa repovoar o solo com microrganismos que, agindo em conjunto com a planta, fazem a reestruturação do solo, explica. “As duas ferramentas são fundamentais para um sistema de agricultura. A adubação química fornece os nutrientes e a adubação biológica faz com que esses nutrientes cheguem até a planta de uma maneira mais eficiente”, diz. No caso dos grãos, a utilização da adubação biológica deve ser feita sempre quando a cultura é implantada. É muito importante que o agricultor esteja atento ao tempo ideal de aplicação do adubo biológico – no caso dos grãos, quando surgem as primeiras folhas verdadeiras. Já para culturas permanentes, como frutíferas e café, a aplicação deve ser feita sempre no início do período vegetativo. O gasto com aplicações do adubo biológico varia de acordo com a região. “Mas é compatível com os custos usuais. Se pensarmos em sacas de soja, fica em torno de 1,2 saca por hectare e para café, em torno de 0,3 saca por hectare”, explica o diretor comercial. Ele lembra que a empresa trabalha, em forma de parceria, com várias instituições, entre as quais Embrapa, Unesp – Univeragosto 2014 – Agro DBO | 53


Nutrição A adubação biológica recompõe a variabilidade microbiana no solo, gradativamente perdida no sistema convencional de plantio. sidade Estadual Paulista e CCGL – Cooperativa Central Gaúcha Ltda. “Os resultados obtidos comprovam a reestruturação do solo, aumento de produtividade e redução do ataque de nematoides”, garante, acrescentando que a Microbiol está iniciando estudos para utilização de ferramentas de agricultura de precisão para demonstrar os resultados do adubo biológico na realidade das propriedades em que a empresa atua. A produção do adubo é feita a partir de uma mistura de 15% de esterco bovino ou conteúdo ruminal, 5% de microgeo e água. O volume produzido na propriedade deve levar em conta a área a ser coberta pelas aplicações. Para café, chá, cana-de-açúcar, fruticultura, pastagem, reflorestamento e demais culturas perenes, a dose de adubo biológico recomendada é de 300 litros por hectare, divididos em duas aplicações iguais, no inverno e no verão, sempre no período de desenvolvimento vegetativo. No caso de grãos, hortaliças, flores, hidroponia e outras culturas anuais, a recomendação é de 150 litros por hectare. A biofábrica, como é chamado o reservatório – que pode ser desde um tanque de fibra de vidro,

Experimento a campo com adubação biológica e sem adubação (da esq. para a dir.)

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metálico ou alvenaria ou mesmo um pequeno lago artificial cuja profundidade não ultrapasse 1,90 metro – deve sempre ser colocada em área ensolarada. O tanque deve ficar próximo ao ponto de abastecimento de água e mantido descoberto. Após a mistura ser colocada no tanque, o produtor rural precisa esperar pelo menos 15 dias para fazer a primeira aplicação, que pode ser realizada com pulverizadores normais. Para uso contínuo, a recomendação é usar até 10% do volume do tanque diariamente, tendo o cuidado de repor o microgeo e a água diariamente. Para uso intermitente, o agricultor pode usar até 70% do volume do tanque de produção. Após a reposição do microgeo e da água, é necessário aguardar sete dias para utilizar o adubo biológico novamente. Produtividade em cana O uso da adubação biológica na lavoura de cana-de-açúcar (de primeiro e segundo corte) teve seu rendimento comprovado em um evento realizado há três anos pela Unesp – Universidade Estadual Paulista, em que produtores rurais convidados comprovaram a eficácia

da técnica associada à fertilização mineral, gerando aumento da receita líquida da propriedade e aumento dos índices de ATR – Açúcar Total Recuperável além da economia de 25% no uso de fertilizantes minerais. O professor Marcos Omir Marques, do Departamento de Tecnologia da Unesp em Jaboticabal (SP), afirma que o primeiro estudo surpreendeu com aplicação da adubação biológica na cana. “Agora, no segundo ano, os resultados foram ainda melhores”, observa. O pesquisador salienta, porém, que o estudo está ainda em sua fase inicial e deverá se estender por mais quatro anos, com possibilidade de ser prorrogado por dez anos. “Em cana-de-açúcar, o ciclo é de seis anos, mas, a partir do segundo ano, a gente pode sentir firmeza com resultados favoráveis de ATRs e menores custos de produção”, diz ele. O experimento científico com uso e não uso da adubação biológica no cultivo da cana, acompanhado pelo professor da Unesp, foi iniciado no dia 3 de junho de 2011, em uma parceria da Unesp Jaboticabal, Microbiol e Canaoeste – Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste de São Paulo, sediada em Ribeirão Preto. Segundo


