Revista Agro DBO - Ed 42 - março/2013

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Sumário

8 Monsanto

Agro DBO acompanha, em Ponto de Vista e outras seções desta edição, o embate judicial entre a multinacional e os sojicultores brasileiros.

18 Grãos

Produtores rurais do Rio Grande do Sul esperam colheita farta na safra em curso, boa produtividade e renda alta em 2013.

32 Cafeicultura

Consultor da Agro DBO, Hélio Casale insiste no valor da matéria orgânica no pé do cafeeiro para a saúde da planta e qualidade do grão.

36 Entrevista

Idealizador da Rede de Fomento, Paulo Hermann batalha pela difusão do conceito e implantação de projetos de ILPS no país.

24 46 Tecnologia

Especialista em pulverização discute a validade, ou não, do uso de agricultura de precisão na aplicação em taxa variável de agroquímicos.

Matéria de capa 50 Perfil Infestação maciça de lagartas nas lavouras de milho GM em várias regiões do país preocupa agricultores, técnicos e empresas difusoras de tecnologia. Por enquanto, não há consenso sobre as causas do ataque.

Richard Jakubaszko conversa com Romeu Ciochetta, agricultor em Campo Novo do Parecis (MT), um dos pioneiros do Cerrado.

Artigos

40 - Rogério Arioli Silva discute a realidade da terceira safra no Brasil 48 - Décio Gazzoni sugere alguns caminhos para a agricultura familiar 66 - Fábio Lamonica recomenda a leitura do Manual de Crédito Rural

Seções Do leitor............................................................. 4 Ponto de vista.................................................. 8 Notícias da terra............................................10 Marketing da terra........................................22 Política...............................................................42

Deu na imprensa..........................................56 Análise de mercado.....................................58 Novidade no campo....................................60 Biblioteca da terra.........................................62 Agenda.............................................................64 março 2013 – Agro DBO | 3


Do Leitor à noite, está com a lâmpada desativada, servindo apenas para sustentar os fios que alimentam o motor do lavador. Mesmo que a lâmpada estivesse ativada, não seria observado o efeito da falta de florada da foto. Na minha propriedade tem muitas dessas plantas, algumas delas debaixo de postes de iluminação, e tal efeito não apareceu. Já vi outras espécies em situações semelhantes e nunca observei esse efeito, Assim sendo, encontro no calor irradiado pelo asfalto a maior causa do retardamento da florada nessa planta em especial”

BAHIA Gostei muito dos exemplares que tive acesso da revista Agro DBO. Manoel Teixeira de Castro Neto Cruz das Almas DISTRITO FEDERAL Já fui assinante na época de estudante (quando a Agro DBO ainda se intitulava DBO Agrotecnologia) e agora, como profissional da Embrapa, gostaria de continuar recebendo a revista. Caroline Reyes Brasília NR: A leitora Caroline Reyes é agrônoma por formação. GOIÁS Excelente revista. Conteúdo técnico e objetivo. Parabéns à equipe Agro DBO. Luiz Antônio de Carvalho Jataí Gostaria de saber do autor da matéria (o senhor Hélio Casale) “ Como foi a florada?’, na página 22 da revista de novembro, se a foto da neve da montanha (Arribadaea florida) foi tirada em um terreiro de café ou numa via pública, pois acho que a planta está sob um poste de iluminação, o que traria mais efeitos sobre a florada do que o da temperatura do solo, como indica o autor. Acho que a luz do poste alteraria o fotoperíodo da espécie, induzindo ou retardando a florada naquela parte da planta. Gustavo Pires de Oliveira Formosa NR: Resposta do cafeicultor Helio Casale, do Conselho Editorial da revista Agro DBO: “Próximo da planta tem realmente um poste, mas, como não se usa o terreiro

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MARANHÃO Uma revista simples, mas de grande conteúdo informativo. Parabéns à toda equipe Agro DBO. Maykon da Silva Soares Açailândia MATO GROSSO Parabenizo a revista porque ela traz o que nós, produtores rurais, precisamos saber. Vocês são nota 10. Erivaldo Ferreira da Cruz Barra do Garças MINAS GERAIS Bem elaborada e de grande benefício a pequenos, médios e grandes produtores. Júlio César Costa L. Nazareno Ipatinga Grande via de informações. Muitas novidades que não conhecemos. É uma ótima ferramenta de trabalho. Marcelo Alves da Silva. Unaí Excelente, lúcida e atual a entrevista com o ex-ministro Alysson Paolinelli na Agro DBO (edição nº 40). Deveria ser de leitura obrigatória para nossos governantes, parlamentares e ambientalistas. Parabéns ao ministro e à revista, também lúcida e atual. Emilio de Vasconcelos Costa Sete Lagoas PARÁ É sem dúvida uma fonte de informação valiosíssima para o dia-a-dia do agronegócio nacional. Edemir Alves Leal. Marabá. Ótima opção para produtores rurais e técnicos da área agrícola na busca diária por informações e, consequentemente, atualização. Eliandro Alves de Sá Ourilândia do Norte

PARAIBA Recebi um exemplar da edição nº 39, de novembro/2012, na oportunidade da reunião da Fenata – Federação Nacional de Técnicos Agrícolas, em Salvador/ BA, em dezembro/2012. Li toda a revista e a achei muito rica em informações. Como sou assessor técnico da Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Paraíba, gostaria de receber os exemplares da revista para servir como ferramenta de informações para os agricultores que acompanho através da Federação. Não sou agricultor nem tenho terra, mas tenho ajudado muitos agricultores na obtenção de terras e na organização da produção. Também sou escritor e já publiquei 13 livros, todos na temática da agricultura familiar. Ivanildo Pereira Dantas João Pessoa PARANÁ Como agrônomo, agricultor, pecuarista e consultor, gostaria de ver uma seção ou reportagens na forma de entrevistas com produtores rurais contando como foi o começo de suas atividades no campo, seus desafios, quais são e como usam as inovações técnicas e administrativas. Francisco F. Fontana Curitiba Matérias técnicas oportunas, e muito boas as colunas dos colaboradores. Vitor Hugo Zanella Medianeira A revista é espetacular. As matérias são atuais, abordam temas pontuais e extremamente relevantes. Meu pai é agricultor e eu sou gerente de unidade de uma grande cooperativa paranaense (C.Vale). A revista poderá me ajudar no dia-a-dia, tanto na condução dos negócios na agricultura do meu pai, como também no trabalho de orientação dos clientes e associados da cooperativa. Higo Jardel Beltramim São João do Iva Por gentileza, favor informar se a revista Agro DBO é continuação de DBO Agrotecnologia, ou são publicações distintas. Atenciosamente, Izilda Calheiros Londrina NR: A Agro DBO é uma continuação da DBO Agrotecnologia, com diferenças substanciais em relação à antecessora. É uma publicação mensal (a DBO Agro-


tecnologia era bimestral), tem o dobro de páginas, novas seções e foi remodelada graficamente – optamos por uma diagramação mais moderna, leve e simples, para facilitar a leitura. Referente à revista nº 40 (dez/2012-jan/2013). No artigo da página 21, a tabela traz o Brasil como “primeiro” produtor mundial de milho e terceiro exportador. Mas não continuam sendo os EUA, os primeiros? José de Freitas. Castro NR: Sim, o leitor está coberto de razão. Os Estados Unidos continuam líderes absolutos no ranking mundial, com produção quase quatro vezes maior do que a brasileira (antes da seca do ano passado, foi cinco vezes maior). Segundo projeções do USDA, os EUA devem colher 272 milhões de toneladas de milho no ciclo 2012/13. A China vem em segundo lugar, com colheita estimada em 208 milhões de toneladas, e o Brasil em terceiro lugar no pódio, com 71 milhões. Pedimos desculpas pelo erro. PIAUI Gosto muito da revista, parabéns. Temos fazenda margeando o rio Parnaíba, no lado do Maranhão e no lado do Piauí. Terras de altíssima qualidade produtiva, mas com muita carência em informações, energia e organizações tipo cooperativa. Mesmo assim, temos aumentado muito a produção de soja, arroz e gado, principalmente. Ary dos Santos Vehsa Parnaíba. RIO GRANDE DO SUL Indispensável para o desenvolvimento técnico da agricultura. Gilmar Luiz Mumbach Cerro Largo

ERRATA: Um sul-mato-grossense zeloso li­ gou para a redação para dizer que a chamada de capa da matéria sobre laranja da edição de fevereiro (Citricultores trocam São Paulo pelo Sul de Mato Grosso do Sul) está incorreta. O leitor tem razão. Os municípios de Três Lagoas e Aparecida do Taboado, citados no texto, ficam na região fronteiriça com São Paulo, portanto, a leste de Mato Grosso do Sul, como mostra o mapa ao lado. Na região sul do estado (mais especificamente, no chamado “cone sul”, entre o Paraguai e o Paraná), Muito boa, reportagens e artigos interessantes. Guilherme Marin Palmeira das Missões Olá, gostaria primeiramente de cumprimentá-los pelas matérias publicadas na revista. A respeito da matéria sobre agricultura de precisão publicada na edição de novembro, gostaria de lembrar que a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, possui mestrado profissional na área, para formação de profissionais qualificados. Sou mestrando na UFSM em AP. A primeira turma está se formando no inicio deste ano. Diego Tobias Nardino Vista Gaúcha RONDÔNIA Os artigos são muito importantes e úteis para o produtor rural moderno. Wilson Alves de Alcântara Vilhena SÃO PAULO Solicito, encarecidamente, o envio de um exemplar da revista Agro DBO,

predominam lavouras de cana e grãos e pecuária integrada. Não há cultivo comercial de laranja em grande escala. Lamentamos o equívoco. edição 39, de novembro de 2012. Recebo periodicamente a revista e fui notar a falta da referida ao me dar conta do recebimento do último exemplar. Vi, nas cartas dos leitores da última edição, referências a matérias de extrema importância, como é sempre do contexto da revista, e não queria deixar de ler as mesmas. Luiz Cesar Rodrigues Paranapanema. Excelente revista para nível técnico e superior. Gosto quando há mais de um artigo sobre o mesmo tema, porém com pontos de vista diferentes. Mostram a imparcialidade da revista, fundamental. Giancarlo Coscelli Rocco Piracicaba Excelente revista, assuntos atualizados. Tomara que continuem crescendo por muito tempo. William Katsumi Yassu Itaí AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Carta ao leitor

A

atual safra de verão vai adiantada em termos de colheita, a 2ª safra já começa a ser plantada, mas ainda podem ser chamadas de “safra das incertezas”, conforme registramos na edição anterior da Agro DBO. Felizmente a chuva atrapalhou a colheita só em janeiro e nos primeiros dias de fevereiro, especialmente em algumas regiões do Centro Oeste. Tão logo as chuvas se reduziram, a partir da primeira quinzena de fevereiro, permitiu a retomada da colheita da soja precoce, mas no milho de 1ª safra algumas invasões suspeitas e atípicas de lagartas começaram a acontecer em diversas regiões, por vezes de forma intensa, como mostra a matéria de capa presente edição, intitulada “Lavoura furada”, preparada pelo jornalista Ariosto Mesquita. O que deixa muita gente preocupada é o fato dessas lagartas estarem atacando lavouras de milho GM. Portanto, foram naturais os comentários de alguns técnicos e produtores de que a eficiência da tecnologia Bt estaria em xeque, face ao aparecimento precoce de lagartas resistentes. Registramos que, neste momento, é ainda cedo para se tirar conclusões definitivas, pois especialistas entrevistados são cautelosos no diagnóstico, considerado apressado e alarmista, e as empresas de sementes alertam os produtores para cumprir à risca as recomendações de manejo, e de plantio da bordadura com milho não GM, que existe justamente para dificultar o aparecimento de espécimes resistentes. Alguns produtores depositaram fé inabalável na nova tecnologia e esqueceram a precaução. Enquanto isso, do Sul ao Sudeste e Centro Oeste e Leste, a safra de verão vai em frente, com boas perspectivas de ser positiva e remuneradora, de acordo com a reportagem do jornalista Glauco Menegheti. Já o imbróglio da disputa judicial entre a Monsanto e os produtores de soja do MT segue apimentado, porque fatos novos aconteceram, e que registramos em diversos momentos, como nas seções “Deu na imprensa” e “Política”, e, em especial, no texto do colunista Daniel Glat, especialista da área sementeira. A novela promete boa audiência com novos e palpitantes capítulos no futuro, porque envolve agora não apenas uma disputa judicial, mas até mesmo os políticos. Como destaque ainda da edição, a entrevista com Paulo Herrmann, da Rede de Fomento, que profetiza uma nova revolução na agricultura brasileira através da Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura. Outra entrevista, no Perfil, mostra o o que faz o produtor rural Romeu Ciochetta, exemplo de agricultor profissional e consciente, pioneiro, e um dos desbravadores do Cerrado brasileiro. Aos leitores, mantenham contato com a redação através do e-mail redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamônica, Glauco Menegheti, Hélio Casale, Luís Cesar Pio, Paulo Molinari e Rogério Arioli Silva Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Sergio Escudeiro Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Gerente: José Geraldo S. Caetano Vendas: Andrea Canal, Heliete Zanirato, Marlene Orlovas, Naira Barelli e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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O SHOW NÃO PODE PARAR. CONTINUE LAVANDO E DEVOLVENDO AS EMBALAGENS VAZIAS DE AGROTÓXICOS.

Agricultor, continue lavando as embalagens vazias de agrotóxicos no momento da aplicação, e devolvendo todas no local indicado na nota fiscal. Graças a você, esta campanha é um orgulho para a nação e um exemplo para o mundo.

INICIATIVA:

APOIO:

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS

www.inpev. org.br


Ponto de vista

Tecnologia goela abaixo Nosso colunista, Daniel Glat, discorre sobre o controvertido acordo que a Monsanto propôs aos agricultores brasileiros sobre o uso da soja RR1.

A

pesar de ter feito toda minha carreira em empresa concorrente da Monsanto (desde que essa entrou no setor sementeiro) sempre tive grande admiração pelos trabalhos científicos e pioneiros dessa empresa; notadamente os que geraram os produtos transgênicos, como a soja RR, os milhos YG e VTPro, o algodão Bollgard etc. Sempre acreditei e respeitei também o direito da Monsanto e de outras empresas de serem remuneradas adequadamente por suas inovações. Porém, como produtor rural, não posso concordar com a forma como a empresa tenta gerenciar a questão dos transgênicos no

tende proibir a venda de semente Intacta para produtores que não assinarem tal acordo? Não consigo imaginar como isso poderia ser feito. Sobre a tecnologia Intacta, o mesmo padrão se repete: uma excelente tecnologia, já sendo novamente mal gerenciada. Dois grandes temas me preocupam aqui. Primeiro, a forma como a genética Intacta já está alastrada pelo país, mesmo sem aprovação do nosso maior comprador de soja, a China. Pelos meus cálculos, deve haver no Brasil, hoje, entre campos de sementes, principalmente, e campos experimentais e de observação, mais de 100 mil hectares de soja Intacta. Aí eu pergunto: “E se

“A verdade é que as empresas precisam respeitar mais as necessidades dos produtores rurais”

* Daniel Glat é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural no estado doTocantins.

Brasil. Nesse sentido, congratulo a Aprosoja e a Famato por recomendarem aos produtores não assinar o acordo com a Monsanto sobre royalties relativos ao uso da tecnologia RR1. Afinal, o que leva uma empresa a propor aos produtores algo como “Assinem esse acordo que nós não devemos nada para vocês daqui para trás, e nós te damos dois anos desse produto (royalties da soja RR1) de graça”? Está explícito nessa proposta a insegurança e provável equívoco da empresa sobre as cobranças dos royalties de 2010 para cá. O acordo diz que, ao assinar o mesmo, “o produtor estará licenciado para uso futuro da tecnologia Intacta RR 2 Pro”. Não entendo o que isso quer dizer; será que a empresa pre-

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a China não aprovar logo, como é que vai ficar? As empresas vão poder vender em 2013 os 3 a 4 milhões de sacas de variedades Intacta que estão sendo produzidas?” Vendas de sementes de soja para 2013 já estão quase começando... Óbvio que começará a haver mistura com grãos de RR1. Pode ser que nos navios da safra 2013, a presença seja tão baixa, ou a empresa consiga fazer um trabalho tão bom de “stewardship” (gerenciamento, em tradução livre), que não apareça nos testes das cargas. Vamos torcer. Mas a partir de 2014, com a multiplicação natural que essa soja terá no Brasil, aí não vai ter jeito. E acreditem, por mais forte que seja o lobby norte- americano, na China quem manda são

os chineses; e se entendo o modus operandis chinês, sabedores dessa presença da soja Intacta nos campos brasileiros, eles poderão atrasar propositalmente a aprovação dessa tecnologia na China, podendo assim maximizar os benefícios a serem extraídos da empresa, assim como colocar pressão nos preços da soja brasileira em 2014. Afinal, não será difícil detectarem grãos de Intacta nos navios, como já detectaram no passado grãos de sementes tratadas... Vamos torcer para que a aprovação ocorra o quanto antes. O outro problema é a forma do calculo do valor da tecnologia, que leva ao valor anunciado dos royalties de R$115/hectare, que é para ser 1/3 do ganho total proporcionado pela tecnologia. Primeiro, não faz sentido que um “trait” (atributo embutido num determinado produto) sozinho, por melhor que seja, possa custar mais caro que as próprias variedades que o contém! Além disso, os seis sacos e pouco que as variedades Intacta produziram a mais sobre as variedades RR1 comerciais, de acordo com os trabalhos da empresa, trazem uma grande “pegadinha”: são médias de variedades pré-comerciais da Monsanto contra variedades comerciais de várias empresas, algumas com muitos anos de mercado. É usual e esperado em programas de melhoramento genético que a média de variedades pré-comerciais sejam maiores que a média das variedades comerciais. Tenho certeza que, em todos os outros bons programas de melhoramento de soja no Brasil, como os da


TMG, Pioneer, Brasmax, Nidera, Embrapa, as médias das variedades pré-comerciais RR1 também foram superiores à média desse pacote de variedades comerciais! Em outras palavras, é muito provável que, quando plantadas lado a lado, as variedades Intacta (pré– comerciais em 2012/13) contra as novas variedades RR1 das outras empresas, as que também foram pré-comerciais em 2012/13, essa diferença de produtividade deverá ser menor. Quero deixar claro que acho a tecnologia Intacta uma excelente ferramenta, principalmente no momento em que as lagartas estão cada vez mais agressivas e difíceis de controlar na soja. Espero que a empresa e os técnicos, agrônomos e produtores brasileiros tenham boas sugestões pra estender ao máximo a durabilidade do “trait”; mas não consigo

me furtar às críticas de como essa tecnologia está sendo administrada no Brasil até agora. Finalmente, deixo meu alerta com a forma pela qual a empresa está quase que “forçando” produtores a adotarem a tecnologia RR nos híbridos de milho! Apesar dessa tecnologia no milho ser até útil em alguns lugares e situações do Brasil, em muitas regiões manejamos ervas daninhas com baixo custo e boa eficiência com os produtos atuais. O uso de milho RR em rotação com soja RR no Brasil, em larga escala e continuamente, trará com certeza dois grandes inconvenientes: um desenvolvimento ainda mais rápido de ervas resistente ao glifosato, e presença maciça de milho RR em soja RR requisitando mais um herbicida na soja (nos Estados Unidos, esse problema é minimizado pelos três ou quatro

meses de neves que matam a germinação do milho). Para as empresas de sementes, é muito mais prático produzir um híbrido só na versão Bt+RR do que ter que produzir os dois: um só Bt, para os que não querem RR no milho, e outro Bt+RR, para os que o querem. A verdade é que as empresas precisam respeitar as necessidades dos produtores, e tecnologias verdadeiramente boas são compradas naturalmente. Não é necessário “enfiar goela abaixo”. Termino reiterando meu respeito e admiração técnica pela Monsanto, empresa que muito contribuiu para a agricultura brasileira com seus produtos e tecnologias, notadamente o Round-up e os transgênicos, mas não posso concordar com a forma pela qual a empresa tenta gerenciar os temas relacionados com essas tecnologias no Brasil. março 2013 – Agro DBO | 9


Notícias da Terra Safra I

Novo recorde no campo

A

safra 2012/13 de grãos deve atingir 185 milhões de toneladas, 11,3% acima da safra passada, conforme o quinto levantamento da Conab, divulgado em fevereiro. O destaque, mais uma vez, foi a soja, com crescimento de 25,7% e produção prevista de 83,42 milhões de toneladas. As estimativas para o milho 2ª safra indicam aumento de 4,6%, passando de 39,1 para 40,9 milhões de toneladas. Se confirmadas, será a maior sa-

fra dessa cultura, superando a do milho 1ª safra, que deve alcançar 35,1 milhões de toneladas. A soja e o milho apresentaram os maiores índices de crescimento em relação à área plantada. No primeiro caso, de 25,0 para 27,6 milhões de hectares (10,4%). No segundo, de 7,6 para 8,3 milhões de hectares (8,5%). Outras culturas também apresentaram aumentos de área, como o amendoim 1ª safra, aveia, canola, cevada e triticale.

Safra III

USDA x Conab

P

or pouco, os números não bateram. Para a Conab (veja nota ao lado), o Brasil vai colher 83,42 milhões de toneladas de soja. Para o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, da sigla em inglês) 83,50 milhões, conforme o relatório mundial de oferta e demanda divulgado em 8/2. Antes, o USDA previra 82,50 milhões de toneladas. Para a Argentina, as previsões norte-americanas indicam 53 milhões de toneladas. Para os EUA, o USDA manteve a projeção anterior, de 82,06 milhões de toneladas, com exportações de 36,61 milhões. A produção mundial de soja foi estimada em 269,50 milhões de toneladas; as exportações, em 98,86 milhões; e os estoques finais, em 60,12 milhões. Quanto à China, as estimativas apontam produção de 12,60 milhões de toneladas e importações ao redor de 63 milhões.

Safra IV

Milho a perder de vista

N

Safra II

Números semelhantes

A

primeira estimativa do IBGE em 2013 da safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas aponta para uma produção de 183,3 milhões de toneladas, 13,1% superior à obtida em 2012. A área plantada, de 53,0 milhões de hectares, é 8,4% maior do que a área colhida em 2012. O instituto considerou, no levantamento, as lavouras de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale. As três principais culturas – soja, milho e arroz – representam 92,2% da produção prevista e respondem 10 | Agro DBO – março 2013

por 85,2% da área a ser colhida. Em relação ao ano anterior, a lavoura de arroz cresceu 1,3%; a do milho, 8,2%; e a da soja, 9,7%. Quanto à produção, os acréscimos foram de 5,3% para o arroz, 3,8% para o milho e 26,3% para a soja. Entre as regiões do país, a centro-oeste deverá colher 72 milhões de toneladas; sul, 71,2; sudeste, 19,2; nordeste, 16,7; e norte, 4,3. No que diz respeito aos estados, Mato Grosso lidera com 23,4% de participação na produção de grãos, seguido pelo Paraná (20,2 %) e Rio Grande do Sul (15,0%).

o que diz respeito ao milho, o relatório do USDA prevê aumento da produção mundial (de 852,30 para 854,38 milhões de toneladas) e dos estoques (de 115,94 para 118,04 milhões de toneladas). A safra norte-americana foi mantida em 273,83 milhões de toneladas, mas as exportações daquele país devem cair de 24,13 para 22,86 milhões de toneladas. Para o Brasil, o USDA reavaliou suas estimativas: a produção vai crescer de 71 para 72,50 milhões de toneladas e as exportações, de 17,50 para 19 milhões de toneladas. No caso da Argentina, as projeções da instituição norte-americana indicam queda na produção, de 28 para 27 milhões de toneladas.


