Revista Agro DBO - Ed 51 - Dez/2013 - Jan/2014

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Almir Sater

caixa.gov.br SAC CAIXA: 0800 726 0101 (informações, reclamações, sugestões e elogios) Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala: 0800 726 2492 Ouvidoria: 0800 725 7474 Crédito sujeito a análise.


CHEGOU O CUSTEIO FÁCIL CAIXA. A NOVIDADE DO BANCO DAS MELHORES TAXAS PARA INCENTIVAR AS MELHORES SAFRAS. O Brasil está batendo recordes no agronegócio. Para incentivar ainda mais o bom momento do setor, a CAIXA oferece uma opção de crédito mais simples de contratar: o Custeio Fácil CAIXA. Comece agora a pensar na sua próxima safra. Com a parceria da CAIXA, o agronegócio em 2014 promete muito mais. Encontre as agências da CAIXA que disponibilizam o crédito rural no site www.creditoruralcaixa.com.br. CAIXA. A vida no campo pede mais que um banco.

Paula Fernandes


Sumário

27 Entrevista

Antonio Carlos Zem revela à revista Agro DBO projetos e mudanças nos planos da FMC, com prioridade para a produção biológica.

30 Milho

Excesso de oferta e desvalorização nos preços obrigam os produtores rurais a buscar alternativas para recuperar perdas

38 Agritechnica

Um dos maiores eventos do setor de máquinas do mundo, a feira, realizada em Hannover, Alemanha, apresenta novidades para o campo.

42 Logística 20

Obras de conclusão da BR-163 e construção de terminais fluviais viabilizam, finalmente, a exportação de grãos pelo Norte do Brasil.

Entrevista Matéria 48 Roberto Rodrigues discorre sobre questões relacionadas ao campo, de capa incluindo ações políticas de capitalização dos votos do agronegócio. Triticultores do sul do país comemoram bons resultados na colheita, especialmente no Rio Grande do Sul, estado com produção crescente e grãos de alta qualidade. No Paraná, as geadas comprometeram os índices, prejudicando toda a cadeia produtiva do trigo.

Artigos 36 – Décio Gazzoni analisa o impacto do câmbio nas exportações agrícolas 52 – Daniel Glat faz um histórico do melhoramento de sementes no Brasil 54 – Rogério Arioli questiona ONGs que criticam, impunemente, o agronegócio. 56 – Fábio Scudeler relaciona cinco dicas para nutrição adequada das plantas 66 – Fábio Lamonica destrincha a legislação relacionada ao meio ambiente

Seções

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Do leitor.............................................................. 6

Análise de mercado......................................58

Ponto de Vista................................................... 8

Novidade no campo.....................................60

Notícias da terra.............................................10

Biblioteca da terra..........................................62

Opinião..............................................................54

Calendário de eventos.................................65


Carta ao leitor

A

lvíssaras! A presente edição da Agro DBO, a começar pela matéria de capa, “Reação nos campos do Sul”, autoria dos jornalistas Glauco Menegheti e Gustavo Paes, faz um registro do sucesso que os agricultores sulistas estão obtendo na safra de trigo que se encerrou em novembro, e que nos dá a perspectiva de voltar a sonhar com a conquista da autossuficiência também nesse cereal. Outra notícia muito positiva é a que nos relata o jornalista Ariosto Mesquita com a reportagem “A ‘nova’ porta de saída”, sobre a rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), que traz alento aos agricultores do Mato Grosso, especialmente no médio-norte do estado, por se constituir numa solução parcial, já na próxima safra, para os gravíssimos problemas de transporte e logística enfrentados, eis que 2/3 da renda desses produtores foram canalizados para despachar a safra aos portos na última safrinha. Agora, a saída pelo Norte começa a se concretizar, e prenuncia até mesmo o desafogamento das estradas do MT que vão em direção aos portos de São Paulo e Paraná. É interessante ainda o registro feito por Agro DBO da maior mostra de máquinas e tecnologias agrícolas do mundo, a Agritechnica, de Hannover, na Alemanha, que, de um lado, nos mostra que a Europa já tirou o pé do buraco da crise financeira de 2008, conforme relataram alguns fabricantes de máquinas europeus, e, de outro lado, revela o ativo associativismo dos produtores rurais alemães rendendo frutos para a nobre missão de produzir alimentos, apesar das críticas exacerbadas dos ambientalistas, eis que esse tipo de coisa também acontece por lá. Consideramos relevante a luta justa dos produtores de milho matogrossenses, como informa a jornalista Marianna Peres na matéria “Ascensão e queda”, dentro do objetivo de dar encaminhamento aos grãos estocados no Brasil Central para a produção de etanol. Na entrevista do mês, com Roberto Rodrigues, nosso ex-ministro da Agricultura nos conta que o agro brasileiro agora anda sendo paparicado pelos políticos e candidatos a presidente nas eleições de 2014, como nunca aconteceu na história deste país. Desejamos a todos os leitores um Feliz Natal, uma boa entrada de Ano Novo, e que a safra transcorra com clima ameno, na medida certa de chuva e sol. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Airton Neves de Deus, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Fábio Scudeler, Glauco Menegheti, Gustavo Paes, Marianna Peres, Odo Primavesi e Rogério Arioli Silva.

Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Alfredo Nascimento DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor um excelente descompactador de solo e reciclador de nutrientes e também produz grão. Fica a contribuição. Cláudio de Oliveira Silva Goiânia NR: O leitor se refere à reportagem de capa “O que houve no campo?” (veja ao lado – internamente, o título é “Plantio direto em xeque”), sobre a necessidade de retomada dos procedimentos técnicos que norteiam o plantio direto no Brasil. Por motivos variados, muitos agricultores abandonaram o sistema; relegaram-no a segundo plano ou não vêm seguindo as recomendações agronômicas adequadamente, sob risco de prejuízos econômicos e ambientais mais à frente. ALAGOAS Recebi a edição de novembro da Agro DBO. A revista continua excelente, com reportagens de muita importância para o agronegócio. “O que houve no campo?”, matéria de capa, traz uma excelente análise sobre a revolução do plantio direto. Também podemos destacar as matérias sobre fitossanidade, a partir da página 38, e sobre integração (iLP, iPF e iLPF), a partir da página 50. Ressalto o nível dessas reportagens, cujo conteúdo muito contribui para a melhoria da informação do homem do campo. Parabéns a todos. Carlos José Pedrosa Maceió GOIÁS Ótima fonte de informação, pois está sempre atualizada. Tibério Henrique Lemos Contini Silvânia Sou engenheiro agrônomo e resido em Goiás. É muito importante a matéria de capa da Agro DBO de novembro e seus alertas quanto aos problemas no plantio direto. Mas senti falta de incluir como parte da solução o cultivo de milheto na entressafra (ou primeiras chuvas de verão ). O milheto necessita de pouca água e nenhuma adubação no caso do plantio em área anteriormente cultivada. É dono de um sistema radicular muito agressivo e que não teme alumínio tóxico abaixo da camada arável. Além de reciclar nutrientes na sub-superfície ( abaixo de 40 cm ), como, por exemplo, potássio. Milheto é sinônimo de palha, é

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MARANHÃO Revista de linguagem simples, sem deixar de lado a informação técnica que nós, os profissionais da área, tanto buscamos. Niele Raquel Penha Nogueira São Luis MATO GROSSO DO SUL Gostaria de parabenizar este trabalho magnífico que está sendo realizado pela equipe Agro DBO, desde as primeiras edições, a dez anos atrás (OBS: até a edição de agosto de 2012, a revista era intitulada DBO Agrotecnologia). Tenho satisfação de possuir praticamente todas as edições. Tantas matérias sobre diversos assuntos que permeiam o ramo agrícola do país, contribuindo significativamente o produtor rural, o homem do campo, aquele que produz, que sabe da importância de alimentar o mundo, de obter melhores rendimentos através do bom uso das tecnologias e, melhor ainda: ser reconhecido por isso. Ninguém entende mais do que esses, que se preocupam quando uma nova praga surge, ou quando amanhecem e se deparam com uma doença. Eles estão lá, de sol a sol, safra a safra, fazendo com que o alimento chegue até nós. Saibamos reconhecer a importância de seu trabalho, antes de criticar. A Agro DBO tem feito seu papel, contribuindo de maneira positiva, com texto fácil de compreender, com ideias e assuntos inovadores, informações técnicas e cientificas do ramo. Sou Eng. Agrônomo e já faz dez anos que acompanho esse trabalho. Parabéns

aos editores. Continuem levando conhecimento acessível a todos. Jefferson Silva de Oliveira Miranda MINAS GERAIS Depois de 45 anos de formado (sou engenheiro florestal pela UFPR – Universidade Federal do Paraná), é a primeira vez que leio um artigo tão bem escrito e, tecnicamente, um primor. Concordo com as críticas: quem não conhece a Amazônia, sua variada vegetação, solos e clima, não deveria escrever a respeito. Meus cumprimentos ao autor. Carlos Gilberto Caleiro Guimarães Tupaciguara NR: O leitor se refere ao artigo “Guerra de informações sobre queimadas”, publicado na seção Opinião, na edição de outubro da Agro DBO, na qual o editor-executivo Richard Jakubaszko derruba mitos imputados como verídicos sobre a Amazônia Excelente (a revista Agro DBO), pois abrange várias culturas, tecnologia, política agrícola e outros assuntos mais. Toni Régis Paulino Monte Carmelo PARÁ Quero parabenizar a qualidade das matérias, bem como o trato imparcial e democrático da revista Agro DBO. Vivo há 12 anos no estado do Pará. Inicialmente, em Paragominas; hoje, em Dom Eliseu. Parabenizo o Sr. Décio Luiz Gazzoni pelo artigo publicado na edição de setembro (“Cabresto curto”, no qual critica o excesso de burocracia governamental). Concordo em tudo e ainda acrescento: assisto, quando tenho tempo, às reuniões do Senado da República e da Câmara dos Deputados. Todos os projetos para criar cargos e dar emprego aos “babões da República chamada Brasil” andam em tempo recorde. Eu trabalho com produtores rurais. Aqui, entre a ditadura do Ibama e da Funai, ainda temos os entes públicos estaduais que dificultam muito. Por exemplo, uma inscrição estadual para um produtor rural pode demorar até um ano para ser expedida, mas quando se paga uma taxa para a tal da vistoria, sai rápida. Saudações. Benhur Bandeira Dom Eliseu


PERNAMBUCO Sou engenheiro agrônomo e recebo a revista Agro DBO desde 2008, quando ainda se chamava DBO Agrotecnologia. Sou professor de Agronomia e utilizo a revista em minhas aulas. Os alunos gostam muito. Jerônimo Borel Petrolina PIAUÍ Revista eficiente nas informações do dia-a-dia da agricultura, onde o leitor fica atuante e atualizado. Everaldino de Brito Sá Filho Oeiras RIO GRANDE DO SUL A revista Agro DBO é a mais objetiva do setor do agronegócio. Anderson Flores Soares Palmeira das Missões SÃO PAULO Gostaria de fazer um comentário sobre o excelente artigo a respeito do “gás de xisto”, exibido na revista nº 49 (edição de outubro passado). Nos últimos meses, se tornou comum o noticiário sobre o gás de xisto, considerado uma nova fonte energética de origem fóssil e que deverá iniciar uma nova era no panorama energético mundial. Porém, a tradução feita para o português está errada, pois xisto é uma rocha de origem metamórfica e os processos que envolvem a formação desta rocha impossibilitam a presença de gás na mesma. Já o folhelho é uma rocha argilosa de origem sedimentar, que pode, durante o processo de sedimentação, ter condições favoráveis à acumulação de matéria orgânica, gerando gás natural, chamado, no caso, de gás de folhelho (shale gas, em inglês). A provável razão para o êrro se deve ao fato de que shale é traduzido para português com o signficado de xisto ou argila xistosa. Em resumo, o correto é “gás de folhelho” e não “gás de xisto”. Fabio Olivieri de Nobile Barretos NR: O e-mail acima veio assinado também pelo geólogo Gustavo Olivieri Lopez, de Araraquara (SP), além do professor Fábio Olivieri de Nobile, da Unifeb – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos. Considerando a questão ao pé da letra, ambos têm razão. A prática, porém, acabou consagrando o uso da expressão “gás de xisto”, inclusive em documentos oficiais,

como mostra o texto a seguir, de pesquisador da Petrobrás: “A designação de xisto betuminoso é dada, vulgarmente, a certas rochas sedimentares que contêm, disseminado pela sua parte mineral, um composto orgânico de composição bastante variável, que, sob a ação do calor, se decompõe em gás e óleo, ambos ricos em hidrocarbonetos encontrados no petróleo natura!, permanecendo na rocha um resíduo carbonoso. E imprópria, para essas rochas, a designação de xisto, porquanto este nome está classicamente reservado a tipos determinados de rochas de origem metamórfica. Não cabe, tampouco, a designação de betuminoso, uma vez que o composto orgânico a que fizemos referência não tem características de betume: este último, na realidade, só é produzido mediante a piróIise daquele composto, chamado comumente de querogênio. Mas a força da tradição é enorme. Embora sabendo ser duplamente inadequada a designação, já que o material não é betuminoso e nem mesmo é xisto, os próprios técnicos e estudiosos continuam a chamar tais rochas de xisto betuminoso em vez de a elas se referirem como folhelhos pirobetuminosos, que seria o mais correto. E, cedendo à tradição, assim também o faremos no presente trabalho...” Prezado Daniel. Li com muita atenção sua reportagem em Agro DBO, nº 50, pgs 8 e 9, e fiz de suas verdades a minha revolta. Apesar de ser uma revista de grande circulação, ainda assim não pode atingir o alto escalão político deste país, que parece estar cego diante de tantas evidencias e verdades ditas neste documento. Sim, posso chamar de documento, porque só contêm verdades. Foi falado do agronegócio, do PIB, de tantas outras coisas, mas ficou ainda faltando falar do tal aquecimento global, em torno do qual se criou tanta polêmica. Depois que os cientistas brasileiros afirmaram que era uma farsa, muito pouco se ouve falar sobre o assunto. Tem tanto impostor botando o bico em nosso país que aqui parece a “Casa da mãe Joana” (expressão popular) e ninguém que assume uma posição política é capaz de lutar e mudar esse conceito do nosso Brasil. Lutam, sim, por interesses próprios ou de seus familiares e o (guincho içador da economia brasileira) PRODUTOR RURAL, que se dane. Fico indignado com tantas falcatruas (mensalão, propinas e outras, que a página seria pequena para enumerá-las e tudo acaba em nada). E nós, produtores

rurais, muitas vezes chamados de empresários rurais, nós que “levamos o PIB nas costas”, como disseste, não temos quem lute por nós. Precisamos, sim, fazer uma campanha e sair do nosso cantinho em que só pensamos em produzir mais para matar a fome do mundo, e lutar por nossos direitos, mostrando o valor do agronegócio, principalmente para político cego, “piloto de escrivaninha” Meu exemplo: tenho mais de 20% de área preservada em mata e não ganho nada por isso. Porque as ONGs não se preocupam em estabelecer algo para que pessoas como eu e, tenho certeza, muitos outros também sintam mais interesse na preservação. Isso não dá ibope, não é?. É mais bonito arrebentar um centro de pesquisas detonando todo um trabalho de anos e até décadas do que comprometer-se a melhorar a vida do campo. Sou produtor rural, fazendo a minha parte no interior de São Paulo, e gostaria que a classe política também pudesse ter respeito e consideração por nós, parando de financiar as ONGs e certos ambientalistas que são o câncer para quem produz com qualidade, sustentabilidade e responsabilidade. José Osmar Merlini Lourdes NR: O artigo ao qual o Sr. Merlini alude, de autoria de nosso colunista, Daniel Glat, foi publicado na seção Ponto de vista, edição de novembro, sob o título “Quem é contra o Brasil?”. ERRATA: A entomologista Cecília Czepak, da Universidade Federal de Goiás, foi protagonista da reportagem “A crise anunciada”, publicada na edição de novembro. Citamos o sobrenome dela sete vezes, duas das quais de maneira indevida. O correto é CZEPAK, e não Czapek ou Czepek, como publicamos. Pedimos desculpas a todos, especialmente a ela, pesquisadora respeitada no meio científico brasileiro. Na mesma reportagem, citamos duas vezes o município de Costa Rica, situado no estado do Mato Grosso do Sul. Numa delas, saiu “MT” e não “MS”, como deveria. Lamentamos pela desatenção. AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Ponto de vista

Plantio direto em questão O especialista faz uma digressão sobre o que se tem feito de errado no plantio com palha. E o que se deveria ter em mente. Odo Primavesi *

M

ais do que oportuna a reportagem de capa da Agro DBO de novembro último, ao questionar “O que houve no campo?”. Coloca o plantio direto em xeque. A matéria trata de aspectos fundamentais que podem determinar o fracasso ou o sucesso do futuro do nosso agronegócio. Com destaque para o sistema plantio direto na palha e as integrações lavoura pecuária e aquela com o componente florestal. Em realidade o problema é que se adota um pacote de tecnologias e se procura simplificar, sem se perguntar qual objetivo do pacote.

nicamente do que precisam para sua lavoura, tendem a simplificar o processo e a desvirtuar o sistema. A criar uma imagem negativa do pacote tecnológico. Esse grito de alerta do Plantio direto em xeque já iniciou no final dos anos 1990. Há quase 20 anos. Mas a grande maioria não ouviu, e continuou fazendo as simplificações. Os objetivos-chave de conservação de solo (cobertura morta) e de água (curvas de nível, terraços), reduzir a amplitude térmica e ressecamento da superfície do solo (cobertura morta), aumentar o arejamento do solo e capacidade de armazenamento de

“Bartz tinha que resolver o problema da erosão e a tecnologia não funcionava a contento”

* O autor é engenheiro agrônomo e pesquisador aposentado da Embrapa Pecuária Sudeste.

A entrevista com Herbert Bartz mostra qual era o objetivo: não era economizar combustível ou tempo de serviço. Isso veio como brinde. Mas vejam, Bartz tinha que resolver o problema da erosão e o pacote de tecnologia importado não funcionava a contento. Aí, Bartz, um produtor rural tecnificado, não esperou por um pacote tecnológico que funcionasse. Ele mesmo correu atrás, gastou tempo e recursos financeiros para adequar a tecnologia para combater o problema ambiental agrícola, que estava tornando a agricultura impraticável, de forma lucrativa. Algo semelhante ocorreu para a adequação do sistema no ambiente dos Cerrados. Lamentavelmente as pessoas quando adotam um pacote tecnológico, sem estar conscientes tec-

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água (matéria orgânica no solo) e a diversificação da vida do solo (matéria orgânica, rotação de culturas), entre outros, estão sendo relegados. Tornou-se uma atividade não profissional, de marinheiro de primeira viagem, e muito desperdício. Como isso está sendo praticado em larga escala, com previsibilidade de degradação irreversível dos solos, dos corpos de água, dos microclimas, e do futuro glorioso do celeiro do mundo, vê-se com bom grado que está havendo movimentação para se esclarecer os produtores rurais que insistem em fazer questão de realizar procedimentos inadequados, antitécnicos, sem nenhuma lógica, com o argumento de que, no curto prazo, dá mais lucro e é mais fácil administrar, já que o amanhã é incerto.

A pesquisa Os pesquisadores científicos das instituições de pesquisa necessitam resolver problemas imediatos, de médio e de longo prazo. Precisa-se prever problemas e procurar avaliar procedimentos para evitar surpresas e grandes impactos negativos sobre a atividade agrícola. A mais conhecida e exitosa foi a da tecnologia do controle da ferrugem do café, pelo Dr. Alcides Carvalho, do Instituto Agronômico de Campinas. Mas existem previsões e tentativas de fazer frente a problemas que já estão se intensificando: o aquecimento local, regional e global e as mudanças do clima (amplitudes térmicas, chuvas mal distribuídas e mais concentradas, veranicos e períodos secos mais prolongados), aumento de brisas e ventos relacionados. Neste quesito, verificou-se que para garantir a cobertura morta mínima necessária (8-12 t/ha de palhada mais estável) do solo para viabilizar a semeadura direta dos cultivos, as gramíneas/pastagens eram as mais adequadas. Surgiu então a integração lavoura-pecuária, procurando beneficiar dois ambientes agrícolas e ter um rendimento a mais por hectare. Não precisaria ter essa integração com a pecuária, o que alguns realmente querem é realizado por diversos produtores, que fazem sobressemeadura da cultura em fim de ciclo com sementes de capim-braquiária. O objetivo é cobrir o solo. Se puder ganhar um extra, alimentando gado, ótimo. Esse é o verdadeiro espírito profissional. Saber onde está o problema e procura-se eliminar o


mesmo para viabilizar o sistema de produção principal. E não ter espírito daquele comerciante que acha que misturando água na cachaça vai estourar de ganhar dinheiro. Experiências Com a ampliação da intensidade das chuvas, verificou-se (nesta visão prospectiva de cientista) que o estabelecimento de terraços e de cobertura morta (com resíduos vegetais), e o aumento do teor de matéria orgânica do solo, não serão suficientes para evitar as calamidades de deflúvio de água com carreamento de sedimentos. É necessário incluir o componente arbóreo permanente distribuído pelas áreas, sejam elas agrícolas, pastoris, urbanizadas, florestadas. Sim! Incluir a árvore não é uma questão de dá, ou não dá. Vamos esperar para ver o que acontece! Se Bartz tivesse agido dessa maneira, o sistema plantio direto na palha não estaria tão evoluído no Brasil. Eram muitos problemas a serem resolvidos. Mas se conseguiu! A árvore intercepta chuvas, reduzindo a velocidade das gotas sobre o solo, além de armazenar água. As árvores trazem outros benefícios em relação à água, que é o mineral mais importante para a produção agropecuária. Elas, quando dispostas em quebra-vento, reduzem o efeito deletério de brisas constantes

no “roubo” de água das plantas (aumentam a transpiração; no caso de ventos as folhas fecham os estômatos e param de perder água). Além disso, ao dispor de sistema radicular mais profundo, constituem umidificadores continuados do ar, reduzindo o processo de transpiração acelerada dos cultivos, melhorando os microclimas. Cultivos e pastagens com mais gastando menos rapidamente a água superficial do solo, produzem mais. E reduzem a necessidade de irrigação. Isso, sem falar no benefício de armazenar carbono atmosférico, melhorando a pegada de carbono do sistema de produção, entre outras coisas. Assim, como as pastagens estão se tornando ferramenta indispensável para produzir palhada no sistema plantio direto, as árvores são indispensáveis para o manejo adequado de água. Assim, as integrações lavoura-pasto/pecuária-árvores/floresta, pecuária-árvores/floresta são o passo seguinte à integração lavoura-pasto/pecuária. Procuro trazer os aspectos fundamentais e sugestões de uso dessa ferramenta no livro Manejo Ambiental Agrícola (Editora Ceres). Existem problemas a serem resolvidos? Certamente que sim, para um pacote tecnológico em desenvolvimento para solucionar problemas técnicos atuais em intensificação. Mas podem ser contorna-

dos. Vai haver muitos debates (isso é bom, porque levantam os pontos fracos que precisam ser reforçados), mas que sejam construtivos. Certamente existem aqueles que vão esperar em cima do muro e torcer para que não dê certo, ou afirmar que é um disparate técnico. Mas já existem resultados positivos (Receita provada). Não existe o que alguns chamam de nichos para uso: lamentavelmente é preciso adotar ou cair fora (para não ser penalizado), mais cedo ou mais tarde. Sim, existem limites para a adoção: capacitação técnica e visão empresarial inovadora. O que precisamos é de muitos Bartz atuando. Produtores rurais que saibam dos problemas em seus sistemas de produção de uma forma integrada, e que aplicam as ferramentas disponíveis de forma intensiva e sistêmica, até os resultados se tornarem efetivos. O que me preocupa é que os temores técnicos, as discussões, o esforço dos veículos de divulgação como a Agro DBO não encontram eco. Faz 20 anos que se alerta que o plantio direto está sendo feito de forma errada. Embora tenhamos exemplos positivos. Mas as áreas erradas vão aumentando a toque de caixa. Aí resta a pergunta: onde está havendo erro no processo de divulgação das boas técnicas agrícolas para que sejam adotadas? dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 9


Notícias da Terra Safra I

Safra III

D

A

Conab eleva estimativas e acordo com o segundo levantamento da Conab sobre safra 2013/14, divulgado em 8/11, a produção nacional de grãos vai ficar entre 192,4 e 196,6 milhões de toneladas, de 3% a 5,3% acima do obtido na safra passada, quando foram colhidas 186,8 milhões/t. A soja se mantém como o produto de maior destaque em produção e área graças aos bons preços do grão no mercado internacional – os agricultores devem colher algo entre 87,9 e 90,2 milhões/t. Quanto à extensão das lavouras, as estimativas apontam área de 28,8 a 29,5 milhões de hectares. Além da soja, os destaques são o feijão, com incremento de 3,9% a 8% em área; o algodão, com variação positiva de 16,5% a 22%; e o trigo, com elevação de 15%. A área total destinada ao plantio da safra em curso pode chegar a 55,5 milhões/ha, 4,2% acima dos 53,27 milhões/ha cultivados durante o ciclo 2012/13.

