Revista Agro DBO - Ed 52 - Fevereiro / 2014

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Sumário

28 Especial

A saga do paranaense Rodolfo Schlatter, responsável por uma revolução no sudeste do Pará, a mais nova fronteira agrícola do Brasil.

36 Extensão rural

Ameaçada por pendências tributárias, a Emater gaúcha expõe algumas das mazelas que sufocam a assistência técnica no país.

40 Tecnologia

Doutor em Agronomia pela Esalq, Solismar Venzke Filho discorre sobre as transformações no Fósforo sob o impacto da vida microbiana no solo.

44 Meio ambiente 20

Doutor em Ecologia, Evasristo Eduardo de Miranda clama pela união de camponeses e citadinos na luta contra a bioadversidade.

Entrevista Matéria 48 O ministro Pepe Vagas, do MDA, admite que a reforma agrária não é de capa mais o “bicho-papão” que assombrou o meio rural no século passado. Começou a colheita de soja em Mato Grosso, com a Helicoverpa armigera sob controle. Então, para surpresa geral, os produtores se depararam com altas concentrações de falsasmedideiras, praga que só atacava no final do ciclo.

Artigos 10 – Rogério Arioli defende a utilizaçãode milho na produção de etanol 26 – Daniel Glat avalia os resultados até agora e perspectivas do agronegócio 52 – Ronaldo Cabrera propõe soluções para melhorar a fertilidade do solo 54 – Décio Gazzoni analisa a crise no setor sucroenergético brasileiro 56 – Amilcar Centeno mostra os caminhos da agricultura de precisão 66 – Fábio Lamonica explica direitos e deveres quanto ao pagamento do ITR

Seções Do leitor.............................................................. 6

Análise de mercado......................................58

Ponto de Vista.................................................10

Novidades no campo...................................60

Notícias da terra.............................................12

Biblioteca da terra..........................................63

Opinião..............................................................54

Calendário de eventos.................................64 fevereiro 2014 – Agro DBO | 5


Do Leitor

ALAGOAS A revista Agro DBO está sempre inovando nas informações para os produtores do agronegócio. Gostaria de aproveitar suas páginas nesse momento, visto que muitas autoridades políticas também são produtores e, com certeza, leem sobre o sofrimento do setor sucroalcooleiro do nosso Brasil, para fazer um alerta: poucas usinas vão sobreviver, especialmente no Nordeste. A situação é tal que, se o governo não buscar junto aos industriais uma solução o mais rápido possível, mesmo com subsídios, ainda não vai ser possível sair da crise que se agrava a cada dia. Márcio Aprígio Satuba MARANHÃO A revista Agro DBO é um veículo importante para a divulgação e aperfeiçoamento do conhecimento agrícola no nosso país. Leonardo Magno Leite Brandão São Luis MATO GROSSO Parabéns pela excelente matéria da edição nº 50 da revista Agro DBO, “Plantio direto em xeque”. O sistema de plantio direto foi e continua sendo revolucionário na agricultura brasileira e, para que possa produzir de forma sustentável, é preciso manter a técnica de forma adequada. Conheci uma propriedade no município de Seringueiras (RO), dedicada principalmente à pecuária, em que o produtor utiliza o Sistema Santa Fé, desenvolvido pela Embrapa, e fiquei impressionado com o volume e a qualidade do capim destinado

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ao gado após a colheita do milho, ainda que as condições climáticas na região norte do Brasil sejam diferentes das outras regiões do país (visitei a propriedade em julho do ano passado). O sistema adotado permite, além de fornecer ótima alimentação ao gado, uma excelente proteção contra os agentes erosivos e a manutenção de alto teor de palhada no solo, visto que o produtor ainda cultiva soja e arroz em parte da área. Para os produtores que não se dedicam à pecuária, pude constatar em uma propriedade localizada em Campos de Júlio (MT) a qualidade da palhada de braquiária, em comparação à palhada de milheto. A braquiária é capaz de produzir muita palhada e demora a se decompor no solo, ao contrário do milheto, que se decompõe com mais facilidade. Em relação ao Programa ABC, a taxa de juros é de 5% a.a. e não 5,5% a.a., como foi mencionado na reportagem. Para beneficiários do Pronamp, a taxa é de 4,5% a.a., e ainda pode ser financiado até 100% do valor do projeto. A linha de crédito permite financiar vários investimentos destinados ao plantio direto, recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária ou integração lavoura-pecuária-floresta, além de outras modalidades do programa. Leandro Valente Andrade Sapezal MINAS GERAIS Muita informação sobre o que é essencial para nós, produtores rurais. Júlio de Paiva Teixeira Araxá PARANÁ Uma coisa até hoje não entendi: por que o governo, que se beneficia do superávit do agronegócio para compensar os déficits de outros setores, até por uma questão pragmática (já que não é programática), não sai em nossa defesa? Muito pelo contrário, se preocupa em nos criar mais e mais dificuldades, que bem conhecemos.Tudo muito estranho neste país de contradições. Ruy Pigatto. Curitiba Sou professor da Unopar – Universidade Norte do Paraná, do curso de Logística, e gostaria de parabenizar a revista Agro DBO, pela reportagem “A ‘nova’ porta de saída”. Temos diversos gargalos de logística, porém estão sendo realizadas ações públicas em

parceria com grupos privados visando acompanhar o crescimento do agronegócio. Todavia, a produtividade no campo cresce em velocidade superior a dos investimentos realizados até agora. Acredito que precisamos buscar em grupos de pesquisa e de planejamento ações que contribuam para gerar informações e investimentos capazes de suprir às necessidades de produção e exportação do agronegócio nacional. Estamos próximos da marca de 200 milhões de toneladas de grãos na safra 2013/2014. Precisaremos de rodovias, ferrovias, hidrovias e boas condições de infraestrutura para escoar a maior quantidade possível de produtos agrícolas, cumprir os contratos firmados, diminuir o “custo Brasil” e melhorar a imagem do País. Temos que aumentar muito nossa capacidade de resposta às demandas internas e externas em logística para garantir a liderança do Brasil como produtor mundial de alimentos. Erich dos Reis Duarte Bandeirantes. NR: A reportagem citada pelo professor Erich Duarte, publicada na edição de dezembro/2013-janeiro/2014, trata da logística de escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste pela BR-163 e por hidrovias rumo aos terminais de exportação do Norte do Brasil. Ótima. A Agro DBO é a melhor revista do ramo agrícola do país. Leandro Gervásio Mori. Ubiratã RIO GRANDE DO NORTE Uma grande ferramenta (a revista Agro DBO) de consulta e atualização para o trabalho agrícola. Iedefrankly Oliveira de Azevedo Florânia RIO GRANDE DO SUL Achei (a revista) de grande valia para minha atividade e gostaria de receber mensalmente esta fonte de informações. Flávio Germano Copatti Sananduva Acho-a uma excelente revista, pois nos mantém informados e também apresenta novidades na área agrícola. Vanessa de Camargo Vargas Cruz Alta


Sou gerente regional da empresa Microquímica Indústrias Químicas Ltda. Acho interessantes as reportagens que a revista apresenta. Rodrigo Ferrari Giordani Erechim SÃO PAULO “Quem será contra o Brasil?... enquanto Deus for a favor Dele?”. Em agosto de 2008, na Universidade de Qiqihar, na Mongólia, os professsores Liu Lyanii, Liu Shuhua e Wang Wei ofereceram um jantar aos convidados para a palestra que apresentei sobre a tecnologia do broto/batata-semente (artigos revista Agro DBO (40):56 e DBO Agrotecnologia (15):20). Entre os convidados, havia um professor canadense da região de Vancouver, o qual chegou a mim, cumprimentou-me e declarou-se duplamente admirado. Primeiro, por eu ter apresentado uma tecnologia aparentemente simples e prática, mas de grande impacto para a produção mundial de batata-semente livre de vírus. Segundo, por esta mesma tecnologia “estar sendo desenvolvida e disseminada por cientistas de um país de onde não é de se esperar esse tipo de atuação....”. Minha resposta foi a seguinte: “Há países cuja área agrícola têm a benevolência (subsídios) pesada do governo em todos os segmentos (pesquisa, ensino, assistência, produção e comercialização). Sou de um país onde as dificuldades em educação, ciência e tecnologia, não apenas na agricultura, mas em todas os setores, são tão grandes e de custos tão mais elevados que a alternativa para o sucesso é orar, levantar cedo e trabalhar, utilizando um recurso que os brasileiros dispõem em abundância: a criatividade!”. Benevolência (palavra que vem de “benção”) é concedida de forma “pesada” não pelo governo, mas pelo “Pai do Céu!”. Imagine se os produtores rurais brasileiros recebessem do governo os subsídios que os Estados Unidos concedem anualmente a seus agricultores (em torno de 450 bilhões de dólares). Se “umbigo” fosse sinônimo de “bolso”, a resposta à pergunta inicial seria: “Só governantes que olham para o próprio umbigo”. José Alberto Caram de Souza-Dias Campinas NR: Engenheiro agrônomo, PhD e pesquisador do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, o leitor alude ao artigo intitulado “Quem é contra

o Brasil?”, escrito por nosso colaborador Daniel Glat, publicado na edição de novembro (nº 50), no qual o autor lamenta o posicionamento recorrente de ONGs e ambientalistas que, por desconhecimento de causa ou má-fé, criticam injustamente o agronegócio. A pergunta complementar (“Enquanto Deus for a favor Dele?”) traz a palavra “Dele” grafada com “D” maiúsculo, referência respeitosa ao Brasil, país que, na opinião do leitor, ainda merece a benevolência (bênção) do “Pai do Céu”, apesar dos pesares - e das ONGs, ambientalistas e setores do governo reportados por Glat. Quanto às revistas Agro DBO e DBO Agrotecnologia (antecessora de Agro DBO), citadas como fontes de informação sobre broto/ batata-semente, Souza-Dias remete, respectivamente, ao artigo “A lei áurea da batata”, escrito pelo presidente da ABBA – Associação Brasileira da Batata, Marcelo Balerini, publicado na página 56 da edição nº 40, de dezembro/ janeiro de 2012, e a um artigo de sua própria lavra, denominado “Virose da batata”, publicado em agosto de 2008. O artigo “Plantio direto em questão” (AgroDBO dez/jan, pág.8) está certo de que o sistema deixa a desejar. Só que ainda não se inventou nada melhor. O ponto crítico, a meu ver, ainda é “pouca palha”, a não ser em três casos de práticas atuais de larga escala: pós milho safrinha, pós recuperação de pasto de inverno e pós cultura com essa finalidade, como aveia preta ou braquiárias. A lembrar que a palha não deve ser excessiva por dificultar a semeadura mecanizada. Já tive oportunidade de verificar os efeitos de tromba d´água quando a precipitação é superior à infiltração, com escorrimento da água excedente. Nos dois casos, o escorrimento foi de pouca velocidade pelo impedimento da palha, chegando a água limpa no final do declive, ainda que carregando algum resíduo. Não houve erosão. A rotação de cultura, dentre elas a pastagem de verão, ainda que desejável, não é indispensável, a exemplo dos milhões de ha que não a adotam e apresentam bons resultados com continuidade. A agricultura enfrenta uma folha de pagamento ao fim de cada mês, não podendo se basear em pensamentos desiderativos ou em recomendações mal definidas de economicidade discutível. Nós, agrônomos, temos que estar sempre próximos dos produtores, senão

corremos o risco de fazer críticas infundadas ou recomendações impraticáveis. Fernando Penteado Cardoso São Paulo Uso a técnica do manejo da braquiária há 6 anos no sítio Santa Izabel, em Franca (SP). Foram anos de trabalho e observação da cultura do café, sempre na expectativa de encontrar um meio de atender às necessidades da planta, aumentar a produção e a produtividade. Como não tenho irrigação, a técnica do manejo da braqui[aria é a melhor opção para mim. Com ela, eliminei a aplicação de herbicidas e reduzi a adubação. Meu cafezal está produzindo 55 sacas/ha na média de 6 anos, além de economizar 40% do custo final. O Engº Agrônomo Hélio Casale, que vem acompanhando os trabalhos, sugeriu que eu fizesse análise foliar da braquiária para comprovar a reciclagem de nutrientes. Considerando quatro cortes no período chuvoso, sempre no ponto ideal de corte (embuchamento), obtive 31,9 toneladas/ha de massa verde de gramínea. A análise comprovou que o manejo da braquiária devolveu ao solo 148 kg/ha de nitrogênio, 205 de fósforo, 20 de potássio, 50 de calcio e 29,7 de magnésio. Isto custa muito dinheiro e eu estou economizando. O consórcio com braquiária é importante, sim, para o cafeicultor. Além da questão nutricional, a técnica traz como benefício a cobertura do solo - se der veranico de até 60 dias, estarei sossegado. Com solo preservado, as raízes se desenvolvem melhor. A braquiária recicla os nutrientes e produz matéria orgânica que, ao se decompor, estimula o desenvolvimento de microorganismos benéficos. O solo dos talhões de café com braquiária é ”vivo”. Várias espécies de insetos, fungos e bactérias sobrevivem aqui, sem causar qualquer problema à cultura. Pelo visto, só beneficio. Quero dizer, com tudo isto, que o cafeicultor – o produtor rural – tem que ser mais observador. Deve analisar a sua propriedade como um todo, procurar conhecer a fundo a cultura explorada e adotar técnicas que deem retorno financeiro, sem prejuízo ao solo e ao meio ambiente. Antônio Carlos David Franca AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Carta ao leitor

A

gro DBO prossegue com sua missão de bem informar os agricultores brasileiros, abordando temas de absoluta relevância e pertinência, além de atualíssimos, conforme determina o bom jornalismo. O conteúdo que apresentamos em todas as edições da Agro DBO é resultado do trabalho de uma equipe de jornalistas especialistas em agricultura, com apoio de articulistas de notável expertise, todos eles engenheiros agrônomos, alguns deles também produtores rurais, ou que são pesquisadores de renomados órgãos de pesquisa nacionais. Exemplo desse enfoque especializado é a matéria de capa, “Troca de lagartas”, da jornalista Marianna Peres, que registra a perda de importância da estrelíssima Helicoverpa para a lagarta falsa medideira nas lavouras de soja e milho. Ou no Especial que iniciamos nesta edição, sobre a série nova fronteira agrícola brasileira que surge em Santana do Araguaia, no sudeste do Pará, onde o repórter Ariosto Mesquita esteve garimpando informações e notícias, de uma epopeia de pioneiros que dividimos em bonitas histórias capituladas, duas delas a serem publicadas nas edições de março e abril. A partir desta edição passa a integrar o quadro de colunistas fixos da Agro DBO o engenheiro agrônomo Amílcar Centeno, um especialista em máquinas agrícolas, que trabalhou por longos anos na John Deere. Nesta edição o leitor encontrará matéria analítica de Amílcar sobre como e quando adotar a tecnologia da Agricultura de Precisão. Interessante, ainda, a entrevista exclusiva realizada com o ministro Pepe Vargas, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que reconhece a importância do agronegócio brasileiro, sua evolução e maturidade tecnológica, sejam os chamados produtores de médio e grande porte, sejam os da agricultura familiar, mas ambos profissionalizados. E evolução do agro permite-nos esquecer que, nos anos 1960 e 1970, e até mesmo nos anos 1980, eram comuns manchetes nos grandes jornais urbanos informando que “Vai faltar feijão”, ou “Racionamento de pão”, porque faltou trigo. O ministro não disse isso, mas assentiu nas entrelinhas do não-verbal, que a reforma agrária por causa disto, não é mais o “bicho-papão” de outros tempos. Entre irônico e crítico, Evaristo de Miranda nos mostra que a bioadversidade chegou para todos, nas cidades e nos campos, e que precisamos de bom-senso para conquistar a tal sustentabilidade. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amilcar Centeno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Élcio A. Bento, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, Marianna Peres, Rogério Arioli Silva, Ronaldo Cabrera e Solismar Venzke Filho.

Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto José Medeiros DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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21ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação


Ponto de vista

Etanol de milho é a solução O milho do Centro-Oeste precisa encontrar aplicações urgentes, como a produção de etanol, sob risco de prejuízos enormes. Rogério Arioli Silva *

T

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no MT

rata-se de um grande equívoco histórico considerar a agricultura brasileira como sendo uma só, esquecendo as peculiaridades regionais de um país com dimensões continentais. Produzir uma mesma cultura apenas, em diferentes climas, topografias, solos e condições de infraestrutura já demandaria tratamentos diferenciados. O que não dizer então sobre culturas diversas, praticadas em módulos e maneiras diferentes, sobretudo do ponto de vista do grau de tecnologia aplicado. No momento em que o atual governo se recusa em aprofundar uma análise sobre a criação de um programa nacional de incentivo

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ao etanol de milho, é bem possível que uma grande oportunidade esteja sendo perdida. Não há dúvida de que o programa de produção de álcool é um dos grandes (e poucos) sucessos brasileiros. Embora negligenciado nos últimos anos graças ao ufanismo da descoberta do petróleo no pré-sal, logo o país voltará à realidade, reconhecendo a eficiência e, principalmente, a sustentabilidade de produzir energia a partir de fontes renováveis. Existem defensores do uso da cana-de-açúcar ao invés do milho, e vice-versa, na produção de etanol, cada qual destacando as vantagens comparativas dessas importantes culturas, adaptáveis a quase todo o

território nacional. Não é preciso que uma inviabilize a outra, mas que ambas sejam incentivadas graças às possibilidades que o clima tropical oferece de produzi-las com altas produtividades. Segundo a Unica - União da Indústria de Cana-de-Açúcar, o Brasil precisará de mais 50 bilhões de litros de álcool nos próximos anos, graças ao enorme sucesso dos carros flex, que entraram no mercado no ano de 2003 e, a partir de julho passado, superaram os vinte milhões de unidades vendidas. Em algumas regiões do Centro-Oeste brasileiro existem limitações para a produção de cana, porém sobram condições para ampliar a produção de milho. Este, em decorrência da falta de modais de transporte competitivos a longas distâncias nem sempre se viabiliza, sendo diretamente afetado pelo alto custo do frete rodoviário. Quando não acontece nenhuma quebra na safra de milho tanto interna como externamente, é necessário que o governo intervenha, utilizando a PGPM (Política de Garantia de Preços Mínimos) e garantindo, através dos leilões de prêmio de escoamento de produto, que o preço do cereal atinja o mínimo definido por lei. Acontece que o mercado dos compradores deste cereal se encontra extremamente concentrado na mão de grandes tradings e, imediatamente após o anúncio dos leilões, os preços depreciam-se ainda mais. Deste modo, indiretamente, parte do prêmio que iria para o produtor rural acaba ficando na mão de intermediários, graças à agilidade que possuem em aumentar suas margens.


No momento em que o etanol for produzido através do milho, haverá uma ampliação do mercado de consumo do cereal, principalmente nas fronteiras agrícolas. Do ponto de vista técnico, a produção de milho na segunda safra do Centro Oeste é altamente positiva, pois fornece palhada para os solos, melhorando-os química e fisicamente. Além disso, através da manutenção e ampliação do plantio desta cultura, mais empregos são gerados, além de uma diminuição dos custos fixos das propriedades que, anteriormente, só cultivavam uma safra no ano. Também é importante salientar que o argumento, sempre lembrado pelos ambientalistas, de que a produção de alimentos não pode ceder espaço para a produção de energia não se aplica

à produção do etanol de milho. A cada 1000 kg de milho utilizados no processo de produção resultam 375 litros de etanol, 240 kg de DDG (grãos secos por destilação, na sigla em inglês) e 18 litros de óleo. O DDG é um produto nobre (possui em torno de 30% de proteínas) e pode ser usado no

Nestas, é injustificável que não se amplie o plantio de uma segunda safra apenas pela baixa rentabilidade resultante da falta de logística. Além de tudo, é função primeira do governo gerar políticas públicas que incentivem a transformação das matérias-primas nos locais de origem, agregando valor

Parte do lucro que iria para o produtor rural acaba ficando na mão de intermediários arraçoamento de animais, produzindo, desta forma, proteína animal para alimentação humana. É bom lembrar que não são todas as áreas que se prestam para a realização de dois cultivos/ano na região central do país, apenas aquelas onde a precipitação pluviométrica supera os 1.700 mm/ano.

e diversificando renda, sobretudo nas regiões mais distantes dos centros de consumo. Nessa linha de pensamento parece atitude muito sensata e coerente desenvolver o mercado do etanol de milho, em vez de continuar gastando recursos na manutenção de preços de maneira artificial.

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Notícias da Terra Safra I

Colheita recorde em 2014

D

e acordo com o quarto levantamento da Conab, divulgado em 9/1/14, o Brasil deve colher 196,7 milhões de toneladas de grãos na safra em curso, 5,2% acima do obtido no ciclo anterior (186,9 milhões/t). A produção de soja crescerá 10,8%, alcançando 90,3 milhões/t, novo recorde nacional. As projeções da Conab indicam também bons resultados no arroz (perspectiva de safra 5,1% maior, chegando a 12,4 milhões/t) e no feijão primeira safra (35,6% de aumento, passando de 964,6 mil

para 1,3 milhão/t). No caso do milho primeira safra, a produção deverá cair 5,9% em relação à temporada 2012/13. A área total destinada ao plantio da safra 2013/14 de grãos foi calculada em 55,4 milhões de hectares, 4% maior do que a anterior. A lavoura de soja cresceu 6,6%, passando de 27,7 para 29,6 milhões/ha. A de milho primeira safra caiu 4,7% - 6,8 para 6,5 milhões/ha. O levantamento foi feito entre 15 a 18 de dezembro do ano passado.

Safra II

A soja deslancha

A

produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2014 será de 189,6 milhões de toneladas, 0,7% superior à de 2013, conforme o 3º prognóstico do IBGE, divulgado no mês passado Porém, no que diz respeito à soja, a projeção da instituição empata com a da Conab: 90,3 milhões de toneladas. O IBGE prevê safra de 90.261.260 toneladas, 10,5% acima do colhido em 2013. A área ocupada pela cultura deve alcançar 29,4 milhões de hectares, aumento de 5,2%. De acordo com os prognósticos, os principais estados produtores vão produzir mais soja este ano, com destaque para o Piauí e a Bahia, que aguardam crescimento de 109% e 29,8% nas respectivas safras.

Safra IV

Produção recorde

A

Safra III

Queda anunciada

A

ssim como o fez a Conab, o IBGE confirmou redução na produção brasileira de milho 1ª safra, que deve permanecer em 32,8 milhões de toneladas. De maneira geral, a queda do preço do cereal no segundo semestre do ano passado (influenciada pela grande produção do milho 2ª safra) e os preços mais atrativos da soja ao longo do ano desestimularam os produ12 | Agro DBO – fevereiro 2014

tores a plantar milho neste verão. A perspectiva para 2014 é de que haja um aumento na área plantada de soja de 5,2%, em detrimento da área plantada de milho 1ª safra (-6,3%). A produção do cereal deve diminuir 4,2% em 2014, em parte pela redução de área, em parte pela diminuição (-3,1%) no rendimento médio – ao optar pela soja (muitos agricultores vão plantar soja sobre soja), os produtores economizaram nos insumos, derrubando a produtividade.

Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais espera safra de 87,6 milhões de toneladas de soja, acima de sua estimativa anterior (86,6 milhões/t) mas abaixo, dos números da Conab e do IBGE. “Aumentamos em um milhão de toneladas em função das informações favoráveis de campo em qua se todas as regiões”, disse Fábio Trigueirinho, secretário da Abiove. A Agroconsult elevou suas estimativas para 91,6 milhões de toneladas (antes, previra 90,7), assim com o fez a Céleres: 89,8 milhões, contra 87,2 em dezembro. A AgRural, no entanto, derrubou as suas (88,8 milhões, ante 89,4 em dezembro), alegando queda de produtividade em algumas regiões por causa da estiagem. As Safras & Mercado aumentou sua previsão, passando de 90,94 para 91,8 milhões de toneladas. A colheita começou em dezembro em Mato Grosso, principal produtor do país (leia reportagem na página 20).


Notícias da Terra Safra V

Números confirmados

C

oncomitantemente ao seu terceiro prognóstico sobre a safra atual, o IBGE divulgou em janeiro os números finais relativos à temporada 2012/13 de cereais, leguminosas e oleaginosas, confirmando safra recorde de 188,2 milhões de toneladas em 2013, volume 16,2% maior que o de 2012 (161,9 milhões de toneladas). A área colhida no ano passado

foi de 52,8 milhões de hectares, 8,1% maior que a de 2012. A soja, o milho e o arroz responderam por 92,4% da produção nacional e 86,1% da área plantada no país. A produção de soja cresceu 24,3%; a de milho, 13%; e a de arroz, 3.2%. Em relação ao tamanho das lavouras, a de soja aumentou 11,7% e a de milho, 7,4%. A área ocupada com arroz diminuiu 0,9%.

Safra VI

Variação de produção

D

entre as 26 principais culturas pesquisadas pelo IBGE, 16 apresentaram variação percentual positiva em 2013, em relação a produção de 2012: trigo (30,4%), soja (24,3%), cevada (22,8%), aveia (22%), milho 2ª safra (21,7%), feijão 2ª safra (18,5%), amendoim 1ª safra (11,8%), cana-de-açúcar (10%), feijão 3ª safra (7,4%), batata-inglesa 2ª safra (7%), tritica-

le (5,4%), batata-inglesa 1ª safra (3,9%), arroz (3,2%), milho 1ª safra (2,9%), cacau (2%), e sorgo (1,7%), Com variação negativa foram dez produtos: mamona (-52,9%), algodão herbáceo (-31,4%), laranja (-14,8%), café conilon (-14,7%), amendoim 2ª safra (-10,8%), feijão 1ª safra (-10,4%), mandioca (-9,5%), batata-inglesa 3ª safra (-7,7%), café arábica (-1,4%), e cebola (-1,2%).

Safra VIII

Safra VII

Transgênicos cobrem 40,2 milhões de hectares

L

evantamento da Céleres mostra que a área plantada com sementes geneticamente modificadas – soja, milho e algodão – no Brasil deve crescer 6,8% no ano agrícola 2013/14 e cobrir 40,2 milhões de hectares. “Embora o custo da semente geneticamente modificada seja superior ao da convencional, fatores como o aumento de rendimento do produto final, redução no custo total e benefícios indiretos, como facilidade de manejo, contribuem para o incremento na adoção da biotecnologia ve-

rificada nos últimos anos”, explica Anderson Galvão, diretor-presidente da empresa. De acordo com projeções da consultoria, a soja transgênica ocupará 27 milhões/ha (67,2% da área total); o milho, 12,5 milhões/ha (31,2%); e o algodão, 0,61 milhão (1,5%). Na análise por cultura, a soja transgênica responderá por 91,1% da área total semeada com a oleaginosa, 9,4% a mais em relação à safra anterior. No milho, a adoção de biotecnologia chegará a 81,5% e no algodão, 56,8%.

Distribuição por regiões

A

produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresentou a seguinte distribuição em 2013, considerando as regiões em que se divide o país: Centro-Oeste, 78,5 milhões de toneladas; Sul, 73; Sudeste, 19,8; Nordeste, 12 e Norte, 5. Comparativamente à safra passada, o IBGE comprovou aumento de 10,8% no Centro-Oeste, 32,2% no Sul, 2,8% no Sudeste, 0,7% no Nordeste e 4% no Norte. Mato Grosso fechou o ano como maior produtor nacional de grãos, com 24,6% de participação, seguido pelo Paraná, com 19,4%, e Rio Grande do Sul, com 16,1 %. fevereiro 2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Exportações I

Quase US$ 100 bilhões

O

agronegócio brasileiro faturou US$ 99,97 bilhões no mercado externo no ano passado, 4,3% a mais do que em 2012 (US$ 95,81 bilhões), conforme levantamento da SRI/Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O setor gastou US$ 17,06 bilhões com importação, 4% acima do total dispendido

em 2012. Com isso, o saldo do comércio exterior do agronegócio ficou em US$ 82,91 bilhões. O principal setor exportador foi o complexo soja (US$ 30,96 bilhões), responsável por 31% das exportações. O milho – em queda na atual safra – bateu recorde histórico, com vendas externas de US$ 6,25 bilhões, valor 18,2% supoerior ao do ano anterior.

Exportações II

Soja antecipada

C

onsiderando a movimentação prevista de navios em Santos, Paranaguá e outros portos brasileiros, as exportações nacionais de soja vão bater novo recorde neste mês de fevereiro, devido ao aumento da demanda mundial e à antecipação da safra – cada vez mais, os produtores investem em variedades precoces, tanto para aproveitar os bons preços no mercado mundial quanto ga-

rantir janela ideal para o plantio da segunda safra. O volume de cargas agendado para navios com atracação este mês indica embarques de 2,5 milhões de toneladas. Em fevereiro do ano passado, foram 959 mil toneladas, conforme dados da Secex - Secretaria de Comércio Exterior. Segundo estimativas, cerca de 40% da safra 2013/14 de soja terá sido colhida até o final deste mês.

VBP

Agronegócio bilionário

A

agropecuária brasileira fechou 2013 com Valor Bruto de Produção de R$ 430 bilhões, 11,3% acima do obtido em 2012. Os produtos que mais se destacaram foram o tomate, com aumento do VBP de 88,9%, a batata-inglesa (47,6%), o trigo (33,9%), a laranja (31,5%), a soja (25%) e a mandioca (20,2%). As maiores quedas de valor ocorreram com o café (-30,5%) e o algodão (-30,9%). O valor da produção da pecuária chegou a R$ 144 bilhões, 11,7% superior ao de 2012. “O desempenho do agronegócio foi excelente. Na composição do VBP total, as lavouras representaram 66,5% e a pecuária, 33,5%”, afirmou João Cruz, chefe da AGE – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para 2014, a previsão do VBP é de R$ 462,4 bilhões.

Exportações III

Saldo madeireiro

A

venda de produtos madeireiros para o mercado internacional movimentou US$ 100,6 milhões no ano passado, acréscimo de 3,15% sobre os US$ 97,5 milhões contabilizados no penúltimo ano. A quantidade de produtos exportados totalizou 104,2 milhões de toneladas, 2,1% a mais do que em 2013, quando alcançou 102,1 milhões/t, conforme dados MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Em Mato Grosso, segundo estimativas do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, o crescimento previsto é de 5% para 2014 na produção. 14 | Agro DBO – fevereiro 2014


Notícias da Terra Máquinas II

Galeria New Holland

F

Máquinas I

Vendas crescem 20%

O

segmento de máquinas agrícolas fechou 2013 com 100.451 unidades vendidas no mercado interno, 20% a mais do que no ano passado, conforme balanço da Anfavea - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Segundo a entidade, taxas atrativas de financiamento e a busca permanente por maior produtividade por

parte dos produtores – capitalizados graças aos bons preços das commodities – ajudam a explicar o aumento da demanda. As vendas externas totalizaram US$ 3,6 bilhões no ano passado, 23,2% acima dos resultados de 2012. Para 2014, as projeções da Anfavea indicam estabilidade na produção e exportações e pequena alta em vendas internas.

oi inaugurada a “Galleria New Holland”, localizada na entrada da fábrica New Holland, em Curitiba, na Cidade Industrial. Trata-se de um ambiente moderno e arejado, projetado por arquitetos italianos, com espaço de 1.600 metros quadrados, que inclui auditório, sala de negócios, sala de treinamento e amplo espaço para exposição de máquinas e equipamentos, especialmente os lançamentos. A “Galeria New Holland” é destinada para recepcionar visitantes, clientes e concessionários em visitas à fábrica, e foi apresentada para a imprensa, clientes e revendedores na última semana de janeiro, em solenidade presidida pelo governador do Paraná, Beto Richa. A fábrica da New Holland em Curitiba é uma das mais completas e diversificadas da marca no mundo e a maior de máquinas agrícolas da CNH Industrial da América Latina. No total a unidade gera 3 mil empregos diretos e 5 mil indiretos. A fábrica paranaense abriga também o principal Centro de Pesquisa & Desenvolvimento de novos produtos do grupo CNH Industrial, onde trabalham mais de 200 engenheiros.

Cana-de-açúcar

Resultados inesperados

A

moagem de cana na temporada 2013/14 na região centro-Sul do Brasil atingiu o recorde de 594,1 milhões de toneladas, superando as estimativas da própria Unica – União da Indústria de Cana-de-açúcar, que trabalhava com números mais modestos. A produção de açúcar e etanol também foi maior do que o esperado. A moagem no Centro-Sul, responsável por 90% da produ-

ção nacional, fora estimada anteriormente em 589,7 milhões de toneladas. A produção de açúcar alcançou 34,3 milhões de toneladas (0,58% de aumento sobre a safra passada) e a de etanol, 25,4 bilhões/l (19,2%). Segundo a entidade, todo o excedente – resultante do crescimento de 7,4% no rendimento médio e 4,7% na área plantada – foi destinado à produção de etanol. fevereiro 2014 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Café I

Previsão de queda

O

primeiro levantamento da Conab, divulgado em janeiro, mostra que, após dois anos de oferta estabilizada ao redor de 50 milhões de sacas, a produção brasileira de café deve cair em 2014 – ano de bienalidade positiva, quando a lavoura rende mais. As projeções indicam colheita de 48,3 milhões de sacas – uma média entre o mínimo (46,53 milhões) e o máximo (50,1 milhões) previstos pela estatal. A queda deve-se à menor produtividade esperada (muitos cafeicultores economizaram nos tratos culturais, desanimados com os preços baixos em 2013), problemas climáticos (erradicação de cafeeiros arrasados por geadas no Paraná, por exemplo) e quebra de produção em algumas áreas. No final do ano passado, empresas, instituições e consultorias do setor – especialmente as do exterior – trabalhavam com a expectativa de 60 milhões de sacas.

Café II

Denominação de origem

O

Inpi – Instituto Nacional da Propriedade Industrial concedeu ao café do Cerrado mineiro o primeiro registro de denominação de origem (DO) do grão, no país. Com 3,5 mil produtores e área de 147 mil hectares distribuída por 55 municípios do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e noroeste de Minas, a região possui padrão climático uniforme, com verões quentes e úmidos e invernos amenos e secos, condições favoráveis à produção de cafés de alta qualidade.

16 | Agro DBO – fevereiro 2014

O café brasileiro já tem quatro indicações de procedência (IP). Tanto o DO como o IP são indicações geográficas. Elas se referem a produtos ou serviços que tenham uma origem geográfica específica. O registro reconhece reputação, qualidades e características que estão vinculadas ao local. Uma indicação geográfica comunica ao mundo que uma determinada região se especializou e tem capacidade de produzir um artigo diferenciado e de excelência, informou o Inpi.

Café III

Exportações crescem

N

o ano passado, o Brasil vendeu 27,8 milhões de sacas de café verde no exterior, 11,5% a mais do que em 2012, segundo balanço do Conselho dos Exportadores de Café. Considerando também o café industrializado, o total chega a 31,22 milhões de sacas, alta de 10,2%. “Esse resultado mostra que o país voltou aos patamares de exportação acima de 30 milhões de sacas/ano. Outro ponto a ser destacado é o crescente volume de cafés diferenciados negociados no exterior”, disse o diretor-geral do Cecafé, Guilherme Braga. O arábica respondeu por 85% das vendas externas do país; o solúvel, 10,7%; o conilon, 4,2%; e o torrado e moído; 0,1%. Braga acredita que, em 2014, as exportações devem ficar entre 32 milhões e 33 milhões de sacas. Segundo o Cecafé, a Europa comprou 54% do total embarcado pelo Brasil em 2013 (aumento de 95% comparativamente a 2012); a América do Norte, 22% (alta de 15%); a Ásia, 18% (alta de 12%); e a América do Sul, 3% (redução de 15%). A receita foi de US$ 5,2 bilhões, ante US$ 6,4 bilhões em 2012, queda decorrente dos preços mais baixos no mercado internacional.


Notícias da Terra Orgânicos

Aposta na Copa

O

Projeto Organics Brasil, que reúne 74 empresas exportadoras de produtos orgânicos, movimentou US$ 130 milhões em negócios no exterior em 2013. Segundo estimativas da entidade, o mercado global de orgânicos faturou US$ 60 bilhões no ano passado, com a adoção de medidas importantes para o setor, como os convênios de equivalências de certificações entre os mercados europeu e americano e, a partir deste ano de 2014, entre Japão e Estados Unidos. O Brasil está em negociação para um convênio de equivalência com o Mercado Comum Europeu. “Temos como meta este ano aumentar para 100 o número de empresas brasileiras exportadoras. Em um ano com Copa do Mundo e grande exposição da imagem do país, a prioridade é mostrar os diferenciais dos produtos orgânicos brasileiros”, afirmou Ming Liu, coordenador executivo do Projeto Organics Brasil.

Tecnologia

Cana transgênica

C

ientistas do CTC – Centro de Tecnologia Canavieira estão desenvolvendo uma variedade de cana-de-açúcar geneticamente modificada resistente à broca (Diatraea saccharalis). No entanto, falta completar algumas etapas até que ela chegue ao mercado. O anúncio foi

Floricultura

Faturamento expressivo

B

alanço do Ibraflor – Instituto Brasileiro de Floricultura mostra que a produção de flores no país movimentou R$ 5,2 bilhões em 2013, quantia 13% superior à de 2012. Para 2014, a expectativa é de produção 8% maior, segundo avaliação do presidente da entidade, Kees Schoenmaker. O Brasil abriga 8 mil produtores, dos quais 98% de pequeno e médio portes. Cerca de 350 espécies foram cultivadas em 2013 em 13,8 mil hectares. O mercado nacional reúne 60 centrais atacadistas e 22 mil pontos de venda no varejo. O consumo interno, no entanto, ainda é pequeno: é de R$ 26,00, sete vezes menor que o da Comunidade Europeia, por exemplo. A população do Distrito Federal foi a que mais comprou flores no ano passado: R$ 43,72 por habitante/ano. Depois vieram paulistas (R$ 43,63), gaúchos (R$ 36,99), cariocas (R$ 35,48) e catarinenses (R$ 31,46).

feito pelo diretor comercial da CTC, Osmar Figueiredo Filho, durante o Showtec, feira realizada de 22 a 24 de janeiro em Maracaju (MS). Segundo ele, a variedade transgênica – a primeira desenvolvida por brasileiros – deve entrar no mercado, no mais tardar, em 2017. Uma das principais feiras agrícolas do Centro-Oeste do país, o Showtec recebeu 13 mil visitantes

este ano. Para Renato Roscoe, diretor executivo da Fundação MS, entidade organizadora do evento, a 18ª edição do Showtec foi um marco. “Há dois anos, vem crescendo 20%, tanto em investimento por parte das empresas quanto em tamanho de área”. Este ano, foram apresentadas mais de 600 tecnologias para soja, milho, cana, pecuária de corte e de leite. fevereiro 2014 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra Fitossanidade I

Novo estado de emergência

P

ortaria do Ministério da Agricultura publicada no Diário Oficial da União em 15/1/14 decreta emergência fitossanitária em Mato Grosso devido à infestação de lagartas da espécie Helicoverpa armigera e revoga portaria anterior, de 14 /11/13, de mesmo conteúdo. A diferença é que a anterior não relacionava os 98 municípios cercados pela praga. Resolvida a questão, o textooficial em vigor libera o estado para implantar nestes municípios o plano de supressão da praga e adotar medidas emergenciais, incluindo a importação de defensivos que tenham como ingrediente ativo o Benzoato de Emamectina, substância eficaz, segundo especialistas, no combate às lagartas.

Fitossanidade II

Fitossanidade III

Pulverização até julho

O

governo publicou instrução normativa estendendo até 31 de julho deste ano o prazo de pulverização das lavouras de algodão com defensivos à base de Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil. A aplicação aérea para controle de pragas do algodoeiro foi regulamentada em dezembro de 2012 visando prevenir eventuais efeitos nocivos às abelhas. Estipulou-se, na ocasião, que as substâncias supracitadas só poderiam ser usadas no transcorrer da safra 2012/13. Para evitar perdas nas lavouras, este prazo foi, porém, ampliado. “Entendemos, no Mapa e no Ibama, a necessidade de prevenir a morte das abelhas; ao mesmo tempo, consideramos o processo de pulverização com aviões essencial para o controle de pragas. Respeitando o produtor e o ecossistema, nós consideramos algumas exceções e estendemos o prazo para aplicação na cultura de algodão”, explicou o Secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Rodrigo Figueiredo.

Cadê o benzoato?

O

D.O.U. de 16 de janeiro passado traz outro texto do Mapa, desta vez com alterações na portaria 1.109, de 9/11/13, que trata da autorização para importação do Benzoato de Emamectina. As modificações buscam agilizar o processo de importação e utilização da substância. Uma das medidas permite que os estados calculem a área ocupada pelas culturas atacadas pelas lagartas, para definir a quantidade a ser importado – antes, a definição era feita a partir de informações de cada propriedade afetada.. O Mapa também retirou a restrição do prazo de emissão da licença de importação, que deveria ser posterior à publicação de portaria 1.109. Agora, na prática, os produtores e as empresas importadoras podem utilizar as licenças anteriores à 9/11/13 e usar os lotes do produto que já tinham sido importados.

18 | Agro DBO – fevereiro 2014

Fitossanidade IV

Cupuaçu ameaçado

N

os últimos três anos, a área plantada de cupuaçuzeiros (Theobroma grandiflorum) despencou 54% no estado do Amazonas: de 11 mil para 5 mil hectares. Segundo pesquisadores, a queda se deve à alta incidência da broca-do-fruto (Conotrachelus sp), à suscetibilidade das plantas à vassoura-de-bruxa, causada pelo

fungo Moniliophthora perniciosa, e ao manejo inadequado. O cupuaçuzeiro ocorre em toda região Norte, porém a infestação é mais grave no Amazonas e em Rondônia, onde os plantios estão sendo abandonados. Para reverter este quadro, a Embrapa desenvolveu um projeto de pesquisa, inovações tecnológicas, capacitação e disseminação de técnicas de manejo integrado, envolvendo cientistas, extensionistas e agricultores em busca de soluções. Paralelamente, a empresa pretende introduzir na região clones selecionados de alta produtividade e resistência. A expectativa é de que, até o ano que vem, as pragas já estejam controladas.


Notícias da Terra Extrativismo

Subvenção de R$ 120 milhões

O

grupo gestor PGPM-Bio, formado por representantes dos ministérios da Agricultura, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrá­ rio, Fazenda e Planejamento, além da Conab, aprovou a destinação de R$ 120 milhões em recursos para subvencionar extrativistas da Amazônia, do Cerrado e de áreas do Nordeste, como as quebradeiras de coco-babaçu, catadores de açaí, man-

gaba, castanha-do-brasil, pequi e piaçava, entre outros. Deste montante, R$ 30 milhões serão alocados este ano, R$ 40 milhões no ano que vem e R$ 50 milhões em 2016. O programa prevê também a inclusão de novos produtos, como bacuri, buriti, erva-mate, fava d’anta, licuri, macaúba, maracujá do mato, murici, murumuru, pinhão e pirarucu de manejo.

Concurso

Mapa abre 796 vagas com salários até R$ 12.539,38

O

Diário Oficial da União de 21/1/14 traz edital de abertura de concurso público do Ministério da Agricultura destinado ao preenchimento de 796 vagas nas carreiras de fiscal federal agropecuário, atividades técnicas de fiscalização e do plano geral de cargos do Poder Executivo. As inscrições podem ser feitas até 6 de março próximo, através do endereço eletrônico www.consulplan.net, com taxas de R$ 38,50, R$ 50,00 e R$ 71,00, de acordo com o cargo pretendido. Os salários variam de R$ 2.818,02 a R$ 12.539,38, para jornadas semanais de trabalho de 40 horas. Das 796 vagas disponíveis, 46 foram reservadas para pessoas com deficiência física. Os interessados devem ter formação em nível fundamental, médio/ técnico ou superior, conforme a vaga pretendida.

Fronteira agrícola

Devagar se vai ao longe

E

ste “veículo” ao lado é um “paco-paco”, nomenclatura utilizada pela população de Santana do Araguaia (PA) e outras regiões do país para designar veículos motorizados desprovidos de carroceria e acessórios, montados geralmente com peças de reposição ou desmanche sobre chassis improvisados para transporte de carga ou passageiros. Geralmente, são manufaturados com o mínimo necessário para funcionar: pneus, motor e caixa de câmbio, sistemas de transmissão, suspensão e direção, uma estrutura tubular à guisa de Santantônio, um banquinho de plástico ou bancada de madeira para o motorista (ou piloto?) e, eventualmente, um ou dois

retrovisores – alguns não dispõe de espelhos: quando quer manobrar ou checar algo atrás do cangote, o motorista vira o pescoço. Outros não têm faróis; não andam à noite. Em Minas Gerais, Espirito Santo e Bahia, tais “bólidos” são denominados “aranhas” e só podem circular por estradas vicinais. Seu uso dispensa carteira de habilitação, licenciamento, emplacamento, pagamento de seguro ou IPVA. Você não os vê em salões de automóvel ou em revistas especializadas, não os compra em concessionárias autorizadas, mas eles estão por aí. Os “paco-pacos” têm muita serventia no sudeste do Pará, uma das últimas fronteiras agrícolas do Brasil, palco de uma sé-

rie de três reportagens especiais do repórter Ariosto Mesquita, que visitou a região. Leia a primeira delas a partir da página 26 desta edição – as outras duas serão publicadas, respectivamente, nas edições de março e abril de Agro DBO. Já licenciou seu carro? fevereiro 2014 – Agro DBO | 19


Capa

Troca de lagartas A Helicoverpa foi contida nesta safra, a um custo muito alto. Eis que, de repente, surge a falsa-medideira, atacando mais cedo este ano.

