Sumário
34 Entrevista
Ex-ministro da agricultura, Delfim Netto fala com exclusividade à Agro DBO sobre política agrícola, eleições e o futuro do país, entre outros temas.
46 Tecnologia
Indústrias do Rio Grande do Sul apostam em variedade de arroz gigante desenvolvido pela Embrapa para a produção de etanol
50 Clima
Afinal de contas, o fenômeno El Niño virá ou não este ano? Às vésperas do plantio da safra 2014/15, os agricultores querem saber das chuvas.
52 Manejo
Plantas de cobertura como o trigo mourisco, a crotalária, o crambe e a braquiária ganham mais espaço em sistemas de plantio direto.
20
Matéria de capa O trigo brasileiro está se expandindo para o Cerrado e outras áreas de cultivo, além dos estados do Sul. A região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, vem se destacando pela produtividade e pela alta qualidade do grão.
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Artigos 8 – Rogério Arioli avalia a importância da política no controle dos preços 28 – Décio Gazzoni resume as propostas do agronegócio aos presidenciáveis 30 – Amilcar Centeno sugere procedimentos contra a compactação do solo 32 – Alexandre Leonel discorre sobre o uso de homeopatia na agricultura 38 – José O. Menten sustenta: o certo é engenheiro agrônomo, não agrônomo. 40 – Daniel Glat celebra a evolução da agropecuária brasileira nos últimos anos 66 – Fábio Lamonica examina o imposto de renda na venda de áreas rurais
Seções Do leitor.............................................................. 6 Ponto de Vista................................................... 8 Almanaque.......................................................10 Notícias da terra.............................................12 Política................................................................42
Marketing da terra.........................................56 Biblioteca da terra..........................................57 Análise de mercado......................................58 Novidades no campo...................................60 Calendário de eventos.................................65
Carta ao leitor
T
alvez venha de Minas Gerais a resposta para a sempre acalentada conquista da autossuficiência nacional na produção de trigo, mais precisamente na região do Campo das Vertentes, a nova ‘fronteira agrícola’ para a produção do cereal rei. As áreas de plantio de alguns poucos agricultores ainda são pequenas, mas altamente estimulantes em termos de preços, tendo em vista a excepcional qualidade do trigo produzido na região, conforme registra a reportagem de capa desta edição da Agro DBO, “Fronteira expandida”, autoria do jornalista Rogério F. Furtado. Na reportagem “Plantar para não colher”, o jornalista Ariosto Mesquita revela as pesquisas e testes para se encontrar a lavoura ideal que permita produzir palhada para o plantio subsequente de lavouras como soja ou milho, destacando a Crotalária, a Braquiária, o Trigo mourisco e o Crambe, eis que cada uma delas tem vantagens ou desvantagens, conforme a região. No Rio Grande do Sul, outra novidade é a produção do arroz gigante, capaz de ser competitivo na produção de etanol, o que permitiria aos gaúchos reduzir as dependências na importação desse biocombustível, já que o plantio de cana-de-açúcar tem poucas áreas aptas no estado. Na reportagem “Atrás do arroz gigante”, o jornalista Gustavo Paes conta que os gaúchos andam entusiasmados com a nova variedade e dispõem inclusive de usinas para produzir o etanol, tendo por base o arroz gigante. E o plantio da safra de verão: será normal em termos de chuvas, o El Niño vai dar as caras ou vai cancelar sua presença? É isso o que o engenheiro agrônomo e agrometeorologista Marco Antonio dos Santos analisa em seu artigo. Na entrevista do mês, fomos ouvir o mago da economia brasileira, Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e até da Agricultura, ex-deputado federal, mas professor emérito da USP e até hoje, aos 86 anos, uma das vozes mais influentes da economia brasileira. Ele aplaude o Plano de Safra 2014/15 como o mais perfeito de todos os tempos, mas também faz críticas ao Governo Federal, além de analisar diversos aspectos econômicos e políticos brasileiros contemporâneos, inclusive para a próxima eleição, em outubro.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Alexandre Henrique Leonel, Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Carlos H. J. Brando, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Gustavo Paes, Hélio Casale, José Otávio Menten, Marco Antônio dos Santos, Rogério Arioli Silva e Rogério F. Furtado Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta
Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko
Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: foto de Rogério F. Furtado DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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Do Leitor
MATO GROSSO Parabéns pela revista; apresenta ótimas reportagens, de boa leitura e fácil entendimento. Solicito uma reportagem sobre a soja no Vale do Araguaia, região nordeste do Mato Grosso. Essa é a nova fronteira do agronegócio. Jerônimo David Dias de Campos Novo São Joaquim NR: Olá, professor Campos. Obrigado por suas palavras, pelo interesse e pelas sugestões. Informamos que o Vale do Araguaia foi tema de uma série especial de três reportagens consecutivas, de autoria do jornalista Ariosto Mesquita, publicadas nas edições de fevereiro, março e abril de 2014 de Agro DBO. Foram mais de 20 páginas, uma autêntica e detalhada radiografia da região, embora centradas em Santana do Araguaia, um pouco mais acima da área a que o Sr se refere, já no estado do Pará. Tais reportagens podem ser lidas em nosso site www.agrodbo.com. br clicando-se em “edições anteriores” (no rodapé da tela). Acesse as edições 52, 53 e 54. Quando a oportunidade surgir, publicaremos reportagem sobre a produção agrícola no nordeste de Mato Grosso. RONDÔNIA Muito atualizada (a revista Agro DBO) no que diz respeito à divulgação de novas tecnologias e informações para agregar valor aos trabalhos de consultoria que desenvolvo nas propriedades rurais onde dou assistência. Murilo Brunow Freitas Júnior Ariquemes
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SÃO PAULO Prezado jornalista José Maria Tomazela. Quero parabenizá-lo pela excelente matéria “Institutos sucateados” e dizer que tudo o que foi relatado é verídico e tem minha aprovação. Sou pesquisador científico e estava lotado no IEA até março de 2013. Agora estou no DDD Polo Centro Sul, na UPD Tietê, e vejo todos os dias a penúria e o descaso deste governo com a pesquisa. Saí do IEA por questões familiares, mas mesmo sem esse motivo queria sair por conta dos desmandos da atual diretoria do IEA e, principalmente, da gestão ou falta de gestão do atual comando da SAA. Estão destruindo a competência da pesquisa paulista, sucateando a SAA. A última agora é a intenção de vender algumas fazendas experimentais (pesquisa) da APTA, com a concordância do Coordenador da APTA e da Secretária da SAA. É um absurdo, porque o objetivo é fazer caixa para o tesouro estadual e o argumento é porque não tem pessoal para tocar os experimentos e pesquisa. Aqui na UPD Tietê praticamente não há mais pesquisa por falta de pessoal, de apoio e de recursos para custeio. Conheço a atual assessoria de imprensa da SAA, lastimável... Sérgio A. Torquato Tietê NR: O leitor, pesquisador científico no Departamento de Descentralização do Desenvolvimento do Polo Centro-Sul da Apta (DDD/Apta – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), localizado no município de Tietê, refere-se à matéria publicada na edição de março (nº 53) de Agro DBO, na qual o repórter José Maria Tomazela denuncia o descaso oficial em relação aos institutos de pesquisa e extensão rural do estado de São Paulo. A seção “Do leitor” da edição de abril (nº 54) traz a réplica da SAA – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, contestando informações contidas na reportagem de Tomazela, e a tréplica do jornalista, reafirmando tudo o que escreveu. Parabéns à Agro DBO pela excelente, magnífica e fantástica entrevista com o Eng. Agr. Fernando Penteado Cardoso, que, aos 100 anos de idade, em plena forma física e
mental, nos brinda com exemplos e sugestões de vida, às quais intitularia “Um terceiro mandamento vos dou!”. Três vezes parabéns à Agro DBO e vida longa ao colega Dr. Fernado Penteado Cardoso. José Alberto Caram de Souza Dias Campinas Excelente a Agro DBO de Agosto. Desejo destacar a solução que os estrangeiros encontraram para a dificuldade de comprar terras agrícolas, a de instalar fábricas para processamento do milho (um ganho para nós, já que dá para agregar valor). A informação do passo a frente para um processo fotossintético mais eficiente (mesmo sendo artificial) talvez seja a melhor notícia, para aumentar a produtividade agrícola. O artigo que alerta para o fato da subsolagem ser acompanhada por procedimentos biológicos, estimulados por químicos (podendo ser a irrigação branca) é um avanço. Deve ser recordado que as plantas, embora sejam fábricas de diversos produtos, são seres vivos, e que têm “intestino” e “pulmões” (as raízes; sim, as raízes!), que necessitam estar em ordem (vigorosas e profundas) para poderem aproveitar os insumos recebidos e assim produzirem a contento. O artigo “Controlando o tráfego” traz um aspecto necessário (além da ideia do uso de pneus radiais para evitar a compactação e permitir a entrada de água e de ar para as raízes respirarem e produzirem os compostos orgânicos necessários à produção lucrativa e campeã, como a do Alexandre Seitz): todos os insumos funcionam muito melhor se as raízes forem vigorosas, abundantes, profundas. Também os adubos foliares, os hormônios, os estimulantes vegetais. A reportagem sobre adubação biológica é interessante: há uma corrida mundial para estudar e promover o aspecto biológico do solo, ou melhor, a microvida associada às plantas. O manejo adequado do solo (entenda-se aqui o manejo adequado da biodiversidade vegetal e seus resíduos sobre o solo) estimula automaticamente a microvida do solo. Diversificação é um seguro agrícola. Foi importante a informação sobre o simulador para conferir o estado legal frente ao Codigo Florestal visando ao Cadasto Ambiental Rural (CAR) disponibilizado pela
Imaflora (faltou uma barra / ao final do endereço eletrônico). Interessante a notícia sobre uma fonte inteligente de potássio que libera o K mais lentamente (me lembrou dos procedimentos que utilizam a zeólita ou a inclusão em um borossilicato como o FTE original). Excelente a entrevista com o mestre Fernando P. Cardoso da saudosa Manah. Parabéns! Na entrevista, ele diz que o Brasil precisa de mais áreas agrícolas e menos florestas. As árvores fazem sombra e prejudicam a produtividade. E como temos sol e água em abundância, precisamos investir mais em áreas agricolas limpas de árvores. A cobertura permanente (entenda-se arbórea) lembra as paredes de uma casa ou de uma fábrica, ajudando a manter um ambiente para as máquinas e as pessoas produzirem com maior eficiencia. Em meu livro, cito até um cientista que sugere estabelecer corredores arbóreos do litoral ao interior para garantir o fluxo de nuvens ao interior.
Cortando-se toda e qualquer árvore (é um procedmento administrativo para facilita a administração, a mecanização, a aviação agricola etc.) para ter 100% de área para a agricultura só se pode esperar o colapso da agricultura por destruição do ciclo hidrológico. Já se constatou que a cobertura arbórea na Amazônia garante as chuvas para as regiões sul, sudeste e centro-oeste e até mesmo a região nordeste do Brasil. O curioso é que acredita-se que a umidade do ar, a água no rio, a água subterrânea seja algo estático e permanentemente disponível, logicamente com seus ciclos diários e estacionais. Mas o manejo de bosques é essencial para garantir essa água no solo, no subsolo, nos rios, no ar. Sem o componente arbóreo (que precisa ser maior quanto maior a proximidade à linha do equador) nas regiões tropicais e subtropicais o ciclo da água é rompido e os veranicos e as secas tornam-se mais extremas. Estamos sentindo na pele. Mas as entrevis-
tas de colegas calejados (como a do Fernando P. Cardoso) e de empresários é que de as árvores atrapalham. Depois, não reclamem da falta de água. Realmente, a disponibilidade de água na Terra não se altera, mas está havendo uma redução da água doce e aumento proporcional da salgada. Isso interessa à agricultura? Talvez à piscicultura. É essa a minha preocupação. Em meu livro, consegui reunir informações de que o regime hídrico foi piorado na Índia e na China, por conta da retirada de árvores na zona litorânea, Mas, ao mesmo tempo, foi melhorado na África, onde ocorreu reflorestamento maciço. O problema é a água. Que tem a ver com solo e cobertura vegetal permanente. Odo Primavesi São Carlos AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Ponto de vista
Paiol meio cheio ou meio vazio? Com a supersafra em pauta, a dúvida é se, com os preços baixos, os produtores receberão preços justos pelo que produzem. Rogério Arioli Silva *
Índia Nos limites do planeta: quem terá de parar primeiro, a produção de alimentos ou o crescimento demográfico?
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
O
s expressivos números previstos da próxima safra norte-americana de grãos direcionaram a visão dos analistas de mercado para a demanda mundial, uma vez que a oferta se mostrará bastante confortável nos próximos meses. Os EUA produzirão 350 milhões de toneladas de milho e mais de 100 milhões de t de soja, o que garante um abastecimento tranquilo do mercado, a se confirmarem as expectativas de uma safra sul-americana sem maiores sobressaltos. O volume total da safra mundial 14/15 deverá atingir 2,48 bilhões de t de grãos divididas em 980 milhões de t de milho, 700 milhões de t de trigo, 480 milhões de t de arroz e mais 300 milhões de t de soja, só para ficar nesses
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quatro principais grãos. Parece uma produção exuberante, todavia, é bom lembrar que o mundo já ultrapassou as 7,2 bilhões de pessoas, além do fato de que alguns grãos são consumidos indiretamente, via proteína animal. Também existe aquela parte que se perde no longo caminho percorrido entre a lavoura e a mesa dos consumidores. Quando se fala em aumento da demanda mundial de grãos a China é sempre o fiel da balança, graças à sua enorme população e ao ritmo de crescimento fantástico que aquela economia tem conseguido empreender nas últimas décadas. Os impressionantes números que retratam o aumento de consumo de soja na China, por exemplo, possuem curvas vigorosamente ascendentes a partir
do final dos anos 1990. Milhões de chineses migraram dos campos para as cidades nas últimas décadas, tornando-se expressivos consumidores. Calcula-se em 300 milhões de pessoas que foram urbanizadas. Segundo informam os estudiosos da economia chinesa, existem ainda mais 400 milhões de chineses que deverão seguir este mesmo caminho de inclusão social e urbanização, num êxodo rural extraordinariamente preocupante pela velocidade verificada, embora com imenso e positivo reflexo mercadológico. Além disso, diminuíram as restrições que induziam as famílias chinesas ao filho único, política esta implantada na década de 1970, e que teria evitado em torno de 400 milhões de nascimentos nos últimos 25 anos. As preocupações referentes ao aumento populacional se dirigem agora principalmente para a Índia e para todo o continente africano. Em 2028, portanto daqui a pouquinho, a população indiana ultrapassará a chinesa, ambas com 1,45 bilhão de pessoas. Haverá nos indianos um ímpeto consumista tão grande como o chinês? Esta é a pergunta que o mercado se faz. Devido às peculiaridades daquela sociedade é imprevisível a resposta, principalmente pelo fato de o aumento no consumo estar diretamente ligado ao desempenho econômico e à industrialização de cada país. A situação no continente africano assemelha-se a de uma bomba relógio, assim como se fosse uma tragédia ciclicamente pro-
gramada. A população africana vem crescendo exponencialmente, tendo dobrado nos últimos 28 anos e quadruplicado nos últimos 55 anos. Atualmente são 1,2 bilhão de pessoas naquele continente e deverão superar os 4 bilhões antes de 2.100. Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), daqui a 35 anos um quarto da população do planeta estará na África. O que é mais impressionante é que já em 2030 a maior parte dos africanos viverá em cidades, tornando-se também consumidores potenciais, dependendo apenas do aumento da sua renda per capita. Não se pode esquecer, todavia, que a expectativa de vida média nos 54 países do continente africano atualmente encontra-se abaixo dos 50 anos de idade, portanto, só me é permitido escrever essas linhas porque não
nasci e nem vivo naquelas bandas. Ao analisar esses números impressionantes é possível imaginar o status que atingirão no futuro os países produtores de alimentos. Principalmente pelo fato de que são uma meia dúzia de países que produzem excedentes significati-
remuneram, os produtores ficam desmotivados e podem reduzir a produção. Quando isso acontece, os preços sobem nas bolsas e impedem que muitos consigam se alimentar, o que é garantia de crise social e econômica. Os governos têm papel preponderante
Em 2028 a população indiana ultrapassará a chinesa, ambas com 1,45 bilhão de pessoas vos exportáveis, entre eles o Brasil, que cada vez mais se consolida como grande exportador de grãos, carnes e fibras. Poucos produzem para centenas comprarem e consumirem, numa equação ao mesmo tempo desafiadora e perigosa, uma vez que a instabilidade climática é parceira e inimiga nesse jogo. No momento em que os preços não
neste cenário, devendo atuar responsavelmente na administração de estoques e na garantia de preços mínimos aos produtores e consumidores, de modo a permitir que ambos consigam sobreviver de maneira digna e com a necessária sustentabilidade. As ações e políticas governamentais é que determinarão se “o paiol está meio cheio ou meio vazio”.
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Almanaque
Você sabia? O saber não ocupa espaço no cérebro, ajuda a pensar mais e a tomar decisões. Só dificulta decidir se houver saberes errados. Hélio Casale *
* O autor engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
Q
ue dos 8 milhões de quilômetros quadrados do Brasil estima-se que 388 milhões de hectares (45,6%) sejam de terras férteis passíveis de uso agropecuário? Atualmente 76,7 milhões de hectares já se encontram com lavouras permanente e temporárias enquanto outros 172,3 milhões de hectares são ocupados com pastagens para o gado. – Que as reservas indígenas brasileiras somam 107 milhões de hectares, 48,6% mais que as terras atualmente cultivadas na agricultura? – Que o bioma Cerrado se distribui por 207 milhões de hectares, sendo, pelo menos, 100 milhões cultiváveis? Atualmente existem 78,5 milhões de ha ocupados , sendo 61 milhões com pastagens diversas, 14 milhões com lavouras anuais e 3,5 milhões com culturas perenes e florestais. – Que a nossa fronteira agrícola pode se expandir, pois existem ainda 71 milhões de hectares exploráveis no país (excluindo a Floresta Amazônica) e nenhum outro país apresenta tal potencial produtivo? – Que, se as cidades forem destruídas e os campos conservados, as cidades ressurgirão: mas se queimarem os campos e conservarem as cidades, estas não sobreviverão , nas palavras e pensamento de Benjamin Franklin ex-presidente dos Estados Unidos que viveu entre 1706 a 1790. – Que o bioma Cerrado, considerado como “primo pobre da Amazônia”, detém um terço da
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biodiversidade brasileira, uma grande riqueza genética? – Que o primeiro trator brasileiro foi fabricado em 1959 pela Companhia Brasileira de Tratores, mais conhecida como CBT, em São Carlos – SP? – Que a Revolução Verde teve início entre os anos de 1960 e 1970, quando os novos conhecimentos agronômicos, contando com o melhoramento genético, provocaram enormes transformações na agricultura mundial, melhorando sobremaneira a produtividade das lavouras? Mais produção por área, menor área será ocupada com agricultura. Esse lado bom da agricultura os ecologistas não conseguem enxergar. – A diferença entre ecólogo, ecologista e ecologeiro? O ecólogo é aquele que estuda e pratica a verdadeira ecologia; Ecologista estuda a natureza superficialmente; e ecologeiro é aquele que não estuda nada, dá palpites na base do “acho que é”, é um verdadeiro achologista. – Que a Amazônia Legal engloba 510 milhões de hectares, 61% do território nacional? Já o Bioma Amazônia, que acolhe a floresta tropical úmida, representa 419 milhões de hectares, ocupando 49% do País. O primeiro conceito é geográfico, somando nove Estados brasileiros e foi estabelecido durante o governo militar. O segundo é ecológico e engloba apenas a Hileia. Que o azeite de oliva apresenta 83% de ácido graxo oleico, um ácido monoinsaturado que confere
aroma especial ao produto e aumenta os níveis do colesterol bom? Ao adquirir esse produto observe a acidez – quanto menor, melhor. – Que cada 100 gramas de azeitonas contém 115 kcal; já 100 mililitros de azeite de oliva contém 884 kcal? – Que o suco do cacau, produzido com base na mucilagem que recobre as sementes possui sabor exótico, muito agradável ao paladar? Em termos de proteínas e de algumas vitaminas, equivale aos sucos de acerola e goiaba. – Que o café ao ser torrado, proteínas, aminoácidos, lipídios e açúcares originam quase mil compostos voláteis, responsáveis por seu aroma característico? – Que os cafés chamados de especiais são avaliados pelos atributos, ao contrário dos cafés comerciais que se observam defeitos nos grãos? O especial não pode apresentar nenhum defeito e precisa ter atributos bem definidos e especificados: aroma, corpo, sabor, acidez. De uma classificação por pontos que vai de 0 a 100, com mais de 80 pontos o café é considerado especial, bem como seu preço. – Que, em 1822, surgiu na França o protótipo do que, posteriormente, seria a máquina de café expresso? Os italianos a aperfeiçoaram e, em 1905, comercializaram a primeira máquina. O sucesso foi imediato. No mundo todo, inclusive no Brasil, cresceu o consumo de café graças a essa nova forma de preparo. Já quase não se fala mais em café de coador.
Notícias da Terra Safra I
Conab prevê 193,5 milhões t
A
produção brasileira de grãos deve alcançar 193,5 milhões de toneladas na safra 2013/14, alta de 2,6% em relação à temporada passada (188,7 milhões t), ou seja, 4,8 milhões de toneladas a mais, de acordo com o 11º levantamento da Conab, divulgado no mês passado. A produção de soja crescerá 5,1%, chegando a 85,7 milhões t (incremento de 4,2 milhões t); a de trigo, 35%, com produção estimada de 7,5 milhões t (+ 2 milhões t); e a de feijão, 22,7%, atingindo 3,4 milhões t (+ 636 mil t). A safra prevista de milho é de 78,6 milhões de toneladas, queda de 3,6% (- 2,9 milhões t) ante o ciclo 2012/13. Ainda conforme as projeções da entidade, a área total destinada ao plantio de grãos no país chegará a 56,9 milhões de hectares, 6,1% maior que a da temporada passada (53,6 milhões ha).