Safra II

IBGE prevê safra 1,4% menor

O

primeiro prognóstico do IBGE para a safra 2013/14 aponta produção de 184,2 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas, 1,4% inferior ao total obtido em 2013. Segundo projeções da instituição, o volume esperado cairá devido à opção do plantio de soja e algodão em detrimento do milho 1ª safra, por causa dos preços baixos do cereal. Em relação à área ocupada, o IBGE prevê plantio em 53,6 milhões/ ha, 1,8% acima do total cultivado na safra 2012/13.

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Total em 2013: 186,8 milhões/t safra recém-encerrada totalizou 186,8 milhões de toneladas, 15,4% a mais em relação ao ciclo 2011/12, de 161,9 milhões/t, segundo o IBGE. A área colhida em 2013 foi de 52,7 milhões de hectares, 8% maior do que a de 2012 (48,8 milhões/ha). A soja, o milho e o arroz responderam por 93% da produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas e 86,2% da área cultivada no país. Comparativamente a 2012, a produção de soja cresceu 23,8%; a de milho, 12,9%; e a de arroz, 2,7%. Em área, houve incremento de 11,2% nas lavouras de soja e 7,6% nas de milho. No caso do arroz, a área plantada diminuiu 0,6%.

Safra IV

Produção por região

A

produção de grãos teve a seguinte distribuição em 2013, conforme o IBGE: Centro-Oeste, 78,4 milhões de toneladas; Sul, 72,1; Sudeste, 19,6; Nordeste, 12,1; e Norte, 4,6. Comparativamente à safra passada, houve incremento de 10,7% no Centro-Oeste, 30,5% no Sul, 1,9% no Sudeste e 2,2% na Nordeste, com decréscimo de 3,1% na região norte do Brasil. Mato Grosso manteve a liderança na produção nacional de grãos, com 24,6% de participação, seguido pelo Paraná, com 19,4%, e Rio Grande do Sul, com 15,8 %.

Safra V

Resultado final da partida: 15 a 11

D

as 26 culturas pesquisadas pelo IBGE, 15 apresentaram variação positiva de produção, no cotejo com 2012: soja (23,8%), milho 2ª safra (21,4%), feijão 2ª safra (20,3%), amendoim 1ª safra (12,5%), trigo (11,5%), batata-inglesa 2ª safra

(7,9%), cevada (7,3%), cana-de-açúcar (6,2%), feijão 3ª safra (4,2%), triticale (3,7%), milho 1ª safra (3,2%), arroz (2,7%), batata-inglesa 1ª safra (2,5%), cacau (1,9%) e sorgo (0,7%). Com variação negativa foram 11 produtos: mamona (– 43%), algodão herbáceo (– 31,3%), café conilon (– 14,6%), laranja (– 14,2%), amendoim 2ª safra (– 13,2%), mandioca (-11,3%). batata-inglesa 3ª safra (-10,7%), feijão 1ª safra (– 8,9%), café arábica (– 4,3%), aveia (– 4%) e cebola (– 3,2%).


Notícias da Terra

Exportações I

Exportações II

D

O

Preço baixo, volume alto. e janeiro a setembro de 2013, o agronegócio brasileiro faturou US$ 79 bilhões em vendas no exterior, valor 9,5% maior do que o obtido no mesmo período do ano passado, graças ao maior volume embarcado de milho, soja em grão, açúcar, etanol, carne bovina, café, suco de laranja e madeira. A informação é do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Pesquisadores da instituição explicam que, em dólares, apenas o farelo de soja, o grão de soja, as carnes (suinos e aves) e a celulose tiveram alta. O bom desempenho do agronegócio deve-se ao crescimento do volume total negociado no mercado internacional, uma vez que os preços de vários produtos da pauta nacional de exportação, como açúcar, etanol, café, suco de laranja e a carne bovina, caíram no período. O câmbio real do agronegócio se valorizou 0,5% no mesmo período e a atratividade das exportações brasileiras (real recebido por unidade) diminuiu 8% nos primeiros nove meses do ano frente ao mesmo período de 2012.

Milho brasileiro para a China vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, assinaram em 6/11 um acordo com dirigentes chineses através do qual o Brasil venderá o equivalente a R$ 4 bilhões em milho para a China. A ampliação das vendas de produtos agropecuários brasileiros foi um dos principais assuntos da terceira reunião da Cosban – Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação, realizada em Pequim no mês passado. O Brasil pode se tornar um dos maiores fornecedores de milho para a China. No ano passado, as exportações brasileiras do produto foram de 19,8 milhões de toneladas, informou o ministério em nota. Ainda segundo o Mapa, um grupo de trabalho será criado para tratar de biotecnologia agrícola e biossegurança, facilitando os entendimentos com as autoridades chinesas nas questões envolvendo produtos geneticamente modificados e, eventualmente, a habilitação de novos tipos de sementes.

Exportações III

Agronegócio fatura US$ 86,42 bilhões

C

onforme levantamento da SRI/ Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, as vendas externas da agropecuária brasileira alcançaram US$ 86,42 bilhões de janeiro a outubro deste ano, 6,9% acima do valor obtido no mesmo período do ano passado (US$ 80,88 bilhões). O setor importou o equivalente a US$

14,29 bilhões, com saldo, portanto, de US$ 72,13 bilhões na balança comercial. O principal setor, em termos de valor, foi o complexo soja, com US$ 29,19 bilhões, cifra 8,4% superior à de 2012. As carnes obtiveram o segundo melhor resultado em vendas, com US$ 13,96 bilhões, e o complexo sucroalcooleiro, o terceiro, com US$ 11,64 bilhões.

Exportações IV

Mais de um milhão de toneladas de arroz

A

o vender 134,1 mil toneladas em outubro e comprar 44,8 mil, o Brasil obteve pela primeira vez em 2013 saldo positivo na balança comercial do arroz, com possibilidade de exportar mais de um milhão/t durante o ano comercial (no caso, de março de um ano a fevereiro do outro). No acumulado até outubro,

o país chegou a 739,1 mil/t exportadas. Se, até fevereiro próximo, mantiver a média dos oito primeiros meses de 2013, superará a marca de 1,1 milhão/t negociadas no exterior, contra 1,08 milhão importadas. Até agosto, o setor considerava bom desempenho a venda de 800 mil/t. Na opinião de Daire Cou-

tinho, da Federarroz – Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul, a mudança de cenário deve-se a um conjunto de medidas dos governos federal e estadual e aspectos pontuais, como taxa de câmbio favorável. Segundo ele, “uma tributação mais justa ajudaria mais ainda”. dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 11


Notícias da Terra Trigo

Soluções para a triticultura

A

Secretaria de Agricultura do Paraná encaminhou documento ao governo federal propondo políticas públicas e ações de suporte aos produtores rurais para estimular o setor e aumentar a produção nacional de trigo. Elaborado em parceria com a Faep – Federação da Agricultura do Paraná e Ocepar – Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná, o documento enfatiza a necessidade de o país reduzir a dependência das importações (atualmente, o Brasil produz pouco mais de 5 milhões de toneladas contra uma demanda de 11 milhões/t), definir políti-

cas públicas e anunciá-las com antecedência para que os produtores possam planejar os investimentos na cultura. O Paraná era o o maior produtor de trigo do Brasil, mas perdeu a posição para o Rio Grande do Sul, como mostra a matéria de capa desta edição (leia Reação nos campos do Sul, na página 20). No entanto, a produção do cereal no estado vem decaindo desde 2010. Na safra passada, os triticultores paranaenses cultivaram a menor área desde a década de 1980. Na safra atual, as geadas comprometeram 41% da produção estadual.

Café I

Esperança esfumaçada

A

s vendas externas de café verde do Brasil atingiram em outubro o maior volume mensal de 2013, com 2,8 milhões de sacas, contra 2,6 milhões no mesmo período de 2012, segundo dados do Cecafé – Conselho de Exportadores de Café. O aumento em volume não compensou, porém, os baixos preços da commodity no mercado internacional, com a receita dos embarques (incluindo torrado e moído e solúvel) caindo 25% na comparação anual, para 463 milhões de dólares. No mês, o preço médio da saca embarcada caiu para 149,78 dólares, contra 211,36 dólares do mesmo mês de 2012. O preço, no mercado interno, atingiu o menor nível médio em termos reais – considerando a inflação – desde agosto de 2002, segundo acompanhamento do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP (leia a respeito na seção “Análise de mercado”, na página 58)

Café II VBP

Valor de produção de R$ 440 bilhões

S

egundo projeções do Ministério da Agricultura, o valor de produção da agropecuária brasileira pode chegar a R$ 440,6 bilhões, superando com folga os R$ 419,7 previstos para 2013, que, por sua vez, cresceram 9,6% sobre o montante de 2012. “É importante ressaltar que o VBP para o próximo ano é baseado em dados preliminares, representando somente um ponto inicial para o acompanhamento das informações daqui até 2014”, disse, em novembro, o coordenador de Planejamento

Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques. Do total estimado para 2013, R$ 278 bilhões referem-se às lavouras e R$ 141 bilhões à pecuária. Os mais valorizados entre os produtos agrícolas foram o tomate, com aumento de 88,2%; a batata-inglesa, 46,9%; a laranja, 33%; a soja, 21,1%; o trigo, 16,7%; o fumo, 14,4%; e a banana, 11,3%. O arroz, a cana-de-açúcar, o feijão, a mandioca e o milho também apresentam resultados positivos, porém com percentuais menores.

12 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014

Piora na relação de troca

E

studo da Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos aponta para um aumento de 77% na relação de troca entre café e fertilizantes de 2011 a 2013. Isso significa que, para adquirir uma tonelada de fertilizante, o produtor precisa desembolsar agora quase duas sacas de café a mais do que o necessário há dois anos, com o montante chegando a 4,1 sacas. O indicador computa os dados até agosto de 2013. De lá para cá, os preços do arábica continuaram caindo, prejudicando ainda mais os cafeicultores na relação de troca e diminuindo a propensão à aplicação de fertilizantes na lavoura.


Notícias da Terra Adubos

Perspectivas de vendas recordes

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evantamento da Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos mostra que, em outubro, foram entregues 3,8 milhões de toneladas de fertilizantes ao consumidor final, 6,8% acima em relação às vendas de setembro e 6,1% considerando outubro de 2012. No acumulado de janeiro a outubro, foram vendidas 26,28 milhões/t de adubos no país, 5,5% a mais comparativamente ao mesmo período do ano passado. As vendas totais em 2012, de 29,53 milhões/t, foram recordes, segundo a Anda. A expectativa da entidade é de que o volume fique próximo de 31 milhões/t comercializadas no fechamento de 2013.

Energia

Prognósticos positivos

R

elatório da gência Internacional de Energia, divulgado em 12/11, revela que o Brasil se transformará em potência energética até 2035. Até lá, o país triplicará sua produção de petróleo e passará a extrair seis milhões de barris diários, tornando-se, então, o sexto maior produtor do mundo, atrás apenas da Rússia, Arábia Saudita, Estados Unidos, Irá e China. A produção de gás quintuplicará, o que permitirá cobrir até 2030 as necessidades do país, embora o consumo interno deva crescer bastante no período, com alto custo de produção, dada as dificuldades de extração em águas profundas. Ainda segundo o relatório, as diversas fontes de energia cobrirão 80% do aumento de consumo energético do país, incluindo o acesso universal à eletricidade. O Brasil é o segundo produtor mundial de biocombustíveis e deve responder por 40% do comércio mundial de combustíveis de origem vegetal.

Máquinas

Vendas até outubro superam as de 2012

D

ados da Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores mostram que, de janeiro a outubro deste ano, 72,2 mil máquinas agrícolas saíram das fábricas com destino às concessionárias do país, 21,7% a mais do que em igual período do ano passado. Foram negociadas 6,4 mil colheitadeiras, contra 4,5 mil em 2012. A venda de tratores cresceu 20%, com 56,8 mil unidades entregues. Embalados pelos bons preços nos mercados interno e externo e

pela demanda internacional por commodities agrícolas, os produtores rurais brasileiros compraram mais até outubro do que durante todo o ano de 2012. As exportações, no entanto, caíram em outubro, em relação a setembro. Nos dez primeiros meses de 2013, a queda foi de 5,9%. As vendas de caminhões no mercado interno cresceu 14,2% no período. As fábricas entregaram 125,6 mil novas unidades, contra 110 mil vendidas nos primeiros dez meses do ano passado.

Transporte

Segurança, poluição e negócios

O

setor de transporte rodoviário de cargas apresentou ao governo proposta de renovação da frota de caminhões do país, que inclui pagamento de bônus de R$ 30 mil aos proprietários e criação de linhas de crédito para substituir os 210 mil caminhões com mais de 30 anos em circulação. O objetivo é aumentar a segurança nas estradas e diminuir a poluição. Os caminhões balzaquianos representam 7% da frota nacional mas respondem por 25% dos acidentes, poluem muito e consomem 10% a mais em combustíveis, segundo dados do setor. dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Fitossanidade I

Patrulha da Helicoverpa

A

Fundação Chapadão – Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão, em conjunto com as prefeituras de Chapadão do Céu (GO), Chapadão do Sul (MS) e Paraíso das Águas (MS), com participação também da Copper – Cooperativa dos Produtores Agropecuários de Paraíso e Região, criaram a Patrulha de Monitoramento da Helicoverpa, que funciona nos moldes do policiamento convencional, porém focada no monitoramento fitossanitário das propriedades agrícolas.

Cada município cedeu um carro e combustível (sem limite de uso e abastecimento) e três funcionários: dois agrônomos e um técnico agrícola. A Fundação Chapadão, sediada em Chapadão do Sul, , emprestou três profissionais graduados e mestrandos. O patrulhamento começou no final de outubro. “Cada veículo percorre 300 km/dia, em média, das 4 da manhã às 4 da tarde. Os patrulheiros vistoriam as lavouras e orientam os agricultores”, explica o diretor-executivo da Funda-

ção Chapadão, Edson Borges, idealizador da parceria. Ao final de cada visita, os técnicos entregam ao responsável pela propriedade um cartão da Fundação com os telefones de contato com o pesquisador Germison Tomquelski, a quem os agricultores devem se reportar em caso de emergência ou necessidade de orientação técnica mais apurada para tomada de decisão no combate à Helicoverpa armigera. De acordo com Tomqueslki, a praga está ocorrendo “de forma generalizada” nas lavouras da região.

Fitossanidade II

Emergência em quatro estados

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Ministério da Agricultura decretou situação de emergência fitossanitária em todo o estado de Goiás e parte do território de Minas Gerais (norte, noroeste e oeste) devido à infestação de lagartas da espécie Helicoverpa armigera. Conforme texto do Diário Oficial da União de 27/11, o prazo de vigência será de um ano, a partir da publicação da porta-

ria. Com isso, os respectivos governos poderão delimitar áreas de atuação no período emergencial e adotar ações de controle das lagartas. No dia 4 de novembro, o Mapa já havia declarado oficialmente em estado de emergência fitossanitária o oeste da Bahia, umas das regiões mais afetadas pela praga. No dia 18, a medida foi estendida ao estado de Ma-

to Grosso. Antes, o governo do Piauí decretara situação anormal em todo o estado, com emergência fitossanitária ou zoossanitária, em função dos ataques da H. armigera. A Adapi – Agência de Defesa Agropecuária do Piauí declarou como zona interditada região abrangendo 25 municípios e pediu que o estado também fosse declarada situação de emergência.

Fitossanidade III

Benzoato é liberado, mas...

P

ortaria do Mapa, publicada em 7/11, estabelece diretrizes para controle da Helicoverpa armigera nos estados em emergência fitossanitária, ou seja, Bahia e Mato Grosso – até o fechamento desta edição, o caráter de emergência não fora estendido ao Piauí, Minas Gerais e Goiás. A portaria autoriza a importação de agroquímicos que tenham como ingrediente ativo o Benzoato de Emamectina, ansiosamente aguardado pelos agricultores como arma fatal na guerra à H. armigera. No entanto, impõe tantas normas que há quem diga que, quando a substância for liberada para uso, as lagartas já terão comido grande parte da lavoura. No caso de Mato Grosso, o produtor precisa registrar sua área no Indea – Instituto de Defesa Agropecuária, encarregado de montar um plano de supressão baseado nos conceitos e práticas do MIP. “Mas como registrar área se ainda não tenho a Helicoverpa?”, questiona o presidente da Aprosoja, Glauber Silveira. “Então quer dizer que, quando vier a Helicoverpa, eu vou dizer pra ela: Helicoverpa, espere 20 dias que eu vou buscar a liberação do defensivo. Isso não existe”.

14 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014


Notícias da Terra Fitossanidade V

Caravanas de alerta e orientação

A

Fitossanidade IV

Plantas como defensivos naturais

A

Embrapa Meio Ambiente vem testando plantas medicinais como espécies companheiras em consorciação com outras culturas para controle fitossanitário das lavouras. As pesquisas mostram, por exemplo, que o plantio do tomate juntamente com cravo-de-defunto (Tagetes erecta) diminui os danos causados pela pinta-preta (Alternaria solani), e com manjericão (Ocimum basilicum), auxilia a repelir as pragas do tomateiro. A mucuna-preta (Mucuna sp.) em consórcio com o milho reduz em mais de 90% o número de gorgulhos nas espigas. O alecrim (Rosmarinus officinalis) repele o curuquerê-da-couve (Ascia monuste orseis) e moscas da cenoura. A hortelã (Mentha spp.), formigas e ocuruquerê-da-couve. O coentro atrai joaninhas, inimigas naturais de vários insetos predadores e de alguns ácaros de relevância agronômica. Os técnicos da Embrapa fazem questão de ressaltar que os defensivos naturais, embora provenientes de princípios ativos de plantas, devem ser utilizados com critério, não devendo ser usados meramente como substituto aos agrotóxicos.

primeira das Caravanas Embrapa de Alerta às Ameaças Fitossanitárias sai a campo neste mês de dezembro, levando aos agricultores, extensionistas, sindicatos e associações rurais informações sobre as principais pragas agrícolas, os riscos associados a elas e as estratégias para o manejo e recomposição do equilíbrio agroecológico das lavouras, com destaque, nessa primeira edição, para a Helicoverpa armigera. Realizada em parceria com a Abrapa – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, Aprosoja – Associação Brasileira dos Produtores de Soja, CNA – Confederação Nacional da Agricultura e OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, as caravanas, com 27 pesquisadores divididos em grupos, vão percorrer nove macrorregiões do país: Mapitoba, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Cerrados Amazônicos, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. O principal enfoque das caravanas será no MIP – Manejo Integrado de Pragas, cujas práticas são do conhecimento dos produtores rurais, mas, muitas vezes, desprezadas ou não adotadas corre-

tamente. Os pesquisadores vão insistir na importância de cada uma delas e apresentar resultados práticos. As técnicas mais comuns de MIP são • Controle Cultura – Consiste no manejo da área plantada para reduzir a população de insetos pragas no ambiente, no período de safra e/ ou de entressafra, evitando, principalmente, a chamada Ponte Verde. Exemplos: vazio sanitário, janelas de plantio e áreas de refúgio. • Controle Biológico – Utiliza inimigos naturais das pragas, como, por exemplo, fungos, vírus, bactérias e insetos, espécies que não causam danos às lavouras. • Controle Químico – Utiliza inseticidas registrados no Mapa para combate às pragas-alvo, com tal seletividade que não causem grandes danos aos inimigos naturais e ainda controlem as pragas. O MIP conta atualmente com 16 produtos químicos e biológicos disponíveis no mercado para esse fim. • Tecnologia de aplicação – Reúne técnicas de aplicação de produtos biológicos e químicos com o objetivo de pulverizar o alvo desejado com eficiência e sem desperdícios

Fitossanidade VI

Ferrugem em soja paulista

S

ão Paulo é o primeiro estado brasileiro a confirmar a presença de ferrugem asiática na safra 2013/14 de grãos. Localizados nos municípios de Itapeva (1), Itararé (2) e Itaberá (1), os focos foram listadas no Consórcio Antiferrugem da Embrapa. Segundo os técnicos da Fundação ABC que fizeram a coleta das amostras com sintomas da doença, os dois focos em Itararé estavam presentes em plantas guaxas: um deles, numa fazenda; o outro, nas proximidades da cidade. Em Itapeva e Itaberá foram encontrados em soja perene, às margens de rodovias – a chamada soja perene, cuja planta mantém ciclo de vida constante, amplia os riscos de proliferação da doença por hospedar o fungo causador da ferrugem e mantê-lo vivo. É tradicionalmente encontrada em encostas, margens de rodovias ou na bordadura das lavouras. dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Alimentos I

Problema de peso

“H

á mais pessoas com problemas de obesidade (1,5 bilhão) no mundo do que passando fome (842 milhões). De 1980 pra cá, a quantidade de obesos no planeta dobrou. Nos Estados Unidos, mais de um terço dos adultos apresentam problemas de obesidade. Hoje, a preocupação já não é mais com a produção de alimentos e, sim, com a qualidade”. Quem o diz é Frederico Barros, pesquisador da Texas A&M University, dos EUA. Foi ele quem fez a palestra oficial de abertura do simpósio “na alimentação humana no Brasil: perspectivas”, realizado em Sete Lagoas (MG). Barros comparou o sorgo ao açaí: se o segundo é uma “su-

perfruta”, o primeiro é um “supercereal”. Segundo ele, tem alta concentração de nutrientes, não perdendo em nada para o milho e o trigo. É mais resistente à seca do que ambos e tem custo menor de produção, além de teor expressivo de fibras (ao redor de 11%), entre outras qualidades O pesquisador conta que, nos últimos cinco anos, houve um cresci-

Alimentos II

Ano da Agricultura Familiar

E

m solenidade realizada na sede da ONU, em Nova York (EUA), a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura apresentou 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. O Brasil abriga mais de quatro milhões de estabelecimentos familiares distribuídos entre os 26 estados da federação e o Distrito Federal. A agricultura familiar responde no país por 33% do PIB – Produto Interno Bruto agropecuário e 74% da mão de obra empregada no campo. Em apenas dez anos, segundo dados do MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário, a renda do setor cresceu 52%.

