Revista Agro DBO - Ed 53 - Março/2014

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Do Leitor é altamente qualificada, me ajuda muito a estar por dentro de todos os segmentos agrícolas, com conteúdo de primeira. Lucas Caixeta Scalco Machado O conteúdo da AgroDBO é, indiscutivelmente, o melhor entre as revistas dessa categoria, com informações muito relevantes e esclarecedoras sobre o meio agrícola, além de trazer novidades e tendências do mercado. Parabéns a toda equipe da AgroDBO pelo excelente trabalho. Luciano Mateus Luiz Rodrigues Monte Carmelo GOIÁS Reportagens interessantes e esclarecedoras. Washington Pacheco de Oliveira Doverlândia É uma revista muito boa, nos deixa informados sobre o que está acontecendo no mundo da agricultura. Luciano Lourenço dos Santos Silvânia MATO GROSSO A Agro DBO é uma ótima fonte de informações. Jovani Minuzi Gaúcha do Norte MINAS GERAIS Quero agradecer pelos exemplares recebidos todo mês. A revista

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RIO GRANDE DO NORTE Esclarecedor e preocupante o artigo do Doutor Evaristo Eduardo de Miranda sobre o risco representado pelo que chamou de “bioadversidade. A ausência de um adequado manejo pode levar mais ainda ao avanço de doenças e danos à população brasileira. Luís Gonzaga Araújo e Costa Natal NR: O artigo em questão, veiculado na edição de fevereiro da revista Agro DBO sob o título “Cidade e campo contra a bioadversidade”, traz uma série de exemplos dos riscos aos quais o leitor se refere, como a proliferação de capivaras, animais protegidos por leis ambientais (a caça é proibida); a superpopulação de javalis e da lebre européia, espécies que vêm causando estragos crescentes nas lavouras; parasitas trans-

missores de doenças; uma série, enfim, de agentes prejudiciais à saúde humana e ao equilíbrio da Natureza. No artigo, Evaristo reclama providências dos setores público e privado. RIO GRANDE DO SUL Gostaria de saber do autor do artigo a marca e o fabricante do subsolador mostrado na página 52 da edição de fevereiro. Também qual ou quais produtos fertilizantes comerciais possuem o PRNT de 180%. Décio Cassol Três de Maio NR: O artigo a que o leitor se refere é “A produtividade está na profundidade”, escrito por Ronaldo Cabrera, engenheiro agrônomo especializado em fertilidade do solo e nutrição mineral de plantas. Ele é quem responde ao Sr. Décio Cassol: “A marca do equipamento é Kamaq e o produto com 180% PRNT é Oxyfertil”. Outros leitores de Agro DBO, como o Sr. Roberto Mauro, de Tangará da Serra (MT), também demonstraram interesse pelo subsolador. Assuntos atuais e conteúdo muito bem elaborado. Silmar Mateus Dallabrida Panambi

AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.


Sumário

28 Especial

A segunda reportagem da série sobre a nova fronteira agrícola brasileira traz um retrato de Santana do Araguaia, no sudeste do Pará.

38 Denúncia

Pesquisadores científicos criticam o descaso em relação aos institutos de pesquisa e extensão rural de São Paulo e outros estados

48 Entrevista

Novo presidente da Cocamar, José Fernandes Jardim Júnior, fala sobre a profissionalização da cooperativa e outros temas de interesse do setor.

52 Café 18

Matéria de capa Estiagem no início do ano e chuvas irregulares no final de fevereiro no Centro-Sul do Brasil esfriam o ânimo dos agricultores. Parte deles contabiliza prejuízos decorrentes da seca; outros acreditam que o aumento de produtividade compensará perdas eventuais, abrindo caminho para safra recorde de soja este ano e colheita de grãos e fibras perto de 200 milhões de toneladas.

Engenheiro Agrônomo, consultor e cafeicultor, Hélio Casale defende o manejo com mato para as plantas suportarem o estresse hídrico.

Artigos 8 – Rogério Arioli discute os interesses por trás da moratória da soja 25 – Daniel Glat compara as políticas agrícolas brasileira e norte-americana 42 – Amilcar Centeno descreve as novidades em agricultura de precisão 44 – Marco A. dos Santos discorre sobre tendências climáticas no Brasil 54 – Luiz H. Mercandalli analisa novas tecnologias em nutrição vegetal 56 – Décio Gazzoni critica as escolhas políticas do país no setor energético 66 – Fábio Lamonica avalia direitos do agricultor em caso de quebra de safra

Seções Do leitor.............................................................. 4 Ponto de Vista................................................... 8 Notícias da terra.............................................10 Política................................................................26

Análise de mercado......................................58 Novidades no campo...................................60 Biblioteca da terra..........................................63 Calendário de eventos.................................64

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Carta ao leitor

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stamos na reta para o fechamento da safra de verão 2013/2014. O sufoco e as consequências da falta de chuvas com o veranico inesperado e prolongado ainda não terminou, eis que é necessário contabilizar perdas, e ao mesmo tempo dar os primeiros passos para o plantio da 2ª safra. Tomara que agora não chova mais do que o necessário. Para posicionar os agricultores de todas as regiões do Brasil, Agro DBO traz como matéria de capa, autoria do jornalista Glauco Menegheti, uma panorâmica dos problemas observados em cada uma das mais importantes microrregiões estaduais dedicadas ao plantio de grãos, seja em termos de perdas por clima, pragas e doenças, logística e preços. Nesta edição, trazemos ainda uma significativa diversificação de temas relevantes aos produtores, como novas tecnologias em máquinas, uma interessante entrevista com o novo presidente-executivo da Cocamar, cooperativa que profissionalizou seu quadro diretivo, e ainda as opiniões de nossos colunistas especializados. Diante de inúmeras dificuldades, alguns produtores rurais de outras regiões optaram por migrar para áreas de novas fronteiras agrícolas, e o especial “Novas Fronteiras Agrícolas”, elaborado pelo repórter Ariosto Mesquita, dá continuidade nesta edição ao relato da série sobre o Araguaia, no sudeste do Pará, onde experientes agricultores do Mato Grosso do Sul transformam-se em pioneiros e apostam tudo em busca do sucesso na produção de soja e milho, mesmo que tenham de plantar soja no cascalho, prática impensável em regiões mais ao sul, ou até mesmo de se tornar pecuaristas e confinadores para dar vazão aos grãos. Denunciamos nesta edição, em matéria do jornalista José Maria Tomazela, o descaso político dos governos estaduais dos estados de São Paulo e Paraná para com a pesquisa agropecuária, onde notáveis institutos de pesquisas, alguns centenários, entre eles o IAC - Instituto Agronômico de Campinas e o Instituto Biológico definham sem a reposição de trabalhadores de todos os níveis, inclusive pesquisadores. O desinteresse político, e também a má gestão pública nessa área, transforma cientistas em sucata humana sem importância e sem qualquer perspectiva de concretização de seus ideais e objetivos de trabalho, tornando-os uma caricatura social de cidadãos mal pagos, insatisfeitos e desmotivados, diante da inação do poder público. Lamentavelmente, o assunto é recorrente, pois já havíamos reportado esses problemas em setembro/2011 na DBO Agrotecnologia nº 32. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amilcar Centeno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, Hélio Casale, José Maria Tomazela, Luiz Hafers, Luiz Henrique Mercandalli, Marco Antonio dos Santos e Rogério Arioli Silva.

Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Gerson Gerloff/Pulsar Imagens DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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21ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação


Ponto de vista

Moratória sem soja Pelo acordo, que finda no final deste ano, as empresas não adquiriam soja produzida em áreas que tivessem sido desmatadas. Rogério Arioli Silva *

Mudaram os tempos: antes era plantar para não entregar. Hoje: é proibida a entrada.

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

Q

uem viajou ou acompanhou as notícias que circulavam na Europa em meados da década passada irá se recordar do patrulhamento sofrido pela produção da soja brasileira, acusada por algumas Ongs de ser responsável pelo desmatamento da Amazônia. A mais radical delas espalhou outdoors nas principais cidades europeias onde bovinos, suínos e aves eram apresentados como sendo devoradores da floresta, através do consumo do farelo de soja brasileiro. Contaminados com essa contrapropaganda mentirosa e apelativa os consumidores europeus sentiam-se desconfortáveis em consumir os produtos originários da nossa soja imaginando-se

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também responsáveis pelo desmatamento brasileiro. Embora não sintam o mesmo desconforto com relação à supressão de 99,7% da cobertura original do seu próprio território, os consumidores europeus respondem pela importação de aproximadamente 15 milhões de toneladas de farelo brasileiro, o que não deixa de ser significativo. Essa pressão toda sobre o agro brasileiro resultou no compromisso entre as duas principais associações exportadoras de soja e seus derivados (Abiove e Anec) a assinarem, no ano de 2006, em conjunto com diversas empresas e organizações da sociedade civil, a “moratória da soja”. Pela moratória as empresas se comprometeriam em não adqui-

rir a soja produzida em áreas que tivessem sido desmatadas posteriormente à data do acordo. É preciso lembrar que no ano de 1996, portanto dez anos antes, havia sido editada a Medida Provisória 1511 que aumentou a Reserva Legal de 50 para 80% no bioma amazônico. Também, logo após, foi extinto o conceito da chamada “mata de transição” onde também era possível desmatar-se 50%. Como resultado dessa situação, potencializada pela confusão entre floresta amazônica, bioma amazônico e amazônia legal, centenas de produtores rurais do cerrado brasileiro foram jogados na ilegalidade, obrigados a assumirem um passivo ambiental que até então inexistia. Os produtores de soja, através das suas entidades representativas, entre elas a Aprosoja, posicionaram-se contra a moratória, não por mostrarem descaso ao meio ambiente e às leis, justamente pelo contrário: como ficaria a situação daqueles produtores que, embora se encontrassem dentro do bioma amazônico, desmataram legalmente suas áreas para produzir? Nesse aspecto, o pacto da moratória simplesmente desprezou a Constituição Federal, discriminando categoricamente aqueles que cumpriram a lei e os que não o fizeram. Cidadãos que estavam produzindo na parte norte do país foram considerados de segunda classe e muitos deles foram alijados do processo produtivo, mesmo que estivessem cumprindo a lei do país. Naquela época os estudos feitos pelas entidades de produtores já de-


monstravam que a soja não ocupava o bioma amazônico e sim o cerrado brasileiro, não havendo, portanto, a tal soja amazônica que os ambientalistas demonizavam. Tanto é verdade que no ano de 2006 pouco mais de 1000 ha de soja foram considerados dentro do bioma o que era um número risível perto do barulho feito. Mesmo agora, sete anos depois da moratória implantada, apenas 29 mil ha de soja são considerados dentro do bioma, provavelmente em áreas onde é necessária a renovação de pastagens através de culturas anuais. Importante lembrar que nenhuma cultura se presta melhor para proceder a essa renovação de pastos do que a cultura da soja, graças à fixação biológica de nitrogênio e o melhoramento químico dos solos oriundos das adições de calcário e fertilizantes fosfatados. Há farta literatura técnica demonstrando a

viabilidade da Integração Lavoura-Pecuária, onde a pobreza dos solos de cerrado e também da floresta amazônica, nos locais onde as pastagens se encontram em diferentes estágios de degradação, encontrarão na rotação com a soja a melhor possibilidade econômica para promover sua recuperação.

para impor restrições à produção brasileira. Agora, no momento em que o final da moratória foi anunciado para dezembro deste ano, nem as entidades participantes nem as ONGs que ajudaram a implantá-la reconhecerão esse fato ou, talvez ao reconhecerem, tentarão minimizá-lo.

Vem aí o Cadastro Ambiental Rural, que não ameniza a má imagem dos sojicultores. A última avaliação dos dados divulgados demonstra que nos 62 municípios maiores produtores de soja apenas 0,59% das áreas podem ser consideradas dentro do bioma amazônico, o que evidencia aquilo que os produtores e suas associações sempre afirmaram: a presença de soja no bioma era apenas um falso argumento

A instituição do CAR – Cadastro Ambiental Rural, que demonstra a situação ambiental atual das propriedades brasileiras, junto ao Código Florestal mais restritivo do planeta, além da preservação de 63% da sua cobertura florestal original, deveriam ser suficientes para acabar com o preconceito que o Brasil sofre quando se trata de respeito ao meio ambiente.

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Notícias da Terra Safra I

Conab prevê colheita menor

A

safra 2013/14 de grãos deverá chegar a 193,6 milhões de toneladas, 3,6% acima do obtido na temporada passada, de acordo com o 5º levantamento da Conab, divulgado no mês passado. Comparativamente ao 4º levantamento, a instituição prevê redução de 3,1 milhões/t devido à menor produção de milho segunda safra. Entre as principais culturas, destacam-se a soja, cuja produção deve alcançar 90 milhões/t (10,4% a mais, em relação à estimativa de janeiro); o arroz (12,5 milhões/t, com 5,9% de crescimento) e o feijão primei-

ra safra (1,3 milhão/t, 38,6% acima do resultado anterior). No caso do milho, as projeções indicam 32,6 milhões/t na primeira safra (redução de 6,2%, ou 2,2 milhões/t a menos) e 42,8 milhões na segunda safra (7,2% a menos, o que representa quebra de 3,3 milhões/t). No total, a safra de milho chegará a 75,5 milhões/t. O levantamento foi realizado de 20 a 24 de janeiro – não computou, portanto, o impacto da estiagem em várias regiões produtoras do Centro-Sul do país até meados de fevereiro.

Safra II

IBGE empata com a Conab

A

safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) será de 193,9 milhões de toneladas, 3% superior à de 2013 (188,2 milhões/t), conforme projeções do IBGE, divulgadas no mês passado. A produção de soja deve crescer 11,7% e a de arroz, 6,3%. Na contramão, a de milho cairá 6% – as três culturas respon-

dem por 95% da estimativa de produção e 85% da área plantada no país. As lavouras cobrirão 55 milhões de hectares em 2014, o que representa acréscimo de 4,2% frente a área colhida em 2013, de 52,8 milhões de hectares. A coleta de dados foi feita até a segunda quinzena de janeiro. Portanto, também não considera os estragos decorrentes do clima quente e seco que perdurou no Centro-Sul do Brasil até meados de fevereiro.

Safra III

Região por região

C

onsiderando as regiões em que se divide o Brasil , o IBGE prevê a seguinte distribuição na produção de cereais, leguminosas e oleaginosas: Centro-Oeste, 79,1 milhões de toneladas; Sul, 73,1; Sudeste, 19,8; Nordeste, 16,7; e Norte, 5,2. Comparativamente à temporada 2012/13, a safra crescerá 0,8% no Centro-Oeste, 39,5% no Nordeste e 5,7% no Norte, mantendo-se praticamente inalteradas nas regiões sul e sudeste. O estado de Mato Grosso permanecerá no topo do ranking brasileiros dos produtores de grãos, com 23,5% de participação, seguido pelo Paraná, com 18,4%, e Rio Grande do Sul, com 15,9%. Os três estados responderão por 57,8% do total nacional previsto.

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Safra IV

Variação por produtos

E

ntre os 26 produtos pesquisados pelo IBGE, 12 apresentam variação positiva em relação à produção de 2013: mamona (365,9%), feijão 1ª safra (62,3%), café conilon (14,3%), algodão (12,2%), soja (11,7%), feijão 2ª safra (11,3%), mandioca (10,3%), arroz (6,3%), sorgo (5,4%), batata-inglesa 2ª safra (4,9%), batata-inglesa 1ª safra (1,4%) e cana-de-açúcar (0,8%). Com variação negativa foram 14 produtos: cevada (-17,3%), trigo (-16,2%), amendoim 2ª safra (-15,7%), triticale (-13%), milho 2ª safra (-9,3%), aveia (-9,2%), amendoim 1ª safra (-7,6%), cebola (-6%), cacau (-4,2%), feijão 3ª safra (-3,6%), batata-inglesa 3ª safra (-2,3%), café arábica (-1,9%), milho 1ª safra (-1,5%) e laranja (-0,1%).


Notícias da Terra Safra V

Liderança ameaçada

S

egundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), os brasileiros vão produzir 90 milhões de toneladas de soja na safra 2013/14, superando os norte-americanos, que colheram 89,51 milhões/t. A nova projeção do USDA, divulgada no mês passado, não faz referência à estiagem no Centro-Sul do Brasil. Baseia-se nos resultados obtidos no início da colheita. Em janeiro, a instituição previra 89 milhões/t de soja. Em relação ao milho, manteve a estimativa de janeiro: a safra brasileira alcançará 70 milhões de toneladas.

Safra VI

O clima e os grãos

N

Exportações I

Agronegócio bate recorde

A

receita do setor com exportações em 2013 foi de US$ 101,5 bilhões, 4% superior ao do ano anterior e novo recorde – em termos nominais –, segundo levantamento do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP. Segundo a instituição, esta expansão se deu via volume, com alta de 14,2%, já que os preços médios em dólar recuaram 7,5% no período, mantendo-se, porém, em patamares elevados, com a demanda seguindo firme a ponto de elevar o volume ao recorde. O valor apurado pelo Cepea supera a estimativa da SRI-Mapa – Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, anunciada em janeiro, de US$ 99,9 bilhões.

Exportações II

Ganhos menores

A

balança comercial do agronegócio abriu 2014 com superávit (exportações maiores que importações) de R$ 4,4 bilhões em janeiro, contra US$ 5,1 bilhões em janeiro de 2013, conforme dados do Mapa. O motivo foi a queda de 10,8% no valor exportado, que ficou em US$ 5,87 bilhões. Os produtos agrícolas que derrubaram os ganhos foram o

milho e o complexo sucroalcooleiro. Entre os produtos que ajudaram a amenizar a queda estão o complexo soja e os produtos florestais. O maior valor exportado no mês ficou com o setor de carnes.

a terceira semana de fevereiro, analistas de mercado e instituições de pesquisa refaziam suas estimativas sobre o tamanho da safra 2013/14 de grãos, considerando dois aspectos. Em primeiro lugar, o impacto nas lavouras do longo período de estiagem e temperaturas altas registrados nas regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste. Em segundo lugar, a volta das chuvas no final da segunda semana, essenciais para reverter ou, pelo menos, amenizar o quadro previsto de redução em produção e produtividade. Houve quem calculasse quebra de dois milhões de toneladas na safra de grãos e duvidasse do recorde anunciado de 90 milhões/t em soja. Porém, o volume de chuvas ficou aquém do esperado, especialmente no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e parte do Mato Grosso do Sul, estados mais afetados pela estiagem. No Mato Grosso, maior produtor de soja do país, o clima não atrapalhou muito. Houve prejuízos com pragas e doenças, mas o andamento da colheita até o fechamento desta edição indicava safra recorde, com alta produtividade (OBS: leia “Safra indefinida”, a partir da páginba 18 desta edição). março 2014 – Agro DBO | 11


Notícias da Terra VBP

A soja dispara

O

Soja

Concorrência acirrada

O

Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil registrou 1.055 inscrições no Desafio Nacional de Máxima Produtividade, Safra 2013/14, englobando 339 municípios de 16 estados da federação. Cada produtor inscrito deve indicar um inspetor de colheita – um técnico idôneo de sua região – para validar os registros. Os que prevêm colher acima de 90 sacas/ha precisam entrar em contato com o Cesb para solicitar a presença de um auditor oficial. A entidade anunciará os campeões

(sempre em dupla: produtor e consultor técnico) em junho. As categorias em disputa são: campeões estaduais, municipais e regionais de soja de sequeiro (Norte/Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul) e nacionais de soja de sequeiro e soja irrigada. Os campeões regionais e nacionais receberão como prêmio uma viagem técnica aos Estados Unidos de 2 a 10 de agosto próximo, onde visitarão faazendas de soja de alta produtividade, centros de pesquisas e universidades.

Citricultura

Seca espreme laranjas

C

onforme projeções da Associtrus – Associação Brasileira dos Citricultores, o tempo seco e quente registrado em São Paulo no começo do ano deverá resultar em frutos menores do que o normal na próxima safra de laranja, comprometendo a produtividade no estado, maior produtor do Brasil. Segundo o presidente da entidade, Flávio Viegas, a safra poderia crescer até 20% na temporada 2013/14, após uma florada bem-sucedida no final do ano passado.

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O potencial produtivo dependerá também do estágio de desenvolvimento dos frutos diante da estiagem. No caso das laranjas mais desenvolvidas, a seca pode até ser benéfica, porque reduz a água, aumentando, em consequência, os sólidos solúveis e, por tabela, o rendimento na indústria. A colheita começa em maio e prossegue até outubro.

valor bruto da produção agropecuária brasileira deve chegar a R$ 444,5 bilhões este ano, 4,4% superior ao do ano passado, segundo projeções da Coordenadoria de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura. O VBP agrícola terá aumento real de 6,9% e o da pecuária, redução de 0,3%. Entre as lavouras, o destaque é soja, com valor de produção estimado em R$ 112,65 bilhões, ante R$ 89,5 bilhões em 2013. Os demais produtos com perspectiva de alta expressiva são a mandioca (64,8%), o algodão (58,4%), a pimenta do reino (28,5%), a maçã (26,4%), a laranja (21,2%), a uva (14,5%), o arroz (7,8%) e o cacau (7,5%).