Safra II
Safra III
IBGE eleva estimativa
A safra, de acordo com a região
D
e acordo com a sétima estimativa do IBGE, divulgada em agosto, a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas chegará a 193,2 milhões de toneladas, 2,6% superior à do ano passado (188,2 milhões t) e 0,3% acima do previsto no sexto levantamento (192,5 milhões t). As lavouras devem cobrir 56,2 milhões de hectares na temporada em curso, 6,4% a mais no comparativo com a área cultivada no ano passado (52,9 milhões ha) e 0,1% menor ante o estimado em julho (56,3 milhões ha). Os três principais produtos do grupo – soja, arroz e milho – representam 81.1% da estimativa de produção e 85% da área plantada. A safra de soja deve crescer 6% este ano em relação a 2013 e a de arroz, 4,4%. Para o milho, o IBGE prevê queda de 4,4%. No que diz respeito ao tamanho das lavouras, a de soja aumentará 8,6% e a de arroz, 0,3%. No caso do milho, as projeções indicam redução de 0,7%.
A
produção estimada de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, considerando as regiões em que se divide o país: Centro-Oeste, 80,5 milhões de toneladas; Sul, 72,9; Sudeste, 17,3; Nordeste, 17,3; e Norte, 5,1. Comparativamente à safra passada, deve crescer 2,6% no Centro-Oeste; 44,8% no Nordeste e 3,5% no Norte. Nas regiões sul e sudeste, a produção cairá 0,2% e 12,4%, respectivamente, em relação à 2013. Mato Grosso lidera o ranking nacional dos estados produtores de grãos, com 24,2% de participação, seguido pelo Paraná, com 18,5%, e pelo Rio Grande do Sul, com 15,9%.
Safra IV
Variação produto a produto
E
ntre as 26 principais culturas avaliadas pelo IBGE, 18 apresentaram variação percentual positiva em relação à produção do ano passado: mamona (176,5%), feijão 1ª safra (42,7%), trigo (37,3%), algodão (25,4%), café conilon (16,7%), feijão 2ª safra (10,6%), mandioca (10,4%), cebola (7,9%), batata-inglesa 1ª safra (7,3%), aveia (6,8%), cevada (6,4%), soja (6%), arroz (4,4%), cacau (4,3%), triticale (3%), batata-inglesa 2ª safra (1,1%), laranja (0,9%) e cana-de-açúcar (0,3%). Com variação negativa foram oito produtos: amendoim 1ª safra (- 19,3%), amendoim 2ª safra (- 16,8%), café arábica (- 13,1%), feijão 3ª safra (- 12,2%), sorgo (- 9,8%), milho 1ª safra (- 9,6%), batata-inglesa 3ª safra (- 3,9%) e milho 2ª safra (- 0,7%).
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Notícias da Terra Safra V
Mais de 90 milhões t de soja
A
produção brasileira de soja deve atingir 91,35 milhões de toneladas na temporada 2014/15, alta de 6% sobre a safra em curso, conforme estimativa da Céleres Consultoria, divulgada em 11/8. A lavoura ocupará 31,2 milhões de hectares, área 3,6% maior que a atual. Na avaliação da empresa, a boa rentabilidade nas últimas safras e o melhor resultado em relação ao milho e outras culturas de verão devem induzir os produtores a ampliar suas lavouras, apesar da pressão baixista do mercado. Os Estados Unidos, maior produtor e exportador de soja do mundo, vão colher safra recorde este ano, impactando fortemente os preços internacionais. Os produtores brasileiros continuam apostando no aumento da demanda mundial.
Safra VII
Safra americana chega a 103,9 milhões t Safra VI
Margem operacional favorável
A
o projetar o tamanho da safra 2014/15 de soja, cujo plantio começará no final deste mês, a Céleres considerou incremento de 2,3% na produtividade média nacional, calculado sobre a produtividade de cada estado nos últimos 15 anos. Na sequência, analisando as projeções para o câmbio ao final de 2014 e os preços em maio de 2015, concluiu que a margem operacional bruta dos sojicultores chegará a R$ 783,00 por hectare, em média - no cenário menos favorável de câmbio, com preços internacionais abaixo do esperado, será de R$ 520,00/ha; no cenário mais favorável, R$ 1.045,00/ha. “É importante notar que, mesmo no pior cenário, não há estimativa de margens negativas para a soja em nenhum dos estados analisados (computando-se apenas os custos operacionais)”, afirmou a Céleres em relatório. Conclusão: a atividade ainda será rentável na safra 2014/15, apesar das pressões em contrário.
D
e acordo com o relatório mensal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), divulgado em 12/8, a safra norte-americana de soja deve alcançar 103,9 milhões de toneladas na temporada 2014/15, 400 mil toneladas a mais em relação à previsão anterior. A produtividade foi estimada em 51,4 sacas por hectare, ligeiramente acima do anunciado em julho (51,3 sacas/ha). Os números relacionados à demanda não sofreram alterações: o esmagamento foi mantido em 47,7 milhões t e as exportações, em 45,6 milhões t.
Safra VIII
Lavoura gigante
N
o que diz respeito ao milho, a safra 2014/15 dos Estados Unidos foi estimada pelo USDA em 356,4 milhões de toneladas, acima, portanto, do número anunciado no boletim de oferta e demanda de julho: 352,1 milhões t. A produtividade das lavouras norte-americanas também foi revisada para cima, passando de 174,9 sacas por hectare para 177,2. setembro 2014 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Cana
Conjuntura
C
O
Tamanhos divergentes onsiderando o segundo levantamento da Conab, divulgado no mês passado, a safra brasileira de cana-de-açúcar deve alcançar 659 milhões de toneladas na safra 2014/15. A área de corte aumentou, passando de 8,8 para 9,1 milhões de hectares, mas a produtividade nos canaviais diminuiu, prejudicada por condições climáticas adversas, principalmente no Centro-Sul do país, principal região produtora. Diferentemente da Conab, a Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar prevê safra de 596,9 milhões de toneladas. “Estimamos quebra de produtividade de 15% em São Paulo”, disse o diretor técnico da entidade, Antônio de Pádua Rodrigues. Segundo ele, a moagem de cana deve ficar entre 40 milhões e 50 milhões de toneladas abaixo da safra anterior, por influência da seca que afetou canaviais no início do ano.
Confiança baixa ICPRural – Índice de Confiança do Produtor Rural e o ICPSoja – Índice de Confiança do Produtor de Soja apresentaram os piores resultados desde 2010, quando começaram a ser medidos pelo AgroFEA – Programa de Pesquisa em Agronegócio da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (SP). Os índices apontaram 68,7 e 75,6 pontos, respectivamente, contra 104,3 e 114,5 no levantamento anterior, divulgado em abril (valores abaixo dos 100 pontos indicam pessimismo). “Nesta 31ª rodada, a expectativa de queda de preço ao final da safra, um reflexo da supersafra anunciada nos EUA, deixou o produtor ainda mais cauteloso com relação ao equilíbrio do seu negócio”, avaliou Roberto Fava Scare, coordenador do AgroFEA. “Além dos preços de venda, os produtores enfrentam elevação nos custos de produção, o que resulta em menos investimento em máquinas, implementos e insumos em geral”, afirmou.
PIB
Agropecuária garante crescimento
L
evantamento da CNA, com base em estudo do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP. mostra que, no primeiro semestre do ano, o PIB – Produto Interno Bruto da agropecuária brasileira cresceu 3,49%, impulsionado pelo aumento da produção e pela alta dos preços no período. A análise dos números da CNA/Cepea mostra que o desempenho segmentado da agropecuária também foi positivo: o PIB da agricultura cresceu 2,93% e o da pecuária, 4,23%.
VBP
Curva descendente
O
Valor Bruto de Produção da agropecuária brasileira em 2014 deverá atingir R$ 442,2 bilhões, segundo estimativa divulgada no mês passado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, referente ao mês de julho. A previsão anterior indicava R$ 447,7 bilhões. Do total, 65,3% virão da agricultura e 34,7% da pecuária. “Os valores obtidos não devem sofrer grandes alterações até o final do ano em razão do encerramento da safra de verão, restando apenas algumas lavouras de inverno. Já o comportamento dos preços agropecuários podem ocasionar mudanças”, disse José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Mapa. Os produtos com resultados mais expressivos até então foram os seguintes: algodão (incremento de 61,9% no valor de produção), laranja (26,8%), cacau (25,5%), trigo (20,9%), batata-inglesa (17,9%), banana (17,5%), pimenta do reino (18,6%), café (12,7%), maçã (10,7%) e soja (6,7%). Os percentuais resultam da combinação de preços e quantidades produzidas.
14 | Agro DBO – setembro 2014
Notícias da Terra Logística II
Terminal liberado
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Logística I
Safra de 600 milhões de toneladas
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o analisar dados recentes sobre crescimento demográfico, renda e consumo de proteína animal no planeta, a consultoria de negócios Bain & Company concluiu que, para atender a demanda global de alimentos em 2050, a produção mundial de soja deve dobrar, chegando a 600 milhões de toneladas, e a de milho, saltar dos atuais 985 milhões para 1,5 bilhão de toneladas. Em relação às safras brasileiras de soja, a expectativa da consultoria é de crescimento anual de 3% a 4% nesta década, com maior expansão no Mapitoba (área contígua de Cerrado no Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). Na avaliação de Fernando Martins, do escritório de São Paulo da Bain & Company, uma das prioridades do Brasil é acessar melhor os mercados, o que implica em derrubar, urgentemente, a barreira logística. Comparativamente aos Estados Unidos, o Brasil tem custo produção menor na soja, mas perde quando se considera os gastos para escoar a safra. Segundo a consultoria, o custo médio da soja é de US$ 364 por tonelada no Brasil e US$ 348 nos EUA. Ou seja, 4,6%¨maior. Não basta crescer em produtividade.
Receita Federal emitiu ato declaratório na virada de julho para agosto autorizando a ADM a operar o terminal da Ponta da Montanha, em Barcarena (PA), e a efetuar todas as operações aduaneiras recorrentes da atividade portuária, de forma ininterrupta e por prazo indeterminado. Com isso, a trading pode, finalmente, utilizar seu terminal portuário, adquirido em 2012. Em julho, a ADM assinou contrato de adesão com a Antaq – Agência Nacional de Transportes Aquaviários, o primeiro do gênero dentro das regras da nova Lei dos Portos (Lei 12.815, de 2013). Segundo a empresa, o terminal tem capacidade para movimentar 1,5 milhão de toneladas de grãos na primeira fase de operações, podendo atingir 6 milhões até 2016. Servirá para o escoamento da produção dos estados do Centro-Oeste, do Maranhão, Piauí e Tocantins. “Nossa previsão é transportar 80% do nosso volume por hidrovia e 20% por rodovia, até a construção do trecho ferroviário que ligará Açailândia, no Maranhão, a Barcarena”, disse Ronaldo Soares, diretor de logística da ADM.
Desafio Cesb
A meta agora é 120 sacas/ha
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Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil abriu inscrições para o Desafio Nacional de Máxima Produtividade Safra 2014/15, na expectativa de que os participantes alcancem 120 sacas por hectare, superando assim o recorde do concurso, obtido neste ano pelo produtor Alexandre Seitz, de Guarapuava (PR), que colheu 117,2 sacas/ha (leia “Produtividade nas alturas”, na edição de agosto de Agro DBO). As inscrições devem ser feitas através do site www.cesbrasil.org.br até 15 de janeiro próximo. “O estabelecimento de uma meta funciona como estímulo aos produtores, com o intuito de mostrar que eles têm capacidade e criatividade para superar a média nacional. Mas não é obrigatório alcançar esse nível para participar”, afirma Orlando Martins, presidente do Cesb. “Nosso objetivo principal é incentivar os sojicultores a ultrapassar barreiras e inovar nas técnicas de cultivo, contribuindo para o aumento da produtividade em todo o País”. setembro 2014 – Agro DBO | 15
Notícias da Terra Café I
Exportações de vento em popa
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os 10 principais produtos da pauta de exportações do Brasil de janeiro e julho deste ano, sete são do agronegócio, conforme levantamento da CNA sobre dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Um dos destaques foi a retomada nas vendas externas de café, que cresceram 77,2% em valor (US$ 522 milhões) e 44% em volume (2,8 milhões de toneladas). De janeiro a julho, o Brasil faturou US$ 3,1 bilhões no mercado externo, 16,1% acima do valor obtido no mesmo período de 2013. O café continua como o quinto item mais exportado do agronegócio, ficando atrás do complexo soja, carnes, produtos florestais e complexo sucroalcooleiro.
Café II
Preços mínimos
Perspectivas ruins para 2015
Nova lista do Mapa
S
egundo avaliações de pesquisadores sobre o estado geral dos cafezais e qualidade dos grãos na temporada em curso, a produção de café em 2015 pode ser a menor dos últimos 10 anos devido à seca do início de 2014. Um dos indícios de safra menor no ano que vem é a antecipação das floradas. Elas surgiram mais cedo em algumas regiões este ano. Outro dado: após o período de seca, chuvas de até 50 mm em julho induziram floradas isoladas em agosto, algo que só ocorria em setembro e outubro em Minas Gerais, maior produtor do país. “A próxima safra está seriamente comprometida”, diz o professor José Donizete Alves, especialista em café da Universidade Federal de Lavras. Segundo ele, as floradas podem ocorrer de forma intermitente, impedindo a realização da colheita de uma só vez. O Conselho Nacional de Café do Brasil acredita que a safra total de 2015 pode vir abaixo de 40 milhões de sacas.
A
portaria nº 854 do Ministério da Agricultura, publicada em 22/8, traz os novos preços mínimos das principais commodities agrícolas, como arroz, algodão, soja, milho, trigo, feijão, leite e laranja e de produtos do Norte e Nordeste na safra 2014/15. Para a saca de 60 kg de soja, o preço mínimo é de R$ 25,11 em todo território nacional até dezembro de 2015. Os valores podem ser conferidos no link www.agricultura. gov.br/politica-agricola/publicacoes/sumario-executivo.
Trigo
Alerta contra a incidência brusone
A
o término os trabalhos da 8ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale e 9º Seminário Técnico do Trigo, realizados de 5 a 7 de agosto em Canela (RS), a Subcomissão de Melhoramento, Aptidão Industrial e Sementes aprovou a indicação de 10 novas cultivares de trigo e a extensão de outras três (veja quadro ao lado). Um dos destaques do evento foi a exposição do pesquisador Maurício Coelho, da Epamig, que avaliou a incidência de brusone em 14 genótipos de trigo em dois períodos de semeadura. Segundo ele, a infestação no trigo semeado em março variou de 60% a 89%; 16 | Agro DBO – setembro 2014
na semeadura de maio, a brusone atacou 14% das espigas, no máximo. “Os experimentos mostraram que, nas condições ambientais de Minas Gerais, onde predomina o clima tropical, a brusone
Novas
Cultivar BRS Guaúna BRS Reponte IPR Taquari
Classe Pão Pão Melhorador
CD 1104
Melhorador
Esporão CD 1805 Celebra TBIO Toruk DNA Prisma DNAT Oro
Pão Básico Melhorador Melhorador Pão Melhorador
BRS Sabiá Estendidas TBIO Sintonia ORS Vinte cinco
afeta muito o PH e o rendimento de grãos no trigo irrigado nas semeaduras do cedo, entre março e abril”, explicou Coelho (OBS: leia reportagem sobre trigo em Minas Gerais a partir da página 20). Regiões PR (1,2) RS(2) e SC(2) PR (1,2,3) SC (1,2), SP (2), MS (3) PR (2,3), SP (2,3), MS (3), 4 (MS, SP, MT, MG, GO, DF – Irrigado) RS (1, 2), SC (1, 2), PR (1, 2, 3) RS (1, 2), SC (1, 2), PR (1, 2, 3) PR (3) PR (3) RS (1, 2), PR (1, 2) RS (1, 2), PR (1, 2)
SC (1) Pão Pão/Melhorador RS (1), SC (1, 2), PR (1), SP (2, 3), MS (3) PR (2) Doméstico
Notícias da Terra Fitossanidade I
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em restrição de plantio, nem proibição da “safrinha” de soja – cultivo da oleaginosa em sequência, sem rotação de culturas. Reunidos em Cuiabá (MT), a convite da CDSV – Comissão de Defesa Sanitária e Vegetal, autoridades sanitárias, pesquisadores, representantes de associações de produtores e de empresas ligadas ao agronegócio decidiram em votação direta, após horas de deliberação, acatar a proposta de antecipar o início do período de vazio sanitário no estado para 15 de abril – até então começava em 15/6 e terminava em 15/9, data a partir da qual o plantio da safra de verão é liberado. Não houve mudanças quanto à data limite. A alteração de 90 para 150 dias foi considerada uma forma “democrática” de evitar a prática da safrinha de soja, que, segundo pesquisadores, é “canibalizante”. A decisão suspendeu, ao menos temporariamente, a polêmica que opunha produtores e fitossanitaristas: os primeiros, insistindo na prática para aproveitar a conjuntura favorável de preços; os “oponentes”, alegando que o plantio de soja sobre soja representa sério risco agronômico. Chegaram a propor, inclusive, a proibição em definitivo do cultivo de soja na entressafra. O coordenador da CDSV, o fiscal federal do Ministério da Agri-
cultura, Wanderlei Dias Guerra, alega que a safrinha pode inviabilizar a produção do grão no estado, já que aumenta a pressão de pragas e doenças no ambiente. “Elas passam de uma safra para outra, o que exige a utilização cada vez maior de defensivos. Temos um uso indiscriminado de moléculas que vão perdendo eficiência por serem sempre as mesmas, grande aumento de custos e queda considerável de rendimento por hectare. Esse tripé de consequências não traz qualquer retorno financeiro ao produtor”, argumenta. Em sua opinião, a ampliação do período de vazio sanitário – em que não pode haver plantas vivas de soja no ambiente – inviabiliza, praticamente, a safrinha (por falta de tempo hábil para o plantio) e reduz a possibilidade de sobrevivência de fungos, como os da ferrugem asiática, e de lagartas, a exemplo da Helicoverpa armigera. “Sem plantas vivas, não há alimento e abrigo para que fungos e pragas resistam à entressafra e sigam até a nova safra; ou seja, quebramos a chamada ponte verde”. A Aprosoja/MT votou contra a proposta, por entender que a polêmica sobre o cultivo de soja sobre soja e a consequente perda de eficiência dos defensivos pelo uso intensivo não se resume e não se
Wanderlei Dias Guerra
Fim da polêmica sobre a safrinha?
resolve apenas com alterações sobre o período proibitivo. “Estamos discutindo um problema presente em 130 mil hectares (a soja safrinha), deixando de priorizar uma situação crítica em 9 milhões de hectares”, frisou o presidente da Aprosoja-MT, Ricardo Tomczyk. “Precisamos repensar a questão dentro desse contexto, que é muito maior que a discussão em torno da soja safrinha”, endossou o diretor executivo da entidade, Marcelo Duarte. Muitos agricultores lamentaram a decisão: “Enquanto estivermos parados, proibidos de plantar soja, o resto do Brasil estará cultivando a oleaginosa”, argumentaram. A alteração na data de início do período de vazio sanitária precisa ser regulamentada até 31/12/14 para entrar em vigor a partir de 2015.
Fitossanidade II
Inimigos das lagartas
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esquisa da Embrapa, divulgada na 34ª Reunião de Pesquisa de Soja, realizada no mês passado em Londrina (PR), demonstra que o índice médio de mortalidade das lagartas Helicoverpa armigera pela ação de parasitoides, patógenos e nematoides é de 60,9%, confirmando, portanto, a ação positiva destes organismos – inimigos naturais das lagartas – no controle da praga. Os pesquisadores avaliaram 1.387 lagartas coletadas em 16 municípios do estado do Paraná. Do total, apenas 29,8% foram consideradas sadias ao completaram seu desenvolvimento. O estudo revelou que os parasitoides são os inimigos mais “ferozes” da H. armigera, respondendo por 48,9% do casos de mortalidade entre elas. setembro 2014 – Agro DBO | 17
Notícias da Terra Drones
Alerta contra operações irregulares
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s trabalhos de monitoramento agrícola, agricultura de precisão e de georreferenciamento em propriedades rurais com os chamados Vants – Veículos Aéreos Não Tripulados, também conhecidos como drones, estão na mira da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil. A entidade considera irregulares todas as operações remotas de aeronaves sem o Cave – Certificado de Autorização de Voo Experimental, concedido pelo próprio órgão. Também é necessário obter autorização do Decea – Departamento de Controle do Espaço Aéreo. De acordo com o diretor de Navegabilidade da Anac, Cláudio Passos, um grupo de trabalho está buscando a regulamentação da operação de drones no Brasil em conjunto com a OAC/Icao – Organização Internacional de Aviação Civil. “A nossa agenda prevê ainda para este ano a abertura de consulta pública à proposta de regulamentação e a regularização da atividade até 2015; por enquanto, só estamos autorizando atividades experimentais com drones para pesquisa”, confidenciou à Agro DBO durante o Congresso Nacional de Aviação Agrícola, realizado de 20 a 22 de agosto em Foz do Iguaçu (PR). A certificação da Anac permite apenas operações experimen-
tais sobre áreas não densamente povoadas, ou seja, não dá aval a serviços com fins lucrativos nem voos em áreas urbanas. Até o dia 20 de agosto, apenas sete drones estavam com Cave válido: dois da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, um do Departamento Nacional de Produção Mineral, dois da empresa brasileira Xmobots, de São Paulo, e dois da Polícia Federal. Ao saber que a Anac prepara regulamentação para entrar em vigor em 2015, o presidente do Sindag – Sindicato Nacional da Empresas de Aviação Agrícola, Nelson Antônio Paim, mostrou preocupação: “Não sabia deste prazo, mas terá de haver um debate da Anac conosco para uma área não prejudicar a outra”. O Sindag abriga empresas que trabalham com pulverização de lavouras com defensivos químicos. O setor garante responder por 24% da aplicação de agroquímicos no Brasil e fechou 2013 com 1.925 aeronaves (16% de todas as aeronaves brasileiras) com crescimento médio anual da ordem de 7%. Conforme a legislação em vigor, a utilização de uma aeronave sem autorização está sujeita às penalidades previstas na Lei 7.565/86 – Código Brasileiro de Aeronáutica. O infrator também arcará com ações de responsabi-
lidade civil e penal. A empresa ou cidadão que tiver interesse em operar um Vant civil no Brasil ou em tirar dúvidas sobre o procedimento de certificação da aeronave pode entrar em contato com a Anac por meio do endereço eletrônico rpas@anac.gov.br.
