Sumário
28 Entrevista
Consultor e diretor da empresa P&A Marketing Internacional, Carlos Brando avalia a crise do café brasileiro e afirma que bienalidade virou ficção.
32 Café
Engenheiro Agrônomo, produtor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO, Hélio Casale escreve sobre manejo agoecológico.
38 Fitossanidade
Pesquisadores, técnicos e produtores rurais admitem que desprezaram a H. armigera. Resultado: o banquete das lagartas continua.
50 Integração 18
Produtores rurais adeptos da iLP, iPF e iLPF começaram a tirar os respectivos rebanhos de gado das pastagens para plantar grãos.
Debate Matéria 54 Especialistas discutem conceitos, validade e dos sistemas de produção integrada de capa resultados envolvendo agricultura, pecuária e floresta.
No Brasil, 27 dos 36 milhões de hectares de culturas temporárias são cultivados mediante plantio direto. Trinta anos depois de implantada no país, a técnica está na berlinda – chegou o momento de avaliar resultados, corrigir erros e retomar as práticas conservacionistas essenciais ao sistema.
Artigos 8 – Daniel Glat critica, em Ponto de vista, o posicionamento de ambientalistas 26 – Décio Gazzoni calcula quanto o agricultor gastaria com adubo nitrogenado 48 – Rogério Arioli lamenta o baixo uso do transporte hidroviário no Brasil 66 – Fábio Lamonica alerta sobre loteamentos de áreas próximas das cidades
Seções Do leitor............................................................. 4
Análise de mercado.....................................58
Notícias da terra............................................10
Novidade no campo....................................60
Política...............................................................34
Calendário de eventos................................62
Deu na imprensa..........................................45
Biblioteca da terra.........................................63 Novembro 2013 – Agro DBO | 3
Do Leitor Muito interessante. Artigos de alta qualidade! Nathalia Pereira Rocha Belo Horizonte A Agro DBO é uma revista muito competente, sempre com temas atuais e de grande importância no meio rural. José Eduardo Peçanha Patrocínio É a melhor revista agronômica do mercado,. Foi fundamental para minha formação acadêmica. Thiago da Silva Montandon Araxá
BAHIA A Agro DBO é uma revista de grande importância para os profissionais da área agrícola. Rummenigge Santos da Silva Vitória da Conquista GOIÁS Gostaria que a Agro DBO publicasse resultado de análise foliar e de solo para a cultura de seringueira. tanto como adubação de solo e foliar, e qual é época ideal para os tratos culturais. Trata-se de uma cultura que está em expansão em vários estados brasileros. Manoel Rocha de Souza São Luiz do Norte NR: Sua sugestão está anotada, Sr. Manoel. A redação agradece. MINAS GERAIS Achei a reportagem completa, abordando pontos importantes da agricultura irrigada. Acho que vai contribuir para o melhor entendimento sobre o tema. Parabéns a toda equipe da revista. Everardo Mantovani Viçosa NR: Uma das maiores autoridades brasileiras em irrigação, o professor Mantovani, da UFV – Universidade Federal de Viçosa (MG), se refere à matéria “Impasse no campo”, publicada no mês passado, da qual é protagonista. Foi entrevistado pelo jornalista José Maria Tomazela, autor da reportagem em questão.
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Textos redigidos por autoridades no assunto. Ronan Magalhães de Souza Patos de Minas PARANÁ Para mim, é a melhor revista, hoje, para quem quer ficar atualizado no setor. Fabiano Luiz de Melo Pauka Altônia Contém (a revista Agro DBO) material muito rico em informações e qualidade nas reportagens. Trabalho como extensionista e assistente técnico rural da Emater. Valter Lúcio Teixeira da Silva Assai Conheci a revista no estado do Tocantins. Achei-a muito boa. Traz notícias e reportagens bem elaboradas, vai direto ao assunto. Parabéns. Eder Corso Medianeira Inovadora, com muitos assuntos não abordados em outras revistas. Felipe Vannucci Mena Romeiro São Mateus do Sul RIO GRANDE DO SUL A revista tem uma abordagem ampla, que vem somar muito à minha atividade. Denis Antônio Golin Sananduva SANTA CATARINA Trabalho na empresa Renar Maçãs S/A e gostei muito do conteúdo da revista. Parabéns a toda equipe. Pedro Gérson Machado Remiozzo Fraiburgo
SÃO PAULO Nós, técnicos e produtores, devemos analisar com cautela as informações referentes à reportagem da página 34, de setembro, pois sabemos que os aminoácidos são as unidades básicas de formação das proteínas, sendo estas compostas de muitos aminoácidos. Se o ar possui 78% de nitrogênio e as plantas não conseguem fixá-lo via foliar é porque não possuem as enzimas necessárias para efetuar a redução do nitrogênio atmosférico em NH3, que só é conseguida em laboratório. Tenho como procedimento, ao adotar novas tecnologias, analisar as pesquisas efetuadas por Institutos de pesquisa e universidades. Por ser uma tecnologia gerada na Espanha, deve ser testada em nossas condições de clima e solo, para depois ser adotada com cautela, principalmente em culturas perenes como a cafeicultura. No 38º CBPC, não vi nenhuma pesquisa a respeito do assunto. Eudair Francisco Martins Bauru NR: Engenheiro agrônomo, o remetente do e-mail acima se refere à reportagem de título “Tecnologias e milagres”, sobre avanços da ciência em nutrição de plantas, publicada na edição de setembro da revista Agro DBO. Um dos principais personagens da matéria, o pesquisador José Guerra, presidente da LBE Biotecnologia, empresa sediada em São José (SC), é espanhol de nascimento. Radicado no Brasil há 30 anos, Guerra vem desenvolvendo estudos sobre síntese de aminoácidos há pelo menos 20. Sua empresa produz aminoácidos testados a campo com ótimos resultados, segundo ele. Quanto à pauta de trabalhos do 38º CBPC – Congresso Brasileiro de Pesquisa Cafeeira, não sabemos porque o assunto não foi discutido na ocasião. O questionamento deve ser encaminhado aos organizadores do congresso. Conheci a revista Agro DBO na biblioteca da Copercana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), no município de Sertãozinho, em São Paulo. Achei ótima e vou indicar para outras pessoas. Paulo Jarrier Junqueira Sertãozinho
Gostaria de sugerir uma pauta relacionada aos problemas que as queimadas de cana-de-açúcar ocasionam. Até novembro, as queimadas são proibidas durante o dia, por conta de uma medida da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo. Alguns canaviais adotaram equipamentos para facilitar a colheita, mas em Boituva, na região oeste do estado, as usinas não estão interessadas em investir e continuam adotando a prática. Consequentemente, aumenta o consumo de água (é preciso um caminhão-pipa inteiro para controlar cada foco de queimada), uma vez que as casas ficam infestadas de cinzas. Além disso, o ar fica irrespirável. Isso, sem contar o perigo que as queimadas representam. No condomínio Portal das Estrelas, em Boituva, a queimada acontece praticamente encostada ao muro, já que a plantação de cana é imensa. Vejam as fotos (ao lado), tiradas por um morador. A queimada está praticamente no muro e, nesse momento, as pessoas precisam se trancar em suas casas para não respirar a fumaça absurda. E eles dizem que não
há problemas, pois o caminhão-pipa controla o fogo. Acredito que a saúde dos funcionários da usina também deva ser prejudicada, pois eles não usam EPIs durante o “controle da queimada”. O problema acontece praticamente todas as noites e não há movimentação da Secretaria do Meio Ambiente de Boituva para modificar a situação. Em Tatuí, se não me engano, tem uma lei que não permite a plantação de cana próxima das habitações. Um acordo entre os produtores paulistas e o governo determina que este é o último ano em que é permitida a queima em áreas planas, onde a mecanização da colheita é mais fácil. Em 2017, a prática não será permitida nem mesmo nos terrenos mais acidentados. Mas, até lá, como ficará a saúde, o meio ambiente e a segurança das pessoas? Ana Claudia Proença Boituva AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
novembro 2013 – Agro DBO | 5
Carta ao leitor
D
esde sempre, entendemos que os produtores rurais estão no negócio de produzir alimentos para ganhar dinheiro. Assim, deixemos de lado ilusões politicamente corretas ou fantasias idílicas sobre a suposta e santíssima atividade missionária de agricultores para salvar o mundo da fome. O reconhecimento dessa assertiva por parte dos produtores rurais brasileiros é necessário para que se possa desmistificar uma verdade intangível aos olhos da sociedade urbana e do próprio governo quanto à importância e ao notável nível de profissionalização e competência técnica dos ruralistas brasileiros, diante da próxima safra de grãos, que ameaça atingir 195 milhões de toneladas. Entretanto, reconheçamos que agricultores – e também pesquisadores, bem como todos os seres humanos, erram sim, no individual e no coletivo. Erram feio ao se distrair com questões mundanas e ao não prestar a devida atenção ao seu próprio negócio, ao não dar importância ao maior valor de qualquer atividade produtiva, que é a informação. Informação pertinente e relevante como vimos publicando aqui na Agro DBO podem anular o maior perigo para a sobrevivência dos produtores rurais, por tirá-los da distração e da desinformação. Posto isto, como um alerta, é fundamental a leitura da matéria de capa desta edição, “Plantio direto em xeque”, do jornalista José Maria Tomazela, e ainda da reportagem “A crise anunciada”, do jornalista Ariosto Mesquita, sobre os erros cometidos com a Helicoverpa, para que os produtores deixem “cair a ficha”, como se diz no jargão popular, daquilo que estão fazendo de errado em prejuízo do seu próprio negócio e da atividade de produzir alimentos. As duas matérias exibem a crueza das péssimas consequências do que se está fazendo de errado com a agricultura brasileira, desvirtuadas pelo objetivo humano de ter lucros, apesar de justos. Erros que comprometem as gerações futuras ao atropelar a sobrevivência econômica dos produtores de hoje. Negligenciar informação é uma espécie de suicídio empresarial. Portanto, agricultor, leia Agro DBO, revista editada para ser a sua referência na agricultura e na produção de alimentos, pois quem precisa ser sustentável é o produtor. O resto é consequência. E.T. - No fechamento desta edição a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.873. Os artigos 52 a 54 dessa Lei permitem ao Ministério da Agricultura estabelecer medidas de urgência necessárias para enfrentar situações críticas na área fitossanitária. Com a nova lei, haverá maior flexibilidade de ação nas emergências que envolvam pragas na agricultura, casos como os da Helicoverpa armigera, por exemplo, que já trouxe grandes prejuízos para a agricultura. Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Élcio A. Bento, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, José Maria Tomazela, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva e Xico Graziano. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Naira Barelli, Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta
Richard Jakubaszko
Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto José Medeiros DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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Ponto de vista
Quem é contra o Brasil? O colunista adverte os produtores rurais, dos riscos que o agro vem correndo com as ações das ONGs e dos ambientalistas. Daniel Glat *
M
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.
uito se fala da necessidade de se alimentar o mundo, de que seremos um planeta de 9 bilhões em 2050 querendo comer mais e melhor. Sabemos que isso é missão para agropecuária mundial, e brasileira em particular, que além do desafio de produzir cada vez mais alimentos, produz ainda fibras têxteis e cada vez mais energia renovável. Parte da nossa sociedade urbana ainda olha o agronegócio brasileiro com descaso, como se fôssemos “latifundiários improdutivos destruidores do meio ambiente”. Esse ranço em relação ao agro é muito fomentado pelas ONGs multinacionais, que se dedicam de tal maneira a combater o agronegócio brasileiro que é difícil acreditar tratar-se apenas de preocupação ambiental; é certo que deve haver interesses econômicos disfarçados de “ambientalismo” por trás dessa guerra contra nosso Agro. Afinal, essas ONGs
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multinacionais foram as principais combatentes da introdução das sementes transgênicas no Brasil, quando já eram plantadas há muitos anos no EUA, Canadá e Argentina; tentaram fazer do código florestal uma forma de inviabilizar os produtores brasileiros, e agora apoiam as ilimitadas reivindicações indígenas e quilombolas de áreas produtivas. Em outras palavras, não importa o assunto, se é para combater o agronegócio brasileiro, essas ONGs estão sempre prontas; e acabam contagiando os bem-intencionados, alguns ingênuos ambientalistas brasileiros, os que acham que soja não é alimento ou que exportar alimentos é atividade degradante. Curioso lembrar que apesar da combatividade que essas ONGs tiveram durante a discussão do código florestal no Brasil, em seus países de origem (Canadá, do Greenpeace, e Grã-Bretanha do WWF) não existe nenhuma lei a respeito de se manter reservas le-
gais em propriedades produtivas. É, no mínimo, muito suspeito. Não sei se o leitor está ciente, mas o Brasil é o único país do mundo onde produtores são obrigados a ter reservas florestais em fazendas produtivas. Não sou contra, acho até que podemos nos dar a esse luxo, mas isso deveria ser reconhecido e valorizado. Produzir com reservas legais é mais sustentável do que produzir sem reservas legais. Somamos a isso o grande desenvolvimento do plantio direto e a consequente redução no uso de óleo diesel e da erosão de solos; os inúmeros modelos que utilizamos de rotação de culturas, integração lavoura-pecuária e agora também com florestas; o fato é que somos o país que mais recolhe e recicla embalagens de agrotóxicos; e acho que podemos proclamar com certeza de que aqui no Brasil se pratica uma das agriculturas mais sustentáveis do mundo. Também não é valorizado nem bem explorado por nós produtores o fato de que a agricultura brasileira é uma das mais técnicas e agronomicamente sofisticadas do planeta! Via de regra, no mundo inteiro, a agricultura é praticada em terras de alta fertilidade natural, com pH neutro ou próximo disso; aqui no Brasil, nos tornamos um dos maiores produtores e exportadores do mundo plantando boa parte em terras ácidas, de fertilidade natural baixa e com matéria orgânica quase inexistente (Cerrados); não há região produtora do mundo que, para produzir grãos, seja preciso fazer calagem, gessagem, fosfatagem, perfil de solo,
aplicar todos os macros e micronutrientes, e ainda fazer as mais diversas pulverizações para doenças e insetos. O cerrado brasileiro é um dos poucos locais do planeta onde a prática da agricultura, ao invés de ser extratora das reservas dos solos, é na verdade uma “melhoradora” da fertilidade e qualidade química e biológica dos solos! O nosso agronegócio é tão forte que, além de gerar quase 1/3 dos empregos do Brasil, e ter significante participação no PIB, há 10 anos que literalmente “leva nas costas” o saldo da balança comercial brasileira (quadro 1); e, é sempre bom lembrar, fazemos isso sem seguro rural e de renda, sem políticas públicas claras de apoio, como subsídios, e sem infraestrutura adequada. Entretanto, o Greenpeace define em seus relatórios o agronegócio brasileiro como “setor mais atra-
Balança comercial do agronegócio é positiva 80
Saldo Brasil
Saldo Agro
Saldo Brasil – sem Agro
60 40 20 0 -20 -40 -60
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: MApa, Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio – SRI – Depto de Promoção Internacional do Agronegócio.
sado da economia brasileira”. Imagine o leitor se fôssemos atrasados. Apesar de ser a atividade mais competitiva do Brasil, em relação ao mercado internacional, o agronegócio brasileiro tem muitos inimigos ideológicos, das ONGs às Marinas da Silva, passando pelos ambientalistas urbanos e por algumas salas do Pla-
nalto, sem levar em conta muitos legisladores e burocratas públicos. Vai ser cada vez mais necessário valorizar e divulgar realisticamente a qualidade, competitividade e sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Sob risco de nossos filhos deixarem definitivamente a produção de alimentos. O que, aliás, já vem acontecendo.
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Notícias da Terra Safra I
A caminho dos 200 milhões
A
produção nacional de grãos, relativa à safra 2013/14, deve ficar entre 191,9 e 195,5 milhões de toneladas, contra 187,09 milhões na temporada 2012/13, de acordo com o primeiro levantamento da Conab, divulgado no mês passado. A exemplo do que ocorreu no ciclo anterior, as culturas de maior destaque são a soja e o milho, que cresceram em área e produção graças às condições climáticas favoráveis e bons
preços. A safra de soja ficará entre 87,6 e 89,7 milhões/t e a área, entre 28,6 e 29,3 milhões/ha. Em relação ao milho, as projeções apontam produção de 78,4 a 79,6 milhões/t e área de 15,3 a 15,6 milhões/ha. A área total de grãos pode chegar a 55,1 milhões/ha, 3,5% acima da área anterior (53,34 milhões/ha). A Conab destaca também o crescimento da área de algodão (de 16,8 a 22,5%), e de trigo (15,1%).
Safra II
Produção 15,5% maior
E
nquanto a Conab abria (em setembro) os trabalhos de levantamento das intenções de plantio relacionadas à temporada 2013/14, o IBGE fechava a nona estimativa da safra 2012/13 de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale). Segundo o IBGE, o Brasil produziu 187 milhões de toneladas, 15,5% a mais sobre a safra passada (161,9 milhões) e 0,2% a menos ante o previsto em agosto (187,3 milhões). A área colhida em 2013, de 52,7 milhões/ha, é 8% maior que a de 2012 (48,8 milhões de hectares). As três principais culturas (soja, milho e arroz) respondem por 93% da safra nacional de grãos e 86,2% da área. Em relação ao ano anterior, a produção de soja cresceu 23.8%; a de milho, 13,2%; e a de arroz, 2,7%. No que se refere à área plantada, a lavoura de soja aumentou 11,2%; a de milho, 7,7%; e a de arroz caiu 0,6%.
Safra III
Distribuição por regiões
E
ntre as regiões em que se divide o país, a produção apresentou a seguinte distribuição, segundo o IBGE: Centro-Oeste, 78,7 milhões de toneladas; Sul, 72 milhões; Sudeste, 19,6 milhões; Nordeste, 12,1 milhões; e Norte, 4,6 milhões. Comparativamente à safra passada, foram constatados incrementos de 11,1% no Centro-Oeste, 30,4% no Sul, 1,9% no Sudeste e 1,5% no Nordeste. No Norte, houve decréscimo de 3,2%. O estado de Mato Grosso manteve a liderança como o maior produtor nacional de grãos, com 24,6% de participação.
Safra IV
Variação por cultura
E
ntre as 26 culturas selecionadas pelo IBGE em seu levantamento, 15 apresentaram variação positiva de produção, em relação à safra passada: soja (23,8%), milho 2ª sa-
10 | Agro DBO – novembro 2013
fra (21,9%), feijão 2ª safra (18,8%), amendoim 1ª safra (12,5%), trigo (10,3%), batata-inglesa 2ª safra (7,9%), cana-de-açúcar (6,9%), cevada (6,9%), feijão 3ª safra (4,2%), triticale (3,7%), milho 1ª safra (3,3%), arroz (2,7%), batata-inglesa 1ª safra (2,5%), cacau (2,4%) e sorgo (0,7%).
Com variação negativa foram onze produtos: mamona (-42,1%), algodão herbáceo (-31,4%), laranja (-14,6%), café conilon (-14,2%), amendoim 2ª safra (-13,2%), batata-inglesa 3ª safra (-10,7%), mandioca (-10,6%), feijão 1ª safra (-8,6%), aveia (-4,6%), café arábica (-4,5%) e cebola (-3,2%).
Notícias da Terra Exportações I
Vendas externas de US$ 8,9 bilhões
D
ados da SRI/Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura mostram que o agronegócio brasileiro faturou US$ 8,9 bilhões com vendas externas em setembro, 3,3% a mais se comparado a setembro de 2012. O valor das importações chegou a US$ 1,4 bilhão, com saldo, portanto, de US$ 7,5 bilhões na balança comercial. O complexo soja liderou as exportações, com US$ 2,7 bilhões em vendas, o equivalente a 30,6% do total, à frente do setor de carnes, com US$ 1,38 bilhão. Entre janeiro e setembro, as exportações do agronegócio cresceram 9,5% e atingiram a cifra de US$ 78 bilhões, com aumento de US$ 6,7 bilhões em relação aos US$ 71,3 bilhões exportados no mesmo período de 2012. As importações cresceram 5,3%, passando de US$ 12 para US$ 12,7 bilhões.
Exportações II
Bons resultados até setembro
O
Brasil exportou 3,44 milhões de toneladas de milho em setembro, maior volume mensal registrado no ano, conforme levantamento do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O resultado foi 13,1% maior que o embarcado em agosto. Na comparação com o mesmo período do ano
Alimentos
VBP
A
O
Consumo crescente demanda por alimentos de maior valor agregado aumentou nos últimos cinco anos no Brasil, graças, principalmente, à elevação do nível de renda da população. “A procura por carne, frutas, queijo, leite e derivados, cresce quando a renda sobe. Eles são diferentes do arroz e feijão, por exemplo, que sobem num patamar próximo ao do crescimento da população, que foi 1,4% ao ano nos últimos cinco anos”, explicou o Coordenador de Planejamento Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques. Os alimentos de maior demanda no período foram: queijo muçarela (3,7% ao ano), melão (3,7%), mamão (3,6%), uva (3,4%), vinho (3,2%), azeite (3%), iogurtes (2,9% ao ano) e carnes (2,7%).
passado, as exportações cresceram 9,7%. No acumulado de janeiro a setembro, o país exportou 15,7 milhões de toneladas, 67,1% a mais em relação ao mesmo período de 2012. Os principais compradores até então foram: Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos, Taiwan, Egito e Irã, nesta ordem.