Milho

Quebra no Paraná

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a média, o estado perderá 2,1% da safra estimada, conforme prévia divulgada no final do mês passado pelo Deral – Departamento de Economia Rural, órgão ligado à secretaria estadual de agricultura. Em janeiro, a instituição previra colheita de 5,6 milhões de toneladas, expectativa reduzida para 5,5 milhões. Na região norte, a mais afetada pela estiagem, as perdas podem chegar a 29% em Cornélio Procópio, 17,5% em Jacarezinho, 10% em Londrina e 11% em Maringá. Embora altos, tais percentuais devem devem ser compensados por ganhos de produtividade acima do esperado em outras regiões, principalmente no Sudoeste. Além do impacto do clima na safra de verão, os agricultores preocupavam-se também com o atraso no plantio da segunda safra. Sem janela para o milho, muitos optariam preferencialmente pela soja ou pelo trigo.


Notícias da Terra Algodão

Bom, mas não muito

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e maneira geral, os cotonicultores torceram o nariz para o novo preço mínimo do algodão (R$ 54,00 a arroba), anunciado em 11/2 pela presidenta Dilma Roussef. De acordo com Gilson Pinesso, presidente da Abrapa – Associação

Brasileira dos Produtores de Algodão, o valor é bom, apesar de ainda não ser o pleiteado pela categoria. “Tivemos um salto de R$ 10,00 sobre o valor atual, de R$ 44,60. É uma boa conquista, mas ainda vamos pedir, para o próximo Plano

Safra, um valor de acordo com o custo de produção levantado pela Conab, que hoje é de cerca de R$ 57,00”, diz Pinesso. O preço mínimo para o algodão não sofria reajuste desde 2003, quando foi fixado em R$ 44,60.

OGMs I

Metabolismo acelerado

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esquisa do Instituto de Química da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas mostra que a soja transgênica apresenta índices mais elevados de cobre e ferro, diferenças nas concentrações de proteínas e nos níveis de outras enzimas, comparativamente à soja convencional. De acordo com o professor Marco Aurelio Zezzi Arruda, a soja GM tem uma taxa de sucesso mais alta na germinação, desenvolve maior teor de matéria orgânica e cresce mais rapidamente. “A planta responde de forma mais exacerbada a qualquer estímulo externo, como elevação na temperatura ou na quantidade de água”. O metabolismo acelerado faz com que a planta capte maior quantidade de nutrientes do solo. As análises nutricionais indicaram que as sementes transgênicas tinham 39% mais cobalto, 40% mais cobre e 20% mais ferro do que as sementes naturais. Estas, ganharam apenas no nível de estrôncio, 34% maior. Conforme a agência Fapesp, que divulgou o estudo, os pesquisadores da Unicamp compararam sementes do cultivar natural MSOY 7501 com a variedade MSOY 7575 RR, desenvolvida pela Monsanto.

OGMs II

O avanço dos transgênicos

C

onforme relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês), no ano passado foram cultivados 175,3 milhões de hectares com varieda-

des transgênicas em todo o mundo. O Brasil figura em segundo lugar no ranking, com 40,3 milhões de hectares de soja, milho e algodão geneticamente modificados, atrás apenas dos Estados Unidos, com 70,2 milhões/ha. “Os transgênicos permitiram a intensificação da produção global e, principalmente, brasileira, contribuindo para evitar que a agri-

cultura disputasse área com reservas de biodiversidade nos 27 países em que são cultivados”, afirmou Anderson Galvão, representante do ISAAA no Brasil. De acordo com o relatório, os transgênicos são vitais para evitar a abertura de novas áreas agrícolas e garantir a produção de alimentos, mas devem ser combinados com outras práticas agrícolas. março 2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Café I

Café II

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S

Lavouras ameaçadas evantamento do IEA – Instituto de Economia Agrícola, divulgado no final de fevereiro, prevê quebra de 20% na safra 2014/15 de café no estado de São Paulo, terceiro maior produtor do país, por influência do tempo seco e quente no início do ano. “Nas áreas de Cerrado, os frutos da parte superior da planta (ponteiro) já entraram em processo de maturação. Como os talhões ainda não foram preparados para a colheita, esses frutos provavelmente virão ao chão e se perderão quando se iniciar a colheita (a partir de maio)”, disse o IEA em nota distribuida à imprensa. No começo do mês, a Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo, sediada em Guaxupé, Minas Gerais, principal produtor do país, calculava perdas de 30% em relação a safra esperada em 2014. Neste ano, o Brasil deverá colher 37,53 milhões de sacas de 60 kg, queda de 8% na comparação com a temporada anterior, de acordo com levantamento da Conab, realizado em janeiro. A companhia não computou os estragos derivados da estiagem nem o potencial de recuperação das lavouras com a chegada das chuvas, embora irregulares, na segunda quinzena do mês. De qualquer forma, o clima impactou fortemente os preços, com altas expressivas, após anos de baixas cotações.

Brasileiro bebeu menos egundo maior consumidor de café do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o Brasil registrou queda de 1,2% em 2013 no consumo interno, comparativamente a 2012, de acordo com levantamento da Abic – Associação Brasileira da Indústria do Café. A causa principal, segundo a entidade, foi a concorrência de produtos prontos, como sucos e achocolatados. Foi o segundo recuo da série histórica (o primeiro ocorrera em 2003), contabilizada desde 1990. Os brasileiros sorveram em 2013 o equivalente a 20,08 milhões de sacas de 60 kg, cerca de 40% da safra nacional no ano passado. Para 2014, a Abic projeta crescimento de 3% a 4% no consumo interno, com maior procura por cafés de melhor qualidade, desde os tradicionais até os gourmet.

Café III

Crédito e prazo de pagamento maiores

O

CMN – Conselho Monetário Nacional elevou de R$ 50 milhões para R$ 100 milhões o limite para contratar crédito da linha Financiamento para Aquisição de Café, ampliou o prazo para requerer crédito destinado à aquisição do grão (de 1/4 para 30/12 de cada ano) e o período para contratar financiamento de capital de giro para indústrias de torrefação ou de café solúvel – antes, tal período se es-

tendia até 30/11 de cada ano; agora, vale para o ano inteiro. Em 2013, o governo definiu normas para renegociação de débitos dos cafeicultores e a realização de leilões de contratos de opção de vendas, comprometendo-se a comprar as sacas arrematadas. Neste mês de março, os produtores poderão optar por vender o café à Conab pelo valor de referência de R$ 343 a saca ou negociar diretamente no mercado.

Agricultura familiar

CMN reabre prazo para renegociação de dívidas

O

Conselho Monetário Nacional esticou para 30 de junho o prazo para renegociação de dívidas do Pronaf até o montante de R$ 30 mil e para 15 de outubro a formalização das operações. O pagamento pode ser feito em até dez parcelas anuais, com taxa efetiva de juros de 2% ao ano. Para operações contratadas entre fevereiro e outubro de 2014, o vencimento da primeira parcela será em 2015.

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Notícias da Terra Cana I

Recursos para o setor sucroenergético

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Finep – Financiadora de Estudos e Projetos e o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social lançaram em 17/2 o programa PAISS Agrícola – Plano de Apoio Conjunto à Inovação Tecnológica Agrícola no Setor Sucroenergético, com recursos de R$ 1,48 bilhão para as operações contratadas entre 2014 e 2018. O PAISS Agríco-

la trabalhará com projetos em cinco linhas temáticas: sistemas integrados de manejo; planejamento e controle da produção; máquinas e implementos para plantio e/ou colheita; técnicas eficientes de propagação de mudas; e dispositivos biotecnológicos inovadores para o plantio. As empresas poderão participar do processo de seleção em parceria

com outras companhias e instituições científicas. Os planos de negócio devem ter valor mínimo de R$ 20 milhões, com prazo de execução até 48 meses, e ser desenvolvidos, preferencialmente, no território nacional. O edital do programa e documentação relacionada estão disponíveis na seção de editais do site da Finep: www.finep.gov.br/editais/vigentes.

Cana II

Seca compromete a safra no Sudeste

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evantamento da Unica – União da Indústria de Cana-de-açúcar demonstra que o tempo quente e seco que predominou do final do ano passado até meados de fevereiro na região sudeste do país vai afetar a produção da safra 2014/15 de cana-de-açúcar. “A sequência de 60 dias de estiagem comprometeu o aumento esperado de produção, ao redor de 40 milhões de toneladas”, disse o diretor técnico da instituição, Antônio de Pádua Rodrigues. Agora, a meta do setor é repetir o resultado do ciclo anterior. As lavouras plantadas a partir de outubro do ano passado foram as mais afetadas pelo clima. As chuvas, que voltaram à região a partir da segunda quinzena de fevereiro, deverão apenas impedir novas perdas, sem condições de recuperarem os prejuízos registrados até o momento. “O que perdeu, perdeu. Não tem mais recuperação, e a expectativa agora é que a chuva se mantenha na normalidade e não haja quebra maior ainda”. As usinas do centro-sul, região que responde por 90% da produção nacional de cana-de-açúcar, estão encerrando a safra 2013/14 com uma moagem recorde de 596,2 milhões de toneladas, segundo dados atualizados até o final de janeiro

Capacitação

Inaugurada a AGCO Academy

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AGCO, holding mundial de equipamentos agrícolas – responsável pelas marcas Challenger, Fendt, GSI, Massey Ferguson e Valtra, inaugurou o Centro de Treinamento AGCO Academy, localizado na cidade de Campinas (SP), projetado para servir como espaço de difusão de conhecimento e capacitação técnica e operacional às redes de concessionárias Massey Ferguson e Valtra nos países da América do Sul e Central. O prédio, construído em área de 3 mil m² recebeu investimentos de R$ 8 milhões e abriga infraestrutura moderna em equipamentos e tecnologia, para permitir aos alunos a possibilidade de ter contato com as mais recentes novidades presentes nas linhas de tratores, colheitadei-

ras, pulverizadores e implementos. “O aprimoramento das equipes que atuam nas concessionárias das marcas Massey Ferguson e Valtra é estratégico para avançarmos na prestação de serviços aos nossos clientes. A agricultura avança rapidamente para a mecanização e as tecnologias embarcadas atualmente requerem dos profissionais cada vez mais capacitação técnica”, destacou André Carioba, vice-presidente sênior da AGCO na América do Sul. A AGCO Academy terá um estúdio de TV, montado em parceria com o Canal Rural, que servirá para o ensino a distância, para permitir uma difusão rápida dos conteúdos gerados nos laboratórios. A estrutura acomoda ainda 8 salas de aula, laboratórios para testes de regulagem

e checagem dos sistemas e equipamentos das máquinas, informática, eletro-hidráulica, além de boxes para simulação de situações práticas de diagnósticos e reparos de máquinas, além de auditório para palestras e workshops. Uma ‘bancada viva’ permitirá a realização de simulações reais de diagnósticos em motores. A ideia é que as equipes estejam capacitadas a identificar e solucionar problemas.

março 2014 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Mandioca

Pesquisadora do IAC vence concurso da Embrapa

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Instituto Agronômico de Campinas (SP) tem o programa de melhoramento genético de mandioca mais antigo do mundo, datado de 1935. Seus pesquisadores já desenvolveram mais de 20 variedades. Em reconhecimento a tanta “expertise”, não é de estranhar que a pesquisadora Teresa Losada Valle, líder do Programa de Melhoramento Genético de Mandioca do IAC, tenha vencido o concurso Frederico de Menezes Veiga, promovido pela Embrapa. Todos os pesquisadores vinculados a qualquer uma das instituições que compõem o SNPA – Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, como é o caso do IAC, podem participar.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) considera que a mandioca pode se transformar no principal cultivo do século XXI em modelos de agricultura sustentável. Quase toda a produção

brasileira é destinada às indústrias de farinha e à extração de amido. Uma pequena parte apenas é produzida para consumo próprio, comércio local ou mercados hortifrutigranjeiros e processada em ambiente doméstico.

Fitossanidade I

Campanha de conscientização sobre pragas

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Abrasem – Associação Brasileira de Sementes e Mudas lançou no mês passado, durante o Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel (PR), a campanha nacional de conscientização “Manejo Integrado de Pragas”, cujo propósito é orientar os agricultores sobre práticas de controle de pragas nas lavouras de milho, soja e algodão. Além do “road show” com palestras ministradas por consultores, que percorrerão as principais regiões produtoras do Brasil até junho próximo, o projeto inclui distribuição de manual técnico e anúncios em veículos especializados. O site www.boaspraticasogm.com.br traz todas as informações sobre a campanha, a programação de palestras, dados técnicos e artigos sobre MIP.

Fitossanidade II

Minas Gerais proibe o uso do benzoato

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a contramão do que vem ocorrendo em outros estados com tradição no cultivo de cereais, leguminosas e oleaginosas, o IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária proibiu no mês passado a aplicação de defensivos à base de benzoato de emamectina no combate à Helicoverpa armigera, atendendo parecer do Ministério Público Federal. Em novembro passado, o estado de

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Minas Gerais, com pelo menos 89 municípios infestados por esta espécie de lagarta, fora declarado em situação de “emergência fitossanitária” pelo governo federal, condição necessária para usar a substância. Ao justificar a decisão, o IMA alegou que Minas Gerais possui 18 produtos cadastrados para o controle da praga e que as lavouras são fiscalizadas.


Notícias da Terra Commodities

Expansão agrícola X desmatamento

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os últimos dez anos, a opinião pública brasileira passou a dissociar a expansão agrícola do desmatamento graças, principalmente, às políticas públicas dedicadas à conservação das áreas de floresta e à crescente profissionalização do setor agropecuário, cada vez mais voltado à exportação. De olho no mercado estrangeiro, os agricultores passaram a se preocupar mais com os passivos ambientais incorporados em seus produtos. As conclusões, baseadas na análise de mais de 100 estudos publicados nos últimos anos, são de um grupo de 16 pesquisadores. A “comoditização” da produção rural brasileira trouxe, porém, impactos negativos, entre os quais maior concentração de terras e o

consequente êxodo rural. “As grandes propriedades – as que tem mais de mil hectares – representam hoje apenas 1% das fazendas do país. No entanto, ocupam praticamente 50% das terras agrícolas”, ressaltou David Montenegro Lapola, professor do Departamento de Ecologia da Unesp – Universidade Estadual Paulista, e autor principal do artigo, publicado na edição de janeiro da revista Nature Climate Change, de origem

inglesa. “Os dados mostram em 1995 um pico de expansão na agricultura coincidindo com um pico de desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Isso volta a ocorrer entre 2004 e 2005, quando também houve pico de crescimento do rebanho bovino do Brasil. Após esse período, porém, a expansão agropecuária se desacoplou do desmatamento, que vem caindo em todos os biomas brasileiros”, disse Lapola à Agência Fapesp.

Logística

Agricultores esperançosos: “Que venha a Ferrogrão”

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rodutores e entidades ligados ao agronegócio em Mato Grosso estão reivindicando a construção de uma ferrovia de 1.100 quilômetros entre Lucas do Rio Verde (MT) e Itaituba (PA), aproveitando o corredor da BR-163. O governo federal anunciou no ano passado um es-

tudo de duplicação da rodovia neste trecho, com cobrança de pedágio. Este é o nó da questão: os agricultores norte-matogrossenses temem que o valor do pedágio na estrada anule o que esperam economizar com frete. O custo de transporte por ferrovia é, em média, 40% mais

barato do que por caminhão. Além disso, há outra questão relevante: o trecho entre Lucas e Itaituba é relativamente desabitado. Mesmo com o incremento esperado no trânsito de caminhões, a conta talvez não feche no curto prazo, a não ser com pedágio caro.

SRB

Rural elege novo presidente

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ormado em administração de empresas, com mestrado em finanças nos Estados Unidos, Gustavo Diniz Junqueira, de 42 anos, foi eleito presidente da SRB – Sociedade Rural Brasileira no período 2014/2017, sucedendo a Cesário Ramalho da Silva, que a dirigiu nos últimos sete anos. Ao assumir o cargo, afirmou que o estrangulamento da renda do produtor rural não é só um problema da classe, e, sim, um desafio para toda a sociedade. “O Brasil tem que fazer escolhas e reformas. O setor produtivo não pede ajuda, pede mudanças, que serão fundamentais para todos, e imprescindíveis para o nosso futuro. Ninguém melhor posicionado que a inteligência do agro (entidades, institutos, líderes) para formular o que é preciso a curto, médio e longo prazo dentro do setor (financiamento, seguro, legislação) e fora dele (infraestrutura, educação, formação profissional, etc). Articular e integrar estes pensamentos e ações é o papel da Rural”. março 2014 – Agro DBO | 17


Capa

Safra indefinida

Estragos decorrentes da estiagem no Centro-Sul do Brasil no início do ano podem impedir o recorde na produção de soja em 2014 Glauco Menegheti

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ão será desta vez que o Brasil ultrapassará a barreira psicológica das 200 milhões de toneladas de grãos e fibras, o que era o sonho de muitos para a safra 2013/14. É possível até que o recorde esperado de 90 milhões de toneladas de soja também não venha, embora os níveis de produtividade alcançados em algumas regiões, especialmente em Mato Grosso, possam compensar as perdas. A chuva escasseou no Sul, Sudeste, Nordeste e parte do Cen-

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tro-Oeste, voltando a cair, de forma esparsa e irregular, apenas na segunda quinzena de fevereiro. No final do mês passado, os órgãos oficiais de estatística estavam tateando sobre as projeções, pois o grosso da produção brasileira de soja estava no campo e em processo de floração e formação de vagem. Isso sem contar a segunda safra de milho, cujo processo de plantio já estava em curso no Paraná e no Centro-Oeste do país e também foi empacado pela seca.


Robispierre Giuliani

O IBGE e a Conab previram produção nacional de grãos praticamente idêntica: 193 milhões de toneladas, o que, se confirmada, marcará aumento de 3% em relação à safra passada (186,8 milhões/t). Da temporada atual despontavam dois extremos na ocasião: de um lado, Mato Grosso por excesso de chuva no final da colheita no médio-norte e, de outro, o Paraná, talvez o estado mais afetado pela estiagem, com perdas significativas nas regiões norte, sudoeste e sul. A frente fria que beneficiou o sul do estado na metade de fevereiro não foi suficiente para recuperar os prejuízos, segundo o chefe do Deral – Departamento de Economia Rural, Francisco Simioni. “Apenas estancou as perdas, pois as chuvas foram bastante irregulares”, diz ele. No final do mês passado, o Deral

divulgou uma prévia das perdas na lavoura: a quebra será de 12,2%, o que anula a possibilidade de recorde estadual e compromete o nacional. Segundo maior produor de soja do país, o Paraná, de acordo com o levantamento, deve colher 14,5 milhões de toneladas de soja – baixa de 2,2 milhões de toneladas sobre a estimativa de janeiro (16,5 milhões/t). “Até a penúltima semana de janeiro, a safra vinha exuberante e enchia os olhos. Infelizmente, as altas temperaturas cozinharam as plantas por dentro”, disse o Secretário da Agricultura. Norberto Ortigara. A frustração quebra um ciclo de três safras de muito boas. “Nos anos anteriores, ocorreram problemas pontuais, mas nestelmente o clima surpreendeu.” Há preocupação em relação ao endividamento dos­ março 2014 – Agro DBO | 19


Ariosto Mesquita

Capa

produtores e à própria economia estadual. O agronegócio responde por 38% do PIB do Paraná. Já Mato Grosso deverá ter uma safra cheia, apesar das chuvas e da Helicoverpa armigera, entre outras pragas, como a mosca branca. O Imea – Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola projetava uma produção recorde de 43,8 milhões de toneladas de grãos. A soja, plantada nesta temporada em 8,3 milhões de hectares, deveria render 26,9 milhões de toneladas, com uma produtividade de 53 sacas. O volume será 13,9% superior aos 23,6 milhões de toneladas na safra passada. Na primeira semana de fevereiro, os produtores mato-grossenses já haviam colhido 36,4% da área, ou 3 milhões de hectares e 9,8 milhões de toneladas, conforme o analista de grãos do Imea, Ângelo Luis Ozelame. Fartura na soja, mas nem tanto no milho. Mato Grosso, também maior produtor do cereal, não deverá repetir o mesmo desempenho de 2012/13. De acordo com o Imea, a produção deverá recuar para 17 milhões de toneladas, uma queda de 14,46% em relação à temporada passada. Além de encolhimento na área, houve diminuição de investimentos em tecnologia em função do preço desfavorável do grão. Da área prevista, de 3,2 milhões de hectares, 45,9% haviam sido semeados até a metade de fevereiro. Mato Grosso foi o estado que mais impactou na previsão de queda de produção para a segunda safra brasileira, que foi estimada em 42,8 milhões de toneladas pela Conab no seu 5° levantamento. Perdas em soja e milho Outra região cujas previsões eram demasiado infladas era a do Rio Grande do Sul. A Conab, que fez levantamento a campo em janeiro e divulgou em fevereiro, previa uma safra recorde de 30,3 milhões de toneladas, ampliação de 7,2% sobre o ano passado. No entanto, diversas regiões sofreram com seca pro20 | Agro DBO – março 2014

A produtividade média em Mato Grosso chegou a 53 sacas por hectare no início da colheita

No Paraná, Mato Grosso e outros estados, muita gente optou por plantar soja sobre soja, por causa dos preços baixos do milho.

longada entre dezembro e janeiro, como a do agricultor familiar Olívio Cardoso Vargas, de Ernestina, município localizado na região noroeste do estado. Segundo ele, desde 2005 não se enfrentava uma estiagem tão severa na localidade de Três Lagoas. “Faltou chuva de dezembro a janeiro, bem na época crucial para o milho.” Vargas amargou perda de 40% a 50% na produção e na produtividade esperadas no milho. Ele pretendia colher 180 sacas para o investimento que realizou, de R$ 2,2 mil por hectare, em modestos quatro hectares. O que ele extraiu do campo vai dar apenas para silagem e alimentar as 14 vacas em lactação em sua propriedade. “Não deu nada de grãos. Secou tudo”, lamenta o produtor, que já acionou o Proagro no caso do milho. Normalmente chove 180 milímetros entre janeiro e fevereiro na região, mas houve disponibilidade de apenas 50 milímetros. Na soja o drama não foi diferente. Ele estima que terá, no mínimo, uma redução de 30% no que pretendia colher – cerca de 55 a 60 sacas por hectare. Agora, ele espera ao menos recuperar o que ele investiu nos insumos. “Não estou nem contabilizando mais a mão de obra, as horas do trator e o óleo diesel”, lamenta Vargas. O produtor está especialmente preocupado com as prestações de máquinas, implementos agrícolas e animais, que totalizam R$ 20 mil por ano para trator, roçadeira, espalhador de adubo. Em Santa Rosa, também no noroeste do Rio Grande do Sul, as condições foram aparentemente normais para o milho, segundo a Emater estadual. Na visão do técnico do escritório municipal da Emater, Vanderlei Waschburger, a área de 3,5 mil hectares para grãos e 2 mil para silagem não foi prejudicada. O rendimento esperado é de 6 toneladas por hectare, 20% maior do que o do ano passado.


