Revista Agro DBO - Ed. 37 - Setembro/2012

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Sumário

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Tecnologia

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Entrevista

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Manejo

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Horticultura

Integração de culturas impulsiona o desenvolvimento da agricultura na região do Arenito Cauiá, no Noroeste do Paraná.

O presidente da Embrapa, Pedro Arraes, faz um balanço de seu primeiro mandato à frente da instituição e debate o papel da pesquisa científica.

A soja avança sobre áreas de arroz no Rio Grande do Sul. Técnicos testam variedades e equipamentos adaptados à várzea.

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Pesquisadores da Embrapa Solos desenvolvem o Tomatec, sistema prático de produção de tomates isentos de resíduos tóxicos.

Código Florestal Matéria 42 Doutor em ecologia, Evaristo Eduardo de alerta: os médios agricultores do de capa Miranda Brasil estão em processo de extinção. Agricultores começam a plantar soja na segunda quinzena de setembro. Se as condições climáticas permitirem e não houver quebra de produtividade, o Brasil vai colher a maior safra de sua história e assumir o título de maior produtor do mundo, superando os Estados Unidos.

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Gestão

Conheça a metodologia Seis Sigma, uma proposta de organização do dia-a-dia de trabalho e administração da propriedade.

Artigos

41 – Rogério Arioli critica a inércia do governo no setor de abastecimento 50 – Hélio Casale relaciona a produção cafeeira com as Três Vias de Odum 53 – Daniel Glat evoca “a lógica do cisne negro” ao tratar dos preços da soja 66 – Fábio Lamônica e o pacote do governo para renegociação de débitos

Seções Do leitor............................................................. 8 Ponto de vista................................................10 Política...............................................................12 Notícias da terra............................................14 Marketing da terra........................................44

Deu na imprensa..........................................54 Análise de mercado.....................................58 Novidade no campo....................................60 Biblioteca da terra.........................................62 Agenda.............................................................64 setembro 2012 – Agro DBO | 5


Carta ao leitor

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sta é a Agro DBO nº 37, segunda edição da renovada publicação que marca, com periodicidade mensal, a sequência da revista DBO Agrotecnologia, lançada em 2004 com circulação bimestral. Às vésperas do plantio, Agro DBO traz como destaque de capa a próxima safra de soja e nem poderia ser diferente diante do otimismo que tomou conta dos produtores. Antes mesmo de ser plantada, ela já é considerada recordista em vários aspectos, entre os quais o de colocar o Brasil como maior produtor do grão do planeta, superando os Estados Unidos, também em função da grave seca que atingiu as plantações do Corn Belt. Outro dado inédito da nova safra é o de que ela vem com o maior índice de venda antecipada da produção, tudo acompanhado por preços recordes na Bolsa de Chicago, batendo próximo dos US$ 18 por bushel, com dólar valorizado, uma combinação justificada pelo crescimento das importações chinesas e pelas intempéries americanas, que estimulam a especulação desenfreada. Os alentados 3 milhões de hectares adicionais de plantio da oleaginosa no Brasil indicam ainda outro fato muito positivo: a inclusão no plantio de áreas novas, especialmente em pastagens degradadas. A melhor evidência do avanço sobre pastos vem das principais fabricantes de arados, como a Baldan e a Marchesan, ambas de Matão, SP, que declaram expressivos aumentos nas vendas desses implementos. A Marchesan informou, por exemplo, que as vendas de 2010 para 2011 tiveram crescimento de 37%, e de 2011 para 2012 esse incremento foi de mais 60%. Mais significativo ainda, são os números de arados subsoladores da Marchesan: ultrapassaram 100% em vendas, o que por si só justifica a bela foto estampada em nossa capa, de um solo perfeitamente arado e gradeado, uma visão incomum hoje em dia, mas uma esperança, quem sabe, de que na safra seguinte estará sendo semeado em plantio direto. A adoção de novas tecnologias pelos sojicultores, que incluem sementes GMs em absoluta maioria, além de outras modernidades, como a agricultura de precisão e cuidados especiais com a nutrição dos solos e problemas fitossanitários, não podem excluir uma atenção especial dos produtores com o clima e o mercado, ambos inimigos ou amigos, conforme a situação. A ênfase nessa cautela é necessária, porque a história registra inúmeros tropeços coletivos diante da euforia generalizada e exacerbada como se observa neste momento. Como sempre, agradecemos as manifestações dos leitores. Aos que desejarem maior contato com a redação da Agro DBO, sugerimos enviar e-mails para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, Luiz Fernando Coelho de Souza e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamônica, Fernando Yassu, Glauco Menegheti, Hélio Casale, José Ronaldo de Macedo, Mairson Santana, Marianna Peres, Mauri José Guerra e Rogério Arioli Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Sergio Escudeiro Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Gerente: José Geraldo S. Caetano Vendas: Andrea Canal, Heliete Zanirato, Marlene Orlovas, Naira Barelli, Sérgio Castro e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto ACS–Ministério da Agricultura DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor

Goiás Sua revista tem muita qualidade e valia para o setor. Rafael Corsino Cristalina Minas Gerais Revista de ótimas reportagens, continua melhorando e trazendo informações. Marcos Ribeiro de Campos Conceição do Rio Verde Sou assinante fiel, gosto de todas as publicações do grupo DBO. Parabéns a todos que fazem estas excelentes revistas. Fernando Novaes Andrade Uberlândia Sou pecuarista, mas a base do meu negócio é a pastagem e seu manejo correto. Portanto, sou um lavourista de pastagens. A revista deveria ter uma seção permanente sobre o tema “pastagens”. Ronaldo Carvalho Garcia Arcos NR: Podemos, eventualmente, publicar reportagens a respeito, como, aliás, ocorre nesta edição de setembro (leia “Paraná abre nova fronteira agrícola”, à pag. 12). Pastagem é tema recorrente da revista DBO, dedicada à pecuária de corte. Mato Grosso do Sul Parabenizo a revista Agro DBO pelas excelentes matérias técnicas, políticas e de mercado. Acrescenta muito aos técnicos e produtores rurais. Belkiss Gomes Nunes Gratos Campo Grande

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Mato Grosso Gosto de ler. Traz sempre matérias interessantes. Valmor Antônio Comelli Sinop

Me atualizo com essa revista, que considero ótima. Tem muitas informações boas e de qualidade. Gleice Kele Monteiro Silva Bela Vista do Paraiso

É uma revista muito interessante para quem mexe com agrocultura. Jeremias de Matos Santos Ibiraçu

Pernambuco É uma revista muito bem feita e discute assuntos de grande interesse para agricultores, técnicos e demais profissionais do agronegócio Jerônimo Constantino Borel Petrolina

Paraná Muito boas as reportagens, principalmente por serem técnicas, expondo novas tecnologias. Quero me tornar um grande produtor de soja e milho, pois planto em pouca área e preciso produzir muito nessa área para viabilizar o negócio. Milton César Arruda Entre Rios do Oeste A revista destaca acontecimentos atuais, tem leitura atraente. Os temas abordados são de muita relevância para a área em que atuamos. José Romeu Krüger Nunes Toledo As edições da revista DBO Agro­ tecnologia, agora Agro DBO, são muito importantes para nós. Depois de lê-las, faço doações para os estudantes de agronomia de minha cidade. Alcione Teodoro de Oliveira Campo Mourão Este último número ficou muito bom. Indispensável. Munir Antonio Namur São Jerônimo da Serra Declaro meus agradecimentos pelas ótimas reportagens e assuntos abordados. Agricultura se faz com informação, e isso a revista saber fazer muito bem. Fábio da Cruz Marilândia do Sul Venho por este e-mail solicitar, se possível, que enviem uma edição mensal da revista para a nossa cooperativa (Coopavel). O pedido se deve ao fato de meus clientes pegarem as minhas revistas para lerem. Percebi que eles gostam muito dos artigos por vocês tratados. Parabéns pela revista. Seguem meus dados para o envio da assinatura gratuita. Thiago Moraes Cascavel

Rondônia Muito boa revista, com linguagem técnica e atualizada. Excelente iniciativa (ampliar o conteúdo e transformar a DBO Agrotecnolo­ gia, bimestral , na Agro DBO, mensal). Disponibilizo a revista aos servidores do escritório. Francisco Dimas de Sales Ribeiro Vilhena Rio Grande do Sul Parabéns pelas matérias, pois são de grande valia para nosso aperfeiçoamento técnico. Michael Jeremy Parizotto, Vacaria É uma revista que trata com muita propriedade e conhecimento os assuntos voltados ao setor agrícola. Ademir Fabris Passo Fundo É uma fonte de informação muito importante para os agricultores, que precisam cada vez mais de conhecimentos para sobreviver no meio rural. Marcos K. Landvoigt Barracão Parabenizo aos responsáveis pe­ la edição desta preciosa publicação, que enfoca como nenhuma outra os assuntos pertinentes à nossa área de atividade. João Alberto Fernandes Bagé A edição deste primeiro exemplar está de parabéns pelo conteúdo das reportagens exibidas. Mauro Luiz Crestani Lagoa Vermelha NR: O leitor se refere à edição de agosto da revista Agro DBO, a pri-


meira em sua nova versão. A Agro DBO é uma continuação da DBO Agrotecnologia, agora com desenho mais moderno, mais fácil de ler, maior número de páginas e circulação mensal (a anterior era bimestral). O foco, porém, não mudou. Continuaremos priorizando a agricultura, procurando destacar as novas tecnologias a serviço do campo. Ótimos conteúdos técnicos. Excelente qualidade de impressão Rogério Filippon Getúlio Vargas Continuem, está ótima. Osvaldo Albuquerque Vieira Jaguarão A revista Agro DBO é um ótimo veículo de informação e difusão de novas tecnologias agropecuárias João Becker Santo Ângelo Muito interessante a revista. Uma mão na roda para o agricultor Gustavo Ferrari Colorado Matérias técnicas atualizadas. Sempre procura apresentar diferentes pontos de vista sobre um determinado assunto Jackson E. Fiorin Cruz Alta

São Paulo Agradeço à DBO pelas excelentes reportagens. Elas nos alimentam de conhecimentos sobre tecnologias desenvolvidas para a agricultura. Ricardo Alexandre Lourenço Santa Cruz das Palmeiras

Uma fonte de informação da mais alta qualidade, ressaltando com primor uma agricultura altamente tecnológica, fator preponderante para o aumento da produtividade. Braz Rocha Forti Dracena Considero a Agro DBO uma revista completa, trazendo-nos conhecimentos valioso que não estavam ao nosso alcance. Alberto Lahós de Carvalho Catanduva Sou engenheiro agrônomo, formado pela Esalq, de Piracicaba, SP, em 1946. Estou com 92 anos de idade. Gostaria de continuar recebendo esta revista, pois me identifico muito com o seu conteúdo. Obrigado. Décio Rossi São Paulo Do meu ponto de vista, é a revista mais completa ao produtor, porque informa de maneira atual,

real, e precisa. Já a utilizei como base em algumas pesquisas. Mônica Fávero Mococa Achei que a revista melhorou muito, especialmente a n° 36, de agosto de 2012. Paulo Henrique Von Haehling Dourado É com muita satisfação que recebemos o primeiro exemplar da Revista Agro DBO. Trata-se de um excelente veículo de comunicação que traz informações de qualidade, focando a divulgação de melhores práticas agrícolas e de novas tecnologias, estratégicas ao desenvolvimento de uma agricultura sustentável. Desejamos que tenham o sucesso de sempre nas edições mensais. Parabéns pelo trabalho! Maria Emília Marino Pio Catanduva Parabéns pela ampliação do conteúdo da revista Agro Tecnologia (agora, Agro DBO) e pela mudança para periodicidade mensal. Estamos à disposição para informações sobre o setor de florestas João Fernando Borges São Paulo

AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Ponto de vista

Os desafios do Brasil “Vamos pavimentar com produção sustentável o caminho do protagonismo brasileiro no agronegócio internacional” Decio Luiz Gazzoni*

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m junho de 2012, no VI Congresso Brasileiro de Soja, tracei um cenário então otimista: até 2015 o Brasil seria o maior produtor de soja do mundo. À época, a soja americana, plantada há cerca de 30 dias, media um palmo de al­ tura. Nada indicava que, como quase nunca antes na história da­ quele país, uma seca arrasaria o Meio Oeste americano, diziman­ do lavouras de milho e soja. De acordo com a projeção de agosto do USDA, a safra de soja americana será 12% menor que o previsto, colhendo 73 milhões de

o Brasil está “condenado” a ser o líder da produção de soja. Esta li­ derança depende apenas de nós, e se consolidará se resolvermos alguns desafios. Desafios O primeiro desafio: produzir cada vez melhor, com sustentabi­ lidade. E a melhor maneira é pro­ duzir mais na mesma área, como apontam os Desafios CESB de Máxima Produtividade de Soja (www.desafiosoja.com.br), que tam­ b ém demonstram que altas produtividades estão associadas ao maior lucro do produtor. A

No curto prazo, o Brasil está “condenado” a ser o líder mundial na produção de soja.

Decio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

toneladas (Mt). Os rumores de mercado apontam que, no Brasil, poderemos semear 28 milhões de hectares de soja. Como as previ­ sões meteorológicas indicam a ocorrência de El Niño modera­ do, a oferta hídrica será adequa­ da, permitindo repetir a produ­ tividade da safra 2010/11 (3.115 kg/ha), o que projetaria a produ­ ção brasileira para 87 Mt. Se con­ siderarmos ter havido um ganho de produtividade de 2% ao ano, conforme a série histórica ante­ rior, a produção poderia ser ain­ da maior. Não se trata de mero even­ to conjuntural. Por uma frustra­ ção de safra brasileira no curto prazo, pode ser que os EUA tor­ nem a liderar a produção mun­ dial. Entretanto, no médio prazo,

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alta produtividade necessita ser obtida com tecnologia adequa­ da, e respeito às legislações am­ biental e trabalhista. Será com produção sustentável que vamos pavimentar o caminho para con­ solidação do protagonismo bra­ sileiro no agronegócio interna­ cional. Para tanto, investimentos elevados e contínuos em geração e transferência de tecnologias são fundamentais. O segundo desafio é a agroin­ dustrialização, com políticas pú­ blicas de incentivo, incluindo o desenvolvimento tecnológico. A agregação de valor é perseguida por qualquer país, produtor ou consumidor. O Brasil precisará valorizar sua condição de maior produtor mundial para impor, gradativamente, percentuais mai­

ores de exportações com alto va­ lor agregado. O terceiro e maior desafio é re­ solver o custo Brasil. Corremos o risco de um apagão logístico, na colheita da presente safra, com milho armazenado ao relento e a soja em caminhões, em filas de de­ zenas de quilômetros nos portos. A logística de armazenamento e a infraestrutura de transporte brasi­ leiras são arcaicas e anacrônicas, divorciadas de nosso agronegócio pujante. O transporte é caro e ine­ ficiente e os portos são desapare­ lhados e subdimensionados. Pra­ ticamente não existem hidrovias, a malha ferroviária é tão limita­ da que sequer chega a competir com o transporte rodoviário. Em decorrência, nas regiões de topo­ grafia, solo e clima mais promis­ sores, os produtores perdem par­ cela ponderável de sua competiti­ vidade pelo subdimensionamento da armazenagem e a ineficiência do transporte. Embora tardiamente, a Presi­ dente Dilma lançou, em agosto, um pacote de investimentos pri­ vados para adequar a infraestru­ tura às necessidades do país, de­ satando o que qualificou como “nó Brasil”, outrora denomina­ do “custo Brasil”. Serão 50.000 km de rodovias, 12.000 km de ferro­ vias, portos e aeroportos que se­ rão construídos e geridos pela ini­ ciativa privada, para equacionar parte do problema logístico ain­ da nesta década. Falta atacar a sa­ nha tributária, o câmbio adequa­ do, a segurança jurídica dos con­ tratos e a integridade patrimonial. O resto, o produtor sabe fazer.



Política Medida provisória contra catástrofes

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o final do mês passado, a Câmara Federal aprovou a Medida Provisória nº 565, que prevê a criação de linhas de créditos especiais para atender municípios atingidos por secas e enchentes. O texto aprovado pelos deputados foi apresentado pelo senador Walter Pinheiro (PT-BA), que será o relator do projeto no Senado Federal. Os recursos virão dos fundos de Financiamento do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste. A MP permite a ampliação do valor do Auxílio Emergencial Financeiro de R$ 300

para R$ 400, com parcelas de R$ 80. De acordo com Pinheiro, dados do Ministério da Fazenda estimam que as medidas contidas na MP vão beneficiar cerca de 500 mil produtores, sendo a maior parte, 350 mil, com dívidas de até R$ 35 mil. “Cerca de 125 mil produtores já estão na fase de execução e terão as cobranças suspensas, assim que a medida virar lei”. Segundo Pinheiro, a MP foi criada para resolver a saúde financeira daqueles que enfrentaram perdas em função de problemas climáticos, como a seca.

Assim, os produtores que não conseguem acesso a novas fontes de financiamento poderão se restabelecer para garantir o plantio da próxima safra. Conforme o Ministério da Integração Nacional, o Brasil tinha em 8 de agosto (data da última atualização), 2.236 municípios em situação de emergência e três em estado de calamidade pública. Os únicos estados que não tinham cidades em nenhuma dessas situações eram Tocantins, Roraima, Amapá, além do Distrito Federal.

Protocolo de Nagoya pode ser um tiro pela culatra

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s brasileiros reclamam que as multinacionais das áreas farmacêuticas e de cosmética ganham bilhões de dólares com o uso da flora e fauna brasileira, especialmente a da Amazônia. Por causa disso o Brasil foi um dos signatários do Protocolo de Nagoya, em fevereiro de 2011. O acordo previa o pagamento de royalties para os países que tiverem a sua biodiversidade pirateada. Não existem estimativas oficiais sobre os montantes a serem pagos ao Brasil pelo uso indevido dessas nossas riquezas. Entretanto, teríamos também de pagar pelo uso indevido da flora e fauna de outros países. Ainda que não exista uma estimativa oficial concreta, os prejuízos do Brasil com o Protocolo de Nagoya poderão ser bilionários se de fato ele for ratificado. Agora o documento tramita na Câmara dos Deputados e aguarda a criação de uma comissão especial para ratificar ou não os acordos feitos. Apesar de seus possíveis impactos, o assunto não chama a atenção no Congresso brasileiro. O governo avalia que os parlamentares consideram “distante” a discussão. Para avaliar o impacto do protocolo, o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacio-

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nais (Icone) traçou um cenário hipotético que mostrava que, se a taxa cobrada por outros países sobre o uso de suas espécies nativas pelo Brasil fosse de 1%, o país teria que pagar R$ 639 milhões em royalties referentes só ao volume de 2009 de produção de cana-de-açúcar, soja, farelo de soja e carnes bovina, suína e frango, aos países de origem desses produtos. “A intenção das discussões em torno do protocolo era repartir benefícios da biodiversidade sem que houvesse perdas”, diz o gerente-geral do Icone, Rodrigo Lima. “É importante que o governo brasileiro faça pesquisas (sobre o impacto do acordo), a exemplo do que acontece em outros países”, comentou. O protocolo só entra em vigor depois de ser ratificado por 50 países, e afetaria toda a cadeia de produtos oriundos de outras nações. A Colômbia, segundo uma fonte do MAPA, já puxou a fila e pretende cobrar 30% pelo uso da batata. Por enquanto, apenas México, Ruanda, Jordânia

e Seicheles ratificaram o acordo, assinado por 92 países no total. Mas está claro que haveria cobrança sobre produtos plantados ou industrializados. Em 2010, representantes do Itamaraty, do MAPA e do Ministério do Desenvolvimento bateram cabeça na hora de decidir se deveriam dar a garantia de assinatura ou esperar futuros estudos. «Em um determinado momento, uma parte se empolgou e acabou vendendo o que não pode entregar», afirmou uma fonte do MAPA. Técnicos do governo avaliam que, ao contrário do que se pensa, o Brasil não seria beneficiado, até porque, na reta final das negociações retirou-se do texto o parágrafo que defendia o ressarcimento por fármacos sintetizados, área em que o Brasil poderia ganhar. A tese é desconstruída pelo secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Cavalcanti. Ele diz que o tratado é significativo para o país, e que a posição brasileira foi decisiva para que o protocolo fosse para frente. «O acordo é interessante para o Brasil, pois significa que vamos garantir a repartição da biodiversidade. No passado, já houve tentativas de patentear nossa biodiversidade no exterior», disse.


Últimas sobre demarcação indígena

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ortaria da AGU define regras sobre demarcação indígena. O Governo Federal passa a adotar norma que servirá de parâmetro para todos os processos sobre a delimitação e gestão de novas áreas indígenas no País. A Portaria 303 publicada pela Advocacia Geral da União (AGU) dia 16 de julho último define regras sobre demarcação e direito de uso de terras indígenas. Na prática, a portaria regulamenta a atuação de advogados e procuradores em processos judiciais que envolvem áreas indígenas em todo o país. Em seu artigo 1º, cita “fixar a interpretação das salvaguardas às terras indígenas, a ser uniformemente seguida pelos órgãos jurídicos da Administração Pública Federal direta e indireta, determinando que se observe o de-

cidido pelo STF na Pet. 3.888-Roraima.” sendo essa última a demarcação da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol. O deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC) comentou ser positiva a decisão uma vez que inúmeras áreas de terras estão sendo subtraídas de proprietários legítimos e demarcadas como indígenas. Citou o caso de 167 famílias de produtores rurais dos municípios de Cunha Porã e Saudades, no Oeste catarinense, que ocupam 2.721 hectares e que vivem na iminência de terem que sair das suas propriedades. Decisão recente do tribunal Regional Federal da 4ª Região reconheceu a área como indígena. Os proprietários rurais daquela localidade possuem escrituras datadas com mais de 80 anos,

adquiridas originalmente nos anos de 1921 e 1923. Dentre os pontos positivos da Portaria 303, Colatto destaca a importância em submeter ao Congresso Nacional, em forma de lei, o usufruto de riquezas naturais existentes nas áreas indígenas. A portaria proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas e garante a participação de Estados e municípios em todas as etapas do processo de demarcação. Segundo Colatto, onde não existia ocupação até aquela data não deve haver reconhecimento indígena. “Defendo que o reconhecimento de terra indígena seja aprovado pelo Congresso Nacional e não por portaria da FUNAI que não respeita o direito à propriedade”, disse.

Política indigenista equivocada

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olatto, com base em dados da Frente Parlamentar da Agropecuária, destaca que a atual política governamental pretende ocupar 20% do território brasileiro com áreas indígenas o que preocupa o setor produtivo brasileiro. Atualmente, o Brasil tem 12,7% (108,7

milhões de ha) do território com áreas indígenas para um universo de aproximadamente 450 mil índios. A preocupação, conforme Colatto, é que terras produtivas e ocupadas por agricultores estão sendo erroneamente demarcadas pela FUNAI com base

em estudos antropológicos que identificam vestígios de ocupação indígena. “Se continuar assim teremos que devolver todo o território brasileiro para os índios, pois historicamente sabemos que foram os primeiros a ocupar o país”, lamenta. setembro 2012 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra VPB

Ligeira queda

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VPB – Valor Bruto da Produção das principais lavouras do país foi calculado em R$ 221,2 bilhões, 0,8% abai­xo do valor de 2011. Os dados, divulgados no dia 20 de agosto, foram calculados a partir dos levantamentos de safra realizados no mês de julho. Segundo o coor­­denador da Assessoria de Planejamento Estratégico do Mi­nistério da Agricultura, José Garcia Gasques, no decorrer dos meses os valores relativos a 2012 vêm diminuindo a diferença em relação ao obtido em 2011, que foi recorde desde o início desta série em 1997. “Como tem sido apontado em relatórios anteriores, este ano tem sido marcado por secas no sul do país e no Nordeste, que afetaram consideravelmente a produção de grãos dessas regiões em vários estados”, disse Gasques. Dos 18 produtos pesquisados, apenas cinco apresentaram aumento do VBP: algodão (37,9%), cebola (5,2%), feijão (9,3%), milho (22,4%) e soja (10%). O maior destaque nesse grupo é o milho, que registrou excepcional aumento de produção na segunda safra e alcançou um valor da produção de R$ 31,7 bilhões, o maior obtido desde que se calcula esta série. Outro destaque foi a soja, que apesar da perda de cerca de 11 milhões de toneladas no sul do país devido à seca, a recuperação de preços do produto tem levado a um resultado favorável em 2012. Entre os produtos que vêm apresentando resultados desfavoráveis no faturamento neste ano, os que têm mostrado pior desempenho são a laranja (-50,4%), a batata inglesa (-43,9%), o tomate (-40,2%), a mandioca (-15,4%), o arroz (-15,2%), o cacau (-14,9%) e o trigo (-12,6%).

