Sumário
30 Desperdício I
O Brasil joga fora, literalmente, milhões de toneladas de alimentos anualmente, desde a lavoura até a mesa do consumidor final.
36 Desperdício II
Anita Gutierrez, da Ceagesp, aponta razões para as perdas e erros na manipulação de hortifrutis, produtos altamente perecíveis.
40 Entrevista
Representante da FAO no Brasil, o boliviano Alan Bojanic discute segurança alimentar e defende o cultivo maciço de quinoa.
46 Tecnologia
Pesquisadores testam variedades de arroz resistentes à salinidade, problema que afeta áreas de várzea no mundo inteiro.
22 50 Fitossanidade
Matéria de capa
Cafeicultor da região de Patrocínio (MG), com lavouras num vulcão extinto, mostra que a produção de cafés especiais pode ser uma alternativa nestes tempos de crise do setor cafeeiro.
Lagartas do gênero Helicoverpa atacam plantações de milheto, usado com cultura de cobertura em várias regiões do país.
Artigos 8 – Rogério Arioli avalia a Anater, a nova agência brasileira de extensão rural. 20 – Décio Gazzoni explica pesquisa da Embrapa sobre transgenia localizada 44 – Franco Borsari relata experiências com o uso de ácidos húmicos 54 – Daniel Glat propõe nova metodologia para conter o ataque das lagartas 66 – Fábio Lamonica analisa a questão da averbação sob a nova lei florestal
Seções Do leitor............................................................. 4 Ponto de vista.................................................. 8 Notícias da terra............................................10 Marketing da terra........................................42 Política...............................................................52
Deu na imprensa..........................................56 Análise de mercado.....................................58 Novidade no campo....................................60 Biblioteca da terra.........................................63 Calendário de eventos................................64 julho 2013 – Agro DBO | 3
Do Leitor publicações que estão sempre aperfeiçoando nosso aprendizado. Guilherme Sergilo Borges Acreúna MARANHÃO Uma revista atualizada, contextualizada, imprescindível para quem compõe o setor agrícola do país. Mariana da Silva Corrêa São Luis
ALAGOAS Recebi a revista Agro DBO, edição de junho/2013. A matéria de capa – Logística improvisada – retrata muito bem a displicência dos (des) governos através dos anos. Carlos José Pedrosa Maceió Além dos benefícios que a revista nos tráz, eu a tenho como uma ferramenta de trabalho. As informações são de grande importância no sentido de gerar debate técnico entre os produtores e isso faz com que todos sejam fortes em seu negócio. A nossa agricultura tem vários aliados buscando sempre o topo das tecnologias e a revista Agro DBO é show. Márcio Aprígio Satuba BAHIA Traz relevantes conteúdos sobre o cenário agrícola nacional. Gustavo dos Santos Silva Vitória da Conquista Ótima publicação. Sou técnico em agropecuária e a revista me ajuda em muitas coisas, como cana, milho e sorgo, entre outras culturas. Dácio Alves de Oliveira Neto Caetité GOIÁS Somos agricultores e pecuaristas. Agradecemos por estar recebendo regularmente a revista Agro DBO, que traz assuntos de real interesse para o homem do campo – produtor de alimentos. Nós, que colocamos os alimentos na mesa do povo da cidade, temos que agradecer às
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MATO GROSSO A revista Agro DBO tem me auxiliado durante meus estudos e pesquisas, com uma linguagem atual e assuntos idem. Considero-a uma excelente ferramenta para aperfeiçoar meus conhecimentos.. Neileane Oliveira Schafranski Sinop Uma das melhores publicações do mercado. Giuliano Rensi Campo Novo do Parecis Sou gerente de uma concessionária New Holland e aprecio muito as matérias desta revista. Fábio Aguiar Lima Brasnorte Direta e informativa. Excelente. Silvia Maria Osório de Moraes Barra do Bugres Sou gerente de armazém, onde trabalhamos com soja e milho. Acho esta revista bem completa, com muitas informações importantes sobre o agronegócio. Jovani Carpenedo Busanelo Lucas do Rio Verde MATO GROSSO DO SUL Agro DBO: finalmente, uma revista especializada em agricultura. Parabéns!. Roger Soares de Almeida Campo Grande MINAS GERAIS A revista Agro DBO é o meio de informação mais utilizado pelos estudantes do curso de Agronomia na Universidade Federal de Viçosa. Bruno Pereira Soares Viçosa A Prefeitura Municipal de Jeceaba, através de seu Secretário da Agricultu-
ra, tem muito interesse em receber a revista Agro DBO, uma vez que a mesma está sempre trazendo informações para o homem do campo. Leando Marciano Marra Jeceaba Excelente. Acrescentou muito à minha vida profissional e como produtor de alimentos. Pedro Henrique Lima Ferraz Nanuque PARÁ Ótima fonte de informação sobre a agricultura brasileira. Wender Partata Santos Paragominas PARAIBA A Agro DBO cada vez mais abrilhanta os nossos conhecimentos e, com suas noticias atualizadas, faz-nos saber que é preciso estar ligado a cada tendência do mercado. Suas informações só fazem aumentar a produtividade, desde a agricultura familiar até o agronegócio. Sou técnico em Agropecuária e faço bacharelado em Agroecologia. Edcarlos Dias Lima Remígio PARANÁ Excelente material técnico, atualidade nos temas, opinião de pessoas e instituições com credibilidade. Osmar Conte Londrina Ótima, com assuntos variados. Horst Schwarz Guarapuava Conheci a Agro DBO através de meu filho, que é agrônomo. Gostei da abordagem e da linguagem simples que a revista apresenta. João Rodrigues Perobal Boa, com conteúdo, matérias com muita informação e bastante diversificada, todas muito bem fundamentadas. Marcos Aparecido Negri Angulo Com certeza é uma revista completa, que aborda assuntos atuais e mostra a realidade do campo. Luis Gustavo Mendes Passos Curitiba
RIO GRANDE DO SUL A melhor revista do agronegócio brasileiro. Luis Eduardo Bek da Silva São Luiz Gonzaga Fiquei maravilhado com a abrangência dos temas, de extremo conhecimento e muita valia. Continuem assim. Eduardo Matins Tartari Rio Grande A revista apresenta excelentes artigos, que possibilitam maior conhecimento técnico. Marcelo Scheer Lopes Pelotas É uma ótima revista, disponibilizando informações atualizadas à produtores rurais, técnicos, agrônomos e demais pessoas ligadas à agricultura. Maiara Bolzani Ciotta Vacaria SANTA CATARINA A melhor revista da área agrícola da atualidade, com informações atualizadas e específicas. Marcos Vinicius Britzke Xanxerê A revista tem muitas qualidades, traz informações técnicas e práticas do campo e também de mercado. Estou acompanhando-a de forma online, junto a um grupo de amigos, e gostaria também de recebê-la em casa. O que li até agora trouxe conhecimentos e perspectivas úteis para utilizar no dia-a-dia do campo. Luis Felipe Galli dos Santos Curitibanos SÃO PAULO O dito “apagão logístico” de janeiro/fevereiro explica-se por contratos para entrega naqueles meses que sofreram dificuldades de natureza climática, retardando a colheita. Os compromissos com barcos e caminhões não puderam ser cumpridos, acarretando congestionamento rodoviário e portuário além de prejuízos e dissabores. A próxima colheita de milho “safrinha” acontece em meses de menor risco de chuvas e poderá ser movimentada ordenadamente de acordo com planejamento prévio, apoiado no milagroso transporte por caminhão que tem amparado nossa produção. As dificuldades e problemas serão resolvidos de acordo
com a experiência de anos anteriores. Não há porque temer novo “apagão logístico”, criando pânico por antecipação com reflexos sobre o mercado. Fernando Penteado Cardoso São Paulo A revista aumentou meu campo de informação sobre o agronegócio. Vitor Mateus Pierobon Piracicaba Muito transparente e informativa. Adorei a revista. Ronaldo Elísio Bianco Bariri Muito interessante esta matéria da revista Agro DBO do mês de junho de 2013. Este é um tema atual que merece nossa atenção. Dercy Pavão Junior Franca NR: O leitor se refere ao artigo “Fertilizantes inteligentes” (página 54), escrito pelo engenheiro agrônomo Franco Borsari, da BBAgro Consultoria. Assuntos aprofundados e temas não encontrados em outras publicações. Nelson dos Santos Meira Itapetininga Interessante, bem editada, excelente. Parabéns. Flávio Osório de Moraes Garcia São Paulo Importante fonte de informações para orientação rural. Carlos Roberto G. Campos Cotia SERGIPE Excelente qualidade e nível técnico, com diversificação de conteúdo a cada edição. José Geraldo Salmeiro de Argol Aracaju TOCANTINS Show de bola, um bombardeio de informação em prol do agricultor. Parabéns! Antônio M. de Campos Júnior Guaraí AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Carta ao leitor
O
s destaques da presente edição da Agro DBO estão na cafeicultura e na crítica situação dos desperdícios de alimentos. No café, em matéria do jornalista Antônio Sérgio Souza, registramos que a atual safra, num ano de baixa produção devido à bienalidade, e que está acompanhada de preços empatando com os custos de produção, pode proporcionar, para alguns produtores, em períodos de crise, certa rentabilidade por conta de se produzir café de alta qualidade, que atenda ao consumo de nichos de mercado, que se prontificam a pagar um valor maior pela qualidade que recebem. Na abordagem sobre desperdícios de alimentos, uma reportagem do jornalista Ariosto de Mesquita, traz análises e sugestões sobre o que se pode fazer para reduzir as perdas, especialmente nas lavouras, e ainda no armazenamento e transporte, pois muitas vezes essas perdas são sutis e quase invisíveis aos olhos dos atores envolvidos, mas se traduzem em grandes prejuízos individuais. Na sequência, temos um artigo da engenheira agrônoma e especialista em hortifrutis, Drª Anita Gutierrez, da Ceagesp de São Paulo, sobre as perdas de peso, qualidade e valor dos hortifrutigranjeiros, processo que normalmente se agrava após a saída da grande central atacadista. Em tema paralelo, a segurança alimentar, destaque para a entrevista com o novo representante da FAO no Brasil, o engenheiro agrônomo boliviano Alan Bojanic.
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Anita de Souza Dias Gutierrez, Antônio Sérgio Souza, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica, Franco Borsari, Glauco Menegheti, Marianna Peres e Rogério Arioli Silva. Arte Editor Edgar Pera
* Com esta edição, Agro DBO completa seu primeiro ano de circulação mensal, como sucessora da revista DBO Agrotecnologia, lançada em 2004 e até então com periodicidade bimestral. Ao longo das 11 edições publicadas desde agosto de 2012, Agro DBO seguiu e alargou o caminho aberto pela DBO Agrotecnologia como revista totalmente focada em agricultura. Renovada plástica e editorialmente, ganhou novos colunistas, reportagens, análises de mercado, além do acompanhamento dos principais assuntos de interesse para o setor. As manifestações recebidas de novos e antigos leitores, divulgadas regularmente na seção Do Leitor, sugerem que estamos em bom rumo. Nosso objetivo é continuar avançando, com a agregação de novos conteúdos e a consolidação de Agro DBO como veículo de referência em informação e reflexão sobre a atualidade agrícola brasileira. Como passo importante para o fortalecimento da publicação e de sua imprescindível independência editorial, bem como para a qualificação permanente do universo de leitores, a Agro DBO lança nesta edição o sistema de assinatura paga para novos interessados. A partir de agosto, também você que já nos honra com a leitura, receberá uma proposta especial de adesão, como se informa no comunicado publicado à página 19. Desde já contamos com seu apoio. Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br
Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Naira Barelli, Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta
Richard Jakubaszko
Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Ensei Uejo Neto DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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Ponto de vista
Que venha a Anater A torcida para que a nova agência brasileira de extensão rural dê certo é grande, pois é recorrente a demora no uso das novas tecnologias. Rogério Arioli Silva *
J
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
untamente com o anúncio do Plano Safra 2013 foi divulgada a criação da nova Anater – Agência Nacional de Extensão Rural que virá, segundo os mais otimistas, para preencher o vácuo existente entre as descobertas científicas e sua real implementação no campo. A história da extensão rural brasileira foi iniciada lá nos idos de 1948, quando surgiu a necessidade de produzir alimentos excedentes na época das chuvas, para uso complementar durante a estação seca. Essa demanda gerada por alguns agricultores do interior de Minas Gerais e também no estado de São Paulo imediatamente resultou em reuniões que provocaram o aparecimento de parceria entre o setor privado e a entidade pública. Foi criada em Minas Gerais, neste mesmo ano, a Acar – Associação de Crédito e Assistência Rural e, em 1956, a Ascar, no Rio Grande do Sul, seguida pela Abcar, em nível nacional. Já naquela época, a preocupação era a busca do aumento da produtividade agrícola, gerando, consequentemente, melhoria na qualidade de vida através do incremento da renda rural. A partir de 1975, através da criação da Embrater – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural e da Emater em nível estadual, o serviço passa a ser totalmente estatal. Não há dúvidas quanto ao papel desempenhado pela extensão pública até meados dos anos 80, através da difusão dos pacotes tecnológicos que provocaram o grande salto da agricultura bra-
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sileira moderna. Popularizou-se o uso das sementes selecionadas, aplicação de calcário, adubos químicos e defensivos, além do incentivo à mecanização. No ano de 1990, com a extinção da Embrater, no governo Collor, houve o que se convencionou chamar de “desmonte” da estrutura pública de assistência técnica. Permaneceram as Emater, porém com parcos recursos e um desânimo generalizado que se refletiu no total sucateamento de sua estrutura. Não se entrará no mérito dos fatores que levaram a essa situação, mas é inegável que existe um desaparelhamento vergonhoso dessas empresas, resul-
tando numa prestação de serviços pouco geradora de resultados econômicos. Neste novo desenho anunciado pelo Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, a Anater atuará em sinergia com a Embrapa, inclusive tendo uma de suas diretorias comum aos dois órgãos. O Presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, confirmou essa atuação conjunta, inclusive anunciando que haverá capacidade de formação de inúmeros novos técnicos até o final de 2013. De fato, a formação de um maior número de extensionistas é um dos problemas a serem enfrentados, pois segundo informação ofi-
cial, atualmente estes são em número de 17 mil e a demanda atingiria o dobro deles. Também há questões como plano de carreira, fixação de piso salarial e outras negociações que caracterizam a atividade pública. Não podem ser negligenciadas na concepção dessa nova agência duas questões importantes e extremamente atuais. A primeira delas é a necessidade de um formato conjunto, onde estado e iniciativa privada assumam suas responsabilidades e as mesmas possam ser medidas através de índices que corroborem ou desabonem suas ações. É preciso resultado. Hoje, tudo pode ser medido: produtividade, custo, rentabilidade, viabilidade etc. Em pleno século 21, não há mais lugar para gastança irresponsável e falta de profissionalismo. Serão 130 funcionários
num primeiro momento e R$ 1,3 bilhões de previsão orçamentária. É pouco se, de fato, forem atingidos os objetivos propostos de melhorar a renda dos pequenos produtores. Mas também pode ser muito, se for trilhado o caminho já conhecido do fisiologismo e do apadrinhamento político.
É imperioso o aproveitamento do conhecimento regional de profissionais já atuantes no interior, permitindo-lhes participar ativamente na implementação de práticas que se mostraram exitosas. O país tem muita coisa dando certo, basta que seja copiada e adaptada a cada realidade local.
Não existe uma agricultura brasileira, mas várias, cada qual com suas demandas. A segunda questão, que assume igual importância, é a de que não existe uma agricultura brasileira. Existem várias. Cada uma com suas peculiaridades e demandas e, certamente, o que serve a uma não atende a outra. Subestimar este fato, tornando o órgão burocrático e centralizador, certamente o levará ao fracasso.
Há um fosso quase intransponível entre a agricultura moderna, que gera divisas ao país, e aquela rudimentar, praticada empiricamente, sem nenhuma tecnologia. Já é passada a hora de cruzar esse fosso, deixando para trás erros históricos em favor de mais renda e inclusão àqueles que ainda não as obtiveram.
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Notícias da Terra Safra I
Haja transporte e armazéns
A
safra 2012/13 de grãos deve chegar a 184,30 milhões de toneladas, de acordo com o 9º levantamento da Conab, divulgado em junho. Tal estimativa indica produção 10,9% maior do que a obtida na temporada passada (166,17 milhões de toneladas) e pouca coisa a mais sobre o previsto no levantamento anterior (184,15 milhões). Segundo pesquisadores, o aumento deve-se principalmente à expansão das lavouras de soja e milho segunda safra, além de
condições cli máticas favoráveis, mesmo com estiagem e excesso de chuva em algumas áreas. A Conab prevê produção de 81,28 milhões de toneladas de soja e 43,62 de milho segunda safra – a primeira safra de milho foi estimada em 34,85 milhões de toneladas. A área total de grãos cresceu 4,6% sobre os 50,89 milhões de hectares da safra passada e chegou a 53,20 milhões/ha. A lavoura de soja aumentou 10,7% (passou de 25,04 para 27,72 milhões/ha) e a de milho segunda safra, 17,5% (de 7,62 para 8,95 milhões/ha).
Safra III
EUA retomam liderança
O
mundo vai colher 285,3 milhões de toneladas de soja na safra 2013/14 e os Estados Unidos, 92,26 milhões, retomando assim a posição de maior produtor do planeta. A previsão é do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). O Brasil produzirá 85 milhões de toneladas e a Argentina, 54,5 milhões, de acordo com o quadro mundial de oferta e demanda da instituição, divulgado em junho. Quanto ao milho, o USDA prevê produção mundial de 962,58 milhões de toneladas. A estimativa para a safra norte-americana foi reajustada para baixo: passou de 359,17 para 355,74 milhões de toneladas. No caso do Brasil e da Argentina, as projeções foram mantidas em 72 e 27 milhões, respectivamente.
PIB
Recuperação de perdas Safra II
O
Produção plena
A
quinta estimativa do IBGE, divulgada no mês passado, aponta produção de 185,9 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas este ano, 14,8% acima do total colhido em 2012 (161,9 milhões de toneladas) e 0,5% superior (959,8 mil toneladas a mais) ao previsto anteriormente. A área a ser colhida em 2013, estimada em 52,9 milhões de hectares, cresceu 8,4% frente à de 2012 (48,8 milhões de hectares) e 0,2% (+128,3 mil ha) sobre o total projetado no mês anterior. Considerando as regiões do país, o produção apresenta a seguinte distribuição: Centro-Oeste, 75,8 mi10 | Agro DBO – julho 2013
lhões de toneladas; Sul, 73,3; Sudeste, 19,5; Nordeste, 12,8; e Norte, 4,5. Em relação à safra passada, o IBGE constatou incremento de produção de 7% no Centro-Oeste, 32,7% no Sul, 1,2% no Sudeste e 8,2% no Nordeste, e queda de 4% na região norte. Mato Grosso continua à frente no ranking nacional de produção, com 23,8% de participação, seguido pelo Paraná, com 20,3%, e Rio Grande do Sul, com 15,7%. Somados, estes três estados respondem por 59,8% da safra brasileira. 2013, voltou a crescer, com alta de 10,3% na estimativa de produção, ou mais 68.936.088 toneladas em relação a produção obtida em 2012.
PIB – Produto Interno Bruto da agropecuária cresceu 9,7% no primeiro trimestre de 2013 na comparação com o quarto trimestre de 2012, registrando a maior alta desde 1998. Em relação ao mesmo período do ano passado, cresceu 17%, graças, segundo o IBGE, ao aumento de produtividade nas safras de grãos, principalmente soja e milho, colhidas no início do ano, e aos preços internacionais das principais commodities agrícolas. A expectativa é que o setor agropecuário cresça 9% no acumulado de 2013, sustentando o desempenho do agronegócio como um todo na casa dos 4,5% a 5%, o que aponta para a recuperação das perdas causadas por problemas climáticos em 2012.
Notícias da Terra Café
Tributação
Indústria critica tratamento desigual
A
Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais divulgou relatório informando que, pela primeira vez desde sua fundação, em 1981, as exportações de soja em grão de país (39 milhões de toneladas este ano) superaram o volume destinado à indústria (37,2 milhões de toneladas) para atender o mercado interno e as exportações de farelo, óleo e demais derivados do grão.
Segundo avaliação da entidade, isso é reflexo de anos de perda de competitividade da indústria nacional no mercado internacional. “A política tributária inadequada pode ser apontada como um dos principais fatores para esta perda, pois tanto no nível federal quanto nos estaduais há incentivos para a exportação de matéria-prima em detrimento da valorização interna e geração local de empregos”.
Negócios
Exportações aumentam 10,1% Para enxugar a crise
O
CMN – Conselho Monetário Nacional autorizou no mês passado a utilização de 3,16 bilhões de reais do Funcafé – Fundo de Defesa da Economia Cafeeira para financiar operações de estocagem (até 1,14 bilhão de reais), custeio (650 milhões), aquisição de café (500 milhões), contratos de opções e de operações em mercados futuros (50 milhões), capital de giro para indústria de café solúvel (150 milhões), torrefação (200 milhões), cooperativas (450 milhões de reais) e recuperação de cafezais danificados (20 milhões). A programação dos recursos, principalmente para a linha de financiamento de estocagem, vai ajudar a enxugar dez milhões de sacas de café do mercado e aquecer os preços”, disse o ministro Antônio Andrade, do Mapa, referindo-se à crise que assola a cafeicultura brasileira (leia reportagem a respeito na pág. 22).
O
agronegócio brasileiro faturou US$ 40,39 bilhões entre janeiro e maio de 2013, valor 10,1% acima do obtido no mesmo período no ano passado (US$ 36,70 bilhões), conforme levantamento da Secretaria de Relações Internacionais do Mapa. As importações do setor aumentaram 1,4%, passando de US$ 6,94 bilhões para 7,04 bilhões. Assim, o saldo na balança comercial foi de US$ 33,35 bilhões.
O setor de cereais, farinhas e preparações foi o que mais contribuiu para o crescimento nas exportações, graças, principalmente, às remessas de milho (+US$ 1,89 bilhão). Em relação ao valor exportado, o complexo soja foi o que mais se destacou, com vendas de US$ 13,13 bilhões (+4,0% ante 2012). A Ásia foi o principal destino das exportações brasileiras no período, com faturamento de US$ 16,85 bilhões, 24,7% superior ao de 2012.