Só agora em março a Conab deverá divulgar estimativas de perdas decorrentes da estiagem. Números finais, só em maio. fevereiro. A Emater mantinha uma projeção de 4,9 milhões de toneladas para o milho (área de 1 milhão de hectares), 12,7 milhões de toneladas para a soja (4,8 milhões de hectares) e 8,5 milhões de toneladas para o arroz (1,1 milhão de hectares). No entanto, Machado Neto salientou que os números finais serão divulgados apenas em maio.

Quanto à soja, que ocupa 18 mil hectares nesta safra, o extensionista pensa que é cedo para prognosticar o volume a ser colhido. A região não ficou imune à estiagem, mas recuperou a normalidade numa fase crucial para a oleaginosa, o enchimento de grãos. A Emater/RS, assim como a Conab, parecia estar defasada frente aos efeitos climáticos adversos de janeiro e fevereiro. Segundo o gerente técnico, Dulphe Pinheiro Machado Neto, as chuvas que ocorreram a partir da metade de fevereiro, furando a onda de calor que se instalou no Centro-Sul, tranquilizaram os produtores e observadores da safra de soja que, segundo o agrônomo, estava num ponto crítico: 85% em floração e enchimento de grãos na segunda quinzena de

Machado Neto, da Emater/RS e Maurício Saito, da Aprosoja/MS: a seca afetou os dois estados de formas diferentes, em função do estágio diverso das lavouras.

Problemas generalizados Outros estados que padeceram no início do ano com a secura foram Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, entre outros. Os agricultores sul-mato-grossenses esperavam colher 6,4 milhões de toneladas de soja (área de 2,2 milhões de hectares), mas, depois de uma estiagem que se iniciou a partir de dezembro, contavam com um volume de 6 milhões de toneladas, uma quebra de 6,25%. O revés não parece grande, mas o aumento de área de soja foi de 10,5% em comparação à safra passada, expansão essa que foi construída sobre a atividade pecuária em declínio. Ou seja, a produção poderia ser maior, não fosse o clima adverso. Nos municípios mais atingidos, Rio Brilhante e Douradina, o estrago chegou a 40%. Maracaju, Dourados, Sidrolandia, Ponta-Porã e Laguna Carapã tinham anotado perda 15% até fevereiro, segundo o presidente da Aprosoja/MS – Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul, Mauricio Saito. Na avaliação do dirigente e produtor, a situação poderia piorar em fevereiro caso não ocorressem chuvas. “O veranico normalmente acontece entre dezembro e janeiro, mas desta vez veio em fevereiro, num período crucial para a soja no estado”, diz Saito. No Mato Grosso do Sul, 60% da área plantada com a oleaginosa já havia sido colhida no final de fevereiro. Ao mesmo tempo, 45% da operação de plantio de milho safrinha estava fechada. O detalhe é que, tanto o clima quanto os baixos preços desestimularam o uso de tecnologia. A Aprosoja/MS estimava em fevereiro um volume de 7 milhões de toneladas do cereal – queda de 7,25% em comparação à safra 2012/13. Na Bahia, após reunião com dezenas de produtores ligados à Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia no final de fevereiro, constatou-se que a quebra na soja seria de 40%. De uma produtividade esperada de 55 sacas por hectare, a realidade daria aos baianos 40 sacas por hectare – queda de 15 a 16 sacas. O complicador para a saúde financeira dos produtores, conforme o produtor e delegado da Aiba, Luiz Pradella, é que só se pode acionar o seguro agrícola com rendimarço 2014 – Agro DBO | 21


Capa média de chuva no estado de 200 milímetros despencou para 70. O revés quebrou uma sequência de duas safras cheias em Goiás. Silomar Cabral, produtor em Jataí, testemunhou perda de 20% na produção de soja do município, onde a área plantada foi de 278 mil hectares. Os produtores investiram em tecnologia, expandiram a área em 18 mil hectares, mas alguns amargaram perdas de até 40%. “Queria atingir um rendimento de 60 sacas/ha, mas agora devo colher 48”, resignou-se Cabral, que neste ano plantou em 400 hectares com custo aproximado de 40 sacas por hectare. mento até 27 sacas/ha na soja e 77 sacas/ha no milho. A região se caracteriza por altos rendimentos. No caso do cereal, a média é de 172 sacas por hectare. A quebra de 30% a 40% não permitiria também acessar o benefício para, ao menos, pagar o custo de produção. A estiagem quebrou uma estabilidade climática peculiar à região oeste da Bahia. A chuva caiu na região normalmente até 27 de dezembro, como testemunha Pradella. Depois escasseou, provocando os prejuízos já conhecidos. Os produtores baianos e de outras regiões também vão ter que subtrair de seus ganhos o aumento de custo de produção causado pela Helicoverpa armigera e outras pragas. Em Goiás, o rastro de prejuízo deixado pelo veranico somava R$ 1,3 bilhão em meados de fevereiro, segundo estimativa da Faeg – Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás. O cálculo apoiava-se na estimativa de queda de 15% sobre produção previamente estimada de 9,5 milhões de toneladas plantadas em 3,1 milhões de hectares, ao preço de R$ 55,00 a saca. A seca começou em dezembro e se agravou em fevereiro. Neste mês, de acordo com o assessor técnico da Faeg, Cristiano Palavro, a

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A H.armigera não dá trégua na Bahia. Este ano, ela disputa corrida acirrada pela comida com a falsa-medideira

Mato Grosso diminuiu a área de milho, aumentou a de soja, ganhou em produtividade mas perdeu muito po causa das pragas.

Lagarta glutona A Bahia, pelo segundo ano consecutivo, será o estado que terá o maior ônus pelo ataque da Helicoverpa armigera. Nos cálculos da Aiba, a média de aplicações de inseticida será de dez para a soja e de cinco a seis no caso do milho. “Serão dez sacas de soja para controlar a praga”, contabiliza o produtor Luiz Pradella. Neste ano, a praga fez menos estrago nos campos baianos do que um antigo e já conhecido inseto, a lagarta falsa medideira (Pseudoplusia includens). “Tivemos um surto muito forte. Outra praga que começa a incomodar é a mosca branca, principalmente nas regiões de pivô.” De acordo com o agricultor, uma frente de combate à Helicoverpa começou a ser armada já no ano passado, se intensificando neste ano. Existem ao menos quatro grandes grupos de produtores que trocam experiências sobre as melhores práticas para combaterem a praga emergente, trocando acertos e erros no manejo. “Isso ajuda a poupar tempo e a reduzir as perdas.” Em Mato Grosso, a praga emergente foi controlada, mas com um custo muito alto. O Imea calcula que


Os portos com terminais de exportação de grãos, principalmente o de Santos (SP), vêm registrando movimento recorde de navios.

o desembolso adicional para conter a lagarta alcançou a média de R$ 931,93 milhões até fevereiro. Em todo o estado, o índice médio de perdas nos campos de soja era de 3% com a lagarta, o que representa aumento médio de de 4,3% no custo de produção – ou R$ 85,02 a mais por hectare, correspondente a três aplicações extras de defensivos.. Além dos prejuízos financeiros ao produtor, a Helicoverpa come a produtividade. Até meados de fevereiro, 2,9 milhões de hectares haviam sido colhidos em Mato Grosso, nos quais a perda contabilizada era de 1,6 saca por hectare, ou um total de 278,28 mil toneladas de soja – um prejuízo financeiro de R$ 224,89 milhões. Os números do Imea foram contabilizados a partir de um diagnóstico realizado pela SFA/MT – Superintendência Federal de Agricultura em Mato Grosso, em parceria com a Aprosoja. O objetivo era levantar o prejuízo causado pela Helicoverpa nas lavouras do estado. O estudo foi coordenado pelo doutor e pesquisador Wanderlei Dias Guerra, e considerou as variedades de soja superprecoce e precoce, que têm ciclo de 90 a 105 dias. De acordo com o Imea, os prejuízos já ocorridos poderiam ser minimizados devido à boa produtividade. A lagarta falsa-medideira e a mosca branca também representaram problema para Mato Grosso. Nos demais estados, apesar do aumento de custo de produção, a Helicoverpa estava sob controle. Portos movimentados Mal a safra começou e a movimentação nos principais portos brasileiros de grãos está frenética. A exportação de soja, milho e farelo de soja pelo Corredor

O porto gaúcho de Rio Grande (acima, à esq.) ultrapassou o de Paranaguá (PR) em 2013, em volume de soja embarcada

de Exportação do Porto de Paranaguá atingiu o maior volume para um mês de janeiro da história. Foram exportados 982,8 mil toneladas de grãos – 11,89% maior do que o registrado em janeiro de 2013. Diversos fatores explicam a movimentação histórica, entre eles as boas condições climáticas e o recebimento mais cedo da soja, o que permitiu o início das operações também com bastante adiantamento. A alta nas exportações pode ser mensurada também no aumento do fluxo de caminhões. O pátio de triagem recebeu, em janeiro, 20,7 mil caminhões carregados com grãos, 19% a mais do que em janeiro do ano passado. No porto de Rio Grande, que ultrapassou Paranaguá no ano passado em volume de soja exportada, a expectativa era ampliar o embarque da oleaginosa em ao menos 800 mil toneladas, de 8,2 milhões de toneladas em 2013 para 9 milhões neste ano. Na avaliação do superintendente do porto, Dirceu Lopes, além da possível safra recorde do Rio Grande do Sul em 2013/14, o prêmio mais vantajoso em relação a Paranaguá e Santos poderia atrair a atenção de tradings com base em outros estados. “Acima de 20 dias de espera em Paranaguá e Santos já vale a pena trazer a soja para o Rio Grande do Sul”, pondera Lopes. O porto de Santos, o maior do país, deve registrar um novo recorde de movimentação em 2014. A expectativa para os sólidos a granel é chegar a 59,8 milhões de toneladas em 2014. A movimentação do complexo soja aparece liderando esse segmento, com um aumento estimado de 16% em relação a expectativa prevista para 2013, devendo chegar a 18,4 milhões de toneladas. A soja peletizada deve crescer cerca de 24,2% e a soja em grãos 14,2%. Haja navios. março 2014 – Agro DBO | 23


Artigo

O doce Farm Bill americano Há sensíveis diferenças nas políticas agrícolas dos EUA e do Brasil, analisadas pelo colunista, especialmente no seguro. Daniel Glat *

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

A

gora em fevereiro de 2014 foi assinado pelo presidente Obama o “Ato Agrícola de 2014”, o conhecido e doce Farm Bill americano que garante recursos de US$ 956 bilhões de dólares nos próximos 10 anos para programas de suplementação alimentar e programas de apoio e suporte à agricultura. Quase 80% dessas verbas destinam-se ao SNAP (Programa de acesso a alimentação suplementar), ficando para apoio a agricultura cerca de US$ 200 bilhões, ou US$ 20 bilhões por ano. Obviamente, foi uma sacada genial da bancada rural americana, lá nos anos 1970, quando se juntou numa mesma lei programas de apoio alimentar à população carente e programas de apoio e proteção aos produtores rurais. Os programas de apoio a agricultura estão divididos em 4 grandes grupos: 1) Programa de commodities; 2) Apoio e subvenção ao seguro agrícola; 3) Programas de conservação; 4) Outros programas, onde se inclui desde programas de reestruturação leiteira, produção orgânica, programas de ajuda alimentar aos países subdesenvolvidos, estudos médicos da cannabis sativa, apoio a comunidades rurais emergentes etc. Não é à toa que o Farm Bill já foi chamado de “canivete suíço legislativo”. A grande mudança na parte agrícola dessa versão 2014 do Farm Bill está nos programas de commodities; era sob essa rubrica que se concentravam os subsídios mais explícitos, como os Pagamentos Diretos, que consumiam quase US$ 5 bilhões por ano, em pagamentos anuais aos produtores americanos - independentemente da produtivi-

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dade, preços, renda etc. – e também os Pagamentos Contra Cíclicas, que disparavam sempre que os preços caiam abaixo de certos patamares. Esses programas foram substituídos pelo que está sendo chamado de “Rede de proteção aos agricultores”, que consiste em prover ao produtor americano, inteiramente grátis, uma proteção adicional, acima da cobertura do seguro rural, para casos de quebra de safra, queda de preços ou ambos. No EUA, apesar de amplamente utilizados, os seguros agrícolas até hoje não podem ser sobrepostos ou encavalados; e a maioria deles cobre perdas a partir de 25% da renda esperada. Agora, os produtores terão que optar uma vez em 2014, valendo para os próximos 5 anos, entre dois novos programas: o PLC (Cobertura de Queda de Preços) ou ARC (Cobertura do Risco Agrícola); ambos têm como objetivo comum cobrir, gratuitamente, repito, perdas de 14% a 25%, o que a maioria dos seguros não cobre hoje; o que está se proporcionando é cobertura para as

chamadas shallow loses, ou, perdas rasas ou iniciais, já que o seguro rural cobre as perdas maiores. No caso do PLC, cobre-se apenas queda de preços, mas foram definidos preços mínimos fixos que vigorarão para os próximos 5 anos, como US$ 3,7/bushel para o milho e US$ 8,4/bushel para a soja. Se o mercado ficar abaixo disso o produtor recebe a diferença. No caso do ARC o produtor é garantido na renda, e pode ser feito baseado na média do município ou na média do próprio produtor. O valor da renda garantida é definido pela média olímpica dos últimos 5 anos do preço vezes a produtividade. Média olímpica é quando se exclui o maior e o menor valor da série; por ser sempre dos últimos 5 anos ela é móvel no tempo. Assim, os mais baixistas, em médio prazo optarão pela PLC, pois garante um preço mínimo que pode estar acima do mercado nos próximos anos; já os que acham que o mercado vai continuar nos níveis atuais, deverão optar pelo ARC.


Devido ao contencioso movido pelo Brasil na OMC contra os subsídios dados pelos EUA aos produtores de algodão, estes estão excluídos dos programas acima; entretanto, verdade seja dita, os produtores de algodão eram os mais subsidiados pelo antigo sistema, recebendo em média o equivalente a mais R$ 150/ ha na forma de Pagamentos Diretos e nos últimos 10 anos receberam pagamentos contra a cíclica todos os anos, enquanto os de soja, por exemplo, receberam um ano só. Com isso, a ação brasileira foi ganhadora e os EUA concordaram em pagar US$ 147 milhões aos produtores brasileiros de algodão como compensação. Todavia, e obviamente, a lei agrícola americana não iria abandonar seus cotonicultores; foi criado exclusivamente para eles um novo tipo de seguro chamado STAX – Stacked Income Protection Plan – ou, plano de

Lavoura americana: “O excesso de proteção aos produtores não é saudável ao mercado global”.

proteção de renda estaqueado – cujo objetivo é o mesmo do PLC e ARC, cobrir aquelas perdas que o seguro tradicional não cobre a partir de 10% de perda; apesar de o produtor ter que pagar a apólice desse seguro, o governo cobrirá 80% do valor. Além disso, foi criado para todos os produtores um novo tipo de seguro que também poderá ser encavalado com o seguro tradicional, chama-se o SCO - Cobertura Suplementar Opcional – que cobrirá aquelas perdas entre 10% a 30% não

cobertas pelo seguro tradicional. O governo arcará com 65% do valor desse seguro. Segundo muitos analistas esse excesso de proteção não é nada saudável ao mercado global, pois os produtores americanos terão segurança de plantar – e ter renda – mesmo em anos de preços ruins. Resta a nós produtores brasileiros aprender com os americanos como construir uma política agrícola competitiva e protetora de seus produtores.

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Política Por quê? agricultura brasileira é o setor A mais dinâmico e eficiente da economia.

Triplicou a produção em 10 anos, dobrou a produtividade, conquistou mercados externos, supriu o mercado interno, produziu 24% do PIB, 30% da mão de obra empregada e 20% da exportação brasileira. Apesar desse sucesso sofre uma indisfarçável implicância da sociedade civil e do governo. Vejam o orçamento do Ministério da Agricultura. Por quê? Culpa da agricultura que não deu a devida importância ao seu próprio marketing. A liderança, na sua maioria, ainda vive das benesses da política fascista de Getúlio Vargas, de 80 anos atrás. A agricultura avançou na produtividade, na produção, e não na comunicação. Achou que o suces-

Luiz Hafers é o autor destas reflexões políticas sobre a omissão de lideranças do agronegócio.

so alcançado seria suficiente. Enquanto isso, lideranças menores só falam em prorrogação de dívidas. Quem não precisa, fica quieto. A sociedade civil ainda se rege pelo trinômio de barão, escravo e latifúndio. As esquerdas interessa-

Kátia Abreu dá bronca em ministro!

presidente da CNA, ConfedeA ração da Agricultura e Pecuária do Brasil, emitiu nota oficial para a imprensa, em 21 de fevereiro último, em que manifesta “perplexidade ao tomar conhecimento das manifestações de um ministro de Estado, desmerecendo o Poder Judiciário brasileiro”. Na nota registra que “Ao participarem da apresentação de trabalho sobre conflitos de terra, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o Secretário de Reforma do Judiciário 26 | Agro DBO – março 2014

do Ministério da Justiça, Flávio Caetano, defenderam a mediação como medida mais eficiente para resolver os problemas fundiários, relegando a segundo plano o papel da Justiça”. A CNA lamenta a afirmação, de que “a velha figura do latifúndio contra o pequeno proprietário continua existindo no país”, e que, continua a nota, “mostra desconhecimento da realidade do campo. Baseia-se na noção do latifúndio improdutivo, quando é sobremaneira sabido que a propriedade rural brasileira é altamente produtiva e a principal responsável pelo crescimento econômico”. A nota da CNA finaliza com a observação de que “Estas declarações ganham especial relevância no momento em que o Ministério da Justiça insiste em não dar cumprimento a decisões judiciais de reintegração de posse, em favor de produtores do sul da Bahia que tiveram suas terras invadidas por índios”.

das batem o bumbo da sustentabilidade e do latifúndio. Falsos. A agricultura empresarial é um sucesso, a familiar é uma necessidade social. Com produtividade econômica menor tem um enorme saldo social positivo. A polarização é burra, a agricultura moderna é sustentável e responsável nas questões de preservação e manejo sustentável. Não nos é dado crédito algum. Por quê? Os lobbies que sustentam as críticas pagam para que o Brasil não cresça e gaste mais petróleo. O radical de esquerda medra na fome e nós a combatemos. O que fazer? Trocar lideranças, ir para a rua, a imprensa. Com convicções e não conveniências. À luta pois. Luiz Hafers

Apagão elétrico apagão do dia 4 de fevereiro O último, ainda que rápido e regional, além de acidental, provo-

cou reações imediatas no Governo Federal. Com o alarme nacional e o receio de novas interrupções, a presidente Dilma Rousseff despachou seus porta-vozes para anunciar que o governo vai continuar a construir todas as hidrelétricas projetadas para a Amazônia, inclusive as quatro do Xingu, mesmo que seja necessário atropelar ambientalistas e críticos, e até mesmo a própria lei, tornando a política energética questão emergencial. Melhor dizendo: é o fim de democracia nessa discussão interminável no país. A conjuntura desfavorável não permite debater alternativas. O governo prefere usar os rios amazônicos do que debater hoje as políticas na área.


Revoada de políticos em Brasília

tibilizar até o final deste mês de março, com o objetivo de se candidatarem a diversos cargos legislativos em seus estados. Os ministros da Agricultura (Mapa), Antônio Andrade (PMDB/ MG), e do Desenvolvimento Agrário (MDA), Pepe Vargas PT/RS), saem como candidatos a deputado federal em seus estados. Pelo menos uma dúzia de ministros deixará a esplanada dos ministérios e teremos durante 2014 uma renovação de cerca de 1/3 dos ministros. Para o MDA era tido como certo o retorno do ex-ministro Miguel Rossetto, que está presidindo a Petrobras Biocombustíveis. No Mapa, o burburinho político diz que o PMDB de MG deve perder a vaga, pois indicou um deputado que a presidente Dilma recusou, por não ter ligações com o agro.Ela sugeriu o nome de Silas Brasileiro (PMDB/MG), deputado federal ligado ao café, mas o PMDB não bateu o martelo, fincou pé na sua indicação original. Comenta-se ainda que a preferência da presidente seria por Kátia Abreu, atual presidente da

Carlos Silva/ACS - MAPA

m sem número de ministros, seU cretários e políticos ligados ao Governo Federal irão se desincompa-

Enio Marques: poderia ser um factoide, ou nota plantada por terceiros, para disfarçar a cena política principal, que se desenrola em outro teatro.