Agropecuária vale R$ 417,01 bilhões valor da produção das lavouras brasileiras deve alcançar R$ 276,4 bilhões em 2013, segundo estimativas do Ministério da Agricultura, divulgadas em outubro. Este número repete, praticamente, o valor previsto em setembro. De acordo com o Coordenador de Planejamento Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques, não deve haver alteração significativa até o final do ano
– quando de seu pronunciamento, a colheita de algumas culturas de inverno, como trigo, aveia, centeio e cevada, ainda não estavam fechadas. Os melhores desempenhos agrícolas, segundo Gasques, foram os do tomate, com aumento de 88,8%; da batata-inglesa (47,3%), laranja (32,9%) e da soja (19%). Em níveis mais baixos de aumento do VBP, ele relacionou o fumo, com elevação de 14,7%, trigo (14,3%), banana (11,9%), arroz (10,6%), milho (8%) e feijão (7%). Os piores resultados no ano foram o do algodão, com queda de 30,3%, e o do café (-29,1%). A pecuária deve obter um faturamento de R$ 140,57 bilhões este ano. No total, o VBP da agropecuária brasileira chegará a R$ 417,01 bilhões em 2013. novembro 2013 – Agro DBO | 11
Notícias da Terra Cana I
Safra 3,1% menor
A
produção nacional de cana-de-açúcar deve alcançar 716,8 milhões de toneladas em 2013, volume 3,1% menor em relação à safra passada, segundo projeções do IBGE. Em São Paulo, principal produtor nacional, a queda foi de 7,8%. No Rio Grande do Norte, Pa-
raíba e Ceará também houve quebra na produção, provocada, em grande parte, pela seca que afetou a região. comprometendo a produtividade na lavoura. Em compensação, Goiás, Bahia e Pernambuco devem registrar aumento de 12%, 5,9% e 4,9%, respectivamente.
Cana II
Perdas no setor canavieiro
O
s produtores de cana-de-açúcar tiveram prejuízo na safra 2012/13, com preços abaixo do custo da atividade, conforme estudo da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP). Para os fornecedores independentes, a margem de lucro foi negativa no Nordeste (-31%), acarretando perda média de R$ 22,91 por tonelada. Em São Paulo, principal produtor do país, a perda média foi de R$ 13,61 por tonelada (-21,14%). Nas novas fronteiras agrícolas (MT, MS, GO e MG) também houve prejuízo, embora não tão grandes. Segundo o estudo, entre os fatores que contribuíram para a queda estão o alto valor das terras arrendadas para cultivo, no caso das regiões tradicionais, e a incorporação dos custos de capital no Nordeste
Crédito I
Crédito II
A
O
Milho a preço subsidiado Portaria Interministerial n° 985, publicada no Diário Oficial da União em 9/10, prorroga até o dia 28 de fevereiro de 2014 a comercialização de milho a preços subsidiados pelo Programa de Vendas em Balcão na área atendida pela Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. A operação tem como beneficiários pequenos criadores que utilizam o milho na ração animal, em municípios localizados na região da Sudene, atingida pela estiagem prolongada. A Venda em Balcão especial conta com duas faixas de preço, definidas de acordo com a quantidade que o produtor vai adquirir: R$ 18,12 (até 3 mil t) e R$ 21,00 (de 3,1 a 6 mil t) a saca de 60 kg de milho. 12 | Agro DBO – novembro 2013
Dívidas prolongadas CMN – Conselho Monetário Nacional decidiu estender até o dia 30 deste mês de novembro o prazo para que os arrozeiros possam se habilitar ao Programa de Renegociação de Dívidas Originárias de Operações de Crédito Rural. O Banco do Brasil anunciou que mais de R$ 200 milhões
foram renegociados por este modelo até o início de agosto no Rio Grande do Sul. A estimativa da entidade é que, com participação dos bancos privados, estaduais e cooperativos, a soma das renegociações ultrapasse R$ 400 milhões.Para as dívidas até R$ 1 milhão de reais, a taxa de juros previstas no programa de refinanciamento é de 5,5% ao ano. O prazo de financiamento é de até 10 anos, em parcelas anuais.
Notícias da Terra Café I
Cup of Excellence vai para Carmo de Minas
O
café produzido por Marisa Coli Noronha no sítio São Francisco de Assis, em Carmo de Minas (MG), foi eleito em 11/10 o melhor cereja descascado/despolpado do Brasil na safra 2013 pelo júri internacional do 14º Cup of Excellence – Early Harvest. O vice-campeão foi o café do Grupo Sertãozinho produzido na fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama (SP). A novidade no concurso este ano foi a eleição dos melhores cafés por região produtora. Além do campeão, representante da Mantiqueira, e do vice, da Mogiana, foram premiados Marcos Antônio Nalli, de Castelo, produtor do melhor café das Montanhas do Espírito Santo; Eduardo Pinheiro Campos, de Presidente Olegário, vencedor do Cerrado Mineiro; Cândido Vladimir Ladeia Rosa, de Piatã, o melhor do Planalto da Bahia; e Grupo Orfeu, pelo café cultivado em Botelhos, vencedor no Sul de Minas Gerais.
Café III
Café II
Leilão dos vencedores
Pregões concorridos
O
A
s cafés premiados no Cup of Excellence 2013 serão ofertados no leilão que a organização do concurso promoverá em 27/11, via internet. No pregão de 2012, todos os cafés foram negociados. O maior lance registrado foi de R$ 3.249,45 (valor convertido segundo o câmbio da época), pago pelo consórcio formado pelas empresas japonesas Maruyama Coffee, Saza Coffee, Uchida Coffee e Coffee-a-gogo, e da empresa Orsir Coffee, de Formosa, por cada uma das 17 sacas da fazenda do Moinho, situada em Olímpio Noronha (MG). O lote
rendeu R$ 55.235,18 ao produtor Vinícius José Carneiro Pereira, vencedor do concurso destinado exclusivamente aos cafés brasileiros produzidos por via úmida (cerejas descascados ou despolpados) na safra passada.
Conab realizou em 8/10 o quarto e último leilão de contratos de opção de venda para café, ofertando os lotes remanescentes dos três leilões anteriores. Os 4.058 contratos (405,8 mil sacas de 60 quilos) foram arrematados ao preço de abertura de R$ 1,715,00. Produtores e cooperativas do estado de São Paulo compraram 2.936 contratos, os representantes de Minas Gerais, 851, e os do Paraná, 271, adquirindo, com isso, o direito de negociar 3 milhões de sacas em março de 2014, ao preço de referência de R$ 343, caso o mercado ofereça cotações aquém desse patamar. novembro 2013 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Terras
Estrangeiros compram áreas no Brasil
P
ortarias do Incra, publicadas no Diário Oficial da União de 9/10, autorizam a aquisição, por estrangeiros, de três áreas rurais no país: a fazenda Bom Sucesso, em Cristalina (GO), por uma empresa de capital neozelandês; a fazenda Terra Mater, em São Gonçalo do Sapucaí (MG), por um consórcio chileno; e parte da fazenda fazenda Rio Norte, localizada nos municípios de Porto dos Gaúchos e Itanhangá (MT), por um grupo norte-americano. Foram as primeiras aprovações de compra de terras após a entrada em vigor da Instrução Normativa Conjunta do Mapa, MDIC, MDA e Incra, que regulamenta procedimentos para aquisição e arrendamento de terras por estrangeiros.
Agroquímicos
Novas regras para o Acefato
A
Anvisa publicou em outubro o resultado da avaliação do agroquímico Acefato, excluindo algumas modalidades de aplicação e de culturas onde o produto não poderá mais ser empregado. De acordo com a resolução RDC 45/2013, o Acefato não poderá ser aplicado em estufas, de forma manual e costal, nem ser utilizado em produtos de uso domissanitário ou em jardinagem. A nova monografia da substância também proíbe a aplicação nas culturas de cravo, crisântemo, fumo, pimentão, rosae tomate de mesa. Agora, o Acefato só poderá ser comercializado em embalagens hidrossolúveis, onde não haja contato do agricultor com o produto, já que a embalagem é colocada fechada dentro do equipamento de aplicação e se dissolve durante a preparação. A partir de 31/1/15, somente este tipo de embalagem poderá ser utilizada na comercialização. As empresas também terão que fornecer aos agricultores cartilhas informativas sobre os riscos associados ao ingrediente.
Briquetes
Não ao desperdício
B
riquetes feitos com resíduos agrícolas não são novidades, especialmente no Rio Grande do Sul, principal produtor de arroz do Brasil. Assim como acontece em várias regiões do país, no estado há fábricas
14 | Agro DBO – novembro 2013
Armazenagem
Fim da burocracia?
O
decreto 1.964, publicado no Diário Oficial de Mato Grosso em 17/10, facilitou a implantação e operação de armazéns, silos, equipamentos de secagem e beneficiamento dos produtos agrícolas nas propriedades rurais do estado. Antes, a construção de armazéns era considerada ação de alto impacto ambiental, obrigando o produtor rural a cumprir mais de 50 itens para conseguir o licenciamento. Agora, não mais.
O produtor foi dispensado da licença ambiental prévia para instalação, operação e ampliação de armazéns, mas deve apresentar um formulário denominado “Comunicado de Armazém e Silo” acompanhado da documentação exigida pela Sema. Para saber quais são os documentos, acesse o www.sema. mt.gov.br. Maior produtor de grãos e fibras do país, o estado de Mato Grosso tem um deficit de armazenagem 26,2 milhões de toneladas.
produzindo “lenha” com casca de arroz, serragem de madeira e sobras diversas para uso em residências, indústrias, olarias, cerâmicas, etc. A Embrapa Agroenergia vai expor pela primeira vez uma prensa briquetadeira na Renex South America, feira de energias renováveis que será realizada em Porto Alegre (RS),
e produzir ao vivo briquetes das mais diferentes matérias-primas, tais como sabugo de milho, bagaço de cana-de-açúcar, soca de algodão, serragem de pinus e eucalipto, casca de arroz etc. Resíduos agrícolas são cada vez mais valorizados com fonte de energia em substituição à lenha convencional ou carvão vegetal
Notícias da Terra Logística I
Saídas pelo Norte
N
os próximos anos, cerca de 60 milhões de toneladas de produtos antes exportados através do Sudeste e Sul brasileiros, serão embarcados em terminais fluviais ou marítimos do Norte e Nordeste. A previsão é do Coordenador do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, considerando as obras viárias em andamento e os projetos de instalação e ampliação de terminais ou estações de transbordo às margens dos rios Amazonas, Tapajós, Tocantins. A expectativa é que, já na safra 2013/14, o volume de grãos escoado pelo Norte chegue a dois milhões de toneladas, ainda irrisório, considerando a safra prevista, mas significativo em relação ao volume transportado até agora. Um dos caminhos sonhados pelos produtores rurais de Mato Grosso é a BR-163 até o porto de Santarém, no Pará, que já dispõe
de infraestrutura razoável e recebe cargas transportadas por barcaças provenientes de Rondônia e do extremo noroeste de Mato Grosso, pelo rio Madeira – de lá, os navios alcançam o Oceano Atlântico através do rio Amazonas, encurtando pela metade o trajeto Mato Grosso-São Paulo (porto de Santos) ou, mais ainda, Mato Grosso-Paraná (Paranaguá). Outra opção, ainda pela 163, é transportar as cargas até o distrito de Miritituba, em Itaituba, a 150 quilômetros ao sul de Santarém. Portanto, mais perto de Mato Grosso, diminuindo ao meio o trecho não pavimentado. Várias empresas vem investindo em infraestrutura na região. O segundo eixo de escoamento para o Norte é a BR-158, até Marabá, à beira do rio Tocantins, por onde as barcaças podem atingir portos no entorno de Belém do Pará, como Vila do Conde, ou seguir por ferrovia até o porto de Itaqui, no Maranhão. A “alternativa 158”
é mais complicada – exige mais obras na estrada e na hidrovia. Para tornar a navegação viável além de Marabá, é necessário, por exemplo, derrocar o Pedral do Lourenço, nas proximidades do município de Itupiranga (leia nota abaixo).
Logistica II
Pedras no caminho
A
presidente da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Katia Abreu, anunciou em outubro, após reunião com o diretor-geral do no DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, Jorge Fraxe, que o edital para derrocagem do Pedral do Lourenço será lançado até a segunda quinzena deste mês novembro. O Pedral do Lourenço é uma formação rochosa de quilômetros de extensão que aflora à superfície do Tocantins no município de Itupiranga, logo acima de Marabá, inviabilizando a navegação durante o verão amazônico. Sem a derrocagem, a navegação pela hidrovia Araguaia-Tocantins continuará inviável.
Logística III
Opção de exportação pelo Amapá
U
ma comitiva formada por representantes do governo do estado do Amapá e do porto de Santana se reuniu no mês passado em Cuiabá (MT) com dirigentes da Aprosoja e do Imea para apresentar o Porto de Santana como opção
de escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste. De acordo com projeções de seus integrantes, a rota Mato Grosso-Pará-Amapá (considerando transporte rodoviário até os portos fluviais de Miritituba ou Santarém e hidroviário
até o porto de Santana) proporcionaria redução de 30% nos custos de frete para os produtores. Segundo estimativas do Imea, a previsão é que, até 2022, cerca de 36% das exportações de Mato Grosso sairão por Santarém-Miritituba. novembro 2013 – Agro DBO | 15
Notícias da Terra Orgânicos
Brasil Agroecológico
O
governo federal lançou no mês passado o Brasil Agroecológico – Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, cujo objetivo é articular as políticas e ações
de incentivo ao cultivo de alimentos orgânicos com base agroecológica e organização da cadeia produtiva. Inicialmente, serão investidos R$ 8,8 bilhões em três anos, R$ 7 bilhões dos quais por meio do Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e do PAP – Plano Agrí-
cola e Pecuário. O restante dos recursos será aplicado em programas de qualificação, assistência técnica, extensão rural, fomento tecnológico e acesso aos mercados institucionais por meio do PAA – Programa de Aquisição de Alimentos e do Pnae – Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Biomantas
Plantio direto em perenes
N
ão é exatamente plantio direto, mas usa-se o mesmo princípio de preservação da umidade e matéria orgânica na proteção do solo com o uso das biomantas de fibra de coco ao redor dos pés de perenes, como nos coqueiros ou qualquer outra árvore frutífera. A ideia é da Frysk Industrial, empresa do grupo baiano Aurantiaca, que são grandes produtores de coco na Bahia, para venda de sucos e industrialização da polpa. Tudo foi consequência do lixo residual que se formou, tornando necessário o seu aproveitamento, daí a proposta de usar as mantas como protetor do solo ao redor da copa das árvores. Como as biomantas antierosivas são fabricadas industrialmente a partir das fibras vegetais, as elaboradas com fibra de coco apresentam os melhores resultados no quesito custo, tempo de resposta e biodegrabilidade, pois levam mais de 2 anos pa-
ra iniciar decomposição. As fibras têm cerca de 2 cm de espessura e são costuradas formando uma trama bem resistente e protegida por redes de polipropileno ou juta, o que permite uma vida útil suficiente para os vários ciclos de germinação, além de serem altamente sustentáveis. Com investimento de mais de 250 milhões, a empresa atua em toda a cadeia produtiva do coco no município
de Conde, litoral da Bahia. “Hoje temos capacidade para entrega de grande quantidade do produto, com qualidade excepcional”, afirma o engenheiro agrônomo Roberto Lessa, vice-presidente da empresa. As biomantas são aplicadas no setor de bioengenharia, na recuperação de áreas degradadas, erosões, em obras emergenciais, proteção de cursos d´água e também no agronegócio.
Convênio
Parceria em leveduras para etanol lignocelulósico
A
Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba (SP), e o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira assinaram convênio para o desenvolvimento conjunto de leveduras para produção de etanol de segunda geração. É o primeiro passo concreto de interação efetiva entre as duas instituições, na opinião do diretor da Esalq, José Vicente Caixeta Filho. Segundo Jaime Finguerut, assessor técnico da presidência do CTC, trata-se de uma oportunidade para estabelecer uma produção sólida e viável do etanol lignocelulósico. “Essa tecnologia irá revolucionar a produção de etanol no país, tornando esse biocombustível mais competitivo do que nos dias atuais, abrindo oportunidade para uma nova indústria e uma nova geração de profissionais que atuarão neste setor”. 16 | Agro DBO – novembro 2013
Notícias da Terra Fitossanidade I
Combate a CVC
U
ma molécula usada para tratar infecções bacterianas em humanos mostrou-se eficiente no controle de fitopatógenos da citricultura, como a Xylella fastidiosa, bactéria causadora da CVC – Clorose Variegada de Citros, e a Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico. A descoberta foi feita por pesquisadores do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, do IAC – Instituto Agronômico de Cam-
Pesquisa
Estudo sobre vitamina K
E
studo da Faculdade de Ciências Tecnológicas da Universidade de São Paulo demonstra que os índices de vitamina K em alimentos produzidos no Brasil são diferentes daqueles dos Estados Unidos, para mais ou para menos. A população brasileira pode, enfim, saber quanto consome realmente. Até então, produtores, fabricantes de suplementos,
pinas (SP). Eles usaram a molécula para desagregar os biofilmes que protegem a Xylella fastidiosa e a Xanthomonas citri de estresses ambientais (calor e frio excessivos), radiações, compostos antimicrobianos e outros “inimigos”, tornando-as, assim, mais vulneráveis. “Os resultados mostram que a molécula não só reduziu a quantidade de bactérias capazes de colonizar o xilema das plantas, como também foi capaz de reverter os sintomas de plantas com CVC”, afirmou a pesquisadora Alessandra Alves de Souza, do IAC
nutricionistas e outros profissionais da área de saúde utilizavam a tabela nutricional americana. A quantidade da vitamina na acelga brasileira (150,12 microgramas (µg) por 100 gramas), por exemplo, chega a ser cinco vezes menor do que a encontrada na hortaliça produzida nos EUA, que tem cerca de 830 µg/100g. A diferença ocorre em razão do tipo de solo do cultivo, da quantidade de luz recebida, dos dados pluviométricos, da gênese das plantas e outros fatores.
As amostras para o estudo foram coletadas na Ceagesp entre os dez maiores atacadistas. As hortaliças de cor verde foram selecionadas, por serem as maiores fontes da vitamina. Apenas a alface crespa mostrou valores nutricionais similares entre o produto norte-americano e o brasileiro, com taxa de 127,84 µg/100g. “Todas as outras hortaliças tiveram valores diferentes. A tabela utilizada não condiz com a nossa realidade”, avaliou a química Simone Faria, autora de tese de doutorado a respeito
Fitossanidade II
Mapa admite “situação grave”
Wanderlei Dias Guerra
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m entrevista à revista Agro DBO em Brasília, o coordenador geral de Registro de Agrotóxicos do Mapa, Luís Eduardo Pacifici Rangel, revelou que a acelerada disseminação de infestações da Helicoverpa armigera atestada neste início de safra de verão é considerada “situação grave” para a agricultura brasileira. “Com ela, a atual safra de verão será crítica”, alerta. Sobre o combate à lagarta através da utilização do Benzoato de Emamectina – cobrada pelo setor agrícola e cuja importação foi autorizada pelo governo brasileiro este ano –, o coordenador do Mapa afirmou que é provável que o governo emita um decreto de emergência fitossanitária, “provavelmene ainda neste mês de novembro”, permitindo a utilização do produto. Esta medida, segundo Rangel, abolira a necessidade de obtenção do registro. “Entretanto, a ideia é que seu uso seja autorizado para uso pontual, apenas em situações de redução da população de lagartas” (leia reportagem sobre a infestação de lagartas H. armigera página 38 desta edição) novembro 2013 – Agro DBO | 17
Capa
Plantio direto em xeque
Trinta anos depois de implantado com absoluto sucesso no Brasil, o sistema passa por uma revisão. É hora de avaliar erros e retomar as práticas conservacionistas que o consagraram. José Maria Tomazela
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Kuhn / Divulgação
A
Marco Bruschi Neto: “Vou plantar 30% da área com trigo, por causa da palha”.
plantadeira rasga sulcos sobre a soqueira do milho safrinha que já se decompõe no solo e lança a semente de um novo plantio, agora de soja, na fazenda do agricultor Marco Bruschi Neto, nos arredores de Maringá, no Paraná. A máquina de semear segue em linha reta, levantando poeira e deixando um rastro de grãos no interior do solo até ser contida por um aglomerado de touceiras de uma planta daninha conhecida como buva. O plantio é interrompido e retomado adiante, mas logo surgem outros focos da invasora. “Não tem jeito, para tirar a praga vou ter de revolver a terra com máquina”, sentencia o produtor. A área de 300 hectares há muitos anos é cultivada no sistema de plantio direto na palha, sistema que dispensa a intervenção no solo com arado e permite ao produtor colher até 2,4 safras anuais no mesmo pedaço de chão, tornando o agricultor brasileiro extremamente competitivo, da porteira para dentro, em relação aos agricultores de outras regiões do planeta. Muitos dos grandes produtores mundiais de grãos só conseguem tirar, de uma mesma área, uma safra por ano. No Brasil, 27 milhões dos 36 milhões de hectares de culturas temporárias são cultivados mediante plantio direto. Mas a técnica de manejo do solo que substituiu o cultivo tradicional e revolucionou o campo, permitindo ao país dar saltos expressivos em produtividade ao longo das últimas décadas, está numa encruzilhada. Trinta anos depois de ter se tornado o modelo nacional de cultivo, o sistema de plantio direto passa por uma revisão. “É o momento de repensar o sistema e ver o que estamos fazendo de errado”, afirma o pesquisador Rafael Fuentes Llanillo, do Iapar – Instituto Agronômico do Paraná. Segundo ele, a necessidade de trabalhar com culturas mais rentáveis e a confiança excessiva levaram o produtor a se afastar das práticas conservacionistas essenciais para o sistema, como a manutenção dos terraços ou curvas de nível e a rotação de culturas. Resultado: grandes áreas agrícolas cultivadas em plantio direto começam a sofrer processos erosivos e enfrentam infestações por ervas daninhas. O problema é mais grave na região sul do país – Paraná e Rio Grande do Sul, principalmente – pioneira na adoção do sistema, mas já afeta também lavouras do Sudeste e do Centro-Oeste. Para Fuentes, o binômio soja-milho que hoje domina a agricultura de grãos, não favorece o plantio direto na palha. A rotação de soja e milho ou o plantio de soja após soja, como tem ocorrido em algumas regiões, empobrece a cobertura do solo e facilita a erosão. “Levando em conta apenas a renda do grão, muito produtor fica tentado a plantar soja ao máximo, mas acaba não observando que a quantidade novembro 2013 - Agro DBO | 19
John Deere / Divulgação
Capa
A segunda safra de milho produz menos palha do que a primeira, expondo o solo a ação do vento e das chuvas.
