Revista Agro DBO - Ed 44 - maio/2013

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Sumário

18 Máquinas

Uma das maiores feiras do mundo, a Agrishow apresenta tecnologias de ponta, novidades em equipamentos agrícolas e discute as tendências do setor.

34 Entrevista

O presidente da Aprosoja/MT, Cárlos Fávaro, explica porque em Mato Grosso o associativismo funciona bem e mostra fôlego para crescer.

38 Fitossanidade

Seminário reúne agricultores, técnicos, cientistas e entidades de classe de todo o país para debater o ataque de lagartas a lavouras de milho trangênico.

44 Tecnologia 26

Pesquisadores ressaltam a importância das áreas de refúgio no controle de pragas e mostram, com apoio de gráficos, como devem ser conduzidas.

Orizicultura Matéria 50 Gaúchos vão usar imagens de satélite pelo Inpe para monitorar a de capa fornecidas lavoura de arroz e apurar dados sobre

A safra 2012/13 de grãos caminha rumo ao recorde de produção no país, graças à expansão da lavoura, maior profissionalização dos agricultores, investimentos em tecnologia e condições climáticas favoráveis, especialmente na região sul do país.

área, produção e produtividade.

Artigos 9 - Daniel Glat antevê a lavoura do futuro com mapeamento dos genomas 33 - Rogério Arioli recomenda cautela ao analisar perspectivas para 2014 37 - Décio Gazzoni prega medidas de combate ao desperdício de alimentos 54 - Xico Graziano analisa o caos fundiário e a inoperância do Incra 66 - Fábio Lamonica explica a legislação em caso de ineficácia de produtos

Seções Do leitor ............................................................ 4 Ponto de vista ................................................. 9 Notícias da terra ...........................................10 Política ..............................................................47 Marketing da terra .......................................52

Deu na imprensa .........................................56 Análise de mercado ....................................58 Novidade no campo ...................................60 Biblioteca da terra........................................62 Agenda.............................................................64 maio 2013 – Agro DBO | 3


Do Leitor GOIÁS A revista traz conteúdos que realmente nos interessam. É uma troca de informação muito importante para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Parabéns à Agro DBO. Juliano de Abreu Jataí MATO GROSSO Uma revista de bastante importância para o profissional que trabalha no segmento agrícola. É muito boa. Marcos José de Carvalho Campo Novo do Parecis

AMAZONAS Faço assessoria para cinco empresas do agronegócio mato-grossense. Gostei da revista e gostaria de recebê-la. Karoline Mônica Martini Manaus DISTRITO FEDERAL Muito bom o texto intitulado “Esqueceram-se do aquecimento?”. Representa, de fato, a preocupação com a apuração da notícia, da informação. Os veículos de comunicação em geral absorveram a ideia de que temos aquecimento global e a população compra esta manchete sem questionar. Que continuemos na busca de pesquisas e estudos sobre o tema. Parabéns pelo trabalho! Valdir Colatto Deputado federal (PMDB/SC) Brasília NR: O texto em questão, publicado na seção Política, da edição de abril (página 44), trata de reportagem da conceituada revista alemã Der Spiegel, na qual o jornalista Axel Bojanowski, editor da seção de ciências da publicação, questiona a veracidade das informações sobre aquecimento global, baseado em entrevistas com vários cientistas. Bojanowski cita, inclusive, relatório recente da Nasa, em que a agência norte-americana afirma que a temperatura no planeta está estagnada há pelo menos 15 anos. ESPÍRITO SANTO Achei a revista muito interessante, com ótimas informações sobre o meio rural. Zacarias José Trés Rio Novo do Sul

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MATO GROSSO DO SUL Conheci a revista através de um agrônomo e me interessei pelo conteúdo, que certamente ajudará no desenvolvimento do agronegócio na propriedade de nossa família. Daniel Rodrigues dos Santos Campo Grande MINAS GERAIS Li algumas reportagens de Agro DBO e as achei interessantes. Sou agrônoma e presto assistência técnica em diversas propriedades rurais da região. Ler uma revista que seja tão boa e esclarecedora me permite manter informada sobre o que está acontecendo na área agrária em todo o Brasil. Fiquei surpresa ao saber que nós, do segmento rural, temos o privilégio de receber esta revista gratuitamente. Parabéns pela iniciativa. Isto ajuda e impulsiona a agricultura. Heliselle Cristina R. Rocha Taiobeiras Recebo a Agro DBO e sou leitor assíduo das belas reportagens desta revista, pois sou produtor rural e as informações que esta publicação traz são de muita importância para o agronegócio. Gostaria de mudar o meu endereço de correspondência, para não perder nenhuma edição desta brilhante revista. João Luiz de Andrade Tupaciguara NR: Técnico agrícola, o leitor é o personagem central da matéria intitulada “Agricultor e sem terra, mas campeão de produtividade”, publicada na edição de agosto de 2008 na revista DBO Agrotecnologia, antecessora da Agro DBO. A expressão “sem terra”, no caso, não tem qualquer relação com o MST ou com o tema refirma agrária, mas, sim, à prática de arrendar terras de terceiros para implantação de lavouras.

Excelentes as matérias, dado o seu caráter técnico e científico. Hamilton Hermínio Afonso Pompéu PARÁ Com certeza, esta revista contribui muito para difundir informações de mercado na área do agronegócio. Roberto Tadao Kato Marabá Uma ótima fonte de informação. Geraldo Gonçalves Belém PARAÍBA Muito legal essa revista. Walkleber dos Santos Pereira Guarabira PARANÁ A Agro DBO é um excelente veículo para nos manter atualizados a respeito do agronegócio. Silvana Carraro Aguiar Cidade Gaúcha Matérias bem elaboradas, com assuntos atuais e relacionados com a pesquisa. Parabéns! Edivan Abel Moraes/Coamo Agroindustrial Cooperativa Campo Mourão Achei legal. Fala a língua do produtor rural. Ademar Antônio Bettega Turvo Interessante, completa, muito bem editada, com conteúdo para o produtor que lida todo dia no campo. Dione Francisco Rabuske Santa Cruz do Sul Já recebo a Agro DBO e estou fazendo o recadastramento, pois as informações constantes da revista são de extrema importância para o desenvolvimento do meu trabalho. Régines Gassner Antônio Olinto Bastante interessante, a revista. Tenho interesse na área agrícola, sem deixar de lado a pecuária, onde também atuo. Conheci a Agro DBO pelo curso de vendas agro que frequentei e espero obter maiores conhecimentos na área. Daniel Braz de Oliveira União da Vitória


RIO GRANDE DO NORTE De suma importância para nos mantermos atualizados com as inovações tecnológicos na agropecuária. Ana Alessandra da Costa Parnamirim

de. Até agosto do ano passado tinha periodicidade bimestral e era denominada DBO Agrotecnologia. Então dobrou de tamanho, ganhou novo design e passou a circular mensalmente, rebatizada como Agro DBO.

RIO GRANDE DO SUL É uma revista que traz assuntos muito interessantes, no que diz respeito à agricultura. O material vai me ajudar muito no curso de que estou fazendo, de técnico em pós-colheita de grãos. Adilson Antônio Andrade Panambi

Parabéns pela matéria de seguros (publicada na edição de abril). Ficou com bastante informação, bem embasada e esclarecedora. Sara Pizza São Paulo

Excelente publicação. Assuntos muitos pertinentes e atuais. A revista tem grande potencial para uso em salas de aula. Adilar Chaves Passo Fundo Indispensável para o desenvolvimento técnico da agricultura. Gilmar Luiz Mumbach Cerro Largo Artigos de alta relevância para técnicos e produtores. Marcelo Pilon. Bagé SANTA CATARINA Esta revista é muito inteligente. Fala dos problemas que afetam o campo nos dias de hoje em várias culturas, desde convencionais até as transgênicas. André Carlos Zanella Xanxerê Uma revista que traz muitas informações técnicas, o que para nós, agrônomos, é de muita utilidade. Leandro Cataneo Bom Jardim da Serra Atualizada, transmite assuntos interessantes para profissionais da área e estudantes. Saulo Baggio Dall´asen Abelardo Luz SÃO PAULO Parabéns pelos 10 anos da Agro DBO. Não é fácil encontrar e publicar material de qualidade todos os meses. Parabéns! Odo Primavesi São Paulo NR: A revista entrou em seu 10º ano de circulação ininterrupta, sem fazer alar-

Sou analista econômico-financeiro, com especialização em agronegócio. Achei a revista muito interessante. Gilson da Costa Rodrigues São Paulo Revista de suma importância para atualização dos profissionais da área. Material bem colocado e em termos técnicos. Fernando Cornélio Verschoor Pirapozinho Acompanho as edições online sempre que posso. É uma revista com reportagens interessantes, que me atualiza sobre os acontecimentos mais recentes. João Leonardo Miranda Bellotte Ilha Solteira Gostaria de parabenizar toda a equipe da Mídia DBO pelos 10 anos das revistas Mundo do Leite e Agro DBO. Publicações como essas contribuem para o crescimento e profissionalização do agronegócio nacional. Parabéns pelo trabalho e por oferecer produtos completos, consistentes e totalmente focados, um no setor lácteo, o outro, na agricultura. Milton F. Rego São Paulo SERGIPE Excelente, direta e informativa, com linguagem apropriada para o homem do campo. Ronald Schoenherr Aracaju TOCANTINS Excelente. A revista está sendo útil para embasar minhas decisões para o futuro. Reginaldo Abdalla Rosa Palmas AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Carta ao leitor

A

leitura das reportagens “Safra cheia”, do jornalista José Maria Tomazela, e “Perdas e polêmicas”, do jornalista Ariosto Mesquita, nesta edição da Agro DBO, parecem conduzir a dois opostos, ou melhor, a dois países diferentes, com agriculturas distintas, com problemas de outra natureza. Em “Safra cheia”, se faz o registro apoteótico e vigoroso dos recordes de produção e produtividade obtidos, respectivamente, pelo Brasil e pelos estados do Sul do país, nas lavouras de milho e soja na safra 2012/13. Na matéria “Perdas e polêmicas”, é possível constatar e até mesmo sentir o pavor e o pânico gerados entre produtores rurais do Sudeste e Centro-Oeste, avalizados por pesquisadores e cientistas, sobre a invasão das lagartas Helicoverpa. De um lado, os sulistas comemoram e sorriem de orelha a orelha. De outro, o prejuízo em si, com a perda da rentabilidade e o aumento dos custos, mesmo com os preços de mercado altamente remuneradores. A perspectiva negativa exacerbada de, quem sabe, não se poder mais empregar a tecnologia Bt, pela sua precoce obsolescência, traz uma gigantesca decepção em virtude dos eternos benefícios que as sementeiras prometiam aos produtores. Um paradoxo, diríamos, pois se a nova e caríssima tecnologia veio para solucionar problemas, acabou causando novos e aterradores problemas, eis que, açodadamente, os produtores a ela aderiram em massa, porém não levaram em conta cuidados fundamentais no manejo, como as áreas de refúgio: a natureza não se engana, nem pode ser enganada. Há plena certeza de que o problema da lagarta veio para ficar. O tempo dará respostas a isso. Resta ao produtor, portanto, a prudência e o bom senso de seguir as recomendações dos especialistas. Para conhecer como devem ser feitas essas práticas, Agro DBO publica nesta edição artigo encomendado a diversos especialistas da Embrapa, mostrando em texto e ilustrações, como funciona o preconizado e salvador refúgio. Na presente edição, além dos tradicionais e palpitantes artigos dos nossos colunistas, registramos uma avant première da Agrishow 2013, e ainda muitos assuntos para o leitor acompanhar o que acontece em nossa agricultura de Norte a Sul. Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. DIRETOR RESPONSÁVEL Demétrio Costa EDITOR EXECUTIVO Richard Jakubaszko EDITOR José Augusto Bezerra CONSELHO EDITORIAL Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko REDAÇÃO/COLABORADORES Adeney de Freitas Bueno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamônica, Glauco Menegheti, José Maria Tomazela, José M. Waquil, Sandra Maria Moraes Rodrigues, Simone M. Mendes e Rogério Arioli Silva.

Richard Jakubaszko

Arte EDITOR Edgar Pera EDITORAÇÃO Edson Alves e Célia Rosa COORDENAÇÃO GRÁFICA Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante DEPARTAMENTO COMERCIAL Naira Barelli, Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta CIRCULAÇÃO Gerente: Edna Aguiar IMPRESSÃO Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto José Medeiros DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Ponto de vista

De dentro para fora A produtividade na lavoura dependerá mais do conhecimento e mapeamento dos genomas das culturas do que da transgenia. Daniel Glat *

P

oucas tecnologias agrícolas foram mais polemizadas e geraram mais argumentos equivocados que a transgenia. Os “contras”, guiados por razões políticas e ideológicas, mas sem nenhum embasamento cientifico, tentaram por anos transformar os produtos transgênicos em algo nocivo à saúde e ao meio ambiente; mais de 15 anos depois de seu lançamento, jamais se provou ou se observou algum malefício desses produtos. Por outro lado, os donos da tecnologia também exageraram na importância e possibilidades

como o Brasil. Por isso, as próximas gerações de transgênicos que veremos no mercado brasileiro serão “mais do mesmo”; ou seja, quase que upgrades do que já temos hoje e, não, novidades: A soja tolerante a glifosato, devido ao crescente numero de espécies resistentes, passará a ser acompanhada de resistência à Dicamba ou 2-4D; o milho e algodão Bts precisarão ter um número cada vez maior de genes de resistência a lepidópteros “empilhados” ou “estaqueados” para conseguirem o mesmo efeito que o YG, HX, ou Bolgard conseguiram nos seus

Pode-se “ler” o DNA de amostras de sementes e semear apenas aquelas com os genes desejados

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

dos transgênicos, como se fossem soluções definitivas para todos os males da agricultura. E, claramente, isso também está longe de ser verdade. A transgenia é apenas mais uma das inúmeras ferramentas disponíveis para o agricultor moderno, com alcances e limitações, como qualquer outra tecnologia. Uma dessas limitações é o fato de a transgenia, sem ajuda do resto do genoma, só poder atuar em características definidas por apenas um ou poucos genes. É por isso que, até hoje, o que se conseguiu com essa tecnologia foi resistência a alguns tipos de herbicidas, a alguns lepidópteros e à larva da diabrotica (Diabrotica speciosa); resistências essas que ervas e insetos estão habilmente quebrando com rapidez, principalmente em regiões subtropicais

primeiros anos de lançamento. Os próximos lançamentos no mercado de milho serão diversas combinações de YG, HX, VTPRO, e Viptera com o objetivo de fazer o mesmo que esses genes sozinhos fizeram até agora. Quanto aos tão falados transgênicos da seca, da produtividade ou da melhor utilização de nitrogênio, esses ainda terão que ser demonstrados. Em minha opinião, chegaremos lá não através da transgenia, mas, sim, através de uma área muito mais poderosa e abrangente que é a do conhecimento e mapeamento dos genoma das culturas. Hoje, com os avanços da biologia molecular e celular, da nanotecnologia, da bioinformática, do uso de marcadores moleculares, estamos aprendendo a ler o DNA das

culturas e identificar e mapear genes de interesses; através de extensivos trabalhos de campo com sofisticados desenhos experimentais estamos aprendendo a relacionar sequências de DNA com aspectos fenotípicos das plantas. Ou seja, aos poucos os cientistas vão identificando os genes nativos da cultura que conferem maiores produtividades, estabilidade, tolerância à seca, tolerância a doenças etc... Isso é uma verdadeira revolução na forma de se fazer melhoramento genético! Até pouco tempo atrás o melhoramento genético era feito de “fora para dentro”, ou seja, pesquisadores selecionavam plantas, linhas ou populações com características desejadas e, ao fazer isso, selecionavam automaticamente as sequências de DNA que elas continham. Só podíamos avaliar essas plantas, linhas ou populações plantando-as no campo e esperando todo ciclo da cultura para avaliar suas performances. Hoje, o melhoramento genético é feito de “dentro para fora” também, ou seja, podemos selecionar ou descartar linhas simplesmente lendo o DNA de amostras de sementes ou plântulas, e levando a campo somente aquelas que sabemos conter boa proporção de genes desejados. Acredito que a transgenia continuará a ter seu papel na agricultura, mas o diferencial dos híbridos e variedades do futuro virá principalmente, em minha opinião, do mapeamento do genoma das culturas e da melhor utilização da variabilidade genética nativa. maio/2013 – Agro DBO | 9


Notícias da Terra Safra I

Safra II

Novamente em alta

A

Conab aumentou novamente suas projeções para a safra 2012/13 de grãos. Segundo o sétimo levantamento da entidade, divulgado no mês passado, o Brasil vai colher 184,05 milhões de toneladas (no quinto levantamento, previu 185, e no sexto, 183,6 milhões de toneladas). A gangorra deve-se, obviamente, às diferentes

Lavouras maiores condições de colheita em cada período da safra. Grosso modo, porém, o regime favorável de chuvas e o incremento na área do milho 2ª safra justificaram o acréscimo nas estimativas. De qualquer forma, a produção nacional de grãos vai ser muito maior do que a do ano passado, quando o país colheu 166,17 milhões de toneladas.

A

soja segue como o grande destaque desta safra, segundo a Conab, com crescimento de 23,4% sobre as 66,38 milhões de toneladas colhidas em 2012 e produção estimada de 81,94 milhões de toneladas. O milho 2ª safra tem bom desempenho, com aumento de 9,1% sobre as 39,11 milhões de toneladas do último ano e deve chegar a 42,69 milhões de toneladas, superando a produção na 1ª safra, estimada em 34,77 milhões. A área total de plantio de grãos cresceu 4,2% em relação à safra passada (50,89 milhões/ha) e chegou a 53,04 milhões de hectares. As culturas de soja e milho obtiveram também os melhores desempenhos em área plantada. O aumento na soja foi de 10,7% (passou de 25 milhões para 27,71 milhões/ha) e no milho 2ª safra, de 3,4% (de 7,62 milhões para 8,64 milhões/ha).

Safra III

Previsão conservadora

A

Safra IV

Sul lidera por pouco

C

onsiderando a divisão territorial do país, o volume da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, conforme o último levantamento de safra do IBGE: Sul, 72,1 milhões de toneladas; Centro-Oeste, 71,6; Sudeste, 19,3; Nordeste, 13,7; e Norte, 4,6. Comparativamente à safra passada, o instituto registrou aumento de produção

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de 30,5% no Sul, 14,9% no Nordeste, 1,1% no Centro-Oeste e 0,6% no Sudeste Na região Norte, ao contrário, a produção caiu 2,4%. Mato Grosso segue como o maior produtor nacional de grãos, com participação de 23,7% do total, à frente do Paraná (20,6%) e do Rio Grande do Sul (15,7%). Os três estados respondem por 60% da produção nacional.

terceira estimativa do IBGE da safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) indica produção de 181,3 milhões de toneladas, 12% acima do obtido em 2012 (161,9 milhões) e 1,2% abaixo do previsto em fevereiro (183,5 milhões). A área a ser colhida em 2013 deve chegar a 52,7 milhões de hectares, 7,9% maior do que a do ano passado (48,8 milhões de hectares). As três principais culturas (arroz, milho e soja), responsáveis por 92,5% da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, ocupam 86,0% da área a ser colhida.


Notícias da Terra Exportações I

VBP

Balança comercial positiva

O

Tomate na ponta

agronegócio brasileiro faturou US$ 7,69 bilhões com exportações em março, 0,3% a menos em relação a março de 2012. As importações do setor alcançaram US$ 1,53 bilhão, 0,1% a mais do que no mesmo perído do ano passado. Com isso, o saldo da balança comercial do agronegócio foi superavitário em US$ 6,18 bilhões. Os principais setores exportadores foram: complexo soja (US$ 2,38 bilhões), carnes (US$ 1,37 bilhão), complexo sucroalcooleiro (US$ 953 milhões), produtos florestais (US$ 762 milhões) e cereais, farinhas e preparações (US$ 594 milhões). As exportações agregadas destes cinco principais setores alcançaram US$ 6,05 bilhões, o equivalente a 78,7% do valor total exportado no mês de março.

Exportações II

De novo, os chineses

A

China foi o principal destino das exportações do agronegócio nacional no primeiro trimestre deste ano. Pagou US$ 2,76 bilhões aos brasileiros. O segundo maior comprador foram os Estados Unidos, com gastos 29,9% maiores (de US$ 1,33 bilhão para US$ 1,73 bilhão). A Coreia do Sul, no entanto, foi o país que mais contribuiu pa-

ra o incremento nas exportações brasileiras, em termos percentuais, com aumento de US$ 505 milhões nas compras. Esse crescimento foi determinado, sobretudo, pela expansão nas vendas de milho, que passaram de US$ 2,62 milhões no primeiro trimestre de 2012 para US$ 3,97 milhões no mesmo período em 2013.

O

VBP – Valor Bruto da Produção das principais lavouras brasileiras deve atingir R$ 270,36 bilhões este ano, segundo estudo da AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (o levantamento é feito mês a mês, com dados baseados nos levantamentos de safra da Conab e do IBGE). A maior parte dos produtos analisados deve apresentar elevação de valores, destacando-se entre eles o tomate, com alta de 42,7%, a batata-inglesa (28,5%), a laranja (24,4%), a soja (21,8%), o feijão (17%), o fumo (14,4%), o milho (12,8%), a cana-de-açúcar (9,5%), o trigo (8,6%), o arroz (7,5%), a banana (6,5%), e a mandioca (1,3%). O VBP na região sul do país deve crescer 27,2%; no Nordeste, 16%; no Sudeste, 13%; no Centro Oeste, 4%; e no Norte, 1,7%.

Exportações III

Perspectiva de queda

O

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, da sigla em inglês) reduziu suas projeções para as exportações brasileiras e argentinas de soja, com base em expectativas de queda nas importações chinesas na temporada, mas elevou a dos Estados Unidos. O Brasil deverá exportar 36,75

milhões de toneladas neste ano (a estimativa anterior indicava 38,4 milhões) e a Argentina, 10,35 milhões (em março, a previsão era de 10,90 milhões). Os embarques norte-americanos alcançarão 36,74 milhões de toneladas nesta temporada, conforme o relatório de abril (em

março, o USDA previa 36,61). Segundo a instituição norte-americana, a China deve comprar dois milhões de toneladas a menos neste ano comercial em curso. Em relação à produção, o USDA manteve as estimativas para a safra brasileira de soja em 83,5 milhões de toneladas. maio 2013 – Agro DBO | 11


Notícias da Terra Biocombustíveis I

Biocombustíveis II

O

P

Quase R$ 1 bilhão 30º leilão de biodiesel da ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, realizado em abril, rendeu R$ 992 milhões, dos quais R$ 968 milhões ficaram com as usinas fornecedoras. Os R$ 24 milhões restantes foram parar no caixa da Petrobras, intermediária das operações – nessa condição, a estatal recebe R$ 0,05 por litro de biodiesel vendido. A comercialização de biodiesel no Brasil é realizada a cada dois meses. A região Sul apresentou o menor preço médio no 30º leilão, vendendo o biodiesel a R$ 1,92 o litro. As usinas do Centro-Oeste venderam a R$ 1,99; as do Sudeste, R$ 2,11; as do Norte, R$ 2,16/litro; e as do Nordeste, R$ 2,20. O próximo leilão está programado para a última semana deste mês de maio. A ANP divulga o cronograma em seu site: www.anp.gov.br.

Modelo de estoque ortaria do MME – Ministério de Minas, publicada no mês passado, institui novo modelo para os estoques estratégicos de biodiesel no país. Uma das novidades é a modalidade de aquisição por “opção de compra”, usada em outros setores da economia, através da qual os compradores de biodiesel (basicamente a Petrobras) contratam o direito de retirar o produto a qualquer tempo, e as usinas ficam obrigadas a concluir o negócio ao preço acordado. Segundo nota do MME, o novo modelo tem como objetivos reduzir custos e melhorar a eficiência logística. “Evita a degradação do produto quando armazenado por longos períodos e elimina o transporte físico da usina até a Petrobras. Na eventual necessidade de consumir os estoques de segurança, o biodiesel sairá diretamente do produtor para a distribuidora”.

Cana I

A ”marvada” tira passaporte

A

cachaça ganhou, enfim, reconhecimento oficial nos Estados Unidos, após uma década de negociações entre os governos brasileiro e norte-americano. Desde o dia 11 de abril, passou a ser comercializada naquele país como produto tipicamente brasileiro. Ou seja, se não for produzida no Brasil, não pode ser chamada de cachaça. Antes do reconhecimento legal, os americanos a vendiam com o rótulo de “rum brasileiro” e confundiam outros destilados com a nossa legítima “pinga”. Na opinião de Vicente Bastos, do Ibrac – Instituto Brasileiro da Cachaça, a medida evita que a “marvada” vire um destilado genérico, como a vodka, que 12 | Agro DBO – maio 2013

era produzida só na Rússia e hoje é feita em vários países. Os Estados Unidos são o maior mercado de destilados do mundo e estão entre os principais compradores de cachaça.