Notícias da Terra Argentina I

Bolsa de Buenos Aires prevê safra cheia

A

produção argentina de soja deverá ficar em torno de 50 milhões de toneladas, segundo relatório da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, divulgado na segunda semana de fevereiro. Abaixo, portanto, das proje-

ções do USDA. A estimativa é a primeira feita pela bolsa portenha, que fornece o levantamento privado mais aguardado do país. O cultivo da oleaginosa está praticamente concluído e a colheita deve começar neste mês

de março. A Argentina é o terceiro principal exportador de soja em grão do mundo, perdendo apenas para o Brasil e os Estados Unidos. A maior safra já colhida no país vizinho foi de 52,7 milhões de toneladas.

Os destaques positivos neste ano, em relação a 2012, são o tomate, com acréscimo de 63,3%; laranja (+52,6%); feijão, (+32,4%); soja, (+30,8%); cebola, (+26%); fumo,(+23%); batata, (+21%); trigo, (+18,7%); milho, (+17,8%); cana-de-açúcar,( +7,5 %) e maçã, (+5,7%). As regiões

sudeste, centro-oeste e sul do país devem obter os maiores valores, com R$ 82,14, R$ 82,13 e R$ 80,45 bilhões, respectivamente. Entre os estados, a perspectiva é que São Paulo lidere com R$ 49,9 bilhões, seguido por Mato Grosso (R$ 45,8 bilhões) e Paraná (R$ 38,7 bilhões).

Argentina II

Modéstia à parte

M

ais humildes (quem diria?) ou mais realistas (mais espertos?) que os norte-americanos, os argentinos devem colher 25 milhões de toneladas de milho na safra 2012 /13, conforme previsão da Bolsa de Cereais de Buenos Aires. Ou seja, 2 milhões de toneladas a menos do que o previsto pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (veja nota USDA x Conab, na página ao lado) . Se confirmada, a safra argentina será 16,3% superior à do ano agrícola anterior, quando atingiu 21,5 milhões de toneladas, e a maior deste século, ou seja, desde a safra 2000/01.

VPB

Cálculos revistos

O

VPB – Valor Bruto da Produção das principais lavouras do Brasil foi atualizado em fevereiro: deve alcançar R$ 283,5 bilhões em 2013, alta de 16,3% sobre 2012. “Devido à queda do preço da soja, houve revisão dos valores previstos para este ano. Na estimativa anterior, trabalhou-se com o cálculo de R$73,25 por saca de 60 kg e neste mês o preço usado foi de R$ 64,6 por saca, de acordo com informações do Cepea/USP”, explicou José Garcia Gasques, da Assessoria de Gestão Estratégica do Mapa.

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Notícias da Terra OGMs

Transgênicos tomam conta do campo

A

s lavouras geneticamente modificadas devem ocupar mais da metade da área plantada no Brasil em 2013, ultrapassando pela primeira vez a semeada com grãos e algodão não-transgênicos. A projeção é da consultoria Céleres. O total de cultivos OGMs chegará a 37,1 milhões de hectares, 14% a mais em re-

lação ao ano anterior (que por sua vez, já tinha registrado aumento de mais de 21% em relação à safra de 2010/2011). Ou seja, 4,6 milhões de novos hectares dedicados a variedades transgênicas. Há cinco anos, segundo a Céleres, as lavouras transgênicas brasileiras somavam apenas 1,2 milhão de

hectares. De acordo com a consultoria, a proporção de soja transgênica deve subir para 88,8% em 2013 (24,4 milhões de hectares, a maior área dedicada a cultivares GM no país). O Brasil detém hoje a segunda maior área de transgênicos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos

Algodão

A pluma despenca

A

produção brasileira de algodão em pluma será 1,42 milhão de toneladas, quase 25% a menos em relação ao volume colhido no ciclo 2011/12, quando o país teve a sua segunda maior safra da história. Segundo avaliação técnica, a cultura perdeu atratividade devido à retração dos preços do algodão em pluma no Brasil e no exterior, no período que antecedeu o plantio, aos custos de produção, cada vez mais altos, e à concorrência do milho e da soja, ambos com rentabilidade melhor.

Plano agrícola

Mais recursos

P

Logística

Onde colocar os grãos?

R

elatório do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, divulgado em fevereiro, mostra que, em breve, o estado não conseguirá armazenar uma safra, muito menos duas. “Produção e espaço para os grãos não crescem na mesma proporção”, alertam técnicos da instituição. Conforme o relatório, considerando o potencial produtivo de Mato Grosso nesta safra,

12 | Agro DBO – março 2013

45 municípios colherão volume bem superior ao potencial de armazenagem estática, o que pode trazer entraves no trajeto lavoura-armazém e armazém-porto. Para abrigar a safra projetada nesta temporada, o volume de armazenagem deveria ser de 45,6 milhões de toneladas. No entanto, a capacidade existente (considerando instalações públicas e privadas) não passa de 28,2 milhões de toneladas.

romessa da presidente Dilma Rousseff: o plano agrícola correspondente à safra 2013/14 terá mais recursos do que os 115 bilhões de reais do período anterior. O anúncio foi feito no começo do mês passado em Cascavel (PR), durante cerimônia de entrega de retroescavadeiras para municípios paranaenses. Em visita ao Show Rural Coopavel, a presidente também prometeu juros menores aos produtores rurais. “Eu queria dizer que tanto o plano agrícola e pecuário de 2013/14 quanto o da agricultura familiar – e este ano nós anunciaremos ambos até maio – terão mais recursos do que no ano passado”, disse a presidente.


Notícias da Terra Cooperativismo

Paulistas na liderança

A

cooperativas paulistas aumentaram em 115% o valor das exportações de amendoim, café e sucos de frutas industrializados em 2012, conforme dados do Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo. O faturamento com esses produtos saltou de US$ 39,40 milhões em 2011 para US$ 85 milhões no ano passado. Esses itens respondiam por apenas 1,89% do valor das exportações cooperativis-

tas paulistas em 2011. Hoje, representam praticamente 5%. As cooperativas paulistas seguem lideres em exportações, comparativamente às cooperativas dos demais estados, com aumento de 6% na quantidade embarcada, em relação a 2011. No Brasil, as exportações do setor cresceram em média 16% no mesmo período. Porém, em relação a valores, as cooperativas paulistas exportaram 3,3% a menos que 2011, e as cooperativas brasileiras, 4,7% a menos.

Fertilizantes

Negócios a todo vapor no país

A

venda de fertilizantes no Brasil atingiu volume recorde de 29,537 milhões de toneladas no ano passado, segundo dados da Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos. Esse número indica aumento de 4,3% sobre 2011. Na avaliação do diretor-executivo da entidade,

David Roquetti Filho, a forte alta na demanda, as commodities em bons níveis de remuneração (com relações de trocas favoráveis), o aumento da área cultivada e a capitalização do produtor rural brasileiro justificam os bons resultados do setor. Segundo Roquetti Filho, as consulto-

rias especializadas vislumbram a possibilidade de um terceiro recorde consecutivo no consumo de adubos em 2013. A RC Consultores, por exemplo, projeta algo em torno de 30,5 milhões de toneladas, o que representaria aumento de 3,26% em relação a 2012.

Frete

Aceleração nos custos de produção

A

nunciado na virada de janeiro para fevereiro pela Petrobrás, o aumento no preço dos combustíveis impactou de imediato o agronegócio. Chegou em má hora, na opinião dos agricultores, justamente no início da safra de grãos, quando o setor desembolsa dinheiro para enfrentar os gastos com transporte rodoviário para escoar a safra. Segundo cálculos da NTC&Logística, o reajuste de 5,4% no diesel deverá elevar em 2,16 por cento o custo do frete de produtos agrícolas no Brasil. A associação, que reúne as mais importantes empresas de transporte do país, calcula que o diesel tenha peso de 40 por cento

nos custos do frete agropecuário, em grande parte feito em caminhões de porte pesado – os chamados “bitrens”. O agronegócio

usa muito mais o bitrem de sete eixos, com carrocerias graneleiras”, lembra Neuto Gonçalves dos Reis, diretor-técnico da empresa.

março 2013 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Café I

Produção compensada

A

OIC – Organização Internacional do Café prevê produção mundial de 144,5 milhões de sacas de 60 quilos este ano, volume 0,3% acima de sua estimativa anterior. Segundo a instituição, a perspectiva de boa produção no Brasil este ano (2013 é ano de baixa produtividade, dentro do ciclo de bienalidade, característico da cultura) está contrabalançando a quebra estimada pela disseminação do fungo roya, causador da ferrugem nos cafezais da América Central. Durante a última década, as safras brasileiras nos ciclos de baixa ficaram entre 9,6% e

16% abaixo da produção do ciclo imediatamente anterior, de alta produção. Em 2013, porém, a diferença pode cair para 1,3%, de acordo com estimativas da Conab. Segundo a OIC, surtos de ferrugem foram relatados em todos os países produtores da América Central. Costa Rica e Honduras chegaram a declarar estado de emergência, na tentativa de controlar o fungo roya. Conforme avaliação de peritos, a infestação pode ter sérias implicações a longo prazo na produção de arábica na América Central, como perdas de 2,5 milhões a 3 milhões de sacas.

Café III

Vencimentos prorrogados

O

Conselho Monetário Nacional concedeu prazo adicional de 60 dias para pagamento da primeira parcela das operações de estocagem contratadas em 2012 com recursos do Funcafé – Fundo de Defesa da Economia Cafeeira, com vencimento previsto anteriormente para o período entre 1/12/2012 e 31/3/2013. “O prazo para quitação das operações de custeio convertidas em estocagem também foram prorrogadas”, explica o secretário de Produção e Agroenergia do Mapa, Gerardo Fontelles. A estocagem deve ser reembolsada em duas parcelas, sendo, no mínimo, 50% com vencimento para até 180 dias e o restante para até 360 dias, a partir da data da liberação do crédito.

Café IV

Brasileiros vão beber mais

E

Café II

Safra menor neste ano

O

IBGE prevê queda de 9,1% na produção de arábica em 2013, frente ao colhido no ano passado. A expectativa é que o Brasil produza dois milhões de toneladas, o equivalente a 34,9 milhões de sacas de 60 kg. A produção de conilon está estimada em 774,6 mil toneladas (12,9 milhões de sacas), 2,3% maior do que a registrada no ano passado. A safra nacional deve chegar, portanto, a 2.774.6 milhões de toneladas (47,8 milhões

14 | Agro DBO – março 2013

de sacas). Segundo o IBGE, a queda prevista na produção de arábica se deve à alternância entre anos de altas e baixas produtividades (2013, como dissemos acima, é ano de baixa). Os custos de produção elevados e problemas com mão de obra também pesaram bastante em 2012, e podem impactar os resultados. Minas Gerais, maior estado produtor do país, prevê queda de 8,4%, somando 1,4 milhões de toneladas.

stimativas da Abic indicam que o consumo de café no Brasil, segundo consumidor do mundo, após os EUA, deverá crescer até 3% em 2013, comparativamente a 2012. Com isso, o consumo interno pode chegar ao equivalente a 21 milhões de sacas de 60 kg. “O crescimento deve ser impulsionado pelas expectativas de retomada da economia brasileira, pelo crescimento do poder de compra da população, especialmente das classes B, C e D no Nordeste e no Centro-Oeste”, disse a entidade em nota. Entre novembro de 2011 e outubro de 2012, a Abic registrou consumo de 20,33 milhões de sacas, alta de 3% em relação ao período anterior. Segundo a entidade, os brasileiros estão consumindo mais e diversificando as formas da bebida durante o dia, adicionando ao café filtrado consumido nos lares também os cafés expressos, cappuccinos e outras combinações com leite.


Notícias da Terra Exportações I

Cereais e farinhas na frente

Exportações II

Agronegócio garante o saldo

A

s exportações brasileiras do agronegócio alcançaram US$ 96,66 bilhões no acumulado do ano (entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013), segundo dados da Secretaria de Relações Internacionais do Mapa. Tal número representa crescimento de 1,1% no período. As importações chegaram a US$ 16,37 bilhões. O saldo da balança comercial do setor foi positivo em US$ 80,28 bilhões. Os setores que mais contribuíram foram: cereais, farinhas e preparações (crescimento de US$ 3,27 bilhões), complexo soja (US$ 1,04 bilhão), fibras e produtos têxteis (US$ 396,93 milhões), fumo e derivados (US$ 274,01 milhões) e animais vivos (US$ 185,99 milhões).

A

s exportações brasileiras atingiram US$ 6,58 bilhões em janeiro, um aumento de 14,7% em relação ao mesmo mês de 2012. O saldo da balança comercial do agronegócio foi de US$ 5,12 bilhões. Com a expansão das exportações do setor agropecuário em 14,7% e a redução nas vendas externas dos demais produtos brasileiros em 9,8%, o

agronegócio aumentou sua participação nas exportações totais no Brasil, passando de 35,6% em janeiro de 2012, para 41,2% em janeiro de 2013. O complexo sucroalcooleiro liderou o ranking nacional, em valor exportado, alcançando US$ 1,34 bilhão em janeiro (63,2%), com o açúcar ocupando posição de destaque (US$ 1,11 bilhão em vendas). As carnes em geral ficaram na segunda posição, com US$ 1,27 bilhão. Os cereais, farinhas e preparações ficaram na terceira posição – o maior crescimento do setor é o milho, que passou de US$ 221 milhões em janeiro de 2012 para US$ 947 milhões em janeiro de 2013 (327,5% de aumento em valor exportado).

Biodiesel

Combustível limpo

E

studo encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, em parceria com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso e da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene, indica que o biodiesel brasileiro produzido com soja reduz as emissões de gases de efeito estufa em 70%, em relação ao diesel fóssil, quando consumido no país. Se consumido na Europa, emite entre 65% e 68%. O estudo foi realizado pela Delta CO2, empresa incubada pela EsalqTec, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba (SP). Os pesquisadores visitaram114 propriedades rurais e cinco unidades produtoras de biodiesel. Atualmente, o óleo de soja representa cerca de 80% da produção total de biodiesel no Brasil, seguida pelo sebo bovino e pelo óleo de algodão.

Etanol

Mercado aberto nos EUA

D

e acordo com a consultoria FCStone, o Brasil poderá exportar até 2,6 bilhões de litros de etanol para os EUA neste ano, graças ao Padrão de Combustíveis Renováveis da Agência Americana de Proteção Ambiental , que permite a entrada do combustível brasileiro naquele país, e a demanda aquecida. Para 2013, o governo norte-

-americano determina o consumo de 2,75 bilhões de galões de biocombustíveis avançados (etanol celulósico, etanol de cana e biodiesel) e, pela projeção da FCStone, o Brasil poderia contribuir com até 0,686 bilhão de galões de etanol de cana, já que os EUA não conseguem, sozinhos, alcançar o total estipulado. março 2013 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Sementes

Crédito rotativo

Q

O

Registro pela internet uem quiser, já pode fazer a inscrição de campos de produção de sementes para a safra 2013/14 pela internet. Não é preciso mais comparecer ao escritório da Superintendência Federal da Agricultura de seu estado. No começo do mês passado, o Mapa lançou o módulo de Controle da Produção de Sementes e Mudas do Sigef – Sistema de Gestão e Fiscalização, que permite fazer as inscrições online, utilizando uma senha de uso pessoal. Segundo Girabis Ramos, Diretor de Fiscalização de Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária, o sistema vai facilitar a vida tanto de quem produz sementes e mudas quanto de quem fiscaliza – no caso, o governo. No Sigef, o produtor vai cadastrar, em formulários pela internet, todas as informações sobre o campo de produção e anexar os documentos de comprovação, como notas fiscais e comprovantes de origem. Depois do cadastramento, o fiscal agropecuário fará a conferência das informações e a validação do campo.

Despesas inesperadas s produtores rurais dispõem, desde meados de fevereiro, de uma linha de financiamento do Banco do Brasil para cobrir despesas complementares e inesperadas na condução do seu empreendimento. Trata-se do BB Agronegócio Giro, uma linha de crédito rotativo, com movimentações por meio da conta-corrente e possibilidade de renovação automática.

Agricultura Familiar I

Proagro Mais tem regras alteradas

O

Conselho Monetário Nacio­ nal alterou as normas do Proagro Mais – Programa de Garantia da Atividade Agropecuária da Agricultura Familiar para permitir o enquadramento de pequenos produtores rurais, cadastrados no Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), no financiamento para a compra de imóvel rural. As operações seguirão os mes­ mos critérios adotados para as demais modalidades de investimento do Pronaf, com recursos do FTRA – Fundo de Terras e da Reforma Agrária. Como no caso de

16 | Agro DBO – março 2013

cobertura da lavoura, o produtor prejudicado por variações climáticas também terá direito à indenização do Proagro para pagar a parcela de investimento. O Proagro Mais funciona como seguro rural que reembolsa os agricultores familiares em caso de perda da lavoura por secas ou enchentes. O programa cobre os financiamentos de custeio (relacionados à compra de insumos para o plantio) e, desde 2010, indeniza prejuízos nas linhas de crédito ligadas a investimentos, como a compra de máquinas e implementos.

Segundo o banco, o produtor que tiver a operação de BB Agronegócio Giro contratada pode adquirir um insumo, por exemplo, e, no mesmo dia, efetuar o pagamento com os recursos da linha. Da mesma forma, quando o produtor receber algum crédito em sua conta, ele pode, também no mesmo dia, solicitar a amortização do financiamento.

Agricultura Familiar II

Estímulo ao associativismo

O

BNDES e a Conab assinaram edital relativo ao Acordo de Atuação Conjunta para o fortalecimento da produção rural de base familiar. O valor total do programa é de R$ 23 milhões e, nesta primeira edição, serão liberados R$ 5 milhões, destinados a grupos de mulheres, produtores agroecológicos e povos de comunidades tradicionais. O objetivo é selecionar projetos que fortaleçam cooperativas e associações, por meio de investimentos em estruturação, beneficiamento, processamento, armazenamento e comercialização da produção de alimentos.


Notícias da Terra Máquinas I

Novidade coreana no Brasil A LS Mtron, 13º maior grupo empresarial coreano, com faturamento de US$ 30 bilhões anuais, lançou no final do mês passado em Garuva (SC), a pedra fundamental de sua fábrica no país, dimensionada para produzir anualmente 5 mil tratores com faixa de potência entre 25 a 100 cv, com geração inicial de 100 empregos diretos e mil indiretos. Pertencente à gigante de eletroeletrônicos LG, a LS Mtron pretende atuar inicialmente nos mercados de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, segundo o presidente da empresa no Brasil, James Yoo . “Vamos concentrar esforços em uma faixa de potência de até 100 cv porque ele

representa cerca de 70% do volume de venda de tratores no Brasil”, diz ele. Para o vice-presidente mundial, Kwang Won Lee, a empresa entra no país oferecendo o que há

de melhor em tecnologia para tratores, com todos os itens já saindo de fábrica. “Vamos surpreender o produtor brasileiro com os nossos produtos” assinala

Máquinas II

Setor vive bom momento desde setembro

A

s indústrias de máquinas e implementos agrícolas do Bra­sil venderam 5.859 unidades em janeiro, alta de 2,3% em comparação com dezembro de 2012 e de 32,6% em relação a janeiro do ano passado. Considerando o mês, foi um recorde, segundo a Anfavea, associação que representa os fabri-

cantes. Em 2012, o setor também bateu recorde nas vendas, com alta de 6,2% frente a 2011, impulsionadas pela oferta de crédito do PSI – Programa de Sustentação do Investimento, do governo federal. “Vivemos um bom momento desde setembro do ano passado, quando o governo reduziu o juro

do PSI”, afirmou o diretor da Anfavea, Milton Rego, ao comentar os resultados de janeiro e analisar o mercado de máquinas e implementos agrícolas no país. Em sua opinião, o crescimento nos negócios reflete também o excelente momento vivido pelo agronegócio brasileiro.

Tomate

Árvore carregada

A

nova Árvore do Conhecimento da Embapa traz como tema central o tomate. Como explica a agrônoma Flávia Clemente, supervisora da área de Transferência de Tecnologia, assim como as demais, essa “árvore” é uma forma de transferir tecnologia via online, uma espécie de cartilha sobre sistema de produção, só que forma mais interativa. O “banco de dados” do tomate abrange todas as fases do sistema de cultivo da

hortaliça, com informações que vão desde a pré-produção até a colheita. Outros materiais como cebola, batata, pimenta e cenoura também já estão disponibilizadas em suas respectivas árvores, que podem ser consultadas por meio de navegação hiperbólica (forma gráfica da árvore do conhecimento) ou por meio de ferramenta de busca. Para acessar, basta entrar no site: www.agencia.cnptia.embrapa.br/ ges­tor/tomate/Abertura.html março 2013 – Agro DBO | 17


Grãos

Safra remuneradora O Rio Grande do Sul caminha para obter o segundo maior volume de produção de sua história, com destaque para a soja e o milho. Glauco Menegheti precoce principalmente nas regiões noroeste e norte, as mais quentes, e onde o plantio é realizado mais cedo.” Não à toa, dos 600 produtores de milho e soja que recorreram ao Proagro – Programa de Garantia da Atividade Agropecuária até fevereiro, 400 eram do Noroeste. Ainda assim, o número é insignificante se comparado ao da safra passada, quando 43 mil produtores gaúchos precisaram do seguro.

Osvaldino Lucca, de Santo Ângelo, região das Missões: a geada afetou o milho, mas a soja vai muito bem.

