18 DE AGOSTO DiA nAciOnAl DO cAmpO limpO cOm O TrAbAlhO DE TODOS, A cOnSErvAçãO AmbiEnTAl nO cAmpO já é rEAliDADE.
O Dia Nacional do Campo Limpo é uma data dedicada à mobilização e ao reconhecimento dos envolvidos no programa de logística reversa das embalagens de defensivos agrícolas pela conscientização ambiental na agricultura. Com o esforço de agricultores, canais de distribuição, fabricantes e do poder público, já são retirados do campo 94% das embalagens vazias de defensivos agrícolas. Com tantas atitudes sustentáveis em prol de um planeta melhor, não faltam motivos para comemorar! Saiba mais: www.inpev.org.br
Realização:
Centrais de recebimento de embalagens vazias.
Apoio:*
Abag, Aenda, Andav, Andef, Aprosoja, CNA, OCB, Sindag
*Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas (Aenda), Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag).
Sumário
22 Grãos
Em 2012, às vésperas do plantio da safra, o clima geral era de otimismo. Agora, é de preocupação, devido ao aumento dos custos.
28 Soja
Apresentamos a você, Hans Jan Groenwold, o grande vencedor do Desafio Cesb 2013, um premiado criador de gado holandês.
34 Entrevista
Elizabeth Farina, presidente da Unica, faz um balanço de sua gestão frente à instituição e fala do futuro do setor sucroalcooleiro.
48 Trigo 38
Pesquisadores buscam alternativas para controlar a giberela, a brusone e outras doenças fúngicas da triticultura brasileira.
Matéria 52 Tecnologia tecnológico de agricultura de precisão melhora perfil do solo de capa Pacote em Cassilândia (MS) e dobra a produtividade nas lavouras de soja
Indústria sucroalcooleira investe em tecnologia de ponta para garantir o crescimento do setor e a competitividade do etanol ante a gasolina. O futuro, segundo especialistas, passa pelo aproveitamento de biomassa para produzir o chamado etanol celulósico, ou etanol de segunda geração.
Artigos 8 – Rogério Arioli defende, em Ponto de Vista, o direito de propriedade 18 – Daniel Glat critica as imposições tecnológicas por interesses comerciais 20 – Décio Gazzoni mostra que a competitividade depende de tecnologia 47 – Franco Borsari escreve sobre nutrição de plantas com aminoácidos 66 – Fábio Lamonica recomenda cautela em casos de alienação fiduciária
Seções Do leitor............................................................. 4 Ponto de vista.................................................. 8 Notícias da terra............................................10 Marketing da terra........................................44
Política...............................................................55 Análise de mercado.....................................58 Novidade no campo....................................60 Biblioteca da terra.........................................62 Calendário de eventos................................64 agosto 2013 – Agro DBO | 3
Do Leitor MATO GROSSO Muito boa. Periódico de excelente qualidade, com muitas informações técnicas. Alan da Silva Moreira Sinop MINAS GERAIS Imparcial, mais confiável que as outras revistas do meio rural. Luiza Sepúlveda Ribeiro Belo Horizonte A revista possibilita a atualização de conhecimentos sobre as principais commodities agrícolas e tecnologias. Deuzimar Ellen da Silva Janaúba ALAGOAS Recebi a edição de Julho, da revista Agro DBO. Como sempre, está recheada com importantes matérias, como a matéria de capa sobre café, desperdício de alimentos, tecnologia (variedades de arroz resistentes à salinidade) e fitossanidade, entre outras. Agradeço-lhes pela deferência. É ótimo ser um feliz leitor da Agro DBO. Carlos José Pedrosa Maceió
PARANÁ Quero parabenizar toda a equipe da Agro DBO pela matéria intitulada “Contenção de Lagartas”, apresentada na edição de maio de 2013. Um excelente trabalho, linguagem simples e objetiva que fez com que todos entendessem de forma clara o porque de se respeitar as orientações técnicas quando se tem uma nova tecnologia. Adão Pacheco de Lima Campo Mourão
CEARÁ Sou de Itarema interior do Ceará. Sempre leio a revista, pois sou assinante. Tá na hora da revistar falar um pouco mais do Ceará, sobre a sua agricultura. Samuel Monteiro Costa Itarema
Lendo, na edição nº46, a matéria sobre desperdício de alimentos, pensei em possíveis alternativas tecnológicas para auxiliar o produtor rural no armazenamento e na rastreabilidade dos grãos que saem da lavoura, para diminuir as perdas. Resumidamente, a ideia seria elaborar o projeto de um “contêiner de armazenagem” que fosse acoplável tanto às colheitadeiras como aos caminhões, fazendo a função de armazenagem dos grãos colhidos. Uma vez guardados, os grãos permaneceriam neste compartimento, que poderia ser deixado na propriedade do agricultor até a venda ou quando fosse necessário esvaziá-lo para uma nova colheita. Este compartimento tem que ser mais resistente que os silos bag e mais eficiente quanto às perdas. Quem fizesse o projeto teria que pensar numa maneira de controlar a umidade interna no contêiner, transformando-o num silo móvel. Neste sentido, não precisaria ser o produtor quem arcaria com os custos, mas, sim, as empresas de armazenagem, que forneceriam os contêineres para a colheita no campo e os armazena-
GOIÁS Sou gerente de uma loja da Comigo (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano) em Caiapônia, recebi alguns exemplares da revista e gostei das informações que ela oferece à classe agropecuária. Gostaria de recebê-la constantemente. Dorvalino T. de Moraes Neto Caiapônia MARANHÃO Uma dose de conhecimento é sempre bem-vinda, ainda mais quando se trata de um setor tão fundamental, como é o caso da agricultura. Girlayne Veloso Pinheiro São Luis Muito interessante. Didática. Conteúdo muito bom. Eduardo Rocha Silva Imperatriz
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riam empilhados da melhor maneira possível. Coloco este esboço de projeto na seção Do Leitor, da revista Agro DBO, para início de debate. Não sei se já existe algo parecido em algum canto do mundo. De qualquer forma, sinto que vale a pena pesquisar a respeito. No mais, obrigado pelo rico conteúdo apresentado nesta edição da revista. Estou na metade ainda, mas muito satisfeito com a qualidade das matérias Luiz Carlos de Souza Leite Curitiba Sou engenheira agrônoma e recebo a revista Agro DBO, mas gostaria de atualizar meu endereço para que eu possa continuar a receber a publicação e, a partir de agosto, as opções para assinatura, pela qual tenho grande interesse vista atende os interesses dos produtores rurais e os mantêm informados para melhor tomada de decisões. Betina Simon Valaski Cascavel PIAUI Sou instrutora do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) na área de entomologia. No momento, estou trabalhando com a Helicoverpa armigera e gostei muito das matérias que a revista fez com as pragas em questão. Hiana Brito Costa Teresina RIO GRANDE DO SUL Sou engenheiro agrônomo, dou assistência técnica para seis mil hectares de arroz irrigado e cultivo soja em 250 hectares. Tenho uma empresa de georreferenciamento, a Geosul Planejamento Agropecuário Ltda, junto com um filho, o engenheiro agrônomo Mauro Moreira Bender. Achei ótima a revista. Alex Bender Santa Vitória do Palmar Achei a revista maravilhosa, com muita informação para que eu, como técnica, possa auxiliar os produtores rurais. Morgana Klein Espumoso Muito atualizada e objetiva, com temas interessantes. Jadir Lopes Vista Gaúcha
Muito boa, a revista, pois trata de assuntos importantes, de várias culturas, com linguagem simples e fácil de entender. Gilberto Naressi Agrofel Agrocomercial Ltda Giruá
RONDÔNIA Excelente para manter bem informado o público que necessita de novas informações e boas tecnologias na área das ciências agrárias. Edson Rafael Lima da Rocha Jaru
Ótima opção para se adquirir informações voltadas ao agronegócio. Alexandre Picinin Tapera
SANTA CATARINA Sou engenheiro agrônomo de uma escola técnica e gostaria de receber a revista Agro DBO. Eu a conheci através de um amigo, também agrônomo, e a achei muito interessante, rica em conteúdo, conhecimentos que posso repassar a meus alunos. Fábio Rodrigo Carlesso Caibi
RIO DE JANEIRO Realmente, a revista é excelente, com fontes precisas de informações tecnológicas aplicadaa na agricultura moderna. Parabéns! Clóvis da Fonseca Itaperuna Quando conheci a revista, me interessei, pois aborda de maneira significativa o cenário atual da agricultura brasileira, além de falar detalhadamente de cada cultura. Rita de Kássia Guarnier da Silva Campos dos Goytacazes
SÃO PAULO Parabéns pelo primeiro ano da Agro DBO, demonstração da qualidade editorial que vocês conseguiram imprimir! Nossos votos de que a revista continue crescendo e informando sobre o agronegócio.. Mario Ernesto Humberg São Paulo
A revista Agro DBO abrange diversas áreas da agricultura, nos permitindo atualizar sempre nossos conhecimentos. Renato Henrique Souza Guazelli Cândido Mota Está entre as melhores revistas agrícolas sobre tecnologia e mercado. A Agro DBO reúne assuntos ligados às novas pesquisas, perspectivas de mercado, manejo da lavoura, exemplos de sucesso e assuntos da atualidade, sempre de forma clara e objetiva. Mariana C. A. Castro Costa Serra Negra É uma ótima revista, cheia de informações úteis para tosdo nós, agricultores brasileiros. Lilian Ferreira da Silva Tarumã AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
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Carta ao leitor
P
raticamente não há agricultor sem problemas, Brasil adentro. Nos grãos, recorde de produção, de 185 milhões de toneladas. Bom para o governo e para os consumidores, ruim para as lavouras. Conforme registramos nesta edição, os problemas de logística, no armazenamento deficiente e no transporte despropositadamente caro, continuam crônicos, agravados pelos problemas fitossanitários, que se tornam agudos pela disseminação da Helicoverpa armigera, uma praga nova que ainda não aprendemos a controlar. Tudo isso está registrado na matéria da jornalista Marianna Peres, “Milho a céu aberto”. No café, os baixos preços já ameaçam derrubadas de cafezais. Na cana de açúcar, a agroindústria encontra-se metida em uma encrenca de difícil solução, conforme registrado na matéria de capa “Sinuca de bico” e ainda na entrevista do mês com a presidente da Unica, entidade máxima do setor sucroalcooleiro. Entre o fim da safra 2012/13 e o início da próxima os insumos já mostram a tendência de aumento de preços. O pior de tudo está para vir: os preços de milho e soja começaram a cair diante das perpectivas de uma safra recorde nos EUA e por causa da ameaça maior, a de que a China mantenha reduzido crescimento econômico, e com isso não aumente compras. No fechamento desta edição, outras más notícias: uma frente fria fortíssima, com neve e geada negra, traz problemas até mesmo para as culturas de inverno, como trigo, canola e cevada, e devasta o café no Norte do Paraná, além de gerar problemas nos hortigranjeiros, cuja subida de preços deve mostrar as caras ainda este mês de agosto. Com isso, mais pressão inflacionária. Sazonal, é verdade, mas uma pressão sobre a qual o governo terá pouca coisa a fazer. Esperamos que a frente fria seja passageira e que a normalidade seja retomada, para que se possa entrar na safra 2013/14 com esperanças positivas.
* Conforme informamos na edição de julho da Agro DBO, a partir deste mês teremos apenas o sistema de assinatura paga para todos os leitores e assinantes. Se você leitor já é assinante, antigo ou mais recente, encontrará encartado neste exemplar o seu boleto bancário, devidamente identificado para pronto pagamento, e esperamos de forma otimista a sua adesão. Para cada assinatura confirmada teremos a certeza de que estamos no caminho certo. Temos a convicção de que poderemos atender, de forma cada vez melhor, as suas necessidades de informação através das páginas da Agro DBO, afinal, todos nós, em sintonia com você, respiramos apenas agricultura, a única forma de se produzir alimentos para um mundo que continua a se expandir demograficamente. Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Franco Borsari, Glauco Menegheti, José Maria Tomazela, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva e Tiago Sarmento Barata. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Naira Barelli, Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta
Richard Jakubaszko
Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Divulgação/Case DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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Ponto de vista
Campo vazio Nosso colunista critica o governo pelo êxodo rural e outras desditas do agricultor brasileiro e exige respeito ao direito de propriedade Rogério Arioli Silva *
O
* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
campo brasileiro há muito deixou de ser objeto de desejo de jovens iniciantes nas suas carreiras profissionais. Mesmo aqueles os quais as famílias têm vínculos agrários, relutam veementemente em seguir a trajetória de seus ascendentes na dedicação às lides agropecuárias. Em decorrência dessa realidade é visível e inexorável o envelhecimento da população rural. A reforma agrária, da forma como foi concebida pelos governos com vieses socialistas, não conseguiu oferecer aos assentados um mínimo de perspectiva de crescimento econômico, com raríssimas exceções. Miseráveis urbanos tornaram-se miseráveis rurais, produzindo apenas e tão somente para a própria subsistência, sem conseguirem atingir uma renda decente na atividade. Gastaram-se milhões de reais em aventuras eleitoreiras fertilizadas pelo discurso ideológico e romântico do “pedacinho de terra”, que seria capaz de trazer felicidade e justiça social. Pura de-
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magogia. Sem renda não há como sobreviver dignamente na cidade, e muito menos no campo, onde os desafios são ainda maiores. Daí o histórico e constante êxodo rural. Estudo recente da Fundação Getúlio Vargas concluiu que os maiores índices de desenvolvimento rural encontram-se nas médias cidades agrícolas do Centro-Oeste brasileiro. Essa realidade demonstra que a única reforma agrária que vinha dando certo é justamente aquela empreendida pelos sulistas que venderam seu pedaço de terra e migraram para o norte e centro-oeste do país construindo, com seus próprios braços, uma agricultura moderna e eficiente. Todavia, também esta vem sendo alcançada pela mão demagógica do estado no momento em que desapropria produtores rurais com o argumento insano de ampliar reservas indígenas. Este desrespeito ao direito de propriedade que tem levado milhares de produtores rurais a ficarem na beira da estrada com uma mão na frente e outra atrás, talvez seja
o tiro de misericórdia para esvaziar ainda mais o campo brasileiro. Ninguém, em sã consciência, haverá de trocar o conforto da cidade pelo penoso trabalho no campo, arriscando perder seus investimentos e até mesmo seu patrimônio, no momento em que um antropólogo qualquer sentenciar que naquela propriedade viveu, em tempos imemoriais, determinada etnia indígena ou quilombola. Não admira que se tenha hoje menos de 5% da população rural com menos de 20 anos. No campo só ficarão os velhos, pois não lhes sobram tempo nem ânimo de começar novamente em outra trincheira de luta. Os jovens certamente buscarão outras profissões que não as ligadas ao meio rural, pois estão cientes da dificuldade de trabalhar sem nenhuma garantia de renda, sujeitos às intempéries climáticas e oscilações de preços que, muitas vezes, não se mostram remuneradores. É inegável o fato de que nestes últimos anos houve um processo vigoroso de desgaste do produtor
rural perante a sociedade brasileira. Normalmente as notícias ligadas ao campo são alvissareiras para os governos, que sobre elas faturam politicamente, porém, são extremamente distorcidas quando relacionadas ao produtor rural propriamente dito. Os produtores foram, erroneamente, relacionados a danos ambientais o que acabou maculando sobremaneira sua imagem. Como consequência dessa situação, a maioria da população urbana subvaloriza o trabalho do campo, acreditando-o de pouca valia. Some-se a isso o fato de que, pela ausência de uma política agrícola de estoques públicos, normalmente quando os produtos agrícolas escasseiam e sobem de preço quem passa por especulador é o produtor rural e não o atravessador. Portanto, ao não receber o reconhecimento digno pelo seu
esforço e empenho, o trabalho na agropecuária não mais atrai aos jovens empreendedores, o que é extremamente preocupante. A enorme evolução tecnológica que se tem visto em algumas ilhas de desenvolvimento agrícola no interior do Brasil não irá se consolidar sem que haja uma evolução das
potencial agrícola nacional se não houver uma renovação dos produtores no momento em que envelhecerem e não possuírem mais condições de trabalho. Este assunto deveria transformar-se em uma política pública de valorização do campo brasileiro, mostrando à população urbana que os produtos
Os produtores rurais foram, erroneamente, relacionados a danos ambientais. pessoas que irão aplicá-la. É preciso pessoas jovens para empreender esta fantástica mudança que já está em curso, através da agricultura de precisão e do uso da biotecnologia. É necessário que, urgentemente, sejam valorizados aqueles que escolherem ficar no campo produzindo, pois de nada adiantará o
agrícolas não brotam nas gôndolas do supermercado. Também precisaria começar, principalmente, pelo respeito ao direito de propriedade, fundamento básico para o desenvolvimento da atividade econômica e alicerce indispensável ao empreendedorismo.
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Notícias da Terra Safra I
Novo recorde em grãos
Safra II
A
A
produção nacional de grãos, relativa à safra 2012/13, deve chegar a 185,05 milhões de toneladas, 11,4% a mais ante a temporada anterior (166,17 milhões de toneladas), de acordo com o décimo levantamento da Conab, divulgado em julho. Diferentemente do ocorrido nos levantamentos anteriores, quando a sija se destacou, desta vez a estrela foi o milho 2ª safra, com aumento de 13,1% e produção estimada em 44,24 milhões de toneladas. A produção nacional de soja cresceu 22,7%, passando de 66,38 para 81,45 milhões de toneladas. A área plantada no país chegou a 53,22 milhões de hectares, dos quais 27,72 milhões ocupados pela soja (10,7% maior, comparativamente à área de lavoura no ano passado). O milho 2ª safra ocupa 8,95 milhões de hectares, 17,5% a mais do que no ciclo 2011/12.
Safra III
Centro-Oeste na frente
C
onsiderando as regiões em que se divide o país, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresentou a seguinte distribuição, conforme o IBGE: Centro-Oeste, 75,9 milhões de toneladas; Sul, 73,4 milhões; Sudeste, 19,6 milhões; Nordeste, 12,2 milhões; e Norte, 4,6 milhões. Comparativamente à safra passada, houve incremento de 7,2% na região Centro-Oeste, 33,0% na Sul, 1,9% na Sudeste e 2,4% na Nordeste. Na região Norte houve decréscimo de 2,6%. O estado de Mato Grosso manteve a liderança no ranking nacional de produção de grãos, com 23,8% de participação, seguido pelo Paraná (20,4%) e pelo Rio Grande do Sul (15,7%).
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IBGE empata com a Conab sexta estimativa do IBGE para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas indica produção de 185,7 milhões de toneladas, 14,7% acima do obtido em 2012 (161,9 milhões de toneladas), mas abaixo (-0,1%) do vo-
lume previsto anteriormente. As projeções do instituto apontam área plantada de 52,6 milhões de hectares, 7,8% maior frente à área colhida em 2012 (48,8 milhões de hectares) e 0,6% menor diante do projetado no mês passado.
Safra IV
Variação de produção
E
ntre os 26 produtos pesquisados pelo IBGE, 16 apresentaram variação positiva nas estimativas de produção, em relação a 2012: amendoim em casca 1ª safra (11,9%), amendoim em casca 2ª safra (3,6%), arroz em casca (3,1%), aveia em grão (12,7%), batata-inglesa 1ª safra (2,5%), batata-inglesa 2ª safra (2,2%), cana-de-açúcar (10,3%), cevada em grão (17,0%), feijão em grão 2ª safra (13,7%), feijão em grão 3ª safra (3,3%), milho em grão 1ª safra (3,8%), milho em
grão 2ª safra (14,8%), soja em grão (23,8%), sorgo em grão (21,9%), trigo em grão (26,9%) e triticale em grão (18,2%). Com variação negativa foram dez produtos: mamona em baga (32,9%), algodão herbáceo em caroço (-31,8%), batata-inglesa 3ª safra (-30,8%), cacau em amêndoa (-5,0%), café em grão/arábica (-4,9%), café em grão/conilon (-13,2%), cebola (-9,2%), feijão em grão 1ª safra (-2,7%), laranja (-4,6%), e mandioca (-8,4%).
Notícias da Terra Safra V
Soja e milho estáveis
D
e acordo com o relatório de julho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), a produção mundial de soja deve chegar a 285,9 milhões de toneladas na safra 2012/13, pouco acima do previsto em junho (285,3 milhões). Os Estados Unidos vão colher 93,08 milhões de toneladas; o Brasil, 85; e a Argentina, 54,5, No caso do milho, o USDA reduziu as estimativas globais: a produção mundial cairá de 962,58 milhões para 959,84 milhões de toneladas. Os Estados Unidos deverão produzir 354,35 milhões de toneladas e o Brasil, 72 milhões.
Futurologia I
Produção calculada
Safra VI
Trigo em alta no mundo
O
relatório de julho do USDA reajusta para cima a produção mundial de trigo: passará de 695,86, conforme previsão feita em junho, para 697,80 milhões de toneladas. A safra norte-americana também vai crescer (de 56,61
para 57,52 milhões de toneladas). Em relação à Argentina e ao Brasil, os números foram mantidos: os “hermanos” vão produzir 13 milhões de toneladas e exportar 7; os brasileiros vão colher 5 e importar 7,5.
N
os próximos dez anos, a safra nacional de grãos deve alcançar 222,3 milhões de toneladas, com potencial para chegar a 274,8 milhões de toneladas, segundo estimativas da AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura. Os números constam do estudo “Projeções do Agronegócio 2012/13 a 2022/23”, divulgado no mês passado. A produção de grãos deve crescer entre 20,7% e 49,2% no período. Em relação à área plantada (no caso, as projeções abarcam as culturas de cana-de-açúcar, algodão e laranja, além dos grãos), deve passar de 67 milhões de hectares em 2013 para 75,5 milhões em 2023, graças, principalmente, à expansão nas lavouras de soja, milho e cana. Culturas como arroz, mandioca, trigo, feijão e café vão manter ou perder área.
Futurologia II
Mercado interno garante
A
inda segundo o estudo da AGE–Mapa, o mercado interno deverá se constituir no principal fator de crescimento da agropecuária nacional, mesmo com aumento nas vendas externas. Em 2022/23, 51% da produção de soja, 67% de milho (além de 75% da produção nacional de carne bovina e 82,3% de suínos), serão comercializados dentro do país. A participação do
Brasil no comércio mundial de soja e de carnes também vai crescer. Mais de 44% da oleaginosa exportada no mundo será brasileira (no caso das carnes bovina e suína, os índices de participação no mercado global deverão alcançar 19,9% e 41,7%, respectivamente. O Brasil também manterá a liderança nas vendas internacionais de café, açúcar e suco de laranja. agosto 2013 – Agro DBO | 11
Notícias da Terra Comércio internacional I
Mais de US$ 100 bilhões
P
ela primeira vez na história, o faturamento do agronegócio brasileiro ultrapassou a cifra dos US$ 100 bilhões anuais, conforme levantamento da Secretaria de Relações Internacionais do Mapa, divulgado no mês passado. O Brasil exportou o equivalente a US$ 100,61 bilhões em produtos agropecuários entre julho de 2012 e junho deste ano, valor 4,2% acima do obtido no mesmo período, na safra anterior. O superávit comercial do setor também atingiu novo recorde, somando US$ 83,91 bilhões. Em relação aos cereais, destaque para o aumento de 211,5% nas vendas externas de milho, que passaram de 8,47 milhões de toneladas na safra 2011/12 para 26,44 milhões de toneladas na temporada 2012/13.