Pesquisa
Petrobrás testa novo fertilizante
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empresa está desenvolvendo um fertilizante capaz, segundo os pesquisadores, de aumentar a produtividade de culturas agrícolas que demandam fertilização por cobertura (aplicada sobre o solo). O produto incorpora uma solução que inibe a degradação da ureia e reduz suas perdas de 70% para até 20%. Os testes comprovaram que, além de minimizar a perdas de amônia presente na ureia por volatilização (quando parte da substância vai para o ar em vez de ir para o solo), reduz outros efeitos associados, como a queima das folhas. Na prática, o aditivo atua controlando a degradação da ureia, dando mais tempo para a incorporação de nitrogênio ao solo por meio de chuva, da irrigação ou de ação mecânica 18 | Agro DBO – setembro 2014
Notícias da Terra Água
Saga: o oceano amazônico
O
s depósitos subterrâneos de água na região norte do Brasil são muito maiores do que se supunha. O Saga – Sistema Aquífero Grande Amazônia, formado há cerca de 135 milhões de anos, abriga pelo menos 160 mil km3, volume 3,5 maior que o do aquífero Guarani (cerca de 45 mil km3), que se estende por 1,2 milhão de km2 no sul do país, abrangendo também parte do subsolo do Uruguai, da Argentina e do Paraguai. A estimativa foi feita pelo professor Francisco de Assis Matos de Abreu, da UFPA – Universidade Federal do Pará, durante a 66ª reunião anual da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. “A reserva subterrânea representa 80% do total da água da Amazônia. A água dos rios, somente 8% do sistema hidrológico do bioma, mesmo percentual das águas atmosféricas que incidem sobre a região”, disse o professor, fazendo questão de ressaltar que o
Preservação
Suspensão de multas
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Diário Oficial da União de 7/8/14 traz instrução normativa do Ibama regulamentando a suspensão de multas por desmatamento ilegal em APPs – Áreas de Preservação Permanente e ARLs – Áreas de Reserva Legal. O perdão das multas aplicadas antes de 22 de julho de 2008 contra quem desmatou tais áreas foi definido no novo Código Florestal. Para pedir a suspensão das multas, é necessário que o produtor rural tenha as terras registradas no CAR – Cadastro Ambiental Rural e tenha aderido ao PRA – Programa de Regularização Ambiental.
conhecimento sobre esse “oceano subterrâneo” ainda é muito escasso e precisa ser aprofundado, tanto para avaliar a possibilidade de uso para abastecimento humano quanto preservá-lo em razão de sua importância para o equilíbrio do ciclo hidrográfico regional. Até então, o Aquífero Alter do Chão, manancial com cerca de 85 mil km3 de água sob parte dos territórios do Amazonas, Pará e Amapá, era considerado um dos maiores do mundo. Na verdade, o Alter do Chão integra o Saga, sistema hidrogeológico transfronteiriço, com cerca de 1,3 milhão de km2 de extensão, abarcando as bacias sedimentares do Acre, Solimões, Amazonas e Marajó – o Brasil detém 67% do Saga e os demais países amazônicos, 33%. O professor lembra que, mais do que um imenso e ainda inexplorado manancial, o Sistema Aquífero Grande Amazônia é uma reserva estratégica de extraordinário va-
Sistema Aquífero Grande Amazônia Sistema Aquífero Guarani
lor. Precisa de estudos e investimentos, de muita atenção de nossos governantes, especialmente agora, quando milhões de pessoas nos quatro cantos do mundo – inclusive no Brasil –, ameaçadas por secas recorrentes, buscam fontes alternativas de abastecimento, a exemplo do que vem acontecendo no estado de São Paulo.
ITR
Prazo apertado.
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programa de computador destinado ao preenchimento da declaração de ITR – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural está disponível no site da Receita Federal, bastando, para tanto, acessar www.receita.fazenda.gov.br. Obrigatória para pessoa física ou jurídica que, em primeiro de janeiro deste ano, era proprietária de imóvel rural localizado fora da zona urbana do município (exceto nos casos em que o imóvel rural seja considerado imune ou isento), a declaração deve ser enviada por meio do programa de transmissão Receitanet até o dia
30 deste mês de setembro. O Programa Gerador da Declaração do ITR 2014 deve ser baixado a partir do site da Receita federal. O pagamento do imposto pode ser parcelado em até quatro quotas, desde que cada uma não tenha valor inferior a R$ 50. O valor mínimo de imposto a ser pago é de R$ 10. Impostos com valor até R$ 100 serão recolhidos em quota única. Caso seja entregue com atraso – após 30 de setembro de 2014 –, a multa será de 1% ao mês ou fração sobre o imposto devido, não podendo seu valor ser inferior a R$ 50 (valor mínimo). setembro 2014 – Agro DBO | 19
Capa
Fronteira expandida Trigo desloca-se do Triângulo Mineiro/Alto Paranaiba para a região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, e chega aos contrafortes da Serra da Mantiqueira, na divisa com São Paulo. Rogério F. Furtado
20 | Agro DBO – setembro 2014
O
Brasil poderá colher 7,5 milhões de toneladas de trigo na temporada em curso – a safra 2014/15 será a maior da história. A indústria moageira, que espera triturar 11,8 milhões de toneladas, projeta a importação de 5,5 milhões, de modo a garantir estoque no encerramento do ano-safra, em julho de 2015. Como os estados do Sul do país continuam hegemônicos nesse ramo – respondem por 95% da produção atual –, o brasileiro ainda vai consumir muita farinha à base de trigo importado por um período cuja duração é impossível prever. Isso porque, a qualquer tempo, o abastecimento não estará garantido se houver apenas igualdade entre produção e consumo: o trigo precisa ter qualidade para atender diversas necessidades industriais. E tais padrões os maiores produtores – Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina ‒ não conseguem alcançar. Pelo menos não com regularidade e em todas as áreas de cultivo. Os trigais do Sul do Brasil são de alto risco devido ao clima, caracterizado por chuvas intempestivas, entre outras ocorrências. Chuvas na época da colheita são particularmente temidas: derrubam tanto o rendimento quanto a qualidade dos grãos. Precavidos, os agricultores sulinos – que plantaram mais neste ano – economizam insumos. Essa atitude defensiva resulta em grãos sofríveis, ainda que a produção seja volumosa. Nesse contexto, os esforços das instituições públicas de pesquisa se voltam para o desenvolvimento de sistemas de produção para o Cerrado, onde seria possível cultivar trigo em dois milhões de hectares. A Embrapa estima que só Minas Gerais dispõe de um milhão de hectares favoráveis à triticultura. Por enquanto, as oportunidades abertas pelo trigo estão sendo aproveitadas por um número reduzido de agricultores mineiros, que semearam 51,8 mil hectares nesta safra, para uma colheita de 166,5 mil toneladas, conforme estimativas da Conab. Lavoura consolidada A contribuição de Minas para o conjunto da obra não parece relevante: a colheita prevista corresponde a 2,2% do total brasileiro. Mas pode-se apostar que esse quadro vai mudar. O avanço dos plantios tem sido regular na mesorregião do Campo das Vertentes, que vem se destacando na produção de grãos – milho, soja e feijão. Ali, o trigo primeiro foi usado na cobertura do solo e na alimentação animal. Mas de forma esporádica. Esse papel subalterno não lhe caía bem, em vista do sucesso das lavouras implantadas há tempos no Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba. Assim, era de esperar que a produção para fins comerciais tenderia a se firmar, mais dia, menos dia. E a largada foi dada no município de Madre de Deus de Minas. Como puxadores do cordão, o destino escolheu Shigeo Okada e seu filho, Cláudio, que é técnico agrícola. Em meados de 2008, os Okada procuravam uma cultura de inverno para completar seu sistema de pro-
Cláudio Okada, um dos pioneiros no cultivo de trigo no Campo das Vertentes, região com altos índices de produtividade e qualidade.
dução de grãos. Após uma análise criteriosa, puseram de lado algumas opções que não lhes pareceram atraentes, como girassol e canola. Então discutiram a possibilidade de cultivar trigo com o agrônomo Raimundo Cordeiro, comerciante de insumos agrícolas. Ex-funcionário de transnacional com interesses no agronegócio, Cordeiro viera do Paraná com experiência em pesquisa e mercado tritícolas. Assessorados por ele, os Okada deram a primeira cartada no outono de 2009. Semearam 70 hectares, secundados por um vizinho, Yoshitaka Nagayama, com 30. A terra lhes devolveu 65 sacas/ha, em regime de sequeiro – uma produtividade muito alta. Mas o melhor estava por vir. Amostras enviadas à empresa Moinhos Vera Cruz, em Belo Horizonte, apresentaram índices de qualidade incomuns. Tão logo os resultados saíram do laboratório, a indústria comunicou aos produtores sua intenção de comprar todo o trigo disponível, a bom preço, fosse qual fosse o tamanho do lote. Até um caminhoneiro aplaudiu a novidade. Disse a Cláudio que o trigo de Madre de Deus lhe permitia “furar” a fila de veículos na entrada do moinho. Desde então, as cargas vindas da região passaram a ter prioridade na moagem. Trata-se de trigo homogêneo – provém em grande parte de uma só variedade –, adequado para blends com grãos de qualidade inferior. A excelência do produto colhido
Minas Gerais
Belo Horizonte Campo das Vertentes
Carandaí São João Del Rei
Três Corações
Madre de Deus de Minas
setembro 2014 – Agro DBO | 21
Capa extraordinário de 87,7, segundo Cláudio Okada. As características do trigo da região derivam da altitude, do clima seco e frio durante o inverno e do elevado padrão técnico dos cultivos. O sucesso das duas primeiras lavouras implantadas em Madre de Deus teve várias consequências. A primeira foi que os agricultores vizinhos começaram a aderir à triticultura. Depois, atraiu a atenção dos organismos de pesquisa como a Embrapa e a Epamig, assim como a de fornecedores de sementes e de outros insumos agropecuários. A Embrapa montou um campo experimental na fazenda dos Okada em 2013. E sob a influência dos acontecimentos em Madre de Deus, o trigo avançou pelo Sul de Minas, com um polo de irradiação no município de Três Corações. Hoje o cultivo se aproxima dos contrafortes da Serra da Mantiqueira, já mais perto da divisa com São Paulo.
Shigeo Okada e o filho, Cláudio: uma história de luta, coragem e perseverança (leia box abaixo).
no Campo das Vertentes se evidencia logo na aferição da variável primária, o peso hectolítrico (PH), que é a massa de trigo contida em 100 litros. O PH dá uma ideia do que aconteceu na lavoura. Se houve problemas que prejudicaram o desenvolvimento dos grãos, por exemplo. Em princípio, quanto maior o PH, maior o rendimento em farinha. Em uma escala cujo limite máximo é 90, o PH mínimo aceitável é 78. O trigo de Madre de Deus tem ultrapassado a marca de 80. Uma partida apresentou o índice
Produção solidária A triticultura também aumentou a coesão entre os produtores, que formaram um grupo para negociar com os moinhos há quatro anos. “Para o trigo, o número de compradores é pequeno. A negociação em grupo fortalece nosso cacife e acaba beneficiando o conjunto dos agricultores. Em 2013, recebemos a oferta de R$ 780 por tonelada e fechamos em R$ 900. Neste ano, a proposta inicial foi de R$ 680/t. Conseguimos vender a R$ 705/710”, diz Shigeo Okada. Por enquanto, essa tem sido a única ação coletiva dos interessados. A ideia de juntar os membros do grupo para a realização de compras conjuntas de insumos foi tentada, mas não prosperou. “O poder de compra dos produtores varia, assim como seus métodos de administração. Uns compram à vista, outros a prazo. Assim, o pool não pôde ir adiante”, conta o agrôno-
Peregrino japonês Para Shigeo Okada, o município de Madre de Deus de Minas tem um quê de terra prometida. Ele desembarcou ali há 30 anos, depois de uma longa marcha que, a bem dizer, começou lá pelos idos de 1947, ano de seu nascimento, ocorrido na Manchúria, província do nordeste da China. Sua família migrara do Japão durante a ocupação nipônica, que terminou em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial. E permaneceu na Manchúria por mais dois anos, retida pelo Exército Vermelho da antiga União Soviética: “Meu pai, que antes trabalhara numa usina, passou a consertar aparelhos como relógios e rádios; por isso os soldados não queriam a separação”, diz ele, bem-humorado. Um dia veio a ordem de repatriação. Segundo Shigeo, os Okada teriam embarcado no último na-
22 | Agro DBO – setembro 2014
vio que conduziu civis de volta ao arquipélago japonês. Na pátria, a família ganhou um pedaço de terra, graças à reforma agrária imposta pelo governo do general Douglas McArthur, comandante das tropas estadunidenses. Okada pai se lançou ao cultivo do arroz, depois de aplainar um morro na pequena propriedade. Cerca de uma década mais tarde, cansado e sem perspectivas, ouviu um canto de sereia que se propagou com facilidade pelo Japão nas condições difíceis do pós-guerra: “Se a gente trabalhar dez anos no Brasil, fica milionário”. Foi o bastante para a família tomar um navio mais uma vez, em 1961. O desembarque no Rio de Janeiro ocorreu 45 dias depois. Os Okada logo se dirigiram para uma colônia japonesa estabelecida em Cachoeiras de Macacu, município fluminense, onde compraram área de cinquenta e poucos hecta-
Numa escala cujo limite máximo é 90, com PH mínimo aceitável de 78, o trigo de Madre de Deus ultrapassa 80 e já chegou a 87,7.
mo Eduardo Ashidani, que participa das vendas em grupo. Como mostram os valores na página ao lado, a estiagem severa deste ano trouxe prejuízos para agricultores do Campos das Vertentes. Na triticultura, os menos experientes sofreram as maiores perdas. Mas, fora 2014, os anos recentes têm sido favoráveis à produção de grãos em geral. O sinal mais evidente dos bons resultados são as máquinas de grande porte para o preparo de solo, plantio, tratos culturais e colheita, cada vez mais presentes no cenário rural. Sem contar as instalações de armazenagem e beneficiamento que brotam velozmente em toda parte. Proporcionam economia, mas, antes de tudo, são fatores indispensáveis no planejamento das operações de campo. “Se consigo secar a carga de dez caminhões por dia, or-
res. Nesse terreno, em geral íngreme e pedregoso, sujeito a fortes temporais no verão, ficou sepultada a miragem do enriquecimento rápido. Assim, pouco mais de dez anos depois a família se punha em marcha outra vez, rumo a Carandaí, município vizinho de São João Del Rei. “Meu pai comparou o clima daqui ao do Japão. Nos mudamos e procuramos acompanhar os agricultores locais em tudo o que faziam. Assim, plantamos frutas, tomate, cenoura e batata”. Durante anos, Shigeo trabalhou em sociedade com Toshio, seu único irmão. “Ele produzia e eu cuidava do transporte e comercialização no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde tivemos box na Ceasa. Encerramos a sociedade em meados da década de 1980. Então visitei Madre de Deus, gostei do que vi e comprei meus primeiros 320 hectares”. Shigeo Okada, enfim, encontrara seu paradeiro.
ganizo a colheita de acordo com tal capacidade para ter um fluxo constante durante o mês. Esse é o pulo do gato. Se depender de terceiros, tudo pode virar uma bagunça. Pois hoje o prestador de serviços recebe 20 caminhões. Mas amanhã talvez só possa secar o que chegar em 10, se houver muitos veículos para descarregar. Além disso, é claro, colhendo e guardando no silo não preciso vender a produção imediatamente”, diz Ashidani. Os Okada, por exemplo, que finalizam a construção de secador e silo, expandiram o plantio de trigo até chegar aos 470 ha de hoje, consolidando o sistema de produção: “No verão, fazemos milho, soja e, às vezes, feijão das águas. Depois temos trigo e feijão. Normalmente em sistema de plantio direto. Em condições muito favoráveis de clima, com chuvas regulares, já colhemos até 85 sacas de trigo/ha. Nesta safra diminuímos os investimentos devido à seca. Esperamos alcançar uma produtividade média de 40 sacas, que nos dará algum retorno, da ordem de 180 a 200 reais /ha. Mesmo se conseguíssemos apenas cobrir os custos já me daria por satisfeito”, diz Cláudio. Eduardo Ashidani colherá mais: “Nesta safra, plantei em 870 hectares, em parte arrendados. Espero fechar as contas com lucro líquido de 5% a 7%, resultado de um rendimento médio na faixa de 50 a 55 sacas por hectare. O preço está razoável e essa produtividade corresponde ao meu nível de investimento. Gasto muito. Se não colhesse pelo menos 47 sacas não cobriria os custos, pois trabalho para produzir acima de 70 sacas/ha. No ano passado o trigo foi muito compensador. Colhi 73 sacas na média e vendemos a R$ 900 a tonelada”. O milho, que é a principal cultura da região, não entusiasma Ashidani. A produtividade média de 185 sacas que obteve nos últimos dois anos não o satisfaz: “Temos muita terra onde a fertilidade do solo ainda está sendo construída. Creio que dentro de dez anos alcançaremos rendimentos maiores, equiparáveis aos dos bons produto-
As características do trigo da região derivam da altitude, do clima seco e frio durante o inverno e do elevado padrão técnico de cultivo.
setembro 2014 – Agro DBO | 23
A produção irrigada ainda é pequena, quando comparada à de sequeiro, mas poderá aumentar na região de Madre de Deus.
res do Paraná, os recordistas brasileiros” Na opinião de Ashidani, o milho é uma das piores culturas, do ponto de vista da lucratividade. “O custo é muito alto. Mas temos de plantar para manter a rotação de culturas”. Segundo ele, a soja é melhor. Ashidani tem colhido médias superiores a 60 sacas/ha em anos bons, com um pico de 75 sacas em algumas glebas. Mas seu “prato” predileto é mesmo o feijão: “A melhor cultura que existe, a mais rentável. Meu histórico de 13 anos mostra isso. Para o trigo, 2013 foi excepcional. E não ganhou do feijão, em um ano de desempenho normal”. Ashidani só lamenta a estreiteza da janela temporal para o plantio. “Colho milho e depois planto feijão, entre 15 de fevereiro e 15 de março, mais ou menos. Esse é o intervalo disponível para semear, mas não consigo ir além de 450 hectares. Cultivo sobretudo uma variedade de feijão preto do Iapar, o Tuiuiú. Neste ano a produtividade foi de 32 sacas/ha, que é ótima para o feijão da seca. Com irrigação, chegaria a 45 sacas”. Mas ele nem pensa em irrigar. “Por unidade de área, trabalho com duas cul-
turas por ano. Se ponho irrigação, chego a 2,8. Colheria um pouco mais, mas isso não justificaria o investimento. Seria obrigado a trabalhar exaustivamente em cima dessas lavouras. E teria de plantar variedades em épocas que não seriam ideais para elas. Além do custo de implantação, a irrigação exige equipe treinada para a operação e manutenção dos equipamentos. Prefiro aumentar a área de cultivo. Por enquanto esse é o meu objetivo”. De fato, o emprego da irrigação é reduzido em Madre de Deus e no entorno. Os Okada dispõem de pivô central na fazenda Liberdade, mas o uso do equipamento é limitado. Mesmo assim, a produção em regime de sequeiro tem sido compensadora para todos, como no caso de Marcos Campos de Almeida. Ele é quem conta: “Acertei ao vir para Madre de Deus em 2000. Meus irmãos, Adriano e Alberto vieram comigo, à procura de terras para cultivar batatas. Para trás deixamos nossas propriedades alugadas em Maria da Fé, região montanhosa. Aqui, numa altitude na faixa de 1.100 metros, a topografia é muito boa. Ficamos com a batata até 2005,
Demanda aquecida Em 2014, o Brasil vai colher trigo como nunca. De acordo com o levantamento de safras divulgado pela Conab em princípios de agosto, a produção estimada em 7,5 milhões de toneladas corresponderá a um salto vertiginoso de 36% em relação a 2013. O Paraná segue na liderança, com 3,9 milhões t, registrando grande aumento da área plantada e da produtividade. Depois vêm o Rio Grande do Sul (3 milhões t) e Santa Catarina (220 mil t). A colheita será recorde porque nunca antes neste país se consumiu tanto trigo, o que puxou os preços e encorajou os produtores. A comprovação do apetite do brasileiro está bem documentada pela indústria. No ano-safra de 2010/11, foram moídos 9,9 milhões t. Na presente temporada, a moa-
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gem será da ordem de 11,8 milhões t, de acordo com previsão da Associação Brasileira da Indústria do Trigo. Se confirmada essa última estimativa, o crescimento será de 18,9% em um período de apenas quatro anos. Se de um lado aumentou a demanda, de outro pode-se dizer que as importações ficaram em banho-maria, estimulando o consumo do trigo produzido aqui. Em paralelo ocorreu uma diminuição das exportações nacionais. Para que se configurasse esse quadro houve basicamente dois fatores: a política um tanto errática para o trigo adotada há alguns anos pela Argentina, principal fornecedor do Brasil, que por vezes refreou suas exportações, e a elevação de preços no mercado internacional.
