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Mês Junho nº 12
Uma reflexão sobre as lembranças de uma vida que podem ser o nosso bem mais precioso
Um conto muito imaginativo e cheio de significado
Um poema que questiona a natureza humana e as suas fraquezas
Uma reflexão sobre a vida e a liberdade
Uma história com muito movimento que no envolve nos seu enredo
Mais que um poema uma crítica sobre a politica de hoje em dia
Índice e destaques
Índice Editorial………………………………..….3 As Nossas Sugestões………………..5 Histórias Narrativa Asas…………………………..………….6 Last tango in Paris.……………….14 “Nada Acontece por acaso”……………………………………16
Histórias Poéticas Cemitério Provisório ….………23 Quem fez o homem assim?...25
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Destaques Histórias Narrativas Asas - Uma reflexão sobre a vida e o valor da liberdade
Last tango in Paris – Uma história com muito movimento que nos envolve no seu enredo “Nada Acontece por Acaso”- Um conto muito imaginativo e cheio de significado
Histórias Poéticas Cemitério provisório - Uma reflexão sobre as lembranças de uma vida que podem ser o nosso bem mais precioso Eterna duvida, Eterna busca - um poema que põe tudo em causa e reflecte a ligação de sentimentos com a razão
Críticas ou Sátiras
Eterna dúvida, Eterna
Política por um CANUDO - Mais que um
busca……………..……….………………27
poema uma crítica sobre a politica de hoje em dia
D. Afonso Henriques por Cutileiro…………………………………29
Críticas e Sátiras Politica por um CANUDO…... 30
Regras para Trabalhos Enviados………………………………….32
Ficha Técnica: Mês de Junho n.º12 via internet – ebook Editora e Proprietária: Marta Sousa Revisora: Patrícia Lopes Redacção: Marta Sousa, Diana Tavares, Paulo Fontes, José Silva, Munique Duarte, Ruy Crespo Filho, Filipa Borges, Ana Maria Teixeira e Flávio Pereira Grafismo: Marta Sousa, Ana Maria Texeira no poema D. Afonso Henriques por Cutileiro Interdita a reprodução para fins lucrativos ou comerciais dos textos e interdita a outros que não o autor e a reprodução sem a indicação Escrita Criativa do respectivo nome do autor.
Editorial
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A Revista Escrita Criativa sente cada vez mais o apoio dos nossos leitores e participantes, agradecemos a todos pelas vossas opiniões e participações! Para este mês contamos com as participações de Diana Tavares, José Silva, Paulo Fontes, Ruy Crespo Filho, Munique Duarte, Filipa Borges, Ana Maria Teixeira e Flávio Pereira. Diana Tavares traz-nos um conto sobre a liberdade e, sobretudo, relembra-nos o valor da vida. José Silva escreve com muito movimento uma história que nos envolve, Paulo Fontes conta-nos um conto muito imaginativo e cheio de significado. Munique Duarte revela no seu poema Cemitério Provisório uma reflexão sobre as lembranças de uma vida que podem ser o nosso bem mais precioso. Ruy Crespo Filho traz-nos um poema que questiona a natureza humana e que relata as suas fraquezas. Filipa Borges põe tudo em causa e reflecte a ligação de sentimentos com a razão.
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4 Ana Maria Teixeira traz-nos um poema interessante sobre uma escultura dedicada ao primeiro rei de Portugal, mais uma vez, a cantar a cidade de Guimarães. Flávio Pereira participa com uma crítica actual, sobre a política, sendo um bom poema para ler antes das próximas eleições, sem nunca perder o ritmo dos seus versos como se fosse o bater de um coração, Flávio conta-nos a sua opinião. Agradecemos a todos os nossos participantes. Esperemos que gostem da Revista Escrita Criativa de Junho e que nos enviem as suas opiniões para asnossashistorias@hotmail.com Pedimos a vossa divulgação e agradecemos a todos os nossos leitores e participantes o vosso apoio.
Marta Sousa
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As Nossas Sugestões
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Planície de Espelhos De Gabriel Magalhães
Há um universo de amantes de livros pelo mundo, pessoas que se perdem nas histórias e, que também se encontram nelas. Este livro é uma viagem pelo mundo da literatura, mas também uma viagem sobre o significado da vida e sobre o significado da morte. Tudo começa quando a Professora Marta Valadares vai a Évora e vê um espectro nas planícies alentejanas. Esta vai mudar-lhe a sua vida completamente… Muito mais que um simples livro, este livro retrata a vida de muitos e, sobretudo, o pensamento português com um estilo inconfundível e metáforas incríveis. Deixe-se envolver no prazer da literatura com Planície de Espelhos.