Milho
Disputa acirrada
A
produção total de milho na temporada 2012/13 será de 78,5 milhões de toneladas, segundo estimativas da Conab –
em números redondos, 78,468 milhões. O IBGE praticamente repete o número, com pequena variação para baixo: 78,457 milhões. O USDA prevê 72 milhões e a consultoria Safras & Mercado, 82,67 milhões de toneladas, recorde absoluto. Se as projeções da consultoria brasileira se confirmarem, a safra de milho será maior do que a de soja, pela primeira vez na história do Brasil. Em seu último levantamento, a Conab indica colheita de 81,3 milhões de toneladas de soja e Safras & Mercado, 82,3 milhões. julho 2013 – Agro DBO | 11
Notícias da Terra Plano Safra I
Plano Safra II
Seguro selecionado
O
governo federal ampliou em 75% o valor do subsídio ao seguro rural, instrumento fundamental no desenvolvimento da agricultura brasileira, capaz de evitar prejuízos decorrentes de alterações climáticas, como estiagem e geadas, e outros problemas. Os recursos destinados a cobertura passaram de R$ 400 milhões, montante destinado nas safras anteriores, para R$ 700 milhões. O
PAP 2013 prevê novos procedimentos para definir a destinação da parcela do prêmio, com prioridade para regiões e produtos específicos: 75% do valor total do seguro serão relacionados a regiões e produtos prioritários, com subvenção de 60% do seguro. A expectativa é que a medida permita segurar área superior a 10 milhões de hectares, beneficiando 96 mil produtores.
Plano Safra III
equipamentos de irrigação e estruturas de armazenagem; 4,5% ao médio produtor rural; e 5% para práticas sustentáveis. O limite de financiamento de custeio foi ampliado de R$ 800 mil para R$ 1 milhão por produtor e o destinado à comercialização, de R$ 1,6 milhão para R$ 2 milhões. O contrato de custeio pode ser ampliado, porém, em até 45%, dependendo das condições de contratação ou de uso de determinadas práticas agropecuárias, como adesão ao seguro agrícola ou a mecanismos de proteção de preços, comprovação de reservas legais e áreas de preservação permanente na propriedade e adoção do sistema de identificação de origem.
PAP 2013: R$ 136 bilhões
O
Plano Agrícola e Pecuário 2013/14, anunciado em 4/6 pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Agricultura, Antônio Andrade, prevê recursos de R$ 136 bilhões para a próxima safra, dos quais R$ 97,6 bilhões para financiamentos de custeio e comercialização e R$ 38,4 bilhões para programas de investimento. Comparativamente ao PAP 2012/13, o crédito é 18% maior. A taxa média de juros será de 5,5% ao ano. Em modalidades específicas, porém, serão menores: 3,5% para programas voltados à aquisição de máquinas agrícolas,
Verba para cooperativas
O
cooperativismo terá R$ 5,3 bilhões, disponíveis através do Prodecoop – Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária e Procap-Agro – Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias. Os juros para capital de giro das cooperativas serão reduzidos de 9% para 6,5% ao ano
Plano Safra IV
Logística e infraestrutura
O
governo destinará R$ 25 bilhões para a construção de novos armazéns privados no país nos próximos cinco anos (R$ 5 bilhões na temporada 2013/14) e R$ 500 milhões para modernizar e dobrar a capacidade de armazenagem da Conab. O objetivo é solucionar o déficit que o país tem em quan-
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tidade de silos para armazenagem de grãos e evitar prejuízos causados pelos gargalos no escoamento da produção. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação recomenda que cada país tenha capacidade de armazenagem 20% acima de sua produção, o que, no caso do Brasil,
equivaleria em 2013 a 220 milhões de toneladas, muito acima, portanto, das 184,30 milhões de toneladas previstas pela Conab. Hoje, a capacidade de armazenagem do país é 45 milhões de toneladas, somando armazéns públicos e privados, o que representa um déficit de estocagem de 39 milhões de toneladas.
Notícias da Terra Plano Safra V
Sai Emater, entra Anater.
A
tendendo reivindicação recorrente dos produtores rurais, o governo federal anunciou no mês passado, quando do lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, a criação da Anater – Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, no vácuo deixado pelas empresas estaduais de extensão rural – as “Ematers” –, a maioria das quais foram sucateadas, quando não extintas por inanição, ao longo
dos anos. Segundo o ministro Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, a nova estatal tem orçamento previsto de R$ 1,3 bilhão. “Será um serviço social autônomo, de direito privado e sem fins lucrativos, a exemplo da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos e da Agência de Desenvolvimento Industrial. O Poder Executivo definirá as atividades por meio de contrato de gestão”, declarou.
A presidenta Dilma Rousseff afirmou que a nova agência dará braços e pernas às tecnologias desenvolvidas pela Embrapa. “Será uma relação de mão dupla, na medida em que os prestadores de serviço de assistência técnica e extensão rural levarão conhecimentos científicos aos produtores rurais, mas também retornarão com demandas destes agricultores à Embrapa” – a propósito, leia “Que venha a Anater”, na página 8.
Plano Safra VI
Crédito para os pequenos
O
Plano Safra da Agricultura Familiar 2013/14 terá recursos de R$ 21 bilhões, 16,6% acima do valor destinado ao setor em 2012. Entre as novidades anunciadas está a ampliação do limite para enquadramento no Pronaf. A partir de agora, famílias que tiveram renda até R$ 360 mil no último ano poderão contratar o crédito. O limite de financiamento de custeio passou de R$ 80 mil para R$ 100 mil e a taxa de juros paga pelos agricultores, cujo teto era de 4%, agora será de 3,5%. A partir deste mês de julho deste ano, quando começam a prepa-
rar a safra 2013/14, os agricultores poderão contratar até R$ 150 mil por operação. O plano destina, ainda, R$ 400 milhões ao Seaf – Seguro da Agricultura Familiar, mecanismo de prevenção para os produtores rurais que contratam financiamento de custeio e investimento do Pronaf. De acordo com o MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário, o segmento ocupa 84% dos estabelecimentos rurais do Basil, responde por 33% do PIB Agropecuário e emprega 74% da mão-de-obra no campo.
Plano Safra VII
Prêmio adicional para “hortifrutis”
O
CMN – Conselho Monetário Nacional aprovou uma série de medidas do PAP 2013/14 em 18/6, entre as quais o aumento do limite de financiamentos de custeio para culturas “hortifrutis”. O governo já havia divulgado os limites de financiamento de custeio para a próxima safra durante o lançamento do PAP, em 4/6. No entanto, foi autorizado crédito adicional de 15% para incluir os produtores rurais inscritos
no CAR – Cadastro Ambiental Rural e mais R$ 1 milhão para culturas com forte variação na oferta, como batata inglesa, cebola, feijão, mandioca, tomate, verduras (folhagens) e legumes. “Esse adicional para ‘hortifrutis’ e outras culturas visa incentivar o aumento da produção dessas culturas para reduzir a inflação de alimentos”, justificou o Ministro da Agricultura, Antônio Andrade. Além das medidas de crédito para
produtores, o CMN autorizou em 18/6 a reabertura do prazo para renegociação de dívidas dos produtores de arroz. Agora, o prazo de manifestação – que se encerrou no dia 30 de abril deste ano – foi prorrogado para 31 de julho de 2013. O prazo para as instituições financeiras formalizarem as renegociações também mudou: passou de 31 de julho para 30 de agosto deste ano. julho 2013 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Alimentos I
Alimentos II
Crescimento limitado
A
produção mundial de alimentos deverá crescer 1,5% ao ano no período 2013/2022, em comparação com o incremento anual de 2,1% entre 2003 e 2012, de acordo com relatório conjunto da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e da Agência de Segurança Alimentar das Nações Unidas (FAO, na sigla em inglês). A menor oferta de terras agricultáveis, o aumento dos custos de produção, a escassez dos recursos naturais e as pressões ambientais são as principais razões da limitação, de acordo com o documento. A participação dos países em desenvolvi-
Governo chinês aprova soja GM
mento na oferta mundial continuará a aumentar. Prevê-se, por exemplo, que o bloco responda por 80 por cento da oferta global de carne e garanta a maior parte do crescimento do comércio nos próximos 10 anos. Juntos, representarão a maior parte das exportações mundiais de cereais secundários, arroz, oleaginosas, óleo vegetal, açúcar, carne bovina, aves domésticas e peixe até 2022. Para tanto, os respectivos governos precisarão investir em seus setores agrícolas, incentivando a inovação e o desenvolvimento tecnológico e melhorando a integração nas cadeias de valor mundiais.
A
Alimentos III
Garantia chinesa
O
documento conjunto da OCDE e da FAO indica que a China deverá se manter autossuficiente quanto às principais culturas alimentares, mas pode vir a reduzir a produção ao longo da próxima década devido às restrições de recursos como terra, água e mão-de-obra rural. Segundo o relatório, o poder aquisitivo dos chineses, que compõem um quinto da população do planeta, e o setor agroalimentar do país vão crescer bastante, com forte impacto nos mercados mundiais. A Europa Oriental e a Ásia Central, regiões também com perspectivas de grande crescimento populacional, responderão pela maior parte do consumo de bens básicos, seguidos pela América Latina e outras economias asiáticas. O consumo de alimentos será impulsionado por melhorias na renda pessoal, urbanização e mudança de dietas alimentares.
Alimentos IV
De olho na inflação
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governo “zerou” em junho (até então era de 10%) o Imposto de Importação de vários tipos de feijão. “A redução da alíquota tem o objetivo de facilitar a compra externa, aumentar a oferta no mercado brasileiro e reduzir o preço, já que houve
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queda da produção nacional e ainda não há perspectivas de aumento da oferta doméstica”, informou o MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A medida é temporária e vigora até 30 de novembro deste ano. O comunicado informa que a redução aplica-se ao feijão preto classificado com o código 0713.33.19 da
informação foi divulgada pelo ministro Antônio Andrade, do Mapa, ao regressar do fórum China-América Latina e Caribe de Ministros da Agricultura, realizado em Pequim no mês passado. A aprovação das variedades Intacta RR2 Pro, da Monsanto; CV127, parceria da Basf com a Embrapa; e Liberty Link, da Bayer, foi comunicada a ele pelo colega chinês, Han Changfu, durante encontro bilateral. As sementes já tinham seu uso autorizado no Brasil e em outros países, mas as empresas de tecnologia ansiavam pelo “OK” de Changfu, visto que a China é o maior comprador da soja brasileira. O plantio da safra 2013/14 começa em outubro, no Brasil. A Monsanto assegura que a RR2 Pro, além da resistência ao glifosato, tem a propriedade de suprimir a população de lagartas que afetam as lavouras de soja, mas há dúvidas em relação às do gênero Helicoverpa, especialmente a H. armigera, que, além da soja, vem atacando plantações de milho, algodão, milheto e outras culturas em vários estados.
NCM – Nomenclatura Comum do Mercosul e de outros tipos de feijão, que não o branco, com o código NCM 0713.33.99. O IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo mostra que o feijão carioca e o feijão preto acumularam alta de 44,17 e 7,24 por cento, respectivamente, no ano, até o mês passado.
Notícias da Terra Alimentos V
Devagar e sempre
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índice de produtividade agrícola brasileiro cresceu 3,6% ao ano ao longo dos últimos 35 anos, já descontado o aumento simultâneo na quantidade de insumos empregados no campo, entre trabalho, máquinas e outros. Nas últimas décadas, o país diminuiu a grande lacuna de eficiência ainda existente em relação a estruturas mais modernas, mas manteve uma produção agrícola concentrada em poucas propriedades, com 10% dos estabelecimentos do país respondendo por 85% do valor bruto produzido. Essas são algumas conclusões de pesquisa conduzida por Armando Fornazier, doutorando em economia pela Unicamp – Universidade
Estadual de Campinas, e José Eustáquio Vieira Filho, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ambos de São Paulo. A produtividade agrícola estudada não é a que decorre do emprego maior de insumos, mas, sim, dos ganhos de eficiência dependentes do desenvolvimento científico e tecnológico. “Enquanto as deficiências logísticas prejudicam o escoamento da produção agrícola, o aumento dos índices de produtividade torna o Brasil mais competitivo no mercado mundial de commodities, diminuindo a lacuna em relação à moderna agricultura. Contudo, persiste a convivência entre setores modernos e atrasados no campo”. Segundo os autores, o desenvolvimento inviabiliza a inclusão pro-
dutiva dos segmentos mais atrasados nos mercados mais dinâmicos e essa heterogeneidade torna mais difícil a aplicação generalizada da tecnologia. O estudo aponta para a necessidade de investimento em pesquisa, bem como em assistência técnica e educação rural. Além disso, defende que as políticas se adequem às especificidades de cada região do país.
Alimentos VI
Brasil melhora performance
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Índice Global de Segurança Alimentar – realização da Economist Intelligence Unit (EIU, na sigla em inglês), unidade de pesquisa do grupo The Economist – analisa os maiores desafios e vulnerabilidades relativos à segurança, acessibilidade e qualidade alimentar em 105 países, incluindo o Brasil. Na última atualização, a EIU constatou que a renda da população mundial aumentou mais rápido quando comparada aos pre-
ços dos alimentos, elevando o nível de segurança alimentar e indicando avanço contínuo até o final do ano. “A renda per capita teve uma elevação global de cerca de 1% no primeiro trimestre de 2013 em relação aos três meses anteriores, enquanto a média dos preços dos alimentos no mundo aumentou apenas 0,8% no índice da FAO”. O Brasil melhorou sua posição no ranking e agora ocupa a 29ª posição (antes, era o 31º colocado).
Segundo os pesquisadores, a performance está relacionada à maior resistência frente às flutuações dos preços globais e à melhora na renda do país e de sua população. A infraestrutura agrícola e PIB per capita são os grandes desafios em segurança alimentar no país, aponta o estudo.O Indice Global de Segurança Alimentar é público e está disponível para consulta e download no site http://foodsecurityindex.eiu.com. julho 2013 – Agro DBO | 15
Notícias da Terra Feira
Sucesso, apesar das lagartas.
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ealizada de 28 de maio e primeiro de junho no município de Luís Eduardo Magalhães, no Cerrado baiano, a Bahia Farm Show contabilizou R$ 671 milhões em negócios, conforme levantamento junto às instituições financeiras representadas no evento. “Esta foi a melhor Bahia Farm Show de todos os tempos, apesar de o produtor do oeste do estado ter sofrido uma quebra de 20% na safra, com a estiagem e com os ataques da Helicoverpa”, comemorou Julio Cézar Busato, presidente da feira, promovida pela AIBA-Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, Abrapa – Associação Baiana dos Produtores de Algodão, Assomiba – Associação dos Revendedores de Máquinas e Implementos do Oeste da Bahia, Fundação Bahia e prefeitura local.
“O fluxo de 64 mil visitantes também superou nossas expectativas, mostrando que a feira já se consolidou como um evento fundamental na agenda dos produtores rurais, autoridades, empresários e demais profissionais do setor”. Um dos atrativos da feira esse ano foi o debate sobre as lagartas do gênero Helicoverpa, que vêm infestando lavouras em várias regiões do país em níveis populacionais nunca antes registrados, causando prejuízos de aproximadamente R$ 2 bilhões em milho, algodão, soja, feijão comum, feijão-caupi, milheto, sorgo e outras culturas, especialmente em cultivares com genes que expressam proteínas Bt supostamente resistente a elas. Os participantes do “Fórum Regional sobre Helicoverpa Etapa II”, foram Alexandre de Sene Pin-
to, diretor pesquisador da BUG; Jander da Silva Neves, da Syngenta; Juliano César, da Bayer Crop Science; Jeferson Diniz, da Du Pont do Brasil; Breno Vieira, da Dow Agro Sciences; Guto Magalhães, conselheiro da CCAB – Consórcio Corporativo Agropecuário Brasileiro; e Jonas Yasuda, diretor operacional da CCAB.
Fitossanidade
Helicoverpa come plástico
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raga recorrente nas lavouras brasileiras, as lagartas do gênero Helicoverpa assustam pela agressividade, resistência a inseticidas, capacidade de reprodução (o ciclo de ovo a adulto dura de quatro a seis semanas no verão) e pela polifagia – tem muita fome e come de tudo. A equipe do engenheiro agrônomo Márcio Henkes Caldeira, gerente de pesquisas da Cooaleste – Cooperativa Agrícola dos Produtores Rurais da Região Sul do Mato Grosso, sediada em Primavera do Leste, comprovou, por acaso, que elas comem até plástico. A descoberta ocorreu quando guardaram um exemplar num copo de plástico no laboratório da cooperativa. No dia seguinte, a lagarta havia desaparecido, deixan-
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do um buraco no copo. Márcio Caldeira solicitou então uma avaliação mais criteriosa: colocaram outro espécime e algumas brácteas de algodão em outro copo de plástico, reforçaram-no com três voltas de fita crepe e o guardaram. Na manhã seguinte”, a mesma constatação: a lagarta comeu as brácteas, furou o plástico e sumiu. Márcio conta que, na região de Primavera do Leste, as Helicoverpas atacaram lavouras de milho, milheto, algodão, soja, girassol e sorgo, mas não, mamona. “Não detectamos a presença delas nos mamoneiros”, ressalta. Os pesquisadores da Cooaleste estão avaliando o plantio de mamona como forma de interromper o ciclo da espécie, já que elas, aparentemente, não atacam a planta. Aos poucos, cien-
tistas da Embrapa, Fundação MT e outras instituições, além da Cooaleste, vão descobrindo características e hábitos das Helicoverpas, fundamentais para o controle da praga. O histórico do copo de plástico e a incolumidade da mamona podem ajudar nas pesquisas.
Notícias da Terra Silvicultura I
Floresta aberta no Pará
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ais de 440 mil hectares da Floresta Nacional do Crepori, localizada entre as rodovias Transamazônica (BR-230) e Cuiabá-Santarém (BR-163), no estado do Pará, poderão ser explorados por madeireiras a partir do ano que vem. O edital para exploração foi lançado no início de junho pelo SFB – Serviço Florestal Brasileiro. O lote de concessão es-
tá dividido em quatro unidades de manejo, com áreas de 29 mil, 59,8 mil, 134 mil e 219 mil hectares. Os interessados têm até o final de novembro de 2013 para apresentar os documentos e as propostas para concorrer à concessão de uma das quatro unidades em que a floresta foi dividida. O valor mínimo de pagamento é R$ 16,38 por metro cúbico de madeira.
Projetos sustentáveis
Informática
Lentidão na internet
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Brasil tem 80,9 milhões de usuários de internet. Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 15 pontos percentuais na proporção de pessoas que utilizam a rede mundial de computadores no país, passando de 34% em 2008 para 49% este ano. Os dados constam de pesquisa do Cetic.br – Centro de Estudo sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, divulgada em junho. Apesar do avanço, o estudo revela dificuldades para a expansão da internet, especialmente na zona
rural, onde apenas 10% dos domicílios estão conectados. Na área urbana, o percentual chega a 44% das residências. A média brasileira é 40% dos domicílios. O estudo consultou 17 mil pessoas em todas regiões do país. “Observamos maior crescimento nos mercados mais atrativos, como Sul e Sudeste, onde há maior concentração de provedores. Se temos interesse em levar a banda larga para 100% dos domicílios brasileiros, algo de diferente precisa ser feito”, avaliou Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.
Manejo
É proibido plantar
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vazio sanitário, período em que os produtores rurais ficam proibidos de plantar soja e são obrigados a destruir as plantas guaxas, ou tigueras (as que nascem espontaneamente após a colheita, servindo de habitat e alimento para o fungo causador da ferrugem asiática), começou em 15 de junho em 12 estados: Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná, Bahia, Rondônia, Maranhão e Pará. O vazio segue até 15 de setembro. Na safra recém-encerrada, os
Silvicultura II
produtores rurais de Mato Grosso, maior produtor de soja do país, perderam US$ 1 bilhão em decorrência da ferrugem, segundo a Aprosoja. O cálculo considera área cultivada de oito milhões de hectares, perdas de cinco sacas/ha, totalizando 40 milhões de sacas perdidas, e cotação de US$ 24 por saca.