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Logística

Verba para infraestrutura

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presidente Dilma Rousseff lançou no mês passado o Programa de Investimentos em Logística, que prevê aplicação de R$ 133 bilhões em 9 trechos de rodovias e em 12 trechos de ferrovias. O objetivo é aumentar a escala dos investimentos públicos e privados em infraestrutura de transportes e promover a integração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, reduzindo custos e ampliando a capacidade de transporte, além de promover a eficiência e aumentar a competitividade do país. O valor anunciado será destinado à construção de ferrovias, com investimentos de R$ 91 bilhões, e duplicação e construção de rodovias, com aplicação de R$ 42 bilhões. Do total,

R$ 79,5 bilhões serão aplicados nos próximos cinco anos e R$ 53,5 bilhões em até 25 anos. O programa contempla 9 trechos de rodovias federais em oito estados, com regras para as concessões. No modal ferroviário, o modelo proposto é de parceria público-privada que assegura investimentos em 12 trechos e traz como novidades a quebra do monopólio no uso das estradas de ferro e mecanismos que também estimulam a redução de tarifas. Nessa parceria público-privada, o governo federal será responsável pela contratação da construção, da manutenção e da operação da ferrovia. O programa não contempla, porém, investimentos em hidrovias e outros modais de transporte.

Bolsa

Recebíveis agropecuários

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uas grandes empresas do agronegócio, a Syngenta e a Bunge, e uma de securitização, a Octante, fizeram em agosto, na Bolsa de São Paulo, a primeira oferta pública de Certificados de Recebíveis Agropecuários (CRAs) para pessoa física. Ao comprar os títulos ofertados, os investidores garantiram rendimento 9% superior ao CDI – Certificado de Depó-

sito Interbancário e, por tabela, financiaram a compra de insumos pelos produtores rurais. A agência de classificação de risco Fitch Ratings atribuiu a nota AAA à emissão. Segundo a BM&FBovespa, a demanda pelos CRAs foi de 150% do valor emitido. O valor de cada certificado CRA foi de R$ 300 mil, o mínimo para um investidor entrar no negócio.


Notícias da Terra Canola

Produtores seguem os passos da soja

Intercâmbio

Parceria chinesa

O

O

s produtores de canola na região sul do país acompanham com atenção a movimentação nos preços da soja no mercado internacional. Afinal, a cultura tem preço atrelado ao da soja, cujas cotações vêm batendo recordes no mercado internacional. No mês passado, a canola foi negociada nos contratos futuros por R$ 60,00 reais a saca. Comparativamente ao ano passado, tal valor representa ganho de rentabilidade, em muitos casos, acima de 40%. Na opinião de especialistas, esse cenário mercadológico deverá influenciar a decisão dos pro-

dutores na formação da próxima safra. Diferentemente de outras culturas de inverno, a canola tem compra garantida. No sul do país, principal região produtora, houve um crescimento de 30% no cultivo, especialmente no Paraná. A estimativa é de que nos próximos anos a expansão nas lavouras continue. Conforme levantamento, há mercado garantido no Brasil para o cultivo de 300 mil/ha. Hoje, são cultivados 60 mil hectares. A abertura da safra nacional será no dia 18 deste mês de setembro em Colorado (RS). A safra começa no final do mês.

s ministros da Agricultura do Brasil, Mendes Ribeiro, e da Ciência e Tecnologia da China, Wan Gang, lançaram no mês passado o Laboratório Virtual da Academia Chinesa de Ciências Agrárias (CAAS, da sigla em inglês), resultado de parceria entre a Embrapa e a Academia Chinesa. O ministro da China lembrou a necessidade de seu país aumentar a produtividade a partir do uso de tecnologias, especialmente para atender a demanda local. “Possuímos aproximadamente 22% da população mundial em nosso território. Nos últimos nove anos, conseguimos ampliar a produção graças às pesquisas no setor e a Embrapa é fundamental nesse processo”, destacou Wan Gang. De acordo com o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, os principais objetivos para o Brasil na parceria são o intercâmbio, a caracterização e avaliação de recursos genéticos vegetais para apoiar os programas de melhoramento dos dois países. Por sua vez, a instituição chinesa pretende estreitar o intercâmbio de pesquisa na área de biologia avançada, em temas como biologia molecular e transgenia. O Laboratório Virtual da CAAS é fruto da cooperação científica bilateral entre Brasil e China. Em abril de 2011, a presidente Dilma Rousseff inaugurou o Laboratório Virtual da Embrapa (Labex China) na sede da CAAS, em Pequim.

Preservação

Desmatamento cai na Amazônia

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evantamento divulgado no começo de agosto pelo Ministério do Meio Ambiente indica que o desmatamento na Amazônia caiu 23% entre agosto de 2011 e julho de 2012, na comparação com os 12 meses anteriores. O Sistema de Monitoramento em Tempo Real, coordenado pelo Inpe – Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais, mostrou que, com exceção de Roraima, todos os estados da região mantiveram ou reduziram a taxa de desmatamento local. O Maranhão registrou a maior queda de desmatamento (67%), seguido pelo Amazonas, com 45%, e pelo Acre e pelo Pará, ambos com 42%. No ano passado, o Pará foi

responsável por quase 47% do desmatamento total na Amazônia. Em Roraima, o desmatamento aumentou do ano passado para cá. O estado contabilizou 56 mil quilômetros quadrados de áreas devastadas, enquanto entre agosto de 2010 e julho de 2011, a área desmatada somava 18 mil quilômetros quadrados setembro 2012 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Poluição

Canavial: fonte de energia limpa

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m estudo divulgado pela agência Fapesp revela que percentagem significativa do nitrogênio contido nos principais fertilizantes empregados nos canaviais brasileiros se perde na atmosfera em forma de óxido nitroso (N2O), o mais potente gás de efeito estufa. Um artigo publicado em 2008 por Paul Crutzen, prêmio Nobel de Química de 1995, estabeleceu que se o fator de emissão de N2O da cultura de cana-de-açúcar ultrapassasse 5% da quantidade de nitrogênio dos fertilizantes, os ganhos ambientais do uso do etanol como biocombustível seriam frágeis demais

para que o produto fosse considerado uma fonte de energia limpa. “Nosso estudo mostrou que o fator de emissão de N2O ficou abaixo dos 3%. Mesmo quando a vinhaça foi aplicada junto com o fertilizante, o fator de emissão chegou a apenas 6%. A partir de agora, faremos um experimento com um isótopo marcado, para saber se essas emissões são provenientes da própria vinhaça ou do fertilizante, estimulada pela associação com a vinhaça”, disse Janaína Braga do Carmo, do Departamento de Ciências Ambientais da UFSCar – Universidade Federal de São Carlos, que coordenou os trabalhos.

Patente

Briga de peixe grande

M

onsanto e Du Pont disputam suas desavenças na justiça. A batalha acontece em um tribunal de St. Louis, no estado do Missouri/EUA. A Monsanto, que desenvolveu a tecnologia Roundup Ready, acusa a rival de infringir a patente que protege a soja RR. Como compensação pede uma indenização de mais de US$ 1 bilhão. Um juiz daquela corte deu ganho de causa à Monsanto. A Du Pont recorreu e questiona a validade da patente. Além disso, acusa a Monsanto de ludibriar o Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos no processo de registro do produto. Analistas de plantão avaliam que essa dívida jamais será paga, seja pelo altíssimo valor, seja pela impossibilidade de se provar as alegações das partes.

Imposto

Declaração de ITR

O Crédito

R$ 743,2 milhões para o café

C

afeicultores, cooperativas, beneficiadores, indústrias de torrefação e exportadores podem acessar os recursos autorizados pelo Funcafé – Fundo de Defesa da Economia Cafeeira, que totaliza R$ 743,2 milhões este ano. O valor está disponível para contratos das linhas destinadas a custeio, estocagem, capital de giro para a indústria de torrefação, aquisição e recuperação de cafezais danificados, composição de dívidas e operações de mercados futuros. 16 | Agro DBO – setembro 2012

Os interessados devem procurar as seguintes instituições financeiras: ABC Brasil, BICBANCO, Bradesco, Banco do Brasil, Fibra, Itaú BBA, Rabobank, Ribeirão Preto, Votorantim, Cooperativa Central de Crédito de Minas Gerais (Crediminas), Cooperativa de Crédito em Guaxupé e Região (Agrocredi), Cooperativa de Crédito Rural e Pequenos Empresários (Credivar), Banco Original do Agronegócio S.A, Banco Original S.A, Santander e Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

produtor rural tem prazo até o dia 28 deste mês de setembro para declarar o ITR – Imposto Territorial Rural. O link de acesso já está disponível no site da Receita Federal.. Após o preenchimento da declaração, o contribuinte deve utilizar o aplicativo Receitanet, encontrado também no site da Receita, para enviá-la. O prazo de entrega termina exatamente às 23h59min59s (horário de Brasília) do dia 28. São obrigados a apresentar a declaração o proprietário, o titular do domínio útil e o dono a qualquer título de imóvel rural, exceto o imune ou isento. Mas, se houve mudança nas informações cadastrais referentes ao imóvel rural, quem for imune ou isento ter também que declarar. De acordo com a Receita Federal, a multa mínima para quem perder o prazo de envio é R$ 50.


Notícias da Terra Biotecnologia

CTNBIo aprova algodão GM

E

m agosto, a CNTBio aprovou o algodão MON 15985 × MON 88913, da Monsanto. A tecnologia embutida, chamada comercialmente de Bollgard II Roundup Ready Flex, controla as principais pragas lepidópteras da cultura do algodão, como curuquerê do algodoeiro (Alabama argillacea), lagar-

tas das maçãs (Heliothis virescens e Helicoverpa zea) e lagarta rosada (Pectinophora gossypiella), com a proteção adicional das plantas contra a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda). O novo algodão também é tolerante ao glifosato, o que permite a aplicação do herbicida em pós-emergência da cultura.

Pesquisa

Novos investimentos

A

Arysta LifeScienceanuncia investimentos em novos projetos, com foco em seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola, localizado em Pereiras (SP). O Centro, que funciona como um polo global para o desenvolvimen-

to tecnológico e treinamentos técnicos em todas as culturas com as quais a Arysta LifeScience trabalha, ocupa área superior a 70 hectares, em uma região que permite a realização de ensaios e testes durante todo o ano. Esse cenário possi-

bilita agilizar a avaliação de novos produtos, com foco no desenvolvimento de soluções para a agricultura. Somente em 2012, a previsão total de investimentos nas áreas de Pesquisa & Desenvolvimento e Registro passa de US$ 8 milhões.

setembro 2012 – Agro DBO | 17


Tecnologia

Paraná abre nova fronteira agrícola Noroeste do estado vira polo de produção agrícola com tecnologias de cultivo adaptadas à região por pesquisadores do Iapar Fernando Yassu, da revista DBO

U

O capim ainda domina a paisagem no Arenito, composta em grande parte por pastagens degradadas

ma tecnologia simples que combina o plantio direto alternado das culturas de soja, milho-safrinha e capim na mesma área pode materializar uma nova fronteira agrícola no chamado Arenito Caiuá, um “areião” de 3,5 milhões de hectares que avança sobre 107 municípios situados na região noroeste do Paraná. Se ela se confirmar, será uma bênção para o estado. Afinal, o Paraná, um dos

18 | Agro DBO – setembro 2012

maiores produtores do grãos do país, não dispõe de área para ampliar as lavouras. Para viabilizar a nova fronteira, faltava tecnologia. Não falta mais. Ela integra outras tecnologias já conhecidas dos produtores rurais, como a iLP (integração Lavoura-Pecuária), aplicação de calcário e gesso a lanço, plantio direto adaptadas pelos pesquisadores do Iapar – Instituto Agronômico do Paraná às condições de clima e solo da re-

gião. “Não é mais uma tecnologia de prateleira. Ela já está aprovada na prática”, diz o engenheiro agrônomo Rafael Franciscati dos Reis, coordenador do Programa de Integração Agricultura, Pecuária e Floresta da Cocamar – Cooperativa dos Cafeicultores de Maringá, umas das empresas envolvidas no resgate do Arenito Caiuá. A outra é a Coamo – Cooperativa Agropecuária de Campo Mourão, no Oeste do Paraná. Em quatro anos, a


A integração tecnológica pode provocar no Arenito revolução similar à proporcionada pelo plantio direto nos Campos Gerais nova tecnologia foi implantada em 40 propriedades de associados da Cocamar. No total, esses produtores já integram a agricultura com a pecuária em 20 mil ha, com plantio de 10 mil ha de soja e aproximadamente 5 mil de milho–safrinha. “Se os associados ajudarem, faço outra Cocamar no arenito”, promete Luiz Lourenço, presidente da cooperativa. Hoje, os associados da Cocamar cultivam 300 mil ha de soja no estado. “A área explorada no arenito é de 3,2 milhões de ha, contando cana, mandioca, reflorestamento, café, seringueira e cerca de 2,07 milhões/ha de pastagens. Se os pecuaristas aderirem, poderemos ter de 300 mil a 500 mil hectares para plantar soja e de 150 mil a 250 mil para cultivar milho-safrinha, sem abandonar a sua principal atividade”, explica. Luiz Lourenço acredita que a nova tecnologia pode repetir no arenito o mesmo fenômeno que trouxe o plantio direto para os Campos Gerais, que, até os anos 70, só conseguia explorar a terra com pecuária de corte em regime extensivo. Como no caso do arenito, o problema estava no solo. Assentado sobre uma laje de pedra e raso, o solo era muito suscetível à erosão. Até formar ou reformar pasto, com tombamento do solo, era arriscado. Bastava uma chuva para levar todo o solo embora. “Hoje, a região de Campos Gerais tem uma agricultura tão produtiva quanto a da terra roxa do Paraná. O plantio direto resolveu”, lembra. Para quem pretende investir em agropecuária no arenito, a grande vantagem está no baixo preço da terra em comparação ao de outras áreas do estado. No arenito, se compra um hectare pagando o equivalente a 330 sacas de soja. Em outras regiões de produção de grãos, não se compra um hectare por menos

Oswaldo Zaguine já integrava agricultura com pecuária, mas a conta não fechava. “Agora fecha”

de 1.000 sacas. Outra vantagem é que o arenito está situado numa região dotada de boa infraestrutura de armazenamento de grãos, estrada, ferrovia e comércio, e dista menos de 1.000 quilômetros de um dos principais portos de embarques de grãos do país, o de Paranaguá. Além das 40 propriedades que foram transformadas pela Cocamar em unidades de demonstração de tecnologia, a empresa já capacitou 20 dos seus 90 engenheiros agrônomos de campo para atender os produtores da região do arenito. O coordenador do Programa de Integração da Agricultura com a Pecuária e Floresta da Cocamar aposta no “efeito-vizinho” para atrair os produtores que têm propriedades no Noroeste do Paraná. Para ele, disseminar a nova tecnologia está mais fácil. “Há quatro anos, quando começamos a difundi-la, a resistência foi grande. Não sem razão: não tínhamos nada prático para mostrar. Em três anos, conseguimos convencer 12 produtores. Nos últimos 12 meses, atraímos mais 28”, conta Franciscati. “Não era fácil, mesmo diante da situação quase calamitosa na região. Na média, as propriedades que exploram

a pecuária não conseguiam e nem conseguem ter lotação maior do que 1,2 unidade animal (540 quilos de peso vivo) por ha e produzir mais do que cinco arrobas na mesma área, o que dá uma renda bruta anual de R$ 450,00”. No sistema mais conservador, o Iapar recomenda duas safras consecutivas de soja e 30 meses seguidos de pasto. No sistema mais avançado, a entidade propõe alternar uma safra de soja no verão e 18 meses seguidos de pasto. “Foi a minha salvação”, diz Oswaldo Zaguine, dono da fazenda Tobiatã, no município de Perobal, um dos 107 da região noroeste do Paraná. Há três anos, Zaguine já estava decidido a vender a propriedade, que tem área útil de 1.500 ha. “A conta não fechava”, lembra. Ele integrava a agricultura com a pecuária, mas, por falta de tecnologia, não conseguia bom resultado com nenhuma das duas atividades. Na época, a soja era usada para viabilizar a reforma de pasto degradado e após a colheita do grão a área era cultivada com aveia, que teria dupla função, a de servir de pasto de inverno para o gado e produzir setembro 2012 – Agro DBO | 19


Tecnologia Além dos veranicos habituais na região noroeste, o maior entrave ao desenvolvimento das lavouras anuais no Arenito Caiuá é a erosão do solo

A soja precoce permite colher em março e entrar em seguida com milho-safrinha ou capim, a tempo de pegar as chuvas do outono

palhada para o plantio direto da oleaginosa na safra de verão seguinte. Como a temperatura no inverno no arenito é mais quente do que nas demais regiões do Paraná, a aveia não desenvolvia bem e sua produção não era suficiente para alimentar o gado no inverno nem para fornecer palhada para o plantio direto da soja. Além de não alimentar o gado no período de maior escassez de forragens, a palhada insuficiente para cobrir o solo tornava a área muito sujeita à erosão e a lavoura muito vulnerável a veranicos. Já o viço do pasto reformado após a soja não durava muito tempo. “No primeiro ano, a lotação do pasto, que aproveitava o adubo residual da soja, era alta. No segundo, caía para metade. No terceiro, desabava. No quarto ano, era semelhante à do pasto totalmente degradado”, conta Zaguine, lembrando que o gado só saía da fazenda com idade entre 36 e 40 meses. “Cheguei a ter 2.800 cabeças na fazenda, mas, há três anos, o rebanho caiu para 1.320 e a pro-

20 | Agro DBO – setembro 2012

dução não passava de 500/600 bovinos (machos e fêmeas) por ano”, conta. “Nesse momento, conclui que agricultura e pecuária ao mesmo tempo era um mau negócio e decidi vender a propriedade”, lembra. Zaguine só não vendeu a fazenda porque, na ocasião, conheceu o engenheiro agrônomo Alessandro Pedrozo, da Cocamar. “Ele me convenceu a mudar. Na primeira safra da soja com a nova tecnologia, colhi 62 sacas. Na safrinha de milho, colhi 100 sacas. Na segunda safra de soja, a de 2011/2012, colhi 38 sacas. Não foi ruim. Enfrentamos um veranico de 40 dias e mesmo assim, eu colhi 38 sacas. Quem fez lavoura normal não colheu nada, demonstrando que, com a nova tecnologia, a lavoura enfrenta melhor uma seca prolongada”, diz. Em 508 ha, apesar do veranico, ele colheu 20 mil sacas de soja. O melhor, segundo o fazendeiro, foi o reflexo positivo que a nova tecnologia trouxe para a pecuária de corte. Em 1016 ha de pasto perene, das quais 508 ha ainda de-

gradados, ele mantém atualmente um rebanho de 2.000 cabeças, das quais 900 vacas. Contando a engorda no pasto de inverno, ele vendeu 900 cabeças de gado gordo (machos e fêmeas) em 2011, produzidos apenas a pasto e com idade entre 18 e 24 meses. “Além de encurtar o ciclo de 36-48 meses para 18-24 meses, eu estou produzindo o gado apenas a pasto, o sistema mais barato de engorda”, explica. Zaguine já traçou a meta para o futuro: vai plantar soja em 750 ha e ter pasto perene em 750 has renovados a cada dois anos. “Minha meta é produzir 45 mil sacas de soja, 37,5 mil sacas de milho-safrinha e terminar 1.800 cabeças de gado gordo”, diz. A nova tecnologia para a região do Arenito Caiá foi gestada na Fazenda Santa Helena, no município de Cafeara, pelo engenheiro agrônomo Paulo Roberto Guerra de Carvalho. Ele foi o primeiro a testar a braquiária no lugar da aveia em consórcio com a lavoura de milho-safrinha. “Eu fui testando, após a soja, trigo, triticale e aveia. Na safra 2001/2002, experimentei a braquiária consorciada com milho-safrinha”, conta. Quem gostou da experiência foi o engenheiro agrônomo Sérgio Alves, pesquisador do Iapar. Além de orientar Guerra, ele resolveu montar o experimento na estação experimental do Iapar, no município de Xambrê, também no arenito. Mas a grande sorte, na opinião de Alves, foi o lançamento de soja transgênica precoce e de crescimento contínuo. “Foi a cereja do bolo”, diz. “Em primeiro lugar, viabilizou o melhor controle da braquiária para o plantio direto da soja. Em segundo lugar, permitiu a colheita em março, viabilizando o plantio do milho-safrinha ou o capim a


tempo de pegar as últimas chuvas do outono, importantíssimas para o desenvolvimento dessas plantas. Em terceiro lugar, tornou a lavoura de soja mais segura. O seu hábito de crescimento contínuo faz com que, se a lavoura pegar um veranico na primeira florada, a planta aproveita a florada seguinte”, diz o pesquisador do Iapar, lembrando que um dos principais problemas no arenito era, exatamente, o alto risco de ocorrência de veranicos em dezembro/janeiro, auge do desenvolvimento da soja. Além dos veranicos, o maior entrave para o desenvolvimento das lavouras anuais na região é a erosão do solo. Uma parte do arenito é formado por argissolo e outra pelo neossolo. No argissolo, o problema está nas texturas do solo (arenoso) e do subsolo (argiloso). Essa singularidade faz com que a água de chuva se infiltre rapidamente e ao atingir o subsolo perca bruscamente a velocidade de penetração. Se o solo estiver descoberto, a área se encharca e com o peso começa a escorrer, provocando erosão. Se a chuva for muito forte, o solo é levado. No neossolo, o problema é o oposto: o solo e o subsolo tem menos de 5% de argila e formam uma camada porosa de até dois metros de profundidade. Como não retém umidade, torna a lavoura muito vulnerável a qualquer veranico. Além disso, como o solo e o subsolo são instáveis, o neossolo é muito sujeito à erosão, com formação de imensas vossorocas. Para vencer esses obstáculos, a primeira recomendação é de que não se tombe a área de pasto degradado para o plantio da primeira safra de soja. Para corrigir o solo, o produtor, segundo o Iapar, deve aplicar calcáreo e gesso a lanço um ano antes de fazer a lavoura e sem incorporar os insumos ao solo. Na mesma época, o produtor deve eliminar mecanicamente todos os

focos de erosão e em seguida plantar capim para não deixar nenhum metro de solo descoberto. Se o pasto for de gramão, o técnico manda aplicar o herbicida seis meses antes da safra de verão. “Antes de seis meses, o gramão não apodrece e não permite um plantio uniforme da soja”, diz Alves. Após a colheita da soja, o produtor deve plantar, com plantadeira de grãos, o capim. Se for plantar milho-safrinha, deve intercalar uma rua de capim e outra de milho. Após a colheita da soja de primeira safra, deve-se plantar a braquiária ruziziensis, que, além de oferecer um bom pasto de inverno, desseca fácil, deixando uma boa palhada para o plantio direto da soja. Já após a colheita da soja de segunda safra, o pesquisador

do Iapar recomenda o plantio das braquiárias Piatã ou MG-5. Esses capins são mais produtivos e nutricionalmente mais ricos. No sistema mais avançado, em que se alterna uma safra de soja e 18 meses de pasto, Alves diz que é melhor plantar o capim Piatã ou MG-5. Além de alimentar o gado e evitar a erosão ao manter o solo coberto, a grande vantagem de intercalar soja com capim é, também, aumentar o teor de matéria orgânica no solo, uma grande deficiência da região do arenito. “Vou fazer um experimento de, em vez de adubar a soja, adubar o pasto. Estudos preliminares indicam que a produtividade da soja cresce à medida que aumenta o teor de matéria orgânica no solo”, conta.