Os trigais cresceram no Campo das Vertentes, atraindo pragas. Para evitá-las, os pesquisadores vêm testando linhagens mais resistentes.
quando entramos definitivamente na produção de grãos. Neste ano plantamos trigo em 1.200 hectares arrendados e vamos colher de 50 a 55 sacas /ha”. O agrônomo Raimundo Cordeiro considera a região um oásis. Não é para menos. Em 2010 e 2011, logo após ter assessorado os Okada no cultivo do trigo, Cordeiro andou pelo Sul de Minas para divulgar o potencial da triticultura. Deu palestras em Três Corações, Campos Gerais e outras localidades. Ao mesmo tempo, ampliou seus negócios, com a fundação de um grupo de empresas que tem escritório central em Carandaí. E estreou como agricultor. Hoje produz em duas fazendas – uma no município de São João Del Rei e outra em Piedade do Rio Grande – num total de 450 hectares de terras arrendadas. Também é dono de uma unidade de armazenagem, beneficiamento e comércio de grãos. A empresa beneficia de 8 a 10 mil sacas por dia, e tem capacidade estática para a guarda de 104 mil sacas. Seu empreendimento comercial no ramo de insumos cresceu no ritmo da produção regional. Hoje opera com equipe de campo formada por sete pessoas, engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, encarregados de vender produtos para a agropecuária e dar assistência aos produtores. Boas perspectivas Como se viu, os triticultores do Campo das Vertentes levaram neste ano a primeira rasteira do clima. Mas a queda não avaliza expectativas pessimistas para o longo prazo. Joaquim Soares Sobrinho, pesquisador da Embrapa, baseado em Uberaba, está convicto de que Minas é a nova fronteira para a expansão da triticultura. “Mais vantajosa que outras opções de plantio, essa cultura é muito interessante para o sistema de produção de grãos. O solo
Caminhão graneleiro recém carregado: produção de trigo em Minas Gerais pode chegar a 2,5 milhões de toneladas por ano.
não fica desnudo no outono/inverno e há vantagens econômicas. Ainda que o agricultor não ganhe muito com o trigo, para o solo é bom.” Mas Sobrinho não encoraja posturas ufanistas. “Se a triticultura progredir até ocupar as áreas propícias que existem em Minas, a produção poderá atingir 2 milhões de toneladas por ano. No máximo chegará a 2,5 milhões t, somando-se os resultados de plantios sob irrigação e os de sequeiro”. De fato, a tendência declinante da produtividade no estado, em função do aumento das lavouras de sequeiro, já foi captada pelos levantamentos da Conab. De 2009 a 2014, caiu de 4.303 kg/ ha para 3.215 kg/ha. O trigo de sequeiro ainda é uma cultura de risco. Em Madre de Deus, até três anos atrás os problemas fitossanitários eram mínimos. De lá para cá, algumas pragas têm migrado do milho, da soja e do feijão para os trigais, a exemplo de lagartas. A incidência de doenças também aumentou. Uma delas, a brusone, talvez seja a que mais preocupa no momento: a variedade BRS 264 da Embrapa, vulnerável aos ataques do fungo causador da doença, virou carro-chefe nos plantios regionais, a despeito de não ser recomendada para as condições de sequeiro. Felizmente a própria Embrapa acaba de lançar a cultivar BRS 40, desenvolvida para esse tipo de lavoura. Joaquim Sobrinho crê que a nova variedade estará plenamente disponível em 2016. E a pesquisa segue em frente. “Em Madre de Deus, na propriedade dos Okada, estamos testando materiais desenvolvidos para o Sul do país, região que tem certa semelhança com as condições locais de clima e solo. Também testamos materiais do Cerrado. São quase 300 linhagens. Algumas a gente já sabe que terão boa adaptação. São promissoras. Esperamos que cheguem ao produtor”. setembro 2014 – Agro DBO | 25
Opinião
O agronegócio faz propostas Líderes do agronegócio propõem uma agenda aos presidenciáveis e divulgam algumas sugestões de políticas públicas futuras. Décio Luiz Gazzoni *
F
oram quase cinco meses de muita discussão e troca de ideias entre um grupo de especialistas, convidados pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, e os diferentes elos das cadeias do agronegócio, produtores e suas lideranças. Ao final, foi consolidado um documento extenso, contendo as sugestões que foram objeto de consenso, para apreciação dos presidenciáveis. A expectativa é que as mesmas sejam incorpora-
dos produtores, suas famílias e empregados; e 6 - incentivos ao associativismo e cooperativismo. As principais propostas são: a. Plano de Safra Plurianual: metas de crédito rotativo, seguro e produção de 5 anos; regulamentação do Fundo de Garantia de Risco de Crédito e do Fundo de Catástrofe para o Seguro Rural; revisão da regulamentação da cédula de produto rural (CPR).
Quem não atender as exigências será excluído do mercado mais nobre, o que paga mais das aos programas dos candidatos a Presidente da República, e que o eleito cumpra a agenda positiva que foi proposta. Tive o prazer e o orgulho de participar do grupo que levou avante esta empreitada, cujo resumo apresento a seguir, organizado segundo cinco grandes temas.
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
1. Sustentabilidade da produção do agronegócio, com oferta crescente para o mercado interno, beneficiando a sociedade brasileira e contribuindo para as exportações, com nível adequado de renda para os produtores rurais, por meio de: 1 - crédito e financiamento; 2 - seguro contra quebra de produção e queda acentuada de preços; 3- garantia de preços mínimos para produtos essenciais; 4 - respeito aos recursos naturais e meio ambiente; 5 - melhoria das condições de vida
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b. Ato Cooperativo: regulamentar o artigo 146, III ‘c’, da Constituição Federal de 1988, com o adequado tratamento tributário. c. Áreas de Preservação Permanente e Zoneamento Ecológico Econômico: delimitação com base em avaliação técnica e científica. 2. Aumento da competitividade, respaldada pelas seguintes propostas: Infraestrutura: construção, pavimentação e duplicação de rodovias para o escoamento da produção em regiões de fronteira agrícola ou consolidadas; agilizar a concessão de ferrovias ao setor privado; melhorar a navegabilidade de hidrovias; modernizar portos; Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação: conceder às instituições públicas os instrumentos jurídicos para agilidade, flexibilidade e autonomia da gestão dos recursos, formatação de parcerias e incenti-
vos fiscais para parques tecnológicos e registros de patentes; Defesa agropecuária: criação da Agência Brasileira de Defesa Agropecuária, nos moldes da Receita Federal do Brasil; Tratamento tributário: estímulos à exportação de produtos processados e de maior valor agregado, incluindo o ressarcimento de créditos tributários; Agroenergia: estabelecer incentivos fiscais e tributários para o bioetanol, biodiesel e outras fontes renováveis, pelas suas externalidades positivas no meio ambiente e saúde pública. 3. Orientação aos mercados para ampliar a inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais, atendendo as múltiplas demandas e necessidades dos consumidores internos e externos. Especificamente aponta-se para: a. Negociações Comerciais: conclusão da Rodada de Doha (OMC) e do Acordo Mercosul-União Europeia, revisão do Tratado do Mercosul e implementação de acordos bilaterais. b. Segurança Alimentar Mundial: plano entre grandes países produtores para formação de estoques reguladores de alimentos, em articulação com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a FAO. c. Medidas Zoo e Fitossanitárias: aplicação de critérios científicos para inibir barreiras técnicas injustificadas ao comércio, abertura de mercados ainda fechados às exportações brasileiras e programas de cooperação com os países
vizinhos, com coordenação entre o Mapa e o MRE (Ministério das Relações Exteriores). d. Promoção comercial: com parcerias público-privadas para expandir mercados prioritários, estimular demanda e pesquisar novos usos de produtos e serviços, com agregação de valor. 4. Segurança jurídica: para garantir o direito de propriedade privada e um ambiente favorável a investimentos nacionais e estrangeiros e incentivar o empreendedorismo. Inclui: a. Simplificação e aplicação da legislação agrária, ambiental e trabalhista, com base em critérios técnicos, condizentes com as características do agronegócio, da produção agropecuária em particular e dos mercados internacionais.
b. Revisão da legislação sobre demarcações de terras indígenas e quilombolas, aquisição de terras por estrangeiros, aprovação de um código trabalhista adequado a realidade rural brasileira, em substituição à Lei nº 5.889/1973; c. Intensificação do Programa Terra Legal e critérios para estabelecimento do valor da terra nua para a cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR); 5. Governança institucional com maior eficiência de políticas e gastos públicos, reduzindo o tamanho do Estado e o número de ministérios, e ampliando a articulação com o setor privado. Especificamente é proposto: a. Planejamento Estratégico do agronegócio: na alçada da Presidência da República, em estreito vínculo com o Mapa;
b. Representatividade do Mapa: administração pelo Mapa das políticas agroambientais, florestas plantadas e da água para irrigação, solo e minerais de uso pela agropecuária, com mais autoridade na definição das políticas públicas (aquisição e equalização de preços agrícolas e das taxas de juros do crédito rural e subvenção ao prêmio do seguro rural). Ao submeter as propostas aos candidatos a Presidente da República entendemos como cumprida nossa missão. Agora, todo o setor aguarda com ansiedade a incorporação das mesmas aos respectivos programas de Governo e a sua efetiva implementação durante a próxima gestão presidencial. Aos interessados em analisar o texto completo, este se encontra em www.gazzoni.eng.br/presidenciaveis.pdf
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Mecanização
Descompactar os solos Identificar o problema é o primeiro passo, mas resolver a questão exige cuidados e competências para que não ocorra de novo. Amílcar Centeno *
N
os dois últimos artigos abordamos a compactação dos solos agrícolas e as alternativas para prevenir este problema. Controlar e evitar a compactação, sem dúvida alguma, é a melhor estratégia para lidar com esta questão, pois a descompactação dos solos é uma operação que exige muita potência, tem alto custo e os resultados nem sempre são os esperados. De qualquer forma, muitas vezes é difícil evitar a compactação, principalmente quando ocorre um atraso no plantio ou colheita em função do excesso de chuvas e somos obrigados a trafegar com o maquinário pesado
para trabalhar um pouco abaixo desta camada, caso contrário não teremos o efeito esperado. Outro aspecto importante é selecionar as melhores ferramentas para executar a operação. O subsolador é, aparentemente, um implemento agrícola simples, porém um bom subsolador precisa ter características muito bem projetadas e tem de ser utilizado com cuidado e critério para que possa executar a operação com eficiência e produzir os resultados esperados. Um bom subsolador possui hastes inclinadas ou mesmo curvas. Suas ponteiras não devem ser muito largas, pois a maior parte
Para iniciar a subsolagem é preciso avaliar o momento certo de entrar na lavoura. em solo ainda úmido. Nesses casos, é preciso lançar mão de processos e ferramentas específicas e encontrar a melhor forma de corrigir o problema. O primeiro passo é avaliar o problema. Para isso devemos cavar trincheiras em alguns locais que demonstrem efeitos da compactação, como rastros de rodados, acumulação de água na superfície, plantas com sinais de deficiências, entre outros sintomas. Uma vez exposto o perfil do solo, devemos avaliar a estrutura do solo, principalmente a existência de regiões adensadas e camadas compactadas. Medir a profundidade destas camadas é fundamental, pois deveremos ajustar as ferramentas de descompactação 30 | Agro DBO – setembro 2014
do rompimento do solo é provocado pela extremidade da ponteira. Asas e outros dispositivos mais largos só devem ser utilizados para grandes profundidades, caso contrário aumenta-se o esforço de tração sem obter maiores benefícios. Estas ponteiras deverão ter um ângulo de ataque ao solo de 20 a 30 graus. Nestas condições, o esforço de tração será mínimo, com um bom efeito sobre o solo, e ainda obteremos uma boa força vertical, chamada de sucção, que fará com que as hastes penetrem com facilidade no solo. Esta força de sucção poderá ser muito bem aproveitada para melhorar o desempenho do trator se for utilizado o subsolador acoplado aos três pontos do tra-
tor, ao invés da barra de tração. Desta forma, esta força vertical gerada pelo deslocamento das hastes no solo será transferida ao trator, aumentando a aderência dos rodados traseiros na medida em que aumenta o esforço de tração. Além disso, com o uso do sistema de flutuação do engate de três pontos, será possível evitar sobrecargas momentâneas, que poderiam reduzir a velocidade ou mesmo parar o trator. Para obter estes efeitos positivos, é preciso retirar todas as rodas de controle de profundidade do subsolador, deixando este controle apenas para o engate de três pontos. Outra característica importante dos subsoladores é o espaçamento entre as hastes. Este espaçamento deve ser tal que permita a sobreposição do efeito de cada haste, de modo a trabalhar toda a largura do perfil de solo. A correta relação entre a profundidade de trabalho e o espaçamento entre hastes varia conforme o tipo de solo, sendo menor nos solos mais leves e arenosos. Nos solos mais pesados e argilosos a profundidade e o espaçamento devem ser maiores. Uma boa forma de avaliar se o espaçamento está correto é fazer o subsolador penetrar na parede daquelas trincheiras que foram cavadas para avaliar a compactação do solo, visualizando o trabalho realizado ao longo do perfil. Esta prática, além de permitir observar a qualidade do trabalho das hastes sobre o solo, também permite avaliar a sobreposição do efeito de cada haste com aquele realizado pelas hastes subsequentes e se
Disposição das hastes de um subsolador
Em linha: alta tração Em esquadrão: média tração
estamos, assim, desestruturando todo o perfil do solo e rompendo toda a camada compactada. Uma importante característica a ser avaliada nos subsoladores é a disposição das hastes sobre o chassi. Para reduzir o esforço de tração é preciso ter uma disposição tal que as hastes da frente “aliviem” o trabalho das hastes mais de trás, num efeito similar ao do voo dos gansos. Estas aves voam sempre numa formação em V, de modo que a turbulência causada pelas asas do ganso da frente aliviam o esforço daquele que vem logo atrás. Na figura 1 mostramos como esta configuração poderá influenciar no esforço de tração de diferentes configurações de subsoladores. Com a melhor ferramenta em mãos, antes de iniciarmos a subsolagem é preciso avaliar o momen-
Em V: baixa tração
to correto para entrar na lavoura, pois é preciso executar a operação com o solo na umidade correta. Caso o solo esteja muito úmido, a subsolagem será totalmente inócua e poderemos até mesmo agravar o problema com o tráfego de máquinas pesadas sobre o solo úmido. Caso o solo esteja muito seco, a operação exigirá elevada potência do trator e, em vez de provocarmos fraturas no perfil do solo, vamos produzir uma grande quantidade de torrões, sem criarmos as condições necessárias ao bom desenvolvimento das raízes. A umidade ideal para trabalharmos os solos é o chamado “ponto de friabilidade”, que é aquela condição em que uma pequena amostra de solo comprimida na mão é facilmente moldada, mas que tão logo retiramos esta compressão o
solo é facilmente esboroado e reduzido a pequenos fragmentos. Existe uma grande dificuldade em prever o efeito da subsolagem na produtividade das lavouras, pois esta resposta varia conforme a cultura, o tipo de solo, o nível de compactação mais profunda, o conteúdo de água no solo, o tráfego subsequente e as condições climáticas após a operação. Uma das principais causas do baixo impacto do processo de descompactação é a recompactação causada pelo tráfego subsequente de máquinas. Um solo solto e descompactado tem pouca capacidade de sustentação e mesmo a passagem de um trator de pequeno porte poderá ser pesado o suficiente para recompactar o solo. Neste caso, o tráfego controlado pode se tornar ainda mais importante, conforme mostrado na edição anterior da Agro DBO (agosto/2014). Portanto, tão logo seja concluído o trabalho de subsolagem, é preciso voltar a utilizar os processos de controle e prevenção da compactação dos solos descritos em nossos artigos anteriores. * o autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.
setembro 2014 – Agro DBO | 31
Artigo
Homeopatia na agricultura Pouco conhecida, a tecnologia avança entre os orgânicos, onde já possui aprovação, e promete entrar nas lavouras convencionais. Alexandre Henrique Leonel *
C
riada em 1796 por Samuel Hahnemann, na Alemanha, a homeopatia foi inicialmente pesquisada e desenvolvida para cuidar dos seres humanos. Entretanto, nas últimas décadas, avançou no sentido de se consolidar como uma tecnologia segura e eficaz também na veterinária e na agricultura. Os primeiros estudos científicos sobre
(MG) tem desempenhado papel fundamental nesse processo e suas pesquisas e publicações contribuem para que novos profissionais se interessem em utilizar a homeopatia no campo. No mundo, a utilização da tecnologia homeopática em cultivos é uma realidade de fácil constatação. Há, inclusive, eventos científicos mundiais sobre o tema, nos quais os resultados de pesquisas e os relatos de profissionais e produtores dão a exata dimensão do potencial da homeopatia em vegetais. Na agricultura brasileira, a utilização de preparados homeopáticos tem ganhado força nos últimos anos, principalmente através dos programas de redução do uso de defensivos agrícolas, e da adoção de alternativas sustentáveis para controle fitossanitário de cultivos. Alguns preparados homeopáticos que vimos desenvolvendo têm
Mesmo substâncias muito diluídas influenciam a germinação e crescimento de plantas.
* O autor é graduado em ciências farmacêuticas, com especialização em homeopatia
a ação de preparados homeopáticos em plantas foram desenvolvidos na Alemanha, a partir de 1920, pela pesquisadora Lili Kolisko. Os resultados obtidos foram relatados em seu livro “Agricultura do amanhã”, e comprovam de forma surpreendente que mesmo substâncias muito diluídas podem influenciar a germinação e o crescimento de plantas. Há no Brasil diversos pesquisadores dedicados a estudar e desenvolver essa tecnologia para a agricultura. Sem nenhuma dúvida, a Universidade Federal de Viçosa, de Viçosa
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apresentado excelentes resultados no controle de pragas como a Hypothenemus hampei (broca do café), Leucoptera coffeella (bicho mineiro); nematoides e mosca das frutas. Doenças fúngicas, como por exemplo ferrugem do cafeeiro, mal do panamá, cercóspora, phoma e aschochyta podem ser tratadas com preparados homeopáticos específicos. Um exemplo prático do uso de preparados homeopáticos na agricultura é a utilização da homeopatia silícea como indutora de resistências nas plantas sujeitas a estresse climático e nutricional.
Existem agrônomos e biólogos que têm utilizado preparados homeopáticos em áreas nas quais exercem algum tipo de assistência técnica. Os métodos utilizados para a produção e utilização de soluções homeopáticas garantem a conservação dos recursos naturais e a ausência de resíduos nas plantas e frutos e no meio ambiente. Essas características garantiram à homeopatia o título de tecnologia social, atendendo aos princípios da sustentabilidade nas suas três vertentes, a econômica, social e ambiental. A homeopatia também tem sido utilizada para a recuperação e manutenção do equilíbrio do sistema solo-planta. Lavouras e solos que recebem preparações homeopáticas tendem a se tornar mais equilibrados do ponto de vista da vitalidade, e, consequentemente, apresentam melhores resultados agronômicos, tanto do ponto de vista sanitário quanto produtivo. Tem-se demonstrado também que a utilização de preparados homeopáticos proporciona ao produtor a possibilidade de acessar mercados diferenciados, sendo aceitos nos sistemas de produção de países como Estados Unidos, Japão, Canadá e União Europeia. No Brasil, o uso da homeopatia na agricultura é reconhecido pelo Ministério da Agricultura (Mapa), como tecnologia aprovada para o controle de pragas e doenças em cultivos com certificação orgânica ou em processo de conversão, sendo que o país conta com empresas e profissionais capacitados em desenvolver planos de manejo baseados nos fundamentos da ciência homeopática.
Entrevista
“O Plano de Safra 2014/15 é o melhor da história”
P
ara quem tem hoje mais de 40 anos de idade o nome de Antônio Delfim Netto dispensa apresentações. Aos mais jovens e desinformados sobre a história recente da política brasileira cabe registrar que Delfim Netto foi ministro da Fazenda todo-poderoso de 1967 a 1974 em dois governos da ditadura militar de então, os generais Costa e Silva e Médici. Na sequência, durante o período Geisel, de 1975 a 1978, esteve “exilado”, como embaixador do Brasil na França, retornando em 1979 para assumir o ministério da Agricultura, e, em seguida o do Planejamento, onde ficou até 1985, no plantão do general Figueiredo. Foram, desta forma, 13 anos como ministro. Após 1985, e até 2005, elegeu-se deputado federal por São Paulo, em cinco legislaturas sucessivas. Delfim é economista pela FEA/USP, Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, onde se tornou professor e depois recebeu o título de Professor Emérito, honraria concedida a raros professores, especialmente na USP. Delfim, quando ministro da Fazenda orquestrou
34 | Agro DBO – setembro 2014
um dos períodos mais longos e de maior crescimento, o chamado “milagre econômico brasileiro”. No período em que trabalhava como ministro da Fazenda, o Brasil tornou-se a oitava maior economia do mundo. Aclamado, tornou-se um dos economistas mais consagrados da nossa história. Hoje, aos 86 anos de idade, ainda exerce enorme influência, seja como consultor e palestrante, seja por seus constantes artigos em jornais, ou ainda pela coluna Sextante, publicada com regularidade na revista Carta Capital. Com a reeleição de Lula, em 2006, Delfim passou a aconselhar o presidente com bastante frequência. Em 2012, elogiou a política de Dilma Rousseff, mas tem tido postura crítica em muitas questões, especialmente em palestras que profere, ou como consultor empresarial. O entrevistado é um frasista de fina ironia e humor apimentado, e conversou com o editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko, no final de agosto último, quando reconheceu que o “Plano de Safra 2014/15 é o melhor de todos”.
Agro DBO – O Brasil já é o celeiro do mundo? Delfim Netto – Em minha opinião, o Brasil se transformou num importantíssimo fornecedor de alimentos, para humanos e animais, nesses últimos 30 anos. Realmente, houve um progresso imenso em termos tecnológicos. Nós temos uma agricultura muito sólida, suportada por ganhos de tecnologia, ganhos biológicos, de seleção de novas variedades, de forma que o Brasil está crescendo, e do ponto de vista da agricultura eu acho que nós temos crescido muito bem, com produtividade muito alta, ocupando muito menos terra do que a gente deveria ter ocupado se as tecnologias não tivessem evoluído, e por isso nós somos hoje praticamente o primeiro produtor e exportador de alimentos do mundo em pelo menos 6 ou 7 produtos de grande importância, de forma que eu acho que, sim, temos dado uma boa contribuição para a questão da segurança alimentar. Em resumo, o que nós exportamos é água, e também sol... Agro DBO – Os preços das commodities dos alimentos (soja e milho) caíram nos últimos meses, devido à supersafra americana. Corremos o risco de que alguns agricultores possam quebrar na nossa próxima safra de verão? Ou a China, mais uma vez, vai desmentir isso? Delfim Netto – Eu acho que a China vai reduzir o nível de crescimento. Mas o consumo de alimentos deles não deve ser reduzido. Isto porque, a China está num processo de urbanização muito forte, sem paralelo na história. Ou seja, quando eles levam multidões para centros urbanos, pessoas que tinham pouca importância no sistema produtivo de mercado, porque eram agricultores familiares, por vezes com pequenos excedentes, nas cidades eles se tornam
consumidores de alimentos, de forma que não vejo perigos nisso. Mesmo que eles reduzam crescimento não teremos, no Brasil, nenhum problema de exportação para a China. Mas agricultura é assim, feita de avanços, mas também de alguns retrocessos. Retrocessos o seguro de safra resolve de maneira muito fácil. Agro DBO – Temos hoje uma agricultura subsidiada, com juros de custeio de 4,5% frente a uma Selic média de 11% a.a. Esta é uma política agrícola correta? Delfim Netto – A agricultura é um sistema altamente competitivo, e o país tem benefícios gigantescos ao estimular a agricultura. Os estímulos, mesmo em forma de subsídios, são devolvidos ao consumidor na sua integridade, e boa parte dos subsídios se reflete no crescimento menor dos preços dos alimentos. Transfere-se renda nesse processo. De um lado, se toma renda com tributação, de outro lado devolve renda através de ganhos de produtividade da agricultura. A agricultura, em nenhum país do mundo, nunca será um setor onde predominará o sistema de livre concorrência, porque a segurança alimentar é fundamental para qualquer país. Basta ver o que acontece agora na Rússia: eles brigaram com a Europa, houve embargo de exportações de alimentos, e a Rússia está vindo buscar carnes, grãos e outros alimentos aqui no Brasil e na Argentina. Mas isso é um evento de curto prazo, seria um equívoco o Brasil achar que é uma benesse que vai durar. Os russos não compram na Europa porque são bonzinhos, compram porque é mais barato. Agro DBO – O Senhor acha que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento tem o peso e a importância que o agronegócio merece?