Comércio internacional II
Vendas recordes
A
s exportações brasileiras de soja em grão atingiram no primeiro semestre o recorde de 26,17 milhões de toneladas, volume 12% superior ao embarcado em igual período do ano passado. Segundo dados do Mapa, a receita entre janeiro e junho chegou a R$ 13,85 bilhões, aumento de quase 16% em relação ao mesmo período do ano passado. Conforme avaliação técnica, o bom desempenho das exportações no primeiro semestre também pode ser creditado à recuperação do ritmo de escoamento entre abril e junho – em apenas três meses, o país embarcou quase 22 milhões de toneladas do grão. Na contramão dos negócios com soja em grão, a receita com os embarques de farelo e óleo caiu 12% no primeiro semestre deste ano, com queda de 22% em volume.
Comércio internacional III
China bate União Européia
N
a lista dos principais compradores da produção agropecuária brasileira, destaque para as exportações destinadas à China, que atingiram o montante recorde de US$ 13,02 bilhões entre janeiro e junho deste ano, crescimento de
21,8% em relação aos US$ 10,69 bilhões obtidos no mesmo período de 2012. Com o resultado, a China ultrapassou a União Europeia pela primeira vez como maior mercado importador de produtos do agronegócio brasileiro.
VBP
Estimativa para 2013: R$ 272,2 bilhões
C
onforme levantamento da AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, o VBP – Valor Bruto da Produção das principais lavouras brasileiras em 2013 deverá chegar a R$ 272,2 bilhões, valor 9,4 % superior ao do ano passado (R$ 248, 7 bilhões). Entre as lavouras analisadas, as que mais contribuíram percentualmente para esse aumen-
12 | Agro DBO – agosto 2013
to foram o tomate (65,3 %), laranja (44,4 %), batata inglesa (26,0 %), trigo, 20,3, fumo (18,2%), soja (17,2 %), e milho (11,3%). Com percentuais abaixo destes, mas ainda assim com aumentos expressivos no valor de produção, destacam-se o arroz, a banana, a cana de açúcar e o feijão. Com queda no valor de produção, algodão, café, cacau, mandioca, uva e maçã.
Crédito
Outros 100 bilhões
O
crédito para a agricultura empresarial brasileira na safra 2012/13, alcançou R$ 106,14 bilhões entre julho de 2012 e maio deste ano, alta de 30% sobre o mesmo período da safra anterior. A maior parcela é voltada para investimentos, refletindo a decisão dos agricultores de modernizar a produção, conforme avaliação de técnicos do Mapa. O PSI-BK-Programa de Sustentação de Investimento e o Pronamp – Programa de Apoio Nacional ao Médio Produtor Rural continuam como as principais modalidades de crédito rural em volume de financiamento. O primeiro liberou R$ 10,5 bilhões no período, enquanto o segundo, R$ 10,12 bilhões.
Notícias da Terra Logística I
Certificação de armazéns
O
governo federal alterou o escalonamento para implantação do Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras, conforme normativa publicada no Diário Oficial da União de 10/7/13. A implantação será feita em seis etapas. A primeira, com prazo final até 31 de janeiro de 2014, deve ser cumprida em, no mínimo, 15% da capacidade estática instalada ou do número de CNPJ da empresa. A última etapa (com 100% da capacidade estática instalada) deve ser cumprida até 31/12/2018. Os armazéns que não se enquadrarem nos parâmetros serão impedidos de estabelecer contratos comerciais. A certificação é obrigatória para as unidades que prestam serviços remunerados a terceiros, inclusive na guarda de estoques públicos, e voluntária para as demais, mas é preciso cumprir todos os requisitos exigidos pelo sistema.
Logística II
Milho ao relento
S
egundo estimativas, até 20% do milho segunda safra colhido no Centro-Oeste poderá ser “estocado” a céu aberto ou em abrigos inadequados nesta safra, por falta de armazéns. O Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária prevê produção de 17,3 milhões de toneladas em Mato Grosso, 11,5% maior do que a de 2012, e a Conab, 18,6 milhões de toneladas. Na região de Sinop, no médio-norte do estado, os armazéns já suspenderam o recebimento de milho, conforme o presidente do sindicato rural do município, Leonildo Bares. “Quem conseguiu armazém, está pagando muito mais caro”. Ele disse que muitos colegas recorreram aos silos de lona e outros tantos resolveram deixar o grão exposto ao tempo (leia mais a respeito na página 22).
Seguro rural
Paraná lidera em contratações
T
rigo e o milho segunda safra foram as culturas com maior número de apólices contratadas no primeiro semestre deste ano, conforme balanço da Secretaria de Política Agrícola do Mapa. Os dados se referem ao PSR – Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural. As contratações concentraram-se na região centro-sul do Brasil, principalmente no Paraná, que registrou mais de 50% das apólices contratadas, seguido do Rio Grande do Sul, com 20%, São Paulo, com 12%, e Mato Grosso do Sul, com 9%. Até meados de julho, quando da divulgação deste balanço, foram utilizados R$ 100,5 milhões, valor que permitiu segurar área superior a um milhão de hectares no país.
Logística III
Mais 50 portos
E
m julho, um mês após sancionado o novo marco regulatório do setor portuário, saiu a lista dos primeiros terminais de uso privado. Serão instalados 50 novos portos, com aporte de R$ 11 bilhões em investimentos privados. A expectativa é que esses terminais aumentem a capacidade de escoamento em 105 milhões de toneladas/ano. Dos 50 pedidos de autorização, 27 são para construção na região Norte (R$1,8 bilhão de investimento), três para o Nordeste (R$ 4,5 bilhões), 12 para Sudeste (R$ 4,6 bilhões), cinco para o Sul (R$ 150 milhões) e três para o Centro-Oeste (R$ 43 milhões) – por não ter acesso ao mar, os terminais do Centro-Oeste são fluviais, usados para transbordo de carga. agosto 2013 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Café I
Café II
Demanda boa
O
Brasil exportou 31,1 milhões de sacas na temporada 2012/13, que se encerrou em junho, segundo o Informe Estatístico do Café, do Ministério da Agricultura. Este número indica vendas 3,2% maiores em volume, mas 24% menores em receita, em relação à safra passada. O Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café prevê remessas de 32,5 milhões de sacas ( 6% a mais do que o ciclo anterior), para a safra 2013/14, iniciada em julho. Tal número, somado à estima-
tiva de consumo interno ao redor de 21 milhões de sacas, demonstra, segundo avaliação da entidade, que a demanda pelo café brasileiro poderá superar em quase 6 milhões de sacas a produção na temporada 2013/14, derrubando assim as especulações sobre excesso de oferta. Conforme o último levantamento da Conab, o Brasil deverá produzir este ano 48,59 milhões de sacas, 4,4% a menos em relação à safra passada, quando colheu 50,83 milhões de sacas.
Produção em alta, preço...
D
e acordo com estimativas da OIC – Organização Internacional do Café, a produção mundial de café chegará a 144,6 milhões de sacas de 60 kg este ano, 7,8% acima do volume colhido na temporada passada. A alta foi impulsionada por safras maiores nos principais países produtores, com exceção do Vietnã, onde recuou 8,6%, caindo para 22 milhões de sacas. Também foram registradas safras menores na América Central, principalmente em Honduras e na Guatemala, devido à propagação da ferrugem (roya) nos cafezais. Durante a última década, as safras dos ciclos de baixa produtividade no Brasil ficaram entre 9,6% e 16% abaixo da produção do ciclo imediatamente anterior. Em 2013, porém, a diferença pode ser de apenas 1,3%.
Café III
Período ruim
S
Café IV
Prêmio Cerrado Mineiro
Q
uem quiser participar, tem até 17/9 para inscrever seus lotes, através de uma cooperativa associada. A Federação dos Cafeicultores do Cerrado lançou em julho o 1º prêmio da cafeicultura da região, nas categorias Café Natural e Café Cereja Descascado. Cada produtor pode concorrer com um lote de 20 sacas em cada categoria, por propriedade. As amostras passarão por avaliações em duas fases de classificação, sob a supervisão da Universidade Federal de Lavras. Na primeira, os lotes serão avalia-
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dos conforme critérios da SCAA – Specialty Coffee Association of America. Na segunda fase, serão levados em consideração conceitos de ética e rastreabilidade. Os vencedores serão conhecidos em 17/10, durante evento comemorativo em Uberlândia. Para saber mais a respeito, acesse o site www.cerradomineiro.org/premio. O Cerrado Mineiro é composto por 55 municípios, com 4.500 cafeicultores e 170 mil hectares de lavouras. A região deve produzir este ano cinco milhões de sacas.
egundo a OIC, o mês de junho foi um dos piores dos últimos tempos para cafeicultura mundial, no que diz respeito aos preços. As cotações internacionais despencaram para os níveis mais baixos desde setembro de 2009. O valor composto da OIC recuou para 117,58 centavos por libra-peso em junho, resultado 7,4% inferior ao mês anterior (126,96 centavos). Os fundamentos do mercado, combinados com incertezas sobre as perspectivas macroeconômicas em vários países consumidores, especialmente na China e nos Estados Unidos, derrubaram as cotações do grão, segundo avaliação da organização. Em relação ao abastecimento, as exportações totais para os primeiros oito meses do ano cafeeiro 2012/13 cresceram 5,2%, passando de 72 para 75,7 milhões de sacas.
Notícias da Terra Plano Safra I
Juros mais baixos e renegociação de dívidas
O
CMN – Conselho Monetário Nacional reduziu as taxas dos financiamentos agrícolas para o Nordeste e Norte de Minas Gerais, beneficiando os produtores que vivem na área do semiárido abrangida pela Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Os financiamentos de custeio concedidos pelo Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar tiveram as taxas reduzidas de 1,5% para 1% ao ano para operações de até R$ 10 mil. Os juros passaram de 3% para 2% ao ano, no caso dos financiamentos de R$ 10 mil a R$ 30 mil, e de 3,5% para 3% ao ano para as operações acima de R$ 30 mil. A taxa dos empréstimos do Pronaf para investimento passou de 2% para 1% ao ano, para operações de até R$ 30 mil, e de 2% para
Plano Safra II
Recursos para o semiárido
O
governo federal destinou R$ 7 bilhões em crédito para a agricultura na temporada 2013/14, dos quais R$ 4 bilhões para a agricultura familiar e R$ 3 bilhões para os produtores médios e grandes. Tais recursos integram o Plano Safra Semiárido, anunciado no mês passado. As medidas beneficiarão 1,6 milhão de estabelecimentos agropecuários do semiárido brasileiro, entre os quais 1,52 milhão de agricultores familiares, segundo levantamento do MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário. As ações são voltadas para estimular os sistemas de produção, melhorar a infraestrutura hídrica e o estoque de alimentação animal, ou seja, produção e armazenagem de forragem para a alimentação animal para o período de estiagem
1,5% ao ano para as linhas entre R$ 30 mil e R$ 60 mil. No Pronamp – Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural, os juros foram reduzidos de 4,5% para 4% ao ano nas operações de custeio e de 3,5% para 2% ao ano nas linhas de investimento. Para os demais produtores rurais, a taxa passou de 5,5% para 5% ao ano, tanto nos financiamentos para o custeio da safra como para investimento.
Inflação
Reajuste de preços
O
CMN ajustou no mês passado o preço de garantia de alguns produtos, no âmbito do Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar. O objetivo é reduzir a pressão sobre a inflação. O programa assegura a remuneração dos custos variáveis de produção, concedendo abatimentos nas parcelas do Pronaf. O desconto corresponde à diferença percentual entre os preços de garantia, definidos anualmente para cada produto, e os preços de mercado no mês anterior ao pagamento da prestação, caso estes estejam em baixa. Segundo o Ministério da Fazenda, a reformulação beneficiará principalmente os produtores de mandioca, tomate, trigo, batata, café e carne de ovinos. agosto 2013 – Agro DBO | 15
Notícias da Terra Fitossanidade I
Fitossanidade II
Assim o pesquisador Alexandre Specht, da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF), se referiu à lagarta Helicoverpa armigera, centro das atenções de centenas de pessoas reunidas no mês passado nos municípios de Sorriso e Rondonópolis, a convite da Ampa –Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão e do IMA – Instituto Mato-grossense do Algodão. Produtores rurais, pesquisadores, agrônomos, técnicos agrícolas, consultores, todos buscavam informações sobre a H. armigera, considerada a mais voraz entre as lagartas-praga, responsável por enormes estragos em lavouras de milho, soja, milheto, algodão e tantas outras – segundo a literatura científica, ela se alimenta de dezenas de espécies vegetais. O desafio proposto nos encontros foi, se não erradicá-la, ao menos aprender a conviver com ela, de modo a reduzir os prejuízos nas safras vindouras (leia, a propósito, “A praga que come renda”, na página 25). “Vamos vencer o desafio”, afirmou o pesquisador Paulo Degrande, da UFGD–Universidade Federal da Grande Dourados, envolvido na elaboração de um plano de manejo da Helicoverpa em Mato Grosso do Sul. Em sua opinião, é fundamental controlar a Helicoverpa no seu ponto fraco: ” quando ainda está pequena”. Entre outras “estratégias de combate”, os pesquisadores recomendaram monitoramento constante, implantação de áreas de refugio, uso racional de inseticidas, preservação dos inimigos naturais e adoção de vazio sanitário como forma de evitar a chamada “ponte biológica”, ou “ponte verde” – plantas nascidas espontâneamente e que servem de abrigo e alimento aos insetos.
Segundo especialistas, o Huanglongbing, também conhecido como “HLB”, ou greening, é a doença mais devastadora para a citricultura. Na falta de medidas eficazes para erradicá-la, boa parte dos citricultores adotou sistema de manejo do inseto que a transmite, o psilídeo Diaphorina citri, feito majoritariamente com uso de agroquímicos. Uma pesquisa conduzida por José Ferreira Diniz, pós-graduando em entomologia pela Esalq – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Osso duro de roer
16 | Agro DBO – agosto 2013
Combate ao greening mostra, porém, que é possível obter bons resultados com o uso do parasitoide Tamarixia radiata. Diniz observou a ação da praga e da doença tanto em laboratório quanto em propriedades do estado de São Paulo e identificou as possibilidades de utilização do T. radiata para controle da praga. Em sua opinião, o parasitoide é capaz de reduzir entre 70 e 80% a praga transmissora do greening, quando liberada em campo, na taxa de 400 indivíduos por hectare.
Batata
Estudo sobre clone Em estudo desenvolvido no programa de pós-graduação em fitotecnia da Esalq – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, de Piracicaba (SP), o engenheiro agrônomo Eduardo Yuji Watanabe avaliou o desempenho do clone de batata IAC 2.5, em três doses de adubação mineral de plantio com o uso da fórmula 04-14-08, com e sem a adição de composto orgânico. Como principal resultado, foi verificado que a dose 2150 kg/ha do
formulado 04-14-08 complementado com 5000 kg/ha de composto orgânico de marca comercial Provaso responde à maior produtividade comercial de tubérculos. “O clone de batata IAC 2.5 demonstrou em ensaios preliminares maior rusticidade, pela menor exigência em fertilização e proteção fitossanitária por fungicidas, em relação às cultivares importadas que atualmente dominam o mercado”, disse Watanabe.
Notícias da Terra Legislação
Água I
Declaração ambiental
Cadastramento em São Paulo
Os proprietários rurais têm até o próximo dia 30 de setembro para entregar o ADA – Ato Declaratório Ambiental de 2013, instrumento que permite redução até 100% do valor do ITR – Imposto Territorial Rural incidente sobre as áreas de interesse ambiental dentro dos imóveis rurais, incluídas na declaração do ITR. É preciso preencher e
transmitir o formulário eletrônico através do site do Ibama. Acesse www.ibama.gov.br e, em seguida, o menu “Serviços” – “Relatórios e declarações – Ato Declaratório Ambiental – ADA. A página traz informações sobre a legislação a respeito e respostas às perguntas mais frequentes, além do manual de preenchimento.
Energia
Universalização da luz Resolução da Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, publicada em 18/7, prevê para 2018 a universalização da energia elétrica na área rural. As metas, no caso, não se referem a regiões remotas atendidas por sistemas isolados, que terão prazos e procedimentos a serem estabelecidos em resolução específica. Os prazos para as distribuidoras consideram o atual Índice de Atendimento (IA) – razão entre o número de domicílios
com fornecimento de energia e o número total de domicílios, estimado pelo Censo de 2010. Hoje em dia há 101 empresas prestando serviços ligados ao fornecimento de energia elétrica para consumidores no país. Destas, 63 são distribuidoras e as demais (38) são permissionárias – empresas ou cooperativas que recebem autorização da Aneel para fazer a distribuição de energia, sem necessidade de passar por processos licitatórios.
Tecnologia.
Agricultura mapeada O SomaBrasil, ferramenta da Embrapa para a observação e monitoramento agrícola, apresentou no mês passado nova base de dados sobre mapeamento em larga escala, com distribuição espacial das culturas de grãos. Lançado pela Embrapa Monitoramento por Satélite em novembro do ano passado, abrange dados de produção agrícola dos municípios e do censo agropecuário do IBGE, informações geradas por programas e projetos do Ibama e Inpe, mapeamentos realizados pela Embrapa
Foi aberto em primeiro de julho o período para cadastramento no Ato Declaratório do Daee – Departamento de Águas e Energia Elétrica por proprietários rurais que utilizam recursos hídricos de domínio do estado de São Paulo. Trata-se de um cadastro de uso dos recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, para aqueles que têm propriedades no campo. O ato declaratório é o início de um processo de regularização das outorgas para uso de água. O usuário rural que aderir a esse cadastramento terá a vantagem de não ser enquadrado como infrator, conforme a Portaria Daee nº 1/98, no período de até dois anos, a contar da emissão do protocolo. No decorrer deste tempo, o proprietário deverá iniciar o processo para obtenção de outorga ou de dispensa de outorga dos usos de recursos hídricos declarados. O cadastro deve ser feito até 30 de junho de 2015. Se quiser mais detalhas, acesse www.atodeclaratorio.daee.sp.gov.br/Publico/DefaultRepresentante.aspx.
e outras instituições, além de dados sobre relevo, hidrografia, logística, áreas protegidas e potencial agrícola. O sistema permite ao usuário selecionar e cruzar informações e construir mapas de acordo com seus interesses. O objetivo, de acordo com o pesquisador Mateus Batistella, é oferecer uma visão integrada da agricultura, da escala municipal à nacional. Para acessar o sistema, digite www.cnpm.embrapa.br/projetos/ somabrasil/ agosto 2013 – Agro DBO | 17
Artigo
Mais uma da Monsanto Nosso colunista reclama das medidas arbitrárias que a empresa impõe com cada vez mais frequência a seus parceiros e licenciados Daniel Glat *
N
o mês passado começaram a circular noticias sobre uma nova imposição comercial da Monsanto sobre o uso de suas tecnologias. Quero deixar claro que as críticas desse texto não se dirigem aos executivos da Monsanto do Brasil, muito deles profissionais do mais alto nível; mas todos que conhecem a indústria de sementes a nível mundial, como eu tive oportunidade de conhecer, sabem que a maioria das decisões da Monsanto sobre uso de suas tecnologias são tomadas centralizadamente em
milho no Estados Unidos, baseado principalmente em dois aspectos dessa praga: o primeiro é o fato que a lagarta da ECB, ao crescer, se aloja dentro do colmo da planta, como a broca da cana, não migrando para plantas vizinhas; o segundo é o fato que os adultos da mesma não se deslocam por grandes distâncias, justificando-se a mistura no saco para aumentar a chance de encontro de adultos suscetíveis e resistentes. Além disso, essa prática é operacionalmente muito fácil de fazer no EUA, pois cada
Práticas “copiadas e coladas” dos Estados Unidos nem sempre são eficazes em outros lugares
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.
Saint Louis, Estados Unidos, sede da empresa, e imposta aos seus executivos locais, que são obrigados a implementá-las. A medida que me refiro, e que considero absolutamente irracional e ineficaz, é o anuncio feito pela Monsanto a seus licenciados que por ocasião do lançamento de seu novo milho duplo Bt, VTPro + Herculex ( Basicamente, a mesma combinação que a Dow AgroSciences já vende sob a marca comercial Power Core), é que o mesmo só poderá ser vendido com refugio de 5% misturado no saco!. O refúgio no saco foi uma prática de manejo desenvolvida inicialmente pela Pioneer nos Estados Unidos, visando o controle da ECB – European corn borer (Ostrinia nubilalis), a principal lagarta do
18 | Agro DBO – agosto 2013
híbrido não se vende em mais de 3 peneiras. Agora essa prática, sem nenhuma consideração às condições locais, será imposta aos licenciados da Monsanto no Brasil. Vejam a sequência de absurdos: primeiramente, nenhuma UBS (Unidade de Beneficiamento de Sementes) de milho no Brasil está preparada pra fazer uma mistura homogênea de 5% de refúgio no saco; isso exigirá investimentos substanciais em equipamentos por parte de todos os sementeiros; segundo, diferentemente dos Estados Undos, aqui os híbridos são vendidos em mais de 10 peneiras. Estima-se que haverá, em média, uma perda de 30% a 35% na produtividade das UBS; e como a margem dos licenciados da Monsanto não é muito alta, não há dú-
vida que esse custo, que não será pequeno, será repassado integralmente no preços das já caras sementes de milho do Brasil. Mas o pior de tudo é que, tecnicamente, a medida não faz nenhum sentido. Primeiro, porque os adultos da lagarta do cartucho, alvo principal dos milhos Bts no Brasil, diferentemente dos adultos do ECB, conseguem se deslocar por grandes distâncias. Além disso, a lagarta do cartucho tende a migrar para plantas vizinhas quando grande, e todos sabem que, quanto maior é a lagarta ao atacar uma planta Bt, mais difícil é seu controle. Assim acredito que essa prática, “copiada e colada” dos Estados Unidos, sem nenhuma avaliação técnica ou discussão com entomologistas locais, além de ineficaz, vai exigir grandes investimentos dos sementeiros, vai encarecer as sementes de milho desnecessariamente, e é até possível que acelere a quebra de resistência do duplo Bt, já que desde o início essas plantas serão atacadas por lagartas grandes, migrantes das plantas refúgios. Acredito que, por melhor que sejam as tecnologias que uma empresa traga ao mercado, deveria haver limites para as imposições feitas a seus parceiros comerciais. Infelizmente, o estado do Mato Grosso, o único onde o setor agrícola e suas associações tem força suficiente para “peitar” a Monsanto, não tem produtores de sementes de milho. Assim, os mesmos, localizados em outros estados brasileiros, estarão provavelmente refém dessa medida tola, cara e ineficaz.