16 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014

mento exponencial do sorgo na alimentação humana nos EUA. Lá, como aqui, só havia mercado para as variedades destinadas à ração animal ou, mais recentemente, à produção de álcool (sorgo sacarino). Diferentemente de americanos e brasileiros, africanos e asiáticos têm mais tradição no uso do sorgo como alimento para humanos.

Incra

Certificação de imóveis rurais

O

número de certificações de imóveis rurais emitidas pelo Incra cresceu 94% de janeiro a setembro deste ano, superando o de 2012 . Foram certificadas 18.713 propriedades particulares em todo o país, contra 9.636 no ano passado. As emissões representam, em área, 24 milhões de hectares, quase 400 mil hectares acima do registrado em 2012. A certificação assegura que os limites do imóvel analisado não se sobrepõem a outros e que o georreferenciamento da área foi feito com base em especificações técnicas legais. Ela é necessária para o registro da propriedade nos casos de compra, venda, desmembramento ou partilha.

Alimentos III

Consulta sobre entrada de alimentos

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Vigiagro/Mapa – Sistema de Vigilância Agropecuária do Ministério da Agricultura instituiu novo modo de pesquisa via internet através do qual qualquer pessoa poderá consultar os requisitos fitossanitários para importação de produtos de origem vegetal. Para tanto, é necessário obedecer aos procedimentos e exigências fitossanitárias específicos para cada tipo de mercadoria, in-

cluindo sementes e mudas, alimentos e insumos agrícolas para reduzir o risco de entrada de novas pragas e proteger as áreas agrícolas e nativas do país. As informações estão dispostas por produto, país de origem, gênero e nome científico. O link de acesso é www.agricultura.gov.br/vegetal/ importacao/requisitos-fitossanitários/consulta-de-produtos-de-importacao-autorizada


Notícias da Terra Meio ambiente

Preservação recompensada

O

governo do Paraná e a ANA – Agência Nacional de Águas firmaram em novembro parceria inédita no Brasil para implementar no estado, através do Programa Bioclima, o pagamento por serviços ambientais em propriedades rurais localizadas em áreas de mananciais de abastecimento público. O projeto-piloto será desenvolvido na microbacia do rio Miringuava, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Cerca de 500 propriedades rurais serão avaliadas pela Secretaria do Meio Ambiente e pela Sanepar – Companhia de Saneamento do Paraná, considerando características hidrológicas, sociais, econômicas e ambientais. A etapa final do processo prevê a publicação de um edital convocando os agricultores interessados a se cadastrar e, posteriormente, assinar contrato de pagamento por serviços ambientais com o governo do estado.

Logística I

Rios ociosos

O

s dados são da Pesquisa CNT da Navegação Interior 2013, disponíveis no site da Confederação Nacional do Transporte (www.cnt. org.br): dos 63 mil quilômetros de hidrovias existentes no Brasil, apenas 41.635 km são navegáveis, dos quais

somente 20.956 km (50,3%) são economicamente navegáveis. O relatório traça um panorama do transporte hidroviário brasileiro. Aborda, as características da infraestrutura, a movimentação de cargas, os principais gargalos e apresenta soluções para o aperfeiçoamento do sistema. Segundo estimativas da CNT, são necessários investimentos de, R$

50,2 bilhões em melhorias. As intervenções propostas abrangem, entre outras, abertura de canais, aumento de profundidade, ampliação e construção de terminais hidroviários, construção de dispositivos de transposição (eclusas), dragagem e derrocamento em canais de navegação e portos (OBS: leia reportagem sobre logística na página 42).

Logística II

Alternativa para escoamento de safra

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Appa – Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, no Paraná, decidiu colocar em prática seu projeto de classificação antecipada de carga, na tentativa para acabar de vez ou, pelo menos, reduzir bastante as filas de caminhões. O processo antecipa a avaliação realizada nos portos antes do embarque em navios, pois

as cargas passam a ser inspecionadas em Guarapuava, nos armazéns da Codapar – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná, diminuindo a burocracia e agilizando a descarga no cais. A operação está sendo testada com cargas provenientes da região de Campo Mourão, no centro-oeste do estado. dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 17




Capa

Reação nos campos do Sul Triticultores investem em tecnologia para aumentar a oferta e a qualidade do trigo. Os resultados animam o setor, mas ainda estão longe da sonhada autossuficiência da produção nacional. Glauco Menegheti e Gustavo Paes

20 | Agro DBO - dez/2013-jan/2014


Marianna Rabelatto

M

esmo quando o clima e a falta de apoio ameaçaram a lavoura de trigo da família Ferrari, de Colorado, município do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, o cultivo do cereal nunca foi abandonado. Desde 1920, quando o tataravô do produtor rural Antoninho Ferrari mudou-se de Garibaldi, na Serra Gaúcha, para Colorado, então distrito de Carazinho, o cereal faz parte das culturas de inverno. “Sempre se plantava trigo, nem que fosse para o próprio consumo”, conta Antoninho. Mas não sem percalços. O cultivo exigia sacrifícios. O trabalho era feito com enxada e juntas de boi com arado. O trigo era colhido com foice, depois reunido e amarrado em feixes. A produção permanecia empilhada na colheita até o dia em que se debulhava os grãos usando o manguá (ferramenta artesanal antiga, feita com duas varas de madeira). “Anos mais tarde, surgiram as trilhadeiras movidas com juntas de bois; depois, as movidas com motor a gasolina. Às vezes, demorava meses para trilhar todo o trigo”, recorda o triticultor. Além da falta de tecnologia no campo, os anos 1990 jogaram a cultura na incerteza de não contar mais com o apoio governamental, que até então regulava o mercado e assegurava a produção. Os triticultores sulistas se acostumaram com clima hostil, preços baixos e a concorrência do grão barato do Mercosul, sobretudo da Argentina. Mas em 2013 – fato raramente observado –, os preços remuneraram muito bem os produtores e a safra, ao menos no Rio Grande do Sul, será cheia. Os Ferrari manterão a tradição de cultivar trigo, mas não souberam ler o mercado nas entrelinhas. O técnico agropecuário Gustavo Ferrari, de 24 anos, o pai, Tarcísio, de 48 anos, e o avô, Antoninho, de 80 anos, destinaram 70 hectares para o cereal de inverno – área um pouco menor do que a de 2012, quando o cereal foi semeado em 100 dos 236 hectares da propriedade. Em compensação, os agricultores ficaram surpresos com o rendimento e a alta qualidade do trigo. “O primeiro talhão teve produtividade média de 5.280 quilos por hectare e tudo com PH 80 ou 81, trigo tipo pão, o mais procurado pelo mercado”, salienta Gustavo. No final dos trabalhos, a produtividade média da lavoura de trigo ficou em 4.380 quilos por hectare. “Estamos muito satisfeitos com a colheita da safra de inverno”. Gustavo atribui parte do bom rendimento ao nível de tecnologia implantado na lavoura. Isso incluiu a escolha das áreas, correção de solo, adubação de base e de cobertura, o uso de sementes de boa qualidade e variedade adequada à região. O jovem agricultor destaca ainda o fato de eles terem feito os tratos culturais mais cedo, como aplicação de fungicida 60 dias após o plantio, com intervalos de 19 a 21 dias entre elas. Foram realizadas três aplicações de fungicida e outra de dez/2013-jan/2014 - Agro DBO | 21


Capa

OR Sementes Divulgação

inseticida, o que afastou as pragas e doenças da lavoura. “Além disso, o clima ajudou bastante, choveu bem na época certa e escapamos das geadas mais fortes que castigaram o Sul, principalmente o estado do Paraná”, observa. A produção da Agropecuária Ferrari, situada a 10 quilômetros do centro de Colorado, é entregue à Cotrijal – Cooperativa Agropecuária e Industrial, sediada em Não-Me-Toque (RS). Apesar dos danos pontuais provocados pelas chuvas pesadas e geadas de fraca intensidade, os gaúchos devem colher este ano um total de 2,6 milhões de toneladas de trigo e retomar o posto de maior produtor nacional do grão, que era do Paraná. Será o segundo melhor resultado desde 1976, quando começaram os levantamentos pelo IBGE. Em 2011, o Rio Grande do Sul colheu 2,7 milhões de toneladas de trigo, de

Os Ferrari, numa pausa dos trabalhos, a pedido do fotógrafo: da esquerda para a direita, Gustavo, Tarciso e Antonino, contentes com a colheita deste ano.

Até meados de novembro, 70% da área semeada já fora colhida, faltando 24% por colher e 6% ainda em fase de enchimento de grãos

22 | Agro DBO - dez/2013-jan/2014

acordo com a instituição. Estimulados pela melhoria dos preços praticados na safra anterior, em função da menor produção mundial e brasileira, os triticultores gaúchos destinaram 1,1 milhão de hectares para a cultura na safra 2013, aumento de 5,5% da área plantada em relação à anterior, conforme a Conab. Durante o período de preparação dos tratos culturais, diversos fatores favoreceram a produção, segundo a Conab. A lavoura foi semeada, em sua maioria, dentro do período recomendado e os produtores utilizaram uma quantidade de sementes e insumos adequada para atingir alta produtividade, além de realizar controle efetivo de pragas e doenças. Clima e qualidade O clima mais seco verificado na Metade Norte do Rio Grande do Sul durante a segunda semana de novembro contribuiu para o avanço da colheita no estado, que alcançava, na ocasião, cerca de 70% da área semeada, com 24% das lavouras maduras e por colher e 6% em enchimento de grãos. Apesar das fortes chuvas que castigaram o estado entre os dias 9 e 11 de novembro, as plantações não foram danificadas, conforme a Emater-RS, órgão de extensão rural do governo gaúcho. A cultura apresentava bons rendimentos e qualidade de grãos, na avaliação do engenheiro agrônomo Luiz Ataídes Jacobsen, da Emater de Passo Fundo, a maior região produtora de trigo no estado. “A chuva não prejudicou, até porque as lavou-


A produtividade no Rio Grande do Sul ficou acima do esperado. Alguns produtores conseguiram mais de 4 mil quilos por hectare. ras das regiões mais atingidas pelos temporais, nas Missões, já haviam sido colhidas”, explica. A produtividade de trigo está acima da estimativaa inicial, de 2.623 quilos por hectare. A Emater-RS trabalha com a “expectativa conservadora” de rendimento de 2,6 mil a 2,7 mil quilos por hectare. Em casos pontuais, no entanto, algumas lavouras apresentam produtividades acima de 4 mil quilos por hectare, resultado não atingido em safras anteriores. “Pelo que a gente tem visto no campo, alguns produtores estão tendo resultados muito animadores e a colheita deverá superar as expectativas”, afirma Jacobsen. A qualidade do grão que está sendo retirado das lavouras também está surpreendendo. “É um produto de qualidade muito boa, com volumes razoáveis de grãos superando o PH 82”, destaca. A colheita se intensificou em novembro, quando o percentual de área colhida chegou aos 95%. Em Ijuí, na região noroeste do estado, foi encerrada ainda na primeira quinzena de novembro. O rendimento médio dos 15 mil hectares cultivados com o grão no município ficou em 3 mil quilos por hectare, superior aos 2,7 mil quilos por hectare inicialmente projetados. As lavouras com menor produção de trigo em Ijuí registraram média de 2,1 mil quiloa por hectare. O responsável pelo escritório da Emater no município, o engenheiro agrônomo Edewin Bernich, salienta que a qualidade do cereal de inverno também é muito boa. “O trigo em Ijuí tem PH 80 e, em alguns casos, chega até a PH de 84. A grande maioria é trigo do tipo pão, de grande qualidade”, afirma. A exemplo da maioria dos agricultores da região noroeste, o pro-

dutor Carlos Carlinski, de Ijuí, tem a soja como carro-chefe de sua propriedade. Há três anos, no entanto, ele decidiu diversificar a produção e passou a cultivar trigo durante a safra de inverno. O cereal ocupa 15 hectares, divididos em duas áreas: a primeira, de 11 hectares, localizada no distrito de Linha 7 Leste, e a outra, de quatro, no distrito de Santana. O agricultor, que preside o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ijuí, usa o sistema de plantio direto e afirma que o trigo serve para preparar o solo para a semeadura no verão. A propriedade de Carlinski é pequena, mas o rendimento das lavouras é grande. “A produtividade está em torno de 4,2 mil quilos por hectare”, diz. “Foi um ano muito bom, excepcional”, comemora. A pro-

A qualidade do trigo gaúcho chegou a atingir PH 84 em muitas lavouras

Prorrogação da TEC desagrada setor A Camex – Câmara de Comércio Exterior estendeu até 30 de dezembro a tarifa zero para importação de trigo de países que não integram o Mercosul. Também foi estabelecida uma cota adicional de 600 mil toneladas para a compra do produto no exterior, sem a cobrança da alíquota de 10% do imposto de importação. O aumento do prazo e a complementação da cota foram motivados pela escassez do grão nos mercados brasileiro e argentino. Produtores dos dois países tiveram perdas nas safras de 2013 e 2014 devido a problemas climáticos. Com a decisão, o total autorizado para importação com redução tarifária em 2013 chega a 3,3 milhões de toneladas. A Fecoagro/RS - Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul lamentou a prorrogação da isenção

da TEC. A entidade, que conta com 62 cooperativas filiadas, representando 200 mil associados, argumentou que há anos produtores e cooperativas lutam para valorização da produção nacional e tal medida prejudica o triticulor brasileiro. O presidente da Fecoagro, Rui Polidoro Pinto, disse que a Câmara Setorial do Trigo do Rio Grande do Sul se posicionou por unanimidade contra a prorrogação, inclusive as indústrias locais. “Não se pode mudar as regras no meio do jogo e derrubar os preços ao produtor no único estado que tem trigo para comercializar agora”, observou. A Faep – Federação de Agricultura do Paraná enviou ofício à Câmara dos Deputados e à Casa Civil onde classifica a decisão como “inoportuna” e diz que ela desvaloriza a produção nacional.

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Capa toneladas para a safra 2013/14. “As perdas com a geada e as chuvas chegam a 42% da produção”, reconhece o coordenador da Divisão de Estatística do Deral, o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Godinho. O trigo ocupou área de 976,9 mil hectares no estado, o que representou incremento de 26,3% em relação à safra anterior, de acordo com o último levantamento da Conab. Nas regiões norte, oeste e centro-oeste do Paraná, responsáveis este ano por aproximadamente um terço da produção estadual, ocorreram perdas expressivas de qualidade e quantidade. O Deral estima que, das quase 600 mil toneladas colhidas, 170 mil apresentem PH abaixo de 72, valor limite do ideal considerado para a panificação. Grande parte deste material servirá apenas para alimentação animal. A produtividade foi reduzida para 1.758 quilos por hectare por causa das perdas por geadas. Até o começo deste mês de dezembro deverá ser colhida toda a produção paranaense. “A colheita costuma se estender um pouco mais na região de Guarapuava”, explica o agrônomo.

Produção irrigada ajudou a levantar os índices de produtividade em algumas regiões do Paraná, prejudicado pelas geadas.

dução de Carlinski é entregue à Cotrijui – Cooperativa Agropecuária & Industrial ou comercializada com cerealistas da região. O Paraná não teve a mesma sorte. Segundo o Deral – Departamento de Economia Rural, órgão ligado à Secretaria da Agricultura e Abastecimento, a quebra provocada pelo clima adverso foi de 56% da produção projetada inicialmente, que era de 2,9 milhões de toneladas. A produção estimada é de 1,7 milhão de

Cotações boas Embora a entrada da produção tenha provocado recuo no valor do trigo em relação ao período pré-safra, o fato é que os preços estão excepcionais tendo em vista o retrospecto da cultura. Nas cooperativas do Rio Grande do Sul, as cotações em novembro oscilavam entre R$ 35,00 e R$ 37,00 pela saca de 60 quilos, segundo a consultoria Safras & Mercado. Entre os fatores que influenciam esse comportamento estão a pior safra na Argentina em 111 anos – e a consequente restrição do país vizinho à exportação do produto – e a quebra da safra do Rio Grande do Sul no ano passado. Graças a isso, segundo o IBGE, o produto subiu 33%

O trigo também avança no Cerrado Rio Grande do Sul e Paraná respondem por 90% da safra nacional de trigo. Nos últimos anos, no entanto, o grão também vem conquistando espaço no Cerrado, “uma das novas fronteiras tritícolas a serem desbravadas”, na opinião do engenheiro agrônomo Júlio César Albrecht, da Embrapa Cerrados, de Planaltina (DF). Segundo ele, a área potencial para trigo na região chega a 1,5 milhão de hectares, mas apenas 5% desta área é cultivada atualmente. Os principais produtores são Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia, além do Distrito Federal. Dois sistemas de cultivo prevalecem no bioma: trigo irrigado, sob pivô central, e de sequeiro ou safrinha. O primeiro, com 50 mil hectares, responde por 90% da produção na região. Geralmente é plantado depois da colheita de feijão, hortaliças, milho ou soja, em função da necessidade de os agricultores fazerem rotação de culturas. O trigo, como gramínea, é uma planta supressora de

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doenças do solo, principalmente em áreas irrigadas por pivô central. O segundo ocupa 30 mil hectares. O Cerrado reúne características que podem contribuir para ampliar sua participação no mercado do grão no país. “Há tecnologias e cultivares disponíveis e as condições climáticas são extremamente favoráveis”, ressalta Albrecht. A Embrapa Trigo, em parceria com a Embrapa Cerrados, trabalha para a oferta de cultivares adequadas às condições locais.“ A consolidação de uma triticultura tropical – produção de trigo no bioma – é hoje um dos maiores objetivos da Embrapa”, observa. A produtividade média no Cerrado gira em torno de 5,8 mil quilos por hectare, mas alguns produtores chegam a colher até 7 mil quilos por hectare, enquanto a média no Sul do Brasil oscila entre 2,5 e 3 mil quilos por hectare, com picos de 4. “São os chamados ‘produtores top’, que seguem todas as recomendações agronômicas feitas pelos técnicos”, explica Albrecht.


O Brasil deve produzir 4,8 milhões de toneladas na safra 2013/14. Deste total, 55% virão do Rio Grande do Sul e 35,6% do Paraná. nos últimos 12 meses. “Atualmente, a opção principal para o abastecimento do mercado nacional é o trigo norte-americano”, diz Elcio Bento, analista da Safras & Mercado. O especialista acredita que o preço do cereal de inverno deverá aumentar em breve. “Com um ano de reduzida oferta no Mercosul, pode-se afirmar que os atuais níveis de preços no mercado nacional estão abaixo da média esperada para a temporada, respondendo à pressão sazonal de oferta.” A área plantada de trigo na safra 2013/14 registrou um incremento de 15,1% em relação à anterior, atingindo 2,2 mil hectares contra 1.9 mil hectares na safra 2012/13, segundo a Conab. A recuperação de parcela da área que deixou de ser cultivada nos últimos anos é explicada pela melhoria dos preços na safra anterior em função da menor produção mundial e brasileira, que repercutiu favoravelmente junto aos produtores e induziu ao aumento na área cultivada com o cereal de inverno.

Os triticultores perderam um milhão de toneladas por causa das geadas e outros problemas

Fotos Embrapa Trigo Divulgação

Autossuficiência ainda é sonho O Brasil deve produzir 4,8 milhões de toneladas na safra 2013/14, quase 10% a mais do que no ano anterior, sendo 55% originários do Rio Grande do Sul, 35,6% do Paraná e o restante, dos demais estados produtores. Devido a uma série de problemas climáticos como seca na implantação da lavoura, geadas e chuvas em excesso em período crítico de cultivo, além de vendavais e granizo, estimou-se perda de 1 milhão de toneladas. Assim, a autossuficiência brasileira na produção de trigo ficará

mais uma vez na promessa e não há sinais de que tão cedo haverá uma mudança dessa situação – a produção de trigo prevista para a safra 2013/14 representa 44,46% do consumo nacional, projetado em 10,8 milhões de toneladas. Para Luiz Ataídes Jacobsen, a autossuficiência esbarra em uma série de problemas. A começar pelo fato de a produção estar concentrada na região Sul, o que provoca problemas de logística para acessar o mercado das regiões Sudeste e Nordeste. “Temos entraves inclusive no que tange à navegação de cabotagem, além da questão tarifária no mercado interestadual. Por exemplo, a alíquota do ICMS para o trigo do RS é de 12% e 8%, dependendo do destino. Aí já começamos a perder espaço, pois na maioria dos casos o trigo importado está isento do ICMS”, lamenta. Jacobsen diz que o Rio Grande do Sul tem sido há vários anos autossuficiente na produção de trigo, mas importa entre 350 mil e 400 mil toneladas anuais. “A alegação é a melhor qualidade do cereal importado e um pouco também em razão da constância de entrega do trigo estrangeiro, visto que a indústria não vai bancar um estoque para um ano. Ela adquire o trigo necessário para atender às necessidades de moagem de aproximadamente 30 dias”, explica. O especialista acredita, porém, que o país possa chegar próximo à autossuficiência na produção de trigo com o incremento da área cultivada. “Nesta última safra, foram 2,2 milhões de hectares, que, se evoluíssem para 3 milhões e o rendimento atingisse 3 mil quilos por hec-

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Capa

tare, possibilitariam uma produção de 9 milhões de toneladas, ou seja, muito próxima da autossuficiência”. No caso do cultivo do trigo, a instabilidade nos rendimentos não pode ser ignorada, pois na região produtora e no período do ano em que a lavoura se desenvolve, o clima apresenta variações cujos efeitos adversos nem sempre são passíveis de controle com a tecnologia, diz Jacobsen. Daí, advém uma dificuldade para a plena autossuficiência, pois é difícil assegurar estabilidade na oferta quantitativa e qualitativa, alerta o extensionista. “Mas creio que podemos, sim, ir muito além do que produzimos nesta safra. E, considerando que a triticultura no Brasil se faz de forma complementar com os cultivos de verão, especialmente a soja, não necessitando de ativos específicos, a expansão de área se dará sem que nenhum metro quadrado de área sob ambiente natural seja agredido”, destaca.

Dirceu Gassen

Incentivos e cobranças Com referência ao suprimento interno, no ano safra que terminou em 31 de julho, as importações foram de 7,01 milhões de toneladas e as exportações, de 1,68 milhão de toneladas. Para o período 2013/14, os analistas estimam a necessidade de importação de 6,7 milhões de toneladas, 4,4% menor do que a do ano anterior. O custo para trazer as cerca de 7 milhões de toneladas necessárias para fechar a conta é calculado em cerca de US$ 3 bilhões. O ICMS do trigo em grão foi reduzido pelo governo gaúcho de 12% para 8% nas operações interestaduais até 31 de janeiro de 2014. O incentivo tributário tem como propósito apoiar a comercialização da safra

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Vilmar da Rosa

O Rio Grande do Sul pretende abastecer pelo menos a metade do consumo brasileiro, hoje ao redor de 10,8 milhões de toneladas.