S

egundo a Conab, a safra de grãos no estado deverá render 27,145 milhões de toneladas numa área de 7,984 milhões/ha, o que, se confirmado, representará crescimento de 30% e 5,4%, respectivamente, ante 2011/12. A temporada junta du­as variáveis raras na região: clima propício e preços remuneradores. Segundo Flávio França Jr, analista da empresa de consultoria Safras & Mercado, esse será o sétimo ano consecutivo no Brasil em que a soja vai gerar ganho de renda. Para o gerente técnico da Emater, Dulphe Pinheiro Machado Neto, as cotações em alta incentivaram os produtores gaúchos a expandir a área de milho em 5,5% e a de soja em 6,2%, o que é um acontecimento inusitado em uma região de produção agrícola consolidada. A soja, principal cultura do estado, foi implantada em 4,4 milhões de hectares e a Emater projeta

18 | Agro DBO – março 2013

produtividade de 2,6 mil kg/ha. Ao se confirmar, serão colhidos 11,4 milhões de toneladas da oleaginosa, o que representa acréscimo de 89% sobre a safra passada. Segundo França Junior, o incremento de área ocorreu principalmente na metade sul do estado, região que não é tradicionalmente produtora de soja. A oleaginosa também roubou espaço da pecuária e do milho em outras regiões, como a Central. “No Sul, a expansão de plantio sobre a safra passada foi de 30%, resultando em 1,5 milhão de hectares”, contabiliza Machado Neto. Conforme o agrônomo, a soja teve desenvolvimento vegetativo muito bom em praticamente todo o estado, mas os agricultores enfrentaram problemas na fase de floração e enchimento de grãos, por causa da estiagem que ocorreu entre a última quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro. “Essa situação climática afetou as variedades de soja de ciclo

Risco climático Os gaúchos vem utilizando cultivares de ciclo curto – um número ainda não quantificado oficialmente – para evitar gastos com agrotóxicos, por causa das aplicações contra a ferrugem asiática e outras pragas e doenças. Mas, ao fazer isso, acabam arriscando a produção com problemas climáticos, cada vez mais frequentes no Estado. O produtor Osvaldino José Lucca, de Santo Ângelo, região das Missões, perdeu 100% dos seis hectares que plantou com milho, mas por geada fora de época ocorrida em setembro. “Tive que acionar o Proagro, pedindo perda total”, lamenta. Em compensação, a sua lavoura de soja, implantada em 60 hectares na safra 2012/13, se desenvolvia muito bem no fim de fevereiro. Em Santo Ângelo, que conta com área plantada de 36,8 mil hectares e 1,8 mil propriedades, a projeção de produtividade de soja é de 40 sacas/ha, enquanto no milho é de 70. A soja precoce, que ocupou 20% da área destinada à cultura, amargou quebra de 20% pela estiagem. Já as


variedades de ciclo médio e tardio, ainda dependiam das chuvas de fevereiro. Quanto ao milho, cuja colheita havia sido concluída no final de fevereiro, as expectativas quanto à produtividade tiveram que ser rebaixadas de 90 para 70 sacas. Ainda assim, a situação é alentadora em relação aos prejuízos da safra passada, com perdas anotadas em 80% no município. “Apesar da seca, temos lavouras irrigadas com média de rendimento de 200 sacas, o que interferiu positivamente no resultado final”, diz o produtor e também presidente do Sindicato Rural dos Trabalhadores Rurais de Santo Ângelo. Mosaico Nas regiões de várzea do sul do estado, tradicionalmente ocupadas pelo arroz irrigado e pecuária, a pesquisadora da Embrapa Ana Cláudia Barneche define a situação climática como “um mosaico”. Até fevereiro, o clima havia sido muito irregular, com excesso de chuvas em algumas lavouras, mas falta de água em outras. Nos locais onde choveu demais, houve perdas na soja. Também ocorreu incidência de doenças de solo. Levaram vantagem as lavouras onde a oleaginosa já havia sido plantada em temporadas anteriores. “O solo do arroz é bastante desestruturado. Com o plantio prévio da oleaginosa, as

condições melhoram. Além disso, antes do plantio da soja os produtores fazem aplicação de calcário, o que é fundamental para a soja.” Os produtores de milho gaúchos, que, invariavelmente, cultivam soja, pela rotação inerente ao sistema de plantio direto, devem lucrar com a cultura nesta safra. Segundo o analista Carlos Cogo, da Cogo Consultoria, a entrada da produção da safra de verão não provocou recuo nas cotações. “A tendência é de sustentação dos preços futuros do milho no curto e médio prazo, se estendendo pelo menos durante o primeiro semestre de 2013 e início do segundo semestre, até a colheita da nova safra dos EUA (2013/14).” Em caso de recuperação

da safra americana no próximo ciclo, diz o analista, a tendência passa a ser de recuo gradual das cotações no longo prazo, a partir de meados do segundo semestre de 2013. De acordo com a Emater, a produção deve gravitar entre 4,8 milhões a 5 milhões de toneladas, com média de 80 sacas (4,8 mil quilos) numa área de 1,056 milhão de hectares. Comparado com a safra passada, fustigada pela seca, esse volume representa aumento de 60%. Mesmo assim, as tradicionais cadeias consumidoras do produto, as de suínos e aves, terão que lidar com mais um ano de escassez. Segundo Cogo, que projeta, produção de 4,7 milhões de toneladas de milho, no mínimo faltará 1 milhão de toneladas

Plantação de soja precoce em Santo Ângelo: lavoura teve bom desenvolvimento vegetativo em todo o estado

Ferrugem mais forte Com um ano mais chuvoso, a ferrugem asiática, que ataca a parte aérea da soja e tem como ambiente preferencial clima quente e úmido, está mais severa em relação à safra passada. Até meados de fevereiro, segundo dados do Consórcio Antiferrugem, foram 350 casos notificados, contra 265 na safra passada. Neste ano, o Paraná lidera em quantidade de focos, com 110. O Rio Grande do Sul vem em segundo lugar, com

89, enquanto Mato Grosso aparece em terceiro, com 86. Apesar dos números, a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudine Seixas, alerta que a magnitude dos estragos tem mais a ver com o perfil fundiário dos estados. “Um foco em Mato Grosso pode ter 50 mil hectares”, alerta. A cada ano, estimam-se gastos de US$ 2 bilhões com a doença fúngica, entre controle e perdas. O exemplo do Rio Grande do Sul é bastante emble-

mático, sob a ótica do clima. Em 2012, ano de seca, foram apenas 11 notificações, e agora, em meados de fevereiro, 91 casos. Conforme Claudine, na temporada passada, a primeira incidência em solo gaúcho ocorreu em 10 de janeiro. Em 2012/13, a doença apareceu em 20 de dezembro, no município de Tupanciretã. O número de aplicações deve chegar a três em média, no estado. No país, oscila entre duas a três.

março 2013 – Agro DBO | 19


Grãos A cultura do arroz irrigado, a terceira em importância no Rio Grande do Sul, também deverá ter melhor desempenho nesta temporada. do produto no Rio Grande do Sul, cujo consumo será de 5,8 milhões de toneladas em 2013. “Não faltará milho no país, o problema é o custo logístico de transportar o grão dos grandes centros de abastecimento, como Paraná e Mato Grosso, para o Rio Grande do Sul.” Até o final de fevereiro, segundo a Emater-RS, 50% da produção de milho estava definida, com boa produtividade: 35% da área havia sido colhida, 25% estava maduro e por colher, 35% em floração e enchimento de grãos e 5% ainda estava em desenvolvimento vegetativo. A cultura, cujo início de plantio ocorre no final de agosto, teve que enfrentar geada em setembro e estiagem em dezembro. As regiões norte e noroeste foram as que tiveram as piores condições de clima. A cultura do arroz irrigado, a terceira em ordem de importância no Rio Grande do Sul, deverá ter melhor desempenho nesta safra. Os arrozeiros, que chegaram a vender a saca por irrisórios R$ 18,00

na safra passada, agora vivem a expectativa de obter $ 30,00. Segundo a Conab, ainda que com aumentos tímidos de área e produtividade, a produção deve resultar em 8,03 milhões de toneladas, aumento de 3,9% diante das 7,73 milhões de toneladas na safra passada. O Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz prevê produção de 7,5 milhões de toneladas e produtividade média de 7,4 mil a 7,5% de perdas. O Irga já colocou na conta uma possível quebra de 10% a 15% da produção devido ao frio que fez no estado em dezembro e aumento do arroz vermelho. “A experiência diz que, a cada dia de frio, a perda é de 7% a 8% na lavoura”, diz o presidente do Irga, Claudio Pereira. Conforme ele, a tecnologia Clearfield, que promoveu ganho de 2 toneladas por hectare nos últimos anos, está perdendo a eficiência. “O arroz vermelho está adquirindo resistência”, informa Pereira. A invasora também causa queda no valor comercial do grão de até 30%. Como não poderia deixar de

acontecer em anos favoráveis, o custo de produção aumentou em 10%, segundo o Irga. Brasil Segundo o 6º levantamento da Conab, o Brasil terá aumento de área da ordem de 10,4% na região Centro-Sul. Já a produção está prevista em 184 milhões de toneladas, da qual a soja e o milho correspondem a 87,8% em volume. Esse incremento, segundo o técnico de Planejamento da Superintendência de Informação de Agronegócio da Conab, Eledon Pereira de Oliveira, ocorreu graças à soja, que tirou o espaço do milho de primeira safra no Sul do Brasil. O Centro-Oeste ainda responde pela maior expansão de área, de 18,8 milhões de hectares para 20,2 milhões, de acordo com a Conab. A região sul veio na cola, com 18,3 milhões de área e expansão de apenas 1,6% sobre a safra anterior. O Sudeste teve o crescimento mais modesto, de apenas 1%, de 4,8 milhões para

Cotrijal: tecnologia e negócios. A Expodireto, no ano passado. A expectativa, este ano, é superar os números de 2012.

Esta edição da Expodireto, que acontece entre os dias 4 e 8 de março em Não-Me-Toque (RS), tem como destaque a sustentabilidade. Foi preparado um espaço para apresentar e debater

20 | Agro DBO – março 2013

vantagens e desvantagens das energias eólica e fotovoltaica. No lançamento oficial da mostra, que ocorreu em meados de fevereiro, em Passo Fundo, o presidente da Cotrijal, Nei Cesar Mânica, falou sobre a aposta na sustentabilidade e também a respeito da expectativa de negócios, que este ano é impulsionada pela previsão de supersafra no país. Segundo o dirigente, o evento deverá repetir os números do ano passado, que superaram R$ 1 bilhão. Outro tema sob os holofotes da Expodireto 2013 é o papel da logística no crescimento da produção agrícola.

Conforme Mânica, a falta de estradas em boas condições, a inexistência de uma rede ferroviária adequada e as deficiências no sistema portuário, entre outros problemas, são os grandes gargalos do agronegócio brasileiro. “Só para exemplificar o tamanho do problema, em época de safra, o custo do frete sobe R$ 4,00 o saco e quem perde é o produtor”, afirmou. Para esta edição, a comercialização dos estandes foi concluída meses antes do evento. No ano passado, mais de 460 expositores participaram da Expodireto, uma das feiras mais importantes do país.


Em Mato Grosso, o Imea projeta 50 sacas de rendimento médio, com custo variavel de R$ 1.750 a R$ 1.800.

4,9 milhões de hectares. No Paraná, campeão de produção do Sul do país, o clima não foi um gargalo, ao contrário do ano passado. Se a projeção da Conab se concretizar essa será a melhor safra do estado, com 27,145 milhões de toneladas, ou 30% de crescimento sobre 2011/12. Desta feita, o clima colaborou. “Vivemos uma neutralidade climática”, informa a engenheira agrônoma do Deral, Juliana Yagushi. Para a soja, a Conab prevê expansão de área de 5,6%, de 4,46 milhões para 4,71 milhões, enquanto a produção deve crescer encorpados 38% – 15 milhões de toneladas, ante 10,9 milhões. Em termos de rendimento, a previsão é de que os agricultores paranaenses colham 3.298 quilos por hectare, o que representa incremento de 33,8% frente à safra anterior, prejudicada pela seca que também atingiu o Paraná. O milho na primeira safra acusou o golpe da expansão da soja, com recuo de 13,6%, anotando 844 mil e produção de 6,9 milhões de toneladas. Apesar disso, a previsão é de ampliação no volume produzido de 4,1%, para 6,85 milhões de toneladas. Também pudera, a produtividade prevista na safra de verão pelo Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria de Agricultura do Paraná, é de 6.870 quilos, 18% maior que a média dos últimos cinco anos do estado. Se o Paraná atinge as melhores produtividades, Mato Grosso é o

de maior área disponível. A cultura da soja, que em 2012/13 ocupa 7,9 milhões de hectares, vive um momento particular, segundo o superintendente do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Rural, Otávio Lemos de Melo Celidonio. Houve excesso de chuva até o dia 15 de fevereiro, o que ocasionou queda na qualidade do grão. Com isso, o Imea calcula que a perda média será de 10% da safra da oleaginosa no estado. “Essa perda de qualidade deve ocasionar prejuízo de 50% na margem de lucro”, projeta Celidonio. Mato Grosso tem um problema estrutural de infraestrutura, o que prejudica a atividade primária numa situação de muita chuva. A falta de secadores e armazéns, por exemplo, fazem com que o grão fique com muita umidade. “No caso de grãos ardidos, o desconto oscila entre 10% e 30%”, diz o superintendente do Imea. Mesmo assim, esse deve ser um ano positivo para a cultura, conforme Celidonio. O Imea projeta 50 sacas de rendimento, com custo variável médio de R$ 1.750,00 a R$ 1.800,00. Estiagem Em Mato Grosso do Sul, duas situações dividiram o prognóstico de rendimento e produção. Segundo o integrante da equipe técnica do Sistema Famasul, Lucas Galvan, a estiagem de dezembro afetou variedades de ciclo precoce no sul do

estado. Da área de soja plantada em Mato Grosso do Sul, de 2,1 milhões de hectares, elas representam 30%. Prevê-se uma produção de 6,3 a 6,4 milhões de toneladas em 2012/13. Nos municípios de Maracaju, Dourados e Ponta Porã, os mais importantes na cultura da soja na região sul do estado, de 45% a 55% foram colhidos e a produtividade sofreu reflexo do mau clima. “Temos visto rendimento oscilando entre 40 a 45 sacas”, diz Galvan. Em Laguna Carapan e Aral Moreira, os de menor expressão, a colheita está praticamente concluída. No oeste da Bahia, os produtores se empolgaram com a conjuntura, tanto que ampliaram a área plantada de soja de 1,150 milhão para 1,285 milhão de hectares, mas o clima não correspondeu. Neste ano, segundo Ernani Sabai, diretor de Integração e Assessoria de Agronegócio da Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, choveu bem em novembro, mas dezembro a seca prevaleceu. “As precipitações voltaram em janeiro, mas daí a soja precoce já havia sido prejudicada”, informa Sabai. Conforme levantamento da Aiba, as perdas para as lavouras de ciclo curto oscilaram entre 15% e 20%, ficando restritas a uma média de 35 a 40 sacas por hectare. “Normalmente, esse veranico ocorre em janeiro, mas neste ano veio antes e pegou as plantas em período crucial.” março 2013 – Agro DBO | 21


Marketing da terra

Diversificar e ficar esperto Richard Jakubaszko

A

dúvida sobre o que e como diversificar incomoda muitos agricultores. É uma autêntica dúvida de marketing. Até porque, ao decidir o que vai plantar, o agricultor já está praticando marketing, assim como uma empresa faz marketing ao planejar o lançamento e fabricação de um produto. Para responder sobre o que se vai plantar, e com alguma precisão, há vários raciocínios e caminhos a serem desenvolvidos, e premissas básicas devem ser estabelecidas para o processo de tomada de decisão. Se considerarmos que agricultura é uma atividade comercial, antes de qualquer coisa, plantar tem por objetivo ganhar dinheiro. Assim, a decisão sobre o que se vai plantar deve envolver consulta ao mercado para saber preços atuais e perspectivas futuras de cotações. Depois que plantar, resta esperar que a lavoura se desenvolva bem e que o mercado seja comprador. Decisões tomadas e lavouras plantadas, se o comprador descobre que vai haver supersafra, ele dissimula, disfarça, passa a adiar a decisão de compra. O agricultor, inseguro, começa a oferecer sua produção a outros

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compradores, que também rejeitam a oferta, e até contrapõem propostas com preços mais baixos, e tudo isso faz os preços desabarem. Os canais intermediários acompanham o ritmo do baile, sempre procurando pagar menores preços. Não há como prever com segurança o que vai ocorrer no mercado. A safra pode transcorrer normal, clima favorável e mercado estável em preços e, de repente, o mercado torna-se avidamente comprador, porque uma região tem problemas climáticos, e os preços disparam. Ou pode ocorrer um clima tão favorável nas várias regiões produtoras que a safra aumenta em razão da grande produtividade, e o excesso de produção faz o preço cair. O que é que eu vou plantar é uma decisão importante a ser tomada todo ano pelos agricultores, como parte do seu jogo no mercado. Inegavelmente é perverso para quem tem máquinas e equipamentos para grãos, por exemplo, pensar em trocar o tipo de lavoura a ser plantada às vésperas do plantio. Não dá para arrendar ou vender as máquinas ou mesmo adiar o plantio porque se está com dúvidas, pois o tempo de

plantar tem limitações e não faz parceria com indecisos. Pode-se reduzir, porém, a área de plantio, ou plantar culturas alternativas. A exemplo dos grãos, com relação à soja, pode-se plantá-la para consumo humano, ou soja orgânica; ao milho, pode-se plantar milho-doce, ou canjica, ou pipoca, aproveitando a maquinaria; ao feijão, podem-se plantar outras variedades que tenham boa procura pelo mercado, que não o carioquinha ou o preto. Que tal feijão jalo ou o branco? E que tal considerar o plantio de amendoim? Há um enorme potencial de consumo. Considere, ainda, plantar algodão, ou girassol, canola, mas fique de olho no amendoim. Sobretudo considere plantar, se isso for possível na sua região, algo como pequi, palma ou mamona, pois o mercado do biodíesel anda compensador. Como regra básica e principal de conduta, o ideal seria o agricultor diversificar lavouras, sendo um ponto de equilíbrio, para áreas médias de 500 ha, ou acima disso, plantar duas a três culturas anuais e, se possível, uma perene. Se a região e o clima permitirem, outro aspecto ideal seria a prática de lavouras para 2ª safra, o que daria ocupação ao solo o ano inteiro. Sem se esquecer da rotação de culturas, que é favorável ao solo, e a quem a conta bancária agradece. A diversificação é uma das poucas defesas contra o mercado consumidor equilibrado ou o mercado chamado de “não comprador”. Trata-se de seguir a velha regra de “não colocar todos os ovos numa única cesta”. O aforismo continua válido, apesar dos tempos modernos. Lavouras novas, anuais ou perenes, a especialização de como plantar, manejar e bem-colher, vão chegar com o tempo.


Por isso, deve-se começar em áreas pequenas e ir aumentando aos poucos. Nada do que se começa fazendo agora já nos torna um especialista; portanto, vamos com cautela, aprendendo, e, assim, chega-se lá onde desejamos. Considere arrendar pastos degradados, ao invés de comprar, e fazer ILPS, Integração Lavoura Pecuária e Silvicultura, vai ter uma boa assistência para isso, seja do governo ou da iniciativa privada; leia a entrevista, nesta edição, sobre a ILPS, à pg 36. Resumidamente, o marketing do agricultor deveria se amparar em alguns dos parâmetros básicos a seguir: l Diversificar o máximo possível de acordo com a área disponível. Com esse tipo de comportamento sempre há dinheiro entrando, e, mesmo que uma cultura esteja com baixos preços, as outras compensam. l Pesquisar sempre o mercado, ver a tendência dos preços. Se as perspectivas não forem boas, é preferível reduzir a área plantada ou mudar para outra cultura. Não demonstre pânico e necessidade de venda. Não se esqueça de que você, agricultor, não é e nem nunca será um bom especulador, seja em produtos commodities, seja em outros produtos com grande demanda. O preço das ofertas ou das cotações sempre pode cair ainda mais na colheita. l Considerar sempre que o consumidor é quem dá a palavra final, o seu comprador na região, na maioria das vezes um intermediário, vai comprar de você aquilo que o consumidor final deseja comprar dele. l Decidir o que plantar com calma, nunca vender no sufoco ou com pressa.

Capitalizar-se para comprar à vista e melhor, e para vender melhor também. Se você, invariavelmente, toda época de colheita, tem de vender de qualquer forma, para poder pagar os fornecedores de insumos e as contas, porque está sem dinheiro, já é tempo de reciclar o seu comportamento como empresário. Basta uma safra ruim, de preços ruins ou de baixa produtividade para você se encher de dívidas, e é nessas horas que a vaca vai para o brejo, com você junto. l Não comprar mais terra para plantar, porque isso imobiliza o capital. Invista em infraestrutura como silos, equipamentos para transporte, irrigação, melhores insumos, computador. l

tividade, seja ainda pela informação que se obtém nas associações e cooperativas, que podem dar boas pistas sobre o melhor momento para comprar e o melhor momento para vender. l Cuidado especial com o plantio de lavouras que todo mundo vai plantar, porque se o preço hoje está bom, na colheita, poderá estar lá embaixo. O mercado não é bobo, é implacável na lei da oferta e procura, e não vai dar a mínima bola para o fato de que você pode quebrar ou até parar de plantar no futuro. l Ter análises dos custos é sempre importante. Ao longo dos anos, com histórico e estatísticas, fica fácil administrar a lavoura e tomar

Não esqueça de que você, agricultor, não é e nunca será um bom especulador. Compre insumos na sua moeda, na equivalência em produto agrícola, essa é a sua moeda. Se não for possível comprar na sua moeda tenha todos os cálculos convertidos para essa moeda. Assim você saberá, com o decorrer dos anos, o que mais subiu e o que mais baixou nos seus custos de produção, e ali deverá estar o seu foco nas futuras tentativas de reduzir custos operacionais. Junte informação, ela é a alma do seu negócio. l Filie-se a uma cooperativa e dela participe ativamente. Filiar-se a associações especializadas se houver, e também participar, a união faz a força. Evite atitudes destrutivas, e incentive o grupo, nas reuniões, a procurar sempre caminhos que permitam agregar valor ao que se planta, seja nos preços finais, seja pelo aumento da produl

decisões de investimentos ou redução de custos. l Testar as novidades tecnológicas sempre em áreas pequenas, independentemente do tipo de insumos. Faça bem feito todos os cálculos e busque a relação custo versus benefício da nova tecnologia. Não é sempre que aparece novidade boa. l Fazer parceria com os compradores, com garantias para ambos os lados: um negócio só é bom se for bom para ambas as partes. l Se possível, fuja sempre de empréstimos bancários e dos juros. Diversifique seus plantios, seja esperto, tenha cuidados, melhore sempre, pois só assim você conseguirá agregar mais valor ao que planta. Isto já é um bom começo de marketing. E boa colheita! março 2013 – Agro DBO | 23


Capa

Lavoura furada

O Brasil enfrenta infestação sem precedentes de lagartas em lavouras de milho GM. Agricultores, técnicos e empresas difusoras de tecnologia divergem sobre a causa do ataque. Ariosto Mesquita

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Fotos: Ariosto Mesquita

“A Lavoura arrasada em Unaí (MG). Abaixo, lagarta em plena comilança numa espiga.

cendeu a luz vermelha!” A exclamação feita pelo pesquisador Germison Vital Tomquelski, da Fundação Chapadão, de Chapadão do Sul (MS), instituição que atua em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Pará, serve como um grito de advertência para quem planta milho no Brasil. A safra de verão 2012/13 e, mesmo a segunda safra, estão marcadas por uma infestação de lagartas sem precedentes, a maior já registrada desde o início da comercialização de sementes de milho geneticamente modificadas no Brasil, chamado, genericamente, de milho Bt – de Bacillus thuringiensis, organismo tóxico para algumas espécies de lagartas e outros insetos. Esta situação – em maior ou menor grau, mas todas com grande impacto na lavoura – vem ocorrendo em várias regiões do país. Há relatos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Pará, Goiás, Distrito Federal, Paraná, São Paulo, Maranhão e Piaui. O desenvolvimento de resistência às toxinas de algumas das mais utilizadas tecnologias de OGM´s (organismos geneticamente modificados) transformaram a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) nos principais vilões da atual temporada. Os agricultores voltaram a pulverizar as plantas com os inseticidas convencionais que as variedades transgênicas prometiam substituir. Resultado: elevação do custo de produção e maior risco ambiental. Mesmo com cinco ou seis aplicações, não conseguiram conter ou reduzir o problema. Para muitos, a quebra é inevitável. Os mais otimistas falam em 10% na safra verão e um percentual ainda incógnito para a segunda safra. A Agro DBO visitou propriedades no nordeste de Goiás, noroeste de Minas Gerais e Distrito Federal. Em Goiás, conversou com agrônomos e distribuidores de sementes. Por último, ouviu pesquisadores e empresas difusoras de tecnologia. Resultado: o problema existe e é sério. Nestas regiões, a infestação, de tão intensa, é atestada visualmente, mesmo à distância. As lavouras estão desbastadas. A ação dos insetos deixou (e ainda deixa) marcas nas folhas, com extensos rasgos e buracos como se tivessem sido metralhadas. As espigas tem a formação praticamente contida pela voracidade das pragas. Ao abri-las, é certeza encontrar uma gorda lagarta em plena atividade, senão duas, três, quatro ou mais. Nos diversos segmentos da cadeia do milho, pelo menos quatro aspectos são citados como possíveis agentes geradores deste quadro de devastação, alguns dos quais podem estar interligados. O primeiro deles – e o mais enfatizado –, é a gradual redução da vida útil das tecnologias disponíveis no mercado, em função da crescente resistência dos insetos às toxinas das março 2013 - Agro DBO | 25


Capa O gerente da fazenda Barro Branco, Hugo Luciano, desolado com a quebra do milho em apenas 17 dias: “A praga pegou todo mundo de calças curtas”.

sementes GM. Houve quem argumentasse que a infestação foi potencializada por inadaptação das tecnologias à agricultura tropical, uma vez que a maioria das sementes GM foi desenvolvida originariamente para o cultivo em climas mais frios. Especialistas da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG), contra-argumentam, no entanto, que tal assertiva vale apenas para as primeiras variedades transgênicas introduzidas no Brasil, não para todas elas. O terceiro aspecto agravante – praticamente unânime, embora os técnicos admitam que, sozinho, não é determinante –, é a influência do clima. Regiões produtoras de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Bahia, além do Distrito Federal, passaram por acentuado veranico (estiagem) em dezembro. Sem umidade suficiente, as aplicações de inseticidas podem ter perdido eficiência. Outra possível explicação para a infestação – e, nesse caso, determinante para a alta concentração de lagartas nesta safra –, é o descuido no manejo, sobretudo com relação à implantação de áreas de refúgio – parcelas da lavoura de milho Bt cultivadas com milho não Bt (convencional). Estratégico, o refúgio é uma área destinada às mariposas para a reprodução de insetos suscetíveis às toxinas Bt, que, ao se acasalarem com indivíduos originários da área transgênica (eventualmente já resistentes às toxinas) possam gerar descendentes não resistentes, reduzindo a velocidade de seleção da espécie. Tecnicamente, a recomendação para o tamanho da área de refúgio varia entre 5% e 10% do total da área semeada com milho trans-

Causa dos ataques: “descuido no manejo” “Até o momento (21/2), de todas as chamadas que recebemos de agricultores que atendemos, não identificamos quebra de resistência, mas isto é passível de acontecer com qualquer tecnologia Bt existente no mercado ou que venha a ser lançada, caso as medidas de manejo integrado de pragas não sejam corretamente adotadas”. A declaração é do gerente de produto e tecnologia da Dupont Pioneer, Itavor Nummer Filho, que não rechaça eventual quadro de ineficiência tecnológica, mas atribui ao agricultor brasileiro possível negligência no processo de cultivo. A multinacional norte-americana (antiga Pioneer Hi-Bred) é considerada uma das maiores produtoras do mundo de sementes híbridas para agricultura. Detém várias tecnologias, inclusive a Herculex, junto com a Dow AgroSciences, e disponibiliza estas sementes no Brasil. Quando cita o manejo integrado de pragas, Itavor inclui vários procedimentos, mas, sobretudo, um que considera fundamental para o resultado final e boa resposta das sementes: “A área de refúgio deve ser adotada em sua ple-

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nitude como forma de preservar a tecnologia. Em diversas situações, isso não aconteceu e uma parte do incremento de insetos pode advir disso”. O gerente da Dupont Pioneer entende que o agricultor brasileiro simplesmente esqueceu o manejo. “Eles depositaram na tecnologia Bt toda a responsabilidade do controle e muitos nem mesmo vistoriar as lavouras foram mais”. Segundo ele, ninguém pode alegar falta de informação: “Desde a aprovação (em 2008) desta tecnologia (Herculex) no Brasil, nossos clientes foram orientados via publicações, dias de campo e palestras, dentre outros canais de comunicação”. Itavor admite a alta infestação de lagartas em lavouras de milho nos últimos meses no Brasil, mas exime as sementes de culpa. “Quanto melhores forem as condições para os insetos, maiores serão os fluxos. Além disso, é importante frisar que vários casos de danos inesperados que foram associados à lagarta-do-cartucho eram, na realidade, ocasionados por outras espécies, erroneamente identificadas como Spodoptera frugiperda, e que não eram alvo da tecnologia Bt”, denuncia.