Artigo
Receita provada Os vencedores do Desafio Cesb mostram que a competitividade depende do incremento contínuo, e sustentável, da produtividade. Décio Luiz Gazzoni *
N
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.
a safra 2012/13 produzimos 184 milhões de toneladas (Mt) de grãos, em 53 milhões de hectares (Mha). O Mapa projeta até 275 Mt para 2022/23. Se a produtividade atual for mantida, precisaríamos mais 26Mha. Na prática, temos que fazer um enorme esforço para que o crescimento de 50% na produção de grãos resulte de um crescimento de 35-40% na produtividade, e apenas 10-15% de acréscimo de área. E temos ótimos exemplos onde nos mirar para que isto ocorra. Na última safra, a produtividade de soja informada pela Conab foi de 2.938 kg/ha. Os ganhos de produtividade de soja no Brasil, nos últimos 12 anos, foram de 1,68% ao ano. Um número razoável. Entretanto, ele poderia ser maior. Afinal, um grupo de excelentes sojicultores está conseguindo produtividade até 126% superior à média brasileira, como o recordista Hans Jan Groenwold, cuja propriedade está localizada em Castro (PR), e que obteve 6.633 kg/ha, ou 126% acima da média nacional. Mas Hans não é um caso isolado, pois os quatro produtores de soja, que venceram o Desafio Cesb 2013, apresentaram produtividade superior a 6.100 kg/ha, ou 107% acima da média nacional. Sequer esses quatro produtores representam um caso isolado, como se verifica no quadro ao lado. Os 5 melhores sojicultores produziram 119% mais que a média Conab, e assim por diante. Os participantes do desafio produziram uma tonelada (ou 35%) acima da média brasileira.
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A cada ano, a média de produtividade dos melhores colocados do Desafio Cesb aumenta. Entre a primeira edição (2009) e a quinta (2013), observa-se um incremento de 33% na produtividade dos 10 produtores mais bem colocados. No mesmo período, a produtividade média brasileira cresceu 12%. Em consequência, enquanto em 2008/09 os 10 me-
lhores produtores participantes do desafio obtiveram produtividade 78% acima da média brasileira, na safra 2012/13 este mesmo grupo colheu 112% acima da média nacional. Logo, incrementos agressivos e sustentáveis de produtividade são possíveis, com a tecnologia já disponível, e que está à disposição de todos os agricultores.
Distribuição da produtividade por grupo de produtores participantes do Desafio Cesb 2013
Kg/ha
%*
Mais alta
6.632
126
5+
6.427
119
10 +
6.226
112
50 +
5.476
86
100 +
4.712
60
200 +
4.291
46
Total
3.970
35
Conab
2.938
* Quanto foi produzido a mais, em relação à media brasileira
Não é diferente no milho. Nos últimos 50 anos, a produtividade brasileira cresceu 2,4% ao ano. Mas foi nos últimos 35 anos, quando o milho deixou de ser roça rudimentar e enveredou no rumo da moderna agricultura, que a produtividade cresceu mais: 3,1% ao ano. Estamos melhorando, mas longe dos números dos EUA: enquanto lá a produtividade em 2012 foi de 9,2t/ha, aqui alcançamos 4,3 t/ha. Se quisermos ter a mesma expressão global com milho que temos com soja, precisamos nos mirar nos americanos: se eles podem, nós também podemos produzir mais milho por hectare. E se os sojicultores acompanhados pelo Cesb podem dobrar a produtividade, todos os produtores de soja também podem. A produtividade não deve ser uma meta a ser perseguida simplesmente para produzir mais na
mesma área. Ela deve representar sustentabilidade ambiental (menor impacto) e econômica (maior margem do agricultor). Aumento de produtividade significa menor demanda de área e menor uso de insumos por tonelada de soja produzida. Os vencedores do desafio conseguem aumentar suas margens em 20-25%, quando sua produtivi-
aumentariam o valor da produção de soja em R$ 22 bilhões. Ou então poderíamos ter diminuído a área cultivada em 7,2 Mha para obter a mesma produção, porém com uma redução de custo estimada em R$ 8,7 bilhões. Em meu entendimento, esta é a trilha que temos que seguir para os próximos anos. Ela já foi aber-
Se a média do Desafio Cesb fosse a brasileira, teríamos colhido 110 e não 81 Mt de soja. dade aumenta. E o Brasil também se beneficiaria do aumento da produtividade de soja. Tomemos como exemplo a safra 2012/13 comparando a média brasileira (2.938 kg/ha) com a dos participantes do Desafio Cesb (3.970 kg/ha). Se esta tivesse sido a média brasileira, teríamos colhido 110 ao invés de 81 Mt, que
ta pelos ótimos produtores de soja que participam do Desafio Cesb. Os produtores de grãos do Brasil precisam enveredar pelo mesmo caminho de incrementar de forma contínua e sustentável a sua produtividade, aumentando suas margens e contribuindo para o desenvolvimento nacional.
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agosto 2013 – Agro DBO | 21
Grãos
Milho a céu aberto A safra 2012/13 pode ter fechado um ciclo de seis anos de vacas gordas do agricultor brasileiro, pelo menos no estado de Mato Grosso. Marianna Peres
D
epois da euforia com as altas cotações e demanda aquecida no mercado mundial no ano-safra 2012/13, agora, no ápice do planejamento de mais uma temporada, o cenário é inverso em várias regiões do Brasil, principalmente em Mato Grosso, maior produtor de grãos do país: receita e despesas descasadas e toneladas de problemas nos silos, que seguem abarrotados de soja e com a supersafra de milho batendo às portas dos armazéns, à espera de espaço. No ciclo recém-encerrado, a safra de soja e a segunda safra de milho renderam acima de R$ 1 mil por hectare. Na próxima, as margens podem ser negativas. 22 | Agro DBO - agosto 2013
A receita pode cair 60%, segundo estimativas, pois a soja tem preços abaixo do travado no ano passado e custo de produção 16% superior. No caso do milho, ninguém arrisca prognósticos, porque o cenário é incerto e o plantio segue no breu. Para complicar o quadro, as previsões indicam mais uma supersafra de soja no ano que vem, de 86 milhões de toneladas no país e 25,27 milhões em Mato Grosso. Os matogrossenses admitem que tiveram seis anos de safras cheias, com rentabilidade moderada, boa e excelente. Daqui para frente, terão que reaprender a conviver com margens históricas de 10% a 15% ou, talvez, menos do que isso, considerando os sinais de
Leonildo Bares
Leonildo Bares diz que, neste ano, a conta só ficou positiva porque o preço bom da soja compensou o prejuízo com milho
desaquecimento da demanda mundial e da recuperação da produção dos Estados Unidos, depois de um ciclo impactado pela seca. Quando a safra 2012/13 se desenhava, o agricultor brasileiro só tinha uma preocupação: olhar para o tempo e fazer o que sabe fazer. Um ano depois, o que há é um cenário adverso e incerto, onde a euforia de outrora deu lugar à preocupação, pois além de preços futuros em média 26% menores, como se observava na metade de julho em Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá), ainda havia muita soja e toda a safra de milho a comercializar e transportar em várias regiões. Se, em 2012, Mato Grosso fechou julho com menos de 300 mil toneladas disponíveis de soja, neste ano, antes do fim do mês, restavam 1,6 milhão, além de 17 milhões de toneladas de milho, grande parte deles amontoado ao relento, por falta de espaço disponível nos armazéns. E foi colhendo milho que o produtor Leonildo Bares conversou com a Agro DBO, em meados de julho. Paranaense de nascimento, radicado em Sinop, no chamado “nortão mato-grossense”, desde 1979, Bares estava duplamente preocupado. Primeiro, com a precária logística para o milho na região – os produtores rurais do município cultivaram milho segunda safra em 72 mil hectares, aproximadamente. Em meados de julho, com 50% da área já colhida, pelo menos um milhão de toneladas jaziam amontoadas a céu aberto, segundo seus cálculos. Desde o início do mês, os depósitos da empresa Armazéns Gerais Vale do Verde, os maiores da região, recusavam-se a receber milho, sob a alegação de que estavam sem espaço. Além da logística, Bares se preocupava com os preparativos para a nova safra de verão – vai começar a plantar soja após o fim do vazio sanitário, em 15 de setembro. Mesmo diante de um horizonte de margens baixas no ano que vem, ele vai manter a área de 700 hectares para soja, na fazenda Tropeiro Velho. Na safra 2011/12, colheu 36 mil sacas. “Na euforia de preços de 2012, eu ampliei a área de 620 para 700 hectares, mas como eu havia planejado colher 39 mil sacas e colhi 31 mil, 8 mil se perderam e a renda ficou R$ 400 mil mais magra”. Em sua opinião, a conta só vai ficar positiva em 2013 porque o resultado da soja ajudou a contrabalancear o do milho. “Para o ano que vem, não vemos essa força da soja, que está com cotações menores. Vamos ter de torcer por uma boa produtividade, para compensar a falta de preço. Esse ano, se o milho empatar, vai estar bom, porque a saca tem um custo de produção de cerca de R$ 14 e o valor de mercado está em R$ 10”. Bares completa: “Quando vai tudo bem, a gente ganha um pouco. Quando vai ruim, a gente perde um pouco. E quando piora, a gente quebra”. Apesar dos problemas, ele se considera um privilegiado. Planta com capital próprio e por isso, pode agosto 2013 - Agro DBO | 23
Grãos “Quando vai tudo bem, a gente ganha um pouco. Quando vai ruim, a gente perde um pouco. E quando piora, a gente quebra”
manter a área plantada e driblar a perda de R$ 400 mil na safra de soja. A propriedade está praticamente dentro da cidade de Sinop e todos os armazéns estão situadose num raio de sete quilômetros. Quando quebra uma peça, uma máquina, rapidamente providencia reparo. Ele afirma que, na média geral, a safra de soja custou 25 sacas, mais 14 ou 15 de frete, o que dá um total de 40 sacas de custo de produção. Para quem arrenda, há o comprometimento de outras 10 sacas. “A conta final são 50 sacas de custos de produção. Como a média do estado foi 51 sacas, sobrou uma de lucro.
Fábio Bratz, no milharal: “Para mim, o ciclo 2012/13 foi de frustração, mesmo com preços bons”.
“O que vemos em Mato Grosso é que, a cada ano, os pequenos produtores estão saindo de cena, arrendando suas terras aos grandes. Os pequenos ficam sempre pagando mais caro e vendendo mais barato”. Para ele, a maior preocupação para a próxima safra não é tanto o clima e, sim, a infestação de lagartas do gênero Helicoverpa. Conforme diz, perdeu cerca de oito mil sacas por causa do clima adverso e, principalmente, ataques de lagartas. “Mato Grosso ganha mais um presente de grego. Não bastassem os problemas com clima, transporte e armazenagem, veio mais um, essa praga de difícil controle”. Em Nova Ubiratã, perto de Sinop, o produtor Fábio Bratz reflete a falta de ânimo com a nova safra. Imigrante gaúcho, radicado há 27 anos em Mato Grosso, ele travou no ano passado 30% da sua projeção de colheita, convertida em 30 mil sacas. Para este ano, não travou nem 20%, à espera de melhores preços. “O futuro, hoje (em meados de julho, quando falou à Agro DBO), está em torno de R$ 47 bruto, ante R$ 60, e no disponível a cotação chega a R$ 52”. Se o preço caiu, o custo aumentou e vai ficar ainda mais caro. Bratz fechou a safra com gastos operacionais acima do planejado – de 24,5 sacas para 26,5 – e sabe que esse teto está superado para novo ciclo, que já abocanha 28 sacas. “Eu tive perdas e despesas maiores. O que compensou o prejuízo foram os preços travados no ano passado”. A maior parte dos problemas que enfrentou na lavoura deve ser creditado, segundo ele, à instabilidade climática. Perdeu pouco, comparativamente,
A praga que come renda A Helicoverp armigera é um dos fantasmas da safra 2013/14 de grãos no centro-oeste do país. Para muitos produtores, é como a ferrugem asiática. Grosso modo, eles levaram três anos para entender o modus operandi do fungo Phakopsora sp, causador da doença, e aprender a atuar contra ele. O mesmo aconteceu com o cancro da haste e, segundo consenso, deve ser assim com a lagarta. A entomologista Lúcia Vivan, da Fundaçao MT – Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso Lúcia Vivan, concorda que ainda não será na nova safra que o manejo contra a la-
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garta será efetivo. “Não sabemos como essa lagarta vai emergir sobre a nova safra, já que ela está em plena atividade na entressafra, no milheto, no sorgo e no girassol, entre outras culturas. Temos de estar atentos para avaliar se a Helicoverpa virá grande na nova soja, com mais de um centímetro. Se vier, será um grande problema sobre a sojinha, em razão do apetite que tem”. Como lembra, a lagarta só foi identificada no final de março e não há muita convicção. “Além de atacar a estrutura reprodutiva o que gera prejuízo e difícil combate, sabemos que ela é polífaga, tem característica migratória e que quando há clima adverso
entra em pupa e não sabemos o que virá após isso”. Como explica Lúcia, várias linhas de pesquisa estão sendo avaliadas. “Ainda não há liberação do benzoato de emamectina, mas já sabemos que outras moléculas, como diamidas e fosfatados, têm surtido efeito, ao contrário dos piretróides”. A safra 2013/14 vai ter de ter o controle químico, mecânico e biológico com vespas do gênero Trichogramma spp para combater a Helicoverpa armigera. “Há estudo avaliando o lançamento por avião, mas ainda não há nada conclusivo. O que sabemos é que o mix de ações é hoje a melhor estratégia de controle”.
com pragas e doenças. “As chuvas derrubaram a produtividade, de 62 sacas para 55 sacas por hectare. “Pra mim, o ciclo 2012/13 já foi de frustração, mesmo com preços bons. Eu vinha colhendo bem e não consegui manter média acima de 60 sacas. Isso frustra, porque todo o investimento é aplicado pensando na produtividade que não veio”. Para driblar os custos e minimizar impactos de pragas e doenças, ele vai pela primeira vez plantar variedades 100% transgênicas. Bratz semeava cerca de 25% da área total com cultivares convencionais, mas optou pelas RR´s para evitar custos adicionais com controle”. Ele diz que a receita para 2013/14 é investir mais em tecnologia para colher bem e reduzir perdas. “Em função das lagartas, vamos ter muito mais trabalho com o manejo das plantas e esse trabalho começa na entressafra – período que, na verdade, não existe mais, a gente trabalha o ano todo – com a eliminação de plantas guaxas. Afinal, é o olho do dono que faz a vagem encher”, diz ele, referindo-se também ao milho segunda safra, cuja colheita segue até agosto em sua propriedade. Diferentemente do que aconteceu com a soja, ficou surpreso com a produtividade no milharal. “Está excelente”, disse. Ele, que vinha de uma segunda safra muito boa em 2012, superou o rendimento por hectares de 107 para 115 sacas. Outro produtor preocupado com a alta dos custos de produção para a safra 2013/14 de soja é Altemar Kroling, radicado há 35 anos em Diamantino (MT). “Temo muito o impacto da Helicoverpa e sei que todo adicional no custeio vai roubar renda”, justifica. Já comprou todos os insumos para o plantio, antecipando a escalada do dólar dos últimos meses. Com isso, e com a estratégia adotada pelo grupo familiar (são quatro irmãos no total) de cortar a correção do solo como forma de reduzir gastos, ele acredita que conseguirá manter
Altemar Kroling vai esperar a definição sobre a safra americana, antes de decidir sobre sua estratégia de negócios. Por enquanto, sua preocupação maior é com a Helicoverpa.
um custo de produção em 38 sacas, como neste ano. Otimista, ele aposta que, ao invés de 50 sacas de produtividade na safra 2012/13, chegará a 54, o que abrandará a pressão sobre o novo ciclo e permitirá uma ‘gordura’ para adicionais com agroquímicos, por exemplo. Ao contrário do que aconteceu com Bratz, Kroling obteve preços futuros para 2013/14 melhores que os deste ano, de R$ 42 para R$ 46, e, ainda assim, só travou 20% das 75 mil sacas que pretende colher em 1,4 mil hectares. “Foi uma estratégia pessoal. Ano passado, nesta época, já tínhamos 30% vendidos e o preço que pegamos era menor. Vou esperar preço”, disse. Vai aguardar os desdobramentos da safra norte-americana, na expectativa de alta no mercado internacional. Compras à vista Em Mato Grosso, o funding (financiamento) de produção da soja se divide entre multinacionais, com 18%; revendas, 27%; crédito oficial, 10%; e bancos federais, outros 10% – os restantes 35% saem do bolso do produtor. O superintendente do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Otávio Celidônio, destaca que o funding ilustra bem o poder de capitalização do sojicultor brasileiro nos últimos anos. “Em cinco safras, ou seja, de 2008/09 a 2012/13, a participação do produtor passou de 22% para 35%, um grande indicador do bom momento vivido. Se lá atrás ele desembolsava R$ 1,65 bilhão na safra, neste ano ele aplicou R$ 3,10 bilhão”. Conforme Celidônio, os produtores mato-grossenses estão, a cada safra, aproveitando os melhores momentos de comercialização e, por isso, travando preços cada vez mais cedo. Ele observa que, nesta época do ano, apesar de o ritmo de negociações estar muito abaixo do registrado em igual momento do ano passado – de 55% para 26,7% da produção prevista –, o atual percentual é o segunagosto 2013 - Agro DBO | 25
Grãos
do melhor em seis safras. Detalhe: esse percentual de 26,7%, segundo ele, foi travado por força maior, ou seja, não pela atração de preços e, sim, para ter produtos para plantar. Para o diretor executivo da Famato – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, Seneri Paludo, a próxima safra ainda não está no negativo. “Estamos no ponto de equilíbrio”, diz ele, chamando a atenção para alguns cenários que o preocupam. O primeiro é o custo. Segundo ele, o plantio por hectare está 16% mais caro. Em duas safras, o custo de produção aumentou mais que 33%. “Se há o mesmo nível de incremento de preço, tudo bem, mas os indicativos econômicos para o ano que vem mostram cotações menores do que as deste ano. Começamos a entrar em um cenário delicado, já conhecido. A crise da safra 2004/05 começou justamente pelo descasamento de preços dos custos frente às cotações”. Questionado, ele responde que fatores como a escalada do preço da mão-de-obra, do óleo diesel e dos insumos, além do frete, contribuíram para o aumento do custos lá atrás – e estão influindo agora. “Se tem um item no custo de produção que fere e fere muito quem produz e quem consome, é o frete. É impensável hoje em Mato Grosso o milho ter a saca cotada a R$ 10 e o preço do milho em São Paulo a R$ 25”. Essa diferença, segundo ele, é o custo da ineficiência do país. “É um dinheiro queimado, literalmente, no meio do caminho”, afirma, observando que, neste ano, pagando caro ou não, o produtor tinha colchão, mas, no ano que vem, não terá. Em ritmo lento A precaução em relação ao mercado não é exclusiva dos mato-grossenses. Levantamento realizado pela AgRural, com sede no Paraná, mostra como os preços atuais, menores que os do ano passado, vem ditando o ritmo lento da comercialização futura. O analista Fernando Muraro projeta para a próxima safra 86 milhões de toneladas no país, quantidade que, até junho deste ano, tinha apenas 12% negociados no mercado futuro, ante 43% em igual mês de 2012. No Paraná, eram 35% em junho passado e agora, 4%. No Rio Grande do Sul, 25% e 3%, e em Mato Grosso, 50% e 19%. Para Muraro, a próxima safra ainda dará margens para a soja e pode ser negativa para o milho, considerando o momento atual. O problema maior para a soja, em função da maior pressão dos estoques, ficaria para o ciclo 2014/15, quando as cotações despencariam, conforme sua avaliação. O horizonte deve ficar menos nebuloso neste mês de agosto, com a definição do tamanho da safra de grãos dos Estados Unidos. “Não sabemos o ta26 | Agro DBO - agosto 2013
Ascom/Famato
O aumento nos preços da mão-de-obra, do óleo diesel e dos insumos contribuíram para a escalada nos custos de produção.
Em duas safras, o custo de produção em Mato Grosso aumentou 33%, de acordo com levantamento da Famato.
manho dela agora (em meados de julho), mas sabemos que a tendência é de recuperação. A conjuntura mostra que a maior recuperação deve ser do milho, mas eles (os agricultores norte-americanos) voltarão a ser os maiores produtores de soja” - estimativas indicam 90 milhões de toneladas para a oleaginosa e 360 milhões para o milho naquele país. “Estamos aproveitando ainda o dramático desfecho de uma das maiores quebras da safra norte-americana no ano passado. Foram perdidas cerca de 100 milhões de toneladas de milho e cinco milhões de soja, perdas cuja dimensão jogaram os estoques mundiais para os menores patamares históricos. Essa quebra resultou em preços recordes US$ 18 por bushel para a soja e US$ 8,50 para o milho. E, agora, a média de 2013 tem sido US$ 14,75 para a soja US$ 5,50 para o milho. Se a safra 2013/14 começasse hoje, teríamos preços 10% menores em relação a 2012/13, ainda assim com rentabilidade positiva”. Segundo o economista Antônio da Luz, da Farsul – Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, os gaúchos esperam colher a maior safra de grãos de sua história, com destaque para a soja, cultura de maior expansão no estado. Da safra 2011/12, marcada pela seca, para a de 2012/13, a produção de soja pulou de 5,94 milhões de toneladas para 12,76 milhões, crescimento de 114,77%. Pessoalmente, teme a oscilação no câmbio. “O dólar mais alto ajuda na comercialização, mas ao mesmo tempo, infla os custos, por causa do aumento no preço dos insumos. A rentabilidade da próxima safra de verão vai depender do câmbio de abril de 2014 e não o de agora”, argumenta. Ele espera, porém, que o governo adote medidas que ajudem a trazer o câmbio para níveis mais baixos até abril do ano que vem, de forma que os produtores possam plantar com o real depreciado e colher com real valorizado.
Soja
Pecuarista campeão Criador de gado holandês da região de Castro (PR) ganha o Desafio Cesb, derrotando agricultores especializados de várias regiões do país.