Cana II

Canaviais robustos

A

safra 2013/14 de cana-de-açúcar deve chegar a 653,81 milhões de toneladas, 11% acima do produzido na temporada passada (588,92 milhões), segundo projeções da Conab. A área de corte passará de 8.485 mil para 8.893 mil hectares, com produtividade média 5,9% maior nas lavouras, graças à renovação de 968,38 mil hectares de canaviais e à normalização das condições climáticas, sobretudo da região centro-sul do país. A produção de açúcar deve crescer 13,61% (de 38,34 milhões para 43,56 milhões de toneladas); a do etanol, 8,99% (de 23,64 bilhões para 25,77 bilhões de litros); a de anidro – destinada à mistura com a gasolina –, 15,35% (de 9,85 bilhões para 11,36 bilhões de litros) e a de hidratado – utilizado nos veículos “flexfuel” –, 4,45% (de 13,79 bilhões para 14,40 bilhões de litros).


Notícias da Terra Logística II

Reforma de estradas

U

Logística I

Desoneração no transporte

S

ete setores de transporte (rodoviário de carga, táxi aéreo, metroferroviário de passageiros, ferroviário de carga, navegação de travessia, agenciamento marítimo de navios e gestão de cargas e descargas de contêineres) foram beneficiados pela desoneração nas respectivas folhas de pagamento, por decisão do governo federal. A medida, publicada no Diário Oficial da União em 5/4/13,

passa a vigorar a partir de 1/1/14. O Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, disse que a desoneração faz parte da agenda de reforma tributária e traz vantagens como competitividade, simplificação tributária e ganho de fluxo de caixa, além de ajudar na retenção da mão de obra. Ao todo, 42 setores da economia brasileira foram beneficiados.

sinas de cana-de-açúcar das regiões norte e noroeste do Paraná decidiram investir R$ 64 milhões para ajudar o governo a recuperar 1,5 mil quilômetros de estradas em 73 municípios. A maior parte do custeio será bancada, porém, pelo estado, que vai aplicar R$ 104 milhões no projeto. A parceria, consubstanciada no programa Caminhos do Desenvolvimento, foi anunciada no mês passado em São Pedro do Ivaí (PR), durante o lançamento oficial da safra 2013/14 de cana-de-açúcar na região centro-sul do país. “Com esta parceria, poderemos fazer a readequação de pontes e erguer trincheiras, beneficiando produtores de cana e de outras atividades. O Paraná dá um salto para reduzir o custo e ajudar o setor a ser mais competitivo, gerando mais empregos“, afirmou o presidente da Alcopar – Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná, Miguel Tranin. O governo estadual informou que, em breve, serão formalizados convênios similares com outros setores agrícolas.

Legislação

Emplacamento de máquinas agrícolas

A

partir de primeiro de junho próximo, as máquinas e implementos agrícolas fabricados neste ano deverão ser registradas com emplacamento e CRV – Certificado de Registro de Veículos. Segundo o Contran – Conselho Nacional do Trânsito, também será preciso emplacar tratores destinados a puxar ou arrastar máquinas de qualquer natureza. O Contran alega que a medida levará segurança às estradas. Os

produtores rurais perguntam, no entanto, por onde os tratores vão trafegar, se nem há estradas em condições? Para transitar nas rodovias, os veículos terão de portar CRV. A identificação do veículo será feita por meio de gravação do número específico no chassi. O não cumprimento destas normas pode resultar em multas, apreensão do veículo e remoção, entre outras penalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro. maio 2013 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Café I

Tolerância à seca

P

esquisadores da Embrapa e da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro descobriram que o gene CAHB12 do café é tolerante à seca. Ao estudar cerca de 30 mil genes – parte do projeto para traçar o genoma do café –, eles perceberam que alguns deles expressavam tolerância ao estresse hídrico, especialmente o CAHB 12. “Nós o retiramos do café e o introduzimos em outra espécie, a Arabidopsis thaliana, uma planta modelo de testes (NR: a A. thaliana é uma planta herbácea da família das Brassicaceae, a que também pertence a mostarda. É um dos organismos modelo para estudo de genética, em botânica). As plantas que receberam o gene ficaram muito mais resistente à seca. As que não o receberam resistiram 15 dias sem água, antes de morrer. As que o receberam sobreviveram até 40 dias. Além disso, suas sementes ficaram resistentes à seca até a terceira geração”, disse o doutor em biologia molecular Eduardo Romano, pesquisador da Embrapa. O gene CAHB12 pode ser introduzido em outras culturas. O próximo passo será aplicá-lo à cana, ao arroz, ao trigo, à soja e ao algodão e observar seu comportamento. Se tudo sair como esperado, a tecnologia pode estar no mercado em um período de cinco a seis anos. Os pesquisadores pediram registro no Inpi – Instituto Nacional de Propriedade Industrial e patente internacional, por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes, gerido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, com sede em Genebra, na Suíça.

14 | Agro DBO – maio 2013

Café II

Café em baixa

O

café representou 6,9% de todas as exportações do agronegócio nacional no primeiro trimestre do ano, conforme dados da Secretaria de Produção e Agroenergia do Mapa. O título de principal comprador de café verde brasileiro continuou com a Alemanha, embora as exportações para aquele país tenham caído 27,3% no período. O segundo maior importador foram os Estados Unidos, país que reduziu suas compras em 17,02%. Em compensação, o

volume embarcado aumentou para o Japão (75,97) e para a Turquia (16%). A receita cambial do café verde representou 6,1% no volume de recursos do total das exportações brasileiras. Segundo o diretor do Departamento do Café do Mapa, Edilson Alcântara, houve uma diminuição no valor de receitas em 21,7%, em função da queda de preços. “No entanto, o produto apresentou aumento na quantidade exportada em 10%”.

Café III

Destino: Cuba

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gricultores familiares do estado do Espírito Santo, ligados à Coopeavi – Cooperativa Agropecuária Centro Serrana, vão exportar 1,2 mil toneladas de café conilon para Cuba. Desde 2005, o governo brasileiro oferece ao país, via Camex - Câmara Brasileira de Comercio Exterior, crédito para compra de gêneros alimen-

tícios, viabilizando, em contrapartida, a exportação de produtos brasileiros para lá. Cuba compra de oito a nove mil toneladas de café brasileiro ao ano, normalmente com ágio. No caso, foram 20,5 mil sacas, vendidas a R$ 275 cada (sete reais acima do preço de mercado de produtos similares na data da negociação).


Notícias da Terra Estiagem I

Contra a seca, água

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Embrapa e o governo de Minas Gerais assinaram convênio para a construção de 17.360 barraginhas e 1.736 lagos de múltiplo uso em 24 municípios do norte mineiro. Segundo levantamento da secretaria estadual de agricultura, a região enfrenta uma das piores secas dos últimos 50 anos. As barraginhas são miniaçudes abertos em áreas de pastagens, lavouras e beiras de estradas para captar as águas das chuvas e enxurradas, evitando erosões e amenizando enchentes. Idealizadas pelo pesquisador Luciano Cordoval de Barros, da Embrapa Milho e Sorgo, favorecem a infiltração das águas no solo, já que o volume captado fica represado, recarregando o lençol freático, fonte de abastecimento dos mananciais. Em decorrência, ajudam, em cascata (sem trocadilho), a revitalizar córregos, elevar o nível de cisternas e umedecer o solo, in-

duzindo, eventualmente, o aparecimento de novos minadouros. Os lagos de múltiplo uso, impermeabilizados com lona plástica, tem custo baixo e podem ser utilizados como reservatório para abastecimen-

to de comunidades, irrigação de hortas e criatório de peixes. Hoje, há cerca de 500 mil barraginhas em todo o país, a maioria em Minas Gerais, em regiões do Cerrado e nos vales do São Francisco e do Jequitinhonha.

Estiagem II

Recursos contra a seca

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ecuaristas e agricultores familiares do semiárido brasileiro afetados pela estiagem têm até 31 de maio para solicitar recursos da linha emergencial de crédito do governo federal para recuperação das safras. De acordo com o diretor do Departamento de Prospecção, Normas e Análise de Fundos do Minis-

tério da Integração Nacional, José Wanderley Uchoa Barreto, a medida visa reduzir o impacto da escassez de chuvas sobre a população e proteger a produção agropecuária da região. O limite de empréstimo varia de R$ 12 mil a R$ 100 mil, com juros de até 3,5% ao ano. A maioria dos créditos contem-

pla pequenos produtores rurais enquadrados no Pronaf - Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Levantamento oficial apontou, em meados de abril, 1.367 municípios em situação de emergência na região, o que, segundo estimativa do ministério, afeta 10,4 milhões de pessoas

vidades rurais. Iniciativa da família do engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, fundador do Grupo Manah (fertilizantes e gado de corte) e seu diretor e presidente de 1947 a 2000, a Agrisus é presidida, desde outubro de 2011 por Antonio Roque De-

chen, professor da Esalq e vice-reitor Executivo de Administração da Universidade de São Paulo. Seu Conselho de Curadores é integrado por engenheiros agrônomos, tendo como presidente honorário Fernando Penteado Cardoso Filho.

Agrisus

Festa no campo

A

Agrisus, entidade sem fins lucrativos, completou 12 anos de atividades em 24 de abril. É a única Fundação no Brasil que trabalha exclusivamente com recursos privados no apoio a projetos voltados à melhoria e conservação do solo, à sustentabilidade das ati-

maio 2013 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Pesquisa

A percepção do agronegócio

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evantamento feito no início do ano nas 12 maiores capitais do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Brasília, Manaus, Belém, Goiânia, Curitiba e Porto Alegre) mostra que 81,3% da população consideram o agronegócio uma atividade muito importante para a economia nacional. No Centro-Oeste, o percentual bateu praticamente nos 100%. No Sul, chegou a 90,1%, caindo para 81,8% no Norte, 75% no Nordeste e 73,3 no Sudeste. O ranking das profissões com melhor avaliação apresenta o agricultor em 5o lugar: 89,3% dos entrevistados os consideram muito importantes. O alto do pódio é ocupado pelos médicos (97,15), seguidos pelos professores ( 95,8%), bombeiros ( 94,3%) e policiais (83,9%). Em termos regionais, o Nordeste é o local que mais valoriza a profissão de agricultor, considerada como muito importante para 98,2% dos entrevistados. Já em relação a divi-

são por classes, a avaliação do agricultor é boa, com destaque para as classes A e B, que atingiram a marca de 87% de respostas para muito importante. O mesmo não acontece entre os jovens – com idade de 16 e 24 anos. Para 25% deles, a profissão de agricultor é pouco ou nada importante. Entre as profissões relacionadas ao agronegócio, a de engenheiro agrônomo, com 75,5% de citação, foi a mais lembrada. Em seguida, apareceram: engenheiro ambiental (51,5%), peão (45,5%), médico veterinário (37,5%), administrador (27,4%), nutricionista (25,2%), químico (22,6%) e economista (21,9%). Elaborada pelo Instituto Ipeso, a pesquisa foi encomendado pela Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, e pelo Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, e divulgada no mês passado, como parte das comemorações dos 20 anos da Abag.

Arroz

Política de cotas

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rrozeiros do Rio Grande do Sul querem discutir com representantes dos países do Mercosul uma política de cotas para o comércio do grão no bloco. A proposta, anunciada em meados de abril, será encaminhada aos ministros da agricultura da Argentina, Uruguai e Paraguai. O objetivo é buscar soluções para a atividade orizícola no estado e, a partir dos encontros, definir volumes e épocas para ingresso do arroz produzido nos demais países no mercado brasileiro. Uma vez estabelecido o acordo, que será proposto pelos representantes da lavoura rio-grandense, será possível estabelecer o ordenamento da comercialização, sem competição predatória.

Contribuição sindical

Atenção ao prazo

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s agricultores têm até o dia 22 deste mês de maio para recolher a contribuição sindical rural 2013, pessoa física. O pagamento é obrigatório, independentemente de o contribuinte ser ou não ser filiado a um sindicato. O cálculo é efetuado com base nas informações prestadas pelo proprietário rural ao Cafir – Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais, administrado pela Secretaria da Receita Federal.

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A CNA exerce a função de arrecadadora da contribuição. O montante arrecadado, conforme o artigo 589 da CLT, é partilhado entre as entidades sindicais – confederação, federação e sindicatos – além do Ministério do Trabalho. A CNA enviou aos produtores rurais pelo correio guias bancárias já preenchidas com o valor da contribuição de cada um, que poderá ser paga até a data de vencimento

em qualquer agência bancária. Quem ainda não recebeu a guia deve procurar o sindicato rural do seu município, com uma cópia do Diat – Documento de Informação e Apuração do Imposto Territorial Rural. Também é possível imprimir a 2ª via pela internet, acessando o site da CNA (www. canaldoprodutor.com.br). O prazo de pagamento para as pessoas jurídicas terminou em 31 de janeiro.


Notícias da Terra Concurso

Soja convencional no pódio

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BRS 284, cultivar de soja não-transgênica da Embrapa, desenvolvida em parceria com a Fundação Meridional, ganhou o primeiro, o terceiro e o quarto lugares do 4º Ranking de Produtividade da Soja Safra 2012/13, de Laguna Carapã (MS), disputado no final do mês passado. Em 2012, a BRS 284 também foi campeã durante a 3ª edição do evento. Os três produtores rurais premiados com a BRS 284 são do município do concurso. O primeiro colocado do ranking é o Grupo BS, com produtividade de 82,26 sacas/hectare. Os outros dois

premiados com alta produtividade são Vanderlei Spessato, na terceira colocação, com 77,26 sacas/hectare; e na quarta colocação, Irineu Celso Hermes, com produtividade de 75,68 sacas/hectare. No tradicional concurso “Pé de soja solteiro”, disputado em Laguna Carapã, o vencedor foi Nelson Roque Kappes, de Santa Carmen (MT), com 12.648 vagens. Kappes ficou em segundo no ano passado e em primeiro em 2011. Na ocasião, apresentou um pé de soja com 17.892 vagens, recorde até hoje no Brasil.

Plano agrícola

Seguro rural em pauta

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CNA pediu ao governo federal a destinação de R$ 860 milhões para seguro rural no ano agrícola 2013/14. A solicitação integra o rol de propostas encaminhado pela entidade para o Plano Agrícola e Pecuário 2013/14, que, segundo o cronograma oficial, deverá ser divulgado no início do mês que vem. O valor é o dobro do oferecido em 2012, o que elevaria a cobertura de área plantada em mais 10 milhões

de hectares, contemplando 20% da área plantada no Brasil, segundo cálculos da CNA. “Hoje, temos 5% da safra segurada. Somos uma indústria a céu aberto, correndo riscos com problemas climáticos e doenças. Por isso, o seguro agrícola é fundamental para os produtores rurais trabalharem em paz”, argumenta a senador Katia Abreu, presidente da confederação. Além da ampliação, a CNA defende que

o produtor receba a subvenção diretamente, com o objetivo de baixar os custos de contratação, estimular a concorrência entre as seguradoras e expandir o número de empresas que atuam no segmento do seguro rural. Hoje, as seguradoras recebem a subvenção e repassam os custos ao produtor rural. O documento reúne uma série de reivindicações da agropecuária brasileira.

Poluição

Banana descontaminante

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esquisadores do Cena – Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo, afirmam que a casca de banana pode ser utilizada no tratamento de água contaminada pelos pesticidas atrazina e ametrina. Eles fizeram testes com amostras coletadas nos rios Piracicaba e Capivari, na região de Campinas (SP), comprovando absorção de 70% dos químicos pela casca. Para que seja utilizada como agente de descontaminação, a cas-

ca da banana é ressecada ao sol por uma semana ou em estufa a 60 graus Celsius (°C), o que diminui o tempo do processo para um dia. Após a secagem, o material é triturado e peneirado para formar um pó para ser despejado na água.. A casca da banana corresponde de 30% a 40% do peso total da fruta. A presença de grupos de hidroxila e carboxila da pectina na composição na casca é que garantem a capacidade de absorção de metais pesados e compostos orgânicos. maio 2013 – Agro DBO | 17


Máquinas

Agrishow,

a feira da tecnologia.

Em ritmo de festa pela boa safra de grãos os agricultores devem ir às compras na maior feira do agro, em Ribeirão Preto. Richard Jakubaszko

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Agrishow de Ribeirão Preto (SP) completa 20 anos em 2013, sendo a mostra de referência do agro brasileiro e da América Latina. Conforme Maurílio Biagi Filho, atual presidente da Feira, “a Agrishow tem o papel fundamental de difundir as tecnologias existentes para o agronegócio, contribuindo de forma decisiva para tornar a atividade cada vez mais produtiva, rentável e sustentável”. Instalada em uma área de 440 mil m2, repleta de estandes, além de outros 100 hectares destinados à parte dinâmica, a Agrishow 2013, realizada entre 29 de abril e 3 de maio ao mesmo tempo em que começava a circular esta edição de Agro DBO, atraiu nada menos que 800 expositores, com predomínio de fabricantes de máquinas, equipamentos e veículos. A novidade entre os expositores foi a adesão dos fabricantes de agroquímicos, até então inexplicavelmente ausentes da mostra. “Com a presença de empresas que investem pesado em ciência para aumentar a produtividade no campo, ganha a Feira, que passa a re18 | Agro DBO – maio 2013


presentar toda a cadeia que gera a tecnologia do agronegócio – e ganha o produtor que vem em busca das inovações para modernizar sua lavoura”, afirmou Eduardo Daher, diretor executivo da Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal, às vésperas da inauguração da Agrishow. As empresas do setor ficaram no Núcleo de Tecnologia, espaço criado no ano passado, que também reúne empresas de sementes e fertilizantes. Máquinas Os principais avanços em tecnologias inovadoras para a mecanização com apresentação prevista para a Agrishow 2013 confirmam a tendência destacada por Agro DBO em agosto de 2012: equipamentos mais potentes, mais robustos e confiáveis, com maior economia de combustível, melhorias nos níveis de segurança e conforto na operação e evolução dos controles automáticos, especialmente a incorporação de ferramentas de agricultura de precisão, também conhecidas como tecnologia embarcada. Antes da abertura da mostra, poucas empresas adiantavam novidades, embora fosse certo que algumas guardavam seus trunfos para apresentação no próprio evento. Na maioria dos casos, a indicação era de melhorias nos novos equipamentos nacionais ou importados já apresentados na Agrishow 2012. Como tendência, é visível que os equipamentos, tratores e implementos, cada vez mais, são utilizados mais intensamente e em intervalos de tempo menores, tanto no plantio como na colheita. E tempo significa uma questão fundamental: disponibilidade da máquina, com confiabilidade de uso. Em relação às máquinas importadas, o desempenho e a confiabilidade delas dependem muito das condições de operação. Como no Brasil fazemos duas colheitas por ano, ao contrário do que ocor-

re na Europa e EUA, a utilização das máquinas importadas em horas trabalhadas é muito mais intensa, com evidentes reflexos sobre a durabilidade dos equipamentos. Nos países do Norte, o clima é temperado e frio, com as estações do ano bem definidas, tanto no frio como no calor. Isto impacta, naturalmente, o rendimento da safra, e o clima (por exemplo, a umidade tropical, regime de chuvas) obriga ou facilita, conforme cada caso, a adoção de práticas agrícolas diferenciadas, como a janela de tempo disponível para a colheita ou plantio, muito diferente de região para região dentro do próprio país, pois a colheita começa cedo, em janeiro, mais ao Norte e Centro-Oeste do Brasil e termina já no outono no Sul. É na tecnologia embarcada para processamento e controle que as empresas focam a evolução nas máquinas agrícolas nacionais e importadas. Essa tendência já era observada nos últimos anos, e acentuou-se a partir de 2011 e 2012. Exemplos disso são os sistemas de “comunicação” entre tratores e implementos acoplados, e a sincronia de máquinas para trabalho conjunto (colheitadeira e transbordo), e a gestão à distância de frotas. Cada nova máquina substitui duas ou mais máquinas antigas com a mesma eficiência. Mas não é apenas o aumento de potência que traz ganho de eficiência. Exemplos

são muitos, como: rotores de debulha rotativa em vez dos sistemas convencionais; pulverizadores autopropelidos em vez do tradicional, tracionado por trator; plantadeiras cada vez maiores, com aumento do número de linhas. Na Agrishow 2013, o visitante pode conferir essas características nos estandes e nas demonstrações diárias programadas para a área das dinâmicas, espaço de 100 hectares com culturas de arroz, café, cana, cana forrageira, coast-cross, feijão, laranja, milho, milho forrageiro, mombaça, soja, sorgo (granífero e sacarino). A seguir, os destaques que algumas das principais empresas de máquinas antecipavam para a participação na mostra deste ano. Outras empresas consultadas por Agro DBO não responderam à consulta. CNH Fabricado no Brasil, o trator modelo T7 destaca-se, oferecendo para o produtor transmissão eletrônica e piloto automático. A linha T7 tem o menor custo operacional e consumo de combustível com sistemas inteligentes que permitem o aumento de potência. O trator proporciona conforto para o operador, assim como robustez, confiança e versatilidade na produção. O trator tem diversos itens de tecnologia embarcada e muitas Pulverizador Defensor SP 2500, equilíbrio de peso para menor compactação do solo.

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Máquinas Tendência é consolidar tecnologia embarcada, com menor consumo de combustível e maior eficiência das máquinas e tratores.

CR9090, europeia importada é a maior colheitadeira de grãos no Brasil.

facilidades para o operador. Além de uma cabine espaçosa e de grande visibilidade, o T7 é feito para pegar pesado no campo e enfrentar qualquer tipo de serviço, sem comprometer o desempenho e a produtividade. O T7 completa a linha de tratores entre 200 e 220 cv de potência da CNH. O trator modelo TL vem esse ano com novo capô e novo design. É o modelo mais vendido da linha de tratores da marca CNH. Toda a linha de tratores TL, da New Holland, terá design novo, opcionais e itens de série, que antes não existiam, todos eles na tecnologia embarcada.

Pulverizador New Holland exibe o Pulverizador Defensor SP2500. As principais vantagens do produto são a predisposição da máquina para a agricultura de precisão, como piloto automático, recursos de corte de seção e, principalmente, o sistema de injeção direta. Além dessas inovações, o SP2500 tem distribuição de peso 50x50, ou seja, o tanque localiza-se no centro da máquina, e proporciona menor compactação do solo. A CNH informa que é a máquina com melhor distribuição de peso da categoria. Colheitadeiras Produzida na Europa, a CR9090 da New Holland é a maior colheitadeira de grãos em uso no país. Ela é equipada com motor de 13 litros, que possui um novo sistema de controle de emissões e utiliza ureia no processo, garantindo mais força e menos consumo. Sua potência de 530 cv tem capacidade suficiente para plataformas de até 45 pés: a CR9090 é capaz de suportar cargas de 12.500 litros de grãos e um sistema opti spread (controle na cabine de direção e amplitude da distribuição de resíduos nos 45 pés).

Auto Guide 3000, piloto automático com 3 níveis de precisão.