Marques, com adubação biológica é possível diminuir em 25% os custos de produção, com menor aplicação de fertilizantes minerais. “Mesmo reduzindo o uso de fertilizantes, a planta permaneceu produzindo. Esse resultado foi muito animador. Com custos menores, aumentamos a margem de lucro e a competitividade do produtor no mercado”, destaca o pesquisador, engenheiro agrônomo com mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos e doutorado em Solos e Nutrição de Plantas pela Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz, de Piracicaba (SP). “Fizemos avaliação biométrica da cana, após a aplicação da adubação biológica, sempre comparando com área que não foi aplicada a técnica, e identificamos um aumento no número de perfílhos (número de colmos por metro linear de cana), diâmetro médio do colmo e maior altura da planta, o que resultou numa maior produtividade da cana estudada”. A avaliação do Cesumar Um estudo realizado há quatro anos pelo Cesumar – Centro Universitário de Maringá, sediado em Maringá (PR), mostrou resultado semelhante ao obtido pela Unesp Jaboticabal com a cana-de-açúcar.

A pesquisa foi feita em outubro de 2010 na fazenda experimental do Cesumar. O trabalho testou a eficiência de doses crescentes de microgeo (0, 50, 100, 150, 300l/ ha) sobre os atributos físicos e químicos do solo, conduzido em uma área com o cultivo de arroz. Uma área de 500 metros quadrados foi dividida em 20 parcelas cada uma com 25 metros quadrados (5m x 5m), e espaçamento entre elas de 1 metro com uma bordadura de 3 metros. Em outubro de 2010, os pesquisadores semearam a variedade IPR-117 de arroz, com espaçamento entre linhas de 45 centímetros e 40 sementes por metro linear. Antes da implantação da cultura foi realizada em cada parcela uma amostragem composta de solo a partir de dez amostras simples retiradas na profundidade de 0 a 20 centímetros, procedimento esse que foi repetido no final do ciclo da cultura do arroz. As amostras foram analisadas quimicamente para avaliação dos efeitos causados na disponibilidade de nutrientes. Após a colheita, foram retiradas de cada parcela quatro amostras de solo não deformadas tendo a massa determinada inicialmente. Em seguida foram submetidas à secagem em estufa a 105°C durante 48 horas e nova-

Estudo da Unesp comprovou a eficácia da adubação biológica em canaviais e aumento da ATR na cana-de-açúcar

mente determinada a massa das amostras. Após esse procedimento foi feita a determinação da densidade do solo (aparente). Para a produção do biofertilizante foi utilizado uma caixa d’água de fibra com capacidade para mil litros, onde foram adicionados 200 litros de esterco bovino, 50 quilos de microgeo e água completando o volume. O fertilizante foi aplicado diluído em 5 litros de água entre as linhas do arroz semeado, sendo a dose dividida em duas épocas de aplicação. A primeira foi realizada com 20 dias após a semeadura e, a segunda, com 40 dias. A colheita foi realizada manualmente, 132 dias depois da semeadura, coletando-se uma área central de 3 x 3 m de cada parcela. O material colhido foi usado para as determinações de produtividade e produção da cultura, além de avaliações do estado de desenvolvimento das plantas. Para determinação da produtividade do arroz foram avaliadas a produção de grãos de cada parcela, o número de panículas e a massa de 100 grãos. Os resultados comprovaram que a aplicação do biofertilizante contribuiu para a manutenção do pH do solo após a colheita do arroz, assim como a disponibilidade de P (fósforo) no solo e para o incremento de matéria orgânica. agosto 2014 – Agro DBO | 55


Marketing da terra

Todos os ovos num único cesto? Cabe somente aos produtores não correr riscos desnecessários nas próximas safras Richard Jakubaszko

U

m dos mais antigos aforismos dos tempos capitalistas e contemporâneos, nos ensinam os mais velhos, é o de não colocar todos os ovos numa única cesta. Em negócios, em caso de acidente de percurso, seja qual for, colocar todos os ovos num único cesto é risco iminente de graves problemas. É essa a sugestão de marketing que fazemos aos agricultores que planejam aumentar áreas de plantio nas próximas safras de verão e safrinha. Não plante apenas uma lavoura, apenas soja ou milho, por exemplo. Aproveitando o maquinário, plante milho pipoca, milho para canjica, milho para ração ou de uso industrial. Plante soja orgânica, diversifique com girassol, ou feijão, ou arroz, afinal, em alguns desses casos será necessário trocar somente a plataforma de corte da colheitadeira. Ou seja, diversifique as áreas de lavouras dentro de suas possibilidades e do mercado comprador. Isto trará, aos previdentes e cautelosos, rendas diversas, de fontes diferentes, e mesmo que não sejam tão rentáveis, por certo a diversificação vai garantir redução de riscos de queda na renda em caso de uma supersafra de soja ou milho, por conta dos baixos preços que essas commodities andam sendo vendidas no momento, e por causa dos altos custos de produção. Esta edição da Agro DBO está repleta de abordagens sobre este tema, e ninguém, na verdade, sabe hoje dizer o que vai 56 | Agro DBO – agosto 2014