Sem cobertura apropriada, como na área abaixo, o solo fica mais exposto à erosão.
Aprosoja / Divulgação
de palha deixada pela oleaginosa é pouca e esta se decompõe rapidamente”, alerta o pesquisador. Para piorar, o uso de máquinas de grande porte tem levado os agricultores a retirar os terraços para facilitar a operação dos equipamentos. Nas regiões em que o milho sucede a soja, como no Paraná, o problema se agrava, pois a segunda safra desse grão produz menos palha em relação à safra de verão, contribuindo para deixar o solo exposto à ação do vento e das chuvas. “Além de perder a umidade propiciada por uma boa cobertura, a terra fica sujeita às chuvas que, por fenômenos climáticos como o aquecimento global, estão se tornando mais intensas”, explica. Em lavouras, tanto na região do arenito, como na do basalto paranaense, já existem
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áreas extensas com sulcos causados pela erosão e, principalmente, com forte infestação de ervas daninhas. Essas pragas criaram resistência aos herbicidas usualmente aplicados na lavoura e se tornaram de difícil controle. Além da buva, têm surgido infestações do capim amargoso, relata Bruschi Neto. “O Roundup (marca comercial de herbicida à base de glifosato) não funciona para o capim amargoso. Quando junta com a buva, fica difícil de controlar, aí é preciso revolver a terra. O custo de produção vai lá em cima.” O produtor reconhece que o sistema de rotação de culturas nas áreas afetadas não foi o mais adequado. “Nos dois últimos anos, tenho plantado só soja e milho. Usei variedades precoces de soja justamente para fazer o milho safrinha. O problema é que essas pragas se desenvolvem na sombra do milho.” Bruschi foi aconselhado a voltar a plantar trigo, cultura que aboliu após sucessivos anos de prejuízo, na tentativa de corrigir o problema. “O trigo é de risco, é difícil dar lucro, mas vou plantar em 30% da área por causa da palha, para ao menos controlar as ervas.” Para o pesquisador do Iapar, o plantio direto requer práticas continuadas, ainda que obriguem o produtor a abrir mão de um lucro imediato. “No médio e longo prazo, o sistema gera maior resultado econômico, pois favorece uma sinergia de ganhos com a menor aplicação de herbicidas e fertilizantes, menos uso de água para irrigação, maior produtividade e, ainda, valorização da terra.” Em palestras e visitas técnicas, Fuentes Llanillo tem recomendado aos agricultores que façam a safra verão do milho ao menos em um quarto ou um terço da área todo ano. Isso significa que, em três
Segundo levantamento recente, cerca 27 milhões/ha de culturas temporárias são cultivadas mediante plantio direto no Brasil. ou quatro anos, toda a área terá uma palhada melhor no solo. As safras de milho safrinha devem ser intercaladas com outros cereais de inverno, como o trigo ou triticale, e culturas de recuperação, como a aveia. Nesse sistema, o produtor não se afasta de seu objetivo, que é obter renda, mas recupera a qualidade do solo. “Só assim daremos longevidade para a tecnologia dos transgênicos, que deve ser usada em favor da produção.” O agricultor Flávio Saito, de Santa Mariana, no norte pioneiro paranaense, vem adotando essas práticas desde 1997 e colhe bons resultados. Embora as culturas principais sejam a soja no verão e o milho safrinha no inverno, ele ocupa parte da área com lavouras que protegem e enriquecem o solo, sem se preocupar com o lado comercial da produção. “Neste momento estamos fazendo a safra verão. Em um quarto da área já plantamos o milho e no restante estamos plantando soja”, explicava, em meados de outubro. Na área do milho, após a colheita entre fevereiro e março, será plantada aveia apenas para cobertura do solo. Já a área ocupada pela soja, terá 50% destinada ao milho safrinha e os outros 50%, para o trigo. Para fechar o cerco contra a buva, a erva daninha que se espalha pela região, ele pretende iniciar o plantio de braquiária junto com o milho safrinha, no próximo ano. A semeadura será simultânea, seguindo um modelo desenvolvido pela Cocamar, a cooperativa que atende a região. “A buva é uma erva agressiva e que dissemina muito rápido, por isso não podemos descuidar”, alerta. Ele observou que a planta daninha aparece geralmente nas áreas de milho safrinha, por isso essa lavoura é trocada de local a cada dois anos.
Divulgação AGCO
Recomendações práticas O engenheiro agrônomo Emerson Nunes, coordenador técnico de grãos da Cocamar, está incentivando os produtores paranaenses ligados à cooperativa a fazer o consórcio do milho com o capim braquiária para proteger o solo. Ele conta que, embora o sistema possibilite a integração da lavoura com a pecuária, a maioria dos produtores está adotando o método apenas para melhorar a proteção do solo. “No arenito, região de pecuária tradicional, tem pecuarista que nos procura para fazer a integração, o que implica em mudança no sistema de gestão da propriedade, mas a maioria dos interessados é agricultor que já começa a ter problemas com o plantio direto”, afirma. Na última safrinha do milho, segundo ele, cerca de 40 mil hectares, equivalentes a 5% da área culti-
Entidades criaram no Paraná o Grupo de Plantio Direto com Qualidade para restaurar o sistema
vada na região, foram plantados em consórcio com a braquiária. Esse plantio é feito entre fevereiro e março, após a colheita da soja. Na região, o capim é semeado na entrelinha do milho, à razão de seis quilos de sementes por hectare. Nessa quantidade de sementes, não há necessidade de alterar a população de milho por hectare e a braquiária não entra em concorrência com o grão. “O sombreamento do milho freia o desenvolvimento da braquiária, garantindo o bom resultado do consórcio.” Após a colheita do grão, entre o final de julho e início de agosto, a braquiária se desenvolve e ganha volume. O agricultor pode, então, soltar o gado para aproveitar o capim ou, não tendo a opção do rebanho, fazer o controle com herbicida. O capim deve ser dessecado vinte dias antes do novo plantio. A braquiária, segundo Nunes, tem se mostrado eficiente no controle da buva e do capim amargoso e ainda ajuda a descompactar o solo. “Também reduz as perdas em caso de estiagem, mantendo a umidade e temperatura do solo.” Ele recomenda que o manejo seja acompanhado por um técnico. Em áreas de solo fértil, a braquiária se desenvolve mais e pode entrar em competição com o milho. Em parceria com a Embrapa, Emater-PR, Faep –Federação da Agricultura do Paraná, Ocepar – Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, FEBRAPDP – Federação Brasileira do Plantio Direto na Palha, empresas e universidades, pesquisadores do Iapar criaram em 2009 o Grupo Estadual de Plantio Direto com Qualidade, visando à restauração do sistema. Após viagem de estudo pelas
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Iapar / Divulgação
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várias regiões do estado, elaboraram um conjunto de recomendações a serem aplicadas no campo, entre elas a retomada em pesquisas para adaptar as práticas de manejo do solo e de rotação de culturas aos novos modelos de cultivo. Também se fará a demonstração das vantagens financeiras e ambientais com o retorno das práticas de controle de erosão e de recuperação dos solos. As cooperativas serão estimuladas a dar suporte à comercialização de produtos e máquinas compatíveis com o sistema de plantio direto. Ao lado da premiação dos produtores que se destacarem nessas práticas, haverá punição para aqueles que desleixarem os cuidados com a terra, com base na legislação ambiental e de uso e ocupação do solo. Já se constatou que, em algumas regiões, os terraços foram removidos para facilitar o uso do maquinário. Sem essas barreiras, a
Programa em curso no Paraná vai premiar agricultores que se destaquem pelo uso correto das recomendações agronômicas.
Plantio pioneiro O agricultor Herbert Bartz, de Rolândia, norte do Paraná, reconhecido como pioneiro na experiência do sistema de plantio direto no Brasil, acredita que o sistema tem ainda muito a fazer pela agricultura, mas depende essencialmente do agricultor. “O produtor deve se dar conta de que o passo que demos é um passo secular. Na história da humanidade, muitas civilizações se extinguiram porque em 200 ou 300 anos os solos se esgotaram. Nós temos clima, informação e bons agricultores para mudar essa história.” Bartz reconhece que, em algumas regiões, a técnica precisa ser ajustada às características locais, mas lembra que o sistema já foi adotado praticamente no mundo todo com enormes benefícios para a agricultura e o meio ambiente. O homem que ‘inventou’ o plantio direto do Brasil sobreviveu aos horrores da II Guerra Mundial e passou fome no pós-guerra. Herbert Arnold Bartz nasceu em Rio Sul (SC), mas ainda pequeno teve de viajar com o pai de volta
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enxurrada carrega a tênue cobertura de palha, além de agrotóxicos e fertilizantes, para rios, córregos e nascentes. Muitos desses rios são utilizados para a captação de água. Em Castro, no leste do Paraná, o abastecimento foi interrompido por três dias após um período de fortes chuvas porque as águas receberam grande quantidade de terra e matéria orgânica. A Adapar – Agência de Defesa Agropecuária do Paraná já autuou produtores e técnicos responsáveis pelos danos ambientais. No Rio Grande do Sul, técnicos da Embrapa Trigo iniciaram um movimento para recuperar o sistema. Para o pesquisador José Eloir Denardin, em grande parte das lavouras anuais de grãos dos dois estados, o sistema plantio direto não está sendo adotado e conduzido de acordo com as recomendações mínimas que o viabilizou como ferramenta
para a Alemanha, em busca de socorro médico para a mãe, que estava doente. Com a eclosão da guerra, o pai de Herbert não teve como sair do país e foi obrigado a alistar-se no Exército. A família ficou abrigada no porão da casa em Dresden, sob as bombas das forças aliadas. Apenas em 1960, dois anos após a morte da mãe, Herbert consegue voltar ao Brasil, estabelecendo-se em Rolândia. Sua família foi a primeira a plantar soja no Paraná, com sementes trazidas do Rio Grande do Sul. As perdas de colheita principalmente pelo excesso de chuvas levaram o agricultor a voltar sua atenção para a conservação de solo. Ele conta que, numa noite, em 1971, saiu de casa sob um temporal para observar a ação da chuva na lavoura. Foi quando viu a enxurrada levando embora a flor da terra, com adubo, sementes e alguns embriões em formação. No ano seguinte, Herbert foi à Europa e logo depois para os Estados Unidos, onde conheceu uma fazenda que plantava sem preparar o solo da forma convencional. Ele trouxe a ideia para o Brasil, mas passou por muitos contra-
“A negligência na adoção dos preceitos técnicos fundamentais do sistema vem se traduzindo em prejuízos econômicos e ambientais” da agricultura conservacionista no Brasil. “As consequências dessa negligência vêm se traduzindo em prejuízos econômicos e ambientais, que variam desde perdas de fertilizantes e corretivos, provocadas pela enxurrada, até frustrações de safra, motivadas por deficit hídrico, quando da ocorrência de pequenos períodos sem chuva.” Com os colegas Antonio Faganello e Anderson Santos, também da Embrapa, ele pesquisou o sistema utilizado e comparou com aquele recomendado para a plena adoção do plantio direto. A partir da década de 1980, o sistema passou a ser conceituado como um complexo de processos tecnológicos destinado à exploração agropecuária, considerando a mobilização de solo apenas na linha ou cova de semeadura, bem como a manutenção permanente da cobertura do solo, e ainda a diversificação de espécies, via rotação de culturas. No início dos anos 2000, segundo os pesquisadores, foi incorporado a esse conceito mais um processo tecnológico, o processo colher-semear, que corresponde à redução ou supressão das entressafras, mediante intensificação da rotação ou consorciação de culturas. Essa interação de processos tecnológicos é recomendada para a adoção do sistema plantio direto e apresenta potencial para imprimir caráter de sustentabilidade aos sistemas agrícolas produtivos. “Contudo, após mais
Estragos evidentes De acordo com os pesquisadores, já ocorre degradação do solo com aumento da densidade e da resistência do solo à penetração, redução da porosidade e da taxa de infiltração de água, deformação morfológica de raízes e concentração de raízes na camada superficial do solo. Observou-se ainda a ocorrência de erosão, com arraste de nutrientes, fertilizantes e corretivos pela enxurrada e prematura expressão de deficit hídrico, por ocasião de pequenas estiagens. “Esses problemas resultam do descaso com a adoção plena dos processos tecnológicos que compõem o sistema plantio direto”, advertiu Dernardin. Ele destaca, entre as práticas deficientes, a incipiente rotação de culturas, insuficiente cobertura de solo, pequena adição de fitomassa (palhada) ao solo, manejo inadequado do sistema de integração lavoura-pecuária, uso de semeadoras equipadas, exclusivamente, com discos para abrir os sulcos de semeadura, ausência de práticas mecânicas para manejo de enxurrada, abandono da semeadura em contorno, escarificação esporádica Divulgação AGCO
tempos até que os resultados começassem a aparecer. Foi quando ganhou o apoio de institutos de pesquisas, como o Iapar, e o sistema se difundiu. Dois anos depois, auxiliada por Bartz, a comunidade de Mauá da Serra, a 75 km de Londrina, adotou de forma conjunta o plantio direto. Em novembro do ano passado, foi inaugurado ali o Museu Regional do Plantio Direto, uma homenagem aos precursores da tecnologia. No espaço estão implementos e máquinas usados no início do plantio direto no Brasil, como uma semeadora Allis Chalmers, trazida por Herbert Bartz dos Estados Unidos em 1971, um protótipo que deu origem à Rotacaster 80, primeira semeadora brasileira para plantio direto, a Entrelinhas, fabricada pela Hatsuta do Brasil, e a TD 300 desenvolvida pela Semeato. Com área de exposições, auditório com 300 lugares e 10 mil m2 de área total, o museu marca os 38 anos da adoção do plantio direto pela comunidade local, dois anos após as primeiras experiências de Bartz em Rolândia.
de 70 safras agrícolas da adoção do sistema plantio direto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o que se observa são problemas que comprometem da estabilidade da produção agrícola”, afirmou.
A rotação de culturas (além do binômio soja-milho) é uma das receitas básicas do sistema
novembro 2013 - Agro DBO | 23
Capa O sistema depende do esforço conjunto de agricultores, técnicos, pesquisadores e empresas para apresentar os melhores resultados.
do solo sob justificativas mal fundamentadas e excessivo uso de calcário. O modelo de produção baseado na soja, segundo o pesquisador, gera quantidade e qualidade de palha abaixo do necessário para cobrir o solo satisfatoriamente. “A quantidade de fitomassa para manter ou construir a estrutura de um solo nessa região do país é da ordem de 8 a 12 toneladas por hectare ao ano. A sucessão soja com pousio vegetado com aveia preta ou azevém espontâneos dificilmente produz a metade disso. Diante desse modelo de produção a degradação biológica, física e química do solo é evidente e progressiva”, alerta. Os pesquisadores concluíram que, no dois estados do Sul, a adoção do sistema de plantio direto, como real ferramenta da agricultura conservacionista, é apenas rudimentar. “Práticas simples, como a disposição de terraços para evitar enxurradas e o controle na aplicação de calcário, foram abandonadas.” Segundo o estudo, até mesmo técnicos têm dificuldade em diferenciar sistema de plantio direto de semeadura direta. “Diante desse quadro, é evidente que ações orientadas à transferência de conhecimentos e de tecnologias relativas à agricultura necessitam ser retomadas e fortalecidas”, afirma Denardin. No Cerrado, que compreende áreas do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a dificuldade é manter uma boa palhada no solo. O problema está associado ao regime de chuvas na região que se caracteriza por apenas seis meses de precipitações. A partir de março, as chuvas cessam e só voltam a ocorrer no final de setembro. Lavouras como soja, feijão e algodão conduzidas no verão produzem pouca palha. Técnicos apontam o consórcio entre milho e braquiária como solução para manter o solo coberto e para a retomada na produção desse grão, que vem sendo reduzida na região. 24 | Agro DBO - novembro 2013
Uma das vantagens do sistema de plantio direto é manter a terra sempre ocupada
No Cerrado, lavouras como soja, feijão e algodão produzem pouca palha. Entre outras razões, devido ao regime de chuvas..
Mais área O governo brasileiro quer ampliar em nove milhões de hectares até 2020 a área cultivada no sistema de plantio direto no país. O objetivo é elevar dos atuais 27 milhões para 36 milhões de hectares o total plantado de acordo com essa técnica. A meta está prevista no Programa ABC – Agricultura de Baixo Carbono, lançado em 2010 para reduzir o impacto das atividades agrícolas na emissão de CO2 (dióxido de carbono). De acordo com o pesquisador Luiz Adriano Maia Cordeiro, do Departamento de Transferência de Tecnologia da Embrapa, cada hectare de plantio direto reduz em uma tonelada por ano a emissão de CO2 em relação ao plantio convencional. O Programa ABC concede créditos e benefícios para os agricultores que desejam adotar técnicas agrícolas sustentáveis. A taxa de juros é de 5,5% ao
John Deere / Divulgação
Marchesan / Divulgação
Alguns produtores também plantam a gramínea junto com a soja, mas o engenheiro agrônomo Ronaldo Trecenti, consultor da APDC – Associação do Plantio Direto no Cerrado, alerta que a prática envolve riscos. “No momento em que a soja começa perder as folhas, a braquiária passa a ter um desenvolvimento mais acelerado e forma massa capaz de dificultar a colheita, obrigando o produtor a aplicar dessecante.” Em muitos casos, o volume de massa da braquiária é tão grande que compromete o sistema de limpeza da colheitadeira. Uma opção, segundo ele, é semear a braquiária quando a soja entra no período de maturação – a chamada sobressemeadura. Nesse caso, a gramínea vai ganhar corpo só depois da soja colhida.
Iapar / Divulgação
ano e o prazo de pagamento pode chegar a 15 anos. Na safra 2012/13, o programa recebeu recursos de quase R$ 1 bilhão, seis vezes mais do que na safra anterior, o que mostra, segundo ele, a disposição do governo de incentivar as práticas sustentáveis na agricultura. O sistema de plantio direto permite outro manejo considerado importante para reduzir as emissões de carbono na atividade agropecuária: a integração lavoura-pecuária, com a pastagem entrando no sistema de rotação de cultivos. Uma das vantagens dessa tecnologia é fazer com que a terra fique o tempo todo ocupada. Isso impacta diretamente no valor das propriedades, já que ela aumenta de forma considerável sua capacidade produtiva, diz a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Giovana Maciel. “Considerando o período de um ano, quando o agricultor apenas planta soja, ele mantém suas terras ocupadas em 42% do tempo. Por outro lado, se ele planta soja, depois milho segunda safra consorciado com capim para ser usado como pastagem, e ainda, como palhada para o plantio direto, ele passa a ocupar a terra em 92% do tempo com atividade rentável”, explica. A possibilidade de expandir as lavouras sobre áreas de pastagens, e vice-versa, pode contribuir para aumentar a produção de grãos sem a necessidade de abrir fronteiras agrícolas, e elevar a produção de carne e leite sem ampliar as áreas de pastagens permanentes. Há ainda sistemas em desenvolvimento que permitem a extensão do plantio direto para culturas que ainda não o utilizam ou o fazem de forma incipiente, como a cana-de-açúcar e a mandioca. Nos dois ca-
Os pesquisadores constataram que práticas simples, como a disposição de terraços, foram abandonadas.
sos, o reimplante das culturas pode ser feito com um mínimo de intervenção no solo, em consórcio com outras plantas. De acordo com a Embrapa, o plantio direto compreende um conjunto de técnicas integradas que visam a melhorar as condições de água, solo e clima para a exploração do potencial genético das culturas. Respeitando os três requisitos mínimos – não revolvimento do solo, rotação de culturas e uso de cobertura para formação de palhada, associada ao manejo integrado de pragas, doenças e ervas daninhas – o plantio direto não deve ser visto como uma receita universal, mas como um sistema que exige adaptações locais. O órgão de pesquisa do governo federal lembra que o sistema depende de uma integração contínua de esforços de agricultores, pesquisadores, técnicos e empresas para apresentar os melhores resultados. “A adoção do plantio direto melhora a relação do homem com a natureza e proporciona economias significativas para a sociedade, já que reduz em até 70% o consumo de óleo diesel, diminui em até 90% as perdas de solo por erosão, aumenta o sequestro de carbono e possibilita a produção de alimentos com pouco impacto sobre o meio ambiente”, informa a Embrapa. O sistema permite também o cumprimento do calendário agrícola, validando as recomendações do zoneamento. Por suas características, segundo a Embrapa, o plantio direto é a mais importante ação ambiental brasileira em atendimento às recomendações da ECO 92 – Conferência da Organização das Nações Unidas e da Agenda 21 brasileira. novembro 2013 - Agro DBO | 25
Artigo
Soja com Nitrogênio? Afinal, quanto custaria ao sojicultor se tivesse que aplicar fertilizantes nitrogenados? Nosso colunista fez as contas. Décio Luiz Gazzoni *
P
or ser um grão de alto conteúdo de proteína (perto de 40%), a soja apresenta alta demanda de Nitrogênio (N). Para cada tonelada produzida são necessários 80 kg de N, ou seja, na produtividade média do Brasil (3.000 kg/ha) a planta utiliza 240 kg de N. Como a eficiência de utilização dos fertilizantes nitrogenados químicos é cerca de 50%, seriam necessários 1,1 t de ureia para obter essa média. Considerando o preço de R$ 1.300,00/t de ureia, a adubação química custaria ao produtor R$ 1.430,00/ha/ ano. Nos 27,5 milhões de ha plantados na última safra, os produtores teriam despendido R$ 39,3 bilhões. Estima-se que o custo de
suem a capacidade de capturar o N do ar, onde ele representa 80% da atmosfera, e fixá-lo em substâncias por elas produzidas. Estas substâncias, com alto teor de N, são usadas pelas bactérias como moeda de troca com a planta de soja, que devolve outras substâncias necessárias à nutrição das bactérias. Assim, em um processo de ganha-ganha, conhecido como simbiose, ocorre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que atende a demanda da planta por este elemento, dispensando a adubação com N. Outras leguminosas, como o feijão, são beneficiadas pelo mesmo processo, que foi desenvolvido por instituições de pesquisa lideradas pela Embrapa.