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emorou, mas saiu: um ano após parceria firmada na Rio+20 para operacionalizar recursos do Fundo Amazônia, o Fundo Banco do Brasil e BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social firmaram no mês passado os primeiros convênios com entidades da sociedade civil para a execução de projetos de exploração sustentável das florestas no Bioma Amazônia. Ao todo, foram formalizados 18 projetos no valor de R$ 15,4 milhões, em oito estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Tocantins. Segundo o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jorge Streit, a meta é aplicar R$ 100 milhões em projetos sustentáveis na Amazônia até 2016. A escolha dos projetos foi feita por seleção pública. O principal requisito é a comprovação de sustentabilidade por meio da licença ambiental. Os projetos têm prazo de execução definidos e são acompanhados pelo Fundo Amazônia, que tem entre suas principais fontes de recursos o governo da Noruega, o Banco de Desenvolvimento da Alemanha e a Petrobras. julho 2013 – Agro DBO | 17
Artigo
Quebrando barreiras Embrapa desenvolve tecnologia revolucionária capaz de induzir a transgenia em determinada parte da planta e não na planta inteira Décio Luiz Gazzoni *
Claudio Bezerra
O
conhecimento é uma eterna construção, não há limites. Um corolário desta assertiva é a tecnologia: uma inovação, quando lançada, representa o estado da arte do conhecimento. O uso massivo dessa tecnologia retroalimenta o sistema, redundando em técnicas incrementais que a aprimoram ou, no limite, geram outras que as substituem. A transgenia é uma ferramenta valiosa para gerar inovações em benefício da sociedade. Em seus primórdios, a ruptura do status quo em relação às tecnologias pregressas gerou inseguranças, potencializadas por especulações de malefícios superiores aos benefícios. Atualmente, esta etapa está sendo superada, e os resquícios de resistência aos produ-
meida (acima), estudou a regulação da expressão dos genes, que ocorre no caminho entre o código genético e as características das plantas. A pesquisa se concentrou nos promotores, uma parte do código genético presente no cromossomo, próximo a um gene, e que determinam como a característica do código genético se manifesta na planta, em que intensi-
O potencial de impacto desta tecnologia no mercado agrícola internacional é enorme
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.
tos transgênicos estão mais vinculados às disputas comerciais que a fatos comprovados de riscos à saúde humana, de animais ou ao ambiente. Entretanto, as contestações marginais em relação às variedades transgênicas, de cunho ambiental e toxicológico, ainda existentes, induzem a melhoria incremental da tecnologia, eliminando as eventuais incertezas e inseguranças. Atenta aos fatos, a Embrapa pesquisa para torná-las ainda mais seguras, redundando em inovações, como promotores gênicos inéditos, que permitam que uma proteína transgênica apareça somente em algumas partes das plantas. Uma equipe da Embrapa, liderada pela Dra. Juliana Dantas de Al-
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dade, ou se estará ausente da mesma. Existem dois tipos de promotores: um deles, alcunhado de constitutivo, promove a manifestação do gene em toda a planta; o específico possui a habilidade de restringir a manifestação de uma proteína transgênica em uma determinada parte da planta. A equipe da Dra. Juliana identificou um promotor no cafeeiro que restringe a presença da proteína transgênica ao fruto. Imagine os benefícios de seu uso, como a melhoria de qualidades organolépticas ou a resistência a pragas que atacam o grão, reduzindo o uso de agrotóxicos. Uma grande possibilidade é restringir às brácteas do fruto do algodão as substâncias que con-
ferem resistência às lagartas que o danificam. Outro promotor, identificado na soja, permite a presença das proteínas transgênicas apenas nas folhas. Além de diminuir o gasto energético da planta, elimina o risco de efeitos não desejados sobre organismos benéficos, como os fungos de solo que facilitam a absorção de nutrientes. Na soja, a equipe também identificou um novo promotor constitutivo, que permite a expressão da proteína em toda a planta, quando esta característica for desejável. Uma das vantagens da inovação da equipe da Dra. Juliana é a ausência nos frutos ou grãos de substâncias produzidas na planta por genes nela introduzidos. O potencial de impacto no mercado de tecnologia e, sobretudo, no mercado agrícola internacional, pode ser enorme. Sem a presença de proteínas exógenas no produto agrícola, perderiam vigor as barreiras impostas pela Europa e outros países, como China ou Japão. Além disso, descortinam perspectivas de avanços em culturas que apresentavam restrições até o momento, como o trigo. Uma decorrência prática é o fortalecimento do banco de promotores da Embrapa, gerando maior autonomia tecnológica da empresa, tornando-a menos dependente de promotores patenteados por empresas privadas, possibilitando desenvolver novas variedades que sejam mais produtivas, resistentes a pragas ou tolerantes à seca. Ou com todas essas características, em uma única variedade transgênica, com enormes benefícios para o agricultor e para a sociedade.
Capa
Café a rodo
Produtor da região de Patrocínio (MG) mostra que uma das alternativas para sair da crise da cafeicultura brasileira é investir em grãos especiais Antônio Sérgio Souza
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Ensei Neto
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e origem italiana, a família Delarisse mudou para o município de Patrocínio, na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, em 1983. Cansada dos prejuízos causados pelas geadas constantes no norte do Paraná, decidiu deixar as terras de Apucarana, onde morava, e investir na nova fronteira da cafeicultura brasileira, que então se abria no cerrado mineiro. Os Delarisse compraram uma fazenda na região do Chapadão de Ferro, a 1.260 metros de altura, localizada no centro da cratera de um vulcão extinto. Sem saber, nesse privilegiado local se encontram três fatores decisivos para o sucesso do café produzido pela família: a altitude, o microclima exclusivo e solo vulcânico, rico em minerais. Desde que assumiu a direção da fazenda, Ruvaldo Delarisse buscou produzir cafés de qualidade superior, uma vez que sempre teve como palavra de ordem para si “fazer sempre o melhor”. Para isso, investiu em tecnologia. Mecanizou todos os processos produtivos, inclusive a colheita e a secagem. Adquiriu maquinários de despolpamento, secadores e beneficiamento, “sem esquecer, é claro, de dedicar atenção minuciosa ao manuseio dos defensivos agrícolas, para que o meio-ambiente não fosse agredido”. Ele provou, na prática, que o olho do dono é que engorda o gado, ditado que acompanha a historia dos cafés da Chapadão de Ferro. Com o sistema de produção estruturado, suas atenções se voltaram para a diferenciação através da qualidade e aproveitamento dos atributos naturais da região, fatores que logo começaram a chamar a atenção dos compradores internacionais – a fazenda instituíra há pouco a sua própria marca, Delarisse Original Volcanic Coffee, numa referência direta às condições na cratera do vulcão. Ruvaldo ressalta que os investimentos na qualidade são hoje, mais do que antes, considerando a crise atual da cafeicultura brasileira, fundamentais para aumentar a rentabilidade do produtor, graças a estabilidade de preços dos cafés especiais nos mercados interno e externo, quando comparados com os comuns. No caso do café vulcânico, de características únicas, dada às peculiaridadesc locais, o valor pago pelos compradores em alguns períodos é 50% superior, se comparado com a média dos demais produtos. “Hoje a demanda pelo café vulcânico é maior do que a nossa oferta. A produção de cafés especiais requer cuidados que impedem o aumento da produção no curto prazo”, enfatiza. A área ocupada pelo cafezal da fazenda Chapadão de Ferro é de 350 hectares, com prevalência para as variedades Acaiá do Cerrado, Catuaí 99 e 144, Topázio e Catuaí 62 (amarelo), com produção entre 8 mil e 10 mil sacas de 60 quilos anualmente. Deste total, cerca de 60% são de grãos especiais, de grande acidez e complexidade de sabor, realçado pela presença de minerais como ferro, abundante na região. Os grãos são preparados em dois tipos de processamento: cereja descascajulho2013 2013- -Agro AgroDBO DBO| 23 |B julho
Capa
Google Maps
Garantia de origem O processo de produção passa por averiguação constante. É fiscalizado pelo Certifica Minas, programa do governo do estado em parceria com a UTZ Certified, empresa certificadora de origem holandesa. A sistemática obedece a protocolos de boas práticas agrícolas e conformidade com as normas sociais, trabalhistas e ambientais desejadas. Além disso, o café dos Delarisse é rastreado desde a origem, do talhão onde o cafeeiro é cultivado, até a xícara do consumidor final. “Estamos nos aperfeiçoando a cada ano para que nossos clientes tenham a segurança de estar adquirindo um produto sustentável e ecologicamente correto”, esclarece Ruvaldo. Os investimentos em tecnologia, manejo e sustentabilidade feitos pele família foram reconhecidos através dos concursos de qualidade. A última façanha da família ocorreu no final de 2012 com a premiação no 9º
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Ruvaldo Delarisse, diante de lagoa no fundo da cratera: prêmios para o seu café, graças aos investimentos em qualidade e condições exclusivas de clima e solo.
Antonio Sergio
do e natural. A maior parte da colheita é mecanizada. Logo após colhidos, os frutos são levados para o lavador, onde são separados os grãos maduros (cerejas) dos boias, o que permite uma secagem mais uniforme. Nesta fase, os funcionários utilizam apenas a luz do sol, no terreiro de asfalto, para que a secagem seja realizada de forma mais lenta, preservando assim as características da bebida. Depois de secos, os lotes são armazenados separadamente, de acordo com suas especificidades e níveis de excelência. “Estamos produzindo há 13 anos, sempre aprimorando nossas técnicas de preparo e buscando dar a nossos funcionários treinamento para que possamos fazer cafés de altíssima qualidade”.
Vista aérea da cratera do vulcão extinto, onde se localiza a fazenda Chapadão de Ferro.
Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais. Os Delarisse conseguiram alcançar o primeiro, o segundo e o terceiro lugar na categoria Natural, e na categoria Cereja Descascado. Ruvaldo subiu ao palco para receber das mãos do governador do estado, Antônio Anastácia, a premiação relativa ao vencedor e teve seu produto negociado no leilão organizado pelo governo de Minas Gerais com o lance mais alto do evento – R$ 2,5 mil a saca. Além desses prêmios, a fazenda Chapadão de Ferro coleciona outros troféus, como o Prêmio Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso, Concurso de Qualidade do Café do Cerrado, Concurso Nacional ABIC de Qualidade do Café, Concurso de Qualidade Cafés do Brasil – Cup of Excellence Natural Late, entre outros. Os concursos de qualidade trouxeram notoriedade internacional aos cafés da família, que passou a
exportá-los diretamente para torrefadores da Austrália, Inglaterra, Japão, Espanha, Itália, Estados Unidos e Indonésia, entre outros países. No Brasil, o Delarisse Original Volcanic Coffee pode ser apreciado em cafeterias como Suplicy Cafés Especiais, Lucca, Ateliê do Grão, Cafuné e Nuance Cafés Especiais. O engenheiro químico e especialista em cafés especiais, Ensei Neto, explica que as características do Chapadão de Ferro são fundamentais para produção de um café tão raro. O formato circular da região, com a elevação da borda, cria outro fenômeno de alto impacto nas lavouras locais -– 40 minutos a menos de insolação por dia. Como se sabe, para realizar a fotossíntese, as plantas precisam da luz direta. Esse tempo a menos de insolação diária reduz a temperatura média na região no caso, são 3°C a menos em relação à cidade de Patrocínio e imediações. Exclusividade Na fazenda dos Delarisse, as lavouras tem ciclo de maturação dos frutos muito mais longo do que nas áreas externas. Tal peculiaridade, combinada às características locais, fazem surgir bebidas incomuns. “O Delarisse Original Volcanic Coffee é um raro exemplar de café vulcânico pela sua complexidade de notas de sabor, incluindo frutas vermelhas em profusão, que por vezes lembram vinhos provenientes dos Andes”, explica Ensei Neto. O Brasil vêm ganhando espa-
Divulgação
O Brasil vem ganhando espaço no mercado internacional de cafés especiais, com produção crescente em todas as regiões do país.
Pé de Catuaí 99 em plena produção: frutos com maturação uniforme, de alta qualidade.
ço no mercado internacional de cafés especiais, com produção crescente em praticamente todas as regiões do país. Hoje, sua participação neste segmento, em termos globais, é de 15%. Para o pesquisador Flávio Borém, da Ufla – Universidade Federal de Lavras, o café pode ser especial por possuir sabor e aromas únicos, ser de origem controlada ou até mesmo por ser raro e exótico, como o “café do jacu” (feito a partir dos grãos expelidos pelos jacus – as aves engolem o fruto maduro, comem a polpa e expelem os grãos em meio as fezes), mas ainda é um nicho. Depende de investi-
Pesquisadores buscam café tolerante à seca O Projeto Genoma do Café, do Consórcio Pesquisa Café, fez o sequenciamento genético do cafeeiro da espécie Coffea arabica, gerando 200 mil sequências de DNA e identificando mais de 30 mil genes responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento do cafeeiro, como folhas, raízes, frutos, flores e ramos. “A partir deste banco de dados, identificamos o gene que confere resistência a seca, que denominamos CAHB12”, explica o geneticista Marcio Alves Ferreira, da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, que coordena o projeto com Eduardo Romano, da Embrapa. Para chegar ao gene que confe-
re tolerância a seca, os pesquisadores submeteram plantas de café arábica, variedade mais utilizada comercialmente no mundo, a 10 dias sem água. Com o passar do tempo, eles verificaram, por análises moleculares, que a expressão desse gene aumentava a
cada dia em condições de seca. Na sequência, os pesquisadores isolaram o gene e o transferiram por engenharia genética para plantas, da espécie Arabdopsis, modelo em laboratório. As plantas geneticamente modificadas e suas descendentes permaneceram saudáveis após 40 dias sem água se tornando muito mais tolerantes do que as plantas que não receberam o gene. “O próximo passo do estudo será transferir esse gene para outras culturas como soja, algodão e cana de açúcar, e comprovar, através de experimentos com a Embrapa, que a função do gene será preservada”, adianta o pesquisador.
julho 2013 - Agro DBO | 25
Capa O mercado nacional de café está em plena expansão, graças à popularização das cafeterias e procura por bebidas de qualidade. mentos em tecnologia e condições específicas de produção, como no caso dos Delarisse. Tecnologia crescente De forma geral, o crescimento da cafeicultura nacional está embasado no emprego de novas tecnologias. Este avanço é fruto do trabalho realizado pela instituições de pesquisa que formam o Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Merecem destaque aos estudos relacionados com adubação fosfatada, de especial importância para a cafeicultura da região do Cerrado, e as tecnologias voltadas para a pós-colheita (preparo, secagem e armazenamento de grãos), que permitem a obtenção de cafés de qualidade superior com eficiência econômica, além do desenvolvimento de tecnologias que reduzem o volume de água empregado no beneficiamento. Na opinião de Luiz Paulo, diretor da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), o mercado de café especiais está em plena expansão no país devido à popularização das cafeterias e aumento do interesse dos consumidores por bebidas de qualidade. Cerca de 80% da produção nacional deste tipo de café são exportados para países como Japão, Taiwan, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
Alta produção: de maneira geral, o crescimento da cafeicultura brasileira está embasado no emprego de novas tecnologias.
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As vendas externas de cafés diferenciados (arábica e conillon) representaram 15,3% em volume e 19,1% da receita cambial do país no período de janeiro a maio de 2013, segundo levantamento do CeCafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil. Segundo especialistas, a tendência é de crescimento da participação do país no mercado internacional devido à redução da oferta mundial dos grãos. A safra colombiana está em queda há três anos e os cafeicultores da América Central enfrentam um surto de ferrugem que deve causar a quebra de cerca de 30% da produção. Nem as crises mundiais, como a bolha imobiliária nos Estados Unidos ou a queda no poder aquisitivo na União Europeia foram suficientes para inibir o consumo do grão. De acordo com estimativa da OIC – Organização Internacional do Café, o consumo mundial em 2012 foi de 142 milhões de sacasde 60 quilos, aumento de 2,2% no ano, pouco abaixo da média de 2,5%. Em termos de produção global, a entidade prevê um volume de 144,7 milhões de sacas na safra 2012/13. O Brasil lidera a produção mundial de café com 50,8 milhões, podemos dizer que a cada três xícaras consumidas no mundo uma é proveniente do Brasil. O agronegócio café brasileiro é responsável pela maior geração de em-
prego no campo, com aproximadamente 8,4 milhões de trabalhadores em toda a cadeia (produção, exportação e indústrias). Minas Gerais abriga o maior parque cafeeiro do país, respondendo por 52% da safra nacional, com produção estimada em 25,5 mil sacas na safra 2013/14, das quais 98,8% da espécie arábica. Já o café da espécie conilon, ou robusta, tem no Espírito Santo o maior produtor, com 9,25 milhões de sacas ou 75,9% do total da variedade. O estado também ocupa o segundo lugar da produção nacional de café. O fator bienalidade O estreitamento do ciclo de bienalidade – que consiste na produção de uma safra de carga alta de frutos e a próxima, de baixa – foi intensificado entre 2010 e 2011, em função dos bons preços alcançados nos mercados interno e externo. Neste período, a saca do café tipo 6 chegou a ser vendida acima de 500 reais, o que proporcionou ao produtor realizar investimentos na lavoura como: tratos culturais adequados, planejamento de manejo, adoção de novas tecnologias de produção. Estes fatores, aliados à condições climáticas favoráveis, justificam a diminuição do fator bienalidade da safra 2012/13. Com os preços da saca de café em baixa, o fator queda da produção na bienalidade voltará a ser registrado de forma acentuada nas colheitas, alertam os especialistas, tendo em vista que a falta de renda trará como tendência inevitável a redução dos tratos culturais nas lavouras, principal fator que fez com que os
Pé de Catuai 62 de alta qualidade: crise afeta mais a produção de arábica do que de conilon.
ciclos estreitassem a diferença nos volumes colhidos Por ser o maior produtor mundial o cafeicultor brasileiro sente na pele as quedas de preço, que despencaram 54% nos últimos dois anos. Para Carlos Paulino, presidente da Cooxupé, maior cooperativa do país, com 12 mil associados, o preço da commodity está oscilando perto do menor nível em quase quatro anos na bolsa de Nova York, valor abaixo do preço mínimo de garantia do governo brasileiro, de 307 reais por saca. A crise na cafeicultura afeta diretamente a geração de emprego e a venda de insumos. A mão de obra e os fertilizantes representam respectivamente 40% e 15% nos custos de produção. O café é a quarta cultura que mais consome fertilizantes no Brasil, depois da soja, do milho e da cana. Em carta
Mapa do café
O mapa do Brasil mostra as principais regiões produtoras de café. A direita, localização de algumas das áreas de cultivo de cafés especiais
julho 2013 - Agro DBO | 27
Capa
Fotos: Ensei Neto
Carta da produtora Célia França: “Estou com vergonha do preço do café... Cadê a melhoria?... Meu Deus, quanto descaso...”
enviada a imprensa, a produtora Célia Sousa, da cidade sul minera de Boa Esperança, desabafou a indignação vivida por grande parte dos cafeicultores brasileiros atualmente: “Estou com vergonha do preço do café. Cadê a melhoria? (...) Em plena safra, será possível contratar funcionários vendendo café a R$ 280 a saca de 60 kg? (...) Onde está o apoio do Ministério da Agricultura (...). No mínimo, precisamos de R$ 400 por saca. Meu Deus, quanto descaso, quanta vergonha.” A colheita da safra 2013/14 está começado com relatos de quebra de produção. “Foi muito quente, e o calor excessivo apressa a maturação do grão. Ele não teve tempo para crescer” relata Carlos Paulino. Citando um teste feito na cooperativa para exemplificar a menor produtividade. No ano passado para obter 100 gramas de café beneficiado eram necessários 740 grãos. Neste ano, para o mesmo volume foram necessários 900 grãos do produto que já entrou na coopera-
Despolpamento de café em tanque de fermentação: os cafés lavados tem qualidade superior diante dos naturais.
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tiva. “Pelo tamanho dos grãos, precisaremos de mais grãos para encher uma saca”, explicou. Tentando sustentar os preços do café, o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, anunciou que o governo destinou R$ 3 bilhões para financiamento de estocagem, e para industria de torrefação. E vai pedir a aprovação no CMN – Conselho Monetário Nacional de R$ 390 milhões para a realização de leilões Pepro – Prêmio Equalizador Pago ao Produtor, destinados a retirada de 10 milhões de sacas do mercado. O Pepro visa garantir que o produtor obtenha pelo menos o preço mínimo de garantia estipulado pelo governo, de R$ 307 por saca. Atualmente, as cotações no mercado nacional estão entre R$ 25 e R$ 30 por saca abaixo do mínimo do governo. Essa não seria a primeira vez que o governo lançaria mão do Pepro. Na safra 2007/08, esse instrumento apoiou a comercialização de 5 milhões de sacas, num momento de preços baixos no mercado internacional. No mês passado, tivemos o primeiro lote de café brasileiro – 320 sacas – entregue na Bolsa de Nova Yorque, aprovado para compor os certificados da ICE. Acredita-se que a entrega foi apenas para testar os critérios dos árbitros da bolsa, já que o café brasileiro tem deságio de 9 centavos de dólar por libra-peso, mas o mercado internacional paga um ágio em torno de 10 a 15 centavos sobre o preço praticado em Nova York. O café certificado pela bolsa de Nova York é o grão arábica despolpado, que tem a mucilagem retirada antes do processo de seca. No Brasil, a maior parte do café arábica é de grãos naturais, quando o fruto é seco e suas sementes são retiradas sem passar pelo processo de “despolpa”. O mercado considera que os cafés lavados têm qualidade superior ante os naturais. É uma das saídas dos cafeicultores para obter rentabilidade e persistir na atividade, a de maior tradição no país.