Técnicos e empresas de tecnologia concordam num ponto: as áreas de refúgio são fundamentais para o controle das lagartas. gênico, dependendo da tecnologia adotada. Na safra 2011/12, o gerente agrícola Hugo Irineu Luciano, da fazenda Barro Branco, de 4.969 hectares, em Buritis (750 km de Belo Horizonte, MG), obteve produtividade de 182 sacas/ha na primeira e de 140 sacas/ha na segunda safra de milho (grãos comerciais), utilizando sementes com a tecnologia Herculex, desenvolvida pela Dupont Pioneer – no que diz respeito ao milho, a empresa comercializa no Brasil híbridos convencionais (não Bt), híbridos Bt via Yield Gard e Herculex além da recém-aprovada tecnologia Intrasect, resultado da associação das propriedades das sementes Herculex e Yield Gard. Surpresa No começo da safra passada, Luciano sentiu que algo estava mudando. “Chamou a atenção uma pressão maior das lagartas, mas sem maiores problemas”, garante. Na safra em curso (pretende colher na primeira quinzena de abril), a situação mudou drasticamente. Ele espera produtividade menor, ao redor de 165 sacas/ha, utilizando a mesma tecnologia, apesar de fazer até seis aplicações de inseticidas. “Isso, pensando no melhor dos cenários; quanto à segunda-safra, é uma incógnita”, afirma. A Barro Branco integra um forte grupo agrícola, capitaneado pelo empresário Oscar Stroschon, que inclui ainda as fazendas Umburana (3.230 ha), também em Buritis, e Cereal Citrus, em Planaltina ( D), além do projeto Rio Formoso, em Formoso do Araguaia (TO), com 4.250 ha irrigados para produção de sementes de soja e arroz). Luciano conta que, em um milho de 78 dias, fez quatro aplicações de inse-

Milho cultivado na palha do feijão, 17 dias após a semeadura: média de duas lagartas por planta, mesmo após três aplicações (uma delas na dessecação do feijão).

ticidas e não conseguiu obter resultados: “Usei doses acima da bula e não está havendo controle eficiente”. Pelas aplicações nesta safra, calcula que terá um acréscimo no custo de produção da ordem de R$ 250,00 a R$ 300,00 por hectare. Indagado sobre área de refúgio, garante que reservou 5% na primeira e 10% para a segunda safra (a recomendação é de 10% para a tecnologia Herculex). Para a segunda safra, ele vai insistir no plantio da mesma tecnologia: “Comprei as sementes antes de o problema ser evidenciado; tenho o pacote tecnológico adquirido e não posso devolver”. No entanto, vai experimentar sementes híbridas lançadas recentemente no mercado. A maior área ficará com a H ­ erculex (1.000

Planta arruinada, mesmo após quatro aplicações; orifício na espiga, indicativo da presença de lagarta; e espiga de 80 dias, comida pelos insetos.

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Capa “Se o preço não estiver bom na safrinha, muita gente vai colher apenas para empatar. Nunca vi algo semelhante. É assustador”.

ha), seguido da tecnologia Pro 2 (700 ha) e da RR2 (50 ha) além de um pequeno talhão de testes com a Power Core, que, na região, ainda se mostra ­resistente às lagartas. Área de refúgio? “Terei entre 100 e 150 hectares”, garante. Luciano prevê muitas dificuldades até a colheita da segunda safra. “Terei um custo de produção entre 10% e 12% superior à safrinha de 2012, o que não deve ser diferente de outros agricultores aqui da região. Se o preço não estiver muito bom até lá, muita gente vai colher apenas para empatar. Nunca vi algo semelhante. É assustador”, desabafa.

A estrada separa duas lavouras distintas: à esq, mais encorpada, livre das lagartas; à dir., atacadas pela praga.

Quem não sabe mais o que fazer é o agricultor James Juliano Marchese. De uma infestação média de uma lagarta /m2 na safra 2011/12, vive no atual ciclo o pesadelo de tentar combater 15 lagartas/m2 em boa parte de sua lavoura de milho na fazenda Quatro Irmãos, em Formoso, no noroeste de MG (865 km de Belo Horizonte e 250 km de Brasília). “Estou apavorado”, admite. “O problema fica pior pelo fato de o controle químico, mesmo em aplicações noturnas e em alta vazão, não ajudar, e de ser muito difícil encontrar inseticidas na praça”, garante. Na safra verão Marchese usou tecnologias Herculex, Viptera e Pro. Da primeira, estima que não consiga produtividade maior do que 100 sacas/ha (na safra 2011/2012 a sua média geral, enfrentando período de estiagem, foi de 180 sacas/ha). Estiagem No ciclo anterior, ele utilizou a mesma tecnologia juntamente com a Pro e Pro 2 e teve uma safra relativamente tranquila. “A área de refúgio foi de 10%, fizemos quatro aplicações e não tivemos infestação que preocupasse”, conta. O produtor espera conter o problema nesta segunda safra. Está semeando as tecnologias Power Core e Pro 2. “Estou descartando a compra das mais antigas”, avisa.

A tesourinha da sorte Em meio a tanta infestação, aumento de custo e riscos de quebra de produção, o milho da fazenda Belo Verde, a 60 km de Brasília, vai muito bem, obrigado. Pelo menos é o que garante o encarregado da propriedade, Antonio de Souza (abaixo, na foto), em relação aos 106 hectares cultivados na safra de verão. “Usamos a tecnologia Herculex e nossa expectativa é de uma produtividade em torno de 200 sacas por hectare”, afirma. Sem ter adotado área de refúgio, Souza chegou a perceber a entrada das lagartas, mas contou com uma boa dose de sorte: “Cerca de 35 dias após o plantio notei a praga, mas logo em seguida a lavoura recebeu uma enorme carga de tesourinhas, que acabou com tudo”, explica. A tesourinha a que se refere é o nome popular do inseto Doru luteipes, também conhecido como lacrainha, um predador natural das lagartas enquanto ovos e larvas. A Embrapa Milho e Sorgo recomenda a espécie no controle biológico no campo. Segundo a empresa,

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uma tesourinha adulta pode consumir até 21 larvas por dia e sua presença em até 70% das plantas seria o suficiente para manter o nível de infestação sob controle, evitando perdas ou custos adicionais com aplicação. Não foi nada planejado, mas deu certo. “Quando vi as tesourinhas, decidi não fazer qualquer aplicação, caso contrário também poderia matar os predadores das lagartas”, conta. Só fez a primeira aplicação no início de fevereiro (plantas com 90 dias) quando viu algumas lagartas atacando folhas. “O que tinha morreu tudo”, garante. A mesma sorte, porém, pode não se repetir na segunda safra (142 hectares de milho sobre a palha do feijão cultivado na safra de verão). No dia 15 de fevereiro, em uma área após 10 dias da semeadura, ele observou uma lagarta por metro quadrado. No mesmo dia, em um módulo de plantas com 21 dias já contava média de 18 indivíduos/m2. “Em quatro anos é a primeira vez que vejo uma infestação deste nível”, confessa.


O agrônomo Gilson Marcelino Rodrigues, da Agro-Sistemas, empresa de consultoria agrícola sediada em Formosa (GO), a 90 km de Brasília, acredita que o veranico tenha contribuído, “e muito”, para a propagação das pragas no entorno de Brasilia, nordeste de Goiás e noroeste de Minas Gerais. “A ausência de água e umidade nas partes mais altas da planta dificulta a penetração do inseticida aplicado até a área de ação das lagartas, comprometendo a eficácia do controle químico”. A Agro-Sistemas aconselha aplicações a partir de uma população entre quatro e cinco indivíduos/m2. “No momento seguinte, quando a lagarta entra na espiga já não se tem muito que fazer”, diz. É a partir desta fase, de acordo com o agrônomo, que a lavoura corre riscos de contabilizar perdas na safra. “Uma espiga pode trazer de 180 a 200 gramas de milho; caso a ação das lagartas consiga consumir 10% destes grãos, teremos perda de 18 a 20 gramas por espiga. Considerando apenas uma espiga por planta e uma média de 66 mil plantas por hectare, a perda ficaria entre 1.188 a 1.320 quilos por hectare”, estima.

Os técnicos alertam: “Quando a lagarta entra na espiga, não tem mais jeito de controlar”.

Sementes de milho BT aprovadas para comercialização no Brasil Nome

Genes

Característica

Requerente

Ano de aprovação

Yield Gard

Bacillus thuringiensis

Resistente a insetos

Monsanto

2007

TL

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes

Resistente a insetos e tolerante a herbicidas

Syngenta

2007

Herculex

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes

Resistente a insetos e tolerante a herbicida

Dow Agrosciences

2008

YR YieldGard/RR2

Agrobacterium tumefaciens/Bacillus thuringiensis

Tolerante a herbicida. Resistência a insetos

Monsanto

2009

TL/TG

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes/Zea Mays

Tolerante a herbicida. Resistência a insetos

Syngenta

2009

HR Herculex/RR2

Bacillus thuringiensis/Strepomyces viridrochromogenes/Agrobacterium tumefaciens

Resistente a Inseto e tolerante a herbicida

Du Pont

2009

Viptera-MIR162

Bacillus thuringiensis

Resistente a Insetos

Syngenta

2009

Pro

Bacillus thuringiensis

Resistente a insetos

Monsanto

2009

TL TG Viptera

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes/Zea Mays

Resistente a insetos e tolerante a herbicida

Syngenta

2010

PRO2

Bacillus thuringiensis/Agrobacterium tumefaciens

Resistente a insetos e tolerante a herbicida

Monsanto

2010

Yield Gard VT

Agrobacterium tumefaciens/Bacillus thuringiensis

Tolerante a herbicida. Resistência a insetos

Monsanto

2010

Power Core PW/Dow

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes/Agrobacterium tumefaciens

Resistente a insetos e tolerante a herbicida

Monsanto e Dow Agrosciences

2010

HX YG RR2

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes/Agrobacterium tumefaciens

Tolerante a herbicida. Resistência a insetos

Du Pont

2011

TC1507xMON810

Bacillus thuringiensis/Streptomyces viridochromogenes

Tolerante a herbicida e resistente a insetos

Du Pont

2011

MON89034 x MON88017

Bacillus thuringiensis/Agrobacterium tumefaciens

Tolerante a herbicida e resistente a insetos

Monsanto

2011

Fonte: CTNBio (atualizado em 01/01/2013)

março 2013 - Agro DBO | 29


“Ninguém ainda detectou, tecnicamente, quebra de resistência da tecnologia Bt às lagartas. É preciso pesquisar para confirmar.”

O sócio proprietário da Agro-Sistemas, Volmir Antônio Fávero, detectou alta infestação de lagartas na região já no final dezembro do ano passado e desde então vem tentando minimizar o impacto junto aos clientes. Além de insistir para que os agricultores invistam nas áreas de refúgio, ele orienta para que, na medida do possível, sejam adotadas tecnologias mais recentes. “Algumas se mantêm resistentes à ação das lagartas, como é o caso da Pro. No entanto, além da Herculex, a tecnologia Viptera também não está suportando bem, isso sem falar na Yield Gard, que por aqui durou apenas uma safra”, comenta. O pesquisador Germison Vital Tomquelski, responsável pelo programa de monitoramento de pragas da Fundação Chapadão, atesta que a tecnologia mais afetada vem sendo a Herculex, mas pondera: “Isso é normal, pois é a mais utilizada”, explica. Ele alega que esta semente é usada em pelo menos 70% das lavouras da região dos chapadões (sul de Goiás e norte/nordeste de Mato Grosso do Sul), onde o milho é cultivado em aproximadamente 100 mil hectares na segunda safra e em até 40 mil hectares na primeira. Embora não atribua a infestação à perda de eficiência das sementes, Tomquelski não 30 | Agro DBO - março 2013

Plântula de milho de 8 dias (no alto, à esq.); milho segunda safra, de 21 dias, com 2 a 3 lagartas por pé (acima); e milharal com boa formação, resistente aos insetos, da fazenda São Miguel, em Unaí (MG).

esconde a gravidade do problema: “Visitei o município de Balsas (MA) no final de janeiro e posso afirmar que pelo menos 50% das lavouras de milho de lá estão sob intenso ataque de lagartas. Ouvi relatos de situações parecidas em Ponta Grossa (PR), Londrina (PR) e Holambra (SP). Ele acredita que, ao final, o quadro menos alarmante será um sensível aumento do custo de produção de milho neste ciclo. em comparação com anteriores. “O pior quadro, entretanto, será a quebra da safra”. A “responsabilidade” das sementes transgênicas também foi descartada, pelo menos por enquanto, pelo agrônomo e pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Fernando Hercos Valicente, ex-presidente da CNTBio, doutor em entomologia e genética molecular. “Acho que o desempenho das variedades em relação ao controle de pragas-alvo é excelente. Ninguém ainda detectou, tecnicamente, falha de resistência de milho Bt às lagartas. Para que isso seja confirmado, há de se fazer um intenso trabalho de pesquisa”. Ele confirma, porém, que a situação é de alta infestação. “Há um ataque indiscriminado em várias regiões produtoras do Brasil, como Mato Grosso, Goiás e Bahia, mas ainda é cedo para afirmar que existe quebra de resistência”.



Cafeicultura

Com mato no pé Considerações sobre o valor e a importância da matéria orgânica para a saúde do cafeeiro, a qualidade do grão e a produtividade. Hélio Casale *

Cafezal da fazenda Santo Antônio do Baguaçu, em Pedregulho (SP).

* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

U

m bom amigo de longa data, sempre está a dizer: “O pior problema do café é produzir pouco café”. Um conhecido empresário e grande cafeicultor no sul de Minas Gerais defende o seguinte: “Café é um bom negócio, porque de quando em quando é um péssimo negócio”. Já o Professor Malavolta, de saudosa memória, definia cafeicultura como a arte de modificar o ambiente, em termos econômicos, sem poluir, sem destruir, sem causar danos irreversíveis. Outro grande mestre, José de Mello Moraes, professor e ex-diretor da Esalq – Escola de Agronomia “Luiz de Queiroz”, de Pira-

32 | Agro DBO – março 2013

cicaba (SP), enfatizava: “Café foi, é e sempre será uma das culturas mais promissoras para o nosso país por suas características ímpares, como poder ser estocado por longo período, exigir mão de obra mais intensa no período mais seco do ano, quando outras atividades são reduzidas, se adaptar bem a diferentes tipos de solo e clima, podendo ser cultivado em grande parte do território nacional, distribuindo renda e gerando divisas substanciais”. O cafeeiro entrou no Brasil pelas mãos do sargento-mor Francisco de Mello Palheta, no ano de 1727, vindo das Guianas. Nesse ano, o governador do Maranhão e

Grão-Pará, João da Maia da Gama, outorgou ao sargento Palheta uma missão oficial, com o propósito de solucionar problemas de delimitação de fronteiras na região de Montagne d’Argent, na Guiana Francesa. O governador lhe deu também uma missão secreta: “conseguir algumas sementes de um fruto que possui grande valor comercial”. A história nos revela lances românticos na execução dessas tarefas, pois conta-se que a esposa do governador de Caiena (Guiana Francesa) teria se apaixonado pelo galante brasileiro e o presenteado com um punhado de sementes e cinco mudas de café, mais tarde plantadas em Belém. Do Norte


do país, o café migrou em pouco tempo para o Sul e encontrou uma nova pátria no estado de São Paulo. Depois, avançou para o Paraná em busca de terra fértil e acabou acampando em Minas Gerais, hoje o maior parque cafeeiro do país e maior produtor nacional. O cafeeiro é uma planta nômade, que gosta de terras de boa fertilidade natural, ou de solo pobre, mas muito bem localizado e trabalhado no ajuste de sua fertilidade. Ao longo do tempo pode-se observar que, dependendo do manejo cultural adotado, a fertilidade natural do solo foi rapidamente modificada, principalmente pela ação da retirada anual de nutrientes, pela ação dos raios solares que, incidindo sobre o solo exposto, queimou a matéria orgânica superficial, e pela erosão causada pelas chuvas de verão. Fertilidade ajustada O homem, sempre em busca de sobrevivência e ganhos fáceis, simplesmente procurou novas áreas, deixando para trás a terra desbravada, estradas, sistema de comunicação, escolas, cidades inteiras, para serem usadas também por outros plantadores de outras culturas, ou mesmo pessoas com outros interesses. No entanto, muitas dessas terras chamadas de velhas, por estarem empobrecidas, cansadas, erodidas, praguejadas, podem ser recuperadas e voltar a produzir tanto quanto ou mais que em outros tempos. Por outro lado, terras de origem pobre, cheias de alumínio tóxico, com boa topografia, localizadas fora do risco de geadas, com boa topografia e possibilidade de mecanização, podem ter a fertilidade ajustada tecnicamente e passar a produzir economicamente. Tecnologia é o que não falta para o cultivo do cafeeiro. Aí entra o homem com sua capacidade gerencial de modificar ecossistemas e produzir economi-

Brachiaria ruzizicensis, intercalada nas entrelinhas do cafezal da fazenda Planalto, em Cristais Paulista.

camente. Vale relembrar aqui a importância da matéria orgânica, que está intimamente ligada a fatores físicos, químicos e biológicos do solo, assim: Propriedades físicas do solo – aumenta a capacidade de infiltração da água das chuvas; aumenta a aeração do solo; reduz a plasticidade e coesão do solo; aumenta a capacidade de retenção de água e diminui a variação da temperatura diária do solo. Propriedades químicas do solo – fornecimento de nutrientes; controle do pH do solo; aumento da CTC – Capacidade de Troca de Cátions do solo; “poder tampão”, que implica na necessidade de maior quantidade de corretivos para mudar o grau de acidez de um solo orgânico; maior absorção iônica,

ou seja, armazena maior quantidade de nutrientes e os libera lentamente; superfície específica, o que aumenta o poder de retenção e o fornecimento de nutrientes e de água para as plantas; quelação – os compostos orgânicos têm a propriedade de se ligar com íons metálicos, como cobre, ferro, manganês, alumínio, zinco. Os metais quelados permanecem solúveis e, em determinadas condições, podem ficar disponíveis às plantas na medida da necessidade. O ferro, manganês e o alumínio são considerados elementos tóxicos quando em excesso no solo, mas devido ao poder de quelação, a matéria orgânica humificada corrige a toxidez desses solos. Propriedades biológicas do solo – microrganismos como fun-

Retirada manual de cipó corda-deviola (abaixo, à esq.) e manejo de mato nas entrelinhas, jogando-o para as linhas (abaixo).

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Cafeicultura O cafeeiro gosta de terras naturalmente férteis, mas também aceita solo pobre, se trabalhado no ajuste de sua fertilidade.