acontecer ao final das próximas safras de verão e de safrinha. Portanto, amigo agricultor, olho vivo, pois quem tudo quer pode colocar tudo a perder. Adicionalmente, vale lembrar que se todos os produtores plantarem mais, usarem novas áreas, e cuidarem melhor das lavouras, contribuirão de fato para o aumento da produção e uma possível supersafra. Entretanto, supersafra nunca foi favorável ao agricultor, exceto nestes últimos tempos malucos em que vivemos, convivendo com recordes mundiais de produção e de preços também recordes, culpa dos ávidos chineses, ricos e insaciáveis, que viraram o mundo de cabeça pra baixo. Assim como o exemplo dos ovos é interessante para ilustrar os perigos da futura safra, outro exemplo mostra os cuidados que se deve ter na figura de linguagem de um ônibus em acelerada marcha numa estrada, pois devemos sempre estar atentos para uma possível freada brusca, culpa de algum buraco à frente, ou de uma vaca distraída atravessando a rodovia logo depois da curva, sendo que o solavanco da freada pode derrubar quem não esteja se segurando firmemente, ou melhor, a quem esteja distraído. Assim, pratique o seu marketing como produtor, diversifique, e bom plantio a todos!


Congresso Brasileiro de Fertilizantes

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O 13º Congresso APOIO INSTITUCIONAL

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Brasileiro do Agronegócio conta com


Análise de mercado

A pressão da vizinhança Vários fatores explicam o “arco” traçado pelas cotações do trigo de dois anos para cá: o principal deles é o sobe-desce da produção argentina.

O

mercado doméstico de trigo ingressou no segundo semestre de 2014 com forte retração nos preços. No cenário internacional, o quadro de oferta e demanda indica elevação de estoques e da relação estoque/consumo. Na Argentina, a produção vai crescer substancialmente, elevando o saldo exportável. No Brasil, espera-se safra recorde. Por tudo isso, a média de preços em julho recuou 21% no Paraná e 30% no Rio Grande do Sul, comparativamente ao mesmo período de 2013. Para entender os motivos dessa retração, cabe uma retrospectiva, destacando os fatores que levaram o preço do cereal aos maiores patama-

res da história (entre os meses de julho e outubro do ano passado). Na temporada 2013/14, a produção paranaense e paraguaia, que normalmente ingressa no mercado no final de agosto, foi castigadas por intempéries climáticas e só começou a entrar em outubro. O alongamento do período de entressafra coincidiu com a escassez de oferta na Argentina, cujo saldo exportável no ciclo 2013/14 foi de apenas 2,5 milhões de toneladas, o menor desde 1978. Para atenuar a carência na oferta e segurar os preços, o governo brasileiro colocou no mercado 1,2 milhão t do estoque público, isentou a TEC em 10% e o Adicional sobre o Frete para Renovação da Ma-

rinha Mercante (AFRMM) em 25% para aquisição de trigo extra-Mercosul. possibilitando aos moinhos a substituição do produto argentino e paraguaio pelo norte-americano e canadense. Nos 11 primeiros meses da temporada 2013/14. dos 6,1 milhões t importados pelo Brasil, 64% vieram de fora do Mercosul. No ciclo anterior, foram apenas 16%. Na temporada 2011/12, os argentinos colheram 15 milhões t e exportaram 11,7. No ciclo 2012/13, a produção recuou para 8,5 milhões e o saldo exportável, para 3,3. A safra 2013/14 deve fechar em 9,2 milhões, mas como eles precisam recuperar estoques, o saldo exportável será de apenas 2,5 milhões. Porém,

SOJA – Na terceira semana de julho, segun-

do dados do Cepea, os valores FOB registraram os menores patamares desde agosto/2013 no porto de Paranaguá (PR) e os mais baixos desde maio/2013 em Rio Grande (RS), em termos nominais. A perspectiva de safras recordes no Brasil e nos EUA vêm pressionando os preços. A notícia de que a China vai aumentar suas compras em 7% na próxima temporada (começa em 1/10) pode reverter a linha de queda.