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Vislumbrando um mercado crescente de produtores que procuram mais tecnologia, a New Holland destaca a CR5080 – menor máquina com sistema de duplo rotor do mercado, que deve atender bem os produtores de grãos. A colheitadeira possui tanque graneleiro de 7,050 litros e, nas condições ideais, a máquina opera com plataformas de 20 e 25 pés. É um equipamento que serve de porta de entrada para os produtores que possuem áreas menores e querem deixar de utilizar o sistema convencional de debulha e aderir ao duplo rotor. Massey Ferguson A agricultura de precisão evoluiu no Brasil quase na mesma proporção que sua produção agrícola. Explorar ao máximo o potencial das lavouras tornou-se prioridade do produtor rural nas últimas três décadas. A Massey Ferguson, que se apresenta como pioneira no país neste segmento, exibe na Agrishow 2013 uma linha completa de soluções com equipamentos que evoluem o conceito de precisão no cultivo. O Auto Guide 3000, sistema de direcionamento automático, chega como um avanço das ferramentas já conhecidas no mercado. O piloto automático oferece até 3 níveis de precisão: submétrico, até 30 cm de precisão entre as passadas; decimétrico, 10 cm de precisão na passada; e por fim o centimétrico que por meio de sinal RTK consegue uma precisão de até 2,5 cm na passagem dos equipamentos. Os comandos são executados em uma tela touchscreen de 12,1 polegadas. “O Auto Guide 3000 eleva os ganhos do produtor de duas maneiras: melhora a qualidade das operações realizadas na lavoura e a eficiência das máquinas agrícolas”,


explica Niumar Dutra Aurélio, coordenador de marketing de produto ATS Massey Ferguson. Outra novidade da Massey que chega ao mercado é a rede RTK, que consiste em bases que corrigem o sinal dos satélites utilizados nos sistemas de direcionamento das máquinas. “O sinal dos satélites contém erros que são normais, e para o utilizarmos em máquinas agrícolas precisamos usar de métodos para a correção destes erros, com o objetivo de melhorar a precisão dos equipamentos embarcados nas máquinas. O sinal de correção RTK é o mais preciso dos métodos, conferindo uma precisão de até 2,5 cm. Estas redes vêm oferecer ao cliente a possibilidade de utilizar essa tecnologia sem a necessidade de adquirir uma base RTK apenas para sua propriedade”, informa Niumar. “A partir de maio alguns equipamentos da Massey sairão da fábrica prontos para operar com o Sistema de Tráfego Controlado”, afirmou o coordenador de marketing de produto. O conceito, apresentado há mais de um ano pela Massey Ferguson, se resume na implantação de programas que permitem o planejamento das operações no campo para concentrar a passagem de máquinas e implementos em determinada área, utilizando o mesmo rastro, integrando todas as operações na lavoura, eliminando assim a compactação nas demais áreas. Por meio da unificação de ferramentas como piloto automático, o trabalho das máquinas torna-se mais efetivo no campo. De acordo com pesquisas, em sistemas de cultivo que utilizam o tráfego aleatório de máquinas a compactação do solo pode chegar a 86%. Já com a implantação do conceito de Tráfego Controlado este percentual pode cair para até 14%. O aumento da densidade do solo acarreta em perdas como crescimento lento e distorcido de raízes, redução de porosidade, ae-

ração e infiltração de água no solo. “A introdução de tecnologias para o Tráfego Controlado otimiza o uso de insumos agrícolas, reduz os impactos ambientais da produção, aumenta a lucratividade do produtor e melhora a gestão das propriedades” conclui Niumar. Destaque também na Agrishow para o novo aplicativo do sistema de telemetria Agcommand, disponível para download gratuito. O sistema permite a facilitação do gerenciamento das máquinas por meio da transferência de dados automaticamente da máquina para o escritório ou dispositivos móveis como smartphones e tablets. Com o sistema é possível ter um monitoramento detalhado para estabelecer exatamente onde uma máquina está em um determinado momento, sua utilização e desempenho. Inovação no portfólio de implementos. As aplicações de produtos, por meio do sistema de taxa variável, chegam às plantadeiras das séries MF 500 e MF 700. O sistema permite o controle da dosagem de sementes e fertilizantes durante o plantio explorando ao máximo a potencialidade do solo, oferecendo redução de custos ao produtor. Segmento sucroenergético A expectativa de 11% de crescimento na produção de cana-de-açúcar, anunciada pela CONAB em abril, contribuiu com a aposta da Massey Ferguson no segmento sucroenergético em 2013. A marca, que já comercializa as carregadoras e toda linha de transbordos Santal e tem também uma participação importante neste mercado com tratores de alta potência, amplia as possibilidades aos produtores e usineiros com a plantadora Santal PDM2, que realiza simultaneamente em duas linhas o ciclo completo de operações do plantio e está preparada para operar com diferentes espaçamentos encontrados hoje no Brasil.

Linha de pulverizadores Uniport, da Jacto, ganha design novo e avanços tecnológicos.

As plantadeiras séries MF 500 e MF 700 da Massey agora entram no sistema de adubação a taxas variáveis

Valtra O principal lançamento da Valtra na Agrishow 2013 é a nova Linha BH GIII, que foi totalmente reformada, com nova cabine, novo sistema hidráulico, novo design que além de moderno e arrojado, melhora muito o raio de giro. Novos modelos farão parte da nova linha que chega para ampliar as opções de potência, um deles é o novo modelo do trator BH 135i (137cv), com motor 4 cilindros turbo-intercooler, opção para o agricultor que necessita ter em sua propriedade máquinas para desempenhar as mais variadas funções e atividades. Além dele, completam a Geração III, os novos tratores BH200 (200cv) e o BH210i (210 cv). Os modelos seguem os padrões globais dos tratores Valtra. As novas máquinas estarão disponíveis no mercado a partir do segundo semestre deste ano.

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Máquinas Máquinas importadas e nacionais de todos os tipos que o produtor pode visitar na Agrishow 2013 mostraram inúmeras inovações.

A Valtra mostra inovações na sua linha de tratores, que estará à venda a partir do 2º semestre 2013.

A colhedora de café da Jacto aumentou reservatório e cresce a autonomia de trabalho da máquina

Os 3 novos modelos são equipados com motor AGCO Sisu Power 420 e 620 que trabalham com diesel ou biodíesel B100, ou seja, até 100% de biodíesel. Possuem ainda intercooler que baixa a temperatura de admissão melhorando a eficiência na combustão, que proporciona economia no consumo e menor emissão de poluentes. Jacto A empresa mostra a colhedora de café KTR 3500. O modelo tem evoluções que atendem às necessidades do produtor, aliando melhor per-

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formance e otimização de recursos. A nova KTR 3500 foi desenvolvida com reservatório de café com capacidade efetiva de 1.800 litros. Com o novo reservatório, associado ao sistema de descarga ‘on the go’, a nova KTR 3500 não precisa parar a operação de colheita quando seu reservatório está cheio. Dessa forma, é possível realizar a operação de descarga do café colhido, simultaneamente à operação de colheita. “Isso significa otimização dos recursos produtivos da fazenda cafeeira, com redução de custos em ativos imobilizados com trator ou carreta, ou seja, um único conjunto trator cafeeiro e carreta podem acompanhar até três colhedoras KTR 3500 sem interrupção na sua operação de colheita. Podemos dizer que é possível economizar, no mínimo, um conjunto trator/carreta por colhedora KTR 3500. Esta solução contribui para um maior rendimento operacional”, explica Walmi Gomes Martins, gerente de produto da Jacto. Entre outras novidades, a KTR 3500 apresenta cambão com ajuste hidráulico de altura, com altura máxima de colheita de 3,50 metros, comandos de operação acoplados ao trator, sistema de automação da direção, maior recurso de nivelamento, sistema de câmeras para melhor visualização das operações e pneus de baixa compactação.

plados ao trator cafeeiro: os comandos de operações da nova KTR 3500 são acoplados ao trator cafeeiro e em conjunto com o sistema de automação da direção, o que possibilita que o tratorista realize a colheita com segurança e baixos índices de perdas de café ao solo. Redução de perdas de café: um dos objetivos no desenvolvimento da nova KTR 3500 foi a redução de perdas de café derriçados. O modelo é dotado de um sistema recolhedor mais baixo, único no mercado.

As novidades da KTR 3500 Recurso de nivelamento: as colhedoras KTR 3500 estão dotadas com maior recurso de nivelamento e menor centro de gravidade pela redução da altura máxima de colheita, possibilitando trabalhar em terrenos mais inclinados com maior segurança ao operador e precisão nestas condições. Comandos de operações aco-

Automotrizes e adubação Na versão para a cultura canavieira, a adubadora Uniport 3000 NPK ganha mais tecnologia e capacidade operacional, possibilitando a aplicação de fertilizantes em 10 linhas simultaneamente. Agora, a precisão e qualidade de aplicação, reconhecida pelo mercado canavieiro, poderão ser aplicadas nas culturas de algodão e grãos com a

Novo design para Uniport Os modelos Uniport 2000 Plus e Uniport 2500 Star ganharam uma nova carenagem na cabine e faróis com design mais modernos e em sintonia com a aparência do Uniport 3030, o pulverizador automotriz lançado no ano passado. “As mudanças, sobretudo de ordem estética, visam oferecer aos equipamentos da linha uma nova roupagem externa”, explica Robson Zófoli, Diretor Comercial da Jacto. “Os dois modelos passam a oferecer ainda a escada hidráulica, mais uma melhoria durante a operação”, completa Zófoli. “Já em relação ao Uniport 3030, a versão 2013 ganhou câmeras de ré, que proporcionam melhor locomoção, sobretudo nas manobras executadas para estacionar”, avalia Wanderson Tosta, Gerente de Produto da Linha de Pulverizadores.


Plantadeira da Semeato terá 27 linhas para trigo e 11 para soja, com aumento do reservatório de sementes.

nova versão do Uniport 3000 NPK com 15 linhas, alcançando produtividades de 220 ha/dia. Com um vão livre de 1,25 metros, permite aplicações mais tardias e facilidade de calibração e ajuste da dosagem. A Jacto mostra ainda outras inovações na Agrishow, na área de conceitos e prestação de serviços, todas ligadas às tecnologias embarcadas.

sagrada máquina está com novo visual, e passa a contar com maior capacidade nos reservatórios de sementes e fertilizantes, diminuindo o número de paradas para reabastecimento, o que resulta em maior rendimento operacional. A SSM 27 possui 27 linhas pantográficas para trigo e 11 linhas pantográficas para soja.

Plantadeira da Jumil A Jumil, uma das líderes no segmento de implementos para plantio, apresenta na Agrishow as novidades da sua plantadeira Terra Exacta, inovador equipamento para plantios de alta performance em grande escala.

Agrale A Agrale comemorou em abril a marca de 80 mil tratores produzidos. Com mais de 50 anos, a fabricante iniciou suas atividades em 1962, na fabricação de microtratores de duas rodas. De acordo com Hugo Zattera, diretor-presidente da Agrale, o volume de tratores fabricados ao longo de sua história demonstra a presença e força da empresa no mercado brasileiro e internacional. “Superar 80 mil tratores é uma importante conquista, cuja história

SSM 27 da Semeato Relançada em 2013, a Semeato mostra na Agrishow a plantadeira de grãos múltiplos SSM 27, que passou por um processo de reengenharia e inovação. A já con-

Agrale comemora com equipe o trator 80.000, com o modelo BX 6180.

está ligada à evolução da agricultura brasileira, sobretudo com foco nos pequenos e médios agricultores”, destaca o executivo. A Agrale foi pioneira no desenvolvimento de tratores de baixa potência, de duas e quatro rodas, e sempre investiu muito em novos produtos e tecnologias sustentáveis que atenderam as necessidades das aplicações de seus clientes. Hoje, a empresa conta com três diferentes linhas – 4000, 5000 e 6000 – que vão de 15 a 168 cv de potência para atender desde o segmento de agricultura familiar até os grandes produtores rurais. A unidade de número 80 mil é um trator Agrale BX 6180, o de maior potência da fabricante, com 168 cv. “O sucesso das famílias 4000 e 5000, para o pequeno e médio produtor, e 6000, indicado para grandes áreas de cultivo, tem colaborado muito para o crescimento de vendas da empresa que, em 2012, subiram 14,8%” ante os 7,6% do mercado geral”, ressalta o executivo. A Anauger exibe sua solução criada ao segmento de agricultura e pecuária. Trata-se de uma bomba submersa vibratória capaz de retirar água do lençol freático, para inúmeros fins, movida unicamente pela energia do sol. Para a Anauger, o evento é uma oportunidade de apresentar a solução da captação de água nas fazendas e em locais distantes de estrutura e energia elétrica. “Com o nosso produto, é possível levar água à irrigação, aos bebedouros de animais e outros fins apenas utilizando a energia solar”, ressalta o diretor comercial da empresa, Marco Aurélio Gimenez. A tecnologia funciona através de módulos solares fotovoltaicos, que transformam a energia solar em potência para acionar a bomba, que retira água de lençóis freáticos e levam a caixas d´água, reservatórios e cisternas. Em um dia, o sistema é capaz de bombear mais de 8 mil litros de água. maio 2013 - Agro DBO | 23


Máquinas A diversidade de tecnologias expostas na Agrishow atende a todo tipo de agricultura

Abelha sem ferrão da Embrapa, sociais e produtivas.

2013

Trator T7 da New Holland, o mais vendido da empresa, agora tem novo design e mais tecnologia embarcada.

Embrapa No estande institucional da Embrapa o visitante pode conhecer, entre outras tecnologias, um pouco mais sobre a criação de abelhas sem ferrão. “As abelhas sem ferrão (ASF) são abelhas sociais nativas do Brasil assim conhecidas por apresentarem um ferrão atrofiado não utilizado para defesa. Das mais de 250 espécies existentes em nosso país, diversas podem ser criadas racionalmente tanto para a produção e comercialização de mel, pólen e própolis quanto para a produção e comercialização de colônias, sendo uma fonte alternativa importante de geração de renda complementar

para o agricultor familiar”, explica o pesquisador Ricardo de Camargo da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP). Uma das novidades da Embrapa nesse ano é a apresentação de uma área de 16 ha destinada ao sistema de ILPS, Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura, pela Embrapa Cerrados (Planaltina, DF). Nesse espaço estão demonstrados alguns dos arranjos possíveis desse sistema. Dentre eles, o visitante pode identificar desde o mais simples, como o Sistema Santa Fé, considerado o símbolo da ILPS no Brasil, até arranjos mais complexos envolvendo diversas gramíneas e leguminosas.

A Grande Feira

do Cerrado Brasileiro Entrada Franca

Todos os caminhos do Agronegócio levam à AGROBRASÍLIA 2013. Novidades em tecnologias, representantes de instituições nacionais e internacionais, profissionais do meio e agricultores que fazem nosso agronegócio ser reconhecido no mundo, reunidos nesse grande evento.

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Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal

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24 | Agro DBO – maio 2013

Ministério do Desenvolvimento Agrário

Ministério de Agricultura, Ministério da Pecuário e Abastecimento Integração Nacional

Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural



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Safra cheia

Ao contrário do que ocorreu no Centro-Oeste do país, a colheita transcorre sem grandes problemas no Sul, especialmente no Paraná, maior produtor de milho do Brasil e campeão em produtividade na atual temporada. José Maria Tomazela

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O

milho de segunda safra (ex-safrinha) é a aposta de Antonio Pedrini, produtor há mais de trinta anos em Floresta, no centro-norte do Paraná, para fechar um ano agrícola de ouro. A lavoura, semeada entre o início e o fim de fevereiro, melhor época para o plantio, vai se avolumando sobre mais de mil hectares (ha) da Fazenda Maringaense, principal propriedade do agricultor. A colheita deve começar em julho e terminar em agosto. No ano passado, Pedrini fez média de 90 sacas (5.400 kg) /ha. Pelo andar da carruagem, o milharal desta safra será ainda mais produtivo, acredita o agricultor. Embora a lavoura não seja irrigada, ele adquiriu sementes transgênicas de alto potencial e adotou um programa de adubação muito semelhante ao aplicado nos Estados Unidos. O que torna esta safra especial para o agricultor paranaense é que ele já obteve alta produtividade com a soja. Pedrini semeou o milho sobre a palha da soja que tinha acabado de colher e cujo resultado deixou o agricultor com um sorriso aberto no rosto. Nas áreas de cultivo tradicional de sua propriedade, ele conseguiu média de 72,1 sacas (4.329 kg)/ha da oleaginosa, em lavoura sem irrigação. No caso da soja, a produtividade, que valeu ao

agricultor a terceira colocação em concurso da Cocamar, uma das maiores cooperativas agrícolas do país, ainda ficou abaixo do que obtiveram outros produtores. O agricultor Vinícius Surek, de Arapongas, no extremo norte do estado, por exemplo, colheu 84,5 sacas (5.060 kg)/ha na área inscrita no concurso. O diferencial é que Pedrini manteve média alta, de 67 sacas (4.020 kg)/ha de soja, em toda a extensão da lavoura de 1.200 hectares. A fartura de milho e soja nas lavouras do país é a principal responsável pelo bom momento vivido pela agricultura brasileira. Conforme levantamento da Conab, divulgado em abril, o Brasil deve bater novo recorde na produção de grãos, atingindo 184,04 milhões de toneladas. Desse total, a dupla soja-milho responde por 159,45 milhões de toneladas. A supersafra, 10,8% superior à colhida em 2011/12, será garantida pelo bom desempenho esperado para o milho segunda safra. Em todo o país, as lavouras cobrem 8,64 milhões/ha, 13,4% a mais que na safra passada. A produção deve chegar a 42,8 milhões de toneladas, 9,15% maior que a anterior. A segunda safra já supera em produção a safra tradicional de verão, que produziu 34,7 milhões de toneladas de milho. É no cultivo desse grão que o Paraná mostra toda a sua força.

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O estado se mantém como o maior produtor de milho do país. A segunda safra ocupa 2,12 milhões/ha e deve produzir 11,4 milhões de toneladas, 15% a mais do que ma safra anterior. A produtividade também deve aumentar 11%, de 4.865 kg para 5.405 kg/ha. A safra de verão, já colhida, ocupou 845 mil/ha e rendeu 6,9 milhões de toneladas, com produtividade de 8.158 sacas/ ha – 19% mais que a do período anterior. Na soma das duas colheitas, o Paraná deve fechar o ano agrícola com 18,3 milhões de toneladas de milho produzido, um volume maior que a produção de soja. No estado do Mato Grosso, segundo colocado, a produção total de milho vai atingir 17,3 milhões de toneladas, segundo a Conab. A qualidade das lavouras paranaenses entusiasma os técnicos do Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. “Tivemos um recorde na produção de milho na safra 2010/11, e esperamos quebrar esse recorde agora. Os levantamentos indicam uma produção 15% maior”, disse a engenheira agrônoma Juliana Yagushi, especialista em milho do Deral. Segundo ela, apesar do encolhimento da safra de verão, o estado mantém a posição de principal produtor de milho do país. “A entrada da soja fez com que o cultivo do milho migrasse para próximo do inverno. Temos materiais bastante adaptados para as condições climáticas desse período.” A produção do cereal se concentra nas regiões norte e noroeste do estado, onde o risco de geada é menor. Outro fator que favorece o plantio do milho de segunda safra é a logística. A colheita da safrinha não coincide com a da soja, ao contrário do que ocorre na safra de verão. “Como as colheitas são quase simultâneas, o escoamento da soja obriga o produtor a armazenar o milho mas falta espaço nos silos e armazéns”, explica Juliana. Na ssegunda safra, essa concorrência não existe. Como a maioria dos agricultores do Paraná, de 15 anos para cá, Antonio Pedrini deixou de plantar milho no verão para se concentrar na 28 | Agro DBO - maio 2013

Antônio Pedrini comemora bons resultados na soja e no milho

também chamada safra de inverno. O período de temperaturas amenas e de chuvas menos frequentes envolve risco de perdas pela estiagem ou geada. Ele conta que, na safra 2010/11, esse fenômeno atingiu os milharais da região, causando perdas de 20%. Pedrini observa que, no campo, as lavouras atuais vão bem, apesar de exigirem mais cuidados. “Fazer duas safras de milho no ano é um privilégio nosso”, disse. Em agosto do ano passado, ele viajou com um grupo de agricultores paranaenses para a região do Corn Belt, o cinturão do milho dos Estados Unidos, e voltou impressionado. “Eles têm realmente uma tecnologia ainda superior à nossa, conseguem grande produtividade, mas com muito investimento. Apesar disso, os americanos plantam só uma safra por ano.” Os produtores de milho reclamam que o custo de produção da segunda safra subiu muito. Os principais aumentos ocorreram nos preços da semente e do adubo. Ao mesmo tempo, a cotação do grão não se manteve no patamar em que estava quando os insumos foram comprados. “Estamos lidando com uma equação meio complicada, pois o preço do milho está caindo e o custo de produção da safrinha subiu uns 30%.” Segundo ele, a incidência de pragas, como o ataque de percevejos na fase inicial da lavoura, obrigou a aumentar o número de aplicações de uma para quatro. A cotação do milho oscilou, mas os preços ainda são atraentes. Em fevereiro, a média foi de R$ 25 a saca, em meados de março baixou para R$ 19, mas no final de abril a saca voltou a valer R$ 25. O secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, acredita que os produtores paranaenses nunca viveram um momento tão favorável, com colheita de safra cheia, seguida de bons preços na hora da comercialização. No estado, além do crescimento na área plantada, as lavouras não foram afetadas pelo clima como em outras regiões. Ele destacou a renovação do convênio Arenito Caiuá, firmado entre o governo federal e o estadual, que vai garantir aporte de R$ 2,5 bilhões – R$ 500 milhões por ano até 2015 -, destinado a produtores rurais, cooperativas e associações para custeio de atividades agropecuárias. Entre os focos estão projetos de irrigação para reduzir a dependência do clima. Atraso no plantio As chuvas que caíram na fase da colheita da soja, principalmente nas regiões sul e centro-oeste do Paraná, além de prejudicar a qualidade da oleaginosa, afetaram o plantio do milho safrinha. Mesmo as variedades mais precoces da soja foram colhidas mais tarde do que o previsto por conta das condições do tempo. Como no campo o cereal ocupa o lugar do grão, isso acarretou um atraso também na semeadura do milho. De acordo com avaliação de técnicos da Conab, o plantio fora da época ideal torna a lavoura mais suscetível ao risco de geadas no Sul, por exemplo. Muitos agricultores só não recuaram do


Técnicos esperavam redução na intenção de plantio de milho por causa do encurtamento da janela, mas o que se viu foi o contrário. plantio porque já tinham comprado o pacote do milho safrinha. O atraso na colheita da soja em decorrência das chuvas foi mais sentido em Mato Grosso, estado líder na produção de milho da segunda safra. Nada que abale a previsão de um recorde histórico de milho este ano. Dos 42,68 milhões de toneladas que devem ser colhidos na segunda safra em todo o país – foram 39,11 milhões na temporada 2011/12 – mais de um terço, 16,78 milhões, sairão das terras matogrossenses que, na safra passada produziram 15 milhões/t. A área plantada aumentou de 2,65 milhões para 3,30 milhões de hectares. Técnicos da Conab chegaram a imaginar que em algumas regiões iria ocorrer uma redução na intenção de plantio em decorrência do encurtamento do prazo tecnicamente recomendado para o milho ssegunda safra. Os institutos agronômicos recomendam encerrar a semeadura do milho de segunda safra no mês de fevereiro, respeitando a “janela” – época ideal para um plantio seguro. O que se verificou foi uma intensificação do plantio até a segunda quinzena de março, fora do período ideal. Para os técnicos da Conab, essa decisão está ligada ao fato de que os preços de milho por ocasião do plantio ainda se mostravam atrativos, comparativamente aos dos demais produtos. O cereal também se apresentava como uma alternativa para o cultivo do feijão, que sofreu reduções significativas em sua área em função da forte incidência da mosca-branca, praga severa dessa cultura. Dados do Imea – Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária confirmaram que a área estimada para a segunda safra estava totalmente semeada na terceira semana de abril. Este foi o terceiro ano consecutivo em que o plantio da safrinha de milho atrasa no estado.

A segunda safra de milho mostra bom desempenho em várias regiões do país.