DesperdĂcio
Novidade nas estradas: acostamento de milho. Problemas estruturais, operacionais e culturais fazem com que o Brasil perca a cada ano milhĂľes de toneladas de alimentos. Ariosto Mesquita
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elo menos 20% dos grãos produzidos no campo não chegam às mesas em forma de alimento, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Como não há dados oficiais sobre o problema no Brasil, este percentual é aceito como verdadeiro, embora algumas instituições nacionais, como a Abrapós – Associação Brasileira de Pós-Colheita, trabalhe com números menores. Se a FAO estiver certa, desperdiçaremos este ano 36,8 milhões de toneladas de alimentos, considerando a estimativa da Conab para a safra 2012/13, de 184,3 milhões de toneladas de grãos. O número da FAO se refere a perdas quantitativas (volume) e não qualitativas, após a colheita – da lavoura até a mesa do consumidor. O que é perdido antes da colheita, decorrente de erros de procedimento na semeadura, incidência de pragas e doenças não entra nesta conta, mas, sim, nas da Conab, IBGE, USDA e outras instituições de pesquisa. “Acreditamos que 20% seja o índice mínimo de perdas de grãos dentro do país, mas o problema é ainda mais sério se computarmos as perdas com frutas, verduras e legumes, alimentos que necessitam de cuidados mais apurados na manipulação e cuja deterioração é muito mais rápida”, lembra o representante da FAO no Brasil, o boliviano Alan Bojanic. Em sua opinião, as perdas, se revertidas, poderiam colaborar efetivamente para assegurar o direito de todos os brasileiros à alimentação adequada ou acabar com a subnutrição no país. “Como é praticamente impossível um nível zero de perda, uma redução pela metade já seria suficiente para suprir esta população”, comenta Bojanic. Naturalmente, os grãos em si não atenderiam diretamente essa demanda, mas se tornariam funcionais após processamento e transformação em produtos derivados (óleos, margarina,
pães, bolos, sucos, etc.) e em proteína animal (carnes de aves, suínos, peixes e bovinos). A FAO calcula que o mundo perca anualmente 1,3 bilhão de toneladas de comida e que esse volume equivale a 33% de tudo o que é produzido no planeta. A organização entende que a proporção é a mesma entre países ricos e pobres. A diferença é que nos primeiros a principal causa é o descarte, enquanto nos demais decorre por falhas de infraestrutura. Números diversos A Abrapós calcula que o percentual de desperdício de grãos no Brasil fique em uma média de 10%. “Ainda assim, é inaceitável”, afirma o presidente da entidade, Irineu Lorini, pesquisador da Embrapa Soja. “Tem quem perca menos de 0,5% entre colheita e comercialização, mas outros atingem índices entre 25% e 30%”, afirma. Deste percentual médio, Lorini crê que os segmentos com perdas mais significativas sejam armazenamento (40%), colheita (30%) e transporte (30%). “O maior índice de desperdício fica nos armazéns e no transporte curto, aquele que vai da lavoura até o silo”. A Abrapós estima que, dasprincipais regiões produtoras de grãos no Brasil, a Centro-Oeste seja responsável por até 45% das perdas pós-colheita e a Sul, 30%. Neste parâmetro médio de 10%, Lorini também inclui a redução da qualidade de grãos em suas várias etapas na cadeia produtiva. Em relação à colheita mecânica, levantamentos da Embrapa Soja apontam perdas de duas sacas de 60 quilos de soja por hectare. Segundo os pesquisadores, o problema ocorre nesta fase por deficiências na regulagem das máquinas colhedoras e aferição irregular dos mecanismos de trilha, limpeza e separação. Tomando por base o preço da saca de soja em R$ 65,47 – Indicador Cepea/Esalq de 18 de junho, posto Paraná - uma perda de duas julho 2013 – Agro DBO | 31
Desperdício
sacas/ha faria com que um agricultor que cultivasse mil hectares da oleaginosa deixasse de faturar R$ 130,9 mil. E isso apenas em uma safra e somente no momento da colheita. O nível de tolerância de perdas adotado pela Embrapa nesta etapa é de uma saca/ha. No transporte curto (da lavoura aos armazéns), os índices de perdas diferem muito, de acordo com a situação de cada propriedade, mas são significativos porque, no geral, as carrocerias dos caminhões são mal vedadas, o trajeto é acidentado e os veículos, comumente, são mais velhos, e sujeitos a falhas. E como tais caminhões, salvo raríssimas exceções, não são pesados na saída da lavoura e na chegada ao silo, não se percebe a real dimensão do prejuízo e, consequentemente, não se toma medidas para contê-lo. Com relação ao transporte longo (dos armazéns
Equipamentos desregulados comprometem a produção durante a colheita
Mais grãos, menos espaço
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às indústrias de transformação situadas em outros estados ou portos de exportação), o desperdício depende da distância, condição das estradas, lentidão do tráfego e estrutura do meio transportador, substancialmente o caminhão. “Uma carga, para ser levada do norte do Paraná ao porto de Paranaguá, no litoral do estado, dificilmente apresentará perdas significativas, o que já podemos prever para os grãos escoados, por exemplo, da região de Sinop, no norte do Mato Grosso, em direção ao mesmo porto”, avalia. De maneira geral, a estocagem é a etapa mais crítica no desperdício de grãos. “Começa com os altos índices de umidade da carga ao entrar no armazém. Isso compromete o resultado final, gerando microtoxinas que afetam peso e qualidade”, explica Lorini. “Em secadores industriais, o milho que chega com umidade entre 16% e 17% atinge em três ou quatro horas o percentual máximo tolerável, que é de 13%. Caso passasse por uma secagem a céu aberto ou ao vento, em galpões, este processo poderia levar dias, dependendo da intensidade do sol e da umidade relativa do ar, isso sem falar do risco de uma eventual chuva”, compara. Durante a realização do Simpósio de Pós-Colheita do Mato Grosso do Sul, organizado pela Abrapós em Dourados, entre os dias 5 e 7 de junho, pesquisadores condenaram a mistura de grãos de diferentes origens, qualidades e especifici-
dades dentro de um mesmo silo, e defenderam um monitoramento sistemático da temperatura nestes ambientes. “Quanto mais frio o ambiente menor fica a velocidade de propagação de pragas”, explica Lorini. Neste aspecto é fundamental a utilização de sistemas de aeração. Algumas tecnologias disponíveis hoje no mercado chegam a informar temperatura e a umidade dentro dos silos através de relatório, facilitando a intervenção e controle. Como estes silos estão armazenando comida, é praticamente inevitável o ataque de fungos, bactérias, insetos e roedores. Para evitar danos pesados com infestações, a receita principal é monitoramento. Controle de danos De acordo com o médico veterinário e especialista em controle de vetores e pragas, Afonso de Siqueira Campos, o controle químico é a forma mais eficiente de combate, sobretudo com relação aos roedores. “Os ratos, principalmente, são atraídos pelo acúmulo de alimentos e invadem o ambiente para consumir grãos; ao mesmo tempo podem danificar instalações e equipamentos, disseminar doenças e comprometer a imagem de produtos ou de uma empresa”, salientou, durante painel apresentado no Simpósio em Dourados. A primeira etapa do controle consta da aplicação das iscas quí-
A projeção de alta produção de milho segunda safra preocupa agricultores, técnicos e compradores: onde guardar tanto grão? micas em pontos estratégicos com o cuidado devido para evitar excessos e contaminações. “Posteriormente, é necessária a verificação dos pontos onde houve consumo, a localização dos animais mortos, a sua coleta e destino corretos”, detalha. Caso o produtor não queira se preocupar pessoalmente com esse detalhe em seu armazém, Campos sugere a terceirização deste serviço: “No Brasil existem quase 10 mil empresas controladoras de pragas e quase todas combatem roedores”. No que tange ao armazenamento, o fator que mais preocupa é a baixa capacidade de estocagem dos grãos não comercializados logo após a colheita, especialmente este ano, em função da perspectiva da alta produção de milho segunda safra – o milho está competindo com soja por espaço nos armazéns. A Abrapós trabalha com um déficit em capacidade estática da ordem de 65 milhões de toneladas. Apesar de o Plano Safra 2013/14 destinar volume expressivo de recursos para o se-
tor – R$ 25 bilhões a juros de 3,5%/ ano –, a entidade não vê possibilidade de alteração neste quadro nos próximos 12 meses. Além da provável demora da indústria de silos em se adaptar à demanda ascendente, o governo não previu recursos para as obras civis de implantação de unidades armazenadoras, que, segundo Lorini, respondem, em média, por 50% dos custos finais de toda a estrutura de estocagem de grãos. Opções de estocagem No Mato Grosso, maior produtor do país, o déficit de armazenagem é de 15,9 milhões de toneladas, segundo dados da Aprosoja. No ano passado, a segunda safra de milho fechou em 15 milhões de toneladas. Grande parte da produção – o volume não comercializado de imediato – foi “estocado” a céu aberto ou em silos ou galpões improvisados, uma vez que muitos armazéns ainda estavam ocupados com parte da soja da safra de verão. Para a segunda safra deste ano, que
A estocagem, de acordo com os especialistas, é a etapa mais crítica do desperdício de grãos
começou a ser colhida no mês passado, o problema tende a se agravar. De acordo com o levantamento da Conab, divulgado em 6 de junho, a segunda safra mato-grossense será 19% maior que a de 2012, atingindo 17,8 milhões de toneladas. “É possível que até 20% disso fique a céu aberto pelo menos alguns dias”, lamenta o diretor técnico da Aprosoja/MT, Luiz Nery Ribas. Parte das empresas compradoras provavelmente optará por este recurso, segundo ele. Muitos produtores também o farão, embora um número crescente deles aposte nos silos bag (ou silos-bolsa), como alternativa à escassez de armazéns. “É provável que até 30% dos cinco mil produtores de milho do Mato Grosso invistam este ano nesta tecnologia, que já é utilizada com sucesso na Argentina”, calcula Ribas. Para a pesquisadora Leda Rita Dantonio Faroni, da UFV - Universidade Federal de Viçosa, o silo bag é uma eficiente alternativa para armazenamento provisório (o material
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Desperdício ração acaba elevando a temperatura da massa armazenada, incentivado a proliferação de ações microbianas. Outro cuidado a ser observado para quem vier a optar pelos silos bag é com relação à sua integridade. “O monitoramento do produtor deve ser constante, pois a membrana é frágil, com capacidade limitada para evitar furos que provocam a deterioração dos grãos em função da entrada de umidade; há muitos relatos de danos provocados por animais”.
comumente usado em sua fabricação – membranas para revestimento externo à base de polímeros de baixa densidade - não é aproveitado de uma safra para outra), e de curto prazo. “O prazo médio máximo que sugerimos para estocagem é de 90 dias (grãos úmidos) e de 120 dias (grãos secos), a partir daí, o material armazenado começa a se deteriorar com intensidade”, observa. Ela conduziu pesquisas neste sentido avaliando o desempenho dos silos bag no armazenamento de soja (17% de umidade) em diferentes regiões brasileiras e viu resultados bem distintos. Em Ponta Grossa (PR), os grãos suportaram até 180 dias sob a lona;
em Uberlândia (MG), o limite foi de 90 dias; e em Sorriso (MT), a soja não suportou mais de 60 dias dentro destes silos. “Quanto maior forem a temperatura e a umidade do grão, menor será o tempo indicado para armazenagem em silos bag”, conclui. A pesquisadora da UFV explica que, como não há a possibilidade de retirada total do ar de dentro do silo, a atmosfera interna sempre vai ter a presença de oxigênio, em menor ou maior volume: “Isso facilita a reprodução de organismos aeróbicos”. Ela lembra ainda que o oxigênio permite a respiração do grão, que por sua vez libera calor, umidade e sofre perda de substância. Além disso, a respi-
Os silos bag são alternativas eficientes para armazenagem, mas são provisórios.
Não há pesquisa sobre perdas no transporte: o trajeto dos caminhões e as condições de tráfego variam muito.
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Mudança de postura Além das mudanças estruturais e de manejo necessárias para conter os desperdícios de alimentos produzidos no Brasil, outro caminho é defendido vigorosamente pelo setor técnico, industrial e de pesquisas: a necessidade de uma nova postura cultural por parte do produtor. Esta demanda exigiria uma nova visão prática do agricultor com relação aos diversos recursos hoje à sua disposição. Adriano Mallet, diretor técnico da Agrocult, empresa gaúcha de consultoria e treinamento em armazenagem, considera esta mudança de paradigma fundamental para minimizar as perdas no campo. O executivo de Novo Hamburgo (RS) admite que boa parte da nova geração de agricultores brasileiros assimila muito bem os avanços disponíveis no mercado, mas acredita que esta parcela ainda não é suficiente para alterar o quadro de desperdícios no campo. Mallet elenca três procedimentos que, em sua opinião, são fundamentais para uma guinada de postura: “investir em estruturas de pós-colheita com tecnologias de ponta; capacitar os funcionários que estão neste processo e passar a enxergar a fazenda como empresa e não como lavoura”. Segundo ele, o momento é mais do que propício: “Como o agricultor está hoje capitalizado, é hora de investir para ganhar mais lá na frente”. Roseli Muniz Giachini é sócia-proprietária e gerente técnica do Grupo Giachini, responsável pelo cultivo de sete mil hectares de soja
Receita contra perdas: investir em estruturas de pós-colheita, capacitar os funcionários e enxergar a fazenda como empresa.
Roseli Giachini integra grupo de estudo sobre mensuração das perdas no campo
no último verão e de 2,6 mil hectares de milho na segunda safra deste ano. Tudo concentrado em três fazendas (que juntas somam cerca de 15 mil hectares) no município de Claudia no médio norte do Mato Grosso, a 600 km da capital, Cuiabá. Com tanto investimento, ela sabe que qualquer índice de perda significa desfalque certo e pesado no caixa. Por isso não pensou duas vezes quando foi convidada a participar do Projeto de Prevenção de Perdas Pós-Colheita implantado no ano passado pela Aprosoja/MT, em parceria com o Instituto ADM de Prevenção de Perdas Pós-Colheita (ADM Institute for the Prevention of Postharvest Loss), ligado à Universidade de Illinois, EUA. Mapeamento de perdas Roseli Giachini integra um grupo de oito proprietários rurais que desde então vem tendo suas lavouras mapeadas para mensuração do nível de desperdício de grãos a partir da colheita até o transporte final. Nesta primeira etapa, o trabalho está concentrado na estrutura de retirada dos grãos da lavoura. Paralelamente, funcionários destas fazendas estão
sendo treinados e capacitados para fazer a operação e manutenção das máquinas colhedeiras, tanto de soja quanto de milho, na tentativa de reduzir o volume de perdas nesta fase. De acordo com os levantamentos dos pesquisadores e analistas do projeto na última safra de soja (2012/13), Roseli conta ter amargado perdas variáveis entre 0,85 a 4,5 sacas por hectare, com média de duas sacas/ha. “Isso variou muito em função do desempenho de cada máquina”. Já no início da colheita do milho segunda safra este ano, o registro de desperdício na retirada do grão ficou entre 1,5 a duas sacas/ ha. Sua meta é reduzir estes números pela metade, tanto no milho quanto na soja. Mas supondo que consiga minimizar as perdas com a leguminosa em apenas 0,5 saca/ ha, a agricultora já deixará de perder um bom dinheiro. Ao final serão acrescentadas 3,5 mil sacas que, comercializadas a R$ 50,00 cada (preço médio na região em junho deste ano), significará R$ 175 mil a mais no caixa do Grupo Giachini. Para atingir sua meta, Roseli está adotando as seguintes providências
consideradas fundamentais nesta primeira etapa do programa: • Manutenção e regulagem constante (na plataforma de corte, peneira, velocidade do molinete, velocidade da máquina, etc.) das máquinas colhedoras - seis unidades para soja sendo quatro delas também para o milho; • Capacitação e treinamento de funcionários para operação das máquinas (feito através do Senar/MT); •M onitoramento sistemático de todo o processo durante a colheita; • Controle e eliminação máxima de plantas daninhas na lavoura (como corda de viola e outras ervas cipoeiras) que podem embuchar o cilindro da colhedeira; • Nivelação dos terrenos, sobretudo em áreas mais novas, garantindo a uniformização da lavoura, permitindo assim uma colheita mais padronizada. Roseli sabe que têm prejuízos significativos no transporte curto, mas ainda não conseguiu mensurá-los. A grande área plantada faz com que os percursos das cargas sejam variados. “Em média os caminhões percorrem 25 km para levar o grão ao nosso armazém”, conta. A unidade armazenadora do Grupo Giachini tem capacidade estática para 450 mil sacas (27 mil toneladas). O Projeto de Prevenção de Perdas Pós-Colheita tem também a participação da Universidade Federal de Viçosa (MG), Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT), UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso e Unemat - Universidade do Estado de Mato Grosso. O trabalho de pesquisa, monitoramento e orientação para a contenção de perdas nas propriedades ainda está na fase de lavoura, mas será estendido para as demais etapas até o transporte final – na comercialização para mercado externo (até portos) ou na entrega para processamento industrial dentro do Brasil. julho 2013 - Agro DBO | 35
Desperdício
Frutas e hortaliças Na Ceagesp, o que vai para o lixo não passa de 1,5%, mas as perdas se estendem para os pontos de venda e consumidor final. Anita de Souza Dias Gutierrez *
T
* A autora é engenheira agrônoma e Chefe do Centro de Qualidade em Horticultura do Ceagesp.
odos os anos o desperdício de alimentos é pauta de jornais, revistas, televisão, escolas. As ceasas de todo o Brasil são caracterizadas como locais onde grandes perdas acontecem. Não existem levantamentos que, de fato, quantifiquem as perdas de frutas e hortaliças frescas. Alguns números absurdos, repetidos exaustivamente, são de artigos antigos feitos a partir de um único produto, e tratados como verdade absoluta para todos, em todas as situações. Sempre ficamos na problemática e não avançamos na “solucionática”. O que é perda nas frutas e hortaliças frescas? A perda do produto que vai para o lixo? A diferença
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entre o peso do produto que chega e o peso do produto que de fato é consumido? A perda de valor por perda de qualidade? Perda de peso A perda de peso em frutas e hortaliças é quase que exclusivamente perda de água, resultando em perdas quantitativas (peso), qualitativas (aparência) e nutricionais. O INMETRO exige que todo alimento embalado apresente a identificação do seu peso líquido. O alto conteúdo de água e o metabolismo intenso das frutas e hortaliças frescas fazem da garantia do peso líquido um grande desafio. A colheita interrompe o fornecimen-
to de água aos tecidos, levando a perda subsequente de água por transpiração. Essa perda está diretamente relacionada à temperatura, umidade e velocidade do ar, além de fatores inerentes ao produto, como relação superfície-volume, natureza da superfície protetora e integridade física. O murchamento e o enrugamento são os sintomas visíveis da perda de água mais citados. Outros sintomas, como perda de brilho, de frescor, maior suscetibilidade a doenças pós-colheita são menos citados, mas igualmente importantes. Praticamente todas as pesquisas de pós-colheita, que testam diferentes sistemas de conserva-
ção e manuseio na qualidade do produto, utilizam o peso e sua variação como medida de desempenho. Elas mostram a perda de peso em condições de umidade e temperatura menos dramáticas que as dos nossos usuais ambientes de comercialização e manuseio – atacado, varejo ou serviço de alimentação. Os resultados são assustadores, como mostram os exemplos a seguir. A perda de peso, em um dia de observação, em alface é 7,5%, em brócolos 7,5%, em cenoura 3%, em couve-flor 2%, num ambiente de 15oC e 45% a 65% de Umidade Relativa. A beterraba, num ambiente a 20oC e 60% a 70% de Umidade Relativa, mostrou uma perda de água de 10%, em seis dias. A produção de frutas e hortaliças frescas é uma das poucas atividades agrícolas que permitem a sobrevivência digna do pequeno agricultor. As frutas e hortaliças frescas são alimentos especiais não existe transformação industrial entre a produção e o consumo. O agricultor é o seu fabricante, o seu primeiro responsável e deve colocar o rótulo com a indicação do peso líquido do produto, no local de produção. A percepção da necessidade de um regulamento especial para as frutas e hortaliças frescas foi reforçada pelas recentes autuações de atacadistas e produtores pelo IPEM, pela ausência e preenchimento incorreto da identificação da quantidade do produto no rótulo. Neste momento existe um esforço nacional liderado pela CNA, Confederação Nacional da Agricultura, pelas Câmaras Setoriais de Frutas e de Hortaliças do Ministério da Agricultura e pela CEAGESP, para construção de um ‘Regulamento de Pesos e Medidas para Frutas e Hortaliças Frescas’, calcado na realidade brasileira e nas características especiais das frutas e hortaliças frescas, sem perder de vista a missão do INME-
TRO: ‘Prover confiança à sociedade brasileira nas medições e nos produtos, através da metrologia e da avaliação da conformidade, promovendo a harmonização das relações de consumo, a inovação e a competitividade do País’. A construção de um regulamento de pesos e medidas especial para frutas e hortaliças frescas é muito complexa. A refrigeração é pouco ou mal utilizada. A maior parte do transporte é feita em carga seca, mesmo em longas distâncias. A comercialização é uma corrida contra o tempo. O produto que não é vendido hoje perde muito valor amanhã. O agricultor é o responsável pelo produto, pela sua qualidade, pela sua segurança e pela declaração do seu peso no rótulo. A quantificação do produto, do seu peso líquido, é imprescindível na comercialização entre a produção e o atacado, entre o atacado e o varejo e o serviço de ali-
O transporte inadequado, sem embalagens, causa os maiores prejuízos.
A Ceagesp possui 40 galpões iguais a este.
mentação, entre o varejo e o consumidor. A perda de peso é função da qualidade do produto na colheita, do ambiente, do manuseio. As práticas atuais de conservação e manuseio na produção, no transporte, no atacado e no varejo são inadequadas. O primeiro grande desafio é a distribuição de responsabilidades na manutenção do peso líquido na produção. O segundo grande desafio é a modernização de equipamentos de conservação, transporte e de procedimentos no manuseio. No varejo, podemos estabelecer, como nos produtos cárneos embutidos, a exigência de pesagem na presença do consumidor no momento da venda. É impossível a utilização do sistema de pesagem na presença do comprador, da produção para o atacado ou do atacado para o varejo ou para o serviço de alimentação, que trabalham com grandes volumes de produtos embalados. Perda de valor e perda de produto que vai para o lixo A determinação e a quantificação da perda de valor é outro grande desafio. Existe grande diferenciação de valor por tamanho e por qualidade do produto no mesmo dia de comercialização. A ocorrência de danos mecânicos por manuseio inadequado na colheita,
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Desperdício na seleção, no embalamento, e na movimentação do produto eleva o metabolismo do produto. sendo porta de entrada para o desenvolvimento de microorganismos oportunistas e de deterioração do produto. A perda que vai para o lixo seria muito maior se os produ-
tos machucados não fossem aceitos por nichos de mercado menos exigentes – bares que processam o produto, feiras de periferia, compradores menos exigentes. Uma embalagem com um produto com início de deterioração vale 20% do valor de uma embalagem com pro-
dutos sadios. Batidas, ferimentos, perda de turgidez, podem significar uma perda de valor de 50%. As causas da perda do produto que vai para o lixo começam na lavoura e vão até o consumidor. Ela acontece na lavoura, durante o processo de produção e na
Medidas para reduzir perdas A prevenção de perdas exige articulação com todos os agentes de produção, de comercialização e de consumo. Algumas medidas devem ser tomadas: 1. No governo • Criação de código comercial para a comercialização de produtos perecíveis frescos, a exemplo do que já existe nos Estados Unidos desde 1930 • Estabelecimento dos direitos e responsabilidades de cada agente, da produção ao consumo • Criação de um sistema de arbitragem rápida para a solução de atritos comerciais • Criação de um cadastro de agentes de comercialização 2. Na produção • Exigência de obediência à lei • Estudo das perdas na lavoura e suas causas • Financiamento da melhoria da infraestrutura de colheita, classificação, embalamento, armazenamento e transporte • Capacitação dos produtores, seus funcionários, seus transportadores • Incentivo à criação de barracões de classificação geridos por grupos de produtores ou terceiros • Incentivo à unitização da carga e refrigeração • Cadastro municipal dos transportadores e dos agentes de comercialização locais 3. No transporte • Exigência de obediência à lei • Capacitação dos motoristas e
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transportadoras • Financiamento da adequação do veículo às exigências da lei • Pagamento de estacionamento por tempo de permanência no atacado • Diminuição do tempo de compra no atacado • Exigência de obediência à lei de transporte de alimentos 4. Na central de abastecimento • Melhoria de infraestrutura de transporte, recebimento, armazenamento e exposição • Capacitação de todos os agentes – carregadores, funcionários e gerentes das empresas • Premiação pela unitização de carga • Promoção do mercado visando o crescimento das vendas • Exigência de obediência à lei de comercialização de alimentos 5. No varejo • Exigência de obediência à lei de rotulagem, embalagem, proteção. • Campanha de adoção do Manuseio Mínimo • Capacitação dos gerentes e funcionários • Financiamento para a melhoria da infraestrutura de transporte, recebimento, armazenamento, codificação e exposição • Pagamento de estacionamento por tempo de permanência no
atacado (muitos varejistas costumam ficar horas estacionados nas ceasas, esperando o preço cair, sem lembrar que o produto é perecível e o preço cai porque a qualidade está caindo - sem mencionar que, assim agindo, transformam em caos o fluxo de trânsito interno nas ceasas, o que também colabora na perda de qualidade) • Diminuição do tempo de compra no atacado 6. No consumo • Investimento na educação do consumidor através das escolas, desenvolvendo metodologia de aproximação lúdica e sensorial das crianças com as frutas e hortaliças frescas e a aproximação da criança da origem do produto – a agricultura, como proposto no programa Escola do Sabor da CEAGESP. • Apoio aos gestores de alimentação escolar na escolha, na compra e garantia de maior diversidade e qualidade das frutas e hortaliças frescas e de melhor utilização dos recursos públicos, através da utilização das ferramentas do programa HortiEscolha, resultado da parceria da ESALQ e da CEAGESP, com o apoio da FAPESP.