Braquiária em rua do milharal: receita para aumentar o teor de matéria orgânica no solo e evitar erosão

setembro 2012 – Agro DBO | 21


Entrevista

Um debate sobre o papel da Embrapa Presidente da instituição desde 2009, o engenheiro agrônomo Pedro Arraes, de 59 anos, faz um balanço do seu primeiro mandato.

F

ormado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Pedro Arraes é pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão há 32 anos, mestre e doutor em melhoramento e genética de plantas pela universidade americana de Wisconsin e pós-doutor em genética molecular e marcadores em feijoeiro comum pela Universidade da Califórnia (EUA). Na Embrapa, foi pioneiro do programa de melhoramento genético, que resultou no lançamento de novas variedades de feijão. Uma delas é a cultivar pérola, um tipo de feijão carioca, que recebeu essa denominação numa referência ao desenho do grão que lembra a calçada de Copacabana. Entre 2004 e 2007 coordenou em Washington, EUA, a representação local do Labex – Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior. A seguir, trechos da entrevista concedida no mês passado à Agro DBO. Agro DBO – Se fosse resumir seu primeiro mandato, qual seria o seu legado? Pedro Arraes – A Embrapa caminha pra frente, tem suas características. Estabelecer prioridades foi o foco, e em segundo lugar foi enfatizar fortemente a metodologia científica. Tivemos um processo de reorganização e consolidação muito grande do PAC Embrapa. Inauguramos agora recentemente mais um centro de pesquisas em Sinop, Mato Grosso. Criamos toda uma área internacional, aliás, fortíssima, a Embrapa hoje é internacional, de fato e de direito, com estatuto aprovado, inclusive, e isto é importante, porque as pessoas às vezes só veem o lado de que só estamos ajudando os países africanos e caribenhos e na verdade há uma troca muito grande e se ganha muito com esse intercâmbio. E no ano passado tivemos o lançamen22 | Agro DBO – setembro 2012

to da Plataforma Brasil-África-América Latina de inovação tecnológica, e esse é o mais novo marco da consolidação da Embrapa como uma empresa realmente internacional. Realizamos ainda uma reorganização interna, uma preocupação com a gestão interna, criamos uma diretoria do plano de tecnologia da informação e a secretaria de negócios em Londres, e que torna a Fundação Eliseu Alves como um braço privado. Agro DBO – Como o senhor reage ao fato de a Embrapa ter solicitado à FAO um aporte de 500 mil dólares para cada plataforma (África – Brasil e Latina América / Caribe – Brasil) e ter o pedido negado? O Brasil não tem prestígio com o atual diretor geral da instituição, o brasileiro José Graziano? Pedro Arraes – Não é que a FAO tenha negado, na verdade tivemos

uma captação em torno de US$ 6 milhões junto a diversos parceiros, como a Bill Gates Fundation, que participou com US$ 2,5 milhões, tivemos participação da Inglaterra, Banco Mundial, do Banco Interamericano (BID), etc. No caso da FAO há uma burocracia enorme, depende de programação e planejamento, e isso é demorado para se ter uma palavra final. Agro DBO – Por que essas plataformas não têm participação do departamento que cuida do assunto na empresa, o DPD? Por que as tais plataformas estão em um site que não fica hospedado no domínio embrapa.br e sim nos EUA? Pedro Arraes – Há uma confusão nisso, ela tem um site especial, porque a gente está lidando com vários sócios, a América Latina, África, Europa e USA. O pesquisador brasileiro entra em contato com outro pesquisador em outros continentes, e aí se estabelecem as propostas e trocas de ideias e projetos de pesquisas. Só depois de prontos os projetos iniciais entre os pesquisadores é que os comitês da Embrapa e dos parceiros avaliam esses projetos, para dar prosseguimento. O que precisa ser entendido é que a plataforma não é da Embrapa, ela envolve os seus parceiros. Agro DBO – A região do Mapito, que engloba parte dos estados


do Maranhão, Piauí e Tocantins, é a novíssima fronteira agrícola do Brasil. Culturas como soja e milho predominam. Apesar da importância da região, a Embrapa possui apenas um escritório de transferência de tecnologia na cidade de Balsas (MA). Por outro lado, a diretoria da empresa lançou recentemente a pedra fundamental de uma nova unidade de pesquisa em São Luís, capital do estado, região inexpressiva na produção agrícola. A nova unidade, ainda em instalação, está localizada dentro de uma área pertencente ao Incra e tem sido constantemente fechada por disputas fundiárias. A escolha de São Luís foi equivocada para se instalar a nova unidade da Embrapa? Por que foi escolhida a capital? Interesses políticos? A nova unidade não deveria estar em Balsas ou em outro município pertencente à região do Mapito? Pedro Arraes – Não, não houve interesses políticos. Na verdade a unidade já saiu do papel. Já temos 68 pessoas trabalhando lá, pesquisadores transferidos de todo o país. Tive a oportunidade de ir lá, e ter contato com eles. Uma unidade da Embrapa não necessita estar dentro de uma região polo, a Embrapa Soja está em Londrina, mas a soja migrou para o país inteiro. Na questão das invasões você tem razão, mas isso foi re-

solvido, nós tivemos que mostrar que a Embrapa iria fazer pesquisas e beneficiar a população local, pois havia sido vendido às pessoas que aquilo iria virar um enorme loteamento de casas. O que eles queriam era preservar aquela área, que é um local muito bonito, e isso está sendo feito. Agora, o trabalho de pesquisa e de campo será em Balsas. Agro DBO – Como o senhor vê o fato de que as variedades de soja e milho cultivadas nesta região terem baixa participação de materiais com genética da Embrapa? Pedro Arraes – Tivemos uma reunião recente para tratar desse problema. Vamos reestruturar os programas de pesquisas. Temos hoje 54 programas em andamento, e vamos eleger as prioridades da região para as três principais culturas, (milho, soja e algodão). Entretanto, é importante colocar aqui que não é papel da Embrapa dominar o mercado, isso é para a iniciativa privada. A Embrapa tem seu papel no mercado, e vai participar com material genético, porque isso ajuda a regular o mercado, os preços e a qualidade dos produtos. E temos parcerias com diversas empresas, entre elas a Basf,

com quem temos a soja GM, já em fase de multiplicação, aguardando aprovações de países importadores, como a China, entre outros, para que possamos iniciar a comercialização. Agro DBO – A Embrapa possui unidades de pesquisa na região norte: Macapá, Boa Vista, Manaus e Rio Branco, dentre outras, que têm foco de atuação muito amplo, indo do manejo florestal, melhoramento do guaranazeiro, avicultura, produção de banana e extrativismo vegetal. Tal situação é típica de ausência de foco, leva a resultados irrelevantes para a agricultura. A diversidade genética da região poderia ser explorada sustentavelmente, gerando renda e emprego. As unidades de pesquisa da Embrapa localizadas na região norte do Brasil não carecem de mais foco em sua atuação? Pedro Arraes – A gente não deve olhar as unidades da Embrapa no Norte como uma coisa só. Por exemplo, temos no Acre uma unidade com um trabalho bastante

setembro 2012 – Agro DBO | 23


Entrevista Estamos fazendo uma análise de longo prazo sobre a agricultura brasileira e o papel que a Embrapa deverá desempenhar no futuro interessante. Há pesquisas de pecuária, de reflorestamento e até de apicultura, segmento que vai despontar bastante na região. Analisando uma a uma, em Manaus teve dificuldades de identidade, antes tinha um foco mais voltado para a seringueira, mas tem o programa do guaraná, que é muito importante para a região, e tem o programa do óleo de palma, em parceria com a unidade de Belém. Em Belém já temos uma configuração diferente, pois existe mais pecuária e agricultura do que no estado do Amazonas. Mas nós estamos reestruturando os focos de pesquisas nessas unidades do norte. Agro DBO – O senhor é favorável à tese de que a Amazônia brasileira deva ser colocada num pedestal para ser apenas protegida e contemplada, enquanto ONGs internacionais exploram a riqueza da biodiversidade disponível? Essas ONGs andam vendendo até crédito de carbono. Não há desperdício de recursos públicos? Pedro Arraes – Nós temos que considerar que a Amazônia tem 25 milhões de habitantes. Eles precisam comer e se vestir. É claro que a floresta deve ficar em pé. Mas a gente sabe que a Amazônia não é uniforme, ela tem áreas que são aptas à produção de carne, por exemplo, ou de agricultura adaptada à região. Acho que se deve ter um foco mais específico e é nisso que estamos trabalhando agora. Aqui no Sul e no Sudeste a demanda é latente, é maior e específica, todo dia vem gente que bate na nossa porta e nos faz focar. Lá a demanda é diferente, é ocasional, e tudo é distante. Agro DBO – Por que estas unidades do norte não focam na exploração sustentável da diversidade genética existente? 24 | Agro DBO – setembro 2012

Pedro Arraes – Algumas unidades do norte focam, sim. A unidade de Belém está com foco num programa muito interessante de biotecnologia de espécies da Amazônia, mas a administração de um programa desses é muito abrangente, envolve o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama, o Cenargen, a Suframa, e ainda outros ministérios. O que se deve entender é que a legislação ambiental hoje é muito restritiva nessas questões, inclusive para a pesquisa. Agro DBO – O programa iLPF – integração Lavoura–Pecuária– Floresta é vendido para a sociedade brasileira pela diretoria da Embrapa como uma panaceia para boa parte dos problemas da produção agrícola brasileira. No entanto, carece ainda de um estudo de eficiência social e econômica, isto é, não há estudos sócio–econômicos aplicados sobre a nova tecnologia, demonstrando que ela é viável. O programa iLPF é viável econômica e socialmente? Pedro Arraes – Acredito plenamente nos benefícios econômicos e sociais, e temos vários indicadores de que a tecnologia da iLPF é viável. Nós temos hoje 192 pontos de demonstração dessa tecnologia. Agro DBO – O senhor aplicaria esta tecnologia em sua propriedade? Pedro Arraes – Vou começar a aplicar em minha propriedade, lá em Uruguaiana (RS), na pecuária e no arroz. Agro DBO – No primeiro semestre de 2012, a mídia publicou artigos e editoriais sobre a perda de competitividade da Embrapa no cenário nacional de tecnologias agropecuárias, notadamente cultivares (Estadão, Valor

Econômico). Por que a Embrapa não se posicionou em relação aos artigos? O senhor concorda com essas críticas? A Embrapa perdeu espaço? Não é mais competitiva? Não presta mais relevantes serviços para a agricultura brasileira? A empresa foi defendida por artigos de amigos, como os ex-ministros Turra e Delfim Netto, que não entraram no mérito das críticas. Pedro Arraes – Não é bom a gente falar da gente mesmo. O ex-ministro Delfim Netto nos solicitou informações e foi devidamente instruído sobre o que acontece. Da mesma forma o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, que se manifestou a respeito. Nós temos exemplos muito claros, a Embrapa é a única empresa do mundo que vai liberar um material genético, um OGM de feijão, resistente ao mosaico-dourado, que é vírus, uma tecnologia que nenhuma empresa de pesquisa, privada ou pública, já trabalhou com essa área. Vamos iniciar a multiplicação, dentro de alguns meses vamos para a comercialização. Temos vários pontos que podem ser ressaltados, como o da rede FertiBrasil, para a área de fertilidade, em parcerias com a iniciativa privada, temos a nanotecnologia, e o único laboratório do mundo, gerando resultados com pesquisas nos filmes comestíveis, também com quebras de paradigmas. O próprio sistema da iLPF é revolucionário, porque envolve a questão das mudanças climáticas. Dentro de pouco tempo vamos lançar a Weber Agritech, um programa que nos dá toda a capacidade de fazer transferência de tecnologia para os técnicos no campo. Estamos lançando o Web Ambitech, que é pegar o Código Florestal e decodi-


ficar isso, e o produtor rural terá as opções para recuperar suas áreas com ganhos de produção. Contratamos 2 mil novos pesquisadores na Embrapa, e estamos com 4,5 mil pesquisadores com nível superior. Estamos montando um portfólio de georreferenciamento, que visa mapear a agricultura brasileira como um todo, num trabalho de várias unidades da Embrapa com universidades brasileiras. Estamos tocando um trabalho que vai muito além do meu mandato. A proposta, batizada com o nome 40 + 20, é realizar uma análise de longo prazo sobre a agricultura brasileira e o papel que a Embrapa deverá desempenhar no futuro. O nome é uma alusão ao quadragésimo aniversário de fundação da Embrapa, em 2013. Vamos fazer um questionamento tentando obter informações, de forma orga-

nizada, baseadas em experiências internas e externas, no sentido de moldar alguns pilares que a Embrapa deveria seguir no futuro. Então, temos uma série de ações estruturantes, temos 1.200 projetos de pesquisas em andamento. O que estamos fazendo? Estamos tentando agregar informação e pesquisa em todas as áreas, até mesmo na indústria sucroalcooleira, onde a Embrapa não trabalhava antes, e assim temos uma noção clara do esforço que estamos fazendo e do que devemos fazer. É natural que exista discordância naquilo que estamos fazendo, e é verdade que a gente incomoda interesses de muita gente, mas nós não podemos ter programas iguais aos da iniciativa privada, temos de ter programas de longo prazo, mais amplos, porque essa é a função da atividade pública.

Agro DBO – Sobre aquecimento e mudanças climáticas. Não existe uma posição clara da Embrapa sobre essas polêmicas questões. Elas têm sido contestadas mundo afora por diversos cientistas. Qual seria a posição da Embrapa? Pedro Arraes – Temos vários cenários, não significam que vá acontecer. Fizemos o desenho de cenários do que aconteceria com a agropecuária na hipótese de aquecimento de 2, 3 ou 5 graus Celsius, esse é o nosso papel. Mas eu tenho tido sempre a preocupação, em qualquer área da ciência, de analisar quando todo mundo vai para o mesmo caminho, é sempre importante o contraditório em qualquer estudo científico. Obviamente, nessa questão climática, há uma polêmica, e, seja acreditando ou não, devemos nos preparar para o que possa acontecer. Esse é o papel da Embrapa.

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Capa

A grande safra Vai começar o plantio de soja. Se o clima ajudar, o Brasil pode colher 83 milhões de toneladas e bater novo recorde de produção Marianna Peres

Plantadeiras em ação no ano passado, em área recem-aberta. A partir do dia 15, elas voltam a campo no Centro-Oeste, desta vez para a safra 2012/2013.

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A

safra de soja 2012/2013 no Brasil começa mais agitada do que nunca. De um lado, a conjuntura favorável de preços que promete remunerações históricas e de outro, a ânsia em se aproveitar o momento da melhor maneira possível, vontade que abre brechas para ganância e amadorismo. Antes do primeiro grão semeado, uma certeza é de conhecimento geral: o de que a nova temporada não admitirá erros. O novo ciclo, garantem os especialistas do segmento, será o da produtividade, momento em que tecnologia, capricho e manejo serão indispensáveis para tornar bons preços em lucro e fazer com que o Brasil rompa a casa das 80 milhões de toneladas, superando pela primeira vez o maior produtor e exportador mundial da commodity, os Estados Unidos. No que depender dos agricultores, os recordes estão assegurados porque o foco é apenas um: aumentar a produção. Pelo menos na teoria, a safra 2012/2013 já bateu um recorde, o do otimismo generalizado, ‘insumo’ adicionado à temporada. Maior produtor de soja do Brasil, Mato Grosso começa a plantar a partir do dia 15 deste mês de setembro, com o encerramento do vazio sanitário – período de proibição de cultivo de soja na entressafra. Dados da Andav – Associação Nacional dos Distribuidores de Produtos Agrícolas e Veterinários indicam que o consumo de defensivos agrícolas deve chegar a 195 mil toneladas, 15% a mais do que em 2011. Deste total 48% serão consumidos nas lavouras de soja. A Agroconsult revisou para cima a projeção da área plantada no Brasil. “Há cerca de três meses, a avaliação era de uma acréscimo de 2,2 milhões de hectares sobre a superfície atual, de 25 milhões/ha. Agora, cremos em 3 milhões/ha, que dentro de uma estimativa de produtividade média de 49,4 sacas/ha, pode render 83,7 milhões/t”, explica Marcos Rubin, analista da consultoria. Dos 3 milhões de ‘novos’ hectares, 33% virão de Mato Grosso, “estado com a maior capacidade de agregação de áreas, seja pelo estoque de terras de pastagem, seja pela possibilidade de migração de culturas”. A revisão dos números deriva do cenário de preços bons à soja e pouco animadores para o algodão, por exemplo, como também da quebra da safra norte-americana de grãos, fortemente afetada pela estiagem, que elevou as cotações por pressão da demanda. Conforme o levantamento da Agroconsult, a produtividade média passará neste novo ano-safra de 52 sacas para 53, em Mato Grosso, de 41 para 50 no Paraná e de 26 para 41 no Rio Grande do Sul. Mas entre a realidade da seca que impõe perdas de quase 11 milhões/t aos EUA (o USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos revisou para baixo as estimativas de produção, de 83 milhões/t para 73,26 milhões/t) e a possibilidade de novos recordes de preço setembro 2012 – Agro DBO | 27


Capa A safra 2012/2013 pode ser a maior de todos os tempos, mas pode ser também a mais cara, conforme alerta o Imea.

e produção, há um fator importantíssimo chamado clima que tanto pode amenizar as perdas dos agricultores norte-americanos, como impactar o desenvolvimento da futura lavoura sul-americana e tirar do Brasil a chance de se tornar o maior fornecedor mundial de soja. Essa obrigação imposta pela conjuntura de mercado ao Brasil é considerada controversa dentro do agronegócio nacional porque ela mistura euforia com cautela. Historicamente, em anos de cotações elevadas também aumentam os custos de produção e diante de uma safra gigantesca, como apontam todas as projeções privadas feitas no Brasil até o momento, a falta de logística – transporte e armazenamento – pode corroer parte dos lucros e o pior, transformar o sonho das estimativas em um pesadelo real porque há riscos de o investimento não ser remunerado como o esperado. Uma das fortes variantes para majoração dos gastos é a ascendência do dólar, moeda de referência no segmento. Na planilha de custos elaborada pelo Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária para a nova temporada, o sojicultor mato-grossense terá “a safra mais cara de todos os tempos”, anuncia Cleber Noronha, analista da instituição. Influenciado pela escalada da taxa de câmbio, o custo total por hectare plantado ficará em R$ 2,10 mil por hectare, 28% acima da média registrada em igual período do ano passado, de R$ 1,64 mil. No período, a taxa de câmbio avançou 27,32%, passando de R$ 1,61, base junho/2011, para R$ 2,05, base junho 2012. 28 | Agro DBO – setembro 2012

Segundo estimativas, a área plantada no país deve chegar a 25 milhões/ha.

Menos eufórico, e com os dois pés no chão, o economista da Farsul – Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, é contundente ao afirmar que não se deve plantar com a intenção pura e simples de superar os Estados Unidos, porque quem fizer isso poderá estar assumindo um risco muito acima do que de fato poderia. “O que há neste momento, inclusive com o adicional da seca nos Estados Unidos, é um cenário conjuntural favorável e não estruturalmente positivo para alicerçar a vontade de produzir a qualquer custo”, adverte. Luz destaca que o Brasil não é o único “iluminado” do planeta com a pretensão de suprir o mundo das toneladas que os EUA não conseguirão ofertar. “Outros países sabem disso e precisamos ter muito cuidado para não passarmos do ponto. Temos de plantar pela estrutura e não pela conjuntura. Para não virar um tiro no pé, temos de ganhar com os preços – pela conjuntura – e não pela quantidade”. Se houver insistência em superar os Estados Unidos entraremos para história com um novo recorde, o de maior transferência de lucro já vista para o setor de transporte, que vai ganhar muito com fretes. Receitas de sucesso Aliando vocação e técnica, um gaúcho enraizado desde 1985 no Nordeste de Mato Grosso e um paulista radicado no Norte do Paraná revelam as res-


pectivas receitas para plantar soja, colher acima das respectivas médias regionais e, muitas vezes, sair incólumes de crises de mercado e adversidades climáticas. Em Campo Novo dos Parecis, a 396 quilômetros de Cuiabá (MT), o gaúcho Sérgio Stefanello, de 49 anos, estava a poucas semanas antes de dar início ao cultivo da soja colhendo milho na propriedade Porta do Céu, mas já pensando nas estratégias para o ciclo da leguminosa, carro-chefe da sua atividade. Assim que chegar ao fim o período do vazio sanitário, ele estará preparado para acionar as plantadeiras e entrar campo adentro tão logo as primeiras chuvas caiam sobre a região. Nesta safra, Stefanello cultivará 9 mil ha, dos quais 4 mil arrendados. “A gente não para mais, termina uma safra e começa outra. Há dez anos parávamos em abril e retomávamos só em outubro. Agora, sob trabalho contínuo temos dificuldades em dar férias aos funcionários”, exclama. Ele não diversifica a atividade com pecuária, mas agrega valor aos produtos ao produzir semente de soja e beneficiar soja, girassol e milho pipoca. De sua estimativa de produção de 27 mil toneladas, metade está vendida de forma antecipada. “Minha estratégia comercial é não me deixar levar pela euforia, como agora quando os preços são bons. Sempre comprometo 50% e o resto vou vendendo na medida da necessidade e da rentabilidade proposta. Na nossa atividade é o mercado que coloca preço e a gente fica sujeito à variação da produtividade”, completa.

Stefanello em campo de girassol: além da soja, ele produz sementes e beneficia soja, girassol e milho-pipoca.

Os 9 mil ha serão cobertos com 20% de superprecoce, 40% de precoce os 40% restantes com variedades de ciclo médio – todos os materiais utilizados são da Fundação MT. Dois terços da área serão cobertos com soja transgênica e um terço com cultivar convencional. Questionado sobre o uso dessas tecnologias, Stefanello, que é agrônomo, explica que a biotecnologia é uma escada até a lua e que atingimos apenas o quinto degrau. “Para quem planta cedo como eu, a utilização de semente transgênica ajuda no controle de plantas invasoras, deixando a área limpa para a safrinha e

A safra da recuperação A seca nos Estados Unidos, que agrava ainda mais a conflituosa relação entre oferta e demanda, passou a ser mola-mestra do planejamento da safra 2012/2013. Negócios fechados entre junho e julho deste ano têm reportes de US$ 25 a US$ 26 por saca, ante US$ 20 a US$ 22 no ano passado. Da previsão de 24,13 milhões de toneladas em Mato Grosso, quase 60% estavam comercializadas antes do final de julho e a “tradição” local mostra que a sojicultura começa com até 70% da produção travada. O que chamou a atenção, como frisa o gestor do Imea, Daniel Latorraca, é que esse grau de comprometimento é histórico, pois só era contabilizado em novembro. “A combinação de preços históricos com demanda crescendo acima da produção e o ganho cambial com a valorização do dólar frente ao real seduziram os agricultores. Para principais produtores de soja do Paraná e do Rio Grande do Sul, a safra 2012/13 será a safra da recuperação. Todos apostam no El Niño e nos investimentos que farão a partir de outubro quando derem início ao plantio. De acordo com a Aprosoja Brasil, o Paraná deve

bater as 15,5 milhões/t, enquanto o Rio Grande do Sul pode atingir a marca das 12,5 milhões, projeções históricas para ambos estados. Conforme levantamento do Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, a safra 2011/2012, atingida por uma forte estiagem, imputou perdas severas de produção e produtividade. Como explica o chefe do Deral, Francisco Carlos Simioni, a quebra sobre a soja foi de 23,8%. Da estimativa de inicial de 14,2 milhões/t apenas 10,8 milhões/t foram colhidas. No Rio Grande do Sul, a quebra foi de 50%. A estimativa era de atingir a maior produção da história, de 11,60 milhões/t, mas devido à seca, somente 5,99 milhões foram contabilizadas. A safra 2011/2012 foi marcada pela estiagem em todos os quatro grandes produtores mundiais de soja, pela ordem, Estados Unidos, Brasil, Argentina e Paraguai. Somente dos Estados Unidos há uma quebra de cerca de 11 milhões/t, o que juntando todos, dá mais de um Mato Grosso de perdas.

