Sumário
26 Entrevista
Engenheiro agrônomo e consultor, Marcos Jank afirma que, com a safra recorde de milho, o apagão logístico vai continuar.
32 Logística
Produtores e cerealistas gaúchos exportam soja acondicionada em contêineres. Dependendo da ocasião, sai mais barato do que a granel.
36 Fitossanidade
Detectadas inicialmente em plantações de milho, as lagartas do gênero Helicoverpa atacam lavouras de algodão na Bahia.
40 Manejo
Pesquisadores da Fundação MT estudam a H. armigera, praga até recentemente desconhecida por produtores e técnicos no Brasil.
44 Agrishow
A feira bate recordes de público e movimentação financeira. Conheça as principais novidades apresentadas.
54 Tecnologia 18
Matéria de capa
Expedição Estradeiro mobiliza sociedade para a reabertura do rio Paraguai para a navegação comercial em comboios. O objetivo é diminuir o frete com transporte de grãos e reduzir o caos logístico nos períodos de safra.
Técnicos e pesquisadores desenvolvem fertilizantes minerais capazes de nutrir as plantas de forma gradativa, lenta e controlada.
Artigos 9 - Daniel Glat analisa, na seção Ponto de Vista, a Farm Bill 2013. 24 - Glauber Silveira pergunta: “Onde vamos armazenar tanto milho”? 30 - Rogério Arioli questiona setores que travam investimentos em logística 34 - Décio Gazzoni vê oportunidades na troca do petróleo por biomassa 42 - Hélio Casale critica o não aproveitamento da palha de café 66 - Fábio Lamonica discute a redução da garantia nos contratos
Seções
Do leitor............................................................. 4 Notícias da terra............................................10 Marketing da terra........................................50 Política...............................................................52
Análise de mercado.....................................58 Novidades no campo..................................60 Biblioteca da terra.........................................62 Agenda.............................................................64 junho 2013 – Agro DBO | 3
Do Leitor GOIÁS Excelente. Veio complementar tudo aquilo que nós precisamos na nossa atividade, que é a agricultura. Fontaine Ribeiro Irineu Mineiros Muito interessante, de fácil leitura, aborda assuntos que estão em discussão no momento. Transmite muito bem as mensagens para o produtor rural. Murilo Guimarães Faria Goiânia
ALAGOAS A matéria de capa da edição de abril – Safra difícil – demonstra muito bem as contradições do Brasil. Pelo esforço dos produtores, o país obtém uma superssafra, que esbarra na falta de infraestrutura e logística adequada. As matérias deste número são muito importantes pela atualidade e relevância dos temas abordados. É o caso da fitossanidade nas lavouras de milho, do plantio direto na horticultura e da ILPS, entre outras. Carlos José Pedrosa Maceió BAHIA A Agro DBO dá uma boa visão dos acontecimentos agrícolas e ensina, com grande responsabilidade, sobre temas da agricultura. Percebe-se a preocupação da revista pelo crescimento agrícola brasileiro. Elvis Scheibe Meira Vitória da Conquista Gostaria de ler mais sobre fruticultura na revista, especialmente sobre fruticultura no vale do rio São Francisco. Sirando Lima Seido Juazeiro CEARÁ Como bióloga, acho a revista muito interessante. Ângela Tavares Leitão Crato ESPÍRITO SANTO A revista é muito objetiva. Abrange diversas áreas do agronegócio, nos deixando sempre muito bem informados sobre novidades e tendências. Thiago de Lima Nascimento Nova Venecia
4 | Agro DBO – junho 2013
MARANHÃO É uma ótima revista, que traz um vasto conteúdo de informações. Hellen Cristina A. dos Santos São Luis Um amigo indicou a revista, eu a chei muito interessante e gostaria de recebê-la. Uma dose de conhecimento mensal sobre a agricultura do país sempre é bom. Marcelo Marinho Viana. São Luis MATO GROSSO Excelente. Traz informações importantes para a cadeia agrícola. Rodrigo Mattia Primavera do Leste MATO GROSSO DO SUL Ótima. Assuntos ou temas atualizados e de qualidade. A aparência (visual) bonita desperta atenção de quem pertence ao agronegócio. José Luis Badani Naviraí MINAS GERAIS A Agro DBO é um banco de informações sobre a atualidade da agricultura no Brasil. Guilherme Nascimento Uberlândia Sempre trazendo novidades e informações de grande importância para o produtor rural e/ou responsável técnico pela propriedade. Jefferson de Oliveira Gomes Araxá Sou técnico agrícola, trabalho numa empresa que presta serviços de consultoria. Gostei muito do conteúdo da revista. Sinto que irá me ajudar nos trabalhos. Danilo Rodrigues de Almeida Uberlândia
PARÁ Quando vi a revista pela primeira vez não pensei duas vezes em fazer a assinatura. Tem todas as informações que o agricultor precisa. Renato Alves de Santana Rondon do Pará PARAIBA Revista muito boa, com inovações tecnológicas e informações atualizadas. Tobias da Silva Pinto Pitimbu Faço Ciências Agrárias e trabalho na Emater (PB). Gostaria de continuar recebendo a revista para aprimorar meus conhecimentos. Suenia Oliveira da Silva Passagem PARANÁ Excelente. Como consultor na área de agronegócios, aproveito muitos dos artigos publicados. Alexandre Nunes Leite Rosas Ponta Grossa Muito boa, bons textos, boas reportagens e atualizada. Agenor Ferreira Junior Altônia Vocês são uma referencia no mercado da agricultura. Continuem assim. Adriano de Lara Lucinda Londrina Sou técnico agrícola e trabalho com venda de adjuvantes. Gostaria de receber a revista para ficar mais atualizado. Rafael G. B. Padilha Nova Esperança Uma revista de ótima qualidade, que abrange aspectos técnicos importantes e dá um panorama amplo da agricultura brasileira. Tive acesso a uma edição e já estou assinando, para recebê-la sempre. Mateus Bedin Pato Branco Temas atualizados e com discussão técnica tratada por especialistas. Marcos Antônio Dalla Torre Maringá PERNAMBUCO Acho que é uma mídia muito completa, de linguagem fácil. Muito boa. Anizio Honorato Godoy Neto Garanhuns
RIO GRANDE DO SUL Achei a revista interessante. Ela nos auxiliará na condução da lavoura. Claudio I.C. de Castro Montenegro Olá, amigos, continuem assim. A revista é uma tremenda fonte de informações, ferramenta indispensável para os profissionais do ramo. Celso Tartari Sananduva. RIO DE JANEIRO Muito interessante, com informações úteis para aprimorar o conhecimento. Álvaro Alexandre Leite da Costa Rio de Janeiro SÃO PAULO Gostaria de parabenizar Décio Luiz Gazzoni pelo artigo sobre desperdício de alimentos. Quando estudei Agronegócios ouvia de professores e alunos a urgência em aumentar a produção de alimentos... sempre contestei. A flora e
fauna de nosso país vêm sendo dizimadas há mais de 500 anos em nome da produção de alimentos. Alimento existe em abundância. Premente é conscientizar não somente toda a cadeia produtiva das perdas que ocorrem, mas, principalmente, cada indivíduo que deixa restos de comida irem para o lixo diariamente. Sugiro que o assunto seja mais detalhadamente abordado. Maristela Nicolellis Itapetininga NR: A leitora se refere ao artigo publicado na edição de maio por nosso colunista, o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja. Obrigado pela sugestão, Maristela. Revista bem completa, atendendo muito bem o agricultor e seu negócio. Thiago Sanches Ferrari São José do rio Preto Sou professor de Gestão no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnolo-
gia de São Paulo, com campus na cidade de de Avaré. Gostaria muito de receber a revista para poder gerar debates com os alunos em sala de aula, sobre os temas publicados. Paulo César Chagas Rodrigues Avaré A revista é muito interessante. Gostaria de utilizá-la nas visitas a meus clientes. Orlandino de Abreu Junior Mogi Guaçu NR: o leitor é engenheiro agrônomo. Sou leitor voraz de assuntos relacionados ao meio rural. A sua revista atende meus interesses. Gilberto Beinotti Araras AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.
junho 2013 – Agro DBO | 5
Carta ao leitor
A
Agro DBO coloca em debate a problemática da logística brasileira de armazenar e transportar uma safra recorde de grãos. A constatação pura e simples a que se pode chegar é de que não há nada que esteja tão ruim que o ser humano não consiga piorar. O antigo aforismo confirma-se e aplica-se aos problemas de logística enfrentados pelos produtores rurais na safra de verão recém-finda e irá repetir-se na 2ª safra a partir de julho próximo. Ou seja, tivemos um apagão logístico de proporções assustadoras na 1ª safra, mas não foi suficiente, não resolvemos esses problemas, e teremos outro apagão na 2ª safra, com reflexos ainda mais profundos. Provavelmente provocará prejuízos que se tornarão dramáticos, a ponto de expor o Brasil ao ridículo ante os nossos compradores. Tudo porque a 2ª safra, predominantemente de milho, vai encontrar silos e armazéns cheios de soja, e terá de ser transportada às pressas. Ou apodrecer no campo, a céu aberto. A iniciativa privada, empresas e produtores rurais, arriscam propostas saneadoras, algumas paliativas, outras definitivas, mas a verdade é que o Governo Federal e a sociedade precisam dar respostas e soluções consistentes ao atual status quo logístico, seja na armazenagem, seja no transporte da safra, pois a situação tende a se agravar no futuro breve ante o aumento da demanda por grãos. Há caminhos, que registramos nesta edição, em formato de reportagem, de entrevista e de artigos, mas precisa-se de vontade política para tanto. Tanto quanto a vontade política, precisamos de instrumentos regulatórios, que incentivem e possibilitem os investimentos da iniciativa privada. Todavia, em paralelo, e tão importante quanto isso, temos a imperiosa necessidade de se fazer “cair na real” o poderio ambientalista na capacidade de travar a construção de uma hidrovia, por exemplo. Os ambientalistas brasileiros e as ONGs estrangeiras que por aqui gorjeiam críticas diárias na mídia são os únicos seres do planeta contrários à navegação fluvial. Com tantas restrições histriônicas impostas pelos ambientalistas, acompanhadas por liminares jurídicas de procuradores estaduais e federais, e aplaudidas pela grande mídia, teremos um caminho difícil a percorrer para dar fim aos apagões logísticos. Apesar de tudo, não podemos nos esquecer da Helicoverpa, ela também veio para ficar, e volta à cena nas páginas desta edição, sugerindo aos produtores de que todo cuidado é pouco. Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br
é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Ariosto Mesquita, Cecília Czepak, Crébio J. Ávila, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica, Franco Borsari, Glauber Silveira, Glauco Menegheti, Hélio Casale, Karina C. Albernaz, Lúcia Vivan, Marianna Peres e Rogério Arioli Silva.
Richard Jakubaszko
Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Naira Barelli, Andrea Canal, Marlene Orlovas e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Arlindo Rodrigues Júnior/Instituto Gênesis DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br
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VENHA APLAUDIR, COM ENERGIA. Participe da cerimônia de entrega do Prêmio TOP Etanol, reconhecido como um dos principais estímulos do País à disseminação do conhecimento sobre agroenergias renováveis. Iniciativa do Projeto AGORA, que integra entidades e empresas da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, o TOP Etanol premia os autores de contribuições significativas para o desenvolvimento sustentável do setor sucroenergético. Em sua 4ª edição, o TOP Etanol estabeleceu um novo recorde, atingindo o total de 375 trabalhos inscritos.
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Ponto de vista
Um trilhão de dólares em jogo Os EUA começam a discutir o Farm Bill 2013, o poderoso conjunto de leis que define o suporte à atividade agropecuária naquele país. Daniel Glat *
O
último Farm Bill foi o de 2008. que expirou em 2012 e foi esticado, por falta de votação, até setembro de 2013. O deste ano valerá para o período 2013/18, com muitas provisões alocadas até 2022. Desde o inicio do século passado, os EUA têm leis fortes que protegem os seus produtores rurais das flutuações de preços e dos extremos climáticos. Em meados da década de 1970, para poder garantir os votos necessários no Congresso, a “bancada rural” americana conseguiu incluir na mesma lei os benefícios e subsídios à atividade agropecuária e todos os
de 30 milhões de americanos “carentes”, e como o nosso bolsa-família, garantem milhões de votos para o governo. Para os programas de apoio à agricultura e pecuária, serão mais de US$ 20 bilhões de dólares/ ano, não estando incluindo aqui os financiamentos de custeios, caso alguém queira comparar esse valor com nossos planos safras. Esse valor é para ser gasto principalmente em três grandes áreas de suporte à atividade agrícola: 1 – Seguro Agrícola. Por volta de US$ 7 bilhões por ano, subsidiando mais de 60% do preço do seguro aos produtores, oferecendo
A força politica do setor rural é a maior das vantagens competitivas da agricultura americana
* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.
programas de suporte alimentar à população carente do país, ganhando assim e imediato apoio das bancadas urbanas e sociais. Esse próximo Farm Bill, seguindo a linha base dos cinco anos anteriores e assumindo as reduções que devem ser votadas no Congresso, aponta para algo em torno de US$ 950 bilhões de dólares para os próximos 10 anos (isso mesmo, quase um trilhão de dólares!) ou aproximadamente US$100 bilhões por ano! Verdade seja dita, por volta de 80% desse total serão destinados aos programas de apoio alimentar aos necessitados, conhecidos anteriormente como Food Stamps (selos para alimentação), hoje chamado de Snap (Programa de Acesso a Suplementação Nutricional, em tradução livre). Esses programas suplementam a alimentação de mais
proteção de produção e de renda, dando suporte às seguradoras e proporcionando liquidez e fluidez ao sistema; 2 – Conservação de solos, aguas, proteção de fauna nativa e meio ambiente. São mais de 20 programas, com orçamento de U$ 5,5 bilhões/ ano, para pagamento aos produtores que conservam e protegem reservas nativas e mananciais e usam práticas conservacionistas na propriedade. Aqui no Brasil, como sabemos, todas essas despesas recaem nos ombros dos produtores, sem nenhum tipo de apoio governamental; e não existe nenhum reconhecimento às nossas muitas práticas conservacionistas. 3 – Programas de Commodities. Conjunto de programas focado na proteção e incentivo aos produtores, que consome uns US$ 6
bilhões por ano. O maior, mais discutido e controvertido desses programas, por se tratar de subsidio direto e escancarado, é o famoso Direct Payments (Pagamentos Diretos), onde uma expressiva percentagem de produtores americanos recebe anualmente um pagamento adicional por saco produzido, de acordo com tamanho da propriedade, produtividade e renda familiar. Esse programa, que é um escândalo, deve ser extinto nesse Farm Bill, mas boa parte desse fundo deve servir para fortalecer ainda mais o Seguro Agrícola; o subsidio só vai mudar de endereço... Além dessas três grandes áreas, a parte agrícola do Farm Bill tem alocações especificas para cadeia do leite, do algodão, bioenergia, horticultura e agricultura orgânica, desenvolvimento rural, florestas, acesso a mercados, além de uma série de incentivos a agricultores iniciantes (!), veteranos de guerra, desenvolvimento de mercados locais, etc. Com o déficit gigantesco do USA, o orçamento do Farm Bill deverá ser de alguma forma reduzido esse ano nas votações do congresso, mas não nos animemos: o que estará em debate são reduções de US$ 20 a US$40 bilhões em 10 anos, ou seja, redução de 2 a 4% do total, no máximo. A força politica do setor rural americano, construída por décadas a fio no Congresso, com importante apoio das fortíssimas associações de produtores, e as leis que conseguem passar a favor da agricultura e dos produtores rurais, é a maior das vantagens competitiva da agricultura americana sobre a brasileira. junho 2013 – Agro DBO | 9
Notícias da Terra Safra I
VBP
Projeções crescentes
A
quarta estimativa do IBGE da safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas (caroço de algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona, milho, soja, aveia, centeio, cevada, girassol, sorgo, trigo e triticale) indica produção de 185 milhões de toneladas, 14,2% acima do obtido em 2012 (161,9 milhões de toneladas) e 2% acima da previsão anterior. As três principais culturas (arroz, milho e soja que, somadas, representam 92,4% da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas) respondem por 86,1% da área a ser colhida. Em relação a 2012, os acréscimos de área são de 0,9% para o arroz, 9,1% para o milho e 10,6% para a soja. A produção deverá aumentar 5,1% no caso do arroz, 9,1% no milho e 23,3% na soja, comparativamente a 2012. Os dados com-
R$ 271 bilhões pletos da pesquisa do IBGE podem ser conferidos na página eletrônica www.ibge.gov.br/home/estatistica/ indicadores/agropecuaria/lspa . Considerando as regiões em que o país se divide, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição: Sul, 73,3 milhões de toneladas (t); Centro-Oeste, 74,5; Sudeste, 19,5; Nordeste, 13,1 e Norte, 4,5. Em relação à safra passada, a produção deve crescer 1,2% no Sudeste, 5,2% no Centro-Oeste, 32,8% no Sul e 10,4% no Nordeste. Para a região Norte, o IBGE aponta decréscimo de 4%. O estado do Mato Grosso segue na ponta do ranking nacional da produção com participação de 23,2%, à frente do Paraná (20,8%) e do Rio Grande do Sul (15,4%). Os três estados, somados, representam 59,4% do total nacional.
O
VBP – Valor Bruto da Produção das principais lavouras brasileiras em 2013 foi reajustado para R$ 271 bilhões, 10,2 % superior ao de 2012, segundo estimativas da Assessoria de Gestão Estratégica do Mapa. É o maior desde o início desta série, iniciada em 1989. Os maiores aumentos esperados do valor bruto devem ocorrer no tomate (76,2%), na batata-inglesa (29,3 %), na laranja (28,8%), no trigo (18,9%), na soja (18,3%), no fumo (15,6%), no feijão (14,5 %) e no milho (11,9 %). Abaixo destes, mas ainda com resultados positivos, estão o arroz, a banana, a cana de açúcar e a mandioca.
Safra II
Recorde confirmado
A
produção nacional de grãos relativa à safra 2012/13 deve alcançar 184,15 milhões de toneladas, 10,8% acima da safra passada (166,17 milhões), de acordo com o 8º levantamento da Conab, divulgado em maio. Tal número representa, portanto, incremento de 17,98 milhões de toneladas e deve ser creditado principalmente às culturas da 10 | Agro DBO – junho 2013
soja e do milho, cujas áreas plantadas cresceram 10,7 e 15,6%, respectivamente. A produção de soja aumentou 22,8% e deve fechar em 81,53 milhões de toneladas, segundo projeções da companhia. O milho 2ª safra teve bom desempenho, com aumento de 10,4% sobre a safra passada. Deve chegar a 43,19 milhões de
toneladas, superando a produção do milho 1ª safra, estimada em 34,81 milhões de toneladas. As projeções indicam colheita recorde de 78 milhões de toneladas de milho (1ª e 2ª safras) este ano, 6,9% maior do que a do ano passado. A área total de plantio de grãos cresceu 4,1% em relação à safra passada (50,89 milhões/ ha) e deve chegar a 52,98 milhões/ha.
Notícias da Terra Safra III
Safra IV
Quase um bilhão de toneladas
Recorde perdido
O
O
USDA prevê produção mundial de 965,94 milhões de toneladas de milho no ciclo 2013/14. Os EUA vão colher 359,17 milhões de toneladas; o Brasil, 72; e a Argentina, 27. Segundo a instituição norte-americana, a safra chinesa chegará a 212 milhões de toneladas. Na presente temporada, as estimativas indicam produção mundial de 857,12 milhões de toneladas. Os EUA colherão 273,83; o Brasil, 76; e a Argentina, 26,5.
Milho I
Parceria global
A
s principais associações de produtores de milho dos Estados Unidos, Brasil e Argentina anunciaram no mês passado em Buenos Aires, Argentina, a criação da Maizall – The International Maize Alliance, para estimular a produção e a produtividade e organizar o comércio mundial. Responsáveis por 50% da produção e 70% das exportações mundiais do cereal, os três países enfrentam as mes-
mas barreiras para a venda de milho e de seus subprodutos. O foco da Maizall Alliance é a colaboração global em questões relativas à segurança alimentar, biotecnologia, liderança, comércio e imagem dos produtores. A presidência da aliança será rotativa. Neste primeiro momento, os EUA ocuparão a presidência, o Brasil, a primeira vice-presidência, e a Argentina, a segunda vice-presidência.
s números de maio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, da sigla em inglês) para a safra 2013/14 apontam produção mundial de 285,5 milhões de toneladas de soja, 7% a mais do que na temporada passada. Os EUA deverão reassumir a liderança no ranking mundial com 92,26 milhões de toneladas, 8% acima do obtido no ciclo anterior. Para o Brasil, o USDA prevê 85 milhões de toneladas e para a Argentina, 54,5. Com tanta soja na praça, o USDA prevê queda nos preços na safra 2013/14, estimados entre US$ 20,94 a US$ 25,35 por saca contra os atuais US$ 31,52 por saca. Em relação à safra 2012/13, a instituição reajustou um pouco sua projeção anterior: a produção mundial de soja deve alcançar 269,11 milhões de toneladas, contra os 269,63 previstos antes. Os EUA vão colher 82,06 milhões de toneladas; o Brasil, 83,5 (ainda manterá a liderança em produção e exportação de soja nesta safra); e a Argentina, 51.
Milho II
Safra histórica
O
estado de Minas Gerais deve colher 560,7 mil toneladas de milho segunda safra, segundo projeções da Seapa – Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Se tal número for confirmado, será a maior de sua história – o equivalente a 7,6% do total de grãos colhidos este ano no estado. Há cinco anos, Minas Gerais produzia 176 mil toneladas de mi-
lho segunda safra, o que representa crescimento de 219% de lá para cá. Entre os municípios, o maior produtor é Paracatu, na região noroeste, com estimativa de colheita de 88,2 mil toneladas, seguido por Coromandel (Alto Paranaíba), com 79,8 mil; Unaí (Noroeste), com 72 mil; Boa Esperança (Sul), com 40,5 mil; e Buritis (Noroeste), com 33,6 mil toneladas. junho 2013 – Agro DBO | 11
Notícias da Terra Exportações I
Saldo de US$ 83,07 bilhões
D
ados da Secretaria de Relações Internacionais do Mapa mostram que, de maio de 2012 a maio de 2013, as exportações brasileiras do agronegócio atingiram resultado recorde de US$ 99,59 bilhões, 4,2% acima do obtido anteriormente no mesmo período. O setor importou o equivalente a US$ 16,52 bilhões, resultando em um saldo positivo recorde de US$ 83,07 bilhões. O principal segmento, em termos de valor exportado, foi o complexo soja, com US$ 26,57 bilhões, representando elevação de 2,1% em relação ao período anterior. O setor sucroalcooleiro foi o segundo, alcançando US$ 16,49 bilhões. A China foi o principal destino das exportações brasileiras, somando US$ 19,14 bilhões. As vendas para os Estados Unidos, segundo principal destino, aumentaram US$ 796,09 milhões. A Coreia do Sul foi o país que mais contribuiu para o crescimento das vendas externas, com expansão de US$ 1,15 bilhão (71,4%).