Marianna Peres

A

safra 2013/14 de soja está rompendo paradigmas. Tradicionalmente, em época de plantio e colheita, os produtores ficam com um olho no céu, à espera de chuvas, e o outro na terra, acompanhando os trabalhos de campo. Neste ciclo, no entanto, eles mantiveram os dois olhos focados no chão. Nunca na história da sojicultura nacional, a preocupação com o clima – pelo menos até a lavoura atingir o ponto de colheita – fora superada pela apreensão com possíveis prejuízos decorrentes do ataque de pragas. Desta vez, temendo estragos ainda maiores que os do ano passado, provocados pela vora20 | Agro DBO - fevereiro 2014

cidade da Helicoverpa armigera, eles abriram a temporada armados até os dentes, dispostos a “esmagar” as lagartas. Muitos agricultores abdicaram, inclusive, de hábitos familiares arraigados para enfrentar a praga, alterando profundamente a rotina. Como se sabe, no Centro-Oeste. no chamado Mapito e em outras regiões do Cerrado, a agricultura profissional é tocada prevalentemente por produtores rurais oriundos do Sul do Brasil. Em Mato Grosso, maior produtor de soja do país, a virada do ano – época em que a colheita, se não começou, está prestes a começar – é marcada pelos festejos e viagens de


Andrea Côrtes

Marcos da Rosa, no meio da lavoura, espantado com o número de falsasmedideiras.

uma a duas semanas ao Rio Grande do Sul, Paraná ou Santa Catarina, para visitas familiares. Breve retorno às raízes. Afinal, a maioria das famílias descende dos imigrantes italianos e alemães que colonizaram o Sul. Este ano, porém, as viagens minguaram ou demoraram menos. Eles preferiram ficar, de olho na lavoura. Essa mudança de comportamento criou até uma espécie de piada no estado. Os produtores dizem que, com a chegada da Helicoverpa é preciso mudar o calendário: Natal e Ano Novo devem ser comemorados depois da colheita. Escaldados com o ocorrido na temporada passada, eles retomaram práticas agronômicas da década de 1980 e 1990 que se perderam com as ‘facilidades tecnológicas’ implantadas desde então, técnicas modernas que tornaram a lida mais fácil e rápida, mas nem sempre, como no caso da H. armigera, eficazes. Retomaram, por exemplo, o velho hábito de bater o pano branco no meio da lavoura para contar insetos e reativaram o MIP – Manejo Integrado de Pragas com uso de produtos biológicos. Segundo especialistas, é o caminho mais econômico, seguro e eficiente para manter alta produtividade e garantir rentabilidade: as estimativas apontam lucro menor na região, em função do aumento no custo dos insumos.

Quem, em dezembro e janeiro, relaxou no monitoramento diário – antes da H. armigera, era semanal – foi surpreendido com altas concentrações de lagartas, grande parte das quais da espécie Pseudoplusia includens (falsa-medideira), praga tida como secundária, mas, considerando o nível de infestação nesta safra, candidata a co-protagonista, ao lado da Helicoverpa. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Marcos da Rosa, produtor em Canarana, 823 quilômetros ao nordeste de Cuiabá. No começo de janeiro, após dar entrevista à Agro DBO, ele retornou à fazenda para fotografar a lavoura, quando se deparou com grande população de falsas-medideiras sob as plantas. Segundo ele, a situação só não saiu do controle porque a maioria delas estava em área de pasto rotacionado e não dentro da lavoura em estádios R4 e R5. “Uma loucura. Foi um susto danado. Passamos o final de semana pulverizando tudo. A quantidade era impressionante e, mesmo assim, muitas escaparam ilesas da aplicação. Agora. estamos diariamente vigilantes”, conta. Conforme Rosa, as lagartas, mesmo quando em altíssima população, podem ser controladas, mas a desembolso financeiro é muito grande. “O produtor está agindo de forma correta no controle da Helicoverpa, mas a falsa-medideira vem preocupando, pois o intervalo de aplicação está em cerca de sete dias, enquanto deveria ser 18. Na região, e na minha propriedade, o maior problema é a falsa-medideira, que. até o ano passado, a gente combatia e resolvia. Há quem culpe o clima, porque a chuva reduz o impacto dos químicos, mas eu já coloco em questionamento a eficiência dos produtos que usamos para combatê-la, já que ela não é novidade. A falsa-medideira sempre esteve presente, principalmente no final do ciclo, e sempre debelada. Por que chegou mais cedo e saiu do controle?”, indaga. Rosa se apresenta como um produtor aplicado e responsável. “Fiscalizo tudo na lavoura, desde o bico fevereiro 2014 - Agro DBO | 21


Capa

Se o clima ajudar e os estragos provocados pelas lagartas não for tão grande, o Brasil terá, sim, safra recorde de soja este ano.

do pulverizador, para ver se está entupido e assim ter a certeza que a aplicação está correta e que vai agir sobre a planta, e por isso não me conformo em me deparar com tanta lagarta. Como se vê, um descuido de alguns dias e a situação praticamente sai de controle”. A falsa-medideira é uma velha conhecida dos mato-grossenses, mas, pela primeira vez, veio forte, tirando o sossego e parte do lucro dos produtores. Há relatos de estragos e perdas pontuais em lavouras de todas as regiões do estado, especialmente ao leste e a sudeste. O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Major Pitta, afirma que, em relação às lagartas, a

falsa-medideira é a que mais preocupa. “Mesmo com a Helicoverpa disseminada por todas as lavouras, houve um controle. Esse controle foi excessivo e desnecessário, mas suprimiu a praga, elevando, inegavelmente, o custo de produção. No entanto, é a falsa-medideira que está provocando perdas nas lavouras, como as vistas em Canarana e outras regiões, embora, a esta altura (meados de janeiro), a gente não tenha como estipular os prejuízos. Notamos, em vários lugares, uma oscilação entre a predominância das espécies, um desequilíbrio provocado, talvez, pelo uso excessivo de produtos químicos contra a Helicoverpa. Temos conhecimento

Lavoura de risco Em novembro, bem antes, portanto, do início da colheita, a Aprosoja/MT manifestava preocupação com possível revolução na segunda safra no estado: o plantio de soja sobre soja, procedimento eventual quando os preços futuros indicam falta de liquidez ou prejuízos na cultura de inverno, como acontece agora com o milho. A entidade entrevistou um número expressivo de produtores rurais e grande parte deles admitiu, sim, apostar em “safrinha” de soja, na expectativa de que a oleaginosa continue remunerando bem. Tanta gente levou a Aprosoja/ MT a dimensionar a segunda safra de soja no estado em um milhão de hectares. Embora muitos agricultores já tenham começado a semear a safra de inverno, a estimativa não foi confirmada até meados de janeiro. O coordenador da

22 | Agro DBO - fevereiro 2014

Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, lembra, porém, que esta opção apresenta restrições agronômicas. “Não dá para abrir mão de fazer a segunda safra. O produtor tem essa estrutura e precisa fazer. Mas, optar pela soja novamente é um tiro no pé e, com certeza, vai acirrar ainda mais as pressões de pragas e doenças à cultura na próxima safra”. Na safra atual, a surpresa é a “precocidade” da falsa-medideira, que geralmente ataca no final do ciclo. “O Brasil inteiro deve ficar atento a esta praga. O pessoal começa a colher e as mariposas começam a voar. Elas vão chegar mais fortemente nas lavouras de ciclo médio e tardio, que são as que estão no campo, junto com a ferrugem”, alerta. Segundo ele, a falsa medideira pode aparecer em qualquer parte do país.


Andrea Côrtes

Segundo o Imea, esta é a safra mais cara da história de Mato Grosso, com custeio 31% maior e fertilizantes 20% mais caros.

de casos em que foram feitas oito aplicações contra a Helicoverpa, quando o recomendado é apenas uma para lagartas de modo geral”. Como explica Pitta, a H. armigera é perigosa porque reduz as margens do produtor pelo alto desembolso para seu controle, impactando diretamente o lucro. A falsa-medideira pode comprometer a produtividade porque, ao invés de surgir no final do ciclo, como sempre aconteceu, veio mais cedo este ano, e em alta população Outras ameaças Além das duas espécies de lagartas, o pesquisador cita contratempos com a mosca-branca e a ferrugem asiática. “A mosca-branca (Bemisia tabaci), típica de final de ciclo, está dando trabalho também mais cedo em várias regiões do estado. A soja possui tolerância ao inseto, mas vimos que aplicações excessivas de químicos de amplo espectro, como piretróides, estão reduzindo os inimigos naturais e, talvez por isso, aumentando a pressão do que antes era secundário”. A ferrugem asiática está disseminada pelo país. Até o dia 20 de janeiro, o Consórcio Antiferrugem já havia confirmado 165 focos da doença em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com maior incidência em Goiás, com 80 casos. Como destaca o diretor técnico da Aprosoja/MT, Nery Ribas, o clima desta época do ano é chuvoso na maior parte do país, tornando o ambiente ideal para a proliferação do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da doença. A ferrugem asiática preocupa, segundo Ribas, mas o produtor já aprendeu a lidar com ela. “Isso não é digno de nenhum troféu, mas a verdade é que sabemos o que fazer. Neste ano, há o reforço de uma nova molé-

Plantação de soja atacada pela falsamedideira em Mato Grosso. A espécie surpreendeu muita gente ao aparecer mais cedo este ano.

cula, do grupo das carboxiamidas e não há, até o momento, nenhum quadro epidêmico localizado, como o ocorrido em safras passadas. A Helicoverpa está sendo controlada e acredito que, com a falsa-medideira, também haverá contenção”. O presidente da Aprosoja/Brasil, Gláuber Silveira, também questiona a eficácia dos agroquímicos no combate às pragas. “Por que as lagartas, antes contidas com manejo simples, passaram a exigir controle mais difícil e caro, sendo necessário treinamento adequado na aplicação de agroquímicos, mudanças de bicos e até mesmo mistura de produtos? Talvez a retirada do mercado de produtos de contato de excelente desempenho, como o endossulfam e o metamidofós, tenham contribuído para essas dificuldades e desequilíbrios, assim como o aumento da resistência das lagartas aos produtos disponíveis, por seleção natural. Espero que até o final da safra, a Embrapa tenha respostas a estas questões, para que a gente tenha menos problemas no futuro”, diz ela. Gláuber confirma o quadro fitossanitário nesta safra: “A incidência de lagartas foi e está sendo muito grande; agricultores se viram enlouquecidos em busca do melhor produto ou da melhor mistura para o controle e a quantidade de aplicações dobrou ou triplicou. É a safra com o maior custo da história”, assegura, citando dados do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, segundo o qual o custeio da safra ficou 31% maior e o preço dos fertilizantes, insumo de maior impacto na contabilidade dos agricultores, subiu 22%. Para ele, pode soar estranho “este chororô”, já que o governo federal anuncia uma supersafra recorde de 90,3 milhões de toneladas e o próprio Ministro da Agricultura, Antônio Andrade, aventa a possibilidade de chegar a 95 milhões, volume que colocaria o Brasil como maior produtor mundial da oleaginosa, desbancando os Estados Unidos. “Com

A H.armigera pesa muito no bolso do produtor, porque eleva demais os gastos para seu controle.

fevereiro 2014 - Agro DBO | 23


Capa recorde ou sem recorde, a verdade é que nós, produtores, estamos sofrendo a pressão de uma safra pra lá de complicada, do ponto de vista fitossanitário e de renda”. A avaliação do presidente da Aprosoja é otimista, apesar das ressalvas quanto à logística: “Janeiro foi importantíssimo para a consolidação de nossa produtividade, e, fora alguns problemas na Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraná, os números vão se confirmando. Se o clima ajudar, conseguiremos colher sem maiores problemas – é o que espero. Com isto, teremos uma produção maior, com cinco a oito milhões de toneladas a mais de soja e que terão de sair pelas mesmas estradas, pelos mesmos portos e, infelizmente, não tivemos mudanças positivas no quesito logísti-

ca. Espero que o que previmos não aconteça, ou seja, que não tenhamos um caos maior ainda que o do ano passado. Vem ai uma supersafra de super problemas”. O gestor do Imea, Daniel Latorraca, detalha os números citados por Gláuber: o custeio cresceu 31,6% no Centro-Oeste e 23,7% em Mato Grosso. Na média, subiu R$ 2,3 mil por hectare no estado. O preço dos defensivos aumentou 22% do ciclo anterior para este: os fertilizantes, 20%, e as sementes, 41%. Da porteira para fora, o impacto maior vem do óleo diesel e do frete. “O combustível foi reajustado perto do final de 2013 e teremos muita concorrência por frete a partir de fevereiro, tanto no frete curto (da fazenda até os armazéns) quanto no longo (dos armazéns aos portos, por estrada, ferrovia ou hidrovia ou combinações de modais de transporte), inflacionando ainda mais os custos”. Em 6/1/14, o frete de Sorriso (MT) a Santos (SP) custava R$ 250 a tonelada de grãos, praticamente o mesmo de janeiro do ano passado.

Ganho de imagem Os sojicultores perguntam o que vão ganhar com o Brasil assumindo o topo do ranking mundial dos produtores. Para os analistas da INTL FCStone, Natalia Orlovicin e Thadeu Silva, há um ganho de imagem muito claro. “Os Estados Unidos dominaram o mercado mundial de grãos por mais de meio século. O atual desempenho brasileiro simboliza uma mudança histórica, que vai alterar o funcionamento do mercado. Se o Brasil consolidar sua liderança, toda a discussão sobre estimativas de produção e expectativas de preços vai passar a ser determinada pelo noticiário da safra brasileira, aumentando a influência doméstica no mercado internacional”. Conforme estimativas da FCStone, a safra brasileira de soja (90,3 milhões de toneladas, segundo estimativas da Conab) será superior a dos EUA (89,5 milhões, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). “As indicações futuras de mercado são positivas”, disse Natália Orlovicin em janeiro. “A área plantada de soja tem crescido por uma forte indução da demanda chinesa por proteína e, mesmo com aumento de produção e maior oferta no mercado internacional, a cotação da soja segue em um patamar de preços acima do verificado historicamente”. Segundo os analistas, nos próximos meses não há fundamentos que levem a uma alta expressiva dos preços, pois a safra brasileira e argentina já estão consolidadas. “Acreditamos que a demanda será suficiente para dar suporte aos preços, que poderão apresentar alguma acomodação no curto e médio prazos, mas sem quedas expressivas”, conclui Natália.

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Julio Busato, acompanhando os trabalhos de colheita em sua fazenda, no oeste da Bahia: “A estiagem pode comprometer nossas expectativas”.

Safras históricas O setor de transporte trabalha com elevação de preço de pelo menos 10% a partir deste mês de fevereiro. Latorraca lembra, porém, que a liberação do terminal fluvial de cargas em Miritituba, no Pará, e a chegada dos trilhos da Ferronorte a Rondonópolis, no sul de Mato Grosso, vão aliviar a demanda por caminhões, mesmo com safra maior, como se espera. Em sua opinião, a mudança estrutural pode beneficiar os produtores, já que o preço futuro não está no mesmo patamar de 2013, nesta época do ano. “O preço médio ponderado está muito próximo do custo e o cenário atual para a soja se revela apertado para ganhos econômicos, até porque temos contra nós mesmos a projeção de colher a maior safra do mundo. Assim, uma queda no frete cairia bem”. O último levantamento da Conab, divulgado no início do mês passado, mostra que todos os grandes


Praticamente todos os grandes estados produtores de soja do país têm estimativas de produção histórica na atual temporada.

produtores nacionais da leguminosa têm estimativas de produção histórica em 2014. Em Mato Grosso do Sul, a previsão inicial de 6,3 milhões de toneledas de soja – 10% acima da anterior – foi revisada para 6 milhões em janeiro, por problemas pontuais de estiagem, segundo o presidente da Aprosoja/MS, Maurício Saito. Nenhuma das pragas e doenças da cultura, nem mesmo a H. armigera, causou problemas sérios devido ao manejo realizado em tempo hábil, sem chances de danos significativos. Em várias regiões do estado, a tensão provocada pela falta de chuvas superou a preocupação com a Helicoverpa. Nos municípios de Rio Brilhante e Douradina, a estiagem durou mais de 50 dias. Na Bahia, o produtor Júlio Busato, que também preside a Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, chegou à metade do mês de janeiro também preocupado com a estiagem no oeste, principal região produtora de grãos do estado, que já durava 18 dias. Graças, porém, às chuvas de dezembro, as lavouras apresentavam bom visual e devem fechar com bom rendimento, segundo ele, apesar da presença da Helicoverpa e de focos de ferrugem asiática. Em 2013, o oeste baiano contabilizou mais de R$ 2 bilhões em perdas decorrentes dos ataques de lagartas e estragos com a ferrugem. “A H. armigera atacou a soja e fez festa no algodão. A Helicoverpa está presente, porém controlada pelo programa fitossanitário implantado na região. Mesmo assim, seguimos em alerta porque atravessamos um período de seca, favorável ao aumento da população de insetos. Até a colheita (começa em março), tem muita coisa para acontecer. Esperamos que o benzoato

Mato-grossenses esperam que o escoamento da safra pelo Norte ajude a reduzuir os gastos com frete.

chegue a tempo de proteger a safra de algodão, que deve receber muita pressão das lagartas”, diz Busato. No Paraná, a produção deve atingir 16,5 milhões de toneladas, 4% a mais do que na safra passada, segundo estimativas do Deral. O presidente da Aprosoja/PR, José Eduardo Sismeiro, diz que as previsões sobre a produtividade são boas, com ótimas perspectivas em algumas regiões, como Guarapuava, onde o rendimento vai surpreender, ultrapassando 70 sacas por hectare. “Em média, esperamos saldo de 40 a 70 sacas, a menor para regiões com problemas de seca, como no oeste, centro-oeste e noroeste do estado, e a maior, para localidades onde tudo deu certo até meados de janeiro”. Ele não acredita em recorde de produção, mas aposta em safra muito boa. Mesmo com perdas pontuais a contabilizar, seja por problemas climáticos, seja pela infestação da Helicoverpa, Sismeiro critica a decisão do governo de não declarar o estado sob emergência fitossanitária, condição para a liberação do benzoato de emamectina para combater a praga. “Conseguimos controlar a lagarta com produtos químicos e fisiológicos, mas os gastos foram excessivos. O benzoato seria uma ferramenta a mais de combate que não tivemos. Se o controle não desse certo e tivéssemos uma infestação, aí, não sei o que estaríamos contabilizando agora”. Além da Helicoverpa, o Paraná registra relatos de alta incidência de percevejos, nematoides, mosca branca e, novamente, problemas com capim amargoso, erva resistente ao glifosato. No Rio Grande do Sul, a safra seguia sob condições normais até meados de janeiro. Na avaliação do assistente técnico estadual em soja da Emater/RS, Alencar Paulo Rugeri, uma estiagem ao norte do estado afetou as lavouras de milho, mas até o fechamento desta edição, os estragos não haviam sido mensurados. Segundo Rugeri, a seca atingiu poucos municípios. Quanto à Helicoverpa, ela também atacou as lavouras gaúchas, mas sem muito sucesso. “O controle feito por meio de produtos biológicos e fisiológicos, ou com piretroides, deu resultado, mas o que tem feito a diferença é a consciência do produtor para a importância do monitoramento. Se esse cuidado se mantiver, seguiremos em condição confortável”. A soja avançou sobre áreas de várzea de arroz, pastagem e milho nesta safra. “Cerca de 50 mil hectares de milho viraram lavouras de soja”. A estiagem preocupa mais do que as pragas, mas ainda assim os produtores esperam bons resultados. Dos 3,97 milhões/ha registrados no período 2009/10, a cultura deve ocupar, nesta safra, de acordo com o último levantamento da Conab, 4,86 milhões/ ha. Pode ser uma safra histórica. fevereiro 2014 - Agro DBO | 25


Artigo

Preocupações, ora bolas… O colunista revela suas preocupações no curto prazo, pois no médio e longo prazo a perspectiva é de que tudo vai bem. Daniel Glat *

A

ndo preocupado com as perspectivas de curto prazo dos preços de milho e soja, notadamente com a safra 2014/2015. A médio e longo prazo sou um otimista do agronegócio e da produção de grãos; afinal, o crescimento da população mundial somado ao aumento de renda das camadas mais pobres do planeta, tem um forte impacto na demanda por alimentos; seremos 9 bilhões em 2050, querendo comer mais e melhor. Se cada asiático comer 800 gr de frango por mês a mais, será necessário quase 100 milhões de t de milho a mais! A demanda de milho só na China (e a

sul, com produtividades ainda crescentes nos principais países produtores, tem um impacto enorme na oferta. O estoque mundial de milho em 2013 fechou 21% acima do ano anterior; nos EUA o uso crescente de milho para etanol, a maior razão do aumento da demanda americana na última década, já estacionou e pode cair. Nesta terceira semana de janeiro, quando escrevo este texto, o milho CBOT está a US$4,3/Bushel, metade do que esteve em 2012; a empresa de consultoria AgResource, de Chicago, acredita que o milho deve continuar a cair para US$3,50 em 2014 e até US$2,75 em 2015 se não houver anormalidades climá-

Viemos de anos excelentes nos grãos em que a oferta esteve sempre abaixo da demanda

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

Ásia não é só a China!) cresceu de 181 milhões de t em 2011 para 216 milhões de t em 2013..! O problema é que enquanto a demanda cresce a taxas relativamente uniformes através dos anos, a produção sobe também, mas na base dos solavancos, com uma flutuação muito maior de picos para baixo e para cima. Estamos vindo de anos excelentes para o produtor em que a oferta esteve sempre abaixo da demanda e o CBOT atingiu recordes históricos com a quebra da safra americana de 2012; desde lá tivemos uma ótima safra sul-americana em 2012/13 de milho e soja, seguido por uma forte safra norte-americana em 2013, e estamos prometendo produção recorde de soja nessa safra 13/14; esse “encavalamento” de boas safras no hemisfério norte e

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ticas em 2014; seus clientes já venderam a futuro 65% da safra que plantarão em 2014 e mais de 20% da safra de 2015. Como os estoques americanos de soja ainda são baixos, esta cedeu menos, mas veio de um patamar acima de US$16/bu para os atuais US$12,7. Com a relação de preços soja/milho próxima de 2,5 os americanos devem plantar mais soja em 2014; estima-se de 1,5 a 2,0 milhões de ha migrando de milho para soja, que deverá bater o recorde de área plantada por lá, por volta de 33 milhões de ha. E aí volto à minha preocupação de curto prazo: como nós vamos ficar aqui no Brasil? Na soja, o que está segurando o preço é o câmbio a R$2,40; se estivéssemos com o câmbio de um ano atrás a soja para maio

valeria quase R$ 11 a menos por saco! Para essa safra 2013/14, quem travou parte da produção a preços melhores que os atuais, e comprou insumos com dólar ainda baixo, deve se sair bem; mas em 2014/15, como faremos com os atuais custos de produção e se CBOT continuar a cair com a entrada da supersafra brasileira seguida por uma possível supersafra americana de soja em 2014? Na minha opinião, dependeremos muito fortemente da alta do dólar, o que felizmente é uma realidade plausível vide o fortalecimento da economia americana, as oscilações da economia brasileira e o possível efeito dominó devido à forte desvalorização da moeda dos hermanos argentinos. No milho, viramos o ano com grandes estoques no Brasil, apesar das explosivas exportações de 2013; os preços já cederam bastante em várias praças. Em 2014, mesmo com uma produção menor, já que caiu a área de verão e não deverá subir muito a safrinha, teremos de provar que realmente viramos grandes exportadores de milho; o acordo feito com a China pode ser de grande ajuda. Se não mantivermos o nível das exportações acima de 20 milhões de t e não aumentarmos o uso de milho para etanol no MT, vai sobrar cada vez mais milho no Brasil, ou teremos que plantar menos. Enfim, como disse no inicio desse artigo, sou otimista a médio e longo prazo, mas estou preocupado com 2014. Acho que é ano para agir como o velho marinheiro, “que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar”.