O risco dos produtores que semearam “fora da janela” é colher menos caso não chova regularmente no período de desenvolvimento das plantas. Na avaliação da Conab, as excelentes condições climáticas em todos os Estados produtores criam a expectativa de bons rendimentos no decorrer do desenvolvimento das lavouras. Em outros estados, a segunda safra também mostra bom desempenho. Em Mato Grosso do Sul, a área cultivada teve aumento de 1,19 milhão para 1,32 milhão/ha e a produção prevista deve ir de 6,11 milhões para 6,23 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul, por conta das peculiaridades climáticas, não planta a safra de inverno. Na safra de verão, o milho recuou em área plantada, de 1,11 milhão para 1,03 milhão/ha, mas deu um salto em produtividade – saiu de 3,34 milhões para 5,33 milhões de toneladas, aumento de 59,5%. O feijão, terceiro principal grão em área cultivada no país, perdeu áreas para outras culturas e, no conjunto das três safras, caiu de 3,26 milhões para 3,06 milhões/ha plantados. A primeira safra, apesar dos preços atraentes, sofreu forte competição da soja e teve 9,7% de redução na área. A segunda safra, pressionada pelo milho, também teve queda em área, de 1,39 para 1,30 milhão/ha, mas cresceu 18% na produção, de 1,06 milhão para 1,25 milhão de toneladas. No total, o produto apreciado pelo consumidor brasileiro fechou o ciclo atual com 3,2% de aumento na produção em relação ao anterior, de 2,91 milhões para 2,98 milhões de toneladas. Além da boa contribuição do milho, o grande impulso para a alta produção brasileira de grãos nesta safra foi dado pela soja, com um crescimento de 23,4% na produção, passando de 66,38 milhões para 81,94 milhões de toneladas – um

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novo recorde. A produção total do milho, primeira e segunda safras, estimada em 77,45 milhões de toneladas, também é recorde, segundo a Conab. A área plantada em grãos na safra 2012/13 totalizou 53,04 milhões de hectares e é 4,2% superior aos 50,89 milhões cultivados no período anterior. Entre as grandes culturas, a soja apresentou o maior crescimento de área plantada, 2,67 milhões de hectares, seguida do milho segunda safra, com crescimento de 1,02 milhão/ha. O arroz, o feijão e o trigo aparecem entre as culturas que perderam área em relação à safra passada, mas os dois primeiros grãos tiveram aumento de produção graças à melhor produtividade. Somatória positiva Numa safra em que as condições climáticas causaram perdas ou prejudicaram a qualidade dos grãos em estados como o Rio Grande do Sul, Mato Grosso e da região nordeste do país, o Paraná fez a diferença. À tradicional qualidade dos produtores de grãos, afeitos às melhores tecnologias de produção, somaram-se fatores climáticos mais estáveis e o estímulo dos bons preços. Embora o estado também cultive outros grãos, como trigo e feijão, a soja e o milho são grandes destaques no portfólio de produtos agrícolas. A área plantada com a oleaginosa aumentou de 4,4 milhões para além de 4,6 milhões/ha entre a safra passada e esta, mas o grande salto foi na produtividade, que subiu 35%, passando de 2.464 kg para 3.329 kg/ha. “Na soja, recuperamos a produtividade perdida na safra passada em razão de problemas climáticos, principalmente uma estiagem severa no final de 2011 e início de 2012”, avalia o coordenador da Divisão de Conjuntura do Deral, Marcelo Garrido. Com as áreas de produção mais próximas do Porto de Paranaguá, o Paraná não sofreu o impacto da falta de 30 | Agro DBO - maio 2013

Produtores e técnicos apostam que a próxima safra também será rentável.

caminhões e do aumento no custo do frete, como ocorreu com o centro-oeste. O clima ajudou: os problemas pontuais, como a estiagem de julho a setembro e as chuvas na colheita, afetaram menos as lavouras paranaenses que as de Mato Grosso, por exemplo. Os preços também contribuíram, mantendo-se em patamar elevado durante todo o ciclo. No ano passado, a saca teve preço médio de R$ 59,41, com picos de R$ 74, os mais altos do país. Em março último, o valor da saca havia recuado para R$ 55,96, mas o agricultor paranaense, como lembrou Garrido, contrariou sua própria tradição e antecipou a venda de 25% a 30% da produção. “Em anos anteriores, a venda no mercado futuro não passou de 5%”, disse. O técnico aposta que a próxima safra de soja também será boa. “O plantio só começa em setembro, mas como o produtor se capitalizou nesta safra, já tem agricultor adquirindo insumos e não há nada que indique redução de área.” O otimismo do órgão do governo contagia o agricultor Antonio Pedrini. A produção de soja foi cerca de 10% melhor que no ano passado, quando o clima irregular e o ataque de pragas influíram no resultado da lavoura. Este ano, o tempo foi generoso com a cultura e com o produtor. As chuvas caíram nos momentos certos, logo após o plantio e, mais tarde, quando as plantas já emitiam flores, encerrando uma sequência de dias quentes e secos. A terra roxa e fértil respondeu com a liberação de nutrientes para a plantação, formada com sementes de três variedades – as melhores para a região, segundo Pedrini. “A lavoura veio muito parelha e os pés de soja carregaram até vergar.” Ele conta que choveu um pouco mais do que devia só na hora de colher, mas não chegou a atrapalhar a colheita, nem a qualidade do grão. O produtor havia antecipado a venda de apenas 20% da produção a R$ 58,50


O plantio da próxima safra começa em setembro no Paraná, mas como o produtor se capitalizou, já tem gente comprando insumos. a saca. Como, no pico da safra, o preço da soja recuou, ele decidiu estocar o restante à espera de uma reação. No dia 16 de abril, a soja estava cotada a R$ 50,08 na região. O agricultor Marco Bruschi Neto, de Maringá, que tem áreas de produção na zona do arenito, também ficou na dependência das chuvas para conseguir boa produção. Entre novembro e dezembro do ano passado, ele viu a plantação de 300 ha de soja murchar sob o sol inclemente na estiagem que atingiu a região. “Achei que tinha perdido boa parte da lavoura, estimando a queda de produção entre 20% e 30%”, disse. Quando as chuvas voltaram, ele percebeu que as plantas reagiram. Na colheita, o agricultor constatou que havia conseguido média de 52 sacas/ha. Nos talhões plantados sobre o solo de arenito, a média chegou a 54 sacas por hectare. As lavouras de Bruschi são de sequeiro – sem irrigação. Nos dois anos anteriores, ele fez contrato futuro da produção de soja e conta que perdeu dinheiro. “A produção foi menor do que eu previa e o preço, na colheita, estava mais alto.” Este ano, ele não fez contrato e vai esperar até 120 dias para vender a produção. O agricultor plantou milho de segunda safra na área em que a soja foi colhida. Bruschi chegou a ficar indeciso no momento da semeadura, pois com o atraso na colheita da soja, ele plantaria parte do milho fora da época ideal. Ele preferia ter plantado trigo, mas naquela altura já estava com a semente do milho, o adubo, tudo comprado. “Sempre fui plantador de trigo, mas o governo não tem uma política de incentivo, prefere importar a garantir o preço para o produtor.”

Bruschi acredita que o trigo é uma cultura mais apropriada do que o milho para a rotação com a soja. “A soja semeada sobre a palha do trigo forma uma lavoura mais limpa e parelha do que quando sucede o milho”, disse. Desafio em produtividade A escassez de terras para lavoura e a dificuldade para abertura de novas áreas em razão do rigor das leis ambientais têm levado os produtores de Estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul a buscar maior produção através do aumento na produtividade. Para o presidente da paranaense Cocamar, Luiz Lourenço, essa é a forma de os produtores se manterem competitivos. “Os custos sobem sempre e a margem de lucro vai ficando apertada”, pontuou. Segundo ele, o potencial para ampliar as médias ainda é grande mesmo nas regiões bastante exploradas do Paraná. “Há alguns anos, poucos acreditavam que seria possível ir além de 62 sacas de soja/ha. Hoje, 62 sacas é uma marca que já não impressiona tanto”, disse. O concurso de produtividade da Cocamar tem esse objetivo. Na segunda edição que envolveu a safra de soja de 2012/13, os produtores finalistas colheram acima de 68 sacas/ha. Os vencedores tiveram produtividade de 82 sacas/ha – os melhores em cada uma das três regiões atendidas pela cooperativa ganharam uma viagem técnica aos EUA, com direito a visitar regiões de alta produção agrícola. Apesar de terem enfrentado problemas climáticos, que fizeram a produtividade oscilar bastante de um município para outro, os cooperados fecharam a

Milho ganha da soja nos EUA A área de produção de milho nos Estados Unidos cresceu 7,1 milhões de hectares nos últimos dez anos. Na safra do ano passado, o país produziu 274 milhões de toneladas – 3,5 vezes a produção brasileira. A área da soja cresce em ritmo mais lento, com aumento de 1,1 milhão de hectares nos últimos 12 anos. Para o vice-presidente da Associação de Soja de Illinois, Bill Raben, a produção de milho cresceu exponencialmente para atender a demanda por etanol no país. Segundo ele, em território americano, 35% da área agrícola são ocupados pelo milho, 29% pela soja e 21% pelo trigo. O americano participou do 8º Circuito Aprosoja, em meados de abril, na região oeste de Mato Grosso. Segundo ele, como o foco do produtor americano está no milho, os pesquisadores relegaram a soja a um segundo plano. Ele contou que a pesquisa, ponto forte dos agricultores americanos, acabou afetada pela crise econômica. Por isso, as associações de produtores vêm buscando parcerias com universi-

dades. Rabben apresentou como vantagens competitivas do mercado norte-americano a boa infraestrutura de transportes que usam, inclusive, um quase centenário sistema de balsas no rio Mississipi. Há ainda parcerias entre os produtores e outros setores da cadeia, como a indústria de processamento de grãos e criadores de gado e aves. As legislações trabalhista e ambiental são rigorosas, o que leva muitas propriedades a terem mão de obra familiar. A legislação quer barrar esse costume. “O governo não quer que as crianças, nossos filhos e netos, nos ajudem na lida da fazenda”, contou. Há implicação dos ambientalistas até com a poeira que sai das colhedoras. As terras agricultáveis no país estão cada vez mais escassas. “Não temos área para expansão, por isso as terras estão cada vez mais caras”, observou. Segundo ele, a demanda por biocombustíveis na Europa desperta novo interesse pela soja nos Estados Unidos.

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Capa Percevejo é novo inimigo Ataques de percevejos a lavouras de milho segunda safra no Paraná foram reportados à Secretaria de Agricultura por agricultores das regiões norte e, principalmente, oeste do estado. De acordo com a técnica Juliana Yagushi, do Deral, são ocorrências pontuais e não devem acarretar quebra na produção. “O agricultor reclama porque, ao invés de fazer uma aplicação de defensivo, ele pode ter que fazer duas ou três. Aumenta o custo, claro, mas controla a praga e garante a produção”, disse. Ela explica que o aumento na utilização da tecnologia Bt possibilitou o controle da lagarta-do-cartucho, principal praga do milho, mas fez com que outras pragas, como o percevejo, ganhassem mais expressão. Foram identificados ataques do percevejo barriga-verde e do percevejo-marrom. “Não é geral, são ataques pontuais que podem ser controlados com o manejo correto da lavoura.” Segundo ela, o percevejo-marrom é comum na soja, principalmente a mais tardia. Na safra paranaense da oleaginosa foram registrados ataques dessa praga, embora não tenham acarretado perdas significativas. O percevejo acaba ficando na palha da soja, reaparecendo quando o milho é plantado. “A rotação soja-milho tem esse inconveniente”, disse. Quando os agricultores plantavam só o milho convencional, a aplicação feita para controle da lagarta-do-cartucho, continha substâncias para controle também do percevejo. De acordo com Juliana, no final de abril não havia incidência de outras pragas nas lavouras paranaenses e as condições eram favoráveis a uma boa produção. Levantamento do Deral indicava 55% das lavouras em desenvolvimento vegetativo, 31% em floração e 14% já frutificavam.

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O Paraná sofreu mais com percevejos nesta safra do que com lagartas, como vem ocorrendo em áreas do Nordeste, Sudeste e Centro-Oesteo

safra com média de 56 sacas de soja por hectare. Em São Paulo, o governo paulista criou um projeto de recuperação de áreas degradadas através da Integração Lavoura Pecuária, o Integra SP. A exemplo do que ocorre no Paraná e no Mato Grosso do Sul, o território paulista possui extensas faixas de solo de consistência arenosa onde predominam pastagens de baixo retorno econômico. Trabalhadas, essas áreas podem ser transformadas em terrenos férteis para o cultivo de milho e soja, além de outras culturas. Lançado em março, o projeto será executado pela Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão da Secretaria de Agricultura. Conforme levantamento, São Paulo possui área agricultável de 21,5 milhões/ha, dos quais 40% são pastagens, grande parte das quais degradadas. A agricultura de precisão é outra fórmula que vem sendo usada para aumentar a produtividade e o rendimento da lavoura. De acordo com o engenheiro agrônomo Leonardo Atsushi Kami, da Cocamar, os bons resultados obtidos pelos produtores que aderiram à tecnologia estimulam outros agricultores. “O alto custo dos insumos também faz com que mais produtores invistam em equipamentos que plantem com precisão, adubem sem desperdício ou erro e monitorem a produtividade de cada talhão”, disse. O produtor Luiz Henrique Pedrone, de Cianorte, que investe em agricultura de precisão desde 2008, vem obtendo ganhos de 5% a 10% de produtividade ao ano em sua área de cultivo de 410 ha. Inicialmente ele fez o georreferenciamento da propriedade, em seguida a análise e a correção do solo. “Minha área era muito manchada e esse trabalho deixou o solo mais parelho em termos de fertilidade”, contou. No ano passado, o produtor investiu na compra de uma colhedora equipada com sensores e monitor de colheita com GPS. O equipamento registra a produtividade a cada três segundos. Com o mapa gerado em colheitas de soja e milho, Pedrone tem condições de avaliar a produtividade de cada talhão e fazer correções em caso de problemas como deficiência nutricional, compactação ou pragas.


Artigo

Luz amarela Do ponto de vista dos preços futuros, os analistas são unânimes em demonstrar que os anos de vacas gordas podem ter acabado. Rogério Arioli Silva *

N

otícia divulgada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária alerta que haverá um significativo aumento no custo de produção da soja (em torno de 15%) na próxima safra. Não se trata de antever crises e dificuldades semeando pessimismo onde o otimismo costuma imperar, mas, sobretudo, da percepção real na crença de números que, às vezes, incomodam. É indiscutível que alguns setores da agricultura brasileira surfaram na robusta onda que o aumento da

Fusões e aquisições de fornecedores de insumos e compradores de grãos varreram do mapa as pequenas e médias empresas, capazes de emprestar maior concorrência ao mercado. Resulta disto que grande parte da renda produzida no campo é transferida imediatamente para outros setores da economia, num processo histórico facilmente detectável. Dois exemplos recentes demonstram como receitas que deveriam ficar com o produtor são perdidas no meio do caminho: o aumento médio de 40% nos fretes e as despesas portuárias ampliadas

Surge a pergunta inevitável ao produtor rural: “Guardou recursos para os anos difíceis?”

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

demanda e as quebras pontuais de safras (principalmente a americana) ofereceram nos últimos dois anos. Contas feitas, em muitos casos sobraram recursos para “botar a casa em ordem” e liberar investimentos represados pelos anos de chumbo da descapitalização, esta oriunda da defasagem cambial e dos juros elevados do passado recente. Importa destacar que as linhas de crédito para aquisições de máquinas e equipamentos, apesar de permitir aos produtores acesso às novas tecnologias, são mais bem aproveitadas pela indústria, principalmente na ampliação das margens de lucro. Esta disputa de margens, característica das economias modernas, na maioria das vezes é absorvida (ou seria apropriada?) pelos setores mais organizados da cadeia produtiva, principalmente pelo fato de serem cada vez em menor número.

pelo congestionamento de navios nos portos brasileiros. Este débito já está pendurado na conta do produtor e aquele que ainda não o pagou, certamente o fará logo mais, quando da viabilização do próximo cultivo. Do ponto de vista de preços futuros, os analistas são unânimes em demonstrar, com gráficos e tabelas, que os anos de vacas gordas podem ter acabado e que é possível uma cotação de soja abaixo dos U$ 12/bushel e de milho abaixo de U$ 6/bushel, a partir da provável recomposição dos estoques mundiais. Com um cenário destes, potencializado pelo aumento dos custos de produção já citados, na safra 2013/14 poderá acontecer novamente a inviabilização econômica das fronteiras agrícolas, justamente o onde a agricultura teima em crescer. “Mas a infraestrutura está mudando, com novas opções de logística”, bradariam os mais otimistas. “Sim, mas

a passos de tartaruga”, lembrariam os “nem tanto”. “Mas a agricultura tropical brasileira se supera a cada ano produzindo grandes safras,” pontuariam alguns. Mas serão elas capazes de competir no mercado quando se sabe que o produtor de Sorriso (MT) gasta U$ 135/ton. para levar seu produto aos portos, enquanto o americano gasta apenas U$ 18/ton.? A dificuldade de fechar os números da próxima safra provoca apreensão no campo. Sementes encarecendo de maneira assustadora, fertilizantes mantendo-se em patamares elevados de preços, óleo diesel e mão de obra em curva ascendente e demanda crescente de defensivos necessários na busca de altas produtividades são alguns fatores da intranquilidade reinante. O herbicida mais utilizado pelos produtores de soja teve seu preço acrescido em 80% nos últimos três anos, fato que demonstra mais uma vez a voracidade dos setores oligopolizados presentes do lado de fora da porteira. Surge a pergunta inevitável ao produtor rural: Guardou recursos para os anos difíceis? Certamente muitos responderão que não, pois quem para de investir em tecnologia rapidamente perde competitividade, sendo alijado do processo. Ciclos de alta e baixa de preços são comuns quando se trata de produtos agrícolas, mas a referência dos custos normalmente tem apenas uma direção, a qual já é conhecida pelo produtor, recuando apenas em raríssimas situações. É salutar, portanto, que se tenha muita cautela neste momento de definições, pois ao se negligenciar a luz amarela é provável o risco de acidentes de graves proporções. maio 2013 - Agro DBO | 33


Entrevista

O associativismo rural no MT vai muito bem O desafio é a próxima crise, pois são cíclicas. A questão não é se vai ter crise, mas quando virá; precisamos nos preparar.

O

presidente da Aprosoja, Associação dos Produtores de Soja e Miho do MT, Carlos Henrique Baqueta Fávaro, concedeu entrevista para a Agro DBO especificamente sobre o associativismo. Fávaro tem 43 anos, é natural de Bela Vista do Paraíso (PR); é um migrante que chegou em Lucas do Rio Verde (MT) em 1986. É casado, tem duas filhas, cursou o ensino médio completo, e é produtor rural de soja e milho em área de 600 hectares em Lucas do Rio Verde (MT). Presidente da Aprosoja desde 2012, com mandato em vigor até 2013, participou de diversas viagens, especialmente em compromissos pela Aprosoja. Conhece a China, EUA e alguns países da Europa.

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Agro DBO - Como anda o associativismo rural no MT? Carlos Fávaro - O associativismo rural em Mato Grosso vai muito bem, é um dos pontos fortes do nosso setor agropecuário. Além da Aprosoja, temos entidades fortes como a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), a Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), essas duas pioneiras, e ainda a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat). Um dos grandes destaques de Mato Grosso é que as entidades trabalham em conjunto, as associativas e as ligadas às Federações. Isso tudo é demonstrado em programas como o Movimento Pró-Logística, no Soja Plus e também em ações judiciais em benefício dos produtores rurais. Um dos papéis importantes das associações é a formação de lideranças. Dois dos recentes governadores de Mato Grosso foram presidentes de associações: Blairo Maggi, da Ampa, e Rogério Salles, da Aprosoja. Agro DBO – Há espaço para a Aprosoja crescer, como associação? Carlos Fávaro – Há muito espaço para a Aprosoja crescer. Estamos trabalhando em benefício dos produtores rurais de Mato Grosso há oito anos e, como a produção não para de crescer no estado, ainda temos muito trabalho a fazer.


Uma das grandes forças da Aprosoja é o resultado que ela entrega aos produtores. Em recente levantamento, em apenas três pontos, o retorno é de R$ 60,00 para cada real investido pelo produtor na associação. Ainda existem localidades que não conseguimos chegar porque Mato Grosso é um estado enorme. O município de Gaúcha do Norte, por exemplo, é um núcleo da Aprosoja e há apenas um ano foi instalada uma torre de celular por lá. Ou seja, a comunicação ainda é precária em algumas partes do estado e temos este desafio de chegar a todos os produtores rurais levando informações importantes para seu negócio. Agro DBO – Por que o associativismo entre produtores rurais tem sucesso no MT e quase nada no restante do Brasil? Carlos Fávaro – Alguns pilares são essenciais para o associativismo ter sucesso. É preciso governança, uma gestão profissional da associação. Além disso, é necessária transparência, valorização do corpo técnico, normas claras e metas arrojadas. Os recursos financeiros também são essenciais, pois é com dinheiro que se pode investir em todos estes pontos citados acima e trabalhar com tranquilidade para o benefício dos associados. Aqui em Mato Grosso, os produtores conseguiram se unir fortemente em torno de lideranças, que são essenciais para que a classe lute por seus direitos. Esses líderes são diferenciados porque não só fundaram associações, mas atuam comprometidos, diariamente, para as melhorias. São elas que levam a um trabalho conjunto que conquista grandes vitórias. Outra particularidade de Mato Grosso é que somos um estado longínquo e com uma logística deficiente. As crises agrícolas, quando surgem no país, impactam mais fortemente nosso estado que os outros. E todas estas vezes

as lideranças conseguiram organizar os produtores e ganhar visibilidade e melhorias. Agro DBO – Em termos de atuação institucional na defesa dos produtores rurais, quais são as diferenças entre o associativismo e o cooperativismo? Carlos Fávaro – O associativismo é a luta pelos direitos de classe, é a representação de um setor para solucionar politicamente os gargalos da atividade. Ele trabalha para todos, independentemente de ser associado ou não. Já no cooperativismo, os produtores rurais constituem um negócio que tem o objetivo de dar retorno financeiro aos seus cooperados, é uma associação também, mas com fins econômicos. Os cooperados se unem em cooperativas para buscar oportunidades para o grupo, como comprar com melhores preços e armazenar grãos e agregar valor, por exemplo.

Agro DBO – A Aprosoja Brasil nasceu dentro da Aprosoja MT? Como vai a versão nacional? Carlos Fávaro – A Aprosoja Brasil foi fundada antes da Aprosoja Mato Grosso, porém estava inativa. O que a Aprosoja Mato Grosso fez foi resgatar esta entidade e fomentar a fundação de outras Aprosojas estaduais. Já temos Aprosojas estaduais no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Bahia, Pará, Piauí, além de Mato Grosso. O grande desafio da Aprosoja Brasil é fortalecer as atuais Aprosojas estaduais, além de criar novas entidades em estados importantes, como no Paraná e em Goiás, por exemplo. Uma das iniciativas deste ano foi o projeto Soja Brasil, que rodou estados produtores e apresentou o trabalho da Aprosoja para estes estados. O grande desafio de todos os estados tem sido a questão dos recursos financeiros, mas temos lideranças que estão

O associativismo é a luta pelos direitos de classe, para solucionar os gargalos. Agro DBO – Nos EUA e na Europa cooperativismo e associativismo andam de braços dados. Como se poderia adaptar esse modelo positivo para o Brasil? Carlos Fávaro – Em Mato Grosso, estamos tentando realizar essa união. A Aprosoja está em contato constante com as cooperativas do estado e com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). O Fórum de Cooperativismo, organizado pela Aprosoja, Associação dos Produtores de Algodão (Ampa) e a OCB é um exemplo disso, onde juntamos as principais cooperativas para discutir os melhores rumos. Se os produtores estiverem mais organizados, em cooperativas, por exemplo, terão menos problemas de sustentabilidade no agronegócio e, por consequência, vão facilitar o trabalho das associações.

se esforçando para trabalhar neste ponto e dar continuidade à implantação das associações. Agro DBO – Como o produtor rural não tem representatividade política, através de uma entidade nacional, pelo menos essa é a opinião de muitos líderes do agro, o que deveria ser feito para se estabelecer e concretizar essa entidade? Carlos Fávaro – A soja é a principal commodity do país e a Aprosoja Brasil tem o potencial de se tornar uma das principais entidades nacionais representativas do agronegócio. O grande desafio é garantir que ela seja legítima representante dos produtores do Brasil. Para isso, é fundamental a criação e fortalecimento das entidades estaduais, com essas características maio 2013 – Agro DBO | 35


Entrevista

que temos em Mato Grosso: fortes lideranças, recursos financeiros e governança. Agro DBO – Quais são as maiores conquistas do associativismo representado pela Aprosoja? Carlos Fávaro – Resgatando as origens da Aprosoja, a grande conquista foi ter liderado os produtores em meio à maior crise do setor nos anos de 2005 e 2006, quando a ferrugem, os preços internacionais e a desvalorização do real praticamente inviabilizaram a nossa agricultura. A Aprosoja foi fundamental no restabelecimento da autoestima e da competitividade do produtor por meio de várias ações políticas e também técnicas, como vazio sanitário, que representaram a volta ao curso da nossa agricultura. Mais recentemente, conquistamos diversos benefícios para os produtores rurais de Mato Grosso. Por exemplo, somente os mato-grossenses têm a opção de não pagar a Con36 | Agro DBO – maio l 2013

tribuição Social Rural (Funrural), depois de uma ação em que questionamos a legalidade desta taxa. Também conseguimos uma grande vitória sobre a multinacional Monsanto, que estava cobrando royalties sobre a soja RR1 com a patente vencida. Agora, os produtores do Brasil não precisam pagar e os mato-grossenses estão pedindo na Justiça o retorno do que foi pago ilegalmente nos últimos dois anos. O novo Código Florestal é mais uma conquista que contabilizamos como associação, pois nos organizamos politicamente para que as discussões fossem técnicas e para que ficasse possível de se produzir sem prejudicar o meio ambiente. E a melhoria da logística é algo que estamos conquistando ano após ano. Ainda falta muito, mas a associação trabalha para que as condições das rodovias sejam melhoradas e para que novos modais, como hidrovias e ferrovias, sejam implementados para facilitar o escoamento da produção. Agro DBO – O que precisa ser feito para o associativismo crescer no Brasil? Carlos Fávaro – Tudo começa com as lideranças, que já existem, e que precisam se mobilizar para questionar o seu atual modelo de representação de classe. As entidades rurais brasileiras também precisam se modernizar e se profissionalizar. Temos um dos setores agrícolas mais modernos e eficientes do mundo e precisamos levar para dentro das entidades estas mesmas qualidades que nos fazem referência em todo o mundo: inovação, empreendedorismo e profissionalismo. O desafio é nos unirmos antes que a próxima crise venha, pois elas são cíclicas. A pergunta não é se vai ter crise, mas quando ela virá, e precisamos estar preparados. Agro DBO – Há uma tendência histórica de os líderes associativistas, quando fazem algum su-

cesso, saírem candidatos a cargos no legislativo ou executivo federal. Isso é bom ou ruim? Carlos Fávaro – As lideranças se tornarem políticos com cargos executivos ou legislativos pode ser um bom negócio, pois a atividade rural terá maior representatividade. Porém, temos que lembrar que são mais de 80 senadores e 500 deputados federais no Congresso Nacional que precisam ser pautados. Não podemos terceirizar para eles uma função da entidade de classe, que é levantar as demandas embasadas e pontuais para o governo. Agro DBO – Como a Aprosoja se mantém e qual sua estrutura básica? Carlos Fávaro – A Aprosoja é mantida pelo Fundo de Apoio à Cultura da Soja (Facs), um fundo estadual que é alimentado por uma taxa cobrada dos produtores rurais na hora da venda de soja. O Facs foi criado por lei estadual e trata-se de uma contribuição específica. Não é compulsório, pois é condicionado a um diferimento. O valor pago tem como base um percentual da UPF (Unidade Padrão Fiscal) que é cobrado em todas as notas fiscais de venda de soja. Assim, a UPF/MT custa R$ 99,23, percentual para Facs é de 1,26%, logo, o valor é de R$ 1,25 por tonelada ou R$ 0,075 por saca. Somente MT e agora MS possuem este fundo. A sede da Aprosoja está localizada em Cuiabá, e conta com 35 colaboradores. Tem ainda 22 núcleos nos principais municípios do estado. Sua diretoria e seus delegados não são remunerados. Para ser associado é necessário fazer a contribuição para o Facs e atender requisitos como possuir Inscrição Estadual, por exemplo. Em Mato Grosso temos 5 mil associados, quase a totalidade de produtores de soja do estado. Para se associar, o produtor pode entrar no site da Aprosoja e solicitar o vínculo.