Lavoura de catuaí envassourada, sem condução de hastes.

gos, bactérias, actinomicetos e até algas, minhocas, larvas de rotíferos têm importante papel no aumento da fertilidade de um solo. Várias condições do solo exercem influência no desenvolvimento desses organismos, como: suprimento de oxigênio, umidade, temperatura, quantidade e qualidade da matéria orgânica disponível, acidez do solo, bem com a quantidade de cálcio permutável. A matéria orgânica é constituída de material vegetal ou animal que será submetido à decomposição e esta, quanto mais lenta, tanto melhor. Resíduos de matadouros,

Arruação manual mecanizada com soprador costal

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dejeto de aves e outros animais são materiais mais empregados. Manejo de grandes volumes, a necessidade de enterrio, cheiro desagradável, custo elevado do transporte, enfim, são sérias limitações ao seu emprego. Fazer matéria orgânica nas entrelinhas dos cafeeiros vem se tornando uma das opções mais interessantes e baratas, um sucesso já consagrado na prática. Dentro de uma lavoura, nas entrelinhas, se pode observar a presença de plantas, comumente chamadas de mato, de ervas daninhas. Importante separar o que é mato de erva daninha. Matos são plan-

tas desejáveis, por praticamente não competir com os cafeeiros em nutrientes e possuir elevado teor de carbono orgânico que, ao se decompor, eleva o teor de matéria orgânica do solo. Mantêm o solo sempre coberto, o que o livra da incidência direta dos raios solares, que, além de queimar rapidamente os resíduos vegetais, mata as raízes superficiais. Quando a temperatura do solo atinge os 32ºC, as raízes começam a morrer. Solo coberto é indispensável para se conseguir um bom sistema radicular. Já as ervas daninhas são plantas que também crescem nas entrelinhas, mas têm pouco carbono orgânico, deixam pouca massa ao serem manejadas, não cobrem o solo, deixando-o exposto aos raios solares e ainda atrapalham os trabalhadores, como é o caso do carrapicho e do picão, por exemplo. O valor do manejo Dentre as plantas desejáveis estão as braquiárias e, dentre elas, se destaca a Brachiaria ruziziensis, pelas seguintes características particulares: permite semeadura superficial em linha ou a lanço, tem baixa dormência das sementes, produzindo excelente germinação e desenvolvimento inicial. É pouco afetada pelo fotoperiodismo, pelo frio e tem bom crescimento, mesmo nos períodos mais frios do ano. Além disso, apresenta elevada produção de matéria seca, de mais de 20 toneladas por ha/ano. Em suas raízes pode-se encontrar a bactéria do gênero Diazotroficus, a Glucona acetobacter, especializada em retirar nitrogênio do ar. Oferece reduzida concorrência com a lavoura principal; nenhuma alelopatia com os cafeeiros, não entoucerando, o que facilita o manejo, dando maior cobertura ao solo. É facilmente erradicada com baixas doses de


Fotos: Hélio Casale

Linha com gesso recém-esparramado (à dir., na foto) e linhas com gesso recoberto com terra (à esq.) na fazenda Santa Amélia, em São José da Bela Vista (SP).

herbicida específico; tem excelente relação C:N da ordem de 40 a 50:1; capacidade de manter o solo sempre coberto, o que evita a erosão superficial; ameniza a ação do calor forte e o roubo de água pelo vento constante e sementeia apenas uma vez ao longo do ano. Essas características foram fornecidas por Dimas Cardoso, engenheiro agrônomo de renome. O manejo da ruziziensis nas entrelinhas pode ser feito de diferentes maneiras, tais como: com o biscó; estrovenga; alfanje; foice de bico; roçadeira costal; roçadeira de arrasto simples; roçadeira de arrasto dupla reversível; rolo faca; aplicação de herbicida seletivo em dosagem variável, conforme a época do ano, sempre com bicos anti deriva. Em lavouras mecanizadas,

atentar para o seguinte: para realizar o manejo do mato de maneira adequada, empregar preferencialmente uma roçadeira ecológica, que, com apenas uma passada nas entrelinhas, realiza o serviço por completo naquela rua, jogando os matos roçados para a pingadeira das saias ou amontoando-os no centro das ruas, enquanto uma roçadeira simples deve ser passada duas vezes na mesma rua, dobrando o custo operacional. Para se ter uma ideia , um trator de 75 cv gasta 4 litros de diesel por hora trabalhada e 3 horas para fazer um hectare, ou seja, 12 litros de diesel por hectare, por passada, seja ela com a simples ou a dupla. Assim, temos um rendimento de 2,6 ha com a roçadeira simples por dia e 5,2 ha com a dupla, que causa me-

É importante saber: n Toneladas de Matéria Seca/ha x 0,95 = t MO/ha. n Toneladas de MO /ha /1,724 = t Carbono/ha. n Toneladas de Carbono/ha x 1,72 = MO. n Toneladas de Carbono/ha x 3,67 = toneladas de CO²/ha. Outro lado a considerar: ha = 100 x 100 m = 10.000 m². n 10.000 m² x 0,20 m = 2.000 t. de terra com densidade de 1. n 2.000 t de terra x 3% de MO = 60.000 kg de MO/ha. n 60.000 kg de MO num ha/1.724 = 34.803 kg de Carbono/ha. n 34.803 kg de carbono num ha x 3,67 = 127.727 toneladas de CO²/ ha que serão sequestradas contribuindo para mitigar o efeito estufa. n1

nor compactação, reduz o tempo da operação e disponibiliza máquina e equipamento para outros serviços. Redução de custo da operação é considerável. É importante reconhecer que matéria orgânica não se forma do nada. É preciso investir no plantio da braquiária, manejá-la adequadamente e distribuir a adubação mineral em toda a área livre das entrelinhas. Assim, a braquiária cresce forte, faz bom volume de massa verde que, ao ser roçada, se transforma em massa seca, que vira matéria orgânica que, ao se decompor, liberará lentamente os nutrientes agora na forma orgânica. Nada se perde, tudo se transforma, para melhor. Outro lado que valoriza a importância da matéria orgânica diz respeito ao sequestro de carbono. Cito o Dr. Odo Primavesi, cientista renomado, recém-aposentado da Embrapa: “A decomposição da matéria orgânica (MO) em regiões de clima tropical é 5 a 10 vezes maior e em condições extremas a decomposição é até 50 vezes maior que em regiões de clima temperado”. Por esses dados, e pelas razões citadas no texto acima, é indiscutível o valor de se fazer e manter um adequado teor de matéria orgânica permanentemente, com os cafeeiros sempre com os pés nos matos. março 2013 – Agro DBO | 35


Entrevista

A terceira revolução agrícola Paulo Hermann, idealizador da Rede de Fomento, acredita que a ILPS trará profundas transformações no agronegócio brasileiro.

P

aulo Herrmann, 58 anos, nascido em São Lourenço, RS, formado em engenharia agrícola na Universidade Federal de Pelotas, torcedor do Grêmio de Porto Alegre, e hoje presidente da John Deere Brasil e vice-presidente para a América Latina, onde iniciou em 1999 como gerente de Projetos, concedeu entrevista para Agro DBO. No final de 2012 ele assumiu a presidência da Rede de Fomento, instituição virtual para difusão da ILPS – Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura, cujos objetivos e fundamentos são detalhados nesta entrevista. Agro DBO – O que é a Rede de Fomento? Paulo Herrmann – Como o próprio nome diz, a Rede de Fomento é uma PPP, a famosa Parceria Público Privada, estabelecida com o objetivo de fomentar e difundir o uso da tecnologia hoje conhecida como ILPS. Estamos apreendendo como se faz uma PPP e o que é a ILPS. Agro DBO – Quem participa da RF? Paulo Herrmann – Hoje temos 3 empresas na rede, mas ela vai crescer. Participam a John Deere, Syngenta e Cocamar – Cooperativa Agrícola de Maringá,

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mais a Embrapa. A Embrapa é a coordenadora técnica, e as empresas aportam o expertise delas de mercado no sentido de acelerar a difusão dessa tecnologia. Agro DBO – A RF está aberta a outras empresas? Quais os tipos de empresas? Paulo Herrmann – Qualquer empresa pode participar, não existe nenhuma restrição, seja pública ou privada, desde que siga as regras estabelecidas. O nosso objetivo não é o de reserva de mercado, mas apenas de acelerar a difusão da nova tecnologia. O que não se deseja na Rede de Fomento são empresas com interesses oportunistas e imediatos, para isso criamos a regra e condição de que cada empresa que deseja se filiar permaneça como contribuinte por no mínimo 5 anos como incentivadora. Temos muito trabalho pela frente, para conhecer as complexidades e difundir a ILPS, até mesmo e inclusive o de substituir a função pública da assistência técnica, pois na Rede de Fomento ela será privada aos produtores interessados, já que não temos mais a Emater. O sistema ILPS

exige, pela sua complexidade, acompanhamento e monitoramento especializado para a sua implantação e desenvolvimento. Na John Deere faz 6 anos que vimos realizando dias de campo na fazenda Santa Brígida, em Goiás, e agora temos a Cocamar que tem realizado esses encontros no Paraná. A Syngenta vai começar também a realizar dias de campo ainda este ano. Agro DBO – Até agora, quais resultados da RF e da ILPS são concretos? Paulo Herrmann – Muita coisa, pois já temos vários produtores com projetos rentáveis em várias áreas do Brasil, fato que está sensibilizando outros produtores. O governo federal tem recomendado o uso da ILPS como prática agrícola, inclusive no Programa ABC – Agricultura de Baixo Carbono, e o Banco do Brasil criou uma linha de crédito especial, chamada de ABC, financiando renovação de pastagens, implantação de eucalipto, e de toda a infraestrutura necessária para se viabilizar a integração, a ILPS. Na COP-15 (a conferência internacional sobre clima, realizada em Copenhagen), por exemplo, o Brasil assumiu o compromisso de chegarmos a 4 milhões de hectares com ILPS em 2.020. De outro lado, temos que olhar a questão pelo lado conceitual e até mesmo histórico da agricultura brasileira. O Brasil teve um grande salto a partir dos anos 1980 e 1990, passou a ser reconhecido e a ter o respeito internacional na área de agricul-


tura. Isto aconteceu porque nós passamos a dominar as tecnologias específicas para a agricultura tropical, que foram devidamente adaptadas, diria mesmo recriadas, como o plantio direto por exemplo. Quando nós dominamos o inóspito Cerrado, passamos a ser relevantes ao mercado internacional, pela produção e pela importância. Até então só tínhamos o arroz irrigado e a soja no Rio Grande do Sul, o café e a cana de açúcar no Sudeste. Os solos dos trópicos são muito diferentes dos solos de clima temperado. Foi aí que começou a primeira ação revolucionária da agricultura brasileira, através do plantio direto, do uso racional dos solos, com manejo adequado do solo e da água. Água nós temos muita, mas em pouco tempo. Então aprendemos a manejar essa água, ao evitar a erosão, e protegemos o solo. Hoje é fácil dar plaquinha de prata aos pioneiros, como Bartz (Herbert Bartz, pioneiro no sistema de plantio direto), mas na época era heresia afirmar que não

se podia arar e gradear o solo. Eram considerados loucos varridos quem dizia isso. A segunda revolução começou com a safrinha, que iniciou inocentemente alguns anos atrás. O produtor viu que o solo ainda estava adubado e fértil, após a colheita de verão. E plantou. “Se der deu, se não der, perco pouco”, pois era isso o que se pensava. E ficou com o diminutivo de safrinha. Com o decorrer do tempo, percebeu-se que, com um planejamento adequado, é possível ter uma safrinha maior do que a safra. Tanto é verdade isso que na safra 2011/2012 nós tivemos maior produção de milho na safrinha do que na safrona. Isso muda os conceitos, aos quais se chama de “Gestão de ativos”, ou seja, nós temos os ativos como terra, clima, máquinas e gente. Por que não podemos produzir duas safras ao invés de uma? Isso não existe nos EUA, ou no hemisfério norte, e essa foi a nossa grande vantagem competitiva, a nossa segunda revolução tropical, pois produzimos mais alimentos por

ano por hectare, e ficamos muito mais competitivos do que eles. Agora estamos aperfeiçoando esses ativos, usando-os de maneira cada vez mais eficiente, aumentando ainda mais o nosso potencial competitivo.

Cena típica em ILPS: boi, capim e árvores. O sistema exige acompanhamento e monitoramento especializado.

Agro DBO – E a ILPS? Paulo Herrmann – Em minha opinião, no Brasil temos agora a oportunidade de uma terceira revolução, que é a Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura, e que será o golpe de misericórdia contra os nossos competidores. Na ILPS, a palavra mais importante é a primeira, a integração. Antigamente se falava que não se podia comer leite com manga, melancia com manga, nadar na piscina ou tomar banho depois do almoço, eram coisas incompatíveis para os antigos, crendices populares, até que um professor provou que não existia incompatibilidade entre os alimentos. Da mesma forma, hoje em dia, começa-se a perceber que não existe incompatibilidade entre atividades como o plantio de grãos, produção de carne e leite, março 2013 – Agro DBO | 37


Entrevista “Com a ILPS, a legislação trabalhista brasileira terá de ser alterada. Precisa de uma revisão para se adaptar às necessidades do campo”. du não é recomendável. Estamos agora fazendo um dia de campo para mostrar a combinação de soja e braquiária. Acho que tudo é possível, melancia com manga não tem problema.

Os agricultores perceberam mais rapidamente o conceito (e a importância) da integração do que os pecuaristas

Fotos: Priscila de Oliveira

e a silvicultura, desde que se faça isso de maneira adequada, técnica e racional. Só que a ILPS, como toda forma nova de revolução, de tecnologia nova, ela tem de quebrar paradigmas. Por exemplo, o paradigma do agricultor que é só agricultor e planta soja-milho ou milho-soja, de vez em quando um feijão ou algodão, ou do pecuaris-

Gado zebuíno pasta entre pés de teca ainda em formação

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ta que é só pecuarista de leite ou corte. Os agricultores perceberam mais rapidamente o conceito do que os pecuaristas e do que todo mundo, de que os grãos geram o subproduto para a alimentação animal, especialmente os grãos quebrados ou sem valor comercial. Estamos tendo confinamentos feitos por agricultores, e não por pecuaristas. Porque para fazer confinamento tem de plantar sorgo e milho, tem de fazer silagem pra alimentar o animal. Já o pe­cuarista entrega para a natureza essa função. Então, em minha opinião, a ILPS será a nossa terceira revolução, pois ela é profunda e mexe com todos os fundamentos da agricultura, especialmente nos trópicos. Por exemplo, começa quebrando o paradigma de que não é possível o cultivo simultâneo de uma leguminosa e uma gramínea, ou de que plantar duas gramíneas juntas como milho e soja não é possível ou ter a convivência pacífica entre soja e guan-

Agro DBO – Que mudanças radicais a ILPS traz? Paulo Herrmann – A questão é que essa novidade traz complexidades para dentro da propriedade. A integração é complexa, pois quando se faz só boi, se compra boi, se engorda boi, dá vacina e remédio, vende o boi e está tudo bem. Agora, quando você inclui nessa operação o plantio de soja, milho, sorgo, eucalipto, e criação de boi, começam-se atividades que não param mais. Tudo, a partir daí, muda de forma radical. Por exemplo, até a legislação trabalhista terá de ser alterada, ela vai precisar de revisão para se adaptar às necessidades do campo, que tem particularidades específicas, e não apenas ao trabalho urbano, que é de outra realidade e natureza. Agora não se tem mais períodos fixos de trabalho, agora se tem trabalho o ano inteiro. Vamos produzir estudos nessa área, incentivando análises de juristas e fornecendo informações ao governo federal e aos legisladores para se votar uma legislação adequada. Começaremos com a definição mais simples, do que é “dia útil”, pois na cidade é de segunda a sexta, e no campo não tem nada disso, tem dia de plantar, de tratar, de cuidar e de colher, não importa se é sábado, domingo, feriado ou Natal. É claro que ninguém vai reimplantar o escravagismo, o trabalhador terá a compensação adequada pelo fato de ter trabalhado no feriado ou nos finais de semana.


Agro DBO – A Rede de Fomento vai trabalhar também com isso? Paulo Herrmann – Exatamente, a ideia é aprender com tudo isto, por isso a PPP, em que estamos aprendendo também como se faz isso. Não é apenas a Legislação Trabalhista que muda. O crédito rural também terá de mudar, ele é concentrado no calendário. O produtor pega o crédito de custeio em agosto, com o conceito de que ele tem uma safra a fazer, e no final da safra tem de pagar o banco. Com a ILPS se planta e se colhe o tempo inteiro, engorda e vende gado o ano inteiro, então precisa de um crédito rotativo. O agente financeiro deve analisar a capacidade de geração de receita anual do cliente, e disponibilizar o crédito para que o cliente possa usar na medida de suas necessidades,

e que vai sendo amortizado também de forma constante, sempre realimentando o crédito. Isso traz também outras facilidades, como a não obrigação de o cliente contratar um escritório de planejamento todo ano a cada vez que precisa de crédito. A Rede de Fomento, por exemplo, vai também incentivar as escolas de agronomia e de técnicas agrícolas a incluir essa tecnologia como uma disciplina na grade curricular, pois precisamos horizontalizar, expandir e aprofundar o conhecimento da ILPS. Agro DBO – A John Deere, por exemplo, já tem ideia de produtos e tecnologias específicas para a ILPS? Paulo Herrmann – Ainda temos pouca coisa nessa área, lembro

que também estamos aprendendo. Temos em desenvolvimento final uma máquina para plantar milho e braquiária ao mesmo tempo, é uma semeadeira convencional que dispõe das tecnologias já existentes, mas que adiciona uma caixa para as sementes de braquiária. O objetivo a curto e médio prazo não é esse, ele irá acontecer de forma natural no processo, disso não temos dúvidas. De toda forma, o que vemos é a importância da difusão da tecnologia no Cerrado brasileiro, especialmente em áreas de pastagens naturais ou implantadas que estejam degradadas, com suporte hoje para 0,5 animal por hectare, enquanto que na Santa Brígida, em Goiás, por exemplo, se atingiu uma lotação de 5 animais por hectare, e isso é uma revolução.

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Artigo

A realidade da terceira safra À medida que novas tecnologias vão sendo implementadas no campo, descobre-se a imensa potencialidade da agricultura tropical. Fotos: Rogério Arioli Silva

Rogério Arioli Silva *

Trabalhos de silagem com sorgo e braquiária em Santa Helena de Goiás, dentro do Sistema Santa-Fé

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

A

segunda safra de grãos, que, graças a sua dimensão atual, acabou recebendo essa nova denominação (antes, se chamava “safrinha”), está sendo complementada pela produção de carne através da utilização de forrageiras consorciadas ao milho e ao sorgo. Este sistema, chamado de “Santa-Fé”, foi desenvolvido pela Embrapa a partir de meados da década de 1990 na fazenda do mesmo nome, localizada em Santa Helena de Goiás e, aos poucos, tem sido adotado por muitos produtores que buscam tornar ainda mais intensiva e sustentável a exploração das suas propriedades. Inicialmente concebido para utilização no milho da primeira safra, o sistema Santa-Fé tem sido utilizado até mesmo no plantio da segunda, proporcionando a produção de forra-

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gens em plena época da seca e permitindo a engorda de bovinos nos meses onde tradicionalmente os animais perdiam peso. A situação mais comumente encontrada no Cerrado mostra índices de lotação de bovinos abaixo de 0,5 UA/ha (Unidades Animais de 450 kg por hectare). A melhoria da qualidade da pastagem proporcionada pelo Santa-Fé é capaz de multiplicar este número por dez, ou até mais, dependendo da situação encontrada. Normalmente, durante a época da seca são comuns perdas de peso em torno de 200 a 300 g/animal/dia, resultando no já conhecido “boi sanfona”: engorda nas chuvas e emagrece na seca. Ao implantar a forrageira, geralmente do gênero brachiaria, em consórcio com milho e sorgo, é possível obter-se ganho de peso próximo a um quilo por animal/dia nos

quatro meses subsequentes à colheita (julho a outubro), antecipando o abate e proporcionando uma lucratividade que até então vinha sendo ignorada. Esta prática vem sendo chamada de “terceira safra”, ou seja, produção de carne onde anteriormente já foram obtidas duas colheitas, tudo dentro de um único ano-agrícola na mesma área. Do ponto de vista da produção de grãos, o sistema Santa-Fé proporciona vantagens inquestionáveis. Entre elas, destacam-se: l melhoria das qualidades físicas do solo através do sistema radicular da forrageira; l reciclagem de nutrientes aumentando sua disponibilidade às culturas subsequentes; l sequestro de carbono através da produção de fitomassa; l produção de palhada, indispensável ao plantio direto, além do incremento de rentabilidade à propriedade rural. Outras vantagens São também inegáveis as contribuições obtidas no que se refere à quebra do ciclo de pragas e doenças das culturas. Inúmeros trabalhos realizados pela Embrapa e outras instituições de pesquisa demonstram a diminuição de doenças com a implantação da palhada das braquiárias no solo o que, em última análise, significa redução de custos além de evidentes benefícios ao meio ambiente. As propriedades que já optaram pela introdução deste sistema concluem que poucas mudanças são necessárias para a empreitada. Na maioria das vezes, nenhum tipo de máquina precisa ser adquirido, ape-


nas alguma adaptação nas já existentes. Algumas despesas com a construção de cercas e bebedouros são necessárias, mas a utilização de cercas elétricas e bebedouros móveis as tornam irrisórias. De fato, apenas mudanças na forma de gerenciamento da propriedade são imprescindíveis, pois, sem dúvidas, existe uma barreira cultural para que o agricultor torne-se pecuarista e vice-versa. O que geralmente tem acontecido é o crescimento de arrendamentos e parcerias, pois existe crescente demanda de terras pelos agricultores. Em contrapartida, os pecuaristas relutam em fazer os investimentos necessários ao sistema de ILP – Integração Lavoura-Pecuária, com o receio de iniciarem um ciclo de endividamento, uma vez que perderam o costume de financiar sua atividade. Entretanto, a agricultura em áreas de pastagens degradadas é, felizmen-

te, um caminho sem volta e permitirá que o país possua o mesmo rebanho ocupando um espaço muito menor. Segundo estatísticas oficiais, dos 180 milhões de hectares de pastagens existentes hoje no Brasil, apenas 10% recebem algum tipo de manejo com vistas à sua manutenção e recuperação, o que significa um desperdício inconcebível para os padrões atuais de explorações mais tecnificadas.

A prática da ILP com a utilização da terceira safra deverá crescer muito nos próximos anos, o que irá beneficiar sobremaneira os índices de produtividade das propriedades, além de proporcionar uma intensificação positiva do uso do solo com a racionalidade cada vez mais imprescindível para consolidar a vanguarda brasileira na exploração dos sistemas de agricultura tropical.

Gado sobre braquiária e brotos de soja emergindo da palhada formada pela graminea.

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Política Aprosoja x Monsanto: briga de gigantes.

P

Coletiva da Aprosoja e Famato, em Cuiabá.

ara o leitor entender, fazemos um breve resumo do que acontece: primeiro (ainda em 2012) a Aprosoja contestou na Justiça Federal do MT a validade da cobrança dos royalties da soja RR1 pela Monsanto, considerada por eles como indevida, porque a patente teria vencido em 2010. Enquanto decide sobre o mérito a Justiça autorizou o depósito judicial por parte dos produtores usuários. A Ação Coletiva pleiteia a devolução em dobro do que já foi pago à Monsanto. Nesse meio tempo a Monsanto contestou judicialmente a Ação Coletiva da Aprosoja, e, em paralelo, entabulou negociações com a CNA - Confederação Nacional da Agricultura e Pe-

cuária, e suas federações filiadas, obtendo de 11 entidades estaduais o apoio e a recomendação para a assinatura de contratos de acordos individuais entre produtores e a Monsanto, apoiando o uso das tecnologias RR1 e Intacta, e abrindo mão de ressarcimentos pelos pagamentos já feitos. As unidades do MT e RS ficaram de fora, em desacordo com a recomendação da CNA. Em fevereiro último a Monsanto recebeu a negativa, através do STJ - Superior Tribunal de Justiça, para a liminar que interpôs contra o INPI, Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, onde pedia prorrogação por 2 anos da validade da patente da RR1, fato comemorado pelos associa-

dos da Aprosoja como um reconhecimento de que a patente venceu em 2010, conforme alegam. Ainda em fevereiro, a CNA voltou atrás em sua recomendação de apoio à Monsanto, e fez um comunicado à imprensa (leia nota, nesta seção). Na sequência, a Abrasem – Associação Brasileira de Sementes e Mudas, emitiu comunicado à imprensa, em apoio ao acordo da Monsanto com a CNA (leia a nota, também nesta seção). Na mesma semana, em Cuiabá, a Aprosoja protocolou outra notificação judicial solicitando que a Monsanto apresente as patentes da soja Intacta RR2 Pro. No dia seguinte, a FPA – Frente Parlamentar de Agricultura convocou reunião de seus deputados e senadores, para debater o assunto. Dia 26 de fevereiro, no fechamento desta edição a Monsanto liberou em seu site www.monsanto.com.br uma nova versão de contrato simplificado, atendendo a solicitação da CNA, enquanto não acontece uma decisão judicial. A novela vai continuar, com capítulos apimentados, mesmo depois de a safra terminar.