Pela cotação da soja são necessárias 35,5 milhões de t só para o adubo nitrogenado!
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
produção da última safra tenha sido de R$ 49,5 bilhões. Assim, a adubação química representaria um acréscimo de 79%. Pela cotação da soja posta Paranaguá (PR) em 24/7/13, seriam necessárias 35,5 milhões de t apenas para pagar o adubo nitrogenado! O leitor reparou que, no parágrafo acima, usamos muitos verbos no condicional. Isto porque o agricultor gastou menos de 1% do valor do adubo nitrogenado para obter o mesmo Nitrogênio. Mágica? Não, Ciência. No lugar de aplicar N, os produtores brasileiros, no plantio, recobrem as sementes com um produto que contém alta concentração de bactérias do gênero Bradyrhizobium. Elas pos-
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Apesar dos resultados entusiasmantes dos últimos anos, alguns estudiosos suspeitaram que altos rendimentos de soja, como os recordes recentes, superiores a 4.000 kg/ha, receberam N adicional, além daquele fornecido pelas bactérias. A Embrapa realizou mais de 100 experimentos na última década, em diversas regiões produtoras de soja. Os resultados mostraram que a adubação com nitrogenados na semeadura (variando de 20 a 40 kg de N/ha), no florescimento (com 50 kg a 100 kg de N/ha), ou mesmo na formação de vagens e enchimento dos grãos (com 50 kg de N/ha) não traz benefícios para a soja. Ao contrário, a adubação provoca decréscimos
na nodulação, sem aumentar o rendimento. Os estudos incluíram tanto plantio convencional quanto direto, cultivares transgênicas ou convencionais, ciclos precoce ou médio, e tipo de crescimento determinado ou indeterminado. Na safra 2012/13, sob a coordenação do CESB - Comitê Estratégico Soja Brasil, foram conduzidas avaliações, em diversas regiões, para averiguar a necessidade de complementação com nitrogenados. O resultado final foi igual ao obtido pela Embrapa: em mais de 80% dos locais não houve alteração da produtividade pela adubação com ureia. Nos demais casos, os ganhos de produtividade foram muito pequenos, sendo questionável se a prática apresentaria retorno econômico. Observou-se que, nos casos em que acréscimos de produção foram obtidos com adubação nitrogenada, não foi possível assegurar que a inoculação das sementes, feita pelos produtores, seguiu todas as recomendações técnicas, e que os demais requisitos de fertilidade foram atendidos, como os teores adequados de Cobalto e Molibdênio, que são elementos químicos essenciais para que a simbiose entre a planta e as bactérias seja a ideal. A previsão do Ministério da Agricultura é que, em 2023, o Brasil possa produzir até 123 milhões de t de soja. Mais do que nunca, a FBN será importante para assegurar a competitividade e a rentabilidade dos produtores. Se fosse necessário usar adubo nitrogenado, 53 milhões de t de soja seriam usadas para pagar o adubo!
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Entrevista
“Bienalidade do café é ficção”
GSB2
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Carlos Brando, pausa para saborear um cafezinho de qualidade.
Agro DBO - Em culturas anuais as crises de preços duram 2 a 3 anos. Nas perenes, de 5 a 7 anos. Até quando vai essa crise de preços do café? Carlos Brando – Fizemos um estudo recente, olhando produção e consumo mundial, e o que vimos de interessante é que a tendência de consumo é muito boa, crescendo de 2% a 2,5% ao ano, talvez até um pouco mais. Mas existe a tendência de a produção ser maior do que o consumo nos próximos 5 a 7 anos. Agro DBO – Por que isso? Brando – O problema que a gente observa nisso é que há dois grupos de produtores, e isso é muito claro, especialmente no Brasil. Os grandes são altamente organizados, têm elevado uso de tecnologias, e conseguem alta produtividade; e pequenos produtores sobrevivendo com
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respeitado consultor Carlos Brando, 63 anos, diretor da P&A Marketing Internacional, concedeu entrevista exclusiva para Agro DBO, conduzida pelo editor-executivo Richard Jakubaszko, e destaca sem receios que a tradicional bienalidade atribuída à produção cafeeira é hoje forte candidata à extinção diante da vasta área de plantio no Brasil, do uso intensivo de tecnologia e da diversificação de variedades e manejos praticados pelos cafeicultores. Paulista de Espírito Santo do Pinhal, onde sempre viveu e trabalhou, formou-se em engenharia civil e tem pós graduação à nível de doutorado em economia pelo MIT, Massachusetts Institute of Technology, localizado em Cambridge, no estado norte-americano de Massachussetts. Brando foi diretor da Pinhalense Máquinas Agrícolas, de onde se desligou em 1995 para formar uma trading exportadora de máquinas da empresa, da qual continua acionista até hoje, e também sua empresa de consultoria, especializada no agronegócio, mas com foco no café, sua especialidade, apesar de nunca ter sido cafeicultor.
preços baixos, mas produzindo, e estes juntos desarmam no mercado qualquer reação nos preços, porque é nesse segmento que a produção tem aumentado, pois novos cafeicultores surgem quase todo dia. Não vejo luz no final do túnel nos próximos 2 a 3 anos. A não ser que caia a produção. Agro DBO – Como o mercado internacional acompanha isso? Brando – O preço composto da OIC, Organização Internacional do Café, é um indicador de uma média de Robusta e Arábica, de café natural e lavado. Em 8 dos últimos 13 anos, o preço composto esteve abaixo do que está hoje. Mas a produção aumentou. No Brasil, nesses 13 anos, durante os últimos 5 ou 6 anos, o preço esteve bastante abaixo do que está hoje, e o Brasil aumentou a produção na base de 3,5% ao ano.
Agro DBO – Por que isso acontece? Brando – Porque o pequeno produtor não olha o preço que a Conab publica, ele olha o desembolso. Pagou, recebeu, e vê o que sobrou. Muitas vezes não considera nem o preço da mão de obra dele, e continua produzindo. Além disso, sair do café, para quem está em área de montanha, é difícil, porque as alternativas são poucas. Fora isso, é mais complicado mudar a mentalidade de uma cultura do perene, de um produto “não perecível”, porque pode estocar por alguns anos, para mudar para hortaliça, fruta ou flor, é extremamente complicado. A tendência é de que esses pequenos produtores usem menos insumos e tecnologias, e vão produzir menos, mas não vão parar de produzir, no curto prazo, confirmando a assertiva da sua primeira pergunta, com crises de 5 a 7 anos nas perenes.
Agro DBO – A crise é só do Arábica, e não do Conilon? Brando – Não dá mais para falar junto, nem em consumo e nem em produção, porque a projeção de consumo nesses próximos 5 a 7 anos, prevê que para cada saca de Arábica que vai aumentar, serão 3 sacas de Robusta. Porque o consumo está mudando. Antes o consumo era concentrado na Europa, EUA e Brasil. Agora a Ásia começa a consumir café, e lá, mercados novos e emergentes, eles consomem principalmente solúvel, e neste a matéria-prima principal é o Robusta. Agro DBO – Existe comparação entre a crise da laranja com a do café? Brando – Não entendo quase nada de laranja. A questão é que o suco de laranja, nos EUA, passou a ser considerado como um produto não muito saudável, porque engorda. O consumo do suco de laranja por lá caiu, justo no país onde eles são disparados o maior consumidor. Mas isso é o que eu escuto e li por aí. Desta forma, o problema da laranja é ao contrário do café pois há uma queda de demanda associada à saúde. O café já esteve na lista negra dos EUA, por ter cafeína, mas isso tem mais a ver com a briga e o lobby da indústria de alimentos e refrigerantes do que de bases reais. O positivo é que o café tem atualmente uma onda favorável, endossada por cientistas, de que seu consumo é positivo à saúde.
res tratos culturais, como podas, irrigação etc. Temos um componente estatístico muito grande nessa questão, quando você olha o país como um todo. A bienalidade é mais forte em Arábica do que no Robusta, então temos cafezais e cafezais, e como as distâncias geográficas são grandes, e os manejos são diferentes, a tendência é desaparecer essa diferença estatística. Essas lavouras de altíssima produção funcionam como anticíclicas. É claro que um cafezal sempre terá a sua bienalidade, de alta e baixa, mas estatisticamente, no país, a questão tende a ser minimizada. Antigamente as geadas tinham o poder de homogeneizar tudo. Este ano, por exemplo, conheço cafeicultores que fizeram poda rigorosa, para ter Safra Zero em 2014, porque sabem que teremos alta produção no próximo ano, e optaram por não colher. Aí, a própria poda tende a ser anticíclica. Ao mesmo tempo, a diminuição da bienalidade gera o problema da superprodução, que é a causa dos preços baixos.
Agro DBO – Essa questão da bienalidade estatística, você consegue representar por números? Brando – Claro, veja, melhoramos a produtividade média, antes era 14 sacas e hoje é de 23 sacas por hectare, média de quatro anos. Então, a gente tinha, por exemplo, ano de produção 100 e ano de 60, ao somar e dividir tinha média de 80. De repente, pelas diferenças de regiões, melhoramentos dos tratos culturais, temos 100 na alta e 90 na baixa, então a média é 95. Só aí nós temos um aumento de produção, que muitas pessoas não enxergam, não tem nada a ver com o café, é só um fato estatístico. Agro DBO – A salvação para o cafeicultor continua sendo o aumento da produtividade? Ou dá para se sustentar com cafés de alta qualidade, com valor agregado? Brando – Às vezes, o aumento da produtividade pode ter efeito perverso. Quando o preço baixa, o cafeicultor investe para aumentar a produtividade, e a produção
Terreiro tradicional de secagem de café
GSB2
Agro DBO – Quais são as causas dos preços baixos? Raramente observaram-se, no passado, preços tão desestimulantes em anos de bienalidade baixa como em 2013. Brando – Se olharmos a bienalidade do café, nos últimos 10 ou 12 anos, ela tem caído, vem diminuindo, e bastante, a ponto de alguns considerarem que está em extinção, inclusive, porque o país é muito grande. Afora isso, investimentos em tecnologias, melhonovembro 2013 – Agro DBO | 29
Entrevista
CECAFÉ
aumentando num ritmo forte e vai extrapolar a capacidade de absorção do mercado interno. Aí, vai ter de exportar Conilon, e pra isso vai precisar alinhar aos preços internacionais. O Espírito Santo vai ter de passar por um processo de melhora de qualidade e eficiência.
aumenta, e isso causa mais baixas. Individualmente pode ser a solução, mas se todo mundo fizer isso ao mesmo tempo é ruim. O que é interessante é que hoje 50% da produção mundial de café está dividida entre o Brasil e o Vietnã, mas juntos os dois países só tem 25% da área total cultivada. Isso dá média, aos dois países, de 25 sacas por hectare, e deixa o resto do mundo com menos de 10 sacas de média. É uma disparidade tremenda. Então, quando a gente olha e vê excesso de produção, temos que ver, principalmente, Brasil e Vietnã. E são os únicos com potencial de aumentar a produtividade, apesar de já estar alta. Agro DBO – O que o cafeicultor pode fazer para sair do buraco? Esperar que outros produtores saiam do mercado? Brando – Um dos caminhos é o que você sugeriu na pergunta anterior, pela qualidade, só que você não consegue vender qualidade pra todo o mundo. Os outros caminhos são baixar custo de produ30 | Agro DBO – novembro 2013
ção e aumentar a produtividade, ou cair fora da atividade. Por isso é que sempre pergunto, qual seria a melhor política de governo: reter café pra tentar segurar preço, ou criar um subsídio para tirar os ineficientes do mercado? O cafeicultor menos eficiente hoje é principalmente o médio, e ele, hoje, provavelmente, é o que teria mais facilidade para diversificar a atividade, porque tem maior acesso às tecnologias, tem maior tamanho, tende a ser mais escolarizado. Agro DBO – O Conilon está fazendo um marketing mais adequado que o Arábica? Brando – Sim e não. Acho que o Conilon até hoje foi comprado. Porque o mercado nacional é comprador de Conilon. Vendeu-se Conilon, nos 2 últimos anos, 20% acima da Bolsa de Londres, porque existe uma demanda forte do torrefador brasileiro, o mercado é fechado, não se consegue importar. Mas isso é uma bonança que se aproxima do fim. Isto porque a produção do Espírito Santo está
Agro DBO – O que o Governo Federal deveria ter feito e não fez? Brando – Sou favorável, hoje, a se criar um programa de incentivos para retirar do mercado de produção o cafeicultor menos eficiente. Seria bom para o país, porque esse produtor vai produzir outra coisa de forma mais eficiente, mas isso tem de ser feito de maneira ordenada. A produção da cafeicultura brasileira tem crescido, mas sem crescer a área. Temos ilhas de ineficiência, mas que nem sempre são ilhas geográficas, mas pelo tamanho do produtor. Não temos crise de competitividade, em Arábica, por exemplo, somos os mais competitivos do mundo. Mas temos uma crise de rentabilidade. Não adianta ser competitivo, produzir por preço mais baixo e o cafeicultor ficar perdendo dinheiro. No Conilon já é diferente, mas tudo isso depende de “arbitragem”, que é a diferença do preço entre Arábica e Robusta. Hoje o preço do Arábica de baixa qualidade está muito próximo do Robusta, o que já indica uma mudança, pelos grandes torrefadores internacionais, e que começa a acontecer no Brasil, de o torrefador sair do Robusta e voltar para o Arábica. Ou seja, tudo o que eu falei antes pode mudar, porque há uma demanda maior pelo Arábica, mas até quando vai isso? Porque aí cai o preço do Conilon... Ou seja, como em tudo na vida, é sempre difícil prever o futuro. Agro DBO – Tentativa de tirar cerca de 3 milhões de sacas do mercado com pagamento somente em abril de 2014 é medida acertada?
Se quisermos ser exportadores, precisamos antes atrair as grandes marcas de café. Esta seria a grande jogada.
Agro DBO – Comenta-se que iríamos importar café da Colômbia, para melhorar a qualidade do mix e dos blends. Não é um vexame isso? Não é um reconhecimento, por vias tortas, de nossa incompetência na gestão da imagem do café brasileiro? Brando – Não há razão para fazer isso. Eu acho que Brasil e Colômbia não são concorrentes diretos, eles produzem um café substancialmente diferente, que concorre numa pequena faixa de mercado, mas não na faixa total. Hoje, o Brasil é a base do blend mundial. Somos os maiores fornecedores do mundo para a Nespresso, Starbucks, isso é inquestionável. A Colômbia ocupa um espaço de cafés de alta acidez que fazem parte importante de um blend, mas se formos ver, historicamente, essa participação é decrescente. Crescem os naturais e crescem os Robustas. Portanto, não é verdade que o café colombiano precisa ser importado
para melhorar a qualidade do mix e do blend. Isto só seria necessário se o Brasil resolvesse ser um grande exportador de café industrializado, aí sim, precisaríamos importar, porque os cafés que se vendem no mundo são ligas originárias de vários países. Entretanto, não temos marcas, estas pertencem aos países importadores e às grande empresas, 6 ou 7 que dominam o mercado. Agora, se quisermos ser exportadores, precisamos antes atrair para o Brasil as grandes marcas de café. Esta seria uma grande jogada.
Zona de Processamento de Exportação, um porto livre, nós atraímos essas empresas para o Brasil. O Equador fez isso, e hoje eles são um grande exportador de solúvel, e eles produzem muito pouco café. Eles importam café do Vietnã, do Brasil, da Costa do Marfim, industrializam e exportam.
Agro DBO – Como se faria isso? Brando – Então, vamos supor que um grande torrefador lá fora, hoje, use 60% de cafés de todas as origens e 40% do Brasil. Se a gente trouxer esse torrefador aqui para o Brasil, num primeiro momento, ele pode continuar fazendo a mesma coisa. Mas aqui ele vai perceber que pode importar só 5% ou 10%, com forte redução de custos de importação e de transporte, etc., o que vai favorecer a exportação dele, do Brasil para o mundo. E o Brasil ganha com isso. Mas ele jamais fará isso estando lá fora. Se fizermos uma
GSB2
Brando – Eu me preocupo com essas notícias. A intenção é evidente, e vai ajudar aos que participarem. Agora, quanto maior o volume, provavelmente ele vai ter um efeito mais longo para deprimir preços futuros. Porque isto fica como uma nuvem negra pairando em cima do mercado. Nós deixamos de exportar em 2012 entre 5 ou 6 milhões de sacas, mais as 3 milhões que você citou, chegamos a 8 milhões, e esse número vai aumentando. Vai regular o mercado pra baixo, lá no futuro. A não ser que se faça uso desse estoque como promoção de abertura de novos mercados em países de baixo consumo. Ou seja, a gente se livra desse estoque, criando novos mercados. Nisso seria positivo.
Agro DBO – Que caminhos nossas lideranças governamentais, setoriais e regionais deveriam seguir para reverter rapidamente a situação atual? Brando – Deveríamos fazer algo que muitas lideranças e mesmo no governo não querem, ideias às quais não são simpáticos, mas seria necessário fazer. Precisamos dar incentivos aos ineficientes para irem em busca de alternativas positivas para eles. Precisamos ainda gerar tecnologias para os cafés de montanhas, com mecanização, especialmente, porque 70% dos nossos cafés estão em montanha, onde é mais caro produzir. É grande a diferença do custo de produção comparado com as áreas planas. Isto no lado da produção. No lado do consumo e do marketing não estamos fazendo nada para incentivar a demanda. Se somos líderes mundiais, pergunto: a quem cabe incentivar o mercado a consumir mais? Temos um Funcafé com mais de R$ 2 bilhões de reais, mas o nosso investimento em marketing é pífio. Teremos uma Copa do Mundo, em 2014, e uma Olimpíada em 2016, com turistas nos visitando, originários do mundo inteiro, e o que planejamos fazer? Temos que sair do individualismo típico do Brasil, e passarmos a pensar e agir coletivamente, caso contrário as soluções serão sempre muito difíceis. novembro 2013 – Agro DBO | 31
Café
Manejo sustentável e agronômico Para se obter produtividade máxima na lavoura, algumas práticas culturais são indispensáveis, entre as quais a condução dos matos. Hélio Casale *
O
cultivo do cafeeiro não é diferente das demais culturas e está sujeito às regras de mercado, devendo obedecer a uma das mais importantes leis que regem o negócio das commodities – a lei da oferta e procura. Anos de preços bons são alternados com outros não tão bons. Ao cafeicultor sobra uma alternativa para sobreviver decentemente em tempos de crise – conseguir fazer com que suas lavouras al-
Noo non onoono noonono non nono non nonnon non nono nononono non
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cancem a máxima produtividade econômica. Já está mais do que sabido que não basta produzir, o que vale é a diferença, ou seja, o quanto fica no bolso. Fala-se muito em cafeicultura sustentável, sendo a única com foco realista a que remunera o produtor e ainda deixa uma margem de ganho que pode ser reaplicado na melhoria do empreendimento e dar uma vida digna a seus familiares, deixando para seus descendentes ou mesmo para
seu sucessor, uma terra muito melhor e mais equilibrada nutricionalmente. Isso sim, é fazer cafeicultura sustentável. Grande parte das nossas lavouras de café está instalada em solos de fertilidade natural, que variam de média a baixa, e que vêm sendo manejados de maneira um tanto relapsa no que diz respeito, principalmente, ao manejo dos matos nas entrelinhas (muito herbicida), falta de desbrota, falta de poda, emprego de doses elevadas de in-
seticidas e fungicidas, adubações foliares sem diagnóstico preciso etc. O resultado é um velho conhecido nosso: a produtividade está bem aquém do possível e do desejado. Esqueçamos os preços atuais. Para se alcançar a produtividade máxima econômica, algumas práticas culturais são tidas como indispensáveis, destacando-se entre elas as seguintes: baixar a temperatura do solo, aumentar a duração do período vegetativo e potencializar o acúmulo de reservas das plantas. Baixar a temperatura do solo significa manter o solo protegido, sempre recoberto de cobertura morta ou a morrer, de maneira que os raios solares não atinjam diretamente o solo. Deve-se lembrar de que em temperatura acima de 32°C, as raízes superficiais são injuriadas e começam a morrer. Esse fato pode ser facilmente observado em lavouras que recebem grade/ trincha nas entrelinhas, ficando o solo exposto aos raios solares. Não se encontram raízes superficiais e aí se justifica a prática de se adubar, da pingadeira das saias para dentro, onde se encontram as raízes. Com isso, se pratica uma adubação ineficiente, ou seja, se aduba apenas parte do sistema radicular, ficando as raízes das entrelinhas sem receber os adubos. Visando maximizar o efeito dos adubos minerais e mesmo orgânicos, nada mais apropriado do que colocá-los em toda a área livre, de tronco a tronco, adubando matos, convertendo adubos minerais em massa verde, que depois de manejada convenientemente, vira massa seca e finalmente adubo orgânico, que, ao se decompor, libera lentamente os nutrientes acumulados para as plantas. Assim, engenheiros agrônomos, técnicos e cafeicultores devem ter como obrigação principal tirar carbono do ar, gostar de carbono, plantar nas entrelinhas plantas C4 e deixá-las recobrindo
Manejo de capim roçado
Capim Braquiária sem ser dessecado
o solo, sem se preocupar em fazer compostagem ou outra adubação orgânica qualquer. Os eco-fisiologistas afirmam que as C4 devem ser as plantas preferidas para recobrir o solo, por terem sistema radicular avantajado, elevado IAF – Índice de Área Foliar e pequeno ou nulo efeito alelopático negativo (competição) com a cultura principal. Plantas C4 são plantas que, com menos água, mais calor e luz, que fazem fotossíntese de maneira mais eficaz, sequestrando do ar 4 átomos de carbono, fonte principal da matéria orgânica. Os maiores representantes das C4 são as gramíneas, sendo o milho, a cana de açúcar e as braquiárias os maiores representantes. Das gramíneas, a Braquiária ruziziensis é a preferida para ser plantada nas entrelinhas dos cafeeiros, que, sendo manejada e adubada adequadamente, mantém o solo sempre coberto, trazendo ganhos expressivos.