Especial A nova fronteira agrícola Parte I

A epopéia de um pioneiro A história do homem que transformou o “esquecido” município de Santana do Araguaia (PA) no mais novo celeiro agrícola do Brasil Ariosto Mesquita

Q

uando, em 2002, o agricultor paranaense Rodolfo Schlatter comprou 17 mil hectares de terras degradadas no vale do Araguaia, no sudeste do estado do Pará, e decidiu abrir 500 hectares para o cultivo de soja, foi visto por boa parte dos moradores locais como um visionário, idealista ou utópico. Na época, era difícil imaginar que alguém em sã consciência acreditasse ser possível que aquela “tal da soja” pudesse vingar ali. Justamente em áreas carregadas de cascalho, abertas para pastagens naquela que era considerada terra

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de extração de madeira e de pecuária extensiva de corte, com enormes fazendas de gado. O tempo acabou mostrando que o “visionário” apostou certo. Mais do que isso. Seu pioneirismo acabou sendo a semente da mais nova fronteira agrícola brasileira, sucedendo as áreas agricultáveis do chamado Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), que até então detinham este título. Suas terras (a Fazenda Santana Rios) ficam na “capital” desta nova frente agrícola: Santana do Araguaia, município de 11.591,5 km2 (1.159.150 hectares), situado

no extremo sudeste do Pará, na divisa com Mato Grosso, separado do estado do Tocantins pelo rio Araguaia. Não foram poucas, as dificuldades. Tanto é que muitas delas ainda perduram. A região, segundo a Secretária Municipal de Agricultura, Franciele Abreu Lemos Brandão, apresenta logística precária, escassa mão de obra e dificuldade de crédito. “Santana do Araguaia sempre foi considerado o último município do estado, o mais esquecido de todos”. Mesmo assim, a influência do recente ‘boom’ agrícola vem, aos poucos, estimulando a abertura de novas


Fotos: Ariosto Mesquita

lavouras também nos municípios vizinhos de Redenção, Cumaru do Norte e Santa Maria das Barreiras. Expansão vertiginosa A estimativa do Sindicato Rural de Santana do Araguaia é de que a agricultura ocupe hoje 60 mil hectares de seu território e produza 162 mil toneladas de grãos. A área é considerável, levando-se em conta a estimativa de um total de 80 mil hectares plantados atualmente neste canto do Pará em duas safras anuais distintas: a primeira, quase sempre com soja de verão e a segunda, com milho ou culturas de cobertura no inverno. Também é possível ver algumas áreas cultivadas com arroz. Considerando estes números (e os primeiros 500 hectares de Schlatter), a expansão da área cultivada na região em 12 anos foi gigantesca: perto de 12.000%. Pelo que a Agro DBO constatou, esta expansão agrícola está só no

começo. Santana está atraindo agricultores de várias regiões do país, sobretudo de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, sequiosos por adquirir terras baratas para plantio. A estratégia deles é quase sempre a mesma: donos de terras bastante valorizadas em polos agrícolas nacionais – como o médio norte de Mato Grosso ou a região dos Chapadões em Mato Grosso do Sul e Goiás –, eles vendem pequenas áreas nas regiões de origem e, com o dinheiro obtido, compram terras mais baratas e, frequentemente, 10 vezes mais extensas em Santana do Araguaia, em sua maioria formadas por talhões degradados, utilizados até então como pastagens para o gado. A partir daí começa o gradual processo de abertura de parcelas para a agricultura. Mais de 30 anos depois, se repetem, com novos cenários e atores, os procedimentos adotados pelos produtores rurais oriundos do Sul do Brasil na abertura das áreas agrícolas do Centro-Oeste do país. Este movimento convergente de migração está promovendo um crescimento em ritmo acelerado das terras cultivadas no Vale do Araguaia. A Semagri – Secretaria Municipal de Agricultura de Santana do Araguaia, estima

A ousadia de Schlatter foi recompensada: a agricultura ocupa atualmente 60 mil hectares em Santana do Araguaia.

Localização espacial do município de Santana do Araguaia

que a área plantada com soja tenha aumentado 75% entre a safra passada e a atual. A bovinocultura de corte continua sendo a principal força econômica da região, mas a mudança é visível nos campos. Ao longo da BR-158, que cruza o município, já é possível ver diversos estágios de transformação de áreas de pastagens em espaço para lavoura. Mesmo convicto, desde o início, de que a região seria propícia para agricultura, Rodolfo Schlatter não escapou de pagar o preço do pioneirismo. No início da década de 1980, ele cultivava 50 hectares de lavouras (30 de soja e 20 de algodão) em Itambé (PR), onde nasceu. Em 1983, tomou a decisão de

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Especial Schlatter pagou 500 reais por hectare em 2002, quando chegou a Santana do Araguaia, 5% do preço em Chapadão do Sul (MS). se mudar para Chapadão do Sul, no Mato Grosso do Sul. “Arrendei terra e fui comprando devagarzinho”, conta. Em 2002, consolidou ali área própria de 4 mil hectares. Até hoje faz bons negócios com a agricultura na região dos Chapadões e, mesmo alçando novos voos no Vale do Araguaia, faz questão de manter a base de seus negócios, e não abre mão de morar no Mato Grosso do Sul. Na safra 2012/13, além de seus 4 mil/ ha, cultivou mais 1,3 mil/ha em

parceria/arrendamento em duas safras: verão (100% soja) e inverno (70% milho e 30% milheto). A produtividade obtida com a oleaginosa foi de 60 sacas/ha. Já o milho segunda safra atingiu 120 sacas. Então, em 2002, sem perspectivas de ampliação dos negócios na região, Schlatter decidiu conhecer o sul do Pará. “Tinha notícias desta fronteira norte no Vale do Araguaia e resolvi ver como era”, conta. As extensas áreas de pas-

Uma história de fé e coragem

Primeira “casa” (1968) e núcleo urbano de Campo Alegre (1980), em fotos reproduzidas do livro “História de Santana do Araguaia-PA”, de Henrique Vita.

A história de Santana do Araguaia tem raiz na década de 1960, quando o grupo econômico Cetenco adquiriu 130 mil hectares no vale do rio Campo Alegre, com financiamento da Sudam. Surgia, em 1967, a Cia. Industrial e Agropastoril Vale do Rio Campo Alegre. Na época, outros grupos investiam em grandes fazendas na região (nordeste do Mato Grosso e sul/sudeste do Pará), como a Santa Fé (Caterpillar), Rio Cristalino (Volkswagen), Fartura (Supergasbrás), Codespar (Lunardelli) e Rio Dourado (Atlântica-Boa Vista Seguros). Em 1969, pelo menos 30 projetos pecuários estavam em implantação, somando perto de 20 mil cabeças de gado, todos

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sob incentivo do governo federal. Para abertura das fazendas, eram dias de viagens através de picadas e atoleiros em jericos e veículos improvisados, invariavelmente “paco-pacos” – híbridos de trator e caminhonete montados peça por peça. A alimentação era crítica. Em seu livro “História de Santana do Araguaia-PA”, o italiano Henrique Vita, um dos pioneiros da região, conta que, frequentemente, os alimentos eram jogados de avião pela dificuldade de acesso por terra. Ele mesmo teve de enfrentar refeições não convencionais, como “uma panelada de galinha cozida com tripa, cabeça e tudo”. As tempestades e cheias dos rios da região for-

tagens degradadas que encontrou são, em grande parte, originárias de projetos de colonização da Sudam – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia nos anos 60 e 70 do século passado. Na época, o governo federal incentivou as grandes corporações a investir em atividades produtivas na região, concedendo-lhes grandes benefícios. Com isso, conhecidas empresas de capital nacional e estrangeiro – Caterpillar, Supergas-

mavam barreiras intransponíveis, ciclones e incêndios destruíram barracos e oficinas. A estrutura de saúde era, obviamente, limitadíssima. “Alguns médicos faziam preces junto ao paciente, antes de operá-lo”, segundo relato de Vita. O município começou a se desenvolver com o surgimento, em 1975, da Campo Alegre Colonizadora Ltda. A política de ocupação previa, entre outras coisas, a concessão de um lote urbano gratuito para quem adquirisse uma área rural. No final dos anos 70 o povoado passou a ser sede do Atlas Frigorífico, do grupo Volkswagen, presidido à época por Wolfgang José Sauer. Considerado à época o maior frigorífico da América do Sul, ajudou a impulsionar a economia local, atraindo migrantes de várias regiões do país. Em 1980, sua população chegava a 12.605 habitantes, pulando para 31.218 em 2000 (dados IBGE). Hoje, o município, com 63 mil habitantes (estimativa IBGE/2013), luta contra os entraves do passado, na esteira do progresso trazido pelos agricultores que, como Rodolfo Schlatter, acreditam em agricultura de alta produtividade.


Área de soja da fazenda Santana Rios, com o seringal ao fundo

brás, Manah e Volkswagen, entre outras – passaram a ser donas de grandes extensões de terras, abertas inicialmente para a criação de gado, atividade gradativamente ampliada por quase três décadas. Com o passar dos anos, porém, a “colonização” refluiu, as grandes empresas perderam o interesse pelo negócio, retiraram-se ou delegaram a administração das propriedades a terceiros, abandonando, praticamente, as fazendas de gado. Então os pastos começaram a se degradar. Foi quando Schlatter enxergou a oportunidade, antevendo, inclusive, boas condições de escoamento da produção no futuro. “Vi áreas abandonadas, mas com um asfalto lindo da BR-158 passando em frente das fazendas, rumo ao norte do país. Bastaria jogar a soja no caminhão e viajar 750 quilômetros até Porto Franco, no Maranhão”, conta. Aposta no futuro Schlatter não pensou duas vezes e adquiriu parte das terras da Supergasbrás, os citados 17 mil / ha que compõem hoje a fazenda Santana Rios. “Paguei R$ 500,00/ ha, algo em torno de 5% do preço em Chapadão do Sul”, calcula. Segundo ele, a valorização das terras de lá para cá já justificaria o investimento. “Hoje, o valor do hectare

degradado a ser recuperado em Santana do Araguaia já está na faixa dos R$ 6 mil; áreas como as que existem em minha propriedade, prontas para agricultura, devem valer atualmente quase R$ 20 mil/ha”, estima. Quando, em 2002, abriu os primeiros 500 hectares de lavoura na região, não havia armazéns nas redondezas; ele precisava achar um meio de escoar rapidamente a produção. De olho nos preços em Porto Franco, adquiriu nove caminhões. Em abril de 2003, fez a colheita. “A produtividade foi muito fraca, algo entre 35 a 40 sacas/ha, pois ainda estávamos testando variedades de melhor adaptação”. Mesmo assim enviou seus primeiros grãos para Porto Franco, de onde as cargas agrícolas seguem pelo rio Tocantins para terminais de exportação próximos ao Atlântico. Em 2004, a região de Santana ganhou seu primeiro armazém. A logística adotada permitiu que Schlatter fosse remunerado em

valores semelhantes aos pagos, na época, em Chapadão do Sul. “Era até ligeiramente superior”, lembra. Com o tempo, no entanto, a remuneração foi recuando, em função do aumento da oferta de soja na região e limitação de embarque de grãos e tráfego por rio a partir de Porto Franco. A viabilização econômica da hidrovia do Tocantins para o transporte de grandes volumes depende, hoje, da execução das obras de derrocamento do Pedral do Lourenço, um trecho acidentado de 43 quilômetros de extensão, que limita a passagem de embarcações de maior capacidade de carga, mesmo no período de chuvas. Estudos socioambientais neste sentido estão em fase de licitação por parte do governo federal. Nos últimos anos, a alternativa vem sendo escoar os grãos em caminhões até o terminal da Ferrovia Norte-Sul em Colinas, no Tocantins. No entanto, o custo do frete não torna os grãos do extremo sudeste do Pará tão

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Especial

Estrutura de armazenagem de grãos recémampliada em Santana do Araguaia para a safra 2013/14.

Surpresa escondida na mata Quando Rodolfo Schlatter adquiriu as terras do que é hoje a fazenda Santana Rios, ganhou um verdadeiro “presente”: uma parte dela – 60 hectares – não era área de recomposição florestal. Tratava-se de um seringal com 30 mil árvores, grande parte em plena capacidade de produção. Ele não tinha qualquer experiência em heveicultura e extração de látex. No ano seguinte, assim que estabeleceu sua equipe na propriedade, contratou uma assessoria técnica para conduzir o seringal. A empresa auxiliou-o intermediando a contração de mão de obra, a comercialização da borracha e orientando quanto à utilização de defensivos no seringal. Hoje, a atividade é conduzida

por seis funcionários, cada qual responsável pela produção de látex em 10 hectares. Todos são registrados em carteira, recebem salário e, como produtividade, 30% da receita obtida com a comercialização da borracha produzida na área a seu encargo. Schlatter fica com os 70% restantes. Ele não esconde que este capão verde lhe dá um excelente retorno. “Com base nas cotações atuais (dezembro/2013), recebo anualmente um valor líquido entre 300 mil e 350 mil reais; este dinheiro entra direto no caixa da fazenda e, com ele, consigo pagar quase todos os meus funcionários”, relata. Este montante equivale a um faturamento de até 5,8 mil reais, algo em torno de 5% de sua renda anual.

competitivos. A expectativa de Schlatter é pela ativação, ainda em 2014, do novo terminal portuário da Bunge em Vila do Conde, no município paraense de Barcarena, na região de Belém (distante de Santana aproximadamente 920 km por rodovia). Mesmo com trechos de estradas em estado ainda precário, ele entende que já é possível levar os grãos em caminhões até lá e vender a soja a um preço 5% superior ao que é pago, em média, no Mato Grosso do Sul. “Vila do Conde é terminal mais próximo do Canal do Panamá, por onde produtos seguem rumo à Ásia, e de mais fácil acesso também à Europa”, ressalta. Investimentos pesados Schllater enfrentou muitos percalços até que seus negócios se estabilizassem em Santana do Araguaia. As dificuldades iniciais o levaram a investir muito. Além da compra de 17 mil hectares de terras e da aquisição de nove caminhões, também se viu obrigado a trazer maquinário para a região. “Comprei tratores e colheitadeiras novas para que apresentassem o mínimo de problemas, uma vez que não encontrava peças de reposição por perto e, muito menos, mão de obra mecânica; tudo tinha de vir a partir de Goiânia, em uma distância de 1.234 km por rodovias”. Com estes equipamentos, transformou as terras degradadas em áreas agricultáveis. “Abrimos uma média de 1.000 hectares ao ano. Hoje, temos perto de 11.000 hectares para lavoura”, conta. Na safra 2012/13, ele cultivou 6.300 hectares na fazenda Santana Rios.

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No verão, ocupou 100% da área com soja (média de 55 sacas/ha). No inverno, metade com milho (média de 110 sacas/ha) e o restante, com milheto para cobertura de solo. Além disso, cultiva mais 4.000 hectares (soja e milho) em sistema de arrendamento/parceria na vizinha Fazenda Santa Fé. Hoje, Schlatter tem a companhia de dezenas de outros agricultores e grandes grupos agropecuários que estão investindo em lavouras na região. “No primeiro ano, somente eu plantava, apesar da desconfiança geral, o que era até certo ponto natural; imagine o choque dos moradores de uma região que, por quase 30 anos, viveu do extrativismo de madeira e da pecuária e que se vê, de repente, diante de um sujeito que vem de fora dizendo que agricultura dá certo e tentando mudar as coisas”, observa. Ele não chegou a ser chamado de louco ou coisa parecida (pelo menos publicamente), mas muita gente tentou tirar de sua cabeça a ideia de se cultivar grãos na região. “Várias pessoas alegavam que o clima não era propício e que o lugar era terra de boi; quando fiz uma visita ao frigorífico da cidade (JBS, antigo Atlas), um dos diretores me disse que agricultura era impossível em função do excesso de chuvas no município”, conta. Obviamente, ele conferiu o real perfil climático. Depois de pesquisar históricos de precipitações pluviométricas da Supergasbrás,

Arquivo Rodolfo Schlatter

Nos primeiros anos, o serviço de saúde era tão precário que o médico costumava rezar com o paciente, antes de operá-lo.

Abertura de áreas nos primeiros anos de ocupação da região de Santana do Araguaia

viu que não haveria dificuldade alguma neste aspecto. “Analisei o gráfico de chuvas em um período de 25 anos e vi que não havia exagero nenhum. Percebi que as águas chegam nos meses de setembro/outubro e começam a rarear em abril, o que é muito parecido com o ciclo que temos em Chapadão do Sul”, explica. O pioneirismo de Schlatter durou praticamente uma safra – os agricultores que acabaram por se instalar na região preferiram esperar os resultados de sua ousadia. Na safra 2003/4, mais dois produtores chegaram. Na temporada seguinte, já eram cinco. Tudo parecia ir bem, mas em 2005 estourou uma forte crise na

agricultura brasileira. Além da queda dos preços internacionais de commodities, os agricultores compraram insumos com dólar valorizado e comercializaram a safra com a situação oposta (real em alta). Como resultado, o preço da soja ficou pressionado. Na região de Santana do Araguaia, a saca de 60 quilos era comercializada a R$ 20,00, o que não cobria o custo de produção. Quem havia apostado, parou de plantar. “Na safra 2005/6, eu estava novamente sozinho depois de quatro anos cultivando grãos na região. Sabia que se conseguisse superar as dificuldades daquele ano, o mercado voltaria a reagir. Foi difícil, mas alguma coisa me dizia pra não desistir”, ressalta. Sob olhares incrédulos, Schlatter mergulhou no plantio de soja nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2005. Quem acompanhava de perto era o produtor Dirceu Flumian, o segundo a cultivar grãos na região. “Em fevereiro de 2006, ele viu que eu já estava colhendo com bons resultados e, neste mesmo mês, decidiu investir na segunda safra, plantando um pedaço de terra com milho; quando colheu e ganhou dinheiro, voltou a apostar em soja na safra 2006/7; dai em diante vieram novos produtores e grandes grupos e a coisa só tem crescido”, resume.

Confira nas próximas edições:

• O plantio de

soja no cascalho; • A chegada de pesquisadores; • Novos grupos e agricultores; Os • desafios estruturais, urbanos e sociais.

• Projeções de

crescimento na nova fronteira agrícola; A • migração de mão-de-obra especia­lizada; Santana do Araguaia: • as mudanças em uma “terra sem lei”;

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Por que financiar a agricultura familiar é bom pra todos? Porque, se por um lado, aumenta a produtividade no campo, por meio do Pronaf, do Governo Federal, por outro, incentiva o comércio e melhora a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. E isso é bom pra todos.

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Extensão rural

Fase vegetativa Ameaçada de liquidação por dívidas tributárias junto à União, a Emater/RS luta na Justiça para sobreviver. Glauco Menegheti

A

s rugas vincadas e a pele curtida de sol denunciam a atividade de Eliseu Rosa da Silva, o seu Juca, de 70 anos. Ele é agricultor. Esguio e ágil, tanto com a língua quanto com o corpo, é ele que planta e colhe hortigranjeiros orgânicos na pequena propriedade localizada nas cercanias de Porto Alegre (RS). A esposa e a filha trabalham nos bastidores, produzindo geleias, no que vem a ser uma pequena agroindústria. Apesar de ter assistência técnica gratuita de um agrônomo da Emater, serviço impensável se tivesse que pagar, ele já vai adiantando: não se é agricultor ecológico por decreto, por vontade alheia. “É uma questão de cabeça, de escolha pessoal.” Ainda assim, 36 | Agro DBO – fevereiro 2014

depois de 16 anos nesse sistema, se considera um aprendiz. Além de colher 2 mil pés de alface por mês, a produção em um hectare é diversificada com salsão, alho-poró, rúculas, abobrinha, pepino, tomate, berinjela, tudo vendido semanalmente numa feira ecológica de Porto Alegre há mais de uma década. Para reforçar o orçamento, ainda recebe estudantes, que pagam uma diária para conhecer uma propriedade sob agricultura agroecológica. Com o agrônomo extensionista Sandro Trevisan Fidler, Seu Juca aprendeu que é na diversificação que se previne o ataque de pragas num manejo agroecológico. “Quanto mais se mistura os cultivos, mais mascara o cheiro das

produções”, ensina o agricultor, que produz plantas aromáticas e flores para atrair os insetos. Para o agricultor, a Emater é como chuva, vem de graça. Também diz que representa o primeiro posto de saúde a quem pode recorrer em caso de doença na propriedade. Mas essa gratuidade pode estar com os dias contados para os cerca de 60 produtores, quilombolas, índios e pescadores artesanais a quem Fidler presta assistência. Num universo mais amplo, no Rio Grande do Sul, 250 mil famílias atendidas pela Emater/Ascar, uma das mais atuantes do país, podem ficar desamparadas. A Emater gaúcha, única que possui personalidade jurídica privada no país e, por isso, direito


ao Cebas – Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, enfrenta um processo de perda do seu status de filantropia. No final de 2013, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região extinguiu ação popular ajuizada em novembro de 2011 e cassou a liminar da Justiça Federal que garantia a isenção de pagamento do INSS patronal. No final de janeiro, no retorno do recesso da Justiça, os autores da ação popular em defesa da Emater/RS ingressaram, no 2° grau, contra a decisão do juiz federal. “Não vai ser decisão de mérito, mas processual, e vai ser uma discussão de longo prazo. Enquanto não houver discussão de mérito, não vamos pagar o percentual do INSS que cabe ao empregador”, diz o presidente da Emater/RS, Lino de David. O valor a ser desembolsado é de 30% sobre a folha de pagamento, percentual que cabe ao empregador para o INSS. “Se eu pagar agora, antes da discussão de mérito, vou admitir que estou errado.” O executivo justifica que esse recurso serve para reforçar o caixa da instituição, que contou com

orçamento de R$ 290 milhões em 2013, dos quais de 5% a 6% envolvem projetos financiados do governo federal. Para 2014, com o surgimento da Anater, ele projeta uma participação da União entre 11% e 12%. A Ação Popular assinada por ex-governadores, senadores, deputados federais e estaduais gaúchos de todos os partidos tenta obter a declaração de nulidade por ilegalidade e imoralidade de dois atos administrativos praticados pela União contra a Ascar – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural: um que “revogou” o direito à imunidade da entidade em relação à contribuição previdenciária e outro que cancelou o Cebas. O litígio entre a Ascar e a União se refere à contribuição previdenciária. Conforme Lino de David, o problema começou em 1992, quando a Ascar perdeu o direito de isenção tributária do pagamento da contribuição previdenciária, adquirido em 1975 e condição exigida para manter a certificação de entidade beneficente, o que liberou a empresa de assistência técnica de pagar contribuição patronal ao INSS.

Eliseu R. da Silva, o Seu Juca: produção crescente e diversificada graças a assistência técnica gratuita.

ça ações pontuais, a Emater/RS e a Asbraer – Associação Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural encaminham em Brasília pleito para enquadrar a atividade rural no conceito de assistência social. “Esse conceito, que reconheceria manter o homem no campo por meio de serviços de extensão rural gratuito, não existe hoje”, diz Lino. Um grupo de trabalho formado por representantes do MDA, MDS, Senado, Câmara e governo do Rio Grande do Sul busca uma forma de conceituar a assistência social no campo. O próximo passo seria criar uma legislação, via decreto, medida provisória ou projeto de lei, que assegurasse às empresas de assistência rural a isenção do pagamento do INSS sobre a folha de pagamento. Outra negociação aberta com o governo federal diz respeito a estender a todas as “Emateres” o status de filantropia. Hoje, por ser a única que tem personalidade jurí-

Eficiência ameaçada Com a derrubada dessa liminar, a Ascar volta a ficar fragilizada diante de ações de execução fiscal que podem, até mesmo, determinar a liquidação da Instituição e o encerramento do serviço prestado. Hoje, a Emater acumula dívida de R$ 2 bilhões com a União, ao passo que seu patrimônio é estimado em R$ 30 milhões. Enquanto não houver discussão de mérito, a Emater/RS não pagará o percentual do INSS que cabe ao empregador. “Além de inviabilizar uma instituição que presta 3 milhões de atendimentos por ano para agricultores familiares, o governo não vai receber nada”, acrescenta Lino, lembrando que, pela lei brasileira, primeiro são pagos direitos sociais e trabalhistas, segundo fornecedores e, em terceiro, tributos públicos. Ao mesmo tempo que discute na justifevereiro 2014 – Agro DBO | 37


Extensão rural

Sandro Fidler e Seu Juca, em plena conversa sobre manejo de cenouras

O sucateamento das ”Emateres” deixou os agricultores à mercê da vontade política dos governos.

dica privada, somente a unidade do Rio Grande do Sul pode reivindicar a imunidade. E não é somente aí que reside a vantagem. Ser privado também garante à Emater/RS uma autonomia na gestão do seu orçamento. Em primeiro lugar, a rubrica da Emater não está sujeita a contingenciamento assim que a redução de gastos do governo estadual se faz necessária. Em segundo, existe liberdade para a tomada de ações na ponta: se um carro estraga no interior, a unidade responsável pode mandar consertar, desde que faça três orçamentos, por exemplo. Não seria possível transformar todas as Emateres em públicas, mas criar legislação que permitisse a elas o certificado de filantropia.