Exportações III
Faturamento sobe 6%
C
onforme levantamento do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, o faturamento em dólar das exportações do agronegócio brasileiro cresceu 6% no primeiro trimestre deste ano, comparativamente ao mesmo período do ano passado. Segundo pesquisado-
res da entidade, esse resultado só não foi maior por causa da redução de 8% dos preços externos (em dólar). A perda, no caso, foi compensada pelo aumento de 19% no volume embarcado, principalmente de produtos do complexo sucroalcooleiro e de milho, café, suco de laranja e carne bovina.
Exportações II
Santos lidera
A
movimentação no porto de Santos (SP) no primeiro trimestre de 2013 foi a maior já registrada até hoje. De acordo com a Codesp – Companhia Docas do Estado de São Paulo, passaram pelo porto 24,87 milhões de toneladas, quantidade 12,8% superior à registrada no mesmo período de 2012. No acumulado do ano, a commodity mais exportada foi a soja, com 4,07 milhões de toneladas. Proporcionalmente, porém, a que cresceu mais foi o milho, cujo transporte nas docas aumentou 678,9%, em relação ao ano passado. 12 | Agro DBO – junho 2013
Exportações IV
Sementeiros brasileiros na China
A
diretoria da Abrass – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja defendeu em maio, durante visita a Pequim e Xangai, a liberação de eventos biotecnológicos por parte da China. Segundo a entidade, a demora do governo chinês na aprovação de tecnologias específicas para a soja e o milho tem resultado em perda de competitivi-
dade para as cadeias dessas culturas no Brasil. No ano passado, a China gastou US$ 12 bilhões em compras no Brasil, principalmente de grãos e óleo de soja. Atualmente, existem 19 solicitações de registros de novos eventos biotecnológicos na China, dois dos quais do Brasil e os demais da União Europeia e dos Estados Unidos.
Notícias da Terra Soja I
Desafio atraente
O
s organizadores do Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja, promovido pelo Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil, registraram aumentos expressivos de inscrições em todas as categorias em que se divide o concurso. Entre 80 e 110 sacas/ha, por exemplo, o número de lotes inscritos até abril aumentou 35%; entre 90 a 99,5 sacas, 80%; e de 100 sacas para cima, o crescimento de lotes com tal produtividade foi de 67%. Nessa edição do Desafio, concorrem 1.198 lotes de 300 municípios. O produtor e o consultor técnico campeões de cada região (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte/Nordeste) serão premiados com uma viagem de sete dias para os EUA, onde terão a oportunidade de conhecer produtores de soja e centros avançados de tecnologia. Os municípios com cinco ou mais inscrições terão campeões locais. Cada um deles receberá diploma individual de reconhecimento e divulgação do resultado em jornais, revistas, publicações ou sites de cooperativas e sindicatos e no site do Cesb.
Soja II
Prejuízo bilionário
A
ferrugem asiática já causou prejuízos de US$ 25 bilhões aos produtores de soja desde a safra 2003/04, conforme levantamento da CNA. Em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, o representante da entidade, Silvésio de Oliveira, apresentou da-
dos que apontam perdas da ordem de US$ 1 bilhão na safra passada apenas em Mato Grosso, principal produtor do país. Dependendo da variedade da semente e do manejo empregado, a quebra de produtividade provocada pela praga pode comprometer até 30% da rentabilidade do agricultor.
Soja III
Plantio antecipado
A
s chamadas Várzeas Tropicais do Tocantins, uma área contínua com mais de um milhão de hectares nos municípios de Lagoa da Confusão, Cristalândia, Dueré, Pium, Formoso do Araguaia e Santa Rita do Tocantins, vem atraindo produtores de soja por duas características específicas. Primeiro, porque oferece uma janela de plan-
tio de primeiro a 31 de maio, embora o cultivo deva ser apenas para pesquisa ou produção de sementes. Depois, porque permite duas safras. De acordo com o balanço parcial da Adapec – Agência de Defesa Agropecuária, até o dia 20 de maio foram plantados mais de 6 mil hectares de soja, o que equivale a 15% da área produtiva.
Soja IV
Safra maior em 2014
A
Agroconsult prevê aumento de 4,3% na área de soja na temporada 2013/14 , em relação à 2012/13, com possibilidade de o Brasil ocupar quase 30 milhões de hectares, recorde absoluto em termos de plantio. Tomando por base a produtividade média atu-
al (de 2.957 toneladas por hectare, de acordo com a Conab) e a projeção de área da Agroconsult, o Brasil poderá colher 86 milhões de toneladas em 2014, superando a safra deste ano, oficialmente estimada em cerca de 82 milhões de toneladas. junho 2013 – Agro DBO | 13
Notícias da Terra Café I
Café III
Alta em ano de baixa
O
Brasil vai colher 48,59 milhões de sacas de 60 quilos de café (arábica e conilon) na safra 2013, a maior de ciclo de baixa bienalidade já produzida no país. Ou seja, 2,23 milhões de sacas a menos (redução de 4,4%) em relação à temporada 2012 – ano de bienalidade alta. Embora a produção seja expressiva, contribuindo, obviamente, para a redução nas cotações médias, a queda, em termos de volume, se deve, justamente, ao ciclo de baixa bienalidade na maioria das áreas
Oferta global maior de café arábica. Os produtores de arábica vão colher 1,94 milhão de sacas a menos (redução de 5,1%) e os de conilon, 298 mil sacas (redução de 2,4%). Com isto, a produção do arábica chegará a 36,407 milhões de sacas, o que representa 74,9% do volume produzido no país, e de conilon, 12,184 milhões de sacas, ou 25,1% do total nacional. A área plantada com as espécies arábica e conilon totaliza 2,341 milhões de hectares, 0,54% maior do que a da safra anterior.
A
produção mundial de café no ano-safra 2012/13 deve chegar a 144,7 milhões de sacas de 60 kg, de acordo com o relatório de maio da OIC – Organização Internacional do Café. Em abril, a instituição previra 144,6 milhões de sacas. A inexpressividade do crescimento deve-se, entre outras razões, aos estragos provocados pelo fungo “roya” (ferrugem da folha) na América Central, região responsável por 10% do suprimento mundial de café. Lá, segundo cálculos da organização, a praga deve reduzir a safra em cerca de 2,3 milhões de sacas, com grande impacto econômico e social. O consumo mundial para este ano foi estimado em 142 milhões de sacas, aumento de 2,2%.
Café IV
Recuperação lenta
E Café II
Valor defasado
O
novo preço mínimo do café arábica (R$ R$ 307,00 pela saca de 60 kg, muito aquém do que os cafeicultores pleiteavam), foi publicado no Diário Oficial da União em 20 de maio. Válido de maio de 2013 até março de 2014, refere-se ao café arábica tipo 6, bebida dura para melhor, com até 86 defeitos, peneira 13 acima, admitido até 10% de vazamento e teor de umidade de até 12,5%. O valor pretendido pelo setor era de R$ 340, o suficiente, pelo menos, para cobrir os custos médios de produção no país, de R$ 336, con-
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forme cálculos da própria Conab. O mínimo agora em vigor apresenta uma defasagem de 9,71% em relação ao solicitado pela cafeicultura nacional para contornar a crise que o setor atravessa. O preço do conilon foi mantido em R$ 156,57 a saca de 60 quilos, tipo 7, com até 150 defeitos, peneira 13 acima e teor de umidade até 12,5%. De acordo com estudos realizados pela Conab, os custos de produção não apontaram necessidade de reajuste, segundo justificativa do governo.
m abril, o Brasil exportou 2.694.183 sacas de café, 34,4% a mais em relação a abril de 2012. A receita, porém, caiu 1,5% na mesma base comparativa, fechando em US$ 480,561 milhões, segundo o balanço divulgado em maio pelo CeCafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil. Na avaliação do diretor-geral da entidade, Guilherme Braga, o aumento no volume exportado se deve, em grande parte, à recuperação dos níveis de comercialização, prejudicados no ano passado por chuvas nas principais regiões produtoras. “Agora, esse café está sendo escoado, gradativamente. Além disso, a receita também vem apresentando melhoras paulatinas, ficando apenas um pouco abaixo da registrada no ano passado por conta das oscilações sofridas no preço médio do produto”.
Notícias da Terra Seguro rural
Homenagem
Cobertura ampliada
Quatro décadas de plantio direto
O
governo do Paraná decidiu ampliar o programa de seguro rural com subvenção do estado, passando de três para 29 as culturas que podem ser seguradas a partir da safra 2013/14. Até 2011, a subvenção amparava apenas o milho segunda safra, o trigo nas modalidades sequeiro e irrigado e o café. As 26 culturas agregadas ao programa são: abacaxi, algodão, alho, arroz, batata, cebola, cevada, feijão de primeira e segunda safra, tomate, ameixa, caqui, figo, goiaba, kiwi, laranja, maçã, melancia, morango, nectarina, pera, pêssego, tangerina, uva e floresta cultivada, além da pecuária. As regras variam de acordo com a cultura. O governo estadual subvenciona 50% do que cabe ao produtor. No caso do milho segunda safra, trigo e demais grãos,
A
o governo federal paga até 70% do valor do prêmio, o estadual, 15%, cabendo ao produtor pagar os restantes 15%. No café, 40% e 30%, respectivamente, restando ao produtor pagar 30%. Na frutas, 60%, 20% e 20%. Segundo anúncio oficial, o programa govenamental estará pronto para operar já neste ano, com estimativa para operar a partir de setembro.
Estiagem
Recursos contra a seca
O
governo federal autorizou o pagamento de auxílio extraordinário aos produtores independentes de cana-de-açúcar e de etanol do Nordeste, prejudicados pela estiagem que assolou a região no ano-sa-
fra 2011/12. Os recursos serão concedidos diretamente ou por intermédio de cooperativas. Conforme texto publicado no Diário Oficial da União, o auxílio é de R$ 12 por tonelada de cana-de-açúcar, limita-
Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação comemorou em 30/4, em Londrina (PR), os 40 anos de plantio direto no Brasil. A Fundação Agrisus, única entidade privada que destina recursos próprios em apoio a projetos voltados à melhoria e conservação do solo, recebeu troféu por sua contribuição ao desenvolvimento do país ao longo de 12 anos de atividade. Fundada por iniciativa da família do engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, a Agrisus foi representada por seu presidente, Antônio Roque Dechen, e seu secretário executivo, Ondino Cleante Bataglia. Na ocasião, o pioneiro na implantação do sistema no Brasil, Herbert Arnold Bartz, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Londrina., pelas mãos da reitora Nádina Moreno. do a dez mil toneladas por produtor. O pagamento será feito em 2013 e 2014, “referente à produção da safra 2011/2012 efetivamente entregue a partir de 1º de agosto de 2011”, como consta do texto legal.
ILPS
Integração regulamentada
A
presidente Dilma Roussef sancionou a lei que institui a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura, estabelecendo novas atribuições para o poder público. Entre elas estão: definir planos de ação regional e nacional para a expansão e o aperfeiçoamento dos sistemas de iLPS, com a participação das comuni-
dades locais e estimular a adoção da certificação dos produtos pecuários, agrícolas e florestais oriundos de sistemas integrados. A lei representa grande impulso à Rede de Fomento iLPS, uma iniciativa coordenada pela Embrapa, em parceria com a Cooperativa Cocamar e as empresas John Deere e Syngenta. junho 2013 – Agro DBO | 15
Notícias da Terra Royalties
Justiça americana decide em favor da Monsanto
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m uma decisão unânime proferida em maio último, a Suprema Corte dos EUA afirmou seu apoio para proteger as inovações que são essenciais para atender às crescentes necessidades do mundo. Trata-se do caso Bowman versus Monsanto, centrado na proteção da propriedade intelectual. “A decisão da Corte dos EUA garan-
te que os princípios de longo prazo da lei de patentes se apliquem às tecnologias avançadas do século 21 que são fundamentais para atender às crescentes demandas de nosso planeta e da população”, disse David F. Snively, diretor jurídico da Monsanto. “A decisão também dá garantias a todos os inventores, nos setores público e privado, de
que eles podem e devem continuar a investir na inovação que alimenta as pessoas, melhora vidas e gera empregos”, completou. Para ter mais informações sobre o caso, seu histórico e os pareceres das partes e de dezenas de Amicus curiae que apresentaram seus pareceres à Suprema Corte basta clicar em: www.innovationatstake.com.
Propostas
Necessidade de união do setor
C
om o tema “Juntos, Refletimos Valor”, mais de 280 produtores rurais, que respondem por uma área de 3,7 milhões de hectares de soja e 1,8 milhão de hectares de grãos, participaram da 3ª edição do Clube da Soja promovido pela FMC. O evento foi realizado em maio, no municípios paulista do Guarujá. Os principais entraves da cadeia produtiva de grãos foram apresentados por especialistas e associações renomadas do setor. O evento contou com o apoio da Case IH e Aprosoja. Valores como Sustentabilidade, Pessoas, Conhecimento e Produtividade foram abordados pelo presidente da FMC Corporation América Latina, Antônio Carlos Zem. “Os nossos valores refletem em nossos clientes e todos que estão aqui têm uma história de grandes resultados a compartilhar. Eu não falo apenas do financeiro, mas sim de quem deixou um legado ao futuro. Para os nossos clientes, os resultados são: mais toneladas por hectare colhido e a contribuição para o agronegócio nacional e nós investindo em novas tecnologias para atuarmos juntos nesse desafio”, disse Zem. O Diretor de Negócios Brasil da FMC, Walter Costa, abordou “O
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Valor da Marca FMC” comentando sobre o crescimento da companhia no mercado. Crescemos 21% nos últimos 10 anos, quase o dobro do mercado”, destacou. Já o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, palestrou sobre “O Valor da União”, reforçando a importância da aliança dos produtores e de todos os elos da cadeia em prol de melhorias no setor. “O maior desafio das associações de classe é unir o produtor rural. Temos em mãos o alimento, mas não sabemos o tamanho desse poder. Unidos aprovaríamos qualquer questão de nosso interesse”, disse Silveira. “Logística: O valor da cadeia de abastecimento” foi abordado pelo especialista em finanças públicas, Raul Velloso, e teve como debatedores o deputado Federal, Arnaldo Jardim e o presidente da Aprosoja-MT, Carlos Fávaro. Houve consenso de que é necessário que o País tenha percepção adequada da importância da agricultura para haver investimentos. No último painel do dia, o coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues apresentou “O Valor do Setor”, que propôs a criação de um documento reivin-
dicando os interesses prioritários do setor a ser entregue ao Congresso Brasileiro, através das entidades de classe dos produtores rurais. O sócio diretor da Agroconsult, André Pessoa, comentou sobre “O Valor da Informação” citando os cenários, logísticas e tendências da agricultura corporativa. No painel “Iniciativas para o Manejo da Helicoverpa”, foi palestrante o pesquisador e entomologista (UFG/MS), Paulo Eduardo Degrande e os debatedores foram Cósam de Carvalho Coutinho, o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal (DSV/DAS) Daniel Ricardo Sosa-Gomez, pesquisador e entomologista da Embrapa Soja e Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja-MT. Foram abordados os prejuízos ocasionados pela Helicoverpa nas lavouras do Brasil e orientações aos produtores para o melhor manejo.
Notícias da Terra
Nim
Controle biológico e fertilização orgânica
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rodutos derivados da árvore de origem indiana ganham mercado como alternativas ao uso de defensivos e adubos químicos. O aumento das exigências na agricultura e pecuária por processos e produtos amigáveis ao meio ambiente impulsiona o mercado de soluções de controle biológico de pragas e fertilização orgânica. Neste cenário, produtos derivados da árvore de origem indiana nim – nome científico “neem – Azadirachtina indica” - ganham destaque como eficientes, seguros e econômicos, em alternativa ao uso de defensivos e adubos químicos nas lavouras. Na Índia, as propriedades do nim são utilizadas na medicina, cosmética, agricultura, entre outros se-
tores, há mais de 4.000 anos. Produzidos a partir do princípio ativo extraído das folhas, frutos, cascas, sementes e madeira da árvore indiana, defensivos, antiparasitórios e repelentes à base de nim combatem, sem dano ambiental, os mais variados insetos e parasitas, como, por exemplo, nematoides, carrapatos, lagartas, besouros, percevejos e outros. Instituições como Embrapa, Unicamp e UFPR já atestaram a confiabilidade do nim, indicando que ele pode combater mais de 400 tipos de pragas agrícolas. Atualmente, segundo a Embrapa, o Brasil tem aproximadamente seis milhões de árvores de nim, com potencial para ultrapassar a Índia – o
maior produtor – em poucos anos. Romina Lindemann, diretora da Preserva Mundi (www.preservamundi.com.br), empresa especializada no cultivo e fabricação de produtos derivados da planta, explica que o defensivo feito a partir do nim age somente no organismo que se pretende destruir, incluindo ovos e larvas, sem incidir sobre outros seres benéficos à manutenção correta dos ecossistemas. Como fertilizante, o nim é recomendado como fonte de nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio e potássio para diversas culturas. Os produtos derivados do nim são atóxicos ao homem e animais, bem como biodegradáveis”, explica Lindemann.
Agroquímicos
Aprosoja faz denúncias contra a Anvisa
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FPA – Frente Parlamentar de Agricultura recebeu no dia 21 de maio, o presidente da Aprosoja BR, Associação Brasileira dos Produtores de Soja, Glauber Silveira, para relatar a situação vivida pelos sojicultores. Em seu pronunciamento, Glauber fez uma denúncia contra o presidente da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Dirceu Brás
Aparecido Barbano, afirmando que o mesmo tem dificultado a liberação de produtos para combater as doenças que atacam a soja, especialmente aqueles que tratam a ferrugem asiática. “Este é um ato irresponsável, porque o Brasil acaba em desvantagem quando comparado a países como o Uruguai, o Paraguai e a Argentina, que têm esse tipo de produtos
liberados. É importante ressaltar ainda que a soja desses países utiliza produtos proibidos pela Anvisa no Brasil, e é comercializada livremente aqui”, alertou. De acordo com dados da Aprosoja-Brasil, somente em 2012 os produtores rurais brasileiros tiveram prejuízos de R$ 1 bi em decorrência de perdas de produtividade causadas pelo fungo. junho 2013 – Agro DBO | 17
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A estrada do Paraguai Porto de Santo Antônio das Lendas, em Cáceres (MT), é alternativa econômica para exportação de grãos por hidrovia.
Ariosto Mesquita
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le já foi importante via de ligação comercial entre o interior do Brasil e a Europa, serviu como palco para o maior conflito bélico do continente e nas últimas décadas vem perdendo seu espaço enquanto canal de transporte. No entanto, tudo indica que pode voltar a ser estratégico para a restruturação logística brasileira. Agricultores do Mato Grosso apostam suas fichas no rio Paraguai para ajudar a escoar parte da safra de grãos, fundamentalmente de propriedades em municípios do centro-oeste e sudoeste do estado. Com este objetivo, foi organizada uma expedição rodoviária (Estradeiro) que, durante os dias 2 e 4 de maio percorreu 901,4 quilômetros por estradas consolidadas e outras ainda em leito natural. Nesta viagem, foram mapeados dois traçados com acesso ao futuro porto de Santo Antônio das Lendas, projetado para a
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fazenda do mesmo nome, ao sul do município de Cáceres, no pantanal Mato-Grossense. O escoamento da produção agropecuária pelo rio Paraguai beneficiaria indiretamente o enorme contingente populacional que vive às suas margens e, diretamente, dezenas de municípios com significativa produção de grãos, espremidos entre o médio norte mato-grossense e o Pantanal que dependem do transporte rodoviário e de um percurso de mais de dois mil quilômetros para escoar a safra até os portos de Santos (SP) ou Paranaguá (PR). Até Santo Antônio das Lendas, o percurso rodoviário cairia para algo em torno de 300 quilômetros em média. Dali, a previsão é de que os grãos sigam em barcaças até o rio da Prata, entre Argentina e Uruguai, onde, despejados em navios graneleiros, façam a viagem final até os mercados compradores. Os articuladores do movimento esti-
tos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), os portos da região norte do país, acessíveis via BR-163 ou através de Porto Velho (RO), que hoje levam até Santarém, no Pará, e pelos portos de Itaqui, em São Luis (MA), via BR 080 (conjugadamente à ferrovia Norte-Sul, e Belém (PA), pela BR-158 (com percurso hidroviário a partir de Tucuruí, PA). As tentativas de viabilizações de novas vias de escoamento de grãos têm uma motivação lógica: a disparada do aumento do preço do frete a partir de Mato Grosso. De acordo com o diretor executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira, o estado paga hoje o maior valor entre os produtores de grãos. “Saímos de US$ 62 dólares por tonelada em 2003 para bater em US$ 145/t em 2013 para levar soja de Sorriso (MT) para o porto de Paranaguá (PR). Enquanto isso, o frete para a produção do Paraná fica em US$ 42/t.
Fotos: Ariosto Mesquita
mam que a redução de custos com frete ficaria entre 25% e 30%. Além disso, a via também serviria para que as embarcações trouxessem rio acima – também com frete mais em conta - insumos e combustíveis utilizados na produção agropecuária. A expedição “Estradeiro Santo Antonio das Lendas” foi organizada pelo Movimento Pró-Logística, criado em 2009 em Mato Grosso com o objetivo de se reverter uma estagnada infraestrutura de transporte do estado, cada vez mais comprometida diante de um acelerado crescimento da produção agrícola. A mobilização em torno do projeto inclui produtores rurais, representantes da sociedade civil, entidades de classe e órgãos governamentais Foi a primeira expedição feita ao local, que agora se soma a outras quatro alternativas de escoamento da produção agropecuária mato-grossense: os por-
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Estradas esburacadas, mal conservadas ou não asfaltadas atrasam as viagens e encarecem os custos de transporte.