Se conseguirmos elevar o teor de Matéria Orgânica do solo em apenas 1% agregaremos cerca de 20 toneladas de Matéria Orgânica em apenas um hectare. Genótipo x Meio, eis a questão. De que adianta uma variedade altamente responsiva, nota 100, se for plantada num meio nota 60? Ela só conseguirá produzir 60% do seu potencial. Portanto, cuidar de melhorar o genótipo é fundamental, mas cuidados com o meio devem ser levados muito mais a sério, para se conseguir a máxima produtividade econômica. Fazer um meio adequado requer conscientização, muita observação e aplicação dos conhecimentos básicos de manejo agronômico, respeitando o meio ambiente e conseguindo a desejada e sonhada sustentabilidade do empreendimento. * O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
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Política Brasil estuda importar café colombiano
O Ruralistas criminosos m grupo de ativistas que se autodenomina “Abaixa a bola ruralista”, U publicou um vídeo no Youtube, ao qual deram o título de “Ruralista: você não nos alimenta, e nem nos representa”. O vídeo é de autoria não identificada e ataca a todos os ruralistas, que qualificam como predadores e responsáveis pelos roubos de terras de indígenas, quilombolas, e que poluem o país com agroquímicos; e que são exploradores de cidadãos por praticarem trabalho escravo. A ser visto e comentado no seguinte link: http://www.youtube.com/watch?v=f4Euu4Az-YM
Curso de rapel para agricultores no Mato Grosso do Sul
C
om a finalidade de evitar acidentes de trabalho em moegas, silos e outras unidades de armazenagem de grãos, agricultores de Mato Grosso do Sul estão sendo capacitados com técnicas específicas, entre elas as de rapel. As instruções que envolvem planejamento, organização e execução de atividades em locais onde há risco de queda são requisitos da Norma Regulamentadora de Trabalho em Altura (NR 35) e são repassadas por instrutores do Senar/
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MS, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, pelo Programa Soja Plus, que percorre sindicatos rurais de municípios do Estado. Entre teoria e prática são 16 horas de capacitações, que além da NR 35, orienta os produtores rurais com detalhes da NR 31 e 33. “Neste ano iniciamos a apresentação das normas e tiramos dúvidas dos agricultores em sala de aula. Na próxima etapa os produtores terão a oportunidade de pôr em prática as técnicas de segurança, além de receber consultoria gratuita em suas propriedades”, afirma Clóvis Tolentino, consultor do Senar/MS. O distinto agricultor, agora, além de ser competente na sua atividade, onde precisa conhecer economia, política, câmbio, marketing, legislação ambiental, trabalhista, fiscal, tributária, trambiques bancários, travamento de preços no mercado financeiro etc. etc., e também precisa saber fazer rapel...
Brasil “pretende” melhorar sua oferta de mix de café torrado. A Proexport Colômbia, organização estatal focada em promover as exportações e os investimentos da Colômbia, destaca a afirmação de Fernando Pimentel, ministro do Comércio Exterior brasileiro. Ele disse que “o país pretende ampliar exportações de misturas de café torrado, reduzir as vendas de grãos verdes e aumentar a compra de café de países como a Colômbia para oferecer suas próprias misturas”. “Devemos melhorar o nosso mix e temos que trazer pelo menos 30% de café de outros lugares para misturar com o nosso”, disse Pimentel em uma conferência em Belo Horizonte, sede da reunião anual da Organização Internacional do Café (OIC). Pimentel disse que a ideia da importação do produto precisa de mudança na legislação. A queda nos preços internacionais do café, que ao longo deste ano acumula uma perda de 18 por cento no mercado de Nova York, forçou o Brasil a projetar uma série de medidas para ajudar os agricultores, entre os quais se destaca uma bateria de 3 bilhões de reais para financiar projetos produtivos.
Maurílio Biagi deve ser o vice
E
m política o tempo é rápido, e tudo é passageiro, muitas vezes é virtual. Na edição anterior da Agro DBO noticiamos que Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, era o preferido do PT – Partido dos Trabalhadores,para ser candidato a vice-governador de São Paulo, na chapa de Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde.
Negativas de Rodrigues, cuja praia não é a política, o PT agora indicou Maurílio Biagi Filho, conhecido mega empresário da cana-de-açúcar na região de Ribeiro Preto (SP). Dizem que já está filiado a partido da base governista, e com ele o PT espera bons fluídos (e votos, claro) do agronegócio paulista, onde o PSDB impera há quase 20 anos.
Marina Silva seria um desastre para o agro
A
senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) declarou em entrevista que Marina Silva divulga preconceitos a respeito do agronegócio. Por esse aspecto, seria “desastroso” para o agro o eventual sucesso de Marina na eleição presidencial de 2014, ao lado de Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco.
Alhocultores comemoram ato antidumping
A
Resolução 80 publicada no Diário Oficial da União (DOU), de 3 de outubro último, renovou a tarifa antidumping do alho importado da China para o prazo de mais 5 anos e reajuste no valor de US$ 5,2 dólares para US$ 7,8 dólares, a caixa com 10 kg. A medida foi comemorada pela Anapa, Associação Nacional dos Produtores de Alho, e pelo deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC), interlocutor do processo pela valorização da produção do alho nacional e contra o dumping. Antidumping é a taxa que iguala ao custo do produtor na-
cional. Sem a renovação da taxa a produção de alho no país pode desaparecer. Hoje, 65% do alho consumido no Brasil vêm de outros países. Da China são 16 milhões de caixas/ano e da Argentina outros 6 milhões de caixas/ano. No caso da China, a mão-de-obra, por ser muito mais barata que a brasileira, faz com que o produto chegue ao Brasil abaixo do custo da produção nacional. “Os importadores precisam pagar a taxa para que não haja concorrência desleal e que os cofres públicos não sejam lesados devido à sone-
gação do imposto”, citou Colatto, lembrando que por inúmeras vezes os importadores conseguiram liminares isentando do pagamento da taxa e prejudicando a produção de alho nacional. O presidente da Anapa, Rafael Corsino destaca que “a concorrência desleal do alho chinês é o principal entrave à busca da autossuficiência na produção nacional de alho”. De acordo com o presidente “não queremos depender de produtos importados e temos capacidade de atender grande parte do mercado interno”.
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Fitossanidade Lagarta em soqueira de algodão na região de Costa Rica (MT): alimento é que não falta no campo.
A crise anunciada Ariosto Mesquita
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Ariosto Mesquita
Desconhecimento, descaso e improviso contribuiram para a disseminação da Helicoverpa armigera por todo o país
Alimentação farta O desrespeito ao vazio sanitário da soja relatado em vários pontos do Centro-Oeste pode, segundo ela, ter agravado o problema. “Além da manutenção de restos de cultura da safra anterior a antecipação de plantios com certeza ajudou a promover a multiplicação do inseto. E não é
Ariosto Mesquita
a revelar ao país o atual ambiente de desinformação, tensão e medo no campo neste início da safra de verão. Já na primeira semana após o início do plantio de soja – no final de setembro – veio o primeiro alerta da lavoura, a partir de uma propriedade em Campo Novo do Parecis (MT): lagartas em fase madura já atacavam as plântulas. O fato revelador do descontrole foi a ocorrência de insetos com pelo menos 15 dias de idade predando plantas com cinco dias, ou seja, já havia comida disponível no campo antes mesmo do plantio da oleaginosa. “A destruição de restos de cultura foi a principal coisa que deixamos de fazer a partir da identificação da H. armigera no país. A praga ficou à vontade no campo. Não houve quebra de ciclo. Ela se manteve o tempo todo em diversas regiões do Brasil. Só nos resta agora trabalhar. A primeira coisa é o monitoramento para controlar sua fase inicial. Ainda é possível reduzir o problema e o prejuízo, mas tem de ser uma ação conjunta, caso contrário não vai funcionar”, aponta Czepak.
Cecília Czepek: “Nós dormimos no ponto. Estávamos vendo este inseto no campo faz tempo e ficamos no achismo”.
Alface atacada por lagartas no Rio Grande do Sul: a H. armigera já foi vista em 12 estados.
Leandro Valerim
“N
ós erramos! Temos de fazer um mea culpa”. A declaração feita pela entomologista e professora da UFG – Universidade Federal de Goiás, Cecília Czapek, aponta para o quadro de equívocos e despreparo do setor agrícola brasileiro frente à Helicoverpa armigera, já considerada a praga da safra. “Todos nós – governo, pesquisadores e o agronegócio brasileiro – dormimos no ponto. Estávamos vendo faz tempo este inseto no campo e ficamos no ‘achismo’, ou seja, apontávamos para uma coisa ou outra e não fizemos a devida coleta para identificação. Quando isso finalmente foi feito, a disseminação da lagarta e a dimensão do problema já eram enormes”, revelou. A declaração foi feita a uma tensa e apoplética plateia de pouco mais de 350 pessoas – a maioria agrônomos e agricultores – no dia 10 de outubro de 2013 em Chapadão do Sul (MS), durante o seminário “Helicoverpa – o que sabemos e o que precisamos saber”. O evento foi realizado pela Fundação Chapadão no auditório do CTG – Centro de Tradições Gaúchas da cidade, polo de uma das principais regiões produtoras do Centro-Oeste, envolvendo, além do norte do Mato Grosso do Sul, o sul dos estados de Goiás e Mato Grosso. Cecília Czepak tem crédito de sobra no meio científico, sobretudo no que se diz respeito à Helicoverpa armigera. É dela – em conjunto com Lúcia Vivan (Fundação MT) e Crébio José Ávila (Embrapa Agropecuária Oeste) – o trabalho a campo de coleta da lagarta nos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia que culminou, em março deste ano, com a constatação da presença da praga no Brasil, feita pelo taxonomista Vitor Becker. A admissão de culpa feita pela estudiosa foi o bastante para desmistificar muito do que vinha sendo dito sobre a praga e ajudar
só isso: culturas de inverno onde quase ninguém faz aplicações de inseticidas, como sorgo e milheto, provavelmente alimentaram a praga”, afirma. A entomologista tenta aliviar o peso sobre o produtor e atenuar uma reclamada lentidão por parte do Ministério da Agricultura: “o agricultor é o menos culpado nisso tudo, pois a maioria não reconhece a praga no campo. Quando finalmente é identificada, invariavelmente ele revela que há muito tempo o inseto era visto em sua lavoura, mas não sabia do que se tratava”. Muitos proprietários rurais reclamam da falta de acesso às informações objetivas sobre medidas a serem adotadas. “O Ministério da Agricultura providenciou todas as medidas para o combate à zea (Helicoverpa zea, espécie diferente, embora do mesmo gênero), mas, quando houve a identificação como armigera teve de mudar todo o foco e hoje temos um enorme problema nas mãos”, completa. novembro 2013 – Agro DBO | 39
Fitossanidade Pesquisador critica a “agenda calendarizada” e defende mudanças no atual modelo de atendimento ao produtor rural brasileiro
Ariosto Mesquita
ta também atacando alface no Rio Grande do Sul, girassol e crotalária no Mato Grosso, trigo no Paraná e melancia em São Paulo. Ao todo são estimadas em 180 as espécies hospedeiras e sujeitas ao ataque da praga, entre plantas cultivadas e nativas. A provável presença e ação da armigera há mais tempo no país foi alimentada pela pesquisadora da UFG com registros fotográficos da mariposa Helicoverpa em Palmeiras de Goiás em 29 de março de 2009 e de imagens de lagartas feitas há oito anos. “Eu mesmo recebi uma foto em 2005 e fiquei em dúvida”, confessa. “Todo este episódio vai ficar como uma lição de vida para nós agrônomos”, admite.
A pesquisadora também desmistifica as insistentes afirmações de que a H. armigera tenha surgido em território baiano durante a safra 2012/13: “A praga não surgiu por lá e nem é recente. É provável que esteja no país há bem mais tempo, não sabemos desde quanto. O episódio da Bahia foi apenas o grito. Outros estados brasileiros, como Goiás e Minas Gerais, já sofriam com infestações, mas pensava-se tratar da H. zea”. Esta última é conhecida como a lagarta da espiga do milho; já a H. armigera é polífaga (se alimenta de várias plantas) e extremamente voraz. A identificação entre as duas é bastante difícil e só constatada em laboratório. A Embrapa já registrou ataques da armigera a diversas culturas no Brasil, dentre elas milho, algodão, soja, feijão comum, feijão caupi, milheto e sorgo. Também há relatos de infestações em plantios de tomate, pimentão, café e frutas cítricas. Em sua apresentação em Chapadão do Sul, Czepak mostrou fotos da lagar40 | Agro DBO - novembro 2013
Nem restos da pluma de algodão escaparam à voracidade das lagartas.
Mudanças profundas Há um ano, a revista Agro DBO tomava ciência do surgimento de uma infestação sem precedentes de lagartas em estados do Sudeste e Centro-Oeste. Nos meses de novembro e dezembro de 2012, coletou denúncias de agrônomos e produtores sobre devastação em lavouras. No início de fevereiro, visitou propriedades em Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, culminando com a reportagem de capa “O ataque das lagartas” (edição de março de 2013).
As revelações da professora Cecília Czepak encontram eco. No Mato Grosso, o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Wanderlei Dias Guerra, é enfático: “O Brasil todo dormiu no ponto; a praga vinha se disseminando pelo país em meio a uma total desatenção do setor, inclusive do próprio governo, para quem eu trabalho”. Ele é fiscal federal agropecuário da Superintendência Federal da Agricultura do Mato Grosso. Guerra critica também o que chama de “agronomia calendarizada” e afirma que o atual modelo de atendimento ao produtor rural tem de ser revisto: “o agrônomo tem de parar de receber pacotes tecnológicos das multinacionais e simplesmente empurrar para o agricultor; está na hora de voltarmos a ter profissionais que não sejam movidos a presentes e viagens caras”. O coordenador da comissão do Mapa é um dos líderes de uma frente de controle e monitoramento que se formou no Mato Grosso – principal produtor de grãos do Brasil – para o combate à H. armigera. Seu trabalho ganhou notoriedade este ano durante o 9º Congresso Brasileiro do Algodão – realizado
Ações propostas pela Embrapa • Estabelecimento de um consórcio para manejo de Helicoverpa – “Consórcio Manejo Helicoverpa” (profissionais, produtores, instituições públicas e empresas privadas);
• Planejamento da área de cultivo; • Monitoramento contínuo de pragas; • Utilização do controle biológico; • Registro emergencial e uso de inseticidas químicos e biológicos; • Disseminação de tecnologia de aplicações de agrotóxicos e bioinseticidas. O detalhamento do direcionamento proposto pela Embrapa pode ser conferido em documento acessível através do link www.embrapa.br/alerta-helicoverpa/Manejo-Helicoverpa.pdf
Wanderlei Dias Guerra
Ações sugeridas pelo Mapa •U so de cultivares que reduzem a população da praga – baseado nas opções disponível no mercado e na indicação de empresas de sementes e instituições de pesquisa e extensão rural;
•D eterminação da época de plantio e restrição de cultivos
subsequentes – semeadura de milho, soja e algodão no menor espaço de tempo possível (janela menor), com o objetivo de reduzir o período de disponibilidade de alimento para a praga;
•U so de controle biológico – liberação de insetos parasitoides e predadores além de fungos, bactérias e vírus que atacam a Helicoverpa, reduzindo a sua população;
•A doção de manejo integrado emergencial de pragas – integração de
tecnologias para identificação, monitoramento, estudo de fatores climáticos, avaliação do desenvolvimento das plantas e observação de danos;
•U tilização de armadilhas, iscas e outros métodos de controle físico – a utilização de feromônios em armadilhas é a técnica mais recomendada para monitoramento;
•R espeito ao vazio sanitário – observação irrestrita do período sem
cultivos hospedeiros no campo, determinado pelos órgãos oficiais de agricultura e de defesa agropecuária dos estados;
•A doção de áreas de refúgio no plantio – setor de cultivo de
plantas não transgênicas de tecnologia BT junto ao plantio de escala comercial BT (obedecendo o percentual recomendado e nunca a mais de 800 metros de distância um do outro ). A medida favorece o cruzamento entre pragas expostas e não expostas à toxina BT (Bacillus thuringiensis) evitando a seleção de lagartas resistentes;
•U tilização de rotação de culturas – destruição de plantas voluntárias e restos culturais.
Infestação de lagartas em lavoura de Mato Grosso e postura de ovos em soja na safra atual
de 3 a 6 de setembro em Brasília – ao ser premiado pelo seu trabalho “Ocorrência de Archytas (Diptera tachinidae) parasitando lagartas Helicoverpa armigera (Lepidoptera noctuidae) em Mato Grosso”. Ele simplesmente descobriu uma mosca que pode se tornar um dos principais aliados para o controle biológico da praga. “Esta mosca do gênero Archytas coloca ovos sobre a lagarta e a larva vai se alimentando da Helicoverpa até formarem uma única pupa. Ao final, da pupa nasce outra mosca; eu mesmo levei um susto quando descobri”, garante. Guerra afirma que, dependendo da quantidade e da ação da mosca, é possível controlar até 40% de uma população de lagartas. “Isso é mais do que muitos produtos químicos; é preciso tratar com carinho este predador da lagarta, que existe em grande quantidade no Mato Grosso, fazendo dele uma ferramenta para o manejo integrado de pragas”, defende. Medo no campo As Fazendas Reunidas do Grupo Schlatter – duas propriedades em Goiás, duas no Mato Grosso e cinco no Mato Grosso do Sul – se preparam para enfrentar a Helicoverpa armigera pela primeira vez. “Estamos com medo, pois quem já passou por isso não consegue esconder o nervosismo e a apreensão”, admite o agrônomo responsável pelo grupo, André Luis da Silva. Na verdade, ele já está enfrentando o problema de perto. Em uma das unidades – Fazenda Nova França, em Costa Rica (MS), na divisa com o estado de Mato Grosso – a praga já está presente. Em grande parte dos 1,5 mil hectares destinados ao plantio de algodão verão, a praga é vista à vontade se deliciando com a comida farta disponibilizada pelos restos da cultura do algodão da última safra. “No final de novembro vamos fazer a destruição química das soqueiras para o plantio em dezembro”, avisa. novembro 2013 - Agro DBO | 41
Fitossanidade
Ariosto Mesquita
Cientistas alertam: cruzamento entre as espécies H. armigera e H. zea pode resultar em indivíduos mais agressivos e resistentes.
Área de soja da fazenda Nova França, ainda sem lagartas: limpeza dos restos da cultura anterior (no caso, algodão) ajudou no controle dos insetos.
A Fundação Chapadão está utilizando a fazenda como campo de pesquisa. “A propriedade tornou-se parceira e aproveitamos para montar um trabalho de monitoramento para avaliar o comportamento da praga”, explica Denízio Cardoso da Silva, técnico agrícola da instituição mantida por produtores rurais e em-
presas agropecuárias da região dos Chapadões – norte do Mato Grosso do Sul e sul de Goiás. Nos 3,5 mil hectares já semeados com soja, o monitoramento ainda não detectou a lagarta. “Nós limpamos bem para tirar restos do algodão cultivado anteriormente, mas sei que vai ser difícil conter a infestação”, avisou. Um fator agravante, segundo ele, é a demanda maior por inseticidas do que a oferta existente no mercado: “boa parte das empresas só disponibilizará produtos a partir de fevereiro; quem não comprou com antecedência terá muito mais problemas”. Silva classifica o momento como de “despreparo sanitário vegetal brasileiro”. Da parte do grupo, houve uma mobilização para um quadro de alta infestação. De um máximo de duas aplicações químicas feitas no último cultivo de verão, a previsão é que o número suba para cinco neste ciclo 2013/14, tudo em função da lagarta. “Estamos preparados para o pior; a tensão é muito grande”. Na atual safra, as nove fazendas do grupo devem cultivar juntas cerca de 33 mil hectares de soja e cinco mil de algodão.