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Histórias Narrativas
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Asas Eu era uma rapariga, que tinha asas, e que ansiava voar para lá do Oceano. Ver, sentir o mundo que existia para além do que eu conseguia ver e conhecer. Ansiava por sentir a liberdade dos pássaros, e poder realizar sonhos que eu pensava serem a futura realidade. Mas as intrigas da vida real tornavam as minhas asas completamente rasas, e as penas, fracas, com a tensão daqueles que queriam impedir o meu voo. Acorrentadas pelas mais pesadas correntes. As correntes do controlo e da repressão. Queria voar. Tão desesperadamente. Mas respirava fundo e tinha paciência. Era mais que inevitável voar. Não era? Tinha de ser… Um dia, iria voar, para tão longe, e tão rápido, que ninguém me poderia parar! E ia ser feliz! Oh, tão feliz! Via tantos como eu, todos aqueles jovens rapazes e raparigas, outros pássaros com asas iguais às minhas, a levantar voo. A voar, para cima, para baixo, para onde queriam, para onde sentiam que tinham que ir, para serem felizes, enquanto eu os observava do miradouro da minha gaiola. Eles por vezes pousavam perto de mim e contavam as suas incríveis aventuras a que chamavam simplesmente vida. Eram tão belas, mas ao mesmo tempo tão aterradoras que me faziam sentir inúmeras sensações. Eram emocionantes. Só de
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7 imaginar sentia a adrenalina correr no meu corpo e a excitação a fazer tremer o meu ser. Mas nem todas eram histórias felizes. Alguns deles choravam com tristeza e medo, pois a vida, os locais para onde as suas asas os levavam, eram envoltos na escuridão e na incerteza. Podiam pensar que eu desistiria de voar, se visse os seus perigos, mas ao ver as suas lágrimas e o brilho do medo nos seus olhos, queria tanto chorar também, saber como era, viver a experiência que levava àquelas lágrimas, que eu própria chorava. Invejava-os pela sua miséria. Eu queria chorar também! Se chorasse, era porque tinha voado para o sítio errado! Que tinha voado de todo! Às vezes tinha tanta vontade de voar, que simplesmente abria as asas e preparava-me. “Será hoje!”. Mas depois, ao começar a mover as minhas asas, batia com toda a força nas grades da gaiola. A dor física era forte, mas não era nada, comparada com a facada no coração que era encontrar ali aquele impedimento, e sentia uma força incrível em mim, que apenas a ingenuidade pode trazer. Se eu lutasse o suficiente, poderia sair dali! Então, começava a atirar-me contra as grades, na esperança vã de elas se partirem. Que com a minha força, conseguisse sair da gaiola. Até as penas me caírem.
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8 Mas as penas caíam, as dores tornavam-se demasiado insuportáveis para eu aguentar outra pancada, e eu simplesmente rendia-me. Não era hoje que eu ia sair dali. E então chorava. Mas na esperança de que, noutro dia, as grades ficariam mais fracas e simplesmente me deixassem voar. Odiava. Odiava pensar que tinha de esperar, sem saber quando é que essa espera ia terminar. Quando é que eu poderia simplesmente estender as minhas asas e voar para longe. Para a felicidade. O destino que era apenas meu. Por muito assustador que fosse, era meu e eu queria-o. Mas o pior não era a gaiola em si. Era a razão porque lá estava. O dono da gaiola garantia que eu de lá nunca saía, rosnando ameaçadoramente sempre que apanhava outros pássaros como eu por perto. Ele dizia amar-me, e, no mundo dele, as grades protegiamme, pensando que, de olhos vendados e ali presa, naquelas grades quietas e solitárias, eu nunca me magoaria e que por isso, eu simplesmente sorriria para ele, como era seu desejo. Mas eu não queria sorrir. Queria chorar. “E um dia vou chorar! E depois rir, e depois chorar outra vez! E serão as minhas lágrimas que cairão para o vasto Oceano do mundo! Ele não conseguirá mais agarrar-me!” Pensava que seria capaz de sair da gaiola, mesmo que tivesse asas e não soubesse voar. Não queria ter de simplesmente saltar,