Carta / Comunicado:

A Abrasem defende propriedade intelectual

N

a condição de Entidade representativa do Setor de Sementes no Brasil, a ABRASEM - Associação Brasileira de Sementes e Mudas entende que o respeito amplo ao direito de propriedade privada e, particularmente, à propriedade intelectual constituem a base que suporta a pesquisa agrícola no nosso País e no Mundo, pois permite manter sustentável o ciclo investimento em pesquisa/geração de novas tecnologias/disponibilização dessas tecnologias para o agricultor, destinatário final e mais importante de todo esse processo. A ABRASEM defende o investi-

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mento constante e crescente em pesquisa e desenvolvimento agrícola no país. O respeito à propriedade intelectual agrícola é instrumento fundamental para o desenvolvimento de novas cultivares e biotecnologias, necessárias na busca incessante do aumento sustentável da produtividade nacional. A semente certificada é elo fundamental na cadeia produtiva agrícola, contribuindo para uma regular disponibilização de sementes de reconhecida qualidade para a produção brasileira de grãos. Não respeitar os direitos à propriedade intelectual em cultivares e biotecnologia agrícola representa

um retrocesso para o Brasil, afetando a nossa competitividade no cenário do agronegócio internacional. A ABRASEM, fundamentada nos princípios que norteiam sua conduta, considera que a Declaração de Princípios firmada entre a CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a Monsanto do Brasil Ltda. e 11 (onze) Federações Estaduais de Agricultura, em prol do reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual sobre tecnologias agrícolas bem como da devida remuneração aos detentores dessas tecnologias, a cada uso dessas sementes, é legitima.


Nota Oficial:

CNA rejeita acordo com a Monsanto

A

CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, rejeita os acordos individuais que a Monsanto está apresentando aos produtores de soja, pois os mesmos não obedecem aos termos da Declaração de Princípios firmada entre as partes. Não tratamos, em nenhum momento, da forma de cobrança de royalties, apenas ressaltando que o respeito a patentes é um princípio aceito pela CNA e pelas federações signatárias como forma de incentivar a inovação e a tecnologia, tão importantes para o aumento da produtividade da agricultura brasileira. O objetivo da CNA é e sempre foi oferecer oportunidade de escolha para aqueles produtores rurais que não dispõem dos recursos necessários para enfren-

tar longas batalhas judiciais, de resultados imprevisíveis. Os termos da Declaração de Princípios são claros e tratam exclusivamente dos royalties referentes ao uso da semente de soja RR1. A CNA, ao tomar conhecimento de que a Monsanto está incluindo no acordo individual o termo de licenciamento de outras tecnologias, que sequer estão no mercado, manifestou o seu repúdio ao comportamento adotado pela empresa, exigindo a anulação dos acordos individuais firmados fora dos termos pactuados. Aguardamos a confirmação oficial da Monsanto quanto à decisão, já antecipada de forma verbal, de recolher os contratos até agora assinados. E que um novo documento que venha ser oferecido aos produtores rurais

seja claro, de fácil compreensão e, principalmente, que respeite o que foi pactuado entre as partes na Declaração de Princípios.

Brasília, 20 de fevereiro de 2013.

Senadora Kátia Abreu

Presidente da CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

A “Lei dos Motoristas” vai ser revisada

S

erá instalada nos próximos dias a Comissão Especial destinada a analisar a Lei 12.619/2012, conhecida como Lei dos Motoristas. A criação foi assinada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, durante audiência com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), em 20 de fevereiro último. O deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC) destaca que a FPA quer a instalação imediata da comissão. “Vamos estudar a Lei atual e propor uma nova redação, chamando a sociedade e as entidades para buscarmos uma proposta de consenso. Precisamos fazer isso urgentemente, uma vez que há possibilidade de uma nova greve dos caminhoneiros”, disse.

O parlamentar salienta que se a greve acontecer o aumento do preço nos alimentos e no frete será inevitável. “Não podemos correr esse risco em plena safra de grãos, quem vai pagar a conta será o consumidor”, afirmou Colatto. Como amplamente divulgado na época, a Lei dos Motoristas foi suspensa nas vésperas de entrar em vigor, em 2012, pela inviabilidade de ser cumprida, pois previa paradas regulares para descanso dos motoristas durante a jornada de trabalho, mesmo à beira da estrada, em locais despreparados para tanto e sem segurança a esses profissionais. Na verdade, o que se temia aconteceu, e foi o aumento dos preços dos fretes. A lei ficou em suspenso, e agora será reavaliada. Será que depois disso os políticos tomam ju-

ízo e aprovam uma lei que seja viável de ser aplicada, além de fiscalizável? Os membros da FPA também participaram de uma audiência com o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho.

março 2013 – Agro DBO | 43


Política Aprosoja quer garantir competitividade Cada comissão é coordenada por um diretor da Aprosoja e tem como gerente um colaborador da entidade

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ara assegurar a competitividade e a sustentabilidade dos produtores de soja e milho de Mato Grosso, a Aprosoja divide seu trabalho em comissões. Atualmente existem 5 frentes de representatividades responsáveis pelos temas de produção, logística, sustentabilidade socioambiental, cooperativismo e gestão da propriedade. Cada comissão é coordenada por um diretor da Aprosoja e tem como gerente um colaborador da entidade. Todos associados podem fazer parte da comissão como membros. A Comissão de Cooperativismo e Gestão de Propriedades é uma ferramenta fundamental para melhoria da renda do produtor. De acordo com Nelson Piccoli, gestor da comissão, estar unido a uma cooperativa garante diversos benefícios para quem tem interesses em comum. “O nosso objetivo é mostrar aos produtores o quanto é importante estarmos juntos e nos organizarmos em forma de cooperativa. Neste modelo podemos construir armazéns para absorver a produções e de forma coletiva fa-

44 | Agro DBO – março 2013

zer de compra de fertilizante e insumos, o que garante preços menores”, destacou. Criada há dois anos, a comissão de Cooperativismo e Gestão de Propriedades é a mais nova da entidade. “Mesmo em pouco tempo de atividades já estamos organizando 14 grupos que preparam sua documentação para fundar cooperativas”, afirmou Picolli. Auxiliar na gestão das propriedades rurais e defender os produtores nas questões referentes à classificação de grãos e qualidade de fertilizantes são alguns dos objetivos da Comissão de Gestão da Produção, coordenada por Naildo Lopes. “Nosso principal foco de trabalho é garantir renda ao produtor. Para isso criamos diversos projetos, dentre eles o Projeto Antiferrugem, identificando e combatendo focos da doença, e o Projeto de Classificação de grãos, que garante aos produtores remuneração justa pela sua produção”, destacou o coordenador. A comissão de Logística da Aprosoja nasceu da necessidade

de reduzir os custos no escoamento da safra. A boa produtividade das lavouras mato-grossenses têm seus resultados comprometidos com o alto preço do frete e escassez de modais de transporte. “Se utilizarmos uma escala para dimensionar os problemas do sojicultor do estado, a logística está em primeiro lugar. O custo do frete é um componente muito alto na produção, e isso reflete nos resultados ao produtor”, revela o coordenador da Comissão de Logística, José Rezende. Para o coordenador da Comissão de Sustentabilidade Socioambiental, Paulo Aguiar, uma das principais lutas desta frente é com a legislação trabalhista que não condiz com a realidade do campo. “Infelizmente as nossas leis trabalhistas não atendem as necessidades dos trabalhadores rurais. Essa legislação foi criada para trabalhadores urbanos e transferida para o campo, porém precisa de adequações”, concluiu Aguiar. Ainda nesta comissão o principal projeto desenvolvido é o “Soja Plus”, por meio dele são realizadas ações de capacitação do produtor rural com assistência técnica e educação ambiental e o monitoramento das melhores práticas agrícolas na propriedade. Já a Comissão de Crédito, Comercialização e Renda possui um programa permanente de monitoramento de renda da produção de soja e milho em Mato Grosso. Um dos trabalhos é manter a fixação de preços mínimos e execução das operações de financiamento e aquisição de produtos agropecuários. Por meio desta Comissão é solicitada à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a realização de leilão de grãos.



Tecnologia

Dúvida no campo Especialista em pulverização, Luís Cesar Pio opina sobre o polêmico uso da agricultura de precisão na aplicação em taxa variável de agroquímicos.

A

Luís Cesar Pio é engenheiro agrônomo e diretor da Herbicat, de Catanduva (SP).

s técnicas da agricultura de precisão vêm se desen­ volvendo rapidamente e, com isso, surgem questões cotidianas sobre a taxa de aplicação variável dos produtos fitossanitá­ rios ou agroquímicos na agricultu­ ra. Não como um pesquisador cien­ tífico, mas como um técnico ligado a extensão rural, é importante con­ siderar alguns fundamentos do pro­ cesso e suas interferências. Primeiramente, a aplicação em taxa variável de agroquímicos, den­ tro das técnicas de agricultura de precisão, ainda é uma técnica pouco evoluída, não por falta de interesse, mas pelas dificuldades ligadas aos processos de recomendações e dos equipamentos disponíveis. Ainda hoje é difícil garantir uma aplicação em taxa uniforme, ou seja, normal­ mente nossas aplicações têm erros que provocam taxas variadas na área, mas sem controle. No caso dos corretivos, as va­ riações do solo foram estudadas e ajustadas pela geoestatística, per­ mitindo fazer uma interpolação dos dados, estimando as variações de solo e assim ligando o alvo à recomendação. O importante, pa­ ra iniciar um projeto de aplicação em taxa variável é conhecer como ocorre a variação dentro da área, para depois fazer uma recomenda­ ção de acordo com a necessidade do ponto a ser aplicado. O conceito da aplicação em taxa variável exige uma análise prévia espaço-temporal da área para realizar uma recomen­ dação variável. Relacionar os fatores medidos com a recomendação exi­ ge muitos estudos básicos, que pre­

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cisam ser validados com a técnica e seu retorno econômico. Nos agroquímicos, nas aplica­ ções de herbicidas pré-emergentes existe uma relação direta entre te­ ores de matéria orgânica, argila do solo e CTC (Capacidade de Tro­ ca Catiônica), que mostram uma maior ou menor capacidade de retenção dessas moléculas ao com­ plexo solo. Assim, é possível sugerir a variação de dosagens em diferen­ tes solos, sendo aplicação de doses maiores em solos com maior capa­ cidade de retenção e doses menores nos pontos com menor capacidade de retenção (o que funciona é a mo­ lécula livre na solução do solo). Nes­ se caso é possível fazer uma análise do solo antes do plantio, com tem­ po, e ajustar uma recomendação prévia para ser executada. Algumas empresas estão apro­ veitando as informações que já existem sobre esses parâmetros le­ vantados para área de correção e adubação do solo e viabilizando as primeiras aplicações em larga esca­

Superdose

la para herbicidas pré-emergentes. É importante lembrar que o tama­ nho do grid de amostragem para as variações de fertilidade do solo estão melhores determinados e que a mobilidade dos fertilizantes no complexo solo é muito distinta do que ocorre com as moléculas dos agroquímicos. Assim, pequenas va­ riações dentro da área podem cau­ sar grandes variações na recomen­ dação, o que pode não ser detecta­ do na interpolação dos dados para fertilizantes. Nesse caso, os estudos de geoestatística para interpolação de dados e prescrição deverão ser novamente ajustados, podendo os dados usados em fertilidade não se­ rem suficientes. Existe a possibilidade de usar levantamentos em tempo real, com amostradores que medem, por exemplo, condutividade elétrica do solo e, relaciona com argila e CTC, podendo indicar a dose recomen­ dada para cada ponto dentro da faixa de aplicação. Conhecendo as variáveis medidas ou interpretadas Subdose

Mapa de uma aplicação, indicando nos pontos amarelos uma subdose por excesso de velocidade e nos pontos vermelhos uma superdose por velocidade muito baixa.


do solo, ainda é necessário contar com um algoritmo matemático para relacionar esse fator com uma reco­ mendação, que pode variar muito de acordo com o produto e a condi­ ção de aplicação. Para aplicação de um fungicida ou inseticida em uma lavoura ins­ talada, é necessário fazer a avalia­ ção do problema e a recomendação em um tempo muito curto, pois a condição de infestação pode variar muito de um dia para outro, o que torna o problema maior. As técnicas de recomendações normais de fotos e outras que dependem de amostra­ gem não são possíveis nesse caso. Como a própria ideia de agricultura de precisão as análises são espaço­ -temporais e aqui o tempo é muito curto. Outro problema é que a téc­ nica de sensores, que pode identifi­ car a massa foliar e relacionar com a aplicação, mas na aplicação de um inseticida não faz diferença se se aplica o produto sobre um indi­ viduo ou uma comunidade. A do­ sagem deve ser a mesma, o que im­ possibilita a variação de dosagem. O equipamento de aplicação é outro ponto importante. A maioria dos pulverizadores usados na agri­ cultura mundial usam bicos hidráu­ licos (muito conhecidos e baratos). Para dobrar a quantidade aplicada por uma ponta de pulverização de­ ve-se quadruplicar a pressão e isso provoca uma grande alteração no padrão de pulverização. Aumentar a pressão causa uma diminuição

do tamanho de gota e pode causar forte deriva. Já a redução da pressão pode aumentar o tamanho da gota e reduzir a cobertura e penetração na cultura. Assim, a variação possí­ vel entre uma dosagem mínima e a dosagem máxima ainda é um pro­ blema para os equipamentos atuais. O sistemas de injeção direta po­ dem ser uma boa alternativa. Na prática, ainda não resolveram todos os problemas para aplicação em taxa variável, mas poderá ser uma solu­ ção. Atualmente, existem sistemas que controlam multipontas, abrindo ou fechando um ou outro tamanho de ponta ou mesmo uma ou mais pontas ao mesmo tempo, que pode­ rão ajudar no desenvolvimento des­ sa técnica, mas ainda estão em fase inicial de trabalho a campo. Uma oportunidade importan­te na aplicação de herbicidas e inseti­ cidas são as variações de se aplicar ou não em uma área. Não é taxa va­ riável e sim, “aplica ou não”. Existem ervas daninhas e pragas de solo que aparecem em reboleiras e, por isso, a aplicação em área total não deveria ser realizada, economizando pro­ duto, dinheiro e impacto ambien­ tal desnecessários. Nesses casos, os mapeamentos convencionais de posicionamento do problema e as recomendações são mais simples e diretas, podendo ser aportado por softwares mais simples, sem um al­ goritmo matemático específico, sem ajuste fino de dosagem e se aplica ou não em uma posição.

Existem outras oportunidades de aproveitar o que já está dispo­ nível na tecnologia já embarcada nos pulverizadores atuais. Diversos equipamentos que têm controlado­ res de aplicação podem gerar mapas dessas aplicações. Ou seja, mostram quanto foi realmente aplicado em cada parte da área. Com esses ma­ pas, é possível avaliar os resultados das aplicações nos pontos em que as doses foram maiores do que as de­ sejáveis e verificar se houve danos por injúria do produto (fitotoxici­ dade) ou se o controle foi inferior nos pontos onde ocorreram sub­ doses. Ainda é possível analisar se é necessário realizar alguma inter­ ferência extra nesses pontos, como uma reaplicação. Assim, usando esses relatórios podemos avaliar qual é o melhor pulverizador ou o melhor operador de pulverizadores. Podemos treinar pessoas, mostran­ do diretamente o que ocorre com as variações de velocidade dentro dos talhões e entendermos melhor uma boa aplicação em taxa verdadeira­ mente uniforme. Por fim, o desafio do uso da tec­ nologia não pode ser pautado em soluções individuais de máquinas, ou mão de obra, ou dos controla­ dores ou softwares. É necessário o uso integrado e temporal de todo o conhecimento tecnológico para a melhoria das aplicações, com redu­ ção de custos e agregação de valores ao processo de aplicação e da pro­ dução agrícola. março 2013 – Agro DBO | 47


Artigo

A união faz a força Que futuro espera os pequenos produtores rurais num país cuja agricultura depende cada vez mais de economia de escala? Décio Luiz Gazzoni *

À

primeira vista, os agricultores familiares brasileiros estão fadados a desaparecer. Apesar das boas iniciativas do governo federal, a baixa escala de produção, a falta de mão de obra rural e de máquinas apropriadas à pequena propriedade, além das dificuldades de união, de organização, de transporte e de comercialização, aparentam indicar que o futuro da agricultura será monotonamente reservado aos médios e grandes produtores. Usei os termos “primeira vista” e “aparentam” posto que, com sensibilidade para o problema, criatividade nas propostas e alta

alta qualidade, produzidos próximo à sua cidade. Como corolário, a fixação dos agricultores familiares no campo evita a exacerbação dos problemas da urbe, mormente o acirramento de demandas de saneamento, transporte, novas escolas e postos de saúde, além da falta de qualificação profissional dos ex-pequenos agricultores para disputar um emprego ou uma fonte de renda que lhes permita viver com dignidade nas cidades. A solução do problema passa por fórmulas inovadoras de apoio à produção agrícola de alta qualidade, processos modernos de agregação de valor, abertura e

“O segredo é investir em produtos de alto valor intrínseco e ocupar nichos de mercado”

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

prioridade para implementar soluções, é minha opinião que o exposto acima não é, inexoravelmente, uma inequação. Urge enfrentar o processo com firmeza e coragem, para não transferir às gerações futuras um problema que pode ser solucionado aqui e agora. É possível organizar uma cadeia produtiva baseada no velho jargão “união faz a força”, garantindo o sucesso dos agricultores familiares, usufruindo uma vida digna no campo, estancando a hemorragia do abandono das pequenas propriedades e a fuga para a periferia das cidades. Os cidadãos urbanos se beneficiarão com oferta adequada de alimentos de

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consolidação de canais de comercialização que garantam o sucesso da agricultura familiar. Agricultor familiar deve fugir de commodities, vendidas sem agregação de valor. O segredo é investir em produtos de alto valor intrínseco, com possibilidades de agregação de valor e ocupação de nichos de mercado. Um nicho importante é a agricultura orgânica, com consumidores dispostos a pagar mais por um produto que atenda suas exigências específicas de inocuidade. Horticultura, fruticultura, pequenos animais, cadeia de lácteos ou embutidos são exemplos clássicos de espaços da agricultura familiar. A agregação de valor é

fundamental para conferir renda digna aos produtores. Produtos hortícolas podem ser classificados, certificados, semi-processados, embalados, etiquetados, com design profissional, permitindo o seu rastreamento. Também podem ser cortados ou picados, transformados em conserva. Frutas podem virar suco, geleia ou licor. Frutas de colheita trabalhosa encontram espaço em Colhe-e-Pague, no estilo Pesque-e-Pague, ambos constituindo-se em centros de lazer e polos de comercialização. Aquicultura é um negócio rentável, se houver agregação de valor na cadeia. Sem nunca esquecer o pão nosso de cada dia, especialmente para um bilhão de pessoas que tem acesso restrito a alimentos, penso no pão da alma, a beleza das flores e plantas ornamentais. Um grande negócio, com taxas de crescimento de 5 a 10% ao ano, no mundo. Globalmente, o setor movimenta dezenas de bilhões de dólares anuais (R$ 3 bilhões no Brasil), com expectativa de crescer cada vez mais, conforme a inclusão social se consolida e a renda per capita permite ao cidadão investir em qualidade de vida. Finalmente, o marketing dos produtos da terra é essencial, se o galo não cacarejar, os negócios sequer roçam seu potencial. Em resumo, bons projetos, executados com profissionalismo e apoio governamental, constituem a fórmula para potencializar a agricultura familiar no Brasil.


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Perfil

Agricultor profissional 50 | Agro DBO – março 2013

Em entrevista para a Agro DBO o agricultor gaúcho que migrou em 1985 para Tangará da Serra (MT), Romeu Ciochetta, parece ser a sempre lembrada figura do “formador de opinião”, citada por especialistas em marketing das empresas de insumos, mas que poucos deles conhecem de fato. Por ser um típico agricultor do Brasil Central, pioneiro e desbravador, um verdadeiro influenciador de opiniões entre seus pares, ouvimos suas histórias e opiniões, e seus modos de fazer a agricultura moderna que o Brasil pratica. Richard Jakubaszko


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agricultor Romeu José Ciochetta, 50 anos, torcedor do Grêmio, casado com Dulce Chiamulera Ciochetta (paranense, mas torcedora do Internacional), 2 filhos, Paula Vitória 18 anos e Luís Otávio 17 anos, só fez o ensino médio. Nasceu em Paim-Filho, no Rio Grade do Sul, e com 7 anos mudou-se com a família para Pato Branco (PR). Depois, em 1985, já com 23 anos, migrou novamente, desta vez por conta própria, para Tangará da Serra, onde reside até hoje. Trabalhou por 8 anos como representante de vendas de tratores, mas em 1989 arrendou 200 ha de terras no município de Campo Novo do Parecis (MT), em busca de ser um agricultor, uma tradição da família. Em 1993 Romeu comprou 500 ha, a mesma área que já arrendava e um pouco mais. A mosca azul o pi-

cou, transmitindo a “virose” e o sonho de ser agricultor. A partir daí não parou mais de comprar ou arrendar terras, sempre vizinhas ou próximas à bonita sede da Fazenda Morena. Hoje ele tem 4.850 ha próprios e planta ainda em 3.650 ha arrendados, num total de 8.500 ha, tudo no município de Campo Novo do Parecis. Não é um dos gigantes na região, onde é comum encontrar-se gente com 20 ou 30 mil ha, ou muito mais. O Brasil é realmente um país muito grande. Lá no MT onde vive e trabalha com a terra, Romeu ainda é um produtor de porte “médio”, mas seria gigante com essa área se estivesse no Sul ou Sudeste do país. Plantar em toda essa imensa área exige coragem, muito planejamento, conhecimentos de logística, além de estratégias diferenciadas, tanto agronômicas como financeiras, para não cometer erros. Erros,

nessas dimensões de áreas de plantio, podem quebrar qualquer um, e precisa-se ser profissional para vencer os obstáculos. Hoje, Romeu cultiva soja e milho, e ainda 200 ha de eucalipto. Na soja alcança média de 62 sacas por ha/ano (em 2012), e no milho 120 sacas/ ha em 3000 ha, tudo em 100% no plantio direto. Para trabalhar essa área toda Romeu Ciochetta tem frota de máquinas de 9 tratores (100% John Deere, a maioria de grande porte), 8 colheitadeiras (médio e grande porte, John Deere e Case) e 3 pulverizadores autopropelidos. E ainda 6 plantadeiras, sendo uma delas de 45 linhas e 3 de 24 linhas.

Vista aérea da fazenda Morena, Campo Novo do Parecis, MT. Nos detalhes, tanque de captação de água da chuva, tambores para lixo seletivo, e barreira de ventos.

O início Como todos os migrantes, Romeu teve inúmeras dificuldades, especialmente por ser pioneiro. Aprendeu com os próprios erros e com os setembro Março2012 2013––Agro AgroDBO DBO| |27 51


Perfil Plantar em grandes áreas exige coragem, planejamento, estratégia diferenciada, agronômica e financeira, sem cometer erros.