Levando em conta o custo de transbordo, as despesas portuárias e o frete para a Ásia, pagamos hoje US$ 190/t para levar nossa soja para a China, US$ 119/t a mais do que paga o produtor de Illinois, EUA”, explica. O objetivo do Movimento Pró-Logística é, justamente, a diminuição do custo final do frete da produção agrícola do Mato Grosso, sobretudo diante das significativas projeções de crescimento das futuras safras. Cálculos do Imea - Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária e da Conab mostram que apenas a produção de soja e milho do estado deve pular dos atuais 36,7 milhões de toneladas para 66,09 milhões de toneladas em 2022, o que significa uma oferta 80% maior em menos de 10 anos. No total, o Mato Grosso exporta anualmente 40 milhões de toneladas de sua produção agropecuária. Além da economia com o frete, o novo corredor de-
safogaria o fluxo intenso de escoamento de grãos por rodovias, sobretudo na BR-163. O Movimento Pró-Logística estima que quinze barcaças modelo para o rio Paraguai conseguem carregar quantidade equivalente a 1.500 caminhões bi-trem. A nova rota estaria apta a transportar de 4 a 8 milhões de toneladas/ano. Mesmo ainda sem sair do papel, o terminal portuário de Santo Antonio das Lendas já consta do mapa oficial do estado - chamado de Estação de Transbordo de Carga (ETC), será composto por três unidades de embarque, cada uma a um custo de R$ 20 milhões, totalizando R$ 60 milhões. Há três anos, o acesso de 73 km entre a cidade de Cáceres e a fazenda (próximo à fronteira com a Bolívia), foi federalizado e a localidade passou a ser o km zero da rodovia BR174. Da sede da fazenda até a área do futuro porto, a distância é de aproximadamente quatro quilômetros, percorridos hoje em lanchas pelo rio Paraguai. No local apenas um faixa indica que ali deverá ser erguido o terminal. Estrategicamente, para evitar ou minimizar eventuais gargalos ambientais, os delineadores do projeto estão focados em denominar o corredor como “ecovia” do Paraguai. Os cuidados vão além disso. A estrutura do terminal está prevista para se sobrepor por toda a vegetação natural do local, sem a necessidade de restringi-la. O leito natural da BR-174 entre Cáceres e a fazenda também terá de ser reestruturado e asfaltado para suportar e dar condições de trafegabilidade aos caminhões graneleiros. Estuda-se a possibilidade de limitação de velocidade para minimizar impactos junto à fauna da região. Outros dois grandes trechos rodoviários terão de passar por reforma, ampliação e pavimentação asfáltica: perto de 140 km entre Porto Estrela e Cáceres, pela MT-347, e os pouco mais de 120
Vocação histórica A Bacia do Paraguai foi a principal via para a colonização do Mato Grosso. O povoado de Cáceres surgiu em 1778 e, no século seguinte, transformou-se em grande polo comercial graças à franquia de comércio fluvial internacional pelo rio. Claudionor Duarte Correa, guia de turismo da Secretaria de Turismo de Cáceres, também participante da expedição Santo Antonio das Lendas, conta que a prosperidade na região durou décadas. “Santo Antonio das Lendas forma, com duas outras fazendas – Barranco Vermelho e Descalvados – um con-
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junto de propriedades com importantes sítios arqueológicos”, conta. Muitas das peças resgatadas, parte da quais da etnia Guató, estão hoje no Museu Histórico de Cáceres. Nas imediações das três fazendas funcionou entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século passado uma moderna indústria de carne enlatada, extrato de carne e de charque (Indústria Descalvados), cuja produção abastecia soldados aliados durante a Primeira Guerra Mundial - as cargas seguiam até o Rio da Prata e de lá, em
navios maiores, até a Europa. Além da carne, as embarcações levavam ipecacuanha (raiz utilizada para remédio contra tosse), borracha, crina e couro de bovinos e retornavam com tecidos, cristais, louças, pratarias e outras mercadorias.
Agricultores concluiram que o escoamento da safra por hidrovia representa ganho de, no mínimo, R$ 10,00 por saca de soja. km de terra entre Salto do Céu e Tangará da Serra. A ecovia do Paraguai está projetada para uma extensão de 3.442 km a partir de Santo Antonio das Lendas até o Rio da Prata entre a Argentina e o Uruguai (Porto de Nueva Palmira). Exclusivamente dentro do Brasil são 890 km, sendo 485 km em Mato Grosso e 405 km em Grosso do Sul. Além disso, delimita a fronteira Brasil/ Bolívia (48 km), Brasil/Paraguai (332 km), terras paraguaias (557 km), fronteira Paraguai/Argentina (375 km) e 1240 km apenas em terras argentinas. Duas ações civis públicas em análise e tramitação nas esferas judiciais emperram hoje a utilização da hidrovia a partir de Cáceres para o escoamento da produção de grãos em comboios. Dentre outras coisas, estabelecem que o licenciamento ambiental da ecovia deve ser feito pelo Ibama (e não por órgãos estaduais) e que o estudo de impacto ambiental deve ser único, além de exigir a recomposição de áreas degradadas e prever a coleta de opiniões das comunidades ribeirinhas. “A partir de Cáceres está proibida a circulação de comboios de cargas”, explica Ferreira. Segundo ele, a hidrovia funciona hoje de forma efetiva a partir de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. “De lá escoam anualmente cerca de cinco milhões de toneladas de minério; do Paraguai também são embarcados grãos”. De Corumbá a Assunção, no Paraguai estão autorizados comboios com capacidade para 20 a 25 mil toneladas formados por chatas de até 60 metros de comprimento por 12 metros de largura e calado (distância vertical entre superfície da água e a parte mais baixa da embarcação) máximo de 10 pés durante 80% do ano. Estas condições são ampliadas a partir da capital paraguaia. A base da estrutura atual do Porto de Cáceres foi construída entre 1973 e 1975 e até meados dos anos 80 operou para o embarque de arroz, milho e madeira e desembarque de derivados de petróleo e cimento. No início da década passada projetava-se o transporte de até três milhões de toneladas de soja em função do crescimento da oferta de grãos no Mato Grosso e carência de outras estruturas logísticas para tal. No entanto, as medidas judiciais de caráter ambiental travaram este processo.
Área de milheto recebendo calcário em Diamantino (MT), área de influência do futuro porto de Santo Antônio das Lendas.
va anualmente 4,4 mil hectares de soja, e supondo que consiga produtividade média de 40 sacas/ha, receberia, segundo suas contas, R$ 400 a mais por hectare, engordando sua remuneração final em mais R$ 1,76 milhão apenas com a oleaginosa (pressupondo que seu custo de produção já tenha sido pago). Seu ganho adicional tende a ser, com certeza, bem superior, uma vez que também cultiva milho na mesma área como segunda safra em sucessão à soja. Dono da Fazenda Jacob, no chapadão do Rio Verde, ele mantém 1.500
Vantagens Um dos integrantes da Expedição Estradeiro, o agropecuarista Paulo Cesar Donida, com lavouras no município de Tangará da Serra (MT), calcula que, com o escoamento de sua produção pelo rio Paraguai, possa receber pelo menos R$ 10,00 a mais pela saca de soja. Na safra 2012/13, ele obteve remuneração média de R$ 44,00 a saca. Levando-se em conta que ele cultijunho 2013 - Agro DBO | 21
Capa O Brasil vai produzir 184,1 milhões de toneladas de grãos este ano. A capacidade de armazenagem do país é de 143 milhões. vacas para cria de bezerros em 2,5 mil hectares de pastagens. No entanto, tem outros planos para o futuro. “Hoje, a agricultura representa 70% dos meus ganhos e a pecuária, 30%, mas meu objetivo, com a viabilização do terminal em Santo Antonio das Lendas, é o de ampliar a produção de grãos em 25%, reduzindo a criação de bezerros”. Atualmente, sua produção de soja e milho é armazenada na própria fazenda. As tradings com as quais negocia retiram os grãos e os transportam por rodovia/ferrovia, ou tão somente por rodovia até os portos do Santos e/ou Paranaguá – percorrendo perto de dois mil km até eles. “Por isso me pagam só R$ 44,00 por saca”, observa. No entanto, a partir do terminal ao sul de Cáceres, ele pretende mudar o sistema. “Serão apenas 350 km da minha propriedade até o terminal; eu mesmo vou levar, pois o preço a ser pago lá, com certeza, será bem superior”, explica. Depois de seguir com a expedição até a fazenda em Santo Antonio das Lendas e “descer rio abaixo” até a área projetada para o terminal de cargas, Donida ficou ainda mais otimista: “As estradas já existem e só
precisam ser ampliadas e pavimentadas. Além disso, tem muita gente influente envolvida; vai ser difícil não sair”. Ele também não se importa de dar a sua contribuição em um eventual consórcio público-privado que venha a ser formado para viabilizar o sistema. “O produtor tem de colocar a sua parte também”, salienta. Emílio Antonio Ferrari Ramos, dono de 1,5 mil hectares em Diamantino (MT), onde cultiva soja, milho e girassol, também fez as contas, usando como referência o preço cobrado pelo frete de Cáceres ao Uruguai há décadas, quando o coméricio fluia pelo rio Paraguai: “Na época, cobrava-se US$ 100 por tonelada, o que já não seria um negócio ruim diante dos US$ 145 que pagamos para levar até aos portos do sul”. No entanto, o perfil de operação previsto para o futuro terminal o faz prever situação ainda bem melhor. “O valor do frete deverá ser bem menor; a concessão será para empresa privada que, por sua vez, abrirá a operação de transporte pelo rio para mais de uma empresa”, espera. Ramos tem sua propriedade distante 300 km do futuro terminal de
Saídas alternativas Outros pleitos de interesse do agronegócio, acompanhados pelo Movimento Pró-Logística:
BR-080 Beneficia o leste de Mato Grosso, a mais recente fronteira agrícola do estado, facilitando o transporte da produção de municípios como Gaúcha do Norte, Nova Xavantina, Querência, Canarana, Ribeirão Cascalheira, Bom Jesus do Araguaia, Água Boa e Nova Nazaré até Alvorada do Tocantins (TO), e de lá até o porto de Itaqui em São Luis (MA) pela ferrovia Norte-Sul. Restam apenas obras de pavimentação em 195 km no MT. Trechos em Goiás e Tocantins estão pavimentados e a ferrovia está em operação.
BR-158 Ligação norte-sul do Mato Grosso, atravessando o leste e nordeste do estado, viabilizando o escoamento pelo sul do Pará até o lago de Tucuruí, e de lá, por hidrovia, até o Porto de Belém (PA). Parte da BR-158 está em obras de pavimentação em Mato Grosso. O trecho que passa pela reserva dos índios Marawatsede se encontra em revisão. No sul do Pará, a rodovia está em precárias condições de trafegabilidade, com pontos críticos e pontes “provisórias” mantidas em definitivo.
BR-163 É a mais sonhada ligação para o médio-norte de Mato Grosso, a maior região produtora de grãos do estado. Prevê a pavimentação de toda a rodovia (e mais 125 km da Transamazônica) até o porto de Santarém (PA) e ao futuro complexo de transbordo de Miritituba, também no Pará. Está totalmente pavimentada no MT e se encontra em processo de duplicação em alguns trechos. Em território paraense, 46% estão pavimentados, com previsão de conclusão das obras até o final de 2014.
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Arlindo Rodrigues Júnior/Instituto Gênesis
Santo Antônio das Lendas e aguarda uma remuneração superior aos 25% a 30% estimados, em média, pelo Movimento Pró-Logística: “Calculo que poderei receber entre 50% a 60% a mais pela soja”. Isso, no entanto, vai depender de como ele disponibilizará sua produção. “Se o próprio produtor tiver a capacidade de levar sua produção até ao porto e receber uma bonificação por isso, deverá fazer”, avalia. Por enquanto, Donida e Ramos – e outros milhares de produtores rurais Brasil afora – não têm muitas alternativas. Parte do lucro deles fica preso nos silos e armazéns, muitas vezes improvisados, ou escoa pela estrada, embutido no frete. Déficit de armazenagem Não bastasse a deficiência estrutural para o transporte, o Brasil também não tem onde guardar boa parte de sua produção. Para a atual safra (2012/13), a
Sem armazéns suficientes, muitos agricultores acondicionam os grãos em silos-bag.
Conab estima um volume de grãos da ordem de 184,1 milhões de toneladas, contra 166,1 milhões no ciclo 2011/12. Enquanto isso, a capacidade de armazenagem no Brasil é de 143 milhões de toneladas, distribuída entre 24 mil unidades privadas e 176 armazéns públicos. O déficit de mais de 40 milhões de toneladas equivale a 22% de toda a safra projetada e se revela um problema crônico. No período entre 2000 e 2011, apenas nos anos de 2006 e 2009 a capacidade estática de armazenamento esteve próxima dos níveis de produção. Mesmo com o governo federal acenando com a possibilidade de um plano nacional de armazenagem, a curto e médio prazos a tendência é esse desnível aumentar. Segundo projeções do Movimento Pro-Logística, no estado do Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, a capacidade de armazenagem de soja e milho, hoje de 44,1 milhões de toneladas, chegará a 79,3 milhões de toneladas em 2022. De acordo com o pesquisador científico do IEA Instituto de Economia Agrícola órgão da Secretaria de Agricultura de São Paulo, Alfredo Tsunechiro, o problema deve se agravar mais ainda com a colheita do milho segunda safra: “Como muita soja ainda estará nos armazéns e silos, há o risco de grande volume de milho a céu aberto, mais até do que no ano passado”. Ele vê como boa alternativa a utilização emergencial de silos bag, uma espécie de bolsão de lona plástica que acondiciona determinado volume de grãos. “Tenho observado que esta saída vem sendo adotada por produtores em várias regiões do país, sobretudo em regiões de fronteira agrícola”. junho 2013 - Agro DBO | 23
Artigo
O que fazer com tanto milho? O Brasil caminha para colher a maior safra de sua história, de 84 milhões de toneladas, o dobro do que produzia há 10 anos. Glauber Silveira *
N
esta década houve uma quebra de paradigma e uma inversão no que se fazia. A 2ª safra de milho, antes chamada safrinha, superou a primeira, e hoje representa mais de 50% da produção do cereal. Isto demonstra a capacidade do produtor de aproveitar melhor sua propriedade, de ser mais competitivo, produzindo mais na mesma área. Isso nos leva a um novo desafio: precisamos escoar e armazenar todo este milho. A capacidade de armazenagem de grãos no Centro-Oeste está longe da real necessidade. Temos capacidade para armazenar 75% da
cidade de armazenagem deveria ocorrer nas propriedades. Lamentavelmente, os dados da Conab apontam que apenas 13,6% da safra brasileira é armazenada na fazenda, enquanto nos EUA são 65% e Argentina 40%. Se adotarmos o número dos EUA como ideal, significa que o Brasil deveria armazenar 100 milhões de t de grãos na fazenda e não as atuais 25 milhões de t. O déficit de estocagem gera ágio tanto na armazenagem de terceiros como no transporte. O produtor fica sem alternativa, seus custos com armazenagem e transporte sobem. A safra, que deveria
Temos um novo e enorme desafio: escoar e armazenar todo o milho segunda safra.
* O autor é presidente da Aprosoja Brasil
produção agrícola, a menor entre nossos competidores, e passou a ser um problema real no escoamento da safra. Como parâmetro, os EUA têm capacidade para 130% da sua produção. Se considerarmos o critério da FAO, a capacidade estática ideal seria de 1,2 vezes a produção do país / região. Isso garantiria um bom gerenciamento da comercialização. No caso do Brasil, utilizando os dados da Conab, para esta safra de 184 milhões de t, ao invés de 143 milhões t, a capacidade de armazenagem deveria ser de 221 milhões de t. Ou seja, o déficit de 41 milhões de t, saltaria para 78 milhões e precisaríamos aumentar em 54% a capacidade atual. Para que o produtor tenha benefício real, o aumento da capa-
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gerar lucro, acaba em prejuízo. Em estudo recente, a Agroconsult demonstra que em 2007, o gasto com logística do milho, que era de 4,8 dólares por saca, nesta safra deve ser de 7 dólares. Houve crescimento nos custos fora da fazenda de 46% em apenas cinco anos. É importante ressaltar que hoje o custo para se produzir milho no MT é em média de seis dólares a saca e a logística custa sete dólares. Como o milho é uma commodity todo esse custo vira rentabilidade negativa, estimado em 200 reais por ha plantado. Vejam a gravidade disso. Esta rentabilidade perdida, mesmo em um ano de preços mais baixos, deveria ser positiva em 200
reais se investimentos em armazenagem e logística de transporte e portos, tivessem sido feitos. Os produtores pagam um custo alto pela falta de planejamento do governo e de investimentos adequados em armazenagem em nível de propriedade e modais de transporte mais competitivos. Segundo ainda o estudo, para atender a necessidade da soja e milho, deveriam ser feitos de imediato investimentos de 9 bilhões de reais em armazéns e até 2023 mais 20 bilhões. O governo pretende lançar uma nova linha de armazenagem no Plano Safra. Mas, liberar recurso não basta, é preciso implantar políticas para que o recurso seja aplicado de forma eficiente. Enquanto o mundo demanda maiores produções a custos mais competitivos, o Brasil tem um enorme potencial na produção de milho, produzimos em média 88 sacas/ha enquanto os EUA produzem 160 sacas/ha. Temos um gigantesco espaço para ganhar em produtividade, o que é muito positivo. Afinal, o Brasil quer ou não se consolidar como um grande fornecedor de alimentos ao mundo? Conclui-se que a eficiência do produtor brasileiro se voltou contra ele mesmo, pois, se produz mais, pressiona os custos de armazenagem e transporte. Com os atuais problemas de logística, a cada tonelada a mais produzida veremos o quadro se agravar. Por isso, o governo precisa decidir se tem ou não um compromisso com o crescimento do país.
Entrevista
O apagão logístico vai continuar “Esse ano ainda vamos ter o caos da safrinha de milho que será escoada em julho/agosto e vai ser recorde”.
É
o que afirma Marcos Jank, paulista de Ribeirão Preto, 50 anos, casado, 3 filhos entre 7 e 13 anos, sócio-diretor da “Plataforma Agro”, entidade de consultoria e estudos recém formada por 5 empresas que atuam em análise de mercados, cenários, investimentos e logística para o agronegócio, dentre elas a Agroconsult e o Agroicone. Jank foi presidente da Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, entre 2007 a 2012, e fundador do Icone – Instistituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais. Durante quase 20 anos foi professor associado da USP (Esalq e FEA), trabalhou no BID e em universidades europeias e americanas. Integra diversos conselhos e liderou projetos de pesquisa do Banco Mundial, FAO, OCDE e outras organizações internacionais. É engenheiro agrônomo pela Esalq, Mestre em Política Agrícola em Montpellier, na França, Doutor pela FEA-USP e Livre Docente pela Esalq. Sobre uma de suas áreas de expertise, a logística, Jank conversou com o editor-executivo da Agro DBO, Richard Jakubaszko, a quem admitiu que o apagão logístico vai durar no mínimo até agosto próximo.