APCBRH/Divulgação
José Maria Tomazela *
Hans Groenwold e parte de seu rebanho de gado da raça holandesa
U
m especialista em leite é o atual campeão brasileiro de produtividade de soja. O pecuarista Hans Jan Groenwold, de Castro, região dos Campos Gerais, no Paraná, criador da raça holandesa premiado em dezenas de torneios leiteiros, levou o prêmio máximo dado pelo Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil para incentivar produtores do grão em todo o país. Com a consultoria técnica de Lucas Simão Hubert, Hans colheu 110,55 sacas por hectare em área não irrigada na safra de verão 2012/13. É a melhor produtividade já obtida desde que o concurso foi lançado, em 2008, superando a excelente marca do ano passado, de 108,7 sacas por hectare. A média nacional na mesma safra foi de 50 sacas por
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hectare, acima da média norte-americana. A produção brasileira totalizou 81,4 milhões de toneladas. Associado à Castrolanda, uma das principais cooperativas agropecuárias do estado, Hans revela que a agricultura faz parte da rotina de uma fazenda especializada em leite, já que a maior parte da alimentação das vacas é produzida no campo. A dupla aptidão da propriedade é o fator que o diferencia do agricultor tradicional, focado apenas na produção de grãos. “Fazemos lavouras para alimentar o gado e usamos o esterco do rebanho para adubar as culturas. Meu pai ensinava que, para ser um bom pecuarista, tem de ser antes um bom agricultor”, afirmou. A fazenda Fini, propriedade de Hans Jan Groenwold em Castro, é
considerada referência em gado holandês. São cerca de 1.500 animais, dos quais perto de 600 vacas em lactação, todas registradas e com controle leiteiro. Com produção acima de 20 mil litros/dia, o pecuarista coleciona prêmios em exposições de gado, torneios de produção e de qualidade de leite. Com títulos obtidos em 2008, 2009 e 2010, ele foi considerado “criador supremo” da raça holandesa no país. Em 2007, tornou-se recordista nacional de torneio leiteiro ao vencer a Agroleite com uma vaca produzindo média de 93,6 litros/dia. No mesmo ano conquistou o primeiro e o segundo lugares no torneio Feileite, um dos mais importantes do setor, com animais de primeira cria. Em 2012, foi relacionado em 9º lugar entre os 100
Polo de excelência Hans veio para o Brasil em 1952, com apenas um ano de idade, quando o pai, Jan Herman Groenwold, deixou a província de Drenthe, no norte da Holanda, com toda a família para tentar a sorte em terras brasileiras. Além dos pais, viajaram os seis filhos – três homens e três mulheres – e dois avós. “Vieram conosco o pai do meu pai e a mãe de minha mãe, junto com outros compatriotas que se estabeleceram nesta região”, lembra o produtor. Foram eles os pioneiros fundadores da Cooperativa Castrolanda que transformaria aquela região do Paraná num polo de excelência em agricultura e pecuária. “Meu pai era agricultor na Holanda, mas sempre gostou de gado de leite. Começamos numa área de 60 hecta-
Fotos: Lucas Hubert
maiores produtores de leite do Brasil pelo Milk Point, com média diária de 19.295 litros. Hans acumula atualmente as presidências da Associação Paranaense e da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa. O que não se esperava é que o pecuarista fosse vencer um concurso de produtividade cultivando um grão que se tornou a especialidade de milhares de grandes produtores espalhados por uma vasta porção do território brasileiro. Perto dos chamados “reis da soja”, o criador de Castro pode ser considerado um pequeno agricultor com seus 140 hectares de cultivo anual do grão. O filho de holandeses lembra outra lição aprendida com o pai: a de tentar ser o melhor em tudo o que se dispuser a fazer. Assim, os mesmos conceitos que o tornaram um perito na pecuária leiteira foram levados para a agricultura. “Meu pai me ensinou que a resposta de uma vaca vem do trato que é dispensado a ela. Isso vale também para a terra. Se você der tudo o que ela precisa, ela responde com produtividade. É claro que, como a vaca depende do conforto do ambiente para encher o balde, a lavoura depende do clima para dar a melhor produção.”
res e fomos ampliando, mas sempre de acordo com nossa estrutura de alimentação e ordenha.” Ele reconhece que, na safra em que bateu o recorde de produtividade de soja, houve uma conjugação de fatores favoráveis. A semente de variedade precoce, de alto potencial, indicada para solos férteis, correspondeu à expectativa. As ocorrências fitossanitárias usuais foram corrigidas com a aplicação normal de defensivos e as chuvas vieram – e cessaram – na hora certa. “Com a lavoura já formada, estávamos preocupados, pois chovia de forma insistente. O tempo abriu e voltou a fazer sol próximo da hora de colher.”
Com 140 hectares, Hans pode ser considerado “pequeno agricultor”, comparativamente aos chamados “reis da soja” do CentroOeste do Brasil.
A produtividade obtida por Hans (110,55 sc/ha) foi a maior até hoje do Desafio Cesb
A prevalência de dias quentes, com temperaturas acima de 28 graus, também favoreceu o desenvolvimento das plantas. “O fator sorte deu sua contribuição. Se a gente faz tudo certo, mas entra um estio ou chove na hora errada, o resultado muda.” Bons ventos a favor ajudam, mas não bastam, diz o produtor, por isso ele divide o mérito com o suporte técnico dado por órgãos como a Fundação ABC de pesquisa e desenvolvimento agropecuário, de Castro. A instituição assiste aos associados da Castrolanda nas áreas de agricultura de precisão, agrometeorologia, sistema de identificação de doenças, nutrição do solo e das plantas, entre outras. Também proporciona cursos e treinamentos para os trabalhadores. A fazenda Fini tem trinta funcionários e conta ainda com o atendimento personalizado de técnicos e agrônomos. “Aqui fazemos tudo o que eles indicam. Sem esse suporte, a gente vai no achômetro e não funciona”, disse. Hans participou do desafio do Comitê Soja Brasil pela primeira vez. Ele conta que viu uma notícia a respeito numa revista e comentou com o genro, o engenheiro agrônomo Igor Van den Broek, que trabalha na fazenda. “Ele é recém-formado e se entusiasmou, então decidi entrar, mas não pensei que fosse ganhar.” O resultado põe abaixo um
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Soja Receita de Hans: “Meu pai me ensinou que a resposta de uma vaca vem do trato dispensado a ela. Isso vale também para a terra”. conceito existente no meio rural de que pecuarista não é bom agricultor. “O segredo está em agregar bem as duas coisas. O gado depende de uma boa silagem para se alimentar, e isso só se consegue com boas plantas. Já a lavoura vai muito bem quando você usa o esterco como adubação orgânica”, diz Hans. A área escolhida para a competição faz parte de uma gleba de 20 hectares que ficou três anos sem receber soja. “O solo estava com altos teores de fósforo, nitrogênio e cálcio, em razão do esterco bovino, e livre dos fungos de raiz pela ausência de plantio anterior da soja”, relata Van den Broek. O esterco, segundo ele, melhora a estrutura, diminui a compactação e estimula a aeração do solo, contribuindo também para conservar a umidade, além de ser rico em outros nutrientes. O sistema de rotação de lavoura e pastagem abrange os 420 hectares da fazenda. Toda a área é submetida periodicamente à análise de solo. Um diagrama indica a utilização adequada para cada gleba, com base no histórico de adubação, ocupação e produtividade dos últimos dez anos. Além da soja, o produtor planta milho, sorgo, feijão e trigo. Os índices altos de produtividade não são fruto do acaso. Nos 140
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A área escolhida para a competição ficou três anos sem receber soja. Apresentava altos teores de fósforo, nitrogênio e cálcio, por causa do esterco bovino.
hectares de soja cultivados este ano, a média foi de 75 sacas por hectare, contra 68 da safra anterior. A média da região é de 55 sacas por hectare. Na gleba de 20 hectares na qual foi selecionado o talhão vencedor, a média subiu para 85 sc/ha. Foi em razão da rotação de lavoura e pasto que nessa área não tinha sido plantada soja nas últimas três safras, lembra Hans. “Acredito que esse descanso também ajudou no resultado”, revela. A produção de milho segue os mesmos padrões de alta tecnologia. As sementes são as melhores disponíveis para conjugar a produção de grão com a massa verde que será utilizada na silagem. Na fazenda do produtor de Castro não se pode falar em pasto no sentido tradicional, formado com gramíneas como a braquiária. As terras são de cultura, já que o gado é alimentado com o material ensilado ou preparado a partir de lavouras de milho, trigo, aveia, azevém e outras forrageiras. No caso da silagem de milho, a planta é colhida quando atinge 30% de matéria seca, o que permite calcular a produtividade, sempre acima das médias regionais. As vacas, mantidas em sistema de confinamento, rendem três ordenhas diárias. Além do volumoso produzido na fazenda,
a alimentação inclui concentrado, sal mineral, farelo de soja, polpa cítrica e caroço de algodão. Apenas as vacas secas e novilhas mais novas vão para o pastejo. O rebanho se formou a partir das vacas trazidas da Holanda, mas atualmente prevalece a genética desenvolvida nos Estados Unidos e no Canadá. Os cuidados com a fertilidade do solo saltam aos olhos. A matéria orgânica, úmida e fofa, forma uma camada e se funde com a terra. É possível perfurar o solo com o dedo e não há sinal de erosão. O campo se estende por áreas planas ou levemente onduladas, com baixios que terminam em lagoas ou nascentes protegidas. A totalidade da área é de plantio direto, com o aproveitamento da palha da lavoura colhida madura. As áreas de massa verde cortada para ensilagem recebem fartas porções de esterco bovino. Não inventamos nada A adubação orgânica compõe parcela significativa da fertilização do solo na fazenda Fini. “Temos nos preocupado em dar cada vez mais a destinação correta para os dejetos do gado. Então trabalhamos o esterco para que seja transformado em adubo e aproveitado nas lavouras.” Ele planeja a instalação de um biodigestor para facilitar o processamento e a aplicação dessa matéria prima, através da fertirrigação. O gás produzido no processo será aproveitado na forma de energia na própria fazenda. No próximo ano, Hans Jan volta a participar do desafio 2013/14 do Cesb. A área que vai receber a semeadura da soja após o vazio sanitário da cultura, em outubro, ainda não foi escolhida. O agricultor discute com os técnicos se utiliza a mesma semente vencedora este ano ou testa outro material genético. O pecuarista agricultor sabe que será cobrado
se não conseguir manter a alta produtividade, mas não se intimida. “Vamos trabalhar para produzir ainda mais”, disse. O engenheiro agrônomo Lucas Simão Hubert, diretor do Grupo Simbiose, empresa de assessoria em agropecuária, afirma que o resultado obtido na fazenda Fini reflete o sistema de trabalho das cooperativas ABC (Capal, Batavo e Castrolanda), nos Campos Gerais do Paraná, onde a Fundação ABC faz pesquisa aplicada para os produtores, testa os melhores materiais genéticos, os melhores produtos e o sistema de manejo mais adequado.” Mais de 95% dos produtos e manejos realizados na área campeã já haviam sido testados pela Fundação ABC, segundo ele. Hubert presta assistência técnica a Hans Groenwold desde 2003 e já participou do Desafio Cesb com outro agricultor. “Em dupla com o Hans, foi nossa primeira participação e conseguimos o primeiro lugar, mas não experimentamos nada nem inventamos nada na área campeã”, disse Hubert. O cultivar de soja utilizado, BMX Ativa, foi semeado apenas no talhão em que estava o hectare campeão. É uma soja super precoce, de alta produtividade, mas que exige solos muito férteis. Nenhum outro produtor atendido por Hubert utilizou a semente nesta safra. A soja foi estabelecida em sistema de plantio direto sobre a cultura de azevém, utilizada para confecção de silagem pré-secada. “É preciso ressaltar que o sistema de produção é intensivo devido à pecuária leiteira e a extração das áreas é grande, mas compensamos com adubação também pesada, tanto orgânica, quando química, buscando retornar o que foi extraído do solo”, detalha. Antes do plantio, foram aplicados na área 40 m3 por hectare de dejeto líquido e 20 m3 por hectare de material sólido – sedimento da esterqueira dos bovinos de leite. No plantio, foram utilizados 250 kg/ha de adubo da fórmula 00-26-26, o que
dá 65 kg por hectare de P205 (fertilizante à base de fósforo) e 65 kg/ha de K20 (anidrido potássico). Na adubação de cobertura foram empregados 115 kg/ha de cloreto de potássio, o que dá mais 60 quilos de k20, totalizando 125 quilos desse insumo por hectare. A aplicação foi feita no dia 29 de novembro de 2012. A área campeã recebeu duas pulverizações a mais que as outras glebas de Hans, totalizando sete aplicações desde a emergência da soja. “Uma dessas aplicações foi feita com fertilizante foliar à base de manganês, justamente porque parte da área estava mostrando deficiência”, detalha. A outra aplicação a mais foi feita com fungicida específico para mofo-branco e um fertilizante foliar à base de cálcio e boro. “Foram utilizados três fertilizantes foliares, o já citado à base de manganês, outro à base de cálcio e cloro, o terceiro, completo.” O consultor prefere não comparar as terras de Hans com as de ou-
A adubação orgânica compõe parcela significativa da fertilização do solo na Fazenda Fini
Lucas Hubert admite a ajuda de Deus, “pois não faltou chuva”. Os bons resultados dependem, porém, de conhecimento, tecnologia de ponta e muito trabalho.
tros produtores da região e mesmo de regiões produtoras em outros Estados. Mesmo assim, dá o que considera a receita do sucesso: “Primeiro, ajuda de Deus, pois não faltou chuva. O plantio na melhor época e a colheita no momento certo, já que a soja não ficou no campo, são outros fatores importantes. Destaco ainda a fertilidade alta, em razão dos nutrientes e da matéria orgânica, devido ao uso dos dejetos orgânicos oriundos da pecuária de leite. Além disso, a rotação de culturas, cultivar de alto potencial, controle eficiente de ervas daninhas, doenças e pragas e, o que também é importante, a equipe da fazenda comprometida com os resultados.” Hubert, que trabalha há 13 anos com associados da Castrolanda e, através de sua empresa, atende também cooperados de outras entidades, destaca o papel das cooperativas que dão suporte e auxiliam o produtor em todo o processo. “Este sistema todo só existe graças ao perfil dos produtores destas cooperativas, que sempre estão na frente em busca de soluções para o agronegócio.” A título de curiosidade, se todos os produtores de soja seguissem a receita da dupla Groenwold-Hubert e obtivessem a mesma produtividade do hectare campeão, a produção brasileira de soja saltaria dos atuais 81,4 milhões de toneladas para 183,7 milhões de toneladas. agosto 2013 – Agro DBO | 31
Entrevista
Marcela Ayabe
A crise da cana é geopolítica, social e econômica.
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ode-se qualificar de complicada a situação da indústria sucroalcooleira. É uma autêntica sinuca de bico, como se diz no jargão popular, com possíveis reflexos econômicos nos futuros investimentos, conforme se pode depreender das palavras de Elizabeth Farina, a economista que preside a Unica – União das Indústrias de Cana-de-Açúcar desde o final de 2012, na entrevista exclusiva concedida para a Agro DBO, e que foi conduzida pelo editor executivo, Richard Jakubaszko. Desde que assumiu a presidência da Unica, praticamente quase nada mudou, afora o panorama político que parece ser mais amigável, com diálogos produtivos com o governo federal, na medida em que antes dela houve um período de pouco ou nenhum diálogo. Apesar de nunca ter convivido com notável intimidade junto à cana-de-açúcar, Elizabeth Farina possui em seu currículo o peso de ser professora universitária e também co-fundadora do Pensa, no início dos anos 1990, dentro da FEA/USP – Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, juntamente com Décio Zylbersztajn. O Pensa tem como finalidade promover estudos sobre o agribusiness brasileiro e fez contribuições relevantes ao setor. Como se poderá perceber na entrevista, Elizabeth Farina já acumulou, decorridos pouco mais de 8 meses no cargo, traquejo e experiência suficientes para dar respostas a quaisquer debates ou críticas que envolvam o setor.
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Agro DBO – A atual crise do setor sucroalcooleiro, que se arrasta desde 2010, é econômica, social ou política? Elizabeth Farina – Na verdade é um processo de uma crise que vai se estendendo no tempo e apresenta desdobramentos. A crise é de fundo econômico, mas gera um imenso problema social, e só poderá ser resolvida de forma política. O problema econômico, da baixa rentabilidade e da falta de investimentos, e nisso há uma convergência de opiniões dos vários agentes quanto ao diagnóstico, é decorrente da crise financeira internacional de 2008, ainda com reflexos profundos no setor, e que pegou os investimentos no contrapé. Então, tudo começa por aí. Mas a evolução da crise recebeu contribuições do Murphy (Nota da redação: dito popular de que “se algo pode dar errado, vai dar errado”). Tivemos de lá para cá três safras complicadas em termos climáticos, sendo uma delas com nenhuma chuva e outras duas com muita chuva no período de colheita, como foi o ano passado. Estes são fatos comuns da produção agrícola, mas que afetaram a agroindústria da cana na produção de açúcar e de etanol. Tudo isso alterou a logística, de plantio e de colheita, e provocou a não renovação dos canaviais, que é também consequência da crise financeira, e essa potencializou o gargalo dos investimentos no setor. Agro DBO – E o lado social? Elizabeth Farina – Sob o aspecto social a crise é evidente, pois a cana tem forte impacto sobre os inúmeros empregos que o setor gera onde
Temos uma matriz energética, é do pleno conhecimento de todos, mas ela terá de ser revista, porque não vai acontecer. ele opera, pois demanda altos volumes de mão de obra. Nesse meio tempo tivemos fortes mudanças tecnológicas (Colheita mecânica) muito importantes, que obrigaram as usinas a ter altos investimentos com requalificação da mão de obra. Agravando o problema, cerca de 40 usinas em todo o Brasil foram fechadas e 10 que estão desativadas, ou seja, não estão moendo, o que gerou mais desemprego. O lado bom dessa história é que outro dia estive numa usina e desejei conhecer alguns dados sobre agricultura de precisão. Falei com um tratorista, que me deu profundas explicações, e, no final da conversa, quando perguntei a formação dele, me disse que era cortador de cana até três anos atrás. Agro DBO – O grande gargalo, nesse momento, que inibe investimentos, está no baixo preço da gasolina? Elizabeth Farina – Diria que o baixo preço da gasolina é um fator focal, mas é mais importante ainda do que o preço a ausência de regras confiáveis de longo prazo. Quando a gente fala que é o preço da gasolina a gente está olhando o hoje, mas é mais do que isso, é ausência de política de preços de combustíveis no Brasil, no longo prazo. Há uma clareza, dentro dos analistas do setor, de que mesmo que os preços da gasolina no mercado internacional não tenham uma tendência de alta, ainda assim é uma regra que coloca num risco de mercado o foco do negócio, quer dizer, tira o risco institucional. Isso é muito importante. Agora, no momento atual, o baixo preço da gasolina no Brasil, que está abaixo do preço de importação do produto, de fato tem um efeito negativo, e até mesmo perverso, por um motivo muito simples: como a gente tem o
etanol hidratado, que é carburante, ele compete diretamente com a gasolina na bomba, e o grande ativo desse setor é o carro flex fuel, onde o consumidor é soberano nas suas escolhas. Agro DBO – Mas esse etanol hidratado, usado puro pelos carros flex, representa 25% do negócio cana, sendo que 25% seria o etanol não hidratado e 50% para açúcar. Elizabeth Farina – É verdade, mas este ano o açúcar está com preços em queda no mercado internacional, e há um estoque mundial enorme. Mas o açúcar foi o sustentáculo nos anos anteriores, ajudou as empresas, e agora não irá ajudar. Agro DBO – Quais são as frentes estratégicas de batalha da Unica para contornar / resolver a questão dos preços e da política de combustíveis para o longo prazo? Elizabeth Farina – Olha, até completando meu raciocínio anterior, é importante registrar que o setor produtivo tem aplicado uma política austera de redução de custos. É importante isso, não há outro caminho, mesmo que se adote uma nova política de longo prazo, que se defina uma matriz energética, e de preços para a gasolina, a redução de custos terá de ser feita. A gente tem essa matriz energética, está publicada, é do pleno conhecimento de todos, mas ela teria de ser revista, porque não vai acontecer, aqueles números estão defasados, e porque não tem consistência com o resto das ações governamentais. Agro DBO – O governo abandou a indústria sucroalcooleira? Elizabeth Farina – Não diria que abandonou... Mas não ajudou a alavancar. Deve-se entender que houve muito investimento. Todos
sabem disso. Não em todas as unidades, mas especialmente investimentos que reduzam custos. A produtividade agrícola está sendo retomada, vamos observar esses ganhos já neste ano, a renovação dos canaviais continua, e até a expansão das áreas novas de plantio foi retomada. O que não expande nesse momento é a capacidade industrial de moagem. Porque isso exigiria investimentos em novas unidades industriais e existem muitas nuvens no horizonte para que se façam investimentos de longo prazo, e que são altos investimentos de capital intensivo. Os investimentos que têm sido feitos são para valorizar os investimentos já feitos, de novas unidades, de infraestrutura, como estocagem, em cogeração de energia, em aumento de produtividade, e tudo isso envolve uma grande quantidade de recursos. Agro DBO – Que caminhos existem para o setor sucroalcooleiro reconquistar a lucratividade e, por consequência, os novos investimentos, em novas usinas, ampliação das áreas de plantio? Elizabeth Farina – A gente entende que a regra do preço dos combustíveis é uma regra de ouro que é aquela que guia o investimento em alguma coisa que é combustível. Essa regra é muito importante. Isso não significa que o setor ache que esta regra, se colocada em prática, soluciona todos os problemas, e que o preço do petróleo vai abrir o espaço para a energia renovável, com os custos de produção que o setor tem hoje, ainda que tenha sido feito um grande investimento para ganhos de eficiência. Sabemos que em todo o mundo a energia renovável se expande com base em políticas públicas que procuram valorizar agosto 2013 – Agro DBO | 35
um combustível que gera o que se chama de externalidades positivas para a sociedade, e que é algo intangível, e não está embutido no preço que se paga na bomba do posto de combustível. São efeitos externos, seja no meio ambiente, seja na área social, pela geração de empregos, pela qualidade do emprego, questões da saúde, decorrentes da melhoria ambiental, impacto sobre a indústria de bens de capital nacional. Tudo isso não aparece nos preços dos combustíveis renováveis, mas eles são valores importantes, inclusive econômicos, pelos quais a sociedade e o governo têm de lutar. De outro lado, a gente tem a gasolina, que tem externalidades negativas, porque emite CO2, porque polui, porque gera problemas de custos com saúde. Já existe consenso, entre os especialistas em políticas públicas, não só de combustíveis, mas de outros setores também, de que deve haver uma estrutura de taxação de impostos que reconheça e que incorpore essas externalidades, e isso pode corrigir em grande parte esses desvios, sinalizando positivamente para os investimentos de energia renovável. Se a gente taxa o combustível fóssil, que gera essa externalidade negativa, então é possível gerar uma competitividade maior para os combustíveis renováveis, que geram externalidades positivas, e reequilibra esses níveis de investimento, reduzindo o consumo do fóssil e aumentando no renovável. E esse é um caminho como regra de política pública positiva, que mostre as dinâmicas do mercado internacional, casada com um programa de tributação que reconheça externalidades negativas e positivas. Agro DBO – Traduzindo o seu economês para o popular: lá fora, especialmente na Europa, eles subsidiam os combustíveis renováveis e taxam os fósseis. Na questão dos impostos o proble36 | Agro DBO – agosto 2013
StudioRebizzi
Entrevista
ma é mais estadual (diferenças do ICMS que taxam o etanol, em que SP é 12%, e manteve 25% na gasolina. MG é 18%, e há uma variação, Brasil adentro, entre 12% e 25% de ICMS). O que se deseja para o etanol, o subsídio? Elizabeth Farina – Não precisa subsidiar. Agora, sem dúvida que há os impostos estaduais, mas há também os federais, como a CIDE – Contribuição por Intervenção no Domínio Econômico para a gasolina, que era de R$ 0,28 por litro e foi reduzindo até zerar, para não subir o preço final da gasolina. Ou seja, a gente já tinha essa política de diferenciação, essa regra, que estimulava o etanol, e hoje não tem mais, e fez o etanol perder competitividade por decreto, e, além disso, o preço da gasolina está congelado desde 2005. Ao mesmo tempo, o setor do etanol sofreu aumentos de custos, que não estão associados ao mercado de combustível fóssil, e que vem da agricultura, entre eles o custo do arrendamento da terra, da mão de obra por causa do pleno emprego, dos fertilizantes e agroquímicos, que não foram acompanhados por aumentos de
produtividade no mesmo ritmo. Daí que temos um custo unitário de produção que subiu e que provoca a perda de competitividade do etanol. Fora isso, há que se computar os gigantescos custos de legislações ambientais e trabalhistas, que incidem sobre o custo do etanol. Com a gasolina de preço congelado isso significa que o etanol não consegue repassar os custos de produção para o preço final, porque se tentar repassar o consumidor põe gasolina, e aí gera uma situação de prejuízo a cada litro de etanol vendido, o que vem se somar às dificuldades financeiras da crise de 2008, ao estresse dos endividamentos pelos altos investimentos feitos. Antes, o açúcar tinha alto preço no mercado internacional e segurava o rojão, mas agora não mais. De outro lado, sobre a questão tributária, a decisão da presidente Dilma em desonerar o etanol do PIS / Cofins no início deste ano foi altamente positiva, e a medida provisória deve ser votada no Congresso em setembro próximo, mas já está em vigor. Agro DBO – A conquista do status de produto commodity para o etanol nacional é uma das frentes da Unica, há muito tempo, mas conquistar essa posição significaria espaço para exportar, e isso representaria desabastecimento no mercado interno. Como a Unica vê isso? Não é um tiro no próprio pé? O Governo Federal critica o setor justamente por não abastecer integralmente o mercado interno, como já vimos em alguns anos, quando chegamos a importar etanol de milho dos EUA. Elizabeth Farina – Etanol ainda não é commodity, porque para ter esse status precisa de vários mercados fornecedores e outro tanto de consumidores, além de centenas de compromissos. Não vai acontecer um mercado commodi-
A decisão da presidente Dilma em desonerar o etanol do PIS/Cofins no início deste ano foi altamente positiva ty de etanol no curto prazo. Mas já temos livre trânsito alfandegário com os EUA via acordo bilateral de tarifa zero de importação, isso facilitou muito, mas essa situação pode ser brecada a qualquer momento. Na Europa o etanol da cana ainda tem altas taxas de impostos, alfandegárias ou não. De toda forma, exportamos quase nada para lá. Na África já existem algumas iniciativas de integração, a Embrapa inclusive, e tímidos investimentos de usinas brasileiras, mas a gente tem de convir que aqui no Brasil ainda existe muito espaço para preencher. O difícil nisso tudo é que a África dependeria totalmente do mercado europeu, que é muito fechado. Sobre possível desabastecimento interno, em função de exportações, é mais mito do que uma situação que deve ser pontuada. Por que isso? Primeiro, porque é importante a gente ter mercado para exportação. Em casos de uma safra mais abundante, teríamos a alternativa de um mercado de exportação. A ideia é abrir e construir aos poucos esse mercado internacional, porque isso não se faz de uma hora para outra, muito menos em situações de emergência unilateral do vendedor. E se a gente não fizer isso agora não vai acontecer nunca. A questão importante é o mercado interno, ele terá que ser abastecido. Acho que a desconfiança em relação ao abastecimento, foi do governo em relação ao setor produtivo, foi amenizada por um instrumento de conversa, que foi a mesa de conversa tripartite. Nessa mesa senta o distribuidor, que tem sempre contato com o consumidor, o produtor, que sabe o que está acontecendo com a safra, e o
governo, que é o regulador, e estamos sempre conversando sobre tudo. Foi isso que levou o governo a ter a confiança de aumentar novamente a mistura do etanol na gasolina, de 20% para 25%. Agro DBO – O etanol de 2ª geração ainda é futuro remoto para a solução dos atuais problemas? Elizabeth Farina – O etanol celulósico não veio ao tempo que se imaginava, nem aqui no Brasil e nem nos EUA ou na Europa. Mas já existem uns cinco projetos brasileiros e promessas de que vamos produzir em termos comerciais o etanol de 2ª geração a partir do ano que vem. O cronograma mais conhecido é o da GranBio, em Alagoas, mas há outros projetos como o da Coopersucar, da Raizen e o da Petrobras. Agro DBO – Como a Unica vê o futuro do etanol brasileiro? É um blue sky dream? Elizabeth Farina – Não vejo só um blue sky dream. Vejo um blue sky dream porém com um monte de nuvens e muitos cúmulus nimbus. Isto porque ainda temos muito a percorrer. Na verdade, a gente tem de ter uma luz lá no final do túnel que nos dê segurança de que se investirmos pesado a gente não vai se decepcionar quando o etanol chegar na bomba e não tiver competitividade, porque o preço da gasolina não muda há cinco anos. A gente, pra chegar lá, tem de aproveitar todas as oportunidades que existem, e todo o valor que está embutido no etanol, de energia renovável, limpa, socialmente enriquecedora, a gente tem de ultrapassar esse competidor fóssil, e nem sempre esse processo é justo. agosto 2013 – Agro DBO | 37
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Etanol: sinuca de bico.