Modernas colheitadeiras trabalham sem parar.

erros dos vizinhos, evidentemente. No início, faltavam fornecedores, qualitativa e quantitavamente, naquela região distante de tudo quase não havia gente pra conversar e trocar opinião, e ainda total ausência de infraestrutura, estradas ruins, pouca comunicação, nenhuma diversão, afora atendimentos de saúde e educação precários. Romeu acha que “nada disso foi diferente do que sofreu a maioria dos agricultores pioneiros que vieram de outros estados”. Mas acreditou no que fazia, e planejou mudar e moldar o futuro. Juntou-se em associação com vizinhos, de uma delas chegou a ser eleito presidente, fez PPPs - Parceria Pública Privada com o governo do estado do MT. De 2005 a 2007, chegaram a construir 45 km de asfalto, mas “de-

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pois que o governo estadual mudou, as PPPs esfriaram, lamentavelmente”. A associação montada com parceiros de Romeu é que fazia tudo, inclusive licitação, e pagava 45% dos custos enquanto o governo arcava com 55%. Se em 1993 comprou os primeiros 500 ha de terra, no 3º ano arrendou 800 ha, no 5º ano foi para mais de 2 mil ha, entre área própria e arrendada. Desde 1989 tinha um irmão como sócio, e todo ano era um desafio, mas em 2006 desfez a sociedade nas lavouras que tinha com o irmão, e este foi tocar a parte nos armazéns, que era outra sociedade que tinham, e que eles mantêm até hoje. Romeu construiu ainda, 2 anos atrás, armazéns próprios, com capacidade de 24 mil toneladas, para estocagem da produção, e eventu-

almente aluga armazenagem a terceiros, mas o que importa para ele é que não tem sufoco para venda da safra, até porque faz venda no futuro de parte da produção. Na época da entrevista Romeu estava colhendo soja e plantando milho simultaneamente, mas tem projeto para entrar na pecuária, talvez na ILP Integração-Lavoura-Pecuária, pois já produz um pouco de sementes para pastagens. É uma das hipóteses aventadas, para diversificar atividades. “Hoje, com 8 mil ha, é um desafio maior”, diz Romeu. “Antigamente os juros eram absurdos, e como a gente não tinha capital era tudo muito mais difícil”, recorda-se ele. “Teve um ano, em 1995 ou 1996, que o BB cobrou 84% de cor-


reção, mas o Bradesco cobrou 42%, sendo que o nosso produto foi corrigido em 42%”. Como início foi difícil, sem terras próprias, e era inviável obter financiamento por não ter garantias para dar aos bancos. O primeiro aval incentivador veio do amigo e ex-patrão na revenda de máquinas, e os momentos mais complicados foram ficando para trás. Romeu sabe e conhece bem essa trajetória, o pai dele é ainda hoje um pequeno agricultor no Paraná. Conhecedor dos problemas, mesmo consolidado em patrimônio, Romeu vai preparando desde já a sucessão, o filho Luís Otávio estuda pela manhã e trabalha no escritório à tarde, na área administrativa. Sempre que possível acompanha o pai nas lavouras. Deve encaminhar-se para o curso de agronomia, pois tem demonstrado grande vocação e aptidão. Um problema a menos para Romeu, pois quando se tem herdeiros sem vocação e gosto para o trabalho na lavoura, o interesse é só na herança e no patrimônio. Dulce, a esposa, trabalha em tempo integral na parte administrativa. Paula Vitória faz o curso de Administração, em Cuiabá, e pretende trabalhar com o pai depois de se formar. A família unida vai em frente. Estratégias e ideias Na fazenda Morena planta-se soja com espaçamento de 50 cm de entrelinhas, o que facilita o manejo com autopropelido com piloto automático, e permite planejar os tratos culturais para pulverizadores com 30 metros de barra, sem provocar amassamento de soja. O espaçamento mais largo traz maior arejamento da lavoura, reduz a incidência de doenças e facilita a deposição dos agrotóxicos até o pé da planta. A agricultura de precisão é usada em 30% da área, tudo com piloto automático. Não usa irrigação, pois o clima é estável e previsível, e tampouco aviação agrícola. Nas sementes de soja é 65% OGMs e 35% soja livre e 100% do milho é OGM. Soja usa se-

mentes Adriana e Pioneer, o milho é adquirido da Pioneer, Dow e Syngenta, e transfere as sementes para bags de 500 quilos, o que facilita a logística, todas tratadas, mas antes tratava as sementes na propriedade, inclusive com inoculantes na soja. Não teve problemas de infestações com os OGMs, mas lembra que “é óbvio que novas pragas sempre surgem, e esta safra foi tranquila em termos de controle de pragas, apenas em alguns momentos a lagarta da maçã (proveniente do algodão) incomodou”. Para controlar a ferrugem usa Fox (Bayer), PrioriExtra da Syngenta e Ópera da Basf, e com 3 aplicações segurou a ferrugem. Planta 50% de milho na 2ª safra, antigamente chamada de safrinha, e também milheto, para obter cobertura de solo. Colheu soja este ano, nos primeiros dias de fevereiro, debaixo de chuva, no limite de umidade, mas a partir da segunda quinzena de fevereiro a colheita entrou em normalidade. Alguns vizinhos, que plantaram soja precoce, tiveram problemas para colher, com perdas significativas devido à umidade provocada pelas chuvas de janeiro. Por isso, e pelo tamanho da área plantada, Romeu diz que planeja o plantio, faz uso de diversas variedades, desde precoce até tardia, para obter uma janela maior de colheita, que pode chegar a até 40 ou 45 dias de trabalho contínuo, dependendo do regime de chuvas. Romeu compra os agroquímicos diretamente das empresas, e obtém boas negociações com as multinacionais devido ao seu porte como produtor, que exige altos volumes de agroquímicos. O associativismo, no MT, ou condomínios, conforme afirma Romeu, poderia ser feito de grupos pequenos ou maiores e facilitaria essas negociações. Desde o início, quando chegou por lá, sempre houve problemas com as cooperativas. Ele destaca que “a Aprosoja, a exemplo do que acontece nos EUA, defende os nossos interesses, e nos últimos 7 ou 8 anos temos tido muitos sucessos em diferen-

tes tipos de demandas, especialmente de políticas públicas, comerciais e até mesmo pela via judicial. São questões em que o cooperativismo não defenderia os produtores”. Sobre o seguro agrícola, Romeu afirma que “não tem atendido as necessidades dos agricultores na região, além disso, tem alto custo para o produtor. É difícil e burocrático também atender as exigências das seguradoras, felizmente no Brasil Central o clima é mais estável do que no Sul, e o seguro não é uma prioridade”. Houve safras em que Romeu plantou com 100% de recursos próprios, neste ano foi 60% por crédito, mas teve ano que financiou 100% do custeio.

Romeu Ciochetta e o filho Luís Otávio, um aprendiz de feiticeiro.

Prêmios, políticas e opiniões Romeu diz que nunca recebeu nenhum prêmio de produtividade, apesar das médias elevadas, mas recebeu o prêmio “produzindo certo”, na área ambiental, pela ONG Aliança da Terra, em 2011, por fazer plantio direto em 100% da área de plantio, também por diversas ações de proteção ambiental, e ainda pela captação de água da chuva para reaproveitar no uso das pulverizações. A captação é no galpão de máquinas, junto à seMarço 2013 – Agro DBO | 53


Perfil Estamos sempre dimensionados, em termos de maquinário, para atender uma área de plantio de até 500 ha adicionais.

Romeu vistoria a colheita com a filha Paula Vitória.

de, vista na foto aérea. O galpão possui 2.500 m2 de área de cobertura e com chuvas de 1800 mm em 3 meses conseguimos captar muita água, diz Romeu. No período das chuvas chega a captar mais de 4,5 milhões de litros. Vamos fazer outra área de captação na sede que tem armazém, com mais 4.500 m2, informa Romeu. Antes usava água de poço artesiano, com 110 metros de profundidade.

Romeu acha que o Brasil necessita fazer uma revisão no Código Florestal, no entanto, “deveria ser diferenciado de acordo com cada região, pois cada uma tem suas particularidades. As punições para o campo teriam que ser as mesmas para a zona urbana, pois somente o campo é tachado de destruidor, mas os maiores crimes ambientais acontecem na zona urbana, principalmente nas grandes cidades”. Como exemplo, Romeu

cita “o rio Tietê, em SP, o rio Capiberibe, PE, as margens dos rios e córregos que cortam as grandes cidades brasileiras, quase sem exceção, e que estão comprometidas, sem nenhum tipo de mata ciliar para preservá-los. E o que dizer então em relação das residências construídas nas encostas dos morros?”. “As APP’s no Mato Grosso para grandes produtores rurais podem até não fazer tanta falta assim na arte produtiva, por terem uma grande quantidade de terra. Já em relação aos pequenos produtores, especialmente no Sul e Sudeste, muitas vezes as APP’s tiram uma grande quantidade de terra de áreas produtivas, sobrando pouca coisa para a agricultura, por isso penso que deveria ser planejado de acordo com cada região”, opina ele. As áreas de Reserva Natural e APPs da Fazenda Morena estão preservadas praticamente numa única propriedade, e chegam a ter 3 mil metros de APPs distantes das margens dos rios. “Não tivemos maiores dificuldades para cumprir o Código Florestal”, esclarece Romeu, “em que a lei determina 35% no Centro Oes-

Novos armazéns da Fazenda Morena

54 | Agro DBO – Março 2013


te, mas no Sul do país, mesmo 20% é injusto, e tinha que ser analisado melhor a questão dos biomas”. “As áreas indígenas no MT são extensas e mal administradas pelos órgãos responsáveis. São em sua maioria terras agricultáveis, poderiam ser melhor utilizadas, gerando assim receitas para a comunidade indígena, melhorando a qualidade de vida desses povos”, diz Romeu. “A gente, de vez em quando, compra alguma coisa de terra”, revela Romeu, “mas isso é questão de oportunidade, e sempre estudamos arrendamentos novos, desde que sejam próximas da sede da fazenda, para facilitar a logística de trabalho com as máquinas”. Toda a área de plantio, em 3 propriedades, são praticamente emendadas, as arrendadas também, o que “facilita a logística de transferência das máquinas de uma lavoura para outra. E estamos sempre dimensionados, em termos de maquinário, para atender uma maior área de plantio, de até 500 ha adicionais, se for necessário”, esclarece Romeu. A fazenda Morena conta com 30 funcionários na safra, sendo que 20 são permanentes, fixos, além de 5 na área administrativa, e Romeu procura tratar da qualificação profissional dos colaboradores, “porque o uso de máquinas com tec-

nologias sofisticadas exige isso”. “O grande problema do Centro Oeste”, na visão de Romeu Ciochetta, “chama-se infraestrutura, em transporte e armazenamento”, e exemplifica que “faltou milho no Sul, sendo que estamos com uma supersafra no Centro Oeste sem poder atender adequadamente todos os consumidores pela falta dessa infraestrutura. Os demais problemas são todos importantes, mas não são vitais como a infraestrutura, como exemplo tem a questão indígena e distribuição de terras, em que uma hora pode e outra não pode nem passar dentro da terra indígena, é um problema, sim, afora as questões ambientais que são hoje um grande custo econômico e social”. “Independentemente disso tudo somos no Centro Oeste, de certa forma, o 1º mundo em termos de agricultura”, opina Romeu. “O clima é muito bem definido, temos rios fartos, é uma pena que as coisas que dependam da política e dos governos demorem tanto a acontecer”. Agricultor profissional Romeu acredita que “no médio prazo as questões que hoje são problemas irão melhorar e se consolidar, desde o entendimento entre os produtores rurais e os governos, pois estão todos mais conscientes, seja na

infraestrutura, na questão ambiental, seja na melhor qualificação das pessoas, com colaboradores capacitados, ganhando salários mais interessantes para que cada um consiga realizar seus sonhos”. Romeu se autodefine: “sou um agricultor profissional, estou no negócio de ganhar dinheiro produzindo alimentos. Nada diferente da importância de outras profissões. O que é diferente, entre ser agricultor ou qualquer profissão, é que a gente faz tudo certo, em termos pessoal, profissional e ambiental, mas o produtor é acusado permanentemente de ser escravagista, de estar sempre pendurado nas tetas do governo, de nunca pagar suas dívidas, e ainda de criminoso ambiental, o que é absolutamente injusto. Não deixei meus filhos se contaminarem por isso, mas vejo produtores desesperançados por essas críticas, pois seus filhos querem outros rumos, o que é ruim, e muito triste”. Romeu Ciochetta é um formador de opiniões, consolidou sua atividade em termos profissionais e mesmo em sua vida pessoal e familiar, mas como qualquer ser humano ainda tem sonhos e projetos por realizar, e agora transforma essa figura virtual do formador de opinião em uma realidade concreta.

Transporte do eucalipto para os secadores da Mosaic ou Bunge, na região; à esquerda, e à direita, os colaboradores da Fazenda Morena.

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Deu na imprensa

No papel, Brasil é dois estados de SP maior do que o oficial Roldão Arruda *

S

indicato de peritos agrários detectou que cadastro rural do país tem 600 mil km² a mais que a dimensão territorial de 8,5 milhões km² Do Oiapoque ao Chuí, o território brasileiro tem cerca de 8,5 milhões de km². Oficialmente, segundo o IBGE, essa é a superfície do País. No papel, porém, o território brasileiro é maior. Quando se faz a soma da área de todos os imóveis rurais cadastrados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma (Incra), o resultado final chega a 9,1 milhões de km². É uma diferença notável: a área que sobra equivale a duas vezes o território do Estado de São Paulo. Ou, para quem se sente melhor com grandezas imperialistas, à soma dos territórios da Alemanha e Inglaterra. O esticamento do território nacional foi verificado pelo Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários, após obter no Incra, por meio da Lei de Acesso à Informação, dados detalhados do Serviço Nacional de Cadastro Rural - que tem a tarefa de recolher informações de todos os imóveis rurais registrados no País. O mapeamento reúne informações de 2011. As de 2012 ainda não foram compiladas pelo Incra. Os peritos concluíram que o Brasil, uma das maiores potências agrícolas do mundo, está longe de ter um cadastro de terras confiável. O problema mais aparente é o que eles chamam de sobrecadastro - quando a soma das áreas declaradas pelos proprietários nos cartórios supera

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a superfície real do município. Nessa categoria, o caso que mais chama a atenção é o de Ladário, no Mato Grosso do Sul. Dez andares De acordo com o IBGE, a superfície daquele município alcança 34.250 ha. Mas a soma da área dos 139 imóveis cadastrados é mais do que dez vezes maior: chega a 397.999 ha. Dito de outra forma, para que o território cadastrado coubesse no real seria necessário erguer dez andares de terras sobre Ladário. O município sul-mato-grossense chama a atenção por estar no topo da lista, mas o problema não ocorre só lá, nem é exclusividade do Brasil profundo. Palmas e Cuiabá, capitais de dois Estados que se destacam como importantes produtores agrícolas Tocantins e Mato Grosso -, enfrentam o mesmo problema. Pelas informações obtidas no Incra, dos 5.565 municípios brasileiros, 1.354 tem sobrecadastramento, o que representa cerca de um em cada quatro. A razão mais comum para o descompasso são fraudes nos registros e até erros na transcrição dos números. Mas não é só. Os peritos apontam desatualização dos registros e, sobretudo, as condições precárias em que são feitos. “Quase tudo gira em torno da declaração que o proprietário faz no cartório sobre o tamanho de sua terra”, diz Fernando Faccio, perito federal do Incra em Florianópolis (SC) e porta-voz do sindicato. “Os órgãos estaduais de terras não possuem um bom

mapeamento das áreas; os cartórios não têm obrigação de garantir que a terra registrada não está em cima de outra; e o Poder Público também não vai lá verificar.” Para Faccio, o fato de o Brasil não conhecer sua malha fundiária é inaceitável, principalmente quando se considera que as tecnologias já existentes, como o georreferenciamento, permitem resolver o problema de maneira eficiente. “Só posso imaginar que os empecilhos no caminho da modernidade são essencialmente políticos.” Terra a menos Sobra de terra no cadastro não é o único drama. Na região Norte do País verifica-se o subcadastramento, que ocorre quando a superfície registrada é menor do que a real. A causa principal é a existência de grandes áreas de terras devolutas, controladas pelo Estado e frequentemente ocupadas de maneira irregular. O sindicato estima que na região amazônica só 4% do território está cadastrado. “Os órgãos de governo não tem controle de suas terras, o que acaba favorecendo os conflitos agrários na região”, afirma Faccio. O sindicato defende a ideia de que o Incra passe a se dedicar exclusivamente ao controle fundiário, transferindo para outros organismos a questão da reforma agrária. O órgão passaria a se chamar Instituto de Terras. “Sem conhecer sua malha fundiária, o Brasil não consegue definir políticas públicas de maneira consistente, não consegue


evitar a insegurança jurídica. No momento não se sabe nem quanta terra se encontra nas mãos de estrangeiros”, observa o perito. O assunto atrai a atenção da presidente Dilma Rousseff desde quando era chefe da Casa Civil. Confrontada com questões relacionadas a desmatamento, con-

flitos agrários, políticas sociais na zona rural, a então ministra constatou que existem cadastros paralelos no Incra, na Receita Federal e nos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura - e que nenhum deles é confiável. Na Presidência, ela tem cobrado a consolidação de um cadas-

tro único e confiável. A ministra Gleise Hoffmann, que substituiu Dilma na Casa Civil, é uma das encarregadas de analisar a questão. * O Estado de S. Paulo - http:// w w w. e s t a d a o . c o m . b r / n o t i c i a s / nacional,no-papel-brasil-e-dois-estados-de-sp-maior-do-que-o-oficial,992268,0.htm

A Suprema Corte dos EUA no caso Bowman X Monsanto Luiz Prado *

A

Suprema Corte dos EUA começou em 19 de fevereiro último a ouvir os argumentos orais de uma ação judicial movida por um pequeno produtor rural do estado de Indiana contra a Monsanto. O simples fato da Suprema Corte ter acolhido a ação assustou as hostes dos mais variados detentores de patentes “propriedade intelectual” que procuram estender as suas exigências além do uso inicial dos produtos, que entraram na ação como amicus curiae em apoio à Monsanto (incluindo uma associação que representa a Microsoft e a Apple). Um histórico da ação pode ser visto na página Suprema Corte. O Centro para a Segurança dos Alimentos, uma das organizações que se associou ao pequeno produtor rural na qualidade de amicus curiae, informa que a Monsanto moveu mais de 140 ações judiciais contra 410 produtores e 56 pequenos produtores rurais, tendo conseguido, até o presente, receber US$ 23,67 milhões em indenizações. Na ação judicial que começa a ser julgada pela Corte Suprema, um pequeno produtor rural

de 75 anos questiona o direito da Monsanto de querer fazer valer a sua patente sobre sementes modificadas depois da “segunda geração” das mesmas. Como muitos outros produtores, esse fazendeiro compra sementes em silos comerciais onde elas são tipicamente vendidas. Nesses pontos de venda, a Monsanto não tem qualquer tipo de controle da presença de suas sementes. Na ação – Bowman X Monsanto -, o produtor alega que sempre respeitou a patente da Monsanto na compra de sementes, mas que ao comprá-las em silos não tem que pagar nada à Monsanto. “Ao longo da história, nós sempre tivemos o direito de comprar sementes nos silos e plantá-las”, declarou o produtor Vernon Hugh Bowman numa entrevista, explicando que não tinha interesse em pagar os altos preços cobrados pela Monsanto para um segundo plantio, após a colheita de milho. Para essa finalidade, desde 1999 o produtor comprava sementes dos silos comerciais. A mera aceitação da ação – Bowman X Monsanto – parece ter pegado a Monsanto de surpresa.

A Suprema Corte dos EUA julgou um caso que tem similaridade com o que agora irá julgar quando em 2008 decidiu que a Intel não podia exigir que a LG fiscalizasse o uso de seus chips depois de vendidos para terceiros. A Corte entendeu que depois de vendidos os chips da Intel para a LG, esta não teria que controlar como os fabricantes usam os chips nos equipamentos que manufaturam.De fato, o principal argumento do produtor rural é o da “exaustão da patente”, ou seja, uma vez vendido o produto patenteado, o proprietário da patente não tem mais controle de como ele será utilizado. De fato, quem controla a presença de sementes patenteadas depois que elas foram misturadas a outras num silo comercial? O caso é de interesse para os produtores rurais brasileiros, e deveria interessar, também, às autoridades. * economista, publicado no blog http://www.luizprado.com.br/2013 /02/18/sementes-patenteadas-x-seguranca-alimentar-a-suprema-corte-dos-eua-no-caso-bowman-x-monsanto/

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Análise de mercado

Tendência de acomodação As variáveis clima e economia continuam sendo ingredientes fundamentais na avaliação do quadro de 2013 da safra brasileira

P

ara o mercado brasileiro de commodities, o curto prazo é relevante. Nos últimos anos, os fatores ligados a clima e a situação econômica têm trazido grandes alterações no perfil de preços e gerado certos ciclos de curto prazo. Neste momento, o mercado mundial passa por um destes ciclos, com o milho e a soja atingindo cotações recordes na Bolsa de Chicago e se convertendo em ótimos patamares aos produtores brasileiros. É importante considerar este momento cíclico como um ingrediente importante para 2013. Devemos destacar que o quadro atual é resultado de uma sequên­cia de ocorrências, entre elas:

• Três anos consecutivos de quebra

de safra nos EUA, sendo que em 2012 é a maior desde 1988; • Duas quebras em três safras no Leste Europeu; • Duas quebras em três safras na Argentina; • Pelo menos uma quebra de safra brasileira em três anos, entre elas em 2012. Esta situação vem levando os estoques mundiais a patamares problemáticos e de maior risco, e garantindo preços saudáveis para a safra sul-americana 2013 de verão e boa rentabilidade aos produtores. Certamente, contudo, isso não garante um segundo semestre de 2013 com os mesmos perfis de preço e li-

quidez. É importante frisar que as cotações são altas não apenas para o produtor brasileiro, mas de todo o mundo. Por isso, não apenas o Brasil plantou uma supersafra de soja, mas os demais países sul-americanos também o fizeram, seguidos da Europa e EUA. Assim, como uma sequência de perdas de produção trouxe os preços em patamares históricos, uma sequência de boas produções podem acomodar razoavelmente os mercados, já em 2013. As variáveis clima e economia continuam sendo ingredientes fundamentais dentro deste contexto. A primeira questão para 2013 se resume ao item clima, e aqui cabe a pergunta: “Haveria chance da

SOJA –

Os estoques mundiais continuam baixos, ajudando a manter os preços em relativa estabilidade, mesmo com o avanço da colheita. As estimativas de safra cheia na Argentina e no Brasil, vem pressionando, porém, os preços. Segundo projeções do Cepea, mesmo com o crescimento da produção da América do Sul, os preços devem se manter na casa dos US$ 32,00/sc (considerando Paranaguá, PR, como referência), pelo menos no primeiro semestre.

*Em 18/2, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 64,57 pela saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – O mercado interno andou devagar em fevereiro. A indústria moageira pediu e ficou esperando isenção de TEC (Tarifa Externa Comum) para o grão de fora do Mercosul. Embora a medida (que valerá de abril a julho) favoreça os moinhos, os preços pagos ao triticultor se mantiveram elevados, em função da escassez do grão no mercado mundial – além de Brasil e da Argentina, a Ucrânia e outros países produtores também enfrentaram quebra de safra.

*Em 18/2, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 755,25 pela tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto estado do Paraná.

ARROZ – A colheita começou em fevereiro

no Rio Grande de Sul, principal produtor do país, pressionando as cotações do arroz em casca no mercado interno. De maneira geral, a indústria manteve-se na moita, na expectativa de baixa nos preços a partir deste mês de março, devido à maior oferta. Segundo dados da Conab, a produção nacional deve ser 3,7% maior, puxada pelos maiores volumes do RS, MA, MT e PI, impactando negativamente os preços.

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*Em 18/2, o Indicador Esalq/Bolsa de Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 33,83 à vista pela saca de 50 kg, tipo 1, posto Rio Grande do Sul.


Análise de mercado quarta quebra consecutiva de produção nos EUA de forma a manter os preços extremamente elevados?” Esta, certamente, é uma questão que somente poderemos averiguar ao longo do tempo. Este contexto é fundamental no sentido de avaliarmos o quadro de 2013 para a safra brasileira. Teremos uma safra de soja recorde que vai sendo negociada a preços recordes. Parece que a soja garante uma condição favorável no ano. A grande preocupação, para os produtores rurais brasileiros, está na safrinha de milho 2013. Nos últimos três anos, a comercialização da safrinha foi “salva” por situações internacionais que mudaram radicalmente o contexto dos preços e da exportação, e houve atitudes de governo que colaboraram. Em 2012, uma safrinha de 37,7 milhões de toneladas deveria ter causado problemas sérios no mercado interno. Porém, a forte quebra nos EUA trouxe liquidez para a comercialização em Goiás e

MILHO – As cotações subiram no início de fevereiro e permaneceram relativamente estáveis na primeira quinzena, graças, em grande parte, aos estoques mundiais ainda baixos. A perspectiva de safra boa no Brasil e na Argentina e uma redução na demanda mundial no começo da segunda quinzena provocaram leve queda. Se a safra dos Estados Unidos crescer, haverá maior excedente exportável, acirrando a concorrência com o produto brasileiro. Até lá, os preços devem se sustentar.