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Não tem cabimento, pelas distâncias e pela geografia do país, exportar 60% dos grãos pelos portos de Santos e Paranaguá. Agro DBO - Tivemos um apagão logístico na safra 2012/2013, que foi sentido no bolso do produtor rural de grãos. Qual foi a dimensão desse apagão? Marcos Jank – O apagão está acontecendo, ainda hoje, 20 de maio, e vai se estender por alguns meses. A verdade é que em 12 anos a safra dobrou de tamanho, e na logística praticamente nada mudou. Estamos com vários dos sintomas do apagão logístico, sendo o primeiro deles a enorme fila de caminhões, e que agora foi “disciplinada” pelo país afora. Não é que a fila não exista mais, ela apenas está mais espalhada, devido à falta de estrutura nos portos e ferrovias, falta de armazéns, caminhões parados em postos de combustível etc. Esse ano ainda vamos ter o caos da safrinha de milho que será escoada em julho e vai ser recorde. Dois anos atrás a safrinha de milho foi de 22 milhões de t. Nossa estimativa é que esse ano ela passe de 46 milhões de t, um crescimento incrivel. A confusão no porto vai até agosto, com o cruzamento de exportações recordes de soja, açúcar e milho. Agro DBO – Tudo isso decorre de uma falta de estrutura em armazenamento. Poderia ter sido evitado? Marcos Jank – Esse é um dos problemas, temos uma supersafra em todas as regiões. No Sul e Sudeste o apagão é menor, porque temos uma malha rodoviária estruturada, apesar da alta nos preços dos fretes, reflexo do caos no Centro-Oeste. Isso ocasionou o aumento do custo do frete, de Sorriso (MT) para Santos (SP) de R$ 173/t em janeiro de 2012 para R$ 300/t hoje, e de Londrina para Paranaguá foi de R$ 41,00 para R$ 70,00 por t. Ou seja, todo mundo está pagando essa conta. A diferença é que os estados do Sul produzem e consomem milho, mas no
MT não tem consumo e o frete hoje inviabiliza mandar o produto para o Sudeste ou para o Nordeste. O frete vai retirar R$ 10-12 por saca no Mato Grosso, metade do valor do produto. Ou seja, vai ficar abaixo do preço mínimo, vai precisar de um PEP do governo. Vai ter milho sobrando numa região produtora que só pode ser escoado com subsídio. Agro DBO – O que deveria ter sido feito? Marcos Jank – Se tivéssemos feito o investimento em infraestrutura, nos últimos anos, com certeza teríamos evitado tudo isso. Na verdade são dois desafios: o primeiro tem a ver com marcos regulatórios e segurança jurídica que permitam investimentos de grande vulto. Não adianta nada o governo anunciar que vai investir 240 bilhões na infraestrutura, quando se sabe que esses projetos estão todos atrasados, que a maior parte desse dinheiro tem de vir do setor privado, mas o setor privado não tem confiança nas “regras do jogo”. Acho que tivemos uma ótima notícia este mês, que foi a aprovação da MP dos Portos pelo Congresso Federal, mas a implementação vai ser muito complicada, há muitos interesses conflitantes em jogo, e a coisa pode terminar em um processo de judicialização. Outra questão é a mudança do sistema de licitação, que antes era por outorga e agora vai ser por modicidade tarifária – ganha quem oferecer a menor tarifa. Nesse caso, a dúvida que sempre fica é se quem oferece a menor tarifa tem realmente condição de tocar direito o projeto. Ao mesmo tempo, vamos ver se os investimentos em hidrovias e ferrovias desencantam, porque na ferrovia também tem essa questão da modicidade, separando a empresa que constrói
a ferrovia daquela que transporta. Trata-se de um novo modelo que pode dar certo, mas que ainda tem muitas inconsistências. O segundo desafio é o acesso pelo Arco do Norte. Não tem cabimento, pelas distâncias e pela geografia do país, exportar 60% dos grãos pelos portos de Santos e Paranaguá. Precisamos agilizar as rodovias, ferrovias e hidrovias que permitam retirar os produtos pelos portos do norte do país. A Ferrovia Norte-Sul tem 30 anos, não é questão desse governo ou do anterior, está emperrada por motivos políticos, econômicos, ambientais, regionais, uma incompetência que vem de longa data. Agora, o que importa mesmo é a estabilidade das regras do jogo. A gente tem conversado com investidores internacionais que dizem que só vão investir em áreas em que não tenham a caneta forte do governo. Agro DBO - Em termos emergenciais o que poderia ter sido feito para minimizar os estragos? Marcos Jank – Se tivéssemos feitos investimentos emergenciais há 4 anos talvez hoje a situação fosse outra. Mas não aconteceu. Então, nesse momento o que pode ser feito é aumentar a capacidade de armazenagem. Hoje armazenamos apenas 75% da safra, devíamos voltar ao nível de 2006, quando chegamos a quase 100% da safra, o que amenizaria os problemas do apagão. Para isso, precisaríamos investir 9 bilhões de reais. Agro DBO – Por que não usamos mais o transporte fluvial, com tanta disponibilidade de rios? Marcos Jank – A principal razão é que não há investimentos suficientes. As tradings, hoje, dominam o transporte fluvial, porque junho 2013 – Agro DBO | 27
Entrevista Os grandes agricultores estão fazendo os investimentos, não apenas em silos, mas também em frotas próprias para transporte. elas têm carga própria. Agora, com o novo marco regulatório, aprovado com a MP dos Portos, já não há mais a exigência da carga própria, então empresas dedicadas poderão agora fazer novos investimentos. O que falta, realmente, é um ambiente de maior competição entre modais e dentro de cada modal. O problema é que não se pode investir aos soluços, no estilo “voo da galinha”. Precisa de investimentos de médio e longo prazos. Para manter 100% da safra armazenada, precisamos
investir 9 bilhões de reais já e outros 20 bilhões até 2023. Em portos, precisaremos investir pelo menos 30 bilhões de reais. Agro DBO – Afinal, tudo é responsabilidade do Governo Federal e dos estaduais? Ou os agricultores têm sua responsabilidade pela inércia e omissão política? O que os produtores poderiam ter feito para minimizar? Armazéns de cooperativas (que no Centro Oeste pratica-
mente inexistem). Armazéns próprios? Silos bag? Marcos Jank – A questão da armazenagem tem tudo a ver com o setor privado. A maior parte está hoje na área privada, mas o governo precisa dar alguns incentivos que permitam ao setor privado continuar investindo. O agricultor é o que menos tem responsabilidade nisso. Os grandes agricultores estão fazendo eles mesmos os investimentos, não apenas em silos, mas também em frotas
Carta aberta dos produtores de soja Após intensos debates centrados nas principais questões relacionadas com logística e sustentabilidade da produção, os produtores presentes na reunião do Clube da Soja, apresentam para o Governo Federal, o Congresso Nacional e a sociedade brasileira, por meio da Aprosoja –Associação Brasileira dos Produtores de
Soja, 10 reivindicações de políticas para o setor. Em maio último a FMC do Brasil realizou o 3º Clube da Soja, evento que reuniu no Guarujá (SP) lideranças do agro e mais de 200 produtores de soja brasileiros. Calcula-se que 10% do PIB da soja esteve presente. Da reunião, após debater questões de logísticas, foi gerado um paper do Clube da Soja da FMC, a ser entregue ao governo federal, do qual Marcos Jank foi co-autor, juntamente com outras lideranças do setor, como Roberto Rodrigues, o economista Rui Velloso, Glauber Silveira e Carlos Fávaro, respectivamente presidentes da Aprosoja BR e Aprosoja MT. A Carta Aberta dos Produtores de Soja, reproduzida a seguir, é ainda um rascunho, mas sua divulgação pela Agro DBO foi autorizada pelo presidente da Aprosoja BR, Glauber Silveira: “Diante da forte expansão dos gastos correntes da União nos últimos anos, os investimentos federais em transportes caíram de
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cerca de 1,8% do PIB, nos anos 1970, para 0,2% do PIB mais recentemente, ou seja, uma queda da ordem de nove vezes, quando medida em termos de porcentagem do PIB. Tiveram alguma recuperação na primeira fase dos governos Lula-Dilma, mas de 2010 para cá voltaram a cair, fechando o ano passado em R$ 10 bilhões ou 0,23% do PIB. O baixo nível de investimentos levou a um estado de baixa qualidade e densidade das rodovias. Segundo estudos da Confederação Nacional do Transporte (CNT), no caso das rodovias federais menos de 33%, estão em estado bom ou ótimo, e no das estaduais esse número cai para meros 10,5%. Quanto à malha administrada por concessões, que seria a solução natural para compensar a falta de investimento público, 87% é classificada como boa ou ótima, o que demonstra a sua relevância. No entanto, mesmo tendo havido um volume expressivo de concessões rodoviárias nos anos 1990, esse processo começou a mostrar pro-
próprias para transporte. Já os agricultores de pequena e média escala têm de fazer isso por meio das suas cooperativas. Agro DBO – No Centro-Oeste quase não existem cooperativas. Marcos Jank – Mas agora eles estão montando essas cooperativas de nova geração, formadas por poucos produtores e altamente profissionalizadas. O que ocorre hoje é que as cooperativas tradicionais são fortes, mas o cooperado é um produtor pequeno e fraco. O modelo que começa a se criar no Centro-Oeste é diferente, tem produtores grandes, capitalizados, com muitos ativos, blemas em sua segunda fase (2007/2008), e, na última fase, que ainda não deslanchou. 1- Infraestrutura de transportes Os investimentos em transporte da União, juntamente com os investimentos realizados sob as concessões aprovadas até o período, terão de subir gradual e proporcionalmente no próximo mandato presidencial, até recuperarem a marca de 1,8% do PIB no último ano do mandato seguinte. Este deverá ser o nível médio registrado ao menos nos dois mandatos subsequentes. 2- Ritual das concessões Visando à implementação de concessões de infraestrutura de transportes de qualidade satisfatória, deve ser exigido, nas concessões aprovadas a partir desta data, e na ordem estabelecida a seguir, o seguinte: 1) pré-qualificação dos concorrentes (para diminuir o risco de aparecerem concorrentes “oportunistas” ou “despreparados”); 2) plano de negócios, que é o conjunto de análises econômico-financeiras, abrangendo todos os elementos de natureza financeira relativos
que se reunem, por exemplo, para fazer a comercialização, comprar insumos, investir em armazenamento ou em portos por meio de uma cooperativa enxuta e ágil. É um grupo pequeno, que pode aportar muito dinheiro. Agro DBO – O que se pode reivindicar do Governo Federal, a título de urgência, pois a próxima safra começará a ser plantada dentro de 5 meses? Marcos Jank – O mais importante é a regulamentação da MP dos Portos, a agilização das ferrovias e o programa de armazena gem de grãos. à execução do contrato; 3) metodologia de execução, que contém todas as informações técnicas e operacionais relativas à exploração da concessão; 4) o leilão em si. Fica proibida a inversão das fases acima especificadas, colocando-se os leilões, como se tem feito, à frente das demais. 3- Taxas de retorno adequadas O governo fixará taxas de retorno realistas como taxas de referência para os cálculos de tetos tarifários e outros parâmetros dos projetos de concessão leiloados a partir desta data. O governo deve contratar estudos de consultores internacionais especializados na matéria, visando a identificar as práticas em vigor nos mercados mundiais, com o apoio de entidades multilaterais como o Banco Mundial e o BID. Esses estudos deverão ser amplamente divulgados pela Internet e ajudar na fixação de taxas de retorno adequadas. 4- Agilização do licenciamento ambiental É fundamental uma efetiva agilização no processo de análise e liberação de licenças ambientais,
estabelecendo-se um período fixo de tempo para a realização do processo de licenciamento. As licenças deverão ser automaticamente liberadas caso ultrapassem a data limite estabelecida. 5- Investimentos privados no sistema portuário Aprovação imediata de um novo marco regulatório que gere um grande volume de investimentos privados no sistema portuário brasileiro. 6- Aprovação de Lei das Eclusas para a navegabilidade dos rios Aprovação de regulamentação que obrigue que a geração de energia em rios navegáveis seja compulsoriamente condicionada à construção de eclusas que permitam a sua navegabilidade. Penalidade: os membros da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional ficarão inelegíveis nos próximos oito anos, caso as metas de taxas de investimento acima referidas deixem de ser cumpridas, a partir do próximo mandato presidencial.”
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Artigo
Cornucópia furada Nosso colunista interpela aqueles que, por irresponsabilidade, ignorância ou má fé, engessam a infraestrutura logística no país. Rogério Arioli Silva *
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* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso
a mitologia greco-romana, a cornucópia significava a abundância originária da fertilidade e da riqueza. Era representada por um vaso em forma de chifre, de onde brotavam flores, frutos e grãos. Naquele tempo, as populações se localizavam próximas aos grandes rios, valorizando a importância das enchentes e vazantes na renovação dos ciclos agrícolas e na produção das safras capazes de oferecer a garantia alimentar necessária à sua sobrevivência. Assim como a fartura assegurava a manutenção de reis e imperadores, a escassez os colocava em risco. Não foram poucos os impérios a ruírem pela incapacidade de prover alimentos aos seus súditos. Passados vários séculos e dominadas as tecnologias geradoras de produções cada vez maiores no mesmo espaço de terra, os desafios hoje são outros. Começam pelo aumento populacional
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geométrico alertado por Malthus (1798) que segue negligenciado na era moderna, impondo uma pressão irreversível aos recursos naturais do planeta. Ainda que o significativo incremento da produtividade agrícola tenha desmentido a teoria malthusiana e a falta de renda ainda seja o principal causador da fome mundial, continua inequívoca a atualidade daquela preocupação Um segundo desafio imposto pela constante busca de maior eficiência produtiva, atualmente representada pela biotecnologia, é justamente seu caráter excludente no que se refere aos pequenos produtores. Ainda são muitos os bolsões de atraso tecnológico onde agricultores familiares não possuem sequer condições de proverem seu próprio sustento dignamente. Agravadas estas condições pela instabilidade climática que causa prejuízos imensuráveis como o acontecido no sertão nordestino
nos últimos dois anos, onde quebras de safras ameaçam a sobrevivência de centenas de famílias. Embora a agricultura brasileira tenha tido capacidade de dar respostas positivas nos últimos anos graças ao clima tropical de boa parte do seu território, aliado à tecnologia moderna e ao empreendedorismo rural, não se observa igual eficiência no que se refere aos investimentos necessários para torná-la competitiva. A região centro-oeste do país continua credora destes investimentos em logística que emprestariam maior rentabilidade às enormes safras produzidas naquela região. Desbravados os solos, antes considerados improdutivos, o Cerrado produziu mais de 60 milhões de toneladas no ano de 2012, firmando-se como a maior região produtora do país. Esta enorme contribuição aconteceu sem que houvesse uma contrapartida significativa na viabilização de corredores para escoar seus produtos. Ao negligenciar os investimentos em ferrovias e hidrovias e nem mesmo dotar as rodovias de maior capacidade de cargas, os governos não foram eficientes em minimizar os prejuízos decorrentes do transporte a longas distâncias. A junção da precariedade das estradas e do subdimensionamento dos portos impuseram uma vergonha sem precedentes à nação que se considera futuro celeiro mundial. Contratos de exportação não cumpridos passaram ao mercado a preocupação de que talvez o Brasil não tenha a competência necessária para atender a crescente demanda mundial de produtos agropecuários.
Se por um lado houve eficiência na ampliação da safra brasileira em 63% nos últimos dez anos, passando de 112,4 para 183,5 milhões de toneladas de grãos, o mesmo não aconteceu com as necessárias vias de escoamento desta riqueza produzida. Pelo contrário, chegou-se ao cúmulo de considerar um problema o excesso de grãos produzidos, pois a absoluta inércia governamental não foi compatível com este fantástico e invejável crescimento. Produtos estocados a céu aberto tornaram-se imagens constantes nas safras do Centro-Oeste. Filas de caminhões nos portos e navios ao largo aguardando para ancorarem também foram notícias corriqueiras nas revistas e telejornais. Não há justifica para este apagão logístico, uma vez que o mesmo vem sendo
anunciado fartamente há vários anos por inúmeras vozes tanto do campo como das cidades. A situação vexatória pela qual o país tem passado numa evidente demonstração de incompetência administrativa dos últimos go-
vel como alguém possa defender a manutenção de mais de mil caminhões trafegando nas estradas ao invés de apenas dois motores de rebocadores transportando algumas barcaças com o mesmo volume de grãos através dos rios.
No Brasil ainda se questiona a utilização de hidrovias com falsos apelos ecológicos vernos também deve ser debitada àquelas inúmeras organizações que se especializaram em emperrar as obras fundamentais para a ampliação da infraestrutura logística. Por aqui ainda se questionam utilização de hidrovias com falsos apelos ecológicos, enquanto o restante do mundo considera há muito tempo o transporte hidroviário como sendo o mais ambientalmente correto. É risí-
A extensão territorial, o clima tropical e a tecnologia agropecuária permitem ao Brasil ser portador da cornucópia sonhada por inúmeras das civilizações antigas. Mas, se por um lado esta abundância parece inesgotável, também parece infinita a irresponsabilidade daqueles que deveriam evitar a perda destas riquezas nos buracos negros da falta de logística e na carência de infraestrutura.
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Logística
Transporte heterodoxo Cerealistas gaúchos mostram que, nos picos de safra, exportar soja em contêineres pode ser mais barato do que a granel.
Fotos: Tecon Rio Grande/Divulgação
Glauco Menegheti
Contêineres carregados com soja no porto de Rio Grande (RS)
À
primeira vista, pensar num projeto de exportação de soja em contêineres parece sandice. Mas não quando se trata do volume colossal de contêineres vazios de retorno para a Ásia, principalmente para a China, que se avolumam nos portos brasileiros. No porto de Rio Grande (RS) não é diferente. “Trazer contêineres vazios para o mercado de origem representa prejuízo para o armador, o dono do navio e para os portos”, explica o consultor em comércio exterior João Carlos Kopp. Um projeto do Tecon Rio Grande e de cerealistas gaúchas para conteinerização de novas cargas foi consolidado na primeira semana de maio de 2013, quando 36 contêineres de soja – antes exportada apenas em navios grane-
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leiros – seguiram com destino ao mercado asiático. O embarque seguiu em dois lotes, de diferentes exportadores. A primeira operação foi de 11 contêineres embarcados no navio Maullin MLL, pelo armador CMA-CGM. O segundo, de 25 contêineres, no navio Aliança Urca, pela Maersk. Duas opções para logística Inland foram testadas nestes embarques: uma estufando o contêiner na origem, com utilização do transporte ferroviário da Brado Logística até o Tecon Rio Grande e a outra, estufando os contêineres na retro-área, utilizando os serviços da empresa Vanzin Serviços Aduaneiros Ltda. Um verdadeiro antídoto contra o estrangulamento dos portos brasileiros, no transporte marítimo de contêineres não existe o
custo de demurrage (multa por atraso do navio). Portanto, em picos de safra, quando há grandes esperas dos navios nos terminais graneleiros, pode representar uma redução de custo significativa. O desembolso, comparativamente com o sistema a granel, depende muito do destino da carga, porque o frete do contêiner varia de acordo com a distância. Mas nesta época do ano, de acordo com gerente comercial do Tecon Rio Grande, Rodrigo Dall Orsoletta, a diferença a favor do contêiner em relação ao granel pode chegar a US$ 7,00 por tonelada. Entre as vantagens elencadas desse transporte heterodoxo estão a otimização do fluxo de caixa, uma vez que há desembolso apenas pela quantidade comprada. Embarques fracionados também eliminam a necessidade de formação de grandes lotes de exportação. O escoamento de exportações de soja em contêineres propicia aos usuários a possibilidade de atingir mercados compradores de menores volumes. “Com o contêiner é possível chegar com a soja em qualquer destino do mundo”, garante o gerente do Tecon. Ele também destaca a maior rastreabilidade da carga, facilidade de transbordo e, principalmente, o aproveitamento de fretes competitivos de retorno para Ásia. “Existe a necessidade dos armadores reposicionarem contêineres para este destino”, acrescenta. De acordo com a engenheira de produção do Tecon, Ayla Weyler, é possível realizar embarques semanais, pois a utilização do
contêiner permite um fluxo ágil e contínuo de expedição para o exportador e de recebimento para o importador. “Ambos se beneficiam com a redução da necessidade de armazenagem do produto”, salienta Ayla. Orsoletta destaca que ocorre menor índice de perda de grãos no trajeto da origem ao porto se o contêiner for estufado na origem, bem como redução do índice de perda nos portos de transbordo até o destino final. A cerealista Multirural, de Tupanciretã, foi uma das que acreditou no projeto de exportar por contêiner. Em maio, embarcou para a China e o Egito carga de soja de mil toneladas. A primeira operação rendeu uma vantagem de R$ 3,00 por saca. O diferencial não está no preço do frete, mas nos custos portuários, que são superiores no granel. Essa primeira exportação foi apenas o início, de acordo com o consultor da empresa cerealista, João Carlos Kopp. A intenção é exportar 10 mil toneladas da oleaginosa em junho, mas o potencial chega a 60 mil toneladas, sendo que a meta da Multirural é chegar as 100 mil toneladas. “Essa é uma maneira de a cerealista fazer receita periodicamente, uma vez por mês, quebrando a sazonalidade das exportações.”
Pontos favoráveis do transporte de soja via contêineres: 1) Otimização do fluxo de caixa. Há desembolso somente pela quantidade comprada; 2) Embarques fracionados permitem o embarque da quantidade necessária, eliminando a formação de grandes lotes para exportação; 3) Facilidade na logística de distribuição. Com o container é possível chegar com a soja em qualquer destino do mundo; 4) Baixo risco de contaminação; 5) Embarques semanais. Permite um fluxo ágil e contínuo de expedição para o exportador e de recebimento para o importador. Ambos se beneficiam com a redução da necessidade de armazenagem do produto; 6) Acesso a mercados alternativos ou compradores de menores volumes; 7) Menor índice de perda de grãos no trajeto da origem ao porto, se o container for estufado na origem, bem como redução do índice de perda nos portos de transbordo até o destino final; 8) Possibilidade de operação em dias de chuva; 9) No transporte marítimo de containers não existe o custo de demurrage. Portanto, em picos de safra, quando há grandes esperas dos navios nos terminais graneleiros, pode representar uma redução de custo significativa.
Já a cerealista Marasca foi uma das primeiras a realizar a exportação em contêineres. Graças à operação, conforme Vitor Marasca Junior, a empresa está conseguindo comercializar soja para Cingapura, Malásia e Tailândia em portos sem calado suficiente para comportar navios Panamax. A primeira operação, de 300 toneladas, foi realizada em maio. A próxima, de 2 mil toneladas, será operacionalizada em junho. Na avaliação de Marasca, o potencial
Navio Aliança Urca carregado de contêineres, proveniente da Ásia.
para essa logística é de mil a 2 mil toneladas por mês, o que representa um nicho para a empresa. O primeiro embarque, no pico da safra de soja do Rio Grande do Sul, no Porto de Rio Grande, rendeu uma vantagem de um real por saca em relação ao transbordo a granel. “Enquanto continuar dando lucro nós vamos acessar esse tipo de operação”, sentenciou o empresário de Cruz Alta. Em países como os Estados Unidos, esta opção logística já é largamente utilizada, sendo embarcados por ano cerca de 500 mil TEU (da sigla em inglês Twent Feet Equivalente Unit) de soja. No porto de Rio Grande, em 2008, foi feito um embarque de 70 contêineres de soja, mas, por conta da crise econômica mundial, não foi possível dar sequência ao projeto. Agora, segundo o diretor comercial do Tecon Rio Grande, Thierry Rios, o projeto de atração de novas cargas se realiza dentro de uma expectativa bastante realista. “O mercado está aquecido e podemos colaborar para o escoamento desta safra, oferecendo uma solução logística atraente para todos os players”, conclui. junho 2013 – Agro DBO | 33
Artigo
Química verde A substituição do petróleo por biomassa representa enorme oportunidade de aproveitamento integral da produção agrícola Décio Luiz Gazzoni *
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o médio prazo, alguns setores do agronegócio apresentarão taxas de crescimento da demanda superiores à produção de alimentos, como agroenergia, flores e plantas ornamentais, e biomassa para a indústria de química fina, destinada à elaboração de bioprodutos. A química verde, usando biomassa como insumo, deverá substituir gradualmente a petroquímica.
os atuais complexos polímeros em multicamada. No entanto, os polímeros têm limitações, como a sua permeabilidade para substâncias de baixo peso molecular, originando oxidação de alimentos, além da contaminação por componentes tóxicos do plástico, afetando sua qualidade e segurança. Apesar de a embalagem plástica permitir a preservação dos alimentos, contribuindo para minimizar
Programas de pesquisas estão desenvolvendo plásticos biodegradáveis de base biológica
* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.
Analisemos um exemplo de espaço mercadológico para um bioproduto. Vivenciamos uma explosão no uso de plásticos, que são polímeros sintéticos, derivados do petróleo. A maior aplicação para os plásticos é no setor de embalagens e seu maior uso é na embalagem de alimentos, devido à flexibilidade, leveza, baixo custo, e às suas adequadas propriedades térmicas e mecânicas, permitindo processos industriais integrados. Inicialmente, as embalagens plásticas constituíam-se de camada única de materiais flexíveis ou semirrígidos. As demandas mercadológicas induziram inovações tecnológicas que permitiram produzir
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os resíduos orgânicos, o aumento exponencial de seu uso gera preocupações ambientais, como a gestão de resíduos. Programas de pesquisa estão em curso, objetivando desenvolver plásticos biodegradáveis, de base biológica. Biodegradáveis são materiais que se desintegram por ação de microrganismos, em um ambiente úmido, produzindo dióxido de carbono, água e resíduos sólidos, que são substâncias orgânicas encontradas na Natureza. Esse ambiente propício é encontrado no solo, permitindo a reciclagem de um material sem introduzir substâncias estranhas à composição da biosfera. Embora seja possível produzir plásticos biodegradáveis de petró-
leo, o sentimento dominante é que a indústria deve buscar os insumos na biomassa, especialmente resíduos e efluentes da indústria de alimentos, sendo três grupos os mais importantes. O primeiro é representado pelos polímeros diretamente extraídos de biomassa (polissacarídeos como quitosana, amido e celulose); proteínas (farelo de soja, glúten e zeína); e lipídios (triglicérides ou ácidos graxos). Um segundo grupo constitui-se de monômeros derivados de biomassa, incluindo termoplásticos de óleos vegetais, como o ácido poliláctico (PLA), e o biopolietileno produzido com bioetanol. O terceiro grupo compõe-se de polímeros naturais ou produzidos por microrganismos modificados geneticamente, tais como polihidroxialcanoatos (PHA) e polipeptídios similares à elastina. Em síntese, existe um vasto mercado a ser conquistado pelos bioprodutos, sendo os bioplásticos um dos múltiplos exemplos. Substituir petróleo por biomassa encontrará forte respaldo social, pelos ganhos ambientais. Para o agronegócio significa uma enorme oportunidade de otimizar o aproveitamento integral de produtos agrícolas, em especial de resíduos e efluentes do seu processamento, portanto sem competição direta com a produção de alimentos.