Artigo

Desperdício de alimentos Cerca de 50% do que é produzido no mundo é perdido no caminho entre a lavoura e a mesa do consumidor, conforme estudo recente. Décio Luiz Gazzoni *

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este mesmo espaço, já discuti o desafio de alimentar 9,5 bilhões de pessoas, daqui a 40 anos. Quero abordar outro ângulo da questão, não tão discutido quanto o anterior: o desperdício de alimentos. Afora as perdas que acontecem antes da colheita, até 50% dos alimentos do mundo são perdidos no caminho entre a lavoura e a mesa do consumidor, segundo um estudo recente do Instituto de Engenheiros Mecânicos da Inglaterra. Como a estimativa é de que necessitaríamos produzir mais 60% de alimentos até a década de 2050, grande parte do caminho poderia ser trilhada com a redução de desperdícios, com o bônus de pressionar menos os recursos naturais como terra, água, energia e fertilizantes.

variam drasticamente entre famílias rurais e urbanas.As famílias rurais são obrigadas a armazenar alimentos básicos ao longo do ano, logo seria de vital importância que as perdas fossem mínimas. Mas as instalações de armazenamento são primitivas, muitas vezes permanecendo inalteradas por gerações, e sujeitas a ataques de

“Nas sociedades menos desenvolvidas, as taxas de desperdício no varejo são maiores”.

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

Em países ricos, os sistemas de logística e práticas de marketing dos supermercados são delineados de maneira a que os produtos perecíveis permaneçam o menor tempo possível em exposição na loja, para reduzir o desperdício. Entretanto, devido às rígidas especificações cosméticas, de cor, forma ou tamanho, até 30% das colheitas são condenadas ainda no campo, gerando enorme desperdício. Nas sociedades menos desenvolvidas, onde as barracas são o principal mercado para produtos alimentares, as taxas de desperdício no varejo são consideravelmente maiores, e os padrões de desperdício doméstico

roedores, insetos e fungos. Em áreas urbanas, entre a população pobre, não é incomum as famílias comprarem comida duas ou até três vezes ao dia. Logo o desperdício é reduzido a um mínimo quando ocorre compra de comida suficiente apenas para o dia, ou até mesmo para a refeição. A maior incongruência ocorre nas sociedades mais “avançadas”, onde as maiores quantidades de alimentos são desperdiçadas diretamente na relação de varejo com o consumidor, no consumo doméstico ou em restaurantes. As razões variam desde a embalagem ligeiramente amassada, uma fruta ruim em um saco, porque a fruta amadu-

receu muito cedo, ou devido a que uma única folha de alface está danificada, em toda a peça. De acordo com o estudo referido anteriormente, da quantidade que chega às prateleiras dos supermercados, de 30 a 50% são jogados fora pelo comprador final, em sua casa, normalmente por estar próximo ou haver passado a data de vencimento. A rotulagem de muitos alimentos pode realmente incentivar o desperdício, pois os consumidores confundem as expressões “melhor consumir antes” e “usar até”. Além do que, essas datas em geral são muito conservadoras, buscando livrar o varejista de qualquer cominação legal. É comum nos restaurantes que os pratos sejam mais que generosos, ou que os bufês de “self service” provoquem desperdício de alimentos que não podem ser reaproveitados. Finalmente, outra razão muito importante é o fato de o consumidor ser seduzido por ofertas do tipo “pague 2 e leve 3”, comprando mais alimentos do que pode consumir. Ou seja, temos muito que fazer para evitar desperdícios, antes de pensar em simplesmente produzir 60% mais alimentos. maio 2013 - Agro DBO | 37


Fitossanidade

Perdas e polêmicas Aparentemente, a primeira geração de sementes com tecnologia Bt está perdendo a eficácia esperada pelos agricultores, para alegria das lagartas. Ariosto Mesquita

“J

Ariosto Mesquita

á sabia que o problema era grave, mas agora estou apavorado. Estamos perdendo a tecnologia!”. A exclamação não é de nenhum produtor desolado ao ver sua lavoura infestada por lagartas e, sim, de Renato Roscoe, diretor-executivo da Fundação MS, uma das instituições de pesquisa agropecuária mais atuantes do Centro-Oeste. Seu desabafo reflete o desarranjo que se instalou em diversas regiões agrícolas brasileiras a partir do final de 2012 quando uma alta infestação de lagartas – sobretudo Spodoptera (lagarta-do-cartucho) e Helicoverpa (lagarta-da-espiga) –, hospedeiras naturais do milho, começou a devastar cultivos comerciais desta cultura e acabaram migrando para outros cultivos (soja, algodão, feijão, etc.). Roscoe se re-

Milharal atacado por lagartas no município de Buritis, em Goiás

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fere à primeira geração de sementes geneticamente modificadas (GM) – conhecidas como milho Bt – liberadas para cultivo comercial em 2008, e que já não estão surtindo os efeitos desejados no campo, em várias regiões do país. Dentre eles, o controle das lagartas sem a necessidade de aplicação de produtos químicos na lavoura. Inicialmente funcionais, estas sementes estão claramente perdendo a disputa para os insetos. Em diversas fazendas, a infestação supera 50% das plantas, mesmo com cinco, seis ou sete aplicações. Ele não é o único assustado com o problema. Um clima de apreensão e, em alguns momentos, de angústia, tomou conta de pesquisadores, técnicos e produtores rurais durante o seminário nacional “Biotecnologia para a Sustentabilidade da Agricultura Brasilei-

ra”, realizado no dia 17 de abril em Campo Grande (MS), no auditório da Famasul – Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul. Os estudos, análises e debates realizados, apontaram para um quadro mais do que preocupante. Boa parte dos agricultores que migraram do milho convencional para o Bt para ganhar em economia e produtividade, estão hoje com o custo de produção igual ou até superior à situação anterior. E o que é pior, se a forma de cultivo não for modificada, não só a primeira geração do milho Bt está ameaçada, mas também as de segunda geração – já no mercado – e todas as que vierem na sequência. Uma teoria do professor Celso Omoto, da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de


Renato Roscoe, da Fundação MS: “O quadro nas lavouras (com a infestação maciça de lagartas) é apavorante”.

Pracicaba (SP), chamou a atenção e ganhou corpo durante o seminário. A adoção rápida e em alta escala no Brasil da primeira geração de milho Bt, aliada a um manejo incorreto no cultivo, teria, de uma forma indireta, possibilitado a multiplicação da população da lagarta Helicoverpa nas lavouras. Para entender melhor sobre isso, Omoto faz questão de lembrar o quadro anterior à chegada do milho Bt. Até 2007, segundo ele, a Spodoptera era agente fundamental no controle biológico da Helicoverpa. “Quando há pressão, esta lagarta, que se alimenta das folhas, passa também a atacar as espigas, competindo com a Helicoverpa e até predando-as.

Portanto, nesta época não tínhamos tanto o problema da lagarta-da-espiga pelo próprio controle natural. Quando a Spodoptera foi tirada do sistema pelo milho Bt, a Helicoverpa ficou livre para habitar seu hospedeiro preferido que é o milho. Daí, com a multiplicação do inseto no sistema ele foi alterando hábitos e passou a atacar outras culturas, como soja e algodão”, explica. Coincidentemente, o ataque mais intenso da lagarta-da-espiga em outras culturas começou após a adoção em larga escala do milho Bt. “Quando o grão é colhido a praga pula para outras culturas e essa é a hipótese que estou tentando validar”, ressalta Omoto.

Sua teoria explicaria o fato de a Helicoverpa ainda não ter sido problema grave em regiões onde não se planta milho verão, como no caso do Mato Grosso. Enquanto isso, tanto no oeste da Bahia quanto em parte de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, o ataque da lagarta foi devastador (mostrado na Agro DBO, edição 43, de março de 2013), pois são regiões que adotam o cultivo de milho safra. “No Mato Grosso o efeito deve ser retardado”, prevê o pesquisador. Refúgio maior A não adoção ou cultivo insuficiente de área de refúgio por parte dos produtores é unanimidade entre os pesquisadores como elemento agravante e alimentador dos altos níveis de infestação. No entanto, mesmo os percentuais indicados pelas empresas sementeiras para o Brasil – de 5% ou 10%, dependendo da tecnologia da semente – são questionados pelo professor Celso Omoto. “Em boa parte das áreas agrícolas do país temos plantas hospedeiras o ano todo e a pressão seletiva é muito grande. Nessa situação, refúgios de 10% ou 5% não fazem nem cócegas”, diz, se referindo à funcionalidade do manejo. Segundo ele, técnicas adotadas em outros países agrícolas preveem a revisão destes índices quando a adoção da tecnologia ultrapassar os 50% de toda área plantada com a cultura. maio 2013 - Agro DBO | 39


Fitossanidade Fotos: Sidney Fujivara

Dois exemplos do estrago provocado por lagartas: elas atacam soja, milho, feijão, algodão e outras culturas

Ele cita os Estados Unidos, onde as áreas de refugio na cultura do milho chegam a 20%, e a Austrália, que atingem até 50%. “A questão é que nestes países há certa regulamentação feita pelos governos; mas no Brasil estas orientações sobre áreas de refúgio são de responsabilidade das próprias empresas multinacionais detentoras da tecnologia”, diz Omoto, lembrando também que a adoção por parte do agricultor é voluntária. Áreas de controle maiores no Brasil também se justificam, segundo ele, pelas características das lagartas: “Tanto a Spodoptera quanto a Helicoverpa são bem mais tolerantes do que as pragas alvo dos Estados Unidos”. O professor da Esalq adverte para um “fato novo”, que deve ser levado em conta a partir de agora. “Com a descoberta de outra Helicoverpa, a armigera – uma praga quarentenária, não alvo da tecnologia Bt – precisamos mapear todo o sistema; temos de saber qual é o percentual e localização de infestação de cada espécie antes de tomar qualquer ação”, salienta. A lagarta foi identificada por pesquisadores da Fundação MT, UFG – Universidade Federal de Goiás e Embrapa Agropecuária Oeste. A comunicação oficial da Embrapa aconteceu no final de março deste ano. A inexistência de um fluxo adequado de informações entre as empresas de sementes e os 40 | Agro DBO - maio 2013

agricultores brasileiros é admitida pela diretora-executiva do CIB – Conselho de Informações sobre Biotecnologia, Adriana Brondani. “Temos de gerar e compartilhar informações com os produtores e existem programas neste sentido nas empresas. É preciso, sim, melhorar a eficácia para que a discussão com os agricultores ocorra de forma mais próxima”, avalia. O CIB tem como associados empresas multinacionais, fundações, cooperativas, institutos e associações de alguma forma ligadas á produção de sementes e à agricultura. Na tentativa de salvar alguma coisa das sementes de primeira geração (com uma proteína inseticida) da tecnologia Bt e preservar a funcionalidade da segunda geração (com duas ou mais proteínas), agricultores do Cerrado baiano vão adotar na safra 2013/14 um míni-

mo de 20% do total de cultivo de milho como área de refúgio. Quem garante é o professor Omoto, que é uma espécie de consultor do programa fitossanitário que se tenta implantar na região, considerada por ele como “um caos” em infestação de lagartas. “Nosso grupo recomendou este procedimento, que foi acatado por associações de produtores da região”, conta. Pacote de controle O refúgio maior faz parte, na verdade, de um pacote de controle estratégico das pragas. Além disso, está prevista a redução da janela de plantio para milho, soja e algodão. “Após as chuvas, haverá mais 45 dias para a semeadura, nada mais; caso contrário, teremos infestação e aplicações de inseticidas o ano todo”, explica. Também está prevista a adoção do vazio sanitário para outras culturas, aproveitando a medida para o controle de ferrugem asiática para a soja. “Não existindo culturas no campo a pressão de seleção é reduzida”, diz o pesquisador da Esalq. Para regulamentar e estabelecer oficialmente estas e outras medidas o Governo da Bahia deverá publicar decretos e portarias. Os prejuízos estimados nesta safra apenas para a região de Luiz Eduardo Magalhães, no oeste do estado, em função da praga, são de R$ 1,5 bilhão. De acordo com números Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da


Em muitos casos, o custo da tecnologia GM é mais alto do que a opção pelo plantio convencional, com aplicação de inseticidas. cionais e tem tido dificuldades em encontrar material de alta qualidade. “As empresas estão tirando do mercado”, afirma. Segundo ele, é fácil entender o motivo: “Quando o produtor não encontra materiais de alto potencial produtivo de milho convencional acaba sendo induzido a comprar sementes geneticamente modificadas, bem mais caras”. Além de bons resultados, Novaes garante que sua opção lhe traz economia. Em abril deste ano ele dimensionou isso em números. “No mercado, a diferença de preço de sementes de híbridos Bt para convencional é de R$ 140,00/ha, comparando materiais de semelhante potencial produtivo”, revela. Por outro lado, teoricamente o milho Bt está no mercado como capaz de reduzir o custo de produção para o agricultor em função da supressão ou redução do número de aplicações de inseticidas. “Quando o milho transgênico mostra eficiência, o que não tem acontecido muitas das vezes, esta redução de custo seria de aproximadamente R$ 60,00/ha. Portanto, considerando que em algum momento a tecnologia Bt funcione bem, ainda assim teríamos uma diminuição de custos da ordem de R$ 80,00/ha com a utilização do Sidney Fujivara

Bahia (AIBA) a produtividade do milho caiu 22% – 125 sacas diante de uma expectativa de quase 160 sacas por hectare. O pesquisador Germison Vital Tomquelski, da Fundação Chapadão, sediada em Chapadão do Sul (MS), afirma que, quando é chamado a campo para verificar infestações de lagartas não é raro encontrar áreas com 100% das plantas atacadas, sendo 50% destas plantas com cartuchos destruídos. “Recentemente vi um quadro como este em cultivo de milho Bt Herculex”, conta. Outro fato que o impressionou ocorreu quando instalou coletores de insetos na região próxima da divisa dos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. “Em uma só noite, das 600 mariposas coletadas em uma só armadilha, 200 eram Helicoverpa”, revela. A infestação era tão intensa que Tomquelski questiona a viabilidade da utilização do material transgênico: “O custo da tecnologia pode ficar mais alto do que a opção pelo plantio do milho não geneticamente modificado, com aplicações de inseticidas”. Entretanto, tanto a adoção do cultivo de milho não GM quanto à instalação de áreas de refúgio exigem sementes convencionais de boa qualidade. E nesse ponto, produtores e pesquisadores alegam que não está havendo disponibilidade no mercado em condições e em quantidades suficientes. “Será que o País terá de ter alguma lei estabelecendo e exigindo a oferta regular destas sementes por parte das empresas responsáveis?”, indaga. O produtor Luis Alberto Moraes Novaes sente este problema de forma direta. Dono da fazenda Santo Antonio, em Maracaju (MS), onde trabalha com integração lavoura-pecuária, ele fez opção pelo cultivo de milho através de sementes exclusivamente conven-

milho convencional”, garante. O desfalque financeiro provocado por lagartas na propriedade do agricultor Sidney Fujivara, em Capão Bonito, no sul do estado de São Paulo, reflete bem o potencial de geração de perdas das pragas, sejam elas diretas ou indiretas. Segundo ele, na safra 2012/13 o ataque das lagartas Helicoverpa, Heliotis e Pseudoplusia nas culturas do feijão e da soja “foram muito intensos”. Mesmo admitindo que estava preparado para a infestação em função das notícias de ocorrências em outras regiões brasileiras, Fujivara não escapou de baixas. “As pragas foram controladas com um número maior de aplicações, maior diversidade de produtos e com doses muito maiores que os padrões normais. Com isso o meu custo com inseticidas aumentou em 120% em relação à safra 2011/12”, revela. No milho segunda safra, ele vem percebendo alta infestação de lagartas do gênero Helicoverpa (assim como a maioria de produtores, técnicos, agrônomos e pesquisadores, ele ainda não distingue a H. zea da H. armigera). “Esta concentração acontece, sobretudo em relação ao material Herculex (semente Bt). No entanto, não é tão severa no milho, a ponto de gerar prejuíInfestação em milho no sudoeste paulista: na região, o estrago maior ocorreu no feijão

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Fitossanidade zos econômicos”, garante. De uma forma geral, a salvação da lavoura com produtos químicos deixou seu registro no balanço financeiro da fazenda. “Consegui um bom controle das lagartas e não tive redução de produtividade, mas meu custo de produção aumentou em 14% em relação ao último ciclo pelo maior volume de aquisição e aplicação de inseticidas”, conta.

ciclo produtivo diferenciado e por condições climáticas (longos períodos de chuva dos primeiros meses do ano) não favoráveis à proliferação da praga. No entanto, técnicos e autoridades sabem que estas condições mudam com a chegada dos meses secos e já determinaram uma espécie de monitoramento da incidência dos insetos. No final de março, uma comissão formada por representantes da Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, do Imea – Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária e Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi conhecer o problema de perto nos estados do Piauí e na Bahia. “Nós ficamos apavorados”,

Centro-Oeste O estado de Mato Grosso – maior produtor de grãos do Brasil – está em alerta em função da disseminação de lagartas nas lavouras brasileiras. Até abril, o estado havia escapado de infestações mais severas, como as ocorridas na Bahia, Piauí, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, provavelmente pelo

conta Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja-MT, impressionado com a voracidade do inseto. “Eu vi lagarta devorando grão duro de soja!”, exclama. A viagem técnica ainda constatou a versatilidade da praga. “Nenhuma lavoura está a salvo; as lagartas atacam milho, milheto, soja, sorgo, algodão e até crotalária”, relata. Não só a Helicoverpa está tirando o sono de agricultores. Estudo feito este ano pelos pesquisadores José Fernando Juca Grigolli e André Luis Faleiros Lourenção, da Fundação MS, comprovou alta infestação da Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) em lavouras comerciais de milho transgênico na região de São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul. Em uma das quatro propriedades onde fo-

Medidas sugeridas As conclusões finais do seminário nacional “Biotecnologia para a Sustentabilidade da Agricultura Brasileira” não haviam sido formatadas até o fechamento desta edição. A seguir, relacionamos sugestões apontadas pelos participantes do encontro ao longo dos debates: 1) Criação e implantação do Fórum Nacional de Monitoramento dos Cultivos (FNMC), a ser responsável pelo levantamento de dados de cultivos, de quantificação da adoção de tecnologias, de eventuais quebras de resistência e mapeamento dos fatos; 2) Criar mecanismo para distribuir os encargos de manejo das sementes geneticamente modificadas entre produtores e empresas; 3) Redimensionar, junto às empresas de sementes GM, os percentuais das áreas de refúgio a serem adotados para as diversas tecnologias de primeira e segunda geração;

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4) Interceder para que as empresas de sementes ofertem no mercado, em quantidade e qualidade ideais, sementes convencionais das principais culturas brasileiras; 5) Notificar a Abrasem – Associação Brasileira de Sementes e Mudas e associações estaduais do setor sobre o não fornecimento de sementes convencionais em quantidade e qualidade ideais, alertando para o atendimento e cumprimento do programa Plante Refúgio;

6) Encaminhar pedido ao Governo Federal para a liberação de recursos adicionais visando pesquisas sobre resistência de pragas a organismos geneticamente modificados; 7) Interceder junto às empresas de sementes para que criem canais funcionais de comunicação e de acompanhamento junto ao produtor rural para que as informações sobre a utilização das tecnologias disponíveis cheguem claras e garantam a correta utilização a campo.


Pesquisadores encontraram vários equívocos de manejo nas lavouras, que acabaram potencializando o ataque das lagartas

Primeira geração As infestações mais significativas aconteceram em cultivos de sementes Bt de primeira geração (uma proteína). As tecnologias consideradas de segunda geração (cultivares com duas ou mais proteínas) apresentaram níveis populacionais de lagartas sem prejuízos econômicas às lavouras. Os agrônomos também registraram que a maior área de refúgio encontrada foi de 3,8%, bem abaixo dos 10% ou 5% – variável conforme a tecnologia adotada – recomendados pelas empresas sementeiras no Brasil. Em uma das propriedades esta área de controle simplesmente não existia. Além do pequeno percentual cultivado com milho convencional (área de refúgio) foram constatados outros equívocos de manejo que, segundo os pesquisadores, potencializaram o ataque. Dentre eles o uso contínuo de uma mesma tecnologia Bt em safras e safrinhas de milho e a coexistência muito próxima de áreas de safras diferentes. Ao que tudo indica, o nível de infestação poderia ter sido inferior caso os agricultores tivessem acesso a todos os materiais necessários a um manejo adequado. Os produtores relataram aos agrônomos a dificuldade em encontrar no mercado sementes convencionais com boas características agronômicas. Neste aspecto, documento da Fundação MS – que detalha o estudo – menciona a “necessidade visceral de um esforço conjunto”

entre os produtores e as corporações disseminadoras de sementes no Brasil para garantir “maior durabilidade das tecnologias Bt disponíveis no mercado”. Mas não só a oferta regular de sementes convencionais é vista pela Fundação MS como garantia da adoção de refúgio. O texto do estudo é claro com relação às responsabilidades das multinacionais que dominam o mercado de transgênicos no Brasil: “Empresas devem fornecer híbridos convencionais no mercado, dando opções para os produtores no momento da compra das sementes, bem como orientá-los

priedades. Quatro campos experimentais da Fundação MS, em São Gabriel do Oeste, também foram inspecionados. Neles o índice de infestação foi “zero” sem aplicação de inseticidas. Há de se ressaltar que se tratava de áreas de abertura com o primeiro cultivo de milho com diversos materiais (sementes). Independente de situações específicas, a Fundação MS faz algumas recomendações básicas, que destacamos a seguir: 1 – Adoção de áreas de refúgio e de táticas de coexistência (NR: a propósito, leia Contenção de lagartas, na página seguinte); 2 – Empresas devem

e auxiliá-los no plantio correto da área de refúgio e da rotação da tecnologia Bt utilizada.” As quatro fazendas visitadas continham talhões com diferentes tecnologias Bt. Em cada um deles (talhão e híbridos) foram feitas amostragens para determinar o índice de infestação. Os pesquisadores documentaram todos os quadros com fotos. Em todas as propriedades foram verificados ataques pela lagarta-do-cartucho. Os agrônomos alertam que a situação encontrada não deve servir de parâmetro para toda a região, pois “foram visitadas poucas pro-

fornecer sementes convencionais de boa qualidade e similares aos híbridos Bt. Uma das sugestões é a comercialização casada: em 100 sacos de milho adquiridos pelo produtor, 10 deles devem ser convencionais; 3 – Evitar o plantio sucessivo na safra e na safrinha ou de várias safrinhas seguidas com sementes com a mesma tecnologia Bt, fazendo uma rotação de genes plantando, em cada ano, uma tecnologia; 4 – Monitorar as áreas, pois algumas pragas, como a lagarta-do-cartucho, não são eliminadas por completo por algumas tecnologias Bt.

Walderlei Dias Guerra

ram feitos os levantamentos, um dos talhões apresentou índice de 50% de plantas atacadas pelo inseto, mesmo após três aplicações de inseticidas. Em outra fazenda, o percentual chegou a 58,3% mas os pesquisadores não tiveram acesso à informações (sobre refúgio, aplicações, etc.).