Delfim Netto – O Mapa foi sendo “espalhado” e dividido, em ministério para pequena agricultura, da pesca etc. Mas é falsa essa história de pouco poder ou importância. Perdeu-se, isso sim, a noção de estratégia única para o setor agro. Na verdade, precisaria restabelecer o ministério com poder político. O problema é entregar o Mapa a alguém que não entende e nem tem compromissos com o agro, mas só porque tem votos no Congresso. O agro perde muito com isso. Agro DBO – Há justificativa, ainda, para um ministério específico para o Desenvolvimento Agrário? Delfim Netto – Acho que isso faz parte de um modismo, e que agora é politicamente correto, de separar políticas e ministérios, para poder fazer políticas especiais, pois o que se acaba fazendo é política ruim para todos os grupos. O que o Brasil precisa entender é que, frequentemente, o politicamente correto é fisicamente impossível. O que se tem de fazer é uniformizar políticas, parar de trabalhar com “gavetinhas” estanques para cada caso. Os Planos de Safra têm melhorado de forma inequívoca. Não há a menor dúvida que a agricultura tem sido muito bem tratada nesse governo. O governo cometeu erros, terríveis em minha opinião, e o principal foi o controle de preços dos combustíveis, uma política que praticamente destruiu um setor extremamente sofisticado como o sucroenergético. Setor que nós tínhamos induzido as pessoas a investirem nele. Essa é a única crítica que se tem ao governo Dilma Rousseff. Este último Plano de Safra transcendeu a tudo o que tinha sido feito até então, pois incluiu o que importa, caminha na direção de integrar a agricultura-pecuária e floresta, está firme no sentido setembro 2014 – Agro DBO | 35
Entrevista precisa recebem o subsídio necessário. Mas isso está evoluindo. Essas coisas vão levar anos para terminar. Mas enquanto isso não terminar não vai ter uma agricultura que não dependa do tempo e do clima. E cada vez que tem um fracasso, perde a safra, fica devendo no banco, e começa todo um dispendioso processo que vai terminar numa grande reestruturação no futuro. É assim que funciona e como tem funcionado. É por isso que eu acho que a política agrícola tem avançado. O Brasil, na agricultura, é um exemplo de incorporação de tecnologias que ainda não foi acompanhado nem pelo setor financeiro.
de melhorar a armazenagem, de modernizar o sistema portuário, está investindo em estradas, ou seja, tudo na direção de melhorar a produtividade e competitividade do setor agrícola. Agro DBO – O crescimento do agronegócio nesses últimos 10 anos foi notável, espantou o mundo. Mas hoje o agronegócio é majoritariamente contra o governo federal. Há explicações econômicas ou políticas para isso? Delfim Netto – Eu me surpreendo com a grande hostilidade do setor agrícola a esse poder incumbente, e não se leva em conta que esta política agrícola, que foi tão bem sucedida na produtividade, ela ainda deixou uma taxa de retorno escondida na valorização das terras do setor agrícola. A valorização real das terras agrícolas tem sido da ordem de 36 | Agro DBO – setembro 2014
7% a 8% ao ano nos últimos 8 anos. Na verdade, a avaliação que o agronegócio faz do governo é cheia de preconceitos, porque se imagina que aquilo que está sendo feito é por um partido que se imagina que é de esquerda, e que não tem nada de esquerda, então fica todo mundo contra. Quer ver outro exemplo? O seguro de safra, o seguro de renda no Brasil, tem crescido a 25% ao ano, enquanto o outro é seguro de safra, de empréstimo, e é precário. Agro DBO – Falta o Fundo de catástrofe? Ou é ausência de vontade política do Governo? Delfim Netto – Nós temos de seguir o que outros países já fizeram lá fora, como os EUA. Lá fora funciona porque existem regras estáveis, os governos cumprem o que prometem, o setor de seguros privados pode participar, os participantes sabem que na hora
Agro DBO – A Embrapa tem cumprido seu papel, de desenvolver pesquisas para uso do agricultor? Hoje, somos dependentes de tecnologias importadas, especialmente sementes, mas também de fertilizantes. Delfim Netto – A Embrapa é um exemplo de revolução. No fundo a Embrapa é uma estimuladora, ela não nasceu para fazer sementes. Ela tem que fazer pesquisas sobre sementes e adubação, mas quem tem de produzir semente ou fertilizante é o setor privado. Seria uma tragédia o governo se meter nisso. Nós sabemos como é que termina empresa estatal. A Embrapa sobrevive porque é, desde sua origem, uma autarquia que criou uma massa crítica com seus pesquisadores, que puderam manter seus programas de pesquisas ao longo de seus mais de 40 anos. A Embrapa é um caso único no desenvolvimento brasileiro, ela resistiu inclusive a todas as tentativas de desmonte, de aparelhamento político, porque tem um ‘espírito de corpo’ que a protege como instituição. Não tenho a menor dúvida de que a Embrapa é uma das melhores empresas de pesquisa tecnológica em todo o mundo, e uma das mais bem-sucedidas.
“A agricultura é uma atividade altamente competitiva, e o país tem benefícios gigantescos ao estimular a agricultura”. Agro DBO – Por ser tropical, o modelo de agricultura brasileira deve ser corrigido, ou ele está correto? Delfim Netto – Se o meu neto souber que um dia eu comi um sabiá, ele nunca mais olha na minha cara. Se alguém me dissesse, há 30 anos, que deveria fazer plantio direto, eu acharia ele um idiota. Então, diante do nível de conhecimento que nós temos hoje, nós estamos no estado da arte da agricultura. Hoje, a integração da agricultura-pecuária-floresta é um novo modelo que está nascendo e vai amadurecer. Essas ideias são antigas, já existem há muito tempo, mas era preciso alguém chamar a atenção para elas. E isso ficou muito visível nesse excelente Plano Agrícola da safra 2014/15, que é o melhor de todos, porque foi aperfeiçoado em cima dos planos anteriores. A questão é que existem muitas gavetinhas, muitos detalhes não importantes interferindo nos processos. O problema é que falta planejamento geral, faltam estratégias políticas bem definidas para o conjunto. Tudo vai bem até a porteira da fazenda, mas quando vai para fora da porteira, aí é uma porcaria, falta ainda logística, estradas, portos, ferrovias. É risível o que se diz agora nas TVs de que o governo tem planejamento. Não tem nenhum, o que tinha foi jogado fora. Havia um vício no regime autoritário, de se pensar 20 anos à frente, mas isso se perdeu, e se perdeu o projeto-duto, a linha de conduta política. Agro DBO – Gasolina: o governo erra ao manter preços artificiais para a gasolina, sufocando o etanol? Qual seria a saída?
Delfim Netto – A saída é que não tem nenhuma razão para estimular e subsidiar o consumo de gasolina. Primeiro, porque aumenta e piora a questão ambiental nas cidades. Segundo, porque atrapalha o Brasil. Deveria ter até uma taxa ecológica, para proteger o meio ambiente com o uso do etanol. É por isso que tinha a Cide, um velho imposto, e que sem isso não vai funcionar, como não funcionou.
querem acreditar. O importante é trocar. O fundamental no processo democrático é a alternância no poder. Nossas instituições republicanas estão muito sólidas, a democracia está enraizada no Brasil, não tem truque nem malandragem na apuração dos votos. Seja o poder incumbente, sejamos nós, estamos todos em linha direta de cumprir a Constituição, desde 1988 que isso tem funcionado.
Agro DBO – Em recente palestra um ex-ministro do Planejamento considerou que o governo abandonou o centro da meta de inflação de 4,5% e hoje trabalharia com uma faixa entre 6,0 e 6,5% ao ano, que seria o teto. Se o Senhor concorda com isso, qual implicação pode ter para o agronegócio como um todo? Delfim Netto – Esse é o defeito de todo sistema de metas que trabalha com bandas de tolerância. Cada vez que um governo introduz uma banda de tolerância, ele começa a namorar com a banda de cima. E o Brasil está namorando com isso há 8 anos. Não é nenhuma tragédia, mas é muito desconfortável. Ao agronegócio isso afeta quase nada.
Agro DBO – Afinal, o bolo cresceu e está sendo dividido? Delfim Netto – Essa frase eu nunca disse. O que eu disse, vou continuar repetindo. Isso eu acho que foi o Fernando Henrique Cardoso que inventou, quando ele pensava que era socialista. O que eu disse, repito agora: você não pode distribuir o que você não produziu. A não ser tomando emprestado. O que acontece? O credor é canalha, um dia ele quer receber de volta. É isso. Agora, o bolo cresceu, está enorme. E foi dividido. Quem consumiu o enorme contingente de automóveis que foi fabricado, quem consumiu as geladeiras, os televisores? Essa é uma tese perfeitamente imbecil, de que é possível produzir sem distribuir, a não ser num regime comunista ou nazista, de controle feroz. Tinha que ser um regime como Stalin, ou Mao, ou até o caso do Hitler, para recompor a indústria bélica da Alemanha. Essa frase tem uma contradição nela mesma, ou seja, você distribuir o que não foi produzido. Agora, você pode dizer que não vai mais respeitar nenhuma instituição, e que vai distribuir tudo igualmente. Tá bom, a gente já sabe como isso termina.
Agro DBO – A Marina Silva é a terceira via? Delfim Netto – Ainda é cedo, estamos em agosto, e as eleições serão em outubro. Não se sabe o quanto disso que as pesquisas apontam é emoção, e o povo brasileiro é um povo muito emotivo. Eu não vejo nenhum risco institucional, considerando os principais candidatos, pois as instituições que temos são muito mais fortes do que as pessoas
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Artigo
Engenharia agronômica ou agronomia? Essa questão é apenas uma polêmica semântica, ou existem de fato diferenças entre os profissionais das ciências agrárias? José Otavio Menten*
E * O autor é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (Abeas), Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, PósDoutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, professor-associado da USP/Esalq.
ngenheiros agrônomos são formados em cursos de Engenharia Agronômica, assim como engenheiros florestais em cursos de Engenharia Florestal, engenheiros agrícolas em cursos de Engenharia Agrícola, engenheiros de pesca em cursos de Engenharia de Pesca. Agronomia é o conjunto de ciências e princípios que regem a prática da agricultura. Agricultura é a arte e a ciência de produzir animais e vegetais úteis ao homem, respeitando o ambiente (recursos naturais) e as pessoas. Agronomia também pode ser entendida como sinônimo de ciências agrárias. Com este significado, Agronomia envolve as Engenharias Agronômica, Florestal, Agrícola e de Pesca/de Aquicultura. É com este entendimento que o
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sistema CONFEA/CREAs emprega o termo: Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Na Agronomia estão contempladas todas as engenharias das agrárias. As suas Câmaras Especializadas de Agronomia incluem todas as engenharias citadas. As ciências agrárias ainda incluem medicina veterinária, zootecnia e ciência dos alimentos. Assim, embora possa existir uma escola de Agronomia, onde pode ser oferecido um ou mais dos cursos de engenharia citados, não existe um curso de Agronomia. Este curso seria para formar agrônomos. A partir de 1933, através do Decreto Federal 23.196/33, foi regulamentada a profissão do engenheiro agrônomo ou agrônomo, na época considerada sinônimo. Entretanto, desde 1946,
através do Decreto Lei 9.585/46, fica oficializado que os estabelecimentos de ensino superior concedem o título de engenheiro agrônomo aos seus diplomados. O sistema CONFEA/ CREAs, instituição que concede os títulos profissionais, contempla apenas o título engenheiro agrônomo, e não Agrônomo. Entretanto, o MEC (Ministério da Educação), em sua Resolução CNE n. 1, de 2006, define as Diretrizes Curriculares do Curso de Engenharia Agronômica ou Agronomia. Embora no Artigo 5 desta Resolução cite apenas Engenharia Agronômica, no seu conteúdo promove o conceito dos termos serem sinônimos. Isto leva a uma situação que necessita ser esclarecida, já que as instituições de ensino têm o direito de definir o título acadêmi-
co de seus formados. Esta situação induz a posicionamentos como o do Guia do Estudante, publicação muito conhecida, que mantém o nome Agronomia para os Cursos de Engenharia Agronômica. Desta forma, existiam cadastrados no MEC (Senso da Educação Superior, DEED/INEP/MEC), em 2012, 29 Cursos de Engenharia Agronômica, oferecendo 2.143 vagas em Instituições públicas (federais e estaduais) e privadas, e 233 Cursos de Agronomia, oferecendo 18.389 vagas, em instituições públicas (federais, estaduais e municipais) e privadas. Qual a diferença entre os cursos de Engenharia Agronômica e Agronomia? O primeiro forma engenheiros agrônomos e o segundo agrônomos? Existe diferença na carga horária e na matriz curricular dos cursos? As atribuições profissionais de engenheiros agrônomos e
agrônomos são distintas? Como as respostas são negativas, não existe razão de se manter o termo equivocado para o curso de agronomia, assim como não se deve mais usar o termo agrônomo para o profissional formado por estas escolas. O que temos no Brasil são cur-
1/2006, deixando claro que o curso é Engenharia Agronômica. E que este entendimento seja amplamente divulgado para que as instituições de ensino corrijam o nome do curso que oferecem, utilizando o termo correto: Engenharia Agronômica. Isto vai facilitar o entendimento da
As atribuições profissionais de engenheiros agrônomos e agrônomos são distintas? sos de Engenharia Agronômica que formam engenheiros agrônomos. A Lei Federal 5.194/66 regula a profissão de engenheiro agrônomo. Não emprega o termo agrônomo. Da mesma forma, a Resolução 218/73, do CONFEA, que trata das diferentes modalidades profissionais, cita apenas engenheiro agrônomo. A sugestão é que o MEC promova nova redação da Resolução
sociedade, em especial dos jovens, ao decidirem o curso que vão escolher. Ainda hoje existe muita dúvida sobre este assunto. Agronomia deve ser utilizado com o significado de ciência ou como sinônimo de ciências agrárias. Engenheiros agrônomos são formados nos cursos de Engenharia Agronômica e não Agronomia. E não existem agrônomos. Existem engenheiros agrônomos!
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Artigo
Agro brasileiro, vocação para celeiro mundial. É notável a evolução e profissionalismo do agro brasileiro, em produção e produtividade, conquistadas nos últimos 10 anos. Daniel Glat *
O
agronegócio brasileiro fez enormes progressos nos últimos 10 anos. O produtor brasileiro está hoje muito mais profissionalizado e tecnificado; usamos maquinário de última geração, nossas operações de campo são mais eficientes, georreferenciadas, e cada vez mais
reduzido com maiores populações de plantas, e uso de fungicidas preventivamente, levaram a um aumento médio de produtividade de mais de 50%, e tornaram o Brasil o segundo maior exportador de milho do planeta. Na soja, carro chefe de nossa agricultura de grãos, a produção cresceu quase 80%, embalada tanto pelo crescimento da área plantada como pelo crescimento de produtividade. Os materiais genéticos de hábito indeterminado tiveram grande impacto na produtividade e mesmo com a crescente pressão de nematoides, ferrugem asiática, mancha alvo e mofo branco, mosca branca, falsa medideira e helicoverpa, continuamos a ganhar produtividade. Os vencedores dos concursos de produtividade da CESB já colhem mais de 5 t de soja por hectare!
maiores ou muito próximas do que eram, graças exclusivamente ao extraordinário aumento de produtividade, da ordem de 41%, 38% e 49% respectivamente. O aumento de produtividade do milho é especialmente impressionante, porque nesse período a área plantada migrou agressi-
O aumento da produtividade é a forma mais sustentável. Estamos fazendo isso muito bem.
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.
“de precisão”. Nosso manejo técnico não para de evoluir e o produtor brasileiro está muito melhor informado e cada vez mais conectado nas tecnologias. O resultado dessa evolução, acompanhada e suportada também pela assistência técnica, empresas de insumos e órgãos de pesquisas, só poderia ser um extraordinário aumento da produtividade. Uma análise comparativa do desempenho das cinco principais culturas de grãos na safra 2003/04 com a safra 2013/14 não deixa a menor dúvida a respeito (ver tabela). Enquanto a área plantada dessas cinco culturas aumentou 21%, capitaneada basicamente pela soja, a produção somada aumentou 70%. Isso significa um ganho de produtividade de mais de 40%! Mesmo nas três culturas onde a menor rentabilidade ou maiores riscos levaram a uma diminuição da área plantada – arroz, algodão e feijão – as produções são hoje
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vamente do verão para safrinha, que é um ambiente de potencial produtivo mais limitado. Ainda assim, o crescimento profissional do produtor brasileiro, somado a híbridos cada vez mais estáveis e produtivos, plantio mais uniformes e bem espaçados, fertilizações balanceadas com doses maiores de nitrogênio, uso do espaçamento
Área plantada, produção e produtividade das 5 principais culturas de grãos nos últimos 10 anos do Brasil.
AREA PLANTADA (milhões ha) 2003/04 2013/14
PRODUÇÃO (milhões t)
PRODUTIVIDADE (t/ha)
var 2003/04 2013/14 var 2003/04 2013/14 var
ALGODÃO
1,1
1
-9%
2
2,5
25%
1,8
2,5
38%
MILHO
12,7
15,6
23%
42
80
90%
3,3
5,1
55%
SOJA
21,3
29,5
38%
49,7
87,8
77%
2,3
3,0
28%
ARROZ
3,6
2,4
-33%
12,9
12,1
-6%
3,6
5,0
41%
4,2
3,3
-21%
2,9
3,4
17%
0,7
1,0
49%
42,9
51,8
109,5
185,8
2,35
3,34
FEIJÃO
var. 21% (fonte:CONAB)
var. 70%
var. 42%
O mais bonito é que estamos conseguindo isso praticando uma agricultura altamente sustentável e ambientalmente muito correta. Infelizmente ainda não aprendemos a vender isso bem, nem aqui nem no exterior. E vejam que “produto vendável” é a sustentabilidade do agronegócio brasileiro: – De acordo com o pesquisador da Embrapa Evaristo de Miranda, o Brasil tornou se um dos celeiros do mundo mantendo a maior quantidade de terras em conservação, quase 30% da nossa superfície, comparados com 10% nos EUA ou na China. Temos áreas sob conservação / preservação em forma de parques nacionais, reservais legais, áreas governamentais, reservas indígenas, quilombolas etc. – Como diria o engenheiro agrônomo Norman Bourlaug, prêmio Nobel da Paz e pai da “revolução verde”, a aumento da produtividade é a forma mais sustentável para lidar com o aumento da demanda por alimentos no planeta, minimizando necessidade de abertura de novas áreas. Estamos fazendo isso muito bem. – Nossa agricultura de grãos é quase toda no sistema de plantio direto, que reduz sobremaneira a erosão dos solos, assoreamento dos rios e consumo de óleo diesel e emissões derivadas. – Praticamos diversos modelos de rotação de culturas, plantamos duas safras por ano em quase todo país - o que aumenta a produção sem aumentar a área plantada – e praticamos inúmeros modelos de integração-lavoura-pecuária e lavoura-pecuária–floresta. – Somos o único país do mundo com reservas florestais obrigatórias dentro de propriedades privadas produtivas. – Somos líder global no recolhimento e reciclagem de embalagem de defensivos agrícolas. – Metade de nossa produção de grãos vem dos Cerrados,
região de baixíssima fertilidade natural e alta acidez de solo. Vale dizer que as principais áreas agrícolas do planeta – o meio oeste americano, os campos argentinos, o vale do Pó na Europa, as planícies ucranianas ou as regiões produtivas da China e da Índia – são todas terras naturalmente férteis ou muito férteis e com pH geralmente equilibrado. Desconheço região produtora do mundo onde se façam análises e correções de solo na frequência e intensidade que fazemos aqui, ou onde calagem, gessagem e fosfatagem façam parte do manejo corriqueiro dos produtores. A agricultura dos Cerrados é calcada numa agronomia muito sofisticada, e que, ao invés de praticar o extrativismo da riqueza natural do solo (até porque não há) ela na verdade melhora as qualidades químicas e biológicas do solo e aumenta a fertilidade residual. Além de todos esses predicados, usamos pouco mais de 60 milhões de hectares para agricultura no Brasil, o que representa menos de 8% do território nacional; só de pastagens degradadas facilmente conversíveis em áreas produtivas temos mais de 100 milhões de hectares. O planeta terá 9 bilhões de pessoas em 2050 querendo comer mais, e melhor; a FAO espera um aumento de demanda de alimentos da ordem de 70% nesse período, e boa parte do suprimento deverá vir do Brasil. Nossa vocação é ser o celeiro do mundo. Nossos agricultores e técnicos têm feito sua parte; ainda temos sérios e complicados problemas pela frente como a infraestrutura, defesa sanitária animal e vegetal, demora no registro de novos produtos químicos, falta de seguro rural amplo e abrangente, e insegurança jurídica. É preciso que o futuro governo faça sua parte com rapidez e intensidade e que o apoio ao agronegócio não seja apenas um mote de campanha. setembro 2014 – Agro DBO | 41
Política Kátia x Marina
C
onforme Kátia Abreu (PMDB/TO) candidata à reeleição como senadora por Tocantins, “Marina Silva, a candidata a presidente, não tem a confiança do agronegócio. Essa desconfiança e rejeição do agronegócio em relação a Marina foi ela mesma quem criou. Ao longo de sua vida, ela sempre teve um ativismo ambiental muito forte e uma notável antipatia pelo setor. Ela cultivou essa animosidade de forma proposital, nos tratando com agressividade. Sempre digo que quem planta soja colhe soja; não colhe milho, não. Essa postura que ela teve no passado vai prejudicá-la muito agora, com essa parcela do eleitor”.