Aiba/Divulgação
Fitossanidade
Algodão ameaçado Infestação em larga escala de lagartas do gênero Helicoverpa destrói lavouras no oeste da Bahia e causa dois bilhões de reais em prejuízos. Marianna Peres
A
cultura do algodão, de manejo mais trabalhoso e custo quase três vezes superior ao da soja, ficou ainda mais complicada e cara. A safra 2012/13 entrou para história da cotonicultura brasileira pela sucessão de problemas fitossanitários e acabou virando caso de polícia. A
Celestino Zanella reclama agilidade do governo na questão da liberação de moléculas para conrole das lagartas
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infestação maciça da Helicoverpa armigera, espécie de lagarta até então desconhecida no Brasil, surpreendeu técnicos e produtores, abrindo espaço para questionamentos de todos os tipos, inclusive à suspeição de bioterrorismo – algo que explicaria sua introdução no país. A Polícia Federal e a Abin – Agência Brasileira de Inteligência estão investigando esta hipótese. Lagarta polífaga, que se alimenta de várias culturas e come muito (leia artigo a respeito na página 40), a H. armigera já atacou algodoais de 11 dos 15 estados que cultivam a commodity e, segundo cálculos, pode ter imposto perdas de R$ 2 bilhões à safra em curso, metade dos quais apenas no oeste da Bahia – baianos e matogrossenses ofertam juntos mais de 82% da pluma nacional. A espécie foi “descoberta” no Brasil neste ano. Há poucos
meses, nada se sabia dela e, para complicar os trabalhos de controle fitossanitário, foi confundida por técnicos e agricultores em várias regiões do país com outra espécie do gênero Helicoverpa, a H.zea (lagarta-da-espiga), esta, sim, de ampla ocorrência nos campos brasileiros, embora nunca, como agora, tão ostensivamente frequente – como Agro DBO mostrou nas edições de março, abril e maio. A Helicoverpa zea e outras espécies de lagartas, como a Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) vem atacando lavouras de milho Bt e outras culturas em vários estados. Sem saber da diferença entre a H. zea e a H. armigera, e preocupados com os estragos provocados nos algodoais, muitos produtores aumentaram as dosagens de inseticidas da família dos diamidas e reduziram os intervalos das aplicações na lavoura sem
Fotos: Fundação Goiás
que houvesse efeito positivo, e a praga foi ganhando resistência. Há 10 anos plantando grãos e algodão no oeste da Bahia, Celestino Zanella frisa que, há mais de três meses, os produtores da região vem discutindo formas de controle das praga. Eles concluíram que a solução óbvia seria pulverizar as lavouras com inseticida à base de benzoato de emamectina, o mesmo adotado nos Estados Unidos, Austrália e parte da Ásia no controle de lagartas. Houve autorização de importação emergencial pelo Ministério da Agricultura, mas, por questões diversas, até meados de maio não foi efetivamente usado no dia-a-dia das propriedades. “Precisamos de agilidade nas decisões do governo e que ele seja menos intransigente. Afinal, estamos falando de uma praga que tem de ser morta em cerca de três dias, senão fica adulta, vira mariposa e aí não se consegue mais êxito. As helicoverpas não são pragas apenas da Bahia, vão ser como o mofo branco Brasil afora. Perdemos esta safra para as lagartas porque muita gente não percebeu o problema a tempo. O que temos de fazer é buscar conhecimento para o efetivo combate a partir do próximo ano”. Dono da fazenda Decisão, nos municípios de São Desidério e Barreiras, Zanella semeou algodão em 2,15 mil hectares e se preparava para iniciar a colheita nos primeiros dias deste mês de junho. “Ti-
Produtores contabilizam perdas de duas a seis sacas de soja por hectare; no algodão, a conta ainda nõo foi feita
Fotos: Fundação Goiás
vemos um clima que catalisou o surgimento das lagartas e, por isso, não dá para dissociar o que deve ser perda por clima e pela praga no estado, mas de antemão sabemos que na soja ela ‘roubou’ de duas a seis sacas”, explicou. Como seu algodão é irrigado, ou seja, não sofreu com veranicos, ele só terá a exata dimensão das perdas em produtividade e do aumento dos custos ao fim da colheita. “Se não fossem os pivôs, tenho certeza que o prejuízo seria infinitamente maior, já que, mesmo com irrigação, tenho área de pivô que vai fechar com mais de 32 aplicações”, diz Zanella, não considerando, no caso, os custos diretos com o controle do bicudo e da mancha da ramulária. Diretor da Abapa – Associação Baiana dos Produtores de Algodão e da Fundação Bahia, além de produtor na Bahia e no Piauí, Celito Bre-
Prejuízos na lavoura de algodão pode chegar a R$ 2 bilhões nesta safra, na Bahia, com o ataque das lagartas
da afirma que esta é a segunda safra ruim para os cotonicultores baianos, com perdas médias de 50 arrobas por hectares – 15 devido à seca e 35 às pragas, “principalmente a armigera e o bicudo”. Ele admite que os veranicos registrados na região contribuíram para a reprodução rápida e agressividade das lagartas. Quando as chuvas são constantes – lembra -, os fungos Nomurea rilley, de ocorrência natural, acabam matando muitas lagartas no ambiente, inclusive as helicoverpas. Dependência tecnológica Para Breda, as duas safras deixam claro que é preciso mudar, e rapidamente, o sistema de produção agrícola. “Não poderemos ficar dependentes somente de controle químico, como fazemos hoje. Temos de entrar de cabeça no controle biológico e nas transgenias eficazes, principalmente para o algodão. E é isto que nós, da Bahia e outros estados, faremos nos próximos anos. Estamos mudando nossa maneira de ver e agir, revendo conceitos. É hora de mudanças radicais e estruturadas. Tecnificar de fato, e não somente confundir o uso excessivo de agroquímicos com alta tecnologia. Temos de ter um sistema com menores custos e mais rentável. Com menos defensivos químicos e mais biológicos. Um sistema semelhante ao que vimos na Austrália na cultura do algodão”. junho 2013 – Agro DBO | 37
Fitossanidade
Schenkel (à esq.) e Zaparolli, com problemas semekhantes em Mato Grosso e Goiás, respectivamente
Sobre a hipótese de bioterrorismo, ele acredita, sim, na possibilidade, mas não espera que seja provada. “Aliás, isso não importa aos produtores e, sim, ao país. Descobrir e barrar novos episódios. O Brasil é um país de alto potencial agrícola e isto certamente incomoda muita gente que não quer nos encarar como concorrentes diretos. Somos altamente competitivos e dinâmicos. Surgem problemas, como o da ferrugem asiática, e logo resolvemos. Este dinamismo de supera-
ção, só vimos no Brasil e Austrália. Os outros países dependem de ajuda de governos e seus subsídios. Em outros estados, como o Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, outras pragas e doenças estão tornando o manejo ainda mais custoso. O produtor Alexandre Pedro Schenkel, que cultiva algodão na fazenda Santa Rosa, em Campo Verde (MT), reduziu a área plantada de 300 para 150 hectares – também como reflexo do mercado –, mas não minimizou os problemas.
Além do monitoramento das lagartas, ele tem sofrido com a mancha da ramulária, uma doença fúngica que provoca desfolha do pé do algodão para cima, comprometendo a produtividade, já que prejudica o ganho de peso do algodão, podendo impor perda de 20%. Outra preocupação de Schenkel é quanto à falta de resistência das cultivares transgênicas aos herbicidas. “Na dose recomendada, as lavouras não estão limpas”. O presidente da Agopa – Associação Goiana dos Produtores de Algodão, Luiz Renato Zapparoli, que também planta nos municípios de Chapadão do Céu (GO) e Alto Taquari (MT), relata problemas com bicudo e mofo branco, além das lagartas. Nos municípios de Catalão, Cristalina e Formosa, no leste goiano, de condições climáticas próximas às registradas no oeste baiano, as lagartas exigiram aplicações de agroquímicos a cada três dias, pelo menos. Nos municípios de fronteira com Mato Grosso do Sul, como Chapadão do Céu, o
Recorde confirmado Excessos ou escassez de chuvas e problemas com pragas, inclusive a Helicoverpa, não foram suficientes para frustrar a safra nacional de grãos que, em 2013, atinge seu maior volume: 185,15 milhões de toneladas, 10,8% acima da safra passada, conforme levantamento da Conab. A recuperação da produção no Rio Grande do Sul e no Paraná – embalada pela disparada dos preços das commodities no ano passado, em pleno planejamento da safra – foi decisiva para que o país atingisse seu recorde, avanço sustentado por toneladas históricas de soja e milho. Com a colheita de soja muito próxima do final no Sul do Brasil até o final de maio, as projeções
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confirmavam volume de 81,53 milhões de toneladas, ante 66,38 milhões na temporada anterior, das quais 23,53 milhões vindas apenas de Mato Grosso, líder nacional. No milho segunda safra, outro recorde: incremento de 10,4% sobre a já recordista safra de 2012, de 39,11 milhões para 43,19 milhões de toneladas – deste total Mato Grosso e Paraná respondem por mais de 28 milhões. Como avalia o economista-chefe da Farsul – Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, a segunda maior safra rio-grandense representaexpansão anual de 86% ante o último ciclo, marcado pela seca. Serão 12 milhões de toneladas, contra 5,9 milhões. “A ren-
tabilidade deverá ser boa para os produtores. Os efeitos da boa safra já se notam no interior, no reaquecimento da indústria e serviços”. O economista do Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria de Agricultura do Paraná, Marcelo Garrido, diz que, se o clima ajudar, a segunda safra de milho também será histórica. A de soja, ainda sem um balanço definitivo, é a maior do estado em área plantada e produção, com 4,75 milhões de hectares e 15,85 milhões de toneladas, respectivamente. Mato Grosso segue como o maior produtor nacional de grãos e fibras, com 43,33 milhões de toneladas, seguido pelo Paraná, com 38,02, e pelo Rio Grande do Sul, com 27,90.
Fotos: Fundação Goiás
A H. armigera come órgãos reprodutivos e tecidos novos (em crescimento) das plantas. Ou seja, “vai direto na jugular”.
Cotonocultores aprovaram a importação de benzoato de emamectina para o controle das lagartas, mas, até meados de maio, não foi usado
Controle improvisado O gerente executivo da Fundação Goiás, Davi Laboissiére, explica que, nas áreas com maior infestação de lagartas, as intervenções químicas têm sido feitas semanalmente. “Como se trata de uma praga até pouco tempo inexistente, as aplicações têm sido realizadas com misturas de princípios ativos. Infelizmente, não possuímos inseticidas eficazes para o controle desta lagarta. Quando olhamos o estado como um todo, vimos agricultores ‘testando’ várias moléculas, mas, efetivamente, os melhores resultados têm sido obtidos com misturas (aleatórias, ele reconhece) de princípios ativos”. Laboissiére afirma que, de maneira geral, o número de aplicações é maior do que o planejado. Segundo ele, muitos agricultores já estavam com o “pacote tecnológico” fechado para esta safra. “Foi bastante comum ver produtores saindo em busca de mais inseticidas para tentar conter o avanço da
Maçã do algodão furada pela lagartas, que comem praticamente de tudo,mas prefere os tecidos novos
helicoverpa”. Muitas propriedades já contabilizam um adicional de três a seis aplicações. Mesmo sem um custo de produção fechado sobre os 46 mil hectares plantados no estado, há estimativas de adicionais de R$ 300 a R$ 600,00 por hectare para o controle das lagartas. “Isto representa cerca de cinco a dez arrobas a mais de algodão em pluma”, calcula. Em sua opinião, é possível que a H. armigera já estivesse presente na safra 2011/12, mas até então não fora identificada corretamente. A “culpa” pelos estragos causados na lavoura – a espécie se alimenta preferencialmente dos órgãos reprodutivos e tecidos novos (em crescimento) das plantas, ou seja, “vai direto na jugular”, como constataram os produtores – era atribuída apenas à H.zea ou à S.frugiperda. Agopa/Divulgação
manejo teve que ser unificado com o de produtores vizinhos de Costa Rica e Chapadão do Sul, ambos em Mato Grosso do Sul, para o combate ao bicudo, praga com incidência generalizada.
O coordenador técnico do Programa Fitossanitário do Algodão de Mato Grosso do Sul, Danilo Suniga, acredita que incidência das lagartas e do bicudo impactou mais o custo com inseticidas, devido ao aumento do numero de aplicações, do que a produtividade. Em maio, monitoramento a campo mostrou que em Chapadão do Sul, por exemplo, dias sem chuvas e controle químico com aplicações sequenciais surtiram efeito contra o bicudo. Em relação às lagartas, foram encontradas exemplares em estágios larvais avançados, caracterizando escapes de pulverizações. No município de Costa Rica, os produtores também se ocupavam com alta incidência de pulgões. Mesmo com tantos problemas, eles ainda esperavam rendimento acima de 275 arrobas por hectare, média dos últimos cinco anos. Alguns trabalhavam na expectativa de 300 arrobas. Quanto à rentabilidade, preferiam não arriscar prognósticos. “Neste ano, temos vários diferenciais de custo, devido ao uso intensivo de cultivares transgênicas, que diferem na condução da lavoura das convencionais”, diz Suniga. Ainda assim, ele acredita que o saldo final será positivo para os agricultores. junho 2013 – Agro DBO | 39
Manejo
Com vocês, a H. armigera Introduzida há pouco no Brasil, esta espécie de lagarta vem confundindo agricultores e consultores. Aprenda a identificá-la e a controlar a infestação. Lucia Vivan (1), Crébio J. Ávila (2), Cecília Czepak (3), Karina C. Albernaz (3)
A
safra 2012/13 de milho está sendo marcada por surtos de lagartas sem precedentes, talvez os maiores já registrados desde o início da comercialização das sementes de milho Bt. Além das já conhecidas Spodoptera frugiperda, Helicoverpa zea e Heliothis virescens, os produtores rurais foram surpreendidos pela infestação de outra espécie do gênero Helicoverpa – a H. armigera –recentemente identificada no Brasil, onde era considerada praga quarentenária. De ampla distribuição na Ásia, Oceania, África, Europa, e agora, em nosso país, esse grupo tem ocorrido nas lavouras de soja, algodão, milho, feijão, tomate e outras culturas e tem confundido produtores e consultores tanto no que se refere a identificação, como também no controle. Nos países de origem, a H. amigera demonstra elevada capacidade de resistência a inseticidas, especialmente para produtos piretrói40 | Agro DBO – junho 2013
des, organofosforados e carbamatos. Por ser polífaga, pode causar danos em diferentes culturas de importância econômica como algodão, leguminosas em geral, sorgo, milho, milheto, grão-de-bico, girassol e amendoim, além de hortaliças, plantas ornamentais e frutíferas. Portanto, são mais de 180 espécies de plantas nativas e silvestres hospedeiras da praga, distribuídas em pelo menos 47 famílias. É uma espécie que apresenta grande mobilidade e alta capacidade de sobrevivência sob condições adversas, podendo completar vá-
rias gerações por ano, finalizando seu ciclo de ovo a adulto entre quatro a seis semanas no período de verão. O adulto apresenta nas asas anteriores uma série de pontos nas margens e uma mancha em forma de vírgula na sua parte inferior. As asas posteriores são mais claras apresentando uma borda marrom escura na extremidade apical, havendo dimorfismo sexual entre machos e fêmeas. Uma fêmea pode colocar de 1000 a 1500 ovos sempre de forma isolada sobre os talos, frutos e folhas e de preferência no período noturno. Para a postura, pre-
Manejo para H. armigera •
Monitoramento constante na lavoura, sendo antes, durante e após o desenvolvimento das culturas; Calendário de plantio com janela curta para o período de plantio; Vazio sanitário por ter alta polifagia – sugestão: 20/08 a 20/10; Controle de lagartas em instares iniciais, devido a maior tolerância ao controle após o segundo instar; Uso de armadilhas com feromônio sexual para monitoramento dos adultos fornecem um cenário importante da probabilidade de ocorrência de surtos da praga na região e, consequentemente, da necessidade de implementação de medidas de controle. É importante que estas coletas de adultos sejam correlacionadas com a incidência de ovos e larvas nos períodos subsequentes. No entanto, há necessidade deste tipo de pesquisa para as populações do Brasil; Rotação de produtos químicos pela alta capacidade de desenvolver resistência a inseticidas, especialmente piretroides, fosforados e carbamatos; Variedades transgênicas – Viptera, VTPRO, VTPRO2, Power Core, Intrasect, Bollgard II, Widestrike – esta opção pode aumentar a eficiência de controle da praga- alvo e mitigar a probabilidade de
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desenvolvimento de resistência às proteínas expressas por estes materiais; Implementação de áreas de refúgios – para cultivos Bt, adoção em pelo menos 20% da área plantada de refúgios estruturados com materiais não-Bt; Eliminação eficiente dos restos culturais – soqueiras de algodão e rebrotas, tigueras de soja e milho a fim de evitar alimento para as lagartas; Manejo cultural com destruição mecânica das pupas em áreas com alta infestação, através do revolvimento do solo – época mais adequada: mês de agosto para os estados da Bahia, Mato Grosso e Goiás; no entanto, há necessidade de estudos de como proceder essa tática de controle; Utilização de controle biológico com inoculações de Trichogramma spp. para controle de ovos, bem como a utilização do vírus da poliedrose nuclear com sucesso em vários países, no entanto necessita de estudos para as condições do Brasil e de cada região onde for implantado; Capacitação de monitores para identificação das espécies e implementação de táticas de manejos, focando o controle no inicio do desenvolvimento da praga, envolvimento toda a classe agrícola visando a identificação de um programa eficiente de manejo para essa praga.
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ferem a página superior das folhas e as superfícies pubescentes, sendo que o período de postura pode durar de 8 a 10 dias. O período larval é constituído de seis instares. A lagarta possui coloração variável, do verde ao amarelo claro a um tom mais escuro. São detalhes característicos, a sua cápsula cefálica de cor pardo claro, umas finas linhas brancas laterais e a presença de pelos. As lagartas a partir do 4º instar apresentam no quarto segmento uma estrutura em formato de “sela” devido à presença de tubérculos abdominais escuros e bem visíveis. Além disso, quando perturbada apresentam comportamento peculiar encurvando a cápsula cefálica até o primeiro par de falsas pernas, permanecendo deste modo por um bom tempo. Outra característica observada nesta espécie diz respeito à textura do tegumento que se apresenta de aspecto levemente coriáceo, muito diferente das lagartas de outras espécies de Helicoverpa, podendo ser esta particularidade um fator de resistência a inseticidas de contato. As lagartas alimentam-se de folhas e caules, contudo mostram forte preferência por órgãos reprodutivos como brotos, inflorescências, frutos e vagens. Além disso, apresentam uma tendência para agressividade, são carnívoras e propensas ao canibalismo. A fase de pupa ocorre no solo e podem entrar em diapausa quando as condições não são adequadas durante uma estação, não emergindo até a estação seguinte. Isto faz com que as gerações não sejam uniformes, podendo ser encontradas fêmeas adultas ao longo de quase todo o ano. Entretanto, esta é só mais uma das inúmeras pesquisas que precisarão ser implementadas para se saber exatamente como será o comportamento da referida praga no país. Os autores são pesquisadores da Fundação MT (1), Embrapa Agropecuária Oeste (2) e Universidade Federal de Goiás (3)
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Artigo
Resíduo desprezado Frequentemente abandonada sob as bicas das máquinas de benefício, a casca do café é altamente nutritiva, de grande valor para o produtor. Hélio Casale *
A
* O autor é engenheiro agrônomo, cafeicultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.
safra atual está se iniciando nas principais regiões cafeeiras do país. Depois de colhido, vem a secagem em terreiro (terra, cimento ou lama asfáltica), debaixo de estufa ou, mecanicamente, em secador, até atingir de 11% a 11,5% de umidade, ponto considerado ideal para o armazenamento. Aguardar a hora da venda é por conta dos compromissos financeiros assumidos ou por uma “especuladinha”. Aconteça o que acontecer, mais cedo ou mais tarde os grãos devem ser beneficiados, as cascas envolventes, retiradas, e consequentemente, comercializados. Há muitos anos atrás, o Prof. Eurípedes Malavolta coordenou
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um trabalho de pesquisa onde foram estudadas amostras de café de três variedades: Catuaí, Mundo Novo e Bourbon, no sentido de se avaliar quanto de nutrientes estaria contido nos grãos e nas cascas. A pesquisa demorou uns bons anos de estudo e, ao final, revelou o que está contido no quadro da página ao lado: Como se pode ver claramente, a quantidade percentual de nutrientes é maior na casca, exceção ao magnésio (Mg), cádmio (Cd), cobalto (Co) e níquel (Ni), indicando tratar-se de um resíduo de expressivo valor para a cafeicultura. À parte o valor da casca, o que se observa na grande lavoura é certo desprezo para com esse material, que é fre-
qüentemente encontrado amontoado e sangrando debaixo das bicas das máquinas de benefício, amontoado nas beiras dos carreadores, onde a dequada mata alguns pés de café, colocado em esterqueiras ou nos fundos de estábulos e cocheiras, usado como se fosse lenha na forma de briquetes. As estatísticas oficiais de produção nos são dadas por duas fontes principais, IBGE e Conab, e também por um grande número de outras fontes oficiosas, que se jactam de entendidos no assunto e praticam uma “achologia” dirigida, que invariavelmente só contribui para deprimir preços. Nesta safra, os achologistas mais uma vez conseguiram seu intento, pois
os preços ficaram estacionados num dos patamares mais baixos dos últimos tempos. Outro questionamento que se pode fazer: “Para um produto da importância do café, qual a razão para dois órgãos de estatística, que invariavelmente dão números discrepantes? Fartura de recursos, falta de política cafeeira adequada? Quantificação de nutrientes A Conab estima a safra atual em 52 milhões em sacas de 60,5 kg. Vamos tomar esse número para calcularmos o quanto de nutrientes está contido na palha de café que será gerada somente nesta safra. Vejamos os números: Como se pode observar na tabela ao lado, a quantidade de nutrientes contidos na palha seca não é nada desprezível, o que deve nos motivar a aproveitar esse resíduo devolvendo-o à lavoura. Para tanto, algumas questões devem ser esclarecidas para que o aproveitamento dos nutrientes seja maximizado e os custos da operação, os menores possíveis. n Onde aplicar – pelos resultados da análise de solo, selecionar, para receberem a palha, os talhões que tiverem com o potássio na CTC menor de 3%. n Dose a aplicar – evitar passar das 5 toneladas por hectare, o que equivale a 500 gramas por m². Essa dose evitará futuro desequilíbrio nutricional. n Localização/distribuição – em toda a área livre das entrelinhas, distribuindo a lanço, sem necessi-
Quantidade contida em 1 saca de 60 kg de grãos
Quantidade contida em 60 kg de palha seca
% nutrientes contida na palha seca, sobre a contida nos grãos
1026
1068
51
60
84
58
Potássio (K)
918
2225
71
Cálcio (Ca)
162
246
60
Magnésio(Mg)
90
78
46
Enxofre (S)
72
90
56
NUTRIENTES Nitrogênio(Ni) Fósforo (P)
Boro (B)
0,96
2,0
68
Cádmio (Cd)
0,09
0,03
25
Cobalto (Co)
0,06
0,05
45
Cobre (Cu)
0,90
1,08
55
Ferro (fe)
3,60
9,00
71
Manganês(Mn)
1,20
1,80
60
Níquel (Ni)
0,12
0,08
40
0,003
0,004
57
Chumbo (Pb)
0,10
0,10
100
Zinco (Zn)
0,72
4,20
85
Molibdênio(Mo)
dade de incorporação. Vale lembrar que a incorporação retarda a decomposição do material, cria bolsões de alta concentração de nutrientes, chegando a matar as raízes nessas áreas. n Quando aplicar – logo após a colheita da área selecionada, em havendo palha disponível, criar na propriedade um sistema de distribuição da palha a ser implementado separadamente da colheita. n Palha seca ou compostada – empregar palha seca pela facilidade de aplicação e uniformidade da distribuição. A compostagem desuniformiza o material, agrega água, torna a distribuição mais onerosa, a retarda e a encarece.