CNA, mas como ela vai tentar reeleição para o senado, por TO, só chegará ao MAPA se Dilma for reeleita também. No final de safra do governo, o Mapa poderia ir para o Paraná, com a nomeação do senador Osmar Dias (PDT/PR), atualmente na vice-presidência de agronegócio do Banco do Brasil. No fechamento desta edição fortes rumores indicavam uma solução técnica: a nomeação do veterinário Ênio Marques para ministro. Marques é funcionário antigo do Mapa, tendo sido Diretor da Defesa Agropecuária, e atualmente está como assessor especial.

Show Rural Coopavel 2014 evento do Oeste paranaense, orO ganizado pela Coopavel, é considerado como o termômetro futuro

do ano agrícola, se vai ser bom ou ruim, para os produtores e para as indústrias de insumos. Conforme a lógica das empresas, se o produtor vai às compras já no início de fevereiro, quando a colheita da safra de verão ainda está a caminho, é porque o produtor rural está confiante e otimista com a sua produção e com os preços recebidos ou a receber. Conforme Robson Zófoli, diretor comercial da Jacto Máquinas Agrícolas, de Pompeia (SP), “a

Coopavel deste ano foi bem, igual à do ano passado, mas apesar dos resultados positivos das vendas na feira existe ainda certa insegurança dos produtores pela falta de chuvas, com pequena quebra de produtividade da 1ª safra e comprometimento do plantio da 2ª safra”. Isto, de acordo com Zófoli, “deve baixar a rentabilidade em 2014, pois os preços das commodities estão abaixo de 2013, quando os preços foram excepcionalmente bons. O aumento do dólar não foi suficiente para compensar, mas a expectativa futura é boa.” março 2014 – Agro DBO | 27


Especial A nova fronteira agrícola Parte II

Soja no cascalho A saga dos agricultores que, seguindo a trilha aberta por Rodolfo Schlatter, transformaram o Vale do Araguaia, no Pará, em polo de produção de grãos. Ariosto Mesquita

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Fotos: Ariosto Mesquita

M

uita gente invoca São Tomé ao ouvir falar de produtores rurais plantando soja em área de cascalho no Pará. “É preciso ver para crer”, alegam. Quando, porém, constatam a veracidade desta informação, a descrença cede lugar à curiosidade: “Como é possível?” “É viável economicamente?” “A produtividade não fica comprometida?” Para estes céticos, o mais surpreendente, é saber que em determinadas regiões do estado, como no município de Santana do Araguaia, no Vale do Araguaia, o cultivo de grãos nestas condições é tão rentável e produtivo quanto em áreas tradicionais de produção agrícola do Cerrado, por exemplo. Esta particularidade tornou-se a principal característica do sudeste do Pará, a mais nova fronteira agrícola brasileira. Em geologia, o termo “cascalho” é utilizado para definir rochas com tamanhos entre 2 e 75 milímetros (para efeito comparativo, a areia compreende grãos de rocha com dimensões até 2 mm). Mais do que a areia, pode ser potencialmente perigoso para as plantas em situações de alta incidência de luz solar e elevadas temperaturas, condições triviais no sudeste do Pará. Funciona como multiplicador de calor, queimando os vegetais. Simplificando, age como a lente de uma lupa, direcionando os raios de sol para determinado ponto – no caso, a planta. Quando os pioneiros abriram as primeiras áreas de lavoura na região, detectaram a existência de pequenas, médias e grandes “manchas” de cascalho no solo. No começo, evitavam o cultivo nestas áreas, mas logo voltaram atrás, justificando o recuo por duas razões: primeiro, por ques-

Localização espacial do município de Santana do Araguaia

tões econômicas – afinal, trechos de solos expostos intercalados com talhões cultivados é um desperdício. Em segundo lugar, porque os resultados obtidos nos primeiros plantios sobre cascalho os surpreenderam positivamente. Validação científica Independentemente dos experimentos pioneiros, foi só a partir de 2012, com a chegada dos pesquisadores à região, que o manejo de grãos no cascalho foi aprovado cientificamente, após exaustivas avaliações e aferições técnicas. Naquele ano, a Fundação Chapadão – Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão, sediada no município de Chapadão do Sul (MS), instalou uma base de pesquisa em Santana do Araguaia por solicitação de associados, vários dos quais estavam comprando, arrendando ou já cultivavam terras no sudeste do Pará. Os pesquisadores comprovaram que o plantio de grãos em áreas de cascalho era viável diante de particularidades encontradas no solo da região, desde que a lavoura tivesse acompanhamento técnico, com a adoção de medidas preventivas. “Logo observamos que o solo de cascalho em Santana do Araguaia

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Especial

Jocelito Krug, integrante da segunda geração de agricultores em Santana do Araguaia.

detém altos níveis de nutrientes, principalmente potássio, necessitando tão somente de algumas correções antes de se entrar com a cultura de soja ou milho”, conta o engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Chapadão, Marcelo Arf, que periodicamente visita a região. De acordo com sua avaliação, é um solo raso, pouco intemperizado – sofreu pouca ação de intempéries como vento forte, temporal, seca e

calor tórrido, pois passou mais tempo com cobertura natural. Sua composição química, física e biológica manteve-se relativamente preservada, comparativamente aos solos do Centro-Oeste e Sul do Brasil, há muito tempo ocupados com lavouras de grãos e outras culturas agrícolas. Por isso, é possível encontrar teores maiores de nutrientes. Segundo levantamento da Fundação Chapadão, o percentual de cascalho

na região de Santana do Araguaia é de 50% a 60%. “Nesta situação, a cobertura orgânica do solo é mais do que necessária, apresentando três funções primordiais: a contenção da perda de água por evaporação, a preservação dos elementos férteis e a proteção do colo da planta (região de transição entre raiz e caule) contra a queima por altas temperaturas. Caso o colo seja afetado pelo aquecimento do cascalho, a planta tende a tombar e morrer. Através deste ‘telhado orgânico’, produzido por plantas de cobertura, conseguimos evitar a incidência do sol diretamente sobre as pedras, diminuindo a temperatura do solo”, explica o pesquisador, observando que o cultivo no cascalho também pode provocar danos no maquinário das fazendas. O agricultor Jocelito Krug conheceu a região juntamente com o pioneiro Rodolfo Schlatter e preferiu, na época, não se arriscar como fez o amigo e cunhado (Schlatter, personagem principal da primeira das três matérias sobre o sudeste do

Monitoramento científico Edson Borges: “Assessoramento técnico e trabalhos de pesquisa baseados na prática diária”.

Pelo menos 8 mil hectares de lavoura em Santana do Araguaia já contam com assessoramento técnico-científico. Esta área, atendida pela Fundação Chapadão, representa 13,4% dos 60 mil hectares cultivados na safra 2013/14.

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A expectativa é de que, para o próximo ciclo, a área no município chegue a 15 mil hectares. “Ao instalar nossa base em Santana, alugamos um imóvel, levamos a estrutura necessária e decidimos manter dois agrônomos para assessorar os agricultores”, conta o diretor-executivo da Fundação, Edson Pereira Borges. Mensalmente, dois outros pesquisadores são deslocados de Mato Grosso do Sul para dar suporte à equipe no Pará. Como é uma região ainda desconhecida, o trabalho técnico nas propriedades é focado na prática, através da “agricultura com precisão”. O pagamento pelos serviços foi fixado com base na principal moeda da região: a soja. O cus-

to é de uma saca por hectare. A Fundação assegura monitoramento intensivo, da semeadura até à colheita: “Por ser área nova, com pouca mão de obra, temos de estar semanalmente com o produtor e seus funcionários, pois a cada momento surgem novos problemas”. Borges lembra que o trabalho em Santana do Araguaia está no começo. Questões como: “Em que cultivar apostar?”, “Qual é a melhor época de plantio?”, “Quais as principais doenças da região e que produtos utilizar?” vêm sendo respondidas aos poucos. “A cada ano vamos conseguindo melhores respostas e soluções, enquanto outras dúvidas vão surgindo. A pesquisa sempre avança, mas nunca termina”.


O solo no sudeste do Pará é ralo, pouco intemperizado, o que ajudou a preservar suas características e o teor de nutrientes.

Pará, publicada na edição de fevereiro, é casado com a irmã de Krug). “Entendia que sobre pedras não havia como fazer lavoura; vi que nas partes de terras mais vermelhas o potencial agricultável seria muito bom, mas fiquei com receio das manchas de cascalho”, admite. Com o passar do tempo, percebeu, porém, que não havia muita diferença entre as áreas. “Quando os devidos cuidados são tomados, o potencial de produtividade é semelhante”, garante. “O perigo está na implementação da cultura. Caso a soja atinja a altura de 10 centímetros com 15 dias após a germinação, ela já escapa do risco da queima pelo efeito do sol sobre as pedras”, explica. Segunda geração Krug pode ser considerado integrante da segunda geração de agricultores a cultivar terras em Santana do Araguaia. Como outros, acompanhou as experiências, dificuldades e vitórias dos pioneiros (primeira geração). No início de 2012, ajudou a convencer a Fundação Chapadão

(do qual é sócio-fundador) a instalar uma base de pesquisa na região e, contando com este apoio científico, decidiu também fincar os pés na nova fronteira agrícola brasileira. Para isso abandonou, ao menos momentaneamente, a possibilidade de firmar sua carreira política – foi prefeito de Chapadão do Sul por dois mandatos consecutivos. Além disso, decidiu não renovar o contrato de 1,2 mil/ha de terras que arrendava nos chapadões sul-mato-grossenses. “Nos primeiros seis anos, paguei cinco sacas por hectare ao arrendatário, condição que subiu para sete sacas nos três anos seguintes. Em 2011 já entregava 11 e, para renovar, o proprietário queria receber 18 sacas/ha. Dai, troquei o arrendamento no Mato Grosso do

Sul por outro no Pará”, conta. Em sua opinião, foi um negócio vantajoso. “Em Santana do Araguaia arrendei 6 mil/ha de pasto degradado da fazenda Santa Fé, propriedade da empresa Agropastoril do Araguaia Ltda, na expectativa de abrir 1,5 mil/ha/ano para lavoura. No primeiro ano não paguei nada e acertei remuneração de cinco sacas de soja/ ha/ano de 2013 até 2020”, revela. Na primeira safra (2012/13), Krug trabalhou apenas com soja e conseguiu produtividade média de 46,4 sacas/ha, com pico de 61 sacas/ ha em uma área de 300 ha. Para a safra de verão 2013/14 foram semeados 3 mil ha. Agora, planeja trabalhar na safra de inverno com 1,2 mil ha de milho e 300 de sorgo. “Pretendo vender boa parte desta

Krug fez questão de conciliar o cultivo de grãos com a manutenção da massa vegetal nas áreas arrendadas.

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Especial Krug diz que é mais rentável plantar soja em Santana do Araguaia. Recebe 100 reais/ha a mais, em relação a Chapadão do Sul.

A cobertura do solo é imprescindível na região: ajuda a evitar a queima do colo das plantas por altas temperaturas.

segunda safra para pecuaristas que tratem boi na seca em semiconfinamento; a demanda aqui no Pará é grande”, avisa. Mesmo sendo um agricultor por vocação e experiência, Krug também tem planos de investir em pecuária graças à oferta crescente de grãos, verticalizando sua atividade. “Assim que terminar de abrir toda a área arrendada, vou montar um confinamento; meu plano é implantar um boitel”, conta, se referindo a um serviço de engorda bovina em sistema intensivo para animais de terceiros. No que se refere à agricultura, ele não pretende parar nos 6 mil ha arrendados. Em breve começa a produzir na propriedade de 2,25 mil ha que comprou bem próximo à cidade (distante 26 km da área urbana de Santana do Araguaia). “Estou cuidando de todos os procedimentos, registros legais e ambien-

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tais, incluindo áreas de APP e de reserva legal”, salienta. Krug adquiriu estas novas terras em março de 2013 pagando 5,1 mil reais por hectare e garante que, no início de 2014, elas já valiam 7,2 mil reais/ha. Os primeiros resultados de comercialização de grãos de suas lavouras no Pará aumentaram ainda mais o otimismo de Krug. “Em relação à região dos Chapadões (Mato Grosso do Sul e Goiás), as empresas estão pagando em Santana do Araguaia 2,50 reais a mais pela saca de soja e até três reais a mais pela saca de milho; só esta diferença cobre o custo do arrendamento”, revela. Ele comercializou sua primeira safra com as empresas Algar Agro e Bunge Alimentos. “O escoamento foi feito a partir de Porto Franco, no Maranhão”. Em 2014 os negócios tendem a ser ainda melhores: “Tenho contrato fechado com a Bunge

e com a ADM. Esta última vai levar os grãos até o terminal portuário próprio em Barcarena, próximo a Belém; só isso já me garante ganho de 50 centavos de dólar em cada saca sobre o preço de Porto Franco”. Mas expandir seus negócios para tão longe tem seu preço. Só em 2013 fez 16 vezes o trajeto de ida e volta entre Chapadão do Sul e Santana do Araguaia (distância rodoviária de 1.350 km), duas vezes de avião e 14 por estradas (asfaltadas e de terra). Tem ainda dificuldades em conseguir técnicos para manutenção e reforma de maquinário agrícola, além de enfrentar um limitado rendimento da mão-de-obra operacional contratada. “Meus funcionários são da região de Santana, acostumados com pecuária. Na agricultura, o ritmo é mais acelerado, pois temos de cumprir prazos de plantio e de colheita”, observa. Mesmo com estes gargalos e despesas de investimento (abertura de áreas de pastagem degradada, arrendamento, insumos etc). Krug garante que cultivar grãos no Pará é mais rentável do que em sua região, no Centro-Oeste. “Hoje, recebo pelo menos 100 reais por hectare acima do que é pago em Chapadão do Sul. Como estou cultivando três mil hectares, são 300 mil reais a mais em caixa apenas com soja em uma só safra. É o plus que ganho por estar na região”. Os novos profissionais O pioneirismo de Rodolfo Schlatter ao plantar a primeira lavoura de soja em Santana do Araguaia em 2002 acabou atraindo para o município um número crescente de agricultores, além de Jocelito Krug, e, de carona, quando tiveram notícias do rápido desenvolvimento da região e precisaram de seus serviços, um tipo profissional cada vez mais raro e difícil de achar: os especialistas em manutenção de


máquinas agrícolas. Gente como Fernando Fidelis “Cristo” Nogueira, por exemplo. Em dezembro de 2013, ele fez sua segunda viagem entre Chapadão do Sul e Santana do Araguaia. São 2.700 km (ida e volta) alternando rodovias asfaltadas e estradas de terra. Com o sugestivo slogan “Segurança lá em cima”, sua empresa, Cristo Assistência Técnica, é especializada em manutenção de pulverizadores. No Pará, cobra R$ 10 mil por revisão sem pintura e R$ 15 mil com pintura em cada máquina. Quando conheceu a região, em 2012, Cristo viajou no carro de um agricultor que o buscou para um trabalho de emergência. “Foi compensador”, diz ele. Com o que ganhou, comprou uma caminhonete 4X4 automática, e seguiu com ela em dezembro do ano passado para Santana. “Pretendo investir aqui. Por enquanto, ficarei 15 dias a cada mês prestando serviço no Pará, com alimentação, hospedagem e demais despesas por conta dos clientes”, explica. “A ideia é deixar meu filho cuidando dos negócios na região dos Chapadões. Pelos meus cálculos, vou dobrar meu faturamento.” Ele garante que já possui quatro

clientes fixos e uma demanda crescente. Manoel da Silva Filho, proprietário da Hidro Comando, uma empresa de manutenção hidráulica, mecânica, torno e solda, também sediada em Chapadão do Sul, demorou 24 horas para ficar empolgado com Santana do Araguaia.. “Já estou pensando em fechar lá, onde existe muita concorrência, e vir com tudo para o Vale do Araguaia; vou falar com meu sócio”, comentou no dia seguinte ao chegar à região, enquanto já trabalhava na parte hidráulica de uma máquina pulverizadora na

Fazenda Santa Fé. Silva Filho diz que o faturamento da empresa não chega a 150 mil reais por ano. “Mas aqui em Santana do Araguaia creio que dá pra faturar entre 25 mil e 30 mil por mês”, calcula. Natural do Paraná, ele é filho de pequeno produtor (já falecido) assentado na região de Chapadão do Sul, casado e pai de uma filha. “Vou trazer todo mundo pra cá”, diz, animado. Seringueiro desde os 14 anos, o nordestino Flávio Muniz não teve uma vida fácil, mas hoje está estabilizado em Santana do Araguaia.

Primeira área de soja cultivada pelo grupo WLM na fazenda Fartura

Prioridades invertidas Na esteira da agricultura bem-sucedida em Santana do Araguaia, grandes corporações, com extensas propriedades tradicionalmente voltadas para a pecuária de corte, começam também a investir no cultivo de grãos, sobretudo soja. É o caso, por exemplo, do grupo WLM (iniciais de Wilson Lemos de Morais), estabelecido em Santana do Araguaia desde 1973. Com 100 mil ha de terras e um rebanho bovino de 25 mil cabeças distribuídos entre as fazendas Fartura Agropecuária e Agropecuária São Sebastião do Araguaia, a WLM destinou 600

ha de pastagens para o plantio de soja e milho nesta safra, na Fazenda Fartura. “Nossa meta é chegar a 1.000 ha em sistema de integração com a pecuária”, afirma Wilson Lemos de Morais Neto, gerente geral de agropecuária da empresa. Além do cultivo de soja na safra de verão, pretendem cultivar 200 ha de milho na safra de inverno. “O objetivo é a produção de silagem e grãos para o projeto de confinamento que também estamos implantando na fazenda”, revela o gerente. Neto assegura que pelo menos 73% dos 100 mil ha da WLM

na Amazônia são formados por áreas de reserva florestal, detendo o segundo lugar entre as propriedades particulares brasileiras com maior número de espécies de pássaros, conforme levantamento feito por ornitólogos da USP – Universidade de São Paulo. Além das terras no Pará, o grupo produz leite na fazenda São João do Atibaia, em Jaguariúna (SP) e mantém 700 mil pés de café em produção na fazenda São Judas Thadeu, em São Sebastião do Paraíso (MG), entre outros negócios em outras áreas do país.

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Em 13 anos, a área cultivada com grãos no município de Santana do Araguaia saiu de “zero” para alcançar hoje 60 mil hectares.

Saiu adolescente do Ceará rumo a Santa Terezinha, no nordeste do Mato Grosso, onde extraiu látex por nove anos. Nos últimos 10 anos, vem cuidando de 10 hectares de seringais em parceria com o “patrão” Rodolfo Schlatter, na Fazenda Santana Rios. Muniz é responsável por cinco mil seringueiras, tem salário fixo e ganha 30% de tudo o que produz. Recebe salário mínimo em carteira, mais um percentual por produtividade. No ano passado, esta variável lhe rendeu 1,7 mil reais, em média. Sua renda mensal fica, portanto, na faixa dos 2,4 mil reais, considerando o látex a 2,60 o quilo. “Está um pouco baixo agora. Em 2012, chegou a 3,60/kg e ganhei bem mais”, diz, confiante. “Vou continuar por aqui”. Ponto de convergência A ascensão da agricultura, a possibilidade de revitalização da pecuária de corte através de sistemas de integração com lavouras e pessoas como Schlatter, Krug, Arf, Borges, Morais Neto, Cristo, Silva Filho, Diniz e tantos outros coloca-

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ram Santana do Araguaia definitivamente no mapa. Afinal, são 162 mil toneladas de grãos previstos para a safra 2013/14 e um rebanho bovino de quase 600 mil cabeças (IBGE/PPM/2011). De “último município” do Pará, passou a ser o ponto de convergência de velhos e tarimbados lavoureiros baseados em outras regiões do país, de grandes grupos agrícolas em busca de expansão, empresas de assistência técnica, trabalhadores rurais qualificados, mão de obra especializada ou sem especialização nenhuma, comerciantes, empresas de serviços, toda sorte, enfim, de pessoas. Tem espaço para todos. Como dizem por lá: “O forasteiro de hoje pode ser meu patrão amanhã” Quem chega hoje à cidade percebe logo a mistura de euforia com uma nítida desorganização estrutural. Os raros hotéis são limitados e desconfortáveis. O trânsito, com poucos carros e uma enorme frota de motos, é caótico. Policiamento existe, mas os agentes fazem vista grossa para algumas situações. No município, motociclistas não usam

Os mecânicos Manoel Filho e Fernando “Cristo” Nogueira e o seringueiro Flávio Muniz (da esq. p/ a dir.): para eles, o futuro é Santana do Araguaia.

capacetes (para não serem confundidos com eventuais bandidos), muitos condutores são menores e várias motos circulam livremente sem placa. É ainda uma espécie de “cidade sem lei”, como comenta a Secretária de Agricultura de Santana do Araguaia, Franciele Brandão, que admite ter pela frente um extenso trabalho para adequar o município ao futuro próximo de intenso fluxo agropecuário (assunto da última reportagem da série, na edição de abril). Em 2000, pouco antes da implantação da primeira lavoura de soja, a população de Santana do Araguaia era, segundo o IBGE, de 31.218 habitantes, dos quais 17.326 residentes na cidade e 13.892 instalados na área rural. Neste mesmo ano o IBGE constatou que somente 88 pessoas (em 22 residências) contavam com rede geral de esgoto ou pluvial. O percentual de habitantes sem nenhum banheiro em suas casas era de 71,75% (parte, no entanto, contava com espaço sanitário, geralmente externo à residência). Em 13 anos a população dobrou (63.031 habitantes – projeção IBGE/2013) e a área cultivada com grãos (soja e milho) saiu de zero e alcançou, segundo estimativas do Sindicato Rural de Santana do Araguaia, 60 mil hectares. E ainda há muito espaço para crescer.