Técnico examina uma planta no oeste da Bahia: “Eu vi uma lagarta devorar grão duro de soja”

maio 2013 - Agro DBO | 43


Tecnologia

Contenção de lagartas A área de refúgio é parte fundamental nas estratégias de manejo de resistência de insetos-praga em lavouras que utilizam a tecnologia Bt. Simone M. Mendes (1), José M. Waquil (2), Sandra Maria Moraes Rodrigues (3) e Adeney de Freitas Bueno (4)

A

lgumas perguntas continuam sem respostas, no que diz respeito à infestação maciça de lagartas em lavouras de milho Bt. Entre elas, uma é recorrente: o plantio da área de refúgio foi realizado de forma a atender os princípios básicos do MRI – Manejo de Resistência de Insetos? Dados preliminares de pesquisa realizada pela Embrapa Milho e Sorgo, na safra 2011/12, mostraram que mais da metade dos produtores entrevistados afirmaram que faziam uso da área de refúgio em milho. No entanto, quando averiguadas as formas de manejo, ficou evidente que muitos deles não o faziam adequadamente para evitar a seleção de insetos resistentes a essa tecnologia. Além disso, observou-se que ainda existe muita confusão entre os conceitos de área de refúgio e os conceitos da lei de coexistência que regulamenta a distância de plantio entre áreas de milho Bt e convencional. 44 | Agro DBO – maio 2013

Área de refúgio é a semeadura de um menor percentual da lavoura realizado adjacente à área cultivada com transgênicos, expressando Bt, mas com cultivares da mesma espécie, não-Bt ou “convencional”, de igual porte e ciclo, de preferência as cultivares isogênicas. Atualmente, no Brasil, estão aprovados pela CTNBio cultivares transgênicas que expressam proteínas inseticidas oriundas do Bt para algodão, milho e soja, embora, por questões comerciais (falta de liberação na China), a soja Bt ainda não esteja disponível ao sojicultor. Assim, a área de refúgio consiste em semear uma cultivar de milho ou algodão convencional, e futuramente também soja, intercalada (adjacente) com as cultivares transgênicas, utilizando o mesmo manejo relacionado à irrigação, à adubação e aos demais tratos culturais. O plantio da área de refúgio é parte fundamental das estratégias de manejo de resistência de insetos-praga (MRI) em lavouras que utilizam a tecnologia Bt. Além disso, a

expressão de alta dose da proteína Bt na cultivar transgênica auxilia a retardar a evolução da resistência por reduzir a frequência inicial de indivíduos resistentes na população. Na ausência de pressão de seleção, ou seja, antes da adoção das lavouras Bt, é possível que genes de resistência já estejam presentes na população do inseto, entretanto em baixa frequência. Com a utilização da tecnologia Bt por várias gerações, a pressão de seleção é exercida gradativamente sobre as populações selvagens. Isso irá reduzir a frequência dos indivíduos suscetíveis e selecionar os indivíduos resistentes à proteína Bt. Esse processo pode ser acelerado ou retardado, dependendo da maior ou menor frequência de acasalamento de fêmeas resistentes com machos também resistentes. A utilização da alta dose é importante para controlar os indivíduos híbridos (heterozigotos), resultantes do acasalamento entre insetos resistentes e suscetíveis. Mesmo assim, a utilização da área de refúgio é crucial para produzir um número suficiente de indivíduos suscetíveis para evitar a chance de dois resistentes se acasalarem, gerando insetos resistentes homozigotos. Assim, torna-se imperativa a utilização da área de refúgio com cultivares não Bt, reduzindo a velocidade de seleção de insetos resistentes. Como a função da área de refúgio é produzir indivíduos suscetíveis à tecnologia Bt, não se deve utilizar bioinseticida à base de Bt nesta área e deve-se estabelecer um programa de manejo integrado de pragas (MIP) para reduzir a pulverização com inseticidas convencionais. O percentual da área


Refúgio estruturado A eficiência da área de refúgio depende muito de sua localização em relação à lavoura transgênica (Bt). Assim, a maior distância entre uma planta Bt e uma não Bt da área de refúgio não deve ser superior a 800 m. Essa distância máxima foi determinada com base em resultados de pesquisas realizadas com as principais espécies de pragas-alvo da cultura do milho, especialmente a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), e extrapolada para as demais pragas-alvo das proteínas Bt de todos os três cultivos em discussão (soja, milho e algodão), visto que a maioria dessas pragas são, assim como a S. frugiperda, representantes da família Noctuidae. Sendo assim, considera-se que essa é a distância média de voo das principais pragas-alvo da tecnologia Bt hoje disponíveis ao produtor. Portanto, a eficiência da área de refúgio cai, proporcionalmente, à medida que aumenta a distância entre a área de refúgio e a área com cultura transgênica (Bt), pois distâncias superiores a 800 m dificultarão o encontro para o acasa-

Estruturas da Área de Refúgio 1 – As plantas de cultivares não Bt

da área de refúgio devem estar no máximo a 800 m de distância das plantas de lavouras Bt

Cultivares não Bt

800 m

Cultivares Bt

Ilustrações Alexandre Esteves/Embrapa Milho e Sorgo

da lavoura que deve ser semeado com cultivar não Bt varia com o tipo de cultura e o evento transgênico utilizado (veja exemplos de estrutura ao lado). Quando a planta contém um único evento transgênico para uma determinada praga-alvo, o risco de seleção de insetos resistentes é maior e, portanto, a área de refúgio necessária também é maior. Ao contrário, se o evento expressa mais de uma proteína inseticida para o mesmo inseto-alvo (genes piramidados), esse refúgio pode ser reduzido. No entanto, é importante estar atento às recomendações feitas pelas empresas detentoras dos eventos transgênicos, pois, mesmo que o evento tenha duas proteínas inseticidas ativas, elas precisam atuar com mecanismos de ação diferentes e sobre o mesmo grupo de pragas-alvo. Caso contrário, não se aplicam os preceitos aqui destacados da piramidação.

2 – Para obedecer

a essa regra, o plantio da área não Bt pode ser feito no perímetro da lavoura ou em faixas, dentro da área de cultivo

800 m

800 m

800 m

3 – Em área de pivô

central, o refúgio pode ser feito em faixas ou em parte da área

lamento entre os insetos sobreviventes na área convencional com aqueles sobreviventes na cultura Bt. O refúgio estruturado deve ser desenhado de acordo com a área cultivada com a lavoura Bt de maneira a facilitar a operacionalidade da condução da lavoura sem prejudicar os preceitos essenciais da maior distância de 800 m entre plantas Bt e não Bt, além do percentual de plantio recomendado. Para glebas com dimensões acima de 800 m cultivadas com milho Bt, serão necessárias faixas de refúgio internas nas respectivas glebas. Ainda é importante lembrar

que, na área de refúgio, é permitida a utilização de outros métodos de controle, desde que não sejam utilizados bioinseticidas à base de Bt. Mesmo sabendo que as principais pragas-alvo dos cultivos Bt são polífagas, podendo se alimentar e completar seu ciclo biológico em várias plantas hospedeiras não Bt, como sorgo, milheto, aveia, trigo e um grande número de plantas daninhas, o plantio da área de refúgio com a mesma espécie e a mesma cultivar é fundamental para garantir o sincronismo do ciclo biológico das plantas e reduzir a possível maio 2013 – Agro DBO | 45


Tecnologia Sementeiras estão estudando a adoção de mistura de sementes (Bt e não Bt) “no saco”, como forma de garantir a área de refúgio. Recomendações de refúgio para diferentes cultivos Bt aprovados no Brasil Cultura

Número de eventos liberados com resistência a insetos 1 (Lepidoptera)

Proteínas Bt expressas pelos eventos 1,2

Recomendação do tamanho da área de refúgio3

Milho

7

Cry2Ab,Cry1Ab, Cry1A.105(Cry1Ab, Ac e 1F) Cry1F e Vip3A

5 a 10% da área semeada com milho Bt

Algodão

4

Cry2Ab,Cry1Ab, Cry1Ac, Cry2Ae Cry1F

5 a 20% da área semeada com algodão Bt

Soja

1

Cry1Ac

20% da área semeada com soja Bt

1 – Consulta em 12 de abril de 2013 - http://www.ctnbio.gov.br/upd_blob/0001/1736.pdf 2 – Disponível em http://www.portaldbo.com.br/Portal/Hotsite/AgroDBO/ 3 – Recomendações das empresas detentoras dos eventos Bt

preferência hospedeira, tanto para oviposição, como para alimentação e abrigo, facilitando, assim, o acasalamento. Além disso, trata-se de uma tecnologia que pode atingir vários lepidópteros-praga. No caso do milho, pragas como a lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea), e a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), possuem uma gama diferente e relativamente reduzida de hospedeiros. Portanto, a utilização da área de refúgio é essencial para garantir a manutenção da funcionalidade e da durabilidade da tecnologia Bt para todas as pragas-alvo das toxinas Bt. O principal risco do não uso da área de refúgio está na rápida seleção de biótipos ou raças das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. O produtor que está disposto a pagar mais pela tecnologia Bt sabe dos benefícios que ela promove no seu sistema de produção. Portanto, é necessário estar motivado a usar essa tecnologia de maneira responsável (utilizando a área de refúgio), visando a apropriar-se desse benefício por muito mais tempo. Assim, com a não utilização dessa prática, o próprio produtor será o primeiro a documentar a que46 | Agro DBO – maio 2013

bra da resistência, sendo surpreendido pela sua lavoura Bt danificada pela praga-alvo. Refúgio no saco Outro aspecto importante é que o produtor de milho não confunda a área de refúgio com a área de coexistência. Esta existe para preservar o direito do vizinho em cultivar milho convencional, sem risco de contaminação da sua lavoura por pólen de planta transgênica, garantindo a pureza de milho livre de OGM. A norma de coexistência do milho Bt com cultivares não Bt, estabelecida pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e regulamentada no Brasil, exige o isolamento de 100 m entre lavouras comerciais de milho Bt e não Bt ou 20 m de bordadura, desde que, nesta, sejam plantadas 10 fileiras de milho não Bt com híbrido de iguais porte e ciclo. Dessa forma, a área de refúgio pode ser feita com o aproveitamento da área de isolamento para coexistência e é o que na prática tem ocorrido. Mas o produtor não deve se esquecer de que a área de isolamento é exigida somente para separar a divisa das lavouras

(Bt e não Bt) e a área de refúgio é necessária em todos os pontos, obedecendo à distância máxima de 800 m. O importante é que o produtor esteja ciente de que essas duas regras devem ser obedecidas e da importância delas, tanto para a preservação da tecnologia do milho Bt, como para o cumprimento da lei. Atualmente, frente até aos problemas enfrentados pela não adoção do refúgio do milho Bt e os consequentes relatos de não eficiência da tecnologia, as empresas produtoras de sementes estão estudando a estratégia de adotar a mistura de sementes (Bt e não Bt) no saco, o que é denominado de “refúgio no saco”, o que, forçosamente, obrigaria o produtor a plantar a área de refúgio. Entretanto, é importante salientar que essa estratégia, ainda não disponível no Brasil, mesmo que venha a ser adotada no futuro, apenas funcionará para a cultura do milho. Na soja, que provavelmente estará sendo disponibilizada no mercado nesta próxima safra, as lagartas se movimentam bastante de planta para planta e não há, portanto, a possibilidade de adotar o refúgio no saco. Sendo assim, se a área de refúgio de 20% para a soja não for adotada pela maioria dos sojicultores, a tecnologia da soja Bt terá uma vida útil extremamente curta. Além disso, o produtor deve manter a prática de monitoramento constante nas lavouras para adoção de medidas relacionadas ao Manejo Integrado de Pragas na lavoura quanto às pragas–alvo e às não-alvo da tecnologia Bt sempre que a população da praga estiver acima dos níveis de ação recomendados, seja para algodão, milho ou soja. Os au tores deste artigo são pesquisadores da: (1)Embrapa Milho e Sorgo, (2)Rede Inovação Tecnológica/Defesa Agropecuária, (3)Embrapa Algodão e (4) Embrapa Soja.



Política Custo de produção na Argentina é metade do Brasil

O

consultor da Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentos Agrícolas, Sebastián Gavaldá, viaja pela região Oeste de Mato Grosso durante o Circuito Aprosoja apresentando informações sobre a produção de grãos em seu país. Em Diamantino, ele explicou aos produtores rurais como a agricultura funciona, nos diversos aspectos. “Temos muitos aspectos parecidos com o Brasil, mas uma vantagem sobre vocês é que a produção não precisa ‘viajar’ mais de 400 quilômetros para chegar a um porto”, disse Gavaldá. Mesmo assim, 84% do escoamento da safra são feitos por caminhões, 15% por ferrovias seculares e 1% por hidrovias. Na última safra, foram 56 milhões de toneladas. Muito se deve à entrada da tecnologia transgênica no país, que atualmente é de 100% em área de soja e algodão, e o milho chega a quase este total. “Atualmente, os melhores solos, que ficam na região central do país, estão produzindo 3,6 milhões de tonela-

das”, disse Sebastián Gavaldá. Segundo o consultor, na Argentina 12% das terras são utilizadas para cultivos anuais, como soja e milho. Gavaldá explicou que seu país tem um solo fértil e baixa incidência de doenças e pragas nas lavouras. “O clima e a disponibilidade de terras, que eram favoráveis se comparados ao Brasil, agora já não estão tão bons quanto em anos anteriores”, explicou. 50% das fazendas na Argentina são arrendadas e a maioria dos contratos se renova anualmente. “Na melhor área do país o arrendamento está na faixa de 30 sacas por ha”, explicou Gavaldá. Ele também disse que as operações no país são terceirizadas, ou seja, os produtores terceirizam as colheitadeiras, as plantadeiras e até a mão de obra por safra. Na Argentina, algumas vantagens competitivas são a alta tec-

nologia, a grande demanda interna, com o uso de biodíesel, e também uma Câmara de Arbitragem, que é um órgão com função de mediar acordos entre produtores rurais e tradings. Como desvantagens, o consultor explicou que há altos impostos, a infraestrutura não é boa, especialmente em rodovias, e há uma inflação de 25%. Além disso, o produtor de soja recebe 35% a menos na venda da sua produção a título de impostos de exportação. Os argentinos produzem soja a um custo bem menor que os brasileiros. No total, o custo de produção deles é de R$ 478,00 por ha, enquanto aqui custa, em média, R$ 1.000,00 por ha. Para o diretor administrativo da Aprosoja, Roger Augusto Rodrigues, é interessante saber o que acontece em outros países. “Apesar de ser nossa vizinha, a Argentina tem aspectos bem diferenciados. Olharmos para nossos ‘concorrentes’ é essencial para sabermos se estamos bem ou se estamos acomodados”, afirmou.

Ampliação de terra indígena

A

Funai , Fundação Nacional do Índio, conclui estudo para revisão dos limites da Terra Indígena (TI) Enawenê-Nawê, que abrange os municípios de Juína, Sapezal e Comodoro, no MT. Atualmente, essa TI possui 742 mil ha e a proposta da Funai é ampliá-la para 1,3 milhão ha. Aproximadamente 400 produtores rurais que possuem propriedades em Juína, próximas aos rios Preto, Juína Mirim, Juína, Juinão e Juruena, correm o risco de perder suas terras caso a TI Enawenê-Nawê seja ampliada. 48 | Agro DBO – maio 2013

“As recentes demarcações de TI geram enorme insegurança aos produtores rurais de MT, em função da falta de embasamento técnico, jurídico e científico dos estudos apresentados pela Funai. Hoje, a Funai atua sozinha como se fosse os três poderes. Ela emite as instruções normativas como poder Legislativo, demarca como poder Executivo e cuida dos recursos administrativos como o Judiciário. Falta transparência nas informações”, destacou o presidente da Famato, Rui Prado. A TI Enawenê-Nawê foi homologada em outubro de 1996. Possui

742 mil ha entre os municípios de Juína, Sapezal e Comodoro. A área tem cerca de 300 habitantes indígenas. Em Juína, 62% do município é formado por áreas protegidas. Segundo o ex-presidente da Associação dos Proprietários Rurais Pesquisa Rio Preto, Aderval Bento, toda a área onde os produtores estão instalados na região possui títulos e escrituras definitivas. Desde 2005, a associação entrou com defesa dos produtores por meio de um estudo étnico histórico que comprovou a não presença dos povos Enawenê-Nawê na região.


PEC 215 - Na audiência foi destacada a urgência da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000 pelo Congresso Nacional. Se aprovada, a PEC atribuirá ao Congresso a competência para a demarcação de Terras Indígenas. “Precisamos da aprovação da PEC 215 para que a forma com que essas áreas vêm sendo ampliadas seja discutida democraticamente. Os produtores rurais que são envolvidos nesses processos têm poucas possibilidades de defesa”, ressaltou Prado. O presidente do Sindicato Rural de Juína, George Diogo Basílio, diz que “se a área for ampliada, nós, de Juína, teremos que fazer as malas, pois ficará inviável economicamente morar aqui”. Há 30 anos, o pecuarista Geraldo Queiroz vive na região do Rio Preto. “Não tenho o que fazer se minha propriedade for transfor-

mada em terra indígena. Não tenho para onde ir. Estou muito preocupado e já até adoeci por causa disso. Sacrifiquei minha vida, juventude e saúde nessa terra”, desabafou Queiroz. Segundo a Funai, Mato Grosso possui aproximadamente 12.586.568 ha de TI´s divididas entre regularizadas, declaradas e delimitadas, o que corresponde a 14,05% do território estadual. Conforme a Fundação, atualmente existem 25 áreas indígenas em estudo que não possuem um perímetro definido, mas apenas uma região determinada. Dessas 25 áreas, 12 são propostas de ampliação e 13 para criação. “Se as Terras Indígenas que estão em estudo fossem regularizadas pela Funai, o MT deixaria de gerar renda e emprego para a sociedade, pois as áreas de produção agrícola e pecuária já estão consolidadas há muitos anos. Além disso, os

produtores que vivem nessas áreas possuem as escrituras concedidas pelo governo da época”, afirmou Rui Prado. Com a regularização de todas as 25 TI´s em estudo pela Funai, o total de áreas indígenas saltaria dos atuais 12.586.568 ha para 16.336.568 ha, representando um incremento de aproximadamente 3.750.000 ha, ou seja, 19% da área total do Estado. Isso significa dizer que as áreas destinadas aos índios em Mato Grosso estariam próximas às extensões territoriais dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Alagoas, que juntos somam 17.046.875 ha, segundo dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Enquanto a população indígena em Mato Grosso é de 27.572, conforme dados da Funai, a dos quatro estados juntos somam 25,7 milhões de habitantes.

MP dos portos: empresários apoiam

A

s entidades representativas do setor empresarial reafirmam seu total apoio à Medida Provisória dos Portos (MP 595) e ressaltam a importância de sua aprovação pelo Congresso Nacional, para acelerar o desenvolvimento do setor produtivo, melhorar sua competitividade internacional e promover a inadiável organização do sistema portuário brasileiro. A MP 595 responde aos desafios da produção agrícola, industrial e mineral. Os portos são um elo fundamental da cadeia logística do país. A retomada dos investimentos no setor deve ser feita com urgência e sua modernização, com vistas à superação dos gargalos hoje existentes, é imprescindível. Ao criar os instrumentos para a integração do planejamento logístico, promover a abertura do setor a novos investimentos privados e estimular a concorrência, reduzindo custos, a Medida Provisória cumpre

os objetivos. Por essa razão, o setor empresarial considera indispensável sua aprovação, com os aprimoramentos de texto pactuados com suas entidades representativas. Mudanças acertadas com o governo aperfeiçoarão o marco regulatório criado pela MP 595, assegurando mais eficiência, redução de custos e, sobretudo, mais segurança jurídica. Os empresários consideram que o governo cumpriu seu dever com rigor, responsabilidade e sentido de Estado, ao entregar ao Parlamento e ao país um marco regulatório que cuida dos interesses do Brasil e busca construir o novo. Apoiam a MP 595, Robson Braga de Andrade, Presidente da Confederação Nacional da Indústria – CNI; Antonio Oliveira Santos – Presidente da Confederação Nacional do Comércio – CNC; Senador Clésio Andrade – Presidente da Confederação Nacional do Transporte – CNT; Senadora Ká-

tia Abreu – Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA; Paulo Roberto de Godoy Pereira – Presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base – ABDIB; e Fernando Figueiredo – Presidente da Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM. maio 2013 – Agro DBO | 49


Orizicultura

Pente fino na safra gaúcha O Irga e a Conab celebram acordo para aumentar a acurácia no levantamento de dados de produção, área e produtividade do arroz. Glauco Menegheti

É

sabido que o Brasil é pródigo na falta de estatísticas ou, se as têm, muitas vezes apresentam margem de erro que prejudica tanto os produtores quanto o governo e o mercado. No cenário da produção nacional do arroz, é estratégico aumentar a acuidade das estatísticas nessa cultura, pois o Rio Grande do Sul é o maior produtor, sendo responsável por 66,7% do total do país na safra 2011/12. O acordo entre o Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz e a Conab – Com-

panhia Nacional de Alimentos passa a valer a partir da data de assinatura, tem validade de cinco anos e para a próxima safra já serão gerados os dados. Conforme o superintendente da Conab no Rio Grande do Sul, Glauto Melo, a companhia vem sendo demandada por organismos internacionais, como a FAO (órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação), para construção de políticas públicas de segurança alimentar e, para isso, as informa-

Evolução da área colhida em períodos equivalentes 20/4/11, 20/4/2012 e 19/4/2013 Regionais

Produtividade kg.ha-1

% Colhida 2010/11

2011/12

2012/13

2010/11

2011/12

2012/13

Fronteira Oeste

95,2

95,5

83,3

8.296

8.049

7.656

Campanha

92,2

85,9

82,5

8.011

7.647

7.528

Depressão Central

91,5

84,8

74,6

7.609

7.444

7.642

Planície Costeira Interna

80,1

91,1

91,2

7.017

7.101

7.316

Planície Costeira Externa

97,8

96,4

95,5

6.621

7.027

7.105

Zona Sul

85,4

82,1

93,6

7.955

7.487

7.731

RS

91,0

90,0

86,2

7.740

7.558

7.520

50 | Agro DBO – maio 2013

ções precisam ser o mais precisas possíveis. “Para o mercado também é importante, pois o acompanhamento etapa por etapa da lavoura permite fazer previsões de produção muito mais certeiras”, reconhece. Para Glauto, a expectativa é que em pouco tempo existirá uma informação inédita no país com relação a mapeamentos e validação das imagens dos satélites. “Isto é de grande importância para a qualificação do conhecimento dos órgãos e da sociedade, este acordo é mais que cooperação, ele é convergência, ele é inclusivo, ele é evolutivo e permite um fluxo continuo de troca de informação”, finaliza. No Brasil, apenas duas culturas têm esse tipo de acompanhamento na atualidade: o café e a cana-de-açúcar. Mão dupla De acordo com o gerente da Área de Geotecnologias da Conab, Társis Piffer, tudo começou com uma discrepância de informações entre o Irga e a Conab, numa reunião realizada em meados do ano passado. “Estava sobrando produto quando fechávamos o quadro de suprimentos. Não sabíamos se era uma diferença em área ou produtividade”, diz eler. Como a área é um parâmetro mais objetivo, o erro só poderia estar no rendimento da cultura plantada sob o regime de irrigação por inundação. “A estimativa de produtividade é subjetiva.” A partir desse ruído entre as metodologias, pensou-se numa forma de aprimorar os levantamentos. As negociações entre as duas instituições iniciaram na metade do ano passado, tiveram uma


conclusão em dezembro e a assinatura no final do primeiro trimestre de 2013. “As negociações fluíram rapidamente”, constata Piffer. Por um lado, a Conab dispõe de informação e expertise no gerenciamento de imagens de sensoriamento remoto, com gerência específica desde 2005. Por outro, o Irga, que teve um plano-piloto de uso de imagens de satélite entre 2000 e 2003, tem uma alta capilaridade no interior do Rio Grande do Sul, com 40 escritórios nas seis regiões de produção do estado e mais de 80 técnicos. Em cada um dessas regiões, o pessoal do Irga conhece a fundo a situação de relevo, solo, produtores e características. Ambos, nesse caso, se complementam por dois fatores: o sensoriamento remoto em si é falho e necessita de calibração – ou seja, o apoio de gente no campo que confirme o que fica acessível nas imagens; e a metodologia utilizada pelo Irga, a de informação declaratória, que consiste na realização de entrevistas com os produtores e observação a campo, também tem as suas limitações. Conforme o presidente do Irga, Claudio Pereira, com a parceria será possível determinar o tamanho real da safra de arroz, estabelecer políticas públicas com uma maior rapidez e saber a intensidade do uso do solo, se ele está em rotação ou em pousio. Mecânica As imagens utilizadas pela Conab são disponibilizadas pelo Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais gratuitamente, com resolução espacial de 23 metros, o que se chama de imagem de média resolução. A base cartográfica do Rio Grande do Sul é de um para 50 mil, o que é considerada muito boa para os especialistas. Segundo o coordenador de Georreferenciamento do Irga, André Oliveira, a falta de resolução precisa ser calibrada com o trabalho de campo. “A calibração nada mais é do que verificar in loco as discrepâncias entre as imagens de satélite e a realidade no campo.