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Capa “A safra começa com planejamento, bom manejo e estabelecimento da lavoura. É preciso cuidar muito bem da nutrição do solo” com isso, facilitando o manejo da lavoura. Essa é uma ferramenta que deve ser usada. Ela não produz mais ou menos, mas facilita o processo produtivo que no conjunto com outras ações pode ajudar no ganho de produtividade”. A opção pela soja livre é uma forma de compensar a falta de rotação de culturas como também resposta às questões de mercado e financiamentos. “Pelo menos deve-se fazer uma rotação de tecnologias na mesma cultura”. Stefanello pode ser considerado um grande produtor dentro dos padrões superlativos de Mato Grosso, mas, segundo ele, não é por isso que ele se acha altamente tecnificado. “Sou conservador. Gosto de novas tecnologias, mas creio que o conhecimento é a minha maior tecnificação. Simplifico processo e dá certo. Não tenho receita de plantio. Faço o que deve ser feito, adubo na medida certa, conheço o que e onde planto e sigo recomendações agronômicas que dão resultado”. Segundo ele, não há uma receita pronta e acabada. E completa: “Quando me perguntam qual seria a variedade ideal para plantar digo que a ideal é a pagadora de contas”, brinca.

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Principal produtor de soja do país, Mato Grosso ocupa 75% da área plantada com variedades GM e o restante, com não transgênicas

Com seu jeito conservador e aplicado, ele vem colhendo de 55 a 58 sacas/ha, médias de produtividade excelentes frente à forte ocorrência de ferrugem e nematóides, e acima da média estadual de 52 sacas/ha. “Estamos plantando cada vez mais materiais de ciclo curto porque a distância dos centros consumidores dificulta a rotação de culturas e tenho ciência da vulnerabilidade à qual o solo fica exposto. No entanto, não há como deixar a soja de lado, é a cultura de maior liquidez e preço, deixa nitrogênio no solo para a safrinha. Mesmo assim, estamos criando um problema e as pragas, largartas e nematóides pedem cada vez mais tratamento com químicos e por isso acredito muito na evolução da biotecnologia”. Em Marilândia do Sul (PR), a quase dois mil quilômetros de Campo Novo dos Parecis, o paulista Luiz Meneghel Neto, de 56 anos, obteve média de produtividade de 60 sacas/ha na safra 2011/2012, contra média estimada ao Paraná de 41 sacas – a estiagem derrubou os índices na temporada passada. Na safra 2012/2013, a soja 100% convencional vai ocupar 2 mil ha, com previsão de colheita ao redor de 7,2 mil toneladas, das quais 25% estarão travadas no mercado futuro, com ganhos adicionais de R$ 3 a R$ 5 por cada saca de soja livre, segundo suas expectativas. Meneghel, terceira geração de uma família com raízes no setor sucroalcooleiro, credita o seu sucesso a fatores que, segundo ele, não têm nenhum segredo ou novidade. Na sua propriedade de 2,5 mil ha, a Estância 3M, perto de Londrina (PR), ele utiliza apenas sementes convencionais, todas da Embrapa/Fundação Meridional. Presidente da Fundação, ele acredita na soja convencional como nicho de mercado. “Sempre fiz essa opção por conta dos resultados”, garante. Além das sementes de qualidade, sempre convencionais, há quatro anos adotou a agricultura de precisão, ferramenta que, segundo diz, lhe rendeu consistência na produção e aumento da produtividade. Meneghel diversifica as atividades com cultivos de milho, trigo, aveia, centeio e triticale, pecuária bovina (tem plantel de 3 mil cabeças de gado nelore e limousin P.O.). “Talvez o diferencial em relação à produtividade possa estar na rotação de princípios ativos para evitar a resistência das plantas daninhas aos produtos químicos. Duas safras não têm o mesmo herbicida pós-plantio utilizado na anterior. Vimos esse resultado no campo e passamos a adotá-lo”. Apesar da ‘receita’, Meneghel acredita que seu “pulo do gato” seja a agricultura de precisão, pelo retorno que obteve após a sua introdução. Como gosta de reiterar, incrementou produtividade e reduziu custos.


Na contramão da tendência em prol das variedades geneticamente modificadas, Meneghel usa soja 100% convencional

Conhecimento científico O gestor do Programa de Monitoramento e Adubação da Fundação MT, Leandro Zancanaro, recorre a argumentos científicos para chamar a atenção dos agricultores. Afinal, para colher é preciso semear. Antes de pensar no futuro é imperioso cuidar do presente. “Uma saca de soja vale muito dinheiro hoje, e justamente por isso, não é o momento de arriscar e se passar por cima de conceitos já estabelecidos”. Como recomenda, neste ano, mais que nunca, o produtor deve concentrar investimento onde há resultado de produtividade. “A boa safra começa com bom manejo, bom planejamento e estabelecimento da lavoura,

porque é por meio desses cuidados que a performance da lavoura se guiará. Paranaense, radicado em Mato Grosso desde 1997, Zancanaro estuda adubação há 15 anos. “É preciso cuidar bem da nutrição do solo. Saímos de uma safra com produtividade de 60 sacas/ha com a soja e de até 140 sacas com milho. Exportamos nutrientes para fora do solo como nunca. Muita coisa foi embora com o grão. Agora é necessário adubar a terra com a mesma intensidade com a qual ela acabou de produzir e corrigir o solo em profundidade em pontos carentes da área total. Quanto mais se produz, mais se deve adubar. A grande produção é fruto da grande adubação”. O pesquisador e gerente executivo da Fundação Meridional no Paraná, Ralf Udo Dengler, endossa as preocupações de Zancanaro. ”Os resultados na lavoura dependem de um grande conjunto de fatores relacionados ao uso de tecnologias de produção, além de clima favorável. A correta aplicação das indicações técnicas no manejo da biologia, da física e da fertilidade do solo, no manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, na época de semeadura e na escolha da cultivar de melhor adaptação às condições edafoclimáticas, é decisiva para o sucesso e a rentabilidade das lavouras de soja”. Como lembra, o aprendizado se dá a cada safra, pois nos últimos anos os desafios têm aumentado muito e nas mais diversas áreas do conhecimento agronômico. Doenças como a ferrugem da soja no Cerrado, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e mofo-branco, pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, tem sido cada vez mais presentes nas lavouras e a frequência de doenças radiculares tem aumentado bastante. A mesma

Nicho de mercado Na contramão de tendências e estatística que mostram o avanço da transgenia sobre a área plantada no Brasil, Mato Grosso ganha destaque na oferta de soja livre de traços da biotecnologia e assim mantém um nicho de mercado cativo que atualmente ultrapassa o continente europeu e conquista adeptos na Ásia. O estado vem mantendo uma proporção média de cultivar 75% da área com variedades transgênicas e o restante não-transgênica, também chamada de convencional, ou soja livre. Considerando que o plantio ocupe 7,89 milhões/ha na safra 2012/2013 no estado, a soja livre cobriria quase 2 milhões de hectares, a maior área do Brasil para a oleaginosa. O gestor do Programa Soja Livre, Roger Augusto Rodrigues, a partir de outubro estará plantando seus 2,5 mil/ha em Diamantino (MT). O programa, criado em 2010, nasceu com o propósito de incentivar disseminação de cultivares convencinais no estado com a maior oferta de sementes. Como explica, o avan-

ço é resultado da expansão espacial da soja em Mato Grosso e não uma tendência. Rodrigues destaca que a oferta de sementes de soja convencional é restrita, mesmo havendo um bom leque de variedades de excelente produtividade, com até 75 sacas. “Temos cerca de 20 cultivares, isso deveria ser reduzido para dez e assim, ampliar a oferta das sementes”, sugere. O prêmio sobre cada saca, que deveria ser o maior incentivador do programa, ainda está aquém do que espera o produtor. “A remuneração extra de cerca de US$ 1,5 por saca não chega a ser um ganho, já que o manejo da soja livre é cheio de cuidados, com áreas de segregação e limpeza constante de equipamentos para que não haja contaminação. Como se vê, o capricho deve ser maior”. De acordo com ele, o teto para produção da soja livre é de cerca de 35% da oferta total, percentual onde se estabelece o nicho de consumo. “É por estratégia de mercado que o sojicultor se mantém fiel à soja livre”, frisa.

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Capa Desde quando chegou ao país, a ferrugem asiática já causou prejuízos de R$ 20 bilhões, média de R$ 2 bilhões por ano. situação se aplica às pragas, tais como percevejos e ácaros, bem como aos nematoídes de galha e de cisto, cuja ocorrência, em alguns casos, já se torna “incontrolável”. Como alerta, na contramão desta evolução tecnológica, está o mercado de commodities, que pressiona o agricultor e o leva a concentrar sua produção em soja no verão e em milho no inverno. “A adoção intensa deste sistema, sem rotação de culturas e cada vez mais concentrado nestas duas culturas e, associado ao fato de que as indicações técnicas têm sido, muitas vezes, relegadas a segundo plano, tem favorecido o desequilíbrio das principais doenças e pragas, não só da soja, mas também do milho. A poucos dias do início do plantio, técnicos alertaram associações e produtores para a grande quantidade de plantas guaxas nas regiões produtoras, grande parte delas infestadas com o fungo da ferrugem asiática. Este cenário é bastante preocupante, pois pode comprometer significativamente a safra 2012/2013 e a própria sustentabilidade do agronegócio brasileiro num curto espaço de tempo”, afirma Dengler. Quanto à produtividade, estima-se que com o melhoramento genético, germoplasma e biotecnologia será possível alcançar uma produtividade de 5 t/ha no futuro, bem acima do teto geral de 3 t/ha. O presidente da Aprosoja Brasil – Associação dos Produtores de Soja do Brasil, Glauber Silveira,

lembra que ainda existem entraves na busca pelo ganho por hectare plantado, como por exemplo, questões graves relacionados aos defensivos agrícolas. “Enfrentamos um problema de eficiência no controle da ferrugem asiática. Esse problema se chama patente. Só existem dois ingredientes ativos (os triazóis e as estrobirulinas) nas formulações capazes de controlar a doença, sendo que só um é efetivo no controle (estrobirulinas). Como não foram registrados produtos novos, a pressão de seleção de indivíduos resistentes aos ingredientes ativos cresce a cada safra e com isso aumentam as perdas devido ao fungo”. Desde a introdução no Brasil, a ferrugem asiática já causou prejuízos da ordem de US$ 20 bilhões, uma média de US$ 2 bilhões por ano/ano. “Por isso a Aprosoja Brasil encaminhou pleito no início de 2011 para que fossem priorizados os processos de avaliação de produtos com ingredientes ativos protocolados junto aos órgãos de registro de defensivos agrícolas (Mapa, Ibama e Anvisa), justificando a importância da cultura para o Brasil, os impactos da doença, os laudos técnicos da Embrapa comprovando a queda de eficiência dos produtos no mercado e as medidas que a Aprosoja tem empreendido para conscientizar os produtores sobre o monitoramento das lavouras.

O avanço dos transgênicos De acordo com o 1º acompanhamento de adoção agrícola da safra 2012/2013, divulgado em agosto pela consultoria Céleres, 23,9 milhões de hectares, ou, 88,1% da área total prevista, de 27,1 milhões ha, será cultivada com variedades transgênicas. Comparado com a safra anterior, haverá crescimento de 2,5 milhõe/ha na área semeada com variedades de soja transgênica. Considerando que a área total deve crescer 2 milhões/ha, “temos um novo avanço das variedades transgênicas sobre as convencionais”, aponta o engenheiro agrônomo e sócio-diretor da Céleres, Anderson Galvão. Ele explica que o contínuo crescimento desta tecnologia deve ser atribuído à crescente oferta de novas variedades adaptadas às diferentes regiões agrícolas do país e aos benefícios diretos e indiretos decorrentes do uso destas tecnologias. “Motivados por mais um ano de margens favoráveis, os produtores brasileiros investem cada vez mais em tecnologias que favorecem os ganhos de produtividade, como forma de potencializar o retorno da atividade. E nesse caso, a adoção da biotecnologia –

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sobretudo na cultura do milho – tem se mostrado uma importante ferramenta para auxiliar no incremento dos indicadores de produtividade do Brasil”. O relatório indica a intenção de plantio utilizando tecnologias geneticamente modificadas (OGM) entre tolerância a herbicidas (TH), resistência a insetos (RI) e combinadas pelos sojicultores brasileiros. A soja, carro-chefe do agronegócio mato-grossense, terá 86,2% da área prevista coberta por OGMs, que em sua quase totalidade serão tecnologia TH. Da estimativa de 7,50 milhões/ha pela Céleres, 6,46 milhões serão transgênicos, dos quais 6,45 mi (86%) TH. Nenhum hectare, em Mato Grosso, receberá a tecnologia RI e apenas 0,2%, ou 100 mil, RI/TH. No Paraná, dos 4,5 milhões ha que deverão ser semeados a partir de outubro, 82,5%, ou 3,92 milhões serão OGM. Deste total, 82,4% com tecnologia TH e apenas 0,1% com RI/TH. O Rio Grande do Sul segue líder na avaliação relativa dos OGMs. De uma área de 4,45 milhões/ ha, 98,9%, ou 4,40 milhões, serão cobertos com transgenia. Deles, 98,8% com tecnologia TH e 0,1% com RI/TH.


Novo modelo O Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil procura, por meio de experiências práticas, encontrar um novo modelo de produção para a soja brasileira. “Em seis ou sete anos, queremos dominar uma tecnologia que nos renda 90 sacas por hectare”, explica o presidente do Cesb, Orlando Martins. Atualmente, o conhecimento dominado garante em média 50 sacas, o que com um pouco mais de tecnificação vai a 60. “Precisamos ampliar esse rendimento e sabemos que caminho seguir, porque por meio do Desafio Nacional da Máxima Produtividade, temos cases neste nível, restando apenas o domínio para disseminar a receita”. O desafio busca a maior produtividade nacional da soja e premia o produtor-autor da façanha. A 4ª edição está com as inscrições abertas. Martins lembra que oito produtores atingiram essa média no desafio 2011/12. “Temos de ajustar esse conhecimento, mas sabemos que produtividades assim foram obtidas após uma distribuição espacial diferenciada das plantas, uso de reguladores de crescimento e em solos com maior capacidade de nitrogênio, adubação intensa e, é claro, controle eficaz de pragas e doenças. Temos uma luz no final do túnel, mas ainda o estamos atravessando porque as ferramentas mudaram, mas ainda nos baseamos em um modelo de 15, 20 anos atrás quando colhíamos de 30 a 40 sacas. Agora estamos falando em um potencial 125% maior”. Outro conhecimento adquirido com as edições é que o nível de nutrientes no solo, considerado baixo, nem sempre influencia de forma negativa o potencial produtivo. Martins acrescenta que existem porções com cerca de 60 ppm de potássio (teor do elemento quími-

Com as novas tecnologias em desenvolvimento, será possível alcançar 5 t/ha num futuro próximo, bem acima do teto geral de 3 t.

co no solo), outros com 150 a 200 ppm que necessitam de mais potássio para produzir as mesmas 60 sacas. Por isso, estamos aprendendo”. Entre a euforia da safra mais otimista dos últimos anos (apesar da ameaça da ferrugem asiática) e a promessa de recordes de produção pelo país, ecoa a preocupação com a logística da nova temporada. “Estamos no limite, vamos parar de crescer e o Brasil também”, exclama o presidente da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro. Até a safra 2011/2012, havia uma estimativa da entidade que apontava para uma perda anual de cerca de R$ 1 bilhão, recursos ‘queimados’ com custos de frete, apenas ao considerar a ausência da BR-163 na rota de escoamento mato-grossense, caminho mais curto e econômico para colocar a produção nos portos do Norte do Brasil, e, portanto, mais próximos de mercados como o asiático. Esse sonho acalentado há mais de 30 anos deverá estar concluído somente em 2014. Fávaro elogiou o Programa de Investimentos em Logística – Rodovias e Ferrovias, anunciado pela presidente Dilma Rousseff no final de agosto, mas foi cauteloso: “É importante a preocupação do governo em fazer um plano para investimentos em logística, mas o Brasil não precisa só de projetos, já tivemos o PAC 1 e 2 e agora o PAC Concessão, como está sendo apelido este novo plano. Chegou a hora de fazer obras. E precisamos fazer já, não podemos desperdiçar a oportunidade do Brasil ser um grande ‘player’ no cenário agrícola internacional”, afirmou Fávaro, que representa mais de quatro mil produtores de soja e milho de Mato Grosso. “Não podemos mais tratar o Brasil como o país do futuro. O futuro é agora”. setembro 2012 – Agro DBO | 33


Manejo

Grãos anfíbios Soja invade áreas de arrozais nas terras baixas do Rio Grande do Sul. Na próxima safra, deverá ocupar 300 mil hectares. Pablo Badivalli

Glauco Menegheti

Na várzea,

a soja é produzida em condições desfavoráveis.

C

om um crescimento histórico no preço da soja e alguns anos de revés nas cotações do arroz, os produtores não tiveram dúvidas: ampliaram a área da oleaginosa nas região sul do Rio Grande do Sul, que tem como característica as áreas de várzea, conhecidas como terras baixas. Para se ter ideia da aposta, há três safras a oleaginosa ocupou 66.468 hectares. Já na temporada 2011/2012, o tamanho da área mais do que duplicou, para 148.386 e a perspectiva, agora, é que o grão se espraie em 300 mil ha em 2012/2013. E os arrozeiros não pretendem parar por aí. A tendência é de aumento nos próximos anos. Não falta área para esta aventura comercial: na zona sul do estado

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existem 5 milhões de ha, dos quais 1 milhão com arroz e o restante dividido entre pousio e pecuária extensiva – somados a ainda tímida presença da oleaginosa. Na várzea, no entanto, a soja é produzida em condições desfavoráveis, pelas características do relevo: a drenagem é deficiente, o que acaba sendo péssimo para o grão de origem asiática. A possibilidade de inundação é iminente pela característica do solo: é muito raso e pouco permeável, não permitindo a infiltração da água. Com isso, a raiz da soja não desce a mais de 20 centímetros e a planta se ressente, seja na chuva, seja na seca. Um craque das chamadas coxilhas, as terras altas, passaria dificuldade, por essa condição. O Irga

– Instituto Rio Grandense do Arroz fez uma avaliação para saber quanto a planta perde sob condições de drenagem deficiente. Com dois dias de inundação, 15 sacas vão para o espaço. Já com quatro dias as perdas pulam para 25 sacas, ao passo que, em oito dias, são quarenta sacas. A pesquisa ainda não desenvolveu soja inteiramente adaptada às condições de terras baixas. A perspectiva, de acordo com a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Ana Cláudia Barneche, é de cultivares comerciais sendo disponibilizadas em quatro a cinco anos. No momento, existem cultivares que resistem um pouco mais ao estresse hídrico. O Irga, de acordo com o presidente, Cláudio Pereira, está preocupado com a situação. Se por um lado existe o estímulo à rotação de culturas, com a qual se pode combater o arroz vermelho e preto e reduzir custos, quebrando também o ciclo de pragas e doenças, também há preocupação pelo manejo. “Houve aumento do arroz vermelho e resistência ao herbicida do grupo inibidor da enzima ALS”, diz o presidente do instituto. Pela complexidade que envolve desenvolver variedades adaptadas à inundação, uma das propostas para adotar a cultura de sequeiro com mais segurança é via manejo, pelo estabelecimento do microcamalhão na lavoura. A equipe de mecanização do Irga desenvolveu uma plantadeira específica para semear culturas de sequeiro como soja, milho e sorgo em solos de arroz, em parceria com a KF, indústria de máquinas de Cândido Godoi. O equipamento é o primeiro a ser fabricado no Brasil e realiza, em


Um dos desafios de produzir soja na várzea é escolher as áreas mais altas do terreno, com maior facilidade de drenagem. uma única operação, a formação de elevações da superfície do solo e a semeadura de soja, denominada de microcamalhão. A plantadeira faz uma elevação no solo, sendo que a linha de semeadura fica na parte mais alta do monte. O objetivo é trabalhar com a drenagem otimizada e com a irrigação por inundação já empregada na cultura do arroz. A semente de soja não germina se ocorrer chuva pesada em menos de cinco dias após o plantio devido à saturação hídrica, pois o solo de várzea é de difícil drenagem. Com o sistema microcamalhão se reduz esse risco porque a semente fica mais alta que o perfil do solo. Por isso, em caso de chuva, o solo drena mais rápido e a semente não apodrece. Ana Cláudia Barneche, da Embrapa, recomenda que o espaçamento entre as linhas de plantio deva ser entre cinco a 10 metros, dependendo da declividade do terreno. A data preferencial para plantar a soja na várzea, segundo ela, é entre novembro e dezembro, quando não há mais as precipitações que marcam o inverno e a primavera no Rio Grande do Sul. Na última safra, nas 27 unidades experimentais no estado, a produtividade foi de 36 sacas – o que é considerado excelente para a condição de várzea. O custo, segundo o técnico do Irga, Pablo Gerson Badinelli, foi de 23 sacas por hectare. Um dos desafios de produzir soja nas terras baixas, de acordo com Badinelli, é escolher as áreas mais altas do terreno, com maior facilidade de drenagem. Quando se faz a irrigação no período seco, a água precisa ser escoada do terreno em 24 horas. Em áreas com risco de inundação, como beira de arroios, por exemplo, o Irga não recomenda o plantio. Também é desaconselhado implantar a cultura em áreas planas com declividade mínima. Badinelli lembra que também o cultivo da soja é novidade na região sul do estado, o que significa que as