Sacas de palha à beira do carreador e distribuição manual de palha em cafezal nãomecanizado
n Como armazenar a palha – uma das melhores soluções do momento é acumular a palha em pequenas moegas e recebê-la em bags, que são levados e armazenados na beira dos carreadores, aguardando pela distribuição. Os bags de reuso e um guincho são de baixo custo. Uma das melhores opções já encontradas. n Palha briquetada – será usada como combustível. Uma boa fonte de energia. Vale lembrar que durante a queima, dois nutrientes são volatilizados, o nitrogênio e o enxofre, ficando os demais concentrados nas cinzas. Estas devem ser analisadas em seu conteúdo mineral e distribuídas nas lavouras, lembrando que nada que se cria deve ser perdido. Pensando em palha, deve-se valorizar mais o benefício da aplicação desse resíduo, que sempre será maior que o custo da aplicação/distribuição. Na hora certa e no tempo certo é um material inigualável pela sua riqueza em nutrientes, pois, contribuirá para ajustar a nutrição, repondo equilibradamente o que foi extraído pelas colheitas sucessivas. junho 2013 – Agro DBO | 43
Agrishow 2013
Boas vendas e muita tecnologia. A maioria das inovações é baseada em tecnologia embarcada. Máquinas mais eficientes e precisas, para reduzir custos e aumentar a eficiência. Richard Jakubaszko
A
20ª Agrishow alcançou as expectativas e movimentou R$ 2,6 bilhões em negócios, 16% a mais em relação a 2012, em sua maior edição. Cerca de 150 mil pessoas visitaram evento de 29 de abril até 3 de maio, em Ribeirão Preto. Houve recorde de público no feriado de 1º de maio - de 40 mil pessoas -, mas os organizadores disseram que foi mantida a qualidade. Outro recorde foi o número de estrangeiros que visitou o evento, cerca de 1.000 pessoas de 67 países. Segundo organizadores, todos os setores estão 44 | Agro DBO – junho 2013
aquecidos, e o destaque ficou com armazenagem. Com uma safra recorde de grãos de 184 milhões de toneladas e as dificuldades logísticas para escoar a safra, empresas voltadas à área faturaram bem. Máquinas maiores, mais velozes e mais eficientes. Essas são as principais características que continuam determinando as tendências dos equipamentos lançados na Agrishow, como Agro DBO já antecipou na cobertura da mostra do ano passado. A maioria das inovações é baseada em tecnologias eletrônicas “embarcadas”. O objetivo
é tornar as máquinas mais eficientes e precisas, de forma a reduzir custos e impacto ambiental, além de aumentar a eficiência. Os gringos chamam isso de smart farming, ou agricultura inteligente. Com foco especial nesse tema, Agro DBO mostra as novidades disponíveis hoje para o agricultor nas áreas de plantio, adubação, aplicação de defensivos, colheita e logística. Antes, os custos de muitos desses sistemas eram muito caros, mas agora, aumentando a economia de escala e a competitividade das empresas, os valores começam a cair.
IAC Cana Uma nova tecnologia desenvolvida pelo Centro de Cana do IAC, Instituto Agronômico de Campinas, foi apresentada na Agrishow. Trata-se do Sistema de Multiplicação de Mudas Pré-Brotadas de Cana-de-Açúcar (MPB), que permite a produção rápida de mudas, associando elevado padrão de fitossanidade, vigor e uniformidade de plantio, aumentando a eficiência e os ganhos econômicos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e renovação de áreas de expansão. As mudas podem ser plantadas por uma plantadeira mecânica. A plantadeira mais em uso no MPB é muito mais barata que as utilizadas no sistema convencional; há produtores usando máquinas que plantam eucalipto. É possível que esse novo sistema estimule a movimentação na indústria para desenvolvimento de máquina específica e compatível ao MPB. “Isso significa que 18 toneladas que seriam enterradas como mudas irão para a indústria produzir álcool e açúcar, gerando ganhos”, explica Mauro Alexandre Xavier, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. A nova tecnologia é direcionada a aumentar a eficiência e os ganhos econômicos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e renovação e expansão de áreas de cana-de-açúcar. “Trata-se de um novo conceito no método de multiplicação da cana-de-açúcar, reduzindo volume e levando para o campo efetivamente uma planta”, diz Xavier. O MPB muda o conceito de multiplicação de mudas. “No convencional, abre-se o sulco e se deposita o colmo semente (tolete) dentro. Agora propomos colocar a planta”, afirma. A tecnologia do MPB permite mudar a forma de produção de mudas. No lugar dos colmos como sementes, entram as mudas pré-brotadas que
são produzidas a partir de cortes de canas, chamados minirrebolos – onde estão as gemas. Depois, passam por uma seleção visual e são tratados com fungicida. São colocados em caixas de brotação com temperatura e umidade controlada, e ao final colocadas em tubetes que passam por duas fases de aclimatação. O ciclo completo leva 60 dias. “As falhas nas áreas de plantios decorrem da falta de uniformidade e de diversos fatores do sistema atual, e muitas vezes devem-se ao uso excessivo de mudas que brotam e acabam competindo por água luz e nutrientes”, explica o pesquisador. Já o novo método aumenta a uniformidade nas linhas de plantio e, consequentemente, reduz as falhas. É um método simples que pode ser adotado por pequenos produtores e associações, não ficando restrito às usinas. De acordo com o pesquisador, o MPB restaura os benefícios da formação de mudas em viveiros, procedimento que fora praticamente esquecido com o boom do setor, apesar de gerar benefícios como aspectos fitossanitários da planta. Prêmio Gerdau A Valmont foi destaque no Prêmio Gerdau Melhores da Terra, uma das mais expressivas premiações da Agricultura Nacional. Neste ano a Valmont conquistou o troféu prata na categoria Novidade Agrishow – Agricultura de Escala, com o recém-lançado no Brasil, Valley Corner, um equipamento que já é sucesso nos EUA. O Valley Corner irriga áreas antes inatingíveis. O diretor-presidente da Valmont, João Rebequi, informa que o Valley Corner trouxe a possibilidade de ampliar os campos irrigados, sem precisar investir em novas terras”. Com seu braço articulado o Valley Corner permite a irrigação de campos
quadrados, com obstáculos e com outras formas com precisão. O engenheiro-agrônomo Vinícius Melo explica que todo o sistema é guiado por GPS, com válvulas de controle de vazão, “Isso garante eficiência na aplicação de água, efluentes e insumos na medida certa”, e ressalta, “o equipamento pode ser acoplado em pivôs já existentes”. Agrale A Agrale conquistou o Prêmio Gerdau Melhores da Terra 2013, o troféu ouro na categoria Agricultura Familiar, com o trator Agrale 575.4 Compact, que integra a recém-lançada linha 500. Segundo a comissão julgadora do Prêmio Gerdau, o trator Agrale foi escolhido devido às suas características de robustez e baixo custo operacional, além de avançada tecnologia. O modelo é capaz de atingir velocidades extremamente reduzidas, chegando a até 0,24 km/h – muito menor do que a al-
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Agrishow 2013 As máquinas de maior valor agregado e as novas tecnologias foram os itens mais buscados pelos compradores.
cançada por outros tratores compactos do mercado. Essa característica permite o trabalho em culturas perenes, como a colheita do café, que exige, em muitos casos, uma operação mais lenta. Outro diferencial é o reversor, alavanca que possibilita agilidade na inversão de sentido da máquina, facilitando as operações e manobras em pequenas áreas. H2Life Empresa apresentou máquina de purificar água. Produtores de hortaliças, frutas, verduras e flores conheceram um moderno e eficiente equipamento capaz de purificar todo tipo de água necessária à irri-
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gação de suas culturas. A máquina Super H2Life, foi desenvolvida e fabricada pela H2Life Brasil, empresa especializada no fornecimento de sistemas de purificação de água. O equipamento tem capacidade de purificar até 6 mil litros por hora, e seu sistema foi patenteado pela empresa no Brasil. Por ser compacta, automática e de fácil transporte, a Super H2Life pode ser levada e instalada em todo lugar da propriedade agrícola. Pode funcionar plugada a uma rede de energia convencional ou com um pequeno gerador. Tem, dessa forma, autonomia ideal para as condições existentes no campo, onde nem sempre há energia acessível. O sistema trata, filtra e desinfeta todo tipo de água, mesmo aquela que se encontra nas piores condições de contaminação. Assim, água de rios, córregos, lagoas e poços artesianos podem ser purificadas pelo equipamento, atendendo as necessidades, além de produtores de frutas, verduras e legumes, também de criadores de animais, que necessitam de água livre de contaminantes, como determinam as normas dos órgãos de vigilância sanitária. O Super H2Life é um equipamento inédito que usa nanotecnologia para inibir a passagem de
qualquer tipo de impureza física, química ou biológica existente na água. O sistema é automatizado, permite auto-operação, e não usa nenhum reagente químico para fazer a purificação. Lançamentos Massey Ferguson encerrou a 20ª Agrishow com crescimento de 300% na comercialização de pulverizadores autopropelidos e 100% em tratores com mais de 200 cv potência. O pulverizador autopropelido MF9030 foi o grande destaque do estande da empresa. A marca registrou um aumento de 300% na procura pelo produto. As máquinas de maior valor agregado e tecnologias foram os itens mais buscados no estande da Massey Ferguson. O bom momento do agronegócio somado a taxa de 3% do PSI até o mês de junho impulsionaram a comercialização de equipamentos durante a Agrishow. A ampliação dos negócios no segmento de tratores com mais de 200 cv de potência registrou 100% de aumento alinhada com a tendência do mercado pela procura de tecnologia embarcada. O investimento na atualização da frota é uma das apostas da Massey para o mercado de
máquinas agrícolas em 2013. “O produtor está investindo em máquinas novas de última geração, cabinadas, com recursos de agricultura de precisão e de mobilidade. Cada vez mais, sempre que estiver capitalizado, o produtor rural não vai apenas renovar a frota, mas se atualizar em termos tecnológicos. Ele quer colher mais no mesmo espaço”, explicou Carlito Eckert, diretor comercial da Massey Ferguson. Case Colheitadeira de grãos. Entre os destaques e lançamentos deste ano, a Case IH apresentou a nova colheitadeira Axial-Flow 9230 classe 9, Axial-Flow 9230, a maior colheitadeira de fabricação nacional em capacidade produtiva, totalmente desenvolvida no Brasil, modelo este que faz parte da nova linha Axial-Flow série ‘230’.
Colhedora de cana. A Case também lançou a inovadora colhedora de cana A8800 Multi Row que permite espaçamento variável na área de colheita simultânea de duas linhas, razão pela qual conquistou o troféu ouro na categoria Agricultura de Escala do Prêmio Gerdau. A Case exibiu ainda o pulverizador Patriot 250 classe 2, além das novas versões dos tratores Farmall. Kuhn Semeadora Quadra Venta de grãos finos, opera em qualquer tipo de terreno, e pode semear até 100 ha por dia. Tem reservatório de 3.500 litros, o que permite grande autonomia de trabalho, e tem larguras de trabalho de 7,5m 9m e 10m, e, ainda, pneus de alta flutuação, que reduz a compactação do solo. A semeadora é equipada com comunicação Isobus, e comunica-se com qualquer tipo de trator.
Montana Pulverizador Autopropelido Parruda Stronger tem tanque de 3 mil litros, barras de 30m, com angulação negativa, bitola de 3200 mm a 4100 mm e vão livre de 1800 mm, com altura de pulverização mínima de 0,78 m e máxima de 1,65 m. Colhedora de café Coffe Blue TR 2000 é uma das apostas da Montana na mecanização da cafeicultura, conforme informa o presidente da Montana, Gilberto Junqueira Zancopé, também presidente da CSMIA, Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, cargo em que tomou posse durante a Agrishow. Pivot Transplantadeira mecânica de mudas da Pivot, ideal para o plantio de tubetes de cana, mas que pode plantar tomate, repolho, pimentão, beringela e algu-
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Agrishow 2013 O bom momento do agronegócio somado a taxa de 3% do PSI até o mês de junho impulsionaram a comercialização mas verduras de folhas para salada e também tabaco. Cada linha de plantio da transplantadeira possui um distribuidor giratório de mudas, facilitando o trabalho de abastecimento do operador, que trabalha sentado. Tem versões de 1 a até 8 linhas, produzido pela Pivot, de Goiânia, com tecnologia italiana. Valtra A Valtra lançou a enfardadeira para palhada de cana, com a marca Challenger, também utilizada para enfardar feno, fechando o ciclo de mecanização da cana de açúcar nas máquinas da empresa, que dispõe agora de linha completa. John Deere Plantadeira John Deere foi um dos destaques, e na coletiva de imprensa a diretoria da empresa, liderada por Paulo Herrmann, presidente para o Brasil, mostrava a felicidade em pose de grandes sorrisos pelos 32% de crescimento em vendas em 2013. New Holland O Espaço da Agricultura de Precisão foi um dos destaques da New Holland na Agrishow, que teve até a visita de personalidade do meio artístico, Tarcísio Meira, misto de ator e pecuarista, e garoto propaganda da marca no corrente ano.
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Jumil A tradicional empresa de Batatais (SP) colocou inovações em duas plantadeiras de grãos – os modelos Terra JM 8080 e a JM 8090 Exacta, ambas dotadas de computadores de bordo. Em apenas 2 minutos, ambas as máquinas passam do modo transporte para o modo trabalho. Na ILPS, Integração Lavoura Pecuária e Silvicultura, tecnologia em que a Jumil aposta que será um dos caminhos para a modernidade do agro brasileiro, a empresa tem a plantadora Guerra JM 7090 Exacta, que planta, aduba e semeia braquiária em uma só operação, possibilitando recuperar áreas de pastagens degradadas. Mahindra Tratores da Índia para o Brasil, com fábrica instalada no Rio Grande do Sul, a Mahindra, marca que está presente no país desde 2007, com as caminhonetes, entra no mercado agrícola com a linha de tratores de 45 a 92 hp de potência. Na primeira participação na Agrishow, a empresa lançou dois modelos de tratores, o 8000 4WD e 9200 4WD. Terão mais de 60% de componentes nacionais para atender aos requisitos do BNDES e participar de programas como Finame e Mais Alimentos. No segundo semestre, a Mahindra inicia produção em série.
Metalfor O pulverizador autopropelido Multiple 3200 AB foi um dos lançamentos da argentina Metalfor, dotado de GPS, com barras de 32 m de pulverização, e tanque de 3.200 litros. A empresa no Brasil tem fábrica em Ponta Grossa (PR), e prepara o lançamento para o segundo semestre de 2013 da Colheitadeira Axial, com motor Scania, e com sistema de trilha por rotor, e do distribuidor FSA 8000 de adubo a lanço, com capacidade de 4 mil litros, e do FSA 16000 H com capacidade de 8 mil litros. Indústrias Colombo Recolhedora café conillon é a grande novidade das Indústrias Colombo, de Pindorama (SP). Pode ser tracionada por tratores de 75 cv, e reduz drasticamente o uso da mão de obra no campo, além de simplificar e agilizar a colheita. A máquina recolhe os galhos previamente depositados nas entrelinhas, separa os grãos e os deposita limpos no graneleiro, e devolve ao solo como matéria orgânica as folhas e galhos parcialmente triturados. A recolhedora tem uma versão de maior porte. A Herbicat inovou na prestação de serviços e anunciou isso com destaque em sua área de estande, e promete adaptar qualquer pulverizador para atender todas as necessidades de pulverização. Polaris Quadriciclo de uso na fazenda, para operar em qualquer terreno, com deslocamentos mais ágeis, e que pode tracionar diversos equipamentos, como carretas. Stara Plantadeira de culturas de inverno, a Prima Super da Stara garante uniformidade de plantio, pois possui rodado autocompensador, capaz de copiar o desnível do solo sem comprometer a copiagem da linha de plantio.
O Imperador 2650 é uma versão compacta do primeiro pulverizador autopropelido do mundo, segundo a Stara, com barras centrais de 27 ou 30 m com estabilidade nos mais diversos tipos de terrenos. Kepler Empresa lançou a sua nova geração de silos, o silo metálico que amplia a capacidade de armazenamento de grãos, com a significativa redução de custos e maior rapidez na instalação dos silos em relação aos silos convencionais, além de aumento da qualidade na conservação de grãos, ao promover aeração adequada e que evita a condensação no telhado. Agritechnica Alemanha – a nº 1 do mundo Especialistas da Alemanha estiveram em visita à Agrishow, para divulgar a Agritechnica, a nº 1 do mundo como exposição de máquinas e inovações, feira bienal de máquinas e tecnologias agrícolas, que acontecerá em Hanover, Alemanha, de 10 a 16 de novembro de 2013. Na exposição internacional estarão em exibição produtos e serviços para a produção de agricultura profissional. A Agritechnica 2011 recebeu 420 mil visitantes, sendo quase 100 mil estrangeiros de 83 países. A exposição ocupou área de 388.000 m2. junho 2013 - Agro DBO | 49
Marketing da terra
Pagamento por serviços ambientais O crédito de carbono é cassino financeiro, e em nada contribui para preservar o meio ambiente. Richard Jakubaszko
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ai começar no Brasil a era do marketing ambiental, que promete remunerar e recompensar os produtores rurais por serviços ambientais prestados à sociedade. Como é que vai funcionar mais essa fonte de receita dos ambientalistas? É simples, agora o produtor rural será cliente das consultorias especializadas nas questões ambientais. Os ambientalistas prometem assessorar e orientar os produtores rurais nas questões ambientais dentro da porteira, depois colocam tudo no papel, ou melhor, no computador, transformam o produtor rural em um exemplar e honrado prestador de serviços ambientais, quer dizer, num “produtor de água” ou “síndico de área verde preservada”. Inicialmente vão orientar os produtores a adquirir áreas de Reserva Ambiental dentro da sua micro-região, ou dentro do mesmo bioma. Por esse planejamento e estudo, o produtor rural terá de pagar pelos serviços dos ambientalistas, é claro. Depois disso, esses gestores ambientais se comprometem a sair mundo afora para vender a quem queira comprar – e pagar – por esses serviços ambientais. Dessa empreitada conquistada os consultores cobrarão do produtor uma adicional e módica taxa de administração, provavelmente uma “taxa de sucesso”. Não existirão clientes e compradores para esses “serviços produzidos pelos produtores rurais”.
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No mundo inteiro, isso não existe, só no Brasil, diante dessa legislação exótica ainda carente de regulamentação a que se deu o nome de Código Florestal. É pura lenda! Sabemos que o mercado financeiro internacional criou o Crédito de Carbono, baseado no Protocolo de Kyoto, que “ia muito bem”, administrado pela ONU. Empresas do mundo capitalista no Hemisfério Norte compravam créditos de empresas do terceiro mundo, pagavam uma espécie de “penitência” para poderem continuar poluindo por lá, enquanto aqui a gente iria fazer muita ginástica para reduzir as “emissões de carbono”, consideradas como GEE, ou Gases de Efeito Estufa, causadores do tal Aquecimento e das Mudanças Climáticas. Entretanto, primeiro surgiram contestações de que o aquecimento não tinha como causa as ações antropogênicas, ou seja, as ações do homem. Depois, surgiram, já a partir de 2010, as mais contundentes críticas de que o tal do aquecimento é uma enorme falácia, e de que não houve aquecimento no planeta nos últimos 15 anos, conforme denunciou no início deste ano a prestigiosa revista Der Spiegel, da Alemanha, e que a Agro DBO divulgou na edição 43, de abril 2013. Com isso, e com outras contestações científicas de peso que pipocaram mundo afora, o tal do mercado de Crédito de Carbono desabou e ameaça desaparecer, pois chegou a girar mais de
US$ 64 bilhões de dólares por ano e agora anda na casa dos US$ 10 bilhões, com tendência a cair mais ainda, até porque, países como os EUA jamais aderiram ao Protocolo de Kyoto, e a t de crédito de carbono, que chegou a valer US$ 20 mal se sustenta hoje na casa dos US$ 3 – dando razões aos que argumentam que esse mercado financeiro é meramente especulativo, um cassino, e em nada contribui para preservar o meio ambiente. O Código Florestal, como se sabe, impôs um confisco de terras aos agricultores, com as RA (Reserva Ambiental) e APPs (Áreas da Preservação Permanente), definições que terão de ser reavaliadas dentro de no máximo 5 anos, conforme afirmou o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli em entrevista exclusiva para a Agro DBO (dezembro 2012, nº 40), pois o consumo de alimentos continua em franco crescimento, obrigando o uso de novas áreas de plantio. O Código Florestal terá de ser rediscutido e reavaliado, sob pena de faltar terras novas para se produzir alimentos. Querem, portanto, os ambientalistas consultores, garantir desde já uma nova fonte de renda para si, anunciando consultoria aos agricultores que pretendam estar enquadrados na lei ambiental vigente, mesmo sabendo que ela terá de ser atualizada dentro de pouco tempo. Este é o marketing deles. Resta saber qual será o marketing dos produtores rurais.