Embargo russo aos EUA
O
embargo anunciado pela Rússia às importações de alimentos de vários países, incluindo Estados Unidos e Austrália, em retaliação às sanções que vem sofrendo desses países devido à crise da Ucrânia, já apresenta desdobramentos positivos para a economia brasileira. As exportações de carne bovina do Brasil cresceram 8,6% em julho comparado a igual período do ano anterior, para 144,7 mil toneladas, sendo a Rússia o principal destino da commodity. Só para a Rússia foram 41 mil toneladas, 79% a mais que em julho de 2013.
Dilma visita “novo polo ferroviário”
A
logística de transporte de cargas do país ganhou mais investimentos do Governo Federal, o que permitirá reduzir os custos, além da integração da rede logística. O trecho da Ferrovia Norte-Sul, em Anápolis (GO), que a presidente Dilma Rousseff visitou em agosto último, já está em ope-
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ração. A extensão Sul da mesma ferrovia tem 62% de obras concluídas, num trecho de 682 km. A integração do trecho Anápolis – Porto Nacional (TO) com o trecho Palmas (TO) – Açailândia (MA) totaliza outros 1.547 km de linha férrea já em operação entre Goiás e Maranhão. Completa, a ferrovia Norte-Sul terá além de 4 mil km de linhas que atravessam os estados do Maranhão, Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “O Brasil está dando um passo significativo na construção de uma infraestrutura ferroviária. Estamos resolvendo agora este problema para transportar toda a carga, diminuir a presença nas estradas e reduzir a emissão de gases de efeito estufa, melhorando também o meio ambiente. Estamos nos tornando mais competitivos”, comemorou a presidente.
O vice de Marina
O
PSB indicou dia 19 de agosto último o nome do deputado federal Beto Albuquerque (PSB/RS) como o candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva. Ele foi um dos aliados mais próximos do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu em acidente aéreo dia 13 de agosto. Beto Albuquerque trabalhou desde o início na construção da candidatura do pernambucano. Albuquerque, de 51 anos, tem trajetória de afinidade com o agronegócio — setor que tradicionalmente se opõe às propostas ambientalistas de Marina.
Paraná exporta para a China
O
Paraná em 2014 exportou muita soja para China, o que representou 30% das receitas do estado, algo como US$ 2.35 bilhões de dólares. Até aí, nenhuma novidade, considerando as exportações brasileiras como um to-
do, porque, incluindo soja, minério de ferro, petróleo e alguns outros produtos, 22% das exportações brasileiras nos seis primeiros meses do ano foram para a China, maior índice já registrado em um primeiro semestre. Nunca
fomos, no Brasil, tão dependentes da China. Há uma verdadeira torcida nas lavouras brasileiras para que a China continue com seu vigoroso crescimento econômico, além da política de urbanização e inclusão social.
mento de campo; e discussão sobre a etapa de construção dos marcos. A Aiba (Associação dos Irrigantes do Estado da Bahia) tem acompanhado o processo de defi-
nição das divisas entre os dois estados, através da secretaria de Planejamento do Estado da Bahia (Seplan) e da secretaria da Agricultura do Estado da Bahia (Seagri).
Definição de divisas entre BA e TO
R
epresentantes dos governos da Bahia e Tocantins reuniram-se em julho e agosto, na Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE), em Salvador, para iniciar o processo de demarcação dos limites territoriais entre os dois estados, em função do acordo firmado no Superior Tribunal Federal (STF) em abril de 2013. As definições levarão em conta aspectos regionais, a interpretação do acordo no STF, imagens orbitais, ortofotos e outros elementos para preparação da base de dados preliminar. Os passos seguintes serão a elaboração de proposta de traçado, utilizando os insumos disponíveis; planejamento da fase de reconheci-
MTE e profissionais de RH de associadas da Aiba debatem sobre autuações
A
valiar para corrigir. Este foi o objetivo da Aiba ao realizar um encontro em agosto entre profissionais de RH (Recursos Humanos) das fazendas associadas da Aiba, e a chefe de Fiscalização do Ministério do Trabalho (MTE), Liana Carvalho. Na ocasião, foram apresentados dados de autuações entre os anos de 2010 e 2014 e o detalhamento das prin-
cipais infrações em propriedades rurais do Oeste da Bahia. Segundo dados do MTE, nos últimos cinco anos, o número de autuações no Oeste da Bahia teve redução significativa. As áreas de legislação trabalhista e segurança e saúde no trabalho são as que mais geraram autos. “As autuações acontecem em pontos específicos da legislação, is-
so possibilita maior facilidade para resolver o problema e, consequentemente, adequar as fazendas”, explicou Liana Carvalho. “Este encontro foi importante para que cheguemos a um entendimento de como agir diante das peculiaridades dos trabalhadores na atividade rural” afirmou Mayara Cruvinel, gerente de Recursos Humanos da Fazenda São Francisco. setembro 2014 – Agro DBO | 43
Política Treinamento Case IH qualifica profissionais no MT
E
volução em Campo, um dos mais conceituados projetos de treinamento da marca, capacita operadores e mecânicos. O projeto Evolução em Campo, que qualifica especialistas em mecânica para tratores e colheitadeiras de alta gama, chega a sua 11ª etapa na cidade de Sapezal (MT), com os temas “Diagnóstico e Resolução de Problemas”. Voltado para o mercado de grãos, o projeto é composto por uma unidade móvel da Case IH que percorre o Brasil capacitando operadores e técnicos nos principais polos produtores do país. O projeto tem como principal objetivo realizar cursos para operadores, técnicos e multiplicadores de conhecimento das regiões agrícolas do Mato Grosso. Visa a uma maior profissionalização
da mão de obra, aumento do rendimento e a disponibilidade dos equipamentos no campo. Edgardo Legar, responsável pela área de Treinamento do Cliente da Case IH, destaca que é fundamental para os grupos agrícolas do país ter profissionais bem qualificados, garantindo o alto rendimento dos equipamen-
tos e a operação adequada em cada etapa da lavoura. A programação de treinamentos conta com turmas de até 20 alunos, carga horária de 24 horas para operadores e 40 horas/aula para treinamento técnico. Todos os módulos estão também alinhados com instruções para o sistema AFS Case IH de agricultura de precisão.
Dilma considera novas desonerações ao etanol, caso reeleita.
A
presidente Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição, afirmou que vai considerar novas desonerações tributárias para estimular a cadeia de etanol e que o aumento da mistura do insumo na gasolina para
27,5% é alvo de estudo com a Anfavea, a associação das montadoras de veículos. “Acredito também que vai ser importante olhar o setor, como já desoneramos PIS e Cofins dentre outras questões, e podemos
fazer”, disse Dilma em entrevista coletiva, após apresentar suas propostas para o setor agrícola na CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. A pergunta que não quer calar é: por que já não foi feito isso?
10 anos do Dia Nacional do Campo Limpo
O
IV Congresso Andav (Associação Nacional das Revendas de Produtos Agrícolas e Veterinários), realizado em agosto em São Paulo, Capital, foi palco de uma grande comemoração: os 10 anos do Dia Nacional do Campo Limpo. O presidente do Inpev – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, João César Rando,
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ao abrir o evento, apresentou as iniciativas do Inpev como referência no Brasil e no mundo. “Este é um momento de alegria e celebração. Desde que iniciou suas atividades até julho deste ano, o sistema recolheu e reciclou mais de 305 mil toneladas de embalagens. Nosso trabalho é a prova de que a cadeia agrícola dá exemplos”, disse.
13º Congresso da Abag debate o baixo protagonismo do setor
R
eforçar a necessidade de o agronegócio ser valorizado como protagonista do crescimento econômico brasileiro. Esse foi o tom predominante, e altamente político, no 13º Congresso da Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, re-
alizado em 4 de agosto último em São Paulo. O evento contou com a participação de representantes dos principais candidatos à presidência nas próximas eleições. Em seu discurso de abertura, o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, salientou a necessidade de se fazer alterações na prioridade dada pelo governo ao agronegócio nos últimos anos. Segundo ele, a partir de 2007 começou a haver uma forte relação entre os preços do petróleo e dos alimentos. “O impacto em um gera, em cadeia, impactos significativos nos demais, forçando mudanças essenciais no Brasil, um país que tem no agronegócio as bases de seu desenvol-
vimento e que deverá ter neste setor uma plataforma de importância geopolítica global”, disse Carvalho. Para tanto, ele salienta que é necessário que seja dada a prioridade que o setor necessita e merece. O ministro da Agricultura, Neri Geller, apontou os esforços da pasta para dar suporte ao produtor rural brasileiro. “Tanto no aumento da liberação de crédito a juros reduzidos, quanto no encaminhamento das questões ligadas a seguro rural e a modernização da infraestrutura, nós temos procurado alinhar as ações do ministério com as necessidades levada pelas diversas lideranças do setor”, afirmou Geller.
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Tecnologia
Atrás do arroz gigante Nova variedade desenvolvida pela Embrapa é a aposta do Rio Grande do Sul para tornar-se autossuficiente na produção de etanol Gustavo Paes
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clima impróprio para o cultivo da cana-de-açúcar impede que o Rio Grande do Sul produza etanol e seja obrigado a importar de outros estados quase 100% do combustível que consome. Mas esta conta poderá ficar menos salgada quando os agricultores gaúchos passarem a cultivar um novo tipo de arroz que está sendo desenvolvido pela Embrapa. A variedade, caracterizada por ter grãos com o dobro do tamanho do arroz convencional e alta produtividade, servirá de matéria-prima para dois projetos que, juntos, prometem reduzir a dependência gaúcha do etanol em mais de 50%. Em seu terceiro ano de estudos de VCU –Valor de Cultivo e Uso, a linhagem foi apelidada de “gigan-
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te” e registrada inicialmente como AB 11047 pelos pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, sediada em Pelotas (RS). A novidade, aguardada com expectativa pelos agricultores gaúchos, deverá chegar ao mercado até o final deste ano ou, no máximo, no início do próximo, mas ainda em pequena quantidade. “Estamos fazendo testes em todas as seis regiões orizícolas do estado e o arroz gigante foi aprovado em todas elas. Não há nenhuma restrição de cultivo”, destaca o pesquisador Ariano Martins de Magalhães Júnior, da Embrapa Clima Temperado. A expectativa é que o produto, registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com o nome BRS-AG, atenda a uma demanda por cultivares específicas
para a produção de biocombustível e para a alimentação animal – seja ração, feita do grão, ou silagem, originada da planta inteira do arroz. Com a chegada do novo arroz, o volume de combustível comprado de outros estados deve começar a cair. “Se atingirmos 10% da área do estado, o restante destinado para a produção de alimentos, estaremos produzindo etanol suficiente para reduzir em 50% a importação desse combustível no Rio Grande do Sul”, assegura Magalhães Júnior, que é doutor em melhoramento genético de arroz – a autossuficiência viria depois, dependendo da adesão de orizicultores e demais integrantes da cadeia produtiva. O arroz gigante é denominado como DCH – Desclassificado para Consumo Huma-
no porque foge do padrão usual: tem menos transparência e é mais quebradiço do que o produto convencional. “Por questão de paladar, é voltado só à alimentação animal e à produção de etanol, por exemplo. Não conhecemos trabalho semelhante no mundo com essa finalidade”, frisa o pesquisador da Embrapa. Magalhães, que está trabalhando há seis anos no desenvolvimento da nova variedade, diz que já foi feita a solicitação para registro no Mapa e proteção como uma nova cultura. Resultado de cruzamento feito a partir do banco de germoplasma da Embrapa, o BRS-AG tem apresentado nos testes um potencial produtivo de 10 toneladas por hectare, rendimento superior à média nacional do grão convencional, que é de 5,5 toneladas/ha. “O BRS-AG se destaca pela alta produtividade que, em alguns casos, pode passar de 12 toneladas por hectare”, ressalta. O gigante produz 52 gramas de peso médio de mil sementes, enquanto que a maioria das cultivares desse cereal irrigado apresenta peso médio de 25 gramas. “Isso nos dá mais possibilidade de matéria-prima para o etanol. O que a gente tem percebido é que um quilo de arroz pode produzir em torno de 400ml a 480ml de álcool, ou seja, cada tonelada de arroz produz 480 litros de etanol”,
Comparativo da Embrapa com uma variedade de arroz comum e o gigante
O pesquisador Ariano Martins de Magalhães Júnior: “De cada tonelada de arroz gigante é possível extrair 480 litros de etanol”.
salienta Magalhães Júnior. Outros fatores favoráveis são o alto percentual de amido da linhagem, o que garantirá um maior poder nutritivo para os animais e mais energia para a geração de etanol, e a maior eficiência em conversão de etanol do que as cultivares tradicionais. Em estudo com a Embrapa Agroenergia, a nova linhagem apresentou 15% a mais de hidrólise enzimática em comparação com a variedade BRS Pampa. O custo de produção similar ao arroz comum seria outro atrativo da novidade, que apresenta um ciclo de 126 dias da emergência à maturação e altura de 110 centímetros. Apesar do porte elevado, a nova linhagem apresenta ainda alta resistência a acamamento e a debulha. O gigante também é resistente às principais doenças do arroz e ao degrane – queda natural das sementes. O manejo (adubação, controle de pragas, plantio e colheita) é idêntico ao das lavouras de arroz comercial; no entanto, é utilizado o dobro da quantidade de sementes por hectare, ou seja, de 180 a 200 quilos/ha. O cultivo do novo arroz é mais rústico do que o grão convencional. O clima no Rio Grande do Sul inviabiliza os trabalhos de multiplicação no inverno. Assim, as sementes do BRS-AG estão sendo multiplicadas pelo agricultor gaúcho Marcelo Goularte numa área de 10 hectares no município de Flores de Goiás (GO), onde se estabeleceu há seis anos – cultiva três mil hectares de arroz tradicional em Viamão, na
região metropolitana de Porto Alegre, mais 1,6 mil hectares em Goiás, além da área reservada ao gigante, semeado em 20 de julho. “Se tudo correr bem, pretendo começar a colher o gigante em 5 de novembro. A variedade se adaptou bem às condições de clima da região, parecidas com as do Rio Grande do Sul”, diz o agricultor, que projeta uma produção de 1,5 mil sacas de semente. Interesse industrial A produção de biocombustível com o arroz gigante como matéria-prima envolve dois projetos no Rio Grande do Sul: o da USI - Usinas Sociais Inteligentes S/A, de Porto Alegre, e o da Vinema Biorefinarias do Sul, de Camaquã, no Sul do estado. Em janeiro de 2013, a Vinema anunciou um projeto grandioso, de construção de seis usinas de etanol a partir do aproveitamento de cereais, especialmente o arroz e, secundariamente, o sorgo, o triticale (um híbrido do trigo e do centeio), a batata-doce, o centeio e a cevada. As seis plantas industriais (nos municípios de Cristal, Santo Antônio da Patrulha, Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, Itaqui e Capão do Leão, maiores produtores de arroz do estado) consumirão cerca de 1,5 milhão de toneladas de grãos anualmente – a produção do Rio Grande do Sul é de 7,8 milhões de toneladas/ ano. Os resíduos serão utilizados para a fabricação de ração animal com proteína. A primeira unidade será construída em uma área que setembro 2014 – Agro DBO | 47
Tecnologia Apesar do porte, o arroz gigante apresenta resistência à debulha, ao acamamento, ao degrane e às principais doenças da cultura.
Produção cooperada A proposta da USI, uma empresa especializada em tecnologia industrial para a construção de usinas de pequena escala, tem como objetivo produzir etanol hidratado combustível padrão ANP usando como matéria-prima o amido. Para concretizar este projeto, foi formatado um modelo de negócio diferenciado, onde cada usina pode ser constituída por investidores, tendo como sócio majoritário a USI, por ser detentora da tecnologia. Para fomentar o arranjo, foi fechada uma parceria com a trading norte-americana CHS Inc, que ficará responsável pela logística e realizará a comercialização do etanol produzido pelas usinas da
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de arroz no estado são arrendatários e têm dificuldade de crédito para a compra de insumos, o que faz com que, muitas vezes, eles usem metade da quantidade recomendada de adubo. Com esse acordo, eles terão adubo para usar em 100% de suas lavouras”, frisa o presidente da USI. A empresa, criada em 2007, pretende construir 15 usinas no Rio Grande do Sul até 2018, com produção de 20 mil litros/dia cada, cujo investimento total deve chegar a R$ 225 milhões. Para atingir esta produção, cada unidade necessitará de 350 mil sacas de arroz gigante por ano. “Isso significa 1.450 hectares”, diz Mallmann, que estima o potencial do arroz gigante para produção de etanol em até 5 mil litros por hectare. A primeira das 15 usinas já está em funcionamento desde 2013 em São Gabriel, na fronteira oeste do estado, mas não opera com 100% de sua capacidade por falta de matéria-prima. Os restos industriais utilizados no processo, provenientes da casca do arroz comum, são insuficientes. “Estamos produzindo de 2 mil a 3 mil litros de etanol por dia para validar a tecnologia, mas temos dificuldades para encontrar quirera de arroz”. A meta da USI é atingir 10% da área de arroz no estado, que é de 1 milhão de hectares, explica Mallmann. Nesta safra, as sementes que estão sendo multiplicadas em Goiás serão usadas exclusivamente em uma lavoura em São Vicente do Sul. As usinas da USI produzirão etanol carburante e etanol neutro, que é usado na indústria de cosméticos, alimentícia e farmacêutica, além de ração animal e CO2. “O CO2 será captado da fermentação e será transformado em CO2 líquido, para ser usado nas indústrias dos setores de bebidas, metal-mecânico e químico”, completa o engenheiro agrônomo.
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está sendo desapropriada para a criação de um distrito industrial em Cristal. “A estrutura deverá entrar em funcionamento no mais tardar no final de 2016”, projeta Machado, explicando que as demais devem ser concluídas até 2022. Além do etanol, serão gerados outros coprodutos com aplicações diretas em diversos outros segmentos industriais, como alimentação humana e animal de alto valor proteico agregado, óleo vegetal, dióxido de carbono (CO2) e energia elétrica. A Vinema planeja a construção de seis usinas no Rio Grande do Sul, a primeira delas no município de Cristal.
Dornas da USI em São Gabriel (RS): a empresa propõe um modelo participativo de produção de etanol, com apoio aos orizicultores.
USI. “Temos um arranjo sólido, parcerias com os produtores na origem da matéria-prima, conjugada com a garantia de comercialização do etanol, pois o produto já sai da usina com destino certo”, destaca o presidente da USI, o engenheiro agrônomo Francisco Mallmann. Pelo acordo, a companhia participa com a tecnologia, administração das usinas e fornecimento de fertilizantes para as lavouras em troca da produção do BRS-AG. O produtor associado receberá o fertilizante por um preço mais competitivo que o praticado no mercado, com a condição de que a lavoura do BRS-AG não ultrapasse 20% de sua área. “Cerca de 70% dos produtores
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Clima
El Niño ameaça cancelar presença na próxima safra Com as variações e inconstâncias climáticas deste ano, os produtores aguardam as chuvas para o plantio da safra de verão. Marco Antônio dos Santos *
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ivemos um primeiro semestre com chuvas muito irregulares e até mesmo com longos períodos de estiagem, originando perdas significativas em várias culturas em todo o Brasil. Agora, a atenção dos produtores e do mercado se volta para a safra 2014/15 a qual se dará início neste final de mês de setembro. Assim, o clima será mais uma vez o elemento fundamental para avaliar o tamanho desta safra e quais as regiões onde estarão as maiores produtividades no Brasil.
favorecendo os altos volumes de chuvas no Sul do Brasil entre os meses de junho e julho. No final de julho, por causa desse aquecimento, foram observadas chuvas em São Paulo, partes de Minas Gerais e em Goiás e Mato Grosso. Mas desde então essas águas mais quentes já entram em processo de resfriamento e, portanto, a probabilidade de que venha a se confirmar um El Niño está inferior a 60%. Sem essa “forçante” no clima, o retorno das chuvas no segundo semestre no Brasil Central e Norte só deve ocorrer a partir da se-
El Niño perdeu forças, isso impossibilitará que se configure e provoque mudanças.
* o autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia.