Cerimônia de abertura da colheita em Cruz Alta (RS)

Governo gaúcho reduz ICMS do trigo para aumentar a rentabilidade do triticultor e estimular a produção

2013/14 e aumentar a competitividade da produção gaúcha, sobretudo diante da queda ocorrida no Paraná. A redução do tributo vale para as saídas do produto gaúcho destinadas aos estados do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. O presidente da Comissão do Trigo na Farsul – Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, Hamilton Jardim, considera, porém, que o anúncio “não é tudo aquilo que nós tínhamos pedido”, lembrando que o setor buscava uma redução de 50% do ICMS. Apesar disso, ele reconhece que a alíquota de 8% já permite abrir espaço para comercializar a safra para outros estados. Com a medida, a tonelada do trigo gaúcho custará R$ 790,00 CIF no porto de Santos, ante R$ 841,5 (americano), R$ 918,8, (canadense), R$ 850,95 (argentino) e R$ 842,73 (uruguaio). Além disso, há a vantagem da disponibilidade imediata de uma safra de boa qualidade, conforme avaliações do setor produtivo. Na abertura da colheita no Rio Grande do Sul, no município de Cruz Alta, o secretário da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, anunciou a meta de fazer com que, em dez anos, o estado abasteça 50% do consumo brasileiro de trigo, estimado hoje em torno de 10,8 milhões de toneladas. A curto prazo, os desafios são manter os preços, elevar e estabilizar a renda do produtor e criar as condições para que o produto permaneça no estado – hoje, a maior parte é exportada e, mais tarde, trazida de volta com valor mais alto. Após o lançamento oficial da colheita do cereal em Cruz Alta, a Câmara Setorial do Trigo se reuniu na sede da empresa CCGL. Representantes da Farsul, Embrapa Trigo, Emater, associações e sindicatos discutiram algumas medidas de curto, médio e longo prazos. A primeira delas será a criação de uma comissão para elaborar um plano estratégico que pense o setor nos próximos dez anos, a exemplo do que o governo tem feito com o leite, a carne e outras culturas.


Entrevista

Guinada para os biológicos

C

om faturamento global de US$ 3,7 bilhões em 2012, a norte-americana FMC projeta um novo rumo para os defensivos agrícolas no mundo. Em entrevista à Agro DBO em Uberaba (MG), na matriz da indústria no Brasil, o presidente da empresa para a América Latina, Antonio Carlos Zem, alertou para a desaceleração considerável na produção de novas moléculas químicas para fungicidas, herbicidas e inseticidas. Ele próprio comanda a mudança de rumo dos negócios da companhia. “Vamos entrar de vez na produção biológica”, garante. Paulista de Piracicaba, atualmente com 62 anos de Agro DBO – Com a expansão da unidade industrial da FMC em Uberaba, em que estágio chega a empresa no Brasil? Zem – Estamos, hoje, ocupando o quarto lugar entre as empresas de defensivos agrícolas e queremos continuar nesta ascensão. A nossa ambição é crescer acima da média do mercado de agroquímicos, que

idade, 35 dos quais na FMC, ele ocupou uma dezena de cargos na empresa antes de assumir o comando da corporação na América Latina e a vice-presidência corporativa, em 2011. Zem é biólogo, mestre em entomologia e doutor em Agronomia pela Esalq/USP – Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz, da Universidade de São Paulo, além de produtor rural em Pernambuco e no Maranhão. No período de 2007/2008, foi eleito o profissional do ano pela ABMR&A – Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio. Presidiu a CropLife na América Latina (organização que reúne multinacionais produtoras de sementes, biotecnologia e produtos fitossanitários), o Sindiveg – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (antigo Sindag) e é membro do Conselho do Agronegócio da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Na entrevista, Zem critica o modelo de produção agrícola brasileiro. A lentidão no registro de produtos para controle fitossanitário, a fragilidade das fronteiras, o consequente risco de entrada de novas pragas e a constante elevação do custo de produção para o agricultor são, segundo ele, problemas sérios a resolver. De maneira geral, é otimista – e tem muito o que comemorar: em 11 anos, a área agrícola da empresa – FMC Agricultural Products – passou da 12ª posição para o quarto lugar entre as maiores companhias de defensivos agrícolas no Brasil. Segundo a própria multinacional, ela estaria ainda atrás de Syngenta, Bayer e Basf. O faturamento em 2012 foi de US$ 741 milhões e a projeção é fechar 2013 contabilizando mais de US$ 900 milhões em vendas. O mais recente investimento foi de R$ 20 milhões na ampliação da fábrica em Uberaba. As novas instalações foram inauguradas no dia 29 de outubro. A seguir, um resumo da entrevista, concedida ao repórter Ariosto Mesquita:

tem evoluído no país de 12% a 15% ano após ano na última década, e assim deverá continuar por mais 10 anos. Nossa obrigação é ficar entre 4 a 5 pontos percentuais sobre este crescimento. Em 2013, o faturamento do setor de defensivos agrícolas deve atingir a marca de US$ 10,7 bilhões e nossa meta é chegar a 10% desse mercado.

Agro DBO – Mas também de olho em outros países sul-americanos? Zem – Estamos expandindo muito na Argentina, Colômbia, Equador e, recentemente, no Chile. Mesmo sem uma decisão final, estamos também olhando para o mercado do Paraguai. Apesar das fronteiras entre os países, o grupo do Mercosul é um espaço único de soja. Tem-se, hoje,

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Entrevista algo em torno de 30 milhões de hectares no Brasil, 22 milhões na Argentina, 3,5 milhões no Paraguai, 1,5 milhão no Uruguai e o mesmo tanto na Bolívia. É um enorme mercado, que deve ser visto como um todo. Agro DBO – E o foco? Produtos químicos ou biológicos? Zem – Hoje, já se fala em quatro ou cinco doenças de soja relativamente novas no Brasil. Temos também a praga Helicoverpa armigera, que está provocando um razoável descontrole, além de problemas sérios incidindo sobre as culturas de cítricos, café e outras mais. Isso sem esquecer dos nematoides. Muitos, nas indústrias, estão comemorando grandes resultados nas vendas de defensivos. Da minha parte não quero ser hipócrita: também estamos usufruindo disso. Mas temos de pensar de uma maneira mais sistêmica. O custo de produção do agricultor brasileiro está cada vez mais alto em função da necessidade do controle de pragas. E aqui vai um alerta: a química tradicional está se exaurindo. O número de moléculas criadas e descobertas está tendo uma desaceleração muito grande. Este campo já foi muito explorado. Agro DBO – E o que vocês estão fazendo para tentar superar esta tendência?

Novas instalações da fábrica da FMC em Uberaba (MG)

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Zem – A FMC acabou de adquirir uma empresa de biológicos na Carolina do Norte, Estados Unidos, chamada CAEB – Center for Agricultural & Environmental Biosolutions, de alto patrimônio intelectual. Esta unidade vai nos trazer toda a base técnica e científica na área. Além disso, fizemos um acordo mundial com a Chr. Hansen. Vamos entrar de vez na produção biológica. Não queremos colocar o químico contra o biológico e vice-versa. A ideia é balancear para oferecer uma gama de controle de pragas e doenças mais coerente e eficiente, preservando a saúde financeira dos agricultores. Agro DBO – O caso da H. armigera não seria um aviso para que o país tenha mais agilidade na liberação e registro de produtos defensivos eficientes? Zem – A H. armigera realmente sensibilizou e mobilizou muitas áreas. Existe um clamor para que as autoridades acelerem os processos de novos registros. Nós, como indústria, não queremos queimar etapas, apenas pedimos agilidade. Sabemos das limitações dos órgãos públicos, mas quando é uma emergência sanitária, este trâmite teria de ser prioritário e rápido. As leis precisam ser mais simplificadas. Em geral são requisitados dossiês complexos e intermináveis, superando exigên-

cias de vários outros países e muitos processos levam até cinco anos para liberação. Enquanto isso, muitos desses produtos estão registrados nos EUA e na Europa e, portanto, já passaram por crivos rigorosos. Agro DBO – Mas a quem interessa toda essa burocracia e demora no registro de defensivos? Zem – Certamente, não interessa à indústria e ao agricultor. Diria que ao governo também não, uma vez que a agricultura brasileira é a grande responsável pelo superavit da balança comercial do país, através das exportações, gerando empregos e oportunidades. Quando tivermos mais agilidade no setor fitossanitário, para que a tecnologia entre com mais competitividade, o agronegócio brasileiro dará novo salto. Mas, se isso não acontecer, começaremos a dar passos para trás. Com o tempo, podemos perder esta hegemonia no continente e espaço no mercado mundial. Agro DBO – Dá para prever quem ocuparia este mercado? Zem – O Brasil tem, ao mesmo tempo, oportunidade e risco com relação aos países africanos. O risco, evidentemente, é investirmos no continente africano e eles tomarem nossas tecnologias e tornarem-se competitivos. A oportunidade é a chance de as empresas brasileiras ajudarem no desenvolvimento dos países africanos e se firmarem nos mercados locais. Para nós é um paradoxo. Mas existem alternativas. Brevemente, por exemplo, teremos material genético muito mais tolerante à seca, o que permitirá a incorporação de novas áreas à agricultura. Portanto, sou otimista quanto ao Brasil encontrar soluções para estes gargalos. Os pessimistas vão perder. Agro DBO – Com relação ao risco fitossanitário de entrada de novas pragas, o Brasil foca bastante o controle a partir dos aeroportos, mas é claramente ineficaz em suas


A empresa está realinhando prioridades: menos investimentos em moléculas químicas e mais em produção biológica. fronteiras, sobretudo no Norte. Qual é o grau de gravidade nisso? Zem – Não podemos ignorar o fato de que nossas fronteiras são abertas. Não há como esconder isso. Entendo o esforço feito nos aeroportos, mas hoje temos centenas de pragas, doenças e vírus batendo à nossa porta. Qualquer pessoa, inadvertidamente, pode trazer na bolsa um fruto, uma planta ou semente contaminada. Esta exposição é imensa! Agro DBO – Vocês monitoram isso? Zem – Monitoramos, sim. Há riscos sérios de introdução de novos agentes infestantes sobre frutas e grãos. O que estamos fazendo é tentar antecipar em outros países o

desenvolvimento e uso de tecnologias que poderão vir a ser utilizadas futuramente no Brasil. A minha grande preocupação é realmente o aumento excessivo do custo de produção para o agricultor brasileiro por conta da elevação da média de aplicação de defensivos. Enquanto as commodities mantiverem bons preços internacionais, esse quadro ainda se sustenta. Mas se este panorama mudar, junto com uma eventual queda no valor do dólar, teremos sérios problemas para manter o atual modelo de negócio. Agro DBO – Diante deste quadro, qual é a nova estratégia de mercado da empresa?

Zem – Estamos reinventando nossa linha de produtos. O foco é eficiência e conveniência. Temos que ter em mente que a agricultura brasileira de escala não é representada por pequenas propriedades de 400 ou 500 hectares. É cada vez mais comum encontrarmos unidades produtoras com 20 ou até 30 mil hectares cultivados. E nelas entram cultivo após cultivo de grãos, plantio de braquiária, manejo de gado e essa movimentação toda facilita a disseminação de pragas e doenças. Para conter ou minimizar, é fundamental avançarmos em assistência técnica, não só em relação ao produto, mas, sobretudo, a voltada para o produtor rural.

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Milho

Ascenção e queda Estrela da safra passada, o cereal entope armazéns e, desvalorizado, vira problema logístico e financeiro. O que fazer com o excedente? Marianna Peres

U

ma das alternativas é produzir etanol, respondem agricultores, técnicos, associações de produtores e usineiros do médio-norte de Mato Grosso, região com o maior volume de milho estocado. O quadro é preocupante em todo o país, especialmente no estado. A saca de 60 kg, que teve pico de R$ 22,00 e chegou a valer mais de R$ 18,00 em novembro de 2012, fechou novembro de 2013 em pouco mais de R$ 10,00, conforme levantamento do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Segundo técnicos da instituição, tal preço cobre apenas 70% do custo de produção. Às vésperas do início da colheita da safra 2013/14 de grãos, o estado se prepara para virar o ano com o maior estoque de milho de sua história: algo em torno de dois milhões/t, quase 10 vezes acima do volume registrado nos anos anteriores. Para

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muitos, parte da solução para contornar o problema – e recuperar um pouco do prejuízo acumulado – é direcionar o excedente estocado nas fazendas ou armazenado precariamente em silos ou silos-bag para a produção de etanol, a exemplo do que se faz nos Estados Unidos. Grosso modo, há duas correntes (não excludentes) no estado: uma delas, representada por agricultores como Endrigo Dalcin, de Nova Xavantina (645 km a leste de Cuiabá) e pela Famato – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, insiste na verticalização da produção, aquela que defende a transformação do milho em suinos e aves. Ou seja, mais do mesmo. A outra corrente, representada por agricultores como Egon Hoppers, de Santa Rita do Trivelato (445 km ao norte) e pela Aprosoja – Associação dos Produtores de Milho e Soja, propõe a opção pelo etanol,

entre outras tantas potencialmente capazes de agregar valor à atividade e recuperar a rentabilidade perdida. Grande parte dos produtores do estado ainda tem muito cereal a comercializar e resiste aos negócios, temendo prejuízos maiores. Afinal, o mercado chegou a oferecer R$ 7,00 pela saca de 60 kg, algo impensável nas duas últimas safras. Tática de guerra Endrigo Dalcin optou por uma estratégia perigosa: segurou toneladas de milho apostando no aumento da demanda externa. “Agora em novembro o milho começou a rodar (seguir para exportação); acredito que, em pouco tempo, vai faltar grão no Brasil”, assegura. Enquanto as cotações não reagem, Dalcin segue executando sua “tática de guerra”, aproveitando as janelas de exportação. Recebeu oferta de R$ 11,00 no ápice da colheita, e depois, R$


12,00 e R$ 13,00 em agosto, mas só fechou negócios no mês passado. Vendeu milho a uma multinacional a R$ 16,50, valor que, segundo ele, cobre os custos de produção. No ano passado, pegou até R$ 22,00. A gota d´água estourou em setembro, quando lhe ofertaram R$ 11,00. Foi ai que montou a estratégia de segurar a produção. Como dispõe de armazéns próprios (também planta soja e feijão), pôde optar pela retenção. Ele não revela quanto ainda tem, mas diz que colheu 7,8 mil toneladas na safra passada. Questionado sobre a “opção etanol”, alega que esse modelo se aplica melhor ao norte e médio norte do estado, regiões com maior concentração de canaviais. “É preciso criar alternativas sem dúvida, mesmo porque Mato Grosso não vai retroceder na produção de milho. Não vamos plantar menos; sabemos que as usinas de cana têm limitações ambientais e nem todas têm recursos para ampliações e construções. Para nós, o melhor é transformar milho em aves, suínos e bois”. Características regionais A região leste de Mato Grosso é desprovida de canaviais e destilarias, tem muitos confinamentos e gado e não sofre tanto quanto o norte em relação às cotações – em média, consegue de R$ 2,00 a R$ 3,00 a mais pela saca de milho. É a segunda melhor em preços, perdendo apenas para a região sul. Na outra

ponta do estado, Egon Hoppers destinou 30% do seu milho para ração de suínos – é um produtor integrado – e outros 30% para mercados variados, restando-lhe 40% por comercializar. Ele também possui boa estrutura de armazenagem. Assim, recusou várias ofertas, a mais baixa das quais de R$ 10,50. Enquanto o mercado não anda, ele vem participando dos leilões do governo federal. Hoppers estipulou um prazo para si mesmo: até janeiro, decidirá como será sua segunda safra. “Posso plantar 100% da minha área com menos tecnologia ou plantá-la com tecnologia. Se deixar de plantar, terei problemas com o Incra e com outros órgãos, além de um custo social muito grande, o de dispensar meus funcionários”, analisa. Em 2013, Hoppers cultivou 6 mil hectares; em 2012, foram 4 mil; para 2014, pensa em algo entre 5 e 6 mil, porém com sementes mais baratas e menos fertilizantes. A área que ficar sem milho será coberta com milheto para alimentar o gado e virar cobertura para a nova soja. Segundo ele, 80% dos produtores do estado não têm estrutura de armazenagem e, por isso, aceitaram até R$ 7,00 por saca. “Como usei milho para alimentar suínos, é possível que uma venda em patamar abaixo dos custos de produção possa ser revertida e eu feche no empate”. Autossuficiente no que faz – planta soja, milho e algodão, cria suínos e confina

Endrigo Dalcin adotou estratégia ousada para desovar o excedente: reteve o milho e ficou na espreita, à espera de janelas de exportação.

Estimativas apontam queda expressiva de área, produção e produtividade no milho na safra 2013/14

bois – ele lembra que, no ano passado, a mesma saca valia R$ 22,00. “A safrinha passada gerou lucro e agora o está tomando de volta. Agricultura é assim mesmo e não podemos dizer que há prejuízo ou ganhos em apenas uma safra. O ideal é avaliar um cenário de cinco anos para se ter um raio-X exato”. Ele acredita no poder do milho para o etanol, mas reclama também como prioridade melhorias logísticas para que Mato Grosso exporte pelo Norte do Brasil. “Se tivéssemos logística, o frete seria mais barato e o governo não precisaria financiar leilões de milho”. Para o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Rubens Augusto de Miranda, falar do uso de milho para a produção de carnes e biocombustíveis é subestimar o potencial dessa cultura. Segundo ele, é possível produzir uma infinidade de mercadorias com milho. “Nos EUA, há mais de 3.500 usos diferentes. Lá, o milho não é usado apenas para alimentar pessoas e animais. Além de produzir combustíveis, o cereal processado é utilizado em antibióticos, sabonetes, detergentes, polímeros, vitaminas, tintas, goma de mascar, baterias elétricas, pneus, cerveja, fogos de artifício. Em sua opinão, o potencial de uso industrial do milho é pouco explorado no Brasil. Para ele, existem

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Milho

Glauber Silveira: “É inquestionável o fator agregador ao se industrializar o milho, como se faz nos Estados Unidos”

basicamente duas saídas para Mato Grosso, não mutuamente excludentes: a busca de novos parceiros comerciais e o estímulo à demanda interna, tornando o cereal atrativo para novos negócios, como o etanol”. Para o presidente da Famato, Rui Ottoni Prado, não há dúvida de que o país vive uma crise devido ao excesso de produção, com reflexos na safra em andamento e na segunda safra de milho em 2014. O Imea projeta queda de quase 10% na área de milho, 20% em produtividade (de 101 sacas/ha para 81) e 27% (de 22,5 milhões/t para 16,34 milhões) em produção na safra 2013/14. Para Prado, uma parcela da área antes destinada ao milho será coberta com algodão, girassol, sorgo, milho pipoca e até soja safrinha. A maior parte, contudo, deverá ficar em pousio, com apenas uma cultura

de cobertura. Para ele, a melhor opção para o excedente de milho seria a bovinocultura. “O desafio é fazer a produção de carnes crescer mais rápido. O comércio mundial de carnes é fechado, mas as entidades de classe estão trabalhando para abertura de mercados”. A corrente liderada pela Aprosoja, aposta, porém, no etanol. Transformar o excedente de milho em combustível é meta da entidade desde 2010, quando Glauber Silveira presidia a Aprosoja/MT – atualmente, está a frente da Aprosoja Brasil. “Foram inúmeros estudos e muita conversa para conseguir parceiros. Hoje, temos duas usinas, a Usimat e a Libra, entrando na sua primeira safra comercial de moagem do milho. A produção de etanol a partir de milho e do sorgo (sacarino) vai garantir o equilíbrio da atividade. O milho combustível não vai competir com a produção de alimentos. A ideia, na verdade, é trabalhar com o excedente do cereal e ainda resolver o problema da ociosidade das usinas, que ficam paradas na entressafra da cana. Mas o principal seria a produção de biocombustível com DDG, um concentrado proteíco extraído durante o processo de transformação do cereal que pode substituir o farelo de soja na alimentação de animais”. Em sua opinião, esse “é o pulo do gato”, ca-

paz de definir a viabilidade comercial do milho com matéria-prima para s produção de etanol. Grosso modo, o processo de produção de etanol de milho transforma uma tonelada de grãos em 220 quilos de DDG, de 380 a 400 litros de etanol e 18 litros de óleo degomado, produtos com faturamento superior a R$ 700,00/t, contra os R$ 200,00 obtidos com a venda do milho in natura. “É inquestionável o fator agregador ao se industrializar o milho, realidade que faz os EUA produzirem etanol de mais de 120 milhões/t de milho; quase metade da produção lá se converte em combustível”. Segundo Glauber, a região Centro-Oeste abriga 84 usinas de cana de açúcar. Se cada uma delas se tornasse flex (ou seja, capaz de processar milho ou sorgo e cana-de-açúcar), com um investimento baixo para a produção de etanol de cereais, e consumissem, inicialmente, 100 mil/t de milho, já haveria um consumo adicional de oito milhões de toneladas do grão. Conversão de milho A Usimat, localizada em Campos de Júlio (553 km a noroeste de Cuiabá), encerrou a moagem da cana-de-açúcar e, na última semana de novembro, deu início à primeira produção comercial do país de etanol de milho, após dois anos de

Começa a colheita de soja Mato Grosso finalizou em novembro o plantio da safra 2013/14 de soja. Desde o início dos trabalhos, em 15 de setembro, a semeadura transcorreu sem sobressaltos e foi encerrada após onze semanas, o que permite, agronomicamente falando, uma boa janela para a semeadura do milho segunda safra, a partir de janeiro de 2014. Apesar de expandir em 400 mil hectares (4,8%) a área atual, os produtores conseguiram repetir o mesmo intervalo registrado no

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ano passado pelo Imea. Depois do atraso nos trabalhos no início da safra, de meados de outubro em diante a semeadura ganhou ritmo graças ao clima bom e à capacidade operacional dos produtores, que dispõem de maquinários em quantidade e qualidade para dar a resposta que a janela de plantio exige. Antes mesmo de encerrar o plantio, ocupando a maior área plantada da história local e do país (8,3 milhões/ha), os produtores conquistaram mais um recorde: o

de maior evolução diária de plantio, chegando a 121 mil hectares/ dia, superando o registrado na safra passada de 101 mil/ha/dia, como atestou o Imea. “A expectativa é a de que, mais uma vez, a colheita seja iniciada ainda neste mês de dezembro, antes, portanto, da virada do ano, em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde (ao norte do estado), Sapezal (noroeste), Primavera do Leste e Campo Verde (sul), os municípios que plantaram primeiro.