* Em 16/7, o ndicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 65,01 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

ALGODÃO –

A maior disponibilidade da pluma no mercado interno, a forte baixa externa e a perspectiva de crescimento da produção nacional continuaram pressionando as cotações. Até a terceira semana de julho, o volume médio diário exportado caiu 41,5% em relação ao mesmo período em junho, segundo levantamento do MDIC. Com a intensificação da colheita, as exportações devem crescer, mas não o suficiente para sustentar os preços domésticos.

* Em 16/7, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 183,17 centavos de real por libra-peso.

ARROZ – Os preços se mantiveram na faixa

de R$ 36,00 a saca na primeira quinzena de julho e caíram para R$ 35,00 na segunda. Segundo pesquisadores do Cepea, o ritmo de negócios também caiu. Alguns orizicultores ofertaram lotes para fazer caixa ou cumprir compromissos. Outros, preferiram esperar preços melhores. O incremento nas vendas externas pode, porém, reverter a tendência baixista. As exportações cresceram 34,5% no primeiro semestre.

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* Em 16/7, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 35,77 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado os preços elevados no momento de decisão de plantio dos argentinos e a necessidade de rotação de cultura devem incrementar a área plantada no ciclo 2014/15 – as estimativas apontam para uma safra de 12,5 milhões t, o que elevará o saldo exportável para 6,5 milhões. Além do fator Argentina, os preços internacionais – parâmetro para o mercado brasileiro, formado de fora para dentro – também caíram, influenciando os domésticos. A média no primeiro semestre de 2014 em Chicago (trigo Soft) ficou em US$ 6.37 por bushel, recuando 11,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. No âmbito doméstico, a pressão baixista resulta também da necessidade de escoar o excedente de produção da safra velha no Rio Grande do Sul e da estimativa de safra recorde no Brasil: 8,1 milhões t, superando o recorde anterior de 6,13 milhões no ciclo 1986/87. Com estoques iniciais estimados em 1,6 milhão t e importações em 5,5 milhões t, a oferta nacional será de 15,3

milhões t. O consumo total no país deve ficar por volta de 11,7 milhões t. Ou seja, sem exportações, os estoques finais atingiriam 3,6 milhões t. Então, para finalizar a temporada com o mesmo estoque com que iniciou, existe a necessidade de retirar 1,9 milhão t do mercado. Com os preços tendendo a chegar ao mínimo de garantia fixado pelo governo (R$ 557,5 para o ano comercial 2014/15), essa retirada será realizada com o auxílio do setor público. Além disso, espera-se que mais de um milhão de toneladas sejam exportados com auxílio de Prêmios para Escoamento do Produto. Em suma, a temporada 2014/15, mantidas as estimativas de produção brasileiras e mercosulina, será de preços abaixo dos praticados na safra 2013/14, com necessidade de intervenção governamental para garantir o mínimo. Elcio A. Bento Analista da CMA/Safras & Mercado

TRIGO – Com o plantio da nova safra encerrado no Paraná e no Rio Grande do Sul, os dois principais estados produtores, a atenções se voltam para a possibilidade de geadas e outras ocorrências capazes de derrubar a produtividade, como o excesso de chuvas ocorrido na terceira semana de julho no Rio Grande do Sul. As cotações continuaram em queda acentuada ao longo do mês passado, influenciadas pela demanda fraca pelo cereal. A perspectiva de safra recorde no Brasil e a reativação das exportações argentina devem impactar fortemente os preços no curto e no médio prazos.

* Em 16/7, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 692,65 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

CAFÉ – Os preços entraram em julho em li-

* Em 16/7, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 367,49 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

nha de queda, oscilaram um pouco na primeira quinzena, mas reagiram na terceira semana do mês, impulsionados pelo aumento nos valores da Bolsa de Nova York, que ajudaram a aquecer os negócios no mercado físico brasileiro. Em 23/7, o Indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6 fechou a R$ 396,10 a saca. Os contratos continuaram estáveis, sustentados pela incerteza quanto ao tamanho real da safra brasileira.