Sancionada pela presidente Dilma Rousseff no final do ano passado, a Anater – Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural promete dar nova musculatura ao serviço de assistência técnica e extensão rural no país. A agência funcionará como um serviço social autônomo, com personalidade jurídica de direito privado, mas controle público. Com isso, ela terá a autonomia de orçamento e ações citada anteriormente no caso da Emater/RS. Em 2014, a Anater terá aproximadamente R$ 1,2 bilhão para a prestação dos serviços de Ater em todo o país. Está em discussão qual será o modelo pelo qual repassará esse recurso aos estados. Uma das possibilidades é a agência assumir o custeio das Emateres, por repasse direto. Desafios da Anater Para o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Laudemir Müller, existem vários desafios para a Anater. Um deles será o de identificar demandas tecnológicas dos produtores e repassá-las a centros de pesquisa públicos como, por exemplo, a Embrapa. O segundo desafio é que pequenos e médios produtores tenham acesso a recursos governamentais. “Isso depende de boa assistência técnica”, aponta Müller. E, por último, acres-

centar e complementar o trabalho realizado nos estados. A Anater, que, segundo Müller, terá o ano de 2014 para se estruturar, terá como prioridades a região do Semiárido, através de sistemas de tecnologias que propiciem convivência com a seca, e aumentar a produtividade no leite em nível nacional, que é muito baixa em relação aos concorrentes. Outra das prioridades é divulgar e implantar a agricultura ecológica em pequenas propriedades, assentamentos e quilombos. Na opinião do secretário do MDA, a natureza jurídica privada vai dar flexibilidade nas ações da Anater na relação com os estados e na contratação de serviços. Apesar de ter estados que se destaquem, tais como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, Müller considera que exista a necessidade de melhoria dos serviços em todos os estados. Conforme o presidente da Emater de Minas Gerais, José Ricardo Ramos Roseno, a expectativa é que a entidade nacional oriente e dê diretrizes sobre o trabalho de extensão rural pública. E ele justifica com números. Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2006, a renda do agricultor que tem acesso à assistência técnica é quatro vezes maior do que o sem o serviço. Referência entre as Emateres no país

Entenda o caso Emater/RS Em 2003, a Emater encaminhou ao MDS – Ministério de Desenvolvimento Social pedido para análise de filantropia. Em 2006, a Operação Fariseu, da Polícia Federal, desbaratou um grupo de pelo menos sete pessoas que concedia Ceas - Certificados de Entidade de Assistência Social a entidades fraudulentas, isentando-as de impostos. Nesse momento, a demanda da Emater ainda não havia sido julgada. Em

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2006/7, a incumbência de conceder e recusar pedidos de CEAS passou do CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social para o MDS e até hoje o caso da Emater gaúcha não foi avaliado. A legislação de 2003 que regulava a filantropia indicava que a empresa para gozar desse status deveria investir 20% do seu orçamento no serviço de assistência social. A lei atual exige 100% de investimento.


Segundo expectativas, a natureza jurídica privada da Anater vai dar flexibilidade às suas ações nas relações com os estados. (a primeira foi criada lá, em 1948) , a mineira promoveu um choque de gestão e planejamento ainda em 2003. Para Roseno, isso fez toda a diferença. O objetivo era que a informação tinha que chegar na ponta. Para isso, foi criada uma estrutura de 1.600 técnicos que atuam no campo em 800 municípios. Não à toa, a unidade mineira é a que possui o maior número de profissionais. Além disso, foram criadas ferramentas de apoio, como televisão e rádio próprios. Outra premissa foi a de não levar apenas informação técnica, mas projetos e programas. A unidade é a segunda em projetos de crédito do Pronaf, atrás apenas do Rio Grande do Sul. Para manter tamanha estrutura, o caminho foi diversificar as fontes de financiamento. Hoje, o governo arca com 80% do orçamento anual da unidade. Os 20% restantes vêm de convênios com as prefeituras (todas que recebem apoio precisam pagar) e governo federal. Em contrapartida, os municípios conseguem angariar, em projetos de investimento, um valor 10 vezes superior que o recurso alocado. Afora isso, há um trabalho forte com parlamentares para turbinar o orçamento via emendas. O orçamento da Emater mineira saltou de R$ 100 milhões em 2003, para R$ 280 milhões em 2013. Ainda que a Emater/MG seja pública, de acordo com Roseno, adquire mais autonomia orçamentária ao variar as suas fontes. O que falta ainda é obter a imunidade tributária, mas isso fica para outro capítulo. Até a liquidação da Embrater Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, em 1990, pelo governo Collor, o recurso da União para as Emateres perfazia 60% do total. Após esse governo, o recurso caiu a quase zero e, se em alguns estados houve uma conti-

A Emater mineira, a primeira a ser criada no país, é referência em extensionismo rural.

nuidade na prestação de serviço, em outros o serviço passou por sucateamento. “As Emateres do Norte, Centro-Oeste e Nordeste foram quase extintas. Depois disso, os agricultores familiares ficaram à mercê da vontade política dos governos estaduais”, testemunha o presidente da Emater/Ascar, Lino de David. Somente as unidades de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Bahia continuaram com um trabalho forte voltado para a agricultura familiar. Problemas com salários Em 1990, as entidades de extensão rural e assistência técnica criaram a Asbraer, com o objetivo de preencher o vácuo gerado pela extinção da empresa nacional. No governo Lula, o serviço começou a readquirir importância. Do Ministério da Agricultura, que não tinha identificação com a agricultura familiar, o serviço de extensão rural como política nacional passou ao MDA, mas ainda com poucos recursos. Em 2003, os estados aportavam de 70% a 80% dos recursos necessários ao trabalho de assistência técnica, sendo que a União apoiava com R$ 40 milhões. Em 2013, o orça-

mento do MDA para extensão rural fechou em R$ 830 milhões. O primeiro modelo de repasse de recursos no governo Lula foi o de convênio de Ater, que não funcionou. “Não se conseguia definir objetivamente o valor do serviço do agrônomo e tínhamos problemas na prestação de contas. Esse profissional presta vários serviços, como medir uma terra, elaborar um projeto, prestar assistência técnica e não conseguimos mensurar os valores de forma precisa”, testemunha David, acrescentando que convênio não pode aplicar em mão de obra. Já em 2010 foi criada a Lei das Chamadas Públicas, que estabeleceu a licitação simplificada e baseada na Lei 8166. Na avaliação dos beneficiários do recurso federal, uma das vantagens é a flexibilidade do uso do recurso. Nos primeiros três a quatro meses, a Emater beneficiada tem que colocar dinheiro próprio e cobrir o recurso de determinado projeto, mas depois pode utilizar a verba federal para outras finalidades, como, por exemplo, pagar a folha do pessoal. “Para uma empresa de prestação de serviço o maior custo é o dos salários”, diz de David. fevereiro 2014 – Agro DBO | 39


Tecnologia

Transformações do Fósforo O solo tem vida microbiana, que provoca mudanças no P. Entender isso é vital para o uso eficiente e rentável do adubo. Solismar Venzke Filho *

U

m dos grandes desafios da agricultura moderna é melhorar a eficiência de uso dos recursos não renováveis, entre eles o fósforo (P). Esse desafio passa por ampliar e aprofundar o entendimento já existente sobre a dinâmica das transformações do P no solo e, por conseguinte, o desenvolvimento das inovações biotecnológicas para serem aplicadas no sistema de produção agrícola. A dinâmica das transformações do P e sua disponibilidade para a planta são controladas por reações físico-químicas e bioquímicas, na base destas reações encontram-se os princípios da termodinâmica. Devido à existência de vida no solo, a grande maioria das transformações do P nas frações ocorre por reações enzimáticas, com participação ativa dos micro-organismos.

A fração mais importante para a nutrição de plantas é o P em solução, no qual chamamos de P-disponível, que geralmente encontra-se em concentração muito baixa e, reflete o balanço entre os processos de fornecimento, assimilação/ imobilização e absorção de fósforo pela planta (Figura 1). Assim, observa-se na figura 1 que a solução do solo e a biomassa microbiana são as frações centrais e se relacionam com as demais. E, as duas maiores quantidades de fósforo no solo estão no estado orgânico que pode variar de 100 a 400 kg/ha na camada de 0-10cm; encontrado na forma lábil, passivo ou resistente; e no estado inorgânico que pode variar de 50 a 200 kg/ha, encontrado na forma adsorvida aos minerais; como também na forma de precipitado ou ainda na constituição dos minerais primários e secundários.

As principais frações e transformações do fósforo no ambiente-solo

Figura 1. O número entre parênteses indica a quantidade de fósforo (kg ha-1, na camada de 0-10 cm) das frações. As letras indicam os processos ocorrentes com o fósforo. A-decomposição; B-mineralização; C-imobilização; D-solubilização; E-adsorção/desorção, precipitação/ solubilização. (Baseado em Moreira & Siqueira, 2002 no livro Microbiologia e Bioquímica do Solo).

Planta (10) Absorção

Resíduos vegetais e animas (5)

Fertilizantes (5)

Solução do solo (0,001-0,01) (A)

(A/B)

(C)

(C) (E)

(A) (B/E)

Biomassa microbiana (10-30)

(B)

(E) (D)

(C)

Fósforo orgânico (100-400)

40 | Agro DBO – fevereiro 2014

Fósforo inorgânico (50-200)

A biomassa microbiana do solo (BMS) é um ponto chave nesta dinâmica entre as frações e ela pode ser conceituada como o conjunto de micro-organismos, expresso em grama de elemento químico (C, N, P ou S), por quilo de solo. O comportamento do conjunto de células microbianas tem efeito direto e/ou indireto na capacidade de fornecimento de fósforo pelo solo à planta. Quando a BMS aumenta (ela não cresce, quem cresce são os micro-organismos!!!) há o fenômeno de assimilação ou imobilização temporária de fósforo na massa celular. O mesmo fenômeno ocorre com o nitrogênio e enxofre. As fontes de P para os micro-organismos crescerem podem ser demandadas da solução do solo; do P-orgânico e do P-inorgânico (Figura 1). Qual a fonte de P que será a mais demandada no momento para aumentar a BMS? Será definido pelo metabolismo dos micro-organismos predominantes no solo, naquele momento. Por exemplo, os fungos micorrízicos absorvem o P da solução do solo, enquanto que os fungos Aspergillus niger e Penicillium aurantiongriseum possuem a capacidade de absorver o P-inorgânico. Ou seja, possuem metabolismos de absorção de P diferentes. Quanto maior a diversidade metabólica da comunidade microbiana maior será a dinâmica das transformações do P, resultando em maior fluxo entre as frações, consequentemente o P chegará à solução do solo com mais frequência. A conversão de P-inorgânico para BMS ocorre de maneira muito rápida com taxa de conversão de 6 µg de P por g de solo na semana,


sendo esta taxa inversamente proporcional a quantidade de P na célula microbiana. A imobilização na BMS é mais provável de ocorrer quando a quantidade do P estiver em baixa concentração na solução do solo, abaixo do que é exigido pelos microrganismos crescer. Desconhece-se a concentração mínima na solução do solo para que não ocorra a imobilização; mas se sabe que a quantidade imobilizada de P está relacionada à demanda da BMS em dado momento. Proporcionalmente, os micro-organismos possuem a capacidade de absorverem mais P mineralizado que as plantas. De modo geral, na biomassa microbiana tem entre 10 a 20 mg de P/kg de MS, enquanto as plantas cultivadas no geral apresentam apenas 0,5 a 1,0 mg de P/kg de MS. Paralelamente à imobilização ocorre a mineralização pelos micro-organismos heterotróficos. O P-orgânico não está diretamente disponível para grande parte dos micro-organismos, pois não pode ser absorvido nas células dessa forma. Para que ocorra a absorção celular, o P na forma orgânica sofre processos de oxidações até chegar à forma mais reduzida de fosfatos inorgânicos (os chamados ortofosfatos), para ser absorvido pelos micro-organismos e também pelas plantas. Na fase final deste processo de mineralização, atua um grupo de enzimas chamado de fosfatases e fitases. Estas enzimas são encontradas em até 80% dos micro-organismos que habitam o solo. Uma vez o fósforo mineralizado, pode compor a massa de células dos micro-organismos (BMS) ou ser absorvido pelas plantas; ou precipitado em complexos inorgânicos, ou também adsorvido nas superfícies dos minerais secundários (óxidos de ferro e alumínio), como ocorre com frequência em solos tropicais. Por outro lado, quando a BMS diminui, provocada por variações climáticas, distúrbios mecânicos ou

Comunidade microbiana no micro-sítio Micro-organismos

Micro-organismos

200 mm

Ar CO2

O2

Macroagregados

limitações nutricionais; as células microbianas cessam a sua multiplicação e, muitas morrem, e ao morrerem sofrem lise (rompimento da célula), saturando a solução de solo em P e outros nutrientes, facilmente lábil, num meio rico em enzimas fosfatase e fitase. Por conseguinte, elevando a solução do solo em ortofosfatos e demais nutrientes. Os micro-organismos são capazes de crescer rapidamente, provocam aumento da BMS, mas também podem morrer rapidamente, com diminuição da BMS. Esta dinâmica de aumentar e diminuir a BMS no interior do solo é força motriz para a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Em 1986, McGrill e colaboradores chamaram esse fenômeno de “turnover da biomassa microbiana”. O P na BMS tem uma taxa de circulação em torno de 1,25 ao ano, representando um fluxo médio de 16 kg de P.ha-1 ano-1, podendo alcançar 50 kg de P.ha-1 ano-1. Sendo essa chamada de fração moderadamente lábil que contribui com 80% a 90% do fósforo mineralizado. Entretanto, este fenômeno não é homogêneo e sincronizado no tempo e no perfil do solo, ou seja, não ocorre por toda a extensão do perfil do solo ao mesmo tempo e com igual intensidade. Devido à heterogeneidade do solo, há regiões, aqui chamadas de micro-sítios (Figura 2), em certos momentos

se encontram em condições favoráveis ao crescimento microbiano, resultando numa intensa imobilização de nutrientes, entre eles o P. Em outro momento, as condições ambientais mudam, e fica desfavorável ao crescimento; naturalmente ocorre uma diminuição da BMS, o que resulta numa intensa liberação de nutrientes para solução do solo, beneficiando a planta. Nessas condições adversas, a grande parte da comunidade microbiana localizada em micro-sítio passa para forma inativa (de dormência), se adaptando às novas condições do habitar; até surgirem novas condições propícias ao crescimento. Podemos acreditar que devido à sua heterogeneidade, no perfil do solo possui zonas com alta disponibilidade de nutrientes e de baixa, ao mesmo tempo. Por sua vez, a planta por intermédio do seu sistema radicular produz o processo chamado de rizodeposição (exsudação e escamação celular), que é estimulante à comunidade microbiana através de fonte de carbono (no aspecto nutricional) e de substâncias sinalizadoras (no aspecto fisiológico). Adição de fonte de carbono no solo via sistema radicular pode favorecer a decomposição de determinadas frações de substâncias húmicas nativas e não húmicas, e a liberar o fósforo e outros nutrientes (N e S) da matéria orgânica. Esse fenômeno é

Figura 2. Presença de micro-sítios no perfil do solo.

fevereiro 2014 – Agro DBO | 41


Tecnologia A capacidade dos micro-organismos em solubilizar os fosfatos inorgânicos é conhecida de longa data, sendo generalizada. conhecido como “Priming Effect” (tradução literal do inglês de efeito gatilho ou disparo). Isto ocorre com certa frequência e pode ser provocado por adição de fertilizantes, por revolvimento do solo e adubação biológica. Outra importante transformação do P no solo é a passagem da fase sólida inorgânica para fase aquosa inorgânica, ou seja, a solução do solo, processo chamado de Solubilização de P. A capacidade dos micro-organismos em solubilizar os fosfatos inorgânicos é conhecida de longa data, sendo de ocorrência generalizada. Na literatura encontram-se diferentes mecanismos de solubilização do fósforo. Os mais citados são a produção de gás carbônico e de ácidos orgânicos oriundos da mineralização da matéria orgânica; a produção de exoenzimas; os compostos orgânicos com propriedades químicas de complexação e de quelação. A maior parte dos micro-organismos solubilizadores de fosfatos são as bactérias, mas a literatura tem demostrado que os fungos são mais

eficientes na solubilização. Dentre eles destacam-se duas espécies do gênero Aspergillus, o A. niger e o A. flavus. Os micro-organismos solubilizadores estão presentes em todos os solos, onde representam até 15% da comunidade microbiana. Tem-se observado que a eficiência do processo de solubilização depende da linhagem do micro-organismo; do tipo da fonte de P-inorgânico a ser solubilizado; da acidez do solo e da natureza dos ácidos orgânicos durante a decomposição da matéria orgânica. De modo geral, os mecanismos mais rotineiros citados na literatura para a solubilização dos fosfatos via micro-organismos são a diminuição do pH e/ou a produção de ácidos orgânicos de baixo peso molecular. Micorrizas Dentro da comunidade microbiana, não se pode deixar de destacar o importantíssimo papel dos fungos micorrízicos, popularmente chamado de micorrizas, na absorção de fósforo (Figura 3). As micorrizas são associações mutualísticas, na

Gradiente de depleção do Pi Vesícula

[Pi–]

Apressório

Esporos

Hifa interna

Hifa Externa Arbúsculo

Figura 3. Estrutura das Micorrizas Arbusculares

Raiz

42 | Agro DBO – fevereiro 2014

Solo

qual as raízes das plantas vasculares são invadidas por fungos específicos, ocorrendo uma perfeita integração morfologia e funcional entre os simbiontes (fungo e planta). Os fungos micorrízicos, em biomassa celular representam de 5% a 50% da comunidade microbiana do solo. O efeito dos fungos micorrízicos sobre o crescimento das plantas é significativo com relação aos nutrientes de baixa mobilidade no solo, os quais praticamente não se movem por fluxo de massa, porém chegam à raiz por meio de mecanismos de difusão, que é um processo lento. Neste grupo de nutriente além do P fazem parte os micronutrientes Zn e Cu. Os aumentos da taxa de absorção de P proporcionada pelos fungos micorrízicos podem ser atribuídos a cinco razões: 1 – Aumento do volume de solo explorado pelas hifas extra-radiculares do fungo; 2 – Pequeno diâmetro da hifa permite o acesso, inatingíveis pela raiz; 3 – Maiores taxas de influxo por unidade de superfície; 4 – A formação de polifosfatos, moléculas orgânicas produzidas pelos fungos micorrízicos ricas em fósforo, as quais acarretam a diminuição de fósforo inorgânico no interior das hifas, com o concomitante acúmulo de P em condições de alta disponibilidade deste elemento. A sua remobilização em condições de estresse momentâneo, permite um fluxo continuo à planta nos momentos de falta e; 5 – A produção da enzima fosfatase pelo fungo permite catalisar a liberação de fósforo dos compostos orgânicos, permitindo sua absorção pela planta na forma de ortofosfatos.


Sem dúvida que o volume explorado pelas hifas é um dos principais benefícios que a planta recebe desta simbiose. Estudos indicam que plantas micorrizadas adquirem uma capacidade de absorção 60 vezes maior que plantas não-micorrizadas. As hifas possuem taxa de extensão 823 vezes maior que a da raiz, o que lhes assegura elevada capacidade de absorção e eficiência. E, também as hifas dos fungos micorrízicos apresentam uma grande influência na comunidade microbiana, fenômeno chamado de micorrizosfera. Pois no entorno de suas hifas habita um grande número de bactérias (chamadas em inglês de helper-bacteria), muitas delas em protocooperação (relação ecológica interespecífica harmônica não obrigatória onde há vantagens recíprocas para as espécies, neste caso as bactérias e a micorriza). Além deste benefício, ocorrem outras interações na rizosfera entre os fungos micorrízicos e outros micro-organismos, tais como patógenos do solo ou bactérias fixadoras de nitrogênio e as promotoras de crescimento – rizobactérias. A eficiente funcionalidade das micorrizas depende da inter-relação entre fungo, planta e principalmente o ambiente-solo. É conhecido que a elevada fertilidade química do solo inibe a associação micorrízica, sendo observado que a taxa de colonização micorrízica intrarradicular diminui, às vezes drasticamente, com níveis elevados de P no solo, enquanto adições moderadas de P podem até favorecer o efeito do fungo micorrízico sobre a nutrição da planta. O manejo do solo é outro fator que afeta as micorrizas. Em geral, as práticas agrícolas que promovem revolvimento do solo, adubações excessivas, monocultura e uso intensivo de fungicida tendem a reduzir a colonização de micorrizas, o número de propágulos (hifas e esporos) e também a diversidade de espécies de fungos micorrízicos. Por fim, a transformação e redistribuição do fósforo em diferen-

tes formas no solo agrícola é resultado das transformações em um ciclo altamente dinâmico onde os micro-organismos desempenham papel essencial. O entendimento do papel da comunidade microbiana nas taxas de transformação das formas de P mais recalcitrantes em formas disponíveis à planta é de suma importância para adequar-se biotecnologias de baixo impacto ambiental e de uso eficiente do P em solos tropicais. Acredita-se que a origem do P, se é da fração orgânica ou da inorgânica a ser absorvido pela planta é irrelevante nos solos tropicais; e sim a intensa de produção vegetal a cada ano-safra no ambiente-solo. Com o propósito de manter uma intensa dinâmica de transformação do P nas frações, o produtor terá que planejar uma quantidade e qualidade de entrada de matéria orgânica todo ano via rotação de cultura, bem superior à que é utilizada hoje. Sabe-se que a entrada de matéria orgânica no solo é a fonte de energia motriz dos processos microbiológicos; consequentemente, isso se refletirá na taxa de conversão entre as frações de P-orgânico, P-inorgânico e, o mais importante do ponto de vista absorção da planta, o P-disponível. Os pesquisadores Van Noordwijk & Cadish, escreveram na revista Soil Plant em 2002: “A agricultura nas condições de clima temperado é quase sempre caracterizada por condições de excesso, enquanto nas regiões tropicais o problema é de acesso”. Portanto, a inovação biotecnológica passa por desenvolver mecanismos de acesso eficiente a este P química e fisicamente retido, para ampliar a eficácia do processo, que é naturalmente disponibilizar mais P na solução do solo, sem descuidar do balanço de entrada e saída do nutriente no solo. * O autor é engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia pela ESALQ/USP.

fevereiro 2014 – Agro DBO | 43


Meio ambiente

Cidade e campo contra a bioadversidade A gestão leviana, inclusive a legislativa, provoca desequilíbrios perigosos, porque a natureza é o ecossistema do homem. Evaristo Eduardo de Miranda *