Política Café: sustentabilidade com uma perna quebrada.
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istoricamente, a cafeicultura é praticada ao sabor de cerca de 50 fatores de produção e a céu aberto, ou seja, sem cobertura, sem proteção contra intempéries. Altos e baixos nos preços ao sabor da famosa lei da oferta e da procura. Não bastassem os rigores subliminares dessa lei, outro fator está interferindo para segurar os preços num patamar dos mais baixos, a previsão de safra por estatísticos do outro mundo. Em O Estado de São Paulo, de 21 de maio último, nos informam que a Conab estima a atual safra em 48,59 milhões de sacas, enquanto o banco Macquarie projeta 53 milhões de sacas, “apenas” 9% a mais. Jornalistas brasileiros não deveriam divulgar tais notícias. Quem é essa fonte, baseada em que levan-
tamento nos dá esse número? Se válidos tais números, não seria de todo oportuno e interessante simplesmente eliminar a Conab, empresa brasileira incapaz de estimar a produção nacional de café? A cafeicultura na atualidade é mais intensamente praticada em Minas Gerais, que responde por 52% da produção nacional. Cada 50 sacas beneficiadas corresponde a 1 emprego direto e 3 indiretos.
Cada 1 ha de área trabalhada recebe 114 serviços durante o ano. Cada 2,2 ha é 1 emprego direto. Fazendo as contas, a cafeicultura mineira gera anualmente 1 milhão de empregos diretos e 3 milhões de empregos indiretos. Dada a importância do café, onde estão os deputados de MG, cadê a liderança mineira, os dirigentes de Cooperativas, os Sindicatos Rurais, os cafeicultores? Silêncio fúnebre, com vozes que ninguém ouve. Os cafeicultores trabalham dentro do limite mínimo, mas os compradores ainda não estão satisfeitos, querem baixar mais ainda os preços. Os produtores que se danem. Um dia a casa cai. Hélio Casale
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Royalties: dois passos adiante. 1º passo: o Superior Tribunal de Justiça reafirmou a decisão inicial, de fevereiro, de que o pedido de ampliação da patente da soja RR da Monsanto é indevido. O STJ deu por encerrado, dia 16/05/13, o pleito da Monsanto de ampliar a vigência da patente da soja RR1. Por unanimidade, os quatro ministros da Terceira Turma referendaram a decisão inicial, que reconheceu o vencimento da patente, após vigência de 20 anos, em registro de 31/8/1990. O agravo interposto pela Monsanto contra a primeira decisão pretendia invalidar a legislação brasileira sobre patentes, segundo a Aprosoja. Para o presidente da Famato, Rui Prado, a decisão do STJ reforça o que o setor produtivo vem batalhando desde o ano passado sobre o vencimento da patente. “Esta decisão do STJ é um importante reco52 | Agro DBO – junho 2013
nhecimento. Defendemos a cobrança justa e o que estiver amparado na legislação brasileira”, disse Prado. Para o vice-presidente da Aprosoja, Ricardo Tomczyk, “o posicionamento firme do STJ mostra que estamos no caminho certo de nossos direitos”. Entenda o caso – A Famato, em parceria com a Aprosoja, protocolou em setembro de 2012 uma Ação Coletiva na Vara Especializada em Ação Civil Pública de Cuiabá, solicitando suspensão do pagamento a título de royalties e de indenização pelo uso da tecnologia Roundup Ready (RR1), bem como a devolução, em dobro, dos valores cobrados indevidamente. O pleito tem base em estudo técnico/jurídico que sinaliza que o direito de propriedade intelectual relativo à tecnologia RR1, de titularidade da empresa Monsanto, ven-
ceu em 01/09/2010, tornando-a de domínio público. Assim, a cobrança de valores pelo uso da tecnologia a título de royalties seria indevida. 2º passo: a Monsanto informou que irá recorrer da decisão do STJ de 16/05/2013. E revela que está confiante no seu direito até 2014. Em casos semelhantes, a Justiça brasileira já corrigiu os prazos de validade de outras patentes. De outro lado, o Supremo Tribunal Federal irá analisar o caso, pois há um recurso extraordinário da Monsanto admitido. Portanto, este julgamento não é ainda a decisão final da Justiça. A decisão do STJ não altera o status da soja RR1, pois ainda não há decisão final da Justiça, e a Monsanto mantém adiado o recolhimento da remuneração pelo uso da tecnologia.
Tecnologia
Fertilizantes inteligentes As novas tecnologias permitem o consumo dos nutrientes pelas plantas de forma gradativa, lenta e controlada. Franco Borsari *
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azer com que a quantidade de nutrientes disponíveis no solo por intermédio dos fertilizantes seja absorvida pelas plantas dentro de um determinado período de tempo, diminuir suas perdas por lixiviação, volatilização e adsorção, tem sido uma preocupação há décadas de técnicos e pesquisadores da cadeia de fertilizantes. Pesquisas científicas mostram baixos percentuais de absorção pelas plantas de nutrientes nos fertilizantes minerais: A taxa de utilização de N (nitrogênio) é de 50 a 60% no primeiro ano. A taxa de utilização de P (fósforo) é de 10 a 25% no primeiro ano e de 1% a 2% por ano serão retomadas nos anos seguintes. A taxa de utilização de K (potássio) é de cerca de 50-60% no primeiro ano. Tecnologias promissoras na efetividade nutricional vegetal estão sendo produzidas dentro do conceito dos “fertilizantes inteligentes”, permitindo uma liberação lenta e ou controlada. O termo fertilizante de liberação controlada (FLC) é aplicado quando os fatores que dominam a taxa, o padrão e a duração da liberação são bem conhecidos no tempo. O termo fertilizante de liberação lenta (FLL) é aplicado onde o padrão de liberação é dependente do solo e das condições climáticas, não podendo ser previsto no tempo.
Grânulo de nutriente mineral solúvel
Camada de produto insolúvel
Camada de polímero
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Fonte: imagem cedida pela empresa Kimberlit.
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Desenvolvimento e fabricação Para fabricação de um fertilizante inteligente, um dos princi54 | Agro DBO – junho 2013
pais métodos é recobrir (encapsulamento) um fertilizante solúvel em água com um material insolúvel em água, semipermeável ou impermeável com microporos. Isto controla a entrada e saída da água e, portanto, a taxa de dissolução dos nutrientes contidos dentro da cápsula, sincronizando a liberação de nutrientes de acordo com as necessidades das plantas. Quanto aos produtos mais importantes fabricados atualmente, podemos citar: Os materiais que liberam nutrientes através da decomposição microbiana de compostos de baixa solubilidade com uma estrutura química complexa, tais como produtos de condensação de ureia-aldeído (por exemplo, ureia-formaldeído), ou compostos químicos (capazes de se decomporem, isobutiledene-diureia).
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Materiais de liberação de nutrientes através de uma barreira física, por exemplo, fertilizantes revestidos com materiais inorgânicos, tais como enxofre, ou minerais, ou polímeros orgânicos. Materiais liberando nutrientes incorporados numa matriz, a qual também pode ser revestida, incluindo matrizes à base de gel ou base de matéria orgânica. Materiais liberando nutrientes na forma tardia devido a uma relação pequena superfície/volume. Com processos mais complexos de fabricação, e a necessidade de materiais de revestimento de alta tecnologia, os fertilizantes inteligentes têm um preço significativamente mais elevado em comparação aos fertilizantes convencionais. Entretanto, o fator preponderante na tomada de decisão é o custo final considerando a oti-
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mização da aplicação e a redução dos custos de armazenagem, transporte e aplicação. Os custos de produção mais elevados são geralmente decorrentes de fatores como processos complexos de industrialização, perda de produtos na padronização do tamanho dos grânulos, agregação do custo do material de revestimento, baixa escala de produção e exigência de serviços e experimentação agrícola na venda do produto. Característica e tipos Além da competição por nutrientes entre as raízes das plantas e microorganismos, existem interações no solo que são mais complexas (reações físicas sobre e dentro de partículas do solo) e condições favoráveis para perdas de nutrientes minerais. A maioria das transformações que os nutrientes sofrem na solução do solo é dependente da concentração destes. Qualquer excesso de nutrientes no solo, não absorvido pelas plantas, pode sofrer três tipos de processos, diminuindo a sua disponibilidade: Microbiano: nitrificação, desnitrificação, imobilização. Químico: troca, fixação, precipitação, hidrólise. Físico: lixiviação, escorrimento, volatilização.
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Práticas de gestão da aplicação de fertilizantes devem ser adequadas para aumentar a eficiência e minimizar os efeitos negativos dos excessos de nutrientes. Vale lembrar que o sistema radicular em geral explora apenas 20% a 25% do volume de solo disponível. Consequentemente, a quantidade de nutrientes disponíveis no solo não depende da fase de crescimento e da necessidade da planta, mas também da velocidade de liberação destes para a raiz através do fluxo de massa e da difusão. A aplicação de fertilizantes nitrogenados convencionais, es-
Figura 1. O “Fertilizante Ideal”: a liberação de nutrientes é sincronizada com as exigências nutricionais da cultura.
Fonte: Trenkel 2010, adaptado de Lammel, 2005.
pecialmente quando aplicado em apenas uma vez, resulta em grande concentração deste elemento nos primeiros estágios de crescimento e pouca quantidade em fases posteriores. Conforme a figura 1, o fertilizante ideal deve liberar nutrientes num padrão sigmoidal para a nutrição da planta, reduzindo perdas de nutrientes por outros processos. Uma das formas de se obter melhor eficácia é através da aplicação de fertilizantes em várias etapas durante o crescimento vegetativo, figura 2. Não há dúvida de que em sistemas de produção intensiva, a
aplicação de fertilizantes parcelada em várias vezes pode levar ao aumento da eficiência na absorção de nutrientes, como no caso do nitrogênio. Entretanto o parcelamento das aplicações traz algumas desvantagens, tais como: Maior gestão dos trabalhadores; Aumento no custo de energia e manutenção a cada aplicação; Reduz a flexibilidade do trabalho na fazenda; Dependência das condições meteorológicas e de campo; A trafegabilidade no campo pode ser restringida, ou impraticável;
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Figura 2. Maior eficiência da fertilização: aplicação de fertilizantes em várias etapas.
Fonte: Trenkel 2010, adaptado de Lammel, 2005.
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Tecnologia Pesquisas mostraram que a utilização de fertilizantes de libertação controlada reduz as perdas de nutrientes nas plantas • Compatibilidade do solo; • Risco ao perder um tempo
oportuno para a aplicação de fertilizantes. Deve-se destacar que o custo das aplicações de nitrogênio, incluindo análises de solo e plantas, para cálculo preciso das taxas de aplicação, pode ser comparado ao uso da tecnologia dos fertilizantes inteligentes. No Brasil, observa-se um crescimento do número de produtores que experimentam e adotam a aplicação de fertilizantes de liberação controlada ou lenta. No Japão, o desenvolvimento de fertilizantes de liberação controlada levou à inovação de técnicas para várias culturas, e incluiu novos conceitos de aplicação de fertilizantes. Na China, estes fertilizantes já representam um consumo de 1,5 milhões de t/ano. Vantagens de uso A utilização de fertilizantes de liberação controlada reduz as perdas de nutrientes e aumenta a eficiência destes pela planta. Uma diminuição mínima de 20% a 30% (ou mais) da taxa de aplicação recomendada de um fertilizante
Grânulos de ureia recobertos com enxofre
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convencional é possível quando se utiliza fertilizantes de liberação controlada, mantendo o mesmo rendimento. Em 1999, o ministério japonês da Agricultura, Florestas e Pesca, recomendou a substituição de fertilizantes convencionais por quantidades menores de fertilizantes de liberação controlada. A aplicação de fertilizantes de liberação controlada pode reduzir o estresse salino, especialmente em mudas, que são afetadas pelas aplicações de fertilizantes solúveis altamente concentrados, proporcionando danos específicos em diferentes estágios do crescimento. A aplicação de fertilizantes revestidos, particularmente envoltos por enxofre, pode aumentar a acidez localizada do solo. No entanto, a acidificação pode favorecer a absorção de fósforo e ferro. A possível redução da toxicidade e do teor salino em substratos permite que quantidades substancialmente maiores de fertilizantes com esta tecnologia possam ser utilizadas, reduzindo a frequência de aplicação. Isso resulta em uma maior comodidade no uso de fertilizantes e uma economia significativa no trabalho, tempo e energia.
Fertilizantes de liberação controlada melhoram a absorção de nutrientes pelas plantas através da sincronização de liberação (de preferência sigmoidal) de elementos essenciais e reduzem significativamente as eventuais perdas, particularmente do nitrato por lixiviação e perdas por volatilização de amônia. Isso reduz substancialmente o risco de poluição ambiental. Riscos no uso Como ainda não existem métodos padronizados para determinar o padrão de liberação de nutrientes, há uma falta de correlação entre os dados de testes de laboratório – que são disponibilizados para o consumidor, e o funcionamento real do padrão de liberação dos nutrientes em condições de campo. Outro ponto preocupante está na proporção de grânulos danificados utilizados como se tivessem os mesmos princípios dos fertilizantes de liberação controlada com bom funcionamento. Produtos de reações químicas, como fertilizantes com ureia formaldeído, proporções de nitrogênio podem ser liberadas em formas disponíveis para plantas muito lentamente se forem densamente revestidos. Fertilizantes com revestimentos de enxofre, com um padrão parabólico de liberação, podem inicialmente liberar nutrientes rapidamente, causando danos à cultura. A fertilização precoce com fertilizantes nitrogenados encapsulados aplicados numa única vez, se aplicado em excesso, não pode ser corrigida posteriormente. Na agricultura intensiva a aplicação de fertilizante nitrogenado mineral segue o monitoramento contínuo das condições de crescimento das plantas, adaptando as correções de nitrogênio conforme o desenvolvimento das culturas.
Redução de dose x custo Os preços relativamente mais altos dos fertilizantes de liberação lenta e controlada, quando comparados aos fertilizantes minerais convencionais, explicam o uso limitado em muitas culturas agrícolas. Inicialmente, esses produtos eram específicos e direcionados a nichos, em segmentos de mercado altamente especializados. Desde o final da década de 1990, estes produtos têm sido usados em culturas agrícolas extensivas, como milho, arroz, trigo, batata, frutíferas (maçã, frutas cítricas), hortaliças e forrageiras. Essa mudança foi possível graças ao aumento da escala de produção e excelente promoção e trabalho técnico das empresas produtoras. Destaca-se que apenas na última década foram consolidados experimentos de campo com fertilizantes de liberação lenta e controlada no Brasil, Estados Unidos, Canadá, China e Japão. Não há dúvida de que é rentável aplicar fertilizantes encapsulados em culturas de alto valor. O mesmo se aplica a culturas permanentes, especialmente quando cultivadas em solos susceptíveis à lixiviação, onde aplicações de fertilizantes nitrogenados podem chegar a 7 vezes por temporada. Na Flórida, ou na citricultura e cafeicultura brasileira cultivadas em solos arenosos, por exemplo, o uso de fertilizantes de liberação controlada reduz signi-
ficativamente o custo com mão de obra, logística e energia. Em milho e trigo, foi comprovado que a utilização de fertilizantes de liberação controlada melhora o rendimento com apenas metade da quantidade de N comparada com adubos convencionais. Em citros, na cultivar Valência, a utilização de fertilizantes de liberação controlada mostra que a frequência de aplicação pode ser reduzida de 6 para 2 vezes, com nenhum efeito adverso sobre o crescimento das plantas. Isto sugere que a combinação de fertilizantes solúveis, e de liberação controlada, dentro de um programa de nutrição da planta cítrica é uma estratégia eficaz e econômica. Para várias culturas no Japão há redução percentual na taxa de N recomendada quando fertilizantes de liberação controlada substituem os fertilizantes convencionais, sendo que a maior eficiência na utilização de N pela planta irá minimizar possíveis perdas por lixiviação de nitrato. Embora a disponibilidade de nutrientes dos fertilizantes de liberação controlada seja mais estável, e a longevidade da liberação seja muito menor em temperaturas do solo de até 30°C, as oportunidades de aplicação destes fertilizantes são maiores em países tropicais do que em regiões temperadas. Isso se aplica especialmente em locais com
solos de textura leve com chuva ou irrigação em excesso. Sob estas condições, as perdas de nitrogênio de fertilizantes convencionais, principalmente ureia, podem ser grandes. Desafios e perspectivas: Necessidade de desenvolver metodologias para determinar a taxa de liberação de nutrientes para diferentes condições (solo e clima); A necessidade de um maior número de pesquisas desta tecnologia para as condições tropicais e em cultivos extensivos. Observa-se que os trabalhos científicos publicados foram feitos quase exclusivamente no hemisfério Norte; Regulamentação desta tecnologia e protocolos definidos para registros, visando estabelecer critérios de fiscalização destes fertilizantes.
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Não esquecer o “Boas práticas do uso eficiente de fertilizante”. Embora a utilização de fertilizantes de liberação controlada possa contribuir para a melhoria da eficiência de absorção de nutrientes, e minimizar os efeitos negativos no ambiente, deve ser lembrado que os erros na administração da produção agrícola não podem ser compensados pela utilização destes fertilizantes inteligentes. * O autor é engenheiro agrônomo e diretor da BBAgro Consultoria
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Análise de mercado
Lucro menor no trigo A tendência para a próxima temporada é de cotações médias inferiores às do ciclo 2012/13, mas superiores ao preço mínimo de garantia.
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ano comercial 2012/13 (agosto/12 a julho/13) foi um dos melhores da última década em termos de preços, induzindo os produtores rurais a aumentar área de cultivo de trigo. Comparado ao mesmo período do ciclo anterior, os preços praticados no Brasil eram 45% superiores, e na Argentina, 33%, comparativamente aos do ciclo anterior. A tendência para 2013, na opinião do analista Elcio A. Bento, da CMA/Safras & Mercado, é de os preços continuarem elevados, mas não na mesma proporção que estavam. “Este será um ano em que a produção mundial deve recuperar (a menos que ocorram
eventuais quebras de safras) os estoques globais. No Mercosul, espera-se maior oferta argentina. Estes dois fatores, se confirmados, não deixam espaço para preço nos mesmos patamares verificados no ciclo anterior”, diz Bento. Em sua opinião, uma projeção para o comportamento do mercado doméstico na próxima temporada tem que partir do cenário macro. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, da sigla em inglês), o mundo produzirá 701.099 milhões de toneladas no próximo ciclo comercial, superando em 45,462 milhões o volume produzido no anterior. Esta elevação é suficiente para cobrir o rombo de 19,3
milhões de toneladas dos estoques de passagem e elevar a oferta global em 24,6 milhões de toneladas. “Para a demanda global, o USDA projeta elevação de 18,4 milhões de toneladas. Com isso, os estoques finais se elevariam em 6,2 milhões de toneladas. Estes números fazem parte da primeira projeção do USDA e podem sofrer alterações. Tomando como base este números, o espaço para recuo dos preços internacionais é limitado. Mesmo porque, a relação estoque/consumo permanece estável, indo de 26,5% na temporada 2012/13 para 26,9% na 2013/14”, afirma o analista. No âmbito do Mercosul, de acordo com projeções de Safras & Mercado, a
SOJA – A Bolsa de Cereais de Chicago registrou picos de alta no preço do grão em maio, relativos aos contratos de julho. Tais incrementos foram provocados em parte por problemas na safra americana. Segundo relatório de plantio do USDA, apenas 6% da área prevista havia sido semeada nos Estados Unidos até meados de maio, ante 43% no mesmo período de 2012, o que ajudou a sustentar os preços. Analistas vêm apostando em preços mais elevados no segudo semestre.
* Em 17/5, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 62,12 pela saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
ALGODÃO – Dados da Conab indicam recuo
de 32,7% na produção brasileira este ano, em relação à safra passada, e área 36,4% menor. Em termos globais, a perspectiva também é de queda na produção, contribuindo para um cenário de bons preços a longo prazo. No curto prazo, porém, a tendência é baixista: em maio, as cotações foram pressionadas pela proximidade da colheita nas principais regiões produtoras do país, com largada prevista para o início deste mês de junho.
* Em 17/5, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 198,15 de centavos de real por libra-peso.
ARROZ –
As cotações foram sustentadas no início de maio pela boa demanda interna. Em 17/5, o Indicador Cepea/Esal fechou em R$ 33,78 pela saca de 50 kg, mas depois recuou, dada a procura menor. Embora os estoques continuem apertados, ajudando a sustentar os preços, a perspectiva para o segundo semestre é de ligeira queda, devido à redução das exportações brasileiras e maior oferta. Segundo estimativas, a safra este ano será maior do que do ano passado.
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* Em 17/5, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 33,78, à vista, pela saca de 50 kg, tipo 1, posto Rio Grande do Sul.
Análise de mercado Argentina, o Paraguai e o Uruguai devem elevar a produção na temporada 2013/14 para 15,2 milhões de toneladas. Com isso, cobrem a redução dos estoques iniciais (1,125 milhão de toneladas) e elevam a oferta total em 2,155 milhões de toneladas. As exportações subiriam para 8,650 milhões de toneladas. Ainda é um volume pequeno, quando comparado aos 13,780 milhões exportados no ciclo 2011/12. Mesmo assim, é uma situação menos apertada que a da temporada 2012/13, quando o saldo exportável nos três países era de 6,5 milhões de toneladas e a necessidade brasileira, de 7,5 milhões de toneladas. A produção brasileira foi estimada em 5,053 milhões de toneladas, 756 mil acima do ano anterior. A recuperação leva em consideração uma safra cheia no país, sem eventuais quebras por intempéries climáticas. Com isso, mesmo reduzindo as importações em um milhão de toneladas, o país atenderia sua demanda e fecharia a tem-
porada 2013/14 com 1,228 milhão de toneladas, contra 975 mil toneladas da anterior. “Tomando como base os números de abastecimento global e local, é possível vislumbrar um quadro de abastecimento mais folgado e, consequentemente, preços mais baixos. Mas, diante das incertezas que ainda cercam a produção para a próxima temporada, não é possível tomar posições mais longas. Além disso, a análise proposta nesta publicação leva em consideração apenas a situação do trigo, sem considerar as movimentações de preços do milho (substituto do trigo na ração animal), da soja, do petróleo, entre outras variáveis que afetam a formação de preços internacionais. O que se pode afirmar é que diante dos números apresentados, as cotações no Brasil na temporada vindoura devem ficar abaixo das apresentadas na temporada 2012/13 e, em média, acima do preço mínimo de garantia de R$ 531,00 por tonelada para o trigo pão”, conclui Bento.
* Em 17/5, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 298,56 pela saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.