* Em 16/7, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 23,84 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

MILHO – O quadro geral de preços continua ruim: a colheita da safrinha vai chegando ao final com boa produtividade, a disponibilidade do cereal no mercado é alta, tanto aqui quanto nos demais países produtores, e os EUA anunciam safra cheia, impactando ainda mais os preços. Todos os estados do Centro-Oeste registraram em julho valores inferiores ao mínimo oficial. Na parcial do mês (até o dia 21), o Indicador Cepea recuou 8%. A tendência continua baixista. AÇÚCAR – As cotações cairam na primeira

* Em 16/7, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 46,44 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

quinzena de julho. Embora em plena colheita, o ritmo da moagem diminuiu porque as chuvas atrasaram a colheita em algumas regiões do Centro-Sul do pais. En conrapartida, o perído seco anterior deve aumentar a concentração de açúcares na planta, elevando a produtividade e a oferta. No acumulado da safra 2014/15 (vai de 31 de março até 21 de julho), a queda é de 11,6%, conforme o Indicador Cepea.

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Novidades no campo Potássio inteligente

Tecnologias combinadas

A Timac Agro apresenta mais um produto da linha de fertilizantes sólidos, o K-UP, com duas moléculas incorporadas – ACP Complex e o Azal 5 –, capazes, segundo a empresa, de reduzir em 89% a salinidade nas plantas e aumentar a proteção de potássio em 68% quanto à lavagem, em comparação a outros fertilizantes, diminuindo, em consequência, os efeitos da lixiviação. “O processo de absorção de K-UP é inteligente, pois disponibiliza potássio na quantidade e no momento exato em que a planta precisa dele”, afirmou a empresa em nota distribuída à imprensa.

De olho na safra 2014/15, a Bayer CropScience trouxe para o mercado brasileiro sementes de algodão FiberMax com três tecnologias integradas: GlyTol, Liberty Link e TwinLink. A primeira proporciona à planta tolerância aos herbicidas à base de glifosato e a segunda, aos herbicidas à base de glufosinato de amônio. A terceira expressa dois genes Bt de resistência a insetos (Cry1Ab e Cry2Ae), aumentando as defesas do algodoeiro contra lagartas lepidópteras. Segundo a empresa, a TwinLink gera plantas imunes a pragas como curuquerê, lagarta-da-maçã, lagarta-militar, lagarta-rosada e falsa-medideira. Nos ensaios a campo realizados na safra 2013/14 no Brasil, os pesquisadores comprovaram incremento de 2% a 3% de rendimento de fibra com o algodão GLT.

Acaricida de choque para citros

A Ihara apresenta o acaricida Okay, sua nova tecnologia para o combate de pragas nos citros. Com Cyflumetofen como ingrediente ativo, o produto controla todas as fases de desenvolvimento do ácaro da leprose, segundo a empresa. “O período de controle pode chegar a até um ano se seguidas as orientações de uso, pois afeta ovos, ninfas e adultos do ácaro da leprose”, explica Rodrigo Naime, da área de desenvolvimento de mercado da Ihara. Segundo ele, o Okay confere ação de choque sobre ácaros, eliminando a praga por contato. Além disso, é um produto seletivo, isto é, não afeta insetos benéficos às plantas ou ácaros predadores que favorecem a cultura.

Aplicativo para conferir status da propriedade

O Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, em parceria com o Ipef – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, desenvolveu um aplicativo para tablet, notebook ou computador com o qual o agricultor pode conferir o status legal de sua propriedade ante o Código Florestal, bastando, para tanto, inserir alguns dados sobre o imóvel (localização, área total, área com florestas e/ou matas, entre outros). Um guia embutido traz um passo a passo para cumprir a lei. “É uma ferramenta fácil e prática para o produtor entender a aplicação do Código Florestal e preparar o registro no CAR” afirma Luis Fernando Pinto, gerente de certificação do Imaflora. É possível fazer uma simulação em www.imaflora.org/codigoflorestal/aplicativo/simulador/html#

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Novidades no campo Ap em tempo real

Mãozinha em ação Lançamento da Husqvarna, a derriçadeira de café CH 12 foi desenvolvida para ser acoplada ao motor da roçadeira 226 RJ. Apelidada de “mãozinha”, possui dois conjuntos para derriça, cada qual com seis hastes de polipropileno. A CH 12 abre e fecha em movimentos laterais, gerando vibrações suficientes para a colheita dos grãos em qualquer estágio de maturação. “Nosso objetivo foi desenvolver um equipamento que torne a atividade ainda mais produtiva e que ajude a reduzir os custos de mão de obra. A mãozinha agiliza a colheita, independentemente da estatura da planta, densidade ou topografia do local”, afirma Paulo Figueiredo, especialista em produtos da empresa.

Lançado no Simpósio do Cerrado, realizado em Goiânia (GO), o InCeres AgSystem é uma plataforma web para gerenciamento agrícola com foco em agricultura de precisão (AP), que engloba desde manejo da fertilidade do solo até aplicação de herbicida em taxa variável e previsão de safra com imagens de satélite. São diversos módulos para as diferentes fases de gerenciamento da lavoura, o primeiro dos quais sobre manejo de fertilidade, já está disponível. Veja detalhes no site www.inceres.com.br.