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9 pois tentar voar sem o saber pode simplesmente conduzir à fatal queda. Mas temia não conseguir aguentar mais. Então, o dia em que pensava conseguir a liberdade para voar, o dia em que pensava que a porta da gaiola se abriria, chegou. Não podia passar daquela data. Já nada poderia justificá-lo! Eu tinha de ser libertada da gaiola! Sorri, tão feliz, pensando que finalmente chegara o momento. Abri as minhas asas e comecei a correr em direcção à porta, pronta para experimentar a minha liberdade. Mas como que ouvindo o batimento do meu coração, o dono da gaiola correu, enraivecido, contra a porta, e não só me impediu de sair, como fechou-me com ainda mais fervor. Afinal, na cabeça dele, não era uma questão de esperar. Eu não saía porque simplesmente não podia sair. Estava fechada porque ele queria-me fechada. Ele não me ia deixar sair. Simplesmente. Nunca. Em pânico, ao ver a realidade que eu tanto ansiara tornar-se simplesmente num sonho que tivera, e vendo a minha realidade real transformar-se num pesadelo, grito, empurro as grades para ver se estas se partem. Choro e peço ajuda. Grito aos outros pássaros. Mas são olhares de confusão e desprezo que recebo de volta. “Já pensaste
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10 que não podes sair por não conseguires voar?” diz um. “ Não sei como ajudar-te, eu estou a voar e não posso fazer nada por ti!” diz outro. “Devias ter voado há muito. Agora, nunca voarás. Esquece!” diz então o último. É então que percebo que a realidade que eu pensei existir, nunca de facto foi sincera. Eu nunca ia sair. Nunca voaria. Nunca veria para lá do Oceano. Eu pertencia-lhe, não conseguia sair, e ninguém me ajudaria. Tinha as asas acorrentadas e assim ficariam. Ninguém me ia soltar. Não houve mais força, nem mais vontade. Os sonhos desvaneceram-se da minha mente. Tudo desapareceu. Para quê a força, se nunca a aplicaria nas minhas asas? Para quê a vontade, se nunca a usaria para chegar a lado nenhum? Porque é que eu tinha sonhos, se nunca se tornariam realidade? Porque é que eu gritava, se ninguém me ia acudir? Não valia a pena. Então, as minhas asas mudaram de cor, assim como de tamanho e peso no meu corpo. Já não eram brancas e luminosas. Eram negras, suaves, mas frias. E senti o maior sono que já tinha sentido. Nunca antes tivera vontade de simplesmente adormecer.
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11 Por favor, deixem-me adormecer. Estou demasiado cansada para isto. Para a vida dentro da gaiola. Por favor, deixem-me dormir. Olho para as correntes que me prendem à vida que, agora sei, serei forçada a ter. E nunca elas me pareceram tão bonitas. Eram lindas. Perguntei-me como seria deixar-me abraçar por aqueles belos objectos. Queria mesmo saber como era, sentir aquele frio à minha volta, a apertar-me com mais força do que qualquer outra coisa. Não seria maravilhoso? Deito-me, e deixo-me envolver pela frieza das minhas melhores amigas. Era bom, e percebi que queria adormecer, e que não queria acordar desse sono lindo que ia ter. Seria o melhor sonho que alguma vez tivera e tinha mesmo, mesmo de vivê-lo. O sonho de voar. Sentia que ia tê-lo. Senti que ia voar. Finalmente. Então, à medida que o aperto das correntes se intensificava, uma nova luz ofuscou-me os olhos. E senti o vento, como nunca senti antes. Depois, senti o cheiro do mar, a inundar-me o espírito. Ia finalmente acontecer. Soube-o. O dono da gaiola viu-me. Mas soube, horrorizado, que não poderia fazer nada. Eu ia voar, e ele não podia deter-me.
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12 O sol chamou-me, o vento passou pelas minhas penas, como que dando-me a mão e puxando-me gentilmente em frente. E então corri. Corri com todo um novo fulgor. Abri as minhas asas, e voei. Para longe daquela gaiola. Aquela gaiola, que era a minha vida, ficou para trás, e voei livremente pelo céu, sabendo que nunca mais teria de voltar. Abrira as minhas asas e voara, deixara a minha vida para trás, estava no céu, e era por fim livre. Abrira as minhas asas e voara. Finalmente. Livre.