Em 18/2, o Indicador de Preços Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 32,30 à vista pela saca de 60 kg, descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI/Cetip.

Mato Grosso. Sem esta quebra, os dois estados não teriam como escoar tal volume de safrinha. Esta situação promete ter o mesmo perfil para 2013. Na confirmação de uma nova grande safrinha, há fortes preocupações com patamares de preços no segundo semestre, custos da logística e escoamento. Uma safra normal nos

Estados Unidos, Leste Europeu e uma safrinha novamente gigantesca em 2013 revela a necessidade de avançarmos nas negociações futuras com o milho como forma de reduzir os riscos com uma sobre-oferta interna. Paulo Molinari Analista da CMA/Safras&Mercado

ALGODÃO –

*Em 18/2, o Indicador de Preços do Algodão Cepea/Esalq registrou R$ 181,36 por centavos de real por libra- peso.

As cotações seguiram em rota descendente em fevereiro. Com demanda mundial menor, os cotonicultores reduziram a área plantada em 33%, saindo de 1,4 milhões/ ha em 2011/12 para 932,4 mil em 2012/13, segundo a Abrapa. A entidade reclama reajuste no preço mínimo, o mesmo desde 2003 (R$ 44,60/arroba) – conforme a Conab, o custo médio de produção na atual safra é de R$ 61,29. No curto prazo, a tendência é de baixa.

CAFÉ – Na média da temporada 2012/13, o

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

*Em 18/2, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 311,47 pela saca de 60kg líqüido, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

preço do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, recuou 24%, segundo o Cepea, e as do tipo 7, bebida rio, de qualidade inferior, 7%. Para baratear custos, as torrefadoras vem usando o rio e/ou o conilon nos blends destinados ao mercado nacional. Por isso, as cotações de ambos tem se sustentado. No caso do arábica de melhor qualidade, a proximidade da safra tende a pressionar as cotações.

AÇÚCAR – Segundo analistas do Cepea, os

*Em 18 /2, o Indicador Cepea/Esalq – São Paulo registrou R$ 48,50 pela saca de 50Kg de açúcar cristal, com impostos, sem frete.

fundamentos de mercado não deixam dúvida quanto à tendência baixista nos preços. No começo do ano, o açúcar disponível no mercado nacional vinha atendendo, com sobras, a demanda interna e os compromissos de exportação firmados pelo pais. Em meados de fevereiro, porém, as cotações reagiram, aquecidas pelas compras efetuadas pela indústria, para reposição de estoques.

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Novidades no campo Plantadeira pneumática

Segundo a Jumil, não tem igual no Brasil. A plantadeira de hortaliças JM2490 Exacta Perfecta foi concebida com foco na precisão de plantio. Conforme o gerente de engenharia da empresa, Fabio Chencci, o equipamento permite o plantio em linhas duplas com distribuidores de sementes individuais para cada linha e um novo distribuidor de sementes, desenhado especialmente para o cultivo de hortaliças. Chencci explica que a plantadeira pode ser montada com 3 a 7 unidades semeadoras para o plantio de linhas duplas com espaçamento de 80 a 125 mm entre linhas e, no mínimo, 230 mm entre unidades semeadoras. ”Sua principal característica é permitir o plantio de precisão para cenoura e outras hortaliças, tanto com sementes peletizadas quanto incrustradas ou nuas”, diz ele. Segundo o diretor de vendas da Jumil, Flavio Trezza, a JM2490 Exacta é indicada para pequenas, médias ou grandes áreas, podendo plantar até 4 ha/dia na configuração de 7 linhas.

Controle de plantas daninhas

A Unidade de Proteção de Cultivos da BASF apresenta o novo herbicida Heat, utilizado na dessecação para plantio das principais culturas, como soja, arroz, milho, trigo e algodão; no manejo de plantas daninhas em pós-emergência nas culturas de arroz e cana-de-açúcar; e na dessecação pré-colheita para as culturas da batata e do feijão. “O Heat chega ao mercado como opção para o controle eficaz da buva, que no Brasil já se apresenta como uma planta daninha tolerante a alguns herbicidas”, diz Marcelo Batistela, gerente de Negócios Cereais Centro-Sul da Basf. Outro diferencial, segundo ele, se refere à velocidade de controle. “O produto promove um ganho operacional ao maquinário, já que, na maioria das situações, permite ao agricultor plantar sua lavoura logo após a aplicação, adequando-se ao sistema aplique e plante”.

Soja transgênica BRS 360 RR

A Embrapa Soja e a Fundação Meridional iniciaram em janeiro os trabalhos de divulgação técnica das variedades desenvolvidas em conjunto. Um dos destaques da parceria – a BRS 360 RR – foi apresentada na Coopavel, realizada em fevereiro em Cascavel (PR). A nova cultivar transgênica tem como características a precocidade, alta produtividade, resistência ao glifosato e excelente sanidade. Recomendada para as regiões 201, 202 e 204 (PR, SP e MS – do norte e oeste do Paraná ao centro-sul e sudoeste de Mato Grosso do Sul), possui grupo de maturidade relativa 6.2 (precoce) e hábito de crescimento indeterminado. Segundo os pesquisadores, a BRS 360 RR tem boa sanidade, com resistência ao cancro da haste, fitóftora, podridrão parda da haste, vírus do mosaico comum e nematoide Rotylenchulus. É moderadamente resistente ao nematoide Meloidogyne incógnita, ao oídio, ao crestamento bacteriano, à pústula bacteriana e à mancha olho de rã e suscetível ao nematoide Meloidogyne javanica. A cultivar já está disponível para o produtor que estiver definindo o que irá plantar na safra 2013/14. Basta acessar www.campinas.spm.embrapa.br.

Sementes do trabalho

Quer plantar aroeira, pimenteira, araçá amarelo, urucum, canafístula, jurubeba, goiaba vermelha, pau fava, tucaneiro e outras espécies brasileiras? Além das sementes tradicionais, a Isla lançou no mercado sementes de árvores nativas com qualidade e origem comprovada, indicados para ornamentação e reflorestamento ambiental. A iniciativa – uma parceria com o Instituto Brasileiro de Florestas - tem como objetivo fomentar o projeto “Sementes do Trabalho”, que promove a coleta de sementes nativas de forma correta e segura. As embalagens trazem informações relativas a plantio, época e origem da espécie. A aquisição pode ser realizada pela loja virtual, através do site www.isla.com.br; pelo televendas 0800 709 5050, com os representantes e distribuidores Isla, em revendas agropecuárias e supermercados, em todos os estados do Brasil.

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Novidades no campo novas cultivares de soja para áreas de várzea

A Fundação Pró-Sementes aproveitou a oportunidade da vitrine tecnológica da 23ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, evento realizado entre os dias 21 e 23 de fevereiro no município gaúcho de Restinga Seca, para apresentar as cultivares de soja FPS Urano RR, FPS Júpiter RR, BRS Tordilha RR, FPS Iguaçu RR, FPS Solimões RR e FPS Paranapanema RR. Desde a safra 2008/2009, a fundação conduz experimentos com cultivares de soja na microrregião 101, que compreende a metade sul do Rio Grande do Sul. Com base nos resultados obtidos, foram selecionadas as cultivares acima, muito bem adaptadas à região de várzea, tradicionalmente utilizada para a produção de arroz irrigado. De acordo com o coordenador da rede experimental da Fundação Pró-Sementes, Luiz Augusto Corrêa Pereira, a implantação de lavouras de soja nessas áreas exige cuidados especiais e um planejado sistema de drenagem de solo.

Água purificada

Foto: IAPAR/Divulgação

Feijão bem empacotado

Obtida pelo método tradicional de melhoramento genético (sem transgenia), a cultivar de feijão IPR Andorinha, do Iapar, foi apresentada aos agricultores durante o Show Rural Coopavel. De acordo com o pesquisador Nelson da Silva Fonseca, responsável pelo desenvolvimento do novo material, os testes indicaram que a variedade agrada aos produtores, pela sanidade da semente e pela alta precocidade; ao mercado, porque “empacota bem”, ou seja, tem boa aceitação; e aos consumidores, porque rende mais, tem cozimento rápido, caldo grosso e excelente sabor. A nova variedade pode ser colhida em apenas 65 dias, se plantada em regiões de clima quente, e em 82 dias, quando cultivada em condições de temperatura amena, o que equivale a uma média de 73 dias, tempo suficiente para ajudar a reduzir os riscos climáticos. Nos experimentos, a melhor média de produtividade ultrapassou os 2,5 mil quilos por hectare.

A H2Life Brasil (www.h2life.com.br) colocou no mercado o SuperH2Life, um purificador de água que usa nanotecnologia para inibir a passagem de todo tipo de impureza física, química ou biológica. Compacto, automático e de fácil transporte, capaz de filtrar até 6 mil litros por hora, pode ser instalado em qualquer lugar. Além de funcionar plugado às redes de energia convencionais, também opera com um pequeno gerador, com autonomia para as condições existentes no campo, onde nem sempre há energia acessível. O sistema trata, filtra e desinfeta todo tipo de água, tornando potável até mesmo as que se encontram nas piores condições de contaminação. O Super H2Life purifica águas de rios, córregos, lagoas e poços artesianos, facilitando, por exemplo, o trabalho dos produtores de frutas, verduras e legumes, que necessitam de irrigação com água livre de contaminantes.

Temperatura e ar sob controle

A Instrutherm (www.instrutherm,com.br) apresenta o termo-anemômetro digital portátil com sensor de fio quente, modelo TAFR-190, indicado para medição de temperatura e fluxos de ar de pequena intensidade e/ou constantes. O aparelho pode ser usado para medir a temperatura em qualquer ambiente, aberto e/ou fechado, e que varie de 0 a 50º C. E para medição de fluxo de ar é necessário ar constante, como ventiladores e ar condicionado, de preferência em locais fechados como em estufas, para que o equipamento funcione da melhor maneira. O instrumento é composto por um sensor de fio quente, tipo antena, com ajuste de 1 metro. Apresenta função máxima e mínima, amostragem de aproximadamente 0,8 segundos, temperatura e umidade de operação de 0 a 50°C e 80%RH e pode ser alimentado por uma bateria 9V ou adaptador 9V 110/220V. São fornecidos sensor, software, cabo USB, adaptador 9V 110/220, bateria 9V e manual de instruções. Tem como opcional certificado de calibração e maleta para transporte.

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Biblioteca da Terra Café eletrônico

Comércio Internacional

A Secretaria de Relações Internacionais do Mapa apresenta a 7ª edição do livro Intercâmbio Comercial do Agronegócio: principais mercados de destino. Os dados são de 2011. Com 456 páginas, a publicação traz análises sobre o comércio bilateral com os 30 principais parceiros do Brasil nesta área. Os dados de comércio exterior utilizados foram extraídos do Agrostat Brasil, sistema desenvolvido pela SRI/Mapa que reúne as estatísticas do agronegócio, com base nas informações da Secex/MDIC. O sistema pode ser acessado, mediante cadastro, através do endereço agrostat.agricultura.gov.br. Com tiragem de cinco mil exemplares, o livro tem distribuição gratuita. Outro meio é enviar e-mail com o endereço para remessa e a quantidade requerida para cgoe@agricultura.gov.br.

E

ditado pelo pesquisador José Luis dos Santos Rufino, da Embrapa, o livro Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café: Antecedentes, Criação e Evolução foi lançado em versão digital. A publicação apresenta ampla abordagem da pesquisa cafeeira no Brasil e do arranjo institucional do Consórcio Pesquisa Café, programa criado em 1997, hoje com 700 pesquisadores de 40 instituições envolvidos em 74 projetos voltados ao desenvolvimento da cadeia produtiva. O consórcio executa o maior programa de pesquisa do mundo, tendo como base de seus projetos a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental e o incentivo a pequenos, médios e grandes produtores. O autor também descreve fatos históricos, desde a introdução do cafeeiro no Brasil, as dificuldades e as realizações dos pesquisadores e gestores envolvidos no programa. O livro está disponível na página da Livraria Saraiva na internet, em versão eletrônica (ePub), por R$ 16,00. Para comprá-lo, acesse www.livrariasaraiva. com.br e clique na aba “livros digitais”. No lado esquerdo da tela, escolha a linha temática referente ao título – no caso, “Agropecuária” – e siga os procedimentos indicados.

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Embasamento científico

Obra dos professores Magno Antonio Patto Ramalho, Ângela de Fátima Barbosa Abreu, João Bosco dos Santos e José Airton Rodrigues Nunes, da Universidade Federal de Lavras (MG), o livro destaca a relação entre a genética quantitativa e o trabalho dos melhoristas – no caso, com espécies autofecundáveis. A genética quantitativa tem por função fornecer o conhecimento necessário para que as decisões do dia-a-dia dos melhoristas sejam assentadas em base científica e não apenas na intuição. A publicação custa R$ 70,00 e pode ser adquirida através do site www.livraria.editora.ufla.br, do fone (35) 3829-1551 ou do e-mail vendas@editora.ufla.br.

Por dentro dos seringais

O livro “Heveicultura, a cultura da seringueira” narra a história da borracha, desde os primeiros registros de extração de látex na Amazônia até o início do cultivo sistemático no sudeste asiático. Escrito pelo engenheiro agrônomo Pedro Galbiati Neto e pelo advogado e empresário Luiz Carlos Guglielmetti, traz um manual prático, ilustrado, sobre a constituição de viveiros, formação de mudas, métodos de cultivo, controle de pragas e doenças, sistemas de produção e beneficiamento do látex, entre outros itens. Com 320 páginas, custa R$ 50,00, mais despesas de correio (R$ 6,00, se o comprador for do estado de São Paulo, e R$ 8,60, dos demais estados). Os interessados pode adquiri-lo através do site www.viahevea.com.br ou do e-mail heveicultura@viahevea.com.br.

Batata sustentável

A Epamig reeditou o Informe Agropecuário Batata: tecnologias e sustentabilidade da produção, lançado originalmente em setembro do ano passado. Obra dos editores técnicos Joaquim de Pádua, Mário Sérgio Dias e Hugo Adelande, a publicação aborda assuntos como produção de batata-semente, adaptações a alterações climáticas, cultivares, controle de pragas e doenças, manejo pós-colheita e processamento. Com 120 páginas, o Informe Agropecuário custa R$ 15,00 e pode ser encomendado à Divisão de Gestão e Comercialização da Epamig através do telefax (31) 34895002 ou do e-mail publicacao@epamig.br.



Calendário de eventos

MARÇO

11

14º Agrocafé/14º Simpósio Internacional do Agronegócio Café De 11 a 13 – Hotel Othon Palace Salvador (BA) – Fone: (71) 2102-6600 – E-mail: contato@gt5. com.br

12

III Sigera/Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais De 12 a 14 – São Pedro (SP) – E-mail: sigera2013@gmail.com

18

Sugar & Ethanol Brazil 2013

De 18 a 20 - Hotel Mofarrej São Paulo (SP) – Fone: (11) 30176808 – Site: www.informagroup. com.br/sugar - E-mail: imprensa@ informagroup.com.br

19

Femec 2013/Feira de Máquinas, Equipamentos, Implementos, Insumos Agrícolas e Veículos Utilitários De 19 a 22 – Parque de Exposições do Camaru – Uberlândia (MG) Fone (34) 3215-756 – Site: www. femec.com.br

20

Fenicafé 2013/XVIII Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura/XVIII encontro nacional de irrigação da cafeicultura no cerrado/XVI feira de irrigação em café do brasil e XV simpósio de pesquisa em cafeicultura irrigada De 20 a 22 – Araguari (MG) Fone: (34) 3242-888 – E-mail: fenincafe@hotmail.com

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27

Fenamilho Internacional/ Feira Internacional do milho

4 – Expodireto Cotrijal 2013/Feira internacional – De 4 a 8 – Parque de Exposições Não-MeToque (RS) – Fone: (54) 3332-3636 E-mail: expodireto@ cotrijal com.br

Um dos maiores e mais importantes eventos do agronegócio nacional, a Expodireto Cotrijal recebeu 185,5 mil visitantes no ano passado (público 15% superior ao de 2011), com faturamento Seminário Perspectivas recorde de R$ 1,11 e Estratégias de bilhão. “Foi a feira da Comercialização para o superação”, disse Nei Mânica, presidente da Agronegócio Brasileiro Cotrijal Cooperativa Dia 29 – São Paulo (SP) Agropecuária e Fone: (51) 3224-7039 Industrial e da própria feira – palco do que há de mais avançado ABRIL em pesquisas, Expolondrina/Exposição equipamentos, tecnologias e serviços à Agropecuária e Industrial disposição do homem de Londrina do campo. Os portões De 4 a 14 – Parque Governador Ney foram abertos em Braga – Londrina (PR) – Fone: (43) 5/3/12 sob o temor de 3378-2000 – Site: www.srp.com.br queda nos negócios, em E-mail: srp@srp.com.br relação à edição 2011. Afinal, a seca assolara o Rio Grande do Sul e boa Tecnoshow Comigo 2013 parte dos produtores De 8 a 12 – Centro Tecnológico rurais – razão de ser Comigo (Anel Viário Paulo Campos, do evento – estava Km 7) – Rio Verde (GO) – Fones: descapitalizada, (64) 3611-1650 e/ou (64) 3611-1524 contabilizando Site: www.tecnoshowcomigo.com.br prejuízos. Os resultados, porém, surpreenderam. Participaram Parecis SuperAgro/6ª Feira representantes de Tecnológica de Negócios 71 países e 468 do Parecis expositores nas mais De 15 a 18 – Parque de Exposições diversas áreas do Odenir Ortolan – Campo Novo agronegócio. Para este ano, a expectativa é do Parecis (MT) – Site: www. bater os recordes de parecissuperagro@com.br E-mail: público e volume de contato@parecissuperagro.com.br negócios. De 27 a 5/5 – Parque de Exposições Siegfried Ritter (RS 344, Km 58) Santo Angelo (RS) – Fones: (55) 3313-8757 e/ou (55) 33121237 – e-mail: fenamilho@ fenamilhointernacional.com.br

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Agrishow 2013/20ª Feira Internacional de Tecnologia em Ação

De 29 a 3/5 – Polo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste (Anel Viário – Km 231) – Ribeirão Preto (SP) – Fone: (11) 3060-5041 - Site: www.agrishow.com.br – E-mail: comunicacao@reedalcantara.com.br

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41ª Expoingá/Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Maringá De 9 a 19 - Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro Maringá (PR) – Fone: (44) 32611700 - Site:: http://www.srm.org.br – E-mail: mario@srm.org.br

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IV Simpósio Brasileiro de Pós-Colheita de Frutas, Hortaliças e Flores/VI Encontro Nacional Sobre Processamento Mínimo de Frutas e Hortaliças De 12 a 16 – Auditório da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto (SP) – Site: www. spcepm2013.com.br

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Agrobrasília 2013/Feira de Tecnologia e Negócios Agropecuários De 14 a 18 - Parque Ivaldo Cenci, BR 251, Km 5 – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339-6516 – Site: www. agrobrasilia.com.br/ - E-mail: agrobrasilia@agrobrasilia.com.br

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Entecs/Encontro Nacional de Tecnologias de Safras De 21 a 24 - Lucas do Rio Verde (MT) –Fone: (65) 3549-1161- E-mail: comunicacao@fundacaorioverde. com.br


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março 2013 – Agro DBO | 65


Legislação

Manual de crédito rural Em caso de dúvida sobre concessão de financiamento, o agricultor pode e deve recorrer às normas legais a fim de assegurar seus direitos. Fábio Lamonica Pereira *

T

odo produtor conhece ou deveria conhecer o MCR Manual de Crédito Rural, disponível no site do Banco Central (www.bcb.gov.br). Trata-se de codificação das normas aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional e editadas pelo Banco Central sobre o crédito rural no país. Obviamente, o MCR deve submeter-se, no que cabível, às normas ditas superiores como o Código Civil, o Código de Defesa do Consumidor, legislações especiais como a que trata das CCRs – Cédulas de Crédito Rural, CPRs – Cédula de Produto Rural e CCBs – Cédulas de Crédito Bancário, e, no geral, todas as leis devem andar em sintonia com a Constituição Federal.

Diante do que dispõe a legislação, o que importa é a comprovação de que os recursos foram aplicados em atividades rurais, independentemente do instrumento que formalize a operação. Vale destacar que a CPR (talvez o título que, atualmente, mais cause divergências no meio rural, a despeito de representar uma compra e venda de produtos rurais) é utilizada como instrumento de crédito rural, especialmente na modalidade com estipulação de liquidação financeira, o que atrai limitações quanto à cobrança de encargos. Em relação às garantias, o MCR lista as seguintes: “a) penhor agrícola, pecuário, mercantil, florestal e cedular; b) alienação fiduciá-

O manual classifica o tomador de acordo com a sua Receita Bruta Agropecuária Anual

* O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

O MCR divide-se em capítulos e seções, de maneira a disciplinar quem são os agentes que podem atuar em crédito rural (o que inclui cooperativas de crédito), quem podem ser os tomadores dos recursos (em regra, os produtores rurais, pessoa física ou jurídica e cooperativas de produtores rurais), quais os instrumentos de crédito que podem ser utilizados para representar operações de crédito rural e quais os encargos financeiros - as taxas variam conforme a linha de crédito, mas não podem superar a taxa efetiva de 12% ao ano para juros remuneratórios e 1% ao ano para moratórios.

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ria; c) hipoteca comum ou cedular; d) aval ou fiança; e) seguro rural ou do amparo do Proagro - Programa de Garantia da Atividade Agropecuária; f) proteção de preço futuro da commodity agropecuária, inclusive por meio de penhor de direitos, contratual ou cedular.” Neste ponto cabe ressaltar que as instituições financeiras oneram demasiadamente o produtor, que, em uma única operação de crédito rural, é obrigado a ofertar, conjuntamente, garantia de hipoteca, penhor e aval, mesmo contando com proteção de seguro privado ou do Proagro. É importante frisar que, segundo o atual entendimento majoritário do Judiciário, as garantias,

reais ou pessoais, prestadas por terceiros em operações representadas por CCRs são nulas, com exceção daquelas prestadas por pessoas físicas que integrem a pessoa jurídica tomadora dos recursos. O MCR classifica os tomadores de acordo com sua RBA – Receita Bruta Agropecuária Anual, sendo, atualmente, pequeno produtor aquele com RBA de até R$ 160.000,00; médio, entre R$ 160.000,00 e R$ 800.000,00; e grande, acima de R$ 800.000,00. Tal distinção ocorre para definir a concessão de linhas de crédito específicas com condições de encargos e pagamentos diferenciados. O manual ainda trata de normas específicas acerca da renegociação de débitos em decorrência de perdas generalizadas por fatores climáticos adversos. Além disso, não é exagero relembrar que os produtores possuem mecanismo permanente de defesa constante do MCR, assegurando a prorrogação dos pagamentos de suas operações, mantendo-se a taxa contratada e sem a cobrança de encargos moratórios, quando houver comprovação de incapacidade de pagamento em decorrência de frustração de safra, dificuldade de comercialização dos produtos ou ocorrências que prejudiquem o desenvolvimento das explorações. Enfim, esses e outros pontos regulados pelo MCR devem ser de conhecimento dos produtores a fim de que, exercendo seus direitos junto aos credores, possam alcançar melhores resultados com a atividade agropecuária.




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