O crescimento da demanda de etanol implica que, para atender o mercado consumidor, se amplie a produção na mesma proporção. Richard Jakubaszko
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Brasil inteiro se pergunta se vai haver etanol suficiente para abastecer o mercado atual de 20 milhões de carros flex. O consumo de etanol saltará dos atuais 27 bilhões de litros para algo entre 47 bilhões e 68 bilhões de litros já em 2020, segundo a Unica, a União das Indústrias de Cana de Açúcar. O Brasil também se pergunta se a gasolina permanecerá com o atual baixo preço. Uma resposta positiva para a segunda pergunta inviabiliza ainda mais a competitividade do etanol e leva a uma resposta negativa para a primeira questão. Como o aumento do preço da gasolina gera inflação em cascata, algo que aterroriza os governos em tempos de eleições à vista, estabelece-se uma sinuca de bico para a cana de açúcar e o etanol. Um problema tão complexo como esse do mercado do etanol começa a ser resolvido com o entendimento e enfrentamento dos mesmos. São problemas que reduziram drasticamente a competitividade do produto, conforme se debateu durante o Ethanol Summit 2013, organizado pela entidade representativa da área, a Unica, em junho último, na cidade de
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São Paulo. Busca-se nesse momento condições para um novo ciclo sustentado de crescimento do setor (Confira na entrevista com a presidente da Unica, à página 34). Entretanto, é fácil fazer as contas: sozinho, e sem os ajustes de uma política racional, o etanol de primeira geração não deve conseguir atender a demanda projetada pela Unica, considerando as atuais tecnologias utilizadas. Alternativas O crescimento da demanda de etanol implica que, para atender o mercado consumidor, se amplie a produção na mesma proporção. Pode-se fazer isso de diferentes maneiras. A mais óbvia é a implantação de novas usinas, e outra é a expansão das áreas de plantio. Um caminho possível seria ainda ampliar a produtividade de litros de etanol, na equivalência por hectare de cana plantada, ou seja, aumentar a produção de etanol por ha de cana plantado. Duas alternativas tecnológicas permitiriam alcançar essa meta: uma prevê o uso de variedades de cana mais produtivas do que as atuais, especialmente as transgênicas. Mas ainda não seria suficiente. A outra seria desenvolver tecnologia que aproveite integralmente a biomassa da planta para
Divulgação/Case
produzir etanol. Esta recebe o nome de etanol celulósico, também conhecido como etanol de 2ª geração. Cientistas não apenas do Brasil, mas de todo o mundo, já há alguns anos, trabalham no sentido de viabilizar essa tecnologia para a produção em escala do etanol derivado da celulose. Industrialmente, e em laboratórios, é viável a produção. O problema está na viabilidade econômica, pois é um processo muito caro. Atualmente, e desde sempre, só se consegue fabricar etanol a partir da sacarose, que corresponde a apenas um terço da biomassa de plantas como a cana de açúcar, e menos ainda no milho e em outras culturas. O etanol celulósico permitiria aproveitar os outros dois terços, aumentando a produtividade do etanol por ha, e, portanto, a produção, sem alterar o tamanho da área plantada. Hoje, um ha de cana produz 5 mil litros de etanol, considerando uma produtividade de 80 t de cana na mesma área, enquanto o celulósico permitiria obter cerca de 7 mil litros no mesmo ha, ou seja, entre 35% e 40% a mais. Para produzir o etanol celulósico existem dois processos: a hidrólise da biomassa, o chamado bagaço da cana, que transforma os polissacarídeos em açúcares, e depois a fermentação destes, que resulta em etanol.
A fermentação é uma técnica conhecida e de pleno uso. Mas a hidrólise traz gargalos que dificultam sua reprodução em escala industrial. O primeiro gargalo está na necessidade de novos investimentos nas plantas existentes, o que é difícil diante da situação financeira atual das usinas, endividadas e com dificuldades de toda ordem. O segundo gargalo estaria nas limitações do processo, em críticas repetidas por especialistas, de que as enzimas usadas na hidrólise seriam de baixa produtividade, além de muito dispendiosas. Mas isso mudou, segundo Ricardo Blandy, head da Novozymes para a América Latina, uma das empresas responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia das enzimas. A Novozymes é uma empresa de origem dinamarquesa, e se declara líder mundial na produção de enzimas. Blandy informa que “o gargalo da questão não estava só no preço da enzima, mas na sua eficiência. Nós conseguimos aumentar a eficiência da enzima de forma significativa, e vamos entrar agora na quarta geração de enzimas do nosso principal coquetel enzimático. Aumentamos em duas e meia vezes a eficiência, comparando com a primeira geração. O exemplo disso é que se fornecíamos 10 caminhões de enzimas de 1ª geração, hoje fornecemos apenas 2,5 agosto 2013 - Agro DBO | 39
Divulgação GranBIo
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caminhões, ou ¼ do que antes”. Blandy acrescenta que “um kg da 3ª geração de enzimas custa US$ 4.00 e se produz 1.000 litros de etanol com 100 kg de enzimas. Antigamente se precisava de 200 kg de enzimas para essa mesma produção de etanol”. Novas usinas Na Petrobras a decisão de instalar uma usina para produzir etanol celulósico já está tomada. Conforme Norberto Noschang, geólogo, gerente de tecnologia da Petrobras Combustíveis, “a empresa finaliza estudos para a implantação da futura planta industrial para produção de etanol celulósico, com hidrólise por enzimas”. O cálculo de aumento de produtividade que a Petrobrás faz é de 35% a até 40% a mais de etanol celulósico do que o convencional. Segundo Noschang, a usina da Petrobras deve funcionar a partir de 2015, mas ele não declara a capacidade de produção prevista ou as áreas de plantio, se próprias ou de terceiros, nem onde se localizará a planta, pois ainda não se decidiu sobre isso. A capacidade de pro-
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Ricardo Blandy, à esquerda e Bernardo Gradin à direita.
dução será definida em breve, “estamos escolhendo o tamanho, pode ser 100% maior do que estamos projetando”, diz Noschang. Neste momento em fase de escolhas e definições, a Petrobrás já sabe que 100% do etanol será produzido através de enzimas. Como referência, Noschang diz que “todos os investidores no mundo que estão formatando usinas de etanol de 2ª geração é por enzimas”. Adicionalmente Noschang comenta que “poderemos, inclusive, usar qualquer tipo de biomassa, como restos de madeira, serragem, palha de trigo ou arroz, sorgo sacarino etc.”, diz Noschang. A futura usina da Petrobras Biocombustíveis planeja utilizar apenas a cana como matéria prima, mas na entressafra poderá aproveitar outras fontes. Já Marcos Jank, engenheiro agrônomo, diretor da Plataforma Agro, consultor de empresas, e na qualidade de ex-presidente da Unica, afirma que “o etanol celulósico ainda está longe de ser economicamente viável, mas é absolutamente essencial. Todas as experiências que estão aí ainda não ganharam a escala econômica que permita competir com o etanol de sacarose”. Sobre os projetos já anunciados, de novas usinas para etanol celulósico, Jank solta um desafio esperançoso “vamos ver, né? Entre o anúncio de instalar e a realidade tem uma distância muito grande.” Esta distância, até recentemente, seria uns 5 anos, e hoje continua ainda grande, talvez um tempo menor, mas ainda é grande. “Agora, parece que o maior problema não está na enzima, está no pré-tratamento para a matéria prima (o bagaço, que deve virar polpa), que dá muita variação”, esclarece Jank. “A verdade é que produzir combustível barato não é um negócio trivial, ainda mais no etanol, porque ele tem um poder energético 30% inferior ao da gasolina”, diz Jank.
“O etanol celulósico é a melhor alternativa para as usinas que não têm mais espaço para aumentar a área de plantio”.
Norberto Norschang, à esquerda e Marcos Jank à direita.
Divulgação Petrobras
Os processos Blandy, de outro lado, afirma que “o etanol celulósico é a melhor alternativa para as usinas que não têm mais espaço para aumentar a área de plantio, pois ele aumenta a agregação de valor por ha de cana plantado. O que é importante destacar é que o custo de produção do etanol de 2ª geração já é inferior ao etanol de 1ª geração”, mas admite que o volume de investimento inicial ainda é alto. Blandy destaca ainda que “a usina nova é conectada à usina antiga. A usina de celulósico só vai funcionar se for conectada a uma usina convencional, onde elas dividem vapor, energia e outros tipos de sinergia. O que acrescenta no processo industrial é o pré-tratamento, que é um estágio novo, e ainda os tanques para a hidrólise, e que são duas etapas diferentes, a fermentação e destilação. Apesar de a fermentação ser um processo do pleno conhecimento das usinas, a fermentação dos carbonos que saem dessa biomassa precisa de uma levedura especial. Essas leveduras são produzidas também pela Novozymes, porém, como são OGMs, precisam ter autorização de uso pela CTNBio, o que só deve acontecer em 2014”. Já Noschang diz que “o processo enzimático não afetará em nada a área de plantio. E a Petrobrás não deverá usar o bagaço de cana, que é usado para produzir vapor, mas a palha. O resíduo sólido do processo enzimático libera lignina, que tem poder calorífero maior, ideal para gerar bioenergia elétrica”. Noschang diz ainda que “a produção de etanol celulósico é uma realidade palpável hoje, temos usinas sendo construídas na Europa (onde vão usar palha de trigo), na América do Norte e no Brasil. Na Europa eles
têm disponibilidade muito menor de matéria prima do que nós. Nos EUA, eles têm o resíduo do milho, e, no Canadá, os resíduos da indústria madeireira, que é muito forte”. O que fica claro é que vamos poder produzir mais etanol para o mercado, sem necessidade do aumento da área de plantio. Noschang acredita que “a tendência é de que no futuro breve as enzimas poderão ser produzidas na própria usina. Mas espera-se que, à medida que a produção do etanol celulósico alcance economia de escala, o custo da enzima deve cair”. Para a Novozymes, o Brasil é a principal aposta mundial para a produção do etanol celulósico. Segundo Blandy, o Brasil tem todos os elementos para que nos próximos 3 anos isso seja uma realidade coroada de pleno êxito. Ele diz que será no Brasil que o etanol de 2ª geração acontecerá primeiro. A área de negócios de conversão de biomassa da Novozymes acredita que o setor sucroalcooleiro no Brasil irá passar à condição de sua principal fonte de receitas dentro desse prazo. Para chegar ao etanol celulósico a Novozymes cultiva fungos e bactérias para a produção de enzimas. Enzimas são proteínas, de origem biológica. Essas enzimas, colocadas em ação sobre a polpa feita à base de resíduos orgânicos, especialmente o bagaço de cana, ou mesmo a palha, quebra as moléculas da matéria orgânica, transformando-a em açúcares. Depois, os açúcares são fermentados, como se faz hoje, para a produção do etanol celulósico. Para transformar o bagaço ou a palha de cana em polpa há um pré-tratamento, onde se pode atuar com produtos químicos e ácidos, ou por vapor, para abrir as fibras do bagaço. Isso pode ser feito com qualquer matéria orgânica, seja palha de arroz ou de trigo, capim, serragem, restos de madeiras etc. Uma vez abertas as fibras chega-se à polpa, e se processa a hidrólise por agosto 2013 - Agro DBO | 41
Michel Rios
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enzimas, que quebra a lignina, que é uma cola entre os açúcares, e faz com que esses fiquem soltos para serem fermentados por leveduras especiais. Segundo Blandy o mercado de etanol celulósico no Brasil terá três ondas. A primeira está acontecendo agora, com grandes empresas anunciando projetos do etanol celulósico, como a Raízen, Petrobrás, Coopersucar, GranBio etc. No final de 2014, quando estes líderes estiverem operando, virá a segunda onda, com empresas de médio porte embarcando na tecnologia. A terceira onda, que Blandi diz ser a mais interessante, é que empresas de outros setores vão embarcar como concorrentes nessa área de investimentos de transformação de biomassa em etanol. No futuro, segundo a visão da Novozymes, quem tiver controle sobre a biomassa será “o rei do jogo”, porque a biomassa hoje em dia é lixo, o bagaço, a palha, e todos os resíduos orgânicos, pois terão um valor agregado muito alto. O mercado de etanol
A GranBio vai processar a palhada como matéria prima para o etanol celulósico
celulósico, como tecnologia, deve se consolidar num prazo de 3 a 5 anos, mas teremos espaço para todos no mercado, seja etanol de 1ª e de 2ª geração, pois precisamos parar de importar gasolina. Quem produzir etanol de 1ª geração terá de reduzir custos, ser ainda mais eficiente, e usar o resíduo da biomassa como geradora de bioenergia. Há usinas, hoje, que possuem contratos de longo prazo de fornecimento de biomassa para geração de energia, e não vai valer a pena para elas passar para o estágio do etanol de 2 geração. Uma das diferenças é que hoje, com a colheita mecânica da cana crua, sobra muita palha no campo. Essa palha, usada para proteção do solo contra erosão, e para plantio direto, é o dobro do que o solo precisa, e poderá ser usada para a produção de bioenergia. São 7 a 8 t de palha por ha, e se projetarmos que temos mais 8 milhões de ha de plantio de cana no Brasil dá para se ter a dimensão desse potencial. A palha está disponível e a
Direções opostas Evolução da venda de combustíveis nos postos, em milhares de litros.
O etanol brasileiro é uma experiência vista como modelar no mundo inteiro. Mas o produto perdeu participação na matriz energética brasileira desde 2010. O consumidor faz cálculos para saber com qual produto vai abastecer seu carro.
Fonte: ANP / Sindicom
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A tecnologia pode demorar até dez anos para mostrar viabilidade econômica, uma vez que os custos ainda são limitantes. usina não a está usando. Blandy afirma que “se o Brasil usar todo o bagaço disponível para produzir bioenergia, e toda a palha para produzir etanol, terá a capacidade de dobrar a produção de etanol e ainda continuar a produzir bioenergia”. A GranBio está construindo uma planta de etanol celulósico no Estado de Alagoas. Com previsão de operar já no primeiro trimestre de 2014, a usina da GranBio terá capacidade para produzir 82 milhões de litros por ano, conforme seu presidente, Bernardo Gradin. A GranBio é uma das “joias da coroa” do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para viabilizar a produção de etanol de 2ª geração. Gradin acredita que o etanol celulósico conquista a viabilidade econômica dentro de três a cinco anos. “A tecnologia já é mais real do que se imagina”, afirmou o empresário em um seminário, em São Paulo. O entusiasmo de Gradin não é compartilhado também por Pedro Mizutani, vice-presidente da Raízen (joint venture entre Cosan e Shell), grupo líder na produção de açúcar e etanol no país. Mizutani acredita que
a tecnologia deve demorar até dez anos para mostrar viabilidade econômica, uma vez que os custos ainda são limitantes, em especial os de enzimas. Sinuca de bico Cada litro de etanol vendido dá prejuízo e aumenta o tamanho da encrenca. No curto prazo, o setor pode reduzir custos e aumentar produtividade. Não há outra solução, afora decisões políticas. Essas são necessárias para resolver a perversa sinuca de bico em que se encontra o setor sucroalcooleiro. As medidas postuladas são reduzir alíquotas de impostos federais e estaduais, para permitir competitividade ao etanol; maior incentivo em pesquisas, para conquistar eficiência energética nos motores dos carros flex; incentivar o etanol celulósico; dar eficiência à logística e armazenagem; estabelecer uma agenda estável e de longo prazo para a cadeia produtiva. O etanol celulósico, isoladamente, poderá melhorar a competitividade, mas o seu tempo de maturação como investimento, e as dúvidas técnicas sobre a eficiência dos processos industriais, ainda permanecem.