Já na Fazenda Buritizinho – 700 hectares de cultivo de soja, feijão e milho –, no município de São João da Aliança, nordeste de Goiás, o proprietário José Carlos Maichaki calcula bater recorde de utilização de inseticidas para conter a voracidade da praga. “Serão de três a quatro aplicações a mais, em relação a 2012. Minha previsão é de até sete na soja, podendo chegar a 12 no feijão”, revela. Até meados de outubro, a situação ainda era “tranquila” pelo fato de até então não haver plantas novas emergentes. No entanto, Maichaki não se ilude: “A Helicoverpa virá de forma pesada nesta safra e sei que meu custo de produção deverá aumentar em pelo menos 10% em função dela”. O produtor de Goiás admite que a agricultura brasileira está longe de ter conhecimento pleno sobre a lagarta e critica a ausência de agroquímicos de controle efetivo: “Vários produtos estão em falta no mercado, alguns tiveram disparada nos preços e outros poucos conseguem agir sobre a praga. Além disso, o governo federal está demorando muito para registrar o Benzoato de Emamectina”. Sua importação já foi autori-
Medição com feromônios Na corrida contra o tempo – e pelo mercado – começam a ser adotadas alternativas para monitorar com mais eficiência o nível de infestação da Helicoverpa armigera nas propriedades rurais. Uma delas são os feromônios específicos para esta praga, cuja importação foi liberada pelo governo federal. Estes instrumentos químicos – com aplicação para o inseto na fase adulta (mariposa) – imitam o odor da lagarta fêmea, atraindo machos para uma arma-
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dilha. Dessa forma, dependendo da população capturada é possível determinar o nível de aplicação de inseticidas na lavoura. A Embrapa defende o uso dos feromônios como o principal instrumento de facilitação da inspeção sistemática da lavoura dentro do MIP - Manejo Integrado de Pragas, uma vez que o processo de atração até a armadilha seleciona apenas a Helicoverpa (ao contrário das armadilhas luminosas que atraem diversos ti-
pos de insetos). De acordo com alguns pesquisadores, o início de tratamento – basicamente com aplicação de inseticidas – deve começar após a detecção do nível básico de infestação, que é de três mariposas por metro quadrado de vôo à noite. As armadilhas são encontradas no mercado. O custo de cada unidade, utilizada como padrão pela Fundação Chapadão, pode variar entre R$ 30,00 e R$ 40,00 com vida útil de aproximadamente um mês.
Cecília Czepak
zada, mas o registro no país ainda dependia, até o fechamento desta edição, de aprovação conjunta por parte do Mapa, Ibama (Ministério do Meio Ambiente) e Anvisa (Ministério da Saúde). A H. armigera já foi identificada oficialmente ou relatada em pelo menos 12 estados brasileiros – MG, MS, MT, GO, BA, PR, DF, MA, TO, SP, RS, PI. No sul do país, apesar de menos intensas do que os registros na Bahia, Minas Gerais e estados do Centro-Oeste, as infestações incomodam e preocupam. “A gente percebe muita ansiedade entre os produtores neste início de safra”, admite o coordenador de Produção de Grãos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, Nelson Harger. Segundo ele, a Coamo – uma das maiores cooperativas do país – já localizou a praga em buva no sul de Mato Grosso do Sul e em palhadas de trigo em território paranaense, mesmo antes do plantio da safra de verão.
“Nosso receio é o produtor resolver fazer aplicações indiscriminadamente”, ressalta. Há três anos, segundo ele, a média de aplicações de defensivos em lavouras do Paraná era de 4,6 intervenções. “No atual ciclo deve ultrapassar cinco, no mínimo”, calcula. É quase certo que a circulação da lagarta por áreas agrícolas dos dois estados brasileiros (PR e MS) que fazem fronteira com o Paraguai deve ter sido a gota d’água para a praga chegar ao país vizinho. Em outubro, a defesa sanitária vegetal paraguaia anunciou os primeiros registros de infestações em lavouras nos departamentos de Canindeyú, Itapúa, San Pedro e Alto Paraná. Cruzamento perigoso Dentre a sucessão de ‘descobertas’ sobre a Helicoverpa, surgem agora indicativos de que as espécies armigera e zea estão se cruzando e possivelmente gerando indivíduos diferenciados. As suspeitas foram
levantadas quase que ao mesmo tempo pelo pesquisador da Fundação Chapadão, Germison Vital Tomquelski e pelo fiscal federal do Mapa em Campo Grande (MS), Ricardo Hilman. Mas foi o primeiro (Tomquelski) quem testemunhou situações a campo indicando cruzamento durante o monitoramento dos insetos nas divisas entre os estados do Centro-Oeste. “Os feromônios que usamos existem para a atração dos machos armigera, mas também estamos encontrando insetos semelhantes à zea nas armadilhas; o produto pode ainda não estar bem apurado ou estão ocorrendo cruzamentos”, avalia. Sobre o perfil e comportamento destes possíveis híbridos, o pesquisador prefere não arriscar uma opinião: “A possibilidade de cruzamentos existe e podem ser gerados descendentes, mas ainda é difícil mensurar qual será a implicação disso; em princípio podemos ter indivíduos mais suscetíveis às tecnologias quanto insetos mais resistentes”.
Descarte de frutos em cultivo de tomate em Goianópolis (GO): mesa farta para a Helicoverpa
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Deu na imprensa
Divisão agrícola vai à venda?
É
crescente a pressão de analistas e investidores para que a DuPont venda ou separe seus negócios da área agrícola. A divisão é a que mais têm gerado crescimento no conglomerado norte-americano. Para se ter uma ideia, as vendas de defensivos agrícolas cresceram 9,4 %, chegando a US$ 3,2 bilhões em 2012 e colocando a gigante em sexto lugar no ranking de comercialização mundial. A diretora-presidente do conglomerado, Ellen Kullman, também enfrenta críticas de Wall Street exigindo a criação de em-
presa independente no mercado de produtos agroquímicos – visto como grande potencial. Uma nova fabricante de sementes e pesticidas poderia competir, em pé de igualdade, com potências como a Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer e Dow AgroSciences. A recente divulgação de resultados do terceiro trimestre des-
tacou ainda mais a relevância do setor agrícola para a empresa. Teve um salto de 15% no faturamento, para US$ 1,63 bilhão, sendo o maior responsável pelo aumento de 4,7% das vendas totais no período na comparação com o ano anterior. A divisão acumula nos nove primeiros meses do ano receita de US$ 9,93 bilhões, ou mais da metade do lucro operacional de US$ 4 bilhões do período.
Agrolink / 24/OUTUBRO/2013 Por Leonardo Gottems
Irlanda rural Xico Graziano
N
ão está fácil, na Irlanda, a vida de agricultor. Afora as dificuldades econômicas geradas na crise europeia, sua felicidade e sua paz andam comprometidas. Na amargura, resolveram brigar contra o boi do Brasil. Vão perder. Números assustadores. Recente pesquisa da Farming Independent mostrou que, no ano passado, 16% dos agricultores irlandeses foram vítimas de crime, cometido em suas moradias ou nas fazendas. Destacam-se o roubo de maquinaria agrícola, ferramentas de trabalho e combustível. Poucos imaginariam tal situação em país tão civilizado. Parece o Brasil. Aqui, perto das grandes cidades, nos cinturões de horticultura, nada escapa dos larápios, a começar das bombas e dos canos de irrigação, destinados ao ferro-velho da esquina. Outro terrível indicador aponta que algo grave acomete a Irlanda rural. Dados oficiais mostram
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que a taxa de mortalidade de seus agricultores se situa num patamar cinco vezes superior ao dos trabalhadores assalariados no país. Nestes, cai seguidamente o índice de mortalidade; naqueles, aumenta há duas décadas. Nas doenças circulatórias, a mortalidade dos lavradores irlandeses é sete vezes maior que a dos assalariados em geral. Triste, e paradoxal, situação. Supõe-se, meio utopicamente, que o modo de vida camponês, com aquele sossego adornado pela natureza, ar puro em volta, passarinhos cantando e tudo o mais de bucólico, leve à boa existência, longe das viroses e das neuroses urbanas, garantindo longevidade ao cidadão. Na Irlanda, país que ostenta o quinto IDH do mundo, porém, os agricultores estão perdendo a saúde mais fácil. Alcoolismo, hérnia na coluna, obesidade, doenças causadas por fumo, solidão: vai longe a lista do sofrimento na roça por lá.
Orgulhosos de seu passado, os irlandeses cultuam o ruralismo como poucos. O inigualável verde de suas pradarias encanta a sociedade. A cor dos campos destaca-se em tudo: na camisa do time de futebol, na bandeira nacional, nas folhas do trevo que simboliza a nação. País pequeno - cabem três Irlandas no território paulista -, sua agropecuária ocupa apenas 17,6% do território. A lã irlandesa tem fama mundial, os queijos de leite de ovelha, deliciosos. Cerveja nenhuma supera a Guinness. Esse brilho, todavia, esmaece na recente globalização. Comum aos países europeus, a agricultura da Irlanda passa por momentos difíceis. Os bons tempos do rico protecionismo agrícola ficaram para trás, exigindo grandes modificações nos processos produtivos e na comercialização de seus produtos. Ao invés de prometer subvenções, o governo só fala em cortar gastos. Não é para menos. Os custos da
Política Agrícola Comum (PAC) consomem quase metade do orçamento da União Europeia. Estabelecida há meio século, a PAC tinha como foco central a autossuficiência alimentar dos europeus, traumatizados por duas guerras mundiais. Visando à proteção dos seus agricultores, criou-se um sistema fechado, farto de subsídios e barreiras tarifárias, contra produtos estrangeiros. Pressionado pela Organização Mundial do Comércio, o protecionismo agrícola europeu começou a mudar nos anos 1990, adaptando-se às novas realidades da economia mundial. Aos poucos os subsídios diretos à produção rural foram sendo trocados, embora de certo modo dissimulados, pelo apoio mais genérico ao desenvolvimento rural. O turismo e a sustentabilidade no campo entraram em cena, vinculados ao novo conceito de agricultor “multifuncional”, aquele que guarda a história, protege os recursos naturais e cuida da paisagem no interior. Esse novo enfoque, eclético, permitiu a queda de algumas tarifas de importação, abrindo em parte o mercado europeu aos ali-
mentos, mais baratos, vindos do exterior. O Brasil entrou no jogo. Mal acostumados com as facilidades do protecionismo agrícola, os agricultores europeus incomodaram-se com a competição do mercado. Após a moleza dos subsídios, naquela época de vacas gordas em que pouco importava a produtividade, pois o governo bancava a produção e a sociedade pagava o elevado preço, os produtores rurais tiveram de mostrar sua competência. Fraquejaram. Haviam-se tornado lenientes e quando acordaram para a nova realidade trombaram com o sucesso tecnológico dos agricultores brasileiros. Puxados pela Irlanda, os pecuaristas da Europa passaram a gritar contra a “invasão” da carne brasileira. Denunciaram doenças inexistentes, inventaram hormônios, imputaram, com a ajuda de inocentes ambientalistas, um caráter antiecológico ao boi nacional. Salvar a Amazônia virou uma conversa bonita, disfarçada para justificar uma briga essencialmente comercial. Infâmias, reagiram os pecuaristas brasileiros, elegendo seus congêneres na Irlanda como inimigo número um.
Aos poucos, porém, os irlandeses foram descobrindo que o buraco é mais embaixo. Comandados pelo Ministério da Agricultura, que lá funciona, trabalham agora no planejamento estratégico de suas atividades, traçando seu cenário econômico para 2020. Investem na competitividade, não apostam mais na “reserva de mercado”. Com a lição de casa, percebem que seus adversários moram ali perto. As cadeias de supermercados sediadas na Inglaterra, país que compra dois terços das exportações irlandesas de carne, rebaixaram em 15% o preço da boiada comprada da Irlanda, sufocando os produtores. A briga estabeleceu-se entre eles. Vale a pena conhecer a Irlanda. Suas belezas e suas virtudes ultrapassam de longe essa birra contra a pecuária brasileira. Nesse quesito o Brasil, mesmo sem subsídios, será insuperável na competitividade da carne. Quanto à mortalidade, confiamos em Deus. Já na roubalheira, perigamos vencer. *Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. (OESP/out/2013)
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Artigo
Desperdício brasileiro O colunista lamenta o descaso com o transporte hidroviário no país. Um avanço no segmento multiplicaria a competividade da agricultura. Rogério Arioli Silva *
Eclusa Melvin Price, St. Louis, rio Mississipi, EUA.
H * O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
á muito tempo se discute a ineficiência logística brasileira com sua matriz alicerçada no transporte rodoviário, este extremamente oneroso, principalmente nas longas distâncias que caracterizam esse país-continente. Embora exista um imenso potencial hidroviário adormecido no interior do país, apenas 4% de tudo o que é movimentado se utiliza deste modal que, além de econômico, é extremamente ecológico pela menor emissão de poluentes por tonelada transportada. Um comboio médio que contenha um rebocador e quinze chatas transporta em torno de 22.500 t. o que evita a circulação de mais de 600
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caminhões do tipo bitrem de 37 t cada um. Para operar este comboio se utiliza apenas 12 pessoas e o mesmo pode operar 24 horas por dia durante os sete dias da semana, numa evidente economia para toda a sociedade, a exemplo do que acontece nos EUA. Aliás, algumas comparações são necessárias entre Brasil e EUA quando se trata de transporte hidroviário e dos seus desdobramentos na competitividade do país. O sistema hidroviário norte-americano utiliza-se de mais de 40 mil km de hidrovias, sendo a mais importante delas a hidrovia do rio Mississipi que corta o território no sentido norte-sul. A utilização plena dos rios navegáveis é
viabilizada através da construção de eclusas nos barramentos existentes, o que permite aos navios e comboios deslocarem-se através das diferenças de níveis provocadas pelas barragens e diques. No Brasil atualmente existem 18 eclusas enquanto nos EUA estas somam 275. Erros históricos foram cometidos por aqui quando da construção de várias hidrelétricas que não contemplaram em seu projeto original a construção de eclusas, praticamente inviabilizando o transporte hidroviário em milhares de quilômetros. O Movimento Pró-Logística, uma iniciativa que uniu, desde 2009, os setores agropecuário, industrial e comercial, além da
sociedade civil organizada tem acompanhado de perto os entraves burocráticos que atrasam os investimentos logísticos do país e já alertou que os custos da construção de eclusas situam-se em torno de 7% quando estas são realizadas durante a construção da barragem, saltando para 30% quando esta construção ocorre depois da barragem já concluída. O projeto de lei 3009/97 do qual foi relator o deputado federal Homero Pereira contempla esta questão de maneira clara e objetiva e recomenda que as eclusas sejam, de fato, construídas no mesmo momento das barragens. Voltando à comparação entre os dois países, o Brasil transporta atualmente em torno de 45 milhões de t/ano através do seu sistema hidroviário, enquanto os EUA movimentam mais de dois bilhões de t/ano, sendo que apenas no sistema do rio Mississipi mais de 700 milhões de t de produtos são transportadas anualmente. A maioria dos produtos transportados nas hidrovias norte-americanas é derivada de petróleo e carvão, além de fertilizantes e grãos, como trigo, milho e soja. Existe
um imposto sobre os combustíveis utilizados pelas barcaças e navios que é usado para manutenção das hidrovias daquele país. Estas, assim como o sistema de eclusas, são responsabilidade da USACE (US Army Corps of Engineers). Aqui no Brasil ainda existe uma queda de braço entre o Ministério dos Transportes e o das Minas e Energia, sendo que este questiona a construção de eclusas junto a barramentos, pois poderia “atrasar o cronograma das obras”, o que se trata de uma visão curta e desprovida de estratégia, uma vez que as obras já estão atrasadas há pelo menos uns cem anos. O Ministério dos Transportes anunciou projetos para construção de 27 eclusas nos rios Araguaia, Parnaíba, Tapajós, Teles Pires, Tietê e Tocantins, com orçamento de R$ 11,6 bilhões (até 2018) a serem bancados com recursos do próprio Ministério. Trata-se de uma iniciativa positiva uma vez que os recursos aplicados nestes investimentos trarão imensa economia ao país, além de torná-lo mais competitivo na disputa de novos mercados para seus produtos, principalmente aqueles
produzidos nas fronteiras agrícolas. Estudos demonstram que dos 63 mil km de rios que o Brasil possui 43 mil são navegáveis e atualmente apenas 15 mil são utilizados, mesmo assim de maneira tímida, comercialmente falando. Trata-se de um erro histórico que precisa ser reparado urgentemente, deixando-se de lado questões menores como brigas entre ministérios, além dos já conhecidos entraves dos ambientalistas. Um avanço neste importante segmento de transporte conferiria ao país a competitividade necessária e cada vez mais imprescindível à conquista de novos mercados.
Eclusa do canal do Panama: referência em transporte hidroviário
novembro 2013 – Agro DBO | 49
Integração
Receita provada Agricultores que adotaram consórcios de produção lavoura-pecuária no estado de Mato Grosso começaram a retirar o gado para plantar grãos Marianna Peres
Embrapa Agrosilvipastoril
Colheita de soja consorciada com eucalipto no segundo ano agrícola com iLPF, na fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT).
É
o caso, por exemplo, de Mário Wolf, da fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT), um dos primeiros a adotar o sistema iLPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta em Mato Grosso, estado líder em dois rankings nacionais interrelacionados: é o principal produtor de grãos e fibras e dono do maior rebanho de gado bovino de corte do país, com extensas áreas de pastagens degradas, em recuperação ou conversão. Conforme levantamento da Embrapa Agrossilvipastoril em parceria com o Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, a área total com sistemas de integração ocupa 500 mil hectares, aproximadamente, em Mato Grosso, espalhadas por 41 municípios.
50 | Agro DBO – novembro 2013
Paranaense de nascimento, ra dicado em Mato Grosso desde 1975, Wolf apostou na iLPF como estratégia para recuperar pastagens degradadas, diversificar a produção e baratear custos. Quando se instalou em Nova Canaã do Norte, se dedicou a duas atividades distintas, a pecuária e a madeireira, sendo esta última eliminada com o tempo. No final da década de 1990, fez sua primeira incursão como agricultor: plantou arroz na tentativa de melhorar a qualidade do pasto. Com bons resultados, comprou um secador de grãos e construiu um armazém. Em 2000, passou a plantar soja. Hoje, Mário Wolf é uma referência no estado – altamente tecnificado, possui um contrato exclusivo de fornecimento de carne ao grupo Pão de Açúcar, construiu
uma fábrica de ração e sal mineral, e desde 2008, vem testando diversas espécies de árvores em seu sistema de integração, principalmente eucalipto, teca, pau de balsa e paricá, esta última também conhecida como pinho cuiabano. Em 2014, ele vai priorizar as duas primeiras. “O paricá, mesmo sendo nativo, não se deu bem em reflorestamento”, lamenta. Em breve, fará o primeiro desbaste do eucalipto, ainda sem comercializar a madeira. “Vou produzir mourões para a fazenda. Um item a menos para eu comprar”. Em geral, o eucalipto tem o primeiro corte entre o sexto e sétimo ano, se a finalidade for lenha, ou após 12 anos, para ser enviado às serrarias. Já o primeiro corte da teca, muito utilizada na fabricação de móveis, varia entre 20 a 25 anos.
genética, me permitiu abater gado com 21 arrobas entre 18 a 20 meses de idade, o dobro da média”. Diversificação Grosso modo, há quatro modalidades de integração: a iLPF (agrossilvipastoril), como a de Mário Wolf; iLP – integração Lavoura-Pecuária (agropastoril); iLF – integração Lavoura-Floresta (silviagrícola) e iPF – integração Pecuária-Floresta (silvipastoril), a exemplo do que faz Antônio Francisco dos Passos, da fazenda Bacaeri, em Alta Floresta. Outro paranaense radicado em Mato Grosso, Passos também tinha como atividades básicas a pecuária e a extração de madeira, tratadas como negócios distintos. No seu caso, a integração veio por motivo de força maior, como diz. O sistema silvipastoril foi, na verdade, uma imposição, segundo ele. “Na década de 90, o Incra não considerava o manejo florestal como atividade produtiva. A minha principal renda vinha da laminadora e eu estava na iminência de perder a minha área para reforma agrária”, lembra. Mesmo com pecuária desde 1996, somente em 2008 houve a integração da
Ascom/Famato
Mário Wolf dispõe de rebanho de 7 mil cabeças em 2,5 mil hectares, a maioria dos quais da raça nelore e um pouco de rúbia galega. Em outros 2 mil hectares, planta soja, milho safrinha e braquiária – pasto para o gado de maio a setembro, período de estiagem no estado. Até o dia 18 de outubro, ele já havia cultivado 30% da área com soja. Na safra passada, obteve produtividade média de 61 sacas por hectare, 10 acima da média geral do estado. Segundo consenso na região, ele virou referência por investir em tecnologia, seja para plantar soja, milho, pasto ou floresta. “Se a minha atividade é pecuária, eu tenho de adubar o solo, aplicar tecnologia na formação do pasto da mesma forma que faço para a soja me render o máximo possível. Sei que a pecuária esbarra na falta de financiamento público, mas não podemos ficar parados no tempo”. Além da diversificação das fontes de receita, Wolf cita como vantagem da integração o sombreamento para conforto do gado. O sistema permitiu que ele aumentasse a taxa de desfrute dos animais – abates no ano –, a qualidade e a maciez da carne. “Isso, aliado à
Mário Wolf, referência em iLPF em Mato Grosso, ao lado do filho Daniel.