Em novembro, o preço médio da saca de milho em Mato Grosso, de R$ 10,00, cobria somente 70% do custo de produção. pesquisas, experimentos e estudos de viabilidade econômica. A empresa vem utilizando bagaço da cana como energia para as caldeiras, além de lenha e cavaco de madeira. “Vamos aproveitar 100% do milho, via etanol, óleo e farelo; vamos viabilizar essa nova matéria-prima e ainda dar fim ao problema ambiental do bagaço da cana e dos restos das madeireiras”, afirma o diretor regional da destilaria, Sérgio Barbieri, A Usimat também vai promover o cultivo do sorgo sacarino, visando transformá-lo em combustível. “Vamos garantir ao produtor o pagamento de 85% da saca do milho ao sorgo e moer cereais até 15 de março”. Até lá, a previsão é moer 90 mil toneladas de milho e sorgo, que vão render 33 milhões de litros de etanol e 18 mil toneladas de DDG, já negociados com confinamentos próximos. Segundo Barbieri, as usinas de Mato Grosso trabalham 200 dias ao ano – de 10 de abril a 30 de outubro, em função do ciclo da cana-de-açúcar –, o que torna o custo fixo muito alto. “Sem os cereais, de 80% a 90% do pessoal seria dispensado. Essa alternativa não apenas dá viabilidade ao grão, aproveitado principalmente na entressada da cana, como passa a ser a salvação das destilarias”. Viabilidade econômica Em princípio, o milho não parece competitivo, pois uma tonelada custa de R$ 200,00 a R$ 230,00 e rende 370 litros. Uma tonelada de cana custa de R$ 54,00 a R$ 55,00 e rende 81 litros. No entanto, do milho se extrai 200 quilos de DDG e 20 de óleo bruto. “Mesmo pagando R$ 18,00 pela saca, acaba sendo mais viável o etanol de milho”, frisa Barbieri. Para adaptar a planta da usina, foram investidos R$ 45 milhões, cifras que deverão retornar em cinco anos, segundo ele. A Usimat fechou a safra 2013 com a produção de 61 milhões

Vista geral da Usimat, localizada em Campos de Julio (MT). A usina começou a moer milho este ano.

Luiz Carlos Ticianel, da Libra: “Milho é viável como matériaprima e preenche a ociosidade na entressafra da cana”.

de litros de etanol de cana, 10% mais que no ano anterior. A destilaria Libra, instalada em José do Rio Claro (315 km ao norte de Cuiabá), também está produzindo etanol de cereais, após 13 anos exclusivamente com cana. Em 2013, produziu 85 milhões de litros com a cana e, com a adição da nova matéria-prima, espera atingir em 2014 seu novo recorde: 140 milhões de litros. Como explica o presidente da empresa, Luiz Carlos Ticianel, a introdução do milho preenche o período ocioso na entressafra da cana, de cinco meses. “Nós temos a particularidade de dispor de muito bagaço porque não produzimos açúcar e essa sobra viabilizará o etanol de cana e cereais concomitantemente, cobrindo os investimentos”, diz ele. A

previsão de moagem é de 20 toneladas/hora de milho ou sorgo, para um rendimento esperado de 380 litros por tonelada moída. Ticianel explica que o etanol de milho tem as mesmas características do etanol carburante e atende às especificações e normas da ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis; portanto, podem ser misturados e produzidos juntos. O presidente da Libra conta que o etanol de cana tem custo estimado de R$ 1,12/litro. O etanol de cereais, considerando o preço atual do milho a R$ 13,00 a saca e o sorgo a R$ 10,00, mais a mão de obra, energia, insumos e a biomassa (bagaço e cavaco) está estimado em R$ 0,92/litro. Conforme o Sindalcool – Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso, até 2015 o Brasil vai precisar de pelo menos mais 40 usinas e 150 milhões/t de cana para suprir 60% da demanda por biocombustíveis e cobrir a atual ociosidade da indústria. De 2015 a 2020, o incremento terá de ser de mais de 400 milhões de toneladas para atender à necessidade por novas 17 a 20 usinas no Brasil. Tudo está orçado em R$ 80 bilhões. E é nessa brecha que o milho quer voltar a ser a estrela.

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Parceria é isso. Trabalhar para fazer o País inteiro crescer. Obrigado, produtor rural.

Os campos brasileiros estão em boas mãos. Mãos responsáveis por 22,1% do PIB e por 33% dos empregos do País. Mãos que receberam do Governo Federal R$ 157 bilhões, o maior Plano Safra da história, e produziram acima do esperado. E é por isso que o Banco do Brasil, em nome dos brasileiros, agradece. Obrigado, produtor rural.


Artigo

Câmbio e agronegócio Os produtores de grãos preparam-se para colher a safra de verão. A nova taxa cambial vai estimular ou conter as exportações? Décio Luiz Gazzoni *

H

á mais de uma década que chamamos a atenção para o efeito perverso do Custo Brasil sobre o agronegócio brasileiro. Por Custo Brasil entenda-se o conjunto de desvantagens competitivas do nosso país comparativamente a seus concorrentes no mercado internacional: deficiência de infraestrutura e de logística, alto custo da energia e comunicação, insegurança dos contratos e patrimonial, crédito restrito e caro, alta pressão tributária, excesso de burocracia e câmbio desfavorável. Alguém pode argumentar que este diferencial não existiria, posto que o agronegócio tem crescido a taxas muito acima do crescimento do PIB brasileiro, e, até 2012 era o único responsável pelo

cio brasileiro cresça acima das taxas do passado recente, limitando o seu enorme potencial. Há cerca de 20 anos o agronegócio atende plenamente o abastecimento no mercado doméstico, e se volta cada vez mais para o exterior,

“O dólar valorizado ante o real é bom para o agronegócio, porque incentiva a produção.”

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

superavit da balança comercial. Falamos 2012, porque as projeções para 2013 indicam deficit nas transações comerciais com o exterior, embora a balança do agronegócio deva apresentar saldo positivo próximo a 90 bilhões de dólares. A questão anterior é facilmente elucidada, cotejando-se cada um dos aspectos do Custo Brasil com os mesmos parâmetros vigentes nos países que competem conosco pelo espaço de mercado. Então, como explicar o crescimento do agronegócio? Pela sua eficiência antes e dentro da porteira, cadeia organizada, agricultores empresariais de alta capacidade e tecnologia no estado da arte. O Custo Brasil atua como represa, impedindo que o agronegó-

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na busca de novos mercados para sua expansão. Quando exposto ao mercado internacional, um componente vital do Custo Brasil é o câmbio. Quando a taxa de câmbio flutua livremente no mercado, ela representa o ponto de equilíbrio entre importação e exportação. Em tese, um câmbio em que a moeda nacional está desvalorizada em relação ao conjunto de moedas nas quais as commodities são cotadas internacionalmente, favorece a exportação do país. Em sentido oposto, quando a moeda nacional está valorizada, as importações são estimuladas. Essa última postura tem dominado a taxa de câmbio brasileiro nos últimos anos, favorecendo a importação de bens de consumo (especialmente da

China), o que induz uma sensação de bem estar econômico às classes menos favorecidas, pois, ilusoriamente, gera a percepção de uma renda familiar superior à real. Em contrapartida, os preços internalizados das vendas ao exterior servem como freio ao investimento nos setores exportadores, inexoravelmente conduzindo ao deficit na balança comercial em algum ponto futuro. No inicio do segundo semestre de 2013 percebeu-se um movimento de correção da excessiva valorização do real no mercado de câmbio. Duas razões subjacentes alavancaram esse movimento: a razão estrutural foi a projeção de deficit da balança comercial e a consequente tendência de redução das reservas internacionais e aumento do endividamento externo. Maior demanda de divisas gera pressão altista sobre elas. A razão conjuntural é a melhoria dos fundamentos da economia americana. Após a crise financeira, seguindo a receita de John Maynard Keynes, os governos dos países afetados – tanto pelo tsunami quanto pela marolinha – compraram títulos dos bancos, a fim de injetar liquidez


(moeda) no mercado. O objetivo era incentivar o consumo, mantendo o mercado ativo em seus fundamentos de produção, emprego e renda. Na teoria keynesiana isto é denominado “Efeito multiplicador dos gastos do governo”. Esse instrumento de política monetária foi usado pelos EUA e pelo Brasil. Ocorre que tanto os títulos públicos americanos, quanto a sua iniciativa privada, são poderosos imãs, que atraem e sugam a liquidez mundial, pela sua dinâmica e, especialmente, pela segurança que representam. Em junho passado, o mercado internacional na tentativa de interpretar sinais emanados do Banco Central dos EUA (FED), entendeu que a política de irrigação do mercado interno com dólares entraria em phasing out, posto o nível de recuperação da sua economia. A rationale é que, se o FED coloca me-

nos dólares no mercado (ou não os coloca), diminui o volume de meio circulante, o que encarece o valor da moeda, para quem deseja comprá-la no exterior. Ou seja, o dólar se valoriza e o real (como outras moedas) desvaloriza. Isto é bom para as exportações, especialmente é bom para o agronegócio, estimulado que seria a produzir mais e a exportar cada vez mais. O FED, em comunicado de setembro de 2013, não desmentiu o procedimento, porém empurrou o horizonte temporal para o próximo ano. Portanto, tanto esse fator, quanto o deficit crescente da balança comercial, continuarão presentes nos próximos meses. Entretanto, existe uma força contrária, que é a ação do Banco Central do Brasil, irrigando o mercado interno com dólares ou com derivativos cambiais, bem como mantendo a taxa real de juros baixa, apesar da renitência da infla-

ção. Essas ações forçam a cotação do dólar para baixo. Essa política tem sua raiz na manutenção do consumo elevado, através de importações de bens de consumo. Feito bicicleta que não se pode parar de pedalar, o real valorizado provocou uma contração muito mais forte no setor industrial que no agronegócio. Agora, para manter o consumo e a percepção de renda em alta, é necessário que o real siga valorizado, permitindo abastecer o mercado interno com importações, para evitar perdas políticas para o governo. Desse embate entre forças antípodas surgirá a nova taxa de câmbio, que estará vigente quando o agricultor comercializar sua safra em 2014. Se vencerem as forças de mercado, será dado um impulso para aumentar a produção e as exportações. Se o real continuar valorizado, a expressão do verdadeiro potencial do agronegócio será empurrada para o futuro.

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Agritechnica 2013

A maior feira do mundo Acompanhe nossa visita à Agritechnica, em Hannover, na Alemanha, a mais completa mostra de tecnologias para a agricultura. DLG

Richard Jakubaszko

Acima vista parcial do pavilhão 23, um dos menores da feira. No detalhe, mapa da Agritechnica, onde os expositores foram divididos por setor.

V

isitar a Agritechnica exige coragem, condicionamento físico, disposição, sentido de direção, ou um GPS embutido no cérebro, tendo em vista o gigantismo da exposição. Apesar de mapas serem fartamente distribuídos logo à entrada da feira, para orientar os visitantes, no primeiro dia o visitante terá a surpresa de saber que são 24 pavilhões recheados de estandes, além de outros 13 pavilhões ditos administrativos e de suporte para a feira. Contatar técnicos em cada um dos estandes de um pavilhão médio exige cerca de meio dia de maratona. Com isto, o tempo de 5 dias de realização da feira, aberta de 12 a 16 de novembro último, é exíguo para se visitar os 2.900 expositores, dispostos em 420.000 m2 de áreas cobertas. Há necessidade de se selecionar o que se deseja ver. Comparativamente, a Agritechnica, em área coberta, é quase do tamanho da área da Agrishow de Ribeirão Preto, a principal vitrine do

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agronegócio brasileiro, que teve 790 expositores em 440.000 m2 de área em 2013. Mas a área da Agrishow inclui campo aberto para demonstração de máquinas, dinâmica que em Hannover é quase impossível, visto que em novembro já se enfrenta o rigoroso clima de fim do outono alemão, com temperaturas entre 2º e 10º graus centígrados, por vezes com chuvas ou com as primeiras nevascas do inverno. Felizmente, neste ano houve pouca chuva e nenhuma neve, e os pavilhões são todos cobertos, com temperatura controlada, mas possuem passagens cobertas entre eles, e o visitante quase não se expõe ao tempo mal humorado. Se a Agrishow bateu recordes de visitas com 150 mil visitantes em 2013, a Agritechnica teve este ano mais de 400 mil visitantes, literalmente provenientes de todo o mundo, de todos os continentes, e sem a presença das contumazes e ruidosas caravanas escolares infantis como ocorre no Brasil, para inflacionar os

números das catracas. Auditórios e salas recebem os visitantes com palestras, rodadas de negociação ou reuniões de troca de informações, onde todos os idiomas do mundo são percebidos, mas o inglês predomina, evidentemente. Não foi difícil encontrar inúmeros brasileiros nos corredores e pavilhões da Agritechnica, ora como visitantes ou como expositores. O Brasil de hoje é um player respeitado e admirado no agronegócio mundial, quase sempre citado nas palestras de especialistas a que assistimos. DLG, a organizadora Reinhard Grandke é um agri-


cultor, e atualmente é o CEO da DLG, a Sociedade Alemã de Agricultura, instituição organizadora da Agritechnica. Como diretor executivo é o responsável pela gigantesca operação, o que deve exigir uma logística perfeita digna da disciplina militar. A DLG é a associação que representa os produtores rurais da Alemanha, e é mantida por 24 mil associados há 128 anos. A DLG sempre realizou feiras e exposições para difundir novas tecnologias, sendo que a Agritechnica foi iniciada em 1985, com periodicidade bienal, nos anos ímpares. Grandke, em entrevista exclusiva aos jornalistas brasileiros presentes na feira, de forma objetiva revelou que “agricultor no mundo inteiro é igual, deseja sempre conhecer e experimentar as tecnologias disponíveis para o seu tipo de atividade, e é sempre um especialista naquilo que faz”. Na DLG, segundo Grandke, o tamanho médio das propriedades dos associados é de 100 hectares. Já o presidente de honra da DLG, Carl-Albrecht Bartmer, ele também um produtor rural, em seu discurso de boas vindas aos expositores e autoridades, cerca de 5 mil pessoas reunidas num imenso auditório, incluso quase uma centena de jornalistas internacionais convidados, destacou as tecnologias modernas desenvolvidas no mundo inteiro em

A Stara, junto com Marchesan, Jan Implementos Agrícolas, expuseram na Agritechnica, não para vender na Europa, mas para a Ucrânia, Rússia, Cazaquistão e outros países do Leste Europeu. Foram apoiados por tarifas subsidiadas da feira e pela Apex, Agência de Promoção à Exportação, do Brasil. A Kepler & Weber estava como expositora também, mas em outro pavilhão, e não contou com subsídios.

um ambiente competitivo e estimulante. “Esse intercâmbio inteligente é indispensável para todos nós”, afirmou ele. Batmer disse ainda que “tal intercâmbio clama por interfaces de maquinário que sejam compatíveis com qualquer que seja o fabricante, onde quer que ele esteja no mundo. Esse intercâmbio inteligente só é possível com livre comércio de mercadorias e prestação de serviços. Essa visão não vale apenas para a produção agrícola, vale também para as máquinas agrícolas”. Batmer enfatizou ainda que “somos um mercado aberto de ideias, com intercâmbio permanente, e o aproveitamento da comparação de custos com a ajuda do livre comércio para

Gilson Trennepohl, da Stara, e sua filha Nicole, diretora de marketing.

Enfardadeira autopropelida da Krone, tem sido exportada para o Brasil, é usada para enfardar feno e mede umidade. O importador no Brasil é a Bouwmann, de Castro (PR), que informa o uso da máquina para recolher palhada de cana crua para geração de bioenergia.

Adubadeira a lanço com sistema GPS acoplado, e que possui duas caçambas que separam fertilizantes como fósforo e potássio, para aplicação a taxas diferenciadas.

Trator de grande porte da Fendt, vendido na Alemanha, França e mais ainda na Ucrânia e Rússia.

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Agritechnica 2013 Tratores de pequeno porte existem muitos, com implementos proporcionais ao tamanho, direcionados a propriedades de pequeno porte e operados pelo proprietário, pois mão de obra na Europa é muita cara.

mo, a sua própria produção agrícola, seus fabricantes e, no fim, mais ainda o consumidor”. A referência foi direta aos ambientalistas que desejam limitar o uso da irrigação e agroquímicos.

Design inovador

facilitar a divisão global de trabalho e também a participação, e esses são os conceitos que tornam uma feira como a Agritechnica indispensável”. A crítica tem endereço certo aos países que restringem importações, como os membros do Mercosul. Mostrando sensibilidade política para os novos tempos, Bartmer afirmou em seu discurso que “quem restringe o acesso a tecnologias inovadoras prejudica a si mesTrator com esteiras individuais por eixo

Colhedora de beterrabas

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Novas tecnologias Na Agritechnica as tecnologias embarcadas predominaram nas inovações apresentadas, em especial GPS com norma Isobus. Para incentivar a presença dessas inovações a DLG possui um sistema de premiação aos expositores, com diplomas qualificados de ouro, prata e bronze, atribuídos a diversas categorias, o que chama a atenção dos visitantes. A premiação é outorgada após criteriosa avaliação de especialistas, pesquisadores e professores, num sistema semelhante ao adotado no Brasil há mais tempo pela Gerdau, no prêmio Melhores da Terra.


A DLG é a maior representante dos produtores rurais da Alemanha, e é mantida por 24 mil associados há 128 anos.

A colhedora de batatas apresenta um inovador sistema que separa as batatas de pedras e outros resíduos.

Algumas dessas máquinas foram fotografadas por Agro DBO, e destacamos as razões das premiações nas legendas. Visão de futuro Hannover passou a ser nos dias da feira o ponto de encontro de pensadores da vanguarda rural, dos líderes da economia e dos próprios agricultores que se veem como empresários, inovadores, abertos para o mundo e, no melhor sentido da palavra, corajosos. Eles são a resposta ao desafio apontado pela FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, de que, nos próximos anos, será preciso dobrar a produção de alimentos para quase 10 bilhões de pessoas.

Durante a feira o cenário foi de amplo otimismo, pois a Alemanha mostra ser a locomotiva da Europa unificada e pode-se afirmar que já saiu da crise financeira de 2008. Reinhard Grandke, o diretor da DLG, garantiu que “a crise não atingiu os agricultores, mas ela afetou a indústria e os serviços, com quedas em faturamento entre 30% e 50%, conforme o segmento, recuperados a partir de 2013 de forma vigorosa”. Lá, como no Brasil em tempos de crise, os agricultores botaram o pé no freio nas suas compras, e as vendas de máquinas desabaram. Na Agritechnica, em conversas com expositores e agricultores, Agro DBO observou que o agro europeu padece de alguns problemas polí-

Americanos famosos: os Irmãos Peterson se exibiram ao ritmo da Gangman Style, paródia que foi absoluto sucesso na internet no início deste ano.

Reinhard Grandke, diretor da DLG.

ticos e sociais semelhantes aos dos brasileiros, em destaque as críticas dos ambientalistas, seja pelo uso da água na irrigação, por derrubar árvores, ou pelo uso de agrotóxicos. A diferença é que na Europa, especialmente na Alemanha, os agricultores possuem uma associação com grande representatividade, e com forte atuação política, além de muita credibilidade com a mídia, e ainda pelo fato da sociedade urbana reconhecer a importância dos agricultores na produção de alimentos. Recebem críticas dos ambientalistas, mas não são chamados de criminosos ambientais, conforme se espantou um produtor de batatas da Bavária, ao saber que no Brasil os agricultores são acusados assim. Para os agricultores alemães a questão ambiental só produzirá efeito quando conseguirem tornar mensurável o termo sustentabilidade em seu significado qualitativo e emocional, ou seja, analisando-o com base em indicadores e avaliando cientificamente sua estrutura. Esse conceito já existe, e pode ser encontrado na DLG. O que é mensurável pode ser comprovado e explicado de forma lógica e coerente. Agro DBO viajou a Hannover por convite da DLG, a Sociedade Agrícola Alemã, organizadora da Agritechnica, e do Governo da Alemanha.

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Logística

A “nova” porta de saída Pelo menos quatro milhões de toneladas de grãos serão escoados pela BR-163 em 2014 e exportados através dos portos do Norte do Brasil Ariosto Mesquita *

Embarque de milho em navio graneleiro no terminal da Cargill em Santarém (PA)

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ao Pará até o final deste mês de dezembro darão lugar a aproximadamente 3,8 milhões/t em 2014 – três milhões para Miritituba e 800 mil para Santarém. O número pode parecer pouco significativo diante das 50 milhões de toneladas de grãos que Mato Grosso deve produzir no próximo ano. No entanto, representa o início de um processo que pode desafogar as estruturas portuárias e rodoviárias no Sul e Sudeste e conter os apagões logísticos ocorridos nos últimos anos. Por enquanto, quase toda a produção agrícola do Centro-Oeste é exportada através dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), para onde seguem mais de 70% dos grãos de Mato Grosso. A guinada rumo ao norte do país é reforçada com as cargas que

seguem em volume cada vez maior pelo rio Madeira a partir de Porto Velho (RO) até Itacoatiara (AM) e, em volume menor, pela BR-158 até o terminal Ferroviário da Vale em Colinas (TO), de onde seguem pela ferrovia Norte-Sul até o porto de Itaqui, no Maranhão. Este novo quadro de exportação pela BR-163 é possível por dois motivos: a ativação, em 2014, de novos terminais de transbordo de cargas na hidrovia do Tapajós e o fato de, em novembro de 2013, restarem “apenas” 326 km de pavimentação asfáltica (todos dentro do estado do Pará) a serem implantados. Considerando os 1.850 km que separam Cuiabá (MT) de Santarém (PA), restam menos de 18%. Quatro meses antes (julho/2013), eram 416 km pendentes (22,5%).

Fotos Ariosto Mesquita

C

onsiderada, junto com a Transamazônica, uma das obras mais emblemáticas dos governos militares nos anos 70 do século passado, a rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) está prestes a – finalmente – ganhar importância e destaque dentro da logística brasileira. Em 2014, algo em torno de 8,3% de todo o volume de grãos produzidos no Mato Grosso (quase 46 milhões de toneladas em 2013) serão escoados pela rodovia até terminais hidroviários no Pará, de onde seguirão em navios graneleiros para exportação. Esta é a previsão do Movimento Pró-Logística, organização criada em 2009. De acordo com seu diretor executivo, Edeon Vaz Ferreira, as 600 mil/t de soja e milho que transitarão pela BR-163 rumo


Edeon acredita que, na pior das hipóteses, mais 180 km serão pavimentados em 2014, concluindo o asfalto em todo o trecho da BR-163 da divisa MT/PA até a Vila dos 30, na confluência com a Transamazônica (BR-230). A partir dai, faltarão apenas 112 km a serem pavimentados na BR-230 (as obras devem começar no início de 2014) e mais 34 km entre Rurópolis e Santarém, no trecho final da BR-163. “Acreditamos que, até 2015, será possível percorrer toda a Cuiabá-Santarém sobre asfalto”, prevê Edeon. Inaugurada em 1976 pelo então general-presidente Ernesto Geisel, a rodovia somente ganhará condições reais de uso quatro décadas depois. Os detalhes e os números referentes às obras nas duas rodovias foram medidos quilômetro a quilômetro por Edeon, que lidera a tradicional Expedição Estradeiro, organizada pelo Movimento Pro-Logística – a cada ano, a Expedição Estradeiro inspeciona as condições dos corredores de escoamento da produção agrícola, a últimas delas de 18 a 22 de novembro passado, no trecho Cuiabá-Santarém, reunindo mais de 100 pessoas, entre técnicos do DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, empresas de logística, produtores rurais, representantes do setor público e associações agropecuárias. Obras em andamento Segundo consenso, não é fundamentalmente a pavimentação de toda a rodovia que estimula novos fluxos de exportações pela hidrovia do Tapajós. “Mesmo antes de ser totalmente asfaltada, a 163 já oferecia condições de transporte, embora não ideais e, dependendo do regime de chuvas, difíceis; o que move toda esta demanda são os projetos de terminais graneleiros em implantação às margens do rio, sobretudo no complexo de Miritituba”, observa Edeon. Segundo ele, já existem pelo menos oito ETCs – Estações de Transbordo de Cargas

em obras ou em fase final de licenciamento em Miritituba, distrito de Itaituba (PA), na margem direita do Tapajós, concentrando investimentos superiores a R$ 1,2 bilhão. As estruturas formarão uma espécie de núcleo de interligação rodo-hidroviária. Estes terminais oferecerão capacidade de escoamento de até 20 milhões de toneladas de grãos, o que é extremamente significativo diante do quadro de exportações de soja e milho do Mato Grosso este ano: perto de 24 milhões de toneladas, de acordo com o Imea – Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária. Os grãos chegarão a Miritituba em caminhões. Boa parte desta carga seguirá em barcaças até o Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), próximo a Belém. De lá, será embarcada em navios rumo ao exterior. Outra alternativa é fazer o mesmo através do Porto de Santana, no Amapá. Edeon observa que o setor produtivo perdeu muito tempo discutindo as compensações sociais e ambientais das obras das ETC, representado, no caso, pela Atapa – Associação dos Terminais Privados do Rio Tapajós, criada por oito empresas: Cianport, Bunge, Cargill, Hidrovias do Brasil, Brick Logística, Chibatão Navegações, Reicon e Unirios. Ao que tudo indica, porém, os entraves foram supera-

Rio Tapajós, do ponto de vista de quem está em Miritituba. Na margem oposta, a cidade de Itaituba.