Nas centrais de abastecimento (Ceasas) temos dois tipos de perdas: a que vai para o lixo e a perda de valor do produto. colheita com o descarte dos produtos inadequados para a comercialização in natura. O controle inadequado de pragas e doenças, a ocorrência de granizo, a falta de polinização ou de poda adequada, o ponto de colheita incorreto, são causas de perdas pós-colheita na produção, no atacado, no varejo e no consumidor. O manuseio inadequado na colheita, embalamento e transporte para a seleção são causas importantes de batidas, ferimentos, que aceleram o metabolismo e permitem o desenvolvimento de microorganismos oportunistas, prejudiciais ao produto. Estudos com pêssego, morango e citros feitos pela ESALQ, Instituto Biológico e APTA, com o apoio da CEAGESP, mostram que a maior parte do desenvolvimento de podridões é causada por microorganismos oportunistas. No barracão de classificação o descarte de produtos inadequados para a comercialização in natura atinge produtos muito maduros ou imaturos, defeituosos, muito pequenos, aparência ruim, início de deterioração. O manuseio inadequado na seleção e embalamento são causas importantes de batidas e ferimentos (manuais e pelas máquinas), que aceleram o metabolis-
mo e permitem o desenvolvimento de microorganismos oportunistas, que podem deteriorar o produto e inviabilizar o consumo. Nas centrais de abastecimento temos dois tipos de perdas: a que vai para o lixo e a perda de valor do produto. A quantificação de perda que vai para o lixo é feita com a pesagem do lixo, na maioria orgânico. A fragilidade comercial do produtor faz com que ele assuma as consequências das perdas, que podem ser superestimadas pelo comprador na luta por uma maior margem comercial. O transporte e manuseio inadequados geram ba-
Descarte total na Ceagesp é de apenas 1,5% do volume que entra.
Embalagens de papelão são mais adequadas às frutas.
tidas e ferimentos, descarte e perda de valor do produto. Hoje, na CEAGESP paulistana, o lixo representa 1,5% do volume de entrada – sendo uma parte disso palha de melancia, coroa de abacaxi, restos de embalagem (ou seja, não são perdas). O sistema de exposição no supermercado pode destruir todo o esforço do produtor e do atacadista na melhoria do produto. O produto é despejado na gôndola e perde a rastreabilidade com a mistura de produtos de diferentes origens e sem a identificação do produtor. As perdas, com causas identificáveis segundo os supermercados, giram em torno de 7%. A perda no consumo é grande. O consumidor compra frutas verdes, que apodrecem durante o processo de amadurecimento. Estudos realizados na ESALQ mostram que no caso do mamão Havaí, a perda pode chegar a 75%. É bom lembrar que o produtor colhe a fruta verde, atendendo ao pedido do comprador. A fruta verde aguenta pancadas e maus tratos e vai apodrecer na casa do consumidor, o cliente que precisamos agradar para sobreviver. julho 2013 – Agro DBO | 39
Entrevista
Segurança alimentar: o Brasil evoluiu muito em 10 anos.
O
boliviano Alan Bojanic, 55 anos, é formado em engenharia agronômica na Bolívia, com mestrado em Londres e doutorado em economia agrícola na Universidade de Utrecht, Holanda, uma das universidades mais antigas dos Países Baixos, considerada a melhor universidade do país e a décima melhor universidade da Europa. Bojanic está há pouco mais de 8 anos na Agência para Agricultura e Alimentação da ONU (FAO); trabalhou no Chile nos últimos 3 anos, e antes por quase 6 anos na Costa Rica, e assumiu a representação da FAO no Brasil em março último, mas seu convívio com a língua portuguesa e o Brasil é de longa data, tornando seu sotaque quase imperceptível. Com essa facilidade de se expressar Bojanic foi entrevistado pelo editor Richard Jakubaszko, e explica a ótica de entendimento da FAO para o problema alimentar no mundo, além de enviar os recados que a FAO deseja que o Brasil ouça. Agro DBO – Qual é a definição da FAO para segurança alimentar? Alan Bojanic: É o de facilitar o acesso a qualquer momento e disponibilidade dos alimentos de qualidade, a custos razoáveis. É fundamental nisso a qualidade de alimentos, saudáveis, com altos valores proteicos e vitamínicos. Agro DBO: O Brasil ocupava a 31ª posição no mundo em termos de segurança alimentar, e subiu para a 29ª posição em 2012, considerando 105 países. Qual é a visão da FAO sobre isso? Alan Bojanic: O progresso que o Brasil tem feito nessa área é impressionante. É uma redução de mais da metade das pessoas que estavam em situação de vulnerabilidade alimentar, considerando os últimos 10 anos. Entendemos que eliminar o problema totalmente é muito difícil se lembrarmos do tamanho do Brasil, com uma população de 192 milhões 40 | Agro DBO – julho l 2013
de habitantes, onde existem dezenas de nações indígenas, enormes contingentes de ribeirinhos e núcleos de pessoas com alta pobreza na Amazônia, que moram mais afastadas, espalhadas pelos sertões de todo o país. Agro DBO: Sobre estoques de segurança alimentar, em termos de tempo de disponibilidade, da II Grande Guerra para os dias de hoje, esses estoques, especialmente grãos e cereais, se reduzem ano a ano. Eram de 60 a 90 dias, mas hoje em dia são de 30 dias ou menos. Alan Bojanic: Sobre esses estoques, os números mostram que efetivamente são relativos, tiveram redução em termos de tempo, mas temos de lembrar que os transportes se tornaram mais eficientes e mais rápidos, reduzindo a necessidades de estoques tão grandes, porém os estoques reais, cada vez mais, são maiores em toneladas, acompanhando o crescimento populacional.
Agro DBO: A China tem sido o único país no mundo a fazer um controle de natalidade (a política do filho único, agora abrandado para 2 filhos se os pais tiverem posses financeiras para sua manutenção), para reduzir a velocidade do crescimento demográfico. Com isto, a Índia deve ultrapassar a China em população total dentro de 5 anos. A FAO, entendemos assim, deveria ser o órgão regulador, com políticas voltadas para reduzir essa velocidade do crescimento demográfico. Por que isso não é feito? Sabemos que será muito difícil alimentar adequadamente 9 bilhões de bocas dentro de 35 anos, e já existem projeções de que faltarão terras agricultáveis para dentro em breve. Alan Bojanic: A ONU tem muitos programas de planejamento familiar. O Fundo de População das Nações Unidas, com a sigla UNFPA, tem realizado programas nesse sentido, e também a OMS,
Organização Mundial para a Saúde, mas temos de reconhecer que a UNFPA ainda não é uma agência com o porte da FAO, por exemplo, ela é menor. Entretanto, em alguns países, não apenas na China, mas na Rússia também, esses programas têm sido implantados com algum sucesso, inclusive aqui na América Latina. Agro DBO: A FAO acredita que vai haver alimento para todos no mundo, com uma população de 9 bilhões de pessoas? Alan Bojanic: As tecnologias das ciências agrícolas mostram que estamos evoluindo. Devemos também entender que hoje temos mais produção de alimentos do que todas as pessoas precisam. O que falta resolver, através da inclusão social, são as condições financeiras dessas populações mais pobres terem acesso a esses alimentos disponíveis. Essa é a razão de existirem hoje quase 870 milhões de pessoas com situação de fome. O importante não é a quantidade, mas o acesso aos alimentos. Agro DBO: Qual seria o caminho das ciências agrícolas para ajudar na solução do futuro problema, e de minimizar os atuais? Alan Bojanic: Dar suporte e assistência técnica para a agricultura familiar, e com isso elevar as médias de produtividade do país, que ainda são baixas. O Brasil ainda tem um caminho muito longo
a percorrer, o de levar assistência técnica aos pequenos produtores rurais, para aumentar a produção através da produtividade. O Brasil é um país de renda média, tem pesquisas avançadíssimas na agricultura tropical, e tem muita coisa para ensinar ao mundo, à África e aos países do Caribe, e também à FAO, mas até agora pouca coisa fez com a agricultura familiar. Só nos últimos anos isso tem acontecido de forma perceptível. Agro DBO: Com quais instrumentos a FAO pode contribuir com o Brasil? Alan Bojanic: A FAO tem várias dimensões, uma delas é a facilitação da cooperação. Outra dimensão é que a FAO funciona como uma secretaria de tratados e acordos internacionais. Somos também um fórum para ajustar normativas internacionais, para facilitar o comércio entre os países, harmonizar políticas, por exemplo, há o Codex Alimentarius, e em todas essas áreas temos dado nossa contribuição, propiciando intercâmbios. Fazemos ainda promoções gerais, a cada ano. Agro DBO: Que tipo de promoção? Alan Bojanic: Por exemplo, este ano foi eleito pela ONU/FAO como o Ano da Quinoa. Divulgamos e incentivamos o plantio desse grão, que pode ser muito importante para o Brasil e o mundo na questão da estratégia de
segurança alimentar, pois é um grão muito rico em minerais como cálcio, ferro, fósforo, magnésio, ômega 3, zinco, e outros, como a Licina, e é superior a diversos outros alimentos conhecidos como milho, trigo ou arroz. O grão traz benefícios para a saúde cardiovascular e para a dieta. No Brasil a Embrapa Cerrados tem trabalhado com pesquisas sobre a quinoa, e tem avançado nesse trabalho, já há, inclusive, uma variedade brasileira tropicalizada, a Peabiru. A quinoa não apresenta os inconvenientes do trigo, como a presença do glúten, que causa severas alergias, isso para os consumidores. Para os agricultores será uma boa opção de lavoura a ser cultivada, com mercado garantido e alto valor agregado, pois o Brasil é um grande importador desse grão. A quinoa é um grão para cultivo no inverno, precisa de pouca água, e tem excepcional resistência a pragas, e as máquinas para seu cultivo e colheita são as mesmas do milho, com pequenas adaptações. Essa variedade desenvolvida pela Embrapa é mais produtiva do que as variedades usadas hoje no Peru e Colômbia, de onde a planta se origina. Em meu país, a Bolívia, temos hoje mais de 100 mil hectares cultivados, e não conseguimos atender a todos os mercados, inclusive o Brasil, que, segundo dados oficiais, importa mais de 500 mil toneladas/ ano, fora o que deve entrar pelas nossas fronteiras secas.
julho 2013 – Agro DBO | 41
Marketing da terra
O marketing da soja Não é utopia os produtores de soja do Mato Grosso e do oeste da Bahia declararem que estão buscando médias de 120 sacas/ha. Richard Jakubaszko
D
esde a primeira edição, e isto faz 10 anos, recomendamos nesta página que os produtores de soja procurem caminhos para novos usos e aplicações da soja, com o objetivo básico de aumentar consumo e, com isso, melhorar a renda dos produtores. Sugerimos ainda, que essas pesquisas e ações pa-
Orlando Carlos Martins, presidente do Cesb
ra o desenvolvimento dos novos usos da soja fossem atividades lideradas por uma associação de produtores, já que não seria pertinente às cooperativas exercerem esse papel. Desconhecemos se existem pesquisas nesse sentido, através de associações como a Aprosoja, por exemplo, e verificamos raras iniciativas de algumas universidades e provavelmente também a Embrapa Soja, além de empresas privadas, evidentemente. De toda forma, o que se percebe como iniciativa louvável de setores da cadeia da soja, para conquistar agregação de valor, é a procura por melhoria da produtividade da lavoura, e este é o caminho promovido pelo Cesb – Comitê Executivo Soja Brasil, com os Desafios da Soja, através de um concurso que já está em seu 5º ano consecutivo de realização, reconhecendo o talento e competência dos sojicultores brasileiros. O
presidente do Cesb, o engenheiro agrônomo Orlando Carlos Martins, explica a questão elementar de que as técnicas empregadas pelos ganhadores são divulgadas, proporcionando difusão de novos manejos e conceitos tecnológicos entre os produtores, dentro da lógica de que produtores que adotarem essas tecnologias irão melhorar suas produtividades médias. O Cesb, como entidade sem fins lucrativos, já que é uma OSCIP, Sociedade Civil de Interesse Público, é mantido por diversas empresas fornecedoras de insumos das áreas de agroquímicos, máquinas, sementes e fertilizantes, e conta com a participação espontânea e não remunerada de dezenas de pesquisadores de instituições de pesquisas e de universidades, que serão depois os principais divulgadores das técnicas aplicadas pelos campeões. Ao mesmo tempo, Martins destaca que o Cesb não re-
Cesb – Comitê Executivo Soja Brasil Vencedores do Desafio, Safra 2012/2013 Categoria
Produtividade (sacos por ha)
Propriedade
Produtor
Município
Consultor Técnico
Soja Irrigada
87,02
Fazenda Sta. Terezinha
Valmor Antonio de Bortoli
Cruz Alta, RS
Maurício de Bortoli
Soja Não Irrigada Centro-Oeste
99,86
Fazenda Palestina
João Paulo Brandão
Uruaçu, GO
Henrique V. M. Fernandino
Soja Não Irrigada Norte/Nordeste
102,78
Fazenda Nossa Sra. Fátima
Rogério Pelizzaro
Correntina, BA
Ivair Gomes (Posse, GO)
Soja Não Irrigada Sudeste
93,72
Fazenda Uva
Maysa do Nascimento
Capão Bonito, SP
Roberto M. Ishimura Ney E. Montalvão Alves Taquarituba, SP
Soja Não Irrigada Sul
110,55
Fazenda Fini
Hans Jan Groenwold
Castro, PR
Lucas Simão Hubert
42 | Agro DBO – julho 2013
comenda ou desaprova especificamente nenhuma tecnologia empregada pelos ganhadores, pois não é este o seu papel. Aos ganhadores do Desafio Soja são entregues diplomas e distribuídos prêmios, dos quais se destacam viagens a outros países para visitas a centros de excelência de produção de soja, custeadas pelo Cesb e seus mantenedores. É estimulante observar que a média de produtividade obtida na safra 2012/13, entre os 10 ganhadores, do total de 1.198 inscritos participantes do Desafio Soja, alcançou expressivas e inimagináveis 103,76 sacas de soja por hectare. Esta média representa 111% a mais do que a atual média brasileira, que é de 49 sacas por ha. No primeiro Desafio Soja, na safra 2008/9 a média dos 10 primeiros colocados, dos então 140 participantes, foi de 77,8 sacas por ha, comprovando que, de fato, é possível agregar valor pelo aumento da produtividade. Os detalhes podem ser observados na tabela do Desafio Soja, que reproduzimos nesta seção, sendo que os nomes dos ganhadores desta safra 2012/13 estão registrados no quadro como forma de homenagem e reconhecimento a eles pelo desempenho conquistado. Se a gente recordar que nos anos 1980/1990 um produtor de soja era elogiado por obter médias superiores a 35 e até 40 sacas por ha, inegavelmente houve espantosa evolução na produtividade da soja brasileira, fruto da adequada utilização de tecnologias modernas, como sementes registradas, agroquímicos, máquinas e fertilizantes. Lá naqueles anos do século passado os ganhadores de concursos de produtividade obtinham “espantosas” médias de 45 a 50 sacas por ha, enquanto o ganhador deste ano no Desafio Soja conquistou notáveis 110,55 sacas por ha. Desta
forma, deixou de ser uma utopia alguns produtores de soja do Mato Grosso e oeste da Bahia declararem que estão buscando médias de 120 sacas/ha. Entretanto, devemos lembrar que, nos anos 1980, a soja remunerava de forma muito satisfatória os sojicultores que conquistassem 35 sacas/ha, mas hoje em dia os produtores têm prejuízos com uma produtividade igual ou menor do que 45 sacas/ha. Sinal dos tempos, o mercado acompanha em detalhes a evolução e sempre remunera pela média. Isto no mercado consumidor. Da mesma forma, entre os fornecedores de insumos, os preços evoluem para o limite suportável do que o produtor possa pagar (isto quando existe concorrência). Com isso, conclui-se que os produtores que não evoluem são alijados da produção, quebram de forma inexorável. Mais do que um fato, essa questão é histórica e recorrente. O Desafio Soja, organizado pelo Cesb, portanto, é um instrumento valioso à disposição dos
sojicultores, mas não anula nem substitui nossas antigas sugestões de que se façam pesquisas para encontrar novos usos e aplicações para a soja, seja nos segmentos da farmacêutica, cosmética ou alimentar, pois inegavelmente eles existem, como forma de ampliar mercado de consumo, e de agregar valor. Quem sabe a Aprosoja encampa essa ideia, mesmo que associada a outras entidades internacionais congêneres. Temos a certeza de que um projeto dessa natureza estimularia o interesse de muitos produtores de soja em se associar, especialmente no Sul e Sudeste, ampliando a base de sustentação e representatividade da entidade e gerando mais recursos para suas atividades. Conquistar desafios como esse e o do Cesb, em termos de melhoria da produtividade, tornariam a soja mais independente de favores e benesses governamentais, e isso, por si só, já seria um excepcional caso de marketing para mostrar ao mercado, e depois contar orgulhosamente aos netos. julho 2013 – Agro DBO | 43
Artigo
Substâncias húmicas Experiências de campo demonstram os benefícios para a produtividade do uso de ácidos húmicos na agricultura intensiva Franco Borsari *
A
matéria orgânica do solo consiste em uma mistura de compostos em diferentes estágios de decomposição, resultantes da degradação biológica de resíduos de plantas e animais e da atividade sintética de microrganismos. Podem ser agrupadas em substâncias húmicas e não húmicas. As substâncias não húmicas apresentam características químicas bem definidas, tais como, polissacarídeos, aminoácidos, açúcares, pro-
com a maior parte da CTC (Capacidade de Troca Catiônica) dos solos, possuem a habilidade de formar complexos com vários íons metálicos e agem como tamponantes da reação do solo em uma ampla faixa de pH. Essas características as tornam um dos principais fatores que governam a dinâmica e disponibilidade dos nutrientes no solo. Apesar de todos os benefícios que as SH representam, seu comportamento no solo é complexo e de difícil compreensão. O efeito das substâncias húmicas sobre as espécies depende da origem, tipo e concentração na solução nutritiva, da espécie vegetal e cultivar plantada. A origem e qualidade da matéria-prima que dará origem às substâncias húmicas é de fundamental importância na relação final entre os ácidos orgânicos e os componentes minerais, químicos e biológicos do solo, promovendo melhores e mais estáveis interações,
As SH representam fonte de lenta liberação de nutrientes para as plantas, especialmente N, P e S.
* O autor é engenheiro agrônomo e diretor da BBAgro Consultoria.
teínas e ácidos orgânicos de baixa massa molar. Já as substâncias húmicas não apresentam características químicas e físicas bem definidas, e se dividem em ácido húmico, ácido fúlvico e humina, com base nas suas características de solubilidade. As substâncias húmicas (SH), naturalmente encontradas no solo, têm papel fundamental na produção das culturas. Elas representam fonte de lenta liberação de nutrientes para a nutrição de plantas (principalmente N, P e S), contribuem
44 | Agro DBO – julho 2013
com influências diretas na produção e qualidade das produções agrícolas. Pesquisas têm demonstrado que um dos grandes feitos dos ácidos húmicos para os cultivos é a disponibilização do fósforo adsorvido na fração argila, ou complexado com íons, como cálcio, formando o precipitado fosfato cálcico, indisponíveis para a maioria dos vegetais. Há duas razões para isto: primeiro, os ácidos húmicos complexam (sequestram) o cálcio solúvel e protegem os fosfatos da interação cálcio-fosfato; se-
gundo, pela ação dos grupos funcionais amina, na adsorção do ânion fosfato, deixando-o disponível para absorção pelas plantas. Um número crescente de experiências de campo vem demonstrando os benefícios do uso dos ácidos húmicos na agricultura intensiva. Os resultados induzem a concluir que estes ácidos aumentam a absorção de nutrientes, melhoram a estrutura do solo, com efeitos diretos na produção, produtividade e qualidade de diversos cultivos. Uma série de outros benefícios foram encontrados e publicados por pesquisadores do Brasil e do mundo, como: estímulo no crescimento das plantas; aumento no tamanho dos frutos e aumento significativo nos teores de potássio e boro nas folhas; crescimento radicular e na absorção de nutrientes; aumento do peso de matéria seca da parte aérea e das raízes nas plantas; aumento na produtividade; melhoria na qualidade dos frutos; estímulo no crescimento radicular em plântulas; aumento do número de raízes laterais e de penugem absorvente; e, vantagem na absorção de nutrientes pouco móveis. Por tudo isso, podemos concluir que o crescimento da adoção de produtos contendo SH, como fertilizantes orgânicos, organominerais, condicionadores de solo e estimuladores fisiológicos tem sido grande nas últimas décadas em todo o mundo e mais recentemente no Brasil. A aplicação foliar destes produtos, também tem se tornado uma prática bastante difundida entre produtores de hortaliças, frutas e, mais recentemente no cultivo de cana de açúcar, cereais e também algodão.