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Vem muita tecnologia por aí Nos EUA os agricultores usam os primeiros pulverizadores com mistura variável de agroquímicos e máquinas sem operadores. Amílcar Centeno *

A

o longo das duas últimas décadas entraram no mercado várias soluções inovadoras em Agricultura de Precisão (AP). Entre as primeiras utilizações do GPS na agricultura, tornaram-se muito difundidos os sistemas auxiliares de direção, inicialmente na forma de barras de luz, que indicam a rota correta ao operador, mas deixam para este a função de corrigir a direção do equipamento. Estes sistemas já estão se tornando obsoletos com o advento dos pilotos automáticos, que assumem totalmente o controle da direção e que estão próximos de

limitações enfrentados pelos primeiros agricultores de precisão, ao mesmo tempo em que se avalia o que está sendo desenvolvido pelas empresas, é possível antecipar os próximos passos da AP ao longo dos próximos anos. Plantio de precisão Com o aumento do potencial produtivo e, por consequência, do custo das sementes, faz todo o sentido trabalhar a variabilidade dessa operação para otimizar a performance das plantas e reduzir o custo de produção. Já estão no mercado as primeiras plantadei-

Alguns sistemas de AP já se tornam obsoletos com o advento dos pilotos automáticos.

* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

se tornar equipamento padrão em nossas máquinas agrícolas. Outros processos, como o mapeamento da produtividade das lavouras e da fertilidade dos solos, com a consequente aplicação de fertilizantes em doses variáveis, também estão se tornando cada vez mais comuns. Basta ir a uma feira de máquinas agrícolas para entender que esta é uma tecnologia em fase de desenvolvimento, com muitas inovações sendo colocadas à disposição dos produtores, muitas das quais serão amplamente adotadas, enquanto outras deverão ter vida curta, sendo rapidamente descartadas pelo mercado, num processo de seleção tecnológica. Observando-se os problemas e

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ras com dose variável de sementes, permitindo alterar a população das sementes ao longo da operação, seguindo uma prescrição preparada preliminarmente em função dos mapeamentos de fertilidade e produtividade feitos anteriormente. Numa próxima etapa, devem entrar no mercado as plantadeiras multi-híbridas, que permitirão aplicar doses variáveis de diferentes híbridos ou variedades ao longo das diferentes linhas ou mesmo na mesma linha de plantio. O acompanhamento das lavouras ao longo da safra é uma tarefa que sempre demanda muito tempo e atenção dos agricultores, exigindo longos deslocamentos e caminhadas. Algumas das primeiras tentati-

vas para aumentar a eficiência e precisão incluíram o uso de imagens de satélites e de fotografias aéreas, porém ainda são soluções muito caras, sujeitas aos ciclos e às defasagens na geração das imagens, e que se torna ainda mais difícil quando se constata a grande cobertura de nuvens ao longo das safras no Brasil. Uma tecnologia que promete resolver muitas dessas limitações são os veículos aéreos não tripulados, ou drones. Na sua versão agrícola, já ofertada por alguns fabricantes, são aeronaves de pequeno porte, verdadeiros aeromodelos, controlados por GPS e equipados com uma câmera fotográfica digital, capaz de capturar imagens com 3 cm de resolução sobre o solo, voando a mais de 30 km/h e com autonomia de voo de mais de 30 minutos. Estas novas tecnologias jamais eliminarão a necessidade do “olho do dono”, mas prometem aumentar em muito sua capacidade de observação. Análise de imagens A simples disponibilidade de imagens resultantes do monitoramento de precisão já permite uma primeira intervenção do agricultor, porém ainda exige que se vá a campo verificar o que afinal se passa numa determinada área com alguma alteração visual. Pelo menos já se sabe onde devemos fazer nossa inspeção visual, em vez de caminharmos por toda a extensão da lavoura à procura de algo diferente do esperado. Esta tecnologia deve se tornar poderosa no momento em que se conseguir


agricultores norte-americanos utilizaram pela primeira vez tratores autônomos em suas atividades de produção. Estes tratores sem operadores trabalharam em perfeita sincronia com os operadores das colheitadeiras na operação de descarga e transporte dos grãos. Para quem tiver curiosidade, assista o vídeo desta tecnologia em ação, disponível na internet em http://www.youtube. com/watch?v=nj_EYZeSkhM . Esta deverá ser a grande solução para a escassez de operadores qualificados, questão que já se observa em muitas regiões produtoras no Brasil.

correlacionar uma determinada alteração na imagem com os problemas reais no campo. Afinal, a “mancha” é uma área com invasoras, uma deficiência de nutrientes, um ataque de praga ou doença, ou é algo diferente? Muito esforço de pesquisa tem sido dedicado ao desenvolvimento dessa correlação ao longo da última década. Apesar dos desafios ainda serem muito grandes, nos próximos anos já deveremos ver a introdução no mercado das primeiras soluções para este problema. Cultivo de precisão Atualmente, a grande maioria dos agricultores de precisão utiliza-se de mapas de fertilidade dos solos para a aplicação de nutrientes em dose variável antes do plantio, porém eles só vão poder avaliar o impacto desta medida quando produzirem seus mapas de produtividade ao longo da colheita. Pouco ou nada se faz entre o plantio e a colheita, o que limita a obtenção de melhores resultados. Novos sensores deverão possibilitar essas intervenções ao longo da safra. Já se encontram no mercado, por exemplo, pulverizadores com sistemas de taxa variável, que permitem alterar a vazão dos bicos ao longo do trajeto, aplicando maior quantidade

de produtos onde de fato eles são necessários. Uma tecnologia recentemente introduzida nos EUA, denominada “injeção direta”, permitirá ir ainda mais adiante, executando a aplicação não só em dose variável, mas também em mistura variável. Trata-se de um sistema que permite variar de forma independente a vazão de até 5 produtos diferentes, que são misturados apenas um pouco antes de atingirem o bico pulverizador. Estes sistemas podem ser controlados em tempo real, respondendo aos sinais de sensores montados no pulverizador, como os sensores de verde ou de invasoras, ou trabalharem conforme um mapa de prescrição produzido a partir dos sistemas de monitoramento de precisão. Máquinas autônomas Na sequência do desenvolvimento dos sistemas de direção auxiliar (barras de luz) e de direção automática (piloto automático) observaremos um grande salto na mecanização das lavouras: a introdução das máquinas autônomas, ou robôs, que dispensam totalmente a presença do operador. Protótipos de máquinas autônomas já estão em desenvolvimento por vários fabricantes, sendo que em 2013 três

Sistema de injeção direta permite a aplicação em doses variáveis e independentes de até 5 princípios ativos diferentes.

Gestão da informação Aqueles que já se iniciaram na AP constatam que não é difícil coletar uma enorme quantidade de dados. O maior problema começa mesmo é na hora de manipular e analisar tantos dados com as ferramentas de gestão atualmente disponíveis. Com o avanço das tecnologias de AP esta dificuldade tende a crescer vertiginosamente, tornando mais grave o problema. Várias empresas estão desenvolvendo soluções integradas, capazes de coletar, transmitir, armazenar e analisar estes dados. Por outro lado, ainda são muito tímidas as iniciativas de padronização destes sistemas, de modo que seja possível a integração de informações entre soluções de diferentes fabricantes. Ainda é difícil, por exemplo, sobrepor um mapa de fertilidade de solo com um mapa de produtividade. Conectividade é a palavra de ordem. Bom senso também, se desejam vender seus softwares a quem não é especialista em informática, pois colocam a tecnologia em xeque. O espaço para a inovação é tão amplo que certamente muitas empresas acabarão por nos surpreender com soluções que nem sequer conseguimos articular neste momento. Sempre haverá um gênio para criar soluções para problemas que nunca imaginamos ter, mas sem as quais não podemos mais viver nos dias de hoje. março 2014 – Agro DBO | 37


Denúncia

Institutos sucateados Cientistas alertam para o descaso oficial em relação às instituições públicas de pesquisa e extensão rural em São Paulo e outros estados José Maria Tomazela

N

o dia 20 de janeiro deste ano, o pesquisador Sylmar Denucci, diretor do Departamento de Sementes Mudas e Matrizes da Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, completou 30 anos de ingresso na instituição e marcou a data enviando aos amigos uma mensagem de desabafo. “Comemorei ajudando a descarregar um caminhão de milho descarte, pois não temos mais servidores disponíveis para esta e outras atividades.” A carta do pesquisador dá uma ideia do abandono a que está relegado o setor de pesquisa e extensão rural do estado mais rico do Brasil.

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Falta de pessoal, salários defasados e instalações e equipamentos sucateados são a marca dos institutos de pesquisa de São Paulo, especialmente aqueles vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Órgãos que orgulharam o estado com o desenvolvimento de cultivares e tecnologias que ajudaram o país a se tornar celeiro do mundo, estão literalmente às traças. “Meu sonho era me aposentar deixando nosso DSMM muito mais ativo e efetivo em comparação ao que me recebeu. Infelizmente, creio que esta perspectiva não tem nenhuma possibilidade de se concretizar”, escreveu o diretor. Ele deu exemplos desse descaso: “Durante dez anos pesquisamos o

uso de óleo vegetal como combustível de tratores e máquinas agrícolas, um projeto excelente que ia ajudar o agricultor a economizar óleo diesel. Tivemos de parar. Não temos como continuar os testes com qualidade em tratores com mais de 30 anos de uso.” Por falta de máquinas e pessoal, a produção de óleo de girassol, feita na antiga Estação Experimental Ataliba Leonel, em Manduri, também parou. Outro projeto que era a “menina dos olhos” do pesquisador, a produção de sementes de milho de baixo custo para o pequeno agricultor, também está quase parando. “A gente faz a seleção de sementes do milho tradicional, de alta produtividade e vende a saca a R$ 60,00.


Parcelas de arroz para desenvolvimento de variedades, cada uma com um tipo de semente

É quase dez vezes menos do que o produtor paga numa saca de milho híbrido transgênico. O que o produtor economiza na semente, ele pode investir em adubação e colher muito. Só que não tem como manter a produção de semente sem máquina e sem gente. O parque de máquinas está sucateado e as instalações em Manduri, estão caindo aos pedaços.” A unidade foi pioneira em pesquisas com cevada cervejeira, outro projeto importante para o estado – as cervejarias paulistas reduziriam a dependência da cevada importada – também paralisado por falta de recursos. De quase dois mil hectares disponíveis para agricultura na estação de Manduri, apenas 20% estão sendo usados. Para o diretor, o estado já se desinteressou pelas atividades de base da agricultura. Ofícios enviados à Secretaria pedindo pessoal ficam sem resposta. “A secretária (da Agricultura) esteve em Manduri, foi simpática, mas não resolveu. Para não fechar as portas, a gente tem de fazer de tudo. Os servidores se aposentam

e não tem reposição. Quem abre e fecha o escritório de Avaré sou eu.” No Núcleo de Produção de Mudas de Tietê, a situação não é melhor. A unidade, que já teve 60 funcionários de campo, hoje tem apenas um. O quadro se resume à diretora, dois agrônomos e três escriturários. O núcleo foi modelo no manejo e seleção genética de frutas como goiaba, acerola, banana e morango em laboratório, mas hoje não produz nada. Na primeira semana de fevereiro, estavam disponíveis para venda mudas de ameixa e nectarina trazidas de outras unidades. “Por falta de funcionários, as coleções de matrizes, desenvolvidas ao longo de décadas, perderam-se no mato. Não temos pessoal nem para a vigilância do patrimônio, que corre o risco de ser dilapidado”, reconhece o agrônomo Victor Branco de Araújo. À noite, as instalações ficam vazias e ao Deus dará. Recentemente, uma das antigas casas de funcionários foi invadida por um morador de rua que arrombou a porta e se instalou no local, só saindo após a intervenção da polícia. Com a redução no quadro de pessoal e no ritmo das atividades, a estrutura física ficou ociosa. Muitos prédios sofrem com a falta de conservação. A sede da antiga Dira – Divisão Regional Agrícola em Sorocaba, no bairro Mangal, edi-

ficada na década de 1970 como uma das mais belas construções públicas da cidade, perdeu não só a imponência como a funcionalidade. Parte do prédio foi ocupada por órgãos da Secretaria do Meio Ambiente. Mesmo assim, dezenas de salas estão vazias e o grande auditório virou uma modesta sala de reuniões. O matagal cresce viçoso no que já foi um jardim bem cuidado. Há goteiras, infiltrações, divisórias quebradas e luminárias queimadas que não são substituídas.

Pesquisador do IAC, José Alberto Caram de SouzaDias, desenvolveu a tecnologia do broto-batata-semente.

Quadro de penúria Na rede de Casas da Agricultura, braço operacional da Secretaria, responsável pelo atendimento direto ao agricultor e pela extensão da pesquisa até o campo, o quadro é de penúria. O Escritório Regional de Itapeva, por exemplo, está há quatro anos sem auxiliar de limpeza. O sistema de telefonia está tão ruim que as pessoas precisam literalmente berrar para serem ouvidas. A Casa da Agricultura, que atende um dos municípios de maior extensão de terras cultivadas do estado, grande produtor de grãos e de genética pecuária, não tem sequer um agrônomo. Em toda a região, com 15 municípios essencialmente agrícolas, estão lotados apenas quatro agrônomos. A defasagem de pessoal con-

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Denúncia

Sede histórica do IAC, instituição ainda respeitada pelos serviços prestados ao país.

O Núcleo de Produção de Mudas de Tietê (SP), que já teve 60 funcionários de campo, hoje tem apenas um.

trasta com a estrutura material: há viaturas e combustível, mas faltam técnicos e motoristas para manter a frota rodando. Algumas unidades funcionam graças ao apoio das prefeituras, que colocam servidores municipais para trabalhar para o estado, mas nem todos os prefeitos têm essa sensibilidade. Em alguns municípios, houve a municipalização não oficial das casas de agricultura. O problema é que o agrônomo passa a ficar subordinado aos interesses políticos do mandatário. Para um pesquisador e ex-diretor da Divisão de Sementes e Mudas da Cati, que pediu que a identidade fosse preservada, o problema é

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maior do que a falta de pessoal. Para ele, é uma questão de filosofia de governo. O de São Paulo não encara a agricultura como um setor prioritário e dá muito mais importância para secretarias problemáticas e que podem tirar votos, como a da Segurança Pública e de Administração Penitenciária. Ele contou ter sugerido à Secretaria uma parceria com produtores para usar as terras ociosas das unidades para a produção de sementes, mas a consultoria jurídica barrou. Por fim, lamentou: o estado não faz e também não deixa fazer. A aposentadoria do pesquisador Raul Soares Moreira, engenheiro agrônomo e doutor em banani-

cultura pela Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, causou comoção entre os 1,2 mil produtores do Vale do Ribeira, maior região produtora da fruta no estado. Referência em pesquisas sobre banana no IAC – Instituto Agronômico de Campinas desde 1964, Moreira desenvolveu em 2001 uma variedade da banana nanica tolerante à sigatoka negra, doença que acabaria com a cultura na região. Aposentado compulsoriamente, o pesquisador deixou um vazio no setor. “Não ficou ninguém no meu lugar e não foi só a banana, parou também a pesquisa do abacate, da manga, do abacaxi, parou tudo. Se você procurar um pesquisador de frutas, não vai achar”, diz ele. Na banana, um dos efeitos imediatos do fim das pesquisas foi São Paulo ter perdido para a Bahia a condição de maior estado produtor dessa fruta no Brasil. “As estações experimentais que pesquisavam frutas viraram pólos de negócios e não têm mais corpos próprios de pesquisa. O quadro de pesquisadores está reduzido, seguramente, a menos da metade do que há 10 anos. Tínhamos 120 viaturas para pesquisadores, hoje restam 20.” Sem perspectivas Na opinião de Raul Moreira, o pior é a falta de perspectiva de mudança. “Não tem nada e fica por isso mesmo. É simplesmente desolador! A gente não consegue vislumbrar o que vai acontecer nos próximos cinco anos.” Moreira tem ligações afetivas com o Agronômico. “Meu pai trabalhou muito tempo no IAC e eu nasci no Centro de Citricultura de Limeira, onde ele era chefe. Agora, está tudo abandonado. Não há sequer um jardineiro para cuidar dos jardins em volta do prédio.” A situação caótica não se restringe ao IAC. “O Biológico, o Instituto de Botânica, é tudo um caos. Se me perguntam o que está acontecendo, digo que o governo quer acabar


“Um dos piores aspectos da situação de abandono é a falta de pespectivas de mudança: não tem nada e fica por isso mesmo”

com os órgãos de pesquisa. Dou um exemplo: as bibliotecárias do Agronômico se aposentaram e não foram substituídas. A biblioteca, o coração de um órgão de pesquisa, simplesmente fechou.” O Biológico tem o único laboratório no estado autorizado pelo Ministério da Agricultura a fazer análise fitossanitária, mas falta pessoal de campo para fazer as amostras chegarem com rapidez. No caso da lagarta Helicoverpa armigera, embora larvas e insetos tivessem sido encontrados entre março e abril de 2013 em lavouras paulistas, os exemplares só foram levados para exames em novembro, quando a praga já tinha se espalhado. A Estação Experimental de Salmonicultura do Estado em Campos do Jordão, ligado ao Instituto de Pesca, funciona graças à dedicação da pesquisadora científica Yara Aiko Tabata, de 61 anos. Ela já poderia estar aposentada desde 2010, mas se mantém na ativa porque, se parar, o programa de pesquisa e reprodução de trutas vai morrer. A médica veterinária é a única pesquisadora em atividade no local. O

outro cientista que atuava ali, seu marido, morreu em junho de 2012. A estação chegou a ter 15 funcionários, que hoje se resumem a três. “Às vezes tenho de interromper o trabalho para atender ao telefone, pois não temos telefonista. Nesse momento, aliás, também estamos sem internet”, disse. Mudanças forçadas A situação do Instituto Geológico, ligado à Secretaria do Meio Ambiente, com papel importante, sobretudo na prevenção de desastres naturais, também é crítica. A instituição tem até abril para desocupar sua atual sede no bairro da Água Funda, na capital, e se mudar para um prédio na Vila Mariana, juntamente com todo acervo material e científico. O problema da falta de pessoal ficou menor que uma crise mais imediata: é que o prédio que receberá o Instituto não está pronto. O endereço atual do IG, que abrigava também a Secretaria da Agricultura – que já se mudou –, foi cedido para a iniciativa privada. A atual direção do IAC informou que o instituto lançou 54 culti-

vares nos dois últimos anos e comemorou recentemente seu milésimo cultivar – uma variedade de feijão que, além de produtiva e resistente a doenças e pragas, tem características culinárias sem precedentes. Questionada através da assessoria de imprensa sobre as colocações feitas pelos pesquisadores e as constatações da reportagem, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado não respondeu. O presidente da APQC – Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, Joaquim Adelino de Azevedo Filho, conta que a entidade “já cansou” de enviar documentos ao governo sobre a necessidade de contratar gente e melhorar as condições de trabalho. Em 2012, a APQC entrou com representação no MPE – Ministério Público Estadual alegando que o descaso com os órgãos de pesquisa causa danos ao erário e prejudica o interesse público. A denúncia gerou um processo de investigação ainda não concluído. A situação de falta de mão de obra é geral, mas afeta principalmente os pesquisadores que atuam

Trabalhadores em área experimental de sementes: a falta de mão de obra é geral, especialmente no campo.

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Denúncia Na opinião do pesquisador aposentado Carlos Jorge Rosseto, há em curso um processo de privatização do conhecimento.

O pesquisador José Maria Fernandes dos Santos aposentouse, mas continua trabalhando no Instituto Biológico porque sua função não foi reposta.