Trecho pavimentado da BR-163 no município de Trairão, no estado do Pará.

dos e o botão “iniciar” será acionado no começo de 2014. “A previsão que temos é de que o terminal da Bunge comece a operar em Miritituba já em fevereiro de 2014; terá capacidade total para embarcar quatro milhões de toneladas/ano, mas nos primeiros 12 meses deve trabalhar com metade deste volume”, afirma o executivo do Movimento Pró-Logística. Três outros terminais devem começar a operar em 2015 e mais três em 2016. Apenas um ainda se encontra sem previsão de início de operação. Em outubro deste ano, a Bunge anunciou uma joint venture com a Amaggi, braço do Grupo André

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Logística

A estimativa da empresa é de que, em 2014, o volume de soja e milho embarcado no terminal com destino à Europa e Ásia supere a casa de dois milhões de toneladas, contra 1,2 milhão em 2012. Os navios que levam soja para o exterior carregam, cada um, de 50 a 60 mil toneladas. Já aqueles que transportam milho, levam de 40 a 45 mil toneladas. Os problemas de logística não estão restritos, obviamente, apenas às estradas. O acesso ao porto de Santarém é precário e o crescente fluxo de caminhões através do município pode impactar negativamente a cidade de 288 mil habi-

Comboio de 20 barcaças leva grãos pelo rio Madeira rumo ao porto de Itacoatiara (AM).

Obras de manutenção na ponte sobre o igarapé Cupari, entre Miritituba e Rurópolis.

tantes (estimativa IBGE/2013). O trajeto corta áreas populosas e de vias com suporte de tráfego limitado. Em relatório encaminhado a autoridades federais em julho deste ano, o Movimento Pró-Logística não escondia esta preocupação: “A não implantação do projeto viário de acesso ao porto de Santarém poderá inviabilizar o uso deste importante terminal”. A questão de mobilidade urbana em Santarém ganhou ainda mais importância a partir do anúncio, este ano, de licitação para a construção de um novo terminal hidroviário de grãos. A cidade, situada na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, ganhará capacidade

Ariosto Mesquita

Maggi, para a criação da Unitapajós – Navegações Unidas Tapajós, empresa na qual pretendem investir R$ 300 milhões para construir 90 barcaças e cinco empurradores. A Bunge se estrutura assim para operar sua ETC em Miritituba. Enquanto isso, a Amaggi reforça sua frota, que já opera na hidrovia do Madeira transportando grãos até Itacoatiara (AM), e marca presença também no escoamento de grãos pelo Tapajós. “As barcaças da Unitapajós começam a operar a partir de 2014”, garante o diretor de comunicação do Grupo André Maggi, Daniel Escobar. Mesmo com alguns trechos da BR-163 ainda apresentando pontos de gargalo, o volume de grãos direcionados a Santarém terá aumento expressivo em 2014. A multinacional estadunidense Cargill mantém no município um terminal para exportação de grãos com capacidade para receber e embarcar até 1,5 milhão de toneladas/ano e está sendo ampliado para dobrar esta capacidade. Boa parte dos carregamentos exportados é originária do noroeste de Mato Grosso – regiões de Sapezal e Campo Novo do Parecis.

Arquivo Grupo André Maggi

Estudos mostram que o consumo de combustível em hidrovias é 12 vezes menor, comparativamente ao gasto no modal rodoviário.

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Frete compensador Os terminais de Miritituba situam-se a uma distância média de 900 km do cinturão de grãos desta região, que reúne ainda municípios como Sinop, Lucas do Rio Verde e Mutum, todos cortados pela BR163. Até agora, a maioria da produção segue por aproximadamente 2.100 quilômetros até Santos e/ou Paranaguá. Neste processo inicial de inversão do eixo de escoamento do Sul para o Norte do Brasil, a expectativa é de que os custos de frete caiam e que a remuneração ao produtor suba em proporção semelhante – estudos mostram que o transporte fluvial permite um consumo de combustível, em média, 12

Fotos Ariosto Mesquita

para exportar mais quatro milhões de toneladas/ano. A abertura do Corredor de Exportação Norte com a conclusão da pavimentação da BR-163 e construção de terminais graneleiros junto às hidrovias impacta diretamente a região do médio norte mato-grossense, considerada hoje a mais produtiva e tecnificada em produção de grãos no Centro-Oeste. A cidade de Sorriso, por exemplo, arrecadou em 2012 cerca de R$ 2 bilhões, sobretudo com soja e milho, e foi responsável por 9% e 12,8%, respectivamente, da produção destas culturas no estado. vezes menor se comparado com o modal rodoviário. Miritituba, dessa forma, funcionaria como uma espécie de centro distribuidor da produção do médio norte do Mato Grosso, recebendo a carga dos caminhões e colocando-a em barcaças rumo aos portos exportadores da Amazônia. O gestor do Imea, Daniel Latorraca, alerta, no entanto, que “dificilmente as diferenças no pagamento pelos grãos serão sentidas antes de março ou abril; isso só deve acontecer após estes meses, quando diminui a pressão de demanda por frete com o fim da colheita da soja”. Latorraca prevê que os benefícios serão sentidos no

preço do frete muito mais pelo encurtamento da distância a ser percorrida do que pela condição de trafegabilidade na BR-163. “Nossa estimativa é que, nesta primeira etapa, a diferença a maior no preço da saca de milho, por exemplo, deve ser de, no mínimo, dois reais”, calcula. Sendo assim, o produtor de Sorriso que, em novembro, recebia em média R$ 11,00 pela saca de milho, passaria, em tese, a ser remunerado em R$ 13,00, caso sua produção já estivesse sendo escoada por Miritituba. Antes mesmo de ser totalmente pavimentada, a BR 163 terá de ser parcialmente recuperada. Existem,

Pontes de concreto substituem velhas pontes de madeira ao longo da BR-163: à direita, trecho ainda em obras na floresta.

Tráfego maior no rio Madeira Perto de 4,7 milhões de toneladas de soja e milho, óleo e farelo produzidos em Rondônia e Mato Grosso devem ser transportadas através do rio Madeira a partir de Porto Velho (RO) em 2014. Esse volume corresponde a um acréscimo de 17,5% sobre o fluxo de 2013 (quatro milhões de toneladas). A projeção do Movimento Pró Logística leva em conta tanto a demanda do terminal da Cargill na capital rondoniense (1,5 milhão de toneladas), transportados até o terminal

de Santarém, quanto os carregamentos da Hermasa Navegação da Amazônia (Grupo André Maggi) rumo ao porto graneleiro de Itacoatiara (AM), às margens do rio Amazonas (3,2 milhões de toneladas). A Divisão de Navegação do Grupo André Maggi contabiliza 108 barcaças graneleiras, monitoradas por satélite. Um comboio formado por 20 barcaças é capaz de transportar aproximadamente 40 mil toneladas de grãos (capacidade média, por exemplo, de um navio carregado de

milho que parte do terminal da Cargill em Santarém rumo aos portos da Ásia), equivalente ao que pode ser levado por aproximadamente 1.000 caminhões. Conta ainda com 17 empurradores e duas lanchas de apoio e pesquisa. Em seu relatório de Sustentabilidade 2012, o grupo informa que estão em fase final de execução as obras de um estaleiro em Itacoatiara, cujo foco será o reparo e manutenção das embarcações. A expectativa da empresa é ativá-lo em fevereiro de 2014.

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Logística

Ascom Aprosoja MT

A BR-158 vai atender, principalmente, os produores do Vale do Araguaia, cujas lavouras somam perto de 1,2 milhão de hectares.

no médio norte do Mato Grosso, Gustavo Boerger, participou da expedição Estradeiro até Santarém. Em reunião com produtores no Sindicato Rural de Sinop (MT), comunicou que já está em andamento um estudo de reforço estrutural da via: “Os trechos que estão se deteriorando serão atendidos e, caso seja identificada alguma falha das empreiteiras, elas terão de arcar com as despesas”, afirmou. Além das 3,8 milhões de toneladas esperadas para escoamento em 2014, uma demanda ainda maior para os próximos anos exigirá que a rodovia tenha uma estrutura bem robusta. A BR-163 terá de suportar um volume de cargas de grãos previstos da ordem de seis milhões de toneladas em 2015 e de até 12

ETC da Bunge em Miritituba, às margens do Tapajós, que deve entrar em operação em fevereiro de 2014.

Ponte provisória de metal, que se tornou “definitiva” com o tempo; abaixo, à direita, terminal da Vale em Colinas (TO).

Fotos Ariosto Mesquita

sobretudo no estado do Pará, muitos trechos com asfalto ondulado, buracos, deformações plásticas, infiltrações e pista deteriorada. É bem provável que a rodovia a partir de Guarantã do Norte (MT) até a Vila dos 30, no entroncamento com a Transamazônica (mais de 700 km), além de todo o trecho entre Rurópolis e Santarém (223 km) receba nova capa asfáltica para suportar o pesado tráfego de caminhões.“A pavimentação foi feita há mais de 10 anos e nesta época não foi prevista tamanha demanda; por isso, o asfalto implantado ficou apenas com 6 cm de espessura. Agora, novo trabalho terá de ser feito para implantação de mais 6 cm de capa asfáltica”, explicou Edeon Ferreira. O engenheiro residente do DNIT

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milhões de toneladas em 2016. No final do mês passado, foi realizado na sede da BM&F Bovespa, em São Paulo, o primeiro leilão de concessão para explorar a BR-163, vencido pela Odebrecht, em disputa com outros sete grupos empresariais ou empresas individuais. A proposta vencedora fixa a tarifa de pedágio em R$ 2,63 a cada 100 quilômetros rodados. A empresa vai explorar por 30 anos um trecho de 850,9 km, da divisa com o estado de Mato Grosso do Sul até a cidade de Sinop (MT), durante 20 anos. Corredor paralelo Outra opção de escoamento da produção do Centro-Oeste pelo Norte (e também Nordeste) do país é a BR-158, rodovia que cruza o leste do estado e entra pelo sudeste do Pará. No entanto, as precárias condições de tráfego inibem o deslocamento de caminhões. Alguns trechos colocam em risco as cargas e as vidas dos caminhoneiros. É o caso, por exemplo, dos 190 km que separam os municípios de Santana do Araguaia de Redenção, no Pará. Mesmo pavimentado, seu asfalto está severamente comprometido e em várias partes parece ser sido arrancado e não reposto. Este trecho da rodovia é também recheado de pontes provisórias que se tornaram definitivas. Mesmo assim, a estimativa é de que 800 mil toneladas de grãos originários do Mato Grosso estejam trafegando neste trecho em direção ao terminal da Vale em Colinas (TO), de onde seguem pelos trilhos da Ferrovia Norte Sul até o porto de Itaqui, no Maranhão e de lá para o exterior. O eixo da BR158 pode atender fundamentalmente a produção agrícola do Vale do Araguaia, cujas lavouras somam perto de 1,2 milhões de hectares, a maior parte das quais situadas no estado de Mato Grosso.



Entrevista

O agro vai muito bem

O

engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues, professor, ex-ministro da Agricultura e também produtor rural, é o entrevistado da presente edição. Em longa conversa com Richard Jakubaszko, editor executivo da Agro DBO, Roberto Rodrigues mostra sua visão e dá opiniões sobre diversas questões do agronegócio brasileiro. Evidencia, entre outras coisas, porque é uma das personalidades preferidas de entidades organizadoras de congressos, simpósios, fóruns e workshops, eventos realizados o ano inteiro, chegando a realizar mais de meia centena de palestras anuais, obrigando-o a realizar verdadeiras maratonas de viagens pelo país. Na semana em que realizamos a entrevista, Roberto tinha viajado para a África do Sul, depois foi a Rondônia, Mato Grosso e Paraná. De volta a São Paulo, fez um pit stop de um dia em seu escritório na Fundação Getúlio Vargas, onde é coordenador do Setor Agro. Mas já se preparava para uma pausa de descanso, uma fugida de fim de semana até sua fazenda, na “Grande Guariba”, região que engloba o município de Ribeirão Preto, troça que costumava aplicar, quando fez parte do ministério de Lula, ao então poderoso ministro da Fazenda, Antônio Palocci, ex-prefeito de ibeirão Prêto e natural dessa região ao norte do Estado de São Paulo. Agro DBO – Afora crises de baixos preços conjunturais, como etanol, café, laranja, e agora ameaça de preço baixo do milho, o agro brasileiro vai bem? Roberto Rodrigues – De uma forma geral o agro brasileiro vai bem. Mas é preciso entender o “gênesis” do ir bem. A história é longa, mas para mim tem um ponto de inflexão, que é muito importante, e é determinado pelos períodos logo após os planos Collor e Real. Até o Plano Collor, o Brasil era um país fechado em relação ao resto do mundo, com inflação de dois dígitos ao mês, e com políticas públicas protecionistas. O Estado protegia o agro brasileiro, o que sustentava a ineficiência. O Plano Collor arrombou a questão comercial e abriu o país. Chacoa48 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014

lhou o agronegócio, muitos quebraram e até mesmo grandes cooperativas fecharam, como a Cotia e a Sul Brasil, que eram as maiores. Aí, a incompetência perdeu espaço. Logo em seguida veio o Plano Real, e com ele se acertou o passo, pois ajustamos as arestas, passamos a ter uma inflação civilizada, de um dígito ao ano, e o Estado perdeu a capacidade de intervir paternalisticamente. Nesse processo o Estado teve que ser enxugado, todos os subsídios foram extintos, e, por isso, nesse período o agro teve uma tríplice colisão. Saímos de uma inflação maluca para uma civilizada, de um país fechado para um país aberto, e o fim das políticas protecionistas e dos subsídios. Agro DBO – Nesse contexto tivemos de buscar a competência?

Roberto Rodrigues – Exatamente, essa tríplice colisão provocou duas ondas no Brasil, uma de exclusão e outra de competitividade. A da exclusão foi brutal, talvez a mais dramática de todos os tempos. Não temos estatísticas confiáveis no Brasil, mas eu diria que mais de 150 mil produtores rurais desapareceram nesse processo, de todos os tamanhos, no país inteiro, inclusive alguns grandes produtores no Centro-Oeste. De outro lado, quem permaneceu vivo foi obrigado a competir, e aí dois mecanismos surgiram: o primeiro foi o uso das tecnologias, ou seja, aumentar a produtividade para competir. O segundo foi gestão, e este foi o mais complicado, porque não havia modelo de gestão. É a tal história, a inflação e os lucros financei-


ros escondiam os nossos erros e a nossa incompetência, pois não havia eficiência comercial ou financeira. Ninguém investia em nada, nem em recursos humanos, muito menos na questão ambiental ou na produtividade. Então, de repente, o produtor rural teve de aprender a fazer gestão competente, controle de estoques, eficiência nas compras e nas vendas, investimentos em produtividade e em controle de custos. Isso foi mais difícil ainda por não existirem padrões, até porque temos condições muito díspares de cada microrregião do país, pois não podemos comparar problemas e necessidades de um produtor rural do Vale dos Vinhedos com outro de Rondonópolis, ou do Espírito Santo, ou de Minas Gerais. Não dava para criar um modelo nacional de gestão, mas todo mundo foi buscar o seu modelo, e houve um ajuste dentro da agricultura que os demais setores não fizeram; ou se fazia isso ou morria. Por isso que eu digo que o agro vai bem, porque fez um ajuste extraordinário, lastreado na tecnologia e nos modelos de gestão, mesmo que implementados aos trancos e barrancos, e que até hoje é assim, e também por políticas públicas, que permitiram alguns saltos interessantes.

espetacular. Uma máquina lançada hoje nos EUA em menos de 6 meses já está no Brasil. Agro DBO – Qual o maior problema dos grãos (soja-milho)? Roberto Rodrigues – Sem dúvida que é a logística. Agora, quando se fala em logística o leque de variáveis é gigantesco. Começa no armazenamento e termina no porto, ou no supermercado, e passa pelos meios de transportes. É evidente que a solução para os problemas centrais da logística, que são transporte, armazenamento e porto, é uma solução demorada, os investimentos são gigantescos, o processo burocrático é monumental no Brasil, a começar pelos licenciamentos ambientais. Não vejo nenhuma solução com menos de 4 a 5 anos em nosso horizonte, só para mitigar o problema, que não é de resolver essas questões em definitivo. Por isso que a armazenagem se tornou o problema mais emergente, porque dá para segurar a produção na fazenda e reduzir os problemas seguintes, de congestionamento de estradas e portos, fretes caros etc. Aí surgem soluções e oportunidades, com o uso de novas tecnologias, como os silos bag.

Agro DBO – Com o gás de xisto, ameaças de baixa do preço do petróleo, já desabou o preço do carvão, e o etanol do milho americano pode ser reavaliado, os produtores americanos de milho plantariam soja. Como ficamos nisso? Roberto Rodrigues – Podemos ter enormes problemas, no curto ou médio prazo. A redução dos preços internacionais do petróleo traz dificuldades para o pré-sal, que pode até ser inviabilizado, e outra “problemática” para o nosso etanol. De outro lado, se o milho que vier a sobrar pelo não uso como etanol for para consumo humano e animal, cai o preço, leva a soja com ele, derruba o preço das carnes de forma geral. Pode haver um efeito dramático para o produtor, com redução de renda sem precedentes. Isso somado com a questão da logística pode ter um efeito que não temos como dimensionar. Mas teria uma duração relativa, de no máximo 3 anos, porque com o barateamento da carne cresceria o seu consumo e o mercado se reajustaria. Agro DBO – E como fica o etanol de cana-de-açúcar brasileiro, dentro desse cenário?

O etanol de milho americano deve ser reavaliado nos próximos meses

Agro DBO – Que saltos foram esses? Roberto Rodrigues – A Agrishow, por exemplo, que provocou uma mudança de paradigma. Até então as feiras eram estáticas, e a Agrishow, como feira dinâmica, demonstrações de campo, fez com que especialmente a indústria de máquinas investisse em tecnologia e aprimoramentos, porque o produtor ia lá, comparava máquinas, avaliava preços, e depois comprava. As empresas que não evoluíram fecharam as portas. Isso explica o gigantesco salto no uso de tecnologia no Brasil, que foi dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 49


Entrevista estamos dando um salto gigantesco de qualidade nesse setor, acho até que já temos metade do PIB do agro brasileiro sendo gerado pelo cooperativismo. Agro DBO – O que impede o associativismo de crescer e ter importância no Brasil, a exemplo dos europeus e dos americanos? Roberto Rodrigues – Só temos associativismo mais representativo no Brasil Central, e lá não há cooperativismo, que é a solução para os pequenos e médios obterem economia de escala, na compra dos insumos e na venda da produção. No Cerrado tem muitos produtores com escala econômica, daí a solução do associativismo, e não sentem falta do cooperativismo. Roberto Rodrigues – Perderia ainda mais a competitividade com a gasolina, e não daria para produzir mais açúcar, porque derrubaria também esses preços. A cana poderia vir a se juntar ao café e a laranja em termos de baixos preços, nesse cenário negativo das commodities brasileiras. Agro DBO – O que poderia ser feito para minimizar esse tsunami? Agro DBO – Vejo a questão do gás de xisto como oportunidade excepcional, no curto prazo, de políticas públicas imediatas e urgentes, para implantar de vez o seguro rural, pois hoje apenas 6% da produção brasileira é segurada. E precisaria melhorar a nossa logística, para obtermos competitividade com redução de custos. Mas quero deixar claro que eu acho que esse tsunami seja provável, e não que vá de fato ocorrer, mas que é possível, e por isso precisaríamos estar preparados. Agro DBO – Por que o agro não consegue impor um ministro da Agricultura? Falta de união? 50 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014

Roberto Rodrigues – Sim, falta união do agro, mas é tudo uma questão de política. As decisões de governo estão ligadas à reeleição. Estou ficando, definitivamente, contra essa regra que permite reeleição. Acho que devemos ter 5 anos de mandato, e acabar com reeleição, porque não é possível se passar um mandato inteiro trabalhando para se reeleger, acho isso uma distorção da democracia. A questão é que o Ministério da Agricultura, e outros ministérios e cargos, se transformaram em moeda de troca. Para ser ministro hoje não importa se ele é bom ou ruim, importa saber de qual partido e estado ele é, porque isso é que tem o peso político. Como consequência, o que importa é a estrutura do ministério, que acaba desmontada por uso político, trazendo com isso a ineficiência. Agro DBO – O cooperativismo poderia influir nisso? Roberto Rodrigues – Acho que sim, mas não apenas o cooperativismo. O cooperativismo está num processo de evolução fantástico,

Agro DBO – Políticos nunca deram importância ao agro. Mas, candidatos políticos no cenário de eleição de 2014, tentam empatia com o agronegócio em busca de votos. Eduardo Campos é um bom exemplo, porém, com a companhia da ambientalista Marina Silva, considerada uma das maiores críticas do agro brasileiro. Tal candidatura tem chances com apoio do agro? Roberto Rodrigues – Essa é a grande novidade do agro, estou nessa estrada há 50 anos, e nunca antes os políticos correram atrás da gente. Ao contrário, nós que fomos sempre atrás dos governantes e políticos, pedindo ou implorando para eles prestarem atenção ao setor. Os 3 candidatos se aproximaram de líderes do agro, a presidente Dilma, por exemplo, anda muito próxima da senadora Kátia Abreu. A senadora hoje interfere nos nossos horizontes, e se a Dilma for reeleita ela será a ministra da Agricultura. Os candidatos Eduardo Campos e Aécio Neves estão nos procurando, querem sugestões, querem projetos de governo, querem ideias para usar nas suas campanhas, de modo que isso é inédito,