teca com o gado nelore para recria e engorda. Ele ainda possui áreas com teca no cultivo tradicional e as árvores vão completar 17 anos. Passos confirma que, com a iPF, o custo de implantação reduz quando comparado ao plantio tradicional de floresta e enquanto as árvores não dão lucro, a pecuária ajuda na renda. Ele conta que 6% da sua propriedade estão cultivadas com teca, 57% abrigam reserva legal e áreas de proteção permanente, e 37% são pastos. Mesmo apontando dificuldades no comércio com a teca, especialmente no mercado interno, ele conseguiu abrir espaço no externo e exporta 80% da produção para a Índia. “A teca é muito conhecida
Mapa da iLPF Mato Grosso
Fonte: Embrapa Agrosilvipastoril
Nº de sistemas de integração 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1 Água Boa 2 Alta Floresta 3 Alto Garças 4 Alto Taquari 5 Araputanga 6 Barra do Garças 7 Brasnorte 8 Cáceres 9 Campo Novo do Parecis 10 Campos de Júlio 11 Canarana 12 Cláudia 13 Cuiabá 14 Feliz Natal 15 Gaúcha do Norte 16 Guarantã do Norte 17 Guiratinga 18 Itaúba 19 Jaciara 20 Juara 21 Lucas do Rio Verde
22 Marcelândia 23 Nova Canaã do Norte 24 Nova Guarita 25 Nova Mutum 26 Nova Xavantina 27 Peixoto Azevedo 28 Porto dos Gaúchos 29 Primavera do Leste 30 Querência 31 Rondonópolis 32 Santa Carmem 33 Santa Rita do Trivelato 34 Santo Antonio do Leverger 35 Sapezal 36 Sinop 37 Sorriso 38 Tabaporã 39 Tangará da Serra 40 Tapurah 41 Vera
novembro 2013 – Agro DBO | 51
Integração Limitações para adoção
Embrapa Agrosilvipastoril
n A gestão e o manejo dos sistemas de integração são mais complexos e requerem expertise (especialização) em diferentes áreas técnicas da agropecuária
Integração pecuária-floresta com teca e capim B. brizantha com marandu.
por lá, ao contrário do que ocorre no Brasil. Fora isso, 2013 não tem se mostrado um ano bom para os negócios com madeira. Atualmente, o metro cúbico custa US$ 300 e a gente gasta US$ 200 com logística, isso quando encontramos transporte”. De madeireiro a pecuarista por acaso, Passos explica que está em busca de novos mercados além da Índia. Entre vantagens e desvantagens do IPF, ele conta que o lado positivo é ter duas receitas na mesma área, além do aprendizado que a integração vem lhe proporcionando. O desafio está em conseguir manter as duas atividades produti-
n Os custos de implantação são relativamente elevados e o retorno do investimento é gradativo, com retorno financeiro inicial menor
vas. “Além de verticalizar e diversificar a produção, a integração é tecnicamente eficiente e ambientalmente adequada, pois preconiza o manejo e a conservação do solo e da água, o manejo integrado de insetos-praga, doenças e plantas daninhas, o respeito à capacidade de uso da terra, o zoneamento climático agrícola e o zoneamento agroecológico”, endossa Maurel Behling, pesquisador de Sistemas Integrados de Produção da Embrapa Agrossilvipastori, sediada em em Sinop, 503 quilômetros ao norte de Cuiabá. Segundo ele, o sistema que predomina em Mato
n Existe limitação à mecanização e menor rendimento operacional, devido a restrição ao trânsito de máquinas imposto pelas árvores em sistemas mal dimensionados n Falta de capacitação de técnicos e de produtores rurais, resultando na baixa motivação e preparo para adoção da iLPF
Grosso é de integração Lavoura-Pecuária. Do total de propriedades levantadas em um estudo recente, 89% delas realizam iLP; 5%, iPF, 5%, iLPF; e somente 1%, iLF. O tamanho médio das propriedades que fazem integração é de 3.936 ha, com cerca de 30% da área destinada à integração. Rentabilidade O estado de Mato Grosso abriga seis fazendas URT – Unidades de Referência Tecnológica. Num experimento com teca realizado numa delas, os técnicos desenharam vários cenários de retorno financeiro,
Benefícios da integração n Melhora da qualidade e conservação das características produtivas do solo
n Aumento da renda líquida do produtor e/ou produtores mais capitalizados
n Redução da sazonalidade do uso da mão de obra e do êxodo rural
n Otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo
n Estabilidade econômica com redução de riscos e incertezas devido à diversificação da produção
n Manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária
n Maior eficiência de utilização dos recursos (água, luz, nutrientes e capital investido) e ampliação do balanço energético
n Geração de empregos diretos e indiretos
n Maior otimização dos processos e dos fatores de produção n Melhoria do bem-estar animal em decorrência do maior conforto térmico e melhor ambiência
na produção de grãos, carne, leite e produtos madeireiros e não madeireiros n Aumento
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n Possibilidade de aplicação em diversos sistemas e unidades de produção (grandes, médias ou pequenas propriedades rurais)
n Redução da pressão para abertura de novas áreas com vegetação nativa e melhoria da imagem pública dos agricultores, perante a sociedade, atreladas à conscientização ambiental
do mais otimista ao mais pessimista, para levantamento de custos e projeções de ganho financeiro. No primeiro caso, onde tudo pode dar errado, o produtor terá um lucro de R$ 10,00 por hectare com teca e R$ 270,00 com a pecuária. No mais otimista, o lucro com a teca vai a R$ 16 mil/ha, mais os R$ 270 da pecuária. Maurel lembra que os custos de implantação de florestas são variáveis, em função do local, da infraestrutura e do arranjo escolhido. “No sistema com florestas, isso vai depender da disposição das faixas de árvores, em linhas simples, duplas, triplas ou múltiplas, ou seja, do número de árvores por hectare. Um plantio homogêneo de eucalipto que atende ao preceito da silvicultura tem custos de implantação da ordem de R$ 1,6 mil a R$ 4 mil por hectare e de manutenção entre R$ 800 e R$ 3 mil. Geralmente, o custo de implantação sempre é maior que o de manutenção e o somatório dos dois varia de R$ 2,5 mil a R$ 7 mil para o ciclo de sete anos do euca-
Embrapa Agrosilvipastoril
A iLPF busca a otimização do uso da terra, visando patamares elevados de produtividade, qualidade, sustentabilidade e competitividade
lipto”. O pesquisador destaca que o custo de implantação e manutenção das árvores é bem menor na iLPF porque se trabalha com um número menor de árvores, geralmente menos de um terço daquelas que seriam plantadas no plantio homogêneo. “Em média, os sistemas de iLPF têm uma evolução gradativa de receitas, e supera os sistemas tradicionais (exclusivos) a partir do terceiro ano após a sua implanta-
Consórcio de seringueira com soja no terceiro ano agrícola do sistema iLF adotado na fazenda Certeza, em Querência (MT).
Quadro esquemático Agricultura
Silvicultura
Pecuária
Árvores + Culturas
Árvores + Culturas + Animais
Árvores + Animais
Fonte: Embrapa Agrosilvipastoril
Sistema Agrossilvipastoril ou de integração Lavura-Pecuária-Floresta (iLPF)
Sistema Silviagrícola ou de integração Lavoura-Floresta (iLF)
Sistema Agropastoril ou de integração Lavoura-Pecuária (iLP)
Culturas + Animais
Sistema Silvipastoril ou de integração Pecuária-Floresta (iPF)
ção”, acrescenta. Maurel faz questão de frisar que a integração não é uma solução mágica. “Ela coloca à prova toda a capacidade gerencial do produtor e seus funcionários. A adequada capacitação dos assessores/ consultores técnicos, que elaboram e acompanham a implantação e o desenvolvimento de projetos com o de iLPF junto aos produtores rurais, e a maior capacidade gerencial para a condução eficiente dos sistemas de produção são igualmente necessárias para o sucesso da tecnologia. Na opinião do pesquisador, o caminho para o produtor rural moderno é investir na diversificação de culturas. “Com a volatilidade dos preços, a instabilidade climática e os problemas de pragas e doenças, ele precisa diversificar sua produção para não ficar refém de um produto ou de uma única safra”. Conforme a Embrapa Agrossilvipastoril, ainda não há estatísticas precisas referentes à adoção dos diversos sistemas de integração no país, mas a estratégia, nas suas diferentes modalidades, está sendo adotada em vários níveis de intensidade e já ultrapassa 1,6 milhão de hectares. A estimativa é de que, para os próximos 20 anos, possam cobrir mais de 20 milhões de hectares no país. novembro 2013 - Agro DBO | 53
Debate
Integração, a favor e contra. Debates são sempre importantes, e a troca de ideias sobre um tema nos faz crescer, especialmente se esse debate é protagonizado por gente competente. Nesta edição, a revista Agro DBO propôs um debate sobre iLP – Integração
Lavoura-Pecuária, e iLPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, em que dois respeitados especialistas do agronegócio brasileiro, como Fernando Penteado Cardoso e João Kluthcouski opinam a respeito.
ILPF - Por que floresta? Fernando Penteado Cardoso *
* Eng. Agr. SêniorESALQ-USP 1936. Fundador e ex-presidente da Manah S.A. e da Fundação Agrisus. Produtor rural em Mogi Mirim (SP).
“Estão na moda os palavreados ambiciosos “lavoura-pecuária-floresta-iLPF” ou “agro-silvo-pastoril”. O que significam ou o que podem significar? Tudo começou alguns anos atrás com a expressão “integração lavoura pecuária-ILP” que foi definida como a sucessão alternada de atividades agrícolas e pecuárias na mesma área. Importante ser na mesma área, pois se uma fazenda se dedica a lavouras e a criações em áreas separadas, ela tem essas atividades paralelas, mas não integradas. A integração acontece quando
54 | Agro DBO – novembro 2013
as duas atividades - agrícola e pecuária - se alternam, se sucedem, se interagem, se integram e se completam em uma mesma área. Um exemplo de ILP bem sucedido é o do produtor Ake van der Vinne, em Maracajú/MS, onde no verão a sucessão anual é soja>soja>milho>pasto e no inverno pasto>pasto>pasto. Nesse sistema, a cada 4 anos um hectare em rotação produz em média 120 sc de soja (2 safras), 100 sc de milho e 1.000 kg de ganho de peso vivo-GPV. Outra aferição bem sucedida foi relatada pela Granja JAE, Sto.
Inácio/PR, onde, por 6 anos consecutivos, foi comprovada a produção anual de 2 mil litros de leite ou de 300 kg de GPV por hectare durante o inverno, no intervalo entre culturas de soja de verão. Nesses dois exemplos, o sistema assegura ainda um volume satisfatório de fitomassa para o plantio direto subsequente. Nos dois casos, pecuária e lavoura se alternam na mesma área. De uns anos para cá a Embrapa vem incentivando o plantio de renques de duas a três linhas de eucalipto ou outra espécie arbórea separadas de 25 a 27 m. Nos primeiros 2
anos cultiva-se soja ou outro cereal no intervalo entre os renques. No final do 2º ano semeia-se capim, geralmente uma braquiária, iniciando-se então um sistema permanente de pasto sombreado. Não se trata de uma integração por falta de rotatividade e de alternância. Poderá, quando muito, ser classificada de silvo-pastoril, sem que a lavoura faça parte do sistema. Os pastos sombreados não constituem novidade. Anos atrás a CMM do grupo Votorantim patrocinou experimentos e observações em Vazante, no NO de Minas Gerais, mas o trabalho foi descontinuado antes de concluído. Outras descrições em Paragominas/PA e no Estado de MS são pouco conclusivas quanto aos resultados anuais de ganho de peso, embora apresentem simulações e estimativas favoráveis. Nos anos 1990 diversos criadores na região de Dourados/MS iniciaram o plantio de renques de Leucaena ocupando cerca de 50% da área de piquetes em rotação, com sombreamento intenso na área arbustiva rebrotada. Os intervalos entre os renques eram semeados com capim, permitindo
que os animais pastoreassem a gramínea e os brotos e folhas da leguminosa. Inicialmente houve grande entusiasmo dos criadores, mas, pouco a pouco o sistema foi relegado, seja por dificuldades de manejo, seja por não compensar economicamente. A forragem à sombra é menos palatável nas águas, o capim é mais tenro e bem aceito na seca e a faixa lindeira aos bosques é prejudicada pela forte competição até uma largura de 10 a 15 m. Estas observações são de conhecimento geral dos que convivem com o ambiente rural. Seja pelo sombreamento, seja pela competição por nutrientes e água, a produção de fitomassa forrageira à sombra pode vir a ser limitada, desconhecendo-se pelo momento o GPV anual por unidade de área. Os custos de implantação são, por sua vez, muito variáveis, dependendo de inúmeros fatores locais, inclusive da infestação dos inços e de formigas cortadeiras. A redução da produção animal é até certo ponto compensada pelo crescimento de fustes com valor comercial para celulose, carvão ou madeira, mas o resultado econômico
por hectare entre produção animal e vegetal não foi ainda determinado. O que deve ficar bem claro é que a integração lavoura/pecuária está bem comprovada e dimensionada, mas ao se introduzir árvores permanentes o sistema torna-se mal conhecido, em que pese o entusiasmo desiderativo dos que o apregoam antes de ter aferições convincentes. Dias de Campo festivos divulgam as iniciativas ditas agro-silvo-pastoris enquanto satisfazem a curiosidade dos interessados e envaidecem tanto os técnicos promotores, como os proprietários gratificados. Vale aqui lembrar o preceito de Lord Kelvin enunciado no século 19: “A menos que você possa medir alguma coisa e descrevê-la com números, você está apenas começando a compreendê-la”. É admissível a hipótese de que ao final de alguns anos os agropecuaristas cheguem à conclusão de que seria melhor ter pastagem e reflorestamento em separado. O futuro dirá, seja por problemas operacionais, seja por pragas rogadas pelos vaqueiros em disparada ao cruzar pelos renques arbóreos”.
A integração lavoura-pecuária e o componente florestal João Kluthcouski *
* Engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Cerrado, especialista em ILP e iLPF.
“A Integração Lavoura Pecuária (ILP), ou sistema agropastoril, já mostrou tantas vantagens que é impossível questionar sua viabilidade: sinergismo entre as atividades de agricultura e pecuária; uso eficiente da área durante o ano todo; melhoria de todas as propriedades do solo; redução de riscos climáticos; aumento da produtividade de grãos; produção do “boi barato e precoce” na safrinha ou na época seca; aumento da matéria orgânica do solo;
mitigação da emissão de gases de efeito estufa; redução da necessidade de agrotóxicos; aumento da rentabilidade; entre muitas outras vantagens. Destaca-se a máxima lançada pelo Dr. Fernando Penteado Cardoso: “braquiária é mais do que pasto!”. Vale lembrar, inclusive, que hoje a ILP, obviamente sob Sistema Plantio Direto, é tida como a única possibilidade viável para se produzir de forma sustentável nos solos arenosos, a maior parte deles
atualmente coberta por pastagem degradada e cuja abrangência, em termos de área, é estimada em mais de 90 milhões de hectares no Brasil – cerca de 10 milhões nas regiões Sul e Sudeste, e 30 milhões somente nos Cerrados. E como a árvore entra nessa história? Engana-se quem pensa que o componente florestal é ruim. A árvore é o símbolo da vida em todos os aspectos: produz riqueza; absorve e até sequestra carbono durante todo o ano; novembro 2013 – Agro DBO | 55
Debate
Sombreamento é uma das vantagens da iLPF no conforto animal
gera sombra e umidade; produz energia, celulose e madeira para diversos fins; protege e dá abrigo à maior parte da fauna silvestre. Além disso, uma árvore plantada pode significar uma árvore nativa a menos a ser derrubada. Quer mais? É possível afirmar que, num futuro próximo, haverá maior demanda por madeira de florestas plantadas para os mais diversos fins. Aí vem a grande polêmica sobre a tal sigla “iLPF”, que vem de “Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” que hoje está sendo grandemente difundida no Brasil. Apesar de tentar abranger todas as modalidades de “integração”, a iLPF acaba sendo entendida como sendo o sistema completo que integra todas as atividades, ou seja, o sistema agrossilvipastoril. Assim, um dos equívocos começa pela própria sigla, pois o leitor, nesse caso o produtor rural, pode entender que a floresta plantada é obrigatória no fabuloso sistema de ILP, e isso não é verdade. Então, é preciso desmistificar esse possível mal entendido. Floresta plantada não é para 56 | Agro DBO – novembro 2013
todos, mas sim para nichos específicos de produtores rurais, podendo servir para um ou mais objetivos: como quebra-vento; para pequenos produtores de leite; alta demanda por madeira na propriedade; utilização de áreas marginais da propriedade, como locais pedregosos e declives acentuados; entre outros. O fato ainda mais agravante é que pouco se conhece científica e economicamente sobre o resultado final da tal iLPF: retorno econômico ao longo do tempo; quantificação de provável redução na produção forrageira e culturas graníferas consorciadas com árvores; melhor definição de arranjo espacial das espécies madeireiras; custo da destoca quando pretender-se utilizar a área para outros fins. Afinal de contas, os estudos sobre iLPF são muito recentes no Brasil, e resultados confiáveis são obtidos a médio e longo prazo. Por isso, temos que ter muito cuidado na difusão desse sistema generalizadamente. Já se sabe, no entanto, que: o sombreamento pode reduzir, na maioria dos casos, o poten-
cial produtivo da pastagem e das culturas graníferas anuais; o bem estar gerado pelo sombreamento pode resultar em melhor desempenho animal, seja para carne ou leite, sem que isso sempre represente maior produtividade por unidade de área; as fileiras bordaduras do eucalipto, por exemplo, só se prestam para a produção de energia; a melhor orientação das fileiras ou renques é no sentido Leste-Oeste; fileiras simples comprometem menos as produtividades das espécies consorciadas e a madeira produzida serve tanto para a produção de energia como de pranchas para serraria. Mas muito mais tem que ser ainda estudado. É detestável ficar em cima do muro, por isso duas conclusões podem ser tiradas: a ILP é para todos e, com certeza, vai se transformar na maior das revoluções verdes no planeta; e a iLPF, desde que atenda a demandas específicas e seja muito bem pensada e planejada, pode se transformar num excelente negócio para muitos empresários rurais, em qualquer tamanho de propriedade”.
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Análise de mercado
Viés de baixa no algodão O mercado continua favorável aos vendedores, mas a tendência, no curto prazo, é de queda nas cotações da pluma no mercado interno.
N
a penúltima semana de outubro, a libra-peso estava cotada a R$ 2,11 no mercado CIF de São Paulo. Comparativamente ao mesmo período de setembro, ainda contava com alta de 1% e, frente à igual momento do ano passado, a valorização era de 38,8%. A desvalorização do dólar ante o real e os preços internacionais mais baixos fizeram com que as cotações nacionais se afastassem, para cima, da paridade de exportação. Com isso, as indústrias passaram a ser menos flexíveis em relação aos preços e as tradings precisaram reduzir suas pedidas para manter a competitividade externa. O reflexo sobre o merca-
do disponível só não foi mais intenso porque os produtores seguiram escalonando as vendas e apostando em momentos mais atrativos para negociar no pico da entressafra. Tal postura do lado vendedor se justificava pelo aperto esperado para o quadro de oferta e demanda nacional no ciclo comercial 2013/14. A temporada iniciou em junho com 198 mil toneladas (t) em estoques (base pluma), que, somadas à produção de 1,315 milhão/t, geraram uma oferta de 1,513 milhão/t. Considerando um consumo nacional de 915 mil/t, para encerrar com o mesmo estoque com que iniciou o ciclo, o superávit poderá ser de, no máximo, 400 mil/t. No acumula-
do do ano comercial, até o final da terceira semana de outubro, as vendas externas brasileiras eram de 226 mil/t. As projeções apontavam para 550 mil/t a serem exportadas. Se este volume se efetivar, serão necessárias importações de 150 mil, o maior volume desde a temporada 2000/01. Neste caso, a referência para a formação de preços na entressafra será a paridade de importação. De acordo com números da BBM – Bolsa Brasileira de Mercadorias, os produtores de algodão haviam registrado 553,8 mil/t da pluma até 21/10. Deste montante, as exportações correspondem a 204,12 mil/t e os registros para exportação com opção de mercado interno, outras
Trigo – Apesar das perspectivas de produção
mundial recorde, as perdas com geadas no Paraná e na Argentina sustentaram as cotações na primeira quinzena de outubro e chegaram a superar os valores nominais registrados no mesmo período, no ano passado. No Rio Grande do Sul, o cenário é favorável ao produtor, que não deverá encontrar problemas ao negociar a safra atual – as estimativas indicam qualidade melhor que a da safra passada. No curto prazo, a tendência é baixista.
* Em 17/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 886,25 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.
açúcar – As cotações seguiram em alta no
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mercado spot paulista em outubro, embora com demanda pequena. De 22 a 25/10 – data do fechamento desta coluna –, os valores chegaram a casa dos R$ 52,00, alcançando R$ 52,62 no dia 25, patamar obtido apenas em novembro do ano passado. Segundo pesquisadores do Cepea, os estoques internos continuam altos. A tendência, portanto, é de negócios esporádicos e preços estáveis no curto prazo.
* Em 17/10, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 50,96 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.
ARROZ – O mercado permaneceu em regime de calmaria em outubro. Entre 15 e 22/10, o Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa permaneceu estável, com ligeira queda de 0,02%, fechando a R$ 33,62/saca de 50 kg na terça-feira, 22. Em 17/10, como mostramos no gráfico ao lado, o valor era de R$ 33,61. Na parcial de outubro, o Indicador do Arroz acumulou perda de 0,94. Tal quadro não deve sofrer grandes oscilações no curto prazo.