Propósitos invertidos: “As estações experimentais que pesquisavam frutas viraram polos de negócios”.

no campo, segundo ele. “Para o trabalho de laboratório, você ainda consegue um estagiário, como ocorre nos laboratórios do Biológico. Mas, como conseguir um estagiário para dirigir um trator ou fazer uma colheita?” Mais da metade dos 1.560 pesquisadores em atividade nos IPs tem entre 50 e 70 anos, muito próximos da idade de se aposentar. Nos institutos ligados à Secretaria da Agricultura, só 15% dos pesquisadores têm menos de 40 anos. Há ainda o problema da evasão. No Agronômico, 36 dos 92 contratados no último concurso, em 2003, desistiram ou foram trabalhar em outros órgãos. A falta de pessoal levou

a uma drástica redução nos experimentos de campo. Como o corpo técnico está envelhecendo, não há pessoal capacitado para o serviço mais pesado. “Como posso mandar uma pessoa com mais de 60 anos trabalhar sob o sol bravo?”, indaga Azevedo Filho, que é do Agronômico. Além de mais de vinte unidades do IAC, o problema afeta uma dezena do Instituto de Zootecnia e pelo menos quatro do Biológico. Ele cita como exemplo a unidade de Monte Alegre do Sul, onde está lotado. “Na parte de campo, está tudo sucateado. Os tratores mais novos são de 1992. Quando vim para cá, em 1996, tínhamos mais de 100 experimentos por ano na área de frutas e hortaliças. Hoje, o índice é zero. Temos três funcionários de campo, todos acima dos 60 anos. Um deles está pedindo aposentadoria e já sabemos que não vai ter reposição.” Um dos problemas graves, segundo o dirigente, é a questão salarial. Ele conta que, no passado, o pesquisador científico tinha salário equiparado ao do professor da USP - Universidade de São Paulo. “Na década de 1960, tanto a USP quanto a Unesp – Universidade Estadual Paulista e a Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, viraram

autarquias e as políticas salariais se diferenciaram. Enquanto as universidades davam reajustes anuais, os pesquisadores dos institutos ficaram até seis anos sem aumento.” O resultado foi uma defasagem que chega a 50%, conforme o nível. A disparidade acabou levando a uma grande migração. O pesquisador entra na carreira e já se transfere, ou para a universidade, dentro do estado, ou para órgãos federais, como a Embrapa e a Fiocruz, cujos salários são melhores. O fenômeno, segundo Azevedo Filho, acaba atingindo a inteligência dos institutos. Muitos pesquisadores entraram com ações na Justiça para resgatar a equiparação. Uns poucos obtiveram decisões favoráveis, outros não, o que acabou gerando uma situação no mínimo desconfortável. Em alguns órgãos de pesquisa, trabalham lado a lado, nas mesmas funções, pesquisadores com salários muito diferentes. Na tentativa de corrigir esse desvio, a associação entrou na Justiça com uma ação coletiva, em nome de todo o quadro de pesquisadores. O processo ainda não foi julgado. Segundo Azevedo Filho, a disparidade salarial não está apenas nos cargos mais elevados. “Nosso pessoal administrativo e de apoio ganha 30% menos do que alguém na mesma função na universidade. Estamos brigando por uma carreira única”, disse. Razões obscuras O pesquisador aposentado do IAC, Carlos Jorge Rosseto, vê em curso nos Institutos de Pesquisa um processo de privatização do conhecimento. “Para as grandes empresas transnacionais, não interessa mais o modelo de difusão geral de todo o conhecimento historicamente gerado pelo setor público brasileiro. Para elas, será somente através da apropriação privada do conhecimento via patentes que o valor mer-

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cantil não será reduzido, daí o interesse em impedir sua ampla e livre propagação.” A tendência de tratar a produção do conhecimento como um fim em si mesmo ignora o fato de que o conhecimento científico e tecnológico e os saberes populares não são uma mercadoria qualquer, pontua o pesquisador. “Do ponto de vista ético, o conhecimento deve prioritariamente beneficiar e promover o bem estar da população.” Os institutos de pesquisa e universidades públicas são órgãos nos quais há décadas existe uma inteligência coletiva buscando, gerando e tentando desvendar e colocar em prática conhecimentos que possam melhorar o bem estar comum e que está lastreada em preocupações sociais e humanitárias, acrescenta. “O que o grande capital tenta fazer atualmente é apropriar-se dessa in-

Com o fim das pesquisas em bananicultura, São Paulo perdeu para a Bahia a condição de maior produtor desta fruta no Brasil.

Institutos de pesquisa ligados à Secretaria da Agricultura do Paraná também tiveram longo período de estagnação e sucateamento, mas nos últimos anos receberam recursos para melhorar as condições de atendimento ao produtor. O Iapar - Instituto Agronômico do Paraná, referência em pesquisas agrícolas, também sofre com o envelhecimento dos pesquisadores e a falta de reposição dos que saem. Em dezembro de 2013, das 1.323 vagas autorizadas por lei, o Instituto tinha apenas 745 preenchidas com profissionais. Dos 250 cargos de pesquisadores, 120 estavam vagos.

Instituto Biológico, em São Paulo: um dos problemas mais graves, segundo os pesquisadores, é a defasagem salarial.

Problema nacional A dificuldade para manter quadros completos de pesquisadores não é exclusividade dos estados. O INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, centro de excelência do governo federal, só está conseguindo reter cerca de 70 cientistas graças a um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público Federal e homologado pela Justiça. O contrato com os profissionais foi considerado ilegal e o TAC deu um prazo até abril de 2015 para a realização de um concurso e a regularização do quadro de servidores. A direção do órgão confirmou a falta de pesquisadores, mas informou que o problema não compromete cerca de 300 projetos de pesquisa em andamento. Antes do acordo, no ano passado, a Justiça havia determinado a demissão desses cientistas, a maioria ligada ao CPTEC –- Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos. O órgão é o mais avançado centro de previsão numérica de tempo e clima da América Latina, ferramenta indispensável, sobretudo para a atividade agrícola. Com a abertura do concurso, os servidores com o contrato sub judice terão a chance de serem efetivados. Mas ainda há risco: se o cronograma acordado com a Justiça for descumprido, a demissão desses cientistas será imediata.

teligência coletiva e do espaço físico que ela ocupa, submetendo-a às suas necessidades e interesses econômicos de curtíssimo prazo.” Rosseto se insurge também contra a regra da aposentadoria compulsória aos 70 anos, prevista na Constituição Federal. “Os salários mais altos, que mais oneram a previdência, são dos trabalhadores intelectuais. O governo é duplamente prejudicado com a aposentadoria compulsória desses intelectuais, perde seu valioso trabalho e tem aumentado seu dispêndio previdenciário.” Ele fez questão de deixar seu protesto contra a norma que considera nociva aos brasileiros. “Obrigou-me a aposentar quando estava próximo do objetivo de selecionar uma super manga, produtiva, de qualidade e com resistência a múltipla às principais pragas e moléstias.”

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Artigo

Eita clima louco, sô! O articulista avalia a estiagem e as temperaturas altas: é um fator cíclico ou é o aquecimento global? Em que acreditar? Marco Antonio dos Santos *

A

* O autor é engenheiro agrônomo e agrometeorologista da Somar Meteorologia

o longo das duas últimas décadas entraram no mercado várias soluções inovadoras em Agricultura de Precisão (AP). Entre as primeiras utilizações do GPS na agricultura, tornaram-se muito difundidos os sistemas auxiliares de direção, inicialmente na forma de barras de luz, que indicam a rota correta ao operador, mas deixam para este a função de corrigir a direção do equipamento. Estes sistemas já estão se tornando obsoletos com o advento dos pilotos automáticos, que assumem totalmente o controle da direção e que estão próximos de se tornar equipamento padrão em nossas máquinas agrícolas. Dizem que o clima agora pirou de vez e que São Pedro endoideceu

por completo, já que em pleno período de chuvas, não caiu uma gota sequer em grande parte do Brasil entre os meses de janeiro e fevereiro passados. Mas o que grande parte da população não sabe é que essa terrível estiagem, juntamente com registros de temperaturas bem acima da média, tem explicação lógica e científica. Alguns fatores climatológicos foram fundamentais para que isso viesse a ocorrer. Primeiro, pelo fato de estarmos passando por um período de neutralidade climática, ou seja, sem nenhum dos fenômenos climáticos como El Niño e La Niña estarem influenciando o clima no planeta; segundo, um resfriamento das águas superficiais da região equatorial-leste do Oceano Pacífico;

um superaquecimento das águas costeiras da região sul do Oceano Atlântico, e, por consequência, um resfriamento das águas do Atlântico norte. Toda vez que o clima está sob uma neutralidade climática há uma grande variabilidade no regime de chuvas, isto é, ora as chuvas estão numa determinada região do Brasil, noutro momento em outra região. Além disso, com o resfriamento das águas do Oceano Pacifico e do Atlântico norte, um grande ciclone extratropical formou-se na altura do Nordeste do Brasil, impedindo que nuvens de chuvas se acumulassem e, principalmente, que as frentes frias conseguissem avançar Brasil adentro, ficando “presas” na região de fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Contribuindo para

Anomalia das chuvas dos meses de janeiro e fevereiro de 2014...

Precipitação mensal (mm) Janeiro/2014

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Precipitação acumulada (mm) 01/02 – 21/02


esse estacionamento das frentes frias no extremo sul do Brasil, as águas quentes do Oceano Atlântico nessa região forçavam que toda a umidade da Amazônia fosse direcionada nessa região do Continente. Desta forma, abriu-se um grande buraco sem umidade que ia da região central do Rio Grande do Sul até o interior do Nordeste, e, quanto mais tempo esse ciclone impedia o avanço das frentes frias, mais esse bolsão de ar quente e seco ganhava força. Por isso que, além da estiagem, o calor ganhava intensidade dia após dia, sendo fomentado pelos ventos que vinham da região norte do Continente, impulsionados pelo ciclone. Somente agora, na segunda quinzena de fevereiro, é que o ciclone perdeu forças e com isso as frentes frias conseguiram avançar sobre o Brasil, permitindo o retorno das chuvas. Esta seca, e o forte calor, causaram perdas significativas na produção de todas as culturas, desde pastagens, passando pelos grãos, como soja, milho e feijão, e até nas culturas perenes como cana-de-açúcar e café. Ao mesmo tempo, muitos se perguntam se isso está diretamente

Carta Sinótica de 14/01/2014 mostrando a formação do Ciclone Extratropical (identificado pela letra C) e as frentes frias presas no extremo sul do Brasil (identificadas pela letra B).

ligado ao aquecimento global. Primeiro, não, pois desde 2012 estamos passando por um período de neutralidade climática, só que, diferentemente dos anos anteriores (2012 e 2013), a temperatura das águas do

Atlântico estavam quentes na costa da região Sudeste, o que mantinha o corredor de umidade sobre toda a região Sul, causando seca apenas no Nordeste. Este ano, por fatores ainda não conhecidos, essas águas

...Chuvas muita abaixo da média.

Anomalia da precipitação mensal (mm) Janeiro/2014

Anomalia da precipitação (mm) 01/02 – 21/02

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Artigo A seca prolongada e o calor observados no Centro-Sul do Brasil não estão diretamente ligados ao aquecimento global ficaram mais frias, o que levou a esta forte anomalia, por isso afirmo que colocar essa anomalia somente na conta do aquecimento global é um equívoco, até porque, em 1963, tivemos uma das piores secas já vistas no Brasil. De meados de março até início de novembro daquele ano não caiu uma gota de chuva sequer. Ou seja, mais de 180 dias seguidos sem chuvas. Contudo, naquele período, as exigências urbanas e rurais eram outras e a mídia não estava tão presente em nossas vidas como hoje. Nossa dependência por água – e volume de consumo - é muito maior do que em 1963, já que a população quase triplicou e a exigência por alimentos aumentou ainda mais. Assim, qualquer fato extraordinário

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que ocorra com o clima já coloca culpas na conta do aquecimento global, antes mesmo de se fazer uma análise mais criteriosa. Daí, o tema vira manchete de telejornal, e isso dá mais audiência para a mídia! Mas o fato importante é que o clima obedece a certos ciclos e atualmente estamos passando por um período de baixa atividade solar. Por consequência, haverá alguns períodos onde observaremos um maior resfriamento das águas dos Oceanos, por causa dessa menor atividade solar. Desse modo, ao longo dos próximos 25 anos (período que irá durar essa fase de baixa atividade solar) poderá haver repetições frequentes dessas anomalias climáticas, como visto este ano, ou como ocorreu en-

tre os anos de 1946 a 1974, onde se observou um decrescimento de 30% dos volumes de chuvas e até mesmo um desabastecimento dos reservatórios. Porém, como a população era bem menor, o racionamento não se fez necessário, mas muitas lavouras tiveram grandes perdas, como também os reservatórios ficaram bem abaixo da média naquele período. Tal como neste verão. Assim, antes de qualquer alarme, lembre-se o leitor de que o clima é um “ente” cíclico e que tanto fases boas quanto fases ruins irão ocorrer ao longo de toda a vida no planeta. O que realmente está mudando são as nossas exigências com relação ao clima. Mas essas questões comentaremos nas próximas edições.



Entrevista

Cocamar, uma cooperativa profissional.

D

epois de muitas conversas e negociações nos últimos meses com os seus cooperados, a Cocamar, Cooperativa Agrícola de Maringá (PR), uma das cinco maiores cooperativas agrícolas do Brasil, sendo uma das 3 maiores do Paraná, optou por profissionalizar a sua diretoria executiva. José Fernandes Jardim Júnior é o novo presidente executivo da Cocamar, desde o início de fevereiro último, sendo que Luiz Lourenço, que liderou a cooperativa como presidente reeleito sucessivamente nos últimos anos, passa a ser presidente do Conselho de Administração. A chamada profissionalização da diretoria muda muita coisa, mas não radicaliza. A diferença mais sensível percebida está no fato de que a diretoria executiva é contratada por tempo indefinido, e se mantém enquanto apresentar resul-

José Fernandes fez parte do Conselho de Administração da Cocamar.

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tados positivos diante dos objetivos propostos e aprovados pelo Conselho de Administração. Mas não sofre a pressão política de alguns grupos de cooperados nos anos de eleições. Isso fica sendo um dos encargos dos membros do Conselho de Administração, eleitos a cada 2 anos em AGO, Assembleia Geral Ordinária. Todos esses artifícios e estratégias são explicados por José Fernandes Jardim Júnior na entrevista conduzida pelo editor executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko. José Fernandes, 64, é engenheiro agrônomo, com especialização em planejamento e desenvolvimento agrícola, e está na Cocamar há 16 anos, tendo exercido diversas funções, inclusive de vice-presidente. Ele é ainda um cooperado, desde 1980, pois também é produtor rural.


Agro DBO – Quais os objetivos da Cocamar ao profissionalizar a direção executiva? José Fernandes – Profissionalizar a diretoria, para evitar decisões políticas, evidentemente, e é um modelo de gestão, que independe do diretor estar no Conselho de Administração, e não precisa necessariamente ser cooperado para estar na diretoria. Agro DBO – Essa profissionalização da diretoria, com profissionais que não são cooperados, de forma indireta seria uma admissão de que produtores rurais não são bons profissionais de administração? José Fernandes – Não, não existe essa correlação. O que procuramos é uma administração que traga mais estabilidade e rentabilidade à cooperativa como empresa e como instituição de propriedade coletiva. Discutimos muito esse processo aqui dentro da Cocamar, e até mesmo na Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), ou seja, para desvincular a diretoria executiva dos processos eleitorais, que sempre estão sujeitos ao lobby de grupos de interesses, sejam eles internos ou externos. O Conselho de Administração é eleito por AGO, em nosso caso temos 15 membros, e a partir de agora nenhum deles tem funções executivas. Como o conselho é eleito, e isso pressupõe política, sempre havia riscos nos processos sucessórios, especialmente nos parceiros da área financeira, ou até mesmo de um grupo de oposição assumir, e isso sempre pode criar uma grande instabilidade. Com a profissionalização a gente quebra esse ciclo, e provoca uma ruptura para o bem da empresa. Interessante é que os bancos têm o mesmo sistema de nomeação de diretoria. É uma solução de sucesso também em grandes corporações multinacionais. Agro DBO – Considerando a sua resposta, de que a cooperativa deve ser estável de um lado,

Vista aérea da área de silos da cooperativa.

e rentável como empresa, como fica o cooperado, já que ele é sócio, mas não manda, também é um fornecedor de matéria-prima da cooperativa, e o comprador deve comprar pelo preço mais barato, ao mesmo tempo em que esse cooperado é cliente de insumos vendidos pela cooperativa, que tem de repassar produtos

aos clientes com rentabilidade suficiente para ter lucros. Como fica esse processo? José Fernandes – Bom, a grande dificuldade do cooperativismo é justamente essa, porque o dono é fornecedor e cliente, tudo ao mesmo tempo. E ele só permanece e valoriza a cooperativa se ela for a mais eficiente na prestação

Radiografia da Cocamar Fundação: 23/7/63 • Patrimônio: R$ 440 milhões de imobilizado • Faturamento 2013: R$ 2,650 bilhões (crescimento de 12% sobre os R$ 2,360 bilhões de 2012) • Sobras: a Cocamar não costuma divulgar, prefere chamar as sobras como complemento de preços. Foram R$ 63 milhões em 2013. • Cooperados ativos: 12.000 • Recebeu em 2013 um total de 970 mil toneladas de soja (foram 630 mil no ano anterior, quando houve sérios problemas climáticos), 730 mil toneladas de milho (em 2013 haviam sido 760 mil toneladas), 220 mil sacas beneficiadas de café (foram 190 mil sacas no ano anterior), 8,5 milhões de caixas de laranja (contra 7,8 milhões de caixas no ano anterior) e 30 mil toneladas de trigo (frente as 60 mil toneladas do ano anterior). • A região de abrangência da Cocamar compreende 1 milhão de hectares nas regiões noroeste e norte do Paraná.

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Entrevista A cooperativa não pertence a uma direção ou ao Conselho de Administração, ela pertence aos cooperados e à sociedade. venda, porque em caso contrário esse produtor-cooperado compra na concorrência.

de serviços para ele. E quando falo de prestação de serviços me refiro a comercializar, comprar e vender, além da prestação de serviços de assistência agronômica, por exemplo. Essa é uma preocupação, porque é muito difícil se conseguir executivos que conheçam esses meandros a que você se referiu na sua pergunta, porque se lida com o acionista, que é também fornecedor e cliente. Uma administração de cooperativa tem de se preocupar em que a cooperativa como empresa tenha resultados positivos. Necessariamente tem de melhorar as estruturas, seja administrativa, seja técnica ou de logística, como a de recebimento de produtos do cooperado, o que envolve silos, por exemplo, que é um serviço essencial. E ainda tem de retornar resultados. Nós temos uma distribuição de sobras, todo ano. Além disso, como vendedor de insumos, temos de ter a melhor assistência técnica e os melhores preços de 50 | Agro DBO – março 2014

Agro DBO – A profissionalização da administração da Cocamar coloca em que termos, daqui em diante, a função social da cooperativa, no tocante à assistência técnica agronômica, por exemplo? Muda alguma coisa? José Fernandes – Não, não muda. A gente já faz isso de forma intensa, há muito tempo. Temos mais de 100 profissionais, entre agrônomos, veterinários e técnicos agrícolas, e trabalhamos com os melhores consultores do Brasil, por exemplo, em fertilidade de solos, agricultura de precisão, em máquinas, buscando ainda uma interação muito forte com a Embrapa, com as universidades e outras instituições de pesquisas, inclusive empresas. Nossa equipe, com essas atualizações, está sempre capacitada e pode levar aos cooperados o que de melhor existe em termos de ciências agrícolas. Temos também, por exemplo, 3 unidades de demonstração tecnológica, que são propriedades montadas com o único fim de demonstrar e testar tecnologias para o produtor cooperado nas regiões em que a gente atua. Agro DBO – Com a economia globalizada, com margens de rentabilidade menores, em que a cooperativa tem de comprar e vender competindo com o mercado, e ainda dar lucro ao cooperado, qual é o futuro do cooperativismo? José Fernandes – Nós temos de trabalhar dentro de um patamar que regula o mercado. O sistema cooperativista regula os preços, seja de produtos agrícolas, seja de insumos. Agora, a gente tem as ne-

cessidades inerentes à empresa-cooperativa, que deve estar regulada para prestar serviços ao produtor, e também ter rentabilidade. Isto faz com que a concorrência sempre se paute pelos preços pagos ou cobrados por uma cooperativa como a Cocamar. Na região em que atuamos, a Cocamar recebe cerca de 75% dos grãos colhidos, mesmo tendo muita gente competente na concorrência. Não seria com práticas artificiais de preços que teríamos essa participação de mercado. E se praticarmos preços irreais a empresa-cooperativa quebra, e com ela o cooperado. Agro DBO – A Cocamar vai continuar com as suas áreas de indústrias, de óleos, por exemplo? José Fernandes – Nas áreas em que somos competitivos, sim, vamos continuar. Por exemplo, vendemos para a Dreyfuss, em 2012, a indústria de suco de laranja, porque éramos muito pequenos no mercado para fazer frente às grandes indústrias da área, cada vez mais concentradas. Mas os produtores ficaram vinculados com a cooperativa, e nós negociamos com a Dreyfuss em nome de todos eles. O contrato da indústria é com a Cocamar, e não com os cooperados, que são pequenos e não têm poder de negociação. Adicionalmente nós fornecemos assistência técnica e vendemos insumos. Na cana foi a mesma coisa, tínhamos uma destilaria, e vendemos, em 2006. E o produtor passou a ter melhores condições também. Agro DBO – Teremos espaço para as cooperativas evoluírem no futuro breve? Como crescer mais, como necessidade intrínseca de se manter no mercado? José Fernandes – Esses são di-


lemas constantes do cooperativismo. Teremos que nos renovar, e sempre, esse é o desafio. A questão é que temos ainda hoje problemas antigos, que se renovam e crescem na proporção, como a sucessão nas propriedades dos cooperados, e com isso os cooperados têm uma média de idade cada vez mais elevada. Temos que trazer os cooperados e suas famílias para dentro da cooperativa, para que participem mais dos problemas e das soluções, e para entender as dificuldades do sistema como um todo. Sem essa união e participação é mais difícil crescer e ter sustentabilidade. O que todos devem entender é que a cooperativa não pertence a uma direção ou ao Conselho de Administração, mas ela pertence aos cooperados e à sociedade. Na Cocamar, chegamos a provocar cursos e palestras para qualificar

Colheita da safra 2013/2014 no norte e noroeste do Paraná.

os membros do Conselho de Administração, de forma que possam entender melhor os problemas e que possam cobrar resultados da diretoria. O processo de profis-

sionalização da Cocamar, com a contratação de uma diretoria executiva, nesse caso, foi só um passo importante, mas que facilitará as conquistas no futuro.

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Café

Driblando a seca Antes tarde do que nunca, o articulista recomenda manejo com mato para que as plantas suportem o estresse hídrico, e traz outras dicas. Hélio Casale *

A

seca deste ano está atípica e um tanto severa, a ponto de causar graves problemas ente os produtores de café, cítricos, milho, soja, cana de açúcar, as pastagens degradando e a produção de leite baixando a cada dia. Prejuízo enorme pela frente. Quem tem lavoura irrigada o prejuízo é menor tendo em vista que a forte irradiação solar também afetou os cultivos. Para amenizar os efeitos do forte calor nesses longos dias de verão, algumas medidas práticas vêm sendo implementadas com sucesso:

Renque de quebra-vento com eucalipto.