05 de agosto de 2013
Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Sheraton São Paulo WTC Hotel
Este evento tem o apoio da Revista da DBO
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Tecnologia
Arroz salgado
International Rice Research Institute desenvolve variedades resistentes à salinidade, problema recorrente nas áreas de várzea do sul do Brasil. Glauco Menegheti
A
s perdas da agricultura global com a salinidade da água e do solo são mais expressivas do que se pode imaginar. O custo é estimado, conservadoramente, em US$ 12 bilhões ao ano, de acordo com trabalho produzido pelos pesquisadores australianos Michael Pitman e André Läuchli. A salinização é particularmente disseminada em regiões de clima árido e semi-árido, onde a irrigação se faz necessário. Os solos afetados pela salinidade são encontrados em mais de 100 países, sendo que boa parte da salinização é induzida pelo manejo inadequado da irrigação. A área total no mundo pode chegar a 932 milhões de hectares, sendo verificada em todos os continentes, inclusive na América do Sul. Ao menos 20% das áreas sob irrigação são 46 | Agro DBO – julho 2013
afetadas pelo sal, com algumas projeções que chegam a até 50%. Apenas no sudoeste da Ásia são 16 milhões de hectares aparentemente estéreis para o cultivo de grãos. E esse gargalo não é estanque. Atualmente, conforme a FAO, há uma perda anual de 1,5 milhão de hectares agricultáveis no mundo devido ao acúmulo de sal. Ainda segundo a FAO, a salinização tem sido identificada como o principal processo de degradação dos solos no planeta. No Brasil, embora a informação sobre o impacto não esteja bem definida, avalia-se que de 20% a 25% das áreas irrigadas enfrentem problemas de salinização. O gargalo é mais representativo no Nordeste, onde, de uma área de 155 milhões de hectares, 52% da superfície está no clima semi-árido. Uma área de
4 milhões de hectares é imprópria ao cultivo na região. No Rio Grande do Sul, problemas com salinidade ocorrem nas planícies costeiras cultivadas com arroz irrigado. Algo como 200 mil hectares nessas regiões estão sujeitos a apresentar problemas de salinidade em níveis variados, segundo estudo de Machado e Terres, de 1995. A boa notícia é que existem variedades de arroz tolerantes ao sal já lançadas no mercado, desenvolvidas pelo International Rice Research Institute (IRRI). Um dos responsáveis pela pesquisa dessas variedades especiais, o pesquisador Abdelgabi Ismail diz que a primeira cultivar (BRRI dhan 47) foi desenvolvida em 2007 para áreas costeiras de Bangladesh, que tem sérios problemas de salinidade. Segundo ele, desde então
os projetos de desenvolvimento de variedades têm envolvido equipes de melhoristas, fisiologistas e outros parceiros nos diferentes países com os quais o instituto trabalha. Até o momento existem 10 materiais lançados para uso comercial no Sul da Ásia. De acordo com Ismail, as variedades tolerantes ao sal podem render de 500 quilos a uma tonelada a mais do que as sensíveis por hectare. Em áreas levemente afetadas pelo sal, a produtividade pode atingir de 4 mil a 6 mil quilos por hectare. Já em áreas com salinidade relativamente alta, o rendimento bate entre 3 mil quilos a 4 mil quilos por hectare, isso onde cultivares sensíveis falham em produzir. Renda recuperada O IRRI ainda não possui estatísticas sobre a área ocupada com a IR 56, nem tampouco mediu a recuperação da renda de agricultores, mas Ismail salienta que no sul de Bangladesh e algumas áreas costeiras da Índia, onde existem graves problemas de falta de alimentos, as novas variedades estão ajudando os produtores a ter suficiente alimento para o ano e alguma pequena margem para comercialização. “Os materiais também permitem aos agricultores produzir em áreas que não estavam sendo utilizadas durante o verão ou período sem chuvas em algumas áreas costeiras, quando a salinidade aumenta.” A variedade IR72046-B-R-3-3-3-1 vem sendo plantada em grandes áreas em Odisha e oeste de Bengal, na Índia. Durante o período seco, uma produtividade de 45% foi observada em comparação à cultivar local, Khandagiri, que é sensível ao sal. Nessa região, a IR tem sido a mais popular entre os agricultores, recentemente lançada sob o nome comercial CR dhan 405. No Brasil, conforme Felipe Carmona, pesquisador do Irga – Instituto Riograndense do Arroz, existe uma variedade de arroz que possui baixa tolerância ao sal e, ainda assim, apenas no período vegetativo.
“Ela é japônica, um grão de tipo curto, e por isso não se estabeleceu”, explica. Mas outra linha de pesquisa deve ser aberta em breve, não sem antes com alguns percalços. No final de 2010, segundo Carmona foi feito um pedido de importação de 53 linhagens de cultivares tolerantes à seca e submersão, estas para áreas de risco de enchentes, ao Cenargem. O IRRI diz ter mandado os materiais, mas eles nunca chegaram ao Irga. Como é necessário um período de quarentena, suspeita-se que elas tenham sido extraviadas. O fato é que a burocracia adiou o início das pesquisas em dois anos.
Experimento comparativo: cultivar tolerante (à esq.) e suscetível à salinidade (dir).
A morte com sal Se as variedades sensíveis entram em contato com a água salgada no período vegetativo elas morrem por abortamento. Caso o contato exista na fase de plântula, morre por déficit hídrico, causado pelo excesso de absorção de sódio. A salinidade é caracterizada pela presença de altas concentrações de sais solúveis no solo. Os principais íons relacionados à salinidade são os cátions Na+, Ca2+, Mg2+, K+ e os ânions Cl-, SO42-, HCO3-, CO32e NO3-, que formam sais como cloretos, sulfatos, nitratos, carbonatos e bicarbonatos. Os sais mais nocivos às plantas são os cloretos e os sulfatos de sódio e de magnésio, pela maior solubilidade. A presença de sais no solo pode ser devida ao material de origem, pelos sais provenientes do intemperismo de minerais e rochas; à água do mar, que provoca a salinização de regiões costeiras pela maresia, ou pela deposição de sedimentos marinhos; à oscilação de lençol freático salinizado, em que a ascensão de água por capilaridade causa a salinização da camada superficial; e à utilização de água com altos teores de sais para a irrigação.
Um novo pedido já foi feito ao IRRI recentemente. Independente do imbróglio, o Irga vem desenvolvendo pesquisas na última década relacionadas à salinidade. Os estudos indicam que o Rio Grande do Sul tem problemas localizados de água salinizada e de maneira intermitente, pois não acontecem em todas as safras. Geralmente ocorrem em épocas de estiagem prolongada, quando as lagoas e rios baixam de nível, permitindo a entrada da água salgada nas lavouras. Enquanto nas Filipinas, por exemplo, a salinidade atinge índices entre 9 dS/m e 12 dS/m, no Rio Grande do Sul os patamares não passam de 6 dS/m.Os dados foram levantados por meio de monitoramento da salinidade na Lagoa dos Patos e mapeamento do solo nas lavouras do entorno desenvolvido pelo Irga. Para Felipe Carmona, a salinidade média inferior à das Filipinas torna o trabalho de adaptação de variedades mais fácil. Trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com o Irga, realizado entre 2008 e 2009, mapeou a salinização no Estado utilizando dois indicadores: o percentual de sódio trocável (PST), que é uma medida de saturação por sódio das cargas positivas do solo; e a condutividade elétrica do extrato saturado (CEes), possível de ser medida a partir da mistura de uma parte de solo para cinco partes de água destilada ou deinonizada. Nesse estudo, os maiores índices de PST no solo e de CEes foram observados na planície costeira externa do Rio Grande do Sul. Nas proximidades da Lagoa do Casamento, entre os municípios de Viamão e Palmares do Sul, onde foram detectados os maiores problemas, a água utilizada para irrigação é praticamente isenta de sais de sódio, portanto, a causa da salinização desses solos não pode ser atribuída à utilização de água salina para a irrigação das lavouras. Segundo julho 2013 – Agro DBO | 47
Fonte: Carmona (2010)
Tecnologia
Ocorrência de solos com diferentes níveis de saturação por sódio nas planícies costeiras do Rio Grande do Sul
Carmona, os sais presentes nesse local podem ser atribuídos à gênese geológica, ou provenientes do subsolo, pelo fluxo ascendente de água subterrânea, favorecido pela alta permeabilidade do solo naquela região do estado. Mais ao sul da planície costeira externa, próximo a Mostardas, foram novamente encontrados altos índices de salinidade no solo. No litoral norte do estado, a ocorrência de solos afetados por sais ocorreu em uma pequena fai-
xa, em lavouras próximas à foz do rio Tramandaí, o que não foi verificado nas proximidades do rio Mampituba, embora a salinização desse manancial seja um problema recorrente. Os solos utilizados para o cultivo de arroz em Torres, entretanto, diferem daqueles utilizados em Imbé, pelo maior conteúdo de argila, o que confere àqueles solos uma maior capacidade de troca de cátions (CTCpH 7,0), e, portanto, um maior poder de “tamponamento” dos íons Na+
inseridos no sistema, em comparação aos solos arenosos de Imbé, de menor CTCpH 7,0. Já na planície costeira interna, a ocorrência de solos com níveis de salinidade potencialmente prejudiciais ao cultivo de arroz se restringiu à porção sul dessa região, em algumas áreas localizadas nos municípios de Pelotas, Rio Grande e Tapes com maior gravidade. Pela maior proximidade com o oceano Atlântico, a porção meridional da Lagoa dos Patos está mais sujeita a intrusão de água salina do mar, estando as áreas irrigadas do entorno sob o risco de deposição de sais de sódio. Irrigações de lavouras de arroz com água salina proveniente do arroio Pelotas, da Lagoa Pequena, do Rio Camaquã e da própria Lagoa dos Patos são outros fatores que contribuem para a salinidade dos solos dessa região. Nas proximidades da Lagoa Pequena, foz do Rio Camaquã, e ao sul do município de Arambaré, a salinidade do solo pode ser proveniente exclusivamente do aporte de água salinizada da Lagoa dos Patos. Segundo Carmona, em anos de La Niña entrando água do mar pelo canal de Rio Grande. “Com isso, formam-se bolsões salinos na lagoa.” Para se defender, os produtores que têm terras nes-
Queda no sequeiro As áreas de arroz vêm diminuindo no Brasil, principalmente nos estados em que vigora a cultura de sequeiro. A cultura está associada ao ritual de abertura de área, em uma ou duas safras, para preparar o solo para a soja e milho. Como o ritmo de abertura de área caiu drasticamente, o mesmo aconteceu com a produção do cereal em estados não tradicionais. Mato Grosso é um emblema. Em meados da década passada, quando em um ano
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apenas o estado desmatou 1 milhão de hectares para plantar soja, a área do arroz era de 676 mil hectares. Hoje está em 166 mil. O mesmo ocorreu em Tocantins e no Maranhão, comparando as safras de 1987/88 e a 2012/13. No primeiro caso o recuo foi de 443 mil hectares contra 119 mil e, no segundo, 933 mil hectares para 416 mil. “Também há a competição do milho e da soja”, acrescenta o analista da Safras & Mercado, Eduardo
Aquiles. Em compensação esses estados vêm se destacando na utilização da irrigação por gravidade. No Tocantins, por exemplo, o rendimento foi de 4,8 mil quilos na safra passada. A projeção para a temporada 2013/14 deve ser divulgada apenas em julho pela Conab. No entanto, em função dos bons preços, Aquiles aposta numa ampliação de 2% a 3% de área nos maiores produtores, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Segundo estudo, de 20% a 25% das áreas irrigadas do Brasil enfrentam problemas de salinização, principalmente no Nordeste. sas regiões precisam monitorar a água. Quando a salinidade atingir de 1,5 dS/m a 2 dS/m deve-se interromper a irrigação. Além do monitoramento da salinidade do solo cultivado com arroz, pode-se também realizar o monitoramento da salinidade da solução do solo ao longo do cultivo. Esse procedimento é indicado nas regiões de maior risco e na carência de um manancial hídrico alternativo de boa qualidade. Nesse caso, o monitoramento da salinidade na zona das raízes permitirá interromper o bombeamento de água no momento correto, quando a salinidade medida na zona radicular atingir o nível crítico de 2,0. O procedimento consiste na instalação de coletores de solução do solo junto às raízes. O dispositivo consiste de um tubo de PVC, que serve como suporte (opcional), uma mangueira plástica, introduzida dentro do tubo suporte em uma das extremidades e conectada ao tubo coletor, que é revestido por uma tela de nylon (malha 100) nas duas extremidades. O coletor é posicionado na região onde se concentra a maior parte das raízes da cultura, em torno de 5 cm de profundidade. As coletas de solução do solo podem ser realizadas com seringas de 60 mL. Um volume de 30 ml de solução é suficiente para a medição da condutividade elétrica, o que deve ser feito em até 24 horas com condutivímetro portátil. Supervariedade Uma supervariedade de arroz tolerante ao sal está a caminho. Ainda sem nome de batismo, ela é fruto de cruzamento de uma espécie selvagem encontrada em Bangladesh em áreas de água salobra (Oryza coarctata) com a IR56, própria para o consumo. Conforme o
cientista do IRRI Kshirod Jena, o cruzamento dessa nova supervariedade foi difícil, tendo em vista a grande diferença entre os genomas das espécies, mas resultou em uma planta com o dobro da resistência e capaz de expulsar o sal através de glândulas nas folhas que não o acumulam no grão. “Quando nós cruzamos dois tipos de arroz com uma sequência genômica tão diferente uma da outra, o embrião resultante tende a se auto-abortar. Nós estávamos tentando cruzar esses híbridos desde a metade dos anos 1990 mas até há pouco não havíamos conseguido.” A razão dos cientistas não conseguirem cruzar as variedades é que o O. caarctata é um tipo especial de arroz que cresce numa água salobra – tornando-o bastante resistente à salinidade no solo. Segundo Jena, o O. caarctata pode tolerar uma maior concentração de sal (similar à da água do mar), enquanto que as variedades pré-existentes toleram apenas a metade da concentração. No entanto, a variedade selvagem é imprópria para produção em larga escala ou comercial.
O primeiro sinal de boa notícia veio quando, depois de 34 mil cruzamentos realizados, três embriões foram resgatados com sucesso. “Desses três, apenas um germinou para produzir uma única planta.”, recorda Jena. “Nós tratamos essa planta como a um bebê”, brinca o pesquisador. A planta sobrevivente foi então transferida para uma solução líquida com nutrientes para assegurar a sua sobrevivência. Uma vez que a planta ficou forte o suficiente, foi transferida para crescer no campo, onde Jena e sua equipe utilizou-a para o cruzamento cruzado com a IR56. Essa prática assegura que a progênie resultante contenha todos os traços da IR56, pegando somente traço desejado da O. coarctata. O líder da pesquisa e a sua equipe estão agora aperfeiçoando a sua nova variedade de arroz duplamente tolerante ao sal e testar em larga escala, para assegurar que responde a todos as necessidades dos produtores e consumidores. Jena espera que a nova variedade esteja disponível em quatro a cinco anos.
A salinidade impacta diretamente 200 mil hectares na planície costeira do Rio Grande do Sul
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Fitossanidade
A Helicoverpa avança Planta de cobertura, o milheto vira alimento para as lagartas e ponte verde para ataques futuros à soja e outras culturas na safra 2013/14. Wanderlei Dias Guerra
Marianna Peres
Lagartas infestam lavouras de milheto em Mato Grosso
A
safra 2012/13, marcada por um conjunto de eventos fitossanitários que impactou a produtividade e a receita agrícola, está dando mais um susto nos produtores mato-grossenses. Desta vez, o milheto se mostra como uma iminente ameaça. A cultura é a mais utilizada como cobertura de solo durante a entressafra e, por razões econômicas, não chega a receber qualquer trato cultural e quase nunca é colhido. E é justamente essa rotina que deve ser quebrada nas próximas semanas, visto que 100% das lavouras visitadas em todas as regiões mato-grossenses estão infestadas por lagartas do gênero Helicoverpa. Se nada for feito, o milheto se transformará em uma ponte verde para a soja, que no estado começa a ser cultivada a partir da segunda quinzena de setembro. 50 | Agro DBO – julho 2013
Não existem estimativas oficiais, mas a Aprosoja/MT acredita que cerca de 50% da área plantada com a oleaginosa – total de 7,81 milhões de hectares, conforme levantamento da Conab – abriguem lavouras de milheto como cobertura. A região leste do estado é a que mais tem registrado infestações de lagartas, mas um movimento de dispersão da praga começou a ser observado pelo pesquisadores, saindo do leste para o centro e, provavelmente, rumo ao oeste. Como explica o presidente da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (CDSV/Mapa), em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, há uma possível relação das maiores incidências de helicoverpa na região leste pela proximidade com a Bahia e o Piauí, estados com maiores in-
cidências e danos registrados. Ele fez um mapa da dispersão e severidade da doença (veja na página ao lado). “Já encontramos a praga em todos os cultivos feitos no estado até agora: cem por cento das áreas onde estive. Em mais de 200 pontos visitados no estado nesta entressafra observamos que, onde havia milheto, havia lagarta e havia o gênero helicoverpa, restando saber ainda se é H. zea ou H. armigera”. Os trabalhos de identificação, segundo ele, devem ficar prontos no início deste mês de julho. O diretor técnico da Aprosoja/ MT, Nery Ribas, que juntamente com Dias Guerra percorreu todos os municípios produtores do estado, reforça: a lagarta tem sido presença frequente em todas as culturas agrícolas. “Realmente ela veio para mudar a rotina do produtor”. Com tantas opções para se alimentar, as lagartas polífagas (elas comem muito, e de tudo) se mantém fortalecidas e começam a assombrar a rotina de quem planta nesta entressafra, já que a ponte verde – plantas que subsistem de uma safra para a outra, muitas vezes por nascimento espontâneo, como no caso da soja “guaxa” – agora pode ‘nutrir’ as pragas e tão logo a soja da safra 2013/14 registre as primeiras emersões, haja ataque da lagarta, comendo o cotilédones da soja e brotações de outras culturas. Como explica Dias Guerra, 95% dos produtores de grãos não fazem qualquer tipo de trato fitossanitário no milheto. O que o pesquisador propõe é que a gramínea seja colhida, o que normalmente não ocor-
Wanderlei Dias Guerra/Farmbox
Mapa da Helicoverpa em Mato Grosso
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Wanderlei Dias Guerra
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Pesquisador com uma mariposa encontrada na sede da fazenda Diadema
te para eliminá-la e evitar a ponte verde para a soja”. Como reforça, a presença da Helicoverpa no milheto só amplia o manejo, o trabalho na entressafra e os custos. Ainda em Querência, o produtor e vice-presidente Leste da Aprosoja/MT, Gilmar Dell Osbell, endossa a preocupação de todos: a lagarta precisa ser combatida já, pois há muito milheto granando. Dos 2,2 mil hectares plantados nas Fazenda Diadema/Divulgação
re. Geralmente o agricultor passa um “correntão” para arrancá-la e acaba, sem querer, reincorporando as sementes ao solo. Quando começa a chover, as plantas nascem e viram fonte de alimento para os insetos. “Recomendamos a colheita mecânica para reduzir a massa de sementes e eliminar de forma mecânica (esmagadas) as lagartas”. Os produtores rurais sabem que a espécie, quando em fase de pupa, pode entrar em quiescência (uma adaptação natural quando o clima fica adverso, como acontece nos períodos de estiagem prolongada, por exemplo) e ficar embaixo da palhada esperando as chuvas e os próximos plantios para virar mariposa. “É aí que mora o perigo, pois as mariposas vão fazer postura na soja novinha. Talvez o plantio de lavouras-iscas valha à pena, mas é preciso muito critério para esta decisão. A gradagem com grade fechada, para não retirar os benefícios do plantio direto, também pode ajudar a matar as pupas do solo, mas isto também tem de ser analisado, pois ainda não sabemos se vai ser eficiente”. De qualquer forma o primeiro passo, na opinião de Dias Guerra, é a colheita mecânica do milheto (para matar as lagartas esmagadas e evitar a “ponte verde”) e monitorar as próximas lavouras com aplicação de inseticidas já nos primeiros focos. “Se ficar adulta, nada controla esta praga”, adverte. O produtor Osmar Frizzo destinou mais de 60% da sua área de 1,8 mil hectares para o milheto, na fazenda Estrela, em Querência (945 quilômetros ao nordeste de Cuiabá) e está preocupado com a presença da praga nas suas lavouras. “Acredito que a alternativa seja passar a grade para derrubar o milheto, eliminar ele no correntão, pois a operação com uma niveladora é mais cara. O correntão custa 20% do que seria na niveladora. Acredito que assim seja possível eliminar mecanicamente a lagarta e três meses sem comida pode ser suficien-
Roger Rodrigues (de preto) vistoria plantação de sorgo, ao lado de seu funcionário, Wilmar Santos
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fazendas Luar da Mata e Agrodelta, apenas 700 estão com o milho segunda safra e o restante, todo ocupado com milheto. Osbell disse que vai colher o milheto, reservar as sementes e passar o correntão para eliminar as plantas. Para ele, o ideal era não mexer na terra. “Afinal, Mato Grosso é o maior adepto do plantio direto, mas é preciso eliminá-lo por completo e incorporar calcário de forma bem profunda para que a palhada não fique exposta”, lamenta Osbell. Em Diamantino (210 quilômetros ao norte de Cuiabá), o produtor Roger Rodrigues e seu funcionário Wilmar Santos passou muito tempo vistoriando seus 900 hectares de sorgo, na fazenda Diadema. Ele fez aplicações regulares de fungicida com inseticida fisiológico e não registrou a presença da Helicoverpa nas plantas. No entanto, capturou uma mariposa na sede da fazenda, identificada posteriormente como uma Helicoverpa. “Isso é prova de que elas estão na região e mais que isso, em plena evolução. Tenho saído pela vizinhança para saber se há lagartas nas culturas que estão em solo no momento”. Rodrigues frisa que ainda é preciso entender os hábitos da lagarta para um controle eficaz. julho 2013 – Agro DBO | 51
Política Mobilização em SC pede fim dos conflitos no campo
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engenheiro agrônomo e deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC) avaliou as manifestações contra novas demarcações de terras indígenas que aconteceram em 14 de junho último em Santa Catarina e em todo o território nacional, reunindo milhares de manifestantes nas rodovias. A mobilização nacional também chamou a atenção para a revisão de laudos antropológicos com indício de fraudes pela Funai, segundo ele.
Em Santa Catarina foram sete pontos com manifestações simultâneas. “Foi a demonstração de que o Brasil precisa de uma nova política indigenista que respeite quem produz e trabalha e dê assistência aos indígenas, sem expulsar os produtores de suas terras”, reforça o parlamentar, que coordenou as manifestações no Estado catarinense pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em parceria com diversas entidades e associações.