“Nunca os políticos correram atrás da gente. Nós que fomos atrás deles, implorando para prestarem atenção ao setor.” pois é a primeira vez que candidatos a presidente procuram o agro. No Caso do Eduardo Campos, até pela presença da Marina Silva, antipática ao agro, isso o levou a nos procurar, e a outros líderes do agro, para amenizar isso de alguma forma. A Marina precisaria flexibilizar o discurso dela para obter votos do agro, disso ninguém tem dúvida. Agro DBO – O que o agro poderia fazer em termos políticos para conquistar a atenção que merece dos governantes? Roberto Rodrigues – Ora, o que deseja um candidato? Voto, ele quer ganhar a eleição, e onde está o voto? Nas cidades, e a população rural é pequena, mas o agro pode influir nisso, transferindo a visão de sua importância para o eleitorado urbano, e com isso conquista os candidatos, ou vai ficar sempre para trás nesse processo, como sempre foi. Agro DBO – E a eterna briga dos desenvolvimentistas versus ambientalistas, que sufocam o agro? Perdemos essa briga? Roberto Rodrigues – Essa é a briga da burrice contra o bom senso. Porque isso é de uma obviedade cristalina, os ambientalistas não entendem que a ninguém

interessa mais a sustentabilidade do meio ambiente do que ao próprio produtor rural, porque sem isso ele perde a terra e o próprio capital. Mas isso deve mudar e a própria mídia de massa reconhece algumas dessas questões. Hoje em dia só alguns ambientalistas radicais é que atacam o agro. O próprio Código Florestal ajustou isso, mesmo que se tenha falado e escrito muita besteira sobre o assunto. Como diz uma música dos caboclos, “Tá ruim, mas tá bão”, ou seja, hoje a gente tem um rumo, há uma realidade para seguir em frente, os procedimentos a partir de agora se tornam rotina, sejam as APPs, as reservas legais, tem de fazer o CAR - Cadastro Ambiental Rural, e isso tudo irá se regularizar. Agro DBO – Por que as PPPs no Brasil nunca vão em frente, como alternativa para a logística? Roberto Rodrigues – Acho que falta um marco regulador, algo que garanta o “pay back”, porque ninguém vai investir num negócio que demora 20 ou 30 anos para ter retorno. Agro DBO – A pesquisa brasileira nunca contestou o IPCC / ONU, ao contrário do que ocorre com cientistas no mundo intei-

ro, que consideram o movimento uma agenda política e econômica. Estamos pesquisando plantas com tolerância ao estresse hídrico. Não estamos jogando dinheiro fora? Roberto Rodrigues – Não sei, há muita divergência. Há cientistas que afirmam que vai aquecer e outros que vai esfriar. Como não entendo disso, acho que o princípio da precaução faz sentido. Ao criarmos no Brasil o Plano ABC ganhamos respeitabilidade lá fora, o que aumenta nossa competitividade, porque os países nos consideram sustentáveis. Isso é importante, independentemente de a gente achar que no futuro, em médio prazo, sei lá, 10 a 20 anos, vamos ter de derrubar floresta para plantar alimentos, porque a população mundial continua crescendo. Agro DBO – Qual pergunta não fizemos, que você gostaria de responder? Roberto Rodrigues – De certa forma, a pergunta que não foi feita, é: “por que a agricultura é tão mal tratada no Brasil, e tão ignorada pelos governantes?” Eu ainda não tenho a resposta para isso. Talvez, quando a gente descubra a resposta, possamos resolver a maior parte de nossos problemas.

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Artigo

Semente, a base de tudo. Nosso colunista conta a história das cultivares de soja no Brasil, com a evolução e integração das empresas com a pesquisa. Daniel Glat *

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

A

soja chegou ao Brasil no final do século XIX, mas começou a crescer como cultura nos anos 40 no noroeste do Rio Grande do Sul, para alimentação de suínos e para rotação com trigo, a principal cultura mecanizada de então. Os primeiros programas de melhoramento genético da soja no Brasil, no IAC – Instituto Agronômico de Campinas, em algumas universidades e na Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul foram baseados em variedades americanas. Na década de 1960, Santa Rosa (RS) era então a capital brasileira da soja, e não por acaso o primeiro óleo de soja e primeira variedade brasileira de soja se chamaram Santa Rosa. A criação da Embrapa no início dos anos 70 e do Centro Nacional da Soja em Londrina (PR), deu grande impulso à cultura; sob liderança do Dr. Romeu Kiihl, começou-se a seleção para variedades com período juvenil longo, o que permitiu que a soja fosse plantada nas baixas latitudes do Brasil Central, viabilizando a cultura nos cerrados brasileiros. No final dos anos 70 começavam os programas de melhoramento da Ocepar, da Fecotrigo, e o primeiro programa de melhoramento de soja privado do Brasil, com a FT sementes, de Francisco Terasawa, no Paraná. Durante a década de 80 até metade dos 90 a área plantada de soja cresceu de 7,5 para 11,5 milhões de hectares iniciando-se o plantio de soja no Brasil Central. As variedades dominantes foram migrando das americanas para as variedades desenvolvidas pela Embrapa, pelos ór-

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gãos estaduais de pesquisa e pela FT. Surgiam os primeiros sementeiros de soja no sul do Brasil, geralmente cooperativas ou produtores de sementes de trigo. Não havia cobrança de royalties na produção e venda de sementes de soja. Por conseguinte, pouquíssima remuneração para os desenvolvedores de genética. Na segunda metade de 1990, três grandes acontecimentos desencadearam a transformação do mercado de sementes de soja: O primeiro, e mais importante, a Lei de Proteção aos Cultivares e a criação do Sistema Nacional de Proteção aos Cultivares, em 1997, que assegurava ao obtentor da genética o direito de remuneração pela produção e venda de suas variedades, ao mesmo tempo em que assegurava ao produtor o direito de salvar sementes para seu próprio uso. Esse foi o ponto de partida para entrada das multinacionais de sementes no setor. A Monsanto comprou a FT Sementes no final dos anos 90, criando a Monsoy, e a Pioneer comprou a sementes

2Marcos, de Cristalina (GO), construiu sua UBS própria começando o primeiro sistema “verticalizado” no mercado. Na virada do milênio a Syngenta começava a testar suas sojas no Brasil. Na sequência da lei de cultivares houve a criação das fundações estaduais, compostas em parcerias entre grandes produtores, sementeiros de soja, a Embrapa e os órgãos estaduais de pesquisa para desenvolver variedades de sojas adaptadas às suas regiões. A Coodetec foi criada como braço de pesquisa das cooperativas paranaenses. O mercado era dominado então por variedades da Embrapa, Fundações, Monsoy e Coodetec. Outro grande acontecimento do final dos anos 90 foi a “invasão” da soja RR contrabandeada da Argentina, as populares “maradonas”. Com elas, descobrimos o maior potencial produtivo das sojas indeterminadas argentinas, confundido na época com aumento de produtividade causada pela transgenia. A presença das “maradonas” dis-


Com as “maradonas”, descobrimos o potencial produtivo das sojas seminadas em grande parte do sul do Brasil foi o que acabou forçando a liberação dos transgênicos no Brasil em 2005, 10 anos depois dos Estados Unidos e Argentina. Com a liberação oficial da soja RR começou a cobrança de royalties na moega, o que aumentou o custo da semente salva e consequentemente aumentou o uso de semente certificada no sul do país. Em meados dos anos 2000, quando já plantávamos 23 milhões de ha, desembarcam oficialmente no Brasil, a Don Mario, com a marca Brasmax, e a Nidera, as duas maiores empresas de genética de soja da Argentina, com suas sojas indeterminadas. Hoje, menos de 10 anos depois, ambas têm quase 80% do mercado no Sul / Sudeste do Brasil, incluindo SP e MS. No Brasil Central, o mercado de variedades de soja é dominado pela Monsoy e pela TMG, a maior empresa brasileira de genética de soja, criada com a cisão da FMT e Embrapa. As variedades da Embrapa, Fundações e Coodetec caíram vertiginosamente em participação de mercado nos últimos anos. Em 2013, quando estamos plantando quase 30 milhões de ha, a soja Intacta foi liberada, com royalties de R$115/ha e caiu a patente da soja RR. A Bayer acaba de entrar no mercado de sementes de soja com aquisição de três empresas nacionais, notadamente a Whermann sementes, de Cristalina. Outras grandes empresas multinacionais se preparam para entrar no mercado também. A venda de sementes tratadas, cada vez mais presente, agrega valor à semente e facilita a vida do produtor. Existem muitas opções de tratamentos atualmente, e novos produtos, inclusive o tão sonhado inoculante para tratamento industrial, deverão chegar ao mercado nos próximos anos.

O preço de sementes quase triplicou nos últimos 10 anos, em parte acompanhando a evolução do preço da soja. O mercado, que outrora foi dominado por genética da Embrapa e de órgãos estaduais, com produção e vendas por cooperativas e sementeiras produtoras, hoje é dominado em quase 80% por genética de empresas internacionais, várias delas verticalizando a produção. A Pioneer sempre atuou de forma verticalizada com UBS próprias. A Monsanto, que sempre manteve a marca Monsoy focada no licenciamento, começou a verticalizar a soja Intacta via marca Agroeste. Nidera e Syngenta já usam um modelo misto de licenciamento e verticalização, com produção contratada com terceiros.Com todas essas mudanças os sementeiros de soja têm muitas questões à sua frente: • Continuar com marca própria ou prestar serviço de produção para as grandes? • Continuar sozinho ou consolidar com outros produtores de sementes para obter ganhos de escala? • Como profissionalizar a gestão e o acesso ao mercado para poder concorrer com as grandes empresas verticalizadas? • Com que obtentores de genética trabalhar? Hoje, o mercado de sementes de soja tem o valor de quase R$3 bilhões, emprega direta / indiretamente mais de 200.000 pessoas, movimenta mais de 1 milhão de toneladas e as principais empresas mundiais de sementes estão envolvidas. A necessidade de profissionalização dos sementeiros é óbvia; mas quem mais ganha com um setor sementeiro mais competitivo, mais forte e mais profissional, é o produtor brasileiro de soja. Porque a semente é a base de tudo. dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 53


Opinião

Jogo sujo Até quando, questiona o articulista, o agronegócio irá suportar os ataques impunes de ONGs e ambientalistas internacionais? Rogério Arioli Silva *

A

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

sociedade moderna, hoje de maioria urbana, denominada pela grande mídia como “opinião pública”, é extremamente sensível a temas como a proteção das minorias étnicas, exclusão social, proteção aos direitos humanos, qualidade de vida, respeito aos animais e a defesa do meio ambiente, entre outros assuntos importantes e atuais. Ocorre que, muitas vezes, temas como estes quando abordados de maneira distorcida acabam provocando significativos prejuízos sociais e econômicos expondo negativamente países como o Brasil. As organizações da sociedade civil, chamadas comumente de ONGs, indubitavelmente constituem um avanço dos regimes democráticos e, a maioria delas, é constituída por pessoas bem intencionadas. No entanto, entre elas existem inúmeras as quais não é

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possível se identificar exatamente o que defendem, embora possuam uma imensa capacidade de denegrir a imagem do país pelo mundo afora. Não é o caso de nominá-las, até porque esse tipo de propaganda as ajudaria a aparecer na mídia e, quem sabe, angariar mais recursos pelos resultados alcançados. Os exemplos do desserviço que prestam são numerosos e, é necessário que sejam divulgados como forma de resposta à nocividade desse tipo de ação. Faz alguns anos uma dessas ONGs divulgou em toda Europa que ao adquirir carnes do Brasil os consumidores estariam “devorando” pedaços da floresta amazônica, pois os animais produzidos aqui eram alimentados com soja produzida naquela região. Após estudos técnicos verificou-se que menos de 0,5% da soja brasileira era produzida no bioma amazônico, mas o prejuízo ao país

já havia acontecido, sem que houvesse nenhum tipo de retratação posterior. A produção brasileira de biocombustíveis tem sido periodicamente demonizada, além de vinculada a sérios problemas sociais e ambientais, até mesmo com a falsa alegação de que resultará numa escassez da produção de alimentos. ONGs alemãs, subsidiadas por falsas informações de suas sucursais brasileiras, pressionaram até mesmo a chanceler Angela Merkel para que não amplie suas importações de produtos brasileiros. Os atrasos na construção da infraestrutura logística brasileira também podem ser debitados em grande parte a este patrulhamento ambientalista. Hidrelétricas são questionadas e muitas vezes invadidas, hidrovias são boicotadas, estradas importantes são inviabilizadas, além de inúmeras obras que emprestariam competitividade ao


país, gerando emprego e renda a populações hoje economicamente marginalizadas. A criação de dezenas de Flonas (Florestas Nacionais) nos estados do Norte, resultado da pressão dessas organizações, acabou com o sonho de milhares de pequenos produtores brasileiros que sonhavam em receber seus títulos de posse das terras utilizadas há décadas. Nada foi oferecido em troca a esses agricultores que, no passado, atenderam ao apelo de desbravar o inóspito sertão brasileiro e hoje estão marginalizados à beira das rodovias, considerados criminosos ambientais. Como também estão muitos produtores rurais, detentores de boa fé, expulsos de suas áreas com a paranoia das ampliações de áreas indígenas onde ONGs estrangeiras se associam à Funai num esbulho chancelado por alguns setores do governo e até mesmo da justiça.

Quem não se lembra das destruições de campos de sementes provocando uma significativa perda de patrimônio genético a inúmeras empresas de melhoramento de plantas? Também existe aquele caso de outra ONG que denunciou o Brasil na ONU por “práticas medievais”, superlotação carcerária e desrespeito aos direitos humanos. A violência é condenada, mas também a ação da polícia em coibi-la sofre imensa crítica e muitas vezes a abordagem distorcida provoca uma inversão de valores sobre quem, de fato, deve ser criminalizado. Voltando à esfera agropecuária, o país atualmente sofre inúmeras barreiras não tarifárias de ordem sanitária, ambiental e até mesmo social, graças à distorcida imagem que muitas dessas organizações ajudaram a construir no exterior. Agora, por último, está em curso uma

nova investida que colocará o Brasil como um grande usuário de defensivos agrícolas, questionando a qualidade dos nossos produtos. Como se fosse possível produzir apenas alimentos orgânicos que, pelo seu alto custo de produção, são inacessíveis à maioria da população. Não se trata de questionar a participação da sociedade civil organizada como forma de pressão no direcionamento de políticas públicas em consonância com as demandas da população. Todavia, é salutar que se haja com responsabilidade pelos danos que informações preconceituosas trazem ao agronegócio brasileiro. Este mesmo agronegócio não sente nenhum receio em ser comparado com qualquer outro em nível mundial, porém, não pode mais aceitar que golpes baixos o atinjam de maneira covarde e traiçoeira.

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Artigo

Nutrição vegetal Cinco dicas: planejar bem a atividade, conhecer o solo, o potencial genético e as exigências das plantas, e saber o que oferecer a elas.

Fabio Scudeler

Fábio Scudeler *

C

om a redução na possibilidade de expansão de novas fronteiras agrícolas, fruto de maior preocupação ambiental, a alternativa mais viável para aumentar a quantidade de alimentos produzida é aumentar a produtividade por unidade de área de cada cultura. Nesse ponto,

mance e, consequentemente, elevados tetos produtivos: 1 – Tenha em mãos um bom planejamento da atividade que deseja desempenhar. O planejamento deve abranger toda a atividade, desde a escolha da área a ser cultivada até questões relacionadas à comer-

“As plantas precisam de alimento. Nutrição equilibrada é sinal de alta produtividade”. a fertilidade do solo e a nutrição de plantas tem desempenhado papel fundamental. Dai a necessidade das tecnologias chegarem com maior facilidade ao produtor rural. E para que essas tecnologias tragam resultados positivos aos agricultores, vão aqui cinco dicas para se ter uma nutrição de alta perfor56 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014

cialização. Esse ponto é de extrema importância, pois é onde se define o custo de produção da lavoura. Ou seja, não adianta ter elevada produtividade se esta não estiver associada a elevada lucratividade. 2 – Conheça o seu solo. É imprescindível que o produtor saiba a dis-

ponibilidade de nutrientes que seu solo tem a oferecer para a cultura que será implantada. Assim, podem ser tomadas decisões importantes quanto a correção de solo antes da implantação da cultura. Atualmente, existem inúmeras empresas no mercado promovendo a agricultura de precisão voltada para a fertilidade de solo e nutrição de plantas. Empresas idôneas conseguem desempenhar papel fundamental na tomada de decisão para que as plantas atinjam elevados tetos produtivos. Uma das alternativas bastante praticadas é fazer a sobreposição de mapas de fertilidade com mapas de produtividade. De posse dessas informações, análises de solo são realizadas de maneira mais criteriosa nos locais onde os mapas apontam as maiores produtividades. Como exemplo, as análises contidas na ta-


Tabela 1. Caracterização de um solo com alta e baixa produtividade de soja no estado do Mato Grosso em 2013. pH

P

Solo A Solo B

CaCl2 5,8 4,9

29,7 46,0

CTC

V

Solo A Solo B

cmolc/dm³ 6,99 4,23

K mg/dm³ 75 49 M

S

Ca

10 6

cmolc/dm³ 3,9 0,9 1,5 0,3

Mg

25,6 11,6

325 135

B

Cu

Fe

Mn

Zn

0,6 0,3

mg/dm³ 37 41

34,7 12,9

2,9 0,8

% 71,4 41,6

0,0 4,9

0,22 0,16

M.O.

Argila g/kg

Fonte: Solar Agrotecnologia, Primavera do Leste – MT, 2013.

daninhas, veranicos, etc, vão produzir mais, aproveitando melhor o potencial genético. A tabela 2 (abaixo) apresenta o potencial produtivo de algumas culturas, na qual podemos perceber que temos muito trabalho pela frente. Outro aspecto importante pa­ ra melhor expressar o potencial genético das plantas é o ajuste da população de plantas conforme as condições edafoclimáticas. Atualmente, alguns equipamentos para semeadura de cereais são dotados de sistemas que regulam a distribuição de sementes de acordo com a fertilidade do solo. Em pontos de elevada fertilidade, adiciona-se mais plantas por metro quadrado e, em área de menor fertilidade, menos plantas. Tudo isso para auxiliar na expressão do potencial genético da planta.

bela 1 (acima), realizadas em uma unidade de produção agrícola no estado de Mato Grosso, apresentam a caracterização do solo A (alta produtividade de soja) e do solo B (baixa produtividade de soja) dentro de um mesmo talhão. O conhecimento dessas diferenças auxiliam na tomada de decisão do manejo a ser realizado para otimizar a produtividade em todo o talhão. 3 – Conheça o potencial genético da planta que deseja explorar. Não esqueça de que uma planta bem manejada, em termos fitossanitários, ou protegida por eventos transgênicos, pode demandar mais nutrientes para atingir elevadas produtividades. É fato que plantas que sofrem menor interferência de estresses como ataque de insetos-praga, doenças, plantas

Tabela 2. Potencial produtivo teórico, alcançado e médio para as culturas da soja e do milho no Brasil. Potencial teórico (kg/ha)

Potencial alcançado (kg/ha)

Média Brasil (kg/ha)

Soja

Cultura

15.000

10.440

3.056

Milho

31.000

26.940

5.111

Fonte: Cesb-Conab (2013).

Tabela 3. Acúmulo de nitrogênio, obtidos por dois híbridos de milho, em função dos estádios fenológicos da cultura, dias após a emergência – DAE. Estádio Fenológico DAE

Cultivares

Médias

Híbrido 1

Híbrido 2 Kg/ha de Nitrogênio

11

4 folhas expandidas

2,92

2,57

2,74

29

8 folhas expandidas

47,04

55,52

51,28 172,98

65

Início do pendoamento

153,95

192,00

102

Enchimento de grãos

271,98

291,55

281,77

138

Maturidade fisiológica

374,64

327,68

351,16

Fonte: Adaptado de Von Pinho et al. (2009).

4 – Conheça as exigências nutricionais da planta e, principalmente, a época em que o nutriente é mais demandado, a famosa “marcha de absorção”. Como exemplo, a tabela 2 apresenta o acúmulo de nitrogênio de dois híbridos de milho. Pode-se ver que o acúmulo de nitrogênio é pequeno nos estádios iniciais (2,74 kg/ha N aos 11 dias após a emergência) e um acúmulo crescente e linear até os estádios finais do desenvolvimento (351,15 kg/ha N ao 138 dias após a emergência). Diante desse fato, temos que adotar estratégias de manejo nutricional na cultura do milho que possibilitem o fornecimento de nitrogênio durante todo o ciclo da cultura. 5 – Escolha fontes que proporcionem a disponibilidade do nutriente de forma eficiente no momento em que a planta mais necessita. O uso de fertilizantes de elevada pureza, como os fertilizantes 100% quelatados, por exemplo, suprem a demanda nutricional das plantas e promovem respostas fisiológicas para elevadas produtividades, além de facilitar a vida do produtor no campo com produtos completos que tragam segurança nas aplicações. Outra tecnologia de fontes de nutrientes em ascensão no Brasil é de fertilizantes de liberação controlada, os quais consistem em fertilizantes que controlam o tempo de liberação dos nutrientes para o solo por meio de barreiras físicas. Esse processo permite a disponibilização dos nutrientes de maneira gradual e continua, coincidindo com a marcha de absorção de diferentes culturas, fazendo com que a planta não passe fome durante seu ciclo de vida. Nutrição equilibrada é sinônimo de elevada produtividade. * Fábio Scudeler é Gerente de Pesquisa da Produquímica

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Análise de mercado

Luz no fim do túnel? Depois de dois anos de preços altamente remuneradores no mercado mundial, estamos vivendo uma das piores fases da cafeicultura nacional.

P

or informações erradas, talvez lançadas por interesses econômicos, dando conta de falta de estoques e manutenção dos preços altos por um período mínimo de três anos, os produtores brasileiros, cada vez mais competentes, investiram pesado nos tratos culturais, fato que imediatamente proporcionou safras recordes por períodos consecutivos, diminuindo e quase eliminando a chamada bienalidade da cultura. De uma hora para outra, e surpreendendo até os chamados “experts de mercado”, nos vimos com sobras significativas na relação oferta/demanda e sérios e devastadores reflexos nas bolsas de

futuros mundo afora. Para complicar a situação, os produtores foram orientados a promover a retenção dos estoques, atraídos pelos juros baixos e possibilidade de recuperação dos preços, com bases ao redor de R$ 400,00/saca, praticamente obrigando os traders e torrefadores internacionais a buscar alternativa no “robusta”, devido aos custos mais baixos e maior disponibilidade. Os chamados blends foram ganhando percentuais cada vez mais de conilon, sem prejuízo de queda do consumo, uma vez que os consumidores passaram a aceitar cafés inferiores, desde que sem aumentos nos preços. Este quadro continuou fazendo estragos, na medi-

da em que nossos produtores insistiam na retenção, mesmo com quedas sistemáticas dos preços interno e externo, fato que provocou um aumento expressivo nos estoques de passagem, que se juntaram à entrada de uma safra recorde, ainda que com grande divergência nos números. Nas turbulências anteriores, que perduraram por quase 10 anos, os custos ficavam um pouco abaixo ou igual aos preços de mercado, penalizando os produtores mas mantendo-os na atividade. Na situação atual, nem os mais competentes conseguem obter resultados positivos, devido aos encargos sociais e custos elevados com as exigências

SOJA – As cotações subiram na primeira quinzena de novembro, atrelada à demanda internacional firme, especialmente pelo produto norte-americano. Na semana seguinte, o mercado ficou travado, praticamente, com poucos lotes disponíveis para negociação. No curto prazo, a tendência ainda é altista, em função da demanda interacional. A perspectiva de colheita recorde no Brasil e na Argentina vai pressionar os preços para baixo a partir de janeiro.