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Instalação de barreiras O vento constante e quente que sopra diariamente é um dos maiores drenos de água das plantas, um verdadeiro ladrão. Como vento não se segura, se desvia, a orientação é pelo plantio de árvores ao longo das divisas e mesmo internamente nas lavouras, de maneira a interferir o mínimo na mecanização da colheita. Eucaliptos clonados 144, 224, H13 nas áreas periféricas e a Grevilha robusta nas áreas internas. Uma fórmula prática, deixada pelo saudoso Dr. Ângelo Paes de Camargo, do IAC de Campinas, para definir a distância entre os renques de quebra vento é

a seguinte: D= (H-h) x 10, sendo D a distância entre barreiras, H a altura da árvore protetora, h a altura da árvore a ser protegida e 10 um fator de correção. Assim sendo, num cafezal com 4 metros de altura, se formos plantar Grevilhas que crescem cerca de 15 metros, teremos a seguinte distância média entre os renque D=(15-4)x10=110 metros. Nada de medo com os eucaliptos. Trate bem seus cafeeiros e os eucaliptos que eles se ajudam. Manejo em profundidade Artigo de Ronaldo Cabrera na edição nº 52 da Agro DBO


(FEV/2014) trata desse assunto com simplicidade e objetividade. Mais fertilidade em profundidade estimulando o desenvolvimento do sistema radicular mais profundo onde encontra água disponível. Fazer as raízes ir buscar água, eliminando os obstáculos de ordem química. Manter o solo recoberto de matos, vivos ou mortos. Uma prática que está dando excelentes resultados é manter o

solo sempre recoberto de matos que, bem manejados, fazem uma cobertura morta que impede a saída da água do solo. Vale aqui ressaltar a diferença entre matos e ervas daninhas. Matos são plantas companheiras e ervas daninha são plantas inimigas. Exemplo de ervas daninhas: picão, carrapicho, buva, pé de galinha, favorita, trapoeraba, corda de viola, braquiária Decumbens, braquiária Brizhanta, entre muitas outras. Mato é a braquiária ruziziensis, que dá

Café - calculando o prejuízo A atual safra brasileira de café vem sofrendo com os efeitos do forte calor e da falta de chuvas regulares. Está sendo avaliada por inúmeros estatísticos, futurólogos, achologistas, técnicos da Conab, do IBGE, e os números têm uma faixa de variação bastante larga, uma vez que não é fácil interpretar os fenômenos naturais. Na região de Franca (SP), o engenheiro agrônomo Eder Sandy tem uma metodologia particular e eficiente para estimar as eventuais perdas sazonais na lavoura, procedendo, de tempos em tempos, da seguinte maneira: Na lavoura, escolha plantas totalmente ao acaso, colete os frutos de uma roseta em ramos baixeiros, à meia altura e na parte superior dos pés. Em casa, coloque água numa panela. Ali, deposite 100 frutos de cada amostra.

No dia seguinte, apenas conte os grãos que boiaram. Rapidinho se tem em percentagem os frutos que ficaram no fundo, que são os bem granados, e, cortando os que boiaram, existem os pretos e os ainda mal formados. Estes últimos podem ainda virar grãos. Os pretos já estão perdidos. Um pequeno exemplo, com amostra de duas lavouras escolhidas ao acaso na região, revelou o seguinte: Lavoura A – 100 grãos, 13 boiaram, 5 pretos, ou seja, 82% de frutos sadios, 13% mal granados e 5% de pretos. Lavoura B – 100 grãos, 45 boiaram, 20 pretos, ou seja, 35% de frutos sadios, 45% de frutos granados e 20% de frutos pretos. Uma bela diferença entre lavouras muito próximas, mas com tratos culturais diferentes.

Da esquerda para a direita: Braquiária nas ruas de café; Dia de campo no café, em Franca (SP); Chegamento de terra e futura cobertura, no cafezal novo.

uma única floração por ano, se expande gramando o solo, dá elevada quantidade de massa seca ao ser roçada e tem alelopatia positiva, ou seja, não é competidora. Deformar a crosta do solo Principalmente em lavouras recém implantadas essa prática pode ser conseguida aplicando 1 a 2 quilos de gesso agrícola por metro linear e em seguida jogando terra até a proximidade dos troncos de maneira a cobrir os canais de saída de água do solo. Aplicar um anti-transpirante Encontra-se no mercado o Indumel, melaço de cana em pó, fabricado pela usina Santa Elisa, em Sertãozinho (SP), que tem a seguinte composição: energia bruta de 3.100 kcal/kg, umidade de 5%, açúcares totais com 55%, proteína bruta de 3%, matéria seca de 95%, fósforo = 0,10%, potássio = 4%, cálcio = 7%, magnésio = 2,5% e ferro = 0,10%. Esse produto deve ser aplicado via foliar na concentração de 2%. Se for adicionar qualquer fungicida ou inseticida, ajustar o pH da calda para 5,5 – 6,0 empregando o MAP purificado e recristalizado ou outro acidificante qualquer. Esse produto funciona como um anti-transpirante, reduz significativamente as perdas de águas por evapotranspiração, e ameniza os efeitos da seca. * O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

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Artigo

Eficiência nutritiva As novas tecnologias reduzem as perdas de fertilizantes, aumentam o rendimento operacional e elevam a produtividade na lavoura.

Fotos: Ercy Gomes/Produquímica

Luiz Henrique Mercandalli *

Pulverização foliar aérea sobre cultivo de eucalipto e homogeneidade de vazão

A

agricultura brasileira atra­ vessa uma fase na qual, mais do que em qualquer época, torna-se justificável todo e qualquer esforço para a verti­ calização da produção, objetivando atingir ganhos em produtividade que permitam tornar o processo produtivo mais rentável, a fim de que os agricultores continuem suas ativi­

res intrínsecos à qualidade de qual­ quer produto, como, por exemplo, a consistência dos grânulos, segre­ gação, fluidez e higroscopicidade ou fatores que dependem da forma em que o produto será utilizado, como por exemplo, estado físico e químico, volume, concentração de nutrientes e solubilidade. De tal forma que não há uma característi­

O custo/benefício de um produto é medido por sua dosagem e pela eficiência de absorção dades. A utilização racional dos in­ sumos agrícolas, buscando o aumen­ to da produtividade, vem adquirin­ do importância crescente nas atividades ligadas à agropecuária brasileira. Entretanto, para que esses objetivos sejam atingidos, torna-se necessário um conhecimento cada vez mais abrangente dos diversos fa­ tores que afetam o uso eficiente des­ ses insumos. A eficiência dos fertilizantes que pode estar relacionada a fato­ 54 | Agro DBO – março 2014

ca padrão de qualidade, tudo de­ penderá das condições em que o produto será utilizado. É necessá­ rio salientar, entretanto, que o uso eficiente desses insumos exige uma diagnose correta de possíveis pro­ blemas de fertilidade do solo e nu­ trição de plantas antes da ação da adubação ou correção do solo. Atualmente temos como prin­ cipais exemplos de redução na efi­ ciência dos fertilizantes, a volatili­ zação da amônia (N-NH3), lixivia­

ção do nitrato (N-NO3-), (figura 2), fixação do fósforo, lixiviação do potássio, lixiviação do sulfato (SSO4-2) e complexação e fixação de micronutrientes, reduzindo sua disponibilidade. Visando reduzir tais perdas, existem no mercado fontes de fertilizantes que podem elevar a eficiência agronômica de alguns nutrientes, como os fertili­ zantes recobertos com enxofre e polímeros (PSCU), que apresen­ tam potencial para redução de per­ das, tais como a volatilização da amônia que ocorre após a aplica­ ção da ureia em superfície e sobre restos culturais, redução da lixivia­ ção de nitrato e potássio para as camadas subsuperficias do solo, principalmente em solos leves e com alta pluviosidade. Em relação ao fósforo, a tecno­ logia reduz a fixação deste elemento em solos típicos do Brasil com alta quantidade de óxidos de ferro e alu­ mínio. Além das possíveis reduções nos processos de perdas de nutrien­ tes, os fertilizantes de liberação con­


trolada apresentam a capacidade de redução do efeito salino causado às sementes e ao sistema radicular, e vantagens agronômicas em diversos aspectos fisiológicos importantes para as plantas, além de economia de mão de obra, maquinário e com­ bustível fóssil com o uso da tecnolo­ gia. De forma que a nutrição de alta performance proporcionada por este tipo de fertilizante ajuda a pro­ mover uma maior eficiência no uso de nutrientes e por vezes incremen­ to de produtividade e renda para agricultor. Dentre os macronutrientes, o enxofre vem ganhando grande des­ taque no cenário brasileiro, com o aumento na produtividade das cul­ turas ocorre também o aumento na demanda desse nutriente, devido, comumente, nossos solos serem deficientes em enxofre, principal­ mente na camada superficial, onde ocorre a maior absorção de nu­ trientes pelo sistema radicular, sendo necessário o suprimento de enxofre anualmente. Dessa forma o uso de fontes com maior eficiên­ cia está sendo cada vez mais neces­ sário, visando suprir essa deman­ da. A utilização do enxofre ele­ mentar pastilhado é uma alternativa muito interessante para os agricultores, pois o nutriente está em uma forma pouco móvel

no solo e é disponibilizado gradu­ almente para as plantas, fazendo com que perdas por lixiviação do sulfato se reduzam drasticamente. Outro aspecto importante para promover uma maior eficiência no uso de fertilizantes é o correto for­ necimento de micronutrientes para as culturas. Porém, a disponibilida­ de dos micronutrientes para as plantas é influenciada por diversas características do solo, como textu­ ra e mineralogia, quantidade e qua­ lidade da matéria orgânica, umida­ de, pH, condições de oxi-redução e interação entre nutrientes. Dessa forma o uso da adubação foliar com micronutrientes tem se desenvolvido rapidamente no Bra­ sil, pois apresenta inúmeras vanta­ gens na sua utilização, como dosa­ gem precisa, uniformidade na apli­ cação, redução na mão-de-obra, maior autonomia dos equipamen­ tos, versatilidade nas formulações,

Destino do Nitrogênio no ambiente em função das fontes de fertilizantes utilizadas. Volatização Desnitrificação Amônia

Amônio

Nitrato

Uréia

Uran

Nitrato de amônio

Prochnow e Abdala (2007)

Sulfato de amônio

Lixiviação

fácil armazenamento entre outras. Portanto a necessidade de se bus­ car fertilizantes foliares com maior eficiência tem levado as empresas a utilizar alta tecnologia para desen­ volver produtos cada vez melhores e com menor custo. O custo/benefício de um pro­ duto não é medido pelo custo/uni­ dade e sim pela sua dosagem e efi­ ciência de absorção as quais satis­ façam plenamente as necessidades nutricionais das plantas apresen­ tando um menor número de apli­ cações em períodos definidos, como ciclo da cultura, período ve­ getativo, etc. Visando obter melhores resul­ tados com o fornecimento de ferti­ lizantes foliares, atualmente no mercado estão disponíveis diversas fontes de micronutrientes com alta eficiência, como os quelatos de EDTA, complexos orgânicos e ma­ térias primas de elevada pureza, que aumentam a solubilidade e es­ tabilidade dos nutrientes na calda durante a pulverização, asseguran­ do ao produtor uma melhor res­ posta das culturas a esse tipo de suplementação mineral. Com base nas novas tecnolo­ gias que o mercado de nutrição mi­ neral de plantas fornece à agricul­ tura é possível reduzir as perdas dos fertilizantes, aumentar o rendi­ mento operacional e elevar a pro­ dutividade das culturas com a utili­ zação de produtos diferenciados, auxiliando assim na lucratividade do agronegócio brasileiro.

Detalhe da ponta de pulverização foliar após aplicação limpa e sem resíduos. Acima, preparo de solução com fertilizantes quelatizados de alta solubilidade.

* O autor é Coordenador de Desenvolvimento Técnico da Produquímica

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Opinião

Agroenergia ou gás de xisto? As fontes de energia fósseis e renováveis, em tempos de crise ambiental, entram em rota de colisão, conforme o colunista. Décio Luiz Gazzoni *

P

elo jeito, os avanços na preservação do meio ambiente somente ocorrem na crista de desastres pavorosos, que excitam o civismo e o ativismo da sociedade, ou quando é uma opção economicamente favorável. Exemplo: o esforço para mitigar as mudanças climáticas globais, que têm na sua raiz as emissões de gases de efeito estufa - em boa medida devido à queima de combustíveis fósseis - está esgotando um breve ciclo. Há pouco mais de uma década, na esteira da consciência do alto preço a pagar (no futuro) pelo uso (no presente) de combustíveis fósseis, uma onda de reivindicações sociais per-

to da frequência quanto da intensidade desses eventos extremos. Mas, veio a crise financeira de 2008 e o crédito apertou. Os preços do petróleo, gás e carvão despencaram. Levando o mundo a esquecer-se que estava em processo de contrição para purgar pecados do passado recente, e para não reincidir nos mesmos. Os investimentos em energia renovável perderam o ímpeto e, contradição das contradições, a nova musa energética é o combustível de xisto, gás ou óleo. Além de seu uso ser tão poluente quanto as fontes fósseis já em uso, o processo de extração, por fraturamento de rocha, é de uma agressividade ambiental ímpar. A de-

Ironicamente, o maior importador mundial de petróleo passa à condição de exportador.

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

correu o mundo, com epicentro na Europa, clamando pela substituição de energia fóssil por renovável. Até os EUA ingressaram na onda. Por que? Por dois motivos. Primeiro, a enorme dependência de petróleo de países árabes ou da Venezuela, considerados inconfiáveis. Segundo, o poderoso lobby do milho, que viu uma grande oportunidade de agregar valor e criar novos negócios. Em sua esteira, centenas de bilhões de dólares de investimentos privados (e até públicos) foram alocados para gerar energia nova a partir de fontes renováveis. O movimento era reforçado pelas seguidas ondas de calor e frio extremos, nevascas, secas e inundações, que quebravam o ritmo histórico, tan-

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manda de água para o processo é muito alta, provoca contaminação do lençol freático sub-superficial e os vazios deixados na rocha provocam mini abalos sísmicos nas regiões de extração. Portanto, com um pouco de visão de futuro, prevê-se que a conta para a geração futura será certa, salgada e virá logo. Para os EUA, o gás de xisto é a redenção energética. Os americanos preveem, não apenas atingir a autossuficiência de combustíveis, como galgarem a primeira posição na produção mundial. Ironicamente, o maior importador mundial de petróleo passa à condição de exportador. Corta para o Brasil. Aqui, em Pindorama, não precisávamos de nada disso: xisto ou pré sal. Nos-

sa vantagem competitiva está na energia renovável. O Brasil tinha a matriz energética mais limpa entre todos os países grandes consumidores de energia, pelos fundamentos da hidroeletricidade e da energia de cana. Estávamos provando aos demais países que outro mundo era possível. Estávamos. Há uma década desaceleramos os investimentos em energia hidroelétrica, e, cada vez mais, passamos a usar termoelétricas movidas a gás, carvão mineral ou petróleo. A eletricidade também poderia vir de termoelétricas movidas a biomassa, seja por cogeração em usinas de cana ou utilizando outras fontes. Mas, há cerca de seis anos, estamos destruindo o setor sucroenergético brasileiro, por compressão artificial e populista dos preços dos derivados de petróleo. Por oportuno, a Petrobras também está sendo destruída por este mesmo mecanismo irracional. E, copiando os americanos, além de cavocar a sete mil metros de profundidade, para emporcalhar a atmosfera com o carbono do petróleo que a Natureza, inteligentemente, estocou lá embaixo, há centenas de milhões de anos, resolvemos fraturar o xisto para extrair gás e óleo. Além de jogarmos no lixo a nossa oportunidade de desenvolvimento, lastreada na principal vantagem competitiva de que dispomos, nosso país também muda de sinal, e agora alardeia aos demais que outro mundo não é possível: portanto, locupletemo-nos todos e que nossos netos paguem a conta das opções erradas que fazemos hoje.



Análise de mercado

Aposta mantida Problemas climáticos interferem, é claro, na definição dos preços, mas o que vem sustentando as cotações da soja é a demanda aquecida.

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o final do mês passado, agricultores, economistas, consultores e analistas de mercado se debruçavam sobre planilhas, com um olho no céu, outro no campo e um dos ouvidos voltados na direção de Chicago (EUA), tentando calcular, com a menor margem de erro possível, a trajetória de preços da soja no mercado internacional. As estimativas de quebra aqui e ali, decorrentes do longo período de estiagem no Centro-Sul do Brasil até meados de fevereiro, pressionaram as cotações para cima, embora em Mato Grosso, maior produtor do país, as condições climáticas até então contribuíssem para uma colheita plena, e rá-

pida. Em contrapartida, as chuvas voltaram a cair na terceira semana do mês. Em algumas regiões, ajudaram a recuperar as lavouras. Em outras, como em Mato Grosso, acabaram atrapalhando a colheita, na maioria dos casos por impedir a entrada das máquinas nos campos úmidos. O clima é a variável mais difícil de avaliar, por motivos óbvios. Produção, demanda, estoques, essas são relativamente previsíveis. Conforme o relatório de consultoria da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, relativo à terceira semana de fevereiro, a produção mundial de soja deve crescer 7,2% na temporada

2013/14, alcançando o recorde de 287,7 milhões de toneladas (268,3 na safra passada). Quanto à demanda, vai passar de 258,5 para 269,3 milhões/t, volume 4,2% maior. A relação entre os estoques finais e o consumo subirá 27,1%. Os estoques finais mundiais de soja devem alcançar 73 milhões/t (incremento de 24,5%), ante 58,7 milhões/t em 2012/13. Cartas na mesa, voltamos a questão do clima. No Brasil, o tempo continuava instável no final de fevereiro, com perda do potencial produtivo e ninguém se atrevia a garantir que a safra chegaria mesmo ao recorde de 90 milhões de toneladas, anunciado em janeiro (com base em

Trigo – Os preços continuaram em linha de

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queda no início de fevereiro, com pequenas oscilações no Rio Grande do Sul e no Paraná. Segundo pesquisadores do Cepea, os moinhos brasileiros deram preferência ao trigo argentino, de qualidade superior, pressionando as cotações para baixo. A liberação das exportações argentinas também afetou o mercado interno de farinhas, reduzindo as negociações. O movimento de queda no preço do trigo deve persistir no curto prazo.

* Em 17/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 757,14 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ALGODÃO – A comercialização prosseguiu em ritmo lento em fevereiro. Entre outras razões, porque os compradores se retraíram, alegando baixa qualidade do produto ofertado. Do outro lado, os cotonicultores mostravam-se duplamente preocupados: primeiro, com a queda nos preços; depois, com a falta de chuvas em algumas regiões produtoras, o que prejudicará o desenvolvimento das lavouras e, consequentemente, a produtividade.. No curto prazo, a tendência é baixista.

* Em 17/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 227,66 centavos de real por libra-peso.

Milho – As perspectivas de quebra na safra de verão e os indicativos de redução na segunda safra, valorizaram fortemente o preço no mercado interno. O Indicador Esalq/BM&FBovespa, referente à região de Campinas (SP), fechou a R$ 33,15/ saca de 60 kg na segunda-feira, 24/2, bem acima, portanto, do valor fechado na segunda anterior, de R$ 30,13, como mostramos no gráfico ao lado. No mês, a alta chegou a 25%. No curto prazo, a tendência continua altista.

* Em 17/2, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 30,13 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.


Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

Análise de mercado levantamentos a campo realizados em dezembro). Bolsões de seca no sudoeste de São Paulo, oeste do Paraná, noroeste do Rio Grande do Sul, oeste da Bahia, parte de Mato Grosso do Sul e de Goiás levaram muitos analistas a rever suas posições, admitindo produção menor. Antes desse período de altas temperaturas e estiagens localizadas, a expectativa de muitos sojicultores era de produtividade de 60 a 65 sacas de 60 kg por hectare. Em algumas destas áreas, foram relatadas, porém, quedas de expectativa para 50 a 55 sacas/ha, e regiões com soja precoce onde os agricultores colheram de 42 a 45 sacas. Segundo estimativas, a safra de soja da América do Sul deve crescer 9,5% em 2013/14, para 159,4 milhões/t. Se tal volume for confirmado, uma pressão de baixa vai se intensificar durante a colheita na região (entre fevereiro e maio) e depois, na segunda metade do ano, com a expansão das lavouras norte-americanas na safra 2014/15.

Em 20/2, o USDA anunciou que os Estados Unidos estão no caminho para registrar safras recordes de soja e milho no ciclo 2014/15, elevando os estoques finais e pressionando os preços. Os EUA devem colher 3,55 bilhões/bushels (o equivalente a 96 milhões/t), grande o suficiente para que os estoques quase dobrem no ano que vem. Ou seja, teremos superprodução em 2015. A longo prazo, portanto, a tendência nos preços é baixista (se o clima permitir). No curto prazo, o contrário. Conforme consenso no mercado, as importações de soja da China devem voltar a registrar forte expansão este ano e crescer 15,2% na safra 2013/14, para 69 milhões de toneladas, com a projeção de uma produção interna de apenas 12,2 milhões/t e um consumo de 79,65 milhões/t. Segundo analistas, a sustentação dos preços virá da forte demanda por parte da China e dos estoques ainda apertados nos Estados Unidos.

* Em 17/2, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 49,91 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

Açúcar – Na mesma linha do que ocorreu em dezembro e janeiro, as cotações mantiveram-se estáveis em fevereiro, com pequenas oscilações. Em 24/2, o Indicador Cepea/Esalq fechou a R$ 50,93/saca de 50 kg, alta de 2,04% em relação à segunda-feira anterior (R$ 49,91, como indica o gráfico ao lado). A estiagem no inicío do ano pode impactar a lavoura e nterferir na produção de açúcar. A tendência é de estabilidade nos preços, com alguma valorização no curto prazo.