* Em 17/10, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 33,61 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.
Análise de mercado 160,1 mil/t. Para o mercado interno, foram registradas apenas 189,6 mil. Isso mostra que nos últimos meses do ano comercial 2013/14, haverá necessidade de maior presença de compradores nacionais, o que já se justifica pelo afastamento dos preços do mercado disponível da paridade de exportação e uma aproximação com a de importação. Pelo fechamento de 21/10, considerando a paridade de importação, a fibra norte-americana estava cotada a US$ 0.83 por libra-peso na Bolsa de Nova York (dezembro/13 na ICE), com o câmbio de R$ 2,1820 por dólar. Com TEC de 10%, chegaria ao CIF de São Paulo a R$ 2,55/ lb (com ICMS). O produto nacional foi ofertado no mesmo mercado a R$ 2,36 por libra-peso, ou seja, teria espaço para subir até 7,8%. Há um mês, o espaço era de 11,25%. Pela paridade de exportação, o algodão a R$ 2,01 por libra-peso (lb.) no interior do Mato Grosso chegaria ao FOB de Santos/SP por volta de R$ 2,18/lb. Com o câmbio de 21/10,
* Em 17/10, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 258,22 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
corresponderia a US$ 1.00/lb, ou 20,4% superior à cotação de dezembro/13 na Ice Futures. Em 21/9, era 15% superior. Nos próximos meses, o desempenho do comércio internacional devera ser acompanhado de perto, com reflexos diretos sobre as paridades e, consequentemente, sobre os níveis de preços no mercado disponível. A situação continuava favorável para os vendedores em outubro e deve se manter assim no curto prazo, ressalvadas as possíveis surpresa do lado cambial e a incerteza sobre a real dimensão dos estoques chineses. Por isso, é importante aproveitar momentos que combinem uma boa situação cambial e de mercado externo para fechar negócios, em especial de safras futuras. O ajuste normal ocorrerá com o aumento da área nesta safra, o que, mais adiante, poderá elevar a oferta e derrubar os preços. Elcio A. Bento Analista da CMA/Safras&Mercado
algodão – As cotações entraram em outubro em alta, mas em meados do mês, os valores caíram, seguindo então trajetória de baixa no mercado interno. Sem necessidade de fazer caixa, os cotonicultores brasileiros (a maioria, grandes produtores de grãos) se mantiveram retraídos, priorizando o plantio da safra 2013/14 de grãos, iniciada em setembro no Centro-Oeste do país. Nesse meio tempo, a indústria também permaneceu na moita, conforme levantamento do Cepea, na expectativa de queda mais acentuada nos preços. A tendência no curto prazo é de baixa.
* Em 17/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 214,41 centavos de real por libra-peso.
CAFÉ – Para desalento dos cafeicultores brasileiros – tanto os que cultivam apenas arábica, quanto os que plantam exclusivamente conilon, ou ambas as variedades –, as cotações permaneceram em trajetória descendente no mercado físico. As do arábica chegaram a reagir em meados de outubro (em 17/10, atingiu R$ 258,22), mas despencaram a seguir, alcançando R$ 249,08 no dia 25, quando fechávamos este box. No curto prazo, a tendência baixista prevalece.
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
MILHO –
* Em 17/10, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 23,89 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
As cotações oscilaram bastante na primeira quinzena do mês passado. Mesmo com oferta excessiva no mercado interno, reagiram, porém, ao viés baixista e subiram um pouco em meados de outubro. Os leilões governamentais ajudaram a escoar parte da produção, sustentando os preços. Ao mesmo tempo, os agricultores se ocupavam com o plantio da safra de verão, restringindo a oferta. Os altos estoques continuam pressionando os valores para baixo.
* Em 17/10, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 73,84 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
soja – As cotações viraram em alta de setembro para outubro devido a demanda firme no mercado internacional e a baixa oferta no interno. Voltados ao plantio da safra 2013/14 de grãos, e relativamente capitalizados graças aos bons preços ao longo do ano, os produtores não demonstraram grande interesse em se desfazer dos estoques remanescentes. Assim, os negócios não fluiram no mercado físico brasileiro. O viés, no curto prazo, ainda é de alta.
novembro 2013 – Agro DBO | 59
Novidades no campo Qualidade e resistência
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barra de carbono de 36 metros
Resultado de parceria entre a Fundação Pró-Sementes e a DNA Melhoramento Vegetal, a DNA Ouro Verde é uma cultivar de trigo tipo pão/melhorador, resistente às principais doenças da cultura, com alto potencial produtivo e sanidade foliar. Na safra passada, foi avaliada em ensaios em 10 municípios da região sul do país, com rendimento médio de 4.120 kg/ha, 4% superior ao das testemunhas. A maior produtividade, de 7.441 kh/ha, foi obtida em Ponta Grossa (PR). Segundo a pesquisadora Kassiana Kehl, coordenadora da unidade de cultivos de inverno da Fundação Pró-Sementes, a nova cultivar estará disponível para os triticultores na safra 2015.
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A Pla do Brasil, empresa de origem argentina especializada em pulverizadores, lançou uma barra de pulverização de 36 metros, feita com fibra de carbono, substituindo o aço-carbono. Segundo o fabricante, a tecnologia traz uma série de vantagens em relação ao modelo anterior: reduz o peso do conjunto em quatro vezes, melhora a distribuição de peso e, consequentemente, o equlíbrio da máquina, aumentando sua autonomia e a produtividade entre 15% a 20%. Até o final do ano, a Pla pretende produzir 20 pulverizadores com a nova barra de carbono. Para 2014, a meta da empresa é chegar a 50 unidades, pelo menos.
Bombas portáteis de drenagem
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Empresa do segmento de bombas submersas vibratórias, a Anauger está lançando os modelos AGS 80A, AGS 100 e AGS 300A, de alta qualidade, durabilidade e rendimento hidráulico. De acordo com informações da empresa, são equipamentos portáteis, compactos, para trabalhos esporádicos como aproveitamento de água pluvial, irrigação agrícola em pequena escala, drenagem de porões e locais encharcados ou inundados por enchentes, por exemplo. Os novos produtos podem bombear água com sólidos em suspensão de até dois milímetros.
Roçadeiras para jardim
Inovações em sementes
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A Branco, do grupo Briggs & Stratton Corporation, lançou suas primeiras roçadeiras com tecnologia Briggs – BBR 33G e BBR 43G –, de alto rendimento e baixo consumo de combustível, segundo a empresa. Conforme comunicado de mercado, são soluções de alto desempenho para a linha Jardim, “adequadas para atender desde as demandas profissionais até aos jardineiros de final de semana”. As novas roçadeiras já estão disponíveis em todos os pontos de vendas do país.
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A Ihara lançou no mercado brasileiro duas inovações tecnológicas para o tratamento de sementes: o fungicida Certeza e o inseticida Pirâmide. Segundo pesquisadores da empresa, o Certeza tem comprovada eficácia no controle do patógeno que causa o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) nas culturas de soja e feijão. Além disso, controla, segundo eles, outras tradicionais doenças da soja, como antracnose (Colletotrichum truncatum), podridão seca (Phomopsis sojae), tombamento (Rhizoctonia solani) e podridão de raizes (Fusarium spp). O inseticida Pirâmide é utilizado no tratamento de sementes para controle de pragas sugadoras e lagartas nas fases iniciais da lavoura.
Novidades no campo Cebola híbrida de alta precocidade
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Braço da Bayer CropScience no negócio de sementes e hortaliças, a Nunhems apresenta a Nun 1205, “a variedade mais rápida do mercado brasileiro”. Seu maior diferencial, segundo Roberto Johow, gerente de cultivos de cebola para a América Latina, é a precocidade “Dependendo das condições de cultivo, a Nun 1205 se desenvolve muito bem em um período de 90 a 95 dias, em climas quentes, e 110 a 115 dias em climas frios, enquanto outros cultivares levam, em média, de 120 a 150 dias,” diz ele. A nova hortaliça apresenta resistência à raiz rosada, doença fúngica que atinge todas as regiões produtoras do Brasil. Causada pelo fungo Pyrenochaeta terrestris, a raiz rosada pode atacar as plantas em qualquer estágio de desenvolvimento.
Pivô de três rodas
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Lançamento da Lindsay, o pivô 9500P, com sistema de tração equipado com três rodas, é uma alternativa para áreas inundadas ou problemáticas, como as plantações de arroz. Com reforço na tração, a torre de três rodas permite que os orizicultores gastem menos tempo recuperando equipamentos atolados. O recurso também contribui para prolongar a vida útil dos pneus e reduzir o desgaste do sistema de transmissão. Segundo a empresa, a conversão para este sistema é feita de forma simples, sem que haja necessidade de substituir o tubo de transmissão de duas rodas. O kit de conversão agrega a terceira roda para viabilizar a flutuação adicional e melhorar a tração.
Fungicida reforçado
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Novidade da Basf, o Orkestra SC é o primeiro fungicida no Brasil com o ingrediente ativo Xemium, do grupo das carboxamidas. Sua composição inclui a molécula F500, ampliando assim o espectro de doenças controladas com o produto. Em sua estratégia de lançamento, a Basf ressaltou sua eficiência no combate ao fungo causador da ferrugem asiática (Phakopsora sp), ou ferrugem da soja. “Neste primeiro momento, vamos trabalhar para impulsionar a produtividade da soja e, em seguida, iremos focar também nos demais cultivos agrícolas”, explica Oswaldo Marques, diretor de Marketing da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf. O Orkestra SC integra o Sistema AgCelence da empresa, que, além do controle fitossanitário das principais pragas e doenças da soja e outras culturas, contribui para melhorar a eficiência da plantas, tornando-as mais produtivas.
Proteção e estímulo aos nutrientes
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A Timac Agro, do grupo francês Roullier, está lançando no mercado brasileiro um fertilizante sólido para aplicação de plantio (base) com tecnologia MPPA DUO. Trata-se, segundo a empresa, de um complexo orgânico exclusivo capaz de proteger os nutrientes presentes no grânulo do fertilizante, evitando perdas de fósforo (P) por reações com outros elementos ou por lixiviação de potássio (K) e nitrogênio (N). A formulação agrega os nutrientes presentes originalmente no solo ou os residuais de adubações anteriores e induz o aumento de área de raízes, favorecendo a absorção de água e nutrientes.
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Calendário de eventos
NOVEMBRO
6
2ºCBE/ Congresso Brasileiro de Eucalipto – De 6 a 7 – Centro
de Exposições Imigrantes – São Paulo (SP) (27) 3324-5986 – E-mail: cbe@ congressoeucalipto2013.com.br
11
5ª Agrocampo – De 11 a 24 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro Maringá (PR) – Site: www.srm.org.br
17
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
De 17 a 22 – Bento Gonçalves (RS) E-mail: xxsbrh@abrh.org.br
19
XXVIII CBA/Congresso Brasileiro de Agronomia
De 19 a 22 – Centro de Eventos Pantanal Cuiabá (MT) – Fone: (65) 3315-3052 E-mail: cba2013@aeamt.org.br
21
7ª Cajumel/ Feira do Agronegócio do Caju e do
26
Congresso Agrimoney
De 26 a 27 – Cenarium Rural Cuiabá (MT) – Site: www. agrimoney.com.br – E-mail: info@ agrimoney.com.br
26
12º Seminário Nacional de Milho Safrinha
De 26 a 28 – Auditório da Universidade Federal da Grande Dourados – Fone: (67) 3416-9740 (67) 3416-9740 – E-mail: cpao.milhosafrinha-2013@embrapa.br
27
Renex South America/Feira Internacional de Energias Renováveis – De 27 a 29 – Centro de Eventos da FIERGS Federação da Indústria do Estado do Rio Grande do Sul – Porto Alegre (RS) Fone: (41) 3027-6707 Site: www.renex-southamerica.com.br
27
VII Fiam/Feira Internacional da Amazônia – De 27 a 30
Fone: (85) 3255-6836 Site: www.ce.sebrae.com.br
Centro de Convenções – Manaus (AM) Fones: (92) 3321-7199 e/ou (92) 3321-7237 Site: www.suframa.gov.br/fiam
25
29
Mel – De 21 a 23 – Ocara (CE)
8º Congresso Brasileiro de Agroecologia – De 25 a
28 – Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica – Porto Alegre (RS) – E-mail: sec-cba@emater.tche.br
62 | Agro DBO – novembro 2013
5ª BioNat Expo 2013 – De 29
a 1/12 – Centro Cultural Usina do Gasômetro – Porto Alegre (RS) Fone: (51) 3228-8692 Site: www. bionatexpo.com.br
5 – 8º Congresso Internacional de Bioenergia/ 6ª BioTech Fair – Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustível – De 5 a 7/11– Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo (SP) – E-mail: contato@ bioenergia.net.br Utilização de bagaço de cana-de-açúcar e outros resíduos na produção de energia, florestas energéticas, gaseificação de biomassa, etanol celulósico, o futuro dos biocombustíveis. Estes são alguns dos temas em discussão no 8º Congresso Internacional de Bioenergia, um dos principais eventos do setor, com participação de pesquisadores de vários países, agricultores, empresários e fabricantes de máquinas, equipamentos e tecnologias voltadas à produção e geração de energias renováveis.
DEZEMBRO
3
24ª FNA/Feira Nacional de Artesanato – De 3 a 8
Expominas – Belo Horizonte (MG) Site: www.feiranacionaldeartesanato. com.br
9
22ªJornada de Atualização em Agricultura de Precisão
De 9 a 13 – Campus da Esalq Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Piracicaba (SP) Fone: (19) 3417-6604 E-mail: cdt@fealq.org.br
JANEIRO
22
Showtec 2014/18ª Feira de Tecnologias Agropecuárias – De 22 a 24 Estação
Experimental da Fundação MS (Estrada da Usina Velha, km 2) Maracaju (MS) – Site: www. portalshowtec.com.br – E-mail: comunicacao@fundacaoms.org.br
29
16º Itaipu Rural Show
De 29/1 a 2/2014 – Centro de Treinamento e Difusão de Tecnologias da Cooper Itaipu (BR 282 – km 580) – Pinhalzinho (SC) – Fone: (49) 3366-6500 Site: www.cooperitaipu.com.br
Biblioteca da Terra Produção irrigada
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Referência em café
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Saiu em outubro mais uma edição da Coffee Science, revista científica do Consórcio Pesquisa Café, editada pela UFLA – Universidade Federal de Lavras (MG). Entre os artigos publicados, destacamse os estudos de avaliação das características físico-químicas (grãos) e sensoriais (bebida) de cultivares do Iapar e da Epamig; seleção de progênies oriundas do cruzamento entre cultivares de boas características agronômicas, antes e depois do esqueletamento; resposta de genótipos à poda; eficiência em colheita mecanizada, de acordo com a força de tração necessária para o desprendimento dos frutos na planta; e força de desprendimento em função do grau de maturação. No formato online, a Coffee Science é acessada por leitores de cerca de 150 países. A revista impressa tem tiragem de 500 exemplares, distribuídos para bibliotecas, universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior. Para acessar todas as edições, o link é www.coffeescience.ufla.br.
Técnica agrícola milenar, a irrigação transformou-se num “insumo” de grande importância no campo, graças às novas tecnologias de produção. O livro Princípios Agronômicos da Irrigação prioriza, como o seu próprio nome sugere, os aspectos técnicos da atividade, mas discute também políticas públicas. questões culturais e ambientais relacionados ao uso da água e do solo, tais como manejo racional, exploração dos recursos naturais, etc. O preço de capa é de R$ 28,00. Com 264 páginas, pode ser encomendado através do link de vendas da Embrapa: http://vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/ consultaProduto.do?metodo=detalhar&codigoProduto=00053110
Panorâmica sobre o caju
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Com 540 páginas, o livro foi concebido para atender às demandas da cadeia produtiva do caju, desde os produtores até os consumidores, passando por processadores, pesquisadores, extensionistas e comerciantes. Segundo o autor, João Pratagil P. de Araújo, a utilização das práticas e inovações relatadas vão contribuir para o desenvolvimento competitivo e sustentável desse importante agronegócio para o Brasil, ampliando a geração de divisas de exportação e aumentando o consumo interno da castanha, do pedúnculo e de seus derivados, além de gerar emprego e renda no campo e na indústria. O livro custa R$ 67,00. Para adquiri-lo, basta acessar o link de vendas: http://vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/ consultaProduto.do?metodo=detalhar&codigoProduto=00053070
Evolução biotecnológica
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Lançado no mês passado, o livro tem como propósito básico discutir as condições de desenvolvimento e apropriação das biotecnologias. Os autores, Graziela Zucoloto e Rogério Freitas, ambos do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, apresentam a evolução histórica das biotecnologias na União Europeia, Estados Unidos, Japão, China, Índia e outros países, discutem as respectivas leis de propriedade intelectual, a regulamentação sobre o assunto e o impacto no desenvolvimento científico e econômico. Disponível na livraria do Ipea, a obra custa R$ 40,00. A versão online, porém, é gratuita. Em ambos os casos, o link de acesso é www.ipea.gov.br.
Hortaliças não convencionais
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Mangarito, taioba, serralha, ora-pro-nobis, araruta, vinagreira, jacatupé, peixinho, azedinha. Quantos, nas grandes cidades, já provaram estas delícias da culinária brasileira? Poucos, provavelmente. O Manual de Produção de Hortaliças Tradicionais, lançado no mês passado, trata das também chamadas hortaliças não-convencionais, como as citadas acima, de demanda crescente graças, entre outras ações, ao trabalho de resgate e multiplicação de espécies ligadas à cultura e à tradição de comunidades mineiras, conduzido pela Emater/MG, e ao projeto “Hortaliças Tradicionais: Alternativa para Agricultura Familiar”, coordenado pelo pesquisador Nuno Madeira, da Embrapa. Os interessados podem adquirir o manual na Livraria Embrapa: www.vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/
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Negócios Um guia de anúncios para facilitar as compras e aprimorar a produtividade da fazenda.
ANUNCIE Ligue 11 3879-7099. Descontos especiais para programações.
novembro 2013 – Agro DBO | 65
Legislação
Loteamento de áreas rurais O especialista alerta os donos de áreas próximas a cidades sobre os riscos de se tornarem parceiros em empreitadas duvidosas Fábio Lamonica Pereira *
N
*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio
os últimos anos, a valorização de imóveis urbanos foi notável, tendo sido impulsionada, dentre outros fatores, pelas políticas governamentais de urbanização. Fato é que os ganhos, para os que acreditaram no setor, foram muito satisfatórios se comparados com outras opções de investimentos. Mesmo que o “momento de ouro” tenha, aparentemente, passado, ainda existem ótimas oportunidades de investimentos no setor, com destaque para a implantação de empreendimentos próximos às cidades, como loteamentos, condomínios fechados e chácaras para lazer. Com isso, nota-se o avanço dos limites urbanos (muitas vezes sem o devido planejamento) que avançam em áreas até então utilizadas para atividades agropecuárias. Os proprietários de tais áreas são assediados por ofertas tentadoras e acabam por concretizar a respectiva venda ou por firmar parcerias com empresas a fim de que o empreendimento almejado seja concluído. Optando-se pela venda do imóvel aos incorporadores, o procedimento é mais simples, devendo-se observar os requisitos mínimos necessários à conclusão de uma operação segura, exigindo-se garantia real até que o pagamento esteja totalmente concluído. No caso de parcerias (modalidade preferida), como os riscos são maiores, a expectativa de lucro também é mais atrativa. Neste caso, a atenção deve ser extrema. A solidez e a experiência da empresa parceira são fundamentais para o sucesso do negócio,
66 | Agro DBO – novembro 2013
uma vez que a remuneração do proprietário se dará por meio do recebimento de parte dos lotes a serem comercializados. É muito comum que as incorporadoras firmem o instrumento de parceria com o proprietário, elaborem um projeto do empreendimento futuro e, antes mesmo de realizarem estudos de viabilidade, de providenciarem a necessária aprovação dos órgãos governamentais, bem como o competente registro do empreendimento, iniciem as obras (ainda que parciais) de infraestrutura (como demarcação, asfalto, galerias etc.) e passem a vender os lotes que sequer existem. Tal prática é proibida de forma específica pela legislação atual, sendo que os responsáveis (inclusive o proprietário do imóvel objeto de implantação do empreendimento) podem ser penalizados, tanto na esfera civil quanto na criminal. Vale ressaltar que o empreendimento deverá ser aprovado pelo órgão municipal (cumprindo com inúmeras exigências) para, então, constar do Cartório de Registro de Imóveis competente e, somente a partir de tal fase, passar a ser oferecido ao mercado. O número do
referido registro deve, inclusive, constar dos prospectos de venda. Deve-se, ainda, atentar para os cuidados quanto à forma de estruturação da parceria, como a constituição de uma sociedade de propósito específico, vinculando-se determinada garantia do empreendimento a fim de que os adquirentes não sejam prejudicados e não haja confusão entre os patrimônios das pessoas física e jurídica envolvidas. A correta estruturação societária e contábil é, portanto, fundamental para que as partes não sejam surpreendidas por exigências tributárias indevidas. Enfim, são boas as opções de empreendimentos para proprietários de áreas rurais próximas a centros urbanos, os quais podem aproveitar o bom momento (que ainda perdura) do mercado imobiliário e, preferencialmente, aplicar o resultado no agronegócio. No entanto, ante a burocracia, os riscos e a complexidade de tais empreendimentos, devem-se redobrar os cuidados antes de se firmar qualquer compromisso, especialmente se o negócio se mostrar muito vantajoso. Quando a promessa é muito grande até o santo desconfia.
Ninguém é campeão sozinho
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