Variedades de soja recomendadas pelo Irga

• Dom Mário 5.8 i • Brasmax Ativa • Brasmax Potência • Fundacep 57 e 59 • Coodetec 238, 236 e 219 • Embrapa 219 e 243 • Fepagro 36 • Syngenta 1059 • TMG 1067 equipes não estão preparadas. Ele aconselha planejar primeiro como será o dimensionamento de maquinário para plantio, tratos culturais e colheita, bem como treinar o pessoal. E é preciso ficar atento para a escolha das variedades. Na Agropecuária Canoa Mirim, localizada no município de Santa Vitória do Palmar, a produção de soja vem sendo conduzida há seis anos. Antes, nos anos 1970 e 1980, outras tentativas foram feitas, mas sem sucesso, pela total inaptidão das variedades e do manejo. A cultura de sequeiro ocupou tímidos 300 hectares. Isso, levando em conta a vastidão da área da fazenda, de 17 mil hectares – uma raridade no extremo sul do Brasil. Na temporada passada, foram 700 hectares e, na 2012/13, serão 1 mil hectares. “E a tendência é ampliar a área para 3 mil hectares”, diz o engenheiro agrônomo da empresa, Cláudio Wrege Leite. O carro-chefe, diz ele, é o arroz irrigado, que ocupa 5,6 mil hectares, acompanhado da pecuária extensiva, em outros 5 mil ha. A oleaginosa é utilizada em áreas infestadas com arroz vermelho, atingindo produtividade entre 30 a 35 sacas. No outro ano/safra é semeado o arroz, e assim sucessivamente. Apesar de o arroz ainda ser disparado o carro-chefe da propriedade, a oleaginosa deixa benefícios inegáveis ao sistema: termina com

o banco de sementes das infestantes, retém nitrogênio, que é extremamente positivo, reduz o custo de produção e permite uma produtividade maior ao cereal. “Conseguimos um incremento de até 10 sacas de arroz por hectare em áreas nas quais fazemos rotação”, afirma o agrônomo. Mas, passada pouco mais da metade de uma década, o agrônomo da Canoa Mirim confessa que ainda é difícil produzir soja na várzea. “Às vezes programamos uma irrigação por inundação em períodos de estiagem e vem uma chuva e compromete a produtividade da soja dramaticamente.” Por isso, ensina ele, a drenagem não pode durar mais do que 24 horas. Do contrário, a planta entra em estresse. Além de expandir os domínios da soja na várzea, sempre nos talhões com a melhor drenagem, a intenção é adotar o sistema de pecuária intensiva, engordando terneiros com pastagem de boa qualidade em rotação com a soja. Após ser cultivado no verão, o grão deixa espaço para a pastagem. No momento, diz não ter sido preciso aumentar a equipe para produzir a oleaginosa. Mas no momento

Claudio Leite confessa que ainda é difícil produzir soja na várzea

setembro 2012 – Agro DBO | 35


Pablo Badivalli

Manejo

O Irga e a KF adaptaram uma plantadeira para semear culturas de sequeiro em solos de arroz

que alcançar os 3 mil hectares, daí, sim, será preciso um time exclusivo. Depois desses anos, Leite confessa que a técnica de produzir o grão ainda não está totalmente dominada na várzea. Anualmente, são utilizadas três variedades, mas que não se repetem todos os anos. “Ainda estamos testando as cultivares, recebendo orientação das empresas fornecedoras.” Normalmente a propriedade utiliza as cultivares Coodetec 219, Fundacep 57 e 59, além das variedades Força e Titan. O produtor Leonardo Grupelli, de Arroio Grande, atesta que na sua região muitos arrozeiros estão

adotando a soja nesta temporada, embora não saiba quantificar. Ele, ao contrário, já é praticamente um veterano, com cinco safras de experiência. Mesmo assim, considera que ainda está aprendendo. As razões pelas quais ele agregou a oleaginosa ao seu sistema são as mesmas que as da Agropecuária Canoa Mirim: combater o arroz vermelho. Ele faz uso da soja RR, utiliza o glifosato e, assim, consegue controlar as invasoras. Grupelli aponta que no início é preciso investir muito na melhora do sistema de drenagem. “As nossas áreas não são preparadas e, por isso, existem dificuldades no manejo.” Ele

Resultado preliminar de produtividade

Santa Vitória

Capão do Leão

Jaguarão

Turuçu

Média

kg/ha

kg/ha

kg/ha

kg/ha

kg/ha

PF071932

3505

2081

3195

3228

3002

BRS 255 RR

3503

1830

3012

3083

2857

BMX ATIVA RR

2157

1865

2611

4198

2708

RA 516

2146

1565

3200

3862

2693

Genótipos

BRS 246 RR

2677

1845

2919

3193

2659

PF071978

2474

1990

2793

3362

2655

PF071936

2549

1843

2839

3206

2610

Fundacep 53 RR

2106

1947

2962

3371

2596

BMX APOLO RR

1608

1787

2773

4186

2589

FPS JÚPITER RR

1653

1829

2731

3929

2536

PF071973

2336

1918

2866

2868

2497

PF071996

2404

1833

2337

3308

2471

PF071946

2283

1699

2687

3122

2448

NA 5909 RG

1919

1717

3092

3046

2444

Médias

2380

1839

2858

3456

2673

36 | Agro DBO – setembro 2012

já ouviu falar do microcamalhão, mas no momento não enxerga como uma boa opção. “Em primeiro lugar, é preciso de uma umidade específica para formar bem o monte. Em segundo lugar, na sucessão soja-arroz é preciso nivelar novamente o solo, tendo mais um gasto para produzir.” O produtor chama a atenção que não é possível fazer plantio direto. Já Carlos Iribarren, de Capão do Leão, é outro que prefere uma boa drenagem ao sistema proposto pelo Irga, mas apenas por uma questão de custo. “Com uma drenagem muito bem feita, o solo fica pronto para plantar na rotação soja-arroz. Com isso, fazemos um preparo de solo para duas culturas, com a necessidade de apenas colocar as taipas para a semeadura do cereal.” Por drenagem bem feita ele entende utilizar a retroescavadeira nos drenos principais e uma valetadeira na microdrenagem. Na temporada passada, na sua primeira experiência com a soja na várzea, foram cultivados 70 hectares e, em 2012/13, pretende dobrar a área, para 140 hectares, com plantio previsto para novembro. No ano passado, ele conseguiu surpreendentes 57 sacas por hectare, com o custo de 23 sacas, contabilizando o arrendamento. “Choveu na hora certa na nossa região, de 100 mm a 150 mm e as plantas não sofreram estresse hídrico”, atesta o produtor. Embora ele arrende, o que é um fator limitante na sua decisão de plantio, Iribarren pretende continuar expandindo a soja na várzea. “Como rotação, é uma cultura muito interessante. Além do preço estar muito bom, o rendimento no arroz é incrementado em 10 a 12 sacas.” O certo é que a soja veio para ficar nas terras baixas e deverá compor a matriz produtiva da metade sul do estado cada vez com mais ímpeto. Pesquisa não parou Nos últimos cinco anos foram retomadas as atividades de desenvolvimento de novas cultivares de soja. Atualmente, a abordagem do melhoramento genético da soja está


sob a coordenação da Embrapa Soja. Também existe um projeto aprovado voltado à prospecção de genes para tolerância ao estresse de encharcamento em soja. A Embrapa tem feito um trabalho de pesquisa para desenvolver variedades tolerantes à inundação que envolve as unidades Clima Temperado, Soja e Trigo. De acordo com a pesquisadora Ana Cláudia Barneche, no mundo a maioria dos trabalhos de desenvolvimento de variedades está focado no problema da seca, não de encharcamento. A previsão é que sejam disponibilizadas sementes fiscalizadas em cinco anos. Daí a dificuldade de encontrar linhagens mais adiantadas. Quando isso ocorrer, a metade sul do estado terá uma alternativa de peso para compor o sistema da matriz de produção que engloba o arroz e a pecuária bovina de corte extensiva. Entre as características das linhagens que estão sendo pesquisadas no momento está a tolerância ao encharcamento e à seca numa só planta. “Na várzea, as condições de cultivo mudam rapidamente, passando da seca ao encharcamento num curto espaço de tempo. Por isso, o genótipo tem que aguentar um pouco das duas coisas”, explica a pesquisadora. No caso do encharcamento, a planta fica sem oxigênio e por isso tem que ter vias metabólicas para eliminar substâncias tóxicas que surgem com o excesso de água. A Embrapa conseguiu alguns materiais da região do rio Mississipi, nos Estados Unidos, e está trabalhando sobre eles e também com o banco de germoplasma da própria Embrapa. Atualmente, de acordo com Ana Cláudia, as atividades desenvolvidas na área do melhoramento genético da soja, são compostas pelas seguintes avaliações: n Blocos de cruzamento: com com­ binações específicas para áreas en-

Pablo Badirelli

No mundo, a maioria dos trabalhos de desenvolvimento de variedades foca o problema da seca, não o encharcamento.

Na várzea, as condições de cultivo mudam rapidamente, passando da seca ao encharcamento num curto espaço de tempo.

Por que a soja é um bom negócio nas áreas de várzea?

• Quebra de dormência de ervas

daninhas • Rodízio dos princípios ativos dos agrotóxicos Diminuição dos princípios ativos • dos agrotóxicos • Diminuição do efeito no solo de herbicidas inibidores da ALS • Com o uso da soja, há reciclagem de nutrientes • Todos os fatores acima reduzem o custo do preparo do arroz

charcadas, sendo realizado na Embrapa Soja (Londrina); n API – avaliação preliminar de primeiro ano, com 141 linhagens sendo testadas, provenientes de seleção realizada pela Embrapa Clima Temperado; n APII – avaliação preliminar de segundo ano, com 40 linhagens sendo testadas Embrapa Clima Temperado; n As avaliações dos ensaios de API e APII estão sendo realizadas em dois locais, o primeiro na estação terras baixas (área de arroz) e o segundo na área experimental da

BR 392 (área com declividade). Com isso é possível selecionar genótipos que tenham adaptação aos dois tipos de ambiente. n AFI – avaliação final de primeiro ano, com um grupo de seis linhagens, provenientes do programa de melhoramento de soja desenvolvido pela Embrapa Trigo/Embrapa Soja, as quais foram avaliadas em condições de várzea e que se encontram em avaliação final de primeiro ano (AFI). O ensaio de AFI está sendo conduzido em sete locais (Pelotas, Capão do Leão, Turuçu, Santa Vitória do Palmar, Jaguarão, Bagé, Uruguaiana). n Soja para a alimentação humana, com 16 linhagens provenientes de seleção realizada pela Embrapa Soja/ Embrapa Trigo. n Soja convencional, com 26 linhagens provenientes de seleção realizada pela Embrapa Soja/Embrapa Trigo. n Soja RR de ciclo superprecoce, com 26 linhagens provenientes de seleção realizada pela Embrapa Trigo. Até o momento foram testados 30 genótipos de soja em ensaios para teste de cultivares de soja quanto à tolerância ao encharcamento. setembro 2012 – Agro DBO | 37


Horticultura

Tomates sem resíduos

Sistema Tomatec reduz o uso de agrotóxicos, a erosão do solo e o desperdício de água, aumentando a produtividade e diminuindo custos. Adoildo da Silva Melo

José Ronaldo de Macedo*

Penca de tomates

com o saco de papel aberto para a exposição e colheita dos frutos

* O autor é pesquisador da Embrapa Solos

P

roduzir com o mínimo de impacto ao meio ambiente é o que definimos como sustentabilidade, palavra necessária para garantir a sobrevivência e desenvolvimento das futuras gerações. Pensar no futuro do planeta envolve reavaliar os métodos produtivos, até mesmo para aumentar os ganhos com produtividade. Neste sentido, o desenvolvimento de sistemas como o (Tomatec) – Tomate Ecologicamente Cultivado surgem como uma alternativa viável e promissora para ser adotada nos campos brasileiros. O sistema Tomatec, além de reduzir drasticamente o uso de agrotóxico, possibilita a obtenção de frutos de tomate isentos de resíduos, preserva o meio ambiente e evita a contaminação e degradação do

38 | Agro DBO – setembro 2012

solo e o desperdício da água. Desenvolvido em 2006, se baseia na adoção dos seguintes princípios agrícolas: manejo conservacionista do solo com desenvolvimento do plantio direto e rotação de culturas, práticas conservacionistas como o plantio em nível, construção de terraços para contenção do escoamento superficial da água da chuva e uso de cobertura morta para reduzir o impacto das gotas de chuva no solo, uso da irrigação por gotejamento associado ao de adubo químico solúvel na água de irrigação (fertirrigação). O processo consiste em tomateiros sustentados por fitilhos plásticos e os frutos envolvidos em sacos de papel com papel glassine ou granapel. O uso dos fitilhos no lugar das estacas de bambu para a sustentação das plantas permite

melhor desenvolvimento dos tomateiros, além de poder ser lavado após o uso – diferente do bambu, utilizado sem higienização prévia e contaminando novas lavouras. Esse sistema é uma alternativa de produção, ocupando um nicho de mercado entre o tomate orgânico e o convencional. O sistema Tomatec apresenta vantagens comparativas entre ambos, considerado com de transição agroecológica. Trata-se de uma tecnologia que incrementa a produção e a oferta consistente do produto durante vários meses do ano, traz economia de insumos e uso racional de recursos, além do diferencial de qualidade do alimento (produto). Ambientalmente mais segura, a tecnologia diminui os riscos à saúde tanto do agricultor quanto dos consumidores finais. Além disso, é importante enfatizar que a adoção das tecnologias possibilitou substituir o trabalho mais braçal por outro mais técnico e qualificado. O sistema aperfeiçoado proporcionou ao produtor benefícios visíveis na contenção da erosão, no uso racional da água, na diminuição de cerca de 50% no uso de adubos e fitossanitários, tudo isso com ganho de produtividade e redução de custos. A prática do manejo integrado de pragas (MIP) combinada ao ensacamento do fruto foi uma resposta ecológica ao problema crônico dessa lavoura: as perdas unitárias de tomates. Em 2006, um primeiro índice de qualidade certificado pelo laboratório do INCQS/Fiocruz constatou a ausência de resíduos de agrotóxicos nos frutos. Um


Análise da produção e das perdas de frutos – As perdas de frutos em lavouras tradicionais variam na faixa de 10 a 20% da produção total de caixas, de acordo com autores da área. Em casos severos de ataques de pragas, os prejuízos podem atingir até 50% de toda a produção. Os resultados obtidos durante os experimentos, em parceria com os produtores, permitem afirmar que as perdas de frutos no sistema Tomatec foram reduzidas para valores menores do que 1%. As principais razões para a redução nas taxas de perdas de frutos de tomate estão relacionadas as prática de ensacamento e a implantação do

Divulgação/Embrapa solos

manejo integrado de pragas, cuja amostragem das plantas foi feita segundo recomendação para que seja efetuada em 25 plantas a cada 4.000 plantas. Nos campos de produção, as plantas amostradas foram selecionadas em 5 pontos de coleta, com 5 plantas cada, escolhidos conforme o caminhamento aleatório das amostras em zigue-zague. O ensacamento com papel granapel funciona como uma barreira física que impede a ovoposição pelos insetos e a eliminação das aplicações de inseticidas para o controle das brocas pequena e grande. Nas lavouras sem o ensacamento, os danos causados aos frutos são irreversíveis e estes frutos são descartados para comercialização. O número de pulverizações, que antes chegava a 36 por ciclo produtivo, foi reduzido para cerca de 15 graças ao MIP e ao ensacamento dos frutos. O saco, feito com papel especial, é o mesmo utilizado nas culturas de outras frutas, como pêssego e goiaba. O ensacamento é feito após o início da fase de floração do tomate. Os resultados obtidos com o sistema Tomatec possibilitaram ganhos de produtividade de até 30%, redução no custo de produção em torno de 10% e a produção de frutos de melhor qualidade, ou seja, sem resíduos de agrotóxi-

cos. Estes três aspectos induzem a uma melhor rentabilidade: para um mesmo preço de mercado do tomate, a possibilidade de sucesso no empreendimento é maior. Entre outras vantagens desse sistema de produção estão aspectos como a excelente aparência do fruto (lustrosa e com brilho natural), a consistência é firme e o tamanho se mantém adequado a exigência do mercado. A ideia é conseguir, em 2012/13, um mercado diferenciado para o produto, apostando no reconhecimento de suas qualidades pelos consumidores. A inserção do produto no mercado vem trazendo novos

Uso de fitilhos

no lugar das estacas de bambu facilita o desenvolvimento dos tomateiros

Adoildo da Silva Melo

dos compostos usado como parâmetro para aferição rápida da presença ou ausência de agrotóxico foi o ditilcarbamato, escolhido por ser largamente utilizado no plantio do tomate, de fácil análise e por ter legislação precisa sobre os valores permitidos em alimentos. As análises realizadas nos frutos produzidos no sistema Tomatec não detectaram a presença deste elemento. Posteriormente foram analisados mais 122 princípios ativos envolvendo outros grupos de agrotóxicos, e o mesmo resultado foi obtido, ou seja, novamente não foram detectados resíduos de agrotóxicos nos frutos. Esses índices geraram uma demanda, tanto por parte dos produtores quanto dos técnicos, em busca da certificação e rastreabilidade dos tomates como forma de garantir um alimento seguro e um importante diferencial mercadológico, que possibilite melhores preços para os produtores adotantes da tecnologia. De 2006 até a presente data já são cinco laudos oficiais comprovando a ausência de resíduos de agrotóxicos nos frutos de tomate produzidos no sistema Tomatec. À medida que os produtores se apropriam das técnicas de produção, os resultados se tornam mais consistentes.

Penca de tomate protegidos por saco de papel glassine ou granapel

setembro 2012 – Agro DBO | 39


Horticultura Produtores

Divulgação/Embrapa solos

preparam estrutura de suporte dos fitilhos. Ao lado exemplo de área degradada por uso de mangueiras pesadas

desafios para os pesquisadores: a ampliação da adoção do Tomatec também por empresários do agronegócio e a necessidade de registro de nome da marca que agregue ao produto a comprovação de ausência de toxidade. Quanto ao incremento de produção, o sistema Tomatec já demonstrou ser viável, tanto para a pequena quanto para a grande produção. Diversas lavouras de tomate já foram plantadas no sistema Tomatec nos estados do Rio de Janeiro (São Sebastião do Alto, Nova Friburgo e São José de Ubá)

da Cachoeira em Paty do Alferes, no estado do Rio de Janeiro. O trabalho foi financiado pelo Projeto Desusmo (União Europeia, Finep e FNMA). Na ocasião, verificou-se que entre os principais fatores de degradação ambiental nos municípios de Miguel Pereira e Paty de Alferes estava o plantio do tomate. O cultivo da fruta era feito morro abaixo, com uso indiscriminado de insumos químicos e irrigação com pesadas mangueiras de água, o que acarretava na perda de solos, erosão das encostas, assoreamento, con-

Os sacos de papel funcionam como barreira física à contaminação e passagem de agrotóxicos e Goiás (Anápolis, Goiânia e Rio Verde). No ano de 2012, o sistema será difundido para outros estados, como São Paulo (Ribeirão Preto) e Rio Grande do Norte (Ipanguaçu, Açu, João Câmara, Jandaíra, Parnamirim e Apodi). História do projeto – As pesquisas da Embrapa Solos sobre a produção de tomate iniciaram em 1994, no decorrer do projeto “Adaptação e Desenvolvimento de Tecnologias para a Gestão Agroambiental Sustentável em Regiões de Relevo Acidentado da Serra do Mar”, na microbacia do Córrego 40 | Agro DBO – setembro 2012

taminação dos rios entre outros fenômenos. Como alternativa a essa forma de manejo impactante, a equipe do projeto recomendou então práticas conservacionistas como o plantio direto com rotação de culturas, a adoção de terraços, o plantio seguindo as curvas de nível do terreno, o tutoramento vertical do tomate com fitilho de poliuretano, em substituição ao método de amarração tradicional e, a fertirrigação, que é a adição de adubo químico diluído na água de irrigação por gotejamento e sua aplicação em linha de plantio da cultura.

Em 2002, o plantio do tomate era identificado novamente como um vilão ambiental no município de São José de Ubá (RJ), desta vez a partir dos projetos de revitalização dos mananciais de água na bacia do Rio São Domingos (RJ) – Projeto Gestão de Microbacias (financiado com recursos da Finep) e projeto Aquiferos (financiado pelo Prodetab). O desenvolvimento do sistema contou com a colaboração de diversas instituições parceiras como o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) da Fiocruz, das Embrapa Hortaliças (CNPH), Embrapa SPM e Embrapa Agroindústria de Alimentos (CTAA), Coordenadoria da Defesa Sanitária Vegetal (CDSV) do Estado do Rio de Janeiro, Ematers do Rio de Janeiro e Goiás e prefeituras municipais como a de São José de Ubá. Atualmente, os recursos são provenientes do projeto de pesquisa da Embrapa intitulado “Rastreabilidade e Certificação do Tomate Ecologicamente Cultivado”, cujo objetivo é difundir, rastrear e certificar a produção do tomate no sistema Tomatec. * Os pesquisadores Cláudio Lucas Capeche, Denise Werneck de Paiva e Adoildo da Silva Melo, da Embrapa Solos, também participaram do desenvovimento do Tomatec


Artigo

Correções necessárias O aviltamento no preço final de alguns alimentos representa uma brutal transferência da renda do campo para as cidades Rogério Arioli Silva*

A

s bruscas oscilações ocorridas ultimamente nas cotações de alguns produtos agrícolas têm semeado alegria e preocupação aos participantes da cadeia do agronegócio. Os raros produtores rurais detentores de estoques de grãos muito valorizados, como a soja e o milho, observam sua rentabilidade aumentar sobremaneira, à medida que o clima seco e as altas temperaturas afetam hemisfério norte, notadamente o dos Estados Unidos. De outro lado, produtores de suínos e aves estão com suas atividades comprometidas por comercializarem seus produtos abaixo dos custos de produção.

cando significativa deterioração na qualidade das lavouras. Havendo a consolidação destas perdas de aproximadamente cem milhões de toneladas de milho nos EUA, a procura pelo produto brasileiro aumentará sobremaneira, o que tira o sono dos produtores de carnes, pela perspectiva de escassez do produto. Existe, portanto, uma crise de proporções gigantescas batendo às portas da agroindústria brasileira de produção de proteína animal. No caso da carne suína este drama é ainda maior pela excessiva concentração da exportação em poucos países (60% das exportações da carne suí-

“Salta aos olhos a inércia dos governos no que diz respeito à política de abastecimento”

*O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

A cotação da soja aumentou mais de 70% nos últimos 365 dias em função da menor produção da América do Sul aliada ao aquecimento da demanda e às perspectivas de quebra da safra americana. Embora grande parte da safra já estivesse comercializada quando os preços ascenderam, houve um benefício evidente aos produtores de soja, pois as cotações superaram a casa dos U$ 17/bushel. O milho também segue muito valorizado, com suas cotações já superando os U$ 8/bushel e tendentes a patamares ainda mais elevados, dependendo da magnitude das perdas. Informações dão conta de que o déficit de chuvas em algumas regiões do Corn Belt (região do cinturão do milho americano) atingiu mais de 300 mm provo-

na têm como destino a Rússia e Hong Kong). A produção de carne bovina realizada através de confinamento também começa a ser afetada, pois a alta das matérias-primas está na relação direta do aumento das diárias dos animais confinados, associada à queda das cotações da arroba. Neste momento delicado para alguns setores do agronegócio salta aos olhos a inércia dos governos no que diz respeito a uma política de abastecimento e garantia de preços aos produtores. Questões básicas voltam à pauta sempre que isto acontece, parecendo que os ciclos de oferta e demanda não sejam uma característica da inelasticidade (quantidade que não pode ser altera-

da no curto prazo) dos produtos agrícolas. Assim como os grãos, também se torna necessário que o preço do kg das carnes possua um patamar mínimo que garanta rentabilidade aos produtores. Embora na maioria das vezes os preços mínimos sejam defasados, sua simples existência conferia mais tranquilidade a um setor que emprega milhares de pessoas no interior do país. Também é importante destacar que o aviltamento no preço de alguns alimentos, a despeito de resultar no barateamento da cesta básica e diminuir a inflação, representa uma brutal transferência da renda do campo para as cidades. A carne do frango já foi usada várias vezes como âncora de planos econômicos à custa do empobrecimento e sucateamento de inúmeras propriedades rurais. Este fato foi corroborado por estudo que demonstrou a significativa queda dos preços reais dos produtos agrícolas componentes da cesta básica, que no período de janeiro de 1975 até janeiro de 2011 caíram para 1/3 do seu valor original. É inegável que o aumento da produtividade obtido pela incorporação de novas tecnologias permite que mais pessoas tenham acesso a alimentos baratos. Todavia é importante que este fato não sirva para justificar a histórica transferência de renda do setor primário para outros setores da economia, tornando a paisagem rural empobrecida e provocando a histórica confusão entre auxílio governamental e política agrícola. setembro 2012 – Agro DBO | 41


Código Florestal

Ameaça de extinção

A Lei nº 12.651 reduziu a capacidade de produção do médio agricultor brasileiro, a ponto de torná-lo menor que o pequeno. Evaristo Eduardo de Miranda*

O

*O autor é doutor em ecologia, pesquisador da Embrapa.

s médios produtores rurais estão ameaçados de extinção pelo novo Código Florestal, a Lei no. 12.651. Pairam sobre eles as mesmas exigências da legislação ambiental previstas para os grandes produtores. Mantida a situação ocor­rerá uma antirreforma agrária, com a absorção progressiva de centenas de milhares de médios agricultores pelos grandes ou pela falência, com impactos sociais e econômicos negativos na produção de leite, carne, etanol, algodão, grãos e oleaginosas. Como encontrar essa espécie rara, o médio produtor? Pelo Módulo Fiscal (MF). Essa unidade agrária de medida é fixada pelo

Incra para cada município. Ele serve para a classificação fundiária do imóvel rural quanto à sua dimensão. De acordo com art. 4º da Lei nº 8.629/93, são consideradas médias propriedades, os imóveis rurais de área compreendida entre 4 e 15 MFs. Abaixo estão as pequenas e acima as grandes propriedades. Essa divisão é a base de políticas públicas (crédito agrícola, seguro rural etc). Quantos espécimes de médios produtores rurais existem na natureza? Segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2006, eles eram cerca de 307.000 imóveis ou 6% do total; representavam 17% da área ocupada pela agropecuária e produziam cerca de 21 bi-

ESTIMATIVAS DA REDUÇÃO DE ÁREA DOS MÉDIOS PRODUTORES (5 MFs) ATENDENDO A EXIGÊNCIA DA RESERVA LEGAL EM CADA ESTADO COMPARADOS AOS PEQUENOS AGRICULTORES

Área disponível(ha)

42 | Agro DBO – setembro 2012

lhões de reais/ano ou 14% do valor da produção agrícola do Brasil. Além disso, mantinham preservados em seus imóveis mais de seis milhões de hectares de florestas. Quem são os médios produtores? São grandes produtores de leite, carne, algodão, café, hortaliças, cana-de-açúcar (fornecedores), cereais e oleaginosas, principalmente nas regiões Sul, Centro Oeste e Sudeste. Ao contrário de parte dos pequenos agricultores em que o autoconsumo absorve parte significativa da produção, os médios são competitivos, integrados ao mercado, abastecem as cidades e exportam. A perda de habitat ou por que os médios ficaram pequenos? O novo Código Florestal, na prática, isentou os pequenos agricultores da exigência da reserva legal. Em seu artigo 67, ele determina que nos imóveis rurais com “área de até 4 (quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008.” Como a exigência da reserva legal é plena para os médios produtores, eles podem ficar com menos área para uso agrícola do que os pequenos. Um médio produtor que tenha 4,5 ou 5 módulos fiscais, ao manter de 20 a 80% de sua propriedade em reserva legal, fica com área disponível menor do que um pequeno. O que restará da média propriedade rural? Bem pouco. Virtualmente, no Acre, Rondônia,


ESTIMATIVA POR TAMANHOS DE ESTABELECIMENTOS POR NÚMERO DE MÓDULOS FISCAIS (IBGE 2006) Extratos (MF_Médio_Brasil = 26 ha)

Maior de 0 a menos de 26 ha (até 1 MF)

Total de estabelec.