CAFÉ – O recuo nos preços externos do arábica, até então estáveis, derrubou as cotações no mercado físico brasileiro em meados de maio, diminuindo ainda mais o diferencial comparativo com o conilon. Com o andamento dos trabalhos de colheita, iniciados na primeira semana do mês passado, as torrefadores nacionais compraram apenas o suficiente para cumprir contratos, na expectativa de queda mais acentuada nas cotações. No curto prazo, a tendência é baixista.
TRIGO – Os estoques internos praticamente zerados ajudaram a sus-
tentar as cotações em maio. Com a escassez do produto, a procura pelo trigo em leilões do governo aumentou e mais da metade do ofertado foi arrematado. Segundo analistas, a quebra mundial no ano passado, a demanda global crescente e a baixa disponibilidade de trigo no mercado interno tem resultado em valores acima dos observados no ano passado. A tendência para o segundo semestre é de preços elevados, embora não tanto quanto os de 2012.
* Em 17/5, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 720,09 ela tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná
MILHO – Apesar
Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br
* Em 17/5, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 26,33 pela saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.
de safras cheias em vários países e indícios de produção global recorde, os preços seguiram firmes em maio no mercado interno, graças à demanda crescente e aos estoques mundiais baixos. Em algumas regiões do país, foram registrados picos de alta. Analistas afirmam que o aumento previsto nos estoques não será suficiente para impactar demais os preços. As estimativas de safra recorde na temporada de inverno sinalizam, porém, um recuo no médio prazo.
AÇÚCAR – O incremento nos níveis de mo-
* Em 17/5, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 44,13 pela saca de 50 kg, com ICMS (7%) .
agem da cana-de-açúcar derrubou os preços do cristal no mercado paulista em maio. No curto prazo, a tendência é baixista, pressionada pelos estoques mundiais elevados. Segundo a OIA, o ano safra 2013/14 será caracterizado por um excedente global de pelo menos 3,5 milhões de toneladas. Se a projeção se confirmar, será o terceiro ciclo consecutivo em que a oferta supera a demanda. Os preços devem reagir apenas a longo prazo.
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Novidades no campo Rendimento maior O IAC - Instituto Agronômico de Campinas aproveitou a Agrishow, realizada de 29/4 a 2/5 em Ribeirão Preto (SP), para lançar uma variedade de algodão 30% mais produtiva que as encontradas no mercado, de fibras brancas e comprimento médio, características muito apreciadas pela indústria têxtil. “Ela superou a testemunha (o material usado no estudo comparativo) quanto ao rendimento de pluma e mostrou-se equivalente quanto à qualidade tecnológica da fibra”, disse Milton Geraldo Fuzatto, pesquisador voluntário do instituto. A IAC 26 RMD possui resistência às principais doenças da cultura no Brasil, como os nematoides Meloidogynee Rotylenchulus, os fungos dos gêneros Fusarium, Ramularia e Alternaria, a bactéria ManchaAngular e o vírus Mosaico das Nervuras, característica capaz, segundo Fuzatto, de ajudar na redução do custo da produção, do uso de defensivos agrícolas e viabilizar a cultura em áreas infestadas por nematoides. De porte médio, com período de colheita de 150 a 180 dias, conforme as condições da cultura, o novo material teve produtividade máxima de 6.010 quilos/ha de algodão nos ensaios realizados – a variedade Nuopal, que serviu de comparação, produziu 5.130 quilos/ha.
Amendoins resistentes
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Além do algodão IAC 26 RMD, o Instituto Agronômico de Campinas aproveitou a oportunidade da Agrishow para apresentar o IAC OL3, amendoim de coloração rósea e alto teor de ácido oleico (de 70% a 80%, contra 40% a 50% nos materiais tradicionais), característica capaz de dobrar o tempo de prateleira do produto. “Os amendoins comuns se conservam geralmente por cerca de seis meses sem rancificar e perder o sabor. A nova variedade consegue se manter por 12 meses sem perda de qualidade”, afirma Ignácio José de Godoy, pesquisador da instituição. Outra vantagem é o ciclo curto: entre 125 e 130 dias. Cerca de 80% das lavouras de amendoim em São Paulo, maior produtor do país, são plantadas nos intervalos de renovação da cana-de-açúcar. “Esses intervalos devem ser de, no máximo, 130 dias, para não atrapalhar o próximo plantio da cana. Nas variedades IAC 503 e IAC 505 – também alto oleicas – o ciclo excede esse período”, explica Godoy. O IAC OL3 tem produtividade média de 4.500 kg/ha, com potencial produtivo para 7 mil kg/ha, do produto em casca. O porte rasteiro permite colheita mecânica com perfeito enleiramento das plantas na linha, prescindindo mão de obra para a operação.
Tomate tigrado
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A Isla apresenta o tomate híbrido Tigre, cultivar do tamanho coquetel, de sabor extra doce, com polpa de coloração vermelho intenso, chegando ao marrom. O nome, obviamente, é uma referência ao aspecto “tigrado” da casca de seus frutos – lembra a listas no dorso do animal. Entre os destaques da cultivar, a empresa destaca a ótima qualidade da planta e a uniformidade dos frutos, possibilitando sua comercialização “em penca”. A Isla comercializa as sementes do tomate híbrido Tigre em envelopes de 50, 100, 500 e 1.000 sementes. A aquisição pode ser feita através da loja virtual (www.isla.com.br), do televendas 0800 709 5050, dos representantes e distribuidores Isla ou em casas agropecuárias e supermercados de todo o país.
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Saúde e nutrição de plantas
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A FMC está lançando, em parceria com a norte-americana Cytozyme, uma linha de fertilizantes especiais para aplicação foliar, via solo e tratamento de sementes, denominada Fertis FMC. Os novos produtos apresentam, segundo a empresa, maior enraizamento da planta, melhorias na fixação de estruturas reprodutivas, no crescimento de frutos, bulbos e tubérculos, além de plantas mais saudáveis e resistentes a estresses. “Teremos soluções que atuarão no ambiente químico e biológico do solo, criando um ambiente favorável para uma melhor assimilação de nutrientes”, salienta o diretor de Novos Negócios Corporativos da FMC, Paulo César de Oliveira. Com o lançamento, a FMC garante participação expressiva num mercado de aproximadamente U$ 1 bilhão atualmente, ainda com grandes perspectivas de crescimento. Estima-se que o potencial para este mercado seja próximo a U$ 4 bilhões.
Novidades no campo Para a safra 2013/14
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A Biomatrix lançou dois novos híbridos de milho de alta produtividade para a safra 2013/14: o BM 780 PRO, de grãos avermelhados, resistente ao ataque de lagartas; e o BM 650 PRO 2, com tecnologia VT Pro 2, de grãos semiduros, alaranjados, de ótimo empalhamento, ciclo precoce e dupla aptidão (grãos e silagem), que marca a entrada da empresa no mercado de glifosato para controle de plantas daninhas no milharal. “São produtos de alta tecnologia, grande estabilidade e performance no campo, parte de um portfolio capaz de atender os mais diversos segmentos”, diz o coordenador de marketing da Biomatrix, Anderson Rodrigues. “Nosso objetivo é disponibilizar a melhor seleção de híbridos em genética e adaptação por ambiente, de acordo com as necessidades de cada produtor”.
Cultivo em campo aberto
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Lançado recentemente no mercado brasileiro, o pimentão Arcade, componente da linha de sementes Topseed Premium, da Agristar, é resistente às principais doenças da cultura, como PVY, PepYMV e TMV. “De formato cônico, pele lisa, boa coloração, conta com bom peso até o ponteiro, fator de extrema importância para quem comercializa o produto por quilo”, comenta Marcelo Becker de Almeida, especialista em solanáceas da Agristar. Segundo a empresa, o Arcade é ideal para cultivo em campo aberto, especialmente em solos profundos, com pH entre 5,5 e 6,8, bem arejados e com boa drenagem, com espaçamento de 1 metro entre linhas e de 50 a 60 centímetros entre plantas. A adubação deve ser feita mediante a análise química do solo utilizando adubos ricos em nitrogênio, fósforo e potássio. Para o bom desenvolvimento da cultura, o cultivo de pimentões em geral exige temperaturas entre 21 °Ce 27 °C e alta luminosidade. As temperaturas extremas (acima de 35 °C ou abaixo de 10 °C) comprometem a floração e frutificação, afetando a qualidade dos frutos.
Crescimento saudável
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A Ihara apresenta o Viviful, um regulador de crescimento para a cultura da maçã, capaz, segundo a empresa, de reduzir o custo de podas e promover melhorias no controle fitossanitário, na frutificação e na qualidade das gemas e dos frutos (calibre e a coloração, principalmente). O gerente de produtos da Ihara, Lucio Rezende, destaca a importância do Viviful no manejo. “Foram nove anos, do inicio do desenvolvimento até o lançamento, muitos trabalhos de pesquisa para que pudéssemos levar um produto com posicionamento seguro para os agricultores”. O Viviful inibe a biossíntese de giberelina, que reduz o crescimento longitudinal dos brotos, proporcionando melhor equilíbrio no vigor das plantas.
Painel de apoio ao produtor
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Lançamento recente do Sebrae-SP, o kit “Produza Fácil Agricultura” é uma ferramenta elaborada em parceria com a Faesp/Senar-AR/SP, específica para fruticultura e olericultura. Trata-se, em resumo, de um painel de apoio ao produtor rural, com dicas e orientação para o agricultor fazer seu planejamento de produção de forma simples e rápida. O kit contém uma brochura explicativa, um painel de marcação, planilhas e papéis adesivos. “Por enquanto, o Produza Fácil Agricultura” está disponível para horticultura e fruticultura, mas deverá ser ampliado para outras culturas”, explica a consultora de agronegócios do escritório regional do Sebrae em Ribeirão Preto (SP), Flaviane Araújo. Distribuídos inicialmente na Agrishow, os kits estão disponíveis nos escritórios regionais do Sebrae no estado de São Paulo.
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Biblioteca da Terra Manejo integrado na soja
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Como parte das comemorações de seu 40º aniversário, ocorrido em abril, a Embrapa lançou o livro “Soja: Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-Praga”, um compêndio de 860 páginas organizado pelos pesquisadores Clara Beatriz Hoffmann-Campo, Beatriz Splading Correa-Ferreira e Flávio Moscardi. A obra aborda em 12 capítulos temas como a bioecologia das principais pragas e seus inimigos naturais, como fazer o monitoramento, sistemas de produção, soja resistente a insetos mastigadores (tecnologia Bt), resistência das pragas aos inseticidas, pragas exóticas potenciais e possibilidades do uso da biotecnologia no MIP – Manejo Integrado de Pragas. O livro custa R$ 80,00, mas pode ser adquirido com desconto através do link direto para o site de vendas da Embrapa: www.vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/consultaProduto.do? metodo=detalhar&codigoProduto=00052680
Mel rastreado
Ambientalismo municipal
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De acordo com relatório das Nações Unidas, mais de 75% das culturas importantes do mundo e 80% de todas as espécies de plantas com flores dependem de animais polinizadores. E, das centenas de culturas das quais o homem depende para se alimentar, 15% são polinizadas por abelhas domésticas, 80% por abelhas selvagens e o restante por outros insetos. A polinização, essencial para a manutenção da biodiversidade no planeta, é um dos itens do livro “Mel rastreado: transformando o setor apícola”, de autoria de Thomas Eckschmidt, Silvia S. Morita e Giampaolo Buso. O objetivo básico da publicação é mostrar aos participantes da cadeia produtiva de mel – apicultor, casa do mel, entreposto, distribuidor, varejo e consumidor – como o rastreamento pode contribuir para a melhoria da produção e da qualidade final do produto. O rastreamento, além de servir de apoio ao marketing e à comunicação com o consumidor, também é ferramenta de gestão. O livro custa R$ 38,00, mas a Editora Varela se dispõe a dar um desconto de 20% aos que ligarem informando terem lido a respeito na revista Agro DBO. O contato deve ser feito através do site www.varela. lojavirtualfc.com.br.
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Resultado de convênio firmado entre a Sema – Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul e a Ademe – Agência Francesa do Meio Ambiente e da Gestão da Energia, o Guia de Boas Práticas Ambientais está disponível para consultas desde o dia 15 de abril. Destinado principalmente a gestores municipais, o guia tem por objetivo sensibilizá-los sobre as mudanças climáticas e a integração desse assunto com a gestão da energia e da qualidade do ar. A versão completa, em PDF, pode ser acessada através do site da Sema (www.sema.rs.gov.br).
Lavoura japonesa
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A 43ª edição da revista Informações Econômicas, do IEA – Instituto de Economia Agrícola, traz um artigo sobre a influência dos nikkeis (imigrantes japoneses e seus descendentes) na agricultura paulista. Os pesquisadores Alfredo Tsunechiro e Francisco Alberto Pino identificaram os produtores de origem japonesa num cadastro de mais de 277 mil propriedades rurais em São Paulo e descobriram que eles estão presentes em 84% dos municípios paulistas. Em 13 municípios, as propriedades de nikkeis representam metade ou mais em número do total de imóveis rurais. O artigo está disponível para consulta no link ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/ publicacoes/ie/2013/ie.pdf
Download gratuito
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A Unesp – Universidade Estadual Paulista colocou à disposição do público, para download gratuio, 54 novos títulos do selo Cultura Acadêmica. Entre os lançamentos estão “Bionergia – Desenvolvimento, pesquisa e inovação”, organizado por Eliana G. M. Lemos e Nelson R. Stradiotto; “Sistema de produção agropecuário brasileiro: características e evolução recente”, de José Gioacomo Baccarin; e“Estudos Agrários”, de Darlene A.de Oliveira Ferreira, Eneas Rente Ferreira e Adriano Corrêa Maia. A lista completa dos títulos disponíveis pode ser conferida no site www.unesp.br/portal !/noticia/10669, mesmo endereço para download.
Calendário de eventos
JUNHO
4
II Seminário Latino Americano sobre Arroz Vermelho De 4 a 5 – Auditório da PUC-RS – Porto Alegre (RS) E-mail: av2013@irga.rs.gov.br
5
I Simpósio de Ciências Agrárias da Amazônia
De 5 a 7 – Campus Tapajós da Universidade Federal do Oeste do Pará – Santarém (PA) Fone: (93) 2101-4946
12
XXIX Encontro Nacional de Técnicos Agrícolas
De 12 a 16 – Salvador (BA) Site: www.fenata.com.br
19
Hortitec/20ª Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas
De 19 a 21 – Recinto da Expoflora – Holambra (SP) – Site: www.hortitec. com.br – E-mail: rbb@rbbeventos. com.br
24
XXVIII Congresso ISSCT/28ª Exposição e Congresso de Tecnologia Sucroenergética
De 24 a 27 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Fones: (16) 2132-8936 e (11) 3060-5000 – Site: www.issct2013.com.br – E-mail: multiplus@reedmultiplus.com.br
26
Congresso Sindag/ Congresso Nacional de Aviação Agrícola
De 26 a 28 – Estância Santa Rita (BR 364, Distrito Industrial) – Cuiabá (MT) – Fone: (51) 3066-9355 – E-mail: sindag@congressosindag. com.br
27
Ethanol Summit 2013
De 27 a 28 – Grand Hyatt Hotel – São Paulo (SP) Site: www.ethanolsummit.com.br
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JULHO
3
Curso de introdução à análise fundamental e técnica de futuros e opções voltadas à comercialização de soja De 3 a 4 – Auditório da CMA (Rua Prof. Filadelfo de Azevedo, 712) São Paulo (SP) Fone: (51) 3224-7039 E-mail: claudia@safras.com.br
4 – Expocampo/17ª Exposição Agropecuária, Comercial e Industrial de Campo Novo do Parecis – De 4 a 7 de julho – Parque de Exposições Odenir Ortolan – Campo Novo do Parecis (MT) – Site: www. expocampo.net – E-mail: expocampo@ expocampo.net
Município com 9.448.384 km2 e população de 27.574 pessoas, de acordo com o censo de 2010 do IBGE, Campo Expofruit/17ª Feira Novo do Parecis tem Internacional da na agricultura a sua Fruticultura Tropical Irrigada base de sustentação De 10 a 12 – Expocenter Campus econômica e social. Ufersa – Mossoró (RN) Incrustrado na Chapada Site: www.expofruit.com.br dos Parecis, a 384,5 E-mail: expofruit@gmail.com quilômetros de Cuiabá, compõe com os – Feira Agronegócio e municípios vizinhos Álcool de Brasnorte, Nova De 10 a 14 – Praça de Exposição Maringá, Tangará da – Presidente Prudente (SP) – Serra, Nova Marilândia Site: www.multifeirascongressos. e Sapezal um dos com.br – E-mail: delfim@ principais polos de multifeirascongressos.com.br desenvolvimento do país, com forte XIII Enfrute/Encontro agroindústria e Nacional Sobre extensas lavouras de Fruticultura de Clima Temperado grãos, algodão, girassol De 22 a 25 – Parque da Maçã – e outras culturas. Fraiburgo (SC) Conhecido também E-mail: enfrute@epagri.sc.gov.br por suas belezas naturais (também é XXXIV Congresso chamado de Terra das Brasileiro de Ciência Águas), Campo Novo do Solo do Parecis realiza este De 28 a 2/8 – Costão do Santinho ano a 17ª edição da Resort – Florianópolis (SC) – Site: Expoagro, feira múltipla www.eventossolos.org.br/cbcs2013 – focada em máquinas E-mail: bacic@epagri.sc.org.br e implementos agrícolas, veículos e II Conbraf /Congresso exposições de animais Brasileiro de e artesanato.
10 10
22
28 31
Fitossanidade
De 31 a 2/8 – Centro de Convenções da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp Jaboticabal (SP) Site: www.fcav.unesp.br/conbraf
AGOSTO
12
VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado
De 12 a 15 – Park Hotel Morotin – Santa Maria (RS) – Fone: (55) 32861557 – Site: www.cbai2013.com.br E-mail: contato@cbai2013.com.br
13
Agrinsumos e induspec Expo Business 2013/3ª Feira de Insumos, Equipamentos & Serviços para Agropecuária
De 13 a 15 – Transamerica Expo Center – São Paulo (SP) – Site: www.agrinsumoseinduspec.com. br – E-mail: agrinsumoseinduspec@ btsmedia.biz
19
XXXI Congresso Brasileiro de Nematologia
De 19 a 22 – Cenarium Rural Cuiabá – Cuiabá (MT) – Fone: (65) 36211314 – Site: www.nematologia2013. com.br – E-mail: nematologia2013@ industriadeeventos.com.br
21
V Fórum Abisolo/1ª Fertishow – Feira da Indústria de Nutrição Vegetal
De 21 a 23 – Centro de Eventos Pereira Alvim – Ribeirão Preto (SP) Site: www.abisolo.com.br
24
Expointer 2013/36ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários
De 24 a 1/9 – Parque de Exposições Assis Brasil – Esteio (RS) Fone: (51) 3288-6200 Site: expointer.rs.gov.br E-mail: expointer@seapa.rs.gov.br
27
Fenasucro 2013/21ª Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergético
De 27 a 30 – Centro de Eventos Zanini – Sertãozinho (SP) Site: www.fenasucro.com.br E-mail: reed@2pro.com.br
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junho 2013 – Agro DBO | 65
Legislação
Redução de garantia Em muitos casos, as exigências dos credores podem comprometer a atividade agrícola, dependente de recursos para custeio e investimento. Fábio Lamonica Pereira *
A
s operações de crédito rural podem ser representadas por CCRs – Cédulas de Crédito Rural, CPRs – Cédulas de Produto Rural, CCBs – Cédulas de Crédito Bancário, NCRs – Notas de Crédito Rural e até por outras espécies de contratos classificados como atípicos, desde que os recursos sejam aplicados, em sua Integralidade, na atividade agropecuária. Os credores, geralmente formados por instituições financeiras, cooperativas, tradings, empresas fornecedoras de insumos, etc. costumam exigir diversas garantias para viabilizar a concessão dos respectivos créditos. A
vinculação do bem hipotecado em determinada ação judicial, tem-se a chamada penhora do bem, ou seja, o início do processo que poderá levar à venda do imóvel inicialmente oferecido em garan-
Há exceções que possibilitam ao Poder Judiciário Brasileiro acatar pedido de redução de hipoteca
*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio
garantia preferida é a hipotecária justamente por vincular determinado bem imóvel ao cumprimento da obrigação assumida. Em caso de inadimplemento, ao exigir judicialmente o pagamento de seu crédito, o credor terá preferência em receber o produto da venda do bem oferecido em garantia. Ocorre que os credores, quando da formalização dos créditos, exigem garantias em excesso (além de subavaliarem o patrimônio de seus clientes), limitando demasiadamente a capacidade de endividamento dos produtores, o que, por sua vez, compromete o ciclo da própria atividade agropecuária, que é dependente de recursos para custeio e investimento periódicos. Quando há
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tia da dívida. Em regra, quando a ação chega neste estágio, a lei oferece mecanismos que permitem o equilíbrio entre a quantidade do patrimônio a ser vendido judicialmente e o valor do débito a que o credor tem direito efetivamente, incluídas as despesas com o processo de cobrança. Mesmo que a Lei (Código Civil) determine que a hipoteca fique vinculada ao cumprimento da obrigação assumida, resta o questionamento sobre a possibilidade de o devedor ser beneficiado por meio de decisão judicial que determine a redução da garantia hipotecária ou sua substituição por outra de menor valor, de maneira que o produtor possa desempenhar livremente sua ati-
vidade produtiva (com a liberação de outros recursos) sem que o credor seja prejudicado quanto ao recebimento de seu crédito. A considerar essa possibilidade, pode-se ilustrar com o caso concreto em que determinado produtor propôs uma ação revisional questionando, dentre outras coisas, o real valor do débito (havia cobrança de encargos ilegais que elevou o saldo devedor ilegalmente). Diante de tal situação, o Superior Tribunal de Justiça (mantendo a decisão do Tribunal de Justiça competente) entendeu pela redução da dívida (quase quitando o débito) e acatou o pedido do produtor para que a garantia inicialmente oferecida pudesse ser substituída por outra de menor valor e compatível com o montante do débito que seria supostamente devido. A questão pode ser amplamente debatida e aplicada, especialmente considerando que há, por exemplo, inúmeras operações renegociadas para pagamentos em vários e longos anos, cujo saldo devedor (seja pela existência de ilegalidades, seja pelo pagamento de grande parte do débito, etc.) está garantido por patrimônio em excesso. Logo, seguindo o que já foi decidido, há exceções que possibilitam ao judiciário acatar pedido de redução de hipoteca em operações de crédito em que fique evidenciada a disparidade entre o valor do suposto débito e o do patrimônio efetivamente comprometido, buscando, assim, a aplicação correta do princípio da função social do contrato.