Diana Tavares
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Last Tango in Paris… Uma mão apodera-se das cordas do audaz violino, arrancando deste um conjunto simples de sons, finitos. E o silêncio sucede por uns segundos. O batimento dançante surge, e a nossa mente deixa-se levar no seu interior por uma dança elementar, e o pianista convidado se prepara para as teclas dos sentidos... Geram-se os pares de bailarinos ao luar de um tecto escuro e dá-se azo à liberdade, os corpos adoptam então a dança sensual do tango, triste. Os dedos se cruzam, e os corpos se entrelaçam pela melodia de uma paixão não vivida de momento, apenas estimulada, os pés em dois pares precipitam-se no jogo do movimento mútuo... As ancas femininas tomam o cavalheiro por refém, e estes desistem da tomada de posse e deixam-se guiados por sentimentos de paixão provocada pelo trio musical... Neste cenário um par de dançantes se distingue, sente-se a verdadeira essência do tango nos seus comportamentos do corpo. Sobre movimentos embebidos e velozes os olhares se cruzam, denunciando a paixão momentânea incendiada levada ao extremo. A música profetiza o seu fim, com a batida mais acelerada acabando numa nota só. Os corpos se separam e volta-se a uma realidade prematura...
Last tango in Paris
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14 Aquele par distinto de bailarinos demora-se na sua separação não desejada, mas a dança terminou, e acabava com ela o sentido daquela gesticulação estimulante de sentidos efervescentes. - Quem teve o prazer de me acompanhar? - Pergunta ela com voz de inocente acabada de acordar. - Um mero curioso, e este é o meu último tango em paris... - Prazer, mas ultimo porquê? Não se proferiu mais uma palavra... Apenas os gestos suaves de um afastamento não desejado e um sorriso de intensa contemplação ou mesmo de felicidade... Seus olhos verdes brilharam na hora da despedida... José Silva
Nota: Last Tango in Paris: Último tango em Paris
Last tango in Paris
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"Nada acontece por acaso" Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32.
"Splash...!!" - Socorro, acudam-me...estou a afogar-me...! – desesperadamente berrava Boquitinho. - Que se passa?? Que atrofio é esse, estares a incomodar o sono da gente?- questionou o pai Bocas. - Apaa-paanhe-eeii...com água ...penseiii...que fossseee...afogarme...! - Só estás molhado...Vai-te secar e deixa-te de andar pela torianda. Torianda era uma espécie de terraço bem organizado que se situava no calcanhar do sapato. - Não preciso de me secar...tenho calor. - Filho, deixa-te de coisas...vai para o teu quarto secar-te e depois vai dormir...! - A sério pai, a água está quente...olhaa-aa...nã... "Splash...!!" Desta foi o Bocas vitima do misterioso liquido.
“Nada Acontece por Acaso”
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16 - Eii...puxa...! Que se passa por aqui? ...filho vai andando para casa que vou ver de onde vêm esta água...quente! - Ohhh pai, deixa-me ir contigo. - Não! Vai e avisa a tua mãe, se tiver acordada, que eu já volto, para não se preocupar. Bocas começou a subir o godiote, um banco mágico, em que se dobrava um eixo e se transformava em câmera lenta num escadote...capaz de chegar ao cimo do sapato...! Tinha sido uma prenda do seu mano Bicas. Não foi preciso subir tudo...pois deu pela nascente do estranho liquido...! Era um sem abrigo a chorar! A baixa-estima infestava o aroma do ar. As lágrimas corriam como se de uma torneira louca se desvairasse. Bocas já estava todo encharcado e não sabia o que fazer! O perigo eminente do seu lar ficar inundado pairava pela sua mente. Olhou de leve para o caminho que teria de percorrer até chegar lá cima. "Mesmo que consiga, coisa improvável, chegar, como parar as gotas?" – matutava. O sapato continuava a ser atacado pelas gotas e a ansiedade e medo já começavam a atormentar o anão. "Tão íngreme é a subida...mas vou arriscar...!" - sua consciência parecia algo decidida. O big casaco estava infestado de borbotos e tal amedrontava Bocas. Fez os cálculos e chegou à conclusão que demoraria muito tempo a chegar à cara do gigante. "Por essa altura
“Nada Acontece por Acaso”
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17 as lágrimas já teriam feito grandes estragos ao meu querido lar" – pensava. O perfume da fatalidade agitava o coração do pequeno. De repente um tempestivo impulso levou-o a decidir pela subida, sem saber o que fazer quando chegasse ao destino, e se chegasse. Sua mente estava mergulhada num cocktail de pensamentos...só pensava subir acontecesse o que acontecesse!