Arma contra a Helicoverpa A DuPont apresenta o Dermacor, inseticida capaz de controlar a Helicoverpa armigera na fase inicial nas culturas de soja e algodão e combater pragas como coró, lagarta-militar, lagarta-rosca, lagarta-das-maçãs, falsa medideira e lagarta-dasoja. O Dermacor não age de forma neurotóxica, atacando o sistema nervoso central dos insetos, e, sim, de forma localizada, paralisando o sistema muscular e assim reduzindo os ataques às plantas, já que o aparelho bucal dos insetos é afetado.

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Biblioteca da Terra Algodão nos trinques

Mapas municipais

Custo de produção, gestão de pátio na algodoeira, beneficiamento, qualidade da fibra e do caroço, classificação, transporte, utilização e conservação de energia, automação, manutenção e segurança em usinas; estes são alguns dos temas do Manual de Beneficiamento de Algodão, publicado pelo IMAmt – Instituto Mato-grossense do Algodão, braço tecnológico da Ampa – Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão. Com quase 400 páginas, a publicação pode ser acessada gratuitamente pelo link www. imamt.com.br/home/outraspublicacoes. Para facilitar a leitura, foi dividida em três partes: a primeira, com 10,7 MB, vai do 1º ao 7º capítulo; a segunda (5,49 MB), do 8º ao 14º; e a terceira (3,65 MB), do 15º ao 19º.

Os novos mapas municipais do IBGE estão disponíveis para consulta pública no site da instituição (www.ibge....) desde o início do mês passado. No total, trazem 166 alterações em limites territoriais de municípios e distritos, 143 das quais na Bahia, oito no Maranhão, seis em Alagoas, quatro no Paraná, duas em Pernambuco, uma no Espirito Santo, uma em São Paulo e uma na Paraíba. “Essas alterações fazem parte da atualização dos Mapas Municipais para Fins Estatísticos (MMEs) utilizados para a composição das estimativas populacionais”, esclareceu o instituto em nota oficial. A relação de municípios que sofreram alterações pode ser encontrada no link: ftp://geoftp. ibge.gov.br/mapas_estatisticos/ censo_2010/2013 O IBGE também colocou em seu site um novo conjunto de arquivos digitais vetoriais (shapes, que podem ser manipulados pelos usuários) com informações geoespaciais sobre geologia, geomorfologia, vegetação e solos. As informações podem ser acessadas na página http:// downloads.ibge.gov.br/downloads_ geociencias.htm, clicando em mapeamento_sistematico/banco_ dados_georeferenciado_recursos_ naturais/latlong.

Tudo sobre morango

Dividido em 13 capítulos, o livro Como produzir morangos, da Editora UFPR, trata de aspectos históricos, fisiológicos, agronômicos e nutricionais do morangueiro. Os autores – os professores Maria Aparecida Cassilha Zawadneak, Joselia Maria Schuber e Átila Francisco Mógor, todos da Universidade Federal do Paraná – apresentam as principais pragas e doenças da cultura, abordam técnicas de manejo, sistemas de produção e questões mercadológicas, entre outros itens. Com 275 páginas, a obra custa R$ 60,00 e pode ser adquirida nas livrarias da UFPR em Curitiba (Campus Reitoria UFPR ou Campus Politécnico UFPR) ou através do site www.editora.ufpr.br

Novo padrão agrário

Lançado no 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociedade Rural, o livro O mundo rural no Brasil do século 21 condensa trabalhos de 51 pesquisadores, sob responsabilidade dos editores técnicos Antônio Márcio Buainaim, Eliseu Alves, José Maria da Silveira e Zander Navarro. Eles investigam as transformações ocorridas no campo e o papel crescente da agricultura no desenvolvimento do país. O livro não será vendido, mas é possível obter um exemplar através do e-mail livraria@embrapa.br ou do telefone (61) 3448-4236, desde que o interessado cubra os custos de postagem.

Através do canavial

O livro Caminhos da Cana (Editora Canaoeste) é uma compilação de textos do professor Marcos Fava Neves, da FEA/USP, sobre o setor sucrolcooleiro, desde tempos do Pro-Ácool até agora. São artigos, comentários, entrevistas, opiniões sobre a agroindústria, produção de açúcar, etanol e bioeletricidade, tecnologias, política, negócios e outros temas, apresentados em ordem cronológica. O livro é gratuito. Pode ser baixado através do link www.bit.ly/caminhoscana. A gráfica também atende demandas de empresas e/ou organizações interessadas na obra impressa, dependendo da quantidade de exemplares requisitados.