As maritacas chegam a impossibilitar o plantio de girassol

T

* o autor é engenheiro agrônomo, doutor em ecologia, pesquisador da Embrapa, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

em muita gente preocupada com o futuro da biodiversidade. Correto! Contudo, nas áreas rurais, nas periferias urbanas e na produção agropecuária, os brasileiros enfrentam uma dura e cotidiana batalha contra a bioadversidade. No mundo dos invertebrados, a bioadversidade de mosquitos, pernilongos, carapanãs, borrachudos e assimilados é imensa. A dengue, doença viral, é transmitida ao homem pela picada de mosquitos, especialmente pelo Aedes aegypti. Para epidemia da dengue, 2013 foi um ano excelente: recorde de mosquitos e casos, como nunca se viu na história deste país. E a dengue ganha títulos de nobreza: tipos I, II, III e

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IV. Foi muita fadiga, febre alta, cefaleia e dores em milhares de brasileiros. E mais de 500 mortes. O ano foi bom para a malária, causada por parasitos do gênero Plasmodium, transmitidos por mosquitos do gênero Anopheles. Foram muitos acessos de calafrios e febres causados pela destruição maciça de glóbulos vermelhos, em milhares de pessoas. Graças a pernilongos, macacos e estradas, a febre amarela ampliou seu território e suas vítimas: turistas, agricultores, caminhoneiros e até o Dr. Dráuzio Varella. Muitas cachoeiras da Amazônia são a pátria da oncocercose. A “cegueira dos rios” veio da África no corpo dos escravos e hoje é encontrada, de forma endêmica,

no grupo indígena Yanomami. Só em águas bem limpas se desenvolvem os piuns ou borrachudos transmissores dessa doença, causada por nematoides do gênero Onchocerca. A bioadversidade de vermes no Brasil também vai bem. O caramujo vetor da esquistossomose se alastra e com ele o verme Schistossoma mansoni que causa diarreia, inchaço do fígado e do baço. A ausência de saneamento básico e a falta de água tratada afetam tanto populações amazônicas ao lado de igarapés e grandes rios, como a periferia de cidades e áreas rurais. A situação favorece as amebíases, infecções por protozoários do gênero Entamoeba ou as giardíases pelos parasitas flagelados do gênero Giardia. Eles são contraídos pela ingestão de água, frutas ou legumes contaminados, e causam diarreia dolorosa com perda de sangue, desconforto abdominal etc. Há também lombrigas, vermes solitários etc. As crianças são as principais vítimas. Mais de 88% das mortes por diarreia devem-se à falta de saneamento e 84% dessas mortes atingem as crianças. As infecções são contraídas pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Entre 2010 e 2011, houve um crescimento de 1,4 milhão de ramais de água e 1,3 milhão na rede de esgotos. Apesar do progresso ainda não se coleta nem metade do esgoto produzido. E, do esgoto


coletado, apenas 38% recebe algum tratamento. As inundações estivais que vitimaram Minas Gerais, Espírito Santo e outros estados do Brasil, sempre se fazem acompanhar por diversas infecções. Algumas são causadas por bactérias do gênero Leptospira, pelo contato com a urina de ratos infectados. A leptospirose traz febre, icterícia, dores musculares e albuminúria. Há o perigo do tifo, doença infectocontagiosa causada por microrganismos do gênero Rickettsia. E, no caso de ferimentos, há o risco do tétano, doença infecciosa causada pelo Clostridium tetani. Sua toxina age sobre o sistema nervoso central e se não for adequadamente tratada pode levar a óbito. Os exércitos de carrapatos, percevejos, moscas, mutucas, baratas, escorpiões, aranhas, morcegos hematófagos e transmissores da raiva, caramujos gigantes, serpentes peçonhentas e outras ameaças sempre recebem reforços externos. Após a ferrugem asiática, a recém-chegada lagarta Helicoverpa armigera já trouxe prejuízos de bilhões à agricultura brasileira! Sem ser exaustivo, cabe ainda lembrar, entre os invertebrados, os operosos barbeiros, insetos hemípteros hematófagos, com ampla distribuição no Brasil. Eles são vetores do protozoário flagelado causador da doença de Chagas. Vivem entre as frestas das paredes e, à noite, saem para sugar o sangue dos moradores e transmitir a doença. Não há cura, nem vacina. A bioadversidade de vertebrados vai bem, obrigado. Sem ações efetivas de gestão e controle, populações de animais selvagens, nativos e exóticos, proliferam no campo e na cidade. Um exemplo bem conhecido é a proliferação das capivaras em áreas urbanas e rurais. Além de destruírem a vegetação, elas disseminam a febre maculosa, através do carrapato-

-estrela, responsável pela morte de dezenas de pessoas. Isso interditou o acesso a espaços públicos em diversas cidades. As placas advertem: “Capivaras. Afaste-se. Risco de febre maculosa”. Eliminá-las não é fácil e constitui crime ambiental inafiançável. As prefeituras estão de mãos atadas. Problema análogo ocorre com a proliferação de micos, saguis e até do macaco-prego, capazes de devorar ovos e filhotes, mesmo nos ninhos mais escondidos. Eles causam o declínio e a extinção local de populações de aves, além de invadirem residências e destruírem a vegetação. Diversas cidades, até o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, enfrentam esse problema.

Javalis atacam em bando. Não há defesa contra eles.

Maritacas em áreas urbanas são simpáticas, barulhentas e portadoras de várias endemias.

Como as pombas, os “ratos do céu”, as maritacas adaptaram-se às cidades, não cessam sua expansão e causam diversos danos, até mesmo às instalações elétricas. Com a pomba-amargosa e outras pragas aladas, as maritacas chegam a impossibilitar o cultivo de girassol, sorgo e outras plantas, geram danos à fruticultura e atacam os grãos no transporte, como o amendoim. Dois graves problemas faunísticos vieram da Argentina e Uruguai: a lebre (Lepus europaeus), e o javali (Sus scrofa scrofa). A superpopulação da lebre europeia virou caso de segurança aeroviária. O grande número desses animais ágeis e de hábito noturno preocupa a operação de aeroportos. Sua reprodução crescente e rápida inviabiliza a produção de hortaliças. Elas destroem plantações de maracujá, laranjais e cafezais em formação. Não há cerca ou tela capaz de contê-las. Um dos maiores prejudicados é o coelho nativo ou tapiti (Sylvilagus brasiliensis). Adultos e seus filhotes são mortos pela lebre que invade e ocupa suas tocas. O javali segue em expansão e ataca as mais diversas lavouras e ambientes naturais. Não há defesa contra fevereiro 2014 – Agro DBO | 45


Meio ambiente Como as pombas, os “ratos do céu”, as maritacas adaptaram-se às cidades, não cessam sua expansão e causam diversos danos. esse animal agressivo que chega a 200 kg, atua em bandos e invade, inclusive, criações de suínos em busca de fêmeas. Em áreas protegidas, o javali ocupa o habitat e concorre com a queixada (Tayassu pecari) e o cateto ou caititu (Tayassu tajacu). Sem manejo adequado, a recuperação das áreas de preservação permanente e de reserva legal, determinada pelo novo Código Florestal, criará corredores e novos espaços para ampliar ainda mais essas pragas e as doenças transmitidas. Seu contato com a fauna selvagem e doméstica ampliará a proliferação de várias doenças, como febre amarela, aftosa, lepra, raiva, leishmaniose etc. O número de animais da fauna selvagem depositários dessas doenças já é crescente e tende aumentar. Sem gestão territorial e ambiental, a introdução e a aproximação desses animais de áreas rurais e urbanas inviabilizará a eliminação de diversas doenças e trará novas

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– e difíceis – realidades ao combate das zoonoses. Nada disso se resolve apenas com reflexões metafísicas ou ideológicas. É preciso agir. Explicações simplistas de que o desmatamento ou o “desequilíbrio ecológico” levam esses animais a se refugiarem em cidades não servem nem como piada. No mundo inteiro existem gestão e manejo ambiental, como abate direcionado de animais, castrações e uso preventivo do fogo, por exemplo, até em unidades de conservação. No Brasil não se pode fazer manejo e gestão ambiental sequer em áreas agrícolas! Capacitar técnicos para o manejo seria indução ao crime. A política resume-se a aplicar redomas legais de proteção sobre territórios e espécies, mesmo se invasoras ou em superpopulação. Não há ações efetivas de controle dessas populações. A situação sanitária atual e futura precisa de uma atenção mais racional e preventiva. Como en-

frentar essa bioadversidade quando qualquer tipo de caça é crime e a posse de armas, mesmo em áreas rurais isoladas, é quase impossível? A natureza é o ecossistema do homem. Maior que o desafio de preservar a natureza é o de geri-la e controlar suas populações animais. Enfrentar a bioadversidade exige, além de recursos financeiros e mecanismos operacionais, um cabedal de ciência, inovação e competência, algo raro, quase em extinção.

Pombas em áreas urbanas provocam inúmeras doenças


Milho

OGMs a granel A exemplo do que já acontece nos EUA, o Brasil começa a empilhar as tecnologias transgênicas, com o milho em destaque.

Dione Carmo: “Essa nova tecnologia é a primeira do Brasil que protege a planta por inteiro, da raiz até a espiga”.

Richard Jakubaszko

A

Monsanto lançou em dezembro último, em eventos de campo, realizados em sua estação experimental de Coxilha (RS), e na propriedade do produtor Dione Carmo, em Pontão, no Norte gaúcho, próximas a Passo Fundo, a sua mais revolucionária tecnologia, o milho VT PRO 3 RIB, que oferece proteção de proteínas Bt contra as principais pragas aéreas que atacam folhas, colmo e espigas (como lagarta do cartucho, broca do colmo, lagarta da espiga, lagarta elasmo). Para essas pragas o novo híbrido geneticamente modificado da Monsanto

Plantas sem a proteção Bt, são atacadas e percebese a ação dos predadores, o que não ocorre nas demais. Na segunda foto, sementes misturadas na sacaria.

possui 2 eventos. Um terceiro evento Bt específico está na proteção inédita contra a larva alfinete (Diabrotica speciosa), cuja atuação é na raiz, e provoca quedas de produtividade de até 20%, nem sempre percebidas pelos produtores. Um quarto evento GM “empilhado” na mesma semente é o RR, de tolerância ao uso de herbicidas à base de glifosato. Portanto, 4 eventos numa mesma semente, o que coloca o Brasil próximo aos EUA, onde já há sementes em uso com 6 e até mesmo 7 eventos. A tecnologia da Monsanto traz ainda outra novidade, que soluciona a questão do refúgio, prática que é recomendada para quem usa se-

mentes GMs, através do plantio de uma bordadura de segurança com sementes não transgênicas, e que dificultaria o aparecimento de cepas resistentes de insetos predadores. Como os refúgios não têm sido feitos pelos agricultores, pela complexidade de sua aplicação, o que aumenta as chances de aparecimento dessas cepas resistentes, a Monsanto importou a solução dos EUA, e o milho VT PRO 3 RIB já embute nas sacarias a mistura das sementes com as proteínas Bts e sementes sem essas características, mas que são RR. Como podem ser analisadas nas fotos, algumas plantas sem a proteção Bt serão atacadas. “A tecnologia RIB Completo na sacaria é extremamente prática, é garantia de economia de tempo e de mão de obra, e protege a tecnologia e a lavoura”, afirma o gerente de produtos biotecnologia em milho da Monsanto, engenheiro agrônomo Alexandre Chaves. O novo milho da Monsanto foi testado em cerca de 400 propriedades rurais nas regiões Sul e Sudeste do país, e deve ser comercializado exclusivamente nessas regiões, a partir de abril de 2014, mas ainda sem preço estabelecido pela empresa. Para outras regiões do país a estratégia do RIB na sacaria será adotada aos poucos e de forma gradual. Agro DBO publicou artigo de nosso colunista Daniel Glat, edição de agosto de 2013, sobre a mistura de sementes GM e não GM nas sacarias, que analisa as vantagens e os riscos que essa prática pode envolver aos milhocultores brasileiros. * Agro DBO viajou a Coxilha e Pontão (RS), a convite da Monsanto.

fevereiro 2014 - Agro DBO | 47


Entrevista

Reforma agrária não é mais um “bicho-papão”.

O

ministro Pepe Vargas, do MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário, não admite de forma explícita que a reforma agrária ainda seja necessária para dar justiça social ao uso da terra, mas indiretamente reconhece que “a sociedade amadureceu e que o agronegócio evoluiu”, tornando menos premente a solução política da reforma agrária que, no longínquo ano de 1964, serviu como uma das desculpas para o golpe militar, com a derrubada do então presidente João Goulart, como ato de defesa preventivo das elites e das lideranças dos agropecuaristas para evitar o pior, pleiteado por movimentos de “sem-terra”, e que seria a desapropriação de terras dos latifundiários. Pepe Vargas, gaúcho de Veranópolis, 56 anos, tem graduação em medicina, com especialização em homeopatia, e tornou-se ainda jovem um político atuante, com militância sindical, tendo sido eleito vereador em Caxias do Sul (RS), e depois eleito e reeleito prefeito dessa cidade, e, em seguida, deputado estadual e deputado federal, neste caso por duas legislaturas, sempre pelo Partido dos Trabalhadores (PT/RS). Agora vai tentar um terceiro mandato, e para isso deve se desincompatibilizar até março próximo. Em conversa com Richard Jakubaszko, editor-executivo da Agro DBO, o ministro respondeu a questões sobre reforma agrária, demarcações de terras indígenas e de quilombolas, enfatizando sempre que o governo federal segue à risca os marcos regulatórios existentes, em especial sobre o que determina a Constituição Federal. Agro DBO - Tecnicamente falando, em termos de produção de alimentos, e também de justiça social com trabalhadores brasileiros desassistidos, o Brasil ainda precisa de uma reforma agrária para justificar uso social da terra? Ou ela não é mais um “bicho-papão”? Pepe Vargas – Olha, é muito tranquilo responder isso, nós temos no Brasil um marco jurídico, amparado na Constituição, que deixa muito claro que a terra que não cumpre sua função social é passível de desapropriação para fins de reforma agrária. Nós ainda temos um estoque de terras no Brasil com essa característica. Mas temos de reconhecer que a sociedade brasileira evoluiu, e que o agronegócio amadureceu e cresceu profissionalmente na produção de alimentos, dando amplo uso social para as terras antes improdutivas. Por todos esses fatores, é verdade, a reforma agrária

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não é mais o “bicho-papão” de outros tempos, que tirava o sono dos produtores rurais. Agro DBO – O número de desapropriações para reforma agrária, em propriedades e áreas de terras, vem caindo desde 2010/2011. Chegamos ao limite da reforma agrária, no Brasil? Pepe Vargas – Realmente, os números caíram bastante nos últimos 10 anos, o ano de 2013, por exemplo, teve o mais baixo número de desapropriações. É que para se fazer a reforma agrária se precisa de duas coisas: primeiro, de gente reivindicando terra para trabalhar, ou seja, trabalhadores rurais sem-terra, e isso caiu bastante, e, em segundo, a existência de terras que preencham os requisitos de serem desapropriadas. Agro DBO – Hoje em dia os jovens não querem trabalhar no campo, a média de idade dos


Movimento dos sem-terra reduziu nos últimos meses

agricultores brasileiros é cada vez mais alta, os filhos vão para as cidades e não retornam. É comum, quando os filhos recebem de herança um pedaço da terra dos pais, tratam de vender ou arrendar a produtores maiores, que concentram cada vez mais terras, ou seja, as famílias acabam por fazer uma “desreforma” agrária. Como uma política de estado pode dar solução a isso? Pepe Vargas – Tem várias situações nisso. É verdade que há desinteresse dos jovens em trabalhar com a terra. Outro dia, abrimos um assentamento novo no estado de Tocantins. Lá, a terra estava improdutiva. Uma senhora, que hoje é médica, e que mora em Brasília, filha de um produtor rural já falecido, no dia em que fomos abrir o assentamento, ela pediu a palavra, durante a cerimônia, e disse que estava contente ao ver que aquela terra estava tendo uma destinação adequada, onde o pai dela trabalhou com tanta dedicação e amor, mas os seus sucessores não tinham essa vocação e aptidão. De outro lado, a urbanização é um processo mundial, inclusive o envelhecimento da população

rural, e isso nos preocupa, porque em algumas regiões o problema é mais grave, e até mesmo na agricultura familiar há problemas de sucessão. Nós temos um conjunto de políticas públicas voltadas para os jovens, que buscam minimizar o abandono do trabalho nas áreas rurais. Por exemplo, nos assentamentos instalados nos últimos dois anos, temos destinado pelo menos 5% das áreas para jovens abaixo de 29 anos. Onde há lotes vagos em assentamentos já existentes, a prioridade é para jovens, desde que sejam filhos de assentados. Temos também uma política de financiamento, através do crédito fundiário, onde a taxa de juros é de 1% ao ano para aquisição de terras, com prazo de até 20 anos para amortização, porque os lotes destinados aos assentados são pequenos e não comportariam divisão de trabalho quando os jovens chegam à idade adulta. Agro DBO – Independentemente de ser um preceito constitucional, a distribuição de terras para indígenas e quilombolas tem sido muito criticada, e tem causado insegurança jurídica

entre os produtores rurais. As demarcações têm sido justas, ou prevalecem injustiças como regra? Há casos de demarcações de terras indígenas, no MS, PR e SC, por exemplo, e desapropriações de terras, de gente cujos antecedentes compraram terras do governo federal, há 60 ou 80 anos atrás. Agora, essas terras são confiscadas, sem indenizações. Isso é justo? O que esses produtores poderiam fazer? Pepe Vargas – A demarcação de terras indígenas é com a Funai, Fundação Nacional do Índio, órgão do Ministério da Justiça. A Funai é que estabelece e executa a política indigenista no Brasil, dando cumprimento ao que determina a Constituição brasileira de 1988. E a gestão de áreas dos quilombolas é com a Fundação Palmares (Ministério da Cultura). O Incra, que está sob o meu ministério, muitas vezes, faz um reassentamento de produtores rurais desapropriados pelas áreas de demarcação de terras indígenas ou de quilombolas. Mas não é o Incra que faz a demarcação dessas terras. Evidentemente que sempre haverá os que se consideram fevereiro 2014 – Agro DBO | 49


Entrevista Emenda Constitucional) que define a questão da desapropriação por trabalho escravo ainda não foi regulamentada.

injustiçados pela aplicação das leis, e o caminho é a gente debater caso a caso essas questões, e, se não ocorrer acordo, a Justiça deve ser acionada para resolver as pendências.

Pepe Vargas – A grande maioria, historicamente, é pelo baixo índice de produtividade, ou por nenhum uso, de completo abandono da propriedade. Ou são terras públicas, devolutas.

Agro DBO – Qual é o percentual histórico de áreas desapropriadas pelos Índices de produtividade para efeito de reforma agrária?

Agro DBO – E quantas foram por trabalho escravo ou plantio de drogas? Pepe Vargas – Nenhuma, até o momento. A PEC (Proposta de

Mutirão de trabalhadores sem-terra

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Agro DBO - Nos decretos de 90 desapropriações, publicados no Diário Oficial da União, em 26 de dezembro de 2013, que englobam 195 mil hectares, em 17 estados, qual a causa principal das desapropriações? Foi improdutividade? Pepe Vargas – Quase todas, com exceções, evidentemente, foram por índice de produtividade, por interesse social, porque o grau de utilização da terra estava abaixo do que determina a lei. Mas há também decretos de desapropriação por interesse dos proprietários que têm a intenção de vender a própria terra. Agro DBO – Nas desapropriações de dezembro último existem duas propriedades, uma no estado de São Paulo e outra em Pernambuco, com cerca de 100 hectares cada uma. Elas não estariam abaixo do limite de áreas para desapropriação, conforme determina a lei?


“Há um estoque de terras no Brasil altamente improdutivas ou sem nenhum uso, portanto, passíveis de desapropriação.” Pepe Vargas – Teve alguns casos de compra e venda nesses decretos. Tem um caso, de Mogi das Cruzes, com uma peculiaridade. É, de fato, um caso anômalo, houve uma concordância do proprietário da área, e esse foi um “projeto casulo”, como a gente chama, de pequenos chacareiros que já ocupavam uma área, que pertencia à Santa Casa de Misericórdia local, que arrendava essa terra, e esta área foi vendida a um grupo, enfim é quase uma novela, e havia quase uma centena de chacareiros reivindicando a área, para a produção de hortifrutigranjeiros, e a desapropriação vai viabilizar a sobrevivência econômica desse grupo. Sobre o tamanho mínimo para áreas serem desapropriadas, é de 15 módulos fiscais, e em áreas urbanas como São Paulo, cada módulo fiscal é da ordem de 5 hectares. Agro DBO – Em janeiro 2013 entrou em vigor a portaria ministerial nº 5, de sua responsabilidade já como ministro, que normatizou os processos exigidos para determinação de uma propriedade ser colocada como desapropriável. Isto deu segurança jurídica ao agronegócio, pois impunha limites a ações políticas. A portaria nº 5 foi suspensa parcial e temporariamente, em outubro 2013, por outra portaria, a de nº 86, porém com data de suspensão até 31 de março 2014 próximo, no que diz respeito à exigência de laudos agronômicos de fiscalização. Achamos estranha essa invalidação temporária. Por que isso? Pepe Vargas – Essa portaria 86 foi necessária, porque na portaria nº 5 não fizemos a inclusão de disposições transitórias. Ou seja, os laudos agronômicos, exigidos na portaria

Agricultura familiar é o foco maior do MDA, Ministério de Desenvolvimento Agrário

5, teriam de ser refeitos para permitir os decretos de desapropriação em dezembro, conforme projetado pelo governo, em quase todos os processos existentes, alguns bastante antigos, que se arrastavam na burocracia desde a década de 1990, o que inviabilizaria tudo por uma questão de tecnicalidade burocrática, pois esses laudos agronômicos já havia sido feitos. Agro DBO - Foi essa suspensão da portaria nº 5 que permitiu a decretação de 90 desapropriações em 26 de dezembro 2013? Pepe Vargas – Exatamente, porque sem a portaria 86 iríamos retardar ainda mais a conclusão daqueles processos, e um dos nossos objetivos no serviço público é ter agilidade, por isso fizemos uma excepcionalidade para esses projetos que já tinham tramitado, mas que corriam riscos de maior atraso. A partir de março próximo volta a vigorar na íntegra a portaria nº 5, e os novos processos deverão seguir os ditames já normatizados, que trouxeram segurança jurídica à questão das desapropriações para a reforma agrária. Talvez tenhamos cometido o pecado de não

termos colocado a transitoriedade já na portaria 5, mas naquela época não foi possível prever essas exceções. O que não se poderia fazer era ajustar processos antigos à portaria nova, isto não faria sentido. Agro DBO – Como é que um médico, como o senhor, sente-se administrando a reforma agrária no Brasil? Pepe Vargas – Muito confortável. Temos um marco regulatório, as questões são resolvidas dentro da lei, a influência ideológica é quase nula, e reduziu-se o componente emocional, que foi muito forte no passado. De outro lado, o que se está executando em termos de logística neste país, especialmente no Centro-Oeste e no Norte, para escoar a produção agrícola, permitirá avanços extraordinários no futuro breve, seja com a BR 163, com a ferrovia Norte-Sul, a ampliação de portos e de hidrovias, que permitirão baratear os custos de produção, trazendo rentabilidade aos produtores, especialmente os da agricultura familiar, e isso será um avanço adicional ao que me referi no início, da profissionalização e modernização do agronegócio. fevereiro 2014 – Agro DBO | 51


Artigo

A produtividade está na profundidade O autor descreve uma tecnologia de fácil uso para que os solos melhorem a fertilidade e se conquiste maior produtividade.