* Em 18/11, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 77,25 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – Os preços seguiram em queda em novembro com o andamento da colheita no Rio Grande do Sul e a expectativa de maior oferta do Mercosul. A indústria se retraiu, à espera de quadro mais favorável. Os moinhos apostavam no aumento tanto da oferta de trigo argentino a preço competitivo quanto brasileiro – afinal, os gaúchos teriam que vender parte da produção, pelo menos, para pagar dívidas de custeio. No curto prazo, a tendência é baixista.

* Em 18/11, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 795,48 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ARROZ –

Com boa liquidez no Rio Grande do Sul, as cotações subiram em novembro, voltando aos patamares do início de setembro, mas caíram em outras praças. Entre 19 e 26 de novembro, o Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespateve alta de 1,6%, fechando a R$ 34,73, acima, portanto, da média de outubro. Na parcial de novembro, o Indicador acumulava aumento de 3,5% até então. No curto prazo, a tendência é de ligeira alta.

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* Em 18/11, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 33,92 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado ambientais, diferentemente de outras origens produtoras. No entanto, como diz o dito popular: não existe mal ou bem que sempre dure. Mesmo com perspectivas extremamente negativas no curto prazo, a longo prazo enxergamos a esperada luz no fim do túnel. Curiosamente, será justamente a crise atual que deverá possibilitar a recuperação dos preços e a volta dos patamares altistas. Se nada for mudado, poucos produtores terão condições de sobrevivência nos preços atuais e alguns destes deverão produzir muito abaixo da capacidade de suas lavouras, fatos que certamente afetarão a produção brasileira e, consequentemente, promoverão o equilíbrio na relação oferta e procura. Infelizmente, o preço da “crise” é um tanto quanto exagerado e deverá trazer consequências irreparáveis. Com um pouco de boa vontade política, empenho dos representantes do setor produtivo, esta poderia ser amenizada e não provocaria tanta desgraça e deses-

café – Os preços do arábica subiram ligeiramente em novembro, na esteira do aumento das cotações da variedade no mercado internacional. Houve quem dissesse que, do jeito que estavam (no fundo do poço), não podiam cair mais. Segundo analistas, os valores pagos aos produtores ainda podem aumentar um pouco. Na média, porém, o excedente mundial deve continuar pressionando as cotações para baixo até a safra 2014/15.

* Em 18/11, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 245,96 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

pero no campo. Diferentemente de outros países, onde os produtores unidos fazem valer seus direitos de cidadãos, os governos não se envergonham de reter estoques, fornecer subsídios, até promoverem o equilíbrio nos preços e remuneração justa. Um grande exemplo vem dos EUA, onde tudo que se produz no país é negociado na bolsa, onde existe limites de alta e de baixa, fi-

cando livres da manipulação dos especuladores. Medidas de apoio podem ajudar, mas somente voltaremos a nos orgulhar de produto que já foi o esteio da industrialização do país através da lei natural, ou seja, do equilíbrio no consumo e produção mundial. Airton Neves de Deus Diretor/Presidente da Sancafé Ltda.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

ALGODÃO – Os preços se mantiveram es-

* Em 18/11, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 208,81 centavos de real por libra-peso.

táveis em novembro. Boa parte dos produtores preferiu se dedicar mais ao plantio de soja, na expectativa de valorização da pluma. Segundo o Imea, os estoques em Mato Grosso, principal região algodoeira, estão baixos, pressionando as cotações para cima. Os estoques mundiais, porém, estão altos e os EUA começam a colher sua safra. Considerando este quadro, a tendência é altista no curto prazo e baixista no médio.

* Em 18/11, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 25,75 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

milho – Os preços subiram em novembro, empurrados pelo expressivo volume exportado e pelas intervenções governamentais, que ajudaram a reduzir os estoques. A recente desvalorização do real ante o dólar, enfraquecendo as cotações nos portos, e a possibilidade de os EUA elevarem o excedente exportável, caso decidam destinar menos milho à produção de etanol, podem, porém, reverter o quadro, pressionando as cotações para baixo no curto e médio prazos. AÇÚCAR –

* Em 18/11, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 52,18 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

As cotações caíram na primeira quinzena de novembro. Depois voltaram ao patamar dos R$ 52,00, caindo em seguida, influenciadas pela demanda reduzida. Segundo pesquisadores do Cepea, parte da indústria dispunha de volume suficiente de açúcar já contratado para tocar a produção, mantendo-se, portanto, fora do mercado spot. No curto prazo, a tendência é de estabilidade nos preços, com pequenas variações para cima e para baixo.

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Novidades no campo Pimentas híbridas italianas

A Isla Sementes lançou três novos cultivares de pimenta: Capperino, Coccinella e Peppino, todas com tolerância ao vírus Papper mild motle (PMMoV). Desenvolvidas para cultivo em campo aberto ou em estufas, elas também têm em comum os nomes italianos, homenagem ao país de origem. A coloração vai do verde escuro ao vermelho brilhante. A Capperino é uma planta compacta, com frutos de parede grossa. A Coccinella, utilizada também para ornamentação, apresenta frutos redondos e uniformes. A Peppino possui frutos grandes e redondos, que podem chegar a cinco centímetros de diâmetro. A Isla comercializa as sementes em envelopes de 50, 100, 500 e mil unidades através de sua loja virtual (www.isla.com.br), pelo televendas 0800 709 5050, dos representantes, distribuidores, casas agropecuárias ou supermercados ou pelo televendas 0800 709 5050.

Fertilizantes minerais via solo

Fertilizante foliar reforçado

A Fertec lançou dois novos produtos: Nyon Solo Ca+S e Sponger TS. O primeiro é um fertilizante mineral para ser aplicado via solo, visando corrigir deficiências de cálcio e enxofre. Segundo a empresa, o Nyon Solo Ca + S contém nanopartículas em sua formulação, com 18% de cálcio e 15% de enxofre. O Sponger TS promove melhor enraizamento das culturas e melhor nodulação na soja. Conforme comunicado da Fertec, possui componentes que garantem alta eficiência de enraizamento e polímeros de retenção de água, aumentando a resistência ao stress hídrico nos estágios iniciais de desenvolvimento.

A Microquímica apresenta o BioMol, fertilizante foliar com alta concentração de molibdênio e ácido L-Glutâmico, este obtido através de fermentação biológica. Associados, os dois nutrientes aumentam a capacidade de assimilação de nitrogênio, favorecendo o desenvolvimento das plantas. Os ensaios de prélançamento, realizados sobre soja em Erechim (RS), comprovaram que doses mais elevadas de molibdênio, em conjunto com o Ácido L-Glutâmico presente na solução, proporcionam ganhos expressivos em produtividade, conforme Rodrigo Giordani, gerente regional da empresa. O Ácido L-Glutâmico é precursor de outros aminoácidos essenciais, que são produzidos por meio da transmissão, resultando em significativa economia de energia (ATP) para as plantas.

Aposta em máquinas compactas

Empresa de origem britânica, há 18 anos no Brasil, a JCB lançou duas novas máquinas no mercado nacional: a escavadeira 8055 RTS e a carregadeira SL 190, ambas com grande diversidade de aplicações. O tamanho reduzido lhes confere agilidade e facilidade de manobra em espaço pequeno. A 8055 pode ser usada com vários acessórios, como rompedor hidráulico, perfuratrizes e caçambas diversas. Suas características básicas são peso operacional de 5500 kg, braço de escavação de 1500 mm, caçamba de 24” (600 mm), motor de 46,4 HP, altura máxima de descarga de 3817 mm, circuito auxiliar padrão para martelo de simples ação e cabine fechada com ar-condicionado.

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Novidades no campo Feromônio para Helicoverpa armigera

Empresa sediada em Ijuí (RS), a Isca Tecnologias apresenta o ISCAlure Armigera, usado para atrair mariposas para armadilhas – no caso, armadilhas Delta Plásticas fabricadas pela empresa em plástico corrugado e refis de papel com cola entomológica. Segundo informativo da Isca Tecnologias, o ISCAAlure, sua formulação é específica para a praga-alvo – somente machos H. armigera são atraídos para a armadilha, facilitando a inspeção, a contagem de indivíduos e o monitoramento dos insetos. A empresa recomenda usar pelo menos uma armadilha a cada 10 hectares, instalada numa altura média de 1,5 metros do solo, ou 20 cm acima do cultivo – nunca abaixo da copa das plantas. O agricultor deve renovar o ISCAlure Armigera a cada 30 dias, trocando o evaporador vencido por um novo, e substituir os fundos colantes quando notar redução na adesividade da superfície colante.

Controle de dosagem de agroquímicos

O pesquisador Aldemir Chaim, da Embrapa Meio Ambiente, desenvolveu um programa de computador para ajudar os agricultores a controlar a quantidade de agroquímicos aplicados na lavoura. Trata-se do Sistema Gotas – versão 2.2, através do qual é possível marcar a área selecionada; salvar em formato compatível com planilha de cálculo; salvar as imagens analisadas, etc. O programa oferece vários parâmetros de deposição, permitindo ao agricultor decidir sobre a quantidade e locais de aplicação, melhor combinação de bicos de pulverização, consumo de calda e velocidade de aplicação. O Sistema Gotas pode ser acessado gratuitamente através do link repositorio. agrolivre.gov.br/projects/gotas. Um manual de utilização orienta o usuário sobre as especificações técnicas necessárias para o funcionamento do software.

Semirreboque e rodotrem graneleiro

Solução biológica para cana

A Rossetti Equipamentos Rodoviários apresentou duas novidades na Fenatram 2013, realizada na capital paulista; o semirreboque “Vanderleia” em versão graneleira, com capacidade de carga de 20 a 46m3, e um rodotrem, que pode levar até 74 t de peso bruto total (PBT). O semirreboque possui as mesmas características da Vanderleia convencional, porém foi fabricado com chapas mais finas (2mm), o que reduziu seu peso, proporcionando ganho de carga de uma tonelada comparativamente ao modelo carga geral. O rodotrem, fabricado em aço, com engate esférico e cambão rígido, será oferecido na versão de carga geral, com capacidade para carregar 20, 30 ou 35 m3, e na versão graneleira, com 30, 32 ou 35 m3.

Novidade da FMC, o Nemix C é um inoculante altamente concentrado, já disponível para venda em todo o país. O gerente da área de marketing voltada à cana-de-açúcar, Roberto Puzzo, afirma que o Nemix C protege as raízes e promove o desenvolvimento da plantas. “Os Bacillus Inteligentes criam uma barreira física e química na raiz, além de otimizarem a absorção de água e nutrientes. Uma proteção viva para a cana-de-açúcar, que complementa nosso portfólio e integra o manejo no canavial”, explica. Nemix é, originalmente, uma marca global da Chr. Hansen, empresa de biociências norte-americana, com a qual a FMC se associou para desenvolver e comercializar produtos fitossanitários biológicos.

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Biblioteca da terra A riqueza da Caatinga

Madeira legal

Organizado pelo professor José Alves de Siqueira Filho, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, o livro apresenta a biodiversidade do bioma Caatinga e ações desenvolvidas para a sua conservação. Para editá-lo, os pesquisadores realizaram 212 expedições de coleta ao longo de quatro anos, registrando 1.031 espécies de plantas. O trabalho teve a contribuição de 99 pesquisadores de diversas instituições do país, dos quais 17 da Univasf. Vencedor do Prêmio Jabuti em 2013 na categoria Ciências Naturais, custa R$ 150,00 e pode ser adquirido através do site www.crad.univasf.edu.br.

O estado de São Paulo consome 30% da madeira produzida no Brasil. Ou seja, dois milhões de metros cúbicos por ano, dos quais 35% tem origem duvidosa. Segundo os organizadores do 3º Seminário “Programa Madeira é Legal”, realizado no mês passado na capital paulista, este percentual já foi de 80%. Duas publicações foram lançadas na ocasião: “Catálogo de madeiras brasileiras para a construção civil” e “Comércio de Madeira – Caminhos para o uso responsável”, ambos disponíveis para download gratuito em www.goo.gl/9TRZ30. A primeira lista 20 espécies menos conhecidas, as quais, se utilizadas em construção civil, poderiam reduzir a demanda por madeiras tradicionais e, consequentemente, a exploração de novas áreas florestais. A segunda visa esclarecer o leitor sobre desafios e metas do setor. Os dirigentes da área reclamam, por exemplo, do excesso de burocracia na aprovação de projetos de manejo sustentável, falta de fiscalização e monitoramento e escassez de financiamento. Eles reivindicam estímulo tributário para comercialização de produtos para a construção, feitos com madeira legal e certificada.

Silvicultura esmiuçada

Obra dos pesquisadores José Luiz Pereira de Rezende e Antônio Donizette de Oliveira, o livro trata da matemática financeira, formulação, avaliação e localização de projetos florestais, análise de custo-benefício e outras questões de interesse do setor. Atualmente em sua terceira edição, revista e ampliada, também apresenta diversos exemplos de produção comercial de madeira. Destinada a agricultores, pesquisadores e profissionais de ciência florestal e áreas afins, a publicação custa R$ 79,00. Os interessados podem adquiri-la junto à Editora UFV através do fone (31)3899-3551, do e-mail ou do site www.editoraufv.com.br.

Adequação ambiental

Resultado de parceria entre a Embrapa e o ISA – Instituto Socioambiental, o livro explica como planejar a propriedade, adequando-a ambientalmente. O primeiro capítulo aborda a legislação em vigor. Os seguintes, técnicas de restauração de APPs – Áreas de Preservação Permanente e de RL – Reserva legal (RL), conservação do solo e dos recursos hídricos. Na sequência, a publicação traz um passo a passo para a adoção de modelos de produção sustentáveis, um dos quais sobre iLPF – integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Organizada pelos pesquisadores Natália Guerin e Ingo Iserhagen, está disponível, gratuitamente, para download em www.socioambiental.org/ sites/blog.socioambiental.org/files/publicacoes/livro-baixa_0.pdf

Guia contra pragas

A Embrapa Agrobiologia lançou um guia para reconhecimento de inimigos naturais de pragas agrícolas, com fotos, informações, descrição de hábitos e características físicas das espécies mais comuns, tais como tamanho, formato e coloração. A pesquisadora Alessandra de Carvalho Silva, que o editou, partiu do pressuposto de que nem todos os agricultores interessados em controle biológico sabem quem são e como agem os insetos “benéficos”, aqueles que ajudam no combate às pragas. O guia não será vendido. Os interessados podem baixá-lo, sem custos, no site da Embrapa Agrobiologia (www. cnpab.embrapa.br) ou na Infoteca da Embrapa (www.infoteca.cnptia.embrapa.br)

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Negócios Um guia de anúncios para facilitar as compras e aprimorar a produtividade da fazenda.

ANUNCIE Ligue 11 3879-7099. Descontos especiais para programações.

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Calendário de eventos

22/1/2014 Showtec/18ª Feira de Tecnologias Agropecuárias De 22 a 24 Maracaju (MS) Fone: (67) 3454-2631 Site: www. portalshowtec.com.br

DEZEMBRO

4

1ª Conferência Brasil Bélgica de Tecnologias Inovadoras Aplicadas ao Controle de Pragas – De 4 a 6 – Embrapa Clima Temperado (Rodovia BR 392, Km 78) Pelotas (RS) – E-mail: conferencia. brasil.belgica@gmail.com

4

Simb/Simpósio Internacional de Microbiologia e Biotecnologia – De 4 a 7 – Espaço

Cultural Fernando Sabino – Viçosa (MG) – E-mail: simb@ufv.br

5

Encontro Nacional da Cadeia Produtiva da Noz Macadâmia

Dia 5 – Faculdades Integradas de Bauru Bauru (SP) – Fone: (14) 3203-3257

9

3º Simpósio de Produção Florestal: Heveicultura em Minas Gerais – De 9 a 10 – Anfiteatro de Agricultura da Universidade Federal de Lavras – Lavras (MG) – Fone: (35) 91051234 – E-mail: nes.ufla@yahoo.com.br

9

22ªJornada de Atualização em Agricultura de Precisão – De

9 a 13 – Campus da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3417-6604 E-mail: cdt@fealq.org.br

10

Fórum AgriTendências 2014 – Dia 10 – Estanplaza Berrini

São Paulo (SP) – Fone: (11) 3798-6904 Site: agritendencias.com.br E-mail: forum@agritendencias.com.br

JANEIRO

15

Dia de campo C. Vale – De 15 a 17 – Campo

Experimental da C. Vale - Palotina (PR) – Fone: (44) 3649-8181 Site: www.cvale.com.br

29

16º Itaipu Rural Show

De 29/1 a 2/2 Centro de Treinamento e Difusão de Tecnologias da Cooper Itaipu (BR 282, Km 580) Pinhalzinho (SC) Fone: (49) 3366-6500 Site: www.cooperitaipu.com.br

FEVEREIRO

3

Show Rural Coopavel

De 3 a 7 – BR 272, Km 577 – Cascavel (PR) – Fone: (45) 3225-6885 Site: www.showrural.com.br E-mail: webmaster@showrural.com.br

Maior evento agropecuário de Mato Grosso do Sul – e um dos mais importantes do país –, o Showtec é um polo difusor de informações agronômicas, conhecimento científico e novas tecnologias desenvolvidas pela Fundação MS, responsável por sua organização, e outras instituições de pesquisa. Mais de 130 empresas dos ramos de sementes, agroquímicos, bionergia, pecuária, máquinas e implementos agrícolas participarão do evento. Na programação específica para os agricultores, destaque para os giros tecnológicos, palestras técnicas demonstrativas a cargo dos pesquisadores da Fundação MS

11

37º Congresso Paulista de Fitopatologia – De 11

a 13 - Auditório “Paulo Rodolfo Leopoldo”, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp – Botucatu (SP) – Fone: (14) 3882-6300

19

Show Agrícola – De 19 a

22 – Rodovia SC 71, Km 13 (Trevo) – Palma Sola (SC) – Fone: (49) 3652-0152 – Site: www. showagricola.com.br – E-mail: contato@showagricola.com.br

20

24ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz – De

20 a 22 – Mostardas (RS) – E-mail: abertura@colheitadoaroz.com.br

20

Festa Nacional da Uva – De 20 a 9/3 – Parque

de Eventos – Caxias do Sul (RS) – Fone: (54) 3207-1166 – Site: www. festanacionaldauva.com.br

25

19º Dia de Campo Copercampos – De 25 a

28 – Campo Demonstrativo (Rodovia BR 282, Km 338) – Campos Novos (SC) – Fone: (49) 3541-6000 – Site: www.copercampos.com.br – E-mail: copercampos@copercampos.com.br.

dez/2013-jan/2014 – Agro DBO | 65


Legislação

Termo de conduta ambiental O CAR – Cadastro Ambiental Rural veio para ficar na vida rural. Entendê-lo e saber o que fazer é vital para estar na lei. Fábio Lamonica Pereira *

A

s polêmicas envolvendo o novo Código Florestal estão apenas começando. Ainda está em trâmite pelo Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade que questiona a validade de diversos dispositivos do vigente Código Florestal e que, se acolhida, resultará em transtornos inimagináveis. Paralelo a isso, os produtores aguardam o lançamento oficial do Cadastro Ambiental Rural – CAR (www.car.gov.br) em que serão concentradas todas as informações ambientais das áreas rurais de todo o território nacional. Criou-se, de imediato, o impasse relativo à obrigatoriedade de averbação da Reserva Legal – RL

te e o Instituto Ambiental dispondo sobre a suspensão de averbação da área de RL junto ao CRI até que seja implantado o CAR. A localização da área de RL deverá ser aprovada pelo órgão Estadual, levando-se em consideração diversos critérios de impacto ambiental previstos pelo próprio Código. De toda forma, há casos em que o Ministério Público tem proposto a proprietários rurais a assinatura de um instrumento conhecido como TAC, Termo de Ajustamento de Conduta. Trata-se de um acordo em que o órgão legitimado em lei (O Ministério Público, a União, os Estados etc.) oferece a oportunidade de a outra parte (o proprietário rural) adequar-se ao que determina

“O Código é claro ao dispor que o registro da RL no CAR desobriga inscrição no CRI”

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

junto ao Cartório de Registro de Imóveis – CRI até que seja implantado o CAR, o que gerou a proposta de Ações Civis Públicas com este e outros objetivos. A despeito da polêmica, a redação do novo Código é clara ao dispor que o registro da RL no CAR desobriga a inscrição no CRI e, enquanto não instituído o referido cadastro, o responsável “poderá”, se desejar, promover a inscrição na matrícula do imóvel, gratuitamente. A despeito de entendimento diverso de alguns estados, como o do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o do Paraná definiu a questão da averbação por meio da edição de uma Resolução conjunta entre a Secretaria de Estado do Meio Ambien-

66 | Agro DBO – dez/2013-jan/2014

a legislação específica (o atual Código Florestal), de maneira que haja prevenção ou correção de determinado dano. Tal instrumento é interessante em determinados casos, na medida em que dispensa a propositura de uma medida judicial (conhecida como Ação Civil Pública) pelo referido órgão com a finalidade justamente de obrigar o produtor a cumprir com o que determina lei, o que evitaria desgastes e custos desnecessários. Ocorre que em determinados casos, integrantes de tais órgãos incluem em referidos TAC obrigações relativas ao Código Florestal revogado, o que gera ônus ilegal ao proprietário.

Tais instrumentos (classificados como títulos executivos extrajudiciais) são recheados de obrigações a serem cumpridas pelos proprietários sob pena de pagamento de multas elevadas. Em caso de descumprimento, o órgão pode exigir judicialmente que o proprietário seja condenado ao pagamento de determinada quantia e/ou seja obrigado a fazer/ deixar de fazer determinada coisa. Um ponto polêmico, e que já foi objeto de inclusão em determinados TAC, diz respeito à classificação de áreas úmidas como Área de Preservação Permanente, sendo que o atual Código não tratou especificamente da questão, restando aos órgãos municipais e estaduais a respectiva, e ainda pendente, regulamentação. Além disso, há propostas que proíbem o cômputo de Áreas de Preservação Permanente no cálculo da necessária área de Reserva Legal, o que o Código, ao contrário, permite claramente, desde que respeitados alguns critérios. Em certos casos o TAC pode (e deve) ser declarado nulo por decisão judicial como, por exemplo, quando o proprietário se obriga por questões claramente ilegais ou quando o TAC for firmado por uma Associação (que pode propor uma Ação Civil Pública) sem que haja a intervenção do Ministério Público. Logo, nesse momento de transição e regulamentação do atual Código Florestal não é recomendada (mas há exceções) a assinatura precipitada de um TAC, especialmente se houver a disposição de obrigações consideradas ilegais, o que levará a futuros e grandes problemas e não a soluções.



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