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Marketing da terra
Natureza exibida Os fotografados são conhecidíssimos representantes de um poderoso exército com inegável potencial destrutivo das lavouras Richard Jakubaszko 1° Lugar: Ninfas de percevejos. Por Marina Harumi Sukessada Fujivara
2° Lugar: Vaquinha (Diabrotica speciosa). Por José Ferreira dos Santos
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uase tudo é marketing hoje em dia. Fazemos marketing em nosso cotidiano, com a família, com os amigos e os parceiros comerciais. Um concurso de fotografias promovido pela Pioneer Sementes mostra o marketing da empresa com seus clientes, e revela inesperados e surpreendentes talentos por gente do agro. Confira nestas páginas as dez fotos selecionadas no Concurso de Fotografia da Pioneer e os seus respecti-
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vos autores. A redação da Agro DBO parabeniza os ganhadores e também os integrantes da equipe Pioneer, pela realização desse marketing de relacionamento com os seus clientes e amigos, todos eles observadores, integrados com a natureza. O2º Concurso de Fotografias da Pioneer Sementes, cujo resultado foi conhecido em julho último, recebeu inscrição de centenas de fotos mostrando como a natureza “se exibe” em suas intimidades. Alguns observadores mais aten-
tos, como esses “fotógrafos” premiados, convivem com essas belezas no dia a dia, eis que nenhum deles é “retratista” profissional, são todos agricultores ou técnicos da área, mas sensíveis à percepção dessas manifestações quase invisíveis, que ocorrem à sorrelfa, de forma silenciosa, quase sorrateira. E esse perceber a natureza é parte do marketing do agricultor. Prêmios O tema proposto ao concurso pela DuPont Pioneer foi “Doenças e Pragas nas Culturas do Milho e Soja”. Os primeiros lugares receberão prêmios como câmeras fotográficas e tablets, e os demais ganharão prêmios especiais. A grande maioria dos exemplares da natural beleza retratada é de valentes e conhecidíssimos representantes de um poderoso e diversificado exército com inegável potencial destrutivo das lavouras, fator limitante da produção e produtividade de alimentos. Na ausência de seus inimigos naturais, quando chegam às lavouras, encontram segurança, comida farta, sombra e água fresca, e tornam-se um desequilíbrio ambiental que deve ser combatido. Reproduzem-se de forma incontrolável, como se o mundo lhes pertencesse. Esse é o marketing segmentado da natureza, de evolução constante, na projeção e proteção da espécie, na tentativa da sobrevivência a qualquer custo, para não cair em estágios de pré-extinção. Ao mesmo tempo, a entomologia nos ensina que existe uma imensa e inacreditável diversificação de insetos, lepidópteros, micro-organismos, todos com criativos nomes latinos e de escrita difícil. Mas que convivem harmoniosamente dentro das lavouras, alguns benéficos, outros patogênicos, e com os quais temos de compartilhar parte do alimento ainda não recolhido do campo. Pelo fato de a humanidade também possuir essa inconveniente e perturbadora progressão geométrica de multiplicação demográfica,
3° Lugar: Lagarta da maçã (Heliothis virescens). Por Gilson Calistro da Silva
4° Lugar: Ninfa de percevejo. Por Victor Massaru Yamada
5° Lugar: Tesourinha. Por Sidney Hideo Fujivara
6° Lugar: Lagarta da espiga (Helicoverpa zea). Por Lucas Bochnia
7° Lugar: Percevejo manchador (Dysdercus spp). Por Adriano Castro Cruvinel
Marketing da terra 8° Lugar: Lagarta falsa medideira (Pseudoplusia spp). Por André Shimohiro
9° Lugar: Nematoide de cisto. Por Fernando Cardoso Pereira
10° Lugar: Mariposa (Helicoverpa zea). Por Elvison Alves da Cruz
11° Lugar: Lagarta do cartucho. Por Mac Donald Campos de Almeida
12° Lugar: Ferrugem polyssora do milho. Por Michel Aparecido Ribeiro Taques
Os invasores encontram ambiente amigável e reproduzem-se de forma incontrolável eis que já passamos dos 7 bilhões de bocas no planeta, e porque mais de 1 bilhão ainda passa fome, necessitamos, cada vez mais, produzir quantidades maiores de alimentos, competindo com os insetos e doenças das lavouras. Tudo isso, evidentemente, sem jamais descuidar do direito de controlar o crescimento populacional desses diminutos e interessantes invasores, através de tecnologias cada vez mais sofisticadas, mais específicas, e também mais caras. E esse é o marketing das empresas de insumos. A natureza, como sempre foi através dos tempos, com sua incrível diversificação, nas características e no visual, nos ensina que a humanidade ainda tem muito a apreender com o que se convencionou denominar de “meio ambiente”. A natureza nos manda recados de que “não estamos sós”, e nem nunca poderemos estar sós, como parecem almejar alguns urbanos, seres estranhos e exóticos que, em sua maioria, parecem detestar qualquer manifestação mais intensa da natureza, a começar por chuvas. Nós, membros da humanidade, ainda não entendemos o natural, mas estamos percebendo, aos poucos, em um processo de aprendizado penoso e complicado, que não sobreviveremos sem que o meio ambiente esteja em equilíbrio. Já para a natureza tanto faz, ela tem sua própria escala de princípios e valores, e, com a humanidade presente e dominante, ou sem ela, a vida e seus ciclos seguem em frente. É assim a natureza, incompreendida, mas bela e exibida.
Artigo
Tecnologia de nutrição Os aminoácidos são considerados aditivos pelo Mapa e têm uso aprovado como fertilizantes, como estabilizantes da formulação. Franco Borsari *
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á diversas citações de que as plantas podem absorver aminoácidos tanto pelas raízes, como pelas folhas. Portanto, podem ser aplicados, via solo, via semente e via folha. As plantas sintetizam os aminoácidos, requerendo uma quantidade considerável de energia. Quando se fornece aminoácidos livres para uma planta, ela os absorve diretamente e faz uso imediato deles. Isto é muito importante porque nas fases de floração, frutificação, maturação, associadas aos estresses (seca, calor, frio), a planta economiza energia na síntese dos aminoácidos para potencializar os efeitos fisiológicos do estágio em que se encontra. Os aminoácidos são considerados aditivos pelo Ministério da Agricultura e têm uso aprovado como fertilizantes, em geral como estabilizantes da formulação.
A utilização de aminoácidos em manga resultou em alongamento das panículas, e maior tendência de número de frutos fixados em relação ao controle não aplicado. Alguns aminoácidos podem agir como protetores das plantas da ação de sais minerais e outros agroquímicos e incrementar a absorção e o efeito desses produtos. O triptofânio, em pequenas quantidades, é precursor do hormônio de crescimento das plantas, a auxina ácido-indol-acético. A metionina é precursora do hormônio etileno, responsável pela maturação dos frutos. A tirosina e fenilanina são os precursores dos fenólicos, ou seja, o ácido cinâmico, o ácido cumário e flavonas, responsáveis na defesa das plantas e na dormência das sementes; são precursores, também, da síntese
O uso de aminoácidos para tratar sementes é associado à melhoria da germinação
* O autor é engenheiro agrônomo e diretor da BBAgro Consultoria.
Existem muitas evidências científicas para reforçar o uso desta importante tecnologia na nutrição das plantas. Na cultura de cana-de-açúcar a eficiência dos aminoácidos, quando aplicados somente nos toletes, traz um resultado positivo na produtividade quando comparados com o controle. Com a aplicação de aminoácidos em uva, promoveu-se coloração mais intensa e redução do teor de ácidos, resultando em uvas mais adocicadas e com relação de sólidos solúveis e acidez mais equilibrada.
da lignina na planta, conferindo resistência da planta ao acamamento. O glutâmico tem função importante no metabolismo do nitrogênio, dando origem às amidas glutamina e asparagina. A glicina é precursora da síntese da clorofila e quelante de metais. As principais funções dos aminoácidos são: síntese proteica; compostos intermediários dos hormônios vegetais endógenos; efeito quelatizante formulações de nutrientes; maior resistência ao ataque de doenças e pragas; Tudo isto leva os aminoácidos a
enquadrarem-se no grupo de produtos “antiestress”, ou seja, compostos capazes de agir em processos morfofisiológicos do vegetal como precursores de hormônios endógenos, ou como ativadores de enzimas e da disponibilização de compostos capazes de promover a tolerância a estresses. O uso de aminoácidos no tratamento de sementes está associado à melhoria da germinação (maior velocidade de emergência), da produção de plantas com raízes mais fortes, maior crescimento do sistema radicular, de plantas mais vigorosas e firmes, enchimento mais uniforme de grãos e uma produtividade elevada. Vale ressaltar que a aplicação de aminoácidos em culturas não tem o objetivo de suprir a necessidade das plantas para a síntese proteica, mas agir como ativadores do metabolismo fisiológico. O uso dos aminoácidos em pulverizações foliares está se tornando cada vez mais frequente em função dos benefícios para as plantas, proporcionando aumento de produtividade e melhoria na qualidade de grãos e frutos, nos mais diversos cultivos hortícolas, bem como em café, citros, algodão, frutíferas, feijão, soja e milho. Apesar dos resultados apresentados na literatura científica ainda não sejam tão consistentes, talvez em função do pequeno número de trabalhos publicados. Mas talvez este seja mais um exemplo onde a prática antecipa-se à ciência, deixando para os pesquisadores o grande desafio de explicar o que vem acontecendo. agosto 2013 – Agro DBO | 47
Trigo
De olho no futuro Pesquisadores vem testando materiais diversos para controlar a giberela e a brusone, as duas principais doenças fúngicas da triticultura brasileira. Glauco Menegheti
O
plantio de trigo já terminou no Rio Grande do Sul, as lavouras estão em plano desenvolvimento, mas a pesquisa está de olho no futuro, nas próximas safras. Afinal, a temporada de inverno vai chegar ao seu final em outubro, sem ver solução para os seus principais problemas: as doenças fúngicas que atacam a espiga. A giberela, ou fusariose da espiga, causada pelo fungo Gibberela zeae, e a brusone (Pyricularia oryzae), estão longe de ter seus efeitos amenizados por cultivares resistentes, ainda não disponíveis. No caso da giberela, que pode causar prejuízo de até 40% nas lavouras, anos de invernos muito chuvosos são fatais para o cereal na região sul do país. A brusone, doença tipicamente nacional que migrou do arroz para o trigo em 1985, encontrou condições perfeitas para atacar lavouras irrigadas no Centro-Oeste. Ambas, segundo o melhorista da OR Sementes, Erlei Reis, são as pio-
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res pragas da cultura na atualidade, porque não são específicas, atacando todas as variedades. “No caso da giberela, que é um problema mundial, é difícil de criar variedades resistentes porque as anteras ficam expostas”, explica o pesquisador. Na atualidade existem apenas duas fontes mundiais de resistência à giberela. Uma delas, conhecida como Sumai 3 ou Shangai, da China, produz pouco e a qualidade do grão é ruim, segundo Reis. A outra, denominada ND 210, da Universidade de Dakota do Norte, nos Estados Unidos, além de resistente, tem boas características de produção e industrialização. É, portanto, a única que poderá reverter prejuízos que se acumulam a cada safra chuvosa no Sul do país. No Rio Grande do Sul e Paraná, a previsão vai ser de chuva no período de floração, em em que a giberela é mais perigosa. Da semeadura à floração, são mais ou menos 70 dias e, se chover nesse percurso, a quebra é iminen-
te. No entanto, se o esporo cair na antera e não chover, não há doença. Os períodos de semeadura são diferentes nas diversas regiões de produção, o que faz com que o fungo permaneça por mais tempo nos campos. Neste ano, o primeiro foco foi descoberto no norte do Paraná. Na primeira quinzena de junho, choveu quase 400 milímetros na região, o suficiente para o G. zeae aniquilar as lavouras – a giberela, segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, José Maurício Fernandez, não costumava afetar o norte paranaense até alguns anos atrás. “Foi um desastre. Quando a doença invade o trigo, ela coloniza o grão, deixando micotoxinas”, explica. Tais substâncias causam doenças crônicas na planta, afetando a qualidade do grão. Se algum lote estiver contaminado, a empresa que o recebe deve queimá-lo imediatamente. O Rio Grande do Sul, pelo excesso de umidade no inverno, nunca foi o paraíso para a triticultura, que
Corrida contra o tempo A Embrapa está trabalhando com pesquisadores ingleses e americanos para desenvolver variedades mais resistentes. A unidade Trigo, sediada em Passo Fundo, também deu um passo para acelerar a detecção da doença, ao adquirir um equipamento com tecnologia de ponta. Com ele, segundo o pesquisador Fernandez, a expectativa é que seja possível verificar a doença em segundos depois do equipamento calibrado. Hoje, os kits utilizados por cooperativas, tradings e cerealistas demoram cerca de 30 minutos para diagnosticar a contaminação. A OR sementes também é outra que recorre à importação de genótipos, na expectativa de abreviar tempo na pesquisa contra a giberela. De acordo com o melhorista da empresa, Rodrigo Oliboni, alguns materiais chegaram dos Estados Unidos neste ano e já estão sendo cruzados. Outros materiais aguardam pela liberação de quarentena na Cenargem, em Brasília. Por hora, existem estratégias que podem mitigar o problema das perdas infligidas pelas doenças fúngicas. Conforme o agrônomo Dirceu Gassen, o escalonamento da semeadura e a escolha de variedades de ciclos diferentes reduzem os riscos de perdas. “A giberela se estabelece na floração do trigo. Se, nessa fase, ocorre chuva e dias nublados, as chances de a doença se instalar são
Fotos: Dirceu Gassen
é uma cultura que produz melhor em região seca. Mas as perdas se agravaram nos últimos 20 anos pelo aumento das chuvas no inverno e na primavera, que a Embrapa Trigo vem acompanhando há pelo menos 30 anos. Especialmente após os anos 1990, foram observadas perdas severas na produtividade. A pesquisa brasileira não está inerte diante desses acontecimentos. Tanto empresas públicas quanto privadas procuram uma solução para combater os fungos, que comprometem a qualidade e produtividade do trigo nacional.
bem grandes. Daí a importância de se adotar essa estratégia de diferentes datas de plantio.” Também é possível fazer o controle químico, mas é necessário ser muito preciso. Segundo Reis, o preço da aplicação, que inclui produto, diesel e mais amassamento, é de R$ 100,00 a R$ 110,00 por hectare. Em primeiro lugar, o produtor precisa saber avaliar se o custo da perda é menor do que o da aplicação. Em segundo, é preciso aplicar quando a previsão meteorológica apontar chuva para as próximas 24 a 72 horas. Por último, a aplicação do produto deve ser feita com uma ponta capaz de produzir um jato em 30° a 40°. Isso cobrirá toda a espiga e deve proteger a lavoura por 20 dias. O pesquisador Erlei Reis diz que, na prática, há pouca eficiência na prevenção porque a informação do manejo correto não chega ao triticultor. Os dois fungicidas registrados pelo Ministério da Agricultura são o Pro-
tioconazol e o Metconazol. Outra preocupação da pesquisa diz respeito à qualidade. Na avaliação de Oliboni, muito em função da Instrução Normativa 38, o mercado (leia-se: a indústria) está cobrando mais qualidade dos grãos e, por tabela, do trabalho que se faz dentro da porteira da propriedade. Atualmente, diz-se que, no Rio Grande do Sul, a maioria das variedades corresponde ao trigo-pão, mas pouco se sabe na prática. Mas de nada adianta exigir qualidade se a indústria, cooperativas e cerealistas não segregam. De nada adianta ter um excelente controle no campo se, na recepção, o trigo das classes “pão” e “melhorador” são misturados ao “doméstico” ou contaminados com micotoxinas. Pode-se dizer que nenhuma empresa no Rio Grande do Sul segrega os grãos. “Quem compra o trigo não tem condição de segregar”, afirma Reis, da OR Sementes. No Rio Grande do
A giberela coloniza o grão, deixando micotoxinas.
Por enquanto é possível apenas mitigar as perdas causadas pelos fungos na lavoura
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Trigo Sul, um trabalho da Embrapa pretende ao menos conhecer o que está se colhendo. Nesta safra, a unidade Trigo fará a avaliação da qualidade da safra 2013 do cereal. Segundo o pesquisador Eduardo Caierão, serão analisadas 384 amostras, abrangendo seis mesorregiões do estado, 26 microrregiões e 172 municípios. As amostras devem ser coletadas pela Emater, levando em consideração os aspectos de armazenamento e seguindo procedimentos normatizados. Segundo o pesquisador, durante o levantamento também será considerada a questão climatológica da safra 2013 e, ainda, averiguados,
Embrapa Trigo está colhendo amostras para avaliar a qualidade da safra 2013
O fator primavera Em seu último levantamento de safra, divulgado na primeira quinzena de julho, a Conab projetava produção de 5,6 milhões de toneladas de trigo neste ano no Brasil, 29,9% a mais do que no ano passado, quando foram colhidas 4,379 milhões de toneladas em todo o país. O Paraná deve colher 2,68 milhões de toneladas e o Rio Grande do Sul, 2,455 milhões, com rendimento médio de 2930 e 2.430 kg/ha, respectivamente. Embora a semeadura estivesse praticamente encerrada no Rio Grande do Sul no final de julho, ninguém apostava em números expressivos, visto que, no estado, é na primavera que o clima reserva surpresas desagradáveis, como
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aconteceu em setembro passado, quando geou forte, causando sérios prejuízos. Este ano, porém, a tradição pode ser quebrada. No dia 20 do mês passado, uma massa polar cobriu o Sul e parte do Sudeste e do Centro-Oeste, provocando geadas fortes em várias regiões do país. A meteorologia alertava, inclusive, para a possibilidade de geadas negras - fenômero raro no Brasil, capaz de matar as plantas por congelamento. Foram registradas temperaturas negativas em muitos municípios do Sul, mas, até 25/7, nada de geada negra. As “normais” não comprometeram o desenvolvimento das plantas no Rio Grande do Sul, que ainda encontravam-se no estágio vegetativo, segundo o assistente técnico da Emater gaúcha, Ataídes Jacobsen. “A produtividade só é afetada na fase reprodutiva”, explicava Jacobsen, projetando produtividade de 2.400 quilos nesta safra, contra o 1.941 quilo da temporada passada. No Paraná, porém, metade das lavouras estava em estágio de floração ou frutificação, fases em que o trigo é mais suscetível ao frio intenso.
paralelamente, os tipos de cultivares plantados em cada uma das regiões. A ideia é que o projeto seja divido em três etapas: análise da qualidade, incidência de micotoxinas e resíduos de pesticidas. Conforme Caierão, os resultados serão apresentados em dois relatórios. O primeiro, dividido pela classificação comercial (classe, tipo e análises complementares). Já no segundo relatório constaria a avaliação dos contaminantes do trigo (micotoxinas e resíduos). O orçamento para a execução do projeto é de aproximadamente R$ 1,5 milhão. Em função do alto custo, por sugestão do presidente da Câmara Setorial Estadual do Trigo, Áureo Mesquita, e validação dos representantes do setor, ficou acordado que apenas a primeira etapa – a qual diz respeito à análise da qualidade da safra e tem custo de R$ 376.320,00 – será operacionalizada o mais breve possível. Segundo Mesquita, neste ano é possível que já se tenha um diagnóstico da safra gaúcha. Desse modo, as outras duas etapas do projeto devem ficar para um segundo momento. Trigo dois em um Outra luta dos triticultores gaúchos é a de incluir o trigo de duplo propósito no zoneamento agrícola. A prática, que inclui a produção de grãos, engorda de gado e produção de leite durante o inverno, está disseminada em 10% da área de trigo no Rio Grande do Sul, ocupando 100 mil de 1 milhão de hectares. Neste ano, a Embrapa fez o pedido para a inclusão da cultura no zoneamento, condição para a liberação do crédito oficial, na Câmara Setorial da cultura coordenada pelo Ministério da Agricultura. Na próxima, o setor se articula também para apresentar ideias ao crédito. Há entendimento, segundo o secretário adjunto da Secretaria da Agricultura, Cláudio Fioreze, que a atividade precisa ter um crédito turbinado, em função de acumular até três atividades em uma mesma
propriedade e terra. O custeio, portanto, seria direcionado tanto para a produção de grãos quanto para a de carne e de leite. A demanda será feita pelo setor na próxima reunião da Câmara Setorial, que ocorrerá na Expointer, no final deste mês de agosto, em Esteio. Por hora, o triticultor que aposta também na integração lavoura-pecuária com trigo, o faz por conta própria. Mas, pelo menos nas contas da Embrapa, tem compensado, com a produção de 38 sacas de grão, ganho de peso de 150 a 350 quilos por hectare e 2 mil litros por/ha. O que propicia a unificação das atividades é uma variedade, a BRS Tarumã, que produz mais massa verde e se recupera do pastoreio para produzir grãos. “Esse trigo enraíza muito bem e tolera muito o pastejo”, garante o pesquisador Renato Fontaneli. Até a colheita, a cultivar produz dois ciclos de pastejo: o primeiro na primeira quinzena de junho e o segundo na segunda quinzena de julho. Para que o sistema seja eficiente, é preciso utilizar piqueteamento, sendo que o gado entra com 20 a 30 centímetros e sai com cindo a sete, caso contrário pode afetar a criação da espiga. “Após cada ciclo de pastejo se coloca nitrogênio para ajudar a rebrotar”, explica Fontaneli. Embora o resto do país produza
Ivonei Librelotto
Produtores gaúchos tentam incluir o trigo de duplo propósito no zoneamento agrícola, condição para liberação oficial de crédito.
pouco mais de 10% do trigo que o Paraná e Rio Grande do Sul colhem, há interesse em melhorar as condições e a tecnologia disponibilizada para os produtores que estão no Centro-Oeste. Conforme a pesquisadora Edna Moresco, este ano foi criado o Núcleo Avançado de Trigo Tropical, sediado em Uberaba, no Triângulo Mineiro, para acelerar o desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições edafoclimáticas do Cerrado. A vantagem, diz ela, é que as linhagens pesquisadas serão colocadas no campo, encarando as condições de clima, relevo e solo que as cultivares comerciais enfrentam. Outro trunfo desse núcleo é a possibilidade de testar um número muito superior de linhagens, comparando com as estufas localizadas na Embra-
Trigo “duplo” também serve à engorda de gado e produção de leite
Trigo mineiro é colhido na entressafra, em relação à produção gaúcha e argentina
pa Trigo, em Passo Fundo (RS). “Vai acelerar o processo de lançamento de cultivares. Com o aumento na quantidade de cruzamentos e plantas selecionadas, amplia-se a probabilidade de encontrar a planta ideal. Em casa de vegetação é possível imitar as condições de clima, mas não de doenças”, explica Edna. A única variedade disponível para as condições do Cerrado Mineiro é a BR 18, criada ainda nos anos 1980, além de dois materiais da Epamig. A média de sequeiro do estado é de 2.700 kg e 4.000 sob irrigação. “Existe demanda pela produção de trigo nas áreas tropicais”, assegura a pesquisadora. Em Minas, a produção de trigo gira em torno de 100 mil toneladas por ano, enquanto o consumo estadual está estimado em 900 mil toneladas ao ano. A cultura apresenta viabilidade técnica, econômica e competitividade para se expandir no estado. O trigo é cultura de inverno no estado, plantado antes das culturas de verão (milho e soja). Então, ele é uma excelente alternativa para a rotação, porque é plantado no intervalo. Outro ponto que favorece a produção mineira é que o estado é privilegiado em termos de comercialização, pois o trigo é colhido na entressafra brasileira e argentina, encontrando um mercado comprador com preços mais competitivos. A proximidade aos principais centros consumidores também é um facilitador, tornando a logística mais barata para a cadeia produtiva. O Alto Paranaíba, o Triângulo e o Noroeste mineiros são as principais regiões produtoras do estado, com uma produtividade em torno de 4 mil quilos por hectare, enquanto a produtividade nacional está em torno de 2,7 mil quilos por hectare. O Sul e o Norte de Minas também têm condições de desenvolver a cultura irrigada com bons resultados. agosto 2013 – Agro DBO | 51
Tecnologia
Plantando na areia Agricultura de precisão eleva produtividade em terras arenosas na região do Chapadão, na divisa de Mato Grosso do Sul com Goiás. Ariosto Mesquita
C
om 805 dos seus 1.275 hectares de lavoura classificados como solo misto, com baixo teor de argila, a fazenda Veralice, em Cassilândia (MS), era a ovelha negra da Agropecuária Andrade. O grupo cultiva grãos em mais quatro propriedades: duas no município vizinho de Chapadão do Sul e duas em Chapadão do Céu, no estado de Goiás. Na safra 2010/11, a produtividade de soja nestas terras arenosas (com o máximo de 17% de argila) ficou em 39,8 sacas/ha, enquanto nas quatro outras unidades do grupo, de solos mais argilosos (acima de 30%), terreno plano e altitude média de 830 metros – características do chapadão na divisa entre os dois estados –, este índice ficava em
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58 sacas/ha. A saída foi a adoção de um pacote tecnológico de agricultura de precisão para elevar o perfil do solo e tentar reverter a situação, para chegar ao padrão das demais fazendas do grupo. Dois anos depois, o desempenho na Veralice é outro. A produtividade de soja na safra 2012/13 subiu 46,2%, atingindo 58,1 sacas/ha nos 324,2 hectares de solo misto cultivados com a oleaginosa. O milho verão também obteve ganhos. Nos 420 hectares de terras mais arenosas plantadas nesta última safra, a produtividade chegou a 165 sacas/ha contra 145 sacas/ha no ciclo 2010/11, um incremento de 14%. A fazenda Veralice é um dos exemplos bem sucedidos da ofensiva do programa Agricultura
com Precisão, que técnicos da Fundação Chapadão - Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão implantaram na última safra em 28 mil hectares de lavoura em propriedades privadas de seis municípios do Mato Grosso do Sul (Chapadão do Sul, Cassilândia, Paraíso das Águas, Água Clara, Costa Rica e Camapuã), um de Goiás (Chapadão do Céu) e outro do Pará (Santana do Araguaia, na divisa com Mato Grosso e Tocantins). De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação, Marcelo Arf, o trabalho nestas propriedades elevou a produtividade média de soja em mais sete a oito sacas/ha e a de milho, entre 10 e 12 sacas/ha. “Para a safra 2013/14, a previsão é
no inverno. Manteve-se o plantio dos grãos no verão, mas foi incluído o cultivo de milheto e nabo forrageiro no inverno. O primeiro, de boa persistência em solos de baixa fertilidade e déficit hídrico e com grande capacidade de deixar palhada para o plantio direto. O segundo, também gerador de biomassa, tem a capacidade de elevar o teor de matéria orgânica na área de lavoura, aumentar os níveis de macro e micronutrientes além de promover a aeração da terra. Safrinha profunda Para esta mudança gradual do perfil do solo da propriedade, uma das apostas de Krug é o que ele chama de “safrinha profunda”, sobretudo graças ao nabo forrageiro. “Neste período temos de deixar o solo adequado para que a raiz alcance uma profundidade máxima no solo ganhando capacidade de buscar água em períodos de estiagem, além de garantir uma eficiente cobertura orgânica”, salienta. Para o plantio de soja e milho, a escolha de variedades levou em conta aquelas de melhor histórico de comportamento em áreas semelhantes. Os técnicos da Fundação Chapadão ficaram responsáveis pelo incremento tecnológico, cuidando de toda a recomendação de adubação e acompanhamento da safra.