Imagens de sensoriamento remoto das áreas de arroz irrigado (em rosa) em de Capivari do Sul, na planície costeira gaúcha

A imagem de satélite tem que ter o olhar local”, explica Oliveira. Segundo ele, o interesse é o de determinar as áreas de arroz e, principalmente, as de soja em rotação com o cereal. Neste ano, como previsto na edição de setembro de 2012 da revista AgroDBO (Grãos anfíbios, pag. 34), as terras baixas registraram crescimento exponencial de área plantada com a oleaginosa. Quando começar o trabalho de fato, o laboratório de geomática da Conab enviará as imagens brutas, as cartas-imagem impressas ao Irga, que distribuirá aos seus 40 escritórios. Com elas em mãos, os técnicos do Irga vão a campo para o trabalho de qualificação das imagens, no qual é feita a classificação, que é dizer o que cada mancha representa. Um açude, por exemplo, pode passar por uma área de arroz. Também um terreno em pousio pode ser confundido com áreas em produção. Após fazer a ratificação ou retificação das imagens, por meio de trabalho de pente-fino no terreno, as cartas retornam ao laboratório da Conab. “As anotações são feitas na própria carta, por quadrantes”, explica Piffer. Os técnicos fazem os ajustes e novamente enviam à Conab, onde, na última etapa, são feitos os cálculos de acurácia, que é medir a precisão do mapeamento por amostragem. “A

gente sorteia um número de pontos na região onde houve o mapeamento e vai a campo verificar se foram identificados corretamente na imagem. Daí, confirma o número de acertos e erros.” O objetivo é atingir uma acurácia acima de 90%, segundo Piffer. No café e cana-de-açúcar o cálculo é de 95%. Com isso, os objetivos são, primeiro, obter estimativa de área precisa. Em segundo lugar, realizar o monitoramento agrometeorológico e espectral, que é baseado em índices calculados a partir de imagem de satélite que refletem a condição de vegetação. “Consegue-se ter um indicativo da produtividade”, diz Piffer. O terceiro objetivo é a parte de modelagem, dando expectativa de produtividade. O problema é que é preciso de séries históricas de informação de uma década. “Quanto maior a série histórica, mais consistente é a calibração.” A calibração nada mais é do que a comparação de estimativas de produtividade com a variação dos parâmetros agrometeorológicos e espectrais para cada ano safra. A Conab compila dados desde 2000, o que permite, então, atingir essa acurácia. A boa notícia é que o MMA – Ministério do Meio Ambiente comprou imagens de satélite do país com resolução de cinco metros. O Ministério da Agricultura vai ter acesso aos dados e, por tabela, também a Conab e o Irga. maio 2013 – Agro DBO | 51


Marketing da terra

Indicação Geográfica: é boa ou ruim? A Indicação Geográfica tem pontos positivos e negativos: é vital certos cuidados e ainda saber como funciona o marketing. Richard Jakubaszko

P

or princípio, Indicação Geográfica (IG) é boa, mas pode gerar problemas de toda ordem se não for conduzida profissionalmente e com muitos cuidados. Os vitivinicultores israelenses, por exemplo, há mais de 20 anos, implantaram videiras na Cisjordânia, que é território palestino ocupado por Israel desde a Guerra dos 6 dias, em 1967. Com clima e solo adequado a produção mostrou ter qualidade e a região começou a produzir bons vinhos para exportação. Não há informação se os produtores israelenses reivindicaram a aprovação de uma IG, mas a Europa, alegando motivos políticos e humanitários, exige que se coloque de forma explícita nos rótulos a frase “Produzido por produtores israelenses na Cisjordânia, em território palestino”. É uma IG às avessas, que, de forma implícita, se for implantada, “recomenda” ao consumidor europeu para não comprar produtos produzidos por Israel na Cisjordânia. Evidentemente que há interesses econômicos e hipócritas dos europeus por trás das intenções de rotulação, mas a desculpa é de que se trata de uma ação humanitária. Portanto, é uma restrição política e ideológica, e não barreira alfandegária, esta prevista no regulamento da OIC – Organização Internacional do Comércio. Os produtores israelenses

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alegam razões étnicas dos europeus, e a confusão está armada, o que vai gerar discussões diplomáticas a médio e longo prazo. No Brasil, o Vale dos Vinhedos, a primeira IG: antes, não havia um produto bom, por isso não exportava, pois os clientes não se interessavam. Depois, iniciando um trabalho de base, instalaram as lavouras no sistema de espaldadeira, buscaram a qualidade, aí sim, pediu-se a IG, e com qualidade ho-

je se exporta. Conseguiu-se valor agregado, obteve-se uma evolução qualitativa dos vinhos, tornou a região conhecida e estimulou o turismo, consolidando o associativismo, em que todos são fiscais do próprio negócio, e o negócio é de todos. A IG na região do Vale dos Vinhedos gerou empregos e valorizou as propriedades. A opção pela qualidade foi reconhecida pelos importadores, pois se obteve isto através da produtividade necessária. Até então, era tradição cultural obter de 12 a 14 t/ha, a briga era pela quantidade, hoje é 9 a 10 t/ ha, o produtor “derruba” a uva, se necessário, para garantir que a uva que fica no pé seja de boa qualidade, pois a planta se encarrega disso, com a sabedoria que lhe é característica.


Antes, não se exportava, hoje, com produto bom e de qualidade, falta produto para exportar. Pediram a IG em 2002, a autorização saiu em 2005, e, em 2007 a Europa reconheceu a denominação de origem. A IG do Vale dos Vinhedos significa sustentabilidade econômica e social da região, e é representada por marcas individuais com base na marca coletiva, com prazos de vigência indefinidos. São hoje 31 vinícolas e cooperativas, com a Aprovale e o Ibravin orquestrando e administrando o Vale dos Vinhedos, que tem 81 km2. Na mesma época, na região dos Cerrados, os cafeicultores pediram a IG para o Café dos Cerrados. Foi a IG de nº 2 no Brasil. Café Arábica, produzido em clima seco e apropriado, começa a decolar e se firmar baseado na qualidade de produtor de cafés finos, e tem tido a preferência entre os importadores, especialmente os europeus. A IG, mais uma vez, agrega valor, e se mostra positiva. Como é fácil e barato obter-se a IG, apesar de nossa centenária burocracia, já existe uma série de pedidos de IG no INPI, como a da cachaça brasileira, a cachaça de Paraty, o queijo Minas Artesanal, o couro gaúcho da campanha, em processos avançados de tramitação, com apoio do Ministério da Agricultura e de outros órgãos do Governo Federal. Outros processos foram iniciados, muitos estão em consultas iniciais, e há enorme interesse sobre o assunto. Cabe, entretanto, aqui nestas páginas, renovar o alerta para certos riscos que podem fazer com que o tiro saia pela culatra, o que não seria desejável. Melhor explicando, se há pretensões de se agregar valor à produção, isto pode não vir a acontecer se apenas um produtor associado descumprir as regras da coletividade, seja em termos de qualidade, seja em ações “politicamente corretas”. Neste caso, o politicamente cor-

Símbolo da IG cachaça de Paraty

reto implica atender as normas e idiossincrasias dos importadores, tenham eles razão ou não. Afinal, como sempre expressou o português da padaria, o freguês sempre tem razão. Assim, entendamos a IG como uma marca coletiva, pois são vários produtores numa mesma região, com suas marcas individuais, que estão sob o signo do guarda-chuva da IG, ou seja, cada marca representa a região como um todo.

Ásia. Ou da prática de subsídios, como o Brasil acusa a Europa e EUA. Nas questões políticas e ideológicas cabem casos como o de Israel. Nas questões ambientais qualquer acusação de desmatamento na região de IG seria motivo para travar compras, e toda a região entra em colapso quase imediato. Também qualquer acusação de uso excessivo de agrotóxicos ou poluição de rios e do meio ambiente entraria na lista das impropriedades. E, no politicamente correto, amplo e genérico co-

A IG na região do Vale dos Vinhedos gerou empregos e valorizou as propriedades. Portanto, cada marca individual precisa estar dentro dos padrões de qualidade superior prometidos, e exigidos pelos consumidores. Como vimos no caso israelense, no início as tais barreiras alfandegárias dos importadores e consumidores implicam não apenas qualidade, pois isso é condição sine qua non para se vender com valor agregado, mas embutem questões comerciais, políticas, ideológicas, ambientais e politicamente corretas, questão esta que é um mar de possibilidades abertas para restrições de toda ordem. Nas questões comerciais, os países podem alegar práticas de preços inadequadas, como dumping, com preços abaixo do mercado, uma das maiores acusações que se faz hoje aos produtos da China e de toda a

mo o tamanho da hipocrisia humana na área comercial, imagine-se a acusação de trabalho escravo numa região onde a IG esteja implantada. Seria o caos, vendas cairiam a zero na semana seguinte. Portanto, aos que pensam implantar uma IG em sua região de produção, seja lá do que for e onde estiver, é bom combinar – e escrever – regras políticas e comerciais aos parceiros integrantes da empreitada. IG é negócio sério, precisa ser feito com profissionalismo, com ética, sabendo que todos trabalham pelo bem de todos daquela comunidade, e que os espertos e irresponsáveis sejam mantidos à distância, caso contrário pode azedar. Como podemos constatar, a IG pode ser boa ou ruim, o que diferencia é quem faz. maio 2013 – Agro DBO | 53


Opinião

Caos fundiário Xico Graziano *

E

xcelente a reportagem de Roldão Arruda, publicada no Estado tempos atrás, indica algo impossível no cadastro de terras do País: o somatório de área dos imóveis rurais ultrapassa em 600 mil quilômetros quadrados a própria superfície do território nacional. A falha é escandalosa e o assunto, antigo. Dele tratei ao apresentar, em 1989, minha tese, intitulada A Verdade da Terra, de doutorado em Administração na FGV-SP. Nela mostrei, modestamente, ha-

milhão receberia seu pedaço de terra até 1989. A empreitada exigia ousadia total. Reconquistada a democracia, porém, tudo parecia ser possível. O ponto de partida para o assentamexnto rural prometido residia no fabuloso estoque de terras dominado pelos latifúndios. Estimava-se no Incra que metade do território nacional, cerca de 410 milhões de hectares, estava ociosa. Terra de exploração que se transformaria em terra de trabalho, assim dizia o mais famoso slogan agrarista. Espetáculo da ilusão agrarista. Deu, óbvio, tudo errado. Ao final do governo Sarney, desapropriados mesmo haviam sido apenas cerca de 8 milhões de hectares, distribuídos entre pouco mais de 50 mil famílias. Centenas de processos dependiam de trâmites burocráticos ou judiciais. Porém, ainda que todas as pendências fossem de pronto resolvidas, menos de 1% da meta de assentamentos teria sido atingida. Fracassara redondamente a reforma agrária da Nova República. O fiasco foi creditado às forças conservadoras, comandadas

É a hora da verdade para o Incra. A instituição não pode se contentar com a inoperância. ver um resíduo sujo nas estatísticas agrárias do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em outubro de 1985, o governo liderado por José Sarney acabara de lançar o Plano Nacional de Reforma Agrária, estabelecendo uma meta de beneficiar, em 15 anos, um contingente de 7,1 milhões de famílias, das quais 1,4 54 | Agro DBO – maio 2013

pelos latifundiários. Participante ativo desse processo, como membro da equipe dirigente do Incra, em Brasília, não me convenci facilmente de tal argumento. Julguei que as objeções políticas haviam sido superestimadas na explicação do ocorrido. O buraco estava mais embaixo. Minha tese, que virou livro (A Tragédia da Terra, 1991), mostrou

serem equivocadas as estatísticas cadastrais do Incra. Inexistia, na verdade, aquele fantástico volume de terras a serem desapropriadas. Tratavam-se, isso sim, de enormes áreas que, embora oficialmente declaradas ao órgão oficial, raramente eram localizadas na realidade. Denominei tais imóveis de “latifúndios fantasmas”: amedrontavam a sociedade, mas só valiam no papel. Tudo indicava ser a grilagem de terras responsável pelos enganos. Áreas extensas eram registradas com documentação precária, para depois facilitar a sua venda. Noutros casos, antigas possessões haviam sido regularizadas, divididas, capitalizadas, mas permaneciam cadastradas como originalmente estavam. Não se limpava o cadastro original. Em meu trabalho acadêmico destaquei várias dessas áreas, com sua localização e seu tamanho. Somente no Estado de São Paulo identifiquei 11 “latifúndios fantasmas”, jamais encontrados nas vistorias in loco. O caos fundiário era certamente mais grave nas demais regiões do País, menos estabelecidas burocraticamente. Essa é a razão por que ainda hoje, conforme descobriu o jornalista Roldão Arruda, em 1.354 municípios brasileiros as terras cadastradas no Incra superam sua área territorial. Ladário, em Mato Grosso do Sul, puxa a lista da incongruência fundiária: a soma de seus imóveis rurais ultrapassa dez vezes a superfície municipal. Nem mágica explica. Minha conclusão, formulada há 25 anos, foi chocante: as estatísticas enganadoras do Incra permitiram fabricar uma ilusão ainda persistente na sociedade -


de que seria fácil fazer a reforma agrária, bastando “vontade política” para executá-la. Quando publiquei minha tese de doutorado, que repercutiu em entrevista nas páginas amarelas da revista Veja, a esquerda dogmática expulsou-me de sua turma. Tecnicamente, os entendidos pouco discordavam de mim. Mas achavam que, inoportunamente, eu dera munição à famigerada “direita”. Alguns me acusaram de capitular ante o latifúndio. Bobagem. Eu simplesmente defendia, como até hoje o faço, a ideia de que a modernização capitalista da agricultura exigia uma reorientação nas ideias agrárias herdadas do passado colonialista, que cultivavam a utopia socialista. Nada de permanecer, como Dom Quixote, lutando contra quimeras. Cazuza cantava: “A tua piscina está cheia

de ratos/ tuas ideias não correspondem aos fatos” (em O Tempo não Para). Muito se fez, desde então, para aprimorar o sistema cadastral do Incra. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, medidas saneadoras - legislativas, jurídicas e administrativas conseguiram deletar cerca de 90 milhões de hectares, comprovadamente grilados, especialmente no Norte. Mas nunca, verdadeiramente, o Incra enfrentou esse problema pra valer. Por motivos, lamentavelmente, ideológicos. Trazer credibilidade ao cadastro fundiário do País pressupõe modernizar o Incra. Carcomido pela velha ideologia, aparelhado por grupelhos políticos, tornou-se palco de disputas entre grupelhos, afugentando o profissionalismo que o projetou. Tornou-se

burocratizado, lento. Os agricultores que o digam: um simples registro dos limites geográficos da fazenda, referenciados por satélite, demora anos para ser concedido. Fora as notícias sobre propinas, que todos conhecem, mas receiam denunciar, temendo ser retaliados pelas mãos dos invasores de terras. Chegou a hora da verdade para o Incra. A histórica instituição não pode se contentar com essa inoperância, caindo em descrédito por nem saber sequer quanto de terra o Brasil possui. Ou redescobre sua função, empurrando a modernidade no campo, ou fecha as portas. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 02/04/2013. * Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

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Deu na imprensa

Setor canavieiro aprova pacote do governo

O

pacote anunciado ontem pelo governo federal que totaliza R$ 7 bilhões em incentivos à produção sucroalcooleira voltada ao etanol foi bem recebida pelo setor, ainda que com ressalvas. Com a desoneração e medidas de facilitação ao crédito, o governo pretende recuperar um segmento que sofreu com a queda tanto na produção como no consumo no ano passado e tem passado por um crescente endividamento. Um problema que, de acordo com a presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, deverá dificultar o acesso de muitos produtores ao novo crédito. Durante a divulgação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que “as medidas possibilitarão que o setor tenha condições melhores de ampliar o investimento e expandir a produção”. Do pacote, quase R$ 1 bilhão

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é referente à desoneração do PIS e do Cofins, que correspondem a R$ 0,12 por cada litro de etanol produzido. O governo dará um crédito correspondente ao valor, zerando a alíquota ao produtor. Elizabeth Farina defendeu, em nota, que a medida “melhora a competitividade do etanol hidratado frente à gasolina”. Ela também elogiou as novas condições da linha de crédito anunciada para renovar os canaviais. “[O financiamento] permite melhor produtividade agrícola, mais próxima dos patamares históricos do setor, observados antes da crise financeira de 2008/2009”, atestou. Depois da produção de 27,513 bilhões de litros de etanol observada naquela safra, o País não voltou a alcançar o mesmo volume. Mas, após o pacote, a expectativa do governo é que a produção de etanol na safra 2013/2014 chegue

a 28 bilhões de litros, aumento de 20% com relação à safra anterior. A Unica já estimava avanço de pelo menos 13% nesta safra. O governo renovará a linha de crédito de R$ 4 bilhões do Prorenova com uma taxa de juros mais barata, de 5,5% ao ano, ante os juros entre 8,5% e 9,5% ao ano que eram cobrados na última safra. Outra linha de crédito, de R$ 2 bilhões, com prazo de 12 meses e juros de 7,7% ao ano, será destinada para a estocagem da cana na entressafra. Segundo o economista Francisco Pessoa, da consultoria LCA, as duas linhas de crédito são positivas. “É preciso de crédito para melhorar os canaviais, porque quando eles ficam velhos, cai a produtividade. Além disso, para a economia em geral, é preciso de política de estocagem, porque quando vem a safra, o preço cai”. A equalização dos juros subsidiados custará aos cofres públicos R$ 334 bilhões. Dificuldades A presidente da Unica ressaltou, no entanto, que o benefício não chegará a todos os produtores. “Cerca de 30% das empresas do setor terão dificuldades para acesso tanto ao credito à estocagem quanto aos recursos do Prorenova, pois possuem níveis de endividamento elevados demais para superar as restrições impostas pelos bancos”. De acordo com levantamento do Itaú BBA divulgado em agosto do no ano passado, o endividamento do setor na safra 2011/2012 engordou em R$ 5 bilhões e alcançou a marca dos R$ 48 bilhões. Além disso, na safra 2011/2012, a produção de etanol sofreu uma quebra de 7%, com 22,682 bilhões de litros, enquanto o consumo re-


cuou 8%, com 17,7 bilhões de litros. A redução da demanda por etanol ocorre mesmo em meio ao aumento da frota de veículos, que cresceu 7% no ano passado e consumiu 39,7 bilhões de litros de gasolina, 12% a mais que em 2011. A demanda interna por gasolina levou a um crescimento de 70% das importações do combustível, que chegaram a 3,7 bilhões de litros em 2012. Segundo Mantega, o pacote pretende reduzir essas importações. Outro efeito esperado é a redução do preço da gasolina na bomba e do próprio etanol hidratado, que compete com a gasolina. Porém, o economista Francisco Pessoa acredita que a redução inicial do preço do etanol será ajustada pelo mercado no médio prazo com um aumento da demanda. “Essa política não deve ser vista como um com-

bate aos preços. O governo não está esperando isso”, afirmou o analista. Para Pessoa, as medidas são direcionadas “mais para o produtor do que para o consumidor. Por isso deve ser vista como estratégica”. Pessoa não considera que o pacote deve ser visto como um movimento de curto prazo. “O que o governo quer é que o setor saia de um momento de dificuldade por excesso de investimento, de crença e que foi dificultado, porque o preço dos insumos aumentou, como a terra, e ao mesmo tempo o governo resolveu segurar o preço da gasolina. Como o etanol é 70% do preço da gasolina, não dá para subir muito o preço.” Além dos incentivos financeiros, Mantega também confirmou o aumento da adição de etanol anidro na gasolina de 20% para 25% a partir de 1 de maio. A Unica con-

A presidente da Unica ressaltou que o benefício não chegará a todos os produtores.

siderou a decisão positiva porque “gera demanda adicional e garantida pelo etanol anidro” e porque reduz as emissões de gases causadores do efeito estufa. Camila Souza Ramos DCI - Diário do Comércio & Indústria/SP

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Análise de mercado

O vai e vem do algodão A retração dos preços interna e externamente, o alto custo de produção e a valorização da soja e do milho induziram à redução da área plantada.

A

área de cultivo no Brasil recuou 36,4% na safra 2012/13 (de 1,393 milhão para 886,8 mil hectares), comparativamente a 2011/12. A produção deve cair para 1,263 milhão de toneladas, 9,7% abaixo das 1,399 milhão previstas em março e 32,7% abaixo das 1,877 milhão colhidas na safra passada, a segunda maior do país. As importações foram estimadas em 216 mil toneladas; as exportações, em 642 mil; e o consumo interno, em 887 mil, 2,5% acima do registrado no ciclo anterior, mas 14,6% abaixo do obtido na safra 2009/10. Os preços registram valorização de 35,8% no mercado brasileiro desde o começo de 2013 e o go-

verno entendeu que havia a necessidade de facilitar as importações, para desafogar a indústria nacional, mas o custo de importação, mesmo sem imposto, ainda é elevado. A Camex – Câmara de Comércio Exterior zerou a alíquota para importação de 80 mil toneladas entre 1º de maio e 31 de julho. A decisão não deve pressionar os preços internos, pois o volume é pequeno, suficiente para abastecer apenas alguns cotonifícios antes da entrada da nova safra. O preço final deve chegar a US$ 1,15 a US$ 1,20 por libra-peso ou o equivalente a R$ 2,30 a R$ 2,40 por libra-peso. A cota de 80 mil toneladas ajudará o setor a reabastecer os estoques e a aumentar a competitividade. As

importações servirão para suprir as necessidades imediatas de consumo no primeiro semestre (período de entressafra), haja vista a previsão de atraso na colheita em Goiás e na Bahia, uma vez que intempéries climáticas provocaram atrasos no plantio. Em condições normais, os cotonicultores dessas regiões começam a oferecer matéria-prima ao mercado no final de maio. No mercado internacional, embora tenham se distanciado dos 90 centavos de dólar por libra-peso em abril, as cotações ainda acumulam ganho de 11,6% neste ano na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Nos Estados Unidos, a área de algodão deve recuar 18,5%, de 4,980 milhões

SOJA – Os preços do grão seguiram em queda no início de abril, mas reagiram na terceira semana do mês, impulsionados por altas no mercado internacional e por maior demanda por farelo para exportação. Na ocasião, os contratos para o primeiro vencimento de maio chegaram a US$ 31,53 por saca, o maior preço desde 27/3/13. No curto prazo, a menor oferta, devido ao final da safra brasileira, pode ajudar a sustentar os preços, mas a tendência ainda é baixista.

* Em 18/4, o Indicador Cepea/EsalqBM&FBovespa registrou R$ 60,05 pela saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

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A negociações no mercado interno voltaram a se aquecer em meados de abril. Segundo o Cepea, representantes de moinhos chegaram a disputar lotes remanescentes, mesmo com leilões de venda do governo e com a possibilidade de importações de 2 milhões de toneladas sem a TEC –Tarifa Externa Comum. Tradicionalmente, as negociações esquentam somente no começo da safra nacional, a partir de agosto. Os preços, porém, não recuperaram o nível do final do mês passado.

* Em 18/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 709,04 pela tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto estado do Paraná.

ARROZ – Em 18/4, o Indicador do Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa fechou a R$ 31,04 a saca. Com a queda de preços de 12% no 1º trimestre, produtores continuaram priorizando a comercialização de outros grãos, como milho e soja, para fazer caixa. Mesmo que a nova safra maior que a anterior, os estoques de passagens devem continuar apertados, não dando margens para quedas acentuadas de preços.