% de estab.

3.382.645

Área total % de área % da área Valor total da de APP/RL APP/RL existente % do valor total da % acum. produção anual % acum. existente em em relação à área da prod. agropecuária (1000 R$) 2006 (ha) agropec. total

% acum.

Área total (ha)

65,36% 65,36%

23.312.416

7,07%

7,07%

1.323.570

5,68%

40.271.760

28,00%

28,00%

De 26 (1 MF) a 52 ha (2 MFs)

690.764

13,35%

78,71%

21.955.813

6,65%

13,72%

1.868.966

8,51%

18.045.191

12,55%

40,55%

De 52 (2 MFs) a menos de 104 ha (4 MFs)

384.049

7,42%

86,13%

26.597.178

8,06%

21,78%

2.976.793

11,19%

12.930.721

8,99%

49,54%

De 104 ha (4 MFs) a 130 ha (5 MFs)

57.266

1,11%

87,23%

7.629.112

2,31%

24,09%

892.131

11,69%

3.082.842

2,14%

51,68%

De 130 ha (5 MFs) a 260 ha (10 MFs)

184.350

3,56%

90,79%

29.819.028

9,04%

33,13%

3.510.529

11,77%

11.237.441

7,81%

59,50%

De 260 ha (10 MFs) a 390 ha (15 MFs)

65.372

1,26%

92,06%

20.104.741

6,09%

39,22%

2.402.052

11,95%

6.364.542

4,43%

63,92%

Mais de 390 ha (15 MFs)

411.042

7,94%

100,00% 200.523.106

60,78%

100,00% 37.189.060

18,55%

51.888.812

36,08%

100,00%

5.175.489

100%

15,20%

143.821.309

100%

Total

329.941.393

100%

50.163.102

ESTIMATIVA POR TAMANHOS DE ESTABELECIMENTOS POR NÚMERO DE MÓDULOS FISCAIS (IBGE 2006) Extratos (MF_Médio_Brasil = 26 ha) 3

Total de estabelec.

% de estab.

Área total (ha)

% da área total da agropecuária

% da área total do território

Área total de APP/RL existente em 2006 (ha)

% de área APP/RL existente em relação à área agropec. total

Valor total da produção anual (1000 R$)

% do valor da prod.

Pequenos (< 4 MFs)

4.457.458

86,13%

71.865.407

21,78%

8,44%

6.169.329

8,58%

71.247.672

49,54%

Médios (>4 e < 15 MFs)

306.989

5,93%

57.552.880

17,44%

6,76%

6.804.712

11,82%

20.684.825

14,38%

Grandes (> 15 MFs)

411.042

7,94%

200.523.106

60,78%

23,55%

37.189.060

18,55%

51.888.812

36,08%

5.175.489

100%

329.941.393

100%

38,75%

50.163.102

15,20%

143.821.309

100%

Total

Pará, Amapá, Roraima, na parte amazônica do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, a área disponível para 57.000 médios produtores rurais, com 5 MFs, utilizarem será da ordem de um quarto da disponível para os pequenos agricultores! Nos outros estados, sua área ficará menor ou igual à dos pequenos agricultores e pode inviabilizar suas atividades. Mais de 184.000 médios produtores, com até 10 MFs (4% dos estabelecimentos agrícolas) também serão vitimados. O valor dos Módulos Fiscais deve ser revisto? Sim, devido ao novo Código Florestal. O módulo fiscal corresponde à área mínima necessária a uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável. Ele

não inclui a previsão de destinar 20 a 80% dessa área a reserva legal ou preservação permanente. A porcentagem de reserva legal exigida em cada município deveria ser agregada ao valor atual do MF para que o restante correspondesse à sua definição: área 100% disponível para a agricultura. A Medida Provisória 571: golpe final ou salvação? A MP 571 exige a recomposição retroativa de faixas marginais não mais em função da largura dos rios, mas do tamanho da propriedade. Diferenciou a situação dos pequenos agricultores, mas esqueceu das exigências de reserva legal que pairam plenamente sobre os médios. As exigências adicionais de recomposição de APPs fulminarão os médios, que em boa par-

te vão ficar menores ou iguais aos pequenos. A MP 571 deveria aplicar aos médios as mesmas faixas de composição dos pequenos; o mesmo gatilho de 20% da área do imóvel e as mesmas possibilidades de recomposição. Ao contrário do propalado, a MP 571 não alcançou, nem beneficiará mais de 90% dos agricultores. Segundo o IBGE, os pequenos representam 86% dos estabelecimentos agrícolas. Se os congressistas contemplarem na MP 571 a situação dos médios produtores aí sim se poderá chegar a 87% (5MFs), a 91% (10 MFs) dos imóveis rurais. Todos anões um dia foram pequenos, diz um ditado. No Brasil rural, os agricultores médios ficaram minúsculos e podem desaparecer. setembro 2012 – Agro DBO | 43


Marketing da terra

O chororô da indústria canavieira Richard Jakubaszko

C

arece de inteligência e bom senso o chororô estimulado pela cadeia do etanol de acusar o Governo Federal de praticar uma política de preços populista para a gasolina, com ameaças de “quebrar a Petrobrás”, ao mesmo tempo em que reclama desses mesmos governantes de que não há uma política de preços para o etanol. É a política do bate-e-assopra. Vejamos quais são os problemas, os paradoxos, incoerências e inconvenientes:

1º- – Um concorrente nunca deve pedir ao seu principal opositor, que “aumente os seus preços”, o que é óbvio e elementar. 2º- – O setor idealiza um faz de conta, na medida em que deseja o Governo Federal praticando preços “não populistas” para a gasolina ao mesmo tempo em que incentivaria preços remuneradores para o etanol. Faz sentido isso, quando sabemos que na cultura popular brasileira o preço dos combustíveis é um balizador da inflação? E que o Governo nesse momento luta para segurar a inflação ao mesmo tempo em que estimula a economia a crescer. 3º- – Se o setor sucroalcooleiro imagina que isso possa acontecer, e que depois poderá produzir ainda mais açúcar para exportar, é porque tem gente desfocada na liderança do setor. 4º- – O segmento parece precisar de um espelho, para perceber que multinacionais já dominam as agroindústrias de açúcar 44 | Agro DBO – setembro 2012

e álcool. Isto obriga ao segmento a ter uma nova postura.

5º- – O chororô não convence. Reclamam as lideranças que, com os atuais preços do etanol, a indústria canavieira não tem capacidade para investir no aumento de produção industrial e muito menos na expansão das lavouras. Lembremos outro choramingo recente, de que não tinham como financiar estoques para a entressafra. O Governo Federal liberou dinheiro para financiar os estoques, e eles não foram suficientes, pois tivemos de importar etanol de milho dos EUA, uma vergonha nacional.

6º- – Há uma briga de egos e de interesses divergentes entre as lideranças da cadeia do açúcar e etanol, prova maior disso foi a queda no início deste ano do presidente da União das Indústrias Canavieiras, Unica, Marcos Jank. 7º- – Esquecem as lideranças do segmento que o etanol continua sendo subsidiado, na forma de garantia e reserva de mercado por participar com 20% na mistura da gasolina. É, portanto, um setor que já tem generosos benefícios do Governo Federal e da sociedade, mas deseja mais, almeja soluções amigas resolvidas nos tapetões do poder.


Nunca se deve pedir ao concorrente que “aumente os seus preços”, isso é elementar. do “pode faltar”, como fez na década de 1980, quando os automóveis tinham motores de usos exclusivos, ou gasolina ou etanol. Fingem esquecer, mas hoje os carros são flex fuel, e o consumidor tem a palavra final, conforme publicamos nesta seção, na edição anterior. Bastou os preços do etanol chegarem aos 70% da equiparação com os preços da gasolina, devido à desvantagem do poder calorífero do etanol e maior consumo por km rodado, o consumidor desprezou a questão ambiental da poluição nas áreas urbanas.

10º- –

8º- – Imaginam que os seus pros­­­ pects futuros, o consumidor europeu, especialmente, não percebam essas manobras políticas. E sonham em exportar o etanol para a Europa, e também aos EUA, quando nem o mercado nacional conseguem abastecer. Desejam que os europeus saiam debaixo do chicote do mundo árabe, no fornecimento de petróleo e gasolina, para vir sorrir debaixo do chicote dos usineiros brasileiros. 9º- – O setor sucroalcooleiro, com esse chororô, imagina pressionar o Governo Federal e os consumidores, com a possível ameaça

As usinas deveriam investir parte de seus lucros, nesse momento, deveriam pensar em reduzir custos e aumentar a eficiência nas lavouras e nas indústrias, na fermentação mais eficiente, para produzir mais etanol por hectare, já que começou a melhorar a imagem do segmento por ser fornecedor de energia elétrica, por poluir menos os rios ao não jogar a vinhaça nos mesmos, e por não mais queimar a cana, praticando a colheita mecânica. Ganham dinheiro queimando palha, usam menos fertilizantes e reduziram custos com a mão-de-obra. Estes três elementos por si só melhoraram as margens de lucros das usinas. Talvez isso fosse bom negócio para os usineiros de antigamente, mas hoje em dia o que predominam são as multinacionais, e a sede de lucros com esses é muito maior. Por isso, o chororô não convence. E esse marketing, definitivamente, não funciona mais. setembro 2012 – Agro DBO | 45


Gestão

Como descobrir onde erramos A metodologia Seis Sigma: a estatística como aliada na redução de custos e na melhoria da eficiência, testada e aprovada nas indústrias. Mauri José Guerra (1) Mairson R. Santana (2)

N

ossa “fábrica” oculta de custos na fazenda ou empresa agrícola é difícil de identificar. A “fábrica” o-­ cul­ta é aquele custo da não qualidade na hora de fazer uma tarefa, é o custo de ter que refazer uma atividade, é o custo de não se ter precisão na hora de usar um insumo, é o custo do desperdício. Ou seja, a fábrica oculta de custo é aquele dinheiro que você poderia ter ganhado, mas o rato comeu. Nós, muitas vezes, não estamos aptos para ver ou determinar o quanto a falta de qualidade nos nossos processos está deixando de entrar em nosso bolso. No longo prazo, um desperdício de adubo aqui, a aplicação de agroquímicos inadequados acolá, uma peça comprada errada ou de qualidade inferior no outro dia, corroem o lucro e a nossa chance de crescimento.

Mas a qualidade do produto final depende da qualidade de nossos processos e suas etapas; Eles são estáveis e têm pouca variação? Nossos defeitos e nossas perdas são de pequena monta? Identificamos, medimos, analisamos, melhoramos e controlamos todas nossas atividades? Sabemos quanto, quando e como compramos os insumos? Temos indicações das variações de embalagens, dos teores de NPK e de princípio ativo? Das nossas compras erradas dos equipamentos que duram pouco? Os plantios são mapeados adequadamente (baixa densidade, variações nas sementes compradas, perda de tempo com replantio, com manutenções atrasadas, aplicações e pulverizações com erros de dosagem etc.)? E o número de horas máquina, gasto de diesel por talhão, por cultura, por colheita? Os processos de

vendas são monitorados, para avaliar a taxa de eficiência e eficácia das nossas tomadas de decisão? Onde está o histórico de melhorias que nos mostra que temos errado menos ao longo do tempo, que temos aprendido mais e de que somos consistentes? Nossos gerentes e nossos filhos estão percebendo isso, eles estão aprendendo conosco? Seis Sigma A metodologia Seis Sigma, aliada a ferramentas e a um plano de negócios, com objetivos e estratégias definidos, visa conduzir a empresa agrícola na busca pela excelência organizacional e operacional. Foi desenvolvida inicialmente pela Motorola e General Eletric, partindo de uma base centrada na agricultura. Esta nos ė familiar em palestras,

Quadro demostrativo da metodologia Seis Signa Nível de Qualidade Seis Sigma

* Os autores são (1) engenheiro metalurgico e (2) engenheiro agrônomo.

Defeitos por Milhão-de Oportunidades (PPM)

1,0

670.000

1,5

500.000

2,0

308.300

2,5

158.650

3,0

66.807

3,5

22.700

4,0

6.210

4,5

1.350

5,0

233

5,5

32

6,0

3,4

46 | Agro DBO – setembro 2012

Cp (desempenho ótimo dos processos

Cpk (desempenho dos processos no dia a dia)

Custos da Má Qualidade (% faturamentos

incapaz

incapaz

30 - 40%

1,0

0,5

20 - 30%

1,33

0,83

15 - 20%

1,67

1,17

10 - 15%

2,0

1,5

< 10%


quando apresentamos resultados de pesquisas com testes de produtos, variedades, adubação etc., com a combinação de variáveis; com ela analisamos hipóteses sobre produtos e insumos, se há variações e se essa variável ė ou não significativa. A estatística indutiva no agronegócio está emperrada há muito tempo. Precisamos, portanto, aprender a medir, em nossa “fábrica”, a nossa fazenda. As indústrias têm utilizado/melhorado esse sistema, aplicam uma metodologia de desenvolvimento de projetos, com forte uso de estatística e ferramentas da qualidade em geral, na busca da excelência em desempenho de todas as operações da empresa, integrando produção e serviço. A empresa que adota uma estratégia Seis Sigma visa que todas as atividades sejam ligadas a processos, apresentando desempenho de no máximo 3,4 ppm (partes por milhão) de defeitos no médio e longo prazo. Para tanto, ela passa por mudanças estruturais, envolvendo a redefinição de funções e tarefas com grande impacto na sua cultura. A análise do Processo Seis Sigma como estratégia implica na

Custo de máquinários e combustíveis deve ser medido

difusão de um amplo programa de treinamento na empresa, principalmente das técnicas estatísticas e ferramentas da qualidade, além da utilização de trabalhos em equipes auto-geridas. A metodologia ė focada naquilo que o “cliente” do processo precisa. Temos aqui um conceito-chave, o do cliente interno, ou seja, o “cliente” do processo é a

Níveis de qualidade e Curva de Distribuição e seus sigmas correspondentes.

99,74% 95,44% 68,26%

μ - 3σ μ - 2σ μ - σ

μ

μ + σ μ + 2σ μ + 3σ

pessoa, a equipe ou a máquina que irão assumir a etapa ou atividade seguinte; essa pessoa, que não quer perder tempo consertando o erro ou a falha de alguma atividade anterior, que não quer mais assumir o custo da “fábrica oculta” do seu fornecedor-interno, que quer os ganhos imediatos para toda a organização. Benefícios que podem ser alcançados com o uso do Seis Sigma: l Mudança na cultura da empresa l Estabelecimento de linguagem e métodos comuns para a melhoria contínua l Simplificação de processos l Redução de defeitos, de reparos no produto, de erros e de falhas l Melhorias no tempo do ciclo, na fatia de mercado e na lucratividade l Decisões baseadas em dados quantitativos (não apenas no “eu acho que”) l Funcionários altamente capacitados, em função da alta carga de treinamentos l Funcionários dedicados à melhoria contínua (“o ótimo é inimigo do bom”) l Grande impacto financeisetembro 2012 – Agro DBO | 47


Gestão ro, uma vez que o desempenho e objetivos pessoais de líderes de projeto, aqui denominados de Black, Green e White Belts, estão associados aos resultados dos projetos. l A melhoria de qualidade proporciona aumento da produtividade, competitividade e, por consequência, da lucratividade, ou seja, a eficácia da implementação traduz-se no ganho de resultados l Difusão do trabalho em equipe l Metodologia padronizada e criação de uma linguagem estatística. Os projetos Seis Sigma são executados através de uma metodologia com forte aplicação de estatística e tem que economizar

l QFD = Desdobramento da função qualidade l MSA = Análise do sistema de medição l Mapa de processo e matriz MCE l Histograma, Checklist, Diagramas de Pareto, Ishikawa, Correlação, Gráficos de Controle e Estratificação (chamadas de antigas ferramentas da qualidade) l Testes de hipótese, ANOVA (Análise da variância), Análise de regressão l FMEA = Análise dos efeitos e modos de falha l DOE = Delineamento de experimentos l CEP (Controle estatístico de processo) e Planos de Controle. As 5 etapas que compõem o

A melhoria de qualidade proporciona aumento da produtividade e da lucratividade. ou apresentar ganhos superiores a R$ 200.000,00 por projeto. Ela pode ter diferentes nomes, mas os fundamentos são similares. Ela é conhecida como DMAIC, estando focada em 5 etapas do desenvolvimento dos projetos: Definição (Define), Medição (Measure), Análise (Analyse), Melhoria (Improve) e Controle (Control). Algumas ferramentas que prestam apoio ao DMAIC:

DMAIC: 1) Definição – Devem ser escolhidos aqui os processos sobre os quais a metodologia será aplicada. Exemplos: reduzir o custo com produtos de baixa qualidade; melhora na compra de insumos; problemas com equipamentos parados ou indisponíveis, etc. O ideal é escolher processos críticos desdobrados a partir de estratégias da empresa. A definição das oportunidades de melhoria é

feita em conjunto com o “cliente” interno. 2) Medição – O grande objetivo aqui é medir os indicadores (RTY, FTY, DPU, DPMO, Número de Sigmas, Capacidade, Custo, Saving) para o processo escolhido, além de estabelecer uma plano de medição. Assim, nesta etapa são usados: mapa de processo, com sua documentação e suas variáveis (de saída e de entrada), Matriz CE, MAS, etc. O objetivo do projeto, grosso modo, será reduzir a taxa de defeitos das variáveis de saída das etapas fundamentais. 3) Análise – As variáveis de entrada já selecionadas são os porquês responsáveis pelo alto número de defeitos das variáveis de saída. Na fase da análise, busca-se o porquê dos porquês, ou seja, as causas do não controle e/ ou alta variabilidade das variáveis de entrada. O FMEA e os estudos de correlação/regressão/testes de hipóteses ajudam a melhor quantificar as relações entre variáveis, até validarmos as causas-raiz do problema. 4) Melhoria – Nesta etapa são realizados estudos de DOE para maior detalhamento nas relações de significância entre as variáveis e o estabelecimento de limites de tolerância aceitáveis para elas, de maneira que fiquem sob um nível de variação que não comprometa as variáveis de saída. 5) Controle – Aqui é implementado o controle estatístico de processo (CEP) sobre as variáveis, para que permaneçam nos limites operacionais aceitáveis especificados na etapa anterior.