André Krug alterou o perfil do solo da região ao introduzir milheto e nabo forrageiro no inverno
A produtividade média na soja em solo misto foi de 58,1sc/ha, e em solo argiloso, 69,4 sc/ha
A mudança de perfil do solo é gradual, mas já apresentou resultados consideráveis na última safra. Na soja, a produtividade média em 324,2 hectares de solos considerados mistos foi de 58,1 sacas/ha. Nos solos argilosos (556,8 hectares) a leguminosa rendeu 69,4 sacas/ha, deixando a média da produtividade da fazenda Veralice em 66 sacas/ha. A média da região, de acordo com a Fundação Chapadão, é de 55 sacas/ha. Em 420 hectares de área mista, o milho rendeu uma média de 167 sacas/ha. Outra parte da área de lavoura (74 hectares) recebeu plantio experimental de arroz (fora do pacote tecnológico), que acabou não vingando. André Krug contabilizou um custo de produção da soja em
Fotos: Ariosto Mesquita
trabalharmos em mais de 30 mil hectares, sendo 10 mil hectares apenas no Pará”, conta. A Veralice foi adquirida pela Agropecuária Andrade em 2010. Na época, o grupo – do patriarca Celso Reino de Andrade e dos filhos Heberton José de Andrade e Celso Reino de Andrade Filho – se deparou com terras diferentes das demais. Além de um solo de perfil mais arenoso, havia áreas novas de cultivo e intempéries climáticas como veranicos intensos com temperaturas mais elevadas. “10 dias de veranico na Veralice é equivalente a 20 dias nas demais fazendas”, conta André Krug, contratado em 2011 para gerenciar a fazenda com a missão de elevar a produtividade de grãos. Depois de visitar áreas de solo misto trabalhadas para alcançar alta produtividade em Luiz Eduardo Magalhães (BA), e informado do trabalho da Fundação Chapadão nas propriedades da região, Krug começou a amadurecer a ideia de intensificar o processo de produção. “Por que não fazer o mesmo”, pensava. Logo acabou firmando parceria com a equipe da Agricultura com Precisão, que na última safra trabalhou em 757 hectares de solos mistos na fazenda. De imediato, Krug alterou o sistema de cultivo. Até a safra 2010/11, plantava-se milho e soja verão e deixava a área em pousio
Tecnologia “Muitos agricultores brasileiros poderiam obter saltos significativos de produtividades caso investissem seriamente em tecnologia”
Nabo forrageiro, cultura importante na “safrinha profunda” implantada por André Krug
Lavoura de milheto da fazenda Veralice: opção de plantio após a safra de verão.
Fotos: Ariosto Mesquita
32 sacas/ha na última safra. Com a saca comercializada pela fazenda Veralice em uma média de R$ 49,00, o hectare cultivado com a oleaginosa custou R$ 1.568,00. Com a produtividade média da propriedade em 66 sacas/ha, o saldo foi de 34 sacas/ha, representando um faturamento líquido de R$ 1.666,00/ha. Dos pouco mais de 58 mil sacas colhidas, o saldo líquido da fazenda foi de quase 30 mil sacas de soja. “Infelizmente estes dados mais detalhados só temos da safra 2012/2013; quando cheguei, em setembro de 2011, o ciclo já estava em andamento e não se fazia este mapeamento”, explica Krug. O trabalho de perfil de solo deve ser mantido nas próximas safras, uma vez que o objetivo é incluir outra cultura na fazenda. “Quando o solo estiver bem equi-
librado, vamos entrar com algodão verão, deixando a terra em pousio no inverno. Em seguida entraremos novamente com soja e milho verão. A ideia em um futuro breve é sempre rotacionar soja, milho e algodão”, explica Krug. A Agropecuária Andrade conta com uma unidade industrial algodoeira na Fazenda Alvorada em Chapadão do Céu. Na opinião do gerente da Veralice, muitos agricultores brasileiros poderiam obter saltos de produtividade semelhante caso investissem seriamente em tecnologia. “A nova geração de produtores não herda só o patrimônio, mas também mais dificuldades no controle de pragas e doenças e no equilíbrio do solo. Para superar isso é preciso abrir a porteira para a tecnologia e buscar parcerias e troca de informações com outros agricultores”, orienta.
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Padrão de produção O trabalho da Fundação Chapadão junto às propriedades é minucioso no que se refere à fertilidade do solo. Para isso, os agrônomos utilizam recursos de agricultura de precisão desde a coleta de solo e georreferenciamento até o acompanhamento técnico semanal da lavoura. Os procedimentos permitem a elaboração de dois mapas (de fertilidade e de adubação), a recomendação de cultivares de soja e milho e orientações quanto à aplicação de fungicidas, herbicidas e inseticidas de resultados mais eficientes. O investimento dos produtores neste pacote é hoje de R$ 36,00/ha. O retorno esperado e projetado envolve o aumento da produtividade, menor gasto com fertilizantes, homogeneização da área de lavoura e maior reserva de nutrientes no solo. Marcelo Arf explica que o trabalho feito na Fazenda Veralice é considerado padrão para a obtenção de
resultados significativos. O primeiro passo, segundo ele, é a geração dos mapas de fertilidade. “Para isso usamos os talhões de tamanhos variados e dividimos cada um em parcelas de cinco hectares cada, onde coletamos as amostras de solo que são encaminhadas para um laboratório em Chapadão do Sul; a análise nos dá a dimensão de cada nutriente em cada ponto específico da fazenda”, conta. Terminada esta etapa é possível a geração de um mapa de aplicação de fertilizantes em taxas variáveis. “O objetivo deste trabalho é corrigir manchas no solo, uma vez que ele não é homogêneo, suprindo assim as necessidades da planta e criando uma poupança nutricional no solo”, explica. Sabendo onde e o quanto aplicar, é possível evitar desperdícios de fertilizantes. “Na safra 2012/13, a economia na fazenda Veralice foi da ordem de 20% em relação ao período 2011/12”, revela Arf. Neste mapeamento, a Fundação Chapadão utiliza o software SSTolbox, sistema de informações geográficas específico para aplicações em trabalhos de agricultura de precisão. Evita-se, com isso, a aplicação de fertilizantes em quantidade semelhante em toda a área de lavoura. “Ao se fazer esta aplicação de forma aleatória e em igual volume, alguns pontos da fazenda não recebem carga suficiente enquanto em outros há excedente”, ressalta. Esta ofensiva tecnológica é concentrada geralmente entre os meses de julho a março, envolvendo o período de preparo de solo, semeadura, crescimento vegetativo, aplicações e colheita. De acordo com Arf, este trabalho é recomendado para ser feito a cada safra: “Logicamente as cargas vão se alterando, mas sempre é necessário ter uma visão geral das necessidades de cada setor da propriedade”.
Política Helicoverpa armigera: Justiça nega recurso do estado da Bahia
O
uso do Benzoato de Emamectina no controle da lagarta Helicoverpa armigera continua proibido. A Juíza Ligia Maria Ramos Cunha Lima negou pedido de Agravo de Instrumento interposto pelo governo da Bahia contra decisão anterior que vedava a utilização de defensivo à base dessa substância, que havia sido importada com autorização do Ministério da Agricultura. A magistrada do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia manteve a decisão de 1ª Instância, justificando “como condição imprescindível para a comercialização e uso de agrotóxicos o prévio registro destes junto ao Ministério da Agricultura (MAPA), bem como o cadastro perante a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB).
Sucede que o benzoato de emamectina não possui registro no órgão federal competente, o que de per si impediria a utilização do mesmo”. A sentença diz ainda que “há Parecer Técnico emitido pela ANVISA de forma desfavorável ao uso de agrotóxicos que possuam como ingrediente ativo o benzoato de emamectina”, o que serviu para “indeferir o registro do produto no país”. Segundo a Juíza, a leitura do parecer “não deixa dúvidas quanto aos nefastos efeitos do benzoato de emamectina quanto às consequências danosas para a saúde humana e para o meio ambiente, residindo ainda inúmeros de seus efeitos no campo das incertezas”. O Estado da Bahia havia argumentado que se tratava de “emer-
gência fitossanitária”, e que a “autorização para importação e uso pelos Estados foi determinada pelo Ministério da Agricultura (MAPA), por questão de absoluta urgência e necessidade para atacar uma praga rara, agressiva, inédita no Brasil, surgida concomitantemente em 10 estados, com comprovado potencial de devastação da produção de soja, algodão, milho, sorgo, feijão, como também já se fala em ataques nas culturas de tomate, pimentão, café, citros e outros plantas, que vem assustando os produtores agrícolas do país, por sua resistência e rapidez na proliferação e devastação nas produções”. Publicado no Agrolink em 19-7-2013 por Leonardo Gottems
Índios em pé de guerra
O
Brasil tem 12,7% do território com áreas indígenas para uma população de aproximadamente 817 mil índios. Os 5,2 milhões estabelecimentos rurais do país ocupam 38,8% do Brasil. Segundo o deputado federal Valdir Colatto (PMDM/SC) os índios representam 0,43% da população e a Funai pretende a criação de mais 611 reservas, aumentando ainda
mais a área pertencente aos índios, chegando a 25% das terras brasileiras. São 423 áreas indígenas regularizadas no país, 38 reservas indígenas, 30 áreas delimitadas, 48 áreas declaradas, 15 áreas homologadas e 123 áreas em estudo. Em Santa Catarina, afirma, são 26 áreas que estão em processo de estudo e ocupação. Em SC, dados do Censo 2010, do IBGE,
apontam que habitam 16 mil indígenas. Se considerar a ampliação pretendida, o Estado chegaria a ter 1,8 milhão de hectares de área indígena, ou seja, 20% de SC. “Parte destas novas demarcações está sendo feita em áreas urbanas e de produção rural, que implica no desalojamento de milhares de pessoas”, destaca Colatto. agosto 2013 - Agro DBO | 55
Política E vem aí a Intacta
A
Monsanto anuncou em comunicado para a imprensa o lançamento comercial da nova tecnologia para soja, a INTACTA RR2 PRO, que combina três soluções em um único produto: resultados de produtividade sem precedentes; tolerância ao herbicida glifosato proporcionada pela tecnologia Roundup Ready (RR); controle contra as principais lagartas que atacam a cultura da soja – lagarta da soja, lagarta falsa medideira, broca das axilas, também conhecida como broca dos ponteiros e lagarta das maçãs – e supressão às lagartas do tipo elasmo e do gênero Helicoverpa.
Para ter acesso a todos esses benefícios, o produtor que optar por usar a tecnologia INTACTA RR2 PRO terá um custo inicial de R$ 115 por hectare, que será pago juntamente com a semente. “Ouvimos dos nossos clientes que essa é a melhor maneira de o produtor remunerar a tecnologia. Ao pagar junto com a semente, ele fica sabendo na hora o custo total do seu ha plantado e, dessa forma, pode tomar a decisão de usar ou não a tecnologia, comparando seu custo com as outras opções no mercado” – diz Márcio Santos, diretor de Estratégia e Gerenciamento de Produto da Monsanto.
Fim da pendenga
A
Famato, a Monsanto e os sindicatos rurais de Mato Grosso comunicam que chegaram a um acordo que contempla: 1. A simplificação do sistema de remuneração pelo uso de tecnologia; 2. A concessão de um bônus ao produtor que aderir à quitação recíproca em relação à tecnologia para soja Roundup Ready (RR1); 3. O desenvolvimento de melhorias no modelo de negócio de biotecnologia em soja; 4. A assinatura da Declaração de Princípios que reconhece os direitos de propriedade intelectual sobre as tecnologias agrícolas; 5. O encerramento da ação judicial sobre a tecnologia para soja Roundup Ready (RR1). Essas ações fazem parte de um esforço consciente das lideranças agrícolas e da Monsanto para trabalhar em conjunto, objetivando trazer inovação e uma direção ainda mais positiva para a agricultura brasileira. 56 | Agro DBO – agosto 2013
Café e psicologia
O
programa Bancada Rural, do Canal Rural, recebeu no domingo, dia 21 de julho, o ministro da Agricultura Antônio Andrade. Perguntado sobre a luta dos cafeicultores para recuperar o preço do grão, o ministro foi enfático ao dizer que o problema é mais “psicológico do que real”. Mesmo assim, ele afirma que o Ministério usará de todos os me-
Após conversar com diversas lideranças rurais brasileiras, a Monsanto decidiu oferecer, nas próximas quatro safras, um bônus de R$18,50 por ha – a ser usado para a compra de sementes da soja INTACTA no ano seguinte – para aquele produtor que assinar o Termo de Licenciamento e Quitação Geral que contempla diversos aspectos da gestão responsável da tecnologia, como a prática de refúgio, além de dar quitação recíproca em relação ao uso da tecnologia RR1. Dessa forma, considerando o valor desse bônus, o custo da INTACTA será de R$ 96,50 por ha.
canismos possíveis para garantir ao produtor um bom preço. – “Essa questão da baixa do café é muito mais psicológica. Nós tivemos um período longo com preço do café muito baixo. Tivemos nos últimos anos um preço razoável. De repente, o preço do café caiu e hoje os estoques internacionais estão diminuindo. Hoje temos uma produção menor que o consumo, que está aumentando em uma média de 2% ao ano. Enquanto isso, a produção está estagnada. Na hora em que conseguirmos adquirir três milhões de sacas de café e injetarmos dinheiro para fazer a comercialização e a colheita do café, acho que conseguiremos um bom preço do café” – afirmou o ministro. Cafeicultores mineiros, que souberam da opinião do ministro sobre o preço “psicológico” do café, dizem que seria perda de tempo ele tentar a reeleição como deputado federal em 2014. Ao mesmo tempo, a senadora Kátia Abreu soltou seus cachorros durante entrevista para a imprensa: “esse ministro tem sérios problemas psicológicos”.
Impostos para baixo?
O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que o governo estuda a redução de impostos federais cobrados sobre a importação de alguns insumos básicos, como aço, produtos químicos, fertilizantes etc. Ele destacou, porém, que “não haverá nenhuma decisão imediata. A diminuição do imposto depende de quando e de qual patamar o dólar
venha a se estabilizar”, afirmou. Conforme o ministro, a redução do imposto teria como objetivo aliviar o aumento dos preços dos insumos importados, em função da valorização atual da moeda americana. Mantega lembrou que o imposto foi elevado em setembro de 2012, com validade de um ano, para proteger a produção nacional contra os impor-
tados mais baratos. A alta do dólar, porém, cria uma defesa natural, segundo ele. “Neste momento, o dólar está mais valorizado e, dessa forma, cria uma defesa natural para esses insumos. Então, nós vamos observar o comportamento do dólar e eventualmente vamos diminuir o imposto. Em caso de não ocorrer isso poderá haver uma pressão inflacionária,
Bancada ruralista x indígenas
A
bancada ruralista deflagrou uma nova operação na Câmara para acelerar a definição de novas regras para a demarcação das terras indígenas. Os deputados conseguiram incluir na pauta de votações um requerimento que leva diretamente para o plenário um projeto que esvazia os poderes da Funai (Fundação Nacional dos Índios) no processo de defi-
nição dessas áreas, estabelece a indenização de produtores e amplia as situações que podem dificultar a criação de reservas. A estratégia dos ruralistas é pressionar o governo a apresentar um novo modelo de demarcação, prometido desde maio último, quando os conflitos entre produtores e indígenas se espalharam por vários Estados.
agosto/2013 – Agro DBO | 57
Análise de mercado
Comportamento firme Expansão da soja em áreas de arroz no Rio Grande do Sul e câmbio favorável garantem preço firme para o cereal no mercado doméstico
O
mercado brasileiro do arroz se caracteriza pelo comportamento firme das cotações do cereal em casca nas suas principais praças de comercialização, apesar da persistente apatia do mercado do arroz beneficiado. Nos últimos quatro meses, o preço médio da saca de arroz em casca no Rio Grande do Sul acumulou valorização de 14,2%, passando a frequentar um patamar entre R$ 34,50 e R$ 35,00 por saca de 5 0 quilogramas. Em grande parte, o atual momento do mercado de arroz no Brasil se deve à cultura da soja, que começa a fazer parte do portfólio dos orizicultores gaúchos, graças
ao recente desenvolvimento de variedades adaptadas às condições de cultivo em solos inundados e de novas técnicas de manejo. Tendo um mix mais diversificado de produto, o produtor de arroz se viu em condições de evitar a oferta do cereal no primeiro semestre, período tradicional de preços desvalorizados. A forte alta do dólar diante do real é outro importante fator de influência para a firmeza do preço do arroz. O atual movimento cambial vem agregando competitividade ao arroz brasileiro, fortalecendo a demanda por produto para exportação e fazendo o Brasil um mercado menos atraente para a o arroz argentino, uruguaio e paraguaio, nossos
tradicionais fornecedores. No último trimestre, apesar da valorização de 3% do arroz no mercado doméstico, houve um ganho de competitividade de 6,7% em razão da alta de 10,3% do dólar diante da moeda local. Até o momento, no entanto, a balança comercial brasileira do arroz ainda é deficitária. De acordo com as informações divulgadas pelo MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o volume de arroz importado supera em 152,6 mil toneladas (base casca) o volume exportado nos quatro primeiros meses do corrente ano comercial. Neste período, foram importadas 456,3 mil toneladas, tendo o Paraguai como a origem de 44% deste
Trigo –
Os preços viraram o mês em alta no mercado spot brasileiro, atingindo patamares recordes, em termos nominais. Em julho, a oferta era escassa. O mercado esperava que o governo anunciasse novos leilões de compra para recomposição dos estoques, pressionando os preços para cima. Paralelamente, temia-se quebra de produção em algumas regiões devido às geados do final do mês, diminuindo ainda mais a oferta. A tendência continua altista.
* Em 18/7, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 876,22 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
ALGODÃO – Após altas sucessivas, o preço da pluma no mercado doméstico se aproximou da paridade de importação e caiu um pouco. Em meados de julho, o Indicador Cepea/Esalq com pagamento em 8 dias acumulava baixa de 0,35%, fechando a R$ 214,27/lp em 23/7. Cinco dias antes (veja gráfico ao lado), o Indicador apontava R$ 215,01, bem acima do fechamento de junho (R$ 207,29). A tendência é de baixa, em função da entrada da nova safra.
* Em 18/7, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 215,01 centavos de real por libra-peso.
soja –
As cotações seguiram em linha ao longo de julho, com oscilações acima e abaixo. Capitalizados, os sojicultores seguraram parte da produção à espera de melhores preços, vendendo apenas para cumprir acordos ou desocupar armazéns para a entrada do milho segunda safra. No final de julho, porém, os preços caíram na Bolsa de Chicago. A tendência será definida neste mês de agosto, quando se terá uma dimensão melhor da safra norte-americana.
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* Em 18/7, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 69,41 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
Análise de mercado volume, enquanto Argentina e Uruguai representam, respectivamente, 32,8% e 23%. Em relação ao mesmo período no ano passado, o volume de arroz importado é 19,6% maior, um desempenho já esperado diante de uma retração da oferta por parte dos produtores no mercado interno. Já as exportações, começam a ganhar força, mas entre março e junho ocorreram de forma ainda tímida. Com preços menos competitivos neste período foram exportadas 303,7 mil toneladas, representando uma redução de 56,7% em relação ao volume escoado nos quatro primeiros meses do último ano comercial. O aquecimento das compras para exportação, favorecido pelo fortalecimento do dólar, estabeleceu uma referência de preço superior nas praças próximas ao porto de Rio Grande e alimentou ainda mais, entre os produtores, a expectativa pela continuidade da valorização do arroz. A expansão deste aquecimento do mercado para as demais regiões do Rio Grande do Sul dependerá do
câmbio. Embora a disponibilidade de produto na mão do produtor fosse suficiente para suprir a demanda até o fim do ano comercial, considerando nível de demanda até então observado, é natural um represamento da oferta nesta fase de mercado aquecido. Em meados de julho, o mercado de arroz no Rio Grande do Sul caracterizava-se por dois cenários distintos. Enquanto a Zona Sul e a Planície Costeira Interna apresentavam preços firmes, as demais regiões tinham preços estabilizados há pelo menos 30 dias. Com a oferta restrita, a tendência é por aumento no interesse de compra das indústrias, agora com um produto importado menos atraente, favorecendo a sustentação das cotações no mercado doméstico. Tiago Sarmento Barata Analista de mercado de arroz da Agrotendências Consultoria em Agronegócios
Arroz –
Os preços do arroz em casca permaneceram estáveis em
julho, em relação ao fechamento de junho, com poucas oscilações de praça a praça. De 16 a 23 de julho, o Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa subiu 0,11%, pagando R$ 34,58 pela saca de 50 quilos no dia 23, não muito acima do valor de fechamento de junho (R$ 34,06). Com oferta restrita de arroz beneficiado no mercado interno, a tendência no curto prazo é de valorização.