- Nãooo...!! – gritou. Um abanão brusco fez girar o casaco e o anão caiu...caiu...e foi parar ao bolso direito. Era um casaco de lã...quentinho...próprio para aquecer nestes dias de inverno. Meio atordoado...recompôs-se e deu-se rodeado de uma escuridão. Ergueu-se firmemente e com esforço, nos meios dos "escombros" pegou na sua lanterna lovix que levava sempre consigo. A luz do seu delicado utensílio jorrava por todos os ângulos. Sentiu-se menos nervoso e mais seguro. Sentiu o chão demasiado escorregadio...e apontou para baixo...! Parecia-lhe uma foto...gigante...! Surgiu-se-lhe a ideia de ver o que continha tal quadro...mas repentinamente veio à mente a delicada situação do ser lar, das "lágrimas" que abalariam sua família. Bocas ficou eximindo cálculos para a subida do bolso. Era bom a fazer contas. Não foi por acaso que sua casa ficou impecavelmente bem estruturada. Encontrou uma solução. Tratava-
“Nada Acontece por Acaso”
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18 se de um lápis gasto e cheio de cortes. Tais cortes dava-lhe para se apoiar e descansar um pouco na subida. Chegou. Estava no cimo do bolso; este era largo, o que lhe proporcionava espaço para grandes vistas. Lembrou-se da foto e apontou a sua lovix para baixo. Eram dois rostos...um feminino na casa dos 29 anos e outro mais meigo, mais angélico pelos 2 anitos. Ao ver aquela tela lembrou-se do seu boquitinho...e da sua mulher. Apesar de a foto estar de lado conseguia ver todas as linhas daqueles rostos sorridentes. Numa tentativa de ver um pormenor dos olhos da singela figura juvenil precipitou-se e deixou cair a sua lanterna. Tal descuido provocou um estrago. Caiu por debaixo dos olhos da figura juvenil e borrou tinta vermelha. A lanterna de Bocas não funcionava a pilhas, tinha um liquido vermelho, que sugava energia solar provocando luz no arredondado pináculo da lanterna. Era um mecanismo muito eficiente. "Não posso esperar" - disparou sua mente. De novo à aventura, esgrimiu-se para alcançar portos seguros. Agarrava-se com firmeza aos pontiagudos pelos de lã.Estava quase a chegar aos cabelos quando um reflexo de luz atingiu seus olhos deixando-o anestesiado. Quase caía de novo. Suas fortes mãos evitaram mal maior. Recomposto tentou ver de onde teria vindo a fustigante luz. Ficou abatido com o que viu. Lá baixo estava a sua mulher e filho a debaterem para sacudiram as águas ...as lágrimas. Olhou e gritou
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19 para a mulher ... mas o som não chegava, olhou para cima e gritou para o ser e nada. Ficou desesperado. Nada lhe valia ao ficar aos gritos...e fazendo força de punho continuou a subida...! Estava pendurado em vários pêlos do cabelo perto da orelha do gigante. Encheu os delicados brônquios de ar e brotou: - Por favorrrrrrrrrr...pára de chorarrrrrrrr...!! Subitamente o anão é sacudido e foi parar ao outro lado ... ficando de frente perante a outra orelha. Tinha sido o ser. Abanou a cabeça com rapidez. Tal grito de Bocas não passou despercebido. Não desta vez. O medo assombrava calorosamente Bocas. O silêncio reinava. A tremer todo, foi ganhando calma...quando reparou que as águas já não caíam. Mas tal não serviu de desafogo para o pobre anão pois este sabia muito bem que sua família estaria em apuros. Afinal o choro do ser não foi curto. Nasceu (momentos raros) algum ódio no anão pelo ser. Na máxima força nos pulmões soltou: - Só sabes destruir com as tuas lágrimasssss...! Foi fatal. O ser levantou-se energicamente e Bocas foi cuspido pelo ar. - Nãoooooooooo...splasssh! Caiu ao lado do seu filho e sua mulher. Ainda apoquentado tentou situar-se. Nadou um pouco e deu-se pelo boquinhas e mulher. Fraco mas com forças para abraçar a mulher e filho. As águas salpicavam
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20 loucamente. Bocas começa a chorar...! - Eiii então paizinho...já não basta este lago de lágrimas?? Bouquitinho e sua mãe também já estavam a par do sucedido, pois o maroto não tinha obedecido o pai. Em vez de ter ido para casa avisar a mãe seguiu o pai e viu o que se passava, mas voltou logo pois ficou com medo, dando a conhecer à mãe do sucedido. - Ai meu filho...meu querido filhooo...! - Poupem os afectos para mais logo, temos esta água toda para tirar...e para variar...está a ficar fria...! - berrava a mulher. Alegria dos três pequenotes infestava as águas...as lágrimas. A aurora do sol já estava à espreita e os primeiros raios provocavam no sapato um brilho, um reflexo brilhante. Bonito.