* Em 17/2, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 35,77 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.

arroz – A fraca demanda e o início da colheita da safra 2013/14 derrubaram as cotações e a liquidez no mercado interno. Conforme levantamento do Cepea, as indústrias demostraram pouco interesse pelo arroz em casca, especialmente o “livre” (armazenado nas propriedades rurais), alegando ter estoque suficiente. Do lado oposto do balcão de negócios, os orizicultores se dedicaram mais ao manejo das lavouras e à colheita. No curto prazo, a tendência nos preços é baixista.

soja – A previsão de quebra da safra paranaense (dois milhões de tone-

ladas a menos, segundo prévia divulgada pelo Deral em 25/2) praticamente anulou a possibilidade de o Brasil alcançar o recorde de 90 milhões de toneladas projetado anteriormente. Por conta, justamente, das estimativas de redução da produção brasileira no final de fevereiro, o preço do grão subiu, alcançando 14 dólares por bushel (o equivalente a R$ 72,56) na Bolsa de Chicago no dia 24. No curto prazo, a perspectiva de quebra da safra vai continuar precificando a soja, sustentando as cotações.

* Em 17/2, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 71,82 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

Café - As cotações do arábica entraram em fe-

* Em 17/2, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 340,42 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

vereiro em trajetória de alta no mercado interno, empurradas pelo clima quente e seco até então em todas as regiões produtoras. As chuvas do final do mês arrefeceram o ânimo dos cafeicultores, mas as previsões de quebra sustentaram os preços. A estimativa de safra anunciada pela Conab no início do mês (37,5 milhões de sacas, 8% menor em relação ao ciclo passada), também a ajudou a sustentá-los. A tendência é altista no curto prazo.

março 2014 – Agro DBO | 59


Novidades no campo Opção de cultivo em rotação ou sucessão

A Embrapa colocou à disposição dos produtores duas novas cultivares de girassol para esta safra: a BRS 323, um híbrido simples, e a BRS 324, variedade. A primeira associa produtividade com precocidade, características que, segundo os pesquisadores, facilitam sua utilização nos diferentes sistemas produtivos das principais regiões agrícolas do país. A BRS 324 também precoce; é uma variedade de polinização aberta com alto teor de óleo nos grãos, agregando valor à produção. Para adquirir sementes das novas cultivares, os interessados devem entrar em contato com a Embrapa Produtos e Mercado em Dourados (MS) pelo e-mail endou.snt@embrapa.br ou por telefone. O número é (67) 3425-5165.

tomate Para consumo in natura

Já está disponível para os produtores o tomate BRS Imigrante, um híbrido F1 para consumo in natura com tolerância às principais espécies de begomovírus (geminivírus) e resistência às três raças do fungo Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici. O pesquisador Leonardo Boiteux, que coordena o programa de melhoramento de tomate da Embrapa Hortaliças conta que o BRS Imigrante foi desenvolvido em caráter emergencial, em parceria com o Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, a partir de uma demanda de produtores do Espírito Santo, que se depararam com a presença de fungo ainda não detectado no Brasil, denominado raça 3. O novo híbrido também se destaca pela firmeza e tamanho dos frutos, pelo sabor adocicado (4.5°brix) e pela durabilidade pós-colheita.

Tomate cereja gourmet

Novidades em extra-pesados

Outro lançamento recente da Embrapa Hortaliças, o BRS Zamir apresenta elevados teores de licopeno, antioxidante capaz de prevenir doenças degenerativas e cardiovasculares, conforme a literatura médica. “Além desse aspecto, os frutos desse híbrido apresentam uma combinação bastante equilibrada entre açúcares e ácidos, resultando num excelente impacto sensorial/gustativo”, avalia o pesquisador Leonardo Boiteux. O Zamir se destaca também pela produtividade e durabilidade pós-colheita: são, em média, oito quilos por planta e duração de até 15 dias na prateleira, após ser colhido. O material, segundo Boiteux, possui um gene que estimula a bifurcação dos cachos e aumenta o número de frutos por penca.

60 | Agro DBO – março 2014

A MAN Latin America apresentou na Coopavel o novo Constellation 25.420 e o TGX 29.440, ambos caminhões de alta capacidade de carga. O Constellation foi desenvolvido para atender à demanda do transporte em aplicações rodoviárias de até 63 toneladas de peso bruto total combinado (PBTC). O TGX 29.440 é indicado para o transporte de cargas de médias e altas densidades, com PBTC de 57 a 74 toneladas. Com eixos traseiros e capacidade máxima de tração de 80 toneladas, estão equipados para uso em composições tipo bitrem, bitrenzão, rodotrem e tritrem.

Tratores robustos e estreitos

A Yanmar Agritech apresentou no Show Rural Coopavel, realizado de 3 a 7/2 em Cascavel (PR) o trator 1175 S com câmbio sincronizado, sistemas de direção hidrostática e refrigeração de água e óleo integrados, capacidade de levante de 3.600 kg e sistema de levantamento automático. A empresa também apresentou os tratores 1175 (75cv) e 1155 super estreito (este, com 55 cv e1,30 metro de largura), direcionados para lavouras de café, além do 1155 cabinado, o primeiro modelo da categoria a sair com cabine original de fábrica no Brasil e o modelo 1175-4 agrícola.


Novidades no campo Soja precoce trAnsgênica

Armazenagem rápida e segura

Lançamento da Embrapa Soja, já disponível para semeadura na safra 2014/15, a BRS 359RR é uma cultivar transgênica de ciclo precoce, alto potencial produtivo e boa sanidade do sistema radicular, indicada para a macrorregião 2, que compreende o norte, oeste e noroeste do Paraná, sul e centro-sul do Mato Grosso do Sul e região do Paranapanema, em São Paulo. “Ela tem excelente arranque inicial, o que ajuda a lavoura a se estabelecer mais rapidamente”, explica Rogério de Sá Borges, pesquisador da Embrapa Produtos e Mercado. Pertencente ao grupo de maturidade 6.0, apresenta resistência às principais doenças da cultura, como a podridão de fitóftora, podridão parda da haste e cancro da haste.

A Sansuy, fabricante de laminados flexíveis e produtos manufaturados de PVC, lançou seu novo sistema para armazenamento de grãos a granel, o silobunker, destinado a produtores rurais, empresas armazenadoras e cooperativas. Seu funcionamento é simples, segundo técnicos da empresa: primeiro, montam-se os perfis metálicos e, depois, um a um, os módulos, fabricados com membrana reforçada de PVC. acompanhando o enchimento de grãos. A Sansuy destaca como suas principais vantagens o baixo custo de armazenamento, rapidez na montagem e mobilidade, já que o silobunker pode ser desmontado e montado rapidamente em outro local. O tamanho padrão é de 10 mil toneladas de milho ou soja.

Irga lança três cultivares

O Instituto Rio Grandense do Arroz reuniu mais de mil pessoas de 95 municípios em dia de campo festivo, realizado na estação experimental de Cachoeirinha, para apresentar novas tecnologias e produtos desenvolvidos por seus pesquisadores, entre os quais três variedades de arroz: IRGA 429, IRGA 430 e IRGA 424 RI. A pesquisadora Mara Barbosa destacou as principais características destas cultivares, que serão lançadas oficialmente na Expointer: a 429, de ciclo médio, é recomendada para o cultivo no sistema de produção pré-germinado. A 430, de ciclo precoce, é ideal para semeadura nos sistemas convencional, direto e cultivo mínimo. A 424 RI, derivada da IRGA 424, é tolerante aos herbicidas do grupo químico das Imidazolinonas. Além disso, é mais uma alternativa para o controle do arroz vermelho.

Revolvedora de café

Uma das atrações da Femagri 2014, feira de equipamentos e insumos agrícolas realizada no mês passado em Guaxupé (MG), foi uma “revolvedora de café” desenvolvida pela empresa Pergaminno, em parceria com a Cooxupé, responsável pela organização do evento. “Com esta tecnologia, é possível mexer no terreiro o dia todo, revolvendo o grão, promovendo uma secagem mais eficiente e com menor custo, pois abre espaço para que o cafeicultor cuide de outras etapas da atividade cafeeira”, diz Elmo Donizetti de Cistolo, gerente de planejamento, administração e serviços da cooperativa. Segundo ele, o custo do maquinário pode ser pago em uma safra. A revolvedora é programável e funciona 24 horas, podendo reduzir o tempo de secagem do grão para até 7 dias (o tempo médio de secagem é de 22 dias).

março 2014 – Agro DBO | 61



Biblioteca da terra Adubação verde na Amazônia

Tudo sobre abacaxis

Já está à venda a segunda edição, revista e ampliada, da publicação Coleção 500 Perguntas 500 Respostas – Abacaxi, produzida pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, sediada em Cruz das Almas (BA). Com edição técnica dos pesquisadores Nilton Fritzons Sanches e Aristoteles Pires de Matos, aborda desde cuidados de pré-plantio até o manejo da cultura ao longo do ciclo, passando pelo controle de pragas, nematoides, doenças. Com 196 páginas, a obra custa R$ 9,80, mais despesas de postagem. Os pedidos devem ser feitos através do site da Livraria Embrapa (www.embrapa. br/livraria) ou do telefone (61) 3448-4236.

Café bom e barato

▶ ▶

Lançamento do Inpa – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a cartilha Leguminosas para Adubação Verde na Terra Firme e na Várzea da Amazônia Central – Um Estudo em Pequenas Propriedades Rurais em Manacapuru reúne informações gerais e agronômicas sobre dez espécies de leguminosas que podem ser utilizadas como plantas adubadoras. Dentre elas estão algumas muito conhecidas pelos agricultores do Norte do Brasil, como o ingá-cipó, o mata-pasto e o mulungu. Resultado de amplo trabalho de pesquisa feito pelo professor Luiz Augusto Gomes de Souza, a cartilha tem distribuição gratuita. Pode ser solicitada pelo e-mail souzalag@inpa.gov.br ou baixada através do link www.inpa.gov. br/arquivos/leguminosa_Adubação_Terra_Firme_Varzea. De acordo com o pesquisador, doutor em botânica, o uso de plantas adubadoras ainda é incipiente na Amazônia. O adubo verde pode reduzir ou até eliminar o emprego de fertilizantes minerais nitrogenados na produção de hortaliças folhosas em solo de várzea, diminuindo os custos de produção.

A circular técnica Lavadores e Sistema de Reúso da Água no Preparo do Café já está disponível para download através do link www.sapc.embrapa.br/circular_tecnica. Organizada pela Embrapa Café, com a colaboração de pesquisadores da UFV – Universidade Federal de Viçosa, IFES – Instituto Federal do Espírito Santo e Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, entre outros, a publicação mostra diferentes tecnologias para lavagem, separação dos diversos tipos de fruto cafés (cereja, boias, verdoengos e verdes) e reúso de água na produção de café cereja descascado. Os pesquisadores lembram que o cuidado dispensado durante toda a fase de pós-colheita é um dos grandes diferenciais para a obtenção de café de qualidade.

Para o Semiárido

A Embrapa Algodão apresenta o livro Difusão de Tecnologias Apropriadas para o Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro, organizado por Demerval Furtado, José Geraldo Baracuhy e Paulo Roberto Megna, com a colaboração de pesquisadores de diversas instituições do país. “O livro tem como objetivo resgatar e disseminar tecnologias multidisciplinares devidamente testadas, sustentáveis e de baixo custo, que possam ser facilmente adotadas para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores rurais da região”, afirmou Megna. Os interessados podem fazer download da publicação através do link www.cnpa.embrapa.br/noticias/2014.

50 anos de história

O Instituto de Tecnologia de Alimentos lançou a versão digital do livro Ital – Ciência, Tecnologia e Inovação a Serviço da Indústria de Alimentos no País. Com ajuda de imagens históricas e infográficos, os autores mostram como o Ital, na condição de primeiro instituto especializado em engenharia de alimentos do Brasil (foi fundado em 1962), conseguiu influenciar a fundação de inúmeras instituições – como a primeira faculdade de engenharia de alimentos –, formando uma estrutura sólida para o surgimento de novos alimentos e bebidas e para o desenvolvimento do setor no país. O livro está disponível para leitura e download gratuito no site www.ital.sp.gov.br/50anos

março 2014 – Agro DBO | 63


Calendário de eventos

MARÇO

12

TecnoAgro 2014/17ª Feira Agrotecnológica – De 12 a

13 – Campo de Estudos da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão (Rodovia BR-060, Km 11) – Chapadão do Sul (MS) – Fone: (67) 3562-2032 – Site: www. fundacaochapadao.com.br

17

Agrocafe 2014/15º Simpósio Nacional do Agronegócio Café – De 17 a 19 – Salvador (BA) – Fones: (71) 2102-6600 e (71) 21026611 – E-mail: inscricoes@gt5.com.br

18

– Fenicafé 2014/Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura – De 18 a 20 – Pica Pau Country Club – Araguari (MG) – Fone: (34) 3242-8888 – Site: www. fenicafe.com.br

24

10º Sugar & Ethanol Brazil – De 24 a 26 – Hotel Tivoli

São Paulo Mofarrej – São Paulo (SP) – Site: www.ethanolbrazil.agraevents. com

24

Global Agribusiness Forum 2014 – De 24 a 25 –

Hotel Grand Hyatt – São Paulo (SP) – Site: www.globalagribusinessforum. com

ABRIL

7

12º TecnoShow Comigo –

8

5º SNTM/Seminário Nacional de Tomate de Mesa

De 7 a 11- Rio Verde (GO) – Fones: (64) 3611-1650 (64) 3611-1524 – E-mail: secretariageral@ tecnoshowcomigo.com.br

– De 8 a 9 – Campus Taquaral/

Teatro Unimed (Rodovia do Açúcar, Km 156) – Piracicaba (SP) – Fone: (62) 3241-3939 – E-mail: tomate@ wineventos.com.br

64 | Agro DBO – março 2014

13

Parecis SuperAgro – De 13 a 16 – Campo Novo do Parecis (MT) – Fone: (65) 33822491 – Site: parecissuperagro.com. br

22

– Sucronor/6ª Mostra Sucroenergética da Região Nordeste – De 22 a 25 – Centro de Convenções de Pernambuco – Olinda (PE) – Site: www.sucronor.com.br – E-mail: contato@reedmultiplusnews.com.br

23

15º Encontro Nacional de Micotoxinas – De 23

a 25 – Anfiteatro da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP – Pirassununga (SP) – Fone: (19) 3422-2755 – E-mail: cdt@fealq.org.br

28

Agrishow 2014/Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação – De 28 a 2/5 – Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3017-6807 – E-mail: visitante. agrishow@btsmedia.biz

MAIO

6

Agrotins/14ª Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins – De 6 a 10 –

Centro Agrotecnológico de Palmas – Palmas (TO) – Fone: (63) 32182112 – Site: www.agrotins.to.gov.br – E-mail: agrotins@seagro.to.gov.br

13

AgroBrasília 2014/7ª Feira de Tecnologias e Negócios – De 13 a 17 – Parque

Tecnológico Ivaldo Cenci (BR-251, Km 5, sentido Brasília-Unaí – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339.6516 – Site: www.agrobrasilia.com.br – E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia.com.br

10 – Expodireto Cotrijal/15ª Feira Internacional Expodireto Cotrijal – De 10 a 14/3 – Não-Me-Toque (RS) – Fone: (54) 33323636 – Site: www. expodireto.cotrijal. com.br – E-mail: expodireto@cotrijal. com.br Uma das mais importantes feiras agrícolas da América Latina, a Expodireto Cotrijal deve superar este ano os recordes batidos na edição passada, segundo expectativa de seus organizadores. Em 2013, movimentou 2,5 bilhões de reais em negócios (128% acima do resultado obtido em 2012) e atraiu 223 mil visitantes (20% a mais em relação à edição anterior), entre os quais expositores de 74 países. Palco de lançamentos do que há de mais moderno em tecnologias, máquinas e equipamentos, a Expodireto vem se destacando também pelos fóruns de debates, oportunidades de negócios e audiências informais com autoridades políticas. “É um importante momento para afirmar nossos problemas e levar as reivindicações do setor, das entidades e dos municípios”, ressalta Nei César Mânica, presidente da Cotrijal.

19

3º Encontro Brasileiro de Silvicultura – De 19 a

20 – Royal Palm Plaza – Campinas (SP) – Site: www.expoforest.com.br/ silvicultura

20

Fenarroz 2014/Feira Nacional do Arroz – De

20 a 25 – Parque de Exposições Ivan Tavares – Cachoeira do Sul (RS) – Fone: (51) 3722-2425 – Site: www. fenarroz.com.br – E-mail: fenarroz@ fenarroz.com.br

21

Expoforest 2014/Feira Florestal Brasileira –

De 21 a 23 – Mogi-Guaçu (SP) -Fone: (41) 3079-1088 – E-mail: expoforest@expoforest.com.br

25

Fenasoja/20ª Feira Nacional da Soja – De

25 a 4/5 – Parque Municipal de Exposições Alfredo Leandro Carlson – Santa Rosa (RS) – Site: www. fenasoja.com.br

27

Bahia Farm Show/10ª Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios – De 27 a 31 – Complexo

Bahia Farm Show – Luís Eduardo Magalhães (BA) – Site: www.bahiafarmshow.com.br – E-mail: aiba@aiba.org.br

28

Hortitec 2014/21ª Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas – De 28 a 30

– Recinto da Expoflora – Holambra (SP) – Fone: (19) 3802-4196 – Site: www.hortitec.com.br – E-mail: (19) 3802-4196

29

Seminário Nacional de Aviação Agrícola – De 29

a 30 – Aeroporto Municipal Nero Moura – Cachoeira do Sul (RS) – Fone: (51) 8182-1716 – E-mail: babila@aviacaoagricola.com


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março 2014 – Agro DBO | 65


Legislação

Quebra de safra Mesmo que os produtores não tenham feito seguro é possível negociar junto aos agentes financiadores se houver perdas. Fábio Lamonica Pereira *

A

estiagem vivenciada na safra verão 2013/2014 deixou prejuízos de grandes proporções para muitos produtores, especialmente aqueles das regiões Sul e Sudeste. Além das lavouras de soja e milho, as de café e cana também foram afetadas. Em regra, os que optaram por variedades de ciclo precoce acabaram por escapar ou minimizar os prejuízos da safra verão, sofrendo, contudo, perdas com a implanta-

verno Federal, há atenção especial quanto à necessária assistência a fim de que os prejuízos sejam superados. Paralelamente a isso, o Governo Federal, por meio do Banco Central, pode (e deve) editar normativos específicos que “determinem” aos agentes credores a alteração dos vencimentos de parcelas relativas a operações de custeio e/ ou investimento, de forma que não haja cobrança de encargos moratórios, tampouco alterações

A questão é que havendo quebra de safra o produtor deve tomar alguns cuidados básicos. ção da safra de inverno. Já os que priorizaram ciclos tardios, amargaram grandes prejuízos com a safra verão e, talvez, tenham mais chances de minimizar perdas com a safra de inverno. A questão é que, havendo quebra de safra, o produtor deve tomar alguns cuidados básicos para viabilizar a manutenção do ciclo produtivo, de forma que os prejuízos não aumentem ainda mais.

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

O fato é notório Diversos municípios já decretaram “situação de emergência” definida como “alteração intensa e grave das condições de normalidade em um determinado município, estado ou região, decretada em razão de desastre, comprometendo parcialmente sua capacidade de resposta” ( www.defesacivil. gov.br ). Com o reconhecimento de tal situação por parte do Go-

66 | Agro DBO – março 2014

nas taxas de juros inicialmente estipuladas. Ainda que não haja Resolução específica prevendo a necessária prorrogação de vencimento de tais parcelas, o produtor pode (e deve) utilizar do mecanismo permanente previsto em lei que determina a prorrogação das operações de crédito rural em caso de incapacidade de pagamento em decorrência de “perda de safra” ou “dificuldade de comercialização dos produtos”, conforme previsão expressa do Manual de Crédito Rural (disponível em www.bcb.gov.br), além de outros normativos. O que diz a lei Veja que a lei “determina” a prorrogação por parte do credor o que o “obriga” a acatar o pedido, desde que preenchidos os apontados requisitos. A questão foi até mesmo objeto de Súmula (enten-

dimento consolidado após o julgamento de diversos casos semelhantes) pelo Superior Tribunal de Justiça quando dos conhecidos processos de Securitização com origem na Lei n. 9138/95 (dívidas que, aliás, se arrastam até os dias de hoje com cobranças por parte da União). Fato é que para ter direito à prorrogação, alguns juízes entendem, ainda, pela necessidade de comprovação formal do pedido de alongamento junto ao credor. Documentos Logo, havendo perda, o produtor deve documentar a situação reunindo documentos como laudos de acompanhamento de safra assinados por um profissional da área; comprovantes de entrega de produtos; Decreto de situação de emergência; Resolução específica do Banco Central etc.; e (verificando os documentos pertinentes) protocolar um pedido (preferencialmente mediante Cartório de Títulos e Documentos) solicitando a prorrogação de acordo com sua nova capacidade de pagamento (podendo até mesmo anexar planilha indicando o fluxo de receitas e despesas). É comum que credores optem por não respeitar os direitos dos produtores, sendo possível, neste caso, a propositura de uma ação judicial específica com o fim de assegurar o exercício do direito à prorrogação previsto expressamente em Lei, agregando eventual pedido de indenização por dano moral e/ou material.




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