O Estado vigarista
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poder judiciário pouco oferece ao cidadão comum, a não ser a vã promessa de que seus direitos serão resguardados e seus prejuízos reparados num amanhã que nunca chega. Promessas apenas. Ao submergir na burocracia das medidas protelatórias facultadas pelos códigos e leis vigentes, o tempo se encarrega de ferir de morte a justiça dos homens. Pelo menos a brasileira. Cidadãos veem seus direitos serem corro-
ídos e, não raro, sucumbem fisicamente antes que seus processos transitem em julgado. Processos se arrastam “ad aeternum”, como no caso de precatórios, onde aposentados certamente não obterão, a tempo de usufruírem, as reparações que lhes são de direito. Proprietários de terras mostram escrituras compradas dos próprios estados da federação (RS, MS e MT), que agora de nada valem, pois estão perdendo
seus patrimônios para indígenas e quilombolas. Foram enganados pelo próprio estado brasileiro, numa vigarice repugnante, pois compraram e pagaram há décadas pelos imóveis. Quem os indenizará? A Justiça brasileira? O atual Governo que hoje avaliza sua expulsão? Definitivamente, não há mais como acreditar nos poderes constituídos. Rogério Arioli, engenheiro agrônomo e produtor rural no MT.
Café em conflito
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m junho, o USDA, departamento norte-americano, divulgou levantamento sobre a colheita no Brasil na atual colheita, calculando um volume de 53,7 milhões de sacas de café. O CNC, Conselho Nacional do Café, discorda do levantamento da USDA sobre safra brasileira 2013/2014, e informa que é “surreal” apostar em volume superior as 48,6 milhões de sacas estimadas pela Conab, declarou a entidade em nota à imprensa. Outro ponto criticado pelo CNC é que o USDA afirmou que quase toda a produção brasileira de café será absorvida, restan-
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do apenas cerca de 1,7 milhão de sacas para compor o futuro estoque de passagem (volume equivalente ao consumo doméstico de um mês), sendo destinadas 31 milhões de sacas para a exportação e consumo interno de 21 milhões de sacas. Segundo o CNC, “mesmo com a entrada de uma safra brasileira significativa para um ano de baixa bienalidade, é evidente que a diferença entre oferta e demanda global está apertada e não se pode falar em excesso de oferta”. O CNC declarou ainda que “consideradas as dificuldades previs-
tas para a temporada 2013/14 na América Central, Vietnã e Indonésia, e que a Colômbia, mesmo com recuperação da produção, não conseguiu retornar aos níveis produzidos há cinco anos, não vemos, no longo prazo, excedentes significativos de café no mundo. Pelo contrário, os preços aviltados levarão ao retorno da bienalidade acentuada no Brasil, o que reforça a probabilidade de escassez de oferta para a indústria cafeeira nos próximos anos, em um cenário de consumo crescente, resultando em forte flutuação nos preços internacionais”.
12º Congresso da ABAG
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erá alto peso político o 12º Congresso da Abag - Associação Brasileira do Agronegócio, a 6 de agosto próximo, em São Paulo, quando se discutirão propostas para acabar com os gargalos logísticos que penalizam o agronegócio. Com a participação do presidente da Empresa de Planejamento e Logística - EPL, Bernardo Figueiredo, principal autoridade do governo Federal em questões de infraestrutura na atualidade, de economistas, analistas de investimentos, além das principais lideranças do agronegócio brasileiro, o 12º Congresso Brasileiro do Agronegócio, terá como tema “Logística e Infraestrutura – O Caminho da Competitividade do Agronegócio”.
O foco principal do evento será a busca de soluções e alternativas para reduzir os gargalos logísticos que tantos prejuízos têm causado nos últimos tempos ao agronegócio brasileiro e, por consequência, à economia do País. Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Exportadores de Cereais (ANEC) chegam a US$ 4 bilhões os prejuízos que os produtores terão este ano com a caótica logística para a exportação de soja e milho, considerando as perdas decorrentes de rodovias deficientes, insuficiência de armazéns e burocracia nos portos. Paralelamente aos debates, o 12º Congresso da Abag homenageará com o prêmio Norman Bor-
laug o agrônomo Alfredo Scheid Lopes, um dos maiores especialistas em fertilidade e manejo de solos tropicais, e professor emérito da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Será homenageado também, com o prêmio Ney Bittencourt de Araújo, o agrônomo Cristiano Walter Simon, consultor da Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal e membro da Câmara Temática de Insumos Agropecuários do Ministério da Agricultura (Mapa).
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Artigo
Plantio no saco Nosso colunista, Daniel Glat, propõe refúgio para soja Intacta via mistura de sementes transgênicas e convencionais na semeadura.
E
m junho tivemos a excelente notícia, que foi a liberação da tecnologia Intacta pela China, dando sinal verde para o plantio no Brasil. Como alertado aqui na Agro DBO, com quase 3 milhões de bolsas espalhadas pelo Brasil, muito dessa soja ia ser plantada de um jeito ou de outro, o que poderia se tornar um problema na colheita de 2014. Com a liberação na China temos agora toda tranquilidade para poder usufruir dessa ótima tecnologia. Temos que reconhecer ainda o forte trabalho de lobby feito pelo Ministério da Agricultura, Aprosoja, Abrasem, e outras en-
para aprendermos como não deve ser feito. O conceito do refúgio é extremamente lógico, elegante, com bons fundamentos científicos (apesar de seu grau de funcionalidade nunca ter sido totalmente demonstrado em nível de campo). A ideia central do refúgio é que se formem adultos de lagartas em plantas convencionais, no refúgio, para, no caso de se desenvolver lagarta resistente ao milho Bt, esse adulto cruze com o adulto formado em plantas convencionais, e façam com que, assim, as descendentes desse cruzamento sejam suscetíveis à proteína Bt, já que a suscetibilidade é domi-
O conceito do refúgio é extremamente lógico, mas os resultados dependem de manejo rigoroso
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.
tidades que estiveram na China, para defender a liberação imediata da tecnologia, e evitar os enormes transtornos que poderiam advir dessa situação. Acho que a grande discussão que deveria envolver de hoje em diante, não só a Monsanto e seus licenciados, mas também os bons entomologistas, produtores e agrônomos, é como fazer para preservar ao máximo essa tecnologia e não deixar as espertas helicoverpas, pseudoplusias, spodopteras, desenvolverem resistência muito rápida à proteína da soja Intacta, cry2Ac (que, diga-se, é a mesma do algodão Bollgard I), ou outras que virão futuramente. Todos sabem que a solução é o refúgio, e é verdade, mas deveríamos olhar para como foi feito o manejo de refúgio no milho Bt
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nante. Pois bem, no milho, além do refugio de 10% ter sido recomendado, mas não obrigatório, ele só pode ser feito numa lateral da lavoura, e, o que é o grande contra senso, pode-se pulverizar o refúgio! Cadê a lógica? Ou seja, o refúgio no milho só deve funcionar, na prática, pra quem não faz um bom controle... Além disso, em grandes áreas é muito difícil de imaginar que os adultos de lagartas criados num canto da lavoura vão conseguir cruzar com todo e qualquer adulto formado em plantas Bt na lavoura inteira. A Embrapa publicou sugestões de refúgios estruturados, circundando e intercalando milho convencional nas áreas de milho Bt, que, com certeza, seriam bem mais eficientes; mas, talvez pela dificuldade de implantação, nunca foi muito utilizado.
Minha sugestão para soja Intacta, que lanço aqui para maiores análises de especialistas, é que o refúgio da soja Intacta seja obrigatoriamente via mistura no saco, misturando-se um percentual a ser definido – hoje a Monsanto fala em 20% de uma variedade RR do mesmo ciclo. Em termos de custos não mudaria nada pra ninguém: a Monsanto baixaria 20% o preço dos royalties e cobraria sobre 100% da área, sairia o mesmo de hoje para a empresa e para o produtor. Acredito que para o propósito técnico do refúgio isso funcione melhor, porque plantas convencionais e a Intacta estariam lado a lado por toda a lavoura, aumentando as chances do encontro dos adultos da lagarta; também assim o refúgio ficaria garantido em 100% das áreas de soja Intacta, sem necessidade de lei ou fiscalização; e, o que acho mais relevante, ao fazermos o controle químico da lagarta sobre a soja Intacta, desde o início, de acordo com infestação nas plantas refúgios, estaremos também pegando as primeiras lagartas que estiverem criando resistência à soja Intacta. O inconveniente seria “não zerar” os lagarticidas, mas hoje já se percebe que isso não é recomendável em longo prazo. Afinal, sempre usamos 4 ou 5 princípios ativos diferentes para controlar pragas, justamente para evitar a criação de resistência a algum deles, de uso individual e contínuo; então, como achar que uma única proteína, sozinha, poderá tolerar por muitos anos gerações e gerações de lagartas sem que elas criem resistência àquela proteína?
O maior evento da Indústria de Tecnologia em Nutrição Vegetal da América Latina
21, 22 e 23 de agosto de 2013 Ribeirão Preto, SP Centro de Eventos Pereira Alvim
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Índios contemporâneos Xico Graziano *
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Constituição brasileira deixa claro: pertencem aos índios “as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las”. Princípio que nenhuma pessoa civilizada contesta. De onde surgiu, então, esta confusão que anda assustando a sociedade? É simples explicar: ocorre que certos grupos indígenas estão, com o apoio da Funai, Fundação Nacio-
-la em reserva indígena. O tiroteio ocorreu em meio ao cumprimento do mandado de reintegração de posse, ato judicial contra o qual os indígenas resistiram com violência. Tragédia anunciada. Em todo o sudoeste de Mato Grosso do Sul existem, há tempos, dezenas de propriedades rurais ameaçadas por essa inusitada categoria de sem-terras com
A questão indígena, com as demarcações de terras protegidas é assunto explosivo.
* O autor é engenheiro agrônomo, ex-secretário de Agricultura e do Meio Ambiente de São Paulo.
nal do Índio, reivindicando áreas de terra que, há tempos, deixaram de ocupar. Colonizados pelos produtores rurais, tais espaços agrários ajudaram a edificar a nação brasileira. Em alguns casos, a exploração agropecuária ultrapassa 90 anos, com imóveis registrados no cartório de imóveis. Posse legítima, zero de terra devoluta. Situada em Mato Grosso do Sul, assim se configura a Fazenda Buriti, palco do infeliz conflito que matou o terena Oziel Gabriel. Mantida desde 1927 pela família Bacha, suas cercanias foram invadidas para forçar a conclusão do processo demarcatório, visando a transformá-
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penachos coloridos. O miolo da encrenca afeta 3 milhões de hectares, exatamente o mesmo tamanho da área cultivada no Estado, onde labutam 100 mil famílias rurais. O exagero da “causa indígena” assombra o bom senso. O acirramento dos ânimos resulta da demora do governo federal em resolver a questão. As reservas indígenas já existentes no território sul-mato-grossense somam 613 mil hectares, abrigando 31 mil remanescentes das tribos originais. Alguns defendem ser necessário aumentar esse domínio. Inexistem, porém, áreas disponíveis, exceto aquelas dedicadas his-
toricamente aos cultivos de soja, milho e algodão, ou à pecuária, de excelente nível. Há proprietários que aceitariam, se indenizados, entregar parte das terras, mas o governo sempre afirmou ser impossível pagar. Entregar de graça ninguém topa. Enquanto nada se decidia, o caldo da encrenca engrossava e se contaminava ideologicamente. Os indígenas invasores de terras se articulam com vários movimentos, todos próximos da chamada Via Campesina, uma organização de natureza anticapitalista, que propõe uma espécie de regresso às origens comunitárias da civilização. Gostam de desafiar autoridades, desprezam o regime democrático, bancam os salvadores messiânicos da pureza humana. No fundo, é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST) que comanda essa jornada, aliado, no caso, ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a outras entidades que dizem representar os “povos excluídos”. Tal conexão, com ramificações internacionais, destinada a “libertar os oprimidos”, se espraia pelo Brasil, fazendo do “ruralista” sua vítima. Em Mato Grosso, entre várias pendengas, existe uma suposta tribo remanescente no Pantanal que deseja o mundo na região do Pirigalo. No Rio Grande do Sul, remanescentes caingangues querem tomar 22 mil hectares de colonos gaúchos próximos de Passo Fundo. No Paraná, invasões se verificam em Guaíra, Terra Roxa, Palotina, Mercedes, Santa Helena e Francisco Alves. Os invasores, conforme denunciou o senador Álvaro Dias (PSDB) na tribuna do Senado, não falam português, mas, sim, guarani e castelhano. Em Santa Catarina, o
drama de milhares de agricultores ameaçados de perder suas terras na região de Chapecó e Palhoça foi relatado e documentado pelo senador Luiz Henrique (PMDB). No Pará, fabricaram-se índios boraris na região de Santarém, mirando 80 mil hectares dentro da Gleba Nova Olinda. Na Bahia, afora aqueles malucos que invadiram um resort, e depois saíram envergonhados, outras etnias desconhecidas esbulham terrenos rurais ocupados há 80 anos em Ilhéus, Borá e Buerarema. Para não falar da história de Paulo Apurinã, o falso índio amazonense, um barrigudo velhaco que posava de líder junto das autoridades. Ponta do iceberg? Nenhum desses conflitos envolve disputa por floresta virgem. Todos, pelo contrário, recaem sobre terras produtivas, sob a alegação de
que seriam, no passado, indígenas. No limite, o raciocínio permite englobar também as praias cariocas, a Avenida Paulista, a Esplanada dos Ministérios, recantos alhures, pois, afinal, tudo pertencia aos índios até o descobrimento. Como, e a partir de quando, se comprova a “ocupação tradicional” das terras pelos remanescentes indígenas? Aqui está o xis da questão. A legislação exige laudos antropológicos, a cargo da Funai. O procedimento, correto em tese, tem-se desvirtuado ao se utilizar de argumentos suspeitos, pouco científicos, para apontar “vestígios” recentes de ocupação indígena onde era imemorial seu sumiço. Referindo-se a uma querela em Mato Preto, no norte gaúcho, o procurador do Estado, Rodinei Candeia, denunciou o respectivo laudo antropológico como “uma fraude absoluta”. Essa
desconfiança sobre a veracidade dos laudos antropológicos levou o governo Dilma a propor que outros órgãos, como a Embrapa e o Incra, também opinassem sobre a matéria. A prova dos nove, necessária, irritou os indigenistas. Percebe-se que os atuais conflitos indígenas não decorrem de nenhuma guerra de extermínio, ataque à floresta ou prepotência ruralista. Nada disso. Os índios contemporâneos não querem, exceto talvez os da Amazônia, caçar com arco e flecha. Desejam terras para cultivar, pastorear rebanhos, ganhar dinheiro. Estão certos. Errado é continuar tratando índios remanescentes como “almas puras”, inimputáveis perante a lei da sociedade humana. Isso precisa mudar. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 11/06/2013.
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Análise de mercado
Conjunção positiva Demanda firme pelo farelo, taxa de câmbio favorável e estoques baixos nos Estados Unidos mantêm o tom altista da soja no mercado interno.
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o mercado disponível, restava pouco da safra 2012/13 até meados de junho, quando 81% da safra brasileira de soja, estimada em 81,2 milhões de toneladas, já havia sido comercializada. Com isso, restaram 15,4 milhões de toneladas para atender exportações e esmagamento interno no período compreendido entre junho de 2012 e janeiro de 2014. Assim como está ocorrendo nos Estados Unidos nesta safra 2012/13, no Brasil a entressafra de soja chegou mais cedo. A indústria começou a se preocupar com a possibilidade de desabastecimento no mercado interno até o final do ano-safra 2012/13.
Com estoques praticamente zerados e plantio atrasado nos Estados Unidos, as exportações brasileiras dispararam e a oferta foi ficando mais escassa no mercado doméstico. E a resistência dos produtores em negociar as 15,4 milhões de toneladas que restaram fizeram os preços domésticos, contrariando a sazonalidade negativa, subir com bastante força nas principais praças de comercialização do país no mês passado. Os prêmios nos portos também subiram, a oferta de soja disponível ficou mais escassa e as esmagadoras ainda precisam de produto para industrializar no período que vai de junho de 2013 a
janeiro de 2014, quando começa a entrar no mercado a próxima safra brasileira (2013/14). A tendência, com isso, é de descolamento dos preços internos em relação às cotações na Bolsa de Chicago, com os compradores internos pagando um prêmio cada vez mais maior para a soja restante no mercado disponível brasileiro. As cotações do farelo de soja no disponível devem seguir em alta, apesar da tendência de baixa dos preços da soja grão no mercado futuro. O farelo de soja no mercado brasileiro acumulou alta de 32,4% desde a menor cotação do ano, no início de abril, com um movimento de recomposição de estoques pelo
Trigo – A alta expressiva nas cotações ao longo do mês passado influiu no preço dos derivados, mobilizando as indústrias. Por precaução, elas voltaram às compras para ampliar seus estoques, antecipando-se à possibilidade de valorização ainda maior do grão. Com oferta reduzida (muitos triticultores não tinham mais o que negociar), a tendência no curto e médio prazos é altista. A nova safra deve começar a entrar no mercado apenas em setembro.
* Em 18/6, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 796,55 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
ALGODÃO –
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A valorização do dólar diante do real favoreceu as exportações brasileiras em junho. Em decorrência, muitos cotonicultores redirecionaram a produção para o mercado externo, limitando, portanto, a oferta da pluma no mercado interno. Com isso, a competição aumentou, elevando as cotações do produto. Por sua vez, os comerciantes seguraram boa parte dos estoques, na expectativa de obter preços mais altos adiante. A tendência ainda é altista .
* Em 18/6, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 193,24 centavos de real por libra-peso.
ARROZ – A melhora na paridade das exportações, somada à constatação de estoques de passagem baixos, internamente, animou os orizicultores brasileiros em junho. Os negócios, porém, não fluíram como o desejado, mantendo as cotações em relativa estabilidade. O Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadoria/ BM&FBovespa (Rio Grande do Sul, 58% de grãos inteiros) registrou ligeira alta no mês passado. No curto prazo, a situação não deve variar muito.
* Em 18/6, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 33,80 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Análise de mercado setor de aves e suínos, pela alta nas cotações internacionais e por influência dos recentes ganhos na cotação do dólar. O farelo de soja na região de Campinas (SP), uma das referências do mercado, foi negociado a R$ 963,84 por tonelada, contra uma cotação de R$ 727,81 por tonelada no dia 8 de abril, a menor do ano. O farelo, um dos principais ingredientes da ração animal, junto com o milho, chegou a atingir um pico de R$ 1.400,00 por tonelada em agosto do ano passado, acompanhando os preços internacionais. A partir do início deste ano, acentuou queda que se estendeu até abril, pressionado pela entrada da safra recorde de soja do Brasil, de 81,2 milhões de toneladas. O recuo dos preços motivou do grão uma recomposição de estoques pelas empresas do setor de carnes. As vendas de carnes estavam num momento ruim, mas voltaram a se recuperar, então
agora é hora de renovar estoques de ração, de se programar tanto para o período de meio de ano quanto para um segundo semestre que já é entressafra no Brasil, em termos de soja. As indústrias estão tentando renovar seus estoques. O dólar acumulou valorização de 7,5% desde o início de abril, enquanto o farelo de soja na Bolsa de Chicago registrou ganhos de
* Em 18/6, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 283,12 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
CAFÉ – O quadro não é muito animador. Para complicar o cenário de preços baixos, as chuvas recorrentes nos últimos meses prejudicaram os trabalhos de colheita em algumas regiões e, por tabela, em função do aumento da umidade, reduziram qualidade do grão. O volume de negócios foi pequeno em junho. Muitos cafeicultores seguraram a produção, na esperança de alta nas cotações. Com o incremento na colheita neste mês de julho, a tendência de baixa deve prevalecer.
soja – Em algumas regiões do país, os preços em junho alcançaram
os maiores níveis do ano e, em outros, voltaram aos patamares observados na primeira semana de janeiro, sustentados por taxas favoráveis de câmbio, pela demanda internacional por farelo e óleo e pelos estoques relativamente baixos nos Estados Unidos. No dia 21, chegaram a R$ 70,96 no Paraná. No curto prazo, a tendência é de ligeira queda nas cotações do grão, mesmo diante das perspectivas de estabilidade nos principais fundamentos de mercado.
* Em 18/6, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 69,25 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
19,1%. Os dois fatores combinados impulsionam o mercado de farelo no país, já que o produto também é exportado. Essa alta é sazonal, mas subiu mais do que esperado pela conjugação Chicago e dólar valorizado. Carlos Cogo Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica
MILHO –
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
* Em 18/6, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 26,00 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
Os preços oscilaram em junho. A entrada dos primeiros lotes da segunda safra (a colheita começou no mês passado) empurrou as cotações para baixo. Ao mesmo tempo, a valorização do dólar frente ao real – que favorece as exportações – pressionou para cima, mantendo certo equilíbrio na balança. Se os fundamentos persistirem, os preços devem se manter estáveis no curto prazo e cair a médio prazo, já que a oferta aumentará com o avanço da colheita.
AÇÚCAR –
* Em 18/6, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 43,73 por saca de 50 kg, com ICMS (7%).
As cotações caíram na primeira quinzena de junho, mas recuperaram-se na segunda. De acordo com pesquisadores do Cepea, a reação foi provocada pela diminuição na oferta de arroz de qualidade. O movimento nos portos aumentou, com preços acima de R$ 45,00 a saca de 50 kg. No curto prazo, porém, a evolução da colheita e as estimativas de aumento de produção – safra 4,11% maior, segundo a Única – devem pressionar as cotações para baixo.
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Novidades no campo Maracujá silvestre
À maneira italiana
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A primeira cultivar de maracujazeiro silvestre registrada e protegida no Mapa, a BRS Pérola do Cerrado foi lançada comercialmente em maio, em cerimônia na Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF). As pesquisas para desenvolvimento da espécie duraram quase 20 anos, período em que sua produtividade foi triplicada e seu tamanho aumentado. Quando maduros, os frutos da Pérola do Cerrado têm coloração verde-claro e amarelo-claro com seis listras longitudinais verde-escuras. Por se tratar de maracujazeiro silvestre, apresenta alta resistência a pragas e doenças, característica importante para os cultivos em sistemas orgânicos. Seu maior diferencial de mercado, porém, é a quádrupla aptidão: consumo in natura, processamento industrial, ornamental e funcional.