Muito tem se falado na mídia sobre uma possível volta do El Niño para esta safra 2014/15. Institutos nacionais e internacionais de climatologia publicaram recentemente a possibilidade de que esse fenômeno iria influenciar o clima durante o segundo semestre de 2014. Porém, devido a diversas configurações no clima, esse fenômeno vem perdendo forças desde o final de julho, sem garantia, na qual impossibilitará que o El Niño se configure e permita, portanto, de uma mudança nos regimes de chuvas e temperaturas. Entre os meses de abril a julho houve um forte aquecimento das águas equatoriais do Oceano Pacífico na região centro-leste,
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gunda quinzena de outubro. Ou seja, as chuvas este ano deverão chegar um pouco atrasadas, quando comparada com a climatologia dessas regiões ou, principalmente, para atender a ansiedade dos produtores. Mas quando esse regime “normal” de chuvas se instalar, a tendência é que se mantenha até o final da safra. Vale lembrar que devido à não formação do El Niño este ano, e grande oscilação nas temperaturas das águas do Pacífico, haverá uma grande variabilidade no regime de chuvas em todo o Brasil. Isto é, em alguns momentos essas chuvas estarão no Sul, ora sobre a região central e ora sobre o Nordeste. Com isso, quando uma
região estiver num período mais chuvoso a outra poderá passar por um período de ausência de precipitação, com possibilidade apenas para pancadas de chuvas isoladas, isto é, esse princípio de chuvas será muito irregular. Dessa maneira, o produtor deverá ficar muito atendo às previsões meteorológicas, para saber o momento exato para realizar o plantio e os demais tratos culturais. Essa oscilação nas temperaturas das águas equatoriais do Pacífico dá-se o nome de El Niño Modoki (El Niño “falso”, numa tradução mais coloquial). Sendo assim, esses últimos dias de inverno continuarão sendo com chuvas mais expressivas no Sul, mais precisamente sobre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E no Paraná, todo o Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste continuará com tempo seco e grande amplitude térmica, com possibilidade apenas para pancadas de chuvas. Grãos Com o atraso no início das chuvas os plantios tanto da soja quanto do milho da safra de verão deverão ocorrer mais tarde este ano. Porém, quando esse regime de chuvas se instalar no Brasil, possivelmente se observará períodos de estiagem, favorecendo o desenvolvimento das lavouras. Porém, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina poderão ocorrer períodos mais longos de estiagem durante o
próximo verão, devido a uma condição de águas ligeiramente mais frias no Atlântico Sul, o que potencializa esse fenômeno. Já no Sudeste e no MAPITOBA (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), como as chuvas se normalizam durante a segunda quinzena de outubro, a perspectiva é de que os produtores consigam realizar o plantio dentro da média e não tenham grandes problemas com relação às chuvas durante toda a primavera. Podendo, no verão, ter outro período de estiagem, mas nada como registrado em 2014. Perenes A forte irregularidade das chuvas durante todos esses 8 meses de 2014 ocasionou reduções significativas na produção e produtividade da cana de açúcar, café e laranja, como também nas hortaliças. E
Mapa mostra nas cores marrom escuro (altas temperaturas) no Oceano Pacífico, na região equatorial, o que afasta as chances do El Niño.
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essa anomalia climática deverá influenciar a produção para a safra 2014/15, principalmente no café e laranja, já que para a cana de açúcar a regularização das chuvas a partir do final de outubro já será suficiente para normalizar os
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níveis de produtividade dos canaviais para a safra 2015/16. Diante dessa análise, é possível antecipar aos leitores que El Niño ameaça cancelar presença na próxima safra de verão, o que não deixa de ser uma ótima notícia.
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Manejo
Plantar para não colher Pesquisadores recomendam plantas de cobertura como a crotalária e a braquiária para favorecer o desenvolvimento da cultura principal Ariosto Mesquita
Plantação de crotalária no município de Luziânia (GO)
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inda há quem torça o nariz: “Como plantar e não colher?” Entre os próprios pesquisadores não há unanimidade sobre o assunto, embora todos defendam vigorosamente as vantagens agronômicas do “manejo solidário” – aquele onde uma espécie é cultivada para favorecer o desenvolvimento de outra, de maior valor de mercado. Agronomia é uma coisa, lucratividade é outra. O certo é que o cultivo de plantas de cobertura de forma solteira (também é usada em consórcios) nos intervalos das culturas comerciais vem crescendo bastante no Brasil, sobretudo nas regiões com alto déficit hídrico natural das regiões sul, sudeste e centro-oeste do país. Sua principal função é preparar o terreno para uma eficiente safra de verão. Algumas espécies, como a crotalária, se-
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quer oferecem retorno financeiro direto que amenize o custo do plantio – são cultivadas e destruídas antes da entrada da lavoura principal. A utilização de plantas de cobertura pressupõe a prática do plantio direto que, por sua vez, tem a rotação de culturas como sua base de sustentação. Em áreas com períodos de poucas chuvas, essas plantas protegem o solo, mantêm a reserva de água por mais tempo e ainda reforçam a carga de macronutrientes na área de cultivo. Mesmo assim, sua utilização ainda enfrenta resistências entre produtores. De acordo com números do Iapar – Instituto Agronômico do Paraná, em 2012 eram 26 milhões de hectares cultivados em plantio direto (envolvendo plantas de retorno econômico ou não) no Brasil, o que correspondia a quase 20% da área com agricultura no país.
Em uma avaliação linear, plantar e não colher pode ser visto como um procedimento antiproducente. Afinal, para que cultivar algo que não fará dinheiro entrar no caixa da fazenda? Os defensores das plantas de cobertura têm argumentos convincentes. O foco, segundo eles, deve ser o sucesso da lavoura principal através da sanidade da terra, ou seja, a expectativa é fazer com que mais dinheiro entre no caixa neste período. As plantas de cobertura são coadjuvantes, não protagonistas. “Essas plantas são funcionais para a formação de palhada, aumento da fertilidade do solo, melhora da atividade biológica e proteção contra variações térmicas”, explica Djalma Martinhão Gomes de Souza, da Embrapa Cerrados, sediada em Planaltina (DF). Ele e outros estudiosos do assunto deixaram na mesa uma série
de conclusões durante o CoberSafra 2014/Encontro Regional sobre Plantas de Cobertura, realizado nos dias 5 e 6 de agosto em Formosa (GO), município a 75 km de Brasília (DF). No evento, pelo menos duas plantas receberam abordagens especiais diante de seus atributos: braquiária e crotalária. No entanto, a diversidade de pontos de vista foi a tônica. “A verdade absoluta é que cada caso é um caso”, avalia o consultor e técnico agrícola, Volmir Antônio Fávero. Em sua apresentação “Aspectos Práticos e Principais Plantas de Cobertura na Região”, citou a braquiária como a “panaceia” em função de seus conceituados atributos para proteção e aumento da fertilidade na área de lavoura: excelente palhada, manejo do mofo branco, ótimo sistema radicular e eficiente condicionador de solo. Mas logo em seguida avisou: “Hoje, sabemos que o Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões, porque causa muitas lesões no sistema radicular das plantas)se multiplica, e muito, nas braquiárias”. Portanto, em áreas com infestação de nematoides, a gramínea é desaconselhada. Pés no chão O pesquisador Murillo Lobo Júnior, da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO), defende a disseminação do uso de plantas de cobertura, mas insiste nas especificidades de cada região e de cada lavoura. Cada caso é um caso. “Apesar dos inúmeros benefícios, elas não são perfeitas e recomendadas para a “cura de todos os males’” Dependendo do objetivo, podem existir espécies mais adequadas, segundo ele. “O milheto e a crotalária, por exemplo, funcionam melhor para a disponibilização de nutrientes como nitrogênio e potássio, ou mesmo para o manejo de nematoides do gênero Pratylenchus”. A crotalária, sobretudo a do gênero Ochroleuca, é uma das plantas de cobertura mais utilizadas no planalto central brasileiro. Além de funcional no manejo
de nematóides, é muito eficiente na fixação de nitrogênio no solo. Entretando, mesmo ela não está livre de “fraquezas”. Júnior lembra que esta leguminosa é hospedeira do patógeno Sclerotinia sclerotiorum, agente causador do mofo branco. Além disso, produz pouca palha para a proteção do solo. O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão avisa que não existe uma “receita de bolo” para a utilização deste sistema, tanto em termos de escolha das variedades ou aplicabilidade nas propriedades: “Não existe planta de cobertura perfeita e sua adoção deve ser guiada pelo diagnóstico da lavoura, que, por sua vez, define quais são as suas necessidades. Como este diagnóstico é local, não é o caso de se indicar determinados vegetais para toda e qualquer situação”. E emenda: “Cada propriedade tem um ambiente único no qual as recomendações de pesquisa e da assistência técnica podem ser adotadas ou adaptadas conforme a sua relação custo/benefício, o mercado, e a necessidade de mudar os sistemas de produção”, completa. Para desempenho geral eficiente das plantas de cobertura é unânime entre os pesquisadores a exigência de algumas características: produzir massa seca de qualidade e em quantidade, possuir sistema radicular agressivo para descompactação do solo, ter um rápido desenvolvimen-
Sementes de Crotalária ochroleuca, uma das espécies mais usadas no Brasil Central como planta de cobertura.
Colheitadeira de café em lavoura irrigada na fazenda Nossa Senhora de Fátima, em Cristalina (GO).
to inicial, possuir boa sanidade (não ser hospedeira de pragas) e produzir sementes de qualidade e de baixo custo com facilidade. Milton César Zancanaro é considerado por especialistas como um dos produtores rurais brasileiros mais bem sucedidos em produtividade e sustentabilidade agrícola com a utilização de plantas de cobertura. Em sua propriedade, a fazenda Nossa Senhora de Fátima, em Cristalina (GO), ele possui 2,3 mil hectares ocupados com café, milho, soja e feijão, com 100% desta área recebendo safrinha ou cultivo para proteção de solo. Já na fazenda Dileta, em Jaborandi (BA), são 4 mil hectares irrigados e cultivados com algodão, milho, soja e feijão. O projeto com café começou há cinco anos com uma área piloto de 11 hectares. Desde o início, o cultivo foi feito em consórcio com o capim braquiária. “Ao final de 2014, teremos 889 hectares de café plan-
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Manejo Plantas de cobertura devem possuir sistema radicular agressivo, boa sanidade, produzir massa seca e sementes de qualidade.
tados, entrando gradualmente em produção”, conta. Como não tem histórico de cultivo de café ‘solteiro’, fica difícil mensurar a eficiência do plantio conjugado diante do convencional. Por enquanto, foram colhidas as áreas de dois pivôs por dois anos, com produtividade média de 65 sacas/ha. “O que fizemos foi trazer para a cultura do café os princípios e técnicas que adotamos nas culturas anuais. Os resultados do plantio direto e uso das coberturas vegetais são inúmeros, como a proteção do solo, reciclagem de nutrientes e ativação da vida biológica do solo”, explica. Mesmo ciente da resistência de inúmeros agricultores, Zancanaro vê a prática como um caminho sem volta para a agricultura brasileira: “Acredito que as coberturas vegetais sejam hoje um upgrade ao sistema de plantio direto e uma tendência em sustentabilidade e rentabilidade”. No Centro-Oeste de Minas Gerais, resultados de experiências desenvolvidas com o consórcio milho/braquiária impressionaram os participantes do CoberSafra 2014. Na fazenda São Félix, em Iguatama, o espaçamento entre linhas do milho saiu dos convencionais 45 a 50 54 | Agro DBO – setembro 2014
Cultivo de sorgo com milho irrigado e (ao fundo), lavoura de algodão: diversidade e rotação de culturas no entorno de Brasília (DF)..
Consórcio de café com braquiária na fazenda Nossa Senhora de Fátima, em Goiás – o capim e sua palha ajudam na contenção de plantas invasoras.
de matéria seca por hectare”, ressalta. Os números de produtividade com a oleaginosa também foram altamente positivos: “Em áreas com problemas de fungos, como o mofo branco, o cultivo de soja nesta palhada obteve ganhos entre três a cinco sacas a mais por hectare”. Estes dados, no entanto, ainda não podem ser vistos como resultados consolidados para outras regiões brasileiras. “Antes de qualquer afirmação mais abrangente, o modelo deve ser testado em outras propriedades e em áreas agrícolas diversas pelo país”, salienta Castro.
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cm para um metro a mais (espaço ocupada pela braquiária) e, mesmo assim, houve um ganho de produtividade do cereal, que variou entre cinco a oito sacas/ha. Os resultados foram obtidos em três plantios de safrinha. Esta sugestão de novo arranjo espacial para o milho safrinha foi relatada por Paulo Sérgio de Castro, sócio da consultoria AP Agrícola, em Bambui (MG). Além dos resultados para o milho, o sistema deixou uma palhada considerável para o cultivo sequencial da soja no verão. “Dependendo das chuvas, pode atingir perto de 20 toneladas
Principais plantas de cobertura utilizadas no Planalto Central Brasileiro Crotalária: Segundo levantamento técnico, em 2012 a crotalária ocupava 20% de todos os 50 mil hectares cultivados com plantas de cobertura na região, em plantio solteiro ou em consórcio, sempre antecedendo o cultivo de verão. A planta ganhou este nome em função do som emitido ao se chacoalhar as suas vagens, muito semelhante ao do chocalho da cascavel (Crotalus spp). Dentre as espécies, a Crotalária ochroleuca é aquela
que mais vem chamando a atenção por suas características. Além de péssima hospedeira de nematóides (sobretudo “Pratylenchus” e de galhas), suas raízes são capazes de romper as camadas adensadas do solo, tornando a planta extremamente resistente ao estresse hídrico, muito comum no Brasil Central entre os meses de julho a setembro. Além disso, sua utilização como adubação verde e na cobertura de área de lavoura garante boa fixa-
ção biológica de nitrogênio no solo. Também é eficiente quando plantada em “mix”, junto com trigo mourisco e milheto, por exemplo. Neste caso, o solo ganha o aporte de NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio). Braquiária: Usado comumente por pecuaristas, o capim está em ascensão entre os agricultores e ocupa cada vez mais espaço em sistemas de integração lavoura-pecuária e em plantios consorciados, funcionando, de forma eficiente, como planta de cobertura. A forrageira começou a ganhar importância como pastagem ao final da década de 1970. Dentre suas virtudes, está a funcionalidade de sua palhada, que deixa o solo fresco e úmido por extenso período após uma chuva. Seu forte enraizamento prepara a ‘cama’ para a cultura de verão. Impede a erosão, descompacta o solo e aumenta a fertilidade natural da terra ao injetar grande volume de matéria orgânica. Sua utilização consorciada é mais tradicional com o milho. Algumas propriedades usam a braquiária para a obtenção de três safras: soja, milho e carne (engorda de bois na área de consórcio braquiária/milho, após a colheita do cereal). No entanto, também é encontrada cultivada junto a laranjais e a cafezais, funcionando como uma espécie de barreira às plantas infestantes. Por outro lado, não é indicada para áreas com infestação de nematoides por ser boa hospedeira da praga. Trigo mourisco: Espécie muito resistente. Não há, até o momento, identificação conclusiva de pragas e doenças que ataquem a variedade de forma agressiva ou severa, praticamente reduzindo seu custo de produção à aquisição de sementes, plantio e colheita. Também é conhecido como trigo sarraceno, sem parentesco com o trigo comum. Ao contrário da crotalária, pode também servir como cultura comercial. Sua grande virtude é ser uma
Cultivo de trigo mourisco (à esquerda, na foto) e de crambe (à direita) em Goiás.
Trigo mourisco, espécie de triplo propósito: além de planta de cobertura, tem valor medicinal e nutricional.
planta de triplo propósito. Ou seja: além de sua eficiência na cobertura de solos, pode ser usada de forma medicinal e nutricional (para homens e animais). Sua farinha não possui glúten e, portanto, é ideal para quem é celíaco (intolerante ao glúten). Já seus grãos, o feno ou a silagem podem substituir em valor nutritivo, algumas gramíneas utilizadas na alimentação de animais. Uma de suas principais demandas comerciais está na utilização para a fabricação das chamadas massas de origem nipônicas. É a principal matéria prima para pratos como sobá e yakisoba. Na cobertura de solo tem grande tolerância à acidez e possui gran-
de capacidade de utilizar sais de fósforo e de potássio pouco solúveis no solo (recicla os dois macronutrientes). Isso pressupõe um bom desenvolvimento em solos pobres. Tem ciclo curto, crescimento rápido e forma volumosa massa verde. Crambe: Rusticidade, ciclo curto (entre 85 a 90 dias), baixo custo, pouca atração para as pragas e boa proteção de solo. As possibilidades comerciais fazem do crambe uma rentável aposta para a rotação de culturas no Cerrado, sobretudo em áreas de ocorrência de extensos períodos secos, frio e/ou geadas. Após a colheita, os grãos podem ser utilizados para a fabricação de biodiesel, na alimentação de ruminantes (substitui o farelo de soja em rações) e também na indústria química. Mais da metade da composição de seu óleo é de ácido erúcico que, dentre outras coisas, pode ser utilizado como agente deslizante em ligas plásticas. Também vem sendo testado como lubrificante em transformadores de energia. Seu baixo custo de produção é um dos atrativos para quem dispõe de pouca munição para investimento. No início deste ano era calculado entre R$ 350 e R$ 500 por hectare no sudoeste do Mato Grosso do Sul. setembro 2014 – Agro DBO | 55
Marketing da terra
O transverso marketing europeu Quando a má política e a diplomacia ideológica interferem nos negócios, quem paga o pato são os produtores rurais. Richard Jakubaszko
C
hega da Europa um marketing às avessas, típico das fábulas que se contam para as crianças, e que parece a história do lobo e das ovelhas, em que estas eram acusadas de turvarem a água que o lobo bebia, mesmo quando as ovelhas bebiam rio abaixo. Os europeus agora acusam os brasileiros de oportunistas. Isto porque, lá na Europa, os espertos políticos arrumaram uma briga com a Ucrânia por causa do gás que estes mandam por dutos para aquecer os europeus em seus rigorosos invernos. Na briga, que envolve grupos separatistas ucranianos, apoiados
Agora, pelo fato de o Brasil começar a exportar mais para a Rússia, diante de uma crise criada por eles mesmos, a gente aqui no Brasil é rotulado como “oportunista”. Espalhafatosos, os europeus ameaçam levar o conflito para os tribunais da OMC – Organização Mundial do Comércio, em Bruxelas. Os sindicatos de agricultores europeus já previam, em agosto último, que o embargo europeu e americano à Rússia terá impactos negativos na renda dos agricultores europeus. Há estimativas de um dirigente sindical da França de que o prejuízo possa ser de mais de 500 milhões de euros, algo equivalente a R$ 1,5 bilhão de
Houve uma queda adicional na renda dos produtores. Ou seja, o que estava ruim, piorou. pela Rússia, entraram os EUA para dar apoio para a Europa, e depois de muita discussão entre americanos e europeus contra ucranianos, russos e separatistas, os briguentos americanos e europeus resolveram submeter os russos a sanções comerciais, proibindo a exportação de alimentos para a Rússia. Na falta de alimentos, a Rússia procurou fornecedores alternativos mundo afora, e encontrou no Brasil – e também na Argentina – a maioria dos alimentos de que precisa para abastecer o seu mercado interno, como carnes bovinas, suínos, aves, e também grãos como soja e milho. Notícias na mídia europeia revelavam que Putin, presidente da Rússia, deu preferência e urgência para a importação de alimentos perecíveis. 56 | Agro DBO – setembro 2014
reais que deixariam de ser exportados em função dos embargos. E o Brasil surge como “oportunista”, a bola preta da vez, para uma nova disputa comercial na OMC. Não bastassem os prejuízos dos agricultores europeus, que perderam o mercado russo de uma hora para outra, temia-se como consequência do problema a redução do preço doméstico para frutas, legumes, lácteos e carnes, pois o que deixou de ser exportado para a Rússia foi distribuído pela Europa, fazendo cair os preços internos. Isso significa, dessa forma, uma queda adicional na renda dos produtores. Ou seja, o que estava ruim, piorou ainda mais. O embargo anunciado, de outro lado, abriu outra disputa interna na Europa. A Finlândia exige compen-
sações pelos prejuízos sofridos em função dessa guerra comercial entre a Europa e a Rússia, pois dependem enormemente das exportações de alimentos ao mercado russo, e essas perdas teriam de ser reparadas pela União Europeia. Em Bruxelas, enquanto a OMC não se pronuncia, dirigentes da União Europeia afastam qualquer possibilidade de discutir essas compensações. A briga entre europeus e russos, que agora envolve o Brasil, deve ter desdobramentos políticos e comerciais, sem contar os judiciais. Ao mesmo tempo, o episódio comprova que não é recomendável deixar para os políticos, ou terceiros, a tarefa de fazer marketing para vender alimentos, pois a maionese pode desandar devido a agitações e estratégias estabelecidas em função de interesses difusos. De outro lado, o transverso marketing dos europeus, cheio de arrogância e politicalha, é impregnado pelos princípios que orientam as erráticas estratégias, pois é um passo a frente da velha política ambientalista utilizada pela Europa, de acusar os brasileiros, e especialmente os nossos produtores rurais, de criminosos ambientais. No fundo, no fundo, os europeus nos acusam, às avessas, não de sermos oportunistas, mas de sermos competentes, nada mais do que isso. As acusações são um marketing transverso. Eles que briguem, enquanto assistimos daqui das nossas arquibancadas, agora em padrão Fifa, ao circo deles pegar fogo. Espertos, na verdade, são os americanos, que não deram um pio a respeito.
Biblioteca da Terra Horta completa
Manejo de resistência no algodão Bt
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A publicação Cultivares da Embrapa Hortaliças (1981-2013) reúne informações técnicas sobre espécies desenvolvidas ou melhoradas pela instituição em mais de três décadas. Entre elas, a cenoura Brasília, primeira variedade lançada pela unidade, em 1981; a berinjela Ciça e a mandioquinhasalsa Amarela; a pimenta Sarakura e o tomate Sena, primeiro híbrido nacional para processamento industrial. Desde o início dos anos 80, os programas de melhoramento genético têm como foco, além da tropicalização de espécies de clima temperado, a melhoria da qualidade nutricional e tolerância a pragas e doenças. Para saber mais, entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Cidadão da Embrapa Hortaliças pelo telefone (61) 3385-9110.
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Lançamento do IMAmt – Instituto Mato-grossense do Algodão, a circular técnica nº 9/2014 mostra, com auxílio de ilustrações, como conduzir o manejo de resistência de pragas em lavouras de algodão Bt. Os pesquisadores Érica Martins, Paulo Queiroz, Carlos Marcelo Soares e Rose Monnerat analisam o funcionamento das plantas, o processo de evolução da resistência dos insetospraga e propõem soluções de manejo. “Trata-se de um tema especialmente importante num momento em que os agricultores brasileiros discutem a eficácia dessa biotecnologia e debatem a regulamentação de áreas de refúgio”, diz Milton Garbugio, presidente do IMAmt e da Ampa – Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão. O Ministério da Agricultura criou um Comitê Técnico com o objetivo de avaliar e discutir, ano a ano, a situação das áreas de refúgio no Brasil, assim como a evolução da resistência das pragas-alvo O conteúdo da circular técnica está disponível nos sites www. imamt.com.br (clique em Outras Publicações) e www.ampa.com.br (Informativos/IMAmt).