* Em 18/7, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 34,64 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
CAFÉ –
* Em 18/7, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 297,55 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
Cafeicultores e torrefadoras ficaram na moita em julho. Os primeiros aguardavam reação mais expressiva nas cotações do que a observada na metade do mês, para então negociar. Houve quem apostasse nas geadas como indutor de alta, mas, até 25/7, data de fechamento desta edição, não foram registrados estragos em larga escala capazes de pressionar os preços. A indústria, ao contrário, esperava baixa ainda maior, para sair com sobras às compras.
* Em 18/7, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 24,72 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
MILHO – Como se previa, a safra recorde vem pressionando as cotações para baixo. Sem condições de armazenar a produção e, eventualmente, ganhar com preços melhores mais à frente, muitos agricultores vem sendo obrigados a liquidar logo seus lotes, em condições desfavoráveis de negociação. Um número expressivo deles trocou milho por insumos para a próxima safra, como alternativa para evitar perdas maiores. No curto prazo, a tendência é baixista . AÇÚCAR –
* Em 18/7, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 43,94 por saca de 50 kg, com ICMS (7%).
De maneira geral, as cotações internas superaram as externas. Cálculos do Cepea mostraram que, em meados de julho, as vendas no mercado spot paulista mantiveram vantagem de 4,15% sobre as vendas externas. Enquanto a média semanal do Indicador Cepea/Esalq relativo ao cristal bateu em R$ 44,15, as cotações do contrato outubro/2013 na Bolsa de Nova York equivaleram a R$ 42,39. No curto prazo, a tendência é de estabilidade.
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Novidades no campo Sacaria de juta para batata
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Tomates híbridos resistentes
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A Nunhems, unidade de sementes e vegetais da Bayer CropScience, lançou três novos híbridos de tomate – Tarantely, Zurich e Minotauro -, de alta qualidade e produtividade, resistentes às principais doenças da lavoura. De acordo com Fabricio Benatti, gerente geral da empresa no Brasil, o diferencial do Tarantely é a possibilidade de plantio de um tomate tipo “saladette” em regiões com elevada incidência de geminivírus (TY–1), como o estado de Goiás e áreas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo Benatti, é uma planta vigorosa, com boa cobertura foliar, frutos firmes e uniformes, inclusive no pós-colheita. O Zurich também é opção para regiões com infestação de geminivírus. É um tomate redondo, com boa cobertura e vigor, capaz de se adaptar a diferentes condições climáticas. O Minotauro é indicado para plantio em áreas afetadas pelo Fusarium raça 3, como os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, e pelo “vira-cabeça”, relativamente comum no Sul do Brasil. O híbrido resiste também à Alternaria solani (pinta preta), Stemphyllium solani e nematóides, habilitando-se, portanto, a diferentes regiões de cultivo no país.
Novo rodotrem basculante
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A RodoLinea já está comercializando seu novo rodotrem basculante, modelo pode transportar até 48 toneladas, fabricado em Jaguariaíva (PR) – comparativamente, um semirreboque tradicional carrega em torno de 28 toneladas. A venda deste tipo de implemento no país está autorizada desde 2007. O mercado, porém, estourou apenas este ano, em razão da promulgação da Lei Federal 12.619/12, conhecida como “Lei do descanso”, que regulamenta a atividade e impõe períodos de intervalo obrigatório para os motoristas. “Com a obrigatoriedade de descanso, as empresas têm optado pelo aumento da capacidade transportada para manter a produtividade”, afirma Kimio Mori, diretor comercial da empresa. Ao todo, o conjunto do veículo, somando o caminhão e o rodotrem basculante (que combina dois semirreboques, unidos por um implemento intermediário, o Dolly), atinge 30 metros de comprimento, com a possibilidade de transportar grãos, açúcar e calcário.
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Maior fabricante de produtos de juta do país, a Castanhal apresenta uma nova linha de sacaria com sistema “fecha fácil”, disponíveis nos tamanhos 10kg, 25kg e 50kg. “O fecha fácil vai dobrar a produtividade na embalagem de batatas e eliminar gastos com fios para costurar sacos, compra e manutenção de equipamentos de costura, além da energia elétrica utilizada no processamento” diz Flávio Junqueira Smith, presidente da empresa. A ideia, segundo ele, suirgiu entre os lavadores de batata, em virtude da proibição iminente da utilização dos sacos de 50kg – de acordo com o Projeto de Lei 5.467, o peso máximo permitido será de 30kg, e não mais de 60kg, como é hoje. “Antes era necessário costurar o saco de juta, demandando tempo e dinheiro nesse processo. Agora, basta puxar e amarrar o fitilho, também de juta.
Manejo de plantas daninhas
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A Timac Agro está lançando no Brasil o fertilizante líquido Fertiactyl Pós, composto por uma molécula (complexo GZA) já consagrada, capaz de reduzir os efeitos negativos de herbicidas utilizados no controle de ervas daninhas. A expectativa da empresa é atingir 10% de participação no mercado de soja e, no segundo ano, dobrar este volume com a entrada em outros cultivos. Recomendado para todas as culturas que utilizam o herbicida glifosato no manejo de plantas daninhas, o Fertiactyl Pós possibilita o incremento de 20% no nível de clorofila, 20% na massa seca da raiz e 14% na matéria seca da parte aérea da planta, garantindo a realização do processo fotossintético.
Novidades no campo Cultivar número 1.000
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O IAC – Instituto Agronômico de Campinas está em festa desde junho, quando completou 126 anos de fundação. Para comemorar a data, lançou a cultivar mil – o feijoeiro IAC Milênio –, uma das 90 espécies de feijão estudadas na instituição, fundada em 1887 pelo imperador D. Pedro II. O diferencial do Milênio, segundo os pesquisadores, não está restrito a uma ou mais características específicas, mas ao pacote tecnológico: qualidade superior do grão, caldo espesso e grande rendimento de panela, alta produtividade, porte ereto (o que viabiliza a colheita mecanizada), resistência à antracnose e à murcha de Fusarium. Com produtividade média de 2.831 kg/ha e potencial produtivo de 4.625 kg/ha, a cultivar é indicada para a época das águas (colheita de novembro a meados de janeiro) e da seca (colheita em março e abril) em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Em 2014, a recomendação será estendida para Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de Janeiro. As sementes estarão disponíveis para empresas multiplicadoras a partir do final deste ano.
Nutrição de plantas
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A Produquímica lançou a linha Kellus para nutrição de plantas, que, segundo Victor Scotton Leal, gerente de distribuição e barter da empresa, irá revolucionar o mercado de produtos premium para agricultura. “A linha Kellus tem em sua composição micronutrientes blindados, matérias-primas nobres associadas à promoção de efeitos fisiológicos nas plantas”, diz ele. São sete produtos: Inox, Blindex, Imune, Cooper, Zinc, Iron e Manganese. “Ao utilizá-los, o agricultor terá total segurança e comodidade nos tratos, com garantia de eficiência nas aplicações. Este tipo de tecnologia, largamente difundida na Europa, agora também faz parte da realidade do agricultor brasileiro”, diz Guilherme Sá, gerente de produtos da Produquímica.
Miniescavadeiras japonesas ▶A Argos, empresa prestadora de serviços e especialista em soluções para cadeia de suprimentos, está lançando no Brasil três modelos de miniescavadeiras da Kubota, gigante japonesa do ramo de maquinários: a U15-3, com sistema “giro zero”, que permite operações em lugares estreitos; articulação de lança para realizar operações sem que haja a necessidade de movimentar a máquina; e esteira expansível – com um simples toque na alavanca, o operador altera a largura das esteiras, permitindo-o trabalhar em diferentes espaços com maior estabilidade. A U30-5 vem com giro zero, articulação de lança e quatro padrões de operação (o operador escolhe aquele ao qual está mais adaptado), além do chamado “auto idle”, sistema de repouso automático capaz de economizar até 10% de combustível, e painel digital de controle inteligente Kubota (KICS), que ajuda a reduzir os tempos de parada da máquina e gastos com reparos de escavadeiras. A miniescavadeira U50-5 reúne todas esses atributos em uma minimáquina compacta, com comandos exclusivos, proporcionando ao operador alta produtividade, facilidade de manobra e versatilidade.
Motores estacionários Vanguard
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Empresa do grupo Briggs&Stratton Corporation, a Branco apresenta ao mercado brasileiro os motores estacionários Vanguard V-Twin, destinados aos segmentos de construção civil, agricultura, silvicultura, náutica e paisagismo, entre outros. Disponíveis em 23-35 HP de potência bruta (eixo horizontal), oferecem performance, potência e durabilidade acima da média, segundo a empresa. Com tecnologia avançada e componentes integrados, que reduzem o aquecimento, o acúmulo de resíduos, a vibração e o ruído, os motores Vanguard são os primeiros produtos da Briggs&Stratton Corporation, sediada em Milwaukee, Wisconsin (EUA), que a Branco incorpora ao seu portfólio após a união das duas empresas, concretizada no final do ano passado.
agosto 2013 – Agro DBO | 61
Biblioteca da terra Alimentos biofortificados ▶A Embrapa aproveitou a oportunidade da Copa das Confederações, realizada na segunda quinzena de junho, para lançar o livro Receitas Biofortificadas, com 30 opções de preparo dos alimentos enriquecidos. A publicação será distribuída para as escolas participantes do BioFort - Projeto Brasileiro de Biofortificação, que envolve 11 unidades da Embrapa no desenvolvimento de cultivares de maior valor nutricional. Os pesquisadores já conseguiram produzir várias cultivares biofortificadas, entre as quais três de feijão-caupi, três de feijão comum, três de arroz com mais ferro e zinco, três de mandioca com betacaroteno, além de variedades de batatadoce e abóbora com alto teor de carotenoides e de milho com maior concentração de vitamina A. Todas as receitas foram testadas. Da batata-doce alaranjada, rica em betacaroteno, por exemplo, é possível fazer torta, doce, salada, bolo, biscoito, pão, pizza, purê e outros pratos. Caso queira mais informações do livro, das receitas ou dos programas de desenvolvimento de cultivares enriquecidas, acesse www.biofort.com.br.
Aplicações em solos tropicais
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Em sua quarta edição, o livro “Pedologia Fácil: Aplicações em solos tropicais”, do pesquisador Hélio do Prado, do IAC - Instituto Agronômico de Campinas, traz novidades em classificação de solos, dados sobre disponibilidade de água, balanços hídricos das regiões norte, centro-oeste e nordeste do Brasil e de outros países tropicais. “Temos 13 tipos de solos, todos eles inseridos no livro”, afirma Prado. Destinado a estudantes e profissionais de agronomia, engenharia ambiental ou florestal, zootecnia, biologia, geologia, geomorfologia e ecologia, o livro tem 284 páginas, parte delas ilustradas com fotos e gráficos coloridos. Custa R$ 100,00, mais as despesas de postagem. Os interessados podem comprá-lo através do e-mail fundag@fundag.br
Manejo definido
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Quanto se trata de vitamina C, ninguém bate o camucamu (Myrciaria dubia), fruta nativa da Amazônia, com teor 20 vezes superior ao da acerola e 100 vezes ao do limão comum. Escrito pela pesquisadora Walnice Nascimento, em parceria com seu colega da Embrapa Amazônia Oriental, o também pesquisador José Urano de Carvalho, o livro trata de diversos aspectos que envolvem o manejo da espécie. O preço de capa é de R$ 6,00. Os interessados podem encomendá-la através do site www.embrapa.br/liv ou do fone (91) 3204-1044.
Palmeira versátil
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Obra dos pesquisadores Sérgio Y. Motoike, Michelle Carvalho, Leonardo D. Pimentel, Kacilda N. Kuki, José Mauro V. Paes, Hesley Carlos T. Dias e Auroroa Y. Sato, a publicação integra a Série Soluções, da Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa. Matéria prima usada há séculos no fabrico de azeites, tortas e carvão vegetal, a macaúba é uma das espécies vegetais mais promissoras para a produção do biodiesel. O livro é destinado a estudantes de graduação e pós-graduação em fitotecnia e engenharia florestal, produtores rurais e a toda a cadeia da agroindústria. Com 61 páginas, custa R$ 20,00. Para adquiri-lo, basta contatar a editora UFV através do telefone (31) 3899-3139.
Acervo de preços agrícolas
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Voltado para agricultores, cooperativas, pesquisadores e demais interessados, o acervo reúne preços no atacado e no varejo de mais de 100 produtos agrícolas, entre grãos, frutas, verduras, fibras, pescados e outros. O conteúdo pode ser acessado através do site da Conab (www.conab.gov.br): na barra lateral direita, clique no ícone “Preços de produtos agrícolas coletados pela Conab”, na seção “Indicadores Conab”. Ou em: www. conab.gov.br/detalhe.php?a=1409&t=2. Os interessados também poderão fazer download do material, no formato de planilha eletrônica, em html ou pdf. O aplicativo foi lançado em modelo experimental e deverá ser expandido para séries maiores, como a de safras de trigo, acompanhadas desde 1963. Por enquanto, quem necessitar de dados anteriores a 2011 precisa solicitar à Conab nos estados ou pelo e-mail geint@conab.gov.br.
62 | Agro DBO – agosto 2013
O maior evento da Indústria de Tecnologia em Nutrição Vegetal da América Latina
21, 22 e 23 de agosto de 2013 Ribeirão Preto, SP Centro de Eventos Pereira Alvim
Informações e inscrições
11 3251-4559
contato@bbagro.com.br cadastroforum@abisolo.com.br
www.forumabisolo.com.br
Patrocínio
Realização
Organização
Apoio institucional AMA BRASIL
Apoio de Mídia
infraestrutura
Calendário de eventos
AGOSTO
6
XXIX Encontro Nacional de Técnicos Agrícolas
De 6 a 8 – Hotel Pestana Bahia Salvador (BA) – Fone: (51) 3227-1888 Site: www.fenata.com.br E-mail: comunicação@fenata.com.br.
12
VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado
De 12 a 15 – Park Hotel Morotin – Santa Maria (RS) – Fone: (55) 32861557 – Site: www.cbai2013.com.br E-mail: contato@cbai2013.com.br
13
Agrinsumos e induspec Expo Business 2013/3ª Feira de Insumos, Equipamentos & Serviços para Agropecuária
De 13 a 15 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) Site: www.agrinsumoseinduspec.com. br – E-mail: agrinsumoseinduspec@ btsmedia.biz
19
XXXI Congresso Brasileiro de Nematologia
De 19 a 22 – Cenarium Rural Cuiabá (MT) – Fone: (65) 36211314 Site: www.nematologia2013. com.br – E-mail: nematologia2013@ industriadeeventos.com.br
21
V Fórum Abisolo/1ª Fertishow – Feira da Indústria de Nutrição Vegetal De 21 a 23 – Centro de Eventos Pereira Alvim – Ribeirão Preto (SP) Site: www.abisolo.com.br
24
Expointer 2013/36ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários De 24 a 1/9 – Parque de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) Fone: (51) 3288-6200 Site: www.expointer.rs.gov.br E-mail: expointer@seapa.rs.gov.br
64 | Agro DBO – agosto 2013
30
32ª Expoflora
De 30 a 29/9 (somente às sextas, sábados e domingos) Recinto da Expoflora – Holambra (SP) – Fone: (19) 3802-1499
SETEMBRO
3
Agricoop/Congresso Nacional de Cooperativas Agropecuárias
De 3 a 4 – Espaço Milenium – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3017-6888
3
9º Congresso Brasileiro do Algodão
De 3 a 6 – Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada – Brasília (DF) Site: www.abrapa.com.br
9
Frutal/20ª Semana Internacional de Fruticultura, Floricultura e Agroindústria
De 9 a 12 – Centro de Eventos do Ceará – Fortaleza (CE) Site: www.frutal.org.br
16
XVIII Congresso Brasileiro de Sementes
De 16 a 19 – Centro de Convenções Centro Sul – Florianópolis (SC) Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: cbsementes2013@fbeventos.com.br
16
VIII Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil
De 16 a 19 – Campus da Universidade Estadual do Oeste da Bahia – Vitória da Conquista (BA) – Site: www. consorciopesquisacafe.com.br
23
VIII Congresso Brasileiro de Biossegurança/VIII Exposição de Equipamentos e Dispositivos de Biossegurança
De 23 a 27 – Bahia Othon Palace Hotel Salvador (BA) – Fone: (71) 2102-6600
27 – Fenasucro 2013/21ª Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética – De 27 a 30 – Centro de Eventos Zanini – Sertãozinho (SP) – Site: www. fenasucro.com.br – E-mail: reed@pro. com.br Maior feira do setor agroenergético do mundo, a Fenasucro integrará este ano em um único evento dois setores convergentes, porém representados até então em mostras paralelas: a Fenasucro – Feira Internacional da Indústria Sucroalcooleira, e a Agrocana – Feira de Negócios e Tecnologia da Agricultura da Cana-de-Açúcar. Na programação comum, constam novidades em máquinas, implementos e tecnologias, um setor voltado inteiramente para transporte e logística, e debates sobre os principais temas de interesse da agroindústria canavieira. Presente em 23 estados da federação, o setor sucroenergético dispõe de 172 usinas em São Paulo, 41 em Minas Gerais, 34 em Goiás, 30 no Paraná, 24 em Alagoas, 23 em Mato Grosso do Sul, 20 em Pernambuco, 11 em Mato Grosso e 9 na Paraíba.
OUTUBRO
11
4ª Exposição Nacional de Híbridos de Orquídeas
De 11 a 13 – Parque de Feiras e Exposições Wanderley Agostinho Burmann – Ijuí (RS) Site: www.expoijuifenadi.com.br E-mail: secretaria@aciijui.com.br
13
XXIII Conird/Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem De 13 a 18 – Luís Eduardo Magalhães (BA) – Fone: (71) 21026600 – Site: www.conird.com.br E-mail: conird@gt5.com.br
14
X Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas
De 14 a 18 – Embrapa Arroz e Feijão (Fazenda Capivara) Santo Antônio de Goiás (GO) Fone: (62) 3533-2107 E-mails: cnpaf.xebsh@embrapa.br ou cnpaf.xebsh@gmail.com
20
46° Congresso Brasileiro de Fitopatologia
De 20 a 25 – Centro de Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto (MG) Fone: (31) 3552-3700 E-mail: rpd@rpdconsultoria.com.br
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agosto 2013 – Agro DBO | 65
Legislação
Alienação fiduciária Quando se toma crédito emprestado é fundamental prestar muita atenção às garantias oferecidas aos agentes financeiros. Fábio Lamonica Pereira *
P
ense no proprietário de imóvel rural que, por motivos diversos e adversos, acaba por não honrar com a totalidade de obrigação de pagamento em dinheiro ou de entrega de determinados produtos rurais. É natural que o credor reivindique seus direitos buscando ressarcimento de seu crédito. O procedimento inicial consiste na tentativa de acordo extrajudicial e, frustrada esta etapa, resta ao credor buscar amparo judicial. O procedimento judicial a ser seguido depende da natureza do título que o credor possua, sempre respeitando os direitos constitucionais dos cidadãos, como o da ampla defesa, do contraditório e do devido
rio do bem que servirá de garantia, transfere a propriedade ao credor de maneira resolúvel, ou seja, até que a dívida seja paga. Quitado o débito, a garantia deixa de existir e a propriedade continua com o produtor. E se o débito não for quitado nas condições e prazos estipulados? Neste caso, o bem imóvel alienado é utilizado para pagamento do débito, sendo o procedimento relativamente simples e rápido (se comparado com os judiciais). O contrato de alienação fiduciária, que pode ser tanto por instrumento público quanto particular com efeito de público, firmado entre o produtor e o credor, vincula determinada obrigação (seja de pagamento de quantia determinada
Em caso de inadimplência, há estipulação de vencimento antecipado de toda a dívida.
*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio
processo legal, dentre outros. Referidos títulos, além das garantias tradicionalmente conhecidas dos produtores como penhor de safra e de maquinários, aval e hipoteca etc., mais recentemente têm carregado outra modalidade de garantia, muito conhecida do mercado imobiliário, qual seja a alienação fiduciária de bem imóvel. Apesar de a questão ser regulada pela lei n. 9514 de 1997 (com alterações significativas em 2004 e 2007), sua utilização no agronegócio é mais recente, especialmente após a criação de títulos específicos do agronegócio regulados pela lei n. 11076 de 2004. Mas qual o problema com a constituição de tal garantia? Grosso modo, o produtor rural, proprietá-
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ou de entrega de produtos rurais) à garantia de alienação fiduciária de determinado bem imóvel, devendo o contrato ser averbado à respectiva matrícula. Ocorrendo o inadimplemento da obrigação, total ou parcial, o credor faz requerimento ao Cartório de Registro de Imóveis, o qual, então, procede à notificação do devedor para “purgar” a mora, isto é, pagar os valores devidos com os acréscimos legais dentro do prazo de 15 dias. Em caso de inadimplência é comum haver estipulação, porém contestável, de vencimento antecipado de toda a dívida, o que dificulta ainda mais o pagamento do débito. Até aqui o usufruto da terra, na prática, ainda permanece com o devedor.
Constatado pelo Cartório de Registro de Imóveis que o valor não foi pago pelo devedor, a propriedade do bem imóvel será consolidada ao patrimônio do credor, e desapropriada na prática. O próximo passo previsto pela lei é a tentativa de venda do bem imóvel em leilão público pelo valor de avaliação que consta do instrumento de alienação, já computada a correção por índice previamente estabelecido. Fracassada a primeira tentativa de venda, segue-se outro leilão em que o bem poderá ser arrematado pelo valor da dívida e acréscimos legais. Caso, neste segundo leilão, o valor do maior lance oferecido não seja superior ao valor da dívida, a dívida estará quitada e a propriedade ficará com o credor. Há diversos questionamentos que podem ser levantados por meio de ação judicial. Contudo, dado o breve prazo de 15 dias para pagamento do débito em atraso, as chances de sucesso em determinada medida judicial com pedido de urgência (decisão liminar) são reduzidas para o fim de evitar a consolidação da propriedade em nome do credor. Conclui-se que, dada à agressividade que pode advir de tais instrumentos, é recomendável uma atitude preventiva, sendo que a atenção deve ser concentrada na elaboração de tais instrumentos de forma que sejam previstas soluções adequadas às atividades do campo, possibilitando, por exemplo, a prorrogação de determinada parcela quando houver perda de safra ou quando o preço de comercialização dos produtos vinculados à operação for praticado abaixo da média histórica.
A imagem desta peça é de banco de imagens e foi tratada digitalmente. O animal não foi fotografado e não sofreu maus tratos.
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