Cevada cervejeira
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A Embrapa Trigo e a Malteria do Vale, de Taubaté (SP), apresentam a BRS Itanema, cultivar de ciclo precoce, tamanho maior de grãos e potencial de rendimento superior a 7.000 quilos por hectare, adaptada às principais regiões de cultivo irrigado em São Paulo, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais. Segundo técnicos, seus grãos alcançam classificação média superior a 85% de Classe 1. Com ciclo de uma semana a dez dias mais curto que as demais alternativas em cultivo comercial desenvolvidas pela empresa (BRS Sampa e BRS Manduri), a BRS Itanema será alternativa importante para o mix de cultivares utilizados pela indústria cervejeira no Brasil.
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A Embrapa Clima Temperado aproveitou a oportunidade da 21ª Fenadoce – Feira Nacional do Doce, realizada em Pelotas (RS), para apresentar a abóbora BRS Tortéi. Entre outros usos, a nova cultivar é apropriada, como o próprio nome sugere, para o preparo de “tortéi” – um tipo de massa recheada com creme de abóbora, apreciada pelas famílias com ascendência italiana. Conforme a pesquisadora Lia Barbieri, cada planta pode produzir até 50 abóboras de 10 a 15 cm de diâmetro, formato achatado e gomos salientes, polpa alaranjada, consistência firme e rica em carotenoides. “A cor da casca varia ao longo do tempo após a colheita, desde o verde-acinzentado até o rosado ou alaranjado”, diz ela. A aquisição de sementes pode ser feita através da Embrapa Produtos e Mercado, escritório de Capão do Leão. Os contatos são (53) 3275-9291 ou email encpl.snt@ embrapa.br
Para motores pesados
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A Shell está lançando no mercado o lubrificante sintético Rimula R5 LE. Disponível na versão SAE 10W40 de viscosidade, tem baixo teor SAPs (fósforo, enxofre e cinzas sulfatadas), elementos que, em altas concentrações, são prejudiciais ao sistema de exaustão. “O produto traz uma contribuição significativa para os custos operacionais e eficiência das frotas”, diz Adriana Alonso, especialista de marketing da empresa. Segundo ela, os principais benefícios são: 1. Redução do tempo de inatividade devido ao desgaste excessivo do motor; 2. Redução dos custos de manutenção, estendendo os intervalos de troca de óleo; 3. Redução de consumo de combustível; e 4. Proteção contra ácidos, desgastes e acumulação de sujeira.
60 | Agro DBO – julho 2013
Novidades no campo Fertilizante organomineral
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A Ajinomoto lançou na Hortitec, realizada no mês passado em Holambra (SP), um fertilizante foliar organomineral – o Ajimax -, cuja formulação contém, além de nutrientes minerais como fósforo, nitrogênio e enxofre, aminoácidos capazes de reduzir o estresse hídrico das plantas e a perda da floração, aumentar a imunidade contra pragas e doenças, melhorar a
qualidade do enraizamento, da brotação e o sabor das frutas. O Ajimax contém também um agente surfactante que diminui a tensão superficial de gotas, aumentando a eficácia das pulverizações foliares e a absorção dos nutrientes pelas plantas e reduzindo o pH da solução de pulverização, potencializando assim o efeito dos defensivos.
Biofungicida para cacau
Café novo na praça
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A Ceplac – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira apresenta o Tricovab, agente biológico desenvolvido em laboratório a partir da fermentação do fungo Trichoderma stromaticum, inimigo natural do fungo Moniliophtora perniciosa, causador da vassoura-de-bruxa, uma das principais doenças da lavoura cacaueira. Nos testes realizados a campo,obteve-se até 97% de eficácia contra a vassoura-de-bruxa. “Esse percentual se refere ao combate ao Moniliophtora perniciosa em tecido morto. Em matéria viva, nos galhos e frutos do cacaueiro, por exemplo, a taxa é de 56%, aproximadamente”, afirma o chefe do Cepec – Centro de Pesquisas do Cacau, Adonias de Castro. O biofungicida será oferecido aos produtores em embalagem biodegradável, com uma bula contendo instruções de aplicação, classificação de risco à saúde e ao meio ambiente (risco 4 – baixo). Embora já esteja em uso em algumas propriedades, o Tricovab foi lançado oficialmente no dia 16 de junho – Dia Internacional do Cacau – na sede da Ceplac, no km 22 da rodovia Ilhéus-Itabuna, na Bahia.
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O Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural lançou três variedades clonais de café conilon, dentro do programa de melhoramento genético desenvolvido pela instituição. As novas cultivares – Diamante 8112, de maturação precoce; Jequitibá 8122, de maturação intermediária; e Centenária 8132, de maturação tardia – resultam de 20 anos de pesquisa e possuem características que as diferenciam das demais cultivares disponíveis no mercado. Uma destas características é especialmente importante, além de inédita: pela primeira vez o café conilon obtém classificação Internacional de Bebida Superior. Para ter acesso às variedades recém-lançadas, os produtores rurais e demais interessados devem recorrer aos escritórios locais do Incaper. Viveiristas cadastrados no Mapa estão multiplicando as mudas. Atualmente, a capacidade de produção é de 21 milhões de mudas por ano, mas a expectativa dos pesquisadores do instituto é que a quantidade chegue a 35 milhões anualmente.
Jacto lança o JAV II
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Para quem ainda não o viu em ação, trata-se de um veículo autônomo (a sigla significa Jacto Autonomous Vehicle), capaz de conduzir eficientemente a aplicação de agroquímicos somente onde existe necessidade, a partir de tecnologia que identifica a presença/ausência da planta e monitora as condições de clima, podendo ser usado tanto em ambientes controlados, como estufas, quanto em culturas perenes ou extensivas. “O JAV II ainda é um conceito, mas já está em fase de pesquisa avançada em direção a um produto comercial”, ressalta Robson Zófoli, Diretor Comercial da Jacto. O veiculo é equipado com hardware de controle, GPS XP, câmera estéreo, ultrassom (sensores de planta), sensores de combustível, de volume de calda, de esterçamento, de nível do óleo e informações georreferenciadas da aplicação.
julho 2013 – Agro DBO | 61
Novidades no campo Microquímica lança Vorax
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Plantadora Natura, da Jumil
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A Jumil surpreende em um mercado que é muito específico em termos de necessidades de implementos agrícolas. A JM2400 Natura faz parte de uma geração de plantadoras de hortaliças, concebida com foco na precisão de plantio. Conforme explica o gerente de engenharia, Fabio Chencci, o equipamento traz como principais avanços o plantio em linhas duplas com distribuidores de sementes individuais para cada linha e um novo distribuidor de sementes, concebido especialmente para plantio de hortaliças. A JM2400 conta com um pioneiro conjunto de seletores de sementes primários e secundários que, aliados à precisão na construção do disco e demais componentes, conferem grande precisão na distribuição de sementes, o que minimiza a ocorrência de sementes duplas ou falhas, e permite até mesmo a eliminação do raleio (operação manual de eliminação de plantas duplas ou muito próximas) em plantio de cenoura, por exemplo, dependendo da uniformidade da semente, o que implica em grande economia de sementes e mão de obra. Conta ainda com um conjunto de filtros de ar para realizar a limpeza dos furos do disco após a liberação da semente. Chencci diz que a plantadora de hortaliças pode ser montada com 3 a 7 unidades semeadoras para o plantio de linhas duplas com espaçamento de 80 a 125 mm nas entrelinhas e no mínimo 230 mm entre unidades semeadoras. O objetivo é permitir o plantio de precisão para cenoura, cebola e outras hortaliças, tanto com sementes peletizadas quanto incrustradas ou nuas. “É um produto que demandou inúmeras pesquisas com produtores, além de um intenso trabalho de projeto e validação para chegar ao distribuidor de sementes”, salienta o engenheiro. O Gerente Nacional de Vendas da Jumil, Flavio Trezza, destaca que a JM2400 Natura pode plantar até 4 ha/dia na configuração de 7 linhas.
Empresa anuncia retomada no setor de hortaliças com o lançamento de um fertilizante com ação bioestimulante. Jorge Ricci Junior, diretor comercial da Microquímica, declara que “Esse evento marca a retomada dos investimentos da empresa no setor de hortaliças. É um marco importantíssimo em nossa história, pois também estamos lançando uma nova identidade visual, que reforça nossa expertise no setor”. O Vorax, fertilizante foliar formulado com alta concentração de aminoácidos que promovem efeitos bioestimulantes, chega ao mercado após três anos de pesquisas e testes realizados pela empresa e com órgãos oficiais. O produto estimula a brotação, aumento do teor de clorofila e consequentemente acelera a fotossíntese das plantas, ocasionando maior resistência aos estresses e melhor aproveitamento do nitrogênio aplicado. O resultado é a economia de recursos, otimização do uso dos fertilizantes nitrogenados e uma maior produção de raízes, folhas e frutos. A fábrica responsável pela produção do Vorax é a única no Brasil 100% dedicada à fabricação de aminoácidos para uso agrícola.
Galpões de laminados para grãos
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Tradicional fabricante de laminados flexíveis e produtos manufaturados de PVC, a Sansuy dispõe de novas soluções ideais para estocagem de produtos agrícolas: galpões e coberturas de instalação rápida e na medida exata para cada necessidade, e que também podem receber acessórios que tornam o ambiente ainda mais propício à armazenagem dos diversos tipos de grãos, como o Vinigalpão, o Vinisilo e a Vinilona.
62 | Agro DBO – julho 2013
Biblioteca da Terra Manual da cachaça
Depoimentos sobre o futuro
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O Rabobank, um dos maiores bancos do mundo, com foco no agronegócio, apresenta o livro The Future of Farming (O futuro no campo), reunindo depoimentos de 50 produtores rurais de 18 países. Segundo o brasileiro Berry Marttin, do Conselho de Gestão do Rabobank Internacional, sediado na Holanda, “o livro é sobre o corpo e a alma da produção de alimentos: os produtores rurais. Eles alimentam o mundo e têm o conhecimento necessário para resolver muitos dos desafios relacionados à segurança alimentar”. Disponível, por enquanto, apenas em inglês, aborda seis categorias: sucessão, sustentabilidade, capacitação social, cadeia de fornecimento, mídias sociais e tecnologia científica, cada uma delas com propostas práticas para tornar as propriedades sustentáveis. Caso queira saber mais a respeito, acesse o site da empresa: www.rabobank.com/en/float/future_of_farming/index.html.
Café replicado
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O Consórcio Pesquisa Café lançou publicação sobre clonagem de mudas, de autoria dos pesquisadores Carlos Henrique Siqueira de Carvalho, Ana Carolina Ramia dos Santos Paiva, Elizani Quintino Silva e Aline Aparecida Custódio. A técnica permite a multiplicação in vitro de plantas com características desejáveis, tais como resistência às doenças, alta produtividade na lavoura e qualidade superior da bebida. Segundo Carlos Henrique de Carvalho, um dos benefícios da clonagem é a garantia de produção de café de alto valor agronômico, conferindo mais competitividade ao poduto brasileiro. Em sua opinião, é a técnica de mais adequada para a multiplicação de plantas híbridas (cruzadas geneticamente) em larga escala. Para ler mais a respeito, acesse www.sapc.embrapa.br/index.php/ultimas-noticias/consorciopesquisa-cafe-lanca-publicacao-sobre-clonagem-de-mudas-de-cafe
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A Casa do Produtor Rural, da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP), lançou cartilha sobre produção de cachaça de qualidade. Segundo um dos autores, o professor André Ricardo Alcarde, para obter tal status a bebida precisa ser agradável ao consumidor, estar de acordo com a legislação e não oferecer riscos à saúde pública. A publicação terá distribuição gratuita em feiras agrícolas e cursos direcionados aos produtores rurais, especialmente os pequenos, mas pode ser acessada via internet, no site da Esalq/ Casa do Produtor Rural (http://www. esalq.usp.br/cprural/). Os autores (Leandro Marelli de Souza, Fábio Vaz de Lima e Aline Marques Bortoletto, além de André Ricardo Alcarde) mostram que é possível fazer cachaça boa em casa, gastando ao redor de R$ 5 mil. Em larga escala, o investimento inicial varia de R$ 50 mil a R$ 200 mil, dependendo dos equipamentos (tonéis de envelhecimento, por exemplo), acessórios e volume de produção.
Florestas Nativas
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Escrito pelos pesquisadores Agostinho Lopes de Souza e Carlos Pedro Boechat Soares, o livro “Florestas Nativas: estrutura, dinâmica e manejo” aborda, entre outros tópicos, a composição florística e estruturas de florestas nativas; crescimento, dinâmica e prognósticos de produção; cortes seletivos; mapeamento de árvores; sistemas silviculturais mais utilizados; avaliação dos impactos ambientais e projeções econômicas. A publicação foi pensada inicialmente como suporte didático para estudantes dos cursos regulares de engenharia florestal, ensino de graduação e de pós-graduação, profissionais do setor de áreas correlatas. Com 322 páginas, custa R$ 69,00. Para adquiri-la, basta ligar para (31) 3899-3139 ou acessar www.editoraufv. com.br, site da Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa ( MG).
Ventiladores centrífugos
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A Embrapa Café lançou o comunicado técnico “Construção de Ventiladores Centrífugos para Uso Agrícola”, dos pesquisadores Juarez Souza e Silva, Douglas Gonzaga Vitor e Roberto Precci Lopes. Na produção de grãos de café, a secagem é a operação que mais consome energia elétrica e de biomassa. Quando realizada corretamente e com equipamentos eficientes, contribui significativamente para a redução dos custos operacionais em razão da economia de energia que propiciam. Para informações mais detalhadas, acesse www.sapc.embrapa.br/index.php/ view-details/comunicado-tecnico/recomendacoes-tecnicas/943-comunicadotecnico-3-construcao-de-ventiladores-centrifugos-para-uso-agricola.
julho 2013 – Agro DBO | 63
Calendário de eventos
JULHO
10
Expofruit/17ª Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada De 10 a 12 – Expocenter Campus Ufersa – Mossoró (RN) Site: www.expofruit.com.br
10
Feira Agronegócio e Álcool
De 10 a 14 – Praça de Exposição – Presidente Prudente (SP) – Site: www.multifeirascongressos. com.br – E-mail: delfim@ multifeirascongressos.com.br
13
Agrinsumos e induspec Expo Business 2013/3ª Feira de Insumos, Equipamentos & Serviços para Agropecuária
De 13 a 15 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Site: www.agrinsumoseinduspec.com. br – E-mail: agrinsumoseinduspec@ btsmedia.biz
19
XXXI Congresso Brasileiro de Nematologia
XIII Enfrute/Encontro Nacional Sobre Fruticultura de Clima Temperado
De 19 a 22 – Cenarium Rural Cuiabá – Cuiabá (MT) – Fone: (65) 36211314 – Site: www.nematologia2013. com.br – E-mail: nematologia2013@ industriadeeventos.com.br
De 22 a 25 – Parque da Maçã Fraiburgo (SC) E-mail: enfrute@epagri.sc.gov.br
21
22 28
XXXIV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo
De 28 a 2/8 – Costão do Santinho Resort – Florianópolis (SC) – Site: www.eventossolos.org.br/cbcs2013
31
II Conbraf /Congresso Brasileiro de Fitossanidade
De 31 a 2/8 – Centro de Convenções da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp – Jaboticabal (SP) – Site: www.fcav.unesp.br/conbraf
31
III Encontro Internacional de Agroecologia
V Fórum Abisolo/1ª Fertishow – Feira da Indústria de Nutrição Vegetal
De 21 a 23 – Centro de Eventos Pereira Alvim – Ribeirão Preto (SP) Site: www.abisolo.com.br
24
Expointer 2013/36ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários
De 24 a 1/9 – Parque de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) Fone: (51) 3288-6200 Site: expointer.rs.gov.br E-mail: expointer@seapa.rs.gov.br
De 31 a 3/8 – Auditório da Unesp – Botucatu (SP) – Site: www.eia2013.org
27
AGOSTO
De 27 a 30 – Centro de Eventos Zanini – Sertãozinho (SP) Site: www.fenasucro.com.br
12
VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado
De 12 a 15 – Park Hotel Morotin – Santa Maria (RS) – Fone: (55) 32861557 – Site: www.cbai2013.com.br – E-mail: contato@cbai2013.com.br
64 | Agro DBO – julho 2013
Fenasucro 2013/21ª Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergético
30
32ª Expoflora
De 30 a 29/9 (somente às sextas, sábados e domingos) – Recinto da Expoflora – Holambra (SP) – Fone: (19) 3802-1499
29 – III Congresso Andav/Fórum & Exposição De 29 a 31/7 – Transamérica Expo Center – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3893-1300, ramal 249 – Site: www. congressoandav. com.br
Promovido pela Andav – Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários, entidade que reúne 1.200 distribuidores em 520 municípios, o Congresso Andav ganhou novo formato este ano e ficou mais abrangente. Além do tradicional fórum de palestras sobre a distribuição de insumos e debates sobre temas de interesse do agronegócio (cenário políticoeconômico, gestão de riscos, estratégias de negociação, práticas inovadoras, por exemplo), abrigará exposição institucional com participação de dezenas de empresas de diferentes segmentos, como defensivos, fertilizantes, sementes, equipamentos, produtos veterinários materiais em geral e acessórios.
SETEMBRO
2
V Simpósio da Cultura da Soja
De 2 a 4 – Sindicato Rural de Rio Verde – Rio Verde (GO) Site: www.fealq.org.br
3
Agricoop/Congresso Nacional de Cooperativas Agropecuárias De 3 a 4 – Espaço Milenium – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3017-6888
3
9º Congresso Brasileiro do Algodão
De 3 a 6 – Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada – Brasília (DF) Site: www.abrapa.com.br
9
Frutal/20ª Semana Internacional de Fruticultura, Floricultura e Agroindústria De 9 a 12 – Centro de Eventos do Ceará – Fortaleza (CE) Site: www.frutal.org.br
16
XVIII Congresso Brasileiro de Sementes
De 16 a 19 – Centro de Convenções Centro Sul – Florianópolis (SC) – Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: cbsementes2013@fbeventos.com.br
16
VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil
De 16 a 19 – Campus da Universidade Estadual do Oeste da Bahia (UESB) – Vitória da Conquista (BA) – Site: www. consorciopesquisacafe.com.br
23
VIII Congresso Brasileiro de Biossegurança/VIII Exposição de Equipamentos e Dispositivos de Biossegurança De 23 a 27 – Bahia Othon Palace Hotel – Salvador (BA) Fone: (71) 2102-6600
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julho 2013 – Agro DBO | 65
Legislação
Averbação de reserva legal Com a vigência do Novo Código Florestal, diversos questionamentos vêm sendo levantados no campo, deixando os agricultores confusos. Fábio Lamonica Pereira *
H
á razão para confusão. De início, vale ressaltar que, assim como em toda matéria que sofra alterações legislativas, é necessário certo tempo para que as autoridades possam se manifestar a respeito delas a fim de que demais interpretações possam ser realizadas de maneira coerente. No caso da lei nº 12651/2012, conhecida como Novo Código Florestal, é notório que, logo após a sua promulgação houve a propositura de três medidas de “Ação Direta de Inconstitucionalidade” (ADIn), de acordo com as quais pontos essenciais da nova norma estão sob questionamento junto ao Supremo Tribunal Federal.
genéricas (apesar de, na prática adentrar indevidamente em regulamentações), cabendo aos estados e municípios legislar de maneira complementar e supletiva a fim de que os detalhes sejam devidamente regulamentados. Port anto, a primeira atitude a ser tomada diz respeito justamente à criação do CAR – Cadastro Ambiental Rural, ao qual todos os produtores deverão aderir. O CAR consiste em um “registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monito-
O governo federal criou um site (www.car.gov.br) para esclarecer dúvidas eventuais sobre o CAR
*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio
Caso tais ações sejam julgadas procedentes, as disposições do novo código a elas referentes voltariam à redação anterior, ou seja, justamente questões de maior interesse social que tratam sobre áreas de preservação permanente, reserva legal e anistia aos que desmataram, o que prejudicaria a grande maioria dos produtores. Contudo, o novo código, tal como aprovado (já sofreu mudanças por meio da lei nº 12727/2012) está em vigor e, bem ou mal, deverá determinar a regularização ambiental de forma geral. Segundo a Constituição Federal, a legislação federal ambiental deve dispor sobre as questões
66 | Agro DBO – julho 2013
ramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento” (art. 29 da Lei 12651/2012). O governo federal criou um site na internet (www.car.gov. br) para fins de concentração de informações relativas ao CAR. Um dos questionamentos que tem gerado dúvidas, podendo até culminar com a propositura de medidas judiciais por partes de ONGs de caráter duvidoso, diz respeito acerca da necessidade ou não de imediata averbação da reserva legal. Tal questão tem causado muita polêmica justamente pelo fato de que há disposição vigente da Lei de Registros Públicos (lei nº 6015/73) preven-
do a necessidade de tal procedimento. Também há normas de determinados estados que estipulam prazo para que a averbação seja formalizada, bem como permanecem vigentes as disposições do decreto nº 6514/20008, e suas alterações, que penalizam até mesmo com a aplicação de multa a reserva que não tenha sido averbada. Considerando que o novo código criou um cadastro específico que reunirá diversas informações de todas as propriedades do país e que o proprietário ou possuidor tem prazo de um ano (já com possibilidade de prorrogação de mais um ano) para a adesão, não há motivos para a imediata averbação, nem tampouco para sanções. O novo código, aliás, dispõe expressamente que o registro da reserva legal no CAR elimina a obrigação de averbação junto ao cartório de registro de imóveis. Ao mesmo tempo, permite àqueles que “desejarem” averbar a reserva legal antes de efetivado o CAR fazê-lo gratuitamente. Logo, expressa ou tacitamente, a obrigação de averbação tal qual concebida anteriormente à vigência do atual código deixou de existir. De toda sorte, os produtores não devem tomar medidas precipitadas sem que haja obediência às determinações constantes das normas gerais estipuladas pelo novo código florestal bem como pelos normativos que passarão a ser disciplinados pelos estados e municípios dentro da competência que lhes caibam.