O ciclo do sorgo
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Várias publicações foram lançadas durante o XXX Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado em Salvador (BA), entre as quais Sorgo do plantio à colheita, dos pesquisadores Aluízio Borém, Leonardo Pimentel e Rafael Parrella. O livro aborda os principais aspectos agronômicos da cultura e destaca a expansão do sorgo sacarino, espécie de ciclo curto usada como fonte de biomassa e carboidratos fermentáveis para produção de etanol na entressafra da cana. Com 275 páginas, custa R$ 49,00. Os interessados podem adquiri-lo através do fone (31) 3899.3490 ou do site www.editoraufv.com.br
Dissecando árvores
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O título do livro (Fundamentos em Taxonomia Aplicados no Desenvolvimento da Dendrologia Tropical) pode afastar os leigos, mas não aqueles cuja atividade está ligada ao manejo de árvores. Taxonomia é o ramo (sem trocadilho) da biologia ou da botânica que classifica os seres vivos de acordo com as características de cada espécie ou grupo. Dendrologia, a área da botânica que estuda as plantas lenhosas e suas madeiras, com foco nas espécies de importância econômica. Escrito pelo pesquisador Antônio Lelis Pinheiro, o livro aglutina os princípios fundamentais da Dendrologia e relaciona espécies madeireiras sul-americanas. O preço, com desconto, é R$ 46,40. Para comprá-lo, ligue para (31) 3899.3490 ou acesse www.editoraufv.com.br.
Por dentro dos citros
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Escrito pelos pesquisadores Lenice Magali do Nascimento, do IAC (SP); Ricardo Alfredo Kluge, da Esalq/USP; e Juan Saavedra del Aguila, da Unipampa (RS), a publicação Colheita e pós-colheita de citros aborda aspectos ligados à colheita, doenças, aspectos fisiológicos e tratamentos pós-colheita dos citros. Com 96 páginas, traz um encarte com as normas de classificação dos citros de mesa, desenvolvido pelo Centro de Qualidade em Horticultura, da Ceagesp/São Paulo. A obra custa R$ 40,00. Os contatos para compra são vivian@centrodecitricultura.br ou nidelci@centrodecitricultura.br.
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Análise de mercado
Estiagem e volatilidade A colheita de café está prestes a terminar, revelando, finalmente, o tamanho da safra e o verdadeiro impacto da seca sobre os cafezais.
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esmo sem saber do tamanho real das perdas, vale a pena discorrer sobre três fatos relevantes: a convergência das estimativas da safra de arábica, os grandes volumes exportados pelo Brasil em 2014 e as floradas precoces. O quadro ao lado mostra que a variação entre as previsões de safra de arábica não está tão grande quanto a volatilidade do mercado parece indicar. As três estimativas (do Procafé, da Conab e do USDA) mostram números diferentes, resultado de disparidades maiores na safra de conilon que na de arábica. A projeção mais alta de conilon está 37% acima da mais baixa, enquanto o mes-
Previsões de safra – 2014 (em milhões de sacas)
mo número é apenas 11% no caso do arábica! Isto não deveria provocar menor volatilidade no mercado do arábica? Na verdade, as duas espécies têm características diferentes mas são substitutos em muitos mercados e produtos. Assim, a dis-
ponibilidade ou falta de uma interfere no preço da outra, razão porque não faz sentido analisar os dois mercados isoladamente. A “arbitragem” – a diferença de preço entre os dois tipos de café – está sob escrutínio permanente de torrefadores e da
SOJA – A demanda pelo grão e pelo farelo sustentou os preços no mercado nacional em agosto. Apesar disso, analistas creem que não deve haver altas no curto no médio prazos, em função do bom desenvolvimento das lavouras do meio-oeste dos Estados Unidos, principal região produtora de grãos daquele País. De acordo com pesquisadores do Cepea, as negociações para entrega de seis a oito meses registraram valores menores que os do início de agosto.
* Em 15/8, o ndicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 67,13 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
TRIGO – A TEC -–Tarifa Externa Comum voltou a ser cobrada para compras fora do Mercosu, mas, mesmo assim, o mercado interno não reagiu em agosto. Em parte, porque os moinhos se retrairam – com bons estoques, não mostram preocupação com o abastecimento. Ao mesmo tempo, as cotações em baixa desestimulam os vendedores. A colheita começou no Sul do Brasil, pressionando ainda mais os preços. No curto prazo, a tendência baixista deverá prevalecer.
* Em 15/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 583,49 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
ARROZ – Os preços reagiram na primeira quin-
zena de agosto no Rio Grande do Sul, principal produtor do País, estabilizando-se no patamar dos R$ 36 até o dia 22/8. Entre março e julho (os dados de agosto ainda não estavam fechados), as exportações cresceram 71,4%, segundo levantamento do MDIC. Se as vendas externas continuarem superando as importações, os estoques domésticos deverão cair bastante, ajudando a sustentar viés de alta neste semestre.
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* Em 15/8, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 36,06 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
Análise de mercado indústria de solúvel quando tomam decisões de compras de matéria-prima e composição de seus produtos Em resumo, a grande amplitude das previsões da safra total brasileira em 2014 cria volatilidade no mercado de arábica apesar de as disparidades nas estimativas estarem concentradas no conilon, como mostrado no gráfico à esquerda. Os altos volumes exportados pelo Brasil em 2014 e um possível recorde para o ano não deveriam confundir especialistas e analistas de mercado. Estes números elevados são resultado do uso de estoques acumulados que estão sendo utilizados e não serão repostos pela safra menor deste ano. Um cálculo simples mostra que, partindo da safra média no gráfico ao lado – 45 milhões de sacas –, se for subtraído o consumo local de 21 milhões e os 3,5 milhões consumidos pela indústria de solúvel, restarão apenas 21,5 milhões de sacas, o que corresponde a apenas 2/3 das exportações em anos recentes. O restante estará saindo dos estoques
que estarão praticamente exauridos para ajudar na safra de 2015, quando a falta do café deverá ser realmente sentida pelo mercado. Exportações alimentadas por estoques associadas a uma colheita iniciada mais cedo – e mais curta que o usual – criaram impressão falsa de disponibilidade de café. A safra de arábica começou a entrar nos armazéns de cooperativas e exportadores em volumes altos e de maneira rápida. Entretanto este ritmo não se sustentou porque a colheita está terminando mais cedo. No final de julho e início de agosto as floradas surgiram mais cedo em algumas regiões. No entanto, elas não devem “pegar”, porque as chuvas não foram suficientes para transformar as flores em cerejas. Esta será uma perda adicional do potencial de produção de 2015, que já foi afetado pela seca de 2014. O fenômeno de chuvas rápidas em plantações já sofrendo de stress hídrico intenso pode continuar e causar novas perdas antes das floradas prin-
* Em 15/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 167,81 centavos de real por libra-peso.
ALGODÃO – As cotações da pluma oscilaram bastante na primeira quinzena de agosto, subiram no início da terceira semana, mas, no cômputo geral, cairam em relação à julho. A colheita está quase no final, pressionando os valores no mercado interno. Muitos produtores concentraram-se nos trabalhos de colheita e beneficiamento, à espera de possível reação nos preços inernacionais ou de intervenção do governo, por meio de leilões Pepro. No curto prazo, a tendência é baixista.
* Em 15/8, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 22,91 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
MILHO – Após meses em trajetória de queda, as cotações ensaiaram pequenos movimentos de alta no início de agosto, graças ao anúncio de intervenção governamental na comercialização (o que fez com que os vendedores se retraíssem, na expectativa de preços maiores) e ao crescimento das exportações. Segundo analistas, o noticiário grande seca no Nordeste da China, prejudicando fortemente a produção na região, também ajudou a sustentar os preços.
* Em 15/8, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 45,63 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.
AÇÚCAR – Os preços mantiveram-se estáveis na primeira quinzena de agosto, com pequenas oscilações. Fecharam julho na casa dos R$ 46 e, após ligeira queda, permaneceram no patamar dos R$ 45. O clima favoreceu o andamento da moagem, que deve terminar mais cedo este ano, pressionando as cotações. A China aumentou suas importações, favorecendo o produto brasileiro. mas os estoques altos e o excesso de ofertal devem segurar reações mais expressivas.
cipais que deverão ocorrer a partir deste mês e começarão a definir o tamanho da safra de 2015. A cafeicultura brasileira deve voltar suas atenções à mitigação das mudanças climáticas, que parecem estar aí para ficar. A irrigação é a resposta mais óbvia, mas não necessariamente a mais barata e sustentável. Assim mesmo, ela não resolve os problemas de altas temperaturas – que causaram o enegrecimento de grãos em áreas irrigadas –, radiação ultravioleta excessiva e floração precoce, por exemplo. Há bastante pesquisa sobre o assunto e mais seria bem-vinda, mas o que falta mesmo é transformar o resultado das pesquisas em recomendações práticas para os cafeicultores, a exemplo da “Caixa de Ferramentas” proposta pela Iniciativa Café e Clima e dos atuais esforços para unificar e simplificar as sugestões de mitigação. Carlos H. J. Brando P&A International Marketing
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Novidades no campo Silo bag da Dow
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A Dow AgroSciences desenvolveu o SiloSafra, uma variação dos silosbags, ou silos-bolsas, para armazenamento e conservação de grãos ou sementes. Hermeticamente fechado, o silo oferece proteção integral contra a ação de insetos, microrganismos e variações climáticas, tais como umidade excessiva do ar e incidência solar. O SiloSafra tem capacidade média de 200 toneladas de grãos (o que equivale a aproximadamente 3,3 mil sacas de 60kg), 60 metros de comprimento e 2,7 metros de diâmetro. É feito com resinas Dowlex, de alta resistência à perfuração, segundo a empresa. As vendas serão direcionados inicialmente para os estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia. Depois, para todo o país.
Herbicida pós-emergente ganha registro no país
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A Dow AgroScienses obteve o registro do Tricea, herbicida pós emergente para cultura do trigo. Segundo a empresa, o produto é recomendado para o controle de plantas invasoras, tanto as de folhas largas quanto as de folhas estreitas, incluindo azevem, aveia, nabo e cipó-de-veado, além da soja voluntária. O Tricea pode ser encontrado na rede distribuidora Dow AgroSciences do sul do país. Na próxima safra de inverno, estará disponível em todo o território nacional.
Economia e rendimento
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Características especiais
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A Biotrigo Genética apresenta sua nova cultivar de trigo, a TBIO Toruk, caracterizada pelo porte baixo, espigamento uniforme, alto rendimento e sanidade. “É uma revolução que trazemos aos triticultores do Brasil e América Latina. Os resultados de colheita a consagram como um dos principais lançamentos que a empresa já fez”, celebra André Rosa, diretor de negócios da Biotrigo. “O TBIO Toruk possui boa tolerância à brusone, germinação na espiga e acamamento, além de se destacar também como trigo pão/melhorador, atendendo assim à demanda por qualidade industrial dos moinhos”. A nova variedade estará disponível para distribuição a produtores de sementes em janeiro do ano que vem.
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A TDI apresenta sua nova colheitadeira de café, projetada em parceria com a Danfoss. Segundo a empresa, a tecnologia embarcada é capaz de proporcionar economia de 35% em combustíveis e aumentar o rendimento de colheita em até 30%, em relação aos modelos convencionais. Todas as funções são controladas pela tecnologia Plus+1 da Danfoss, que engloba módulo de controle, joystick e display. “Este controle eletrônico das funções em malha fechada gera melhor rendimento de colheita, pois os parâmetros solicitados pelo operador são controlados pelo programa desenvolvido, reduzindo chances de erros e/ou perdas”, explica Antônio Datti, gerente-geral da Danfoss Power Solutions.
Novidades no campo Fertilizantes especiais
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Lançada em julho pela Josapar, a linha Biofértil de fertilizantes especiais chega ao mercado neste mês de setembro em sete versões, quatro delas para aplicação foliar e três via sementes, com nutrientes em versões organomineral e mineral. Os fertilizantes foram criados com materiais exclusivos importados dos Estados Unidos e da Europa, como extrato de algas marinhas, emulsionantes, aditivos e aminoácidos. “Somados a uma série de inovações técnicas, estas matérias-primas são capazes de incrementar resultados e a produtividade agrícola, fazendo da Biofértil uma linha de fertilizantes de alto valor agregado”, diz a empresa em comunicado ao mercado
Colheitadeira classe 10
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A New Holland apresenta a CR1090, a mais potente colheitadeira do planeta, com 652 cavalos, lançada em julho na Europa – ainda não há definição da data de lançamento no Brasil. Segundo a empresa, é a única colheitadeira classe 10 no mundo, produzida para “combinar” os processos de colheita e debulha. Fabricada em Zedelgem, na Bélgica, apresenta produtividade até 15% maior que o modelo anterior de maior capacidade da marca. Seu tanque de carga carrega 14.500 litros e pode ser esvaziado em menos de dois minutos. A cabine Harvest Suite Ultra oferece mais espaço e conforto ao operador, além de excelente visibilidade durante a colheita.
extensão para milho e trigo
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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aprovou a extensão do uso do herbicida Select 240EC, da Arysta LifeScience, no controle de plantas daninhas para aplicação em pré-plantio de milho e de trigo. No primeiro caso, contra a planta daninha azevém; no segundo, contra as plantas daninhas azevém e aveia-preta. O Select 240 EC é um herbicida altamente seletivo, com excelentes resultados, segundo a empresa, no combate às plantas daninhas resistentes ao glifosato.
Trigo melhorador
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A Coodetec aproveitou seu Encontro Tecnológico de Inverno, realizado no mês passado em Cascavel (PR), para expor cultivares em campo, entre os quais o trigo melhorador CD 1104, indicado para plantio no Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. “Precoce, com alta força de glúten (W = 444), essa variedade possui altíssimo potencial produtivo, tolerância à germinação na espiga e resistência moderada para debulha natural e brusone”, destacou o pesquisador Volmir Marchioro. O CD 1104 estará disponível para o produtor na próxima safra.
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Calendário de eventos
SETEMBRO
7
XXIV Conird/Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem – De 7 a 12 – Brasília (DF) Site: www.abid.org.br
10
3º Simpósio sobre Tecnologias no Cultivo do Cafeeiro – De 10 a 11 – Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia da Esalq Piracicaba (SP) – Fone: (19) 34294079 – E-mail: cdt@fealq.org.br
14
Conbap 2014/Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão – De 14 a 17 – Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) – Fone: (16) 3203-3341E-mail: sbea@sbea.org.
14
26º Congresso Brasileiro de Entomologia – De 14 a
18 - Centro de Convenções – Goiânia (GO) - Fone: (62) 3241-3939 – E-mail: eventos.go4@wineventos.com.br
23
Frutal 2014/21ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria, XVI Agroflores – De 23 a 25 – Centro de Eventos do Ceará Fortaleza (CE) – Fone: (85) 3246-8126
OUTUBRO
1
9º Congresso Internacional de Bioenergia – De 1 a 3 – Centro de
Convenções Frei Caneca – São Paulo (SP) – Fone: (54) 3226-4113 E-mail: contato@bioenergia.net.br
7
47º ABTCP/Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel – De 7 a 9 Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3874-2700 E-mail: congresso@abtcp.org.br
13
IX Encontro Nacional de Licenciatura em Ciências Agrárias – De 13 a 16 Universidade Federal da Paraiba Bananeiras (PB) – Site: www. eventosimlica.wix.com/simlica2014 E-mail: simlica@cchsa.ufpb.br
14
XVIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, XIX Encontro Nacional de Perfuradores de Poços e VIII Fenagua/Feira Nacional da Água De 14 a 17 – Minascentro Belo Horizonte (MG) Fone: (11) 3868-0726 – E-mail: xviiicongresso@acquacon.com.br
16
VI Conferência Brasileira de Pós-Colheita e VIII Simpósio Paranaense de Pós-Colheita de Grãos De 14 a 16 – Excellence Centro de Eventos – Maringá (PR) Fone: (43) 3015-5223 Site: www.abrapos.org.br/eventos/ cpc2014 – E-mail: cbp2014@ fbeventos.com.br
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XXI Congresso Internacional do Trigo
De 19 a 21 – Hotel Bourbon Cataratas – Foz do Iguaçu (PR) Site: www.abitrigo.com.br
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16º Congresso Mundial de Fertilizantes da CIEC
De 20 a 24 – Windsor Barra Hotel & Congressos – Rio de Janeiro (RJ) Fone: (43) 3025-5223 E-mail: 16wfc@fbeventos.com.br
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Sucrooeste/ Mostra Sucroenergética da Região Centro-Oeste – De 28 a 31 – Centro de Convenções de Goiânia – Goiânia (GO) Fone: (11) 3060-5000 – E-mail: info@sucroeste.com.br
15/9 – Fertbio 2014 – De 15 a 19 – Tauá Grande Hotel Termas & Convention Araxá (MG) Fone: (43) 30155223 – Site:www. eventosolos.org.br/ fertbio2014
Realizada a cada dois anos pela SBCS – Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, a FertBio englobará nesta edição quatro eventos simultâneos: a XXXI Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, a XV Reunião Brasileira sobre Micorrizas, o XIII Simpósio Brasileiro de Microbiologia do Solo e a X Reunião Brasileira de Biologia do Solo. Sob o tema central “Fertilidade e Biologia do Solo: Integração e Tecnologias para Todos”, os participantes vão avaliar o estágio atual do conhecimento científico, em busca de respostas para os problemas no setor, e discutir propostas para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil.
NOVEMBRO
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2º Congresso Brasileiro de Patologia Pós-Colheita – De 3 a 6
Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) – Fone: (19) 3307-7475 – E-mail: cbpatologiaposcolheita2014. com.br
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2º Simpósio de Tecnologia Sucroenergética e de Biocombustíveis – De 3 a 7 – Centro de Convenções da Unesp/FCAV – Jaboticabal (SP) – Site: www.funep.org.br
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III CBRG/Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos – De 18 a 21 – Mendes Convention Center – Santos (SP) Fone: (19) 3243-0396 – Site: www. cbrg.net.br
19
VII Reunião Brasileira sobre Indução de Resistência em Plantas a Patógenos – De 19 a 21 – Associação dos Funcionários da UEM – Maringá (PR) – Fone: (44) 3011.5942 E-mail: inducao2014@gmail.com
19
22º Encafé/Encontro Nacional da Indústria de
Café – De 19 a 22 – Enotel - Porto de Galinhas (PE) – Fone: (21) 2206-6161 Site: www.abic.com.br E-mail: encafe@abic.com.br
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7º CBTI/Congresso Brasileiro de Tomate Industrial – De 26 a 28 – Centro de Convenções – Goiânia (GO) – Fone: (62) 3241-3939 – E-mail: tomate@ wineventos.com.br
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Renex South America/Feira Internacional de Energias Renováveis – De 26 a 28 – Centro de Eventos Fiergs – Porto Alegre (RS) – Fone: (41) 3027-6707 - Site: www. renex-southamerica.com.br
setembro 2014 – Agro DBO | 65
Legislação
Imposto de renda na venda de áreas rurais Se impostos são antipáticos, é direito do produtor rural saber o que pode ser aplicado pela legislação, para não pagar a mais. Fábio Lamonica Pereira *
A
inda que a matéria sobre cálculo e recolhimento de impostos seja atribuída à figura do contador, é bom que o produtor entenda um pouco do modo como funciona o mecanismo de tributação de determinados eventos, sendo de suma importância a venda de propriedades rurais como um desses fatos geradores. Sabe-se que, em caso de venda de determinada propriedade imóvel a legislação tributária e seus regulamentos preveem a incidência
anteriormente a 1997, deve-se considerar como valor de aquisição aquele efetivamente constante da escritura pública de compra e venda. Tal valor deve ser corrigido por meio de tabela própria fornecida pela Receita em seu site. O valor de alienação, nesses casos, é o da efetiva transação. Para os imóveis adquiridos a partir de janeiro de 1997, o cálculo é realizado segundo a apuração do valor da terra nua constante da declaração do Imposto Territorial Rural do ano de aquisição em con-
Sobre o lucro obtido pelo venda, a Receita Federal exigirá imposto à alíquota de 15%
*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio
de imposto de renda sobre o lucro auferido com a transação. Sobre o lucro obtido pelo vendedor, a Receita Federal exigirá imposto à alíquota de 15% (quinze por cento), a título de ganho de capital, a ser apurada entre o valor de venda e o custo de aquisição da “terra nua”, ou seja, sem considerar as benfeitorias do imóvel. A Receita entende que as benfeitorias integram o custo de aquisição do imóvel (diminuindo o imposto a pagar) caso não tenham sido computadas como dedução a título de custo ou despesas na atividade rural do vendedor. Além disso, para a apuração do ganho de capital é essencial considerar a data de aquisição do imóvel. Assim, para operações envolvendo propriedades adquiridas
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traste com aquele apurado no ano da venda. Destaque-se que a atualização dos valores declarados a título de ITR (Imposto Territorial Rural) é importante para que o recolhimento do valor devido a título de ganho de capital seja apurado corretamente. Vale ainda lembrar que desde 2006 é possível que os municípios realizem a adesão de convênio junto à Receita Federal para fins de fiscalização e cobrança dos valores devidos a título de ITR. O site da Receita Federal disponibiliza a relação de municípios que já firmaram o referido convênio. Outro ponto importante diz respeito ao valor constante do ITR que, segundo determina a Lei, será
aquele que reflita o valor da terra nua a preço de mercado. Esse valor, quando declarado no ITR, e incompatível com a realidade do mercado, poderá sofrer retificação (e pagamento da respectiva diferença de imposto) por meio de fiscalização da Receita ou dos municípios quando autorizados por meio do citado convênio com a União. Entretanto, nem tudo o que a Receita estabelece em seus regulamentos é compatível com o que determina a própria legislação, o que precisa ser corrigido pelo judiciário. Nos casos em que não houve a entrega da Declaração de ITR, por exemplo, a Receita entende que deve ser considerado o valor efetivo da transação. O judiciário, contudo, com base nas determinações da própria Lei, determina que a apuração seja realizada sobre preços de terras, constantes de sistema instituído pela própria Receita Federal, bem como sobre os dados de área total, área tributável e grau de utilização do imóvel. Ressalte-se que o respeito ao que determina a lei evita surpresas desagradáveis quando de eventual fiscalização por parte da Receita Federal, lembrando que são inúmeras e de diversas fontes as informações que alimentam os sistemas de fiscalização que realizam os respectivos cruzamentos, informando irregularidades e inconsistências, justamente para evitar práticas que levem à pretensão de redução ilegal do imposto devido.
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