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Calendário de eventos

AGOSTO

4

– 13º Congresso Brasileiro do Agronegócio – Dia 4 – Sheraton

São Paulo WCT Hotel – São Paulo (SP) – Site: www.abag.com.br

5

– 8ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 9° Seminário Técnico de Trigo – De 5 a 7 – Hotel Continental

– Canela (RS) – Fone: (43) 3025.5223 – Site: www.reuniaodetrigo2014.com.br

12

– 14º Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha – De

12 a 14 – Centro de Convenções – Bonito (MS) – Site: www.febrapdp.org. br/14enpdp

25

– Conferência Internacional sobre Investimentos Agroflorestais no Brasil e na América Latina – De 25 a 26 – Sheraton Rio Hotel – Rio de Janeio (RJ) – E-mail: m.ferrari@ danariotimberland2014.com

29

– Expoflora 2014 – De 29

a 28/9 (somente às sextas, sábados e domingos) – Holambra (SP) – Fone: (19) 3802-1499

SETEMBRO

1

– XXIX CBCPD/Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas – De 1 a 4 –

– 47º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, Simpósio Brasileiro de Mofo Branco – De 17

Centro de Convenções do Serrano Resort Convenções & Spa – Gramado (RS) – Site: www.congressosbcpd. com.br

a 22 – Centro de Eventos – Londrina (PR) – Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: cbfito2014@fbeventos.com

7

17

18

– 4º Congresso Andav/Fórum & Exposição – De 18 a 20 –

Transamérica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3893-1352 – Site: www.congressoandav.com.br/index.php.

19

– SLAC 2014/Simpósio Latino Americano de Canola – De 19

a 21 – Embrapa Trigo – Passo Fundo (RS) – E-mail: falecom@abrascanola. com.br

24

– XXIII Congresso Brasileiro de Fruticultura – De 24

a 29 – Cuiabá (MT) – Fone: (65) 3621-1314 – E-mail: fruticultura2014@ industriadeeventos.com.br

26

– 4º Congresso Brasileiro de Fertilizantes.- Dia 26 – Hotel

Renaissance – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3218-2807 – E-mail: cbfer@wenter. com.br

– XXIV Conird/Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem – De 7 a 12 – Parque Tecnológico Ivaldo Cenci – Brasília (DF) – Site: www.abid.org.br

10

– 3º Simpósio sobre Tecnologias no Cultivo do Cafeeiro – De 10 a 11 – Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da Esalq – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 34294079 – E-mail: cdt@fealq.org.br

14

– Conbap 2014/Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão – De 14 a 17 – Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) – Fone: (16) 3203-3341 – E-mail: sbea@sbea.org.

15

– Fertbio 2014/XXXI Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, XV Reunião Brasileira sobre Micorrizas, XIII Simpósio Brasileiro de Microbiologia do Solo e X

30/8 – Expointer 2014/37ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários – De 30/8 a 7/9 – Parque de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) – Fone: (51) 3288.6225 – Site: www. expointer.rs.gov.be – E-mail: expointer@ agricultura.rs.gov.br Uma feira superlativa, maior, melhor e mais lucrativa que a de 2013. Esta é a expectativa dos organizadores da 37ª Expointer, um dos mais importantes eventos do agronegócio brasileiro. No ano passado, o balanço final surpreendeu a todos, especialmente os expositores, agastados inicialmente com o fraco movimento na abertura – choveu demais nos primeiros dias, limitando o acesso ao parque Assis Brasil. No final das contas, porém, as vendas cresceram 61,7% em relação a 2012, com movimentação financeira de R$ 3,29 bilhões e 374 mil visitantes. A comercialização de máquinas e implementos agrícolas puxou os negócios, totalizando R$ 3,27 bilhões, valor 62% superior ao da edição anterior. Este ano, todos querem mais.

