Escola Informação Digital Nº 33, novembro/dezembro 2021

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Porque é Paulo Freire um clássico? Porquê a sua atualidade? • Lígia Calapez e Sofia Vilarigues

Centenário Paulo Freire

IJornalistasI “100 Anos de Paulo Freire – Esperança, Ousadia, Indignação” foi o lema do colóquio internacional, realizado no passado dia 8 de outubro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, organizado pelo Instituto de Sociologia da UP com diversos parceiros. No evento, uma grande variedade de abordagens permitiu melhor ficar a conhecer Paulo Freire e a sua importância atual. Aqui damos a conhecer algumas das intervenções e ideias.

Informação

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Fotos: morgueFilefreephotos

Se a educação for diferente, a educação pode ser emancipadora

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Digital

“Eu sou mestre-escola. Há qualquer coisa de freiriano na minha postura. Que é a consciência, há muitos anos e em muitas situações, de um conceito fundamental de Paulo Freire – a politicidade da educação. Quer dizer – a consciência de que tudo o que se faz, tudo o que se diz, tudo o que se age em educação tem um significado político. Sobretudo quando se nega esse significado”. Esta as primeiras palavras de Luiza Cortesão, do Instituto Paulo Freire de Portugal, numa intervenção toda ela marcada por esta ideia de fundo: a politicidade de educação. Nesta perspetiva, a oradora começou por lembrar “essa época

verdadeiramente explosiva”, que foram os anos 68-70 em que, em muitos países, e relativamente à educação, se debateu “a cumplicidade que os sistemas educativos, de uma forma geral, tinham na manutenção da desigualdade – isto é – na manutenção de uma sociedade estratificada”. Concretamente, a denúncia de uma forma de funcionar da escola “que dava, à partida, a possibilidade de sucesso àqueles que são socializados num contexto que a escola aceita, privilegia e desenvolve” Em detrimento daqueles “que têm outro tipo de socialização, mas que têm muitos saberes”. Uma prática que vai ao arrepio do espírito da obra de Paulo Freire que, como referiu Luiza Cortesão, dizia que “bastava existir, para se ter um saber uma cultura”. Ideia

que conduz a outro princípio fundamental freiriano: antes de ler a palavra, tem que se ler o mundo. O que, para ele, “significa analisar, desenvolver uma atividade, uma atenção ao que se passa no mundo, à nossa volta, ao contexto”. Uma “inquietação, uma necessidade de analisar de criticar, de perceber” que não se limitou à Europa. Manifestou-se, de outras formas, em movimentos sociais, na América Latina, na Índia, em África. “Tudo isto borbulha de inquietação e de vontade de perceber, de agir”, salientou a oradora. É também nos anos 60 – refere Luiza Cortesão num breve historial da trajetória de Paulo Freire – que este se dedica à educação e começa a trabalhar no Recife, com adultos, em pequenas orga-


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