* Em 18/4, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 31,4, à vista, pela saca de 50 kg, tipo 1, posto Rio Grande do Sul.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

TRIGO –


Análise de mercado de hectares na safra 2012/13 para 4,060 milhões/ha na safra 2013/14. Esse é um fator de sustentação do preço futuro no mercado internacional, pois os EUA são os maiores exportadores mundiais. Em praticamente todos os grandes países produtores haverá redução na área de cultivo na safra 2013/14, em relação à safra atual. A produção mundial deve recuar 3,5% em 2012/13, para 26 milhões de toneladas, contra 27 milhões em 2011/12, mas a demanda deve crescer 4,3%, para 23,3 milhões de toneladas, ainda ficando bem abaixo da produção. O comércio global de algodão provavelmente diminuirá 4,9% neste ano, por conta da redução da demanda da China. Os estoques mundiais cresceram e devem atingir o nível recorde de 17,9 milhões de toneladas na temporada 2012/13. Os estoques finais mundiais acumulam uma forte alta de 68,3% nas últimas três safras globais. A produção mundial deve cair 13,4% no ciclo 2013/14, para 22,5 milhões de tone-

* Em 18/4, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 302,87 pela saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

ladas (o ano-safra começa em 1º de agosto/2013), após um declínio de 3,5% em 2012/13. A produção deve cair fortemente nos Estados Unidos e na Turquia, onde a concorrência com outros grãos é forte. A tendência de recuperação gradual dos preços mundiais em 2013/14 será limitada pelos estoques globais elevados. Com um cenário de retração na área global, forte queda da área de plantio nos EUA na próxima safra, oferta e demanda interna ajustadas na safra atual, além da forte queda da rentabilidade do milho na 2ª safra este ano, a tendência é de recuperação da área de plantio de algodão no Brasil. As projeções apontam lavoura 11% maior, com expansões concentradas nos estados de Mato Grosso e Bahia, onde a rentabilidade aponta maiores ganhos por hectare para o algodão do que para o milho da 2ª safra, tanto agora quanto em 2013/14. Carlos Cogo Carlos Cogo Consultoria Econômica

ALGODÃO – Os preços da pluma continuaram em queda em abril, no mercado interno. Segundo levantamento do Cepea, boa parte das indústrias comprou mais do que o necessário quando o mercado estava em alta, receosas de que os preços atingissem patamares ainda maiores, e agora que o valor voltou a cair, estão na moita, fora das negociações. A liberação de importação de pluma isenta da TEC – Tarifa Externa Comum também pressionou os preços para baixo. No médio e longo prazos, a tendência, porém, é altista, dada a redução na área global de plantio e estoques mundiais elevados.

* Em 18/4, o Indicador de Preços do Algodão Cepea/Esalq registrou R$ 206,14 de centavos de real por libra-peso.

CAFÉ – O preço do arábica vem caindo desde o ano passado. Em meados de abril, chegou perto dos R$ 290, bem abaixo, portanto, do custo operacional em várias regiões produtoras de Minas Gerais (ao redor de R$ 350). A safra recorde colhida no Brasil em 2012, de 50,83 milhões de sacas, e a perspectiva de alta produção este ano contribuiram para derrubar os preços. A tendência continua baixista. As cotações do conilon, no entanto, seguiram firmes em abril. MILHO –

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

* Em 18/4, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 25,67 pela saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

As previsões de safra recorde no Brasil, o vencimento (em abril) de parte das dívidas de custeio, o que leva produtores a “fazer caixa”, e a ligeira queda nos preços internacionais do petróleo nos EUA (que reduzem a procura do grão para produção de etanol) pressionaram as cotações no mês passado. A demanda firme e as notícias de problemas climáticos nos EUA evitaram, porém, uma queda maior, com picos de oscilação em meados de abril. A tendência continua baixista.

AÇÚCAR – As usinas paulistas vem priorizan-

* Em 18/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 45,29 pela saca de 50 kg, com ICMS (7%).

do a produção de etanol e de açúcar VHP, este destinado, em sua maioria, ao mercado externo. Assim, a oferta do cristal continuou limitada em abril, ajudando a manter os preços em patamares elevados no mercado de pronta entrega, comparativamente aos valores do final do mês passado. Com demanda firme, a tendência é altista no curto prazo. Os elevados estoques mundiais podem, porém, pressionar as cotações para baixo.

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Novidades no campo APLICADOR COSTAL DE GRANULADOS

A Guarany, empresa brasileira especializada em pulverização, aproveitou a 13ª edição da Expoagro Afubra, realizada no final de março em Rio Pardo (RS), para mostrar seu novo aplicador costal de granulados, capaz de fazer aplicações precisas de forma contínua (grama/minuto) ou dosificada (grama/acionamento), com grande gama (‘range’) de dosagens. Pode ir, por exemplo, de 10 a 250g para fertilizantes N-P-K, o que proporciona opções para a correta adubação dos cultivos, desde a fase de muda (em viveiros) até a plena produção. O equipamento pode ser utilizado nas mais diversas culturas agrícolas, tais como flores e hortaliças, frutas e grãos, além de cultivos florestais (eucalipto, pinus etc). Todas as funções estão ao alcance do operador por meio de um comando manual (joystick) unificado, proporcionando rapidez nas mudanças de dosagens.

ARROZ COLORIDO

A Epagri lançou três novas cultivares de arroz irrigado – branco, vermelho e preto –, durante dia de campo na Estação Experimental de Itajaí (SC). A SCS118 Marques é destinada ao mercado consumidor tradicional, ou seja, a cor do grão é branca, quando descascado e polido. A SCS119 Rubi (vermelha) e a SCS120 Ônix (preta) são indicadas para receitas mais elaboradas. Além da composição química diferenciada, ambas se destacam pelo alto teor de compostos fenólicos, de características antioxidantes. Com estas novas tecnologias, a Epagri soma 20 variedades lançadas no mercado catarinense desde 1976, quando iniciou atividades de melhoramento genético de arroz irrigado. As cultivares da instituição ocupam mais de 85% da área de arroz irrigado de Santa Catarina. Também são plantadas em outros estados brasileiros, como o Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Maranhão, além da Bolívia, Paraguai, Argentina e outros países da América do Sul.

NOVO FERTILIZANTE NA PRAÇA

Após quatro anos de pesquisas e demonstrações a campo, a Stoller lança o Mover, um complexo de micronutrientes capaz de multiplicar a eficiência das plantas durante a fase de granação, aumentando o peso e melhorando a qualidade dos frutos. O fertilizante Mover contribui para que os nutrientes absorvidos pelas folhas sejam drenados de maneira mais eficaz para alimentação dos frutos. OBS: Na edição passada, nós classificamos o Mover, erradamente, como fungicida. Pedimos desculpas pela falha. É um fertilizante.

PINGO DE MEL

A Isla Sementes apresenta mais uma novidade em fruticultura: o melão híbrido Pingo de Mel, variedade superdoce, do tipo Cantaloupe, com formato redondo, polpa de cor alaranjada e casca com rendilhado fechado. Desenvolvido especialmente para o mercado brasileiro, é uma cultivar com resistência ao vírus Powdery Mildew (PM). A Isla comercializa as sementes de Pingo de Mel em pacotes Longa Vida, latas e envelopes. A aquisição pode ser realizada através da loja virtual da empresa (www. isla.com.br), do televendas 0800 709 5050, dos representantes e distribuidores Isla ou em casas agropecuárias e supermercados em todo o país

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Novidades no campo SOJA PARA O CENTRO-OESTE

A Embrapa lançou na TecnoShow Comigo, realizada no mês passado em Rio Verde (GO), duas novas cultivares de soja para a região centro-oeste do Brasil: a BRSMG 772, desenvolvida em parceria com a Epamig e a Fundação Triângulo; e a BRSGO 6955 RR, com o CTPA – Centro Tecnológico para Pesquisa Agropecuária e Emater de Goiás. A primeira é uma cultivar tradicional, indicada para a macrorregião 303, que engloba o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba e, na safra 2013/2014, para outras regiões do Brasil Central. Possui resistência ao acamamento e grupo de maturidade relativa 7.7, com alta estabilidade de produção em presença de ferrugem asiática. A segunda é uma cultivar transgênica, indicada para as macrorregiões REC 303 – MG (Triângulo Mineiro, Alto do Paranaíba) e GO (sudeste); REC 302 – GO (sul); REC 301 – MS (centro-norte) e GO (sudoeste); REC 304 – GO (leste). Resistente ao acamamento e às doenças pústula bacteriana, mancha olho de rã e cancro da haste, tem grupo de maturidade 6.9 e ciclo superprecoce, em torno de 104 dias.

FERTILIZANTE NITROGENADO

FARDOS DE BIOMASSA PARA QUEIMA

Para melhorar a absoção de nitrogênio pelas plantas, a Timac Agro está lançando na região sul do Brasil a tecnologia Sulfammo MeTA, onde uma dupla membrana é incorporada ao fertilizante no processo de granulação. Disponível desde 2010 no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país, o fertilizante nitrogenado se mostrou eficiente mesmo em condições de altas temperaturas, precipitações concentradas e solos arenosos presentes nestas regiões. O Sulfammo MeTA é indicado para todas as culturas que demandam nitrogênio, como milho, trigo, arroz, café, algodão, pastagens, feijão, cana-de-açúcar, reflorestamento, fruticultura e hortaliças..

A Krone, fabricante de equipamentos para silagem e acessórios para pecuária e agricultura, lançou no mercado a enfardadeira Big Pack High Speed, capaz de produzir 50 toneladas de material enfardado por hora. A empresa desenvolveu um acessório denominado PreChop para produção de fardos de biomassa, para queima em fornos e substituição da madeira. Quatro máquinas equipadas com PreChop estão trabalhando numa usina paulista para enfardar palha da cana. “É o único equipamento capaz de trazer a palha picada do campo, pronta para queima, dispensando a utilização de picadores estacionários, extremamente caros e ineficientes”, explica Rafael Bouwman, do grupo Bouwman, de Castro (PR), distribuidor da Krone no Brasil. Em sua opinião, com o apelo pela preservação do meio ambiente e utilização de palhadas de culturas diversas para outros fins, o mercado de equipamentos para biomassa vai explodir nos próximos anos.

HÍBRIDOS DE SORGO

A NexSteppe, empresa de origem norte-americana, está lançando dois híbridos de sorgo no Brasil: o Malibu e o Palo Alto. O Malibu é um híbrido de sorgo sacarino, que pode ser usado como complemento à cana de açúcar no fornecimento de matéria prima adicional às usinas de transformação do açúcar em etanol. O Palo Alto, capaz de atingir três metros de altura com apenas quatro meses de crescimento, é um híbrido de alta biomassa, destinado à produção de biocombustíveis avançados e celulósicos, bioenergia e produtos de base biológica. Concebido para ter nível baixo de umidade na maturidade, o Palo Alto reduz significativamente a quantidade de água colhida, ajudando a diminuir os custos de colheita e transporte. Níveis mais baixos de umidade também proporcionam maior densidade de energia, eficaz para a combustão.

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Biblioteca da Terra Guia de grãos e cereais

Durante três anos, o fotógrafo Cloves Vasconcelos visitou cerca de 80 pontos-de-venda da cidade de São Paulo, entre distribuidores da zona cerealista, lojas especializadas, armazéns, supermercados, mercearias e mercados municipais, para montar o guia Grãos & Cereais. Para tanto, pesquisou as origens, nomes populares e denominações científicas de mais de 200 produtos nacionais e importados, compilando os diversos usos na culinária. Depois, fotografou-os em estúdio – uma tijelinha cheia para cada variedade. Ao lado das imagens, devidamente identificadas, Cloves dispôs informações nutricionais para ampliar as opções dos leitores no preparo de pratos e, no caso dos neófitos em gastronomia, incentiválos a criar suas próprias receitas, explorando novos sabores. O guia traz, ainda, a relação dos fornecedores, com os respectivos nomes, telefones e sites atualizados. Com 112 páginas, em formato 15 X 21, está disponível para venda no site www.encontraemsp.com.br por R$ 39,90.

Terrorismo ambiental

Tataraneto de Dom Pedro II, descendente, portanto, da antiga família real brasileira, Bertrand de Orleans e Bragança lançou o livro “Psicose Ambientalista”, no qual afirma que “efeito estufa”, “derretimento dos polos” e “aumento do nível do mar” são “falácias ecoterroristas”. Segundo ele, não passam de invencionices. “Estão dizendo que o mundo vai acabar. Mostramos justamente o contrário, desmistificando o assunto”, afirma Bertrand, para quem o discurso preservacionista, elogiável na aparência, embute um viés ideológico evidente: “Os vermelhos viraram verdes. Ou seja, o comunismo foi substituído pelo ambientalismo”, garante. Editado pelo Instituto Plinio Correia de Oliveira (nome do homem que, em 1960, criou a TFP - Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), o livro custa R$ 23,90. Com 175 páginas, pode ser encontrado nas livarias ou encomendado através do site www.livrariapetrus.com.br.

Verde por fora...

Obra do pesquisador Marcelo de A. Guimarães, o livro trata de aspectos referentes às tecnologias desenvolvidas para a produção de melancias de alta qualidade e produtividade, tendo como público-alvo os profissionais que trabalham diretamente com esta olerícola, sejam eles produtores ou pesquisadores. Rica em minerais e substâncias protetoras do organismo humano, a melancia é um fruto refrescante, com alta concentraççao de água e açúcar, quando cultivada sob manejo correto e condições edafoclimáticas adequadas. Com 144 páginas, o livro custa R$ 40,00 e pode ser adquirido através do site www.editoraufv.com.br.

Gestão no campo

Em edição revista e atualizada, o Informe Agropecuário da Epamig trata da adequação socioeconômica e ambiental das propriedades rurais. O objetivo é auxiliar os produtores na gestão do empreendimento, priorizando aspectos econômicos, sociais e ambientais. Os autores abordam diversos temas, entre os quais gestão territorial, programas de pagamento por serviços ambientais, técnicas para conservação do solo e da água, restauração florestal e implantação de sistemas agroflorestais, apresentando exemplos concretos de políticas públicas e programas de sucesso em execução no país. A publicação mostra, em resumo, que a produtividade na agropecuária não depende apenas da correta utilização de tecnologias e do conhecimento prático e teórico, mas também da boa gestão da atividade. Com 116 páginas, custa R$ 15,00. Para compra-la, basta entrar em contato com a Divisão de Gestão e Comercialização da Epamig pelo telefones (31) 3489-5002 e (31) 3489-5023 ou pelo e-mail publicação@epamig.br.

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Biblioteca da Terra A essência da agroeconomia

O livro ao lado combina duas visões analíticas – distintas, mas complementares e abrangentes –, sobre a agricultura brasileira A primeira resulta de estudo do engenheiro agrônomo, doutor em ecologia e pesquisador da Embrapa, Evaristo Eduardo de Miranda. A outra, da seleção criteriosa de Delfim Martins, feita sobre o portfólio da Pulsar Imagens e de fotografias do satélite GeoEye. Para Evaristo, compreender a agricultura brasileira vai além de analisar números e recordes de produção. “Mais do que o quanto, é essencial entender como se produz no país. É necessário, segundo ele, compreender a enorme evolução da tecnologia agrícola nacional, empurrada pela inovação e pelo empreendedorismo dos agricultores e das organizações às quais pertencem, e saber como tudo isso se insere em processos históricos e em raízes culturais próprias do Brasil. “É uma obra essencial para difundir a importância da agroeconomia brasileira e a capacidade do país de garantir o abastecimento mundial de alimentos”, destaca Marc Reichardt, presidente da Bayer CropScience, empresa patrocinadora do livro. “É para ser lido e, como diz o autor (Evaristo Miranda), ‘visitado’ por todo cidadão brasileiro, onde quer que viva ou trabalhe”, endossa o ex-ministro da Agricultura e atual Embaixador Especial da FAO para o Cooperativismo, Roberto Rodrigues, autor do texto de apresentação do livro: “ Com certeza, ao percorrer suas páginas, todos sentirão o orgulho da brasilidade, a alegria de pertencer ao povo notável que construiu, com pertinácia e determinação, a maior e melhor agropecuária tropical e sustentável do planeta. Uma obra que orientará a opinião pública na direção de uma estratégia para levar o Brasil a gerar muito mais bem-estar para seus cidadãos e os do resto do mundo, com a produção competitiva deste fantástico campo brasileiro”. Com 296 páginas, 200 fotografias e 38 imagens de satélite, a publicação está à venda nas livrarias por R$ 128,00. Quem quiser, pode encomendá-lo pelo e-mail metalivros@ metalivros.com.br. A editora (Metalivros) negocia descontos para empresas e grupos.

Agricultura para jovens

A Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal está promovendo o livro “Pequenas histórias de plantar e de colher”, destinado a estudantes do 5º ao 9º ano do ensino fundamental. Escrito pela jornalista Ruth Bellinghini, trata da agricultura desde o surgimento dos primeiros cultivos até os dias de hoje. Como suplemento, a obra traz encartada um Guia do Professor, para auxiliar os docentes a preparar as aulas. A distribuição, gratuita, é feita pela própria Andef. “Queremos que os livros cheguem para todas as escolas, porém não temos acesso a todas elas. Se tivermos a colaboração de prefeituras ou órgãos estaduais, poderemos alcançar muito mais alunos”, diz José Annes Marinho, gerente de educação da entidade. Os interessados podem fazer encomendas através da assessoria de imprensa Alfapress, pelo e-mail tatiana.freitas@alfapress.com.br.

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Calendário de eventos

MAIO

7

Agrotins 2013/Feira de Tecnologia Agropecuária de Tocantins De 7 a 11 – Palmas (TO) – Fones: (63) 3218-2136 / (63) 3218-2112 E-mail: agrotins@seagro.to.gov.br

9

41ª Expoingá/Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Maringá De 9 a 19 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (44) 3261-1700 Site: http://www.srm.org.br – E-mail: mario@srm.org.br

12

IV Simpósio Brasileiro de Pós-Colheita de Frutas, Hortaliças e Flores/VI Encontro Nacional Sobre Processamento Mínimo de Frutas e Hortaliças

De 12 a 16 – Auditório da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto (SP) – Site: www.spcepm2013.com.br

14

Agrobrasília 2013/Feira de Tecnologia e Negócios Agropecuários De 14 a 18 – Parque Ivaldo Cenci (rodovia BR 251, Km 5, sentido BrasíliaUnaí) – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339-6516 – Site: www.agrobrasilia.com.br/ – E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia. com.br

21

AgroÉtica/Encontro Nacional de Ética no Agronegócio De 21 a 23 – Anhanguera Educacional (campus da Vila Mariana) – São Paulo (SP) – Site: www.agroetica.org.br

21

Entecs/Encontro Nacional de Tecnologias de Safras

De 21 a 24 – Lucas do Rio Verde (MT) – Fone: (65) 3549-1161- E-mail: comunicacao@fundacaorioverde.com.br

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22

Eucalipto 2013/Simpósio Sobre Tecnologias de Produção Florestal De 22 a 24 – Minascentro – Belo Horizonte (MG) – Fone: (31) 38992476 – E-mail: sifeventos@gmail.com

28

Bahia Farm Show/ 9ª Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios

De 28 a 1/6 – Luiz Eduardo Magalhães (BA) – Site: www.bahiafarmshow.com. br – E-mail: adm@bahiafarmshow. com.br

JUNHO

4

II Seminário Latino Americano sobre Arroz Vermelho

De 4 a 5 – Auditório da PUC/RS – Porto Alegre (RS) – E-mail: av2013@irga.rs.gov.br

5

I Simpósio de Ciências Agrárias da Amazônia

De 5 a 7 – Campus Tapajós da Universidade Federal do Oeste do Pará – Santarém (PA) – Fone: (93) 2101-4946

19

Hortitec/20ª Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas De 19 a 21 – Recinto da Expoflora – Holambra (SP) – Site: www.hortitec. com.br – E-mail: rbb@rbbeventos. com.br

24

XXVIII Congresso ISSCT/28ª Exposição e Congresso de Tecnologia Sucroenergética De 24 a 27 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fones: (16) 2132-8936 e (11) 3060-5000 – Site: www.issct2013.com.br – E-mail: multiplus@reedmultiplus.com.br

26

Congresso Sindag/ Congresso Nacional de Aviação Agrícola

De 26 a 28 – Estância Santa Rita (BR

Agrishow 2013/20ª Feira Internacional de Tecnologia em Ação – De 29/4 a 3/5 – Polo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3060-5041 – Site: www.agrishow. com.br – E-mail: comunicação@ reedalcantara.com.br Considerada a mais importante feira agrícola da América Latina, a Agrishow comemora 20 anos de história e se consolida como a principal vitrine do agronegócio nacional, especialmente no setor de máquinas e implementos agrícolas. A expectativa dos organizadores é bater os recordes de público, expositores e movimentação financeira. Os números do ano passado foram expressivos: 152.836 mil visitantes de 18 países, 790 expositores e R$ 2,150 bilhões em volume de negócios. Com 440 mil m² de área, a feira tem como um de seus atrativos as dinâmicas de campo, este ano com algumas novidades. Uma delas é a implantação, em parceria com a Embrapa, de área de 16 hectares com manejos variados de ILPS – Integração Lavoura-PecuáriaSilvicultura.

364, Distrito Industrial) – Cuiabá (MT) – Fone: (51) 3066-9355 – E-mail: sindag@congressosindag.com.br

27

Bio Brazil Fair 2013/9ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia De 27 a 30 – Pavilhão da Bienal – São Paulo (SP) – Site: www. biobrazilfair.com.br – E-mail: biobrazilfair@francal.com

JULHO

10

Expofruit/17ª Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada De 10 a 12 – Expocenter Campus Ufersa – Mossoró (RN) – Site: www.expofruit.com.br – E-mail: expofruit@gmail.com

10

Feira Agronegócio e Álcool

De 10 a 14 – Praça de Exposição – Presidente Prudente (SP) – Site: www.multifeirascongressos. com.br – E-mail: delfim@ multifeirascongressos.com.br

22

XIII Enfrute/Encontro Nacional Sobre Fruticultura de Clima Temperado De 22 a 25 – Parque da Maçã – Fraiburgo (SC) – E-mail: enfrute@epagri.sc.gov.br

28

XXXIV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo

De 28 a 2/8 – Costão do Santinho Resort – Florianópolis (SC) – Site: www.eventossolos.org.br/cbcs2013 – E-mail: bacic@epagri.sc.org.br

31

II Conbraf /Congresso Brasileiro de Fitossanidade

De 31 a 2/8 – Centro de Convenções da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp – Jaboticabal (SP) – Site: www.fcav.unesp.br/ conbraf


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Legislação

Perdas com defensivos A lei estabelece a possibilidade de indenização ao agricultor, caso o produto não tenha a eficácia apregoada pelo fabricante. Fábio Lamonica Pereira *

A

tualmente, os altos índices de produtividade alcançados nas lavouras brasileiras estão vinculados à moderna tecnologia empregada em todo o processo produtivo. São, pois, inúmeros os defensivos oferecidos no mercado e que prometem determinados resultados, desde que atendidos diversos requisitos como época de plantio, solo apropriado, stand correto, respeito ao zoneamento agrícola, manejo apropriado, aplicação em quantidade e épocas corretas, acompanhamento técnico, etc. E se o produto promete eliminar determinada praga ou doença e não o faz, mesmo que seguidas todas as orientações do fabricante? E se, em função disto, o produtor que confiou sua lavoura à aplicação de determinado produto sofre perda de safra? Qual é a solução?

O produtor também deve demonstrar que obedeceu à risca todas as recomendações preconizadas pelo fabricante do produto utilizado. Quanto à prova, além dos

A indenização ao agricultor deve abranger tanto os danos de ordem moral quanto material

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

A legislação civil e a do consumidor estabelecem a possibilidade de indenização em situações como essas. O produtor deve enquadrar-se como destinatário final dos produtos para que as leis que amparam o consumidor possam ser aplicadas. Contudo, o judiciário ainda não tem entendimento pacífico sobre o tema, o que traz certa insegurança. Inicialmente, é essencial demonstrar que as perdas foram causadas por falhas do produto e não por outros fatos como estiagem ou excesso de chuvas.

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laudos produzidos pela assistência técnica do produtor em que constem, dentre outras coisas, a produtividade esperada e a obtida, é importante demonstrar documentalmente o histórico de produtividade da área atingida para fins de comparação com a safra atingida. Antes da propositura da ação, contudo, é altamente recomendada a instauração de um procedimento judicial preparatório conhecido como “produção antecipada de provas”, o que permitirá registrar, tecnicamente, todo o

ocorrido e mensurar as perdas sofridas na lavoura. De posse de tais documentos e realizado o procedimento inicial, é possível, então, a propositura da ação propriamente dita a fim de que o judiciário julgue a questão, determinando se há direito à indenização e qual o valor a ser pago pela empresa fabricante do produto. A indenização deve abranger tanto os danos de ordem moral quanto material. O valor daquele será fixado pelo juiz de acordo com as circunstâncias do caso, e o deste dependerá de demonstração da extensão dos prejuízos causados pela ineficácia do produto aplicado na lavoura. Em um caso julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, um grande fabricante foi condenado ao pagamento de indenização por danos morais e materiais em decorrência da baixa eficácia de seu produto no combate à “ferrugem asiática”. Ponto essencial a ser observado diz respeito ao prazo para exercer o direito à citada ação de indenização que, em regra, é de três anos. Caso seja reconhecido tratar-se de relação de consumo, o que como dito é controverso, o prazo passa a ser de cinco anos. Conclui-se que o produtor pode exigir, judicialmente, reparação de danos em caso de perda de safra que tenha como causa a ineficácia comprovada de produtos como defensivos agrícolas aplicados em suas lavouras, desde que observados os preceitos legais, ciente de que se trata de questão complexa e que pode levar anos para a pretendida solução.




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