Reunião Brasileira de Biologia do Solo – De 15 a 19 – Tauá Grande Hotel Termas & Convention – Araxá (MG) – Fone: (43) 3015-5223 – Site:www. eventosolos.org.br/fertbio2014

23

– Frutal 2014 – 21ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria, XVI Agroflores – De

23 a 25 – Centro de Eventos do Ceará – Fortaleza (CE) – Fone: (85) 3246-8126

OUTUBRO

1

– 9º Congresso Internacional de Bioenergia – De 1 a 3 –

Centro de Convenções Frei Caneca – São Paulo (SP) – Fone: (54) 3226-4113 – E-mail: contato@bioenergia.net.br

7

– 47º ABTCP/Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel – De 7 a 9 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3874-2700 – E-mail: congresso@abtcp.org.br

16

– VI Conferência Brasileira de Pós-Colheita, VIII Simpósio Paranaense de Pós-Colheita de Grãos – De 14 a 16 – Excellence Centro de Eventos – Maringá (PR) – Fone: (43) 3015-5223 – Site: www. abrapos.org.br/eventos/cpc2014 – E-mail: cbp2014@fbeventos.com.br

19

– XXI Congresso Internacional do Trigo – De

19 a 21 - Hotel Bourbon Cataratas – Foz do Iguaçu (PR) – Site: www.abitrigo. com.br

20

– 16º Congresso Mundial de Fertilizantes da CIEC

– De 20 a 24 – Windsor Barra Hotel & Congressos – Rio de Janeiro (RJ) – Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: 16wfc@fbeventos.com.br

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Artigos e Produtos

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Legislação

Dívidas rurais em poder da União Pendências antigas de agricultores, anteriores a 1995, podem ser liquidadas com vantagens, mas é preciso analisar caso a caso. Fábio Lamonica Pereira *

A

inda há diversos produtores que possuem operações de crédito rural cujos débitos pendentes foram cedidos para a União, inscritos ou não em Dívida Ativa, em processos antigos de securitização. Também conhecidos como alongamentos de débitos, referidos programas foram disciplinados por legislação específica e regulamentados por meio de Resoluções do Banco Central do Brasil e englobam operações, em sua maioria, anteriores ao ano de 1995.

O devedor pode optar, até 31/12/2015, pelo pagamento integral, segundo tabela anexa à Lei nº 11775/2008, alterada pela Lei nº 13001/2014, que contempla descontos de 38% a 70%, além de parcela de desconto fixa que pode chegar a R$ 19.200,00. O mutuário também pode optar pela renegociação do saldo devedor que poderá ser pago em até 10 anos, com parcelas semestrais ou anuais “de acordo com o fluxo de receitas do mutuário”, aplicando-se descontos que variam de

Caso pendências não sejam pagas nos prazos, mutuários perdem bônus de benefícios.

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

Caso os encargos devidos em função das operações alongadas não sejam pagos nos prazos inicialmente ajustados, o mutuário perde os bônus que lhe beneficiavam e a operação, inscrita ou não em Dívida Ativa, passa a ser exigida por meio do processo de execução fiscal, sendo a União a exequente. O Banco do Brasil, credor originário e que cedeu os créditos, continua agindo como mandatário (por autorização legal), intermediando as renegociações e pagamentos, segundo os interesses da União. Todavia, o Governo Federal tornou a conceder novas “medidas de estímulo” para liquidação ou renegociação de tais débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa da União.

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33% a 65%, além de parcela fixa que também pode chegar a R$ 19.200,00. Além disso, restaram estendidos os benefícios de liquidação e renegociação de dívidas “originárias de operações de crédito rural, cujos ativos tenham sido transferidos para o Tesouro Nacional e os respectivos débitos, não inscritos na Dívida Ativa da União, estejam sendo executados pela Procuradoria-Geral da União”. Neste caso, formalizado o pedido de adesão, ficam suspensos os processos de execução e os respectivos prazos processuais, até análise do respectivo requerimento. Para as operações dos Programas de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos

Cerrados – PRODECER – Fase II, inscritas em Dívida Ativa da União, haverá concessão de desconto adicional de 10%. Para os que optarem pela não adesão aos novos benefícios, resta a defesa de seus interesses em juízo por meio de ação própria ou de defesa junto à execução fiscal (por meio de embargos). Em princípio, é possível a discussão de ilegalidades desde a origem do suposto débito, a fim de que os valores sejam adequados aos encargos permitidos para as operações de crédito rural. Considerando a época e as características dos títulos que deram origem às referidas dívidas, é comum encontrar ilegalidades na evolução do alegado débito. Obviamente, cada caso deve ser analisado a fim de que sejam verificados diversos pontos, inclusive quanto à eventual prescrição. As recentes alterações legislativas possibilitam nova oportunidade de solução quanto aos débitos originados na década de 90 e que assombraram (e ainda assombram) diversos produtores, permitindo a liberação de imóveis (em caso de liquidação) gravados por hipoteca e/ou penhora para que possam ser utilizados livremente, inclusive para garantia de novos financiamentos de custeio e/ou investimento dos produtores. Caso a renegociação ou liquidação não se concretize, resta a discussão judicial do débitos os riscos que lhe são próprios.




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