(...)
Estava frio e o ser andava pelas ruelas solitárias. "só sabes destruir com as tuas lágrimas" - mastigava o pensamento. Ele sempre foi uma pessoa humilde e activo até à morte das duas pessoas que mais amava na vida. Um estúpido acidente rodoviário ceifou as duas vidas e quase a sua. Desde este dia fatídico deixou de pensar, de falar, pior, de crer em Deus. Tal sussurro que tinha ouvido foi um clique para a sua alma. Imaginou coisas, imaginou anjos, imaginou mensageiros, e
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21 também coisas maradas. Algo que não fazia há muito tempo..., pegou na foto que tinha no bolso. Sentou-se num velho banco. Chorou...chorando com o olhar colado aos olhos dos seus, outrora, mais que tudo. Nova faísca soltou-se-lhe. Reparou que na face do seu filho, um choro vermelho pingava. Ficou brutalmente aterrado com tal visão. Ficou segundos, minutos, horas...a vislumbrar tal quadro soberbamente triste. "só sabes destruir com as tuas lágrimas..." – de novo se lembrava do sussurro. Sentiu-se impelido a sair dali e levantou-se. Andou sem destino. Ao passar por uma capela olhou para a cruz. Ficou tocado. Entrou na capela. Estava vazia, muito vazia, muito solitária. Sentou-se no banco da frente e ficou a olhar para o santo que estava de frente, ao lado do altar. Lembrou-se do dia do velório. A saudade começava a apertar. Apesar da luz das velas, a escuridão triunfava. Ainda ansioso com a visão, decidiu tirar de novo a foto da sua família. Surrealmente, a escuridão da capela foi desaparecendo! O ser sentiu-se atingido por forças de libertação, sentiu-se noutro lugar e notou uma diferença..., os olhos do seu filho estavam brilhantes, imaculados, o sorriso fustigante! No seu coração nasce uma força. A semente da esperança, da luta que há muito estava enterrada, começou a florescer! Ganhou coragem e foi ao cemitério. Os mochos cantavam...melodia vampirica. A porta estava semiaberta. Entrou.
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22 (...) Campas caídas...abandonadas...figuras...anjos...folhas voando...Parou! Num cantinho estava uma campa. Estava coberta de folhas, velas tombadas. Era a campa mais mal tratada. De joelhos e derreado perante a laje deixou cair uma lágrima, mais uma...a última.
"Acabaram-se as lágrimas, não posso nem vou continuar assim!! Vou à luta nem que tenha de morrer pela descoberta da paz na minha vida...! Desculpem o meu estado. Desculpem por vos ter dado tristeza com as minhas lágrimas" Levantou-se. Com um semblante rejuvenescido, tirando a foto do bolso olhou para o céu e beijou a foto. "A mudança é hoje. Tentarei nunca mais vos desiludir e obrigado meu Deus. Até já!". Limpou a sujidade. Hoje era uma campa aprumadinha. O brilho floreava a campa. Posou a foto e prendeu bem. O homem foi caminhando em frente semblante de energia positiva, ...,e com destino! Tinha renascido.
*Nada acontece por acaso...um "acidente" que quase destruía o lar do Bocas fez renascer o laço fraterno entre este e a sua família e paralelamente fez acordar o ser para o caminho da paz.* Paulo Fontes
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Histórias Poéticas
Cemitério provisório Enterrou todas as fitas cor-de-rosa Enterrou as agulhas de tricô Enterrou bem fundo meia dúzia de retratos E também seu pequeno perfume favorito Não esqueceria a aliança de ouro Tampouco seu lenço, presente da avó Enterrou todos os retalhos da última costura Todos os alfinetes de cabeça dourada O relógio sueco tão fino Duas fronhas bordadas Quatro livros de cabeceira Duas sandálias importadas Enterrou mais e mais lembranças De décadas vividas Mais e mais artigos, propósitos Encerrou com algumas lágrimas pingadas Tapou com a terra, vigor em pazadas Tudo fundo, fundo, muito fundo
Cemitério provisório
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24 Para depois poder se lembrar de tudo Os soldados já estavam chegando.