Calcular valores de depreciação e manuntenção de máquinas

48 | Agro DBO – setembro 2012

A aplicação de um projeto segundo a metodologia DMAIC exige da empresa investimentos em sistemas de informação. Por


um lado, tal necessidade relaciona-se com o grande número de dados colhidos para a análise estatística. Assim, são utilizados sistemas informatizados para apontamento de dados on-line nas máquinas dos processos, tanto para a fase de análise e melhoria como para o controle. As funções principais são: * Champion – Ligado à alta administração, faz o comprometimento “top-down” da empresa em relação aos projetos de Seis Sigma. * Master BlackBelt (MBB) - Especialista em qualidade e estatística, atuando como multiplicador interno. * Black, Green e White Belts – Líderes/condutores de projeto, efetivos usuários do DMAIC. Os projetos são executados sempre em equipe, sob estrutura

matricial, na maior parte das vezes. O Seis Sigma lida com objetivos alinhados, do curto ao longo prazo. Utiliza metas focadas no cliente e medições que conduzem à melhoria contínua em todos os níveis. O objetivo no longo prazo é desenvolver e implantar processos, incluindo atividades administrativas e de serviços, que são tão robustas que os defeitos e os erros são mensurados em níveis de baixos ppm. Algumas empresas estimam a economia média por projeto em cerca de US$ 175.000. A General Electric tinha, em 1997, aproximadamente 4.000 Black Belts e Master Black Belts, totalmente treinados, além de instrutores de Seis Sigma, mentores e líderes de projetos; mais de 60.000 Green Belts, líderes de projetos, com-

pletaram no mínimo um projeto de Seis Sigma. Jack Welch, presidente da General Electric, acredita que os grandes líderes têm de possuir uma grande dose de energia, até para motivar a todos. Como um treinador de futebol americano, Welch move-se de reunião para reunião transportando essa mensagem, sendo também hospedeiro de outras, algumas das quais se transformaram na sua imagem de marca: l O negócio é simples; encare a realidade. l Não tenha medo da mudança l Lute contra a burocracia l Use o cérebro dos seus colaboradores l Descubra quem tem as melhores ideias e ponha-as em prática.

setembro 2012 – Agro DBO | 49


Artigo

Mecanização da lavoura cafeeira O norte-americano Eugene Odum, considerado o pai da ecologia, divide os agroecossistemas em três tipos, conforme o manejo adotado. Hélio Casale*

A

primeira das três Vias de Odum é a da agricultura pré-industrial, de baixa tecnologia. É autossu­fi­­­ ciente e de trabalho intensivo (tra­­­­­­ ba­lho humano e animal, fornecendo o subsídio de energia); proporciona alimento para o proprietário e sua família e para a venda ou troca em mercados locais, mas não produz excedente para exportação. A segunda via é da agricultura convencional ou industrial, de média tecnologia: onde máquinas, produtos químicos e fertilizantes fornecem o subsídio de energia, produzem alimentos que excedem as necessidades locais para exportação e venda, transformando alimento em mercadorias e em uma importante força de mercado na economia. Hoje, estamos vivendo essa 2ª via plenamente. A terceira via é a da agricultura

to permanente de todas as fases do processo produtivo, lembrando que “quem não mede, não controla”. Tipo de manejos No caso da lavoura cafeeira, os princípios básicos de manejo podem ser assim resumidos: Manejo das águas – cuidar para que cada gota de água caída das chuvas ou da irrigação fique retida e seja lentamente cedida para as plantas, evitando qualquer estresse que cause a interrupção do crescimento normal das plantas. Manejo dos matos e da fertilidade – manter o solo sempre recoberto de resíduos, matos mortos ou semimortos, de maneira a reduzir ao mínimo a erosão superficial e a erosão de impacto, regulando a temperatura do solo a ponto de estimular o maior desenvolvimento radicular,

Atualmente, a agricultura brasileira está vivendo a segunda das chamadas Três Vias de Odum

*O autor é engenheiro agrônomo e consultor

alternativa, de alta tecnologia. Também chamada de agricultura sustentável de baixa entrada, dá ênfase às safras de produtos de sustento e lucro, ao mesmo tempo em que reduz a entrada de subsídios de combustível, pesticidas, fertilizantes, mão de obra etc. Essa 3ª via é que devemos procurar praticar a cada dia com mais intensidade, de maneira a obter produtividade econômica e sustentável. Para isso, é importante a consciência de um monitoramen-

50 | Agro DBO – setembro 2012

isso ao mesmo tempo em que mantém a biodiversidade vegetal positiva no mais alto nível. l Por outro lado, um bom manejo dos matos e da fertilidade contribui para se conseguir outras melhorias no sistema solo-planta: aumento gradual da matéria orgânica do solo; redução substancial das doses de calcário e herbicida; neutralização do alumínio tóxico na superfície e em profundidade; aumento na eficácia das adubações minerais; aumento

na capacidade de retenção de água no solo; redução das perdas de água por evaporação; aumento de raízes superficiais e subsuperficiais; sequestro de carbono da atmosfera, com a consequente elevação da produtividade e redução dos custos. Manejo das plantas – manter uma vigorosa haste vertical com desbrota logo após a colheita e um repasse em fevereiro de cada ano, visando um IAF – Índice de Área Foliar ideal e ao mesmo tempo, deixando as plantas com tal arquitetura que facilite a colheita mecânica. Mecanização da lavoura A mão de obra rural está a cada dia menos disponível e mais cara. O apelo da cafeicultura atual é pela mecanização dos tratos culturais. Cafeicultores pressionados por leis trabalhistas, falta de apetite para o trabalho comum, elevados preços da diária por ocasião da colheita, entre outras causas, estão contribuindo para evitar a contratação de mão de obra braçal. l Para atender as exigências de um manejo adequado das lavouras, dentro do período considerado ideal, o emprego de máquinas e equipamentos especiais são os preferidos. Essas máquinas e implementos devem ter características especiais e manejadas de maneira a interferir minimamente no sistema solo-planta, assim: l Operadores treinados e motivados devem ser conscientizados para executarem os serviços, prote-


Antônio sérgio Souza

gendo o solo, as plantas, as máquinas, equipamentos e a eles próprios; l Bitola das máquinas e implementos ajustada aos diferentes espaçamentos, de maneira a não quebrar galhos nem derrubar frutos; l Tratores menores, menos pesados e potentes; l Máquinas, equipamentos e implementos devem ser robustos e com peso mínimo, de maneira a não compactar o solo que fica debaixo dos rodeiros; l Pulverizadores, tanto os manuais como os mecânicos, cuidar para que a pressão e o volume de calda sejam constantes durante toda a aplicação; l Rotação das facas, aletas e martelos dos equipamentos (roçadeiras, rastelos, trinchas) regular devidamente a altura de trabalho dos mesmos, de maneira a não “vidrar” o solo; l Sopradores/rastelos construídos de maneira que não retirem muita terra debaixo dos pés, nem

que suas paletas ofendam em demasia as raízes superficiais; l Os bicos de pulverização devidamente escolhidos, preferencialmente os anti-deriva e ponta de cerâmica, para atingir a planta como um todo e pegar nas folhas pelo lado de baixo; l As serras usadas nas podas (esqueletadeira/despontadeira, decotadeira) devem segurar corte por longo período, evitando que galhos sejam lascados; l As levantadeiras de grãos do chão necessitam de solo superficial aplainado, de modo a não se perder um grão sequer. Um inconveniente a ser superado nos modelos do futuro. Algumas dessas máquinas possuem turbinas de elevada potência que lança na atmosfera uma enorme carga de poluentes, disseminando nematóides; l Colheitadeiras tracionadas ou as auto-propelidas devem ter sua

velocidade devidamente regulada para cada fase da colheita e quando for o caso de repetir a operação num mesmo talhão, no mesmo ano, a passada deve ser sempre no mesmo sentido anterior; l As roçadeiras costais devem receber manutenção constante, facas amoladas com balanceamento; l Considerar a economia de tempo para concluir o serviço, as despesas com combustível, desgaste do trator, do equipamento e o tempo do operador, quando se trabalha com roçadeira simples ou com a dupla, também chamada de ecológica. Num hectare, com cafeeiros plantados no espaçamento de 3,50 metros entre linhas, temos 2.857 metros lineares a percorrer. Numa lavoura de apenas 10 ha, passando a roçadeira simples, a distância percorrida para roçar toda a área será de 57 quilômetros (2 passadas) e empregando a dupla, apenas 28 quilômetros;

Lavoura de café (variedade Mundo Novo) no município de Patrocínio, no Cerrado Mineiro

setembro 2012 – Agro DBO | 51


Artigo l As trinchas devem ser usadas preferencialmente no preparo do solo em época de pré colheita, quando estraçalham os matos, acelerando sua decomposição e uniformizando o terreno, deixando-o em ponto de colheita. Evitar que os martelos peguem no solo, vidrando-o. Esse implemento tem qualidades, mas não é o mais adequado para trabalhar fora dessa época.

Competividade Nossa cafeicultura tem à disposição um número grande de máquinas, implementos e equipamentos que a torna econômica e competitiva. Sulcadores, subsoladores, destorroadores, plantadeiras, chegador de terra, pulverizadores de pequeno, médio e grande porte, decotadeira, esqueletadeira/ despontadeira, mini trincha, trincha, roçadeira simples que lança os matos para a subcopa dos cafeeiros, roçadeira dupla, colheitadeira, levantadeira, lavador, separador de verdes, fornalhas modernas, secadores rotativos, silo secador, motocicleta para rodar café no terreiro, tratores de potência média e traçados, enfim, o que não nos falta são máquinas e implementos para executar, a tempo e hora, os diferentes serviços nas lavouras. Assim sendo, pode-se afirmar que nos últimos anos houve um progresso enorme no que diz respeito à mecanização da nossa lavoura e não se pode deixar de considerar que boa parte da motivação foi dada pela “abençoada ferrugem”. Essa doença, que entrou no país no início da década de 1970, parecia trazer o fim da nossa cafeicultura. O que ocorreu foi exatamente o contrário, pois graças aos avanços na disponibilidade de máquinas, equipamentos e implementos, nossa cafeicultura está convivendo até bem com as pragas e doenças e crescendo lentamente, mas crescendo, tanto em área como em produtividade. Como em cafeicultura o que vale é a diferença, temos que dirigir esforços no sentido de se conseguir produtividade econômica e sustentável, que sustente o produtor. 52 | Agro DBO – setembro 2012


Artigo

A lógica do cisne negro “Nesse momento de euforia, com os preços da soja e do milho nas alturas, temos que ter os pés no chão e lembrar alguns conceitos”. Daniel Glat•

H

á alguns anos foi lançado um livro nos Estados Unidos chamado “A Lógica do Cisne Negro –Impacto do altamente improvável”, escrito por Nassim Nicolas Taleb, um famoso investidor libanês radicado naquele país. Nesse livro, o autor sustenta que as histórias do mundo, assim como as dos mercados, são traçadas e definidas pelo que ele chama de eventos “Cisnes Negros”: aqueles eventos de raríssima probabilidade de ocorrer (e que, por consequência, não nos pre-

plantavam a maior área em décadas, e no cedo, o que geralmente tende a acentuar a produtividade... Mas eis que, então, um grande “Evento Cisne Negro” acontece – a maior seca dos últimos 50 anos nos EUA atinge em cheio a zona produtora e lança os preços de milho e soja nas alturas! O relatório do USDA de 10 de agosto fala em quebra de produção de milho e soja nos EUA por volta de 100 milhões e 15 milhões de t, respectivamente, comparados com o esperado no início da safra...

Um alerta: é provável que em um ou dois anos as cotações atuais recuem a patamares “normais”

*O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural no estado doTocantins

paramos para eles) e que, quando acontecem, geralmente tem grande impacto na sociedade ou nos mercados. Ele cita como exemplos de grandes acontecimentos alavancados por algum evento “cisne negro” a 1ª guerra mundial, a crise imobiliária americana, a explosão do Google, a descoberta do Viagra, entre muitos outros... Uso essa referência, pois acho que se encaixa perfeitamente com o que estamos vivenciando no mercado agrícola. Afinal, até meados de junho, as perspectivas de preços para soja e milho, principalmente esse último, eram preocupantes. Na soja, apesar da quebra no sul do Brasil e na Argentina, os estoques de passagem mundiais 2012/13 apontavam para a média dos últimos anos; e no milho, ao mesmo tempo em que o Brasil produzia a maior safra da história, acima dos 70 milhões de toneladas, o EUA

O impacto desse evento cisne negro não poderia ser melhor para o produtor brasileiro, especialmente de milho. Em plena colheita da supersafrinha 2012, os preços que apontavam bem para baixo, deram a volta por cima, e para cima, amparados nos preços de exportação. Agora, a logística será o limite para exportação do milho brasileiro em 2012. Um grande problema para os produtores de frangos e suínos... Com esse cenário, o que deve fazer o produtor brasileiro nessa próxima safra? Primeiro, obviamente, maximizar a tecnologia buscando as maiores produtividades possíveis em ambas as culturas. Segundo, parece claro que aonde se pode plantar safrinha, o produtor vai fazer toda área de verão de soja e o que puder plantar de milho na safrinha vai plantar; teremos, com quase toda certeza,

novo recorde de área plantada tanto de soja em 2012 como de milho safrinha em 2013. No sul do Brasil, onde a safrinha não é viável, há muita oportunidade para o milho de verão, principalmente para os produtores de alta tecnologia e os irrigantes. Porém, nesse momento de euforia temos que ter os pés no chão e lembrar alguns conceitos e fatos históricos: l Os mercados tendem ao equilíbrio, e é provável que em um ou dois anos esses preços atuais recuem a patamares mais “normais”; por isso temos que calcular com que preços médios futuros faremos nossos planejamentos de investimentos. l Devemos aproveitar o momento para fechar preços para 2013. Os níveis atuais garantem ótimas margens, mantidas as produtividades históricas, mesmo com o aumento dos insumos. l Lembro também que, em anos de safra normal no EUA, o Brasil não tem condições de “administrar” uma safra de 70-75 milhões de toneladas de milho; a nossa supersafrinha não virou um desastre de preço e armazenamento esse ano por causa da seca americana e a agressividade das exportações; e os EUA vão, com certeza, plantar a maior safra de milho da história em 2013, e dois “eventos cisnes negros” em sequência no mesmo lugar é difícil de acontecer... Por isso, vamos aproveitar ao máximo esse momento positivo para a agricultura brasileira, mas sem se esquecer, que, como diriam nossos avós, “cautela e caldo de galinha não fazem mal para ˇ ninguém...”. setembro 2012 – Agro DBO | 53


Deu na imprensa

Café do Cerrado Mineiro Xico Graziano*

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terroir chegou ao café. Termo característico da viticultura, o atributo da origem, única e delimitada, anima a cafeicultura nacional. Exigentes consumidores da bebida, especialmente do expresso, agradecem. Qualidade certificada não tem preço. No centro desse virtuoso processo no campo se encontra a Federação dos Cafeicultores do Cerrado, com sede em Monte Carmelo (MG). Ali, ao nordeste do Triângulo Mineiro, se desenvolve um modo de produção peculiar, diferente dos tradicionais cafezais. Os agricultores contam com a vantagem da boa altitude das terras, essencial para a qualidade do café. Mas, além disso, eles cultivam “café com atitude”. Não se trata de mero jogo de palavras. Sabe-se que as plantações em terrenos elevados, entre 800 e 1.300 metros, ganham vantagens na formação

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e no amadurecimento dos grãos de café. O frescor noturno, contraposto aos dias ensolarados e quentes, melhora a bebida, deixando-a mais encorpada, com aroma intenso. Historicamente, locais de excelente clima e altitude foram aproveitados nas encostas da Serra da Mantiqueira, em lavouras de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Mais recentemente, de forma inusitada, também se descobriram vantagens agronômicas nas chapadas de altitude, próprias do cerrado brasileiro no Centro-Oeste. Assim, subindo até o Oeste da Bahia, uma nova cafeicultura começou a ser configurada. Seus produtores contam não apenas com a sorte da natureza - terras planas, solo profundo, elevada altitude, clima ameno -, mas investem firmemente na tecnologia do café. Aqui mora a diferença.

Começa na origem dos cafeicultores. Ao contrário das antigas re­giões agrícolas, que se apegam ao passado e, naturalmente, tendem à acomodação, o Cerrado recebeu jovens empresários rurais, aventureiros da terra, que romperam suas origens familiares para abrir as fronteiras da Nação. Recebendo forte apoio da pesquisa agronômica, sua ousadia produtiva venceu obstáculos, quase dogmas agrícolas, criados pela cultura da “terra roxa” na faixa litorânea da Mata Atlântica. Um “DNA de inovação” carregam os produtores rurais do Cerrado mineiro, conforme diz Francisco Sérgio de Assis, operoso presidente da federação, que agrega 2.500 cafeicultores. Estes se espalham por 55 pequenos, e prósperos, municípios mineiros, identificados pela origem geográfica comum. Exemplo da


nova geração do campo, Serginho fugiu das geadas do Paraná, sua origem, para domar o desconhecido Cerrado. Protagonizou, num quarto de século, uma extraordinária história de sucesso. Epopeia rural. A cafeicultura do Cerrado mineiro, atualmente com 170 mil hectares ocupados, vestiu, desde o seu nascimento, nova roupagem tecnológica. As distintas condições de solo e clima, somadas à falta de mão de obra, exigiram romper com padrões tradicionais da cafeicultura. A colheita é basicamente mecanizada. Terrenos planos favorecem a operação das enormes máquinas, que se sobrepõem às linhas do cafezal vibrando suas hastes para causar a derriça dos grãos. Impossível nas montanhas. Na época seca do ano, os cafezais recebem irrigação, seja por gotejamento rasteiro, molhando as raízes debaixo da copa, seja por aspersão, esguichando por cima das plantas. Ninguém desperdiça água por lá. Adubação, química e orgânica, mais o controle fitossanitário são impecáveis. Colhido com baixa umidade, sem chuvas, os grãos não “ardem” no terreiro. O pacote tecnológico custa caro, mas assegura alta produtividade e boa qualidade. A bebida do café resulta levemente adocicada, às vezes achocolatada, longa finalização na boca. Típica do Cerrado mineiro.

Nessa quebra de paradigma promovida pelo Cerrado mineiro se destaca a organização dos produtores. Estruturados em sete associações e oito cooperativas, mais um órgão de pesquisas, todos se aglutinam na Federação dos Cafeicultores. Esta controla os programas de certificação e de sustentabilidade no campo. Seu orçamento se origina no recolhimento de 25 centavos de real por saca comercializada, quer dizer, eles tiram dinheiro do bolso para execu-

regiões produtivas - o Sul de Minas, a Zona da Mata e o Cerrado -, este responde por apenas 22% da produção estadual. Perde, em quantidade, das regiões tradicionais. Gaba-se, porém, pela qualidade. Com razão. A bebida originada nas lavouras do Cerrado mineiro, duplamente certificada, com selos de origem geográfica e de sustentabilidade, começa a dominar o mercado externo. No Japão as butiques de café o vendem, cada xícara, pelo equivalente a R$ 15.

Depois do expresso e cafés especiais, chegou a vez da certificação. Minas Gerais saiu na frente. tar sua estratégia. Merecidamente, receberam a primeira certificação por origem geográfica no Brasil, cuja marca se grafa nas sacas de café vendidas mundo afora. Curioso anda o ranking nacional do café. O Estado de Minas Gerais firma-se, de longe, como o maior produtor brasileiro, responsável por 52,7% da colheita, seguido pelo Espírito Santo, com 24,2%. São Paulo ocupa, bem abaixo, o terceiro lugar e, pasmem, as lavouras do Oeste da Bahia já ultrapassaram o Paraná na quarta posição. Brigando pelo quinto lugar se encontra, acreditem, Rondônia. Caminhos da lavoura cafeeira. No território mineiro, dentre as três

Sempre se afirmou, com certa razão, que o Brasil exporta o melhor café, torrando no mercado interno o restolho. A situação já melhorou muito, depois que a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) lançou seu selo de garantia, puxando a qualidade para cima. Depois, com o expresso, os cafés especiais se destacaram. Agora, chegou o lance decisivo: a certificação do café. Minas Gerais saiu na frente. Milton Neves, famoso comunicador da área do futebol, que anda se aventurando na cafeicultura, gosta da jogada. Gol de placa no café! *Texto publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo, em 21/8/2012

EUA pressionam etanol

D

iretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano quer diminuir os impactos da queda da produção de milho na alimentação. A ONU – Organização das Nações Unidas fez um apelo pela suspensão imediata da mistura obrigatória de etanol na gasolina, no momento em que os preços dos alimentos sobem devido à estiagem nos Estados Unidos, informou o jornal britânico Financial Times, em agosto último. Se-

gundo a publicação, o apelo coloca mais pressão sobre o presidente americano, Barack Obama, para que discurse sobre o assunto em meio à corrida eleitoral. Os EUA devem separar cerca de 40% da safra de milho para a produção de etanol devido a uma determinação do Congresso, apesar dos prejuízos significativos à produção por causa da pior seca em pelo menos 50 anos que atinge o país, disse José Graziano da

Silva, diretor-geral da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO), em artigo de opinião escrito para o jornal. “Uma suspensão imediata e temporária da resolução daria uma folga para o mercado e permitiria que uma parte maior da produção fosse direcionada ao consumo humano e animal”, escreveu. Texto divulgado no mês passado pela Agência Estado, com base no Financial Times, de Londres (Inglaterra)

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Melhores da Terra

Inventividade a serviço do campo Um dos mais importantes concursos do gênero na América Latina, o Prêmio Gerdau Melhores da Terra avaliou 600 produtos. Richard Jakubaszko

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Colheitadeira de café K3, da Jacto, exemplo de evolução tecnológica.

ivulgados na 35º Expointer, realizada em Esteio, RS, na última semana de agosto, os vencedores do “Prêmio Gerdau, Melhores da Terra 2012”. Em sua 30ª edição, a maior premiação da América do Sul para o setor de máquinas e equipamentos agrícolas contabilizou 600 produtos inscritos. Em Pesquisa e Desenvolvimento, categoria voltada para estudantes e profissionais das ciências agrárias, recebeu 524 inscritos.

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Na categoria Destaque da Agri­ cultura de Escala, o troféu Ouro ficou com a colhedora de café Jacto K3, da Jacto, equipamento apontado pela comissão julgadora do prêmio como exemplo de evolução tecnológica nos últimos 30 anos. O troféu Prata foi destinado à semeadora de grãos graúdos Gringa V, da Talleres Metalúrgicos Crucianeli, da Argentina. Nesta categoria os membros do júri do Prêmio Gerdau entrevistam usuários dos equipamentos,

obtendo relatos dos desempenhos dos equipamentos em trabalhos de campo. A comissão julgadora percorreu mais de 49 mil quilômetros e entrevistou 339 produtores para definir os vencedores da categoria Destaque. Na categoria Destaque, de Agricultura Familiar, o troféu Ouro ficou com o distribuidor Accura 1600, da Kuhn do Brasil. E a Prata foi para o trator 1055, da Agritec Lavrale. A categoria Novidade, dividida entre Agricultura Familiar e Agricultura de Escala, premiou quatro projetos, após a avaliação dos membros do júri. Conforme registrou Luiz Fernando Coelho de Souza, coordenador do Prêmio Gerdau desde sua criação, as avaliações e premiações dessa categoria apostam num potencial futuro dos equipamentos premiados, em relação às promessas dos seus projetistas sobre os benefícios que os equipamentos devem trazer para o trabalho no campo. O troféu Ouro em Novidade da Agricultura Familiar foi para a plantadeira Hyper Plus Camalhoneira, da empresa Máquinas Agrícolas KF, do RS. A máquina foi desenvolvida para o plantio de sementes graúdas (milho e soja) nas áreas anteriormente cultivadas com arroz, em solos de várzea irrigada – ela forma sulcos e camalhões (os trechos de terra mais elevados entre os sulcos), depositando as sementes graúdas nestes últimos. Os sul-


cos funcionam tanto para a drenagem do excesso de água quanto para a irrigação, quando necessário. A máquina pode ser utilizada tanto na agricultura familiar, como na de escala, por meio da adição de módulos. O Irga – Instituto Riograndense do Arroz e a KF firmaram convênio de cooperação técnica para desenvolvimento da semeadora (veja reportagem nesta edição sobre o plantio de soja em áreas de arroz irrigado no Rio Grande do Sul). Nesta categoria, o troféu Prata ficou com a Fecha Taipa Arrozeira FTA 1600, da Agrimec. A Semeato foi premiada com troféu Ouro na categoria Novidade – Agricultura de Escala. A comissão julgadora escolheu o sistema de integração eletrônica entre a semeadora SOL TT e tratores de diferentes marcas, utilizando o protocolo internacional de co-

Mesa diretora, durante a solenidade de divulgação dos trabalhos vencedores.

municação estabelecido pela Isobus. Já o Desensilador Frontal, da Bandeirante Máquinas, conquistou o troféu Prata. Em Pesquisa e Desenvolvimento, a premiação no segmento Estudante foi para o trabalho realizado na Universidade de São Paulo, que trata de Sis-

tema de Microprocessadores para Aquisição de Armazenamento de Dado. O prêmio Pesquisador ficou com as Universidades de Concepción e Tarapacá, do Chile, com o trabalho “Algorítmos para planejamento e acompanhamento de trajetórias de robôs”.

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Análise de mercado

Quadro de incertezas Num cenário de muita oferta e grandes estoques de passagem, o algodão segue na contramão das demais commodities agrícolas.