Ronaldo Cabrera *

A

* O autor é doutor em engenharia agronômica e consultor em fertilidade de solo e nutrição mineral de plantas.

presente matéria trata de três assuntos importantíssimos para a produção agrícola, o primeiro é Déficit Hídrico, o segundo é Fertilidade do Solo e o terceiro, Produtividade, que na maioria das vezes é consequência dos dois anteriores. Porém, se acertarmos o manejo do segundo item (fertilidade), indiretamente melhoramos os outros. Os solos tropicais caracterizam-se por apresentar baixa saturação por bases (V%), elevada acidez e alumínio tóxico, impactando em baixa produtividade e pequena tolerância à seca. As correções químicas são feitas, mas raramente atingimos 45 cm de profundidade. Como toda regra tem exceção, os solos eutrófi-

52 | Agro DBO – fevereiro 2014

cos, que naturalmente apresentam V% maior que 50% e ausência de alumínio tóxico na camada de 80 a 100 cm, são muito mais produtivos e com menores problemas de seca. Na cana-de-açúcar plantada em solos eutróficos o potencial de produção chega a ser maior que 50% em relação aos solos álicos, distróficos e alíticos (solos com elevada acidez na camada de 80 a 100 cm). Na região de Maracaju (MS) o milho safrinha vai muito bem em solos eutróficos. No oeste baiano se planta três anos de soja, quatro anos de milho e somente no oitavo ano é possível produzir bem algodão, ou seja, é necessário corrigir o perfil do solo ao longo dos anos. Na região de Acreúna (GO) é possível fazer uma boa

safrinha de milho nas áreas que no passado foi algodão. Resumindo, a produtividade e o melhor uso da água estão diretamente relacionados com a correção da fertilidade do solo em profundidade. No processo de abertura do cerrado foi feita a correção na camada de 0 a 20 cm, no máximo a 40 cm, e o plantio direto tem mantido a fertilidade na camada superficial. Com o aumento dos riscos climáticos, maior custo de produção, materiais genéticos extremamente responsivos, e a necessidade eminente de aumento de produtividade, é necessário corrigir a fertilidade do solo a mais de 1 (um) metro de profundidade, transformando os solos distróficos em eutróficos. O impacto inicial é forte e surge a pergunta: para isso é necessário esperar 8 anos, como no oeste da Bahia? A resposta é não. É bem mais simples, desde que se utilize tecnologia adequada. A foto mostra um subsolador que, além de romper a camada compactada, corrige o solo até 1 metro de profundidade, e não destrói a estrutura do solo, que demorou anos para ser construída através do plantio direto. O grande diferencial está em utilizar um insumo com elevado PRNT (poder relativo de neutralização total), com teores altos de Ca e Mg, que deverão estar na forma óxido e não na forma de carbonato. Para isso, estamos utilizando fertilizante com PRNT de 180%, teor de CaO 60% e MgO 30%. O gráfico reporta um latosso-


Saturação de Bases (V%) 20

Profundidade - cm

lo de textura pesada, na região de Jataí (GO), que através da subsolagem corretiva com fertilizante, foi possível corrigir em dois meses a saturação por bases (V%) de 21% para 62% na camada de 80 a 100 cm, ou seja, um solo que era distrófico tornou-se eutrófico, mudou o potencial de produção. Já a tabela 1 ilustra ganhos significativos com a tecnologia nos valores do próprio V%, pH e fósforo, este último de grande importância, pois o fósforo (mg/dm3) subiu de 10 para 48,5 para 19,4 para 11 e de 3 para 9 nas profundidades de 20-40, 40-60, 60-80 e 80-100 cm, respectivamente. Estes ganhos de fertilidade explicam um aumento de mais de 30 sacas de milho por ha em relação à testemunha, isto em condições de safrinha, onde a água é fator limitante para a produtividade e o plantio ocorreu em torno de 10 de março de 2012.

0

20

40

60

80

Profundidade - cm 100

40

60

80

100 Textem.

Correção profunda

Ao mudar o potencial produtivo do solo, observam-se respostas interessantíssimas. No estado de São Paulo, na cultura da cana-de-açúcar, o aumento de produtividade está na ordem de 10 a 15 t/ha. Em milho safrinha, na região de Jataí (GO), foi obtida produtividade de 30 sacas/ha maior que a testemunha.

P mg/dm3 Test

pH CaCl2

V%

C.P.

Test

C.P

Test

C.P 85

0-20

84

73

5,1

6,8

54

20-40

10

48

4,8

6,6

36

81

40-60

5

19

5,1

6,4

32

69

60-80

4

11

5

6,4

19

67

80-100

3

9

5,1

6,3

21

62

Com estas informações, abre-se uma nova fronteira em termos de manejo da fertilidade profunda do solo, com praticidade e no curto espaço de tempo. Esta tecnologia permitirá aumento de produtividade, redução de riscos climáticos por déficit hídrico, utilização de áreas marginais para cultivo de algodão e milho safrinha, redução de irrigação em culturas perenes, aumento da longevidade e da produtividade em cana-de-açúcar. Precisamos ser pragmáticos, o potencial agrícola do Brasil é fantástico e é preciso apostar, nos agricultores e na inovação tecnológica.

fevereiro 2014 – Agro DBO | 53


Opinião

A crise no setor sucroenergético O pesquisador descreve e analisa os problemas já crônicos do bioetanol e sugere medidas urgentes de políticas públicas Décio Luiz Gazzoni *

O

setor da cana-de-açúcar enfrenta uma das mais sérias crises desde o Descobrimento do Brasil. As causas são: a. Elevação do preço do açúcar no mercado internacional, em 2009; b. Ocorrência de secas e chuvas em momentos não propícios, em 2009 e 2010; c. Crise econômica internacional, restrições de financiamento e contração do mercado de açúcar; d. Ausência de uma política pública ampla, consistente e duradoura regendo a produção / uso de etanol hidratado; e. Contenção artificial do preço da gasolina no varejo;

uma consequência e seus corolários. A causa é a ausência de uma política pública de longo prazo, para a produção e uso de bioetanol hidratado. Seu corolário é a contenção artificial dos preços da gasolina. A consequência é a redução de investimentos na lavoura e nos parques industriais do setor sucroenergético. Seu corolário é a queda acentuada na produção de etanol e a consequente disparada no consumo e na importação de gasolina, e nas emissões de CO2. Obviamente, a compressão de preços da gasolina não objetiva destruir o setor sucroenergético, mas manter na população a sensação de riqueza além do que permitiria

A compressão de preços da gasolina não objetiva destruir o setor sucroenergético

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

f. Consequente redução dos investimentos na renovação de canaviais e na construção de novos empreendimentos industriais. Os itens (a-c) são conjunturais e tiveram importância restrita no tempo. Já os itens (d-f), de cunho político, possuem conotação estrutural, e suas consequências podem estender-se muito além do período de sua atuação sobre o mercado. Existe um ponto de neutralidade de preços entre bioetanol e gasolina, adveniente da relação entre o poder calorífico dos dois combustíveis, de aproximadamente 65%. Para o consumidor, interessa o custo do km rodado com cada combustível, daí a importância de a gasolina ser vendida a preços reais de mercado. Do exposto temos uma causa,

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a sua renda. Entrementes, quatro externalidades negativas deste fato são claramente perceptíveis: a. Aumento das importações de petróleo e redução das exportações de gasolina, e subsídio do diferencial de preços entre importação e varejo, comprometendo o saldo da balança comercial brasileira; b. Depreciação do patrimônio e redução da rentabilidade da Petrobras; c. Desincentivo à produção de bioetanol hidratado e, por extensão, de bioeletricidade por cogeração, tornando a matriz energética mais poluente; d. Aumento das emissões de gases de efeito estufa. Apenas o reajuste da inflação entre 2002 e 2013 implicaria em aumento de 45% no preço de varejo da

gasolina, elevando seu preço médio no país acima de R$ 4,20 / litro. Entretanto, a cotação do petróleo aumentou 300% no mesmo período. E, segundo a ANP, com exceção dos anos de 2011 e 2012, quando a Petrobras pagou acima da cotação, o preço de importação do petróleo foi muito próximo da cotação em bolsa. Preços realistas teriam evitado que a produtividade média da cana desabasse de 86 para 68 t/ha. Evitaria que 41 usinas fechassem as portas e 45.000 empregos desaparecessem. Foram 60 bilhões de litros de etanol não produzidos nos últimos 4 anos, o que significou poluir a atmosfera com 66 milhões de t de gás carbônico. A solução definitiva é uma política pública adequada para o bioetanol, que deveria considerar uma diferença tributária para incentivar o seu consumo, tornando realidade o discurso de proteção ambiental do Governo. A razão fundamental seria desincentivar o uso de combustíveis fósseis, altamente poluentes, e incentivar a energia limpa. Como externalidades positivas teríamos a internalização do desenvolvimento, o aumento de geração de renda e emprego na cadeia produtiva e maior democratização na sua distribuição, pelo contraste entre uma cadeia produtiva altamente distribuída – a do bioetanol – com outra altamente concentrada – da gasolina. Nos resta aguardar que, em um futuro muito próximo, a artificialidade dos baixos preços da gasolina seja substituída por uma política pública de incentivo a um combustível limpo, objeto de desejo da maioria dos países, mas acessível a poucos – o Brasil é o maior deles.



Mecanização

Do ha para o m2 A Agricultura de Precisão é tecnologia que precisa ser planejada em função de objetivos e prioridades definidos pelo usuário. Amílcar Centeno *

A

Agricultura de Precisão (AP) é certamente uma das grandes inovações do campo nesse início de século. Porém, como sempre ocorre nas grandes mudanças, existem muitas tentativas, erros, dúvidas, incertezas e, por consequência, gente ganhando e perdendo dinheiro. Na ansiedade de adotar uma nova tecnologia, muitos investem nas soluções erradas ou no momento errado. Quem não se lembra do iníco do Plantio Direto nas décadas de 70 e 80? Antes de tudo é preciso entender que a AP não é um conceito novo, pois já tem sido utilizada há muito tempo por pequenos produ-

ce a posição exata da máquina no campo, com os mais diversos tipos de sensores, e que medem produtividade, umidade, fertilidade, e outros fatores de produção, bem como uma grande e inovadora linha de atuadores para aplicação em doses e misturas variáveis. Com a nova tecnologia da AP é possível administrar as grandes áreas não mais por ha ou talhão, mas por metro quadrado! O interessante disso tudo é que já se comprovou que é possível ganhar muito gerenciando a variabilidade do processo de produção. Mas para isso é importante pensar e planejar muito bem a sua entrada na Agricultura de Precisão.

Com a AP é possível administrar lavouras não mais por ha ou talhão, mas por metro2!

* O autor é engenheiro agrônomo, especialista em máquinas agrícolas.

tores, que conhecem cada canto de sua propriedade e sabem onde e porque as condições mudam. Isto lhes permite decidir onde é preciso adubar, drenar, capinar. Onde é bom plantar cada cultura e onde é melhor não plantar nada! Isto não deixa de ser uma forma de gerenciar a variabilidade do processo de produção agrícola ou, em outras palavras, uma forma de AP. O que a nova tecnologia da AP permitiu foi a aplicar esta mesma gestão da variabilidade em grande escala e em grandes propriedades! Isto só se tornou possível quando se combinou a tecnologia de georreferenciamento, o GPS (em Inglês Global Positioning System ou, em português, Sistema Global de Posicionamento), que nos forne-

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Uma boa forma de começar é adquirindo um sistema auxiliar de direção, os denominados pilotos auxiliares (ou barras de luz) ou pilotos automáticos. Estas tecnologias trazem benefícios imediatos e se pagam rápidamente, ao mesmo tempo em que proporcionam a aquisição de um sistema de GPS, incluindo antenas e sinais diferenciais, fundamentais em qualque aplicação das técnicas de AP. Dentre as alternativas existentes, acreditamos que os Pilotos Automáticos combinados com um bom sinal diferencial, permitem a operação com uma precisão no solo de algo como 2 a 3 cm de viés. Com esta precisão é possível operar as máquinas durante a noite, sem as dificuldades e limitações

dos sistemas de marcadores mecânicos. Dessa forma, é possível operar 24 horas por dia, 7 dias por semana, levando à utilização máxima da capacidade operacional das máquinas, reduzindo significativamente o seu custo operacional ao mesmo tempo em que aumenta a capacidade de executar rápidamente as operações mais críticas, como o plantio e a pulverização. Uma vez adquiridos os sistemas de GPS, podemos pensar nos próximos passos, utilizando estes recursos para avançarmos no uso da AP. Neste ponto é preciso decidir o caminho a seguir: reduzir custos ou aumentar a produtividade. No longo prazo, é possível e recomendável atacar os dois temas, mas primeiro é preciso definir por onde começar. Caso a prioridade seja a redução de custos, um bom começo é investir no mapeamento da fertilidade dos solos da propriedade, de modo a entender a grande variabilidade espacial deste que é um dos mais caros insumos da produção. Na sequência, este conhecimento permite a adoção de soluções para a aplicação de fertilizantes em doses variáveis, o que traz significativas reduções nos volumes e no custo dos nutrientes. Para se avaliar o potencial de impacto desta tecnologia, podemos citar um caso real de um agricultor que em 6 anos de aplicação de fertilizantes em dose variável em sua propriedade de 3.500 ha alcançou uma economia acumulada de RS 1 milhão! Caso a opção seja pelo aumento da produtividade, um bom


primeiro passo pode ser o investimento nos mapas de produtividade. Estes mapas, acompanhados por visitas constantes ao campo, permitem identificar os principais fatores que limitam a produtividade nas “manchas” de menor produção. Entendidas as causas da variabilidade, pode-se aplicar com eficiência a tão conhecida “regra do barril”, chamada também como “lei do mínimo”. Para aqueles que não conhecem a regra, ela afirma que é o furo mais baixo (o fator limitante) que define o nível da água dentro do barril (a produtividade). Não adianta tapar os furos mais de cima, pois não conseguiremos encher o barril acima do nível do furo mais baixo. Para identificar este fator limitante em nossas lavouras, é preciso acumular mapas e informações por certo período de tempo, normalmente de 3 a 5 safras, pois este fator limitante pode variar conforme as condições da safra (secas, pragas, sequência de culturas etc.). No Meio Oeste dos EUA, onde já se pratica a AP há mais tempo, é comum encontrar agricultores que fizeram uma “lista de fatores limitantes” causadores da variabilidade na produtividade de suas lavouras. Nas condições destas planícies sujeitas ao gelo e a neve no inverno e a altos volumes de chuvas ao longo da safra, o principal fator limitante é a drenagem dos solos. O curioso é que nos anos secos, as áreas mais afastadas dos drenos produzem mais, enquanto nos anos chuvosos as áreas mais próximas aos drenos é que são mais produtivas. Por outro lado, a fertilidade aparece em 10º a 12º lugar nestas listas de fatores. Com o acúmulo de informações e conhecimentos é possível fazer sua própria lista de fatores limitantes e planejar as próximas etapas do processo, que pode incluir aplicação em dose variável de fertilizante, micronutriente ou cal-

cário. Pular esta fase de aprendizado pode levar ao investimento em soluções que não trarão o melhor retorno financeiro. Entendidas as causas da variabilidade da produtividade, é possível planejar duas estratégias opostas de intervenção: aplicar mais insumos nas áreas com limitações, numa tentativa de “nivelar” a produtividade por cima (aumentar a receita), ou aplicar menos insumos onde os fatores limitantes não permitem uma resposta adequada ao investimento feito (reduzir custos), de certa forma “incentivando” a variabilidade da produtividade. Somente após estas primeiras etapas será possível evoluir ainda mais na AP, adotando soluções que permitam agir sobre os fatores limitantes que aparecem ao longo da safra, como o ataque de pragas ou a deficiência de micronutrien-

tes. Algumas alternativas são o uso de imagens de satélite ou fotos, sensores colocados nos pulverizadores ou outras máquinas utilizadas ao longo da safra. Estas soluções ainda estão num estágio inicial de desenvolvimento, e evoluirão muito na mesma proporção em que compreendermos melhor a relação entre a luz refletida pelas plantas em suas várias frequências (visíveis ou não) e a presença de fatores limitantes à produtividade das plantas. Seja qual for o caminho que você decidir seguir, é melhor começar logo na Agricultura de Precisão, pois certamente haverá um longo período de aprendizado, mas na medida em que você entender e agir sobre a variabilidade de sua lavoura, será possível melhorar a eficiência e os resultados da sua atividade de produção.

A ilustração mostra o ciclo completo em agricultura de precisão

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Análise de mercado

O fator Argentina O preço do trigo atingiu valores recordes em 2013. A tendência para 2014 é de maior oferta, pressionando as cotações para baixo.

O

mercado brasileiro de trigo encerrou 2013 com uma média de preço cerca de 50% superior à verificada no ano anterior. Tomando como referência o FOB de Maringá (PR), a cotação média em 2013 foi de R$ 836,00/tonelada, contra R$ 560,00/tonelada de 2012. Essa forte elevação, que culminou num recorde histórico para o preço do cereal, foi resultado de uma série de fatores. O principal deles foi a saída da Argentina do mercado internacional, num ano em que a necessidade de compra do cereal pelo Brasil foi a segunda maior da história (NR: Só em meados do mês passado o governo argentino liberou a ex-

portação de 1,5 milhão/t). Sem a Argentina, o principal fornecedor, para conter a forte escalada de alta dos preços, o governo brasileiro esgotou os seus 1,1 milhão/t de estoques públicos e isentou a TEC (Tarifa Externa Comum) para o ingresso de 3,3 milhões/t de regiões extra-Mercosul. Com isso, garantiu o abastecimento, mas não impediu que os preços continuassem elevados. Isso porque a valorização cambial de 10% (média de R$ 2,16 em 2013 contra R$ 1,96 em 2012) encareceu o ingresso do produto importado. Outro fator que corroborou para o recorde de preços em 2013 foi o alongamento da entressafra devido à quebra da safra paranaense e pa-

raguaia. A ocorrência de fortes geadas e chuva no período de colheita fizeram com que o ingresso dos primeiros lotes com qualidade para moagem, que normalmente chegam ao mercado na segunda quinzena de agosto, chegassem apenas em meados de outubro. Sendo assim, a escalada de alta dos preços foi contida apenas em novembro, quando o Rio Grande do Sul colheu um recorde de produção e o mercado recebeu o trigo do Centro-Sul paranaense. Com cerca de 3 milhões/t no mercado gaúcho e sem a presença do governo para auxiliar o escoamento (os preços de mercado ficaram acima do mínimo estipulado pelo governo), a necessidade de escoar para o merca-

SOJA – A perspectiva de safra recorde no Brasil,

vem pressionando as cotações para baixo. A média ponderada das regiões paranaenses, refletida no Indicador Cepea/Esalq, recuou 1,72% entre 10 e 17 de janeiro, alcançando R$ 67,46 em 17/1. Já o Indicador Esalq/BM&FBovespa ficou estável, a R$ 73,34 (veja ao lado, no gráfico). Com o aumento previsto da oferta, a tendência é baixista. Na parcial de janeiro do Cepea, as baixas foram de 6,85% e 5,06%, respectivamente.

* Em 17/1, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 73,34por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

ALGODÃO –

Dados divulgados pelo USDA mostram que a produção mundial da pluma em 2014 deve recuar 4,3% frente a anterior e o consumo deve crescer 2,9%, o que pressionaria os preços para cima. O problema é a decisão do governo chinês, maior comprador do mundo, de reduzir suas compras em 46% este ano, afetando as exportações brasileiras e as cotações.. A alta verificada em janeiro pode se manter no curto prazo, mas tendência mais à frente é baixista.

* Em 17/1, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 223,33 centavos e real por libra-peso.

ARROZ – As cotações permaneceram em re-

lativa estabilidade em janeiro, a exemplo do que já vinha acontecendo no final do mês passado. Os valores praticamente não se alteraram até a terceira semana do mês, tanto para o arroz depositado ou para o “livre” (armazenados nos depósitos das propriedades rurais). Na parcial do mês, o Indicador Cepea registrou elevação de 0,38%, depois de subir 4,1% em dezembro do ano passado. No curto prazo, a estabilidade deve ser manter.

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* Em 17/1, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 36,67 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado do doméstico um excedente de mais de 1,5 milhão de toneladas derrubou os preços no Rio Grande do Sul e, consequentemente, no Paraná. O mercado doméstico deve iniciar o ano de 2014 ainda sentindo os reflexos da produção recorde no Rio Grande do Sul. A necessidade de venda para pagar o custeio e para abrir espaço nos armazéns para alocar a safra de verão, tende a manter a pressão sobre as cotações entre janeiro e março. Depois disso, a combinação de dólar valorizado em relação ao real e de escassez de oferta do cereal no Mercosul voltará a dar força para uma recuperação das cotações. A safra argentina, de cerca de 10,35 milhões/t, gera um saldo exportável de apenas 3,5 milhões/t, semelhante ao da temporada anterior. O Uruguai tem um saldo próximo a 1 milhão/t, também semelhante ao anterior. Ainda no lado da oferta, em 2014 o governo não contará com a munição dos estoques públicos. Diante deste quadro, e considerando que 2014 será um ano de elei-

ção presidencial (quando o governo tende a impedir que elevações nos preços de alimentos resultem em inflação), a necessidade de comprar no Hemisfério Norte para garantir o abastecimento deve fazer com que a TEC seja isentada. Essa isenção, no entanto, deve ser pontual. Isso porque os preços atrativos levarão o Paraná e o Paraguai a fornecer uma safra cheia para os moinhos nacionais. Ao contrário do que ocorreu em 2013, os primeiros lotes chegarão ao mercado na segunda quinzena de agosto. A expectativa é de que os triticultores paranaenses e paraguaios tenham uma janela interessante para negociar, pois a safra de 2014 da Argentina ingressa apenas em dezembro. Por outro lado, a expectativa de uma safra recorde nessas duas regiões (Paraná e Paraguai) deve fazer com que a média de preços em 2014 seja inferior à de 2013. Élcio. A. Bento Analista da CMA/Safras&Mercado

TRIGO – A decisão do governo argentino de liberar 1,5 milhão de tone-

ladas de trigo para exportação agitou o mercado em meados de janeiro, aliviando um pouco a indústria. Afinal, as compras no país vizinho estão livres da TEC e o frete de lá para cá é inferior ao do Hemisfério Norte. Em contrapartida, a entrada de trigo argentino no mercado brasileiro pode elevar a competição com o produto nacional e pressionar negativamente as cotações internas, derrubando as cotações no curto e médio prazos. Segundo cálculos do Cepea, até julho, o Brasil precisará importar cerca de 4 milhões de toneladas.

* Em 17/1, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 777,19 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

CAFÉ –

* Em 17/1, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 288,66 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

Os cafeicultores se animaram com a ligeira alta na virada ano, com as cotações do arábica chegando a R$ R$ 298,69 em 8/1, conforme levantamento do Cepea. Depois, a curva de preços caiu, voltando aos patamares anteriores. As projeções para o ano-safra internacional sugerem que a produção mundial deve exceder o consumo pelo terceiro ano consecutivo, embora a Conab aponte safra menor do que o mercado anunciava. No curto prazo, a tendência é de estabilidade.