Munique Duarte
Cemitério provisório
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Quem fez esse homem assim ? Ser inicial, fico aqui sentado a pensar quem fez esse homem assim? Ele atĂŠ parece um pouco comigo Fala como se fosse um antigo amigo... Ser fundamental, Quem ĂŠ esse homem velho a me assombrar? Vestes surradas e desbotadas Carregado de tristeza no olhar Fraquezas Desencantos Saudades e prantos Sem ninguĂŠm para consolar Ser essencial, Quem fez esse velho assim De passos arrastados em desarmonia Pelo corpo e pela alma feridas imerecidas sofridas Abertas sem sangrar? Escuto gemidos sufocados
Quem fez o Homem assim?
Escrita Criativa
26 Silentes De um ser ausente no presente Algemado ao passado Agora esquecido de suas ousadias Sem amor e alegria Como um poeta sem poesia. Esquecimento Sofrimento Abandono na multidão Solidão... Gira a roda Gira o tempo Gira a vida Ficam lamentos Tudo roda Tudo passa Ser inicial, fico aqui a pensar quero uma resposta agora para ir embora Quem é esse outro homem velho que fizeram de mim? É o seu ponto final! Ruy Crespo Filho Quem fez o Homem assim?
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Eterna dúvida, eterna busca
Pondo tudo em causa! Todas as palavras, todos os sentimentos que julgo serem reais Toda a dor que julguei ter sentido O Mundo, ele próprio, tão cheio de contradições Tão absorto em ilusões Em que cegamente fingimos acreditar Pondo tudo em causa, tudo, tudo, tudo... Pondo em causa o porquê do porquê... O porquê de tudo ou de nada Pondo em causa todas as mentiras Todas as verdades baseadas em mentiras Ou mentiras baseadas em verdades... Todos os motivos escondidos na sombra de um olhar Todas as palavras que nunca ousaram pronunciar Pondo tudo em causa, tudo, tudo, tudo... Pondo em causa a liberdade, a vaidade, a amizade... Pondo tudo em causa! Porque tudo é nada E nada é tudo
Eterna dúvida, eterna busca
Escrita Criativa
28 Porque tudo têm um porquê Tudo tem uma razão E esconde-se atrás de uma porta Que só se abre ao coração
Filipa Borges
Eterna dúvida, eterna busca
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D. Afonso Henriques por Cutileiro No largo João Franco foi colocada Para que todos pudessem ver Que os artistas modernos Tudo fazem para nos merecer.
Bela imagem do nosso Rei Que Guimarães granjeou, Pedra bruta mas preciosa Que o artista trabalhou.
Tal como um guerreiro em combate Com a pedra ele lutou, Não foi em vão a sua luta Pois para a posteridade ficou.
João Cutileiro modernamente pensou A imagem do nosso primeiro, Colocou-o em pose e assim ficou Para ser admirado por turistas do mundo inteiro. Ana Maria Teixeira
D. Afonso Henriques por Cutileiro
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Críticas ou Sátiras
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Politica por um CANUDO
Acho emocionante, perplexo talvez Como se faz política por um canudo Ouvindo a voz de um português A falar para não perceber nem um miúdo
Passo por uma sede de campanha e lá está O canudo mais alto que o homem Tentando transmitir para o homem O que o surdo não ouve nem quer saber
É bestial, electrizante Saber que os canudos tem voz O político fala por todos nós Porém só mesmo eles é que percebem
Raios me parta o canudo Metam-no em sinfonia Já que a política dá azia Para quê falar por um holofote??
Mas é bom, é a sociedade no melhor termo
Política por um CANUDO
Escrita Criativa
31 Já que mal se vê bem o estafermo Falar pelo canudo é revolução Superior á própria ideologia da razão
Ninguém se vê A voz consome o tenro ar Não deixa o humano sequer sonhar Para acreditar no que ali se lê
Flávio Pereira
Política por um CANUDO
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Regras para Trabalhos Enviados
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PolĂtica por um CANUDO
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