O

mundo colheu 26,717 milhões de toneladas de algodão em plu­ m a na temporada 2011/2012. Na temporada atual, que vai de agosto de 2012 a julho de 2013, a produção mundial será 1,938 milhão de toneladas menor. Porém, conforme explica o analista Elcio A. Bento, da consultoria Safras & Mercado, esta queda será compensada pelo incremento de 3,737 milhões de toneladas nos estoques de passagem. Assim, a oferta mundial da fibra será a maior da história, com 47,438 milhões de toneladas. “Este volume atende a demanda global de 31,677

milhões de toneladas e gera os maiores estoques de passagem da história (15,761 milhões de toneladas). A relação estoque/ consumo de 67% também é a maior da história. Estes indicadores fundamentais fazem com que o algodão ande na contramão das demais commodities agrícolas, apresentando queda nas cotações”, diz ele. “Os números citados (do Departamento de Agricultura dos EUA) ainda podem sofrer alterações até a finalização da safra 2012/2013 no mundo”, ressalva. No âmbito doméstico, as perdas apresentadas nas lavouras em função de intempéries

climáticas apenas amenizam o quadro de sobreoferta projetado inicialmente. Na Bahia, segundo maior produtor do Brasil, a produtividade foi afetada pela falta de chuvas durante todo o ciclo da cultura, em especial na fase de florescimento. Em Mato Grosso e Goiás, as lavouras da primeira safra foram castigadas pelo excesso de chuva entre maio e junho. Porém, espera-se que o algodão safrinha compense as perdas. De acordo com estimativas de Safras & Mercado, realizada em 13 de julho de 2012, os cotonicultores brasileiros colherão 1,86 milhão de toneladas (em pluma) na safra 2011/12 (ano co-

SOJA – O ritmo de negociações no mercado es-

teve lento em agosto. As cotações se mantiveram elevadas, tanto pela baixa disponibilidade do grão quanto pela forte demanda por farelo. Os produtores estavam mais preocupados em efetuar negócios relativos à safra 2012/2113, na expectativa de garantir preços altos na colheita, a partir de fevereiro do ano que vem. A baixa disponibilidade de soja para negociação no físico deve manter as cotações firmes até a chegada da nova safra.

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 84,00 pela saca de 60 kg no mercado físico, descontado o prazo de pagamento pela taxa NPR.

TRIGO – A redução de área na Argentina e a

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seca que atinge os principais países produtores do cereal, como os EUA e a Rússia, mantiveram os preços internacionais elevados. Apesar de agentes sinalizarem que as cotações atuais estão mais favoráveis aos triticultores brasileiros, este é um período de entressafra e, dessa forma, poucos são os produtores que ainda têm trigo para ser comercializado. A expectativa é de que as cotações continuem firmes e que haja liquidez no período de colheita.

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 582,91 à vista, por tonelada, descontado o prazo de pagamento pela taca NPR, posto Paraná.

MILHO – A oferta em plena safrinha e o déficit de armazéns provocaram ligeira queda nos preços em agosto, logo revertida. Segundo analistas, as cotações devem ser manter firmes neste semestre, tendo em vista que fatores de médio e longo prazos continuam altistas. As exportações, em alta, ajudaram a sustentar os preços. Paralelamente, as secas no leste europeu e na Rússia podem fazer com que países da Ásia e do Oriente Médio intensifiquem as compras no Brasil.

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 33,10, à vista, pela saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.


Análise de mercado mercial 2012/13), com queda de 1,6% em relação aos 1,89 milhão colhidos na safra anterior. “A tendência é que em anos como o atual e o anterior, de excedente de produção em relação ao consumo, o mercado doméstico se ajuste à realidade de preços internacionais, afirma. O atual ano comercial iniciou com 275 mil toneladas em estoques. Com a produção de 1,85 milhão de toneladas e importações estimadas em 15 mil toneladas, a oferta disponibilizada no Brasil será de 2,14 milhões de toneladas. O consumo total deve ficar por volta de 950 mil toneladas. Neste caso, se o setor produtivo escoar 900 mil toneladas, os estoques finais ficarão em 290 mil toneladas. No lado da demanda as especulações ficam em relação à posição chinesa. Os estoques pú­blicos da China são os maiores da história. “Se o governo chinês recolocar parte deles no

mercado, terá reflexos baixistas. Caso contrário, as compras pelas indústrias do país tendem a continuar absorvendo os excedentes dos principais exportadores. Os preços internacionais e o câmbio seguirão como variáveis chaves para a formação de preços no mercado doméstico. No momento, o quadro geral é de incertezas. Mantido o atual cenário, a tendência para o mercado doméstico para os próximos meses é de baixa”, conclui Elcio.

ALGODÃO – Os preços do algodão em pluma permanecem em alta no mês passado, contrariando a tendência habitual no período. A expectativa geral era queda, em função do aumento da oferta. Porém, as altas nos preços externos, que elevaram a paridade de exportação, ajudaram a sustentar as cotações. Na lavoura, a produtividade e a produção devem cair em relação à temporada anterior, ajudando a sustentar os preços.

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou 162,18 centavos de Real por libra-peso.

ARROZ – O arroz em casca teve forte alta no

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 33,21 à vista pela saca de 50 kg do arroz em casca, tipo 1, posto indústria, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

mês passado no Rio Grande do Sul. Muitos orizicultores preferiram adiar a comercialização, na expectativa de preços melhores. Outros venderam apenas o necessário para fazer “caixa” e pagar os compromissos da safra 2011/2012. Com preços baixos na época do plantio, muitos reduziram a lavoura. Segundo a indústria, as compras estão abaixo do necessário para atender aos pedidos. Com oferta reduzida, as cotações seguem em alta.

CAFÉ – O clima seco em agosto favoreceu o

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 363,71 pela saca de 60 kg do café arábica, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

avanço da colheita da safra 2012/2013, pressionando os preços do arábica no mercado internacional. A OIC indica que o consumo global em 2012 deve ser maior ou igual ao de 2011. O balanço entre a oferta e a demanda segue justo, confirmando as projeções de consumo e produção na temporada 2012/2013. Mesmo que os estoques de passagem superem os da safra passada, os preços podem ficar em patamares firmes.

AÇÚCAR –

*Em 17/8, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 55,13, com imposto, pela saca de 50 kg do açúcar cristal.

De julho para agosto, os preços do açúcar cristal subiram um pouco. A alta foi influenciada pelo atraso nos embarques brasileiros, pela possibilidade de queda da produção da Índia e pelo aumento nos preços internacionais do milho – os EUA deverão colher menos milho que o esperado, o que reduz a produção de etanol e de adoçantes produzidos a partir desse grão. No curto prazo a tendência é de queda, dado à regularização dos níveis de moagem de cana-de-açúcar.

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Novidades no campo Mini alface Baby Leaf

Gabriela, a nova cultivar de mamona ▶O nome não poderia ser mais atual: Gabriela, a primeira cultivar de mamona desenvolvida para regiões abaixo de 300 metros (em relação ao nível do mar). Lançada durante o 5º Congresso Brasileiro de Mamona, realizado em Guarapari (ES), a cultivar BRS Gabriela é� uma das apostas da Embrapa para fortalecer o Programa Nacional de Agroenergia. Desenvolvida em um projeto em rede nacional pela Embrapa Algodão, sediada em Campina Grande (PB), possui porte baixo, chegando a 160 centímetros de altura, no mínimo, o que facilita os tratos culturais e a colheita. De ciclo precoce, tem floração em até 40 dias após o plantio e pode ser plantada em qualquer região do país com volumes de chuvas regulares, permitindo o uso de insumos, como calcário e adubo químico, com menor risco de fracasso da produção. A planta ainda tem mais uma vantagem em relação às demais disponíveis no mercado. Ela permite colheita mecanizada, o que reduz em muito os custos de produção. Gabriela tem uma produtividade média de 1,9 tonelada por hectare e teor de aéreo de 50 por cento. Mais informações pelo telefone (83) 3341-2314 ou pelo e-mail sementes@cnpa.embrapa.br

▶ A Topseed Premium, linha de sementes da Agristar, ganha mais um produto: as mini alfaces Baby Leaf, que, como o nome indica, compõe-se de folhas colhidas precocemente em relação ao seu tempo tradicional de colheita. O tamanho das folhas depende da espécie e da forma de utilização (in natura ou em pratos), mas, em média, possui 12 cm de comprimento, sendo colhidas 35 dias após o semeio. As Baby Leaf se apresentam em cores e formatos diferenciados, além de se destacarem por serem mais saborosas e macias. As cultivares de alface podem ter inúmeras formas, desde finas e macias, até folhas espessas e crespas. As cores também podem variar bastante, desde o tradicional verde até o vermelho escuro e brilhante. No Brasil, o sistema de produção mais comum para o cultivo da Baby Leaf é o hidropônico, por meio de estufas agrícolas, devido à velocidade de produção e qualidade do produto obtido. A hidroponia é uma das opções mais viáveis, tratando de áreas ainda pequenas e atendendo a um mercado seleto e exigente em qualidade.

Motosserra doméstica ▶A Stihl lançou duas motosserras: a MS 180 e a MS 230. A primeira é destinada ao mercado doméstico. Segundo a empresa, é ideal para aplicações em residências, para jardineiros profissionais ou para trabalhos de corte de madeira em pátios e jardins, poda de árvores e corte de lenha. Com baixo peso e extremamente ergonômica, é fácil de manusear em meio ás árvores dos jardins, para o trabalho de poda, por exemplo. Voltada para o mercado agropecuário e de jardinagem, a MS 230 vem com um novo carburador capaz de garantir o suprimento ideal de

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gasolina em diferentes condições de trabalho, além de ter ação anticorrosiva aos elementos do álcool presentes no combustível. Um novo sistema de filtragem garante maior vida útil aos componentes e melhora na eficiéncia de filtragem. Caso queira orientação sobre os passos necessários para realizar o licenciamento rígido e fácil de motosserras, acesse www.stihl.com.br. Um lembrete: portar ou utilizar motosserra sem licença ou registro é crime punível com multa e pena de três meses a um ano de detenção, conforme lei federal.


Novidades no campo Cebola Diamantina ▶ A Isla está lançando mais uma variedade de cebola. A cultivar Híbrida Diamantina se destaca pela uniformidade de seus frutos e pela excelente produção. Também apresenta grande resistência à raiz rosada e tolerância ao fusarium. A época de semeadura é o verão, com ciclo de 170 dias. Do tipo texas grano e com forma de globo, os frutos são grandes e precoces. A cebola é a terceira hortalicias mais produzida no mundo e o Brasil ocupa a oitava posição na produção mundial, superando 1,5 milhão de hectares plantados. A Isla comercializa as sementes da Cebola Híbrida Diamantina em pacotes longa vida, latas e envelopes de 10 gramas. A aquisição pode ser realizada pela loja virtual (www.isla.com.br), pelo televendas 0800 709 5050 ou diretamente nas melhores casas agropecuárias e supermercados, em todos os estados do Brasil.

Embrapa desenvolve primeira cultivar de café

▶A cultivar de café conilon BRS Ouro Preto (Coffea canephora Pierre ex Froehner) foi desenvolvida pela Embrapa Rondônia. Recomendada especialmente para Rondônia – segundo produtor de café conilon do Brasil, atrás apenas do Espírito Santo – foi obtida pela seleção de cafeeiros com características adequadas às lavouras comerciais do estado e adaptada ao clima e ao solo da região. Sua denominação é uma homenagem ao município de Ouro Preto do Oeste, centro pioneiro da colonização oficial do antigo território de Rondônia. A conilon BRS Ouro Preto é indicada para o cultivo em sequeiro ou com irrigação e é fruto de um trabalho de pesquisa de mais de 20 anos. Com manejo adequado, apresenta potencial de produtividade de 70 sacas beneficiadas por hectare em lavouras de sequeiro. Em testes de campo, chegou a atingir mais de 120 sacas por hectare. Possui grãos com maior uniformidade de maturação e peneira média acima de 14. Apresenta rendimento no beneficiamento acima de 52%.

Controlador de vazão Isobus ▶A empresa TeeJet Technologies anuncia o lançamento do sistema de controle de aplicação Isobus, desenhado para o uso em sistemas plug and play,� utilizado em tratores equipados com Isobus. O IC-18 é o mais completo controlador de vazão “Isobus” utilizado para aplicação de produtos fitossanitários por via líquida. Pode ser usado por pulverizadores para a aplicações de defensivos, fertilizantes líquidos e/ou aplicações de amônia. A utilização do IC-18 significa que os operadores podem aproveitar os terminais virtuais que já vêm de fábrica nos tratores, reduzindo o números de consoles, resultando numa cabine mais limpa, uma rígida instalação e melhor interação com outros sistemas de agricultura de precisão. É capaz de manter a vazão planejada durante a aplicação até�o processamento final, incluindo os mapas de aplicação, a característica chave dos controladores TeeJet Isobus, ressalta Brian Satorius, engenheiro de vendas da TeeJet Technologies. Essa compatibilidade oferece facilidade desde a configuração até a utilização, além do beneficio de manter o ciclo da agricultura de precisão. setembro 2012 – Agro DBO | 61


Biblioteca da Terra Irrigação e fertirrigação

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Fepaf – Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais lançou um boletim técnico intitulado “Manejo da Irrigação e Fertirrigação: perguntas e respostas”, com o propósito de, como indica o título da publicação, esclarecer dúvidas de técnicos agrícolas e produtores rurais. Entre os temas abordados estão: bombas e bombeamento; irrigação por aspersão e irrigação localizada; manejo de adubos na fertirrigação; injeção de fertilizantes e plantio direto em hortaliças irrigadas. Organizado pelos professores Roberto Lyra Villas Bôas e João Carlos Cury Saad, da FCA – Faculdade de Ciências Agronômicas, e pelos doutorandos em agronomia Manoel Xavier de Oliveira Júnior (Horticultura/ FCA), Rigléia Lima Brauer e Livia Sancinetti Carribeiro (Irrigação e Drenagem/FCA), o boletim conta com a colaboração de pesquisadores da Unesp de Ilha Solteira, do campus experimental de Registro e do IAC – Instituto Agronômico de Campinas. Com 98 páginas, o boletim técnico custa R$ 30,00. Os interessados podem adquiri-lo na sede da Fepaf, na Fazenda Experimental Lageado, em Butucatu (SP), ou encomendá-lo através do e-mail publicacoes@fepaf.org.br

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No rastro das azeitonas

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om 447 páginas, o livro Following Olive Footprints (Olea europaea L.) Cultivation and Culture, Folklore and History, Traditions and Uses (em tradução livre, “Seguindo as Pegadas da Azeitona, Cultivo e Cultura, Folclore e História, Tradições e Usos”) apresenta a distribuição mundial da cultura da oliveira, além de características históricas, culturais, agronômicas e econômicas nas diversos regiões com tradição no cultivo de oliveiras e consumo de azeitonas e derivados. A publicação foi elaborada durante quase dois anos por 99 autores de 44 países. Os pesquisadores Adelson Francisco de Oliveira, Dili Luiza de Oliveira e Marcelo José Alves, da Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, são autores do capítulo Following Olive Footprints in Brazil. O livro será lançado durante o 7º Simpósio Internacional sobre o Crescimento de Oliveiras, que será realizado em San Juan, na Argentina, no final deste mês. Os interessados podem obter mais informações através da Ascom Epamig (comunicação@ epamig) ou pelo site da entidade: www.epamig.br

Referência energética

L

ançado em julho pela editora britânica Elsevier, o livro Comprehensive Renewable Energy (Energias Renováveis Abrangentes) dedica um capítulo à história do etanol brasileiro. Com oito volumes e mais de quatro mil páginas, a publicação teve a participação de 150 colaboradores de diferentes países e setores da indústria energética, entre os quais o diretor de comunicação corporativa da Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, Adhemar Altieri. Autor do texto sobre o etanol brasileiro publicado no volume Biomass and Biofuel Production (Produção de Biomassa e Biocombustível), Altieri explica que seu objetivo foi detalhar o histórico e a viabilidade comercial do biocombustível produzido a partir da cana-de-açúcar e demonstrar porque é considerado o mais sustentável que existe. Os oito volumes que integram a publicação abordam as seguintes

fontes de energia: fotovoltaica, eólica, solar, células de combustível e hidrogênio, biomassa e biocombustíveis, hidroeletricidade, geotérmica e energia dos oceanos. Editada em inglês (ainda não tem tradução em português), a obra custa cerca de R$ 6 mil. Para obter mais informações a respeito, acesse o site da Unica (www.unica.com.br) ou o da Elsevier (www.elsevierdirect.com/article)



Calendário de eventos

SETEMBRO

11

III Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura

De 11 a 14 – Instituto Agronômico de Campinas – Campinas (SP) www.apta.sp.gov. br/olivaspeventos.php?id=12

13

Exposições do Anhembi São Paulo (SP) www.exporgarden.com.br E-mail: fiaflora@uol.com.br

25

Frutal/19ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria

Ecoenergy/2ª Feira Internacional de Tecnologias Limpas e Renováveis para Geração de Energia

De 25 a 27 - Centro de Eventos do Ceará – Fortaleza (CE) www.frutal.org.br E-mail: geral@frutal.org.br

De 13 a 15 – Centro de Exposições Imigrantes São Paulo (SP) www.cipanet.com.br E-mail: cipa@cipanet.com.br

25

17

Feed2012/Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima

Dia 17 – Hotel Grand Hyatt São Paulo (SP) E-mail: feed2012@cna.org.br

18

Fisa/Food Ingredients South America (16ª Exposição e Congresso de Ingredientes Alimentícios

De 18 a 20 – Expo Center Norte São Paulo (SP) www.mmagencia.com.br Fone: (11) 2769.7743

23

Fiaflora Expogarden/15ª Feira Internacional de Paisagismo, Jardinagem, Lazer e Floricultura De 20 a 23 – Pavilhão de

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Global Agribusiness Forum

De 25 a 26 – Hotel Grand Hyatt São Paulo (SP) Fone: (11) 3144-9999 www.globalagribusinessforum.com

OUTUBRO

1

Encontro Panamericano da Associação Internacional de Anatomistas de M adeira (IAWA) De 1 a 5 - Dorisol Recife Grand Hotel – Recife (PE) www.iawa2012.com

9

ABTCP/45º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel

De 9 a 11 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) www.abtcp2012.org.br E-mail: abtcp@abtcp.org.br

10

Expotoledo 2012/12ª Exposição do Agronegócio de Toledo

De 10 a 14 – Centro de Eventos

17 - XXV Congresso da Associação Latino-Americana da Batata (Alap), XIV Encontro Nacional de Produção e Abastecimento de Batata (ENB), X Seminário Nacional de Batata Semente, ABBA Batata Show – De 17 a 20/9 – Center Convention e Fazenda do Glória – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – Uberlândia (MG) E-mail: alapbrasil@ alap2012.com Realizados simultaneamente, os quatro eventos relacionados acima compõem o mais importante fórum de intercâmbio técnicocientífico da cadeia da batata no Brasil e na América Latina. Segundo dados da Alap, a batata é o quarto alimento mais consumido no mundo, atrás apenas do arroz, do trigo e do milho. Ocupa 20 milhões de hectares de área, com produção anual de 300 milhões de toneladas. China, Rússia, Índia, Estados Unidos, Polônia, Ucrânia, Alemanha, Holanda, Reino Unido e França são os principais produtores. O Brasil está em 25% lugar no ranking mundial, com produção ao redor de 120 mil toneladas/ ano.

Ismael Sperafico – Toledo (PR) www.srtoledo.com.br E-mail: sociedaderuraldetoledo @terra.com.br

11

3ª Exposição Nacional de Híbridos de Orquídeas

De 11 a 14 – Parque de Feiras e Exposições Wanderley Agostinho Burmann – Ijuí (RS) www.expoijuifenadi.com.br E-mail: secretaria@aciijui.com.br

15

12ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol

De 15 a 16 – Hotel Grand Hyatt São Paulo (SP) E-mail: conferência@datagro. com.br

23

38º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras

De 23 a 26 – Hotel Glória Caxambu (MG) – Fundação Procafé: (35) 3214-1411 www.fundacaoprocafe.com.br

23

5º Salão Internacional de Artesanato (Raízes Brasileiras)

De 23 a 17 – Pavilhão de Exposições ExpoBrasília Brasília (DF) www.salaodoartesanato.com.br

24

Feira Florestal da Amazônia

De 24 a 27 - Centro de Convenções da Amazônia Belém (PA) www.feiradebelem.com.br


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Legislação

Renegociação de débitos O novo pacote de renegociação proposto pelo governo federal inclui orizicultores, produtores de laranja e suinocultores Fábio Lamônica Pereira *

O

Banco Central do Brasil publicou resoluções (nº 4117, 4118 e 4119, disponíveis em www.bcb.gov.br ) do CMN – Conselho Monetário Nacional especificamente acerca de renegociação de débitos de orizicultores, produtores de laranja e suinocultores. Medidas desta natureza têm sido tomadas com frequência pelo CMN a fim de propiciar certo alívio, ainda que momentâneo, a produtores rurais, uma vez que a solução para o endividamento do setor demanda atitudes mais abrangentes.

mais reforçar que, caracterizada a incapacidade de pagamento do produtor em decorrência de dificuldade de comercialização de produtos, como no caso que levou à edição dos referidos normativos, considerando-se o alto custo de produção e o baixo valor de venda, o produtor já tem o direito assegurado à prorrogação de seus débitos, sem a exigência de encargos moratórios. O governo federal, contudo, tomou medidas específicas a fim de que seja regulamentada a forma como os credores terão de tratar os produtores que se pre-

Os orizicultores, além das perdas com a seca, enfrentam preços abaixo do custo de produção

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

Os orizicultores, além das perdas com a grave e recente seca (houve resolução específica permitindo a prorrogação de débitos com vencimento em 2012), enfrentam baixos preços dos produtos praticados pelo mercado. Os produtores de laranja, por sua vez, também têm vivido o drama da concentração do mercado nas mãos de poucos compradores, fato este que, aliado ao excesso de produção, tem mantido o preço de venda do produto abaixo do custo de produção. Já os suinocultores têm registrado prejuízos em função do baixo valor de venda de seus produtos frente à valorização excessiva do preço da matéria prima, composta basicamente por soja e milho. Não é de-

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encham nos requisitos estabelecidos pela lei e respectivos regulamentos, o que não exclui outras possibilidades que não estejam ali discriminadas. Os citados normativos contemplam as três classes de produtores bem como suas cooperativas, enquadrando tanto operações de custeio quanto de investimento. Para tanto, é essencial que os pagamentos das parcelas estejam adimplentes até 31 de dezembro de 2011, de maneira que serão mantidas na mesma fonte de recursos e, de consequência, serão mantidos os mesmos juros estipulados para a normalidade, sem a imposição de encargos moratórios. A primeira parte das resoluções estipula que, independentemente da comprovação de incapacidade de pagamento

por parte dos produtores, as instituições devem (ao invés de podem, conforme já restou superado pelo judiciário) prorrogar para o dia 15 de fevereiro de 2013 o pagamento das parcelas com vencimento entre 01 de janeiro de 2012 e 14 de fevereiro de 2013, segundo as fontes de recursos enquadradas. A segunda parte estende benefícios diferenciados aos produtores que comprovarem a incapacidade de pagamento em função da dificuldade de comercialização dos produtos, que recai na demonstração de elevados custos de produção e baixos preços de venda, segundo análise da instituição credora. Obviamente, trata-se de questão subjetiva e que poderá ser objeto de contestação judicial ante os diversos pedidos que, certamente, serão indeferidos por credores que têm o hábito de ignorar o direito que legalmente ampara o produtor. Dependendo da linha de crédito e do tipo de cultura, os produtores poderão renegociar os débitos para pagamento em até cinco anos. Neste caso, o produtor ficará impedido de contratar nova operação de crédito de investimento com recursos oficiais até que o saldo renegociado seja totalmente quitado. Por fim, é essencial que o produtor organize a documentação que demonstre os prejuízos sofridos a fim de comprovar o enquadramento exigido pela respectiva resolução mediante protocolo de pedido formal junto ao credor.



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