MILHO –

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

* Em 17/1, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 27,02 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

O bom ritmo das exportações em dezembro reduziu os excedentes internos, ajudando a sustentar os preços em janeiro. A valorização do dólar reforçou a tendência altista, embora o estoque final da safra 2012/13 possa ser menor do que o projetado anteriormente e a oferta, no decorrer da safra em curso, maior. A seca na Argentina pode pressionar os preços para cima. Em algumas regiões do país, mais de 50% das lavouras foram comprometidas.

AÇÙCAR -

* Em 17/1, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 49,67 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

A produção no ano-safra internacional 2013/14 deve manter a oferta acima da demanda pelo quarto ano consecutivo, pressionando as cotações. Especialistas dizem que o fator determinante no desenvolvimento dos preços em 2014 será o câmbio. O volume de moagem em 2014/15 deverá repetir o da temporada 2013/14, com mix de produção entre 44% e 46% para o açúcar. A safra será, novamente, alcooleira. As cotações devem continuar em baixa no curto prazo.

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Novidades no campo Uva sem sementes

A Embrapa Uva e Vinho lançou no final do ano passado mais uma variedade de uva sem sementes - a Isis. Antes, lançara a Clara, a Linda, a Morena e a Vitória, todas desenvolvidas no polo frutícola de Petrolina (PE). Entre outras características, a BRS Isis se destaca pela resistência ao míldio, tamanho da baga (18,5 mm de diâmetro por 28,5 de comprimento); e alta produtividade – alcançou 26 toneladas/ ha em quatro colheitas sucessivas no vale do São Francisco. De coloração vermelha, apresenta brix de 16 a 21. Os interessados podem obter material propagativo sob encomenda junto aos viveiristas licenciados. Basta entrar em contato com a Embrapa Produtos e Mercado pelo e-mail spm.sac@embrapa.br ou pelo fone (19) 3749.8888.

Herbicida para florestas

Novidade da FMC na área de silvicultura, o herbicida Preciso 747 WG é um sal de amônio de glifosato ou, mais simplesmente, um glifosato granulado, utilizado em dessecação de pré-plantio e na manutenção do mato em pós-emergência, em manejo de florestas plantadas. “O nitrogênio presente na formulação de Preciso WG potencializa a quantidade de glifosato que passa pela membrana celular, levando as plantas daninhas a uma morte mais rápida”, explicam pesquisadores da empresa.

Motores orbitais

Mais doce por mais tempo

Multinacional dinamarquesa, especializada em controles eletromecânicos e eletrônicos, sistemas para indústrias de refrigeração, aquecimento e acionamento de motores elétricos, a Danfoss apresenta sua linha de motores orbitais (conhecidos também como motores hidráulicos) de baixa velocidade e alto torque de operação, utilizados em transmissão de carga. Divididos em três segmentos - minimotores, motores de médio porte e de grande porte –, tem largo emprego em máquinas agrícolas, como colheitadeiras, plantadeiras e mini-carregadeiras.

O Instituto Agronômico de Campinas lançou duas cultivares de cana-de-açúcar – IACSP97-4039 e IACSP96-7569 –, caracterizadas pela precocidade, produtivividade e alto teor de sacarose. “O setor sucroenergético tem problemas com a qualidade de matéria-prima no início da safra e queda de produtividade no final. A 4039 tem um perfil raro, marcado pelo acúmulo de sacarose no início da safra e pela estabilidade de produção ao longo do período”, diz o pesquisador Marcos Landell. “São dez quilos a mais de açúcar por tonelada de cana em relação à cultivar mais usada no país”. A 7569 tem ótima adaptação à região oeste de São Paulo.

O maior silo do mundo

A Kepler Weber apresentou no final do ano passado, em Primavera do Leste (MT), o Silo 156, capaz de armazenar até 35 mil toneladas de soja ou 590 mil sacas do grão, a uma altura de 30 metros. Segundo a empresa, é o maior silo sem torre central do mundo, desenhado para atender ao mercado de armazenagem de alta capacidade, historicamente dominado por armazéns graneleiros. Uma de suas vantagens, conforme a Kepler Weber, é o baixo custo por tonelada. Ele foi desenvolvido para armazenagens de longo período com preservação da qualidade e integridade dos grãos. Além dos ganhos de capacidade, oferece maior proteção contra infiltrações e facilidades nos processos de fumigação contra pragas, fungos e roedores.

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Novidades no campo Plantio comercial de guaranazeiros

A Embrapa Amazônia Ocidental, sediada em Manaus (AM), lançou duas cultivares para plantio comercial: BRS Saterê e BRS Marabitana, ambas de alta produtividade e resistência às principais doenças da cultura, especialmente à antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola, responsável pela baixa produção de guaranazeiros no Amazonas. Nos experimentos, os pesquisadores Firmino Filho e André Atroch comprovaram produtividade de 1 a 1,5 quilo de sementes secas por planta. Extrapolando, tal número resulta em produção de 400 a 600 quilos/ha em plantios com espaçamento de 5 X 5 metros, com 400 plantas/ha. Ou seja, cinco vezes mais que a produtividade atual na Amazônia, segundo Firmino. As mudas da Saterê e da Marabitana podem ser obtidas com viveiristas credenciados pelo Ministério da Agricultura ou através do e-mail cpaa.sac@embrapa.br

Milho transgênico

Rolamento para caminhões e equipamentos

A Santa Helena Sementes apresenta duas cultivares transgênicas (SHS 7910 PRO 2 e SHS 7915 PRO), cujas principais características são: alta produtividade, precocidade, controle de lagartas, tolerância às principais doenças da cultura e ao glifosato. Conforme a empresa, ambas apresentam alto teto produtivo, ótima arrancada e resistência à seca, além da qualidade de grãos. Adaptadas às condições de cultivo em várias regiões, “marcam a consolidação da Santa Helena Sementes no mercado de alto investimento de Mato Grosso”, diz Anderson Rodrigues, coordenador de marketing da empresa.

A SKF anunciou o desenvolvimento de novo rolamento de esferas de contato angular de duas carreiras. O SKF CE é recomendado para utilização no segmento agro em polias, cubos de ventiladores, semeadeiras, grades aradoras e outros implementos. “É uma nova tecnologia, que vai ajudar bastante no aumento da produtividade. É uma solução robusta e que atende às necessidades dos segmentos de pesados e agro”, explica Cláudio Preto, gerente de vendas da SKF do Brasil. Os novos rolamentos estão disponíveis nas séries 32 e 33, em formatos aberto, vedado ou blindado, nas faixas de diâmetro de furo de 20 a 50 milímetros.

Fertilizante com surfactante

A Divisão de Agronegócios da Ajinomoto do Brasil oferece mais um produto de seu portfolio de fertilizantes organominerais foliares: o Ajifol Max. Integrante da linha Ajifol, o Max combina o efeito surfactante, capaz de melhorar a dispersão das gotas sobre as folhas na aplicação e aumentar a absorção dos nutrientes, com os benefícios dos aminoácidos que integram os produtos da empresa. Conforme a Ajinomoto, o Ajifol Max tem ação antideriva, o que permite uma pulverização mais eficaz, sem desperdícios. O novo fertilizante será produzido em Limeira (SP) e comercializado em embalagens de um litro.

Para a entressafra da cana

A Ceres lançou comercialmente o primeiro híbrido de sorgo de alta biomassa registrado no Brasil, o Blade CB 7520. Segundo Marcelo Gullo, gerente de marketing e desenvolvimento de negócios da empresa, a nova cultivar reúne atributos que a tornam “altamente recomendável” como complemento ao bagaço da cana na cogeração de energia elétrica e na produção de etanol celulósico. Em testes de campo, a Ceres registrou produtividade de 70 toneladas/ha, poder calorífico superior ao do bagaço de cana e baixo custo de produção - R$ 57,00 por tonelada, contra R$ 65,00 do bagaço de cana durante a safra.

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Novidades no campo Doce, crocante e precoce

A Nunhems, unidade de sementes de hortaliças da Bayer CropScience, trouxe para o mercado brasileiro a melancia Talisman, de alta qualidade, segundo a empresa: tem polpa mais doce, mais suculenta e mais crocante, comparativamente às variedades convencionais. A Nunhems destaca também como diferenciais de mercado a alta produtividade, a precocidade (de 10 dias, dependendo da região), a padronização dos frutos e a firmeza. “Esta capacidade da Talisman em preservar a qualidade interna e externa, o brix, frescor e crocância, mesmo quando transportada por longas distâncias, é, sem dúvida, o grande diferencial da nova fruta”, ressalta o gerente de vendas da empresa, Vinícius Bueno.

Guerra a lesmas e caramujos

▶ Estações customizadas

A Mizumo, empresa da Jacto com parque industrial montado em Pompéia (SP), apresenta estações de tratamento de esgoto customizadas para loteamentos, núcleos habitacionais de áreas periféricas ou comunidades rurais. As estações são modulares e transportáveis (permitem ser ampliadas, removidas e remanejadas para outros locais), têm baixo custo operacional e garantia de desempenho no tratamento biológico do esgoto, além do atendimento especializado da área de serviços, feito com equipe própria, conforme diz a empresa.

Registro emergencial

A Basf, uma das maiores fabricantes de defensivos agrícolas do país, recebeu registro do inseticida e acaricida Pirate para controle da lagarta Helicoverpa armigera em soja – o produto já vinha sendo utilizado em outras culturas. “Pirate tem ação translaminar, ou seja, quando aplicado na face de uma folha exerce sua ação contra insetos alojados também na outra face da folha. Além disso, tem excelente efeito de choque e ótimo residual”, afirma Eduardo Gobbo, gerente de marketing da empresa.

Empresa do segmento de química fina, pertencente ao grupo multinacional Degesch, a Bequisa apresenta o moluscicida Blockmoll. De acordo com Maurício Marques, diretor geral da empresa, moluscos como o caramujo africano estão fora de controle no Brasil: além de atacarem plantações, ameaçam a saúde pública, podendo transmitir doenças. “A Bequisa não poderia ter escolhido momento melhor para o lançamento, porque essas pragas aparecem mais em épocas quentes e úmidas como agora”. O Blockmoll será comercializado em três apresentações distintas: saco de 1kg, caixa de 1kg com 5 sachês de 200g e saco de 20kg.

Arroz para a baixada maranhense

A Embrapa Cocais aproveitou a Festa da Colheita do Arroz Irrigado, realizada em dezembro no município de Arari (MA), para apresentar a cultivar BRSMA 357, desenvolvida especificamente para as condições de cultivo na baixada maranhense, bioma de terras baixas e várzeas úmidas. De porte baixo, apresenta alta produtividade, fácil manejo e possibilidade de plantio em pequenas áreas. “Seu grão tem rendimento industrial 70%, superior às variedades cultivadas na região”, diz o pesquisador e chefe-geral da Embrapa Cocais, Valdemício Ferreira de Sousa. Até então, o Maranhão plantava sementes vindas de outros estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As sementes podem ser adquiridas no escritório da Embrapa Produtos e Mercado, em Imperatriz (MA), através dos telefones (99) 3526-1093 e/ou (99) 3526-1095, ou pelo e-mail spm.eimp@embrapa.br.

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Biblioteca da terra Reviravolta histórica

Herbário virtual

O Brasil do pós-guerra. De país agrícola a industrializado: bossa nova, regime militar e urbanização é o quarto livro da série sobre os ciclos econômicos do país, patrocinado pela CNH. De autoria do jornalista, escritor e pesquisador Ricardo Bueno, retrata as décadas de1950 e1960, época de grandes transformações – na era JK (1956/61), o governo priorizou a industrialização, em detrimento da agricultura. O livro é gratuito e a tiragem, restrita. O Interessado deve enviar e-mail para contato@quattroprojetos.com.br, arcando apenas com o custo dos correios. Considerando o quadro econômico atual, em que o PIB brasileiro depende cada vez mais do campo, Agro DBO sugere um título para o quinto livro da série: O Brasil do Século 21. De país industrializado a agrícola: alegria, democracia e desenvolvimento.

A Embrapa Amazônia Oriental colocou à disposição do público seu Herbário Virtual, através do qual é possível obter informações, imagens de exsicatas (amostras de plantas desidratadas) e de espécies vegetais da Amazônia. São quase 24 mil imagens de madeiras, plantas, flores e frutos, dados sobre locais de coleta e características das regiões de ocorrência, nome de quem coletou as amostras, datas de coleta e informações sobre os usos tradicionais das plantas. O sistema eletrônico de navegação permite diferentes tipos de busca: por família, gênero, espécie, produto (imagens de lâminas ou fotos) e locais de ocorrência. Todas as amostras possuem código de barras, o que facilita o controle dos materiais. O herbário físico da Embrapa Amazônia Oriental, situado em Belém (PA), é um dos mais tradicionais do país. Fundado em 1945, possui 191 mil exsicatas e uma coleção de madeiras com oito mil amostras, números em constante atualização. Em 2012 foram realizados quase três mil empréstimos de amostras botânicas e seus profissionais – taxinomistas e botânicos – identificaram 1.300 plantas. O herbário virtual é uma extensão (ainda sem o mesmo alcance) do físico. Para acessá-lo, visite o site www.brahms.cpatu.embrapa.br.

Balanço fitossanitário

A Associação Nacional de Defesa Vegetal lançou o segundo volume da coleção Andef Ciência (ao lado, a capa), considerado um marco para o sistema fitossanitário no país pelo diretor executivo da entidade, Eduardo Daher. “Até o momento, não havia qualquer estudo que reunisse, com tamanha profundidade e detalhamento, o histórico do uso dessa tecnologia”, justifica. Escrito pelo engenheiro agrônomo Luiz Carlos S. Ferreira Lima, o livro avalia os mais de 380 ingredientes ativos usados nas lavouras brasileiras entre 1960 e 2010. Distribuído gratuitamente, pode ser obtido através do e-mail andef@andef.com.br

Melancia e framboesa

A Divisão de Biblioteca da Esalq lançou duas novas edições da série Produtor Rural: uma sobre melancia, hortaliça pertencente à família Cucurbitaceae, a mesma do melão, pepino, chuchu e abóbora. A outra, sobre framboesa, espécie pertencente à família Rosaceae, gênero Rubus, a qual inclui plantas herbáceas, perenes e bienais. As cartilhas abordam as origens de cada uma, distribuição geográfica, características morfológicas, solos mais adequados, adubação, propagação, tratos culturais, distúrbios fisiológicos, colheita, comercialização, etc. A série está disponível gratuitamente para download no site da Biblioteca da Esalq (www.esalq.usp.br/biblioteca). As versões impressas podem ser adquiridas por R$ 10,00. Por envio postal, o valor será acrescido de R$ 7,50, devido ao frete.

Pente fino no algodão

Patrocinada pela Abrapa – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, a segunda edição do livro A Cadeia do Algodão Brasileiro: Safra 2012/2013 Desafios e Estratégias trata, entre outros temas, do futuro da produção de pluma no país, da competitividade com fibras sintéticas, da infraestrutura logística na cadeia produtiva, de manejo, controle de pragas e doenças, gestão de custos, sustentabilidade, preços e análises dos mercados da pluma, caroço e derivados. O livro tem distribuição gratuita. Os interessados devem acessar o site da Abrapa (www.abrapa.com.br) para obtê-lo.

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Calendário de eventos

FEVEREIRO

11

37º Congresso Paulista de Fitopatologia – De 11

a 13 – Auditório “Paulo Rodolfo Leopoldo”, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp – Universidade Estadual Paulista – Botucatu (SP) – Fone: (14) 3882-6300

12

13ª Femagri/Feira de Máquinas, Insumos e Implementos Agrícolas De 12 a 14 – Guaxupé (MG) – Fone: (35) 3696-1000 – E–mail: faleconosco@cooxupe.com.br

19

Show Agrícola – De 19

a 22 – Rodovia SC 71, Km 13 (Trevo) – Palma Sola (SC) – Fone: (49) 3652-0152 – E–mail: contato@showagricola.com.br

20

24ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz – De

13

40ª Exposição Feira Agropecuária, Comercial e Industrial de Umuarama – De 13 a 23 – Parque de Exposições Dario Pimenta Nóbrega – Umuarama (PR) – E–mail: srumuarama@ srumuarama.com.br

17

Agrocafé 2014/15º Simpósio Nacional do Agronegócio Café – De 17 a 19 – Salvador (BA)

– Fones: (71) 2102-6600 e (71) 2102-6611 – E–mail: inscricoes@gt5. com.br

18

Fenicafé 2014/ Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura – De 18 a 20 – Araguari (MG) – Fone: (34) 3242-8888

24

Global Agribusiness Forum 2014 – De 24 a

20 a 22 – Mostardas (RS) – E–mail: abertura@colheitadoarroz.com.br

25 – Hotel Grand Hyatt – São Paulo (SP) – Fone: (11) 3873-5488, ramal 24 – Site: www.agenciaamigo.com.br – E–mail: marily@pressclub.com.br

20

25

Festa Nacional da Uva – De 20 a 9/3 – Parque de Eventos – Caxias do Sul (RS) – Fone: (54) 3207-1166

25

19º Dia de Campo Copercampos – De 25 a

28 – Campo Demonstrativo (Rodovia BR 282, Km 338) – Campos Novos (SC) – Fone: (4) 3541-6000 – E–mail: copercampos@copercampos.com.br.

MARÇO

10

Expodireto Cotrijal/15ª Feira Internacional Expodireto Cotrijal – De 10 a 14 – Não-MeToque (RS) – Fone: (54) 3332-3636 – Site: www.expodireto.cotrijal.com.br – E–mail: expodireto@cotrijal.com.br

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14ª Expoagro Afubra – De 25 a 27 – Rincão del Rey (BR 471, Km 143) – Rio Pardo (RS) – Fone: (51) 3713-7700 – Site: www. afubra.com.br

26

16º Seminário de Mecanização e Produção de Cana de Açúcar – De 26 a 27 – Centro de Eventos Taiwan – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (16) 3211-4770 – E–mail: eventos@ideaonline.com.br

ABRIL

7

12º TecnoShow Comigo – De 7 a 11 – Rio Verde (GO) – Fones: (64) 3611-1650 e (64) 3611 -1524 – E–mail: secretariageral@ tecnoshowcomigo.com.br

3 – Show Rural Coopavel – De 3 a 7/2/2014 – BR 272, Km 577 – Cascavel (PR) – Fone: (45) 3225–885 E–mail: webmaster@ showrural.com.br

Uma dos mais importantes eventos do calendário agrícola brasileiro, o Show Rural Coopavel surgiu em 1989 como um dia de campo comum, voltado às necessidades imediatas dos agricultores da região de Cascavel, no sudoeste paranaense. Na ocasião, atraiu 15 expositores e 110 visitantes e não parou mais de crescer. Em 1995, ganhou novo formato, com cinco dias de duração, e a denominação atual. No ano passado, abrigou 430 expositores do Brasil e do exterior, recebeu 202,5 mil visitantes e movimentou R$ 1,1 bilhão em negócios. Hoje, é polo difusor de tendências do agronegócio nacional, palco de lançamentos de tecnologias e novidades em insumos, equipamentos, softwares, etc. Enfim, vitrine do que há de mais moderno na agricultura mundial.

8

5º SNTM/Seminário Nacional de Tomate de Mesa – De 8

a 9 – Campus Taquaral/Teatro Unimed (Rodovia do Açúcar, Km 156) – Piracicaba (SP) – Fone: (62) 3241-3939 – E–mail: tomate@wineventos.com.br

10

Workshop sobre Plantio e Manejo de Eucalipto em Propriedades Rurais – De 10 a 11 – Viçosa (MG) – Fone: (31) 3899-1185 – E–mail: sifeventos@ gmail.com

13

7ª Parecis SuperAgro – De 13 a 16 – Parque de

Exposições Odenir Ortolan – Campo Novo do Parecis (MT) – Fone: (65) 3382-2491 – Site: parecissuperagro. com.br

6ª Fiema Brasil/Feira 22 Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente e 4º Congresso Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente – De 22 a 25 – Parque de Eventos –

Bento Gonçalves (RS) – Fone: (54) 3055-3225 – E–mail: fiema@fiema. com.br

23

15º Encontro Nacional de Micotoxinas – De 23 a 25 –

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo – Pirassununga (SP) Fone: (19) 3422-2755 – E–mail: cdt@ fealq.org.br

28

Agrishow 2014/Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 28 a 2/5 – Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro–Leste – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3017-6807 – E–mail: visitante. agrishow@btsmedia.biz


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Legislação

ITR – Imposto Territorial Rural Pagar imposto é um ato civico, mas o contribuinte tem seus direitos, além das obrigações, conforme explica o colunista. Fábio Lamonica Pereira *

C

onhecido dos produtores rurais, o ITR – Imposto sobre a propriedade Territorial Rural, regulado pela Lei n. 9393/96, deve ser pago anualmente por aquele enquadrado como proprietário de área rural, como titular de domínio ou, ainda, como possuidor. Trata-se de tributo de competência da União, cuja responsabilidade pela informação dos dados e pelo

cado declarado pelo contribuinte a ser atualizado anualmente. Tal valor pode ser objeto de investigação e adequação por parte da Receita. Não há incidência do imposto sobre pequenas áreas rurais quando exploradas em regime familiar por contribuinte que não possua outro imóvel. Nessas condições estão, portanto, isentas áreas inferiores a 100 ha, se localizadas em município com-

Quanto menor a área e maior o grau de uso do imóvel, menor a alíquota do imposto.

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

recolhimento do valor devido é do contribuinte (lançamento por homologação), cabendo à Receita Federal a fiscalização e a cobrança dos créditos. A chamada base de cálculo do imposto (valor sobre o qual incide a alíquota devida) é determinada de acordo com a área do imóvel e seu respectivo grau de utilização. Assim, quanto menor a área e maior o grau de utilização, menor a alíquota do imposto. Ao contrário, quanto maior a área e menor o grau de utilização, maior a alíquota. Segundo tais critérios, a alíquota pode variar de 0,03% até 20% a incidir sobre o valor da terra nua, ou seja, sem benfeitorias, e deve refletir o respectivo valor de mer-

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preendido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; 50 ha, se localizadas em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; e 30 ha, se localizadas em qualquer outro município. Ponto de discussão centrou-se na questão da incidência do imposto também sobre as APPs e RLs, o que já está expressamente previsto na atual legislação, de acordo com as disposições do novo Código Florestal. Contudo, pelo atual posicionamento do STJ é necessária a averbação da Reserva Legal junto ao CRI - Cartório de Registro de Imóveis para que seja reconhecido o direito do contribuinte à respectiva isenção.

Por outro lado, o próprio Código Florestal desobriga a averbação junto ao CRI ao mesmo tempo em que obriga a declaração junto ao Cadastro Ambiental Rural. Assim, atingindo o mesmo fim, o contribuinte não poderia ser penalizado. A Receita Federal determina, por meio de simples instrução normativa (que não tem força de lei), a necessidade de apresentação do chamado ADA – Ato Declaratório Ambiental para fins de reconhecimento das citadas áreas ambientais não tributáveis, o que já foi objeto de censura, uma vez que já bastaria a averbação junto ao CRI, conforme entendimento do STJ. Obviamente que, a fim de evitar problemas de tributação posterior, que podem levar a autuações por parte da União, o contribuinte deve procurar seguir as orientações e instruções repassadas pela Receita Federal (desde que não sejam ilegais), disponível em www. receita.fazenda.gov.br e www.ibama.gov.br, e buscar ajuda de profissional especializado que o oriente corretamente na necessária prestação de contas ao fisco. No mais, havendo necessidade, o contribuinte pode e deve procurar defender-se administrativamente e, se necessário, até mesmo judicialmente.




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